Analise Do Discurso Aula 01 o Início Da AD
Analise Do Discurso Aula 01 o Início Da AD
Analise Do Discurso Aula 01 o Início Da AD
São Cristóvão/SE
2014
Análise do Discurso I
Elaboração de Conteúdo
Eugênio Pacelli Jerônimo Santos
Flávia Ferreira da Silva
Projeto Gráfico
Neverton Correia da Silva
Nycolas Menezes Melo
Capa
Hermeson Alves de Menezes
Diagramação
Nycolas Menezes Melo
Ilustração
Eugênio Pacelli Jerônimo Santos
Flávia Ferreira da Silva
CDU 821.134.3(81)
Presidente da República Chefe de Gabinete
Dilma Vana Rousseff Marcionilo de Melo Lopes Neto
Vice-Reitor
André Mauricio Conceição de Souza
AULA 2
As três fases da Análise do Discurso ................................................ 21
AULA 3
Sujeito na concepção da AD...............................................................33
AULA 4
Além do contexto visível: as condições de produção................................45
AULA 5
De onde fala? – a noção de posição-sujeito...................................................55
AULA 6
Materialidade Linguística e materialidade discursiva ........................ 67
AULA 7
Memória Discursiva..............................................................................75
AULA 8
Heterogeneidade Discursiva: os modos de representação do outro no
discurso. ............................................................................................ 83
AULA 9
Identificando a heterogeneidade constitutiva .................................. ..95
AULA 10
Designação: construção de imagens no discurso.............................105
Aula 1
INÍCIO DA ANÁLISE DO DISCURSO:
UMA HISTÓRIA DE RUPTURAS
META
Apresentar a história da formação da Análise do Discurso, destacando os
precursores e o desenvolvimento inicial da disciplina.
OBJETIVOS
Ao final desta aula, o aluno deverá:
saber as condições em que apareceu a disciplina Análise do Discurso, conhecer
seus precursores, o objeto de estudo, compreender a noção dos conceitos-chave
e identificar os principais teóricos da área.
PRÉ-REQUISITO
Conhecimento introdutório da história da linguística no século XX, especialmente
do estruturalismo e do gerativismo
PRIMEIRAS PALAVRAS
A disciplina que nós vamos estudar ao longo destas dez aulas é Análise
do Discurso. Como a palavra discurso é vaga, podendo assim significar
muita coisa, e como diversas disciplinas se interessam pelo estudo da lín-
gua em uso, por aquilo que de forma geral pode ser chamado de discurso,
precisamos delimitar bem o nosso terreno. Logo, esclarecemos que vamos
estudar aqui a Análise do Discurso da corrente francesa, surgida no final
dos anos sessenta do século XX.
INTRODUÇÃO
Prezado(a) Aluno(a),
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Início da análise do discurso: uma história de rupturas Aula 1
INÍCIO DA ANÁLISE DO DISCURSO: UMA
HISTÓRIA DE RUPTURA
CONCEITO DE DISCURSO
Uma vez que a palavra discurso é usada por outras áreas de pesquisa
sobre linguagem e que, por isso, pode ter vários conceitos, dependendo
da opção metodológica de cada campo de estudo, precisamos definir o
significado de discurso para a Análise do Discurso.
Para conceituarmos alguma coisa, uma das formas é começar
descartando o que essa coisa não é. Vamos seguir esse caminho.
O discurso, na Análise do Discurso, não é uma simples transmissão
de informação ou a mensagem mais ou menos conhecida do esquema de
comunicação proposto por Jakobson(1981), como aparece na figura que
segue.
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Análise do Discurso I
O exemplo (1) oculta ou atenua algo como “Em caso de queda desta
aeronave no mar, retire os assentos e use-os como boias”, para não despertar
o eventual medo dos passageiros que estão embarcando. Já no exemplo
(2), ao se colocar a palavra “validar” em lugar de “pagar”, esconde-se,
considerando-se que é um aviso escrito numa placa num shopping center,
que se quer induzir o cliente a esquecer que o sistema capitalista visa ao
lucro em todas as instâncias e que o cliente vai fazer compras e ainda tem
de pagar para estacionar.
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Início da análise do discurso: uma história de rupturas Aula 1
Como vemos, a língua não é empregada apenas para dizer, mas
também para disfarçar o que diz. Também seu uso não corresponde a
simples transmissão de mensagem. Diante de (2), o cliente/motorista
pode tranquilamente dirigir-se ao guichê e “validar” o tíquete e continuar
rotineiramente a fazer isso, pode “validá-lo”, mas ter consciência da ganância
capitalista, ou pode ainda decidir não mais ir ao shopping, ou não ir ao shopping
de automóvel. Logo, a língua posta em uso não é apenas um conjunto de
regras (Código), mas é discurso, ou seja, efeito de sentidos entre locutores.
O conceito de discurso também não equivale ao de fala, definido por
Saussure (1997) (na dicotomia língua versus fala), uma vez que o linguista
conceitua fala como um ato individual, e o discurso na visão da AD é social.
Para a AD, o discurso sofre condicionamentos linguísticos e
determinações históricas. A língua também não é vista “como totalmente
fechada em si mesma, sem falhas ou equívocos” (ORLANDI: 2000). O
locutor (falante) não diz o que quer, diz apenas o que é permitido dizer
da posição que ele ocupa, embora não tenha consciência disso. Logo, o
discurso não é um ato individual.
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Análise do Discurso I
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Início da análise do discurso: uma história de rupturas Aula 1
língua são autônomas, mas seu uso depende de determinantes históricas
e ideológicas.
- O simbólico afeta o real histórico, os fatos não significam por si sós, não
têm um significado natural.
- O sujeito da linguagem é controlado pela ideologia e pelo inconsciente
Não existem palavras neutras e quando as empregamos já as recebemos
em nossa época marcadas de significado, sem que tenhamos consciência
de como foram construídos tais significados.
Herdeira desses três campos de conhecimento – a Linguística, o
Marxismo e a Psicanalise – a Análise do Discurso, entretanto, não fez uma
adesão integral dos postulados dessas disciplinas. A AD opera com a noção
de discurso, que vai muito além do objeto da Linguística. Não recobre
inteiramente o Marxismo nem segue integralmente o que teoriza a Psicanálise.
Como esclarece Orlandi (2000), a Análise do Discurso
PRECURSORES
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Análise do Discurso I
PRINCIPAIS TEÓRICOS
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Início da análise do discurso: uma história de rupturas Aula 1
DUAS FONTES DA ANÁLISE DO DISCURSO:
FOUCAULT E ALTHUSSER
CONCLUSÃO
Ao concluirmos esta primeira aula, gostaríamos de destacar que a
Análise do Discurso nos mostra que a relação com a linguagem nunca
é uma relação inocente, mas, bem ao contrário, é uma relação em que se
encontram o inconsciente, a história e a ideologia.
A AD, por origem é interdisciplinar, uma vez que surge com o avanço de
três disciplinas: a Linguística, o Marxismo e a Psicanálise. Outras disciplinas,
a exemplo da Pragmática, também nasceram em consequência da saturação
e dos limites da Linguística em voga até os anos sessenta, que procurava ex-
plicar o fenômeno da linguagem no interior da própria língua, sem nenhuma
referência ao aspecto externo. Mas de maneira oposta à Pragmática, a Análise
do Discurso não concebe os indivíduos como donos de suas vontades, livres
para dizer o que quiserem, com intenções dirigidas por plena consciência. A
noção de sujeito da AD é de um sujeito constituído pela língua, pela história,
pela ideologia e pelo esquecimento. Não há, nessa perspectiva, como afirma
Pêcheux (1978) discurso sem sujeito, nem sujeito sem ideologia. Na afirmação
de Possenti, “Os interlocutores são considerados, pela pragmática, a título
individual, e a AD quer mostrar que esse não é o caso”.
Por fim, como aprofundaremos nas aulas seguintes, AD inaugura novas
formas de ler o discurso, renegando completamente da ideia de que o texto
é uma mensagem (algo transparente, claro), que um emissor (indivíduo
consciente e dono do seu dizer), transmite a um receptor (indivíduo passivo
no ato da comunicação), cujo sentido será descoberto com a decodificação
da estrutura linguística.
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Análise do Discurso I
RESUMO
Ao concluirmos esta primeira aula, gostaríamos de destacar que a
Análise do Discurso nos mostra que a relação com a linguagem nunca
é uma relação inocente, mas, bem ao contrário, é uma relação em que se
encontram o inconsciente, a história e a ideologia.
A AD, por origem é interdisciplinar, uma vez que surge com o avanço
de três disciplinas: a Linguística, o Marxismo e a Psicanálise. Outras disci-
plinas, a exemplo da Pragmática, também nasceram em consequência da
saturação e dos limites da Linguística em voga até os anos sessenta, que
procurava explicar o fenômeno da linguagem no interior da própria língua,
sem nenhuma referência ao aspecto externo. Mas de maneira oposta à
Pragmática, a Análise do Discurso não concebe os indivíduos como donos
de suas vontades, livres para dizer o que quiserem, com intenções dirigidas
por plena consciência. A noção de sujeito da AD é de um sujeito consti-
tuído pela língua, pela história, pela ideologia e pelo esquecimento. Não
há, nessa perspectiva, como afirma Pêcheux (1978) discurso sem sujeito,
nem sujeito sem ideologia. Na afirmação de Possenti, “Os interlocutores
são considerados, pela pragmática, a título individual, e a AD quer mostrar
que esse não é o caso”.
Por fim, como aprofundaremos nas aulas seguintes, AD inaugura novas
formas de ler o discurso, renegando completamente da ideia de que o texto
é uma mensagem (algo transparente, claro), que um emissor (indivíduo
consciente e dono do seu dizer), transmite a um receptor (indivíduo passivo
no ato da comunicação), cujo sentido será descoberto com a decodificação
da estrutura linguística.
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Início da análise do discurso: uma história de rupturas Aula 1
ATIVIDADES
1.
O trabalho liberta
Com base na afirmação de que a língua não é usada apenas para dizer,
mas também para ocultar, negar, interprete o discurso acima.
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Análise do Discurso I
2.
Figura3: Charge
(Fonte: http://www.chargeonline.com.br).
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PRÓXIMA AULA
Na aula de número 02, que veremos a seguir, vamos apresentar a noção
de sujeito, que tem uma classificação bastante particular e inovadora na
Análise do Discurso. Em primeiro lugar, em AD, sujeito se afasta comple-
tamente da noção de indivíduo consciente e livre para dizer o que quiser.
Veremos que o sujeito é dividido pelo consciente e o inconsciente, que ele
é assujeitado, isto é dependente da história e da ideologia.
AUTOAVALIAÇÃO
Após o final desta aula estou apto a definir qual o objeto da Análise
do Discurso? Conheço os precursores da AD? Tenho conhecimento para
interpretar discursos usando os conceitos aqui estudados: discurso, língua,
sentido? Relaciono seus principais teóricos?
REFERÊNCIAS
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