Psychomachia PDF
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PSYCHOMACHIA DE PRUDÊNCIO:
Introdução ao poema sobre a luta dos Vícios e das Virtudes no interior
do Home e tradução do poema (texto latino e tradução)
São Paulo
2015
PSYCHOMACHIA DE PRUDÊNCIO:
Introdução ao poema sobre a luta dos Vícios e das Virtudes no interior
do Home e tradução do poema (texto latino e tradução)
São Paulo
2015
PSYCHOMACHIA DE PRUDÊNCIO:
Introdução ao poema sobre a luta dos Vícios e das Virtudes no interior do Home e
tradução do poema (texto latino e tradução)
BANCA EXAMINADORA
________________________________________
Prof. Orientador: Dr. Jorge Luis Rodrigues Gutiérrez
Faculdade de São Bento de São Paulo
__________________________________________________
Leitor 1: Prof. Dr. Bruno Fregni Basseto
Faculdade de São Bento de São Paulo
________________________________________________
Leitor 2: Prof. Dr. Franklin Leopoldo e Silva
Faculdade de São Bento de São Paulo
Revista Pandora Brasil - Edição Nº 86 - Setembro de 2017 - ISSN 2175-3318
Psychomachia de Prudêncio – Estudo, tradução e texto latino
3
AGRADECIMENTOS
Enfim, aos irmãos e amigos que me apoiaram desde o início com o tema desta
monografia, minhas orações de pobre.
Prudêncio
RESUMO
Sumário
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 8
2 Prudêncio e a sua época literária ....................................................................... 11
2. 1 Vida................................................................................................................ 11
2. 2 Literatura Pysicomachia................................................................................. 13
2. 3 O título Psychomachia .................................................................................... 14
2. 4 Psychomachia e o Maniqueísmo. .................................................................. 16
3 Estrutura da Psychomachia ................................................................................ 18
3. 1 Prefácio.......................................................................................................... 18
3. 2 As batalhas .................................................................................................... 21
3.2.1 O primeiro duelo: a fé (Fides) versus a adoração pagã (veterum Cultura
Deorum) ............................................................................................................. 22
3.2.2 O segundo duelo: Castidade (Pudicícia) versus Libido (Lascívia) ........... 24
3.2.3 O terceiro duelo: Paciência versus Ira..................................................... 26
3.2.4 O quarto duelo: Soberba versus Humildade e Esperança ........................ 29
3.2.5 O Quinto duelo: A Imoderação versus Temperança ................................. 31
3.2.6 O sexto duelo: Avareza versus Razão e Generosidade ............................ 34
3. 3 A Paz com suas vicissitudes e a construção do Templo ............................... 37
4 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 39
5 PSYCHOMAQUIA: TEXTO LATINO E TRADUÇÃO ............................................ 40
6 Bibliografia.......................................................................................................... 104
1 INTRODUÇÃO
Enfim, o texto latino que nos desposemos para a leitura foi extraído da Migne,
localizada no tomo 60, da coleção da biblioteca do Mosteiro de São Bento de São
Paulo. Para os comentários nos apoiamos em três teses: uma italiana por Paola
Franchi, tese para um doutorado em Filosofia. Uma segunda em Inglês por Louis B.
Snider, tese para um mestrado em artes. E a terceira em português por Ana
Alexandrina Alves de Sousa mestrado em letras pela universidade de Lisboa. Outras
fontes secundarias de pesquisas indicaremos nas referências bibliográficas.
2. 1 Vida
1 Marcus Minuncius Felix, século II Aprox. Foi um escritor e advogado romano. Convertido ao
cristianismo famoso pelo “Octavius” um diálogo entre um pagão e um cristão.
Tertuliano, 160, Cartago, foi um prolífico autor das primeiras frases do Cristianismo, apologeta cristão
e um polemista contra a heresia.
Árnobio de Sica, morto em 330, ele refuta a idolatria pagã como sendo cheia de contradições e
claramente imoral.
Lactâncio, tinha a intenção de mostrar a futilidade das crenças pagãs e estabelecer a verdade do
cristianismo.
2 Cathemerion, introdução.
bispos poetas Hilário de Poitiers e Ambrósio de Milão. Sua poesia culta, obra de um
leigo de cultura ampla e refinada, encontra-se a formação e o gosto clássico de um
“homem das musas” que não conhece apenas Virgílio e Horácio, mas também os
poetas da época flávia.
Ele compôs cinco de suas obras durante o período que abrange os anos 398-
400. O Cathemerinon (Canto cotidiano) inclui doze hinos de caráter lírico em um modo
de orações diárias que lidam com a origem do homem e do mundo, a imortalidade da
alma, a origem do mal e da natureza divina. A base da Apotheosis (Apoteose), em um
caráter didático, é a divinização da natureza humana de Cristo, que deve ser imitado
pelos homens. Em Hamartigenia (A origem do mal) de caráter didático-moralizante, é
a origem do pecado e do mal que destrói a natureza divina da alma humana. Deste
primeiro período também estão os primeiros sete hinos Peristephanon, obra lírica
dedicada aos mártires que com seu sacrifício ganharam sua imortalidade.
O poeta bebeu tanto de obras cristãs (Bíblia, St. Ambrósio, São Paulo e as
histórias dos Mártires) como das fontes clássicas (Horácio, Virgílio, Juvenal),
aumentando assim a mistura de culto popular e cristianizando elementos da
Antiguidade Clássica, utilizando-os para compor seus tratados poéticos destinados a
defender as heresias cristãs.
2. 2 Literatura Pysicomachia
2. 3 O título Psychomachia
O vocábulo grego usado pelo poeta, que aliás, usa em todos os poemas de
suas obras, refere-se a um combate (μάχη) travado na alma (ψυχή) entre forças
benignas e malignas, dos quais ficcionalmente tanto uma como outra podem sair
vitoriosas. “Imóvel no meio do combate; contemplava os combates incertos, as feridas
e os órgãos vitais trespassados por duros dardos, fixando os olhos, permanecia
tranquila”.4 A psicomaquia constitui não só o modelo fundamental para esta dualidade
mas também para sua expressão alegórica mais exuberante. Descrevendo a batalha
entre opositores, personificações de vícios e virtudes, são apresentadas sete cenas
sequenciais, de igual desfecho mas de diversos procedimentos, tendo como objetivo
a vitória nessa rebelião interior: a Fides versus Veterum Cultura Deorum; a Pudicitia
versus Sodomita Libido; a Patientia versus Ira; a Mens Humilis et Spes versus
Superbia et Fraus; a Sobrietas versus Luxuria; A Ratio et Operatio versus Avaritia; e
a concordia et fides versus Discordia cognomento Haeresis. Para M. Smith a palavra
ψυχή pode ter um significado de “vida”, pois, pode esta luta ser de uma alma para a
vida eterna, bem como a luta de uma alma neste mundo para a vida eterna, ou ainda
a luta de uma alma neste mundo para a clareza da alta perfeição do cristão.5
O título do texto coloca-nos em dificuldades nunca totalmente identificados: a
versão mais óbvia e fácil "a batalha da alma" está competindo rótulos, alguns
intérpretes seculares interpretam como "guerra para a alma" ou "em torno da alma".
Outros defendem que este significa “combate na alma” opondo-se a “combate da
alma”. Preferimos aqui apoiar-se na linha de pensamento que traduz como “combate
da alma” pois, a alma aparece na prece inicial com um papel ativo: mens armata.
4Psych. 110
5 M. Smith, 1976, p 114 “ a Psychomachia can be a soul´s struggle for eternal life, as well as a soul´s
struggle in this world for the clarity of Chistian self-perfection. The two are obviosily one and the same”.
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2. 4 Psychomachia e o Maniqueísmo.
6 M. Smith, Op. Cit., p 145 “ what the will of the converted Christian wants to avoid is not contact with
the body per se, but cupidinous contact with the body”.
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3 Estrutura da Psychomachia
3. 1 Prefácio
engendrar-se nesta batalha, confiado na força de Deus, para obter uma recompensa,
uma geração. Há uma verdadeira guerra no nosso interior, e nós devemos ter um
espírito de guerreiro como teve Abraão, para impedir que as paixões desordenadas
tomem posse de nossas almas.
Como se nota, a questão de pôr uma história bíblica não é só uma mensagem
de caráter religioso pietista, mas, uma estrutura narrativa de pensamento que
Prudêncio quer desenvolver na poesia. Portanto, o prefácio relaciona-se também com
o corpo do poema em que está integrado, muitos dos episódios da batalha que irá
ocorrer na alma estão contidas no prefácio. Por exemplo, pode-se notar, por um lado,
os inimigos de Ló, e por outro, Abraão e seus 3187 escravos nascidos em casa, uma
representação dos vícios e das virtudes respectivamente.
Com a idade avançada, a fé inabalável, o papel exemplar do patriarca é
apontado como um caminho inicial para todo homem que deseja abraçar a religião
cristã; a ideia de fé, expressa seja como um adjetivo ou uma metáfora, é colocado em
importância absoluta, de acordo com a arquitetura geral do poema que vê a Fides
como primeira heroína a entrar em campo e última a deixar a cena. Deste modo, o
poeta já põe a centralidade do tema da fé. Na representação da luta e na vitória contra
gentes profanae, como condição indispensável para receber o prêmio da “geração”, o
texto revela seu valor simbólico. A história exemplar de Abraão no prefácio não
consiste em ações puramente materiais como se conhece no livro do Genesis, mas,
um trabalho espiritual-moral, de uma guerra contra os “monstros do coração”, em que
vitia é definido portenta: conluctanctia contra / viribus infestis liceat portenta notare
(19-20). Aqui no prefácio ainda é bastante obscuro, mas a associação cordis servientis
é clara: a escravidão é na filosofia cristã o símbolo imediato do pecado, que por outro
lado, a liberdade está na redenção dada em Jesus Cristo. Tendo assim apresentado
um exemplo de batalha interior na vida de Abraão, o poeta aludiu um caminho moral
simbolizado em sua história.
7Os primeiros pais foram conhecidos por suas interpretações místicas dos números. Em grego, o
número 318 é TIH que é o símbolo de Cristo. Por causa de sua forma o T significa a cruz. IH são as
duas primeiras letras da forma grega de Jesus. A interpretação, portanto, de Abraão e seus servos
torna-se: Abraão, a alma, com a ajuda de 318 servos, Cristo, conquista todas as paixões. (Lavarenne,
1933 pp 210).
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Abraão. A história contada por duas fazes distintas da vida de Abraão, a saber, a
expedição militar para libertar seu sobrinho Lot, incluindo um encontro com o
sacerdote e rei Melquisedeque e a segunda o nascimento de Isaac, dividida em dois
momentos: da visita de três diferentes anjos e da maternidade de Sara. O texto
apresentado por Prudêncio é a união de dois episódios em uma relação de causa-
efeito, lembrando um texto patrístico, interpretado como um caminho moral.
a análise até agora tem mostrado “a batalha da alma pela presença de Deus”, uma
batalha no coração humano para expulsar as más inclinações e ganhar como
recompensa a presença de Cristo. A figura de Cristo destaca-se no prefácio e no texto
do poema que inclusive começa e terminam com uma prece a Cristo: no início, o
poema substitui a invocação às Musas tão comum para os gregos pela invocação a
Cristo.
3. 2 As batalhas
Paciência; esta última, vale destacar que nem precisa de arsenal, sua própria natureza
suprime o vício que lhe opõe.
A primeira a dirigir-se para a batalha é a fé, agitada, fazendo ruídos, com ombros
desnudos, sem cortar seus cabelos e com os braços ao ar, ela tem uma estatura mais
elevada e se apresenta seguida por mil mártires, com coroas de flores e vestidos com
púrpura. Quase uma série de explosões que enfatiza a energia e o momento da
agressividade da personagem. Imediatamente após aparecer a Fides, caracterizado
pela força e impulso de guerreiro; ela atinge a Cultura Veterum Deorum com um só
golpe a deixando agonizar; não há muitas palavras, este combate é puramente
imagem e gestos. O discurso direto, é claro, mas é relevante notar que não existe o
uso de armas, deixando em evidencia que no início da batalha interior são as forças
pessoais que devem ser postas em batalha, ou seja, é uma batalha puramente
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A fé é posta como uma virtude cristã. Do mesmo modo como ela é representado
por Abraão no prefácio, ela aqui também é um fenômeno social, que vem destruir o
paganismo e suas práticas. O amor da glória e a ânsia de se envolver em novos
confrontos fazem desta personagem uma figura heróica em todos os aspectos. Mas,
amor ao louvor não é um motivo digno de virtude de fé. Entretanto, é preciso lembrar
que Prudêncio está conservando em seu poema grande parte dos antigos
instrumentos clássicos, e os grandes heróis lutam para o louvor. Observemos como
esses sentimentos são expressos através de metáforas em um calor ferventíssimo
que caracterizam a fé como uma verdadeira paixão, demostrando assim que a
Psychomachia não deixa de lado as leituras estóicas como um choque entre as
paixões que perturbam o coração e a racionalidade que os detém em vigilância.
Portanto, a luta da fé vem em primeiro lugar porque é ela quem prepara o cristão
para outras virtudes. Seu único conflito com a adoração dos deuses antigos breve e
decisivo – é a luta mais curta no poema. Não há declamatio nem qualquer sinal de
fraqueza nesta donzela que é "a rainha de todas as virtudes". Assim, a batalha entre
a fé e o culto antigo não pode ser entendido como uma mera retórica. Prudêncio
vivenciou-a quando ainda era jovem, esforçando-se para mantê-la forte. Viu-a
diariamente entrar em campo contra o vício; ele mesmo experimentou a fé na batalha
consigo mesmo com o antigo culto. Assim, não se pode ler a Psychomachia com
cinismo sofisticado e esperar para se divertir, como em um conto. O poeta vê nessa
guerra interior uma verdade, que provoca nos vícios grandes desolações.
estarem fora dessa batalha interior. Prudêncio possivelmente escolheu estes opostos
logo após a luta da Fé porque esta virtude com seu correspondente vício, são
universalmente conhecidos a estarem em um constante conflito na alma humana, e
acreditamos que de fato é a segunda batalha no interior dos homens.
9 Apenas indicamos os epítetos que consideramos estarem relacionados com a índole desses entes.
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Luxuria uma vez tinha sido morta por Judith na pessoa de Holofernes, ganhou vida
novamente10.
A outra figura que aparece neste discurso da castidade é Maria mãe de Jesus,
uma figura histórica da castidade virginal. Prudêncio aponta alguns atributos de
incapacidade de Judith para destruir completamente a Luxúria talvez pelo fato de que
ela não era virgem, mas viúva de Manassés. Porém, como aqui é uma guerra interior
do homem pagão com as virtudes do homem Cristão, a tradição Cristã encara a
virgindade como um estado mais perfeito e o poeta traz a força e a capacidade da
virtude de Maria, a Virgem, em superar completamente a Luxúria. E com isto a
efetivação da redenção do homem com o nascimento de Cristo por meio de uma
virgem, a luxúria realmente conheceu seu castigo eterno.
Paciência e Ira agora ocupam a briga, Prudêncio inaugura uma nova forma de
duelo, a violência corporal em uma espécie de gladiadores tão comum nos dois
primeiros duelos, vai dar um lugar ao duelo de oposições distantes, sob um aspecto
de auto aniquilação. Agora o vício e a virtude não estão em contato físico e agressivo.
Nos primeiros versos desta batalha o poeta nos dá uma imagem excelente da virtude
paciência. Contrastando o semblante da Paciência com a Ira.
10Na realidade Holofernes foi punido por ter imponderado com povo de Deus. Prudêncio parece pensar
que Judith o matou porque ele havia tentado sua virtude.
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A Ira morre devido à sua própria violência, golpeada em seu crânio: “A própria
loucura é inimiga de si mesma e enfurecendo-se perece e a Ira rubra morre por suas
armas” (Psy 160-161). Desta forma, o vício é eliminado pelo próprio vicio. O Orgulho
e a Ira estão intimamente interligados, estão em relação; cada um destrói a si mesmo,
com seus próprios recursos. Na Psychomachia a Ira comete suicídio com a mesma
arma com a qual ela teria enfrentado seu inimigo, o orgulho encontra a morte nas
mãos de um aliado, porque o seu espírito turbulento impede a humildade a tomar a
iniciativa no combate. O poeta ainda afirma, que nenhuma virtude acomete uma luta
de incerto resultado sem a virtude da paciência, pois está desprotegida aquela a quem
a paciência não dá firmeza, ou seja, a intrépida paciência é a única a associar-se a
todas as virtudes como companheira e a prestar-lhes o seu auxilio. Na luta incerta não
entra virtude alguma sem esta virtude; está, pois, desamparada aquela que a
paciência não encoraja.
Há na estrutura das três batalhas anteriores uma certa distinção das próximas
batalhas e distingue-se quer por serem as Virtudes as primeiras entidades nomeadas,
quer também por esta pequena tríade: Fé, Pudicícia e Paciência, reunirem as lutas
singulares entre duas entidades apenas. É a partir do quarto embate que temos como
características designar primeiramente os vícios e uma extensão dos combates. Este
desenvolvimento significa, a nosso ver, não que o poeta considere mais grave um
homem ser avaro do que colérico, mas que as próximas batalhas os vícios, soberba,
imoderação e avareza, são mais complexos e por isso se podem tornar mais perigoso
ao homem12.
14 132 versos.
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exemplo foi o desejo desordenado de reinar de seu pai Absalão. Portanto, é de fato
um vício sutil, de fácil dominação no homem, o próprio Davi, rei exemplar, pode ser
visto como um guerreiro não se manifestando sempre reto na sua conduta. É fato que,
na história humana o homem sempre se mostrou variante na retidão de sua conduta,
o que parece, que o poeta nos lembra destes momentos de decaída e de vacilo. É só
quando o homem se desperta das paixões desordenadas que tende a lutar com mais
vigor. Assim, é quando nos libertamos das paixões desordenadas causada pela
imoderação que o homem se encontra consigo mesmo, e reconhece sua verdadeira
natureza livre.
É interessante ainda notar um elemento não muito claro para uma linguagem
Cristã. A sobriedade arremessando uma enorme pedra que provinha de um rochedo
vai ser guiada pelo acaso. Prudêncio atribui ao acaso algo que seria de esperar a um
cristão a atribuição da Providencia.
Sua descrição é de uma matrona de males, amamentado seus filhos com leite
negro. Gera a Preocupação, a Fome, o Medo, a Ansiedade, o Perjúrio, o Temor, a
Corrupção, a Falácia, a Ficção, a Insônia a Ruindade. O sexto e último combate que
a alma deverá enfrentar será o Vício da Avareza e a Virtude que comandará este
embate será a Generosidade, entendida como as boas obras, ou seja, o
empreendimento de atos de beneficência, a caridade. A Avareza é acompanhada por
um extenso séquito de vícios, atrai os homens gerando a discórdia civil. Pelas nações
gera tal mortandade e é a vencedora do universo (orbe), ou seja, para o poeta a
Avareza havia vencido e dominado o universo, imperando sobre o mundo e trazendo
a calamidade.
por um lado, ele compactua com os outros vícios, quando o poeta fala dos disfarces
deste Vício, diz que sente raiva e fúria junto a si. Por outro lado, ao mostrar a Avareza
com paciência de virtude, o poeta pretende fazer ver que este vício pode dominar o
homem, estando ele persuadido ou querendo ele persuadir os homens que nas suas
atitudes não se manifesta pecaminoso, mas apenas um defensor da frugalidade. Ou
seja, capaz de ostentar uma aparência virtuosa e até mesmo de se comparar de forma
aparentemente piedosa, camuflando intenções perversas.
O desfecho do último duelo, nos remete a cena do jovem rico que deseja a vida
eterna, ou seja, que almeja a vida espiritual. Apesar do poeta não mencionar esta
passagem bíblica, onde um jovem aproxima-se de Jesus e faz uma pergunta: Bom
mestre, que farei para herdar a vida eterna?20 Como se sabe este jovem já tinha
observado todos os mandamentos de sincero coração, ou seja, já tinha combatido
consigo mesmo todas tendências contrárias à sua fé. Porém, lhe faltava uma única
coisa para que enfim, pudesse almejar o que desejava, deixar tudo que tinha em
excesso e dar aos pobres. Prudêncio pode não ter mencionado o exemplo do jovem
rico, porém o epílogo da batalha da alma, é o mesmo do pensamento cristão para
uma conversão definitiva. O tema do abandonar o excesso como causa final da
adesão à vida cristã parece ser o duelo mais conturbado que a alma pode enfrentar.
A edificação do templo tem seu lugar na alma, do mesmo modo como se deu no
espaço da batalha. É depois da fé ter vencido que ela própria vai dirigir a construção.
É um templo interior, uma vez o corpo do homem purificadodos vícios torna-se templo
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4 CONCLUSÃO
Portanto, a mensagem do poema foi bem clara: que fique o homem atento aos
seus desejos e desordens internas, que busque viver de modo harmonioso com sua
natureza. No caso do poema este modo natural de equilíbrio e de conquistar a paz
interior é o Cristianismo, ou seja, o modo de vida cristã traz em si a opção por certos
comportamentos que leva o homem a agir harmoniosamente e garantirem a paz e a
sabedoria interior.
PRAEFATIO
Prefácio
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6 Bibliografia