DALBELO, Autopoiese Urbana Transicao para Sustentabilidade, 2019 (TESE) PDF

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo


Arquitetura, Tecnologia e Cidade

AUTOPOIESE URBANA
TRANSIÇÃO PARA SUSTENTABILIDADE

Thalita dos Santos Dalbelo

Campinas | janeiro de 2019


THALITA DOS SANTOS DALBELO

AUTOPOIESE URBANA
TRANSIÇÃO PARA SUSTENTABILIDADE

Tese de Doutorado apresentada à


Comissão de Pós-Graduação da
Faculdade de Engenharia Civil,
Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Estadual de Campinas,
para obtenção do título de Doutora
em Arquitetura, Tecnologia e Cidade,
na área de Planejamento e Projeto
Urbano.

Orientadora: Profa. Dra. Emília Wanda Rutkowski

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO


FINAL DA TESE DEFENDIDA PELA ALUNA
THALITA DOS SANTOS DALBELO E ORIENTADA
PELA PROFA. DRA. EMÍLIA WANDA RUTKOWSKI.

CAMPINAS
2019
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE ENGENHARIA CIVIL, ARQUITETURA E URBANISMO

AUTOPOIESE URBANA
TRANSIÇÃO PARA SUSTENTABILIDADE

Thalita dos Santos Dalbelo

Tese de Doutorado aprovada pela Banca Examinadora, constituída por:

Profa. Dra. Emília Wanda Rutkowski


Presidente e Orientadora/Unicamp

Prof. Dr. Sidney Piochi Bernardini


Unicamp

Prof. Dr. Orlando Fontes Lima Junior


Unicamp

Profa. Dra. Maria de Assunção Ribeiro Franco


USP

Profa. Dra. Maria Cristina Magro


Fundação Dom Cabral

A Ata da defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no SIGA/Sistema de


Fluxo de Dissertação/Tese e na Secretaria do Programa da Unidade.

Campinas, 29 de janeiro de 2019


Dedico esta tese a Ilse Erda Dudeck
AGRADEÇO

À professora doutora Emília Wanda Rutkowski, orientadora desta tese.


Aos professores doutores que não hesitaram em compartilhar conhecimentos: Ana
Elisa Spaolonzi, que me fez compreender meu desejo autopoiético; Evandro Zigiatti
Monteiro; Regina Tirello; Silvia Mikami e Ana Góes.
Aos professores que compuseram a banca final: Maria Assunção Ribeiro Franco,
Maria Cristina Magro, Sidney Piochi Bernardini e Orlando Fontes Lima Júnior.
Aos amigos e companheiros de pesquisa do Laboratório Fluxus: da atualidade,
Fernando e Gabi, que pegaram na minha mão e colocaram-me de volta ao caminho; de
outros tempos: Alessandro, Graziela, Gaudêncio, Elson, Rafael, Juliana e Obi. Ao
laboratório LALT, que apoiou o início desta tese, especialmente, à Damares, Ju e Carol.
À equipe da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp,
especialmente Eduardo e Cássia, pelo apoio em todos os momentos.
Ao meu núcleo familiar: meu marido Raphael; meu pai Antonio [in memoriam]; minha
mãe Carmen; meu irmão Leandro, às cachorríneas dos nossos corações que sempre
alegraram meus momentos de escrita: Ika, Kaya, Liloca e Zuli e à Ziggy. Às grandes famílias
Darbello e Santos: tios, tias e os tantos primos e às famílias Araújo e Abreu que me acolheram
de coração.
À Ilse Erda Dudeck, a pessoa mais iluminada que pude conhecer, disseminadora do
conhecimento do tempo, que muito auxiliou meu desenvolvimento pessoal e a quem dedico
esta tese; às demais integrantes do grupo Lamat: Egle, Gisela, Rebeca, Sabrina e Valdelisa,
aos lamatos e lamatinhas e ao grupo de Serviços Planetários, especialmente Claúdia, Fabio,
Juceli e Sônia.
Aos meus amigos de todos os tempos: Eduardo e Anna Corradi; Marcos e Carol;
Eber e Vivi; Gui e Lu; Lucas Brito; Paulo e Tha Bachelli; Anaí e Clovinho; Michel Abreu e
Diego Roig.
Aos meus afilhadinhos queridos e às crianças que me cercam, que talvez vivam a
transição: Maria Flor, Olivinha, Diego, Joana, Gabriel, Miguel, Gabrielzinho, Dani, Helena
e Laura.
À equipe da Coordenadoria de Projetos e Obras da Unicamp, especialmente Aline,
Adriana, Fernando, Gabi, Lu e Talita.
À equipe da Diretoria de Planejamento Integrado da Unicamp, especialmente Marco
Aurélio Lima, Marcelo Cunha, Vanderlei Braga, Flávia Garboggini, Talita Mendes,
Wellington Oliveira, Marcelo Albieri, Regina Falsetti e Edilene Donadon.
À empresa H2MK, que financiou o primeiro ano, e ao CNPq, que financiou 2 anos
de desenvolvimento desta tese.
“... – Ela fala de uma rede de energia que flui através de todas as coisas vivas. Ela
diz que toda energia é só emprestada e que um dia tem que ser devolvida”.

(Jake Sully sobre Neytiri, Avatar, 2012).


Resumo

As proporções entre a área ocupada pelas cidades, a população urbana mundial e as taxas de
emissão de gás carbônico indicam impactos negativos ao equilíbrio ecológico do planeta e
às condições da população, principalmente quanto ao consumo de energia e de recursos
naturais. Urbanistas se voltam a tentativas de melhoria através do desenho urbano, alinhados
em diferentes perspectivas. Em busca de encontrar a sustentabilidade urbana ideal, esta tese
avalia as perspectivas de desenho urbano sustentável do Urbanismo Sustentável, do
Metabolismo e da Ecologia Urbana, do Urbanismo Ecológico, da Simbiose Urbana e
Industrial e da Cidade Integral, através da classificação de suas diretrizes de acordo com as
escalas de atuação e os serviços ecossistêmicos urbanos que podem ser ofertados. A
estruturação dessas diretrizes unificadas permite compreender as lacunas existentes em
relação à complexidade necessária para alcançar a sustentabilidade urbana. Então, a fim de
comprovar a hipótese de que a autopoiese é a transição necessária para a sustentabilidade
urbana, foi feita a integração desse conceito aplicado ao urbano, com a análise dos autores
que já utilizam seus processos e com a formulação do conceito da autopoiese urbana. Com
o objetivo geral de reconhecer o papel da autopoiese para a sustentabilidade urbana, esta tese
considera os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 e entende o urbano
como um ecossistema antropizado e completo, que depende de fluxos de energia, matéria e
informação para sintetizar a oferta de serviços ecossistêmicos e, assim, garantir a qualidade
urbana e a identidade territorial.

Palavras-chave: Autopoiese Urbana; Ecossistema Urbano; Sustentabilidade Urbana;


Desenho Urbano Sustentável; ODS.
Abstract

The proportions between the occupied area by cities, the world urban population and the
rates of carbon dioxide emissions indicate negative impacts on the earth ecological balance
and on the conditions of the population, mainly in terms of energy and natural resource
consumption. Urban planners seek improvement through design, aligned in different
perspectives. In order to find the ideal urban sustainability, this thesis evaluates the
sustainable urban design perspectives of Sustainable Urbanism, Metabolism and Urban
Ecology, Ecological Urbanism, Urban and Industrial Symbiosis and Integral City, by
classifying its according to the scale and to the urban ecosystem services that can be offered.
The structuring of these unified guidelines makes it possible to understand the existing gaps
in relation to the complexity required to achieve urban sustainability. So, in order to prove
the hypothesis that autopoiesis is the necessary transition for urban sustainability, the
integration of this concept applied to the urban is initiated with the analysis of authors which
already use their processes, and with the formulation of the urban autopoiesis concept. With
the goal of recognizing the role of autopoiesis for urban sustainability, this thesis considers
the Sustainable Development Goals of the Agenda 2030 and understands the urban as an
anthropic and complete ecosystem, which depends on energy, material and information
flows to synthesize the ecosystem services and, thus, guarantee the quality of life and
territorial identity.

Keywords: Urban Autopoiesis; Urban Ecosystem; Urban Sustainability; Sustainable Urban


Design; SDG.
Lista de Figuras

Figura 1 – Mapa de emissão de gás carbônico em toneladas por pessoa (2013).................................14


Figura 2 – Croqui da autopoiese urbana ...................................................................................................19
Figura 3 – Pôster da Habitat I (1976) ........................................................................................................30
Figura 4 – Interligações entre serviços ecossistêmicos e o bem-estar humano ...................................34
Figura 5 – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável ..........................................................................36
Figura 6 – O três elementos urbanos do planejamento e do desenho urbano ....................................36
Figura 7 – Estrutura semirretícula e estrutura árvores ............................................................................44
Figura 8 – Esquema representativo da formação do “sentido dos lugares”, por David Canter .......54
Figura 9 – Processo Científico ....................................................................................................................55
Figura 10 – Processo Científico de Desenho ...........................................................................................56
Figura 11 – Matriz do Desenho Integral como exemplo do domínio de engenharia mecânica .......59
Figura 12 – Desenho de Robert Owen: aldeia de harmonia e cooperação ..........................................61
Figura 13 – O falanstério proposto por Charles Fourier. .......................................................................61
Figura 14 – Esquema de Haussmann para Paris ......................................................................................62
Figura 15 – Implantação de uma cidade-jardim ideal ..............................................................................63
Figura 16 – Implantação da cidade-jardim Letchworth – Inglaterra, 1904 ..........................................64
Figura 17 – Zoneamento da Cidade Industrial de Garnier ....................................................................66
Figura 18 – Planta da Vila Radiante ...........................................................................................................67
Figura 19 – Plano viário para o condado de Londres com as vias arteriais e os anéis B e C ............68
Figura 20 – Plano Urbano para Bath: reconfiguração de usos ..............................................................69
Figura 21 – Sistema proposto para as estradas expressas de Nova York ............................................70
Figura 22 – Implantação da cidade Seaside – 1991 .................................................................................73
Figura 23 – Pike Plaza Redevelopment Project: modelo arquitetônico para Seattle ..........................75
Figura 24 – “The Seattle Commons Draft Plan” – Maps Collection, 1993 .........................................77
Figura 25 – Resiliência Urbana ...................................................................................................................82
Figura 26 – Serviços Ecossistêmicos Urbanos e ODS ...........................................................................84
Figura 27 – Unidade de Bairro Sustentável ..............................................................................................88
Figura 28 – Rua Completa...........................................................................................................................89
Figura 29 – Plano para a Baía de Tóquio – Kenzo Tange – 1960...................................................... 101
Figura 30 – Escalas de abrangência da ecologia urbana....................................................................... 105
Figura 31 – Infográfico do Projeto de travessia do aeroporto de Mumbai ...................................... 113
Figura 32 – Seção de Cingapura .............................................................................................................. 114
Figura 33 – Fab Tree Hab ........................................................................................................................ 115
Figura 34 – Projeto para edificação em Beit Sahour com e sem intervenção................................... 116
Figura 35 – Sistema de coleta, tratamento e armazenamento de água pluvial – Harmonia 57....... 117
Figura 36 – Diagrama de fontes de energia utilizadas e perdas ........................................................... 118
Figura 37 – Infraestruturas e tecnologias sustentáveis da BedZED................................................... 119
Figura 38 – Projeto La Tour Vivante ...................................................................................................... 120
Figura 39 – Parque Red Ribbon – rio Tanghe ....................................................................................... 121
Figura 40 – Infraestrutura da cidade de Nova York ............................................................................. 123
Figura 41 – Projeto The Upway ............................................................................................................... 127
Figura 42 - Syracuse Center of Excellence in Energy and Environmental Systems ........................ 129
Figura 43 – Imagem aérea da região do Port of Cape Charles ............................................................ 138
Figura 44 – Mapa das zonas do Programa Eco-Town japonês aprovadas. ....................................... 139
Figura 45 – Estrutura Integrada de Análise de Simbiose Urbana e Industrial .................................. 140
Figura 46 – Imagem do projeto para a Suzhou Eco-Town ................................................................. 142
Figura 47 – Padrões comuns de conexão AQAL .................................................................................. 148
Figura 48 – Mapa dos oito níveis da Teoria Integral ............................................................................ 149
Figura 49 – A abordagem integral para a arquitetura verde de Mark Dekay ..................................... 149
Figura 50 – As 12 inteligências da Cidade Integral ............................................................................... 151
Figura 51 – Mapa 1: 4 Quadrantes e 8 Níveis da Cidade Integral ...................................................... 153
Figura 52 – Mapa 2: Holarquia do Sistema Humano ........................................................................... 154
Figura 53 – Mapa 3: Relação fractal escalar dos sistemas humanos micro, médio e macro ........... 155
Figura 54 – Mapa 4: Complexas estruturas adaptativas de mudança ................................................. 156
Figura 55 – Perspectiva Multinível aplicada para o regime de Desenho Urbano Sustentável ........ 166
Figura 56 – Diagrama de ontogenia ........................................................................................................ 170
Figura 57 – Unidades autopoiéticas em simbiose e metacelular ......................................................... 171
Figura 58 – Componentes interagindo ativamente ............................................................................... 172
Figura 59 – Acoplamento entre sistemas psíquico e social .................................................................. 173
Figura 60 – A circularidade do “self” na auto-produção autopoiética ............................................... 174
Figura 61 – Diagrama sistema-mundo e semiosfera humana .............................................................. 177
Figura 62 – Fotografias observacionais das reações resultantes da relação areia, água e objetos .. 179
Figura 63 – Exemplo de projeto de arquitetura funcional para as marés altas e baixas .................. 180
Figura 64 – Imagem de Songdo em 2018 ............................................................................................... 181
Figura 65 – Esquema de elaboração do Desenho Urbano Autopoiético .......................................... 194
Figura 66 – Perspectiva Multinível na Transição para a Sustentabilidade Urbana ........................... 196
Lista de Quadros

Quadro 1 – Classificação Metodológica da pesquisa...............................................................................22


Quadro 2 – Escalas Urbanas .......................................................................................................................23
Quadro 3 – Categorias das diretrizes de Desenho Urbano Sustentável ...............................................23
Quadro 4 – Diretrizes de sustentabilidade urbana para a “The City Summit” ...................................33
Quadro 5 – Objetivo de Desenvolvimento Sustentável n. 11 ...............................................................38
Quadro 6 – Aplicação dos ODS no Planejamento Urbano ...................................................................39
Quadro 7 – Comparação entre escalas usadas no Urbanismo Sustentável e nesta tese .....................93
Quadro 8 – Diretrizes de Desenho Urbano do Urbanismo Sustentável..............................................94
Quadro 9 – Modelo estendido de Metabolismo Urbano de assentamentos humanos ......................97
Quadro 10 – Perspectivas de evolução e abordagens em Ecologia Urbana ..................................... 103
Quadro 11 – Ecologia Urbana e Sistemas Industriais .......................................................................... 106
Quadro 12 – Diretrizes de Desenho Urbano para Ecologia e Metabolismo Urbano ..................... 108
Quadro 13 – Planejamento Urbano em três níveis .............................................................................. 124
Quadro 14 – Diretrizes de Desenho Urbano para Urbanismo Ecológico ....................................... 130
Quadro 15 – Diagrama de trocas industriais em Kalundborg – 2015 ............................................... 135
Quadro 16 – Ecopolos – Programa Rio Ecopolo – 2002 ................................................................... 143
Quadro 17 – Diretrizes para projeto urbano e construção de um EPI ............................................. 144
Quadro 18 – Diretrizes de design ecológico para um EPI .................................................................. 144
Quadro 19 – Diretrizes de Desenho Urbano para Simbiose Urbana e Industrial ........................... 146
Quadro 20 – Princípios de desenho a partir das quatro perspectivas da Teoria Integral ............... 150
Quadro 21 – Inteligências Integrais ........................................................................................................ 152
Quadro 22 – Diretrizes de Desenho Urbano para a Cidade Integral ................................................ 158
Quadro 23 – Estruturação final das diretrizes de desenho urbano sustentável ............................... 159
Quadro 24 – Relação entre o planejador urbano e o sociólogo ......................................................... 182
Quadro 25 – Síntese das teorias sobre a Autopoiese Urbana ............................................................. 191
Quadro 26 – Descrição de Processos de Autopoiese Urbana ............................................................ 192
Quadro 27 – Correlação entre processos autopoiéticos, serviços ecossistêmicos urbanos e ODS
...................................................................................................................................................................... 193
Sumário

1. Introdução ............................................................................................................................. 14
1.1. A ideia da autopoiese urbana ..................................................................................... 15
1.2. Abordagem Metodológica .......................................................................................... 20
2. Vetor sustentabilidade no urbanismo ................................................................................ 24
2.1. Reuniões e metas internacionais ................................................................................ 28
2.2. Desenho urbano........................................................................................................... 42
2.3. Histórico do desenho para qualidade urbana ........................................................... 60
2.4. Ecossistema urbano ..................................................................................................... 78
3. Perspectivas de desenho urbano sustentável .................................................................... 85
3.1. Urbanismo Sustentável ............................................................................................... 85
3.2. Metabolismo e Ecologia Urbana ............................................................................... 95
3.3. Urbanismo Ecológico ............................................................................................... 108
3.4. Simbiose Urbana e Industrial ................................................................................... 133
3.5. Cidade Integral ........................................................................................................... 147
3.6. Estruturação das diretrizes de desenho urbano sustentável................................. 159
4. Autopoiese: da ecologia às cidades ................................................................................... 167
4.1. Origem do conceito ................................................................................................... 168
4.2. Autopoiese Urbana .................................................................................................... 175
4.3. Desenho Urbano Autopoiético ............................................................................... 192
4.4. Transição Sociotécnica para a Sustentabilidade Urbana ....................................... 195
5. Considerações Finais .......................................................................................................... 197
6. Referências ........................................................................................................................... 199
1. Introdução

A sociedade industrial é urbana. A cidade é seu horizonte. Ela produz as


metrópoles, conurbações, cidades industriais, grandes conjuntos habitacionais.
No entanto, fracassa na ordenação desses locais. A sociedade industrial tem
especialistas em planejamento urbano. No entanto, as criações do urbanismo
são, em toda parte, assim que aparecem, contestadas, questionadas (CHOAY,
1998 [1965], p. 3).

Dos 29% de superfície terrestre, 2% são ocupados por cidades. Estes contêm 53% da
população mundial e produzem 75% da emissão de gases de efeito estufa (BURDETT; SUDJIC,
2011). A tendência aponta para que a população urbana chegue a quase oito bilhões em 2050,
correspondendo a 66% da população mundial (UN-Habitat, 2016a). As proporções indicam
aumento das interações socioculturais e econômicas, mas também, dos impactos negativos ao
equilíbrio ecológico do planeta e às condições da população, principalmente quanto ao consumo
de energia e de recursos naturais, representando desafios ao desenvolvimento urbano
sustentável.

Figura 1 – Mapa de emissão de gás carbônico em toneladas por pessoa (2013)

Fonte: http://www.carbonmap.org/#Emissions.

14
A minimização do uso dos recursos naturais e a redução dos impactos ambientais, como
processos globais de desenvolvimento sustentável1, podem melhorar a economia e a qualidade
de vida da população (NEWMAN, 1999). Se é nas cidades que está a maior parte da população
e se as necessidades do presente e do futuro estão relacionadas à qualidade de vida humana, ao
crescimento das cidades e suas implicações (SOUZA; AWAD, 2012), então, a busca pela
sustentabilidade urbana faz-se ainda mais necessária.
A origem da discussão sobre a sustentabilidade urbana está na associação do conceito do
desenvolvimento sustentável ao território urbano e de como as políticas de planejamento
urbano e o desenho urbano buscam legitimar as perspectivas de incorporação dos princípios da
Agenda 21 (EMELIANOFF, 1995; ACSELRAD, 1997) e da Nova Agenda Urbana em forma
de orientações práticas para as cidades. Considerando a complexidade no território urbano
(LAMAS, 2000; FERRÃO; FERNANDEZ, 2013; SASSEN, 2007; HALL, 1995) e as
perspectivas de desenho urbano sustentável, esta tese busca a orientação para a sustentabilidade
urbana no seu estágio ideal.
O estágio ideal da sustentabilidade urbana é o ótimo, a melhor solução e também a mais
complexa e difícil de alcançar. De acordo com Lozano (2007), a sustentabilidade ideal acontece
quando não há benefícios específicos, mas, sim, colaboração com interdependência de decisões.

1.1. A ideia da autopoiese urbana

Na década de 1970, especialistas em ecologia, em busca de soluções para os impactos


ambientais causados pelo processo de industrialização, passaram a teorizar o sistema da
produção industrial como um subsistema da biosfera (ERKMAN, 2001)2. As pesquisas nessa
temática alcançaram diversas áreas - a economia, a engenharia e a arquitetura e o urbanismo -,
incluindo todos os organismos contidos em um determinado ambiente urbano e todos os
processos funcionais que ali ocorrem, bem como a complexidade do funcionamento. O campo

1 “O desenvolvimento sustentável não é um estado permanente de harmonia, mas um processo de mudança no qual a
exploração de recursos, a orientação dos investimentos, os rumos do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional
estão de acordo com as necessidades atuais e futuras” (BRUNDTLAND, 1987, p. 10).
2 Meu interesse em pesquisar as relações entre os processos de produção e o território urbano iniciou-se em 2009, quando

realizei uma iniciação científica na área da Ecologia Industrial e visitei a municipalidade de Kalundborg, na Dinamarca. Lá
ocorre uma relação de simbiose industrial entre insumos e resíduos provenientes das indústrias e dos serviços urbanos, de
forma que o desperdício é minimizado e há benefícios mútuos que visam à sustentabilidade. Como arquiteta e urbanista,
dediquei meu mestrado à análise e à proposta de novas diretrizes de arquitetura industrial que visam à ecologia industrial e
agora, no doutorado, dedico-me a ampliar o recorte para o urbano, ao incorporar os princípios da simbiose e, para além dela,
da autopoiese, no desenho das cidades.
15
de pesquisa que faz esse estudo é denominado Metabolismo Urbano (WOLMAN, 1965;
MARCOTTULIO; BOILE, 2003) e entende a cidade como um ecossistema que procura
equilibrar seus fluxos de matéria, energia e informação.
Se o urbano for tratado como um ecossistema, há que se reconhecer seu metabolismo 3
e os respectivos fluxos. A complexidade que envolve os fluxos urbanos define soluções
multiescalares para os problemas ambientais e para a reconfiguração do sistema socioambiental
urbano (SASSEN, 2007).
Para a ecologia, a multiescala está relacionada à articulação de questões temporais e
espaciais entre os elementos do ecossistema estudado (ODUM, 1985). Relação que vai ao
encontro do que Patrick Geddes (1915) entende como o principal motivo da evolução social
que resultou nas cidades: organismos – celulares ou sociais – pode avançarem mutuamente e
beneficiarem-se uns dos outros através da cooperação. Nesse sentido, a cidade, dada sua
complexidade de fluxos e fixos, é composta de “n” elementos, sendo que a indústria pode ser
reconhecida como um protagonista nas relações urbanas devido à quantidade e à qualidade de
fluxos que articula. A indústria, em interação colaborativa com atividades de serviços, pode
contribuir para a sustentabilidade urbana através de melhorias nos fluxos e na redução de
impactos ambientais (MIRATA; PEARCE, 2006).
O histórico da implantação industrial no território urbano traduz o isolamento das
indústrias, principalmente quando se trata do desenho e do planejamento das cidades. Se na
passagem da cidade pré-industrial para a industrial havia necessidade de as indústrias
localizarem-se nas regiões centrais devido à proximidade de mão-de-obra e de fontes de energia,
o período da Segunda Revolução Industrial foi de adaptação do urbano para acolher processos
industriais mais complexos. Foram instaladas novas tubulações, fontes de energia e
infraestrutura de transporte no centro das cidades, próximas aos comércios e às fontes de
insumos, integrando-se ao ecossistema urbano (BÈGUIN, 1992 [1979]; DALBELO, 2012). A
cidade modernista trouxe o zoneamento dos serviços urbanos, e o setor industrial passou a ser
isolado nas bordas das cidades, afastado do centro urbano, onde fosse possível somente
observar a poluição lançada ao ambiente (CASTELLS, 1983; DALBELO, 2012).
Para estimular a integração das atividades industriais às demais atividades urbanas de
forma colaborativa, o conceito de ecologia industrial (FROSH; GALLOPOULUS, 1989) foi
expandido para a escala urbana, constituindo a simbiose industrial, rede de trocas de resíduos

3Esta tese adota o conceito geral de que metabolismo é o conjunto de transformações necessárias ao funcionamento de um
organismo vivo.
16
industriais entre diferentes entidades do território que podem utilizá-los como insumos
(CHERTOW, 1999; GRAEDEL; ALLENBY, 1995). No município de Kalundborg, por
exemplo, a simbiose industrial integra serviços urbanos e de produção (DALBELO, 2012),
considerando fluxo de matéria, energia e informação da rede existente de colaboradores.
Para que os fluxos urbanos aconteçam no sistema de trocas de Kalundborg, foi preciso
planejar uma rede de infraestrutura capaz de transportá-los. Essa rede foi desenhada pelos
engenheiros das indústrias e da municipalidade e o projeto foi desenvolvido através das
diretrizes de planejamento da municipalidade, sendo necessário que o conhecimento das redes
metabólicas fosse incluído no desenho urbano da cidade.
As perspectivas de desenho urbano que representam o Metabolismo Urbano –
Urbanismo de Paisagem (WALDHEIM, 2006), Ecologia Urbana (DOUGLAS et al., 2011) e
Urbanismo Ecológico (MOSTAFAVI; DOHERTY, 2010) –, e mesmo o Urbanismo
Sustentável (FARR, 2012), não trazem o conceito da Simbiose Urbana e Industrial. Possuem
diretrizes de desenho voltadas à sustentabilidade urbana, com a implantação de tecnologia na
infraestrutura urbana ou a concepção de novos espaços urbanos, ainda que sem a integração ou
interação colaborativa entre os serviços ecossistêmicos urbanos e sem a garantia da manutenção
da identidade das cidades. A perspectiva da Cidade Integral (HAMILTON, 2008; DEKAY,
2014) traz a integração colaborativa dos serviços urbanos, além de outras contribuições da
sustentabilidade urbana, porém não considera a indústria como um desses serviços.
Alguns autores da simbiose industrial indicam diretrizes para implantação de ecoparques
industriais, em que se consideram as etapas de projeto, instalação/construção, a seleção de
materiais e equipamentos (SCHLARB, 2001) e o design ecológico, o retrofit, a integração à
comunidade local e ao ecossistema local (COTÈ et al., 1994). Ainda que sem considerar o
conceito do desenho urbano, visto que esse não é o tema de suas pesquisas e trabalhos, esses
autores trazem contribuições que integram as disciplinas de engenharia e os fluxos metabólicos
ao sistema urbano e podem ser aplicadas ao desenho.
As propostas que trabalham a sustentabilidade urbana através do desenho contêm, na
maioria das vezes, ações paliativas ou remediativas, isoladas, que visam manter um status quo de
sustentabilidade, mesmo que resulte em um metabolismo urbano insustentável, tecnológico e
oneroso. Essas soluções têm se mostrado insuficientes para atender às necessidades do presente
sem comprometer as gerações urbanas futuras e a identidade da cidade. Quando, por outro lado,
as propostas são construídas sob a premissa da simbiose industrial, buscando integrar as
indústrias aos processos metabólicos urbanos, dando ênfase à sua capacidade de trocas em
17
termos de quantidade e diversidade de matérias, é possível falar em aumento da vitalidade do
meio urbano (CHERTOW, 1999; GRAEDEL; ALLENBY, 1995; MARCOTTULIO; BOILE,
2003).
A integração entre o desenho urbano e a simbiose industrial demanda criatividade e
colaboração de diferentes atores, como já preconizava Luis Sert, em sua disciplina de desenho
urbano ministrada durante a Conferência de Desenho Urbano de Harvard, em 1956. A ideia
central é que o desenho urbano seja a parte do planejamento da cidade que trata sua forma física
com criatividade e integração entre os profissionais do urbano e os usuários (KRIEGER, 2009;
BARNETT, 2006). Apesar de essa definição ter sido usada em um contexto histórico diferente
do atual e sem a exploração de conceitos e aplicações como a simbiose industrial ou mesmo a
sustentabilidade, ainda é possível usá-la quando a produção é assumida como um serviço urbano
que interage com os demais.
A complexidade e a necessidade de interações entre diferentes campos e disciplinas no
ambiente urbano também estão nos estudos de Capra (1996) e Morin (2000). Para esses autores,
os problemas da atualidade não podem ser entendidos de forma separada, pois são sistêmicos,
interligados e independentes e, por isso, impensáveis isoladamente. Na cidade, esses problemas
estão territorializados, tornando as intervenções urbanas impossíveis de acontecerem isoladas.
Dessa maneira, o problema da indústria poluidora deve ser tratado na interligação dos
subsistemas urbanos e sua solução deve estar integrada, a fim de abranger a sustentabilidade em
sua essência, criando uma situação em que há reconhecimento da autopoiese urbana.
O conceito da autopoiese4 foi desenvolvido pelos biólogos chilenos Humberto Maturana
e Francisco Varela, ao se questionarem sobre “Qual é a organização que os define [os seres
vivos] como classe?” (MATURANA; VARELA, 1995, p. 84) e usarem seus conhecimentos
mesclados por epistemologia, antropologia e sociologia, embasados no pensamento sistêmico 5.
Assim, desenvolveram a Teoria de Santiago ou Biologia do Conhecer, a Teoria da Autopoiese,
que propõe a autopoiese, um estágio metabólico em que matéria, energia e informação são
criadas e recicladas ciclicamente sem que o organismo perca sua identidade.
A partir da teoria da autopoiese de Maturana e Varela, Luhmann (1984) apresenta a teoria
dos sistemas autorreferentes, que diferencia o sistema do seu meio, criando a relação entre a
unidade e as partes e a relação de causalidade exposta no meio urbano. Com base nessa teoria,
em 1990, Luhmann propõe uma análise sistêmica da realidade social, abrindo espaço para a

4 Autopoiese: do grego autós [a si próprio] + poiesis [criação, geração].


5 Pensamento sistêmico é “[...] a compreensão de um fenômeno dentro do contexto do todo maior” (CAPRA, 2001, p. 39).
18
construção de outros subsistemas teóricos e subjetivos, que partem da autopoiese através da
globalidade e da interdependência dos fenômenos sociais.
Alguns autores já elaboraram estudos sobre a aplicação da autopoiese ao sistema urbano:
Wolf (2004) traz a pesquisa sobre a autorregulação dos sistemas urbanos; Berdague e Griffith
(2004) apresentam a autorrevitalização de áreas verdes urbanas; Hunter (2010) trabalha com a
autonomia ativa e a resiliência das cidades; Bus et al. (2017) mostram exemplos de adaptações
metabólicas para sistemas urbanos. Enquanto que outros autores trazem análises teóricas da
autopoiese nas cidades: Philippopoulus-Mihalopoulus (2007) consolida-a como uma ferramenta
para implementação de leis ambientais e Aquilué et al. (2014) apresentam a análise da auto-
organização urbana em situações pós-traumáticas. Esta tese considera a autopoiese urbana
como um processo de interação entre sistemas urbanos que garante a resiliência e soluciona as
perturbações, mantendo a identidade da cidade.
O croqui da Erro! Fonte de referência não encontrada. mostra um esquema inicial da
ideia do conceito da autopoiese aplicado no urbano, com ciclagem de fluxo metabólico de
matéria, energia e informação, delimitação e interação entre diferentes unidades do sistema, com
a menor quantidade possível de rejeitos e minimizando a quantidade de insumos.

Figura 2 – Croqui da autopoiese urbana

Fonte – Elaborado pela da autora.

As teorias que envolvem integrações de diferentes sistemas e escalas no desenho urbano,


assim como o próprio conceito da sustentabilidade urbana, são recentes e possuem

19
discrepâncias em suas formas de aplicação e diferentes cenários pré-estabelecidos. Ainda assim,
existe o reconhecimento de que muitos problemas ambientais – mudanças climáticas, perda de
biodiversidade e esgotamento de recursos – são desafios para as cidades (KÖHLER et al., 2017).
Os problemas de consumo e de padrões de produção insustentáveis nos sistemas
sociotécnicos não podem ser resolvidos através de melhorias incrementais, mas requerem
mudanças para novos tipos de sistemas (KÖHLER et al., 2017). De acordo com Köhler et. al
(2017), essas mudanças radicais são chamadas de transições para a sustentabilidade e são
abordadas nesta tese no sentido da busca pelo cenário ideal e unificado da sustentabilidade
urbana no desenho das cidades.
No contexto das teorias que são apresentadas, o eixo central da discussão desta pesquisa
são os sistemas urbanos como entidades em contínua interação entre elas e o meio ambiente,
que não isola fenômenos em contextos únicos e que globaliza conceitos ecológicos. Nesse
sentido, apesar de o espaço urbano-industrial ser um dos grandes responsáveis pela crise
ambiental (PEREIRA; DALBELO, 2018), a separação entre o sistema industrial e o espaço
urbano, como prevê o planejamento urbano tradicional, não representa avanços em relação à
sustentabilidade.
Assumindo a Nova Agenda Urbana, que considera os Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável, busca-se validar a hipótese de que a autopoiese é a transição necessária para a
sustentabilidade urbana. Como fenômeno holístico que integra a complexidade do ecossitema
urbano em seu metabolismo e que garante sua identidade, em um processo contínuo de
manutenção, a autopoiese urbana deve ter seu papel reconhecido para a sustentabilidade urbana
no estágio ideal.

1.2. Abordagem Metodológica

Karl Popper (1975) definiu o método hipotético-dedutivo como aquele em que a


pesquisa parte de um problema, passa por processos de análise e crítica e chega a uma solução
que, possivelmente, origina um novo problema. Nesta pesquisa, parte-se da insustentabilidade
urbana e da falta de sucesso das perspectivas de desenho urbano sustentável.
Inicialmente, são feitos o levantamento, através um breve histórico de sua concepção e
conceitos envolvidos, e a análise do conhecimento existente acerca da sustentabilidade urbana.
Em seguida, é realizada uma revisão bibliográfica crítica das perspectivas de desenho urbano

20
sustentável – Urbanismo Sustentável; Metabolismo e Ecologia Urbana; Urbanismo Ecológico;
Simbiose Urbana e Industrial e Cidade Integral. E, ao final, são propostos processos de
autopoiese urbana para alcançar a sustentabilidade urbana de forma que seja possível aplica-los
ao desenho das cidades no presente para o futuro, sem perder identidade.
A ciência do urbanismo pressupõe uma metodologia própria não quantificada (GABER,
1993; GIL, 1999; GERHARDT; SILVEIRA, 2009), o que permite classificar esta pesquisa como
qualitativa, uma vez que é feita através da compreensão e da análise de teorias, contribuindo
com a mudança do paradigma (DIEHL, 2004) da sustentabilidade urbana. A descrição e a
procura por informações aprofundadas regem o desenvolvimento da tese e levam à geração de
conhecimento sobre a autopoiese urbana para aplicação no desenho urbano.
As questões epistemológicas trazem o conhecimento existente e fortalecido ao longo do
tempo, através de conceitos, teorias e aplicações que envolvem a sustentabilidade urbana, o
desenho urbano, a autopoiese e a autopoiese urbana. A tese apresenta essa base teórica, sintetiza
as diretrizes do desenho urbano sustentável e os processos da autopoiese urbana, que culminam
na condição essencial para a transição para a sustentabilidade urbana.
Considerando que esta pesquisa envolve diferentes matrizes de pensamento, que partem
do urbanismo e da biologia – ciências que não dialogavam diretamente e que possuem diferentes
métodos de pesquisa e prática –, foi necessário um método reflexivo de assimilação de conceitos
e de construção da solução. Por isso, esta abordagem metodológica vai ao encontro do
pensamento de Boaventura de Souza Santos (2002) acerca da necessidade de pensar e trabalhar
na perspectiva de um paradigma que orbita em torno de um diálogo científico entre as áreas do
saber, contrapondo-se ao paradigma científico cartesiano que, diante dos problemas complexos,
encontra-se em crise, pois já não é capaz de fornecer métodos suficientemente adequados.
Assim, são estabelecidos objetivos específicos que contribuem para alcançar o objetivo
geral, de reconhecer o papel da autopoiese para a sustentabilidade urbana:
1) Avaliar as perspectivas de desenho urbano sustentável;
2) Analisar os autores da autopoiese urbana;
3) Conceituar autopoiese urbana;
4) Definir o desenho urbano autopoiético como transição para a sustentabilidade.

Esses objetivos específicos estão organizados de forma tal que cada um, com um
conjunto de atividades sistemáticas, compõe o contexto de forma única, em um princípio de
organização básica da pesquisa que leva ao objetivo geral. Os objetivos envolvem diferentes

21
abordagens devido ao formato da pesquisa, pois, ao mesmo tempo em que há um estado da arte
composto por conhecimento fortalecido ao longo do tempo, existe a proposição de uma forma
diferenciada de pensar a sustentabilidade urbana.

Quadro 1 – Classificação Metodológica da pesquisa

Fonte: Elaboração da autora.


De acordo com as classificações metodológicas de Gerhadt e Silveira (2009) e de Gil
(2007), os objetivos desta tese são considerados de natureza básica, aquela que gera novos
conhecimentos a partir de conhecimentos reconhecidos como válidos no campo científico,
considerando ainda os debates existentes. E de objetivo exploratório, aquele que visa
proporcionar maior familiaridade com o problema, culminando com a indicação de processos
construídos a partir de dados qualitativos que refinam o conceito da autopoiese urbana.
Os primeiros dois objetivos específicos são considerados atinentes ao campo do
levantamento bibliográfico, procedimento que estimula a compreensão do fenômeno (GIL,
2007; GERHARDT; SILVEIRA, 2009; FONSECA, 2002) do desenho urbano e da autopoiese
urbana, com exploração dos temas envolvidos. A correlação entre eles traz a base conceitual
para a autopoiese urbana. Aqui, as premissas verdadeiras do conhecimento consolidado
conduzem à formação de conclusões prováveis a partir da análise e da relação entre as
perspectivas de desenho urbano e o conceito da autopoiese urbana.
O capítulo três, que traz a análise crítica da revisão bibliográfica das perspectivas de
desenho urbano sustentável, usa uma metodologia para classificar a percepção técnica sobre
22
conteúdos e as diferentes escalas em que as diretrizes de desenho urbano sustentável são
sugeridas e aplicadas, a fim de estabelecer padrões para análise e comparação. Assim, as
diretrizes de cada uma das perspectivas são classificadas de acordo com escalas urbanas,
seguindo a escala de atividade de desenho urbano de Erickson e Lloyd-Jones (2001) – Quadro
2 – Pequena, Média e Grande – e de acordo com sua relação com os serviços ecossistêmicos
urbanos, seguindo Rutkowski e Dalbelo (2017), Bolund e Hunhammar (1999), Luederitz et al.
(2015), Gómez-Baggethun e Barton (2013) e Gómez-Baggethun et al. (2013) – Quadro 3.
Os quadros de classificação das diretrizes são elaborados para cada uma das perspectivas
de desenho urbano sustentável analisadas ao longo de suas apresentações e, ao final do capítulo
três, é apresentado o quadro geral de classificação das diretrizes.
Quadro 2 – Escalas Urbanas
PEQUENA Ruas, unidades de vizinhança e bairros – P.
MÉDIA Distritos e cidades pequenas e médias – até 100.000 habitantes – M
GRANDE Cidades grandes e metrópoles – a partir de 100.000 habitantes – G
Fonte: Elaboração da autora.

Quadro 3 – Categorias das diretrizes de Desenho Urbano Sustentável


SUPORTE Fundamentam e são responsáveis pela produção dos demais serviços
PROVISÃO Produtos obtidos dos ecossistemas
REGULAÇÃO Benefícios obtidos da regulação dos processos dos ecossistemas
CULTURAL Benefícios não materiais ofertados pelos ecossistemas
Fonte: Elaboração da autora.

O capítulo quatro aborda a teoria da autopoiese, os autores que trabalham com a


aplicação dessa teoria no urbano e a conceituação da autopoiese urbana. Essa conceituação leva
à definição do desenho urbano autopiético, encerrando o capítulo, a transição para a
sustentabilidade urbana.

23
2. Vetor sustentabilidade no urbanismo

As primeiras preocupações com o ordenamento das cidades apontam para a antiguidade,


Roma e Alexandria, metrópoles do século XVII que “[...] já colocavam para seus habitantes
certos problemas que vivemos hoje” (CHOAY, 1998 [1965], p. 1). Mas é no final do século XIX
que “[...] a sociedade industrial dá origem a uma disciplina que se diferencia das artes urbanas
anteriores por seu caráter reflexivo e crítico, e por sua pretensão científica” (CHOAY, 1998
[1965], p. 2), o urbanismo.
O contexto histórico, político, social e econômico do início da ciência do urbanismo
remete à industrialização – entre a Primeira e a Segunda Revolução Industrial –, quando
produção e capital passaram a ser interdependentes. As cidades surgiram para receber
trabalhadores e serviços das demandas da produção industrial: a demanda do capitalismo. Aqui
cabem a visão de Mumford (1998), da cidade como um imã que atrai população, indústrias e
capital, e a visão de Kwinter (2010), da cidade como produto direto do então novo meio de
concentração de riqueza. A articulação dessas duas acepções traz o processo recursivo próprio
da autopoiese.
Durante a Primeira Revolução Industrial, a riqueza abstraiu sua relação com o mundo
natural e emancipou-se, como ocorreu com a mudança da fonte de energia, que deixou de ser
hidráulica e vinculada à presença de um rio, passando a térmica, com centro de geração no
espaço urbano e povoado. Essa mudança implicou inovações de infraestrutura, administrativas
e financeiras no meio urbano.
Antes disso, os termos “urbanização” e “planejamento urbano” eram usados como ideias
convergentes ao urbanismo, mas se referindo mais ao processo de construção das cidades e de
desenvolvimento urbano. Ildefonso Cerdá, em sua obra Teoria Geral da Urbanização, publicada
em 1867, usou a palavra urbanización6; Camillo Sitte, em A construção das cidades segundo seus princípios
urbanísticos, de 1889, e Josef Stübben, em O planejamento urbano, de 1890, usaram o termo
städtebau7, assim como Raymond Unwin, em Planejamento Urbano na Prática, de 1909, usou town
planning8.
O termo “urbanismo” foi usado pela primeira vez em 1910, em um número da Bulletin
de la Société Neauchâteloisienne de Geographie, em que Pierre Clerget o definia como o estudo

6
Urbanización, do espanhol, urbanização.
7
Städtebau, do alemão, planejamento urbano.
8
Town planning, do inglês, planejamento urbano.
24
sistemático dos métodos que permitem adaptar o habitat urbano às necessidades do homem
(BARDET, 1959; MERLIN, 1996). Choay (1968 [1965]) diferencia o uso desse termo em
relação aos termos “urbanização” e “planejamento urbano”, por estes não possuírem pretensão
científica e por não criticarem o urbano como aquele o faz. Secchi (2006) entende o urbanismo
como um vasto conjunto de práticas de contínua e consciente modificação do território e da
cidade, não delimitando o conceito a obras e projetos ou a teorias, ensino e normas.
Já o planejamento urbano, desde o Town Planning Act9, de Robert Unwin, passando pelas
visões da Regional Planning Association, é caracterizado por reconhecer a dinâmica do espaço
urbano e responder aos problemas enfrentados pelas cidades, estabelecendo mecanismos de
controle sobre o desenvolvimento de uma área (HALL, 1995; KOHLSDORF, 1985). Assim, se
é possível considerar o urbanismo como ciência, então o planejamento urbano pode ser
considerado uma técnica do urbanismo. Dessa forma, é possível entender a colocação de
Shirvani (1985) sobre o desenho urbano ser considerado a parte do processo de planejamento
que lida com a qualidade do ambiente.
Na discussão sobre urbanismo, planejamento e desenho, a relação cidade e urbano é
indissociável histórica e espacialmente. Enquanto a cidade é particular, concreta e interna
(SANTOS, 1994), marcada pelo delineamento das ruas, pela aglomeração urbana e pela presença
de atividades econômicas (ROLNIK, 1988), o urbano é o abstrato, o geral e o externo
(SANTOS, 1994); não se refere a uma materialidade física, mas, sim, ao conjunto de
manifestações econômicas, sociais e políticas que acontecem na cidade (LEFEBVRE, 2001).
O “urbano” é um conceito que se espalhou em escala mundial devido ao fenômeno da
implosão-explosão, descrito por Lefebvre (1999). Se inicialmente a indústria negou a polis,
centralidade da cidade, fazendo com que política e comércio perdessem a importância social,
logo em seguida explodiu a cidade e enalteceu a civitas, projetando fragmentos da malha urbana
em toda a região de influência, inclusive na área rural.
Se a cidade é a forma, o urbano é seu conteúdo. Para Monte-Mor (2006), os adjetivos
urbano e rural estão relacionados às relações culturais, socioeconômicas e espaciais do campo e
da cidade e que ganharam autonomia recentemente. O urbano, nesse sentido, é entendido como
a manifestação material e socioespacial da sociedade urbano-industrial contemporânea
(MONTE-MOR, 2006). De acordo com Parker (2004 [1964]), “urbano” é o termo mais
utilizado no mundo acadêmico como abreviação de uma gama de perspectivas e interpretações

9
O regulamento de planejamento urbano de 1910.
25
que visam fornecer uma compreensão geral de vida na cidade que vai além do contingente e do
local, focando nas características essenciais da experiência urbana.
O termo urbano, usado repetitivamente nesta pesquisa, é análogo ao tecido urbano de
Lefebvre (2001), ao espaço urbano de Milton Santos (1988) e ao contexto urbano de Lamas
(1992). Carrega o significado da simbiose entre a cidade e a indústria e todos os processos
sociais, políticos, econômicos, culturais e ambientais que ali ocorrem.
No início da história das cidades, a relação cidade-campo era simbiótica: não havia
antagonismo, mas, sim, uso compartilhado de recursos ambientais do campo e da vida urbana,
o que mantinha o controle das relações vitais à coletividade. Eram modos complementares de
vida. O antagonismo começou a existir quando a sociedade urbana se tornou exclusiva e, devido
ao seu êxito, foi afastada da sociedade rural (MUMFORD, 1998). A ampliação do alcance da
cidade como imã, somada à ausência de limites físicos, resultou na urbanização completa da
sociedade (MUMFORD, 1998), prevista por Lefebvre (2001).
As postulações de Lefebvre (2001) vão ao encontro das ideias de evolução das cidades
de Mumford (1998): a cidade política de Lefebvre tinha como expoente o rei, o caçador e o
ordenamento, imã na visão de Mumford (1998). Assim como, para ambos, a passagem da cidade
mercantil para a cidade industrial resultou na inflexão do agrário para o urbano. Lefebvre (1999,
2001) afirma que, nessa fase, a cidade passa a ser marcada pela imposição da indústria e
transforma-se em seu produto, promovendo a expansão de seu tecido socioespacial, e assim o
urbano domina e absorve parte do rural, construindo uma sociedade urbana. E a passagem da
cidade da Primeira Revolução Industrial para a realidade atual resulta na sociedade
completamente urbanizada (LEFEBVRE, 1999, 2001; CASTELLS, 1983).
Os impactos negativos da industrialização começaram a ser percebidos na década de
1930, com o primeiro registro de chuva ácida, no Vale de Meuse, Bélgica (BOLEA, 1984). O
pós-II Guerra Mundial foi marcado pela reconstrução das cidades guerreadas, com aumento da
produção industrial e do consumo.
Em seguida, foi a vez de Londres surpreender a população com o fenômeno da inversão
térmica, ou great smog – uma camada espessa de poluição atmosférica que pairou sobre a cidade
por cinco dias, em dezembro de 1952 (BOLEA, 1985). A queima de carvão mineral e a falta de
regulamentações nos processos produtivos geraram impactos ambientais em grande escala e, a
partir da visível percepção da grande massa de população que migrava para as cidades
industrializadas, foi necessário que os governos tomassem atitudes em prol da saúde pública e
do bem-estar socioambiental.
26
Nesse sentido, é possível citar Marcos Silva (2005), o qual afirma que a analogia biológica
das cidades está no sentido da medicina, com a pauta da saúde pública; da eugenia, como uma
transposição do darwinismo ao plano social e da ecologia, ainda antes do conceito de
ecossistema. A busca do bem-estar socioambiental aumenta a apropriação de conceitos e teorias
das ciências médicas e biológicas pelas ciências humanas e sociais a fim de aplicá-los em suas
próprias investigações.
O termo “sustentabilidade urbana” tem suas origens atreladas ao surgimento do
desenvolvimento sustentável, e possuem uma série de definições e justaposições na literatura.
Uma forma de distingui-los é pensar a sustentabilidade como um estado desejável ou um
conjunto de condições favoráveis que persiste ao longo do tempo, enquanto o desenvolvimento
sustentável implica um processo para que a sustentabilidade possa ser alcançada (MCLAREN,
1996).
McLaren (1996) indica que as principais características da sustentabilidade urbana são: as
equidades intergeracional e intrageracional social, geográfica e de governança; a proteção do
ambiente natural e sua capacidade de carga; o uso mínimo de recursos não renováveis; a
vitalidade e a diversidade econômica; a autoconfiança da comunidade; o bem-estar individual e
a satisfação das necessidades básicas humanas. As divergências existentes quanto à relevância
de cada uma dessas características para o estabelecimento de metas de sustentabilidade urbana
não excluem a necessidade de introdução de considerações ambientais e de visões mais holísticas
para o equilíbrio entre ambiente, economia e sociedade no meio urbano.
A arquiteta Graziella Demantova e a bióloga Emíla W. Rutkowski propõem que

[...] a sustentabilidade urbana seja construída através de uma simbiose entre


sustentabilidade social (bem-estar humano alcançado pelo acesso
indiscriminado aos serviços de ecossistemas ofertados – de provisão, de
regulação, de suporte e culturais) e sustentabilidade ambiental (gestão adequada
de ecossistemas) (DEMANTOVA; RUTKOWSKI, 2007, s.p.).

Essa simbiose está relacionada às abordagens diferenciadas de elaboração de


instrumentos jurídicos ambientais e urbanísticos, que devem estar voltados também para a
qualidade de vida dos cidadãos, e não apenas para a qualidade ambiental. Além disso, as autoras
apontam para a necessidade de novas estratégias de desenho da paisagem que consigam manter
a gestão dos processos ecológicos e a oferta dos serviços ecossistêmicos à população de forma
integrada, considerando a identidade natural e a vocação do local (DEMANTOVA;
RUTKOWSKI, 2007).
27
Esse pensamento vai ao encontro de Moughtin et al. (1999), que enfatizam a importância
do desenho das cidades para a aplicação das modificações em prol do bem-estar socioambiental:

Na virada do século, no início de um novo milênio, a qualidade em desenho


urbano deve ser vista contra um pano de fundo das preocupações atuais para
o meio ambiente global e em um contexto de desenvolvimento sustentável
onde o ambiente é de suma importância e ao qual são dadas prioridades em
decisões de desenho (MOUGHTIN et al., 1999, p. 2).10

Esse capítulo trata do desenho urbano; das origens do desenvolvimento sustentável e da


sustentabilidade urbana; da maneira como ocorreram as primeiras aplicações nas cidades e da
visão do urbano como um ecossistema.

2.1. Reuniões e metas internacionais

A história da sustentabilidade urbana teve seu início no final da década de 1960, com o
início da tomada de consciência e das movimentações de mudança. Em 1968, o empresário
Aurélio Peccei e o pesquisador Alexander King juntaram suas preocupações acerca da poluição
e do crescimento populacional e reuniram em Roma um grupo de pessoas influentes –
empresários, industriais, cientistas e políticos – para avaliar questões políticas, econômicas e
sociais relacionadas ao meio ambiente. O grupo recebeu o nome de Clube de Roma e em 1972
solicitou que pesquisadores, liderados por Dennis L. Meadows, do Instituto de Tecnologia de
Massachusetts, elaborassem um estudo prospectivo de como estaria o mundo em cem anos,
considerando os mesmos recursos tecnológicos daquela época (MEADOWS et al., 1973).
O relatório desse estudo, intitulado “Os Limites do Crescimento”, concluiu que, para
manter uma estabilidade econômica e ambiental, seria necessário que população e produção
industrial parassem de crescer. O alarde foi grande, principalmente frente às teorias de
crescimento econômico contínuo e ao crescimento industrial mundial que ocorria àquela época.
A emancipação da riqueza do início da geração de energia térmica Kwinter (2010), volta a ter
sentido como abstração da relação com o mundo natural em termos do equilíbrio geral
ambiental, uma vez que os combustíveis fósseis começam a apresentar seus limites e a poluição,
a chuva ácida e a fome começam a representar preocupação mundial.

10Tradução livre de: “At the turn of the century, at the start of a new millennium, quality in urban design must be seen
against a backcloth of current concerns for the global environment and in a context of sustainable development where the
environment is of paramount importance and is given priority in design decisions” (MOUGHTIN et al., 1999, p. 2).
28
Nesse contexto, os pesquisadores Bárbara Ward e René Dubos, da ONU, elaboraram o
documento “Only one earth: the care and maintenance of a small planet”, que reuniu 70 especialistas do
mundo e analisou as conclusões do relatório do Clube de Roma. Com esses resultados, a ONU
realizou a Primeira Conferência Mundial sobre o Ambiente Humano, em Estocolmo, entre os
dias 5 e 16 de junho de 1972, com a participação de 113 países, entre os quais Estados Unidos,
Cuba, Índia, Brasil e as potências europeias, como Alemanha, Itália e França, além de 400
organizações governamentais e não governamentais.
Os governos reconheceram os problemas ambientais mundiais e estavam prontos para
tomar atitudes para garantir liberdade, igualdade e condições adequadas de vida para toda a
população, em um ambiente de qualidade. A Conferência de Estocolmo foi marcada pela
elaboração de uma agenda ambiental mundial e pelo alcance da atenção acerca da importância
da preservação e da conservação ambiental, além da afirmação sobre a escassez dos recursos
naturais (UNITED NATIONS, 1972). Durante essa conferência também foi criado o Programa
das Nações Unidas sobre Meio Ambiente (PNUMA), que tem como objetivo coordenar as
ações internacionais de proteção ao meio ambiente (UNITED NATIONS, 1972).
A Conferência de Vancouver, de 1976, sucessora de Estocolmo, teve como um dos
resultados o início do Programa ONU-Habitat, que coordena e harmoniza atividades em
assentamentos humanos com o objetivo de promover o desenvolvimento social e
ambientalmente sustentável, assegurando moradia adequada para todos. A Habitat I foi o
primeiro grande encontro mundial sobre os desafios da urbanização em crescimento, da intensa
migração rural-urbana, do crescimento das desigualdades sociais e de problemas de
infraestrutura urbana, como a dificuldade no abastecimento de água potável e na coleta e
tratamento de esgoto (UN-HABTAT, 1976).
Nessa discussão baseada nas cidades e nos assentamentos humanos, surgia o campo do
desenvolvimento e do desenho sustentável urbano (BROWN, 2017). Porém, como é perceptível
no pôster de divulgação da Habitat I, a ideia da sustentabilidade nas cidades estava direcionada
para o grande desafio de um meio ambiente urbano.

29
Figura 3 – Pôster da Habitat I (1976)

Fonte: http://habitat76.ca/

Após a Habitat I, o fato que marcou os acontecimentos em prol do desenvolvimento


sustentável foi a percepção do aumento da deterioração do ambiente humano e dos recursos
naturais. Com isso, a Assembleia Geral da ONU criou uma comissão especial para produzir
uma proposta para o século XXI, através da união de países em busca do desenvolvimento
sustentável. A então ex-primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, foi escolhida
para presidir a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMA).
A Comissão Brundtland, como foi chamada, passou três anos realizando audiências e
reuniões em todo o mundo, com diferentes visões sobre agricultura, água, energia, tecnologia e
desenvolvimento, com o objetivo principal de relatar os avanços e as falhas no direcionamento
do desenvolvimento dos países desde a publicação da Declaração de Estocolmo

30
(BRUNDTLAND, 1987). Como resultado, foi publicado o relatório “Nosso Futuro Comum”,
em 1987.
Ele apresenta uma visão crítica do modelo de desenvolvimento adotado, principalmente
pelos países industrializados, que optaram por não conter o avanço dos lucros da
industrialização em prol da redução na exploração dos recursos naturais e que influenciaram os
países em desenvolvimento a seguirem essa mesma linha. Há relato da falta de compatibilidade
entre os padrões de produção e consumo e o alinhamento de desenvolvimento que a Declaração
de Estocolmo tinha como premissa para a qualidade do ambiente humano.
Logo em suas primeiras páginas, Brundtland (1987) traz a necessidade de um novo
conceito ou uma nova relação entre humanidade e o meio ambiente, de forma a não estagnar o
crescimento econômico ou a produção industrial:

A humanidade é capaz de tornar o desenvolvimento sustentável – de garantir


que ele atenda às necessidades do presente sem comprometer a capacidade de
as gerações futuras atenderem também às suas. O conceito de desenvolvimento
sustentável tem, é claro, limites – não limites absolutos, mas limitações
impostas pelo estágio atual da tecnologia e da organização social, no tocante
aos recursos ambientais, e pela capacidade da biosfera de absorver os efeitos
da atividade humana [...].
O desenvolvimento sustentável não é um estado permanente de harmonia, mas
um processo de mudança no qual a exploração de recursos, a orientação dos
investimentos, os rumos do desenvolvimento tecnológico e a mudança
institucional estão de acordo com as necessidades atuais e futuras
(BRUNDTLAND, 1987, p. 9-10).

O relatório fala sobre a necessidade da cooperação entre instituições internacionais a fim


de alcançar a interdependência ecológica e econômica e dos governos cobrarem medidas
mitigatórias ou compensatórias dos impactos ambientais negativos que as indústrias causam.
Além disso, ressalta-se a importância da união ou da conexão entre os ministérios dos governos,
a fim de considerar os aspectos ambientais em conjunto com aspectos econômicos, comerciais,
energéticos, agrícolas e todos os demais (BRUNDTLAND, 1987).
As diretrizes “Nosso Futuro Comum” incluem a necessidade de uso mais eficiente de
recursos nas indústrias e a questão urbana: o desenvolvimento sustentável das cidades depende
de uma cooperação entre a setor informal do mercado e a administração. A principal
preocupação que o relatório coloca é a de que a velocidade das mudanças – sociais, econômicas
e políticas – não está sendo acompanhada pelas habilidades de avaliação e proposição de
soluções para a capacidade suporte dos ecossistemas. Por isso é tão necessária a cooperação

31
internacional, com direitos humanos, desenvolvimento sustentável e fim das desigualdades
sociais.
Em 1989, EUA e Canadá promovem um encontro da Academia Americana de Ciência
e Engenharia, na Califórnia, que tinha como objetivo discutir a degradação da camada de ozônio,
mas que acabou por estabelecer uma agência para coordenar as responsabilidades
governamentais locais pelos problemas ambientais, e assim surgiu o International Council for Local
Environmental Initiatives – ICLEI. Essa ação recebeu o suporte imediato do Programa das Nações
Unidas sobre Meio Ambiente (PNUMA). Em 1990, com a participação de 43 países, ocorreu o
World Congress of Local Governments for a Sustainable Future, que deu início às operações
internacionais da ICLEI, com dois secretariados, um em Toronto e outro em Freiburg, e ao
Projeto Redução de CO2 Urbano (ICLEI, 1995).
No contexto das ações governamentais de promoção do desenvolvimento sustentável,
ocorreu a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, Rio92,
que colocou essa pauta na agenda pública mundial, apontando a criação da Agenda 21, um
instrumento de planejamento local embasado em princípios de proteção ambiental, justiça social
e crescimento econômico (UNITED NATIONS, 1992). Nessa conferência, a ICLEI
configurou-se como o instrumental necessário para melhorar o perfil das governanças locais
como gestoras do meio ambiente local e global nas cidades. A partir disso, a necessidade de
elaboração e implementação da Agenda 21 Local foi colocada como prioridade pelos líderes
mundiais (ICLEI, 1995).
Em sequência a Rio-92, a “Habitat II – The City Summit” ocorreu em 1996 e marcou a
preocupação com duas questões de mudanças sem precedentes: como providenciar abrigo e
subsistência para a população urbana crescente e como alcançar a sustentabilidade em
assentamentos urbanos (UN-Habitat, 1996). Nesse sentido, Girardet (1996) indica que a grande
população urbana em espaços limitados pode ser vista como uma oportunidade para o
desenvolvimento sustentável porque oferece economia de escala na prestação de empregos,
habitação e serviços. O que ainda era necessário, àquela época, era reconhecer a importância
ecológica, econômica e social da sustentabilidade urbana (GIRARDET, 1996).
Em um contexto global, a década de 1990 iniciou o estopim da sustentabilidade urbana.
Governanças locais e regionais passaram a preocupar-se cada vez mais com o futuro das cidades
e a influência das ações do presente nas questões ambientais, sociais e econômicas do futuro.
Girardet (1996) discorre sobre a situação das cidades e os excessos urbanos de resíduos, de uso
de energia, de emissão de gases de efeito estufa, de uso de recursos naturais e da não reciclagem
32
de resíduos, o que implica enorme impacto ambiental. Porém, tecnologias urbanas já podiam
ser utilizadas com o objetivo de diminuir a pegada ecológica das cidades, como por exemplo, o
uso de fontes de energia renovável e o reuso de águas cinzas.
O desafio é criar um sistema circular de metabolismo urbano. Com esse pensamento,
Girardet (1996) cita as cinco diretrizes que emergiram durante os estudos preparatórios para a
Conferência “The City Summit” - 1996:

Quadro 4 – Diretrizes de sustentabilidade urbana para a “The City Summit”


Diretrizes Métodos de aplicação
Propagar as boas notícias Incentivo de participação popular na preparação de relatórios e vídeos
sobre as boas práticas a fim de difundi-las
Simplificar assuntos complexos Análise e a identificação de processos de projetos de implementação em
níveis simples, ainda que a cidade seja um organismo complexo.
Agir sob medida do local Ideia de ações de boas práticas urbanas que possam ser implementadas
a nível regional e em nível de vizinhança, além da escala das cidades.
Trocas de informações entre as Compartilhamento de práticas sustentáveis entre cidades
cidades
Mudar a forma de trabalhado da Compartilhamento de dados urbanos e a descentralização das boas
instituição urbana práticas
Fonte: Adaptação pela autora de Girardet (1996).

O ano de 2000 foi marcado pela Assembleia Geral da ONU, conhecida como Cúpula do
Milênio, que ocorreu em Nova York e reuniu representantes governamentais sem precedentes.
Um dos resultados foi a publicação da Declaração do Milênio das Nações Unidas, que traz os
valores e princípios de paz; a questão da segurança e do desarmamento; o desenvolvimento e a
necessidade de erradicação da pobreza; a proteção ambiental; os direitos humanos, a democracia
e a boa governança; a proteção aos vulneráveis e as necessidades especiais dos países africanos
e o encerramento com a necessidade de reforçar ainda mais a cooperação entre as nações unidas
(UNITED NATIONS, 2000).
Quando os líderes mundiais adotaram a declaração, assumiram os Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio (ODM), que visavam erradicar a pobreza extrema e a fome;
alcançar a educação primária universal; promover a igualdade de gênero e a autonomia das
mulheres; reduzir a mortalidade infantil; melhorar a saúde materna; combater o HIV, a malária
e outras doenças e garantir a sustentabilidade ambiental, tendo como prazo de alcance o ano de
2015.
Na mesma assembleia, o então secretário geral da ONU, Kofi Annan, apresenta o
relatório “Nós, os Povos: O Papel das Nações Unidas no Século XXI”, que impulsiona a
aprovação dos ODM e a constituição do programa de pesquisas sobre mudanças ambientais,
conhecido como Avaliação Ecossistêmica do Milênio (AEM). A AEM avaliou as consequências
33
que as alterações nos ecossistemas acarretaram para o bem-estar humano e estabeleceu uma
base científica para fundamentar ações que assegurassem a sustentabilidade no uso desses
ecossistemas (MILLENNIUM ECOSYSTEM ASSESSMENT, 2005).
Reforçando o conceito de que “[...] um ecossistema é um complexo dinâmico de plantas,
animais e comunidades de microrganismos e o ambiente não-vivo que interage como uma
unidade funcional” (MILLENNIUM ECOSYSTEM ASSESSMENT, 2005, p. V), a AEM
avaliou todos os ecossistemas do planeta, desde os equilibrados, como florestas naturais, até os
que sofreram mais distúrbios, como as áreas urbanas. Sua unidade de análise foram os serviços
ecossistêmicos “[...] os benefícios que as pessoas obtêm dos ecossistemas” (MILLENNIUM
ECOSYSTEM ASSESSMENT, 2005, p. V). Esses serviços foram correlacionados ao bem-estar
humano, como representado na Figura 4.

Figura 4 – Interligações entre serviços ecossistêmicos e o bem-estar humano

Fonte: Adaptação pela autora de Millennium Ecosystem Assessment (2005).

O reconhecimento dos serviços ecossistêmicos fez com que as cidades assumissem um


papel ainda mais importante para o desenvolvimento sustentável. Considerando o ecossistema
urbano, esses serviços devem ter suas ofertas e demandas no território urbano com vistas ao
bem-estar humano e ambiental. Com isso, os objetivos e metas de desenvolvimento sustentável
passaram a ter uma visão ampliada e mais complexa sobre o meio urbano.

34
As conferências internacionais sobre meio ambiente e desenvolvimento que sucederam
a Rio-92 foram marcadas por acordos ambientais e discussões polêmicas entre países
desenvolvidos e em desenvolvimento. Em Johannesburgo-2002, a Carta da Terra foi aprovada,
mas sem muito comprometimento dos países desenvolvidos, especialmente EUA.
A Rio+20 “O Futuro que Queremos”, representou a falta de empenho dos países em aplicar a
Agenda 21 e estabeleceu novas metas de desenvolvimento sustentável, visto o baixo
cumprimento dos acordos previamente estabelecidos.
Em 2010, a ONU-Habitat lançou a Campanha Urbana Mundial, em parceria com a
empresa Arcadis, que teve como objetivo conscientizar a população sobre a necessidade das
cidades sustentáveis. Em 2011, o relatório dessa campanha estabeleceu a relação entre os
assentamentos urbanos e as mudanças climáticas, com sugestões, estudos de impactos e medidas
de mitigação (UN-HABITAT, 2011).
Para questões de planejamento urbano, a UN-Habitat (2011) reporta que a falta de ajuste
de zoneamento e de códigos e padrões de construção com um olhar de futuro limita as
possibilidades de adaptação da infraestrutura urbana e pode colocar vidas e bens em risco. Nesse
sentido, a medida de mitigação seria um planejamento urbano que restringisse o crescimento da
população e das atividades em áreas propensas ao risco, voltado para o planejamento do uso da
terra, o acesso à água, o saneamento básico e a habitação (UN-HABITAT, 2011).
O relatório “UN-Habitat” (2011) também traz um posicionamento frente à forma
urbana das cidades: as altas densidades urbanas em países em desenvolvimento, como
assentamentos informais ou favelas, podem resultar no aumento de riscos para a saúde e no
aumento da vulnerabilidade à mudança climática e aos eventos extremos. Porém, as baixas
densidades urbanas podem estar associadas a altos níveis de consumo de energia, com
espraiamento urbano e uso excessivo de automóveis (UN-HABITAT, 2011).
Em 2015, mesmo ano em que as metas de desenvolvimento sustentável da Rio+20
entraram em vigor, ocorreu nova reunião de líderes mundiais em Nova York, a Cúpula de
Desenvolvimento Sustentável. Nessa reunião foi definida uma nova agenda, para finalizar o
trabalho dos ODM e lançar os novos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) no
documento “Agenda 2030” (UN-HABITAT, 2016b; PEREIRA; DALBELO, 2018), indicados
na Figura 5. O Relatório dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável do Milênio 2015
indicou que houve sucesso em todo o mundo, mas ainda existem deficiências (United Nations,
2015a) e, no sentido de atendê-las em diferentes níveis, foram criados os ODS.

35
Figura 5 – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

Fonte: https://nacoesunidas.org/conheca-os-novos-17-objetivos-de-desenvolvimento-sustentavel-da-onu/

Cada ODS possui suas metas, que totalizam 169 e foram planejadas para estarem
integradas e promoverem proteção ambiental, progresso social e crescimento econômico em
escala global. Para isso, a Agenda 2030 estabelece que governos, instituições públicas e empresas
nas escalas internacional, regional e local devem trabalhar em colaboração para a implementação
dos ODS (United Nations, 2015b).
A inclusão do ODS 11 – Cidades e Comunidades Sustentáveis – fez com que as cidades
ganhassem ainda mais importância na busca pelo desenvolvimento sustentável. De acordo com
o documento “Urban Planning and Design at UN-Habitat” (2015a), três elementos urbanos
essenciais devem ser incorporados como metodologia de trabalho integrado a fim de promover
a mudança para a urbanização sustentável: legislação, desenho e finança urbana. Esses elementos
devem estar em equilíbrio para garantir resultados positivos e alcançáveis e aumentar as sinergias
transetoriais.
Figura 6 – O três elementos urbanos do planejamento e do desenho urbano

Fonte: Adaptação pela autora de UN-Habitat (2015a, p. 4).


36
Ainda no ano de 2015, a ONU-Habitat publicou diretrizes internacionais em
planejamento urbano e territorial. Elas estão divididas em: política e governança urbana;
desenvolvimento social, econômico e ambiental; componentes; implementação e
monitoramento. São distribuídas entre ações de governo nacional, autoridades locais,
organizações civis e, em alguns casos, profissionais de planejamento. Os objetivos desse
documento estão voltados à criação de um referencial universal para reformas urbanas, a
replicação de exemplos bem-sucedidos, a complementação a outras diretrizes internacionais e a
atenção às dimensões urbanas e territoriais das agendas nacionais, regionais e locais (UN-
HABITAT, 2015b).
A Conferência Mundial Habitat-III, que ocorreu em Quito, em outubro de 2016, declara
como direito humano o direito à cidade e estabelece uma Nova Agenda Urbana, que apresenta
elementos essenciais à criação de um padrão de desenvolvimento sustentável urbano para um
novo modelo de cidade. Seu território compreenderia as áreas urbanas, periurbanas e rurais, e a
igualdade seria integrada à questão da justiça social. Existe também o reconhecimento da cultura
no empoderamento do desenvolvimento sustentável pelos cidadãos, contribuindo com a criação
de novos padrões de produção e de consumo sustentáveis e uso responsável dos recursos (UN-
Habitat, 2016a).
A Habitat-III reconheceu a importância do planejamento e do desenho urbano para
estabelecer uma provisão adequada de bens comuns, incluindo ruas e espaços abertos, em um
padrão eficiente de construções, e criou um tema na Nova Agenda Urbana chamado
“Prosperidade e oportunidades urbanas inclusivas e sustentáveis para todos”, que inclui:

Comprometemo-nos a promover o desenvolvimento de estratégias espaciais


urbanas, incluindo instrumentos de planeamento e desenho urbanos que
apoiem a gestão e a utilização sustentáveis dos recursos naturais e do solo,
compacidade e densidade adequadas, policentrismo e usos mistos, por meio de
estratégias de ocupação de vazios urbanos ou de expansões urbanas planejadas,
conforme o caso, para desencadear economias de escala e de aglomeração,
fortalecer a planificação do sistema de abastecimento alimentar, aumentar a
eficiência dos recursos, a resiliência urbana e a sustentabilidade ambiental (UN-
Habitat, 2016a, p. 18).

Além disso, o documento inclui itens referentes à necessidade de integração de serviços,


infraestrutura e territórios urbanos e rurais, a fim de promover maior igualdade social, eficiência
de serviços e utilização sustentável dos recursos naturais. Essas diretrizes incluem: compacidade,
uso misto, integração de modais de transporte e uso de plataformas e ferramentas digitais.

37
A Nova Agenda Urbana assume “[...] integralmente os compromissos adotados durante
o ano de 2015, em particular a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, incluindo os
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável” (UN-HABITAT, 2016a, p. 3) e propõe que sua
efetivação deve contribuir

[...] para a implementação e localização da Agenda 2030 para o


Desenvolvimento Sustentável de maneira integrada, e para a consecução dos
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e suas metas, inclusive o ODS 11
para tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros,
resilientes e sustentáveis (UN-HABITAT, 2016a, p. 4).

A UN-Habitat possui uma série de parcerias, entre as quais se destaca a já mencionada


ICLEI, associação mundial de governos locais para o desenvolvimento sustentável que atua em
mais de cem países, e a Urban-LEDS (Urban Low Emission Development Strategies), que também
está vinculada à ICLEI, mas age na escala local. Ambas as associações trabalham com agendas
paralelas e que se remetem constantemente aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da
ONU, principalmente ao número 11.
O ODS 11 – cidades e comunidades sustentáveis – (Quadro 5) enfatizou a urbanização
e reconheceu que as cidades conectam outros objetivos. O ODS 11 é monitorado através de
indicadores que constam no documento “Sustainable Development Goal 11 – Make Cities and Human
Settlements Inclusive, Safe, Resilient and Sustainable” (2016b).

Quadro 5 – Objetivo de Desenvolvimento Sustentável n. 11


Objetivo 11: Cidades e assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis
11.1 Até 2030, garantir o acesso de todos à habitação segura, adequada e a preço acessível, e aos serviços
básicos e urbanizar as favelas.
11.2 Até 2030, proporcionar o acesso a sistemas de transporte seguros, acessíveis, sustentáveis e a preço
acessível para todos, melhorando a segurança rodoviária por meio da expansão dos transportes
públicos, com especial atenção para as necessidades das pessoas em situação de vulnerabilidade,
mulheres, crianças, pessoas com deficiência e idosos.
11.3 Até 2030, aumentar a urbanização inclusiva e sustentável, e as capacidades para o planejamento e
gestão de assentamentos humanos participativos, integrados e sustentáveis, em todos os países.
11.4 Fortalecer esforços para proteger e salvaguardar o patrimônio cultural e natural do mundo.
11.5 Até 2030, reduzir significativamente o número de mortes e o número de pessoas afetadas por
catástrofes e substancialmente diminuir as perdas econômicas diretas causadas por elas em relação
ao produto interno bruto global, incluindo os desastres relacionados à água, com o foco em proteger
os pobres e as pessoas em situação de vulnerabilidade.
11.6 Até 2030, reduzir o impacto ambiental negativo per capita das cidades, inclusive prestando especial
atenção à qualidade do ar, gestão de resíduos municipais e outros.
11.7 Até 2030, proporcionar o acesso universal a espaços públicos seguros, inclusivos, acessíveis e verdes,
particularmente para as mulheres e crianças, pessoas idosas e pessoas com deficiência.
11.a Apoiar relações econômicas, sociais e ambientais positivas entre áreas urbanas, periurbanas e rurais,
reforçando o planejamento nacional e regional de desenvolvimento.

38
11.b Até 2020, aumentar substancialmente o número de cidades e assentamentos humanos adotando e
implementando políticas e planos integrados para a inclusão, a eficiência dos recursos, mitigação e
adaptação às mudanças climáticas, a resiliência a desastres; e desenvolver e implementar, de acordo
com o Marco de Sendai para a Redução do Risco de Desastres 2015-2030, o gerenciamento holístico
do risco de desastres em todos os níveis.
11.c Apoiar os países menos desenvolvidos, inclusive por meio de assistência técnica e financeira, para
construções sustentáveis e resilientes, utilizando materiais locais.
Fonte: https://nacoesunidas.org/pos2015/ods11/

Para o planejamento e o desenho urbano, o ODS 11 não se basta. É preciso integrar e


interconectar todos os ODS, pois é no território urbano que devem ocorrer todas as
transformações para o desenvolvimento sustentável. Nessa linha de pensamento, existem
diversas publicações sobre como devem ser pensados o ODS de forma local, no ambiente
urbano. O relatório “Local Implementation of the SDGs & the New Urban Agenda: towards a swedish
national urban policy” (FABRE, 2017) indica a necessidade de integrar as diversas agendas para o
desenvolvimento sustentável e implementar metodologias de ação e de monitoramento para
fazer cumprir os ODS.
A publicação brasileira sobre a implementação dos ODS a nível local é o Guia para
Integração dos ODS nos Municípios Brasileiros (CNM, 2017). Nele são estabelecidas formas
de aplicação e monitoramento de cada um dos ODS no planejamento urbano, conforme resumo
no Quadro 6.

Quadro 6 – Aplicação dos ODS no Planejamento Urbano

ODS APLICAÇÃO NO PLANEJAMENTO URBANO


Acesso aos serviços essenciais básicos – água, energia, saúde, assistência
social e educação –, às tecnologias e à inclusão social.

Acesso a alimentos nutritivos e seguros, à saúde, à produção alimentar


sustentável e à agricultura local; redução de riscos à saúde.

Promoção de saúde e bem-estar para todos e em todas as idades, aceso aos


serviços básicos, à segurança no trânsito, às atividades esportivas e à
programas sociais.

Educação inclusiva; escolas sustentáveis e ensino de sustentabilidade.

39
Fim da discriminação contra mulheres, empoderamento e igualdade de
gênero, manutenção de rede de atendimento e assistência à mulher.

Manter o direito à água potável, à saúde à segurança alimentar, ao


saneamento e a gestão de resíduos.

Acesso às diferentes fontes de energia, principalmente as renováveis,


eficientes e não poluentes.

Crescimento econômico, trabalho e emprego; produção e consumo


sustentáveis e incentivo a estratégias de desenvolvimento econômico que
aproveitam oportunidades, vocações e recursos de seus territórios.

Promoção de infraestrutura necessária para conexão globalizada;


transporte, saneamento, energia, comunicação e informação sustentáveis;
industrias inclusivas, eficientes e menos poluentes; eficiência no uso de
recursos e infraestruturas resilientes.
Redução das desigualdades: renda, patrimônio, tipos de moradias, acesso à
serviços básicos, à justiça, às atividades esportivas e de lazer; oportunidade
de trabalho; participação pública nas decisões políticas e promoção de uso
misto do solo.
Promoção de qualidade de vida dos habitantes e do planejamento urbano;
acesso aos serviços básicos e desenvolvimento do urbano nos aspectos
econômico, físico e social.

Produção e consumo sustentáveis; inovação industrial; destinação


adequada de rejeitos; reciclagem de resíduos e promoção de economia
circular.

Prevenção aos desastres naturais; redução de emissão de gases de efeito


estufa: conservação e manejo florestal sustentável e monitoramento das
emissões.

Redução do lançamento de efluentes, de resíduos industriais e sólidos na


rede fluvial.

40
Preservação dos ecossistemas terrestres, das florestas e da biodiversidade;
promoção da mudança de comportamento, do equilíbrio ambiental e do
bem-estar social.

Melhoria da segurança pública; aumento da responsabilidade e da igualdade


social; transparência e combate à corrupção.

Implementação da Agenda 2030; fortalecimento das alianças locais através


de organizações e movimentos sociais; gestão de recursos e de pessoas;
incentivo às parcerias público e privadas e à colaboração entre governo,
instituição e empresas.

Apesar da série de publicações e do compromisso firmado de cumprir a Agenda 2030,


poucas estão sendo os avanços em relação aos ODS. No meio urbano, as iniciativas continuam
sendo pontuais e, na maioria das vezes, em regiões privilegiadas, como indica o próximo item
desta pesquisa.
Em 2018, foi lançado o primeiro relatório de acompanhamento dos ODS. Ele indica que
as situações de conflitos e a mudança climática são os principais fatores para o aumento do
número de pessoas subalimentadas ou desnutridas e refugiadas, além da redução do acesso aos
serviços básicos de saneamento, água potável e saúde. Ao mesmo tempo, o relatório indica que
melhoria na qualidade de vida da população em geral nos últimos dez anos, com redução da
taxa de mortalidade infantil e aumento do acesso à eletricidade (United Nations, 2018a).
No Fórum Político de Alto Nível11 que ocorreu em Nova York, em 2018, foi discutida
a área temática de “Transformação para sociedades sustentáveis e resilientes”, com a
concentração no grupo de indicadores para os ODS 6, 7, 11, 12, 15 e 17. Um dos resultados
desse fórum foi a publicação do Relatório Síntese do ODS 11, “Tracking Progress Towards Inclusive,
Safe, Resilient and Sustainable Cities and Human Settlements”, que descreve o progresso da
humanidade em direção a implementação da Nova Agenda Urbana e seus desafios.
Nesse relatório há ênfase na valorização da urbanização sustentável como facilitadora do
alcance aos ODS, pois considera-se que o processo da urbanização é incontrolável e, por isso,
as áreas urbanas tornam-se cada vez mais críticas em termos do alcance dos ODS e das metas
sociais, econômicas e ambientais da Nova Agenda Urbana. O relatório analisa uma série de

11O Fórum Político de Alto Nível é um evento anual coordenado pela ONU que acontece desde a Conferência das Nações
Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável Rio +20 e que tem um papel central no acompanhamento e na revisão da Agenda
2030 a nível global. Nele ocorrem compartilhamentos de experiências e formação de parcerias entre os países envolvidos.
41
importantes desenvolvimentos relacionados à prevalência de favelas nas cidades, espaços
abertos, transporte público, poluição do ar, participação cidadã e políticas públicas. Ele também
examina os desafios do desenvolvimento de metodologias para indicadores do ODS 11 que
estão começando a serem monitorados e para os quais existem parcerias da ONU com uma
série de agências voltadas para o urbanismo sustentável (United Nations, 2018b).
O histórico das reuniões e metas internacionais sobre o desenvolvimento sustentável
urbano começou com a preocupação estritamente ambiental: poluição atmosférica e degradação
do meio ambiente. Atualmente, tem-se uma enorme gama de temas correlatos, que variam desde
economia, passando pelas questões sociais e culturais e pelas questões de infraestrutura. O
urbano tem o potencial de progresso na criação de sociedades sustentáveis, porque nele está a
integração das questões econômicas, ecológicas, políticas e culturais. Por isso, torna-se cada vez
mais urgente a implementação do planejamento, do desenho e das ações para a sustentabilidade
urbana.

2.2. Desenho urbano

Todavia, a construção da cidade e a resolução da complexidade dos problemas


do ambiente humano exigem actualmente numerosas qualidades, múltiplos
conhecimentos e a ação de indivíduos que, pelo seu saber e criatividade, se
tornam executantes de uma vontade colectiva, explicitando os espaços para
essa vontade (LAMAS, 2000, p. 24).

Quando se importa o design traduzido para desenho, é preciso importar toda a sua
conotação, “[...] que engloba desenho, projeto e processo: não é uma palavra limitadora e
estativa como desenho ou projeto, em suas conotações usuais [...] Uma conotação, portanto,
que subentende o processo e a noção de planejamento” (DEL RIO, 1990, p. 51). Considerando
a escala do urbanismo, o planejamento urbano tem, no desenho urbano, o instrumento para
planificar diretrizes incorporadas à cidade. É através do desenho urbano que questões
demográficas, logísticas, energéticas, de zoneamento, ambientais, econômicas e sociais são
inseridas no território da cidade. Para o desenho urbano, são usados procedimentos, conceitos
e técnicas da arquitetura, do meio ambiente, da geografia, da engenharia, da mobilidade, da
administração, da economia, da história e do paisagismo (DEL RIO, 1990; SHIRVANI, 1985;
CARMONA et al., 2010).
É possível considerar que as primeiras contribuições teóricas para o desenho urbano
estão em Vitrúvio porque, apesar de seus estudos estarem mais focados na arquitetura,

42
trouxeram também contribuições para a relação entre os edifícios e seus entornos, como a
análise da ágora grega e do fórum romano. Alberti e Paladio também trouxeram elementos
urbanos para seus estudos, como a determinação de princípios de desenho para a construção de
ruas, praças e parques.
Camilo Sitte (1992 [1889]) trouxe a dimensão estética das cidades, com análise das
composições das cidades antigas sobre os sentidos dos seres humanos. Ele investigou a escala
do desenho urbano na relação entre os edifícios, monumentos e praças; a dimensão, a forma e
o fechamentos das praças antigas e das praças do norte da Europa e questões vinculadas às
construções urbanas modernas e à arte.
O desenho urbano surge como uma ciência urbana (KOHLSDORF, 1985) na década de
1960, frente às constantes críticas ao planejamento urbano focado nos grandes centros e nas
grandes incorporações, característico do Movimento Moderno. A ideia que surgiu em 1956
durante a Conferência de Desenho Urbano de Harvard, organizada pelo arquiteto urbanista Luis
Sert, foi a de que o desenho urbano é a parte do planejamento da cidade que trata sua forma
física com criatividade e integração entre os profissionais do urbano (KRIEGER, 2009;
BARNETT, 2006).
O desenho urbano passa a ser um método de integrar os elementos construídos aos seus
usuários e às funções urbanas. Nesse sentido, Jane Jacobs (1961) defendia o pressuposto de que
uma cidade ocupada é uma cidade viva. Jacobs (1961) buscava novos princípios de planejamento
urbano para promoção de ambientes com maior vitalidade. Ela defendia o uso misto dos
espaços, quadras menores, diversidade de tipologias de edifícios, inclusive quanto à época de
construção e densidade, de forma que o urbano possua sempre um número significativo de
pessoas ocupando seus espaços com diferentes formas de uso.
Conzen (1960) traz a importância do caráter geográfico na morfologia urbana, expresso
pela paisagem urbana, que é uma combinação entre o plano da cidade, o padrão das formas
construtivas e o padrão do uso do solo urbano, chamada pelo autor de townscape. Já
funcionalmente, o caráter geográfico de uma cidade é definido e determinado pelo significado
econômico e social de um contexto regional (CONZEN, 1960).
Cullen (1961) também usa o termo townscape na discussão acerca do modelo moderno de
planejamento urbano, enfatizando a necessidade da interação entre os habitantes e o ambiente
construído. O autor expõe a ideia de que a percepção do ambiente é uma ferramenta de leitura
e projeto do espaço, estimulada pela reação emotiva dos usuários. Essa reação é resultado do
conjunto das formas urbanas que compõem a paisagem e formam a identidade coletiva.
43
Em 1965, Christopher Alexander escreveu o artigo A City is not a Tree, em que relaciona
a natureza da cidade a estruturas abstratas chamadas árvore e semirretícula12 (Figura 7). Essas
estruturas são formas de pensar como pequenos sistemas compõem um sistema grande e
complexo. Na obra, Alexander critica a estrutura em árvore, modelo vinculado ao modernismo,
devido à falta de conexão dos subsistemas e elementos de conjuntos, que conseguem estabelecer
apenas associações simples dois a dois, e propõe a estrutura em semirretícula, que superpõe
elementos e subsistemas da cidade em associações múltiplas e complexas.

Figura 7 – Estrutura semirretícula e estrutura árvores

Fonte: Alexander (1965).

A partir dessa hipótese, Alexander uniu-se a outros pesquisadores, desenvolvendo a obra


A Pattern Language e criando a teoria da linguagem de padrões, em que se propunham a identificar
diretrizes para projetos urbanos e arquitetônicos ligadas à qualidade do ambiente e à
atemporalidade, de forma a universalizar os padrões urbanos criados (ALEXANDER et al.,
1977). Os parâmetros de desenho propostos “[...] incentivam a mescla de usos e um projeto
urbano-arquitetônico menos rígido e mais participativo, com vistas à equidade social”
(BARROS; KOWALTOWSKI, 2013). Esses parâmetros visam apoiar diversas situações, com
diversidade social e cultural, promovendo a identidade e a territorialidade dos usuários com o
lugar.
Ainda para diferenciar e especificar os termos, o que ocorre entre planejamento e
desenho é uma questão da escala, pois não se pode desenhar uma cidade inteira, mas organizá-

12
Semilattice (ALEXANDER et al., 1987).
44
la e estruturá-la. Dessa forma, enquanto o planejamento trata de decisões políticas e locacionais,
o desenho urbano trata da natureza dos elementos urbanos e suas relações com o meio
socioambiental (RAPOPORT, 1977).
Kevin Lynch (1981) considera o city design como uma atividade que trata os objetivos de
longo prazo através de políticas, programas e diretrizes. E que, por isso, deve ser realizado por
diversos profissionais além dos arquitetos. O autor afirma que “[...] o desenho da cidade é a arte
de criar possibilidades para o uso, o gerenciamento e a forma de assentamentos ou de suas partes
significantes” (LYNCH, 1981, p. 290).
Kevin Lynch (1981) propõe algumas regras de desenho urbano, mais relacionadas à
análise da morfologia das cidades estudadas do que à proposta de novos desenhos. De acordo
com o autor, o desenho urbano pode seguir um modelo 13 e deve considerar o processo de
criação e de gestão. Como exemplo, Lynch afirma que existem duas maneiras de estabelecer
regras de formas: por prescrição ou especificando o desempenho. Os modelos estão mais para
prescrever do que para especificar: “fazer uma bay window” pode ser considerado um modelo
a ser seguido, enquanto “[...] fazer o possível para que alguém na sala consiga ver o subir e descer
da rua” é um instrumental para fins mais gerais, de socialização ou de segurança (LYNCH, 1981,
p. 278) e que, além disso, permite que inovações sejam implementadas.
O problema de especificar o desempenho desejado está no fato de que não se chega a
uma forma ambiental reconhecida. Para que um padrão de desempenho possa ser utilizado no
desenho urbano, é preciso que seja elaborado e testado. O problema do uso de modelos está no
fato de que eles não dão conta do processo pelo qual a forma final é alcançada e, tampouco, da
identidade e da especificidade de cada cidade. Idealmente, os modelos deveriam especificar a
forma, a criação e a gestão, mas a maioria deles se fixa apenas na questão da forma (LYNCH,
1981). Assim, alguns modelos úteis podem ser usados como dispositivos de regulamentação,
como os padrões de ruas locais, a altura de edifícios e a mistura de usos do solo. Porém, a
aplicação da maioria dos modelos depende da situação específica em que são usados, por isso
são mais úteis quando usados como diretrizes de desenho urbano.
Lynch (1981) expõe cinco dimensões de desempenho que conferem a capacidade de
fornecer requisitos ambientais, sociais e culturais aos seus habitantes e que podem indicar o grau
de boa forma em que a cidade ou região está. São elas:

13
“[...] para o nosso propósito, um modelo é um retrato de como o ambiente deve ser feito, uma descrição de uma forma
ou de um processo que é um protótipo de seguir” (LYNCH, 1981, p. 277). Tradução livre de: “[…] for our purpose, a model
is a picture of how the environment should be done, a description of a form or process that is a prototype to follow”.
45
- Vitalidade: grau em que a cidade sustenta o essencial da vida humana; o desempenho
biológico: ar, água, energia e alimentos; longe de perigo, desastre ou insegurança.
- Sentido: grau de ajuste entre a forma física da cidade e a maneira como as pessoas a
reconhecem e organizam; é o grau de homogeneidade na relação entre o ambiente e
o observador, que depende da estrutura espacial, da cultura e do objetivo do
observador. É nesse desempenho que se encontram as derivações de sentido que
Lynch (1981) analisa: identidade, estrutura, significado, congruência, transparência e
legitimidade.
- Ajuste: grau de relação entre a forma e a função da cidade, envolvendo o padrão de
comportamento humano. É o “[...] quão bem o padrão de distribuição espacial e
temporal de um assentamento corresponde ao comportamento habitual de seus
habitantes” (LYNCH, 1981, p. 151).14
- Acessibilidade: grau de facilidade de a população acessar serviços, informações e
todos os lugares com diversidade.
- Controle: grau em que o ambiente está sob o controle das pessoas que o usam ou
nele residem.
Para Lynch (1981), não é possível garantir que as grandes metáforas normativas, que
compatibilizam a forma e a visão da natureza dos assentamentos humanos, estejam combinadas
em uma única instrução, pois há variação de cultura, política econômica e valores individuais
em cada local em que os modelos podem ser usados e estas variações não estão previstas nos
modelos. “Nem [consegue dar conta desse aspecto] a convicção do livro muito bem composto
de Christopher Alexander, A Pattern Language, que também é uma declaração longa e conectada
sobre o meio ambiente” (LYNCH, 1981, p. 285).15
Pensando nisso, Lynch (1981) fez uma relação de modelos padrões de levantamentos de
formas urbanas:
- Modelo Estrela: tem um centro definido que irradia o desenvolvimento da cidade
através de eixos que formam vias concêntricas ao centro inicial e criam cruzamentos.
- Cidade Satélite: uma configuração que possui uma cidade central e uma série de
comunidades satélites dependentes e que possuem áreas limitadas.

14 Tradução livre de: “[…] how well the spatial and temporal pattern of a settlement matches the customary behavior of its
inhabitants” (LYNCH, 1981, p. 151).
15
Tradução livre de: “Nor the conviction of Christopher Alexander's beautifully composed book, A Pattern Language, which
is also a long, connected statement about the environment” (LYNCH, 1981, p. 285).
46
- Cidade Linear: não há um centro definido e a cidade cresce linearmente, com poucas
vias paralelas, o que caracteriza grande extensão urbana; por isso é mais aplicável em
cidades de pequeno porte.
- Grelha Retangular: a cidade é estruturada em uma malha retangular que permite
crescimento urbano por não possuir limitações; a principal característica é a facilidade
de deslocamento.
- Rede Axial Barroca: a cidade é estruturada a partir de uma malha triangular em que
os três vértices possuem edifícios significantes ou marcos e, no interior do triângulo,
ela se desenvolve.
- Modelo Rendilhado: é caracterizado por ser um aglomerado com vias espaçadas e
grandes áreas que formam espaços públicos e áreas verdes; normalmente é o padrão
de áreas de transição entre o campo e a cidade.
- Cidade Interior: caracteriza-se pelo cercamento através de uma muralha ou elemento
semelhante; as vias principais convertem-se em vias locais e estas, aos edifícios
particulares.
- Cidade em Ninho: no centro da cidade está localizado o templo religioso, seguido
por anéis concêntricos – muralhas – que determinam as vias principais, e as vias
secundárias são menores e descontínuas, formando paisagens descontínuas.
- Visões Atuais: uma das formas conhecidas dos padrões atuais de cidade é a
megaforma, em que ocorre ocupação de alta densidade em uma grande área;
atividades comerciais e de serviço situam-se em grandes edifícios com terraço e
cobertura verde.
Lynch conseguiu abranger praticamente todos os modelos de desenho urbano com seus
padrões de levantamentos de formas urbanas. Quando se pensa em uma cidade, não é difícil
reconhece-la dentro de algum daqueles modelos. O que diferencia uma forma urbana de outra,
quando estão categorizadas em um mesmo modelo, é algum elemento de sua particularidade
estrutural e organizacional.
O estabelecimento de modelos e padrões urbanos tornou-se recorrente entre os
pesquisadores do urbano que buscavam soluções para o planejamento. Seguindo a linha do
levantamento do desempenho das cidades, Appleyard e Jacobs (1982) escreveram um manifesto
em que indicam metas de planejamento para qualidade de vida - identidade e controle,
acessibilidade e lazer; vida comunitária e pública - e as cinco principais características do desenho

47
urbano - ruas e vizinhança de convívio, densidades mínimas e intensidades de uso para a vida
urbana, integração de atividades, edificações organizadoras de espaços públicos e diversidade
nas relações edifícios/espaços.
Quando Donald Appleyard e Allan Jacobs publicaram o Manifesto do Desenho Urbano
(1982), argumentaram que “[...] as mudanças econômicas, tecnológicas e sociais devem ter lugar
nas nossas cidades [...]” (p. 2), criando uma posição diferente das ideologias anteriores, do
Movimento das Cidades Jardins e do Movimento Moderno, considerados como respostas
inadequadas aos problemas contemporâneos. Os problemas da década de 1980 não eram
completamente diferentes dos que existem nas cidades da segunda década do século XXI:
ambiente de vida precário, privatizações e perda de vida pública, fragmentação, diferença social
e falta de compreensão dos contextos locais por parte dos projetistas urbanos. Para solucionar
esses problemas, Appleyard e Jacobs (1982) incentivaram um desenho urbano com
habitabilidade, identidade, acessibilidade, autenticidade, comunidade e vida pública, densidade
mínima, intensidade de uso do solo, integração de atividades e uma relação edifício x espaço
público que fortalecesse a convivência, como preconizava Jane Jacobs (1961).
Dez anos após a publicação de A Pattern Language, ocorre a publicação da obra A New
Theory of Urban Design (ALEXANDER et al., 1987), que trata a questão da totalidade das cidades
antes do Modernismo e uma forma de reintegrar as cidades modernas. Os autores expõem que
essas cidades tinham uma qualidade estrutural específica que integrava suas formas e funções e
que as cidades modernas e pós-modernas não pensam nesse tipo de integração e nem em seu
planejamento ou desenho urbano isso foi tentado.
A proposta de Alexander et al. (1987) é que o desenho urbano se caracterize como um
processo de integração das ações urbanas que obedeçam a sete regras que deveriam ser utilizadas
juntas, em busca da totalidade da cidade16 e que deveriam ser instrução à população para o
processo participativo do desenho urbano. O princípio que rege as sete regras é o de que “[...]

16
Resultados-chave para a criação da totalidade: “1. Totalidade, ou coerência, é uma condição objetiva de configurações
espaciais, que ocorre em maior ou menor grau em qualquer parte do espaço e pode ser mensurada; 2. A estrutura que produz
totalidade é sempre específica para a circunstância e por isso nunca tem a mesma forma mais de uma vez; 3. A condição de
totalidade é sempre produzida pelo mesmo, e bem definido processo. Esse processo funciona de forma incremental,
produzindo gradualmente uma estrutura definida como ‘o campo de centros’ nos espaços; 4. O campo é produzido pela
criação incremental de centros, um a um, sob uma condição muito especial” (ALEXANDER et al., 1987, p. 23).
Tradução livre de: “1. Wholeness, or coherence, is an objective condition of spacial configurations, which occurs to a greater
or lesser degree in any given part of space and can be measured. 2. The structure which produces wholeness,, is always
specific to its circumstances, and therefore never has exactly the same twice. 3. The condition of wholeness is always
produced by the same, well-defined process. This process Works incrementally, by gradually producing a structure defined
as ”the field of centers”, in space. 4. The field of centers is produced by the incremental creation of centers, one by one,
under a very special condition” (ALEXANDER et al., 1987, p. 23).
48
cada novo ato de construção tem apenas uma obrigação básica: deve criar uma estrutura
contínua de totalidade em torno de si” (ALEXANDER et al., 1987, p. 22)17:
- Crescimento gradual: considerando a dificuldade em alcançar a totalidade em grandes
áreas urbanas, propõe-se que existam pequenas e médias áreas com diferentes
funções;
- Crescimento de totalidades maiores: quando o crescimento gradual não permite a
criação de uma grande totalidade, é preciso que as ampliações de áreas e edifícios
criem espaços mais significantes e funcionais para a comunidade local;
- Visões: os incrementos urbanos devem surgir de uma necessidade de melhoria da
estrutura existente, sendo experimentados e expressados pela comunidade;
- Espaço positivo urbano: os edifícios devem criar espaços positivos em seus entornos,
com funções coerentes e formas harmoniosas, determinando relações com calçadas,
ruas, jardins e estacionamentos;
- Layout dos edifícios: o interior dos edifícios deve seguir a ideia da totalidade urbana,
com espaços abertos, coerência na disposição e na posição em relação à rua e ao
bairro;
- Construção: os edifícios devem garantir harmonia em seu volume e em seus espaços
interiores e exteriores;
- Formação de centros: todo edifício ou incremento urbano deve cooperar com os
espaços adjacentes a fim de tornar-se um centro e promover a totalidade de uma
região.
O arquiteto e urbanista Vicente Del Rio (1990) afirma que, enquanto o planejamento
urbano tem a formalidade dos modelos estáticos e da tecnocracia, o desenho urbano é mais
informal e assume modelos dinâmicos com participação comunitária, flexibilidade e
especificidades. É possível dizer que o desenho urbano se concentra em “[...] compreender as
complexidades do processo de desenvolvimento urbano e elaborar possibilidades para
intervenções em nível da qualidade físico-ambiental” (DEL RIO, 1990, p. 48). Essas
intervenções fazem parte do processo que permeia o planejamento urbano e é responsável pela
qualidade do meio ambiente. Por isso as duas atividades devem acontecer em paralelo.

O planejamento deve ser entendido como uma atividade meio permanente, um

17
Tradução livre de: “Every new act of construction has just one basic obligation: it must create a continuous structure of
wholes around itself” (ALEXANDER et al., 1987, p. 22).
49
processo indispensável à tomada de decisões. A partir de decisões políticas em
nível dos objetivos sociais e econômicos a serem alcançados, é através do
planejamento que estabelecemos os melhores meios e ações para atingir estes
objetivos. Nesta lógica, podemos entender o Desenho Urbano também como
atividade-meio em nível da configuração físico-espacial e atividades humanas
complementares. Suas atividades-fim seriam seus programas e projetos, com
impactos diretos no cotidiano das populações (DEL RIO, 1990, p. 58).

Dessa forma, o desenho urbano pode ser considerado como a disciplina que lida com o
processo de dar forma e função ao urbano (CUTLER, L.; CUTLER, S., 1983). Considerando o
campo de atuação produto do desenho urbano e procurando “[...] tratar da produção, da
apropriação e do controle do meio ambiente construído” (DEL RIO, 1990, p. 54), o desenho
urbano é

[...] o campo disciplinar que trata a dimensão físico-ambiental da cidade,


enquanto conjunto de sistemas físico-espaciais e sistemas de atividades que
interagem com a população através de suas vivências, percepções e ações
cotidianas (DEL RIO, 1990, p. 54).

Os questionamentos acerca do desenho urbano como arte ou ciência, como disciplina


ou método, fizeram com que Alexander Cuthbert, professor de desenvolvimento urbano da
Universidade australiana New South Wales, lançasse proposições sobre o estado de
conhecimento, ou estado da arte do desenho urbano, emergindo durante década de 1960 com
o objetivo de aumentar a integridade e a legitimidade de seu significado (CUTHBERT, 2007).
A primeira proposição de Cuthbert sobre o desenho urbano, em Urban Design requiem for
an era (2007), é a de que “[...] o desenho urbano é autorreferencial e não é informado por, nem
é compromisso de qualquer autoridade externa em termos intelectuais” (CUTHBERT, 2007, p.
178).18 Em seguida, outras proposições são colocadas: o desenho urbano precisa ser reorientado
para a ciência social como sua origem, especificamente, a sociologia, a geografia e a economia
urbanas; para ser científica, uma disciplina deve ter um objeto real ou um objeto teórico de
investigação; o objeto teórico do desenho urbano é a sociedade civil e o objeto real é a esfera
pública; a compreensão da produção de resultados do desenho urbano deve mudar a partir do
modernismo e da obsessão pela forma da escola de Belas Artes, o princípio de eureca e o culto
mestre/discípulo para uma produção orgânica de formas e espaços, homóloga à produção da
sociedade. Dessa forma, o principal questionamento de Cuthbert (2007) é o de que enquanto

18
Tradução livre de: “Urban design is self-referential and is neither informed by, nor committed to, any external authority
in intellectual terms” (CUTHBERT, 2007, p. 178).
50
muitos profissionais do urbano tratam o desenho urbano como uma teoria e uma prática, outros
o tratam apenas como uma teoria.
Cuthbert (2007) sugere que, a fim de legitimar o desenho urbano como uma disciplina,
é preciso escapar de padrões que cultuam personalidade e ideologias e partir para uma base
teórica comum, com seus defeitos e falhas. Assim, se a teoria do desenho urbano deve progredir,
então é preciso que interaja com uma política econômica espacial, uma vez que o espaço não
pode ser separado de sua produção social em formas urbanas específicas.
Quando se consideram as dimensões de atuação física, espacial e social, é possível dizer
que o desenho urbano se aproxima da arquitetura nas qualidades de utilidade, durabilidade e
capacidade de trazer ao usuário sensação de bem-estar e satisfação emocional (DEL RIO, 1990;
MOUGHTIN et al., 1999). De acordo Moughtin et al. (1999), essas características do desenho
urbano vão ao encontro da necessidade de processos e técnicas de participação pública no seu
desenvolvimento, principalmente quando se trabalha com o desenvolvimento sustentável
urbano.

O desenho urbano, ou a arte de construir cidades, é o método pelo qual o


homem cria um ambiente construído que cumpre as suas aspirações e
representa seus valores. […] O desenho urbano, portanto, pode ser descrito
como o uso de um conhecimento tecnológico acumulado de um povo para
controlar e adaptar o ambiente de forma sustentável para as necessidades
sociais, econômicas, políticas e espirituais. É o método aprendido e usado por
pessoas para resolver o programa total de requisitos para a construção da cidade
(MOUGHTIN et al., 1999, p. 4).19

O conhecimento tecnológico acumulado de um povo (MOUGHTIN et al., 1999) passa


por um domínio de áreas do conhecimento para ser usado no desenho urbano. O arquiteto José
Ressano Garcia Lamas, em sua obra Morfologia Urbana e Desenho da Cidade (2000), trabalha com a
ideia de que

O desenho urbano exige um domínio profundo de duas áreas do


conhecimento: o processo de formação da cidade, que é histórico e cultural e
que se interliga às formas utilizadas no passo mais ou menos longínquo, e que
hoje estão disponíveis como materiais de trabalho do arquitecto urbanista; e a
reflexão sobre a FORMA URBANA enquanto objectivo do urbanismo, ou

19Tradução livre de: “Urban design, or the art of building cities, is the method by which man creates a built environment
that fulfills his aspirations and represents his values. […] Urban design, therefore, can be described as a people’s use of an
accumulated technological knowledge to control and adapt the environment in sustainable ways for social, economic,
political and spiritual requirements. It is the method learned and used by people to solve the total programme of requirements
for city building” (MOUGHTIN et al., 1999, p. 4).
51
melhor, enquanto corpo ou materialização da cidade capaz de determinar a vida
urbana em comunidade. Sem o profundo conhecimento da morfologia urbana
e da história da forma urbana, arriscam-se arquitectos a desenhar a cidade
segundo práticas superficiais, usando <<feitios>> sem conteúdo disciplinar
(p. 22).

Para Lamas (2000), a eficácia do desenho urbano está sobretudo em entender e


confrontar os problemas do planejamento expostos na morfologia urbana, que estuda “[...]
essencialmente os aspectos exteriores do meio urbano e as suas relações recíprocas, definindo e
explicando a paisagem urbana e sua estrutura” (p. 37). Isso porque a adequação disciplinar
permite que o desenho urbano vá além do traçado de quadras, ruas e praças, alcançando uma
unidade metodológica e cultural. O desenho urbano ocupa-se, assim, do processo de
urbanização, incluindo os fenômenos sociais, econômicos e ambientais e a morfologia urbana
consolidada a partir deles. A programação das quantidades, das utilizações - organização
quantitativa e funcional – e das localizações pertencem ao desenho urbano (LAMAS, 2000).
Se o desenho urbano é considerado um processo, então a forma surge como resposta a
um problema espacial; a solução do problema posto pelo contexto (ALEXANDER et al., 1987)
ou “[...] o produto de uma acção e a solução de um problema [...]” (LAMAS, 2000, p. 44). Assim,
a forma urbana surge como um

[...] aspecto da realidade, ou modo como se organizam os elementos


morfológicos que constituem e definem o espaço urbano, relativamente à
materialização dos aspectos de organização funcional e quantitativa e dos
aspectos qualitativos e figurativos. A forma, sendo o objetivo final de toda
concepção, está em conexão com o <desenho urbano> quer dizer, com as
linhas, espaços, volumes, geometrias, planos e cores, a fim de definir um modo
de utilização e de comunicação figurativa que constitui a <arquitetura da
cidade> (LAMAS, 2000, p. 44).

Desde então, a quantidade de revistas especializadas e livros publicados de disciplinas e


programas de pós-graduação na temática do desenho urbano aumentaram bruscamente
(PALAZZO, 2011; LOUKAITOU-SIDERIS, 2012). Com isso, outras disciplinas começaram a
influenciar o desenho urbano, sendo que a principal é a ecologia, no sentido da busca pelo
desenvolvimento sustentável, o que fez surgir movimentos como o regenerative design (LYLE,
1994), o biophilic design (KELLERT et al., 2008) e o biophilic cities (BEATLEY, 2011), além do
intenso movimento pelas cidades sustentáveis, como o Novo Urbanismo (DUANY; TALEN,
2013; FARR, 2013), o Crescimento Inteligente (BROWN; SOUTHWORTH, 2008) e o
Urbanismo Ecológico (MOSTAFAVI; DOHERTY, 2010).
52
A definição de desenho urbano do programa brasileiro Plataforma Cidades Sustentáveis,
citado na introdução desta pesquisa, mostra que uma urbanização desequilibrada provoca
impactos negativos no meio ambiente e o desenho urbano é um instrumento que transforma
esse quadro através das formas urbanas e seus espaços e da integração social (AYRES et al.,
2010). Essa transformação ocorre por meio de um processo, que inclui métodos e técnicas
ligadas à atividade de planejamento (LYNCH, 1981; BARNETT, 1982; CUTLER, L.; CUTLER,
S. 1983; MOUGHTIN et al., 1999; DEL RIO, 1990).
Existem muitos manuais de métodos de desenho urbano (KRIER, 1979; DAVIDSON;
PAYNE, 1983; BENTLEY, 1985) e trabalhos que buscam uma discussão mais abrangente,
multidisciplinar e generalista do tema (RAPOPORT, 1977; APPLEYARD, 1982; LYNCH,
1981; ALEXANDER, 1987). Essas metodologias permitem diferentes dimensões de análise da
cidade, abordando diversas facetas das problemáticas analisadas e que, por isso, exigem do
designer urbano diferentes posturas e soluções na elaboração de propostas de intervenção. Para
conseguir a melhor solução de desenho urbano, o ideal é unir teorias relacionadas ao problema
a ser solucionado e procedimentos metodológicos que embasem a atuação, cabendo, inclusive,
o uso de mais de uma teoria ou metodologia (DEL RIO, 1990).
Del Rio (1990) propõe uma metodologia de desenho urbano embasada na teoria de
“sentido dos lugares”, em que o psicólogo ambiental David Canter (1977), propõe que a
qualidade físico-ambiental dos espaços urbanos é gerada da sobreposição de três esferas de
nossa consciência: atividades e usos; atributos físicos e concepções e imagens (Figura 8).

O enfoque metodológico que proponho a seguir busca isto e surgiu a partir da


aceitação da hipótese básica das três esferas de vivência, com o Desenho
Urbano atuando em seu "overlapping". Mas, para fins de facilidade de trabalho
e por conformarem teorias e dimensões de análise bastante distintas, com
distintos procedimentos metodológicos, propomos a divisão da classificação
da esfera "Concepções e Imagens" em duas: "ANÁLISE VISUAL" e
"PERCEPÇÃO DO MEIO AMBIENTE". As outras seriam compreendidas
através do "COMPORTAMENTO AMBIENTAL" e da "MORFOLOGIA
URBANA" (DEL RIO, 1990, p. 69-70).

53
Figura 8 – Esquema representativo da formação do “sentido dos lugares”, por David Canter

Fonte: Del Rio (1990).

Há ainda os pesquisadores do urbano que propõem uma metodologia sistematizada para


o desenho urbano, que teve suas pesquisas iniciais na década de 60. Brian McLoughlin, em seu
livro Urban & regional planning: a systems approach (1969), lança as bases do planejamento sistêmico.
Segundo ele, a cidade é um sistema composto por partes – atividades humanas e os espaços que
as suportam – intimamente conectadas por fluxos e canais de circulação. Por isso, para intervir
nesse sistema não é mais suficiente o enfoque espacial dos arquitetos, dominante até então. Ao
contrário, é necessário reconhecer o caráter dinâmico e sistêmico das cidades.
Partindo desse argumento, McLoughlin (1969) propõe uma sequência de etapas que
devem ser seguidas durante o processo de planejamento e que, ao contrário da tradição
arquitetônica, não acabe com a seleção das ações a serem implementadas (ou, no caso dos
arquitetos, com o projeto físico da área). O processo de planejamento, portanto, passa a ser
visto como um processo cíclico no qual os resultados alcançados pelas ações passam a servir de
objeto de análise que gera retroalimentações para as outras fases do processo. As etapas
prescritas pelo autor (1969) são:
- Avaliação preliminar;
- Formulação dos objetivos;
- Descrição e simulação do sistema;
- Descrição de alternativas e cursos de ação;
- Avaliação das alternativas;
- Seleção das alternativas; e
- Implementação.
Seguindo a ideia do planejamento sistêmico na metodologia do desenho urbano,

54
Moughtin et al. (1999) propõem uma analogia entre o método científico e o processo do
desenho. O processo científico apresenta conjuntos de informações como o centro da teoria
relativa à área de estudo, com hipóteses que explicam os fenômenos estudados; observações do
ambiente relacionam-se ao objeto de estudo e generalizações empíricas derivam do conjunto de
observações. A teoria é transformada em hipóteses através de técnicas de raciocínio dedutivo e
as hipóteses, por sua vez, são interpretadas utilizando formas de instrumentação,
dimensionamento e amostragem (MOUGHTIN et al., 1999), como pode ser visto na Figura 9.

Figura 9 – Processo Científico

Fonte: Adaptação pela autora de Moughtin et al. (1999).

Já o processo científico que tem o centro no desenho urbano, apresente a possibilidade


de ser alcançado através de três diferentes maneiras. O desenhista inicia o processo de desenho
com ideias de mudança e intervenção, no mesmo ponto em que as hipóteses do processo
científico são formadas. Há também a possibilidade de iniciar o processo de desenho com
pesquisa de levantamento e coleta de dados, mas o procedimento mais usual é começar por
compreender a natureza teórica do problema a ser solucionado, avançando através do sentido
horário no gráfico do processo científico de desenho (Figura 10). Ambos os procedimentos
exigem noções preliminares sobre a teoria fundamental, que organiza os dados em parâmetros
coerentes (MOUGHTIN et al., 1999).

55
Figura 10 – Processo Científico de Desenho

Fonte: Adaptação pela autora de Moughtin et al. (1999).

Cabe ressaltar, porém, que esse método pode não garantir o processo completo do
desenho urbano, pois é possível que, em situações urbanas mais complexas, o problema a ser
solucionado não possa ser descoberto desde o início. Isso porque o processo de desenho urbano
não é linear, mas dialético; situa-se entre problema e solução, que não são considerados
atividades lógicas e que, assim, incitam o pensamento criativo em seu desenrolar (MOUGHTIN
et al., 1999).
No caminho de desenvolvimento de metodologias, cabe ainda ressaltar a Conference on
Design Methods, que ocorreu em Londres, em 1962, e que trouxe o desenho como um objeto de
investigação, a aplicação de métodos científicos derivados de métodos operacionais de pesquisa
e o gerenciamento de técnicas de tomada de decisão. O livro Notes on the sysnthesis of form (1964),
de Christopher Alexander, foi uma das primeiras publicações sobre esse Congresso.
Mas já na década de 1970 alguns dos conferencistas, como o próprio Alexander,
rejeitaram as discussões daquele congresso por considerarem inacessíveis à ciência e à
engenharia. Trouxeram, então, em uma nova proposta de métodos de desenho que culminou
com o aparecimento da ciência do design de Herbert Simon (1996, [1969]), com a base do
56
pensamento intelectual, analítico, formalizável e empírico, como uma doutrina que pudesse ser
ensinada através de um processo. A partir dessa forma de pensar, através de Robert McKim
(1973), foi criado o Design Thinking, método que traz a solução de problemas por meio de
criatividade e lógica, com análise e síntese das causas e mecanismos de causas.
O Design Thinking também é organizado a partir de fases de planejamento, iniciando-se
com a descoberta e a aproximação do problema a ser resolvido, com posterior interpretação e
definição, seguido pela idealização da solução, sua experimentação e, ao final, sua validação.
Quando aplicado ao desenho urbano, está voltada a preocupação em sustentar, desenvolver e
integrar os seres humanos no ambiente ecológico e cultural, moldando ou adaptando esses
ambientes de acordo com a necessidade e a possibilidade (BUCHANAN, 1992).
Existem muitos estudos e pesquisas em métodos de desenho para solução de problemas.
Quando se fala em desenho urbano, a maior dificuldade no estabelecimento de um método
padronizado é conseguir abranger todas as especialidades que fazem parte do processo
transdisciplinar.
Pensando nisso, em 1978, Van den Kroonenberg criou o Design Metódico através da
união entre metodologias das escolas de desenho anglo-americana e alemã com foco na
necessidade de ordenar as atividades de desenho, ressaltando a diferença entre pesquisa e
desenho, em analogia à Teoria Geral dos Sistemas (TGS). O problema de comunicação entre as
especialidades envolvidas no complexo desenho dos sistemas técnicos resulta em dificuldades
de alinhamentos de limites e compatibilizações. Nessa linha de entendimento, a TGS é útil para
conceituar o desenho no sentido de estruturar a hierarquia dos níveis de complexidade dos
elementos nas várias especialidades envolvidas, que pode ser transformada em modelos de
decisões no processo de desenho.
O Design Metódico de Van den Kroonenberg (1978) inicia-se com um problema
abstrato para chegar a uma solução concreta, passando por uma diferenciação de níveis de
complexidade de informações, mesmo que abstratas, correlacionadas com etapas do processo
de desenho. Esse processo é dividido em três etapas - a definição do problema, a seleção do
princípio de trabalho e o detalhamento do desenho -, que podem ser entendidas como geração,
síntese e decisão, como é feito na TGS.
Nessa linha de pensamento, completando o quadro ontológico e epistemológico da
ciência do design e considerando as vertentes ao longo do tempo, Zeiler e Savanovic (2009) e
Zeiler (2011) trazem o conceito do desenho integral para a concepção de uma nova metodologia
de desenho.
57
O conceito de sistema aberto no domínio da Teoria Geral dos Sistemas, como
foi desenvolvido e empregado por Ludwing von Bertalanffy (1976), significa
pensar a interação em todos os aspectos da vida e também em todos os aspectos
da humanidade. Como tal, entende-se como uma abordagem integral na qual
nada falta. Quando os fatores essenciais são desconsiderados ou não são
reconhecidos, o funcionamento do sistema corre o risco de estar errado ou
subotimizado. Pode-se dizer que as mesmas coisas se aplicam ao design de
edifícios, onde o objetivo é encontrar formas de incorporar todos os
conhecimentos relevantes das disciplinas envolvidas para obter resultados
integrais (ZEILER; SAVANOVIC, 2009, p. 222).20

Assim, a metodologia do Desenho Integral (ZEILER; SAVANOVIC, 2009; ZEILER,


2011) estende a fase da “decisão” do Desenho Metódico para “seleção” e “forma” e compara
com as fases do Desenho Integral, da Teoria Geral dos Sistemas e do Desenho Metódico. O
processo do Desenho Integral é mais transparente, fazendo com que aumente a sinergia entre
as diferentes especialidades do processo (ZEILER, 2011).
A Figura 11 mostra uma matriz de exemplo da aplicação do desenho integral no domínio
da engenharia mecânica, indicando as fases, níveis de abstrações, focos e estágios de atividades.
O processo de desenho descreve o caminho da abstração do problema para a solução. As formas
estão relacionadas não apenas à capacidade de solução dos projetistas envolvidos, mas, também,
a sua criatividade.
Nesse processo, uma série de atividades com estágios interativos devem ter as decisões
de diferentes assuntos reconsideradas o tempo todo devido às possíveis novas informações e
diferentes usos de ferramentas de desenho para solucionar problemas ou gerar possíveis
soluções com técnicas criativas. Isso gera um ciclo de estágios de interpretação-geração que é
continuamente refinado de forma a trazer soluções cada vez mais concretas (ZEILER;
SAVANOVIC, 2009; ZEILER, 2011).

20
Tradução livre de: “The concept of open system in the domain of General System Theory, as it was developed and
employed by Ludwing von Bertalanffy (1976), means to think interaction in every aspect of life and also in every aspect of
humankind. As such it is meant as an integral approach in which nothing is lacking. When essencial factors are disregarded,
or are not recognized, the operation of the system risks to be wrong or sub optimized. It could be said that the same things
aplies to the design of buildings, where the aim is to find ways to incorporate all relevant knowledge from the involved
disciplines in order to get integral results” (ZEILER, 2009, p. 222).
58
Figura 11 – Matriz do Desenho Integral como exemplo do domínio de engenharia mecânica

Fonte: Adaptação pela autora de Zeiler e Savanovic (2009, p. 223).

Zeiler et al. (2010) relatam uma série de workshops realizados com o objetivo de testar a
aplicação do método de Desenho Integral por profissionais no desenho de um edifício
sustentável. Como resultado, o Desenho Integral mostrou que o foco das equipes
multidisciplinares de projeto incentiva a criação de conceitos consensuais. A necessidade de
criação desses conceitos é demonstrada pela teoria C-K, que define design como a interação
entre dois espaços interdependentes, o espaço do conhecimento – K – e o espaço de conceito
– C –, permitindo a transformação do conhecimento da equipe de projeto em novos conceitos
(ZEILER et al., 2010).
Como metodologia de desenho urbano, o Desenho Integral demonstra maior
abrangência e integração entre as diversas disciplinas que estão envolvidas no processo e a
possibilidade de correções e atualizações ao longo do processo. Porém, como qualquer
padronização de método, o estabelecimento de fases e de formas esperadas pode representar

59
desincentivo ao processo criativo do desenhista urbano e, com isso, a limitação das soluções a
padrões.
Entre os métodos e técnicas de desenho urbano apresentados neste item, o que pode ser
observado é que, ao mesmo tempo em que há uma tendência em universalizar problemas e
soluções, também existe uma preocupação quanto às especificidades dos locais, relacionada ao
impacto resultante. Se as preocupações socioeconômicas já eram suficientes para qualificar e
diferenciar cidades ou regiões, quando a dimensão ambiental passa a ser incluída na relação
problema-solução do meio urbano, as preocupações tornam-se ainda mais específicas e a
generalização de métodos e técnicas, mais difícil de justificar.
A ideia de comparar o processo do desenho urbano ao processo científico, de Moughtin
et al. (1999), representa a metodologia que possui maior inclinação para a inclusão da
sustentabilidade no desenho das cidades. Ela ultrapassa a linearidade dos desenhos tradicionais
e cria certa dinâmica que facilita a decisão e o desenvolvimento do pensamento criativo
necessário para alcançar a solução do problema usando a multidisciplinaridade. Esta tese optou
por tratar a aplicação da sustentabilidade através do desenho urbano porque sua escala permite
especificidade de detalhes das ações necessárias para o urbano sustentável.

2.3. Histórico do desenho para qualidade urbana

Propor cidades voltadas à qualidade de vida de seus cidadãos e do meio ambiente em


que se inserem permeia o pensamento urbano desde seus primórdios. O aumento da ocupação
urbana, gerado pela oferta de emprego nas indústrias durante a primeira revolução industrial,
trouxe a preocupação com a morfologia e a organização estrutural das cidades.
Propostas dessa fase que merecem menção são as de Robert Owen e de Charles Fourier,
em 1817 e 1832, respectivamente. Harmony e os Falanstérios foram projetadas para grupos de
1200 e 1600 habitantes, sendo que as atividades produtivas – industriais e agrícolas – estariam
próximas às residências (BENEVOLO, 1991). Essas cidades propunham a autossuficiência
mediante concepções diferentes de desenho urbano, conforme pode ser visto na Figura 12 e na
Figura 13.

60
Figura 12 – Desenho de Robert Owen: aldeia de harmonia e cooperação

Fonte: Benevolo (1991, p. 172).

Figura 13 – O falanstério proposto por Charles Fourier.

Fonte: Benevolo (1991, p. 172).

Do início para a metade do século XIX, as ferrovias e as leis sanitárias modificaram os centros
urbanos industrializados. Enquanto as ferrovias conectavam os centros industriais às áreas
residenciais e às cidades vizinhas, as leis sanitárias obrigavam o encaminhamento correto do
esgoto industrial e residencial, exigiam água potável à população e criavam meios de contenção
a epidemias. Na Inglaterra, o Public Health Act, de 1848, marca um método de controle de
construções de forma a garantir a salubridade da cidade, como a altura dos edifícios e o
espaçamento entre eles (BENEVOLO, 1991).
Já na França busca-se liberdade e ordem após a revolução de 1848. Georges-Eugène
Haussmann propôs a remodelação de Paris após a grande concentração de indústrias e o
processo de transformação de consumo da sociedade no final do século XIX (CHOAY, 1998
[1965]; FRAMPTON, 1997). O foco do plano foi voltado ao sistema de circulação, com a
61
abertura de grandes avenidas, a criação de estações de trem e as vias periféricas, que conectavam
a região central – que passou a ser comercial – à área residencial nas periferias e, por fim, à área
industrial, ainda mais afastada do centro.

Figura 14 – Esquema de Haussmann para Paris

Fonte: Benevolo (1991, p. 97).

A Figura 14 mostra as intervenções feitas pelo plano de Haussmann em Paris, entre 1853
e 1870: as linhas mais grossas indicam as ruas novas; as ruas em branco são as existentes antes
da reforma; o quadriculado, os bairros novos; as linhas paralelas, as áreas verdes. Os bairros
novos dão continuidade aos arrondissements, periferia para onde a população de baixa renda foi
realocada devido à abertura das vias na região central, sua antiga morada. Os monumentos foram
preservados de forma isolada, como pontos para a nova estrutura viária. Também houve a troca
das tubulações de drenagem e esgoto (BENEVOLO, 1991). Enquanto isso, Ebenèzer
Howard retoma os princípios da comunidade autossuficiente de Robert Owen, associada à
habitação unifamiliar, e cria o movimento das cidades-jardim. O pensamento da união dos
benefícios do campo e da cidade no território urbano fez surgir a possibilidade de um
agrupamento humano equilibrado (OTTONI, 1996; HALL, 1995). De acordo com Howard
(1996), esse equilíbrio poderia ser desenhado através de diretrizes de projeto urbano, como a
arborização das vias, o cinturão verde, os pomares residenciais e o controle sanitário. Essas
diretrizes foram usadas no desenho e na construção da primeira cidade-jardim, idealizada por
Howard: Letchworth, na Inglaterra, em 1903 (Figura 16).

62
Uma cidade-jardim ideal deve possuir um anel externo com armazéns, mercados,
carvoarias, serrarias e todas as pequenas indústrias necessárias próximas à estrada de ferro, que
deveria circundar a cidade, além de habitações abastecidas por todos os equipamentos e serviços
necessários (HOWARD, 1996) e um cinturão verde (HALL, 1995). Enquanto essas são
diretrizes revisitadas em projetos de cidades sustentáveis dos dias atuais, a setorização de
serviços proposta por Howard é polêmica quando implementada em cidades com premissas
sustentáveis.
As cidades-jardim de Ebenèzer Howard (1996 [1918]) tinham diretrizes de desenho
urbano que objetivavam principalmente a integração campo-cidade no sentido funcional. A ideia
de restringir o crescimento da cidade com limitantes – cinturão verde e ferrovias – tinha um viés
de equilíbrio, uma vez que mantinha uma demanda contínua para produção de alimentos,
controlando a migração do campo e a qualidade de vida dos moradores do campo e da cidade
(Figura 15). Além da função, o desenho urbano proposto por Howard também buscava
equilibrar os problemas sociais com o crescimento econômico através da paisagem urbana.
Figura 15 – Implantação de uma cidade-jardim ideal

Fonte: Howard (1996).

Durante as primeiras fases da revolução industrial, existia a ideia de que a zona industrial
na periferia das cidades era questão de saúde pública, isso por conta dos poluentes industriais
lançados no meio ambiente. A quarta revolução industrial, toda a tecnologia envolvida nessa
fase e o conjunto de leis aplicáveis às indústrias poluentes, além das metas ambientais, fizeram
com que o uso misto do solo alcançasse diretrizes de sustentabilidade e de simbiose industrial e
urbana (DALBELO, 2012).
63
Figura 16 – Implantação da cidade-jardim Letchworth – Inglaterra, 1904

Fonte: http://urbanidades.arq.br/bancodeimagens.

Além de Howard e os urbanistas que o precederam ou que o seguiram, como Raymond


Unwin e Barry Parker, o movimento City Beautiful também apresentava propostas que visavam
boas práticas de urbanismo e que precediam a sustentabilidade urbana (SANDERS, 2010),
como os projetos de parques urbanos de Olmsted. A Escola de Chicago, com a questão da
ecologia humana e o olhar da cidade como um organismo vivo, também possui ideais voltados
à sustentabilidade urbana, como a adaptação do meio urbano às áreas verdes (PARK et al.,
1925).
64
Patrick Geddes (1915) expõe teorias sobre as cidades e seus problemas e conclui que a
melhor forma de os analisar é através da multidisciplinaridade. Ao observar os sistemas
econômicos locais em relação às potencialidades e limitações do meio ambiente, afirma que a
análise de uma cidade também deve englobar seu ambiente natural, estendendo, assim, aos
limites do território e lançando a base para o planejamento urbano.
O pensamento geral dos urbanistas no século XX é voltado à preocupação com o
desenfreado crescimento das cidades industriais. Benévolo (1998) traz a questão da mudança do
uso do solo e da paisagem urbana a partir da industrialização, com elementos e construções que
ganhavam representatividade nas cidades, como chaminés, residências coletivas de operários,
subúrbios e estradas férreas. Choay (1998 [1965]) também analisa a industrialização, citando a
precariedade das condições urbanas, o crescimento das periferias e a ocupação de áreas precárias
e desocupadas no centro das cidades, enquanto a burguesia ocupava bairros afastados e
elitizados.
Choay (1998 [1965]) estabelece tipologias de urbanização para a época da produção.
Entre elas, a cidade industrial de Tony Garnier é considerada o primeiro expoente da versão
progressista do urbanismo moderno: uma remodelação das estruturas urbanas existentes que
não correspondiam às necessidades da produção industrial e do progresso (BENEVOLO, 1998
[1960]; MUMFORD, 1998 [1961]; CHOAY, 1998 [1965]).
A Cidade Industrial de Garnier foi exposta pela primeira vez em 1907, na Academia de
Belas Artes de Paris, mas foi publicada apenas em 1917. Precursora do funcionalismo urbano,
trabalho, lazer, habitação e saúde eram funções separadas em zonas. As áreas não ocupadas
eram praças públicas, e havia a preocupação com a insolação e com a circulação de ar, de pessoas
e de mercadorias. Características recorrentes nas cidades modernistas do século XX, incluindo
Brasília (GARNIER, 1989 [1917]; ALMEIDA, 2017).

65
Figura 17 – Zoneamento da Cidade Industrial de Garnier

http://www.penccil.com/museum.php?show=10959&p=490504414159#

As cidades europeias do pós-I Guerra Mundial passavam por um momento de reconstrução. É


a fase de os arquitetos e urbanistas modernos descontruírem a concepção de uma casa até
encontrar a escala de uma cidade. A Vila Radiante de Le Corbusier, apresentada no III
Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (CIAM), em Bruxelas, em 1930, mantém o
zoneamento e apresenta uma cidade para as pessoas, com eixos de circulação bem marcados,
circulação de pedestres privilegiada, espaçamento entre edifícios delimitado a fim de garantir
ventilação e insolação e os locais de trabalho ao redor dessa área (BENEVOLO, 2001). O
zoneamento estava claramente demarcado, como pode ser visto na Figura 18: A=habitações,
B=hotéis e embaixadas, C=comércio, D=indústrias, E=indústrias pesadas e armazéns, F, G=
centros satélites especiais (universidades e espaços do governo) e H=estação ferroviária e
aeroporto.

66
Figura 18 – Planta da Vila Radiante

Fonte: archdaily.com.

A Carta de Atenas (LE CORBUSIER, 1933), elaborada no IV CIAM, também buscou


melhorar a qualidade de vida nas cidades industriais. Nela, o sol, o verde e o espaço urbano
eram considerados os elementos do urbanismo que definiam as funções-chave da organização
social nas cidades: trabalhar, habitar, circular e recrear. Essas funções foram a base para a
concepção da cidade moderna e seu zoneamento.
O zoneamento do modernismo alcançou proporções mundiais no planejamento das
cidades pós-II Guerra Mundial e das cidades altamente industrializadas que precisavam de novas
soluções para o crescimento. Sir Patrick Abercrombie desenvolveu o plano urbano para o

67
Condado de Londres em parceria John Henry Forshaw. Eles realizaram um levantamento da
cidade na década de 1940 e propuseram soluções para o congestionamento do tráfego, a crise
imobiliária, a inadequação e má distribuição de espaços abertos, a expansão e suburbanização
das cidades circundantes e o conflito de uso do solo residencial e industrial (LUCCHESE, 2012).
Para os planejadores, era necessário que fossem estabelecidas zonas específicas para cada
uma das funções urbanas. Talvez por isso o destaque dos planos urbanos desse período fossem
as grandes vias de circulação, como as vias arteriais e os grandes anéis B e C de Londres da
Figura 19, que conectavam as diversas zonas da cidade.

Figura 19 – Plano viário para o condado de Londres com as vias arteriais e os anéis B e C

Fonte: stuffaboutlondon.co.uk.

Entre os planos urbanos de Abercrombie, também está o de Bath, de 1945. Para essa
cidade inglesa, o planejamento previa a existência de três tipos de indústrias: de serviços, leve e
pesada. O autor afirma que elas nunca tiveram sua localização planejada, mas sempre foram
implantadas próximas ao rio ou às estradas. O plano ressaltou a importância de reagrupá-las ou
realocá-las e de expandir suas áreas ou diminui-las, de acordo com as vantagens para a própria
indústria e para a comunidade (ABERCROMBIE, 1945). O plano mostra o isolamento e o
afastamento das indústrias em relação ao comércio local e às residências, conforme se observa
na parte esquerda inferior da Figura 20.

68
O zoneamento, que afastava as indústrias das áreas de comércio e habitação, indicava a
preocupação em mitigar a poluição industrial. Era como se, sem vê-la, a população não a sentisse
ou a seus efeitos. Por isso, as áreas verdes de lazer eram diretrizes para o uso de espaços urbanos
públicos.

Figura 20 – Plano Urbano para Bath: reconfiguração de usos

Fonte: Abercrombie (1945, p. 57).

A Regional Planning Association of America (RPAA), de 1923, que teve Lewis Mumford,
Clarice Stein e Benton MacKaey como alguns dos fundadores, tinha os ideais de Howard e
Geddes como diretrizes de planejamento urbano e via, nas áreas verdes, potenciais usos para
conservação e recreação (SANDERS, 2010; MACEDO, 2007). O objetivo da RPAA era criar
uma série de comunidades iguais e não hierárquicas que integrassem a cidade-jardim de Howard,
a unidade de vizinhança de Perry, a exclusão de indústrias e uma solução segregada para o
trânsito. Esses pensamentos foram aplicados ao projeto da nova cidade de Radburn, em Nova

69
Jersey, uma cidade dormitório, com zonas recreativas e cívicas e vias de circulação
hierarquizadas, fundada em 1929 (PARSONS, 1994).
A RPAA não teve outros exemplos de planejamento urbano, porque o crescimento
industrial e econômico levou às áreas metropolitanas conectadas por grandes autoestradas.
Nessa tendência, o planejador urbano inglês Thomas Adams foi contratado para elaborar o
Regional Plan of New York and Its Environs, também de 1929, em que defendia a ideia de
crescimento metropolitano, sem preocupação com possíveis interferências nos
empreendimentos e com o impacto ambiental da concretização desse plano (MACEDO, 2007).
A principal preocupação foi a conexão entre as cidades da região de Nova York, conforme
indica a Figura 21.

Figura 21 – Sistema proposto para as estradas expressas de Nova York

Fonte: Delano et al. (1929).

Além das autoestradas e das ferrovias, parques e centros residenciais, comerciais e


industriais foram planejados com o objetivo de desenvolver a economia e a sociedade local,
através do acesso facilitado aos locais mais afastados do núcleo superlotado central. O plano
também identificou áreas naturais específicas que poderiam ser adquiridas para uso público e
persuadiu agências públicas a comprá-las, de forma a aumentar o parque da região.
70
O planejamento urbano modernista, com o zoneamento de usos do território,
inicialmente representou uma boa solução para as cidades industrializadas e populosas. Porém,
ao enfatizar o potencial do desenho urbano como definidor da forma da cidade de modo a
reduzi-la em separadora de funções urbanas, fez indicar que essa solução urbana não era a mais
eficiente possível (IRAZÁBAL, 2001). As cidades zoneadas foram, aos poucos, perdendo sua
identidade e aumentando as áreas suburbanas e o uso de automóveis, o que representava mais
poluição para as cidades industriais.
Novas soluções urbanas começaram a ser propostas. No caso das cidades norte-
americanas, surge um movimento a fim de conter o avanço dos subúrbios, dotá-los de serviços
básicos à população, diminuir o uso de automóveis e levar identidade para as grandes cidades
(IRAZÁBAL, 2001): o Novo Urbanismo. Esse movimento, assim como a Carta de Atenas, foi
iniciado em um Congresso, o Congresso para o Novo Urbanismo (CNU), e também apresentou
como produto uma carta, a Carta do Novo Urbanismo21, assinada por mais de 200 membros
do IV CNU, de 1996. Os membros organizadores dos congressos, seis arquitetos – Peter
Calthorpe, Andres Duany, Elizabeth Moule, Elizabeth Plater-Zyberk, Stefanos Polyzoides e
Daniel Salomon –, possuíam seus próprios escritórios em diferentes cidades norte-americanas,
todos voltados para projetos de grandes empreendimentos urbanos (MACEDO, 2007; CNU,
1999). O movimento do novo urbanismo configura-se como uma resposta ao espraiamento das
cidades industriais e o crescente aumento de subúrbios norte-americanos devido às novas
indústrias que se instalavam em regiões periféricas das cidades.
Fruto das greves francesas de maio de 1968, surge o movimento da Reconstrução da
Cidade Europeia, também conhecido como Resistência Anti-industrial, liderado pelo arquiteto
León Krier (SOUZA, 2006). Em 1978, o movimento elabora a Declaração de Bruxelas
(SOUZA, 2006; FRAMPTON, 1997), que afirmava a necessidade de banir as autoestradas, as
zonas monofuncionais e as áreas verdes residuais, propondo uma cidade em que as zonas
industriais, comerciais e de pedestres possuíssem quarteirões que incluíssem todas as atividades
da vida urbana (FRAMPTON, 1997).
A Resistência Anti-industrial europeia igualmente possui uma carta manifesto, na qual
indica que a ânsia pelo progresso industrial e a lucratividade destruíram culturas, cidades e meio
ambiente. A carta também afirma que o desenvolvimento industrial é feito através da
fragmentação de complexos integrados e multifuncionais rurais e urbanos e em zonas

21A primeira publicação ocorreu em 1996, mas em 1999 houve uma revisão e a publicação tornou-se um livro. Disponível
em: <http://www.cnu.org/charter>. Acesso em: 10 março. 2018.
71
suburbanas monofuncionais, sendo que o zoneamento monofuncional é o instrumento técnico
da fragmentação (KRIER, 1980; SOUZA, 2006).
Em um dos postulados da carta da Resistência Anti-industrial, há a afirmação de que o
zoneamento industrial só pode ser combatido pela pressão democrática, com a reconstrução
das comunidades urbanas, em que residência, trabalho e lazer estão todos a uma curta distância.
Para Krier, a racionalidade industrial é amoral, antissocial e antiecológica e leva a um colapso
social, e a cidade deve-se articular em espaços públicos e domésticos, monumentos e tecido
urbano, arquitetura e construção, praças e ruas. Krier também cita a necessidade de diminuir os
perímetros urbanos e criar uma delimitação entre o rural e o urbano (KRIER, 1980).
Todos esses ideais iam ao encontro do que Andres Duany e Elizabeth Plater-Zyberk, do
movimento do Novo Urbanismo, prediziam. Contrataram Léon Krier para uma consultoria
urbanística, que resultou no projeto da primeira cidade do Novo Urbanismo – Seaside, 1978 –
e, posteriormente, do primeiro bairro neourbanista europeu – Poundbury, 1988 (SOUZA,
2006). E assim integraram-se as ideias do Novo urbanismo norte-americano com a Resistência
Anti-industrial Europeia. O problema foi que, na tentativa de misturar usos e funções urbanas,
as indústrias não tiveram sua posição contemplada e mantiveram-se afastadas das áreas centrais,
tornando sua imagem negativa ainda mais globalizada, como se a qualidade de vida da população
estivesse desvinculada das atividades de produção industrial.
Na Carta do Novo Urbanismo, enfatiza-se a necessidade da diversidade social, da mescla
de atividades e dos tipos de circulação, da acessibilidade do pedestre, da participação
democrática e do respeito à cultura local (IRAZÁBAL, 2001; CNU, 1999). Nela, são expostos
27 princípios divididos em escala de atuação: metrópole, cidade grande e média e cidade
pequena; bairro, setores e corredor; quadras, ruas e edifícios (CNU, 1999).
Em termos práticos, algumas cidades pequenas foram construídas baseadas nos
princípios da Carta do Novo Urbanismo, como a pioneira Seaside, na Flórida, 1991(ver Figura
22) e as cidades Suisun e The Crossings, na Califórnia, projetadas na década de 1990. Nessas
cidades, é possível perceber a influência de Christopher Alexander e sua linguagem de padrões
(1977), principalmente no Padrão 12: Comunidade dos 7000. Esse padrão idealiza o
planejamento urbano na escala do bairro, de forma que todos os cidadãos possam ser ouvidos,
tornando o local mais habitável e agradável, de acordo com a perspectiva de Alexander.
O ideal do walkability, presente na Carta do Novo Urbanismo e em quase todas as
diretrizes de cidades sustentáveis dos dias atuais, também é uma revisitação do que já
propunham urbanistas, como o próprio Alexander (1977) ou Ernst May, que trouxeram
72
princípios das cidades-jardins para o projeto da New Frankfurt (1925), além de ideias de
compacidade de edificações e de cidades, de multifuncionalidade em bairros e de igualdade de
conforto, como acesso à luz solar, à ventilação e, em uma escala urbana, a todos os
equipamentos e serviços (HENDERSON, 1990).
Cuthbert (2011) expõe que a comunidade desenhada com diretrizes do Novo Urbanismo
depende do estilo de vida de uma cidade pequena norte-americana idealizada da década de 1950.
Seria um simulacro de uma cidade perfeita que nunca existiu, mas que se tenta reproduzir no
presente como uma estratégia de marketing (CUTHBERT, 2011).

Figura 22 – Implantação da cidade Seaside – 1991

Fonte: https://seaside.library.nd.edu/essays/the-plan.

Nos primeiros cem anos da cidade industrial, o planejamento urbano se construiu sob as
premissas desenvolvidas pelas diversas escolas de urbanismo, tanto na Europa como nos
Estados Unidos. Várias dessas premissas são basilares para a sustentabilidade urbana. Sanders
(2010) aponta mais de 1200 títulos publicados na grande área de sustentabilidade urbana,
explorando questões de ecologia urbana, agricultura urbana, design e desenvolvimento
sustentável urbano e ecologia da paisagem. Entre eles, alguns se destacam pela importância
acadêmica ou prática, como o livro Growing Greener Cities: Urban Sustainability in the Twenty-First

73
Century, de Birch e Wachter (2008), um estudo das cidades que usam tecnologias verdes apoiado
e desenvolvido por órgãos estaduais e federais, organizações cívicas locais, fundações, grupos
de moradores e iniciativas individuais, que traz soluções em infraestrutura urbana e mobilidade,
agricultura urbana e construções para eficiência econômica e energética e qualidade de vida, e o
livro Emerald Cities: sustentabilidade urbana e desenvolvimento econômico, de Joan Fitzgerald (2010), que
analisa os esforços da união entre a política de sustentabilidade e o desenvolvimento econômico
urbano e traz exemplos de iniciativas que visam à sustentabilidade ambiental, social e econômica
em cidades existentes, alertando para a necessidade de integração dessas esferas no planejamento
e no desenho urbano sustentável.
A sequência de livros do Centro de Estudos da London School of Economics and Political
Science (LSE Cities) - The Endless City (BURDETT; SUDJIC, 2007) e Living in the Endless City
(BURDETT; SUDJIC, 2011) – cumpre o objetivo de expor e analisar a maneira como pessoas
e cidades interagem frente à rápida urbanização, focando em como o desenho das cidades
impacta a sociedade, a cultura e o meio ambiente.
Outra publicação que requer atenção nessa temática é o livro de Jeffrey Sanders, Seattle
and the Roots of Urban Sustainability – Inventing Ecotopia (2010), que relata a história de como o
ativismo ambiental tomou forma em Seattle, cidade pioneira em sustentabilidade urbana. O teor
histórico deste item da pesquisa implica em maior explanação acerca do marco referencial de
Seattle para a sustentabilidade urbana da atualidade.
Na década de 1960, o ativismo ambiental atingiu o pensamento da população da cidade,
resultando em uma série de iniciativas ambientais que trouxeram a questão da qualidade de vida
e do meio ambiente para a realização de concursos públicos para áreas urbanas da cidade,
levando em conta a função e a forma física. Nesse contexto, ativistas e planejadores do urbano
entraram em confronto com a proposta de demolição da Pike Place Market, uma área comercial
conhecida como o coração da cidade. Em vez de demolir a área, engajados em movimentos
sociais urbanos tentaram controlar, reconstruir e defender suas visões ideais de meio ambiente
urbano através de remodelação da área (ver Figura 23), em resposta à reestruturação econômica
do pós-guerra (SANDERS, 2010).
De acordo com Sanders (2010, p. 10),

O consumo e os consumidores pautaram-se no centro desse debate como os


cidadãos de Seattle discutindo o significado e a função da cidade. Outras
cidades confrontaram-se com mudanças similares na época, mas os primeiros
esforços de Seattle para definir uma cidade habitável e democrática exibiram

74
claramente um nascente movimento ambiental urbano e as raízes da
sustentabilidade.22

Figura 23 – Pike Plaza Redevelopment Project: modelo arquitetônico para Seattle

Fonte: Sanders (2010).

Seattle foi a primeira cidade a participar dos esforços de organização-cidadã para o


Programa Model Cities23 de 1968, um programa tardio do pós-guerra que determinou a
participação de todos os cidadãos no processo de planejamento urbano. Essa participação
ajudou a impulsionar uma série de atividades ambientais descentralizadas e localmente definidas
na área central (SANDERS, 2010).
Em 1991, iniciou-se a elaboração do chamado Commons Plan, um plano que trazia a
ideia de remodelação urbana a fim de conectar o centro de Seattle com a região do Lake Union.
Para isso, a proposta inicial era criar novos espaços públicos, áreas verdes, jardins e,

22 Tradução livre de: “Consumption and consumers sat at the center of these debates as seattleites argued about the meaning
and function of the city. Others cities struggled with similar changes at the time, but Seattle’s earliest efforts to define a
livable and democratic city clearly displayed a nascent urban environmental movement and the roots of sustainability”
(SANDERS, 2010, p. 10).
23 O programa Model Cities foi uma iniciativa do governo federal norte-americano durante o programa War on Povert, que

tinha como alvo a população na linha da pobreza em cidades selecionadas, sendo o Distrito Central de Seattle o primeiro
bairro da nação selecionado. Em vez de revitalização das comunidades com nova habitação, as estratégias subjacentes ao
programa abordaram problemas sociais e econômicos no interior dessas comunidades e permitiram a participação do cidadão
comum na melhoria de suas comunidades.
75
principalmente, calçadas e ciclovias, como um grande parque urbano que reproduzia as
diretrizes do Novo Urbanismo. A primeira proposta foi a do arquiteto Fred Bassetti, em parceria
com o colunista John Hinterberger, e previa o deslocamento de 130 pequenas empresas e a
relocação em futuros mais de 12.000 novos postos de trabalho (REGIER, 1995; SANDERS,
2010).
Parte dos investimentos com o projeto Commons Plan seria doada por particulares
individuais ou corporativos, porém, o restante do montante deveria ser cobrado dos cidadãos
de Seattle, acrescido nos impostos municipais (REGIER, 1995). É possível dizer que o ativismo
dos anos 1960 e 1970 fez com que o espírito, a forma e o processo de planejamento urbano se
concretizassem como uma mudança permanente na década de 1990. Dessa forma, os eleitores
de Seattle rejeitaram o plano elaborado pela e para a elite ou o capital privado para limitar a
expansão da cidade e criar ambientes habitáveis, ainda que esse plano refletisse o planejamento
urbano da década de 1970 e a perspectiva da sustentabilidade. Em vez do plano ambicioso de
espaço público, os cidadãos escolherem o incremental, em pequena escala e com uma visão
orgânica do lugar (SANDERS, 2010).
Mas a região em estudo – South Lake Union até o centro – estava em processo de
degradação urbana e ainda precisava de um projeto de revitalização. O bairro do South Lake
Union estava em meio a um processo evolutivo, com gradual troca de comércios locais
defasados por grandes centros comerciais e tecnológicos, além das habitações, que estavam sem
devida manutenção. Por isso, em maio de 1996, simpatizantes do Seattle Commons Plan
conseguiram publicar uma segunda versão do plano, ainda mais custoso e privatizado
(HINSHAW, 1996).
Paralelamente ao plano, a evolução ocorria em termos de legislação. Ainda na década de
1990, devido à necessidade de coordenação de planejamento em níveis regional e local, o Estado
de Washington instituiu a obrigatoriedade de delimitação do perímetro urbano, a estruturação
dos Comprehensive Planning – que são como os planos diretores brasileiros – e a participação da
população na execução dessas medidas. Assim, surge o Toward a Sustainable Seattle, 1994-2014,
um plano diretor que direciona a cidade para a sustentabilidade urbana e para a defesa da
participação pública com o Neighborhood Planning, bairros projetados sob a estratégia de urban
village, uma área com maior densidade e maior diversidade de ocupação, conceito do novo
urbanismo (ROSANELI, 2008; SANDERS, 2010).

76
Figura 24 – “The Seattle Commons Draft Plan” – Maps Collection, 1993

Fonte: Sanders (2010).

Ainda no que se refere à legislação, a relação entre a escala local e a regional, em Seattle,
é estabelecida através do Conselho Regional do Estuário de Puget, de 1956, que congrega a
região metropolitana, trata de questões econômicas, ambientais e de transportes e é o
responsável pelo Vision Plan 2020. O Plano Diretor de Seattle apresenta a delimitação do
perímetro urbano e os usos permitidos, definindo a área preferencial de crescimento e
adensamento populacional (ROSANELI, 2008).
O Plano de Seattle representou uma das primeiras iniciativas que contou com ativismo e
organização da comunidade local e participação do poder público direcionado a soluções para
melhoria da qualidade urbana voltada para a sustentabilidade. Desde os projetos urbanos do
início do século XIX, passando pelas experimentações e direcionamentos econômicos que
moldavam as cidades – indústrias nas regiões centrais, indústrias afastadas dos centros e
indústrias isoladas –, o zoneamento perdeu o pressuposto de ordenamento e qualidade urbana.

77
Quando se aproxima da década de 1990, e já é possível falar em sustentabilidade nas
cidades, é possível notar que a qualidade do urbano passa a privilegiar a harmonia entre os
fluxos, com matéria, energia e informação dando forma ao território, como é mostrado no
capítulo 3 desta pesquisa. A dimensão sustentabilidade passa, então, a ser um vetor fundamental
para o desenho urbano e, nesse sentido, o metabolismo urbano entra como pressuposto
conceitual para a aplicação da sustentabilidade nas cidades.

2.4. Ecossistema urbano

A ideia da sustentabilidade urbana como um cenário desejado globalmente traz uma


prerrogativa necessária para o desenvolvimento da cidade: reconhecê-la como um ecossistema
urbano. Não apenas suas áreas verdes e fauna, mas também todos os seus sistemas e redes:
águas urbanas, vias de circulação, infraestruturas, edifícios e os seus cidadãos; tudo o que a faz
uma unidade funcional. O ecossistema urbano é compreendido a partir de fluxos de energia,
matéria e informação, de modo a permitir a melhoria dos serviços ecossistêmicos ofertados pela
cidade. Mais uma vez, parte-se para uma gama de referências bibliográficas em diferentes áreas
do conhecimento. Douglas et al. (2011) expõem que o urbano como um ecossistema está
diretamente associado a suas funções metabólicas, pois “[...] podem ver vistas em termos de
fluxos de energia, água e elementos químicos, ou alternativamente, com um habitat para
organismos, incluindo os seres humanos” (DOUGLAS et al., 2011).
Na ecologia, o ecossistema é unidade funcional básica, pois é nele que os organismos
vivos e o ambiente abiótico criam relações que influenciam suas propriedades e que mantêm a
vida na Terra. Essa unidade é vista como nível organizacional para a implementação de soluções
holísticas, tanto no bioma como na biosfera (ODUM, 1985). Tansley (1935) publicou sua ideia
sobre o sistema que engloba o complexo de organismos com o complexo de fatores físicos e
começou a desenvolver o campo definitivo e quantitativo da ecologia dos ecossistemas,
juntamente com os subsequentes: Bertalanffy (1968), Margalef (1974) e Odum (1985). Esse
último define ecossistema da seguinte forma:

Qualquer unidade (biossistema) que abranja todos os organismos que


funcionam em conjunto (a comunidade biótica) numa dada área, interagindo
com o ambiente físico de tal forma que um fluxo de energia produza estruturas
bióticas claramente definidas e uma ciclagem de materiais entre as partes vivas
e não vivas (ODUM, 1985, p. 9).

78
Como sistemas abertos, os ecossistemas possuem dois tipos de fluxos: fechado de
matéria-prima, como a água, e unidirecional, que, a cada transformação de energia potencial em
cinética, parte é transformada em calor e se perde (ODUM, 1985). Existem quatro classes
básicas de ecossistema, classificadas segundo a fonte e o nível de energia: naturais que dependem
da energia solar, sem outros subsídios; naturais que dependem da energia solar, com subsídios
de outras fontes naturais de energia; naturais-artificiais que dependem da energia solar, com
subsídios antropogênicos e sistemas urbano-industriais que são movidos a combustível. As
cidades são exemplos do último tipo de classificação, que depende dos tipos anteriores para a
manutenção da vida (ODUM, 1985). Nesse sentido, a teoria de sistemas entra como uma
solução para tratar fenômenos dinâmicos e complexos, como é o ecossistema urbano.
Para Bradshaw (2003), os fluxos de materiais das cidades devem ser analisados, bem
como seus efeitos, pontos de transferência e acumulação, para que a compreensão do seu
funcionamento seja mais eficiente. Pode-se dizer que os fluxos ecossistêmicos – circulação,
transformação e armazenamento –, através dos componentes, dependem das vias estruturais do
ecossistema, da função dessas vias e da quantificação dos processos para a compreensão do
ecossistema urbano. De acordo com Bradshaw et al. (1992), são os parâmetros de fluxos e
armazenamento que fazem com que o conceito de ecossistema possa ser aplicado às cidades,
uma vez que as cidades são feitas da vida e da interação de organismos, com dependência de
abastecimento satisfatório de materiais e eliminação de resíduos.
No sentido mais estrutural e análogo, na década de 30 do século XIX, William Cobbett
descreveu Londres como um cefalópode que espalhou seus tentáculos pelo território, formando
novos núcleos ou distritos (DOUGLAS, 1981). As pesquisas de Chadwick concluíram que esse
crescimento adensado também era responsável pelas condições insalubres das cidades.
Novamente comparada a um organismo vivo, precisava ser higienizada. Os habitantes que
migraram em busca de oportunidades de trabalho nas indústrias nem sempre tinham condições
financeiras para garantir salubridade, e os governos locais não estavam preparados para atender
às necessidades da população em rápido crescimento.
Nessa fase, o urbanismo apoia-se no ordenamento das infraestruturas e no sanitarismo
da cidade industrial e reduz o meio ambiente a componentes técnicos de saneamento: sistemas
de esgoto, de drenagem urbana, de coleta de lixo e de distribuição de água (BRESCIANI, 1992;
RUTKOWSKI, 1999; SILVA, 2005). Falta de infraestrutura básica de saneamento, somada à
alta densidade habitacional e à falta de incentivos em saúde pública, levou a uma série de doenças

79
que afetavam o rendimento da produção industrial. A saúde da cidade deixa de ser uma questão
médica e passa a ser dos engenheiros urbanistas e sanitaristas (RUTKOWSKI, 1999).
Como biólogo darwinista, Geddes (1915) foi o primeiro a aplicar conceitos da biologia e
da teoria da evolução para as cidades através do estudo da transformação provocada pela
dimensão histórico-social, denominado Civics - uma ciência que analisa a realidade do passado,
do presente e que mira o futuro. Assim, ele define duas eras: Paleotécnica, marcada pela
competição entre as indústrias da Primeira Revolução Industrial e pelo esgotamento dos
recursos naturais, e Neotécnica, marcada pelo sanitarismo e pelo higienismo nas cidades. Para
o autor, a cidade é orgânica e evolui em relação ao seu ambiente (GEDDES, 1915; BATTY;
MARSHALL, 2016).
Em 1925, a publicação de Robert Park et al. acerca de uma abordagem social para a
cidade foi centrada no que ele chamou de área natural. Aqui, a ecologia da cidade está no
pressuposto de que as relações de competição também ocorrem no meio urbano, no sentido de
que as forças competitivas naturais tendem a produzir um equilíbrio de adaptação social ao
ambiente urbano, o que mais tarde transformou-se no mosaico social urbano (PARK et al.,
1925): o organicismo da Escola de Chicago.
Lewis Mumford (1938) expandiu a noção do regionalismo ecológico de Geddes e seguiu
as pesquisas de Garnier, analisando as cidades de forma empírica, com estudos teóricos de
observação de processos in loco, que colocam a cidade como ponto crítico das relações sociais.
Mumford (1938) considera a cidade um evento da natureza de crescimento ameboide, com
limitações de tamanho e capacidade de dividir-se através de seus cromossomos sociais.
Marcotullio e Boyle (2003) apontam que a evolução dos estudos urbanos fez com que a
metáfora da cidade como um ser vivo fosse transformada nos ecossistemas terrestres. A crise
do petróleo da década de 1970 fez com que a análise do fluxo de energia fosse incluída no foco
da pesquisa do ecossistema urbano juntamente com o fluxo de materiais.
Erkman (2001) argumenta que os sistemas industriais passam a ser tratados como um
subsistema da biosfera à medida que se buscam soluções para os impactos negativos da
industrialização. O Relatório Brundtland (1987) tem um papel importante para que as cidades
passem a ser percebidas como importadoras e armazenadoras intermediárias de grande
quantidade de massa e de grande variedade de recursos (BACCINI, 1997; CHAMBERS et al.,
2001).
Uma vez que se busca não apenas mitigar e minimizar os impactos como também
estabelecer relações mais positivas entre os diversos subsistemas, a hipótese de Gaia, de James
80
Lovelock (1972) - que supõe a Terra como um organismo autorregulador e auto-organizador,
constituído por componentes físicos, químicos e biológicos - consolida-se. Os organismos
adaptam-se em ambiente físico e geoquímico devido à ação conjunta do ecossistema que
habitam. Assim, organismos individuais e ecossistema evoluem conjuntamente e formam um
sistema complexo de controle de vida (LOVELOCK, 2001; THOMPSON, 2001).
As pesquisas nessa temática alcançaram diversas áreas, como a economia, engenharia, a
arquitetura e o urbanismo, envolvendo a inclusão de todos os organismos contidos em um
determinado ambiente e todos os processos funcionais que ocorrem na complexidade do
funcionamento urbano no conceito da ecologia industrial (GRAEDEL; ALLENBY, 2010). A
abordagem da cidade como um ecossistema também é vista como um método de melhorar a
gestão urbana a partir da determinação da função dos seus componentes e dos fluxos entre eles.
Dessa forma, cada ecossistema tem uma forma e uma unidade, diferenciando-se uns dos outros
e entendendo cada uma das suas complexidades.

Assim, um sistema é análogo a um “conjunto” matemático, onde o que é


comum a um conjunto é o que o unifica e o distingue dos demais. O que faz
um sistema não é apenas um conjunto em termos de partes distintas, mas o
conjunto de partes interconectadas. A estrutura do sistema é determinada pela
estrutura de suas partes e suas relações (MARCOTULLIO; BOYLE, 2003, p.
13).

Para Marcotullio e Boyle (2003), a partir do momento em que o urbano passou a ser
visto como sistema, o planejamento urbano passou a focar a articulação dos vários componentes
de uma cidade e os fluxos e processos entre eles, de forma a envolver o controle sobre cada
uma dessas etapas. A abordagem do urbano como um ecossistema fez com que pesquisadores,
planejadores e gestores buscassem entender as relações e os fenômenos que deram origem ao
desenvolvimento das cidades.
Assim, iniciaram-se planos urbanos flexíveis, que consideram a atividade, o dinamismo
e a mudança do território, entendendo como uma parte da cidade pode alterar as outras. Isso
fez com que fossem necessárias análises sociais, econômicas, físicas e ambientais integradas
(MARCOTULLIO; BOYLE, 2003).
Para Alberti (2008), as cidades são complexos sistemas ecológicos dominados e
modificados por humanos. Devido à capacidade de mudança e adaptação dos sistemas
ecológicos, a integração entre sistema natural e humano criou padrões e processos diferentes

81
dos naturais, com alteração na heterogeneidade da paisagem e nos ciclos de energia, matéria e
informação.
Apesar do desconhecimento acerca dos fatores que promoveram essa criação, seus
mecanismos e dinâmicas de arranjo espacial, os padrões e processos do ecossistema urbano
precisam ser considerados no planejamento de cidades para serem sustentáveis. O estudo dos
ecossistemas urbanos requer o entendimento da estruturação e dos processos da paisagem
urbana, como eles são mantidos e como envolvem as interações locais dos processos sociais,
econômicos, ecológicos e físicos, ou seja, como ocorre sua auto-organização (ALBERTI, 2008).
Além de uma parte da cidade poder alterar as demais, quando se pensa a cidade como
um ecossistema, é preciso pensar em sua capacidade de resiliência frente a possíveis mudanças
ou catástrofes. Hopkins (2008) define a resiliência como a capacidade de um sistema absorver
perturbações e se reorganizar, enquanto submetido a mudança. Maturana e Varela (1980)
afirmam que a resiliência é a capacidade de manter a organização apesar de mudar a estrutura.
Segundo Thornbush et al. (2013), resiliência urbana é uma qualidade dos sistemas sociais,
econômicos e naturais da cidade para resistir às intempéries. Como tal, resulta da inter-relação
entre a rede de governança, as dinâmicas sociais, os fluxos metabólicos e o ambiente construído
(RUTKOWSKI; DALBELO, 2017), conforme indica a Figura 25. A rede de governança é
responsável por desenvolver aprendizagem, adaptação e reconhecimentos dos desafios urbanos;
as dinâmicas sociais são relacionadas aos atos coletivos responsáveis, como usuários de serviços
e consumidores de produtos; os fluxos metabólicos sustentam as funções urbanas, o bem-estar
e a qualidade de vida; e, por fim, o ambiente construído, que tem nesse contexto a
responsabilidade de gerenciar as construções como ecossistemas.
Figura 25 – Resiliência Urbana

Fonte: https://www.resalliance.org/- Adaptação pela autora de Rutkowski e Dalbelo (2017).

82
Quando se fala no urbano como um ecossistema, também é necessário retomar a
Avaliação Ecossistêmica do Milênio e trazer os serviços ecossistêmicos para esse contexto.
Nesse sentido, a avaliação da saúde dos ecossistemas do planeta e a relação com o bem-estar
humano indicam que independente do bioma em que esteja o ecossistema; a oferta de serviços
é o que viabiliza sua própria existência.
Assim, retomando o Quadro 3, da abordagem metodológica desta tese, é possível fazer
uma correlação que categoriza os serviços ecossistêmicos urbanos. De acordo com Gómez-
Baggethun et al. (2013) e Gómez-Baggethun e Barton (2013), no meio urbano os serviços de
provisão, que ofertam produtos que sustentam as relações dos ecossistemas, são representados
pelo suprimento de alimentos, em fazendas periurbanas, telhados jardins, hortas, quintas e
jardins comunitários e pelo suprimento de água, diretamente relacionado ao relevo, à cobertura
vegetal e à hidrografia.
Para Gómez-Baggethun et al. (2013), Gómez-Baggethun e Barton (2013) e Bolund e
Hunhammar (1999), os serviços de regulação - que ofertam benefícios materiais - no meio
urbano estão relacionados à questão climática, representada pela regulação das temperaturas,
como as áreas urbanas verdes e azuis, pela redução de ruídos urbanos, de tráfego e construções,
pela purificação do ar e pela redução dos climas extremos, através do uso de vegetação, pela
mitigação de escoamento superficial de águas pluviais, com o uso de superfícies permeáveis,
jardins de contenção e de alagamento e telhados verdes, pelo tratamento de resíduos. De acordo
com esses autores, a questão da polinização, da regulação de pestes e da dispersão de sementes
também entra como serviço de regulação.
Os serviços ecossistêmicos urbanos culturais são os que trazem benefícios não materiais,
como valores recreacionais e culturais, com parques urbanos seguros, confortáveis e acessíveis
ou jardins comunitários. Benefícios estéticos e desenvolvimento cognitivo, bem como espaços
de valor e coesão social também representam esses serviços, através de espaços verdes urbanos,
paisagens naturais e corredores ecológicos (GÓMEZ-BAGGETHUN et al., 2013; GÓMEZ-
BAGGETHUN; BARTON, 2013; BOLUND; HUNHAMMAR, 1999).
Já os serviços de suporte, que fundamentam todos os demais serviços, são representados
no meio urbano, de acordo com Gómez-Baggethun et al. (2013), Gómez-Baggethun e Barton
(2013) e Bolund e Hunhammar (1999), pelo habitat da biodiversidade. Mais uma vez falando
sobre as áreas verdes e azuis, como corredores ecológicos e áreas de vegetação nativa.
Quando se reconhece a cidade como um ecossistema, reiterando a ideia desta tese,
devem-se considerar todos os serviços ambientais ofertados pelos sistemas antrópicos, inclusive
83
os sistemas de produção, mobilidade, redes em geral, habitação, educação, entre outros
(RUTKOWSKI; DALBELO, 2017), e buscar a integração com os sistemas naturais,
representados pela vegetação nativa, pela malha hídrica, pela geomorfologia e com os sistemas
sociais, que não são desenhados e também não são naturais, mas compartilham aspectos de
ambos.
Os serviços ecossistêmicos urbanos são os benefícios que a cidade e seus sistemas
integrados devem fornecer aos seus habitantes. Como o sistema urbano é antropizado, os
próprios habitantes fazem parte da construção e do fornecimento desses benefícios, de forma
recursiva. O território é sua base, a infraestrutura é sua rede e o conhecimento é sua viabilidade,
de modo que o sistema usa o resultado de suas próprias operações para fundamentar outras
operações subsequentes. O desenho urbano, ao produzir a cidade, pode viabilizar ou não o
constante fluxo metabólico do ser, fazer e conhecer ou da matéria, energia e informação.
Rutkowski e Dalbelo (2017) assumem que os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
(ODS) estão diretamente relacionados aos serviços ecossistêmicos, como é demonstrado na
Figura 26. Desse modo, os serviços ecossistêmicos e os ODS não devem ser tratados de forma
individualizada, pois estão associados ao todo, assim como os sistemas urbanos; são interligados
à oferta de serviços ecossistêmicos urbanos e, portanto, interdependentes.
Figura 26 – Serviços Ecossistêmicos Urbanos e ODS

Fonte: Adaptação pela autora de Rutkowski e Dalbelo (2017).

84
3. Perspectivas de desenho urbano sustentável

Entre as tantas teorias, escolas e iniciativas urbanas existentes, foram selecionadas as


perspectivas de desenho urbano sustentável da atualidade que possuem embasamento teórico e
que estão muito próximas de reconhecer a cidade como um ecossistema urbano: Urbanismo
Sustentável; Metabolismo e Ecologia Urbana; Urbanismo Ecológico, Simbiose Urbana e
Industrial e Cidade Integral. Essas perspectivas foram estudadas e analisadas pela linha
condutora dos serviços ecossistêmicos urbanos.

3.1. Urbanismo Sustentável

O Urbanismo Sustentável é um movimento de desenho urbano que surge do Novo


Urbanismo e do que o inspirou, a obra de Christopher Alexander Uma Linguagem de Padrões
(1977) (FARR, 2013). Existem outras correntes que também se intitulam como urbanismo
sustentável, mas esta pesquisa trata especificamente do que é apresentado no livro Urbanismo
Sustentável: desenho urbano com a natureza (2013), de autoria do arquiteto Douglas Farr, do escritório
Farr Associates. Esse escritório trabalha com projetos de empreendimentos imobiliários de
grande porte e certifica edifícios e unidades de vizinhança através do sistema de certificação
Leadership in Energy and Environmental Design – LEED.
Andres Duany escreve o prefácio do livro, definindo-o como um manual de desenho
urbano sustentável evoluído a partir do livro de Alexander (1977). Farr (2013) apresenta o livro
como sendo uma celebração do “[...] poder mágico do desenho urbano e do novo padrão de
assentamento humano – o Urbanismo Sustentável” (p. xiii). O livro é criado a partir do que
seria um manual de esforços de sustentabilidade praticados no escritório de Farr, e seu objetivo
é o estímulo à “[...] adoção do Urbanismo Sustentável para que se torne padrão de assentamento
humano no ano 2030” (FARR, 2013, p. xv). O autor estabelece a correlação com a Agenda
2030, e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, mais especificamente, com o
Objetivo número 11 - Cidades e assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e
sustentáveis.
A Parte Um do livro está voltada a motivar a implementação do urbanismo sustentável
através de cursos para treinamento de profissionais envolvidos no planejamento urbano norte-
americano. É nessa parte que Farr faz a associação entre o movimento do Novo Urbanismo e
o processo de certificação norte-americano LEED e traz a definição de Urbanismo Sustentável:
85
“[...] é aquele com um bom sistema de transporte público e com a possibilidade de deslocamento
a pé integrado com edificações e infraestrutura de alto desempenho” (FARR, 2013, p. 28).
Em capítulo publicado no livro Grenning our Built Environment: costs, benefits and strategies,
organizado por Kats (2009), Farr explica que o urbanismo sustentável cresceu a partir de três
movimentos de reforma do final do século XX, nos EUA: Crescimento Inteligente, Novo
Urbanismo e Edificação Sustentável. Farr (2009) indica que, embora os três movimentos
compartilhem interesse comum em reforma econômica, social e ambiental, diferem na história
e na abordagem. Mas, como são meritórios e isolaram-se uns dos outros, não conseguem
alcançar soluções abrangentes. Por isso, “[...] o Urbanismo Sustentável tenta unir esses três
importantes movimentos, e prendê-los em uma filosofia de projeto capaz de estimular e criar
ambientes humanos realmente sustentáveis” (FARR, 2009, p. 98).
De acordo com Farr (2013), a densidade e o acesso humano à natureza, ou biofilia, são
os valores centrais do Urbanismo Sustentável, movimento que não altera a noção do urbanismo
tradicional norte-americano, como descrito no Congresso para o Novo Urbanismo, com bairros
compactos e de uso misto, distritos compactos e de uso único e corredores de intercomunicação,
sempre considerando o acesso de pedestres, além do eficiente transporte público.
Apesar de a Parte Dois do livro explorar métodos de implementação do Urbanismo
Sustentável nos EUA, como através da criação de um sistema LEED exclusivo e de códigos e
restrições urbanas, é a Parte Três que traz parâmetros de desempenho de sistemas humanos e
naturais escritos por especialistas norte-americanos. Essa parte é a mais substancial e está
dividida em cinco capítulos: “Aumento da sustentabilidade por meio da densidade urbana”;
“Corredores de sustentabilidade”; “Bairros sustentáveis”; “Biofilia”; “Edificações e
infraestrutura urbana de alto desempenho”.
Ainda que o urbanismo sustentável não faça associações diretas aos serviços
ecossistêmicos urbanos, a integração entre alta densidade, acesso à natureza e uso misto
contribui para o equilíbrio entre sua oferta e demanda. As altas densidades associadas ao uso
misto concentram a comunidade em determinado local, levando consigo a demanda pelos
serviços. Essa concentração faz com que os custos para a oferta de serviços seja reduzido e a
qualidade possa ser aumentada. O acesso à natureza contribui para melhora na oferta de serviços
de suporte e de regulação, aumentando a qualidade de vida.
Sobre o aumento da densidade urbana, Farr (2013) e Richards (2013) explicam que,
quando associado ao aumento da diversidade de uso e ocupação do solo, há diminuição entre
as distâncias de deslocamento de pessoas, diminuindo, também, o uso de veículos motorizados.
86
A densidade e a verticalização das construções diminuem a taxa de ocupação do solo,
diminuindo, também, o índice de escoamento superficial de água pluvial, já que existe menor
área de cobertura impermeabilizada (FARR, 2013; RICHARDS, 2013). Nesse sentido, é possível
falar em sustentabilidade. Mas, há que se considerar também as instalações de infraestrutura
demandadas pela densidade, dutos e cabeamento, e o impacto dessas instalações.
Poticha (2013) apresenta os corredores de sustentabilidade em mobilidade e a eficiência
da mescla de atividades, do adensamento e da conectividade de acordo com a escala do local. O
autor faz um comparativo entre as diferentes tecnologias de transporte público com o objetivo
de examinar a capacidade e as características específicas de cada um dos modais. E como
exemplo, aponta que, se a cidade necessita trazer passageiros de subúrbios ou distritos, a melhor
opção é o metrô suburbano integrado a trens.
Kihslinger et al. (2013) exploram o potencial dos corredores de biodiversidade e seu
impacto na conservação da diversidade de espécies nativas. De acordo com os autores, os tipos,
a extensão e a distribuição dos usos do solo em áreas naturais devem ser projetados
considerando que os grandes habitats devem ter conexões suficientes para circulação das
espécies; os corredores devem conectar os remanescentes de habitats e as áreas de transição
devem ser “[...] amplas e vegetadas para minimizar os efeitos na periferia dos habitats e proteger
a qualidade da água e os habitats ripários” (KIHSLINGER et al., 2013, p. 113).
No capítulo sobre bairros sustentáveis, Farr (2013) indica que o bairro do Urbanismo
Sustentável (Figura 27) é baseado na unidade de vizinhança de Clarence Perry e no bairro urbano
de Duany Plater-Zyberk, considerando: um raio de pedestres de quatrocentos metros; sistema
de modal de transporte de grande intensidade, como ônibus, bonde ou metrô leve; infraestrutura
de alto desempenho para geração e transmissão de energia elétrica; iluminação dimerizável para
ruas; veículos compartilhados por quadras; grande diversidade e densidade e caminhos verdes
com habitats. As áreas de convívio público – estabelecimentos cívicos, parques e praças - devem
estar localizadas em terrenos estratégicos, que representem importância em termos da geografia
da cidade, a fim de constituírem marcos socioculturais (DOVER; KING, 2013).

87
Figura 27 – Unidade de Bairro Sustentável

Fonte: Farr (2013, p. 119).

Farr (2013) cita uma composição ideal de moradias por tipo de habitação, que considera
famílias tradicionais norte-americanas e seu respectivo potencial de mercado através de um perfil
conservador do planejador em torno da categorização familiar. Existe, também, uma
preocupação com práticas comerciais nos bairros, que envolve a administração, o projeto, o
funcionamento e a manutenção dos estabelecimentos a fim de manter uma padronização de
paisagem.
Ainda no item do bairro sustentável, há o desincentivo ao uso de automóveis, sugerindo
distritos que proíbam seu uso e propriedade. São bairros com uso misto, corredor de transporte
público interconectado e sem taxas para moradores, corredores para pedestres e bicicletas
(FARR, 2013). Nesse sentido, vale observar que o incentivo ao deslocamento não motorizado

88
é uma opção saudável, ambientalmente correta e economicamente viável, porém proibir o uso
de automóveis pode não ser o meio mais eficaz de garantir a sustentabilidade urbana devido às
limitações envolvidas.
As diretrizes de incentivo ao transporte não motorizado do Urbanismo Sustentável são
abrangentes e consideram a qualidade do deslocamento do pedestre: largura, condição,
manutenção e mobiliário urbano nas calçadas; árvores e canteiros; conectividade entre quadras;
características das vias como largura, presença de estacionamentos e acessibilidade; áreas
gramadas; acesso de veículos e tipologia das edificações. Além disso, existem diretrizes para o
desenho da rua completa, aquela que atende a todos os modais de transporte através da criação
de espaços específicos (DOCK, 2013), conforme Figura 28. Nesse sentido, considera-se a
hierarquia viária, com número máximo de faixas de rolamento, velocidade e largura, rotas de
transporte público e de cargas, equipamentos urbanos para ciclistas e pedestres, canteiro central,
estacionamento, acessos para veículos e espaçamento entre interseções (DOCK, 2013). É o uso
da segregação dos modais de mobilidade que garante o ordenamento e a segurança do espaço
Figura 28 – Rua Completa

Fonte: Dock (2013, p. 152).

O conceito da rua completa adotado por Dock (2013) pode ser colocado como o
contraponto do conceito de espaço compartilhado de mobilidade, em que todos os usuários da
via estão em constante mobilidade e interação nos seus respectivos usos do espaço, baseados
em protocolos sociais informais (HAMILTON-BRAILLIE, 2008; COHEN; SHAHEEN,
2018). O espaço compartilhado de mobilidade usa a integração dos modais como forma de
convivência e autorregulação do espaço coletivo (HAMILTON-BRAILLIE, 2008).

89
O capítulo sobre a biofilia trata sobre espaços abertos, escuridão pública, sistemas de
gestão de água pluvial, produção de alimentos e sistemas de tratamento de esgoto ao ar livre e
em ambiente fechado. Para os espaços abertos, existe uma série de diretrizes para a implantação
de parques urbanos que considera o deslocamento máximo de pedestres; a área mínima do
parque, sua limitação - que deve ser por, ao menos, duas vias - e a segurança - que permite o
fechamento noturno (KOKOLA, 2013).
Quanto à segurança dos espaços abertos, também é considerada a escuridão pública, a
partir da qual Clantom e Givler (2013) traçam metas para 2030, associadas às questões de
segurança do ODS 11 da Agenda 2030 e elaboradas a partir de zonas do transecto, gradualmente
da zona rural e de reserva, sem iluminação, até a zona de núcleo urbano, com iluminação geral.
Os autores expõem que existem desenhos urbanos em áreas norte-americanas excessivamente
iluminadas, o que pode acarretar em ofuscamento e poluição luminosa, quando a solução ideal
seria iluminar zonas de conflito, como cruzamentos entre veículos e pedestres, fachadas de
edificações e elementos de orientação viária.
Em termos de águas pluviais, a principal diretriz do urbanismo sustentável é a de usar
técnicas que limpem, distribuam e absorvam a água no local onde ela precipita, “[...] restaurando
padrões históricos de uma hidrologia dominada pelos lençóis freáticos e de água com boa
qualidade” (PATCHETT; PRICE, 2013, p. 174). Para isso, são sugeridas técnicas de
infraestruturas verdes, como telhado verde, sistema de pavimentação poroso, biodigestores,
bacias de retenção, reservatórios com sistema de filtragem e purificação, paisagismo com
vegetação de alta absorção de água e técnicas semelhantes.
Para o problema da produção de alimentos - que se tornou industrializada, com uso de
agrotóxicos e através de monocultura -, arquitetos e urbanistas são vistos como atores da
solução através da criação de normas de zoneamento adequadas que permitem a produção de
alimentos em residências unifamiliares ou em comunidades. De acordo com Peemoeller e Slama
(2013), a produção individual pode ser realizada através telhados verdes, hortas e estufas
caseiras, enquanto a produção na escala de bairro pode ser feita através de jardim, pomar e estufa
comunitários ou aquicultura urbana, jardins comestíveis ou fazendas comunitárias.
Quanto ao tratamento de esgoto ao ar livre, Ennis (2013) afirma que muitos sistemas de
tratamento de esgoto geram mais poluição do que a quantidade de poluentes removidos da água,
como é o caso do tanque séptico, do sistema de tratamento aquático interno, do biorreator de
membrana e do lodo ativado. Para isso, as melhores soluções são as que integram o reuso de

90
resíduos e da água de forma positiva, sem prejudicar o meio ambiente, com equilíbrio entre
ciência, terreno, economia e legislação. Não há indicação de método específico.
Já para o esgoto em ambiente fechado, as “[...] eco machines são equipamentos de
tratamento de esgoto de base ecológica, geralmente construídas dentro de estufas, que geram
água limpa e reutilizável a partir do esgoto local” (TODD, 2013, p. 185). Com essa tecnologia,
é possível tratar e reutilizar a água de esgoto de um bairro, que pode ser usada no cultivo de
plantas, por exemplo. As eco machines contêm sistema de coleta e distribuição, pré-tratamento
e equalização, bacias de retenção e células aquáticas para tratamento (TODD, 2013).
Farr (2013) também traz colocações sobre edificações e infraestrutura urbana de alto
desempenho. Na primeira das análises quanto ao desempenho energético, as diretrizes
propostas são as mais básicas, porém nem sempre são seguidas: orientação solar e razão entre
superfície e volume da edificação, ou seja, adensamento (CHALIFOUX, 2013). Em
contrapartida, Mazria (2013) considera que a estabilização das emissões de gases de efeito estufa
pode ser alcançada imediatamente através de projetos ou renovação de área construída que
garantam que o padrão de desempenho energético da instalação seja 50% maior do que a média
regional de energia derivada de combustíveis fósseis e que deva haver um padrão de redução de
uso de energia derivada de combustíveis fósseis, que comece em 60% em 2010 e chegue em
2025 a 90%. Apesar de haver uma tendência internacional de sustentabilidade e redução de
emissão de gases de efeito estufa, essa estabilização não é viável de acontecer imediatamente,
nem mesmo nas cidades norte-americanas, devido a fatores políticos e econômicos.
De acordo com Brown (2013), é possível alcançar o alto desempenho de uma
infraestrutura através da otimização de componentes, com o uso de materiais cimenutícios de
demolição, diodos emissores de luz para iluminação pública e projeto eficiente de paisagismo,
com redução de irrigação. Também existem a otimização multifuncional - com uso de solo
estruturado em canteiros públicos para evitar dados nas calçadas, uso de pavimentos permeáveis
para reduzir o escoamento superficial de água de chuva e uso de tecnologias que dispensem
escavações para o reparo de infraestruturas de abastecimento de água - e o projeto integrado,
que é uma solução para o desempenho do sistema viário que exige equipe multidisciplinar e
pode trazer benefícios financeiros pela redução dos custos iniciais, de operação e manutenção,
de consumo de energia e por aumentar o valor dos imóveis na região (BROWN, 2013).
O alto desempenho das infraestruturas urbanas deve ser pensado desde a geração de
energia. De acordo com Newman e Thornton (2013), quando a energia provém de um sistema
distrital de geração, transmissão e distribuição, há menor consumo de combustíveis do que a de
91
um sistema convencional central para toda a cidade, quando se fala em usinas que usam
combustíveis fósseis. A eficiência também pode estar na cogeração, com uso de tecnologias de
geração conjunta de calor e energia, como motor de pistão a gás e trocadores de calor
(NEWMAN e THORNTON, 2013).
A finalização da Parte Três de Farr (2013) alerta para a necessidade da coletividade em
termos de deslocamentos. É preciso uma diminuição em massa do uso de automóveis e isso
pode ser feito através do incentivo a caminhadas e da diminuição das distâncias de deslocamento
ou do uso de veículos compartilhados (FARR, 2013).
A Parte Quatro do livro relata estudos de caso que são apresentados na abordagem do
Urbanismo Sustentável em vários países. Porém essa abordagem não considera que todas as
características do Urbanismo Sustentável devem estar juntas. Basta o estudo de caso apresentar
algum ponto semelhante ao proposto nas diretrizes de Urbanismo Sustentável para ser incluído
como tal, visto que a maior parte dos casos estudados está embasada em princípios de
arquitetura sustentável ou outros movimentos que buscavam eficiência energética ou
acessibilidade e mobilidade urbana.
Com isso, a visão desta tese permite caracterizar o Urbanismo Sustentável de Farr (2013)
como uma perspectiva tecnocrática: está embasado na ciência, porém as técnicas e
padronizações acarretam falta de envolvimento com a comunidade local. No sentido do
empreendedorismo imobiliário, ao qual Farr está associado, o livro traz parâmetros de efetivação
da sustentabilidade urbana para a infraestrutura de uma cidade, mas as questões sociais e
culturais estão pouco representadas.
Quando comparado à ideia central de Alexander (1977), que usa o desenho urbano como
melhoria da qualidade do ambiente, atemporalidade, integração de ações urbanas, participação
da comunidade e universalização de padrões urbanos, Farr (2013) usa o desenho urbano para
estabelecer padrões que seguem instruções únicas, que não preveem variações ambientais,
culturais, políticas e econômicas.
Como sequência ao Urbanismo Sustentável, Douglas Farr publicou Sustainable Nation:
urban design patterns for the future (2018). Nesse livro, ele expõe sobre a crise humanitária,
populacional e climática e estabelece parâmetros para que a sociedade supere os desafios da
descarbonização de forma mais rápida do que antes. Mais uma vez, a estratégia está no desenho
urbano e na governança de bairros para se tornarem comunidades sustentáveis.
Os parâmetros são apresentados por diferentes autores e atores sociais e distribuídos nas
seguintes áreas: efervescência coletiva; bairros autônomos; teatro da vida, que trata de
92
vizinhança, diversidade de habitações e edificações e locais de encontro; densidade; mobilidade;
economia; água urbana; carbono e saúde, segurança e bem-estar. O principal argumento do livro
é o de que, para acelerar o progresso dos desafios mundiais em torno do desenvolvimento
sustentável, é preciso integrar as vozes da comunidade aos princípios de desenho urbano. Nesse
sentido, Farr (2018) apresenta uma versão mais preocupada com questões socioculturais e com
o envolvimento da comunidade no processo de planejamento urbano. Porém ainda prioriza a
técnica e a padronização ao do envolvimento local, e trata as questões ambientais como
problemas a serem resolvidos, e não como soluções que devem ser integradas aos processos
urbanos.
A partir do livro Urbanismo Sustentável: desenho urbano com a natureza (FARR, 2013),
sobretudo a Parte Três, foi possível identificar as diretrizes de desenho urbano sobre as quais
os autores embasam-se e classificá-las. A classificação foi feita conforme indicado na abordagem
metodológica desta pesquisa: de acordo com escalas urbanas – P, M e G – e de acordo com sua
relação com os serviços ecossistêmicos urbanos, conforme pode ser visto no Quadro 8. Antes
ainda, cabe a observação de que Farr (2013) apresenta suas escalas de intervenção e podem ser
assim associadas às escalas usadas nesta tese:

Quadro 7 – Comparação entre escalas usadas no Urbanismo Sustentável e nesta tese


Escala do Projeto Tipo de Construção Exemplo de projeto com sistemas de Escala
(FARR, 2013) (FARR, 2013) sustentabilidade selecionados (FARR, Pesquisa
2013)
Menos de 0,1 ha Edificação individual Centro Comercial Bethel – Chicago24
0,1 a 0,4 ha Várias edificações Christie Walk - Adelaide25
0,4 a 2,0 ha Uma quadra BedZed - Londres26 Pequena
2,0 a 16 ha Parte de um bairro Dockside Green - Victoria27
16 a 80 ha Bairro High Point - Seattle28
Maior que 80 ha Corredor GreenLine Initiatives - Washington29 Média
Fonte: Elaboração da autora.

24
https://farrside.com/portfolio-item/bethel-commercial-center/
25
http://www.urbanecology.org.au/eco-cities/christie-walk/
26
https://www.zedfactory.com/bedzed
27
http://www.docksidegreen.com/
28
https://www.seattlehousing.org/about-us/redevelopment/high-point-redevelopment
29
http://greenlineinitiatives.weebly.com/index.html
93
Quadro 8 – Diretrizes de Desenho Urbano do Urbanismo Sustentável

REGULAÇÃO

CULTURAL
PROVISÃO

SUPORTE
DIRETRIZES DE DESENHO URBANO PARA O URBANISMO
REFERÊNCIA
SUSTENTÁVEL

Farr (2013,p. 94-99); Richards Promover alta densidade urbana em áreas centrais com sistema de
M M M
(2013, p. 100-104). infraestrutura integrados
Richards (2013, p. 100-104); Aumentar a diversidade de uso e ocupação do solo em áreas
M M M
Dover e King (2013, p. 122) centrais
Richards (2013, p. 100-104);
Usar infraestruturas urbanas que aumentam a permeabilidade do
Patchett e Price (2013, p. 174- M M
solo
176); Brown (2013, p. 198)
Projetar áreas habitacionais próximas às estações de transporte
Poticha (2013, p. 110) M M M
público
Criar corredores de transporte público ao longo das principais vias
Poticha (2013, p. 106-110) M M
de circulação
Poticha (2013, p. 112); Dover e
Projetar o modal de transporte público de acordo com a
King (2013, p. 123); Tumlin M
capacidade, a velocidade e o espaço a ser ocupado no local
(2013, p. 157)
Kihslinger et al. (2013, p. 112- Projetar habitats, corredores e áreas de transição para
M M M
116); Kokola (2013, p. 170) conectividade de áreas naturais nas cidades
Kihslinger et al. (2013, p. 112- Projetar áreas naturais de acordo com o contexto regional, a
M M M
116) biologia e a ecologia
Gibbs (2013, p. 137); Simmons
Projetar o bairro de acordo com o tamanho ideal para o pedestre,
et al. (2013, p. 145); Burden
considerando raio de 400m para deslocamento entre os principais P P
(2013, p. 148); Kokola 2013, p.
destinos
169); Farr (2013, p. 208)

Projetar a diversidade de uso de um bairro de acordo com sua


Dover e King (2013, p. 120-125) P P P P
localização e vocação

Dover e King (2013, p. 120-125) Criar um centro identificável com marcos visuais para o pedestre P

Reservar terrenos de localização estratégica para uso cívico, praças


Dover e King (2013, p. 120-125) P P P P
e parques
Volk e Zimmerman (2013, p.
Aumentar a diversidade de tipos de moradia nos bairros P P P P
129-131)
Criar distritos com habitações em que é proibido o uso de
Farr (2013, p. 133) M M
automóveis.
Farr (2013, p. 133); Tumlin Reduzir a quantidade de estacionamentos particulares e incentivar
M M
(2013, p.165-167) o uso de automóveis compartilhados
Projetar as áreas comerciais de acordo com a demanda do local e
Farr (2013, p.137-139) padroniza-las em termos de administração, projeto, P P
funcionamento e manutenção
Criar áreas de convívio público nos bairros com equipamentos
Farr (2013, p. 142-143) P P
necessários de acordo com a demanda.
Simmons et al, 2013, p. 145 Projetar áreas verdes comunitárias nos bairros. P P P P
Simmons et al, 2013, p. 144- Fomentar a plantação de vegetação nas áreas internas lotes
M M
146; Peemoeller et al, p. 180 urbanos.
Simmons et al. (2013, p. 144-
146); Dock (2013, p. 153); Projetar ciclovias e ciclofaixas nas principais vias urbanas M M
Tumlin (2013, p. 163)
Simmons et al., (2013, p. 144-
Projetar bolsões de estacionamento nas áreas centrais M
146); Poticha (2013, p. 106-110)
Dock (2013, p. 152); Tumlin
Projetar vias que atendam a todos os modais de transporte. M M
(2013, p. 163)
Considerar a hierarquia das vias para o projeto de faixas de
Dock (2013, p. 153) M
rolamento, velocidade, equipamentos e acessos

94
Desenvolver projetos de acessibilidade aos passeios públicos e aos
Smith (2013, p. 155-156) M M
edifícios
Simmons et al. (2013, p. 145);
Melhorar os níveis de iluminação urbana considerando as zonas de
Clanton e Givler (2013, p. 172- M M
conflito
173)
Projetar parques urbanos dentro do limite de deslocamento para
Kokola (2013, p. 169) M M M M
pedestres.
Kokola (2013, p. 169); Patchett Projetar áreas de absorção, retenção e tratamento biológico de
M M M
e Price (2013, p.174) água pluvial
Seguir normas para o projeto de parque: área mínima, segurança e
Kokola (2013, p. 169) M M M M
limitação.
Clanton e Givler (2013, p. 173) Incorporar iluminação urbana à malha viária. M M M
Peemoeller e Slama (2013, p. Criar normas de zoneamento adequadas que permitem a produção
P P P
180) de alimentos em residências unifamiliares ou em comunidade.
Ennis (2013, p. 184-189); Todd
Projetar sistemas alternativos para tratamento de esgoto M M M
(2013, p. 185-189)
Projetar infraestrutura urbana e edifícios de acordo com a
Chalifoux (2013, p. 190-194) orientação solar e a volumetria que resultem em melhor P P
desempenho energético.
Projetar infraestrutura urbana e edifícios de alto desempenho
Mazria (2013, p. 195) energético e visando a estabilização do uso de energia derivada de P P
combustíveis fósseis.
Brown (2013, p. 197-200) Projetar infraestrutura urbana com equipe multidisciplinar M M M M
Newman e Thornton (2013, p. Projetar sistemas de geração, transmissão e distribuição de energia
M M
201) na escala distrital.
Fonte: Elaboração da autora.

3.2. Metabolismo e Ecologia Urbana

Quando a cidade passou a ser vista como um ecossistema, suas funções passaram a ser
vistas como metabólicas. O conceito do metabolismo surgiu no século XIX como uma forma
de descrever os processos químicos que ocorrem em uma célula. Com o decorrer do tempo, o
conceito estendeu-se à decomposição e recomposição orgânica, passando a abranger uma escala
de organismos individuais. A partir dessa escala, foi possível generalizar o campo de atuação e,
de maneira holística, estendê-lo aos processos de trocas de matéria, energia e informação nas
cidades (FISCHER-KOWALSKI, 1998; FOSTER, 1999). Nesses processos estão inclusos os
sociais, os ecológicos e os econômicos que produzem o ambiente urbano (RAPOPORT, 2011).
A associação do meio urbano a um ente vivo fez com que o crescimento urbano
pudesse ser comparado, de forma analógica, a processos anabólicos e catabólicos do
metabolismo biológico e, nessa comparação, ainda mensurá-lo através da mobilidade, no sentido
de mudanças no movimento do fluxo de materiais ou de energia em resposta a uma nova
situação ou a um novo estímulo (BURGESS, 1925). Apesar de os estudos metabólicos existirem
desde a década de 20 do século XX, foi em 1965 que Abel Wolman o cunhou:
95
[...] as exigências metabólicas de uma cidade podem ser definidas como todo
os materiais e produtos necessários para sustentar seus habitantes em casa, no
trabalho e no lazer. Ao longo do tempo estes requisitos passaram a incluir até
mesmo os materiais de construção necessários para a construção e
reconstrução da própria cidade. O ciclo metabólico não é completo até que os
detritos e resíduos do cotidiano sejam removidos e eliminados com o mínimo
de incômodo e risco (WOLMAN, 1965, p. 156).30

Foi Wolman (1965) quem concebeu o metabolismo urbano como fluxo de energia e
materiais, em que insumos materiais são transformados em energia utilizável, estruturas físicas
e resíduos. Trouxe, ainda, a perspectiva de três problemas metabólicos que seriam inevitáveis
ao longo do crescimento de uma cidade. Seriam eles: abastecimento de água, disposição final e
eficaz de esgoto e o controle da poluição do ar. Para ele, entradas no sistema urbano, como
alimento, combustível, bens duráveis, materiais de construção e energia elétrica, não
representavam problemas especiais.
Essa concepção foi sendo alterada com o desenvolvimento de novos estudos
metabólicos nas áreas urbanas. A já citada década de 1970 foi marcada por investigações
quantitativas e que consideravam o fluxo de energia no sistema. Para essa quantificação, foram
criadas cidades hipotéticas, mas também houve estudos específicos das cidades de Tóquio
(HANYA; AMBE, 1976), Bruxelas (DUVIGNEAUD; DENAYEYER-DE SMET, 1977) e
Hong Kong (NEWCOMBE et al., 1978), realizados por engenheiros químicos e civis, além de
ecologistas, que reconheciam a interdisciplinaridade do metabolismo urbano (KENNEDY et
al., 2010).
Ainda durante a década de 1970, houve investigadores do metabolismo urbano que
seguiam Odum (1985), na perspectiva da equivalência de energia solar, sob a qual foram
realizados estudos metabólicos de Miami (ZUCCHETTO, 1975) e de Paris de 1850
(STANHILL, 1977). Mais recentemente, a perspectiva de Odum (1985) sob o metabolismo
urbano foi usada para o estudo do metabolismo urbano de Taipei (HUANG; HSU, 2003) e de
Beijing (ZHANG et al., 2009).
Após a publicação do Relatório Brundtland (1987) e a Conferência das Nações Unidas
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (1992), os metabolistas reafirmaram os três

30
Tradução livre de: “[…] the metabolic requirements of a city can be defined as all the material and commodities needed
to sustain the city's inhabitants at home, at work and at play. Over a period of time this requirements includes even the
construction materials needed to built and rebuilt the city itself. The metabolic cycle is not completed until the wastes and
residues of daily life have been removed ad disposed of with a minimum nuisance and hazard” (WOLMAN, 1965, p. 156).
96
problemas metabólicos indicados por Wolman (1965). Então, Girardet publicou The Gaia Atlas
of the Cities: new directions for sustainable urban living (1996), livro sobre as conexões estabelecidas
entre o metabolismo urbano e o desenvolvimento sustentável das cidades. E também houve o
desenvolvimento do método de Análise do Fluxo de Materiais (MFA). Diferente do método de
equivalência de energia solar de Odum (1985), o MFA estuda e analisa os estoques urbanos e os
fluxos de recursos naturais em termos de massa.
Para Newman (1999), o conceito do metabolismo aplica-se à realidade do urbano
quando é estendido às dinâmicas e à habitabilidade de determinada região (Quadro 9). Esse
modelo permite que os processos metabólicos das bases física, biológica e humana da cidade
sejam especificados, bem como suas entradas e saídas, criando um balanço metabólico urbano.
Os processos de reciclagem e reuso demandam energia para a transformação de
resíduos em novos produtos e, ainda assim, a formação de rejeitos é inevitável. Por mais cíclico
que seja o metabolismo, sua entropia torna lógica a redução de entradas para reduzir as saídas.
Dessa forma, é possível gerenciar os resíduos produzidos. Mas esses resíduos também
requerem energia para serem transformados em outro produto e, de qualquer modo, todos os
materiais terminam como rejeito em determinado período de tempo. Um exemplo são os
derivados de carbono, que, apesar de poderem ser reciclados ou reutilizados de outras formas,
em certo tempo são reduzidos a gás carbônico, sendo impossível a reciclagem (NEWMAN,
1999).
Quadro 9 – Modelo estendido de Metabolismo Urbano de assentamentos humanos

Fonte: Adaptação pela autora de Newman (1999).

97
Com essa perspectiva, Newman (1999) analisou o metabolismo urbano de Sydney e
apresentou um relatório para o Estado de Meio Ambiente da Austrália. Nesse estudo ele incluiu,
além da habitabilidade, indicadores de saúde, emprego, renda, educação, habitação, lazer e
atividades comunitárias.
No contexto brasileiro, Ab’Saber (2003) é pioneiro em trazer a necessidade de integração
do ambiente metropolitano, “[...] onde se processa o dia-a-dia dos homens em suas funções
biológicas, assim como nas multivariadas funções de trabalho, circulação, consumismo e
práticas sociais e culturais” (p. 2). De acordo com o autor, essa é a razão pela qual os estudos
do metabolismo urbano têm valor de referência para a garantia da boa funcionalidade da vida
nas grandes metrópoles. Eles indicam a quantidade e a diversidade das entradas e das saídas do
ecossistema urbano.
Da escola metabolismo urbano veio uma adaptação popular e eficaz para demonstrar o
impacto das atividades urbanas: a Pegada Ecológica, indicador desenvolvido por Rees e
Warckernagel em 1996, com a finalidade de apontar para problemas ambientais e econômicos
relacionados com o aumento da quantidade de insumos e problemas relacionados à gestão de
saídas (MARCOTTULIO; BOYLE, 2003). Ao olhar para a cidade como um todo e analisar os
caminhos ao longo dos quais energia e materiais fluem, é possível mensurar as quantidades e a
qualidade do que flui e dos seus produtos.
Nesse sentido, Ferrão e Fernández (2013) expõem que a cidade pode ser vista como um
organismo que possui determinado metabolismo, quando seu fluxo metabólico é analisado a
partir da identificação de matérias-primas para a construção, produtos, nutrientes, energia,
resíduos e emissões, todos com potencial de impactos ambientais que podem estender os limites
da cidade. Por isso, o principal objetivo de estudar e quantificar o metabolismo urbano é
providenciar a base das discussões sobre o anseio de mudanças na escala urbana através da
correlação de diferentes atividades econômicas com fluxos de materiais que elas geram e
requerem, a fim de equilibrá-los.

Modelos de metabolismo urbano quantificam as entradas, saídas e


armazenamento de energia, água, nutrientes, materiais e resíduos, e podem
proporcionar aos indivíduos um feedback essencial sobre o impacto das suas
escolhas. Como resultado, esses modelos podem contribuir para a mudança de
comportamento e diminuir nossa desconexão com a natureza (FERRÃO;
FERNÁNDEZ, 2013, p. 5).31

31Tradução livre de: “Urban metabolism models quantify the inputs, outputs, and storage of energy, water, nutrients,
materials and wastes, and may provide individuals with essential feedback on the impact of their choices. As a result, these
98
Ainda de acordo com esses autores, existem alguns fatores que influenciam o
metabolismo urbano, comuns a todas as cidades:
- Riqueza: que determina o nível de atividade econômica;
- Clima e acesso à infraestrutura de transporte: que determinam o consumo de energia
e de produtos e o comércio; e
- Forma urbana, como densidade, morfologia e características de transporte: que
determinam o consumo de energia e o fluxo de materiais.
Além disso, no estudo e na quantificação do metabolismo urbano de determinada cidade,
também é preciso considerar o desenvolvimento tecnológico, o uso das áreas verdes, as normas
construtivas, os custos de energia e a política e infraestrutura de gestão de resíduos. Nesse
sentido, cidades espraiadas e com densidade populacional baixa tendem a ter maiores taxas de
energia e de transporte do que as cidades compactas (FERRÃO; FERNÁNDEZ, 2013).
Essas e outras comparações remetem às aplicações do estudo e da análise do
metabolismo urbano em determinada região. Kennedy et al. (2011) trazem quatro aplicações
para o metabolismo urbano: relatórios de sustentabilidade, contabilidade de gases de efeito
estufa no meio urbano, modelagem matemática para análise de políticas e desenho urbano.
Apesar de existirem outras possíveis aplicações, essas são as que podem auxiliar urbanistas e
gestores do urbano no planejamento e no desenho das cidades (KENNEDY et al., 2011).
O estudo e a análise do metabolismo urbano embasam ferramentas que mensuram
situações da cidade que podem ser melhoradas quando são tratadas no desenho e no
planejamento urbano. Os principais indicadores de sustentabilidade urbana requerem
informações sobre energia, materiais e resíduos, além da infraestrutura urbana. Nesse sentido,
o metabolismo urbano traz dados considerados válidos cientificamente, porque são embasados
em princípios de conservação de energia e de massa (KENNEDY et al., 2011; MACLAREN,
1996). A emissão de gases de efeito estufa – dióxido de carbono, metano e clorofluorcabornetos
– também é componente essencial do metabolismo urbano. A mensuração precisa da emissão
desses gases traz um diagnóstico real da situação da cidade, cabendo ao planejador e ao
desenhista urbano intervirem a fim de melhorar a qualidade do ar (KENNEDY et al., 2011).
Mais especificamente no campo do desenho urbano, a integração entre as perspectivas
morfológica e fisiológica de uma cidade faz com que componentes do metabolismo urbano –

models may contribute to changing behavior and diminishing our disconnect with nature” (FERRÃO; FERNÁNDEZ,
2013, p. 5).
99
água, biomassa, materiais e energia - possam ser utilizados para identificar atividades urbanas –
sustentar ou recuperar; limpar; habitar e trabalhar (BACCINI; BRUNNER, 1991).
A partir dessa integração, Oswald e Baccini (2003) realizaram um experimento de
desenho urbano para a cidade fictícia de Netzstadt através de quatro princípios de redesenho
urbano - morfologia, sustentabilidade, reconstrução e responsabilidade - e cinco critérios de
qualidade urbana - identidade, diversidade, flexibilidade, grau de autossuficiência e eficiência de
recursos. Entre os critérios, os quatro últimos são resultados de análise de metabolismo urbano
que agregam mais qualidade e eficiência ao desenho urbano.
Não são propostos parâmetros para o desenho de Netzstadt, mas, sim, um processo de
análises sistemáticas que devem ser consideradas no desenho urbano de uma cidade. Entre as
análises, vale ressaltar a importância da participação popular, que é o que restringe e redefine o
ciclo de feedback para os especialistas. O processo é uma plataforma transdisciplinar, que começa
com a identificação do sistema urbano e passa por três etapas de análises analíticas que
estruturam o sistema em atividades selecionadas e moldam-no. A etapa final é uma avaliação de
acordo com critérios de qualidade.
Em Toronto, um grupo de estudantes de engenharia civil usou a análise do metabolismo
urbano da cidade para redesenhar a área de um bairro. O traçado dos fluxos de água, energia,
nutrientes e materiais integrados a práticas de edifícios sustentáveis, transporte sustentável e uso
de fontes alternativas de energia resultaram em um desenho urbano capaz de fechar ciclos,
reduzindo a quantidade de resíduos gerados e de recursos necessários (CODOBAN;
KENNEDY, 2008).
Em New Orleans, após o furacão Katrina, um grupo de alunos do Massachusetts
Institute of Technology (MIT) usou a perspectiva do metabolismo urbano, através da
metodologia da análise de fluxo de material, para redesenhar a cidade de forma mais ecológica.
O projeto examinou o comportamento da cidade por meio da metodologia chamada Systems
Dynamics, com o intuito de analisar os recursos naturais necessários para recuperar a cidade.
Essa metodologia analisa o comportamento da cidade como um sistema de armazenamento,
fluxos e tempo de espera, em um nível macro. A partir disso, comparando com dados históricos
e culturais da cidade, são propostos cenários alternativos de soluções (QUINN, 2008;
FERRÃO; FERNÁNDEZ, 2013).
Ao tratar diretamente da arquitetura e do urbanismo, o metabolismo urbano possui
representação desde a década de 1960, quando se iniciou o Movimento Metabolista Japonês.
Essa década também foi marcada pelos movimentos de contracultura no contexto global de
100
transformação de ideias e estratégias projetuais e críticas ao que se propunha no Movimento
Moderno. A arquitetura racionalista de Le Corbusier passou a ser criticada, e começaram a surgir
formas mais orgânicas e assimétricas, simbolizando um desenvolvimento livre (MONTANER,
2001).
Assim, diversas correntes de arquitetura metabólica emergiram no pós-modernismo.
Uma delas foi a Arquitetura Tecnológica, desenvolvida na Grã-Bretanha por arquitetos como
Peter Cook, Warren Chalk, David Greene, Ron Herron e Michael Webb, conhecidos por
Archigram. Essa corrente tinha como objetivo desenvolver uma arquitetura fundamentada no
processo industrial, baseada na ideia em que existe uma racionalidade no mundo da tecnologia
e da ciência, que gera “[...] uma arquitetura descartável, trocável e produtível como qualquer
objeto de consumo” (MONTANER, 2001).
O Archigram ficou no plano do discurso, sem exemplares construídos, porém
influenciou a corrente da arquitetura metabólica japonesa, representada pelo arquiteto Kenzo
Tange, que projetou o Plano para a baía de Tóquio, de Kenzo Tange – Figura 29. O movimento
metabolista japonês considerava que edifícios e ambiente urbano estavam sujeitos às mesmas
condições de crescimento natural a que estava sujeita a população. Dessa forma, o movimento
considerava o desenvolvimento da cidade desde o desenho industrial até o desenho urbano,
com o ideal de expressar a sociedade em constante desenvolvimento e mutação (MONTANER,
2001).
Figura 29 – Plano para a Baía de Tóquio – Kenzo Tange – 1960

Fonte: http://tokyoarquitetura.blogspot.com/2012/04/metabolismo-japones.html

A Ecologia Urbana considera o metabolismo urbano em sua teoria e foi originalmente


desenvolvida a partir da ecologia humana, na década de 1920, por um pequeno grupo de

101
sociólogos da Escola de Chicago. Park, Burgess e McKenzie (1925) definiram Ecologia Urbana
como sendo o estudo das relações entre as pessoas e seu meio ambiente urbano.
No início desses estudos, cientistas sociais aplicavam conceitos ecológicos, como
competição, invasão, dominância e sucessão nos estudos de localização espacial e organização
social urbana (PARK et al., 1925), o que fez a ecologia urbana ser uma das mais influentes
escolas sociológicas americanas nas décadas de 1930 e 1940. Porém, desapareceu das
publicações científicas da década de 1950 (WU, 2014).
Por isso, nas décadas de 1960 e 1970, pesquisadores tentaram reavivar os ideais da
ecologia urbana e unificá-la à humana (WU, 2014). Assim, em 1977, Berry e Kasarda
apresentaram a ecologia urbana contemporânea. Essa nova ecologia urbana integra diversos
campos das ciências sociais: sociologia urbana, geografia urbana, ecologia social, ecologia
humana e planejamento urbano municipal e regional. Essas várias perspectivas em ecologia
urbana ficaram categorizadas como ecologia nas cidades, que tem foco principal nos organismos
não humanos no meio ambiente urbano, ou como ecologia das cidades, que considera a cidade
toda como um ecossistema (MACLARREN, 1996; WU, 2014).
De acordo com Wu (2014), a evolução do conceito de ecologia urbana ocorreu em cinco
diferentes fases: a primeira baseada na sociologia urbana, que estuda o comportamento social
nas cidades apoiado em teorias ecológicas; a segunda com abordagem biológica-ecológica,
focada na distribuição de plantas e animais nas cidades; a terceira baseada em sistemas urbanos
ou ecossistemas humanos, que considera a cidade toda como um ecossistema, consistindo de
componentes naturais e socioeconómicos; a quarta, a que possui abordagem da paisagem
urbana, que trata as áreas urbanas como espaços heterogéneos, multiescalares e com sistemas
dinâmicos; e a quinta e atual fase, que emerge da abordagem da sustentabilidade urbana e trata
as cidades como sistemas ecológico-sociais, com ênfase na relação entre serviços ecossistêmicos
e bem-estar humano no território urbano. Isso se vê no quadro a seguir.

102
Quadro 10 – Perspectivas de evolução e abordagens em Ecologia Urbana

Fonte: Adaptação pela autora de Wu (2014).

Estudos em Ecologia Urbana também foram realizados na Alemanha pelo professor


Ekhart Hahn, que definiu os elementos que deveriam ser levados em conta para o
desenvolvimento urbano sustentável e propôs as primeiras medidas para alcançá-lo. No início
dos anos 1990, foi publicado o relatório alemão “Ökologischer Stadtumbau”, que reuniu
pesquisas teóricas e estudos de casos em ecologia urbana e concluiu diretrizes para sua aplicação:
ética e respeito ao ser humano; participação e democratização; organização em redes; retorno à
natureza e às experiências sensoriais; uso misto e densidade urbana controlada; respeito ao genius
loci – espírito do lugar -; ecologia e economia e cooperação internacional (GAUZIN-MÜLLER,
2011).
A discussão em torno da ecologia urbana evoluiu e formou uma série de grupos de
estudos. De acordo com Haughton e McGranahan (2006), as questões centrais que passam a
envolver a ecologia urbana são a técnica, a sociedade, a economia e a política. Os meios para
resolver as múltiplas abordagens da ecologia urbana fazem-se no físico e no social, de forma

103
que tanto planejadores do urbano como ecologistas consideram o comportamento humano e o
meio construído na compreensão das dinâmicas dos ecossistemas.
Referindo-se à necessidade de conceituação adequada desse assunto, os autores dizem:

A própria noção de ecologia urbana tornou-se multiescalar, que se estende


desde os sistemas urbanos individuais para sistemas de cidades e vilas, e de
ecossistemas dentro de assentamentos urbanos, para assentamentos urbanos
como os ecossistemas, para as maneiras pelas quais as cidades e vilas formam
ecossistemas além bem como dentro de limites urbanos. Nós ainda estamos
lutando com a forma de conceituar adequadamente essas questões e traduzi-
los em material significativo para os decisores políticos, como vários dos artigos
desta edição especial deixar claro (HAUGHTON; McGRANAHAN, 2006, p.
2).

Essa multidisciplinaridade da ecologia industrial levou à formação de grupos de pesquisas


denominados Long-Term Ecological Research. Eles são, principalmente, das escolas de Baltimore e
de Phoenix e têm como linhas de pesquisa as relações entre estruturas espaciais de
socioeconomia, características ecológicas e físicas; fluxos de matéria e de energia e a influência
do ser humano sobre eles e opções de melhoria para a qualidade do meio ambiente urbano.
Segundo esses grupos, a ecologia urbana considera aglomerações urbanas como sistemas
complexos integrados aos subsistemas econômico, social, técnico e ambiental. Ela analisa, por
exemplo, condutores socioecológicos para o manejo da terra e as respostas do ecossistema,
fluxos de nitrogênio, vulnerabilidade social e saúde pública (RICHTER; WEILAND, 2011).
Para Gandy (2006), a ecologia urbana é uma ecologia humana resultante da combinação
de natureza e artifícios humanos que produziu o espaço urbano. Pode ser comparada a
fragmentos de natureza selvagem em parques ou a pequenas áreas de remanescentes naturais
que formam a paisagem urbana. Essa definição é voltada ao tratamento social e econômico de
uma cidade. Quando se fala em técnica, além do social e do econômico, trata-se também das
questões de infraestrutura urbana e ambientais.
Se, quando se fala em cidade como um ente vivo, existem a vertente que o traduz como
um ecossistema e a vertente que o traduz como uma entidade natural, na ecologia urbana
também existem duas perspectivas de definição. As ciências naturais têm a ecologia urbana com
parâmetros biológicos e processos ambientais urbanos, sendo ela tratada como uma disciplina
da biologia ou da ecologia que estuda e analisa relações entre plantas e animais, tendo a ação
humana apenas como influência. Enquanto isso, a perspectiva antropocêntrica tem uma
abordagem multidisciplinar acerca da ecologia urbana, vendo-a como uma condição de melhoria

104
das condições de vida urbana e, para isso, agrega aspectos sociais aos biológicos (SKOPP;
WITTIG, 1998).
Alberti (2005) compartilha a perspectiva antropocêntrica da ecologia urbana e a
considera como uma análise dos serviços ecossistêmicos que estão diretamente associados aos
parâmetros de desenvolvimento urbano. Esses serviços ecossistêmicos estão relacionados para
além das escalas biológica e geográfica, abrangendo também a escala antropológica. Para
Endlicher et al. (2007), o principal foco da ecologia urbana deve ser a dimensão humana e suas
interferências no sistema natural urbano. Para isso, a investigação deve ser realizada,
simultaneamente, a partir das ciências ambientais e das sociais, no mesmo sítio urbano. A Figura
30 demonstra as escalas dessa investigação.

Figura 30 – Escalas de abrangência da ecologia urbana

Fonte: Adaptação pela autora de Endlicher et al. (2007).

Considerando as dimensões humanas da ecologia, é possível falar em quatro diferentes


componentes essenciais da ecologia urbana: o biológico, o social, o físico e o construído. Cada
um desses componentes possui uma complexa coleção: espécies e seus produtos; instituições
sociais e suas normas; solo, água e ar; edifícios e suas infraestruturas. Apesar de esses
componentes poderem ser analisados separadamente, não podem ser separados uns dos outros,
e é essa união que constitui a essência da ecologia urbana (PICKETT; GROVE, 2009).
De acordo com Xuemei Bai e Heinz Schandl (2011), o interesse na pesquisa sobre
ecologia urbana no âmbito da pesquisa em ecologia industrial começou no ano 2000, com a
105
análise do impacto ambiental global e regional nas cidades através de ferramentas da ecologia
industrial, da produção e do consumo sustentáveis, da pesquisa sobre o metabolismo urbano e
como a forma, a densidade, o transporte e as escolhas de traçado urbano podem interferir no
fluxo da cidade. Assim como na indústria, nas cidades também existem os fluxos de entrada e
de saída, como são demonstrados no Quadro 11.
Quadro 11 – Ecologia Urbana e Sistemas Industriais

Fonte: Douglas et al. (2011).

O grupo liderado pelo professor Perry Yang, do College of Architecture at the Georgia Institute
of Technology, traz a discussão de que, quando se considera a cidade como um sistema que possui
fluxos ecológicos, seu desenho urbano deve articular a forma urbana e os fluxos ecológicos para
criar relações simbióticas entre os sistemas urbanos, industriais e naturais. Nesse sentido, a
diferença entre a ecologia urbana e o urbanismo ecológico está no fato de que enquanto aquela
trata a ecologia na cidade e as formas de preservação e criação de áreas verdes urbanas, este trata
a ecologia da cidade e a entende como uma força motriz para a transformação urbana e para a
reconstrução do seu ecossistema (YANG, 2010).
Yang et al. (2018) indicam que os desafios da mudança climática e da degradação de
recursos ambientais exigem um desenho urbano que integre infraestruturas eficientes de energia
e água com formas urbanas compactas e maior experiência humana. Esses requisitos compõem
a complexidade dos sistemas urbanos e tornam mais urgente do que nunca o trabalho

106
transdisciplinar entre desenhistas do urbano, de forma a explorar os efeitos sinérgicos dos
sistemas urbanos inter-relacionados. Uma abordagem de desenho urbano convencional, que
dependa da experiência de um designer e julgamentos heurísticos, produz alternativas e riscos
limitados, excluindo opções resilientes e eficientes em termos de energia.
Uma nova abordagem da ecologia urbana para o desenho urbano, de acordo com Yang
et al. (2018), pode ser representada pelo Geodesign, que surgiu como uma metodologia de
desenho urbano que usa os impactos ecológicos e sociais agregados às informações geoespaciais.
A partir dele, é possível compreender a relação e a interdependência entre variáveis de design,
de componentes e de sistemas, e compreender os mecanismos subjacentes de mudança.
O Geodesign apresenta o desafio de equilibrar vários critérios de decisão, em termos de
experiência humana, uso eficiente de energia e uso da água. Também destaca a importância de
entender as compensações entre várias decisões de projeto em relação a múltiplos objetivos de
desenho que são significativos para o bem-estar e a sustentabilidade humana. Portanto, uma
análise de otimização multiobjetivo deve ser desenvolvida e conduzida por profissionais de
diferentes áreas, a fim de criar mecanismos de colaboração e síntese (YANG et al., 2018).
A aproximação da ecologia urbana ao metabolismo urbano também existe na literatura
brasileira, quando Ab’Saber (2003) propõe a necessidade da interação e da imbricação entre a
ecologia social e as peculiaridades do metabolismo urbano nas aglomerações urbanas para a
evolução dos problemas da ecologia urbana. Nesse sentido, o autor expõe que

Pode-se dizer que a nova ecologia urbana compreende o estudo das formas de
projeção da sociedade e das funções econômico-sociais sobre o espaço e o
ambiente das cidades, envolvendo a funcionalidade do organismo urbano em
todos os sentidos. Nessas condições, faz-se necessária uma seriedade maior dos
acadêmicos, técnicos e governantes, no conhecimento integrado dos
ecossistemas urbanos. De agora em diante, todas as lideranças vinculadas às
tarefas de gerenciamento de uma determinada porção do território têm de
visualizar o mosaico dos sistemas ecológicos que participam da organização da
dinâmica do espaço de sua responsabilidade mais direta. Não se trata de excluir
os estudos de ecologia social metropolitana, mas de realizar acréscimos
indispensáveis para o entendimento de propostas objetivas destinadas à solução
das questões ambientais nas áreas de grandes concentrações de homens e
atividades econômicas do mundo urbano-industrial (AB’SABER, 2003, p. 54).

A partir da revisão bibliográfica exposta, foi possível identificar as diretrizes de desenho


urbano referentes ao Metabolismo e à Ecologia Urbana e categorizá-las. Para recapitular, a
classificação foi feita conforme indicado na abordagem metodológica desta pesquisa: de acordo

107
com escalas urbanas – P, M e G – e de acordo com sua relação com os serviços ecossistêmicos
urbanos, conforme pode ser visto no Quadro 12.

Quadro 12 – Diretrizes de Desenho Urbano para Ecologia e Metabolismo Urbano

REGULAÇÃO

CULTURAL
PROVISÃO

SUPORTE
DIRETRIZES DE DESENHO URBANO PARA O METABOLISMO E A ECOLOGIA
REFERÊNCIA
URBANA

Douglas (2011, p. 148;


561-566); Wu (2014, p. Usar infraestruturas urbanas que aumentam a permeabilidade do solo P P
214-217)
Douglas (2011, p. 102;
274; 538); Wu (2014, p. Criar corredores de conectividade de áreas verdes nas cidades G G G G
214-217)
Douglas (2011, p. 148; Projetar áreas de absorção, retenção, tratamento biológico e reuso de água
M M M
561-566); pluvial
Bai e Schandl (2011, p.
Projetar infraestrutura urbana e edifícios de alto desempenho energético e
28), Baccini (1997, p. P P
visando a estabilização do uso de energia derivada de combustíveis fósseis.
58)
Endlicher et al. (2009,
Otimizar funções ecológicas ao longo das rodovias G G G
p. 9)
Endlicher et al. (2009,
Reutilizar antigos edifícios e infraestrutura - retrofit M M
p. 9)
Bai e Schandl (2011, p.
Usar princípios da ecologia industrial no desenho urbano G G G G
28)
Douglas (2011, p. 102;
236); Wu (2014, p. 216- Projetar grandes áreas verdes para melhoria da biodiversidade G G G G
217)
Baccini (1997, p. 64) Projetar considerando o ciclo de vida dos materiais da construção M M M
Yang (2018, p. 8) Projetar infraestrutura urbana com equipe transdisciplinar G G G G

Yang (2018, p. 3) Projetar a partir de informações geoespaciais e impactos ecológicos e sociais G G G G

Fonte: Elaboração da autora.

3.3. Urbanismo Ecológico

O Urbanismo Ecológico tem sua origem na Escola de Urbanismo de Paisagem e também


na Escola de Chicago, por apresentar tendências evoluídas da ecologia urbana (STEINER,
2011). Considerando que as bases teóricas da ecologia urbana foram discutidas no item anterior,
inicia-se a discussão dessa perspectiva com uma breve explanação sobre o Urbanismo de
Paisagem.
Termo cunhado por Charles Waldheim, estudante de arquitetura da Universidade da
Pennsylvania na década de 1980, o Urbanismo de Paisagem influenciou James Corner e Ian
McHarg, envolvidos em discussões acerca da arquitetura da paisagem. Waldheim identificou um
campo comum, que integrava a defesa ecológica de McHarg à visão de desenho urbano de
108
Corner e indicava a paisagem como a base fundamental para o projeto da cidade (WALDHEIM,
2006; STEINER, 2011).
Enquanto Corner propõe um Urbanismo de Paisagem voltado à prática do projeto de
parques em grandes áreas urbanas, envolvendo áreas verdes e preservação de espécies, McHarg
aborda sistemas urbanos em grandes escalas e que envolvem dinâmicas sociais e ecológicas. Um
exemplo do trabalho de McHarg é a estruturação do Plano Diretor de The Woodlands através
do sistema de drenagem de águas pluviais. Outros urbanistas que seguem a escola do Urbanismo
de Paisagem mantêm o interesse em projetar espaços urbanos para que pessoas e natureza
ocupem-no, enfocando as possíveis dinâmicas sociais, culturais e ambientais que possam ocorrer
nesses espaços (STEINER, 2011).
Essa evolução do Urbanismo de Paisagem recebe duas diferentes terminologias nos anos
2000: eco urbanismo e urbanismo ecológico. Miguel Ruano (2000) apresenta o termo eco
urbanismo, que corresponderia aos primórdios do urbanismo ecológico que se conhece
atualmente. O eco urbanismo define o desenvolvimento de comunidades humanas
multidimensionais sustentáveis no centro de entornos urbanos edificados equilibrados; é uma
nova disciplina que articula múltiplas e complexas variáveis que intervêm sistematicamente no
desenho urbano, superando o urbanismo tradicional e apresentando uma visão integrada e
unificada do urbano (Ruano, 2000). Em sua obra, Ruano (2000) seleciona 60 projetos urbanos
exemplares para o desenvolvimento sustentável, divide-os e apresenta-os em sete variações eco
urbanas: mobilidade, recursos naturais, participação, comunidade, eco resorts, revitalização e
telepovos. Na explicação da variação participação, em que discute a necessidade de participação
da comunidade local no desenvolvimento do projeto e do planejamento urbano da sua região,
ele fala sobre visão ecossistêmica do eco urbanismo. A cidade ideal deveria ser considerada um
ecossistema em que a comunidade habitada pelos seres vivos, seu entorno e sua estrutura física
funcionam como uma unidade ecológica equilibrada, em que serviços ecossistêmicos urbanos
tenham equilíbrio entre oferta e demanda e contribuam para a qualidade de vida urbana.
As referências bibliográficas apontam que o termo Urbanismo Ecológico foi usado pela
primeira vez em 2003, na conferência da Universidade de Oregon, e posteriormente, em 2006,
no artigo de Jeffrey Hou, Hybrid Landscapes: toward an inclusive ecological urbanism on Seattle’s Central
Waterfront. A partir de 2007, o diretor da Harvard University Graduate School of Design, Mohsen
Mostafavi, iniciou a recente frequência de uso do termo, no capítulo intitulado “Ecological
Urbanism”, do livro Intervention Architecture, editado por Pamela Johnston e Rosa Ainley (2007).

109
Desde então, Mostafavi começou um projeto de pesquisa na escola em que é diretor. Em
2009, o pesquisador promoveu a conferência “Ecological Urbanism: alternative and sustainable cities
of the future”, com a ideia de discutir as possíveis soluções para que o urbanismo seja, de fato,
ecológico. Segundo Herzog (2009),

A conferência reuniu um número expressivo de renomados cientistas,


pesquisadores, profissionais e estudantes de diversos campos do
conhecimento, como: planejadores urbanos e regionais, urbanistas, arquitetos,
paisagistas, ecólogos, engenheiros, especialistas em saúde pública e
economistas. Participaram também políticos locais (HERZOG, 2009, p. 1).

O fechamento da conferência foi o consenso de que o urbanismo ecológico deve


procurar caminhos nos ecossistemas naturais, nas interpelações das paisagens através da
interdisciplinaridade (HERZOG, 2009). A busca por soluções urbanas sustentáveis continuou
e menos de um ano após a conferência, Mostafavi e Doherty lançaram o livro Urbanismo Ecológico
(2010).
Este livro assemelha-se ao Urbanismo Sustentável de Faar (2013), porque também é um
compilado de contribuições de profissionais do mercado de diversas áreas, mas, sobretudo, da
arquitetura e do urbanismo, com o objetivo de fornecer um entendimento multidisciplinar,
diverso e diferenciado sobre o Urbanismo Ecológico. A proposta é explorar abordagens
alternativas entre ecologia e arquitetura, arquitetura da paisagem, planejamento e desenho
urbano. Essa exploração é feita através de exemplos de projetos selecionados, que, de acordo
com o autor, representam a aplicação da teoria do Urbanismo Ecológico nas cidades.
Na introdução do livro, Mostafavi e Doherty (2010) criticam os maus exemplos de
arquitetura sustentável, com o uso de tecnologias inacessíveis para grande parte da população
global e indicam que o livro proporciona um referencial de soluções para a complexidade das
relações urbanas. Os exemplos explicados ao longo do livro demonstram integração entre as
complexidades urbanas, porém são projetos de escritórios de arquitetura consolidados, que
recorrem ao uso de alta tecnologia, mantendo a ideia da inacessibilidade global das soluções.
Apesar disso, o Urbanismo Ecológico pode ser considerado a perspectiva mais
integradora entre as que veem a cidade como um ser vivo. É possível, inclusive, dizer que é a
perspectiva que mais se aproxima à visão da cidade como um ecossistema, pois, além de integrar
diversas disciplinas e ter a Escola de Chicago e o Urbanismo de Paisagem como bases teóricas,
o Urbanismo Ecológico prevê a integração dos serviços ecossistêmicos ao território urbano.

110
O livro é dividido em doze partes e três blocos: prever, colaborar, sentir e curar; produzir,
colaborar, interagir, mobilizar; e medir, colaborar, adaptar e incubar. A parte do “prever”
apresenta a questão da necessidade do urbanismo avançar no sentido da engenharia e da política
para que se consiga alcançar a sustentabilidade (KOOLHAAS, 2010) e indica que esse avanço
pode acontecer quando o urbanista conseguir calcular o tempo ambiental – meio de ação ou
veículo da intervenção – que alcança o equilíbrio momentâneo para que ele se torne equilíbrio
ambiental ou cenário permanente da sociedade autorreformadora (BECK, 2010) através da
linguagem, da paisagem e da relação entre a memória e o presente (BHABHA, 2010).
Esse equilíbrio ambiental não pode ser encontrado ou resolvido em oficinas de
sustentabilidade, ambientalismos, pesquisas ou reformulações de políticas públicas, mas deve
colocar o destino da humanidade no centro do contexto ambiental. Kwinter (2010) propõe a
arquitetura e o urbanismo como instrumentos que funcionam a maneira de um polo organizador
das diversas disciplinas e sistemas de conhecimento que podem conectar fins políticos, criativos
e formais, uma vez que soluções ecológicas isoladas no tempo e no espaço não fazem das
cidades sustentáveis.
O primeiro bloco do “colaborar” está vinculado às atividades transdisciplinares do
urbanismo, como trabalhos artísticos que colaboram com: o entendimento da teoria do
urbanismo ecológico (BRUNO, 2010); a metáfora da cidade como um organismo vivo (BUELL,
2010); a integração racial e econômica (COHEN, 2010); as transformações espaciais e
institucionais (COHEN; NAGINSKI, 2010); as tecnociências como processos contínuos de
transformação física e mental (CONLEY, 2010); a revitalização e a eficiência energética das
edificações (COTT, 2010) e a agricultura urbana como fomento para geração de renda,
mobilização cívica e integração com a natureza e a cultura (CRAWFORD, 2010).
A parte do “sentir” é formada por textos relacionadas aos sentidos que são despertados
pelo urbano. Os cheiros são colocados como componentes para a definição e orientação de
ambientes e há a sugestão para que sejam considerados nas normativas urbanas, assim como
são considerados os níveis de ruído (TOLAAS, 2010). De acordo com Tolaas (2010), as
moléculas odoríficas são como moléculas de DNA de um lugar, de forma que, para considerar
ou realçar sua identidade, é preciso desenhar enriquecendo as experiências sensoriais.
Os sensores de condições climáticas, qualidade do ar e sonora, de localização e
identificação de lixo ou sensores multifuncionais para bicicletas devem ajudar na compreensão
das dinâmicas e da saúde de uma cidade e seus cidadãos. Com eles, é possível fazer o
monitoramento do desempenho da rede analisada, como por exemplo o rastreamento de
111
embalagens ou o desempenho físico de ciclistas. Um dos desafios do uso de sensores de
monitoramento é o de conectá-los à infraestrutura com acesso em tempo real, como foi
realizado no projeto “CitySense”: conexões sem fio entre sensores e servidor central
possibilitam acesso da comunidade acadêmica à plataforma aberta e programável (WELSH;
BERS, 2010; OUTRAM; BIDERMAN; RATTI, 2010).
Volgelzang (2010) apresenta o projeto “Urban Eco”, que estuda a distância que o
alimento viaja antes de chegar à mesa, e alerta para a necessidade de priorizar o consumo local,
através da agricultura urbana. Nesse sentido, Doherty (2010) complementa a diretriz,
ressaltando a proximidade das áreas verdes agricultáveis a fontes de água.
No sentido da noção de pertencimento e identidade de um lugar, Jerram (2010) apresenta
o projeto “Toque-me, sou teu”, em que objetos são colocados em locais estratégicos, com o
objetivo de catalisar a conexão entre desconhecidos. Shapins et al. (2010) apresentam o projeto
“Mapeando Main Street”, em que é feito um mapeamento fotográfico da história das mais de
mil main streets que existem nos Estados Unidos.
A parte do “curar”, Kirkwood (2010) expõe a ideia da criação de uma normativa urbana
que dite como os recursos naturais devem ser entendidos e utilizados para que a paisagem
cultural de uma cidade possa ser formada a partir da relação equilibrada entre humanos e meio
ambiente local. Nesse sentido, Mathur e Cunha (2010) apresentam as paisagens informais de
Mumbai, formadas a partir da relação entre o mar e o território: em um local de estuário com
monções, devem ser usadas técnicas de prevenção contra enchentes associadas a mecanismos
de absorção e de resiliência do fenômeno, como tanques corrugados para filtragem, tratamento
da água ou tratamento de esgoto conectado por travessas, como o Projeto da Figura 31.

112
Figura 31 – Infográfico do Projeto de travessia do aeroporto de Mumbai

Fonte: Mathur e Cunha (2010, p. 206-207).


Na temática dos recursos hídricos, Cingapura é um exemplo de gestão de captação de
água pluvial, com projetos ecológicos e áreas de lazer integradas. Para reduzir a velocidade com
que a água de chuva chega no rio, foram adotadas normativas que incentivam os telhados verdes,
113
os jardins pluviais, além da implantação de biótopos, limpadores e filtros e sistemas aquíferos
com pontos de encontro e conexão de grupos.
Figura 32 – Seção de Cingapura
A Figura 32 representa as seções de
Cingapura: a primeira, em períodos de seca,
e a segunda, em períodos de chuva, com
picos extremos de cheia; ambas sem as
intervenções projetadas. A terceira e a
quarta seções representam o fluxo da água
de chuva com velocidade controlada
através das infraestruturas verdes. O fluxo
deve ser regulado, com picos mais baixos
(DREISEITL, 2010).

Fonte: Dreiseitl (2010, p. 217).

O escritório Hood Design (2010) apresenta três propostas para do concurso “Center
Street Plaza” em Berkeley, Califórnia. A ideia central foi a de explorar o potencial do córrego
local, permitindo acesso a veículos comerciais e emergenciais e ao convívio social através do uso
de pavimentos permeáveis e orgânicos. Cada proposta usou a água de uma maneira diferente:

114
como chafarizes e jardins pluviais, com limitação e aberturas do córrego; com piscinas pluviais
alternadas e com canalização e trechos abertos, em forma de parque linear.
Hodson e Marvin (2010) indicam que o Urbanismo Ecológico deve propor soluções
tecnológicas e estruturas de mercado para avançar em relação às mudanças climáticas e à
limitação dos recursos naturais. Para isso, o projeto deve ser espacial e temporal, específico para
o local, de modo que a ecologia e a economia combinem-se a favor da ecotectônica autônoma
integrada: meio ambiente e infraestrutura que internalizam no empreendimento energia, água,
alimentos, resíduos e demais fluxos materiais através do conhecimento de arquitetura,
urbanismo, ecologia e tecnologia. Os autores também expõem a segurança ecológica:
reconfiguração de cidades e estruturas que visam assegurar a capacidade de garantir os recursos
naturais e o descarte de resíduos, para manter o desenvolvimento econômico e social, proteger
as cidades dos impactos das mudanças climáticas e da escassez de recursos, desenvolver
autarquia para o fornecimento de água, energia e mobilidade.
Também se configura como um processo de cura urbana a ficção científica que localiza
com inteligência e criatividade a interseção entre tecnologia e urbanismo, sob o selo da ecologia.
As estratégias são projetos para pessoas encaixarem-se simbioticamente em seus entornos
naturais, como o projeto “Fab Tree”, em que foi projetada uma casa comestível a partir de fibras
vegetais, como pode ser visto na Figura 33 (JOACHIM, 2010).

Figura 33 – Fab Tree Hab

Fonte: http://www.archinode.com/Arch9fab.html.

115
No sentido da simbiose, Hilal, Petti e Weizman (2010) apresentaram o projeto para uma
antiga ocupação militar em uma colina da cidade palestina de Beit Sahour, uma área de rota de
pássaros. Após desmilitarização da área, os edifícios tiveram um processo acelerado de
degradação, com desintegração e invasão de plantas. Então, foi proposta uma intervenção que
fez uma série de furos padronizados nas paredes das edificações – Figura 34 – com o objetivo
de facilitar a ocupação de aves durante a migração e de espécies locais no restante do ano.
Além de proporcionar a volta do habitat natural desses animais, o projeto também
reorganizou a paisagem através do redirecionamento das barreiras fortificadas, de forma a
soterrar parte dos edifícios sob o entulho de suas próprias fortificações. Cabe salientar também
que existe uma ação judicial em andamento pelos direitos dos pássaros, a fim de viabilizar a
concretização desse projeto.

Figura 34 – Projeto para edificação em Beit Sahour com e sem intervenção

Fonte: Hilal, Petti e Weizman (2010, p. 232).

Outro exemplo de um edifício projetado como um organismo vivo é o Harmonia 57, do


escritório Triptype. O edifício respira, transpira e modifica-se através das paredes verdes e da
coleta de água de chuva, com tratamento e reuso, conforme indicado na Figura 35 (TRIPTYPE,
2010).

116
Figura 35 – Sistema de coleta, tratamento e armazenamento de água pluvial – Harmonia 57

Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/01-16694/harmonia-57-triptyque.

Com vistas a melhorar o subsolo da cidade de Helsinki, foi lançado o concurso


“Low2No”, que trouxe propostas estratégicas para comunidades emitirem pouco ou nenhum
carbono. Uma equipe multidisciplinar propôs um sistema de subsolo fabricado com entulho de
construções da cidade a fim de melhorar a condição de vida do ecossistema local
(VALKENBURGH, 2010).
A parte do “produzir” começa com a questão das subestruturas, supraestruturas e
infraestruturas energéticas de Addington (2010). O autor defende que o empreendimento com
neutralidade de carbono não pode ser resolvido na escala do edifício. Em termos energéticos,
“[...] é necessário um planejamento abrangente de geração, distribuição e consumo de energia
em múltiplas escalas espaciais e por meio de múltiplos sistemas” (ADDINGTON, 2010, p. 244).
Para o projeto urbanístico energeticamente eficiente, aquele autor propõe que devem ser
investigados: o mapeamento energético da geração de energia, os sistemas de corrente contínua
117
e consumidores, a otimização das escalas dos sistemas energéticos, os dissipadores de calor e o
consumo diferenciado. Essas cinco fronteiras funcionais emanam da ideia da dissociação dos
sistemas das geometrias prediais, de forma que os sistemas energéticos e os consumidores são
as unidades apropriadas para avaliar o desempenho energético.

Figura 36 – Diagrama de fontes de energia utilizadas e perdas

Fonte: Addington (2010, p. 249).

Ainda ao tratar de energia, o projeto “Soft Cities”, do escritório KVA MATx (2010),
concebe uma rede de energia limpa que abastece parte da infraestrutura urbana e algumas
residências. O sistema mobiliza uma série de sistemas têxteis de captação de energia solar através
de um nanomaterial. De acordo com representantes do escritório, a experiência de captar
energia com têxteis solares cria uma infraestrutura compartilhada que conecta a extensão urbana
horizontal, das coberturas, ao sistema doméstico de circulação vertical.
Dunster (2010) apresenta o projeto da ZEDFactory, representado pelo BedZED (Figura
37), em Londres, que possui sistema de isolamento térmico, aquecimento solar e painéis
fotovoltaicos. Nessa comunidade, os moradores não precisam se adaptar às mudanças de estilo
de vida, mas serem eles próprios as mudanças. O projeto mostra que é possível aumentar a
densidade urbana e produzir melhorias na qualidade de vida.

118
Figura 37 – Infraestruturas e tecnologias sustentáveis da BedZED

Fonte: https://www.zedfactory.com/bedzed.

A ecocidade Logroño, projetada pelo escritório MVRDV (2010), também é focada em


energia renovável e compacidade. Toda a energia para abastecer a comunidade é gerada no local,
através de uma combinação de energia solar e eólica. Também existe coleta, tratamento e reuso
de águas cinzas e veículo elétrico de transporte coletivo.
O escritório Vector Architects (2010) apresenta o CR Land Guanganmen, um showroom
de tecnologia verde, projetado e construído para permanecer no local por três anos. Nele, foram
usados: estrutura em aço, painéis verticais e horizontais para plantação, pensando na forma mais
rápida e eficiente de construção, demolição e reaproveitamento de materiais.
Imbert (2010) alerta para a necessidade da produção de alimentos no meio urbano. Os
impactos negativos das distâncias que os alimentos percorrem para chegarem até as mesas são
muitos e incluem o custo energético e o uso de produtos químicos para conservação dos
alimentos. Hortas familiares, hortaliças e árvores frutíferas plantadas em áreas urbanas
desocupadas são exemplos de recuperação pontual da agricultura no meio urbano. Existe
também o potencial em considerar a agricultura urbana como um método de estruturação do
planejamento urbano, em que a paisagem desempenha um papel ecológico estrutural espacial
para o desenvolvimento do urbano.
Outro exemplo voltado para a produção urbana e caseira de alimentos é exposto por
Lehanneur e Bossche (2010), um equipamento chamado Local River. É um aquário para
produção de peixe associado a uma pequena horta irrigada pela própria água do aquário.
Também há o exemplo da La Tour Vivante, uma torre que integra agricultura e produção de

119
energia através de geradores eólicos, painéis fotovoltaicos, captação, tratamento e reuso de água
da chuva, cinzas e negras, além de uso de materiais ecológicos (SOA ARCHITECTS, 2010).

Figura 38 – Projeto La Tour Vivante

Fonte: https://www.soa-architectes.fr/.

Yu (2010) sugere que, devido ao aumento populacional dos centros urbanos, é preciso
adotar duas estratégias para guiar as cidades sustentáveis do futuro. Uma delas é o
desenvolvimento urbano baseado na infraestrutura ecológica em diversas escalas. Para isso, a
cidade deve ser entendida como um ser vivo e, assim, deve-se reconhecer sua infraestrutura
ecológica – rede de paisagem estrutural – que assegura serviços ecossistêmicos: produção
alimentar e água limpa; regulação de clima, doenças, enchentes e secas; proteção dos ciclos de
nutrientes e habitats naturais e fomento à cultura e recreação.
A outra estratégia de Yu (2010) é usar a estética para permitir a aplicação do urbanismo
ecológico. Como exemplos, são citados: os jardins flutuantes de Yongning, o campo de arroz
da Universidade de Arquitetura de Shenyang, o parque do estaleiro Zhongshan, as paletas
adaptáveis do parque Qiaoyuan e o Parque Red Ribbon, no rio Tanghe, que pode ser visto na
Figura 39.

120
Figura 39 – Parque Red Ribbon – rio Tanghe

Fonte: https://www.archdaily.com.br/.

Chega-se então na segunda parte do “colaborar”. Para Edmondson (2010), a colaboração


urbana está voltada para a integração entre os diferentes especialistas de forma a integrar o
conhecimento funcional. O urbanismo ecológico toma forma a partir do aprendizado
colaborativo, criando e implementando novas tecnologias e novos contratos sociais voltados
para a concretização de suas diretrizes.
David Edwards (2010) apresenta a proposta de um filtro vivo para purificação do ar em
ambientes internos que direciona o ar através da água, passando pelas folhas das plantas e pela
terra e faz com o que o ar filtrado volte ao ambiente. Nesse exemplo, a colaboração é resultado
da integração entre planta, terra, ar e água.
Fainsten (2010) propõe outro tipo de colaboração, em que a Ecologia Urbana deve
intensificar a interação entre pessoas e lugares com o objetivo específico de amenizar a tensão
existente entre o desenvolvimento imobiliário, a equidade social e a proteção ambiental. De
acordo com o autor, as cidades compactas, apesar de trazerem benefícios ambientais
relacionados à redução da emissão de gases de efeito estufa, também são responsáveis pelo
aumento do valor dos imóveis em áreas centrais. Isso ocorre principalmente quando a
compacidade está em cidades com grande desigualdade social (UN-HABITAT, 2016).

121
Frug (2010) reconhece a estrutura administrativa da cidade como o problema mais grave
da transformação urbana para implementar agendas ecológicas. Uma administração que possui
instâncias de permissões que variam entre cidade, estado e federação possui poucas chances de
avançar nos objetivos de desenvolvimento sustentável. Por isso, a mudança deve abranger todas
as dimensões e todas as escalas urbanas, inclusive a administrativa municipal, estadual e federal.
Uma nova ordem urbanística também está em pauta para Ingber (2010), que aponta que,
para o urbanismo ecológico ser estabelecido em sua essência, é preciso harmonia entre pessoas,
edifícios, cidades e o ambiente natural. Isso é o contrário do que ocorre na atualidade, com
edifícios projetados e construídos isoladamente e sem muitas preocupações ambientais.
Segundo Ingber (2010), os materiais e a forma usados nas construções são insuficientes para
garantir que os recursos naturais e a qualidade de vida para a sobrevivência da espécie humana.
Por isso, as cidades deveriam ser tratadas como os sistemas vivos, que desenvolvem
maneiras de mudar suas formas e funções a fim de sobreviverem (INGBER, 2010), assim como
acontece na autopoiese com a autorregulação e com a resiliência. A começar pelos edifícios,
que, de acordo com o autor, poderiam incorporar mecanismos e materiais inspirados na
biologia. Mas, para isso, “É preciso que designers de materiais e produtos trabalhem junto com
arquitetos, engenheiros e biólogos de maneiras como nunca fizeram antes” (INGBER, 2010, p.
309).
A parte do “interagir” começa com um texto de Forman (2010) sobre áreas verdes
naturais e áreas verdes urbanas e o processo de degradação. Os princípios da ecologia urbana
podem trazer intervenções urbanas que recuperem áreas degradadas através de planejamento e
desenho urbano.
Outros princípios da ecologia usados no desenho das cidades são: ecologia estruturada,
que projeta uma região para ser usada com diversas funções e em diferentes tempos; ecologias
análogas, que imitam comportamentos responsivos dos sistemas vivos; ecologias híbridas, que
utilizam sistemas que mobilizam dinâmicas e forças humanas e não humanas; e ecologias
controladas, que estruturam maneiras de controlar e produzir. A ecologia deve ser um agente
que mobiliza as tecnologias, as políticas públicas e as dinâmicas sociais e culturais.

122
Figura 40 – Infraestrutura da cidade de Nova York

Fonte: Niemann (2010, p. 330-331).

O interessante da ilustração de Niemann (2010), demonstrada na Figura 40, é que a


infraestrutura da cidade de Nova York, apesar de aparecer com toda a complexidade associada
a organismos vivos, falha nos outputs. Não há resíduos, recicladoras, fluxos de trocas ou rejeitos.
Resta saber se o ilustrador assim idealizou ou se esse esquecimento faz parte do subconsciente
coletivo da atualidade, que ainda não possui a noção da complexidade multidimensional e
multiescalar do urbano.
Bélanger (2010) expõe sobre o estado de deterioração da infraestrutura urbana atual e
propõe medidas que possam reverter a situação, como métodos de reengenharia ecológica, com
projetos flexíveis e operações circulares; sinergias de infraestrutura; redesenvolvimento do
território; planejamento para as situações de risco e projeto tendo a bacia hidrográfica como
unidade de planejamento. Felson e Pollak (2010) seguem essa linha e afirmam que existe pouca
compreensão do ambiente urbano em termos ecológicos.
123
Rueda (2010) indica que as disfunções urbanas são abordadas com perspectivas limitadas,
pois o planejamento urbano tradicional opera em plano bidimensional – solo e subsolo -, e que
a visão holística sobre o urbano pode estimular um desenvolvimento mais sustentável. Uma
possibilidade seria operar o planejamento urbano em três níveis – subsolo, solo e nível superior:

Quadro 13 – Planejamento Urbano em três níveis


Subsolo Solo Superior
Biodiversidade Terra Árvores Cobertura Verde
Metabolismo Urbano Tubulações subterrâneas Captação de água de Colete de energia solar,
chuva eólica e geotérmica
Serviços e Logística Tubulações subterrâneas Plataformas para Armazenamento de
distribuição de mercadorias
mercadorias
Mobilidade e Transporte coletivo de Ruas, avenidas, Viadutos e passarelas
Funcionalidade massa corredores, calçadas e
ciclovias.
Espaço Público Áreas abertas com
funções públicas
Complexidade Urbana e Integração de sistemas de Cidade compacta Verticalidade
sociedade infraestrutura
Fonte: Adaptação pela autora de Felson e Pollak (2010, p. 365-366).

Ainda sobre a necessidade da inovação no desenho das cidades, Vegara et al. (2010)
sugerem desenhar a cidade a partir de seus indicadores e de suas competências, com o uso da
cartografia. A cartografia crítica revela as relações estruturais e espaciais existentes entre as partes
da cidade e a distribuição das atividades urbanas e fatores não físicos, como características
demográficas, sociais e econômicas.
Outro exemplo de inovação que o Urbanismo Ecológico traz é o programa
Greenmetropolis, que propõe desenhos urbanos sustentáveis em regiões de aglomerações
urbanas pós-industriais. Em Düren, esse programa promoveu a transformação de uma mina a
céu aberto em um parque linear entre Alemanha e Holanda, o Parque Horse. Assim o programa
pretende reabilitar diversas regiões de antigas minas de carvão, assentamentos de mineração e
depósitos a céu aberto em áreas residenciais e comerciais, de forma a conectar centros de
atividades e paisagens naturais (BAVA et al., 2010).
A parte do “mobilizar” começa com um texto de Sommer (2010), que questiona sobre a
conciliação entre o urbanismo ecológico e a cultura da liberdade de movimento e de associação
e sobre a necessidade de mudança na organização e no padrão do desenvolvimento urbano para
a sustentabilidade frente a cidade moderna industrial, com seu sistema fragmentado de

124
infraestrutura e desenvolvimento imobiliário. Sommer (2010) sugere que existem outras formas
de planejar uma cidade democrática, com mobilidade e responsabilidade ecológica.
Nesse sentido, Mitchell (2010) apresenta algumas mudanças no planejamento da
mobilidade urbana que visam à sustentabilidade, com operações integradas e sistemas de energia
eficientes e leves, com inteligência digital e controle em tempo real. Motocicletas elétricas,
veículos dobráveis e elétricos, que economizam espaço e minimizam ou eliminam a emissão de
gás carbônico, sistema de recarregamento, integração entre veículos elétricos e redes elétricas
inteligentes e sistemas de mobilidade sob demanda, tudo com suporte computacional, são as
diretrizes que Mitchell (2010) propõe para a mudança da mobilidade urbana.
Em contrapartida à cultura da mobilidade particular e individual, Parolotto (2010) afirma
que um planejamento e um desenho urbano que priorizem o transporte público, como
adensamento populacional e multiplicidade de atividades e serviços, podem ser a solução
sustentável para a cidade.
Duany (2010), o mesmo do Urbanismo Sustentável e do Novo Urbanismo, dá sua
contribuição no Urbanismo Ecológico no texto “Uma teoria geral do urbanismo ecológico”,
em que discorre sobre a necessidade da mudança geral em busca da sustentabilidade. De acordo
com o autor, as crises da atualidade – mudanças climáticas, alta do preço do petróleo e
evaporação da riqueza nacional – estão diretamente associadas ao estilo de vida – principalmente
o norte-americano, que se globaliza – chamado de dispersão suburbana.
Duany (2010) fala sobre um acordo em usar o termo Urbanismo Ecológico, como se o
Urbanismo Sustentável estivesse sido englobado. Porém, não há outros registros de que são
sinônimos ou de que estão contidos um no outro. Ao mesmo tempo, o autor fala sobre os
candidatos ao Urbanismo Ecológico, indicando o Urbanismo Irresponsável de Koolhaas32, o
Novo Urbanismo e o Urbanismo de Paisagem como concorrentes ao Urbanismo Ecológico,
sob o pretexto de que ainda não existe um consenso de discurso.
O motivo de Duany (2010) manter o Urbanismo Irresponsável como um dos
concorrentes ao Urbanismo Ecológico, em sua visão conceitual, é que uma das funções desse
último é ser vendável, relativamente barato e fácil de administrar. Ter características econômicas
que garantam a viabilidade é, com certeza, um dos pressupostos para garantir o sucesso das
diretrizes de desenho urbano sustentável. Porém, ser vendável parece entrar em uma esfera de

32
Urbanismo Irresponsável foi um termo usado por Rem Koolhaas no livro Atlanta (1996).
125
especulação imobiliária que não deve estar relacionada à sustentabilidade urbana e que remete,
sem dúvida, ao caráter comercial do Urbanismo Sustentável e do Novo Urbanismo.
Ainda assim, vale expor aqui que Duany (2010) defende que a Teoria do Transecto Rural-
Urbano do Novo Urbanismo é elucidativa do Urbanismo Ecológico, porque, em qualquer
ponto do transecto, “[...] a densidade agregada da diversidade social e natural após a urbanização
deve ser aproximadamente igual ou maior à densidade da diversidade natural antes da
urbanização) (p. 410). Dessa forma, para ele, essa equação pode validar se é justa ou não a perda
da natureza para dar espaço a uma área urbanizada.
Também é consenso para Robbins (2010) a necessidade de mudança generalizada para
alcançar a sustentabilidade urbana. Para esse autor, os primeiros passos em direção a uma cidade
mais verde devem ser: definir os critérios para constitui-la e os locais de mudanças, quem irá
realizá-las e para quem serão, como serão pagas e quais os conhecimentos ambientais deverão
ser considerados. Ou seja, para Robbins (2010), o Urbanismo Ecológico é uma mobilização
política.
Schulz et al. (2010) apresentam o modelo SynCity de sistema energético urbano: uma
plataforma de modelagem integrada que cria modelos de projetos urbanos e configurações
alternativas para otimizá-los, com representações espaciais e temporais dinâmicas das atividades
que consomem energia e seus efeitos sobre os sistemas de fornecimento e demanda. Os modelos
possuem uma camada para o uso do solo e o layout urbano, uma camada para o sistema de
transporte e outra camada para a tecnologia de recursos e rede de serviços, e atuam como uma
ferramenta de planejamento e de desenho urbano para simular novas tecnologias.
Viñoly (2010) sugere uma nova tecnologia de transporte, a upway, representada na Figura
41, que seria uma via elevada dedicada a veículos elétricos para até dois passageiros, que pode
aumentar a capacidade do sistema viário em 40% e diminuir as emissões de carbono do sistema
de trânsito em até 30%. As upways poderiam ser acessadas em estacionamentos localizados em
paradas de ônibus e estações de metrô.

126
Figura 41 – Projeto The Upway

Fonte: Viñoly (2010, p. 428-429).

Herzog e De Meuron (2010) também visam iniciativas inovadoras de modos de agir


sobre as condições locais para estimular oportunidades iguais e autoiniciativas, quando orientam
doutorados que exploram facetas da cidade de Nairóbi. Nessas pesquisas, são abordadas
questões relacionadas ao viver, trabalhar, comprar, mover-se, aprender e bem-estar.
A parte do “Medir” está relacionada aos indicadores de desenho urbano sustentável e
começa com Boeri (2010) explicando sobre políticas públicas urbanas de grande escala que
apresentam a ecologia urbana como um modelo inovador de desenvolvimento econômico
urbano. Essas políticas públicas têm o objetivo de obrigar autoridades locais a oferecerem
fundos para subsidiar intervenções imobiliárias sociais. Com o propósito de evitar que o
crescimento urbano avance sobre as reservas naturais e a terra agrícola das periferias urbanas,
os autores sugerem que sustentabilidade e democracia sejam políticas que ocorram de forma
integrada.
Sayler (2010) apresenta o projeto Canary, que é responsável por coletar a água na estação
das chuvas do lago Parón, nos Andes peruanos, e drená-la durante a estação seca, a fim de
assegurar os recursos hídricos para o futuro. Esse pode ser um dos exemplos do que Hagan
127
(2014) considera o binário quantidade-qualidade, que está associado às questões naturais e
culturais e a como o homem relaciona-se com elas. Um tipo de relacionamento é a análise
métrica, que indica as prioridades ambientais.
Cheng e Steemers (2010) estudam a relação entre a Londres urbana e sua região
suburbana e rural. O objetivo do estudo é buscar meios para revitalizar e melhorar as
aglomerações pós-industriais ao longo do rio Tâmisa em direção ao seu estuário, reconectando
moradores com a natureza através de parques. Essa necessidade diagnosticada busca também a
agricultura e a promoção da identidade comunitária.
A parte “colaborar” do terceiro bloco começa com dois textos de Alex Krieger (2010) e
Nancy Krieger (2010), autores do Novo Urbanismo. Enquanto Alex expõe a responsabilidade
social e as tecnologias frente à sustentabilidade ambiental, Nancy aborda a questão da saúde
pública, que o urbanismo ecológico e a equidade na saúde devem ser interligados através da
melhoria das condições de vida e da distribuição igualitária do poder, do dinheiro e dos recursos.
No sentido da mudança de estilo de vida, Pollalis (2010) indica que a produção de dióxido
de carbono é estratificada por classe social. Por isso, planejadores do urbano devem centrar a
atenção na promoção da mudança de estilo de vida e na escala urbana em que atuam, assim
como no projeto e na tecnologia, ao contrário do que se prega no estilo de vida norte-americano.
Picon (2010) apresenta um estudo feito sobre as infraestruturas urbanas como suporte
para circulação de fluxos urbanos e como possíveis promotoras de reavaliação do papel da
natureza na cidade. Isso porque o estudo indicou que muitas infraestruturas urbanas em desuso
passam a ser habitat de animais em risco de extinção – no caso da Europa.
Moore (2010) e Schwartz (2010) discorrem sobre a necessidade de a paisagem urbana ser
atraente para ser valorizada pelos cidadãos. Dessa forma, é possível criar vínculos de conexão
emocional que fazem com que a paisagem pública possa propiciar de sistemas sociais e naturais
funcionarem.
A parte do “adaptar” está voltada à resiliência urbana: “[...] a habilidade de se recuperar
da perturbação, ajustar-se às mudanças e funcionar em estado saudável” (LISTER, 2010, p. 539).
São apresentadas pesquisas, projetos e implantações de intervenções urbanas que podem
promover a adaptação das cidades às questões ecológicas.
A última parte do livro, “incubar”, mostra projetos que se enquadram no urbanismo
ecológico e que foram de fato construídos, bem como pesquisas em andamento. Como o
Syracuse Center of Excellence in Energy and Environmental Systems, que possui um laboratório vivo
para tecnologias sustentáveis em Nova York - Figura 42 (MORI, 2010), ou o edifício Jessop
128
West, da Universidade de Sheffield, que reparou o tecido urbano, usou materiais
ambientalmente responsivos e assegurou redução no consumo de energia e nas emissões de
dióxido de carbono; ou o Savings Bank do município de Oberhausen (SAUERBRUCH, 2010).

Outro exemplo de edifício que segue o urbanismo ecológico e contribui não apenas para
melhorar a qualidade de vida de seus usuários, como também da vida urbana em geral, é o Bank
of America. Localizado em Manhattan, usa tecnologias avançadas para alto desempenho
energético e ambiental, com redução de consumo de energia e água (COOK+FOX
ARCHITECTS, 2010).

Figura 42 - Syracuse Center of Excellence in Energy and Environmental Systems

Fonte: http://architypereview.com/project/syracuse-center-of-excellence-in-environmental-and-
energy-systemsissue_id994/.

Há ainda o exemplo aplicado na cidade de São Paulo: Cantinho do Céu. É um local de


condições complexas, no sentido ambiental e de infraestrutura – o crescimento de uma favela
com mais de trinta mil habitantes que devastou uma área de Mata Atlântica. Então, o projeto
desenvolveu uma infraestrutura para captar a poluição do lago e filtrar com plantas, a fim de a
comunidade ter acesso à água potável (WERTHMANN et al., 2010).
Os exemplos também alcançam escalas regionais, como a região Disez, no Senegal. Lá
foram propostos projetos-piloto para cada região topográfica, como a fazenda de algas,
exercendo a função de usina de energia, a rotatória que produz integração social e o cinturão
verde com processamento de resíduos e geração de energia (ECOLOGICSTUDIO, 2010).

129
E assim encerra-se o livro. Um misto de teoria e aplicações que integram uma série de
perspectivas de desenho urbano sustentável, inclusive o Urbanismo Sustentável.
A partir da revisão bibliográfica exposta, foi possível identificar as diretrizes de desenho
urbano referentes ao Urbanismo Ecológico e classificá-las. Mais uma vez recapitulando, a
classificação foi feita conforme indicado na abordagem metodológica desta pesquisa: de acordo
com escalas urbanas – P, M e G – e de acordo com sua relação com os serviços ecossistêmicos
urbanos, conforme pode ser visto no Quadro 14.

Quadro 14 – Diretrizes de Desenho Urbano para Urbanismo Ecológico

REGULAÇÃO

CULTURAL
PROVISÃO

SUPORTE
REFERÊNCIA DIRETRIZES DE DESENHO URBANO PARA O URBANISMO ECOLÓGICO

Waldheim (2010, p. 82);


Glaeser (2010, p. 306);
Parolotto (2010, p. 398-
Promover alta densidade urbana em áreas centrais com sistema de
401); Ábalos (2010, p. 610- M M M
infraestrutura integrados
613); Glaeser (2010, p. 306);
Felson e Pollack (2010, p.
356-369)
Spirn (2010, p. 16); Mathur e
Cunha (2010, p. 194-207); Usar infraestruturas urbanas que aumentam a permeabilidade do solo M M
Dreiseitl (2010, p. 218-221)
Spirn (2010, p. 8); COTT
(2010, p. 140-141); MVRDV
(2010, p. 280), Addington,
(2010, p. 244); KVA MATx Projetar infraestrutura urbana e edifícios de alto desempenho
(2010, p. 270-273); Dunster energético e visando a estabilização do uso de energia derivada de P P
(2010, p. 274-279); combustíveis fósseis.
Addington (2010, p. 251);
Kerr (2010, p. 554-567);
Ween (2010, p. 496-499)

Spirn (2010, p. 12);


Valkenburgh (2010, p. 238-
Usar materiais construtivos recicláveis ou reciclados M
239); MVRDV (2010, p. 280-
281)
Spirn (2010, p. 12) Usar princípios da ecologia industrial no desenho urbano G G G G
Spirn (2010, p. 12); Mathur e
Projetar sistemas alternativos de tratamento de esgoto M M
Cunha (2010, p. 194-207)
Spirn (2010, p. 12); Dreiseitl
(2010, p. 219); Mathur e
Cunha (2010, p. 194-207);
Cucinella (p. 598-599);
Projetar áreas de absorção, retenção, tratamento biológico e reuso de
Mathur e Cunha (2010, p. M M M
água pluvial
194-207), Triptype (2010, p.
236-237); Forman (2010, p.
312); Werthmann et al.
(2010, p. 588-589)

Spirn (2010, p. 14-16) Projetar o espaço urbano considerando sua história natural e social G G G G
Forman (2010, p. 312) Projetar grandes áreas verdes para melhoria da biodiversidade G G G G

130
Bava et al. (2010, p. 374- Criar corredores de transporte público ao longo das principais vias de
M
377); Sommer (2010, p. 381) circulação
Bava et al. (2010, p. 374-
Otimizar funções ecológicas ao longo das rodovias M M M
377)
Hagan (2010, p. 466) Fomentar a plantação de vegetação nas áreas internas lotes urbanos M M
Valkenburgh (2010, p. 238- Projetar áreas habitacionais próximas às estações de transporte de
M M M
239) massa
Koolhaas (2010, p. 56) Integrar e combinar fontes de energia M M
Koolhaas (2010, p. 56);
Ween (2010, p. 496-499);
Branzi (2010, p. 110-114);
Waldheim (2010, p. 114- Reutilizar antigos edifícios e infraestrutura - retrofit M M
122); COTT (2010, p. 140-
141); Bava et al. (2010, p.
374-377)
Kwinter (2010, p. 94-105);
Projetar redes de reciclagem com recolhimento, separação, venda,
Rebar (2010, p. 350-355); G G G
revenda e recuperação para reuso
Ween (2010, p. 496-499)
Estabelecer normas de ocupação de acordo com a vocação existente
Kwinter (2010, p. 94-105) G G
no local
Projetar a rede de mobilidade como atividade integrante do sistema
Kwinter (2010, p. 94-105) G G G G
de comunicação e interação social
Branzi (2010, p. 110-114);
Desenhar as transformações urbanas a partir das microestruturas de
Waldheim (2010, p. 114- G G
economias domésticas existentes
122)
Branzi (2010, p. 110-1140;
Spirn (2010, p. 12);
Waldheim (2010, p. 114-
121); JDS Architects (2010, Projetar edifícios flexíveis e multifuncionais P P
p. 122); Bélanger (2010, p.
332-349); Reed (2010, p.
324-329)
Branzi (2010, p. 110-114);
Waldheim (2010, p. 114- Promover a coabitação M M M
122)
Branzi (2010, p. 110-114);
Criar limiares entre cidade e campo com territórios híbridos,
Waldheim (2010, p. 114- M M M
produtivos e que permitam moradias flexíveis e descontínuas
122)
Branzi (2010, p. 110-114);
Diluir fronteiras através de construções com perímetros permeáveis e
Waldheim (2010, p. 114- M M
fluídos
122)
Tolaas (2010, p. 146-155) Desenhar enriquecendo as experiências sensoriais do local M
Welsh e Bers (2010, p. 164-
Projetar rede sem fio que conecte sensores à servidor central e
165); Outram et al. (2010, p. M
possibilite o monitoramento de atividades em tempo real
168-173)
Vogelzang (2010, p. 166-
167); Doherty (2010, p. 174-
183); Forman (2010, p. 317); Projetar locais destinados à agricultura urbana M
Arup (2010, p. 600-605);
Imbert (2010, p. 256-267)
Jerram (2010, p. 184-185);
Shapins et al. (2010, p. 186- Projetar espaços de catalisação de relações sociais M
189)
Criar normas urbanas para entendimento e utilização de recursos
Kirkwood (2010, p. 190-193) G G G G
naturais
Hodson e Marvin (2010, p.
Projetar considerando a ecologia e a economia para garantir a
208-217); Mori (2010, p. G G G
segurança ecológica
572-577)

131
Joachim (2010, p. 224-229);
Hilal, Petti e Weizman (2010, Projetar espaços que representam simbiose entre natureza e
G G G G
p. 230-235), Triptype (2010, humanidade
p. 236-237)
Hood Design (2010, p. 240-
242); Lister (2010, p. 536- Integrar as cidades aos seus rios através da renaturalização M M M M
547)
Vector Architects (2010, p.
Projetar considerando o ciclo de vida dos materiais da construção G G G
254-255)
Edmondson (2010, p. 296-
Projetar infraestrutura urbana com equipe multidisciplinar G G G G
297)
Ingber (2010, p. 308-309) Projetar com mecanismos e materiais inspirados na biologia G G
Bélanger (2010, p. 336-349);
Carbonell et al. (2010, p. Usar a bacia hidrográfica como unidade de planejamento G G G G
568-569)
Felson e Pollack (2010, p. Projetar de forma a integrar subsolo, solo e pavimentos superiores da
G
356-369) cidade
Park e Kim (2010, p. 370) Projetar parques urbanos acessíveis e próximos a regiões comerciais G G G G
Vegara et al. (2010, p. 372-
Desenhar a cidade a partir de seus indicadores e de suas vocações G G G G
373)
Vegara et al. (2010, p. 372-
Usar a cartografia para determinar o desenho urbano G
373)
Desenhar sistema de mobilidade para suporte ao uso de veículos
Mitchell (2010, p. 382-397) G
elétricos
Projetar o modal de transporte público de acordo com a capacidade, a
Parolotto (2010, p. 398-401) G G
velocidade e o espaço a ser ocupado no local
Schulz et al. (2010, p. 416-
419); Wasilowki e Reinhart
(2010, p. 472-473); Usar ferramentas de simulação de modelos G G G G
Bunschoten (2010, p. 616-
621)
Hagan (2010, p. 459) Reconfigurar fluxos e fixos em um metabolismo integrado G G G G
Moore (2010, p. 471);
Schwartz (2010, p. 524-525);
Replantar vegetação natural para agregar valor à paisagem G G G G
Carbonell et al. (2010, p.
568-569)
Farrel (2010, p. 482-495);
Ravem-Ellison e Askins Revitalizar regiões através da promoção da identidade comunitária G G
(2010, p. 85)
Criar percursos para pedestres e ciclistas mapeados e com aplicativos
Ween (2010, p. 496-499) G G
para dispositivos móveis
Vogelzang (2010, p. 166-
167); Rankin (2010, p. 502- Promover o consumo local de alimentos G G
503)
Projetar infraestrutura urbana e edifícios de acordo com a orientação
Cucinella (2010, p. 598-599;
solar, de ventos e de volumetria que resultem em melhor P P P
Yu, 2010, p. 285)
desempenho energético.
Fonte: Elaboração da autora.

132
3.4. Simbiose Urbana e Industrial

Na dissertação de mestrado Por uma indústria mais sustentável: da ecologia à arquitetura


(DALBELO, 2012), as páginas de 44 a 74 trazem uma explanação acerca da ecologia industrial
e suas aplicações. Esse conceito surgiu a partir do metabolismo urbano, com o pressuposto de
um ciclo de energia e materiais que flui em apenas um sentido, de forma que os rejeitos de um
processo industrial sejam insumo de outro, como acontece em um ecossistema biológico
(FROSH; GALLOPOULUS, 1989).

Em tal sistema (o industrial), o consumo de energia e materiais é otimizado, a


geração de resíduos é minimizada e os efluentes de um processo, como o de
catalisação e refino de petróleo, transformam-se em cinzas volantes para
geração de energia elétrica ou em recipientes plásticos descartados de produtos
de consumo que servem como matéria-prima para um outro processo
(FROSH; GALLOPOULOS, 1989, p. 144).33

A ecologia industrial pode ser aplicada em diferentes formas e escalas e considera


abordagens práticas da sustentabilidade, como a otimização do uso de recursos naturais, o
fechamento do ciclo de materiais, a desmaterialização de atividades e a redução ou eliminação
da dependência de fontes não renováveis de energia. Para isso, são usadas algumas ferramentas
de implementação: produção mais limpa, prevenção à poluição, projeto para o ambiente, análise
de fluxo de materiais, análise de ciclo de vida, tecnologia de materiais, tecnologia da informação
e cogeração de energia (ERKMAN et al., 2005; ERKMAN, 2001; LIMA, 2008; GRAEDEL e
ALLENBY, 2010).
Chertow (2000) considera três diferentes escalas de aplicação da ecologia industrial: nas
instalações das indústrias, entre indústrias de um parque e regional/global, sendo que as duas
últimas podem ser consideradas relações de simbiose industrial e ocorrem em ecoparques
industriais – EPI. A simbiose industrial “[...] baseia-se na noção de relações biológicas
simbióticas na natureza, nas quais pelo menos duas espécies trocam materiais, energia, ou
informação em uma solução mutuamente benéfica” (CHERTOW, 2000, p. 314).
Acredita-se que o primeiro ecoparque industrial foi o aglomerado de indústrias do
município de Kalundborg, que desde 1961 realiza troca de rejeitos – quando a refinaria Statoil

33
Tradução livre de: “In such a system the consumption of energy and materials is optimized, waste generation is minimized
and the effluents of one process whether they are spent catalysts from petroleum refining, fly and bottom ash from electric-
power generation or discarded plastic containers from consumer products serve as the raw material for another process”
(FROSCH; GALLOPOULUS, 1989, p. 144).
133
precisava de água para a produção e a prefeitura construiu um encanamento para levar água
superficial do lago Tissø até ela (Kalundborg Symbiosis34), a fim de salvar as reservas limitadas
de águas subterrâneas. Nesse processo, a prefeitura foi responsável pela construção do oleoduto
e a refinaria, no aspecto de financiamento. Além disso, a subestação de energia Dong Asnaes
Power Station, a fábrica de placas de gesso Gyproc e a indústria farmacêutica Novo Nordisk também
entraram no esquema de trocas, com o compartilhamento de água subterrânea, superficial e
residual, vapor e eletricidade, além das trocas de resíduos industriais (CHERTOW, 2000;
EHRENFELD; GERTLER, 1997).
Alguns pesquisadores indicam que a simbiose industrial de Kalundborg surgiu em uma
conversa informal entre industriais a partir de um trabalho escolar sobre ecologia, da escola de
seus filhos. Essa conversa evoluiu no sentido de entenderem que uma forma de reciclar os
resíduos poderia ser através de trocas (6th Annual Industrial Symbiosis Research Symposium, 2009).
Outros pesquisadores afirmam que a ecologia industrial surgiu espontaneamente não por razões
ambientais, mas, sim, pelas claras vantagens econômicas que poderiam ser obtidas a partir do
uso de produtos residuais de parceiros industriais para substituir a importação relativamente
custosa de energia e material de fornecedores externos (ROBINSON, 2011).
Na década de 1980, após Frosh-Gallopoulus (1989), as participantes do sistema de trocas
reconheceram-no como simbiose industrial (EHRENFELD; CHERTOW, 2002), e iniciou-se
uma expansão que atualmente conta com as nove principais empresas e mais de trinta trocas de
produtos, como mostra o Quadro 15. Essas trocas envolvem diretamente a população, com o
sistema de aquecimento do município, recebido do excesso de calor da empresa Asnæs, além
dos benefícios ambientais, econômicos e sociais.
Erkman e Ramaswamy (2006) relatam esses benefícios como: a redução do uso de água
subterrânea através do abastecimento da estação de energia Dong Asnæs com água gelada usada
em processo de resfriamento da refinaria Statoil; a Dong Asnæs abastece a refinaria e a empresa
Novo Nordisk com vapor proveniente de seu processo industrial. Além disso, o excesso de gás
dos processos da refinaria Statoil é tratado e usado para remover o enxofre, insumo para a
fabricação de ácido sulfúrico, e também é fornecido para a estação de energia Dong Asnæs e
para a Gyproc como fonte de energia. A empresa Novo Nordisk cria uma grande quantidade
de biomassa proveniente dos seus processos sintéticos, que é usada como fertilizante para as

34
Disponível em: <http://www.symbiosis.dk/en/>. Acesso em: 20 maio 2018.
134
fazendas da região. Por isso, é possível considerar que o município de Kalundborg é um
exemplo de aplicação de simbiose urbana.

Quadro 15 – Diagrama de trocas industriais em Kalundborg – 2015

Fonte: http://www.symbiosis.dk/diagram.

O ecoparque industrial de Kalundborg é um caso em que o fractal pode ser usado para
descrever o resultado ecológico no planejamento de uma cidade. Nessa visão ecossistêmica da
cidade, sua pegada ecológica pode ser consideravelmente reduzida enquanto há uma melhoria
da rentabilidade do complexo. Por isso, os ecoparques industriais, combinados com políticas de
uso misto do solo, podem auxiliar no desenvolvimento do equilíbrio ambiental e saudável de
um bairro autônomo (MOUGHTIN et al., 2009).
Um ecoparque industrial não precisa limitar-se ao ecoparque, mas também estender-se
para a vizinhança, com os benefícios ambientais, econômicos, comerciais e sociais para toda
uma região (CHERTOW, 2000; MIRATE; PEARCE, 2006). O U. S. President´s Concil on
Sustainable Development (PCSD) reconhece a eficiência sustentável de um ecoparque industrial
através da cooperação entre as indústrias e com a comunidade local, com a troca de resíduos e
o compartilhamento de recursos que conduzem a ganhos econômicos, ambientais e sociais

135
(PCSD, 1997). Quando esses benefícios se estendem para toda uma localidade, ocorre a
simbiose urbana.
A ideia da simbiose industrial como a colaboração e as possibilidades de sinergias
oferecidas pela proximidade geográfica de Chertow (2000) foi estendida aos resíduos urbanos e
a troca de energia de complexos industriais e passou a se chamar simbiose urbana (VAN
BERKEL et al., 2009).
Ohnishi et al. (2017) e Dong et al. (2016a) afirmam que as transições sustentáveis podem
ocorrer a partir de estratégias e modelos de avalição apropriados, e que a simbiose industrial e
urbana é uma estratégia que pode ser adotada, pois efetivamente pode minimizar o consumo de
recursos naturais e a produção de resíduos, encorajando o uso de recursos mais eficientes, de
resíduos como recursos de manutenção das qualidades do meio urbano, e promovendo um
eficiente e efetivo planejamento, desenho e sistema de manutenção urbano e industrial.
Dong et al. (2016a) e VanBerkel et al. (2009) consideram a simbiose urbana como uma
extensão da industrial, em que resíduos urbanos são usados como matérias-primas alternativas
ou fontes de energia em operações industriais. Esse processo oferece benefícios para toda a
sociedade, economizando recursos ambientais e reduzindo as emissões de gases de efeito estufa.
Para além do campo industrial, existe outro conceito de simbiose urbana que deve ser
compreendido no desenvolvimento desta tese. A simbiose, como conceito ecológico, é a
associação entre duas espécies mutualísticas em que exista um claro benefício recíproco, sendo
que um indivíduo não depende do outro para sua sobrevivência (MARGALEF, 1974; ODUM,
1985).
No urbanismo, a simbiose começou a ser estudada e conceituada com o arquiteto
urbanista metabolista Kisho Kurokawa, em seu livro A Filosofia da Simbiose (1997). “A ambição
deste livro é sugerir que a simbiose é a palavra-chave para prever e interpretar, a partir de várias
perspectivas, a nova ordem mundial que vai aparecer no século XXI” (KUROKAWA, 1997, p.
15). Para o autor, a simbiose é a filosofia da grande mudança mundial que está ocorrendo no
século XXI:

Uma grande revolução conceitual está em andamento em todo o mundo, mas


está acontecendo tão silenciosamente que ela não foi detectada. Não é o
nascimento de uma nova ideologia, como o capitalismo ou o comunismo; nem
é o advento de uma nova filosofia para substituir a de Kant ou Descartes. No
entanto, as novas correntes de pensamento que surgem em todo o mundo terão
um efeito maior sobre nós do que qualquer ideologia ou filosofia sistemática.
Eles estão mudando incontrolavelmente nossa maneira de viver e nossa ideia

136
do que é ser humano. Esta grande e invisível mudança que identifico como a
filosofia da simbiose (KUROKAWA, 1997 p. 18).35

Kurokawa (1997) utiliza a origem do termo simbiose mais da filosofia budista da


coexistência do que do conceito ecológico. A simbiose tratada em seu livro e em suas pesquisas
está diretamente associada à cultura estética e às crenças japonesas, com influência dos
pensamentos e da filosofia do oeste, principalmente europeu. A filosofia da simbiose é
considerada pelo autor como a única maneira de deduzir o futuro de forma integrada,
transcendendo a divisão vertical de trabalho e espaço que emergiu durante o processo de
modernização da sociedade (KUROKAWA, 1997).
Na introdução da segunda edição de seu livro, o autor esclarece que a filosofia da
simbiose difere dos conceitos de harmonia, coexistência e compromisso e traz as características
das relações simbióticas. Primeiramente, constata-se que a simbiose se refere ao novo; é uma
relação criativa criada a partir da competição e da tensão. As relações de simbiose também são
positivas, porque devem possuir compreensão recíproca sobre as necessidades dos envolvidos.
A criatividade dessas relações é tamanha que um participante não conseguiria alcançá-la de
forma não compartilhada. A área de atuação dos participantes deve ser compartilhada com
respeito à individualidade, ao religioso e ao cultural. E, por fim, a simbiose é o posicionamento
da própria existência dentro do esquema biológico maior de dar e receber (KUROKAWA,
1997).
A simbiose de Kurokawa não estabelece relações diretas e referenciais com a simbiose
industrial ou urbana dos pesquisadores e das indústrias dos processos ecologia industrial, mas o
conceito do metabolismo urbano é a base para ambas. Por isso, é possível dizer que o conceito
profético da simbiose de Kurokawa pode ter tido seu início real com a simbiose industrial dos
ecoparques, passando pela simbiose urbana para, no futuro, expandir-se para toda a rede urbana,
estabelecendo relações de trocas com outros setores que não apenas o industrial.
O exemplo da simbiose urbana de Kalundborg influenciou diversas indústrias, e desde
1989 até os dias de hoje muitos ecoparques industriais sugiram. Entre eles, o primeiro dos
Estados Unidos, em Eastville, Port of Cape Charles Sustainable Technologies Industrial Park, projetado

35 Tradução livre de: “A great conceptual revolution is underway across the world, but it is taking place so quietly that it has
gone largely undetected. It is not the birth of a new ideology, like capitalism or communism; nor is it the advent of a new
philosophy to replace that of Kant or Descartes. Yet the new currents of thought that are arising around the world will have
a greater effect on us than any ideology or systematic philosophy. They are unarguably changing our way of living and our
idea of what it is to be human. This great, invisible change I identify as the philosophy of symbiosis” (KUROKAWA, 1994,
p. 18).

137
pelo arquiteto William McDonough, foi incorporado em uma área de população de baixa renda
e tinha como objetivo qualificar mão-de-obra local, proteger os recursos naturais e culturais da
região, além de apoiar o desenvolvimento comercial e industrial, aumentando a receita sem
aumentar os impostos (GIBBS; DEUTZ, 2007).
Sua sede é patrimônio histórico nacional da cidade de Cape Charles, e o parque possui
0,84km2 de reserva natural, correspondendo a 36% de sua área total. Esse ecoparque industrial
também conta com sistema de distribuição de água reciclada entre os lotes industriais e análise
do potencial dos subprodutos das indústrias (COHEN-ROSENTHAL et al., 2001).
Apesar dos investimentos em projeto, pesquisa e divulgação, hoje em dia não é possível
encontrar informações precisas sobre as instalações nesse ecoparque. A Figura 43 mostra que
as instalações do parque industrial começaram, porém não foram finalizadas e, aparentemente,
não estão em uso.
Figura 43 – Imagem aérea da região do Port of Cape Charles

Fonte: Google Maps – 2017.

No Japão, o conceito de simbiose urbana é especialmente adequado, pois os sistemas de


separação de fonte para resíduos sólidos municipais estão bem estabelecidos. O EPI Fujisawa -
EBARA Corporation – é um dos primeiros a desenvolver a simbiose industrial. Com tecnologias
e recursos de conservação de energia e fontes de energia renovável, tratamentos de águas
residuais e sua reutilização, e reutilização e reciclagem de subprodutos, o parque é apoiado por
um centro de emissão zero, por um escritório ambiental e por um centro de logística (COTÈ;
COHEN-ROSENTHAL, 1998).

138
Além dele, o programa Eco-Town, que começou como um experimento de redesenho
de uma área industrial de forma que os impactos ambientais fossem minimizados através da
reciclagem, uniu 23 cidades japonesas, conforme indica a Figura 44, em busca de
sustentabilidade industrial, ambiental e socioeconômica, com foco em conservação de energia,
desenvolvimento de materiais sustentáveis e integração de gestão de resíduos (OHNISHI et al.,
2016). Berkel et al. (2008) analisam o programa Eco-Town japonês e expõem que:
O termo Simbiose Urbana é introduzido aqui como uma extensão para
Simbiose Industrial. Ele refere-se especificamente à utilização de subprodutos
(resíduos) de cidades (ou áreas urbanas) como matérias-primas alternativas ou
fonte de energia nas operações industriais. Semelhante a Simbiose Industrial, a
Simbiose Urbana baseia-se na oportunidade sinérgica decorrente da
proximidade geográfica das fontes de resíduos urbanos e potenciais utilizadores
industriais através da transferência de recursos físicos (“materiais de resíduos”)
para benefícios ambientais e econômicos (BERKEL et al., 2008, p. 1545).36

Figura 44 – Mapa das zonas do Programa Eco-Town japonês aprovadas.

Fonte: http://www.meti.go.jp/policy/recycle/main/english/3r_policy/ecotown.html.

36 Tradução livre de: “The term Urban Symbiosis is introduced here as an extension for Industrial Symbiosis. It refers
specifically to the use of by-products (wastes) from cities (or urban areas) as alternative raw materials or energy source in
industrial operations. Similar to Industrial Symbiosis, Urban Symbiosis is based on the synergistic opportunity arising from
the geographic proximity of urban waste sources and potential industrial users through the transfer of physical resources
(‘waste materials’) for environmental and economic benefit” (BERKEL et al., 2008, p. 1545).
139
Na Kawasaki Eco-Town, houve a implementação da simbiose urbana e industrial através
de uma pesquisa acadêmica que mapeou os fluxos de materiais e criou um sistema de
georreferenciamento. O mapeamento classificou os materiais em: resíduos sólidos municipais;
resíduos industriais; produtos ou combustíveis reciclados e indústrias que utilizam combustíveis,
produtos ou subprodutos reciclados, com a localização, a quantidade e a qualidade dos resíduos
(OHNISHI et al., 2017).
Ohnishi et al. (2017) analisaram a Kawasaki Eco-Town a partir de três diferentes
métodos: análise de fluxo de materiais; pegada de carbono e análise de emergia, conforme
mostra a Figura 45. Aspectos econômicos e sociais não foram considerados. Os resultados
mostram que o peso dos subprodutos e resíduos trocados através da simbiose urbana e
industrial não necessariamente se correlaciona diretamente com a contribuição relativa para
melhorias ambientais.

Figura 45 – Estrutura Integrada de Análise de Simbiose Urbana e Industrial

Fonte: Ohnishi et al. (2017, p. 520).

Na perspectiva energética, os gastos da economia emergente são grandes se não for


considerada a energia para gerenciar o sistema da simbiose urbana e industrial. Embora o maior
contribuinte relativo para a redução geral da pegada de carbono seja a reciclagem de aço, o
principal fator que contribui para a redução da energia é a utilização de escória de alto forno. O
principal contribuinte para as reduções nas análises de pegada de carbono e energia são as trocas
de subprodutos entre as empresas, e a quantidade de resíduos envolvidos é relativamente baixa.
140
Do ponto de vista da eficiência, a reciclagem de resíduos de papel e plásticos é altamente eficaz.
A estrutura proposta para analisar a característica física da simbiose urbana e industrial poderia
apoiar uma tomada de decisão abrangente para o desenvolvimento urbano de baixa emissão de
carbono e independência de recursos naturais (OHNISH et al., 2017).
Na China, a simbiose industrial e urbana está presente desde 2001, quando o país
começou a se destacar na quantidade de resíduos industriais que gerava. Atualmente 80% dos
resíduos sólidos municipais são destinados a aterros e apenas o restante é reutilizado. A
reutilização de resíduos sólidos em processos industriais ou em fluxos urbanos é um atrativo
para indústrias particulares e para a promoção da economia do país (DONG et al., 2016b).
Os EPI chineses são em grande quantidade e estão diretamente associados à
sustentabilidade nas cidades, com diretrizes presentes no Programa Eco-Town chinês. De
acordo com Geng et al. (2008), as diretrizes de um EPI, para este ser estabelecido na China, são:
transporte público para população; fontes alternativas de energia, arquitetura sustentável –
LEED ou outras certificações; valorização econômica do local; diversidade de setores
representados pelas indústrias; conexão entre as indústrias; coleta seletiva e sistemas de
decomposição de orgânicos; tratamento de resíduos sólidos e tratamento e armazenamento de
água pluvial e de água residual.
Guang-fu Lui e Fei-da Chen (2013), pesquisadores chineses que usam o conceito de
simbiose urbana de Berkel et al. (2008), em uma comparação entre o Programa Nacional de
Simbiose Industrial do Reino Unido (NISP) e os ecoparques chineses, considerando as diretrizes
utilizadas no NISP - pesquisa de origem; mecanismo de formação; estrutura organizacional e
quadro operacional -, apontam para a construção de uma rede de simbiose urbana que poderia
ser implantada na China. Os autores afirmam que essas diretrizes permitem a construção de
uma estrutura organizacional de rede com responsabilidades dos membros participantes, em
que os demais serviços de uma dada região poderiam interagir juntamente com insumos e
resíduos industriais.
Dessa forma, Lui e Chen (2013) propõem uma rede de simbiose urbana em que são
explorados os mecanismos de coordenação entre os serviços urbanos e são analisadas as
competências e responsabilidade de cada departamento de gestão. A partir desse estudo, são
incluídos os participantes gerais e suas funções – governo, organizações públicas e privadas,
empresas, universidades, comércio e comunidade – e é estabelecida a estrutura do sistema (LUI;
CHEN, 2013).

141
Figura 46 – Imagem do projeto para a Suzhou Eco-Town

Fonte: http://www.jtp.co.uk/projects/suzhou.

No Brasil, a primeira iniciativa à implantação da ecologia industrial se deu através do


Programa Rio Ecopolo, em 2002, liderado pela Fundação Estadual de Engenharia do Meio
Ambiente (FEEMA). Foi feita uma seleção de indústrias que estavam localizadas próximas umas
às outras e que se dispunham a realizar a experiência com a ajuda da Federação das Indústrias
do Estado do Rio de Janeiro. Essas indústrias deveriam seguir as diretrizes do Programa:
participar do projeto Ecopolo; buscar a excelência ambiental; desenvolver um Sistema de
Gerenciamento Ambiental (SGA); praticar a produção mais limpa; buscar melhorias contínuas
- ambientais, sociais e econômicas; contribuir para a conservação e melhoria do meio ambiente
local; apoiar e participar em ações e projetos comunitários na sua área de influência (FEEMA,
2002).
Assim, foram criados quatro ecopolos, formalizados através de termo de compromisso
entre a FEEMA e as indústrias integrantes, certificando essas indústrias como pertencentes aos
ecopolos. Cada uma das indústrias apresentou seu plano de gestão e a implantação das
propostas, que caberia às próprias indústrias, adequando suas características (FEEMA, 2002).
De acordo com Fragomeni (2005, p.78),

Não foi estipulado pelo órgão ambiental um modelo padronizado, ou critérios


específicos a serem seguidos para sua formulação. O intuito era que objetivos

142
e metas conjuntas fossem definidas a partir do mapeamento e da priorização
de interações potenciais a serem estabelecidas entre as empresas.

Os quatro Ecolopos criados em 2002 estão demonstrados no Quadro 16:

Quadro 16 – Ecopolos – Programa Rio Ecopolo – 2002


Nome Qtd. de ind. Município
Distrito Industrial de Santa Cruz 14 Rio de Janeiro
Distrito Industrial de Campos Elíseos 12 Duque de Caxias
Fazenda Botafogo 13 Rio de Janeiro
Paracambi 03 Paracambi
Fonte: Adaptação pela autora de Veiga (2007).

Os três primeiros ecopolos do quadro são distritos industriais em operação. Paracambi,


além de se diferenciar pela parceria estado-município, enquanto os demais que têm parceria
estado-empresas, é o único que foi planejado desde o início como um ecoparque (VEIGA,
2007).
De acordo com Veiga (2007), o governo do estado do Rio de Janeiro não deu
continuidade ao desenvolvimento do programa devido às mudanças políticas na liderança do
estado. Porém, nos ecopolos Santa Cruz, Campos Elíseos e Fazenda Botafogo, as próprias
indústrias conduzem as características do programa (VEIGA, 2007).
Os exemplos de simbiose industrial e urbana apresentados atrelam política, iniciativas
públicas e privadas, incentivos financeiros e fiscais e apoio social, contando com atores políticos,
sociais e empresariais, em prol de benefícios ambientais, sociais e econômicos. Quando um dos
atores deixa de ter interesse no desenvolvimento do modelo, o colapso é certo. Para manter o
fluxo contínuo de materiais e energia, é preciso que a produção seja constante, ainda que possam
ocorrer substituições de fornecedores ou receptores. Por isso, Kalundborg, Cape Charles e os
Programas Eco-Town do Japão e da China contam com o apoio constante daqueles três atores,
que, por vezes, são embasados em pesquisas acadêmicas.
No Brasil, os atores sociais pouco souberam sobre a existência do Programa Rio
Ecopolo, o que, somado ao desinteresse político na época, levou ao seu fracasso. Apesar de
alguns ecopolos manterem o compromisso com as diretrizes do programa, a falta de apoio
governamental impede o crescimento e divulgação, que faria com que mais indústrias e cidades
tivessem interesse no desenvolvimento do programa.
Quanto ao planejamento urbano e ao projeto das instalações, existem poucas referências
sobre soluções sustentáveis na implantação de simbiose industrial e urbana no território. Schlarb
(2001) apresenta algumas diretrizes que devem ser consideradas no projeto, nas instalações, na
143
seleção dos materiais e dos equipamentos para a construção de um EPI, além de premissas
urbanistas (Quadro 17).

Quadro 17 – Diretrizes para projeto urbano e construção de um EPI


Orientação das instalações considerando o micro clima local, como a direção dos
ventos, a temperatura e o nível de precipitações
Planejamento das instalações considerando a direção de maior incidência de luz
natural
Planejamentos das instalações considerando as melhores opções de conforto
PROJETO DAS INSTALAÇÕES ambiental: insolação, ventilação, acústica do entorno e materiais de construção
Avaliação do desempenho ambiental da construção através de ACV
Consideração sobre a possibilidade de co-geração de energia ou adaptação do
sistema de energia em cascata
Consideração sobre a possibilidade de reuso de água e captação de água pluvial
Consideração sobre ACV dos materiais de construção no momento da sua escolha
Utilização de materiais de baixo impacto
SELEÇÃO DE MATERIAIS E
Utilização de materiais recicláveis
EQUIPAMENTOS
Utilização de sistemas flexíveis de ventilação, aquecimento e condicionamento
Preservação os ecossistemas locais
Incorporação do ecossistema ao projeto urbano e de infraestrutura
Preservação de espécies nativas
PROJETO URBANO
Consideração da orientação solar do terreno e do micro clima
Utilização de espécies vegetais que possam apresentar melhorias climáticas para
o ambiente
Fonte: Adaptação pela autora de Schlarb (2001, p. 33).

Um pouco mais direcionados às instalações e à implantação de um EPI, Cotè et al. (1994)


estabelecem 38 diretrizes para projeto e construção, considerando aspectos gerais urbanos. Os
autores direcionam para o processo de design ecológico de um ecoparque industrial novo ou
para um retrofit de um parque industrial existente (COTÈ et al., 1994).

Quadro 18 – Diretrizes de design ecológico para um EPI


1 Considerar funções e atribuições do ecossistema, principalmente os relacionados ao fluxo de água;
2 Preservar zonas alagadiças para fornecer áreas de habitat natural, filtrar águas de superfície, tratar a água
residual e material orgânico do esgoto;
3 Replantar vegetação natural para agregar valor à paisagem, proteção contra os ventos e sombras;
4 Orientar as estruturas para terem acesso à exposição ao sul para ganho solar passivo; 37
5 Planejar a área de forma que o desenho urbano facilite a orientação dos edifícios a fim de maximizar o acesso
solar de um lado e a proteção contra o vento de outro lado;
6 Colocalizar edifícios e empresas para fazer um uso mais efetivo do calor residual, água e outros recursos;
7 Incentivar a flexibilidade e o planejamento do local de forma a considerar as variações de uso ao longo do
tempo;
8 Manter as formas e características da paisagem que dão o suporte ecológico às funções e à eficiência
energética;
9 Manter a forma do terreno e outras características de paisagem que suportam funções ecológicas e eficiência
energética;
10 Reduzir a quantidade de terras interrompidas para o desenvolvimento local, como a instalação de edifícios,
infraestrutura e áreas de estacionamento;

37
Nesse caso, deve-se considerar que, para o hemisfério Norte, a orientação Sul é a que possui maior incidência de luz solar,
enquanto que, para o hemisfério Sul, a orientação Norte é a que possui maior incidência de luz solar.
144
11 Designar locais para hortas em parques, que podem ser usadas por funcionários ou restaurantes locais;
12 Quando não existirem zonas alagadiças no local, construir ecossistemas aquáticos que usam luz solar,
bactérias e plantas para tratar o material orgânico do esgoto;
13 Fazer biotratamento de água cinza proveniente de restaurantes e processos alimentícios com filtragem e
sistema solar aquático de purificação;
14 Considerar a natureza e a composição dos materiais de construção para reduzir as emissões de gás carbônico
no ambiente de trabalho;
15 Isolar os edifícios das condições climáticas locais com tecnologias e práticas não prejudiciais;
16 Desenhar os edifícios para reduzir as perdas de calor, como grandes áreas com marquises ou longe de ventos
de inverno;38
17 Usar calor residual de processos para aquecimento de ambientes dos edifícios locais;
18 Pequenos edifícios devem considerar o uso de painéis solares e sistemas fotovoltaicos para sistemas de
aquecimento de água;
19 Usar calor geotérmico e ventiladores de recuperação de calor para aquecimento e troca de ar;
20 Coletar água de chuva para reserva incêndios, irrigação, descargas e outros processos;
21 Instalar chuveiros, torneiras e válvulas de descarga com baixo fluxo de água;
22 Padronizar materiais de construção o quanto for possível para reduzir o desperdício durante a construção e
estimular o reuso dos materiais;
23 Construir com produtos pré-fabricados e técnicas de encaixe que não utilizem pregos, para facilitar a
flexibilidade do layout e o reuso dos materiais;
24 Incentivar o reuso de materiais de construção, estabelecendo normas que exijam materiais duráveis e que
possam ser reutilizados;
25 Usar veículos e máquinas elétricas o máximo possível;
26 Incentivar a recuperação, o reuso e a reciclagem de resíduos químicos e metálicos;
27 Evitar o máximo possível o uso de substâncias perigosas ou reduzir os volumes estocados;
28 Reduzir o uso de substâncias tóxicas e produtos químicos persistentes;
29 Incentivar o uso de substâncias não tóxicas e produtos de limpeza e de abastecimento não perigosos;
30 Incentivar o uso de materiais que possam ser facilmente reciclados, no EPI e no meio urbano;
31 Incentivar o estabelecimento de empresas de reparação, manutenção e recondicionamento de produtos;
32 Exigir a separação do lixo para incentivar o reparo, o reuso e a reciclagem;
33 Incentivar a compostagem e outros usos para os resíduos orgânicos;
34 Instalar centros de reciclagem nos edifícios para facilitar a coleta e a transferência de materiais;
35 Adotar instrumentos econômicos que incentivem a produção limpa, ao mesmo tempo em que penalizam a
geração de resíduos;
36 Construir um sistema de informação e incentivo à atração de empresas que podem usar materiais residuais;
37 Apoiar cooperativas de aquisição e gerenciamento de resíduos; e
38 Desenvolver estações locais de trigeração para produção de eletricidade, vapor de água e água quente e fria
para aquecimento ou resfriamento.
Fonte: Adaptação pela autora de Cotè et al. (1994, p. 56-58).

Segundo Cotè et al. (1994, p. 59),

Um parque industrial planejado com os princípios da ecologia industrial requer


um planejamento aberto do espaço. As amenidades naturais e as vantagens de
lazer do local oferecem atributos exclusivos que os planejadores de parques
industriais devem reconhecer e confirmar. Uma sociedade industrial não
precisa destruir o meio ambiente, mas deve trabalhar para criar paisagens
significativas (COTÈ et al., 1994, p. 59).39

38A redução de perda de calor é condicionada ao clima local da implantação.


39
Tradução livre de: “An industrial park planned on the principles of industrial ecology requires an open space plan. The
natural amenities and recreational advantages of the site offer unique attributes which industrial park planners should
acknowledge and affirm. An industrial society need not obliterate the environment, but should work it to create meaningful
landscapes” (COTÈ et al., 1994, p. 59).
145
Para os autores, planejadores de parques industriais devem considerar a aplicação de
princípios ecossistêmicos e planejar pelo todo, e não apenas pelo lote industrial, de forma a
incentivar a troca de subprodutos e serviços entre as indústrias. Assim, é possível falar em
simbiose urbana, que integra o metabolismo urbano ao industrial e cria oportunidades de trocas
sustentáveis através do planejamento de sua rede de participantes. Considerando que cada um
dos participantes está localizado em determinado território e essa localização está diretamente
associada ao desempenho da rede, é preciso que sua planificação e planejamento urbano sejam
realizados. Por isso é importante que as diretrizes de simbiose urbana estejam integradas às
diretrizes de desenho urbano sustentável.
Como já mencionado, a partir da revisão bibliográfica exposta foi possível identificar as
diretrizes de desenho urbano referentes à Simbiose Industrial e Urbana e classificá-las. A
classificação foi feita conforme indicado na abordagem metodológica desta pesquisa: de acordo
com escalas urbanas – P, M e G – e de acordo com sua relação com os serviços ecossistêmicos
urbanos, conforme pode ser visto no Quadro 19.

Quadro 19 – Diretrizes de Desenho Urbano para Simbiose Urbana e Industrial

REGULAÇÃO

CULTURAL
PROVISÃO

SUPORTE
DIRETRIZES DE DESENHO URBANO PARA A SIMBIOSEURBANA E
REFERÊNCIA
INDUSTRIAL

Projetar infraestrutura urbana e edifícios de acordo com a orientação solar,


Schlarb (2001, p. 33);
de ventos e de volumetria que resultem em melhor desempenho M M M
Cotè et al. (1994, p. 56).
energético
Schlarb (2001, p. 33); Projetar áreas de absorção, retenção, tratamento biológico e reuso de água
M M M
Cotè et al. (1994, p. 57). pluvial
Schlarb (2001, p. 33);
Considerar o ciclo de vida na escolha dos materiais de construção M M M M
Cotè et al. (1994, p. 57).
Cotè et al. (1994, p. 56-
Projetar sistemas alternativos para tratamento de esgoto G G G
58)
Cotè et al. (1994, p. 56-
Replantar vegetação natural para agregar valor à paisagem M M M M
58)
Cotè et al. (1994, p. 56- Incentivar a flexibilidade e o planejamento do local de forma a considerar as
P P P
58) variações de uso ao longo do tempo
Cotè et al. (1994, p. 56- Manter a forma do terreno e outras características de paisagem que
M M M
58) suportam funções ecológicas e eficiência energética
Cotè et al. (1994, p. 56- Designar locais para hortas em parques, que podem ser usadas por
P P P
58) funcionários ou restaurantes locais
Cotè et al. (1994, p. 56-
Usar calor residual de processos para aquecimento de ambientes P P
58)
Cotè et al. (1994, p. 56-
Incentivar a recuperação, o reuso e a reciclagem de resíduos industriais M M M
58)
Cotè et al. (1994, p. 56- Projetar a separação de resíduos para incentivar o reparo, o reuso e a
M M M
58) reciclagem
Cotè et al. (1994, p. 56-
Incentivar a compostagem e outros usos para os resíduos orgânicos M M M
58)
Fonte: Elaboração da autora.

146
3.5. Cidade Integral

Os primeiros trabalhos que aplicaram a Teoria Integral de Wilber (2000 a, b) ao campo


específico do Desenho Sustentável foram: Integral Sustainable Design: transformative perspectives
(DEKAY, 2011) e A Model for Integral Sustainable Design Explored Through Daylighting (DEKAY;
GUZOWSKI, 2006). De acordo com Dekay (2014), essa teoria auxilia no ensino e na
compreensão da complexidade do Desenho Sustentável. A abordagem integral do desenho é
um desafio no sentido de que apresenta múltiplas perspectivas simultâneas e aborda diferentes
níveis de consciência no desenvolvimento humano e, por isso, pode ajudar educadores e
profissionais a reconhecer o alcance, a amplitude e os aspectos multifacetados da
sustentabilidade. A Teoria Integral desenvolvida por Wilber (2000 a, b) é baseada em uma
comparação chamada de intercultural, que ocorre entre conhecimento, experiência e
investigação humana.
O conhecimento é global: todo o conhecimento acumulado pela humanidade ao longo
do tempo deve ser acessível a todos. A partir desse pensamento, o autor sugere a construção de
um mapa integral que compõe os melhores elementos da tradição de desenvolvimento espiritual,
psíquico e social das culturas humanas. O mapa compreensivo das potencialidades humanas usa
todos os sistemas e modelos de crescimento humano conhecido e destila seus componentes em
cinco fatores simples, que são entendidos como elementos essenciais para facilitar a vida
humana. Esses cinco elementos podem ser considerados quadrantes – como é mais comum na
bibliografia existente –, níveis, linhas, estados e tipos, e não são apenas conceitos teóricos; “[...]
eles são aspectos de sua própria experiência, contornos de sua própria consciência” (WILBER,
2005, p. 3).40
O uso do Mapa Integral ajuda a confirmar o uso de todas as bases, independente do
campo disciplinar trabalhado, garantindo a utilização de toda a gama de recursos para qualquer
situação. Além disso, quando uma pessoa aprende a detectar os cinco elementos em sua própria
consciência, pode acelerar seu crescimento pessoal (WILBER, 2005).
O Mapa Integral tem como ferramenta o Sistema Integral de Operação, que funciona
como um sistema que executa qualquer programa. Esse sistema permite indexar quaisquer
atividades e integrá-las ou fazê-las interagir e comunicar-se (WILBER, 2005).

40 Tradução livre de: “[…] they are aspects of your own experience, contours of your own consciousness” (WILBER, 2005,
p. 3).

147
Wilber (2005) também esclarece que, na Abordagem Integral, existem entre oito e dez
estágios de desenvolvimento da consciência. Esses estágios significam marcos progressivos e
permanentes ao longo do caminho evolutivo. Nesse sentido, o uso do Sistema Integral de
Operação implica a verificação contínua da inclusão de todos os aspectos de cada estágio
percorrido. Não necessariamente é preciso dominar todos os aspectos, mas, sim, estar ciente da
existência de todos eles.
O que a Abordagem Integral e o Sistema Integral de Operação têm de diferente em
relação às demais abordagens metodológicas de solução de problemas é a detecção de padrões
comuns que conectam todos os aspectos. Esses padrões são chamados de AQAL – abreviação
de todos os quadrantes, todos os níveis, todas as linhas, todos os estados, todos os tipos
(WILBER, 2005).41
De acordo com Wilber (2005), os quadrantes são representados por: a pessoa de fala -
eu, o conjunto de pessoas de fala – nós, a pessoa a quem se fala – você, e a pessoa de quem se
fala – ele, representando a individualidade e a coletividade nos lados interno e externo. Além
disso, cada um dos quadrantes pode expandir-se para uma série de representações, como a que
pode ser vista na Figura 47. O interior do individual é representado pela mentalidade individual;
o exterior do individual, pelas ações do individual; o interior do coletivo, pelos valores e pela
visão compartilhados; e o exterior do coletivo, pelas ações e estruturas compartilhadas.
Figura 47 – Padrões comuns de conexão AQAL

Fonte: Elaboração da autora.


O AQAL pode ser aplicado à perspectiva da sustentabilidade. Brown (2007) indica que
o AQAL auxilia na organização do conhecimento acumulado sobre a sustentabilidade, porque
os quadrantes são escaláveis e podem organizar uma dinâmica de um ato de reciclagem através
de uma disciplina, e até mesmo podem organizar a ecologia como um todo. O AQAL pode ser
aplicado de várias maneiras sob os temas gerais da organização, do diagnóstico e da prescrição.

41
Tradução livre de: all quadrants, all levels, all lines, all states, all types.
148
Figura 48 – Mapa dos oito níveis da Teoria Integral

Fonte: Dekay (2014, p. 2).

Essa organização também auxilia a identificação das forças de influências, de


impedimento e de criação. O arquiteto Mark Dekay usou o AQAL para visualizar uma possível
solução para a arquitetura verde (BROWN, 2007), como pode ser observado na Figura 49.
Figura 49 – A abordagem integral para a arquitetura verde de Mark Dekay

Fonte: Adaptação pela autora de Dekay (2014, p. 3).


Dekay (2014) afirma que o desenho sustentável não possui uma rede coletiva de
representação unida o suficiente para transcender à fragmentação que ocorre na ideologia prática
e acadêmica. Para o autor, abordagem integral é a única capaz de unificar a beleza, através da
arte do design; a bondade, através da ética; e a verdade, através da ciência do desenho.
A partir da abordagem integral para a arquitetura verde, Dekay (2014) listou princípios
para o desenho sustentável de edifícios verdes de acordo com cada um dos quadrantes e
estabeleceu um princípio principal: “Desenhar para a sustentabilidade considerando os

149
múltiplos níveis de desenvolvimento da complexidade nos domínios interseccionados de si
mesmo, da cultura e da natureza” (DEKAY, 2014, p. 4).42

Quadro 20 – Princípios de desenho a partir das quatro perspectivas da Teoria Integral


EXPERIÊNCIAS - Projetar experiências profundas de processos naturais e um mundo vivo,
acessando múltiplos sentidos.
- Projetar para acessar as conexões psicológicas humanas aos espaços, em
múltiplos níveis, de arquétipos ao transpessoal.
- Desenhar locais centralizadores conducentes à transformação autoconsciente
com níveis elevados de consciência da natureza.
COMPORTAMENTO - Projetar edifícios de alto desempenho que maximizam a eficiência do uso de
água, energia e materiais, minimizando o desperdício e a poluição.
- Projetar com recursos renováveis de insolação, ventilação e iluminação do local.
- Projetar para criar locais seguros e saudáveis, com valor a longo prazo,
eliminando toxinas para as gerações do presente e do futuro.
SISTEMAS - Design em três níveis da holografia: construir um todo maior, criar um todo e
organizar conjuntos mais pequenos.
- Projetar sistemas vivos usando a ecologia como modelo. O ajuste flui para
sistemas renováveis locais, além de apoiar ecossistemas tecnoindustriais.
- Soluções de design adequadas a locais específicos, considerados como local,
vizinhança e região.
CULTURA - Design baseado na ética ambiental elevada e consciente em que a humanidade e
a natureza prosperam em ecossistemas humanos regenerativos.
- Design para colocar as pessoas em relacionamentos significativos com a
Natureza, tornando visível a forma como a cultura está interligada com os
sistemas vivos.
- Design para comunicação cultural usando as linguagens simbólicas de design para
evidenciar o significado de sistemas ecológicos.
Fonte: Adaptação pela autora de Dekay (2014, p. 4).

Brown (2007) cita outros exemplos do uso da Teoria Integral para a composição do
conhecimento acerca de determinado tema voltado à sustentabilidade. Entre eles, também cabe
destacar Marylin Hamilton, fundadora da Cidade Integral, e suas ferramentas para transformar
as cidades em ecorregiões de habitats sustentáveis e resilientes.
A teoria da Cidade Integral tem uma visão planetária da cidade, em que os cidadãos
contribuem para a evolução junto ao planeta através da ecologia resiliente. Marylin (2008) 43
associa a cidade a uma colmeia humana, um órgão vivo de Gaia, que evolui como um
ecossistema inteligente a serviço do bem-estar geral. As visões da Cidade Integral incluem:
- Apreciar valores, história, tradições e cultura;
- Entender as vocações e como elas agregam valor à economia, à pesquisa e à inovação;
- Integrar educação e treinamento com empresas e sociedade civil através de respeito e
trabalho em equipe;

42 Tradução livre de: “Design for sustainability by considering multiple levels of developing complexity in the intersecting
domains of self, culture and Nature” (DEKAY, 2014, p. 4).
43
O site http://integralcity.com/ traz informações atualizadas em relação à publicação de 2008.
150
- Projetar o sistema de informação que dá suporte ao plano de sustentabilidade da cidade;
e
- Responder ao estresse – econômico, cultural, físico, social ou psicológico – em todos os
níveis, para criar uma cidade resiliente e colaborativa.

Para Hamilton (2008), a Cidade Integral deve ser uma evolução dos estágios tradicional,
inteligente e resiliente das cidades e que, para alcançá-la, é preciso viver o Código Mestre: cuidar
de si mesmo, cuidar uns dos outros, cuidar dos lugares, cuidar do planeta. Além disso, também
é preciso reconhecer as quatro vozes da cidade: cidadãos, sociedade civil, gestores e
desenvolvedores.
Os cidadãos representam o “eu” e a mente da cidade, a cultura e as vocações; a sociedade
civil representa o “nós” e o coração da cidade, as cooperativas, fundações, instituições e
organizações; os gestores representam o cérebro da cidade e incluem os sistemas de justiça,
educação, segurança, suprimentos, transporte, energia, cultura, economia e saúde a nível
municipal, e, por fim, os desenvolvedores, que representam o corpo da cidade, a execução dos
projetos com ordem, flexibilidade e fruição, focados na sustentabilidade.
Figura 50 – As 12 inteligências da Cidade Integral

Fonte: Adaptação pela autora de http://integralcity.com/voices-intelligences.

A Cidade Integral possui um sistema de posicionamento global baseado nessas doze


inteligências, resumidamente explicadas no quadro a seguir.

151
Quadro 21 – Inteligências Integrais
INTELIGÊNCIAS INTEGRAIS
Inteligência Evolutiva Capacidade de transcender e incluir as inteligências no contexto histórico,
considerando mudanças e adaptações para a evolução.
Inteligências Integral Usa os quatro mapas essenciais da cidade: quadrantes, holarquia44 dos
Contextuais sistemas humanos; relação fractal escalar dos sistemas humanos micro,
médio e macro e complexas estruturas adaptativas de mudança.
da Vitalidade Relacionada ao alinhamento da vitalidade de cada cidadão com a
vivacidade da cidade em todos os estágios do ciclo de vida.
da Ecoesfera Capacidade de responder às realidades do clima e do ambiente da cidade
através de adaptação da infraestrutura e de soluções tecnológicas que
envolvem o fluxo de matéria, energia e informação, inclusive por meio do
retorno de alguns recursos ao ambiente.
Emergente Responsividade da cidade: sobrevivência, adaptação e regeneração; é
uma característica de sistemas vivos que ressoam junto com o ambiente.
Inteligências Investigativa Relacionada a metassabedoria da cidade: segurança; relacionamentos
Estratégicas sociais; expressividade individual; ordenamento; organização;
diversidade; conexões ecológicas e visão global.
da Navegação Monitora e revela o bem-estar e as condições gerais da cidade através de
indicadores de mudanças climáticas, saúde ambiental, respostas da
sociedade aos problemas ambientais, relações econômicas e vizinhança.
da Malha Cria uma malha através da integração entre o sistema de auto-
organização e o sistema de estruturas hierárquicas, tendo como resultado
o alinhamento entre as complexas estruturas responsivas, sistemas
flexíveis e fluxos urbanos.
Inteligências Social ou É a matéria da cidade: todo o sistema de infraestrutura urbana que
Coletivas Estrutural45 gerencia matéria, energia e informação.
Cultural ou da Representa os valores dos cidadãos; é a conexão entre as identidades e a
História46 informação, formando a rede de relacionamentos, trocas e o surgimento
de novas inteligências; é a expressão das quatro vozes da cidade.
Inteligências Externa É o espaço biológico dos cidadãos, onde existe ar, água, energia e as
Individuais demais necessidades básicas; é o ambiente urbano.
Interna É o espaço individual de cada cidadão, o estado de bem-estar e a intenção
particular para o coletivo; é a inteligência da cidadania.
Fonte: Elaboração da autora.

Ao falar em infraestrutura de matéria, energia e informação, Hamilton (2008) assume o


metabolismo urbano. Também é possível afirmar que, no caso de inteligência da ecoesfera, o
retorno de recursos ao ambiente funciona como a ecologia industrial, em que ocorre troca de
resíduos por matérias-primas.
A inteligência da emergência pressupõe que a sobrevivência da cidade integral está
vinculada aos comportamentos, intenções, relações e sistemas bio-psico-culturais-sociais de seus
cidadãos. A adaptação é dada através da diferenciação e da integração nas respostas às condições

44
“Holarquia é um termo usado para descrever uma relação entre holóns, unidades que são completas, mas ao mesmo tempo
são parte de um todo maior” (holacraciabrasil.com/glossario/holarquia/).
45
Enquanto no livro de 2008, essa é a inteligência da Construção: criando estruturas que se flexibilizam e fluem na colmeia
humana. No site, atualizado em 2017, essa é a inteligência Social (http://integralcity.com/).
46
Enquanto no livro de 2008 essa é a inteligência da História - alimentando uns aos outros na colmeia humana, no site,
atualizado em 2017, essa é a inteligência Cultural (http://integralcity.com/).
152
de vida urbana, como um reflexo dos ciclos de desenvolvimento bio-psico-cultural-social de
seus cidadãos. A regeneração ocorre através da reprodução biológica e da renovação interna,
com aprendizagem compartilhada através da acumulação, exploração, distribuição e
redistribuição de recursos. Nesse sentido, a sustentabilidade abrange o planejamento estratégico,
o compartilhamento e a sistematização.
A inteligência integral usa quatro mapas essenciais da vida na cidade. O mapa 1 é o mapa
dos quadrantes e níveis, elaborado tendo como referência os trabalhos de Ken Wilber e Don
Beck47, com a ideia de dar a compreensão da cidade como um sistema e enquadrar o contexto
de cada uma das inteligências por quadrante. A pesquisa de Tim Winton, com os padrões
integrais dinâmicos, é aplicada aos padrões integrais polarizados nesse mapa.
O mapa 1 da Figura 51 também representa as sete qualidades identificadas na linguagem
dos padrões dinâmicos48 através da polarização: expansão e contração; concentração e difusão;
input e output; fluxos e armazenamentos; ordem e caos; competição e cooperação; e masculino e
feminino. Na cidade integral, quando se fala em polarização, pressupõe-se que os opostos
mantenham uma exigência mútua que os fortaleça e uma mudança constante que garanta a
sobrevivência da cidade.

Figura 51 – Mapa 1: 4 Quadrantes e 8 Níveis da Cidade Integral

Fonte: Adaptação pela autora de http://integralcity.com/2013/02/07/integral-city-map-1-


loving-the-polarities-in-the-city/.

47
Sobre Don Beck e o Movimento “Spiral Dymanics Integral”: http://www.spiraldynamics.net/.
48
A linguagem de Padrões Dinâmicos de Tim Winton usa sete padrões que permitem uma exploração dinâmica na natureza
e na cultura de: ritmo, polaridade, estrutura, permuta, criatividade, dinâmica e pesquisa.
153
O mapa 2 da Cidade Integral, a holarquia do sistema humano, mostra como os sistemas
humanos na cidade relacionam-se através de um jardim de relacionamento em que uns
encaixam-se nos outros, incluindo uma paisagem de relacionamentos complexa. A paisagem da
cidade cria o habitat para os jardins em cascata, que incluem comunidades, organizações, grupos,
famílias e indivíduos, como pode ser visto na Figura 52.

Figura 52 – Mapa 2: Holarquia do Sistema Humano

Fonte: Adaptação pela autora de http://integralcity.com/2013/02/12/integral-city-map-2-evolving-gardens-of-


creativity/.

De acordo com Hamilton (2008), do ponto de vista do design, o arquiteto Christopher


Alexander (1965) já trazia a teoria de que cada ser vivo possui um centro de força que
interconecta e dá suporte aos demais seres vivos, através de uma simbiose que cria ecossistemas.
Na holarquia do sistema urbano, esses ecossistemas sustentam o bem-estar de cada jardim e
criam um efeito cascata de relacionamentos na cidade.
Dessa forma, o mapa 2 como um todo captura as inteligências integrais evolutiva, da
vitalidade e da ecoesfera, com ligação com as inteligências individual, coletiva e estrutural. Nele
também é possível identificar alguns padrões dinâmicos de Tim Winton, com destaque para o
padrão da criatividade, que mostra como a inovação e a adaptação surgem da emergência da
cidade, evoluindo-a. Como em um jardim, a inovação em uma cidade é plantada, amadurece,
poliniza-se e responde adaptativamente às condições de vida (HAMILTON, 2008).
O mapa 3 trata dos ciclos que fluem através do ecossistema urbano. Na Figura 53 é
possível identificar o cluster micro ou individual, que varia do egocêntrico ao etnocêntrico; o
cluster familiar; o cluster médio, ou das organizações; e o cluster macro, ou da comunidade. É
nesses clusters que ocorrem as mudanças: um indivíduo desenvolve determinada habilidade;
então, passa para sua equipe e para sua comunidade através da interação, que pode ser chamada
de troca auto-organizada (HAMILTON, 2008).
154
Figura 53 – Mapa 3: Relação fractal escalar dos sistemas humanos micro, médio e macro

Fonte: Adaptação pela autora de http://integralcity.com/2013/02/15/integral-city-map-3-relating-change-to-


exchange/.

O mapa 3 está relacionado às inteligências integrais: interna, externa, cultural, social, da


vitalidade e da ecoesfera. Nele também existem associações aos padrões dinâmicos de Tim
Winton, com destaque para o padrão da troca, que mostra como os sistemas humanos
produzem capacidade para seu próprio benefício e para o benefício dos sistemas que interagem
através da troca de energia, material e informação que flui pela rede do cérebro, da economia,
da ecologia e dos sistemas humanos. A chave para a sustentabilidade da cidade é que essas trocas
entre os sistemas humanos e seu ambiente ocorrem em ciclos que criam um metabolismo
contínuo por todo o sistema (HAMILTON, 2008).
Por fim, o mapa 4 (Figura 54) traz as complexas estruturas adaptativas de mudança,
através de formas organizacionais que mostram as funções que servem à complexidade da vida
na cidade: a partir da organização do lar familiar, passando pelo círculo de clãs, pelo castelo
territorial, pela hierarquia burocrática, pela rede industrial e social, pela ecologia sistêmica e
chegando à noosfera global (HAMILTON, 2008). É como se as organizações ganhassem
complexidade operando na cidade.
A associação desse mapa com as demais inteligências integrais se dá na inteligência da
vitalidade, emergente, da malha e da navegação. Hamilton (2008) também compara esse mapa
a um dos padrões de Tim Winton: o da estrutura. Esse padrão está voltado às estruturas do
sistema humano, como fronteiras, padrões internos e propósitos e como os sistemas as
modificam para sobreviver e prosperar.
155
O Mapa 4 coloca em foco os níveis de complexidade que estão embutidos nos extratos
do Mapa 1. O Mapa 4 revela as estruturas organizacionais que estão aninhadas como hólons na
holarquia do Mapa 2. Finalmente, os padrões estruturais do Mapa 4 mostram os contextos
organizacionais dentro dos quais as trocas de relacionamento do Mapa 3 se normalizam e
emergem. Em última análise, sem as estruturas do Mapa 4, uma cidade não seria capaz de
sustentar sua economia, vida social, institucional ou cultural (HAMILTON, 2008).
Figura 54 – Mapa 4: Complexas estruturas adaptativas de mudança

Fonte: Adaptação pela autora de http://integralcity.com/2013/02/19/integral-city-map-4-shape-shifting-


structures-that-fit/.

Os mapas da inteligência integral traçam os sistemas da cidade como um todo através de


associações com os sistemas humanos. Nesse sentido, Hamilton (2008) apresenta três regras
para a aplicação dessa inteligência:
- Mapear o território integralmente: horizontalmente, nos quatro quadrantes;
verticalmente, nos oito níveis de desenvolvimento; diagonalmente, através dos estados
de mudança; e relacionalmente, através das holarquias dos sistemas.
- Criar e manter um sistema de mapeamento integral adequado às capacidades da gestão
da cidade.
- Atualizar os mapas frequentemente.

A inteligência da vitalidade está relacionada aos ciclos de vida dos cidadãos – desde o
sustento biofísico até a saúde psicológica, passando pela cultura e pelos aspectos sociais – e à
sua associação aos ciclos de vida da cidade, ao estabelecimento das condições de vida que a
sustentam e à contribuição da cidade para o desenvolvimento local, regional e global.
Retornando ao mapa 2, da holarquia do sistema humano, a vitalidade da cidade está diretamente
associada ao alinhamento dos hólons em diferentes estágios do ciclo de vida e em diferentes

156
níveis de escala. A qualidade de vida na microescala reflete a qualidade de vida na média e na
macroescalas. Por isso todos os hólons devem estar em serviço uns dos outros, a fim de manter
a vida saudável na cidade.
Nesse sentido, de acordo com Hamilton (2008), os princípios de sistemas vivos
elencados por Elisabet Sahtouris representam a orientação para a cidade saudável. Sahtouris
(1999) afirma que a internet revolucionou o modelo de negócios através da possibilidade de
solução de problemas à distância. Isso foi possível porque a internet usou todos os princípios
organizacionais e operacionais dos sistemas vivos saudáveis – células, corpos, comunidades,
ecossistemas ou a economia (SAHTOURIS, 1999, p. 369):
- Autocriação ou autopoiese;
- Complexidade ou diversidade das partes;
- Imersão em hólons de grandezas maiores e a relação de dependência entre eles ou
holarquia;
- Autorreflexividade ou autognóstico e autoconhecimento;
- Autorregulação e automanutenção ou autonomia;
- Capacidade de resposta para estresse interno ou externo ou mudança;
- Entrada e saída de matéria, energia e informação para outros hólons;
- Transformação de material, energia e informação;
- Comunicações entre todas as partes;
- Empoderamento, pleno emprego de todas as partes dos componentes;
- Coordenação de peças e funções;
- Balanço de interesses negociados entre as partes, em todos os níveis da holarquia;
- Reciprocidade de partes em contribuição e assistência mútuas;
- Conservação do que funciona bem; e
- Inovação - mudança criativa do que não funciona bem.
No desenho urbano, as inteligências integrais estabelecem algumas diretrizes
(HAMILTON, 2008):
- Cuidar-se; cuidar dos outros; cuidar da cidade/planeta;
- Responder a contextos críticos situando a cidade em sua ecorregião como um sistema
humano vivo no planeta Terra;
- Criar o clima bio-psico-cultural-social para construir capacidades individuais;
- Desenvolver habitats para a prosperidade do coletivo;
- Integrar estratégias que conectam e mesclam setores; e
157
- Desenvolver continuamente inteligências que integram condições ótimas para a
emergência da cidade e para a sustentabilidade ecorregional;

Para além da questão ecorregional, a teoria de Hamilton (2008) indica um planeta de


cidades integrais em que exista consciência da contribuição individual para a evolução de Gaia,
como se os indivíduos fossem as células, as organizações fossem as organelas e as cidades
integrais fossem os órgãos do sistema de Gaia. Nesse sentido, a autora enquadra o planeta das
cidades integrais em: cosmosfera, como o planeta que orbita no sistema solar; biosfera, como
a Gaia de Lovelock, que emergiu expressões e padrões de informação cosmológica e biológica
e evoluiu, e antroposfera, como as cidades sendo o habitat coletivo dos seres humanos.
A partir dessa teoria, Hamilton criou a Rede de Cidades Integrais, uma constelação global
de comunidades que praticam as inteligências da cidade integral. A rede foi criada em 2005 e
hoje conecta cidades no Canadá, Estados Unidos, Holanda, Rússia, México e África do Sul.
As diretrizes de desenho urbano presentes na Teoria da Cidade Integral foram analisadas
e classificadas. O Quadro 22 também foi elaborado com base na abordagem metodológica
adotada nesta pesquisa (escalas urbanas – P, M e G – e sua relação com os serviços
ecossistêmicos urbanos).

Quadro 22 – Diretrizes de Desenho Urbano para a Cidade Integral

REGULAÇÃO

CULTURAL
PROVISÃO

SUPORTE
REFERÊNCIA DIRETRIZES DE DESENHO URBANO PARA A CIDADE INTEGRAL

Projetar espaços naturais interativos G G G G


Projetar locais centralizadores como marcos para transformação autoconsciente
P P P P
e ambiental

Projetar infraestrutura urbana e edifícios de acordo com a orientação solar e a


P P P
volumetria que resultem em melhor desempenho energético

Projetar infraestrutura urbana e edifícios de alto desempenho energético e


DEKAY, 2014 P P P
visando a estabilização do uso de energia derivada de combustíveis fósseis

Projetar de forma a apoiar ecossistemas tecnoindustriais P P P


Projetar para criar locais seguros e saudáveis M M
Considerar soluções de design adequadas aos locais específicos, nas escalas
G G G G
local, de vizinhança e regional

Considerar soluções de design para ecossistemas humanos regenerativos G G G G

HAMILTON, 2008;
Revitalizar e projetar regiões através da promoção da identidade comunitária G G
DEKAY, 2014.

HAMILTON, 2008 Projetar o sistema de informação que dá suporte ao plano de sustentabilidade G


da cidade.

158
Usar tecnologias de georreferenciamento para alinhar os tipos de cidades, suas
vozes, as fontes de energia mais relevantes e seus propósitos com os G G G G
indicadores de bem-estar.
Projetar infraestrutura adaptada ao clima e meio ambiente local, com fluxo e G G G G
retorno de matéria, energia e informação.
Projetar interligação entre estruturas responsivas, sistemas flexíveis e fluxos G G G
urbanos.
Desenvolver habitats para a prosperidade do coletivo. G G G
Integrar estratégias que conectam e mesclam setores. G G G G
Fonte: Elaboração da autora.

3.6. Estruturação das diretrizes de desenho urbano sustentável

A unificação dos Quadros 8, 12, 14, 19 e 22 resultou na estruturação final das diretrizes
de todas as perspectivas selecionadas, classificadas seguindo a abordagem metodológica adotada
nesta pesquisa (Quadro 2 e Quadro 3). Para retomar, como nos demais quadros de diretrizes, o
esquema de cores é: a verde indica os serviços de provisão; a azul, os serviços de regulação; a
vermelha, os serviços culturais; e a cor amarela, os serviços de suporte. Para facilitar a leitura do
quadro, as diretrizes também foram organizadas de acordo com a relação predominante entre a
diretriz e determinado serviço, conforme pode ser visto no Quadro 23.

Quadro 23 – Estruturação final das diretrizes de desenho urbano sustentável


PROVISÃO REGULAÇÃO CULTURAL SUPORTE
Urbanismo Sustentável

Urbanismo Sustentável

Urbanismo Sustentável

Urbanismo Sustentável
Urbanismo Ecológico

Urbanismo Ecológico

Urbanismo Ecológico

Urbanismo Ecológico
Simbiose Industrial
Simbiose Industrial

Simbiose Industrial

Simbiose Industrial
Ecologia Urbana

Ecologia Urbana

Ecologia Urbana

Ecologia Urbana
Cidade Integral

Cidade Integral

Cidade Integral

Cidade Integral

PRODUÇÃO
Criar normas de zoneamento adequada que
permitem a produção de alimentos em P P P
residências unifamiliares ou em comunidade.
Projetar áreas verdes destinadas à agricultura M M
urbana
Usar princípios da ecologia industrial no G G G G G G G G
desenho urbano
Promover o consumo local de alimentos G G
Designar locais para hortas em parques, que
podem ser usadas por funcionários ou P P P
restaurantes locais
Projetar de forma a apoiar ecossistemas
P P P
tecnoindustriais.

159
DRENAGEM E SANEAMENTO
Projetar sistemas alternativos para
M G M G M G
tratamento de esgoto
Projetar áreas de absorção, retenção, M G M M M G M M M G M M
tratamento biológico e reuso de água pluvial
HABITAÇÃO
Aumentar a diversidade de tipos de moradia
P P P P
nos bairros

Promover a coabitação M M M

ENERGIA
Projetar infraestrutura urbana e edifícios de
acordo com a orientação solar e a volumetria
P M P P P M P
que resultem em melhor desempenho
energético.
Projetar infraestrutura urbana e edifícios de
alto desempenho energético e visando a
P P P M P M P P P P M P
estabilização do uso de energia derivada de
combustíveis fósseis.
Projetar sistemas de geração, transmissão e
M M
distribuição de energia na escala distrital.
Integrar e combinar fontes de energia M M

ECONOMIA
Projetar as áreas comerciais de acordo com a
demanda do local e padronizá-las em termos
P P
de administração, projeto, funcionamento e
manutenção
Projetar considerando a ecologia e a G G G
economia para garantir a segurança ecológica
Desenhar as transformações urbanas a partir
das microestruturas de economias domésticas G G
existentes
BIOCLIMA
Fomentar a plantação de vegetação nas áreas
M M M M
internas lotes urbanos.
Otimizar funções ecológicas ao longo das
G G G M M G M
rodovias
Projetar grandes áreas verdes para melhoria G G G G G G G G
da biodiversidade
Integrar as cidades aos seus rios através da M M M M
renaturalização
Projetar com mecanismos e materiais G G
inspirados na biologia
PRESERVAÇÃO E CONSERVAÇÃO
Projetar áreas naturais de acordo com o
M M M
contexto regional, a biologia e a ecologia
Criar normas urbanas para entendimento e G G G G
utilização de recursos naturais
Replantar vegetação natural para agregar valor
G M G M G M G M
à paisagem
Projetar espaços naturais interativos G G G G
Projetar locais centralizadores como marcos
para transformação autoconsciente e P P P P
ambiental
ORDEM PÚBLICA

160
Considerar a hierarquia das vias para o
projeto de faixas de rolamento, velocidade, M
equipamentos e acessos
Melhorar os níveis de iluminação urbana
M M
considerando as zonas de conflito
Incorporar iluminação urbana à malha viária. M M M
Projetar para criar locais seguros e saudáveis M M

COMUNICAÇÃO
Projetar rede sem fio que conecte sensores a
servidor central e possibilite o monitoramento M
de atividades em tempo real
Projetar o sistema de informação que dá
suporte ao plano de sustentabilidade da G
cidade.
Criar percursos para pedestres e ciclistas
mapeados e com aplicativos para dispositivos G G
móveis
MOBILIDADE E ACESSIBILIDADE
Projetar o bairro de acordo com o tamanho
ideal para o pedestre, considerando raio de
P P
400m para deslocamento entre os principais
destinos
Criar distritos com habitações em que é
M M
proibido o uso de automóveis.
Reduzir a quantidade de estacionamentos
particulares e incentivar o uso de automóveis M M
compartilhados
Projetar ciclovias e ciclofaixas nas principais
M M
vias urbanas
Projetar bolsões de estacionamento nas áreas
M
centrais
Projetar vias que atendam a todos os modais
M M
de transporte.
Desenvolver projetos de acessibilidade aos
M M
passeios públicos e aos edifícios
Projetar parques urbanos dentro do limite de
M M M M
deslocamento para pedestres.
Projetar a rede de mobilidade como atividade
integrante do sistema de comunicação e G G G G
interação social
Desenhar sistema de mobilidade para suporte G
ao uso de veículos elétricos
RECICLAGEM
Projetar considerando o ciclo de vida dos M M M M M M
materiais da construção
Projetar redes de reciclagem com
recolhimento, separação, venda, revenda e G G G
recuperação para reuso
Projetar a separação de resíduos para
M M M
incentivar o reparo, o reuso e a reciclagem
Incentivar a compostagem e outros usos para
M M M
os resíduos orgânicos

RETROFIT
Reutilizar antigos edifícios e infraestrutura -
M M M M
retrofit
ESPORTE E RECREAÇÃO

161
Criar áreas de convívio público nos bairros
com equipamentos necessários de acordo P P
com a demanda.
Projetar áreas verdes comunitárias nos
P P P P
bairros.
Seguir normas para o projeto de parque: área
M M M M
mínima, segurança e limitação.
Projetar espaços de catalisação de relações
M
sociais
Projetar parques urbanos acessíveis e G G G G
próximos a regiões comerciais
PERTENCIMENTO E IDENTIDADE
Criar um centro identificável com marcos
P
visuais para o pedestre
Revitalizar e projetar regiões através da G G G G
promoção da identidade comunitária
Desenvolver habitats para a prosperidade do
G G G
coletivo.

VOCAÇÃO
Projetar a diversidade de uso de um bairro de
P P P P
acordo com sua localização e vocação
Reservar terrenos de localização estratégica
P P P P
para uso cívico, praças e parques
Desenhar enriquecendo as experiências M
sensoriais do local
Desenhar a cidade a partir de seus indicadores G G G G
e de suas vocações
RELEVO E HIDROGRAFIA
Projetar a partir de informações geoespaciais
G G G G
e impactos ecológicos e sociais
Usar a cartografia para determinar o desenho G
urbano
Manter a forma do terreno e outras
características de paisagem que suportam M M M
funções ecológicas e eficiência energética

INFRAESTRUTURA
Usar ferramentas de simulação de modelos G G G G
Reconfigurar fluxos e fixos em um G G G G
metabolismo integrado
Usar calor residual de processos para
P P
aquecimento de ambientes
Usar tecnologias de georreferenciamento
para alinhar os tipos de cidades, suas vozes, as
G G G G
fontes de energia mais relevantes e seus
propósitos com os indicadores de bem-estar.
Projetar infraestrutura adaptada ao clima e
meio ambiente local, com fluxo e retorno de G G G G
matéria, energia e informação.
Projetar interligação entre estruturas
responsivas, sistemas flexíveis e fluxos G G G
urbanos.
ORDENAMENTO TERRITORIAL
Estabelecer normas de ocupação de acordo G G
com a vocação existente no local
Projetar edifícios flexíveis e multifuncionais P P

162
Criar limiares entre cidade e campo com
territórios híbridos, produtivos e que M M M
permitam moradias flexíveis e descontínuas
Diluir fronteiras através de construções com M M
perímetros permeáveis e fluídos
Usar a bacia hidrográfica como unidade de G G G G
planejamento
Projetar de forma a integrar subsolo, solo e G
pavimentos superiores da cidade
Considerar soluções de design adequadas aos
locais específicos, nas escalas local, de G G G G
vizinhança e regional
Incentivar a flexibilidade e o planejamento do
local de forma a considerar as variações de uso P P P
ao longo do tempo

TRANSDISCIPLINARES
Projetar infraestrutura urbana com equipe
M G G M G G M G G M G G
multidisciplinar
Projetar o espaço urbano considerando sua G G G G
história natural e social
Considerar soluções de design para
G G G G
ecossistemas humanos regenerativos
Integrar estratégias que conectam e mesclam
G G G G
setores.
Fonte: Elaboração da autora.

Iniciando a análise pelas escalas urbanas de abrangência, é possível dizer que a escala P
é a menos representativa, o que indica que as diretrizes estão voltadas a soluções que atendem
o ecossistema urbano como um todo, e não apenas de forma pontual. Enquanto que as escalas
M e G apresentam representação semelhante e quantidade relativa.
A perspectiva do Urbanismo Sustentável apresenta diretrizes apenas nas escalas P e M,
pois trabalha com edificações, quadras, parte de bairros, bairros – todos na escala P desta
pesquisa – e corredores – o único representante da escala M nesta pesquisa. Em compensação,
todas as perspectivas apresentadas possuem diretrizes na escala P apenas quando se remetem a
edifícios, com poucas diretrizes representativas.
Ao total, foram levantadas 82 diretrizes, sendo 17 na escala P, 38 na escala M e 36 na
escala G. A discrepância da somatória ocorre pelo fato de que algumas diretrizes foram
classificadas com diferentes escalas de acordo com o contexto da perspectiva analisada. Isso
ocorreu sete vezes.
Ainda analisando estatisticamente, foram classificados 77 serviços de provisão, 88 de
regulação, 53 culturais e 69 de suporte. Os serviços culturais foram os menos representados,
enquanto os de regulação foram os mais representados, como é o esperado, posto que o ODS

163
11, diretamente relacionado às cidades sustentáveis, encontra-se no âmbito dos serviços de
regulação.
Cada uma das perspectivas possui um foco ou uma linha de pensamento que faz com
que haja maior concentração em determinados serviços ecossistêmicos urbanos do que em
outros. A perspectiva de Urbanismo Ecológico possui muitas diretrizes, porque os autores são
atuantes na área de pesquisa ou de mercado e possuem uma série de especificidades para indicar.
Ainda assim, existem lacunas, principalmente nos serviços culturais e de suporte.
Dentro das constituintes dos serviços ecossistêmicos urbanos, ainda de acordo com o
Quadro 23, não foram identificadas diretrizes relacionadas aos serviços de saúde pública e
educação no grupo de provisão, patrimônio e arte e espiritualidade no grupo de cultural, nem
fauna, flora e clima no grupo de suporte. No grupo de suporte, a falta de representação desses
serviços nas diretrizes de desenho urbano pode-se tornar uma questão de saúde pública.
Nessa perspectiva, os serviços de provisão - saúde pública e educação – e culturais –
patrimônio e arte e espiritualidade – também deveriam estar presentes nas diretrizes de desenho
urbano sustentável a fim de completarem os fluxos metabólicos do ecossistema urbano.
Acredita-se que a tendência de esses serviços não estarem no escopo direto do desenho urbano
esteja relacionada à especificidade de projetos arquitetônicos dessas áreas.
As perspectivas de Metabolismo e Ecologia Urbana e de Simbiose Urbana e Industrial
são as que demonstram maior potencial para promoção de integração de sistemas e de ciclagem
de energia, matéria e informação, e, ao mesmo tempo, são as que possuem menos diretrizes
identificadas. Isso ocorre porque essas são perspectivas tecnológicas relacionadas aos processos
de produção e, por isso, não estão diretamente voltadas aos processos de projeto urbano.
Há uma simplificação na complexidade do ecossistema urbano para que as perspectivas
de desenho urbano sustentável alcancem o máximo possível dos ideais globais dos ODS,
principalmente os relacionados às comunidades e cidades sustentáveis. As diretrizes
identificadas nas perspectivas são lineares e agem de forma pontual e específica para cada um
dos serviços ecossistêmicos aos quais foram relacionadas, o que faz com que seja impossível
acompanhar a dinâmica do urbano.
O contexto em que as perspectivas de desenho urbano sustentável tiveram suas teorias
e aplicações elaboradas e desenvolvidas tem na sustentabilidade urbana a busca por um cenário
futuro ideal estimulado por uma mudança de hábitos da sociedade, que assume atingir os
dezessete ODS. As 82 diretrizes para o desenho urbano sustentável do Quadro 23 apontam
para cidades inclusivas, seguras, resilientes e sustentáveis. Atualmente, esse é um processo em
164
transição que nem todos entendem como paradigmático. De acordo com GEELS (2002), as
diretrizes do desenho urbano sustentável podem ser consideradas como inovadoras por não
terem sido totalmente aceitas, ou seja, ainda são transições sociotécnicas que carregam as
possíveis soluções para os problemas ambientais da atualidade (GEELS, 2011).
Na perspectiva da transição sociotécnica, Geels (2010) e Frantzeskaki et al. (2017)
afirmam que é nas cidades que ocorrem as pressões pelas transições para o baixo carbono nos
sistemas de infraestrutura e para solucionar problemas ambientais, de mudança climática,
biodiversidade e esgotamento de recursos. Por isso, ao se considerar a insustentabilidade urbana
um problema ambiental, a governança, o planejamento urbano e o desenho urbano sustentáveis
podem ser a solução.
Os problemas ambientais da atualidade requerem soluções que envolvem não apenas as
tecnologias, mas também a sociedade urbana, sua infraestrutura, cultura, estilo de vida,
governança e política e redes institucionais. São realinhamentos que não são lineares e requerem
processos complexos e profundos de mudança, com inovação e experimentação (GEELS, 2010;
FRANTZESKAKI et al., 2017).
A transição para a sustentabilidade urbana envolve o alinhamento de recursos e atores
através de domínios em um local geográfico específico, onde a multiplicidade de dimensões é
concomitante. Com isso, Frantzeskaki et al. (2017) afirmam a necessidade de mudança
conceitual e metodológica em relação aos modelos usuais a fim de garantir as transições.
Dessa forma, conforme apresenta a Figura 55, as perspectivas de desenho urbano
sustentável podem ser colocadas como nichos para o cenário da sustentabilidade urbana, porque
é nelas que estão as ideias inovadoras e são as diretrizes delas que estão passando pelo processo
de aceitação pelo mercado e pela sociedade, pela indústria, pela política, pela tecnologia, pela
cultura e pela ciência a fim de alcançar o regime do desenho urbano sustentável de forma global.

165
Figura 55 – Perspectiva Multinível aplicada para o regime de Desenho Urbano Sustentável

Fonte: Elaboração da autora.

Apesar dessa falta de um cenário de sustentabilidade urbana pré-estabelecido e das


discrepâncias entre as perspectivas analisadas, muitas das suas diretrizes já passaram pela
aprovação das sete dimensões do regime sociotécnico – tecnologia, mercado, infraestrutura,
indústria, política e ciência –, ou porque estão em documentos de acordos internacionais –
Agenda 21, Agenda 2030 -, ou porque estão em processos de certificações – LEED, BREEAM
e Aqua, entre outros –, ou ainda porque já são utilizadas em muitas cidades que visam a
sustentabilidade.
As perspectivas trabalham com o desenho como meio para alcançar a sustentabilidade.
Por isso, o desenho urbano sustentável é considerado nesta tese como o regime sociotécnico
capaz de atingir o cenário da sustentabilidade.
Ingber (2010), Frug (2010), Glaser (2010), Mitchell (2010) e Duany (2010), seguidores do
Urbanismo Ecológico, e Hamilton (2008), principalmente quando usa os princípios da Sahtouris
(1999) para orientar a cidade saudável, são claros na ideia de que, para alcançar a sustentabilidade
urbana, é necessário que o sistema sofra mudanças em todas as dimensões e escalas. Uma
mudança em nível de quebra de paradigma: o que é a sustentabilidade urbana ideal ou como é
um ecossistema urbano completo.
Assim, as perspectivas analisadas poderiam alcançar o desenho urbano sustentável
através da união das suas diretrizes, se tivessem um único cenário de sustentabilidade urbana.
Porém, sem dinâmica e integração de sistemas, ainda não é possível às necessidades do
ecossistema urbano como um todo. Nessa perspectiva, o urbano ainda não seria capaz de ser
sustentável. Esta tese continua em busca de um cenário para a sustentabilidade urbana ideal, que
envolva uma transição de paradigma.
166
4. Autopoiese: da ecologia às cidades

O regime sociotécnico do desenho urbano sustentável influencia o cenário da


sustentabilidade urbana. Quando se assume a Nova Agenda Urbana e os ODS, profissionais
que trabalham com o urbano tendem a pensar mais nas Cidades e Comunidades Sustentáveis
do ODS 11, porém os objetivos devem ser pensados de forma integrada (RUTKOWSKI;
DALBELO, 2017). Após a análise das diretrizes de desenho urbano sustentável sugeridas na
bibliografia das perspectivas apresentadas no capítulo três desta tese, é possível afirmar que não
existe integração entre os serviços ecossistêmicos urbanos e o desenho urbano.
Essa integração pode representar o alcance dos ODS na esfera do urbano, mas só pode
ser viabilizada a partir do reconhecimento do ecossistema urbano completo, que reconhece as
indústrias como parte constituinte do metabolismo urbano. De acordo com a teoria da transição
de Geels (2002, 2010, 2011), há necessidade de alterações dos nichos da transição sociotécnica
para a sustentabilidade urbana através de inovação. Essa percepção de alteração de trajetória
visa à mudança para o paradigma da cidade como um ecossistema dinâmico e integrado,
diferente do que se propunha até então, com as perspectivas de desenho urbano sustentável.
A autopoiese é uma perspectiva científica que estuda os sistemas como entidades em
contínua interação entre elas e o meio ambiente, que não isola fenômenos em contextos únicos
e que globaliza conceitos ecológicos para outras disciplinas. Por isso, esta tese reconhece o papel
da autopoiese como chave da transição para o novo paradigma urbano.
Aqui não se pretende usar metáfora ou homonímia para estabelecer relações entre a
ecologia e os estudos do meio urbano. A fim de estruturar essas relações, são expostas situações
de comparações ambientais, sociais e econômicas que estão para a organização dos seres vivos
assim como para as estruturas e redes urbanas. A autopoiese urbana, nesse sentido, se apresenta
como uma inovação a fim de alcançar o regime do desenho urbano autopoiético e, por fim, o
novo cenário da sustentabilidade urbana regida pelos ODS.
De acordo com Bertalanffy (1968), o mundo pós-Segunda Revolução Industrial é
forçado a pensar em sistemas devido à complexidade e à mescla de disciplinas envolvidas na
solução de problemas que surgiram com a tecnologia dessa fase. De acordo com o autor,
considerar fatores como componentes interdependentes de um sistema total não é apenas uma
tendência tecnológica de fazer coisas maiores e melhores, mas uma mudança nas categorias
básicas de pensamento científico, em que a complexidade é uma das manifestações mais
importantes.
167
Os sistemas precisam ter capacidade de percepção e monitoramento a fim de estabelecer
a relação com o meio através de comunicação e aprendizagem. Eles são inteligentes e
autorregulantes, partindo de padrões que guiam as operações. Se o meio está em frequente
mudança, o sistema deve acompanhá-lo através de processos de aprendizagem e inovação
(MORGAN, 1996). Quando esses processos são analisados através da perspectiva de um
observador, surge um tipo de cibernética de segunda ordem, a autoprodução do sistema assistida
pelo observador do observador: a teoria da autopoiese.

4.1. Origem do conceito

O segundo ensaio incluído neste livro foi escrito em 1972, como uma expansão
da sessão sobre “sistemas vivos” na “biologia da cognição“. A escrita deste
ensaio foi de fato desencadeada por uma conversa em que Francisco Varela e
eu tivemos e na qual ele disse: "Se de fato a organização circular é suficiente
para caracterizar os sistemas vivos como unidades, então deve ser possível
colocá-los em termos mais formais". Eu concordei, mas disse que uma
formalização só poderia vir depois de uma descrição linguística completa, e nós
imediatamente começamos a trabalhar com a descrição completa. Nós ainda
estávamos descontentes com a expressão “organização circular”, e nós
queríamos uma palavra que por si só transmitisse a característica central da
organização da vida, que é a autonomia. Foi nessas circunstâncias que um dia,
enquanto conversava com um amigo (José Bulnes) sobre um ensaio de Dom
Quixote de la Mancha, em que ele analisou o dilema de seguir o caminho do
brasão de Dom Quixote (práxis, a ação) ou o caminho das letras (poiesis,
criação, produção), e sua eventual escolha pelo caminho da práxis, adiando
qualquer tentativa de poiesis, entendi pela primeira vez o poder da palavra
“poiesis” e inventei a palavra que precisávamos: autopoiese. Essa era uma
palavra sem uma história, uma palavra que pode significar diretamente o que
toma o lugar na dinâmica da autonomia adequada para os sistemas vivos.
Curiosamente, mas não surpreendentemente, a invenção dessa palavra provou
ser de grande valor. Ela simplificou enormemente a tarefa de falar sobre a
organização da vida, sem cair na armadilha sempre escancarada de não dizer
nada de novo, porque a língua não permite isso. Não poderíamos escapar de
sermos imersos em uma tradição, mas com uma linguagem adequada,
poderíamos nos orientar de forma diferente e, talvez, a partir da nova
perspectiva gerar uma nova tradição (MATURANA; VARELA, 1972, p. xvii).

Retomando a introdução desta tese, o conceito de autopoiese49 foi desenvolvido pelos


biólogos chilenos Humberto Maturana e Francisco Varela ao questionarem-se sobre “Qual é a
organização que os define [os seres vivos] como classe?” (MATURANA; VARELA, 1995, p.
84) e usarem seus conhecimentos mesclados por epistemologia, antropologia e sociologia,

49 Autopoiese: do grego autós [a si próprio] + poiesis [criação, geração].

168
embasados no pensamento sistêmico50, para desenvolverem a Teoria da Autopoiese, que
explora seu conceito e, ao fazer isso, gera a fenomenologia.
Basicamente, a autopoiese pode ser considerada como uma organização de fluxos
metabólicos em que matéria, energia e informação são criadas e recicladas ciclicamente. Nas
palavras dos criadores:
[...] a organização do ser vivo se explicava a si mesma ao ser vista como um
operar circular fechado de produção de componentes que produziam a própria
rede de relações de componentes que os gerava […] (MATURANA; VARELA,
1995, p. 39).

A Teoria da Autopoiese propõe, principalmente, a inseparabilidade entre o ser, o fazer e o


conhecer, de forma a criar os aforismos chave da teoria: “[...] todo fazer é conhecer e todo
conhecer é fazer” (MATURANA; VARELA, 1995, p. 68) e “[...] tudo aquilo que é dito, é dito
por alguém” (MATURANA; VARELA, 1995, p. 69). Esses aforismos levam ao pensamento de
que o processo do conhecimento é realizado em todos os momentos e em todas as dimensões
da vida.
Assim, a resposta ao questionamento proposto pelos autores acerca do que define o ser
vivo como classe é: “[...] os seres vivos se caracterizam por, literalmente, produzirem-se
continuamente a si mesmos – o que indicamos ao chamarmos a organização que os define de
organização autopoiética” (MATURANA; VARELA, 1995, p. 84-85). As relações que definem
essa organização são explicitadas pelos autores no nível celular, considerando que os
componentes de uma unidade autopoiética estão “[...] dinamicamente relacionados numa
continua rede de interações” (MATURANA; VARELA, 1995, p. 85) – a rede do metabolismo
celular. A unidade autopoiética possui uma membrana que limita a extensão da sua rede e que
também participa dela.
O ser vivo, como uma unidade autopoiética, garante sua autonomia através do processo
contínuo de ser, fazer e conhecer, que permite a especificidade de suas próprias leis. Segundo
os autores, para entender a autonomia do ser vivo é preciso conhecer a organização que o define
como unidade. Essa organização é sua estrutura, ou seja, os componentes e relações que
constituem concretamente uma unidade particular. A estrutura de uma unidade pode ser alterada
sem que se perca sua organização, processo denominado ontogenia.

A ontogenia é a história da mudança estrutural de uma unidade sem que esta


perca sua organização. Esta contínua mudança estrutural ocorre na unidade a

50 Pensamento sistêmico é “[...] a compreensão de um fenômeno dentro do contexto do todo maior” (CAPRA, 2001, p. 39).

169
cada momento, desencadeada por interações com o meio onde se encontra
como resultado de sua dinâmica interna (MATURANA; VARELA, 1995, p.
112).

Existe também a situação em que a ontogenia ocorre entre duas ou mais unidades,
conforme mostra o diagrama da Figura 56.

Figura 56 – Diagrama de ontogenia

Fonte: Adaptação pela autora de Maturana e Varela (1995).

É possível dizer que a ontogenia entre duas unidades e o meio é acoplada, pois as
interações adquirem um caráter recorrente ou muito estável, o qual constitui perturbações
recíprocas. Nesses casos, a estrutura do meio desencadeia as mudanças estruturais das unidades
autopoiéticas e, como resultado, tem-se uma “[...] história de mudanças estruturais mútuas,
desde que a unidade autopoiética e o meio não se desintegrem” (MATURANA; VARELA,
1995, p. 113) e, então, fala-se em acoplamento estrutural. Nele, ocorrem as relações entre as
partes e o todo, com troca de matéria, energia e/ou informação.
Unidade e meio passam por transformações recíprocas no acoplamento estrutural. Nesse
processo, para que ocorra manutenção dos sistemas dinâmicos, é necessário que ocorra
adaptação. Caso contrário, as interações tornam-se destrutivas e há tendência à desintegração.
“Em outras palavras, a ontogenia de um indivíduo é uma deriva de mudanças estruturais com
conservação de organização e adaptação” (MATURANA; VARELA, 1995, p. 137).
Essa organização é a estrutura celular, ou seja, os componentes e relações que constituem
concretamente uma unidade particular. Quando duas células associam-se para realizarem suas
ontogenias, originam as unidades metacelulares ou de segunda ordem. Nelas, a organização da
estrutura como unidade é feita através da coordenação da interação entre as unidades, que pode

170
ser em simbiose, quando ocorre a sobreposição de fronteiras entre duas unidades, ou o
acoplamento, em que as unidades conservam seus limites individuais ao mesmo tempo em que
estabelecem uma nova coerência, conforme exemplificado na
Figura 57.

Figura 57 – Unidades autopoiéticas em simbiose e metacelular

Fonte: Adaptação pela autora de Maturana e Varela (1995).

Existem também as unidades de terceira ordem, aquelas que se originaram a partir do


surgimento de organismos com sistema nervoso que participaram de interações recorrentes e
que possuem maior plasticidade, porque estão em contínua transformação, congruente com as
transformações do meio. Assim, um sistema autopoiético opera de forma a selecionar as
mudanças estruturais que lhe permitem continuar operando sem se desintegrar. A isso se dá o
nome de aprendizagem adequada (MATURANA; VARELA, 1995).
Os fenômenos sociais são exemplos de associação das unidades de terceira ordem.
Segundo os autores,

[…] as unidades resultantes dos acoplamentos de terceira ordem, ainda que


transitórias, geram uma fenomenologia interna particular, em que organismos
participantes satisfazem suas ontogenias individuais, fundamentalmente,
segundo seus acoplamentos mútuos na rede de interações recíprocas que
formam ao constituir as unidades de terceira ordem (MATURANA;
VARELA, 1995, p. 216).

171
Assim, os fenômenos sociais pressupõem um acoplamento estrutural entre indivíduos
em que há uma conduta de coordenação recíproca, chamada comunicação. A comunicação é
mutuamente desencadeada entre os membros de uma unidade social. Por conseguinte, os
comportamentos ontogenicamente adquiridos na dinâmica de uma determinada unidade social
e que conseguem estabilidade ao longo de gerações são chamados culturais. O estabelecimento
ontogênico de um domínio de condutas comunicativas pode ser descrito como associável a
termos semânticos. Isso porque, quando ocorre intersecção entre cultura e comunicação, é
possível falar em domínio linguístico (MATURANA; VARELA, 1995). De acordo com a Teoria
da Autopoiese, não há separação entre o físico, o biológico e o social; todos os seres vivos
desenvolvem suas ontogenias de maneira integrada e recursiva. Existe uma cadeia de interação
nas redes de componentes de um sistema e “[...] não pode haver autopoiese sem componente
interagindo ativamente” (ZELENY, 2015, p. 186).

Figura 58 – Componentes interagindo ativamente

Fonte: Elaboração da autora.

Para que ocorra a interação entre os componentes de um sistema, é preciso que eles se
comuniquem de forma a trocarem informações e estimulem-se mutuamente para que ajam em
reciprocidade. Essa ação engendrada conecta os componentes em rede. A reiteração desse
processo faz com que as redes se tornem mais estáveis, previsíveis e autônomas, o que traz
regras de padrões comportamentais, as quais caracterizam o próprio fundamento da vida, seja
celular ou social. Em um sistema social, a interação entre seus componentes forma uma
sociedade (ZELENY, 2015).
Considerando a possibilidade de organismos metacelulares serem unidades de primeira
ordem dentro dos sistemas sociais que integram, o sociólogo Niklas Luhmann criou a Teoria de
Sistemas Sociais Autopoiéticos. Em sua obra Essays on Self-Reference (1990), o autor estende a

172
autopoiese para a sociologia, além da biologia, com o objetivo de defender a ideia de que a
sociedade é a comunicação; dessa forma, o indivíduo não faz parte do sistema social pela sua
individualidade ou coletividade, mas, sim, pela comunicação. Isso porque é a comunicação que
faz e produz sentido, seleciona possibilidade de experiência vital e ajuda a estruturar o sistema
social (LUHMANN, 1984).
Luhmann considera que se as unidades de terceira ordem são fenômenos para que
sistemas vivos mantenham sua autopoiese, então não é possível negar o uso do termo para os
sistemas sociais apenas por não conseguirem separar as dimensões físicas e sociais
(LUHMANN, 1990). Assim, no ponto de vista da semiótica, as comunicações entre organismos
são as unidades elementares do sistema social.

A comunicação é uma operação genuinamente social (e a única


verdadeiramente social). É genuinamente social, porque, embora pressuponha
uma multiplicidade de sistemas de consciência participante, não pode ser
atribuída (por essa razão) a qualquer consciência individual (LUHMANN,
2012, p. 42).51

O sistema social é passível de autorreprodução quando seleciona elementos do ambiente


que podem ser assimilados à sua complexidade. Essa seleção é realizada sob a forma de códigos
binários, denominados diferenças diretrizes, que formam a identidade do sistema, gerando sua
diferenciação em relação ao ambiente (LUHMANN, 1990). Após a seleção dos elementos,
ocorre o acoplamento estrutural; então, elementos do ambiente externo ao sistema são
incorporados a ele. Na teoria de Luhmann, um dos principais exemplos de acoplamento
estrutural é o que ocorre com o elemento linguagem, entre os sistemas psíquico e social,
conforme Figura 59.

Figura 59 – Acoplamento entre sistemas psíquico e social

51Tradução livre de: “Communication is a genuinely social operation (and the only genuinely social one). It is genuinely
social in that, although it presupposes a multiplicity of participating consciousness systems, it cannot (for this very reason)
be attributed to any individual consciousness” (LUHMANN, 2012, p. 42).
173
Fonte: Elaboração da autora.

A teoria dos sistemas autorreferentes de Luhmann (1984) indica como princípio básico
a distinção entre o sistema estruturalmente orientado para o meio ambiente e o meio ambiente,
que não pode viver sem o sistema. A partir dessa diferenciação, cria-se a relação entre a unidade
e as partes e a relação de causalidade exposta no meio urbano.
Dando continuidade ao estudo, Luhmann (1990) propõe uma análise sistêmica da
realidade social, abrindo espaço para a construção de outros subsistemas teóricos e subjetivos
através da globalidade e da interdependência dos fenômenos sociais. Considerando que o
território urbano é o plano para fenômenos sociais, esta tese apoia-se também na teoria de
Luhmann para suas definições teóricas.
Existe ainda outra teoria baseada na autopoiese de Maturana e Varela (1972) e
desenvolvida por Fleischaker (1990), que afirma que, entre as ramificações da origem da vida, a
autopoiese é a que define um sistema funcional que se autoproduz a partir do metabolismo de
suas partes. A autopoiese considera que o que é único para os sistemas vivos é a organização
unitária das interações de energia e matéria em “[...] uma rede de processos cujo resultado é a
produção de todos os componentes do sistema, incluindo os constituintes da sua estrutura
fronteiriça” (FLEISCHAKER, 1990, p. 128). Nessa rede, há uma contínua transformação
molecular na produção e na criação de componentes do sistema.
A organização unitária que constitui a autopoiese pressupõe uma continuidade de
operação de um sistema metabólico em que a função da rede energética-metabólica é de um
fluxo contínuo: os produtos de uma reação servem como insumos para outras reações e são por
elas estimulados. Nesse sentido, moléculas incorporadas em uma estrutura determinam a
organização do sistema, que gera um fluxo que produz estruturas moleculares, e esse fluxo
mantém-se dinamicamente, incorporando moléculas. A estrutura possui os componentes
efetivos e mantém a dinâmica contínua acoplada ao meio. “O auto, da autopoiese, é a
continuidade ativa desta operação circular unitária” (FLEISCHAKER, 1990, p. 129).

174
Figura 60 – A circularidade do “self” na auto-produção autopoiética

Fonte: Adaptação pela autora de Fleischaker (1990).

Assim, para o sistema ser considerado autopoiético, deve possuir três características:
autodelimitação, em que a entidade tem um interior e uma fronteira constituída por
componentes distintos; autogeração, em que todos os componentes – do interior e da borda –
são produzidos por transformações contínuas; e autoperpetuação, em que todas as
transformações dos componentes são determinadas pelas relações entre suas propriedades de
forma contínua e acoplada ao meio (FLEISCHAKER, 1990).
A teoria da autopoiese é um mecanismo heurístico. Quando esse mecanismo funciona,
gera toda a fenomenologia que o ser que é caracterizado como autopoiético exibe, o que a
caracteriza como uma teoria explicativa ou gerativa. Tanto quanto uma visão sistêmica, que trata
fenômenos dinâmicos e complexos, a teoria da autopoiese também é posta em funcionamento
para gerar a fenomenologia dos seres autopoiéticos.

4.2. Autopoiese Urbana

A partir da construção de subsistemas teóricos embasados na autopoiese e na


interdependência de fenômenos sociais, pesquisadores criaram aplicações no meio urbano.
Essas aplicações variam desde autorrevitalização de áreas verdes urbanas, autonomia ativa,
resiliência, autorregulação e auto-organização de sistemas urbanos até modelagem de fluxos
metabólicos e estrutura urbana. As teorias que são apresentadas neste item usam a autopoiese
175
urbana, mas divergem em aspectos da teoria biológica inicial e na forma de aplicação de seus
processos.
A arquiteta Camila Berdague (2004) elabora um modelo a partir de um ponto de vista
espacial, resultando um sistema teórico territorial formado a partir da junção entre “[...] a visão
de cidade como na ótica dos urbanistas e a visão que aqui se propõe, baseada na Teoria da
Autopoiese e sua aplicação a sistemas sociais” (BERDAGUE, 2004, p. 54). Berdague (2004)
considera a autopoiese urbana em seu modelo por este estar embasado na conexão teórica entre
autopoiese, semiose e urbanização. De acordo com a autora, a forma urbana passa a ser a
estrutura do sistema autopoiético e a relação entre o homem e essa estrutura é considerada na
ontogenia do seu acoplamento, passando a ter uma definição diferenciada da hegemonia. “Disso
resultou o urbano em todas suas possíveis estruturas e configurações regionais, mesmo
admitindo-se que algumas delas estão condenadas à desintegração” (BERDAGUE, 2004, p. 60).
A autora, ao aplicar a teoria da autopoiese no contexto urbano, assume a ontogenia no
processo contínuo de ordenamento da evolução das cidades:

[...] é o processo cognitivo de urbanização, onde as descontinuidades ou


mudanças estruturais são desencadeadas pelas transformações nos
acoplamentos que conformam o espaço urbano. Este processo contínuo de ser
e fazer constitui, enfim, a deriva histórica das cidades (BERDAGUE, 2004, p.
59).

Assim, considera que o urbano é um subsistema ou semiosfera da sociedade humana,


que gera e é gerado pela cultura e pela identidade urbana, de forma que apresenta domínio sobre
seus fluxos em uma rede de interações metabólicas. Ela traz a teoria de Luhmann (1990) para
esse contexto, considerando que as cidades armazenam e transmitem linguagem de forma
acoplada com sistemas psíquicos e sociais.

O urbano é autocriativo (produz continuamente a si próprio), autolimitado


(opera distinções que conformam uma fronteira) e autoperpetuador (é capaz
de desenvolver sua própria filogenia). O seu processo de formação e expansão
– urbanização – é um processo autopoiético, um contínuo ser e fazer por cujo
intermédio distingue-se do meio natural (BERDAGUE, 2004, p. 64-65).

A pesquisa de Berdague (2004) desenvolve-se argumentando que o urbano autopoiético


se caracteriza por uma rede dinâmica de interações metabólicas, o sistema-mundo (Figura 61)
que faz com que o meio físico urbano responda a estímulos de forma temporal e espacial,
diferente dos sistemas psíquicos e sociais que o habitam.

176
No diagrama, o sistema-mundo compreende o espaço extra-sistemático, o
território e o sistema urbano. As interações entre cidade e território, indicadas
pelas setas menores, são relações mais próximas; enquanto a propagação da
semiosfera, indicada pelas setas maiores, se estende por todo o território e pode
afetar o espaço extra-sistemático (BERDAGUE, 2004, p. 63).52

Figura 61 – Diagrama sistema-mundo e semiosfera humana

Fonte: Adaptação pela autora de Berdague (2004).

Dessa forma, o tempo de resposta de cada um dos sistemas acoplados na formação do


urbano a esses estímulos corresponde à sua obsolescência ou à sua renovação. A obsolescência
gera o processo de degradação e a renovação, o processo de revitalização urbana. A degradação
urbana é tida como uma falha na comunicação entre os elementos do sistema urbano, causando
“[...] inquietação, apatia e anomia social” (BERDAGUE, 2004, p. 111), enquanto a revitalização
é quando os elementos urbanos, dotados de resiliência, tornam-se “[...] capazes de adaptar-se às
novas conjunturas do sistema “(BERDAGUE, 2004, p. 111).
A pesquisa de Berdague (2004) é finalizada com a apresentação de uma perspectiva de
aplicação de um sistema para revitalização de cursos d`água urbanos, com inclusão do rio na
teia de interações sociais urbanas, pois se considera a importância dos rios no processo de
desenvolvimento urbano e suas reações geomorfológicas. Dessa forma, apoia-se no postulado:
“[...] a ontogenia de uma cidade é desencadeada por eventos e perturbações, que fazem com que

52 As setas podem ser vistas na Figura 61.


177
o complexo urbano funcione de maneira semelhante à autopoiese orgânica” (GRIFFITH;
BERDAGUE, 2006, p. 5).
A conclusão de Berdague (2004) pode ser comparada à concepção de Swyngedouw
(2001), da cidade como um cyborg. Nela, natural e social, mecânico e orgânico, real e fictício são
diferentes domínios que interagem, nos quais natureza e sociedade se transformam, de forma
que o processo de urbanização passa a ser híbrido. Para exemplifica-lo, o autor cita a circulação
da água urbana como fio condutor da teia de relações sociais, políticas, espaciais e ecológicas.
Em ambos os casos, a autopoiese urbana está condicionada a regeneração de sistemas naturais
a partir de sistemas desenhados, sem haver integração entre os processos autopoiéticos e o
desenho urbano.
Outra referência feita à autopoiese urbana está na dissertação de mestrado Songdo: Urban
Autopoiesis, de Meaghan Hunter (2010). Para esse autor, as cidades existem em um estado de
fluxo e, quando ocorrem eventos inesperados, que alteram o equilíbrio desse fluxo, há uma
situação de resiliência, em que a cidade se assimila, alterando as próprias condições ao longo do
tempo. A cidade adapta-se, muda e altera a si própria, possibilitando novas condições de
emergência ou reestruturação. A dissertação explora as noções de fenômenos e os
comportamentos emergentes resultantes de situações de desequilíbrio através de fotografia,
ilustração, simulação e experimentação, para compor uma metodologia de desenho urbano
capaz de criar uma condição urbana flexível (HUNTER, 2010).
O pressuposto de Hunter (2010) é que se os organismos trocam suas partes, substituindo
componentes químicos sem perder a identidade, então, a cidade como um ser vivo deve ser
capaz dessa mesma propriedade. Quando Hunter (2010) tenta exemplificar essa propriedade,
faz uso da metáfora, baseando-se na relação entre o mar e a areia, em que cada entidade tem seu
próprio conjunto de componentes e propriedades, e que, quando contextualizados juntamente,
interagem, respondendo um ao outro através da mudança de correntes de água e padrões de
sedimentação. Durante essa interação, as entidades ainda mantêm as características essenciais
que são usadas para defini-las (HUNTER, 2010).
O experimento de Hunter (2010) consistiu em fazer imagens e fotografias da zona
costeira de Songdo, na zona de economia livre de Incheon, costa ocidental da Coreia do Sul, a
fim de observar a concatenação de eventos sociais e/ou ecológicos e esculturas deixadas na areia
pelo ritmo da água, que criam padrões temporários. Depois disso, fez experiências de
laboratório para reproduzir a relação entre esses fluidos. Os estudos empíricos foram realizados
em Winnipeg, na Universidade de Manitoba, no Laboratório de Engenharia Hidráulica, com o
178
objetivo de entender os dados físicos da relação entre areia e água: como uma entidade pode
afetar a outra, bem como quais os tipos de implicações e/ou fenômenos resultantes quando
entidades adicionais - alguns objetos, como arames e pregos – são introduzidas no sistema
(Figura 62).

Figura 62 – Fotografias observacionais das reações resultantes da relação areia, água e objetos

Fonte: Hunter (2010, p. 51).

Esses estudos foram realizadas em pequena escala e não representarem os sistemas


naturais complexos; ao contrário, usam metáfora para reproduzir a ideia da autopoiese no
urbano com a explicação da relação entre matéria, areia e água, capaz de produzir ideias
referentes ao processo de implantação e desenho de lotes urbanos na cidade de Songdo. De
acordo com o autor, o sistema flutuante da costa de Songdo, a sedimentação e a infraestrutura
urbana estabelecem, em determinado momento, uma relação capaz de induzir uma mudança
nos lotes urbanos (HUNTER, 2010), semelhante ao conceito de autopoiese de Maturana e
Varela.
Baseado nos experimentos metafóricos de laboratório e nas fotografias de Songdo,
Hunter (2010) criou imagens renderizadas que representam um plano topográfico especulativo

179
para explorar noções de autopoiese urbana nos possíveis cenários. O resultado da pesquisa é a
proposta de um projeto de arquitetura e de adaptação da infraestrutura urbana para locais com
mudança de nível da água, demonstrado na Figura 63, e navegação através de sistemas que
indicam a presença de construções submersas. Hunter (2010) tenta transpor o sistema
desenhado para o sistema natural, mas por serem sistemas distintos, a transposição acaba sendo
apenas metafórica.

Figura 63 – Exemplo de projeto de arquitetura funcional para as marés altas e baixas

Fonte: Hunter (2010, p. 75).

Como conclusão, Hunter (2010) afirma que, mesmo com as adaptações da infraestrutura
urbana propostas na dissertação, o terreno apresentado não é o final. O terreno é uma situação
de mudança que vai adaptar-se quando confrontada com perturbações externas e interações
entre marés, plantas, animais e seres humanos, configurando o equilíbrio para o sistema atingir
um grau de resiliência e autorreferência através da autopoiese. Para ele,

Desenhar autopoieticamente é projetar com uma estrutura flexível, em que um


fenômeno inesperado pode tornar-se um componente integral do processo de
design. Esses fenômenos apresentam alternativas que causam desvios do
caminho do design. Esses desvios podem ser vistos como oportunidades,
revelando e descobrindo métodos alternativos e ideias para seguir na busca de
uma composição de design (HUNTER, 2010, p. 87).53

Apesar da aplicação metafórica da autopoiese no urbano, Hunter (2010) é assertivo ao


estabilizar padrões de comportamento possíveis de serem distinguidos no exame da deriva

53Tradução livre de: “To design autopoietically is to design with a flexible framework where an unexpected phenomenon
can become an integral component in the design process. These phenomena present alternatives causing deviations from
the set design path. These deviations can be seen as opportunities, revealing and uncovering alternate methods and ideas to
follow in the pursuit of a design composition” (Hunter, 2010, p. 87).
180
histórica de um sistema. Esses padrões de comportamento são construídos no decorrer da
história de interações entre o sistema desenhado, o sistema natural e os sistemas sociais.
A cidade de Songdo, atualmente, está com o desenho urbano implantado, estabelecido
através da relação entre as possibilidades que o terreno oferecia e o investimento imobiliário
para o local. Como zona de livre comércio, os usos estão mais voltados para indústrias de
montagem de equipamentos, sedes empresariais, universidades de base tecnológica e moradia
para os trabalhadores dessa região. Como é possível observar na Figura 64, as áreas verdes e os
canais de água, que formam as áreas públicas, foram construídos de forma artificial. A
adaptabilidade da infraestrutura urbana de acordo com a sazonalidade das marés, pesquisada
por Hunter (2010) não foi considerada como possibilidade na busca da resiliência para essa área
da cidade. O resultado, além de artificial, implica em grandes investimentos para construção e
manutenção da infraestrutura urbana.
Figura 64 – Imagem de Songdo em 2018

Fonte: Arquivo pessoal


181
O desenho urbano autopoiético também é visto como uma ação que ocorre a cada dia
na participação da construção do urbano, como um elemento de feed-back da autopoiese urbana
ou como um efeito consensual de interação em diferentes níveis de participação sistêmica
(ARLT, 2001; WOLF, 2004). De acordo com Wolf (2004), um exemplo disso é o previsto
colapso do sistema de transporte, que nunca ocorreu. Isso aconteceu porque houve um processo
de autorregulação, e não porque foi impedido por um planejamento de transporte (WOLF,
2004; BRÜGGEMANN, 1999). O autor fala sobre a existência de um falha entre a participação
no cotidiano das cidades e as estratégias traçadas por profissionais do urbano. Isso ocorre
porque a realidade urbana é construída no cotidiano da cidade, sendo que os problemas urbanos
podem configurar-se, primeiramente, como um problema de comunicação (WOLF, 2004).
Nesse sentido, Wolf (2004) estabelece a relação entre o planejador urbano e o sociólogo,
trazendo a teoria dos sistemas de Luhmann (1984) e seus princípios, representada no Quadro
24.

Quadro 24 – Relação entre o planejador urbano e o sociólogo


Princípios e conceitos da Teoria dos sistemas autorreferentes de Luhmann
Sistema e ambiente Os sistemas são estruturalmente orientados para o meio ambiente e não podem
existir sem ele.
Diferenciação – unidade e A diferenciação de um sistema como a distinção entre a unidade e suas partes é
partes obrigatoriamente derivada: repete a criação do sistema dentro do sistema.
Causalidade A fronteira entre o sistema e o ambiente corta conecções casuais em diferentes
pontos de vista.
Elemento e relação São unidades e trabalham como uma distinção.
Condições Regras no relacionamento de elementos dos sistemas – restrições.
Complexidade A complexidade está relacionada a determinada quantidade de elementos
conectadas em determinado tempo.
Limite Os limites dividem elementos, mas não necessariamente dividem relações. Eles
dividem eventos, mas não deixam as causas-efeitos passarem.
Sistema e Complexidade Existe uma complexidade que não é sistema.
Autorreferência Autorreferência significa a unidade que um elemento, um processo, um sistema tem
dele mesmo.
Múltipla constituição ou É uma necessidade para, pelo menos, dois complexos com perspectivas divergentes
contingência dupla para condicionar qual trabalha como unidade no sistema.
Operação No nível operacional, processos acontecem apenas entre elementos de adequada
similaridade.
Relação – sistema de Em uma relação de sistema de autorreferência há a possibilidade de uma enorme
autorreferência propagação de limites da habilidade de adaptação estrutural e de comunicação inter
sistema.
Fonte: Adaptação pela autora de Wolf (2004).

A conclusão do autor ao analisar a Teoria de Luhmann (1984) é a de que “[...] a cidade é


um sistema em evolução com a autorreferência” (WOLF, 2004, p. 194). Isso significa que a
cidade constitui seus elementos e suas operações elementares referindo-se a si mesma. Para fazer

182
isso, os sistemas devem ser capazes de configurar e usar suas próprias descrições, usando o
sistema de ambiente-distinção como orientação e princípio para a criação da informação; o
sistema deve ter consciência de si mesmo, assimilando as influências do ambiente como causas
de suas ações e compreendendos os feed-backs de suas consequências.
De acordo com Wolf (2004), o planejamento urbano convencional tem uma função de
autopercepção, segundo a necessidade ou a análise de desenvolvimento; os dados são
concentrados sobre o que está à vista das questões de planejamento, e não no que a cidade usa
como autorreferência. Quando se usa a abordagem teórico-sistêmica, o planejamento urbano
passa a ter uma importância não apenas política, com a capacidade de canalisar o processo, mas,
também, em uma estratégia visionária para que cada ator urbano consiga se reconhecer no
processo e agir sobre ele (WOLF, 2004).
Nessa linha de pensamento, Bus, Treyer e Schmitt (2017) tratam a cidade como uma
entidade autônoma, com metabolismo vivo adaptável a forças e dinâmicas (BOYER, 2015), que
se comporta como uma rede metabólica (BATTY, 2014; BACCINI, 2014), e entendem que:

O conceito de autopoiese abrange o modo como a estrutura urbana é criada,


transformada, distribuída ou redistribuída, montada, organizada, reconfigurada
e processada. A implementação do paradigma da autopoiese em sistemas
urbanos visa compreender características mais complexas da cidade dentro do
discurso do desenho urbano contemporâneo, em particular, tendências de
padrões para crescer ou decair de acordo com os requisitos dos habitantes,
fluxos de distribuição de energia, custos, bens, serviços ou conectividade de
redes da cidade (virtual, física ou social) relacionadas a um metabolismo urbano
completo (BUS; TREYER, SCHMITT, 2017, p. 696).54

O objetivo da pesquisa desses autores é discutir dinâmicas internas de uma região de


Cingapura, a fim de auxiliar processos de tomada de decisão de especialistas no urbano. As
discussões são feitas através de uma metodologia de participação da população local, em que
uma plataforma de simulação combina requisitos técnicos determinados pelos urbanistas e
demandas da comunidade local em um sistema de modelagem com visualização intuitiva.
Os autores embasam-se na ideia de que a participação da comunidade local é responsável
pelo feedback contínuo que auxilia o processo da transmissão, da recepção e da interrupção da

54Tradução livre de: “The concept of autopoiesis covers the way how the urban structure is created, transformed, distributed
or redistributed, assembled, organised, reconfigured and proceeded. The implementation of the autopoiesis paradigma into
urban systems aims to grasp more complex characteristcs of the city within the contemporary urban design discourse, in
particular, tendencies of patterns to grow or decay according to inhabitants’ requirements, distribution flows of energy, costs,
goods, services or city networks connectivity (virtual, physical or social) related to an entire urban metabolism” (BUS;
TREYER; SCHMITT, 2017, p. 696).

183
informação na organização complexa urbana. Essa participação é feita através de interação
contínua coletiva em um ambiente de colaboração aberto que incorpora fontes de dados
urbanos e conexões com outras interfaces ou aplicativos.
Para isso, desenvolvem o canal de gerenciamento da distribuição da comunicação entre
camadas urbanas metabólicas modeladas e dados dinâmicos de diferentes interfaces
modeladoras, representadas por padrões urbanos pré-definidos e distribuídos em um modelo
de gerenciamento dinâmico. Esse canal recebe o nome de Lightweight Urban Computation
Interchange – LUCI.
LUCI é responsável por combinar demandas espaciais da comunidade local no que se
refere a distâncias acessíveis, elementos e funções urbanas. Não é escopo da pesquisa de Bus,
Treyer e Schmitt (2017) a modelagem de todas as camadas metabólicas urbanas, como
mobilidade, capacidade de transformação, energia e fluxos de resíduos. Porém, há a descrição
de uma base para a estrutura de modelagem em que esses aspectos podem ser incorporados
posteriormente através da LUCI.
A aplicação dessa pesquisa é feita em Tanjing Pagar Water Front, Cingapura. Desenhistas
urbanos definem cenários espaciais, os dados são enviados à LUCI e disponibilizados em
visualizaores e o usuário é convidado a observar o crescimento urbano e modificar os cenários,
em tempo real. Essas modificações também são armazenadas e processadas na LUCI.
De acordo com os autores, essa metodologia permite que o crescimento urbano seja
simulado de acordo com critérios de acessibilidade, densidade, espraiamento de tipologias e
posição dos usuários. Assim, os padrões urbanos que refletem as preferências dos usuários
podem ser acoplados ao processo de desenho e ajustes podem ser feitos. Como os desenhos
urbanos são feitos pelo ser humano, a comunidade tem um importante papel na saúde do
sistema porque é capaz de alterá-la (BUS, TREYER e SCHMITT, 2017).
O sistema proposto integrou algoritmos de formação de padrões urbanos que tratam
apenas de massa e volume e apenas para as camadas de distâncias e elementos urbanos. Por isso,
o modelo é limitado a prover o desenho de configurações urbanas apenas para vias de acesso e
a considerar apenas requisitos espaciais, e não aspectos de borda do metabolismo urbano.
Devido a essas limitações, Bus, Treyer e Schmitt (2017) propõem que um trabalho futuro
seja realizado, em que arquitetos, urbanistas e planejadores do urbano devam identificar os
processos mais significativos que influenciam as mudanças urbanas e que contribuem para a
autonomia, autorreferência e autorregulação, os quais podem ser caracterizados como processos
de autopoiese urbana. Esse sim, será um importante direcionamento à autopoiese urbana.
184
A autopoiese urbana também é objeto de estudo para Philippopoulus-Mihalopoulus
(2007). O autor pesquisa as considerações ecológicas de proteção do meio ambiente sob a visão
da lei e da cidade e entende a autopoiese como uma teoria de relevância que captura a
transdisciplinaridade de forma mais efetiva do que outras teorias conceituais, que não oferecem
soluções, apenas descrições.
A leitura da autopoiese adotada é aquela que descreve o mundo na forma de uma contínua
ruptura, de forma que o resultado não é a clausura ou a abertura, mas o movimento entre os
dois. Para entender as leis ambientais e a cidade sob a autopoiese é necessário abstrair a noção
de cidade e estender seu entendimento para a percepção de que a cidade se encontra em uma
relação peculiar com seu meio ambiente e representa o local de intensificação dos problemas
ambientais e da aplicação da lei (PHILIPPOPOULUS-MIHALOPOULUS, 2007).
Cidade e ambiente são abstrações no sentido de que se separam no pensamento, mas não
podem existir isoladamente. Na autopoiese, cada objeto de análise é um sistema, e um sistema
é definido pela sua distinção em relação ao meio ambiente. O ambiente é o outro lado da
identidade ou sua distinção - a distinção entre a humanidade e a natureza. Philippopoulus-
Mihalopoulus (2007) justifica a necessidade de unir as leis ambientais à cidade de forma
autopoiética devido a três razões:
- A autopoiese oferece o acervo inicial de necessidade da estabilidade para uma disciplina
legal relativamente nova e não testada, que continua procurando seu lugar nas margens do
sistema legal e na sua contextualização na topologia urbana. O mesmo acontece na cidade que,
apesar de ser estabilizada e cristalizada, apresenta novos riscos e tratamentos ecológicos que
escapam da contextualização e são invisíveis no ambiente construído. Nesse sentido, a
autopoiese traz ferramentas para a contextualização de assuntos ecológicos diferente da
discussão de antropocentrismo versus ecocentrismo.
- A autopoiese descreve o mundo e oferece possibilidades de mudança. Na autopoiese,
toda mudança começa e finaliza na descrição de um sistema.
- Teoria da lei ambiental de Luhmann: conhecimento da incongruência existente entre os
problemas ambientais e as categorias legais e a consequente arbitrariedade nas decisões
relacionadas ao meio ambiente.

Os arquitetos e pesquisadores do urbano Aquilué, Lekovic e Ruiz Sánchez (2014)


estudaram os casos da batalha de Mogadishu (Somália), em 1993, e do cerco de Sarayevo

185
(Bósnia-Herzegovina), entre 1992 e 1995, e entenderam que as cidades em situações de conflito
tornam-se laboratórios urbanos, porque as mudanças em suas estruturas refletem propriedades
intrínsecas difíceis de serem notadas em situações estáveis. A condição de conflito implica a
destruição das redes espaciais e sociais, a remoção da memória do espaço e o prejuízo da história
e do futuro da cidade.
Os autores afirmam que o trauma de um conflito é um elemento constitutivo da
organização da cidade, em que o sistema urbano precisa reinventar-se para não desaparecer.
Nessa reinvenção, a auto-organização atua como uma especificidade que ocorre
espontaneamente e reproduz padrões organizacionais não-lineares através da interação de
elementos do sistema.
Na interação, a quantidade de possíveis estados que um sistema pode adotar é o que
indica sua complexidade (AQUILUÉ et al., 2014). Nesse sentido, vale citar que Luhman (1984,
1990) expõe que, para o sistema social, a complexidade é dada pela multiciplicidade de possíveis
representações do mundo, e que o sistema social cria orientações comportamentais que
direcionam a seleção das possíveis representações. Esse direcionamento seria um fator redutor
para a complexidade do sistema, de acordo com o pensamento de Luhmann. E é exatamente
esse pensamento que traz uma das discussões em relação a Habermas (1981), para quem o fator
redutor da complexidade do sistema não deve existir, já que sua sobrevivência o entende como
uma ameaça, e não como uma tentativa de voltar ao estado inicial, pois exclui aquelas
possibilidades e alternativas de representações.
É possível dizer que as possibilidades de estado no sistema urbano descrito por Aquilué
et al. (2014) não foram excluídas, porque foram tidas como possibilidades de sobrevivência em
situações de trauma, ainda que isso implicasse o aumento da complexidade do sistema urbano.
O que faz pensar que essa complexidade traz mais possibilidades de sobrevivência do que a do
sistema social, pois, enquanto no sistema urbano situações de trauma podem ser revertidas, no
sistema social certas situações podem representar diminuição de performance e de decisão em
todas as situações.
No complexo sistema urbano, a organização da cidade é a integração e a interação de
elementos diferentes, frequentemente conflituosos e complementares. Para evitar a degradação
urbana, é preciso que essas relações sejam mantidas de forma estável através de processos de
auto-organização (AQUILUÉ et al., 2014).
Por sua vez, os autores também afirmam que a autorregulação de um sistema embasado
na autoprodução é um processo de autopoiese que rege o sistema para reproduzir, organizar e
186
manter-se enquanto preserva sua autonomia do ambiente; é parte da organização não linear do
sistema que faz com que ele mude e evolua. Os elementos de um sistema autopoiético formam
a rede de ações que produz suas próprias unidades espaciais e são observadas por elas. As
mudanças no ambiente implicam a auto-organização do sistema através de uma série de
processos que podem causar mudanças, mas sem perder a identidade.
Um sistema autopoiético é caracterizado por:
- Autonomia: integração das mudanças na manutenção da organização do sistema;
- Autorreferência: sistema autopoiético mantém sua identidade independente das ações
entre sistema e ambiente;
- Autodelimitação: dos limites do sistema; e
- Abstenção ou especificidade: de relações de input e output que regem a autonomia.
Entre os estudos de caso apresentados pelos autores, a batalha de Mogadishu estimulou
sobremaneira o sistema urbano, fazendo com que seu curso estável fosse abandonado em prol
da sua sobrevivência. O estímulo ambiental, que modificou os fluxos de matéria, energia e
informação, também causou bifurcações que mantiveram o sistema longe do seu estado de
estabilidade, direcionando-o a um estado excepcional em que não apenas a sobrevivência da
individualidade, mas também a sobrevivência do todo estava em jogo. Essa excepcionalidade
levou a um processo de mudança significativa na sua essência - aquela que envolve a mudança
na estrutura do sistema.
Assim, o sistema entrou em equilíbrio com o estado instável de múltiplas possibilidades
de interação ente os elementos autônomos de produção e organização e, seguindo um caminho
não previsível, procedeu à autonomia. Então, a cidade replicou o aumento da incerteza
ambiental com um aumento dos estados disponíveis da sua identidade, seus subsistemas ou
facetas da mesma identidade, e, através de componentes relacionais e topológicos, ativou a
autorreferência e a auto-organização. Por isso, os autores afirmam que “[...] quanto mais
heterogêneo, diverso e complexo o espaço é, melhor é a chance de sobrevivência de uma
multidão” (AQUILUÉ et al., 2014, p. 70).
Na cidade de Sarajevo, em outro estudo de caso dos autores, um dos determinantes das
mudanças estruturais foi a alteração dos padrões de suprimento e de mobilidade no início do
cerco. As redes de distribuição de gás, água e eletricidade assim como os acessos à cidade foram
interrompidas, resultando em uma modificação no sistema estrutural desses fluxos e,
consequentemente, uma mudança de paradigma na vida urbana (AQUILUÉ et al., 2014).

187
Essa modificação estrutural de redes gerou novos padrões de autorreferência, dirigidos
por elementos sociais e espaciais, criando uma nova morfologia de fluxos urbanos. Houve
mudança no significado do território, que implicou variações do uso público e auto-organização
do espaço através das opções de estado disponíveis oferecidas pela estrutura, resultando em
novos usos e considerando a autorreferência do sistema social com o propósito da sobrevivência
do sistema urbano.
Os dois casos de trauma causaram interrupção das funções do sistema urbano que ativou
mecanismos de resiliência com o objetivo da sobrevivência. Assim, os mecanismos da
autopoiese urbana de auto-organização, autorreferência e aumento da complexidade do sistema
foram capazes de reestabelecer ligações entre o espaço e a memória coletiva após situações de
rupturas e descontinuidades. Os insurgentes de Mogadishu e a abertura de Sarajevo geraram
campos relacionais autorreferenciados de trauma induzidos através de processos complexos,
causados pelas possibilidades de estado às quais os sistemas estavam sujeitos (AQUILUÉ et al.,
2014).
Dessa forma, os autores concluem que “[...] a aceleração dos elementos, produzida pelo
trauma, modifica os estados estáveis do sistema e, então, determina seus estados possíveis,
causando diversos futuros urbanos, sujeitos à condição pós-traumática” (AQUILUÉ et al., 2014,
p. 75).55
A questão da identidade urbana, observada e/ou analisada pelos autores da autopoiese
urbana, tem embasamento na Teoria dos Sistemas Sociais de Luhmann (1990). Para ele, sistema
não existe sem meio e vice-versa, porque há um limite que os define e delimita. O acoplamento
estrutural, resultado das interações recorrentes e estáveis entre sistema e meio, é um processo
de autorreferência, uma vez que o sistema seleciona os elementos da troca para se tornar único,
com uma estrutura particular e com identidade própria.
A identidade é a cláusula autorreferencial, a decisão que permite a autorreprodução de
modo que o sistema possa responder pressões ambientais sem ser diluído no meio. Esse sistema
organiza-se de tal forma que desenvolve a capacidade de responsividade ao ambiente e
manutenção de sua identidade. Porém, o ambiente também tem função nessa relação e a
codependência entre eles gera a recursividade: “[...] um processo é chamado recursivo quando

55 Tradução livre de: “The acceleration of the elements, produced by the trauma, modifies the system´s stable states, and
thus determines its possible states, causing divergent urban futures, subjected to the post traumatic condition” (AQUILUÉ
et al., 2014, p. 75).
188
ele usa o resultado de suas próprias operações como base para outras operações subsequentes
[...] tais processos usam seus próprios resultados como entradas” (LUHMANN, 2002, p. 139).
Dessa forma, quando se afirma que a “[...] autopoiese descreve um sistema flexível que
muda, movimenta, e se transforma, sem nunca perder a sua identidade a persistir através de
condições de temperamento” (HUNTER, 2010, p. 42), é possível observar a questão da
resiliência, mas, além dela, a sustentabilidade. É através da identidade que o urbano desenvolve-
se e é capaz de autorreproduzir-se sem perder seu caráter originário.
Berdague (2004, p. 43) afirma que “[...] os sistemas sociais, como concebidos por
Luhmann (1990), são, do ponto de vista interno, uma operação recursiva que produz realidade
e identidade sob a forma de distinção”. Assim, quando o urbano como um sistema diferencia-
se do meio geral ou do ambiente externo ao qual está inserido e seleciona elementos que farão
parte ou não de sua constituição através das diferenças diretrizes, é formada sua identidade.
Os arquitetos urbanistas também foram em busca da identidade das cidades. O valor do
“locus” que Aldo Rossi (1995, p. 147) define como “[...] aquela relação singular mas universal
que existe entre certa situação local e as construções que se encontram naquele lugar” é a
identidade urbana. Há uma noção de individualidade da cidade em que a particularização do
lugar, determinada pelo espaço, pelo tempo e pela forma, pode ter sido sede de acontecimentos
antigos e novos e faz parte da memória do lugar. É essa noção que faz criar um elo entre a
ecologia e a psicologia. Sem discutir questões ecológicas, o autor fala sobre a pesquisa de Max
Sorre: a influência do ambiente sob o homem e do homem sobre o ambiente. Nesse sentido,
quando ocorre um fato em uma cidade, a memória passa a ser coletiva.
O fato é a porção individual da cidade, enquanto a memória coletiva dos povos é a própria
cidade, o “lócus”;
E, como os fatos fazem parte da memória, novos fatos crescem juntos na
cidade [...]. Enfim, a memória coletiva se torna a própria transformação do
espaço, a cargo da coletividade; uma transformação que é sempre condicionada
por aqueles dados materiais que se opõem a essa ação (ROSSI, 1995, p. 198).

Dessa forma, a memória coletiva torna-se o fio condutor da complexidade urbana, unindo
arquitetura, geografia, história, sociologia e economia na morfologia e na tipologia da cidade.
Natureza coletiva e individualidade dos fatos urbanos dispõem-se agora como a
própria estrutura urbana. A memória, no interior dessa estrutura, é a consciência
da cidade; trata-se de uma ação em forma racional cujo desenvolvimento está em
demonstrar com máxima clareza, economia e harmonia, algo já aceito (ROSSI,
1995, p. 199).

189
Nesse sentido, há que pesar também o lugar. “Lugares são essencialmente focos de
intenção, que têm usualmente uma localização fixa e traços que persistem em uma forma
identificável” (RELPH, 1976, p. 43). A identidade, uma das características do lugar, provém das
intenções e experiências intersubjetivas, que geram ligações detalhadas e estabilidade (RELPH,
1976; TUAN, 1974). Quando as pessoas definem e dão significado ao lugar, estabelecem
relações de trocas, direções e distâncias que o fixam de algum modo, gerando a identidade
urbana (HOLZER, 1999).
De forma geral, os autores da autopoiese urbana apresentados nesta tese identificam seus
processos, que acontecem ou deveriam acontecer no urbano para que este seja considerado um
sistema vivo e, dessa forma, autopoiético. A identidade urbana está direta ou indiretamente
associada a todos esses processos e faz parte da sobrevivência do ecossistema urbana. O Quadro
25 traz uma síntese da autopoiese urbana de acordo com as teorias analisadas.

190
Quadro 25 – Síntese das teorias sobre a Autopoiese Urbana
AUTORES ANO DA VISÃO SOBRE O URBANO RELAÇÃO CIDADE X MEIO RESPOSTA A ESTÍMULOS PROCESSOS AUTOPOIÉTICOS APLICADOS APLICAÇÃO
PUBLICAÇÃO AMBIENTE
Berdague e 2004 Forma urbana como estrutura de O contínuo ser e fazer do O domínio de fluxos da rede de Cidades são autorreprodutoras e definem Inclusão de um rio urbano na teia
Griffith um sistema autopoiético. Urbano urbano distingue-se do meio interações metabólicas é o seus próprios limites. Urbano autolimitado e de interações sociais urbanas.
como subsistema da semiosfera da natural. sistema mundo, que faz com que autoperpetuador.
sociedade urbana que gera e é o meio físico responda a
gerado pela cultura e identidade estímulos. O tempo de resposta
urbana. corresponde a degradação ou
revitalização urbana.
Wolf 2004 Cidade é um sistema em evolução Os sistemas são O sistema deve ter consciência de Autonomia fez com que o colapso no Planejamento urbano para
com autorreferência: constitui estruturalmente orientados si mesmo, assimilando as sistema de transporte urbano não ocorresse. autopercepção com uso de dados
seus elementos e suas operações para o meio ambiente e não influências do ambiente como sobre processos de
elementares. podem existir sem ele. Há uma causas de suas ações e autorreferência da cidade.
fronteira entre sistema e compreendendo os feedbacks de
ambiente. suas consequências.
Philippopoulus- 2007 Cidade como local de Cidade e ambiente são Não identificada. Estabilidade para implantação de leis Leis ambientais.
Mihalopoulus intensificação dos problemas abstrações no sentido de que ambientais e ferramentas para a
ambientais e da aplicação da lei. se separam no pensamento, contextualização de assuntos ecológicos.
mas não podem existir
isoladamente.
Hunter 2010 Cidade como um organismo que O sistema flutuante da costa de Cidades existem em estado de A autonomia ativa garante a identidade Desenho de lotes urbanos feito
Meaghan substitui componentes químicos Songdo, a sedimentação e a fluxo. Em eventos inesperados, urbana. A cidade adapta-se, muda e altera a através do resultado do ensaio
sem perder a identidade. infraestrutura urbana ocorre: assimilação, adaptação e si própria para possibilitar novas condições com sedimentação de areia para
estabelecem uma relação capaz mudança para possibilitar novas de emergência ou reestruturação a cidade de Songdo.
de induzir uma mudança no condições de emergência ou
desenho dos lotes urbanos. reestruturação.
Aquilué et al. 2014 Cidades são laboratórios urbanos, As mudanças no ambiente Trauma de conflito como Auto-organização: estabilidade de processos Estudo de caso da batalha de
porque as mudanças em suas implicam na auto-organização elemento da organização da de integração e interação de diferentes Mogadishu e do cerco em
estruturas refletem propriedades do sistema através de cidade. A cidade deve reinventar- elementos urbanos. Autonomia: rege a Sarayevo.
intrínsecas complexas. processos que podem causar se para não desaparecer. Isso reprodução, a organização e a manutenção
mudanças, mas sem perder a ocorre através da auto- do sistema e preserva sua autonomia do
identidade. Sistema organização, que reproduz ambiente, garantindo mudança e evolução.
autopoiético mantém sua padrões organizacionais não- Resiliência com ativação da auto-
identidade independente das lineares através da interação de organização, autorreferência e aumento da
ações entre sistema e elementos do sistema. complexidade - ligações entre espaço e
ambiente. memória coletiva.
Bus, Treyer e 2017 Cidade como unidade autônoma, Não identificada. Não identificada Compreensão de processos mais complexos Participação da comunidade, com
Schmitt com metabolismo vivo adaptável a da cidade dentro do desenho urbano: interação contínua coletiva sobre
forças e dinâmicas que formam tendências de padrões para crescer ou as dinâmicas de uma região da
uma rede metabólica. decair de acordo com os requisitos dos Singapura através de uma
habitantes, fluxos de distribuição de energia, plataforma de simulação virtual
custos, bens, serviços ou conectividade de aberta que combina requisitos
redes da cidade (virtual, física ou social). técnicos e demandas da
comunidade local.
Fonte: Elaboração da autora.
191
Quando os sistemas independentes urbanos interagem através de dispositivos de
autonomia e de diferenças diretrizes a fim de solucionar perturbações e garantir a
plasticidade, a autopoise urbana acontece. Considerando as pesquisas analisadas nesta tese
para aplicar a teoria da autopoiese no meio urbano, chega-se a definição que integra esses
conhecimentos em busca da transição para a sustentabilidade urbana: a autopoiese urbana
é o processo de interação entre sistemas de soluções sustentáveis para o urbano, de
modo que matéria, energia e informação estejam em constante fluxo, com a menor
quantidade possível de resíduos/ruídos e mantendo a identidade urbana, de forma
a promover o equilíbrio na estabilidade dinâmica do ecossistema.
Retomando a autopoise da biologia – o eterno ser, fazer e conhecer –, na autopoiese
urbana seria o equivalente ao ciclo de matéria, energia e informação. A autopoiese urbana,
como fenômeno holístico, deve integrar a complexidade do ecossistema urbano, reconhecer
seu metabolismo e garantir sua identidade, em um processo contínuo de manutenção do
urbano.

4.3. Desenho Urbano Autopoiético

O desenho urbano autopoiético considera os serviços ecossistêmicos urbanos através


de suas formas, funções, fluxos e identidades urbanas operando os processos da autopoiese
urbana para alcançar a sustentabilidade urbana. O desenho urbano autopoiético incorpora
elementos dos processos autopoiéticos ausentes nas diretrizes do desenho urbano
sustentável.
O Quadro 26 traz a descrição dos processos autopoiéticos a partir da revisão
bibliográfica realizada no item anterior.

Quadro 26 – Descrição de Processos de Autopoiese Urbana


PROCESSOS DESCRIÇÃO
AUTORREPRODUÇÃO O urbano produz continuamente a si próprio. É o processo que mantém o
ecossistema urbano vivo, com o funcionamento de suas redes de fixos e
fluxos e da sua identidade.
AUTORREGULAÇÃO Rege o urbano para reproduzir, organizar e manter-se enquanto preserva sua
autonomia em relação aos ambientes externos. É parte da organização não
linear que faz com que o urbano mude e evolua. É a abstenção ou a
especificidade das relações de entrada e saída de fluxos.
AUTORREFERÊNCIA Refere-se à unidade que o urbano tem dele mesmo. É o processo responsável
por manter a identidade do urbano independente das ações com ambientes
externos, através da adaptabilidade.
192
AUTO-ORGANIZAÇÃO Reproduz padrões organizacionais não-lineares através da interação de
elementos do urbano.
AUTONOMIA O processo em que organismos trocam suas partes, substituindo
componentes sem perder a identidade e integrando as mudanças na
manutenção da organização do urbano.
AUTOLIMITAÇÃO Opera as distinções que conformam a própria fronteira do urbano.
AUTOPERPETUAÇÃO O urbano é capaz de desenvolver sua própria história evolutiva.
Fonte: elaboração própria

A ativação dos processos autopoiéticos urbanos é feita através dos serviços


ecossistêmicos urbanos e aplicada no território através das diretrizes de desenho urbano que
deixam de ser padronizadas e pontuais, como nas perspectivas analisadas no capítulo 3 desta
tese e passam a ser específicas para o local e conectadas com todo o ecossistema urbano.
Isso implica que, para alcançar a sustentabilidade urbana, o desenho autopoiético deve seguir
as diretrizes de desenho urbano sustentável correlacionadas com os respectivos serviços
ecossistêmicos urbanos considerados através dos processos de autopoiese urbana.

Quadro 27 – Correlação entre processos autopoiéticos, serviços ecossistêmicos urbanos e ODS

Fonte: elaboração própria

193
A elaboração do desenho urbano autopoiético deve englobar fases de
desenvolvimento para a identificação do local, para a criação do desenho e para sua
implementação, através de uma equipe transdisciplinar e com colaboração de todos os atores
envolvidos nos processos. Os processos autopoiéticos urbanos devem estar relacionados
desde a identificação do objeto – espaço, área, bairros, cidade ou região –, passando por
todas as demais etapas do desenho urbano autopoiético. O panorama deve ser seguido
durante as demais etapas, a partir da definição do início da criação; já o desenho urbano,
resultado das fases anteriores, segue pela fase da implementação. Esse ciclo em espiral
ascendente é retroalimentado a cada avaliação e recriado, conforme mostra a Figura 65.

Figura 65 – Esquema de elaboração do Desenho Urbano Autopoiético

Fonte: Elaboração da autora.

O levantamento da área de estudo para o desenho urbano autopoiético se inicia com


a identificação dos processos urbanos autopoiéticos e os serviços ecossistêmicos urbanos
194
associados, bem como os fluxos de entrada e de saída de matéria, energia e informação.
Também são identificadas as vocações para novos possíveis processos e serviços na área de
estudo. Essa fase tem como produto o panorama do objeto, que está presente na fase da
criação. Através dele é possível definir os processos autopoiéticos e os serviços
ecossistêmicos urbanos necessários para que a autopoiese se desenvolva. Então, são listadas
as possibilidades de trocas de fluxos de entrada e de saída de matéria, energia e informação,
considerando que os novos processos e serviços e a rede de fixos e fluxos que os conecta
são traçados na área de estudo, criando as propostas de desenho urbano autopoiético.
Na fase de implementação, a sobreposição das propostas dos agentes sociais
interessados permite delinear a proposta de Desenho Urbano Autopoiético, que será
submetida a avaliação de viabilidade por meio de estudos como os de impacto e suas
mitigações. Após a implementação, o monitoramento contínuo em uma dinâmica cibernética
de segunda ordem reconhece a autogeração do sistema em uma dimensão acima, com o
conhecimento acumulado, de forma a manter a contínua autogeração.

4.4. Transição Sociotécnica para a Sustentabilidade Urbana

Seguindo a teoria da transição de Geels (2002, 2005), o desenho urbano autopoiético


está longe de alcançar a estabilidade de um regime. Porém, sua capacidade de integrar formas,
funções e fluxos direciona para o alcance do cenário da sustentabilidade urbana ideal: aquela
que reconhece o urbano como um ecossistema antrópico completo, que depende do fluxo
de energia, matéria e informação para sintetizar a oferta e a demanda de serviços
ecossistêmicos e, assim, garantir a qualidade de vida e a identidade territorial. Então, a
oportunidade para as inovações está lançada através da autopoiese urbana.
Hamilton (2008), da Cidade Integral, é um exemplo dessa inovação quando discorre
sobre o sistema de auto-organização e estruturas hierárquicas e relaciona os princípios de
Sahtouris (1999) com as inteligências integrais. Wilber (2005), também da perspectiva do
Desenho Integral, é outro exemplo quando afirma que “[...] onde os estados de consciência
são temporários, os estágios da consciência são permanentes. Passando, os estados foram
convertidos para traços permanentes” (p. 6), fazendo uma alusão ao processo de
autorreferência.
Quando as inovações da autopoiese urbana alinharem-se no desenho urbano
autopoiético e passarem pela avaliação da indústria, do mercado, da ciência, da cultura, da
195
tecnologia e da política, então será possível estabelecer o novo regime sociotécnico, capaz
de fazer o urbano voltar ao equilíbrio com a industrialização. Para isso, o cenário da
sustentabilidade urbana não estará embasado em objetivos lineares, mas, sim, na dinâmica e
na complexidade do ecossistema urbano e nos ODS.
A Figura 66 mostra a perspectiva multinível da transição para esse cenário. Nela, as
setas pequenas representam os nichos de inovações, que aqui são os processos de autopoiese
urbana, nos quais estão as ideias inovadoras que estabelecem a autopoiese urbana, que
passará pelo processo de aceitação pelos diversos segmentos da sociedade: mercado,
sociedade organizada, setor produtivo, política, tecnologia, cultura e ciência, a fim de alcançar
o regime do desenho urbano autopoiético de forma global. A seta preta, mais espessa e curva,
representa a estabilidade dinâmica das inovações do nicho da autopoiese urbana, que se
beneficia das oportunidades de inovações e estabiliza o regime sociotécnico do desenho
urbano autopoiético. As setas verdes curvadas representam o cenário sociotécnico da
sustentabilidade urbana, nesse caso, a ideal.

Figura 66 – Perspectiva Multinível na Transição para a Sustentabilidade Urbana

Fonte: Elaboração da autora.


A autopoiese urbana enquadra-se como a transição necessária para a sustentabilidade
urbana; uma nova perspectiva oferecida pelo urbanismo a fim de alcançar a complexidade e
a estabilidade dinâmica do ecossistema urbano sem perder sua identidade.

196
5. Considerações Finais

A teoria da transição e sua perspectiva multinível expõe a complexidade da


problemática da sustentabilidade urbana. Os cenários atuais propostos pela literatura, na
perspectiva do desenho urbano sustentável, se distanciam da sustentabilidade urbana ideal
porque não estabelecem um cenário único a priori e favorecem soluções pontuais e
padronizadas, sem a integração dos processos urbanos no desenho.
Esta tese aponta a linearidade com que a complexidade do ecossistema urbano é
tratada nos dias atuais – desde os nichos das inovações, com as perspectivas de desenho
urbano sustentável, até o cenário da sustentabilidade urbana – como uma das mais prováveis
causas da insustentabilidade. Esse cenário pode colocar em risco, inclusive a tentativa do
regime de desenho urbano sustentável existente.
Para modificar esse efeito, esta tese aponta a proposta da autopoiese urbana como
uma mudança de paradigma. A vantagem heurística de se aplicar o conceito da autopoiese
ao urbano está no alcance da sustentabilidade urbana. Para isso, três elementos devem ser
considerados:
- o reconhecimento do urbano como um ecossistema que contém o sistema natural,
o sistema antrópico e o sistema social, com seus fluxos de matéria, energia e informação e
sua identidade;
- a integração entre esses sistemas através da oferta e da demanda de serviços
ecossistêmicos urbanos; e
- a aplicação dos processos autopoiéticos no desenho urbano.
Quando o urbano é tratado como um ecossistema, reconhecendo seus processos
metabólicos e sua identidade, o desenho urbano pode ser realizado a partir de processos
autopoiéticos que consideram a oferta e a demanda dos serviços ecossistêmicos urbanos.
Essa mudança de paradigma direciona para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável da Agenda 2030. A autonomia do urbano se baseia na interdependência de suas
formas, funções e fluxos como vetor definidor do processo de tomada de decisões. Quanto
maior for a reutilização dos recursos apropriados, seja matéria, energia e/ou informação,
menor será a exploração de novos recursos. Desse modo é possível que produção seja mais
direcionada e internalizada.
O conceito da autopoiese para a sustentabilidade urbana é reconhecido no caráter
dinâmico e sistêmico do urbano e no envolvimento de uma equipe multidisciplinar formada

197
por todos os grupos interessados com os planejadores, capaz de intervir em todo o
ecossistema urbano, desde as atividades humanas e os territórios que as suportam até os
fluxos e suas infraestruturas de circulação. A plasticidade do urbano é sua resiliência; as
perturbações são as interferências humanas no meio; os dispositivos de autonomia, que
absorvem as perturbações e transformam-nas em operações próprias do sistema, são as
soluções sustentáveis; e as diferenças diretrizes são as soluções que funcionam de acordo
com a vocação do sistema e geram a aprendizagem adequada.
O desenho urbano, como o processo que permite implantar a autopoiese no
ecossistema urbano, possibilita entender que as diretrizes de desenho do Urbanismo
Sustentável, da Ecologia e Metabolismo Urbano, do Urbanismo Ecológico, da Simbiose
Industrial e Urbana e da Cidade Integral não alcançam a sustentabilidade ideal pela
incapacidade de integrar as interações. Elas são tratadas de forma pontual e padronizada,
inviabilizando a transformação das perturbações em operações do sistema, resultando em
resíduos/ruídos ou de energia ou de matéria ou de informação em sua atividade. Por outro
lado, a interação entre os serviços ecossistêmicos urbanos e os resíduos/ruídos de um serviço
como insumos para outro, permitem transformar as perturbações em operações do sistema
urbano, tornando possíveis os processos autopoiéticos no urbano.
Esse processo de elaboração para o desenho urbano autopoiético ainda é propositivo
e necessita mais estudos e simulações. Por isso, como encaminhamento futuro desta
pesquisa, fica a aplicação do desenho urbano autopoiético através de seus processos, com as
fases de elaboração da identificação, criação e implementação, de forma a avaliar a
sustentabilidade urbana que pode ser alcançada, inclusive com a utilização de indicadores
especificamente elaborados para esse fim. E, para além disso, fica o desafio para o ensino e
a pesquisa na temática da autopoiese urbana, que poderiam se voltar às possibilidades e aos
limites da aplicação da sustentabilidade urbana ideal no desenho das cidades existentes.

198
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