Caderno Formacao Pedagogia - 2 PDF
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formação
Formação de Professores
Introdução à Educação
volume 2
São Paulo
2010 1
© 2010, by Unesp - Universidade estadual Paulista
Pró-Reitoria de Graduação
Rua Quirino de Andrade, 215 - CEP 01049-010 - São Paulo - SP
Tel.(11) 5627-0245
www.unesp.br
2
Governo do Estado de São Paulo
Governador
José Serra
3
Pedagogia Unesp/Univesp
Sheila Zambello de Pinho
Coordenadora Geral e Pró-Reitora de Graduação
Ana Maria da Costa Santos Menin
Coordenadora Pedagógico
Secretaria
Ivonette de Mattos
Sueli Maiellaro Fernandes
PROGRAD/Reitoria
Diante do que se coloca como compromissos para a construção de um Brasil melhor, a Unesp
de maneira responsável e organizada trabalha no sentido de continuar a oferecer seus serviços com
fiel propósito de contribuir para a Educação brasileira. Para isso, investe de maneira intensa na
tríade Ensino-Pesquisa-Extensão, sendo uma das principais Universidades brasileiras na produção
do conhecimento, na formação de recursos humanos qualificados e competentes, além da ampla
inserção social, por meio dos projetos de extensão, nas diversas regiões do Estado de São Paulo.
A recente história da Unesp mostra a maneira como ela se organizou para chegar até o presente
momento. Desde 2005 a comunidade Unespiana vem discutindo em todas as suas instâncias e fóruns
o uso das tecnologias no processo educacional. Em 2006 aprovou sua regulamentação interna para
iniciativas de educação a distância, tornando-se uma das primeiras universidades brasileiras a adotar
uma orientação amplamente avaliada pela comunidade universitária sobre o assunto. Atualmente,
esta regulamentação serve como norteadora de todas as iniciativas da Unesp na modalidade a
distância.
Outro aspecto a ser considerado é que desde 2005, graças aos constantes investimentos da
Reitoria, por meio da Pró-Reitoria de Graduação, com especial destaque ao “Programa de Melhoria
da Graduação”, são disponibilizados recursos financeiros para melhoria e ampliação de materiais e
tecnologias para nossos docentes e alunos. Um importante indicador dessas inovações implantadas
5
na Unesp é que atualmente mais de um terço de nossos alunos e professores utilizam ambientes
virtuais de aprendizagem como apoio às aulas presenciais. Estamos investindo na construção de
um acervo digital acadêmico para enriquecer as atividades didáticas, bem como, oferecer acesso
público à informação e ao conhecimento produzido pela Unesp. A produção de material didático
também é apoiada pela Pró-Reitoria de Graduação, entre tantos outros exemplos que são conduzidos
e oferecidos em nossas Unidades Universitárias.
Este sucinto relato de nosso recente caminhar fez-se para contextualizar um pouco o desafio
que apresentamos no início, ou seja, a oportunidade de oferecermos nosso primeiro curso de
graduação a distância, criado por meio da Resolução Unesp no. 77/2009. A maturidade da Unesp
para a concepção do curso de Pedagogia no âmbito da Univesp já se fez presente desde o início do
projeto. Passamos muito tempo avaliando e discutindo-o, até chegarmos a uma proposta final que
foi aprovada em todas as instâncias universitárias, possibilitando hoje implantarmos o curso de
Pedagogia da Unesp cuja característica principal é a de oferecer todo o conhecimento acadêmico
para a formação de professores, articulado ao uso das tecnologias digitais, como a Internet e a TV-
Digital.
Sabemos que o pioneirismo sempre traz consigo as dificuldades na escolha dos caminhos a
trilhar, entretanto, temos a plena convicção que estamos reunindo toda a experiência, competência
e tradição da Unesp, juntamente com o apoio da Secretaria de Ensino Superior do Estado de São
Paulo, para oferecermos um curso de qualidade, contribuindo para a capacitação do professor em
serviço no Estado, sem a formação superior para o exercício da profissão docente.
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Sumário
Introdução à Educação - Volume 2
Política Educacional
Impactos da Globalização nas Políticas Públicas em Educação 10
João Cardoso Palma Filho
Políticas Públicas de Financiamento da Educação no Brasil 26
João Cardoso Palma Filho
A Gestão Democrática da Educação 39
João Cardoso Palma Filho
Agenda e Atividades 55
Ética e Cidadania
O Gesto do Professor Ensina 66
Terezinha Azerêdo Rios
Educação moral hoje: cenários, perspectivas e perplexidades 72
Pedro Goergen
A Dimensão Ética da Aula ou o Que Nós Fazemos com Eles 91
Terezinha Azerêdo Rios
Agenda e Atividades 107
Educação e Linguagem
Linguagem, Educação e Formação de Professores 118
Maria de Fátima B. Abdalla
As Funções da linguagem: verbete de introdução ao tema 119
Juvenal Zanchetta Jr.
Linguagem e Língua: verbete de introdução ao tema 121
Juvenal Zanchetta Jr.
Registros de linguagem: verbete de introdução ao tema 123
Juvenal Zanchetta Jr.
Agenda e Atividades 124
Memória do professor
Agenda e Atividades 136
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8
dedeicsatrçaãtoégio
e a is ét ica
id
Política
Educacional
João Cardoso Palma Filho
Professor Titular da disciplina Sociedade,
Estado e Educação no Instituto de Artes da
UNESP. Presidente da Câmara de Educação
“Não há educação fora das sociedades Superior do Conselho Estadual de Educação.
humanas e não há homens isolados. O Doutor em Educação (Currículo e Supervisão)
pela PUC/SP; Pós-Doutor em Política Educa-
homem, e somente o homem é capaz de cional pela FE/USP.
discernir, de distinguir o “ser” do “não
ser”, com esta capacidade ele alcança o
ontem, reconhece o hoje e descobre o
amanhã. Ao constatar essa realidade, ele se
integra e se enraíza, em uma situação de
tempo e espaço, tornando-se assim um ser
crítico, que vive em transição.”
Paulo Freire
2. Professor Titular da discipli- No cabaré da globalização, o Estado passa por um strip-tease e no final do espe-
na Sociedade, Estado e Edu-
cação no Instituto de Artes da
táculo é deixado apenas com as necessidades básicas: seu poder de repressão.
UNESP. Presidente da Câmara Com sua base material destruída, sua soberania e independência anuladas, sua
de Educação Superior do Con- classe política apagada, a nação-estado torna-se um mero serviço de segurança
selho Estadual de Educação. para as mega-empresas...Os novos senhores do mundo não têm necessidade de
Doutor em Educação (Currí-
governar diretamente. Os governos nacionais são encarregados da tarefa de
culo e Supervisão) pela PUC/
SP; `Pós-Doutor em Política administrar os negócios em nome deles (SUBCOMANDANTE MARCOS, apud
Educacional pela FE/USP. BAUMAN, p. 74).
Desse modo, é por meio de lutas coletivas, que se processam no âmbito do Estado, que
os bens sociais são distribuídos e redistribuídos. É desse modo também que o Estado, ao
chamar para si a tarefa de atender aos reclamos dos diferentes segmentos sociais, legitima-se
perante esses mesmos setores.
Quando se fala em Estado não nos referimos apenas ao Poder Executivo. É importan-
te assinalar que o desenho das políticas sociais começa no Congresso Nacional, local onde
deputados e senadores votam as leis. Um bom exemplo, nesse sentido, foi dado quando da
elaboração da Constituição Federal de 1988, resultou a Constituição Cidadã, feliz expressão
do Deputado Federal Ulysses Guimarães para designá-la. Foi durante a discussão do texto
10
constitucional que se travaram os maiores debates em relação a uma nova ordem social que
resultasse numa mais justa distribuição dos bens materiais e simbólicos.
De fato, muitos foram os avanços no campo social, consagrados pelo novo ordenamen-
to constitucional. Na época, aliás, o Parlamento dividiu-se entre conservadores (Centrão) e
progressistas, liderados pelo então Deputado Federal Mário Covas. Todavia, os anos de 1990
representaram um recuo em relação ao que foi estabelecido pelo texto constitucional, no
política educacional
campo das políticas sociais, que ficaram a reboque da política econômica.
Em síntese, pode-se afirmar que no terreno das políticas sociais públicas, consubstan-
ciadas principalmente na Carta Constitucional de 1988, configura-se uma proposta refor-
mista. Ao passo que nos anos 1990, sob o impacto da globalização econômica, as políticas
sociais passam para um segundo plano, uma vez que a ênfase volta-se para o atendimento
dos acordos firmados com o FMI, que propõem medidas de ajuste econômico extremamen-
te duras para o setor social. Não é por acaso, que nos anos 1990 será iniciado no Governo
Collor, o processo de revisão do texto constitucional, aprofundado nos governos FHC e Lula.
Na prática, a Constituição Cidadã do Deputado Ulysses Guimarães teve vida curta. Não é
possível deixar de assinalar, mesmo que a contragosto, que a parte mais afetada pelas diferen-
tes reformas do texto constitucional, foi o capítulo das políticas sociais. As alterações sofri-
das nesse capítulo, de outra parte, indicam claramente a impossibilidade do estado brasileiro,
tal como está estruturado, continuar adotando políticas de caráter universal, seja no campo
da educação, ou em qualquer outra área do campo social.
O que se pretendeu evidenciar é que o grau de atendimento das demandas sociais de-
pende da natureza do Estado. Este, aliás, tem sido um tópico muito discutido pelos estudiosos
dessa temática, como discutiremos a seguir.
Aprofundando um pouco mais essas considerações iniciais, vamos discutir duas con-
cepções sobre a natureza do estado capitalista e a sua relação com as políticas públicas para
o campo social.
11
Para Laski (1973) e Vachet (1970), a ideologia liberal forma-se a partir das transforma-
ções do poder e do jogo de forças, sustentada pelas mudanças.
Na doutrina liberal clássica, a idéia de igualdade sofre restrições desde o início e não
tem o mesmo peso dos demais elementos que integram a ideologia liberal. Democracia e
igualdade sofrem restrições (CUNHA, 1991). Assim é que no ideário liberal a igualdade não
abrange o campo das condições materiais. A desigualdade material é perfeitamente coerente
com o princípio liberal de que “os indivíduos não são iguais em talentos e capacidades”, daí
decorrendo naturalmente eles não poderem ser iguais em riquezas. Para Voltaire, de acordo
com Laski (1973, p. 154): “A propriedade igual para todos é uma simples quimera, só poderia
ser obtida por espoliação injusta”, concluindo o autor, logo a seguir: “é impossível em nosso
infeliz mundo, que os homens que vivem em sociedade não se dividam em duas classes: os
ricos e os pobres”.
Ainda de acordo com Laski, para o liberalismo, a igualdade social é nociva, pois ao
provocar uma padronização e uma uniformização entre os indivíduos, acaba por desrespeitar
a individualidade de cada ser humano.
Esta situação decorre do fato de que o liberalismo sempre tendeu a valorizar mais as
ações individuais do que as ações coletivas, daí a liberdade se sobrepor à igualdade. Desse
modo, vê de forma negativa as ações a favor da igualdade, já que esta restringe a ação indi-
vidual. Para Laski, mesmo que de modo inconsciente, é recorrente no pensamento liberal, o
estabelecimento de uma antítese entre liberdade e igualdade.
12
A respeito da igualdade, é preciso não entender por esta palavra que os
graus de poder e riquezas sejam absolutamente os mesmos, mas que, quan-
to ao poder, ele se encontra abaixo de toda a violência e nunca se exerce,
senão em virtude da posição social e das leis; e quanto a riqueza, que ne-
nhum cidadão seja suficientemente opulento para poder comprar o outro, e
que nenhum seja tão pobre que seja coagido a vender-se.
política educacional
De acordo com Hayek (1985), um dos teóricos mais consagrado do neoliberalismo, na
raiz dos problemas enfrentados pelas sociedades capitalistas contemporâneas, encontram-se
as idéias igualitárias. Para este mesmo teórico, a opulência vivida pelos países capitalistas,
após a II Guerra Mundial, é puramente artificial, tendo representado um desperdício de re-
cursos, daí propor o retorno aos clássicos do liberalismo (1985). Este retorno ao liberalismo
clássico significa realizar um ajuste estrutural, que implica no desmantelamento do Estado
de Bem Estar Social instaurado a partir da crise econômica, política e social dos anos 1930,
com base nas propostas de Keynes.
O modelo keynesiano foi aplicado no pós-guerra nos países da Europa Ocidental, que
reconstruíram suas destroçadas economias com a participação acentuada do Estado, prin-
cipalmente nas áreas sociais (saúde, assistência e educação), sem falar na reconstrução da
infra-estrutura necessária para a acumulação capitalista (BIANCHETTI, 1996, p. 32-33).
Quanto à democracia, esta é um mecanismo para escolher os governantes. Segundo
Macpherson (1978), “a democracia é tão somente um mecanismo de mercado; os votantes
são os consumidores, os políticos são os empresários”. A frase de Hayek, no prefácio de um
de seus principais livros O caminho da servidão publicado no ano de 1944, expressa a idéia
do apreço que os adeptos do retorno ao liberalismo clássico dão à democracia: “a opinião
pública [...] é uma medida alarmante orientada por amadores e visionários, por gente que tem
um interesse próprio a defender ou uma panacéia a vender” (HAYEK, 1987, apud BIAN-
CHETTI, 1996, p. 33).
Na época do pós-guerra as idéias de Hayek não encontraram eco. Entretanto, foram
resgatadas nos anos 70, como uma conseqüência da crise fiscal que se abate sobre os países
de desenvolvimento capitalista.
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Como conseqüência, o tipo de globalização que se opera nesse contexto neoliberal irá
transformar radicalmente a ação do Estado no campo das políticas sociais. A tese do fim da
história e do fim das ideologias é um pressuposto importante, uma vez que se trata de esta-
belecer a hegemonia de um pensamento único, contra o qual nada há que possa ser feito.
Embora tenhamos mencionado Frederic Hayek como um dos mais importantes teóri-
cos do neoliberalismo, de fato, esta ideologia se consolida no encontro de três fontes teóricas:
1) a Escola Austríaca, que tem em Hayek o seu principal mentor; 2) a Escola de Chicago,
onde desponta a figura de Milton Friedman e 3) a Escola do Public Choice, mais conhecida
a partir dos escritos de Buchanan (1972,1985).
Destas três escolas, podemos extrair as seguintes teses comuns que compõem a argu-
mentação neoliberal:
Na prática, em alto e bom som, o que se está 3. Para exemplificar sua afirmação, Bauman
propondo, é que a economia fique isenta de qualquer (1999) cita os cálculos realizados por René Pas-
controle político3 (BAUMAN, 1999, p. 74). Para os sat, publicados no Le Monde Diplomatique (julho
formuladores das políticas neoliberais, no plano de 1997, p.26), segundo os quais: “as transações
financeiras intercambiais, puramente especulati-
econômico, a única coisa que se espera do Estado
vas, alcançavam um volume diário de US$ 1,3
nacional, é que consiga atingir e manter o chamado bilhão”, que naquele momento significava cin-
equilíbrio fiscal, por meio de um orçamento equi- qüenta vezes mais o volume de trocas comer-
librado. Mas, para muitos estudiosos dos negócios no ciais e quase a soma total das reservas de todos
os bancos centrais do mundo (Bauman, 1999).
mundo globalizado, tal meta só seria alcançada, se o
Desse modo, ainda segundo Passat, nenhum
Estado abandonasse, por completo, a defesa da popula- Estado, pode resistir mais que alguns dias as
ção “face as conseqüências mais sinistras da anarquia pressões especulativas dos mercados.
do mercado” (BAUMAN,1999, p. 74).
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É o que pensa, por exemplo, Jean-Paul Fitoussi, citado por Bauman (1999), quan-
do afirma:
Tal programa, no entanto, não pode ser executado a não ser que a econo-
mia, de uma maneira ou de outra, seja retirada do campo da política. Cer-
tamente um Ministério da Fazenda continua sendo um mal necessário,
mas idealmente, se poderia ter um Ministério dos Assuntos Econômicos
política educacional
(isto é, que governasse a economia). Em outras palavras, o governo deve-
ria ser despojado de sua responsabilidade pela política macroeconômica
(LE MONDE, 29 de agosto de 1977).
Por outro lado, estados fracos são necessários para que a chamada Nova Ordem Mun-
dial (ou seria desordem mundial) se sustente e seja reproduzida. Como assinala Bauman:
Este estado de coisas tem um impacto muito forte nas po- 4. Um bom exemplo desse enfra-
líticas sociais públicas. Setores como educação, saúde, trans- quecimento do poder regulador do
portes, habitação etc são fortemente afetados. Desse modo, a Estado, nos foi dado logo no início
do governo Lula (2003), quando a
separação entre a economia e a política, ao lado da proteção Nação assistiu a queda de braços
da primeira contra intervenção da segunda, tem enfraquecido entre o Ministério das Comunica-
o poder regulador do Estado.4 Desregulamentação, flexibiliza- ções, à época, dirigido pelo Deputa-
ção, liberalização e a facilitação das transações nos mercados do Federal Miro Teixeira e as teles,
ocasião em que o governo se viu
financeiros (BAUMAN, 1999), tiraram do agente político “a
impotente para barrar o aumento de
capacidade de fazer opções coletivamente impositivas e exe- tarifas pretendido pelas companhias
cutá-las” (CLAUS OFFE, apud BAUMAN, 1999, p. 76). Essa de telecomunicações, privatizadas
impossibilidade de agir do Estado acaba por penalizar os seto- no Governo FHC.
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No plano mundial, a separação entre a economia e a política gerou um resultado
catastrófico. De acordo com Informe da ONU (1996) somente 22% da riqueza global está
nas mãos dos paises em desenvolvimento que, por sua vez, constituem 80% da população
mundial.
Quanto à privatização, esta sempre foi apontada pelos neoliberais, principalmente pe-
los técnicos do Banco Mundial, como o caminho mais seguro para se alcançar maior efici-
ência e mais justiça social.
Há também por parte do Banco Mundial a defesa de sub- 6. Há hoje em nosso país várias
propostas desse tipo em relação ao
venções ás escolas privadas, pois ficaria mais barato comprar
ensino superior. O projeto de lei en-
uma vaga do que cria-la num estabelecimento de ensino públi- viado ao Congresso Nacional pelo
co.6 Tais propostas são feitas em nome de uma maior igualdade Presidente da República, propõe a
na distribuição dos recursos. compra de vagas em Universidades
Privadas mediante isenções fiscais,
Ao menos para os setores da saúde e dos seguros sociais ou seja, o governo deixa de arreca-
essa hipótese não se confirmou. Na prática, a privatização des- dar e com isso diminui o repasse
de recursos para as Universidades
sas atividades sociais tem agravado a desigualdade, uma vez Públicas, piorando mais ainda, as
que quem pode pagar fica com os melhores serviços e os de condições de funcionamento des-
pior qualidade atendem aos que não podem arcar com os cus- sas instituições de ensino.
tos financeiros do atendimento (SOARES, 2000).
16
seriamente o conteúdo do conceito de cidadania democrática, tem-se mostrado uma estraté-
gia totalmente ineficiente, pois são milhões os pobres a serem atendidos, muitos deles, aliás,
conduzidos a tal situação pela política econômica apregoada por aqueles que são adeptos da
política de focalização (SOARES, 2000).
política educacional
que apelando para mecanismos de auto-ajuda e solidariedade, buscam ocupar o vazio deixa-
do pelo poder público, mas quase sempre se valendo dos recursos públicos. Opera-se, desse
modo uma profunda transformação, em que o dinheiro é público (estatal), mas a execução e
o controle passam às mãos privadas.
Essa estratégia que poderia ser melhor aproveitada se buscasse complementar a ação
do Estado, voltando a sua ação para a fiscalização e o controle dos gastos públicos na área
social, falha quando procura ser um substitutivo à ação do Estado.
Quanto à descentralização, esta era vista como uma panacéia, mas na prática se revelou
mais um mito do que propriamente uma estratégia eficaz na solução dos problemas sociais.
Nesse sentido, os jornais e a mídia em geral vêm denunciando quase que diariamente, as
precárias condições de funcionamento dos serviços descentralizados em várias áreas sociais.
Embora tenha sido o resultado de fortes pressões políticas em meados dos anos 1980, não
se concretizou o que era anunciado pela reação daqueles que defendiam a passagem desses
serviços para a esfera municipal.
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Como muito bem assinala Soares (2000), a descentralização que assistimos no Brasil
e em boa parte dos países latino-americanos teve um caráter destrutivo, uma vez que na
prática, significou o desmantelamento das políticas sociais existentes e que foram ampliadas
pela Constituição Federal de 1988, além de ter inviabilizado a organização de um sistema
nacional de educação.
O fim das ações de âmbito nacional nada deixou em substituição. São delegadas tare-
fas aos municípios, sem o correspondente repasse de recursos, no montante em que seriam
necessários para garantir certa qualidade no atendimento.
Entretanto, alguns poucos municípios conseguiram manter uma boa qualidade na ofer-
ta dos serviços básicos na área social e, por terem sido bem sucedidos, estão sendo penaliza-
dos com a migração das populações das cidades vizinhas, cujas administrações não conse-
guiram alcançar o mesmo sucesso no atendimento das populações carentes.
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geral, tanto os sistemas estaduais quanto os municipais de educação, continuam sendo fontes
de distribuição de favores, que se traduzem em empregos, vagas nas escolas, bolsas de estu-
do etc, para determinados indivíduos da comunidade local. Essas administrações não estão
preocupadas em colocar a educação em função do desenvolvimento socioeconômico local,
regional ou nacional.
política educacional
Seja como for, esses dois argumentos facilitaram as coisas para os neoliberais a partir
dos anos 1990, que desse modo, encontraram o caminho aplainado para implementar as
orientações advindas do Banco Mundial e de outros organismos internacionais multilaterais.
O discurso de que a ineficiência do Estado é a responsável pelo aumento das desigualdades
sociais encontra eco e, desse modo, a descentralização, agora vista como sinônimo de au-
tonomia e democracia, passa a ser encarada como necessária para melhorar a qualidade da
educação pública. É um discurso que também desempenha um papel ideológico, uma vez
que: “A condição basilar das desigualdades sociais é a ineficiência do Estado e não a qua-
lidade de vida da população, produzida nas relações sociais de produção e que, em última
instância, será o determinante da qualidade educacional” (BRINHOSA, 2001, p. 51).
Em muitas situações, como é o caso do Estado de São Paulo, por exemplo, a educação
infantil já era uma responsabilidade do poder público municipal, em decorrência da política
de municipalização empreendida nos anos 1980. Tratava-se agora de transferir também o
ensino fundamental.
Para dar suporte financeiro a esse processo de transferência das atividades no campo
da educação para os municípios, a Emenda Constitucional nº 14 estabelece a criação de um
fundo público (FUNDEF), a ser constituído com recursos oriundos dos Estados e Municí-
pios, que quando fosse o caso, seriam complementados pela União.
Importante salientar, que a mesma emenda constitucional revoga o artigo 60 das Dis-
posições Transitórias do texto constitucional de 1988, que entre outras medidas, obrigava
União, Estados e Municípios a investirem, nunca menos que 50% dos recursos destinados
à educação, na universalização do ensino fundamental e na erradicação do analfabetismo,
pelo prazo de dez anos. Desnecessário dizer que, enquanto vigente, esse dispositivo nunca
foi cumprido pela União.
19
A Lei Federal nº 9.424/96, que criou o FUNDEF - 7. De fato, alguma correção houve, entretan-
to, bem abaixo do valor real. De acordo com
Fundo de Manutenção e de Desenvolvimento do Ensino
informações do Conselho Nacional de Edu-
Fundamental e de Valorização do Magistério, estabelecia cação, a dívida da União para com Estados
um valor per capita por aluno/ano, inicialmente fixado em e Municípios gira em torno de 10 bilhões de
R$ 300,00 para o ano de 1997, (no ano de 1998 o valor reais, sendo que alguns entes federativos já
passou a R$ 315,00), montante que deveria ser anualmente ajuizaram ações na justiça para receber o que
lhes é devido.
corrigido.7
Embora o FUNDEF tenha gerado uma maior eficiência dos gastos públicos com o
ensino fundamental, principalmente quando obriga estados e municípios a se articularem
para cumprirem as suas obrigações para com a educação, é preciso reconhecer que a política
econômica recessiva, conseqüência principalmente da política de juros elevados praticada
a partir do Plano Real, acarretou sérios prejuízos à manutenção e ampliação dos serviços
prestados no campo da educação, quando reduziu as receitas desses entes federativos, obri-
gando-os “a destinar uma parcela importante do que sobrou à amortização de suas dívidas,
o que resultou não só no aumento do déficit, mas numa deterioração dos serviços sociais”
(SINGER, 1999, p. 39).
Um outro aspecto importante a ser considerado com a criação do FUNDEF é o que diz
respeito ao fato de que 60% dos recursos deverão ser aplicados para o pagamento dos salá-
rios dos professores, podendo ainda uma parte ser utilizada para o aprimoramento profissio-
nal dos docentes, tanto na formação inicial, como na formação continuada. Fica claro que, se
a União tivesse cumprido a sua obrigação legal de corrigir os valores, muito poderia ter sido
feito, tanto no plano salarial, quanto no do aperfeiçoamento profissional dos professores.
Mesmo assim, nas regiões Norte e Nordeste houve um incremento razoável nos sa-
lários dos docentes, que em alguns casos, chegou a quadruplicar. Este é um dos aspectos
altamente positivos decorrentes da implantação do FUNDEF, que já enuncia conseqüências
na melhoria da qualidade da educação naquelas regiões, traduzidas nos índices de evasão
e repetência escolares. O Fundo conseguiu efetivamente priorizar o ensino fundamental,
obrigando os dois entes federativos (estados e municípios) a assumirem um compromisso
real com a educação obrigatória. É também conseqüência do FUNDEF a universalização do
ensino fundamental.
Na região Sudeste, a conseqüência maior não foi salarial, mas teve a ver com a maior
participação dos municípios na manutenção do ensino fundamental, geralmente, de 1ª a 4ª
séries. No Estado de São Paulo, onde era fraca a presença do município no ensino fundamen-
tal, a sua participação chega em 2003 a mais de 40% da matricula geral, tendo mais de 550
municípios envolvidos com o ensino fundamental. Antes do FUNDEF, esse número atingia
apenas 77 municípios, com 10% da matrícula total.
20
5 O Estado e a Formulação da Política
Educacional
No caso brasileiro, as linhas mestras da política educacional estão formuladas em vá-
rias fontes legais. A primeira delas é dada pela Constituição Federal que, desde 1934 e, em
grande parte, influenciada pelo Manifesto dos Pioneiros pela Educação Nova, dedica um
política educacional
capítulo para tratar da questão educacional, em que são firmados os princípios gerais que
devem ser levados em conta, na organização do sistema educacional. A seguir vem a Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDBEN, a primeira delas promulgada em
dezembro de 1961, após intensos debates entre defensores da escola pública e setores ligados
à defesa da escola particular. A legislação educacional dos anos 1970 (Lei Federal 5.692, de
11/08/1971) não configura propriamente uma Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacio-
nal, pois trata apenas dos ensinos de 1º e 2º graus e reflete a nova configuração que o Estado
brasileiro adquire, após o golpe militar de 1964. Por fim, temos a LDBEN em vigor, desde
dezembro de 1996, a lei federal nº 9.394, também conhecida como Lei Darcy Ribeiro, numa
justa homenagem ao ilustre intelectual brasileiro, que sempre teve na educação do povo, uma
das suas maiores preocupações.
21
Como conseqüência, na formação do indivíduo num mundo globalizado, muitas são
as variáveis que passam a contar com peso significativo. A língua inglesa, a música “pop”
internacional, principalmente, a originária dos Estados Unidos, o turismo, as mercadorias
provenientes de outros mercados e as pessoas migrando para diferentes e de diferentes partes
do mundo, tudo isso, passa a atuar na constituição da individualidade e da cidadania.
Desse modo, para entender adequadamente o que se pretende com a reforma educacio-
nal é necessário que façamos um esforço de reflexão sobre a relação existente entre a elabo-
ração das políticas públicas para o setor educacional, nas diferentes esferas administrativas
(União, Estados e Municípios) e o aparelho institucional que a elabora, assim como é crucial
avaliar quais são as forças que detêm o controle desse processo. Da mesma forma, é igual-
mente importante analisar os papéis do Estado e da educação numa sociedade regida pelas
leis do mercado, no que diz respeito ao processo de acumulação capitalista e de legitimação
social (O’CONNOR, 1977).
Neste ensaio que o leitor tem em mãos, o ponto de vista defendido é o de que o Estado
é uma relação social, ou seja, é um campo de batalha, “onde as diferentes frações da burgue-
sia e certos interesses do grupo no poder se defrontam e se conciliam com certos interesses
das classes dominadas” (FALEIROS, 1980, p. 46). Ou ainda, como assinala Cardoso (1979,
p. 38), quando sugere que o Estado deveria ser considerado “o pacto de dominação entre as
classes sociais ou frações de classes dominantes e as normas que garantem o seu domínio
sobre os estratos subordinados”.
A sua função de legitimação social tem a ver com o fato de que possa falar e organizar
o que se chama de interesse geral. Entre o poder político e a base econômica estabelece-se
uma unidade dialética, na qual aquele interpenetra e reflete aquela. O Estado é determinado,
mas também determinante da base material da sociedade. Na democracia liberal, o Estado é
ao mesmo tempo hegemonia e dominação. De acordo ainda com Faleiros (1980, p. 47) “esta
natureza contraditória do Estado, somente pode ser compreendida de maneira histórica e
concreta, de acordo com sua força ou fraqueza, em face à força e à fraqueza das forças da
sociedade civil”, ou seja, tem a ver com a correlação de forças na sociedade.
Para construir o consenso social e estabelecer sua hegemonia sobre o conjunto das
forças sociais, o Estado procura, por meio da política educacional que propõe e executa,
construir um certo conformismo social. Entretanto, dado o caráter desigual das relações
22
sociais que se estabelecem na organização social capitalista, gerado em grande parte pela
observância da soberania das leis de mercado, pode-se afirmar que, no âmbito das políticas
públicas voltadas para o setor educacional expressam-se reformas que pretendem atender
demandas de mercado e, nesse sentido, tendem a perpetuar as desigualdades sociais e refor-
mas que visam a garantir a igualdade de oportunidades, atendendo, desse modo, aos ideais
democráticos consagrados nos textos constitucionais (CARNOY; LEVIN, 1987).
política educacional
No caso brasileiro, os debates travados por ocasião da discussão do novo ordenamento
constitucional para o país (1986/1988), bem como as discussões havidas em torno das duas
LDB (1961 e 1996), evidenciam claramente o que foi apontado por Carnoy e Levin. O em-
bate se dá entre setores que defendem uma educação que consagra as desigualdades sociais
e aqueles que buscam uma educação mais próxima do ideal democrático (uma educação de
qualidade para todos). Esse conflito, na realidade, reflete o conflito social mais amplo. Desse
modo, embora as escolas possam ser consideradas instâncias ideológicas, no sentido de que
buscam reproduzir as relações sociais de produção e a divisão classista do trabalho, também
são espaços de luta sobre ideologias e recursos. A escola é o local do conflito, pela simples
razão de que a sua função social é dupla: preparar trabalhadores e formar cidadãos.
Nas economias de mercado, essas duas funções acabam enredadas num antagonis-
mo insolúvel, uma vez que a formação do cidadão implica o aprendizado da igualdade de
oportunidades e o respeito aos direitos humanos, elementos estes que freqüentemente são
incompatíveis com a preparação para o trabalho, num sistema dominado pelo grande capital
em sua fase transnacional e globalizado.
De uma forma mais ampla, essa contradição se reflete no âmbito do próprio Estado
que, ao mesmo tempo em que se afirma democrático, é também capitalista. Esta é uma con-
tradição que, como já vimos, acirra-se mais ainda no Estado Neoliberal.
*****
Neste capítulo procuramos destacar os vários aspectos que interferem com a organiza-
ção do sistema educacional e as condicionantes impostas pela política econômica restritiva
que, na prática, impediu que algumas medidas necessárias, como foi o caso do FUNDEF,
contribuíssem para melhorar a qualidade da educação pública.
23
de se dar maior atenção ao social, à educação e à criação de organismos que aumentem a
capacidade de se governar a economia (NOGUEIRA, 2004).
Isso significa que não basta olhar apenas para o crescimento do PIB (produto interno
bruto), é preciso pensar no bem estar das populações. É Stiglitz, ex-economista chefe do
Banco Mundial, quem afirma: “Pretendemos desenvolvimento eqüitativo, que assegure que
todos os grupos da sociedade, e não só os de cima, beneficiem-se dos frutos do desenvolvi-
mento” (apud NOGUEIRA, 2004, p. 81).
Na prática desfez-se o consenso. O que antes era sólido desmanchou-se no ar. Com o
fim do consenso, foi embora também o pensamento único.
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Políticas Públicas de
Financiamento da Educação no Br asil1
1. Texto com correções autorizadas pelo autor.
João Cardoso Palma Filho2
2. Professor Titular da disciplina Ao ler o presente texto, o leitor deverá ter em mente que no
Sociedade, Estado e Educação no espaço reservado para um artigo, não é possível abranger todos
Instituto de Artes da UNESP. Pre-
sidente da Câmara de Educação
os aspectos da questão complexa que é a do financiamento da
Superior do Conselho Estadual educação básica no Brasil.
de Educação. Doutor em Educa-
ção (Currículo e Supervisão) pela Quem desejar conhecer melhor o assunto deverá ler os au-
PUC/SP; `Pós-Doutor em Política tores que consultamos para a redação deste texto que se encon-
Educacional pela FE/USP. tram citados ao final.
O artigo 208 da Constituição Federal explicita por meio de sete incisos o modo como
deve o Estado, aqui entendido como o Poder Público em geral, cumprir o seu dever para
com a educação.
26
Entre as várias disposições sobressai a preocupação com a universalização do ensino
fundamental e não com toda a educação básica, como é desejo da maioria dos brasileiros.
Este mesmo dispositivo legal acena com a progressiva universalização do ensino médio,
entretanto, este nível de ensino permanece não obrigatório e, consequentemente, desobriga
o Poder Público de oferecê-lo a todos que o procurem. Nada há sobre a obrigatoriedade da
oferta da educação infantil.
política educacional
Entretanto, pela leitura do mesmo artigo do texto constitucional fica claro a obriga-
toriedade e gratuidade do acesso ao ensino fundamental, dando-lhe um caráter de direito
subjetivo (§ 1º). No parágrafo seguinte responsabiliza o Poder Público pelo não oferecimento
do ensino fundamental, bem como a sua oferta irregular. Por fim, no § 3º torna obrigatório o
recenseamento dos estudantes para o ensino fundamental.
Para que tais preceitos sejam obedecidos, o artigo 212 estabelece de que forma os di-
ferentes entes federativos cumprirão suas obrigações para com a educação, vincula recursos
para o atendimento desses deveres, da seguinte forma:
União – Deve aplicar no mínimo 18% das receitas provenientes dos impostos;
Estados, Distrito Federal e Municípios – Nunca menos que 25% das receitas prove-
nientes dos impostos compreendidas as oriundas de transferências de um ente federativo
para o outro.
O art. 213 permite a transferência de recursos públicos, provenientes das receitas an-
teriormente citadas às escolas comunitárias, confessionais ou filantrópicas na forma da lei,
desde que comprovem finalidade não-lucrativa e apliquem seus excedentes financeiros em
educação e ainda assegurem a destinação de seu patrimônio à outra escola comunitária, fi-
lantrópica ou confessional ou ao Poder Público no caso de encerramento de suas atividades.
27
recursos a que se refere o art. 212 da Constituição para eliminar o analfabetismo e universa-
lizar o ensino fundamental. Este dispositivo, sem nunca ter sido observado, acabou alterado
pela Emenda Constitucional nº. 14, de 12.9.1996.
De outra parte, não é menos importante ter presente a existência de uma forte vincu-
lação entre o financiamento público da educação e a situação socioeconômica do país, na
medida em que as principais fontes de recursos para a educação são oriundas da arrecadação
de impostos, que obviamente é afetada pelo desempenho da economia e pelo insuficiente
combate à sonegação fiscal.
Um outro aspecto a ser considerado diz respeito à política econômica adotada por su-
cessivos governos e que implicou numa sensível diminuição do montante de recursos para
o setor educacional, que tem por finalidade possibilitar o equilíbrio das contas públicas e
viabilizar o pagamento das dívidas externa e interna.
Concluindo esta introdução, importante lembrar que a Organização das Nações Uni-
das para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) recentemente recomendava, aos países em
desenvolvimento, um gasto mínimo de 10% do PIB com Educação.
28
Nos termos do art. 68 são recursos públicos a serem aplicados na educação:
I - receita de impostos próprios da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Mu-
nicípios;
política educacional
III - receita do salário-educação e de outras contribuições sociais;
Uma importante inovação foi a redação dada aos arts. 70 e 71, que estabelecem o que
pode ser considerado como despesas com a manutenção e desenvolvimento do ensino (art.70)
e o que não pode ser considerado despesas de manutenção e desenvolvimento do ensino (art.
71). Por exemplo, a partir deste texto legal, programas suplementares de alimentação, assis-
tência médico-odontológica, farmacêutica e psicológica e outras formas de assistência social,
não mais poderão ser incluídos nos recursos destinados à educação.
Também os recursos financeiros destinados à educação não poderão arcar com a folha
de pagamento do pessoal docente, quando em desvio de função, ou seja, em atividade alheia
a manutenção e desenvolvimento do ensino.
Mas, não está nas aposentadorias a única fonte de diminuição dos recursos para a
educação Básica.
Assim é que o Fundo de Estabilização Fiscal (FEF), que no ano de 2000 foi substituído
pela DRU (Desvinculação de Receitas da União) também retirou recursos do setor educa-
cional. De acordo com Pinto (2000, p. 37) e com base em dados da Secretaria do Tesouro
Nacional só no ano de 1997, o FEF retirou da educação R$ 2,5 Bi e destinou apenas R$ 1,8
Bi, a maior parte para o ensino superior.
29
Pelo que até aqui expusemos não resta dúvida que a Lei 9.394/96 (LDB) introduziu
alguns mecanismos que melhoraram a questão do financiamento da educação pública. Como
assinala Melchior (1997, p, 79), mudanças importantes foram introduzidas pela lei maior
da educação, entre outras, 1) estabelecimento do conceito de receita líquida para aferir o
cumprimento da vinculação constitucional por parte dos entes federativos (União, Estados,
Distrito Federal e Municípios). Desde modo, os legisladores pretendiam evitar a dupla conta-
gem pelas esferas públicas e, deste modo, fraudavam o texto constitucional (art.69, § 1º); 2)
Operações de crédito por antecipação da receita orçamentária não poderão ser consideradas
receita de impostos (art.69, § 2º); 3) A recepção de créditos adicionais por parte da receita
estimada dos impostos implicarão no reajuste da vinculação orçamentária (art.69, § 3º); 4)
Deverá haver acerto trimestral entre receita e despesa prevista e a que for realizada, com a
respectiva incidência da vinculação constitucional para a educação (art.69, § 4º); 5) Fixação
de prazos para o repasse dos recursos. Estes variam de 10 a 19 dias depois de arrecadados os
recursos. Anteriormente, era comum a retenção dos recursos por parte dos órgãos arrecada-
dores. No caso, de descumprimento dos prazos incidirá a devida correção monetária (art.69,
§ 5º e § 6º). Um outro aspecto importante, já destacado por nós, foi o do estabelecimento
do que vem a ser despesas com manutenção e desenvolvimento do ensino. Antes da Lei
9.394/96 eram praticados os mais variados abusos. MELCHIOR (1997, p, 79) cita o caso de
municípios que asfaltavam as ruas em torno das escolas e lançavam a despesa nos recursos
destinados à educação, ou então, prefeituras que colocavam água encanada nos bairros das
escolas e lançavam as despesas como obra de infra-estrutura escolar. Destaque-se que essas
irregularidades constatadas por falta de uma legislação mais precisa sobre a matéria, tam-
bém eram cometidas pela União e por muitos Estados da Federação.
Entretanto, mesmo após a edição da atual LDBEN, agora já não são mais irregula-
ridades, ilegalidades continuam sendo cometidas no que diz respeito ao cumprimento das
obrigações constitucionais por parte de muitos municípios.
Nesse sentido, Pinto (2002, p. 127), assinala que na cidade de São Paulo as gestões
Paulo Maluf (1992-1996) e Celso Pitta (1996-2000) “descumpriram sistematicamente a vin-
culação definida pela Lei Orgânica e Marta Suplicy parece ter ido mais além ao ampliar o
conceito do que sejam gastos com ensino por meio da Lei Municipal nº 13.245/2001, em cho-
que, aliás, com a LDB”. Interessante, que neste caso, apenas um edil da bancada do Partido
dos Trabalhadores se insurgiu contra esta ilegalidade e, aliás, acabou tendo que abandonar
a sigla.
Mas, como ainda afirma Pinto (2002, p. 127): “Estas manipulações dos gastos com en-
sino atingem também o Estado de São Paulo, onde, conforme relatório da CPI da Assembléia
Legislativa, que teve como presidente o deputado Cesar Callegari, deixou-se de aplicar em
ensino o equivalente a R$ 6 bilhões, de 1995 a 1998, na gestão de Mário Covas (CALLE-
GARI, 2000). Segundo esta CPI até recursos destinados à alimentação para os animais do
zoológico foram contabilizados como gastos com ensino.”
30
O Salário Educação
Uma outra fonte importante de recursos para o financiamento do ensino fundamental é
o Salário Educação, criado por meio da Lei nº 4.024/64, no Governo do Mal. Castelo Branco.
Foi concebido como uma alternativa às empresas que não estavam cumprindo o que estabe-
lecia a Constituição Federal de 1946, ou seja, que não ofereciam educação primária aos seus
política educacional
empregados e aos filhos desses. A contribuição social das empresas foi fixada em 1,4% da
folha de Contribuição à Previdência Social.
Atualmente, por força do que dispõe a EC 14/96, que deu nova redação ao § 5º do art.
212 da CF, e regulamentado pela Lei 9.424/96, art. 15, a contribuição está fixada em 2,5%
sobre o total da folha de contribuição das empresas e destina-se, exclusivamente ao ensino
público. O INSS retém 1,0% do total arrecadado para cobrir custos administrativos com a
arrecadação.
O montante arrecadado está dividido em duas cotas, a federal que corresponde a 1/3, e
a estadual que equivale a dois terços de sua receita líquida, distribuída mensal e automatica-
mente pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).
Ao contrário do que afirma Pinto (2000, p. 62), a MP 1.607/97 foi votada pelo Con-
gresso Nacional e transformada na Lei Federal nº. 9.766, de 18/12/1998, definindo, portanto,
legalmente, a existência da cota municipal.
Os recursos obtidos com o Salário Educação têm-se constituído numa importante fon-
te de financiamento da educação, principalmente, a partir das inovações introduzidas pela
Lei Federal nº 10.832/03.
31
Atesta esta afirmação o crescimento da receita do Salário Educação no período de
2000 a 2006 (R$ 2.791.249.988,00 para R$ 6.966.407.821,00 – Fonte: FNDE).
O FUNDEF é formado no âmbito de cada Estado, por 15% das seguintes fontes de
arrecadação:
Nos estados onde a receita proveniente dessas fontes não for suficiente para a garantia
de um valor por aluno/ano igual ou superior ao valor mínimo nacional, fixado por ato do
Presidente da República, a União deverá complementar esses recursos.
Inicialmente, o valor fixado para os anos de 1998 e 1999 foi de R$ 315,00. A partir do
ano de 2000 passou a existir diferenciação nos valores atribuídos aos segmentos 1ª a 4ª séries
e 5ª a 8ª séries. Assim é que para o ano de 2002, último ano do governo FHC os valores
foram fixados em R$ 418,00 para as séries de 1ª a 4ª e 438,90 para as séries de 5ª a 8ª, que
representou um reajuste de aproximadamente 33,0% em relação ao ano de 1998.
32
No ano de 2005 o valor mínimo nacional por aluno ficou estabelecido em $ 620,56 para
o segmento de 1ª a 4ª séries do EF e $ 651,59 para as séries de 5ª a 8ª.
Uma das críticas feitas pelos estudiosos do financiamento da educação pública, diz
respeito ao fato de que o § 1º do art. 6º da lei 9.424/96 vem sendo sistematicamente desres-
peitado pelo exmo.sr. Presidente da República, quando não leva em conta que o valor míni-
mo anual não pode ser “[...]inferior à razão entre a previsão da receita total para o Fundo
política educacional
e a matrícula total do ensino fundamental no ano anterior, acrescida do total estimado de
novas matrículas[...].”
Como não poderia deixar de ser, a não observância desse dispositivo legal tem implica-
do no estabelecimento de um valor mínimo nacional por aluno muito menor do que deveria
ser. Desse modo, a contribuição da União para o Fundo tem sido cada vez menor.
Outro ponto a ser considerado diz respeito ao tema da melhoria da qualidade, um dos
objetivos do Fundo. Neste quesito pode-se afirmar com segurança: o FUNDEF não mudou
em nada o fraco desempenho de crianças e jovens, alunos do ensino fundamental.
Nesse sentido, o relatório recentemente divulgado pelo INEP atesta que houve retro-
cesso no aprendizado do aluno do ensino fundamental no período de 1995 a 2005.
No ano de 1995 nas escolas urbanas a proficiência dos alunos da 4ª série em Portu-
guês situava-se em torno da média 191,57, numa escala de 0 a 500 pontos. No ano de 2005,
o desempenho médio era de 175,52. Ou seja, o que era ruim, conseguiu ficar pior. A queda,
inclusive foi mais acentuada no Nordeste, região que contou com a complementação de re-
cursos para o FUNDEF feito pelo Governo Federal (passou de 182,59 para 159,08). No caso
do Estado de São Paulo, o rendimento médio passou de 196,19 (1995) para 183,72 (2005).
Em Matemática e no Brasil como um todo a média passou de 192,83 (1995) para 185,66
(2005). Também, em Matemática, no Nordeste, a queda foi mais acentuada: passou de 182,83
33
(1995) para 166,49 (2005). No Estado de São Paulo dá-se o mesmo que tem sido observa-
do para o ensino de Português, ou seja, o desempenho médio passa de 198,71 (1995) para
191,95.
Há quem argumente que essa queda é devida a quase universalização do ensino fun-
damental. Não é o caso do Estado de São Paulo, onde tem sido decrescente a matrícula no
ensino fundamental. Aliás, no Brasil como um todo houve diminuição de matrículas entre
2005 (33.543.700) para 33.282.663 em 2006. Portanto, uma queda de 0,8%.
A situação do Estado de São Paulo merece uma análise à parte. Trata-se de um Estado
que não recebeu nenhum tipo de complementação da União, uma vez que já investia por
aluno mais que o mínimo nacional estabelecido pelo FUNDEF. Em compensação houve um
processo de acentuada municipalização do ensino fundamental, principalmente no segmento
de 1ª a 4ª série, e, como conseqüência muitos municípios assumiram esse nível de ensino sem
que estivessem devidamente preparados para tal.
Os estudos até agora realizados indicam de forma insofismável, que talvez, o principal
efeito do FUNDEF foi ter induzido à municipalização do ensino fundamental.
No Estado de São Paulo, por exemplo, que antes da criação do Fundo exibia um dos
mais baixos índices de municipalização; atualmente, de acordo com os dados divulgados
último censo escolar (29/03/2006), já apresenta quase que 40,0% da matricula sob a res-
ponsabilidade das municipalidades paulistas. Ou seja, de um total de 5.887.739 matrículas,
2.176.202 estão nos municípios.
34
a mudança na seriação do ensino fundamental. Acrescente-se ainda o fato de que os ciclos
de quatro anos são muito longos e, em muitos casos, as condições de funcionamento das es-
colas não têm permitido um acompanhamento mais de perto do progresso do aluno.
Do meu ponto de vista, a criação de um ciclo inicial de quatro anos e não de dois em
dois anos, se deu para viabilizar o processo de municipalização, uma vez, que a maior parte
das prefeituras apenas se interessava pelo primeiro segmento do ensino fundamental, que
política educacional
permitiria estabelecer uma continuidade com a Pré-Escola, que no caso do Estado de São
Paulo é praticamente toda ela de responsabilidade municipal e privada. Com a criação do
ensino fundamental de nove anos, o Ciclo I ficou mais longo ainda.
Do FUNDEF ao FUNDEB
Desde o lançamento, o FUNDEF gerou muitas críticas. De acordo com Melchior
(1997, p. 67), embora o Fundo tenha reduzido, parcialmente, as desigualdades não eliminava
o clientelismo político. Desde o início as críticas giram em torno das “perdas” que sofrerão,
em alguns casos, os Estados, em outros, os municípios. As perdas municipais resultam do
fato de que a educação infantil ficou de fora do Fundo. Todavia, com a crescente assunção
de matrículas do ensino fundamental pelos municípios, essas perdas tenderiam a diminuir.
E, de fato, foi o que ocorreu. Muitos municípios também procederam à matrícula de crianças
com seis anos de idade na 1ª série do ensino fundamental e desse modo, reduziram o número
de matrículas na educação pré-escolar.
É nesse contexto de críticas que surge a proposta para a criação de um fundo que
abrigasse toda a educação básica, ou seja, desde a creche até o ensino médio. Deste modo, a
prioridade deixava de ser apenas o ensino fundamental e passava a contemplar toda a edu-
cação básica (0 a 17 anos). Sem dúvida uma meta ambiciosa e que nos colocaria ao lado dos
países mais desenvolvidos.
A questão que logo de início não cala é a seguinte: haverá recursos para tanto? O
FUNDEF, em que pese todas as limitações, já apontadas e comentadas, estabelecia uma
prioridade e com isso, reservava pelo menos 60% dos recursos a serem aplicados em educa-
ção para o ensino fundamental, onde, aliás, ainda está matriculada a maior parte do alunado
brasileiro. Um ensino fundamental de qualidade já resolveria boa parte dos problemas que
temos no campo da educação.
No apagar das luzes do ano de 2006, o Congresso Nacional editou a Emenda Consti-
tucional Nº. 53 que dá nova redação aos arts. 7º, 23, 30, 206, 208, 211 e 212 da Constituição
Federal e ao art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. Na prática é uma
reforma da EC. Nº 14/96.
35
Algumas mudanças nada têm a ver com a criação do FUNDEB; são apenas ajustes
necessários tendo em vista o estabelecimento da idade de seis anos para ingresso no ensino
fundamental. É o caso da alteração proposta para o art. 7º, que passou a ter a seguinte reda-
ção: “XXV – assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até 5 (cinco)
anos de idade em creches e pré-escolas”. O curioso, neste caso, para dizer o menos, é que a
lei (Lei Federal nº 11.114/05) do ingresso com 6 (anos) no ensino fundamental veio antes da
Emenda Constitucional, ou seja, a lei, impropriamente, alterou a CF.
No art. 23, onde estava escrito “Parágrafo único – Lei complementar – leia-se Leis
complementares”.
No art. 30, uma emenda, sem dúvida necessária, uma vez que o artigo fala em educa-
ção pré-escolar, quando o correto é referir-se à educação infantil.
É a partir das alterações dos arts. 206, 208, 211, 212 da CF e do art. 60 do Ato Consti-
tucional das Disposições Transitórias que são estabelecidas as condições necessárias para a
transformação do FUNDEF em FUNDEB.
A alteração do inciso IV do art. 208 é mais uma adequação à legislação que antecipou
para 6 (seis) anos o ingresso da criança no ensino fundamental, reduzindo desse modo a
duração da educação infantil para a faixa etária de 0 (zero) a 5 (cinco) anos de idade.
Ao art. 211 foi acrescentado mais um parágrafo, o de número V, com a seguinte redação:
“A educação básica pública atenderá prioritariamente ao ensino regular.” Neste caso, é de se
supor, que lei posterior conceituará o que vem a ser ensino regular. Se prevalecer o entendi-
mento atual, mais uma vez, o ensino supletivo, hoje denominado, educação de jovens e adul-
tos, ficará de fora. É provável, que a lei venha a excluir o ensino supletivo não presencial.
Ao art. 212 foram acrescentados dois novos parágrafos. O § 5º, em boa hora, consti-
tucionalizou o salário-educação como fonte adicional de financiamento da educação básica
36
pública. Digo em boa hora, tendo em vista que pressões não faltam, a título de desonerar a
folha de pagamento da empresas, para que seja extinto o salário educação. Por sua vez, o §
6º estabelece que os recursos do salário educação sejam distribuídos proporcionalmente ao
número de alunos matriculados na educação pública. Deixam, portanto, de ser aplicados,
exclusivamente, no ensino fundamental.
política educacional
titucionais Transitórias (ADCT).
São ainda recursos destinados ao Fundo aqueles previstos nos incisos II, III e IV do
caput do art. 158; e as alíneas a e b do inciso I e o inciso II do caput do art. 159, todos da CF,
que serão distribuídos proporcionalmente ao número de alunos das diversas etapas e moda-
lidades da educação básica presencial, matriculados nas respectivas redes, nos respectivos
âmbitos de atuação prioritária estabelecida nos §§ 2º e 3º do art. 211 da CF., ou seja, no caso
dos municípios, a prioridade é oferecer o ensino fundamental e a educação infantil; no caso
dos estados a responsabilidade maior é com o ensino fundamental e o ensino médio.
37
tada pela Senadora Lúcia Vânia, quando da discussão da EC no Senado Federal). Aliás, a
discussão da EC no Senado Federal, que por razão de espaço deste artigo, não pode ser feita
aqui, será por nós retomada em outro texto, dada a relevância dessa discussão no Congresso
Nacional, que melhorou a proposta original do Poder Executivo.
Essas dificuldades teriam sido minimizadas, se o Poder Executivo tivesse optado pela
criação de três fundos, um para cada nível da educação básica. A MP prevê um mesmo valor
por aluno para a educação infantil e para o ensino médio.
Tudo faz crer que não será fácil a aprovação da MP pelo Congresso Nacional, pelo
menos, na forma como foi originariamente enviada à Câmara Federal.
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política educacional
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setembro/2002, p. 108-135.
39
Desse modo, a educação não é mais vista como atividade social exclusiva da escola,
conforme artigo 205 da Constituição Federal.
Para Bobbio (1986, p.54-55), a questão que se coloca para as sociedades democráticas,
não é a passagem da democracia representativa para a democracia direta, mas a transforma-
ção da democracia política em democracia social que, segundo ele,
[...] consiste na extensão do poder ascendente que, até agora, havia ocu-
pado quase exclusivamente o campo da grande sociedade política e das
pequenas, minúsculas em geral, politicamente irrelevantes associações vo-
luntárias, para o campo da sociedade civil nas suas várias articulações, da
escola à fábrica”.
Prosseguindo a análise esse autor coloca a seguinte questão: “até que ponto é possível
a sobrevivência de um Estado democrático em uma sociedade (escola, fábrica, família, etc.)
não democrática?”.
Trazendo este questionamento para a escola, no momento em que se acena com a ges-
tão democrática, até que ponto é possível avançar esse processo de democratização, conside-
rando a sociedade brasileira onde, cada vez mais, avança o processo de exclusão social?
A escola brasileira se estruturou com base no modelo taylorista, com uma rígida es-
pecialização das tarefas a serem executadas e, desse modo, o professor é visto como um
especialista voltado apenas para a sala de aula, ou seja, distanciado do processo de pensar e
planejar a ação educativa, perdendo, portanto, a visão de totalidade inerente à prática peda-
gógica.
40
Paro (2001, p. 8), discutindo que, historicamente, os interessados no desenvolvimento
do mercado, ou aqueles que ingenuamente acreditam que a eficiência da administração capi-
talista pode ser transplantada para a escola, têm defendido a cópia dos princípios e métodos
da empresa, lembra:
política educacional
nas diferentes, mas antagônicos aos da empresa capitalista. Por isso, os
mesmos meios de controle do trabalho alheio com fins de exploração e
dominação, inerentes a esta, não podem ser aplicados naquela sem com-
prometer seus objetivos de formação e autonomia humanas que devem ser
perseguidos pela educação.
Nesse sentido, acreditamos que a atual legislação educacional abre um amplo leque de
possibilidades para formas participativas de gestão escolar com a intenção de romper com o
modo fragmentado de encarar e desenvolver a atividade docente.
Não é nossa intenção no espaço de um capítulo esgotar todas as questões que, de al-
gum modo, se relacionam com a gestão democrática da escola. Alguns aspectos já foram
levantados no capítulo anterior e com eles guardam uma estreita relação, como é o caso da
descentralização.
Inclusive, esse aspecto tem merecido críticas de comentadores de perfil político con-
servador. Souza e Silva (1997, p. 33) ao tratarem esse tema, assim se pronunciam: “A gestão
democrática é um princípio sadio, que a Constituição mencionou em seu artigo 206 (inciso
VI), destinado somente às escolas públicas, o que é uma pena, eis que todas as gestões devem
necessariamente ser democráticas”.
41
Talvez, essa omissão se explique, pelo fato de que muitos reduzem a gestão democráti-
ca, apenas ao processo de escolha dos dirigentes e dos membros dos colegiados. Entretanto,
como pretendemos demonstrar ao longo deste texto, gestão democrática envolve muito mais
outras questões, tanto no que diz respeito a princípios (autonomia, participação), quanto
aos instrumentos a serem considerados no dia a dia da escola (projeto político pedagógico,
conselhos, grêmios estudantis etc.). Fica entendido, portanto, que a gestão democrática é um
princípio educacional de largo espectro.
Aliás, durante a discussão do Plano Nacional de Educação, em vigor desde 2001, mas
esquecido, uma vez que ninguém mais fala nele, os setores democráticos da sociedade brasi-
leira definiam a gestão democrática como sendo:
É preciso também levar em conta que o princípio da gestão democrática não é auto-
aplicável, uma vez que o texto constitucional estabelece que o mesmo será exercido na forma
da lei (art. 206, VI).
Era de se supor que a questão ficaria resolvida com a promulgação da Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional (Lei Federal nº 9.394, de 1996). Todavia não ficou, pois esta
remeteu a questão para os sistemas de ensino. Estes, por sua vez, são estaduais e municipais,
tendo em vista que a Constituição Federal, pela primeira vez em nossa história e avançando
com o processo de descentralização, criou a figura dos Sistemas Municipais (art. 211).
É bem provável, portanto, que a gestão democrática do ensino público adquira con-
tornos diferenciados, de acordo com a legislação estabelecida pelos diferentes sistemas de
ensino.
42
membros do colegiado. Considera-se que o simples fato de realizar eleições garante a demo-
cratização da escola, quando sabemos que este é apenas um dos aspectos a serem conside-
rados, pois o processo de democratização da gestão escolar implica, sobretudo, na atuação
efetiva de organismos instituintes da gestão democrática como colegiados e conselhos, dos
quais participem os diferentes atores sociais da escola, em um exercício real de suas atribui-
ções representativas.
política educacional
Apesar disto, como já discutimos anteriormente, confirma-se que na verdade tivemos
avanços em relação à gestão democrática, tanto no texto constitucional, quanto na LDBEN,
que tratou em vários dispositivos desta questão. A lei maior da educação brasileira pro-
curou consolidar experiências de gestão democrática que já vinham sendo praticadas em
vários sistemas estaduais e municipais, como foi o caso, por exemplo, já nos anos 1980 da
eleição para os diretores de escola, naquelas unidades da federação em que a indicação, via
de regra, era de natureza política. Um outro exemplo nos é dado pela criação e instalação
dos Conselhos Municipais de Educação em vários municípios em diferentes unidades da
federação.
43
Obviamente esse procedimento adotado pelo legislador na LDBEN em relação ao ensi-
no superior, pode ser tudo que se queira, menos democrático. Particularmente, consideramos
a questão de representação paritária complexa e merecedora de maior discussão. Entretanto,
o que destoa é a desproporcionalidade, onde um segmento, mesmo que seja considerado o
mais relevante, tome conta de 70% dos assentos nos colegiados, enquanto que os outros dois
ficam com apenas 30% dos lugares. Aliás, a representação estudantil durante a vigência da
Lei Federal 5.540, editada durante o regime militar (1968), reservava aos estudantes 1/5 dos
assentos nos órgãos colegiados, portanto, uma fração maior do que a atual.
Todavia, o disposto no artigo 56 agradou aos conservadores. Assim é que Souza e Sil-
va (1997, p. 87), ao comentarem essa passagem da LDBEN, afirmam: “Nada mais justo, eis
que nas instituições, em razão de sua natureza, o poder deve pertencer aos seus esteios mais
permanentes: na Igreja, aos bispos e cardeais; na universidade, aos professores. As minorias
devem participar e opinar, mas não governar, e isso é democracia”.
2 Princípios e Organismos
Instituintes da Gestão Democr ática
Iniciaremos a discussão do tema tratando dos princípios de autonomia da escola em
suas relações com a participação dos diferentes segmentos que a compõem, para em seguida
tratarmos dos organismos instituintes da gestão democrática: conselhos, grêmios estudantis,
colegiados, tanto no âmbito dos sistemas de ensino, quanto na escola.
44
ainda a “faculdade que possui determinada instituição de traçar as normas de sua conduta,
sem que sinta imposições restritivas de ordem estranha”. Os dicionários de Filosofia defi-
nem autonomia, como sendo “a capacidade de autodeterminação” (Dicionário Oxford de
Filosofia). Para Kant (1724-1804) é a “capacidade apresentada pela vontade humana de se
autodeterminar segundo uma legislação moral por ela mesma estabelecida, livre de qualquer
fator estranho ou exógeno”. (Dicionário Houais da Língua Portuguesa). Etimologicamente
política educacional
deriva do grego e significa “condição de uma pessoa ou de uma coletividade, que determina,
ela mesma, a lei à qual se submete” (LALANDE, 1993). De um modo geral, a autonomia é
exercida com certas reservas, sem o que seria soberania. De acordo com a Declaração dos
Direitos de 1789 (art. III) “A soberania reside no povo; ela é uma, indivisível, imprescritível
e inalienável” (LALANDE, 1993, p. 1037).
O professor José Mário Pires Azanha, que em vida, dedicou atenção especial ao estudo
desse tema, considerava que autonomia se tornara nos anos 1980/1990, uma espécie de pala-
vra sagrada, que no seu entender acabava por levar a uma discussão apaixonada. Há que se
considerar ainda, que o professor Azanha acumulou com a atividade acadêmica, realizada na
Universidade de São Paulo, o exercício em diferentes momentos (1967/68 e 1983) em órgãos
dirigentes da Secretaria de Estado da Educação. Trata-se, portanto, de um estudioso que re-
flete a partir de vivências concretas que teve ao longo de sua carreira acadêmica.
Foi nessa dupla militância que Azanha (1983) elaborou um documento para ser discu-
tido por toda a rede de ensino e do qual transcrevemos a passagem que consideramos mais
importante em relação ao tema da autonomia da escola:
Desde a Lei nº 4.024/61 até a Lei nº 5.692/71 e também por meio de inúme-
ros pareceres e resoluções dos Conselhos de Educação, vem se insistindo
na autonomia da escola enquanto instituição educativa. Nem poderia ser
de outro modo, porque a tarefa educativa tem como pressuposto ético a au-
tonomia de quem educa. Sonegada esta condição, a escola perde a sua au-
têntica feição educativa e transforma-se em instrumento de doutrinação.
45
seu próprio trabalho quem não tem nenhuma autonomia de decisão.
É preciso que as escolas públicas tenham a autonomia que a lei lhes con-
fere. Não mais é possível que, nesse ponto, as escolas públicas sejam dis-
criminadas das escolas particulares, cuja autonomia legal é respeitada. Já
dizia Bacon que a verdade brotará mais facilmente do erro do que da con-
fusão. É isso o que esperamos [...]
Essa exposição merece alguns comentários, pelos vários ensinamentos que contém. De
início chama a nossa atenção o fato de que a autonomia é vista como um fundamento ético,
do qual não pode fugir aquele que se dedica à educação. Também não se reduz à autonomia
que poderia vir a ter a escola para elaborar o seu regimento, que asseguraria dois aspectos
da autonomia: o didático e o administrativo. Não pode também ser vista apenas como a
possibilidade de melhoria no aprendizado do alunado. O autor destaca que a autonomia
é indispensável para a construção do projeto pedagógico, que deve ter como principal
finalidade construir “uma autêntica convivência democrática”, que visa formar “homens
críticos, livres e criativos”, mesmo que sejam adversas as condições sociais, políticas e
econômicas. Em síntese, a autonomia não vem por decreto, é construída no dia a dia da
escola.
46
que a escola pública está inserida num sistema educacional, e, portanto, tem também um
aspecto relacional.
Nesse sentido, são mais do que pertinentes as considerações feitas por Barroso,
quando afirma:
política educacional
ou de alguma coisa) pelo que a sua ação se exerce sempre num contexto de
interdependência e num sistema de relações. A autonomia é, também, um
conceito que exprime um certo grau de relatividade: somos, mais ou me-
nos, autônomos: podemos ser autônomos em relação a umas coisas e não
o ser em relação a outras. A autonomia é, por isso, uma maneira de gerir,
orientar, as diversas dependências em que os indivíduos se encontram no
seu meio biológico e social, de acordo com as suas próprias leis e os grupos
(BARROSO, 1998, p. 16).
Desse modo, autonomia para elaborar o projeto pedagógico, como propõe a Lei de Di-
retrizes e Bases da Educação Nacional, pressupõe autonomia administrativa e financeira.
47
ção dos recursos, entre atividades-meio e atividades-fim; o distanciamento entre a formu-
lação e a execução das políticas; a inexistência de mecanismos de controle e avaliação das
ações em execução; o enfrentamento do burocratismo, do clientelismo, do corporativismo
e da desconsideração pela grande diversidade que existe no país em termos sociais, eco-
nômicos e culturais.
Um outro aspecto relevante diz respeito ao fato de que, à medida que professores,
funcionários e estudantes participam das decisões tomadas, sentem-se comprometidos
com o sucesso das mesmas. Ao contrário, nas situações em que imperam o burocratismo,
o clientelismo e o corporativismo, os mesmos consideram-se não responsabilizados pelo
que acontece em razão das decisões tomadas.
Estamos pensando, por exemplo, nos vários organismos instiuintes como Conselhos
de Escola, nos Grêmios Estudantis, no Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de
Educação (CONSED), na União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (UN-
DIME) e no Fórum Nacional de Defesa da Escola Pública. Todas essas instituições se
constituem em instâncias que contribuem para aprimorar o exercício da democracia na
educação.
48
escola autônoma. Ele deve deliberar sobre a organização do trabalho na escola, sobre todo o
funcionamento e, inclusive, sobre a escolha da direção”. Ainda para este educador, “O Con-
selho é uma instância de integração escola-comunidade, que não elimina riscos: muitos pais
têm uma visão equivocada da escola, podendo sugerir a adoção de medidas autoritárias ou
simplesmente não representar qualitativamente o conjunto da sociedade” (GADOTTI, 2003,
p. 52-53).
política educacional
Como a escola faz parte de um sistema, obviamente o funcionamento do Conselho de
Escola guarda estreita relação com as normas gerais que regem a organização e o funcio-
namento das escolas. Desse modo, as decisões tomadas no âmbito do Conselho de Escola
deverão respeitar os princípios e diretrizes da política educacional, da proposta pedagógica
da escola e a legislação vigente.
A UNDIME foi criada em 1986 como entidade civil sem fins lucrativos e com a finali-
dade precípua de articular a ação dos dirigentes municipais de educação. Sua sede localiza-se
na capital da República, em Brasília. Tem atuado de modo intenso na formulação de políticas
educacionais. Dentre as várias ações merece destaque a participação, já no ano de 1993 na
elaboração do Plano Decenal de Educação. Atuou também destacadamente nas discussões
do Projeto de Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) na elaboração do
Plano Nacional de Educação e na lei de criação do FUNDEF. Também é uma das entidades
da educação que indica representantes para o Conselho Nacional de Educação.
Pelas ações que vem desenvolvendo ao longo dos últimos anos tem-se legitimado como
uma instância representativa do poder público municipal, desenvolvendo de modo autôno-
mo, ações junto aos poderes: executivo, legislativo e judiciário.
Para dar conta dessas ações funciona de acordo com a seguinte estrutura organiza-
tiva: Fórum Nacional, que é o órgão máximo deliberativo da entidade; Conselho Nacional
de Representantes, composto por quatro membros titulares e três suplentes, eleitos pelos
Dirigentes Municipais de Educação em cada Estado. Possui ainda uma Diretoria Executiva,
composta de onze membros, com mandato de dois anos e um Conselho Fiscal, integrado por
três membros titulares e três suplentes, eleitos pelo conselho nacional de representantes do
fórum nacional.
49
respondem por aproximadamente por 45% da matrícula estudantil do país (Censo Escolar
de 2003). A UNDIME já realizou um total de nove fóruns nacionais, sendo o último deles
no ano de 2003, ocasião em que denunciou o descumprimento sistemático da lei que criou o
FUNDEF, prejudicando com isso vinte milhões de crianças nos quinze estados mais pobres
da Federação.
Para tanto, está estruturado da seguinte forma: a) Fórum de Secretários (as) de Educa-
ção; b) Presidência; c) Junta Fiscal e d) Secretaria Executiva. O Fórum é a instância máxima
de deliberação.
A primeira tentativa de criação dessa entidade se deu ainda no regime militar, ocasião
em que o Ministério da Educação procurou tutelar a criação do CONSEB (Conselho de
Secretários de Educação do Brasil) no ano de 1981. Todavia, a iniciativa não prosperou, em
grande parte pela falta de legitimidade dos governos estaduais, e porque não dizer, do próprio
governo federal. Tanto é que em 1982, o CONSEB acabou esvaziado, e, por fim, extinto.
Com a realização de eleições diretas para os governos estaduais, ainda no ano de 1982,
e com a posse dos governadores eleitos em março de 1983, tem início articulação encabeçada
pelos secretários estaduais de educação dos estados em que a oposição saíra vitoriosa, que
lançam a proposta de criação do Fórum Nacional de Secretários da Educação.
Desse modo, surge essa entidade como uma instância pluralista e suprapartidária e que
se propõe lutar pela criação de um sistema de educação que atenda aos anseios democráticos
da sociedade brasileira.
Apesar das dificuldades dos anos 1980 marcados pela instabilidade administrativa na
esfera do Ministério da Educação, o Fórum propõe a seguinte agenda para as políticas públi-
cas no campo da educação: 1) garantia de recursos vinculados á educação; 2) democratização
50
da gestão educacional em seus diferentes níveis; 3) combate à repetência escolar; 4) eqüidade
nas condições da oferta e 5) melhoria da qualidade do ensino.
política educacional
formulação e implementação das políticas públicas no campo da educação.
Assim é, que desde a sua fundação até o ano de 2000, teve uma ação marcante na
elaboração do capítulo da educação no texto constitucional de 1988; na discussão da nova
LDB; na elaboração do Plano Decenal de Educação para Todos; participando da Conferência
Nacional de Educação para Todos (1994); atuando como Membro signatário do Pacto pela
Valorização do Magistério e Qualidade da Educação; na definição e implementação das re-
formas realizadas a partir de 1995; atuando na aprovação e implantação do FUNDEF; parti-
cipação da discussão do novo Plano Nacional de Educação; na defesa da constitucionalização
do salário-educação e na defesa do financiamento da educação – Reforma Tributária.
51
a escola propicia a vivência da cidadania; até que ponto a escola se preocupa em colocar o
sujeito (aluno) como centro do processo educativo e como a escola deve responder às aspi-
rações dos alunos, dos pais e dos professores. Estas são algumas das questões que a autora
problematiza ao tratar dos princípios organizativos da escola, em um planejamento participa-
tivo, que, entre outras, exigem respostas definidoras da concepção de educação e de socieda-
de e que estarão informando o estabelecimento das metas do Projeto Político Pedagógico.
Finalmente, será preciso pensar a sala de aula no contexto sócio-político acima proble-
matizado, uma vez que a relação didática professor aluno é historicamente enraizada refle-
tindo, portanto, as injunções político-ideológicas no cotidiano escolar. A própria formação
profissional do docente é um fator de peso para sua atuação, além da sua própria história e da
história social do grupo com que interage.
52
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A
M
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SOARES, L. T. Os custos sociais do ajuste neoliberal na América Latina. São Paulo: Cortez Editora,
2000.
54
Bloco1 Módulo 1 Disciplina 3
política educacional
encontro presencial, na segunda-feira dia 12/04/2010; “O impacto da Globalização nas
Políticas Públicas em Educação”, durante o período virtual seguinte; “As mudanças no finan-
ciamento público da educação básica no Brasil” em nosso segundo encontro presencial, dia
15/04/2010; e a “A Gestão Democrática da Educação”, para finalizarmos a semana. Não se
esqueçam que todos os materiais, vídeos, textos e outros arquivos complementares, estão
disponíveis, também, texto
em seu emCD-ROM.
anexo Preparamos várias atividades virtuais interessantes,
relacionadas aos temas discutidos.
Vocês terão até o dia 17/04/2010, as 23:55hs, para finalizar e entregar essas atividades.
Não deixem para o período de recuperação de prazos (18 a 21/04/2010). Organizem-se e
tentem realizar e participar de todas as atividades propostas. A entrega das atividades em
período de recuperação de prazos implica em descontos na nota (consulte o Manual do
Aluno). Então vamos lá! Vejam como ficou o esquema da semana e acessem a Ferramenta
Atividades para maiores detalhes!
A
1º Período Virtual: 13 e 14/04/2010
55
Atividades da Primeir a Semana
56
Atividade 02: Assistir ao vídeo - Políticas Públicas – FUNDEF
Preparamos junto com a equipe da UNIVESP/TV um vídeo que discutirá a partir de entre-
vistas com alguns gestores de educação pública, a questão do financiamento da educação,
com ênfase na implantação e nos resultados do FUNDEF (Fundo de Desenvolvimento do
Ensino Fundamental e Valorização do Magistério), que a partir de 2007 foi substituído pelo
FUNDEB (Fundo para o Desenvolvimento da Educação Básica).
política educacional
Esse vídeo será apresentado durante esta 1ª Aula Presencial, e poderá ser acessado tam-
bém, por meio do link direto, bem como pela Ferramenta Material de Apoio – Pasta Vídeos
– Atividade 02 – Vídeo Políticas Públicas – FUNDEF.
cação”, que pode ser acessado por meio do link direto, ou na Ferramenta Leituras - Pasta
Textos.
Depois respondam a seguinte questão: O que o grupo entende por política educacional?
Postem no Portfólio de Grupo, com o título “Atividade 3 – Trabalhando os Impactos da
Globalização em Grupo” e deixem “Compartilhado com Formadores”. Não se esqueçam de
associar a atividade à avaliação clicando no link “Associar item à Avaliação”.
Importante!
Fiquem atentos às orientações a seguir, para que seus Portfólios de Grupo sejam criados
corretamente:
1. Vocês só conseguirão postar a atividade no Portfólio de Grupo, depois que este estiver
formado dentro da plataforma. Então, antes de tudo:
- Entrem na Ferramenta Grupos no menu do lado esquerdo;
- Cliquem no link Novo Grupo;
- Criem seu grupo dando um nome (Grupo A, Grupo B...) e selecionando os integrantes;
- Por último, cliquem em Enviar.
Pronto! Os grupos estando formados, os portfólios de grupo estarão disponíveis, para que
façam suas postagens.
2. Após a criação do Portfólio de Grupo e estando no Portfólio de seu grupo, selecionem
Incluir novo item e coloquem no título: Atividade 3 – Trabalho de Discussão em Grupo.
3. Anexem o arquivo de texto que vocês produziram clicando em Anexar arquivo. Não se
esqueçam de seguir as orientações de formatação do texto que estão no Manual do Aluno
Valor
A da nota: 10.00
Objetivos:
M
N Identificar os elementos centrais de uma política educacional.
Critérios
Z
de avaliação: Indicar pelo menos três aspectos que devem integrar uma política
educacional; - Entrega dentro do prazo estabelecido; - Critérios Gerais de produção textual
(Manual do Aluno).
57
1º Período Virtual: 13 e 14/04/2010
Atividade
A 05: Observação em Campo
M
Agora
N
Z
que vocês já leram o texto “Impactos da Globalização nas Políticas Públicas em
Educação”, conversem com seus colegas nas escolas em que trabalham, e respondam à
questão: Que mudanças vocês observam na escola nos últimos anos e quais consideram
decorrentes da globalização?
Vamos exemplificar: mudanças na política salarial; alteração no quadro de carreira; mate-
rial didático; políticas de avaliação dos alunos e dos profissionais que atuam na educação...
Estes são apenas alguns exemplos, mas temos certeza de que vocês podem identificar mais.
Então reflitam sobre a proposta e vamos lá!
Postem esta atividade no Portfólio Individual e deixem “Compartilhado com Formadores”.
Não se esqueçam de associar a atividade à avaliação clicando no link “Associar item à
Avaliação”.
Importante!
Sigam as seguintes orientações, para que seus Portfólios fiquem organizados:
1. Entrem no Portfólio Individual, selecionem Incluir novo item e coloquem no título Ativida-
de 5 – Observação em Campo.
2. Anexem o arquivo de texto que produziram clicando em Anexar arquivo. Não se esque-
çam de seguir as orientações de formatação do texto que estão no Manual do Aluno.
58
Importante!
Fiquem atentos às instruções abaixo:
1. Para participar desta atividade, vocês deverão acessar a Ferramenta Fórum de Discus-
são, clicar em Fórum sobre Política Educacional e responder à mensagem que já foi criada.
Quando fizerem a leitura dessa mensagem, verificarão o botão Responder logo abaixo dela.
Cliquem nele para realizarem suas postagens adequadamente. Essa prática permitirá que
suas mensagens sejam avaliadas pelos Orientadores de Disciplinas e, também, facilitará
política educacional
suas interações com os colegas, deixando o ambiente organizado.
2. Vocês não deverão clicar no link Compor nova mensagem. Ao clicar nesse link, vocês
criarão uma nova mensagem fora do tópico que já foi criado no ambiente, fazendo com que
suas mensagens não sejam avaliadas. Por isso, fiquem atentos!
3. Caso isso aconteça por engano, postem a mesma mensagem no local certo, ou seja,
seguindo a instrução do item 1.
2ª
A
Aula Presencial: 15/04/2010
M
N
Atividade
Z 08: Apresentação e Discussão do tema “Financiamento
Público da Educação”.
Seu Orientador de Disciplina fará uma breve apresentação do texto lido na Atividade 07 –
“Políticas Públicas de Financiamento da educação básica no Brasil”, antes de iniciarmos as
discussões.
Aproveitem este espaço para levantar questões e tirar as dúvidas.
A
M
N
Z
59
Atividade 10: Questionário 01: “Financiamento Público da Educação”
Agora que o tema “Financiamento Público” já foi bastante explorado, vamos fixar os co-
nhecimentos. Acessem o link direto, respondam as questões e anexem o arquivo em seu
Portfólio Individual, com o título “Atividade 10 – Questionário 01: “Financiamento Público da
Educação”. Não se esqueçam de salvar suas respostas no arquivo antes de o anexarem.
Esta é uma atividade avaliativa, então não deixem de associá-la à avaliação, nem de “Com-
partilhar com Formadores”.
Importante!
Vocês já sabem! Para que o Portfólio fique sempre organizado, não se esqueçam de nome-
ar tanto o link de acesso (título do item criado no portfólio), quanto o arquivo a ser anexado
com o mesmo nome.
Valor
A da nota: 10.00
M
Objetivos:
N Avaliar o impacto do financiamento na política educacional
Z
Critérios de avaliação: Indicar pelo menos dois aspectos do financiamento da educação ne-
cessários para a execução de uma política educacional de qualidade social; - Entrega dentro
do prazo estabelecido; - Critérios Gerais de produção textual (Manual do Aluno)
Atividade
A
12: Questionário 02: “A Gestão Democrática da Educação”
M
Agora,
N vamos trabalhar o conteúdo do texto.
Z
Acessem o arquivo por meio do link direto, respondam as questões e anexem o arquivo na
Ferramenta Portfólio Individual, com o título Atividade 12 – Questionário 02: “ Gestão Demo-
crática da Educação”.
Atenção: Essa é uma atividade avaliativa, então não se esqueçam de associá-la à avalia-
ção clicando no link Associar item à Avaliação, e de Compartilhá-la com os Formadores.
Valor
A da nota: 10.00
M
Objetivos:
N Verificar conhecimentos adquiridos
Z
Critérios de avaliação: Responder todas as questões; - Gerais de produção de texto (Ma-
nual do Aluno) - Entrega dentro do prazo determinado
60
Bloco1 Módulo 1 Disciplina 3
política educacional
mentares. Além da elaboração das reflexões em seu Diário de Bordo. Lembrem-se que todos
eles podem ser acessados por meio do CD-ROM. Fiquem atentos: dia 22/04/2010 teremos a
prova presencial. Não faltem! Vejam o esquema geral da semana e cliquem em “Atividades”
no menu do lado esquerdo, para o detalhamento das atividades. Aproveitem essa semana
para tirarem suas dúvidas.
texto em anexo
3ª Aula Presencial: 19/04/2010
Atividade 13: Retomada dos principais pontos do tema “Gestão Democrática da Educação”.
Z
Atividades da Segunda Semana
Link: Do FUNDEF ao FUNDEB: uma breve reflexão sobre as recentes mudanças no financia-
mento da educação brasileira (http://www.acervodigital.unesp.br/handle/123456789/35)
3º
A Período Virtual: 20 e 21/04/2010
M
N
Atividade
Z
16: Leitura complementar
Para uma análise mais detalhada da política educacional do governo do Estado de São
Paulo, vocês encontram na Ferramenta Leituras – Pasta Leituras Complementares, ou por
meio dos links diretos, dois textos.
O primeiro deles de autoria do Professor João Cardoso Palma Filho, tem por título: A políti-
ca educacional do Estado de São Paulo no período de 1983-2008. A
M
O segundo texto é de autoria da Professora Vilma Aparecida de SouzaNda Universidade Fe-
deral de Uberlândia, e tem por título: Políticas educacionais e gestão democrática
Z da educa-
ção: um desafio na formação teórico-prática dos educadores, que foi apresentado e discutido
no X Congresso Paulista sobre a Formação dos Educadores.
Atividade
A
17: Síntese de texto
M
Como
N sugestão de estudo, escolham um dos textos da atividade anterior, que estão nos
Z
links diretos e façam uma síntese do mesmo, destacando as ideias centrais. Caso vocês
discordem dos argumentos apresentados pelo(a) autor(a) ou dos fatos relatados, apresentem
seus pontos de vista, sempre procurando justificá-los.
Salvem o arquivo de texto produzido por vocês com o título Atividade 17 – Síntese de texto
e anexem na Ferramenta Portfólio Individual, deixando “Totalmente Compartilhado”.
Não se esqueçam de nomear o link de acesso (título do item criado no portfólio) com o
mesmo nome do arquivo de texto salvo.
Link:
A
Políticas educacionais e gestão democrática da educação: um desafio na formação
teórico-prática
M
N
dos educadores (http://www.acervodigital.unesp.br/handle/123456789/39)
Z
A
M
N
Z
62
4ª Aula Presencial: 22/04/2010
política educacional
Atividade 19: Reflexão no Diário de Bordo sobre Política Educacional
Concluímos hoje nossa reflexão sobre Política Educacional. Vocês, certamente, já se de-
frontaram com esta questão em sua trajetória pessoal e profissional
A de educador. Sugerimos
que vocês busquem evocar e sistematizar suas lembranças relacionadas
M à Política Educa-
cional, registrando-as em seu Diário de Bordo. Desse modo, você poderá
N retomá-las mais à
A
frente, como parte das referências de sua história de vida profissional.
Z
Criem, então, na pasta “Memória do Professor”, que está em seusMcomputadores ou no pen
N
drive, um arquivo com o nome “Reflexões sobre Política Educacional” e façam suas reflexões
sobre o tema. Z
Em seguida, acessem o Diário de Bordo da plataforma, cliquem em “Incluir nova anotação”,
deem o mesmo nome que vocês salvaram o arquivo, e copiem e colem suas considerações
para o campo de edição do diário. Ao terminarem, selecionem “Compartilhado com Forma-
dores” e cliquem em “Enviar”.
63
64
vê n c ia s ã o
i
conv mpreen
cdoe
solida r ie d a
Ética e
Cidadania
Lourdes Marcelino Machado
Doutora em Educação pela Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho e
Livre Docente em Administração Escolar.
Atualmente é editor responsável - M3t Tecnolo-
gia e Educação e professor colaborador do
Programa de Pós-Graduação em Educação da
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mes-
“O homem pode se tornar homem quita Filho.
(...) somente através da educação.
Celestino Alves da Silva Júnior
Ele não é nada mais do que Doutor em Educação, Livre Docente em Educa-
aquilo que a educação dele o faz” ção e Professor Titular pela Unesp (aposentado).
Cena 2:
Ligo a televisão para ver o noticiário. Mas não é o noticiário que está na tela. Estamos
no horário da propaganda eleitoral. Não adianta nem mudar de canal - em todos, su-
cedem-se as imagens e discursos dos candidatos, esforçando-se para me convencer de
que se eu não der meu voto a eles, estou emperrando a marcha do Brasil para o destino
glorioso que o espera, para a superação dos problemas como o desemprego, a fome,
os meninos de rua. A palavra ‘ética’ aparece em todos os discursos, como no refrão de
uma canção.
Cena 3:
Um texto sobre Ética e Vida Social, que escrevi como parte do conteúdo do Proforma-
ção – Programa de Formação de Professores em Exercício, é submetido à apreciação
de um grupo de professoras leigas a quem o Programa se destina. As professoras tra-
balham em escolas rurais da região centro-oeste do Brasil e tiveram oportunidade de
completar apenas o 1º grau. Nunca tiveram contato com a filosofia, muito menos com
a ética como está tematizada no texto. Elas mostram interesse na leitura. Uma delas
escreve em sua folha de papel: Quero saber mais sobre a necessidade da presença da
ética na sociedade. É muito importante construir a cidadania com base no respeito, na
justiça, na solidariedade (...) Não estamos na sala de aula só para ensinarmos os conte-
údos, mas para sermos exemplos para os alunos.
2. Retomo, aqui, grande
Relatei2 essas cenas na abertura de um texto escrito há quase parte das idéias explora-
dez anos (Rios, 1999). Mas julgo que elas têm atualidade e a elas po- das naquele texto.
66
deriam se somar muitas outras de natureza semelhante. Cenas do cotidiano brasileiro que
retratam aspectos significativos ou problemáticos de nossa sociedade, de nossa cultura, e
apontam para a necessidade de refletir e agir no sentido de superar os problemas e ampliar o
conhecimento e a possibilidade de intervenção criativa no nosso entorno. Cenas-provocações
para uma discussão sobre os valores que estão presentes em nossas ações e relações e sobre
o papel da escola e dos educadores na construção e reconstrução desses valores. E até para
ética e cidadania
se pensar se há um momento específico na escola ou no currículo para a discussão sobre os
valores, e que momento é esse.
Conhecimento e Valor
Não há conhecimento desprovido de valor. Portanto, ensinar Português, Matemática,
Ciências, Geografia, História, Artes... é revelar determinados valores que se abrigam na orga-
nização epistemológica e metodológica de cada área do saber. Mas há valores que se encon-
tram sistematizados numa outra perspectiva, que chamamos axiológica, e que dizem respeito
às atitudes que se dizem desejáveis ou indesejáveis no relacionamento das pessoas. São os
valores morais. É a eles que se faz referência quando se fala em “educação em valores”. Será
que se está falando, então, em educação moral?
67
A moralidade é uma das dimensões do comportamento humano em sociedade. Fazen-
do parte de um contexto social, o indivíduo tem seu comportamento orientado por determi-
nados princípios, regras, valores. Nas diversas instâncias da sociedade, ele desempenha seus
papéis tendo como referência essa orientação, mais ou menos explícita conforme a natureza
da instituição. A formação moral se dá, portanto, no processo de socialização, no qual se
constitui a identidade dos indivíduos.
Nesse processo de desenvolvimento, articulam-se estreitamente uma dimensão inte-
lectual e uma dimensão afetiva. A responsabilidade, que é o núcleo do comportamento mo-
ral, uma vez que o indivíduo responde às imposições do contexto, pressupõe, de um lado, a
liberdade, enquanto possibilidade de escolher, e de outro, o empenho da vontade na definição
da escolha. O comportamento moral não se dá na obediência pura e simples às regras, mas
exatamente na legitimação dessas regras pelo indivíduo, na possibilidade de passar de uma
situação de heteronomia, isto é, de submissão às regras apresentadas pela sociedade, à au-
tonomia, no sentido de possibilidade de pautar sua conduta por regras e valores que assume
como significativos, a partir de sua própria vivência, de questionar as regras instituídas e
mesmo de definir novas regras.
É aqui que fazemos o trânsito para a ética. Se a formação moral consiste num processo
de passar da heteronomia à autonomia, e se a autonomia é conquistada a partir de um exercí-
cio de reflexão, é preciso, então, o recurso à ética para que se realize aquela conquista.
Penso que a expressão educação moral constitui, de certa forma, um pleonasmo. Não
há educação que não tenha uma dimensão moral. Se a moral diz respeito a princípios, cren-
ças, regras que norteiam as ações dos indivíduos e dos grupos na sociedade, o processo
educativo, que se caracteriza como a socialização e reconstrução contínua da cultura, está
profundamente marcado por esses valores, em qualquer instância em que se realize. Portan-
to, ainda que não tenhamos consciência disso, ao ensinar, estamos revelando os valores que
sustentam nossa prática de educadores, enquanto membros de uma comunidade específica.
Assim, todo professor é, de algum modo, professor de moral imbuído de uma postura
ética. Essa afirmação quer trazer a referência a uma característica fundamental do processo
educativo, que é a de transmitir – questionando, construindo, desconstruindo, reconstruin-
do – valores, no ensinamento que se faz cotidianamente. Ensinando Português, Matemática,
Geografia, História, Artes etc, o professor está trazendo, revelando e discutindo valores que
sustentam sua prática e a da sociedade em que vive.
68
Não há possibilidade de se ensinarem valores como se existissem por si mesmos, des-
conectados do contexto em que se dão as relações entre os indivíduos, em que se organiza o
trabalho e em que se cria, recria e desenvolve o conhecimento.
ética e cidadania
fisiologia humanas ou sem empregar algumas noções de informação filosófica? E como pode
instruir-se alguém em conhecimentos científicos sem inculcar-lhe respeito por valores tão
humanos com a verdade, a exatidão, a curiosidade? Pode alguém aprender as técnicas ou as
artes sem formar-se ao mesmo tempo no que a convivência social supõe e no que os homens
desejam ou temem? (Savater, 1997:49)
Isso, entretanto, nem sempre está claro para os professores e também não há uma in-
tencionalidade e muito menos uma organização formal para esse processo de socialização
e questionamento de valores. Com muita freqüência, em função dessa inconsciência, o que
se encontrou em nossas escolas foi uma educação moralista, entendida como uma forma de
imposição de princípios e regras aos educandos.
Ética na escola
Nos PCN, o que se pretendeu foi romper com esse tipo de educação. A ética aí não se
constitui como uma disciplina e sim como um dos chamados temas transversais, que deveria
ser explorado no trabalho em todas as áreas. Desde o início da apresentação da proposta, os
professores passam a manifestar uma preocupação com a transversalidade: “Como ensinar
frações e respeito mútuo?”, perguntam eles. “Como juntar no meu programa regras gramati-
cais e justiça? Ou penínsulas e solidariedade?”.
Na verdade, é necessário, antes de mais nada, retomar o significado que tem a trans-
versalidade. Como se apresenta na proposta, a problemática dos temas transversais atravessa
os diferentes campos do conhecimento, o que – é importante assinalar – é diferente de se
afirmar que passa ao largo deles. Assim, se os temas transversais não se acrescentam às áreas
temáticas como novas disciplinas, das quais se encarregariam professores especialistas, a
abordagem desses temas é atribuição de todos os professores. E não se pode dizer que isso
acontece não importa a disciplina que o professor ensina. A disciplina que o professor ensina
sempre importa, quando se trabalha com as questões abordadas nos temas transversais, e
vice-versa. A especificidade da disciplina, na verdade, aponta muitas vezes para uma abor-
dagem diferenciada das questões sociais.
69
coletiva do projeto pedagógico. Não adiantam as boas intenções de um ou outro professor,
acidentalmente. Se toda a escola não estiver engajada na proposta, os resultados deixarão a
desejar. Requer-se, portanto, uma mudança qualitativa no trabalho da escola.
Afirma-se, reiteradamente, que o objetivo da escola é a formação da cidadania. Os
professores realizam essa formação ensinando que dois mais dois são quatro, que o calor
dilata os corpos, que há palavras polissílabas, que arquipélago é um conjunto de ilhas, que
há várias formas de criação artística. E, ao mesmo tempo, que é importante conhecer e cui-
dar do próprio corpo, valorizar a pluralidade do patrimônio cultural brasileiro, perceber e
respeitar diferentes pontos de vista, buscar a justiça nas relações sociais. No que diz respeito
a esses últimos ensinamentos, na verdade, mais que ensinar que..., é importante ensinar a...
(Carvalho, 1979). É nessa medida que as questões relacionadas à ética devem ser objeto de
consideração e abordagem dos professores de todas as disciplinas. Dessa maneira, se cria a
possibilidade de articularem as dimensões conceituais, comportamentais e atitudinais dos
conteúdos com os quais se trabalha.
O que importa é que os alunos possam construir significados e atribuir sentido àquilo
que aprendem. Somente na medida em que se produz este processo de construção de signi-
ficados e de atribuição de sentido se consegue que a aprendizagem de conteúdos específicos
cumpra a função que lhe é determinada e que justifica a sua importância: contribuir para o
crescimento pessoal dos alunos, favorecendo e promovendo o seu desenvolvimento e socia-
lização. (Coll, 1998: 14) Isso não significa que o professor deva ser especialista em todos os
temas transversais, mas, também não significa que basta trabalhar espontaneamente com os
valores ou aproveitar momentos pontuais para trazer a discussão à classe. Não se trata de im-
por e sim de afirmar valores. Freqüentemente o gesto do professor ensina mais do que o seu
discurso. Os fins da educação mais corretamente elaborados e mais bem estabelecidos pouco
servirão se os educadores não os converterem em atitudes pessoais que terão de manifestar
durante todo o processo de relação com os educandos, afirma Puig (1998: 185). O trabalho
com os temas transversais exigirá, sem dúvida, uma organização que não será apenas do
próprio professor e sim do conjunto da escola.
Não cabe apenas à escola a responsabilidade de construir um mundo novo. Contudo,
se ela realizar de modo competente a parte que lhe cabe, sem dúvida sua interferência irá ao
encontro da necessidade de construção desse mundo desejado.
O efeito mais notável da boa educação é despertar o apetite por mais educação, por no-
vas aprendizagens e ensinamentos, afirma Savater (1997:184). Concordo com ele. Na medida
em que a ética entra na escola para colaborar no sentido de se construir uma boa educação,
que estimula a mobilização por uma vida melhor e por um saber mais alargado, que ela seja
bem acolhida e se instale em cada espaço de nosso trabalho de educadores.
70
Referências
A
M
BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: apresentação dos temas N
Z
transversais, ética. Brasília: MEC/SEF, 1997.
CARVALHO, José Sérgio F. As noções de erro e fracasso no contexto escolar: algumas considerações. In
AQUINO, Júlio G (org.). Erro e fracasso na escola. São Paulo: Summus,1997.
ética e cidadania
CHARLOT, Bernard. Da relação com o saber ñ elementos para uma teoria. Porto Alegre:Artmed, 2000.
PUIG, J. M. Ética e valores: métodos para um ensino transversal. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1998.
________ A proposta de educação moral nos Parâmetros Curriculares Nacionais: a ética como tema trans-
versal. In Anais do III Encontro Nacional de Educação para o Pensar. São Paulo: Centro Brasileiro de Filo-
sofia para Crianças, 1999, p. 39/48.
71
Educação moral hoje:
cenários, perspectivas e perplexidades
1. Doutor em Filosofia, professor titular
da Universidade de Sorocaba (UNISO) Pedro Goergen1
e professor titular (aposentado) da Uni-
versidade Estadual de Campinas (UNI-
CAMP). A justiça não é uma parte da excelência moral, mas a moral inteira.
E-mail: [email protected] (Aristóteles)
Introdução
A moralidade da sociedade contemporânea assume hoje uma dimensão inversamente
proporcional à sua visibilidade discursiva. Parece que quanto mais se fala em ética e moral,
mais escandalosamente imorais se tornam as práticas. O discurso moralizante nasce, de um
lado, da justa revolta das vítimas da barbárie moral e, de outro, do cinismo dos protagonistas
da imoralidade. Comum aos dois aportes é a tendência de culpabilizar os outros, sejam eles
indivíduos, grupos ou instituições. No presente trabalho, quero defender o ponto de vista de
que a barbárie moral que vivemos não se explica nem se soluciona culpando o outro e exi-
gindo que ele mude seu comportamento. As raízes da imoralidade são muito mais profundas
e alcançam o terreno comum da tradição e da cultura. Por isso, entendo que a superação da
barbárie moral não pode ser alcançada mediante intervenções e sanções tópicas, locais, super-
ficiais, mas que é necessário um repensar amplo e corajoso dos arquétipos de nossa cultura, no
que se refere aos conceitos de cidadania, democracia, justiça social e espaço público. Tal pro-
jeto deve relacionar a nossa tradição cultural e os valores a ela inerentes com o contexto mo-
ralmente perverso do modo de produção capitalista neoliberal que nos governa no momento.
As perplexidades e ambivalências ético-morais precisam ser entendidas e analisadas a partir
da confluência das características e tradições de nossa cultura com o modo de produção e os
referenciais e representações ético-morais que lhe são próprias. Estes dois aportes – a tradição
cultural e a realidade econômico-política – representam as vertentes cínicas das quais nasce a
imoralidade que barbariza nossas relações sociais. Imoralidade essa que ora gera revolta, ora
não provoca mais que indiferença e conformismo.
Essa leitura da ética e da moral nos permite concluir que o discurso moralizante, que
acredita num projeto de moralização social mediante a repressão, apenas atinge a face aparen-
te e superficial de um fenômeno cuja matriz é antes estrutural, em termos histórico-culturais e
econômico-políticos. Essa constatação, por sua vez, nos faculta perceber que a transformação
moral, considerada uma das grandes urgências da sociedade atual, não pode ser alcançada
mediante a imposição de sanções a indivíduos ou grupos, efetiva ou supostamente responsá-
72
veis por eventuais transgressões morais. A moralidade estigmatizadora e penalizante é cínica
num contexto de uma sociedade que nunca se dispôs a rever profunda e radicalmente suas
tradições e costumes, seus preconceitos e elitismos, suas discriminações de raça, de gênero,
de classe; é cínica, também, no contexto de um modelo político-econômico-jurídico que se
orienta no princípio, por natureza excludente e injusto, do utilitarismo que sistematicamente
prioriza os interesses individuais.
ética e cidadania
Há, sem dúvida, razões em profusão para culpar os políticos por seu mau exemplo no
manejo da coisa pública; para responsabilizar os pais e as famílias por não darem aos filhos
uma orientação moral firme e segura; para acusar a escola e os educadores por priorizarem
apenas o lado técnico/instrumental da educação e menosprezar a dimensão moral de sua prá-
tica educativa; para diabolizar a mídia por estimular a individualidade e a competitividade.
De fato, são muitos os que levantam suas vozes exigindo uma renovação moral da sociedade.
No entanto, seus gritos são calados no ambiente opaco de uma cultura que se tornou tolerante
com as imoralidades que favorecem aos interesses ora de uns, ora de outros. O espaço da mo-
ralidade pública foi invadido pelos interesses privados, criando uma promíscua e permissiva
relação entre o público e o privado no foro jurídico, político, econômico familiar e educacio-
nal, capaz de abafar, após breves espasmos de revolta, as mais acintosas afrontas à moralidade
pública. Só assim se explica, por exemplo, que os sucessivos escândalos públicos dos últimos
dez ou vinte anos continuem absolutamente impunes no Brasil.
Se for correta essa análise, pode-se inferir que mudanças verdadeiras só podem ser
alcançadas mediante um processo de profunda crítica cultural que envolva os arquétipos cul-
turais que veladamente ‘naturalizam’ e toleram a imoralidade, na medida em que essa aten-
de a certos interesses. Penso num debate honesto, profundo e democrático das dimensões
histórico-culturais de nossa tradição moral na economia, na política, na família, na escola e na
mídia. A moralidade não é apenas responsabilidade ou culpa desse ou daquele indivíduo, des-
se ou daquele grupo, dessa ou daquela instituição, mas da sociedade como um todo. A morali-
dade social exige o aporte crítico da filosofia, da antropologia, da história, da ciência política,
do direito, da teoria educacional, das ciências da comunicação, da sociologia, da psicologia,
da economia, da epistemologia e da teologia, tanto para desvendar suas armadilhas cínicas,
quanto para construir um espaço público no interior do qual se realize um amplo debate ético
sobre os princípios a partir dos quais se julgam as decisões e as ações.
Dizer que a responsabilidade é de todos não significa dizer que ela não é de ninguém.
Ao contrário, significa que cada segmento social, cada instituição, cada indivíduo deve as-
sumir responsabilidade moral em seu âmbito de atuação. Por sua inegável influência sobre
a formação das futuras gerações, cabe aos setores diretamente envolvidos com a educação,
como a família, a mídia e a escola, um papel particularmente relevante na reforma moral da
sociedade. Na reflexão que farei a seguir, volto a atenção para o sentido da formação moral na
educação formal, tentando argumentar, de um lado, contra a tese de que a escola é a responsá-
73
vel pela formação moral de seus alunos, no sentido de um enquadramento ou disciplinariza-
ção moral e, de outro, contra a idéia de que a educação formal deve limitar-se à tarefa técnica
de transmissora de conhecimento. Ao contrário desses dois mandamentos, freqüentemente
defendidos, desejo argumentar a favor de uma educação moral do sujeito que implique, ao
mesmo tempo, a tematização crítica do ethos que, com seus conceitos, tradições e costumes,
representa o espaço que legitima a atuação moral desse sujeito/cidadão.
A título de roteiro, vou dividir minhas considerações em cinco breves tópicos, deixando
claro, desde o início, que muitas das questões se imbricam e deveriam, na verdade, ser discu-
tidas concomitantemente. Primeiro, vou tentar elucidar um pouco a distância entre o discurso
moral e a prática na atualidade. Em segundo lugar, tento justificar que faz parte das tarefas
da educação formal promover a educação moral dos alunos. A seguir, volto a atenção para
os dois principais interlocutres da educação moral na escola: crianças e professores. Num
quarto momento, faço algumas sucintas referências aos objetivos da educação moral realizada
na escola. Segue-se a pergunta a respeito das condições necessárias para a realização dessa
educação moral. Concluo com algumas considerações em torno de dificuldades, conflitos e
ambivalências com as quais se defronta a educação moral no contexto da sociedade contem-
porânea.
Os amplos traços desse cenário assumem contornos mais nítidos se focarmos o olhar
sobre alguns aspectos mais tópicos. Assim, apesar de todas as promessas e expectativas de
progresso e de solução dos problemas humanos, formuladas no início da modernidade (Kant,
74
1969), uma grande parte da população mundial continua faminta, analfabeta, doente e mo-
ribunda. Isso ocorre num momento em que já existem os recursos técnicos e econômicos
suficientes para reverter esse quadro. Após o “desencantamento” do mundo medieval (Weber,
2005, p. 49), ordenado pelo modo divino, a modernidade assume a instituição da ordem como
criação humana. “A existência é moderna”, diz Bauman, “na media em que é produzida e sus-
tentada pelo projeto, manipulação, administração, planejamento” (1999, p. 14). Foi no interior
ética e cidadania
desse projeto que germinou a profunda ambivalência entre o avanço científico-tecnológico
que ensejou a abundância de bens culturais e materiais e a miséria, o atraso, a carência de mi-
lhões de pessoas. Dessa condição fundante de exclusão que, para muitos, é inerente ao sistema
político/econômico vigente, decorre a pergunta a respeito da natureza moral desse sistema.
Resumindo estes itens, aos quais poderiam ser acrescentados tantos outros, pode-se
dizer que estamos vivendo um domínio sem precedentes da razão instrumental e utilitarista
(Adorno, 1985), para a qual os fins justificam os meios. Conceitos como eficiência, eficácia,
lucro, domínio e vantagem assumem posição central nas relações humanas da sociedade con-
temporânea. O princípio da performatividade, do bom funcionamento, torna-se o critério de
avaliação das ações individuais e coletivas. Com isso, a sociedade capitalista neoliberal as-
sume diretrizes morais que invertem o imperativo da ética kantiana, não apenas permitindo,
mas condicionando o bom funcionamento do sistema ao uso do homem como meio.
São esses cenários preocupantes e desoladores que provocam esta verdadeira explosão
do debate moral que ecoa o tempo todo nas famílias, nos espaços políticos, na Igreja, na uni-
versidade e na escola. A grande pergunta que se coloca ao homem e à sociedade contemporâ-
nea, do ponto de vista moral, é como encontrar uma resposta à pergunta: O que significa ‘tu
deves’? Em outros termos, como podemos encontrar novos fundamentos para o dever.
Se, na condição de educadores morais, dissermos ao aluno ‘tu deves’ e ele perguntar
‘porque devo’, qual a resposta que lhe daremos? Os gregos argumentaram que ‘devemos’ por
causa do Bem e da destinação natural do homem para o Bem. Os cristãos medievais acredita-
ram que ‘devemos’ por mandato de Deus. Os modernos argumentam que o dever se baseia na
razão. Desde então, as respostas são muitas e variadas. De modo geral, associa-se o dever à
condição de sobrevivência ou à conquista da felicidade. Mais recentemente, os pós-modernos
(Lyotard, 1985; Lipovetsky, 1989; Bauman, 1997; Vattimo, 1996) anunciam o fim do dever
nos moldes tradicionais e proclamam que as formas de comportamento devem ser decididas
no contexto, nas circunstâncias.
São essas perplexidades que estão na raiz da grande visibilidade que alcança o discurso
moral hoje. As pessoas sentem-se órfãs de parâmetros de comportamento. Os mais jovens, vi-
vendo o espírito da época, são contrários a qualquer tipo de autoridade. Os adultos sentem-se
inseguros, des-autorizados, sem saber o que dizer aos jovens. Serão corriqueiros o assombro
e a desorientação das pessoas diante do futuro da sociedade se prosseguirem as práticas que
afrontam qualquer sentido de bem comum, de justiça social. Por vezes, as pessoas parecem
cansadas de lutar por uma sociedade melhor diante das dimensões assustadoras da barbárie;
76
preferem desistir, encerrar-se na sua privacidade, abandonar o político, desestimuladas pela
sensação de impotência perante as intermináveis séries de abusos que se sucedem diante de
seus olhos. Embora seja compreensível, essa atitude encerra o grande risco de deixar o campo
livre para que as contravenções sejam toleradas como uma rotina inevitável, contra a qual não
há o que fazer. Penso que a luta em defesa de uma sociedade livre e justa não pode ser aban-
donada e acredito que à educação cabe um papel importante nessa tarefa.
ética e cidadania
2. Compete à Escola Fazer Educação Mor al?
Vou abusar da paciência do leitor iniciando com uma citação bastante longa de Adorno,
extraída do texto A educação contra a barbárie. Ali, Adorno (1995, p. 155) afirma que
Esta citação de Adorno traz dois elementos importantes para o nosso contexto. Primei-
ro, o autor afirma que é de fundamental importância evitar a barbárie, o que significa dizer
que a formação moral deve ocupar o lugar central na educação e, segundo, que é preciso saber
se, efetivamente, a educação pode fazer algo nesse sentido. Esta última questão Adorno res-
ponde com simplicidade, dizendo que, se conseguirmos colocar o tema da barbárie no centro
da consciência pedagógica, a educação já estará fazendo muito. Nesse posicionamento está
subentendido que, se a educação não tematizar a barbárie, ela poderá favorecê-la indiretamen-
te. Numa palavra, é fundamental que, para evitar este risco, a educação seja transparente em
sua finalidade humana, o que significa assumir uma postura moral.
Se, de um lado, o postulado do dever ameaça caducar, de outro, reatualiza-se com no-
tável vigor a preocupação moral em todos os segmentos da sociedade. E a pergunta a respeito
do que a educação pode fazer para ajudar a reduzir a barbárie está na boca de todos e se
77
coloca como responsabilidade para aqueles que pensam e fazem educação. Mesmo reconhe-
cendo não ser o remédio para todos os males, a educação pode oferecer uma contribuição
importante e, quem sabe, indispensável para corrigir as injustiças do mundo e contribuir para
a construção de um mundo social menos desumano e mais responsável. Se, para evitar uma
colaboração inconsciente e indesejada com a barbárie, a educação deve ser “transparente em
sua finalidade humana”, como diz Adorno, é necessário que a escola tenha consciência disso
e saiba traduzir em sua prática tal sentido humano. E, para adiantar o que será retomado mais
adiante, entendo que a educação tem um papel fundamental na formação do sujeito moral,
crítico e autônomo, dando novos e transformadores rumos ao movimento dialético entre o
indivíduo e a coletividade.
Mesmo admitindo que nos encontramos nos mo- 2. Sigo aqui as teses da Ética do discurso que,
mentos finais da era do dever, no sentido tradicional e de um lado, “proíbe que, em nome de uma
moderno, isso não significa que devamos assistir ao declí- autoridade filosófica, se privilegiem e se fixem
de uma vez por todas numa teoria moral de-
nio de todas as virtudes2. A boa convivência humana não terminados conteúdos normativos” e, de outro,
dispensa normas e leis que devem ser obedecidas. Trata- afirma que “os juízos morais têm um conteúdo
se, portanto, não do fim do dever, mas de um processo cognitivo; eles não se limitam a dar expressão
de reorganização moral que leve em conta uma realidade às atitudes afetivas, preferências ou decisões
contingentes de cada falante ou ator” (Haber-
social ordenada segundo novos princípios e formas de mas, 1989, p. 147-148).
relacionamento. Já não temos a mão temível do divino,
nem mesmo o absolutismo da razão para nos orientar em nossas decisões e ações. É, portan-
to, necessário buscar outras formas de comportamento moral que sejam condizentes com as
condições da sociedade e do homem contemporâneos. Esta é a tarefa na qual está envolvido
um vasto colégio de pensadores que congrega representantes das mais diferentes áreas de
conhecimento.
Reconhecer as circunstâncias e os homens tal como são não significa que esta realidade
deva ser transformada em paradigma de moralidade. Não se pode confundir o ser, a realidade
como ela é, com o dever ser, a realidade como ela deveria ser. Hoje, usufrui-se o presente, o
eu, o conforto, o corpo, o prazer. Esta é a nova retórica do carpe diem que veio substituir a
antiga retórica do dever. É isso que os alunos trazem para a escola e é isso que, como veremos
adiante, a escola deve tomar como ponto de partida para qualquer proposta de educação mo-
ral. É neste contexto que precisa ser inventado um novo discurso ético. O sentido da respon-
sabilidade moral precisa reconstituir-se em novas bases em meio à tendência individualista e
hedonista que caracteriza o presente.
As crianças e os jovens passam grande parte de sua vida na escola. Nesse tempo forma-
se sua sensibilidade, sua maneira de pensar e de julgar, se moldam seus conceitos e represen-
tações, se enraízam atitudes e comportamentos. Todo esse desenvolvimento que acontece ao
longo dos anos escolares representa a constituição da identidade do sujeito com suas diferen-
tes, mas complementares faces do epistêmico, do estético e do ético. Mesmo que defendês-
78
semos o ponto de vista de que a educação não deveria ocupar-se da formação moral dos seus
alunos, seria impossível negar que, de uma forma ou de outra, no contexto escolar das rela-
ções professor/aluno, dos livros didáticos, das avaliações, estariam sendo transmitidos ideais
e imagens de homem, de mundo, de relacionamento, de normas e valores. A influência moral
sobre os alunos é impossível de ser evitada no ambiente escolar. Assim sendo, parece razoável
que isso não aconteça de forma inconsciente e difusa pelo assim chamado currículo oculto,
ética e cidadania
mas que seja explicitada, discutida e orientada para a formação de um sujeito moral autôno-
mo, crítico e responsável. Retomando o pensamento de Adorno, é necessário que a educação
seja transparente em sua finalidade humana, assumindo uma postura moral. Veremos mais
adiante como isso pode ser feito. Antes, é preciso registrar que o ponto de partida de qualquer
projeto de educação moral é conhecer bem os dois personagens envolvidos na formação ética
realizada na escola: o aluno e o professor.
As normas e convenções que ordenam a vida do grupo em que a pessoa cresce ou que
são mediadas pelos meios eletrônicos, os gestos, as atitudes, os conselhos, os movimentos, os
humores etc., vão sendo absorvidas e incorporadas pelo indivíduo no ambiente simbiótico de
suas relações com o meio. Os gregos falavam de uma téchne tou biou, ou seja, de uma técnica
ou de uma arte de vida que relaciona o indivíduo ao ethos, à maneira de ser da comunidade.
Por isso, a criança quando chega à escola já é portadora de uma vasta experiência, de uma
história relativamente longa de formação que envolve não só conhecimentos, sensibilidades,
mas também representações de valores, formas de julgamento e de comportamento. Importa
lembrar que até esse momento a formação da criança é predominantemente heterônoma, ou
seja, predomina a absorção inconsciente das influências vindas de fora.
A escola, portanto, deve receber a criança como um ser já formado, embora não ple-
namente, pelo contexto social em que viveu e continua vivendo. Aliás, isso pode representar
o primeiro grande desafio da formação ética: estabelecer uma relação não-traumática entre
a identidade já constituída da criança e o imaginário moral vigente na escola. A escola deve
receber a criança não para julgá-la, mas para despertar nela a consciência de sua própria reali-
79
dade, de sua própria história e, assim, criar condições para que ela, aos poucos, possa assumir-
se como autora de sua própria identidade, constituindo-se como sujeito moralmente autônomo
e capaz de tomar nas próprias mãos o seu destino no interior da comunidade.
Como veremos adiante com mais detalhe, algo semelhante, embora se encontrem em
outro estágio de suas vidas, pode-se dizer também dos professores. Eles não são sujeitos eté-
reos que pairam acima da realidade. Ao contrário, são pessoas envolvidas e afetadas nas suas
convicções, sensações, aspirações como qualquer outra pessoa que conviva com os conflitos
e ambivalências éticas e morais da sociedade contemporânea.
O certo é que as crianças chegam à escola com uma identidade que já sofreu múltiplas
influências, positivas e negativas, da família, do meio, da televisão, da internet. Essa é uma
realidade que qualquer projeto de educação moral deve considerar como ponto de partida. O
mais grave e perverso dessas influências é que elas não apenas se agregam quais adereços à
identidade individual em constituição, mas representam, na verdade, elementos estruturantes
da própria personalidade. Dessa forma, tornam-se resistentes, não encontrando outra forma
de superação senão pela conscientização psicanalítica e crítica das determinações sócio-cul-
turais da personalidade. Se pelas influências do sistema e de suas instituições o homem se
80
torna egoísta através da multiplicação e exaltação dos interesses privados, como transformar
esse indivíduo privado, cujo ideal de felicidade é a satisfação de seus interesses egoísticos,
num cidadão preocupado com o bem comum? É esta a realidade que justifica a tese inicial-
mente levantada de que a educação moral não pode ser vista apenas como a educação dos in-
divíduos, a partir de certos princípios ou normas morais. Esta será sempre uma tarefa sisífica
de eterno e frustrante recomeçar, enquanto o sistema continuar gerando filhos contaminados
ética e cidadania
de imoralidade. É, portanto, necessária a perspectiva mais ampla da renovação moral da so-
ciedade como um todo.
Na outra ponta da relação formativa, encontra-se o professor que, a exemplo das crian-
ças ou dos jovens, também está exposto às permanentes influências do meio. Não se pode
imaginar que para se realizar um projeto de educação moral seja suficiente a manifestação
de bons propósitos e a conclamação de professores para que eles assumam seu papel de for-
madores. É preciso, antes disso, que os docentes tenham uma correspondente formação, que
tenham passado por um processo de conscientização de sua própria moralidade, de seus ideais
e sentidos de homem, de mundo e de vida, dos fundamentos que orientam seu julgar e agir,
para só então, e a partir daí, pensarem no papel que lhes cabe como agentes da formação
moral. Mais ainda: como agente de formação moral, o professor não fala sozinho, mas com
ele fala todo o contexto escolar, ou seja, na educação moral escolar está sempre envolvida a
escola como um todo. Na verdade, é este todo, com suas diferentes vozes, desde o diretor ao
funcionário, desde os conteúdos aos procedimentos didáticos, desde os momentos formais aos
lúdicos, que representa o verdadeiro agente da educação moral.
81
limites dos sentidos e, com isso, os limites do sujeito e do mundo. Como na arte, a vida parece
ser uma permanente renovação de regras e de preceitos.
Ao tempo em que as mudanças ocorriam de forma mais lenta, o homem tinha condi-
ções de olhar para o passado e ver nele espelhados o presente e as expectativas de futuro, de
modo que tinha como orientar-se, sentir-se seguro, em relação ao curso dos acontecimentos.
Nesse contexto de estabilidade, justificava-se uma educação moral baseada no argumento
82
da autoridade, que exigia sujeição e obediência ao conjunto de normas e valores aceitos por
todos. A educação moral consistia na repressão dos desejos e instintos e na incoporação do
ethos legitimado pela tradição. Hoje, as tradições se encontram sob suspeita, perderam sua
força orientadora e não oferecem mais amparo e segurança diante de um futuro inseguro e
imprevisível.
Essa condição cultural tem decisivas conseqüências para a formação moral das pesso-
ética e cidadania
as. De um lado, como vimos, a educação moral nos moldes tradicionais da adaptação a um
código ético de traços universais e permanentes já não é possivel. De outro, pela dissolução
das referências, o homem corre o iminente risco de submergir na mudança, de ser envolvido,
absorvido e levado pelo fluxo da existência, sem conseguir assenhorear-se do seu próprio ca-
minho e destino. Para que isso não ocorra e para que não impere a lei do mais forte, são neces-
sários códigos de conduta, normas e valores que devem ser respeitados por todos. É o preço
da condição humana: a liberdade de todos exige o limite da liberdade individual. Apesar das
teses que falam do fim dos valores (Lipovetsky, 3. Mesmo os autores considerados precursores ou pós-
1989), dos tempos líquidos (Bauman, 1999), as modernos, em sentido estrito, não colocam em dúvida a
permanências, as referências, as normas e valores necessidade de valores. Veja-se o que diz Vattimo (1996,
p. 5-6), ao analisar as posições de Nietzsche e de Hei-
são condições necessárias da vida humana. Não degger: “Como essa definição coincide com o ‘Deus está
há sociedade humana nem convivência ordenada morto’ e com a desvalorização dos valores supremos de
e pacífica sem um código de direitos e deveres, Nietzsche? Pode-se percebê-lo ao se atentar para o fato
orientador da coexistência dos indivíduos. O que de que também para Nietzsche não desapareceram os
valores tout court, mas os valores supremos, resumidos
ocorre é que este código não é mais indelével, per-
precisamente no valor supremo por excelência: Deus.
manente e universal, mas histórico, ou seja, sujei- Tudo isso, porém, longe de tirar sentido da noção de valor,
to a transformações e mudanças que acompanham como Heidegger bem viu, liberta-a na sua potencialida-
as condições materiais e culturais da sociedade. de vertiginosa: somente onde não há instância terminal
e ‘interruptiva’, bloqueadora, do valor supremo-Deus, os
Essa ambivalência entre a permanência e o fluxo,
valores podem manifestar-se em sua verdadeira natureza,
entre a tradição e o porvir, entre o ser e o vir-a-ser que é a convertibilidade, e a sua transformabilidade/pro-
é o centro da paideia contemporânea.3 cessualidade indefinida”.
Nesse cenário, a tarefa da educação moral coloca-se numa nova perspectiva de formar
um sujeito moral, portador de uma consciência crítica que lhe permita uma permanente per-
cepção e avaliação da pertinência dos códigos, normas, tradições, na perspectiva da liberdade
e da justiça. A liberdade é condição seminal de qualquer moralidade, uma vez que sem liberda-
de não há decisão nem ação moral, e justiça é condição antropológica do ser humano como ser
social, que precisa encontrar formas de convivência em que direitos e deveres se equilibrem.
Por isso, formar sujeitos morais não significa, pelo menos não significa apenas, transmitir esse
ou aquele valor, exigir esse ou aquele comportamento, mas contribuir para tornar o indivíduo
um sujeito crítico, político, reflexivo. Compete ao professor despertar nos seus alunos o desejo
de ser um sujeito moral. Esse é fundamentalmente um processo dialógico, argumentativo, de
convencimento. Ninguém pode obrigar alguém a ser um sujeito moral contra a sua vontade,
nem mesmo mediante as mais severas ameaças ou sanções, pela simples razão de que a liber-
83
dade é condição sine qua non da moralidade. Obedecer às normas, seja por conforto ou temor,
é condição suficiente para ser correto (em conformidade com as normas), mas não para ser um
sujeito moral. A ação moral tem como pressuposto a livre escolha do sujeito. E essa condição
de sujeito moral autônomo não existe a priori, nem pode ser simplesmente transmitida pela
educação: é uma condição que deve ser conquistada e continuamente fortalecida ao longo de
toda a vida. Ajudar nesse intuito é o sentido e o objetivo da formação moral.
Erigir liberdade e justiça em princípios centrais de um novo modelo de moralidade
implica repensar profundamente a relação entre individuo e sociedade, estabelecendo novos
vínculos que agregam as tônicas fundantes dos modelos ético-filosóficos da antiguidade e da
modernidade, focados, como se sabe, respectivamente, na justiça e na individualidade. Socie-
dade e indivíduo são as duas faces imbricadas de uma mesma realidade social.
O ser humano, por ser dotado de razão, é um ser confiado a si mesmo, que deve cuidar
de si, velar por si mesmo. Dessa premissa ele não pode abrir mão, sob pena de deixar de ser
humano. O sujeito moral só se constitui a partir do trabalho que faz consigo mesmo como
exercício de conquista de sua liberdade. O estado que o indivíduo deseja é o estado de so-
berania e independência de si mesmo, numa palavra, de autonomia com relação a si mesmo,
às coisas e ao mundo. Desse objetivo maior decorre a pergunta a respeito da conduta ou das
regras que devem ser assumidas para alcançar esse estágio de autonomia.
Combater a imoralidade significa, então, o homem repensar-se como sujeito moral;
repensar-se como indivíduo, em sua história pessoal, nas suas relações com os outros seres
humanos e com a natureza; significa repensar a sua situação no mundo contemporâneo, o
sentido de sua vida presente e futura, as suas formas de convivência e usos dos outros e da
natureza. Mas significa, também, repensar a sociedade, seus objetivos e ideais, seus valores
e normas, seu sistema jurídico, político e econômico, na perspectiva da convivência digna e
justa. E é no contexto dessa relação entre o individual e o social, como dimensões fundantes
da moralidade, que o conceito de justiça adquire nova e inarredável centralidade. A justiça é a
primeira e mais fundamental virtude do homem contemporâneo. O eixo dessa nova perspec-
tiva consiste na relação indissolúvel entre o indivíduo e a sociedade. Restabelecer esse vínculo
entre indivíduo e sociedade, em meio a um contexto cultural em que tal vinculação se apre-
senta estremecida, parece-me o objetivo central de educação moral. Não existe o sujeito moral
independente da sociedade e nem a sociedade moral independente do sujeito moral: ambos
mantêm entre si vículos indissolúveis de liberdade e de justiça. Liberdade é o escopo e justiça
sua condição. Nesses termos, não há liberdade sem justiça e nem justiça sem liberdade.
Se fosse resumir essas considerações, diria que a educação moral se baseia, em termos
de procedimento, no diálogo e na argumentação, e, em termos de objetivos, na formação do
sujeito moral crítico, autônomo e livre, cujas principais virtudes devem ser a responsabilidade
e a justiça. No entanto, a realização desse objetivo enfrenta, na prática, grandes dificuldades,
uma vez que as tendências hegemônicas nos contextos sócio-cultural-econômico se orientam
em sentido contrário. A seguir, serão apontadas algumas dessas dificuldades.
84
5. Dificuldades, Conflitos e Ambivalências
Podemos distinguir várias situações que configuram posicionamentos distintos com re-
lação à educação moral. O primeiro é representado por aqueles que, diante do mundo barbari-
zado em que vivemos (Mattéi, 2002), sentem-se desiludidos e impotentes e não acreditam que
algo possa ser mudado pela educação moral. No interior da escola, existem também os que,
ética e cidadania
atropelados pelo cotidiano de tantas tarefas, burocracias e frustrações, tornam-se indiferen-
tes, optando por cumprir suas obrigações sem altruismos nem projetos. Há também o grupo
dos saudosistas que constantemente comparam os “bons tempos” com as desgraças morais
contemporâneas e sonham com o retorno ao passado das normas claras, da ordem e do dever.
Finalmente, existem os que fazem coro a um certo discurso de senso-comum, lamuriento,
acusativo e catastrofista, que se sentem vítimas e não se cansam de culpar os outros.
Em meio à tensão entre essas várias situações, a escola é acometida por uma profunda
crise. Ao mesmo tempo em que a escola é responsabilizada pela formação moral dos alunos
para compensar o vazio formativo aberto pelo esfacelamento da família, pela influência de-
sencontrada da mídia e pela desorientação ética geral da sociedade, ela é solicitada a dedicar-
se a adaptar os alunos à sociedade, transmitir-lhes conhecimentos e habilidades, de modo que
possam ter uma vida de sucesso. Esta crise é essencialmente a crise da Bildung, da formação
do homem integral, individual e social, que se esfacela sob a desmesurada submissão da
educação às exigências de um modelo de vida que se divide entre os prazeres imediatos, as
vantagens materiais e as exigências do mercado. Sob a alegação da necessidade de atender às
incontornáveis exigências desse modelo de existência, ou seja, de realizar uma educação uti-
litarista que adapta os indivíduos à realidade, a escola é fortemente constrangida a abrir mão
de uma de suas mais importantes responsabilidades, que é a formação integral do ser humano
em sua dimensão epistemológica, estética e moral. Essa, então, é a primeira grande dificulda-
de: exige-se, de um lado, uma educação voltada para o mercado, para a competividade, para
o útil e, de outro, uma educação do sujeito moral responsável, respeitoso, justo. São duas pro-
postas não apenas distintas, mas em boa medida contraditórias, uma vez que, como veremos
adiante, o atendimento aos mandados do mercado fere, em muitos aspectos, os princípios da
moralidade. Essa situação gera um clima de indiferença e impotência entre os docentes que,
descrentes das reais possibilidades de uma educação moral, parecem cada vez mais reféns de
um sistema que deles exige “virtudes” opostas aos parâmetros de uma moralidade fundada no
respeito, na dignidade, na tolerância, na justiça e na democracia.
Essa situação de um certo marasmo moral confere incrível atualidade à pergunta for-
mulada por Hobbes: “Por que os homens devem atuar de outra forma que não seja em função
de seu próprio proveito imediato?”. Esse é o ponto nevrálgico e a dificuldade maior da edu-
cação moral hoje. Enquanto tudo se foca no indivíduo, nos seus interesses, nos seus desejos,
vantagens e prazeres, a educação moral precisa, remando a contracorrente, cultivar o respeito,
a responsabilidade e a justiça. Nesse sentido, a educação moral torna-se uma tarefa complexa
85
que envolve o grande desafio da contrafaticidade, uma vez que a tendência educacional do-
minante é a da acomodação, da adaptação, do enquadramento das pessoas a uma realidade
orientada pelos interesses do sucesso pessoal, da posse de bens e do exercício do poder.
Tal tarefa torna-se ainda mais difícil se levarmos em conta que o cuidado do indivíduo
consigo mesmo passou a representar, desde a modernidade, não mais a negativa renúncia do
eu, comum na moral cristã, mas uma conquista positiva de constituição do eu. Temos então a
ambivalente exigência de, ao mesmo tempo, promover o desenvolvimento do indivíduo, com
sua liberdade e autonomia, e despertar nele o espírito de socialidade respeitosa, tolerante e
responsável. Encontrar um equilíbrio entre os interesses individuais e as necessidades sociais
não é, de modo algum, uma tarefa simples. Aristóteles ensinou que a formação da pessoa tem
sempre um caráter político, uma vez que o eu se constitui na estreita relação com a pólis, seus
costumes, normas e valores (1999, p. 18). O ethos, de onde deriva ético, é a maneira de alguém
se conduzir, sua forma de ser, de decidir e de agir diante de diferentes situações no interior
da comunidade. Essa dupla dimensionalidade, individual e social, do ser humano confere
igual duplicidade à formação moral que visa à formação do sujeito autônomo e livre, mas
sempre na condição de ser político e social. Decisões e ações são, ou pelo menos deveriam
sempre ser, gestos, a um tempo, solitários e solidários de uma liberdade refletida que implica
limites negociados. O indivíduo se desenvolve como ser autônomo e livre nos limites de sua
humanidade política. O equilíbrio dessa dupla condicionalidade encontra garantias objetivas e
democráticas nas normas e prescrições que organizam os desejos e os instintos, adaptando-os
às exigências da convivência entre liberdades. A liberdade, portanto, tem sempre um caráter
político, como já sabiam os gregos. Liberdade significa não ser escravo de si, dos seus instin-
tos e dos seus apetites e, ao mesmo tempo, não ser escravo dos outros. Mas não ser escravo
dos outros significa também que o outro não pode ser meu escravo. “A ação justa”, dizia Arsi-
tóteles (1999, p. 101), “é um meio termo entre o agir justamente e ser tratado justamente”. Em
conformidade com essa premissa, os sujeitos não podem formar-se, conhecer-se, constituir-se
independemente de sua relação com os outros. À liberdade do indivíduo, portanto, é inerente
uma dimensão política e social. Disso podemos concluir que o comportamento moral está in-
trínsecamente relacionado ao conceito de democracia e de justiça social. E assim voltamos à
pergunta de Hobbes: Como convencer os homens a não perseguirem apenas os seus interesses
individuais? E é nisso que reside a grande dificuldade, numa época em que se privilegiam e se
antepõem os interesses individuais aos sociais e comunitários.
Essa relação entre o individual e o social liga-se a uma outra dificuldade presente na
educação de modo geral, mas particularmente difícil no contexto da educação moral. Trata-
se do problema da disciplina e da autoridade. Todo o debate a respeito das relações entre as
gerações defronta-se com essa questão. Pode-se dizer que qualquer atividade humana que se
propõe alcançar certos objetivos exige disciplina. Isso vale tanto para uma equipe desportiva,
para uma orquestra, quanto para um grupo de pesquisa que queiram obter sucesso no seu
trabalho. No entanto, desde a quebra do autoritarismo tradicional (Rousseau, 1992), tornou-se
86
comum uma forte rejeição a qualquer tipo de autoridade, a ponto de chegarmos hoje a uma
sociedade que endeusa a inexistência de limites. Particularmente a familía e a escola se de-
frontam com esse problema. Filhos e alunos articulam uma difusa reinvindicação de igualda-
de com relação aos pais e professores.
ética e cidadania
discussões que não é o momento de explorar. No entanto, é importante registrar que essa crise
de autoridade e de disciplina afeta também a educação moral, na medida em que se questiona
a autoridade da norma moral. Retorna aqui o problema, já abordado anteriormente, da legiti-
mação das normas e valores. Hoje, as normas e valores exigem uma legitimação racional, de
modo que aqueles que são obrigados a segui-los possam compreender por que são obrigados
a fazê-lo.
Acontece, no entanto, que esse processo de legitimação não pode ser retomado a cada
instante. A vida quotidiana pressupõe uma certa durabilidade, um reconhecimento, em prin-
cípio, da autoridade, pelo fato de essa autoridade ter sido socialmente legitimada. Não é ne-
cessário dizer que isso não justifica o uso despótico dessa autoridade. É preciso que filhos
e alunos estejam convencidos, primeiro, de que a disciplina e a autoridade são socialmente
necessárias e, segundo, que a disciplina e a obediência, embora imponham limites aos impul-
sos e desejos imediatos, são vantajosas em termos da convivência civilizada. No entanto, essa
argumentação é pouco convincente no contexto cultural em que predomina a eudaimonia, a
busca do prazer, o sucesso e as vantagens pessoais. Ocorre nesse ambiente um notável dissen-
so entre virtude e felicidade. Está posta, assim, essa última questão: Por que praticar a virtude
se ela não conduz à felicidade?
87
impostos, dizer a verdade, ser honesto etc., sem que tais comportamentos tragam a felicidade
pessoal e social nos termos da eudaimonia dominante. Pior que isso, a felicidade, muitas ve-
zes, encontra-se do lado daqueles que burlam os princípios dessa moral. A ambivalência mais
perversa desse moralismo cínico da sociedade capitalista é que esse divórcio entre regras e
fins, entre virtude e felicidade, atinge particularmente as parcelas menos favorecidas da popu-
lação, que não podem aproveitar-se dos benefícios do sistema alcançados pela burla da norma.
Essa parte da população tem que obedecer às normas, tem que ser virtuosa para garantir o
funcionamento de um sistema que, na verdade, apenas a aflige, reprime e exclui.
Parece ser esse o risco que corremos numa sociedade em que as virtudes tradicionais
já não são o mecanismo para alcançar a felicidade, pelo menos não nos termos hedonistas em
que é formulada hoje. Num contexto em que o virtuoso não raro é considerado otário, a edu-
cação moral está condenada a enfrentar enorme dificuldade. Esses comentários nos permitem
retornar à nossa tese inicial de que a reforma moral do indivíduo depende essencialmente de
uma simultânea reforma moral de sociedade como um todo. Como esta reforma não é possí-
vel sem os indivíduos, é tarefa primeira da formação moral estimular a formação de sujeitos
políticos que tenham a justiça como seu bem maior.
Conclusão
Essa reflexão mostra com bastante clareza que a tarefa da educação moral não é apenas
um compromisso dos pais, da escola ou de uma outra instância qualquer, mas um compromis-
so da sociedade como um todo e de todas as suas instituições políticas, jurídicas, midiáticas
e também educacionais. Afirmar isso representa alimentar certa utopia, no seu sentido nega-
tivo, uma vez que, no momento, nada indica que a sociedade venha a iluminar-se em todos
os seus ambientes de um novo consenso de moralidade. A sociedade será sempre plena de
contradições e é no interior delas que se estabelece a luta por práticas individuais e sociais que
88
favoreçam o bem-estar e a felicidade de todos. É nessa perspectiva que deve ser vista a tarefa
da educação moral realizada no interior da escola: uma tarefa árdua que se encontra entre
paradoxais e contraditórias exigências. De um lado, sabe-se que ela precisa da tradição como
condição educativa para o presente e para o futuro e, de outro, reconhece-se que ela necessita
adaptar-se ao ritmo e à celeridade das mudanças e transformações. Se no passado o próprio
acontecer histórico tinha o sentido alegórico que ilustrava as grandes idéias de Homem, de
ética e cidadania
Deus, da Natureza, idéias estas que orientavam o mundo e representavam o sentido da vida,
agora o movimento não é símbolo de nada, ele é pura e simplesmente movimento, mudança
sem significado exterior a si mesmo. Com o esvaziamento dos grandes cenários de sentidos
e significados teleológicos, o homem perdeu sua condição de dominador e foi jogado para o
interior do próprio movimento, transformando-se em parte igual a todas as outras do todo em
movimento. Adorno disse, certa vez, que a grande máquina da ciência e da tecnologia cuspiu
seu maquinista e criador. Talvez se possa dizer, desde um outro ponto de vista, que o ser hu-
mano não foi ejetado, mas está ameaçado de ser absorvido pela grande máquina, no interior
da qual está sendo consumido pelas chamas ardentes de um progresso que avança sozinho
sem dar atenção aos sentidos transcendentes do humano. Parece, então, que nos encontramos
bastante distantes do homem autônomo e socialmente responsável, que é o objetivo maior de
toda a educação ética. Trata-se, sem dúvida, de um ambiente muito adverso para uma edu-
cação moral, mas o imponente movimento por uma nova moralidade individual e social nos
convence primeiro de que ela é absolutamente necessária e, segundo, de que ela é possível.
O caminho certamente não é nem curto nem fácil. Nem se deve imaginar que seja
possivel formar os sujeitos para depois termos uma sociedade mais moralizada. A formação
das pessoas e o repensar das estruturas profundas de nossa sociedade são duas faces de um
mesmo processo. É preciso empreender um grande debate da coisa pública, do espaço público
como o âmbito de discernimento moral, em que o conceito de justiça assume centralidade e
se torna o conceito definidor da mais elevada virtude da ética contemporânea. E a escola, em
todos os seus níveis, tem uma fundamental contribuição a dar: promover a renovação moral
do indivíduo e da sociedade, no sentido de uma ordem mais justa.
Referências
A
M
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Z
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CEDES
Educação & Sociedade
Print version ISSN 0101-7330
Educ. Soc. vol.28 no.100 Campinas Oct. 2007
doi: 10.1590/S0101-73302007000300006
90
A DIMENSÃO ÉTICA DA AULA
ou o Que Nós Fazemos com Eles1
ética e cidadania
P. A. (org.) Aula: gênese, dimen-
sões, princípios e práticas. Campi-
nas: Papirus, 2008, pp. 73-93. O ensino, como toda prática social, contingente a circunstâncias históri-
cas e espaciais determinadas, encontra-se penetrado por opções de valor e,
2. Doutora em Educação (USP), portanto, é preciso identificar sua qualidade nos valores intrínsecos que se
é professora do Programa de
desenvolvem na própria atividade, na configuração que adquire a própria
Pós-graduação em Educação da
Universidade Nove de Julho – prática.
UNINOVE e autora dos livros Éti- Angel PÉREZ GÓMEZ
ca e competência, Compreender
e ensinar – por uma docência da
melhor qualidade e Filosofia na es-
cola – o prazer da reflexão. O melhor do melhor saber é a descoberta de novas e fascinantes parcelas de
ignorância.
Fernando SAVATER
Num Curso de Atualização para Professores, parte 3. Extinto em 1986, o CENAFOR – Fun-
de um projeto do CENAFOR 3 de que participei como do- dação Centro Nacional de Aperfeiço-
amento de Pessoal para a Formação
cente, na década de 1980, o primeiro momento tinha como
Profissional foi um órgão do Ministério da
tema a aula. Começávamos, então, com uma provocação. Educação. O projeto a que me refiro se
Apresentávamos uma epígrafe: intitulava “Desenvolvimento de Recursos
Humanos nas Escolas Técnicas Estadu-
– Qual é a sua profissão? ais”. O Curso era denominado “A escola
em movimento: o professor e a formação
– Eu sou professor. do técnico de 2º. Grau”, e foi realizado em
ETEs de todo o Brasil.
– Ah! então... o senhor dá aulas!
91
E seguíamos, procurando descobrir, desvendar, inventar, o que se esconde por trás
dessa palavra pequena e desse gesto enorme.
É esse o meu gesto mais freqüente e meu “identificador” profissional: professora, do-
cente. E gosto de fazê-lo e de refletir sobre ele, reflexão que é também parte dele. Por isso,
ao falar dele, aqui, quero trazer, para partilhar minha reflexão, alguns autores que têm cami-
nhado pelos terrenos da aula e da ética (e por muitos outros terrenos). É como se eu fizesse
feito Chico Buarque e “ajeitasse meu caminho pra encostar no deles”.
Admiro muito aqueles que não recorrem a citações quando produzem um texto. Mas
também me sinto enriquecida quando sou remetida, por causa de uma citação, a um bom
trabalho, a idéias ainda não conhecidas, ao reforço de uma idéia que já andava exploran-
do. Assim, neste texto, vou abusar um pouquinho das
citações, na medida em que, com elas, convido para 4. Devo agradecer a colaboração valiosa de
Elisabete Ferreira Esteves Campos, Lívia Maria
este espaço tanto os “meus” leitores quanto aqueles de
Guaraldo, Maria Socorro Lucena Lima e Valé-
quem venho sendo leitora atenta e “aprendente”4. E ria Cordeiro F. Belletati, do Grupo de Estudos
vou trazer também algumas idéias que já andei parti- e Pesquisas sobre Formação de Professores,
lhando em outros textos e que aqui procuro organizar da USP, que me trouxeram ricas referências de
em novo arranjo. sua própria prática.
A primeira dessas idéias, que vai nortear toda a reflexão aqui proposta, é a de que uma
aula não é algo que se dá, mas algo que se faz, ou melhor, que professores e alunos fazem,
juntos. Afirmar que fazem juntos não significa, absolutamente, dizer que fazem de maneira
igual. É na diferença e na reciprocidade de papéis que vai se constituindo o evento que se
chama aula. Branca Ponce, Roseli Fontana e Sanny Rosa me ajudam a ampliar essa idéia.
Diz a primeira:
92
[...] os lugares sociais de professor e de aluno e as relações de ensino que
se produzem entre eles não existem em si. Eles existem e se materializam
à medida que vão sendo ocupados por indivíduos reais, que se diferenciam
em termos de sexo, idade, etnia, classe social, credo, valores, experiências
vividas, enfim, indivíduos históricos, indivíduos que encarnam histórias
singulares, que interagem em uma situação concreta numa escala micros-
ética e cidadania
cópica.(FONTANA, 2001, p. 36).
o ensino não pode ser “dado”, mas antes deve ter a qualidade de algo que,
sendo “apresentado” pelo educador, possa também ser “encontrado” a par-
tir da subjetividade do educando (ROSA, 1998, p. 103).
Se eles (os alunos) não encontrarem, não é possível dizer que nós (os professores)
apresentamos, realmente. Se eles não aprenderem, será possível dizer que ensinamos? Léa
Anastasiou nos traz o termo ensinagem, usado
[...] para indicar uma prática social complexa efetivada entre sujeitos, pro-
fessor e aluno, englobando tanto a ação de ensinar quanto a de aprender,
em um processo contratual, de parceria deliberada e consciente para o en-
frentamento na construção do conhecimento escolar, decorrente de ações
efetivadas na sala de aula e fora dela (ANASTASIOU, 2003, p. 15).
O que fazemos quando fazemos a aula, juntos? Ensinamos e aprendemos, juntos. Vi-
venciamos experiências, juntos. Construímos, reconstruímos, destruímos, inventamos algo,
juntos. Construímo-nos, reconstruímo-nos, destruímo-nos, inventamo-nos, juntos. Daí, a
pergunta: o que nós fazemos com eles e o que eles fazem conosco? Quando faço tal pergun-
ta, estou me lembrando do aluno que se sente injustiçado e diz: “Viu o que o professor fez
comigo?” ou do professor que afirma, quando alguém diz que ele parece cansado: “É isso
que os alunos estão fazendo comigo!”. E é claro que me lembro também de meu primeiro
professor de Filosofia, Arthur Versiani Velloso, que abriu para mim as portas desse espaço
rico e fascinante do conhecimento, e que eu gostaria que estivesse vivo para eu mostrar a ele
o que fez comigo, com seu gesto generoso.
Quando fazemos aulas, ensinamos. Há que ter cuidado quando fazemos essa afirma-
ção. Na escola de hoje, na educação contemporânea, o foco privilegiado vai passando a ser a
aprendizagem, a perspectiva de “aprender a aprender”. E também a idéia controvertida de que
“ninguém ensina nada a ninguém”. E a evocação imediata da proposta de educação que nos
apresenta Paulo Freire. Quero entrar nessa conversa na companhia de Guido de Almeida.
93
Quem Ensina? Quem Aprende?
Publicado há mais de 20 anos, o livro de Almeida - O professor que não ensina - man-
tém uma séria e preocupante atualidade. O autor, ao fazer a análise do pensamento de profes-
sores apresentado em redações escritas num concurso para o magistério em Minas Gerais,
revela o que chama de “uma visão deturpada e deturpadora da educação e do ensino, (...)
uma visão romanceada, folhetinesca, inteiramente anacrônica em relação ao mundo em que
vivemos”. E afirma que não hesita “nem sequer um minuto em generalizar (suas) conclusões
para a realidade brasileira” (ALMEIDA, 1986).
O que se encontra nas redações analisadas por Almeida é um discurso que procura
chamar atenção para as dimensões morais e estéticas do trabalho do professor, mas numa
perspectiva moralista e “afetivista”. Não se percebe ali o distanciamento crítico que busca
olhar de maneira clara, abrangente e profunda a realidade. Infelizmente, isso é algo que se
encontra freqüentemente em muitos professores de nossos dias – “cativados” por um discur-
so envolvente (ou deveríamos dizer cativos dele?). Muitas vezes, os professores, em nome do
rompimento com uma visão racionalista ou tecnicista, caminham na direção de um irracio-
nalismo, uma concepção romântica e adocicada do trabalho educativo e da tarefa docente.
Por exemplo: a idéia de que o professor é antes de tudo um amigo traz guardada a nega-
ção de que ele é, enquanto professor, antes de tudo um profissional que, sem dúvida, deveria
ter consciência da relação estreita que se estabelece entre ele e os alunos, mas que se torna
amigo em virtude do que faz como professor.
Convém à classe dominante que o professor se veja como (...) missionário, pai, mãe,
tio, tia, irmão, psicólogo, terapeuta, amigo; tudo: menos como profissional que deve receber
a preparação necessária ao exercício eficiente de sua função principal, o ensino.
94
É preciso trazer, mais uma vez, a discussão gerada pela afirmação de Paulo Freire, tão
explorada quando se trata de pensar sobre a relação professor-aluno. Freire faz referência
à necessidade de superar “a contradição educador-educandos”, própria de uma concepção
“bancária”, e de promover uma educação problematizadora. Afirma ele que
ética e cidadania
se como prática da liberdade, sem superar a contradição entre o educador e
os educandos. Como também não lhe seria possível fazê-lo fora do diálogo
(FREIRE, 1974, p. 78).
O diálogo é uma das palavras-chave da proposta freireana. Ora, não há diálogo com o
“mesmo”. Os “mesmos” monologam narcisicamente. A diferença e a diversidade são moti-
vadoras da troca, da partilha. No diálogo se cruzam
os fios não só das experiências enraizadas nos sujeitos que fazem imedia-
tamente a prática, mas também os fios do conhecimento construídos por
múltiplos sujeitos ao longo da história (KRAMER E JOBIM, 1994, p. 4).
É por essa razão que a diversidade deve estar presente. Não acolho apenas minhas
idéias expressas pelo outro, mas reconheço, como afirma Konder (1992, p. 139), que
O diálogo se faz na diferença. E há, sem dúvida, uma diferença nos papéis de professor
e de aluno. O que se quer afastar, na relação entre eles, é a desigualdade, essa sim, instalada
a partir de uma perspectiva de dominação, de discriminação.
O aluno é outro, diferente de mim. Junto com ele, na igualdade de sujeitos que somos,
ambos, construímos algo que tem a ver conosco, mas nos ultrapassa: tem a ver com a escola,
com a sociedade, com o mundo.
[...] o educador já não é o que apenas educa, mas o que, enquanto educa, é
educado, em diálogo com o educando que, ao ser educado, também educa.
[...] Já agora ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a
si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo.
95
Mediatizados pelos objetos cognoscíveis que, na prática “bancária”, são
possuídos pelo educador que os descreve ou os deposita nos educandos
passivos (FREIRE, 1974, p. 78-79).
Isso é o que nos ensina Paulo Freire. Fazendo essas afirmações, ele provoca indaga-
ções, nos convida a olhar de maneira crítica a educação que fazemos, chama nossa atenção
para aspectos por vezes desconhecidos, ou antes, não considerados. Isso é ensino – da me-
lhor qualidade!
Isso nos remete à especificidade da educação que se realiza no contexto escolar. En-
quanto processo de socialização e contínua construção da cultura, a educação é algo que
se encontra em todas as instituições sociais. Mas na escola ela se reveste de características
diferenciadas. A escola é o espaço de uma educação intencional, sistematizada, para a qual
se exige preparo, diretividade, rigor. Meirieu é enfático ao afirmar que
E vai adiante:
96
ao comando de um líder, nem um cenário de televisão onde o espetacular é
a lei. É um espaço e um tempo estruturados por um projeto específico que
alia ao mesmo tempo e indissociavelmente a transmissão de conhecimen-
tos e a formação dos cidadãos. (MEIRIEU, 2006, p.68).
ética e cidadania
seu texto, compreenderemos a que ele se refere, quando diz que “o professor ensina [...] como
que para participar, em sua transmissão, do próprio movimento pelo qual os saberes emer-
giram na história dos homens.” (MEIRIEU, 2000, p. 13). Não se trata, de modo algum, do
“depósito” da educação “bancária”: “todo ensino verdadeiro, em todos os níveis, assume, ao
mesmo tempo, o caráter inquietante do encontro com o desconhecido e o acompanhamento
que proporciona a segurança necessária” (idem, p. 20). Meirieu fala, ainda, da seriedade
do professor, “como se carregasse o futuro a tiracolo”. Expressão bonita, que nos remete à
utopia, elemento necessário no trabalho docente, no “acontecimento pedagógico”.
Retomo aqui uma preocupação que tenho apontado em uma boa parte de meus tra-
balhos. Veja-se que falo em distinguir, e não em separar os conceitos de ética e de moral,
que guardam uma estreita relação, mas não têm o mesmo significado. Devo ressaltar que a
distinção e as definições que apresento não são as únicas que encontramos no campo teórico.
Tenho me apoiado em trabalhos de Vaz (1988), Vázquez (1975) e, mais recentemente, parti-
lhado com Savater (1992; 2002), Chauí (1994; 2006) e Goergen (2001; 2005), entre outros, as
idéias que venho explorando.
Enquanto a moral se define como o conjunto de valores, regras, normas que dirigem
as ações dos indivíduos em sociedade, a ética se apresenta como uma reflexão crítica sobre
a moralidade. A moral está sempre presente nas ações e relações dos indivíduos e grupos –
não há sociedade que não estabeleça uma forma de conduta para seus membros. Temos uma
conduta moral quando nos posicionamos em relação às imposições que nos traz a sociedade,
dizendo sim ou não, obedecendo ou desobedecendo. Somos responsáveis – respondemos e
nos comprometemos. O compromisso é próprio dos seres humanos: só eles podem prometer,
com-prometer. E cumprir a promessa. Ou não cumpri-la.
97
Agimos moralmente. Mas nem sempre realizamos uma reflexão ética. Nem sempre
buscamos verificar a consistência dos valores, os fundamentos das ações. E é disso que te-
mos sentido falta na prática educativa, nas escolas, na aula. Falamos na presença de uma di-
mensão ética na aula quando nela a ação é orientada pelos princípios do respeito, da justiça,
da solidariedade, que são promotores do diálogo.
• uma dimensão técnica, que diz respeito ao domínio dos saberes (conteúdos e téc-
nicas) necessários para a intervenção em sua área e à habilidade de construí-los e
reconstruí-los com os alunos;
O gesto de fazer guarda sensibilidade. Os gregos usavam o termo aesthesis para in-
dicar exatamente a percepção sensível da realidade. A sensibilidade é um elemento cons-
tituinte do trabalho pedagógico; é algo que vai além do sensorial e que diz respeito a uma
ordenação das sensações, uma apreensão consciente da realidade, ligada estreitamente à
intelectualidade (OSTROWER, 1986, p. 12-13).
Para pensar na estreita relação dos aspectos componentes do trabalho docente, recorro
a uma pergunta que é feita por um amigo e colega, o professor Douglas Santos: o que ensi-
98
namos quando ensinamos uma determinada disciplina? “O que realmente ensinamos quando
procuramos explicar cada um dos temas que dão identidade às nossas disciplinas e às nos-
sas aulas?” (SANTOS, 2004, p. 35).
ética e cidadania
educando desenvolver a capacidade de dominar as estruturas que são usadas para construir
o pensar e, além disso, possibilidades de desenvolver a capacidade de agir e sistematizar sua
ação. Mais ainda: não é apenas um amplo conjunto de habilidades que se desenvolve, mas
também se configuram atitudes em relação à realidade e à convivência social. A atitude do
professor ensina. O gesto do professor fala.
Em outro trabalho (Rios, 2001), propus uma reflexão sobre as idéias de corpo docente
e corpo discente. Um verso de Eduardo Galeano, no qual ele afirma que o corpo “é uma
festa” (GALEANO, 1994, p. 138), levou-me a interrogar: “Que festa é a que promove o
corpo docente?” Não deixei de considerar as
condições precárias do trabalho dos profes- 6. É Sanny Rosa, mais uma vez, que registra, numa con-
sores, que limitam e muitas vezes impedem versa, que “a aula é também é um espaço de sofrimento,
a presença dos aspectos característicos da porque ensinar e aprender é sofrido. Está-se fazendo ne-
cessário refletir também sobre a dimensão do ‘sofrimento’
festa: divertimento, animação, alegria, cele-
associada ao ensinar e aprender. Não o sofrimento que
bração6. E não me esqueci também da serie- paralisa, mas o que se manifesta como conseqüência do
dade e do rigor, obrigatórios no processo de dar-se conta de que a ‘tarefa’ (seja a de ensinar ou a de
fazer aula. O que conduziu minha reflexão aprender) consiste na empreitada de reduzir a distância
foi a idéia de vida, associada à de corpo e, entre o desejo e a realidade, sabendo de antemão que ela
é, no limite, rigorosamente ‘impossível’ (no sentido atribu-
mais que isso, a de vida boa, associada à de ído por Freud).”
ética.
99
No diálogo, leva-se em conta a alteridade. É ela que fundamenta a autoridade. A
autoridade, que é exercício de poder nas relações sociais, ganha seu sentido na articulação
com a alteridade, o reconhecimento do outro.
100
ensinar (...) não constitui uma atividade que seja, por direito, pura de qual-
quer poder: o poder aí está, emboscado em todo e qualquer discurso, mes-
mo quando este parte de um lugar fora do poder. Assim, quanto mais livre
for esse ensino, tanto mais será necessário indagar-se sob que condições
e segundo que operações o discurso pode despojar-se de todo desejo de
agarrar. (BARTHES, 1980, p. 10).
ética e cidadania
Barthes faz referência à presença da liberdade no ensino. Que lugar têm a liberdade e
a autonomia no trabalho docente? Essa é uma questão importante, na medida em que a cons-
trução da cidadania, que se pretende na escola, implica necessariamente a autonomia. Não
há possibilidade de a ação do docente contribuir para a afirmação da autonomia do aluno se
essa ação não é, ela mesma, autônoma.
Autonomia significa que somos responsáveis por nossas ações, já que elas
decorrem de nós mesmos; e devemos sempre supor que poderíamos ter
agido de outro modo. Relativa significa que a situação social concreta e
os diversos sistemas normativos definem os limites no interior dos quais
podemos interpretar e realizar determinados valores (HELLER, 1982, p.
151).
101
dos seres humanos, que vivem socialmente. Por isso, ela se revela em situações concretas,
que apresentam limites e possibilidades. Nós somos tanto mais livres quanto mais amplia-
mos as possibilidades e reduzimos os limites.
Resta pensar na exigência ética da presença da alegria no trabalho. A alegria não tem
contra-indicação – ela é o segredo da ética, diz Savater. Aponta-se aqui mais uma idéia
sempre presente em meu trabalho: no exercício da reflexão crítica, necessária no trabalho
docente, é preciso criar lugar para a alegria, para o riso.
Quando dizemos que um discurso é feito em “tom professoral”, o que se anuncia? Uma
forma categórica e dogmática de apresentar as idéias, um jeito de quem é senhor da verdade.
“O tom professoral é uma mistura de austeridade e dogmatismo. (...) Talvez tivéssemos de
deixar de ser professores para poder aprender a formular um pensamento em cujo inte-
rior ressoe, desembaraçadamente, o riso”, afirma Larrosa (2004, p. 168). Penso que não há
necessidade de deixar de ser professores: o que devemos é criar em nossa aula espaço para
a presença do riso, para acolhê-lo e promovê-lo. E o riso de que aqui se fala não deve ser
confundido
com esse riso que está à margem do sério, bem situado nos espaços deli-
mitados do ócio e do entretenimento; com esse riso que se coloca no es-
paço trivializado e delimitado do lúdico e que é inofensivo porque não se
mistura com o sério, porque se mantém sempre num lugar marginal, como
uma espécie de intermediário festivo, de válvula de escape, num exterior
à norma da seriedade, que não faz outra coisa senão confirmar a seriedade
normativa. (idem, p. 169).
Tampouco devemos confundi-lo, nos diz Larrosa, com um riso que “é um mecanismo
de defesa contra o sério”. Com Larrosa, digo que “o riso que me interessa aqui é aquele que
é um componente dialógico do pensamento sério” e que parece “proibido, ou pelo menos
bastante ignorado, no campo pedagógico”. Estou pensando num velho ditado que ouvi mui-
tas vezes na escola, enquanto aluna: “Muito riso é sinal de pouco siso!”. Para ser sério, o pro-
fessor tinha que ser sisudo... No meu caminho de professora, nas aulas, fui aprendendo que
“cara fechada” não é sinônimo de seriedade e que o respeito e a justiça se revelam também
– e tantas vezes! – no bom humor e na descontração. Cunha (1992, p. 147) confirma: “Per-
cebi (...) que rir juntos torna as pessoas mais próximas. É este um dos fenômenos que, ao ter
lugar entre o professor e o aluno, contribui para desmistificar as relações autoritárias”.
102
O Tr abalho de Boa Qualidade Faz Bem
A ética é uma dimensão fundante do trabalho competente, do que chamamos de bom
trabalho, trabalho de boa qualidade. O bom trabalho é um trabalho que faz bem, isto é, que
fazemos bem, de uma perspectiva técnica e política, e que faz bem para nós e para aqueles
com os quais trabalhamos, do ponto de vista estético e, principalmente, ético. Fazemos bem
ética e cidadania
quando ensinamos o que é necessário ensinar, quando temos consciência do significado de
nosso ensinamento no contexto social, quando procuramos conhecer aqueles com quem es-
tamos envolvidos no processo, quando procuramos promover a construção da cidadania.
Também essa é uma tese que venho procurando partilhar, no meu caminho de professora.
Que não se confunda fazer bem com fazer o bem. É preciso levar em conta que os va-
lores têm um caráter histórico e que a referência a um bem absoluto não encontra lugar num
contexto em movimento, sempre sujeito a transformações. Fazer bem implica ter no horizon-
te a construção do bem comum, que se mostra sempre como um ideal – algo que se deseja e
que é necessário e cuja possibilidade pode ser descoberta ou inventada no real, na existência
concreta dos indivíduos e dos grupos em suas inter-relações.
Realizar um trabalho que faz bem é o desafio que se coloca a cada instante para nós
quando tomamos consciência do que podemos fazer ao fazermos aulas, que não se resumem
ao evento medido em minutos numa sala, num laboratório, numa biblioteca. A aula não
começa nem termina ali – enquanto acontecimento pedagógico, ela tem uma duração que
ultrapassa o lugar geográfico e se instaura num espaço temporalizado pelo gesto cultural.
Novaski (1986, p. 15) nos traz a pergunta: “Para que serve uma sala de aula se não for capaz
de nos transportar além da sala de aula?”.
Vale insistir: “Para que serve a aula se não for capaz de nos transportar além da sala
de aula?”. A aula transborda o lugar. E ainda que se pense em termos de lugar, é preciso
lembrar que
Não há receitas prontas e definitivas para fazer bem a aula. São muitos e complexos
os elementos nela envolvidos. É preciso que professores e alunos estejam sempre abertos ao
imprevisto e à renovação. Concordo com Larrosa, mais uma vez, quando ele afirma:
103
Penso que o maior perigo para a Pedagogia de hoje está na arrogância dos que sa-
bem, na soberba dos proprietários de certezas, na boa consciência dos moralistas
de toda espécie, na tranqüilidade dos que já sabem o que dizer aí ou o que se deve
fazer e na segurança dos especialistas em respostas e soluções. Penso, também,
que agora o urgente é recolocar as perguntas, reencontrar as dúvidas e mobilizar
as inquietudes (LARROSA, 2004, p. 8).
Avisei que iria me permitir abusar de citações... e procurei justificar. Mas não preciso
justificar a longa citação que se segue – ela fala por si, quando se trata de pensar no que nós
fazemos com eles e no que eles fazem conosco! A voz é de Francisco Marques, o Chico dos
Bonecos:
Olhos de Ouvinte
Certa vez, uma professora revelou o seguinte segredo...
Da minha época de escola? Ah...
A grande lembrança da minha época de escola são os olhos da minha professora
quando lia uma história para a turma.
Os seus olhos transitavam das páginas do livro para a turma, da turma para as
páginas do livro, num passeio suave, quase um bailado. Do livro para a turma,
da turma para o livro, sem que a leitura sofresse qualquer tropeço. Suave baila-
do, das páginas do livro para a turma, da turma para as páginas do livro...
E eu torcia para que os seus olhos de leitora esbarrassem nos meus olhos de
ouvinte - e eles sempre se esbarravam, e até demoravam uns nos outros.
Cheguei a imaginar, na minha imaginação de menina, que a história também
estava escrita nos nossos olhos. Era como se a história estivesse sendo lida,
alternadamente, no livro e nos ouvintes.
Cheguei a imaginar, na minha imaginação de menina, que as páginas do livro
eram os ouvintes da história que a professora lia nos nossos olhos. Isso mesmo:
o livro era o ouvinte da história que a professora lia na gente. Nós éramos os
livros, obras vivas, vivíssimas!
O tempo foi passando, passando...
Aqueles sentimentos provocados pela professora-leitora me ligaram eternamen-
te à palavra escrita, e me fizeram trazer a leitura para esse território íntimo de
nossas vidas, onde só circula o que é essencial - como, por exemplo, a amizade.
104
Para concluir, há que haver lugar para um esclarecimento: a pessoa que me chamou
de “auleira” era um professor-pesquisador, que gostava mais de ser chamado de pesquisador
do que de professor. Havia em seu gesto uma intenção de denunciar o empobrecimento do
trabalho do professor quando é reduzido à repetição, quando não há um esforço no sentido
de ampliação sistemática do conhecimento, de investigação crítica da realidade, mas havia
também uma certa idéia equivocada de que o trabalho de fazer a aula tem significado menor
do que outras atividades do professor.
ética e cidadania
Ora, atento ao significado de seu trabalho nas aulas, o professor procura ampliar seu
saber nas atividades que estão estreitamente articuladas às aulas. Se sou professora, pesqui-
so para ampliar meu saber, sim, mas também para ampliar a qualidade da partilha que faço
desse saber com os alunos. Mais ainda: para que esse nosso saber possa ser construtor de um
mundo em que o direito de todos a todos os saberes possa ser plenamente vivenciado. É isso
que desejo quando vou fazendo as aulas, quando vou aulando – descobrindo, redescobrindo,
errando e acertando, rindo e chorando, aprendendo, desaprendendo, reaprendendo, ensinan-
do, “desensinando”, “reensinando”.
Referências
A
M
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VAZ, Henrique C. L. Escritos de filosofia II - ética e cultura. São Paulo: Loyola, 1988.
106
Bloco1 Módulo 1 Disciplina 4
ética e cidadania
relações entre ética, educação e cidadania, estabelecendo como que um mapa
conceitual sobre o qual se movimenta a ação docente. Não se esqueçam que todos os ma-
teriais, vídeos, textos e outros arquivos complementares, estão disponíveis, também, em seu
CD-ROM. Trabalharemos com conceitos teóricos, mas buscando por meio das atividades,
aproximar teoria e prática, colocando em discussão a formação para a cidadania sob o ponto
de vista da escola. texto em anexo
Atenção: Vocês terão até o dia 01/05/2010, as 23:55hs, para finalizarem e entregarem
suas atividades sem descontos em nota*. Não deixem para o período de recuperação de
prazos (02 a 05/05/2010). Organizem-se e tentem realizar e participar de todas as atividades
propostas. A entrega das atividades em período de recuperação de prazos implica em des-
contos na nota (consulte o Manual do Aluno).
(*) As postagens do Fórum de Discussão (Atividade 12) poderão ser feitas até o dia 05/05/2010. Esta
atividade não terá período de recuperação de prazo.
Vejam abaixo como ficou a estrutura das atividades desta semana:
A
Atividade 3: Discussão em grupo sobre os principais pontos tratados durante a aula.
M
1º Período Virtual: 27 e 28/04/2010
Nprofessor ensina”.
Atividade 4: Leitura de texto “O gesto do
Z professor ensina”.
Atividade 5: Questionário 01: “O gesto do
Atividade 6: Assistir ao vídeo “A dimensão ética da Aula ou o que é que nós fazemos
com eles”.
Atividade 7: Questionário 02: “A dimensão ética da Aula ou o que é que nós fazemos
com eles”.
107
Atividade 12: Fórum de Discussão sobre o tema “Educação Moral Hoje: Cenários, Pers-
pectivas e Perplexidades” – Ferramenta Fórum (prazo até o dia 05/05/2010).
Entrem na ferramenta “Atividades” para ver os detalhes de cada uma das tarefas propostas.
108
Além desse texto básico, trabalharemos com o texto “O Gesto do Professor Ensina”, de
autoria de Terezinha Rios. Ao final deste caderno sugerimos algumas leituras com o objetivo
de ampliar o conhecimento sobre o tema e possibilitar que as discussões nos fóruns e chats
sejam cada vez mais significativas e os textos escritos contenham ideias claras e pertinentes,
como forma de iluminar as futuras práticas.
Acessem agora a Atividade 2 .
Atenção aos prazos de entrega das atividades!
ética e cidadania
As atividades desenvolvidas nesta disciplina, durante a primeira semana, poderão ser en-
tregues, sem descontos em nota, até o sábado, com exceção daquelas que forem avisadas
de prazos diferentes. Atividades entregues fora do prazo estabelecido, entrarão no período
de recuperação de prazos, e terão suas notas avaliadas com descontos. Por isso, aconselha-
mos que não deixem para postar suas atividades de última hora.
(1) Esse artigo foi publicado originalmente pelo CEDES, na Revista Educação & Sociedade, Campinas, v. 28, n.
100, out. 2007.
Atividade
A 03: Discussão em grupo
M
Agora
N
Z
é a vez de vocês refletirem e opinarem sobre os temas tratados até aqui. Então,
reúnam-se com alguns de seus colegas para discutirem os pontos mais importantes tratados
durante a aula.
Postem suas considerações no Portfólio de Grupo, com o título “Atividade 3 – Trabalhando
Conceitos em Grupo” e deixem “Compartilhado com Formadores”. Não se esqueçam de as-
sociar a atividade à avaliação clicando no link “Associar item à Avaliação”.
Importante!
Fiquem atentos às orientações a seguir, para que seus Portfólios de Grupo sejam criados
corretamente:
1. Vocês só conseguirão postar a atividade no Portfólio de Grupo, depois que este estiver
formado dentro da plataforma. Então, antes de tudo:
• Entrem na Ferramenta Grupos no menu do lado esquerdo;
• Cliquem no link Novo Grupo;
• Criem seu grupo dando um nome (Grupo A, Grupo B...) e selecionando os integrantes;
• Por último, cliquem em Enviar.
109
Os grupos estando formados, os portfólios de grupo estarão disponíveis, para que façam
suas postagens.
2. Após a criação do Portfólio de Grupo, selecionem Incluir novo item e coloquem no título:
Atividade 3 – Trabalho de Discussão em Grupo.
3. Anexem o arquivo de texto que produziram clicando em Anexar arquivo. Não se esque-
çam de seguir as orientações de formatação do texto que estão no Manual do Aluno.
Valor
A da nota: 10.00
Objetivos:
M
N Identificar os conceitos básicos; - Analisar as possibilidades de atuação da escola
Z
em relação à formação moral.
Critérios de avaliação: Questões relativas aos fragmentos 1 e 2: Identificação da resposta
correta; Questões relativas aos fragmentos 3 e 4: propriedade e adequação das respostas
dissertativas. - Critérios gerais de produção textual (Manual do Aluno) - Entrega no prazo
determinado.
Atividade 06: Assistir ao Vídeo sobre o texto “A dimensão ética da Aula ou o que é
que nós fazemos com eles”.
Vocês já sabem! Acessem o vídeo por meio do link direto, ou da Ferramenta Material de
Apoio – Pasta Vídeos – Atividade 06 – Vídeo “A dimensão ética da aula ou o que é que nós
fazemos com eles”.
Link: http://www.edutec.unesp.br/~teleduc/cursos/aplic/material/ver.php?&cod_
curso=8&cod_topico_raiz=1&cod_item=6
A
M
N
Z
110
Atividade 07: Questionário 02: “A dimensão ética da aula ou o que é que nós
fazemos com eles”
Agora que vocês assistiram ao vídeo, sobre o texto da professora Terezinha Azerêdo Rios,
preparamos algumas questões para a fixação dos conteúdos.
Acessem o link direto, respondam as questões e anexem o arquivo em seu Portfólio Indi-
vidual, com o título “Atividade 07 – Questionário 01 - “A dimensão ética da aula ou o que é
ética e cidadania
que nós fazemos com eles”. Não se esqueçam de salvar suas respostas no arquivo antes de
postarem.
Esta é uma atividade avaliativa, então não deixem de associá-la à avaliação, nem de “Com-
partilhar com Formadores”
Link: Questionário 02: “A dimensão ética da aula ou o que é que nos fazemos com eles”
(http://www.acervodigital.unesp.br/handle/123456789/57)
Valor
A da nota: 10.00
Objetivos:
M
N Verificar conhecimentos adquiridos
Critérios
Z
de avaliação: Responder todas as questões; - Critérios gerais de produção de
texto (Manual do Aluno) - Entrega dentro do prazo determinado.
Atividade
A
10: Discussão do Tema “Educação Moral Hoje: Cenários, Perspectivas e
M
Perplexidades”.
N
Z
Agora que já assistiram ao vídeo, e participaram da apresentação do tema, feito por seu
Orientador de Disciplina, chegou a hora de vocês discutirem sobre o assunto. Então, reflitam
junto aos seus pares; levantem pontos positivos e negativos; aquilo que concordam e, princi-
palmente, aquilo que discordam sobre o tema, e justifiquem suas posições perante o grupo.
Atividade 11: Leitura do texto “Educação Moral Hoje: Cenários, Perspectivas e Per-
plexidades
Vamos aproveitar esse período virtual e nos aprofundarmos um pouquinho mais no tema
tratado durante a aula passada.
Acessem o link direto, ou a Ferramenta Leituras – Pasta Textos – Atividade
A 11, e leiam o
texto do Professor Pedro Goregen, na íntegra. M
N
Z 111
Link: “Educação Moral Hoje: Cenários, Perspectivas e Perplexidades” (http://www.acervo-
digital.unesp.br/handle/123456789/28)
Atividade
A
12: Fórum de Discussão sobre o tema “Educação Moral Hoje: Cenários,
M
Perspectivas
N
Z
e Perplexidades.”
Levando em conta os temas discutidos durante esta semana, gostaríamos que vocês se
reportassem ao seu contexto de trabalho, e respondessem a questão proposta no Fórum de
Discussão: Educação Moral, a partir do texto de Pedro Goergen.
Este fórum é avaliativo e suas contribuições serão avaliadas até o dia 05/05/2010, as
23:55hs. Para esta atividade não haverá período de recuperação de prazo.
Então, acessem a Ferramenta Fórum de Discussão (Atividade 12 - Fórum Educação Mo-
ral), e façam suas contribuições.
IMPORTANTE: Não se esqueçam! O fórum é um espaço reservado para sua interação com
os colegas. Então aproveitem! Troquem ideias com seus colegas; comentem suas contribui-
ções. E para isso, acessem a Ferramenta Fórum de Discussão - Fórum “Educação Moral” e
responda à mensagem que já foi criada. Quando fizerem a leitura dessa mensagem, verifica-
rão o botão Responder logo abaixo dela. Cliquem nele para realizar sua postagem adequa-
damente. Essa prática permitirá que suas mensagens sejam avaliadas pelos Orientadores
de Disciplinas e, também, facilitará suas interações com os colegas. Frase disparadora do
Fórum:
“Num contexto em que o virtuoso não raro é considerado otário, a educação moral está
condenada a enfrentar enorme dificuldade. Esses comentários nos permitem retornar à nos-
sa tese inicial de que a reforma moral do indivíduo depende essencialmente de uma simultâ-
nea reforma moral de sociedade como um todo. Como esta reforma não é possível sem os
indivíduos, é tarefa primeira da formação moral estimular a formação de sujeitos políticos que
tenham a justiça como seu bem maior.” Você considera que a escola pública dispõe hoje de
condições adequadas para a realização dessa tarefa?
112
3º Período Virtual: 04 e 05/05/2010
Atividade 15: Questionário 03: “Educação Moral Hoje: Cenários, Perspectivas e Perplexidades”.
Atividade 16: Espaço para colocar eventuais atividades atrasadas em dia; tirar dúvidas; ou
aprofundar os estudos lendo os textos complementares.
ética e cidadania
Atividade 18: Prova.
A
M
N
Z
113
Atividade 16: Revisão
Hoje reservamos um espaço para vocês escolherem o que querem fazer. Vocês podem
colocar eventuais atividades atrasadas em dia; podem tirar dúvidas; ou ainda, aprofundarem
os estudos lendo os textos complementares que sugerimos.Basta acessarem a Ferramenta
Leituras – Pasta Leituras complementares, ou os endereços abaixo, que terão vários textos
à sua disposição.
Link: A dimensão ética da aula ou o que nós fazemos com eles (http://www.acervodigital.
unesp.br/handle/123456789/26)
114
Valor da nota: 1.00
Objetivos: Ajudar o aluno a desenvolver material para ser usado posteriormente na elabo-
ração do TCC.
Critérios de avaliação: Participação
Importante: Foi um prazer trabalhar com vocês durante essa disciplina! Segunda-Feira,
dia 10/05/2010 daremos início à disciplina “D05 – Educação e Linguagem”. O acesso ao
ambiente desta disciplina deverá ser feito por meio do Portal Acadêmico no endereço http://
ética e cidadania
www.edutec.unesp.br.
Até lá!
115
116
Educação e
Linguagem
Juvenal Zanchetta Jr.
Doutor em Educação (UNESP)
Colaboração:
Raquel Lazzari Leite Barbosa
Uma introdução:
118
as funções da linguagem
verbete de introdução ao tema
Educação e linguagem
A linguagem ou as linguagens, em seus diversos códigos, apresenta os signos de ma-
neira variada. Mas, embora muito rica e diversa, a linguagem tem como um dos seus compo-
nentes básicos justamente a organização dos signos para se atingir determinados objetivos,
por meio da comunicação. Trataremos mais de perto da linguagem verbal, posto ser o código
de maior prestígio social e aquele que atravessa a maior parte das relações humanas, mesmo
nos dias de hoje, em que a imagem parece predominar. Assistir, por exemplo, a um capítulo
de novela ou a um telejornal, sem ouvir a fala das pessoas (volume zero), implica considerá-
vel risco de se compreender bem pouco daquilo que está sendo proposto.
Função fática: trata-se do uso da linguagem para manter contato com outra pessoa
ou outras pessoas. O interesse concentra-se basicamente em prender a atenção do outro. A
função fática pode ser observada nas conversas entre casais que ensaiam um relacionamento,
por exemplo, ou então na gravação de secretárias eletrônicas de empresas: enquanto você
aguarda para ser atendido, ouve, do outro lado da linha, fala do tipo “Aguarde um instante.
Sua ligação é muito importante para nós.” Boa parte da comunicação realizada por meio
digital, em suportes como o MSN, o orkut e o telefone celular, tende apenas a travar e pre-
servar contatos entre as pessoas;
119
Função metalingüística: neste caso, a linguagem é utilizada para tratar dela mesma.
O exemplo mais contundente de uso da função metalingüística é o dicionário: as palavras
(os verbetes) procuram explicar os sentidos e os usos de outras palavras, daquela ou de outra
língua;
Essas funções aparecem distintas apenas para efeito didático. Na comunicação huma-
na, as funções estão imbricadas umas nas outras, muitas vezes de forma indissociável. As
lágrimas e as palavras de lamento de um jovem apaixonado, diante da mulher amada que
está prestes a abandoná-lo, evidenciam o uso da função emotiva, da função persuasiva e da
função fática: as lágrimas do rapaz mostram sua tristeza, mas também acabam por tentar
convencer a garota do contrário. A mesma situação serve ainda para dar algum fôlego a
mais para a conversa (função fática). O cartaz, geralmente encontrado em hospitais, em que
se representa uma mulher fazendo, com o dedo indicador levado à altura da boca, o gesto
alusivo à idéia de silêncio, sugere o uso predominante da função referencial: informa-se que
naquele determinado local o silêncio é necessário. Mas o fato de se utilizar a imagem de uma
mulher com vestes típicas de uma enfermeira, para produzir um cartaz endereçado a hospi-
tais, sugere também as funções fática (as roupas brancas estão de acordo com a “etiqueta” de
um hospital) e emotiva (a imagem carrega carga positiva, pois a figura da enfermeira lembra
atenção, cuidado, tolerância etc., para com os pacientes).
120
Linguagem e Língua
verbete de introdução ao tema
Juvenal Zanchetta Jr.
Educação e linguagem
1. Doutor em Educação (UNESP)
Aqueles procedimentos, entre outros, têm sua significação compartilhada entre o canal
que apresenta e o espectador que assiste à partida: os torcedores sabem, por exemplo, que
os jogadores não vão “cair” porque o gramado é mostrado em declive. Essas considerações
parecem óbvias, mas não tanto. Imagine a apresentação de um gol, numa transmissão televi-
siva. As câmeras tendem a mostrar a reação daquele marcador (do gol), seguida da recepção
calorosa dos companheiros de equipe; a prostração dos adversários; a alegria ou a tristeza
da torcida. Mas e se, logo depois do gol, em lugar daquela sequência de imagens, a televisão
exibisse imediatamente as reações das mães dos jogadores do time que acaba de tomar o gol
ou do presidente do clube que está perdendo. Provavelmente, haveria estranhamento entre
os espectadores, exceto se os apresentadores prevenissem a audiência de que isso seria feito.
Mesmo assim, é pouco provável que a exibição de mães e presidentes desgostosos com o gol
tomado se torne uma prática recorrente – ou venha a fazer parte da linguagem do futebol
pela televisão.
121
São os costumes, as práticas comuns observadas numa determinada sociedade (em ou-
tras palavras, a cultura) os fatores determinantes para se compor as diversas linguagens que
nessa comunidade. A manifestação de linguagem mais complexa desenvolvida pela humani-
dade é a linguagem verbal. Esta, por seu turno, também se apresenta de diversas maneiras: a
linguagem formal (utilizada pelo jornalismo, pela medicina etc.), a linguagem popular, a lin-
guagem familiar, entre outros registros (que veremos mais adiante). É importante frisar que
a Língua conta com regras determinadas para seu uso, nas diversas modalidades em que ela
se apresenta. Mas a Língua está longe de ser um código fixo, rígido, que se pode “prender”
num bom livro de gramática. A Língua é um fenômeno vibrante, que se modifica constante-
mente, graças à capacidade cognitiva, à criatividade e à interação entre seus falantes:
Note-se, portanto, que, a Língua é uma forma de linguagem cujas características são
tão ou mais dinâmicas do que a linguagem da televisão ou dos sinais de trânsito, por exem-
plo. A história secular da escola, com trabalho reduzido à questão formal da Língua escrita,
disseminou preconceitos diversos em relação à linguagem verbal, como a desvalorização da
linguagem oral e dos registros populares, entre outros.
Referência
A
M
MARCUSCHI, L.A. Exercícios de compreensão ou copiação nos manuais de ensino de língua? Em Aberto, N
Z
Brasília, n.69, jan./mar. 1996, p. 71-72.
122
Registros de linguagem
verbete de introdução ao tema
1. Doutor em Educação (UNESP) Juvenal Zanchetta Jr.
Educação e linguagem
Embora a Língua Portuguesa, no Brasil, tenha vários dialetos, a história sempre privi-
legiou a linguagem escrita culta. A escola pública, por exemplo, fez esse trabalho desde o seu
desenvolvimento, no século 19, ignorando a linguagem oral (onde se verifica marcadamente
as diferenças dialetais) e insistindo na padronização do código, tendo como base um código
escrito considerado culto, proveniente do centro-sul do país (onde estão os estados mais ricos
da nação).
123
Linguagem popular: é a linguagem utilizada na fala distensa do dia-a-dia, entre pes-
soas conhecidas; é a linguagem usada nas feiras livres, carregada de frases feitas, clichês,
gírias. A comunicação não depende apenas da palavra, como nos registros mais formais,
mas complementa-se com os gestos, com a performance individual;
Fonte:
VANOYE, F. Usos da linguagem: problemas e técnicas na produção oral e escrita.
São Paulo: Martins Fontes, 1979.
124
(*) As postagens do Fórum de Discussão (Atividade 15) poderão ser feitas até o dia 19/05/2010. Esta atividade
não terá período de recuperação de prazo. Fiquem atentos às Atividades 6 e 13 que deverão ser feitas em casa e
entregues presencialmente no dia 13/05/2010.
Vejam como ficou o esquema das aulas:
Educação e linguagem
Atividade 1: Apresentação do tema “Linguagem como Prática Social”.
Atividade 2: Leitura do texto “Linguagem, educação e formação de professores”.
Entrem na Ferramenta Atividades para ver os detalhes de cada um das tarefas propostas.
Bom trabalho!
125
Atividades da Primeir a Semana
1º
A Período Virtual - 11 e 12/05/2010
M
N
Atividade
Z
3: Assistir ao Vídeo 1 - “O que é Linguagem”
Hoje, trabalharemos o tema “O que é linguagem”.
Utilizaremos um vídeo sobre o assunto, produzido pela UNIVESP TV, embora ele não trate
apenas disso.
Acessem a Ferramenta Material de Apoio - Pasta Vídeos e clique em Vídeo 1 – “O que é
A
linguagem”, ou no link direto.
M
N
Link: O que é linguagem http://www.edutec.unesp.br/index.php?option=com_
Z
content&view=article&id=37:o-que-e-linguagem&catid=7:videos&Itemid=22)
Atividade
A 4: Leitura de Verbete sobre Linguagem e Língua
M
Trataremos
N
Z
um pouco mais sobre o tema “Linguagem e Língua: verbal e não verbal”, lendo
um pequeno texto sobre o assunto.
126
Acessem a Ferramenta Leituras e cliquem sobre “Atividade 4 - Leitura de verbete sobre
Linguagem e Língua” ou então cliquem no link direto.
Não se esqueçam de realizar as outras atividades de hoje!
Educação e linguagem
A
Na
M Ferramenta Material de Apoio – Pasta Material Complementar -“Quadro Significado das
N
Cores”,Z ou no link direto, temos um quadro que trata do significado das cores.
Leiam-no com cuidado e procurem, ao menos, um exemplo de produto que se utilize dessas
significações. Pode ser (embalagem de) produto alimentício, de limpeza, ou então propagan-
das ou programas de televisão.
O exemplo deve ser descrito com detalhes, explicando qual a associação feita entre a cor
e a significação pretendida para o produto. Se for possível, postar a imagem do produto no
arquivo.
Postem seus arquivos no Portfólio Individual e deixem “Compartilhado com Formadores”.
Não se esqueçam de associar a atividade à avaliação clicando no link “Associar item à Ava-
liação”.
Importante!
Sigam as orientações a seguir, para que seus Portfólios fiquem organizados:
1. Entrem no Portfólio Individual, selecionem Incluir novo item e coloquem no título Ativida-
de 5 – Significado das Cores.
2. Anexem o arquivo de texto que produziram clicando em Anexar arquivo. Não se esque-
çam de seguirem as orientações de formatação do texto que estão no Manual do Aluno.
127
Feito isso, façam uma reflexão sobre sua alimentação, comparando-a, por meio de texto
escrito (levando em conta a pirâmide de Harvard, proposta pelos especialistas), respondendo
a questões básicas, como:
Minha alimentação está próxima daquilo que se recomenda?
O que está em desequilíbrio?
Quais alimentos estão em excesso ou em falta na minha alimentação?
Não se esqueçam de seguir as orientações sobre formatação textual propostas no Manual
do Aluno. Entreguem sua atividade para o Orientador de Disciplina.
Atividade
A 8: Reescrita de Título de Jornal
M
A atividade
N que ora se propõe tem o objetivo de mostrar a diversidade de possibilidades de
Z
uso da linguagem e as implicações desses usos.
O título escrito abaixo foi publicado pelo jornal impresso Notícias Populares (NP), em 02
de maio de 1994. O NP, jornal extinto já há alguns anos, era um diário popular, que abusava
do chamado “sensacionalismo”. Quem se lembra dele, conhece um comentário comum feito
quando se tratava do NP: “se espremer, sai sangue!”.
Procurem reescrever o título, levando em conta a hipótese de que ele (o título) tivesse que
ser lido no Jornal Nacional, da Rede Globo de Televisão, como uma das manchetes. Esco-
lham as palavras que quiserem (podem ser diferentes daquelas utilizadas no título do NP) e
usem as informações necessárias (como, por exemplo, os dados informados no subtítulo).
Não se esqueçam que uma manchete de telejornal deve ser curta (no máximo, uma linha).
Eis o título do jornal NP:
“BEBUM RASGA ESPOSA COM 33 FACADAS
Criou caso só porque o filho foi numa festa”
Desenvolvam, individualmente, a atividade e postem suas produções em seus respectivos
Portfólios Individuais com o título Atividade 08 - Reescrita de Título de Jornal.
Atenção: Esta é uma atividade avaliativa, então não se esqueçam de associá-la à avaliação
clicando no link Associar item à Avaliação, e de Compartilhá-la com os Formadores.
128
Critérios Avaliativos: Compreensão do enunciado e realização do exercício com êxito, a
partir da operação com o título de jornal utilizado; Compreensão sobre as diferentes implica-
ções da linguagem a partir da utilização de um mesmo universo semântico. Critérios gerais
de produção textual (Manual do Aluno); Entrega no prazo determinado.
Educação e linguagem
Atividade 9: Apresentação do tema “Diversidade Linguística”
Nesta aula presencial, trataremos do tema “Diversidade Linguística”. O Orientador de Disci-
plina apresentará o tema, destacando as diferenças entre os registros de linguagem.
Ele apresentará também os temas propostos para o próximo período virtual: Preconceito
Linguístico e Processo de Transformação da Língua.
Atividade
A 11: Leitura de Verbete sobre Registros de Linguagem
M
O trabalho
N
Z
de hoje será iniciado pela leitura de um texto breve, que introduz a ideia de Re-
gistros de Linguagem.
Acessem a Ferramenta Leituras e cliquem no link “Atividade 11- Leitura de Verbete Regis-
tros de Linguagem”. Vocês também podem ter acesso ao texto pelo link direto.
129
Link: Quadro da releitura e reescrita de Chapeuzinho Vermelho (http://www.acervodigital.
unesp.br/handle/123456789/60)
Valor
A da nota: 10.00
M
Objetivos:
N Estimular o aluno a perceber diferenças entre os registros verbais, concretizando
Z
a ideia da variedade linguística.
Critérios avaliativos: Propriedade da escolha das palavras e expressões; Adequação das
respostas à proposta do exercício; Clareza na execução da tarefa; Critérios gerais de produ-
ção textual (Manual do Aluno); Entrega no prazo determinado.
A
M
130 N
Z
Link: Língua Portuguesa (http://www.edutec.unesp.br/index.php?option=com_content&vie
w=article&id=39:lingua-portuguesa&catid=7:videos&Itemid=22)
Atividade 15: Fórum de Discussão – Transformação da Língua
A
Agora
M
N
que vocês já assistiram ao Vídeo 3 - “Língua Portuguesa”, discutam as questões
abaixo,
Z com os colegas no Fórum de Discussão “Transformação da Língua”. As questões
sobre as quais nos deteremos neste momento são as seguintes:
Educação e linguagem
a) Quais são os fatores que fazem com que a Língua se mostre estática nos dias de hoje?
b) Quais são os fatores que fazem com que a Língua se modifique mais rapidamente nos
dias de hoje?
c) As mudanças são benéficas ou maléficas?
d) Cite três atitudes concretas que um professor pode ter para incentivar os alunos a per-
ceber a riqueza da Língua e a buscar conhecer outros registros.
Este é um Fórum avaliativo e ficará aberto até o dia 19/05/2010, as 23:55hs. Não haverá
período de recuperação de prazo para esta atividade.
Fiquem atentos às instruções abaixo:
1. Para participarem desta atividade, deverão acessar a Ferramenta Fórum de Discussão,
clicar em Fórum sobre transformação da língua e responder à mensagem que já foi criada.
Quando fizerem a leitura dessa mensagem, verificarão o botão Responder logo abaixo dela.
Cliquem nele para realizarem suas postagens adequadamente. Essa prática permitirá que
suas mensagens sejam avaliadas pelos Orientadores de Disciplinas e, também, facilitará
suas interações com os colegas.
2. Vocês não deverão clicar no link Compor nova mensagem. Ao clicarem nesse link, vocês
criarão uma nova mensagem fora do tópico que já foi criado no ambiente, fazendo com que
suas mensagens não sejam avaliadas. Por isso, fiquem atentos!
3. Caso isso aconteça por engano, postem a mesma mensagem no local certo, ou seja,
seguindo a instrução do item 1.
131
Bloco1 Módulo 1 Disciplina 5
132
Atividades da Segunda Semana
Educação e linguagem
Esta é uma atividade de revisão e deve ser desenvolvida em pequenos grupos (máxi-
mo cinco componentes por grupo).
Cada um dos integrantesAdo grupo deve levantar características próprias da linguagem oral
M variedade mais culta.
e escrita, sobretudo, em sua
N
Postem suas produções no Portfólio de Grupo, com o título “Atividade 17 – Características
Z
próprias da linguagem oral e escrita” e deixem “Totalmente Compartilhado”.
Bom trabalho!
Importante! A
M
Fiquem atentos às orientações a seguir, para que seus PortfóliosNde Grupo sejam criados
corretamente: Z
1. Vocês só conseguirão postar a atividade no Portfólio de Grupo, depois que este estiver
formado dentro da plataforma. Então, antes de tudo:
Entrem na Ferramenta Grupos no menu do lado esquerdo;
Cliquem no link Novo Grupo;
Criem seu grupo dando um nome (Grupo A, Grupo B...) e selecionando os integrantes;
Por último, cliquem em Enviar.
Pronto! Os grupos estando formados, os portfólios de grupo estarão disponíveis, para que
façam suas postagens.
2. Após a criação do Portfólio de Grupo, selecionem Incluir novo item e coloquem no título:
Atividade 3 – Trabalho de Discussão em Grupo.
3. Anexem o arquivo de texto que produziram clicando em Anexar arquivo. Não se esque-
çam de seguir as orientações de formatação do texto que estão no Manual do Aluno.
133
d) Linguagem oral e escrita
Se houverem dúvidas, entrem em contato com o Orientador de Disciplina, pela Ferramenta
Correio.
134
futpuorso
sibilidades
Memória do
Professor
Ana Clara Bortoleto Nery
Doutora em Educação pela Universidade de
São Paulo (1999); Pós-Doutorado pela
Universidade de Lisboa (2005) e Pós-
Doutorado pela Universidade de São Paulo
(2008). Atualmente é professor adjunto
(livre-docente) da Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita Filho.
136
4º Período Virtual: 28 e 29/05/2010
Atividade 24: A escolha de uma formação: o curso profissionalizante
137
Período de desenvolvimento das atividades: 24 a 29/05/2010
Início das atividades: 24 de maio de 2010
Término das atividades: 05 de junho de 2010 (23:55hs)
Valor: 1
Tipo da Atividade: Individual
Objetivos: Ajudar o aluno a refletir e desenvolver material, que poderá ser usado posterior-
mente na elaboração de seu TCC
Critérios: Participação dentro do prazo estabelecido
138
Não se esqueçam de escrever em um arquivo de seu editor de texto e salvá-lo com o mes-
mo nome, em sua pasta “Memória do Professor” ou no pen drive, para então colarem-no em
seus Diários de Bordo.
Valor: 1
Tipo da Atividade: Individual
Objetivos: Ajudar o aluno a refletir e desenvolver material, que poderá ser usado posterior-
139
Tal qual Canetti, ao longo da nossa escolarização até o momento recordado, passou pela
nossa frente uma série de professores, cada qual com seu jeito de se relacionar com os alu-
nos, de ensinar, de ser professor. Assim, fomos construindo ao longo da nossa experiência
acadêmica a imagem do professor.
Abra seu editor de textos, crie um arquivo com o título “Atividade 18 – Recordando nossos
professores”, e nele descreva e analise os seus ex-professores: quais marcaram sua forma-
ção? Por que marcaram? Que disciplinas ensinavam e o que você recorda dessas discipli-
nas? Como eram as aulas que eles ministravam? Qual sua relação com cada um deles? Des-
creva, com detalhes, fatos relacionados com estes professores. Você se recorda de outros
professores para além destes? Por que não os considera significativos na sua formação?
Depois de pronto salve o arquivo em sua pasta “Memória de Professor”, e finalmente cole-o
em seu Diário de Bordo com o mesmo título “Atividade 18 – Recordando nossos professores”.
Não se esqueçam de deixá-lo “Compartilhado com Formadores”.
Valor: 1
Tipo da Atividade: Individual
Objetivos: Ajudar o aluno a refletir e desenvolver material, que poderá ser usado posterior-
mente na elaboração de seu TCC
Critérios: Participação dentro do prazo estabelecido
Valor: 1
Tipo da Atividade: Individual
Objetivos: Ajudar o aluno a refletir e desenvolver material, que poderá ser usado posterior-
mente na elaboração de seu TCC
Critérios: Participação dentro do prazo estabelecido
140
Historicamente, a figura do diretor de escola está ligada à de autoridade maior do estabe-
lecimento escolar. Assim sendo, além de exercer o papel de agente pedagógico, burocrático
e de relação escola-órgão central da administração da educação, e da relação escola-comu-
nidade invariavelmente está relacionado ao papel de disciplinador. Como consequência, os
alunos indisciplinados são sempre levados à presença do diretor.
Abram um novo arquivo em seu editor de textos com o título “Atividade 20 – Imagem de
diretor”, e nele respondam as questões abaixo:
141
guir realizar este intento. Façam anotações individuais sobre pontos relevantes da discussão.
Utilizem essas anotações na próxima atividade (Atividade 23).
142
Dica: Prefiram salvar em um arquivo, em sua pasta “Memória do Professor”, ao invés de
escrever diretamente no campo de texto do Diário de Bordo. Lembrem-se que a página pode
expirar e vocês podem perder tudo aquilo que escreveram. Fiquem atentos!
Valor: 1
Tipo da Atividade: Individual
Objetivos: Ajudar o aluno a refletir e desenvolver material, que poderá ser usado posterior-
Valor: 1
Tipo da Atividade: Individual
Objetivos: Ajudar o aluno a refletir e desenvolver material, que poderá ser usado posterior-
mente na elaboração de seu TCC
Critérios: Participação dentro do prazo estabelecido
Referências
A
M
BRANDÃO, M. M. Em busca da formação do outro: caminhos alternativos. In: BUENO, B. O.; CATANI, D. N
Z
B.; SOUSA, C. P. de (Org.). A vida e o ofício dos professores. São Paulo: Escrituras, 1998. p. 71-82.
BUENO, B.; CATANI, D. B.; SOUSA, C. P. A vida e o ofício dos professores. São Paulo: Escrituras, 1998.
PERES, S. A. B. C.; BUENO, B. O.; CATANI, D. B.; SOUSA, C. P. de (Org.). A vida e o ofício dos professo-
res. São Paulo: Escrituras, 1998, p. 83-100.
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Pedagogia Unesp/Univesp
Sheila Zambello de Pinho
Coordenadora Geral e Pró-Reitora de Graduação
Ana Maria da Costa Santos Menin
Coordenadora Pedagógico
Klaus Schlünzen Júnior
Coordenador de Mídias
Lourdes Marcelino Machado
Coordenador de Capacitação
Conselho do curso de pedagogia
Ana Maria da Costa Santos Menin
Presidente
Celestino Alves da Silva Júnior
Célia Maria Guimarães
João Cardoso Palma Filho
Mariana Claudia Broens
Tereza Maria Malatian
Secretaria
Ivonette de Mattos
Sueli Maiellaro Fernandes
PROGRAD/Reitoria
Grupo de Tecnologia e Infraestrutura - NEaD
Pierre Archag Iskenderian
André Luís Rodrigues Ferreira
Dácio Miranda Ferreira
Liliam Lungarezi de Oliveira
Pedro Cássio Bissetti
Grupo de Conteúdo Pedagógico e Metodologia - NEaD
Deisy Fernanda Feitosa
Elisandra André Maranhe
Márcia Debieux de Oliveira Lima
Rachel Cristina Vesu Alves
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A diagramação deste caderno ocorreu no verão de 2010.
Sua paginação deu-se com Adobe InDesign e a ilustração, com Adobe Illustrator,
ambos em plataforma Mac OS e instalados em computadores do NEaD, no Ipiranga, São Paulo/Brasil.
O corpo do texto é Times New Roman, Arial e, como vetores, Trajan e Linoscript.
Seu miolo é em off-set 90 gramas e sua capa, em papel supremo 250 gramas
com laminação fosca e 21 x 27.8cm de tamanho fechado.
A impressão ficou a cargo da Gráfica Bandeirantes.
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