Teoria Psicog de Henri Wallon
Teoria Psicog de Henri Wallon
Teoria Psicog de Henri Wallon
Resumo
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Graduada em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Professora da Rede particular de
São José – SC. E-mail: [email protected].
ISSN 2176-1396
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Introdução
Para aqueles que superam as resistências iniciais, a obra de Wallon adquire um apelo
especial: a possibilidade de integrar a ciência psicológica a uma concepção
epistemológica dialética e derivar dela uma pedagogia politicamente comprometida.
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Wallon não estuda a criança como um ser fragmentado, mas como um ser completo e
constituinte do meio sócio-cultural em que vive.
Ressalta Wallon, que o ser humano é organismo antes de ser psiquismo, por isso “a
maturação orgânica é indispensável para a evolução funcional. Ela deposita nesta, a cada vez,
possibilidades que se acrescentam ao material anterior e que não podem ser extraídas dele
como um simples efeito de seus mecanismos intrínsecos" (WALLON, 2008, p. 119).
Wallon considera a “evolução dialética da personalidade” como uma construção
progressiva, onde se realiza a integração das duas principais funções: a afetividade –
relacionada ao meio social, as relações “eu-outro”, e a inteligência – relacionada ao
conhecimento do mundo físico, à adaptação ao objeto.
A emoção, o ato motor, e a inteligência são, para o estudioso, campos funcionais que
no início da vida da criança são indiferenciados e imaturos. A diferenciação de processos
internos à cada campo e dos campos entre si é resultado de processos vinculados às relações
sociais e de maturação neurológica. Estes campos estão vinculados entre si, sendo que a
predominância de um ou outro, em determinadas idades, caracterizam a dinâmica do
desenvolvimento da criança. Wallon indicou a existência de três campos funcionais: a emoção
(afetividade), a psicomotricidade (movimento) e a inteligência. A integração destes 3 campos
funcionais, no processo contraditório do desenvolvimento, dá origem pessoa “completa”
(DANTAS,1990, p. 21).
Esta dialética entre continuidade e descontinuidades ou rupturas é explicada por
Wallon a partir de princípios gerais que, segundo o autor, orientam o desenvolvimento. São
estes: Princípio de Predominância funcional: se refere ao tipo de atividade que predomina em
que um dos estágios e dá a este sua configuração própria; de acordo com Galvão (1995, p.
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Enquanto não se consolida essa integração entre as funções, elas ficam sujeitas a
aparições intermitentes, que é bastante comum. Este é um processo que se dá pela maturação
do sistema nervoso, sendo que as funções mais evoluídas não suprimem as arcaicas, mas
exercem o controle.
Sustentado nessa concepção dialética de desenvolvimento, Wallon destaca ainda que o
desenvolvimento de cada pessoa apresenta ritmos próprios, por isso os parâmetros propostos
de duração de cada estágio e as idades que lhes correspondem são sempre “relativos e
variáveis em dependência de características individuais e das condições de existência”
(GALVÃO, 1995, p. 40).
Se o desenvolvimento humano é marcado pela presença de estágios que caracterizam
cada uma das idades ou períodos de desenvolvimento, por outro lado, alerta-nos Wallon, estes
estágios sucedem-se não de forma linear, mas de modo dialético, marcado por um jogo de
alternâncias.
Pensamento Sincrético
a percepção das coisas ou das situações continua sendo global, seus detalhes
continuam indistintos. No entanto, muitas vezes temos a impressão de que a criança
se volta para os detalhes das coisas. Chega a detectar aspectos tão particulares, tão
ínfimos ou tão fortuitos que nos tinham escapado. No entanto, não é como detalhe
de um todo que ela os apreende e é até por isso que é sensível a eles.
O pensamento existe apenas pelas estruturas que introduz nas coisas. Inicialmente há
estruturas muito elementares. O que é possível constatar, desde o início, é a
existência de elementos que estão sempre aos pares. O elemento do pensamento é
essa estrutura binária, não são os elementos que o constituem (1989, p. 30).
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Estes pares podem se formar de várias maneiras, como pela proximidade sonora,
quando palavras rimam (duro-muro), quando uma palavra puxa a outra (trovão-rojão), por
aproximações com experiências da criança (negro-noite) entre outras maneiras. O pensamento
em par se caracteriza pela união de certas situações e objetos que se confundem sentimentos e
realidade. O par é tratado por Wallon como a molécula do pensamento, o elemento inicial.
Abaixo um exemplo extraído do livro “As origens do pensamento da criança”:
O que é a noite? – É a lua. – Quando não tem lua, não tem noite? – A lua vem
primeiro e depois o sol. – Quando não tem lua, não tem noite? – Tem. – É a mesma
coisa, lua a noite? – Não, a lua é mais clara. – O que que é a lua? – É para clarear a
gente. – O que é – Não sei” (WALLON, 1989, p. 39)
Como pode ser observado no exemplo acima, a criança apresenta dois pares: noite-lua,
lua-sol. A criança faz afirmações opostas ao longo de sequencias curtas de pensamento, como
se ao fazer a segunda afirmação, esquecesse a primeira. O primeiro par – noite/lua – se
apresenta sob forma de identidade, como se fossem a mesma coisa, um em dependência do
outro.
A Fabulação
Tautologia
acabadas para a prática pedagógica, ao ler seus livros e escritos fica clara a importância dada a
escolarização e aos processos ricos que a escola pode fornecer a criança para seu
desenvolvimento.
O professor deve ter conhecimento de que nessa fase da vida, a criança busca
referenciais e imita a conduta de adultos que convivem com ela, buscando mediações para a
construção de sua personalidade. Se este adulto tiver ciência disso, ele tenderá a cuidar dos
exemplos que transmite a seus alunos, bem como os modos de agir cotidianamente. Segundo
Gasparin (2012, p. 58):
O direito de estar na escola e ser ouvido pelo professor deve ser respeitado, de modo
que a criança possa se constituir como um ser participativo, inserida em diferentes contextos
socioculturais. Segundo Wallon,
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a atração que a criança sente pelas pessoas que a rodeiam é uma das mais precoces e
das mais poderosas. Essa atração é movida por uma das necessidades mais
profundas do ser humano: estar com o outro para se humanizar. (Wallon apud
Gasparin, 2012, p. 38).
Ou seja, é muito importante que o professor esteja sempre disposto a ouvir o que a
criança tem a dizer, estar focado nas suas necessidades, estabelecimento vínculos afetivos e de
troca. Com isto, fortalece a auto-estima dos pequenos e também se possibilita a ampliação de
suas possibilidades de comunicação e interação social. Almeida (2014, p. 26), ressaltando a
importância das relações entre afetividade e cognição, adultos e crianças, afirma que
Ainda segundo a autora, com frequência instala-se, nos momentos de passagem, uma
crise que pode desorganizar momentaneamente o comportamento, gerando conflitos na
relação do indivíduo com o outro ou consigo mesmo:
A criança nessa faixa etária precisa do convívio social com adultos e outras crianças
para experimentar relações diferentes daquelas familiares, aprendendo a lidar com
sentimentos relacionados, por exemplo, com a aceitação e pertencimento de grupo,
competição e frustração, para citar alguns. Segundo Gasparin (2012):
Considerações Finais
Apesar de ser uma teoria pouco divulgada nos meios educacionais, a obra de Wallon
nos possibilita muitas reflexões acerca da complexidade do desenvolvimento da criança. Ao
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REFERÊNCIAS
GALVÃO, Izabel. Cenas do Cotidiano Escolar, conflito sim violência não. Petrópolis:
Editora Vozes, 2004
WALLON, Henri. Evolução psicológica da criança. São Paulo: Martins Fontes, 2007.