1 - Luxuria - Eve Berlin

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ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO desenvolvimento de habilidades da leitura e


escrita.
INTRODUÇÃO
Sons e Letras
O QUE É LETRAMENTO?
Aquisição do valor sonoro convencional
Processo de aprendizado do uso da tecnologia da
língua escrita. Isto é, a criança pode utilizar Adquirir os valores sonoros convencionais é
recursos da língua escrita em momentos de fala, perceber a correspondência entre grafema e
mesmo antes de ser alfabetizada. Esse fonema, isto é, apropriar-se do conhecimento de
aprendizado se dá a partir da convivência dos que existe uma relação entre o som /A/ e a letra A,
indivíduos (crianças/adultos, crianças/crianças), o som /B/ e a letra B, e assim por diante, com
com materiais escritos disponíveis - livros, todas as letras, que naturalmente estão inseridas
revistas, cartazes, rótulos de embalagens, entre em palavras, frases e textos.
outros -, e com as práticas de leitura e de escrita Um dos pontos fundamentais em relação à
da sociedade em que se inscrevem. Esse aquisição dos valores sonoros convencionais é a
processo acontece pela mediação de uma pessoa ordem de complexidade. Ela é crescente, não-
mais experiente através dos bens materiais e linear, é parcial e com diversos ramos. Isso quer
simbólicos criados em sociedade. dizer que a aquisição pode ocorrer em diferentes
ordens e até simultaneamente, e não há
• NÍVEL DE LETRAMENTO possibilidade de se controlar esse processo.

Este, é determinado pela variedade de gêneros de O fato de se organizar um processo apresentando


textos escritos que a criança ou adulto reconhece. as letras numa determinada ordem não garante a
A criança que vive em um ambiente em que se lê aprendizagem nessa ordem. O professor pode
livros, jornais, revistas, bulas de remédios, enfim, ficar desenvolvendo durante um mês a “família”
e qualquer outro tipo de literatura (ou, em que se ba-be-bi-bo-bu e as crianças podem estar
conversa sobre o que se leu, ou mesmo, em que adquirindo várias letras, inclusive o B com outras
uns leem para os outros em voz alta, leem para a letras, exceto o B propriamente.
criança enriquecendo com gestos e ilustrações), o
nível de letramento será superior ao de uma A compreensão desse fato leva a uma mudança
criança cujos pais não são alfabetizados e não em relação à prática pedagógica. Se o professor
teve o privilégio de conviver com pessoas que sabe que a organização e a sequenciação do
pudessem favorecer este contato com o mundo processo não levam à aprendizagem nessa
letrado. ordem, por que organizar e levar seis meses ou
mais para regular a apresentação de todas as
• ALFABETIZAÇÃO letras para as crianças? Mais real é apresentar o
alfabeto (campo de trabalho) e permitir que as
O processo de descoberta do código escrito pela crianças adquiram na sua ordem natural e em
criança letrada é mediado pelas significações que muito menos tempo! Quando se desenvolve essa
os diversos tipos de discursos têm para ela, prática, há a “liberação” da criança para
ampliando seu campo de leitura através da reconstruir o sistema linguístico no seu tempo e,
alfabetização. Antigamente, acreditava-se que a na maioria das vezes, esse tempo é pequeno em
criança era iniciada no mundo da leitura somente comparação com o método tradicional organizado.
ao ser alfabetizada, pensamento este
ultrapassado pela concepção de letramento, que Interessante ainda ressaltar é o fato de que,
leva em conta toda a experiência que a criança apesar do método tradicional organizado pelo
tem com leitura, antes mesmo de ser capaz de ler professor, grande parte dos alunos reorganiza e
os signos escritos. Atualmente, não se considera reconstrói o sistema linguístico, mas não se
mais como alfabetizado quem apenas consegue manifesta até ser liberados por seu professor. Um
ler e escrever seu nome, mas quem sabe escrever exemplo disso é um garoto que, diante de um pote
um bilhete simples. de geleia, leu “Cica”. Em seguida, disse: “Só que
eu não posso ler, porque minha professora disse
Portanto, letramento decorre das práticas sociais que o “ci” eu ainda não aprendi”.
que leituras e escritas exigem nos diferentes
contextos que envolvem a compreensão e Realizando uma sondagem
expressão lógica e verbal. É a função social da
escrita. Enquanto que a alfabetização se refere ao
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As investigações sobre a psicogênese da língua


escrita permitem ao professor atuar como
mediador no processo ensino- aprendizagem e
fornecer pistas para o aprendiz tornar-se
alfabético.
Atividade essencial, nesse processo, é a
sondagem diagnóstica, que capacita o educador a
conhecer as hipóteses das crianças envolvidas no
processo de alfabetização (pré-silábico,
intermediário I, silábico, silábico-alfabético e
alfabético).

Para realizar a sondagem escolhem-se quatro


palavras (uma polissílaba, uma trissílaba, uma
dissílaba e uma monossílaba, nessa ordem) e
uma frase de um mesmo campo semântico
(mesmo assunto). Por exemplo: dinossauro,
jacaré, gato e boi. O gato dormiu na sala. Pede-
se, então, para que as crianças escrevam do jeito
que souberem.

O professor pode pedir às crianças que ao lado da


palavra façam o desenho, que servirá como índice • Para sentir o texto, dialogar com seu autor ou,
para a leitura. Quando o professor encontra simplesmente, para usufruí-lo: sem perguntas,
dificuldade para realizar a leitura da escrita da sem questionamentos. É a leitura-prazer.
criança, é importante pedir para que ela leia, • Para buscar informações, coletar dados. É a
apontando as letras e sinais correspondentes à leitura-pesquisa.
fala. Outro elemento importante que pode servir • Para ampliação dos conhecimentos apossar-se
como sondagem é a escrita de textos do que já foi construído pela humanidade.
espontâneos (escrever uma história, como • Para esclarecer dúvidas, buscar respostas.
souber). Nesse caso, a análise da escrita pode ser Pergunta-se ao texto.
feita a partir dos seguintes parâmetros: não-
alfabético, nível intermediário II e alfabético). A leitura e a escrita de textos funcionais,
científicos e literários, a partir do conhecimento e
A partir do material investigado em uma do domínio das propriedades específicas de cada
sondagem, pode-se refletir sobre o pensamento um; a busca de coerência, interna e externa, de
da criança e perceber sua hipótese linguística. coesão, de harmonia, de movimento e de
Isso permite a formação de grupos de trabalho estabelecimento de paralelos e de ligações, entre
heterogêneos e propostas de atividades o real e o imaginário, possível ou não, em suas
diversificadas, que objetivem a desestruturação da produções escritas, são alguns pontos a ser
hipótese que a criança tem a respeito da construídos.
linguagem escrita, bem como a construção de
uma nova hipótese, culminando na reconstrução Viver em sociedade exige conhecer e utilizar-se
do código linguístico. de diferentes materiais impressos que circulam ou
que atropelam, visualmente, as pessoas: outdoor,
Uma das formas de contribuir para esse trabalho é propagandas, cartazes, panfletos, jornais, revistas,
utilizar jogos. Jogando se aprende a fazer de receituário médico, placas, anúncios, bilhetes,
conta, representar uma coisa por outra, criar catálogo telefônico, circulares, ofícios,
códigos, perceber as letras. Apreende-se o valor requerimentos, cheques e muitos outros.
sonoro convencional e reconstrói o código
linguístico. Permitir a exploração destes materiais (leitura e
produção) significa partir da realidade dos
Para que se lê? educandos, isto é, do que é cotidiano; significa,
ainda, propiciar-lhes a oportunidade de ampliar e
aprimorar a sua competência linguística, de se
adaptar à sociedade.

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As crianças, que vivem num ambiente seguinte munido de todas as competências


estimulador, constantemente estão recebendo necessárias para cursá-la com sucesso. Como se
informações sobre a função social da escrita. até então não o fizessem simplesmente por
descaso com seu próprio trabalho, ou por
• ampliar a memória; recordar aspectos e coisas acreditarem que professor bom é o que reprova.
que possam ser esquecidos (lista de compras,
agenda). Essa situação costuma ser mais dramática no
• encontrar informações urgentes (endereços, contexto das primeiras séries do Ensino
telefones...); Fundamental, que é quando são tomadas
• comunicar-se à distância (bilhete, recado, decisões de importância vital: se o aluno aprende
carta...). a ler e a escrever nos dois primeiros anos e será
promovido, ou se ficará retido ali, ano após ano,
O texto técnico-informativo exige escritor e leitor até desistir da escola; se, mesmo sem aprender,
interessados em determinado tema. será promovido e engrossará o número dos que,
Permite o crescimento do indivíduo enquanto ser cada vez mais, chegam analfabetos à 4ª série; se,
social e de cultura. Os textos científicos/ mesmo precariamente alfabetizados e sem
informativos possibilitam novas formas de nenhuma competência para compreender textos
pensamento; trazem novos conhecimentos, mais complexos, classes inteiras de 4ª série
permitem avanços científicos e a busca de iniciarão o segmento da 5ª à 8ª séries para
soluções alternativas. São textos relacionados fracassar diante da necessidade de aprender por
com o conhecimento sistematizado já produzido meio da leitura.
pelo homem nos diferentes campos da ciência.
Permite acrescentar coisas ao que se sabe. Vemos, hoje, a enorme dificuldade que os
professores têm de verificar o que os alunos já
O terceiro tipo de texto inclui um outro aspecto do sabem e o que não sabem. Há alunos que
letramento, que é o prazeroso, o belo, o estético produzem escritas silábico-alfabéticas e
da língua – a literatura. alfabéticas na 1ª série, no início do ano, e que
poderiam perfeitamente acompanhar uma 2ª série,
Envolver-se com literatura é permitir-se conhecer pois podem ler e escrever, ainda que com
outros padrões linguísticos, enxergar o mundo precariedade, mas ficam retidos porque os
através de outros olhos e de pensamentos, os professores não tiveram condições de avaliá-los
mais diversos. É apresentar estilos, o como se adequadamente e acabaram utilizando
utilizar da língua escrita, de forma viva, com muito indicadores como “letra bonita” ou “caderno bem-
movimento e harmonia. Permite viagens no tempo feito”.
– passado e futuro – envolvimento em ideias e
acontecimentos de nossa própria escolha. Quando o professor trabalha com esse tipo de
Buscam-se, em um texto, informações, reflexões, indicador, até mesmo avanços na aprendizagem
pretextos e prazer. acabam prejudicando o aluno. Por exemplo,
quando o aluno aprende a ler, é comum que ele
Alfabetizando comece a “errar” na cópia. Isto é, deixa de copiar
Quem se responsabiliza pelas crianças que estão letra por letra e começa a ler e a escrever grandes
na escola e não estão aprendendo? blocos de palavras, em geral unidades de sentido,
Vivemos um momento importante na educação o que faz com que cometa erros de ortografia ou
brasileira, porque de mudança, e não sem tempo. escreva palavras grudadas. Tal fato, que é na
Hoje, os esforços de todos os bem-intencionados verdade indicador de progresso, acaba sendo
organizam-se da maneira que podem para interpretado como regressão, pois o professor não
combater uma cultura que no último meio século tem clara a diferença entre copiar e escrever. Na
dizimou milhões de crianças brasileiras: a cultura nossa cultura, a produção de multi-repetentes em
da repetência. Mas enfrentamos, como em todos massa decorre da visão de que o aluno é sempre
os grandes movimentos de mudança, armadilhas responsável por sua aprendizagem. Essa maneira
que, se não forem percebidas, atrasarão o avanço de olhar para a questão do fracasso escolar,
que estamos tentando fazer em direção a uma embora não produza diretamente a repetência
educação eficiente e de boa qualidade para todos. maciça, é certamente responsável pela aceitação
institucional do fenômeno, por sua naturalização.
Uma dessas armadilhas consiste em acreditar Tanto que, quando se trata de crianças de apenas
que, engajados na nova e boa palavra de ordem – sete anos, consideradas jovens demais para tanta
“o aluno não deve ser reprovado”, os professores responsabilidade, a suposta falta de empenho é
passarão a aprová-lo, enviando-o para a série transferida para a família.
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A despeito de todas as boas intenções, o atual Em seguida, faça com que a criança engula
esforço de transformação da educação brasileira algumas frases inteiras. Mexa com cuidado para
será sugado pelo buraco negro da nossa não embolar.
incapacidade de alfabetizar os alunos no início da
escolaridade obrigatória (na verdade, o processo Ao fim do oitavo mês, espete a criança com um
de alfabetização começa bem antes e deveria palito, ou melhor, aplique uma prova de leitura e
estar presente na Educação Infantil, como verifique se ela devolve pelo menos 70% das
costuma acontecer com os filhos da elite). palavras e frases engolidas. Se isso acontecer,
considere a criança alfabetizada. Enrole-a num
Prova disso é que, para desespero dos que bonito papel de presente e despache-a para a
sabem para onde isso sempre nos tem levado, série seguinte.
estamos assistindo à transformação da generosa
ideia de progressão continuada nessa perversão Se a criança não devolver o que lhe foi dado para
que está tornando-se conhecida como “promoção engolir, recomece a receita desde o início, isto é,
automática”. volte aos exercícios de prontidão. Repita a receita
tantas vezes forem necessárias.
Atualmente, com a progressão continuada, as
classes continuam divididas entre “os que vão” e Ao fim de três anos, embrulhe a criança em papel
“os que não vão”, mas com uma pequena pardo e coloque um rótulo: aluno renitente.
diferença: antes eram os que “vão aprender e Alfabetização sem receita
passar de ano e os que não vão aprender nem
passar de ano” e agora todos “passam de ano”, Pegue uma criança de 6 anos ou mais, no estado
porém só alguns “vão” aprender. em que estiver, suja ou limpa, e coloquea numa
sala de aula onde existam muitas coisas escritas
Receita de alfabetização para olhar e examinar. Servem jornais, livros,
revistas, embalagens, propaganda eleitoral, latas
vazias, caixas de sabão, sacolas de
supermercado, enfim, vários tipos de materiais
que estiverem ao seu alcance.
Converse com a turma, troque ideias sobre quem
são vocês e as coisas de que gostam e não
gostam. Escreva no quadro algumas frases que
foram ditas e leia-as em voz alta. Peça às crianças
que olhem os escritos que existem por aí, nas
lojas, nos ônibus, nas ruas, na televisão.
Escreva algumas dessas coisas no quadro e leia-
as para a turma. Deixe as crianças cortarem
letras, palavras e frases dos jornais velhos e não
esqueça de mandá-las limpar o chão depois, para
Pegue uma criança de 6 anos e lavea bem. não criar problema na escola.
Enxágüe-a com cuidado, enrole-a num uniforme e
coloque-a sentadinha na sala de aula. Nas oito Todos os dias leia em voz alta alguma coisa
primeiras semanas, alimente-a com exercícios de interessante: historinha, poesia, notícia de jornal,
prontidão. Na 9ª semana ponha uma cartilha nas anedota, letra de música, adivinhações.
mãos da criança. Tome cuidado para que ela não
se contamine no contato com livros, jornais, Mostre alguns tipos de coisas escritas que elas
revistas e outros perigosos materiais impressos. talvez não conheçam: um catálogo telefônico, um
Abra a boca da criança e faça com que engula as dicionário, um telegrama, uma carta, um bilhete,
vogais. Quando tiver digerido as vogais, mande-a um livro de receitas de cozinha.
mastigar, uma a uma, as palavras da cartilha.
Cada palavra deve ser mastigada, no mínimo, 60 Desafie as crianças a pensar sobre a escrita e
vezes, como na alimentação macrobiótica. Se pense você também. Quando elas estiverem
houver dificuldade para engolir, separe as escrevendo, deixe-as perguntar ou pedir ajuda ao
palavras em pedacinhos. colega. Não se apavore se uma criança estiver
comendo letra: até hoje não houve caso de
Mantenha a criança em banho-maria durante indigestão alfabética. Acalme a diretora se ela
quatro meses, fazendo exercícios de cópia. estiver alarmada.
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Invente sua própria cartilha. Use sua capacidade a) as dimensões do aprender a ler e a escrever;
de observação para verificar o que funciona, qual b) o desafio de ensinar a ler e a escrever;
o modo de ensinar que dá certo na sua turma. c) o significado do aprender a ler e a escrever;
Leia e estude você também. d) o quadro da sociedade leitora no Brasil;
e) as próprias perspectivas das pesquisas sobre
Obs.: Os textos “Receita de Alfabetização” e letramento.
“Alfabetização sem receita” têm circulado em As dimensões do aprender a ler e a escrever
cursos para professores, às vezes, sem indicação
da autoria. Foram publicados: no Boletim Durante muito tempo a alfabetização foi entendida
Informativo n.1, da Secretaria Municipal de como mera sistematização do B+A = BA, isto é,
Educação do Rio de Janeiro, jul/1989; pelo como a aquisição de um código fundado na
Boletim Carpe Diem, Centro de Aperfeiçoamento relação entre fonemas e grafemas. Em uma
dos Profissionais de Educação, Prefeitura de Belo sociedade constituída em grande parte por
Horizonte, ano IV, n.4, janfev/1994. analfabetos e marcada por reduzidas práticas de
leitura e escrita, a simples consciência fonológica
Alfabetização e Letramento que permitia aos sujeitos associar sons e letras
para produzir/ interpretar palavras (ou frases
No início da década de 1980, os estudos acerca curtas) parecia ser suficiente para diferenciar o
da psicogênese da língua escrita trouxeram aos alfabetizado do analfabeto.
educadores o entendimento de que a Com o tempo, a superação do analfabetismo em
alfabetização, longe de ser a apropriação de um massa e a crescente complexidade de nossas
código, envolve um complexo processo de sociedades fazem surgir maiores e mais variadas
elaboração de hipóteses a respeito da práticas de uso da língua escrita. Tão fortes são
representação linguística; os anos que seguiram, os apelos que o mundo letrado exerce sobre as
com a emergência dos estudos sobre o pessoas, que já não lhes basta a capacidade de
letramento, foram igualmente férteis na desenhar letras ou decifrar o código da leitura.
compreensão da dimensão sociocultural da língua Seguindo a mesma trajetória dos países
escrita e seu aprendizado. Em estreita sintonia, desenvolvidos, o final do século XX impôs a
ambos os movimentos, nas suas vertentes teórico- praticamente todos os povos a exigência da língua
conceituais, romperam definitivamente com a escrita não mais como meta de conhecimento
segregação dicotômica entre o sujeito que desejável, mas como verdadeira condição para a
aprende e o professor que ensina. Romperam sobrevivência e a conquista da cidadania. Foi no
também com o reducionismo que delimitava a sala contexto das grandes transformações culturais,
de aula como o único espaço de aprendizagem. sociais, políticas, econômicas e tecnológicas que
o termo letramento surgiu, ampliando o sentido do
Reforçando os princípios antes propalados por que tradicionalmente se conhecia por
Vygotsky e Piaget, a aprendizagem se processa “alfabetização”.
em uma relação interativa entre o sujeito e a
cultura em que vive. Isso quer dizer que, ao lado Hoje, tão importante quanto conhecer o
dos processos cognitivos de elaboração funcionamento do sistema de escrita é poder se
absolutamente pessoal (ninguém aprende pelo engajar em práticas sociais letradas, respondendo
outro), há um contexto que não só fornece aos inevitáveis apelos de uma cultura
informações específicas ao aprendiz, como grafocêntrica.
também motiva, dá sentido e “concretude” ao
aprendizado, e ainda condiciona suas Mais do que expor a oposição entre os conceitos
possibilidades efetivas de aplicação e uso nas de “alfabetização” e “letramento”, Magda Soares
situações vividas. Entre o homem e os saberes (In: Colello, 2004: 10910) valoriza o impacto
próprios de sua cultura, há que se valorizar os qualitativo que este conjunto de práticas sociais
inúmeros agentes mediadores da aprendizagem representa para o sujeito, extrapolando a
(não só o professor, nem só a escola, embora dimensão técnica e instrumental do puro domínio
estes sejam agentes privilegiados pela sistemática do sistema de escrita: “alfabetização é o processo
pedagogicamente planejada, objetivos e pelo qual se adquire o domínio de um código e
intencionalidade assumida). das habilidades de utilizá-lo para ler e escrever, ou
seja: o domínio da tecnologia – do conjunto de
A concepção de letramento contribuiu para técnicas – para exercer a arte e ciência da escrita.
redimensionar a compreensão que hoje temos Ao exercício efetivo e competente da tecnologia
sobre: da escrita denomina-se letramento, que implica
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habilidades várias, tais como: capacidade de ler previsíveis e valorizadas pela sociedade. Em
ou escrever para atingir diferentes objetivos.” síntese, uma prática reducionista pelo viés
linguístico, e autoritária pelo significado político;
Por isso, aprender a ler e a escrever implica não uma metodologia etnocêntrica que, pela
apenas o conhecimento das letras e do modo de desconsideração do aluno, mais se presta a
decodificá-las (ou de associá-las), mas a alimentar o quadro do fracasso escolar.
possibilidade de usar esse conhecimento em
benefício de formas de expressão e comunicação, O significado do aprender a ler
possíveis, reconhecidas, necessárias e legítimas
em um determinado contexto cultural. Ao permitir que as pessoas cultivem os hábitos de
leitura e escrita e respondam aos apelos da
O desafio de ensinar a ler e a escrever cultura grafocêntrica, podendo inserir-se
criticamente na sociedade, a aprendizagem da
Na análise da questão em como conciliar duas língua escrita deixa de ser uma questão
vertentes da língua em um único sistema de estritamente pedagógica para alçar-se à esfera
ensino, destacaremos dois embates: o conceitual política, evidentemente pelo que representa o
e o ideológico. investimento na formação humana.

1) O embate conceitual A história do ensino no Brasil, a despeito de


eventuais boas intenções e das “ilhas de
Tendo em vista a independência e a excelência”, tem deixado rastros de um índice
interdependência entre alfabetização e letramento sempre inaceitável de analfabetismo agravado
(processos paralelos, simultâneos ou não, mas pelo quadro nacional de baixo letramento.
que indiscutivelmente se complementam), alguns
autores contestam a distinção de ambos os O quadro da sociedade leitora no Brasil
conceitos, defendendo um único e indissociável
processo de aprendizagem. Em uma concepção Do mesmo modo como transformaram as
progressista de “alfabetização”, o processo de concepções de língua escrita, redimensionaram as
alfabetização incorpora a experiência do diretrizes para a alfabetização e ampliaram a
letramento e este não passa de uma redundância reflexão sobre o significado dessa aprendizagem,
em função de como o ensino da língua escrita já é os estudos sobre o letramento obrigam-nos a
concebido. reconfigurar o quadro da sociedade leitora no
Brasil.
É preciso conhecer o mérito teórico e conceitual Ao lado do índice nacional de 16.295.000
de ambos os termos. Balizando o movimento analfabetos no país (IBGE, 2003), importa
pendular das propostas pedagógicas (não raro considerar um contingente de indivíduos que,
transformadas em modismos banais e mal embora formalmente alfabetizados, são incapazes
assimiladas), a compreensão que hoje temos do de ler
fenômeno do letramento presta-se tanto para banir textos longos, localizar ou relacionar suas
definitivamente as práticas mecânicas de ensino informações.
instrumental, como para se repensar na
especificidade da alfabetização. Na ambivalência Os motivos pelos quais tantos deixam de aprender
dessa revolução conceitual, encontra-se o desafio a ler e a escrever
dos educadores em face do ensino da língua
escrita: o alfabetizar letrando. Se descartássemos as explicações mais
simplistas que culpam o aluno pelo fracasso
2) O embate ideológico escolar; se admitíssemos que os chamados
“problemas de aprendizagem” se explicam muito
Contagiada pela concepção de que o uso da mais pelas relações estabelecidas na dinâmica da
escrita só é legítimo se atrelada ao padrão elitista vida estudantil; se o desafio do ensino pudesse
da “norma culta” e que esta, por sua vez, ser enfrentado a partir da necessidade de
pressupõe a compreensão de um inflexível compreender o aluno para com ele estabelecer
funcionamento linguístico, a escola tradicional uma relação dialógica, significativa e
sempre pautou o ensino pela progressão compromissada com a construção do
ordenada de conhecimento: aprender a falar a conhecimento; se as práticas pedagógicas
língua dominante, assimilar as normas do sistema pudessem transformar as iniciativas meramente
de escrita para, um dia (talvez nunca), fazer uso instrucionais em intervenções educativas; se tudo
desse sistema em formas de manifestação isso ocorresse, talvez fosse possível compreender
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melhor o significado e a verdadeira extensão da eventos de letramento, tais como ouvir histórias,
não aprendizagem e do quadro de analfabetismo observar cartazes, conviver com práticas de troca
no Brasil. de correspondência, etc. No entanto, é possível
que indivíduos com baixo nível de letramento (não
Do ponto de vista dos alunos, o repúdio à tarefa, à raro membros de comunidades analfabetas ou
escola e muito provavelmente à escrita foi uma provenientes de meios com reduzidas práticas de
reação contra a implícita proposta de fazer parte leitura e escrita) só tenham a oportunidade de
de um mundo ao qual nem todos podem ter livre vivenciar tais eventos na ocasião de ingresso na
acesso: o mundo da medicina, da possibilidade de escola, com o início do processo formal de
ser acompanhado por um médico e da compra de alfabetização.
remédios.
Métodos Sintéticos: da soletração à consciência
A desconsideração dos significados implícitos do fonológica
processo de alfabetização – o longo e difícil
caminho que o sujeito pouco letrado tem a Juntando as letras: soletração
percorrer, a reação dele em face da artificialidade
das práticas pedagógicas e a negação do mundo A Carta do ABC (sem indicação de autor ou data):
letrado – acaba por expulsar o aluno da escola, o livrinho apresenta primeiro os alfabetos de letras
um destino cruel, mas evitável se o professor maiúsculas e minúsculas de imprensa e de letras
souber instituir em classe uma interação capaz de cursivas. A ideia é ensinar os três tipos mais
mediar as tensões, negociar significados e comuns de sílabas existentes em português, como
construir novos contextos de inserção social. consoante-vogal (ba, na, ma),vogal-consoante (al,
ar, na ), consoante-consoante-vogal (fla, bla, tra ).
Perspectivas das pesquisas sobre letramento
O objetivo maior da soletração é ensinar a
Embora o termo letramento remeta a uma combinatória de letras e sons, partindo de
dimensão complexa e plural das práticas sociais unidades simples, as letras, o professor tenta
de uso da escrita, a apreensão de uma dada mostrar que essas, quando se juntam,
realidade, seja ela de um determinado grupo representam sons, as sílabas, que por sua vez
social ou de um campo específico de formam palavras.
conhecimento motivou a emergência de inúmeros
estudos a respeito de suas especificidades. É por O método baseia-se na associação de estímulos
isso que, nos meios educacionais e acadêmicos, visuais e auditivos, valendo-se apenas da
vemos surgir a referência no plural “letramentos”. memorização como recurso didático – o nome da
letra é associado à forma visual, as sílabas são
Embora ainda não dicionarizado, o termo aprendidas de cor, e com elas se formam palavras
“letramento” foi usado pela 1ª vez por Mary Kato, isoladas fora do contexto.
em 1986, na obra No mundo da escrita: uma
perspectiva psicolingüística (São Paulo, Ática). Quanto daria por um daqueles duros bancos onde
Dois anos depois, passa a representar um me sentava, nas mãos a Carta do ABC, a cartilha
referencial no discurso da educação, ao ser de soletrar, separar vogais e consoantes.
definido por Tfouni em Adultos não alfabetizados: Repassar folha por folha, gaguejando as lições
o avesso do avesso (São Paulo, Pontes) e num aprendizado demorado e tardio. Afinal vencer
retomado em publicações posteriores. e mudar de livro.

No embate conceitual, a evidência desse Excerto do poema Voltei de Cora Coralina (2001),
paralelismo, é possível porque podemos ter casos poeta goiana,
de pessoas letradas e não alfabetizadas nascida em 1889.
(indivíduos que, mesmo incapazes de ler e
escrever, compreendem os papéis sociais da Ba-be-bi-bo-bu: silabação
escrita, distinguem gêneros ou reconhecem as
diferenças entre a língua escrita e a oralidade) ou O método tem os mesmos defeitos da soletração:
pessoas alfabetizadas e pouco letradas (aqueles ênfase excessiva nos mecanismos de codificação
que, mesmo dominando o sistema da escrita, e decodificação, apelo excessivo à memória e não
pouco vislumbram suas possibilidades de uso). à compreensão, pouca capacidade de motivar os
alunos para a leitura e a escrita.
Em uma sociedade como a nossa, o mais comum
é que a alfabetização seja desencadeada por
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Cartilha da Infância (Thomaz Galhardo, 1979):


depois de mostrar as vogais e os ditongos, A personagem abelhinha, que dá nome ao
apresenta as sílabas va-ve-vi-vo-vu, método, tem o corpo em forma de um a (em letra
embaralhando-as nas duas linhas seguintes. cursiva) e apresenta o som /aaaaaaa/ (a vogal é
Seguem-se palavras formadas de três letras (vai- prolongada para facilitar o reconhecimento); a
viu-vou) e finalmente onze vocábulos contendo as letra i é representada pelo tronco de um índio,
sílabas estudadas; cada lição se completa com outro personagem de histórias e assim por diante.
algumas frases sem ligação entre si, escritas sem
a maiúscula na palavra inicial e sem pontuação: Os personagens são desenhados para sugerir o
“vovó viu a ave”, “a ave vive e voa”, “vovô vê o todo ou partes das formas estilizadas das letras.
ovo” e outras do gênero.
Há portanto uma associação de três elementos –
A ordem de apresentação: primeiro, as cinco personagem – forma da letra – som da letra
letras que representam as vogais, depois os (fonema). A alfabetização se faz por síntese ou
ditongos, em seguida as sílabas formadas com as fusão dos sons para formar a palavra.
letras v, p, b, f, d, t, l, j, m, n. As chamadas
“dificuldades ortográficas” aparecem do meio para A Casinha Feliz (criado pela pedagoga Iracema
o fim da cartilha, incluindo os dígrafos, as sílabas Meireles na década de 1950): acredita na
travadas (terminadas por consoantes), as letras g, aprendizagem por meio do jogo, propondo que a
c, z, s, e x. sala de aula fosse um espaço para a criatividade e
a livre expressão das crianças.
Métodos fônicos
Método: associar a forma da letra a um
Ensina-se o aluno a produzir oralmente os sons personagem, o qual, por sua vez, representava
representados pelas letras e a uni-los para formar determinado som. O essencial é que conduza à
as palavras. Parte-se de palavras curtas, figura-fonema capaz de fazer sempre, se for
formadas por apenas dois sons representados por consoante, o imprescindível barulhinho. Tudo mais
duas letras, para depois estudar de três letras ou é jogo, é dramatização, atividade criadora.
mais. A ênfase é ensinar a decodificar os sons da
língua, na leitura, e a codificá-la, na escrita. Cuidados a considerar na aplicação dos métodos
Atualmente, os métodos fônicos tendem a fônicos
apresentar pequenas frases, a partir da 2ª ou 3ª
folha, para que os alunos desenvolvam Os dois métodos apresentados propõem
gradativamente habilidades de leitura mais associações visuais e auditivas com a forma e os
complexas. sons das letras e têm o mérito de recomendar a
utilização e recursos expressivos de voz,
Este recurso visa a habituar o aluno a extrair o gesticulação, desenho, teatro, etc. para despertar
conteúdo significativo da palavra lida e superar o interesse infantil. Ambos giram em torno de
uma deficiência ainda comum no método (Rizzo histórias contadas oralmente e o material escrito é
apud Carvalho, 2005: 25). rigorosamente controlado para apresentar apenas
as palavras cuja decodificação já foi, ou está
Método da Abelhinha (Alzira S. Brasil, Lúcia sendo, ensinada.
Marques Pinheiro e Risoleta Ferreira Cardoso
criaram o método em 1965): apresenta o método Um aspecto discutível dos métodos é que as
misto do tipo fonético. histórias dos manuais, criadas com o objetivo de
apresentar as relações letra- som numa
Os sons são apresentados como "barulhos" que determinada seqüência, são muito artificiais. É
ocorrem, o mesmo acontecendo com a reunião de preciso professores experientes, com bons
dois sons em sílabas. Da reunião de dois sons, a recursos narrativos, para dar vida a histórias
criança passa a três, e vai lendo palavras cada didáticas, em que os sons ora são associados à
vez mais extensas; depois expressões, sentenças forma das letras, ora aos nomes dos personagens,
e historinhas. ora a um “barulhinho” produzido por eles.

Duas recomendações das autoras: não dizer o Na aplicação dos métodos fônicos, a maior
nome das letras, pois seria cair na soletração; e dificuldade técnica é tentar articular os sons das
não fazer a união de fonemas com todas as consoantes isoladas, pois de fato elas só ganham
vogais, pois seria a silabação, prejudicando a sons quando estão acompanhadas de uma vogal.
leitura mais tarde. Existem algumas consoantes, como o /f/ e o /v/,
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que podem ser prolongadas com certa facilidade, leitura a partir de pequenas histórias, adaptadas
dando a impressão que se fundem com as vogais ou especialmente criadas pelo professor.
que as acompanham. Mas não é o caso da Apresentada a história completa, o texto é
maioria das outras que só são ouvidas claramente desmembrado em frases ou orações, que a
quando acompanhadas das vogais. criança aprende a reconhecer globalmente e a
repetir, numa espécie de pré-leitura.
Consciência fonológica: é a capacidade de
distinguir e manipular os sons constitutivos da A seguir, vem a etapa de reconhecimento das
língua e consiste na capacidade para focalizar os palavras. Depois disso é que se alcança a etapa
sons da fala, independentemente do sentido. de divisão das palavras em sílabas e finalmente a
composição de novas palavras com as sílabas
Para reconhecer o grau de consciência fonológica estudadas.
da criança, alguns indicadores são a habilidade de
identificar o número de sílabas das palavras e de O processo envolve análise das partes maiores (o
reconhecer rimas e aliterações (sílabas que se texto, as frases) para chegar às partes menores
repetem no início de uma série de palavras). Cada (palavras, sílabas), por isso o método global é
palavra falada é formada por uma série de também chamado analítico. A professora Lúcia
fonemas, representados na escrita pelas letras do Casasanta (apud Carvalho, 2005) assim
alfabeto e a percepção destes é desenvolvida no descreveu as etapas do método:
processo de alfabetização.
1) fase do conto;
As cartilhas e a alfabetização 2) fase da sentenciação;
3) fase das porções de sentido;
Métodos globais: aprender a ler a partir de 4) fase da palavração;
histórias ou orações 5) fase da silabação ou dos elementos fônicos.

Conhecer e respeitar as necessidades e O método não previa a utilização de livro didático,


interesses da criança; partir da realidade do aluno o que constituía uma dificuldade para os
e estabelecer relações entre a escola e a vida professores, que deviam criar textos e preparar
social são diretrizes do pensamento escolanovista. materiais didáticos.
Métodos ativos – aprender fazendo –, liberdade
para criar e participação da criança no Método ideovisual de Decroly
planejamento do ensino são algumas das
estratégias recomendadas. Um dos mais conhecidos métodos globais, o
ideovisual, foi criado no início do século XX por
A Escola Nova valorizava a leitura, as bibliotecas, Ovide Decroly (1871-1932).
o gosto pelos livros, e trouxe uma inovação
importante para os alfabetizadores: a defesa dos As bases de sua filosofia de educação eram:
métodos globais com a fundamentação teórica da respeito à personalidade da criança, a seus
crença segundo a qual a criança tem uma visão interesses, a seu ritmo natural e modos peculiares
sincrética (ou globalizada) da realidade, ou seja, de ver o mundo. Pregava a importância da
tende a perceber o todo, o conjunto, antes de atividade, da ação e da cooperação.
captar os detalhes.
Decroly propôs que o ensino se desenvolvesse
Decroly (1929) enfatizava a compreensão do por centros de interesse e, em princípio, o
significado desde a etapa inicial da alfabetização e programa escolar deveria incluir conhecimentos
não a capacidade de decodificar ou de dizer o imediatamente ligados à criança: suas
texto em voz alta. A alfabetização deveria necessidades básicas no meio em que vive.
começar por unidades amplas, como histórias ou
frases, para chegar em nível de letra e de som, Experimentou um método de aprendizagem de
mas sem perder de vista o texto original e seu leitura que punha em jogo o que chamava “função
significado. de globalização”. Função que explicava a
capacidade da criança de captar as formas
Método de contos globalmente, justificaria começar a aprendizagem
por frases (unidades de sentido) em lugar de
Um dos métodos mais antigos – o de contos – letras (elementos gráficos isolados sem
começou a ser aplicado nos Estados Unidos no significação).
fim do século XIX. Consiste em iniciar o ensino da
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Seu método: o aluno reconhecia a forma, o letras b, p, d, v e f , que têm o mesmo som,
desenho total, a imagem gráfica da frase. Em independentemente da posição na palavra. São os
seguida, aprendia a distinguir as palavras, por casos em que há uma relação biunívoca entre os
meio da observação de semelhanças e diferenças fonemas e os grafemas. Quanto ao tipo de sílaba,
entre elas; em seguida as sílabas, depois as o mais fácil é o mais comum, ou seja,
letras. consoantevogal (como em pa, da, va, etc.);
padrões silábicos mais complexos virão pouco a
Método Natural Freinet pouco.

Célestin Freinet (1896-1966) acreditava que a 2) Critério de alternância entre o fácil e o difícil: o
inteligência, o gesto, a sensibilidade desenvolvem- método recomenda que não se deixe para a etapa
se através da livre expressão, do trabalho manual, final do processo de alfabetização as chamadas
da experimentação. Sua pedagogia consiste em dificuldades ortográficas.
estimular a reflexão, a criatividade, o trabalho, a
cooperação e a solidariedade. As letras que podem representar mais um som,
conforme o contexto – como s, m, l, x e outras –
Seu Método Natural de aprendizagem da língua devem ser alternadas com aquelas consideradas
parte do pressuposto que: a criança lerá e mais fáceis.
escreverá com interesse textos relacionados com
suas experiências. Dessa forma, seu método 3) Critério de produtividade: selecionar palavras-
natural não comporta fases ou etapas, como chave que depois de desmembradas em sílabas
acontece com outras propostas, a criança aprende permitam formar um bom número de palavras
a ler lendo, a escrever, escrevendo. novas.

Para ele a escrita e a leitura têm um significado Alfabetização a partir de palavras-chave


social, existem para servir ao homem em suas O método da palavração propõe o ensino das
lutas, no seu trabalho, na expressão de suas primeiras letras a partir de palavras-chave,
ideias. Em lugar de atividades puramente formais, destacadas de uma frase ou texto mais extenso.
propunha que os alunos, desde tenra idade, As palavras destacadas são desmembradas em
escrevessem e lessem para ser compreendidos e sílabas, as quais, recombinadas entre si, formam
para entrar em relação com os outros. novos vocábulos.

A metodologia de base linguística ou Método Natural de Heloísa Marinho


psicolinguística
Apóia-se em Jonh Dewey, Decroly e outros
A chamada Metodologia de base lingüística escolanovistas que ressaltam a importância da
propõe ensinar a ler a partir de orações. Foi atividade da criança no processo de ensino-
elaborado na década de 1970 por um grupo de aprendizagem.
professores coordenado pela professora Helena Os passos de aplicação são os seguintes:
Gryner. As premissas do método são: respeitar a
fase de desenvolvimento cognitivo e afetivo em 1) A professora usa abundantemente a escrita.
que a criança se encontra e tornar o aluno sujeito Registra, à vista dos alunos, fatos ocorridos na
do processo, cabendo sempre a ele a iniciativa e a sala de aula, ou algo dito pelas crianças. Escreve
descoberta. O processo de alfabetização deve bilhetes, convites, avisos destinados aos pais.
começar pela produção e reconhecimento de 2) Estimula a percepção dos sons iniciais e finais
frases sugeridas pelas próprias crianças. de palavras ditas oralmente, utilizando técnicas e
materiais que permitam descobrir semelhanças e
Para dar início à alfabetização propriamente dita, diferenças entre sons, através da comparação.
a professora escolhe uma ou duas orações 3) Forma um vocabulário básico de 35 a 40
produzidas pelas crianças, que devem conter palavras (apenas substantivos e verbos) que a
palavras cuidadosamente escolhidas para atender criança deve aprender a reconhecer globalmente,
a três critérios: em sentenças e pequenos textos, qualquer que
seja sua posição nos textos.
1) Critério de dificuldade: começar pelo mais fácil 4) Leva a criança a descobrir o som dentro da
em matéria de relações letra-som e de padrões palavra e a associar o som à letra.
silábicos. As primeiras palavras- chave 5) Estimula a criança a ler e a escrever palavras
apresentadas devem ser formadas de fonemas novas com compreensão e rapidez, incentiva a
como /b/, /p/, /d/, /v/ e /f/, representados pelas leitura como fonte de informação e de prazer, e a
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escrita como instrumento de registro de ideias e que sabem sobre o assunto? Como eu próprio me
de comunicação. relaciono com a leitura, a escrita e o método?

Método Paulo Freire Produção de Texto - Produção e Correção

A metodologia proposta por Paulo Freire também Produzir é realizar, criar, fabricar; texto é um
se classifica como palavração, com a importante desenho, uma palavra, uma frase ou um conjunto
diferença de que as palavras geradoras (palavras- delas que, dentro de um contexto, transmite um
chave) apresentadas aos adultos analfabetos são significado ou uma idéia. Produzir textos é
pesquisadas no universo vocabular deles próprios. inerente à criança. Antes mesmo de conhecer
Os procedimentos técnicos do método são: letras, ela conta um fato, descreve um passeio,
dita regras de uma brincadeira, entre outras
1) Ao planejar um trabalho de alfabetização em coisas. Em sua rotina diária, ela produz texto oral.
determinada área, deve-se fazer um levantamento
do universo vocabular da população, selecionando Seu mundo é um emaranhado de palavras que
um grupo de 17 a 20 palavras de uso frequente, aqueles que a cercam conseguem entender
relevantes para a população e que apresentam as apenas porque “ela se faz entender”. Existe um
combinações básicas dos fonemas e padrões diálogo natural que se manifesta, por exemplo,
silábicos. São estas as palavras geradoras, que quando a mãe, por não entender o que a criança
constituirão pontos de partida dos debates entre diz, pede que ela repita ou mostre, tendo em vista
os participantes dos círculos de cultura. auxiliar o filho.

2) Para dar início à alfabetização, o coordenador Entretanto, na escola, a criança precisa obedecer
do círculo de cultura deve apresentar algumas a regras de espaço, seqüência e lógica, aliadas às
imagens (em slides ou cartazes) que propiciem o regras ortográficas e gramaticais não definidas
debate sobre as noções de cultura e de trabalho. para ela. Algumas vezes, o aluno não escreve
Estas imagens representam o produto do trabalho porque não sabe o quê ou sobre o quê quer
dos homens sobre a matéria da natureza: suas escrever, ou porque não está motivado,
ferramentas, utensílios de uso diário, suas independentemente de saber escrever ou não;
moradias. outras vezes, ele escreve apenas para satisfazer
uma exigência do professor. Assim, a criança se
O objetivo é fazer com que os alunos reconheçam nega a produzir ou não se esforça muito para isso.
a si próprios como criadores de cultura. E, então, começa o bloqueio: escreve pouco ou
não escreve.
3) Para ensinar as relações entre letras e sons, o
ponto de partida é a palavra geradora, que é A criança passa por fases na produção, todas
decomposta em sílabas. Em seguida, apresentase igualmente importantes para ela, e o professor
a ficha descoberta, em que aparecem as famílias deve requerer essas produções de maneira
silábicas correspondentes. gradativa no que se refere à dificuldade de
execução, ou seja, para chegar a elaborar um
Para a professora, seja qual for o método texto individualmente, com forma e conteúdo
escolhido, o conhecimento das suas bases próprios, a criança precisa, antes, trabalhar textos
teóricas é condição essencial, importantíssima, coletivamente ou em pequenos grupos, sob a
mas não suficiente. A boa aplicação técnica de um orientação do professor, com base em modelos de
método exige prática, tempo e atenção para escrita corretos e variados quanto à forma (poesia,
observar as reações das crianças, registrar os contos, música, trava-língua, etc.).
resultados, ver o que acontece no dia-a-dia e
procurar solução para os problemas dos alunos Sem dúvida, é muito mais gratificante ler um texto
que não acompanham. que se desenvolve dentro dos padrões
convencionais da ortografia, mas isso não deve
Além de conhecer o método em si, é preciso que o ser a primeira e a principal preocupação, porque a
professor se pergunte: escrita considerada correta, nos padrões da
norma culta, não está pautada na oralidade, e
• O que realmente tenho em vista ao ensinar a ler? apenas com o “exercício” o aluno poderá perceber
O que estou buscando? Que usos da leitura e da isso e se corrigir.
escrita pretendo que o aluno venha a praticar? De
que materiais disponho ou estou disposto a criar? A criança precisa ser incentivada a soltar-se para
Como as crianças se relacionam com a escrita, o escrever, a revelar seu interior, a transcrever suas
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experiências, a relatar fatos do seu mundo sem ter significativo, interessante e objetivo, e o aluno
que se preocupar com correções, riscos tem, no mínimo, os oito anos do Nível I para
vermelhos e notas baixas: simplesmente escrever entender essas questões de maneira ampla.
o que lhe dá maior prazer e saber que, com isso,
está se comunicando. Tratando-se de produção de texto, o mecanismo é
mais ou menos o mesmo. Diante da proposta do
Seja qual for a reação do professor ao ler um professor é imprescindível que o aluno entenda os
texto, o importante é que ele tente “traduzir” o que objetivos e queira participar da atividade. Ele se
o aluno quis transmitir. Se não conseguir coloca perguntas do tipo: O que escrever? Como?
entender, o professor deve pedir que a criança Para quê? Para quem?
faça a “leitura”.
Vários assuntos que podem dar margem à
Atualmente, existe uma preocupação maior com a produção aparecem, simplesmente, na rotina
produção de textos desde os primeiros anos de diária: um aluno que se machucou, um dente de
escolaridade e, depois de observar nossos alunos, leite que caiu, alguém que fez uma visita à classe,
podemos concluir que a criança pode escrever um uma excursão ou um passeio que os alunos
texto desde o primeiro dia de aula. Em geral, não fizeram no fim de semana, um capítulo de novela
é muito fácil o entendimento desses textos iniciais que alguém assistiu, etc. Mas, apesar da
por parte do professor, e para que isso não variedade dos temas, às vezes estes não se
aconteça, para que o aluno tenha retorno do seu aproximam da expectativa do professor e os
trabalho, é preciso conversar com a criança sobre alunos não atingem o objetivo específico que ele
o que ela escreveu. queria atingir.

Não é preciso fechar famílias silábicas nem Nessas ocasiões, as crianças precisam de um
desenvolver regras gramaticais antes da estímulo, envolvendoas de tal maneira que o
produção. A criança deve escrever da maneira registro, a produção escrita e/ ou a manifestação
como entende que seja a escrita e, aos poucos, gráfica sobre determinado assunto da expectativa
ao ser desenvolvidos os conteúdos, ela mesma se do professor sejam considerados importantes,
corrigirá ou, se um determinado erro persistir, cabendo ao professor direcionar a expressão oral.
deverá ser direcionado à correção.
Com jogos, músicas, adivinhações, brincadeiras
Os alunos se interessam mais por uma informação de roda, trabalhos artísticos, história, parlendas,
e a retêm melhor se ela fizer parte de um todo: poesias, etc. o professor pode, e na maioria das
eles vivem o momento tão intensamente que tudo vezes consegue, levar as crianças à escolha do
o que é retirado de um assunto central, com tema.
significado para eles, fará parte deste momento
tão bem vivenciado. Sugestões para produção

Portanto, não têm sentido atividades como A produção de texto não deve ser trabalhada
trabalhar com listas infindáveis de palavras com isoladamente; pelo contrário, devemse aproveitar
mesma dificuldade gramatical, trabalhar páginas o assunto, o tema ou a palavra que estão sendo
inteiras de treinos ortográficos, separar sílabas de trabalhados para intercalar a produção. Sob esse
dezenas de palavras com dígrafos e fazer cópias ponto de vista, a produção de texto é apenas mais
quilométricas. Uma atividade muito longa e uma atividade a ser executada pelos alunos.
repetitiva cansa, desanima, desestimula e A seguir, algumas idéias de atividades de
desinteressa. Palavras soltas, sem significado e produção de texto para ser desenvolvidas com os
sem adequação imediata perdem-se no espaço do alunos. Como todas as outras sugestões, essas
papel, desaparecem sob a vista com a mesma também não são rígidas: fica a critério do
rapidez com que foram escritas. professor adaptá-las, de acordo com o nível em
que se encontram os alunos. Sugerimos, também,
É comum ouvir de professores que certo aluno, que as produções sejam arquivadas em um
depois de tanto treino e exercício, ainda escreveu caderno específico, de maneira que o progresso
errado determinada palavra. Treinou como? Para do aluno possa ser percebido e avaliado com
quê? maior segurança pelo professor.

Todo e qualquer conteúdo sobre questões • Escrever seu nome e desenhar você mesmo.
gramaticais deve ser extraído de um contexto, de • Desenhar o pai ou a mãe e escrever “meu Pai”
um assunto de interesse comum para que se torne ou “minha Mãe”, de acordo com o desenho.
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• Desenhar sua casa, sua família e escrever os ilustrações. Ao terminar, cada criança terá o seu
nomes. livro.
• Desenhar seus amigos e escrever seus nomes. • Fazer um livro sobre o arco-íris: cada folha terá
• Desenhar seus brinquedos e escrever seus uma cor pintada ou um recorte colorido de tecido,
nomes. papel, plástico, etc. O aluno escreve o nome da
• Escrever a respeito do brinquedo ou da cor e o que ela significa para ele.
brincadeira de que mais gosta. • Fazer o Jornal da Classe. Cada aluno faz um
• Escrever sobre seu animal preferido e depois trabalho que pode ser produção, cruzadinha,
fazer o desenho. adivinhações, receita, desenho para ser pintado,
• Fazer o desenho de um animal de que tem medo desenho para ligar os pontos, etc. Sob a
e escrever orientação do professor, eles selecionam os
sobre ele. trabalhos e montam o jornalzinho. Cada aluno
• Desenhar sua classe e seus colegas e escrever transcreve seu trabalho para a folha de estêncil e
sobre eles. assina. O professor também pode contribuir com
• Fazer um desenho com base numa história alguma atividade. Com o tempo, o jornal poderá
contada e copiar o título. ser feito em nível de ano, período ou escola.
• Depois de ouvir uma história, fazer o desenho e • Escrever um livro. O professor dobra as folhas
escrever o que quiser sobre ela. de papel sulfite no meio, formando o livro e
• Escrever o que quiser sobre uma data grampeia. Cada aluno escreve uma história e
comemorativa. transcreve cada frase em uma página, faz os
• Montar personagens com material de sucata e, desenhos, elabora a capa, escreve o título e
em grupo, produzir uma história oral. Desenhar os assina.
personagens utilizando sucata e transcrever a • Fazer um desenho com bolinhas de papel de
história. seda e escrever
• Fazer uma história tomando por base um Banco sobre ele.
de Palavras. A classe decide sobre o que vai • Contar um sonho que teve e escrever sobre ele.
escrever e sugere as palavras que entrarão na • Escrever sobre uma experiência vivenciada. Por
história; o professor escreveas num papel manilha exemplo, um
ou na lousa para que as crianças possam recorrer passeio à feira, ao zoológico, etc.
a elas durante a produção. • Escrever sobre um animal que foi trazido para a
• Recortar letras de jornais e revistas; montar seu classe. Um aluno, ou alguém da escola, traz,
nome e escrever uma frase ou texto. escondido, um animal (ou foto dele) e não diz qual
• Recortar letras e formar palavras. Em seguida, é. As crianças conversam com o dono para saber
fazer um desenho e escrever uma frase ou um os hábitos, a alimentação, a utilidade, etc. do
texto que se refira à palavra formada. bicho e, pelas características, tentam descobrir
• Escrever sobre um fato da atualidade (ecológico, qual é o animal. As informações são completadas
social, político, policial, etc.). O professor pode pelo professor como conteúdo de Ciências e
aproveitar uma notícia de jornal ou uma pergunta saúde e, em seguida, as crianças fazem um
de um aluno para propor o tema. Banco de Palavras.
• Depois de assistir a um filme em vídeo, escrever
a história. A produção de texto é o principal elemento de
• Escrever sobre “o que gostaria de ser quando avaliação do professor. Quando o aluno consegue
crescer” e desenhar. se comunicar dentro dos padrões da escrita, fica
• Escolher uma figura, recortar e colar em uma fácil para o professor fazer uma avaliação, mas
folha. Em seguida, escrever sobre ela. quando só o aluno “sabe” o que escreveu ou o
• Fazer uma montagem e escrever sobre ela. que “pensa” que escreveu, o professor precisa
• Escrever sobre uma figura: o professor recorta procurar entender o texto, pedindo que o aluno
uma parte de uma figura de objeto, animal, faça a leitura, apontando para a escrita.
alimento ou brinquedo e cola em folha de
linguagem. O aluno deve identificar a figura De acordo com a relação que o aluno fizer entre a
(distinção parte/todo) e escrever sobre a parte ou leitura e a escrita na hora do relato, o professor
sobre o todo. conseguirá avaliar, primeiro, a hipótese em que o
• Escrever sobre um assunto de Ciências e Saúde aluno se encontra em relação à aprendizagem e,
e montar um livrinho. O professor promove e depois, a produção quanto à criatividade, à
coordena uma discussão sobre o tema. Em seqüência lógica dos fatos, à coerência, à
seguida, as crianças fazem um texto coletivo e o conclusão da história e aos conceitos referentes à
transcrevem para o livro, onde fazem as ortografia. É neste momento, também, que o

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professor sentirá se o aluno está bloqueado, ou escrita é a representação da fala e, do mesmo


não, para escrever. modo que não separamos todas as palavras
quando falamos, ela procura representar a
A correção da produção não deve inibir a criação, segmentação tal qual ela acontece na fala,
mas deve, sim, ser feita de maneira gradativa para transferindo isso para a escrita. Com o tempo, a
que o aluno tenha tempo de elaborar novas própria criança sente que precisa escrever de
hipóteses para os eventuais “erros” e continue maneira que todos entendam (de acordo com a
escrevendo. Por isso, a correção deve ser norma culta-padrão) e, neste momento, ela
coerente com a etapa do processo em que o aluno intensifica a compreensão de que a escrita tem
se encontra e o professor deve procurar respeitar um valor social muito importante: a comunicação.
essa etapa, adequando sua correção.
A partir do momento em que o aluno se torna
Não faz sentido, por exemplo, fixar-se em erros alfabético, é oportuno fazer um trabalho
ortográficos se os alunos ainda estão passando ortográfico e sintático. Sabemos muito bem que as
pela hipótese silábica. regras de ortografia são muitas e não é fácil para
a criança assimilá-las: até mesmo nós, adultos
Quando o aluno não consegue estabelecer uma ortográficos, sentimos a necessidade de recorrer
seqüência lógica na escrita, quando não expressa aos dicionários em várias ocasiões. Sabemos
suas idéias com coerência e clareza, é preciso também que as palavras com as quais a criança
que o professor trabalhe no sentido de tem maior aproximação, ou mais familiaridade,
desenvolver tais capacidades. A expressão das são assimiladas com mais facilidade.
idéias é muito importante para o desenvolvimento
integral da criança e deve anteceder à Sugestões para efetuar a correção
preocupação com a escrita correta das palavras.
Para trabalhar a macroestrutura, o professor pode
No que se refere aos elementos a ser corrigidos, desenvolver atividades que envolvam sequência e
devemse levar em consideração duas questões ordenação de objetos, fatos e números. Esse
distintas: a da macroestrutura e a da trabalho envolve a organização do dia-a-dia, das
microestrutura. A primeira envolve a coerência no atividades e também a organização do raciocínio
sentido do texto e a segunda trata da coesão na lógico.
forma, na estrutura “física”. Portanto, o trabalho No momento da correção sistematizada, o
com a macro deve anteceder aquele com a professor pode trabalhar tanto com o aluno
microestrutura. individualmente, quanto com a classe, isto é, pode
trabalhar cada produção com seu “escritor” ou
Os erros constantes demonstram a “lógica” com trabalhar, com a classe toda, uma produção
que a criança está lidando naquele momento e escolhida pelas crianças.
são indicadores do campo de ação do professor.
Enquanto ela não superar ou adequar sua Corrigir um texto sozinho é tarefa muito difícil para
hipótese, não adianta insistir na correção o aluno, e até ele chegar a melhorar
repetitiva, que acabará criando dúvidas (uma vez conscientemente um texto, deve ser feito um
que ela não compreende, ainda, a explicação), e trabalho oral. Para chegar à autocorreção, o
conseqüentemente uma atitude retraída diante do professor precisa trabalhar primeiro com a classe,
texto. depois com grupos menores e, finalmente, com
cada aluno individualmente, para que, relendo seu
Cada hipótese dos níveis de aprendizagem texto, a criança possa fazer uma autocrítica
apresenta uma pequena série de errospadrão que consciente de seu trabalho, ter conhecimento da
são resolvidos quando a criança se coloca novas expectativa do professor e conseguir a
possibilidades. Por exemplo: muitas palavras autocorreção.
sofrem, além da influência regional, “vícios” da fala
que a criança procura transcrever com exatidão, Para corrigir erros ortográficos numa produção o
como falá (falar), bolu (bolo), pexi (peixe), papéu professor pode optar por circular palavras erradas
(papel), etc., e tais “erros” só serão sanados e listá-las corretamente no final; fazer uma marca
quando a criança puder diferenciar a língua escrita na margem da linha em que houver erro para que
da oral. o aluno o descubra; listar na lousa as palavras que
aparecem erradas muitas vezes e pedir que os
Outro exemplo: quando a criança, ao escrever, alunos as registrem em ordem alfabética;
emenda palavras ou separa letras de uma mesma incentivar e facilitar o uso do dicionário; e, sempre,
palavra, ela demonstra ter compreendido que a requerer que o aluno leia o texto e faça a
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correção. Além disso, pode reunir os alunos em por exemplo) e não-regrados (palavras escritas
pequenos grupos e levá-los a descobrir qual seria com S, Z, CH, X). Os regrados podem ser
a maneira certa de escrever as palavras erradas, reconstruídos pelo aluno, porque fazem parte de
anteriormente sublinhadas. A sistematização das um conhecimento lógicomatemático; já os não-
regras deve ser desenvolvida com base no texto regrados se referem a um conhecimento social-
produzido, e não o contrário, isto é, pedir arbitrário formando a imagem mental da palavra,
produção de texto baseada em regras pré- ou seja, constituindo o repertório das palavras
concebidas. mais utilizadas e tendo consciência de como são
escritas, independentemente da maneira como
Outra técnica de correção que pode ser usada são faladas. Compreendendo a questão da
com alunos alfabéticos é a reescrita. O professor imagem mental, é possível entender por que a
pode trabalhar a correção de um texto na lousa, maioria das crianças passa anos fazendo cópias e
em cartolina, em papel manilha, ou mesmo numa ditados e ainda assim escreve “errado”.
folha de linguagem, se a correção for individual; se
for coletiva, o texto deve ser fixado na metade da Autocorreção é um procedimento de
lousa. transformação da “imagem mental” que as
crianças têm das palavras no que se refere à
O “escritor” do texto interage com seus colegas e ortografia. Consiste na comparação da palavra
com o professor, trocando experiências e escrita incorretamente pelo aluno com a forma
ponderando hipóteses até chegar a conclusões ortograficamente correta, na observação dos
mais “corretas”, sem que, com isso, precise mudar contrastes e na correção do que estiver diferente.
a ideia original. As dificuldades variam de criança
para criança e é com base nessas diferenças que Uma forma de preparar a autocorreção é sublinhar
a interação acontece: a dúvida de um aluno pode e/ ou numerar as palavras que necessitam de
ser a certeza de outro. Normalmente, a classe correção e escrevê-las no final da página. Em
estabelece com este aluno, o autor, uma relação seguida, devolver o texto à criança para que ela
positiva e enriquecedora: a socialização do saber. faça a comparação, o contraste e a correção. Em
turmas mais adiantadas, podemse assinalar as
O professor deve ser o desafiante e o mediador palavras e pedir que o aluno procure no dicionário.
quando as discussões se perdem ou quando o
assunto foge do conceito das crianças, Junto com os alunos, o professor estabelece um
equilibrando a participação e orientando as código para ser usado durante a leitura avaliatória.
correções já discutidas. Aos poucos, na outra Assim, em vez de “corrigir” o texto, o professor
metade da lousa, o texto vai sendo reescrito pelo apenas indica, com esse código, os locais em que
professor ou por um aluno. o aluno fará a autocorreção. Vejamos alguns
exemplos de códigos que podem ser adotados:
O objetivo da reescrita é fazer o aluno perceber
que conseguiu se comunicar; que, se necessário,
seu texto pode ser escrito de outra maneira a fim
de que outras pessoas o entendam melhor; e que
pode ter um modelo corrigido de sua criação, sem
a necessidade de ver seu original rabiscado. A
constância desse trabalho ajuda a despertar
autocrítica da criança na hora de escrever.

Enfim, é muito importante que a criança não se


iniba ao escrever, transcreva suas ideias, ponha
em conflito suas hipóteses, sintase respeitada na
maneira como se comunica e seja corrigida
quando necessário. Ela precisa chegar a escrever É interessante que, numa escola, todos os
ortograficamente de maneira satisfatória, mas não professores adotem o mesmo código em todas as
será nos primeiros anos de escolaridade que ela séries, a fim de facilitar o trabalho nos anos
atingirá este nível. Precisamos dar-lhe tempo e posteriores.
proporcionar condições para que o A aprendizagem da leitura
aperfeiçoamento ocorra.
Ler não deve se resumir a decifrar caracteres,
A ortografia é uma parte da gramática que distinguir símbolos e sinais, unir letras e emitir
apresenta aspectos regrados (M antes de P e B, sons correspondentes: isso é muito mais um
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trabalho de discriminação visual e auditiva que possa questionar e opinar sobre o conteúdo
antecede a leitura propriamente dita. Ler, além de implícito e explícito do texto.
decifrar, é interpretar a mensagem, atribuir a ela
uma vivência pessoal e interiorizá-la. A interpretação não deve se resumir a,
simplesmente, completar frases transcritas
A leitura faz parte da rotina diária da criança e ela diretamente do texto ou a responder perguntas
não espera receber instruções de outra pessoa que, visivelmente, possibilitam (ou direcionam
para iniciá-la. para) uma única resposta, mas deve, sim, estar
baseada no que o texto transmite ao aluno
Placas, letreiros, programas de TV, embalagens, enquanto indivíduo, para que, depois, ele possa
marcas, títulos e todos os objetos constantes no externar suas opiniões. Ao fazer a leitura, o
seu dia-a-dia transmitem uma significação própria professor precisa respeitar as interferências do
e se tornam tão familiares que sua leitura é aluno e garantir que, de alguma forma, ele
espontânea, podendo ocorrer muito antes da “participe” do texto que está sendo lido.
decifração dos códigos.
Leituras de letras de música, receitas de culinária,
Por exemplo, a maioria das crianças lê a palavra contos de fada, regras de jogos, histórias
CocaCola, decifrando, ou não, sua escrita. vivenciadas pela classe, manchetes de jornal,
embalagens e avisos são elementos que oferecem
No entanto, na escola, algumas crianças ficam uma base interessante para se fazer, além da
bloqueadas para a leitura, principalmente quando interpretação, as atividades de gramática, ou
são apresentados textos pouco significativos para mesmo quaisquer outros trabalhos ligados às
elas. A sala de aula deve dar continuidade à diferentes áreas de estudo.
leitura prazerosa, aquela que estimula a criança,
que aguça sua curiosidade, sensibilizando-a de Discute-se o uso de textos literários, como se
alguma maneira. As crianças demonstram ser fossem didáticos, em atividades ligadas ao
leitores atentos, curiosos e observadores, desde exercício da língua. No entanto, após trabalhar a
que o material a ser lido seja interessante e leitura de várias maneiras, não vimos nem
desafie sua inteligência. percebemos qualquer impedimento na utilização
de qualquer texto, desde que seja agradável ao
Bilhetes e comunicados dirigidos aos pais devem aluno, em diferentes situações. Ao contrário, os
ser lidos junto com as crianças, sempre que resultados foram surpreendentes bons, visto que,
possível. Material escrito, como livros de histórias, quando o texto não é do interesse do aluno, todo o
revistas, jornais, folhetos, gibis, artigos, livros trabalho fica prejudicado, tanto em nível teórico
didáticos de diferentes anos escolares precisam quanto prático.
estar presentes na classe, não importando se a
criança está “pronta” para lê-los. Sugestões para leitura

Intuitivamente, ela escolhe o material escrito de • Leituras individual ou coletiva.


acordo com suas necessidades e opta por livros • Leituras silenciosa ou em voz alta.
com maior ou menor número de desenhos, • Ler o que está fixado nas paredes: ler e
páginas e letras. interpretar o material que faz parte do ambiente
alfabetizador.
Muitas vezes, a criança escolhe um livro e troca-o • Ler textos que a criança tem na memória
logo em seguida sem ter feito um bom uso dele (pseudoleitura).
porque, certamente, aquele material ainda não • Ler palavras ou frases que formam o Banco de
parecia ser suficientemente interessante ou não Palavras.
era adequado ao seu “estágio” de leitor. Ainda • Ler textos produzidos pelos próprios alunos e
assim, o aluno precisa ter liberdade de escolher e fazer a interpretação oral ou escrita.
de usar diferentes modelos de escrita e isso deve • Recortar de jornais e revistas somente as
ser feito de modo que ele não sinta, desde o palavras ou frases
início, que a finalidade da leitura é a aquisição de que saiba ler e fazer a leitura para o professor.
habilidades de decodificação. • Ler um texto e reduzir (resumir) as informações.
• Ler frases fora de ordem e organizálas, tornando
O professor precisa incentivar o gosto pela leitura o texto coerente.
porque ela é a base da escrita, procurando • Com o professor, fazer a leitura dialogada: o
desenvolver, no aluno, a leitura crítica, para que professor lê um texto e incentiva o diálogo,

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lançando perguntas e desafiando os alunos a representar mais de um som de acordo com o


sugerir uma continuidade para a história. contexto e o mesmo som pode ser representado
• Antecipar uma história com base no título e/ ou por mais de uma letra. Não é uma questão de
na capa do livro. adivinhação da criança, é conhecimento
sistemático, que tem que ser passado por uma
A escolha dos textos pessoa que conheça o código alfabético.

Que textos escolher para as crianças? Quando é que elas vão começar a ler realmente?
No momento de começar o ensino sistemático da As crianças estarão lendo quando forem capazes
leitura, o tema e os significados do texto escolhido de perceber como as letras funcionam para
são decisivos. representar os sons da língua e ao mesmo tempo
possam entender o que diz o texto. Para isso,
Para crianças de 6 anos, que estão iniciando o pode-se sistematizar o ensino da leitura e da
processo de alfabetização, cheias de curiosidade escrita, começando pelo texto natural, significativo
e disposição para aprender, há muitas escolhas: (e não por um texto acartilhado) e caminhar
histórias, poemas, travalínguas, canções de roda. gradativamente na direção do conhecimento de
palavras, sílabas, letras e regras ortográficas.
Em se tratando de crianças grandes, repetentes,
que já passaram por vários métodos e cartilhas, Sugestões didáticas para melhorar a competência
deve-se conversar sobre a vida deles, o que textual e a expressão oral
fazem fora da escola, se trabalham, do que
gostam, etc. Nesse caso, talvez uma notícia sobre Paráfrase: pedir ao aluno que diga a mesma coisa
futebol, uma letra de rap ou de uma canção, uma lida de um outro jeito, que conte uma história,
piada, um anúncio ou um bilhete sejam mais narrada pela professora, com suas próprias
atraentes. Trata-se de dar a essas crianças a palavras. Resumo: propor resumos orais de uma
certeza de que estão avançando, aprendendo história, um capítulo de novela ou uma notícia.
coisas novas, até porque a maioria já passou por Ensinar que no resumo destacamos aquilo que
muitas experiências frustrantes e já conhece os consideramos mais importante, o que realmente
nomes das letras, além de algumas palavras não pode faltar.
simples ou sílabas. Deve ser aflitivo para essas
crianças ter sempre a sensação de começar do Produção de um texto a partir de um título dado:
zero, portanto é bom escolher um texto diferente, títulos de histórias conhecidas como histórias de
usado na vida social, que seja uma novidade para fadas, lendas, fábulas, etc. podem ser usados
elas. para iniciar a atividade.

Deve-se trabalhar com os textos das próprias Classificação dos diversos tipos de textos: cada
crianças? vez que apresentar um texto, explicar de que tipo
Seja qual for o tipo de turma, textos orais de texto se trata: uma narrativa, uma poesia, um
produzidos pelas crianças e escritos pelo texto didático, uma notícia jornalística, um
professor também podem servir de ponto de anúncio, uma receita.
partida para o trabalho de alfabetização.
Brincadeiras com palavras: pedir a dois alunos
Como começar a estudar o texto? que digam cada qual uma palavra e a partir daí
Escreva o texto na lousa, numa cartolina grande deixar a turma criar uma história.
ou em papel manilha. Faça uma leitura normal,
fluente e converse com a turma sobre o texto. Em Reprodução de histórias: No exemplo abaixo, há
seguida, faça a leitura didática, apontando as muitas repetições e modos de dizer típicos da
palavras com o dedo ou com a régua, mostrando língua oral. Histórias assim podem ser
os espaços em branco entre as palavras. Mostre retrabalhadas para ficar de acordo com as
aos alunos que quando falamos as palavras convenções da escrita.
parecem emendadas umas nas outras. Assim, a
separação entre as palavras, os espaços A bruxa tava fazendo comida. Ela botou o dedo no
existentes entre elas no papel são uma das fogão, ela queimou. Aí foi passear na água, viu o
características da língua escrita. jacaré. O jacaré comeu ela, aí ele levou pro mar,
aí, ela caiu lá dentro e foi embora. (Teixeira apud
Como fazer para mostrar os sons das letras? Carvalho, 2005: 56)
Aprender a ler envolve aprender que as letras
representam sons, que a mesma letra pode Avaliação na Alfabetização
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• Vamos avaliar o indivíduo separadamente ou um


Na medida em que for possível, o professor deve aluno em relação à classe? Devo considerá-lo
observar o trabalho diário de seus alunos, independentemente ou devo compará-lo com o
circulando pela classe, conversando e discutindo a grupo ou com os alunos de outra classe?
respeito das atividades.
Avaliar não pressupõe erros, falhas, defeitos, mas
A observação atenta indica ao professor fatores sim envolve determinar o valor da ação educadora
importantíssimos, como: adequação do assunto, e o desenvolvimento individual de cada um.
tempo de execução, interesse individual e da Avaliar significa descobrir o aluno em relação a ele
classe, conclusão das atividades. Assim, a mesmo.
observação por parte do professor serve para
avaliar não só o seu trabalho, mas também o de A coerência da avaliação no que se refere ao
seus alunos; é um indicador para a continuidade, modo de sentir e de ser da criança fortalece a
ou não, de sua prática pedagógica. relação professor-aluno: o professor colabora com
o desenvolvimento do aluno e se sente feliz com o
De maneira geral, avaliar a qualidade dos progresso do trabalho dele; o aluno aceita com
trabalhos executados é mais coerente do que satisfação as intervenções do professor e se sente
atribuir valores numéricos a eles, visto que, muitas produtivo e confiante. Invariavelmente, o processo
vezes, esse procedimento não é suficiente para de avaliação está relacionado com a maneira
representar a realidade dos alunos no que se como o professor vê o mundo e com o modelo
refere à apreensão de conceitos e conteúdos. didático que utiliza. Em geral, quando se fala em
Infelizmente, nosso ano escolar é interrompido por avaliação, pensa-se imediatamente no processo
férias no mês de dezembro, o que pressupõe que de avaliação tradicional, em que a escola assume
uma etapa de aprendizagem foi cumprida, e nem o papel autoritário, fechado, cíclico, e o professor
sempre isso é real. No decorrer do ano, temos que manda, ensina e julga.
avaliar o aluno quantitativa, numérica e
estatisticamente. Quando se pensa no processo de avaliação, é
impossível deixar de refletir sobre o erro. O erro
O processo de avaliação é muito delicado, porque torna as pessoas vulneráveis e é uma questão
dele depende, inclusive, a postura do aluno: desconfortante, que cria culpas e pecados.
aceitação ou revolta. É importante que o aluno
tenha conhecimento dos tipos e dos modos de Para compensar a culpa, normalmente há uma
avaliação (contínua e diversificada) do professor e complacência em relação a ele, ao mesmo tempo
saiba por que lhe foram atribuídos determinados que há uma preocupação em não cometê-lo.
conceitos ou determinada média. O erro opõe-se ao acerto, que é considerado
verdadeiro e bom. Do ponto de vista piagetiano,
Antes de efetuar a avaliação, precisamos nos os conceitos são construídos num processo de
colocar algumas perguntas e prédeterminar as autoregulação.
respostas para que os alunos não se sintam
prejudicados: Regulação é o conjunto de aspectos do processo
segundo os quais precisamos corrigir as coisas.
• O que queremos avaliar? Memória, atenção, Há um objetivo a ser alcançado e algumas ações
raciocínio, interpretação, leitura, sistematização, levam a esse objetivo; outras ações, aquelas que
criatividade, assimilação do conteúdo. não levam ao objetivo, devem ser repensadas e
• Como queremos avaliar? Objetiva ou corrigidas. Assim, a preocupação maior não deve
subjetivamente, de modo parcial ou imparcial, ser o erro; o que importa é a ação e o feedback
quantitativa ou qualitativamente, visando aos que o erro desencadeia no processo.
conteúdos ou às fases de desenvolvimento.
• Por que avaliar? Para determinar nossa prática A criança que erra está convivendo com uma
ou para saber os resultados dessa prática com hipótese de trabalho não-adequada.
relação aos nossos alunos, para completar
tarjetas e boletins, para colaborar com a Nem por isso deixa de estar num momento
estatística da Educação, para detectar nossas evolutivo no processo de aquisição de
dificuldades e/ ou as de nossos alunos, para conhecimento.
buscar uma nova orientação nas mudanças
teóricas e práticas, para confirmar a eficiência da Ao educador cabe diagnosticar o erro e, por meio
nossa prática de ensino. dele, observar com transparência o
desenvolvimento de seu aluno. A partir dessa
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observação ele pode criar conflitos para creches e pré-escolas são conseqüências diretas
desestabilizar as certezas e hipóteses da organização popular, seja no movimento das
nãoadequadas que a criança tem sobre mulheres, seja nas associações de moradores ou,
determinado assunto, e assim permitir seu ainda, na organização dos trabalhadores em
desenvolvimento cognitivo. sindicatos. (SILVA, 1999, p. 50).
A Constituição Federal determina que a criança
Em outras palavras: deve ser vista como sujeito de direitos e, assim,
ela passa a ser reconhecida como cidadã em
• O processo de avaliação está relacionado à desenvolvimento, requerendo, então, uma atenção
maneira como individualizada. Segundo esse preceito
professor e aluno vêem o mundo, com o modelo constitucional, lhe é assegurado, o acesso a uma
didático que utilizam. Assim, temos: avaliação Educação Infantil de qualidade que contribua para
diagnóstica, formativa e somativa. seu desenvolvimento efetivo. As creches e pré-
• Além de diagnosticar o erro, cabe ao professor escolas passam a ser mencionadas, no referido
ajudar o aluno a reformular suas hipóteses documento normativo, no capítulo referente à
linguísticas. educação.
• O aluno constrói o conhecimento num contínuo
processo de autorregulação. Segundo Silva (2001), a constatação, nesse
período, do elevado índice de profissionais da
Políticas Públicas e o Atendimento às crianças de educação leigos, provoca um debate em torno da
0 a 6 anos qualidade do atendimento oferecido em creches e
pré-escolas e, também, da necessidade de uma
Analisando as últimas décadas, pode-se enfatizar melhor formação dos profissionais da educação
que, desde para as crianças de 0 a 6 anos de idade.
1988, constata-se quatro marcos importantes para
a valorização da criança e de sua educação, no A questão do profissional da Educação Infantil
Brasil: a Constituição de 88; o Estatuto da Criança adquire, então, centralidade, tanto do ponto de
e do Adolescente (ECA); a Lei Orgânica de vista da qualidade do trabalho desenvolvido com a
Assistência Social (LOAS), de 1993; e a Lei de criança, quanto do reconhecimento de que a
Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96 Educação Infantil, especialmente a creche, faz
(LDBEN). parte da educação. (SILVA, 2001, p.11).

No entanto, não desprezando a importância dos Com a conscientização do direito à educação e o


demais marcos referidos, serão analisados, neste reconhecimento de que a criança de 0 até 6 anos
capítulo, a Constituição de 88 e a LDBEN, por necessita de uma formação integral, em seus
estarem mais relacionados com o objeto deste aspectos físico, psicológico, intelectual e social,
módulo, que versa sobre a a prática do professor, que extrapola os limites da educação familiar,
no campo da Educação Infantil. abre-se caminho para toda uma nova perspectiva
educacional. Dessa forma, constata-se uma
Pela Constituição de 88, a criança passa a ter relativa valorização dos profissionais que exercem
direito à educação pública, que deve ser a função de educar e cuidar, nas instituições de
assegurada, desde o seu nascimento e deve ser Educação Infantil.
diferenciada da educação familiar e social. O que
antes era considerado como favor do Estado e A partir de então, vem se observando de um modo
direito da família, toma outro sentido, pois a geral, um reconhecimento da importância da
criança, agora, passa a ter garantias fundamentais educação de crianças de 0 a 6 anos. Neste
para o seu desenvolvimento integral, enquanto sentido, cresce a conscientização de que as
cidadão, em processo de formação. questões culturais, sociais e familiares, também,
são de grande importância no desenvolvimento do
As transformações ocorridas no âmbito da indivíduo.
Educação Infantil vêm se configurando ao lado
das lutas realizadas pelos movimentos sociais e, Apesar do compromisso com um “resultado
também pelo “[...] rico processo escolar” que a escola prioriza e que, em geral,
políticopedagógico que envolveu variados setores resulta numa padronização, estão em jogo na
sociais”. (OLIVEIRA, 2002, p.35). Educação Infantil as garantias dos direitos das
crianças ao bemestar, à expressão, ao
A conquista do direito constitucional à educação movimento, à segurança, à brincadeira, à
das crianças pequenas e a ampliação da rede de
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natureza, e também ao conhecimento produzido e Assim, nas duas gestões de FHC, a Educação
a produzir (ROCHA, 2001, p. 32). Infantil é preterida, a favor da universalização do
Ensino Fundamental. Vale registrar, que no
Essa nova maneira de valorizar a educação da referido Governo, é dado grande incentivo às
criança significa um grande avanço que se traduz, propostas para a expansão da Educação Infantil,
no reconhecimento das lutas sociais que através de modelos não formais de ensino.
reivindicavam o direito à educação, para as
crianças pequenas. Assim, a educação que dera uma arrancada em
88, começa a sofrer retrocessos, devido à crise
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional vigente. Campos (2002) explica que os
de 1996 promove um grande avanço no campo retrocessos se devem à falta de uma legislação
em apreço, pois o ensino infantil passa a ser que completasse e regulamentasse os setores
reconhecido como a primeira etapa da Educação educacionais e, sendo, também, decorrentes:
Básica
[...] da falta de implementação do que se encontra
Contudo, apesar disso, percebe-se que essa definido em lei, tudo isso tendo como pano de
educação, ainda, é pouco reconhecida e fundo um discurso que denuncia a Constituição de
valorizada pelos gestores das políticas públicas. 88 como entrave ao desenvolvimento e que prega
Segundo informações contidas no Atlas do a desresponsabilização do Estado em relação a
Desenvolvimento Humano no Brasil, em 2000, uma gama de esferas de ação pública (CAMPOS,
referidas por Rodrigues (2003), a Educação 2002, p.28).
Infantil é o setor mais vulnerável da educação
brasileira. O processo de descentralização das
responsabilidades do Estado e, muitas vezes, a
No atual contexto, como já foi mencionado, os sua omissão, serviram para transferir as
documentos normativos enfatizam que a criança responsabilidades governamentais para as ONGS
deve ser reconhecida como sujeito social de (Organizações não Governamentais) e para
direitos e que creches e pré-escolas devem ser instituições de caráter privado.
garantidas a todos, contudo, nem sempre esse
preceito legal, vem sendo cumprido. Por outro lado, o que era de responsabilidade do
poder público federal e/ou estatal passou a ser
Segundo Campos (2002), no Brasil, há uma dos municípios que na maioria das vezes, não
distância entre a legislação e a realidade na qual possuem condições adequadas para arcar com o
estamos inseridos. Assim pode- se constatar custeio da Educação Infantil e do Ensino
pontos de contraste entre o que está no papel e o Fundamental, conforme lhes tem sido atribuído.
que se observa no real, isto é, entre o proclamado
e o realizado. A Constituição já referida deixa isso claro no art.
208. Inciso IV, “o dever do estado com a educação
Outra característica de nossos instrumentos legais será efetivado mediante a garantia de: IV -
e de nossa prática de planejamento é a opção por atendimento em creches e pré-escolas às crianças
diretrizes amplas e a ausência de previsão de de zero a seis anos de idade”.
mecanismos operacionais efetivos que garantam a
aplicação daqueles princípios na realidade, na No entanto, a Constituição, ao regulamentar a
direção implícita nos objetivos gerais. (CAMPOS, emenda constitucional nº 14, no art. 211, § 2º,
2002, p.28). assegura que essa responsabilidade passa a ser
dos municípios. “Os municípios atuarão
Na década de 90, o país passa por problemas prioritariamente no Ensino Fundamental e na
políticos e econômicos, o que acarretou contenção Educação Infantil”.
de despesas, sobretudo, no campo educacional.
A Constituição de 1988, no artigo acima citado, é
Nesse período, as políticas educacionais no País enfática garantindo a igualdade desses dois níveis
passam a ser influenciadas pelo Banco Mundial de ensino. Entretanto, na Lei 9394/96, no seu
(BM). A partir de então, constata-se tanto a artigo 11, Inciso V, há uma contradição no que se
carência de investimentos na Educação Infantil, refere ao atendimento igualitário à Educação
quanto a mudança do discurso que deixa de Infantil, quando se explicita “[...] e, com prioridade,
enfatizar a educação e o cuidado para priorizar os o Ensino Fundamental”. Dessa forma, os
índices de desenvolvimento infantil. municípios incumbir-se-ão de:

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[...] oferecer a Educação Infantil em creches e pré- os 6 anos de idade, em creches e pré-escolas,
escolas, e, com prioridade, o Ensino Fundamental, enfatizando que esse é direito das próprias
permitida a atuação em outros níveis de ensino crianças. Desta forma, esse preceito normativo
somente quando estiverem atendidas plenamente tem sido pouco atendido.
as necessidades de sua área de competência e
com recursos acima dos percentuais vinculados Considera-se que as reflexões, debates e
pela Constituição Federal a manutenção e conquistas que afetaram, positivamente, o ethos
desenvolvimento do ensino. (LDBEN, art.11, da Educação Infantil precisa ser considerado
Inciso V, p. 9). pelos gestores das políticas públicas, para que
sejam minimizadas as diferenças de tratamento
Portanto, quando se analisa o art. 212, da existentes entre esse nível de ensino e o Ensino
Constituição, no seu § 3º, compreende-se, melhor, Fundamental.
a prioridade dada ao Ensino Fundamental, na
distribuição de recursos financeiros, pelo fato de É importante ressaltar, que não se está discutindo
ele ser obrigatório, pois se constitui como um a importância, ou não, da faixa etária dos 7 aos 14
direito público subjetivo. Assim, percebe-se, mais anos, ou em outras palavras, a etapa
uma vez, uma secundarização da Educação correspondente à obrigatoriedade e gratuidade de
Infantil, pois segundo a LDB, em vigor, a ensino. Até porque, tem-se consciência dos
educação nesse nível de ensino é um direito e não problemas enfrentados por essa etapa do ensino,
uma obrigação nem do Estado, nem do indivíduo. principalmente, em relação à criação de políticas
efetivas, que garantam um ensino público de
Segundo Vieira (2003), “[...] cabe ao Estado, qualidade, pois os índices de evasão e repetência,
sobretudo, ao poder público municipal, oferecer às ainda, são muito representativos. Trata-se de
crianças pequenas oportunidades de acesso às defender a importância da Educação Infantil,
instituições infantis educativas, compartilhando inclusive, para a melhoria do Ensino Fundamental.
com a família a sua educação e socialização”.
Observa-se, que atualmente, os gestores das
Nas Disposições Transitórias da LDB, de 1996, no políticas públicas, pelo menos no plano do
seu art. 87, foi instituída a “década da educação”, discurso, têm se preocupado mais com as
a contar a partir da sua publicação. propostas e direcionamentos para a Educação
Infantil.
Segundo o parágrafo 3º, deste documento, cada
município e, supletivamente, o Estado e a União, Assim, foram elaborados, no período de 1997-98,
deverão: “I - matricular todos os educandos a os Referenciais Curriculares Nacionais para a
partir de sete anos de idade e, facultativamente, a Educação Infantil (RCNEI), que viabilizou, um
partir dos seis anos, no Ensino Fundamental”. certo direcionamento, para esse ensino. Todavia,
grande parte das escolas tem usado o documento
Entretanto, no art. 30, da Seção II que versa sobre como método, com muita ortodoxia, não levando
a Educação Infantil é explicitado que esse nível de em consideração a cultura organizacional da
ensino “será oferecido em [...]”, dando ênfase, instituição.
mais uma vez, ao descaso para com a educação
das crianças pequenas. O documento citado foi concebido para se tornar
uma referência para as escolas, objetivando
O problema está ligado à construção formal redirecionar o trabalho pedagógico, para obtenção
lingüística, isto é: a Educação Infantil continua de uma maior qualidade. Nesse sentido, buscou
sendo um direito, como uma oferta, mas atender à orientar o professor no seu trabalho de planejar,
demanda é prerrogativa do Ensino Fundamental. criarem dinâmicas e processos educativos,
Sendo assim, a criação de creches, uma compatíveis com o desenvolvimento da criança,
reivindicação antiga do Movimento Pró-creches, seguindo as intenções educativas pré-
defendida principalmente pelas mulheres, continua estabelecidas.
não sendo, totalmente, contemplada, pois não se
tem conseguido atender à grande demanda e às Segundo essas Diretrizes e, em consonância com
necessidades efetivas das famílias. a LDBEN, a Educação Infantil, se constitui como
1ª etapa da educação básica, passa a ser
De acordo com o artigo 7º da Constituição organizada, da seguinte forma: “I- creches, ou
Federal, inciso XXV, é direitos do entidades equivalentes, para crianças de até três
trabalhadores/trabalhadoras: a assistência gratuita anos de idades; II- pré-escolas, para as crianças
aos filhos e dependentes, desde o nascimento até
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de quatro a seis anos de idade” ( LDBEN, art.30, freqüentar unidades separadas, em horários nem
1996, p.17). sempre compatíveis. (CAMPOS, 2002, p.29).

Os mencionados referenciais apontam para a Portanto, é importante não generalizar, pois


superação do enfoque assistencialista, na medida muitas escolas já estão preocupadas em unificar
em que conferem uma maior importância ao esse atendimento, centralizando-o nos
caráter pedagógico, da Educação Infantil. É denominados Centros de Educação Infantil, que
importante salientar que os RCNEI têm suscitado visam oferecer uma educação que relacione
muitos questionamentos, pois não contempla a educação com cuidado.
realidade e as necessidades da maioria das
escolas brasileiras, existe uma polêmica no âmbito Campos (2002), afirma que já existem casos de
desses referenciais, pois o documento: não prefeituras, que estão oferecendo atendimento às
contempla a formação dos profissionais para esse crianças de 0 a 6 anos, nesse formato. A
nível de ensino; desconsidera as diversas práticas assistência adequada e integrada para as crianças
e experiências acumuladas pelos docentes da de até quatro anos deixa muito a desejar, tanto em
Educação Infantil. nível quantitativo, quanto em qualitativo; isso,
talvez possa ser explicado pela já relatada história
A divisão por idades, proposta pelos referenciais, das creches, no Brasil.
embora possa parecer arbitrária, vista sob a ótica
da teoria do desenvolvimento humano, objetiva A ESCOLARIZAÇÃO DE CRIANÇAS DE 6 ANOS
atender aos aspectos sociais, emocionais,
cognitivos, que possuem similaridades dentro de Na contemporaneidade, várias mudanças vêm
cada faixa etária da criança. ocorrendo no nível da Educação Infantil,
principalmente, no que tange à organização dos
Contudo, persiste ainda, certa confusão quanto às estabelecimentos estaduais e municipais que se
nomenclaturas referentes à divisão e à estruturavam pelo sistema da seriação.
classificação das idades, no nível de ensino em Atualmente, tem se dado a prioridade aos ciclos
apreço. que agrupam os alunos por faixas etárias e, no
ciclo inicial, em algumas redes, crianças de 6 anos
Geralmente, a creche é destinada às crianças de passaram a ser incorporadas.
0 a 3 anos e, a pré-escola, destina-se à faixa A ampliação do Ensino Fundamental para nove
etária entre 4 e 6 anos, mas essa divisão anos, não é explicitada na Constituição Federal de
organizativa pode variar conforme regiões, 88 e, nem, na LDBEN. O artigo 32 desta Lei
escolas, etc. Essa indeterminação advém, explicita que o Ensino Fundamental, com duração
também, das diferentes concepções priorizadas mínima de 8 anos, é obrigatório e gratuito na
tanto por entidades assistencialistas e escola pública. No entanto, o artigo 87, no seu
educacionais, quanto por instituições públicas e Inciso I - § 3º, explica que “cada Município e,
privadas. Atualmente, se observa certa supletivamente, o Estado e a União, deverá
preocupação, no sentido de se buscar uma matricular todos os educandos, a partir de sete
homogeneização entre as diferentes anos de idade e, facultativamente, a partir dos seis
classificações. anos, no Ensino Fundamental”.

Rosemberg (2002) ressalta que, nem a Como menciona Rosemberg (2001), entre os anos
Constituição de 88, nem a LDBEN, conceituam e de 1995 a 1999, o percentual de crianças de 6
diferenciam as creches das pré-escolas, no anos matriculadas no Ensino Fundamental passou
sentido de deixar claro, os pontos em que eles se de 19,7% para 22,3%. Entretanto, essa inclusão
aproximam ou se afastam, a não ser pela idade, vem sendo feita, de forma intempestiva, sem o
como já foi citado. devido planejamento. Apesar de algumas
iniciativas, podese afirmar, que a grande maioria
Na Educação Infantil essa divisão por idades vem dos professores, não foi e nem está sendo
causando problemas, na medida em que, algumas preparada, para assumir este desafio. Entretanto,
crianças, são obrigadas a mudar de instituição, atualmente, já é possível perceber uma maior
principalmente, nas creches, por não pertencerem preocupação com essa preparação.
mais à faixa etária compreendida entre 0 a 3 anos.
Como pontua Campos, essas mudanças Contudo, depoimentos de profissionais da
provocam, muitas vezes, dificuldades adicionais educação denunciam que essa “inclusão” gera
para as famílias, principalmente nos grandes problemas: carência de professores qualificados
centros, pois irmãos de diferentes idades têm de para trabalhar com a Educação Infantil; falta de
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mobiliário e recursos didáticos apropriados à se constitui como o principal alicerce na formação


especificidade dessa faixa etária e, até mesmo, do homem.
falta de espaço, em algumas escolas, para instalar
salas para a Educação Infantil, havendo inclusive, AVALIAÇÃO
casos nos quais é usada uma espécie de ensino
itinerante; ou seja, uma turma fica no pátio, 01 - Letramento é o processo de aprendizado do
enquanto a outra fica na sala, havendo, após de uso da tecnologia da língua escrita.
certo tempo, um rodízio.
a) CERTO
No entanto, pode-se levantar a hipótese, de que ERRADO
essa inclusão seja mais uma “jogada política”,
para desviar a verba do Ensino Fundamental para 02 - Para realizar a sondagem escolhem-se três
a Educação Infantil, já que o FUNDEF (Fundo de palavras (uma trissílaba, uma dissílaba e uma
Manutenção e Desenvolvimento de Ensino monossílaba, nessa ordem) e uma frase de um
Fundamental e de Valorização do Magistério), não campo semântico diferente.
contempla o nível infantil e, este, não conta com
recursos próprios de financiamento. a) CERTO
ERRADO
Como pontua Oliveira (2003a, p.151), “O fato do
Fundef não financiar a Educação Infantil [...] tem 03 - No método fônico ensina-se o aluno a
levado muitos municípios a distorcerem a sua produzir oralmente os sons representados pelas
realidade educacional, rebaixando artificialmente a letras e a uni-los para formar as palavras.
idade do início do Ensino Fundamental”, o que
traz muitos prejuízos para os estudantes sendo a) CERTO
contrária à idade legal, prevista para a primeira ERRADO
etapa da educação básica, que é de 0 a 6 anos.
04 - Consciência fonológica é a capacidade de
É notório que ao incluir crianças de 6 anos, no distinguir e manipular os sons constitutivos da
Ensino Fundamental, fazse necessária a definição língua e consiste na capacidade para focalizar os
do processo de aprendizagem. Essa inclusão, por sons da fala, independentemente do sentido.
outro lado, contraria a LDBEN, de acordo com o
Movimento Interfóruns de Educação Infantil a) CERTO
(2002), pois se trabalha, novamente, na ERRADO
perspectiva da educação “compensatória”, que
tem como meta o combate à reprovação e evasão 05 - Método ideovisual de Decroly consiste em
na 1ª série, sem haver uma real preocupação para iniciar o ensino da leitura a partir de pequenas
com as crianças pequenas. histórias, adaptadas ou especialmente criadas
pelo professor.
Dessa forma, a Educação Infantil, prevista nos
documentos normativos para o atendimento de a) CERTO
crianças de 0 a 6 anos, se reduziria, a apenas um b) ERRADO
ano, no caso das escolas públicas.
06 - As premissas da metodologia de base
Em decorrência, pode-se afirmar que, o poder linguística ou psicolinguística são: respeitar a fase
público, se desobriga, com essa decantada de desenvolvimento cognitivo e afetivo em que a
inclusão, de garantir o ensino, na faixa etária de 0 criança se encontra e tornar o aluno sujeito do
a 5 anos, que como se sabe, é fundamental para o processo, cabendo sempre a ele a iniciativa e a
desenvolvimento das crianças. descoberta.

Segundo Rizzo (1982), João Henrique Pestalozzi a) CERTO


já defendia a ideia de que a criança começasse a b) ERRADO
sua aprendizagem, desde o nascimento e que a
infância não é um mero período de latência e 07 - O método da palavração propõe o ensino das
espera para se tornar adulto. Diante de primeiras letras a partir de palavras-chave,
pensamentos como esse, percebe-se a destacadas de uma frase ou texto mais extenso.
importância de investimentos concretos nessa
fase do desenvolvimento, pois a Educação Infantil a) CERTO
b) ERRADO
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Horizonte, AMEPPE, 1993.


08 - A correção da produção não deve inibir a
criação, mas deve, sim, ser feita de maneira BRASIL. Constituição (1988) Constituição da
gradativa para que o aluno tenha tempo de República
elaborar novas hipóteses para os eventuais “erros” Federativa do Brasil. Brasília: Senado, 1988.
e continue escrevendo. 168p.

a) CERTO __. Lei nº 8069, 13 de julho de 1990 – Dispõe


b) ERRADO sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e
dá outras providências. Diário Oficial da União.
09 - A interpretação deve se resumir a, Brasília, 13 de julho de 1990.
simplesmente, completar frases transcritas
diretamente do texto ou a responder perguntas __MEC/COEDI.Por uma política de formação do
que, visivelmente, possibilitam (ou direcionam profissional de educação infantil. Brasília, 1994.
para) uma única resposta.
__. Lei nº 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996.
a) CERTO Lei de
b) ERRADO Diretrizes e Bases da Educação Nacional. __.
Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília:
10 - Regulação é o conjunto de aspectos do MEC/SEF,
processo segundo os quais precisamos corrigir as 1997. 8 v.
coisas.
__. Ministério da Educação e do Desporto.
a) CERTO Secretaria de educação Fundamental. Referencial
b) ERRADO Curricular Nacional para a Educação Infantil.
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os programas especiais de formação pedagógica com formação de nível médio, na modalidade
de docentes para as disciplinas do currículo do normal, em relação à prerrogativa do exercício da
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