Apostila Os Contratualistas
Apostila Os Contratualistas
Apostila Os Contratualistas
OS CONTRATUALISTAS
O filósofo, no conjunto de suas obras, nos alertaria para a complexa relação homem-
sociedade enfatizando, sobretudo, as inúmeras formas de “corrupção” do homem pela
sociedade. O homem nasce bom, a sociedade é que o corrompe, diz o filósofo. O homem
em seu estado natural é um ser puro, desprovido de quaisquer formas de corrupção.
Contudo, através do seu convívio na sociedade ele adquire novas “necessidades”, e com elas,
surgem novos desejos que objetivam ser realizados. Através do convívio social o homem
torna-se um ser degradado e decompõe suas estruturas. O homem cria novas necessidades,
surgidas através do convívio em sociedade, e assim sendo, deseja satisfazê-las. Desta forma,
passa a agir em função destas necessidades.
Pensador francês do séc. XVII, período do apogeu do Iluminismo, Rousseau foi um
autêntico teórico revolucionário, assim como Voltaire e Montesquieu. Numa Europa ainda
dominada pelo espírito absolutista do Antigo Regime, Rousseau enfrentou sérios problemas
uma vez que em sua obra Do Contrato Social, apontava o povo como origem legítima do
governo, afirmação que causou a condenação de sua obra e de seu autor pelo parlamento de
Paris, além de ter sido decretada sua prisão.
O Contrato Social
Em sua obra Do Contrato Social Rousseau situa duas etapas determinantes do processo
de transição do estado de natureza para o estado civil (surgimento da sociedade): primeiro,
o início da sociedade civil com a instituição da propriedade privada e, segundo, como
simultâneo ao aparecimento das desigualdades sociais.
O primeiro livro do Contrato tem como objetivo discutir qual a origem e o fundamento
legítimo da sociedade política (Estado civil). Rousseau fala da condição natural do homem
em contraste com a sua condição social, resultando destas duas condições duas formas de
liberdade (natural e social) sendo que esta última restringe a liberdade da condição natural
do ser humano: “O homem nasce livre, e por toda a parte encontra-se a ferros” (ROUSSEAU,
1973, p. 22).
O pacto social que fez surgir a Sociedade civil resultou de um processo que deu
origem as desigualdades sociais entre os homens que, por sua vez, surge com a instituição da
propriedade privada: “O verdadeiro fundador da sociedade foi o primeiro homem que, tendo
cercado um terreno, lembrou-se de dizer ‘isto é meu’, encontrou pessoas simples e humildes
o suficiente para acreditá-lo” (ROUSSEAU, 1973). Rousseau exemplifica dessa forma a
instituição da propriedade privada e a hipótese da desigualdade humana para o principal
problema da organização política: divisão do trabalho, agricultura, metalurgia, tudo levando
à descoberta da propriedade e dela à desigualdade e opressão. A propriedade determina o
que é “meu” e o que é “teu” e, como há capacidades diferentes, fatalmente uns terão mais
do que outros e quererão manter sua posse e transformá-la em propriedade.
O pacto social, na realidade, foi um pacto proposto pelos mais poderosos que, ao
invés de restabelecer a igualdade e a liberdade naturais, perpetuaria as relações injustas
então prevalecentes. Este pacto seria o reconhecimento público da desigualdade e a vitória
da propriedade sobre a liberdade.
Rousseau considera justa uma sociedade política se esta garantir a paz social e a
liberdade de seus associados. Isto é possível se a implantação daquela for a expressão da
vontade geral: o que cada homem quer em comum com todos os demais não reclamando
para si mais do que ele pode querer ao mesmo tempo para todos os outros. Ordem política,
ordem social, ordem moral. Tudo sustentado, na sociedade legítima, pela harmônica
coordenação entre o “eu” e o “nós”. E isto só é possível, segundo Rousseau, se a soberania
estiver nas mãos do povo: o contrato social, para ser legítimo, deve ser fundado na
democracia. Eis o que é a democracia, no entendimento de Rousseau: 1) o poder político
deve estar integralmente nas mãos do povo – que é, de fato, o soberano; 2) a quem,
diretamente, cabe a aprovação das leis; 3) um governo que, na execução das leis, se limita a
ser ministro da vontade geral.