Em Embargos No STJ, Lula Pede Absolvição Ou Regime Aberto
Em Embargos No STJ, Lula Pede Absolvição Ou Regime Aberto
Em Embargos No STJ, Lula Pede Absolvição Ou Regime Aberto
RELATOR
DO RECURSO ESPECIAL Nº 1.765.139/PR DO SUPERIOR TRIBUNAL DE
JUSTIÇA.
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
2
–I–
DA COGNOSCIBILIDADE DOS PRESENTES ACLARATÓRIOS
a) Do cabimento e da tempestividade
1
“Os embargos de declaração são recurso com fundamentação vinculada, sendo imprescindível a
demonstração de que a decisão embargada se mostrou ambígua, obscura, contraditória ou omissa,
conforme disciplina o art. 619 do Código de Processo Penal. Podem ser admitidos, ainda, para
correção de eventual erro material e, excepcionalmente, para alteração ou modificação do decisum
embargado.” (EDcl no HC 339.657/SP, Rel. Ministro Reynaldo Soares Da Fonseca, Quinta Turma,
julgado em 16/02/2017, DJe 21/02/2017).
2
Art. 619. Aos acórdãos proferidos pelos Tribunais de Apelação, câmaras ou turmas, poderão ser
opostos embargos de declaração, no prazo de dois dias contados da sua publicação, quando houver na
sentença ambiguidade, obscuridade, contradição ou omissão.
3
b) Da aplicação subsidiária do artigo 489, § 1º, do Código de Processo Civil na
jurisdição penal
3
STRECK, Lenio Luiz. “O que é isto – livre convencimento motivado e livre apreciação da prova”, p.
14-15. In: O fim do livre convencimento motivado. Org: Dierle Nunes, George Salomão Leite, Lenio
Streck., Florianópolis – Tirant to Blanche, 2018.
4
CUNHA, Maurício Ferreira. “O livre convencimento motivado e indissociável direito fundamental à
prova – base para a legitimidade dos provimentos”, p. 243. In: O fim do livre convencimento
motivado. Org: Dierle Nunes, George Salomão Leite, Lenio Streck, Florianópolis – Tirant to Blanche,
2018.
4
II - os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e de direito;
III - o dispositivo, em que o juiz resolverá as questões principais que as partes lhe
submeterem.
§ 1o Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela
interlocutória, sentença ou acórdão, que:
I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar
sua relação com a causa ou a questão decidida;
II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de
sua incidência no caso;
III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em
tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador;
V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus
fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se
ajusta àqueles fundamentos;
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado
pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a
superação do entendimento.
§ 2o No caso de colisão entre normas, o juiz deve justificar o objeto e os critérios
gerais da ponderação efetuada, enunciando as razões que autorizam a interferência na
norma afastada e as premissas fáticas que fundamentam a conclusão.
§ 3o A decisão judicial deve ser interpretada a partir da conjugação de todos os seus
elementos e em conformidade com o princípio da boa-fé (destacou-se).
5
Código de Processo Penal:
Art. 3º A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o
suplemento dos princípios gerais de direito.
5
Nessa esteira, esta Colenda Corte vem reconhecendo reiteradamente
a falta de motivação de decisões proferidas na jurisdição penal, que aplicam em
aplicando regras processuais civis, conforme se extrai dos julgados abaixo (grifos
nossos):
6
4. Habeas corpus concedido, para que o paciente possa responder a ação penal em
liberdade, se por outro motivo não estiver preso, sem prejuízo da possibilidade de
nova decretação da prisão preventiva, se concretamente demonstrada sua necessidade
cautelar, ou de imposição de medida alternativa, nos termos do art. 319 do CPP.7
------------------------------------------------------------------------------------------------------
Presta-se, assim, a motivação das decisões jurisdicionais a servir de controle, da
sociedade e das partes, sobre a atividade intelectual do julgador, para que verifiquem
se este, ao decidir, considerou todos os argumentos e as provas produzidas pelas
partes e se bem aplicou o direito ao caso concreto.
Portanto, mesmo após o preenchimento dos dados relativos à custodiada, a decisão
poderia ser utilizada para justificar a conversão da prisão em flagrante pela suposta
prática de qualquer crime, o que não se coaduna com o ordenamento jurídico
brasileiro.
Incorreu, assim, no vício de que cuida o art. 489, § 1º, II e III, do CPC, aplicável,
analogicamente, por força do art. 3º do CPP8.
7
STJ, HC 402.190/SP, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, sexta turma, julgado em 26.09.2017.
8
STJ, AgInt no Recurso em Habeas Corpus Nº 70.939 – MG, Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ,
julgado em 23.06.2016.
7
– II –
SÍNTESE DO PROCESSADO
8
A despeito disso, em data de12/07/2017 o Juízo da 13ª Vara Federal
de Curitiba proferiu sentença (fls. 70.310 – 71.516) condenando arbitrariamente o
Embargante à pena privativa de liberdade de 9 anos e 6 meses de reclusão por
comissão das duas infrações penais supramencionadas.
9
O monocrático decisum fundamentou-se, substancialmente, em três
premissas, quais sejam: suposta incidência da Súmula nº 7/STJ9, virtual incidência da
Súmula nº 284/STF e, ainda, que o entendimento exarado pelo Tribunal a quo estaria
em consonância com jurisprudência pacificada nas Cortes Superiores.
9
No que concerne às violações aventadas pelo Embargante dos artigos 1º, 13,17, 29, 59, 60, 107, IV,
110, 115 e 317 do CP; artigos 155, 156, 158, 254, 256, 383, 384, 387, IV, 400, §1º, 402, 619 e 616 do
CPP; artigo 145, IV, do CPC; artigo 4º, §16º, da Lei 12.850/13; art. 1º da Lei 9.613/98, o Eminente
Ministro entendeu que a apreciação de tais matérias demandaria, necessariamente, reexame do
conjunto fático-probatório dos autos.
10
A Quinta Turma, por unanimidade, deu parcial provimento ao agravo regimental,
a fim de remodelar as penas referentes aos crimes de corrupção passiva e lavagem de
dinheiro, para 08 (oito) anos, 10 (dez) meses e 20 (vinte) dias de reclusão e 50 dias-
multa, bem como para reduzir o valor mínimo indenizatório a R$ 2.424.991,00, nos
termos do voto do sr. Min. Relator. Em relação à multa, vencido, em parte, o
Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, que dava provimento em maior extensão (41
dias-multa). Os Srs. Ministros Jorge Mussi, Reynaldo Soares da Fonseca e Ribeiro
Dantas votaram com o sr. Ministro Relator. Impedido o Sr. Ministro Joel Ilan
Paciornik.
Senão, vejamos.
10
“A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial.”
11
"É inadmissível o recurso extraordinário, quando a deficiência na sua fundamentação não permitir a
exata compreensão da controvérsia”.
11
– III –
DAS OMISSÕES, CONTRADIÇÕES E
OBSCURIDADES NO ACÓRDÃO EMBARGADO
12
Ação penal nº 1026137-89.2018.4.01.3400, atualmente em trâmite perante a 10ª Vara Federal de
Brasília/DF. A declinação de competência, pela Suprema Corte, ocorreu no bojo do Inquérito nº 4325.
12
Com efeito, a Procuradoria-Geral da República ofereceu (injusta)
denúncia em face do Embargante, no âmbito do INQ nº 4325/DF, pelo suposto delito
de pertinência a organização criminosa. Seguindo a orientação de desmembramento do
feito em relação aos denunciados não detentores de foro por prerrogativa de função, o
eminente Ministro EDSON FACHIN determinou a remessa daqueles autos à Seção
Judiciária do Distrito Federal, com livre distribuição13.
13
“À luz do exposto, determino: (...) (b) o envio de cópia integral deste feito e de suas mídias à
Seção Judiciária do Distrito Federal para as providências cabíveis com relação aos demais
denunciados cujos fatos não permanecerão sob a supervisão desta Suprema Corte.” Decisão de
06.03.2018 – Inq. 4325.
14
INQ. 3989 – apura organização criminosa composta por integrantes do Partido Progressista (PP);
INQ. 4483 e 4327 - apura organização criminosa composta por integrantes do Partido do Movimento
Democrático Brasileiro (PMDB), com articulação no Senado Federal e Câmara dos Deputados,
respectivamente; Inq. 4325 - apura organização criminosa composta por integrantes do Partido dos
Trabalhadores (PT).
13
Desde o início desses procedimentos investigatórios, por opção da Procuradoria da
República, houve pedidos no sentido de abertura de inquéritos separados para casos
específicos, sobre fatos específicos. Mas foi também requerida e aberta, aqui no
Supremo Tribunal Federal, uma investigação a respeito desse “esquema” em seu
conteúdo mais abrangente. É o Inquérito nº 3.989, em que se investiga crime de
quadrilha, corrupção passiva, lavagem de ativos financeiros, e que envolve não
apenas pessoas com prerrogativa de foro, como também pessoas sem prerrogativa de
foro. Portanto, existe um inquérito aberto, aqui no Supremo Tribunal Federal,
para investigar o que foi chamado aqui de "esquema geral". Essa investigação,
com a devida vênia, não foi delegada a qualquer outro juízo. Não existe
investigação com essa abrangência em outro juízo. Se houver ou se tiver sendo
feito em outro juízo esse exame abrangente, certamente haverá problema de
competência, porque se estará usurpando uma competência do Supremo
Tribunal Federal. (grifos nossos)
14
É dizer, naqueles autos o Embargante se vê injustamente acusado de
integrar organização criminosa, na qualidade de “chefe” ou “mentor”, em razão da
afirmada nomeação de dirigentes da Petrobrás, para que estes arrecadassem recursos
para o Partido dos Trabalhadores por meio do pagamento de percentuais dos contratos
mantidos pela sociedade de economia mista, precisamente os fatos que o Acórdão
entende como objeto também desta apuração. Bis in idem?
Destacou-se nas razões recursais que a presente ação foi penal foi
processada e julgada perante Juízo que jamais teve competência territorial ou material
para tanto — a 13ª. Vara Federal de Curitiba.
15
sociedade de economia mista, o que atrai a competência material da Justiça Estadual,
na dicção da Súmula 42 desta Corte15.
Ainda que assim não fosse, não se pode descurar que o crime foi
supostamente praticado por agente público federal, circunstância que
também justifica a competência da Justiça Federal, independentemente de
a vítima ser uma sociedade de economia mista. Ademais, conforme
destacado pelo eminente Relator, a competência do Juízo da 13ª Vara
Federal da Subseção Judiciária de Curitiba já foi firmada pelo Superior
Tribunal de Justiça no julgamento do Recurso em Habeas Corpus n.
80.087/RS, bem como no Recurso em Habeas Corpus n. 62.176/PR.
15
Súmula 42/STJ: “Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar as causas cíveis em que é
parte sociedade de economia mista e os crimes praticados em seu detrimento.”.
16
CR/88: “Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na
condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho
e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho;
II - as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa
domiciliada ou residente no País;
III - as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo
internacional;
16
Com efeito, a extensiva interpretação do Texto Constitucional, a fim
de estender as hipóteses de deslocamento de competência à Justiça Federal em casos
envolvendo sociedades de economia mista, com o devido respeito, vulnera os
princípios da reserva legal e do juiz natural17.
17
c) Omissões e contradições quanto à clara violação ao princípio da congruência
(ou correlação) na imputação e condenação pela prática do crime de
corrupção passiva
19
“Art. 573. Os atos, cuja nulidade não tiver sido sanada, na forma dos artigos anteriores, serão
renovados ou retificados.
§1º. A nulidade de um ato, uma vez declarada, causará a dos atos que dele diretamente dependam ou
sejam conseqüência.”
18
A mera justificativa de que “os fatos que ensejaram a apresentação de
denúncia correspondem àqueles reconhecidos em sede condenatória”, data venia, não
enfrenta a matéria de direito posta, ou seja, a imputação de crime de corrupção
passiva, não pelo recebimento de vantagem indevida, mas, de maneira inédita, pela
“atribuição” de suposta vantagem. No direito brasileiro a transferência da propriedade
imóvel pode se operar por “atribuição verbal” de terceiros? O que constitui e como se
formaliza esse ato de “atribuição” de propriedade? Convém esclarecer, mesmo porque
a acusação contida na denúncia foi a de que o Embargante recebera a propriedade do
apartamento como fato consubstanciador da vantagem indevida. Com efeito, a
denúncia faz referência direta à transferência da propriedade e, de modo preciso, ao
recebimento da propriedade do imóvel, e desses fatos foi que o Embargante se
defendeu em juízo:
20
Denúncia, p. 101.
19
Assim, a condenação proferida pelo Tribunal a quo parte da premissa
de que o apartamento tríplex nunca foi efetivamente recebido pelo Embargante. Por
esse inescapável vértice, sequer haveria a consumação do crime de corrupção na
modalidade receber ou, ainda, o iter criminis não teria alcançado sua fase de
exaurimento, na hipótese de a condenação ter sido fincada nas modalidades “solicitar”
ou “aceitar promessa” de vantagem indevida. Mas, nunca se esqueça; a denúncia acusa
de haver o Embargante recebido, concretamente, a propriedade do imóvel!
20
Outrossim, o aresto embargado também considerou que a inexistência
de formal transferência do apartamento tríplex ao Embargante configuraria o crime de
lavagem de dinheiro. Veja-se, no ponto, excertos do voto do e. Min. JORGE MUSSI:
21
2. Mais: como essa mesma vantagem, que não foi recebida, pode ter
sido “lavada” pelo Embargante?
22
Ocorre, data venia, que embora possa o Juiz indeferir os
requerimentos probatórios que julgar impertinentes, irrelevantes ou protelatórios, deve
ele apresentar razões para tanto, motivando a decisão, não bastando mera negativa
injustificada. Especialmente na hipótese da violação ao art. 158 do CPP – que
exige a realização de prova pericial quando o crime deixa vestígios materiais,
como in casu, em que necessária a investigação do rastro do dinheiro (follow the
money) –, não pode o magistrado simplesmente negar-se a produzir a prova.
Aqui, impediu-se de apurar se há ou não corpus criminis na espécie.
21
REsp 1161924/DF, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 26/08/2010.
23
Destaca-se, por relevante, o posicionamento do e. Min. GILMAR
MENDES, em julgamento realizado no Pretório Excelso, ao expor que a violação às
garantias da ampla defesa e do contraditório pode (deve) ser analisada inclusive pela
via do Recurso Extraordinário nas hipóteses em que ocorre o seu completo
esvaziamento e desconsideração:
22
ARE 748371/MT RG, Relator Min. GILMAR MENDES, j. em 07.06.2013.
23
Página 72 do aresto.
24
Grife-se que no vertente caso a realização da prova pericial tem
como objetivo comprovar, dentre outras coisas, que (i) o Embargante não recebeu
qualquer valor proveniente de contratos firmados pela Petrobras e, ainda, (ii) que o
apartamento indicado na denúncia, além de não ter qualquer relação de fato ou de
direito com sua pessoa, não foi adquirido ou reformado com valores oriundos da
petrolífera. Vale dizer, são aspectos fundamentais relacionados ao juízo natural e ao
mérito da causa, o que reforça o entendimento de que a ausência de efetiva apreciação
implica esvaziamento completo da garantia constitucional da ampla defesa, na esteira
do que já decidiu a Suprema Corte.
Aqui, da mesma forma, pode-se observar, mais uma vez, pela mera leitura das
argumentações exaradas pelo recorrente, que se pretende buscar, no mérito, a
reanálise probatória, com a promoção de um novo julgamento, visando o cotejo
analítico dos elementos de cognição, o que não se viabiliza em recurso especial,
frente ao óbice da súmula 07 do STJ.
25
Ao decidir dessa forma, o acórdão embargado deixou de analisar
(omissão) que a condenação do Embargante é amparada fundamentalmente nas
palavras dos corréus — e delatores informais — Léo Pinheiro e Agenor Franklin.
Consta da própria base empírica do acórdão recorrido a inteligência de que o
afirmado “pacto de corrupção” se lastreia com exclusividade nos depoimentos desses
corréus.
26
O corréu Léo Pinheiro esclareceu, no mais, "o método utilizado para
contabilização das despesas relativas à diferença de preço entre a
unidade padrão e o tríplex, nelas computados igualmente os custos de
reforma e fornecimento de mobiliário e equipamentos.
Na audiência, ficou esclarecido que a LÉO PINHEIRO foi
expressamente determinada por João Vaccari Neto a compensação de
tais valores com o montante de propina destinado ao Partido dos
Voto Min. Trabalhadores: (...)". (e-STJ fl. 72.979).
Reynaldo Fonseca Assentou-se, ainda, por relevante, que "os gastos extrapolam
(fl.236) inclusive o próprio valor de mercado do bem. Não se cuida, pois, de
reforma decorativa, mas sim com características de personalização para
um programa de necessidades específico, com intervenções bastante
profundas na planta padrão do imóvel. A instalação de um elevador
entre os pisos internos, somente implementado na unidade 164-A, é
um claro exemplo de modernização que desborda do padrão
mercadológico" (e-STJ fls. 72.985/72.986).
27
Oportuno trazer a lume o paradigmático julgado da Corte
Interamericana de Direitos Humanos, proferido no caso Zegarra Marín Vs. Perú, que
assentou a necessidade de bem relativizar o peso dado às palavras daqueles que
possuem subjetivo interesse na causa posta:
Deve ser lembrado que ‘[a] falta de prova plena da responsabilidade em uma
sentença condenatória constitui uma violação ao princípio de presunção de
inocência’. Neste sentido, qualquer dúvida deve ser usada em benefício do acusado.
Este estado jurídico de inocência se projeta em diversas obrigações que orientam o
desenvolvimento de todo o processo penal. Desta forma, a demonstração fidedigna
da culpabilidade constitui um requisito indispensável para a sanção penal, de modo
que o ônus da prova recai na parte acusadora. Além disso, o princípio de presunção
de inocência compreende que os julgadores não iniciem o processo com uma ideia
pré-concebida de que o acusado cometeu o crime que lhe é atribuído. Neste sentido,
a Corte estima que a presunção de inocência exige que o acusador deva demonstrar
que o crime penal é atribuível à pessoa acusada, isto é, que participou culpavelmente
em seu cometimento e que as autoridades judiciais devam sentenciar [com um
critério] além de qualquer dúvida razoável para declarar a responsabilidade penal
individual do acusado, incluindo determinados aspectos fáticos relativos à
culpabilidade do acusado. Desta forma, a Corte ressalta que o princípio de presunção
de inocência é um eixo central no julgamento e um padrão fundamental na
apreciação probatória que estabelece limites à subjetividade e discrição da atividade
judicial. Assim, em um sistema democrático, a apreciação da prova deve ser racional,
objetiva e imparcial para desvirtuar a presunção de inocência e gerar certeza da
responsabilidade penal.24 (destacou-se)
24
Tradução livre.
28
Verifica-se, assim, que a argumentação do recurso especial está dissociada das razões
apresentadas pelo Tribunal de origem, que afirmou que as normas contidas na Lei n.
12.850/2013 não se aplicariam às declarações prestadas pelo corréu JOSÉ
ADELMÁRIO PINHEIRO FILHO por não haver celebrado acordo de delação
premiada, fundamento esse que não foi impugnado pelo recorrente, que insistiu na
tese de impossibilidade de condenação lastreada exclusivamente na palavra de corréu
delator. (destacou-se)
25
https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/leo-pinheiro-assina-delacao-com-a-pgr/
29
Todavia, este ilustre Colegiado indeferiu o pleito sob a sucinta
fundamentação de que a narrativa apresentada pelo Embargante não possui “qualquer
similitude fática ou jurídica com o objeto do recurso, uma vez que a matéria
apresentada escapa, em absoluto, a moldura fática estampada no acórdão”.
30
No entanto, ao reconhecer que houve contrariedade ao direito federal
no caso dos autos (juízo de cassação) — tanto é que o recurso foi parcialmente provido
— este Colendo STJ deveria ampliar a cognição tendo em vista o fim último e não
derrogável da Justiça, que é a descoberta e o acertamento da verdade.
31
assemelhados porque restritos ao juízo de cassação. No juízo de revisão STF e
STF podem tudo porque têm atribuição e competência de tribunais de apelação.
Aplicar o direito, portanto é rejulgar amplamente a lide, analisar provas, corrigir
injustiça, decidir questão de ordem pública não agitadas no processo (deve propiciar
intimação das partes para manifestar-se previamente, a fim de evitar decisão
surpresa, proibida pela CF 5º, LV e pelo CPC), decidir de acordo com a prova dos
autos, etc. A tarefa dos tribunais superiores, aqui, é solucionar a lide subjetiva e não a
de fixar teses.
(...)
32
“aplicando o direito à espécie”. 3. Esse “julgamento da causa” consiste na
apreciação de outros fundamentos que, invocados nas instâncias ordinárias, não
compuseram o objeto do recurso extraordinário, mas que, “conhecido” o
recurso (vale dizer, acolhido o fundamento constitucional nele invocado pelo
recorrente), passam a constituir matéria de apreciação inafastável, sob pena de
não ficar completa a prestação jurisdicional. Nada impede que, em casos assim,
o STF, ao invés de ele próprio desde logo “julgar a causa, aplicando o direito à
espécie”, opte por remeter esse julgamento ao juízo recorrido, como
frequentemente o faz.
Com efeito.
33
Voto do e. Min. FELIX FISCHER:
De outro lado, o Código Penal estabelece que "a pena é aumentada de um terço, se,
em consequência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de
praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional" (CP, art.
317, § 1º).
No caso, depreende-se da sentença ter sido reconhecida a prática de ato de ofício do
ex-Presidente - correspondente à nomeação e ao suporte político dado ao
esquema de fraudes da Petrobras -, tanto assim que foi determinada a incidência
da causa de aumento do art. 317, § 1º, do CP.
34
Administração da Petrobras — uma sociedade anônima —, e não ao Presidente
da República, nomear e, por consequência, manter os diretores da sociedade
empresária. Conforme a Lei 6.404/76:
Destarte, requer-se seja sanada a omissão (CPC, art. 489, § 1º, V),
para, reconhecendo a atipicidade da conduta atribuída ao Embargante, absolvê-lo pelo
crime de corrupção passiva, nos termos do art. 386, III, do Código de Processo Penal.
Subsidiariamente, caso assim não se entenda, de rigor seja suprida tal omissão para ao
menos afastara causa de aumento inserta no art. 317, §1º, do Código Penal.
35
h) Contradições e omissões quanto à autonomia do crime de lavagem de
dinheiro
Pois bem.
Pode-se observar, mais uma vez, por meio das argumentações exaradas pelo
recorrente, que o que se pretende buscar, de fato, não obstante a condução dos
argumentos apresentados pelo agravante, no sentido de se discutir qual tese serviria
como vetor a nortear a presente insurgência, é que, mais uma vez, busca-se adentrar
na matéria fática, a fim de merecer novo julgamento da causa, eis que o e. Tribunal
de origem, firmou o entendimento acima traçado, com base nos elementos de
cognição insertos nos autos, para concluir, de forma inequívoca, a autonomia do
crime de lavagem de dinheiro frente ao crime antecedente, não havendo como se
conceber a ocorrência de mero exaurimento.
36
Os fatos, dentro da moldura fática apresentada no apelo extremo, adequam-se
perfeitamente ao tipo penal, não havendo elementos hábeis a elidir a tipicidade sem
se aprofundar no arcabouço probatório, sob pena de se vulnerar a súmula 07 do STJ
(p. 90 e 91).
O e. Min. JORGE MUSSI, por seu turno, assentou que a não assunção
da posse do apartamento pelo Embargante, “antes de afastar a configuração do tipo
do artigo 1º da Lei n. 9.613/1998, comprova a sua ocorrência, pois atesta a intenção
de ocultar o seu real destinatário, conforme consignado pelas instâncias de origem (p.
19 e 20)”.
37
Na mesma direção, consignando que o fato de o imóvel não ter sido
transferido ao Embargante teria configurado o desígnio autônomo de ocultar e
dissimular o produto do crime, o voto do Min. RIBEIRO DANTAS:
38
Voto do Min. JORGE MUSSI:
39
Frente a tais asserções, emergem evidentes contradições:
Não é só.
40
Eis as considerações do acórdão guerreado (grifos nossos):
27
STF, Décimo Sexto Embargos Infringentes AP 470, Relator: Ministro Luiz Fux, Plenário,
13.03.2014.
41
Ademais, requer-se sejam devidamente enfrentadas as contradições
acima demonstradas, as quais se referem à manutenção da condenação pelos delitos de
corrupção passiva e lavagem de dinheiro — no mínimo para que se possa conhecer da
motivação do julgado e se torne possível sua impugnação em instância de
superposição, dada a manifesta atipicidade das condutas imputadas.
28
10.12.2009.
29
08.10.2009.
42
Registra-se que a Ação Penal n. 5046512-94.2016.4.04.7000/PR tinha como objeto
apurar se o agravante, na condição de Presidente da República, concorreu para o
ambiente de corrupção sistêmica instalado na Petrobrás, obtendo vantagens indevidas
para os partidos políticos, para agentes públicos e para si próprio mediante contratos
firmados entre a Petrobrás e a Construtora OAS.
Restou-se demonstrado pelas instâncias ordinárias que, como parte de acertos de
propinas destinadas ao PT em contratos da Petrobrás, o Grupo OAS concedeu, em
2009, ao recorrente, vantagem indevida consubstanciada na entrega do apartamento
164-A do Edifício Solaris, e também em 2014, quando das reformas e benfeitorias
realizadas no mesmo imóvel, sem o pagamento do preço e, uma vez ultimada a
definição de que o valor do imóvel e os custos das reformas seriam abatidos da conta
corrente geral da propina, o que teria ocorrido, segundo as provas dos autos, em
meados de 2014, quando João Vaccari Neto autorizou a compensação do crédito.
Nesse recorte, embora os acertos de corrupção remontem a 2009, durante a
contratação pela Petrobrás do Consórcio CONEST/RNEST, é certo que a definição
final da utilização de parte dos créditos em benefício do recorrente ocorreu somente
em 2014. Foi nesse momento que o valor da diferença de preço entre o apartamento
simples e o triplex, as reformas e mobiliários foram efetivamente debitados do
crédito ilícito que o Partido dos Trabalhadores tinha com a OAS e deixaram de ser
pagas devidamente (p.116 e 117).
Por seu turno, o e. Min. JORGE MUSSI, não obstante tenha reconhecido
que o (i) (suposto) ato de ofício (exaurimento do delito) teria ocorrido em 2003 e 2004,
(ii) assoalhou que a corrupção passiva teria se mantido em estado consumativo até
2014, quando o Embargante teria perdido a afirmada capacidade de nomear e/ou
sustentar nos cargos agentes com desígnios ilícitos:
43
O e. Min. REYNALDO SOARES DA FONSECA, por seu turno, assentou
que (i) embora o crime de corrupção passiva na modalidade receber, de natureza
material e instantânea, consume-se no momento do recebimento da vantagem
indevida, no caso dos autos, (ii) o recebimento do montante espúrio e a consumação do
delito teriam perdurado entre 2009 e 2014:
44
O crime de corrupção passiva, na modalidade "receber", consuma-se no dia da
percepção da vantagem indevida. No caso, deve ser considerada a data em que a
diferença entre os valores do imóvel simples e do tríplex foram debitados do crédito
ilícito que o Partido dos Trabalhadores tinha com o Grupo OAS, bem como do valor
das reformas e da "personalização" do imóvel. Ainda que deva ser considerada a
prática de apenas um crime do art. 317 do CP, foram perpetrados sucessivos atos de
recebimento de vantagem indevida até o ano de 2014. Cada novo "débito" do total de
propinas devidas ao PT configura um recebimento de vantagem ilícita. Assim,
mesmo reduzido o prazo prescricional pela metade (CP, art. 115), não se cogita o
decurso do lapso temporal entre os marcos interruptivos da prescrição.
45
4. Considerando-se que o aresto manteve a condenação de Léo
Pinheiro por corrupção ativa majorada (CP, art. 317, caput e parágrafo único), o que
inequivocamente indica que o corréu teria oferecido ou prometido vantagem indevida
ao Embargante visando à prática de um ato de seu ofício, o qual teria se concretizado
(eis a majoração), seja ele em 2003/2004 (nomeação dos diretores) ou 2009 (assinatura
do contrato e assunção do complexo condominial pela OAS Empreendimentos), como
não vincular tais datas à contagem do prazo prescricional?
46
Propugna-se, ante a sua relevância, o devido enfrentamento das
contradições e da obscuridade ora delineadas, reconhecendo-se, por conseguinte, a
prescrição do delito de corrupção passiva, com fulcro nos arts. 107 (inciso IV), 110 e
115 do Código Penal, bem como no artigo 61 do CPP.
Infere-se que, embora este seja o mesmo valor fixado por todos os
Eminentes Julgadores, o único voto que faz remissão à peça processual em que essa
fórmula teria alcançado o montante de R$ 2.424.991,00 é o voto do e. Min.
REYNALDO SOARES (fls. 70312 da numeração do e-STJ). Confira-se:
Em detida análise das razões recursais, mais uma vez revendo meu entendimento
anterior, denoto que não há que se falar em necessidade de revolvimento fático-
probatório, uma vez que se exige apenas a revaloração dos parâmetros adotados na
definição do valor indenizatório.
(...)
Porém, muito embora tenha sido reconhecido que na divisão de propinas foram
destinados o referido valor ao Partido dos Trabalhadores, não se mostra razoável
admitir que o réu seja condenado a arcar, sozinho, com todo esse montante, já que
inexiste prova de que ele tenha sido beneficiado com o valor integral desviado para o
PT.
47
Assim, e como parâmetro indenizatório, considerando que o agravante se
encontra condenado pelo recebimento de parte da propina total atribuída ao
Partido dos Trabalhadores, consistente no valor de R$ 2.424.991,00, tenho que
esse deve ser o valor reparatório, nos moldes em que preconiza o artigo 384, IV,
do CPP.
------------------------------------------------------------------------------------------------------
Voto do Min. JORGE MUSSI
Na espécie, não há evidências de que o recorrente tenha se beneficiado com a
totalidade dos recursos desviados, ficando comprovado apenas que recebeu um
apartamento triplex, com reformas e mobiliário, totalizando R$ 2.424.991,00 (dois
milhões, quatrocentos e vinte e quatro mil, novecentos e noventa e um reais),
valor que, consequentemente, deve ser fixado a título de mínimo indenizatório.
------------------------------------------------------------------------------------------------------
Voto do Min. REYNALDO SOARES
No ponto, fica nítida a ausência de parâmetro adequado, uma vez que o valor de 16
milhões destinado ao Partido dos Trabalhadores não guarda relação apenas com o
recorrente, ou mesmo com a conduta que lhe é atribuída nos presentes autos. Note-se
que a própria sentença afirma que era um valor destinado aos "agentes do Partido dos
Trabalhadores". Portanto, não parece coerente que o valor mínimo indenizatório seja
arcado integralmente pelo recorrente e pelos corréus José Adelmário Pinheiro Filho e
Agenor Franklin Magalhães.
Nesse encadeamento de ideias, considerando que o recorrente se encontra condenado
pelo recebimento de parte da propina total atribuída ao Partido dos Trabalhadores,
paga pelos corréus José Adelmário Pinheiro Filho e Agenor Franklin Magalhães,
consistente no valor de R$ 2.424.991,00, (R$ 1.147.770,00 correspondente à
diferença entre o valor pago e o preço do apartamento entregue e R$ 1.277.221,00
em reformas e na aquisição de bens para o apartamento - e-STJ fl. 70.312), considero
ser este o valor que deve ser fixado a título de mínimo indenizatório, em observância
ao disposto do art. 387, inciso IV, do Código de Processo Penal.
------------------------------------------------------------------------------------------------------
Voto do Min. RIBEIRO DANTAS
Porém, conquanto tenha sido reconhecido que na divisão de propinas foram
destinados R$ 16.000.000,00 ao PT, não se mostra razoável admitir que o réu seja
condenado a ressarcir tal montante, já que inexiste prova de que ele tenha sido
beneficiado com o valor integral desviado para o partido, devendo, por consectário,
ser tomado como parâmetro indenizatório a diferença entre o valor pago na aquisição
do imóvel 141 e o preço do apartamento 164-A, tríplex, no Condomínio Solaris, no
Guarujá, no montante de R$ 1.147.770,96, mais os valores gastos na reforma e
personificação do imóvel, avaliados em R$ 1.277.221,00, chegando-se ao total de R$
2.424.991,00.
Em rigor, o valor não devia ser esse, mas uma quantia menor. Afinal não foi
transferida ao agravante a titularidade plena do bem, mas tão somente uma espécie
de propriedade de fato. Entretanto, dadas as limitações da tantas vezes aqui invocada
Súmula 7, não se tem como chegar a um cálculo razoável acerca dessa vantagem
ilícita real.
48
Por isso, fica-se com o valor antes mencionado e, quanto a esse, não há falar em
necessidade de revolvimento fático-probatório, uma vez que a análise do tema
apenas exige apenas a revaloração da justeza dos parâmetros adotados na definição
do valor indenizatório, o que afasta a incidência da Súmula 7/STJ.
30
Na sentença recorrida, considerou-se o montante de R$ 2.252.472,00 como o total dos valores
objeto do delito de lavagem de capitais destinados ao ex-Presidente LULA, consubstanciado na
diferença entre o valor pago e o preço do apartamento triplex 164-A do Condomínio Solaris (R$
1.147.770,96) e o custo das reformas e da decoração de referido bem (R$ 1.104.702,00) (itens 296,
391 e 892 da sentença). No entanto, tal entendimento merece reforma, a fim de que passe a
considerar a quantia atualizada referente ao preço das reformas e decoração do triplex, o que
perfaz a quantia de R$ 1.277.219,87297. Dessa forma, o produto tangível do delito de lavagem de
49
Assim, mostra-se obscura a fixação do dano mínimo em R$
2.424.990,83, em aparente provimento do pleito apelatório do Parquet em sede de
Agravo Regimental no Recurso Especial (reformatio in pejus).
Veja-se:
50
Nesse vértice, impende rememorar que não difere substancialmente
falar em “sofisticado esquema de fraude a licitações da Petrobras” e, após, em
“esquema criminoso mais amplo”; ou em “colocação em xeque da própria
estabilidade democrática em razão de um sistema eleitoral severamente
comprometido” e depois em “boa parte dos valores foram utilizados para deturpar o
processo político eleitoral”.
Supostos motivos do delito Apesar de o lucro fácil ser inerente aos crimes de
patrimônio, não se pode ignorar, com o que se colheu neste
processo e nas mais de duas dezenas de conexos já
julgados por esta Corte, o sofisticado esquema de fraude a
licitações da Petrobras, perpetrados por empresas que
agiam de modo cartelizado, escolhendo obras em
detrimento do processo licitatório [...] Acabou por
fragilizar não apenas o funcionamento hígido da
Petrobras, mas todo o processo político brasileiro.
51
Circunstância judicial Deturpação do processo eleitoral
52
l) Contradição verificada entre o afastamento de suposto crime eleitoral e a
dosimetria da pena imposta ao Embargante
53
In concreto, deve ser mantida a majoração, eis que o agravante não agiu
imbuído apenas pelo lucro fácil, mas também, conforme assinalou a c. Corte de
origem, a par de vantagens em benefício próprio, censuráveis e graves, não
somente pelos milhões de reais desviados, mas também a colocação em xeque da
própria estabilidade democrática, em razão de um sistema eleitoral severamente
comprometido. (Pág. 107)
54
m) Contradição nos fundamentos suscitados para a majoração da pena do
Embargante.
Voto do Min. Felix Fischer – fixação do Voto do Min. Felix Fischer – Vetorial
dano mínimo consequências do delito
No édito condenatório, foi estabelecido o Corroboram esta assertiva, portanto, a
valor mínimo a ser ressarcido aos cofres da negativação da vetorial culpabilidade,
Petrobrás, no patamar de R$ 16.000.000,00 somada à negativação da vetorial
(dezesseis milhões de reais), a ser corrigido conseqüências do delito, dado o elevado
monetariamente e agregado juros simples de valor milionário recebido para aquisição
0,5% a partir de 10/12/2009, devendo ser de unidade residencial em balneário do
descontado o valor do imóvel confiscado litoral, com os seus implementos de
(CP, art. 91,11, do CP). reformas, instalação de elevador,
Porém, muito embora tenha sido mobiliário e utensílios, bem como do
reconhecido que na divisão de propinas gigantesco prejuízo causado pelo esquema
foram destinados o referido valor ao Partido de corrupção sistêmica instaurado na
dos Trabalhadores, não se mostra razoável Petrobras. As circunstâncias, como
admitir que o réu seja condenado a arcar, destacado na sentença e nas afirmativas
sozinho, com todo esse montante, já que anteriores, igualmente merecem ser
inexiste prova de que ele tenha sido negativadas
beneficiado com o valor integral desviado
para o PT.
Assim, e como parâmetro indenizatório,
considerando que o agravante se
encontra condenado pelo recebimento de
55
parte da propina total atribuída ao
Partido dos Trabalhadores, consistente
no valor de R$ 2.424.991,00, tenho que
esse deve ser o valor reparatório, nos
moldes em que preconiza o artigo 384,
IV, do CPP.
Voto do Min. Jorge Mussi – fixação do Voto do Min. Jorge Mussi – Vetorial
dano mínimo consequências do delito
Na espécie, não há evidências de que o As consequências do delito também devem
recorrente tenha se beneficiado com a pesar negativamente. Com efeito, trata-se de
totalidade dos recursos desviados, ficando crime que envolveu uma quantia exorbitante,
comprovado apenas que recebeu um de dezesseis milhões, em prejuízo à
apartamento triplex, com reformas e PETROBRAS. Tal valor justifica a
mobiliário, totalizando R$ 2.424.991,00 negativação da vetorial e consequente
(dois milhões, quatrocentos e vinte e acréscimo de pena na fase do artigo 59 do
quatro mil, novecentos e noventa e um Código Penal.
reais), valor que, consequentemente, deve
ser fixado a título de mínimo indenizatório.
Portanto, ainda que o ato de ofício praticado
pelo réu, consistente na manutenção dos
diretores da PETROBRAS, possa ter
acarretado o prejuízo de R$ 16.000.000,00
(dezesseis milhões de reais), esta quantia,
por não se destinar especificamente ao réu,
mas ao Partido dos Trabalhadores, e não
corresponder à conduta que lhe foi atribuída
no processo, não pode ser por ele
integralmente arcada a título de indenização
mínima pelos danos causados.
56
que lhe é atribuída nos presentes autos.
Note-se que a própria sentença afirma que
era um valor destinado aos "agentes do
Partido dos Trabalhadores". Portanto, não
parece coerente que o valor mínimo
indenizatório seja arcado integralmente pelo
recorrente e pelos corréus José Adelmário
Pinheiro Filho e Agenor Franklin
Magalhães.
Nesse encadeamento de ideias,
considerando que o recorrente se encontra
condenado pelo recebimento de parte da
propina total atribuída ao Partido dos
Trabalhadores, paga pelos corréus José
Adelmário Pinheiro Filho e Agenor
Franklin Magalhães, consistente no valor de
R$ 2.424.991,00, (R$ 1.147.770,00
correspondente à diferença entre o valor
pago e o preço do apartamento entregue e
R$ 1.277.221,00 em reformas e na
aquisição de bens para o apartamento - e-
STJ fl. 70.312), considero ser este o valor
que deve ser fixado a título de mínimo
indenizatório, em observância ao disposto
do art. 387, inciso IV, do Código de
Processo Penal
Voto do Min. Ribeiro Dantas – fixação do Voto do Min. Ribeiro Dantas – Vetorial
dano mínimo consequências do delito
Porém, conquanto tenha sido reconhecido Em relação às consequências do crime, as
que na divisão de propinas foram destinados quais correspondem ao resultado da ação do
R$ 16.000.000,00 ao PT, não se mostra agente, a avaliação negativa de tal
razoável admitir que o réu seja condenado a circunstância judicial mostra-se escorreita se
ressarcir tal montante, já que inexiste prova o dano material ou moral causado ao bem
de que ele tenha sido beneficiado com o jurídico tutelado se revelar superior ao
valor integral desviado para o partido, inerente ao tipo penal.
devendo, por consectário, ser tomado como Na hipótese, o Magistrado asseverou que o
parâmetro indenizatório a diferença entre o crime praticado pelo réu causou prejuízo
valor pago na aquisição do imóvel 141 e o milionário à Petrobras, o que desborda do
preço do apartamento 164-A, tríplex, no dano próprio ao tipo penal em análise, sem
Condomínio Solaris, no Guarujá, no que seja vislumbrada ilegalidade no aumento
montante de R$ 1.147.770,96, mais os da pena-base.
valores gastos na reforma e personificação
do imóvel, avaliados em R$ 1.277.221,00,
chegando-se ao total de R$ 2.424.991,00.
Em rigor, o valor não devia ser esse, mas
uma quantia menor. Afinal não foi
57
transferida ao agravante a titularidade plena
do bem, mas tão somente uma espécie de
propriedade de fato. Entretanto, dadas as
limitações da tantas vezes aqui invocada
Súmula 7, não se tem como chegar a um
cálculo razoável acerca dessa vantagem
ilícita real.
58
Desse modo, não se pode considerar o alegado prejuízo
multimilionário nas vetoriais circunstâncias e consequências do delito.
Consequentemente, e em caráter subsidiário, a pena-base do Embargante deve ser
fixada em patamar inferior ao anteriormente estipulado por esta Colenda Turma.
31
Constituição Federal
Art. 5º, inc. LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória.
59
Enquanto a maré montante persecutória não reflui, carregando para
longe os horrendos fantasmas do autoritarismo, anota-se que o Acórdão embargado se
omitiu quanto ao tema, que é ordem pública, da detração penal e seus reflexos no
regime inicial de cumprimento da pena. Cumpre declará-lo na espécie.
Código Penal:
Art. 42 - Computam-se, na pena privativa de liberdade e na medida de segurança, o
tempo de prisão provisória, no Brasil ou no estrangeiro, o de prisão administrativa e
o de internação em qualquer dos estabelecimentos referidos no artigo anterior.
------------------------------------------------------------------------------------------------------
Código de Processo Penal:
Art. 387. O juiz, ao proferir sentença condenatória: [...]
60
§2º. O tempo de prisão provisória, de prisão administrativa ou de internação, no
Brasil ou no estrangeiro, será computado para fins de determinação do regime inicial
de pena privativa de liberdade.
32
HC 72162, Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Primeira Turma, julgado em 07/03/1995,
Destacou-se.
61
Reclamação constitucional. Descumprimento de decisão do Supremo Tribunal
Federal. Reclamante que figurou como parte na ação paradigma. Legitimidade ativa
ad causam. Moldura fático-jurídica trazida à colação que não foi objeto de discussão
no acórdão paradigma. Identidade fática não evidenciada. Improcedência da
reclamação. Precedentes. Evidenciada coação ilegal passível de ser coarctada por
habeas corpus de ofício. Possibilidade em sede de reclamação constitucional.
Inteligência do art. 654, § 2º, do Código de Processo Penal. Precedentes.
Reconhecida plausibilidade nos argumentos defensivos a respeito prescrição da
pretensão punitiva (CP, art. 115) e da dosimetria da pena imposta ao reclamante
pelas instâncias ordinárias. Teses jurídicas que são objeto de impugnação em sede
recursal própria do Superior Tribunal de Justiça, a quem compete exercer o controle
de legalidade dos critérios empregados na dosimetria, bem como operar a sua
correção se necessário. Precedentes. Temas que se imbricam intimamente ao
quantum de pena e ao regime inicialmente estipulado na condenação do
reclamante, sobretudo se observada a detração do tempo de prisão cautelar da
sua pena privativa de liberdade, ex vi do art. 42, caput, do Código Penal.
Possibilidade concreta de repercussão em sua atual situação prisional e, por
óbvio, em sua liberdade de locomoção. Risco potencial de cumprimento da
reprimenda em circunstâncias mais gravosas. Habeas corpus concedido de ofício.
[...]
4. Já a autoridade reclamada, ao concluir o julgamento de recurso de apelação
do reclamante nos autos da Ação Penal nº 5045241-84.2015.4.04.7000/PR,
determinou a execução provisória da pena a ele imposta tão logo decorridos os
prazos para interposição de recursos dotados de efeito suspensivo ou julgados
esses, inexistindo, dessa forma, identidade fática entre o ato reclamado e o julgado na
ação paradigma.
5. Ao tratar, no acórdão paradigma, da matriz constitucional da presunção de
inocência, foi consignado que seria descabida “a utilização da prisão preventiva
como antecipação de uma pena que nem sequer foi confirmada em segundo grau,
pois, do contrário, estar-se-ia implementando verdadeira execução provisória em
primeiro grau”, contrariando, dessa forma, o entendimento fixado pela Corte no HC
nº 126.292/SP, Relator o Ministro Teori Zavascki, DJe de 17/5/16.
6. Essa assertiva a respeito do postulado constitucional da presunção de inocência
(CF, art. 5º, LVII), no entanto, não obsta, uma vez exaurida a instância recursal, que
se execute antecipadamente, em desfavor do condenado, o acórdão penal
condenatório, sendo certo que sua custódia, a rigor, não mais se reveste de natureza
cautelar, mas sim das características de prisão-pena - vale dizer, sanção imposta pelo
Estado pela violação de um bem jurídico penalmente tutelado, a qual exige a
formulação de um juízo de culpabilidade em um título judicial condenatório. [...]
15. Teses jurídicas reportadas que se imbricam intimamente ao quantum de pena e ao
regime inicialmente estipulado na condenação do reclamante, sendo mister
reconhecer que esses fatos podem fatalmente repercutir, de forma significativa, em
sua atual situação prisional e, por óbvio, em sua liberdade de locomoção, sobretudo
quando observada a detração do tempo de prisão cautelar (entre 3/8/15 e 2/5/17) na
pena privativa de liberdade, ex vi do art. 42, caput, do Código Penal.
62
16. O cômputo do tempo de prisão provisória exerce influência não só quanto à
imposição do regime inicial do cumprimento da reprimenda corporal, consoante
dicção do art. 382, § 2º, do Código de Processo Penal, mas também em relação à
progressão de regime antes do trânsito em julgado da condenação, assim
admitida pelo Supremo Tribunal Federal nos termos da Súmula nº 716.
17. Habeas corpus concedido de ofício para, excepcionalmente, suspender a
execução provisória da pena imposta ao reclamante, até que, nos moldes da
compreensão que firmei no HC nº 152.752/PR, o Superior Tribunal de Justiça decida
seu recurso33.
Afinal, insisto, se o STJ ou o STF anulam todas as provas e com isso o réu vem a ser
absolvido, e ele já cumpriu parte da pena, essa “pena” era o quê? Definitiva ou
provisória? Isso vale para diminuição de pena. [...]
33
Rcl 30245, Relator Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em 21/08/2018. Destacou-se.
34
Vide: <https://www.conjur.com.br/2019-abr-29/lenio-streck-detracao-aplicada-grau-recurso>.
Acessado em 04.05.2019. Destacou-se.
63
Considerando como prazo inicial do cômputo da detração a data da
custódia, qual seja 07/04/2018, transcorreu-se exatamente o período de 01 (um) ano,
01 (um) mês e 02 (dois) dias até o presente momento. Ao ser subtraído o montante
acima disposto da pena fixada em 08 (oito) anos, 10 (dez) meses e 20 (vinte) dias de
reclusão, obtém-se o quantum restante de 07 (sete) anos, 09 (nove) meses e 18
(dezoito) dias. Frisa-se que tal valor encontraria correspondência a um cumprimento
de pena em regime inicial semiaberto, por inteligência do artigo 33, §2º, alínea “b”, do
Código Penal35, mas diante da (conhecida) inexistência de estabelecimento
compatível, faz-se necessário desde logo36 a fixação de um regime aberto, máxime
diante da peculiar situação do Embargante — sem prejuízo do manejo de todos os
meios legalmente previstos com vistas à sua absolvição e manutenção da presunção de
inocência nos moldes assegurados no Texto Constitucional.
– IV –
DOS PEDIDOS
35
“Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A de
detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado.
[...]§ 2º - As penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma progressiva, segundo o
mérito do condenado, observados os seguintes critérios e ressalvadas as hipóteses de transferência a
regime mais rigoroso: [...] b) o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro)
anos e não exceda a 8 (oito), poderá, desde o princípio, cumpri-la em regime semi-aberto;”
Destacou-se.
36
Súmula Vinculante nº 56: “A falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção do
condenado em regime prisional mais gravoso, devendo-se observar, nessa hipótese, os parâmetros
fixados no RE 641.320/RS”.
64
Requer-se, também, sejam os presentes embargos de declaração
decididos à luz dos efeitos infringentes requeridos, para o fim de, declarando-se o
julgado:
(i) absolver o Embargante nos termos do art. 386, inciso III, do CPP;
(iii) ou, ainda, na remota hipótese de restarem superados tais cenários, acolher
as teses subsidiárias deduzidas no bojo destes aclaratórios.
Termos em que,
Pede deferimento.
De São Paulo (SP) para Brasília (DF), 10 de maio de 2019.
65