Apostila Direito Administrativo PDF

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DIREITO ADMINISTRATIVO

Administração Pública: princípios básicos. .................................................................................................................................................... 01


Poderes administrativos: poder hierárquico, poder disciplinar, poder regulamentar e poder de polícia. ........................... 04
Principais setores de atuação da polícia administrativa. .......................................................................................................................... 09
Descentralização e desconcentração. .............................................................................................................................................................. 09
Administração Direta e Indireta. ........................................................................................................................................................................ 11
Órgão público: conceito, classificação, competências públicas. ........................................................................................................... 16
Serviços Públicos: conceito e princípios. ........................................................................................................................................................ 17
Ato administrativo: conceito, requisitos e atributos; anulação, revogação e convalidação; discricionariedade e vincula-
ção. ................................................................................................................................................................................................................................ 26
Contratos administrativos: conceito e características. .............................................................................................................................. 30
Licitação: princípios, modalidades, dispensa e inexigibilidade. ............................................................................................................ 32
Servidores públicos: cargo, emprego e função públicos. ........................................................................................................................ 64
Dos direitos e vantagens: do vencimento e da remuneração; das vantagens; das férias; das licenças; dos afastamentos;
do direito de petição. ............................................................................................................................................................................................. 65
Do regime disciplinar: dos deveres e proibições; da acumulação; das responsabilidades; das penalidades. .................... 70
Resolução CNJ nº 230, de 22 de junho de 2016. ........................................................................................................................................ 79
Estatuto da Pessoa com Deficiência – Lei nº 13.146/2015. ..................................................................................................................... 85
Processo administrativo (Lei nº 9.784/99): das disposições gerais; dos direitos e deveres dos administrados. ..............111
Responsabilidade civil da Administração Pública. ....................................................................................................................................111
Improbidade Administrativa - Lei nº 8.429/92 – Lei de Improbidade Administrativa: das disposições gerais; dos atos de
improbidade, das penas. ....................................................................................................................................................................................114
Controle da Administração Pública.................................................................................................................................................................125
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c) Princípio da moralidade: A posição deste princí-


ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: pio no artigo 37 da CF representa o reconhecimento de
PRINCÍPIOS BÁSICOS uma espécie de moralidade administrativa, intimamente
relacionada ao poder público. A administração pública não
atua como um particular, de modo que enquanto o des-
cumprimento dos preceitos morais por parte deste parti-
Princípios constitucionais expressos
cular não é punido pelo Direito (a priori), o ordenamento
jurídico adota tratamento rigoroso do comportamento
Art. 37, Constituição Federal. A administração pública di-
imoral por parte dos representantes do Estado. O princípio
reta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados,
da moralidade deve se fazer presente não só para com os
do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios
administrados, mas também no âmbito interno. Está indis-
de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
sociavelmente ligado à noção de bom administrador, que
eficiência e, também, ao seguinte: [...]
não somente deve ser conhecedor da lei, mas também dos
princípios éticos regentes da função administrativa. TODO
São princípios da administração pública, nesta ordem:
ATO IMORAL SERÁ DIRETAMENTE ILEGAL OU AO MENOS
Legalidade
IMPESSOAL, daí a intrínseca ligação com os dois princípios
Impessoalidade
anteriores.
Moralidade
d) Princípio da publicidade: A administração pública
Publicidade
é obrigada a manter transparência em relação a todos seus
Eficiência
atos e a todas informações armazenadas nos seus ban-
cos de dados. Daí a publicação em órgãos da imprensa e
Para memorizar: veja que as iniciais das palavras formam
a afixação de portarias. Por exemplo, a própria expressão
o vocábulo LIMPE, que remete à limpeza esperada da Admi-
concurso público (art. 37, II, CF) remonta ao ideário de que
nistração Pública. É de fundamental importância um olhar
todos devem tomar conhecimento do processo seletivo de
atento ao significado de cada um destes princípios, posto que
servidores do Estado. Diante disso, como será visto, se ne-
eles estruturam todas as regras éticas prescritas no Código de
gar indevidamente a fornecer informações ao administrado
Ética e na Lei de Improbidade Administrativa, tomando como
caracteriza ato de improbidade administrativa.
base os ensinamentos de Carvalho Filho1 e Spitzcovsky2:
No mais, prevê o §1º do artigo 37, CF, evitando que o
a) Princípio da legalidade: Para o particular, legalidade
princípio da publicidade seja deturpado em propaganda
significa a permissão de fazer tudo o que a lei não proíbe.
político-eleitoral:
Contudo, como a administração pública representa os inte-
resses da coletividade, ela se sujeita a uma relação de subor-
Artigo 37, §1º, CF. A publicidade dos atos, programas,
dinação, pela qual só poderá fazer o que a lei expressamente
obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter
determina (assim, na esfera estatal, é preciso lei anterior edi-
caráter educativo, informativo ou de orientação social,
tando a matéria para que seja preservado o princípio da lega-
dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que
lidade). A origem deste princípio está na criação do Estado de
caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servido-
Direito, no sentido de que o próprio Estado deve respeitar as
res públicos.
leis que dita.
Somente pela publicidade os indivíduos controlarão
a legalidade e a eficiência dos atos administrativos. Os
b) Princípio da impessoalidade: Por força dos interes-
instrumentos para proteção são o direito de petição e as
ses que representa, a administração pública está proibida de
certidões (art. 5°, XXXIV, CF), além do habeas data e - resi-
promover discriminações gratuitas. Discriminar é tratar al-
dualmente - do mandado de segurança. Neste viés, ainda,
guém de forma diferente dos demais, privilegiando ou pre-
prevê o artigo 37, CF em seu §3º: 
judicando. Segundo este princípio, a administração pública
Artigo 37, §3º, CF. A lei disciplinará as formas de partici-
deve tratar igualmente todos aqueles que se encontrem na
pação do usuário na administração pública direta e indi-
mesma situação jurídica (princípio da isonomia ou igualda-
reta, regulando especialmente:
de). Por exemplo, a licitação reflete a impessoalidade no que I -  as reclamações relativas à prestação dos serviços públi-
tange à contratação de serviços. O princípio da impessoali- cos em geral, asseguradas a manutenção de serviços de atendi-
dade correlaciona-se ao princípio da finalidade, pelo qual o mento ao usuário e a avaliação periódica, externa e interna, da
alvo a ser alcançado pela administração pública é somente o qualidade dos serviços;
interesse público. Com efeito, o interesse particular não pode II -  o acesso dos usuários a registros administrativos e a in-
influenciar no tratamento das pessoas, já que deve-se buscar formações sobre atos de governo, observado o disposto no art.
somente a preservação do interesse coletivo. 5º, X e XXXIII;
III -  a disciplina da representação contra o exercício negli-
1 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
gente ou abusivo de cargo, emprego ou função na administra-
direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, ção pública.
2010.
2 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Administrativo. 13.
ed. São Paulo: Método, 2011.

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e) Princípio da eficiência: A administração pública deve Razoabilidade e proporcionalidade guardam, assim, a


manter o ampliar a qualidade de seus serviços com controle mesma finalidade, mas se distinguem em alguns pontos.
de gastos. Isso envolve eficiência ao contratar pessoas (o con- Historicamente, a razoabilidade se desenvolveu no direito
curso público seleciona os mais qualificados ao exercício do anglo-saxônico, ao passo que a proporcionalidade se origi-
cargo), ao manter tais pessoas em seus cargos (pois é possível na do direito germânico (muito mais metódico, objetivo e
exonerar um servidor público por ineficiência) e ao contro- organizado), muito embora uma tenha buscado inspiração
lar gastos (limitando o teto de remuneração), por exemplo. O
na outra certas vezes. Por conta de sua origem, a propor-
núcleo deste princípio é a procura por produtividade e eco-
cionalidade tem parâmetros mais claros nos quais pode ser
nomicidade. Alcança os serviços públicos e os serviços admi-
nistrativos internos, se referindo diretamente à conduta dos trabalhada, enquanto a razoabilidade permite um processo
agentes. interpretativo mais livre. Evidencia-se o maior sentido jurídico
e o evidente caráter delimitado da proporcionalidade pela
Outros princípios administrativos adoção em doutrina de sua divisão clássica em 3 sentidos:
Além destes cinco princípios administrativo-constitucio- - adequação, pertinência ou idoneidade: significa que o
nais diretamente selecionados pelo constituinte, podem ser meio escolhido é de fato capaz de atingir o objetivo preten-
apontados outros princípios que regem a função pública, es- dido;
parsos na legislação infraconstitucional: - necessidade ou exigibilidade: a adoção da medida res-
tritiva de um direito humano ou fundamental somente é le-
a) Princípio da legitimidade: todo ato administrativo gítima se indispensável na situação em concreto e se não for
praticado pela Administração Pública é presumido legítimo. possível outra solução menos gravosa;
Maria Sylvia Zanella Di Pietro entende que, “há cinco funda- - proporcionalidade em sentido estrito: tem o sentido de
mentos para justificar a presunção de legitimidade: a) o proce-
máxima efetividade e mínima restrição a ser guardado com
dimento e as formalidades que antecedem sua edição, cons-
tituindo garantia de observância da lei; b) o fato de expressar relação a cada ato jurídico que recaia sobre um direito hu-
a soberania do poder estatal, de modo que a autoridade que mano ou fundamental, notadamente verificando se há uma
expede o ato; c) a necessidade de assegurar celeridade no proporção adequada entre os meios utilizados e os fins de-
cumprimento das decisões administrativas; d) os mecanismos sejados.
de controle sobre a legalidade do ato; e) a sujeição da Admi- d) Princípio da economicidade: Deve ser buscado sem-
nistração ao princípio da legalidade, presumindo-se que seus pre o menor custo para atingir ao fim pretendido pela Admi-
atos foram praticados em conformidade com a lei”. nistração. Afinal, o dinheiro que é gasto pelo governo per-
b) Princípio da participação: Quem deve participar é tence ao povo, que contribui por meio de impostos, e deve
quem vive na sociedade, é o cidadão, aquele que pode ter di- ser adequadamente gerido para ampliar o bem-estar social.
reitos. Participar é ao mesmo tempo um direito e um dever. O e) Princípio da motivação: É a obrigação conferida ao
cidadão deve participar, esta é uma obrigação de todo aquele administrador de motivar todos os atos que edita, gerais ou
que vive em sociedade. E o cidadão deve ter espaço para par- de efeitos concretos. É considerado, entre os demais prin-
ticipar. Com a ampliação do conceito de soberania e cidada-
cípios, um dos mais importantes, uma vez que sem a mo-
nia e, consequentemente, da responsabilidade do cidadão, se
torna ainda mais evidente esta necessidade de participar. A tivação não há o devido processo legal, uma vez que a fun-
democracia brasileira adota a modalidade semidireta, porque damentação surge como meio interpretativo da decisão que
possibilita a participação popular direta no poder por inter- levou à prática do ato impugnado, sendo verdadeiro meio
médio de processos como o plebiscito, o referendo e a ini- de viabilização do controle da legalidade dos atos da Admi-
ciativa popular (art. 14, CF). No entanto, reconhece-se que as nistração.
hipóteses de participação constitucionalmente expressas não Motivar significa mencionar o dispositivo legal aplicável
esgotam o rol de possibilidades de exercício da participação ao caso concreto e relacionar os fatos que concretamente
pelo povo. Por exemplo, o próprio exercício de liberdade de levaram à aplicação daquele dispositivo legal. Todos os atos
manifestação se encaixa como participação, tal como a parti- administrativos devem ser motivados para que o Judiciário
cipação em audiências públicas, etc. possa controlar o mérito do ato administrativo quanto à sua
c) Princípios da razoabilidade e proporcionalidade: legalidade. Para efetuar esse controle, devem ser observados
Razoabilidade e proporcionalidade são fundamentos de ca- os motivos dos atos administrativos.
ráter instrumental na solução de conflitos que se estabele- Em relação à necessidade de motivação dos atos ad-
çam entre direitos, notadamente quando não há legislação ministrativos vinculados (aqueles em que a lei aponta um
infraconstitucional específica abordando a temática objeto único comportamento possível) e dos atos discricionários
de conflito. Neste sentido, quando o poder público toma
(aqueles que a lei, dentro dos limites nela previstos, aponta
determinada decisão administrativa deve se utilizar destes
um ou mais comportamentos possíveis, de acordo com um
vetores para determinar se o ato é correto ou não, se está
juízo de conveniência e oportunidade), a doutrina é unís-
atingindo indevidamente uma esfera de direitos ou se é re-
sona na determinação da obrigatoriedade de motivação
gular. Tanto a razoabilidade quanto a proporcionalidade ser-
vem para evitar interpretações esdrúxulas manifestamente com relação aos atos administrativos vinculados; todavia,
contrárias às finalidades do texto declaratório. diverge quanto à referida necessidade quanto aos atos dis-
cricionários.

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Meirelles3 entende que o ato discricionário, edita- h) Princípios da Tutela e da Autotutela da Adminis-
do sob os limites da Lei, confere ao administrador uma tração Pública: a Administração possui a faculdade de re-
margem de liberdade para fazer um juízo de conveniên- ver os seus atos, de forma a possibilitar a adequação destes
cia e oportunidade, não sendo necessária a motivação. à realidade fática em que atua, e declarar nulos os efeitos
No entanto, se houver tal fundamentação, o ato deverá dos atos eivados de vícios quanto à legalidade. O sistema
condicionar-se a esta, em razão da necessidade de obser- de controle dos atos da Administração adotado no Brasil é
vância da Teoria dos Motivos Determinantes. O entendi-
o jurisdicional. Esse sistema possibilita, de forma inexorável,
mento majoritário da doutrina, porém, é de que, mesmo
ao Judiciário, a revisão das decisões tomadas no âmbito
no ato discricionário, é necessária a motivação para que
da Administração, no tocante à sua legalidade. É, portanto,
se saiba qual o caminho adotado pelo administrador. Gas-
parini4, com respaldo no art. 50 da Lei n. 9.784/98, aponta denominado controle finalístico, ou de legalidade.
inclusive a superação de tais discussões doutrinárias, pois À Administração, por conseguinte, cabe tanto a anu-
o referido artigo exige a motivação para todos os atos nele lação dos atos ilegais como a revogação de atos válidos
elencados, compreendendo entre estes, tanto os atos dis- e eficazes, quando considerados inconvenientes ou ino-
cricionários quanto os vinculados. portunos aos fins buscados pela Administração. Essa for-
f) Princípio da probidade: um princípio constitucio- ma de controle endógeno da Administração denomina-se
nal incluído dentro dos princípios específicos da licitação, princípio da autotutela. Ao Poder Judiciário cabe somente a
é o dever de todo o administrador público, o dever de anulação de atos reputados ilegais. O embasamento de tais
honestidade e fidelidade com o Estado, com a popula- condutas é pautado nas Súmulas 346 e 473 do Supremo
ção, no desempenho de suas funções. Possui contornos Tribunal Federal.
mais definidos do que a moralidade. Diógenes Gasparini5
alerta que alguns autores tratam veem como distintos os Súmula 346. A administração pública pode declarar a
princípios da moralidade e da probidade administrativa,
nulidade dos seus próprios atos.
mas não há características que permitam tratar os mesmos
como procedimentos distintos, sendo no máximo possível
afirmar que a probidade administrativa é um aspecto par- Súmula 473. A administração pode anular seus próprios
ticular da moralidade administrativa. atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque
g) Princípio da continuidade dos serviços públicos: deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de
O Estado assumiu a prestação de determinados serviços, conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adqui-
por considerar que estes são fundamentais à coletividade. ridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.
Apesar de os prestar de forma descentralizada ou mesmo
delegada, deve a Administração, até por uma questão de Os atos administrativos podem ser extintos por revo-
coerência, oferecê-los de forma contínua e ininterrupta. gação ou anulação. A Administração tem o poder de rever
Pelo princípio da continuidade dos serviços públicos, o seus próprios atos, não apenas pela via da anulação, mas
Estado é obrigado a não interromper a prestação dos ser- também pela da revogação. Aliás, não é possível revogar
viços que disponibiliza. A respeito, tem-se o artigo 22 do atos vinculados, mas apenas discricionários. A revogação
Código de Defesa do Consumidor: se aplica nas situações de conveniência e oportunidade,
quanto que a anulação serve para as situações de vício de
Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas,
legalidade.
concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra for-
ma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços
adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, con- i) Princípio da Segurança Jurídica: segurança jurídica
tínuos. é a garantia social de que as leis serão respeitadas e co-
Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total brirão o mais vasto possível rol relações socialmente rele-
ou parcial, das obrigações referidas neste artigo, serão as vantes. Em termos objetivos, versa sobre a irretroatividade
pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os da- de nova interpretação de lei no âmbito da Administração
nos causados, na forma prevista neste código. Pública. Em termos subjetivos, versa sobre a confiança da
sociedade nos atos, procedimentos e condutas proferidas
pelo Estado.
j) Princípio da finalidade: O princípio da finalidade
imprime à autoridade administrativa o dever de praticar
3 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo o ato administrativo com vistas à realização da finalidade
brasileiro. São Paulo: Malheiros, 1993. perseguida pela lei. A finalidade sempre envolverá a pre-
4 GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 9ª servação do interesse público.
ed. São Paulo: Saraiva, 2004.
5 GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 9ª
ed. São Paulo: Saraiva, 2004.

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k) Princípio da supremacia do interesse público so- “O poder administrativo representa uma prerrogativa
bre o privado: Na maioria das vezes, a Administração, para especial de direito público outorgada aos agentes do Esta-
buscar de maneira eficaz tais interesses, necessita ainda de do. Cada um desses terá a seu cargo a execução de certas
se colocar em um patamar de superioridade em relação funções. Ora, se tais funções foram por lei cometidas aos
aos particulares, numa relação de verticalidade, e para isto agentes, devem eles exercê-las, pois que seu exercício é vol-
se utiliza do princípio da supremacia, conjugado ao princí- tado para beneficiar a coletividade. Ao fazê-lo, dentro dos
pio da indisponibilidade, pois, tecnicamente, tal prerroga- limites que a lei traçou, pode dizer-se que usaram normal-
tiva é irrenunciável, por não haver faculdade de atuação ou mente os seus poderes. Uso do poder, portanto, é a utili-
zação normal, pelos agentes públicos, das prerrogativas
não do Poder Público, mas sim “dever” de atuação.
que a lei lhes confere”6.
Sempre que houver conflito entre um interesse indi-
Neste sentido, “os poderes administrativos são outorga-
vidual e um interesse público coletivo, deve prevalecer o
dos aos agentes do Poder Público para lhes permitir atuação
interesse público. São as prerrogativas conferidas à Admi- voltada aos interesses da coletividade. Sendo assim, deles
nistração Pública, porque esta atua por conta de tal interes- emanam duas ordens de consequência: 1ª) são eles irre-
se. Com efeito, o exame do princípio é predominantemente nunciáveis; e 2ª) devem ser obrigatoriamente exercidos
feito no caso concreto, analisando a situação de conflito pelos titulares. Desse modo, as prerrogativas públicas, ao
entre o particular e o interesse público e mensurando qual mesmo tempo em que constituem poderes para o adminis-
deve prevalecer. trador público, impõem-lhe o seu exercício e lhe vedam a
l) Princípio da indisponibilidade do interesse públi- inércia, porque o reflexo desta atinge, em última instância,
co: A Administração não possui livre disposição dos bens a coletividade, esta a real destinatária de tais poderes. Esse
e interesses públicos, uma vez que atua em nome de ter- aspecto dúplice do poder administrativo é que se deno-
ceiros, a coletividade. O interesse público é indisponível, mina de poder-dever de agir”7. Percebe-se que, diferen-
o que implica em afirmar que todo o patrimônio público temente dos particulares aos quais, quando conferido um
deve ser preservado e gerido de maneira adequada. Por poder, podem optar por exercê-lo ou não, a Administração
isso, confere-se ao agente administrador da coisa pública não tem faculdade de agir, afinal, sua atuação se dá dentro
o dever de prestar contas sobre o patrimônio por ele con- de objetos de interesse público. Logo, a abstenção não pode
trolado, evitando que a coisa se perca ou se deteriore de ser aceita, o que transforma o poder de agir também num
maneira indevida. dever de fazê-lo: daí se afirmar um poder-dever. Com efeito,
o agente omisso poderá ser responsabilizado.
Os poderes da Administração se dividem em: vincula-
do, discricionário, hierárquico, disciplinar, regulamentar
PODERES ADMINISTRATIVOS: PODER HIE- e de polícia.
RÁRQUICO, PODER DISCIPLINAR, PODER REGU-
LAMENTAR E PODER DE POLÍCIA Poder vinculado
No poder vinculado não há qualquer liberdade quanto à
atividade que deva ser praticada, cabendo ao administrador
se sujeitar por completo ao mandamento da lei. Nos atos
O Estado possui papel central de disciplinar a socie- vinculados, o agente apenas reproduz os elementos da lei.
dade. Como não pode fazê-lo sozinho, constitui agentes Afinal, o administrador se encontra diante de situações que
que exercerão tal papel. No exercício de suas atribuições, comportam solução única anteriormente prevista por lei.
são conferidas prerrogativas aos agentes, indispensáveis à Portanto, não há espaço para que o administrador faça um
consecução dos fins públicos, que são os poderes admi- juízo discricionário, de conveniência e oportunidade. Ele é
nistrativos. Em contrapartida, surgirão deveres específicos, obrigado a praticar o ato daquela forma, porque a lei assim
que são deveres administrativos. prevê. Ex.: pedido de aposentadoria compulsória por servi-
Os poderes conferidos à administração surgem como dor que já completou 70 anos; pedido de licença para pres-
instrumentos para a preservação dos interesses da coletivi- tar serviço militar obrigatório.
dade. Caso a administração se utilize destes poderes para
fins diversos de preservação dos interesses da sociedade, Poder discricionário
estará cometendo abuso de poder, ou seja, incidindo em Existem situações em que o próprio agente tem a pos-
sibilidade de valorar a sua conduta. Logo, no poder discri-
ilegalidade. Neste caso, o Poder Judiciário poderá efetuar
cionário o administrador não está diante de situações que
controle dos atos administrativos que impliquem em ex-
comportam solução única. Possui, assim, um espaço para
cesso ou abuso de poder.
exercer um juízo de valores de conveniência e oportunidade.
Quanto aos poderes administrativos, eles podem ser
6 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
colocados como prerrogativas de direito público conferi-
direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris,
das aos agentes públicos, com vistas a permitir que o Esta- 2010.
do alcance os seus fins. Evidentemente, em contrapartida a 7 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
estes poderes, surgem deveres ao administrador. direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris,
2010.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

Conveniência = condições em que irá agir Caso ocorra abuso ao poder regulamentar, caberá ao
Oportunidade = momento em que irá agir Congresso Nacional sustar o ato: “Art. 49, CF. É da competência
Discricionariedade = oportunidade + conveniência exclusiva do Congresso Nacional: [...] V - sustar os atos normati-
vos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar
A discricionariedade pode ser exercida tanto quando o ato é ou dos limites de delegação legislativa”.
praticado quanto, num momento futuro, na circunstância de sua Segundo entendimento majoritário, tanto os decretos
revogação. quanto os regulamentos podem ser autônomos (atos de natu-
Uma das principais limitações ao poder discricionário é a reza originária ou primária) ou de execução (atos de natureza
adequação, correspondente à adequação da conduta escolhida derivada ou secundária), embora a essência do poder regula-
pelo agente à finalidade expressa em lei. O segundo limite é o mentar seja composta pelos decretos e regulamentos de execu-
da verificação dos motivos8. Neste sentido, discricionariedade não ção. O regulamento autônomo pode ser editado independen-
pode se confundir com arbitrariedade – a última é uma conduta temente da existência de lei anterior, se encontrando no mesmo
ilegítima e quanto a ela caberá controle de legalidade perante o patamar hierárquico que a lei – por isso, é passível de controle
Poder Judiciário. de constitucionalidade. Os regulamentos de execução depen-
“O controle judicial, entretanto, não pode ir ao extremo de dem da existência de lei anterior para que possam ser editados
admitir que o juiz se substituta ao administrador. Vale dizer: não e devem obedecer aos seus limites, sob pena de ilegalidade –
pode o juiz entrar no terreno que a lei reservou aos agentes da deste modo, se sujeitam a controle de legalidade.
Administração, perquirindo os critérios de conveniência e oportu- Nos termos do artigo 84, IV, CF, compete privativamente ao
nidade que lhe inspiraram a conduta. A razão é simples: se o juiz Presidente da República expedir decretos e regulamentos para
se atém ao exame da legalidade dos atos, não poderá questionar a fiel execução da lei, atividade que não pode ser delegada,
critérios que a própria lei defere ao administrador. [...] Moderna- nos termos do parágrafo único. Em que pese o teor do dispo-
mente, os doutrinadores têm considerado os princípios da razoa- sitivo que poderia dar a entender que a existência de decretos
bilidade e da proporcionalidade como valores que podem ense- autônomos é impedida, o próprio STF já reconheceu decretos
jar o controle da discricionariedade, enfrentando situações que, autônomos como válidos em situações excepcionais. Carvalho
embora com aparência de legalidade, retratam verdadeiro abuso Filho10, a respeito, afirma que somente são decretos e regula-
de poder. [...] A exacerbação ilegítima desse tipo de controle re- mentos que tipicamente caracterizam o poder regulamentar
flete ofensa ao princípio republicano da separação dos poderes”9. aqueles que são de natureza derivada – o autor admite que
Há quem diga que, por haver tal liberdade, não existe o dever existem decretos e regulamentos autônomos, mas diz que não
de motivação, mas isso não está correto: aqui, mais que nunca, o são atos do poder regulamentar.
dever de motivar se faz presente, demonstrando que não houve A classificação dos decretos e regulamentos em autôno-
arbítrio na decisão tomada pelo administrador. Basicamente, não mos e de execução é bastante relevante para fins de controle
é porque o administrador tem liberdade para decidir de outra for- judicial. Em se tratando de decreto de execução, o parâmetro
ma que o fará sem cometer arbitrariedades e, caso o faça, incidirá de controle será a lei a qual o decreto está vinculado, ocorrendo
em ilicitude. O ato discricionário que ofenda os parâmetros da mero controle de legalidade como regra – não caberá contro-
razoabilidade é atentatório à lei. Afinal, não obstante a discricio- le de constitucionalidade por ações diretas de inconstituciona-
nariedade seja uma prerrogativa da administração, o seu maior lidade ou de constitucionalidade, mas caberá por arguição de
objetivo é o atendimento aos interesses da coletividade. descumprimento de preceito fundamental – ADPF, cujo caráter
é mais amplo e permite o controle sobre atos regulamentares
Poder regulamentar derivados de lei, tal como será cabível mandado de injunção.
Em linhas gerais, poder regulamentar é o poder conferido à Em se tratando de decreto autônomo, o parâmetro de contro-
administração de elaborar decretos e regulamentos. Percebe- le sempre será a Constituição Federal, possuindo o decreto a
-se que o Poder Executivo, nestas situações, exerce força normati- mesma posição hierárquica das demais leis infraconstitucionais,
va, expedindo normas que se revestem, como qualquer outra, de ocorrendo genuíno controle de constitucionalidade no caso
abstração e generalidade. concreto, por qualquer das vias.
Quando o Poder Legislativo edita suas leis nem sempre pos- Outra observação que merece ser feita se refere ao conceito
sibilita que elas sejam executadas. A aplicação prática fica a cargo de deslegalização. O fenômeno tem origem na França e corres-
do Poder Executivo, que irá editar decretos e regulamentos com ponde à transferência de certas matérias de caráter estritamente
capacidade de dar execução às leis editadas pelo Poder Legisla- técnico da lei ou ato congênere para outras fontes normativas,
tivo. Trata-se de prerrogativa complementar à lei, não podendo com autorização do próprio legislador. Na verdade, o legislador
em hipótese alguma o Executivo alterar o seu conteúdo. Entre- efetuará uma espécie de delegação, que não será completa e
tanto, poderá o Executivo criar obrigações subsidiárias, que se integral, pois ainda caberá ao Legislativo elaborar o regramento
impõem ao administrado ao lado das obrigações primárias fixa- básico, ocorrendo a transferência estritamente do aspecto técni-
das na própria lei. co (denomina-se delegação com parâmetros). Há quem diga
8 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de que nestes casos não há poder regulamentar, mas sim poder re-
direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, gulador. É exemplo do que ocorre com as agências reguladoras,
2010. como ANATEL, ANEEL, entre outras.
9 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de 10 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris,
2010. 2010.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

Quanto à questão do poder normativo não legislativo Evidentemente que tais punições não podem ser aplicadas
e sua relação com o princípio da legalidade, fixam-se as se- sem alguns requisitos, como a abertura de sindicância ou proces-
guintes premissas: Os Decretos executivos dedicam-se à fiel so disciplinar em que se garanta o contraditório e a ampla defesa
execução das leis, conforme art. 84, III, CF. Já a Constituição (obs.: existem cargos que somente são passíveis de demissão por
Federal prevê em seu art. 5º, II que “ninguém será obrigado a sentença judicial, que são os vitalícios, como os de magistrado e
fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”, promotor de justiça).
consubstanciando o princípio da legalidade.
Com efeito, a intenção do art. 84, III, CF é impedir que Poder de polícia
sob o crivo de regulamentar sejam expedidas disposições de É o poder conferido à administração para limitar, disciplinar,
caráter legislativo, isto é, normas que constituam direitos e restringir e condicionar direitos e atividades particulares para
obrigações não abarcadas por lei. Lei, aqui, é expressão que a preservação dos interesses da coletividade. É ainda, fato gerador
deve ser tomada em sentido estrito: ato normativo elaborado de tributo, notadamente, a taxa (artigo 145, II, CF), não podendo
no âmbito do Poder Legislativo, com caráter geral e abstrato, ser gerador de tarifa que se caracteriza como preço público e não
devidamente tramitado mediante processo legislativo, apto a podendo ser cobrada sem o exercício efetivo do poder de polícia.
constituir direitos e obrigações. “A expressão poder de polícia comporta dois sentidos, um
Neste sentido, é só por lei que é regulada a liberdade e a amplo e um estrito. Em sentido amplo, poder de polícia significa
propriedade e é só por lei que é possível impor coativamente toda e qualquer ação restritiva do Estado em relação aos direitos
obrigações de fazer ou não fazer. É apenas para cumprir dis- individuais. [...] Em sentido estrito, o poder de polícia se configura
positivos legais que o Executivo pode expedir decretos e regu- como atividade administrativa, que consubstancia, como vimos,
lamentos. Proíbe-se qualquer tipo de inovação que atinja es- verdadeira prerrogativa conferida aos agentes da Administração,
pecificamente direito, dever, obrigação, limitação ou restrição consistente no poder de restringir e condicionar a liberdade e a
sobre alguém e que não estavam já estatuídos e identificados propriedade”11.
em lei regulamentada. No sentido amplo, é possível incluir até mesmo a atividade do
Por fim, apontam-se as distinções entre regulação e re- Poder Legislativo, considerando que ninguém é obrigado a fazer
gulamentação, conforme definições do dicionário Aurélio: ou deixar de fazer algo se a lei não impuser (artigo 5º, II, CF). No
- regulação: [De regular + ação]. S.f. Ato ou efeito de sentido estrito, tem-se a atividade da polícia administrativa, en-
regular(-se). volvendo apenas as prerrogativas dos agentes da Administração.
- regulamento: [De regular + mento]. S. m. 1. Ato ou efeito Em destaque, coloca-se o conceito que o próprio legislador
de regular. 2. Ordem superior; determinação. 3.Prescrição, re- estabelece no Código Tributário Nacional: “Considera-se poder de
gra, norma, preceito. 4. Conjunto de regras ou normas. 5. Dis- polícia a atividade da administração pública que, limitando o disci-
posição oficial para explicar a execução de uma lei, etc. plinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou
- regular: [Do v. lat. Regulare.] V. t. d. 1. Sujeitar as regras; abstenção de fato, em razão de interesse público [...]” (art. 78, pri-
dirigir; regrar. 2. Encaminhar conforme a lei. 3.Esclarecer e faci- meira parte, CTN). A atividade de polícia é tipicamente administra-
litar por meio de disposições (a execução de lei); regulamen- tiva, razão pela qual é estudada no ramo do direito administrativo.
tar. 4. Estabelecer regras para; regularizar. Vale ressaltar, por fim, um dos principais atributos do poder
O termo regulação diz respeito a todo tipo de intervenção de polícia: a autoexecutoriedade. Neste sentido, a administração
que o Estado faz na atividade econômica pública e privada, ora não precisa de manifestação do Poder Judiciário para colocar seus
para controlar e orientar o mercado, ora para proteger o inte- atos em prática, efetivando-os.
resse público. Regulamentação é termo mais restrito, referente
exclusivamente ao ato de exercer o poder regulamentar. Neste Polícia-função e polícia-corporação
sentido, conforme se depreende do art. 84, IV, CF, a atividade “Apenas com o intuito de evitar possíveis dúvidas em decor-
de regulamentação é exclusiva do Chefe do Poder Executivo, rência da identidade de vocábulos, vale a pena realçar que não
não sendo passível de delegação. De outro lado, possuem há como confundir polícia-função com polícia-corporação:
competência para expedir regras regulatórias tanto o Poder aquela é a função estatal propriamente dita e deve ser interpreta-
Legislativo quanto o Poder Administrativo através de suas en- da sob o aspecto material, indicando atividade administrativa; esta,
tidades pertencentes à Administração Direta ou Indireta. contudo, corresponde à ideia de órgão administrativo, integrado
nos sistemas de segurança pública e incumbido de prevenir os de-
Poder disciplinar litos e as condutas ofensivas à ordem pública, razão por que deve
Trata-se de decorrência do poder hierárquico, pois é a hie- ser vista sob o aspecto subjetivo (ou formal). A polícia-corporação
rarquia que permite aos agentes de nível superior fiscalizar as executa frequentemente funções de polícia administrativa, mas a
ações dos subordinados. Assim, poder disciplinar é o poder polícia-função, ou seja, a atividade oriunda do poder de polícia,
é exercida por outros órgãos administrativos além da corporação
conferido à administração para aplicar sanções aos seus servi-
policial”12.
dores que pratiquem infrações disciplinares.
Estas sanções aplicadas são apenas as que possuem natu- 11 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
reza administrativa, não envolvendo sanções civis ou penais. direito administrativo. 28. ed. Rio de Janeiro: Lumen ju-
Entre as penas que podem ser aplicadas, destacam-se a de ad- ris, 2015.
vertência, suspensão, demissão e cassação de aposentadoria. 12 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
direito administrativo. 28. ed. Rio de Janeiro: Lumen ju-

6
DIREITO ADMINISTRATIVO

Competência fissões (OAB, CRM, etc.), polícia de construções, etc. Neste


A competência para exercer o poder de polícia é, a sentido, será possível atuar tanto por atos normativos (atos
princípio, da pessoa administrativa que foi dotada de com- genéricos, abstratos e impessoais, como decretos, regula-
petência no âmbito do poder regulamentar. Se a compe- mentos, portarias, instruções, resoluções, entre outros) e
tência for concorrente, também o poder de polícia será por atos concretos (voltados a um indivíduo específico e
exercido de forma concorrente. isolado, que podem ser determinações, como a multa, ou
atos de consentimento, como a concessão ou revogação
Delegação e transferência de licença ou autorização por alvará).
O poder de polícia pode ser exercido de forma origi-
nária, pelo próprio órgão ao qual se confere a competên- Liberdades públicas e poder de polícia
cia de atuação, ou de forma delegada, mediante lei que Evidentemente, abusos no exercício do poder de po-
transfira a mera prática de atos de natureza fiscalizatória lícia não podem ser tolerados. Por mais que todo direito
(poder de polícia seria de caráter executório, não inovador)
individual seja relativo perante o interesse público, existem
a pessoas jurídicas que tenham vinculação oficial com en-
núcleos mínimos de direitos que devem ser preservados,
tes públicos.
mesmo no exercício do poder de polícia. Neste sentido, a
Obs.: A transferência de tarefas de operacionalização,
faculdade repressiva deve respeitar os direitos do cida-
no âmbito de simples constatação, não é considerada de-
legação do poder de polícia. Delegação ocorre quando a dão, as prerrogativas individuais e as liberdades públi-
atividade fiscalizatória em si é transferida. Por exemplo, cas que são consagrados no texto constitucional.
uma empresa contratada para operar radares não recebeu Para compreender a questão, interessante suscitar qual
delegação do poder de polícia, mas uma guarda municipal o caráter do poder de polícia, se discricionário ou vincula-
instituída na forma de empresa pública com poder de apli- do. A doutrina de Meirelles14 e Carvalho Filho15 recomenda
car multas recebeu tal delegação. que quando o poder de polícia vai ter os seus limites fixa-
dos há discricionariedade (por exemplo, quando o poder
Polícia judiciária e polícia administrativa público vai decidir se pode ou não ocorrer pesca num de-
Uma das mais importantes classificações doutrinárias terminado rio), mas quando já existem os limites o ato se
corresponde à distinção entre polícia administrativa e po- torna vinculado (no mesmo exemplo, não se pode decidir
lícia judiciária, assim explanada por Carvalho Filho: “ambos por multar um pescador e não multar o outro por pesca-
se enquadram no âmbito da função administrativa, vale di- rem no rio em que a pesca é proibida, devendo ambos se-
zer, representam atividades de gestão de interesses públi- rem multados). Tal raciocínio é relevante para verificar, num
cos. A Polícia Administrativa é atividade da Administra- caso concreto, se houve ou não abuso do poder de polícia.
ção que se exaure em si mesma, ou seja, inicia e se com- Vamos supor que a lei fixe os limites para o ato, mas que
pleta no âmbito da função administrativa. O mesmo não na prática tais limites tenham sido ignorados: não haverá
ocorre com a Polícia Judiciária, que, embora seja atividade discricionariedade, então.
administrativa, prepara a atuação da função jurisdicional
penal, o que a faz regulada pelo Código de Processo Pe- Com efeito, os principais limites do Poder de Polícia são:
nal (arts. 4º ss) e executada por órgãos de segurança (po- “- Necessidade – a medida de polícia só deve ser ado-
lícia civil ou militar), ao passo que a Polícia Administrativa tada para evitar ameaças reais ou prováveis de perturba-
o é por órgãos administrativos de caráter mais fiscalizador. ções ao interesse público;
Outra diferença reside na circunstância de que a Polícia - Proporcionalidade/razoabilidade – é a relação entre
Administrativa incide basicamente sobre atividades dos a limitação ao direito individual e o prejuízo a ser evitado;
indivíduos, enquanto a Polícia Judiciária preordena-se ao - Eficácia – a medida deve ser adequada para impedir
indivíduo em si, ou seja, aquele a quem se atribui o co- o dano a interesse público. Para ser eficaz a Administração
metimento de ilícito penal”13. Além disso, essencialmente, a não precisa recorrer ao Poder Judiciário para executar as
Polícia Administrativa tem caráter preventivo (busca evi- suas decisões, é o que se chama de autoexecutoriedade”16.
tar o dano social), enquanto que a Polícia Judiciária tem Importante colocar, como limite, ainda, a necessidade
caráter repressivo (busca a punição daquele que causou de garantia de contraditório e ampla defesa ao adminis-
o dano social). trado. Neste sentido, a súmula nº 312, STJ: “no processo
Sobre os campos de exercício da polícia administrativa, administrativo para imposição de multa de trânsito, são ne-
considerando que todos os direitos individuais são limita- cessárias as notificações da atuação e da aplicação da pena
dos pelo interesse da coletividade, já se pode deduzir que decorrentes da infração”.
o âmbito de atuação do poder de polícia é o mais amplo
possível. Entre eles, cabe mencionar, polícia sanitária, polí- 14 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo
cia ambiental, polícia de trânsito e tráfego, polícia de pro- brasileiro. São Paulo: Malheiros, 1993.
15 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
ris, 2015. direito administrativo. 28. ed. Rio de Janeiro: Lumen ju-
13 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de ris, 2015.
direito administrativo. 28. ed. Rio de Janeiro: Lumen ju- 16 http://www.tudosobreconcursos.com/materiais/
ris, 2015. direito-administrativo/conceito-de-direito-administrativo

7
DIREITO ADMINISTRATIVO

Deveres da Administração “A prestação de contas de administradores pode ser


realizada internamente através dos órgãos escalonados em
Dever de agir graus hierárquicos, ou externamente. Neste caso, o con-
O administrador possui um poder-dever de agir. Não se trole de contas é feito pelo Poder Legislativo por ser ele
trata de mero poder, porque priorizam atender ao interesse da o órgão de representação popular. No Legislativo se situa,
coletividade e, em razão disso, o poder de agir é também um organicamente, o Tribunal de Contas, que, por sua espe-
dever, que é irrenunciável e obrigatório. Ao administrador é cialização, auxilia o Congresso Nacional na verificação de
vedada a inércia. Logo, poderá ser responsabilizado por omis- contas dos administradores”17.
são ou silêncio, abrindo possibilidade de obter o ato não rea-
lizado: pela via extrajudicial, notadamente ao exercer o direito Uso do poder
de petição; ou por via judicial, por intermédio de mandado de Conforme Carvalho Filho, uso do poder “é a utilização
segurança, quando ferir direito líquido e certo do interessado normal, pelos agentes públicos, das prerrogativas que a lei
comprovado de plano, ou por ação de obrigação de fazer.
lhes confere”18. Significa que se um agente toma suas ati-
ATENÇÃO: nem toda omissão do poder público é ilegal.
tudes dentro dos limites dos poderes administrativos, está
As denominadas omissões genéricas, que envolvem prerro-
agindo conforme a lei. Um dos principais guias para de-
gativas de ação do administrador de caráter geral e sem prazo
terminar se a ação está ou não em conformidade é o dos
determinado para atendimento, inseridas em seu poder discri-
cionário, não autorizam a alegação de ilegalidade por violação deveres administrativos.
do poder-dever de agir. Insere-se aqui a denominada reserva Assim, além de poderes, os agentes administrativos,
do possível – por óbvio sempre existirão algumas omissões obviamente, detêm deveres, em razão das atribuições que
tendo em vista a escassez de recursos financeiros. Ex.: deixar exercem.
de reformar a entrada de um edifício, não construir um estabe-
lecimento de ensino. São ilegais, com efeito, as omissões es- Abuso de poder
pecíficas, que são omissões do poder público mesmo diante Havendo poderes, naturalmente será possível o abuso
de imposição expressa legal e prazo fixado em lei para atendi- deles. Abuso de poder é a utilização inadequada por parte
mento. Nestas situações, caberá até mesmo responsabilização dos administradores das prerrogativas a eles conferidas no
civil, penal ou administrativa do agente omisso. âmbito dos poderes da administração, por violação expres-
sa ou tácita da lei.
Dever de eficiência “A conduta abusiva dos administradores pode decor-
A atividade administrativa deve ser célere e técnica, mes- rer de duas causas: 1ª) o agente atua fora dos limites de
clando qualidade e quantidade. Para tanto, é necessário atri- sua competência; e 2ª) o agente, embora dentro de sua
buir competências aos cargos conforme a qualificação exigi- competência, afasta-se do interesse público que deve nor-
da para ocupá-los; bem como desempenhar atividades com tear todo o desempenho administrativo. No primeiro caso,
perfeição, coordenação, celeridade e técnica. Não significa diz-se que o agente atuou com ‘excesso de poder’ e no
que perfeccionismo em excesso seja valorizado, pois ele afeta segundo, com ‘desvio de poder’”19. Basicamente, havendo
o elemento quantitativo do serviço, que também é essencial abuso de poder é possível que se caracterize excesso de
para que ele seja eficiente. poder ou desvio de poder. No excesso de poder, o agente
nem teria competência para agir naquela questão e o
Dever de probidade faz. No abuso de poder, o agente possui competência
Trata-se de um dos deveres mais relevantes, correspon- para agir naquela questão, mas não o faz em respeito
dendo à obrigação do agente público de agir de forma hones- ao interesse público, ou seja, desvirtua-se do fim que de-
ta e reta, respeitando a moralidade administrativa e o interesse veria atingir o seu ato, por isso o desvio de poder também
público. A violação deste dever caracteriza ato de improbida- é denominado desvio de finalidade. A conduta abusiva é
de, punível, conforme artigo 37, §4º, CF e Lei nº 8.429/92, que passível de controle, inclusive judicial.
se sujeita a diversas penas, como suspensão de direitos políti-
cos, perda da função pública, proibição de contratar com o po- EXCESSO DE PODER = INCOMPETÊNCIA
der público, multa, além de restituição ao erário por enrique- ABUSO DE PODER = COMPETÊNCIA = DESVIO DE
cimento ilícito e/ou reparação de danos causados ao erário. FINALIDADE
Dever de prestação de contas
Como o que é gerido pelo administrador não lhe perten- 17 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
ce, é seu dever prestar contas do que realizou à coletividade, direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris,
isto é, informar em detalhes qual o destino dado às verbas e 2010.
aos bens sob sua gestão. Este dever abrange não só aqueles 18 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
que são agentes públicos, mas a todos que tenham sob sua direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris,
responsabilidade dinheiros, bens ou interesses públicos, inde- 2010.
pendentemente de serem ou não administradores públicos. 19 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris,
2010.

8
DIREITO ADMINISTRATIVO

“Pela própria natureza do fato em si, todo abuso de po- Assim, a titularidade de um serviço público é sempre da
der se configura como ilegalidade. Não se pode conceber que Administração Pública, que possui competência para fixar as
a conduta de um agente, fora dos limites de sua competência regras de execução do serviço e para fiscalizar o cumprimento
ou despida da finalidade da lei, possa compatibilizar-se com a das mesmas, aplicando sanções em caso de descumprimento.
legalidade. É certo que nem toda ilegalidade decorre de conduta A Administração Pública pode decidir executar ela mes-
abusiva; mas todo abuso se reveste de ilegalidade e, como tal, ma um serviço público através de órgãos que integram a sua
sujeita-se à revisão administrativa ou judicial”20. Administração direta; ou então fazê-lo através de uma pessoa
Se é possível o excesso ou o abuso de poder, é claro que que integre a sua Administração indireta (autarquias, empresas
a legislação não apenas confere poderes ao administrador, mas públicas, sociedades de economia mista e fundações públicas);
também estabelece deveres. além de poder resolver que a execução do serviço público será
transferida a particulares, cabendo escolher quem deles reúne
Serviços públicos: conceito, regime jurídico, princípios, ti- a melhor condição por meio de licitação, isto é, permissão, con-
tularidade e competência. Delegação: concessão, permissão e cessão e autorização de serviço.
autorização. Os particulares, no máximo, assumem a execução do ser-
viço, mediante delegação do poder público. Logo, a prestação
Serviço público é todo aquele prestado pela administração pode ser centralizada quando a própria Administração Pública
ou por particulares debaixo de regras de direito público para executa os serviços, ou descentralizada quando a Administra-
a preservação dos interesses da coletividade. A titularidade da ção Pública passa a execução para terceiros. Esses terceiros po-
prestação de um serviço público sempre será da Administração dem estar dentro ou fora da Administração Direta.
Pública, somente podendo ser transferido a um particular a exe-
cução do serviço público. As regras serão sempre fixadas uni-
lateralmente pela Administração, independentemente de quem
esteja executando o serviço público. Qualquer contrato adminis- PRINCIPAIS SETORES DE ATUAÇÃO DA
trativo aos olhos do particular é contrato de adesão. POLÍCIA ADMINISTRATIVA
Somente por regras de direito público é possível prestar
serviços públicos. Para distinguir quais serviços são públicos e
quais não, deve-se utilizar as regras de competência dispostas Considerando que todos os direitos individuais são li-
na Constituição Federal. Sempre que não houver definição cons- mitados pelo interesse da coletividade, já se pode deduzir
titucional a respeito, devem-se observar as regras que incidem que o âmbito de atuação do poder de polícia é o mais am-
sobre aqueles serviços, bem como o regime jurídico ao qual a plo possível. Entre eles, cabe mencionar, polícia sanitária,
atividade se submete. Sendo regras de direito público, será servi- polícia ambiental, polícia de trânsito e tráfego, polícia de
ço público; sendo regras de direito privado, será serviço privado. profissões (OAB, CRM, etc.), polícia de construções, etc.
Com efeito, quem presta o serviço público pode ser a Admi- Neste sentido, será possível atuar tanto por atos nor-
nistração ou um particular, fazendo-o sob regras de direito público mativos (atos genéricos, abstratos e impessoais, como de-
e com vistas a preservar o interesse público. cretos, regulamentos, portarias, instruções, resoluções, en-
tre outros) e por atos concretos (voltados a um indivíduo
Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, direta- específico e isolado, que podem ser determinações, como
mente ou sob regime de concessão ou permissão, sempre através de a multa, ou atos de consentimento, como a concessão ou
licitação, a prestação de serviços públicos. revogação de licença ou autorização por alvará).
Parágrafo único. A lei disporá sobre:
I - o regime das empresas concessionárias e permissionárias de
serviços públicos, o caráter especial de seu contrato e de sua prorro-
gação, bem como as condições de caducidade, fiscalização e resci- DESCENTRALIZAÇÃO E DESCONCENTRAÇÃO
são da concessão ou permissão;
II - os direitos dos usuários;
III - política tarifária; Em linhas gerais, descentralização significa transferir
IV - a obrigação de manter serviço adequado. a execução de um serviço público para terceiros que não
se confundem com a Administração direta; centralização
O referido artigo dispõe que a prestação dos serviços pú- significa situar na Administração direta atividades que, em
blicos é de titularidade da Administração Pública, podendo tese, poderiam ser exercidas por entidades de fora dela;
ser centralizada ou descentralizada. Sempre que a prestação desconcentração significa transferir a execução de um ser-
do serviço público for descentralizada, por meio de concessão viço público de um órgão para o outro dentro da própria
ou permissão, deverá ser precedida de licitação. As duas figuras, Administração; concentração significa manter a execução
concessão ou permissão, surgem como instrumentos que viabili- central ao chefe do Executivo em vez de atribui-la a outra
zam a descentralização dos serviços públicos, atribuindo-os para autoridade da Administração direta.
terceiros, são reguladas pela Lei nº 8.987/95.
20 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris,
2010.

9
DIREITO ADMINISTRATIVO

Passemos a esmiuçar estes conceitos: VIII - celebrar tratados, convenções e atos internacionais,
Desconcentração implica no exercício, pelo chefe do Exe- sujeitos a referendo do Congresso Nacional;
cutivo, do poder de delegar certas atribuições que são de sua IX - decretar o estado de defesa e o estado de sítio;
competência privativa. Neste sentido, o previsto na CF: X - decretar e executar a intervenção federal;
XI - remeter mensagem e plano de governo ao Congresso
Artigo 84, parágrafo único, CF. O Presidente da República Nacional por ocasião da abertura da sessão legislativa, expon-
poderá delegar as atribuições mencionadas nos incisos VI, XII e do a situação do País e solicitando as providências que julgar
XXV, primeira parte, aos Ministros de Estado, ao Procurador-Ge- necessárias;
ral da República ou ao Advogado-Geral da União, que observa- XII - conceder indulto e comutar penas, com audiência, se
rão os limites traçados nas respectivas delegações. necessário, dos órgãos instituídos em lei;
XIII - exercer o comando supremo das Forças Armadas, no-
Neste sentido: mear os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáuti-
ca, promover seus oficiais-generais e nomeá-los para os cargos
Artigo 84, VI, CF. dispor, mediante decreto, sobre: que lhes são privativos;
a) organização e funcionamento da administração federal, XIV - nomear, após aprovação pelo Senado Federal, os Mi-
quando não implicar aumento de despesa nem criação ou ex- nistros do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores,
tinção de órgãos públicos; os Governadores de Territórios, o Procurador-Geral da Repúbli-
b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos; ca, o presidente e os diretores do banco central e outros servi-
Artigo 84, XII, CF. conceder indulto e comutar penas, com dores, quando determinado em lei;
audiência, se necessário, dos órgãos instituídos em lei; XV - nomear, observado o disposto no art. 73, os Ministros
Artigo 84, XXV, CF. prover e extinguir os cargos públicos fe- do Tribunal de Contas da União;
derais, na forma da lei; (apenas o provimento é delegável, não XVI - nomear os magistrados, nos casos previstos nesta
a extinção) Constituição, e o Advogado-Geral da União;
XVII - nomear membros do Conselho da República, nos ter-
Com efeito, o chefe do Poder Executivo federal tem opções mos do art. 89, VII;
de delegar parte de suas atribuições privativas para os Ministros XVIII - convocar e presidir o Conselho da República e o Con-
de Estado, o Procurador-Geral da República ou o Advogado- selho de Defesa Nacional;
-Geral da União. O Presidente irá delegar com relação de hie- XIX - declarar guerra, no caso de agressão estrangeira,
rarquia cada uma destas essencialidades dentro da estrutura or- autorizado pelo Congresso Nacional ou referendado por ele,
ganizada do Estado. Reforça-se, desconcentrar significa delegar quando ocorrida no intervalo das sessões legislativas, e, nas
com hierarquia, pois há uma relação de subordinação dentro mesmas condições, decretar, total ou parcialmente, a mobiliza-
de uma estrutura centralizada, isto é, os Ministros de Estado, o ção nacional;
Procurador-Geral da República e o Advogado-Geral da União XX - celebrar a paz, autorizado ou com o referendo do Con-
respondem diretamente ao Presidente da República e, por isso, gresso Nacional;
não possuem plena discricionariedade na prática dos atos ad- XXI - conferir condecorações e distinções honoríficas;
ministrativos que lhe foram delegados. XXII - permitir, nos casos previstos em lei complementar,
que forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou
Concentrar, ao inverso, significa exercer atribuições priva- nele permaneçam temporariamente;
tivas da Administração pública direta no âmbito mais central XXIII - enviar ao Congresso Nacional o plano plurianual, o
possível, isto é, diretamente pelo chefe do Poder Executivo, seja projeto de lei de diretrizes orçamentárias e as propostas de or-
porque não são atribuições delegáveis, seja porque se optou çamento previstos nesta Constituição;
por não delegar. XXIV - prestar, anualmente, ao Congresso Nacional, dentro
de sessenta dias após a abertura da sessão legislativa, as contas
Artigo 84, CF. Compete privativamente ao Presidente da referentes ao exercício anterior;
República: XXV - prover e extinguir os cargos públicos federais, na for-
I - nomear e exonerar os Ministros de Estado; ma da lei;
II - exercer, com o auxílio dos Ministros de Estado, a direção XXVI - editar medidas provisórias com força de lei, nos ter-
superior da administração federal; mos do art. 62;
III - iniciar o processo legislativo, na forma e nos casos pre- XXVII - exercer outras atribuições previstas nesta Constituição.
vistos nesta Constituição;
IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como Descentralizar envolve a delegação de interesses estatais
expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução; para fora da estrutura da Administração direta, o que é possível
V - vetar projetos de lei, total ou parcialmente; porque não se refere a essencialidades, ou seja, a atos adminis-
VI - dispor, mediante decreto, sobre: trativos que somente possam ser praticados pela Administração
a) organização e funcionamento da administração federal, direta porque se referem a interesses estatais diversos previstos
quando não implicar aumento de despesa nem criação ou ex- ou não na CF. Descentralizar é uma delegação sem relação de
tinção de órgãos públicos; hierarquia, pois é uma delegação de um ente para outro (não
b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos; há subordinação nem mesmo quanto ao chefe do Executivo,
VII - manter relações com Estados estrangeiros e acreditar há apenas uma espécie de tutela ou supervisão por parte dos
seus representantes diplomáticos; Ministérios – se trata de vínculo e não de subordinação).

10
DIREITO ADMINISTRATIVO

Basicamente, se está diante de um conjunto de pessoas Ao lado destas, podemos encontrar ainda entes que
jurídicas estatais criadas ou autorizadas por lei para presta- prestam serviços públicos por delegação, embora não in-
rem serviços de interesse do Estado. Possuem patrimônio tegrem os quadros da Administração, quais sejam, os per-
próprio e são unidades orçamentárias autônomas. Ainda, missionários, os concessionários e os autorizados.
exercem em nome próprio direitos e obrigações, respon- Essas quatro pessoas integrantes da Administração in-
dendo pessoalmente por seus atos e danos. direta serão criadas para a prestação de serviços públicos
Existem duas formas pelas quais o Estado pode efetuar
ou, ainda, para a exploração de atividades econômicas,
a descentralização administrativa: outorga e delegação.
como no caso das empresas públicas e sociedades de eco-
A outorga se dá quando o Estado cria uma entidade e
a ela transfere, através de previsão em lei, determinado serviço nomia mista, e atuam com o objetivo de aumentar o grau
público e é conferida, em regra, por prazo indeterminado. Isso de especialidade e eficiência da prestação do serviço pú-
é o que acontece quanto às entidades da Administração Indi- blico ou, quando exploradoras de atividades econômicas,
reta prestadoras de serviços públicos. Neste sentido, o Estado visando atender a relevante interesse coletivo e imperati-
descentraliza a prestação dos serviços, outorgando-os a outras vos da segurança nacional.
entidades criadas para prestá-los, as quais podem tomar a forma Com efeito, de acordo com as regras constantes do
de autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista artigo 173 da Constituição Federal, o Poder Público só po-
e fundações públicas. derá explorar atividade econômica a título de exceção, em
A delegação ocorre quando o Estado transfere, por contrato duas situações, conforme se colhe do caput do referido
ou ato unilateral, apenas a execução do serviço, para que o ente artigo, a seguir reproduzido:
delegado o preste ao público em seu próprio nome e por sua
conta e risco, sob fiscalização do Estado. A delegação é geral- Artigo 173. Ressalvados os casos previstos nesta Cons-
mente efetivada por prazo determinado. Ela se dá, por exemplo,
tituição, a exploração direta de atividade econômica pelo
nos contratos de concessão ou nos atos de permissão, pelos
Estado só será permitida quando necessária aos imperati-
quais o Estado transfere aos concessionários e aos permissioná-
rios apenas a execução temporária de determinado serviço. vos de segurança nacional ou a relevante interesse coleti-
Centralizar envolve manter na estrutura da Administração vo, conforme definidos em lei.
direta o desempenho de funções administrativas de interesses
não essenciais do Estado, que poderiam ser atribuídos a entes de Cumpre esclarecer que, de acordo com as regras cons-
fora da Administração por outorga ou delegação. titucionais e em razão dos fins desejados pelo Estado, ao
Poder Público não cumpre produzir lucro, tarefa esta de-
ferida ao setor privado. Assim, apenas explora atividades
econômicas nas situações indicadas no artigo 173 do Tex-
ADMINISTRAÇÃO DIRETA E INDIRETA to Constitucional. Quando atuar na economia, concorre
em grau de igualdade com os particulares, e sob o regi-
me do artigo 170 da Constituição, inclusive quanto à livre
A Administração Pública indireta pode ser definida concorrência, submetendo-se ainda a todas as obrigações
como um grupo de pessoas jurídicas de direito público constantes do regime jurídico de direito privado, inclusive
ou privado, criadas ou instituídas a partir de lei específica, no tocante às obrigações civis, comerciais, trabalhistas e
que atuam paralelamente à Administração direta na pres- tributárias.
tação de serviços públicos ou na exploração de atividades
econômicas. Autarquias
“Enquanto a Administração Direta é composta de ór-
Conceitua-se no artigo 5º do Decreto nº 200/1967:
gãos internos do Estado, a Administração Indireta se com-
põe de pessoas jurídicas, também denominadas de entida-
I - Autarquia - o serviço autônomo, criado por lei, com
des” . Em que pese haver entendimento diverso registrado
personalidade jurídica, patrimônio e receita próprios, para
em nossa doutrina, integram a Administração indireta do
executar atividades típicas da Administração Pública, que
Estado quatro espécies de pessoa jurídica, a saber: as Au-
tarquias, as Fundações, as Sociedades de Economia Mista requeiram, para seu melhor funcionamento, gestão admi-
e as Empresas Públicas. nistrativa e financeira descentralizada.
Dispõe o Decreto nº 200/1967:
As autarquias são pessoas jurídicas de direito públi-
Art. 4° A Administração Federal compreende: co, de natureza administrativa, criadas para a execução de
II - A Administração Indireta, que compreende as se- serviços tipicamente públicos, antes prestados pelas enti-
guintes categorias de entidades, dotadas de personalida- dades estatais que as criam. Por serviços tipicamente pú-
de jurídica própria: blicos entenda-se aqueles sem fins lucrativos criados por
a) Autarquias; lei e comum monopólio do Estado.
b) Empresas Públicas;
c) Sociedades de Economia Mista.
d) fundações públicas.

11
DIREITO ADMINISTRATIVO

“O termo autarquia significa autogoverno ou governo A elas se conferem as mesmas prerrogativas proces-
próprio, mas no direito positivo perdeu essa noção semân- suais que à Fazenda Pública, inclusive prazo em dobro para
tica para ter o sentido de pessoa jurídica administrativa contestar e recorrer, além de reexame necessário da causa
com relativa capacidade de gestão dos interesses a seu em situações de condenação acima de certos valores.
cargo, embora sob controle do Estado, de onde se origi- Todas autarquias devem ser criadas, organizadas e ex-
nou. Na verdade, até mesmo em relação a esse sentido, tintas por lei, que podem ser complementadas por atos do
o termo está ultrapassado e não mais reflete uma noção Executivo, notadamente Decretos.
exata do instituto. [...] Pode-se conceituar autarquia como As autarquias podem ser federais, estaduais, distritais
a pessoa jurídica de direito público, integrante da Admi- e municipais, contudo não podem ser interestaduais ou
nistração Indireta, criada por lei para desempenhar fun- intermunicipais (não é permitida a associação de unidades
ções que, despidas de caráter econômico, sejam próprias federativas para a criação de autarquias).
e típicas do Estado” . Devem executar atividades típicas do direito público e,
notadamente, serviços públicos de natureza social e ativi-
Logo, as autarquias são regidas integralmente pelo re-
dades administrativas, com a exclusão dos serviços e ativi-
gime jurídico de direito público, podendo, tão-somente,
dades de cunho econômico e mercantil.
ser prestadoras de serviços públicos, contando com ca-
O patrimônio da autarquia é formado por bens públi-
pital oriundo da Administração direta. O Código Civil, em
cos, razão pela qual seu patrimônio se sujeita às mesmas
seu artigo 41, IV, as coloca como pessoas jurídicas de direi-
regras aplicáveis aos bens públicos em geral, inclusive no
to público, embora exista controvérsia na doutrina. que se refere à impenhorabilidade e à impossibilidade de
Carvalho Filho classifica quanto ao regime jurídico: “a) oneração e de usucapião.
autarquias comuns (ou de regime comum); b) autarquias Os agentes públicos das autarquias são concursados e
especiais (ou de regime especial). Segundo a própria ter- estatutários, logo, se sujeitam a estatuto próprio e não à
minologia, é fácil distingui-las: as primeiras estariam sujei- CLT. Já os dirigentes não precisam ser concursados e são
tas a uma disciplina jurídica sem qualquer especificidade, nomeados e destituídos livremente pelo chefe do Execu-
ao passo que as últimas seriam regidas por disciplina es- tivo.
pecífica, cuja característica seria a de atribuir prerrogativas
especiais e diferenciadas a certas autarquias”. São exem- Agências Executivas
plos de autarquias especiais aquelas criadas para serviços Agência executiva é a qualificação conferida à autar-
especiais, como autarquias de ensino (ex.: USP) e autar- quia, fundação pública ou órgão da administração direta
quias de fiscalização (ex.: CRM e CREA). que celebra contrato de gestão com o próprio ente po-
A título de exemplo, citamos as seguintes autarquias: lítico com o qual está vinculado. As agências executivas
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (In- se distinguem das agências reguladoras por não terem
cra), Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), Departa- como objetivo principal o de exercer controle sobre par-
mento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER), Conse- ticulares que prestam serviços públicos, que é o objetivo
lho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), Departa- fundamental das agências reguladoras. Assim, a expressão
mento nacional de Registro do Comércio (DNRC), Instituto “agências executivas” corresponde a um título ou qualifi-
Nacional da Propriedade Industrial (INPI), Instituto Brasi- cação atribuída à autarquia ou a fundações públicas cujo
leiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renová- objetivo seja exercer atividade estatal.
veis (Ibama), Banco Central do Brasil (Bacen).
Ainda sobram as autarquias: Agências Reguladoras
São figuras muito recentes em nosso ordenamento
Contam com patrimônio próprio, constituído a partir jurídico. Possuem natureza jurídica de autarquias de regi-
me especial, são pessoas jurídicas de Direito Público com
de transferência pela entidade estatal a que se vinculam,
capacidade administrativa, aplicando-se a elas todas as re-
portanto, capital exclusivamente público.
gras das autarquias.
São dotadas, ainda, de autonomia financeira, plane-
O dirigente é nomeado pelo chefe do Executivo, mas
jando seus gastos e compromissos a cada exercício. A pro-
a nomeação se sujeita à aprovação do legislativo, que se
posta orçamentária é encaminhada anualmente ao chefe
baseia nos critérios de conhecimento. Uma vez nomeado,
do Executivo, que a inclui no orçamento fiscal da lei orça- o dirigente passa a gozar de mandato com prazo determi-
mentária anual. A própria autarquia presta contas direta- nado e só pode ser destituído por processo com decisão
mente ao Tribunal de Contas. motivada.
Podem pagar aos seus credores por meio de precató- Possuem como objetivo regular e fiscalizar a execução
rios e requisição de pequeno valor, tal como a Administra- de serviços públicos. Elas não executam o serviço propria-
ção direta. Podem emitir sozinhas certidão de dívida ativa mente, elas o fiscalizam. Logo, são entidades com típica
de seus devedores. função de controle da prestação dos serviços públicos e
Gozam de imunidade tributária recíproca em relação a do exercício de atividades econômicas, evitando a prática
todas unidades da federação. de abusos por parte de entidades do setor privado.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

São titulares da matéria técnica que regulam, de modo Obs.: é possível que a lei autorize (não crie) uma fundação
que somente elas podem disciplinar as regras e padrões pública que adote regime jurídico de direito privado, ou então
técnicos desta determinada seara. um regime misto, caso em que seus servidores poderão se su-
No exercício de seus poderes, compete a elas: fiscali- jeitar à CLT, seu patrimônio não será exclusivamente oriundo
zar o cumprimento de contratos de concessões e o atingi- de verbas estatais. A lei autorizadora deve ser expressa neste
mento de metas neles fixadas, fiscalizar e controlar o aten- sentido.
dimento a consumidores e usuários (inclusive recebendo
e processando denúncias e reclamações, aplicando penas Empresas públicas
administrativas e multas, bem como rescindindo contra- Conceitua-se no artigo 5º do Decreto nº 200/1967:
tos), definir política tarifária e reajustá-la.
Entre as agências reguladoras inseridas no ordena- II - Empresa Pública - a entidade dotada de personalidade
mento brasileiro, destacam-se: ANEEL – Agência Nacional jurídica de direito privado, com patrimônio próprio e capital
exclusivo da União, criado por lei para a exploração de ativida-
de Energia Elétrica, criada pela Lei nº 9.427/1996; a ANA-
de econômica que o Governo seja levado a exercer por força
TEL – Agência Nacional de Telecomunicações, pela Lei nº
de contingência ou de conveniência administrativa podendo
9.472/1997; e a ANP – Agência Nacional do Petróleo, pela
revestir-se de qualquer das formas admitidas em direito.
Lei nº 9.478/1997.
Empresas públicas são pessoas jurídicas de Direito Priva-
Fundações públicas do, criadas para a prestação de serviços públicos ou para a
Conceitua-se no artigo 5º do Decreto nº 200/1967: exploração de atividades econômicas, que contam com ca-
pital exclusivamente público, e são constituídas por qualquer
IV - Fundação Pública - a entidade dotada de perso- modalidade empresarial, após autorização legislativa do ente
nalidade jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, federativo criador.
criada em virtude de autorização legislativa, para o desen- Sendo a empresa pública uma prestadora de serviços pú-
volvimento de atividades que não exijam execução por ór- blicos, estará submetida a regime jurídico público, ainda que
gãos ou entidades de direito público, com autonomia ad- constituída segundo o modelo imposto pelo Direito Privado.
ministrativa, patrimônio próprio gerido pelos respectivos Se a empresa pública é exploradora de atividade econômica,
órgãos de direção, e funcionamento custeado por recursos estará submetida a regime jurídico denominado pela doutri-
da União e de outras fontes. na como semipúblico, ante a necessidade de observância, ao
menos em suas relações com os administrados, das regras ati-
As Fundações são pessoas jurídicas compostas por um nentes ao regime da Administração, a exemplo dos princípios
patrimônio personalizado, destacado pelo seu instituidor expressos no “caput” do artigo 37 da Constituição Federal.
para atingir uma finalidade específica, denominadas, em Podemos citar, a título de exemplo, algumas empresas
latim, universitas bonorum. Entre estas finalidades, desta- públicas, nas mais variadas esferas de governo, como o Banco
cam-se as de escopo religioso, moral, cultural ou de assis- Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES);
tência. a Empresa Municipal de Urbanização de São Paulo (EMURB);
Essa definição serve para qualquer fundação, inclusive a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT); a Caixa
para aquelas que não integram a Administração indireta Econômica Federal (CEF).
(não-governamentais). No caso das fundações que inte- Estas empresas públicas se caracterizam e se diferenciam
gram a Administração indireta (governamentais), quando das sociedades de economia mista por: não possuírem fins
forem dotadas de personalidade de direito público, serão lucrativos (o capital excedente não se transforma em lucro,
regidas integralmente por regras de direito público. Quan- é reinvestido na própria empresa), podem adotar perfis em-
presariais diversos (LTDA, comandita, nome coletivo, S/A), o
do forem dotadas de personalidade de direito privado, se-
capital social é formado por recursos públicos e só admite
rão regidas por regras de direito público e direito privado.
sócios públicos (pode ter apenas um sócio – unipessoalidade
Quando as fundações são criadas pelo Estado são co-
originária ou inicial).
nhecidas como fundações públicas, ou autarquias funda-
cionais ou fundações autárquicas. O estatuto da fundação,
Sociedades de economia mista
no caso, terá a forma de lei, cujo escopo será criar e orga- Conceitua-se no artigo 5º do Decreto nº 200/1967:
nizar a fundação. As fundações públicas são regulamenta-
das por lei complementar. Sendo fundações públicas que III - Sociedade de Economia Mista - a entidade do-
adotam regime jurídico de direito público, se equiparam tada de personalidade jurídica de direito privado, criada
às autarquias e se sujeitam às mesmas regras que elas. por lei para a exploração de atividade econômica, sob a
forma de sociedade anônima, cujas ações com direito a
voto pertençam em sua maioria à União ou a entidade da
Administração Indireta.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

As sociedades de economia mista são pessoas jurídi- Tanto as empresas públicas quanto as sociedades de
cas de Direito Privado criadas para a prestação de serviços economia mista são criadas por lei e a existência delas
públicos ou para a exploração de atividade econômica, deve ser fundada em contrato ou estatuto. Ambas se sujei-
contando com capital misto e constituídas somente sob a tam, ainda, ao regime jurídico de direito privado. Inclusive,
forma empresarial de S/A. seus bens são, a princípio, penhoráveis (exceto se for pres-
Por capital misto, entenda-se que não é apenas o Esta- tadora de serviço público e não exploradora de atividade
do que participa dela, existem acionistas a ela vinculados. econômica). No entanto, não se sujeitam à falência ou à
Entretanto, o Estado deve ser o acionista controlador do recuperação judicial (art. 2º, Lei nº 11.101/2005).
direito a voto, mesmo que não seja o acionista majoritário Contudo, devem obedecer ao núcleo obrigatório mí-
(se o Estado for sócio, mas não for controlador, trata-se de nimo: licitar (exceto no que tange à prestação da ativida-
empresa comum, não sociedade de economia mista). de-fim), concursar (os agentes se sujeitam ao regime da
Alguns exemplos de sociedade mista: CLT, são celetistas e não estatutários, mas são contratados
mediante concurso público de provas ou provas e títulos),
- Exploradoras de atividade econômica: Banco do Bra- prestar contas ao Tribunal de Contas e obedecer ao teto de
sil e Banespa. remuneração (exceto no caso de sociedade de economia
- Prestadora de serviços públicos: Petrobrás, Sabesp, mista que subsista sem qualquer auxílio do governo, ape-
Metrô e CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habita- nas com seus lucros).
cional Urbano).
Entidades paraestatais
Estas sociedades de economia mista se caracterizam e Desde a última década do século passado vêm sen-
se diferenciam das empresas públicas por: possuírem fins do promovidas no Brasil reformas constitucionais e legais
lucrativos (os lucros são distribuídos entre os acionistas), para implantar um modelo de administração gerencial,
adotam o perfil de sociedade anônima S/A, o capital social que se concentra num Estado mínimo, isto é, que interfira
é formado por recursos públicos e privados, os sócios são o mínimo possível na sociedade, em consonância com o
defendido pela doutrina neoliberalista. Entre as providên-
privados e públicos (Estado).
cias tomadas, colocam-se: reforço à autonomia das agên-
cias reguladoras, privatizações, parcerias público-privadas,
Empresas públicas e sociedades de economia mista:
incentivo à iniciativa privada – inclusive às denominadas
semelhanças
entidades paraestatais.
Embora a Constituição Federal reserve a atividade
Alexandrino e Paulo afirmam: “no conceito de enti-
econômica à iniciativa privada, resguardando ao Estado os
dades paraestatais que adotamos estão enquadrados: a)
papéis de integração (integrar o Brasil na economia glo-
os serviços sociais autônomos; b) as organizações sociais;
bal), regulação (definindo regras e limites na exploração
c) as organizações da sociedade civil de interesse coletivo
da atividade econômica por particulares) e intervenção
(OSCIP); d) as ‘entidades de apoio’”. Para os autores, com
(fixação de regras e normas para combater o abuso do as reformas, ocorreu uma ampliação do conceito clássico
poder econômico) (conforme artigos 173 e seguintes, CF), de Meirelles, para o qual apenas eram entidades paraesta-
autoriza-se excepcionalmente que o Estado explore dire- tais as pessoas jurídicas de direito privado da Administra-
tamente atividades econômicas se houver um relevante ção Indireta (empresas públicas e sociedades de economia
interesse em matérias (serviços públicos em geral) ou ati- mista) e os serviços sociais autônomos (SESC, SENAI, SESI,
vidades de soberania. etc.).
Quando está autorizado a fazê-lo, somente atua por Em detalhes sobre a controvérsia, entidades paraesta-
meio de sociedades de economia mista e empresas públi- tais “são aquelas pessoas jurídicas que atuam ao lado e em
cas. Tais empresas são regidas por regime jurídico de direi- colaboração com o Estado. [...] Há juristas que entendem
to privado, o que evita que o próprio Estado possa abusar serem entidades paraestatais aquelas que, tendo perso-
do poder econômico. Logo, o Estado não pode dar às suas nalidade jurídica de direito privado (não incluídas, pois,
próprias empresas benefícios previdenciários, tributários e as autarquias), recebem amparo oficial do Poder Público,
trabalhistas. Além disso, em termos processuais, não go- como as empresas públicas, as sociedades de economia
zam das prerrogativas que as autarquias gozam. mista, as fundações públicas e as entidades de cooperação
governamental (ou serviços sociais autônomos), como o
ATENÇÃO: o impedimento de prerrogativas somen- SESI, SENAI, SESC, SENAC etc. Outros pensam exatamente
te se aplica quando o Estado está explorando atividade o contrário: entidades paraestatais seriam as autarquias.
econômica propriamente dita, não quando está ofertando Alguns, a seu turno, só enquadram nessa categoria as pes-
serviços públicos. Afinal, se o serviço é público, então o soas colaboradoras que não se preordena a fins lucrativos,
Estado pode sobre ele exercer monopólio, o que afasta estando excluídas, assim, as empresas públicas e as so-
a necessidade de regras que impeçam o abuso do poder ciedades de economia mista. Para outros, ainda, paraes-
econômico. Por exemplo, os Correios são uma empresa tatais seriam as pessoas de direito privado integrantes da
pública e possuem isenção fiscal e impenhorabilidade de Administração Indireta, excluindo-se, por conseguinte, as
bens. autarquias, as fundações de direito público e os serviços

14
DIREITO ADMINISTRATIVO

sociais autônomos. Por fim, já se considerou que na ca- ATENÇÃO: as principais distinções entre OS e OSCIP são:
tegoria se incluem além dos serviços sociais autônomos nas OS é exigida a presença de um conselho de administra-
até mesmo as escolas oficializadas, os partidos políticos ção no qual o Estado participe, o que nas OSCIP é dispensa-
e os sindicatos, excluindo-se a administração indireta. Na do; as OS celebram contrato de gestão, as OSCIP termo de
prática, tem-se encontrado, com frequência, o emprego parceria; as exigências contábeis com relação à OSCIP são
da expressão empresas estatais, sendo nelas enquadradas mais amplas (deve apresentar balanço contábil, demonstra-
as sociedades de economia mista e as empresas públicas. tivo de resultados e declaração de isenção de imposto de
Há também autores que adotam o referido sentido” . Para renda); as OS recebem delegação de serviço público e as
Carvalho Filho, “deveria abranger toda pessoa jurídica que OSCIP exercem atividade de direito privado com apoio do
tivesse vínculo institucional com a pessoa federativa, de Estado.
forma a receber desta os mecanismos estatais de controle.
Estariam, pois, enquadradas como entidades paraestatais
as pessoas da administração indireta e os serviços sociais Administração Pública direta é aquela formada pelos
autônomos” . entes integrantes da federação e seus respectivos órgãos.
Com efeito, o conceito de Alexandrino e Paulo é mais Os entes políticos são a União, os Estados, o Distrito Federal
amplo, abrangendo como entidades paraestatais também e os Municípios. À exceção da União, que é dotada de sobe-
as OSCIPs e entidades de apoio. A doutrina mais clássica, rania, todos os demais são dotados de autonomia.
de Meirelles e Carvalho Filho, coloca as organizações civis Dispõe o Decreto nº 200/1967:
e as entidades de apoio como pertencentes ao terceiro
setor, sendo que as entidades paraestatais juntamente o Art. 4° A Administração Federal compreende:
compõem. Basicamente, o terceiro setor é constituído por I - A Administração Direta, que se constitui dos serviços
organizações sem fins lucrativos e organizações não go- integrados na estrutura administrativa da Presidência da Re-
vernamentais – ONG, que tem como objetivo gerar servi- pública e dos Ministérios.
ços de caráter público:
A administração direta é formada por um conjunto de
a) Serviços sociais autônomos: Serviços sociais autô- núcleos de competências administrativas, os quais já foram
nomos são as típicas entidades paraestatais, assim como tidos como representantes do poder central (teoria da repre-
SESI, SENAI, entre outras, conforme conceito do tópico sentação) e como mandatários do poder central (teoria do
anterior. mandato). Hoje, adota-se a teoria do órgão, de Otto Giërke,
b) Entidades de apoio: Entidades de apoio são pessoas segundo a qual os órgãos são apenas núcleos administrati-
jurídicas de direito privado sem fins lucrativos e compos- vos criados e extintos exclusivamente por lei, mas que po-
tas por servidores públicos que atuam em nome próprio, dem ser organizados por decretos autônomos do Executivo
(art. 84, VI, CF), sendo desprovidos de personalidade jurídica
adotando a forma de fundação, associação ou cooperati-
própria.
va, prestando serviços sociais que não são exclusivos do
Assim, os órgãos da Administração direta não possuem
Estado e firmando com este convênio. Ex.: fundações de
patrimônio próprio; e não assumem obrigações em nome
amparo à pesquisa.
próprio e nem direitos em nome próprio (não podem ser au-
c) Organizações sociais: Organizações sociais (OS) são
tor nem réu em ações judiciais, exceto para fins de mandado
reguladas pela Lei nº 9.637/1998, são entidades privadas
de segurança – tanto como impetrante como quanto impe-
que se associam ao Estado, exercendo atividades privadas,
trado). Já que não possuem personalidade, atuam apenas no
em seu próprio nome, com incentivos do Poder Público.
cumprimento da lei, não atuando por vontade própria. Logo,
Para atuarem, é imprescindível que firmem contrato de
órgãos e agentes públicos são impessoais quando agem no
gestão com o Estado. Para uma entidade privada assumir a estrito cumprimento de seus deveres, não respondendo di-
posição de organização social deve receber autorização do retamente por seus atos e danos.
ministro atuante na específica área de atuação da entidade Esta impossibilidade de se imputar diretamente a res-
(ex.: se pretende ser uma organização social que atue na ponsabilidade a agentes públicos ou órgãos públicos que
saúde, o ministro da saúde deve autorizar), sendo que há estejam exercendo atribuições da Administração direta é de-
discricionariedade deste em conceder o título. nominada teoria da imputação objetiva, de Otto Giërke, que
d) Organizações da sociedade civil de interesse públi- institui o princípio da impessoalidade.
co: Organizações da sociedade civil de interesse público Quando se faz desconcentração da autoridade central
(OSCIP) criadas pela Lei 9.790/1999, posteriormente regu- – chefe do Executivo – para os seus órgãos, se depara com
lamentada pelo Decreto 3.100/1999, são entidades priva- diversos níveis de órgãos, que podem ser classificados em
das que se associam ao Estado e recebem dele incentivos, simples ou complexos (simples se possuem apenas uma
atuando em nome próprio em atividades que não são ex- estrutura administrativa, complexos se possuem uma rede
clusivas do Estado, mas que são de interesse social e cole- de estruturas administrativas) e em unitários ou colegiados
tivo. Recebem um título por parte do Poder Público, sendo (unitário se o poder de decisão se concentra em uma pes-
que este ato de concessão é vinculado. Firmam termo de soa, colegiado se as decisões são tomadas em conjunto e
compromisso. prevalece a vontade da maioria):

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DIREITO ADMINISTRATIVO

a) Órgãos independentes – encabeçam o poder ou es- um regime de responsabilização da pessoa jurídica perante
trutura do Estado, gozando de independência para agir e terceiros prejudicados nas circunstâncias em que o agente
não se submetendo a outros órgãos. Cabe a eles definir as ultrapassasse os poderes da representação” . Criticou-se a
políticas que serão implementadas. É o caso da Presidên- teoria porque o Estado estaria sendo visto como um sujeito
cia da República, órgão complexo composto pelo gabinete, incapaz, ou seja, uma pessoa que não tem condições plenas
pela Advocacia-Geral da União, pelo Conselho da Repúbli- de manifestar, de falar, de resolver pendências; bem como
ca, pelo Conselho de Defesa, e unitário (pois o Presidente porque se o representante estatal exorbitasse seus poderes,
da República é o único que toma as decisões). o Estado não poderia ser responsabilizado.
b) Órgãos autônomos – estão no primeiro escalão do Finalmente, adota-se a teoria do órgão, de Otto Giër-
poder, com autonomia funcional, porém subordinados po- ke, segundo a qual os órgãos são apenas núcleos adminis-
liticamente aos independentes. É o caso de todos os minis- trativos criados e extintos exclusivamente por lei, mas que
térios de Estado. podem ser organizados por decretos autônomos do Exe-
c) Órgãos superiores – são desprovidos de autonomia cutivo (art. 84, VI, CF), sendo desprovidos de personalidade
ou independência, sendo plenamente vinculados aos ór- jurídica própria. Com efeito, o Estado brasileiro responde
gãos autônomos. Ex.: Delegacia Regional do Trabalho, vin- pelos atos que seus agentes praticam, mesmo se estes atos
culada ao Ministério do Trabalho e Emprego; Departamento extrapolam das atribuições estatais conferidas, sendo-lhe
da Polícia Federal, vinculado ao Ministério da Justiça. assegurado o intocável e assustador direito de regresso.
d) Órgãos subalternos – são vinculados a todos acima Apresenta-se a classificação dos órgãos:
deles com plena subordinação administrativa. Ex.: órgãos
que executam trabalho de campo, policiais federais, fiscais a) Quanto à pessoa federativa: federais, estaduais, dis-
do MTE. tritais e municipais.
b) Quanto à situação estrutural: os diretivos, que são aque-
ATENÇÃO: O Ministério Público, os Tribunais de Contas les que detêm condição de comando e de direção, e os subor-
e as Defensorias Públicas não se encaixam nesta estrutura, dinados, incumbidos das funções rotineiras de execução.
sendo órgãos independentes constitucionais. Em verdade, c) Quanto à composição: singulares, quando integrados
para Canotilho e outros constitucionalistas, estes órgãos em um só agente, e os coletivos, quando compostos por vários
não pertencem nem mesmo aos três poderes. agentes.
Conforme Carvalho Filho , “a noção de Estado, como d) Quanto à esfera de ação: centrais, que exercem atribui-
visto, não pode abstrair-se da de pessoa jurídica. O Estado, ções em todo o território nacional, estadual, distrital e munici-
na verdade, é considerado um ente personalizado, seja no pal, e os locais, que atuam em parte do território.
âmbito internacional, seja internamente. Quando se trata de e) Quanto à posição estatal: são os que representam os
Federação, vigora o pluripersonalismo, porque além da pes- poderes do Estado – o Executivo, o Legislativo e o Judiciário.
soa jurídica central existem outras internas que compõem o f) Quanto à estrutura: simples ou unitários e compostos. Os
sistema político. Sendo uma pessoa jurídica, o Estado mani- órgãos compostos são constituídos por vários outros órgãos.
festa sua vontade através de seus agentes, ou seja, as pes-
soas físicas que pertencem a seus quadros. Entre a pessoa
jurídica em si e os agentes, compõe o Estado um grande ÓRGÃO PÚBLICO: CONCEITO, CLASSIFICA-
número de repartições internas, necessárias à sua organi- ÇÃO; COMPETÊNCIAS PÚBLICAS
zação, tão grande é a extensão que alcança e tamanha as
atividades a seu cargo. Tais repartições é que constituem os
órgãos públicos”.
“Várias teorias surgiram para explicar as relações do Conforme Carvalho Filho21, “a noção de Estado, como
Estado, pessoa jurídica, com suas agentes: Pela teoria do visto, não pode abstrair-se da de pessoa jurídica. O Estado,
mandato, o agente público é mandatário da pessoa jurídica; na verdade, é considerado um ente personalizado, seja no
a teoria foi criticada por não explicar como o Estado, que âmbito internacional, seja internamente. Quando se trata
de Federação, vigora o pluripersonalismo, porque além
não tem vontade própria, pode outorgar o mandato” . A ori-
da pessoa jurídica central existem outras internas que com-
gem desta teoria está no direito privado, não tendo como
põem o sistema político. Sendo uma pessoa jurídica, o Esta-
prosperar porque o Estado não pode outorgar mandato a
do manifesta sua vontade através de seus agentes, ou seja,
alguém, afinal, não tem vontade própria. as pessoas físicas que pertencem a seus quadros. Entre a
Num momento seguinte, adotou-se a teoria da repre- pessoa jurídica em si e os agentes, compõe o Estado um
sentação: “Posteriormente houve a substituição dessa con- grande número de repartições internas, necessárias à sua or-
cepção pela teoria da representação, pela qual a vontade ganização, tão grande é a extensão que alcança e tamanha
dos agentes, em virtude de lei, exprimiria a vontade do Es- as atividades a seu cargo. Tais repartições é que constituem
tado, como ocorre na tutela ou na curatela, figuras jurídicas os órgãos públicos”.
que apontam para representantes dos incapazes. Ocorre
que essa teoria, além de equiparar o Estado, pessoa jurí-
dica, ao incapaz (sendo que o Estado é pessoa jurídica do- 21 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito ad-
tada de capacidade plena), não foi suficiente para alicerçar ministrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.

16
DIREITO ADMINISTRATIVO

“Várias teorias surgiram para explicar as relações do


Estado, pessoa jurídica, com suas agentes: Pela teoria do SERVIÇOS PÚBLICOS: CONCEITO
mandato, o agente público é mandatário da pessoa jurí- E PRINCÍPIOS
dica; a teoria foi criticada por não explicar como o Estado,
que não tem vontade própria, pode outorgar o mandato”22.
A origem desta teoria está no direito privado, não tendo Serviço público é todo aquele prestado pela admi-
como prosperar porque o Estado não pode outorgar man- nistração ou por particulares debaixo de regras de direito
dato a alguém, afinal, não tem vontade própria. público para a preservação dos interesses da coletividade.
Num momento seguinte, adotou-se a teoria da represen- A titularidade da prestação de um serviço público sem-
tação: “Posteriormente houve a substituição dessa concep-
pre será da Administração Pública, somente podendo ser
ção pela teoria da representação, pela qual a vontade dos
transferido a um particular a execução do serviço público.
agentes, em virtude de lei, exprimiria a vontade do Estado,
como ocorre na tutela ou na curatela, figuras jurídicas que As regras serão sempre fixadas unilateralmente pela Admi-
apontam para representantes dos incapazes. Ocorre que essa nistração, independentemente de quem esteja executando
teoria, além de equiparar o Estado, pessoa jurídica, ao incapaz o serviço público. Qualquer contrato administrativo aos
(sendo que o Estado é pessoa jurídica dotada de capacidade olhos do particular é contrato de adesão.
plena), não foi suficiente para alicerçar um regime de respon- Somente por regras de direito público é possível prestar
sabilização da pessoa jurídica perante terceiros prejudicados serviços públicos. Para distinguir quais serviços são públi-
nas circunstâncias em que o agente ultrapassasse os poderes cos e quais não, deve-se utilizar as regras de competência
da representação”23. Criticou-se a teoria porque o Estado es- dispostas na Constituição Federal. Sempre que não houver
taria sendo visto como um sujeito incapaz, ou seja, uma pes- definição constitucional a respeito, devem-se observar as
soa que não tem condições plenas de manifestar, de falar, de regras que incidem sobre aqueles serviços, bem como o
resolver pendências; bem como porque se o representante regime jurídico ao qual a atividade se submete. Sendo re-
estatal exorbitasse seus poderes, o Estado não poderia ser gras de direito público, será serviço público; sendo regras
responsabilizado.
de direito privado, será serviço privado.
Finalmente, adota-se a teoria do órgão, de Otto Giër-
ke, segundo a qual os órgãos são apenas núcleos adminis- Com efeito, quem presta o serviço público pode ser a
trativos criados e extintos exclusivamente por lei, mas que Administração ou um particular, fazendo-o sob regras de
podem ser organizados por decretos autônomos do Exe- direito público e com vistas a preservar o interesse público.
cutivo (art. 84, VI, CF), sendo desprovidos de personalidade Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei,
jurídica própria. Com efeito, o Estado brasileiro responde diretamente ou sob regime de concessão ou permissão,
pelos atos que seus agentes praticam, mesmo se estes atos sempre através de licitação, a prestação de serviços públi-
extrapolam das atribuições estatais conferidas, sendo-lhe cos.
assegurado o intocável e assustador direito de regresso. Parágrafo único. A lei disporá sobre:
Apresenta-se a classificação dos órgãos: I - o regime das empresas concessionárias e permis-
a) Quanto à pessoa federativa: federais, estaduais, dis- sionárias de serviços públicos, o caráter especial de seu
tritais e municipais. contrato e de sua prorrogação, bem como as condições de
b) Quanto à situação estrutural: os diretivos, que são caducidade, fiscalização e rescisão da concessão ou per-
aqueles que detêm condição de comando e de direção, e missão;
os subordinados, incumbidos das funções rotineiras de exe- II - os direitos dos usuários;
cução. III - política tarifária;
c) Quanto à composição: singulares, quando integrados IV - a obrigação de manter serviço adequado.
em um só agente, e os coletivos, quando compostos por O referido artigo dispõe que a prestação dos serviços
vários agentes. públicos é de titularidade da Administração Pública, po-
d) Quanto à esfera de ação: centrais, que exercem atri- dendo ser centralizada ou descentralizada. Sempre que a
buições em todo o território nacional, estadual, distrital e prestação do serviço público for descentralizada, por meio
municipal, e os locais, que atuam em parte do território.
de concessão ou permissão, deverá ser precedida de lici-
e) Quanto à posição estatal: são os que representam os
tação. As duas figuras, concessão ou permissão, surgem
poderes do Estado – o Executivo, o Legislativo e o Judiciário.
como instrumentos que viabilizam a descentralização dos
f) Quanto à estrutura: simples ou unitários e compos-
serviços públicos, atribuindo-os para terceiros, são regula-
tos. Os órgãos compostos são constituídos por vários ou-
tros órgãos. nas com seus lucros). das pela Lei nº 8.987/95.
Assim, a titularidade de um serviço público é sempre
da Administração Pública, que possui competência para
fixar as regras de execução do serviço e para fiscalizar o
cumprimento das mesmas, aplicando sanções em caso de
22 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo.
23. ed. São Paulo: Atlas editora, 2010. descumprimento.
23 NOHARA, Irene Patrícia. Direito Administrativo – esque-
matizado, completo, atualizado, temas polêmicos, conteúdo dos prin-
cipais concursos públicos. 3. ed. São Paulo: Atlas editora, 2013.

17
DIREITO ADMINISTRATIVO

A Administração Pública pode decidir executar ela Permissão de Serviço Público: é a delegação a título
mesma um serviço público através de órgãos que inte- precário, mediante licitação feita pelo poder concedente
gram a sua Administração direta; ou então fazê-lo através à pessoa física ou jurídica que demonstrem capacidade
de uma pessoa que integre a sua Administração indireta de desempenho por sua conta e risco. Trata-se de um ato
(autarquias, empresas públicas, sociedades de economia administrativo precário, que pode ser desfeito a qualquer
mista e fundações públicas); além de poder resolver que a momento.
execução do serviço público será transferida a particulares,
cabendo escolher quem deles reúne a melhor condição por Subconcessão
meio de licitação, isto é, permissão, concessão e autoriza-
ção de serviço. Conforme artigo 26, é a transferência do objeto da
Os particulares, no máximo, assumem a execução do concessão para terceiros, sujeitando-se aos seguintes li-
serviço, mediante delegação do poder público. Logo, a mites: autorização ou concordância do poder constituinte,
prestação pode ser centralizada quando a própria Admi- previsão contratual e licitação. Ocorre a sub-rogação de
nistração Pública executa os serviços, ou descentralizada direitos e obrigações perante a Administração Pública. A
quando a Administração Pública passa a execução para subconcessão pode ser parcial.
terceiros. Esses terceiros podem estar dentro ou fora da
Administração Direta. Permissão e autorização

Serviços indelegáveis Serviços concedidos são aqueles que o particular exe-


cuta em seu nome, por sua conta e risco, remunerados por
Existem serviços próprios do Estado, que são aqueles tarifa. A concessão dá-se por meio de contrato.
que se relacionam intimamente com as atribuições do Po- Os serviços permitidos são aqueles aos quais a Admi-
der Público (Ex.: segurança, polícia, higiene e saúde públi- nistração estabelece os requisitos para a sua prestação ao
cas etc.) e para a execução dos quais a Administração usa público e, por ato unilateral (termo de permissão), comete
da sua supremacia sobre os administrados, os quais não a execução aos particulares que demonstrarem capacidade
podem ser delegados a particulares. Tais serviços, por sua para seu desempenho. A permissão é unilateral, precária e
essencialidade, geralmente são gratuitos ou de baixa re- discricionária. Serve para serviços de utilidade pública.
muneração. Por fim temos os serviços autorizados que são aque-
Todos os serviços públicos que não são próprios do
les que o Poder Público, por ato unilateral, precário e dis-
Estado são delegáveis.
cricionário, consente na sua execução pelo particular para
atender a interesses coletivos instáveis ou a emergência
Responsabilidade civil
transitória.
Nos termos do artigo 25, quem responde é o conces-
sionário/permissionário. Responde por danos causados ao Extinção
poder concedente, aos usuários e a terceiros. Deve-se pri-
vilegiar a atividade que causou o dano (serviço público), As causas de extinção estão descritas no artigo 35: ter-
independente da vítima ser ou não usuária do serviço. Em mo, que é o término do prazo descrito; encampação, que é
regra, a responsabilidade é objetiva, não cabendo provar a a extinção por razões de interesse público; caducidade, que
culpa ou dolo, bastando a prova do nexo de causalidade, é a extinção por descumprimento de obrigações pelo con-
do dano e da ação (artigo 37, §6º, CF), à exceção dos casos cessionário; rescisão, que é a extinção durante a vigência
de omissão, em que a responsabilidade é subjetiva. pelo descumprimento das obrigações pelo poder público;
anulação, que é a extinção por força da configuração de
Descentralização: concessão e permissão (art. 2º, ilegalidade; falência, que é a extinção por conta de falta de
Lei nº 8.987/95) condições financeiras para continuar arcando com as obri-
gações do contrato; e morte, que é o falecimento da parte
Concessão de Serviço Público: é a delegação da pres- contratada em contrato personalíssimo.
tação do serviço público feita pelo poder concedente, me-
diante licitação na modalidade concorrência, à pessoa jurí- Reassunção e reversão
dica ou consórcio de empresas que demonstrem capacida-
de de desempenho por sua conta e risco, com prazo deter- Reassunção, que é a retomada da execução de um ser-
minado. Essa capacidade de desempenho é averiguada na viço público pelo poder público uma vez extinta a conces-
fase de habilitação da licitação. Qualquer prejuízo causado são.
a terceiros, no caso de concessão, será de responsabilidade Reversão, que é a transferência de bens utilizados du-
do concessionário – que responde de forma objetiva (art. rante a concessão para o patrimônio público a partir da
37, § 6.º, da CF) tendo em vista a atividade estatal desen- extinção da concessão.
volvida, respondendo a Administração Direta subsidiaria-
mente. Trata-se de uma espécie de contrato administrativo.

18
DIREITO ADMINISTRATIVO

Classificação dos serviços públicos Prestação de serviço adequado

Meirelles apresenta a seguinte classificação dos serviços O serviço deve ser regular, contínuo, eficaz, seguro,
públicos: módico, atual e cortês. O princípio básico é o da continui-
a) Quanto à essencialidade: dade dos serviços públicos; entretanto, a prestação poderá
- serviços públicos propriamente ditos – são aqueles ser interrompida em duas hipóteses (art. 6.º, § 3.º):
prestados diretamente pela Administração para a comuni- - em situação de emergência, como no caso de atos de
dade, por reconhecer a sua essencialidade e necessidade de vandalismo de terceiros;
grupo social. São privativos do Poder Público. - com aviso prévio, por razões de ordem técnica ou de
- serviços de utilidade pública – são os que a Adminis- segurança das instalações e em caso de inadimplemento
tração, reconhecendo a sua conveniência para a coletividade, do usuário (no caso de inadimplemento, o usuário deve ser
presta-os diretamente ou aquiesce que sejam prestados por notificado, conferindo-se a oportunidade de pagamento
terceiros. antes da interrupção, bem como de defesa, alegando que
b) Quanto aos destinatários: não deve, que deve menos ou que precisa parcelar).
- serviços gerais ou uti universi – são aqueles que a Ad- Tarifa módica é aquela acessível ao usuário comum do
ministração presta sem ter usuários determinados para aten- serviço.
der à coletividade no seu todo. Ex.: iluminação pública. São O art. 22 do Código de Defesa do Consumidor dispõe
indivisíveis, isto é, não mensuráveis. Daí por que devem ser que “os órgãos públicos, por si ou suas empresas, conces-
mantidos por tributo, e não por taxa ou tarifa. sionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de
- serviços individuais ou uti singuli – são os que possuem empreendimento, são obrigados a fornecer serviços ade-
usuários determinados e utilização particular e mensurável quados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contí-
para cada destinatário. São remunerados por taxa ou tarifa. nuos”. Tem-se, então, um conflito entre a Lei n. 8.987/95 e o
Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/90). Se fos-
Princípios sem seguidas as regras de interpretação, a Lei n. 8.987/95
prevaleceria sobre o Código de Defesa do Consumidor por
a) Princípio da adaptabilidade: impõe a atualização e mo-
ser posterior e especial. Os Tribunais, entretanto, entendem
dernização na prestação do serviço público;
que se o serviço é essencial, a prestação deve ser contínua,
b) Princípio da universalidade: significa que os serviços
prevalecendo, então, o disposto no art. 22 do Código de
devem ser estendidos a todos administrados;
Defesa do Consumidor. Assim, os serviços essenciais não
c) Princípio da impessoalidade: determina a vedação de
podem ser interrompidos por inadimplemento.
discriminações entre os usuários;
d) Princípio da continuidade: impossibilidade de interrup-
ção; LEI Nº 8.987, DE 13 DE FEVEREIRO DE 1995
e) Princípio da modicidade das tarifas: impõe tarifas mó-
dicas aos usuários; Dispõe sobre o regime de concessão e permissão da
f) Princípio da cortesia: prevê que os usuários devem ser prestação de serviços públicos previsto no art. 175 da
tratados com urbanidade; Constituição Federal, e dá outras providências.
g) Princípio da eficiência: estabelece que o serviço públi-
co deve ser prestado de maneira satisfatória ao usuário; O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Con-
h) Princípio da segurança: o serviço não pode ser presta- gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
do de forma que coloque em risco a vida dos usuários.
Continuidade da Prestação do Serviço Público Capítulo I
Entre as regras do regime jurídico público, destaca-se o DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
princípio da continuidade de sua prestação.
Num contrato administrativo, quando o particular des- Art. 1º As concessões de serviços públicos e de obras
cumpre suas obrigações, há rescisão contratual. Se é a Ad- públicas e as permissões de serviços públicos reger-se-ão
ministração, entretanto, que descumpre suas obrigações, o pelos termos do art. 175 da Constituição Federal, por esta
particular não pode rescindir o contrato, tendo em vista o Lei, pelas normas legais pertinentes e pelas cláusulas dos
princípio da continuidade da prestação. indispensáveis contratos.
Essa é a chamada “cláusula exorbitante”, que visa dar à Parágrafo único. A União, os Estados, o Distrito Fede-
Administração Pública uma prerrogativa que não existe para ral e os Municípios promoverão a revisão e as adaptações
o particular, colocando-a em uma posição superior em razão necessárias de sua legislação às prescrições desta Lei, bus-
da supremacia do interesse público. cando atender as peculiaridades das diversas modalidades
Quanto à continuidade da prestação do serviço público e dos seus serviços.
o direito de greve, destaca-se que apesar da previsão consti- Art. 2º Para os fins do disposto nesta Lei, considera-se:
tucional de que somente lei específica poderia definir os ter- I - poder concedente: a União, o Estado, o Distrito Fe-
mos e limites deste direito no setor público e afins, diante da deral ou o Município, em cuja competência se encontre o
ausência de previsão, deve-se aplicar a lei geral que regula serviço público, precedido ou não da execução de obra pú-
o direito de greve. Contudo, a greve total é inconstitucional, blica, objeto de concessão ou permissão;
devendo-se manter serviços mínimos à população.

19
DIREITO ADMINISTRATIVO

II - concessão de serviço público: a delegação de sua Capítulo III


prestação, feita pelo poder concedente, mediante licitação, DOS DIREITOS E OBRIGAÇÕES DOS USUÁRIOS
na modalidade de concorrência, à pessoa jurídica ou con-
sórcio de empresas que demonstre capacidade para seu Art. 7º Sem prejuízo do disposto na Lei nº 8.078, de 11
desempenho, por sua conta e risco e por prazo determi- de setembro de 1990, são direitos e obrigações dos usuários:
nado; I - receber serviço adequado;
III - concessão de serviço público precedida da execu- II - receber do poder concedente e da concessionária
ção de obra pública: a construção, total ou parcial, conser- informações para a defesa de interesses individuais ou co-
letivos;
vação, reforma, ampliação ou melhoramento de quaisquer
III - obter e utilizar o serviço, com liberdade de escolha
obras de interesse público, delegada pelo poder conceden-
entre vários prestadores de serviços, quando for o caso, ob-
te, mediante licitação, na modalidade de concorrência, à
servadas as normas do poder concedente.
pessoa jurídica ou consórcio de empresas que demonstre IV - levar ao conhecimento do poder público e da con-
capacidade para a sua realização, por sua conta e risco, de cessionária as irregularidades de que tenham conhecimento,
forma que o investimento da concessionária seja remune- referentes ao serviço prestado;
rado e amortizado mediante a exploração do serviço ou da V - comunicar às autoridades competentes os atos ilíci-
obra por prazo determinado; tos praticados pela concessionária na prestação do serviço;
IV - permissão de serviço público: a delegação, a tí- VI - contribuir para a permanência das boas condições
tulo precário, mediante licitação, da prestação de serviços dos bens públicos através dos quais lhes são prestados os
públicos, feita pelo poder concedente à pessoa física ou serviços.
jurídica que demonstre capacidade para seu desempenho, Art. 7º-A. As concessionárias de serviços públicos, de di-
por sua conta e risco. reito público e privado, nos Estados e no Distrito Federal, são
Art. 3º As concessões e permissões sujeitar-se-ão à fis- obrigadas a oferecer ao consumidor e ao usuário, dentro do
calização pelo poder concedente responsável pela delega- mês de vencimento, o mínimo de seis datas opcionais para
ção, com a cooperação dos usuários. escolherem os dias de vencimento de seus débitos.
Art. 4º A concessão de serviço público, precedida ou
não da execução de obra pública, será formalizada median- Capítulo IV
DA POLÍTICA TARIFÁRIA
te contrato, que deverá observar os termos desta Lei, das
normas pertinentes e do edital de licitação.
Art. 8º (VETADO)
Art. 5º O poder concedente publicará, previamente ao
Art. 9º A tarifa do serviço público concedido será fixada
edital de licitação, ato justificando a conveniência da outor- pelo preço da proposta vencedora da licitação e preserva-
ga de concessão ou permissão, caracterizando seu objeto, da pelas regras de revisão previstas nesta Lei, no edital e no
área e prazo. contrato.
§ 1º A tarifa não será subordinada à legislação específica
Capítulo II anterior e somente nos casos expressamente previstos em lei,
DO SERVIÇO ADEQUADO sua cobrança poderá ser condicionada à existência de serviço
público alternativo e gratuito para o usuário.
Art. 6º Toda concessão ou permissão pressupõe a § 2º Os contratos poderão prever mecanismos de revisão
prestação de serviço adequado ao pleno atendimento dos das tarifas, a fim de manter-se o equilíbrio econômico-finan-
usuários, conforme estabelecido nesta Lei, nas normas per- ceiro.
tinentes e no respectivo contrato. § 3º Ressalvados os impostos sobre a renda, a criação,
§ 1º Serviço adequado é o que satisfaz as condições de alteração ou extinção de quaisquer tributos ou encargos le-
regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualida- gais, após a apresentação da proposta, quando comprovado
de, generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade seu impacto, implicará a revisão da tarifa, para mais ou para
das tarifas. menos, conforme o caso.
§ 4º Em havendo alteração unilateral do contrato que
§ 2º A atualidade compreende a modernidade das téc-
afete o seu inicial equilíbrio econômico-financeiro, o poder
nicas, do equipamento e das instalações e a sua conserva-
concedente deverá restabelecê-lo, concomitantemente à al-
ção, bem como a melhoria e expansão do serviço.
teração.
§ 3º Não se caracteriza como descontinuidade do ser- Art. 10. Sempre que forem atendidas as condições do
viço a sua interrupção em situação de emergência ou após contrato, considera-se mantido seu equilíbrio econômico-fi-
prévio aviso, quando: nanceiro.
I - motivada por razões de ordem técnica ou de segu- Art. 11. No atendimento às peculiaridades de cada ser-
rança das instalações; e, viço público, poderá o poder concedente prever, em favor
II - por inadimplemento do usuário, considerado o in- da concessionária, no edital de licitação, a possibilidade de
teresse da coletividade. outras fontes provenientes de receitas alternativas, comple-
mentares, acessórias ou de projetos associados, com ou sem
exclusividade, com vistas a favorecer a modicidade das tari-
fas, observado o disposto no art. 17 desta Lei.

20
DIREITO ADMINISTRATIVO

Parágrafo único. As fontes de receita previstas neste ar- § 2º Inclui-se nas vantagens ou subsídios de que trata
tigo serão obrigatoriamente consideradas para a aferição do este artigo, qualquer tipo de tratamento tributário diferen-
inicial equilíbrio econômico-financeiro do contrato. ciado, ainda que em consequência da natureza jurídica do
Art. 12. (VETADO) licitante, que comprometa a isonomia fiscal que deve pre-
Art. 13. As tarifas poderão ser diferenciadas em função valecer entre todos os concorrentes.
das características técnicas e dos custos específicos prove- Art. 18. O edital de licitação será elaborado pelo poder
nientes do atendimento aos distintos segmentos de usuá- concedente, observados, no que couber, os critérios e as
rios. normas gerais da legislação própria sobre licitações e con-
tratos e conterá, especialmente:
Capítulo V I - o objeto, metas e prazo da concessão;
DA LICITAÇÃO II - a descrição das condições necessárias à prestação
adequada do serviço;
Art. 14. Toda concessão de serviço público, precedida ou III - os prazos para recebimento das propostas, julga-
não da execução de obra pública, será objeto de prévia lici- mento da licitação e assinatura do contrato;
tação, nos termos da legislação própria e com observância IV - prazo, local e horário em que serão fornecidos, aos
dos princípios da legalidade, moralidade, publicidade, igual- interessados, os dados, estudos e projetos necessários à
dade, do julgamento por critérios objetivos e da vinculação elaboração dos orçamentos e apresentação das propostas;
ao instrumento convocatório. V - os critérios e a relação dos documentos exigidos
Art. 15. No julgamento da licitação será considerado um para a aferição da capacidade técnica, da idoneidade finan-
dos seguintes critérios: ceira e da regularidade jurídica e fiscal;
I - o menor valor da tarifa do serviço público a ser pres- VI - as possíveis fontes de receitas alternativas, com-
tado; plementares ou acessórias, bem como as provenientes de
II - a maior oferta, nos casos de pagamento ao poder projetos associados;
concedente pela outorga da concessão; VII - os direitos e obrigações do poder concedente e
III - a combinação, dois a dois, dos critérios referidos nos da concessionária em relação a alterações e expansões a
incisos I, II e VII; serem realizadas no futuro, para garantir a continuidade da
IV - melhor proposta técnica, com preço fixado no edital; prestação do serviço;
V - melhor proposta em razão da combinação dos crité- VIII - os critérios de reajuste e revisão da tarifa;
rios de menor valor da tarifa do serviço público a ser presta- IX - os critérios, indicadores, fórmulas e parâmetros a
do com o de melhor técnica; serem utilizados no julgamento técnico e econômico-fi-
VI - melhor proposta em razão da combinação dos cri- nanceiro da proposta;
térios de maior oferta pela outorga da concessão com o de X - a indicação dos bens reversíveis;
melhor técnica; ou XI - as características dos bens reversíveis e as condi-
VII - melhor oferta de pagamento pela outorga após ções em que estes serão postos à disposição, nos casos em
qualificação de propostas técnicas. que houver sido extinta a concessão anterior;
§ 1º A aplicação do critério previsto no inciso III só será XII - a expressa indicação do responsável pelo ônus das
admitida quando previamente estabelecida no edital de lici- desapropriações necessárias à execução do serviço ou da
tação, inclusive com regras e fórmulas precisas para avalia- obra pública, ou para a instituição de servidão administra-
ção econômico-financeira. tiva;
§ 2º Para fins de aplicação do disposto nos incisos IV, V, XIII - as condições de liderança da empresa respon-
VI e VII, o edital de licitação conterá parâmetros e exigências sável, na hipótese em que for permitida a participação de
para formulação de propostas técnicas. empresas em consórcio;
§ 3º O poder concedente recusará propostas manifesta- XIV - nos casos de concessão, a minuta do respectivo
mente inexequíveis ou financeiramente incompatíveis com contrato, que conterá as cláusulas essenciais referidas no
os objetivos da licitação. art. 23 desta Lei, quando aplicáveis;
§ 4º Em igualdade de condições, será dada preferência à XV - nos casos de concessão de serviços públicos pre-
proposta apresentada por empresa brasileira. cedida da execução de obra pública, os dados relativos à
Art. 16. A outorga de concessão ou permissão não terá obra, dentre os quais os elementos do projeto básico que
caráter de exclusividade, salvo no caso de inviabilidade téc- permitam sua plena caracterização, bem assim as garantias
nica ou econômica justificada no ato a que se refere o art. exigidas para essa parte específica do contrato, adequadas
5º desta Lei. a cada caso e limitadas ao valor da obra;
Art. 17. Considerar-se-á desclassificada a proposta que, XVI - nos casos de permissão, os termos do contrato de
para sua viabilização, necessite de vantagens ou subsídios adesão a ser firmado.
que não estejam previamente autorizados em lei e à dispo- Art. 18-A. O edital poderá prever a inversão da ordem
sição de todos os concorrentes. das fases de habilitação e julgamento, hipótese em que:
§ 1º Considerar-se-á, também, desclassificada a propos- I - encerrada a fase de classificação das propostas ou
ta de entidade estatal alheia à esfera político-administrativa o oferecimento de lances, será aberto o invólucro com os
do poder concedente que, para sua viabilização, necessite documentos de habilitação do licitante mais bem classifica-
de vantagens ou subsídios do poder público controlador da do, para verificação do atendimento das condições fixadas
referida entidade. no edital;

21
DIREITO ADMINISTRATIVO

II - verificado o atendimento das exigências do edital, o VI - aos direitos e deveres dos usuários para obtenção
licitante será declarado vencedor; e utilização do serviço;
III - inabilitado o licitante melhor classificado, serão VII - à forma de fiscalização das instalações, dos equi-
analisados os documentos habilitatórios do licitante com a pamentos, dos métodos e práticas de execução do serviço,
proposta classificada em segundo lugar, e assim sucessiva- bem como a indicação dos órgãos competentes para exer-
mente, até que um licitante classificado atenda às condições cê-la;
fixadas no edital; VIII - às penalidades contratuais e administrativas a que
IV - proclamado o resultado final do certame, o objeto se sujeita a concessionária e sua forma de aplicação;
será adjudicado ao vencedor nas condições técnicas e eco- IX - aos casos de extinção da concessão;
nômicas por ele ofertadas. X - aos bens reversíveis;
Art. 19. Quando permitida, na licitação, a participação XI - aos critérios para o cálculo e a forma de pagamen-
de empresas em consórcio, observar-se-ão as seguintes nor- to das indenizações devidas à concessionária, quando for
mas: o caso;
I - comprovação de compromisso, público ou particular, XII - às condições para prorrogação do contrato;
de constituição de consórcio, subscrito pelas consorciadas; XIII - à obrigatoriedade, forma e periodicidade da pres-
II - indicação da empresa responsável pelo consórcio; tação de contas da concessionária ao poder concedente;
III - apresentação dos documentos exigidos nos incisos XIV - à exigência da publicação de demonstrações fi-
V e XIII do artigo anterior, por parte de cada consorciada; nanceiras periódicas da concessionária; e
IV - impedimento de participação de empresas consor- XV - ao foro e ao modo amigável de solução das diver-
ciadas na mesma licitação, por intermédio de mais de um gências contratuais.
consórcio ou isoladamente. Parágrafo único. Os contratos relativos à concessão de
§ 1º O licitante vencedor fica obrigado a promover, an- serviço público precedido da execução de obra pública de-
tes da celebração do contrato, a constituição e registro do verão, adicionalmente:
consórcio, nos termos do compromisso referido no inciso I I - estipular os cronogramas físico-financeiros de exe-
deste artigo.
cução das obras vinculadas à concessão; e
§ 2º A empresa líder do consórcio é a responsável pe-
II - exigir garantia do fiel cumprimento, pela concessio-
rante o poder concedente pelo cumprimento do contrato de
nária, das obrigações relativas às obras vinculadas à con-
concessão, sem prejuízo da responsabilidade solidária das
cessão.
demais consorciadas.
Art. 23-A. O contrato de concessão poderá prever o
Art. 20. É facultado ao poder concedente, desde que
emprego de mecanismos privados para resolução de dis-
previsto no edital, no interesse do serviço a ser concedido,
putas decorrentes ou relacionadas ao contrato, inclusive a
determinar que o licitante vencedor, no caso de consórcio,
se constitua em empresa antes da celebração do contrato. arbitragem, a ser realizada no Brasil e em língua portugue-
Art. 21. Os estudos, investigações, levantamentos, pro- sa, nos termos da Lei nº 9.307, de 23 de setembro de 1996.
jetos, obras e despesas ou investimentos já efetuados, vin- Art. 24. (VETADO)
culados à concessão, de utilidade para a licitação, realizados Art. 25. Incumbe à concessionária a execução do ser-
pelo poder concedente ou com a sua autorização, estarão à viço concedido, cabendo-lhe responder por todos os pre-
disposição dos interessados, devendo o vencedor da licita- juízos causados ao poder concedente, aos usuários ou a
ção ressarcir os dispêndios correspondentes, especificados terceiros, sem que a fiscalização exercida pelo órgão com-
no edital. petente exclua ou atenue essa responsabilidade.
Art. 22. É assegurada a qualquer pessoa a obtenção de § 1º Sem prejuízo da responsabilidade a que se refere
certidão sobre atos, contratos, decisões ou pareceres relati- este artigo, a concessionária poderá contratar com tercei-
vos à licitação ou às próprias concessões. ros o desenvolvimento de atividades inerentes, acessórias
ou complementares ao serviço concedido, bem como a im-
Capítulo VI plementação de projetos associados.
DO CONTRATO DE CONCESSÃO § 2º Os contratos celebrados entre a concessionária e
os terceiros a que se refere o parágrafo anterior reger-se-
Art. 23. São cláusulas essenciais do contrato de conces- -ão pelo direito privado, não se estabelecendo qualquer
são as relativas: relação jurídica entre os terceiros e o poder concedente.
I - ao objeto, à área e ao prazo da concessão; § 3º A execução das atividades contratadas com tercei-
II - ao modo, forma e condições de prestação do serviço; ros pressupõe o cumprimento das normas regulamentares
III - aos critérios, indicadores, fórmulas e parâmetros de- da modalidade do serviço concedido.
finidores da qualidade do serviço; Art. 26. É admitida a subconcessão, nos termos previs-
IV - ao preço do serviço e aos critérios e procedimentos tos no contrato de concessão, desde que expressamente
para o reajuste e a revisão das tarifas; autorizada pelo poder concedente.
V - aos direitos, garantias e obrigações do poder con- § 1º A outorga de subconcessão será sempre precedida
cedente e da concessionária, inclusive os relacionados às de concorrência.
previsíveis necessidades de futura alteração e expansão do § 2º O subconcessionário se sub-rogará todos os direi-
serviço e consequente modernização, aperfeiçoamento e tos e obrigações da subconcedente dentro dos limites da
ampliação dos equipamentos e das instalações; subconcessão.

22
DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 27. A transferência de concessão ou do controle Art. 28. Nos contratos de financiamento, as concessio-
societário da concessionária sem prévia anuência do poder nárias poderão oferecer em garantia os direitos emergen-
concedente implicará a caducidade da concessão. tes da concessão, até o limite que não comprometa a ope-
§ 1º Para fins de obtenção da anuência de que trata o racionalização e a continuidade da prestação do serviço.
caput deste artigo, o pretendente deverá: Art. 28-A. Para garantir contratos de mútuo de longo
I - atender às exigências de capacidade técnica, idonei- prazo, destinados a investimentos relacionados a contra-
dade financeira e regularidade jurídica e fiscal necessárias tos de concessão, em qualquer de suas modalidades, as
à assunção do serviço; e concessionárias poderão ceder ao mutuante, em caráter
II - comprometer-se a cumprir todas as cláusulas do fiduciário, parcela de seus créditos operacionais futuros,
contrato em vigor. observadas as seguintes condições:
§ 2º (Revogado). I - o contrato de cessão dos créditos deverá ser regis-
§ 3º (Revogado). trado em Cartório de Títulos e Documentos para ter eficá-
§ 4º (Revogado). cia perante terceiros;
Art. 27-A. Nas condições estabelecidas no contrato de II - sem prejuízo do disposto no inciso I do caput deste
concessão, o poder concedente autorizará a assunção do artigo, a cessão do crédito não terá eficácia em relação ao
controle ou da administração temporária da concessionária Poder Público concedente senão quando for este formal-
por seus financiadores e garantidores com quem não man- mente notificado;
tenha vínculo societário direto, para promover sua reestru- III - os créditos futuros cedidos nos termos deste artigo
turação financeira e assegurar a continuidade da prestação serão constituídos sob a titularidade do mutuante, inde-
dos serviços. pendentemente de qualquer formalidade adicional;
§ 1º Na hipótese prevista no caput, o poder concedente IV - o mutuante poderá indicar instituição financeira
exigirá dos financiadores e dos garantidores que atendam para efetuar a cobrança e receber os pagamentos dos cré-
às exigências de regularidade jurídica e fiscal, podendo al- ditos cedidos ou permitir que a concessionária o faça, na
terar ou dispensar os demais requisitos previstos no inciso qualidade de representante e depositária;
I do parágrafo único do art. 27.
V - na hipótese de ter sido indicada instituição finan-
§ 2º A assunção do controle ou da administração tem-
ceira, conforme previsto no inciso IV do caput deste artigo,
porária autorizadas na forma do caput deste artigo não
fica a concessionária obrigada a apresentar a essa os crédi-
alterará as obrigações da concessionária e de seus contro-
tos para cobrança;
ladores para com terceiros, poder concedente e usuários
VI - os pagamentos dos créditos cedidos deverão ser
dos serviços públicos.
depositados pela concessionária ou pela instituição encar-
§ 3º Configura-se o controle da concessionária, para os
regada da cobrança em conta corrente bancária vinculada
fins dispostos no caput deste artigo, a propriedade resolú-
vel de ações ou quotas por seus financiadores e garantido- ao contrato de mútuo;
res que atendam os requisitos do art. 116 da Lei nº 6.404, VII - a instituição financeira depositária deverá trans-
de 15 de dezembro de 1976. ferir os valores recebidos ao mutuante à medida que as
§ 4º Configura-se a administração temporária da con- obrigações do contrato de mútuo tornarem-se exigíveis; e
cessionária por seus financiadores e garantidores quando, VIII - o contrato de cessão disporá sobre a devolução
sem a transferência da propriedade de ações ou quotas, à concessionária dos recursos excedentes, sendo vedada a
forem outorgados os seguintes poderes: retenção do saldo após o adimplemento integral do con-
I - indicar os membros do Conselho de Administração, trato.
a serem eleitos em Assembleia Geral pelos acionistas, nas Parágrafo único. Para os fins deste artigo, serão con-
sociedades regidas pela Lei nº 6.404, de 15 de dezembro siderados contratos de longo prazo aqueles cujas obri-
de 1976; ou administradores, a serem eleitos pelos quotis- gações tenham prazo médio de vencimento superior a 5
tas, nas demais sociedades; (cinco) anos.
II - indicar os membros do Conselho Fiscal, a serem
eleitos pelos acionistas ou quotistas controladores em As- Capítulo VII
sembleia Geral; DOS ENCARGOS DO PODER CONCEDENTE
III - exercer poder de veto sobre qualquer proposta
submetida à votação dos acionistas ou quotistas da con- Art. 29. Incumbe ao poder concedente:
cessionária, que representem, ou possam representar, pre- I - regulamentar o serviço concedido e fiscalizar per-
juízos aos fins previstos no caput deste artigo; manentemente a sua prestação;
IV - outros poderes necessários ao alcance dos fins II - aplicar as penalidades regulamentares e contratuais;
previstos no caput deste artigo. III - intervir na prestação do serviço, nos casos e condi-
§ 5º A administração temporária autorizada na forma ções previstos em lei;
deste artigo não acarretará responsabilidade aos financia- IV - extinguir a concessão, nos casos previstos nesta Lei
dores e garantidores em relação à tributação, encargos, e na forma prevista no contrato;
ônus, sanções, obrigações ou compromissos com terceiros, V - homologar reajustes e proceder à revisão das tarifas
inclusive com o poder concedente ou empregados. na forma desta Lei, das normas pertinentes e do contrato;
§ 6º O Poder Concedente disciplinará sobre o prazo da VI - cumprir e fazer cumprir as disposições regulamen-
administração temporária. tares do serviço e as cláusulas contratuais da concessão;

23
DIREITO ADMINISTRATIVO

VII - zelar pela boa qualidade do serviço, receber, apu- Capítulo IX


rar e solucionar queixas e reclamações dos usuários, que DA INTERVENÇÃO
serão cientificados, em até trinta dias, das providências to-
madas; Art. 32. O poder concedente poderá intervir na conces-
VIII - declarar de utilidade pública os bens necessários são, com o fim de assegurar a adequação na prestação do
à execução do serviço ou obra pública, promovendo as de- serviço, bem como o fiel cumprimento das normas contra-
sapropriações, diretamente ou mediante outorga de pode- tuais, regulamentares e legais pertinentes.
res à concessionária, caso em que será desta a responsabi- Parágrafo único. A intervenção far-se-á por decreto
lidade pelas indenizações cabíveis; do poder concedente, que conterá a designação do inter-
IX - declarar de necessidade ou utilidade pública, para ventor, o prazo da intervenção e os objetivos e limites da
fins de instituição de servidão administrativa, os bens ne- medida.
cessários à execução de serviço ou obra pública, promo- Art. 33. Declarada a intervenção, o poder conceden-
vendo-a diretamente ou mediante outorga de poderes à te deverá, no prazo de trinta dias, instaurar procedimento
concessionária, caso em que será desta a responsabilidade administrativo para comprovar as causas determinantes da
pelas indenizações cabíveis; medida e apurar responsabilidades, assegurado o direito
X - estimular o aumento da qualidade, produtividade, de ampla defesa.
preservação do meio-ambiente e conservação; § 1º Se ficar comprovado que a intervenção não ob-
XI - incentivar a competitividade; e servou os pressupostos legais e regulamentares será de-
XII - estimular a formação de associações de usuários clarada sua nulidade, devendo o serviço ser imediatamente
para defesa de interesses relativos ao serviço. devolvido à concessionária, sem prejuízo de seu direito à
Art. 30. No exercício da fiscalização, o poder conceden- indenização.
te terá acesso aos dados relativos à administração, con- § 2º O procedimento administrativo a que se refere o
tabilidade, recursos técnicos, econômicos e financeiros da caput deste artigo deverá ser concluído no prazo de até
concessionária. cento e oitenta dias, sob pena de considerar-se inválida a
Parágrafo único. A fiscalização do serviço será feita por intervenção.
intermédio de órgão técnico do poder concedente ou por Art. 34. Cessada a intervenção, se não for extinta a
entidade com ele conveniada, e, periodicamente, conforme concessão, a administração do serviço será devolvida à
previsto em norma regulamentar, por comissão composta concessionária, precedida de prestação de contas pelo in-
de representantes do poder concedente, da concessionária terventor, que responderá pelos atos praticados durante a
e dos usuários. sua gestão.

Capítulo VIII Capítulo X


DOS ENCARGOS DA CONCESSIONÁRIA DA EXTINÇÃO DA CONCESSÃO

Art. 31. Incumbe à concessionária: Art. 35. Extingue-se a concessão por:


I - prestar serviço adequado, na forma prevista nesta I - advento do termo contratual;
Lei, nas normas técnicas aplicáveis e no contrato; II - encampação;
II - manter em dia o inventário e o registro dos bens III - caducidade;
vinculados à concessão; IV - rescisão;
III - prestar contas da gestão do serviço ao poder con- V - anulação; e
cedente e aos usuários, nos termos definidos no contrato; VI - falência ou extinção da empresa concessionária e
IV - cumprir e fazer cumprir as normas do serviço e as falecimento ou incapacidade do titular, no caso de empresa
cláusulas contratuais da concessão; individual.
V - permitir aos encarregados da fiscalização livre aces- § 1º Extinta a concessão, retornam ao poder conceden-
so, em qualquer época, às obras, aos equipamentos e às te todos os bens reversíveis, direitos e privilégios transferi-
instalações integrantes do serviço, bem como a seus regis- dos ao concessionário conforme previsto no edital e esta-
tros contábeis; belecido no contrato.
VI - promover as desapropriações e constituir servi- § 2º Extinta a concessão, haverá a imediata assunção
dões autorizadas pelo poder concedente, conforme previs- do serviço pelo poder concedente, procedendo-se aos le-
to no edital e no contrato; vantamentos, avaliações e liquidações necessários.
VII - zelar pela integridade dos bens vinculados à pres- § 3º A assunção do serviço autoriza a ocupação das
tação do serviço, bem como segurá-los adequadamente; e instalações e a utilização, pelo poder concedente, de todos
VIII - captar, aplicar e gerir os recursos financeiros ne- os bens reversíveis.
cessários à prestação do serviço. § 4º Nos casos previstos nos incisos I e II deste artigo,
Parágrafo único. As contratações, inclusive de mão-de- o poder concedente, antecipando-se à extinção da conces-
-obra, feitas pela concessionária serão regidas pelas dispo- são, procederá aos levantamentos e avaliações necessários
sições de direito privado e pela legislação trabalhista, não à determinação dos montantes da indenização que será
se estabelecendo qualquer relação entre os terceiros con- devida à concessionária, na forma dos arts. 36 e 37 desta
tratados pela concessionária e o poder concedente. Lei.

24
DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 36. A reversão no advento do termo contratual § 6º Declarada a caducidade, não resultará para o poder
far-se-á com a indenização das parcelas dos investimentos concedente qualquer espécie de responsabilidade em relação
vinculados a bens reversíveis, ainda não amortizados ou aos encargos, ônus, obrigações ou compromissos com tercei-
depreciados, que tenham sido realizados com o objetivo ros ou com empregados da concessionária.
de garantir a continuidade e atualidade do serviço conce- Art. 39. O contrato de concessão poderá ser rescindido por
dido. iniciativa da concessionária, no caso de descumprimento das
Art. 37. Considera-se encampação a retomada do ser- normas contratuais pelo poder concedente, mediante ação ju-
viço pelo poder concedente durante o prazo da concessão, dicial especialmente intentada para esse fim.
por motivo de interesse público, mediante lei autorizativa Parágrafo único. Na hipótese prevista no caput deste arti-
específica e após prévio pagamento da indenização, na for- go, os serviços prestados pela concessionária não poderão ser
ma do artigo anterior. interrompidos ou paralisados, até a decisão judicial transitada
Art. 38. A inexecução total ou parcial do contrato acar- em julgado.
retará, a critério do poder concedente, a declaração de ca-
Capítulo XI
ducidade da concessão ou a aplicação das sanções contra-
DAS PERMISSÕES
tuais, respeitadas as disposições deste artigo, do art. 27, e
as normas convencionadas entre as partes.
Art. 40. A permissão de serviço público será formalizada
§ 1º A caducidade da concessão poderá ser declarada mediante contrato de adesão, que observará os termos desta
pelo poder concedente quando: Lei, das demais normas pertinentes e do edital de licitação, in-
I - o serviço estiver sendo prestado de forma inadequa- clusive quanto à precariedade e à revogabilidade unilateral do
da ou deficiente, tendo por base as normas, critérios, indi- contrato pelo poder concedente.
cadores e parâmetros definidores da qualidade do serviço; Parágrafo único. Aplica-se às permissões o disposto nesta
II - a concessionária descumprir cláusulas contratuais Lei.
ou disposições legais ou regulamentares concernentes à
concessão; Capítulo XII
III - a concessionária paralisar o serviço ou concorrer DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS
para tanto, ressalvadas as hipóteses decorrentes de caso
fortuito ou força maior; Art. 41. O disposto nesta Lei não se aplica à concessão, per-
IV - a concessionária perder as condições econômicas, missão e autorização para o serviço de radiodifusão sonora e
técnicas ou operacionais para manter a adequada presta- de sons e imagens.
ção do serviço concedido; Art. 42. As concessões de serviço público outorgadas ante-
V - a concessionária não cumprir as penalidades im- riormente à entrada em vigor desta Lei consideram-se válidas
postas por infrações, nos devidos prazos; pelo prazo fixado no contrato ou no ato de outorga, observado
VI - a concessionária não atender a intimação do po- o disposto no art. 43 desta Lei.
der concedente no sentido de regularizar a prestação do § 1º Vencido o prazo mencionado no contrato ou ato de
serviço; e outorga, o serviço poderá ser prestado por órgão ou entidade
VII - a concessionária não atender a intimação do po- do poder concedente, ou delegado a terceiros, mediante novo
der concedente para, em 180 (cento e oitenta) dias, apre- contrato.
sentar a documentação relativa a regularidade fiscal, no § 2º As concessões em caráter precário, as que estiverem
curso da concessão, na forma do art. 29 da Lei nº 8.666, de com prazo vencido e as que estiverem em vigor por prazo in-
determinado, inclusive por força de legislação anterior, perma-
21 de junho de 1993.
necerão válidas pelo prazo necessário à realização dos levanta-
§ 2º A declaração da caducidade da concessão deverá
mentos e avaliações indispensáveis à organização das licitações
ser precedida da verificação da inadimplência da conces-
que precederão a outorga das concessões que as substituirão,
sionária em processo administrativo, assegurado o direito
prazo esse que não será inferior a 24 (vinte e quatro) meses.
de ampla defesa. § 3º As concessões a que se refere o § 2º deste artigo, in-
§ 3º Não será instaurado processo administrativo de clusive as que não possuam instrumento que as formalize ou
inadimplência antes de comunicados à concessionária, de- que possuam cláusula que preveja prorrogação, terão validade
talhadamente, os descumprimentos contratuais referidos máxima até o dia 31 de dezembro de 2010, desde que, até o
no § 1º deste artigo, dando-lhe um prazo para corrigir as dia 30 de junho de 2009, tenham sido cumpridas, cumulativa-
falhas e transgressões apontadas e para o enquadramento, mente, as seguintes condições:
nos termos contratuais. I - levantamento mais amplo e retroativo possível dos ele-
§ 4º Instaurado o processo administrativo e comprova- mentos físicos constituintes da infra-estrutura de bens reversí-
da a inadimplência, a caducidade será declarada por decre- veis e dos dados financeiros, contábeis e comerciais relativos
to do poder concedente, independentemente de indeniza- à prestação dos serviços, em dimensão necessária e suficiente
ção prévia, calculada no decurso do processo. para a realização do cálculo de eventual indenização relativa
§ 5º A indenização de que trata o parágrafo anterior, aos investimentos ainda não amortizados pelas receitas emer-
será devida na forma do art. 36 desta Lei e do contrato, gentes da concessão, observadas as disposições legais e con-
descontado o valor das multas contratuais e dos danos tratuais que regulavam a prestação do serviço ou a ela aplicá-
causados pela concessionária. veis nos 20 (vinte) anos anteriores ao da publicação desta Lei;

25
DIREITO ADMINISTRATIVO

II - celebração de acordo entre o poder concedente e o Parágrafo único. A licitação de que trata o caput deste
concessionário sobre os critérios e a forma de indenização artigo deverá, obrigatoriamente, levar em conta, para fins
de eventuais créditos remanescentes de investimentos ain- de avaliação, o estágio das obras paralisadas ou atrasadas,
da não amortizados ou depreciados, apurados a partir dos de modo a permitir a utilização do critério de julgamento
levantamentos referidos no inciso I deste parágrafo e au- estabelecido no inciso III do art. 15 desta Lei.
ditados por instituição especializada escolhida de comum Art. 46. Esta Lei entra em vigor na data de sua publi-
acordo pelas partes; e cação.
III - publicação na imprensa oficial de ato formal de Art. 47. Revogam-se as disposições em contrário.
autoridade do poder concedente, autorizando a prestação
precária dos serviços por prazo de até 6 (seis) meses, reno- Brasília, 13 de fevereiro de 1995; 174º da Independên-
vável até 31 de dezembro de 2008, mediante comprovação cia e 107º da República.
do cumprimento do disposto nos incisos I e II deste pará-
grafo.
§ 4º Não ocorrendo o acordo previsto no inciso II do §
3º deste artigo, o cálculo da indenização de investimentos ATO ADMINISTRATIVO: CONCEITO, REQUI-
será feito com base nos critérios previstos no instrumento SITOS E ATRIBUTOS; ANULAÇÃO, REVOGAÇÃO E
de concessão antes celebrado ou, na omissão deste, por CONVALIDAÇÃO; DISCRICIONARIEDADE
avaliação de seu valor econômico ou reavaliação patrimo- E VINCULAÇÃO
nial, depreciação e amortização de ativos imobilizados de-
finidos pelas legislações fiscal e das sociedades por ações,
efetuada por empresa de auditoria independente escolhida O ato administrativo é uma espécie de fato administra-
de comum acordo pelas partes. tivo e é em torno dele que se estrutura a base teórica do
§ 5º No caso do § 4º deste artigo, o pagamento de direito administrativo.
eventual indenização será realizado, mediante garantia Fato administrativo é a “atividade material no exercí-
real, por meio de 4 (quatro) parcelas anuais, iguais e suces- cio da função administrativa, que visa a efeitos de ordem
sivas, da parte ainda não amortizada de investimentos e de prática para a Administração. [...] Os fatos administrativos
outras indenizações relacionadas à prestação dos serviços, podem ser voluntários e naturais. Os fatos administrativos
realizados com capital próprio do concessionário ou de seu voluntários se materializam de duas maneiras: 1ª) por atos
controlador, ou originários de operações de financiamen- administrativos, que formalizam a providência dese-
to, ou obtidos mediante emissão de ações, debêntures e jada pelo administrador através da manifestação da
outros títulos mobiliários, com a primeira parcela paga até vontade; 2ª) por condutas administrativas, que refletem
o último dia útil do exercício financeiro em que ocorrer a os comportamentos e as ações administrativas, sejam ou
reversão. não precedidas de ato administrativo formal. Já os fatos
§ 6º Ocorrendo acordo, poderá a indenização de que administrativos naturais são aqueles que se originam de
trata o § 5º deste artigo ser paga mediante receitas de novo fenômenos da natureza, cujos efeitos se refletem na órbita
contrato que venha a disciplinar a prestação do serviço. administrativa. Assim, quando se fizer referência a fato ad-
ministrativo, deverá estar presente unicamente a noção de
Art. 43. Ficam extintas todas as concessões de serviços que ocorreu um evento dinâmico da Administração”24.
públicos outorgadas sem licitação na vigência da Consti- Por seu turno, “a expressão atos da Administração
tuição de 1988. traduz sentido amplo e indica todo e qualquer ato que
Parágrafo único. Ficam também extintas todas as con- se origine dos inúmeros órgãos que compõem o sistema
cessões outorgadas sem licitação anteriormente à Consti-
administrativo em qualquer dos Poderes. [...] Na verdade,
tuição de 1988, cujas obras ou serviços não tenham sido
entre os atos da Administração se enquadram atos que
iniciados ou que se encontrem paralisados quando da en-
não se caracterizam propriamente como atos adminis-
trada em vigor desta Lei.
trativos, como é o caso dos atos privados da Administra-
Art. 44. As concessionárias que tiverem obras que se ção. Exemplo: os contratos regidos pelo direito privado,
encontrem atrasadas, na data da publicação desta Lei,
apresentarão ao poder concedente, dentro de cento e oi- como a compra e venda, a locação etc. No mesmo plano es-
tenta dias, plano efetivo de conclusão das obras. tão os atos materiais, que correspondem aos fatos adminis-
Parágrafo único. Caso a concessionária não apresente trativos, noção vista acima: são eles atos da Administração,
o plano a que se refere este artigo ou se este plano não mas não configuram atos administrativos típicos. Alguns au-
oferecer condições efetivas para o término da obra, o po- tores aludem também aos atos políticos ou de governo”25.
der concedente poderá declarar extinta a concessão, rela-
tiva a essa obra.
Art. 45. Nas hipóteses de que tratam os arts. 43 e 44 24 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito
desta Lei, o poder concedente indenizará as obras e servi- administrativo. 28. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2015.
ços realizados somente no caso e com os recursos da nova 25 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito
licitação. administrativo. 28. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2015.

26
DIREITO ADMINISTRATIVO

Com efeito, a expressão atos da Administração é mais Obs.: Todo ato administrativo tem presunção de veraci-
ampla. Envolve, também, os atos privados da Administra- dade e de legitimidade, mas nem todo ato administrativo é
ção, referentes às ações da Administração no atendimento imperativo (pode precisar da concordância do particular, a
de seus interesses e necessidades operacionais e instru- exemplo dos atos negociais).
mentais agindo no mesmo plano de direitos e obrigações
que os particulares. O regime jurídico será o de direito pri- 1) Competência: é o poder-dever atribuído a determi-
vado. Ex.: contrato de aluguel de imóveis, compra de bens nado agente público para praticar certo ato administrativo.
de consumo, contratação de água/luz/internet. Basicamen- A pessoa jurídica, o órgão e o agente público devem estar
te, envolve os interesses particulares da Administração, que revestidos de competência. A competência é sempre fixada
são secundários, para que ela possa atender aos interesses por lei.
primários – no âmbito destes interesses primários (inte- 2) Finalidade: é a razão jurídica pela qual um ato ad-
resses públicos, difusos e coletivos) é que surgem os atos ministrativo foi abstratamente criado pela ordem jurídica. A
administrativos, que são atos públicos da Administração, lei estabelece que os atos administrativos devem ser prati-
sujeitos a regime jurídico de direito público. cados visando a um fim, notadamente, a satisfação do in-
teresse público. Contudo, embora os atos administrativos
Atos da Administração ≠ Atos administrativos. sempre tenham por objeto a satisfação do interesse públi-
Atos privados da Administração = atos da Adminis- co, esse interesse é variável de acordo com a situação. Se a
tração → regime jurídico de direito privado. autoridade administrativa praticar um ato fora da finalidade
Atos públicos da Administração = atos administra- genérica ou fora da finalidade específica, estará praticando
tivos → regime jurídico de direito público. um ato viciado que é chamado “desvio de poder ou desvio
de finalidade”.
Os atos administrativos se situam num plano superior 3) Forma: é a maneira pela qual o ato se revela no mun-
de direitos e obrigações, eis que visam atender aos interes- do jurídico. Usualmente, adota-se a forma escrita. Eventual-
ses públicos primários, denominados difusos e coletivos. mente, pode ser praticado por sinais ou gestos (ex: trânsito).
Logo, são atos de regime público, sujeitos a pressupostos A forma é sempre fixada por lei.
de existência e validade diversos dos estabelecidos para 4) Motivo (vontade): vontade é o querer do ato admi-
os atos jurídicos no Código Civil, e sim previstos na Lei de nistrativo e dela se extrai o motivo, que é o acontecimento
Ação Popular e na Lei de Processo Administrativo Federal. real que autoriza/determina a prática do ato administrativo.
Ao invés de autonomia da vontade, haverá a obrigatorie- É o ato baseado em fatos e circunstâncias, que o administra-
dade do cumprimento da lei e, portanto, a administração dor por escolher, mas deve respeitar os limites e intenções
só poderá agir nestas hipóteses desde que esteja expressa da lei. Nem sempre os atos administrativos possuem moti-
e previamente autorizada por lei26. vo legal. Nos casos em que o motivo legal não está descrito
na norma, a lei deu competência discricionária para que o
sujeito escolha o motivo legal (o motivo deve ser oportuno
1) Imperatividade: em regra, a Administração decreta e exe-
e conveniente). A teoria dos Motivos Determinantes afirma
cuta unilateralmente seus atos, não dependendo da participação
que os motivos alegados para a prática de um ato admi-
e nem da concordância do particular. Do poder de império ou
nistrativo ficam a ele vinculados de tal modo que a prática
extroverso, que regula a forma unilateral e coercitiva de agir da
de um ato administrativo mediante a alegação de motivos
Administração, se extrai a imperatividade dos atos administrativos.
falsos ou inexistentes determina a sua invalidade.
2) Autoexecutoriedade: em regra, a Administração
5) Objeto (conteúdo): é o que o ato afirma ou declara,
pode concretamente executar seus atos independente da
manifestando a vontade do Estado. A lei não fixa qual deve
manifestação do Poder Judiciário, mesmo quando estes ser o conteúdo ou objeto de um ato administrativo, restan-
afetam diretamente a esfera jurídica de particulares. do ao administrador preencher o vazio nestas situações. O
3) Presunção de veracidade: todo ato editado ou pu- ato é branco/indefinido. No entanto, deve se demonstrar
blicado pela Administração é presumivelmente verdadeiro, que a prática do ato é oportuna e conveniente.
seja na forma, seja no conteúdo, o que se denomina “fé Obs.: Quando se diz que a escolha do motivo e do
objeto do ato é discricionária não significa que seja
pública”. Evidente que tal presunção é relativa (juris tan- arbitrária, pois deve se demonstrar a oportunidade e
tum), mas é muito difícil de ser ilidida. Só pode ser quebra- a conveniência.
da mediante ação declaratória de falsidade, que irá argu-
mentar que houve uma falsidade material (violação física Mérito = oportunidade + conveniência
do documento que traz o ato) ou uma falsidade ideológica
(documento que expressa uma inverdade). 1) Atos vinculados: são os que possuem todos os
4) Presunção de legitimidade: Sempre que a Admi- pressupostos e elementos necessários para sua práti-
nistração agir se presume que o fez conforme a lei. Tal pre- ca e perfeição previamente estabelecidos em lei que
sunção é relativa (juris tantum), podendo contudo ser ilidida autoriza a prática daquele ato. O administrador é um
por qualquer meio de prova. “mero cumpridor de leis”. Também se denomina ato
26 BALDACCI, Roberto Geists. Direito administrativo. São de exercício obrigatório.
Paulo: Prima Cursos Preparatórios, 2004.

27
DIREITO ADMINISTRATIVO

2) Atos discricionários: são os atos que possuem 6) Imperfeito = inválido + eficaz. O ato imperfeito
parte de seus pressupostos e elementos previamente pode gerar efeitos impróprios, que não dependem da exe-
fixados pela lei autorizadora. No mínimo, a competên- cução do ato, como o efeito impróprio reflexo (repercussão
cia, a finalidade e a forma estão previamente fixados em outros atos ou situações jurídicas) e o efeito impróprio
na lei – são os pressupostos vinculados. Aquilo que prodrômico (efeito de natureza procedimental que impli-
está em branco ou indefinido na lei será preenchido ca numa providência ou etapa necessária para aperfeiçoa-
pelo administrador. Tal preenchimento deve ser feito mento do ato, como a manifestação de um segundo agen-
motivadamente com base em fatos e circunstâncias te ou órgão).
que somente o administrador pode escolher. Contu- 7) Imperfeito = válido + ineficaz. O ato imperfeito
do, tal escolha não é livre, os fatos e circunstâncias pode preencher os requisitos de validade, mas se lhe faltar
devem ser adequados (razoáveis e proporcionais) aos um pressuposto especial será imperfeito e, logo, ineficaz.
limites e intenções da lei.
Quanto ao grau de subordinação à norma, os atos Classificação quanto ao seu alcance:
administrativos se classificam em vinculados ou dis- 1) Atos internos: praticados no âmbito interno da Ad-
cricionários. “Os atos vinculados são aqueles que tem ministração, incidindo sobre órgãos e agentes administra-
o procedimento quase que plenamente delineados tivos.
em lei, enquanto os discricionários são aqueles em 2) Atos externos: praticados no âmbito externo da
que o dispositivo normativo permite certa margem de Administração, atingindo administrados e contratados. São
liberdade para a atividade pessoal do agente público, obrigatórios a partir da publicação.
especialmente no que tange à conveniência e oportu-
nidade, elementos do chamado mérito administrativo. Classificação quanto ao seu objeto:
A discricionariedade como poder da Administração 1) Atos de império: praticados com supremacia em
deve ser exercida consoante determinados limites, relação ao particular e servidor, impondo o seu obrigatório
não se constituindo em opção arbitrária para o ges- cumprimento.
2) Atos de gestão: praticados em igualdade de condi-
tor público, razão porque, desde há muito, doutrina e
ção com o particular, ou seja, sem usar de suas prerrogati-
jurisprudência repetem que os atos de tal espécie são
vas sobre o destinatário.
vinculados em vários de seus aspectos, tais como a
competência, forma e fim” 27.
3) Atos de expediente: praticados para dar anda-
mento a processos e papéis que tramitam internamente
Validade e eficácia do ato administrativo
na administração pública. São atos de rotina adminis-
trativa.
Destaca-se esquemática trazida por Baldacci28:
- Quando todos os pressupostos especiais exigidos por
Classificação dos atos quanto à formação (pro-
lei estiverem presentes, falamos que o ato é perfeito (P).
cesso de elaboração):
- Quanto estes pressupostos preenchidos respeitarem
1) Ato simples: nasce por meio da manifestação
o que a lei exige, falamos que é válido (V).
de vontade de um órgão (unipessoal ou colegiado) ou
- Quanto está apto a surtir seus efeitos próprios fala-
agente da Administração.
mos que é eficaz (E).
2) Ato complexo: nasce da manifestação de vonta-
1) P + V = E. Os atos perfeitos e válidos são eficazes
de de mais de um órgão ou agente administrativo.
em regra.
3) Ato composto: nasce da manifestação de von-
2) P + V = ineficaz. Os atos perfeitos e válidos podem
tade de um órgão ou agente, mas depende de outra
não ser eficazes se estiver pendente o implemento de con-
vontade que o ratifique para produzir efeitos e tornar-se
dição.
exequível.
3) P + inválido = ineficaz. O ato perfeito e inválido é,
em regra, ineficaz.
Classificação quanto à manifestação da vontade:
4) P + inválido = eficaz. O ato perfeito e inválido pode
Atos unilaterais: São aqueles formados pela manifes-
ser eficaz se já tiver gerado efeitos próprios e for relevante
tação de vontade de uma única pessoa. Ex.: Demissão
para a segurança jurídica manter tais efeitos.
- Para Hely Lopes Meirelles, só existem os atos adminis-
5) Imperfeito = inválido + ineficaz. O ato imperfeito
trativos unilaterais.
não é válido e nem eficaz.
Atos bilaterais: São aqueles formados pela manifes-
tação de vontade de duas pessoas.
Atos multilaterais: São aqueles formados pela vonta-
27 http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_ de de mais de duas pessoas.
link=revista_artigos_leitura&artigo_id=3741 Ex.: Contrato administrativo.
28 BALDACCI, Roberto Geists. Direito administrativo. São
Paulo: Prima Cursos Preparatórios, 2004.

28
DIREITO ADMINISTRATIVO

Classificação quanto ao destinatário: 5) Recusa: É a extinção do ato administrativo ineficaz


1) Atos gerais: dirigidos à coletividade em geral, em decorrência do seu futuro beneficiário não manifestar
com finalidade normativa, atingindo uma gama de pes- concordância, tida como indispensável para que o ato pu-
soas que estejam na mesma situação jurídica nele esta- desse projetar regularmente seus efeitos. Se o futuro bene-
belecida. O particular não pode impugnar, pois os efeitos ficiário recusa a possibilidade da eficácia do ato, esse será
são para todos. extinto.
2) Atos individuais: dirigidos a pessoa certa e de- Em detalhes:
terminada, criando situações jurídicas individuais. O par- A cassação é a retirada do ato administrativo em de-
ticular atingido pode impugnar. corrência do beneficiário ter descumprido condição tida
como indispensável para a manutenção do ato. Embora
a) Atos normativos: são atos gerais e abstratos vi- legítimo na sua origem e na sua formação, o ato se tor-
sando a correta aplicação da lei. É o caso dos decretos, na ilegal na sua execução a partir do momento em que
regulamentos, regimentos, resoluções, deliberações. o destinatário descumpre condições pré-estabelecidas.
b) Atos ordinatórios: disciplinam o funcionamento Por exemplo, uma pessoa obteve permissão para explorar
da Administração e a conduta de seus agentes. É o caso o serviço público, porém descumpriu uma das condições
de instruções, circulares, avisos, portarias, ofícios, despa-
para a prestação desse serviço. Vem o Poder Público e, a
chos administrativos, decisões administrativas.
título de penalidade, procede a cassação da permissão.
c) Atos negociais: são aqueles estabelecidos entre
A anulação é a retirada do ato administrativo em de-
Administração e administrado em consenso. É o caso de
corrência de sua invalidade, reconhecida judicial ou admi-
licenças, autorizações, permissões, aprovações, vistos,
dispensa, homologação, renúncia. nistrativamente, preservando-se os direitos dos terceiros de
d) Atos enunciativos: são aqueles em que a Admi- boa-fé. Trata-se da supressão do ato administrativo, com
nistração certifica ou atesta um fato sem vincular ao seu efeito retroativo, por razões de ilegalidade e ilegitimidade.
conteúdo. É o caso de atestados, certidões, pareceres. Cabe o exame pelo Poder Judiciário (razões de legalidade e
e) Atos punitivos: são aqueles que emanam punições legitimidade) e pela Administração Pública (aspectos legais
aos particulares e servidores. e no mérito). Gera efeitos retroativos (ex tunc), invalida as
consequências passadas, presentes e futuras.
A extinção do ato administrativo pode se dar nas se- A revogação é a retirada do ato administrativo em
guintes situações: decorrência da sua inconveniência ou inoportunidade em
1) Cumprimento dos seus Efeitos: Cumprindo todos face dos interesses públicos, sendo o ato válido e praticado
os seus efeitos, não terá mais razão de existir sob o ponto dentro da Lei, efetuando-se a revogação na via administra-
de vista jurídico. tiva. Trata-se da extinção de um ato administrativo legal e
2) Desaparecimento do Sujeito ou do Objeto do perfeito, por razões de conveniência e oportunidade, pela
Ato: Se o sujeito ou o objeto perecer, o ato será conside- Administração, no exercício do poder discricionário. O ato
rado extinto. revogado conserva os efeitos produzidos durante o tempo
3) Retirada: Ocorre a edição de outro ato jurídico que em que operou. A partir da data da revogação é que cessa
elimina o ato. Pode se dar por anulação, que é a retirada a produção de efeitos do ato até então perfeito e legal. Só
do ato administrativo em decorrência de sua invalidade, pode ser praticado pela Administração Pública por razões
reconhecida judicial ou administrativamente, preservando- de oportunidade e conveniência, não cabendo a interven-
-se os direitos dos terceiros de boa-fé; por revogação, que ção do Poder Judiciário. A revogação não pode atingir os
é a retirada do ato administrativo em decorrência da sua direitos adquiridos, logo, produz efeitos ex nunc, não re-
inconveniência ou inoportunidade em face dos interesses troage.
públicos, sendo o ato válido e praticado dentro da Lei, efe-
tuando-se a revogação na via administrativa; cassação, que Vícios do ato administrativo
é a retirada do ato administrativo em decorrência do bene-
ficiário ter descumprido condição tida como indispensável
Os vícios dos atos administrativos podem se referir a
para a manutenção do ato; contraposição ou derrubada,
sujeitos, notadamente: a) Vícios de incompetência do su-
que é a retirada do ato administrativo em decorrência de
jeito – pode restar caracterizado o crime de usurpação de
ser expedido outro ato fundado em competência diversa
da do primeiro, mas que projeta efeitos antagônicos ao função (artigo 328, CP), gerando ato inexistente; pode ca-
daquele, de modo a inibir a continuidade da sua eficácia; racterizar excesso de poder, quando excede os limites da
caducidade, que é a retirada do ato administrativo em competência que tem, o sujeito pode incidir no crime de
decorrência de ter sobrevindo norma superior que torna abuso de autoridade; pode se detectar função de fato,
incompatível a manutenção do ato com a nova realidade quando quem pratica o ato está irregularmente investido
jurídica instaurada. no cargo, emprego ou função – situação com aparência de
4) Renúncia: É a extinção do ato administrativo efi- legalidade – ato considerado válido; b) Vícios de incapaci-
caz em virtude de seu beneficiário não mais desejar a sua dade do sujeito – pode haver impedimento ou suspeição,
continuidade. A renúncia só tem cabimento em atos que ambos casos de anulabilidade.
concedem privilégios e prerrogativas.

29
DIREITO ADMINISTRATIVO

Os vícios dos atos administrativos também podem se Convalidação


referir ao objeto, quando ele for proibido por lei – ato ilegal A convalidação é o ato administrativo que, com efeitos
= nulo; diverso do previsto legalmente para o caso concre- retroativos, sana vício de ato antecedente, de modo a torná-lo
to; impossível (exemplo: a nomeação para cargo que não válido desde o seu nascimento, ou seja, é um ato posterior que
existe); imoral; indeterminado (desapropriação de bem não sana um vício de um ato anterior, transformando-o em válido
definido com precisão). desde o momento em que foi praticado.
Os vícios podem atingir a forma, quando a lei expressa- Há alguns autores que não aceitam a convalidação dos
mente exige e não é respeitada, e ainda o motivo, quando atos, sustentando que os atos administrativos somente podem
pressupostos de fato e/ou de direito não existem e/ou são ser nulos. Os únicos atos que se ajustariam à convalidação se-
falsos. riam os atos anuláveis.
Por fim, tem-se os vícios relativos à finalidade, que são Existem três formas de convalidação:
desvio de poder ou desvio de finalidade, quando o agente - Ratificação: é a convalidação feita pela própria autoridade
pratica ato administrativo sem observar o interesse público que praticou o ato;
e/ou o objetivo (finalidade) previsto em lei. - Confirmação: é a convalidação feita por autoridade supe-
rior àquela que praticou o ato;
Ato inexistente - Saneamento: é a convalidação feita por ato de terceiro,
A doutrina, de forma amplamente majoritária, nega re- ou seja, não é feita nem por quem praticou o ato nem por au-
levância jurídica aos chamados atos administrativos inexis- toridade superior.
tentes sob o fundamento de que seriam equivalentes aos Não se deve confundir a convalidação com a conversão
atos nulos. do ato administrativo. Há um ato viciado e, para regularizar a
Feita a ressalva, coloca-se a lição de Celso Antonio situação, ele é transformado em outro, de diferente tipologia.
Bandeira de Melo ao discorrer sobre os atos administra- O ato nulo, embora não possa ser convalidado, poderá ser con-
tivos inexistentes no sentido de que “consistem em com- vertido, transformando-se em ato válido.
portamentos que correspondem a condutas criminosas,
portanto, fora do possível jurídico e radicalmente vedadas
pelo Direito”.
O ato inexistente é aquele que não reúne os elementos CONTRATOS ADMINISTRATIVOS:
necessários à sua formação e, assim, não produz qualquer CONCEITO E CARACTERÍSTICAS
consequência jurídica. Já o ato nulo é o ato que embora
reúna os elementos necessários a sua existência, foi prati-
cado com violação da lei, da ordem pública, dos bons cos- Contratos, sejam eles de caráter público ou privado, é a
tumes ou com inobservância da forma legal29. convenção estabelecida entre duas ou mais pessoas, com as
respectivas manifestações de vontades, para constituir, regula-
Ato nulo mentar ou extinguir entre as partes uma relação jurídica, sendo
“Ato nulo é aquele que nasce com vício insanável, nor- certo que para a validade do contrato exige acordo de vonta-
malmente resultante da ausência de um de seus elemen- des, agente capaz, objeto lícito e forma prescrita ou não proi-
tos constitutivos, ou de defeito substancial em algum deles bida em lei.
(por exemplo, o ato com motivo inexistente, o ato com ob- Assim, segundo os ensinamentos do jurista Celso Antônio
jeto não previsto em lei e o ato praticado com desvio de Bandeira de Mello, temos o conceito de contratos administrativos:
finalidade). O ato nulo está em desconformidade com a lei “É um tipo de avença travada entre a Administração e ter-
o com os princípios jurídicos (é um ato ilegal e ilegítimo) ceiros na qual, por força de lei, de cláusulas pactuadas ou do
e seu defeito não pode ser convalidado (corrigido). O ato tipo do objeto, a permanência do vínculo e as condições prees-
nulo não pode produzir efeitos válidos entre as partes. [...] tabelecidas assujeitam-se a cambiáveis imposições de interesse
Ato inexistente é aquele que possui apenas aparência de público, ressalvado os interesses patrimoniais do contratante
manifestação de vontade da administração pública, mas, privado”.
em verdade, não se origina de um agente público, mas de Em outras palavras, temos que contrato administrativo é
alguém que se passa por tal condição, como o usurpador a convenção firmada pela Administração Pública, agindo nes-
ta qualidade, com particulares ou então com outras entidades
de função. [...] Ato anulável é o que apresenta defeito sa- administrativas mesmo, nos termos pactuados pela contratante
nável, ou seja, passível de convalidação pela própria ad- (administração pública), de acordo com o interesse coletivo, e
ministração que o praticou, desde que ele não seja lesivo sob a esfera do direito público, ficando o particular contratado
ao interesse público, nem cause prejuízo a terceiros. São condicionado a suportar as cláusulas impostas pela administra-
sanáveis o vício de competência quanto à pessoa, exceto ção, em razão do atendimento do interesse público.
se se tratar de competência exclusiva, e o vício de forma, a Não se pode confundir contrato administrativo com con-
menos que se trate de forma exigida pela lei como condi- trato da administração, visto que nos contratos da administra-
ção essencial à validade do ato”30. ção, temos o ajuste firmando entre a administração pública e o
29 http://www.tecnolegis.com/estudo-dirigido/auditor- particular, entretanto, o poder público não figura utilizando-se
-fiscal-do-trabalho-2009/direito-administrativo-ato-admi- de suas prerrogativas, sendo que tal avença é regida pelo di-
nistrativo-inexistente.html reito privado.
30 ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito admi- nistrativo descomplicado. 16. ed. São Paulo: Método, 2008.

30
DIREITO ADMINISTRATIVO

Características Vigência
Em razão dos poderes e prerrogativas conferidos a Ad- A extinção do contrato pelo término de seu prazo é
ministração Pública, fica autorizada a determinar alterações a regra dos ajustes por tempo determinado. Necessário é,
e modificações nas prestações devidas pelo particular con- portanto, distinguir os contratos que se extinguem pela
tratado, em razão das necessidades públicas, e ainda tem o conclusão de seu objeto e os que terminam pela expiração
poder de acompanhar e fiscalizar sistematicamente a execu- do prazo de sua vigência: nos primeiros, o que se tem em
ção, podendo impor sanções estipuladas previamente quan- vista é a obtenção de seu objeto concluído, operando o
do irregularidades a ensejarem e a rescindir o contrato de prazo como limite de tempo para a entrega da obra, do
forma unilateral, quando houver legítimo interesse público. serviço ou da compra sem sanções contratuais; nos segun-
Em suma, temos que os contratos administrativos re- dos o prazo é de eficácia do negócio jurídico contratado,
velam-se na seguinte dualidade: inicialmente, temos a Ad- e assim sendo, expirado o prazo, extingue-se o contrato,
ministração Pública podendo gozar de todas as suas prer- qualquer que seja a fase de execução de seu objeto, como
rogativas e poderes indispensáveis a proteção aos direitos ocorre na concessão de serviço público, ou na simples lo-
e interesses públicos, e de outro modo, temos que é de cação de coisa por tempo determinado. Há, portanto, pra-
competência do particular conferir integral garantia aos in- zo de execução e prazo extintivo do contrato.
teresses privados que ditaram sua participação nos estreitos
limites contratuais. Alterações contratuais
Assim, a doutrina administrativa identifica como princi- Os contratos administrativos possuem características
pais características pertinentes aos contratos administrativos peculiares, diferenciando-os dos contratos privados, que é
seu caráter consensual, formais, onerosos, entre outros. En- a existência de cláusulas exorbitantes.
tretanto, merecem maiores esclarecimentos outras caracte- Tais cláusulas decorrem de lei e conferem a administra-
rísticas, senão vejamos a seguir. ção pública prerrogativas específicas de direito público, são
Contrato de Adesão: Os contratos administrativos têm denominadas de “exorbitantes” porque as cláusulas extra-
a característica de serem típicos contratos de adesão, onde polam aquilo que seria admitido no direito privado.
uma das partes (neste caso a Administração Pública) propõe
as cláusulas e a outra parte não pode propor alterações, su-
- Exigência de Garantia: A exigência de que os licitantes
pressões ou acréscimo, simplesmente aceita as suas condi-
e contratados prestem garantias, visa assegurar o adequa-
ções e cláusulas ou não.
do adimplemento do contrato, ou nas hipóteses de inexe-
Formalismo: Em regras gerais, todos os contratos admi-
cução do objeto contratado, facilitar o ressarcimento dos
nistrativos devem ser formais e escritos, sendo que todo o
prejuízos sofridos pela Administração Pública.
contrato deve mencionar obrigatoriamente os nomes das
- Alteração Unilateral do Contrato: A possibilidade de
partes e seus representantes legais, a finalidade do contrato,
alteração unilateral do contrato efetuado entre a Adminis-
o ato administrativo que autorizou a sua celebração, o nú-
mero do processo de licitação, da possível dispensa ou ine- tração e o contratado deve sempre ter o objetivo de sua
xigibilidade de licitação, a sujeição dos contratantes às nor- adequação às finalidades do interesse coletivo, devem ain-
mas específicas da Lei 8.666/93 e as cláusulas contratuais. da respeitar os direitos do administrado, principalmente
Fiscalização: A execução do contrato deverá ser acom- o direito ao restabelecimento do equilíbrio econômico-fi-
panhada e fiscalizada por um representante da Administra- nanceiro originalmente estabelecido em contrato.
ção Pública especialmente designado para tal fim, permitida - Aplicação Direta de Sanções: A possibilidade de
a contratação de terceiros para assisti-lo e subsidiá-lo de in- aplicação de sanções administrativas pelo Poder Público,
formações pertinentes a essa atribuição. quando verificada irregularidades do particular na execu-
O representante da Administração anotará em registro ção do contrato , independe de prévia manifestação do
próprio todas as ocorrências relacionadas com a execução Poder Judiciário.
do contrato, determinando o que for necessário à regulari- - Possibilidade de Rescisão Unilateral do Contrato: A
zação das faltas ou defeitos por ele observados. possibilidade de rescindir de maneira unilateral o contra-
As decisões e providências que ultrapassarem a com- to administrativo se dá diante da supremacia jurídica da
petência do representante deverão ser solicitadas a seus administração pública perante o particular, tendo em vista
superiores em tempo hábil para a adoção das medidas con- que o contrato administrativo foi celebrado sob a esfera do
venientes. direito público.
Pessoalidade: Os contratos administrativos são, em re-
gra, contratos pessoais, e a execução dos termos contrata- Extinção do contrato administrativo
dos devem ser cumpridos pelas pessoas (físicas ou jurídicas) A extinção do contrato administrativo é o término do
que se obrigou diante o Poder Público. É imprescindível a vínculo de obrigações assumidas entre a administração pú-
pessoalidade nos contratos administrativos, tendo em vista blica e o particular contratado. E extinção pode se dar em
que há celebração após a realização de licitação em que se razão de da conclusão do objeto contratado, ou então do
busca não apenas a proposta mais favorável a Administra- término do prazo previsto para a vigência do contrato, ou
ção Pública, mas também a selecionar a pessoa (física ou ainda a ocorrência de anulação ou rescisão do contrato.
jurídica) que ofereça as condições necessárias de assegurar
a execução do objeto contratado.

31
DIREITO ADMINISTRATIVO

- Anulação: A anulação de um contrato administrativo se- Entretanto, para que seja possível a identificação de
gue as regras análogas dos Atos Administrativos, ou seja, um eventual desequilíbrio entre os valores pactuados no contra-
contrato administrativo deve ser anulado quando constatado to administrativo e a realidade praticada no mercado privado,
ilegalidades em sua celebração. A anulação de contrato admi- é importante o acompanhamento e a gestão do contrato,
nistrativo pode ser realizada pelo próprio Poder Público, de ofí- bem como a fiscalização sobre a boa execução das cláusulas
cio ou quando provocado, ou então pelo Poder Judiciário, me- e obrigações pactuadas.
diante prévia provocação e sempre por motivo de ilegalidade Para tanto é conferida a Administração Pública as prer-
ou ilegitimidade. rogativas e cláusulas exorbitantes, objetivando sempre a
- Rescisão: As causas gerais que ensejam a rescisão de con- supremacia do interesse coletivo sobre o interesse privado.
trato administrativo estão descritas no artigo 78, e seus incisos Quando, durante a gestão e fiscalização do cumprimento
da Lei 8.666/93. do contrato administrativo, a Administração Pública verificar
Há hipóteses em que autorizam a rescisão unilateral pela descumprimento de cláusula contratual, atrasos na execução
administração do contrato administrativo, e outras que ensejam dos serviços contratados, má execução de serviços, entre ou-
rescisão judicial ou rescisão consensual entre os contratantes, tras situações que possam lesar o interesse público, o Poder
havendo ainda causas de rescisão decorrentes de interesse pú- Público poderá adotar as providências no sentido de punir a
blico superveniente e de força maior ou caso fortuito. Para tanto empresa contratada.
é necessário o estudo das hipóteses previstas na Lei 8.666/93.
Garantia contratual
Sanção administrativa A garantia contratual não excederá a 5% (cinco por cen-
- Do Atraso Injustificado: O atraso injustificado na execução to) do valor do contrato e terá seu valor atualizado nas mes-
do contrato sujeitará o contratado à multa de mora, na forma mas condições pactuadas contratualmente.
prevista no instrumento convocatório ou no contrato. A aplica- Entretanto, nos casos de obras, serviços e fornecimen-
ção da multa administrativa não impede que a Administração tos de grande vulto envolvendo alta complexidade técnica e
Pública promova a rescisão unilateral do contrato e ainda apli- riscos financeiros consideráveis, demonstrados por meio de
que demais sanções. parecer tecnicamente aprovado pela autoridade competente,
A multa, aplicada após regular processo administrativo, será o limite de garantia poderá ser elevado para até 10% (dez por
descontada da garantia do respectivo contratado, e caso a mul- cento) do valor do contrato.
ta for de valor superior ao valor da garantia prestada, além da A garantia prestada pelo contratado será liberada ou
perda desta garantia em favor da Administração, responderá o restituída após a execução do contrato e, quando em dinhei-
contratado pela sua diferença, a qual será descontada dos pa- ro, atualizada monetariamente. Nos casos de contratos que
gamentos eventualmente devidos pela Administração ou ainda, importem na entrega de bens pela Administração, dos quais
quando for o caso, cobrada judicialmente. o contratado ficará depositário, ao valor da garantia deverá
- Da Inexecução total ou parcial do Contrato: Pela inexecu- ser acrescido o valor desses bens.
ção total ou parcial do contrato a Administração poderá, sem-
pre garantida a prévia defesa, aplicar ao contratado as seguintes
sanções: LICITAÇÃO: PRINCÍPIOS, MODALIDADES, DIS-
a) Advertência; PENSA E INEXIGIBILIDADE
b) Multa, na forma prevista no instrumento convocatório
ou no contrato;
c) Suspensão temporária de participação em licitação e im-
pedimento de contratar com a Administração, por prazo não Conceito
superior a 2 (dois) anos; Licitação é o processo pelo qual a Administração Pú-
d) Declaração de inidoneidade para licitar ou contratar com blica contrata serviços e adquire bens dos particulares, evi-
a Administração Pública enquanto perdurarem os motivos de- tando-se que a escolha dos contratados seja fraudulenta e
terminantes da punição ou até que seja promovida a reabilita- prejudicial ao Estado em favor dos interesses particulares do
ção perante a própria autoridade que aplicou a penalidade, que governante.
será concedida sempre que o contratado ressarcir a Adminis- Segundo Carvalho Filho , “não poderia a lei deixar ao
tração pelos prejuízos resultantes e após decorrido o prazo da exclusivo critério do administrador a escolha das pessoas a
sanção aplicada com base no inciso anterior. serem contratadas, porque, fácil é prever, essa liberdade daria
margem a escolhas impróprias, ou mesmo a concertos escu-
Do reequilíbrio econômico-financeiro sos entre alguns administradores públicos inescrupulosos e
A alteração do contrato administrativo se dará visando o particulares, com o que prejudicada, em última análise, seria
restabelecimento da relação que as partes pactuaram inicial- a Administração Pública, gestora dos interesses públicos”.
mente entre encargos e remuneração, objetivando a manuten- Deste modo, Carvalho Filho conceitua licitação como “o
ção do equilíbrio da equação financeira inicial na hipótese de procedimento administrativo vinculado por meio do qual os
sobrevirem fatos supervenientes, imprevisíveis ou previsíveis de entes da Administração Pública e aqueles por ela controlados
consequências incalculáveis que possam retardar ou impedir a selecionam a melhor proposta entre as oferecidas pelos vá-
execução do contrato em caso de força maior, caso fortuito, fato rios interessados, com dois objetivos – a celebração de con-
do princípio que configura uma alteração econômica extraordi- trato, ou a obtenção do melhor trabalho técnico, artístico ou
nária e extracontratual. científico”.

32
DIREITO ADMINISTRATIVO

Logo, a licitação é um procedimento administrativo Obs.: Há posicionamento de que o artigo 7º, §5º da Lei
que tem por finalidade evitar práticas fraudulentas na Ad- nº 8.666/1993 traz um caso remanescente de vedação, mas
ministração Pública, garantindo a contratação do serviço predomina o posicionamento de Carvalho Filho , segundo
ou produto que melhor atenda às expectativas de custo- o qual não se trata de vedação, mas sim de restrição. Prevê
-benefício para o aparato público. o dispositivo:
Art. 7º, § 5º. É vedada a realização de licitação cujo ob-
Objeto e finalidade jeto inclua bens e serviços sem similaridade ou de marcas,
O objeto é a aquisição de bens e serviços pela Admi- características e especificações exclusivas, salvo nos casos
nistração Pública. A finalidade da licitação deve ser sempre em que for tecnicamente justificável, ou ainda quando o
atender o interesse público, buscar a proposta mais vanta- fornecimento de tais materiais e serviços for feito sob o re-
josa, existindo igualdade de condições, além dos demais gime de administração contratada, previsto e discriminado
princípios resguardados pela constituição. no ato convocatório.
Acompanha-se o entendimento dominante, eis que a
9.2 Destinatários. expressão “salvo”, em destaque confere a ideia de restrição.
Em regra, a licitação é obrigatória, tanto é que a dou-
Além do próprio Poder Público, também são destina- trina afirma o princípio da obrigatoriedade da licitação, o
tários os licitantes interessados em contratar com o Poder qual “[...] impõe que todos os destinatários do Estatuto fa-
Público e qualquer pessoa interessada em saber sobre os çam realizar o procedimento antes de contratarem obras
procedimentos público de licitação. e serviços”. No entanto, a lei não poderia deixar de lado
possibilidades de dispensa e inexigibilidade deste proce-
Princípios. dimento. Em verdade, tal princípio decorre do texto cons-
titucional:
Entre outros, os princípios que regem a licitação são: Art. 37, XXI, CF - ressalvados os casos especificados na
legalidade, impessoalidade, moralidade, igualdade, publi- legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão
cidade, probidade administrativa, vinculação ao instrumen-
contratados mediante processo de licitação pública que
to convocatório e julgamento objetivo.
assegure igualdade de condições a todos os concorrentes,
“- Legalidade: É aquele que prevê que só é possível fa-
com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento,
zer o que está previsto na Lei;
mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da
- Impessoalidade: O interesse da Administração preva-
lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação
lece acima dos interesses pessoais;
técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumpri-
- Moralidade: As regras morais vigentes devem ser
mento das obrigações.
obedecidas em conjunto com as leis em vigor;
“A contratação por meio da dispensa de licitação deve
- Igualdade: Todos são iguais perante a Lei. Não pode
haver discriminação nem beneficiamento entre os partici- limitar-se a aquisição de bens e serviços indispensáveis ao
pantes da licitação; atendimento da situação de emergência e não qualquer
- Publicidade: A licitação não pode ser sigilosa. As de- bem ou qualquer prazo. Conheça os casos de Dispensa
cisões tomadas durante a licitação devem ser públicas. É a fundamentados no artigo 24 da Lei nº 8666/93.
transparência do processo licitatório. A licitação é dispensável quando:
- Probidade administrativa: A licitação deve ser proces- - Em situações de emergência: exemplos de Casos de
sada por pessoas que tenham honestidade; guerra; grave perturbação da ordem; calamidade pública,
- Vinculação ao instrumento convocatório: O Edital é a obras para evitar desabamentos, quebras de barreiras, for-
lei entre quem promove e quem participa da licitação, não necimento de energia.
podendo ser descumprido; - Por motivo de licitação frustrada por fraude ou abu-
- Julgamento objetivo: As propostas dos licitantes de- so de poder econômico: preços superfaturados, neste caso
vem ser julgadas de acordo com o que diz o Edital” . pode-se aplicar o artigo 48 parágrafo 3º da Lei nº 8666/93
para conceder prazo para readaptação das propostas nos
Contratação direta: dispensa e inexigibilidade. termos do edital de licitação.
- Intervenção no Domínio Econômico: exemplos de
Em alguns casos, a licitação será obrigatória, em outros congelamento de preços ou tabelamento de preços.
poderá ser dispensada apesar de viável (dispensa), sendo - Dispensa para contratar com Entidades da Adminis-
possível ainda que se enquadre numa exceção em que nem tração Pública: Somente poderá ocorrer se não houver em-
ao menos é exigida (inexigibilidade). A atual regulamenta- presas privadas ou de economia mista que possam pres-
ção da licitação traz hipóteses de obrigatoriedade, dispen- tar ou oferecer os mesmos bens ou serviços. Exemplos de
sa e inexigibilidade. Imprensa Oficial, processamento de dados, recrutamento,
A legislação anterior, qual seja, o Decreto-lei nº seleção e treinamento de servidores civis da administração.
2.300/1986, previa a vedação do procedimento de licita- - Contratação de Pequeno Valor: Materiais, produtos,
ção, estabelecendo-se contratação direta, nos casos em serviços, obras de pequeno valor, que não ultrapassem o
que houvesse comprometimento da segurança nacional, valor estimado por lei para esta modalidade de licitação.
mas a disciplina não se repetiu no atual estatuto.

33
DIREITO ADMINISTRATIVO

- Dispensa para complementação de contratos: Ma- “Na inexigibilidade, a contratação se dá em razão da


teriais, produtos, serviços, obras no caso de rescisão con- inviabilidade da competição ou da desnecessidade do pro-
tratual, desde que atendida a ordem de classificação da cedimento licitatório. Na inexigibilidade, as hipóteses do
licitação aceitas as mesmas condições oferecidas pelo li- artigo 25 da Lei 8666 de 1993, autorizam o administrador
citante vencedor, inclusive quanto ao preço, devidamente público, após comprovada a inviabilidade ou desnecessi-
corrigido. dade de licitação, contratar diretamente o fornecimento do
- Ausência de Interessados: Quando não tiver interes- produto ou a execução dos serviços. É importante observar
sados pelo objeto da licitação, mantidas, neste caso, todas que o rol descrito neste artigo, não abrange todas as hi-
as condições preestabelecidas em edital. póteses de inexigibilidade. A licitação poderá ser inexigível
- Comprometimento da Segurança Nacional: Quando quando:
o Presidente da República, diante de um caso concreto, de- * Fornecedor Exclusivo:
pois de ouvido o Conselho de Defesa Nacional, determine - Exclusividade Comercial: somente um representan-
a contratação com o descarte da licitação. te ou comerciante tem o bem a ser adquirido, um grande
- Imóvel destinado a Administração: Para compra ou exemplo disto seria medicamentos.
locação de imóvel destinado ao atendimento, cujas ne- - Exclusividade Industrial: somente quando um produ-
cessidades de instalação e localização condicionem a sua tor ou indústria se acha em condições materiais e legais de
escolha, desde que o preço seja compatível com o valor produzir o bem e fornecê-los a Administração
de mercado, segundo avaliação prévia. Deverá a Adminis- Aplica-se a inexigibilidade quando comprovada por
tração formalizar a locação se for de ordem temporária ou meio de fornecimento de Atestado de Exclusividade de
comprá-lo se for de ordem definitiva. venda ou fabricação emitido pelo órgão de registro do co-
- Gêneros Perecíveis: Compras de hortifrutigranjeiros, mércio para o local em que se realizará a licitação.
pão e outros gêneros perecíveis durante o tempo neces- * Singularidade para contratação de serviços técnicos:
sário para a realização do processo licitatório correspon- Somente poderão ser contratados aqueles enumerados no
dente. artigo 13 da Lei 8666/93
- Ensino, pesquisa e recuperação social do preso: Na - estudos Técnicos;
contratação de instituição brasileira dedicada a recupera- - planejamentos e projetos básicos ou executivos;
ção social do preso, desde que a contratada detenha in- - pareceres, perícias e avaliação em geral;
questionável reputação ético-profissional e não tenha fins - acessórias ou consultorias técnicas e auditorias finan-
lucrativos na aplicação de suas funções. ceiras ou tributárias;
- Acordo Internacional: Somente para aquisição de - fiscalização, supervisão ou gerenciamento de obras
bens quando comprovado que as condições ofertadas são e serviços;
vantajosas para o poder público. - patrocínio ou defesa de causas judiciais ou adminis-
- Obras de Arte e Objetos Históricos: Somente se jus- trativas;
tifica a aplicação da dispensa de licitação se a finalidade - treinamento e aperfeiçoamento de pessoal;
de resgatar a peça ou restaurar for de importância para a - restauração de obras de arte e bens de valor histórico.
composição do acervo histórico e artístico nacional. * Notória Especialização:
- Aquisição de Componentes em Garantia: Caso a aqui- Contratação de empresa ou pessoa física com notória
sição do componente ou material seja necessário para ma- experiência para execução de serviços técnicos. Este tipo
nutenção de equipamentos durante o período de garantia. de contratação se alimenta do passado, de desempenhos
Deverá a Administração comprá-lo do fornecedor original anteriores, estudos, experiências, publicações, nenhum cri-
deste equipamento, quando a condição de exclusividade tério é indicado para orientar ou informar como e de que
for indispensável para a vigência do prazo de garantia. modo a Administração pode concluir que o trabalho de um
- Abastecimento em Trânsito: Para abastecimento de profissional ou empresa é o mais adequado à plena satisfa-
embarcações, navios, tropas e seus meios de deslocamento ção do objeto do contrato.
quando em eventual curta duração, por motivo de movi- * Profissional Artista:
mentação operacional e for comprovado que compromete Contratação de profissional de qualquer setor artísti-
a normalidade os propósitos da operação, desde que o va- co, diretamente ou através de empresário exclusivo, desde
lor não exceda ao limite previsto para dispensa de licitação. que consagrado pela crítica especializada ou pela opinião
- Compra de materiais de uso pelas forças armadas: pública” .
Sujeito à verificação conforme material, ressaltando que as
compras de material de uso pessoal e administrativo sujei- Modalidades.
tam-se ao regular certame licitatório.
- Associação de portadores de deficiência física: A con- Prosseguindo o estudo, quanto às modalidades de li-
tratação desta associação deverá seguir as seguintes exi- citação, podem ser apontadas as seguintes modalidades:
gências: Não poderá ter fins lucrativos; comprovar idonei- Concorrência, tomada de preços, convite, concurso e leilão
dade, preço compatível com o mercado” . (artigo 22, Lei nº 8.666/1993). Dos parágrafos 1º a 5º, o
artigo 22 conceitua cada uma das modalidades:

34
DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 1º Concorrência é a modalidade de licitação entre II - a de melhor técnica;


quaisquer interessados que, na fase inicial de habilitação pre- III - a de técnica e preço;
liminar, comprovem possuir os requisitos mínimos de qualifi- IV - a de maior lance ou oferta - nos casos de aliena-
cação exigidos no edital para execução de seu objeto. ção de bens ou concessão de direito real de uso.
§ 2º Tomada de preços é a modalidade de licitação entre
interessados devidamente cadastrados ou que atenderem a 9.7 Procedimento.
todas as condições exigidas para cadastramento até o tercei-
ro dia anterior à data do recebimento das propostas, obser- Do artigo 38 ao 53 da Lei nº 8.666/93 está descrito
vada a necessária qualificação. o procedimento a ser adotado nas licitações em geral. A
§ 3º Convite é a modalidade de licitação entre interessa- modalidade pregão tem procedimento próprio, previsto
dos do ramo pertinente ao seu objeto, cadastrados ou não, na lei especial.
escolhidos e convidados em número mínimo de 3 (três) pela No que tange à revogação e à anulação, ambas volta-
unidade administrativa, a qual afixará, em local apropriado, das às consequências dos vícios no processo de licitação,
cópia do instrumento convocatório e o estenderá aos demais destaca-se a previsão do artigo 49:
cadastrados na correspondente especialidade que manifes-
tarem seu interesse com antecedência de até 24 (vinte e qua- Art. 49. A autoridade competente para a aprovação do
tro) horas da apresentação das propostas. procedimento somente poderá revogar a licitação por ra-
§ 4º Concurso é a modalidade de licitação entre quais- zões de interesse público decorrente de fato supervenien-
quer interessados para escolha de trabalho técnico, científico te devidamente comprovado, pertinente e suficiente para
ou artístico, mediante a instituição de prêmios ou remunera- justificar tal conduta, devendo anulá-la por ilegalidade, de
ção aos vencedores, conforme critérios constantes de edital ofício ou por provocação de terceiros, mediante parecer
publicado na imprensa oficial com antecedência mínima de escrito e devidamente fundamentado.
45 (quarenta e cinco) dias. § 1º A anulação do procedimento licitatório por moti-
§ 5º Leilão é a modalidade de licitação entre quaisquer vo de ilegalidade não gera obrigação de indenizar, ressal-
interessados para a venda de bens móveis inservíveis para
vado o disposto no parágrafo único do art. 59 desta Lei.
a administração ou de produtos legalmente apreendidos ou
§ 2º A nulidade do procedimento licitatório induz à do
penhorados, ou para a alienação de bens imóveis prevista no
contrato, ressalvado o disposto no parágrafo único do art.
art. 19, a quem oferecer o maior lance, igual ou superior ao
59 desta Lei.
valor da avaliação.
§ 3º No caso de desfazimento do processo licitatório,
Por sua vez, a LEI Nº 10.520, DE 17 DE JULHO DE 2002,
fica assegurado o contraditório e a ampla defesa.
trabalha com uma modalidade adicional de licitação, o pre-
§ 4º O disposto neste artigo e seus parágrafos aplica-
gão. É a modalidade de licitação voltada à aquisição de bens
-se aos atos do procedimento de dispensa e de inexigibi-
e serviços comuns, assim considerados aqueles cujos padrões
de desempenho e qualidade possam ser objetivamente defi- lidade de licitação.
nidos no edital por meio de especificações do mercado.
Anular é extinguir um ato ou um conjunto de atos em
9.6 Tipos. razão de sua ilegalidade. Quando se fala, portanto, em
anulação de uma licitação, pressupõe-se a ilegalidade da
Em relação aos tipos de licitação, apontam-se no Estatu- mesma, pois anula-se o que é ilegítimo. A licitação poderá
to: melhor preço, melhor técnica, técnica e preço, e melhor ser anulada pela via administrativa ou pela via judiciária. A
lance ou oferta. Os tipos licitatórios não passam de critérios anulação de uma licitação pode ser total (se o vício atingir
de julgamento para a escolha da proposta mais adequada a origem dos atos licitatórios) ou parcial (se o vício atingir
aos interesses da Administração Pública. A disciplina encon- parte dos atos licitatórios).
tra-se no caput e no §1º da Lei nº 8.666/1993: Revogar uma licitação é extingui-la por ser inconve-
niente ou inoportuna. Desde o momento em que a lici-
Art. 45. O julgamento das propostas será objetivo, de- tação foi aberta até o final da mesma, pode-se falar em
vendo a Comissão de licitação ou o responsável pelo convite revogação. Após a assinatura do contrato, entretanto, não
realizá-lo em conformidade com os tipos de licitação, os cri- poderá haver a revogação da licitação. Somente se justifica
térios previamente estabelecidos no ato convocatório e de a revogação quando houver um fato posterior à abertura
acordo com os fatores exclusivamente nele referidos, de ma- da licitação e quando o fato for pertinente, ou seja, quan-
neira a possibilitar sua aferição pelos licitantes e pelos órgãos do possuir uma relação lógica com a revogação da licita-
de controle. ção. Ainda deve ser suficiente, quando a intensidade do
§ 1º Para os efeitos deste artigo, constituem tipos de lici- fato justificar a revogação. Deve ser respeitado o direito ao
tação, exceto na modalidade concurso: contraditório e ampla defesa, e a revogação deverá ser fei-
I - a de menor preço - quando o critério de seleção da ta mediante parecer escrito e devidamente fundamentado.
proposta mais vantajosa para a Administração determinar
que será vencedor o licitante que apresentar a proposta de
acordo com as especificações do edital ou convite e ofertar
o menor preço;

35
DIREITO ADMINISTRATIVO

9.8 Anulação e revogação. Capítulo I


DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
Os institutos estão previstos no artigo 49 da lei nº Seção I
8.666/93. Revogação da licitação por interesse público decor- Dos Princípios
rente de fato superveniente devidamente comprovado, per-
tinente e suficiente para justificar tal conduta, bem como a Art. 1º Esta Lei estabelece normas gerais sobre licitações e
obrigatoriedade de sua anulação por ilegalidade, neste último contratos administrativos pertinentes a obras, serviços, inclu-
caso podendo agir de ofício ou provocado por terceiros, me- sive de publicidade, compras, alienações e locações no âm-
diante parecer escrito e devidamente fundamentado. bito dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e
Revogação segundo Diógenes Gasparini “é o desfazi- dos Municípios.
mento da licitação acabada por motivos de conveniência e Parágrafo único. Subordinam-se ao regime desta Lei,
oportunidade (interesse público) superveniente – art. 49 da além dos órgãos da administração direta, os fundos especiais,
lei nº 8.666/93” . Trata-se de um ato administrativo vinculado, as autarquias, as fundações públicas, as empresas públicas,
embora assentada em motivos de conveniência e oportuni- as sociedades de economia mista e demais entidades con-
dade; e ainda, a lei referida, prevê que no caso de desfazimen- troladas direta ou indiretamente pela União, Estados, Distrito
to da licitação ficam assegurados o contraditório e a ampla Federal e Municípios.
defesa, garantia essa que é dada somente ao vencedor, o úni- Art. 2º As obras, serviços, inclusive de publicidade, com-
co com efeitos interesses na permanência desse ato, pois por pras, alienações, concessões, permissões e locações da Ad-
meio dele pode chegar a contrato. ministração Pública, quando contratadas com terceiros, serão
Hely Lopes Meireles conceitua anulação como “é a invali- necessariamente precedidas de licitação, ressalvadas as hipó-
dação da licitação ou do julgamento por motivo de ilegalida- teses previstas nesta Lei.
de, pode ser feita a qualquer fase e tempo antes da assinatura Parágrafo único. Para os fins desta Lei, considera-se con-
do contrato, desde que a Administração ou o Judiciário veri- trato todo e qualquer ajuste entre órgãos ou entidades da
fique e aponte a infringência à lei ou ao edital”. Cabe ainda Administração Pública e particulares, em que haja um acordo
ressaltar que a anulação da licitação acarreta a nulidade do de vontades para a formação de vínculo e a estipulação de
contrato (art. 49, § 2º). No mesmo sentido “a anulação poderá obrigações recíprocas, seja qual for a denominação utilizada.
ocorrer tanto pela Via Judicante como pela Via Administrati- Art. 3º A licitação destina-se a garantir a observância do
va”. princípio constitucional da isonomia, a seleção da proposta
mais vantajosa para a administração e a promoção do desen-
9.9 Sanções administrativas. volvimento nacional sustentável e será processada e julgada
em estrita conformidade com os princípios básicos da lega-
Em relação ao cumprimento as normas estabelecidas pela lidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da
Lei de Licitações e Contratos Administrativos - Lei 8.666/1993, publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao
caso haja alguma irregularidade, comprovação da prática de instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que
atos ilícitos pela parte que causou o dano, além das responsa- lhes são correlatos.
bilidades civis, caberá também aplicação das responsabilida- § 1º É vedado aos agentes públicos:
des administrativas e judiciais. I - admitir, prever, incluir ou tolerar, nos atos de convo-
A recusa injustificada do adjudicatário em assinar o con- cação, cláusulas ou condições que comprometam, restrinjam
trato, aceitar ou retirar o instrumento equivalente, dentro do ou frustrem o seu caráter competitivo, inclusive nos casos de
prazo estabelecido pela Administração, caracteriza o descum- sociedades cooperativas, e estabeleçam preferências ou dis-
primento total da obrigação assumida, sujeitando-o às pena- tinções em razão da naturalidade, da sede ou domicílio dos
lidades legalmente estabelecidas. licitantes ou de qualquer outra circunstância impertinente ou
Isto não se aplica aos licitantes convocados, que não acei- irrelevante para o específico objeto do contrato, ressalvado
tarem a contratação, nas mesmas condições propostas pelo o disposto nos §§ 5º a 12 deste artigo e no art. 3º da Lei nº
primeiro adjudicatário, inclusive quanto ao prazo e preço. 8.248, de 23 de outubro de 1991;
Os agentes administrativos que praticarem atos em de- II - estabelecer tratamento diferenciado de natureza co-
sacordo com os preceitos definidos pela Lei de Licitações e mercial, legal, trabalhista, previdenciária ou qualquer outra,
Contratos Administrativos ou visando a frustrar os objetivos entre empresas brasileiras e estrangeiras, inclusive no que se
da licitação sujeitam-se às sanções previstas na lei licitatória e refere a moeda, modalidade e local de pagamentos, mesmo
nos regulamentos próprios, sem prejuízo das responsabilida- quando envolvidos financiamentos de agências internacio-
des civil e criminal que seu ato ensejar. nais, ressalvado o disposto no parágrafo seguinte e no art. 3º
da Lei nº 8.248, de 23 de outubro de 1991.
LEI Nº 8.666/1993 E SUAS ALTERAÇÕES § 2º Em igualdade de condições, como critério de desem-
pate, será assegurada preferência, sucessivamente, aos bens
LEI Nº 8.666, DE 21 DE JUNHO DE 1993 e serviços:
Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, I - (Revogado)
institui normas para licitações e contratos da Administração II - produzidos no País;
Pública e dá outras providências. III - produzidos ou prestados por empresas brasileiras;
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congres- IV - produzidos ou prestados por empresas que invistam
so Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: em pesquisa e no desenvolvimento de tecnologia no País;

36
DIREITO ADMINISTRATIVO

V - produzidos ou prestados por empresas que com- § 12. Nas contratações destinadas à implantação, ma-
provem cumprimento de reserva de cargos prevista em lei nutenção e ao aperfeiçoamento dos sistemas de tecnologia
para pessoa com deficiência ou para reabilitado da Previ- de informação e comunicação, considerados estratégicos
dência Social e que atendam às regras de acessibilidade em ato do Poder Executivo federal, a licitação poderá ser
previstas na legislação. restrita a bens e serviços com tecnologia desenvolvida no
§ 3º A licitação não será sigilosa, sendo públicos e aces- País e produzidos de acordo com o processo produtivo bá-
síveis ao público os atos de seu procedimento, salvo quan- sico de que trata a Lei nº 10.176, de 11 de janeiro de 2001.
to ao conteúdo das propostas, até a respectiva abertura. § 13. Será divulgada na internet, a cada exercício finan-
§ 4º (Vetado). ceiro, a relação de empresas favorecidas em decorrência do
§ 5º Nos processos de licitação, poderá ser estabeleci- disposto nos §§ 5º, 7º, 10, 11 e 12 deste artigo, com indi-
da margem de preferência para: cação do volume de recursos destinados a cada uma delas.
I - produtos manufaturados e para serviços nacionais § 14. As preferências definidas neste artigo e nas de-
que atendam a normas técnicas brasileiras; e
mais normas de licitação e contratos devem privilegiar o
II - bens e serviços produzidos ou prestados por em-
tratamento diferenciado e favorecido às microempresas e
presas que comprovem cumprimento de reserva de cargos
empresas de pequeno porte na forma da lei.
prevista em lei para pessoa com deficiência ou para rea-
§ 15. As preferências dispostas neste artigo prevale-
bilitado da Previdência Social e que atendam às regras de
acessibilidade previstas na legislação. cem sobre as demais preferências previstas na legislação
§ 6º A margem de preferência de que trata o § 5º será quando estas forem aplicadas sobre produtos ou serviços
estabelecida com base em estudos revistos periodicamen- estrangeiros.
te, em prazo não superior a 5 (cinco) anos, que levem em Art. 4º Todos quantos participem de licitação promovi-
consideração: da pelos órgãos ou entidades a que se refere o art. 1º têm
I - geração de emprego e renda; direito público subjetivo à fiel observância do pertinente
II - efeito na arrecadação de tributos federais, estaduais procedimento estabelecido nesta lei, podendo qualquer ci-
e municipais; dadão acompanhar o seu desenvolvimento, desde que não
III - desenvolvimento e inovação tecnológica realizados interfira de modo a perturbar ou impedir a realização dos
no País; trabalhos.
IV - custo adicional dos produtos e serviços; e Parágrafo único. O procedimento licitatório previsto
V - em suas revisões, análise retrospectiva de resulta- nesta lei caracteriza ato administrativo formal, seja ele pra-
dos. ticado em qualquer esfera da Administração Pública.
§ 7º Para os produtos manufaturados e serviços nacio- Art. 5º Todos os valores, preços e custos utilizados
nais resultantes de desenvolvimento e inovação tecnológi- nas licitações terão como expressão monetária a moeda
ca realizados no País, poderá ser estabelecido margem de corrente nacional, ressalvado o disposto no art. 42 desta
preferência adicional àquela prevista no § 5º. Lei, devendo cada unidade da Administração, no paga-
§ 8º As margens de preferência por produto, serviço, mento das obrigações relativas ao fornecimento de bens,
grupo de produtos ou grupo de serviços, a que se referem locações, realização de obras e prestação de serviços, obe-
os §§ 5º e 7º, serão definidas pelo Poder Executivo federal, decer, para cada fonte diferenciada de recursos, a estrita
não podendo a soma delas ultrapassar o montante de 25% ordem cronológica das datas de suas exigibilidades, salvo
(vinte e cinco por cento) sobre o preço dos produtos ma- quando presentes relevantes razões de interesse público
nufaturados e serviços estrangeiros. e mediante prévia justificativa da autoridade competente,
§ 9º As disposições contidas nos §§ 5º e 7º deste artigo devidamente publicada.
não se aplicam aos bens e aos serviços cuja capacidade de
§ 1º Os créditos a que se refere este artigo terão seus
produção ou prestação no País seja inferior:
valores corrigidos por critérios previstos no ato convocató-
I - à quantidade a ser adquirida ou contratada; ou
rio e que lhes preservem o valor.
II - ao quantitativo fixado com fundamento no § 7º do
§ 2º A correção de que trata o parágrafo anterior cujo
art. 23 desta Lei, quando for o caso.
§ 10. A margem de preferência a que se refere o § pagamento será feito junto com o principal, correrá à conta
5º poderá ser estendida, total ou parcialmente, aos bens das mesmas dotações orçamentárias que atenderam aos
e serviços originários dos Estados Partes do Mercado Co- créditos a que se referem.
mum do Sul - Mercosul. § 3º Observados o disposto no caput, os pagamentos
§ 11. Os editais de licitação para a contratação de bens, decorrentes de despesas cujos valores não ultrapassem o
serviços e obras poderão, mediante prévia justificativa da limite de que trata o inciso II do art. 24, sem prejuízo do
autoridade competente, exigir que o contratado promo- que dispõe seu parágrafo único, deverão ser efetuados no
va, em favor de órgão ou entidade integrante da adminis- prazo de até 5 (cinco) dias úteis, contados da apresentação
tração pública ou daqueles por ela indicados a partir de da fatura.
processo isonômico, medidas de compensação comercial, Art. 5o-A. As normas de licitações e contratos devem
industrial, tecnológica ou acesso a condições vantajosas de privilegiar o tratamento diferenciado e favorecido às mi-
financiamento, cumulativamente ou não, na forma estabe- croempresas e empresas de pequeno porte na forma da lei.
lecida pelo Poder Executivo federal.

37
DIREITO ADMINISTRATIVO

Seção II b) soluções técnicas globais e localizadas, suficiente-


Das Definições mente detalhadas, de forma a minimizar a necessidade de
reformulação ou de variantes durante as fases de elabora-
Art. 6º Para os fins desta Lei, considera-se: ção do projeto executivo e de realização das obras e mon-
I - Obra - toda construção, reforma, fabricação, recu- tagem;
peração ou ampliação, realizada por execução direta ou c) identificação dos tipos de serviços a executar e de
indireta; materiais e equipamentos a incorporar à obra, bem como
II - Serviço - toda atividade destinada a obter deter- suas especificações que assegurem os melhores resultados
minada utilidade de interesse para a Administração, tais para o empreendimento, sem frustrar o caráter competitivo
como: demolição, conserto, instalação, montagem, ope- para a sua execução;
ração, conservação, reparação, adaptação, manutenção, d) informações que possibilitem o estudo e a dedução
transporte, locação de bens, publicidade, seguro ou traba- de métodos construtivos, instalações provisórias e condi-
lhos técnico-profissionais; ções organizacionais para a obra, sem frustrar o caráter
III - Compra - toda aquisição remunerada de bens para competitivo para a sua execução;
fornecimento de uma só vez ou parceladamente; e) subsídios para montagem do plano de licitação e
IV - Alienação - toda transferência de domínio de bens gestão da obra, compreendendo a sua programação, a es-
a terceiros; tratégia de suprimentos, as normas de fiscalização e outros
V - Obras, serviços e compras de grande vulto - aque- dados necessários em cada caso;
las cujo valor estimado seja superior a 25 (vinte e cinco) f) orçamento detalhado do custo global da obra, fun-
vezes o limite estabelecido na alínea “c” do inciso I do art. damentado em quantitativos de serviços e fornecimentos
23 desta Lei; propriamente avaliados;
VI - Seguro-Garantia - o seguro que garante o fiel cum- X - Projeto Executivo - o conjunto dos elementos ne-
primento das obrigações assumidas por empresas em lici- cessários e suficientes à execução completa da obra, de
tações e contratos; acordo com as normas pertinentes da Associação Brasileira
VII - Execução direta - a que é feita pelos órgãos e en- de Normas Técnicas - ABNT;
tidades da Administração, pelos próprios meios; XI - Administração Pública - a administração direta e
VIII - Execução indireta - a que o órgão ou entidade indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, abrangendo inclusive as entidades com perso-
contrata com terceiros sob qualquer dos seguintes regimes:
nalidade jurídica de direito privado sob controle do poder
a) empreitada por preço global - quando se contrata
público e das fundações por ele instituídas ou mantidas;
a execução da obra ou do serviço por preço certo e total;
XII - Administração - órgão, entidade ou unidade ad-
b) empreitada por preço unitário - quando se contrata
ministrativa pela qual a Administração Pública opera e atua
a execução da obra ou do serviço por preço certo de uni-
concretamente;
dades determinadas;
XIII - Imprensa Oficial - veículo oficial de divulgação da
c) (Vetado).
Administração Pública, sendo para a União o Diário Oficial
d) tarefa - quando se ajusta mão-de-obra para peque-
da União, e, para os Estados, o Distrito Federal e os Municí-
nos trabalhos por preço certo, com ou sem fornecimento pios, o que for definido nas respectivas leis; (Redação dada
de materiais; pela Lei nº 8.883, de 1994)
e) empreitada integral - quando se contrata um em- XIV - Contratante - é o órgão ou entidade signatária do
preendimento em sua integralidade, compreendendo to- instrumento contratual;
das as etapas das obras, serviços e instalações necessárias, XV - Contratado - a pessoa física ou jurídica signatária
sob inteira responsabilidade da contratada até a sua entre- de contrato com a Administração Pública;
ga ao contratante em condições de entrada em operação, XVI - Comissão - comissão, permanente ou especial,
atendidos os requisitos técnicos e legais para sua utiliza- criada pela Administração com a função de receber, exami-
ção em condições de segurança estrutural e operacional e nar e julgar todos os documentos e procedimentos relati-
com as características adequadas às finalidades para que vos às licitações e ao cadastramento de licitantes.
foi contratada; XVII - produtos manufaturados nacionais - produtos
IX - Projeto Básico - conjunto de elementos necessários manufaturados, produzidos no território nacional de acor-
e suficientes, com nível de precisão adequado, para carac- do com o processo produtivo básico ou com as regras de
terizar a obra ou serviço, ou complexo de obras ou serviços origem estabelecidas pelo Poder Executivo federal;
objeto da licitação, elaborado com base nas indicações dos XVIII - serviços nacionais - serviços prestados no País,
estudos técnicos preliminares, que assegurem a viabilidade nas condições estabelecidas pelo Poder Executivo federal;
técnica e o adequado tratamento do impacto ambiental do XIX - sistemas de tecnologia de informação e comuni-
empreendimento, e que possibilite a avaliação do custo da cação estratégicos - bens e serviços de tecnologia da in-
obra e a definição dos métodos e do prazo de execução, formação e comunicação cuja descontinuidade provoque
devendo conter os seguintes elementos: dano significativo à administração pública e que envolvam
a) desenvolvimento da solução escolhida de forma a pelo menos um dos seguintes requisitos relacionados às
fornecer visão global da obra e identificar todos os seus informações críticas: disponibilidade, confiabilidade, segu-
elementos constitutivos com clareza; rança e confidencialidade.

38
DIREITO ADMINISTRATIVO

XX - produtos para pesquisa e desenvolvimento - bens, § 8º Qualquer cidadão poderá requerer à Administra-
insumos, serviços e obras necessários para atividade de ção Pública os quantitativos das obras e preços unitários de
pesquisa científica e tecnológica, desenvolvimento de tec- determinada obra executada.
nologia ou inovação tecnológica, discriminados em projeto § 9º O disposto neste artigo aplica-se também, no que
de pesquisa aprovado pela instituição contratante. couber, aos casos de dispensa e de inexigibilidade de lici-
tação.
Seção III Art. 8º A execução das obras e dos serviços deve pro-
Das Obras e Serviços gramar-se, sempre, em sua totalidade, previstos seus cus-
tos atual e final e considerados os prazos de sua execução.
Art. 7º As licitações para a execução de obras e para a Parágrafo único. É proibido o retardamento imotivado
prestação de serviços obedecerão ao disposto neste artigo da execução de obra ou serviço, ou de suas parcelas, se
e, em particular, à seguinte sequência: existente previsão orçamentária para sua execução total,
I - projeto básico;
salvo insuficiência financeira ou comprovado motivo de or-
II - projeto executivo;
dem técnica, justificados em despacho circunstanciado da
III - execução das obras e serviços.
autoridade a que se refere o art. 26 desta Lei.
§ 1º A execução de cada etapa será obrigatoriamente
Art. 9º Não poderá participar, direta ou indiretamente,
precedida da conclusão e aprovação, pela autoridade com-
petente, dos trabalhos relativos às etapas anteriores, à ex- da licitação ou da execução de obra ou serviço e do forne-
ceção do projeto executivo, o qual poderá ser desenvolvido cimento de bens a eles necessários:
concomitantemente com a execução das obras e serviços, I - o autor do projeto, básico ou executivo, pessoa física
desde que também autorizado pela Administração. ou jurídica;
§ 2º As obras e os serviços somente poderão ser licita- II - empresa, isoladamente ou em consórcio, responsá-
dos quando: vel pela elaboração do projeto básico ou executivo ou da
I - houver projeto básico aprovado pela autoridade qual o autor do projeto seja dirigente, gerente, acionista
competente e disponível para exame dos interessados em ou detentor de mais de 5% (cinco por cento) do capital
participar do processo licitatório; com direito a voto ou controlador, responsável técnico ou
II - existir orçamento detalhado em planilhas que ex- subcontratado;
pressem a composição de todos os seus custos unitários; III - servidor ou dirigente de órgão ou entidade contra-
III - houver previsão de recursos orçamentários que tante ou responsável pela licitação.
assegurem o pagamento das obrigações decorrentes de § 1º É permitida a participação do autor do projeto ou
obras ou serviços a serem executadas no exercício finan- da empresa a que se refere o inciso II deste artigo, na lici-
ceiro em curso, de acordo com o respectivo cronograma; tação de obra ou serviço, ou na execução, como consul-
IV - o produto dela esperado estiver contemplado nas tor ou técnico, nas funções de fiscalização, supervisão ou
metas estabelecidas no Plano Plurianual de que trata o art. gerenciamento, exclusivamente a serviço da Administração
165 da Constituição Federal, quando for o caso. interessada.
§ 3º É vedado incluir no objeto da licitação a obtenção § 2º O disposto neste artigo não impede a licitação ou
de recursos financeiros para sua execução, qualquer que contratação de obra ou serviço que inclua a elaboração de
seja a sua origem, exceto nos casos de empreendimentos projeto executivo como encargo do contratado ou pelo
executados e explorados sob o regime de concessão, nos preço previamente fixado pela Administração.
termos da legislação específica. § 3º Considera-se participação indireta, para fins do
§ 4º É vedada, ainda, a inclusão, no objeto da licitação,
disposto neste artigo, a existência de qualquer vínculo de
de fornecimento de materiais e serviços sem previsão de
natureza técnica, comercial, econômica, financeira ou tra-
quantidades ou cujos quantitativos não correspondam às
balhista entre o autor do projeto, pessoa física ou jurídica,
previsões reais do projeto básico ou executivo.
e o licitante ou responsável pelos serviços, fornecimentos
§ 5º É vedada a realização de licitação cujo objeto in-
clua bens e serviços sem similaridade ou de marcas, carac- e obras, incluindo-se os fornecimentos de bens e serviços
terísticas e especificações exclusivas, salvo nos casos em a estes necessários.
que for tecnicamente justificável, ou ainda quando o forne- § 4º O disposto no parágrafo anterior aplica-se aos
cimento de tais materiais e serviços for feito sob o regime membros da comissão de licitação.
de administração contratada, previsto e discriminado no Art. 10. As obras e serviços poderão ser executados
ato convocatório. nas seguintes formas:
§ 6º A infringência do disposto neste artigo implica a I - execução direta;
nulidade dos atos ou contratos realizados e a responsabili- II - execução indireta, nos seguintes regimes:
dade de quem lhes tenha dado causa. a) empreitada por preço global;
§ 7º Não será ainda computado como valor da obra ou b) empreitada por preço unitário;
serviço, para fins de julgamento das propostas de preços, a c) (Vetado).
atualização monetária das obrigações de pagamento, des- d) tarefa;
de a data final de cada período de aferição até a do respec- e) empreitada integral.
tivo pagamento, que será calculada pelos mesmos critérios Parágrafo único. (Vetado).
estabelecidos obrigatoriamente no ato convocatório.

39
DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 11. As obras e serviços destinados aos mesmos fins Art. 15. As compras, sempre que possível, deverão:
terão projetos padronizados por tipos, categorias ou classes, I - atender ao princípio da padronização, que imponha
exceto quando o projeto-padrão não atender às condições compatibilidade de especificações técnicas e de desempe-
peculiares do local ou às exigências específicas do empreen- nho, observadas, quando for o caso, as condições de manu-
dimento. tenção, assistência técnica e garantia oferecidas;
Art. 12. Nos projetos básicos e projetos executivos de II - ser processadas através de sistema de registro de pre-
obras e serviços serão considerados principalmente os se- ços;
guintes requisitos: III - submeter-se às condições de aquisição e pagamento
I - segurança; semelhantes às do setor privado;
II - funcionalidade e adequação ao interesse público; IV - ser subdivididas em tantas parcelas quantas neces-
III - economia na execução, conservação e operação; sárias para aproveitar as peculiaridades do mercado, visando
IV - possibilidade de emprego de mão-de-obra, mate- economicidade;
riais, tecnologia e matérias-primas existentes no local para V - balizar-se pelos preços praticados no âmbito dos ór-
execução, conservação e operação; gãos e entidades da Administração Pública.
V - facilidade na execução, conservação e operação, sem § 1º O registro de preços será precedido de ampla pes-
prejuízo da durabilidade da obra ou do serviço; quisa de mercado.
VI - adoção das normas técnicas, de saúde e de seguran- § 2º Os preços registrados serão publicados trimestral-
ça do trabalho adequadas; mente para orientação da Administração, na imprensa oficial.
VII - impacto ambiental. § 3º O sistema de registro de preços será regulamentado
por decreto, atendidas as peculiaridades regionais, observa-
Seção IV das as seguintes condições:
Dos Serviços Técnicos Profissionais Especializados I - seleção feita mediante concorrência;
II - estipulação prévia do sistema de controle e atualiza-
Art. 13. Para os fins desta Lei, consideram-se serviços téc- ção dos preços registrados;
III - validade do registro não superior a um ano.
nicos profissionais especializados os trabalhos relativos a:
§ 4º A existência de preços registrados não obriga a Ad-
I - estudos técnicos, planejamentos e projetos básicos ou
ministração a firmar as contratações que deles poderão advir,
executivos;
ficando-lhe facultada a utilização de outros meios, respeitada
II - pareceres, perícias e avaliações em geral;
a legislação relativa às licitações, sendo assegurado ao bene-
III - assessorias ou consultorias técnicas e auditorias fi-
ficiário do registro preferência em igualdade de condições.
nanceiras ou tributárias;
§ 5º O sistema de controle originado no quadro geral de
IV - fiscalização, supervisão ou gerenciamento de obras
preços, quando possível, deverá ser informatizado.
ou serviços; § 6º Qualquer cidadão é parte legítima para impugnar
V - patrocínio ou defesa de causas judiciais ou adminis- preço constante do quadro geral em razão de incompatibili-
trativas; dade desse com o preço vigente no mercado.
VI - treinamento e aperfeiçoamento de pessoal; § 7º Nas compras deverão ser observadas, ainda:
VII - restauração de obras de arte e bens de valor histó- I - a especificação completa do bem a ser adquirido sem
rico. indicação de marca;
VIII - (Vetado). II - a definição das unidades e das quantidades a serem
§ 1º Ressalvados os casos de inexigibilidade de licitação, adquiridas em função do consumo e utilização prováveis,
os contratos para a prestação de serviços técnicos profissio- cuja estimativa será obtida, sempre que possível, mediante
nais especializados deverão, preferencialmente, ser celebra- adequadas técnicas quantitativas de estimação;
dos mediante a realização de concurso, com estipulação pré- III - as condições de guarda e armazenamento que não
via de prêmio ou remuneração. permitam a deterioração do material.
§ 2º Aos serviços técnicos previstos neste artigo aplica-se, § 8º O recebimento de material de valor superior ao li-
no que couber, o disposto no art. 111 desta Lei. mite estabelecido no art. 23 desta Lei, para a modalidade de
§ 3º A empresa de prestação de serviços técnicos espe- convite, deverá ser confiado a uma comissão de, no mínimo,
cializados que apresente relação de integrantes de seu corpo 3 (três) membros.
técnico em procedimento licitatório ou como elemento de
justificação de dispensa ou inexigibilidade de licitação, ficará Art. 16. Será dada publicidade, mensalmente, em órgão
obrigada a garantir que os referidos integrantes realizem pes- de divulgação oficial ou em quadro de avisos de amplo aces-
soal e diretamente os serviços objeto do contrato. so público, à relação de todas as compras feitas pela Admi-
nistração Direta ou Indireta, de maneira a clarificar a identi-
Seção V ficação do bem comprado, seu preço unitário, a quantidade
Das Compras adquirida, o nome do vendedor e o valor total da operação,
podendo ser aglutinadas por itens as compras feitas com dis-
Art. 14. Nenhuma compra será feita sem a adequada pensa e inexigibilidade de licitação.
caracterização de seu objeto e indicação dos recursos or- Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica
çamentários para seu pagamento, sob pena de nulidade do aos casos de dispensa de licitação previstos no inciso IX do
ato e responsabilidade de quem lhe tiver dado causa. art. 24.

40
DIREITO ADMINISTRATIVO

Seção VI § 1º Os imóveis doados com base na alínea “b” do inciso


Das Alienações I deste artigo, cessadas as razões que justificaram a sua doa-
ção, reverterão ao patrimônio da pessoa jurídica doadora,
Art. 17. A alienação de bens da Administração Pública, vedada a sua alienação pelo beneficiário.
subordinada à existência de interesse público devidamente § 2º A Administração também poderá conceder título de
justificado, será precedida de avaliação e obedecerá às se- propriedade ou de direito real de uso de imóveis, dispensada
guintes normas: licitação, quando o uso destinar-se:
I - quando imóveis, dependerá de autorização legislativa I - a outro órgão ou entidade da Administração Pública,
para órgãos da administração direta e entidades autárquicas qualquer que seja a localização do imóvel;
e fundacionais, e, para todos, inclusive as entidades paraes- II - a pessoa natural que, nos termos de lei, regulamento
tatais, dependerá de avaliação prévia e de licitação na moda- ou ato normativo do órgão competente, haja implementado
lidade de concorrência, dispensada esta nos seguintes casos: os requisitos mínimos de cultura, ocupação mansa e pacífica
a) dação em pagamento; e exploração direta sobre área rural, observado o limite de
b) doação, permitida exclusivamente para outro órgão que trata o § 1º do art. 6º da Lei no 11.952, de 25 de junho
ou entidade da administração pública, de qualquer esfera de de 2009;
governo, ressalvado o disposto nas alíneas f, h e i; § 2º-A. As hipóteses do inciso II do § 2º ficam dispensa-
c) permuta, por outro imóvel que atenda aos requisitos das de autorização legislativa, porém submetem-se aos se-
constantes do inciso X do art. 24 desta Lei; guintes condicionamentos:
d) investidura; I - aplicação exclusivamente às áreas em que a detenção
e) venda a outro órgão ou entidade da administração por particular seja comprovadamente anterior a 1o de de-
pública, de qualquer esfera de governo; zembro de 2004;
f) alienação gratuita ou onerosa, aforamento, concessão II - submissão aos demais requisitos e impedimentos do
de direito real de uso, locação ou permissão de uso de bens regime legal e administrativo da destinação e da regulariza-
imóveis residenciais construídos, destinados ou efetivamen- ção fundiária de terras públicas;
te utilizados no âmbito de programas habitacionais ou de III - vedação de concessões para hipóteses de exploração
regularização fundiária de interesse social desenvolvidos por não-contempladas na lei agrária, nas leis de destinação de
órgãos ou entidades da administração pública; terras públicas, ou nas normas legais ou administrativas de
g) procedimentos de legitimação de posse de que trata zoneamento ecológico-econômico; e
o art. 29 da Lei no 6.383, de 7 de dezembro de 1976, me- IV - previsão de rescisão automática da concessão, dis-
diante iniciativa e deliberação dos órgãos da Administração pensada notificação, em caso de declaração de utilidade, ou
Pública em cuja competência legal inclua-se tal atribuição; necessidade pública ou interesse social.
h) alienação gratuita ou onerosa, aforamento, conces- § 2º-B. A hipótese do inciso II do § 2o deste artigo:
são de direito real de uso, locação ou permissão de uso de I - só se aplica a imóvel situado em zona rural, não sujeito
bens imóveis de uso comercial de âmbito local com área de a vedação, impedimento ou inconveniente a sua exploração
até 250 m² (duzentos e cinqüenta metros quadrados) e inse- mediante atividades agropecuárias;
ridos no âmbito de programas de regularização fundiária de II – fica limitada a áreas de até quinze módulos fiscais,
interesse social desenvolvidos por órgãos ou entidades da desde que não exceda mil e quinhentos hectares, vedada a
administração pública; dispensa de licitação para áreas superiores a esse limite;
i) alienação e concessão de direito real de uso, gratuita III - pode ser cumulada com o quantitativo de área de-
ou onerosa, de terras públicas rurais da União e do Incra, corrente da figura prevista na alínea g do inciso I do caput
onde incidam ocupações até o limite de que trata o § 1º do deste artigo, até o limite previsto no inciso II deste parágrafo.
art. 6º da Lei no 11.952, de 25 de junho de 2009, para fins IV – (VETADO)
de regularização fundiária, atendidos os requisitos legais; e § 3º Entende-se por investidura, para os fins desta lei:
II - quando móveis, dependerá de avaliação prévia e de I - a alienação aos proprietários de imóveis lindeiros de
licitação, dispensada esta nos seguintes casos: área remanescente ou resultante de obra pública, área esta
a) doação, permitida exclusivamente para fins e uso de que se tornar inaproveitável isoladamente, por preço nunca
interesse social, após avaliação de sua oportunidade e con- inferior ao da avaliação e desde que esse não ultrapasse a
veniência sócio-econômica, relativamente à escolha de outra 50% (cinquenta por cento) do valor constante da alínea “a”
forma de alienação; do inciso II do art. 23 desta lei;
b) permuta, permitida exclusivamente entre órgãos ou II - a alienação, aos legítimos possuidores diretos ou,
entidades da Administração Pública; na falta destes, ao Poder Público, de imóveis para fins resi-
c) venda de ações, que poderão ser negociadas em bol- denciais construídos em núcleos urbanos anexos a usinas
sa, observada a legislação específica; hidrelétricas, desde que considerados dispensáveis na fase
d) venda de títulos, na forma da legislação pertinente; de operação dessas unidades e não integrem a categoria de
e) venda de bens produzidos ou comercializados por ór- bens reversíveis ao final da concessão.
gãos ou entidades da Administração Pública, em virtude de § 4º A doação com encargo será licitada e de seu instru-
suas finalidades; mento constarão, obrigatoriamente os encargos, o prazo de
f) venda de materiais e equipamentos para outros ór- seu cumprimento e cláusula de reversão, sob pena de nulida-
gãos ou entidades da Administração Pública, sem utilização de do ato, sendo dispensada a licitação no caso de interesse
previsível por quem deles dispõe. público devidamente justificado;

41
DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 5º Na hipótese do parágrafo anterior, caso o dona- § 1º O aviso publicado conterá a indicação do local em
tário necessite oferecer o imóvel em garantia de financia- que os interessados poderão ler e obter o texto integral do
mento, a cláusula de reversão e demais obrigações serão edital e todas as informações sobre a licitação.
garantidas por hipoteca em segundo grau em favor do § 2º O prazo mínimo até o recebimento das propostas
doador. ou da realização do evento será:
§ 6º Para a venda de bens móveis avaliados, isolada ou I - quarenta e cinco dias para:
globalmente, em quantia não superior ao limite previsto a) concurso;
no art. 23, inciso II, alínea “b” desta Lei, a Administração b) concorrência, quando o contrato a ser celebrado
poderá permitir o leilão. contemplar o regime de empreitada integral ou quando a
§ 7º (VETADO). licitação for do tipo “melhor técnica” ou “técnica e preço”;
II - trinta dias para:
Art. 18. Na concorrência para a venda de bens imó- a) concorrência, nos casos não especificados na alínea
veis, a fase de habilitação limitar-se-á à comprovação do “b” do inciso anterior;
recolhimento de quantia correspondente a 5% (cinco por b) tomada de preços, quando a licitação for do tipo
cento) da avaliação. “melhor técnica” ou “técnica e preço”;
Parágrafo único. (Revogado) III - quinze dias para a tomada de preços, nos casos
não especificados na alínea “b” do inciso anterior, ou leilão;
Art. 19. Os bens imóveis da Administração Pública, IV - cinco dias úteis para convite.
cuja aquisição haja derivado de procedimentos judiciais ou § 3º Os prazos estabelecidos no parágrafo anterior se-
de dação em pagamento, poderão ser alienados por ato rão contados a partir da última publicação do edital resu-
da autoridade competente, observadas as seguintes regras: mido ou da expedição do convite, ou ainda da efetiva dis-
I - avaliação dos bens alienáveis; ponibilidade do edital ou do convite e respectivos anexos,
II - comprovação da necessidade ou utilidade da alie- prevalecendo a data que ocorrer mais tarde.
nação; § 4º Qualquer modificação no edital exige divulgação
III - adoção do procedimento licitatório, sob a modali- pela mesma forma que se deu o texto original, reabrin-
dade de concorrência ou leilão. do-se o prazo inicialmente estabelecido, exceto quando,
inquestionavelmente, a alteração não afetar a formulação
Capítulo II das propostas.
Da Licitação Art. 22. São modalidades de licitação:
Seção I I - concorrência;
Das Modalidades, Limites e Dispensa II - tomada de preços;
III - convite;
Art. 20. As licitações serão efetuadas no local onde se IV - concurso;
situar a repartição interessada, salvo por motivo de interes- V - leilão.
se público, devidamente justificado. § 1º Concorrência é a modalidade de licitação entre
Parágrafo único. O disposto neste artigo não impedirá quaisquer interessados que, na fase inicial de habilitação
a habilitação de interessados residentes ou sediados em preliminar, comprovem possuir os requisitos mínimos de
outros locais. qualificação exigidos no edital para execução de seu ob-
Art. 21. Os avisos contendo os resumos dos editais das jeto.
concorrências, das tomadas de preços, dos concursos e dos § 2º Tomada de preços é a modalidade de licitação en-
leilões, embora realizados no local da repartição interessa- tre interessados devidamente cadastrados ou que atende-
da, deverão ser publicados com antecedência, no mínimo, rem a todas as condições exigidas para cadastramento até
por uma vez: o terceiro dia anterior à data do recebimento das propos-
I - no Diário Oficial da União, quando se tratar de licita- tas, observada a necessária qualificação.
ção feita por órgão ou entidade da Administração Pública § 3º Convite é a modalidade de licitação entre inte-
Federal e, ainda, quando se tratar de obras financiadas par- ressados do ramo pertinente ao seu objeto, cadastrados
cial ou totalmente com recursos federais ou garantidas por ou não, escolhidos e convidados em número mínimo de 3
instituições federais; (três) pela unidade administrativa, a qual afixará, em local
II - no Diário Oficial do Estado, ou do Distrito Fede- apropriado, cópia do instrumento convocatório e o esten-
ral quando se tratar, respectivamente, de licitação feita por derá aos demais cadastrados na correspondente especia-
órgão ou entidade da Administração Pública Estadual ou lidade que manifestarem seu interesse com antecedência
Municipal, ou do Distrito Federal; de até 24 (vinte e quatro) horas da apresentação das pro-
III - em jornal diário de grande circulação no Estado e postas.
também, se houver, em jornal de circulação no Município § 4º Concurso é a modalidade de licitação entre quais-
ou na região onde será realizada a obra, prestado o serviço, quer interessados para escolha de trabalho técnico, cientí-
fornecido, alienado ou alugado o bem, podendo ainda a fico ou artístico, mediante a instituição de prêmios ou re-
Administração, conforme o vulto da licitação, utilizar-se de muneração aos vencedores, conforme critérios constantes
outros meios de divulgação para ampliar a área de com- de edital publicado na imprensa oficial com antecedência
petição. mínima de 45 (quarenta e cinco) dias.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 5º Leilão é a modalidade de licitação entre quaisquer § 4º Nos casos em que couber convite, a Administração
interessados para a venda de bens móveis inservíveis para a poderá utilizar a tomada de preços e, em qualquer caso, a
administração ou de produtos legalmente apreendidos ou pe- concorrência.
nhorados, ou para a alienação de bens imóveis prevista no art. § 5º É vedada a utilização da modalidade “convite” ou
19, a quem oferecer o maior lance, igual ou superior ao valor “tomada de preços”, conforme o caso, para parcelas de
da avaliação. uma mesma obra ou serviço, ou ainda para obras e servi-
§ 6º Na hipótese do § 3º deste artigo, existindo na praça ços da mesma natureza e no mesmo local que possam ser
mais de 3 (três) possíveis interessados, a cada novo convite, realizadas conjunta e concomitantemente, sempre que o
realizado para objeto idêntico ou assemelhado, é obrigatório somatório de seus valores caracterizar o caso de “tomada
o convite a, no mínimo, mais um interessado, enquanto existi- de preços” ou “concorrência”, respectivamente, nos termos
rem cadastrados não convidados nas últimas licitações. deste artigo, exceto para as parcelas de natureza específi-
§ 7º Quando, por limitações do mercado ou manifesto ca que possam ser executadas por pessoas ou empresas
desinteresse dos convidados, for impossível a obtenção do
de especialidade diversa daquela do executor da obra ou
número mínimo de licitantes exigidos no § 3o deste artigo,
serviço.
essas circunstâncias deverão ser devidamente justificadas no
§ 6º As organizações industriais da Administração Fe-
processo, sob pena de repetição do convite.
deral direta, em face de suas peculiaridades, obedecerão
§ 8º É vedada a criação de outras modalidades de licitação
ou a combinação das referidas neste artigo. aos limites estabelecidos no inciso I deste artigo também
§ 9º Na hipótese do parágrafo 2º deste artigo, a admi- para suas compras e serviços em geral, desde que para a
nistração somente poderá exigir do licitante não cadastrado aquisição de materiais aplicados exclusivamente na manu-
os documentos previstos nos arts. 27 a 31, que comprovem tenção, reparo ou fabricação de meios operacionais bélicos
habilitação compatível com o objeto da licitação, nos termos pertencentes à União.
do edital. § 7º Na compra de bens de natureza divisível e desde
Art. 23. As modalidades de licitação a que se referem os que não haja prejuízo para o conjunto ou complexo, é per-
incisos I a III do artigo anterior serão determinadas em função mitida a cotação de quantidade inferior à demandada na
dos seguintes limites, tendo em vista o valor estimado da con- licitação, com vistas a ampliação da competitividade, po-
tratação: dendo o edital fixar quantitativo mínimo para preservar a
I - para obras e serviços de engenharia: economia de escala.
a) convite - até R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais); § 8º No caso de consórcios públicos, aplicar-se-á o do-
b) tomada de preços - até R$ 1.500.000,00 (um milhão e bro dos valores mencionados no caput deste artigo quan-
quinhentos mil reais); do formado por até 3 (três) entes da Federação, e o triplo,
c) concorrência: acima de R$ 1.500.000,00 (um milhão e quando formado por maior número.
quinhentos mil reais); Art. 24. É dispensável a licitação:
II - para compras e serviços não referidos no inciso ante- I - para obras e serviços de engenharia de valor até
rior: 10% (dez por cento) do limite previsto na alínea “a”, do
a) convite - até R$ 80.000,00 (oitenta mil reais); inciso I do artigo anterior, desde que não se refiram a par-
b) tomada de preços - até R$ 650.000,00 (seiscentos e cin- celas de uma mesma obra ou serviço ou ainda para obras e
quenta mil reais); serviços da mesma natureza e no mesmo local que possam
c) concorrência - acima de R$ 650.000,00 (seiscentos e cin- ser realizadas conjunta e concomitantemente;
quenta mil reais). II - para outros serviços e compras de valor até 10%
§ 1º As obras, serviços e compras efetuadas pela Admi-
(dez por cento) do limite previsto na alínea “a”, do inciso
nistração serão divididas em tantas parcelas quantas se com-
II do artigo anterior e para alienações, nos casos previstos
provarem técnica e economicamente viáveis, procedendo-se
nesta Lei, desde que não se refiram a parcelas de um mes-
à licitação com vistas ao melhor aproveitamento dos recursos
mo serviço, compra ou alienação de maior vulto que possa
disponíveis no mercado e à ampliação da competitividade
sem perda da economia de escala. ser realizada de uma só vez;
§ 2º Na execução de obras e serviços e nas compras de III - nos casos de guerra ou grave perturbação da or-
bens, parceladas nos termos do parágrafo anterior, a cada eta- dem;
pa ou conjunto de etapas da obra, serviço ou compra, há de IV - nos casos de emergência ou de calamidade pú-
corresponder licitação distinta, preservada a modalidade per- blica, quando caracterizada urgência de atendimento de
tinente para a execução do objeto em licitação. situação que possa ocasionar prejuízo ou comprometer
§ 3º A concorrência é a modalidade de licitação cabível, a segurança de pessoas, obras, serviços, equipamentos e
qualquer que seja o valor de seu objeto, tanto na compra ou outros bens, públicos ou particulares, e somente para os
alienação de bens imóveis, ressalvado o disposto no art. 19, bens necessários ao atendimento da situação emergencial
como nas concessões de direito real de uso e nas licitações ou calamitosa e para as parcelas de obras e serviços que
internacionais, admitindo-se neste último caso, observados os possam ser concluídas no prazo máximo de 180 (cento
limites deste artigo, a tomada de preços, quando o órgão ou e oitenta) dias consecutivos e ininterruptos, contados da
entidade dispuser de cadastro internacional de fornecedores ocorrência da emergência ou calamidade, vedada a prorro-
ou o convite, quando não houver fornecedor do bem ou ser- gação dos respectivos contratos;
viço no País.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

V - quando não acudirem interessados à licitação an- XVII - para a aquisição de componentes ou peças de ori-
terior e esta, justificadamente, não puder ser repetida sem gem nacional ou estrangeira, necessários à manutenção de
prejuízo para a Administração, mantidas, neste caso, todas equipamentos durante o período de garantia técnica, junto ao
as condições preestabelecidas; fornecedor original desses equipamentos, quando tal condição
VI - quando a União tiver que intervir no domínio eco- de exclusividade for indispensável para a vigência da garantia;
nômico para regular preços ou normalizar o abastecimento; XVIII - nas compras ou contratações de serviços para o
VII - quando as propostas apresentadas consigna- abastecimento de navios, embarcações, unidades aéreas ou
rem preços manifestamente superiores aos praticados no tropas e seus meios de deslocamento quando em estada even-
mercado nacional, ou forem incompatíveis com os fixados tual de curta duração em portos, aeroportos ou localidades
pelos órgãos oficiais competentes, casos em que, obser- diferentes de suas sedes, por motivo de movimentação ope-
vado o parágrafo único do art. 48 desta Lei e, persistindo racional ou de adestramento, quando a exiguidade dos prazos
a situação, será admitida a adjudicação direta dos bens ou legais puder comprometer a normalidade e os propósitos das
serviços, por valor não superior ao constante do registro de operações e desde que seu valor não exceda ao limite previsto
preços, ou dos serviços; na alínea “a” do inciso II do art. 23 desta Lei:
VIII - para a aquisição, por pessoa jurídica de direito XIX - para as compras de material de uso pelas Forças Ar-
público interno, de bens produzidos ou serviços prestados madas, com exceção de materiais de uso pessoal e adminis-
por órgão ou entidade que integre a Administração Pública trativo, quando houver necessidade de manter a padronização
e que tenha sido criado para esse fim específico em data requerida pela estrutura de apoio logístico dos meios navais,
anterior à vigência desta Lei, desde que o preço contratado aéreos e terrestres, mediante parecer de comissão instituída
seja compatível com o praticado no mercado; por decreto;
IX - quando houver possibilidade de comprometimen- XX - na contratação de associação de portadores de de-
to da segurança nacional, nos casos estabelecidos em de- ficiência física, sem fins lucrativos e de comprovada idoneida-
creto do Presidente da República, ouvido o Conselho de de, por órgãos ou entidades da Administração Pública, para a
Defesa Nacional; prestação de serviços ou fornecimento de mão-de-obra, desde
X - para a compra ou locação de imóvel destinado ao que o preço contratado seja compatível com o praticado no
atendimento das finalidades precípuas da administração, mercado.
cujas necessidades de instalação e localização condicio- XXI - para a aquisição ou contratação de produto para pes-
nem a sua escolha, desde que o preço seja compatível com quisa e desenvolvimento, limitada, no caso de obras e serviços
o valor de mercado, segundo avaliação prévia; de engenharia, a 20% (vinte por cento) do valor de que trata a
XI - na contratação de remanescente de obra, serviço alínea “b” do inciso I do caput do art. 23;
ou fornecimento, em consequência de rescisão contratual, XXII - na contratação de fornecimento ou suprimento de
desde que atendida a ordem de classificação da licitação energia elétrica e gás natural com concessionário, permissioná-
anterior e aceitas as mesmas condições oferecidas pelo li- rio ou autorizado, segundo as normas da legislação específica;
citante vencedor, inclusive quanto ao preço, devidamente XXIII - na contratação realizada por empresa pública ou
corrigido; sociedade de economia mista com suas subsidiárias e con-
XII - nas compras de hortifrutigranjeiros, pão e outros troladas, para a aquisição ou alienação de bens, prestação ou
gêneros perecíveis, no tempo necessário para a realização obtenção de serviços, desde que o preço contratado seja com-
dos processos licitatórios correspondentes, realizadas dire- patível com o praticado no mercado.
tamente com base no preço do dia; XXIV - para a celebração de contratos de prestação de ser-
XIII - na contratação de instituição brasileira incumbida viços com as organizações sociais, qualificadas no âmbito das
regimental ou estatutariamente da pesquisa, do ensino ou respectivas esferas de governo, para atividades contempladas
do desenvolvimento institucional, ou de instituição dedica- no contrato de gestão.
da à recuperação social do preso, desde que a contratada XXV - na contratação realizada por Instituição Científica e
detenha inquestionável reputação ético-profissional e não Tecnológica - ICT ou por agência de fomento para a transferên-
tenha fins lucrativos; cia de tecnologia e para o licenciamento de direito de uso ou
XIV - para a aquisição de bens ou serviços nos termos de exploração de criação protegida.
de acordo internacional específico aprovado pelo Congres- XXVI - na celebração de contrato de programa com ente
so Nacional, quando as condições ofertadas forem mani- da Federação ou com entidade de sua administração indireta,
festamente vantajosas para o Poder Público; para a prestação de serviços públicos de forma associada nos
XV - para a aquisição ou restauração de obras de arte e termos do autorizado em contrato de consórcio público ou em
objetos históricos, de autenticidade certificada, desde que convênio de cooperação.
compatíveis ou inerentes às finalidades do órgão ou enti- XXVII - na contratação da coleta, processamento e comer-
dade. cialização de resíduos sólidos urbanos recicláveis ou reutilizá-
XVI - para a impressão dos diários oficiais, de formu- veis, em áreas com sistema de coleta seletiva de lixo, efetuados
lários padronizados de uso da administração, e de edições por associações ou cooperativas formadas exclusivamente por
técnicas oficiais, bem como para prestação de serviços de pessoas físicas de baixa renda reconhecidas pelo poder público
informática a pessoa jurídica de direito público interno, por como catadores de materiais recicláveis, com o uso de equipa-
órgãos ou entidades que integrem a Administração Públi- mentos compatíveis com as normas técnicas, ambientais e de
ca, criados para esse fim específico; saúde pública.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

XXVIII – para o fornecimento de bens e serviços, pro- § 2º O limite temporal de criação do órgão ou entidade que
duzidos ou prestados no País, que envolvam, cumulativa- integre a administração pública estabelecido no inciso VIII do
mente, alta complexidade tecnológica e defesa nacional, caput deste artigo não se aplica aos órgãos ou entidades que
mediante parecer de comissão especialmente designada produzem produtos estratégicos para o SUS, no âmbito da Lei
pela autoridade máxima do órgão. nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, conforme elencados em
XXIX – na aquisição de bens e contratação de serviços ato da direção nacional do SUS.
para atender aos contingentes militares das Forças Sin- § 3º A hipótese de dispensa prevista no inciso XXI do caput,
gulares brasileiras empregadas em operações de paz no quando aplicada a obras e serviços de engenharia, seguirá pro-
exterior, necessariamente justificadas quanto ao preço e à cedimentos especiais instituídos em regulamentação específica.
escolha do fornecedor ou executante e ratificadas pelo Co- § 4º Não se aplica a vedação prevista no inciso I do caput do
mandante da Força. art. 9o à hipótese prevista no inciso XXI do caput.
XXX - na contratação de instituição ou organização,
Art. 25. É inexigível a licitação quando houver inviabilidade
pública ou privada, com ou sem fins lucrativos, para a pres-
de competição, em especial:
tação de serviços de assistência técnica e extensão rural no
I - para aquisição de materiais, equipamentos, ou gêneros
âmbito do Programa Nacional de Assistência Técnica e Ex-
que só possam ser fornecidos por produtor, empresa ou repre-
tensão Rural na Agricultura Familiar e na Reforma Agrária,
sentante comercial exclusivo, vedada a preferência de marca,
instituído por lei federal. devendo a comprovação de exclusividade ser feita através de
XXXI - nas contratações visando ao cumprimento do atestado fornecido pelo órgão de registro do comércio do lo-
disposto nos arts. 3º, 4º, 5º e 20 da Lei nº 10.973, de 2 cal em que se realizaria a licitação ou a obra ou o serviço, pelo
de dezembro de 2004, observados os princípios gerais de Sindicato, Federação ou Confederação Patronal, ou, ainda, pelas
contratação dela constantes. entidades equivalentes;
XXXII - na contratação em que houver transferência de II - para a contratação de serviços técnicos enumerados no
tecnologia de produtos estratégicos para o Sistema Único art. 13 desta Lei, de natureza singular, com profissionais ou em-
de Saúde - SUS, no âmbito da Lei nº 8.080, de 19 de se- presas de notória especialização, vedada a inexigibilidade para
tembro de 1990, conforme elencados em ato da direção serviços de publicidade e divulgação;
nacional do SUS, inclusive por ocasião da aquisição destes III - para contratação de profissional de qualquer setor artís-
produtos durante as etapas de absorção tecnológica. tico, diretamente ou através de empresário exclusivo, desde que
XXXIII - na contratação de entidades privadas sem fins consagrado pela crítica especializada ou pela opinião pública.
lucrativos, para a implementação de cisternas ou outras § 1º Considera-se de notória especialização o profissional
tecnologias sociais de acesso à água para consumo hu- ou empresa cujo conceito no campo de sua especialidade, de-
mano e produção de alimentos, para beneficiar as famílias corrente de desempenho anterior, estudos, experiências, publi-
rurais de baixa renda atingidas pela seca ou falta regular cações, organização, aparelhamento, equipe técnica, ou de ou-
de água. tros requisitos relacionados com suas atividades, permita inferir
XXXIV - para a aquisição por pessoa jurídica de direito que o seu trabalho é essencial e indiscutivelmente o mais ade-
público interno de insumos estratégicos para a saúde pro- quado à plena satisfação do objeto do contrato.
duzidos ou distribuídos por fundação que, regimental ou § 2º Na hipótese deste artigo e em qualquer dos casos de
estatutariamente, tenha por finalidade apoiar órgão da ad- dispensa, se comprovado superfaturamento, respondem soli-
ministração pública direta, sua autarquia ou fundação em dariamente pelo dano causado à Fazenda Pública o fornecedor
projetos de ensino, pesquisa, extensão, desenvolvimento ou o prestador de serviços e o agente público responsável, sem
institucional, científico e tecnológico e estímulo à inovação, prejuízo de outras sanções legais cabíveis.
Art. 26. As dispensas previstas nos §§ 2º e 4º do art. 17 e no
inclusive na gestão administrativa e financeira necessária à
inciso III e seguintes do art. 24, as situações de inexigibilidade
execução desses projetos, ou em parcerias que envolvam
referidas no art. 25, necessariamente justificadas, e o retarda-
transferência de tecnologia de produtos estratégicos para
mento previsto no final do parágrafo único do art. 8º desta Lei
o Sistema Único de Saúde – SUS, nos termos do inciso XXXII
deverão ser comunicados, dentro de 3 (três) dias, à autoridade
deste artigo, e que tenha sido criada para esse fim específi- superior, para ratificação e publicação na imprensa oficial, no
co em data anterior à vigência desta Lei, desde que o preço prazo de 5 (cinco) dias, como condição para a eficácia dos atos.
contratado seja compatível com o praticado no mercado. Parágrafo único. O processo de dispensa, de inexigibilidade
XXXV - para a construção, a ampliação, a reforma e o ou de retardamento, previsto neste artigo, será instruído, no que
aprimoramento de estabelecimentos penais, desde que couber, com os seguintes elementos:
configurada situação de grave e iminente risco à segurança I - caracterização da situação emergencial, calamitosa ou
pública. de grave e iminente risco à segurança pública que justifique a
§ 1º Os percentuais referidos nos incisos I e II do caput dispensa, quando for o caso;
deste artigo serão 20% (vinte por cento) para compras, II - razão da escolha do fornecedor ou executante;
obras e serviços contratados por consórcios públicos, so- III - justificativa do preço.
ciedade de economia mista, empresa pública e por autar- IV - documento de aprovação dos projetos de pesquisa
quia ou fundação qualificadas, na forma da lei, como Agên- aos quais os bens serão alocados.
cias Executivas.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

Seção II III - comprovação, fornecida pelo órgão licitante, de


Da Habilitação que recebeu os documentos, e, quando exigido, de que
tomou conhecimento de todas as informações e das con-
Art. 27. Para a habilitação nas licitações exigir-se-á dos dições locais para o cumprimento das obrigações objeto
interessados, exclusivamente, documentação relativa a: da licitação;
I - habilitação jurídica; IV - prova de atendimento de requisitos previstos em
II - qualificação técnica; lei especial, quando for o caso.
III - qualificação econômico-financeira; § 1º A comprovação de aptidão referida no inciso II do
IV – regularidade fiscal e trabalhista; “caput” deste artigo, no caso das licitações pertinentes a
V – cumprimento do disposto no inciso XXXIII do art. 7º obras e serviços, será feita por atestados fornecidos por
da Constituição Federal. pessoas jurídicas de direito público ou privado, devida-
mente registrados nas entidades profissionais competen-
Art. 28. A documentação relativa à habilitação jurídica, tes, limitadas as exigências a:
conforme o caso, consistirá em: I - capacitação técnico-profissional: comprovação do
I - cédula de identidade; licitante de possuir em seu quadro permanente, na data
II - registro comercial, no caso de empresa individual; prevista para entrega da proposta, profissional de nível
III - ato constitutivo, estatuto ou contrato social em vi- superior ou outro devidamente reconhecido pela entida-
gor, devidamente registrado, em se tratando de sociedades de competente, detentor de atestado de responsabilidade
comerciais, e, no caso de sociedades por ações, acompa- técnica por execução de obra ou serviço de características
nhado de documentos de eleição de seus administradores; semelhantes, limitadas estas exclusivamente às parcelas de
IV - inscrição do ato constitutivo, no caso de socieda- maior relevância e valor significativo do objeto da licitação,
des civis, acompanhada de prova de diretoria em exercício; vedadas as exigências de quantidades mínimas ou prazos
V - decreto de autorização, em se tratando de empresa máximos;
ou sociedade estrangeira em funcionamento no País, e ato II - (Vetado).
de registro ou autorização para funcionamento expedido
a) (Vetado).
pelo órgão competente, quando a atividade assim o exigir.
b) (Vetado).
Art. 29. A documentação relativa à regularidade fiscal
§ 2º As parcelas de maior relevância técnica e de valor
e trabalhista, conforme o caso, consistirá em:
significativo, mencionadas no parágrafo anterior, serão de-
I - prova de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas
finidas no instrumento convocatório.
(CPF) ou no Cadastro Geral de Contribuintes (CGC);
§ 3º Será sempre admitida a comprovação de aptidão
II - prova de inscrição no cadastro de contribuintes
através de certidões ou atestados de obras ou serviços si-
estadual ou municipal, se houver, relativo ao domicílio ou
milares de complexidade tecnológica e operacional equi-
sede do licitante, pertinente ao seu ramo de atividade e
compatível com o objeto contratual; valente ou superior.
III - prova de regularidade para com a Fazenda Federal, § 4º Nas licitações para fornecimento de bens, a com-
Estadual e Municipal do domicílio ou sede do licitante, ou provação de aptidão, quando for o caso, será feita através
outra equivalente, na forma da lei; de atestados fornecidos por pessoa jurídica de direito pú-
IV - prova de regularidade relativa à Seguridade Social blico ou privado.
e ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), de- § 5º É vedada a exigência de comprovação de ativida-
monstrando situação regular no cumprimento dos encar- de ou de aptidão com limitações de tempo ou de época
gos sociais instituídos por lei. ou ainda em locais específicos, ou quaisquer outras não
V – prova de inexistência de débitos inadimplidos pe- previstas nesta Lei, que inibam a participação na licitação.
rante a Justiça do Trabalho, mediante a apresentação de § 6º As exigências mínimas relativas a instalações de
certidão negativa, nos termos do Título VII-A da Consoli- canteiros, máquinas, equipamentos e pessoal técnico espe-
dação das Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto-Lei no cializado, considerados essenciais para o cumprimento do
5.452, de 1º de maio de 1943. objeto da licitação, serão atendidas mediante a apresenta-
ção de relação explícita e da declaração formal da sua dis-
Art. 30. A documentação relativa à qualificação técnica ponibilidade, sob as penas cabíveis, vedada as exigências
limitar-se-á a: de propriedade e de localização prévia.
I - registro ou inscrição na entidade profissional com- § 7º (Vetado).
petente; I - (Vetado).
II - comprovação de aptidão para desempenho de ati- II - (Vetado).
vidade pertinente e compatível em características, quanti- § 8º No caso de obras, serviços e compras de grande
dades e prazos com o objeto da licitação, e indicação das vulto, de alta complexidade técnica, poderá a Administra-
instalações e do aparelhamento e do pessoal técnico ade- ção exigir dos licitantes a metodologia de execução, cuja
quados e disponíveis para a realização do objeto da licita- avaliação, para efeito de sua aceitação ou não, antecederá
ção, bem como da qualificação de cada um dos membros sempre à análise dos preços e será efetuada exclusivamen-
da equipe técnica que se responsabilizará pelos trabalhos; te por critérios objetivos.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 9º Entende-se por licitação de alta complexidade técnica § 6º (Vetado).


aquela que envolva alta especialização, como fator de extrema Art. 32. Os documentos necessários à habilitação po-
relevância para garantir a execução do objeto a ser contratado, derão ser apresentados em original, por qualquer processo
ou que possa comprometer a continuidade da prestação de de cópia autenticada por cartório competente ou por servi-
serviços públicos essenciais. dor da administração ou publicação em órgão da imprensa
§ 10. Os profissionais indicados pelo licitante para fins de oficial.
comprovação da capacitação técnico-profissional de que tra- § 1º A documentação de que tratam os arts. 28 a 31 des-
ta o inciso I do § 1º deste artigo deverão participar da obra ta Lei poderá ser dispensada, no todo ou em parte, nos casos
ou serviço objeto da licitação, admitindo-se a substituição por de convite, concurso, fornecimento de bens para pronta en-
profissionais de experiência equivalente ou superior, desde que trega e leilão.
aprovada pela administração. § 2º O certificado de registro cadastral a que se refere o §
§ 11. (Vetado). 1o do art. 36 substitui os documentos enumerados nos arts.
§ 12. (Vetado). 28 a 31, quanto às informações disponibilizadas em sistema
informatizado de consulta direta indicado no edital, obrigan-
Art. 31. A documentação relativa à qualificação econômi-
do-se a parte a declarar, sob as penalidades legais, a super-
co-financeira limitar-se-á a:
veniência de fato impeditivo da habilitação.
I - balanço patrimonial e demonstrações contábeis do últi-
mo exercício social, já exigíveis e apresentados na forma da lei, § 3º A documentação referida neste artigo poderá ser
que comprovem a boa situação financeira da empresa, vedada substituída por registro cadastral emitido por órgão ou enti-
a sua substituição por balancetes ou balanços provisórios, po- dade pública, desde que previsto no edital e o registro tenha
dendo ser atualizados por índices oficiais quando encerrado há sido feito em obediência ao disposto nesta Lei.
mais de 3 (três) meses da data de apresentação da proposta; § 4º As empresas estrangeiras que não funcionem no
II - certidão negativa de falência ou concordata expedida País, tanto quanto possível, atenderão, nas licitações inter-
pelo distribuidor da sede da pessoa jurídica, ou de execução nacionais, às exigências dos parágrafos anteriores mediante
patrimonial, expedida no domicílio da pessoa física; documentos equivalentes, autenticados pelos respectivos
III - garantia, nas mesmas modalidades e critérios previstos consulados e traduzidos por tradutor juramentado, devendo
no “caput” e § 1o do art. 56 desta Lei, limitada a 1% (um por ter representação legal no Brasil com poderes expressos para
cento) do valor estimado do objeto da contratação. receber citação e responder administrativa ou judicialmente.
§ 1º A exigência de índices limitar-se-á à demonstração da § 5º Não se exigirá, para a habilitação de que trata este
capacidade financeira do licitante com vistas aos compromis- artigo, prévio recolhimento de taxas ou emolumentos, salvo
sos que terá que assumir caso lhe seja adjudicado o contrato, os referentes a fornecimento do edital, quando solicitado,
vedada a exigência de valores mínimos de faturamento ante- com os seus elementos constitutivos, limitados ao valor do
rior, índices de rentabilidade ou lucratividade. custo efetivo de reprodução gráfica da documentação for-
§ 2º A Administração, nas compras para entrega futura e necida.
na execução de obras e serviços, poderá estabelecer, no instru- § 6º O disposto no § 4o deste artigo, no § 1o do art. 33
mento convocatório da licitação, a exigência de capital mínimo e no § 2o do art. 55, não se aplica às licitações internacionais
ou de patrimônio líquido mínimo, ou ainda as garantias previs- para a aquisição de bens e serviços cujo pagamento seja feito
tas no § 1º do art. 56 desta Lei, como dado objetivo de com- com o produto de financiamento concedido por organismo
provação da qualificação econômico-financeira dos licitantes financeiro internacional de que o Brasil faça parte, ou por
e para efeito de garantia ao adimplemento do contrato a ser agência estrangeira de cooperação, nem nos casos de con-
ulteriormente celebrado. tratação com empresa estrangeira, para a compra de equipa-
§ 3º O capital mínimo ou o valor do patrimônio líquido a
mentos fabricados e entregues no exterior, desde que para
que se refere o parágrafo anterior não poderá exceder a 10%
este caso tenha havido prévia autorização do Chefe do Poder
(dez por cento) do valor estimado da contratação, devendo a
Executivo, nem nos casos de aquisição de bens e serviços
comprovação ser feita relativamente à data da apresentação da
proposta, na forma da lei, admitida a atualização para esta data realizada por unidades administrativas com sede no exterior.
através de índices oficiais. § 7o A documentação de que tratam os arts. 28 a 31 e
§ 4º Poderá ser exigida, ainda, a relação dos compromissos este artigo poderá ser dispensada, nos termos de regula-
assumidos pelo licitante que importem diminuição da capaci- mento, no todo ou em parte, para a contratação de produ-
dade operativa ou absorção de disponibilidade financeira, cal- to para pesquisa e desenvolvimento, desde que para pronta
culada esta em função do patrimônio líquido atualizado e sua entrega ou até o valor previsto na alínea “a” do inciso II do
capacidade de rotação. caput do art. 23.
§ 5º A comprovação de boa situação financeira da empre-
sa será feita de forma objetiva, através do cálculo de índices Art. 33. Quando permitida na licitação a participação de
contábeis previstos no edital e devidamente justificados no empresas em consórcio, observar-se-ão as seguintes normas:
processo administrativo da licitação que tenha dado início ao I - comprovação do compromisso público ou particular
certame licitatório, vedada a exigência de índices e valores não de constituição de consórcio, subscrito pelos consorciados;
usualmente adotados para correta avaliação de situação finan- II - indicação da empresa responsável pelo consórcio que
ceira suficiente ao cumprimento das obrigações decorrentes da deverá atender às condições de liderança, obrigatoriamente
licitação. fixadas no edital;

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DIREITO ADMINISTRATIVO

III - apresentação dos documentos exigidos nos arts. 28 Seção IV


a 31 desta Lei por parte de cada consorciado, admitindo-se, Do Procedimento e Julgamento
para efeito de qualificação técnica, o somatório dos quan-
titativos de cada consorciado, e, para efeito de qualificação Art. 38. O procedimento da licitação será iniciado com
econômico-financeira, o somatório dos valores de cada a abertura de processo administrativo, devidamente au-
consorciado, na proporção de sua respectiva participação, tuado, protocolado e numerado, contendo a autorização
podendo a Administração estabelecer, para o consórcio, um respectiva, a indicação sucinta de seu objeto e do recurso
acréscimo de até 30% (trinta por cento) dos valores exigidos próprio para a despesa, e ao qual serão juntados oportu-
para licitante individual, inexigível este acréscimo para os namente:
consórcios compostos, em sua totalidade, por micro e pe- I - edital ou convite e respectivos anexos, quando for
quenas empresas assim definidas em lei; o caso;
IV - impedimento de participação de empresa consor- II - comprovante das publicações do edital resumido,
ciada, na mesma licitação, através de mais de um consórcio
na forma do art. 21 desta Lei, ou da entrega do convite;
ou isoladamente;
III - ato de designação da comissão de licitação, do
V - responsabilidade solidária dos integrantes pelos atos
leiloeiro administrativo ou oficial, ou do responsável pelo
praticados em consórcio, tanto na fase de licitação quanto
convite;
na de execução do contrato.
§ 1º No consórcio de empresas brasileiras e estrangeiras IV - original das propostas e dos documentos que as
a liderança caberá, obrigatoriamente, à empresa brasileira, instruírem;
observado o disposto no inciso II deste artigo. V - atas, relatórios e deliberações da Comissão Julga-
§ 2º O licitante vencedor fica obrigado a promover, an- dora;
tes da celebração do contrato, a constituição e o registro do VI - pareceres técnicos ou jurídicos emitidos sobre a
consórcio, nos termos do compromisso referido no inciso I licitação, dispensa ou inexigibilidade;
deste artigo. VII - atos de adjudicação do objeto da licitação e da
sua homologação;
Seção III VIII - recursos eventualmente apresentados pelos lici-
Dos Registros Cadastrais tantes e respectivas manifestações e decisões;
IX - despacho de anulação ou de revogação da licita-
Art. 34. Para os fins desta Lei, os órgãos e entidades ção, quando for o caso, fundamentado circunstanciada-
da Administração Pública que realizem frequentemente li- mente;
citações manterão registros cadastrais para efeito de habi- X - termo de contrato ou instrumento equivalente,
litação, na forma regulamentar, válidos por, no máximo, um conforme o caso;
ano. XI - outros comprovantes de publicações;
§ 1º O registro cadastral deverá ser amplamente divul- XII - demais documentos relativos à licitação.
gado e deverá estar permanentemente aberto aos interes- Parágrafo único. As minutas de editais de licitação,
sados, obrigando-se a unidade por ele responsável a proce- bem como as dos contratos, acordos, convênios ou ajustes
der, no mínimo anualmente, através da imprensa oficial e de devem ser previamente examinadas e aprovadas por asses-
jornal diário, a chamamento público para a atualização dos soria jurídica da Administração.
registros existentes e para o ingresso de novos interessados. Art. 39. Sempre que o valor estimado para uma lici-
§ 2º É facultado às unidades administrativas utilizarem- tação ou para um conjunto de licitações simultâneas ou
-se de registros cadastrais de outros órgãos ou entidades da
sucessivas for superior a 100 (cem) vezes o limite previsto
Administração Pública.
no art. 23, inciso I, alínea “c” desta Lei, o processo licitatório
Art. 35. Ao requerer inscrição no cadastro, ou atuali-
será iniciado, obrigatoriamente, com uma audiência públi-
zação deste, a qualquer tempo, o interessado fornecerá os
ca concedida pela autoridade responsável com antecedên-
elementos necessários à satisfação das exigências do art. 27
desta Lei. cia mínima de 15 (quinze) dias úteis da data prevista para
Art. 36. Os inscritos serão classificados por categorias, a publicação do edital, e divulgada, com a antecedência
tendo-se em vista sua especialização, subdivididas em gru- mínima de 10 (dez) dias úteis de sua realização, pelos mes-
pos, segundo a qualificação técnica e econômica avaliada mos meios previstos para a publicidade da licitação, à qual
pelos elementos constantes da documentação relacionada terão acesso e direito a todas as informações pertinentes e
nos arts. 30 e 31 desta Lei. a se manifestar todos os interessados.
§ 1º Aos inscritos será fornecido certificado, renovável Parágrafo único. Para os fins deste artigo, consideram-
sempre que atualizarem o registro. -se licitações simultâneas aquelas com objetos similares e
§ 2º A atuação do licitante no cumprimento de obriga- com realização prevista para intervalos não superiores a
ções assumidas será anotada no respectivo registro cadas- trinta dias e licitações sucessivas aquelas em que, também
tral. com objetos similares, o edital subsequente tenha uma
Art. 37. A qualquer tempo poderá ser alterado, suspen- data anterior a cento e vinte dias após o término do con-
so ou cancelado o registro do inscrito que deixar de satis- trato resultante da licitação antecedente.
fazer as exigências do art. 27 desta Lei, ou as estabelecidas
para classificação cadastral.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 40. O edital conterá no preâmbulo o número de XV - instruções e normas para os recursos previstos
ordem em série anual, o nome da repartição interessada e nesta Lei;
de seu setor, a modalidade, o regime de execução e o tipo da XVI - condições de recebimento do objeto da licitação;
licitação, a menção de que será regida por esta Lei, o local, XVII - outras indicações específicas ou peculiares da
dia e hora para recebimento da documentação e proposta, licitação.
bem como para início da abertura dos envelopes, e indicará, § 1º O original do edital deverá ser datado, rubricado
obrigatoriamente, o seguinte: em todas as folhas e assinado pela autoridade que o expe-
I - objeto da licitação, em descrição sucinta e clara; dir, permanecendo no processo de licitação, e dele extrain-
II - prazo e condições para assinatura do contrato ou re- do-se cópias integrais ou resumidas, para sua divulgação e
tirada dos instrumentos, como previsto no art. 64 desta Lei, fornecimento aos interessados.
para execução do contrato e para entrega do objeto da lici- § 2º Constituem anexos do edital, dele fazendo parte
tação; integrante:
III - sanções para o caso de inadimplemento; I - o projeto básico e/ou executivo, com todas as suas
IV - local onde poderá ser examinado e adquirido o pro- partes, desenhos, especificações e outros complementos;
jeto básico; II - orçamento estimado em planilhas de quantitativos
V - se há projeto executivo disponível na data da publica- e preços unitários;
ção do edital de licitação e o local onde possa ser examinado III - a minuta do contrato a ser firmado entre a Admi-
e adquirido; nistração e o licitante vencedor;
VI - condições para participação na licitação, em confor- IV - as especificações complementares e as normas de
midade com os arts. 27 a 31 desta Lei, e forma de apresenta- execução pertinentes à licitação.
ção das propostas; § 3º Para efeito do disposto nesta Lei, considera-se
VII - critério para julgamento, com disposições claras e como adimplemento da obrigação contratual a prestação
parâmetros objetivos; do serviço, a realização da obra, a entrega do bem ou de
VIII - locais, horários e códigos de acesso dos meios de parcela destes, bem como qualquer outro evento contra-
comunicação à distância em que serão fornecidos elemen- tual a cuja ocorrência esteja vinculada a emissão de docu-
tos, informações e esclarecimentos relativos à licitação e às mento de cobrança.
condições para atendimento das obrigações necessárias ao § 4º Nas compras para entrega imediata, assim enten-
cumprimento de seu objeto; didas aquelas com prazo de entrega até trinta dias da data
IX - condições equivalentes de pagamento entre empre- prevista para apresentação da proposta, poderão ser dis-
sas brasileiras e estrangeiras, no caso de licitações interna- pensadas:
cionais; I - o disposto no inciso XI deste artigo;
X - o critério de aceitabilidade dos preços unitário e glo- II - a atualização financeira a que se refere a alínea
bal, conforme o caso, permitida a fixação de preços máximos “c” do inciso XIV deste artigo, correspondente ao período
e vedados a fixação de preços mínimos, critérios estatísticos compreendido entre as datas do adimplemento e a prevista
ou faixas de variação em relação a preços de referência, res- para o pagamento, desde que não superior a quinze dias.
salvado o disposto nos parágrafos 1º e 2º do art. 48; § 5º A Administração Pública poderá, nos editais de
XI - critério de reajuste, que deverá retratar a variação licitação para a contratação de serviços, exigir da contra-
efetiva do custo de produção, admitida a adoção de índices tada que um percentual mínimo de sua mão de obra seja
específicos ou setoriais, desde a data prevista para apresen- oriundo ou egresso do sistema prisional, com a finalidade
tação da proposta, ou do orçamento a que essa proposta se de ressocialização do reeducando, na forma estabelecida
referir, até a data do adimplemento de cada parcela; em regulamento.
XII - (Vetado). Art. 41. A Administração não pode descumprir as nor-
XIII - limites para pagamento de instalação e mobilização mas e condições do edital, ao qual se acha estritamente
para execução de obras ou serviços que serão obrigatoria- vinculada.
mente previstos em separado das demais parcelas, etapas ou § 1º Qualquer cidadão é parte legítima para impugnar
tarefas; edital de licitação por irregularidade na aplicação desta Lei,
XIV - condições de pagamento, prevendo: devendo protocolar o pedido até 5 (cinco) dias úteis antes
a) prazo de pagamento não superior a trinta dias, con- da data fixada para a abertura dos envelopes de habilita-
tado a partir da data final do período de adimplemento de ção, devendo a Administração julgar e responder à impug-
cada parcela; nação em até 3 (três) dias úteis, sem prejuízo da faculdade
b) cronograma de desembolso máximo por período, em prevista no § 1o do art. 113.
conformidade com a disponibilidade de recursos financeiros; § 2º Decairá do direito de impugnar os termos do edital
c) critério de atualização financeira dos valores a serem de licitação perante a administração o licitante que não o
pagos, desde a data final do período de adimplemento de fizer até o segundo dia útil que anteceder a abertura dos
cada parcela até a data do efetivo pagamento; envelopes de habilitação em concorrência, a abertura dos
d) compensações financeiras e penalizações, por even- envelopes com as propostas em convite, tomada de preços
tuais atrasos, e descontos, por eventuais antecipações de ou concurso, ou a realização de leilão, as falhas ou irre-
pagamentos; gularidades que viciariam esse edital, hipótese em que tal
e) exigência de seguros, quando for o caso; comunicação não terá efeito de recurso.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 3º A impugnação feita tempestivamente pelo licitan- V - julgamento e classificação das propostas de acordo
te não o impedirá de participar do processo licitatório até o com os critérios de avaliação constantes do edital;
trânsito em julgado da decisão a ela pertinente. VI - deliberação da autoridade competente quanto à
§ 4º A inabilitação do licitante importa preclusão do seu homologação e adjudicação do objeto da licitação.
direito de participar das fases subsequentes. § 1º A abertura dos envelopes contendo a documenta-
Art. 42. Nas concorrências de âmbito internacional, o ção para habilitação e as propostas será realizada sempre
edital deverá ajustar-se às diretrizes da política monetária em ato público previamente designado, do qual se lavrará
e do comércio exterior e atender às exigências dos órgãos ata circunstanciada, assinada pelos licitantes presentes e
competentes. pela Comissão.
§ 1º Quando for permitido ao licitante estrangeiro cotar § 2º Todos os documentos e propostas serão rubrica-
preço em moeda estrangeira, igualmente o poderá fazer o dos pelos licitantes presentes e pela Comissão.
licitante brasileiro. § 3º É facultada à Comissão ou autoridade superior, em
§ 2º O pagamento feito ao licitante brasileiro eventual- qualquer fase da licitação, a promoção de diligência desti-
mente contratado em virtude da licitação de que trata o pa- nada a esclarecer ou a complementar a instrução do pro-
rágrafo anterior será efetuado em moeda brasileira, à taxa de cesso, vedada a inclusão posterior de documento ou infor-
câmbio vigente no dia útil imediatamente anterior à data do mação que deveria constar originariamente da proposta.
efetivo pagamento. § 4º O disposto neste artigo aplica-se à concorrência e,
§ 3º As garantias de pagamento ao licitante brasileiro se- no que couber, ao concurso, ao leilão, à tomada de preços
rão equivalentes àquelas oferecidas ao licitante estrangeiro. e ao convite.
§ 4º Para fins de julgamento da licitação, as propostas § 5º Ultrapassada a fase de habilitação dos concorren-
apresentadas por licitantes estrangeiros serão acrescidas dos tes (incisos I e II) e abertas as propostas (inciso III), não cabe
gravames conseqüentes dos mesmos tributos que oneram desclassificá-los por motivo relacionado com a habilitação,
exclusivamente os licitantes brasileiros quanto à operação salvo em razão de fatos supervenientes ou só conhecidos
final de venda. após o julgamento.
§ 5º Para a realização de obras, prestação de serviços
§ 6º Após a fase de habilitação, não cabe desistência de
ou aquisição de bens com recursos provenientes de finan-
proposta, salvo por motivo justo decorrente de fato super-
ciamento ou doação oriundos de agência oficial de coope-
veniente e aceito pela Comissão.
ração estrangeira ou organismo financeiro multilateral de
Art. 44. No julgamento das propostas, a Comissão le-
que o Brasil seja parte, poderão ser admitidas, na respectiva
vará em consideração os critérios objetivos definidos no
licitação, as condições decorrentes de acordos, protocolos,
edital ou convite, os quais não devem contrariar as normas
convenções ou tratados internacionais aprovados pelo Con-
e princípios estabelecidos por esta Lei.
gresso Nacional, bem como as normas e procedimentos da-
quelas entidades, inclusive quanto ao critério de seleção da § 1º É vedada a utilização de qualquer elemento, cri-
proposta mais vantajosa para a administração, o qual poderá tério ou fator sigiloso, secreto, subjetivo ou reservado que
contemplar, além do preço, outros fatores de avaliação, des- possa ainda que indiretamente elidir o princípio da igual-
de que por elas exigidos para a obtenção do financiamento dade entre os licitantes.
ou da doação, e que também não conflitem com o princípio § 2º Não se considerará qualquer oferta de vantagem
do julgamento objetivo e sejam objeto de despacho motiva- não prevista no edital ou no convite, inclusive financiamen-
do do órgão executor do contrato, despacho esse ratificado tos subsidiados ou a fundo perdido, nem preço ou vanta-
pela autoridade imediatamente superior. gem baseada nas ofertas dos demais licitantes.
§ 6º As cotações de todos os licitantes serão para entrega § 3º Não se admitirá proposta que apresente preços
no mesmo local de destino. global ou unitários simbólicos, irrisórios ou de valor zero,
Art. 43. A licitação será processada e julgada com obser- incompatíveis com os preços dos insumos e salários de
vância dos seguintes procedimentos: mercado, acrescidos dos respectivos encargos, ainda que o
I - abertura dos envelopes contendo a documentação re- ato convocatório da licitação não tenha estabelecido limi-
lativa à habilitação dos concorrentes, e sua apreciação; tes mínimos, exceto quando se referirem a materiais e ins-
II - devolução dos envelopes fechados aos concorrentes talações de propriedade do próprio licitante, para os quais
inabilitados, contendo as respectivas propostas, desde que ele renuncie a parcela ou à totalidade da remuneração.
não tenha havido recurso ou após sua denegação; § 4º O disposto no parágrafo anterior aplica-se tam-
III - abertura dos envelopes contendo as propostas dos bém às propostas que incluam mão-de-obra estrangeira
concorrentes habilitados, desde que transcorrido o prazo ou importações de qualquer natureza.
sem interposição de recurso, ou tenha havido desistência ex- Art. 45. O julgamento das propostas será objetivo, de-
pressa, ou após o julgamento dos recursos interpostos; vendo a Comissão de licitação ou o responsável pelo convi-
IV - verificação da conformidade de cada proposta com te realizá-lo em conformidade com os tipos de licitação, os
os requisitos do edital e, conforme o caso, com os preços critérios previamente estabelecidos no ato convocatório e
correntes no mercado ou fixados por órgão oficial compe- de acordo com os fatores exclusivamente nele referidos, de
tente, ou ainda com os constantes do sistema de registro de maneira a possibilitar sua aferição pelos licitantes e pelos
preços, os quais deverão ser devidamente registrados na ata órgãos de controle.
de julgamento, promovendo-se a desclassificação das pro- § 1º Para os efeitos deste artigo, constituem tipos de
postas desconformes ou incompatíveis; licitação, exceto na modalidade concurso:

50
DIREITO ADMINISTRATIVO

I - a de menor preço - quando o critério de seleção da pro- III - no caso de impasse na negociação anterior, pro-
posta mais vantajosa para a Administração determinar que será cedimento idêntico será adotado, sucessivamente, com
vencedor o licitante que apresentar a proposta de acordo com os demais proponentes, pela ordem de classificação, até a
as especificações do edital ou convite e ofertar o menor preço; consecução de acordo para a contratação;
II - a de melhor técnica; IV - as propostas de preços serão devolvidas intactas
III - a de técnica e preço. aos licitantes que não forem preliminarmente habilitados
IV - a de maior lance ou oferta - nos casos de alienação de ou que não obtiverem a valorização mínima estabelecida
bens ou concessão de direito real de uso. para a proposta técnica.
§ 2º No caso de empate entre duas ou mais propostas, e § 2º Nas licitações do tipo “técnica e preço” será ado-
após obedecido o disposto no § 2o do art. 3o desta Lei, a clas- tado, adicionalmente ao inciso I do parágrafo anterior, o
sificação se fará, obrigatoriamente, por sorteio, em ato público, seguinte procedimento claramente explicitado no instru-
para o qual todos os licitantes serão convocados, vedado qual- mento convocatório:
quer outro processo. I - será feita a avaliação e a valorização das propostas
§ 3º No caso da licitação do tipo “menor preço”, entre os lici- de preços, de acordo com critérios objetivos preestabeleci-
tantes considerados qualificados a classificação se dará pela or- dos no instrumento convocatório;
dem crescente dos preços propostos, prevalecendo, no caso de II - a classificação dos proponentes far-se-á de acordo
empate, exclusivamente o critério previsto no parágrafo anterior. com a média ponderada das valorizações das propostas
§ 4º Para contratação de bens e serviços de informática, a técnicas e de preço, de acordo com os pesos preestabele-
administração observará o disposto no art. 3o da Lei no 8.248, cidos no instrumento convocatório.
de 23 de outubro de 1991, levando em conta os fatores espe- § 3º Excepcionalmente, os tipos de licitação previstos
cificados em seu parágrafo 2o e adotando obrigatoriamente neste artigo poderão ser adotados, por autorização expres-
o tipo de licitação “técnica e preço”, permitido o emprego de sa e mediante justificativa circunstanciada da maior auto-
outro tipo de licitação nos casos indicados em decreto do Poder ridade da Administração promotora constante do ato con-
Executivo. vocatório, para fornecimento de bens e execução de obras
ou prestação de serviços de grande vulto majoritariamen-
§ 5º É vedada a utilização de outros tipos de licitação não
te dependentes de tecnologia nitidamente sofisticada e
previstos neste artigo.
de domínio restrito, atestado por autoridades técnicas de
§ 6º Na hipótese prevista no art. 23, § 7º, serão selecionadas
reconhecida qualificação, nos casos em que o objeto pre-
tantas propostas quantas necessárias até que se atinja a quanti-
tendido admitir soluções alternativas e variações de execu-
dade demandada na licitação.
ção, com repercussões significativas sobre sua qualidade,
Art. 46. Os tipos de licitação “melhor técnica” ou “técnica e
produtividade, rendimento e durabilidade concretamente
preço” serão utilizados exclusivamente para serviços de nature-
mensuráveis, e estas puderem ser adotadas à livre escolha
za predominantemente intelectual, em especial na elaboração
dos licitantes, na conformidade dos critérios objetivamente
de projetos, cálculos, fiscalização, supervisão e gerenciamento fixados no ato convocatório.
e de engenharia consultiva em geral e, em particular, para a ela- § 4º (Vetado).
boração de estudos técnicos preliminares e projetos básicos e Art. 47. Nas licitações para a execução de obras e servi-
executivos, ressalvado o disposto no § 4o do artigo anterior. ços, quando for adotada a modalidade de execução de em-
§ 1º Nas licitações do tipo “melhor técnica” será adotado o preitada por preço global, a Administração deverá fornecer
seguinte procedimento claramente explicitado no instrumento obrigatoriamente, junto com o edital, todos os elementos
convocatório, o qual fixará o preço máximo que a Administra- e informações necessários para que os licitantes possam
ção se propõe a pagar: elaborar suas propostas de preços com total e completo
I - serão abertos os envelopes contendo as propostas técni- conhecimento do objeto da licitação.
cas exclusivamente dos licitantes previamente qualificados e fei- Art. 48. Serão desclassificadas:
ta então a avaliação e classificação destas propostas de acordo I - as propostas que não atendam às exigências do ato
com os critérios pertinentes e adequados ao objeto licitado, de- convocatório da licitação;
finidos com clareza e objetividade no instrumento convocatório II - propostas com valor global superior ao limite es-
e que considerem a capacitação e a experiência do proponente, tabelecido ou com preços manifestamente inexequíveis,
a qualidade técnica da proposta, compreendendo metodologia, assim considerados aqueles que não venham a ter de-
organização, tecnologias e recursos materiais a serem utilizados monstrada sua viabilidade através de documentação que
nos trabalhos, e a qualificação das equipes técnicas a serem mo- comprove que os custos dos insumos são coerentes com
bilizadas para a sua execução; os de mercado e que os coeficientes de produtividade são
II - uma vez classificadas as propostas técnicas, proceder- compatíveis com a execução do objeto do contrato, condi-
-se-á à abertura das propostas de preço dos licitantes que te- ções estas necessariamente especificadas no ato convoca-
nham atingido a valorização mínima estabelecida no instrumen- tório da licitação. (Redação dada pela Lei nº 8.883, de 1994)
to convocatório e à negociação das condições propostas, com § 1º Para os efeitos do disposto no inciso II deste ar-
a proponente melhor classificada, com base nos orçamentos tigo consideram-se manifestamente inexequíveis, no caso
detalhados apresentados e respectivos preços unitários e tendo de licitações de menor preço para obras e serviços de en-
como referência o limite representado pela proposta de menor genharia, as propostas cujos valores sejam inferiores a 70%
preço entre os licitantes que obtiveram a valorização mínima; (setenta por cento) do menor dos seguintes valores:

51
DIREITO ADMINISTRATIVO

a) média aritmética dos valores das propostas supe- § 3º Os membros das Comissões de licitação responde-
riores a 50% (cinqüenta por cento) do valor orçado pela rão solidariamente por todos os atos praticados pela Comis-
administração, ou são, salvo se posição individual divergente estiver devida-
b) valor orçado pela administração. mente fundamentada e registrada em ata lavrada na reunião
§ 2º Dos licitantes classificados na forma do parágrafo em que tiver sido tomada a decisão.
anterior cujo valor global da proposta for inferior a 80% § 4º A investidura dos membros das Comissões perma-
(oitenta por cento) do menor valor a que se referem as alí- nentes não excederá a 1 (um) ano, vedada a recondução da
neas “a” e “b”, será exigida, para a assinatura do contrato, totalidade de seus membros para a mesma comissão no pe-
prestação de garantia adicional, dentre as modalidades ríodo subsequente.
previstas no § 1º do art. 56, igual a diferença entre o valor § 5º No caso de concurso, o julgamento será feito por
resultante do parágrafo anterior e o valor da correspon- uma comissão especial integrada por pessoas de reputação
dente proposta. ilibada e reconhecido conhecimento da matéria em exame,
§ 3º Quando todos os licitantes forem inabilitados ou servidores públicos ou não.
todas as propostas forem desclassificadas, a administração Art. 52. O concurso a que se refere o § 4o do art. 22 desta
poderá fixar aos licitantes o prazo de oito dias úteis para a Lei deve ser precedido de regulamento próprio, a ser obtido
apresentação de nova documentação ou de outras propos- pelos interessados no local indicado no edital.
tas escoimadas das causas referidas neste artigo, facultada, § 1ºO regulamento deverá indicar:
no caso de convite, a redução deste prazo para três dias I - a qualificação exigida dos participantes;
úteis. II - as diretrizes e a forma de apresentação do trabalho;
Art. 49. A autoridade competente para a aprovação do III - as condições de realização do concurso e os prêmios
procedimento somente poderá revogar a licitação por ra- a serem concedidos.
zões de interesse público decorrente de fato supervenien- § 2º Em se tratando de projeto, o vencedor deverá autori-
te devidamente comprovado, pertinente e suficiente para zar a Administração a executá-lo quando julgar conveniente.
justificar tal conduta, devendo anulá-la por ilegalidade, de Art. 53. O leilão pode ser cometido a leiloeiro oficial ou
a servidor designado pela Administração, procedendo-se na
ofício ou por provocação de terceiros, mediante parecer es-
forma da legislação pertinente.
crito e devidamente fundamentado.
§ 1º Todo bem a ser leiloado será previamente avaliado
§ 1º A anulação do procedimento licitatório por motivo
pela Administração para fixação do preço mínimo de arre-
de ilegalidade não gera obrigação de indenizar, ressalvado
matação.
o disposto no parágrafo único do art. 59 desta Lei.
§ 2º Os bens arrematados serão pagos à vista ou no per-
§ 2º A nulidade do procedimento licitatório induz à do
centual estabelecido no edital, não inferior a 5% (cinco por
contrato, ressalvado o disposto no parágrafo único do art.
cento) e, após a assinatura da respectiva ata lavrada no local
59 desta Lei.
do leilão, imediatamente entregues ao arrematante, o qual
§ 3º No caso de desfazimento do processo licitatório, se obrigará ao pagamento do restante no prazo estipulado
fica assegurado o contraditório e a ampla defesa. no edital de convocação, sob pena de perder em favor da
§ 4º O disposto neste artigo e seus parágrafos aplica-se Administração o valor já recolhido.
aos atos do procedimento de dispensa e de inexigibilidade § 3º Nos leilões internacionais, o pagamento da parcela à
de licitação. vista poderá ser feito em até vinte e quatro horas.
§ 4º O edital de leilão deve ser amplamente divulgado,
Art. 50. A Administração não poderá celebrar o con- principalmente no município em que se realizará.
trato com preterição da ordem de classificação das propos-
tas ou com terceiros estranhos ao procedimento licitatório, Capítulo III
sob pena de nulidade. DOS CONTRATOS
Art. 51. A habilitação preliminar, a inscrição em registro
cadastral, a sua alteração ou cancelamento, e as propostas Seção I
serão processadas e julgadas por comissão permanente Disposições Preliminares
ou especial de, no mínimo, 3 (três) membros, sendo pelo
menos 2 (dois) deles servidores qualificados pertencentes Art. 54. Os contratos administrativos de que trata esta Lei
aos quadros permanentes dos órgãos da Administração regulam-se pelas suas cláusulas e pelos preceitos de direito
responsáveis pela licitação. público, aplicando-se-lhes, supletivamente, os princípios da
§ 1º No caso de convite, a Comissão de licitação, ex- teoria geral dos contratos e as disposições de direito privado.
cepcionalmente, nas pequenas unidades administrativas e § 1º Os contratos devem estabelecer com clareza e preci-
em face da exigüidade de pessoal disponível, poderá ser são as condições para sua execução, expressas em cláusulas
substituída por servidor formalmente designado pela au- que definam os direitos, obrigações e responsabilidades das
toridade competente. partes, em conformidade com os termos da licitação e da
§ 2º A Comissão para julgamento dos pedidos de ins- proposta a que se vinculam.
crição em registro cadastral, sua alteração ou cancelamen- § 2º Os contratos decorrentes de dispensa ou de inexigi-
to, será integrada por profissionais legalmente habilitados bilidade de licitação devem atender aos termos do ato que os
no caso de obras, serviços ou aquisição de equipamentos. autorizou e da respectiva proposta.

52
DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 55. São cláusulas necessárias em todo contrato as § 2º A garantia a que se refere o caput deste artigo não
que estabeleçam: excederá a cinco por cento do valor do contrato e terá seu
I - o objeto e seus elementos característicos; valor atualizado nas mesmas condições daquele, ressalva-
II - o regime de execução ou a forma de fornecimento; do o previsto no parágrafo 3o deste artigo.
III - o preço e as condições de pagamento, os critérios, § 3º Para obras, serviços e fornecimentos de grande
data-base e periodicidade do reajustamento de preços, os vulto envolvendo alta complexidade técnica e riscos finan-
critérios de atualização monetária entre a data do adimple- ceiros consideráveis, demonstrados através de parecer tec-
mento das obrigações e a do efetivo pagamento; nicamente aprovado pela autoridade competente, o limite
IV - os prazos de início de etapas de execução, de con- de garantia previsto no parágrafo anterior poderá ser ele-
clusão, de entrega, de observação e de recebimento defini- vado para até dez por cento do valor do contrato.
tivo, conforme o caso; § 4º A garantia prestada pelo contratado será liberada
V - o crédito pelo qual correrá a despesa, com a indica- ou restituída após a execução do contrato e, quando em
ção da classificação funcional programática e da categoria dinheiro, atualizada monetariamente.
econômica; § 5º Nos casos de contratos que importem na entrega
VI - as garantias oferecidas para assegurar sua plena de bens pela Administração, dos quais o contratado ficará
execução, quando exigidas; depositário, ao valor da garantia deverá ser acrescido o va-
VII - os direitos e as responsabilidades das partes, as lor desses bens.
penalidades cabíveis e os valores das multas; Art. 57. A duração dos contratos regidos por esta Lei
VIII - os casos de rescisão; ficará adstrita à vigência dos respectivos créditos orçamen-
IX - o reconhecimento dos direitos da Administração, tários, exceto quanto aos relativos:
em caso de rescisão administrativa prevista no art. 77 desta I - aos projetos cujos produtos estejam contemplados
Lei; nas metas estabelecidas no Plano Plurianual, os quais po-
X - as condições de importação, a data e a taxa de derão ser prorrogados se houver interesse da Administra-
câmbio para conversão, quando for o caso; ção e desde que isso tenha sido previsto no ato convoca-
XI - a vinculação ao edital de licitação ou ao termo que
tório;
a dispensou ou a inexigiu, ao convite e à proposta do lici-
II - à prestação de serviços a serem executados de for-
tante vencedor;
ma contínua, que poderão ter a sua duração prorrogada
XII - a legislação aplicável à execução do contrato e
por iguais e sucessivos períodos com vistas à obtenção de
especialmente aos casos omissos;
preços e condições mais vantajosas para a administração,
XIII - a obrigação do contratado de manter, durante
limitada a sessenta meses;
toda a execução do contrato, em compatibilidade com as
III - (Vetado).
obrigações por ele assumidas, todas as condições de habi-
litação e qualificação exigidas na licitação. IV - ao aluguel de equipamentos e à utilização de pro-
§ 1º (Vetado). gramas de informática, podendo a duração estender-se
§ 2º Nos contratos celebrados pela Administração Pú- pelo prazo de até 48 (quarenta e oito) meses após o início
blica com pessoas físicas ou jurídicas, inclusive aquelas do- da vigência do contrato.
miciliadas no estrangeiro, deverá constar necessariamente V - às hipóteses previstas nos incisos IX, XIX, XXVIII e
cláusula que declare competente o foro da sede da Admi- XXXI do art. 24, cujos contratos poderão ter vigência por
nistração para dirimir qualquer questão contratual, salvo o até 120 (cento e vinte) meses, caso haja interesse da ad-
disposto no § 6o do art. 32 desta Lei. ministração.
§ 3º No ato da liquidação da despesa, os serviços de § 1º Os prazos de início de etapas de execução, de
contabilidade comunicarão, aos órgãos incumbidos da ar- conclusão e de entrega admitem prorrogação, mantidas as
recadação e fiscalização de tributos da União, Estado ou demais cláusulas do contrato e assegurada a manutenção
Município, as características e os valores pagos, segundo de seu equilíbrio econômico-financeiro, desde que ocorra
o disposto no art. 63 da Lei no 4.320, de 17 de março de algum dos seguintes motivos, devidamente autuados em
1964. processo:
Art. 56. A critério da autoridade competente, em cada I - alteração do projeto ou especificações, pela Admi-
caso, e desde que prevista no instrumento convocatório, nistração;
poderá ser exigida prestação de garantia nas contratações II - superveniência de fato excepcional ou imprevisível,
de obras, serviços e compras. estranho à vontade das partes, que altere fundamental-
§ 1º Caberá ao contratado optar por uma das seguintes mente as condições de execução do contrato;
modalidades de garantia: III - interrupção da execução do contrato ou diminui-
I - caução em dinheiro ou em títulos da dívida públi- ção do ritmo de trabalho por ordem e no interesse da Ad-
ca, devendo estes ter sido emitidos sob a forma escritural, ministração;
mediante registro em sistema centralizado de liquidação e IV - aumento das quantidades inicialmente previstas
de custódia autorizado pelo Banco Central do Brasil e ava- no contrato, nos limites permitidos por esta Lei;
liados pelos seus valores econômicos, conforme definido V - impedimento de execução do contrato por fato ou
pelo Ministério da Fazenda; ato de terceiro reconhecido pela Administração em docu-
II - seguro-garantia; mento contemporâneo à sua ocorrência;
III - fiança bancária.

53
DIREITO ADMINISTRATIVO

VI - omissão ou atraso de providências a cargo da Ad- Parágrafo único. É nulo e de nenhum efeito o contrato
ministração, inclusive quanto aos pagamentos previstos de verbal com a Administração, salvo o de pequenas compras
que resulte, diretamente, impedimento ou retardamento de pronto pagamento, assim entendidas aquelas de valor
na execução do contrato, sem prejuízo das sanções legais não superior a 5% (cinco por cento) do limite estabelecido
aplicáveis aos responsáveis. no art. 23, inciso II, alínea “a” desta Lei, feitas em regime de
§ 2º Toda prorrogação de prazo deverá ser justificada adiantamento.
por escrito e previamente autorizada pela autoridade com- Art. 61. Todo contrato deve mencionar os nomes das
petente para celebrar o contrato. partes e os de seus representantes, a finalidade, o ato que
§ 3º É vedado o contrato com prazo de vigência inde- autorizou a sua lavratura, o número do processo da licita-
terminado. ção, da dispensa ou da inexigibilidade, a sujeição dos con-
§ 4º Em caráter excepcional, devidamente justificado e tratantes às normas desta Lei e às cláusulas contratuais.
mediante autorização da autoridade superior, o prazo de Parágrafo único. A publicação resumida do instrumen-
que trata o inciso II do caput deste artigo poderá ser pror- to de contrato ou de seus aditamentos na imprensa ofi-
rogado por até doze meses. cial, que é condição indispensável para sua eficácia, será
providenciada pela Administração até o quinto dia útil do
Art. 58. O regime jurídico dos contratos administra- mês seguinte ao de sua assinatura, para ocorrer no prazo
tivos instituído por esta Lei confere à Administração, em de vinte dias daquela data, qualquer que seja o seu valor,
relação a eles, a prerrogativa de: ainda que sem ônus, ressalvado o disposto no art. 26 desta
I - modificá-los, unilateralmente, para melhor adequa- Lei.
ção às finalidades de interesse público, respeitados os di- Art. 62. O instrumento de contrato é obrigatório nos
reitos do contratado; casos de concorrência e de tomada de preços, bem como
II - rescindi-los, unilateralmente, nos casos especifica- nas dispensas e inexigibilidades cujos preços estejam com-
dos no inciso I do art. 79 desta Lei; preendidos nos limites destas duas modalidades de licita-
III - fiscalizar-lhes a execução; ção, e facultativo nos demais em que a Administração pu-
IV - aplicar sanções motivadas pela inexecução total ou der substituí-lo por outros instrumentos hábeis, tais como
parcial do ajuste; carta-contrato, nota de empenho de despesa, autorização
V - nos casos de serviços essenciais, ocupar proviso- de compra ou ordem de execução de serviço.
riamente bens móveis, imóveis, pessoal e serviços vincu- § 1º A minuta do futuro contrato integrará sempre o
lados ao objeto do contrato, na hipótese da necessidade edital ou ato convocatório da licitação.
de acautelar apuração administrativa de faltas contratuais § 2º Em “carta contrato”, “nota de empenho de des-
pelo contratado, bem como na hipótese de rescisão do pesa”, “autorização de compra”, “ordem de execução de
contrato administrativo. serviço” ou outros instrumentos hábeis aplica-se, no que
§ 1º As cláusulas econômico-financeiras e monetárias couber, o disposto no art. 55 desta Lei.
dos contratos administrativos não poderão ser alteradas § 3º Aplica-se o disposto nos arts. 55 e 58 a 61 desta Lei
sem prévia concordância do contratado. e demais normas gerais, no que couber:
§ 2º Na hipótese do inciso I deste artigo, as cláusu- I - aos contratos de seguro, de financiamento, de lo-
las econômico-financeiras do contrato deverão ser revistas cação em que o Poder Público seja locatário, e aos demais
para que se mantenha o equilíbrio contratual. cujo conteúdo seja regido, predominantemente, por norma
de direito privado;
Art. 59. A declaração de nulidade do contrato admi- II - aos contratos em que a Administração for parte
nistrativo opera retroativamente impedindo os efeitos ju- como usuária de serviço público.
rídicos que ele, ordinariamente, deveria produzir, além de § 4º É dispensável o “termo de contrato” e facultada a
desconstituir os já produzidos. substituição prevista neste artigo, a critério da Administra-
Parágrafo único. A nulidade não exonera a Adminis- ção e independentemente de seu valor, nos casos de com-
tração do dever de indenizar o contratado pelo que este pra com entrega imediata e integral dos bens adquiridos,
houver executado até a data em que ela for declarada e por dos quais não resultem obrigações futuras, inclusive assis-
outros prejuízos regularmente comprovados, contanto que tência técnica.
não lhe seja imputável, promovendo-se a responsabilidade Art. 63. É permitido a qualquer licitante o conhecimen-
de quem lhe deu causa. to dos termos do contrato e do respectivo processo licita-
tório e, a qualquer interessado, a obtenção de cópia auten-
Seção II ticada, mediante o pagamento dos emolumentos devidos.
Da Formalização dos Contratos Art. 64. A Administração convocará regularmente o in-
teressado para assinar o termo de contrato, aceitar ou reti-
Art. 60. Os contratos e seus aditamentos serão lavra- rar o instrumento equivalente, dentro do prazo e condições
dos nas repartições interessadas, as quais manterão arqui- estabelecidos, sob pena de decair o direito à contratação,
vo cronológico dos seus autógrafos e registro sistemático sem prejuízo das sanções previstas no art. 81 desta Lei.
do seu extrato, salvo os relativos a direitos reais sobre imó- § 1º O prazo de convocação poderá ser prorrogado
veis, que se formalizam por instrumento lavrado em cartó- uma vez, por igual período, quando solicitado pela parte
rio de notas, de tudo juntando-se cópia no processo que durante o seu transcurso e desde que ocorra motivo justi-
lhe deu origem. ficado aceito pela Administração.

54
DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 2º É facultado à Administração, quando o convocado II - as supressões resultantes de acordo celebrado en-


não assinar o termo de contrato ou não aceitar ou retirar tre os contratantes.
o instrumento equivalente no prazo e condições estabe- § 3º Se no contrato não houverem sido contemplados
lecidos, convocar os licitantes remanescentes, na ordem preços unitários para obras ou serviços, esses serão fixados
de classificação, para fazê-lo em igual prazo e nas mesmas mediante acordo entre as partes, respeitados os limites es-
condições propostas pelo primeiro classificado, inclusive tabelecidos no § 1o deste artigo.
quanto aos preços atualizados de conformidade com o ato § 4º No caso de supressão de obras, bens ou serviços,
convocatório, ou revogar a licitação independentemente se o contratado já houver adquirido os materiais e posto
da cominação prevista no art. 81 desta Lei. no local dos trabalhos, estes deverão ser pagos pela Ad-
§ 3º Decorridos 60 (sessenta) dias da data da entrega ministração pelos custos de aquisição regularmente com-
das propostas, sem convocação para a contratação, ficam provados e monetariamente corrigidos, podendo caber in-
os licitantes liberados dos compromissos assumidos. denização por outros danos eventualmente decorrentes da
supressão, desde que regularmente comprovados.
Seção III § 5º Quaisquer tributos ou encargos legais criados, al-
Da Alteração dos Contratos terados ou extintos, bem como a superveniência de dispo-
sições legais, quando ocorridas após a data da apresenta-
Art. 65. Os contratos regidos por esta Lei poderão ser ção da proposta, de comprovada repercussão nos preços
alterados, com as devidas justificativas, nos seguintes ca- contratados, implicarão a revisão destes para mais ou para
sos: menos, conforme o caso.
I - unilateralmente pela Administração: § 6º Em havendo alteração unilateral do contrato que
a) quando houver modificação do projeto ou das es- aumente os encargos do contratado, a Administração de-
pecificações, para melhor adequação técnica aos seus ob- verá restabelecer, por aditamento, o equilíbrio econômico-
jetivos; -financeiro inicial.
b) quando necessária a modificação do valor contratual § 7º (VETADO)
em decorrência de acréscimo ou diminuição quantitativa § 8º A variação do valor contratual para fazer face ao
de seu objeto, nos limites permitidos por esta Lei; reajuste de preços previsto no próprio contrato, as atualiza-
II - por acordo das partes: ções, compensações ou penalizações financeiras decorren-
a) quando conveniente a substituição da garantia de tes das condições de pagamento nele previstas, bem como
execução; o empenho de dotações orçamentárias suplementares até
b) quando necessária a modificação do regime de exe- o limite do seu valor corrigido, não caracterizam alteração
cução da obra ou serviço, bem como do modo de forne- do mesmo, podendo ser registrados por simples apostila,
cimento, em face de verificação técnica da inaplicabilidade dispensando a celebração de aditamento.
dos termos contratuais originários;
c) quando necessária a modificação da forma de pa- Seção IV
gamento, por imposição de circunstâncias supervenientes, Da Execução dos Contratos
mantido o valor inicial atualizado, vedada a antecipação do
pagamento, com relação ao cronograma financeiro fixado, Art. 66. O contrato deverá ser executado fielmente pe-
sem a correspondente contraprestação de fornecimento de las partes, de acordo com as cláusulas avençadas e as nor-
bens ou execução de obra ou serviço; mas desta Lei, respondendo cada uma pelas consequências
d) para restabelecer a relação que as partes pactua- de sua inexecução total ou parcial.
ram inicialmente entre os encargos do contratado e a re-
tribuição da administração para a justa remuneração da Art. 66-A. As empresas enquadradas no inciso V do §
obra, serviço ou fornecimento, objetivando a manutenção 2o e no inciso II do § 5o do art. 3o desta Lei deverão cum-
do equilíbrio econômico-financeiro inicial do contrato, na prir, durante todo o período de execução do contrato, a
hipótese de sobrevirem fatos imprevisíveis, ou previsíveis reserva de cargos prevista em lei para pessoa com deficiên-
porém de consequências incalculáveis, retardadores ou im- cia ou para reabilitado da Previdência Social, bem como as
peditivos da execução do ajustado, ou, ainda, em caso de regras de acessibilidade previstas na legislação.
força maior, caso fortuito ou fato do príncipe, configurando Parágrafo único. Cabe à administração fiscalizar o
álea econômica extraordinária e extracontratual. cumprimento dos requisitos de acessibilidade nos serviços
§ 1º O contratado fica obrigado a aceitar, nas mesmas e nos ambientes de trabalho.
condições contratuais, os acréscimos ou supressões que se Art. 67. A execução do contrato deverá ser acompa-
fizerem nas obras, serviços ou compras, até 25% (vinte e nhada e fiscalizada por um representante da Administra-
cinco por cento) do valor inicial atualizado do contrato, e, ção especialmente designado, permitida a contratação de
no caso particular de reforma de edifício ou de equipamen- terceiros para assisti-lo e subsidiá-lo de informações perti-
to, até o limite de 50% (cinquenta por cento) para os seus nentes a essa atribuição.
acréscimos. § 1º O representante da Administração anotará em
§ 2º Nenhum acréscimo ou supressão poderá exceder registro próprio todas as ocorrências relacionadas com a
os limites estabelecidos no parágrafo anterior, salvo: execução do contrato, determinando o que for necessário
I - (VETADO) à regularização das faltas ou defeitos observados.

55
DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 2º As decisões e providências que ultrapassarem a § 2º O recebimento provisório ou definitivo não exclui


competência do representante deverão ser solicitadas a a responsabilidade civil pela solidez e segurança da obra
seus superiores em tempo hábil para a adoção das medi- ou do serviço, nem ético-profissional pela perfeita execu-
das convenientes. ção do contrato, dentro dos limites estabelecidos pela lei
Art. 68. O contratado deverá manter preposto, aceito ou pelo contrato.
pela Administração, no local da obra ou serviço, para repre- § 3º O prazo a que se refere a alínea “b” do inciso I
sentá-lo na execução do contrato. deste artigo não poderá ser superior a 90 (noventa) dias,
Art. 69. O contratado é obrigado a reparar, corrigir, re- salvo em casos excepcionais, devidamente justificados e
mover, reconstruir ou substituir, às suas expensas, no total previstos no edital.
ou em parte, o objeto do contrato em que se verificarem § 4º Na hipótese de o termo circunstanciado ou a ve-
vícios, defeitos ou incorreções resultantes da execução ou rificação a que se refere este artigo não serem, respecti-
de materiais empregados. vamente, lavrado ou procedida dentro dos prazos fixados,
Art. 70. O contratado é responsável pelos danos cau- reputar-se-ão como realizados, desde que comunicados à
sados diretamente à Administração ou a terceiros, decor- Administração nos 15 (quinze) dias anteriores à exaustão
rentes de sua culpa ou dolo na execução do contrato, não dos mesmos.
excluindo ou reduzindo essa responsabilidade a fiscaliza- Art. 74. Poderá ser dispensado o recebimento provisó-
ção ou o acompanhamento pelo órgão interessado. rio nos seguintes casos:
Art. 71. O contratado é responsável pelos encargos I - gêneros perecíveis e alimentação preparada;
trabalhistas, previdenciários, fiscais e comerciais resultantes II - serviços profissionais;
da execução do contrato. III - obras e serviços de valor até o previsto no art. 23,
§ 1º A inadimplência do contratado, com referência inciso II, alínea “a”, desta Lei, desde que não se compo-
aos encargos trabalhistas, fiscais e comerciais não trans- nham de aparelhos, equipamentos e instalações sujeitos à
fere à Administração Pública a responsabilidade por seu verificação de funcionamento e produtividade.
pagamento, nem poderá onerar o objeto do contrato ou Parágrafo único. Nos casos deste artigo, o recebimen-
restringir a regularização e o uso das obras e edificações, to será feito mediante recibo.
inclusive perante o Registro de Imóveis. Art. 75. Salvo disposições em contrário constantes do
§ 2º A Administração Pública responde solidariamente edital, do convite ou de ato normativo, os ensaios, testes e
com o contratado pelos encargos previdenciários resultan- demais provas exigidos por normas técnicas oficiais para a
tes da execução do contrato, nos termos do art. 31 da Lei boa execução do objeto do contrato correm por conta do
nº 8.212, de 24 de julho de 1991. contratado.
§ 3º (Vetado). Art. 76. A Administração rejeitará, no todo ou em par-
Art. 72. O contratado, na execução do contrato, sem te, obra, serviço ou fornecimento executado em desacordo
prejuízo das responsabilidades contratuais e legais, poderá com o contrato.
subcontratar partes da obra, serviço ou fornecimento, até o
limite admitido, em cada caso, pela Administração. Seção V
Art. 73. Executado o contrato, o seu objeto será rece- Da Inexecução e da Rescisão dos Contratos
bido:
I - em se tratando de obras e serviços: Art. 77. A inexecução total ou parcial do contrato en-
a) provisoriamente, pelo responsável por seu acompa- seja a sua rescisão, com as consequências contratuais e as
nhamento e fiscalização, mediante termo circunstanciado, previstas em lei ou regulamento.
assinado pelas partes em até 15 (quinze) dias da comuni- Art. 78. Constituem motivo para rescisão do contrato:
cação escrita do contratado; I - o não cumprimento de cláusulas contratuais, especi-
b) definitivamente, por servidor ou comissão designa- ficações, projetos ou prazos;
da pela autoridade competente, mediante termo circuns- II - o cumprimento irregular de cláusulas contratuais,
tanciado, assinado pelas partes, após o decurso do prazo especificações, projetos e prazos;
de observação, ou vistoria que comprove a adequação do III - a lentidão do seu cumprimento, levando a Admi-
objeto aos termos contratuais, observado o disposto no nistração a comprovar a impossibilidade da conclusão da
art. 69 desta Lei; obra, do serviço ou do fornecimento, nos prazos estipu-
II - em se tratando de compras ou de locação de equi- lados;
pamentos: IV - o atraso injustificado no início da obra, serviço ou
a) provisoriamente, para efeito de posterior verificação fornecimento;
da conformidade do material com a especificação; V - a paralisação da obra, do serviço ou do fornecimen-
b) definitivamente, após a verificação da qualidade e to, sem justa causa e prévia comunicação à Administração;
quantidade do material e consequente aceitação. VI - a subcontratação total ou parcial do seu objeto, a
§ 1º Nos casos de aquisição de equipamentos de gran- associação do contratado com outrem, a cessão ou trans-
de vulto, o recebimento far-se-á mediante termo circuns- ferência, total ou parcial, bem como a fusão, cisão ou incor-
tanciado e, nos demais, mediante recibo. poração, não admitidas no edital e no contrato;

56
DIREITO ADMINISTRATIVO

VII - o desatendimento das determinações regulares da IV - (Vetado).


autoridade designada para acompanhar e fiscalizar a sua § 1º A rescisão administrativa ou amigável deverá ser
execução, assim como as de seus superiores; precedida de autorização escrita e fundamentada da auto-
VIII - o cometimento reiterado de faltas na sua execução, ridade competente.
anotadas na forma do § 1o do art. 67 desta Lei; § 2º Quando a rescisão ocorrer com base nos incisos XII
IX - a decretação de falência ou a instauração de insol- a XVII do artigo anterior, sem que haja culpa do contratado,
vência civil; será este ressarcido dos prejuízos regularmente comprova-
X - a dissolução da sociedade ou o falecimento do con- dos que houver sofrido, tendo ainda direito a:
tratado; I - devolução de garantia;
XI - a alteração social ou a modificação da finalidade ou II - pagamentos devidos pela execução do contrato até
da estrutura da empresa, que prejudique a execução do con- a data da rescisão;
trato; III - pagamento do custo da desmobilização.
XII - razões de interesse público, de alta relevância e am- § 3º (Vetado).
plo conhecimento, justificadas e determinadas pela máxima § 4º (Vetado).
autoridade da esfera administrativa a que está subordinado § 5º Ocorrendo impedimento, paralisação ou sustação
o contratante e exaradas no processo administrativo a que se do contrato, o cronograma de execução será prorrogado
refere o contrato; automaticamente por igual tempo.
XIII - a supressão, por parte da Administração, de obras, Art. 80. A rescisão de que trata o inciso I do artigo
serviços ou compras, acarretando modificação do valor inicial anterior acarreta as seguintes consequências, sem prejuízo
do contrato além do limite permitido no § 1o do art. 65 desta das sanções previstas nesta Lei:
Lei; I - assunção imediata do objeto do contrato, no estado
XIV - a suspensão de sua execução, por ordem escrita da e local em que se encontrar, por ato próprio da Adminis-
Administração, por prazo superior a 120 (cento e vinte) dias, tração;
salvo em caso de calamidade pública, grave perturbação da II - ocupação e utilização do local, instalações, equi-
ordem interna ou guerra, ou ainda por repetidas suspensões
pamentos, material e pessoal empregados na execução do
que totalizem o mesmo prazo, independentemente do pa-
contrato, necessários à sua continuidade, na forma do inci-
gamento obrigatório de indenizações pelas sucessivas e con-
so V do art. 58 desta Lei;
tratualmente imprevistas desmobilizações e mobilizações e
III - execução da garantia contratual, para ressarcimen-
outras previstas, assegurado ao contratado, nesses casos, o
to da Administração, e dos valores das multas e indeniza-
direito de optar pela suspensão do cumprimento das obriga-
ções a ela devidos;
ções assumidas até que seja normalizada a situação;
IV - retenção dos créditos decorrentes do contrato até
XV - o atraso superior a 90 (noventa) dias dos pagamen-
o limite dos prejuízos causados à Administração.
tos devidos pela Administração decorrentes de obras, ser-
viços ou fornecimento, ou parcelas destes, já recebidos ou § 1º A aplicação das medidas previstas nos incisos I e
executados, salvo em caso de calamidade pública, grave per- II deste artigo fica a critério da Administração, que poderá
turbação da ordem interna ou guerra, assegurado ao contra- dar continuidade à obra ou ao serviço por execução direta
tado o direito de optar pela suspensão do cumprimento de ou indireta.
suas obrigações até que seja normalizada a situação; § 2º É permitido à Administração, no caso de concor-
XVI - a não liberação, por parte da Administração, de data do contratado, manter o contrato, podendo assumir o
área, local ou objeto para execução de obra, serviço ou for- controle de determinadas atividades de serviços essenciais.
necimento, nos prazos contratuais, bem como das fontes de § 3º Na hipótese do inciso II deste artigo, o ato deve-
materiais naturais especificadas no projeto; rá ser precedido de autorização expressa do Ministro de
XVII - a ocorrência de caso fortuito ou de força maior, Estado competente, ou Secretário Estadual ou Municipal,
regularmente comprovada, impeditiva da execução do con- conforme o caso.
trato. § 4º A rescisão de que trata o inciso IV do artigo ante-
XVIII – descumprimento do disposto no inciso V do art. rior permite à Administração, a seu critério, aplicar a medi-
27, sem prejuízo das sanções penais cabíveis. da prevista no inciso I deste artigo.
Parágrafo único. Os casos de rescisão contratual serão
formalmente motivados nos autos do processo, assegurado Capítulo IV
o contraditório e a ampla defesa. DAS SANÇÕES ADMINISTRATIVAS E DA TUTELA JUDICIAL
Seção I
Art. 79. A rescisão do contrato poderá ser: Disposições Gerais
I - determinada por ato unilateral e escrito da Adminis-
tração, nos casos enumerados nos incisos I a XII e XVII do Art. 81. A recusa injustificada do adjudicatário em assi-
artigo anterior; nar o contrato, aceitar ou retirar o instrumento equivalente,
II - amigável, por acordo entre as partes, reduzida a ter- dentro do prazo estabelecido pela Administração, caracte-
mo no processo da licitação, desde que haja conveniência riza o descumprimento total da obrigação assumida, sujei-
para a Administração; tando-o às penalidades legalmente estabelecidas.
III - judicial, nos termos da legislação;

57
DIREITO ADMINISTRATIVO

Parágrafo único. O disposto neste artigo não se apli- II - multa, na forma prevista no instrumento convoca-
ca aos licitantes convocados nos termos do art. 64, § 2o tório ou no contrato;
desta Lei, que não aceitarem a contratação, nas mesmas III - suspensão temporária de participação em licitação
condições propostas pelo primeiro adjudicatário, inclusive e impedimento de contratar com a Administração, por pra-
quanto ao prazo e preço. zo não superior a 2 (dois) anos;
Art. 82. Os agentes administrativos que praticarem IV - declaração de inidoneidade para licitar ou contratar
atos em desacordo com os preceitos desta Lei ou visan- com a Administração Pública enquanto perdurarem os mo-
do a frustrar os objetivos da licitação sujeitam-se às san- tivos determinantes da punição ou até que seja promovida
ções previstas nesta Lei e nos regulamentos próprios, sem a reabilitação perante a própria autoridade que aplicou a
prejuízo das responsabilidades civil e criminal que seu ato penalidade, que será concedida sempre que o contratado
ensejar. ressarcir a Administração pelos prejuízos resultantes e após
Art. 83. Os crimes definidos nesta Lei, ainda que sim- decorrido o prazo da sanção aplicada com base no inciso
plesmente tentados, sujeitam os seus autores, quando anterior.
servidores públicos, além das sanções penais, à perda do § 1º Se a multa aplicada for superior ao valor da garan-
cargo, emprego, função ou mandato eletivo. tia prestada, além da perda desta, responderá o contratado
Art. 84. Considera-se servidor público, para os fins pela sua diferença, que será descontada dos pagamentos
desta Lei, aquele que exerce, mesmo que transitoriamente eventualmente devidos pela Administração ou cobrada ju-
ou sem remuneração, cargo, função ou emprego público. dicialmente.
§ 1º Equipara-se a servidor público, para os fins desta § 2º As sanções previstas nos incisos I, III e IV deste
Lei, quem exerce cargo, emprego ou função em entidade artigo poderão ser aplicadas juntamente com a do inciso
paraestatal, assim consideradas, além das fundações, em- II, facultada a defesa prévia do interessado, no respectivo
presas públicas e sociedades de economia mista, as demais processo, no prazo de 5 (cinco) dias úteis.
entidades sob controle, direto ou indireto, do Poder Públi- § 3º A sanção estabelecida no inciso IV deste artigo é
co. de competência exclusiva do Ministro de Estado, do Secre-
§ 2º A pena imposta será acrescida da terça parte,
tário Estadual ou Municipal, conforme o caso, facultada a
quando os autores dos crimes previstos nesta Lei forem
defesa do interessado no respectivo processo, no prazo de
ocupantes de cargo em comissão ou de função de confian-
10 (dez) dias da abertura de vista, podendo a reabilitação
ça em órgão da Administração direta, autarquia, empresa
ser requerida após 2 (dois) anos de sua aplicação. (Vide art
pública, sociedade de economia mista, fundação pública,
109 inciso III)
ou outra entidade controlada direta ou indiretamente pelo
Art. 88. As sanções previstas nos incisos III e IV do
Poder Público.
artigo anterior poderão também ser aplicadas às empresas
Art. 85. As infrações penais previstas nesta Lei perti-
ou aos profissionais que, em razão dos contratos regidos
nem às licitações e aos contratos celebrados pela União,
Estados, Distrito Federal, Municípios, e respectivas autar- por esta Lei:
quias, empresas públicas, sociedades de economia mista, I - tenham sofrido condenação definitiva por pratica-
fundações públicas, e quaisquer outras entidades sob seu rem, por meios dolosos, fraude fiscal no recolhimento de
controle direto ou indireto. quaisquer tributos;
II - tenham praticado atos ilícitos visando a frustrar os
Seção II objetivos da licitação;
Das Sanções Administrativas III - demonstrem não possuir idoneidade para contratar
com a Administração em virtude de atos ilícitos praticados.
Art. 86. O atraso injustificado na execução do contrato
sujeitará o contratado à multa de mora, na forma prevista Seção III
no instrumento convocatório ou no contrato. Dos Crimes e das Penas
§ 1º A multa a que alude este artigo não impede que a
Administração rescinda unilateralmente o contrato e apli- Art. 89. Dispensar ou inexigir licitação fora das hipóte-
que as outras sanções previstas nesta Lei. ses previstas em lei, ou deixar de observar as formalidades
§ 2º A multa, aplicada após regular processo adminis- pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade:
trativo, será descontada da garantia do respectivo contra- Pena - detenção, de 3 (três) a 5 (cinco) anos, e multa.
tado. Parágrafo único. Na mesma pena incorre aquele que,
§ 3º Se a multa for de valor superior ao valor da garan- tendo comprovadamente concorrido para a consumação
tia prestada, além da perda desta, responderá o contratado da ilegalidade, beneficiou-se da dispensa ou inexigibilida-
pela sua diferença, a qual será descontada dos pagamen- de ilegal, para celebrar contrato com o Poder Público.
tos eventualmente devidos pela Administração ou ainda, Art. 90. Frustrar ou fraudar, mediante ajuste, combina-
quando for o caso, cobrada judicialmente. ção ou qualquer outro expediente, o caráter competitivo
Art. 87. Pela inexecução total ou parcial do contrato a do procedimento licitatório, com o intuito de obter, para si
Administração poderá, garantida a prévia defesa, aplicar ao ou para outrem, vantagem decorrente da adjudicação do
contratado as seguintes sanções: objeto da licitação:
I - advertência; Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

58
DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 91. Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse pri- § 1º Os índices a que se refere este artigo não poderão
vado perante a Administração, dando causa à instauração de ser inferiores a 2% (dois por cento), nem superiores a 5%
licitação ou à celebração de contrato, cuja invalidação vier a (cinco por cento) do valor do contrato licitado ou celebra-
ser decretada pelo Poder Judiciário: do com dispensa ou inexigibilidade de licitação.
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. § 2º O produto da arrecadação da multa reverterá,
Art. 92. Admitir, possibilitar ou dar causa a qualquer conforme o caso, à Fazenda Federal, Distrital, Estadual ou
modificação ou vantagem, inclusive prorrogação contratual, Municipal.
em favor do adjudicatário, durante a execução dos contratos
celebrados com o Poder Público, sem autorização em lei, no Seção IV
ato convocatório da licitação ou nos respectivos instrumentos Do Processo e do Procedimento Judicial
contratuais, ou, ainda, pagar fatura com preterição da ordem
cronológica de sua exigibilidade, observado o disposto no art. Art. 100. Os crimes definidos nesta Lei são de ação pe-
121 desta Lei: nal pública incondicionada, cabendo ao Ministério Público
Pena - detenção, de dois a quatro anos, e multa. promovê-la.
Parágrafo único. Incide na mesma pena o contratado Art. 101. Qualquer pessoa poderá provocar, para os
que, tendo comprovadamente concorrido para a consuma- efeitos desta Lei, a iniciativa do Ministério Público, forne-
ção da ilegalidade, obtém vantagem indevida ou se beneficia, cendo-lhe, por escrito, informações sobre o fato e sua au-
injustamente, das modificações ou prorrogações contratuais. toria, bem como as circunstâncias em que se deu a ocor-
Art. 93. Impedir, perturbar ou fraudar a realização de rência.
qualquer ato de procedimento licitatório: Parágrafo único. Quando a comunicação for verbal,
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. mandará a autoridade reduzi-la a termo, assinado pelo
Art. 94. Devassar o sigilo de proposta apresentada em apresentante e por duas testemunhas.
procedimento licitatório, ou proporcionar a terceiro o ensejo Art. 102. Quando em autos ou documentos de que
de devassá-lo: conhecerem, os magistrados, os membros dos Tribunais ou
Pena - detenção, de 2 (dois) a 3 (três) anos, e multa.
Conselhos de Contas ou os titulares dos órgãos integrantes
Art. 95. Afastar ou procura afastar licitante, por meio de
do sistema de controle interno de qualquer dos Poderes
violência, grave ameaça, fraude ou oferecimento de vantagem
verificarem a existência dos crimes definidos nesta Lei, re-
de qualquer tipo:
meterão ao Ministério Público as cópias e os documentos
Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa,
necessários ao oferecimento da denúncia.
além da pena correspondente à violência.
Art. 103. Será admitida ação penal privada subsidiária
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem se abs-
da pública, se esta não for ajuizada no prazo legal, apli-
tém ou desiste de licitar, em razão da vantagem oferecida.
Art. 96. Fraudar, em prejuízo da Fazenda Pública, licitação cando-se, no que couber, o disposto nos arts. 29 e 30 do
instaurada para aquisição ou venda de bens ou mercadorias, Código de Processo Penal.
ou contrato dela decorrente: Art. 104. Recebida a denúncia e citado o réu, terá este
I - elevando arbitrariamente os preços; o prazo de 10 (dez) dias para apresentação de defesa escri-
II - vendendo, como verdadeira ou perfeita, mercadoria ta, contado da data do seu interrogatório, podendo juntar
falsificada ou deteriorada; documentos, arrolar as testemunhas que tiver, em número
III - entregando uma mercadoria por outra; não superior a 5 (cinco), e indicar as demais provas que
IV - alterando substância, qualidade ou quantidade da pretenda produzir.
mercadoria fornecida; Art. 105. Ouvidas as testemunhas da acusação e da
V - tornando, por qualquer modo, injustamente, mais defesa e praticadas as diligências instrutórias deferidas ou
onerosa a proposta ou a execução do contrato: ordenadas pelo juiz, abrir-se-á, sucessivamente, o prazo de
Pena - detenção, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. 5 (cinco) dias a cada parte para alegações finais.
Art. 97. Admitir à licitação ou celebrar contrato com em- Art. 106. Decorrido esse prazo, e conclusos os autos
presa ou profissional declarado inidôneo: dentro de 24 (vinte e quatro) horas, terá o juiz 10 (dez) dias
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. para proferir a sentença.
Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que, de- Art. 107. Da sentença cabe apelação, interponível no
clarado inidôneo, venha a licitar ou a contratar com a Admi- prazo de 5 (cinco) dias.
nistração. Art. 108. No processamento e julgamento das infra-
Art. 98. Obstar, impedir ou dificultar, injustamente, a ins- ções penais definidas nesta Lei, assim como nos recursos
crição de qualquer interessado nos registros cadastrais ou e nas execuções que lhes digam respeito, aplicar-se-ão,
promover indevidamente a alteração, suspensão ou cancela- subsidiariamente, o Código de Processo Penal e a Lei de
mento de registro do inscrito: Execução Penal.
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Art. 99. A pena de multa cominada nos arts. 89 a 98
desta Lei consiste no pagamento de quantia fixada na sen-
tença e calculada em índices percentuais, cuja base cor-
responderá ao valor da vantagem efetivamente obtida ou
potencialmente auferível pelo agente.

59
DIREITO ADMINISTRATIVO

Capítulo V Art. 111. A Administração só poderá contratar, pagar,


DOS RECURSOS ADMINISTRATIVOS premiar ou receber projeto ou serviço técnico especializa-
do desde que o autor ceda os direitos patrimoniais a ele
Art. 109. Dos atos da Administração decorrentes da aplica- relativos e a Administração possa utilizá-lo de acordo com
ção desta Lei cabem: o previsto no regulamento de concurso ou no ajuste para
I - recurso, no prazo de 5 (cinco) dias úteis a contar da inti- sua elaboração.
mação do ato ou da lavratura da ata, nos casos de: Parágrafo único. Quando o projeto referir-se a obra
a) habilitação ou inabilitação do licitante; imaterial de caráter tecnológico, insuscetível de privilégio,
b) julgamento das propostas; a cessão dos direitos incluirá o fornecimento de todos os
c) anulação ou revogação da licitação; dados, documentos e elementos de informação pertinen-
d) indeferimento do pedido de inscrição em registro cadas- tes à tecnologia de concepção, desenvolvimento, fixação
tral, sua alteração ou cancelamento; em suporte físico de qualquer natureza e aplicação da obra.
e) rescisão do contrato, a que se refere o inciso I do art. 79 Art. 112. Quando o objeto do contrato interessar a
desta Lei; mais de uma entidade pública, caberá ao órgão contratan-
f) aplicação das penas de advertência, suspensão temporá- te, perante a entidade interessada, responder pela sua boa
ria ou de multa; execução, fiscalização e pagamento.
II - representação, no prazo de 5 (cinco) dias úteis da inti- § 1º Os consórcios públicos poderão realizar licitação
mação da decisão relacionada com o objeto da licitação ou do da qual, nos termos do edital, decorram contratos adminis-
contrato, de que não caiba recurso hierárquico; trativos celebrados por órgãos ou entidades dos entes da
III - pedido de reconsideração, de decisão de Ministro de Federação consorciados.
Estado, ou Secretário Estadual ou Municipal, conforme o caso, § 2º É facultado à entidade interessada o acompanha-
na hipótese do § 4o do art. 87 desta Lei, no prazo de 10 (dez) mento da licitação e da execução do contrato.
dias úteis da intimação do ato. Art. 113. O controle das despesas decorrentes dos
§ 1º A intimação dos atos referidos no inciso I, alíneas “a”, contratos e demais instrumentos regidos por esta Lei será
“b”, “c” e “e”, deste artigo, excluídos os relativos a advertência e
feito pelo Tribunal de Contas competente, na forma da
multa de mora, e no inciso III, será feita mediante publicação na
legislação pertinente, ficando os órgãos interessados da
imprensa oficial, salvo para os casos previstos nas alíneas “a” e
Administração responsáveis pela demonstração da legali-
“b”, se presentes os prepostos dos licitantes no ato em que foi
dade e regularidade da despesa e execução, nos termos da
adotada a decisão, quando poderá ser feita por comunicação
Constituição e sem prejuízo do sistema de controle interno
direta aos interessados e lavrada em ata.
nela previsto.
§ 2º O recurso previsto nas alíneas “a” e “b” do inciso I deste
§ 1º Qualquer licitante, contratado ou pessoa física ou
artigo terá efeito suspensivo, podendo a autoridade compe-
tente, motivadamente e presentes razões de interesse público, jurídica poderá representar ao Tribunal de Contas ou aos
atribuir ao recurso interposto eficácia suspensiva aos demais órgãos integrantes do sistema de controle interno contra
recursos. irregularidades na aplicação desta Lei, para os fins do dis-
§ 3º Interposto, o recurso será comunicado aos demais lici- posto neste artigo.
tantes, que poderão impugná-lo no prazo de 5 (cinco) dias úteis. § 2º Os Tribunais de Contas e os órgãos integrantes do
§ 4º O recurso será dirigido à autoridade superior, por in- sistema de controle interno poderão solicitar para exame,
termédio da que praticou o ato recorrido, a qual poderá recon- até o dia útil imediatamente anterior à data de recebimen-
siderar sua decisão, no prazo de 5 (cinco) dias úteis, ou, nesse to das propostas, cópia de edital de licitação já publicado,
mesmo prazo, fazê-lo subir, devidamente informado, devendo, obrigando-se os órgãos ou entidades da Administração in-
neste caso, a decisão ser proferida dentro do prazo de 5 (cinco) teressada à adoção de medidas corretivas pertinentes que,
dias úteis, contado do recebimento do recurso, sob pena de res- em função desse exame, lhes forem determinadas.
ponsabilidade. Art. 114. O sistema instituído nesta Lei não impede a
§ 5º Nenhum prazo de recurso, representação ou pedido de pré-qualificação de licitantes nas concorrências, a ser pro-
reconsideração se inicia ou corre sem que os autos do processo cedida sempre que o objeto da licitação recomende análise
estejam com vista franqueada ao interessado. mais detida da qualificação técnica dos interessados.
§ 6º Em se tratando de licitações efetuadas na modalidade § 1º A adoção do procedimento de pré-qualificação
de “carta convite” os prazos estabelecidos nos incisos I e II e no será feita mediante proposta da autoridade competente,
parágrafo 3o deste artigo serão de dois dias úteis. aprovada pela imediatamente superior.
§ 2º Na pré-qualificação serão observadas as exigên-
Capítulo VI cias desta Lei relativas à concorrência, à convocação dos in-
DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS teressados, ao procedimento e à análise da documentação.
Art. 115. Os órgãos da Administração poderão expedir
Art. 110. Na contagem dos prazos estabelecidos nesta Lei, normas relativas aos procedimentos operacionais a serem
excluir-se-á o dia do início e incluir-se-á o do vencimento, e con- observados na execução das licitações, no âmbito de sua
siderar-se-ão os dias consecutivos, exceto quando for explicita- competência, observadas as disposições desta Lei.
mente disposto em contrário. Parágrafo único. As normas a que se refere este artigo,
Parágrafo único. Só se iniciam e vencem os prazos referidos após aprovação da autoridade competente, deverão ser
neste artigo em dia de expediente no órgão ou na entidade. publicadas na imprensa oficial.

60
DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 116. Aplicam-se as disposições desta Lei, no que § 6º Quando da conclusão, denúncia, rescisão ou ex-
couber, aos convênios, acordos, ajustes e outros instru- tinção do convênio, acordo ou ajuste, os saldos financeiros
mentos congêneres celebrados por órgãos e entidades da remanescentes, inclusive os provenientes das receitas ob-
Administração. tidas das aplicações financeiras realizadas, serão devolvi-
§ 1º A celebração de convênio, acordo ou ajuste pelos dos à entidade ou órgão repassador dos recursos, no prazo
órgãos ou entidades da Administração Pública depende de improrrogável de 30 (trinta) dias do evento, sob pena da
prévia aprovação de competente plano de trabalho pro- imediata instauração de tomada de contas especial do res-
posto pela organização interessada, o qual deverá conter, ponsável, providenciada pela autoridade competente do
no mínimo, as seguintes informações: órgão ou entidade titular dos recursos.
I - identificação do objeto a ser executado; Art. 117. As obras, serviços, compras e alienações rea-
II - metas a serem atingidas; lizados pelos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário e
III - etapas ou fases de execução; do Tribunal de Contas regem-se pelas normas desta Lei, no
IV - plano de aplicação dos recursos financeiros; que couber, nas três esferas administrativas.
V - cronograma de desembolso; Art. 118. Os Estados, o Distrito Federal, os Municípios
VI - previsão de início e fim da execução do objeto, e as entidades da administração indireta deverão adaptar
bem assim da conclusão das etapas ou fases programadas; suas normas sobre licitações e contratos ao disposto nesta
VII - se o ajuste compreender obra ou serviço de en- Lei.
genharia, comprovação de que os recursos próprios para Art. 119. As sociedades de economia mista, empresas
complementar a execução do objeto estão devidamente e fundações públicas e demais entidades controladas dire-
assegurados, salvo se o custo total do empreendimento re- ta ou indiretamente pela União e pelas entidades referidas
cair sobre a entidade ou órgão descentralizador. no artigo anterior editarão regulamentos próprios devida-
§ 2º Assinado o convênio, a entidade ou órgão repas- mente publicados, ficando sujeitas às disposições desta Lei.
sador dará ciência do mesmo à Assembleia Legislativa ou à Parágrafo único. Os regulamentos a que se refere este
Câmara Municipal respectiva. artigo, no âmbito da Administração Pública, após apro-
vados pela autoridade de nível superior a que estiverem
§ 3º As parcelas do convênio serão liberadas em estrita
vinculados os respectivos órgãos, sociedades e entidades,
conformidade com o plano de aplicação aprovado, exceto
deverão ser publicados na imprensa oficial.
nos casos a seguir, em que as mesmas ficarão retidas até o
Art. 120. Os valores fixados por esta Lei poderão ser
saneamento das impropriedades ocorrentes:
anualmente revistos pelo Poder Executivo Federal, que os
I - quando não tiver havido comprovação da boa e
fará publicar no Diário Oficial da União, observando como
regular aplicação da parcela anteriormente recebida, na
limite superior a variação geral dos preços do mercado, no
forma da legislação aplicável, inclusive mediante proce-
período.
dimentos de fiscalização local, realizados periodicamente Art. 121. O disposto nesta Lei não se aplica às licitações
pela entidade ou órgão descentralizador dos recursos ou instauradas e aos contratos assinados anteriormente à sua
pelo órgão competente do sistema de controle interno da vigência, ressalvado o disposto no art. 57, nos parágrafos
Administração Pública; 1o, 2o e 8o do art. 65, no inciso XV do art. 78, bem assim o
II - quando verificado desvio de finalidade na aplica- disposto no “caput” do art. 5o, com relação ao pagamento
ção dos recursos, atrasos não justificados no cumprimen- das obrigações na ordem cronológica, podendo esta ser
to das etapas ou fases programadas, práticas atentatórias observada, no prazo de noventa dias contados da vigência
aos princípios fundamentais de Administração Pública nas desta Lei, separadamente para as obrigações relativas aos
contratações e demais atos praticados na execução do contratos regidos por legislação anterior à Lei no 8.666, de
convênio, ou o inadimplemento do executor com relação a 21 de junho de 1993.
outras cláusulas conveniais básicas; Parágrafo único. Os contratos relativos a imóveis do
III - quando o executor deixar de adotar as medidas patrimônio da União continuam a reger-se pelas disposi-
saneadoras apontadas pelo partícipe repassador dos recur- ções do Decreto-lei no 9.760, de 5 de setembro de 1946,
sos ou por integrantes do respectivo sistema de controle com suas alterações, e os relativos a operações de crédito
interno. interno ou externo celebrados pela União ou a concessão
§ 4º Os saldos de convênio, enquanto não utilizados, de garantia do Tesouro Nacional continuam regidos pela
serão obrigatoriamente aplicados em cadernetas de pou- legislação pertinente, aplicando-se esta Lei, no que couber.
pança de instituição financeira oficial se a previsão de seu Art. 122. Nas concessões de linhas aéreas, observar-
uso for igual ou superior a um mês, ou em fundo de apli- -se-á procedimento licitatório específico, a ser estabeleci-
cação financeira de curto prazo ou operação de mercado do no Código Brasileiro de Aeronáutica.
aberto lastreada em títulos da dívida pública, quando a uti- Art. 123. Em suas licitações e contratações adminis-
lização dos mesmos verificar-se em prazos menores que trativas, as repartições sediadas no exterior observarão as
um mês. peculiaridades locais e os princípios básicos desta Lei, na
§ 5º As receitas financeiras auferidas na forma do pa- forma de regulamentação específica.
rágrafo anterior serão obrigatoriamente computadas a cré- Art. 124. Aplicam-se às licitações e aos contratos para
dito do convênio e aplicadas, exclusivamente, no objeto de permissão ou concessão de serviços públicos os dispositi-
sua finalidade, devendo constar de demonstrativo específi- vos desta Lei que não conflitem com a legislação específica
co que integrará as prestações de contas do ajuste. sobre o assunto.

61
DIREITO ADMINISTRATIVO

Parágrafo único. As exigências contidas nos incisos II a II - a definição do objeto deverá ser precisa, suficiente e
IV do § 2o do art. 7o serão dispensadas nas licitações para clara, vedadas especificações que, por excessivas, irrelevan-
concessão de serviços com execução prévia de obras em tes ou desnecessárias, limitem a competição;
que não foram previstos desembolso por parte da Admi- III - dos autos do procedimento constarão a justificati-
nistração Pública concedente. va das definições referidas no inciso I deste artigo e os in-
Art. 125. Esta Lei entra em vigor na data de sua publi- dispensáveis elementos técnicos sobre os quais estiverem
cação. apoiados, bem como o orçamento, elaborado pelo órgão
Art. 126. Revogam-se as disposições em contrário, es- ou entidade promotora da licitação, dos bens ou serviços
pecialmente os Decretos-leis nos 2.300, de 21 de novem- a serem licitados; e
bro de 1986, 2.348, de 24 de julho de 1987, 2.360, de 16 IV - a autoridade competente designará, dentre os
de setembro de 1987, a Lei no 8.220, de 4 de setembro de servidores do órgão ou entidade promotora da licitação,
1991, e o art. 83 da Lei no 5.194, de 24 de dezembro de o pregoeiro e respectiva equipe de apoio, cuja atribuição
1966. inclui, dentre outras, o recebimento das propostas e lan-
ces, a análise de sua aceitabilidade e sua classificação, bem
Brasília, 21 de junho de 1993, 172o da Independência como a habilitação e a adjudicação do objeto do certame
e 105o da República. ao licitante vencedor.
§ 1º A equipe de apoio deverá ser integrada em sua
Lei nº 10.520, de 17 de julho de 2002 maioria por servidores ocupantes de cargo efetivo ou em-
prego da administração, preferencialmente pertencentes
Institui, no âmbito da União, Estados, Distrito Federal e ao quadro permanente do órgão ou entidade promotora
Municípios, nos termos do art. 37, inciso XXI, da Constitui- do evento.
ção Federal, modalidade de licitação denominada pregão, § 2º No âmbito do Ministério da Defesa, as funções de
para aquisição de bens e serviços comuns, e dá outras pro- pregoeiro e de membro da equipe de apoio poderão ser
vidências. desempenhadas por militares.
Art. 4º A fase externa do pregão será iniciada com a
convocação dos interessados e observará as seguintes re-
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Con-
gras:
gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
I - a convocação dos interessados será efetuada por
meio de publicação de aviso em diário oficial do respectivo
Art. 1º Para aquisição de bens e serviços comuns, po-
ente federado ou, não existindo, em jornal de circulação
derá ser adotada a licitação na modalidade de pregão, que
local, e facultativamente, por meios eletrônicos e conforme
será regida por esta Lei.
o vulto da licitação, em jornal de grande circulação, nos
Parágrafo único. Consideram-se bens e serviços co-
termos do regulamento de que trata o art. 2º;
muns, para os fins e efeitos deste artigo, aqueles cujos II - do aviso constarão a definição do objeto da licita-
padrões de desempenho e qualidade possam ser objeti- ção, a indicação do local, dias e horários em que poderá ser
vamente definidos pelo edital, por meio de especificações lida ou obtida a íntegra do edital;
usuais no mercado. III - do edital constarão todos os elementos definidos
Art. 2º (VETADO) na forma do inciso I do art. 3º, as normas que disciplinarem
§ 1º Poderá ser realizado o pregão por meio da utiliza- o procedimento e a minuta do contrato, quando for o caso;
ção de recursos de tecnologia da informação, nos termos IV - cópias do edital e do respectivo aviso serão co-
de regulamentação específica. locadas à disposição de qualquer pessoa para consulta e
§ 2º Será facultado, nos termos de regulamentos pró- divulgadas na forma da Lei nº 9.755, de 16 de dezembro
prios da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, a de 1998;
participação de bolsas de mercadorias no apoio técnico e V - o prazo fixado para a apresentação das propostas,
operacional aos órgãos e entidades promotores da moda- contado a partir da publicação do aviso, não será inferior a
lidade de pregão, utilizando-se de recursos de tecnologia 8 (oito) dias úteis;
da informação. VI - no dia, hora e local designados, será realizada ses-
§ 3º As bolsas a que se referem o § 2o deverão estar são pública para recebimento das propostas, devendo o
organizadas sob a forma de sociedades civis sem fins lucra- interessado, ou seu representante, identificar-se e, se for o
tivos e com a participação plural de corretoras que operem caso, comprovar a existência dos necessários poderes para
sistemas eletrônicos unificados de pregões. formulação de propostas e para a prática de todos os de-
Art. 3º A fase preparatória do pregão observará o se- mais atos inerentes ao certame;
guinte: VII - aberta a sessão, os interessados ou seus repre-
I - a autoridade competente justificará a necessidade sentantes, apresentarão declaração dando ciência de que
de contratação e definirá o objeto do certame, as exigên- cumprem plenamente os requisitos de habilitação e entre-
cias de habilitação, os critérios de aceitação das propostas, garão os envelopes contendo a indicação do objeto e do
as sanções por inadimplemento e as cláusulas do contrato, preço oferecidos, procedendo-se à sua imediata abertura e
inclusive com fixação dos prazos para fornecimento; à verificação da conformidade das propostas com os requi-
sitos estabelecidos no instrumento convocatório;

62
DIREITO ADMINISTRATIVO

VIII - no curso da sessão, o autor da oferta de valor XXI - decididos os recursos, a autoridade competente
mais baixo e os das ofertas com preços até 10% (dez por fará a adjudicação do objeto da licitação ao licitante ven-
cento) superiores àquela poderão fazer novos lances ver- cedor;
bais e sucessivos, até a proclamação do vencedor; XXII - homologada a licitação pela autoridade compe-
IX - não havendo pelo menos 3 (três) ofertas nas con- tente, o adjudicatário será convocado para assinar o con-
dições definidas no inciso anterior, poderão os autores das trato no prazo definido em edital; e
melhores propostas, até o máximo de 3 (três), oferecer XXIII - se o licitante vencedor, convocado dentro do
novos lances verbais e sucessivos, quaisquer que sejam os prazo de validade da sua proposta, não celebrar o contrato,
preços oferecidos;
aplicar-se-á o disposto no inciso XVI.
X - para julgamento e classificação das propostas, será
Art. 5º É vedada a exigência de:
adotado o critério de menor preço, observados os prazos
I - garantia de proposta;
máximos para fornecimento, as especificações técnicas e
parâmetros mínimos de desempenho e qualidade defini- II - aquisição do edital pelos licitantes, como condição
dos no edital; para participação no certame; e
XI - examinada a proposta classificada em primeiro lu- III - pagamento de taxas e emolumentos, salvo os refe-
gar, quanto ao objeto e valor, caberá ao pregoeiro decidir rentes a fornecimento do edital, que não serão superiores
motivadamente a respeito da sua aceitabilidade; ao custo de sua reprodução gráfica, e aos custos de utiliza-
XII - encerrada a etapa competitiva e ordenadas as ção de recursos de tecnologia da informação, quando for
ofertas, o pregoeiro procederá à abertura do invólucro o caso.
contendo os documentos de habilitação do licitante que Art. 6º O prazo de validade das propostas será de 60
apresentou a melhor proposta, para verificação do atendi- (sessenta) dias, se outro não estiver fixado no edital.
mento das condições fixadas no edital; Art. 7º Quem, convocado dentro do prazo de validade
XIII - a habilitação far-se-á com a verificação de que o da sua proposta, não celebrar o contrato, deixar de entre-
licitante está em situação regular perante a Fazenda Nacio- gar ou apresentar documentação falsa exigida para o cer-
nal, a Seguridade Social e o Fundo de Garantia do Tempo tame, ensejar o retardamento da execução de seu objeto,
de Serviço - FGTS, e as Fazendas Estaduais e Municipais, não mantiver a proposta, falhar ou fraudar na execução
quando for o caso, com a comprovação de que atende às do contrato, comportar-se de modo inidôneo ou cometer
exigências do edital quanto à habilitação jurídica e qualifi-
fraude fiscal, ficará impedido de licitar e contratar com a
cações técnica e econômico-financeira;
União, Estados, Distrito Federal ou Municípios e, será des-
XIV - os licitantes poderão deixar de apresentar os
credenciado no Sicaf, ou nos sistemas de cadastramento de
documentos de habilitação que já constem do Sistema de
Cadastramento Unificado de Fornecedores – Sicaf e siste- fornecedores a que se refere o inciso XIV do art. 4o desta
mas semelhantes mantidos por Estados, Distrito Federal ou Lei, pelo prazo de até 5 (cinco) anos, sem prejuízo das mul-
Municípios, assegurado aos demais licitantes o direito de tas previstas em edital e no contrato e das demais comina-
acesso aos dados nele constantes; ções legais.
XV - verificado o atendimento das exigências fixadas Art. 8º Os atos essenciais do pregão, inclusive os de-
no edital, o licitante será declarado vencedor; correntes de meios eletrônicos, serão documentados no
XVI - se a oferta não for aceitável ou se o licitante de- processo respectivo, com vistas à aferição de sua regulari-
satender às exigências habilitatórias, o pregoeiro examina- dade pelos agentes de controle, nos termos do regulamen-
rá as ofertas subsequentes e a qualificação dos licitantes, to previsto no art. 2º.
na ordem de classificação, e assim sucessivamente, até a Art. 9º Aplicam-se subsidiariamente, para a modalida-
apuração de uma que atenda ao edital, sendo o respectivo de de pregão, as normas da Lei nº 8.666, de 21 de junho
licitante declarado vencedor; de 1993.
XVII - nas situações previstas nos incisos XI e XVI, o Art. 10. Ficam convalidados os atos praticados com
pregoeiro poderá negociar diretamente com o proponente base na Medida Provisória nº 2.182-18, de 23 de agosto
para que seja obtido preço melhor; de 2001.
XVIII - declarado o vencedor, qualquer licitante poderá
Art. 11. As compras e contratações de bens e servi-
manifestar imediata e motivadamente a intenção de recor-
ços comuns, no âmbito da União, dos Estados, do Distrito
rer, quando lhe será concedido o prazo de 3 (três) dias para
Federal e dos Municípios, quando efetuadas pelo sistema
apresentação das razões do recurso, ficando os demais lici-
tantes desde logo intimados para apresentar contra-razões de registro de preços previsto no art. 15 da Lei nº 8.666,
em igual número de dias, que começarão a correr do tér- de 21 de junho de 1993, poderão adotar a modalidade de
mino do prazo do recorrente, sendo-lhes assegurada vista pregão, conforme regulamento específico.
imediata dos autos; Art. 12. A Lei nº 10.191, de 14 de fevereiro de 2001,
XIX - o acolhimento de recurso importará a invalidação passa a vigorar acrescida do seguinte artigo:
apenas dos atos insuscetíveis de aproveitamento; “Art. 2-A. A União, os Estados, o Distrito Federal e os
XX - a falta de manifestação imediata e motivada do Municípios poderão adotar, nas licitações de registro de
licitante importará a decadência do direito de recurso e a preços destinadas à aquisição de bens e serviços comuns
adjudicação do objeto da licitação pelo pregoeiro ao ven- da área da saúde, a modalidade do pregão, inclusive por
cedor; meio eletrônico, observando-se o seguinte:

63
DIREITO ADMINISTRATIVO

I - são considerados bens e serviços comuns da área Quanto às entidades as quais o agente pode estar vin-
da saúde, aqueles necessários ao atendimento dos órgãos culado, tem-se o artigo 1º da Lei nº 8.429/92:
que integram o Sistema Único de Saúde, cujos padrões de Os atos de improbidade praticados por qualquer agente
desempenho e qualidade possam ser objetivamente defi- público, servidor ou não, contra a administração direta,
nidos no edital, por meio de especificações usuais do mer- indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da
cado. União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios,
II - quando o quantitativo total estimado para a contra- de Território, de empresa incorporada ao patrimônio
tação ou fornecimento não puder ser atendido pelo licitan- público ou de entidade para cuja criação ou custeio o
te vencedor, admitir-se-á a convocação de tantos licitantes erário haja concorrido ou concorra com mais de cinquen-
quantos forem necessários para o atingimento da totali- ta por cento do patrimônio ou da receita anual, serão puni-
dade do quantitativo, respeitada a ordem de classificação, dos na forma desta lei.
desde que os referidos licitantes aceitem praticar o mesmo Parágrafo único. Estão também sujeitos às penalidades
preço da proposta vencedora.
desta lei os atos de improbidade praticados contra o pa-
III - na impossibilidade do atendimento ao disposto no
trimônio de entidade que receba subvenção, benefício ou
inciso II, excepcionalmente, poderão ser registrados outros
incentivo, fiscal ou creditício, de órgão público bem como
preços diferentes da proposta vencedora, desde que se tra-
daquelas para cuja criação ou custeio o erário haja con-
te de objetos de qualidade ou desempenho superior, de-
vidamente justificada e comprovada a vantagem, e que as corrido ou concorra com menos de cinquenta por cento do
ofertas sejam em valor inferior ao limite máximo admitido.” patrimônio ou da receita anual, limitando-se, nestes casos,
a sanção patrimonial à repercussão do ilícito sobre a contri-
Art. 13. Esta Lei entra em vigor na data de sua publi- buição dos cofres públicos.
cação.
Os agentes públicos subdividem-se em:
Brasília, 17 de julho de 2002; 181º da Independência a) agentes políticos – “são os titulares dos cargos es-
e 114º da República. truturais à organização política do País [...], Presidente da
República, Governadores, Prefeitos e respectivos vices, os
auxiliares imediatos dos chefes de Executivo, isto é, Minis-
] tros e Secretários das diversas pastas, bem como os Sena-
SERVIDORES PÚBLICOS: CARGO, EMPREGO E dores, Deputados Federais e Estaduais e os Vereadores”32.
FUNÇÃO PÚBLICOS
O agente político é aquele detentor de cargo eletivo, elei-
to por mandatos transitórios.
b) servidores públicos, que se dividem em funcionário
Agente público é expressão que engloba todas as público, empregado público e contratados em caráter tem-
pessoas lotadas na Administração, isto é, trata-se daque- porário. Os servidores públicos formam a grande massa
les que servem ao Poder Público. “A expressão agente pú- dos agentes do Estado, desenvolvendo variadas funções.
blico tem sentido amplo, significa o conjunto de pessoas O funcionário público é o tipo de servidor público que
que, a qualquer título, exercem uma função pública como é titular de um cargo, se sujeitando a regime estatutário
prepostos do Estado. Essa função, é mister que se diga, (previsto em estatuto próprio, não na CLT). O empregado
pode ser remunerada ou gratuita, definitiva ou transitória, público é o tipo de servidor público que é titular de um
política ou jurídica. O que é certo é que, quando atuam emprego, sujeitando-se ao regime celetista (CLT). Tanto o
no mundo jurídico, tais agentes estão de alguma forma funcionário público quanto o empregado público somente
vinculados ao Poder Público. Como se sabe, o Estado só se se vinculam à Administração mediante concurso público,
faz presente através das pessoas físicas que em seu nome sendo nomeados em caráter efetivo. Contratados em ca-
manifestam determinada vontade, e é por isso que essa ráter temporário são servidores contratados por um pe-
manifestação volitiva acaba por ser imputada ao próprio ríodo certo e determinado, por força de uma situação de
Estado. São todas essas pessoas físicas que constituem os excepcional interesse público, não sendo nomeados em
agentes públicos”31. caráter efetivo, ocupando uma função pública.
Neste sentido, o artigo 2º da Lei nº 8.429/92 (Lei de c) particulares em colaboração com o Estado – são
Improbidade Administrativa): agentes que, embora sejam particulares, executam funções
Reputa-se agente público, para os efeitos desta lei, todo públicas especiais que podem ser qualificadas como pú-
aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem blicas. Ex.: mesário, jurado, recrutados para serviço militar.
remuneração, por eleição, nomeação, designação, contra- Assim, os agentes públicos podem ser agentes políti-
tação ou qualquer outra forma de investidura ou vín- cos, particulares em colaboração com o Estado e servido-
culo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades res públicos. Logo, o servidor público é uma espécie do
mencionadas no artigo anterior. gênero agente público.
31 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de 32 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de
direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen ju- Direito Administrativo. 32. ed. São Paulo: Malheiros,
ris, 2010. 2015.

64
DIREITO ADMINISTRATIVO

Os servidores públicos se dividem em funcionário pú- Art. 41. Remuneração é o vencimento do cargo efetivo,
blico, empregado público e contratados em caráter tem- acrescido das vantagens pecuniárias permanentes estabe-
porário. Os servidores públicos formam a grande massa lecidas em lei.
dos agentes do Estado, desenvolvendo variadas funções. § 1o A remuneração do servidor investido em função
O funcionário público é o tipo de servidor público que ou cargo em comissão será paga na forma prevista no art.
é titular de um cargo, se sujeitando a regime estatutário 62.
(previsto em estatuto próprio, não na CLT). O empregado Cargo em comissão é o cargo de confiança, que não
público é o tipo de servidor público que é titular de um exige concurso público. Ver art. 62 adiante.
emprego, sujeitando-se ao regime celetista (CLT). Tanto o § 2o O servidor investido em cargo em comissão de
funcionário público quanto o empregado público somente órgão ou entidade diversa da de sua lotação receberá a
se vinculam à Administração mediante concurso público, remuneração de acordo com o estabelecido no § 1o do
sendo nomeados em caráter efetivo. Contratados em ca- art. 93.
ráter temporário são servidores contratados por um pe- O funcionário é servidor público, mas foi concursado
ríodo certo e determinado, por força de uma situação de para cargo diverso, em outro órgão ou entidade, sendo no-
excepcional interesse público, não sendo nomeados em meado para outro cargo, que é de comissão.
caráter efetivo, ocupando uma função pública. § 3o O vencimento do cargo efetivo, acrescido das
Com efeito, funcionário público é uma espécie do vantagens de caráter permanente, é irredutível.
gênero servidor público, abrangendo apenas os servido- Irredutibilidade de vencimentos: não podem ser dimi-
res que se sujeitam a regime estatutário. nuídos.
§ 4o É assegurada a isonomia de vencimentos para
cargos de atribuições iguais ou assemelhadas do mesmo
Poder, ou entre servidores dos três Poderes, ressalvadas as
DOS DIREITOS E VANTAGENS: DO vantagens de caráter individual e as relativas à natureza ou
VENCIMENTO E DA REMUNERAÇÃO; DAS ao local de trabalho.
VANTAGENS; DAS FÉRIAS; DAS LICENÇAS; DOS Mesmo cargo ou semelhante = mesmo vencimento.
AFASTAMENTOS; DO DIREITO DE PETIÇÃO § 5o Nenhum servidor receberá remuneração inferior
ao salário mínimo.
Direito ao salário mínimo.
Art. 42. Nenhum servidor poderá perceber, mensal-
Dos Direitos e Vantagens
mente, a título de remuneração, importância superior à
Título III
soma dos valores percebidos como remuneração, em es-
Dos Direitos e Vantagens
pécie, a qualquer título, no âmbito dos respectivos Poderes,
pelos Ministros de Estado, por membros do Congresso Na-
Em sete capítulos, o terceiro título da legislação em es-
cional e Ministros do Supremo Tribunal Federal.
tudo estabelece os direitos e vantagens do servidor públi-
co, para em seguida trazer seus deveres e proibições. Parágrafo único. Excluem-se do teto de remuneração
Resume Carvalho Filho: “os direitos sociais constitu- as vantagens previstas nos incisos II a VII do art. 61.
cionais são objeto da referência do art. 39, §3°, CF, o qual Estabelece o teto de remuneração, ou seja, o máximo
determina que dezesseis dos direitos sociais outorgados que um funcionário pode receber. Neste sentido, o art. 37,
aos empregados sejam estendidos aos servidores públicos. XI, CF: “XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de
Dentre esses direitos estão o do salário mínimo (art. 7°, IV); cargos, funções e empregos públicos da administração di-
o décimo terceiro salário (art. 7°, VIII); o repouso semanal reta, autárquica e fundacional, dos membros de qualquer
remunerado (art. 7°, XV); o salário-família (art. 7°, XII; o de dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e
férias anuais (art. 7°, XVII); o de licença à gestante (art. 7°, dos Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos
XVIII) e outros mencionados no dispositivo constitucional. demais agentes políticos e os proventos, pensões ou ou-
[...] Além disso, há vários direitos de natureza social rela- tra espécie remuneratória, percebidos cumulativamente ou
cionados nos diversos estatutos funcionais das pessoas não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra
federativas. É nas leis estatutárias que se encontram tais natureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em es-
direitos, como o direito às licenças, à pensão, aos auxílios pécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplican-
pecuniários, como o auxílio-funeral e o auxílio-reclusão, à do-se como limite, nos Municípios, o subsídio do Prefeito,
assistência, à saúde etc.” e nos Estados e no Distrito Federal, o subsídio mensal do
Governador no âmbito do Poder Executivo, o subsídio dos
Capítulo I Deputados Estaduais e Distritais no âmbito do Poder Le-
Do Vencimento e da Remuneração gislativo e o subsídio dos Desembargadores do Tribunal de
Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco centé-
Art. 40. Vencimento é a retribuição pecuniária pelo simos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos Mi-
exercício de cargo público, com valor fixado em lei. nistros do Supremo Tri-bunal Federal, no âmbito do Poder
Judiciário, aplicável este limite aos membros do Ministério
Público, aos Procuradores e aos Defensores Públicos”.

65
DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 44. O servidor perderá: Capítulo II


I - a remuneração do dia em que faltar ao serviço, sem Das Vantagens
motivo justificado;
II - a parcela de remuneração diária, proporcional aos Art. 49. Além do vencimento, poderão ser pagas ao
atrasos, ausências justificadas, ressalvadas as concessões servidor as seguintes vantagens:
de que trata o art. 97, e saídas antecipadas, salvo na hipó- I - indenizações;
tese de compensação de horário, até o mês subsequente II - gratificações;
ao da ocorrência, a ser estabelecida pela chefia imediata. III - adicionais.
Parágrafo único. As faltas justificadas decorrentes de § 1o As indenizações não se incorporam ao vencimen-
caso fortuito ou de força maior poderão ser compensadas to ou provento para qualquer efeito.
a critério da chefia imediata, sendo assim consideradas § 2o As gratificações e os adicionais incorporam-se ao
como efetivo exercício. vencimento ou provento, nos casos e condições indicados
Somente não geram perda de remuneração as faltas em lei.
justificadas e devidamente compensadas. Art. 50. As vantagens pecuniárias não serão computa-
Art. 45. Salvo por imposição legal, ou mandado ju- das, nem acumuladas, para efeito de concessão de quais-
dicial, nenhum desconto incidirá sobre a remuneração ou quer outros acréscimos pecuniários ulteriores, sob o mes-
provento. mo título ou idêntico fundamento.
§ 1º Mediante autorização do servidor, poderá haver De acordo com Hely Lopes Meirelles, “o que caracteriza
consignação em folha de pagamento em favor de terceiros, o adicional e o distingue da gratificação é ser aquele que
a critério da administração e com reposição de custos, na recompensa ao tempo de serviço do servidor, ou uma retri-
forma definida em regulamento. buição pelo desempenho de funções especiais que fogem
§ 2º O total de consignações facultativas de que trata da rotina burocrática, e esta, uma compensação por ser-
o § 1o não excederá a 35% (trinta e cinco por cento) da viços comuns executados em condições anormais para o
remuneração mensal, sendo 5% (cinco por cento) reserva- servidor, ou uma ajuda pessoal em face de certas situações
dos exclusivamente para: I - a amortização de despesas que agravam o orçamento do servidor”.
contraídas por meio de cartão de crédito; ou
II - a utilização com a finalidade de saque por meio do Capítulo III
cartão de crédito. Das Férias
Para descontos em folha, é preciso ordem judicial ou
autorização do servidor. Art. 77. O servidor fará jus a trinta dias de férias, que
Art. 46. As reposições e indenizações ao erário, atua- podem ser acumuladas, até o máximo de dois períodos, no
lizadas até 30 de junho de 1994, serão previamente comu- caso de necessidade do serviço, ressalvadas as hipóteses
nicadas ao servidor ativo, aposentado ou ao pensionista, em que haja legislação específica.
para pagamento, no prazo máximo de trinta dias, podendo § 1o Para o primeiro período aquisitivo de férias serão
ser parceladas, a pedido do interessado. exigidos 12 (doze) meses de exercício.
§ 1o O valor de cada parcela não poderá ser inferior ao § 2o É vedado levar à conta de férias qualquer falta ao
correspondente a dez por cento da remuneração, provento serviço.
ou pensão. § 3o As férias poderão ser parceladas em até três eta-
§ 2o Quando o pagamento indevido houver ocorrido pas, desde que assim requeridas pelo servidor, e no interes-
no mês anterior ao do processamento da folha, a reposição se da administração pública.
será feita imediatamente, em uma única parcela. É possível impedir que o servidor tire férias por até 2
§ 3o Na hipótese de valores recebidos em decorrência períodos se o seu serviço for altamente necessário.
de cumprimento a decisão liminar, a tutela antecipada ou Art. 78. O pagamento da remuneração das férias será
a sentença que venha a ser revogada ou rescindida, serão efetuado até 2 (dois) dias antes do início do respectivo pe-
eles atualizados até a data da reposição. ríodo, observando-se o disposto no § 1o deste artigo.
Art. 47. O servidor em débito com o erário, que for §1° e §2°. Revogados.
demitido, exonerado ou que tiver sua aposentadoria ou § 3o O servidor exonerado do cargo efetivo, ou em
disponibilidade cassada, terá o prazo de sessenta dias para comissão, perceberá indenização relativa ao período das
quitar o débito. férias a que tiver direito e ao incompleto, na proporção de
Parágrafo único. A não quitação do débito no prazo um doze avos por mês de efetivo exercício, ou fração supe-
previsto implicará sua inscrição em dívida ativa. rior a quatorze dias.
Débito com o erário = dívida com o Estado. § 4o A indenização será calculada com base na remu-
Art. 48. O vencimento, a remuneração e o provento neração do mês em que for publicado o ato exoneratório.
não serão objeto de arresto, sequestro ou penhora, exceto § 5o Em caso de parcelamento, o servidor receberá o
nos casos de prestação de alimentos resultante de decisão valor adicional previsto no inciso XVII do art. 7o da Cons-
judicial. tituição Federal quando da utilização do primeiro período.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 79. O servidor que opera direta e permanente- § 2o A licença de que trata o caput, incluídas as pror-
mente com Raios X ou substâncias radioativas gozará 20 rogações, poderá ser concedida a cada período de doze
(vinte) dias consecutivos de férias, por semestre de ativida- meses nas seguintes condições:
de profissional, proibida em qualquer hipótese a acumu- I - por até 60 (sessenta) dias, consecutivos ou não,
lação. mantida a remuneração do servidor; e
Manutenção da saúde do servidor. II - por até 90 (noventa) dias, consecutivos ou não, sem
Art. 80. As férias somente poderão ser interrompidas remuneração.
por motivo de calamidade pública, comoção interna, con- § 3o O início do interstício de 12 (doze) meses será
vocação para júri, serviço militar ou eleitoral, ou por ne- contado a partir da data do deferimento da primeira licen-
cessidade do serviço declarada pela autoridade máxima do ça concedida.
órgão ou entidade. § 4o A soma das licenças remuneradas e das licenças
Parágrafo único. O restante do período interrompido não remuneradas, incluídas as respectivas prorrogações,
será gozado de uma só vez, observado o disposto no art. concedidas em um mesmo período de 12 (doze) meses,
77. observado o disposto no § 3o, não poderá ultrapassar os
O direito individual às férias pode ser mitigado pelo limites estabelecidos nos incisos I e II do § 2o.
direito da coletividade de manutenção da paz e da ordem
social. Seção III
Da Licença por Motivo de Afastamento do Cônjuge
Capítulo IV
Das Licenças Art. 84. Poderá ser concedida licença ao servidor para
Seção I acompanhar cônjuge ou companheiro que foi deslocado
Disposições Gerais para outro ponto do território nacional, para o exterior ou
para o exercício de mandato eletivo dos Poderes Executivo
Art. 81. Conceder-se-á ao servidor licença: e Legislativo.
I - por motivo de doença em pessoa da família;
§ 1o A licença será por prazo indeterminado e sem
II - por motivo de afastamento do cônjuge ou compa-
remuneração.
nheiro;
§ 2o No deslocamento de servidor cujo cônjuge ou
III - para o serviço militar;
companheiro também seja servidor público, civil ou militar,
IV - para atividade política;
de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
V - para capacitação;
Federal e dos Municípios, poderá haver exercício provisó-
VI - para tratar de interesses particulares;
rio em órgão ou entidade da Administração Federal direta,
VII - para desempenho de mandato classista.
autárquica ou fundacional, desde que para o exercício de
Atenção aos motivos que autorizam licença, detalha-
dos a seguir na legislação. atividade compatível com o seu cargo.
§ 1o A licença prevista no inciso I do caput deste arti-
go bem como cada uma de suas prorrogações serão pre- Seção IV
cedidas de exame por perícia médica oficial, observado o Da Licença para o Serviço Militar
disposto no art. 204 desta Lei.
§ 3o É vedado o exercício de atividade remunerada du- Art. 85. Ao servidor convocado para o serviço militar
rante o período da licença prevista no inciso I deste artigo. será concedida licença, na forma e condições previstas na
Art. 82. A licença concedida dentro de 60 (sessenta) legislação específica.
dias do término de outra da mesma espécie será conside- Parágrafo único. Concluído o serviço militar, o servidor
rada como prorrogação. terá até 30 (trinta) dias sem remuneração para reassumir o
exercício do cargo.
Seção II
Da Licença por Motivo de Doença em Pessoa da Seção V
Família Da Licença para Atividade Política

Art. 83. Poderá ser concedida licença ao servidor por Art. 86. O servidor terá direito a licença, sem remune-
motivo de doença do cônjuge ou companheiro, dos pais, ração, durante o período que mediar entre a sua escolha
dos filhos, do padrasto ou madrasta e enteado, ou depen- em convenção partidária, como candidato a cargo eletivo,
dente que viva a suas expensas e conste do seu assenta- e a véspera do registro de sua candidatura perante a Justiça
mento funcional, mediante comprovação por perícia mé- Eleitoral.
dica oficial. § 1o O servidor candidato a cargo eletivo na localidade
§ 1o A licença somente será deferida se a assistência onde desempenha suas funções e que exerça cargo de di-
direta do servidor for indispensável e não puder ser presta- reção, chefia, assessoramento, arrecadação ou fiscalização,
da simultaneamente com o exercício do cargo ou mediante dele será afastado, a partir do dia imediato ao do registro
compensação de horário, na forma do disposto no inciso de sua candidatura perante a Justiça Eleitoral, até o décimo
II do art. 44. dia seguinte ao do pleito.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 2o A partir do registro da candidatura e até Capítulo V


o décimo dia seguinte ao da eleição, o servidor fará jus à Dos Afastamentos
licença, assegurados os vencimentos do cargo efetivo, so- Seção I
mente pelo período de três meses. Do Afastamento para Servir a Outro Órgão ou
Entidade
Seção VI
Da Licença para Capacitação Art. 93. O servidor poderá ser cedido para ter exercício
em outro órgão ou entidade dos Poderes da União, dos
Art. 87. Após cada quinquênio de efetivo exercício, o Estados, do Distrito Federal, dos Municípios ou em serviço
servidor poderá, no interesse da Administração, afastar-se social autônomo instituído pela União que exerça ativida-
do exercício do cargo efetivo, com a respectiva remunera- des de cooperação com a administração pública federal,
ção, por até três meses, para participar de curso de capaci- nas seguintes hipóteses:
tação profissional. I - para exercício de cargo em comissão, função de
Parágrafo único. Os períodos de licença de que trata o confiança ou, no caso de serviço social autônomo, para o
caput não são acumuláveis. exercício de cargo de direção ou de gerência;
II - em casos previstos em leis específicas.
Art. 90. (Vetado) § 1º Na hipótese de que trata o inciso I do caput, sendo
a cessão para órgãos ou entidades dos Estados, do Distrito
Seção VII Federal, dos Municípios ou para serviço social autônomo,
Da Licença para Tratar de Interesses Particulares o ônus da remuneração será do órgão ou da entidade ces-
sionária, mantido o ônus para o cedente nos demais casos.
Art. 91. A critério da Administração, poderão ser con- § 2º Na hipótese de o servidor cedido a empresa pú-
cedidas ao servidor ocupante de cargo efetivo, desde que blica, sociedade de economia mista ou serviço social au-
não esteja em estágio probatório, licenças para o trato de tônomo, nos termos de suas respectivas normas, optar
assuntos particulares pelo prazo de até três anos consecu- pela remuneração do cargo efetivo ou pela remuneração
tivos, sem remuneração. do cargo efetivo acrescida de percentual da retribuição do
Parágrafo único. A licença poderá ser interrompida, a cargo em comissão, de direção ou de gerência, a entidade
qualquer tempo, a pedido do servidor ou no interesse do cessionária ou o serviço social autônomo efetuará o reem-
serviço. bolso das despesas realizadas pelo órgão ou pela entidade
de origem.
Seção VIII § 3o A cessão far-se-á mediante Portaria publicada no
Da Licença para o Desempenho de Mandato Clas- Diário Oficial da União.
sista § 4o Mediante autorização expressa do Presidente da
República, o servidor do Poder Executivo poderá ter exer-
Art. 92. É assegurado ao servidor o direito à licença cício em outro órgão da Administração Federal direta que
sem remuneração para o desempenho de mandato em não tenha quadro próprio de pessoal, para fim determina-
confederação, federação, associação de classe de âmbito do e a prazo certo.
nacional, sindicato representativo da categoria ou entidade § 5° Aplica-se à União, em se tratando de empregado
fiscalizadora da profissão ou, ainda, para participar de ge- ou servidor por ela requisitado, as disposições dos §§ 1º e
rência ou administração em sociedade cooperativa consti- 2º deste artigo.
tuída por servidores públicos para prestar serviços a seus § 6° As cessões de empregados de empresa pública ou
membros, observado o disposto na alínea c do inciso VIII de sociedade de economia mista, que receba recursos de
do art. 102 desta Lei, conforme disposto em regulamento e Tesouro Nacional para o custeio total ou parcial da sua fo-
observados os seguintes limites: lha de pagamento de pessoal, independem das disposições
I - para entidades com até 5.000 (cinco mil) associados, contidas nos incisos I e II e §§ 1º e 2º deste artigo, ficando
2 (dois) servidores; o exercício do empregado cedido condicionado a autoriza-
II - para entidades com 5.001 (cinco mil e um) a 30.000 ção específica do Ministério do Planejamento, Orçamento
(trinta mil) associados, 4 (quatro) servidores; e Gestão, exceto nos casos de ocupação de cargo em co-
III - para entidades com mais de 30.000 (trinta mil) as- missão ou função gratificada.
sociados, 8 (oito) servidores. § 7° O Ministério do Planejamento, Orçamento e Ges-
§ 1º Somente poderão ser licenciados os servidores tão, com a finalidade de promover a composição da força
eleitos para cargos de direção ou de representação nas re- de trabalho dos órgãos e entidades da Administração Pú-
feridas entidades, desde que cadastradas no órgão com- blica Federal, poderá determinar a lotação ou o exercício
petente. de empregado ou servidor, independentemente da obser-
§ 2º A licença terá duração igual à do mandato, poden- vância do constante no inciso I e nos §§ 1° e 2° deste artigo.
do ser renovada, no caso de reeleição.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

Seção II § 1o Ato do dirigente máximo do órgão ou entidade


Do Afastamento para Exercício de Mandato Eletivo definirá, em conformidade com a legislação vigente, os
programas de capacitação e os critérios para participação
Art. 94. Ao servidor investido em mandato eletivo apli- em programas de pós-graduação no País, com ou sem
cam-se as seguintes disposições: afastamento do servidor, que serão avaliados por um co-
I - tratando-se de mandato federal, estadual ou distri- mitê constituído para este fim.
tal, ficará afastado do cargo; § 2o Os afastamentos para realização de programas
II - investido no mandato de Prefeito, será afastado do de mestrado e doutorado somente serão concedidos aos
cargo, sendo-lhe facultado optar pela sua remuneração; servidores titulares de cargos efetivos no respectivo órgão
III - investido no mandato de vereador: ou entidade há pelo menos 3 (três) anos para mestrado e
a) havendo compatibilidade de horário, perceberá as 4 (quatro) anos para doutorado, incluído o período de es-
vantagens de seu cargo, sem prejuízo da remuneração do tágio probatório, que não tenham se afastado por licença
cargo eletivo; para tratar de assuntos particulares para gozo de licença
b) não havendo compatibilidade de horário, será afas- capacitação ou com fundamento neste artigo nos 2 (dois)
tado do cargo, sendo-lhe facultado optar pela sua remu- anos anteriores à data da solicitação de afastamento.
neração. § 3o Os afastamentos para realização de programas de
§ 1o No caso de afastamento do cargo, o servidor pós-doutorado somente serão concedidos aos servidores
contribuirá para a seguridade social como se em exercício titulares de cargos efetivo no respectivo órgão ou entidade
estivesse. há pelo menos quatro anos, incluído o período de estágio
§ 2o O servidor investido em mandato eletivo ou clas- probatório, e que não tenham se afastado por licença para
sista não poderá ser removido ou redistribuído de ofício tratar de assuntos particulares ou com fundamento neste
para localidade diversa daquela onde exerce o mandato. artigo, nos quatro anos anteriores à data da solicitação de
afastamento.
Seção III § 4o Os servidores beneficiados pelos afastamentos
Do Afastamento para Estudo ou Missão no Exterior previstos nos §§ 1o, 2o e 3o deste artigo terão que perma-
necer no exercício de suas funções após o seu retorno por
Art. 95. O servidor não poderá ausentar-se do País para um período igual ao do afastamento concedido.
estudo ou missão oficial, sem autorização do Presidente da § 5o Caso o servidor venha a solicitar exoneração do
República, Presidente dos Órgãos do Poder Legislativo e cargo ou aposentadoria, antes de cumprido o período de
Presidente do Supremo Tribunal Federal. permanência previsto no § 4o deste artigo, deverá ressarcir
§ 1o A ausência não excederá a 4 (quatro) anos, e finda o órgão ou entidade, na forma do art. 47 da Lei no 8.112,
a missão ou estudo, somente decorrido igual período, será de 11 de dezembro de 1990, dos gastos com seu aperfei-
permitida nova ausência. çoamento.
§ 2o Ao servidor beneficiado pelo disposto neste ar- § 6o Caso o servidor não obtenha o título ou grau que
tigo não será concedida exoneração ou licença para tratar justificou seu afastamento no período previsto, aplica-se
de interesse particular antes de decorrido período igual ao o disposto no § 5o deste artigo, salvo na hipótese com-
do afastamento, ressalvada a hipótese de ressarcimento da provada de força maior ou de caso fortuito, a critério do
despesa havida com seu afastamento. dirigente máximo do órgão ou entidade.
§ 3o O disposto neste artigo não se aplica aos servido- § 7o Aplica-se à participação em programa de pós-gra-
res da carreira diplomática. duação no Exterior, autorizado nos termos do art. 95 desta
§ 4o As hipóteses, condições e formas para a autori- Lei, o disposto nos §§ 1o a 6o deste artigo.
zação de que trata este artigo, inclusive no que se refere à
remuneração do servidor, serão disciplinadas em regula- Capítulo VIII
mento. Do Direito de Petição
Art. 96. O afastamento de servidor para servir em or-
ganismo internacional de que o Brasil participe ou com o Art. 104. É assegurado ao servidor o direito de reque-
qual coopere dar-se-á com perda total da remuneração. rer aos Poderes Públicos, em defesa de direito ou interesse
legítimo.
Seção IV Art. 105. O requerimento será dirigido à autoridade
Do Afastamento para Participação em Programa competente para decidi-lo e encaminhado por intermé-
de Pós-Graduação Stricto Sensu no País dio daquela a que estiver imediatamente subordinado o
requerente.
Art. 96-A. O servidor poderá, no interesse da Admi- Art. 106. Cabe pedido de reconsideração à autoridade
nistração, e desde que a participação não possa ocorrer que houver expedido o ato ou proferido a primeira decisão,
simultaneamente com o exercício do cargo ou mediante não podendo ser renovado.
compensação de horário, afastar-se do exercício do cargo Parágrafo único. O requerimento e o pedido de recon-
efetivo, com a respectiva remuneração, para participar em sideração de que tratam os artigos anteriores deverão ser
programa de pós-graduação stricto sensu em instituição despachados no prazo de 5 (cinco) dias e decididos dentro
de ensino superior no País. de 30 (trinta) dias.

69
DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 107. Caberá recurso:


I - do indeferimento do pedido de reconsideração; DO REGIME DISCIPLINAR: DOS DEVERES E
II - das decisões sobre os recursos sucessivamente in- PROIBIÇÕES; DA ACUMULAÇÃO; DAS RESPONSA-
terpostos. BILIDADES; DAS PENALIDADES
§ 1o O recurso será dirigido à autoridade imediata-
mente superior à que tiver expedido o ato ou proferido a
decisão, e, sucessivamente, em escala ascendente, às de-
mais autoridades. Do Regime Disciplinar
§ 2o O recurso será encaminhado por intermédio da
autoridade a que estiver imediatamente subordinado o re- Título IV
querente. Do Regime Disciplinar
Art. 108. O prazo para interposição de pedido de re-
consideração ou de recurso é de 30 (trinta) dias, a contar O regime disciplinar do servidor público civil federal
da publicação ou da ciência, pelo interessado, da decisão está estabelecido basicamente de duas maneiras: deveres
recorrida. e proibições. Ontologicamente, são a mesma coisa: am-
Art. 109. O recurso poderá ser recebido com efeito bos deveres e proibições são normas protetivas da boa
suspensivo, a juízo da autoridade competente. Administração. Nas duas hipóteses, violado o preceito,
Parágrafo único. Em caso de provimento do pedido cabível é uma punição. Deve-se notar, porém, que os de-
veres constam da lei como ações, como conduta positiva;
de reconsideração ou do recurso, os efeitos da decisão re-
as proibições, ao contrário, são descritas como condutas
troagirão à data do ato impugnado.
vedadas ao servidor, de modo que ele deve abster-se de
Art. 110. O direito de requerer prescreve:
praticá-las. Os deveres estão inscritos no artigo 116, não
I - em 5 (cinco) anos, quanto aos atos de demissão e
de modo exaustivo, porque o servidor deve obediência a
de cassação de aposentadoria ou disponibilidade, ou que
todas as normas legais ou infralegais, e o próprio inciso
afetem interesse patrimonial e créditos resultantes das re-
III do referido dispositivo é, de certa maneira, uma norma
lações de trabalho;
disciplinar em branco33.
II - em 120 (cento e vinte) dias, nos demais casos, salvo
“Estes dispositivos preveem, basicamente, um conjun-
quando outro prazo for fixado em lei.
to de normas de conduta e de proibições impostas pela lei
Parágrafo único. O prazo de prescrição será contado aos servidores por ela abrangidos, tendo em vista a pre-
da data da publicação do ato impugnado ou da data da venção, a apuração e a possível punição de atos e omissões
ciência pelo interessado, quando o ato não for publicado. que possam por em risco o funcionamento adequado da
Art. 111. O pedido de reconsideração e o recurso, administração pública, do posto de vista ético, do ponto de
quando cabíveis, interrompem a prescrição. vista da eficiência e do ponto de vista da legalidade. Decor-
Art. 112. A prescrição é de ordem pública, não poden- rem, estes dispositivos, do denominado Poder Disciplinar
do ser relevada pela administração. que é aquele conferido à Administração com o objetivo de
Art. 113. Para o exercício do direito de petição, é asse- manter sua disciplina interna, na medida em que lhe atribui
gurada vista do processo ou documento, na repartição, ao instrumentos para punir seus servidores (e também àqueles
servidor ou a procurador por ele constituído. que estejam a ela vinculados por um instrumento jurídico
Art. 114. A administração deverá rever seus atos, a determinado - particulares contratados pela Administra-
qualquer tempo, quando eivados de ilegalidade. ção). [...]“O disposto no Título IV da lei nº 8.112/90 prevê
Art. 115. São fatais e improrrogáveis os prazos estabe- basicamente um conjunto de obrigações impostas aos ser-
lecidos neste Capítulo, salvo motivo de força maior. vidores por ela regidos. Tais obrigações, ora positivas (os
Estabelece a CF, no art. 5°, XXIV, a) o direito de peti- denominados Deveres – art. 116), ora negativas (as denomi-
ção, assegurado a todos: “são a todos assegurados, inde- nadas Proibições – art. 117) uma vez inadimplidas ensejam
sua imediata apuração (art. 143) e uma vez comprovadas
pendentemente do pagamento de taxas: a) o direito de
importam na responsabilização administrativa, a desafiar,
petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou
então, a aplicação de uma das sanções administrativas (art.
contra ilegalidade ou abuso de poder;”. Os artigos acima 127). Não é por outra razão que o art. 124 declara que a res-
descrevem o direito de petição específico dos servidores ponsabilidade administrativa resulta da prática de ato omis-
públicos. sivo (quando o servidor deixa de cumprir os deveres a ele
impostos) ou comissivo (quando viola proibição) praticado
no desempenho do cargo ou função”34.

33 LIMA, Fábio Lucas de Albuquerque. O regime disciplinar


dos servidores federais. Disponível em: <http://www.sato.adm.br/
artigos/o_regime_disciplinar_dos_servidores_federais.htm>. Acesso
em: 11 ago. 2013.
34 MORGATO, Almir. O Regime Disciplinar dos Servidores
Públicos da União. Disponível em: <http://www.canaldosconcursos.
com.br/artigos/almirmorgado_artigo1.pdf>. Acesso em: 11 ago. 2013.

70
DIREITO ADMINISTRATIVO

Capítulo I “A função desta norma é de não deixar sem resposta


Dos Deveres qualquer que seja a irregularidade cometida. Daí a necessária
correlação nesses casos que temos de fazer do art. 116, inciso
Art. 116.  São deveres do servidor: III, com a norma violada, e já prevista em outra lei, decreto,
Os deveres do servidor previstos na Lei n° 8.112/90 instrução, ordem de serviço ou portaria”.
são em muito compatíveis com os previstos no Código de IV - cumprir as ordens superiores, exceto quando mani-
Ética profissional do Servidor Público Civil do Poder Exe- festamente ilegais;
cutivo Federal (Decreto n° 1.171/94). Descrevem algumas “O servidor integra a estrutura organizacional do órgão
das condutas esperadas do servidor público quando do em que presta suas atribuições funcionais. O Estado se mo-
desempenho de suas funções. Em resumo, o servidor pú- vimenta através dos seus diversos órgãos. Dentro dos ór-
blico deve desempenhar suas funções com cuidado, rapi- gãos públicos, há um escalonamento de cargos e funções
dez e pontualidade, sendo leal à instituição que compõe, que servem ao cumprimento da vontade do ente estatal.
Este escalonamento, posto em movimento, é o que vimos
respeitando as ordens de seus superiores que sejam ade-
até agora chamando de hierarquia. A hierarquia existe para
quadas às funções que desempenhe e buscando conservar
que do alto escalão até a prática dos administrados as coisas
o patrimônio do Estado. No tratamento do público, deve
funcionem. Disso decorre que quando é emitida uma ordem
ser prestativo e não negar o acesso a informações que não
para o servidor subordinado, este deve dar cumprimento ao
sejam sigilosas. Caso presencie alguma ilegalidade ou abu- comando. Porém quando a ordem é visivelmente ilegal, arbi-
so de poder, deve denunciar. Tomam-se como base os en- trária, inconstitucional ou absurda, o servidor não é obrigado
sinamentos de Lima35 a respeito destes deveres: a dar seguimento ao que lhe é ordenado. Quando a ordem
I - exercer com zelo e dedicação as atribuições do cargo; é manifestamente ilegal? Há uma margem de interpretação,
“O primeiro dos deveres insculpidos no regime estatu- principalmente se o servidor subordinado não tiver nenhu-
tário é o dever de zelo. O zelo diz respeito às atribuições ma formação de ordem jurídica. Logo, é o bom senso que irá
funcionais e também ao cuidado com a economia do ma- margear o que é flagrantemente inconstitucional”.
terial, os bens da repartição e o patrimônio público. Sob o V - atender com presteza:
prisma da disciplina e da conservação dos bens e materiais a) ao público em geral, prestando as informações requeri-
da repartição, o servidor deve sempre agir com dedicação das, ressalvadas as protegidas por sigilo;
no desempenho das funções do cargo que ocupa, e que b) à expedição de certidões requeridas para defesa de direi-
lhe foram atribuídas desde o termo de posse. O servidor to ou esclarecimento de situações de interesse pessoal;
não é o dono do cargo. Dono do cargo é o Estado que o c) às requisições para a defesa da Fazenda Pública.
remunera. Se o referido cargo não lhe pertence, o servi- “Este dever foi insculpido na lei para que o servidor públi-
dor deve exercer suas funções com o máximo de zelo que co trabalhe diuturnamente no sentido de desfazer a imagem
estiver ao seu alcance. Sua eventual menor capacidade de desagradável que o mesmo possui perante a sociedade. Exi-
desempenho, para não configurar desídia ou insuficiência ge-se que atue com presteza no atendimento a informações
de desempenho, deverá ser compensada com um maior solicitadas pela Fazenda Pública. Esta engloba o fisco federal,
esforço e dedicação de sua parte. Se um servidor altamen- estadual, municipal e distrital. O servidor público tem que ser
te preparado e capaz, vem a praticar atos que configurem expedito, diligente, laborioso. Não há mais lugar para o bu-
desídia ou mesmo falta mais grave, poderá vir a ser punido. rocrata que se afasta do administrado, dificultando a vida de
Porque o que se julgará não é a pessoa do servidor, mas a quem necessita de atendimento rápido e escorreito. Entretan-
conduta a ele imputável. O zelo não deve se limitar apenas to, há um longo caminho a ser percorrido até que se atinja um
às atribuições específicas de sua atividade. O servidor deve mínimo ideal de atendimento e de funcionamento dos órgãos
públicos, o que deve necessariamente passar por critérios de
ter zelo não somente com os bens e interesses imateriais
valorização dos servidores bons e de treinamento e qualifica-
(a imagem, os símbolos, a moralidade, a pontualidade, o
ção permanente dos quadros de pessoal”.
sigilo, a hierarquia) como também para com os bens e in-
VI - levar as irregularidades de que tiver ciência em razão
teresses patrimoniais do Estado”.
do cargo ao conhecimento da autoridade superior ou, quando
II - ser leal às instituições a que servir; houver suspeita de envolvimento desta, ao conhecimento de
“O servidor que cumprir todos os deveres e normas outra autoridade competente para apuração; 
administrativas já positivadas, consequentemente, é leal à “Todo servidor público é obrigado a dar conhecimen-
instituição que lhe remunera. Sob o prisma constitucional é to ao chefe da repartição acerca das irregularidades de que
que devemos entender a norma hoje. Sendo assim, o dever toma conhecimento no exercício de suas atribuições. Deve
de lealdade está inserido no Estatuto como norma progra- levar ao conhecimento da chefia imediata pelo sistema hie-
mática, orientadora da conduta dos servidores”. rárquico. Supõe-se que os titulares das chefias ou divisões
III - observar as normas legais e regulamentares; detêm um conhecimento maior de como corrigir o erro ou
comunicar aos órgãos de controle para a devida apuração. De
nada adiantaria o servidor, ciente de um ato irregular, ir co-
35 LIMA, Fábio Lucas de Albuquerque. O regime disciplinar
dos servidores federais. Disponível em: <http://www.sato.adm.br/
municar ao público ou a terceiros. Além do dever de sigilo, há
artigos/o_regime_disciplinar_dos_servidores_federais.htm>. Acesso assuntos que exigem certas reservas, visando ao bem do ser-
em: 11 ago. 2013. viço público, da segurança nacional e mesmo da sociedade”.

71
DIREITO ADMINISTRATIVO

VII - zelar pela economia do material e a conservação do X - ser assíduo e pontual ao serviço;


patrimônio público; “Dois conceitos diferentes, porém parecidos. Ser assíduo
“Esse deve é basilar. Se o agente não zelar pela economia significa ser presente dentro do horário do expediente. O opos-
e pela conservação dos bens públicos presta um desserviço à to do assíduo é o ausente, o faltoso. Pontual é aquele servi-
nação que lhe remunera. E como se verá adiante poderá ser dor que não atrasa seus compromissos. É o que comparece
causa inclusive de demissão, se não cumprir o presente dever, no horário para as reuniões de trabalho e demais atividades
quando por descumprimento dele a gravidade do fato implicar relacionadas com o exercício do cargo que ocupa. Embora se-
a infração a normas mais graves”. jam conceitos diferentes, aqui o dever violado, seja por impon-
VIII - guardar sigilo sobre assunto da repartição; tualidade, seja por inassiduidade (que ainda não aquela inassi-
“O agente público deve guardar sigilo sobre o que se passa duidade habitual de 60 dias ensejadora de demissão), merece
na repartição, principalmente quanto aos assuntos oficiais. Pela reprimenda de advertência, com fins educativos e de correção
Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011, hoje está regula- do servidor”.
mentado o acesso às informações. Porém, o servidor deve ter XI - tratar com urbanidade as pessoas;
cuidado, pois até mesmo o fornecimento ou divulgação das in- “No mundo moderno, e máxime em nossa civilização oci-
formações exigem um procedimento. Maior cuidado há que se dental, o trato tem que ser o mais urbano possível. Urbano,
ter, quando a informação possa expor a intimidade da pessoa nessa acepção, não quer dizer citadino ou oriundo da urbe (ci-
humana. As informações pessoais dos administrados em geral dade), mas, sim, educado, civilizado, cordato e que não possa
devem ser tratadas forma transparente e com respeito à inti- criar embaraços aos usuários dos serviços públicos”.
midade, à vida privada, à honra e à imagem das pessoas, bem XII - representar contra ilegalidade, omissão ou abuso de
como às liberdades e garantias individuais, segundo o artigo poder.
31, da Lei nº 21.527, 2011. A exceção para o sigilo existe, pois, Parágrafo único.  A representação de que trata o inciso XII
não devemos tratar a questão em termos de cláusula jurídica será encaminhada pela via hierárquica e apreciada pela autori-
de caráter absoluto, podendo ter autorizada a divulgação ou o dade superior àquela contra a qual é formulada, asseguran-
acesso por terceiros quando haja previsão legal. Outra exceção
do-se ao representando ampla defesa.
é quando há o consentimento expresso da pessoa a que elas
Caso o funcionário público denuncie outro servidor, esta
se referirem. No caso de cumprimento de ordem judicial, para
a defesa de direitos humanos, e quando a proteção do inte- representação será encaminhada a alguém que seja superior
resse público e geral preponderante o exigir, também devem hierarquicamente ao denunciado, que terá direito à ampla de-
ser fornecidas as informações. Portanto, o servidor há que ter fesa.
reserva no seu comportamento e fala, esquivando-se de reve- “O servidor tem obrigação legal de dar conhecimento às
lar o conteúdo do que se passa no seu trabalho. Se o assunto autoridades de qualquer irregularidade de que tiver ciência
pululante é uma irregularidade absurda, deve então reduzir a em razão do cargo, principalmente no processo em que está
escrito e representar para que se apure o caso. Deveriam dimi- atuando ou quando o fato aconteceu sob as suas vistas. Não é
nuir as conversas de corredor e se efetivar a apuração dos fatos concebível que o servidor se defronte com uma irregularidade
através do processo administrativo disciplinar. Os assuntos ob- administrativa e fique inerte. Deve provocar quem de direito
jeto do serviço merecem reserva. Devem ficar circunscritos aos para que a irregularidade seja sanada de imediato. Caso haja
servidores designados para o respectivo trabalho interno, não indiferença no seu círculo de atuação, i.e., no seu setor ou seção,
devendo sair da seção ou setor de trabalho, sem o trâmite hie- deverá representar aos órgãos superiores. Assim é que o dever
rárquico do chefe imediato. Se o assunto ou o trabalho, enfim, de informar acerca de irregularidades anda de braço dado com
merecer divulgação mais ampla, deve ser contatado o órgão o dever de representar. Não surtindo efeito a notícia da irregu-
de assessoria de comunicação social, que saberá proceder de laridade, não corrigida esta, sobrevém o dever de representar.
forma oficial, obedecendo ao bom senso e às leis vigentes”. O dever de representação não deixa de ser uma prerrogativa
legal, investindo o servidor de um múnus público importante,
IX - manter conduta compatível com a moralidade admi-
constituindo o servidor em um curador legal do ente público. O
nistrativa;
“O ato administrativo não se satisfaz somente com o ser le- mais humilde servidor passa a ser um agente promotor de le-
gal. Para ser válido o ato administrativo tem que ser compatível galidade. É claro o inciso XII do art. 116 quando diz que é dever
com a moralidade administrativa. O agente deve se comportar do servidor “representar contra ilegalidade, omissão ou abuso
em seus atos de maneira proba, escorreita, séria, não atuando de poder”. De modo que também a omissão pode ensejar a re-
com intenções escusas e desvirtuadas. Seu poder-dever não presentação. A omissão do agente que ilegalmente não pratica
pode ser utilizado, por exemplo, para satisfação de interesses ato a que se acha vinculado pode até configurar o ilícito penal
menores, como realizar a prática de determinado ato para be- de prevaricação. O dever de representação deve ser privilegia-
neficiar uma amante ou um parente. Se o agente viola o dever do, mas deve ser usado com o devido equilíbrio, não podendo
de agir com comportamento incompatível com a moralidade servir a finalidades egoísticas, político-partidárias, induzido por
administrativa, poderá estar sujeito a sanção disciplinar. Seu ato inimizades de cunho pessoal, o que de pronto trespassará o
ímprobo ou imoral configura o chamado desvio de poder, que representante de autor a réu por prática de abuso de poder ou
é totalmente abominável no Direito Administrativo e poderá denunciação caluniosa”.
ser anulado interna corporis ou judicialmente através da ação
popular, ação de ressarcimento ao erário e ação civil pública se
o ato violar direito coletivo ou transindividual”.

72
DIREITO ADMINISTRATIVO

Capítulo II Súmula Vinculante nº 13: “A nomeação de cônjuge,


Das Proibições companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afi-
nidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomean-
Art. 117.  Ao servidor é proibido:  te ou de servidor da mesma pessoa jurídica, investido em
Em contraposição aos deveres do servidor público, cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício
existem diversas proibições, que também estão em boa de cargo em comissão ou de confiança, ou, ainda, de fun-
parte abrangidas pelo Decreto n° 1.171/94. A violação dos ção gratificada na Administração Pública direta e indireta,
deveres ou a prática de alguma das violações abaixo des- em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
critas caracterizam infração administrativa disciplinar. Federal e dos municípios, compreendido o ajuste mediante
“Nas Proibições – art. 117, constata-se, desde logo, sua designações recíprocas, viola a Constituição Federal.” Obs.: se
objetividade e taxatividade, o que veda sua ampliação e o o concurso pedir pelo entendimento jurisprudencial, vá pela
uso de interpretações analógicas ou sistemáticas visto se- súmula, mas se não mencionar nada se atenha ao texto da
rem condutas restritivas de direitos, sujeitas, portanto, ao lei, visto que há pequenas variações entre o texto da súmula
princípio da reserva legal. O descumprimento dessas proi- e o da lei.
bições podem inclusive, ensejar o enquadramento penal IX - valer-se do cargo para lograr proveito pessoal ou de
do servidor, pois muitas das condutas ali descritas, confi- outrem, em detrimento da dignidade da função pública;
guram prática de delito penal”36. O cargo público serve apenas aos interesses da admi-
I - ausentar-se do serviço durante o expediente, sem nistração pública, ou seja, da coletividade, não aos interesses
prévia autorização do chefe imediato; pessoais do servidor.
Violação do dever de assiduidade. X - participar de gerência ou administração de socie-
II - retirar, sem prévia anuência da autoridade compe- dade privada, personificada ou não personificada, exercer o
tente, qualquer documento ou objeto da repartição; comércio, exceto na qualidade de acionista, cotista ou coman-
Violação do dever de zelo com o patrimônio público. ditário;
III - recusar fé a documentos públicos; Não cabe ao servidor público administrar sociedade pri-
É dever do servidor público conferir fé aos documentos vada, o que pode comprometer sua eficiência e imparciali-
públicos, revestindo-lhes da autoridade e confiança que dade no exercício da função pública. No princípio, ou seja,
seu cargo possui. Violação do dever de transparência. na redação original do Estatuto era proibida apenas a par-
IV - opor resistência injustificada ao andamento de ticipação do servidor como sócio gerente ou administrador
documento e processo ou execução de serviço; de empresa privada, exceto na qualidade de mero cotista,
Não cabe impedir que o trâmite da administração seja acionário ou comanditário. Atualmente, a empresa pode até
alterado por um capricho pessoal. Violação ao dever de ce- não estar personificada, por exemplo, não estar devidamente
leridade e eficiência, bem como de impessoalidade. constituída e registrada nos órgãos competentes (Junta Co-
V - promover manifestação de apreço ou desapreço no mercial, fisco estadual, municipal, distrital e federal, e órgãos
recinto da repartição; de controle: ambiental, trabalhista etc.). Comprovada detida-
Violação do dever de discrição. mente a gerência ou administração da sociedade particular
VI - cometer a pessoa estranha à repartição, fora dos em concomitância com a pretensa carga horária da repar-
casos previstos em lei, o desempenho de atribuição que seja tição pública, deve ser aplicada a penalidade de demissão.
de sua responsabilidade ou de seu subordinado; XI - atuar, como procurador ou intermediário, junto a
Quem é designado para o desempenho de uma função repartições públicas, salvo quando se tratar de benefícios pre-
pública deve desempenhá-la, não podendo designar outra videnciários ou assistenciais de parentes até o segundo grau, e
pessoa para prestar seus serviços ou de seu subordinado. de cônjuge ou companheiro;
VII - coagir ou aliciar subordinados no sentido de fi- Não cabe atuar como procurador perante repartições
liarem-se a associação profissional ou sindical, ou a partido públicas de forma profissional. Daí a limitação à atuação
político; como representante de parente até segundo grau (irmãos,
O direito de associação é livre, não podendo um fun- ascendentes e descendentes, cônjuges e companheiros).
cionário forçar o seu subordinado a associar-se sindical ou XII - receber propina, comissão, presente ou vantagem
politicamente. de qualquer espécie, em razão de suas atribuições;
VIII - manter sob sua chefia imediata, em cargo ou fun- A percepção de vantagem indevida gerando enriqueci-
ção de confiança, cônjuge, companheiro ou parente até o mento ilícito também caracteriza ato de improbidade admi-
segundo grau civil; nistrativa de maior gravidade, bem como crime de corrupção
É a chamada prática de nepotismo. Do latim nepos, passiva.
neto ou descendente, é o termo utilizado para designar o XIII - aceitar comissão, emprego ou pensão de estado
favorecimento de parentes (ou amigos próximos) em detri- estrangeiro;
mento de pessoas mais qualificadas, especialmente no que Trata-se de indício da intenção de praticar atos contrá-
diz respeito à nomeação ou elevação de cargos. O Decreto rios ao interesse do Estado ao qual esteja vinculado.
nº 7.203, de 4 de junho de 2010 dispõe sobre a vedação XIV - praticar usura sob qualquer de suas formas;
do nepotismo no âmbito da administração pública federal. Usura significa agiotagem, que é o empréstimo de di-
36 MORGATO, Almir. O Regime Disciplinar dos Servidores
nheiro a particulares obtendo juros abusivos em troca. As ati-
Públicos da União. Disponível em: <http://www.canaldosconcursos. vidades de empréstimo somente podem ser desempenhadas
com.br/artigos/almirmorgado_artigo1.pdf>. Acesso em: 11 ago. 2013. com fim lucrativo por instituições credenciadas.

73
DIREITO ADMINISTRATIVO

XV - proceder de forma desidiosa; § 1o  A proibição de acumular estende-se a cargos, em-


Desídia é desleixo, descuido, preguiça, indolência. pregos e funções em autarquias, fundações públicas, em-
XVI - utilizar pessoal ou recursos materiais da repartição presas públicas, sociedades de economia mista da União,
em serviços ou atividades particulares; do Distrito Federal, dos Estados, dos Territórios e dos Mu-
O aparato da administração pública pertence ao Estado, nicípios.
não cabendo ao servidor utilizá-lo em atividades particulares. A proibição vale tanto para a administração direta
XVII - cometer a outro servidor atribuições estranhas ao quanto para a indireta.
cargo que ocupa, exceto em situações de emergência e transi- § 2o  A acumulação de cargos, ainda que lícita, fica con-
tórias; dicionada à comprovação da compatibilidade de horários.
Cada servidor público tem sua atribuição legal, não ca- Se o Estado pretende que o desempenho de atividade
bendo designá-lo para desempenhar funções diversas salvo cumulada não gere prejuízo à função pública, correto que
em caso de extrema necessidade. exija a comprovação de compatibilidade de horários;
XVIII - exercer quaisquer atividades que sejam incompa- §  3o  Considera-se acumulação proibida a percepção
tíveis com o exercício do cargo ou função e com o horário de de vencimento de cargo ou emprego público efetivo com
trabalho; proventos da inatividade, salvo quando os cargos de que
O exercício de atividades incompatíveis propicia uma vio- decorram essas remunerações forem acumuláveis na ati-
lação ao princípio da imparcialidade. vidade.
XIX - recusar-se a atualizar seus dados cadastrais quando Exterioriza-se, por exemplo, a proibição de que o
solicitado. agente se aposente do serviço público e continue o exer-
A atualização de dados cadastrais é necessária para man- cendo, recebendo aposentadoria e salário.
ter a administração ciente da situação de seu servidor. Art. 119.  O servidor não poderá exercer mais de um
Parágrafo único.  A vedação de que trata o inciso X do cargo em comissão, exceto no caso previsto no parágrafo
caput deste artigo não se aplica nos seguintes casos:  único do art. 9o, nem ser remunerado pela participação em
I - participação nos conselhos de administração e fiscal órgão de deliberação coletiva. 
de empresas ou entidades em que a União detenha, direta ou Cargo em comissão é aquele que não exige aprovação
indiretamente, participação no capital social ou em sociedade em concurso público, sendo designado para o exercício
cooperativa constituída para prestar serviços a seus membros; e  por possuir um vínculo de confiança com o superior. So-
II - gozo de licença para o trato de interesses particulares, mente é possível exercer 1, salvo interinamente. Da mesma
na forma do art. 91 desta Lei, observada a legislação sobre con- forma, não cabe remuneração por participar de órgão de
flito de interesses.  deliberação coletiva.
Nestes casos, é possível participar diretamente da admi- Parágrafo único.  O disposto neste artigo não se aplica à
nistração de sociedade privada, pois o interesse estatal não remuneração devida pela participação em conselhos de ad-
será comprometido. ministração e fiscal das empresas públicas e sociedades de
economia mista, suas subsidiárias e controladas, bem como
Capítulo III quaisquer empresas ou entidades em que a União, direta
Da Acumulação ou indiretamente, detenha participação no capital social,
observado o que, a respeito, dispuser legislação específica. 
Art. 118.  Ressalvados os casos previstos na Constituição, é O exercício de função em determinados conselhos de
vedada a acumulação remunerada de cargos públicos. administração e fiscais aceita remuneração. Trata-se de ex-
Estabelece o artigo 37, XVI da Constituição Federal: ceção ao caput.
É vedada a acumulação remunerada de cargos públicos,
exceto, quando houver compatibilidade de horários, observa- Art. 120.  O servidor vinculado ao regime desta Lei, que
do em qualquer caso o disposto no inciso XI.  acumular licitamente dois cargos efetivos, quando investido
a) a de dois cargos de professor;  em cargo de provimento em comissão, ficará afastado de
b) a de um cargo de professor com outro técnico ou ambos os cargos efetivos, salvo na hipótese em que houver
científico; compatibilidade de horário e local com o exercício de um
c) a de dois cargos ou empregos privativos de profis- deles, declarada pelas autoridades máximas dos órgãos ou
sionais de saúde, com profissões regulamentadas; entidades envolvidos.
Segundo Carvalho Filho37, “o fundamento da proibição é Se o servidor já cumular dois cargos efetivos e for
impedir que o cúmulo de funções públicas faça com que o investido de um cargo em comissão, ficará afastado dos
servidor não execute qualquer delas com a necessária eficiên- cargos efetivos a não ser que exista compatibilidade de
cia. Além disso, porém, pode-se observar que o Constituinte horários e local com um deles, caso em que se afastará de
quis também impedir a cumulação de ganhos em detrimento somente um cargo efetivo.
da boa execução de tarefas públicas. [...] Nota-se que a veda- “Os artigos 118 a 120 da lei nº 8.112/90 ao tratarem da
ção se refere à acumulação remunerada. Em consequência, acumulação de cargos e funções públicas, regulamentam,
se a acumulação só encerra a percepção de vencimentos por no âmbito do serviço público federal a vedação genérica
uma das fontes, não incide a regra constitucional proibitiva”. constante do art. 37, incisos VXI e XVII, da Constituição da
República. De fato, a acumulação ilícita de cargos públi-
37 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito ad- cos constitui uma das infrações mais comuns praticadas
ministrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010. por servidores públicos, o que se constata observando o

74
DIREITO ADMINISTRATIVO

elevado número de processos administrativos instaurados Genericamente, os elementos da responsabilidade civil


com esse objeto. O sistema adotado pela lei nº 8.112/90 se encontram no art. 186 do Código Civil: “aquele que, por
é relativamente brando, quando cotejado com outros es- ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
tatutos de alguns Estados, visto que propicia ao servidor violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusiva-
incurso nessa ilicitude diversas oportunidades para regu- mente moral, comete ato ilícito”. Este é o artigo central do
larizar sua situação e escapar da pena de demissão. Tam- instituto da responsabilidade civil, que tem como elemen-
bém prevê a lei em comentário, um processo administrati- tos: ação ou omissão voluntária (agir como não se deve
vo simplificado (processo disciplinar de rito sumário) para ou deixar de agir como se deve), culpa ou dolo do agente
a apuração dessa infração – art. 133” 38. (dolo é a vontade de cometer uma violação de direito e
culpa é a falta de diligência), nexo causal (relação de causa
Capítulo IV e efeito entre a ação/omissão e o dano causado) e dano
Das Responsabilidades (dano é o prejuízo sofrido pelo agente, que pode ser in-
dividual ou coletivo, moral ou material, econômico e não
Art. 121.  O servidor responde civil, penal e administrati-
econômico).
vamente pelo exercício irregular de suas atribuições.
Prevê o artigo 37, §6° da Constituição Federal:
Segundo Carvalho Filho39, “a responsabilidade se origina
As pessoas jurídicas de direito público e as de direito pri-
de uma conduta ilícita ou da ocorrência de determinada si-
tuação fática prevista em lei e se caracteriza pela natureza do vado prestadoras de serviços públicos responderão pelos da-
campo jurídico em que se consuma. Desse modo, a responsa- nos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros,
bilidade pode ser civil, penal e administrativa. Cada responsa- assegurado o direito de regresso contra o responsável nos
bilidade é, em princípio, independente da outra”. casos de dolo ou culpa.
É possível que o mesmo fato gere responsabilidade civil, Este artigo deixa clara a formação de uma relação ju-
penal e administrativa, mas também é possível que este gere rídica autônoma entre o Estado e o agente público que
apenas uma ou outra espécie de responsabilidade. Daí o fato causou o dano no desempenho de suas funções. Nesta
das responsabilidades serem independentes: o mesmo fato relação, a responsabilidade civil será subjetiva, ou seja,
pode gerar a aplicação de qualquer uma delas, cumulada ou caberá ao Estado provar a culpa do agente pelo dano
isoladamente. causado, ao qual foi anteriormente condenado a reparar.
Art. 122.  A responsabilidade civil decorre de ato omissivo Direito de regresso é justamente o direito de acionar o
ou comissivo, doloso ou culposo, que resulte em prejuízo causador direto do dano para obter de volta aquilo que
ao erário ou a terceiros. pagou à vítima, considerada a existência de uma relação
§ 1o  A indenização de prejuízo dolosamente causado ao obrigacional que se forma entre a vítima e a instituição
erário somente será liquidada na forma prevista no art. 46, na que o agente compõe.
falta de outros bens que assegurem a execução do débito pela Assim, o Estado responde pelos danos que seu agen-
via judicial. te causar aos membros da sociedade, mas se este agen-
§ 2o  Tratando-se de dano causado a terceiros, responderá te agiu com dolo ou culpa deverá ressarcir o Estado do
o servidor perante a Fazenda Pública, em ação regressiva. que foi pago à vítima. O agente causará danos ao praticar
§ 3o  A obrigação de reparar o dano estende-se aos su- condutas incompatíveis com o comportamento ético dele
cessores e contra eles será executada, até o limite do valor da esperado.41
herança recebida. A responsabilidade civil do servidor exige prévio pro-
O instituto da responsabilidade civil é parte integrante do cesso administrativo disciplinar no qual seja assegurado
direito obrigacional, uma vez que a principal consequência da contraditório e ampla defesa.
prática de um ato ilícito é a obrigação que gera para o seu auto Trata-se de responsabilidade civil subjetiva ou com
de reparar o dano, mediante o pagamento de indenização que culpa. Havendo ação ou omissão com culpa do servidor
se refere às perdas e danos. Afinal, quem pratica um ato ou in- que gere dano ao erário (Administração) ou a terceiro (ad-
corre em omissão que gere dano deve suportar as consequên- ministrado), o servidor terá o dever de indenizar.
cias jurídicas decorrentes, restaurando-se o equilíbrio social.40
A responsabilidade civil, assim, difere-se da penal, poden- Art. 123.  A responsabilidade penal abrange os crimes
do recair sobre os herdeiros do autor do ilícito até os limites e contravenções imputadas ao servidor, nessa qualidade.
da herança, embora existam reflexos na ação que apure a res- A responsabilidade penal do servidor decorre de uma
ponsabilidade civil conforme o resultado na esfera penal (por conduta que a lei penal tipifique como infração penal, ou
exemplo, uma absolvição por negativa de autoria impede a seja, como crime ou contravenção penal.
condenação na esfera cível, ao passo que uma absolvição por O servidor poderá ser responsabilizado apenas penal-
falta de provas não o faz). mente, uma vez que somente caberá responsabilização civil
38 MORGATO, Almir. O Regime Disciplinar dos Servidores se o ato tiver causado prejuízo ao erário (elemento dano).
Públicos da União. Disponível em: <http://www.canaldosconcursos. Os crimes contra a Administração Pública se encon-
com.br/artigos/almirmorgado_artigo1.pdf>. Acesso em: 11 ago. 2013. tram nos artigos 312 a 326 do Código Penal, mas existem
39 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito ad- outros crimes espalhados pela legislação específica.
ministrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.
40 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil. 9. 41 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Administrativo. 13. ed. São
ed. São Paulo: Saraiva, 2005. Paulo: Método, 2011.

75
DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 124.  A responsabilidade civil-administrativa resulta Capítulo V


de ato omissivo ou comissivo praticado no desempenho do Das Penalidades
cargo ou função.
Quando o servidor pratica um ilícito administrativo, a ele Art. 127.  São penalidades disciplinares:
é atribuída responsabilidade administrativa. O ilícito pode ve- I - advertência;
rificar-se por conduta comissiva ou omissiva e os fatos que II - suspensão;
o configuram são os previstos na legislação estatutária. Por III - demissão;
exemplo, as sanções aplicadas pela Comissão de Ética por IV - cassação de aposentadoria ou disponibilidade;
violação ao Decreto n° 1.171/94 são administrativas. V - destituição de cargo em comissão;
Art. 125.  As sanções civis, penais e administrativas pode- VI - destituição de função comissionada.
rão cumular-se, sendo independentes entre si. A advertência é a pena mais leve, um aviso de que o
Se as responsabilidades se cumularem, também as san- funcionário se portou de forma inadequada e de que isso
ções serão cumuladas. Daí afirmar-se que tais responsabilida- não deve se repetir. A suspensão é uma sanção intermediá-
des são independentes, ou seja, não dependem uma da outra. ria, fazendo com que o funcionário deixe de desempenhar
Art. 126.  A responsabilidade administrativa do servidor o cargo por certo período. Na demissão, o funcionário não
será afastada no caso de absolvição criminal que negue a mais exercerá o cargo, sendo assim sanção mais grave. Ou-
existência do fato ou sua autoria. tras sanções são cassação da aposentadoria ou disponibi-
Determinadas decisões na esfera penal geram exclusão lidade, destituição do cargo em comissão, destituição da
da responsabilidade nas esferas civil e administrativa, quais função comissionada.
sejam: absolvição por inexistência do fato ou negativa de au- Art. 128.  Na aplicação das penalidades serão conside-
toria. A absolvição criminal por falta de provas não gera exclu- radas a natureza e a gravidade da infração cometida,
são da responsabilidade civil e administrativa. os danos que dela provierem para o serviço público, as cir-
A absolvição proferida na ação penal, em regra, nada cunstâncias agravantes ou atenuantes e os antecedentes
prejudica a pretensão de reparação civil do dano ex delicto, funcionais.
conforme artigos 65, 66 e 386, IV do CPP: “art. 65. Faz coisa Parágrafo único.  O ato de imposição da penalidade
julgada no cível a sentença penal que reconhecer ter sido o mencionará sempre o fundamento legal e a causa da san-
ato praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, ção disciplinar. 
em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regu- De forma fundamentada, justificada, se escolherá por
lar de direito” (excludentes de antijuridicidade); “art. 66. não uma ou outra sanção, conforme a gravidade do ato pra-
obstante a sentença absolutória no juízo criminal, a ação civil ticado.
poderá ser proposta quando não tiver sido, categoricamente, Art. 129.  A advertência será aplicada por escrito, nos
reconhecida a inexistência material do fato”; “art. 386, IV casos de violação de proibição constante do art. 117, inci-
–  estar provado que o réu não concorreu para a infração sos I a VIII e XIX, e de inobservância de dever funcional
penal”. previsto em lei, regulamentação ou norma interna, que não
Entendem Fuller, Junqueira e Machado42: “a absolvição justifique imposição de penalidade mais grave.
dubitativa (motivada por juízo de dúvida), ou seja, por falta Vide comentários aos incisos I a VII e XIX do art. 117.
de provas, (art. 386, II, V e VII, na nova redação conferida ao A norma é genérica, envolvendo ainda qualquer outra vio-
CPP), não empresta qualquer certeza ao âmbito da jurisdi- lação de dever funcional que não exija sanção mais grave.
ção civil, restando intocada a possibilidade de, na ação civil
de conhecimento, ser provada e reconhecida a existência do Art. 130.  A suspensão será aplicada em caso de reinci-
direito ao ressarcimento, de acordo com o grau de cognição dência das faltas punidas com advertência e de violação
e convicção próprios da seara civil (na esfera penal, a decisão das demais proibições que não tipifiquem infração sujeita
de condenação somente pode ser lastreada em juízo de cer- a penalidade de demissão, não podendo exceder de 90
teza, tendo em vista o princípio constitucional do estado de (noventa) dias.
inocência)”.
A suspensão é uma sanção administrativa intermediá-
Art. 126-A. Nenhum servidor poderá ser responsabilizado
ria, aplicável se as práticas sujeitas a advertência se repe-
civil, penal ou administrativamente por dar ciência à autorida-
tirem ou em caso de infração grave que ainda assim não
de superior ou, quando houver suspeita de envolvimento desta,
gere pena de demissão.
a outra autoridade competente para apuração de informação
§  1o  Será punido com suspensão de até 15 (quin-
concernente à prática de crimes ou improbidade de que tenha
ze) dias o servidor que, injustificadamente, recusar-se a ser
conhecimento, ainda que em decorrência do exercício de cargo,
emprego ou função pública. submetido a inspeção médica determinada pela autorida-
Este dispositivo visa garantir que os servidores públicos de competente, cessando os efeitos da penalidade uma vez
denunciem os servidores hierarquicamente superiores. Afinal, cumprida a determinação.
todos teriam receio de denunciar se pudessem ser responsa- Trata-se de hipótese específica em que será aplicada
bilizados civil, penal ou administrativamente por tal denúncia suspensão.
caso no curso da apuração se verificasse que ela não procedia. § 2o  Quando houver conveniência para o serviço, a pe-
nalidade de suspensão poderá ser convertida em multa, na
42 FULLER, Paulo Henrique Aranda; JUNQUEIRA, Gustavo Oc- base de 50% (cinquenta por cento) por dia de vencimento
taviano Diniz; MACHADO, Angela C. Cangiano. Processo Penal. 9. ed. ou remuneração, ficando o servidor obrigado a permane-
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. (Coleção Elementos do Direito) cer em serviço.

76
DIREITO ADMINISTRATIVO

Se for inconveniente para a administração pública abrir I - instauração, com a publicação do ato que consti-
mão do servidor, poderá multá-lo em 50% de seu venci- tuir a comissão, a ser composta por dois servidores estáveis,
mento/remuneração diário pelo número de dias de sus- e simultaneamente indicar a autoria e a materialidade da
pensão. O servidor não poderá se recusar a permanecer transgressão objeto da apuração;
em serviço. II - instrução sumária, que compreende indiciação, de-
Art. 131.  As penalidades de advertência e de suspen- fesa e relatório; 
são terão seus registros cancelados, após o decurso de 3 III - julgamento.
(três) e 5 (cinco) anos de efetivo exercício, respectivamente, § 1o  A indicação da autoria de que trata o inciso I dar-
se o servidor não houver, nesse período, praticado nova in- -se-á pelo nome e matrícula do servidor, e a materia-
fração disciplinar. lidade pela descrição dos cargos, empregos ou funções
Parágrafo único.  O cancelamento da penalidade não públicas em situação de acumulação ilegal, dos órgãos
surtirá efeitos retroativos. ou entidades de vinculação, das datas de ingresso, do
O bom comportamento posterior do servidor faz com horário de trabalho e do correspondente regime jurídi-
que o registro de advertência (após 3 anos) ou suspensão co.
(após 5 anos) seja apagado de seu registro, o que não sig- § 2o  A comissão lavrará, até três dias após a publicação
nifica que o servidor poderá requerer, por exemplo, o pa- do ato que a constituiu, termo de indiciação em que serão
gamento referente aos dias que ficou suspenso. transcritas as informações de que trata o parágrafo anterior,
Art. 132.  A demissão será aplicada nos seguintes casos: bem como promoverá a citação pessoal do servidor indicia-
I - crime contra a administração pública; do, ou por intermédio de sua chefia imediata, para, no prazo
Artigos 312 a 326 do Código Penal. de cinco dias, apresentar defesa escrita, assegurando-se-lhe
II - abandono de cargo; vista do processo na repartição, observado o disposto nos
III - inassiduidade habitual; arts. 163 e 164.
§ 3o  Apresentada a defesa, a comissão elaborará rela-
Deixar totalmente de exercer o cargo ou faltar em ex-
tório conclusivo quanto à inocência ou à responsabilidade
cesso.
do servidor, em que resumirá as peças principais dos autos,
IV - improbidade administrativa;
opinará sobre a licitude da acumulação em exame, indicará
Atos descritos na Lei n° 8.429/92.
o respectivo dispositivo legal e remeterá o processo à au-
V - incontinência pública e conduta escandalosa, na
toridade instauradora, para julgamento.
repartição;
§ 4o  No prazo de cinco dias, contados do recebimento
Ausência de discrição no exercício das funções.
do processo, a autoridade julgadora proferirá a sua decisão,
VI - insubordinação grave em serviço; aplicando-se, quando for o caso, o disposto no § 3o  do art.
Violação grave do dever de obediência hierárquica. 167.
VII - ofensa física, em serviço, a servidor ou a particular, §  5o  A opção pelo servidor até o último dia de prazo
salvo em legítima defesa própria ou de outrem; para defesa configurará sua boa-fé, hipótese em que se con-
Ofensa física a servidor ou administrado que não para verterá automaticamente em pedido de exoneração do outro
se defender. cargo.
VIII - aplicação irregular de dinheiros públicos; § 6o  Caracterizada a acumulação ilegal e provada a má-
IX - revelação de segredo do qual se apropriou em ra- -fé, aplicar-se-á a pena de demissão, destituição ou cassa-
zão do cargo; ção de aposentadoria ou disponibilidade em relação aos
X - lesão aos cofres públicos e dilapidação do patri- cargos, empregos ou funções públicas em regime de acu-
mônio nacional; mulação ilegal, hipótese em que os órgãos ou entidades de
XI - corrupção; vinculação serão comunicados. 
XII - acumulação ilegal de cargos, empregos ou fun- § 7o  O prazo para a conclusão do processo adminis-
ções públicas; trativo disciplinar submetido ao rito sumário não excede-
Na verdade, são atos de improbidade administrativa, rá trinta dias, contados da data de publicação do ato que
então nem precisariam ser mencionados. constituir a comissão, admitida a sua prorrogação por até
quinze dias, quando as circunstâncias o exigirem.
XIII - transgressão dos incisos IX a XVI do art. 117. §  8o  O procedimento sumário rege-se pelas disposi-
Vide comentários aos incisos IX a XVI do art. 117. ções deste artigo, observando-se, no que lhe for aplicável,
subsidiariamente, as disposições dos Títulos IV e V desta Lei.
Art. 133.  Detectada a qualquer tempo a acumulação O artigo descreve o procedimento em caso de violação
ilegal de cargos, empregos ou funções públicas, a auto- do dever de não acumular cargos ilicitamente. No início,
ridade a que se refere o art. 143 notificará o servidor, por o servidor será notificado para se manifestar optando por
intermédio de sua chefia imediata, para apresentar opção um cargo. Se ficar omisso ou se recusar fazer a opção, será
no prazo improrrogável de dez dias, contados da data da instaurado processo administrativo disciplinar. Nele, o ser-
ciência e, na hipótese de omissão, adotará procedimento su- vidor poderá apresentar defesa no sentido de ser lícita a
mário para a sua apuração e regularização imediata, cujo cumulação. Mas até o último dia do prazo para defesa o
processo administrativo disciplinar se desenvolverá nas servidor poderá optar por um caso, caso em que o proce-
seguintes fases: dimento se converterá em pedido de exoneração do cargo
não escolhido, presumindo-se a boa-fé do servidor.

77
DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 134.  Será cassada a aposentadoria ou a dispo- a) na hipótese de abandono de cargo, pela indicação
nibilidade do inativo que houver praticado, na atividade, precisa do período de ausência intencional do servidor ao
falta punível com a demissão. serviço superior a trinta dias; 
Supondo que o servidor tenha praticado ato punível b) no caso de inassiduidade habitual, pela indicação dos
com demissão e, sabendo disso, se demita. Isso não evitará dias de falta ao serviço sem causa justificada, por período
que sua aposentadoria seja cassada, assim como ele seria igual ou superior a sessenta dias interpoladamente, durante
demitido se no exercício das funções. o período de doze meses;
Art. 135.  A destituição de cargo em comissão exer- II - após a apresentação da defesa a comissão elaborará
cido por não ocupante de cargo efetivo será aplicada nos relatório conclusivo quanto à inocência ou à responsabili-
casos de infração sujeita às penalidades de suspensão e dade do servidor, em que resumirá as peças principais dos
de demissão. autos, indicará o respectivo dispositivo legal, opinará, na hi-
Parágrafo único.  Constatada a hipótese de que trata pótese de abandono de cargo, sobre a intencionalidade da
este artigo, a exoneração efetuada nos termos do art. 35 será ausência ao serviço superior a trinta dias e remeterá o pro-
convertida em destituição de cargo em comissão. cesso à autoridade instauradora para julgamento.
Logo, a destituição do cargo em comissão por quem Por indicação de materialidade, entenda-se demons-
não ocupe um cargo efetivo é aplicável quando o comis- tração do fato. É preciso indicar especificamente os dias
sionado aplicar não só os atos sujeitos à pena de demissão, faltados.
mas também os sujeitos à pena de suspensão. Adota-se o procedimento do art. 133.
Art. 136.  A demissão ou a destituição de cargo em co- Art. 141.  As penalidades disciplinares serão aplicadas:
missão, nos casos dos incisos IV, VIII, X e XI do art. 132, im- I - pelo Presidente da República, pelos Presidentes das
plica a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao Casas do Poder Legislativo e dos Tribunais Federais e pelo
erário, sem prejuízo da ação penal cabível. Procurador-Geral da República, quando se tratar de demis-
Nos casos de demissão e destituição do cargo em co- são e cassação de aposentadoria ou disponibilidade de servi-
missão, os bens ficarão indisponíveis para o ressarcimento dor vinculado ao respectivo Poder, órgão, ou entidade;
II - pelas autoridades administrativas de hierarquia
do prejuízo sofrido pelo Estado, cabendo ainda ação penal
imediatamente inferior àquelas mencionadas no inciso an-
própria.
terior  quando se tratar de suspensão superior a 30 (trin-
Art. 137.  A demissão ou a destituição de cargo em
ta) dias;
comissão, por infringência do art. 117, incisos IX e XI, incom-
III - pelo chefe da repartição e outras autoridades na for-
patibiliza o ex-servidor para nova investidura em cargo
ma dos respectivos regimentos ou regulamentos, nos casos
público federal, pelo prazo de 5 (cinco) anos.
de advertência ou de suspensão de até 30 (trinta) dias;
O ex-servidor que tenha se valido do cargo para lograr
IV - pela autoridade que houver feito a nomeação,
proveito pessoal ou de outrem, em detrimento da dignida- quando se tratar de destituição de cargo em comissão.
de da função pública ou que tenha  atuado como procura- Presidente da República/Presidentes da Câmara dos
dor ou intermediário, junto a repartições públicas, salvo em Deputados ou do Senado Federal/Presidentes dos Tribu-
hipóteses específicas, não poderá ser investido em cargo nais Federais - TRF, TRE, TRT, TSE, TST, STJ e STF/Procura-
público federal pelo prazo de 5 anos. dor-Geral da República - demissão ou cassação de apo-
Parágrafo único.  Não poderá retornar ao serviço públi- sentadoria/disponibilidade do servidor vinculado ao órgão
co federal o servidor que for demitido ou destituído do cargo (sanções mais graves).
em comissão por infringência do art. 132, incisos I, IV, VIII, Autoridade administrativa de hierarquia imediatamen-
X e XI. te inferior às do inciso I - suspensão por mais de 30 dias
Vide incisos I, IV, VIII, X e XI do artigo 132. Nestes casos, (sanção de suspensão, de gravidade intermediária, por
não caberá jamais retorno ao serviço público federal, dian- maior período).
te da gravidade dos atos praticados. Chefe da repartição e outras autoridades previstas no
Art.  138.   Configura abandono de cargo a ausência regulamento - advertência e suspensão inferior a 30 dias
intencional do servidor ao serviço por mais de trinta (sanção de suspensão, de gravidade intermediária, por me-
dias consecutivos. nor período).
Conceito de abandono de cargo: ausência intencional Autoridade que houver feito a nomeação, em qualquer
por mais de 30 dias seguidos. Gera pena de demissão. cargo de comissão, independente da pena.
Art. 139.  Entende-se por inassiduidade habitual a fal- Art. 142.  A ação disciplinar prescreverá:
ta ao serviço, sem causa justificada, por sessenta dias, I - em 5 (cinco) anos, quanto às infrações puníveis com
interpoladamente, durante o período de doze meses. demissão, cassação de aposentadoria ou disponibilidade e
Conceito de inassiduidade habitual, que também gera destituição de cargo em comissão;
demissão: ausência por 60 dias num período de 12 meses II - em 2 (dois) anos, quanto à suspensão;
de forma injustificada. III - em 180 (cento e oitenta) dias, quanto á advertência.
Art. 140.  Na apuração de abandono de cargo ou inas- § 1o  O prazo de prescrição começa a correr da data em
siduidade habitual, também será adotado o procedimento que o fato se tornou conhecido.
sumário a que se refere o art. 133, observando-se especial- §  2o  Os prazos de prescrição previstos na lei penal
mente que:  aplicam-se às infrações disciplinares capituladas também
I - a indicação da materialidade dar-se-á:  como crime.

78
DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 3o  A abertura de sindicância ou a instauração de processo CONSIDERANDO a Convenção sobre os Direitos das Pessoas
disciplinar interrompe a prescrição, até a decisão final proferida com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, adotada em 13 de
por autoridade competente. dezembro de 2006, por meio da Resolução 61/106, durante a 61ª
§ 4o  Interrompido o curso da prescrição, o prazo começará a sessão da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas
correr a partir do dia em que cessar a interrupção. (ONU);
Prescrição é um instituto que visa regular a perda do direito CONSIDERANDO a ratificação pelo Estado Brasileiro da Con-
de acionar judicialmente. venção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e de seu
No caso, o prazo é de 5 anos para as infrações mais graves, Protocolo Facultativo com equivalência de emenda constitucional,
2 para as de gravidade intermediária (pena de suspensão) e 180 por meio do Decreto Legislativo nº 186, de 9 de julho de 2008,
dias para as menos graves (pena de advertência) - Contados da com a devida promulgação pelo Decreto nº 6.949, de 25 de agos-
data em que o fato se tornou conhecido pela administração pú- to de 2009;
blica. CONSIDERANDO que nos termos desse novo tratado de
Se a infração disciplinar for crime, valerão os prazos prescri- direitos humanos a deficiência é um conceito em evolução, que
cionais do direito penal, mais longos, logo, menos favoráveis ao resulta da interação entre pessoas com deficiência e as barreiras
servidor. relativas às atitudes e ao ambiente que impedem a sua plena e
Interrupção da prescrição significa parar a contagem do pra- efetiva participação na sociedade em igualdade de oportunidades
zo para que, retornando, comece do zero. Da abertura da sindi- com as demais pessoas;
cância ou processo administrativo disciplinar até a decisão final CONSIDERANDO que a acessibilidade foi reconhecida na
proferida por autoridade competente não corre a prescrição. Convenção como princípio e como direito, sendo também consi-
Proferida a decisão, o prazo começa a contar do zero. Passado o derada garantia para o pleno e efetivo exercício de demais direitos;
prazo, não caberá mais propor ação disciplinar. CONSIDERANDO que a Convenção determina que os Esta-
dos Partes devem reafirmar que as pessoas com deficiência têm
o direito de ser reconhecidas em qualquer lugar como pessoas
RESOLUÇÃO CNJ Nº 230, DE 22 DE JUNHO perante a lei e que gozam de capacidade legal em igualdade de
DE 2016. condições com as demais pessoas em todos os aspectos da vida,
sendo que deverão ser tomadas medidas apropriadas para prover
o acesso de pessoas com deficiência ao apoio que necessitarem
no exercício de sua capacidade legal;
CONSIDERANDO que os artigos 3º e 5º da Constituição Fe-
Resolução Nº 230 de 22/06/2016
deral de 1988 têm a igualdade como princípio e a promoção do
bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade
Ementa: Orienta a adequação das atividades dos órgãos do
Poder Judiciário e de seus serviços auxiliares às determinações e quaisquer outras formas de discriminação, como um objetivo
exaradas pela Convenção Internacional sobre os Direitos das fundamental da República Federativa do Brasil, do que decorre a
Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo e pela Lei necessidade de promoção e proteção dos direitos humanos de
Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência por meio – entre todas as pessoas, com e sem deficiência, em igualdade de con-
outras medidas – da convolação em resolução a Recomendação dições;
CNJ 27, de 16/12/2009, bem como da instituição de Comissões CONSIDERANDO o disposto na Lei nº 7.853, de 24 de outu-
Permanentes de Acessibilidade e Inclusão. bro de 1989, Decreto nº 3.298, de 21 de dezembro de 1999, Lei
nº 10.048, de 08 de novembro de 2000, Lei nº 10.098, de 19 de
Origem: Presidência dezembro de 2000, e no Decreto nº 5.296, de 2 de dezembro de
O PRESIDENTE DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, no 2004, que estabelecem normas gerais e critérios básicos para a
uso de suas atribuições, promoção da acessibilidade das pessoas com deficiência ou mo-
bilidade reduzida, mediante a supressão de barreiras e de obstá-
CONSIDERANDO que, conforme o art. 5º, caput, da Consti- culos nas vias, espaços e serviços públicos, no mobiliário urbano,
tuição de 1988, todos são iguais perante a lei, sem distinção de na construção e reforma de edifícios e nos meios de transporte e
qualquer natureza, garantindo-se a inviolabilidade do direito à de comunicação, com prazos determinados para seu cumprimen-
igualdade; to e implementação;
CONSIDERANDO os princípios gerais estabelecidos pelo art. CONSIDERANDO que ao Poder Público e seus órgãos cabe
3º da aludida Convenção Internacional sobre os Direitos das Pes- assegurar às pessoas com deficiência o pleno exercício de seus di-
soas com Deficiência, quais sejam: a) o respeito pela dignidade reitos, inclusive o direito ao trabalho, e de outros que, decorrentes
inerente, a autonomia individual, inclusive a liberdade de fazer da Constituição e das leis, propiciem seu bem-estar pessoal, social
as próprias escolhas, e a independência das pessoas; b) a não e econômico, cabendo aos órgãos e entidades da administração
discriminação; c) a plena e efetiva participação e inclusão na so- direta e indireta dispensar, no âmbito de sua competência e finali-
ciedade; d) o respeito pela diferença e pela aceitação das pessoas dade, aos assuntos objetos desta Resolução, tratamento prioritário
com deficiência como parte da diversidade humana e da huma- e adequado, tendente a viabilizar, sem prejuízo de outras, medidas
nidade; e) a igualdade de oportunidades; f) a acessibilidade; g) a que visem garantir o acesso aos serviços concernentes, o empe-
igualdade entre o homem e a mulher; e h) o respeito pelo desen- nho quanto ao surgimento e à manutenção de empregos e a pro-
volvimento das capacidades das crianças com deficiência e pelo moção de ações eficazes que propiciem a inclusão e a adequada
direito das crianças com deficiência de preservar sua identidade; ambientação, nos locais de trabalho, de pessoas com deficiência;

79
DIREITO ADMINISTRATIVO

CONSIDERANDO que a efetiva prestação de serviços III - “barreiras” significa qualquer entrave, obstáculo, atitude
públicos e de interesse público depende, no caso das pes- ou comportamento que limite ou impeça a participação social
soas com deficiência, da implementação de medidas que da pessoa, bem como o gozo, a fruição e o exercício de seus
assegurem a ampla e irrestrita acessibilidade física, arquite- direitos à acessibilidade, à liberdade de movimento e de expres-
tônica, comunicacional e atitudinal; são, à comunicação, ao acesso à informação, à compreensão, à
CONSIDERANDO que a Administração Pública tem pa- circulação com segurança, entre outros, classificadas em:
pel preponderante na criação de novos padrões de consu- a) “barreiras urbanísticas”: as existentes nas vias e nos espa-
mo e produção e na construção de uma sociedade mais ços públicos e privados abertos ao público ou de uso coletivo;
inclusiva, razão pela qual detém a capacidade e o dever b) “barreiras arquitetônicas”: as existentes nos edifícios pú-
de potencializar, estimular e multiplicar a utilização de re- blicos e privados;
cursos e tecnologias assistivas com vistas à garantia plena c) “barreiras nos transportes”: as existentes nos sistemas e
da acessibilidade e a inclusão das pessoas com deficiência; meios de transportes;
d) “barreiras nas comunicações e na informação”: qualquer
CONSIDERANDO a necessidade de aperfeiçoamen-
entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que dificulte ou
to da Recomendação CNJ 27/2009 pelo advento da Lei
impossibilite a expressão ou o recebimento de mensagens e de
13.146/2015 (Lei Brasileira de Inclusão);
informações por intermédio de sistemas de comunicação e de
CONSIDERANDO a ratificação unânime da medida li-
tecnologia da informação;
minar concedida nos autos dos Pedidos de Providências e) “barreiras atitudinais”: atitudes ou comportamentos que
0004258-58.2015.2.00.0000 e 0004756-57.2015.2.00.0000, impeçam ou prejudiquem a participação social da pessoa com
pelo Plenário do Conselho Nacional de Justiça; deficiência em igualdade de condições e oportunidades com
CONSIDERANDO a deliberação do Plenário do CNJ no as demais pessoas; e
Procedimento de Comissão 006029-71.2015.2.00.0000, na f) “barreiras tecnológicas”: as que dificultam ou impedem o
232ª Sessão Ordinária, realizada em 31 de maio de 2016; acesso da pessoa com deficiência às tecnologias.
IV - “adaptação razoável” significa as modificações e os
RESOLVE: ajustes necessários e adequados que não acarretem ônus des-
CAPÍTULO I proporcional ou indevido, quando requeridos em cada caso, a
DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES fim de assegurar que as pessoas com deficiência possam go-
zar ou exercer, em igualdade de oportunidades com as demais
Art. 1º Esta Resolução orienta a adequação das ativida- pessoas, todos os direitos humanos e liberdades fundamentais;
des dos órgãos do Poder Judiciário e de seus serviços auxi- V - “desenho universal” significa a concepção de produtos,
liares em relação às determinações exaradas pela Conven- ambientes, programas e serviços a serem usados, na maior me-
ção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Defi- dida possível, por todas as pessoas, sem necessidade de adap-
ciência e seu Protocolo Facultativo (promulgada por meio tação ou projeto específico. O “desenho universal” não excluirá
do Decreto nº 6.949/2009) e pela Lei Brasileira de Inclusão as ajudas técnicas para grupos específicos de pessoas com defi-
da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015). ciência, quando necessárias;
Parágrafo único. Para tanto, entre outras medidas, VI - “tecnologia assistiva” (ou “ajuda técnica”) significa
convola-se, em resolução, a Recomendação CNJ 27, de produtos, equipamentos, dispositivos, recursos, metodologias,
16/12/2009, bem como institui-se as Comissões Perma- estratégias, práticas e serviços que objetivem promover a fun-
nentes de Acessibilidade e Inclusão. cionalidade, relacionada à atividade e à participação da pessoa
Art. 2º Para fins de aplicação desta Resolução, consi- com deficiência ou com mobilidade reduzida, visando à sua
autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social;
deram-se:
VII - “comunicação” significa forma de interação dos cida-
I - “discriminação por motivo de deficiência” significa
dãos que abrange, entre outras opções, as línguas, inclusive a
qualquer diferenciação, exclusão ou restrição, por ação ou
Língua Brasileira de Sinais (Libras), a visualização de textos, o
omissão, baseada em deficiência, com o propósito ou efei-
Braille, o sistema de sinalização ou de comunicação tátil, os ca-
to de impedir ou impossibilitar o reconhecimento, o des- racteres ampliados, os dispositivos multimídia, assim como a lin-
frute ou o exercício, em igualdade de oportunidades com guagem simples, escrita e oral, os sistemas auditivos e os meios
as demais pessoas, de direitos humanos e liberdades fun- de voz digitalizados e os modos, meios e formatos aumentati-
damentais nos âmbitos político, econômico, social, cultural, vos e alternativos de comunicação, incluindo as tecnologias da
civil ou qualquer outro, incluindo a recusa de adaptações informação e das comunicações;
razoáveis e de fornecimento de tecnologias assistivas; VIII - “atendente pessoal” significa pessoa, membro ou não
II - “acessibilidade” significa possibilidade e condição da família, que, com ou sem remuneração, assiste ou presta cui-
de alcance para utilização, com segurança e autonomia, de dados básicos e essenciais à pessoa com deficiência no exercício
espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, de suas atividades diárias, excluídas as técnicas ou os procedi-
transportes, informação e comunicação, inclusive seus sis- mentos identificados com profissões legalmente estabelecidas;
temas e tecnologias, bem como de outros serviços e ins- e
talações abertos ao público, de uso público ou privados IX - “acompanhante” significa aquele que acompanha a
de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência, podendo ou não desempenhar as fun-
pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida; ções de atendente pessoal.

80
DIREITO ADMINISTRATIVO

CAPÍTULO II I - eleição de prioridades, elaboração de cronograma e re-


DAS DISPOSIÇÕES RELACIONADAS A TODAS AS serva de recursos para implementação das ações; e
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA II - planejamento contínuo e articulado entre os setores
Seção I envolvidos.
Da Igualdade e suas Implicações § 6º Para atender aos usuários externos que tenham de-
Subseção I ficiência, dever-se-á reservar, nas áreas de estacionamento
Da Igualdade e da Inclusão abertas ao público, vagas próximas aos acessos de circula-
ção de pedestres, devidamente sinalizadas, para veículos que
Art. 3º A fim de promover a igualdade, adotar-se-ão, transportem pessoas com deficiência e com comprometimen-
com urgência, medidas apropriadas para eliminar e pre- to de mobilidade, desde que devidamente identificados, em
venir quaisquer barreiras urbanísticas, arquitetônicas, nos percentual equivalente a 2% (dois por cento) do total, garanti-
transportes, nas comunicações e na informação, atitudinais da, no mínimo, 1 (uma) vaga.
ou tecnológicas, devendo-se garantir às pessoas com de- § 7º Mesmo se todas as vagas disponíveis estiverem ocu-
ficiência – servidores, serventuários extrajudiciais, terceiri- padas, a Administração deverá agir com o máximo de empe-
zados ou não – quantas adaptações razoáveis ou mesmo nho para, na medida do possível, facilitar o acesso do usuário
tecnologias assistivas sejam necessárias para assegurar com deficiência às suas dependências, ainda que, para tanto,
acessibilidade plena, coibindo qualquer forma de discrimi- seja necessário dar acesso a vaga destinada ao público interno
nação por motivo de deficiência. do órgão.
Art. 5º É proibido ao Poder Judiciário e seus serviços auxi-
Subseção II liares impor ao usuário com deficiência custo anormal, direto
Da Acessibilidade com Segurança e Autonomia ou indireto, para o amplo acesso a serviço público oferecido.
Art. 6º Todos os procedimentos licitatórios do Poder Judi-
Art. 4º Para promover a acessibilidade dos usuários do ciário deverão se ater para produtos acessíveis às pessoas com
Poder Judiciário e dos seus serviços auxiliares que tenham deficiência, sejam servidores ou não.
deficiência, a qual não ocorre sem segurança ou sem auto- § 1º O desenho universal sera# sempre tomado como re-
nomia, dever-se-á, entre outras atividades, promover: gra de caráter geral.
I - atendimento ao público – pessoal, por telefone ou § 2º Nas hipóteses em que comprovadamente o desenho
por qualquer meio eletrônico – que seja adequado a esses universal não possa ser empreendido, deve ser adotada adap-
usuários, inclusive aceitando e facilitando, em trâmites ofi- tação razoável.
ciais, o uso de línguas de sinais, braille, comunicação au- Art. 7º Os órgãos do Poder Judiciário deverão, com ur-
mentativa e alternativa, e de todos os demais meios, mo- gência, proporcionar aos seus usuários processo eletrônico
dos e formatos acessíveis de comunicação, à escolha das adequado e acessível a todos os tipos de deficiência, inclusive
pessoas com deficiência; às pessoas que tenham deficiência visual, auditiva ou da fala.
II - adaptações arquitetônicas que permitam a livre e § 1º Devem ser oferecidos todos os recursos de tecnologia
autônoma movimentação desses usuários, tais como ram- assistiva disponíveis para que a pessoa com deficiência tenha
pas, elevadores e vagas de estacionamento próximas aos garantido o acesso à justiça, sempre que figure em um dos po-
locais de atendimento; e los da ação ou atue como testemunha, partícipe da lide posta
III - acesso facilitado para a circulação de transporte em juízo, advogado, defensor público, magistrado ou membro
público nos locais mais próximos possíveis aos postos de do Ministério Público.
atendimento. § 2º A pessoa com deficiência tem garantido o acesso ao
§ 1º A fim de garantir a atuação da pessoa com defi- conteúdo de todos os atos processuais de seu interesse, inclu-
ciência em todo o processo judicial, o poder público deve sive no exercício da advocacia.
capacitar os membros, os servidores e terceirizados que Art. 8º Os serviços notariais e de registro não podem ne-
atuam no Poder Judiciário quanto aos direitos da pessoa gar ou criar óbices ou condições diferenciadas à prestação de
com deficiência. seus serviços em razão de deficiência do solicitante, devendo
§ 2º Cada órgão do Poder Judiciário deverá dispor de, reconhecer sua capacidade legal plena, garantida a acessibili-
pelo menos, cinco por cento de servidores, funcionários e dade.
terceirizados capacitados para o uso e interpretação da Li- Parágrafo único. O descumprimento do disposto no caput
bras. deste artigo constitui discriminação em razão de deficiência.
§ 3º As edificações públicas já existentes devem ga- Art. 9º Os Tribunais relacionados nos incisos II a VII do art.
rantir acessibilidade à pessoa com deficiência em todas as 92 da Constituição Federal de 1988 e os serviços auxiliares do
suas dependências e serviços, tendo como referência as Poder Judiciário devem adotar medidas para a remoção de
normas de acessibilidade vigentes. barreiras físicas, tecnológicas, arquitetônicas, de comunicação
§ 4º A construção, a reforma, a ampliação ou a mudan- e atitudinais para promover o amplo e irrestrito acesso de pes-
ça de uso de edificações deverão ser executadas de modo soas com deficiência às suas respectivas carreiras e dependên-
a serem acessíveis. cias e o efetivo gozo dos serviços que prestam, promovendo
§ 5º A formulação, a implementação e a manutenção a conscientização de servidores e jurisdicionados sobre a im-
das ações de acessibilidade atenderão às seguintes premis- portância da acessibilidade para garantir o pleno exercício de
sas básicas: direitos.

81
DIREITO ADMINISTRATIVO

Subseção III VIII – registro da audiência, caso o Juiz entenda ne-


Das Comissões Permanentes de Acessibilidade e cessário, por filmagem de todos os atos nela praticados,
Inclusão sempre que presente pessoa com deficiência auditiva;
IX – aquisição de impressora em Braille, produção e
Art. 10. Serão instituídas por cada Tribunal, no prazo manutenção do material de comunicação acessível, es-
máximo de 45 (quarenta e cinco) dias, Comissões Perma- pecialmente o website, que deverá ser compatível com a
nentes de Acessibilidade e Inclusão, com caráter multidisci- maioria dos softwares livres e gratuitos de leitura de tela
plinar, com participação de magistrados e servidores, com das pessoas com deficiência visual;
e sem deficiência, objetivando que essas Comissões fisca- X – inclusão, em todos os editais de concursos públi-
lizem, planejem, elaborem e acompanhem os projetos ar- cos, da previsão constitucional de reserva de cargos para
quitetônicos de acessibilidade e projetos “pedagógicos” de pessoas com deficiência, inclusive nos que tratam do in-
treinamento e capacitação dos profissionais e funcionários gresso na magistratura (CF, art. 37, VIII);
que trabalhem com as pessoas com deficiência, com fixa-
XI – anotação na capa dos autos da prioridade conce-
ção de metas anuais, direcionados à promoção da acessibi-
dida à tramitação de processos administrativos cuja parte
lidade para pessoas com deficiência, tais quais as descritas
seja uma pessoa com deficiência e de processos judiciais se
a seguir:
tiver idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos ou por-
I – construção e/ou reforma para garantir acessibilida-
de para pessoas com termos da normativa técnica em vigor tadora de doença grave, nos termos da Lei n. 12.008, de 06
(ABNT 9050), inclusive construção de rampas, adequação de agosto de 2009;
de sanitários, instalação de elevadores, reserva de vagas XII – realização de oficinas de conscientização de ser-
em estacionamento, instalação de piso tátil direcional e vidores e magistrados sobre os direitos das pessoas com
de alerta, sinalização sonora para pessoas com deficiência deficiência;
visual, bem como sinalizações visuais acessíveis a pessoas XIII – utilização de intérprete de Linguagem Brasilei-
com deficiência auditiva, pessoas com baixa visão e pes- ra de Sinais, legenda, audiodescrição e comunicação em
soas com deficiência intelectual, adaptação de mobiliário linguagem acessível em todas as manifestações públicas,
(incluindo púlpitos), portas e corredores em todas as de- dentre elas propagandas, pronunciamentos oficiais, vídeos
pendências e em toda a extensão (Tribunais, Fóruns, Juiza- educativos, eventos e reuniões;
dos Especiais etc); XIV – disponibilização de equipamentos de autoaten-
II – locação de imóveis, aquisição ou construções novas dimento para consulta processual acessíveis, com sistema
somente deverão ser feitas se com acessibilidade; de voz ou de leitura de tela para pessoas com deficiência
III – permissão de entrada e permanência de cães-guias visual, bem como, com altura compatível para usuários de
em todas as dependências dos edifícios e sua extensão; cadeira de rodas.
IV – habilitação de servidores em cursos oficiais de Lin- Art. 11. Os órgãos do Poder Judiciário relacionados nos
guagem Brasileira de Sinais, custeados pela Administração, incisos II a VII do art. 92 da Constituição Federal de 1988
formados por professores oriundos de instituições oficial- devem criar unidades administrativas específicas, direta-
mente reconhecidas no ensino de Linguagem Brasileira de mente vinculadas à Presidência de cada órgão, responsá-
Sinais para ministrar os cursos internos, a fim de assegurar veis pela implementação das ações da respectiva Comissão
que as secretarias e cartórios das Varas e Tribunais dispo- Permanente de Acessibilidade e Inclusão.
nibilizem pessoal capacitado a atender surdos, prestando- Art. 12. É indispensável parecer da Comissão Perma-
-lhes informações em Linguagem Brasileira de Sinais; nente de Acessibilidade e Inclusão em questões relaciona-
V – nomeação de tradutor e intérprete de Linguagem
das aos direitos das pessoas com deficiência e nos demais
Brasileira de Sinais, sempre que figurar no processo pessoa
assuntos conexos à acessibilidade e inclusão no âmbito dos
com deficiência auditiva, escolhido dentre aqueles devida-
Tribunais.
mente habilitados e aprovados em curso oficial de tradu-
Art. 13. Os prazos e as eventuais despesas decorrentes
ção e interpretação de Linguagem Brasileira de Sinais ou
detentores do certificado de proficiência em Linguagem da implementação desta Resolução serão definidos pelos
Brasileira de Sinais – PROLIBRAS, nos termos do art. 19 do tribunais, ouvida a respectiva Comissão Permanente de
Decreto 5.626/2005, o qual deverá prestar compromisso e, Acessibilidade e o órgão interno responsável pela elabora-
em qualquer hipótese, será custeado pela administração ção do Planejamento Estratégico, com vistas à sua efetiva
dos órgãos do Judiciário; implementação.
VI – sendo a pessoa com deficiência auditiva partícipe
do processo oralizado e se assim o preferir, o Juiz deverá Seção II
com ela se comunicar por anotações escritas ou por meios Da não Discriminação
eletrônicos, o que inclui a legenda em tempo real, bem
como adotar medidas que viabilizem a leitura labial; Art. 14. É proibida qualquer forma de discriminação
VII – nomeação ou permissão de utilização de guia- por motivo de deficiência, devendo-se garantir a#s pessoas
-intérprete, sempre que figurar no processo pessoa com com deficiência – servidores, serventuários extrajudiciais,
deficiência auditiva e visual, o qual deverá prestar compro- terceirizados ou não – igual e efetiva proteção legal contra
misso e, em qualquer hipótese, será custeado pela admi- a discriminação por qualquer motivo.
nistração dos órgãos do Judiciário;

82
DIREITO ADMINISTRATIVO

Seção III Art. 21. Cada órgão do Poder Judiciário deverá manter
Da Proteção da Integridade Física e Psíquica um cadastro dos servidores, serventuários extrajudiciais e
terceirizados com deficiência que trabalham no seu qua-
Art. 15. Toda pessoa com deficiência – servidor, ser- dro.
ventuário extrajudicial, terceirizado ou não – tem o direito § 1º Esse cadastro deve especificar as deficiências e as
a que sua integridade física e mental seja respeitada, em necessidades particulares de cada servidor, terceirizado ou
igualdade de condições com as demais pessoas. serventuário extrajudicial.
Art. 16. A pessoa com deficiência tem direito a receber § 2º A atualização do cadastro deve ser permanente,
atendimento prioritário, sobretudo com a finalidade de: devendo ocorrer uma revisão detalhada uma vez por ano.
I - proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; § 3º Na revisão anual, cada um dos servidores, serven-
II - atendimento em todos os serviços de atendimento tuários extrajudiciais ou terceirizado com deficiência de-
ao público; verá ser pessoalmente questionado sobre a existência de
III - disponibilização de recursos, tanto humanos quan- possíveis sugestões ou adaptações referentes à sua plena
to tecnológicos, que garantam atendimento em igualdade inclusão no ambiente de trabalho.
de condições com as demais pessoas; § 4º Para cada sugestão dada, deverá haver uma res-
IV - acesso a informações e disponibilização de recur- posta formal do Poder Judiciário em prazo razoável.
sos de comunicação acessíveis; Art. 22. Constitui modo de inclusão da pessoa com de-
V - tramitação processual e procedimentos judiciais e ficiência no trabalho a colocação competitiva, em igualda-
administrativos em que for parte ou interessada, em todos de de oportunidades com as demais pessoas, nos termos
os atos e diligências. da legislação trabalhista e previdenciária, na qual devem
Parágrafo único. Os direitos previstos neste artigo são ser atendidas as regras de acessibilidade, o fornecimento
extensivos ao acompanhante da pessoa com deficiência ou de recursos de tecnologia assistiva e a adaptação razoável
ao seu atendente pessoal, exceto quanto ao disposto no no ambiente de trabalho.
inciso V deste artigo. Parágrafo único. A colocação competitiva da pessoa
com deficiência pode ocorrer por meio de trabalho com
CAPÍTULO III
apoio, observadas as seguintes diretrizes:
DAS DISPOSIÇÕES RELACIONADAS AOS SERVIDO-
I - prioridade no atendimento à pessoa com deficiência
RES COM DEFICIÊNCIA
com maior dificuldade de inserção no campo de trabalho;
Seção I
II - provisão de suportes individualizados que aten-
Da Aplicabilidade dos Capítulos Anteriores
dam a necessidades específicas da pessoa com deficiên-
cia, inclusive a disponibilização de recursos de tecnologia
Art. 17. Aplicam-se aos servidores, aos serventuários
assistiva, de agente facilitador e de apoio no ambiente de
extrajudiciais e aos terceirizados com deficiência, no que
couber, todas as disposições previstas nos Capítulos ante- trabalho;
riores desta Resolução. III - respeito ao perfil vocacional e ao interesse da pes-
soa com deficiência apoiada;
Seção II IV - oferta de aconselhamento e de apoio aos empre-
Da Avaliação gadores, com vistas à definição de estratégias de inclusão e
de superação de barreiras, inclusive atitudinais;
Art. 18. A avaliação da deficiência, quando necessária, V - realização de avaliações periódicas;
será biopsicossocial, realizada por equipe multiprofissional VI - articulação intersetorial das políticas públicas; e
e interdisciplinar e considerará: VII - possibilidade de participação de organizações da
I - os impedimentos nas funções e nas estruturas do sociedade civil.
corpo; Art. 23. A pessoa com deficiência tem direito ao traba-
II - os fatores socioambientais, psicológicos e pessoais; lho de sua livre escolha e aceitação, em ambiente acessível
III - a limitação no desempenho de atividades; e e inclusivo, em igualdade de oportunidades com as demais
IV - a restrição de participação. pessoas.
§ 1º Os órgãos do Poder Judiciário são obrigados a ga-
Seção III rantir ambientes de trabalho acessíveis e inclusivos.
Da Inclusão de Pessoa com Deficiência no Serviço § 2º A pessoa com deficiência tem direito, em igualda-
Público de de oportunidades com as demais pessoas, a condições
justas e favoráveis de trabalho, incluindo igual remunera-
Art. 19. Os editais de concursos públicos para ingresso ção por trabalho de igual valor.
nos quadros do Poder Judiciário e de seus serviços auxilia- § 3º É vedada restrição ao trabalho da pessoa com defi-
res deverão prever, nos objetos de avaliação, disciplina que ciência e qualquer discriminação em razão de sua condição,
abarque os direitos das pessoas com deficiência. inclusive nas etapas de recrutamento, seleção, contratação,
Art. 20. Imediatamente após a posse de servidor, ser- admissão, exames admissional e periódico, permanência
ventuário extrajudicial ou contratação de terceirizado com no emprego, ascensão profissional e reabilitação profissio-
deficiência, dever-se-á informar a ele de forma detalhada nal, bem como exigência de aptidão plena.
sobre seus direitos e sobre a existência desta Resolução.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 4º A pessoa com deficiência tem direito à participação § 3º O servidor com horário especial não será obriga-
e ao acesso a cursos, treinamentos, educação continuada, do a realizar, conforme o interesse da Administração, horas
planos de carreira, promoções, bonificações e incentivos extras, se essa extensão da sua jornada de trabalho puder
profissionais oferecidos pelo empregador, em igualdade ocasionar qualquer dano à sua saúde.
de oportunidades com os demais empregados. § 4º Se o órgão, por sua liberalidade, determinar a di-
§ 5º É garantida aos trabalhadores com deficiência minuição da jornada de trabalho dos seus servidores, ainda
acessibilidade em cursos de formação e de capacitação. que por curto período, esse mesmo benefício deverá ser
Art. 24. É garantido à pessoa com deficiência acesso a aproveitado de forma proporcional pelo servidor a quem
produtos, recursos, estratégias, práticas, processos, méto- tenha sido concedido horário especial.
dos e serviços de tecnologia assistiva que maximizem sua
autonomia, mobilidade pessoal e qualidade de vida. CAPÍTULO IV
Art. 25. Se houver qualquer tipo de estacionamento in- DAS DISPOSIÇÕES RELACIONADAS AOS SERVIDO-
terno, será garantido ao servidor com deficiência que pos-
RES QUE TENHAM CÔNJUGE, FILHO OU DEPENDENTE
sua comprometimento de mobilidade vaga no local mais
COM DEFICIÊNCIA
próximo ao seu local de trabalho.
Seção I
§ 1º O percentual aplicável aos estacionamentos ex-
Da Facilitação dos Cuidados
ternos a que se referem o art. 4º, § 6º, desta Resolução e
o art. 47 da Lei 13.146/2015 não é aplicável ao estacio-
namento interno do órgão, devendo-se garantir vaga no Art. 30. Se o órgão possibilitar aos seus servidores a
estacionamento interno a cada servidor com mobilidade realização de trabalho por meio do sistema “home office”,
comprometida. dever-se-á dar prioridade aos servidores que tenham côn-
§ 2º O caminho existente entre a vaga do estaciona- juge, filho ou dependente com deficiência e que manifes-
mento interno e o local de trabalho do servidor com mo- tem interesse na utilização desse sistema.
bilidade comprometida não deve conter qualquer tipo de Art. 31. Se houver serviço de saúde no órgão, ao côn-
barreira que impossibilite ou mesmo dificulte o seu acesso. juge, filho ou dependente com deficiência de servidor será
Art. 26. Se o órgão possibilitar aos seus servidores a garantido atendimento compatível com as suas deficiên-
realização de trabalho por meio do sistema “home office”, cias.
dever-se-á dar prioridade aos servidores com mobilidade
comprometida que manifestem interesse na utilização des- Seção II
se sistema. Do Horário Especial
§ 1º A Administração não poderá obrigar o servidor
com mobilidade comprometida a utilizar o sistema “home Art. 32. A concessão de horário especial conforme o
office”, mesmo diante da existência de muitos custos para art. 98, § 3º, da Lei 8.112/1990 a servidor que tenha cônju-
a promoção da acessibilidade do servidor em seu local de ge, filho ou dependente com deficiência não justifica qual-
trabalho. quer atitude discriminatória.
§ 2º Os custos inerentes à adaptação do servidor com § 1º Admitindo-se a possibilidade de acumulação de
deficiência ao sistema “home office” deverão ser suporta- banco de horas pelos demais servidores do órgão, também
dos exclusivamente pela Administração. deverá ser admitida a mesma possibilidade em relação ao
Art. 27. Ao servidor ou terceirizado com deficiência é servidor com horário especial, em igualdade de condições
garantida adaptação ergonômica da sua estação de traba- com os demais.
lho. § 2º Ao servidor a quem se tenha concedido horário es-
Art. 28. Se houver serviço de saúde no órgão, aos ser-
pecial não poderá ser negado ou dificultado, colocando-o
vidores com deficiência será garantido atendimento com-
em situação de desigualdade com os demais servidores, o
patível com as suas deficiências.
exercício de função de confiança ou de cargo em comissão.
§ 3º O servidor com horário especial não será obriga-
Seção IV
Do Horário Especial do a realizar, conforme o interesse da Administração, horas
extras, se essa extensão da sua jornada de trabalho puder
Art. 29. A concessão de horário especial conforme o ocasionar qualquer dano relacionado ao seu cônjuge, filho
art. 98, § 2º, da Lei 8.112/1990 a servidor com deficiência ou dependente com deficiência.
não justifica qualquer atitude discriminatória. § 4º Se o órgão, por sua liberalidade, determinar a di-
§ 1º Admitindo-se a possibilidade de acumulação de minuição da jornada de trabalho dos seus servidores, ainda
banco de horas pelos demais servidores do órgão, também que por curto período, esse mesmo benefício deverá ser
deverá ser admitida a mesma possibilidade em relação ao aproveitado pelo servidor a quem tenha sido concedido
servidor com horário especial, mas de modo proporcional. horário especial.
§ 2º Ao servidor a quem se tenha concedido horário es-
pecial não poderá ser negado ou dificultado, colocando-o
em situação de desigualdade com os demais servidores, o
exercício de função de confiança ou de cargo em comissão.

84
DIREITO ADMINISTRATIVO

CAPÍTULO V ambiente, não residindo apenas intrinsecamente no indi-


DISPOSIÇÕES FINAIS víduo . A Lei nº 13.146/2015 é o estopim nacional da fase
humanista da proteção da pessoa com deficiência, vindo
Art. 33. Incorre em pena de advertência o servidor, terceiri- elaborada em consonância com a Constituição Federal de
zado ou o serventuário extrajudicial que: 1988 e com a Convenção Internacional sobre os Direitos
I - conquanto possua atribuições relacionadas a possível eli- das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo,
minação e prevenção de quaisquer barreiras urbanísticas, arqui- assinados em Nova York, em 30 de março de 2007, e pro-
tetônicas, nos transportes, nas comunicações e na informação, mulgados pelo Decreto nº 6.949 de 25 de agosto de 2009,
atitudinais ou tecnológicas, não se empenhe, com a máxima ce- os quais são dotados de força de normativa constitucional.
leridade possível, para a supressão e prevenção dessas barreiras; Com efeito, veda-se a discriminação das pessoas por-
II - embora possua atribuições relacionadas à promoção de tadoras de deficiência, o que não significa que é impedido
adaptações razoáveis ou ao oferecimento de tecnologias assis- que a lei garantia distinções que permitam um tratamento
tivas necessárias à acessibilidade de pessoa com deficiência – igualitário destas pessoas na vida em sociedade – pois não
servidor, serventuário extrajudicial ou não –, não se empenhe, basta garantir a igualdade formal na lei sem a criação de
com a máxima celeridade possível, para estabelecer a condição instrumentos e políticas voltados aos grupos vulneráveis
de acessibilidade; como o das pessoas portadoras de deficiência. Na tentativa
III - no exercício das suas atribuições, tenha qualquer outra de propiciar esta igualdade material surge o Estatuto da
espécie de atitude discriminatória por motivo de deficiência ou Proteção da Pessoa com Deficiência.
descumpra qualquer dos termos desta Resolução. Em 6 de julho de 2015 foi assinada a lei 13.146/2015,
§ 1º Também incorrerá em pena de advertência o servi- Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, po-
dor ou o serventuário extrajudicial que, tendo conhecimento dendo ser também chamado de Estatuto da Pessoa com
do descumprimento de um dos incisos do caput deste artigo, Deficiência. Entrou em vigor em janeiro deste ano. Deven-
deixar de comunicá-lo à autoridade competente, para que esta do sempre preservar o princípio da dignidade humana.
promova a apuração do fato. O princípio da dignidade humana foi positivado, em
§ 2º O fato de a conduta ter ocorrido em face de usuário ou várias Constituições do pós-guerra, assim como a Declara-
contra servidor do mesmo quadro, terceirizado ou serventuário ção das Nações Unidas, que em seu artigo 1º garante a li-
extrajudicial é indiferente para fins de aplicação da advertência. berdade e igualdade com relação a dignidade e os direitos.
§ 3º Em razão da prioridade na tramitação dos processos Constituição Federal Brasileira de 1988 garante que todos
administrativos destinados à inclusão e à não discriminação de são iguais perante a lei, podendo garantir uma verdadeira
pessoa com deficiência, a grande quantidade de processos a se- tutela da pessoa humana (LOUSADA, 2015).
rem concluídos não justifica o afastamento de advertência pelo O Estatuto da Pessoa com Deficiência (2015) foi divido
descumprimento dos deveres descritos neste artigo. em 2 (dois) livros, sendo eles I e II. O livro I (parte geral)
§ 4º As práticas anteriores da Administração Pública não subdivide-se em 4 (quatro) títulos, já o livro II (parte espe-
justificam o afastamento de advertência pelo descumprimento cial) subdivide-se em 3 (três) títulos.
dos deveres descritos neste artigo. O título I traz os 9 (nove) primeiros artigos, divididos
Art. 34. Esta Resolução entra em vigor na data da sua pu- em 2 (dois) capítulos, incluindo ainda uma seção única. O
blicação. capítulo I apresenta as disposições gerais distribuídos nos
3 (três) primeiros artigos. O artigo 1º do Estatuto garante
que a lei foi introduzida no ordenamento jurídico brasileiro
ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA – com o intuito de assegurar e promover os direitos já em
LEI Nº 13.146/2015. vigência no país, reconhecendo a igualdade entre as pes-
soas, proporcionando o exercício dos direitos e das liberda-
des fundamentais pelas pessoas com deficiência, buscando
É possível dividir em quatro fases a história da cons- a inclusão social e cidadania. Os artigos 2º e 3º traz a de-
trução da dignidade das pessoas com deficiência, fase da finição de Pessoa com Deficiência, acessibilidade, desenho
Intolerância em que a pessoa com deficiência era conside- universal, barreiras, dentre outros conceitos que estão pre-
rada símbolo de impureza e castigo divino; fase da Invisi- sentes no dia a dia do indivíduo com deficiência.
bilidade em que o indivíduo era tolerado, mas excluído da O capítulo II (artigos 4º a 8º), trata da questão da igual-
sociedade, fase assistencialista em que há cuidados para dade e da não discriminação, são propósitos já defendidos
com a vida do deficiente, mas apenas nas casas de miseri- pela Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiên-
córdia e a fase atual a humanista em que se trabalha para cia e seu Protocolo facultativo, devendo os Estados Partes
inserção e a igualdade pela dessas pessoas no convívio criarem normas internas para diminuir ou mesmo eliminar
social . A fase humanista é orientada pelo paradigma dos a discriminação entre as pessoas, além de proporcionar a
direitos humanos, na qual emergiram os direitos à inclusão plena igualdade de condições perante a sociedade, pos-
social, com ênfase na relação da pessoa com deficiência sibilitando a essas pessoas uma convivência social digna.
e do meio em que ela se insere, além da necessidade de Devendo a sociedade denunciar a autoridade qualquer for-
eliminar obstáculos e barreiras (culturais, físicos ou sociais) ma de ameaça ou mesmo de violação de direitos da pes-
que possam ser superados. Destaca-se a inovação promo- soa com deficiência. A seção única (artigo 9º) garante ao
vida pela Convenção da ONU, que reconhece a deficiência deficiente o atendimento prioritário em todos os campos
como resultado da interação entre indivíduos e seu meio da sua vida.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

O título II (artigos 10 a 52) dispõe sobre os direitos fun- LEI Nº 13.146, DE 6 DE JULHO DE 2015.
damentais como direito à vida, à saúde, à educação, à mo-
radia, declarados pela Constituição Federal de 1988, que Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Defi-
garante a todas as pessoas não só aos deficientes. Dispõe ciência (Estatuto da Pessoa com Deficiência).
ainda sobre direitos fundamentais de extrema importância A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Con-
para que o deficiente esteja em igualdade com os demais gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
como à habilitação e a reabilitação, capacitando-o para
uma disputa inclusive para o mercado de trabalho. LIVRO I
O título III (artigos 53 a 76) traz um dos temas mais PARTE GERAL
importantes e discutidos da atualidade, a questão da aces- TÍTULO I
sibilidade. Visto que garante a pessoa com deficiência ou DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
com mobilidade reduzida viver da forma mais independen- CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS
te possível para exercer seus direitos de cidadania, poden-
do ter participação ativa na sociedade.
Art. 1º É instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa
O título IV (artigos 77 e 78) aborda as questões da ciên-
com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), des-
cia e tecnologia, deve o poder público investir no desenvol-
tinada a assegurar e a promover, em condições de igualda-
vimento científico e tecnológico com o intuito de melhorar de, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais
a qualidade de vida das pessoas com deficiência tanto pro- por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e
fissional, quanto pessoal. cidadania.
O título I (artigos 79 a 87) da segunda parte dispõe Parágrafo único. Esta Lei tem como base a Convenção
sobre o acesso a justiça, deve o poder público garantir a sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Proto-
pessoa com deficiência o seu pleno acesso à justiça, em colo Facultativo, ratificados pelo Congresso Nacional por
igualdade de oportunidades com as demais pessoas da so- meio do Decreto Legislativo no 186, de 9 de julho de 2008,
ciedade, além de garantir a pessoa deficiente o exercício de em conformidade com o procedimento previsto no § 3º do
sua capacidade legal. art. 5º da Constituição da República Federativa do Brasil,
O título II (artigos 88 a 90) trata dos crimes e das in- em vigor para o Brasil, no plano jurídico externo, desde 31
frações administrativas, punindo quem por algum motivo de agosto de 2008, e promulgados pelo Decreto nº 6.949,
praticar, induzir ou mesmo incitar discriminação de pes- de 25 de agosto de 2009, data de início de sua vigência no
soa com deficiência, aquele que desviar bens, proventos, plano interno.
benefícios, abandonar pessoa com deficiência, ou mesmo Art. 2º Considera-se pessoa com deficiência aquela
utilizar cartão magnético ou outros mecanismos para ten- que tem impedimento de longo prazo de natureza física,
tar prejudicar e obter vantagem indevida para si ou para mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com
outrem. uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação ple-
O título III (artigos 92 a 125) trata das disposições finais na e efetiva na sociedade em igualdade de condições com
e transitórias, é criado pelo estado um cadastro nacional as demais pessoas.
de inclusão da pessoa com deficiência (cadastro-inclusão), § 1º A avaliação da deficiência, quando necessária, será
para que haja por parte do Estado um maior controle sobre biopsicossocial, realizada por equipe multiprofissional e in-
a real situação do deficiente seja ele físico, mental ou inte- terdisciplinar e considerará:
lectual no Brasil. I - os impedimentos nas funções e nas estruturas do
Dentro do título III existe um “Título IV em que trata da corpo;
II - os fatores socioambientais, psicológicos e pessoais;
alteração na redação do Código Civil de 2002, com relação
III - a limitação no desempenho de atividades; e
a capacidade civil das pessoas com deficiência, após a vi-
IV - a restrição de participação.
gência do Estatuto da Pessoa com deficiência, o indivíduo
§ 2º O Poder Executivo criará instrumentos para avalia-
não será mais caracterizado como pessoa absolutamente
ção da deficiência.
incapaz e sim plenamente capaz. Art. 3º Para fins de aplicação desta Lei, consideram-se:
O Estatuto foi criado sob forte influência da Convenção I - acessibilidade: possibilidade e condição de alcance
sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Pro- para utilização, com segurança e autonomia, de espaços,
tocolo Facultativo, seguido pelo Brasil desde 2009. Sendo mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transpor-
sua criação necessária para que o protocolo seja de fato tes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e
regularizado internamente, já que o Estado Parte deve criar tecnologias, bem como de outros serviços e instalações
normas internas que possibilitem colocar em prática aquilo abertos ao público, de uso público ou privados de uso co-
estabelecido no tratado. letivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com
deficiência ou com mobilidade reduzida;
II - desenho universal: concepção de produtos, am-
bientes, programas e serviços a serem usados por todas
as pessoas, sem necessidade de adaptação ou de projeto
específico, incluindo os recursos de tecnologia assistiva;

86
DIREITO ADMINISTRATIVO

III - tecnologia assistiva ou ajuda técnica: produtos, equi- IX - pessoa com mobilidade reduzida: aquela que te-
pamentos, dispositivos, recursos, metodologias, estratégias, nha, por qualquer motivo, dificuldade de movimentação,
práticas e serviços que objetivem promover a funcionalidade, permanente ou temporária, gerando redução efetiva da
relacionada à atividade e à participação da pessoa com defi- mobilidade, da flexibilidade, da coordenação motora ou da
ciência ou com mobilidade reduzida, visando à sua autonomia, percepção, incluindo idoso, gestante, lactante, pessoa com
independência, qualidade de vida e inclusão social; criança de colo e obeso;
IV - barreiras: qualquer entrave, obstáculo, atitude ou X - residências inclusivas: unidades de oferta do Servi-
comportamento que limite ou impeça a participação social da ço de Acolhimento do Sistema Único de Assistência Social
pessoa, bem como o gozo, a fruição e o exercício de seus direi- (Suas) localizadas em áreas residenciais da comunidade,
tos à acessibilidade, à liberdade de movimento e de expressão, com estruturas adequadas, que possam contar com apoio
à comunicação, ao acesso à informação, à compreensão, à cir- psicossocial para o atendimento das necessidades da pes-
culação com segurança, entre outros, classificadas em: soa acolhida, destinadas a jovens e adultos com deficiência,
a) barreiras urbanísticas: as existentes nas vias e nos espa- em situação de dependência, que não dispõem de con-
ços públicos e privados abertos ao público ou de uso coletivo; dições de autossustentabilidade e com vínculos familiares
b) barreiras arquitetônicas: as existentes nos edifícios pú- fragilizados ou rompidos;
blicos e privados; XI - moradia para a vida independente da pessoa com
c) barreiras nos transportes: as existentes nos sistemas e deficiência: moradia com estruturas adequadas capazes de
meios de transportes; proporcionar serviços de apoio coletivos e individualizados
d) barreiras nas comunicações e na informação: qualquer que respeitem e ampliem o grau de autonomia de jovens e
entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que dificulte adultos com deficiência;
ou impossibilite a expressão ou o recebimento de mensagens XII - atendente pessoal: pessoa, membro ou não da
e de informações por intermédio de sistemas de comunicação família, que, com ou sem remuneração, assiste ou presta
e de tecnologia da informação; cuidados básicos e essenciais à pessoa com deficiência no
e) barreiras atitudinais: atitudes ou comportamentos que exercício de suas atividades diárias, excluídas as técnicas ou
os procedimentos identificados com profissões legalmente
impeçam ou prejudiquem a participação social da pessoa com
estabelecidas;
deficiência em igualdade de condições e oportunidades com
XIII - profissional de apoio escolar: pessoa que exerce
as demais pessoas;
atividades de alimentação, higiene e locomoção do estu-
f) barreiras tecnológicas: as que dificultam ou impedem o
dante com deficiência e atua em todas as atividades es-
acesso da pessoa com deficiência às tecnologias;
colares nas quais se fizer necessária, em todos os níveis e
V - comunicação: forma de interação dos cidadãos que
modalidades de ensino, em instituições públicas e privadas,
abrange, entre outras opções, as línguas, inclusive a Língua
excluídas as técnicas ou os procedimentos identificados
Brasileira de Sinais (Libras), a visualização de textos, o Braille, o
com profissões legalmente estabelecidas;
sistema de sinalização ou de comunicação tátil, os caracteres XIV - acompanhante: aquele que acompanha a pessoa
ampliados, os dispositivos multimídia, assim como a lingua- com deficiência, podendo ou não desempenhar as funções
gem simples, escrita e oral, os sistemas auditivos e os meios de de atendente pessoal.
voz digitalizados e os modos, meios e formatos aumentativos
e alternativos de comunicação, incluindo as tecnologias da in- Os dispositivos são dotados de caráter conceitual e são
formação e das comunicações; bastante relevantes, podendo ser um dos mais cobrados
VI - adaptações razoáveis: adaptações, modificações e na prova. Entre os conceitos destaca-se o de “pessoa com
ajustes necessários e adequados que não acarretem ônus des- deficiência” como aquela que apenas está impedida de ser
proporcional e indevido, quando requeridos em cada caso, a incluída em igualdade na vida social devido a “barreiras”,
fim de assegurar que a pessoa com deficiência possa gozar ou que devem ser eliminadas por técnicas de “acessibilidade”
exercer, em igualdade de condições e oportunidades com as e “desenho universal”.
demais pessoas, todos os direitos e liberdades fundamentais;
VII - elemento de urbanização: quaisquer componentes de CAPÍTULO II
obras de urbanização, tais como os referentes a pavimentação, DA IGUALDADE E DA NÃO DISCRIMINAÇÃO
saneamento, encanamento para esgotos, distribuição de ener-
gia elétrica e de gás, iluminação pública, serviços de comuni- Art. 4º Toda pessoa com deficiência tem direito à igual-
cação, abastecimento e distribuição de água, paisagismo e os dade de oportunidades com as demais pessoas e não so-
que materializam as indicações do planejamento urbanístico; frerá nenhuma espécie de discriminação.
VIII - mobiliário urbano: conjunto de objetos existentes nas § 1º Considera-se discriminação em razão da deficiên-
vias e nos espaços públicos, superpostos ou adicionados aos cia toda forma de distinção, restrição ou exclusão, por ação
elementos de urbanização ou de edificação, de forma que sua ou omissão, que tenha o propósito ou o efeito de preju-
modificação ou seu traslado não provoque alterações subs- dicar, impedir ou anular o reconhecimento ou o exercício
tanciais nesses elementos, tais como semáforos, postes de si- dos direitos e das liberdades fundamentais de pessoa com
nalização e similares, terminais e pontos de acesso coletivo às deficiência, incluindo a recusa de adaptações razoáveis e
telecomunicações, fontes de água, lixeiras, toldos, marquises, de fornecimento de tecnologias assistivas.
bancos, quiosques e quaisquer outros de natureza análoga;

87
DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 2º A pessoa com deficiência não está obrigada à frui- Parágrafo único. Se, no exercício de suas funções, os juí-
ção de benefícios decorrentes de ação afirmativa. zes e os tribunais tiverem conhecimento de fatos que carac-
As ações afirmativas são políticas públicas ou progra- terizem as violações previstas nesta Lei, devem remeter peças
mas privados criados temporariamente e desenvolvidos ao Ministério Público para as providências cabíveis.
com a finalidade de reduzir as desigualdades decorrentes Art. 8º É dever do Estado, da sociedade e da família asse-
de discriminações ou de uma hipossuficiência econômica gurar à pessoa com deficiência, com prioridade, a efetivação
ou física, por meio da concessão de algum tipo de vanta- dos direitos referentes à vida, à saúde, à sexualidade, à pater-
gem compensatória de tais condições. nidade e à maternidade, à alimentação, à habitação, à edu-
Quem é contra as ações afirmativas argumenta que, cação, à profissionalização, ao trabalho, à previdência social,
em uma sociedade pluralista, a condição de membro de à habilitação e à reabilitação, ao transporte, à acessibilidade,
um grupo específico não pode ser usada como critério de à cultura, ao desporto, ao turismo, ao lazer, à informação, à
inclusão ou exclusão de benefícios. Ademais, afirma-se que comunicação, aos avanços científicos e tecnológicos, à digni-
dade, ao respeito, à liberdade, à convivência familiar e comu-
elas desprivilegiam o critério republicano do mérito (se-
nitária, entre outros decorrentes da Constituição Federal, da
gundo o qual o indivíduo deve alcançar determinado cargo
Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e
público pela sua capacidade e esforço, e não por pertencer
seu Protocolo Facultativo e das leis e de outras normas que
a determinada categoria); são medida inapropriada, ime-
garantam seu bem-estar pessoal, social e econômico.
diatista, e podem ser utilizadas como meio de “politicagem O Estatuto da Pessoa com Deficiência deixa claro que a
barata” (ou seja, por tal argumento, há outros meios mais deficiência não pode gerar limitações existenciais da pessoa.
adequados para obter esse resultado); fomentariam o ra- É possível restringir alguns aspectos de tomada de decisões,
cismo e o ódio; favoreceriam negros de classe média alta; especialmente em matéria patrimonial. Entretanto, questões
bem como ferem o princípio da isonomia por causar uma existenciais como casamento, família e fertilidade não po-
discriminação reversa. dem ser afetadas pelo fato da pessoa possuir alguma defi-
Por outro lado, quem é favorável às ações afirmativas ciência. Caberá à sociedade, à família e ao Estado resguardar
defende que elas representam o ideal de justiça compen- estes direitos.
satória (o objetivo é compensar injustiças passadas, dívidas
históricas, como uma compensação aos negros por tê-los Seção Única
feito escravos, p. ex.); representam o ideal de justiça dis- Do Atendimento Prioritário
tributiva (a preocupação, aqui, é com o presente. Busca-
-se uma concretização do princípio da igualdade material); Art. 9º A pessoa com deficiência tem direito a receber
bem como promovem a diversidade. atendimento prioritário, sobretudo com a finalidade de:
I - proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;
Art. 5º A pessoa com deficiência será protegida de toda II - atendimento em todas as instituições e serviços de
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, atendimento ao público;
tortura, crueldade, opressão e tratamento desumano ou III - disponibilização de recursos, tanto humanos quanto
degradante. tecnológicos, que garantam atendimento em igualdade de
Parágrafo único. Para os fins da proteção mencionada condições com as demais pessoas;
no caput deste artigo, são considerados especialmente vul- IV - disponibilização de pontos de parada, estações e
neráveis a criança, o adolescente, a mulher e o idoso, com terminais acessíveis de transporte coletivo de passageiros e
deficiência. garantia de segurança no embarque e no desembarque;
V - acesso a informações e disponibilização de recursos
de comunicação acessíveis;
Art. 6º A deficiência não afeta a plena capacidade civil
VI - recebimento de restituição de imposto de renda;
da pessoa, inclusive para:
VII - tramitação processual e procedimentos judiciais e
I - casar-se e constituir união estável;
administrativos em que for parte ou interessada, em todos os
II - exercer direitos sexuais e reprodutivos; atos e diligências.
III - exercer o direito de decidir sobre o número de fi- § 1º Os direitos previstos neste artigo são extensivos ao
lhos e de ter acesso a informações adequadas sobre repro- acompanhante da pessoa com deficiência ou ao seu aten-
dução e planejamento familiar; dente pessoal, exceto quanto ao disposto nos incisos VI e VII
IV - conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterili- deste artigo.
zação compulsória; § 2º Nos serviços de emergência públicos e privados, a
V - exercer o direito à família e à convivência familiar e prioridade conferida por esta Lei é condicionada aos proto-
comunitária; e colos de atendimento médico.
VI - exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e A garantia de prioridade compreende atendimento pre-
à adoção, como adotante ou adotando, em igualdade de ferencial imediato e individualizado junto aos órgãos públi-
oportunidades com as demais pessoas. cos e privados prestadores de serviços à população, inclusive
o Poder Judiciário. Isso significa que todos os segmentos so-
Art. 7º É dever de todos comunicar à autoridade com- ciais descritos na Constituição devem primeiramente prote-
petente qualquer forma de ameaça ou de violação aos di- ger e defender as pessoas com deficiência na busca da con-
reitos da pessoa com deficiência. cretização dos seus direitos.

88
DIREITO ADMINISTRATIVO

TÍTULO II IV - oferta de rede de serviços articulados, com atua-


DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS ção intersetorial, nos diferentes níveis de complexidade,
CAPÍTULO I para atender às necessidades específicas da pessoa com
DO DIREITO À VIDA deficiência;
V - prestação de serviços próximo ao domicílio da pes-
Art. 10. Compete ao poder público garantir a dignida- soa com deficiência, inclusive na zona rural, respeitadas a
de da pessoa com deficiência ao longo de toda a vida. organização das Redes de Atenção à Saúde (RAS) nos terri-
Parágrafo único. Em situações de risco, emergência tórios locais e as normas do Sistema Único de Saúde (SUS).
ou estado de calamidade pública, a pessoa com deficiên- Art. 16. Nos programas e serviços de habilitação e de
cia será considerada vulnerável, devendo o poder público reabilitação para a pessoa com deficiência, são garantidos:
adotar medidas para sua proteção e segurança. I - organização, serviços, métodos, técnicas e recursos
Art. 11. A pessoa com deficiência não poderá ser obri- para atender às características de cada pessoa com defi-
gada a se submeter a intervenção clínica ou cirúrgica, a tra-
ciência;
tamento ou a institucionalização forçada.
II - acessibilidade em todos os ambientes e serviços;
Parágrafo único. O consentimento da pessoa com de-
III - tecnologia assistiva, tecnologia de reabilitação, ma-
ficiência em situação de curatela poderá ser suprido, na
teriais e equipamentos adequados e apoio técnico profis-
forma da lei.
Art. 12. O consentimento prévio, livre e esclarecido da sional, de acordo com as especificidades de cada pessoa
pessoa com deficiência é indispensável para a realização com deficiência;
de tratamento, procedimento, hospitalização e pesquisa IV - capacitação continuada de todos os profissionais
científica. que participem dos programas e serviços.
§ 1º Em caso de pessoa com deficiência em situação de Art. 17. Os serviços do SUS e do Suas deverão promo-
curatela, deve ser assegurada sua participação, no maior ver ações articuladas para garantir à pessoa com deficiên-
grau possível, para a obtenção de consentimento. cia e sua família a aquisição de informações, orientações e
§ 2º A pesquisa científica envolvendo pessoa com defi- formas de acesso às políticas públicas disponíveis, com a
ciência em situação de tutela ou de curatela deve ser reali- finalidade de propiciar sua plena participação social.
zada, em caráter excepcional, apenas quando houver indí- Parágrafo único. Os serviços de que trata o caput des-
cios de benefício direto para sua saúde ou para a saúde de te artigo podem fornecer informações e orientações nas
outras pessoas com deficiência e desde que não haja outra áreas de saúde, de educação, de cultura, de esporte, de
opção de pesquisa de eficácia comparável com participan- lazer, de transporte, de previdência social, de assistência
tes não tutelados ou curatelados. social, de habitação, de trabalho, de empreendedorismo,
Art. 13. A pessoa com deficiência somente será aten- de acesso ao crédito, de promoção, proteção e defesa de
dida sem seu consentimento prévio, livre e esclarecido em direitos e nas demais áreas que possibilitem à pessoa com
casos de risco de morte e de emergência em saúde, res- deficiência exercer sua cidadania.
guardado seu superior interesse e adotadas as salvaguar-
das legais cabíveis. CAPÍTULO III
DO DIREITO À SAÚDE
CAPÍTULO II
DO DIREITO À HABILITAÇÃO E À REABILITAÇÃO Art. 18. É assegurada atenção integral à saúde da pes-
soa com deficiência em todos os níveis de complexidade,
Art. 14. O processo de habilitação e de reabilitação é por intermédio do SUS, garantido acesso universal e igua-
um direito da pessoa com deficiência.
litário.
Parágrafo único. O processo de habilitação e de reabili-
§ 1º É assegurada a participação da pessoa com defi-
tação tem por objetivo o desenvolvimento de potencialida-
ciência na elaboração das políticas de saúde a ela destina-
des, talentos, habilidades e aptidões físicas, cognitivas, sen-
das.
soriais, psicossociais, atitudinais, profissionais e artísticas
que contribuam para a conquista da autonomia da pessoa § 2º É assegurado atendimento segundo normas éticas
com deficiência e de sua participação social em igualdade e técnicas, que regulamentarão a atuação dos profissionais
de condições e oportunidades com as demais pessoas. de saúde e contemplarão aspectos relacionados aos direi-
Art. 15. O processo mencionado no art. 14 desta Lei tos e às especificidades da pessoa com deficiência, incluin-
baseia-se em avaliação multidisciplinar das necessidades, do temas como sua dignidade e autonomia.
habilidades e potencialidades de cada pessoa, observadas § 3º Aos profissionais que prestam assistência à pessoa
as seguintes diretrizes: com deficiência, especialmente em serviços de habilitação
I - diagnóstico e intervenção precoces; e de reabilitação, deve ser garantida capacitação inicial e
II - adoção de medidas para compensar perda ou limi- continuada.
tação funcional, buscando o desenvolvimento de aptidões; § 4º As ações e os serviços de saúde pública destinados
III - atuação permanente, integrada e articulada de po- à pessoa com deficiência devem assegurar:
líticas públicas que possibilitem a plena participação social I - diagnóstico e intervenção precoces, realizados por
da pessoa com deficiência; equipe multidisciplinar;

89
DIREITO ADMINISTRATIVO

II - serviços de habilitação e de reabilitação sempre § 2º Na ocorrência da impossibilidade prevista no § 1o


que necessários, para qualquer tipo de deficiência, inclu- deste artigo, o órgão ou a instituição de saúde deve adotar
sive para a manutenção da melhor condição de saúde e as providências cabíveis para suprir a ausência do acompa-
qualidade de vida; nhante ou do atendente pessoal.
III - atendimento domiciliar multidisciplinar, tratamento Art. 23. São vedadas todas as formas de discriminação
ambulatorial e internação; contra a pessoa com deficiência, inclusive por meio de co-
IV - campanhas de vacinação; brança de valores diferenciados por planos e seguros pri-
V - atendimento psicológico, inclusive para seus fami- vados de saúde, em razão de sua condição.
liares e atendentes pessoais; Art. 24. É assegurado à pessoa com deficiência o aces-
VI - respeito à especificidade, à identidade de gênero e so aos serviços de saúde, tanto públicos como privados, e
à orientação sexual da pessoa com deficiência; às informações prestadas e recebidas, por meio de recursos
VII - atenção sexual e reprodutiva, incluindo o direito à de tecnologia assistiva e de todas as formas de comunica-
fertilização assistida; ção previstas no inciso V do art. 3o desta Lei.
VIII - informação adequada e acessível à pessoa com Art. 25. Os espaços dos serviços de saúde, tanto públi-
deficiência e a seus familiares sobre sua condição de saúde; cos quanto privados, devem assegurar o acesso da pessoa
IX - serviços projetados para prevenir a ocorrência e o com deficiência, em conformidade com a legislação em vi-
desenvolvimento de deficiências e agravos adicionais; gor, mediante a remoção de barreiras, por meio de projetos
X - promoção de estratégias de capacitação perma- arquitetônico, de ambientação de interior e de comunica-
nente das equipes que atuam no SUS, em todos os níveis ção que atendam às especificidades das pessoas com defi-
de atenção, no atendimento à pessoa com deficiência, bem ciência física, sensorial, intelectual e mental.
como orientação a seus atendentes pessoais; Art. 26. Os casos de suspeita ou de confirmação de
XI - oferta de órteses, próteses, meios auxiliares de lo- violência praticada contra a pessoa com deficiência serão
comoção, medicamentos, insumos e fórmulas nutricionais, objeto de notificação compulsória pelos serviços de saúde
conforme as normas vigentes do Ministério da Saúde. públicos e privados à autoridade policial e ao Ministério
§ 5º As diretrizes deste artigo aplicam-se também às Público, além dos Conselhos dos Direitos da Pessoa com
instituições privadas que participem de forma complemen- Deficiência.
tar do SUS ou que recebam recursos públicos para sua ma- Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, considera-se
nutenção. violência contra a pessoa com deficiência qualquer ação
Art. 19. Compete ao SUS desenvolver ações destinadas ou omissão, praticada em local público ou privado, que lhe
à prevenção de deficiências por causas evitáveis, inclusive cause morte ou dano ou sofrimento físico ou psicológico.
por meio de: O estabelecimento de garantias da pessoa com defi-
I - acompanhamento da gravidez, do parto e do puer- ciência no âmbito do atendimento médico-hospitalar é
pério, com garantia de parto humanizado e seguro; posto em prol da preservação da igualdade de acesso. Com
II - promoção de práticas alimentares adequadas e efeito, planos privados não podem opor-se.
saudáveis, vigilância alimentar e nutricional, prevenção e
cuidado integral dos agravos relacionados à alimentação e CAPÍTULO IV
nutrição da mulher e da criança; DO DIREITO À EDUCAÇÃO
III - aprimoramento e expansão dos programas de imu-
nização e de triagem neonatal; Art. 27. A educação constitui direito da pessoa com
IV - identificação e controle da gestante de alto risco. deficiência, assegurados sistema educacional inclusivo em
Art. 20. As operadoras de planos e seguros privados todos os níveis e aprendizado ao longo de toda a vida, de
de saúde são obrigadas a garantir à pessoa com deficiên- forma a alcançar o máximo desenvolvimento possível de
cia, no mínimo, todos os serviços e produtos ofertados aos seus talentos e habilidades físicas, sensoriais, intelectuais e
demais clientes. sociais, segundo suas características, interesses e necessi-
Art. 21. Quando esgotados os meios de atenção à dades de aprendizagem.
saúde da pessoa com deficiência no local de residência, Parágrafo único. É dever do Estado, da família, da co-
será prestado atendimento fora de domicílio, para fins de munidade escolar e da sociedade assegurar educação de
diagnóstico e de tratamento, garantidos o transporte e a qualidade à pessoa com deficiência, colocando-a a salvo de
acomodação da pessoa com deficiência e de seu acompa- toda forma de violência, negligência e discriminação.
nhante. Art. 28. Incumbe ao poder público assegurar, criar, de-
Art. 22. À pessoa com deficiência internada ou em senvolver, implementar, incentivar, acompanhar e avaliar:
observação é assegurado o direito a acompanhante ou a I - sistema educacional inclusivo em todos os níveis e
atendente pessoal, devendo o órgão ou a instituição de modalidades, bem como o aprendizado ao longo de toda
saúde proporcionar condições adequadas para sua perma- a vida;
nência em tempo integral. II - aprimoramento dos sistemas educacionais, visando
§ 1º Na impossibilidade de permanência do acompa- a garantir condições de acesso, permanência, participação
nhante ou do atendente pessoal junto à pessoa com de- e aprendizagem, por meio da oferta de serviços e de recur-
ficiência, cabe ao profissional de saúde responsável pelo sos de acessibilidade que eliminem as barreiras e promo-
tratamento justificá-la por escrito. vam a inclusão plena;

90
DIREITO ADMINISTRATIVO

III - projeto pedagógico que institucionalize o atendi- XVII - oferta de profissionais de apoio escolar;
mento educacional especializado, assim como os demais XVIII - articulação intersetorial na implementação de
serviços e adaptações razoáveis, para atender às caracterís- políticas públicas.
ticas dos estudantes com deficiência e garantir o seu pleno § 1º Às instituições privadas, de qualquer nível e mo-
acesso ao currículo em condições de igualdade, promoven- dalidade de ensino, aplica-se obrigatoriamente o disposto
do a conquista e o exercício de sua autonomia; nos incisos I, II, III, V, VII, VIII, IX, X, XI, XII, XIII, XIV, XV, XVI,
IV - oferta de educação bilíngue, em Libras como pri- XVII e XVIII do caput deste artigo, sendo vedada a cobrança
meira língua e na modalidade escrita da língua portuguesa de valores adicionais de qualquer natureza em suas men-
como segunda língua, em escolas e classes bilíngues e em salidades, anuidades e matrículas no cumprimento dessas
escolas inclusivas; determinações.
V - adoção de medidas individualizadas e coletivas em § 2º Na disponibilização de tradutores e intérpretes da
ambientes que maximizem o desenvolvimento acadêmi- Libras a que se refere o inciso XI do caput deste artigo, de-
co e social dos estudantes com deficiência, favorecendo o ve-se observar o seguinte:
acesso, a permanência, a participação e a aprendizagem I - os tradutores e intérpretes da Libras atuantes na
em instituições de ensino; educação básica devem, no mínimo, possuir ensino médio
VI - pesquisas voltadas para o desenvolvimento de no- completo e certificado de proficiência na Libras;
vos métodos e técnicas pedagógicas, de materiais didáti- II - os tradutores e intérpretes da Libras, quando dire-
cos, de equipamentos e de recursos de tecnologia assistiva; cionados à tarefa de interpretar nas salas de aula dos cur-
VII - planejamento de estudo de caso, de elaboração sos de graduação e pós-graduação, devem possuir nível
de plano de atendimento educacional especializado, de superior, com habilitação, prioritariamente, em Tradução e
organização de recursos e serviços de acessibilidade e de Interpretação em Libras.
disponibilização e usabilidade pedagógica de recursos de Art. 29. (VETADO).
tecnologia assistiva; Art. 30. Nos processos seletivos para ingresso e perma-
VIII - participação dos estudantes com deficiência e de nência nos cursos oferecidos pelas instituições de ensino
suas famílias nas diversas instâncias de atuação da comu-
superior e de educação profissional e tecnológica, públicas
nidade escolar;
e privadas, devem ser adotadas as seguintes medidas:
IX - adoção de medidas de apoio que favoreçam o
I - atendimento preferencial à pessoa com deficiência
desenvolvimento dos aspectos linguísticos, culturais, vo-
nas dependências das Instituições de Ensino Superior (IES)
cacionais e profissionais, levando-se em conta o talento,
e nos serviços;
a criatividade, as habilidades e os interesses do estudante
II - disponibilização de formulário de inscrição de exa-
com deficiência;
mes com campos específicos para que o candidato com
X - adoção de práticas pedagógicas inclusivas pelos
deficiência informe os recursos de acessibilidade e de tec-
programas de formação inicial e continuada de professores
nologia assistiva necessários para sua participação;
e oferta de formação continuada para o atendimento edu-
cacional especializado; III - disponibilização de provas em formatos acessíveis
XI - formação e disponibilização de professores para para atendimento às necessidades específicas do candida-
o atendimento educacional especializado, de tradutores e to com deficiência;
intérpretes da Libras, de guias intérpretes e de profissionais IV - disponibilização de recursos de acessibilidade e de
de apoio; tecnologia assistiva adequados, previamente solicitados e
XII - oferta de ensino da Libras, do Sistema Braille e de escolhidos pelo candidato com deficiência;
uso de recursos de tecnologia assistiva, de forma a ampliar V - dilação de tempo, conforme demanda apresenta-
habilidades funcionais dos estudantes, promovendo sua da pelo candidato com deficiência, tanto na realização de
autonomia e participação; exame para seleção quanto nas atividades acadêmicas, me-
XIII - acesso à educação superior e à educação pro- diante prévia solicitação e comprovação da necessidade;
fissional e tecnológica em igualdade de oportunidades e VI - adoção de critérios de avaliação das provas escri-
condições com as demais pessoas; tas, discursivas ou de redação que considerem a singulari-
XIV - inclusão em conteúdos curriculares, em cursos de dade linguística da pessoa com deficiência, no domínio da
nível superior e de educação profissional técnica e tecnoló- modalidade escrita da língua portuguesa;
gica, de temas relacionados à pessoa com deficiência nos VII - tradução completa do edital e de suas retificações
respectivos campos de conhecimento; em Libras.
XV - acesso da pessoa com deficiência, em igualdade A pessoa com deficiência deve ser educada por mé-
de condições, a jogos e a atividades recreativas, esportivas todos que respeitem as suas necessidades especiais, não
e de lazer, no sistema escolar; devendo ter um acesso inferior à educação em razão de
XVI - acessibilidade para todos os estudantes, traba- limitações motoras, sensoriais ou afins.
lhadores da educação e demais integrantes da comunida-
de escolar às edificações, aos ambientes e às atividades
concernentes a todas as modalidades, etapas e níveis de
ensino;

91
DIREITO ADMINISTRATIVO

CAPÍTULO V § 1º As pessoas jurídicas de direito público, privado ou


DO DIREITO À MORADIA de qualquer natureza são obrigadas a garantir ambientes
de trabalho acessíveis e inclusivos.
Art. 31. A pessoa com deficiência tem direito à mora- § 2º A pessoa com deficiência tem direito, em igualda-
dia digna, no seio da família natural ou substituta, com seu de de oportunidades com as demais pessoas, a condições
cônjuge ou companheiro ou desacompanhada, ou em mo- justas e favoráveis de trabalho, incluindo igual remunera-
radia para a vida independente da pessoa com deficiência, ção por trabalho de igual valor.
ou, ainda, em residência inclusiva. § 3º É vedada restrição ao trabalho da pessoa com defi-
§ 1º O poder público adotará programas e ações estra- ciência e qualquer discriminação em razão de sua condição,
tégicas para apoiar a criação e a manutenção de moradia inclusive nas etapas de recrutamento, seleção, contratação,
para a vida independente da pessoa com deficiência. admissão, exames admissional e periódico, permanência
§ 2º A proteção integral na modalidade de residência no emprego, ascensão profissional e reabilitação profissio-
inclusiva será prestada no âmbito do SUS à pessoa com nal, bem como exigência de aptidão plena.
deficiência em situação de dependência que não disponha § 4º A pessoa com deficiência tem direito à participação
de condições de autossustentabilidade, com vínculos fami- e ao acesso a cursos, treinamentos, educação continuada,
liares fragilizados ou rompidos. planos de carreira, promoções, bonificações e incentivos
Art. 32. Nos programas habitacionais, públicos ou sub- profissionais oferecidos pelo empregador, em igualdade
sidiados com recursos públicos, a pessoa com deficiência de oportunidades com os demais empregados.
ou o seu responsável goza de prioridade na aquisição de § 5º É garantida aos trabalhadores com deficiência
imóvel para moradia própria, observado o seguinte: acessibilidade em cursos de formação e de capacitação.
I - reserva de, no mínimo, 3% (três por cento) das uni- Art. 35. É finalidade primordial das políticas públicas
dades habitacionais para pessoa com deficiência; de trabalho e emprego promover e garantir condições de
II - (VETADO); acesso e de permanência da pessoa com deficiência no
III - em caso de edificação multifamiliar, garantia de campo de trabalho.
Parágrafo único. Os programas de estímulo ao em-
acessibilidade nas áreas de uso comum e nas unidades ha-
preendedorismo e ao trabalho autônomo, incluídos o
bitacionais no piso térreo e de acessibilidade ou de adap-
cooperativismo e o associativismo, devem prever a parti-
tação razoável nos demais pisos;
cipação da pessoa com deficiência e a disponibilização de
IV - disponibilização de equipamentos urbanos comu-
linhas de crédito, quando necessárias.
nitários acessíveis;
V - elaboração de especificações técnicas no projeto
Seção II
que permitam a instalação de elevadores.
Da Habilitação Profissional e Reabilitação Profissional
§ 1º O direito à prioridade, previsto no caput deste arti-
go, será reconhecido à pessoa com deficiência beneficiária Art. 36. O poder público deve implementar serviços
apenas uma vez. e programas completos de habilitação profissional e de
§ 2º Nos programas habitacionais públicos, os critérios reabilitação profissional para que a pessoa com deficiência
de financiamento devem ser compatíveis com os rendi- possa ingressar, continuar ou retornar ao campo do traba-
mentos da pessoa com deficiência ou de sua família. lho, respeitados sua livre escolha, sua vocação e seu inte-
§ 3º Caso não haja pessoa com deficiência interessada resse.
nas unidades habitacionais reservadas por força do dispos- § 1º Equipe multidisciplinar indicará, com base em cri-
to no inciso I do caput deste artigo, as unidades não utili- térios previstos no § 1o do art. 2o desta Lei, programa de
zadas serão disponibilizadas às demais pessoas. habilitação ou de reabilitação que possibilite à pessoa com
Art. 33. Ao poder público compete: deficiência restaurar sua capacidade e habilidade profissio-
I - adotar as providências necessárias para o cumpri- nal ou adquirir novas capacidades e habilidades de traba-
mento do disposto nos arts. 31 e 32 desta Lei; e lho.
II - divulgar, para os agentes interessados e beneficiá- § 2º A habilitação profissional corresponde ao processo
rios, a política habitacional prevista nas legislações federal, destinado a propiciar à pessoa com deficiência aquisição
estaduais, distrital e municipais, com ênfase nos dispositi- de conhecimentos, habilidades e aptidões para exercício de
vos sobre acessibilidade. profissão ou de ocupação, permitindo nível suficiente de
desenvolvimento profissional para ingresso no campo de
CAPÍTULO VI trabalho.
DO DIREITO AO TRABALHO § 3º Os serviços de habilitação profissional, de reabi-
Seção I litação profissional e de educação profissional devem ser
Disposições Gerais dotados de recursos necessários para atender a toda pes-
soa com deficiência, independentemente de sua caracterís-
Art. 34. A pessoa com deficiência tem direito ao traba- tica específica, a fim de que ela possa ser capacitada para
lho de sua livre escolha e aceitação, em ambiente acessível trabalho que lhe seja adequado e ter perspectivas de obtê-
e inclusivo, em igualdade de oportunidades com as demais -lo, de conservá-lo e de nele progredir.
pessoas.

92
DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 4º Os serviços de habilitação profissional, de reabilita- § 1º A assistência social à pessoa com deficiência, nos
ção profissional e de educação profissional deverão ser ofe- termos do caput deste artigo, deve envolver conjunto ar-
recidos em ambientes acessíveis e inclusivos. ticulado de serviços do âmbito da Proteção Social Básica
§ 5º A habilitação profissional e a reabilitação profissional e da Proteção Social Especial, ofertados pelo Suas, para a
devem ocorrer articuladas com as redes públicas e privadas, garantia de seguranças fundamentais no enfrentamento de
especialmente de saúde, de ensino e de assistência social, em situações de vulnerabilidade e de risco, por fragilização de
todos os níveis e modalidades, em entidades de formação vínculos e ameaça ou violação de direitos.
profissional ou diretamente com o empregador. § 2º Os serviços socioassistenciais destinados à pessoa
§ 6º A habilitação profissional pode ocorrer em empresas com deficiência em situação de dependência deverão con-
por meio de prévia formalização do contrato de emprego da tar com cuidadores sociais para prestar-lhe cuidados bási-
pessoa com deficiência, que será considerada para o cum- cos e instrumentais.
primento da reserva de vagas prevista em lei, desde que por Art. 40. É assegurado à pessoa com deficiência que
tempo determinado e concomitante com a inclusão profis-
não possua meios para prover sua subsistência nem de tê-
sional na empresa, observado o disposto em regulamento.
-la provida por sua família o benefício mensal de 1 (um)
§ 7º A habilitação profissional e a reabilitação profissional
salário-mínimo, nos termos da Lei nº 8.742, de 7 de de-
atenderão à pessoa com deficiência.
zembro de 1993.
Seção III O Benefício da Prestação Continuada da Lei Orgânica
Da Inclusão da Pessoa com Deficiência no Trabalho da Assistência Social (BPC/LOAS) é a garantia de um salário
mínimo mensal ao idoso acima de 65 anos ou ao cidadão
Art. 37. Constitui modo de inclusão da pessoa com de- com deficiência física, mental, intelectual ou sensorial de
ficiência no trabalho a colocação competitiva, em igualdade longo prazo, que o impossibilite de participar de forma ple-
de oportunidades com as demais pessoas, nos termos da le- na e efetiva na sociedade, em igualdade de condições com
gislação trabalhista e previdenciária, na qual devem ser aten- as demais pessoas.
didas as regras de acessibilidade, o fornecimento de recursos Para ter direito, é necessário que a renda por pessoa
de tecnologia assistiva e a adaptação razoável no ambiente do grupo familiar seja menor que 1/4 do salário-mínimo
de trabalho. vigente.
Parágrafo único. A colocação competitiva da pessoa Por se tratar de um benefício assistencial, não é ne-
com deficiência pode ocorrer por meio de trabalho com cessário ter contribuído ao INSS para ter direito a ele. No
apoio, observadas as seguintes diretrizes: entanto, este benefício não paga 13º salário e não deixa
I - prioridade no atendimento à pessoa com deficiência pensão por morte.
com maior dificuldade de inserção no campo de trabalho;
II - provisão de suportes individualizados que atendam a CAPÍTULO VIII
necessidades específicas da pessoa com deficiência, inclusi- DO DIREITO À PREVIDÊNCIA SOCIAL
ve a disponibilização de recursos de tecnologia assistiva, de
agente facilitador e de apoio no ambiente de trabalho; Art. 41. A pessoa com deficiência segurada do Regime
III - respeito ao perfil vocacional e ao interesse da pessoa Geral de Previdência Social (RGPS) tem direito à aposen-
com deficiência apoiada; tadoria nos termos da Lei Complementar no 142, de 8 de
IV - oferta de aconselhamento e de apoio aos emprega- maio de 2013.
dores, com vistas à definição de estratégias de inclusão e de
superação de barreiras, inclusive atitudinais;
CAPÍTULO IX
V - realização de avaliações periódicas;
DO DIREITO À CULTURA, AO ESPORTE, AO TURISMO
VI - articulação intersetorial das políticas públicas;
E AO LAZER
VII - possibilidade de participação de organizações da
sociedade civil.
Art. 38. A entidade contratada para a realização de pro- Art. 42. A pessoa com deficiência tem direito à cultura,
cesso seletivo público ou privado para cargo, função ou em- ao esporte, ao turismo e ao lazer em igualdade de opor-
prego está obrigada à observância do disposto nesta Lei e tunidades com as demais pessoas, sendo-lhe garantido o
em outras normas de acessibilidade vigentes. acesso:
I - a bens culturais em formato acessível;
CAPÍTULO VII II - a programas de televisão, cinema, teatro e outras
DO DIREITO À ASSISTÊNCIA SOCIAL atividades culturais e desportivas em formato acessível; e
III - a monumentos e locais de importância cultural e a
Art. 39. Os serviços, os programas, os projetos e os be- espaços que ofereçam serviços ou eventos culturais e es-
nefícios no âmbito da política pública de assistência social portivos.
à pessoa com deficiência e sua família têm como objetivo a § 1º É vedada a recusa de oferta de obra intelectual em
garantia da segurança de renda, da acolhida, da habilitação e formato acessível à pessoa com deficiência, sob qualquer
da reabilitação, do desenvolvimento da autonomia e da con- argumento, inclusive sob a alegação de proteção dos direi-
vivência familiar e comunitária, para a promoção do acesso a tos de propriedade intelectual.
direitos e da plena participação social.

93
DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 2º O poder público deve adotar soluções destinadas § 1º Os estabelecimentos já existentes deverão dispo-
à eliminação, à redução ou à superação de barreiras para a nibilizar, pelo menos, 10% (dez por cento) de seus dormi-
promoção do acesso a todo patrimônio cultural, observa- tórios acessíveis, garantida, no mínimo, 1 (uma) unidade
das as normas de acessibilidade, ambientais e de proteção acessível.
do patrimônio histórico e artístico nacional. § 2º Os dormitórios mencionados no § 1o deste artigo
Art. 43. O poder público deve promover a participação deverão ser localizados em rotas acessíveis.
da pessoa com deficiência em atividades artísticas, intelec-
tuais, culturais, esportivas e recreativas, com vistas ao seu CAPÍTULO X
protagonismo, devendo: DO DIREITO AO TRANSPORTE E À MOBILIDADE
I - incentivar a provisão de instrução, de treinamento
e de recursos adequados, em igualdade de oportunidades Art. 46. O direito ao transporte e à mobilidade da pes-
com as demais pessoas; soa com deficiência ou com mobilidade reduzida será as-
II - assegurar acessibilidade nos locais de eventos e nos segurado em igualdade de oportunidades com as demais
serviços prestados por pessoa ou entidade envolvida na or- pessoas, por meio de identificação e de eliminação de to-
ganização das atividades de que trata este artigo; e dos os obstáculos e barreiras ao seu acesso.
III - assegurar a participação da pessoa com deficiência § 1º Para fins de acessibilidade aos serviços de trans-
em jogos e atividades recreativas, esportivas, de lazer, cul- porte coletivo terrestre, aquaviário e aéreo, em todas as ju-
turais e artísticas, inclusive no sistema escolar, em igualda- risdições, consideram-se como integrantes desses serviços
de de condições com as demais pessoas. os veículos, os terminais, as estações, os pontos de parada,
Art. 44. Nos teatros, cinemas, auditórios, estádios, gi- o sistema viário e a prestação do serviço.
násios de esporte, locais de espetáculos e de conferências § 2º São sujeitas ao cumprimento das disposições des-
e similares, serão reservados espaços livres e assentos para ta Lei, sempre que houver interação com a matéria nela
a pessoa com deficiência, de acordo com a capacidade de regulada, a outorga, a concessão, a permissão, a autoriza-
lotação da edificação, observado o disposto em regula- ção, a renovação ou a habilitação de linhas e de serviços de
mento.
transporte coletivo.
§ 1º Os espaços e assentos a que se refere este artigo
§ 3º Para colocação do símbolo internacional de acesso
devem ser distribuídos pelo recinto em locais diversos, de
nos veículos, as empresas de transporte coletivo de passa-
boa visibilidade, em todos os setores, próximos aos corre-
geiros dependem da certificação de acessibilidade emitida
dores, devidamente sinalizados, evitando-se áreas segre-
pelo gestor público responsável pela prestação do serviço.
gadas de público e obstrução das saídas, em conformidade
Art. 47. Em todas as áreas de estacionamento aberto
com as normas de acessibilidade.
ao público, de uso público ou privado de uso coletivo e
§ 2º No caso de não haver comprovada procura pelos
em vias públicas, devem ser reservadas vagas próximas aos
assentos reservados, esses podem, excepcionalmente, ser
ocupados por pessoas sem deficiência ou que não tenham acessos de circulação de pedestres, devidamente sinaliza-
mobilidade reduzida, observado o disposto em regula- das, para veículos que transportem pessoa com deficiência
mento. com comprometimento de mobilidade, desde que devida-
§ 3º Os espaços e assentos a que se refere este artigo mente identificados.
devem situar-se em locais que garantam a acomodação de, § 1º As vagas a que se refere o caput deste artigo de-
no mínimo, 1 (um) acompanhante da pessoa com deficiên- vem equivaler a 2% (dois por cento) do total, garantida,
cia ou com mobilidade reduzida, resguardado o direito de no mínimo, 1 (uma) vaga devidamente sinalizada e com
se acomodar proximamente a grupo familiar e comunitário. as especificações de desenho e traçado de acordo com as
§ 4º Nos locais referidos no caput deste artigo, deve normas técnicas vigentes de acessibilidade.
haver, obrigatoriamente, rotas de fuga e saídas de emer- § 2º Os veículos estacionados nas vagas reservadas de-
gência acessíveis, conforme padrões das normas de aces- vem exibir, em local de ampla visibilidade, a credencial de
sibilidade, a fim de permitir a saída segura da pessoa com beneficiário, a ser confeccionada e fornecida pelos órgãos
deficiência ou com mobilidade reduzida, em caso de emer- de trânsito, que disciplinarão suas características e condi-
gência. ções de uso.
§ 5º Todos os espaços das edificações previstas no § 3º A utilização indevida das vagas de que trata este
caput deste artigo devem atender às normas de acessibili- artigo sujeita os infratores às sanções previstas no inciso
dade em vigor. XVII do art. 181 da Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997
§ 6º As salas de cinema devem oferecer, em todas as (Código de Trânsito Brasileiro).
sessões, recursos de acessibilidade para a pessoa com de- § 4º A credencial a que se refere o § 2º deste artigo
ficiência. é vinculada à pessoa com deficiência que possui compro-
§ 7º O valor do ingresso da pessoa com deficiência não metimento de mobilidade e é válida em todo o território
poderá ser superior ao valor cobrado das demais pessoas. nacional.
Art. 45. Os hotéis, pousadas e similares devem ser Art. 48. Os veículos de transporte coletivo terrestre,
construídos observando-se os princípios do desenho uni- aquaviário e aéreo, as instalações, as estações, os portos e
versal, além de adotar todos os meios de acessibilidade, os terminais em operação no País devem ser acessíveis, de
conforme legislação em vigor. forma a garantir o seu uso por todas as pessoas.

94
DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 1º Os veículos e as estruturas de que trata o caput Art. 55. A concepção e a implantação de projetos que
deste artigo devem dispor de sistema de comunicação tratem do meio físico, de transporte, de informação e comu-
acessível que disponibilize informações sobre todos os nicação, inclusive de sistemas e tecnologias da informação e
pontos do itinerário. comunicação, e de outros serviços, equipamentos e instala-
§ 2º São asseguradas à pessoa com deficiência priori- ções abertos ao público, de uso público ou privado de uso
dade e segurança nos procedimentos de embarque e de coletivo, tanto na zona urbana como na rural, devem atender
desembarque nos veículos de transporte coletivo, de acor- aos princípios do desenho universal, tendo como referência
do com as normas técnicas. as normas de acessibilidade.
§ 3º Para colocação do símbolo internacional de acesso § 1º O desenho universal será sempre tomado como re-
nos veículos, as empresas de transporte coletivo de passa- gra de caráter geral.
geiros dependem da certificação de acessibilidade emitida § 2º Nas hipóteses em que comprovadamente o dese-
pelo gestor público responsável pela prestação do serviço. nho universal não possa ser empreendido, deve ser adotada
Art. 49. As empresas de transporte de fretamento e adaptação razoável.
de turismo, na renovação de suas frotas, são obrigadas ao § 3º Caberá ao poder público promover a inclusão de
cumprimento do disposto nos arts. 46 e 48 desta Lei. conteúdos temáticos referentes ao desenho universal nas di-
Art. 50. O poder público incentivará a fabricação de retrizes curriculares da educação profissional e tecnológica
veículos acessíveis e a sua utilização como táxis e vans, de e do ensino superior e na formação das carreiras de Estado.
forma a garantir o seu uso por todas as pessoas. § 4º Os programas, os projetos e as linhas de pesquisa a
Art. 51. As frotas de empresas de táxi devem reservar serem desenvolvidos com o apoio de organismos públicos
10% (dez por cento) de seus veículos acessíveis à pessoa de auxílio à pesquisa e de agências de fomento deverão in-
com deficiência. cluir temas voltados para o desenho universal.
§ 1º É proibida a cobrança diferenciada de tarifas ou de § 5º Desde a etapa de concepção, as políticas públicas
valores adicionais pelo serviço de táxi prestado à pessoa deverão considerar a adoção do desenho universal.
com deficiência. Art. 56. A construção, a reforma, a ampliação ou a mu-
§ 2º O poder público é autorizado a instituir incentivos dança de uso de edificações abertas ao público, de uso pú-
fiscais com vistas a possibilitar a acessibilidade dos veículos
blico ou privadas de uso coletivo deverão ser executadas de
a que se refere o caput deste artigo.
modo a serem acessíveis.
Art. 52. As locadoras de veículos são obrigadas a ofe-
§ 1º As entidades de fiscalização profissional das ativi-
recer 1 (um) veículo adaptado para uso de pessoa com de-
dades de Engenharia, de Arquitetura e correlatas, ao anota-
ficiência, a cada conjunto de 20 (vinte) veículos de sua frota.
rem a responsabilidade técnica de projetos, devem exigir a
Parágrafo único. O veículo adaptado deverá ter, no mí-
responsabilidade profissional declarada de atendimento às
nimo, câmbio automático, direção hidráulica, vidros elétri-
regras de acessibilidade previstas em legislação e em normas
cos e comandos manuais de freio e de embreagem.
técnicas pertinentes.
TÍTULO III § 2º Para a aprovação, o licenciamento ou a emissão de
DA ACESSIBILIDADE certificado de projeto executivo arquitetônico, urbanístico e
CAPÍTULO I de instalações e equipamentos temporários ou permanentes
DISPOSIÇÕES GERAIS e para o licenciamento ou a emissão de certificado de con-
clusão de obra ou de serviço, deve ser atestado o atendimen-
Art. 53. A acessibilidade é direito que garante à pessoa to às regras de acessibilidade.
com deficiência ou com mobilidade reduzida viver de for- § 3º O poder público, após certificar a acessibilidade de
ma independente e exercer seus direitos de cidadania e de edificação ou de serviço, determinará a colocação, em espa-
participação social. ços ou em locais de ampla visibilidade, do símbolo interna-
Art. 54. São sujeitas ao cumprimento das disposições cional de acesso, na forma prevista em legislação e em nor-
desta Lei e de outras normas relativas à acessibilidade, mas técnicas correlatas.
sempre que houver interação com a matéria nela regulada: Art. 57. As edificações públicas e privadas de uso coleti-
I - a aprovação de projeto arquitetônico e urbanístico vo já existentes devem garantir acessibilidade à pessoa com
ou de comunicação e informação, a fabricação de veículos deficiência em todas as suas dependências e serviços, tendo
de transporte coletivo, a prestação do respectivo serviço como referência as normas de acessibilidade vigentes.
e a execução de qualquer tipo de obra, quando tenham Art. 58. O projeto e a construção de edificação de uso
destinação pública ou coletiva; privado multifamiliar devem atender aos preceitos de acessi-
II - a outorga ou a renovação de concessão, permissão, bilidade, na forma regulamentar.
autorização ou habilitação de qualquer natureza; § 1º As construtoras e incorporadoras responsáveis pelo
III - a aprovação de financiamento de projeto com uti- projeto e pela construção das edificações a que se refere o
lização de recursos públicos, por meio de renúncia ou de caput deste artigo devem assegurar percentual mínimo de
incentivo fiscal, contrato, convênio ou instrumento congê- suas unidades internamente acessíveis, na forma regulamen-
nere; e tar.
IV - a concessão de aval da União para obtenção de § 2º É vedada a cobrança de valores adicionais para
empréstimo e de financiamento internacionais por entes a aquisição de unidades internamente acessíveis a que se
públicos ou privados. refere o § 1º deste artigo.

95
DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 59. Em qualquer intervenção nas vias e nos espaços Art. 64. A acessibilidade nos sítios da internet de que
públicos, o poder público e as empresas concessionárias res- trata o art. 63 desta Lei deve ser observada para obtenção
ponsáveis pela execução das obras e dos serviços devem ga- do financiamento de que trata o inciso III do art. 54 desta
rantir, de forma segura, a fluidez do trânsito e a livre circulação Lei.
e acessibilidade das pessoas, durante e após sua execução. Art. 65. As empresas prestadoras de serviços de tele-
Art. 60. Orientam-se, no que couber, pelas regras de aces- comunicações deverão garantir pleno acesso à pessoa com
sibilidade previstas em legislação e em normas técnicas, ob- deficiência, conforme regulamentação específica.
servado o disposto na Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de Art. 66. Cabe ao poder público incentivar a oferta de
2000, nº 10.257, de 10 de julho de 2001, e nº 12.587, de 3 de aparelhos de telefonia fixa e móvel celular com acessibi-
janeiro de 2012: lidade que, entre outras tecnologias assistivas, possuam
I - os planos diretores municipais, os planos diretores possibilidade de indicação e de ampliação sonoras de to-
de transporte e trânsito, os planos de mobilidade urbana e das as operações e funções disponíveis.
os planos de preservação de sítios históricos elaborados ou
atualizados a partir da publicação desta Lei; Art. 67. Os serviços de radiodifusão de sons e imagens
II - os códigos de obras, os códigos de postura, as leis de devem permitir o uso dos seguintes recursos, entre outros:
uso e ocupação do solo e as leis do sistema viário; I - subtitulação por meio de legenda oculta;
III - os estudos prévios de impacto de vizinhança; II - janela com intérprete da Libras;
IV - as atividades de fiscalização e a imposição de san- III - audiodescrição.
ções; e Art. 68. O poder público deve adotar mecanismos de
V - a legislação referente à prevenção contra incêndio e incentivo à produção, à edição, à difusão, à distribuição e à
pânico. comercialização de livros em formatos acessíveis, inclusive
§ 1º A concessão e a renovação de alvará de funciona- em publicações da administração pública ou financiadas
mento para qualquer atividade são condicionadas à observa- com recursos públicos, com vistas a garantir à pessoa com
ção e à certificação das regras de acessibilidade. deficiência o direito de acesso à leitura, à informação e à
§ 2º A emissão de carta de habite-se ou de habilitação comunicação.
equivalente e sua renovação, quando esta tiver sido emitida § 1º Nos editais de compras de livros, inclusive para o
anteriormente às exigências de acessibilidade, é condicionada abastecimento ou a atualização de acervos de bibliotecas
à observação e à certificação das regras de acessibilidade. em todos os níveis e modalidades de educação e de biblio-
Art. 61. A formulação, a implementação e a manutenção tecas públicas, o poder público deverá adotar cláusulas de
das ações de acessibilidade atenderão às seguintes premissas impedimento à participação de editoras que não ofertem
básicas: sua produção também em formatos acessíveis.
I - eleição de prioridades, elaboração de cronograma e § 2º Consideram-se formatos acessíveis os arquivos
reserva de recursos para implementação das ações; e digitais que possam ser reconhecidos e acessados por
II - planejamento contínuo e articulado entre os setores softwares leitores de telas ou outras tecnologias assistivas
envolvidos. que vierem a substituí-los, permitindo leitura com voz sin-
Art. 62. É assegurado à pessoa com deficiência, mediante tetizada, ampliação de caracteres, diferentes contrastes e
solicitação, o recebimento de contas, boletos, recibos, extra- impressão em Braille.
tos e cobranças de tributos em formato acessível. § 3º O poder público deve estimular e apoiar a adapta-
ção e a produção de artigos científicos em formato acessí-
CAPÍTULO II vel, inclusive em Libras.
DO ACESSO À INFORMAÇÃO E À COMUNICAÇÃO Art. 69. O poder público deve assegurar a disponibi-
lidade de informações corretas e claras sobre os diferen-
Art. 63. É obrigatória a acessibilidade nos sítios da inter- tes produtos e serviços ofertados, por quaisquer meios de
net mantidos por empresas com sede ou representação co- comunicação empregados, inclusive em ambiente virtual,
mercial no País ou por órgãos de governo, para uso da pessoa contendo a especificação correta de quantidade, qualida-
com deficiência, garantindo-lhe acesso às informações dispo- de, características, composição e preço, bem como sobre
níveis, conforme as melhores práticas e diretrizes de acessibi- os eventuais riscos à saúde e à segurança do consumidor
lidade adotadas internacionalmente. com deficiência, em caso de sua utilização, aplicando-se,
§ 1º Os sítios devem conter símbolo de acessibilidade em no que couber, os arts. 30 a 41 da Lei nº 8.078, de 11 de
destaque. setembro de 1990.
§ 2º Telecentros comunitários que receberem recursos § 1º Os canais de comercialização virtual e os anúncios
públicos federais para seu custeio ou sua instalação e lan publicitários veiculados na imprensa escrita, na internet, no
houses devem possuir equipamentos e instalações acessíveis. rádio, na televisão e nos demais veículos de comunicação
§ 3º Os telecentros e as lan houses de que trata o § 2º abertos ou por assinatura devem disponibilizar, conforme
deste artigo devem garantir, no mínimo, 10% (dez por cento) a compatibilidade do meio, os recursos de acessibilidade
de seus computadores com recursos de acessibilidade para de que trata o art. 67 desta Lei, a expensas do fornecedor
pessoa com deficiência visual, sendo assegurado pelo menos do produto ou do serviço, sem prejuízo da observância do
1 (um) equipamento, quando o resultado percentual for infe- disposto nos arts. 36 a 38 da Lei nº 8.078, de 11 de setem-
rior a 1 (um). bro de 1990.

96
DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 2º Os fornecedores devem disponibilizar, median- CAPÍTULO IV


te solicitação, exemplares de bulas, prospectos, textos ou DO DIREITO À PARTICIPAÇÃO NA VIDA PÚBLICA E
qualquer outro tipo de material de divulgação em formato POLÍTICA
acessível.
Art. 70. As instituições promotoras de congressos, se- Art. 76. O poder público deve garantir à pessoa com defi-
minários, oficinas e demais eventos de natureza científico- ciência todos os direitos políticos e a oportunidade de exercê-
-cultural devem oferecer à pessoa com deficiência, no mí- -los em igualdade de condições com as demais pessoas.
nimo, os recursos de tecnologia assistiva previstos no art. § 1º À pessoa com deficiência será assegurado o direito de
votar e de ser votada, inclusive por meio das seguintes ações:
67 desta Lei.
I - garantia de que os procedimentos, as instalações, os
Art. 71. Os congressos, os seminários, as oficinas e os
materiais e os equipamentos para votação sejam apropriados,
demais eventos de natureza científico-cultural promovidos
acessíveis a todas as pessoas e de fácil compreensão e uso,
ou financiados pelo poder público devem garantir as con- sendo vedada a instalação de seções eleitorais exclusivas para
dições de acessibilidade e os recursos de tecnologia assis- a pessoa com deficiência;
tiva. II - incentivo à pessoa com deficiência a candidatar-se e a
Art. 72. Os programas, as linhas de pesquisa e os pro- desempenhar quaisquer funções públicas em todos os níveis
jetos a serem desenvolvidos com o apoio de agências de fi- de governo, inclusive por meio do uso de novas tecnologias
nanciamento e de órgãos e entidades integrantes da admi- assistivas, quando apropriado;
nistração pública que atuem no auxílio à pesquisa devem III - garantia de que os pronunciamentos oficiais, a pro-
contemplar temas voltados à tecnologia assistiva. paganda eleitoral obrigatória e os debates transmitidos pe-
Art. 73. Caberá ao poder público, diretamente ou em las emissoras de televisão possuam, pelo menos, os recursos
parceria com organizações da sociedade civil, promover a elencados no art. 67 desta Lei;
capacitação de tradutores e intérpretes da Libras, de guias IV - garantia do livre exercício do direito ao voto e, para
intérpretes e de profissionais habilitados em Braille, audio- tanto, sempre que necessário e a seu pedido, permissão para
descrição, estenotipia e legendagem. que a pessoa com deficiência seja auxiliada na votação por
pessoa de sua escolha.
CAPÍTULO III § 2º O poder público promoverá a participação da pessoa
com deficiência, inclusive quando institucionalizada, na con-
DA TECNOLOGIA ASSISTIVA
dução das questões públicas, sem discriminação e em igual-
dade de oportunidades, observado o seguinte:
Art. 74. É garantido à pessoa com deficiência acesso a
I - participação em organizações não governamentais re-
produtos, recursos, estratégias, práticas, processos, méto- lacionadas à vida pública e à política do País e em atividades e
dos e serviços de tecnologia assistiva que maximizem sua administração de partidos políticos;
autonomia, mobilidade pessoal e qualidade de vida. II - formação de organizações para representar a pessoa
Art. 75. O poder público desenvolverá plano específico com deficiência em todos os níveis;
de medidas, a ser renovado em cada período de 4 (quatro) III - participação da pessoa com deficiência em organiza-
anos, com a finalidade de: ções que a representem.
I - facilitar o acesso a crédito especializado, inclusive
com oferta de linhas de crédito subsidiadas, específicas TÍTULO IV
para aquisição de tecnologia assistiva; DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA
II - agilizar, simplificar e priorizar procedimentos de im-
portação de tecnologia assistiva, especialmente as ques- Art. 77. O poder público deve fomentar o desenvolvimen-
tões atinentes a procedimentos alfandegários e sanitários; to científico, a pesquisa e a inovação e a capacitação tecnoló-
III - criar mecanismos de fomento à pesquisa e à pro- gicas, voltados à melhoria da qualidade de vida e ao trabalho
dução nacional de tecnologia assistiva, inclusive por meio da pessoa com deficiência e sua inclusão social.
de concessão de linhas de crédito subsidiado e de parcerias § 1º O fomento pelo poder público deve priorizar a gera-
ção de conhecimentos e técnicas que visem à prevenção e ao
com institutos de pesquisa oficiais;
tratamento de deficiências e ao desenvolvimento de tecnolo-
IV - eliminar ou reduzir a tributação da cadeia produti-
gias assistiva e social.
va e de importação de tecnologia assistiva;
§ 2º A acessibilidade e as tecnologias assistiva e social de-
V - facilitar e agilizar o processo de inclusão de novos vem ser fomentadas mediante a criação de cursos de pós-gra-
recursos de tecnologia assistiva no rol de produtos distri- duação, a formação de recursos humanos e a inclusão do tema
buídos no âmbito do SUS e por outros órgãos governa- nas diretrizes de áreas do conhecimento.
mentais. § 3º Deve ser fomentada a capacitação tecnológica de insti-
Parágrafo único. Para fazer cumprir o disposto neste tuições públicas e privadas para o desenvolvimento de tecnolo-
artigo, os procedimentos constantes do plano específico gias assistiva e social que sejam voltadas para melhoria da fun-
de medidas deverão ser avaliados, pelo menos, a cada 2 cionalidade e da participação social da pessoa com deficiência.
(dois) anos. § 4º As medidas previstas neste artigo devem ser reava-
liadas periodicamente pelo poder público, com vistas ao seu
aperfeiçoamento.

97
DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 78. Devem ser estimulados a pesquisa, o desen- CAPÍTULO II


volvimento, a inovação e a difusão de tecnologias volta- DO RECONHECIMENTO IGUAL PERANTE A LEI
das para ampliar o acesso da pessoa com deficiência às
tecnologias da informação e comunicação e às tecnologias Art. 84. A pessoa com deficiência tem assegurado o
sociais. direito ao exercício de sua capacidade legal em igualdade
Parágrafo único. Serão estimulados, em especial: de condições com as demais pessoas.
I - o emprego de tecnologias da informação e comu- § 1º Quando necessário, a pessoa com deficiência será
nicação como instrumento de superação de limitações submetida à curatela, conforme a lei.
funcionais e de barreiras à comunicação, à informação, à § 2º É facultado à pessoa com deficiência a adoção de
educação e ao entretenimento da pessoa com deficiência; processo de tomada de decisão apoiada.
II - a adoção de soluções e a difusão de normas que § 3º A definição de curatela de pessoa com deficiência
visem a ampliar a acessibilidade da pessoa com deficiência constitui medida protetiva extraordinária, proporcional às
à computação e aos sítios da internet, em especial aos ser- necessidades e às circunstâncias de cada caso, e durará o
viços de governo eletrônico. menor tempo possível.
§ 4º Os curadores são obrigados a prestar, anualmente,
LIVRO II contas de sua administração ao juiz, apresentando o balan-
PARTE ESPECIAL ço do respectivo ano.
TÍTULO I
DO ACESSO À JUSTIÇA Art. 85. A curatela afetará tão somente os atos relacio-
CAPÍTULO I nados aos direitos de natureza patrimonial e negocial.
DISPOSIÇÕES GERAIS § 1º A definição da curatela não alcança o direito ao
próprio corpo, à sexualidade, ao matrimônio, à privacidade,
Art. 79. O poder público deve assegurar o acesso da à educação, à saúde, ao trabalho e ao voto.
pessoa com deficiência à justiça, em igualdade de oportu- § 2º A curatela constitui medida extraordinária, deven-
do constar da sentença as razões e motivações de sua defi-
nidades com as demais pessoas, garantindo, sempre que
nição, preservados os interesses do curatelado.
requeridos, adaptações e recursos de tecnologia assistiva.
§ 3º No caso de pessoa em situação de instituciona-
§ 1º A fim de garantir a atuação da pessoa com defi-
lização, ao nomear curador, o juiz deve dar preferência a
ciência em todo o processo judicial, o poder público deve
pessoa que tenha vínculo de natureza familiar, afetiva ou
capacitar os membros e os servidores que atuam no Poder
comunitária com o curatelado.
Judiciário, no Ministério Público, na Defensoria Pública, nos
Art. 86. Para emissão de documentos oficiais, não será
órgãos de segurança pública e no sistema penitenciário
exigida a situação de curatela da pessoa com deficiência.
quanto aos direitos da pessoa com deficiência. Art. 87. Em casos de relevância e urgência e a fim de
§ 2º Devem ser assegurados à pessoa com deficiência proteger os interesses da pessoa com deficiência em si-
submetida a medida restritiva de liberdade todos os direi- tuação de curatela, será lícito ao juiz, ouvido o Ministério
tos e garantias a que fazem jus os apenados sem deficiên- Público, de oficio ou a requerimento do interessado, no-
cia, garantida a acessibilidade. mear, desde logo, curador provisório, o qual estará sujeito,
§ 3º A Defensoria Pública e o Ministério Público toma- no que couber, às disposições do Código de Processo Civil.
rão as medidas necessárias à garantia dos direitos previstos Ficou claro com o novo Estatuto da Pessoa com Defi-
nesta Lei. ciência (Lei nº 13.146/15), não há que se falar em incapa-
Art. 80. Devem ser oferecidos todos os recursos de cidade em decorrência da deficiência. A pessoa deficiente,
tecnologia assistiva disponíveis para que a pessoa com de- caracterizada por possuir deficiência física, sensorial ou
ficiência tenha garantido o acesso à justiça, sempre que fi- psíquica a longo prazo, de acordo com o artigo 2º da lei
gure em um dos polos da ação ou atue como testemunha, acima mencionada não pode ser tecnicamente considerada
partícipe da lide posta em juízo, advogado, defensor públi- civilmente incapaz.
co, magistrado ou membro do Ministério Público. Apesar do artigo 6º, caput (Lei nº 13.146), garantir que
Parágrafo único. A pessoa com deficiência tem garan- “a deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa
tido o acesso ao conteúdo de todos os atos processuais de [...]”, nos casos em que a pessoa não consiga de fato expri-
seu interesse, inclusive no exercício da advocacia. mir sua vontade ou não consiga se autogovernar será ne-
Art. 81. Os direitos da pessoa com deficiência serão cessário ser submetida a curatela (art. 84, Lei nº 13.146/15).
garantidos por ocasião da aplicação de sanções penais. Dentre outros objetivos, o que se busca através da
Art. 82. (VETADO). nova lei, é que o deficiente possa ter o direito de exercer
Art. 83. Os serviços notariais e de registro não podem a sua capacidade legal, plena em igualdade de condições
negar ou criar óbices ou condições diferenciadas à presta- com relação a sociedade.
ção de seus serviços em razão de deficiência do solicitante, A nova redação do Código Civil em seu artigo 3º, caput,
devendo reconhecer sua capacidade legal plena, garantida deixa claro que apenas os menores de 16 são considerados
a acessibilidade. absolutamente incapazes, pois não possuem legitimidade
Parágrafo único. O descumprimento do disposto no para expressar sua vontade, necessitando assim de alguém
caput deste artigo constitui discriminação em razão de de- com capacidade civil plena que os represente. Logo em se-
ficiência. guida vem o artigo 4º caput e seus incisos, classificando os

98
DIREITO ADMINISTRATIVO

relativamente incapazes, dentro dessa classificação estão maior independência, já que será representada em alguns
os maiores de dezesseis anos e menores de dezoito anos, atos e recebera assistência para outros, conhecido como
os ébrios habituais e a os viciados em tóxico e aqueles que sistema misto, são os casos dos atos patrimoniais; a terceira
não puderam por algum motivo não puderem exprimir a e ultima classificação, são os casos em que o curador será
sua vontade. apenas um assistente, neste caso o curatelado apresenta
O que se presa definitivamente é a inexistência de in- condições de praticar todos os atos, necessitando apenas
capacidade seja ela relativa ou absoluta em decorrência de de um acompanhamento para sua proteção .
uma deficiência física, psíquica ou sensorial. Com as novas Existe uma grande importância na sentença de curate-
legislações em vigor, a regra é a capacidade jurídica deixan- la para a proteção da pessoa humana, já que com a nova
do a incapacidade como algo excepcional. O que se nota é regra a sentença de curatela deverá apresentar uma forte
o distanciamento entre o conceito de incapacidade civil e carga argumentativa para justificar se há realmente a ne-
de deficiência, sendo elas consideradas pensamentos com- cessidade de tal assistência ou mesmo de representação,
pletamente autônomos e distintos. Uma pessoa pode ser regulamentando assim a extensão da intervenção sobre a
considerada incapaz independente de deficiência ou não. autonomia privada da pessoa humana que necessite de tal
Apenas em casos excepcionais será possível a utiliza- auxilio. Cada caso será analisado individualmente, ou seja,
ção da curatela, o que passa a ser regra geral é a capacida- cada curatelado terá um grau de curatela, de acordo com
de plena da pessoa com deficiência. O simples fato de uma as suas particularidades.
pessoa possuir algum tipo de deficiência não é suficiente Mesmo que exista um curador para auxiliar nos atos da
para caracterizar incapacidade jurídica de acordo com o vida jurídica, deve mesmo assim ser preservado o interesse,
atual Estatuto da Pessoa com Deficiência. a vontade do curatelado.
Segundo Faria; Cunha e Pinto , ao se analisar os ar-
tigos 3º e 4º após as mudanças impostas pela nova lei TÍTULO II
(13.146/15), é possível observar a existência de dois cri- DOS CRIMES E DAS INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS
térios determinantes da incapacidade, o primeiro objeti-
vo, considerado o critério etário, já o segundo subjetivo Art. 88. Praticar, induzir ou incitar discriminação de
considerado psicológico. Quando se trata de incapacidade pessoa em razão de sua deficiência:
decorrente de incapacidade decorrente de critério cronoló- Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
gico (etário), é de fácil percepção, já que é considerado um § 1º Aumenta-se a pena em 1/3 (um terço) se a vítima
requisito objetivo, neste caso a comprovação da idade será encontrar-se sob cuidado e responsabilidade do agente.
feita de forma induvidosa. Comprovada a idade, conse- § 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput deste
quentemente, os efeitos jurídicos da incapacidade decor- artigo é cometido por intermédio de meios de comunica-
rem, estando estes vinculados a todos os atos praticados ção social ou de publicação de qualquer natureza:
pelo titular. Um exemplo deste tipo de incapacidade são Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
os menores de 16 (dezesseis anos) que são considerados § 3º Na hipótese do § 2º deste artigo, o juiz poderá
absolutamente incapazes para os atos da vida civil, a partir determinar, ouvido o Ministério Público ou a pedido deste,
do momento em que se comprava tal idade. ainda antes do inquérito policial, sob pena de desobediên-
Entretanto, quando se fala em incapacidade baseada cia:
em critérios subjetivos, neste caso trata-se do fator psicoló- I - recolhimento ou busca e apreensão dos exemplares
gico, classificando a incapacidade como excepcional, assim do material discriminatório;
sendo é exigível o reconhecimento judicial da causa, moti- II - interdição das respectivas mensagens ou páginas
vo gerador da incapacidade devendo ser reconhecida atra- de informação na internet.
vés de uma decisão judicial proferida em ação especifica, § 4º Na hipótese do § 2º deste artigo, constitui efeito
por meio de procedimento especial chamado de jurisdição da condenação, após o trânsito em julgado da decisão, a
voluntaria. Denominada ação de curatela e não mais ação destruição do material apreendido.
de interdição, para que garanta o objetivo do Estatuto da Art. 89. Apropriar-se de ou desviar bens, proventos,
Pessoa com Deficiência. Como já falado é o caso da inca- pensão, benefícios, remuneração ou qualquer outro rendi-
pacidade relativa das pessoas que possuam deficiência ou mento de pessoa com deficiência:
não, mas que por algum período fiquem impossibilitados Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
de exprimirem a sua vontade. Parágrafo único. Aumenta-se a pena em 1/3 (um terço)
Para se aplicar a curatela é necessário avaliar o grau se o crime é cometido:
de deficiência (física, mental ou intelectual), já que a mes- I - por tutor, curador, síndico, liquidatário, inventarian-
ma pode apresentar diferentes extensões. De acordo com te, testamenteiro ou depositário judicial; ou
os autores do livro é possível classificar a curatela em três II - por aquele que se apropriou em razão de ofício ou
tipos, a primeira são os casos em que o curador pode se de profissão.
colocar como representante da pessoa relativamente inca- Art. 90. Abandonar pessoa com deficiência em hospi-
paz para todos os atos jurídicos, já que este não possui tais, casas de saúde, entidades de abrigamento ou congê-
condições de praticar qualquer ato que seja, nem mesmo neres:
em conjunto, um exemplo seria o caso das pessoas que se Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e multa.
encontram em coma; o segundo caso a pessoa passa a ter

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DIREITO ADMINISTRATIVO

Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem não Art. 94. Terá direito a auxílio-inclusão, nos termos da
prover as necessidades básicas de pessoa com deficiência lei, a pessoa com deficiência moderada ou grave que:
quando obrigado por lei ou mandado. I - receba o benefício de prestação continuada previsto
Art. 91. Reter ou utilizar cartão magnético, qualquer no art. 20 da Lei no 8.742, de 7 de dezembro de 1993, e
meio eletrônico ou documento de pessoa com deficiência que passe a exercer atividade remunerada que a enquadre
destinados ao recebimento de benefícios, proventos, pen- como segurado obrigatório do RGPS;
sões ou remuneração ou à realização de operações finan- II - tenha recebido, nos últimos 5 (cinco) anos, o bene-
ceiras, com o fim de obter vantagem indevida para si ou fício de prestação continuada previsto no art. 20 da Lei no
para outrem: 8.742, de 7 de dezembro de 1993, e que exerça atividade
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e remunerada que a enquadre como segurado obrigatório
multa. do RGPS.
Parágrafo único. Aumenta-se a pena em 1/3 (um terço) Art. 95. É vedado exigir o comparecimento de pessoa
se o crime é cometido por tutor ou curador. com deficiência perante os órgãos públicos quando seu
deslocamento, em razão de sua limitação funcional e de
TÍTULO III condições de acessibilidade, imponha-lhe ônus despropor-
DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS cional e indevido, hipótese na qual serão observados os
seguintes procedimentos:
Art. 92. É criado o Cadastro Nacional de Inclusão da I - quando for de interesse do poder público, o agente
Pessoa com Deficiência (Cadastro-Inclusão), registro públi- promoverá o contato necessário com a pessoa com defi-
co eletrônico com a finalidade de coletar, processar, siste- ciência em sua residência;
matizar e disseminar informações georreferenciadas que II - quando for de interesse da pessoa com deficiência,
permitam a identificação e a caracterização socioeconômi- ela apresentará solicitação de atendimento domiciliar ou
ca da pessoa com deficiência, bem como das barreiras que fará representar-se por procurador constituído para essa
impedem a realização de seus direitos. finalidade.
§ 1º O Cadastro-Inclusão será administrado pelo Poder
Parágrafo único. É assegurado à pessoa com deficiên-
Executivo federal e constituído por base de dados, instru-
cia atendimento domiciliar pela perícia médica e social do
mentos, procedimentos e sistemas eletrônicos.
Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), pelo serviço pú-
§ 2º Os dados constituintes do Cadastro-Inclusão serão
blico de saúde ou pelo serviço privado de saúde, contra-
obtidos pela integração dos sistemas de informação e da
tado ou conveniado, que integre o SUS e pelas entidades
base de dados de todas as políticas públicas relacionadas
da rede socioassistencial integrantes do Suas, quando seu
aos direitos da pessoa com deficiência, bem como por in-
deslocamento, em razão de sua limitação funcional e de
formações coletadas, inclusive em censos nacionais e nas
condições de acessibilidade, imponha-lhe ônus despropor-
demais pesquisas realizadas no País, de acordo com os pa-
râmetros estabelecidos pela Convenção sobre os Direitos cional e indevido.
das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo. Art. 96. O § 6º-A do art. 135 da Lei nº 4.737, de 15
§ 3º Para coleta, transmissão e sistematização de da- de julho de 1965 (Código Eleitoral), passa a vigorar com a
dos, é facultada a celebração de convênios, acordos, ter- seguinte redação:
mos de parceria ou contratos com instituições públicas e “Art. 135. [...]
privadas, observados os requisitos e procedimentos previs- § 6º-A. Os Tribunais Regionais Eleitorais deverão, a
tos em legislação específica. cada eleição, expedir instruções aos Juízes Eleitorais para
§ 4º Para assegurar a confidencialidade, a privacidade orientá-los na escolha dos locais de votação, de maneira
e as liberdades fundamentais da pessoa com deficiência e a garantir acessibilidade para o eleitor com deficiência ou
os princípios éticos que regem a utilização de informações, com mobilidade reduzida, inclusive em seu entorno e nos
devem ser observadas as salvaguardas estabelecidas em sistemas de transporte que lhe dão acesso. [...]” (NR)
lei. Art. 97. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT),
§ 5º Os dados do Cadastro-Inclusão somente poderão aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943,
ser utilizados para as seguintes finalidades: passa a vigorar com as seguintes alterações:
I - formulação, gestão, monitoramento e avaliação das “Art. 428. [...]
políticas públicas para a pessoa com deficiência e para § 6º Para os fins do contrato de aprendizagem, a com-
identificar as barreiras que impedem a realização de seus provação da escolaridade de aprendiz com deficiência
direitos; deve considerar, sobretudo, as habilidades e competências
II - realização de estudos e pesquisas. relacionadas com a profissionalização.
§ 6º As informações a que se refere este artigo devem [...]
ser disseminadas em formatos acessíveis. § 8º Para o aprendiz com deficiência com 18 (dezoi-
Art. 93. Na realização de inspeções e de auditorias pe- to) anos ou mais, a validade do contrato de aprendizagem
los órgãos de controle interno e externo, deve ser obser- pressupõe anotação na CTPS e matrícula e frequência em
vado o cumprimento da legislação relativa à pessoa com programa de aprendizagem desenvolvido sob orientação
deficiência e das normas de acessibilidade vigentes. de entidade qualificada em formação técnico-profissional
metódica.” (NR)

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DIREITO ADMINISTRATIVO

“Art. 433. [...] Art. 100. A Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990


I - desempenho insuficiente ou inadaptação do apren- (Código de Defesa do Consumidor), passa a vigorar com as
diz, salvo para o aprendiz com deficiência quando despro- seguintes alterações:
vido de recursos de acessibilidade, de tecnologias assistivas “Art. 6º [...]
e de apoio necessário ao desempenho de suas atividades; Parágrafo único. A informação de que trata o inciso
[...]” (NR) III do caput deste artigo deve ser acessível à pessoa com
Art. 98. A Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989, passa deficiência, observado o disposto em regulamento.” (NR)
a vigorar com as seguintes alterações: “Art. 43. [...]
“Art. 3º As medidas judiciais destinadas à proteção de § 6º Todas as informações de que trata o caput deste
interesses coletivos, difusos, individuais homogêneos e artigo devem ser disponibilizadas em formatos acessíveis,
individuais indisponíveis da pessoa com deficiência pode- inclusive para a pessoa com deficiência, mediante solicita-
rão ser propostas pelo Ministério Público, pela Defensoria ção do consumidor.” (NR)
Pública, pela União, pelos Estados, pelos Municípios, pelo Art. 101. A Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, passa
Distrito Federal, por associação constituída há mais de 1 a vigorar com as seguintes alterações:
(um) ano, nos termos da lei civil, por autarquia, por empre-
sa pública e por fundação ou sociedade de economia mista “Art. 16. [...]
que inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção I - o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho
dos interesses e a promoção de direitos da pessoa com não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vin-
deficiência. [...” (NR) te e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência intelec-
tual ou mental ou deficiência grave;
“Art. 8º Constitui crime punível com reclusão de 2 (dois) [...]
a 5 (cinco) anos e multa: III - o irmão não emancipado, de qualquer condição,
I - recusar, cobrar valores adicionais, suspender, pro- menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha
crastinar, cancelar ou fazer cessar inscrição de aluno em deficiência intelectual ou mental ou deficiência grave;
estabelecimento de ensino de qualquer curso ou grau, pú-
[...]” (NR)
blico ou privado, em razão de sua deficiência;
“Art. 77. [...]
II - obstar inscrição em concurso público ou acesso de
§ 2º [...]
alguém a qualquer cargo ou emprego público, em razão de
II - para o filho, a pessoa a ele equiparada ou o irmão,
sua deficiência;
de ambos os sexos, pela emancipação ou ao completar 21
III - negar ou obstar emprego, trabalho ou promoção à
(vinte e um) anos de idade, salvo se for inválido ou tiver
pessoa em razão de sua deficiência;
deficiência intelectual ou mental ou deficiência grave;
IV - recusar, retardar ou dificultar internação ou deixar
de prestar assistência médico-hospitalar e ambulatorial à [...]
pessoa com deficiência; § 4º (VETADO).
V - deixar de cumprir, retardar ou frustrar execução de [...]” (NR)
ordem judicial expedida na ação civil a que alude esta Lei; “Art. 93. (VETADO):
VI - recusar, retardar ou omitir dados técnicos indis- I - (VETADO);
pensáveis à propositura da ação civil pública objeto desta II - (VETADO);
Lei, quando requisitados. III - (VETADO);
§ 1º Se o crime for praticado contra pessoa com defi- IV - (VETADO);
ciência menor de 18 (dezoito) anos, a pena é agravada em V - (VETADO).
1/3 (um terço). § 1º A dispensa de pessoa com deficiência ou de bene-
§ 2º A pena pela adoção deliberada de critérios subje- ficiário reabilitado da Previdência Social ao final de contra-
tivos para indeferimento de inscrição, de aprovação e de to por prazo determinado de mais de 90 (noventa) dias e
cumprimento de estágio probatório em concursos públicos a dispensa imotivada em contrato por prazo indetermina-
não exclui a responsabilidade patrimonial pessoal do admi- do somente poderão ocorrer após a contratação de outro
nistrador público pelos danos causados. trabalhador com deficiência ou beneficiário reabilitado da
§ 3º Incorre nas mesmas penas quem impede ou difi- Previdência Social.
culta o ingresso de pessoa com deficiência em planos pri- § 2º Ao Ministério do Trabalho e Emprego incumbe
vados de assistência à saúde, inclusive com cobrança de estabelecer a sistemática de fiscalização, bem como gerar
valores diferenciados. dados e estatísticas sobre o total de empregados e as va-
§ 4º Se o crime for praticado em atendimento de ur- gas preenchidas por pessoas com deficiência e por bene-
gência e emergência, a pena é agravada em 1/3 (um ter- ficiários reabilitados da Previdência Social, fornecendo-os,
ço).” (NR) quando solicitados, aos sindicatos, às entidades represen-
Art. 99. O art. 20 da Lei nº 8.036, de 11 de maio de tativas dos empregados ou aos cidadãos interessados.
1990, passa a vigorar acrescido do seguinte inciso XVIII: § 3º Para a reserva de cargos será considerada somente
“Art. 20. [...] a contratação direta de pessoa com deficiência, excluído o
XVIII - quando o trabalhador com deficiência, por pres- aprendiz com deficiência de que trata a Consolidação das
crição, necessite adquirir órtese ou prótese para promoção Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452,
de acessibilidade e de inclusão social. [...]” (NR) de 1º de maio de 1943.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 4º (VETADO).” (NR) § 9º Os rendimentos decorrentes de estágio supervi-


“Art. 110-A. No ato de requerimento de benefícios sionado e de aprendizagem não serão computados para os
operacionalizados pelo INSS, não será exigida apresenta- fins de cálculo da renda familiar per capita a que se refere
ção de termo de curatela de titular ou de beneficiário com o § 3º deste artigo.
deficiência, observados os procedimentos a serem estabe- [...]
lecidos em regulamento.” § 11. Para concessão do benefício de que trata o caput
Art. 102. O art. 2º da Lei nº 8.313, de 23 de dezembro deste artigo, poderão ser utilizados outros elementos pro-
de 1991, passa a vigorar acrescido do seguinte § 3º: batórios da condição de miserabilidade do grupo familiar
“Art. 2º [...] e da situação de vulnerabilidade, conforme regulamento.”
§ 3º Os incentivos criados por esta Lei somente serão (NR)
concedidos a projetos culturais que forem disponibilizados, Art. 106. (VETADO).
sempre que tecnicamente possível, também em formato Art. 107. A Lei nº 9.029, de 13 de abril de 1995, passa a
acessível à pessoa com deficiência, observado o disposto vigorar com as seguintes alterações:
em regulamento.” (NR) “Art. 1º É proibida a adoção de qualquer prática dis-
Art. 103. O art. 11 da Lei nº 8.429, de 2 de junho de criminatória e limitativa para efeito de acesso à relação
1992, passa a vigorar acrescido do seguinte inciso IX: de trabalho, ou de sua manutenção, por motivo de sexo,
“Art. 11. [...] origem, raça, cor, estado civil, situação familiar, deficiência,
IX - deixar de cumprir a exigência de requisitos de reabilitação profissional, idade, entre outros, ressalvadas,
acessibilidade previstos na legislação.” (NR) nesse caso, as hipóteses de proteção à criança e ao adoles-
Art. 104. A Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, passa cente previstas no inciso XXXIII do art. 7º da Constituição
a vigorar com as seguintes alterações: Federal.” (NR)
“Art 3º [...] “Art. 3º Sem prejuízo do prescrito no art. 2º desta Lei e
§ 2º [...] nos dispositivos legais que tipificam os crimes resultantes
V - produzidos ou prestados por empresas que com- de preconceito de etnia, raça, cor ou deficiência, as infra-
provem cumprimento de reserva de cargos prevista em lei ções ao disposto nesta Lei são passíveis das seguintes co-
para pessoa com deficiência ou para reabilitado da Previ- minações:
dência Social e que atendam às regras de acessibilidade
[...]” (NR)
previstas na legislação.
“Art. 4º [...]
[...]
I - a reintegração com ressarcimento integral de todo o
§ 5º Nos processos de licitação, poderá ser estabeleci-
período de afastamento, mediante pagamento das remu-
da margem de preferência para:
nerações devidas, corrigidas monetariamente e acrescidas
I - produtos manufaturados e para serviços nacionais
de juros legais;
que atendam a normas técnicas brasileiras; e
[...]” (NR)
II - bens e serviços produzidos ou prestados por em-
presas que comprovem cumprimento de reserva de cargos Art. 108. O art. 35 da Lei nº 9.250, de 26 de dezembro
prevista em lei para pessoa com deficiência ou para rea- de 1995, passa a vigorar acrescido do seguinte § 5º:
bilitado da Previdência Social e que atendam às regras de “Art. 35. [...]
acessibilidade previstas na legislação. § 5º Sem prejuízo do disposto no inciso IX do parágrafo
[...]” (NR) único do art. 3º da Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003,
“Art. 66-A. As empresas enquadradas no inciso V do § a pessoa com deficiência, ou o contribuinte que tenha de-
2º e no inciso II do § 5º do art. 3º desta Lei deverão cumprir, pendente nessa condição, tem preferência na restituição
durante todo o período de execução do contrato, a reserva referida no inciso III do art. 4º e na alínea “c” do inciso II do
de cargos prevista em lei para pessoa com deficiência ou art. 8º.” (NR)
para reabilitado da Previdência Social, bem como as regras Art. 109. A Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997
de acessibilidade previstas na legislação. (Código de Trânsito Brasileiro), passa a vigorar com as
Parágrafo único. Cabe à administração fiscalizar o cum- seguintes alterações:
primento dos requisitos de acessibilidade nos serviços e
nos ambientes de trabalho.” “Art. 2º [...]
Art. 105. O art. 20 da Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de Parágrafo único. Para os efeitos deste Código, são
1993, passa a vigorar com as seguintes alterações: consideradas vias terrestres as praias abertas à circulação
pública, as vias internas pertencentes aos condomínios
“Art. 20. [...] constituídos por unidades autônomas e as vias e áreas de
§ 2º Para efeito de concessão do benefício de pres- estacionamento de estabelecimentos privados de uso co-
tação continuada, considera-se pessoa com deficiência letivo.” (NR)
aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza “Art. 86-A. As vagas de estacionamento regulamenta-
física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação do de que trata o inciso XVII do art. 181 desta Lei deverão
com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação ser sinalizadas com as respectivas placas indicativas de des-
plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições tinação e com placas informando os dados sobre a infração
com as demais pessoas. por estacionamento indevido.”
[...]

102
DIREITO ADMINISTRATIVO

“Art. 147-A. Ao candidato com deficiência auditiva é asse- a) barreiras urbanísticas: as existentes nas vias e nos
gurada acessibilidade de comunicação, mediante emprego de espaços públicos e privados abertos ao público ou de uso
tecnologias assistivas ou de ajudas técnicas em todas as etapas coletivo;
do processo de habilitação. b) barreiras arquitetônicas: as existentes nos edifícios
§ 1º O material didático audiovisual utilizado em aulas públicos e privados;
teóricas dos cursos que precedem os exames previstos no art. c) barreiras nos transportes: as existentes nos sistemas
147 desta Lei deve ser acessível, por meio de subtitulação com e meios de transportes;
legenda oculta associada à tradução simultânea em Libras. d) barreiras nas comunicações e na informação: qual-
§ 2º É assegurado também ao candidato com deficiência quer entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que
auditiva requerer, no ato de sua inscrição, os serviços de in- dificulte ou impossibilite a expressão ou o recebimento de
térprete da Libras, para acompanhamento em aulas práticas mensagens e de informações por intermédio de sistemas
e teóricas.” de comunicação e de tecnologia da informação;
“Art. 154. (VETADO).” III - pessoa com deficiência: aquela que tem impedi-
“Art. 181. [...] mento de longo prazo de natureza física, mental, intelec-
XVII – [...] tual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais
Infração - grave; barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na
[...]” (NR) sociedade em igualdade de condições com as demais pes-
Art. 110. O inciso VI e o § 1o do art. 56 da Lei no 9.615, soas;
de 24 de março de 1998, passam a vigorar com a seguinte IV - pessoa com mobilidade reduzida: aquela que te-
redação: nha, por qualquer motivo, dificuldade de movimentação,
“Art. 56. [...] permanente ou temporária, gerando redução efetiva da
VI - 2,7% (dois inteiros e sete décimos por cento) da ar- mobilidade, da flexibilidade, da coordenação motora ou da
recadação bruta dos concursos de prognósticos e loterias fe- percepção, incluindo idoso, gestante, lactante, pessoa com
derais e similares cuja realização estiver sujeita a autorização criança de colo e obeso;
federal, deduzindo-se esse valor do montante destinado aos
V - acompanhante: aquele que acompanha a pessoa
prêmios;
com deficiência, podendo ou não desempenhar as funções
[...]
de atendente pessoal;
§ 1º Do total de recursos financeiros resultantes do per-
VI - elemento de urbanização: quaisquer componentes
centual de que trata o inciso VI do caput, 62,96% (sessenta
de obras de urbanização, tais como os referentes a pavi-
e dois inteiros e noventa e seis centésimos por cento) serão
mentação, saneamento, encanamento para esgotos, dis-
destinados ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e 37,04% (trin-
tribuição de energia elétrica e de gás, iluminação pública,
ta e sete inteiros e quatro centésimos por cento) ao Comitê
Paralímpico Brasileiro (CPB), devendo ser observado, em am- serviços de comunicação, abastecimento e distribuição de
bos os casos, o conjunto de normas aplicáveis à celebração de água, paisagismo e os que materializam as indicações do
convênios pela União. planejamento urbanístico;
[...]” (NR) VII - mobiliário urbano: conjunto de objetos existentes
Art. 111. O art. 1º da Lei no 10.048, de 8 de novembro de nas vias e nos espaços públicos, superpostos ou adiciona-
2000, passa a vigorar com a seguinte redação: dos aos elementos de urbanização ou de edificação, de
“Art. 1º As pessoas com deficiência, os idosos com idade forma que sua modificação ou seu traslado não provoque
igual ou superior a 60 (sessenta) anos, as gestantes, as lactan- alterações substanciais nesses elementos, tais como semá-
tes, as pessoas com crianças de colo e os obesos terão atendi- foros, postes de sinalização e similares, terminais e pontos
mento prioritário, nos termos desta Lei.” (NR) de acesso coletivo às telecomunicações, fontes de água,
Art. 112. A Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000, lixeiras, toldos, marquises, bancos, quiosques e quaisquer
passa a vigorar com as seguintes alterações: outros de natureza análoga;
VIII - tecnologia assistiva ou ajuda técnica: produtos,
“Art. 2º [...] equipamentos, dispositivos, recursos, metodologias, es-
I - acessibilidade: possibilidade e condição de alcance para tratégias, práticas e serviços que objetivem promover a
utilização, com segurança e autonomia, de espaços, mobiliá- funcionalidade, relacionada à atividade e à participação da
rios, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informa- pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida, vi-
ção e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem sando à sua autonomia, independência, qualidade de vida
como de outros serviços e instalações abertos ao público, de e inclusão social;
uso público ou privados de uso coletivo, tanto na zona urbana IX - comunicação: forma de interação dos cidadãos
como na rural, por pessoa com deficiência ou com mobilidade que abrange, entre outras opções, as línguas, inclusive a
reduzida; Língua Brasileira de Sinais (Libras), a visualização de textos,
II - barreiras: qualquer entrave, obstáculo, atitude ou com- o Braille, o sistema de sinalização ou de comunicação tátil,
portamento que limite ou impeça a participação social da pes- os caracteres ampliados, os dispositivos multimídia, assim
soa, bem como o gozo, a fruição e o exercício de seus direitos como a linguagem simples, escrita e oral, os sistemas audi-
à acessibilidade, à liberdade de movimento e de expressão, à tivos e os meios de voz digitalizados e os modos, meios e
comunicação, ao acesso à informação, à compreensão, à circu- formatos aumentativos e alternativos de comunicação, in-
lação com segurança, entre outros, classificadas em: cluindo as tecnologias da informação e das comunicações;

103
DIREITO ADMINISTRATIVO

X - desenho universal: concepção de produtos, am- Art. 114. A Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Có-
bientes, programas e serviços a serem usados por todas as digo Civil), passa a vigorar com as seguintes alterações:
pessoas, sem necessidade de adaptação ou de projeto es- “Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pes-
pecífico, incluindo os recursos de tecnologia assistiva.” (NR) soalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis)
“Art. 3º O planejamento e a urbanização das vias pú- anos.
blicas, dos parques e dos demais espaços de uso público I - (Revogado);
deverão ser concebidos e executados de forma a torná- II - (Revogado);
-los acessíveis para todas as pessoas, inclusive para aquelas III - (Revogado).” (NR)
com deficiência ou com mobilidade reduzida. “Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos ou à
Parágrafo único. O passeio público, elemento obriga- maneira de os exercer:
tório de urbanização e parte da via pública, normalmente [...]
segregado e em nível diferente, destina-se somente à cir- II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico;
culação de pedestres e, quando possível, à implantação de III - aqueles que, por causa transitória ou permanente,
mobiliário urbano e de vegetação.” (NR) não puderem exprimir sua vontade;
“Art. 9º [...] [...]
Parágrafo único. Os semáforos para pedestres instala- Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será re-
dos em vias públicas de grande circulação, ou que deem gulada por legislação especial.” (NR)
acesso aos serviços de reabilitação, devem obrigatoria- “Art. 228. [...]
mente estar equipados com mecanismo que emita sinal II - (Revogado);
sonoro suave para orientação do pedestre.” (NR) III - (Revogado);
“Art. 10-A. A instalação de qualquer mobiliário urbano [...]
em área de circulação comum para pedestre que ofereça § 1º [...]
risco de acidente à pessoa com deficiência deverá ser indi- § 2º A pessoa com deficiência poderá testemunhar em
cada mediante sinalização tátil de alerta no piso, de acordo igualdade de condições com as demais pessoas, sendo-lhe
assegurados todos os recursos de tecnologia assistiva.” (NR)
com as normas técnicas pertinentes.”
“Art. 1.518. Até a celebração do casamento podem os
“Art.12-A. Os centros comerciais e os estabelecimen-
pais ou tutores revogar a autorização.” (NR)
tos congêneres devem fornecer carros e cadeiras de rodas,
“Art. 1.548. [...]
motorizados ou não, para o atendimento da pessoa com
I - (Revogado);
deficiência ou com mobilidade reduzida.”
[...]” (NR)
Art. 113. A Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001 (Es-
“Art. 1.550. [...]
tatuto da Cidade), passa a vigorar com as seguintes alte-
§ 1º [...]
rações: § 2º A pessoa com deficiência mental ou intelectual em
“Art. 3º [...] idade núbia poderá contrair matrimônio, expressando sua
III - promover, por iniciativa própria e em conjunto com vontade diretamente ou por meio de seu responsável ou
os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, programas curador.” (NR)
de construção de moradias e melhoria das condições ha- “Art. 1.557. [...]
bitacionais, de saneamento básico, das calçadas, dos pas- III - a ignorância, anterior ao casamento, de defeito fí-
seios públicos, do mobiliário urbano e dos demais espaços sico irremediável que não caracterize deficiência ou de mo-
de uso público; léstia grave e transmissível, por contágio ou por herança,
IV - instituir diretrizes para desenvolvimento urbano, capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua
inclusive habitação, saneamento básico, transporte e mo- descendência;
bilidade urbana, que incluam regras de acessibilidade aos IV - (Revogado).” (NR)
locais de uso público; “Art. 1.767. [...]
[...]” (NR) I - aqueles que, por causa transitória ou permanente,
“Art. 41. [...] não puderem exprimir sua vontade;
§ 3º As cidades de que trata o caput deste artigo de- II - (Revogado);
vem elaborar plano de rotas acessíveis, compatível com o III - os ébrios habituais e os viciados em tóxico;
plano diretor no qual está inserido, que disponha sobre os IV - (Revogado);
passeios públicos a serem implantados ou reformados pelo [...]” (NR)
poder público, com vistas a garantir acessibilidade da pes- “Art. 1.768. O processo que define os termos da curate-
soa com deficiência ou com mobilidade reduzida a todas la deve ser promovido:
as rotas e vias existentes, inclusive as que concentrem os [...]
focos geradores de maior circulação de pedestres, como IV - pela própria pessoa.” (NR)
os órgãos públicos e os locais de prestação de serviços “Art. 1.769. O Ministério Público somente promoverá o
públicos e privados de saúde, educação, assistência social, processo que define os termos da curatela:
esporte, cultura, correios e telégrafos, bancos, entre outros, I - nos casos de deficiência mental ou intelectual;
sempre que possível de maneira integrada com os sistemas [...]
de transporte coletivo de passageiros.” (NR) III - se, existindo, forem menores ou incapazes as pes-
soas mencionadas no inciso II.” (NR)

104
DIREITO ADMINISTRATIVO

“Art. 1.771. Antes de se pronunciar acerca dos termos Os atos praticados pelo curatelado, sem representação
da curatela, o juiz, que deverá ser assistido por equipe ou nos casos em que não houver assistência do curador,
multidisciplinar, entrevistará pessoalmente o interditando.” serão nulos ou passíveis de anulação, uma vez que irá de-
(NR) pender do grau de incapacidade de cada indivíduo. Nos ca-
“Art. 1.772. O juiz determinará, segundo as potencia- sos de incapacidade absoluta, automaticamente os atos se-
lidades da pessoa, os limites da curatela, circunscritos às rão nulos, nos casos de incapacidade relativa os atos serão
restrições constantes do art. 1.782, e indicará curador. passíveis de anulação. Como a pessoa com deficiência está
Parágrafo único. Para a escolha do curador, o juiz le- enquadrada nos casos de incapacidade relativa, seus atos
vará em conta a vontade e as preferências do interditando, jamais serão nulos, apenas passiveis de anulação, indepen-
a ausência de conflito de interesses e de influência indevi- de portanto do grau da deficiência. Mesmo que a pessoa
da, a proporcionalidade e a adequação às circunstâncias da possua momentos de lucidez, conhecidos como ‘intervalos
pessoa.” (NR) lúcidos’ serão irrelevantes para caracterizar a capacidade,
visto que uma pessoa curatelada não tem capacidade inter-
“Art. 1.775-A. Na nomeação de curador para a pessoa
mitente, podendo reavê-la através de uma decisão judicial,
com deficiência, o juiz poderá estabelecer curatela com-
em procedimento especifico de suspensão da curatela .
partilhada a mais de uma pessoa.”
Art. 115. O Título IV do Livro IV da Parte Especial da Lei
“Art. 1.777. As pessoas referidas no inciso I do art.
no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), passa a
1.767 receberão todo o apoio necessário para ter preserva- vigorar com a seguinte redação:
do o direito à convivência familiar e comunitária, sendo evi-
tado o seu recolhimento em estabelecimento que os afaste “TÍTULO IV
desse convívio.” (NR) Da Tutela, da Curatela e da Tomada de Decisão
Mesmo que a pessoa possua algum tipo de deficiência, Apoiada”
isso não quer dizer que esta esteja impedida ou mesmo
impossibilitada de expressar a sua vontade e de se auto- Art. 116. O Título IV do Livro IV da Parte Especial da Lei
governar. no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), passa a
A nova redação do artigo 3º acima mencionado esta- vigorar acrescido do seguinte Capítulo III:
belece que a única e exclusiva hipótese de incapacidade
absoluta é o menor de dezesseis anos de idade, já que o “CAPÍTULO III
mesmo necessita de representação para responder pelos Da Tomada de Decisão Apoiada
seus atos da vida civil, já que não possui legitimidade .
Com relação aos relativamente incapazes, o artigo 4º já Art. 1.783-A. A tomada de decisão apoiada é o proces-
exposto traz a tona uma nova compreensão, reconhecen- so pelo qual a pessoa com deficiência elege pelo menos 2
do um rol de relativamente incapazes (incisos I ao IV). Ao (duas) pessoas idôneas, com as quais mantenha vínculos e
analisar tais incisos é possível perceber que em momento que gozem de sua confiança, para prestar-lhe apoio na to-
algum a legislação tem a intenção de relacionar as causas mada de decisão sobre atos da vida civil, fornecendo-lhes
de incapacidade ao estado mental em que se encontra o os elementos e informações necessários para que possa
indivíduo. Não pode em momento algum de acordo com a exercer sua capacidade.
legislação em vigência impor a alguém a condição de inca- § 1º Para formular pedido de tomada de decisão apoia-
paz por se tratar de uma pessoa com deficiência. da, a pessoa com deficiência e os apoiadores devem apre-
A possibilidade de incapacidade relativa só será aceita sentar termo em que constem os limites do apoio a ser
pelo ordenamento jurídico brasileiro, com relação a pessoa oferecido e os compromissos dos apoiadores, inclusive o
prazo de vigência do acordo e o respeito à vontade, aos
com deficiência física, mental ou intelectual que não puder
direitos e aos interesses da pessoa que devem apoiar.
exprimir sua vontade (CC, art. 4º, III). A incapacidade decor-
§ 2º O pedido de tomada de decisão apoiada será re-
re da impossibilidade de manifestar sua vontade, não em
querido pela pessoa a ser apoiada, com indicação expressa
decorrência da deficiência, um exemplo seria os casos de
das pessoas aptas a prestarem o apoio previsto no caput
discernimento mental . deste artigo.
É preciso entender que a causa da incapacidade pode § 3º Antes de se pronunciar sobre o pedido de tomada
ser definitiva ou transitória. Como já falado a impossibili- de decisão apoiada, o juiz, assistido por equipe multidis-
dade de expor a sua vontade não está ligada diretamente, ciplinar, após oitiva do Ministério Público, ouvirá pessoal-
a uma pessoa com deficiência seja ela física, mental ou in- mente o requerente e as pessoas que lhe prestarão apoio.
telectual. Um exemplo de impossibilidade temporária são § 4º A decisão tomada por pessoa apoiada terá vali-
os casos em que a pessoa está internada na Unidade de dade e efeitos sobre terceiros, sem restrições, desde que
Terapia Intensiva (UTI), não possui portanto a capacidade esteja inserida nos limites do apoio acordado.
de exprimir suas vontades ou anseios. Uma pessoa com § 5º Terceiro com quem a pessoa apoiada mantenha
deficiência fortuitamente pode não conseguir explicitar a relação negocial pode solicitar que os apoiadores contra-
sua vontade, como no caso do individuo que possui dis- -assinem o contrato ou acordo, especificando, por escrito,
cernimento mental, que não consegue expor sua vontade . sua função em relação ao apoiado.

105
DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 6º Em caso de negócio jurídico que possa trazer ris- Sendo assim é perceptível a intervenção do Estado na auto-
co ou prejuízo relevante, havendo divergência de opiniões nomia privada, buscando sempre preservar o princípio da dig-
entre a pessoa apoiada e um dos apoiadores, deverá o juiz, nidade humana. As pessoas sem deficiência consideradas pela
ouvido o Ministério Público, decidir sobre a questão. legislação brasileira plenamente capazes para seus atos da vida
§ 7º Se o apoiador agir com negligência, exercer pres- civil e as pessoas com deficiência moderada seja ela física, mental
são indevida ou não adimplir as obrigações assumidas, ou intelectual, mas que podem expressar sua vontade e possui
poderá a pessoa apoiada ou qualquer pessoa apresentar condições de autogovernar podem a qualquer tempo usufruir
denúncia ao Ministério Público ou ao juiz. da tomada de decisão apoiada, para que assim tenham a possi-
bilidade de exercer a capacidade plena em pé de igualdade com
§ 8º Se procedente a denúncia, o juiz destituirá o
os demais, com absoluta proteção do Estado em relação a seus
apoiador e nomeará, ouvida a pessoa apoiada e se for de
interesses existenciais e patrimoniais.
seu interesse, outra pessoa para prestação de apoio.
Há ainda aqueles indivíduos com deficiência classificados
§ 9º A pessoa apoiada pode, a qualquer tempo, solici- pela curatela em virtude da impossibilidade de se autogovernar
tar o término de acordo firmado em processo de tomada e de expressar a sua vontade, caracterizando assim a incapaci-
de decisão apoiada. dade relativa. Neste caso há um regime especial de curatela em
§ 10. O apoiador pode solicitar ao juiz a exclusão de que se leva em conta as crenças, desejos e vicissitudes do sujeito,
sua participação do processo de tomada de decisão apoia- a curatela será aplicada apenas em casos em que o sujeito não
da, sendo seu desligamento condicionado à manifestação possuir a condição de expressar a sua vontade de forma plena,
do juiz sobre a matéria. utilizando-se assim da representação e da assistência para deter-
§ 11. Aplicam-se à tomada de decisão apoiada, no que minados atos.
couber, as disposições referentes à prestação de contas na Este modelo de proteção das pessoas com deficiência foi
curatela.” criado objetivando resguardar a capacidade plena do indivíduo
Independentemente de sua condição a pessoa com em situação de vulnerabilidade, em consequência de uma defi-
deficiência tem o direito de exprimir a sua vontade, pre- ciência. Além dos institutos da tutela e da curatela já existentes
valecendo sempre a sua autonomia. O ser humano mesmo na legislação brasileira, a tomada de decisão apoiada entra em
possuindo algum tipo de deficiência, pode independen- vigor ampliando os direitos decretado pelo decreto nº 6.949 de
te de sua condição expor a sua vontade, afastando assim 2009 (Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas
com Deficiência e seu Protocolo Facultativo). O artigo 12.3 desta
qualquer possibilidade de absoluta incapacidade, podendo
deste decreto garante que: “Os Estados Partes tomarão medidas
inclusive praticar atos jurídicos, não necessitando para tais
apropriadas para prover o acesso de pessoas com deficiência ao
representação ou de assistência.
apoio que necessitarem no exercício de sua capacidade legal”, os
Quando a deficiência acarreta ao indivíduo algum tipo Estados Partes tem portanto a obrigação de criar meios através
de limitação no exercício do seu autogoverno, mas ainda de sua legislação interna que possibilitem ao deficiente a viabili-
sim prevalece uma precária aptidão para expressar as suas dade de exercer de forma plena a sua capacidade.
vontades e de se fazer compreender, não há que se falar A legislação brasileira estava carente de uma lei, norma que
em pessoa relativamente incapaz, sendo necessário seguir apoiasse o deficiente plenamente capaz, entretanto vulnerável
o caminho da interdição (curatela). Necessitam apenas de em decorrência de alguma circunstância pessoal, física, psíquica
uma proteção do Estado mais abrangente, não o enqua- ou intelectual.
dramento em um modelo jurídico de incapacidade . Diferentemente dos institutos da tutela e da curatela, a To-
A tomada de decisão apoiada surgiu como um novo mada de Decisão Apoiada é considerada de acordo com a lei nº
método de proteção intermediaria, é notório que uma pes- 13.146/15 um processo, no qual a pessoa com deficiência esco-
soa que pode exprimir suas vontades, mesmo que possua lhe no mínimo 2 (duas) pessoas idôneas, as quais possui víncu-
certo grau de deficiência, seja ela psíquica, física ou inte- los e que seja digna de sua confiança para lhe prestar apoio na
lectual. Exige, portanto que o Estado tenha uma atenção tomada de decisão sobre atos da vida civil, priorizando sempre
diferenciada para com essas pessoas assegurando que os o exercício da plena capacidade. Em momento algum significa
princípios inerentes a dignidade e a igualdade substancial que exista qualquer tipo de restrição da plena capacidade, pelo
contrário há neste caso o respeito principalmente ao princípio da
sejam de fato aplicados. A tomada de decisão apoiada é
liberdade, em que Estado tem a obrigação de realizar ações que
contemplada no artigo 1.783-A do Código Civil, como um
possibilitem a autonomia de fato do indivíduo. Portanto, sem-
tertium genus protetivo (ao lado da curatela e da tutela),
pre que necessitar do auxílio, o sistema prevê a nomeação de
auxiliando na assistência da pessoa com deficiência preser- pelo menos dois apoiadores, que fique bem claro que não são
vando a plenitude da sua capacidade civil . representantes ou assistentes, já que não há que se falar neste
Este modelo jurídico tem o intuito de ser um equilí- caso de incapacidade. Um exemplo de aplicabilidade são os ca-
brio, se colocando como um intermediário entre aquelas sos em que há uma dificuldade (física, sensorial ou psíquico), seja
pessoas sem deficiência (sob a perspectiva física, sensorial ele permanente ou temporário, e que sinta a necessidade de ser
e psíquica) e aquelas com um grau de deficiência eleva- acompanhada tanto nas decisões jurídicas, quanto no cotidiano,
do, sendo classificadas pela impossibilidade de expressar a enfim a tomada de decisão será aplicada em diversos casos seja
sua vontade, consequentemente precisam ser curateladas para tetraplégicos, pessoas com impossibilidade física ou senso-
e consideradas relativamente incapazes . rial dentre outras, inclusive para enfermidades que possam privar
de certa forma a prática de certos negócios e atos jurídicos.

106
DIREITO ADMINISTRATIVO

A tomada de decisão será determinada pelo juiz por Caso o apoiador agir de forma negligente, exercer
meio de procedimento de jurisdição voluntaria, sendo de pressão indevida e desnecessária ou não cumprir com as
competência da vara da família. De acordo com o artigo cláusulas acordadas no acordo, poderá a pessoa apoiada
723, parágrafo único do Novo Código de Processo Civil: ou mesmo um terceiro interessado apresentar denúncia ao
“O juiz não é obrigado a observar critério de legalidade Ministério Público ou ao Juiz (art. 116, § 7º). Após proceder
estrita, podendo adotar em cada caso a solução que consi- a denúncia, poderá o juiz destituir o apoiador atual e no-
derar mais conveniente ou oportuna”. O § 1º do art.1.783-A mear caso seja do desejo da pessoa apoiada outra pessoa
afirma que para realizar o pedido de tomada de decisão para prestar o apoio.
apoiada, a pessoa com deficiência e os apoiadores deverão Pode ainda a tomada de decisão se converter em me-
apresentar termo em que conste os limites do apoio a ser dida protetiva, nada impede que uma pessoa que seja sub-
oferecido juntamente com o compromisso dos apoiadores, metida a tomada de decisão apoiada de forma preventiva,
não deixando de citar o prazo de vigência do acordo e o possa posteriormente ser reconhecida a sua incapacidade
relativa, em procedimento judicial devendo as partes ou
compromisso dos apoiadores, além de respeitar à vonta-
o terceiro interessado apresentar efetivas provas de que a
de, os direitos e os interesses da pessoa que devem apoiar.
pessoa não possa de forma alguma exprimir a sua vontade,
O objetivo de tal ação é trabalhar para melhorar a qua-
consequentemente será submetida ao regime de curatela .
lidade de vida das pessoas com deficiência, preservando
Art. 117. O art. 1º da Lei nº 11.126, de 27 de junho de
sempre sua autonomia e autodeterminação em todos os 2005, passa a vigorar com a seguinte redação:
atos da vida, no seu dia a dia. Vale ressaltar que a tomada “Art. 1º É assegurado à pessoa com deficiência visual
de decisão não surge com o intuito de substituir à curatela, acompanhada de cão-guia o direito de ingressar e de per-
lateralmente em caráter concorrente, sendo impossível a manecer com o animal em todos os meios de transporte e
cumulação . em estabelecimentos abertos ao público, de uso público e
Com relação a legitimidade para requerer a Tomada de privados de uso coletivo, desde que observadas as condi-
Decisão apoiada, o § 2º do artigo 1.783-A, garante que o ções impostas por esta Lei.
pedido deve ser feito pela pessoa a ser apoiada, podendo [...]
a mesma indicar 2 (duas) pessoas para prestarem o apoio § 2º O disposto no caput deste artigo aplica-se a todas
previsto no caput do artigo em questão. Deve-se perceber as modalidades e jurisdições do serviço de transporte co-
que não apenas a pessoa a ser apoiada possa reivindicar tal letivo de passageiros, inclusive em esfera internacional com
direito, assim como aquelas pessoas que são legitimadas origem no território brasileiro.” (NR)
para a ação de curatela, também estão aptos para a Toma- Art. 118. O inciso IV do art. 46 da Lei no 11.904, de 14
da de Decisão Apoiada, tal modelo jurídico garante que o de janeiro de 2009, passa a vigorar acrescido da seguinte
princípio da Dignidade Humana posse ser visto sob duas alínea “k”:
concepções, tanto a protetiva quanto a promocional das “Art. 46. [...]
situações existenciais . IV – [...]
Após receber a petição inicial, o juiz deve designar k) de acessibilidade a todas as pessoas.
uma equipe multidisciplinar para realizar uma avaliação da [...]” (NR)
pessoa interessada, realizando ainda uma entrevista pes- Art. 119. A Lei nº 12.587, de 3 de janeiro de 2012, passa
soal com ela e com as pessoas que se disponibilizaram a a vigorar acrescida do seguinte art. 12-B:
prestar o apoio. Agirá o Ministério Público como fiscal da “Art. 12-B. Na outorga de exploração de serviço de
ordem jurídica (custos juris), por expressa disposição legal, táxi, reservar-se-ão 10% (dez por cento) das vagas para
condutores com deficiência.
apesar de não haver incapaz (CPC, art.178, caput). O juiz
§ 1º Para concorrer às vagas reservadas na forma do
não está adstrito à nomear os apoiadores apontados na
caput deste artigo, o condutor com deficiência deverá ob-
petição inicial, podendo optar por outros após analisar o
servar os seguintes requisitos quanto ao veículo utilizado:
caso individualmente, desde que possua fundamentação
I - ser de sua propriedade e por ele conduzido; e
suficiente para tal ato. A decisão judicial deverá indicar a II - estar adaptado às suas necessidades, nos termos da
validade, além de apresentar os limites do apoio a ser pres- legislação vigente.
tado àquela pessoa, considerando suas vontades, anseios § 2º No caso de não preenchimento das vagas na for-
e preferências . ma estabelecida no caput deste artigo, as remanescentes
É comum que os próprios apoiadores ou terceiro in- devem ser disponibilizadas para os demais concorrentes.”
teressado, solicite que se encerrem a atuação judicial para Art. 120. Cabe aos órgãos competentes, em cada esfe-
realizar atos que vinculem o interesse da pessoa apoiada. ra de governo, a elaboração de relatórios circunstanciados
São os casos em que pode ocorrer divergência de ideias sobre o cumprimento dos prazos estabelecidos por força
podendo causar riscos de potencial prejuízo a pessoa das Leis no 10.048, de 8 de novembro de 2000, e no 10.098,
apoiada. Portanto para reservar o interesse da pessoa em de 19 de dezembro de 2000, bem como o seu encaminha-
situação de vulnerabilidade, após ouvir o Promotor de Jus- mento ao Ministério Público e aos órgãos de regulação
tiça, podendo ainda analisar o laudo realizado pela equipe para adoção das providências cabíveis.
multidisciplinar poderá o magistrado delibera, em procedi- Parágrafo único. Os relatórios a que se refere o caput
mento de jurisdição voluntária . deste artigo deverão ser apresentados no prazo de 1 (um)
ano a contar da entrada em vigor desta Lei.

107
DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 121. Os direitos, os prazos e as obrigações pre- EXERCÍCIOS


vistos nesta Lei não excluem os já estabelecidos em outras
legislações, inclusive em pactos, tratados, convenções e 1. (IBGP/2016 - Prefeitura de Nova Ponte - MG - Advoga-
declarações internacionais aprovados e promulgados pelo do) A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Es-
Congresso Nacional, e devem ser aplicados em conformi- tatuto da Pessoa com Deficiência) busca assegurar e a promo-
dade com as demais normas internas e acordos internacio- ver, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das
nais vinculantes sobre a matéria. liberdades fundamentais para pessoa com deficiência, visando
Parágrafo único. Prevalecerá a norma mais benéfica à à sua inclusão social e cidadania.
Nos termos da Lei em referência, assinale a alternativa IN-
pessoa com deficiência.
CORRETA.
Art. 122. Regulamento disporá sobre a adequação do
a) Toda pessoa com deficiência tem direito à igualdade de
disposto nesta Lei ao tratamento diferenciado, simplifica-
oportunidades com as demais pessoas e não sofrerá nenhuma
do e favorecido a ser dispensado às microempresas e às espécie de discriminação.
empresas de pequeno porte, previsto no § 3o do art. 1o b) É dever de todos comunicar à autoridade competente
da Lei Complementar no 123, de 14 de dezembro de 2006. qualquer forma de ameaça ou de violação aos direitos da pes-
Art. 123. Revogam-se os seguintes dispositivos: soa com deficiência.
I - o inciso II do § 2º do art. 1o da Lei nº 9.008, de 21 c) A deficiência afeta a plena capacidade civil da pessoa,
de março de 1995; limitando o exercício do direito à família e à convivência fami-
II - os incisos I, II e III do art. 3º da Lei nº 10.406, de 10 liar e comunitária.
de janeiro de 2002 (Código Civil); d) A pessoa com deficiência tem direito a receber atendi-
III - os incisos II e III do art. 228 da Lei nº 10.406, de 10 mento prioritário, sobretudo com a finalidade de atendimento
de janeiro de 2002 (Código Civil); em todas as instituições e serviços de atendimento ao público.
IV - o inciso I do art. 1.548 da Lei nº 10.406, de 10 de
janeiro de 2002 (Código Civil); R: C. O Estatuto prevê no caput do art. 6º: “A deficiência
V - o inciso IV do art. 1.557 da Lei nº 10.406, de 10 de não afeta a plena capacidade civil da pessoa, inclusive para:
janeiro de 2002 (Código Civil); [...]”. Logo, a afirmação de que a deficiência afeta a plena capa-
VI - os incisos II e IV do art. 1.767 da Lei nº 10.406, de cidade civil da pessoa é incorreta.
10 de janeiro de 2002 (Código Civil);
2. (BIO-RIO/2015 - IF-RJ - Fonoaudiólogo) Com relação
VII - os arts. 1.776 e 1.780 da Lei nº 10.406, de 10 de
ao Direito ao Trabalho da pessoa com deficiência, conforme
janeiro de 2002 (Código Civil).
o Estatuto da Pessoa com Deficiência, analise as afirmativas a
Art. 124. O § 1º do art. 2º desta Lei deverá entrar em seguir.
vigor em até 2 (dois) anos, contados da entrada em vigor I. Às regras de saúde e segurança, ao trabalhador com de-
desta Lei. ficiência agregam-se as regras de acessibilidade e adaptação
Art. 125. Devem ser observados os prazos a seguir razoável.
discriminados, a partir da entrada em vigor desta Lei, para II. A acessibilidade alcança também as atitudes, o posicio-
o cumprimento dos seguintes dispositivos: namento institucional e do quadro de trabalhadores das em-
I - incisos I e II do § 2º do art. 28, 48 (quarenta e oito) presas e seus ambientes de trabalho.
meses; III. Quando necessárias, as adaptações razoáveis são obri-
II - § 6º do art. 44, 48 (quarenta e oito) meses; gatórias, sob pena de prática de discriminação.
III - art. 45, 24 (vinte e quatro) meses; Assinale:
IV - art. 49, 48 (quarenta e oito) meses. a) se somente a afirmativa I estiver correta.
Art. 126. Prorroga-se até 31 de dezembro de 2021 a b) se somente a afirmativa II estiver correta.
vigência da Lei nº 8.989, de 24 de fevereiro de 1995. c) se somente as afirmativas I e III estiverem corretas.
Art. 127. Esta Lei entra em vigor após decorridos 180 d) se somente as afirmativas II e III estiverem corretas.
(cento e oitenta) dias de sua publicação oficial. e) se todas as afirmativas estiverem corretas.

R: E. As três afirmativas estão corretas, conforme é possí-


Brasília, 6 de julho de 2015; 194º da Independência e
vel extrair do teor do artigo 34 do Estatuto: “Art. 34. A pessoa
127º da República.
com deficiência tem direito ao trabalho de sua livre escolha e
aceitação, em ambiente acessível e inclusivo, em igualdade de
oportunidades com as demais pessoas. § 1º As pessoas jurí-
dicas de direito público, privado ou de qualquer natureza são
obrigadas a garantir ambientes de trabalho acessíveis e inclu-
sivos. [...] § 3º É vedada restrição ao trabalho da pessoa com
deficiência e qualquer discriminação em razão de sua condi-
ção, inclusive nas etapas de recrutamento, seleção, contrata-
ção, admissão, exames admissional e periódico, permanência
no emprego, ascensão profissional e reabilitação profissional,
bem como exigência de aptidão plena”.

108
DIREITO ADMINISTRATIVO

3. (VUNESP/2016 - TJ-SP - Titular de Serviços de Notas R: E. É o que decorre da interpretação do artigo 6º:
e de Registros - Remoção) O Estatuto da Pessoa com Defi- “a deficiência não afeta a plena capacidade civil da pes-
ciência, instituído pela Lei brasileira nº 13.146/2015, soa, inclusive para: I - casar-se e constituir união estável;
a) resultou da condenação do Brasil pela Comissão II - exercer direitos sexuais e reprodutivos; III - exercer o
Interamericana de Direitos Humanos e da recomendação direito de decidir sobre o número de filhos e de ter acesso
internacional para que o país incluísse medidas protetivas a informações adequadas sobre reprodução e planejamen-
da pessoa deficiente em sua legislação. to familiar; IV - conservar sua fertilidade, sendo vedada a
b) baseia-se na Convenção sobre os Direitos das Pes- esterilização compulsória; V - exercer o direito à família e à
soas com Deficiência e em seu Protocolo Facultativo, em convivência familiar e comunitária; e VI - exercer o direito à
vigor no plano interno desde a promulgação do respectivo guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como adotante ou
Decreto, em 2009. adotando, em igualdade de oportunidades com as demais
c) constitui mudança legislativa relevante do ponto de pessoas”. O Estatuto da Pessoa com Deficiência deixa claro
vista humanitário, mas de pouco impacto jurídico, conside-
que a deficiência não pode gerar limitações existenciais da
rando que é norma programática que não inova na ordem
pessoa. É possível restringir alguns aspectos de tomada de
jurídica.
decisões, especialmente em matéria patrimonial. Entretan-
d) inspira-se na diretriz da incapacidade da pessoa de-
to, questões existenciais como casamento, família e fertili-
ficiente, para sua proteção.
dade não podem ser afetadas pelo fato da pessoa possuir
R: B. A Lei nº 13.146/2015 é o estopim nacional da fase alguma deficiência, apenas podendo a curatela atingir as-
humanista da proteção da pessoa com deficiência, vindo pectos patrimoniais.
elaborada em consonância com a Constituição Federal de
1988 e com a Convenção Internacional sobre os Direitos 5. (Prefeitura de Fortaleza - CE/2016 - Prefeitura de
das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, Fortaleza - CE - Psicologia) De acordo com a Lei nº 13.146,
assinados em Nova York, em 30 de março de 2007, e pro- de 6 de julho de 2015 – Estatuto da Pessoa com Deficiência,
mulgados pelo Decreto nº 6.949 de 25 de agosto de 2009, quanto ao Direito ao Trabalho é correto afirmar.
os quais são dotados de força de normativa constitucional. a) A pessoa com deficiência tem direito, em igualda-
de de oportunidades com as demais pessoas, às condições
4. (TRF - 4ª REGIÃO/2016 - TRF - 4ª REGIÃO - Juiz Fe- justas e favoráveis de trabalho, exceto quanto à igual remu-
deral Substituto) Assinale a alternativa correta. neração por trabalho de igual valor.
A respeito da capacidade civil, levando em conta a Lei b) As pessoas jurídicas de direito público são obrigadas
nº 13.146/2015: a garantir ambientes de trabalho acessíveis e inclusivos e as
a) O direito ao recebimento de atendimento prioritário de direito privado ficam com a responsabilidade exclusiva
da pessoa com deficiência não abrange a tramitação pro- de manter ações de promoção valorativa as pessoas com
cessual e os procedimentos judiciais em que for parte ou deficiência.
interessada. c) É garantida aos trabalhadores com deficiência que
b) A pessoa com deficiência – assim entendida aquela demonstrem bom desempenho cognitivo e de aprendiza-
que tem impedimento de longo prazo de natureza física, gem a acessibilidade em cursos de formação e de capaci-
mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com tação.
uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação ple- d) É vedada restrição ao trabalho da pessoa com defi-
na e efetiva na sociedade em igualdade de condições com ciência e qualquer discriminação em razão de sua condição,
as demais pessoas – é considerada capaz para casar-se e inclusive nas etapas de recrutamento, seleção, contratação,
constituir união estável, exercer direitos sexuais e reprodu-
admissão, exames admissional e periódico, permanência
tivos e conservar sua fertilidade, mas não para exercer o
no emprego, ascensão profissional e reabilitação profissio-
direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção.
nal, bem como exigência de aptidão plena.
c) A menoridade cessa aos dezoito anos completos,
quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos
da vida civil. Contudo, a incapacidade cessará, para os me- R: D. Prevê o artigo 34 do Estatuto: “§ 4º A pessoa com
nores, dentre outras hipóteses legalmente elencadas, pelo deficiência tem direito à participação e ao acesso a cursos,
desempenho de funções inerentes a cargo público comis- treinamentos, educação continuada, planos de carreira,
sionado ou de provimento efetivo. promoções, bonificações e incentivos profissionais ofere-
d) Qualquer pessoa com mais de dezesseis anos pode cidos pelo empregador, em igualdade de oportunidades
casar, independentemente de autorização de seus pais e com os demais empregados. § 5º É garantida aos trabalha-
representantes legais. dores com deficiência acessibilidade em cursos de forma-
e) A curatela de pessoas com deficiência afetará tão ção e de capacitação”.
somente os atos relacionados aos direitos de natureza pa-
trimonial e negocial, isto é, sua definição não alcança o 6. (Instituto Legatus/2016 - Câmara Municipal de Ber-
direito ao próprio corpo, à sexualidade, ao matrimônio, à tolínia - PI - Procurador) Levando-se em consideração as
privacidade, à educação, à saúde, ao trabalho e ao voto. alterações introduzidas pela Lei 13.146/2015 no Código
Civil Brasileiro, são considerados absolutamente incapazes:

109
DIREITO ADMINISTRATIVO

a) Os que, mesmo por causa transitória, não puderem mensalidades, anuidades e matrículas no cumprimento
exprimir sua vontade. dessas determinações”. Não obstante, vale ressaltar que a
b) Os que, por enfermidade ou deficiência metal, não conduta de cobrar valores adicionais devido à deficiência é
tiverem o necessário discernimento para a prática desses crime previsto na Lei nº 7.853/1989: “Art. 8º Constitui crime
atos. punível com reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos e multa: I
c) Os pródigos. - recusar, cobrar valores adicionais, suspender, procrastinar,
d) Os menores de 16 (dezesseis) anos. cancelar ou fazer cessar inscrição de aluno em estabeleci-
e) Todas as alternativas anteriores estão corretas. mento de ensino de qualquer curso ou grau, público ou
privado, em razão de sua deficiência; [...]”.
R: D. Após o Estatuto, assim ficou o artigo 3º, CC: “Art.
3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente 9. (CESPE/2014 - Câmara dos Deputados - Analista Le-
os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos. I - gislativo) Com relação aos direitos das pessoas com defi-
(Revogado); II - (Revogado); III - (Revogado)”. ciência, julgue o item subsequente.
O trabalhador rural com deficiência tem direito a um
7. (BIO-RIO/2015 - IF-RJ - Assistente de Aluno) De ambiente de trabalho acessível, tendo as mesmas garantias
acordo com a Lei 13.146/15, toda pessoa com deficiência que o trabalhador urbano com deficiência.
tem direito à igualdade de oportunidades com as demais R: Certo. Nos termos da Lei nº 13.146/2015, a acessibi-
pessoas e não sofrerá nenhuma espécie de discriminação. lidade deve abranger tanto a zona urbana quanto a rural,
Em relação a tal direito, NÃO é correto afirmar que: consoante ao conceito do artigo 3º, I: “Art. 3º Para fins de
a) considera-se discriminação em razão da deficiência aplicação desta Lei, consideram-se: I - acessibilidade: pos-
toda forma de distinção, restrição ou exclusão, por ação sibilidade e condição de alcance para utilização, com segu-
ou omissão, que tenha o propósito ou o efeito de preju- rança e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos
dicar, impedir ou anular o reconhecimento ou o exercício urbanos, edificações, transportes, informação e comunica-
dos direitos e das liberdades fundamentais de pessoa com ção, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como de
deficiência, incluindo a recusa de adaptações razoáveis e outros serviços e instalações abertos ao público, de uso
de fornecimento de tecnologias assistivas. público ou privados de uso coletivo, tanto na zona urbana
b) a pessoa com deficiência está obrigada à fruição de como na rural, por pessoa com deficiência ou com mobili-
benefícios decorrentes de ação afirmativa. dade reduzida”.
c) a pessoa com deficiência será protegida de toda
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, 10. (CESPE/2017 - TRE-PE - Conhecimentos Gerais -
tortura, crueldade, opressão e tratamento desumano ou Cargo 3) Acerca do instituto da tomada de decisão apoia-
degradante. da, assinale a opção correta.
d) a deficiência não afeta a plena capacidade civil da a) Não é possível ao juiz designar apoiadores em subs-
pessoa, inclusive para, entre outros, casar-se e constituir tituição àqueles indicados.
união estável, exercer direitos sexuais e reprodutivos e b) A curatela não pode substituir a tomada de decisão
exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, apoiada, ainda que ocorra planejamento pessoal do bene-
como adotante ou adotando, em igualdade de oportuni- ficiário nesse sentido.
dades com as demais pessoas. c) O beneficiário desse instituto conserva sua capacida-
e) é dever de todos comunicar à autoridade competen- de de autodeterminação em relação aos atos da vida civil,
te qualquer forma de ameaça ou de violação aos direitos salvo aqueles previstos no acordo de tomada de decisão
da pessoa com deficiência. apoiada.
d) Tal instituto é aplicável aos casos de pessoas com
R: B. Conforme o artigo 4º, § 2º do Estatuto, “a pessoa deficiência que se enquadrem no conceito de relativamen-
com deficiência não está obrigada à fruição de benefícios te incapazes.
decorrentes de ação afirmativa”. e) A decisão tomada por pessoa apoiada é válida con-
tra terceiros, com restrições, ainda que não figure nos limi-
8. (CESPE/2016 INSS - Analista do Seguro Social - Ser- tes do acordo.
viço Social) No que se refere ao Estatuto da Pessoa com R: C. Após o Estatuto, assim passou a prever o Código
Deficiência, julgue o seguinte item. Civil em seu art. 1.783-A: A tomada de decisão apoiada é
As escolas particulares podem cobrar dos estudantes o processo pelo qual a pessoa com deficiência elege pelo
com deficiência mensalidades com valores maiores que os menos 2 (duas) pessoas idôneas, com as quais mantenha
das mensalidades cobradas de estudantes sem deficiência. vínculos e que gozem de sua confiança, para prestar-lhe
apoio na tomada de decisão sobre atos da vida civil, forne-
R: Errado. Nos termos do artigo 28, § 1º, Lei nº cendo-lhes os elementos e informações necessários para
13146/2015: “Às instituições privadas, de qualquer nível e que possa exercer sua capacidade”.
modalidade de ensino, aplica-se obrigatoriamente o dis-
posto nos incisos I, II, III, V, VII, VIII, IX, X, XI, XII, XIII, XIV, XV,
XVI, XVII e XVIII do caput deste artigo, sendo vedada a co-
brança de valores adicionais de qualquer natureza em suas

110
DIREITO ADMINISTRATIVO

XII - impulsão, de ofício, do processo administrativo,


PROCESSO ADMINISTRATIVO (LEI Nº sem prejuízo da atuação dos interessados;
9.784/99): DAS DISPOSIÇÕES GERAIS; DOS DIREI- XIII - interpretação da norma administrativa da forma
TOS E DEVERES DOS ADMINISTRADOS. que melhor garanta o atendimento do fim público a que se
dirige, vedada aplicação retroativa de nova interpretação.

CAPÍTULO II
CAPÍTULO I DOS DIREITOS DOS ADMINISTRADOS
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 3o O administrado tem os seguintes direitos pe-
Art. 1o Esta Lei estabelece normas básicas sobre o pro- rante a Administração, sem prejuízo de outros que lhe se-
cesso administrativo no âmbito da Administração Federal jam assegurados:
direta e indireta, visando, em especial, à proteção dos direi- I - ser tratado com respeito pelas autoridades e servi-
tos dos administrados e ao melhor cumprimento dos fins dores, que deverão facilitar o exercício de seus direitos e o
da Administração. cumprimento de suas obrigações;
§ 1o Os preceitos desta Lei também se aplicam aos ór- II - ter ciência da tramitação dos processos adminis-
gãos dos Poderes Legislativo e Judiciário da União, quando trativos em que tenha a condição de interessado, ter vista
no desempenho de função administrativa. dos autos, obter cópias de documentos neles contidos e
§ 2o Para os fins desta Lei, consideram-se: conhecer as decisões proferidas;
I - órgão - a unidade de atuação integrante da estrutu- III - formular alegações e apresentar documentos an-
ra da Administração direta e da estrutura da Administração tes da decisão, os quais serão objeto de consideração pelo
indireta; órgão competente;
II - entidade - a unidade de atuação dotada de perso- IV - fazer-se assistir, facultativamente, por advogado,
nalidade jurídica; salvo quando obrigatória a representação, por força de lei.
III - autoridade - o servidor ou agente público dotado
de poder de decisão. CAPÍTULO III
Art. 2o A Administração Pública obedecerá, dentre ou- DOS DEVERES DO ADMINISTRADO
tros, aos princípios da legalidade, finalidade, motivação,
razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla de-
Art. 4o São deveres do administrado perante a Admi-
fesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e
nistração, sem prejuízo de outros previstos em ato norma-
eficiência.
tivo:
Parágrafo único. Nos processos administrativos serão
I - expor os fatos conforme a verdade;
observados, entre outros, os critérios de:
II - proceder com lealdade, urbanidade e boa-fé;
I - atuação conforme a lei e o Direito;
II - atendimento a fins de interesse geral, vedada a re- III - não agir de modo temerário;
núncia total ou parcial de poderes ou competências, salvo IV - prestar as informações que lhe forem solicitadas e
autorização em lei; colaborar para o esclarecimento dos fatos.
III - objetividade no atendimento do interesse público,
vedada a promoção pessoal de agentes ou autoridades;
IV - atuação segundo padrões éticos de probidade, de-
RESPONSABILIDADE CIVIL DA
coro e boa-fé;
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
V - divulgação oficial dos atos administrativos, ressal-
vadas as hipóteses de sigilo previstas na Constituição;
VI - adequação entre meios e fins, vedada a imposição
de obrigações, restrições e sanções em medida superior A responsabilidade civil do Estado acompanha o racio-
àquelas estritamente necessárias ao atendimento do inte- cínio de que a principal consequência da prática de um ato
resse público; ilícito é a obrigação que gera para o seu auto de reparar o
VII - indicação dos pressupostos de fato e de direito dano, mediante o pagamento de indenização que se refere
que determinarem a decisão; às perdas e danos. Afinal, quem pratica um ato ou incorre em
VIII – observância das formalidades essenciais à garan- omissão que gere dano deve suportar as consequências jurí-
tia dos direitos dos administrados; dicas decorrentes, restaurando-se o equilíbrio social. Todos os
IX - adoção de formas simples, suficientes para propi- cidadãos se sujeitam às regras da responsabilidade civil, tanto
ciar adequado grau de certeza, segurança e respeito aos podendo buscar o ressarcimento do dano que sofreu quanto
direitos dos administrados; respondendo por aqueles danos que causar. Da mesma forma,
X - garantia dos direitos à comunicação, à apresenta- o Estado tem o dever de indenizar os membros da sociedade
ção de alegações finais, à produção de provas e à interpo- pelos danos que seus agentes causem durante a prestação do
sição de recursos, nos processos de que possam resultar serviço, inclusive se tais danos caracterizarem uma violação aos
sanções e nas situações de litígio; direitos humanos reconhecidos.
XI - proibição de cobrança de despesas processuais,
ressalvadas as previstas em lei;

111
DIREITO ADMINISTRATIVO

“Na metade do século XIX, a ideia que prevaleceu no Genericamente, os elementos da responsabilidade civil se
mundo ocidental era a de que o Estado não tinha qualquer encontram no art. 186 do Código Civil:
responsabilidade pelos atos praticados por seus agentes. A Artigo 186, CC. Aquele que, por ação ou omissão voluntária,
solução era muito rigorosa para com os particulares em ge- negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a ou-
ral, mas obedecia às reais condições políticas da época. O trem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
denominado Estado Liberal tinha limitada atuação, raramen- Este é o artigo central do instituto da responsabilidade ci-
te intervindo nas relações entre particulares, de modo que a vil, que tem como elementos: ação ou omissão voluntária (agir
doutrina de sua irresponsabilidade constituía mero corolário como não se deve ou deixar de agir como se deve), culpa ou
da figuração política de afastamento e da equivocada isenção dolo do agente (dolo é a vontade de cometer uma violação de
que o Poder Público assumia àquela época. A ideia anterior, da direito e culpa é a falta de diligência), nexo causal (relação de
intangibilidade do Estado, decorria da irresponsabilidade do causa e efeito entre a ação/omissão e o dano causado) e dano
monarca, traduzida nos postulados ‘the king can do no wrong’ (dano é o prejuízo sofrido pelo agente, que pode ser individual
e ‘le roi ne peut mal faire’”43. ou coletivo, moral ou material, econômico e não econômico).
O instituto da responsabilidade civil é parte integrante do Conforme o caso, a culpa será ou não considerada neces-
direito obrigacional, uma vez que a principal consequência da sária para reparar o dano. Pela teoria clássica, a culpa é fun-
prática de um ato ilícito é a obrigação que gera para o seu damento da responsabilidade, tanto que a teoria é conhecida
auto de reparar o dano, mediante o pagamento de indeniza- como teoria da culpa ou subjetiva, pela qual não havendo cul-
ção que se refere às perdas e danos. Afinal, quem pratica um pa, não há responsabilidade.
ato ou incorre em omissão que gere dano deve suportar as A lei impõe, no entanto, a certas pessoas, em determina-
consequências jurídicas decorrentes, restaurando-se o equilí- das situações, a reparação de um dano cometido sem culpa.
brio social.44 Sempre que isso acontece, entende-se que a responsabilida-
A responsabilidade civil, assim, difere-se da penal, poden- de é legal ou objetiva, não dependendo de culpa, bastando o
do recair sobre os herdeiros do autor do ilícito até os limites dano e o nexo de causalidade (a culpa pode ou não existir, mas
da herança, embora existam reflexos na ação que apure a res- nem é avaliada).
ponsabilidade civil conforme o resultado na esfera penal (por
Na responsabilidade subjetiva, provar a culpa é pressuposto
exemplo, uma absolvição por negativa de autoria impede a
do dano indenizável; enquanto que na responsabilidade objetiva
condenação na esfera cível, ao passo que uma absolvição por
o elemento culpa é excluído (restam apenas ação ou omissão,
falta de provas não o faz).
dano e nexo causal), sendo substituído pelo risco.
A responsabilidade civil do Estado acompanha o raciocí-
Mesmo na responsabilidade objetiva, não se pode res-
nio de que a principal consequência da prática de um ato ilícito
ponsabilizar quem não tenha dado causa ao evento, sendo
é a obrigação que gera para o seu auto de reparar o dano,
imprescindível a demonstração do nexo causal.
mediante o pagamento de indenização que se refere às per-
Teorias da responsabilidade objetiva surgem por se en-
das e danos. Todos os cidadãos se sujeitam às regras da res-
ponsabilidade civil, tanto podendo buscar o ressarcimento do tender que a culpa é insuficiente para regular todas as situa-
dano que sofreu quanto respondendo por aqueles danos que ções de responsabilidade civil. A responsabilidade objetiva não
causar. Da mesma forma, o Estado tem o dever de indenizar os substitui a responsabilidade subjetiva, mas fica circunscrita aos
membros da sociedade pelos danos que seus agentes causem seus próprios limites, notadamente, quando a atividade – por
durante a prestação do serviço, inclusive se tais danos caracte- sua natureza – representar risco para os direitos de outrem.
rizarem uma violação aos direitos humanos reconhecidos. Logo, uma das teorias que justificam a responsabilidade
Trata-se de responsabilidade extracontratual porque não objetiva é a teoria do risco, pela qual toda pessoa que exerce
depende de ajuste prévio, basta a caracterização de elemen- alguma atividade cria um risco de dano para terceiros e deve
tos genéricos pré-determinados, que perpassam pela leitura repará-lo caso ocorra (desloca-se a noção de culpa para a no-
concomitante do Código Civil (artigos 186, 187 e 927) com a ção de risco).
Constituição Federal (artigo 37, §6°). O Código Civil brasileiro filia-se à teoria subjetiva:
Art. 186, CC. Aquele que, por ação ou omissão voluntá-
É preciso lembrar que não é o Estado em si que viola ria, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano
os direitos, porque o Estado é uma ficção formada por um a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”.
grupo de pessoas que desempenham as atividades estatais Coloca-se no artigo a culpa lato sensu (sentido amplo), que en-
diversas. Assim, viola direitos o agente que o representa, volve tanto o dolo quando a culpa stricto sensu (sentido estrito,
fazendo com que o próprio Estado seja responsabilizado de negligência, imprudência ou imperícia).
por isso civilmente, pagando pela indenização (reparação Entretanto, em diversos dispositivos esparsos e legislações
dos danos materiais e morais). Sem prejuízo, com relação a específicas estabelecem casos em que não se aplicará a res-
eles, caberá ação de regresso se agiram com dolo ou culpa. ponsabilidade subjetiva, mas a objetiva:
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar
dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
43 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, in-
Administrativo. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2015. dependentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou
44 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil. quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do
9. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

112
DIREITO ADMINISTRATIVO

No caso da responsabilidade civil do Estado, o constituinte Reparação do dano


viu por bem adotar como regra geral a teoria da responsabilida- Não é de hoje que o Direito é pacífico ao afirmar o fato de
de objetiva: que a prática de um ato ilícito gera um dever de reparação. Há
Artigo 37, §6º, CF. As pessoas jurídicas de direito públi- muito, o dever de reparação se dava pela causação de dano
co e as de direito privado prestadoras de serviços públicos igual ao ofensor; nos ditames do direito moderno, o dever de
responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, reparação se consolida pela obrigação de indenizar (tanto pelo
causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o dano material quanto pelo dano moral).
responsável nos casos de dolo ou culpa. Por um só fato pode caber dano patrimonial e dano moral,
Logo, para que se caracterize a responsabilidade do Es- se esta lesão gerar os 2 tipos de consequências – súmula 37,
tado basta a comprovação dos elementos ação, nexo causal STJ – pelo dano patrimonial busca-se a indenização (eliminar o
e dano, como regra geral. Contudo, tomadas as exigências de dano) ou ressarcimento (pagamento da coisa), o que coloca a
características dos danos acima colacionadas, notadamente a vítima na situação financeira que tinha antes do dano (retorno
anormalidade, considera-se que para o Estado ser responsabi- ao status quo ante); pelo dano extrapatrimonial, como não há
lizado por um dano, ele deve exceder expectativas cotidia- preço que repare a ofensa à dignidade, o que se busca é uma
nas, isto é, não cabe exigir do Estado uma excepcional vigilância compensação ou satisfação (compensa-se pois o valor é uma
da sociedade e a plena cobertura de todas as fatalidades que resposta do Judiciário no sentido de que a ofensa não ficará
possam acontecer em território nacional. impune; satisfação é a postura do Estado de responder pela
Diante de tal premissa, entende-se que a responsabilidade ofensa à dignidade). A palavra adequada para designar ambos é
civil do Estado será objetiva apenas no caso de ações, mas REPARAÇÃO (vide caput do artigo 948, que fala em outras repa-
subjetiva no caso de omissões. Em outras palavras, verifica-se rações, trazendo lucro cessante e dano emergente nos incisos).
se o Estado se omitiu tendo plenas condições de não ter se omi- O artigo 5º, X, CF constitucionalizou como direito funda-
tido, isto é, ter deixado de agir quando tinha plenas condições de mental a reparação do dano moral. Hoje, não há dúvida de
fazê-lo, acarretando em prejuízo dentro de sua previsibilidade. que cabe ação pleiteando exclusivamente dano moral – é o
São casos nos quais se reconheceu a responsabilidade dano moral puro, presente na expressão “ainda que exclusiva-
mente moral” do artigo 186, CC.
omissiva do Estado: morte de filho menor em creche municipal,
buracos não sinalizados na via pública, tentativa de assalto a um
Direito de regresso
usuário do metrô resultando em morte, danos provocados por
Prevê o artigo 37, §6° da Constituição Federal:
enchentes e escoamento de águas pluviais quando o Estado
Artigo 37, §6º, CF. As pessoas jurídicas de direito público e as
sabia da problemática e não tomou providência para evitá-las,
de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão
morte de detento em prisão, incêndio em casa de shows fiscali-
pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem
zada com negligência, etc. a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o res-
ponsável nos casos de dolo ou culpa.
Requisitos para a demonstração da responsabilidade do Este artigo deixa clara a formação de uma relação jurídica
Estado autônoma entre o Estado e o agente público que causou o
1) Dano - somente é indenizável o dano certo, especial e dano no desempenho de suas funções. Nesta relação, a res-
anormal. Certo é o dano real, existente. Especial é o dano espe- ponsabilidade civil será subjetiva, ou seja, caberá ao Estado
cífico, individualizado, que atinge determinada ou determinadas provar a culpa do agente pelo dano causado, ao qual foi an-
pessoas. Anormal é o dano que ultrapassa os problemas comuns teriormente condenado a reparar. Direito de regresso é justa-
da vida em sociedade (por exemplo, infelizmente os assaltos são mente o direito de acionar o causador direto do dano para ob-
comuns e o Estado não responde por todo assalto que ocorra, ter de volta aquilo que pagou à vítima, considerada a existência
a não ser que na circunstância específica possuía o dever de im- de uma relação obrigacional que se forma entre a vítima e a
pedir o assalto, como no caso de uma viatura presente no local instituição que o agente compõe.
- muito embora o direito à segurança pessoal seja um direito Assim, o Estado responde pelos danos que seu agente
humano reconhecido). causar aos membros da sociedade, mas se este agente agiu
2) Agentes públicos - é toda pessoa que trabalhe dentro da com dolo ou culpa deverá ressarcir o Estado do que foi pago à
administração pública, tenha ingressado ou não por concurso, vítima. O agente causará danos ao praticar condutas incompa-
possua cargo, emprego ou função. Envolve os agentes políticos, tíveis com o comportamento ético dele esperado.45
os servidores públicos em geral (funcionários, empregados ou A responsabilidade civil do servidor exige prévio processo
temporários) e os particulares em colaboração (por exemplo, ju- administrativo disciplinar no qual seja assegurado contraditó-
rado ou mesário). rio e ampla defesa. Trata-se de responsabilidade civil sub-
3) Dano causado quando o agente estava agindo nesta quali- jetiva ou com culpa. Havendo ação ou omissão com culpa
dade - é preciso que o agente esteja lançando mão das prerroga- do servidor que gere dano ao erário (Administração) ou a
tivas do cargo, não agindo como um particular. terceiro (administrado), o servidor terá o dever de indenizar.
Sem estes três requisitos, não será possível acionar o Estado Não obstante, agentes públicos que pratiquem atos violadores
para responsabilizá-lo civilmente pelo dano, por mais relevante de direitos humanos se sujeitam à responsabilidade penal e
que tenha sido a esfera de direitos atingida. Assim, não é qualquer à responsabilidade administrativa, todas autônomas uma
dano que permite a responsabilização civil do Estado, mas somen- com relação à outra e à já mencionada responsabilidade civil.
te aquele que é causado por um agente público no exercício de Neste sentido, o artigo 125 da Lei nº 8.112/90:
suas funções e que exceda as expectativas do lesado quanto à 45 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Administrativo. 13. ed.
atuação do Estado. São Paulo: Método, 2011.

113
DIREITO ADMINISTRATIVO

Artigo 125, Lei nº 8.112/1990. As sanções civis, penais e ad-


ministrativas poderão cumular-se, sendo independentes entre si. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA - LEI Nº
Com efeito, no caso da responsabilidade civil, o Estado 8.429/92 – LEI DE IMPROBIDADE ADMINISTRA-
é diretamente acionado e responde pelos atos de seus ser- TIVA: DAS DISPOSIÇÕES GERAIS; DOS ATOS DE
vidores que violem direitos, cabendo eventualmente ação de
IMPROBIDADE, DAS PENAS
regresso contra ele. Contudo, nos casos da responsabilidade
penal e da responsabilidade administrativa aciona-se o agente
público que praticou o ato. Destaca-se a independência entre A Lei n° 8.429/92 trata da improbidade administrativa,
as esferas civil, penal e administrativa no que tange à respon- que é uma espécie qualificada de imoralidade, sinônimo de
sabilização do agente público que cometa ato ilícito. desonestidade administrativa. A improbidade é uma lesão
ao princípio da moralidade, que deve ser respeitado estri-
Responsabilidade primária e subsidiária tamente pelo servidor público. O agente ímprobo sempre
O Estado responde diretamente pelos danos causados será um violador do princípio da moralidade, pelo qual “a
por seus agentes públicos, ou seja, por aqueles que estão vin-
Administração Pública deve agir com boa-fé, sinceridade,
culados a qualquer dos órgãos da administração direta ou in-
probidade, lhaneza, lealdade e ética”47.
direta: trata-se de responsabilidade primária, embora exista o
A atual Lei de Improbidade Administrativa foi criada
direito de regresso.
devido ao amplo apelo popular contra certas vicissitudes
Contudo, existem situações em que o Estado apenas irá
responder se o verdadeiro responsável pelo dano não puder do serviço público que se intensificavam com a ineficácia
repará-lo, por exemplo, no caso de suas concessionárias e de- do diploma então vigente, o Decreto-Lei nº 3240/41. De-
legatárias de serviços públicos. No caso, tem-se responsabili- correu, assim, da necessidade de acabar com os atos aten-
dade subsidiária. tatórios à moralidade administrativa e causadores de pre-
juízo ao erário público ou ensejadores de enriquecimento
Responsabilidade do Estado por atos legislativos e ju- ilícito, infelizmente tão comuns no Brasil.
diciais Com o advento da Lei nº 8.429/92, os agentes públi-
“Por atos (permissão, licença) ou fatos (atos materiais, a cos passaram a ser responsabilizados na esfera civil pelos
exemplo da construção de obras públicas) administrativos que atos de improbidade administrativa descritos nos artigos
causem danos a terceiros a regra é a responsabilidade civil do 9º, 10 e 11, ficando sujeitos às penas do art. 12. A exis-
Estado, mas por atos legislativos (leis) e judiciais tência de esferas distintas de responsabilidade (civil, penal
e administrativa) impede falar-se em bis in idem, já que,
(sentenças) a regra é a irresponsabilidade. Em princípio, o Es- ontologicamente, não se trata de punições idênticas, em-
tado não responde por prejuízos decorrentes de sentença ou bora baseadas no mesmo fato, mas de responsabilização
de lei, salvo se expressamente imposta tal obrigação por lei ou em esferas distintas do Direito.
oriunda de culpa manifesta no desempenho das funções de A legislação em estudo, por sua vez, divide os atos de
julgar e legislar. improbidade administrativa em três categorias:
A lei e a sentença, atos típicos, respectivamente, do Poder a) Ato de improbidade administrativa que importe en-
Legislativo e do Poder Judiciário, dificilmente poderão cau- riquecimento ilícito;
sar dano reparável (certo, especial, anormal, referente a uma b) Ato de improbidade administrativa que importe le-
situação protegida pelo Direito e de valor economicamente são ao erário;
apreciável). Com efeito, a lei age de forma geral, abstrata e c) Ato de improbidade administrativa que atente con-
impessoal e suas determinações constituem ônus generaliza- tra os princípios da administração pública.
dos impostos a toda coletividade. Nesse particular, o que já se
ATENÇÃO: os atos de improbidade administrativa não
viu foi a declaração de responsabilidade patrimonial do Esta-
são crimes de responsabilidade. Trata-se de punição na
do por ato baseado em lei declarada, posteriormente, como
esfera cível, não criminal. Por isso, caso o ato configure
inconstitucional. Assim, a edição de lei inconstitucional pode
simultaneamente um ato de improbidade administrativa
obrigar o Estado a reparar os prejuízos dela decorrentes. Fora
dessa hipótese, o que se tem é a não-obrigação de indenizar. desta lei e um crime previsto na legislação penal, o que
A sentença não pode propiciar qualquer ressarcimento é comum no caso do artigo 9°, responderá o agente por
por eventuais danos que possa acarretar às partes ou a ter- ambos, nas duas esferas.
ceiros. Devem ser ressalvadas as hipóteses de condenações Em suma, a lei encontra-se estruturada da seguinte
pessoais injustas, cuja absolvição é obtida em revisão criminal forma: inicialmente, trata das vítimas possíveis (sujeito pas-
(CF, art. 5º, LXXV). Observe-se, que nos casos em que o Juiz, a sivo) e daqueles que podem praticar os atos de improbida-
exemplo do que prevê o art. 133 do Código de Processo Civil, de administrativa (sujeito ativo); ainda, aborda a reparação
responde, pessoalmente, por dolo, fraude, recusa, omissão ou do dano ao lesionado e o ressarcimento ao patrimônio
retardamento injustificado de atos ou providências de seu ofí- público; após, traz a tipologia dos atos de improbidade ad-
cio, não se tem responsabilidade patrimonial do Estado. A res- ministrativa, isto é, enumera condutas de tal natureza; se-
ponsabilidade é do Juiz, não se transmitindo ao Estado”46. guindo-se à definição das sanções aplicáveis; e, finalmente,
descreve os procedimentos administrativo e judicial.
46 http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/903/Res- 47 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional
ponsabilidade-Civil-do-Estado esquematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.

114
DIREITO ADMINISTRATIVO

LEI N° 8.429 DE 2 DE JUNHO DE 1992 Ele poderá estar vinculado a qualquer instituição ou órgão
Dispõe sobre as sanções aplicáveis aos agentes públicos que desempenhe diretamente o interesse do Estado. Assim, es-
nos casos de enriquecimento ilícito no exercício de man- tão incluídos todos os integrantes da administração direta, indi-
dato, cargo, emprego ou função na administração públi- reta e fundacional, conforme o preâmbulo da legislação. Pode
ca direta, indireta ou fundacional e dá outras providências. até mesmo ser uma entidade privada que desempenhe tais
O preâmbulo da lei em estudo já traz alguns elementos fins, desde que a verba de criação ou custeio tenha sido ou
importantes para a sua boa compreensão: seja pública em mais de50% do patrimônio ou receita anual.
a) o agente público pode estar exercendo mandato, Caso a verba pública que tenha auxiliado uma entidade
quando for eleito para tanto; cargo, no caso de um conjun- privada a qual o Estado não tenha concorrido para criação
to de atribuições e responsabilidades conferido a um servi- ou custeio, também haverá sujeição às penalidades da lei. Em
dor submetido a regime estatutário (é o caso do ingresso caso de custeio/criação pelo Estado que seja inferior a 50%
por concurso); emprego público, se o servidor se submeter do patrimônio ou receita anual, a legislação ainda se aplica. En-
tretanto, nestes dois casos, a sanção patrimonial se limitará
a regime celetista (CLT); funçãopública, que corresponde à
ao que o ilícito repercutiu sobre a contribuição dos cofres públi-
categoria residual, valendo para o servidor que tenha tais
cos. Significa que se o prejuízo causado for maior que a efetiva
atribuições e responsabilidades mas não exerça cargo ou
contribuição por parte do poder público, o ressarcimento terá
emprego público. Percebe-se que o conceito de agente pú- que ser buscado por outra via que não a ação de improbidade
blico que se sujeita à lei é o mais amplo possível. administrativa.
b) o exercício pode se dar na administração direta, in- Basicamente, o dispositivo enumera os principais sujeitos
direta ou fundacional. A administração pública apresenta passivos do ato de improbidade administrativa, dividindo-os
uma estrutura direta e outra indireta, com seus respectivos em três grupos: a) pessoas da administração direta, diretamen-
órgãos. Por exemplo, são órgãos da administração direta os te vinculados a União, Estados, Distrito Federal ou Municípios;
ministérios e secretarias, isto é, os órgãos que compõem a b) pessoas da administração indireta, isto é, autarquias, funda-
estrutura do Executivo, Legislativo ou Judiciário; são inte- ções públicas, empresas públicas e sociedades de economia
grantes da administração indireta as autarquias, fundações mista; c) pessoa cuja criação ou custeio o erário tenha contri-
públicas, empresas públicas e sociedades de economia mis- buído com mais de 50% do patrimônio ou receita naquele ano.
ta. No parágrafo único, a lei enumera os sujeitos passivos se-
cundários, que são: a) entidades que recebam subvenção, be-
CAPÍTULO I nefício ou incentivo creditício pelo Estado; b) pessoa cuja cria-
Das Disposições Gerais ção ou custeio o erário tenha contribuído com menos de 50%
do patrimônio ou receita naquele ano.
Art. 1° Os atos de improbidade praticados por qualquer Art. 2° Reputa-se agente público, para os efeitos desta lei,
agente público, servidor ou não, contra a administração todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem
direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação
da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, de ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, manda-
Território, de empresa incorporada ao patrimônio público to, cargo, emprego ou função nas entidades mencionadas no
ou de entidade para cuja criação ou custeio o erário haja artigo anterior.
concorrido ou concorra com mais de cinquenta por cento Art. 3° As disposições desta lei são aplicáveis, no que couber,
do patrimônio ou da receita anual, serão punidos na forma àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou con-
desta lei. corra para a prática do ato de improbidade ou dele se beneficie
sob qualquer forma direta ou indireta.
Parágrafo único. Estão também sujeitos às penalidades
Os sujeitos ativos do ato de improbidade administrativa se
desta lei os atos de improbidade praticados contra o patri-
dividem em duas categorias: os agentes públicos, definidos no
mônio de entidade que receba subvenção, benefício ou
art. 2°, e os terceiros, enumerados no art. 3°.
incentivo, fiscal ou creditício, de órgão público bem como “Denomina-se sujeito ativo aquele que pratica o ato de im-
daquelas para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido probidade, concorre para sua prática ou dele extrai vantagens
ou concorra com menos de cinquenta por cento do patrimô- indevidas. É o autor ímprobo da conduta. Em alguns casos, não
nio ou da receita anual, limitando-se, nestes casos, a sanção pratica o ato em si, mas oferece sua colaboração, ciente da de-
patrimonial à repercussão do ilícito sobre a contribuição dos sonestidade do comportamento, Em outros, obtém benefícios
cofres públicos. do ato de improbidade, muito embora sabedor de sua origem
“Sujeito passivo é a pessoa que a lei indica como víti- escusa”49.
ma do ato de improbidade administrativa”. A lei adota uma A ampla denominação de agentes públicos conferida pela
noção ampla, pela qual são abrangidas entidades que, sem lei de improbidade administrativa apenas tem efeito para os
integrarem a Administração, possuem alguma espécie de fins desta lei, ou seja, visando a imputação dos atos de impro-
conexão com ela.48 bidade administrativa. Percebe-se a amplitude pelos elementos
O agente público pode ser ou não um servidor público. do conceito:
O conceito de agente público é melhor delimitado no artigo a) Tempo: exercício transitório ou definitivo;
seguinte. b) Remuneração: existente ou não;
48 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de 49 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen ju- direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen ju-
ris, 2010. ris, 2010.

115
DIREITO ADMINISTRATIVO

c) Espécie de vínculo: por eleição, nomeação, designa- Parágrafo único. A indisponibilidade a que se refere o
ção, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou caput deste artigo recairá sobre bens que assegurem o integral
vínculo, mandato, cargo, emprego ou função; ressarcimento do dano, ou sobre o acréscimo patrimonial re-
d) Local do exercício: em qualquer entidade que possa sultante do enriquecimento ilícito.
ser sujeito passivo. Por exemplo, o funcionário de uma ONG Será oferecida representação ao Ministério Público para
criada pelo Estado é considerado agente público para os que ele postule a indisponibilidade dos bens do indiciado, de
efeitos desta lei. modo a garantir que ele não aliene seu patrimônio para não
O terceiro, por sua vez, é aquele que pratica as condutas reparar o ilícito. Por indisponibilidade entende-se bloquear
de induzir ou concorrer em relação ao agente público, ou os bens para que não sejam vendidos ou deteriorados, ga-
seja, incentivando-o ou mesmo participando diretamente do rantindo que o dano possa ser reparado quando da conde-
ilícito. Este terceiro jamais será pessoa jurídica, deve necessa- nação judicial.
riamente ser pessoa física. A indisponibilidade será suficiente para dar integral res-
Art. 4° Os agentes públicos de qualquer nível ou hierarquia sarcimento ao dano ou retirar todo o acréscimo patrimonial
são obrigados a velar pela estrita observância dos princípios de resultante do ilícito.
legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade no Art. 8° O sucessor daquele que causar lesão ao patrimô-
trato dos assuntos que lhe são afetos. nio público ou se enriquecer ilicitamente está sujeito às comi-
Trata-se de referência expressa aos princípios do art. 37, nações desta lei até o limite do valor da herança.
caput, CF. Não se menciona apenas o princípio da eficiência, Caso o sujeito ativo faleça no curso da ação de impro-
o que não significa que possa ser desrespeitado, afinal, ele é bidade administrativa, os herdeiros arcarão com o dever de
abrangido indiretamente. ressarcir o dano, claro, nos limites dos bens que ele deixar
Art. 5° Ocorrendo lesão ao patrimônio público por ação ou como herança.
omissão, dolosa ou culposa, do agente ou de terceiro, dar-se-á
o integral ressarcimento do dano. CAPÍTULO II
Integral ressarcimento do dano é a devolução corrigida Dos Atos de Improbidade Administrativa
monetariamente de todos os valores que foram retirados do
patrimônio público. No entanto, destaca-se que a lei garante Como não é possível ser desonesto sem saber que se
não só o integral ressarcimento, mas também a devolução do está agindo desta forma, o elemento comum a todas as hi-
enriquecimento ilícito: mesmo que a pessoa não cause pre- póteses de improbidade administrativa é o dolo, que consiste
juízo direto ao erário, mas lucre com um ato de improbidade na intenção do agente em praticar o ato desonesto (alguns
administrativa, os valores devem ir para os cofres públicos. entendem como inconstitucionais todas as referências a con-
Art. 6° No caso de enriquecimento ilícito, perderá o agen- dutas culposas - inclusive parte do STJ).
te público ou terceiro beneficiário os bens ou valores acresci- Os atos de improbidade administrativa foram divididos em
dos ao seu patrimônio. três grupos, nos artigos 9°, 10 e 11, conforme a gravidade do
Estabelece o artigo 186 do Código Civil: “aquele que, por ato, indo do grupo mais grave ao menos grave. A cada grupo é
ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, vio- aplicada uma espécie diferente de sanção no caso de confirma-
lar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente ção da prática do ato apurada na esfera administrativa.
moral, comete ato ilícito”. Este é o artigo central do instituto Nos três artigos do capítulo II, enquanto o caput traz as
denominado responsabilidade civil, que tem como elemen- condutas genéricas, os incisos delimitam condutas específi-
tos: ação ou omissão voluntária (agir como não se deve ou cas, que nada mais são do que exemplos de situações do
deixar de agir como se deve), culpa ou dolo do agente (dolo caput, logo, os incisos são uma relação meramente exempli-
é a vontade de cometer uma violação de direito e culpa é ficativa50, sendo suficiente bem compreender como encon-
a falta de diligência), nexo causal (relação de causa e efeito trar os requisitos genéricos para fins de provas.
entre a ação/omissão e o dano causado) e dano (dano é o
prejuízo sofrido pelo agente, que pode ser individual ou co- Seção I
letivo, moral ou material, econômico e não econômico). É a Dos Atos de Improbidade Administrativa que Im-
este instituto que se relacionam as sanções da perda de bens portam Enriquecimento Ilícito
e valores e de ressarcimento integral do dano.
O tipo de dano que é causado pelo agente ao Estado é Art. 9° Constitui ato de improbidade administrativa
o material. No caso, há um correspondente financeiro dire- importando enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de
to, de modo que a condenação será no sentido de pagar ao vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de
Estado o equivalente ao prejuízo causado. cargo, mandato, função, emprego ou atividade nas entida-
O agente público e o terceiro que com ele concorra res-
des mencionadas no art. 1° desta lei, e notadamente:
ponderão pelos danos causados ao erário público com seu
O grupo mais grave de atos de improbidade adminis-
patrimônio. Inclusive, perderão os valores patrimoniais acres-
cidos devido à prática do ato ilícito. O dano causado deverá trativa se caracteriza pelos elementos: enriquecimento +
ser ressarcido em sua totalidade. ilícito + resultante de uma vantagem patrimonial indevi-
Art. 7° Quando o ato de improbidade causar lesão ao da + em razão do exercício de cargo, mandato, emprego,
patrimônio público ou ensejar enriquecimento ilícito, caberá função ou outra atividade nas entidades do artigo 1°:
a autoridade administrativa responsável pelo inquérito repre- 50 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
sentar ao Ministério Público, para a indisponibilidade direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen ju-
dos bens do indiciado.
ris, 2010.

116
DIREITO ADMINISTRATIVO

a) O enriquecimento deve ser ilícito, afinal, o Estado No inciso II, o Estado que compra, troca ou aluga bem
não se opõe que o indivíduo enriqueça, desde que obede- móvel ou imóvel para sua utilização acima do preço de
ça aos ditames morais, notadamente no desempenho de mercado; no inciso III, um bem móvel ou imóvel perten-
função de interesse estatal. cente ao Estado é vendido, trocado ou alugado em preço
b) Exige-se que o sujeito obtenha vantagem patrimo- inferior ao de mercado.
nial ilícita. Contudo, é dispensável que efetivamente tenha IV - utilizar, em obra ou serviço particular, veículos, má-
ocorrido dano aos cofres públicos (por exemplo, quando quinas, equipamentos ou material de qualquer natureza,
um policial recebe propina pratica ato de improbidade ad- de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades
ministrativa, mas não atinge diretamente os cofres públi- mencionadas no art. 1° desta lei, bem como o trabalho de
cos). servidores públicos, empregados ou terceiros contratados
c) É preciso que a conduta se consume, ou seja, que por essas entidades;
realmente exista o enriquecimento ilícito decorrente de Todo aparato dos órgãos públicos serve para atender
uma vantagem patrimonial indevida. ao Estado e, consequentemente, à preservação do bem
d) Como fica difícil imaginar que alguém possa se en- comum na sociedade. Logo, quando um servidor público
riquecer ilicitamente por negligência, imprudência ou im- utiliza esta estrutura material ou pessoal para atender aos
perícia, todas as condutas configuram atos dolosos (com seus próprios interesses, causa prejuízo direto aos cofres
intenção). públicos e obtém uma vantagem indevida (a natural van-
e) Não cabe prática por omissão.51 tagem decorrente do uso de algo que não lhe pertence).
Entende Carvalho Filho52 que no caso do art. 9° o requi- V - receber vantagem econômica de qualquer natureza,
sito é o enriquecimento ilícito, ao passo que “o pressuposto direta ou indireta, para tolerar a exploração ou a prática de
exigível do tipo é a percepção de vantagem patrimonial jogos de azar, de lenocínio, de narcotráfico, de contrabando,
ilícita obtida pelo exercício da função pública em geral. de usura ou de qualquer outra atividade ilícita,
Pressuposto dispensável é o dano ao erário”. O elemento Nenhum ato administrativo pode ser praticado ou
subjetivo é o dolo, pois fica difícil imaginar que um servidor omitido para facilitar condutas como lenocínio (explorar,
obtenha vantagem indevida por negligência, imprudência estimular ou facilitar a prostituição), narcotráfico (envolver-
ou imperícia (culpa). Da mesma forma, é incompatível com -se em atividades no mundo das drogas, como venda e
a conduta omissiva, aceitando apenas a comissiva (ação). distribuição), contrabando (importar ou exportar mercado-
ATENÇÃO: todas as condutas descritas abaixo são me- ria proibida), usura (agiotagem, fornecer dinheiro a juros
ros exemplos de condutas compostas pelos elementos absurdos) ou qualquer outra atividade ilícita. Se, ainda por
genéricos da cabeça do artigo. Com efeito, estando eles cima, se obter vantagem indevida pela tolerância da prá-
presentes, não importa a ausência de dispositivo expresso tica do ilícito, resta caracterizado um ato de improbidade
no rol abaixo. administrativa da espécie mais grave, ora descrita neste art.
I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel 9° em estudo.
ou imóvel, ou qualquer outra vantagem econômica, direta VI - receber vantagem econômica de qualquer natureza,
ou indireta, a título de comissão, percentagem, gratificação direta ou indireta, para fazer declaração falsa sobre medição
ou presente de quem tenha interesse, direto ou indireto, que ou avaliação em obras públicas ou qualquer outro serviço,
possa ser atingido ou amparado por ação ou omissão decor- ou sobre quantidade, peso, medida, qualidade ou caracterís-
rente das atribuições do agente público; tica de mercadorias ou bens fornecidos a qualquer das enti-
Significa receber qualquer vantagem econômica, inclu- dades mencionadas no art. 1º desta lei;
sive presentes, de pessoas que tenham interesse direto ou Da mesma forma, é vedado o recebimento de vanta-
indireto em que o agente público faça ou deixe de fazer gens para fazer declarações falsas na avaliação de obras e
alguma coisa. serviços em geral.
II - perceber vantagem econômica, direta ou indireta,
para facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem mó- VII - adquirir, para si ou para outrem, no exercício de
vel ou imóvel, ou a contratação de serviços pelas entidades
mandato, cargo, emprego ou função pública, bens de qual-
referidas no art. 1° por preço superior ao valor de mercado;
quer natureza cujo valor seja desproporcional à evolução do
III - perceber vantagem econômica, direta ou indireta,
para facilitar a alienação, permuta ou locação de bem pú- patrimônio ou à renda do agente público;
blico ou o fornecimento de serviço por ente estatal por preço A desproporção entre o rendimento percebido no
inferior ao valor de mercado; exercício das funções e o patrimônio acumulado é um for-
Tratam-se de espécies da conduta do inciso anterior, te indício da percepção indevida de vantagens. Claro, se
na qual o fim visado é permitir a aquisição, alienação, troca comprovada que a desproporção se deu por outros moti-
ou locação de bem móvel ou imóvel por preço diverso ao vos lícitos, não há ato de improbidade administrativa (por
de mercado. Percebe-se um ato de improbidade que causa exemplo, ganhar na loteria ou receber uma boa herança).
prejuízo direto ao erário. VIII - aceitar emprego, comissão ou exercer atividade de
51 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Administrativo. consultoria ou assessoramento para pessoa física ou jurídica
13. ed. São Paulo: Método, 2011. que tenha interesse suscetível de ser atingido ou amparado
52 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de por ação ou omissão decorrente das atribuições do agente
direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen ju- público, durante a atividade;
ris, 2010.

117
DIREITO ADMINISTRATIVO

O agente público não pode trabalhar em funções in- b) É preciso que seja causado dano a uma das pessoas do
compatíveis com as que desempenha para o Estado, no- art. 1° da lei. No entanto, o enriquecimento ilícito é dispensável.
tadamente quando isso influenciar nas atitudes por ele to- c) O crime pode ser praticado por ação ou omissão.
madas no exercício das funções públicas. Afinal, aceitando O objeto da tutela é a preservação do patrimônio público,
uma posição que comprometa sua imparcialidade, o agen- em todos seus bens e valores. O pressuposto exigível é a ocor-
te prejudicará o interesse público. rência de dano ao patrimônio dos sujeitos passivos.
IX - perceber vantagem econômica para intermediar a Este artigo admite expressamente a variante culposa, o
liberação ou aplicação de verba pública de qualquer natu- que muitos entendem ser inconstitucional. O STJ, no REsp n°
939.142/RJ, apontou alguns aspectos da inconstitucionalidade
reza;
do artigo. Contudo, “a jurisprudência do STJ consolidou a tese
Para que as verbas públicas sejam liberadas ou apli-
de que é indispensável a existência de dolo nas condutas des-
cadas há todo um procedimento estabelecido em lei, não
critas nos artigos 9º e 11 e ao menos de culpa nas hipóteses
cabendo ao servidor violá-lo e muito menos receber van- do artigo 10, nas quais o dano ao erário precisa ser compro-
tagem por tal violação. Há improbidade, por exemplo, na vado. De acordo com o ministro Castro Meira, a conduta cul-
fraude em licitação. posa ocorre quando o agente não pretende atingir o resultado
X - receber vantagem econômica de qualquer natureza, danoso, mas atua com negligência, imprudência ou imperícia
direta ou indiretamente, para omitir ato de ofício, providên- (REsp n° 1.127.143)”55. Para Carvalho Filho56, não há inconstitu-
cia ou declaração a que esteja obrigado; cionalidade na modalidade culposa, lembrando que é possível
A percepção de vantagem econômica para omitir qual- dosar a pena conforme o agente aja com dolo ou culpa.
quer ato que seja obrigado a praticar caracteriza ato de O ponto central é lembrar que neste artigo não se exige
improbidade administrativa. que o sujeito ativo tenha percebido vantagens indevidas, basta
XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio o dano ao erário. Se tiver recebido vantagem indevida, incide
bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patri- no artigo anterior. Exceto pela não percepção da vantagem in-
monial das entidades mencionadas no art. 1° desta lei; devida, os tipos exemplificados se aproximam muito dos pre-
XII - usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou vistos nos incisos do art. 9°.
valores integrantes do acervo patrimonial das entidades I - facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incorpo-
mencionadas no art. 1° desta lei. ração ao patrimônio particular, de pessoa física ou jurídica, de
Como visto, todo o aparato material e financeiro pro- bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimo-
nial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei;
piciado para o desempenho das funções públicas perten-
II - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídi-
cem à máquina estatal e devem servir ao bem comum, não
ca privada utilize bens, rendas, verbas ou valores integrantes do
cabendo a utilização em proveito próprio, o que gera uma acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta
natural vantagem econômica, sob pena de incidir em im- lei, sem a observância das formalidades legais ou regulamenta-
probidade administrativa. res aplicáveis à espécie;
III - doar à pessoa física ou jurídica bem como ao ente des-
Seção II personalizado, ainda que de fins educativos ou assistências, bens,
Dos Atos de Improbidade Administrativa que Cau- rendas, verbas ou valores do patrimônio de qualquer das entida-
sam Prejuízo ao Erário des mencionadas no art. 1º desta lei, sem observância das for-
malidades legais e regulamentares aplicáveis à espécie;
Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que Todos os bens, rendas, verbas e valores que integram a es-
causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou trutura da administração pública somente devem ser utilizados
culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, por ela. Por isso, não cabe a incorporação de seu patrimônio ao
malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das acervo de qualquer pessoa física ou jurídica e mesmo a simples
entidades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente: utilização deve obedecer aos ditames legais. Quem agir, apro-
O grupo intermediário de atos de improbidade admi- veitando da função pública, de modo a permitir tais situações,
nistrativa se caracteriza pelos elementos: causar dano ao incide em ato de improbidade administrativa, ainda que não re-
erário ou aos cofres públicos + gerando perda patrimo- ceba nenhuma vantagem por seu ato (havendo enriquecimen-
nial ou dilapidação do patrimônio público. Assim como to ilícito, está presente um ato do art. 9°, categoria mais grave).
o artigo anterior, o caput descreve a fórmula genérica e
os incisos algumas atitudes específicas que exemplificam direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen ju-
o seu conteúdo.53 ris, 2010.
a) Perda patrimonial é o gênero, do qual são espécies: 55 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Impro-
desvio, que é o direcionamento indevido; apropriação, que bidade administrativa: desonestidade na gestão dos
é a transferência indevida para a própria propriedade; mal- recursos públicos. Disponível em: <http://www.stj.gov.br/
baratamento, que significa desperdício; e dilapidação, que portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.tex-
se refere a destruição.54 to=103422>. Acesso em: 26 mar. 2013.
53 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Administrativo. 56 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
13. ed. São Paulo: Método, 2011. direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen ju-
54 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de ris, 2010.

118
DIREITO ADMINISTRATIVO

Aliás, nem ao menos importa se o ato é benéfico, por XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se
exemplo, uma doação. O patrimônio público deve ser preser- enriqueça ilicitamente;
vado e sua transmissão/utilização deve obedecer a legislação Como visto, quanto o agente público obtém vantagem
vigente. própria, direta ou indireta, incide nas hipóteses mais graves
IV - permitir ou facilitar a alienação, permuta ou locação de do artigo anterior. Caso concorde com o enriquecimento
bem integrante do patrimônio de qualquer das entidades referi- ilícito de terceiro, por exemplo, seu superior hierárquico,
das no art. 1º desta lei, ou ainda a prestação de serviço por parte ou colabore para que ele ocorra, também cometerá ato de
delas, por preço inferior ao de mercado; improbidade administrativa, embora de menor gravidade.
V - permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação de XIII - permitir que se utilize, em obra ou serviço particu-
bem ou serviço por preço superior ao de mercado; lar, veículos, máquinas, equipamentos ou material de qual-
Incisos diretamente correlatos aos incisos II e III do artigo quer natureza, de propriedade ou à disposição de qualquer
anterior, exceto pelo fato do sujeito ativo não perceber vanta- das entidades mencionadas no art. 1° desta lei, bem como o
gem indevida pela sua conduta. Aliás, é exatamente pela falta trabalho de servidor público, empregados ou terceiros con-
deste elemento que o ato se enquadra na categoria interme- tratados por essas entidades.
diária, e não mais grave, dentro da classificação das improbi- Não se deve permitir que terceiros utilizem do aparato
dades. da máquina estatal, tanto material quanto pessoal, mesmo
VI - realizar operação financeira sem observância das nor- que não se obtenha vantagem alguma com tal concessão.
mas legais e regulamentares ou aceitar garantia insuficiente ou XIV – celebrar contrato ou outro instrumento que tenha
inidônea; por objeto a prestação de serviços públicos por meio da gestão
VII - conceder benefício administrativo ou fiscal sem a ob- associada sem observar as formalidades previstas na lei;
servância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis XV – celebrar contrato de rateio de consórcio público sem
à espécie; suficiente e prévia dotação orçamentária, ou sem observar as
A realização de operações financeiras, como a liberação formalidades previstas na lei.
de verbas e o investimento destas, e a concessão de benefícios A celebração de contratos de qualquer natureza compro-
são papéis muito importantes desempenhados pelo agente mete diretamente o orçamento público, causando prejuízo ao
público, que deverá cumprir estritamente a lei. erário. Por isso, deve-se obedecer as prescrições legais que
VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou de processo disciplinam a celebração de contratos administrativos, deli-
seletivo para celebração de parcerias com entidades sem fins berando com responsabilidade a respeito das contratações
lucrativos, ou dispensá-los indevidamente; (Alterado pela Lei nº necessárias e úteis ao bem comum.
13.019 de 31 de julho de 2014) XVI - facilitar ou concorrer, por qualquer forma, para a incorpo-
Processo licitatório é aquele em que se realiza a licitação, ração, ao patrimônio particular de pessoa física ou jurídica, de bens,
procedimento detalhado prescrito em lei pelo qual o Estado rendas, verbas ou valores públicos transferidos pela administração
contrata serviços, adquire produtos, aliena bens, etc. A finalida- pública a entidades privadas mediante celebração de parcerias, sem
de de cumprir o procedimento legal de forma estrita é garan- a observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis
tir a preservação do interesse da sociedade, não cabendo ao à espécie;(Incluído pela Lei nº 13.019 de 31 de julho de 2014)
agente público passar por cima destas regras (Lei n° 8.666/93). XVII - permitir ou concorrer para que pessoa física ou ju-
IX - ordenar ou permitir a realização de despesas não auto- rídica privada utilize bens, rendas, verbas ou valores públicos
rizadas em lei ou regulamento; transferidos pela administração pública a entidade privada me-
Todas as despesas que podem ser assumidas pelo Poder diante celebração de parcerias, sem a observância das forma-
Público encontram respectiva previsão em alguma lei ou dire- lidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie; (Incluído
triz orçamentária. pela Lei nº 13.019 de 31 de julho de 2014)
X - agir negligentemente na arrecadação de tributo ou ren- XVIII - celebrar parcerias da administração pública com
da, bem como no que diz respeito à conservação do patrimônio entidades privadas sem a observância das formalidades legais
público; ou regulamentares aplicáveis à espécie; (Incluído pela Lei nº
A arrecadação de tributos é essencial para a manutenção 13.019 de 31 de julho de 2014)
da máquina estatal, não podendo o agente público ser negli- XIX - frustrar a licitude de processo seletivo para celebração de par-
gente (se omitir, deixar de ser zeloso) no que tange ao levan- cerias da administração pública com entidades privadas ou dispensá-lo
tamento desta renda. indevidamente; (Incluído pela Lei nº 13.019 de 31 de julho de 2014)
XI - liberar verba pública sem a estrita observância das nor- XX - agir negligentemente na celebração, fiscalização e
mas pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua apli- análise das prestações de contas de parcerias firmadas pela ad-
cação irregular; ministração pública com entidades privadas; (Incluído pela Lei
Para que as verbas públicas sejam aplicadas é preciso obe- nº 13.019 de 31 de julho de 2014)
decer o procedimento previsto em lei, preservando o interesse XXI - liberar recursos de parcerias firmadas pela administra-
estatal. ção pública com entidades privadas sem a estrita observância das
Dos incisos VI a XI resta clara a marca desta categoria in- normas pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua apli-
termediária de atos de improbidade administrativa: que seja cação irregular. (Incluído pela Lei nº 13.019 de 31 de julho de 2014)
causado prejuízo ao erário, sem que o agente responsável pelo
dano receba vantagem indevida. A questão é preservar o inte-
resse estatal, garantindo que os bens e verbas públicas sejam
corretamente utilizados, arrecadados e investidos.

119
DIREITO ADMINISTRATIVO

Seção II-A Na verdade, trata-se de tipo subsidiário, ou seja, que se


Dos Atos de Improbidade Administrativa Decorrentes aplica quando o ato de improbidade administrativa não tiver
de Concessão ou Aplicação Indevida de Benefício Finan- gerado obtenção de vantagem indevida ou dano ao erário.
ceiro ou Tributário I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento
(Incluído pela Lei Complementar nº 157, de 2016) ou diverso daquele previsto, na regra de competência;
II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de
Art. 10-A. Constitui ato de improbidade administrativa ofício;
qualquer ação ou omissão para conceder, aplicar ou man- III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em
ter benefício financeiro ou tributário contrário ao que dis- razão das atribuições e que deva permanecer em segredo;
põem o caput e o § 1º do art. 8º-A da Lei Complementar nº IV - negar publicidade aos atos oficiais;
116, de 31 de julho de 2003. V - frustrar a licitude de concurso público;
Art. 8º-A. A alíquota mínima do Imposto sobre Ser- VI - deixar de prestar contas quando esteja obrigado a fa-
viços de Qualquer Natureza é de 2% (dois por cento). zê-lo;
§ 1º O imposto não será objeto de concessão de isen- VII - revelar ou permitir que chegue ao conhecimento de
ções, incentivos ou benefícios tributários ou financeiros, in- terceiro, antes da respectiva divulgação oficial, teor de medida
clusive de redução de base de cálculo ou de crédito presu- política ou econômica capaz de afetar o preço de mercadoria,
mido ou outorgado, ou sob qualquer outra forma que resul- bem ou serviço.
te, direta ou indiretamente, em carga tributária menor que a VIII - descumprir as normas relativas à celebração, fiscali-
decorrente da aplicação da alíquota mínima estabelecida no zação e aprovação de contas de parcerias firmadas pela admi-
caput, exceto para os serviços a que se referem os subitens nistração pública com entidades privadas.
7.02, 7.05 e 16.01 da lista anexa a esta Lei Complementar. IX - deixar de cumprir a exigência de requisitos de acessi-
bilidade previstos na legislação.
Uma das alterações recentes à disciplina do ISS visou
É possível perceber, no rol exemplificativo de condutas
evitar a continuidade da guerra fiscal entre os municípios,
do artigo 11, que o agente público que pratique qualquer ato
fixando-se a alíquota mínima em 2%.
contrário aos ditames da ética, notadamente os originários
Com efeito, os municípios não poderão fixar dentro de
nos princípios administrativos constitucionais, pratica ato de
sua competência constitucional alíquotas inferiores a 2%
improbidade administrativa.
para atrair e fomentar investimentos novos (incentivo fis-
Com efeito, são deveres funcionais: praticar atos visando
cal), prejudicando os municípios vizinhos. o bem comum, agir com efetividade e rapidez, manter sigilo
Em razão disso, tipifica-se como ato de improbidade a respeito dos fatos que tenha conhecimento devido a sua
administrativa a eventual concessão do benefício abaixo da função, tornar públicos os atos oficiais, zelar pela boa realiza-
alíquota mínima. ção de atos administrativos em geral (como a realização de
concurso público), prestar contas, entre outros.
Seção III
Dos Atos de Improbidade Administrativa que Aten- CAPÍTULO III
tam Contra os Princípios da Administração Pública Das Penas
Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que Art. 12.  Independentemente das sanções penais, civis e
atenta contra os princípios da administração pública qual- administrativas previstas na legislação específica, está o res-
quer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, ponsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes comina-
imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e no- ções, que podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, de
tadamente: acordo com a gravidade do fato:
O grupo mais ameno de atos de improbidade adminis- I - na hipótese do art. 9°, perda dos bens ou valores
trativa se caracteriza pela simples violação a princípios da acrescidos ilicitamente ao patrimônio, ressarcimento in-
administração pública, ou seja, aplica-se a qualquer ati- tegral do dano, quando houver, perda da função pública,
tude do sujeito ativo que viole os ditames éticos do servi- suspensão dos direitos políticos de oito a dez anos, pagamento
ço público. Isto é, o legislador pretende a preservação dos de multa civil de até três vezes o valor do acréscimo patrimo-
princípios gerais da administração pública.57 nial e proibição de contratar com o Poder Público ou receber
a) O objeto de tutela são os princípios constitucionais; benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indire-
b) Basta a vulneração em si dos princípios, sendo dis- tamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual
pensáveis o enriquecimento ilícito e o dano ao erário; seja sócio majoritário, pelo prazo de dez anos;
c) Somente é possível a prática de algum destes atos II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do
com dolo (intenção); dano, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente
d) Cabe a prática por ação ou omissão. ao patrimônio, se concorrer esta circunstância, perda da
Será preciso utilizar razoabilidade e proporcionalidade função pública, suspensão dos direitos políticos de cinco a
para não permitir a caracterização de abuso de poder, dian- oito anos, pagamento de multa civil de até duas vezes o va-
te do conteúdo aberto do dispositivo. lor do dano e proibição de contratar com o Poder Público ou
receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou
indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da
57 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Administrativo.
qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos;
13. ed. São Paulo: Método, 2011.

120
DIREITO ADMINISTRATIVO

III - na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do dano, se houver, perda da função pública, suspensão dos direi-
tos políticos de três a cinco anos, pagamento de multa civil de até cem vezes o valor da remuneração percebida pelo agente e
proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente,
ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três anos.
IV - na hipótese prevista no art. 10-A, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de 5 (cinco) a 8 (oito)
anos e multa civil de até 3 (três) vezes o valor do benefício financeiro ou tributário concedido. (Incluído pela Lei Complementar
nº 157, de 2016)
Parágrafo único. Na fixação das penas previstas nesta lei o juiz levará em conta a extensão do dano causado, assim como
o proveito patrimonial obtido pelo agente.
As sanções da Lei de Improbidade Administrativa são de natureza extrapenal e, portanto, têm caráter civil.
Como visto, no caso do art. 9°, categoria mais grave, o agente obtém um enriquecimento ilícito (vantagem econômica
indevida) e pode ainda causar dano ao erário, por isso, deverá não só reparar eventual dano causado mas também colocar
nos cofres públicos tudo o que adquiriu indevidamente. Ou seja, poderá pagar somente o que enriqueceu indevidamente
ou este valor acrescido do valor do prejuízo causado aos cofres públicos (quanto o Estado perdeu ou deixou de ganhar).
No caso do artigo 10, não haverá enriquecimento ilícito, mas sempre existirá dano ao erário, o qual será reparado (even-
tualmente, ocorrerá o enriquecimento ilícito, devendo o valor adquirido ser tomado pelo Estado). Já no artigo 11, o máximo
que pode ocorrer é o dano ao erário, com o devido ressarcimento. Na hipótese do artigo 10-A, não se denota nem enri-
quecimento ilícito e nem dano ao erário, pois no máximo a prática de guerra fiscal pode gerar

Em todos os casos há perda da função pública.


Nas três categorias iniciais, são estabelecidas sanções de suspensão dos direitos políticos, multa e vedação de contra-
tação ou percepção de vantagem, graduadas conforme a gravidade do ato, enquanto que na quarta categoria apenas se
prevê a suspensão de direitos políticos e a multa:

Artigo 9° Artigo 10 Artigo 10-A Artigo 11


Suspensão de direitos
8 a 9 anos 5 a 8 anos 5 a 8 anos 3 a 5 anos
políticos
Até 3X o Até 3X o valor do Até 100X o valor
Até 2X o dano
Multa enriquecimento benefício financeiro ou da remuneração do
causado.
experimentado tributário concedido agente
Vedação de
contratação ou 10 anos 5 anos – 3 anos
vantagem

Vale lembrar a disciplina constitucional das sanções por atos de improbidade administrativa, que se encontra no art.
37, § 4º, CF:
Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indis-
ponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.
ATENÇÃO: a única sanção que se encontra prevista na LIA mas não na CF é a de multa. (art. 37, §4°, CF). Não há ne-
nhuma inconstitucionalidade disto, pois nada impediria de o legislador infraconstitucional ampliasse a relação mínima de
penalidades da Constituição, pois esta não limitou tal possibilidade e porque a lei é o instrumento adequado para tanto58.
Carvalho Filho59 tece considerações a respeito de algumas das sanções:
a) Perda de bens e valores: “tal punição só incide sobre os bens acrescidos após a prática do ato de improbidade. Se
alcançasse anteriores, ocorreria confisco, o que restaria sem escora constitucional. Além disso, o acréscimo deve derivar de
origem ilícita”.
b) Ressarcimento integral do dano: há quem entenda que engloba dano moral. Cabe acréscimo de correção monetária
e juros de mora.
c) Perda de função pública: “se o agente é titular de mandato, a perda se processa pelo instrumento de cassação. Sendo
servidor estatutário, sujeitar-se-á à demissão do serviço público. Havendo contrato de trabalho (servidores trabalhistas e
temporários), a perda da função pública se consubstancia pela rescisão do contrato com culpa do empregado. No caso de
exercer apenas uma função pública, fora de tais situações, a perda se dará pela revogação da designação”. Lembra-se que
determinadas autoridades se sujeitam a procedimento especial para perda da função pública, ponto em que não se aplica
a Lei de Improbidade Administrativa.
58 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris,
2010.
59 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris,
2010.

121
DIREITO ADMINISTRATIVO

d) Multa: a lei indica inflexibilidade no limite máximo, CAPÍTULO V


mas flexibilidade dentro deste limite, podendo os julgados Do Procedimento Administrativo e do Processo
nesta margem optar pela mais adequada. Há ainda va- Judicial
riabilidade na base de cálculo, conforme o tipo de ato de
improbidade (a base será o valor do enriquecimento ou o Desde logo, destaca-se que o procedimento na via ad-
valor do dano ou o valor da remuneração do agente). A ministrativa não tem idoneidade para ensejar a aplicação
natureza da multa é de sanção civil, não possuindo caráter de sanções de improbidade. Após o encerramento do pro-
indenizatório, mas punitivo. cesso administrativo, deverá ser ajuizada ação de impro-
e) Proibição de receber benefícios: não se incluem as bidade administrativa. Na sentença judicial será possível
imunidades genéricas e o agente punido deve ser ao me- aplicar as sanções da lei de improbidade administrativa.60
nos sócio majoritário da instituição vitimada. Art. 14. Qualquer pessoa poderá representar à autori-
f) Proibição de contratar: o agente punido não pode dade administrativa competente para que seja instaurada
investigação destinada a apurar a prática de ato de impro-
participar de processos licitatórios.
bidade.
O artigo 14 repete um direito assegurado na Constitui-
CAPÍTULO IV
ção Federal, qual seja o direito de representação, previsto
Da Declaração de Bens
no art. 5°, XXXIV, a: “são a todos assegurados, independen-
temente do pagamento de taxas: a) o direito de petição aos
Art. 13. A posse e o exercício de agente público ficam
Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalida-
condicionados à apresentação de declaração dos bens e de ou abuso de poder; [...]”. Logo, se o art. 14 não existisse,
valores que compõem o seu patrimônio privado, a fim de ser ainda seria possível que o particular representasse o agente
arquivada no serviço de pessoal competente. público.
§ 1° A declaração compreenderá imóveis, móveis, se- § 1º A representação, que será escrita ou reduzida a ter-
moventes, dinheiro, títulos, ações, e qualquer outra espécie mo e assinada, conterá a qualificação do representante, as
de bens e valores patrimoniais, localizado no País ou no informações sobre o fato e sua autoria e a indicação das
exterior, e, quando for o caso, abrangerá os bens e valores provas de que tenha conhecimento.
patrimoniais do cônjuge ou companheiro, dos filhos e de § 2º A autoridade administrativa rejeitará a representa-
outras pessoas que vivam sob a dependência econômica ção, em despacho fundamentado, se esta não contiver as
do declarante, excluídos apenas os objetos e utensílios de formalidades estabelecidas no § 1º deste artigo. A rejeição
uso doméstico. não impede a representação ao Ministério Público, nos ter-
§ 2º A declaração de bens será anualmente atualizada mos do art. 22 desta lei.
e na data em que o agente público deixar o exercício do O §1° delimita o conteúdo da representação que, se não
mandato, cargo, emprego ou função. respeitado, será rejeitado pela autoridade administrativa
§ 3º Será punido com a pena de demissão, a bem do (§2°). Ainda assim, em caso de rejeição, será possível repre-
serviço público, sem prejuízo de outras sanções cabíveis, sentar ao Ministério Público. Supondo, por exemplo, que a
o agente público que se recusar a prestar declaração dos pessoa não queira se identificar - a representação será rejei-
bens, dentro do prazo determinado, ou que a prestar falsa. tada, mas o Ministério Público poderá apurar o fato.
§ 4º O declarante, a seu critério, poderá entregar cópia As exigências do §1° servem para evitar denúncias irres-
da declaração anual de bens apresentada à Delegacia da ponsáveis e coibir acusações levianas. Somente o Ministério
Receita Federal na conformidade da legislação do Imposto Público poderá instaurar procedimento para apurar uma
sobre a Renda e proventos de qualquer natureza, com as denúncia anônima.
necessárias atualizações, para suprir a exigência contida no § 3º Atendidos os requisitos da representação, a autori-
caput e no § 2° deste artigo. dade determinará a imediata apuração dos fatos que, em se
tratando de servidores federais, será processada na forma
Para que uma pessoa tome posse e exerça o cargo de
prevista nos arts. 148 a 182 da Lei nº 8.112, de 11 de dezem-
agente público deve apresentar declaração de bens que
bro de 1990 e, em se tratando de servidor militar, de acordo
deverá ser renovada anualmente (§2°) sob pena de demis-
com os respectivos regulamentos disciplinares.
são (§3°). Assim, trata-se de condição para o exercício das O §3° remete à existência de regras próprias do proces-
atribuições de agente público. so administrativo disciplinar para as diferentes categorias
A finalidade é a de assegurar que o agente público não de servidores. Por exemplo, aos servidores públicos federais
receba vantagens indevidas, possuindo instrumento para será aplicada a Lei n° 8.112/90.
fiscalizá-lo caso o faça.
Os bens abrangidos pela declaração não são apenas os Art. 15. A comissão processante dará conhecimento ao
do agente público, mas também os de seus dependentes. Ministério Público e ao Tribunal ou Conselho de Contas da
Por isso, não adiantará nada o agente colocar os bens de- existência de procedimento administrativo para apurar a
correntes do enriquecimento ilícito em nome de pessoas prática de ato de improbidade.
que dele dependam, e não em seu nome.

60 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de


direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen ju-
ris, 2010.

122
DIREITO ADMINISTRATIVO

Parágrafo único. O Ministério Público ou Tribunal ou Con- Caso tenha sido postulada alguma medida cautelar, o
selho de Contas poderá, a requerimento, designar representan- prazo para que seja ajuizada a ação de improbidade ad-
te para acompanhar o procedimento administrativo. ministrativa é de 30 dias, sob pena de perda da eficácia da
A lei fala em comissão processante, mas o órgão encar- medida (bens e verbas são desbloqueados).
regado do processo de investigação pode receber outra no- A legitimidade ativa é concorrente, porque a ação
menclatura conforme o sistema funcional de cada entidade61. pode ser proposta tanto pelo Ministério Público quanto
O importante é saber que este órgão terá que informar pela pessoa jurídica interessada.
ao Ministério Público e ao Tribunal de Contas a existência do A legitimidade passiva é daquele que cometeu o ato
procedimento administrativo apurando o ato de improbida- de improbidade.
de, que poderão designar representante para acompanhá-lo. No pedido, se postulará, primeiro, o reconhecimento
O objetivo da lei foi contribuiu para a formação da convicção do ato de improbidade administrativa, depois, a aplicação
dos representantes destes órgãos desde logo. das sanções cabíveis.
Art. 16. Havendo fundados indícios de responsabilidade, a § 1º É vedada a transação, acordo ou conciliação nas
comissão representará ao Ministério Público ou à procuradoria ações de que trata o caput.
do órgão para que requeira ao juízo competente a decretação Não é permitido fazer acordos porque a apuração do
do seqüestro dos bens do agente ou terceiro que tenha enri- ato de improbidade administrativa é de interesse público,
quecido ilicitamente ou causado dano ao patrimônio público. sobre o qual não se pode transacionar. Seria absurdo al-
§ 1º O pedido de sequestro será processado de acordo guém prejudicar o erário e se livrar da condenação judicial
com o disposto nos arts. 822 e 825 do Código de Processo apenas por ter aceitado um acordo quando descoberto seu
Civil. ato.
§ 2° Quando for o caso, o pedido incluirá a investigação, § 2º A Fazenda Pública, quando for o caso, promoverá
o exame e o bloqueio de bens, contas bancárias e aplicações as ações necessárias à complementação do ressarcimento
financeiras mantidas pelo indiciado no exterior, nos termos do patrimônio público.
da lei e dos tratados internacionais. Caso não tenha sido totalmente recomposto o patri-
Se existirem indício veementes da prática do ato de im- mônio com a ação de improbidade, a Fazenda Pública ajui-
probidade administrativa, a comissão processante poderá zará ação própria.
representar ao Ministério Público ou ao órgão jurídico da § 3°  No caso de a ação principal ter sido proposta pelo
pessoa lesada para que estes postulem o sequestro/arresto Ministério Público, aplica-se, no que couber, o disposto no
de bens do terceiro ou agente que tenham enriquecido ilici- § 3o do art. 6o da Lei no 4.717, de 29 de junho de 1965.
tamente. Dispõe o art. 6°, §3° da Lei n° 4.717/65:
O arresto parece ser uma medida mais adequada (arts. A pessoa jurídica de direito público ou de direito priva-
813 a 821, CPC), por ser uma garantia geral dos credores, ou do, cujo ato seja objeto de impugnação, poderá abster-se de
seja, por ser mais abrangente. contestar o pedido, ou poderá atuar ao lado do autor, desde
Vale lembrar a possibilidade prevista no art. 7° desta lei que isso se afigure útil ao interesse público, a juízo do respec-
no sentido de representar ao Ministério Público para postular tivo representante legal ou dirigente.
a indisponibilidade de bens. Significa que é possível inverter a legitimidade, sendo
Este artigo e o artigo 7° abrem possibilidade para que que a pessoa jurídica inicia o processo como legitimado
seja tomada qualquer medida cautelar que vise impedir a passivo, mas, como é invertido o interesse processual, pas-
deterioração e a dilapidação do patrimônio do causador do sa para o polo ativo. No entanto, como pessoa jurídica não
dano, assegurando sua reparação futura. figura como ré de ação de improbidade administrativa, so-
O procedimento administrativo se encontra disciplinado mente cabe a aplicação do dispositivo no sentido de auto-
dos artigos 14 a 16, encerrando-se neste ponto. A partir da- rizar que a pessoa jurídica reforce o pedido de reconheci-
qui, trata-se da ação de improbidade administrativa que deve mento de improbidade e de aplicação de sanções ao lado
tramitar na via judicial (artigos 17 e 18). do Ministério Público.
Art. 17. A ação principal, que terá o rito ordinário, será § 4º O Ministério Público, se não intervir no processo
proposta pelo Ministério Público ou pela pessoa jurídica inte- como parte, atuará obrigatoriamente, como fiscal da lei,
ressada, dentro de trinta dias da efetivação da medida cautelar. sob pena de nulidade.
“Ação de improbidade administrativa é aquela que pre- A atuação do Ministério Público nos processos judiciais
tende o reconhecimento judicial de condutas de improbida- pode ser como parte, quando ajuizar a ação, e como fis-
de da Administração, perpetradas por administradores públi- cal da lei, quando outro legitimado o fizer. No caso, como
cos e terceiros, e a consequente aplicação das sanções legais, também a pessoa jurídica de direito público prejudicada
com o escopo de preservar o princípio da moralidade admi- pode ajuizar a ação, se o fizer, o Ministério Público atuará
nistrativa. Sem dúvida, cuida-se de poderoso instrumentos como fiscal da lei, sob pena de nulidade.
de controle judicial sobre atos que a lei caracteriza como de §  5o  A propositura da ação prevenirá a jurisdição do
improbidade”62. juízo para todas as ações posteriormente intentadas que
61 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de possuam a mesma causa de pedir ou o mesmo objeto.
direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen ju-
ris, 2010. direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen ju-
62 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de ris, 2010.

123
DIREITO ADMINISTRATIVO

Tornar o juízo prevento é assegurar que todas as ações § 1° O Presidente e o Vice-Presidente da República, os
que sejam propostas com mesma causa de pedir (fatos e presidentes do Senado Federal, da Câmara dos Deputados e
fundamentos jurídicos) ou mesmo objeto sejam julgadas do Supremo Tribunal Federal poderão optar pela prestação de
pelo mesmo juízo. Será prevento o juízo em que primeiro depoimento por escrito, caso em que as perguntas, formula-
for proposta a ação. das pelas partes e deferidas pelo juiz, Ihes serão transmitidas
§  6o  A ação será instruída com documentos ou jus- por ofício.
tificação que contenham indícios suficientes da existência Percebe-se que os dispositivos tratam da tomada de de-
do ato de improbidade ou com razões fundamentadas da poimentos de determinados agentes públicos.
impossibilidade de apresentação de qualquer dessas pro- § 13. Para os efeitos deste artigo, também se considera
vas, observada a legislação vigente, inclusive as disposições pessoa jurídica interessada o ente tributante que figurar no
inscritas nos arts. 16 a 18 do Código de Processo Civil. polo ativo da obrigação tributária de que tratam o § 4º do
art. 3º e o art. 8º-A da Lei Complementar nº 116, de 31 de
A ação de improbidade administrativa será instruída
julho de 2003. (Incluído pela Lei Complementar nº 157, de 2016)
com provas do ato de improbidade administrativa prati-
O §4º do artigo 3º mencionado foi vetado. Interpretando
cado, geralmente o processo administrativo que tramitou
o artigo 8º-A, entende-se ser legitimada para propositura da
anteriormente. Todas estas provas serão explicadas, funda- ação a pessoa jurídica de direito público que seria beneficiada
mentando porque restou caracterizado o ato de improbi- pela alíquota que deveria ter sido recolhida na esfera de seu
dade. município pois nele que o prestador se encontrava.
§  7o  Estando a inicial em devida forma, o juiz man- Art. 18. A sentença que julgar procedente ação civil de repa-
dará autuá-la e ordenará a notificação do requerido, para ração de dano ou decretar a perda dos bens havidos ilicitamente
oferecer manifestação por escrito, que poderá ser instruída determinará o pagamento ou a reversão dos bens, conforme o
com documentos e justificações, dentro do prazo de quin- caso, em favor da pessoa jurídica prejudicada pelo ilícito.
ze dias. Na verdade, este dispositivo apenas lembra algumas das
Se a petição inicial preencher os requisitos do pará- sanções que poderão ser aplicadas na sentença da ação de im-
grafo anterior e os demais requisitos processuais civis, o probidade administrativa. Não significa que as demais sanções
requerido será notificado para se manifestar por escrito e, previstas nesta lei não sejam aplicáveis.
se quiser, apresentar documentos.
§ 8o  Recebida a manifestação, o juiz, no prazo de trinta CAPÍTULO VI
dias, em decisão fundamentada, rejeitará a ação, se con- Das Disposições Penais
vencido da inexistência do ato de improbidade, da impro-
cedência da ação ou da inadequação da via eleita. Art. 19. Constitui crime a representação por ato de impro-
§ 9o  Recebida a petição inicial, será o réu citado para bidade contra agente público ou terceiro beneficiário, quando o
apresentar contestação. autor da denúncia o sabe inocente.
Se o juiz se convencer com as informações da mani- Pena: detenção de seis a dez meses e multa.
festação do requerido, rejeitará a ação; se não, receberá Parágrafo único. Além da sanção penal, o denunciante está
definitivamente a petição inicial e determinará a citação do sujeito a indenizar o denunciado pelos danos materiais, morais
réu para contestar a ação. ou à imagem que houver provocado.
§ 10  Da decisão que receber a petição inicial, caberá A legislação pretende que as denúncias de atos de im-
probidade administrativas sejam sérias e fundamentadas, não
agravo de instrumento.
levianas. O art. 19 introduz um tipo penal, ele não faz parte
Agravo de instrumento é o recurso interposto contra
exatamente das outras penalidades da lei, por isso exatamente
decisões que não colocam fim no processo.
que está apartado das demais.
§ 11 Em qualquer fase do processo, reconhecida a ina- Este crime será denunciado e apurado perante um juízo
dequação da ação de improbidade, o juiz extinguirá o pro- criminal, fora da ação de improbidade administrativa. O artigo
cesso sem julgamento do mérito. 19 é um crime a ser denunciado em ação penal pública pro-
Durante o processo o juiz pode perceber que a ação posta pelo Ministério Público, único legitimado.
de improbidade administrativa não deveria ter sido aceita, Na verdade, ele não passa de uma forma específica da de-
caso em que a extinguirá. nunciação caluniosa do Código Penal.
§ 12.  Aplica-se aos depoimentos ou inquirições reali- Art. 339, CP. Dar causa à instauração de investigação poli-
zadas nos processos regidos por esta Lei o disposto no art. cial, de processo judicial, instauração de investigação adminis-
221, caput e § 1o, do Código de Processo Penal. trativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa
Dispõem o artigo 221, caput e §1° do CPP: contra alguém, imputando-lhe crime de que o sabe inocente.
O Presidente e o Vice-Presidente da República, os sena- Pena - reclusão de 2 a 8 anos e multa.
dores e deputados federais, os ministros de Estado, os gover- Art. 20. A perda da função pública e a suspensão dos direi-
nadores de Estados e Territórios, os secretários de Estado, os tos políticos só se efetivam com o trânsito em julgado da senten-
prefeitos do Distrito Federal e dos Municípios, os deputados ça condenatória.
às Assembléias Legislativas Estaduais, os membros do Po- Parágrafo único. A autoridade judicial ou administrativa
der Judiciário, os ministros e juízes dos Tribunais de Contas competente poderá determinar o afastamento do agente públi-
da União, dos Estados, do Distrito Federal, bem como os do co do exercício do cargo, emprego ou função, sem prejuízo da
Tribunal Marítimo serão inquiridos em local, dia e hora pre- remuneração, quando a medida se fizer necessária à instrução
viamente ajustados entre eles e o juiz. processual.

124
DIREITO ADMINISTRATIVO

Não cabe, em regra, tomar medida cautelar para suspen-


der direitos políticos e determinar a perda da função pública. CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
O máximo que é possível, visando garantir a instrução pro-
cessual, é afastar o agente público do exercício do cargo sem
prejuízo da remuneração enquanto tramita a ação de impro-
bidade administrativa. Controle da Administração Pública é o exercício de vigi-
Art. 21. A aplicação das sanções previstas nesta lei inde- lância, orientação e revisão sobre a conduta funcional, exerci-
pende: do por um poder, órgão ou autoridade pública com relação a
I - da efetiva ocorrência de dano ao patrimônio público, outro.
salvo quanto à pena de ressarcimento; “O controle do Estado pode ser exercido através de duas
II - da aprovação ou rejeição das contas pelo órgão de con- formas distintas, que merecem ser desde logo diferenciadas.
trole interno ou pelo Tribunal ou Conselho de Contas. De um lado, temos o controle político, aquele que tem por
Não importa se o ato praticado pelo agente não causou base a necessidade de equilíbrio entre os Poderes estruturais
dano ao erário, tanto que existem os atos da categoria mais da República – o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Nesse
leve (artigo 11). controle, cujo delineamento se encontra na Constituição, pon-
Também é irrelevante se o Tribunal de Contas aprovou ou tifica o sistema de freios e contrapesos, nele se estabelecendo
rejeitou as contas prestadas pelo agente, embora isto sirva de normas que inibem o crescimento de qualquer um deles em
elemento de prova. detrimento de outro e que permitem a compensação de even-
Art. 22. Para apurar qualquer ilícito previsto nesta lei, o tuais pontos de debilidade de um para não deixá-lo sucumbir à
Ministério Público, de ofício, a requerimento de autoridade ad- força de outro. São realmente freios e contrapesos dos Poderes
ministrativa ou mediante representação formulada de acordo políticos. [...] O que ressalta de todos esses casos é a demons-
com o disposto no art. 14, poderá requisitar a instauração de tração do caráter que tem o controle político: seu objetivo é
inquérito policial ou procedimento administrativo. a preservação e o equilíbrio das instituições democráticas do
O Ministério Público poderá requisitar a instauração de país. O controle administrativo tem linhas diversas. Nele
inquérito policial ou procedimento administrativo de ofício, a não se procede a nenhuma medida para estabilizar poderes
pedido da autoridade administrativa ou mediante represen- políticos, mas, ao contrário, se pretende alvejar os órgãos in-
tação. cumbidos de exercer uma das funções do Estado – a função
administrativa. Enquanto o controle político se relaciona com
CAPÍTULO VII as instituições políticas, o controle administrativo é direciona-
Da Prescrição do às instituições administrativas. [...] Podemos denominar de
controle da Administração Pública o conjunto de mecanismos
Art. 23. As ações destinadas a levar a efeitos as sanções jurídicos e administrativos por meio dos quais se exerce o
previstas nesta lei podem ser propostas: poder de fiscalização e de revisão da atividade administra-
I - até cinco anos após o término do exercício de mandato, tiva em qualquer das esferas de Poder”63.
de cargo em comissão ou de função de confiança; O princípio da legalidade e o princípio das políticas admi-
II - dentro do prazo prescricional previsto em lei específica nistrativas, juntos, fundamentam o Controle da Administração
para faltas disciplinares puníveis com demissão a bem do servi- Pública. Neste sentido, “mais precisamente, a ideia central,
ço público, nos casos de exercício de cargo efetivo ou emprego. quando se fala em controle da Administração Pública, reside no
Prescrição é um instituto que visa regular a perda do di- fato de que o titular do patrimônio público (material e imaterial)
reito de acionar judicialmente. é o povo, e não a Administração, razão pela qual ela se sujeita,
A ação de improbidade administrativa não poderá ser em toda a sua atuação, sem qualquer exceção, ao princípio da
proposta se: a) prescrição no caso de cargo provisório - passa- indisponibilidade do interesse público”64.
dos 5 anos após o término do exercício de mandato, cargo em
comissão ou função de confiança pelo réu; b) prescrição no Elementos e natureza jurídica do controle
caso de cargo definitivo - dentro do prazo prescricional pre- Segundo Carvalho Filho65, dois são os elementos básicos
visto em lei específica para faltas disciplinares puníveis com do controle: a fiscalização e a revisão. “A fiscalização e a revisão
demissão a bem do serviço público (por exemplo, na esfera são os elementos básicos do controle. A fiscalização consiste
federal, o prazo é de 5 anos a contar da data em que o fato se no poder de verificação que se faz sobre a atividade dos órgãos
tornou conhecido). e dos agentes administrativos, bem como em relação à finali-
dade pública que deve servir de objetivo para a Administração.
CAPÍTULO VIII A revisão é o poder de corrigir as condutas administrativas, seja
Das Disposições Finais porque tenham vulnerado normas legais, seja porque haja ne-
cessidade de alterar alguma linha das políticas administrativas
Art. 24. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação. para que melhor seja atendido o interesse coletivo”.
Art. 25. Ficam revogadas as Leis n°s 3.164, de 1° de junho 63 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Ad-
de 1957, e 3.502, de 21 de dezembro de 1958 e demais dispo- ministrativo. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2015.
sições em contrário. 64 ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito Adminis-
trativo Descomplicado. 16. ed. São Paulo: Método, 2008.
Rio de Janeiro, 2 de junho de 1992; 171° da Independência 65 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Ad-
e 104° da República. ministrativo. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2015.

125
DIREITO ADMINISTRATIVO

Para o autor, a natureza jurídica do controle é de princí- Conforme o momento a ser exercido
pio fundamental da administração pública, conforme teor do a) Controle prévio ou preventivo: exercido antes do
próprio Decreto-lei nº 200/1967, que assegura também que o início da prática ou antes da conclusão do ato administrativo.
controle deve ser exercido em todos níveis e em todos órgãos. b) Controle concomitante: exercido durante a realiza-
ção do ato, verificando a sua validade enquanto ele é prati-
Classificação das formas de controle cado.
c) Controle posterior ou corretivo: busca rever os atos
“O poder-dever de controle é exercitável por todos os Po- já praticados, corrigindo, desfazendo ou confirmando. En-
deres da República, estendendo-se a toda a atividade adminis- volve atos como os de aprovação, homologação, anulação,
trativa (vale lembrar, há atividade administrativa em todos os revogação ou convalidação.
Poderes) e abrangendo todos os seus agentes. Por esse motivo,
diversas são as formas pelas quais o controle se exercita, sendo, Conforme a amplitude ou a natureza do controle
destarte, inúmeras as denominações adotadas” 66. a) Controle de legalidade: verifica se o ato foi praticado
em conformidade com a lei. O controle pode ser interno ou
Conforme o âmbito da administração externo. O resultado final é a confirmação ou a rejeição do
a) Por subordinação: exercido por meio dos patamares de ato, anulando-o.
hierarquia dentro da mesma Administração. Trata-se de contro- b) Controle de mérito: visa verificar a oportunidade e a
le tipicamente interno. conveniência administrativas do ato controlado. Trata-se do
b) Por vinculação: exercido por uma pessoa a qual são controle sobre a atuação discricionária da Administração Pú-
atribuídos poderes de fiscalização e revisão em relação a pessoa blica, mantendo-o ou revogando-o. Diz-se que o Judiciário
diversa. Trata-se de controle tipicamente externo. não pode fazer este controle, o que é verdade, em termos: o
Judiciário não pode controlar a atividade discricionária que
Conforme a iniciativa é legítima, mas se ela exceder parâmetros de razoabilidade
a) De ofício: executado pela própria Administração quando e proporcionalidade pode fazê-lo. Nesta questão se insere a
está regularmente exercendo as suas funções. Afinal, a Adminis- polêmica sobre o controle judicial de políticas públicas.
tração tem a prerrogativa da autotutela, que a permite invalidar É o controle exercido pela Administração quanto aos
ou revogar suas condutas de ofício (súmulas 346 e 473, STF). seus próprios atos. Ou seja, é o exercido pelo Poder Executi-
b) Provocado: ocorre mediante provocação de terceiro, vo, pelo Poder Legislativo e pelo Poder Judiciário quanto aos
postulando a revisão do ato administrativo dito ilegal ou incon- seus próprios atos, tanto no que tange à legalidade quanto
veniente. em relação à conveniência. É sempre um controle interno,
que deriva do poder-dever de autotutela.
Conforme a origem ou a extensão do controle Entre os meios de controle, destacam-se:
a) Controle interno: é aquele realizado pelas autoridades - Fiscalização Hierárquica: esse meio de controle é ine-
no âmbito do próprio órgão ou entidade em que atuam no âm- rente ao poder hierárquico, ocorrendo o exercício dos órgãos
bito da administração. Exemplo: chefe que na repartição con- superiores em relação aos inferiores;
trola os seus subordinados; corregedoria que faz inspeção em - Controle ou Supervisão Ministerial: aplicável nas enti-
um fórum. dades de administração indireta vinculadas a um Ministério,
Basicamente, sempre se está diante de controle interno não havendo subordinação;
quando um Poder exerce controle sobre ele mesmo, isto é, Judi- - Recursos Administrativos: serve para provocar o reexa-
ciário fiscalizando Judiciário, Legislativo fiscalizando Legislativo me do ato administrativo pela própria Administração Pública.
e Executivo fiscalizando Executivo. - Direito de petição: é um direito fundamental conferido
Quando, no exercício do controle interno, uma autoridade a toda pessoa de defender seus direitos e noticiar ilegalida-
ocultar uma irregularidade ou ilegalidade da entidade respon- des e abusos (artigo 5º, XXXIV, CF). Pode ser exercido por di-
sável pelo controle externo, notadamente um Tribunal de Con- versas vias, como representação (denúncia de irregularidade
tas, haverá responsabilidade solidária entre a autoridade que perante a Administração, Tribunal de Contas ou outro órgão
praticou a ocultação e a autoridade que praticou o ilícito. de controle), reclamação administrativa (oposição expressa a
b) Controle externo: é aquele realizado por um Poder que ato administrativo que ofenda direito ou interesse legítimo,
é diferente do Poder fiscalizado, exteriorizando um sistema de podendo ser interposta perante o Supremo Tribunal Federal
freios e contrapesos. É o caso do controle de atos do Executivo se o ato administrativo contrariar súmula vinculante), pedido
por decisões do Poder Judiciário, ou mesmo da sustação de ato de reconsideração (solicitação de mudança da decisão pela
normativo do Executivo pelo Legislativo, além do julgamento própria autoridade que praticou um ato), recurso hierárquico
de contas do Presidente da República pelo Congresso Nacional, próprio (solicitação de mudança da decisão por autoridade
e de auditorias do Tribunal de Contas da União quanto ao Exe- hierarquicamente superior àquela que praticou o ato), recur-
cutivo federal. so hierárquico impróprio (solicitação de mudança da deci-
c) Controle externo popular: realizado pelo contribuinte são por autoridade diversa, com competência especificada
pelo acesso das contas públicas (artigo 31, §3º, CF; artigo 74, em lei, porém não hierarquicamente superior àquela que
§2º, CF). praticou o ato), revisão (solicitação de alteração em punição
aplicada pela Administração no exercício do poder disciplinar
66 ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito Adminis-
trativo Descomplicado. 16. ed. São Paulo: Método, 2008. diante do surgimento de fatos novos).

126
DIREITO ADMINISTRATIVO

- Controle social: é aquele exercido pela própria socieda- Súmula 429, STF. A existência de recurso administrativo
de, em demanda emanada de grupos sociais, no exercício da com efeito suspensivo não impede o uso do mandado de
atividade democrática que tem amparo constitucional nota- segurança contra omissão da autoridade.
damente na garantia pelo artigo 37, §3º, CF de edição de lei
que regule formas de participação do usuário na administra- Ressalta-se, complementando o teor da súmula, que
ção direta e indireta. Entre as formas que já são trazidas por nada impede o uso simultâneo das esferas administrativa e
algumas leis, como a Lei nº 9.784/1999 sobre o processo ad- judicial, considerando que são independentes entre si. Aliás,
ministrativo federal, estão as audiências e consultas públicas. apenas existem duas hipóteses em que o esgotamento dos
Neste âmbito do controle social, é possível fixar uma divisão recursos administrativos é imposto: trata-se de demanda
entre controle natural, feito pela população em si, e controle perante a justiça desportiva, conforme o artigo 217, §1º,
institucional, feito por órgãos em atuação por legitimidade CF; se ocorre contrariedade de súmula vinculante na via ad-
extraordinária, como o Ministério Público e a Defensoria Pú- ministrativa e o administrado pretende invoca-la mediante
blica. reclamação, conforme artigo 7º, §1º, Lei nº 11.417/2006. Em
todos os demais casos, tal exigência é proibida.
Recurso de administração Outra questão que merece ser abordada no campo dos
Recursos administrativos são meios hábeis que podem recursos administrativos é a da reformatio in pejus, ou
ser utilizados para provocar o reexame do ato administrativo, seja, da reforma da decisão tomada pela administração de
pela PRÓPRIA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. Conforme con- modo a agravar a situação do administrado. Devido a pre-
ceitua Carvalho Filho67, “são os meios formais de controle visão expressa na Lei nº 9.784/1999, a reformatio in pejus
administrativo, através dos quais o interessado postula, jun- em recurso administrativo modificando a decisão recorrida
to a órgãos da Administração, a revisão de determinado ato é permitida, mas o recorrente deverá ter oportunidade de
administrativo”. É necessário, para recorrer, que o interessado manifestar-se antes dele ocorrer; já em se tratando de refor-
tenha tido a sua pretensão contrariada pela administração, matio in pejus em processo de revisão, há vedação. Quanto
logo, é da essência do recurso a manifestação de inconfor- à possibilidade de gravame na primeira hipótese, a doutrina
mismo, retratando ilegalidade ou abuso do poder público.
afirma que apenas é permitida a reformatio in pejus caso o
Os principais recursos de administração são os seguintes:
ato inferior tenha sido praticado em desconformidade com
representação, em que se faz denúncia de irregularidades
a lei, considerados critérios objetivos, sendo assim proibida
feita perante o poder público; reclamação, em que há oposi-
a reformatio in pejus caso seja feita apenas nova avaliação
ção expressa a atos da administração que afetam direitos ou
subjetiva.
interesses legítimos do interessado; pedido de reconside-
Último ponto que se coloca tange à coisa julgada ad-
ração, em que se solicita reexame à mesma autoridade que
praticou o ato; recurso hierárquico próprio, que se dirige à ministrativa, que basicamente é uma “situação jurídica pela
autoridade ou instância superior do mesmo órgão adminis- qual determinada decisão firmada pela Administração não
trativo em que foi praticado o ato; recurso hierárquico im- mais pode ser modificada na via administrativa”68, embora
próprio, que se dirige à autoridade ou órgão estranho à re- o possa na via judicial; diferenciando-se da coisa julgada ju-
partição que expediu o ato recorrido, mas com competência risdicional, cujo caráter definitivo impede a rediscussão da
julgadora expressa; e revisão, em que se busca a alteração de matéria em qualquer via.
punição aplicada pela Administração no exercício do poder
disciplinar diante do surgimento de fatos novos, abrindo-se Reclamação
novo processo. Segundo Di Pietro69, “a reclamação administrativa é o
Outra classificação relevante é a que separa os recursos ato pelo qual o administrado, seja particular ou servidor pú-
mencionados em duas categorias: recursos incidentais, que blico, deduz uma pretensão perante a Administração Públi-
são interpostos quando o processo administrativo está em ca, visando obter o reconhecimento de um direito ou a cor-
curso e o inconformismo é contra um ato nele praticado (en- reção de um erro que lhe cause lesão ou ameaça de lesão”.
quadram-se aqui o pedido de reconsideração, o recurso hie- A primeira referência à reclamação no ordenamento
rárquico próprio e o recurso hierárquico impróprio); recursos está no Decreto nº 20.910/1932, que fixa o prazo de 1 ano
deflagradores ou autônomos, que são aqueles que forma- para que ocorra a prescrição:
lizam a própria abertura de processo (enquadram-se aqui a
reclamação, a representação e a revisão). Art. 5º Não tem efeito de suspender a prescrição a demo-
ra do titular do direito ou do crédito ou do seu representante
Vale apontar sobre os efeitos dos recursos administra- em prestar os esclarecimentos que lhe forem reclamados ou
tivos: em regra, terão apenas efeito devolutivo, pois os o fato de não promover o andamento do feito judicial ou do
atos administrativos têm em seu favor a presunção de legiti- processo administrativo durante os prazos respectivamente
midade; excepcionalmente, caso concedido pela autoridade estabelecidos para extinção do seu direito à ação ou recla-
competente, terá efeito suspensivo. Vale destacar que caso mação.
o recurso tenha efeito suspensivo, também o prazo prescri-
cional ficará suspenso, enquanto que se o efeito for apenas
devolutivo irá continuar correndo. 68 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Ad-
ministrativo. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2015.
67 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Ad- 69 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo.
ministrativo. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2015. 23. ed. São Paulo: Atlas editora, 2010.

127
DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 6º O direito à reclamação administrativa, que não Art. 992.  Julgando procedente a reclamação, o tribunal
tiver prazo fixado em disposição de lei para ser formulada, cassará a decisão exorbitante de seu julgado ou determinará
prescreve em um ano a contar da data do ato ou fato do medida adequada à solução da controvérsia.
qual a mesma se originar. Art. 993.  O presidente do tribunal determinará o ime-
diato cumprimento da decisão, lavrando-se o acórdão pos-
Entretanto, a reclamação se torna um instrumento mais teriormente.
usual com a fixação em lei da possibilidade de sua apresen- Logo, a reclamação é uma forma bastante diferenciada
tação ao Supremo Tribunal Federal se o ato administrativo de controle da administração porque é exercido tipicamen-
contrariar súmula vinculante. As hipóteses de reclamação te por órgão externo sem superioridade hierárquica, nota-
são ampliadas pelo Código de Processo Civil de 2015: damente, tribunal que componha o Poder Judiciário. Por
isso, autores como Carvalho Filho70 afirmam que se trata
Art. 988. Caberá reclamação da parte interessada ou do mais de controle jurisdicional do que de controle adminis-
Ministério Público para: trativo.
I - preservar a competência do tribunal;
II - garantir a autoridade das decisões do tribunal; Pedido de reconsideração e recurso hierárquico
III – garantir a observância de enunciado de súmula vin- próprio e impróprio
culante e de decisão do Supremo Tribunal Federal em controle Todos são espécies do gênero direito de petição, que
concentrado de constitucionalidade; confere o direito fundamental de toda pessoa buscar pe-
IV – garantir a observância de acórdão proferido em jul- rante a administração a alteração de um ato administrativo
gamento de incidente de resolução de demandas repetitivas ou representar a prática de ato ilegal ou abusivo.
ou de incidente de assunção de competência; Art. 5º, XXXIV, CF. São a todos assegurados, independen-
§ 1o A reclamação pode ser proposta perante qualquer temente do pagamento de taxas: a) o direito de petição aos
tribunal, e seu julgamento compete ao órgão jurisdicional Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade
cuja competência se busca preservar ou cuja autoridade se ou abuso de poder; b) a obtenção de certidões em reparti-
ções públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de
pretenda garantir.
situações de interesse pessoal.
§ 2o A reclamação deverá ser instruída com prova docu-
O direito de petição deve resultar em uma manifesta-
mental e dirigida ao presidente do tribunal.
ção do Estado, normalmente dirimindo (resolvendo) uma
§ 3o Assim que recebida, a reclamação será autuada e dis-
questão proposta, em um verdadeiro exercício contínuo
tribuída ao relator do processo principal, sempre que possível.
de delimitação dos direitos e obrigações que regulam a
§ 4o As hipóteses dos incisos III e IV compreendem a apli- vida social e, desta maneira, quando “dificulta a aprecia-
cação indevida da tese jurídica e sua não aplicação aos casos ção de um pedido que um cidadão quer apresentar” (mui-
que a ela correspondam. tas vezes, embaraçando-lhe o acesso à Justiça); “demora
§ 5º É inadmissível a reclamação: para responder aos pedidos formulados” (administrativa e,
I – proposta após o trânsito em julgado da decisão recla- principalmente, judicialmente) ou “impõe restrições e/ou
mada; condições para a formulação de petição”, traz a chamada
II – proposta para garantir a observância de acórdão de insegurança jurídica, que traz desesperança e faz proliferar
recurso extraordinário com repercussão geral reconhecida ou as desigualdades e as injustiças.
de acórdão proferido em julgamento de recursos extraordiná- Dentro do espectro do direito de petição se insere, por
rio ou especial repetitivos, quando não esgotadas as instân- exemplo, o direito de solicitar esclarecimentos, de solicitar
cias ordinárias. cópias reprográficas e certidões, bem como de ofertar de-
§ 6o A inadmissibilidade ou o julgamento do recurso in- núncias de irregularidades. Contudo, o constituinte, talvez
terposto contra a decisão proferida pelo órgão reclamado não na intenção de deixar clara a obrigação dos Poderes Públi-
prejudica a reclamação. cos em fornecer certidões, trouxe a letra b) do inciso, o que
Art. 989.  Ao despachar a reclamação, o relator: gera confusões conceituais no sentido do direito de obter
I - requisitará informações da autoridade a quem for im- certidões ser dissociado do direito de petição.
putada a prática do ato impugnado, que as prestará no prazo Nas hipóteses de pedido de reconsideração, recurso
de 10 (dez) dias; hierárquico próprio e recurso hierárquico impróprio deno-
II - se necessário, ordenará a suspensão do processo ou do ta-se que o processo administrativo ainda está em curso,
ato impugnado para evitar dano irreparável; pois uma autoridade tomou uma decisão administrativa
III - determinará a citação do beneficiário da decisão im- da qual se pretende recorrer (logo, trata-se de recurso in-
pugnada, que terá prazo de 15 (quinze) dias para apresentar cidental). A diferença entre as três modalidades está na
a sua contestação. autoridade que apreciará o pedido de alteração da decisão
Art. 990.  Qualquer interessado poderá impugnar o pedi- administrativa.
do do reclamante. No pedido de reconsideração, será a própria autori-
Art. 991.  Na reclamação que não houver formulado, o dade que praticou um ato, reconsiderando nestes moldes
Ministério Público terá vista do processo por 5 (cinco) dias, a decisão que foi tomada.
após o decurso do prazo para informações e para o ofereci-
mento da contestação pelo beneficiário do ato impugnado. 70 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito ad-
ministrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.

128
DIREITO ADMINISTRATIVO

No recurso hierárquico próprio, será a autoridade Responsabilidades do parecerista e do administra-


hierarquicamente superior àquela que praticou o ato, tra- dor público pelas manifestações exaradas
tando-se de clássico exercício do poder hierárquico ineren- Para entender a controvérsia, basta pensar que se, por
te à estrutura escalonada da administração. Esta é a forma um lado, se os atos administrativos são apenas aqueles que
típica de se recorrer da decisão administrativa. exteriorizam uma declaração de vontade do Estado, esta-
No recurso hierárquico impróprio, será autoridade riam em regra excluídos os atos de juízo, conhecimento e
diversa, com competência especificada em lei, porém opinião; por outro lado, se os atos administrativos abrangem
não hierarquicamente superior àquela que praticou o ato. toda declaração do Estado, teoricamente poderiam ser en-
Na verdade, a reclamação administrativa perante o STF globados os atos de juízo, conhecimento e opinião. Os pa-
pode ser enquadrada nesta categoria. receres nada mais são do que atos que exteriorizam juízos,
conhecimentos ou opiniões.
Prescrição administrativa É possível classificar os pareceres em: parecer facultativo,
Significa perda de prazo para apresentar uma preten- quando faculta algo a alguém (geralmente autoridade supe-
são perante a Administração. No caso, o administrado não rior a inferior), não sendo obrigatória nem a sua solicitação
perde o direito, o que ocorre na decadência, mas sim a pre- e nem que se siga a opinião emanada; parecer técnico, que
tensão de postulá-lo. Pode ocorrer nos casos de perda de se diferencia do facultativo apenas no aspecto de emanar de
prazo para recorrer de decisão tomada ou revisá-la (pres- um agente especializado, com habilidade técnica específica,
crição correndo contra o administrado e a favor da admi- sem relação de hierarquia; parecer obrigatório, cuja lei obri-
nistração, convalidando seus atos), caso em que se segue a ga a sua solicitação, mas não há obrigação em se seguir a
regra da prescrição quinquenal (5 anos) prevista no artigo opinião emanada; parecer normativo, cujo caráter se torna
1º do Decreto nº 20.910; ou na hipótese de perda do prazo genérico e abstrato como uma lei; parecer vinculante, que
para o exercício do poder punitivo (prescrição correndo a nada mais é do que um parecer de solicitação obrigatória e
favor do administrado e contra a administração, que não cuja opinião necessariamente deve ser seguida.
mais poderá aplicar a punição), que é a típica prescrição Quanto à responsabilização daquele que emitiu o pare-
administrativa, e de perda de prazo para que seja adotada cer, deverá ser considerada a natureza do parecer para de-
determinada providência administrativa (prescrição cor- terminar se há ou não responsabilidade solidária. No caso
rendo a favor do administrado e contra a administração, em que o parecer não vincula o administrador, podendo este
que não mais poderá anular seus próprios atos dos quais praticar o ato seguindo ou não o posicionamento defendido
decorram efeitos benéficos aos administrados, salvo prova e sugerido por quem emitiu o parecer, este não pode ser
de má-fé). considerado responsável solidariamente com o agente que
- Poder punitivo de polícia – 5 anos (Lei nº 9.873/1999); possui a competência e atribuição para o ato administrativo
- Poder disciplinar funcional – no âmbito federal, 5 decisório. Contudo, no caso de parecer vinculante, há res-
anos (infração grave), 2 anos (infração média) ou 180 dias ponsabilidade solidária71.
(infração leve), a contar do conhecimento de sua prática O controle judicial é exercido pelo Judiciário sobre os
(Lei nº 8.112/1990); atos administrativos praticados pelo Poder Executivo, pelo
- Adoção de providência administrativa – 5 anos (Lei Poder Legislativo ou pelo próprio Poder Judiciário, quando
nº 9.784/1999). realiza atividades administrativas. Por ele, é possível se de-
cretar a anulação de um ato. Não cabe a revogação, porque
Representação e reclamação administrativas significaria análise de mérito, que o Judiciário não pode fa-
As representações e as reclamações administrativas zer.
são ambas formas de se exercer o direito de petição (art. “O controle judicial sobre atos da Administração é ex-
5º, XXXIV, CF). Em sentido genérico são, ao lado dos recur- clusivamente de legalidade. Significa dizer que o Judiciário
sos hierárquicos e do pedido de representação, espécies de tem o poder de confrontar qualquer ato administrativo com
recursos administrativos, mas que se diferenciam daqueles a lei ou com a Constituição e verificar se há ou não compati-
por serem autônomos e não incidentais. bilidade normativa. Se o ato for contrário à lei ou à Constitui-
Assim, trata-se de exercício deste direito de forma ori- ção, o Judiciário declarará a sua invalidação de modo a não
ginária (recurso deflagrador), isto é, o ato administrativo permitir que continue produzindo efeitos ilícitos. [...] O que
ilegal ou abusivo foi praticado e será denunciado pelo ad- é vedado ao Judiciário, como correntemente têm decidido
ministrado. Será a primeira vez que a estão será levada à os Tribunais, é apreciar o que se denomina normalmente de
mérito administrativo, vale dizer, a ele é interditado o po-
administração para a devida apreciação.
der de reavaliar os critérios de conveniência e oportuni-
Na representação é feita uma denúncia de irregula-
dade dos atos, que são privativos do administrador público”,
ridade, ilegalidade ou abuso de poder perante a Admi-
sob pena de se violar a cláusula fundamental da separação
nistração, Tribunal de Contas ou outro órgão de controle,
dos Poderes72.
como o Ministério Público.
Na reclamação administrativa se dá uma oposição ex- 71 CRISTóVAM, José Sérgio da Silva; MICHELS, Charliane. O pa-
recer jurídico e a atividade administrativa: Aspectos destacados acer-
pressa a ato administrativo que ofenda direito ou interesse ca da natureza jurídica, espécies e responsabilidade do parecerista.
legítimo. Âmbito Jurídico, Rio Grande, XV, n. 101, jun. 2012.
72 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito ad-
ministrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.

129
DIREITO ADMINISTRATIVO

Quanto ao momento em que o controle judicial deverá ticipe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao
ocorrer, a regra impõe que seja feito de forma posterior, patrimônio histórico e cultural. O legitimado ativo deve ser
quando os atos administrativos já estão produzindo efeitos cidadão, ou seja, aquele nacional que esteja no pleno gozo
no mundo jurídico. Em situações excepcionais o controle dos direitos políticos. O legitimado passivo é o ente da Ad-
pode ser prévio, por exemplo, quando a lei autoriza a con- ministração Pública, direta ou indireta, ou então a pessoa
cessão de liminar diante de fumus boni iuris e periculum in jurídica que de algum modo lide com a coisa pública. A
mora. regulação está na Lei nº 4.717/65.
Existem atos que se sujeitam a controle especial, são b) Ação civil pública (artigo 129, III, CF): Busca pro-
eles: teger o patrimônio público e social, o meio ambiente e
a) Atos políticos: não são atos tipicamente adminis- outros direitos difusos e coletivos. A legitimidade ativa é
trativos, mas verdadeiros atos de governo, emanados da do Ministério Público, da Defensoria Pública, das pessoas
cúpula política do país, no exercício de competências or- jurídicas da administração direta e indireta e de associação
ganizacionais-administrativas constitucionais. A peculia- constituída há pelo menos 1 ano em área de pertinência te-
ridade é que o Judiciário não pode controlar os critérios mática. A legitimidade passiva é de qualquer pessoa, física
governamentais que direcionam a edição de atos políticos. ou jurídica, que tenha cometido dano ou tenha colocado
Contudo, o controle de legalidade e o controle de consti- sob ameaça o patrimônio público e social, o meio ambiente
tucionalidade são possíveis. e outros direitos difusos e coletivos. A regulação está na Lei
b) Atos legislativos típicos: todos os atos que ema- nº 7.437/85.
nam do Poder Legislativo com caráter genérico, abstrato e c) Habeas corpus (artigo 5º, LXXVII, CF): ação que ser-
geral são passíveis de controle. Entretanto, se trata de con- ve para proteger a liberdade de locomoção. Apenas serve à
trole de constitucionalidade, que se sujeita a regras especí- lesão ou ameaça de lesão ao direito de ir e vir. Trata-se de
ficas. O sistema brasileiro adota duas vias de realização de ação constitucional de cunho predominantemente penal,
tal controle, a via da exceção, com caráter difuso, exercida pois protege o direito de ir e vir e vai contra a restrição ar-
incidentalmente sem ação específica; e a via da ação, com bitrária da liberdade. Pode ser preventivo, para os casos de
caráter concentrado, exercida por meio de ações específi- ameaça de violação ao direito de ir e vir, conferindo-se um
cas – ação direta de inconstitucionalidade, ação direta de “salvo conduto”, ou repressivo, para quando ameaça já tiver
se materializado. Legitimado ativo é qualquer pessoa pode
constitucionalidade, arguição de descumprimento de pre-
manejá-lo, em próprio nome ou de terceiro, bem como o
ceito fundamental.
Ministério Público (artigo 654, CPP). Impetrante é o que
c) Atos interna corporis: são os atos praticados dentro
ingressa com a ação e paciente é aquele que está sendo
da competência interna e exclusiva dos diversos órgãos do
vítima da restrição à liberdade de locomoção. As duas fi-
Legislativo e do Judiciário; por exemplo, as competências
guras podem se concentrar numa mesma pessoa. Legiti-
de elaboração de regimentos internos. Como os atos são
mado passivo é pessoa física, agente público ou privado.
internos e exclusivos, não é possível fazer o controle sobre
Está regulamentado nos artigos 647 a 667 do Código de
as razões que levaram à elaboração. Contudo, o controle
Processo Penal.
de vícios de ilegalidade e de inconstitucionalidade é ple-
d) Habeas data (artigo 5º, LXXII, CF): serve para pro-
namente válido.
teção do acesso a informações pessoais constantes de re-
Conforme prevê o próprio artigo 5º, XXXV, CF, “a lei
gistros ou bancos de dados de entidades governamentais
não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou
ou de caráter público, para o conhecimento ou retificação
ameaça a direito”. Logo, toda ofensa ou ameaça de ofensa
(correção). Trata-se de ação constitucional que tutela o
a direitos dos administrados é passível de controle judicial.
acesso a informações pessoais. Legitimado ativo é pessoa
Ciente disso, o legislador cria inúmeros mecanismos espe-
física, brasileira ou estrangeira, ou por pessoa jurídica, de
cíficos para que tal controle seja realizado, como mandado
direito público ou privado, tratando-se de ação personalís-
de segurança, ação popular, ação civil pública, mandado de
sima – os dados devem ser a respeito da pessoa que a pro-
injunção, habeas data, habeas corpus e as próprias ações
põe. Legitimados passivos são entidades governamentais
do controle de constitucionalidade. Entretanto, não se tra-
da Administração Pública Direta e Indireta nas três esferas,
ta de rol taxativo de formas pelas quais é possível exercer
bem como instituições, órgãos, entidades e pessoas jurídi-
tais pretensões contra a Administração, porque em tese é
cas privadas prestadores de serviços de interesse público
possível utilizar qualquer tipo de ação judicial que venha a
que possuam dados relativos à pessoa do impetrante. Está
socorrer adequadamente à inibição de violação ou ameaça
regulado pela Lei nº 9.507, de 12 de novembro de 1997.
a direito pela Administração. Sobre os meios específicos,
e) Mandado de segurança individual (artigo 5º, LXIX,
aponta-se:
CF): Trata-se de remédio constitucional com natureza sub-
a) Ação popular (artigo 5º, LXXIII, CF): é instrumento
sidiária pelo qual se busca a invalidação de atos de autori-
de exercício direto da democracia, permitindo ao cidadão
dade ou a suspensão dos efeitos da omissão administrativa,
que busque a proteção da coisa pública, ou seja, que vise
geradores de lesão a direito líquido e certo, por ilegalidade
assegurar a preservação dos interesses transindividuais.
ou abuso de poder. São protegidos todos os direitos líqui-
Trata-se de ação constitucional, que visa anular ato lesivo
dos e certos à exceção da proteção de direitos humanos
ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado par-
à liberdade de locomoção e ao acesso ou retificação de

130
DIREITO ADMINISTRATIVO

informações relativas à pessoa do impetrante, constantes Controle parlamentar ou legislativo é a prerrogativa


de registros ou bancos de dados de entidades governa- atribuída ao Poder Legislativo de fiscalizar a Administração
mentais ou de caráter público, ambos sujeitos a instrumen- Pública sob os critérios político e financeiro. Deve se ater
tos específicos. A natureza é de ação constitucional de na- às hipóteses previstas na Constituição. Pode ser exercido
tureza civil, independente da natureza do ato impugnado quanto ao Executivo e ao Judiciário.
(administrativo, jurisdicional, eleitoral, criminal, trabalhista). Entre os meios de controle, destacam-se:
Pode ser preventivo, quando se estiver na iminência de vio- - Controle Político: tem por base a possibilidade de
lação a direito líquido e certo, ou reparatório, quando já fiscalização sobre atos ligados à função administrativa e
consumado o abuso/ilegalidade. Fundamenta-se na exis- organizacional. Conforme artigo 49, X, CF, compete exclu-
tência de direito líquido e certo, que é aquele que pode sivamente ao Congresso Nacional “fiscalizar e controlar,
ser demonstrado de plano mediante prova pré-constituída, diretamente, ou por qualquer de suas Casas, os atos do
sem a necessidade de dilação probatória, isto devido à na- Poder Executivo, incluídos os da administração indireta”.
Do poder genérico de controle podem ser depreendidos
tureza célere e sumária do procedimento. A legitimidade
outros poderes, como o poder convocatório, que permite
ativa é a mais ampla possível, abrangendo não só a pessoa
à Câmara ou Senado convocar Ministro de Estado ou au-
física como a jurídica, nacional ou estrangeira, residente ou
toridade relacionada ao Presidente (artigo 50, CF); o poder
não no Brasil, bem como órgãos públicos despersonaliza-
de sustação, que permite ao Congresso Nacional “sustar
dos e universalidades/pessoas formais reconhecidas por os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do
lei. Legitimado passivo é a autoridade coatora deve ser au- poder regulamentar ou dos limites de delegação legislati-
toridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício va” (artigo 49, V, CF); e o controle das Comissões Parlamen-
de atribuições do Poder Público. Neste viés, o art. 6º, §3º, tares de Inquérito – CPI (artigo 58, §3º, CF).
Lei nº 12.016/09, preceitua que “considera-se autoridade - Controle Financeiro: a fiscalização contábil, finan-
coatora aquela que tenha praticado o ato impugnado ou ceira, orçamentária, operacional e patrimonial da União e
da qual emane a ordem para a sua prática”. Encontra-se re- das entidades da administração direta e indireta, quanto
gulamentada pela Lei nº 12.016, de 07 de agosto de 2009. à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação das
f) Mandado de segurança coletivo (artigo 5º, LXX, subvenções e renúncia de receitas, será exercida pelo Con-
CF): Visa a preservação ou reparação de direito líquido e gresso Nacional, mediante controle externo, e pelo sistema
certo relacionado a interesses transindividuais (individuais de controle interno de cada Poder.
homogêneos ou coletivos), e devido à questão da legitimi- Quanto às áreas fiscalizadas, enquadram-se: contábil,
dade ativa, pertencente a partidos políticos e determinadas financeira, orçamentária, operacional e patrimonial no que
associações. Trata-se de ação constitucional de natureza ci- se refere a legalidade, legitimidade, economicidade, sub-
vil, independente da natureza do ato, de caráter coletivo. A venções e renúncia de receitas.
legitimidade ativa é de partido político com representação Tribunal de Contas da União
no Congresso Nacional, bem como de organização sindical, O Tribunal de Contas da União é órgão integrante do
entidade de classe ou associação legalmente constituída e Congresso Nacional que tem a função de auxiliá-lo no
em funcionamento há, pelo menos, 1 (um) ano, em defesa controle financeiro externo da Administração Pública. No
de direitos líquidos e certos que atinjam diretamente seus âmbito estadual e municipal, aplicam-se, no que couber,
interesses ou de seus membros. Encontra-se regulamenta- aos respectivos Tribunais e Conselhos de Contas, as normas
do pelo artigo 22 da Lei nº 12.016/09, que regulamenta o sobre fiscalização contábil, financeira e orçamentária.
mandado de segurança individual. As atribuições de controle do Tribunal de Contas da
g) Mandado de injunção (artigo 5º, LXXI, CF): os dois União encontram-se descritas no artigo 71 da Constituição,
requisitos constitucionais para que seja proposto o manda- envolvendo notadamente o auxílio ao Congresso Nacional
do de injunção são a existência de norma constitucional de no controle externo (tanto é assim que o Tribunal não susta
eficácia limitada que prescreva direitos, liberdades consti- diretamente os atos ilegais, mas solicita ao Congresso Na-
tucionais e prerrogativas inerentes à nacionalidade, à sobe- cional que o faça):
rania e à cidadania; além da falta de norma regulamenta-
dores, impossibilitando o exercício dos direitos, liberdades Artigo 71, CF. O controle externo, a cargo do Congresso
e prerrogativas em questão. Assim, visa curar o hábito que Nacional, será exercido com o auxílio do Tribunal de Contas
se incutiu no legislador brasileiro de não regulamentar as da União, ao qual compete:
normas de eficácia limitada para que elas não sejam apli- I - apreciar as contas prestadas anualmente pelo Pre-
cáveis. Trata-se de ação constitucional que objetiva a regu- sidente da República, mediante parecer prévio que deverá
lamentação de normas constitucionais de eficácia limitada. ser elaborado em sessenta dias a contar de seu recebimento;
Legitimado ativo é qualquer pessoa, nacional ou estrangei- II - julgar as contas dos administradores e demais res-
ra, física ou jurídica, capaz ou incapaz, que titularize direito ponsáveis por dinheiros, bens e valores públicos da adminis-
fundamental não materializável por omissão legislativa do tração direta e indireta, incluídas as fundações e sociedades
Poder público, bem como o Ministério Público na defesa de instituídas e mantidas pelo Poder Público federal, e as contas
seus interesses institucionais. Não se aceita a legitimidade daqueles que derem causa a perda, extravio ou outra irregu-
ativa de pessoas jurídicas de direito público. Regulamenta- laridade de que resulte prejuízo ao erário público;
do pela Lei nº 13.300/2016.

131
DIREITO ADMINISTRATIVO

III - apreciar, para fins de registro, a legalidade dos EXERCÍCIOS


atos de admissão de pessoal, a qualquer título, na admi-
nistração direta e indireta, incluídas as fundações instituídas 1. (TRT - 1ª REGIÃO (RJ) - JUIZ SUBSTITUTO -
e mantidas pelo Poder Público, excetuadas as nomeações FCC/2013) Na atuação da Administração Pública Fede-
para cargo de provimento em comissão, bem como a das ral, a segurança jurídica é princípio que;
concessões de aposentadorias, reformas e pensões, ressalva- a) justifica a mantença de atos administrativos invá-
das as melhorias posteriores que não alterem o fundamento lidos, desde que ampliativos de direitos, independente-
legal do ato concessório; mente da boa-fé dos beneficiários.
IV - realizar, por iniciativa própria, da Câmara dos De- b) não impede a anulação a qualquer tempo dos
putados, do Senado Federal, de Comissão técnica ou de in- atos administrativos inválidos, visto que não há prazos
quérito, inspeções e auditorias de natureza contábil, fi- prescricionais ou decadenciais para o exercício de auto-
nanceira, orçamentária, operacional e patrimonial, nas tutela em caso de ilegalidade.
c) justifica o usucapião de imóveis públicos urbanos
unidades administrativas dos Poderes Legislativo, Execu-
de até duzentos e cinquenta metros quadrados, em fa-
tivo e Judiciário, e demais entidades referidas no inciso II;
vor daquele que, não sendo proprietário de outro imó-
V - fiscalizar as contas nacionais das empresas su-
vel urbano ou rural, exerça a posse sobre tal imóvel por
pranacionais de cujo capital social a União participe, de
cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizan-
forma direta ou indireta, nos termos do tratado constitutivo; do-o para sua moradia ou de sua família.
VI - fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos re- d) impede que haja aplicação retroativa de nova
passados pela União mediante convênio, acordo, ajuste ou interpretação jurídica, em desfavor dos administrados.
outros instrumentos congêneres, a Estado, ao Distrito Fede- e) impede que a Administração anule ou revogue
ral ou a Município; atos que geraram situações favoráveis para o particular,
VII - prestar as informações solicitadas pelo Con- pois tal desfazimento afetaria direitos adquiridos.
gresso Nacional, por qualquer de suas Casas, ou por qual-
quer das respectivas Comissões, sobre a fiscalização con- 1. Resposta: “D”. Para Dirley da Cunha Júnior, “o
tábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial e valor segurança jurídica é consagrado por vários outros
sobre resultados de auditorias e inspeções realizadas; princípios: direito adquirido, ato jurídico perfeito, coisa
VIII - aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade julgada, irretroatividade da lei entre outros. Este prin-
de despesa ou irregularidade de contas, as sanções pre- cípio enaltece a ideia de proteger o passado (relações
vistas em lei, que estabelecerá, entre outras cominações, jurídicas já consolidadas) e tornar o futuro previsível,
multa proporcional ao dano causado ao erário; de modo a não infringir   surpresas desagradáveis ao
IX - assinar prazo para que o órgão ou entidade adote administrado. Visa à proteção da confiança e a garan-
as providências necessárias ao exato cumprimento da tia de certeza e estabilidade das relações e situações
lei, se verificada ilegalidade; jurídicas”.
X - sustar, se não atendido, a execução do ato im-
pugnado, comunicando a decisão à Câmara dos Depu- 2. (SMA-RJ – CONTADOR - FJG-RIO/2013) Se-
tados e ao Senado Federal; gundo exposição doutrinária, o princípio da impessoa-
XI - representar ao Poder competente sobre irregula- lidade não raramente é chamado de princípio da:
ridades ou abusos apurados. a) igualdade legal
§ 1º No caso de contrato, o ato de sustação será ado- b) razoabilidade dos meios
tado diretamente pelo Congresso Nacional, que solici- c) finalidade administrativa
d) subjetividade coletiva
tará, de imediato, ao Poder Executivo as medidas cabíveis.
§ 2º Se o Congresso Nacional ou o Poder Executivo, no
2. Resposta: “C”. Para Hely Lopes Meirelles, o prin-
prazo de noventa dias, não efetivar as medidas previstas
cípio da impessoal idade “nada mais é do que o
no parágrafo anterior, o Tribunal decidirá a respeito.
clássico princípio da finalidade, o qual impõe ao ad-
§ 3º As decisões do Tribunal de que resulte imputação ministrador público que só pratique o ato para seu fim
de débito ou multa terão eficácia de título executivo. legal. E o fim legal é unicamente aquele que a nor-
§ 4º O Tribunal encaminhará ao Congresso Nacional, ma de Direito indica expressa ou virtualmente como
trimestral e anualmente, relatório de suas atividades. objetivo do ato, de forma impessoal”.

3. (TRT - 15ª REGIÃO - TÉCNICO JUDICIÁRIO -


ÁREA ADMINISTRATIVA - FCC/2013) Os princípios
que regem a Administração pública podem ser expres-
sos ou implícitos. A propósito deles é possível afirmar
que:
a) moralidade, legalidade, publicidade e impessoa-
lidade são princípios expressos, assim como a eficiên-
cia, hierarquicamente superior aos demais.

132
DIREITO ADMINISTRATIVO

b) supremacia do interesse público não consta como 5. (TCE-ES - ANALISTA ADMINISTRATIVO – DIREITO
princípio expresso, mas informa a atuação da Administra- - CESPE/2013) No que se refere aos poderes e princípios da
ção pública assim como os demais princípios, tais como administração pública, assinale a opção correta.
eficiência, legalidade e moralidade. a) O estágio probatório configura exemplo de instituto
c) os princípios da moralidade, legalidade, supremacia relacionado ao princípio da eficiência, norteador da atuação
do interesse público e indisponibilidade do interesse públi- administrativa.
co são expressos e, como tal, hierarquicamente superiores b) O poder discricionário confere ao administrador públi-
aos implícitos. co a faculdade de valer-se do juízo de conveniência e oportu-
d) eficiência, moralidade, legalidade, impessoalidade e nidade para praticar ato, o qual não comporta controle pelo
indisponibilidade do interesse público são princípios expres- Poder Judiciário.
sos e, como tal, hierarquicamente superiores aos implícitos. c) A edição de ato normativo de conteúdo genérico e
e) impessoalidade, eficiência, indisponibilidade do abstrato tem relação direta com o exercício do poder regu-
interesse público e supremacia do interesse público são lamentar, e não com o do poder de polícia, visto que esse
princípios implícitos, mas de igual hierarquia aos princípios último será cabível exclusivamente mediante a prática de atos
expressos. concretos, preordenados a determinados indivíduos.
d) Com fundamento no poder hierárquico, pode a admi-
3. Resposta: “B”. Os princípios da Supremacia do nistração pública direta anular ato ilegal praticado por entida-
Interesse Público e da Indisponibilidade do Interesse Pú- de da administração indireta.
blico, apesar de implícitos no ordenamento jurídico, são e) O princípio da moralidade administrativa não exige do
tidos como pilares do regime jurídico-administrativo. Isto agente público a obediência a padrões éticos específicos no
se deve ao fato de que todos os demais princípios da ad- exercício de suas atribuições, basta que atenda à moral co-
ministração pública são desdobramentos desses dois prin- mum vigente na sociedade.
cípios em questão, cuja relevância é tanta que são conheci-
dos como supraprincípios da administração pública. 5. Resposta: “A”. Estágio probatório e principio da efi-
ciência estão diretamente ligados, uma vez que antigamente
Letra “A”: incorreta. Não há hierarquia entre os princí-
a administração pública não tinha essa preocupação com o
pios, eles se resolvem por ponderação.
servidor público de certificar se seu serviço estava sendo exe-
Letra “C”: incorreta. O princípio da supremacia do inte-
cutado de maneira correta, o que prejudicava a eficiência da
resse público e indisponibilidade do interesse público não
Administração.
são expressos.
Alternativa “B”: incorreta. O poder discricionário compor-
Letra “D”: incorreta. O princípio da indisponibilidade
ta apreciação pelo poder judiciário, que poderá anular o ato
do interesse público não é um princípio expresso. Não há
ilegalidade
hierarquia entre os princípios expressos em relação aos im- Alternativa “C”: incorreta. O poder de polícia pode ser fis-
plícitos. calizatório, repressivo ou preventivo.
Letra “E”: incorreta. Os princípios da impessoalidade e Alternativa “D”: incorreta. Não há hierarquia entre as enti-
eficiência são princípios expressos. dades da Administração indireta e a entidade política criado-
OBS: Cuidado porque algumas bancas consideram ra, há o controle finalístico.
princípios expressos apenas o que estão previstos na Cons- Alternativa “E”: incorreta. Moralidade administrativa é
tituição Federal e outras consideram que os princípios ad- a ética específica funcional, em geral efetiva-se em  normas
ministrativos que estiverem escritos em lei são explícitos. previstas em  estatutos internos das entidades. 
Proporcionalidade, razoabilidade, finalidade, motivação,
ampla defesa, contraditório, segurança jurídica e interes- 6. (SEPLAG-MG – DIREITO - IBFC/2013) “O interesse
se público constam expressamente no artigo 2º da Lei nº público, sendo qualificado como próprio da coletividade, não
9784/99. se encontra à livre disposição de quem quer que seja, por ina-
propriáveis. Ao próprio órgão administrativo que o representa
4. (SESACRE – FISIOTERAPEUTA - FUNCAB/2013) O incumbe apenas guardá-lo e realizá-lo”. O texto refere-se ao:
princípio administrativo que impõe o controle de resulta- a) Princípio da Legalidade.
dos da Administração Pública, a redução do desperdício e b) Princípio da Eficiência.
a execução do serviço público com rendimento funcional é c) Princípio da Indisponibilidade do Interesse Público.
denominado princípio da: d) Princípio da Impessoalidade.
a) legalidade.
b) impessoalidade. 6. Resposta: “C”. Alexandre Mazza ensina que “O supra-
c) eficiência. princípio da indisponibilidade do interesse público enuncia
d) publicidade. que os agentes públicos não são donos do interesse por eles
e) moralidade. defendido. Assim, no exercício da função administrativa os
agentes públicos estão obrigados a atuar, não segundo sua
4. Resposta: “C”. Segundo Alexandre Mazza: “Eco- própria vontade, mas do modo determinado pela legislação.
nomicidade, redução de desperdícios, qualidade, rapidez, Como decorrência dessa indisponibilidade, não se admite
produtividade e rendimento funcional são valores encare- tampouco que os agentes renunciem aos poderes legalmente
cidos pelo princípio da eficiência”. conferidos ou que transacionem em juízo”.

133
DIREITO ADMINISTRATIVO

7. (TRT - 1ª REGIÃO (RJ) - JUIZ SUBSTITUTO - 10. (OAB - EXAME DE ORDEM UNIFICADO - XII -
FCC/2013) No tocante ao regime jurídico aplicável às PRIMEIRA FASE - FGV/2013) O Estado ABCD, com vistas
sociedades de economia mista, que explorem atividade à interiorização e ao incremento das atividades econômi-
econômica em sentido estrito, é correto afirmar que; cas, constituiu empresa pública para implantar distritos in-
a) dependem de autorização legislativa para aliena- dustriais, elaborar planos de ocupação e auxiliar empresas
ção de bens de seu patrimônio interessadas na aquisição dessas áreas. Considerando que
b) gozam de privilégios processuais como o prazo em esse objeto significa a exploração de atividade econômica
quádruplo para contestar e em dobro para recorrer. pelo Estado, assinale a afirmativa correta.
c) não estão sujeitas à fiscalização pela Comissão de a) Não é possível a exploração de atividade econômica
Valores Mobiliários. por pessoa jurídica integrante da Administração direta ou
d) necessitam de autorização legislativa específica indireta.
para criação de cada subsidiária. b) As pessoas jurídicas integrantes da Administração
indireta não podem explorar atividade econômica.
e) são obrigadas a ter em sua estrutura um Conselho
c) Dentre as figuras da Administração Pública indireta,
de Administração, assegurada participação aos acionistas
apenas a autarquia pode desempenhar atividade econômi-
minoritários.
ca, na qualidade de agência reguladora.
d) A constituição de empresa pública para exercer ati-
7. Resposta: “E”. O amparo da reposta está no art. vidade econômica é permitida quando necessária ao aten-
239 da Lei nº 6404/76: “As companhias de economia mis- dimento de relevante interesse coletivo.
ta terão obrigatoriamente Conselho de Administração,
assegurado à minoria o direito de eleger um dos conse- 10. Resposta: “D”. O fundamento da resposta está no
lheiros, se maior número não lhes couber pelo processo art. 173, § 1º da Constituição Federal: “A lei estabelecerá o
de voto múltiplo”. estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de eco-
nomia mista e de suas subsidiárias que explorem atividade
8. (SMA-RJ – CONTADOR – FJG-RIO/2013) A pes- econômica de produção ou comercialização de bens ou de
soa jurídica de direito privado, criada por autorização prestação de serviços”.
legal, sob qualquer forma jurídica, para que o Governo
exerça atividades gerais de caráter econômico, corres- 11. (PGM-RJ - AUXILIAR DE PROCURADORIA - FJG-
ponde à: -RIO/2013) Como órgão da Administração municipal, po-
a) sociedade de economia mista de-se afirmar que a Procuradoria Geral do Município tem a
b) agência reguladora seguinte classificação:
c) autarquia a) autarquia
d) empresa pública b) empresa pública
c) administração direta
8. Resposta: “D”. O conceito legislativo tem previsão d) fundação
no art. 5º, II, do Decreto-Lei nº 200/67: “empresas
públicas são entidades dotadas de personalidade ju- 11. Resposta: “C”. Procuradoria Geral do Município é
rídica de direito privado, com patrimônio próprio e um órgão diretamente vinculado à unidade federativa Mu-
capital exclusivo da União, criadas por lei para ex- nicípio, sendo assim, pertence à administração direta.
ploração de atividade econômica que o Governo seja
levado a exercer por força de contingência, ou de 12. (TRT - 18ª REGIÃO (GO) - ANALISTA JUDICIÁRIO
- ÁREA JUDICIÁRIA - FCC/2013) As autarquias integram a
conveniência administrativa, podendo revestir-se de
Administração indireta. São pessoas
quaisquer das formas admitidas em direito”.
a) políticas, com personalidade jurídica própria e têm
poder de criar suas próprias normas.
9. (SMA-RJ – CONTADOR – FJG-RIO/2013) Consti-
b) jurídicas de direito público, cuja criação e indicação
tui pessoa jurídica de Direito Público Interno: dos fins e atividades é autorizada por lei, autônomas e não
a) o Estado Federal sujeitas à tutela da Administração direta.
b) a União c) jurídicas de direito semipúblico, porque sujeitas ao
c) a Presidência da República regime jurídico de direito público, excepcionada a aplica-
d) o Governo Federal ção da lei de licitações.
d) políticas, com personalidade jurídica própria, criadas
9. Resposta: “B”. O art. 41 do Código Civil estabele- por lei, com autonomia e capacidade de autoadministra-
ce que: “São pessoas jurídicas de direito público interno: ção, não sujeitas, portanto, ao poder de tutela da Admi-
I - a União; II - os Estados, o Distrito Federal e os Terri- nistração.
tórios; III - os Municípios; IV - as autarquias, inclusive as e) jurídicas de direito público, criadas por lei, com ca-
associações públicas; V - as demais entidades de caráter pacidade de autoadministração, mas sujeitas ao poder de
público criadas por lei”. tutela do ente que as criou.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

12. Resposta: “E”. De acordo com as palavras de Ale- b) impositivos de obrigações de não fazer, jamais im-
xandre Mazza, autarquias são pessoas jurídicas de direito pondo obrigações positivas.
público interno, pertencentes à Administração Pública Indi- c) preventivos, no sentido de conformar a conduta dos
reta, criadas por lei específica para o exercício de atividades administrados à lei, ficando os atos repressivos na esfera
típicas da Administração Pública. da polícia judiciária.
d) normativos gerais inovados, cuja finalidade é sem-
13. (MPE-ES - AGENTE DE APOIO – ADMINISTRA- pre estabelecer as condutas esperadas dos administrados
TIVO - VUNESP/2013) São, entre outras, entidades que e aquelas passíveis de reprimenda.
integram a Administração Pública Indireta: e) repressivos, mediante provocação de administrados
a) agência reguladora, consórcio público e empresa diante de danos verificados, não havendo espaço para a
pública. prática de atos de fiscalização preventiva.
b) autarquia, empresa pública e agência bancária.
c) empresa pública, agência bancária e sociedade de
15. Resposta: “A”. Celso Antônio Bandeira de Mello
economia mista.
aduz que: “a atividade da Administração Pública, expres-
d) fundação pública, órgão público e autarquia.
sa em atos normativos ou concretos, de condicionar, com
e) sociedade de economia mista, órgão público e con-
fundamento em sua supremacia geral e na forma da lei,
sórcio público.
a liberdade e propriedade dos indivíduos, mediante ação
13. Resposta: “A”. Cumpre lembrar que agência regu- ora fiscalizadora, ora preventiva, ora repressiva, impondo
ladora é uma autarquia de regime especial, portanto inte- coercitivamente aos particulares um dever de abstenção a
gra a Administração Pública Indireta. O artigo 6º, §1º da Lei fim de conformar-lhes os comportamentos aos interesses
nº 11107/05 estabelece que o consórcio público com per- sociais consagrados no sistema normativo”.
sonalidade jurídica de direito público integra a administra- Alternativa “B”: incorreta. O poder de polícia não im-
ção indireta de todos os entes da Federação consorciados. põe apenas obrigações de não fazer mas também obriga-
ções de fazer, como se verifica no art. 78 do Código Tribu-
14. (TRT - 1ª REGIÃO (RJ) - JUIZ SUBSTITUTO - tário Nacional.
FCC/2013) O exercício do poder de polícia administrativo, Alternativa “C” e “E”: incorretos. Como já mencionado
no âmbito da Administração Pública Federal, o poder de polícia instrumentaliza-se ora por ação fiscali-
a) no que tange à aplicação de punições, está sujei- zadora, ora preventiva, ora repressiva.
to a prazo prescricional de 5 anos, exceto se a conduta a Alternativa “D”: Segundo Alexandre Mazza: “normal-
ser sancionada constituir crime, aplicando-se nesse caso a mente o poder de polícia estabelece deveres negati-
prescrição da legislação penal. vos aos particulares, estabelecendo obrigações de não
b) independe de previsão legal, haja vista a existência fazer. Em casos raros, pode gerar deveres positivos, por
do poder regulamentar autônomo da Administração nesta exemplo, na obrigação de atendimento da função social
matéria. da propriedade”.
c) pode ser delegado a entidade privada sem fins lucra-
tivos instituída por particulares, desde que seja celebrado 16. (TRT - 15ª REGIÃO - TÉCNICO JUDICIÁRIO -
instrumento convenial, após prévia autorização legislativa. ÁREA ADMINISTRATIVA - FCC/2013) A possibilidade
d) é atributo exclusivo de órgãos do Poder Executivo. de autoridade superior de órgão da Administração direta
e) é sempre dotado dos atributos de imperatividade, revogar ou anular atos praticados por seus subordinados,
discricionariedade e autoexecutoriedade. nos termos da lei, é exteriorização do poder.
a) de Tutela.
14. Resposta: “A”. De acordo com o art. 1º da Lei nº
b) Hierárquico.
9873/99: “Prescreve em cinco anos a ação punitiva da Ad-
c) Disciplinar.
ministração Pública Federal, direta e indireta, no exercício
d) Regulamentar.
do poder de polícia, objetivando apurar infração à legisla-
ção em vigor, contados da data da prática do ato ou, no e) Normativo.
caso de infração permanente ou continuada, do dia em
que tiver cessado. §2º Quando o fato objeto da ação puniti- 16. Resposta: “B”. José dos Santos Carvalho Filho ex-
va da Administração também constituir crime, a prescrição plica: “Decorre também da hierarquia o poder de revisão
reger-se-á pelo prazo previsto na lei penal”. dos atos praticados por agentes de nível hierárquico
mais baixo. Se o ato contiver vício de legalidade, ou
15. (TRT - 15ª REGIÃO - TÉCNICO JUDICIÁRIO - não se coadunar com a orientação administrativa, pode o
ÁREA ADMINISTRATIVA - FCC/2013) Caracteriza-se o agente superior revê-lo para ajustamento a essa orienta-
poder de polícia administrativa, de forma não exaustiva, ção ou para restaurar a legalidade”.
pela prática de atos.
a) concretos e específicos, que envolvem fiscalização e
repressão, tal como a apreensão de mercadorias farmacêu-
ticas armazenadas irregularmente.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

17. (RIOPREVIDÊNCIA - ESPECIALISTA EM PREVI- 19. Resposta: “E”. Segundo Alexandre Mazza, “o atri-
DÊNCIA SOCIAL - CIÊNCIAS CONTÁBÉIS - CEPERJ/2013) buto da imperatividade significa que o ato administrati-
O Governo do Estado, apoiando o programa de criação das vo pode criar unilateralmente obrigações aos particulares,
Unidades de Polícia Pacificadora, realiza várias outras in- independentemente da anuência destes. É uma capacidade
tervenções. Em relação aos pequenos comerciantes locais, de vincular terceiros a deveres jurídicos derivada do chama-
atua na sua regularização para efeito de futuro recolhimen- do poder extroverso. Ao contrário dos particulares, que
to de impostos, bem como da regularidade dos alimentos só possuem poder de auto-obrigação (introverso), a Ad-
comercializados. Nesse caso, os agentes estaduais atuam ministração Pública pode criar deveres para si e também
em decorrência do seguinte tipo de poder: para terceiros”.
a) político
b) executivo 20. (TRT - 15ª REGIÃO - ANALISTA JUDICIÁRIO -
c) alimentar ÁREA ADMINISTRATIVA - FCC/2013) A discricionarieda-
d) de polícia de pode ser qualificada como atributo dos atos administra-
e) interventivo tivos em geral. Quando se fala que determinado ato tem
essa característica significa que:
17. Resposta: “D”. Para Hely Lopes Meirelles, “poder a) é manifestação de vontade legítima do administra-
de polícia é a faculdade de que dispõe a Administração dor, prevista ou não em lei, cuja edição configura direito
Pública para condicionar e restringir o uso e gozo de bens, subjetivo do interessado.
atividades e direitos individuais, em benefício da coletivi- b) foi editado levando em conta fatores externos e in-
dade ou do próprio Estado”. ternos do processo, sendo assim considerado ainda que
fosse a única decisão passível de ser tomada, nos termos
18. (PC-RJ - OFICIAL DE CARTÓRIO - IBFC/2013) da lei.
Conforme tradicional classificação doutrinária, conside- c) é o resultado de opção do administrador, dentre al-
ram-se atributos do poder de polícia: gumas alternativas, que a legislação lhe confere, proferida
a) Legalidade, moralidade e impessoalidade. no âmbito do exercício de seu juízo de oportunidade e con-
b) Presunção da legitimidade, autoexecutoriedade e veniência.
imperatividade. d) foi proferido como manifestação do juízo de oportu-
c) Discricionariedade, autoexecutoriedade e coercibili- nidade e conveniência, inovando a ordem jurídica e possibi-
dade. litando a autoexecutoriedade de seu conteúdo.
d) Necessidade, proporcionalidade e adequação. e) foi proferido em estrito cumprimento de disposição
e) Presunção de legitimidade, discricionariedade e im- legal, exteriorizando direito subjetivo do interessado.
peratividade.
20. Resposta: “C”. José dos Santos Carvalho Filho en-
18. Resposta: “C”. Segundo os entendimentos de Ma- sina que “diversamente sucede nos atos discricionários .
ria Sylvia Zanela di Pietro e Hely Lopes Meirelles, os atribu- Nestes é própria a lei que autoriza o agente a proceder
tos do poder de polícia são: discricionariedade, autoexecu- a uma avaliação de conduta, obviamente tomando em
toriedade e coercibilidade. consideração a inafastável finalidade do ato. A valoração
incidirá sobre o motivo e o objeto do ato, de modo que
19. (TRT - 15ª REGIÃO - ANALISTA JUDICIÁRIO - este, na atividade discricionária, resulta essencialmente
ÁREA ADMINISTRATIVA - FCC/2013) Os atos adminis- da liberdade de escolha entre alternativas igualmente jus-
trativos gozam de atributos específicos, dos quais não dis- tas, traduzindo, portanto, um certo grau de subjetivismo”.
põem os atos praticados sob a égide do regime jurídico de
direito privado. Dentre eles, a: 21. (SEAP-DF - PROFESSOR – SOCIOLOGIA -
a) presunção de exigibilidade, que possibilita a coação IBFC/2013) Visando a execução de determinado decreto, o
material dos atos administrativos mediante autorização su- Ministro de Estado, no âmbito das suas competências, po-
perior. derá editar o seguinte ato:
b) presunção de validade entre as partes, somente po- a) Circular
dendo haver descumprimento mediante desconstituição b) Portaria.
do ato no âmbito judicial. c) Resolução.
c) presunção de validade, que se consubstancia na d) Instrução.
consideração de que os atos administrativos, enquanto
existentes, são válidos e gozam de autoexecutoriedade. 21. Resposta: “D”. Fernanda Marinela leciona a dife-
d) exigibilidade, que garante a execução material dos rença destes institutos:
atos administrativos, independentemente de intervenção “- Circular: é fórmula pela qual autoridades superiores
judicial. transmitem ordens uniformes a funcionários subordinados.
e) imperatividade, que atribui aos atos administrativos Portaria: são atos administrativos internos pelos quais
a capacidade de imposição a terceiros, com ou sem sua os chefes de órgãos e repartições públicas expedem de-
concordância. terminações gerais ou especiais a seus subordinados, ou
designam servidores para funções e cargos secundários.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

Resoluções: são atos normativos ou individuais, ema- 24. Resposta: “A”. Alexandre Mazza expõe: “Revoga-
nados de autoridades de elevado escalão administrativo ção é a extinção do ato administrativo perfeito e eficaz,
como, por exemplo, Ministros e Secretários de Estado ou com eficácia ex nunc, praticada pela Administração Pública
Municípios, ou pelos Presidentes de Tribunais, órgãos le- e fundada em razões de interesse público (conveniência e
gislativos e colegiados administrativos, para disciplinar oportunidade). Em princípio, a anulação de ato administra-
matéria de sua competência específica. tivo não gera dever de indenizar o particular prejudicado,
Instrução :é fórmula de expedição de normas gerais e exceto se comprovadamente sofreu dano especial para a
abstratas de orientação internadas repartições, emanadas ocorrência do qual não tenha colaborado. O ato convalida-
de seus chefes, a fim de prescrever o modo pelo qual seus tório tem natureza vinculada (corrente majoritária), consti-
subordinados deverão dar andamento aos seus serviços”. tutiva, secundária e eficácia ex tunc”.

22. (SEPLAG-MG – DIREITO - IBFC/2013) “É o atribu- 25. (TRE-RO - TÉCNICO JUDICIÁRIO - ÁREA ADMI-
NISTRATIVA - FCC/2013) A imperatividade dos atos ad-
to do ato administrativo que autoriza sua imediata execu-
ministrativos
ção, ainda que arguido de vícios ou defeitos que possam
a) é característica pela qual os atos administrativos
levar a sua invalidade.” O texto refere-se ao atributo da:
impõem-se a terceiros independentemente de sua concor-
a) Autoexecutoriedade.
dância.
b) Imperatividade. b) é característica presente também nos atos de direito
c) Eficiência. privado
d) Presunção de legitimidade. c) significa o poder de executar os atos administrativos
de forma autônoma pela Administração pública, isto é, sem
22. Resposta: “D”. De fato a presunção de legitimi- necessidade de intervenção do Judiciário.
dade autoriza a imediata execução do ato administrativo d) não é considerada atributo de tais atos.
porque o ato é válido até prova em contrário. Trata-se de e) existe em todos os atos administrativos.
uma presunção relativa.
25. Resposta: “A”. A imperatividade implica que a im-
23. (CAU-BR – ADVOGADO - IADES/2013) Assinale a posição do ato independe da anuência do administrado.
alternativa correta quanto aos requisitos dos atos adminis-
trativos que podem estar no âmbito do poder discricioná- 26. (TRT - 15ª REGIÃO - ANALISTA JUDICIÁRIO -
rio da Administração Pública. ÁREA JUDICIÁRIA - FCC/2013) Ronaldo é servidor pú-
a) Competência e Objeto. blico federal, incumbido de atendimento ao público numa
b) Motivo e Objeto. repartição federal, juntamente com outro servidor, Gilson.
c) Finalidade e Competência. Ocorre que Gilson demora demasiadamente nos atendi-
d) Forma e Motivo. mentos, obrigando Ronaldo a suprir o restante da deman-
e) Objeto e Finalidade. da. Cansado do comportamento de seu colega, Ronaldo
passou a se recusar a atender mais pessoas que seu cole-
23. Resposta: “B”. Segundo Hely Lopes Meirelles, essa ga, aguardando sentado enquanto Gilson finalizava cada
margem de liberdade pode residir no motivo ou no objeto atendimento. Isso passou a grande acúmulo de pessoas no
do ato discricionário. balcão sem atendimento, situação que acabou chegando
ao conhecimento dos superiores dos servidores, ensejando
24. (TRE-RO - TÉCNICO JUDICIÁRIO - ÁREA ADMI- a instauração de procedimento administrativo disciplinar.
Com base no disposto na Lei n° 8.112/90, a conduta de
NISTRATIVA - FCC/2013) Considere as seguintes asserti-
Ronaldo
vas:
a) está justificada pelo comportamento recíproco dos
I. A Administração pública ao revogar um ato adminis-
servidores, cabendo prévia punição ao servidor Gilson, por
trativo assim o faz com efeitos ex tunc.
ofensa à isonomia.
II. Mesmo anulado um ato administrativo, o princípio b) viola um dos deveres atribuídos aos servidores, que
da boa-fé e a teoria da aparência resguardam os efeitos já prescreve o atendimento com presteza ao público, passível
produzidos em relação aos terceiros de boa-fé. de responsabilização, observada ampla defesa.
III. A Administração pública ao convalidar um ato admi- c) consubstancia-se em uma das proibições impostas
nistrativo assim o faz com efeitos ex nunc. aos servidores em geral, cabendo a imposição de pena de
Está correto o que consta em demissão aos dois servidores mencionados.
a) II, apenas. d) configura infração aos deveres e proibições impos-
b) I e II, apenas. tos aos servidores, impondo-se responsabilização ao ser-
c) I, apenas. vidor Ronaldo, prescindindo-se da observância de prévia
d) I, II e III. ampla defesa em razão do grande número de testemunhas.
e) III, apenas. e) justifica-se caso fique comprovado dolo por parte de
Gilson, o que será objeto de apuração em processo admi-
nistrativo disciplinar paralelo.

137
DIREITO ADMINISTRATIVO

26. Resposta: “B”. Disciplina a Lei nº 8.112/90 no ar- 28. Resposta: “E”. Nas hipóteses de caso fortuito, for-
tigo 116, V, “a”: “São deveres do servidor: [...] V - atender ça maior e culpa exclusiva da vítima resta afastado o nexo
com presteza: a) ao público em geral, prestando as infor- causal, sendo este um dos elementos essenciais para a con-
mações requeridas, ressalvadas as protegidas por sigilo; figuração da responsabilidade ao lado da ação/omissão e
[...]”. Ronaldo não tem o direito de cometer uma infração do dano.
disciplinar apenas porque se ressente por seu colega de Alternativas “a” e “b”: incorretas. O Estado pode ser
trabalho estar cometendo. Sendo assim, poderá ser respon- responsabilizado por omissão, mas neste caso a responsa-
sabilizado por infração disciplinar. bilidade é subjetiva e não objetiva.
Alternativa “c”: incorreta. Ação regressiva é o proce-
27. (COLÉGIO PEDRO II - TÉCNICO DE TECNOLOGIA dimento mediante o qual o Estado, após ressarcir a vítima
DA INFORMAÇÃO - INSTITUTO AOCP/2013) De acordo do dano, processa o agente público causador deste para
com a Constituição Federal, no que tange às disposições ser ressarcido.
gerais da Administração Pública, assinale a alternativa cor- Alternativa “d”: incorreta. A teoria do risco integral,
reta. adotada na última fase da construção teórica da Respon-
a) É vedada qualquer acumulação remunerada de car- sabilidade Civil do Estado, estabelece que esta respon-
gos públicos. sabilidade é objetiva independente da culpabilidade do
b) É possível qualquer acumulação remunerada de car- agente, da natureza do ou das condicionantes do serviço,
gos públicos. bem como independente da vítima ser ou não usuária do
c) É possível a acumulação de dois cargos públicos de serviço.
professor, quando houver compatibilidade de horários.
d) Somente é possível acumulação de cargos públicos 29. (TRT - 15ª REGIÃO - ANALISTA JUDICIÁRIO -
de professor. OFICIAL DE JUSTIÇA AVALIADOR - FCC/2013) Diz-se,
e) É possível a acumulação de dois ou mais cargos pú- na linguagem comum, que o Poder Público responde civil-
blicos de professor, independentemente de qualquer con- mente com ou sem culpa. Quando se diz que a responsabi-
dição. lidade civil dos entes públicos é “sem culpa”, tecnicamente
se está querendo explicar a modalidade de responsabili-
27. Resposta: “C”. Cabe observar a redação do ar- dade civil aplicável aos mesmos, ou seja, fazer referência à
tigo 118 da Lei nº 8.112/1990 de forma cumulada com a Responsabilidade
do artigo 37, XVI da Constituição Federal: “Art. 118, Lei nº a) objetiva, modalidade de responsabilidade civil que
8.112/1990. Ressalvados os casos previstos na Constituição, prescinde de comprovação de culpa do agente público,
é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos. embora não afaste a necessidade de demonstração do
Art. 37, XVI, CF. É vedada a acumulação remunerada de car- nexo de causalidade entre o ato e os danos por este cau-
gos públicos, exceto, quando houver compatibilidade de sados.
horários, observado em qualquer caso o disposto no inciso b) objetiva, modalidade de responsabilidade civil que
XI: a) a de dois cargos de professor; b) a de um cargo de independe da comprovação de culpa e nexo de causali-
professor com outro técnico ou científico; c) a de dois car- dade entre ação ou omissão de agente público e os danos
gos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com causados em decorrência desses.
profissões regulamentadas”. Mesmo que a acumulação seja c) subjetiva, modalidade de responsabilidade civil que
aceita, é preciso verificar a compatibilidade de horários. depende de comprovação de culpa do agente ou do servi-
ço público para configuração do nexo de causalidade, apli-
28. (IPREV - ADVOGADO – AUTÁRQUICO - FEPE- cável nos casos de ação e omissão.
SE/2013) Assinale a alternativa correta em matéria de Di- d) objetiva ou subjetiva, aplicável a primeira nos casos
reito Administrativo. de omissão e a segunda nos casos de atos comissivos pra-
a) O Estado não poderá ser responsabilizado civilmente ticados por agentes públicos, cuja culpa deve obrigatoria-
por casos de omissão. mente ser demonstrada.
b) É objetiva a responsabilidade do Estado por atos pra- e) objetiva pura, que independe da existência de cul-
ticados por seus agentes mediante dolo, culpa ou omissão. pa, da comprovação de nexo de causalidade e não admite
c) A ação regressiva é o procedimento administrativo qualquer excludente de responsabilidade.
pelo qual a vítima do dano busca o ressarcimento do agen-
te público causador do dano. 29. Resposta: “A”. A culpa é excluída na responsabi-
d) O ordenamento jurídico brasileiro adota a Teoria do lidade civil objetiva do Estado, mas a necessidade de de-
Risco Integral, sendo objetiva a responsabilidade em rela- monstração dos demais elementos permanece.
ção ao terceiro usuário do serviço, e subjetiva a responsabi- Alternativa “c”: incorreta. A responsabilidade civil
lidade ao não usuário. que independe da culpa é a objetiva, o que gera automati-
e) O caso fortuito, a força maior ou culpa exclusiva da camente a exclusão da alternativa “c”.
vítima afastam a responsabilização civil das pessoas jurídi- Alternativas “b” e “e”: incorretas. O nexo causal, o
cas de direito público e as de direito privado prestadoras de dano e a ação/omissão devem ser provados.
serviços públicos Alternativa “d”: incorreta. A responsabilidade por
ação é objetiva e a por omissão é subjetiva.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

30. (AL-MT – Procurador – FGV/2013) Devido à des- d) A ação de regresso proposta contra o agente deve ser
coberta da pavimentação original em ladrilhos e pedras ajuizada no prazo de cinco anos, contados do trânsito em
do século XIX, e com vistas ao incremento do turismo, o julgado da decisão condenatória, sob pena de prescrição.
Município ABC decide restaurar o seu centro histórico. Para e) É possível a condenação da entidade ao pagamento
isso, inicia obras de restauro de fachadas e de recuperação de danos de natureza material e moral, bem como dos ju-
do piso original, com a retirada das camadas recentes de ros moratórios, os quais devem incidir a partir da data do
asfalto. evento danoso, e não a partir da citação.
Com a interdição de algumas ruas para a realização das
obras, um posto de gasolina localizado em uma das vias 31. Resposta: “E”. O dano causado por agente de so-
fechadas ao trânsito perderá todo o seu faturamento pelo ciedade de economia mista, seja moral, seja material, além
período de dois meses. dos juros contados da data do evento danoso, deve ser
Tendo em vista o caso descrito, e considerando a disci- indenizado pela instituição.
plina do ordenamento brasileiro acerca do tema da respon- Alternativa “a”: incorreta. O agente responde subje-
sabilidade civil do Estado, é correto afirmar que tivamente.
a) o ato praticado é lícito, mas, ainda assim, o Município Alternativas “b” e “c”: incorretas. Aplica-se esta re-
responde de forma objetiva pelos danos causados. gra de responsabilidade civil tanto na administração dire-
b) o Município não responde de forma objetiva pelos ta quanto na indireta. Com efeito, a natureza da atividade
atos lícitos, mas apenas pelos ilícitos, o que não resta carac- desenvolvida pode influenciar na previsão de responsabili-
terizado no caso em tela. dade objetiva ou subjetiva em relação às entidades de ad-
c) por ter causado dano a terceiros, resta configurada a ministração indireta.
prática de ilícito administrativo, e, portanto, a responsabili- Alternativa “d”: incorreta. Quanto ao prazo de pres-
dade objetiva do Município. crição da ação regressiva, a decisão do STJ – Recurso Es-
d) no caso em tela, resta configurada a responsabilida- pecial nº 182.368 – ressalta que prescreve em três anos a
de do município por omissão, que é subjetiva. pretensão de reparação civil e que, em caso de ação de
e) o Município não responde pela prática de atos lícitos. regresso por quem reparou o dano contra o seu efetivo
causador, esse prazo começa a contar do pagamento da
30. Resposta: “A”. Se no exercício de um direito se ex- indenização.
cede manifestamente nos seus padrões de razoabilidade,
há responsabilidade civil. Por mais que o interesse público 32. (MPE-RS - AGENTE ADMINISTRATIVO - MPE-
esteja em jogo, o prejuízo causado não pode ser ignorado. -RS/2013) O artigo 37, §6°, da Constituição Federal dispõe
Sendo assim, há responsabilidade civil do Estado e, tratan- que “[...] as pessoas jurídicas de direito público e as de di-
do-se de responsabilidade por ação,é objetiva. reito privado prestadoras de serviços públicos responderão
pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem
31. (TCE-ES - ANALISTA ADMINISTRATIVO - DIREI- a terceiros, assegurando o direito de regresso contra o res-
TO - CESPE/2013) Determinado agente, vinculado a uma ponsável nos casos de dolo ou culpa”. Isto significa que o
sociedade de economia mista prestadora de serviço públi- direito pátrio consagra a
co, no exercício de sua atividade, causou prejuízo a terceiro. a) Teoria da Irresponsabilidade.
A ação de indenização ajuizada pelo lesado contra a enti- b) Teoria da Responsabilidade Objetiva.
dade foi julgada procedente com fundamento na respon- c) Teoria da Responsabilidade com Culpa.
sabilidade objetiva do Estado, e a entidade foi condenada d) Teoria da Culpa Administrativa.
ao pagamento dos danos materiais e morais postulados, e) Teoria da Culpa Administrativa Relativa.
acrescidos dos juros moratórios. Cinco anos após o trân-
sito em julgado da decisão condenatória, a sociedade de 32. Resposta: “B”. Fala-se que as pessoas jurídicas re-
economia mista ajuizou ação regressiva contra o agente. pararão os danos que seus agentes causarem, presentes
Considerando a situação hipotética apresentada, assinale a os elementos ação, nexo causal e dano, que configuram a
opção correta. responsabilidade civil objetiva, independente de culpa.
a) Diante da existência de decisão condenatória da so-
ciedade de economia mista, o agente responderá objetiva- 33. (DPE/SP – Agente de Defensoria – FCC/2010)
mente, na ação regressiva, pelo prejuízo que tenha causado Parte superior do formulário
à entidade. O servidor público quando instado pela legislação a
b) A ação não poderia ter sido julgada procedente com atuar de forma ética, não tem que decidir somente entre o
fundamento na responsabilidade objetiva do Estado, já que que é legal e ilegal, mas, acima de tudo entre o que é
o agente causador do dano é vinculado a sociedade de eco- a) oportuno e inoportuno.
nomia mista, que se submete exclusivamente à responsabi- b) conveniente e inconveniente.
lidade subjetiva. c) honesto e desonesto.
c) Independentemente da natureza da atividade desen- d) público e privado.
volvida pela sociedade de economia mista, a responsabili- e) bom e ruim.
dade pelo prejuízo que seus agentes causarem a terceiros
será objetiva.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

33. RESPOSTA: C. d) a extinção da pena administrativa pode se dar


É o que destaca o inciso II do Decreto n° 1.171/94: “O pelo seu cumprimento ou pela prescrição, sendo vedada
servidor público não poderá jamais desprezar o elemento extinção por meio do perdão por parte da Administração
ético de sua conduta. Assim, não terá que decidir so- Pública.
mente entre o legal e o ilegal, o justo e o injusto, o con- e) o entendimento, atualmente, é que, nas ações de
veniente e o inconveniente, o oportuno e o inoportuno, reparação de danos contra a Fazenda Pública, por respon-
mas principalmente entre o honesto e o desonesto, sabilidade objetiva, esta é obrigada a denunciar à lide o
consoante as regras contidas no art. 37, caput, e § 4°, da servidor que causou os danos.
Constituição Federal”.
35. RESPOSTA: B.
34. (SEFAZ-RJ - Técnico - FGV/2011) Parte supe- Quando comprovada a inexistência do fato ou a ne-
rior do formulário gativa de autoria na esfera criminal, tradicionalmente re-
A respeito do regime de responsabilidade dos servi- conhecida por apurar com maior rigor e arcabouço proba-
dores públicos em âmbito federal, é correto afirmar que  tório os fatos levados a seu conhecimento (em defesa do
a) o servidor público responde penal e administrati- direito à liberdade e em respeito à presunção de inocência),
vamente pelo exercício irregular de suas atribuições, ao entende-se que uma esfera menos rigorosa não poderia
passo que a responsabilidade civil é exclusiva da Admi- afirmar o contrário. Logo, ficará afastado o ato punitivo nos
nistração Pública. âmbito administrativo e cível.
b) embora as instâncias penal e administrativa sejam
independentes, a decisão penal absolutória por insufi- 36. (SEFAZ-RJ - Fiscal de Rendas - FGV/2010) Parte
ciência de provas vincula a instância administrativa. superior do formulário
c) as sanções administrativas não podem cumular-se Com relação ao tema da improbidade administrativa,
com as sanções civis decorrentes de uma mesma infra- analise as afirmativas a seguir.
ção funcional, sob pena de bis in idem. I. O Ministério Público deve obrigatoriamente figurar
como parte na ação de improbidade administrativa, pois se
d) a ação disciplinar prescreve em 2 (dois) anos, seja
trata de hipótese de litisconsórcio necessário. 
qual for a natureza da infração administrativa cometida
II. Conforme a jurisprudência prevalecente do STF, os
pelo servidor.
agentes políticos não se submetem ao regime da lei de
e) a responsabilidade do servidor será afastada no
improbidade administrativa (Lei nº 8.429/92), sendo-lhes
caso de absolvição criminal que negue a existência do
aplicável o regime de responsabilização jurídico-adminis-
fato ou sua autoria.
trativa especial.
III. Segundo a jurisprudência prevalecente do STJ, as
34. RESPOSTA: E.
penas cominadas no art. 12 da Lei nº 8.429/92 devem ser
Quando comprovada a inexistência do fato ou a ne-
aplicadas cumulativamente ao responsável pelo ato de im-
gativa de autoria na esfera criminal, tradicionalmente re- probidade administrativa.
conhecida por apurar com maior rigor e arcabouço pro- Assinale:
batório os fatos levados a seu conhecimento (em defesa a) se somente a afirmativa I estiver correta.
do direito à liberdade e em respeito à presunção de ino- b) se somente a afirmativa II estiver correta.
cência), entende-se que uma esfera menos rigorosa não c) se somente as afirmativas I e II estiverem corretas.
poderia afirmar o contrário. Somente cabe condenação d) se somente as afirmativas I e III estiverem corretas.
cível ou administrativa em caso de absolvição criminal e) se todas as afirmativas estiverem corretas.
quando esta se der por falta de provas.
36. RESPOSTA: B.
35. (SPTrans - Advogado Pleno - Administrativo - I está incorreta porque o Ministério Público nem sem-
VUNESP/2012) Sobre a responsabilidade dos servidores pre atuará como parte, de forma que quando não propor
públicos, é correto afirmar que a ação será fiscal da lei; II está correta porque os agentes
a) em face da presunção de inocência, garantida pela políticos se sujeitam ao regime de crime de responsabilida-
Constituição Federal, a Administração deve aguardar o de fixado no artigo 102, I, c), da CF e disciplinado pela Lei
desfecho de processo criminal antes de proceder à puni- 1.079/50 (Reclamação n° 2138/DF); III está incorreta por-
ção disciplinar do servidor pela mesma falta. que de acordo com a jurisprudência do STJ, essas penas
b) a absolvição criminal afastará o ato punitivo no não são necessariamente aplicadas de forma cumulativa,
âmbito administrativo se ficar provada, na ação penal, cabendo ao magistrado dosar as sanções de acordo com a
a inexistência do fato ou que o acusado não foi o seu natureza, gravidade e consequências do ato ímprobo, sen-
autor. do assim indispensável, sob pena de nulidade, a indicação
c) a condenação do servidor no âmbito civil implica das razões para a aplicação de cada uma delas, levando
automaticamente o reconhecimento das responsabili- em consideração os princípios da proporcionalidade e da
dades administrativa e criminal, posto que a primeira é razoabilidade (Recurso Especial n° 658.389).
mais ampla que as duas últimas.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

37. (TRE-PA - Técnico Judiciário - FGV/2011) Parte su- 39. (TRT - 1ª REGIÃO - Técnico Judiciário - FCC/2013)
perior do formulário Paulo, servidor público federal, deixou de praticar, delibe-
No que diz respeito à improbidade administrativa, anali- radamente, ato de ofício que era de sua competência. A
se as afirmativas a seguir:  referida conduta
I. Dar-se-á o integral ressarcimento do dano somente nos casos de a) poderá caracterizar ato de improbidade administra-
lesão ao patrimônio público decorrentes de ação dolosa. tiva, desde que comprovado que o servidor auferiu vanta-
II. Ocorrendo lesão ao patrimônio público por ação ou omis- gem indevida para a sua prática.
são, dolosa ou culposa, do agente ou de terceiro, dar-se-á o inte- b) configura ato de improbidade administrativa que
gral ressarcimento do dano.  atenta contra os Princípios da Administração pública, pas-
III. A aquisição, permuta ou locação de bem ou serviço por sível da aplicação da pena de perda da função pública.
preço superior ao de mercado é conduta que viola o princípio da c) não configura ato de improbidade administrativa,
moralidade, mas que não se enquadra como ato de improbida- sendo passível, contudo, punição disciplinar.
de de acordo com a lei.  d) não configura ato de improbidade administrativa,
IV. As omissões que são consideradas contrárias ao princípio salvo se comprovado, cumulativamente, enriquecimento
da moralidade administrativa não constituem atos de improbi- ilícito e dano ao erário.
dade, que só podem ser comissivos.  e) configura ato de improbidade administrativa, passí-
V. O sucessor daquele que causar lesão ao patrimônio públi- vel de aplicação de pena de multa, exclusivamente.
co ou se enriquecer ilicitamente está sujeito às cominações da lei
até o limite do valor da herança.  39. RESPOSTA: B.
Assinale Neste sentido: “Art. 11. Constitui ato de improbidade
a) se apenas as afirmativas I e III estiverem corretas. administrativa que atenta contra os princípios da adminis-
b) se apenas as afirmativas I e V estiverem corretas. tração pública qualquer ação ou omissão que viole os de-
c) se apenas as afirmativas II e III estiverem corretas. veres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealda-
d) se apenas as afirmativas II e IV estiverem corretas. de às instituições, e notadamente: [...] II - retardar ou deixar
e) se apenas as afirmativas II e V estiverem corretas.
de praticar, indevidamente, ato de ofício”.
37. RESPOSTA: E.
40. (MPE-SP - Promotor de Justiça - MPE-SP/2012)
I incorreta e II correta porque sempre haverá ressarcimento
Atos de improbidade administrativa são aqueles que devi-
do dano (artigo 12, LIA); III incorreta porque é ato de improbi-
damente tipificados em lei federal, ferem direta ou indire-
dade administrativa (artigo 10, IV, LIA); IV incorreta porque atos
tamente os princípios constitucionais e legais da Adminis-
atentatórios a princípios da administração pública aceitam mo-
tração pública, possuindo natureza
dalidade comissiva e omissiva (artigo 11, LIA); V correta porque o
sucessor responde nos limites da herança (artigo 8°). a) civil, independentemente de importarem enriqueci-
mento ilícito ou de causarem prejuízo material ao erário
38. (SPTrans - Advogado Pleno - Administrativo - VU- público.
NESP/2012) “Os atos de improbidade praticados por qualquer b) penal, independentemente de importarem enrique-
agente público, servidor ou não, contra a administração direta, cimento ilícito ou de causarem prejuízo material ao erário
____________ ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, público.
dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, de Território, de c) civil, desde que importem enriquecimento ilícito ou
_________ incorporada ao patrimônio público ou de entidade para causem prejuízo material ao erário público.
cuja criação ou custeio o haja concorrido ou concorra com mais d) penal, desde que importem enriquecimento ilícito e
de ____________ por cento do patrimônio ou da receita anual, serão causem prejuízo material ao erário público.
punidos na forma desta lei.” (Art. 1.º da Lei nº 8.429/92). Assinale a e) civil, desde que importem enriquecimento ilícito e
alternativa que contempla os vocábulos que preenchem, correta e causem prejuízo material ao erário público.
respectivamente, as lacunas do referido dispositivo legal.
a) autárquica, pessoa, Estado, sessenta 40. RESPOSTA: A.
b) indireta, pessoa, tesouro, cinquenta Os atos de improbidade administrativa não são crimes
c) autárquica, empresa, erário, sessenta de responsabilidade. Trata-se de punição na esfera cível,
d) autárquica, empresa, tesouro, cinquenta não criminal. Por isso, caso o ato configure simultaneamen-
e) indireta, empresa, erário, cinquenta te um ato de improbidade administrativa desta lei e um
crime previsto na legislação penal, o que é comum no caso
38. RESPOSTA: E. do artigo 9°, responderá o agente por ambos, nas duas
Prevê o artigo transcrito: “os atos de improbidade praticados esferas, que são independentes. No mais, o artigo 11 traz
por qualquer agente público, servidor ou não, contra a adminis- atos de improbidade administrativa de menor gravidade,
tração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes os quais dispensam tanto o enriquecimento ilícito quanto
da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, de o prejuízo ao erário, bastando violação aos princípios da
Território, de empresa incorporada ao patrimônio público ou de administração pública.
entidade para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido
ou concorra com mais de cinquenta por cento do patrimônio
ou da receita anual, serão punidos na forma desta lei”.

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