Livro - Morfologia e Taxonomia de Criptogamas PDF
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Ciências Biológicas
F
iel a sua missão de interiorizar o ensino superior no estado Ceará, a UECE,
como uma instituição que participa do Sistema Universidade Aberta do
Brasil, vem ampliando a oferta de cursos de graduação e pós-graduação
na modalidade de educação a distância, e gerando experiências e possibili-
dades inovadoras com uso das novas plataformas tecnológicas decorren-
Ciências Biológicas
tes da popularização da internet, funcionamento do cinturão digital e
massificação dos computadores pessoais.
Comprometida com a formação de professores em todos os níveis e
a qualificação dos servidores públicos para bem servir ao Estado,
os cursos da UAB/UECE atendem aos padrões de qualidade
estabelecidos pelos normativos legais do Governo Fede-
ral e se articulam com as demandas de desenvolvi-
Morfologia e Taxonomia
mento das regiões do Ceará.
de Criptógamas
Jeanne Barros Leal de Pontes Medeiros
12
História
Educação
Física
Ciências Artes
Química Biológicas Plásticas Computação Física Matemática Pedagogia
Ciências Biológicas
Morfologia e Taxonomia de
Criptógamas
Jeanne Barros Leal de Pontes Medeiros
Roselita Maria de Souza Mendes
Eliseu Marlônio Pereira de Lucena
Bruno Edson Chaves
Geografia
2ª edição
Fortaleza - Ceará 9
12
História
2015
Educação
Física
Ciências Artes
Química Biológicas Plásticas Computação Física Matemática Pedagogia
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material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, por fotocópia
e outros, sem a prévia autorização, por escrito, dos autores.
Editora Filiada à
Os autores
Capítulo 1
Sistemática Vegetal
Morfologia e Taxonomia de Cripitógamas 9
Objetivos
l Demonstrar a importância da Sistemática Vegetal e suas relações com ou-
tras ciências.
l Apresentar as principais normas de nomenclatura botânica.
2. Regras de nomenclatura
O Código Internacional de Nomenclatura Botânica permite a estabilidade das
denominações científicas, de modo a impedir que os nomes empregados te-
nham sentido ambíguo. Nesse documento, estão os preceitos que regem a
utilização de terminologia adequada à designação dos grandes grupos vege-
tais que compreendem princípios, regras e recomendações necessárias.
Os códigos são revistos periodicamente durante os Congressos Inter-
nacionais de Botânica, realizados a cada seis anos. Cada nova edição anula
as anteriores.
Seis princípios constituem a base do documento oficial:
1. A nomenclatura botânica é independente da zoológica;
2. A aplicação de nomes é determinada por tipos nomenclaturais;
3. A nomenclatura de um grupo taxonômico baseia-se na prioridade de publicação;
4. Cada táxon tem apenas um nome válido;
5. Independente de sua origem, os nomes dos táxons são tratados com no-
mes latinos;
6. As regras de nomenclatura são retroativas, salvo indicação contrária.
12
MEDEIROS, J. B. L. P., MENDES, M. R. S, BRITO, LUCENA. E. M .P. CHAVES, B. E.
3. Os sistemas de classificação
A identificação das plantas deve ser o primeiro passo para o seu ordenamento
em grupos, segundo a estruturação de determinados sistemas de classifica-
3
O Período de Sistematização
compreende os sistemas ção. Ao longo da história, diversos sistemas de classificação foram propostos
artificiais, baseados no hábito e servem como base para que possamos compreender as fases do desenvol-
das plantas, e os sistemas vimento da taxonomia vegetal, sempre associadas ao nível tecnológico e às
naturais, que se baseavam na
crenças de suas épocas. Considerando as ideias dominantes e os métodos
morfologia externa das plantas,
surgidas no Século XVIII. adotados, é possível estabelecer dois grandes períodos da classificação ve-
getal: Período Descritivo2 e Período de Sistematização3. Já os sistemas de
classificação podem ser artificiais, naturais ou filogenéticos.
Morfologia e Taxonomia de Cripitógamas 13
4. Chaves de identificação
As chaves de identificação são bastante úteis na identificação de plantas des-
conhecidas e se constituem em um arranjo analítico artificial de um conjunto
de caracteres marcantes, facilmente reconhecíveis nos espécimes examina-
dos, a partir do qual é possível a escolha entre duas proposições contraditórias.
14
MEDEIROS, J. B. L. P., MENDES, M. R. S, BRITO, LUCENA. E. M .P. CHAVES, B. E.
5. Herbário
Herbários (Figura 3) são coleções de plantas compostas por amostras desi-
dratadas conservadas segundo técnicas específicas, chamadas exsicatas, e
consistem em bancos de informações sobre a flora existente no planeta.
Morfologia e Taxonomia de Cripitógamas 15
ou podem aproveitar o calor do sol, mas, nesse caso, o jornal deve ser tro-
cado diariamente, para evitar a proliferação de fungos;
l Uma vez desidratadas, as amostras deverão ser costuradas com linha de
algodão em cartolina branca (41 cm alt. x 31 cm larg., 180 gr/m2), envolvidas
por papel madeira ou kraft ouro (41 cm alt. x 62 cm larg, 80 gr/m2) dobrado
ao meio;
l As exsicatas devem ser armazenadas em armários e organizadas segundo
sistema de classificação vigente;
l As briófitas desidratadas devem ser guardadas em envelopes de papel man-
FICHA DE CAMPO
Nome Científico:
Fam.: Nome vulgar:
Coletor (es): N°: Data:
Determinador e Data: Material coletado:
Altitude: Latitude (S): Longitude (W): País:
Estado: Município: Distrito:
Local: Vegetação:
Altura: DAP: Solo: Hábito:
aparência: ( )lisa ( )rugosa ( )suja ( )áspera ( )reticulada ( )estriada ( )fissurada ( )fendida ( )cancerosa
Dicas Importantes:
l Quando for coletar algas, retire somente o material necessário para os estu-
dos no laboratório.
l Use lupa de mão para observar o material;
l Após fazer o reconhecimento de campo, selecione plantas inteiras, com
apressório, bem desenvolvidas e férteis sempre que possível;
l Para retirar as amostras do substrato, segure a planta com a mão esquerda
e, com a direita, introduza um canivete entre o apressório e o substrato, para
que o exemplar saia por inteiro;
l Terminada a coleta, todo o material deverá ser lavado em água salgada para
a completa retirada de fragmentos;
l As algas devem ser separadas por grupos e colocadas em sacos adequa-
dos ao seu tamanho. Feito isso, devem ser guardadas em ambiente úmido;
l Todos os sacos devem ser identificados ao nível de Filo;
l O material coletado deve ser etiquetado como fichas de papel vegetal com
as seguintes informações: nome do coletor; local e data da coleta; altura em
relação ao nível da água; cor; observações pertinentes;
l O material deve ficar protegido da luz solar até ser fixado;
l Coloque a quantidade de solução necessária para cobrir as algas nos sacos e
guarde o material protegido do sol, até que seja finalmente levado ao laboratório;
l No laboratório as algas devem ser esticadas em cartolina com o auxílio de
um pincel, dentro de bandejas plásticas com um pouco da solução em que
estavam imersas;
l Quando as amostras estiverem prontas, deve-se virar, com cuidado, a ban-
deja, assim a alga irá ficar grudada no papel;
l Retire a folha contendo a alga e realize o mesmo procedimento indicado
para a herborização de plantas, organizando as amostras em prensas para
posterior desidratação;
Para coletar algas planctônicas, utiliza-se uma rede especial de malha
reduzida (Figura 6) que deve ser jogada dentro de um corpo d’ água. Essa
rede deve ser arrastada delicadamente sobre a superfície da água em local
calmo por aproximadamente 10 - 15 minutos, com cuidado para não passá-la
junto ao fundo, pois isso pode acarretar a coleta de areia.
Após a coleta, o líquido preso no frasco localizado na porção terminal
da rede deve ser cuidadosamente transportado para outros frascos destina-
dos à fixação e ao transporte do plâncton obtido.
20
MEDEIROS, J. B. L. P., MENDES, M. R. S, BRITO, LUCENA. E. M .P. CHAVES, B. E.
Síntese da Capítulo
A Sistemática compreende o estudo da diversidade biológica com o objetivo
de compreender as relações filogenéticas existentes entre os seres que com-
põem o mundo vivo. Para tanto, a Sistemática se utiliza da Taxonomia, que
é responsável pela identificação, denominação e classificação de espécies.
Atualmente, a classificação biológica se baseia em um sistema binomial
de nomenclatura, no qual os nomes científicos são formados por duas pala-
vras: gênero e espécie. As espécies são agrupadas em gêneros, os gêneros
em famílias, as famílias em ordens, as ordens em classes, as classes em filos,
os filos em reinos e os reinos em domínios.
Para a identificação de plantas, são realizadas coletas e utilizados
instrumentos de identificação como chaves botânicas. Além disso, existem
acervos botânicos que servem como referência ao trabalho de identificação
denominados herbários.
Para a compreensão da diversidade no reino vegetal e protista, são ne-
cessários estudos botânicos baseados em metodologia específica para cada
grupo em questão. Assim, pteridófitas são coletadas e herborizadas diferente-
mente de briófitas, algas e fungos, mas de maneira semelhante ao que acon-
tece nas fanerógamas.
Atividades de avaliação
1. Diferencie os termos taxonomia e sistemática.
2. Qual a grande mudança implementada pelo Sistema Binomial de Nomen-
clatura?
3. Diferencie os termos abaixo:
a) Categoria e táxon;
b) Cladograma e árvore filogenética;
c) Monofilético e polifilético
d) Órgãos homólogos e análogos.
22
MEDEIROS, J. B. L. P., MENDES, M. R. S, BRITO, LUCENA. E. M .P. CHAVES, B. E.
Texto complementar
Coleções botânicas: documentação da biodiversidade brasileira
Ariane Luna Peixoto e Marli Pires Morim
No Brasil há 114 herbários ativos, dos quais cerca da metade detêm menos de 20
mil exemplares; 23 herbários têm mais de 50 mil exemplares. Os seis maiores herbá-
rios do Brasil encontram-se listados no Quadro 2. Em conjunto, os herbários brasilei-
ros guardam um acervo de pouco mais de 5 milhões de espécimes. O Quadro 3 apre-
senta o quantitativo de espécimes por região geográfica. A densidade de coleta média
para o Brasil é de 0,62 espécime por Km2. Este valor é muito baixo quando comparado
a valores estimados para alguns países de alta diversidade na América Latina, como
México e Colômbia. As regiões sudeste e sul concentram os maiores quantitativos de
herbários e densidades de coleta.
A região norte, com a maior área territorial do país, é aquela que concentra o maior
contingente de terras cobertas por ecossistemas naturais e a que apresenta os menores
índices de coleta e a menor quantidade de herbários.
Morfologia e Taxonomia de Cripitógamas 25
Quadro 2
Quadro 3
ACERVO DOS HERBÁRIOS BRASILEIROS NAS DIFERENTES REGIÕES GEOGRÁFICAS DO PAÍS
Região geográfica Área Total (Km²) Herbários Espécimes Espécimes/Km²
Norte 3 851 560,4 10 715.500 0,18
Nordeste 1 556 001,1 27 620.200 0,39
Sudeste 924 266,2 39 2.400.000 2,59
Sul 575 316,2 27 980.500 1,7
Centro-Oeste 1 604 852,3 11 420.700 0,26
Brasil 8 511 996,3 114 5.316.900 0,62
Referências
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Holos, 2002. 156 p.
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EIMEAR N. L. Mudanças recentes e propostas na nomenclatura botânica: im-
plicações para a botânica sistemática no Brasil. Revista Brasileira de Botâ-
nica, São Paulo, v. 22, n. 2 (suplemento), p. 231-235, out. 1999.
FERNANDES, A.; BEZERRA, P. Fundamentos de taxonomia vegetal. For-
taleza: Eufc, 1984. 100 p.
MARTINS DA SILVA, R. C. V. Coleta e identificação de espécimes botâ-
nicos. Disponível em: <http://www.joinville.udesc.br/sbs/professores/arlindo/
materiais/identifica__odeesp_cimesbot_nicos.pdf>. Acesso em: 26 nov. 2009.
MATIAS, L. Q. Coleta, herborização e o registro de material botânico.
Disponível em: <http://www.biologia.ufc.br/monitoria/TaxoVeg/arquivos/Cole-
ta%20e%20ident_angiosper.pdf>. Acesso em: 27 nov. 2009.
PAULA, E. J.; PLASTINO, E. M.; OLIVEIRA, E. C.; BERCHEZ, F.; CHOW, F.;
OLIVEIRA, M. C. Introdução à biologia das criptógamas. São Paulo: Insti-
tuto de Biociências da Universidade de São Paulo, 2007. 194 p.
PUTZKE, J.; PUTZKE, M. T. L. Os reinos dos fungos. 2. ed. Santa Cruz do
Sul: EDUNISC, 2004. v. 1, 605 p.
RAVEN, P. H.; EVERT, R. F.; EICHHORN, S. E. Biologia vegetal. Tradução Jane
Elizabeth Kraus et al. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. 830 p.
SOUZA, V. C.; LORENZI, H. Botânica sistemática: guia ilustrado para identi-
ficação das famílias de fanerógamas nativas e exóticas no Brasil, baseado em
APG II. 2. ed. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2008. 704 p.
Capítulo 2
Fungos
Morfologia e Taxonomia de Cripitógamas 33
Objetivos
l Apresentar as características gerais dos organismos pertencentes ao rei-
no Fungi.
l Identificar as particularidades dos filos Chytridiomycota, Zygomycota, As-
comycota e Basidiomycota.
l Descrever a organização morfológica e os aspectos reprodutivos dos fungos.
5
Fungos no solo e no mar –
Nos 20 cm superiores do
l Mostrar como os fungos são utilizados comercialmente. solo, por exemplo, pode
l Apresentar as relações ecológicas estabelecidas entre fungos e outros or- haver aproximadamente
5 toneladas de fungos e
ganismos vivos. bactérias por hectare. É
l Conceituar liquens e micorrizas. ainda importante salientar
que existem cerca de
500 espécies marinhas
1. Características gerais dos fungos conhecidas, responsáveis
pela degradação da matéria
A ciência que estuda os fungos, seres bastante diferentes de animais e plan- orgânica desse ecossistema,
tas, é a micologia. Os fungos5, representados por uma enorme diversidade de bem como outras
espécies (Figura 7), podem ser caracterizados em linhas gerais como orga- encontradas em ambientes
aquáticos continentais.
nismos eucarióticos, aeróbios obrigatórios e aclorofilados.
2. Morfologia
2.1. Fungos filamentosos
O corpo ou talo de um fungo filamentoso é constituído por hifas que podem ser
septadas ou cenocíticas (sem septos) – Figura 9, estes septos podem apre-
sentar poros que variam de tamanho. Hifas cenocíticas são multinucleadas.
O conjunto de hifas é denominado micélio. Podemos fazer uma comparação
Morfologia e Taxonomia de Cripitógamas 35
7
Haustórios são estruturas
fúngicas, ramificadas ou
não, especializadas na
absorção de nutrientes
a partir do citoplasma da
célula do hospedeiro. Agem
como raízes sugadoras
de holoparasitas ou
hemiparasitas, que penetram
no eixo do hospedeiro para
retirar sua nutrição.
Figura 9 – Desenho esquemático de diferentes tipos de hifas: septada (A) e cenocítica (B).
Fonte: http://bit.ly/1SpcOfC.
8
A maioria dos fungos é
2.2. Fungos leveduriformes estudada pela microbiologia,
embora muitos de seus
Os fungos8, em sua maioria, são filamentosos, mas algumas espécies são representantes possuam
leveduriformes, enquanto outras podem apresentar os dois estágios em res- frutificações de grandes
dimensões como é o caso
posta às condições ambientais.
dos cogumelos Agaricales.
As leveduras representam apenas formas de crescimento e não cons-
tituem um grupo taxonômico formal. Na verdade, essa forma de organização
pode ser encontrada em representantes dos filos Zygomycota, e Basidio-
mycota, mas a maioria das leveduras encontra-se inserida nos Ascomycota.
Muitos fungos podem alternar entre formas unicelulares e filamentosas,
em função das condições ambientais, mas, na maioria deles, a fase filamen-
tosa é predominante. Outros permanecem a maior parte da vida como levedu-
ras, como é o caso de Saccharomyces cerevisiae (Figura 10)
As leveduras se reproduzem principalmente por brotamento (Figura
10B), mas cada célula leveduriforme, haploide pode funcionar como um ga-
meta, que em determinadas condições se fundem para formar um zigoto.
Fungos fitopatógenos raramente apresentam sistema vegetativo unice-
lular, sendo predominantemente filamentosos.
36
MEDEIROS, J. B. L. P., MENDES, M. R. S, BRITO, LUCENA. E. M .P. CHAVES, B. E.
3. Nutrição e crescimento
Os fungos são heterotróficos não possuem pigmentos fotossintetizantes, e,
portanto, precisam de nutrientes (C, O, H, N, P, K, Mg, S, B, Mn, Cu, Mo, Fe e
Zn) provenientes de outras fontes e que são obtidos por ingestão e absorção,
a partir do processo de digestão extracorpórea, a qual compreende a libera-
ção de enzimas sobre o substrato em que estão imersos. Alguns (leveduras)
podem realizar fermentação alcoólica convertendo glicose em etanol. A sus-
tância de reserva do grupo é o glicogênio.
Dentre os fungos, podemos encontrar espécies saprófitas, que obtêm
a energia a partir da decomposição de animais mortos, parasitas facultativos
ou obrigatórios, de plantas ou animais. Existem ainda espécies que formam
9
Liquens são associações associações simbióticas importantes, dentre as quais se destacam os líquens9
entre fungos e algas
e as micorrizas10.
unicelulares ou filamentosas,
ou cianobactérias.
10
Micorrizas são associações
4. Reprodução
simbióticas entre fungos e Os fungos apresentam muitas estratégias reprodutivas que garantem o su-
raízes de algumas plantas.
cesso do grupo no ambiente, e, apesar de muitas espécies se reproduzirem
preferencialmente de maneira assexuada, outras realizam sua reprodução se-
11
Durante a divisão celular a
carioteca não se desintegra,
xuadamente, produzindo estruturas responsáveis pela produção de gametas.
o fuso mitótico ocorre Seja qual for o tipo de reprodução em questão, muitas estruturas com
dentro do núcleo e não elevado grau de especialização celular11 são produzidas isoladamente ou em
apresentam centríolos
(exceto Chitridiomycota),
grupo pelos vários grupos de fungos.
entretanto apresentam Reprodução assexuada se dá por fragmentação das hifas ou meio de es-
corpos centriolares com poros, exceto Chitridiomycota que apresenta esporos flagelados, demais gru-
função semelhante.
Morfologia e Taxonomia de Cripitógamas 37
12
Conídios são esporos
Figura 11 - Ilustração esquemática de conídios12 e conidióforos de Aspergillus (A). assexuados não envolvidos
Imagem de microscopia de varredura eletrônica de micélio fúngico de Penicillium sp. por esporângios; produzidos
evidenciando os conídios (B). de maneira isolada ou em
Fonte: http://bit.ly/1VXjO2n. cadeia. Apresentam paredes
finas, podem ser uni ou
plurinucleados, encontrados
A produção de esporos sexuados acontece em estruturas específicas, na extremidade de
particulares de cada grupo, conhecidas por ascomas (Ascomycota), Basidio- conidióforos e que se libertam
da hifa sem acarretar sua
mas (Basidiomycota) e zigosporângio (Zigomycota), e a reprodução sexuada
destruição.
acontece em três momentos principais:
l Plasmogamia: união de protoplastos das hifas sem ocorrer a cariogamia ou
fusão nuclear;
l Cariogamia: fusão de dois ou mais núcleos reunidos em função da plasmo-
gamia, originando um zigoto diploide;
l Meiose: redução do número de cromossomos a partir do zigoto formado pela
cariogamia, produzindo núcleos haploides.
Para que ocorra a reprodução sexuada, deve acontecer a fusão de hi-
fas que podem ser originadas de um mesmo talo, e nesse caso, são chama-
das homotálicas, ou de talos diferentes, chamadas hifas heterotálicas.
Ao conjunto de fases que acontecem durante a reprodução, chamamos
ciclo de vida, e, como são inúmeras as particularidades reprodutivas, deixa-
remos para discutir sobre as características de cada grupo separadamente
mais adiante.
38
MEDEIROS, J. B. L. P., MENDES, M. R. S, BRITO, LUCENA. E. M .P. CHAVES, B. E.
Figura 12 - Exemplos de fungos decompondo madeira (A), folhas de milho (B), frutas (C) e em tinta (D) na parede.
A imagem E mostra o efeito do Penicillium sobre bactérias.
Fonte: http://bit.ly/1QYMeuU; http://bit.ly/1UGzDMD; http://bit.ly/1QTo12A; http://bit.ly/1L7OmhD; http://bit.ly/1L7OmOp.
Morfologia e Taxonomia de Cripitógamas 39
algas ou cianobactérias podem formar os líquens, importantes colonizadores orgânicos são produzidos ou
extraídos de fungos, como
e indicadores de qualidade do ar. As micorrizas são associações entre fungos
certos ácidos orgânicos e
e raízes de plantas; aproximadamente 80% das plantas fazem este tipo de as- pigmentos. Existe ainda a
sociação, uma vez que as micorrizas desempenham um papel importante na possibilidade da utilização
nutrição das plantas. Fungos ainda podem fazer associações com formigas nos desses organismos na
decomposição do lixo
chamados “jardins de fungos” no qual as formigas levam para seu ninho peda-
orgânico, mas sua utilização
ços de folhas para que os fungos possam digeri-los e crescer, em contra partida potencial mais promissora
as formigas se alimentam de partes do fungo em crescimento. Fungos endofí- é na indústria de celulose e
ticos podem viver dentro de algumas espécies sem causar-lhes dado, porém papel e no reaproveitamento
são tóxicos e caso a planta seja atacada liberam toxinas que protegem a planta. de resíduos orgânicos.
6. Classificação
A classificação dos fungos encontra-se regida pelo Código Internacional de
Nomenclatura de Algas, Fungos e Plantas, que, periodicamente, realiza en-
contros para discutir regras, propondo modificações ou adições às leis que
regulamentam a sistemática do grupo.
Vejamos as categorias taxonômicas utilizadas para fungos com suas
respectivas terminações, tomando como exemplo a espécie fúngica (Agari-
cus bisporus), como pode ser vista no Quadro 4:
Quadro 4
EXEMPLO DE CLASSIFICAÇÃO DE UMA ESPÉCIE FÚNGICA
Domínio Eukaria
Reino Fungi
Filo (Divisão) Basidiomycota
Classe Basidiomycetesmycetes
Ordem Agaricaleales
Família Agaricaceae
Gênero Agaricus
Espécie Agaricus bisporus
Nota: A terminação específica para fungos, por categoria taxonômica, encontra-se em negrito.
◄ Figura 13 - Esquema da
mor-fologia de um Micros-
poria (A) e da infecção dos
indivíduos deste filo no hos-
pedeiro (B, C e D).
Fonte: http://bit.ly/1LG9go0;
http://1.usa.gov/1UGDk4N;
http://bit.ly/1QYOdPR.
Morfologia e Taxonomia de Cripitógamas 41
Figura 14 - Ciclo de vida do quitrídio Allomycetes arbusculus, mostrando a alternância de gerações isomórficas, com
indivíduos haploides e diploides indistinguíveis até o momento em que começam a formar os órgãos reprodutivos.
Fonte: Evert e Eichhorn (2014).
Figura 16 - Mícelio com hifas cenocíticas típicas do gênero Rhizopus – foto ampliada
400x (A). Detalhe da morfologia da estrutura reprodutiva assexuada (B).
Fonte: http://bit.ly/1nnxMPb - modificado; http://bit.ly/1UHQWwD - modificado.
14
O zigósporo corresponde Figura 17 - Início da reprodução sexuada: formação do zigóforo (A), septo da fusão
ao produto da reprodução
(B), progametângio (C), dissolução do septo da fusão (D), cariogamia e prozigospo-
sexuada nos fungos
rângio (E) e zigosporângio (F).
Zygomycota. É o zigoto
resultante da fusão dos Fonte: http://bit.ly/1X2kLXw.
núcleos de duas hifas
mutuamente compatíveis e
fica encerrado num corpo Seguida esta etapa ocorre a cariogamia e forma-se o zigósporo14 (espo-
de parede espessa, por ros característicos do filo) que rompe o zigosporângio, formando um esporan-
vezes ornamentada, o gióforo, em cuja extremidade encontra-se o esporângio. Por meiose zigótica
zigosporângio.
Morfologia e Taxonomia de Cripitógamas 45
b) Diversidade
Dentro do filo Zygomycota, cerca de 1.060 espécies já foram descritas, sendo
Rhizopus, Mucor, Absidia e Zygorhynchus exemplos comumente encontra-
dos na natureza. A maioria dessas espécies cresce em ambiente terrestre,
em contato com o ar.
Representantes do filo podem apresentar modo de vida saprobionte,
parasita - como Entomophthora muscae que ataca moscas (Figura 19A), sen-
do utilizado como controle biológico; enquanto outras podem ser patogênicas
para animais e humanos. A espécie Choanephora cucurbitarum (Figura 19B),
é um parasita de plantas superiores que ataca flores e frutos, causando vários
prejuízos em plantações e cultivo de flores ornamentais. Rhizopus stolonifer
e Mucor racemosus são espécies que promovem a deterioração de frutas e
vegetais (Figura 19C) e também de cereais armazenados em silos. A espécie
Rhizopus nigricans é uma das responsáveis pelo mofo preto do pão.
46
MEDEIROS, J. B. L. P., MENDES, M. R. S, BRITO, LUCENA. E. M .P. CHAVES, B. E.
Figura 19 - Mosca infectada por um zigomiceto (A). Cucurbita pepo colonizada por
Choanephora cucurbitarum, espécie representativa de um zigomiceto (B). Gênero
Rhizopus colonizando morangos maduros (C).
Fonte: http://bit.ly/1R028VC; http://bit.ly/1ps2aJR; http://bit.ly/1L8uMld.
c) Clesitotécio: ascoma fechado em forma de bola. Os ascósporos só são produzem esporos para
liberados quando ocorre rompimento do ascoma16. Ex: Tuber (Figura 22D). sua reprodução, como isso
pode ocorrer em estruturas
d) Ascostroma: ascomoas nus, não possuem hifas ascógenas (que formam completamente fechadas
ascoma). Típico de Archiascomycetes (Figura 22E). como o cleistotécio?
b) Reprodução
A reprodução das leveduras se dá de duas formas. Assexuadamente por bro-
tamento e sexuadamente por fusão de leveduras (n), seguida de uma cario-
gamia que origina um zigoto (2n) e posterior meiose zigótica que dará origem
a quatro células haploides (n), que podem ou não sofrer mitoses antes de se
separar para formar novas leveduras de vida livre haploides. Em algumas es-
pécies, como em Saccharomyces cereviseae, a meiose pode ser retardada,
e a levedura diploide pode reproduzir-se assexuadamente por brotamento,
antes da meiose.
A reprodução assexuada dos ascomicetos filamentosos ocorre por
meio de conídios (Figuras 11 e 23), esporos assexuados formados no ápice
de hifas modificadas (conidióforos). Diferente dos zigomicetos, cujos esporos
são formados no interior do esporângio e só então liberados, os conídios são
produzidos a parir de células conidiogênicas que ficam voltadas para o meio
externo do conidióforo, em geral cada conídio pode produzir de 4-8 conidiós-
poros. Após a dispersão dos conídios, estes germinam e dão origens a hifas
de linhagens diferentes. Essas hifas começam a crescer, espalhando-se no
substrato, ao mesmo tempo em que se alimentam. Por fim, podem continuar
a se reproduzir assexuadamente formando novos conídios ou reproduzir-se
sexuadamente, que ocorre sob determinadas condições ambientais.
A reprodução sexuada de Ascomycota filamentosos (Figura 23) envolve
a formação de um asco. Durante o processo hifas monocarióticas (n) de linha-
gens diferentes formam gametângios multinucleados: ascogônio (gametângio
feminino) e anterídio (gametângio masculino). O ascogônio forma uma tricó-
17
Camada himenial (ou gine que se funde (sofrem plasmogamia) ao anterídio. Através da tricógine,
himênio) é uma camada são transferidos núcleos masculinos do anterídio para o ascogônio, que ficam
contínua esporígena, em pareados dentro das hifas agora passam a ser n + n (dicarióticas), pois a fusão
forma de paliçada, constituída
dos núcleos não acontece imediatamente.
por elementos férteis (ascos
ou basídios) e estéries; é uma Estas hifas se desenvolvem e formam o corpo de frutificação (ascoma
camada ou superfície que ou ascocarpos), que são visíveis a olho nu. Na camada himenia17l do corpo de
contém os esporos no corpo
frutificação forma-se o asco, célula especializada cujas dois núcleos sofrem
de frutificação.
Morfologia e Taxonomia de Cripitógamas 51
c) Fungos assexuados
Análises moleculares e as semelhanças morfológicas na estrutura do micélio
evidenciam que os fungos conidiais (“Deuteromicetos”) estão incluídos dentro
de Ascomycota. Este grupo, também denominado fungos imperfeitos (Fungi
Imperfecti), compreendem uma grande diversidade de organismos (cerca de
15.000 espécies) organizados em um grupo artificial (pois suas espécies po-
dem ou não apresentar ligações filogenéticas).
52
MEDEIROS, J. B. L. P., MENDES, M. R. S, BRITO, LUCENA. E. M .P. CHAVES, B. E.
21
Doliporo: margem inflada Este filo possui cerca de 31.000 espécies, pertence ao sub-reino Dikaria
em forma de barril localizada
em torno do septo dos e é o grupo irmão de Ascomycota, porém diferente desse, apresenta dicario-
Basidiomycota. Qualquer fase longa.
fungo que apresenta Maioria filamentosa (raro leveduriforme) formando micélios bem desen-
Doliporo é Basidiomycota,
entretanto nem todos os volvidos, com septo simples ou formando grampo de conexão (Figuras 26 A e
Basidiomycota apresentam B). O poro do septo é sempre uniporado, podendo ser simples ou com septo
o doliporo, organismos de doliporo21 (presença de parentossomo), como mostram a figuras 26 C a F.
Puccinomycotina apresentam
poros simples.
Morfologia e Taxonomia de Cripitógamas 55
Figura 26 – Exemplos de hifas com septos simples (A) e com grampo de conexão (B).
Esquemas de poros simples (C) e doliporo (D) e suas respectivas fotos em microsco-
pia de transmissão (E e F).
Fonte: http://bit.ly/1eWaqYV; http://bit.ly/187ejW0; http://bit.ly/1LLNAXs; http://bit.ly/1LLNE9K; http://bit.
ly/1QFJEo8.
Quadro 5
TIPOS DE HIFAS
Generativa Esquelétias Conectivas
Crescimento Indefinido Definido Definido
Orientação - Orientado Não - orientado
Parede celular Delgada - -
Ramificação Ramificada Indivisa Ramificada
Septos Simples ou doliporo Usualmente não septada ou septo simples Não septada
b) Reprodução
Os basidiomicetos formam seus esporos sexuais em estruturas chamadas
basídios, que quando são liberados e encontram ambiente apropriado, se de-
senvolvem num novo micélio. Assim que o esporo germina forma um micélio
cenocítico, entretanto logo ocorre a individualização dos núcleos e formação
dos septos, assim o micélio torna-se monocariótico (n); este micélio é denomi-
nado micélio primário. As hifas monocaríóticas de linhagens diferentes podem
se fundir, através de plasmogamia (fusão do seu conteúdo interno), resultan-
do na formação do micélio dicariótico (n + n) ou secundário, uma vez que a
Basidiomas são corpos
22 fusão dos núcleos não se dá imediatamente. Este micélio pode permanecer
multicelulares, estruturados muito tempo no substrato antes de se organizar em estruturas macroscópicas
a partir da organização das externas ou subterrâneas, denominadas basidiomas22 (micélio terciário), que
hifas, nos quais são formados
nada mais são que os corpos de frutificação, representados comumente por
os basídios produtores de
basidiósporos. cogumelos e orelhas de pau (Figura 27).Classe Ustomycetes
Nas extremidades das hifas da camada himenial ocorre cariogamia
(esta célula é denominada de basídio), formando uma célula diploide (2n);
seguida de meiose formando 4 núcleos haploides (n). Concomitantemente a
meiose, no ápice do basídio forma-se 4 estruturas que são separadas do basí-
dio pelo esterigma. Na verdade, este número pode ser 2, 4, 6 ou 8 estruturas,
quase sempre 4.
Após a formação dos núcleos haploides o vacúolo do basídio come-
ça a intumescer, empurrando os núcleos para as estruturas recém-formadas.
Cada estrutura/protuberância recebe um dos núcleos formados após meiose,
assim ocorre à formação dos basidiósporos, tais basidiósporos são conec-
tados ao esterigma por uma região denominado de apículo. Quando este é
liberado dá origem a um novo micélio primário (Figura 27).
Morfologia e Taxonomia de Cripitógamas 57
c) Classificação
Taxonomicamente Basidiomycota é dividido em 3 subfilos: Agaricomycotina,
Puccinomycotina e Ustilagomycotina.
Agaricomycotina
Os fungos inseridos em Agaricomycotina foram, por muito tempo, divididos
em dois grupos baseados em seus aspectos morfológicos: Himenomicetos
e Gasteromicetos. Entretanto não são mais considerados grupos taxonômi-
58
MEDEIROS, J. B. L. P., MENDES, M. R. S, BRITO, LUCENA. E. M .P. CHAVES, B. E.
cos formais uma vez que não são monofiléticos. Após trabalho de Hibbett e
colaboradores (2007) Agaricomycotina passou por profundas transformações
e em sua atual circunscrição a sua maior classe Agaricomycetes apresenta
indivíduos antes pertencentes à Gasteromycetes e a Hymenomycetes.
Os fungos geletinosos (anteriormente colocados em Hymenomycetes)
passaram a constituir as demais classes de Agaricomycotina.
De forma didática será explicada a morfologia de Agaricomycotina uti-
lizando os grupos informais: himenomicetos e gasteromicetos. O primeiro é
constituído pelos cogumelos (comestíveis e venenosos) – Figura 25A a C,
orelhas de pau (Figura 25D) e fungos gelatinosos (Figura 25H). Apresentam
camada himenial exposta e liberação ativa dos esporos. O formato da ca-
mada himenial deste grupo apresenta importante valor taxonômico, sendo os
tipos mais comuns: lamelar, poróide, denticulado e tubular. É comum na cama-
da himenial a presença de cistídeos, estrutura estéril, sem função conhecida
porém com diferentes tipos, apresentando importante valor informativo. Este
grupo, ainda, tem diferentes tipos de adesão ao substrato. Em termos de mor-
fologia externa, pode ser de dois tipos principais: o tipo pileado (com píleo),
Para maiores detalhes
23
sobre a morfologia de
este pode ser dividido em séssil, efuso-reflexo e estipitado; e o tipo ressupina-
cogumelos, consultar: do, firmemente aderido ao substrato.
https://esa.ipb.pt/agro689/ No que se refere à morfologia23 de seus representantes merece desta-
brochura_das_Jornadas_
que os aspectos morfológicos de cogumelos (Figura 28A) e orelhas de pau.
Micologicas.pdf
Nos cogumelos (ordem Agaricales) a presença/ausência da volva e anel pos-
sui relevância taxonômica, a volva geralmente é subterrânea e é resquício do
“ovo” que dá origem ao cogumelo, antes dele de alongar e abrir o chapéu; o
anel é o resquício das bordas do chapéu que ficaram presos no estipe. O eixo
de alongamento do cogumelo é denominado estipe, a espessura e ornamen-
tação deste eixo tem importância taxonômica, assim como a localização da
inserção do estipe no píleo (central, na borda, ou entre estas duas regiões); o
formato de camada himenial; tamanho, coloração, ornamentação da camada
abhimenial (região superior do chapéu) são certas características do píleo que
apresentam relevância taxonômica; outras características como formato, cor
e densidade dos esporos também apresentam valor informativo.
Anote
RECEITA - Arroz com cogumelos
Ingredientes:
2 xícaras (chá) de arroz
2 colheres (sopa) de manteiga
1 bandeja de champignon fresco picado
1 xícara) (chá) de presunto sem capa de gordura em cubos pequenos
Queijo ralado à vontade
Morfologia e Taxonomia de Cripitógamas 59
Modo de preparo
Prepare o arroz.
Enquanto isso em uma panela derreta a manteiga e frite o presunto e o champignon.
Quando o arroz estiver pronto, acrescente o refogado e misture bem. Tampe a panela
e deixe descansar por 10 minutos. Coloque numa fôrma refratária untada, polvilhe o
queijo e sirva a seguir.
Puccinomycotina e Ustilagomycotina
Puccinomycota (ferrugens) e Ustilagomycota (carvões) não produzem basi-
diomas, mas os esporos são organizados em aglomerados chamados soros.
Ambos são fitopatógenos.
O primeiro grupo apresenta ciclo de vida heteroécio (Figura 29), pois
durante seu ciclo de vida infecta dois hospedeiros. Puccina graminis (ferru-
gem do trigo) ao infectar o trigo produz uredídios, estes, por sua vez, produz e
libera urediniósporos que reinfectam o trigo durante o verão. No outono os ure-
diniósporos germinam dando origem a télios, estes produzem dois teliósporos
dicarióticos. Cada teliósporo sofre cariogamia, dando origem, cada um, a um
basídio. O basídio passa por meiose dando origem a 4 basidiósporos que
são liberados. Os basidiósporos germinam sofre a folha de Berberis formando
espermogônios na porção superior da folha, estes podem liberar espermácios
e reinfectar a folha de Berberis; hifas de linhagens diferentes podem sofrer
plasmogamia entre as células do mesofilo foliar, tais hfas crescem em direção
a face abaxial da folha, e nesta face forma écios, estes produzem eciósporos
que, quando liberados, infecta o trigo novamente.
Morfologia e Taxonomia de Cripitógamas 61
Figura 29 – Esquema do ciclo de vida de Puccina graminis (A). Nos detalhes à direita, pode-se observar as secções
histológicas evidenciando os télios (C), espermogônios e écios (C), bem como a morfologia externa dos uredínios,
quando estão infectando a gramínea (E e F).
Fonte: http://1.usa.gov/1ROWUt1; http://bit.ly/1QBYPSz; http://bit.ly/21hgkcl; http://bit.ly/1ROWYsL; http://bit.ly/1R0r60S.
8. Relações Simbióticas
Algumas espécies de fungos vivem associadas a outros organismos, esta-
belecendo relações de parasitismo, mas outras estabelecem relações mutu-
alísticas que são verdadeiras parcerias entre diferentes espécies, como, por
exemplo, os líquens e as micorrizas.
8.1. Liquens
Os líquens (Figura 30 e 31) são organismos muito interessantes, pois resultam
da união entre fungos (componente micobionte) e algas verdes ou cianobac-
térias (componente fotobionte), constituindo-se como elementos únicos, dota-
dos de metabolismo particular e morfologia característica.
Este tipo de associação é dita simbiótica mutualística uma vez que o
componente fotobionte fornece carboidratos e compostos nitrogenados e o
componente micobionte fornece nutrientes e minerais além das condições
necessárias para sobrevivência do fotobionte. 98% dos fungos que faz tal tipo
de associação são Ascomycota, os demais 2% são Basidiomycota. Existem
cerca de 13.250 espécies de fungos que participam dessas associações, e
aproximadamente 40 gêneros de fotobiontes envolvidos, mas o nome científi-
co dos liquens sempre corresponde ao nome do fungo.
Líquens são parafiléticos, de ampla distribuição que sobrevive graças a
sua enorme capacidade de dessecação. Morfologicamente é constituído por
um talo de cores variáveis (dependendo da espécie), sendo que os fungos
compõe a maior parte desta estrutura. O componente fotobionte pode se or-
ganizar de duas formas no talo: distribuído de forma mais ou menos uniforme,
ou como uma camada distinta na porção inferior (talo estratificado) – Figura
30A e B. Este segundo tipo pode ser dividido em 3 formas principais: crostoso
(Figura 31C), que é achatado e adere firmemente ao substrato; folhoso (Fi-
gura 31D), que se assemelha a uma folha; e fruticoso (Figura 31E), ereto e
frequentemente ramificado.
Morfologia e Taxonomia de Cripitógamas 63
Figura 30 – Diferentes tipos de organização dos talos: estratificado (A) e não estratificado (C), com detalhes de suas
respectivas secções transversais (B e D). Diferentes formas de líquens com talos estratificados: crostoso (E), folhoso (F)
e fruticoso (G).
Fonte: http://bit.ly/1k31E2k; http://bit.ly/1PrOlV9; http://bit.ly/ 1UNCqDI; http://bit.ly/12ljMbt; http://bit.ly/16ZarFZ.
8.2. Micorrizas
As micorrizas são relações simbióticas muito importantes, pois ao se associa-
rem às raízes de plantas, os fungos envolvidos aumentam a capacidade de
absorção de água e elementos essenciais, além de protegerem essas plantas
do ataque de animais, ou da colonização por outros fungos. Em contrapartida,
as plantas fornecem carboidratos e vitaminas fundamentais ao crescimento
dos fungos (Figura 32).
Texto complementar
Parasitas transformam formigas em zumbis obedientes
Um novo estudo descreve em detalhes como um parasita causa a morte de formigas
exatamente no lugar que ele deseja – um lugar ideal para o seu crescimento e re-
produção. Quando a formiga doméstica é infectada pelo fungo Ophiocordyceps uni-
lateralis, ela fica viva por um tempo, sendo “comandada” pelo fungo. A formiga, in-
fluenciada pelo parasita, sai do seu ninho e se dirige a outras regiões, com pequenas
plantas. Ela então sobe em folhas rasteiras, e morde-as logo antes de morrer.
Depois da morte da formiga, o fungo continua a crescer, e depois de alguns dias,
sai pela cabeça da formiga, liberando esporos depois de algumas semanas – podendo
infectar qualquer infeliz formiga que passe pelo local. Cientistas conheciam há sécu-
los a habilidade do parasita de tornar as formigas em zumbis, mas o estudo realizado
na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, mostra detalhadamente o controle
absoluto que o fungo tem sobre a sua vítima.
Em uma floresta tailandesa, David Hughes e sua equipe descobriu que as formigas
infectadas geralmente ficavam presas pelas mandíbulas em folhas a 25 centímetros
do chão. Elas também geralmente ficam nas folhas da parte noroeste da planta – local
onde a temperatura, umidade e luz solar são ideais para o crescimento dos fungos.
“O fungo manipula as formigas contaminadas para que elas morram onde o parasita
prefere ficar, fazendo-as viajar por muito tempo nas suas últimas horas de vida”, afir-
ma Hughes.
Mesmo assim, os cientistas descobriram que fazer com que a formiga morra no
local certo é apenas parte da batalha: depois da morte da hospedeira, o parasita usa
o corpo da formiga como alimento, já que a formiga tem açúcares que ajudam no
crescimento do fungo. Apesar disso, o fungo toma o cuidado de manter a mandíbula
do animal intacta, de forma que a formiga se mantenha presa à folha. Além de todos
esses cuidados, o fungo mantém a parte exterior do corpo da formiga intacta, de for-
ma que outros fungos e micróbios não possam penetrar na presa morta.
As formigas parecem ter poucas proteções contra o fungo: o jeito mais fácil de se
manter sem o parasita é ficar longe das outras vítimas. Cientistas acreditam que este
é o motivo pelo qual essas formigas fazem seus ninhos acima dos níveis de reprodu-
ção dos fungos.
Apesar das descobertas feitas pelo estudo, ainda não se sabe exatamente como o
fungo controla o comportamento das formigas. “Esta é outra pesquisa que estamos
começando imediatamente”, afirma Hughes. Independente de qual seja o mecanis-
mo, é óbvio que o Ophiocordyceps unilateralis é extremamente especializado em sua
habilidade de transformar as formigas em zumbis bem-comportados.
Fonte: http://hypescience.com/19932-parasitas-transformam-formigas-em-zumbis-obedientes/
Levedura Mutante
Uma pesquisa feita por cientistas do Instituto de Biologia (IB) da Universidade Esta-
dual de Campinas (Unicamp), em parceria com a Universidade de Duke, nos Estados
Unidos, concluiu o sequenciamento genético da levedura Saccharomyces cerevisiae,
conhecida como Pedra 2.
Morfologia e Taxonomia de Cripitógamas 67
Síntese da Capítulo
Os fungos, aliados às bactérias, são os principais decompositores do planeta.
São seres heterotróficos, que podem buscar seus nutrientes através de rela-
ções de parasitismo ou mutualismo, mas em sua maioria sapróbios, vivendo
da matéria orgânica em decomposição.
Os fungos são formados por hifas organizadas em micélios, e se alimen-
tam através da absorção de nutrientes proveniente da ação de enzimas secre-
tadas por suas hifas. O grupo compreende sete filos, representados pelos Mi-
crosporidia (o mais basal dos fungos), Chytridiomycota (únicos que produzem
68
MEDEIROS, J. B. L. P., MENDES, M. R. S, BRITO, LUCENA. E. M .P. CHAVES, B. E.
Atividades de avaliação
1. Quais as características básicas para um organismos ser incluído dentro
do reino Fungi.
2. Qual a importância ecológica dos fungos como decompositores, simbion-
tes e parasitas.
3. Por que podemos afirmar que os Chytridiomycota são representantes par-
ticulares do reino Fungi? Descreva a reprodução desses organismos.
4. Em uma tabela, relacione os Filos Zygomycota, Ascomycota e Basidio-
mycota quanto às características principais.
5. Esquematize os ciclos de vida de zigomicetos, ascomicetos e basidiomi-
cetos, e posteriormente identifique semelhanças e diferenças quanto ao
processo reprodutivo.
6. Discorra sobre as particularidades de Glomales que fizeram que tal grupo
fosse elevado a categoria de Filo.
7. Diferencie:
a) Os grupos informais himenomicetos e gasteromicetos;
b) Agaricomycotina, Puccinomycotina e Ustilagomycotina.
8. Por que podemos afirmar que as leveduras não são exclusivamente
ascomicetos?
9. Os fungos ascomycotas conidiais não podem ser considerados um grupo
taxonômico formal de classificação. Justifique essa afirmativa.
10. “Os liquens são importantes bioindicadores, utilizados para monitorar o
ambiente das cidades”. Justifique essa afirmação.
Morfologia e Taxonomia de Cripitógamas 69
Sites
http://www.youtube.com/watch?v=8s_fpRUqpuE&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=z3bMDr-WLCs&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=9RRmaPjxDTw&feature=related
http://www.cientic.com/tema_fungos.html
http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./natural/index.
html&conteudo=./natural/artigos/fungos.html
http://tolweb.org/tree?group=Fungi&contgroup=Eukaryotes
http://www.conecteeducacao.com/escconect/medio/bio/BIO03050100.asp
http://www.ucmp.berkeley.edu/fungi/fungi.html
http://www.mykoweb.com/CAF/
http://users.rcn.com/jkimball.ma.ultranet/BiologyPages/F/Fungi.html
Referências
ALEXOPOULOS, C. J.; MIMS, C. W.; BLACKWELL, M. Introductory myco-
logy. 3. ed. New York: John Wiley & Sons, 1996. 632 p.
BLACKWELL, M.; VILGALYS, R.; JAMES, T. Y.; TAYLOR, J. W. Fungi: Eu-
mycota – mushrooms, sac fungi, yeast, molds, rusts, smuts, etc., 2012. Dispo-
nível em: http://tolweb.org/Fungi/2377, acesso em 07 mar. 2016.
CRUZ, R. H. S. F. O gênero Ciathus haller: pers. (Agaricales, Basidiomycota)
em áreas de caatinga do Nordeste brasileiro. 2013. 112f. Dissertação (Mestra-
do em Sistemática e Evolução) – Centro de Biociências, Universidade Federal
do Rio Grande do Norte, Natal, 2013.
EVERT, R. F.; EICHHORN, S. E. Raven: biologia vegetal. 8. ed. Rio de Janei-
ro: Guanabara Koogan, 2014, 856 p.
70
MEDEIROS, J. B. L. P., MENDES, M. R. S, BRITO, LUCENA. E. M .P. CHAVES, B. E.
Objetivos
l Apresentar as características gerais dos organismos pertencentes ao reino Protista.
1.Reino Protista
Esse grupo inclui indivíduos eucariontes que não apresentam características
compatíveis com os Reinos Animal, Vegetal ou Fungi, embora pesquisadores
acreditem que fungos, plantas e animais derivem de ancestrais protistas. Neste
sentido, o estudo de seres incluídos neste reino pode facilitar o entendimento da
origem evolutiva desses grupos.
Iremos trabalhar aqui seres fotossintetizantes autotróficos, como as algas
micro e macroscópicas; organismos heterotróficos incolores, como
os oomicetos e os organismos plasmodiais; além de organismos
ora classificados como protozoários, ora considerados algas, como
é o caso da euglena.
O Reino Protista (Figura 34) compreende uma enorme di-
versidade de organismos, dentre eles, formas aquáticas, anterior-
mente colocadas no Reino Plantae, como as algas; organismos
ameboides semelhantes aos fungos, conhecidos como mixomice-
tos e oomicetos. Além destes, incluem-se os protozoários, geral-
mente classificados de acordo com sua morfologia e locomoção,
mas que não serão tratados aqui, pois são objeto de estudo da
Zoologia e da Parasitologia.
As algas podem ser encontradas nos mais diversificados
ambientes, e seus representantes variam desde formas terrestres e
aquáticas até formas que vivem em associações com outros organis- Figura 34 – Exemplos de protistas fotos-
mos. As formas aquáticas podem ser encontradas em rios, lagos, po- sintéticos.
ças d’água, mangues e mares, vivendo livremente como parte do fi- Fonte:bit.ly/1UQ3iRu
toplâncton, ou fixas a substratos, formando a comunidade bentônica.
74
MEDEIROS, J. B. L. P., MENDES, M. R. S, BRITO, LUCENA. E. M .P. CHAVES, B. E.
25
O supralitoral compreende As algas bentônicas marinhas encontram-se distribuídas de maneira bas-
a faixa que nunca fica tante uniforme ao longo do litoral, que pode ser dividido em supralitoral, mesoli-
submersa, mesmo em
maré alta, estando sujeito
toral e infralitoral25.
apenas a gotículas de água Alga é um termo genérico, desprovido de significado taxonômico, que
salgada em função da quebra compreende seres que possuem clorofila a, hábito predominantemente aquá-
das ondas. O meso-litoral
corresponde à faixa que fica
tico e que são, em sua maioria, unicelulares. Sua organização compreende
descoberta durante as marés um talo indiferenciado, e, mesmo as mais complexas, não possuem raízes,
mais baixas. A zona do infra- caules ou folhas verdadeiras.
litoral nunca fica exposta ao
ar, mesmo nas marés mais
Apesar de serem clorofilados, nem sempre são verdes, pois possuem
baixas. pigmentos acessórios que podem mascarar a presença da clorofila. Dessa
forma, as algas podem apresentar tons avermelhados, azulados ou pardos.
Além da coloração, as algas variam muito em forma e tamanho, exis-
tindo desde formas microscópicas, como Clamydomonas sp., até formas gi-
gantescas que podem atingir 60 m de comprimento, como em algas pardas
do gênero Macrocystis.
Embora tenham, sido consideradas durante muito tempo, como plan-
tas, apenas as ordens Coleochaetales e Charales, pertencentes às clorofíce-
as, têm uma relação evolutiva com as plantas superiores; os demais grupos
representam linhas independentes de desenvolvimento evolutivo, paralelas às
que devem ter originado as plantas.
As algas são responsáveis pela maior parte do oxigênio produzido no
planeta. Elas são de extrema importância, pois representam a base da cadeia
26
Como resultado das
alimentar de muitos outros organismos aquáticos. Além disso, participam do
reações químicas que
ocorrem nos oceanos, ciclo do carbono e do enxofre. No ciclo do carbono, as algas absorvem cerca
podemos citar a produção de metade de todo o CO2 proveniente das atividades humanas.
de 45 milhões de toneladas
Considerando que 71% da superfície da Terra se encontra coberta por
por ano de Dimetilsulfido.
Esse composto orgânico de oceanos e que há uma diversidade imensa de seres vivos nesse ambiente,
enxofre é oxidado pelo ácido podemos imaginar a elevada quantidade de reações químicas26 acontecendo
sulfúrico no ar e conduz nesse exato momento e os produtos resultantes desses processos, como ga-
à formação de nuvens
ses orgânicos lançados na atmosfera.
marinhas.
Quanto à origem filogenética, as algas compreendem grupos muito di-
ferentes, e, já em 1836, Harvey classificou esses organismos com base na
presença de pigmentos. Embora essa classificação permaneça até hoje, as
relações evolutivas entre esses grupos continuam pouco conhecidas e atual-
mente estudos moleculares demonstram que, na verdade, as algas compre-
endem um grupo artificial de classificação.
Começaremos apresentando as euglenas, que são seres controversos,
motivo de disputa entre botânicos, que as consideram algas, e zoólogos, que as
estudam como protozoários. Não vamos entrar nessa questão, até porque a clas-
Morfologia e Taxonomia de Cripitógamas 75
2. Protistas fotossintetizantes
2.1. Filo Euglenophyta
Os flagelados conhecidos popularmente como euglenas ocorrem em águas
continentais ricas em matéria orgânica. Existem cerca de 900 espécies co-
nhecidas, variando grandemente de tamanho (10 a 500 um) e de forma. Des-
tas, apenas um gênero é colonial, todas as restantes são unicelulares.
Os cloroplastos destas algas são muito semelhantes aos das algas
verdes (apresentando clorofila a e b junto com carotenoides). Esse aspecto
sugere que essas algas podem ter ingerido células de clorófitas e, posterior-
mente, estabelecido uma relação simbiótica com os seus cloroplastos.
Dentre esses organismos, cerca de 1/3 dos gêneros possui cloroplas-
tos, inclusive Euglena. Os outros 2/3 são aclorofilados e se alimentam de par-
tículas sólidas e de substâncias dissolvidas, o que explica a enorme quantida-
de desses seres em corpos d’água ricos em nutrientes orgânicos.
O gênero Euglena é o mais comum destas algas (Figura 35), devendo-
se a ele o nome da divisão. Essas algas são muito usadas em estudos laborato-
riais de biologia celular, devido aos quais a sua estrutura é muito bem conhecida.
a) Características gerais
Os representantes do gênero Euglena (Figura 36) apresentam morfologia
característica:
l A maioria é unicelular, somente um gênero é colonial;
l Possuem clorofila a e b;
l Não apresentam parede celular. A membrana plasmática se encontra sus-
tentada por um conjunto de estrias proteicas presentes no citoplasma, ar-
ranjadas helicoidalmente; esta estrutura, ao contrário das paredes celulares
vegetais, não é rígida, permitindo que a célula mude de forma, o que é um
meio alternativo de locomoção;
l Possuem um flagelo longo, que emerge do reservatório, e outro não emergente;
b) Reprodução
As euglenófitas reproduzem–se assexuadamente por bipartição (Figura 37),
por meio da divisão longitudinal da célula, que permanece em movimento en-
quanto se reproduz. Assim como nos dinoflagelados, a membrana nuclear
permanece intacta durante a mitose na maioria das algas verdes, dos fungos
e dos protozoários. Os cromossomos permanecem condensados durante
todo o ciclo celular, e não são conhecidas as formas de reprodução sexuada,
sugerindo que esses processos não tinham ainda surgido quando esse grupo
se divergiu da linhagem principal de protistas.
O gênero Euglena
27
a) Características gerais
28
Chama-se bioluminescência
a produção e a emissão de A maioria dos dinoflagelados possui:
luz fria por um organismo l Clorofilas a e c;
vivo, como resultado de uma
reação química durante l Diversos cloroplastos por célula. Acredita-se que os cloroplastos resultam
a qual energia química é de algas crisófitas ou de outras algas ingeridas pelo dinoflagelado e que
transformada em energia
conseguiram estabelecer uma simbiose estável;
luminosa. Para que isso
ocorra, uma proteína l Xantofilas, como a peridinina, que é semelhante à fucoxantina (responsável pela
denominada luciferina é coloração vermelho-alaranjada), e carotenoides, que mascaram a clorofila;
oxidada por uma enzima
l Algumas formas possuem pirenoides;
denominada luciferase, e,
como consequência disso, l Substâncias de reserva: amido e óleo;
ocorre a liberação de energia
luminosa. Acredita-se que
l Parede celular celulósica denominada teca (quando presente);
a bioluminescência inibe a l Algumas espécies são capazes de realizar o fenômeno da bioluminescência28;
ingestão de dinoflagelados
por copépodas, uma vez
l Núcleo com cromossomos permanentemente condensados, denominado
que estes se tornariam mais mesocariótico. Esse tipo de núcleo pode ser considerado uma forma intermé-
visíveis aos seus predadores diária entre o material nuclear dos procariontes e o núcleo dos eucariontes.
naturais que são os peixes,
ou mesmo porque os flashs
de luz emitidos acabam b) Aspectos ecológicos
por desorientar esses Cerca de metade das espécies de dinoflagelados não apresenta aparelho fo-
predadores.
tossintético e realiza sua nutrição através da ingestão de partículas sólidas ou
Morfologia e Taxonomia de Cripitógamas 79
c) Reprodução
A reprodução dos dinoflagelados é quase sempre assexuada e ocorre por
bipartição, em que cada célula-filha recebe um flagelo da célula-mãe, bem
como parte da teca, que será reconstruída posteriormente, através de proces-
sos metabólicos extremamente complexos.
A mitose nos dinoflagelados é um processo único, em que aparente-
mente se conservam aspectos típicos de bactérias. Existem grandes quan-
tidades de DNA na célula, e os cromossomos são sempre visíveis, não con-
densados antes da mitose. Esses cromossomos estão ligados à membrana
nuclear, que não se desintegra durante o fenômeno. Eles têm baixas taxas de
proteína se comparados às de outros eucariontes, o que os torna semelhan-
tes aos das bactérias. A separação dos cromossomos é realizada por microtú-
bulos no interior de canais citoplasmáticos, que invadem o núcleo.
Observa-se ainda reprodução sexuada, com formação de um zigoto de
parede espessa e inerte (cisto), que aguarda condições mais propícias para
se desenvolver (Figura 42).
O processo pode ser descrito da seguinte maneira:
1. Em determinado momento do ciclo, células de dinoflagelados se fundem
(reprodução sexuada) e formam uma célula diploide, que irá produzir uma
teca celulósica;
2. Esta sucessão constitui a fase móvel do ciclo vital. Graças a uma adapta-
ção evolutiva às condições ambientais adversas, as tecas diploides come-
çam a produzir cistos (fossilizáveis), que encerram o material celular e que
constituem a fase imóvel do ciclo;
3. Após o encistamento, a parede celulósica se desagrega e o cisto é sedimentado;
4. Em condições ambientais favoráveis, o protoplasma excista-se através de
uma abertura chamada arqueópilo;
5. As novas células jovens começam a produzir suas tecas;
6. As novas células passam a se reproduzir assexuadamente;
7. Reinicia-se o ciclo quando essas células realizam novamente a reprodução sexuada.
Morfologia e Taxonomia de Cripitógamas 81
31
Sílica: dióxido de silício
cuja fórmula química é SiO2.
Figura 45 – Imagens de microscopia eletrônica de varredura (SEM) de diatomáceas Pode ser encontrada na
cêntricas marinhas. natureza nas mais variadas
Fonte: www.ceb.uminho.pt/bii/2009/MM.pdf formas, constituindo-se como
o principal componente da
a) Características gerais areia e a principal matéria
prima para o vidro.
Possuem parede celular, denominada frústula, constituída por duas valvas
encaixadas. A maior é a epiteca e a menor, a hipoteca. O encaixe das valvas
chama-se pleura (Figura 46);
l A parede é constituída por sílica31 e por substâncias pécticas;
l Possuem geralmente dois cloroplastos parietais, com um pirenoide central;
mas essa condição varia entre espécies;
l Apresentam clorofila a, c1, e c2; fucoxantina, betacaroteno, dentre ou-
tras xantofilas;
l A substância de reserva é a crisolaminarina, a qual se acumula em vesículas
b) Reprodução
A reprodução das diatomáceas (Figura 47) é principalmente assexuada, ocor-
rendo por divisão celular. Quando a divisão celular ocorre, cada célula-filha re-
cebe uma metade da frústula da célula parental e forma a nova metade. Como
consequência, uma das duas novas células será morfologicamente menor do
que a célula parental e, após uma longa série de divisões celulares, o tamanho
das diatomáceas na população resultante terá reduzido bastante.
Quadro 7
TIPOS DE ORGANIZAÇÃO CELULAR ENCONTRADOS NAS ALGAS, PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
E PRINCIPAIS EXEMPLOS
Tipos de Organização Características Exemplos
Chlamydomonas sp.
Organismos formados por uma única
Unicelular Euglena sp.
célula; podem ser móveis ou imóveis.
Ceratium sp.
Seres caracterizados por um agregado
Pandorina sp.
de células interdependentes entre si
Colonial Volvox sp.
e unidas por mucilagem; podem ser
Hidrodictyon sp.
amorfas ou constituir cenóbios.
Sequência linear de células ramificadas ou
Oedogonium sp.
Tipos de Organização não; talos foliáceos, cilíndricos ou crostosos
Figura 51 – Diversidade de Spirogyra sp.
de organização anatômica filamentosa.
espécies de algas verdes.
Pluricelular
a) Características gerais
l A organização celular é eucariótica;
Atenção
l Ficoplastos estão relacionados a um modo único de divisão celular que ocorre
b) Reprodução
Dentre as algas verdes, não há um padrão reprodutivo para todo o grupo. Pode
ocorrer reprodução assexuada por fragmentação e por mitose, através da pro-
dução de esporos (zoósporos ou aplanósporos) ou pode ocorrer a produção de
gametas, responsáveis pela reprodução sexuada, que apresenta todas as transi-
ções entre isogamia e oogamia. Como não existe um exemplo único para expli-
car a reprodução das algas verdes, faremos as considerações sobre as particula-
ridades reprodutivas quando estivermos falando especificamente de cada grupo.
Com relação à morfologia dos gametas (Figura 52), os ciclos de vida
podem ser:
a) Oogâmicos: no caso de gametas que diferem quanto à forma e à fun-
ção. O maior é imóvel (feminino) e o menor é flagelado (masculino);
b) Isogâmicos: quando os gametas envolvidos são iguais em forma e
em função;
c) Anisogâmicos: quando os gametas são iguais, mas diferem no tama-
nho. Por convenção, o gameta menor é considerado masculino.
c) Classificação
Estudos relacionados à estrutura molecular e à reprodução de algas verdes
resultaram em um arranjo sistemático com diversas classes. Discutiremos
aqui três delas: Chlorophyceae, Ulvophyceae e Charophyceae.
Classe Chlorophyceae
Inclui algas unicelulares flageladas e não flageladas, colônias móveis e imó-
veis, filamentosas e laminares, que habitam ambientes aquáticos dulcícolas
e marinhos. Trataremos aqui de alguns gêneros importantes, representativos
dos diversos tipos de organização existente.
A mitose realizada por estas algas abrange um modo único de citoci-
nese, que envolve um ficoplasto (Figura 53), sistema de microtúbulos que se
desenvolve paralelamente ao plano de divisão da célula.
l Chlamydomonas
O gênero Chlamydomonas é representado por uma alga verde comum em
água doce. Ela é unicelular, possui dois flagelos iguais e é muito utilizada
como modelo de estudos moleculares dos genes que regulam a fotossíntese
e de outros processos celulares.
90
MEDEIROS, J. B. L. P., MENDES, M. R. S, BRITO, LUCENA. E. M .P. CHAVES, B. E.
l Volvox
Como exemplo de alga verde colonial móvel, falaremos do
gênero Volvox devido a sua espetecular organização colo-
nial em forma de esfera oca, composta por uma camada
que varia de 500 a 60.000 células vegetativas biflageladas,
cuja função é a realização da fotossíntese. Compõem a
colônia também, um pequeno número de células reproduti-
vas. Essas células reprodutoras realizam mitoses sucessi-
vas formando esferas jovens que se formam no interior da
colônia-mãe, a qual irá se dissolver, liberando as colônias
jovens. Cada colônia é composta por numerosas células
Figura 56 – Volvox contendo colônias - filhas em flageladas de Chlamydomonas, lembram-se dela? Todas
seu interior. ligadas são por uma matriz gelatinosa, unidas, às vezes, por
Fontes http://www.microscopy-uk.org.uk/mag/artdec03/vol- prolongamentos citoplasmáticos.
vox.html
Na colônia, as células nadam de maneira articulada, e
o conjunto funciona ordenadamente dividindo funções. Por causa disso, mui-
tos autores consideram esse arranjo um importante avanço evolutivo, uma
vez que, pela primeira vez, observa-se, entre os protistas, uma rudimentar
especialização celular, que pode representar uma transição entre os seres
unicelulares e pluricelulares. Volvox é bastante utilizado para analisar o salto
evolucionário (Figura 56) de organismos unicelulares para organismos multi-
celulares com divisão de tarefas.
Reprodução
l Chlorococum
Como exemplo de alga verde unicelular imóvel, o gênero Chlorococum é normal-
mente encontrado entre a microbiota do solos. Essas algas reproduzem-se as-
sexuadamente por zoósporos biflagelados. Sexuadamente, produzem gametas
flagelados que se unem para formar o zigoto, o qual sofrerá meiose.
l Hydrodictyon
Chlorophyceae possui espécies coloniais não móveis, representadas aqui por
Hydrodictyon, comumente conhecida como rede d´água. Morfologicamente,
esses organismos são conjuntos de células cilíndricas que se organizam for-
mando um tubo oco e reticulado. Reproduzem-se através de zoósporos bifla-
gelados, que, quando liberados, voltam a se agrupar em arranjos geométricos
regulares dentro da colônia-mãe. Os zoósporos perdem seus flagelos. Essas
minicolônias são liberadas pela colônia parental e formam grandes redes em
função do aumento do número de células. O modo de reprodução favorece o
crescimento dessas algas, que podem provocar florações consideráveis em
ambientes aquáticos, como tanques, lagos e riachos.
Para conhecer melhor a morfologia dessas algas, acesse protist.i.hosei.
ac.jp/.../index.html.
Este é um gênero filamentoso não ramificado, geralmente fixo ao substrato de uma alga pluricelular,
cuja função é prendê-la ao
por um apressório32, capaz de produzir intensas florações aquáticas em am- substrato.
bientes de água doce, como canais e pequenos lagos, podendo ser encon-
trado raramente em águas salobras. A reprodução assexuada acontece por 33
Zoósporo: esporo móvel,
meio de zoósporos33, aplanósporos34 e acinetos35. A reprodução sexuada é flagelado.
oogâmica. O zigoto resultante sofre meiose e produz quatro células que se
Aplanósporo: esporo imóvel.
34
fixam ao substrato, e, por meio de mitoses sucessivas, desenvolvem novos
filamentos. É característica particular desse gênero a presença de cicatrizes 35
Acineto: esporo assexuado
ao longo do filamento, resultantes da reprodução. imóvel, com parede celular
espessa, que possibilita a
dormência em condições
Classe Ulvophyceae
adversas.
Esse grupo compreende algas predominantemente marinhas com alguns re-
presentantes de água doce, que provavelmente migraram do ambiente mari-
nho no passado. Seus representantes podem apresentar hábito filamentoso,
laminar, macroscópico ou multinucleado. As células móveis possuem simetria
radial com flagelos apicais. Podem possuir vários flagelos. São as únicas al-
gas verdes que apresentam alternância de gerações com meiose espórica ou
uma fase diploide dominante, envolvendo meiose gamética.
94
MEDEIROS, J. B. L. P., MENDES, M. R. S, BRITO, LUCENA. E. M .P. CHAVES, B. E.
l Ulva
Popularmente conhecida como alface-do-mar, é muito comum encontrá-la
na praia distribuída sobre as rochas em períodos de maré baixa (Figura 57).
Essas algas são talos delicados, achatados, brilhantes, formados por ape-
nas duas camadas de células, que podem assumir dimensões excepcionais.
Cada célula do talo possui um núcleo e um cloroplasto (Figura 58).
l Cladophora
Algas filamentosas com células grandes, multinucleadas e septadas distri-
buem-se em ambientes salgados e de água doce. Seus filamentos são ema-
Morfologia e Taxonomia de Cripitógamas 95
Uma alga verde bastante característica devido a sua textura esponjosa (Figura para descrever estruturas
61) e a sua coloração verde-oliva. Esses organismos marinhos são possuem celulares multinucleadas,
uma vez que os núcleos não
filamentos cenocíticos36 densamente entrelaçados, e algumas espécies podem são separados por septos.
se reproduzir desordenadamente, provocando desequilíbrio ao meio ambiente.
• Halimeda
Entre as algas sifonáceas ou cenocíticas, temos ainda o gênero Halimeda
sp. (Figuras 62 e 63), que possui células com paredes celulares calcificadas,
com importante função na formação das areias brancas, resultantes da de-
composição de algas mortas. São algas esbranquiçadas durante a noite, pois,
nesse período, crescem bastante, produzindo substâncias que as protegem
da herbivoria. Durante o dia, assumem a cor esverdeada devido à migração
de cloroplastos das partes inferiores para porções superiores do talo, realizan-
do fotossíntese.
37
Spirogyra Story
[Jorge Ben Jor]
Espirogiro é Spirogyra
É um bichinho bonito e
verdinho que dá na água
É um bichinho bonito e
verdinho que dá na água
Que Plâncton é esse?
Que Plâncton é esse? 2X
É o Espirogiro é o Spirogyra |
Espirogiro é Spirogyra
É um bichinho bonito e
verdinho que dá na água
É um bichinho bonito e Figura 62 – Um indivíduo de Figura 63 – Substrato de Halimeda; comercia-
verdinho que dá na água Halimeda kanaloana e seg- lizado em lojas especializadas em produtos
Você sabe o que é um mentos calcificados distribu- para aquários.
Plâncton? ídos no substrato. Fonte: http://www.rsdiscus.com.br/lojaproduto-102848-
Plâncton é uma alga Fonte: oceanexplorer.noaa. 3539-halimeda_kg
De água doce ou de água gov/.../media/halimeda.html
salgada
Mas Espirogiro é doce, doce,
Classe Charophyceae
doce, doce, doce
De água doce... Essa classe é representada por gêneros unicelulares, coloniais, filamentosos
Mas Espirogiro é doce, doce,
e parenquimatosos e inclui membros que se assemelham às briófitas e às
doce, doce, doce
De água doce... plantas vasculares.
Espirogiro... O parentesco entre carófitas e plantas é evidenciado pela presença de
É o encontro amoroso do
similaridades estruturais, bioquímicas e genéticas, entre as quais podemos listar:
zigoto masculino com o
gameta feminino l Células flageladas assimétricas;
Formam novas células um fio l Invólucro nuclear que se desintegra durante a mitose;
vegetal
Brilhoso e esverdeado igual à l Fragmoplasto durante a citocinese;
cor da esperança l Presença de fitocromo.
Igual a cor da esperança
Espirogiro...
l Spirogyra37
Disponível em:
http://www.youtube.com/ Esta é uma alga filamentosa, não ramificada, flutuante, bastante interessan-
watch?v=IW_9nnRI40E te, que recebeu esse nome em função de suas células possuírem cloroplas-
Morfologia e Taxonomia de Cripitógamas 97
tos espiralados, os quais contêm vários pirenoides dentro das células uninu-
cleadas. Comuns em água doce, seus filamentos encontram-se envolvidos
por mucilagem. Para visualizar os cloroplastos espiralados de Spirogyra,
assista ao vídeo disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=skWl_
u4QzkA&feature=related
l Reprodução
Spirogyra se reproduz (Figura 64) tanto assexuadamente, pela divisão celu-
lar e pela fragmentação dos filamentos, como sexuadamente, quando dois
filamentos se unem por meio de um tubo de conjugação. Inicialmente, dois
filamentos haploides próximos projetam tubos de conjugação. Através dessas
estruturas, ocorre a transferência de material de um filamento para o outro.
Nesse momento, a fecundação ocorre e, como consequência, forma-se um
zigoto, o qual desenvolve parede celular espessa e resistente, de esporopole-
nina, o zigósporo. Ao germinar, o zigósporo sofre meiose como acontece em
todas as Charophyceae.
l Coleochaete
Alga verde típica de água doce que apresenta células
vegetativas uninucleadas contendo grandes cloroplas-
tos que possuem apenas um pirenóide (Figura 65). Es-
sas estruturas são muito semelhantes às encontradas
em antóceros. Reproduzem-se assexuadamente por zo-
ósporos, e, com relação à reprodução sexuada, são oo-
gâmicas. O zigoto produzido permanece ligado à plan-
ta-mãe, imerso no talo, e, em algumas espécies, essa
comunicação parece estar relacionada ao transporte de
nutrientes entre o gametófito e o esporófito, conforme se
Figura 65 – Coleochaete crescendo sobre observa em todas as plantas.
uma folha de Elodea.
Fonte: www.una.edu/faculty/pgdavison/algae.htm l Chara
Este gênero encontra-se bem representado no registro
fóssil, devido à presença de carbonato de cálcio nas
paredes celulares. Apresenta crescimento apical, sen-
do seu talo dividido em regiões distintas. Suas espécies
possuem ramos, que partem da região nodal. Os antero-
zoides são produzidos em estruturas bastante comple-
xas, bem diferentes das encontradas em outras algas.
A oosfera também se encontra protegida por estruturas
semelhantes aos gametângios femininos produzidos
em briófitas e pteridófitas. Na reprodução sexuada, os
anterozoides nadam até a oosfera e promovem a fecun-
Figura 66 – Gênero Chara; Gametângios: ante- dação, que resulta na produção de um zigoto dormente.
rídio em baixo (masculino) e oogônio em cima Acredita-se que Chara (Figura 66) é o parente vivo mais
(feminino). Fonte: commons.wikimedia.org/wiki/ próximo das primeiras plantas que habitaram a Terra.
File:Chara_sp_repr...
a) Características gerais
l O talo encontra-se constituído por células eucarióticas, as quais podem es-
tar interligadas por meio de ligações citoplasmáticas;
l A parede celular é constituída por uma parte interna rígida, formada por mi-
crofibrilas de celulose (na maioria das algas vermelhas), e outra externa,
mucilaginosa, formada por polímeros, como o ágar e a carragenanas;
l Algumas espécies apresentam depósitos de carbonato de cálcio na parede,
des, pois absorvem o comprimento de onda que penetra mais fundo nos 39
As algas são matérias-primas
oceanos: a luz azul. para a produção de cápsulas,
supositórios, anticoagulantes,
l Os pirenoides estão presentes apenas em alguns representantes; filmes, xampus, sabonetes,
l A principal substância de reserva é o amido das florídeas, que se encontra cremes, gelatina, geleias,
iogurtes, tintas.
100
MEDEIROS, J. B. L. P., MENDES, M. R. S, BRITO, LUCENA. E. M .P. CHAVES, B. E.
b) Reprodução
Entre as algas vermelhas, podemos encontrar diferentes tipos de reprodução,
que variam entre as formas vegetativa, espórica ou gamética.
As características particulares da reprodução, nessas algas, compre-
endem importante critério taxonômico para a identificação
dos grupos inseridos no filo Rhodophyta. Algumas espécies
apresentam ciclo de vida com três fases distintas, enquanto
outras realizam sua reprodução em duas fases apenas.
Muitas rodofíceas podem se reproduzir assexuadamen-
te pela produção de esporos imóveis, monósporos (Figura 68),
os quais são liberados no ambiente aquático, e, sob condições
favoráveis, fixam-se a substratos, sofrem mitoses sucessivas,
originando novos indivíduos semelhantes à planta-mãe. Ainda
assexuadamente, podem se reproduzir pela fragmentação do
talo, que origina novos indivíduos.
A reprodução sexuada pode acontecer por meio de ci-
clos de vida mais simplificados, em que há a alternância de ge-
rações, representada por um esporófito (organismo produtor
de esporos) e um gametófito (indivíduo produtor de gametas).
Nesse caso, o espermatângio produz espermácios
(gametas masculinos imóveis), que são levados pela água
até o carpogônio (gameta feminino). O carpogônio pos-
sui uma estrutura alongada especializada para receber os
Figura 68 – Audouinella sp. com mo- espermácios, facilitando, assim, a fusão dos gametas e a
nosporângios produtores de monós- produção de um zigoto. Esse zigoto irá produzir alguns car-
poros.
pósporos diploides liberados na água logo em seguida pela
Fonte: http://vis-pc.plantbio.ohiou.edu/algaei-
mage/pages/Audouinella.html planta-mãe.
Aqueles que conseguem sobreviver germinam um
esporófito, responsável pela produção de esporos haploi-
Morfologia e Taxonomia de Cripitógamas 101
a) Características gerais
O talo pode ser:
Macrocystis pirifera é
40
l Filamentoso: encontrado nas formas mais simples; unisseriado ereto, ra-
a maior dentre as algas
mificado ou não;
marinhas, podendo atingir
60 metros em mares do l Pseudoparenquimatoso: composto por filamentos justapostos, unidos por
Hemisfério Norte. Já no mucilagem, em uma massa amorfa ou formando crostas;
Brasil, não são encontradas
espécies com essas
l Parenquimatoso: composto por células originárias de vários planos, com-
dimensões. As maiores, pondo tecidos; cilíndrico ou achatado, em forma de fita ou lâmina.
que podem atingir 4 l A parede celular é formada por uma camada externa de celulose e outra
metros, pertencem ao
gênero Laminaria e foram interna composta principalmente por ácido algínico. Alguns gêneros, como
observadas ao longo da Padina, podem apresentar depósitos de carbonato de cálcio na parede de
costa do Espírito Santo. suas células;
l Observam-se muitos cloroplastos por célula, considerados critério para a clas-
das algas pardas contêm vários plastídios que são bioquímica e estrutural-
Morfologia e Taxonomia de Cripitógamas 103
b) Reprodução
Assim como em Rodhophyta, as algas pardas realizam reprodução ve-
getativa, espórica e gamética, mas, ao contrário das algas vermelhas, seus
gametas podem ser isogâmicos, anisogâmicos e oogâmicos.
Aqui se utiliza uma denominação especial para as células reprodutivas:
1. Órgãos pluriloculares: podem ocorrer tanto no gametófito (gametângios
que produzem gametas) quanto no esporófito (esporângios que produ-
zem esporos).
2. Órgãos uniloculares: observados apenas no esporófito, são formados
por uma célula grande e esférica, onde ocorre a meiose, que resulta na
produção de esporos haploides.
Em Laminaria, esporângios uniloculares se desenvolvem na superfície
das lâminas maduras, que produzem zoósporos potencialmente capazes de
produzir gametófitos masculinos ou femininos. Cada anterídio presente no ga-
metófito masculino somente é capaz de liberar um único anterozoide, e cada
oogônio contém apenas uma oosfera. Uma vez fertilizada, a oosfera perma-
nece fixa ao gametófito feminino e se desenvolve num novo esporófito. Geral-
mente, os gametas masculinos são atraídos pelos gametas femininos por meio
de compostos orgânicos, processo conhecido como quimiotaxia (Figura 70).
104
MEDEIROS, J. B. L. P., MENDES, M. R. S, BRITO, LUCENA. E. M .P. CHAVES, B. E.
Texto complementar
Texto 1: Maré vermelha - Baía de Todos os Santos sofre poluição crônica
Lilian Machado
“A Maré Vermelha veio para mostrar que a Baía de Todos os Santos pede socorro”.
A afirmação é da bióloga e coordenadora do Projeto Mamíferos Marinhos (Mama),
Maria do Socorro Reis, citando, como uma das causas para a poluição crônica, a
questão do sistema de esgotos jogados na Baía.
O fenômeno que surgiu na Baía há cerca de dois meses, além de gerar a mortan-
dade de mais de 50 toneladas de peixes, desencadeou um processo de pobreza nos
municípios afetados. Pescadores e comerciantes, até hoje, reclamam de prejuízos.
Enquanto isso, a atividade permanece paralisada até o dia 29 para a recomposição e
Morfologia e Taxonomia de Cripitógamas 105
3. Protistas heterotróficos
3.1. Filo Oomycota
Com aproximadamente 700 espécies, este gru-
po compreende seres heterotróficos, cujas pa-
redes celulares são compostas por celulose ou
por substâncias semelhantes. Seus represen-
tantes são unicelulares ou filamentosos rami-
ficados e cenocíticos (Figura 71). Nesse caso,
lembram os fungos e, por essa razão, durante
muito tempo, foram classificados como tal.
Podem se reproduzir assexuadamente, Figura 71 – Estruturas reprodutivas: 1 - anterídio, 2 - oogô-
pela produção de zoósporos, e sexuadamente, nio, 3 - oosferas, 4 - hifas, 5 - anterozoides de um oomiceto.
Fonte: biodidac.bio.uottawa.ca/Thumbnails/showimage...
por meio de gametas oogâmicos. Para tanto,
110
MEDEIROS, J. B. L. P., MENDES, M. R. S, BRITO, LUCENA. E. M .P. CHAVES, B. E.
Síntese da Capítulo
Os protistas são seres eucarióticos que não se enquadram como vegetais,
fungos ou animais. Esta unidade apresenta os aspectos relacionados ao rei-
no Protista, que compreende seres heterotróficos, como mixomicetos e oo-
micetos; autotróficos, representados pelos filos Rhodophyta, Phaeophyta e
Chlorophyta; além de organismos unicelulares ou coloniais, que ora fazem fo-
tossíntese, ora absorvem seus nutrientes do meio, denominados mixotróficos.
Cada um desses grupos compreende uma infinidade de espécies, do-
tadas de características particulares, muitas vezes, únicas, como é o caso
das algas vermelhas, que não produzem gametas móveis, ou dos dinoflagela-
dos, com suas carapaças internas à membrana celular.
Entre os protistas, não há padrões reprodutivos, e, portanto, existem
ciclos muito diversificados, que podem variar quanto ao número de fases, à
112
MEDEIROS, J. B. L. P., MENDES, M. R. S, BRITO, LUCENA. E. M .P. CHAVES, B. E.
forma dos gametas ou dos gametófitos e esporófitos. Além disso, são inúme-
ros os aspectos ecológicos, econômicos e evolutivos, bem como é imensa a
diversidade de espécies.
O reino protista é, portanto, interessantíssimo, cheio de surpresas
e mistérios.
Atividades de avaliação
1. Quais os critérios utilizados para incluir determinados grupos de organis-
mos dentro do Reino Protista?
2. As Euglenas são seres unicelulares particulares, estudadas, ao mesmo
tempo, por botânicos e zoólogos. Descrevendo suas estruturas e suas
respectivas funções, explique por que a classificação desses organismos
como seres autotróficos ou heterotróficos é ainda controversa.
3. Alguns animais e microrganismos conseguem emitir feixes luminosos
através de um fenômeno conhecido como bioluminescência. Pesquise
como acontece essa reação e qual sua importância ecológica.
4. Os dinoflagelados são seres muito característicos, encontrados em ambien-
tes aquáticos marinhos ou de água doce. Algumas de suas espécies são
responsáveis pelo fenômeno conhecido como Maré Vermelha. Após ler so-
bre o assunto, identifique as condições ambientais propícias para que a maré
vermelha aconteça e discorra sobre suas consequências ambientais.
5. “As diatomáceas são células que moram em casas de vidro”. Justifique
essa afirmativa.
6. Em algas verdes, podemos identificar diferentes processos de divisão ce-
lular, que se constituem como caráter taxonômico importante dentro do
grupo. Nesse contexto, diferencie ficoplastos e fragmoplastos.
7. Dentre as macroalgas, as algas vermelhas são únicas que não produzem
células móveis em nenhum momento de seu ciclo reprodutivo. Diante do ex-
posto, como é possível ocorrer fecundação se os gametas são aflagelados?
8. Explique como acontece o transporte de substâncias em algas pardas,
que podem atingir 60 metros de comprimento.
9. Elabore um quadro comparativo (pigmento, reserva, organização celular,
cloroplasto, parede celular, habitat, importância ecológica, importância
econômica, flagelos, relações ecológicas) que mostre, de maneira resu-
mida, as características específicas de cada filo.
Morfologia e Taxonomia de Cripitógamas 113
Figura 2
http://www.youtube.com/watch?v=dt9feEFexTw
www.uniovi.es/.../Herbario%20virtual.htm
http://www.enq.ufsc.br/labs/probio/disc_eng_bioq/
trabalhos_pos2003/const_microorg/protistas.htm
http://www.cientic.com/tema_protista.html
Morfologia e Taxonomia de Cripitógamas 115
http://www.portalbrasil.net/educacao_seresvivos_protistas.htm
http://pt.wikibooks.org/wiki/Biologia:_Biodiversidade-V%C3%ADrus,
_bact%C3%A9rias,_protistas_e_fungos
http://www.uefs.br/disciplinas/bio245/index1.htm
http://www.bch.umontreal.ca/protists/gallery.html
http://protist.i.hosei.ac.jp/Protist_menuE.html
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http://www.ucmp.berkeley.edu/alllife/eukaryotasy.html
http://protist.i.hosei.ac.jp/pdb/Images/Subjects/Phagocytosis/
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euglenph.html
http://www.thallobionta.szm.sk/algae/dino.htm
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-84041999000200001
&script=sci_arttext
Referências
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do Brasil. São Carlos: RiMa, 2005. 508 p.
FRANCESCHINI, I. M.; BURLIGA, A. L.;REVIERS, B.; PRADO, J. F.; RÉZIG,
S. H. Algas: uma abordagem filogenética, taxonômica e ecológica. Porto Ale-
gre: Artmed, 2010. 332 p.
OLIVEIRA, E. C. Introdução à biologia vegetal. 2. ed. São Paulo: Edusp,
2003. 266 p.
PAULA, E. J.; PLASTINO, E. M.; OLIVEIRA, E. C.; BERCHEZ, F.; CHOW, F.;
OLIVEIRA, M. C. Introdução à biologia das criptógamas. São Paulo: Insti-
tuto de Biociências da Universidade de São Paulo, 2007. 194 p.
RAVEN, P. H.; EVERT, R. F.; EICHHORN, S. E. Biologia vegetal. Tradução Jane
Elizabeth Kraus et al. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. 830 p.
REVIERS, B. Biologia e filogenia das algas. Porto Alegre: Artmed,
2006. 280 p.
Capítulo 4
Briófitas
Morfologia e Taxonomia de Cripitógamas 119
Objetivos
l Demonstrar a relação evolutiva existente entre algas verdes e briófitas.
l Apresentar características que distinguem briófitas e das demais plan-
tas terrestres.
l Identificar características exclusivas das briófitas.
l Compreender aspectos gerais relacionados à morfologia e à reprodução.
l Diferenciar os diferentes filos existentes de briófitas.
1. Reino Plantae
O Reino Plantae compreende vegetais representados pelas bri-
ófitas (Figura 74), pteridófitas, gimnospermas e angiospermas.
Todos os organismos pertencentes a esse grupo são plurice-
lulares, constituídos por células eucarióticas possuidoras de
vacúolos, envolvidas por paredes celulares de celulose, que
realizam sua nutrição através de fotossíntese.
As características próprias dos representantes classi-
ficados como plantas são resultado do processo evolutivo e
determinaram o domínio do ambiente terrestre pelos vegetais,
por meio do desenvolvimento de órgãos especializados para a
Figura 74 – Musgos e liquens recobrindo ro-
fotossíntese, a fixação e a sustentação.
chas nuas.
A organização estrutural das plantas pode atingir níveis Fonte: www.infoescola.com/biologia/briofitas-bryophyta/
de complexidade diferenciados, observados nos diversos gru-
pos inseridos nesse reino. Assim, temos aqui espécies que se reproduzem 41
Embriófitas são plantas
principalmente por meio de esporos, como briófitas e pteridófitas, ou que pro- que desenvolvem
duzem flores como órgãos reprodutivos importantes. embriões durante o
A reprodução assume uma padronização em relação ao que acontece processo de reprodução.
São embriófitas: briófitas,
entre os protistas, pois se observa a ocorrência de ciclos oogâmicos, com al- pteridófitas, gimnospermas,
ternância de gerações gametofítica e esporofítica, que resultam na produção angiospermas.
de um embrião, inicialmente ligado à planta-mãe. Devido a essa característica
comum, todas as plantas são denominadas embriófitas41.
120
MEDEIROS, J. B. L. P., MENDES, M. R. S, BRITO, LUCENA. E. M .P. CHAVES, B. E.
Quadro 8
RESUMO DAS CARACTERÍSTICAS DOS FILOS DE BRIÓFITAS
FILO
Hepatophyta Anthocerophyta Bryophyta
Gametófitos
Estrutura Talosos ou folhosos Talosos Folhosos
Simetria Dorsiventral ou radial Dorsiventral Radial
Rizóides Unicelulares Unicelulares Pluricelulares
Cloroplastos por célula Vários Um Vários
Protonema Reduzido Ausente Presente
Anterídios e arquegônios Superficiais Imersos Superficiais
Esporófitos
Grande e
Estrutura Pequeno e aclorofilado Grande e clorofilado
clorofilado
Crescimento Definido Contínuo Definido
Seta Presente Ausente Presente
Diferenciada
Forma da cápsula Simples Alongada em opérculo e
peristômio
Maturação dos esporos Simultânea Gradual Simultânea
Dentes do
Dispersão dos esporos Elatérios Pseudoelatérios
peristômio
Columela Ausente Presente Presente
Deiscência Longitudinal ou irregular Longitudinal Transversal
Estômatos Ausente Presente Presente
Fonte: Brito e Porto (2000).
a) Hepáticas talosas
São plantas organizadas em talos diferenciados em uma porção superior ou
dorsal (fina e rica em clorofila) e outra inferior ou ventral (incolor e mais es-
pessa) (Figura 79).
(A) (B)
Figura 80 A - Corte de Ricciocarpus sp., mostrando seus esporófitos imersos; B – Ga-
metófito de Ricciocarpus sp.
Fonte: kentsimmons.uwinnipeg.ca/2152/lb7pg3.htm
b) Hepáticas folhosas
As hepáticas folhosas diferem das talosas, pois seus representantes apresen-
tam arranjo corporal diferenciado (em filídios, caulídio e rizoide) se comparada
aos observados nos musgos (Figura 85). Aqui também se observa a produção
de um perianto, que é responsável pela proteção do arquegônio e do esporó-
fito durante seu desenvolvimento.
Morfologia e Taxonomia de Cripitógamas 127
a) Sphagnidae
Essa classe é representada principalmente pelo gênero Sphagnum, de mor-
fologia e de anatomia bastante particulares, cujas espécies encontram-se dis-
tribuídas por todo o planeta. Sphagnum é reconhecido por sua capacidade
de absorção e de retenção de líquidos, sendo utilizado na horticultura pela
propriedade de aumentar a acidez do solo, ou como biorremediadores.
Morfologia e Taxonomia de Cripitógamas 129
Os depósitos de Sphagnum47, conhecidos como turfeiras (Figura 88), Devido a sua elevada
47
são compostos por um material orgânico que é bastante utilizado como com- capacidade de absorção,
Sphagnum pode ser utilizado
bustível, além de ser empregado na destilação do uísque escocês, para con- como biorremediador em
ferir seu aroma característico. derramamentos de petróleo.
Os gametófitos maduros não apresentam rizoides e têm coloração ver-
de-clara, devido à presença de células mortas, capazes de armazenar água,
em meio a células clorofiladas (Figura 89 e 90).
Os esporófitos não possuem peristômio, sua seta é curta (pseudopódio)
e o protonema é muito pequeno e simplificado, características bastante dife-
rentes das observadas nos musgos verdadeiros (Figura 91).
b) Andreaeidae
Compreende plantas de coloração marrom, verde escura ou avermelhada,
que ocorrem sobre rochas graníticas, que, por esse motivo, são conhecidas
como musgos-de-granito. Seus gametófitos também não possuem rizoides, e
o protonema é pouco comum (Figura 92).
Os esporófitos (Figura 93) possuem cápsulas com fendas transversais,
que, ao secar, liberam os esporos por grandes distâncias, mecanismo não
observado em nenhum outro musgo.
c). Bryidae
As plantas consideradas nessa classe são conhecidas
como musgos verdadeiros (Figura 94) e se constituem em
gametófitos folhosos eretos ou pendentes, os quais se de-
senvolvem a partir de protonemas característicos.
O tamanho dos indivíduos pode variar bastante, mas
todos apresentam rizoides pluricelulares, filídios e caulídio,
que, muitas vezes, pode apresentar certo grau de espe-
cialização, revelado pela presença de células conhecidas
como hidroides e leptoides, que promovem a condução de
água e de substâncias orgânicas, respectivamente.
Figura 94 – Morfologia típica de um musgo ver-
dadeiro representada pela espécie Polytrichum
formosum.
Fonte: www.meemelink.com/prints%20pages/prints.musci.htm
Morfologia e Taxonomia de Cripitógamas 131
Reprodução
A reprodução se dá por meio da alternância de gerações (Figura 95), da se-
guinte maneira:
1. Os esporos são liberados de uma cápsula que se abre quando o opérculo
cai e germinam uma estrutura filamentosa verde, o protonema;
2. O protonema desenvolve gemas que originam novos gametófitos folhosos;
3. Nos ramos dos gametófitos masculinos, são produzidos anterídios; en-
quanto nas plantas femininas, desenvolvem-se arquegônios;
4. Quando gotas de água atingem os ramos sexualmente maduros, antero-
zoides são transferidos aos ramos femininos e nadam até a oosfera para
que aconteça a fecundação;
5. O zigoto produzido se desenvolve e se transforma em um esporófito, com-
posto por cápsula, seta e pé, dependente nutricionalmente da planta mãe;
6. O esporófito produz esporos por meiose, que após liberados, germinam
novos protonemas.
Síntese da Capítulo
As plantas terrestres parecem ser derivadas de algas verdes ancestrais devi-
do a uma série de características morfológicas e bioquímicas compartilhadas
entre esses dois grupos. Na verdade, acredita-se que as primeiras plantas ter-
132
MEDEIROS, J. B. L. P., MENDES, M. R. S, BRITO, LUCENA. E. M .P. CHAVES, B. E.
restres devem ter sido muito semelhantes às briófitas que habitam atualmente
o nosso planeta, porém o registro fóssil é muito escasso para esses vegetais
que não possuem lignina em sua constituição.
As briófitas são pequenas e não possuem sistema condutor como o que
ocorre em plantas vasculares, e, além disso, a fase dominante do ciclo repro-
dutivo é a gametofítica. Essas características fazem com que essas plantas
sejam únicas entre as demais.
Diferentemente do que se observa nas algas, briófitas produzem estruturas
reprodutivas que protegem seus gametas, denominadas anterídios e arquegô-
nios. Seus embriões realizam sua nutrição a partir da planta-mãe, e seus esporos
são revestidos por uma substância resistente denominada esporopolenina.
Entre as briófitas, distinguem-se três grupos. As plantas mais simples
de todas estão inseridas no filo Hepatophyta. O filo Antocerophyta é o menor
em número de espécies, e o filo Bryophyta compreende o maior número de
representantes, entre os quais se encontram os musgos verdadeiros.
As briófitas encontram-se geograficamente bem distribuídas e apresen-
tam importância ecológica relacionada aos depósitos de turfa que ocorrem
em várias regiões do planeta.
Atividades de avaliação
1. Enumere as características compartilhadas entre briófitas e:
l Algas verdes
l Plantas vasculares
2. Se alguém lhe perguntasse como identificar uma briófita, qual seria sua
resposta técnica?
3. Através da listagem das características morfológicas principais, diferencie:
l Hepáticas talosas e antóceros
l Hepáticas folhosas e musgos
4. Esquematize o ciclo reprodutivo de hepáticas, antóceros e musgos. Ago-
ra, identifique as semelhanças existentes e liste as particularidades dos
ciclos de vida de cada grupo.
5. Qual a relação existente entre os antóceros e o gênero Nostoc sp.?
6. Elabore uma tabela que contenha as principais características das Clas-
ses Sphagnidae, Andreaeidae e Bryidae.
Morfologia e Taxonomia de Cripitógamas 133
7. Existem turfas nas regiões tropicais? Em caso afirmativo, realize uma pes-
quisa e liste algumas turfeiras existentes no mundo. Feito isso, discorra
acerca da sua importância ecológica.
8. Se os musgos verdadeiros, pertencentes à Classe Bryidae, possuem célu-
las especializadas na condução de água e de substâncias orgânicas, por
que são considerados vegetais avasculares?
9. “Os musgos compreendem somente plantas eretas, não existindo formas
epífitas.” Essa afirmativa é verdadeira ou falsa? Justifique sua resposta.
10. Construa um minidicionário definindo os termos abaixo:
l Elatério
l Perístoma
l Protonema
l Conceptáculo
l Matrotrofia
l Placenta
l Esporopolenina
l Arquegônios
l Anteridióforos
11. Pesquise um artigo científico sobre a utilização das briófitas como bio-
indicadores. Após realizar a leitura do texto escolhido, faça uma análise
crítica, anotando os pontos fracos e fortes identificados.
12. Associe as colunas a seguir relacionando hepáticas, musgos e antóceros
às briófitas às suas características particulares:
BRIÓFITAS CARACTERÍSTICAS
Texto complementar
Texto 1: Como é a fabricação de whisky
O whisky é produzido em 4 etapas: maltagem, mahing, fermentação e destilação.
Dizem os especialistas em bebidas que o bom whisky não dá dor de cabeça, aquela
dorzinha no outro dia que chamam de ressaca. A boa bebida é feita seguindo rigo-
rosamente os padrões de qualidade e as etapas pré-estabelecidas, usando a melhor
matéria-prima.
Na produção do whisky escocês, quando feito a partir da cevada maltada, as suas
sementes são germinadas para que as enzimas possam preparar o amido presente
para a sua conversão em açúcar. Depois, as sementes são enxutas para que a germi-
nação se interrompa. Antes da germinação, a cevada é misturada e peneirada para re-
mover os corpos estranhos. Posteriormente, é submersa em tanques especiais duran-
te dois ou três dias e espalhada numa ampla área para que se dê início à germinação.
Esta demora varia de 8 a 12 dias, dependendo da região, e pode ser interrompi-
da quando as sementes germinadas alcançam o tamanho de uma polegada. O mal-
te verde é posteriormente seco em estufas ou com fornos aquecidos com turfa (os
chamados kilns) de forma célere. A qualidade e as características do whisky escocês
dependem da turfa utilizada, uma vez que ela concede ao whisky um sabor especial.
A história completa e os modelos de alambiques estão no site Copper-alembic.com.
Fonte: www.arteblog.net/.../como-e-a-fabricacao-de-whisky/
Fome de turfa
O apetite dos fundos estrangeiros pelo agronegócio brasileiro parece não ter limites.
Não são apenas as usinas de cana-de-açúcar que chamam a atenção dos investidores
de fora do país. Essa turma de endinheirados está à procura de empreendimentos em
infraestrutura, serviços e tecnologia para o setor agro. Recentemente, conversei com
o consultor em agronegócios Marcos Françóia, que me contou sobre o interesse de
um fundo estrangeiro em investir um dinheirão em um negócio com turfa.
�Turfa? Não seria trufa de chocolate?�– pensei. Não! Descobri que a turfa é um
composto vegetal, rico em ácidos orgânicos. Na natureza, a turfa é uma espécie de solo
fossilizado que, em última instância, transformar-se-ia em petróleo daqui a 10 milhões
de anos. Na agricultura, o composto orgânico é usado como condicionador de solo,
produto que aumenta a eficiência da aplicação de fertilizantes e de defensivos.
Consequentemente, ele gera uma economia de cerca de 15% com insumos agríco-
las, além de vantagens ambientais, como a ausência de resíduos no solo. Ainda pouco
conhecido no Brasil (na Europa é bem mais comum), o produto tem despertado a co-
biça dos investidores por dois motivos: as altas margens de lucros das empresas que
processam a turfa e as grandes reservas brasileiras do composto, que ficam principal-
mente no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. Já há investidores, por exem-
plo, interessados em comprar terras que tenham turfa no subsolo. Parece promissor...
Fonte: agribizz.blogspot.com/.../at-turfa-brasileira-interessa-aos.html
http://www.unisanta.br/briofitas/capa.htm
http://www.perspective.com/nature/plantae/bryophytes.html
http://www.briolat.org/briofitas/index.htm
http://www.biomania.com.br/bio/conteudo.asp?cod=1250
136
MEDEIROS, J. B. L. P., MENDES, M. R. S, BRITO, LUCENA. E. M .P. CHAVES, B. E.
Referências
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Saunders College Publishing, 1991. 413 p.
BOLD, H. C. O reino vegetal. Tradução por Antonio Lamberti. São Paulo:
Edgard Blucher, 1988. 189 p.
BRITO, A. E. R. M.; PORTO, K. C. Guia de estudos de briófitas: briófitas do
Ceará. Fortaleza: EUFC, 2000. 68 p.
LUGHADHA, E. N. Mudanças recentes e propostas na nomenclatura botâni-
ca: implicações para a botânica sistemática no Brasil. Revista Brasileira de
Botânica, São Paulo, v. 22, n. 2 (suplemento), p. 231-235, out. 1999.
OLIVEIRA, E. C. Introdução à biologia vegetal. 2. ed. São Paulo: Edusp,
2003. 266 p.
PAULA, E. J. de; PLASTINO, E. M.; BERCHEZ, F. A. S.; OLIVEIRA, M. C.;
Morfologia e taxonomia de criptógamas. São Paulo: USP, 1999. v. 4, 49 p.
(Apostila).
RAVEN, P. H.; EVERT, R. F.; EICHHORN, S. E. Biologia vegetal. Tradução
Jane Elizabeth Kraus et al. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007.
830 p.
SCHULTZ, A. Introdução à botânica sistemática. 6. ed. Porto Alegre: Editora
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1990. v. 1, 294 p.
SMITH, G. M. Botânica criptogâmica: briófitos e pteridófitos. Tradução Car-
los das Neves Tavares. 4. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1987.
v. 2, 387 p.
Capítulo 5
Pteridófitas
Morfologia e Taxonomia de Cripitógamas 139
Objetivos
l Apresentar características que distinguem pteridófitas das demais plan-
tas terrestres.
l Identificar características particulares dos diversos grupos de pteridófitas.
l Compreender aspectos gerais relacionados à morfologia e à reprodução
nas plantas vasculares sem sementes.
l Diferenciar os diferentes filos de pteridófitas.
l Compreender os aspectos econômicos e ecológicos relacionados ao grupo.
1. Pteridófitas x Briófitas
Você já deve ter visto diversas samambaias cultivadas em cestas ou mesmo nos
jardins de muitas casas, sempre utilizadas devido ao seu valor ornamental, pois
se constituem em elementos interessantes para a composição da paisagem.
Essas plantas são criptógamas, conhecidas como pteridófitas (Figura
96), e compreendem características particulares que as diferenciam das brió-
fitas, como a presença de tecidos vasculares com células lignificadas; a alter-
nância de gerações, em que o esporófito representa a fase dominante do ciclo
de vida; e o gametófito reduzido, cuja permanência no ambiente é efêmera.
4.Filos atuais
4.1. Filo Lycopodiophyta
As plantas conhecidas como licopodíneas ou licófitas possuem, como
características principais, esporângios agrupados em estruturas deno-
minadas estróbilos, que podem ser homosporadas ou heterosporadas;
produzem gametófito cilíndrico clorofilado; e suas folhas são microfilos Figura 102 – Representante do Filo
Trimerophyta, plantas mais desen-
dispostos espiraladamente ao redor do caule.
volvidas que viveram no Período
O filo inclui apenas cinco gêneros atuais, dentre os quais detalha- Devoniano.
remos Lycopodium e Selaginella, amplamente distribuídos em ambien- Fonte: comenius.susqu.edu/.../trimerophyto-
tes temperados e tropicais. phyta.htm
a) Lycopodium
Gênero representado por plantas compostas por eixos alongados que partem
de um rizoma associado a raízes. O caule dessas plantas é protostélico e ro-
deado por microfilos dispostos em espiral, e seus esporângios podem se de-
144
MEDEIROS, J. B. L. P., MENDES, M. R. S, BRITO, LUCENA. E. M .P. CHAVES, B. E.
a) As samambaias
São plantas bem-sucedidas na competição pela sobrevivência e, por esse
motivo, são muito bem representadas atualmente por plantas bastante valori-
zadas comercialmente.
Aqui devemos fazer algumas considerações sobre a origem dos espo-
ros nessas plantas, pois tal característica representa importante ferramenta
para a compreensão das relações evolutivas do grupo.
Samambaias podem ser leptosporangiadas ou eusporangiadas, e es-
ses nomes complicados apenas dizem respeito ao desenvolvimento de espo-
ros nessas plantas.
Os eusporângios (Figura 107 A) se originam de um grupo de células
localizadas na superfície inferior da folha, as quais sofrem divisões sucessivas
e formam um esporângio curto. Já os leptosporângios, tipos mais frequentes,
originam-se a partir de uma única célula, que se divide para produzir um pe-
dicelo e uma cápsula ao final do processo. Após uma série de divisões que
ocorrem durante um processo bastante complexo, forma-se um esporângio
pedicelado, com uma cápsula cheia de esporos protegidos por um anel celu-
lar denominado ânulo. Esse sistema funciona como uma catapulta que lança
os esporos no ambiente de maneira bastante eficiente quando o estômio se
rompe (Figura 107 B).
Morfologia e Taxonomia de Cripitógamas 147
(A)
(B)
Figura 107 – Esquema de desenvolvimento de eusporângios e leptosporângios.
Fonte: www.biologie.uni-hamburg.de/.../helechos.htm
b) Classificação
Ordem Psilotales
Psilotum sp. (Figura 108) é um gênero que se assemelha morfologicamente 56
Rizoma é um caule
às plantas primitivas. É considerado muito simples devido a seus esporófitos modificado em forma de raiz,
rico em reservas energéticas
ramificados e por serem portadores de pequenas escamas. Apresentam uma
para a planta. São levemente
porção subterrânea semelhante a raízes ou a rizomas56 associados a raízes cilíndricos e apresentam
adventícias delicadas. São plantas homosporadas e seus esporos são produ- crescimento horizontal,
zidos em agrupamentos laterais. paralelo ao solo, superficial
ou subterrâneo. Possuem
gemas ao longo de sua
extensão, de onde brotam os
ramos e as raízes.
Figura 108 – Esporófito de Psilotum sp. com suas escamas e esporângios laterais.
Fonte: uk.wikipedia.org/wiki/Псилотові
Ordem Equisetales
Como representante da ordem Equisetales, o gênero Equisetum sp. é bem ca-
racterístico por apresentar hábito articulado e textura áspera. As espécies perte-
centes a esse gênero são bem distribuídas em ambientes úmidos ou alagados.
148
MEDEIROS, J. B. L. P., MENDES, M. R. S, BRITO, LUCENA. E. M .P. CHAVES, B. E.
Figura 109 – Espécie de Equisetum sp. com seus ramos férteis e vegetativos, rizoma
e raízes.
Fonte: cavehill.uwi.edu/FPAS/bcs/bl14apl/pter3.htm
Ordem Ophioglossales
57
Por que a espécie
As plantas incluídas nessa ordem são Ophioglossum reticulatum
representadas por apenas três gêneros, apresenta o maior
com aproximadamente 80 espécies. número de cromossomos
Dois deles, Botrychium (Figura 112) e encontrado na natureza
(1.260 cromossomos) se
Ophioglossum57 (Figuras 113 e 114), são seus esporófitos possuem
bastante comuns em regiões tropicais e morfologia extremamente
temperadas. São consideradas as pteri- simplificada?
dófitas mais primitivas viventes nos dias
atuais, caracterizadas por serem homos-
poradas e eusporangiadas. Nos dois
gêneros citados, desenvolve-se apenas
uma folha a cada ano, que parte de um
rizoma. Essas folhas são divididas em
uma porção vegetativa e outra reprodu-
tiva, sendo compostas em Botrychium e
simples em Ophioglossum. Seus game-
tófitos compreendem estruturas subterrâ-
neas associadas a fungos. Essas plantas
Figura 112 – Morfologia do esporófito
são muito diferentes quanto à morfologia
de Botrychium sp.
externa e interna de seus esporófitos e Fonte: www.commons.wikimedia.org/wiki/
gametófitos e, por isso, devem ter divergi- File:Botrychium_lu...
do cedo das demais pteridófitas.
150
MEDEIROS, J. B. L. P., MENDES, M. R. S, BRITO, LUCENA. E. M .P. CHAVES, B. E.
Ordem Filicales
Encontram-se aqui todas as samambaias mais familiares, que compreendem
cerca de 10.000 espécies. Habitam diversos ambientes, sendo mais comuns
em regiões tropicais, porém podem ser encontradas em regiões temperadas
graças aos rizomas suculentos que persistem durante o inverno.
Todas as samambaias são vascularizadas e, portanto, possuem folhas
e raízes verdadeiras. Na maioria das espécies, as folhas são macrofilos bas-
tante vascularizados, e essas plantas assumem os maiores tamanhos entre
as criptógamas vasculares.
Nessas plantas, as folhas são denominadas frondes, as quais podem
ser simples ou pinadas, com seus folíolos ligados entre si pela nervura central
da folha (ráquis).
Dizemos que a folha é pinatisecta quando as divisões chegam até a
ráquis, enquanto que, se as divisões forem incompletas, a folha é denominada
pinatifida. Folhas repetidamente subdivididas recebem a denominação de bi-
pinadas, tripinadas etc., podendo ser classificadas, por exemplo, em bipinatifi-
das ou bipinatisectas, em função do tipo de divisão apresentado. O padrão de
nervação das folhas é bastante importante para a classificação taxonômica.
As folhas jovens são enroladas e a face superior se desenrola mais ra-
pidamente que a inferior, o que determina a formação de uma estrutura carac-
Morfologia e Taxonomia de Cripitógamas 151
Figura 115 – Detalhe de um soro protegido por indúsio com esporângios em diferentes
estágios de maturação.
Fonte: www.asturnatura.com/articulos/helechos/helei.php
Figura 118 – Morfologia de um protalo com seu esporófito jovem, resultante da fecundação.
Fonte: www.asturnatura.com/articulos/helechos/helei.php
O zigoto formado sofre sucessivas mitoses e se transforma em um es- Báculos são folhas jovens de
58
porófito dependente nutricionalmente do gametófito feminino. Uma vez de- samambaias, assim chama-
das devido à semelhança com
senvolvidas as raízes, o caule e as folhas, o protalo se desintegra e o espo-
os cajados dos bispos, muito
rófito passa a viver de forma independente. O esporófito maduro é formado apreciados na preparação de
por um rizoma, associado a raízes e a frondes, além de possuir báculos58. Em diversos pratos da culinária.
determinado momento, o tecido esporógeno, localizado na face inferior das
folhas, sofre meiose e produz esporos haploides, prontos para germinar novos
protalos viáveis.
Saiba Mais
Broto de samambaia com costelinha de porco
Ingredientes
1 colher de sobremesa de corante
1 colher de banha de porco
400 gramas de broto de samambaia
Tempero e cheiro verde a gosto
1 quilo de costelinha de porco
1 cebola
1 tomate
1 pimentão
Modo de preparo
Lavar o broto de samambaia. Ferver o broto de samambaia pelo menos 2 vezes, por 3
minutos, para tirar o amargo, escorrendo e reservando. Temperar a costelinha. Fritar
a costelinha e refogar na banha de porco ou no óleo de soja junto com o tempero, o
cheiro verde, a cebola, o tomate e o pimentão (cortados em pedacinhos). Cozinhar
por 25 minutos. Juntar o broto de samambaia. Cobrir os ingredientes com água até
a metade da panela, fervendo por mais 10 minutos. Servir com feijão batido, arroz,
angu e uma boa cachaça de Minas Gerais.
Fonte: www.livrodereceitas.net/mineira/mine1292.htm
Figura 121 – Salvinia minima com suas raízes Figura 122 – Azolla sp.
flutuantes associadas a esporocarpos. Fonte: www.birstall.co.uk/products/wnr117.html
Fonte: aquaplant.tamu.edu/.../common_salvinia.htm
Síntese da Capítulo
As pteridófitas compreendem as primeiras plantas vasculares do ambiente
terrestre e, dessa forma, foram os primeiros vegetais a desenvolver folhas,
raízes e caules verdadeiros. Todas as plantas terrestres apresentam ciclos
reprodutivos heteromórficos, com gerações diferenciadas em gametófitos e
em esporófitos, e em gametas oogâmicos.
No caso das pteridófitas, esses gametas estão protegidos por anterídios
e arquegônios, que se desenvolvem em gametófitos efêmeros e delicados.
156
MEDEIROS, J. B. L. P., MENDES, M. R. S, BRITO, LUCENA. E. M .P. CHAVES, B. E.
Atividades de avaliação
1. Identifique pelo menos três características que possibilitaram a sobrevivên-
cia das plantas no ambiente terrestre.
2. Diferencie:
a. Heterosporia e homosporia;
b. Leptosporângios e eusporângios.
3. Esquematize os ciclos de vida de musgos e samambaias e compare
suas características particulares. Ao final, liste as semelhanças e as dife-
renças encontradas.
4. Faça uma pesquisa e encontre artigos que falem sobre a diversidade de pte-
ridófitas brasileiras. Escolha um deles e faça um resumo sobre o texto lido.
5. Imagine que você foi contratado para dar uma aula de campo sobre as
pteridófitas da região para um grupo de crianças do Ensino Fundamental.
Como você planejaria essa atividade?
6. O que a produção de arroz tem a ver com as samambaias do gênero Azolla?
7. Faça uma busca pela vizinhança e identifique samambaias cultivadas em
cestas, ou mesmo que tenham crescido naturalmente sobre outras plantas.
Retire um ramo contendo parte do rizoma com suas folhas, raízes (férteis
de preferência) e báculos. Analise detalhadamente e faça um desenho es-
quemático identificando todas as partes observadas.
8. Por que se diz que as fanerógamas são mais evoluídas que as criptógamas?
Morfologia e Taxonomia de Cripitógamas 157
Texto complementar
Texto 1: Resolução SMA - 48, DE 21-9-2004
O Secretário de Estado do Meio Ambiente, considerando que:
A conservação das espécies em estado selvagem garante o acesso das futuras gera-
ções aos recursos genéticos, e, assim, a importância da conservação "In situ" vem
sendo gradativamente e melhor entendida e aceita, pois a ocorrência e a manu-
tenção da variabilidade genética só são possíveis em estado natural; a diversidade
vegetal representa uma fonte de recursos genéticos úteis para o desenvolvimento
sustentável, na forma de madeira, de frutos, de forragem, de plantas ornamentais
e de produtos de interesse alimentício, industrial e farmacológico; a perda da di-
versidade biológica continua a ocorrer em todo o mundo, principalmente devido à
destruição de habitas, efeitos de poluição e de introdução inadequada de plantas
exóticas; o conhecimento da flora do Estado de São Paulo deverá contribuir para o
planejamento ambiental e para a orientação dos processos de licenciamento am-
biental, visando ao estabelecimento de políticas públicas, planos de manejo em
unidades de conservação e para a expedição de laudos e licenças de desmatamen-
to, sobretudo na elaboração de Termos de Ajustamento de Conduta (TACs), Rela-
tórios de Avaliação Prévia (RAPs) e Estudos de Impacto Ambiental (EIAs); a lista foi
elaborada conforme critérios da IUCN, modificados e adaptados para flora paulista
e consolidada durante workshop realizado no Instituto de Botânica nos dias 13 e
14 de setembro de 2004; medidas urgentes devam ser tomadas para a preservação
das espécies ameaçadas de extinção, conforme diretrizes estabelecidas durante a
Convenção sobre a Diversidade Biológica e da Agenda 21, resolve:
Artigo 1º - Publicar a lista oficial das espécies da flora do Estado de São Paulo ame-
açadas de extinção, seguindo recomendação do Instituto de Botânica de São Paulo.
Espécies da flora ameaçadas de extinção no estado de São Paulo (Pteridófitas)
Presumivelmente Extinta (EX)
GRAMMITIDACEAE
Ceradenia glaziovii (Baker) Labiak
ISOETACEAE
Isoetes bradei Herter
THELYPTERIDACEAE
Thelypteris macrophylla (Kunze) C. V. Morton
Em Perigo (EN)
ASPLENIACEAE
Asplenium ulbrichtii Rosenst.
CYATHEACEAE
Alsophila capensis (L.f.) J. Sm. ssp. polypodioides (Sw.) Conant
DAVALLIACEAE
Oleandra articulata (Sw.) C. Presl
DICKSONIACEAE
Culcita coniifolia (Hook.) Maxon
HYMENOPHYLLACEAE
Trichomanes ovale (E. Fourn.) Wess. Boer.
PTERIDACEAE
Cheilanthes goyazensis (Taub.) Domin
158
MEDEIROS, J. B. L. P., MENDES, M. R. S, BRITO, LUCENA. E. M .P. CHAVES, B. E.
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%B3fita
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162
MEDEIROS, J. B. L. P., MENDES, M. R. S, BRITO, LUCENA. E. M .P. CHAVES, B. E.
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Saunders College Publishing, 1991. 413 p.
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da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1990. v. 1, 294 p.
SMITH, G. M. Botânica criptogâmica: briófitos e pteridófitos. Tradução Car-
los das Neves Tavares. 4. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1987.
v. 2, 387 p.
Morfologia e Taxonomia de Cripitógamas 163
Sobre os autores
Jeanne Barros Leal de Pontes Medeiros: Possui graduação em Ciências
Biológicas pela Universidade Federal do Ceará nas modalidades Licenciatura
(1994) e Bacharelado (1995), especialização em Botânica (1995) e mestrado
em Desenvolvimento e Meio Ambiente (2004) pela Universidade Federal do
Ceará. Atualmente, é professora assistente VIII da Universidade Estadual do
Ceará. Tem experiência na área de Botânica, com ênfase na áreas de Taxo-
nomia de Criptógamas e Ensino de Biologia, em que atua na produção de
material didático para o ensino de Ciências e de Biologia. É coordenadora de
tutoria do Curso de Ciências Biológicas (modalidade à distância) da Universi-
dade Estadual do Ceará/ Universidade Aberta do Brasil e coordenadora de es-
tágios do Curso de Ciências Biológicas da Universidade Estadual do Ceará.
F
iel a sua missão de interiorizar o ensino superior no estado Ceará, a UECE,
como uma instituição que participa do Sistema Universidade Aberta do
Brasil, vem ampliando a oferta de cursos de graduação e pós-graduação
na modalidade de educação a distância, e gerando experiências e possibili-
dades inovadoras com uso das novas plataformas tecnológicas decorren-
Ciências Biológicas
tes da popularização da internet, funcionamento do cinturão digital e
massificação dos computadores pessoais.
Comprometida com a formação de professores em todos os níveis e
a qualificação dos servidores públicos para bem servir ao Estado,
os cursos da UAB/UECE atendem aos padrões de qualidade
estabelecidos pelos normativos legais do Governo Fede-
ral e se articulam com as demandas de desenvolvi-
Morfologia e Taxonomia
mento das regiões do Ceará.
de Criptógamas
Jeanne Barros Leal de Pontes Medeiros
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