7 Lições Sobre Os Conceitos Cruciais Da Psicanálise

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Juan David Nasio – 7 lições sobre os conceitos cruciais da psicanálise

O conceito de castração
É uma experiência que consiste no fato de que, pela primeira vez, a criança reconhece, ao preço
da angústia, a diferença anatômica entre os sexos. Até ali, ela vivia na ilusão da onipotência; dali
por diante, com a experiência da castração, terá de aceitar que o universo seja composto de
homens e mulheres e que o corpo tenha limites, ou seja, aceitar que seu pênis de menino jamais
lhe permitirá concretizar seus intensos desejos sexuais em relação à mãe. Essa experiência
inconsciente da castração é incessantemente renovada ao longo de toda a existência e
particularmente recolocada em jogo na cura analítica do paciente adulto.

 O complexo de castração no menino

Entre o amor narcísico pelo pênis e o amor incestuoso pela mãe, o menino escolhe o pênis.

Primeiro Tempo: todo mundo tem um pênis.


É a precondição obrigatória do processo de castração, uma ficção do menino, segundo a qual
todos possuiriam um pênis semelhante ao seu. Trata-se do momento preliminar das crenças
infantis de que não haveria diferença anatômica entre os órgãos sexuais masculinos e femininos.
Daí ocorre a descoberta da realidade de um ser próximo que não possui esse atributo
supostamente universal, faz fracassar a crença da criança e abre o caminho para a angústia de
um dia ficar, ela própria, similarmente despossuída.

Segundo Tempo: o pênis é ameaçado


É a época das ameaças verbais que visam a proibir à criança suas práticas auto eróticas e obrigá-
la a renunciar a suas fantasias incestuosas. Explicitamente, essas ameaças colocam a criança em
guarda contra a perda de seu membro, e esta ameaça que visa ao pênis, seus efeitos irão incidir
sobre a fantasia do menino de um dia possuir seu objeto amado, a mãe. A isso, portanto, ele
deverá renunciar.

Terceiro tempo: existem seres sem pênis e, portanto, a ameaça é bastante real.
É o tempo da descoberta visual da região genital feminina. O que a criança descobre visualmente
não é a vagina, mas a ausência do pênis. A partir desse fato, a perda de seu próprio pênis toma-
se também uma coisa passível de ser representada, e a ameaça de castração consegue fazer
efeito só depois"'. Dado o apego afetivo narcísico que ele tem pelo pênis, o menino não pode
admitir que existam seres à sua semelhança que dele sejam desprovidos. Por isso é que, quando
da primeira percepção visual da zona genital da menina, seu preconceito tenaz - a crença em
que é impossível haver seres humanos sem pênis - resiste intensamente à evidência.

Quarto tempo: a mãe também é castrada; emergência da angústia


A emergência da angústia de castração ocorre quando o menino percebe que sua mãe (era sua
última esperança) também é desprovida de pênis. Essa visão da ausência do pênis na mulher,
de um lado, e a evocação auditiva das ameaças verbais parentais, de outro, definem as duas
condições principais do complexo de castração. A angústia de castração, convém esclarecer, não
é efetivamente sentida pelo menino, pois é inconsciente.

Tempo final: término do complexo de castração e término do complexo de édipo.


Sob efeito da angústia de castração o menino aceita a Lei da proibição e opta por salvar seu
pênis, mesmo tendo de renunciar à mãe como parceira sexual. Encerra-se a fase do amor
edipiano e começa a afirmação da identidade sexual e do supereu. Convém notar que, como
afirma Freud, "No menino, o complexo de édipo não é simplesmente recalcado, mas desfaz-se
literalmente em pedaços sob o impacto da ameaça de castração."

 O complexo de castração na menina

Pontos comuns:
O complexo de castração feminino organiza-se de maneira muito diferente do complexo de
castração masculino, mas possui alguns pontos comuns: primeiro que ambos os sexos acreditam
na universalidade do pênis, e isto é, portanto, precondição necessária à constituição do
complexo de Édipo; o segundo traço comum refere-se à importância do papel da mãe, onde ela
continua a ser o personagem principal até o momento em que o menino se separa dela com
angústia, e a menina, com ódio.

Pontos distintos: no menino, o complexo de castração se encerra numa renúncia ao amor pela
mãe, ao passo que, na menina, ele abre caminho para o amor edipiano pelo pai. O édipo do
menino nasce e se encerra com a castração, já o da menina nasce, mas não termina com a
castração.

Primeiro tempo: todo mundo tem um pênis (o clitóris é um pênis) > Nesse primeiro tempo, a
menina ignora a diferença entre os sexos e a existência de seu próprio órgão sexual, isto é, a
vagina. Está perfeitamente feliz por possuir, como todo o mundo, um atributo clitoridiano, que
ela assemelha ao pênis e ao qual atribui o mesmo valor que o menino confere a seu órgão.

Segundo Tempo: o clitóris é pequeno demais para ser um pênis: "Fui castrada" > Esse é o
momento em que a menina descobre visualmente a região genital masculina. A visão do pênis
a obriga a admitir definitivamente que ela não possui o verdadeiro órgão peniano. Ante a visão
do pênis, a menina reconhece desde logo que já foi castrada, por fim, digamos que para melhor
distinguir a castração feminina da castração masculina, devemos ter em mente que o menino
vive a angústia da ameaça, enquanto a menina vivencia a inveja de possuir aquilo que viu e do
qual foi castrada.

Terceiro tempo: a mãe também é castrada; ressurgimento do ódio pela mãe > Ocorre quando
progressivamente ela toma consciência de que as outras mulheres - dentre elas sua própria mãe
- sofrem da mesma desvantagem. A mãe é então desprezada, rejeitada pela filha, por não ter
podido transmitir-lhe os atributos fálicos e, além disso, por não ter sabido ensinar-lhe a valorizar
seu verdadeiro corpo de mulher. O ódio primordial (tirada da mama) da primeira separação da
mãe, soterrado até esse momento, ressurge então na menina sob a forma de recriminações
incessantes.

Tempo final: as três saídas do complexo de castração; nascimento do complexo de Édipo


1. Ausência de inveja do pênis: tão assustada com sua desvantagem anatômica, ela desvia de
maneira generalizada de toda a sexualidade, se recusando a entrar em rivalidade com o menino
e, por conseguinte, não é habitada pela inveja do pênis.
2. Vontade de ser dotada do pênis do homem: consiste em obstinar-se em acreditar que um dia
ela poderá possuir um pênis tão grande quanto o que viu no menino, e desse modo, tornar-se
semelhante aos homens. Nesse caso, ela nega o fato de sua castração e preserva a esperança.
A inveja do pênis consiste, nesse caso, na vontade de ser dotada do pênis do homem.
3. Vontade de ter substitutos do pênis: reconhecimento imediato e definitivo da castração,
atitude feminina qualificada por Freud como "normal" e caracteriza-se por três mudanças
importantes: a) a mudança do parceiro onde a mãe cede lugar ao pai b) mudança da zona
erógena onde o clitóris cede lugar à vagina e c) mudança do objeto desejado onde o pênis cede
lugar a um filho.

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