Manual-Direito Administrativo (06.08.2018) - 1 PDF
Manual-Direito Administrativo (06.08.2018) - 1 PDF
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ÍNDICE
1. INTRODUÇÃO
2. AS ACÇÕES NO CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO
3. O DIREITO ADMINISTRATIVO
4. MEIOS PROCESSUAIS ACESSÓRIOS
5. O PODER ADMINISTRATIVO E OS DIREITOS DOS PARTICULARES
6. A IMPUGNAÇÃO DOS REGULAMENTOS ILEGAIS
7. TEORIA GERAL DA ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA
8. O PROCESSAMENTO DA ACTIVIDADE ADMINISTRATIVA
9. SISTEMAS DE ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA
10.O ACTO ADMINISTRATIVO
11.OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS SOBRE A ORGANIZAÇÃO
ADMINISTRATIVA
12.O CONTRATO ADMINISTRATIVO
13.GARANTIAS DOS PARTICULARES
14.O EXERCÍCIO DO PODER ADMINISTRATIVO E A RESPONSABILIDADE
CIVIL DA ADMINISTRAÇÃO
15.O RECURSO CONTENCIOSO DE ANULAÇÃO
BIBLIOGRAFIAS:
1. AMARAL, DIOGO FREITAS DO AMARAL
CURSO DE DIREITO ADMINISTRATIVO, VOL. I, ALMEDINA
DIREITO ADMINISTRATIVO II, III, IV.
2. COUPERS, JOÃO
DIREITO ADMINISTRATIVO, EDITORIAL NOTICIAIS.
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INTRODUÇÃO
O CONCEITO DE ADMINISTRAÇÃO
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b) Legislação e Administração:
A função Legislativa encontra-se no mesmo plano ou nível, que a
função Política.
A diferença entre Legislação e Administração está em que, nos dias
de hoje, a Administração Pública é uma actividade totalmente
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d) Conclusão:
A Administração Pública em sentido material ou objectivo ou
funcional pode ser definida como, a actividade típica dos organismos e
indivíduos que, sob a direcção ou fiscalização do poder político,
desempenham em nome da colectividade a tarefa de promover à
satisfação regular e contínua das necessidades colectivas de segurança,
cultura e bem-estar económico e social, nos termos estabelecidos pela
legislação aplicável e sob o controle dos Tribunais competentes.
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OS SISTEMAS ADMINISTRATIVOS
5. Generalidades
Por Sistema Administrativo entende-se um modo jurídico típico de
organização, funcionamento e controlo da Administração Pública.
Existem três tipos de sistemas administrativos: o sistema
tradicional; o sistema tipo britânico (ou de administração judiciária) e o
sistema tipo francês (ou de administração executiva).
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10. Generalidades
A Administração Pública está subordinada à lei. E está também, por
outro lado subordinada à justiça, aos Tribunais. Isso coloca o problema
de saber como se relacionam estes conceitos de Administração Pública e
directa.
Para haver Direito Administrativo, é necessário que se verifiquem
duas condições: em primeiro lugar, que a Administração Pública e
actividade administrativa sejam reguladas por normas jurídicas
propriamente ditas, isto é, por normas de carácter obrigatório; em
segundo lugar, que essas normas jurídicas sejam distintas daquelas
que regulam as relações privadas dos cidadãos entre si.
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30. Enumeração
O primeiro de entre eles é o Princípio da Prossecução do Interesse
Público: este é um princípio motor da Administração Pública. A
Administração actua, move-se, funciona para prosseguir o interesse
público. O interesse público é o seu único fim.
Surgem mais dois princípios: o princípio da legalidade, que manda à
Administração obedecer à lei, e o princípio do respeito pelos direitos e
interesses legítimos dos particulares, que obriga a Administração a não
violar as situações juridicamente protegidas dos administrados
A Administração Pública é muitas vezes investida pela lei de uma
liberdade de decisão, que se denomina tradicionalmente de poder
discricionário da Administração.
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policial estão limitadas pelos direitos dos cidadãos, mas não pelos
seus interesses legítimos.
c) De acordo com os princípios gerais do Direito Administrativo, é
em princípio proibida a revogação de actos administrativos
constitutivos de direitos: a lei em relação aos actos constitutivos
de direitos, diz que salvo se forem ilegais esses actos não podem
ser revogados. Diferentemente, os actos constitutivos de interesses
legítimos em princípio são revogáveis.
d) Execução das sentenças dos Tribunais Administrativos: se
uma sentença anula um acto administrativo ilegal, daí resulta
para a administração o dever de executar essa sentença
reintegrando a ordem jurídica violada.
44. Conceito
Duas perspectivas diferentes têm sido adoptadas pela doutrina: a
perspectiva dos poderes da Administração ou a perspectiva dos actos da
Administração.
Focando a primeira perspectiva – a dos poderes –, julga-se correcta a
definição dada pelo Prof. Marcello Caetano, que é a seguinte: “o poder é
vinculado na medida em que o seu exercício está regulado por lei. O
poder será discricionário quando o seu exercício fica entregue ao critério
do respectivo titular, deixando-lhe liberdade de escolha do procedimento
a adoptar em cada caso como mais ajustado à realização do interesse
público protegido pela norma que o confere”.
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47. Âmbito
Os aspectos mais importantes de discricionariedade são os
seguintes:
1) O momento da prática do acto, a Administração terá, nesses
casos, a liberdade de praticar o acto agora ou mais tarde,
conforme melhor entender;
2) A decisão sobre praticar ou não um certo acto administrativo;
3) A decisão sobre a existência dos pressupostos de facto de que
depende o exercício da competência;
4) Forma a adoptar, para o acto administrativo;
5) As formalidades a observar na recepção ou na prática do acto
administrativo
6) A fundamentação, ou não da decisão;
7) A concessão ou a recusa, daquilo a que o particular requerer à
Administração;
8) A possibilidade de determinar o conteúdo, o concreto da decisão
a tomar pode também ser discricionário;
9) A liberdade ou não de a por no acto administrativo, encargos e
outras cláusulas acessórias.
48. Limites
Pode ser limitado de duas formas diferentes: ou através do
estabelecimento de limites legais, isto é, limites que resultam da própria
lei, ou através da chamada auto-vinculação.
Os limites legais, são aqueles que resultam da própria lei. Pode haver
limites de que decorram de auto-vinculação. No âmbito da
discricionariedade que a lei conferiu à Administração, essa pode exercer
os seus poderes de duas maneiras diversas:
- Pode exercê-los caso a caso, adoptando em cada caso a
solução que lhe parecer mais ajustada ao interesse público.
- A Administração pode proceder de outra maneira: na base de
uma previsão do que poderá vir a acontecer, ou na base de uma
experiência sedimentada ao longo de vários anos de exercício
daqueles poderes, a Administração pode elaborar normas
genéricas em que enuncia os critérios a que ela própria obedecerá
na apreciação daquele tipo de casos.
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59. Preliminares
Importa fazer três observações prévias.
A primeira consiste em sublinhar que as expressões pessoa colectiva
pública e pessoa colectiva de Direito Público são sinónimas, tal como o
são igualmente entre si pessoa colectiva privada e pessoa colectiva de
Direito Privado.
Em segundo lugar, convém sublinhar desde já a enorme importância
da categoria das pessoas colectivas públicas e da sua análise em Direito
Administrativo. É que, na fase actual da evolução deste ramo de Direito
e da Ciência que o estuda, em países como o nosso e em geral nos da
família Romano-germânica, a Administração Pública é sempre
representada, nas suas relações com os particulares, por pessoas
colectivas públicas: na relação jurídico-administrativa, um dos sujeitos,
pelo menos, é em regra uma pessoa colectiva.
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60. Conceito
Pessoas colectivas públicas são entes colectivos criados por iniciativa
pública para assegurar a prossecução necessária de interesses
públicos, dispondo de poderes políticos e estando submetidos a deveres
públicos.
Vejamos em que consistem os vários elementos desta definição:
a) Trata-se de entidades criadas por iniciativa pública. O que
significa que as pessoas colectivas públicas nascem sempre de
uma decisão pública, tomada pela colectividade nacional, ou por
comunidades regionais ou locais autónomas, ou proveniente de
uma ou mais pessoas colectivas públicas já existentes: a iniciativa
privada não pode criar pessoas colectivas públicas. As pessoas
colectivas públicas são criadas por “iniciativa pública”, expressão
ampla que cobre todas as hipóteses e acautela os vários aspectos
relevantes:
b) As pessoas colectivas públicas são criadas para assegurar a
prossecução necessária de interesses públicos. Daqui decorre que
as pessoas colectivas públicas, diferentemente das privadas,
existem para prosseguir o interesse público – e não quaisquer
outros fins. O interesse público não é algo que possa deixar de
estar incluído nas atribuições de uma pessoa colectiva pública: é
algo de essencial, pois ela é criada e existe para esse fim.
c) As pessoas colectivas públicas são titulares, em nome próprio,
de poderes e deveres públicos. A referência à titularidade “em
nome próprio” serve para distinguir as pessoas colectivas públicas
das pessoas colectivas privadas que se dediquem ao exercício
privado de funções públicas: estas podem exercer poderes
públicos, mesmo poderes de autoridade, mas fazem-no em nome
da Administração Pública, nunca em nome próprio.
61. Espécies
As categorias de pessoas colectivas públicas no Direito português
actual, são seis:
a) O Estado;
b) Os institutos públicos;
c) As empresas públicas;
d) As associações públicas;
e) As autarquias locais;
f) As regiões autónomas.
Quais são os tipos de pessoas colectivas públicas a que essas
categorias se reconduzem? São três:
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63. Órgãos
A estes cabe tomar decisões em nome da pessoa colectiva ou, noutra
terminologia, manifestar a vontade imputável à pessoa colectiva (art.
2º/2 CPA). São centros de imputação de poderes funcionais.
A respeito da natureza dos órgãos das pessoas colectivas debatem-se
duas grandes concepções:
a) A primeira, que foi defendida por Marcello Caetano, considera
que os órgãos são instituições, e não indivíduos.
b) A segunda, que foi designadamente defendida entre nós por
Afonso Queiró e Marques Guedes, considera que os órgãos são os
indivíduos, e não as instituições.
Há fundamentalmente três grandes perspectivas na teoria geral do
Direito Administrativo – a da organização administrativa, e da
actividade administrativa, e das garantias dos particulares. Ora, pondo
de lado a terceira, que não tem a ver com a questão que se está a
analisar, tudo depende de nos situarmos numa ou noutra das
perspectivas indicadas.
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OS SERVIÇOS PÚBLICOS
73. Preliminares
Os serviços públicos constituem as células que compões
internamente as pessoas colectivas públicas.
A pessoa colectiva pública é o sujeito de Direito, que trava relações
jurídicas com outros sujeitos de Direito, ao passo que o serviço público
é uma organização que, situada no interior da pessoa colectiva pública
e dirigida pelos respectivos órgãos, desenvolve actividades de que ela
carece para prosseguir os seus fins.
74. Conceito
Os “serviços públicos”, são as organizações humanas criadas no seio
de cada pessoa colectiva pública com o fim de desempenhar as
atribuições desta, sob a direcção dos respectivos órgãos.
- Os serviços públicos são organizações humanas, isto é, são
estruturas administrativas accionadas por indivíduos, que
trabalham ao serviço de certa entidade pública;
- Os serviços públicos existem no seio de cada pessoa colectiva
pública: não estão fora dela, mas dentro; não gravitam em torno
da pessoa colectiva, são as células que a integram;
- Os serviços públicos são criados para desempenhar as
atribuições da pessoa colectiva pública;
- Os serviços públicos actuam sob a direcção dos órgãos das
pessoas colectivas públicas: quem toma as decisões que vinculam
a pessoa colectiva pública perante o exterior são os órgãos dela; e
quem dirige o funcionamento dos serviços existentes no interior da
pessoa colectiva são também os seus órgãos.
Os serviços públicos desenvolvem na sua actuação quer na fase
preparatória da formação da vontade do órgão administrativo, quer na
fase que se segue à manifestação daquela vontade, cumprindo e fazendo
cumprir aquilo que tiver sido determinado. Os serviços públicos são,
pois, organizações que levam a cabo as tarefas de preparação e
execução das decisões dos órgãos das pessoas colectivas, a par do
desempenho das tarefas concretas em que se traduz a prossecução das
atribuições dessas pessoas colectivas.
75. Espécies
Os serviços públicos podem ser classificados segundo duas
perspectivas diferentes – a perspectiva funcional e a perspectiva
estrutural.
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79. Espécies
A principal distinção de modalidades de hierarquia é a que distingue
entre hierarquia interna e hierarquia externa.
A hierarquia interna, é um modelo de organização da
Administração que tem por âmbito natural o serviço público.
Consiste a hierarquia interna num modelo em que se toma a
estrutura vertical como directriz, para estabelecer o ordenamento das
actividades em que o serviço se traduz: a hierarquia interna é uma
hierarquia de agentes.
Não está em causa, directamente, o exercício da competência de uma
pessoa colectiva pública, mas o desempenho regular das tarefas de um
serviço público: prossecução de actividades, portanto, e não prática de
actos jurídicos.
A “hierarquia interna” vem a ser, pois, aquele modelo vertical de
organização interna dos serviços públicos que assenta na diferenciação
entre superiores e subalternos.
A hierarquia externa, toma a estrutura vertical como directriz, mas
desta feita para estabelecer o ordenamento dos poderes jurídicos em
que a competência consiste: a hierarquia externa é uma hierarquia de
órgãos.
Os vínculos de superioridade e subordinação estabelecem-se entre
órgãos da Administração. Já não está em causa a divisão do trabalho
entre agentes, mas a repartição das competências entre aqueles a quem
está confiado o poder de tomar decisões em nome da pessoa colectiva.
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conferida por lei. Este poder pode ser exercido por iniciativa do
superior, a pedido de um dos subalternos envolvidos no conflito ou
de todos eles, ou mediante requerimento de qualquer particular
interessado (arts. 42º 43º CPA).
d) O “poder de substituição”, é a faculdade de o superior exercer
legitimamente competências conferidas, por lei ou delegação de
poderes, ao subalterno.
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CONCENTRAÇÃO E DESCONCENTRAÇÃO
82. Conceito
Tanto o sistema da concentração como o sistema da
desconcentração dizem respeito à organização administrativa de uma
determinada pessoa colectiva pública. Mas o problema da maior ou
menor concentração ou desconcentração existente não tem nada a ver
com as relações entre o Estado e as demais pessoas colectivas: é uma
questão que se põe apenas dentro do Estado, ou apenas dentro de
qualquer outra entidade pública.
A concentração ou desconcentração têm como pano de fundo a
organização vertical dos serviços públicos, consistindo basicamente na
ausência ou na existência de distribuição vertical de competência entre
os diversos graus ou escalões da hierarquia.
Assim a “concentração de competência”, ou a “administração
concentrada” é o sistema em que o superior hierárquico mais elevado é
o único órgão competente para tomar decisões, ficando os subalternos
limitados às tarefas de preparação e execução das decisões daquele. Por
seu turno, a “desconcentração de competência”, ou “administração
desconcentrada”, é o sistema em que o poder decisório se reparte entre
superior e um ou vários órgãos subalternos, os quais, todavia,
permanecem, em regra, sujeitos à direcção e supervisão daquele.
A desconcentração traduz-se num processo de descongestionamento
de competências, conferindo-se a funcionários ou agentes subalternos
certos poderes decisórios, os quais numa administração concentrada
estariam reservados exclusivamente ao superior.
Não existem sistemas integralmente concentrados, nem sistemas
absolutamente desconcentrados. O que normalmente sucede é que os
sistemas se nos apresentam mais ou menos concentrados – ou mais ou
menos desconcentrados. Entre nós, o princípio da desconcentração
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87. Espécies
Importa saber distinguir as espécies de habilitação para a prática da
delegação de poderes, e as espécies de delegações de poderes
propriamente ditas.
a) Quanto à habilitação, ela pode ser genérica ou específica. No
primeiro caso, a lei permite que certos órgãos deleguem, sempre que
quiserem, alguns dos seus poderes em determinados outros órgãos, de
tal modo que uma só lei de habilitação serve de fundamento a todo e
qualquer acto de delegação praticado entre esses tipos de órgãos (art.
35º 2/3 CPA).
Em todos estes casos, porém, a lei impõe uma limitação importante
(art. 35º/2 CPA): neste tipo de delegações só podem ser delegados
poderes para a prática de actos de administração ordinária, por
oposição aos actos de administração extraordinária que ficam sempre
indelegáveis, salvo lei de habilitação específica.
Entende-se que são actos de administração ordinária todos os actos
não definitivos, bem como os actos definitivos que sejam vinculados ou
cuja a discricionariedade não tenha significado ou alcance inovador na
orientação geral da entidade pública a que pertence o órgão; se se tratar
de definir orientações gerais e novas, ou de alterar as existentes,
estaremos perante uma administração extraordinária.
b) Quanto às espécies de delegação, as principais são as
seguintes:
- Sob o prisma da sua extensão, a delegação de poderes pode
ser ampla ou restrita, conforme o delegante resolva delegar uma
grande parte dos seus poderes ou apenas uma pequena parcela
deles.
- No que respeita ao objecto da delegação, esta pode
ser específica ou genérica, isto é, pode abranger a prática de um
acto isolado ou permitir a prática de uma pluralidade de actos: no
primeiro caso, uma vez praticado o acto pelo delegado, a delegação
caduca; no outro, o delegado continua indefinidamente a dispor de
competência, a qual exercerá sempre que tal se torne necessário.
- Há casos de delegação hierárquica – isto é, delegação dos
poderes de um superior hierárquico num subalterno –, e casos
de delegação não hierárquica – ou seja, delegação de poderes de
um órgão administrativo noutro órgão ou agente que não dependa
hierarquicamente do delegante.
- Há ainda uma outra classificação que distingue, entre a
delegação propriamente dita, ou de 1º grau, e a subdelegação
de poderes, que pode ser uma delegação de 2º grau, ou de 3º, ou
de 4º, etc., conforme o número de subdelegações que forem
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poderes tais e tais no órgão B”, ao dizer “os seus poderes”, a lei
está inequivocamente a sublinhar que a competência é do
delegante. Se o potencial delegado já fosse competente por lei
antes de o acto de delegação ser praticado, então tinha de se
reconhecer ao potencial delegado um interesse legítimo na
pretensão de exercer a competência delegável, uma vez que esta
competência seria uma competência própria do delegado ao
superior hierárquico que lhe autorizasse o exercício da
competência delegável. Se fosse verdadeira a tese da autorização o
delegado, uma vez recebida a delegação, praticaria os actos
administrativos compreendidos no objecto da delegação no
exercício de uma competência própria, ou seja, de uma
competência que directamente lhe seria atribuída pela lei. Ora,
isto é incompatível com o poder de orientação a cargo do delegante
que existe na delegação de poderes, inclusivamente quando não há
hierarquia: em toda a delegação de poderes está ínsita a ideia de
que o delegante tem o poder de orientar o delegado quanto ao
exercício dos poderes delegados. Se se tratasse do exercício de
uma competência própria do delegado, não faria sentido que o
delegante tivesse qualquer poder de orientação. A tese da
autorização também não é compatível com o poder de revogar a
delegação, que a lei confere ao delegante. Esta tese, também não é
compatível com uma outra solução que existe no regime jurídico
da delegação de poderes, e que é o poder que o delegante tem de
revogar os actos praticados pelo delegado no exercício da
delegação
c) A terceira tese é da transferência de exercício: a delegação
de poderes não é uma alienação porque o delegante não fica alheio
à competência que decida delegar, nem é uma autorização, porque
antes de o delegante praticar o acto de delegação o delegado não é
competente: a competência advém-lhe do acto de delegação, e não
da lei de habilitação. Por outro lado, a competência exercida pelo
delegado com base na delegação de poderes não é uma
competência própria, mas uma competência alheia. Logo, a
delegação de poderes constitui uma transferência do delegante
para o delegado: não, porém, uma transferência da titularidade
dos poderes, mas uma transferência do exercício dos poderes.
A melhor construção é a que vê na delegação de poderes um acto
que transfere para o delegado o exercício de uma competência própria
do delegante. Ou seja: a competência do delegado só existe por força do
acto de delegação; e o exercício dos poderes delegados é o exercício de
uma competência alheia, não é o exercício de uma competência própria.
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CENTRALIZAÇÃO E DESCENTRALIZAÇÃO
90. Conceito
A concentração e a desconcentração são figuras que se reportam à
organização interna de cada pessoa colectiva pública, ao passo que a
centralização e a descentralização põem em causa várias pessoas
colectivas públicas ao mesmo tempo.
No plano jurídico, diz-se “centralizado”, o sistema em que todas as
atribuições administrativas de um dado país são por lei conferidas ao
Estado, não existindo, portanto, quaisquer outras pessoas colectivas
públicas incumbidas do exercício da função administrativa.
Chamar-se-á, pelo contrário, “descentralizado”, o sistema em que
a função administrativa não esteja apenas confiada ao Estado, mas
também a outras pessoas colectivas territoriais.
Dir-se-á que há centralização, sob o ponto de vista político-
administrativo, quando os órgãos das autarquias locais sejam
livremente nomeados ou demitidos pelos órgãos do Estado, quando
devam obediência ao Governo ou ao partido único, ou quando se
encontrem sujeitos a formas particularmente intensas de tutela
administrativa, designadamente a uma ampla tutela de mérito.
Pelo contrário, diz-se que há descentralização em sentido político-
administrativo quando os órgãos das autarquias locais são livremente
eleitos pelas respectivas populações, quando a lei os considera
independentes na órbita das suas atribuições e competências, e quando
estiverem sujeitos a formas atenuadas de tutela administrativa, em
regra restritas ao controle da legalidade.
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96. Espécies
Há que distinguir as principais espécies de tutela administrativa
quanto ao fim e quanto ao conteúdo.
Quanto ao fim, a tutela administrativa desdobra-se em tutela de
legalidade e tutela de mérito.
A “tutela de legalidade” é a que visa controlar a legalidade das
decisões da entidade tutelada; a “tutela de mérito” é aquela que visa
controlar o mérito das decisões administrativas da entidade tutelada.
Quando averiguamos da legalidade de uma decisão, nós estamos a
apurar se essa decisão é ou não conforme à lei. Quando averiguamos do
mérito de uma decisão, estamos a indagar se essa decisão,
independentemente de ser legal ou não, é uma decisão conveniente ou
inconveniente, etc.
Noutro plano, distinguem-se espécies de tutela administrativa
quanto ao conteúdo:
a) Tutela integrativa: é aquela que consiste no poder de
autorizar ou aprovar os actos da entidade tutelada. Distinguem-se
em tutela integrativa à priori, que é aquela que consiste em
autorizar a prática de actos, e tutela integrativa à posteriori, que é
a que consiste no poder de aprovar actos da entidade tutelada.
Tanto a autorização tutelar como a aprovação tutelar pode ser
expressas ou tácitas; totais ou parciais; e puras, condicionais ou a
termo. O que nunca podem é modificar o acto sujeito a apreciação
pela entidade tutelar. Qualquer particular lesado por eventual
ilegalidade da decisão deverá impugnar o acto da entidade
tutelada, e não a autorização ou aprovação tutelar, salvo se estas
estiverem, elas mesmas, inquinadas por vícios próprios que
fundamentem a sua impugnação autónoma.
b) Tutela inspectiva: consiste no poder de fiscalização dos
órgãos, serviços, documentos e contas da entidade tutelada – ou,
se quisermos utilizar uma fórmula mais sintética, consiste no
poder de fiscalização da organização e funcionamento da entidade
tutelada.
c) Tutela sancionatória: consiste no poder de aplicar sanções
por irregularidades que tenham sido detectadas na entidade
tutelada.
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99. Conceito
Os interesses públicos a cargo do Estado, ou de qualquer outra
pessoa colectiva de fins múltiplos, podem ser mantidos pela lei no
elenco das atribuições da entidade a que pertencem ou podem,
diferentemente, ser transferidos para uma pessoa colectiva pública de
fins singulares, especialmente incumbida de assegurar a sua
prossecução.
Entende-se por “integração” o sistema em que todos os interesses
públicos a prosseguir pelo Estado, ou pelas pessoas colectivas de
população e território, são postos por lei a cargo das próprias pessoas
colectivas a que pertencem.
E consideramos como “devolução de poderes” o sistema em que
alguns interesses públicos do Estado, ou de pessoas colectivas de
população e território, são postos por lei a cargo de pessoas colectivas
públicas de fins singulares.
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105. Limites
É o próprio art. 267º/2 CRP, que os estabelece. Aí se diz que a
descentralização e a desconcentração devem ser entendidas “sem
prejuízo da necessária eficácia e unidade de acção e dos poderes de
direcção e superintendência do Governo”.
Quer dizer: ninguém poderá invocar os princípios constitucionais da
descentralização e da desconcentração contra quaisquer diplomas legais
que adoptem soluções que visem garantir, por um lado, a eficácia e a
unidade da acção administrativa e, por outro, organizar ou disciplinar
os poderes de direcção e superintendência do governo.
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CONCEITO E ESPÉCIES
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GARANTIAS GRACIOSAS
108. Conceito
São “garantias graciosas”, as garantias que se efectivam através
da actuação dos próprios órgãos da Administração activa.
A ideia central é, esta: existindo certos controles para a defesa da
legalidade e da boa administração, colocam-se esses controles
simultaneamente ao serviço do respeito pelos direitos e interesses dos
particulares.
As garantias graciosas são bastante mais importantes e eficazes, do
ponto de vista da protecção jurídica dos particulares, do que as
garantias políticas.
Estas garantias graciosas não são inteiramente satisfatórias: por um
lado, porque por vezes os órgãos da Administração Pública também se
movem preocupações políticas; por outro, porque muitas vezes os
órgãos da Administração Pública guiam-se mais por critérios de
eficiência na prossecução do interesse público do que pelo desejo
rigoroso e escrupuloso de respeitar a legalidade ou os direitos
subjectivos e interesses legítimos dos particulares.
109. Espécies
Dentro das garantias graciosas dos particulares temos de distinguir,
por um lado, aquelas que funcionam como garantias da legalidade e as
que funcionam como garantias de mérito; e, por outro lado, temos de
distinguir entre aquelas que funcionam como garantias de tipo petitório
e as que funcionam como garantias de tipo impugnatório.
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113. A Reclamação
É o meio de impugnação de um acto administrativo perante o seu
próprio autor, art. 158º/2-a CPA. Tem um carácter facultativo (art.
160º/1 CPA).
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121. Espécies
Nas nossas leis faz-se referência ao contencioso dos actos
administrativos, da responsabilidade da Administração, e dos direitos e
interesses legítimos dos particulares.
Os dois primeiros correspondem àquilo que a doutrina chama, o
contencioso administrativo por natureza; os outros correspondem
àquilo a que a doutrina chama o contencioso administrativo por
atribuição.
O contencioso administrativo por natureza, é o contencioso
administrativo essencial, aquele que corresponde à essência do Direito
Administrativo. É a resposta típica do Direito Administrativo à
necessidade de organizar uma garantia sólida e eficaz contra o acto
administrativo ilegal e contra o regulamento ilegal, isto é, contra o
exercício ilegal do poder administrativo por via unilateral.
O segundo, o contencioso por atribuição, é acidental, não é
essencial. Pode existir ou deixar de existir, no sentido de que pode estar
entregue a Tribunais Administrativos ou pode estar entregue a
Tribunais Comuns.
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CONCEITO E NATUREZA
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PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS
131. Conceito
Os “pressupostos processuais” são as condições de interposição do
recurso, isto é, as exigências que a lei faz para que o recurso possa ser
admitido.
Importa não confundir condições de interposição, ou pressupostos
processuais, com condições de provimento:
- As condições de interposição, ou pressupostos processuais,
são os requisitos que têm de verificar-se para que o Tribunal possa
entrar a conhecer do fundo da causa;
- As condições de provimento são aquelas que têm de verificar-
se para que o Tribunal, conhecendo do fundo da causa, possa dar
razão ao recorrente.
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A MARCHA DO PROCESSO
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outros vícios pelo Ministério Público, ou, nos demais casos, a fixada
na alínea anterior).
Às decisões tomadas pelo Supremo Tribunal Administrativo, uma vez
transitadas em julgado, são obrigatórias tanto para a Administração
como para os particulares.
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166. Espécies
O particular tem duas possibilidades à sua escolha, para a
suspensão do acto recorrido como diz o art. 77º/1 LPTA: “A suspensão é
pedida ao Tribunal competente para o recurso em requerimento próprio
apresentado:
a) Juntamente com a petição do recurso;
b) Previamente à interposição do recurso.”
O interessado pode pedir a suspensão da eficácia de um acto
administrativo no momento anterior ao do recurso.
Há assim duas espécies do género: a do pedido de
suspensão simultâneo com o recurso, e a do pedido antecipado em
relação ao recurso.
O Tribunal competente para a suspensão é o Tribunal competente
para o recurso (art. 77º/1 LPTA); segundo, se o pedido for antecipado, a
suspensão caduca caso o requerente não interponha o recurso
contencioso do mesmo acto no prazo fixado para o recurso dos actos
anuláveis (art. 79º/3 LPTA); e terceiro, uma vez decretada a suspensão,
ela subsiste, na falta de determinação em contrário, até ao trânsito em
julgado da decisão do recurso contencioso (art. 79º/2 LPTA).
167. Requisitos
Para que o Tribunal possa satisfazer o pedido de suspensão da
eficácia de um acto administrativo formulado por um particular têm de
verificar-se, além dos pressupostos genéricos do recurso contencioso,
determinados requisitos específicos que a lei expressamente exige para
o efeito.
São três, de acordo com o art. 76º/1 LPTA, que dispõe o seguinte: “a
suspensão da eficácia do acto recorrido é concedida pelo Tribunal quando
se verifiquem os seguintes requisitos:
a) A execução do acto cause provavelmente prejuízo de difícil
reparação para o requerente ou para os interesses que este defenda
ou venha a defender no recurso;
b) A suspensão não determine grave lesão do interesse público;
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O PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO
180. Noção
“A actividade da Administração Pública é, em larga medida, um
actividade processual”: ou seja, começa num determinado ponto e
depois caminha por fases, desenrolando-se de acordo com um certo
modelo, avança pela prática de actos que se encadeiam uns nos outros
e pela observância de certos trâmites, de certos ritos, de certas
formalidades que se sucedem numa determinada sequência.
Chama-se a esta sequência Procedimento Administrativo, ou
processo burocrático, ou processo administrativo gracioso, ou ainda
processo não contencioso.
O “Procedimento Administrativo” é a sequência juridicamente
ordenada de actos e formalidades tendentes à preparação da prática de
um acto da Administração ou à sua execução.
O procedimento é uma sequência. Quer isto dizer que os vários
elementos que o integram não se encontram organizados de qualquer
maneira.
Segundo, o procedimento constitui uma sequência juridicamente
ordenada. É a lei que determina quais os actos a praticar e quais as
formalidades a observar; é também a lei que estabelece a ordem dos
trâmites a cumprir, o momento em que cada um deve ser efectuado,
quais os actos antecedentes e os actos consequentes.
Terceiro, o Procedimento Administrativo traduz-se numa
sequência de actos e formalidades. Na verdade, não há nele apenas
actos jurídicos ou tão-só formalidades: no Procedimento Administrativo
tanto encontramos actos jurídicos como meras formalidades.
Quarto, o Procedimento Administrativo tem por objecto um acto da
Administração. A expressão “acto da Administração” engloba
genericamente todas essas categorias. O que dá carácter administrativo
ao procedimento é, precisamente, o envolvimento da Administração
Pública e o facto de o objecto dele ser um acto da Administração.
Quinto, o Procedimento Administrativo tem por finalidade preparar
a prática de um acto ou respectiva execução. Daqui decorre a
distinção, entre procedimentos decisórios eexecutivos.
A distinção funcional vem no art. 1º CPA:
1. Entende-se por Procedimento Administrativo a sucessão ordenada
de actos e formalidades tendentes à formação e manifestação da
vontade da Administração Pública ou à sua execução.
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O ACTO ADMINISTRATIVO
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ESPÉCIES
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230. A Forma
Quanto a “forma”, do acto administrativo, a regra geral é a de que
os actos administrativos devem revestir forma expressa. Dentro desta,
há que distinguir as “formas simples”, que são aquelas em que a
exteriorização da vontade do órgão da Administração não exige a
adopção de um modelo especial; as “formas solenes”, são as que têm
de obedecer a um certo modelo legalmente estabelecido (art. 122º CPA).
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240. A Incompetência
É o vício que consiste na prática, por um órgão da Administração,
de um acto incluído nas atribuições ou na competência de outro órgão
da Administração.
Pode revestir várias modalidades. Segundo um primeiro critério,
pode classificar-se em incompetência absoluta ou incompetência
por falta de atribuições, é aquela que se verifica quando um órgão da
Administração pratica um acto fora das atribuições da pessoa colectiva
a que pertence; e incompetência relativa ou incompetência por
falta de competência, é aquela que se verifica quando um órgão de
uma pessoa colectiva pública pratica um acto que está fora da sua
competência, mas que pertence à competência de outro órgão da
mesma pessoa colectiva.
De acordo com um segundo critério pode-se distinguir quatro
modalidades:
1. Incompetência em razão da matéria: quando um órgão da
Administração invade os poderes conferidos a outro órgão da
Administração em função da natureza dos assuntos.
2. Incompetência em razão da hierarquia: quando se invadem
os poderes conferidos a outro órgão em função do grau
hierárquico, nomeadamente quando o subalterno invade a
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248. A Nulidade
A nulidade é a forma mais grave da invalidade. Tem os seguintes
traços característicos (art. 134º CPA):
1. O Acto nulo é totalmente ineficaz desde o início, não produz
qualquer efeito. Por isso é que a lei chamam a estes actos, “actos
nulos e de nenhum efeito”;
2. A nulidade é insanável, quer pelo decurso do tempo, quer por
ratificação, reforma ou conversão. O acto nulo não é susceptível de
ser transformado em acto válido;
3. Os particulares e os funcionários públicos têm o direito de
desobedecer a quaisquer ordens que constem de um acto nulo.
Na medida em que este não produz efeitos, nenhum dos seus
imperativos é obrigatório;
4. Se mesmo assim a Administração quiser impor pela força a
execução de um acto nulo, os particulares têm o direito de
resistência passiva (art. 21º CRP). A resistência passiva à execução
de um acto nulo é legítima.
5. Um acto nulo pode ser impugnado a todo o tempo, isto é, a sua
impugnação não está sujeita a prazo;
6. O pedido de reconhecimento da existência de uma nulidade num
acto administrativo pode ser feito junto de qualquer Tribunal, e
não apenas perante os Tribunais Administrativos; o que significa que
qualquer Tribunal, mesmo um Tribunal Civil, pode declarar a
nulidade de um acto administrativo (desde que competente para a
causa);
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249. A Anulabilidade
É uma forma menos grave da invalidade e tem características
contrárias às da nulidade (art. 136º CPA):
1. O acto anulável, embora inválido, é juridicamente eficaz até
ao momento em que venha a ser anulado. Enquanto não for
anulado é eficaz, produz efeitos jurídicos como se fosse válido – o
que resulta da “presunção de legalidade” dos actos
administrativos;
2. A anulabilidade é sanável, quer pelo decurso do tempo, quer
por ratificação, reforma ou conversão;
3. O acto anulável é obrigatório, quer para os funcionários
públicos, quer para os particulares, enquanto não for anulado.
4. Consequentemente, não é possível opor qualquer
resistência à execução forçada de um acto anulável. A
execução coactiva de um acto anulável é legítima, salvo se a
respectiva eficácia for suspensa;
5. O acto anulável só pode ser impugnado dentro de um certo
prazo que a lei estabelece (art. 28º LPTA);
6. O pedido de anulação só pode ser feito perante um Tribunal
Administrativo, não pode ser feito perante qualquer outro
Tribunal;
7. O reconhecimento de que o acto é anulável por parte do
Tribunal determina a sua anulação. A sentença proferida sobre
um acto anulável é uma sentença de anulação,enquanto a
sentença proferia sobre o acto nulo é uma declaração de
nulidade.
A anulação contenciosa de uma tem efeitos retroactivos: “tudo se
passa na ordem jurídica, como se o acto nunca tivesse sido praticado”.
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255. A Revogação
É o acto administrativo que se destina a extinguir os efeitos de outro
acto administrativo anterior.
Com a prática da revogação, ou acto revogatório, extinguem-se os
efeitos jurídicos do acto revogado.
Os seus efeitos jurídicos recaem sobre um acto anteriormente
praticado, não se concebendo a sua prática desligada desse acto
preexistente.
O conteúdo da revogação é a extinção dos efeitos jurídicos
produzidos pelo acto revogado ou, se se preferir, é a decisão de extinguir
esses efeitos.
O objecto da revogação é sempre o acto revogado, justamente
porque a revogação é um acto secundário, um dos mais importantes
actos sobre os actos.
É fundamental sublinhar que à revogação é, ela mesma, um acto
administrativo: como tal, são-lhe aplicáveis todas as regras e
princípios característicos do regime jurídico dos actos administrativos.
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257. Espécies
As espécies de revogação podem apurar-se à luz de diversos critérios,
dos quais destacam-se quatro:
1. Quanto à iniciativa: a revogação pode ser espontânea (ou
oficiosa), é praticada pelo órgão competente independentemente
de qualquer solicitação nesse sentido; ou provocada (art. 138º
CPA), é motivada por um requerimento do interessado, dirigido a
um órgão com competência revogatória.
2. Quanto ao autor: a revogação pode ser feita pelo próprio
autor do acto revogado está-se perante a retractação; ou por
órgão administrativo diferente, o acto revogatório é praticado
pelo superior hierárquico do autor do acto revogado ou pelo
delegante, relativamente a actos anteriormente praticados por um
subalterno ou por um delegado.
3. Quanto ao fundamento: a revogação pode-se basear-se
na ilegalidade (ou anulação graciosa), com ela visa-se
reintegrar a ordem jurídica violada, suprimindo-se a infracção
cometida com a pratica de um acto ilegal; ou na inconveniência
do acto que é seu objecto, a prática do acto revogatório encontra
a sua razão por ser um juízo de mérito, isto é, numa nova
valoração do interesse público feita pelo órgão competente,
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O REGULAMENTO ADMINISTRATIVO
269. Noção
São as normas jurídicas emanadas por uma autoridade
administrativa no desempenho do poder administrativo.
Esta noção encerra três elementos essenciais:
a) Do ponto de vista material, o regulamento administrativo
consiste em normas jurídicas. Mas, para além de norma que é, o
regulamento é norma jurídica: quer isto dizer que o regulamento
administrativo não é um mero preceito administrativo; trata-se
de uma verdadeira e própria regra de direito; que,
nomeadamente, pode ser imposta mediante a ameaça de coacção e
cuja violação leva, em geral, à aplicação de sanções, sejam elas de
natureza penal, administrativa ou disciplinar.
b) Do ponto de vista orgânico, o regulamento é editado por uma
autoridade administrativa, isto é, de um órgão da Administração
Pública.
c) Como elemento funcional, cumpre referir que o regulamento é
ameaçado no exercício do poder administrativo.
Porque se trata de exercício de poder administrativo, haverá que ter
presente que a actividade regulamentar é uma actividade subordinada e
condicionada face à actividade legislativa, essa livre, primária e
independente.
Enquanto norma secundária que é, o regulamento administrativo
encontra na lei o seu fundamento e parâmetro de validade. Por maioria
de razão, é óbvio que o regulamento administrativo deve estrita
obediência à Constituição, enquanto lei fundamental do Estado.
Consequentemente, se o regulamento contrariar uma lei, é ilegal; e
se entrar em relação directa com a Constituição, violando-a em
qualquer dos seus preceitos, padecerá deinconstitucionalidade.
270. Espécies
As espécies de regulamentos administrativos podem ser apuradas à
luz de quatro critérios fundamentais:
a) Dependência dos regulamentos administrativos face à
lei: há que distinguir duas espécies principais:
· Os regulamentos complementares ou de execução, são
aqueles que desenvolvem ou aprofundam a disciplina jurídica
constante de uma lei. E, nessa medida, contemplam,
viabilizando a sua aplicação aos casos concretos. Podem
ser espontâneos, a lei nada diz quanto à necessidade da sua
complementarização, todavia, se a Administração o entender
adequado e para tanto dispuser de competência, poderá editar
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O CONTRATO ADMINISTRATIVO
CONCEITO
277. Preliminares
Normalmente, a Administração Pública actua por via de autoridade
e toma decisões unilaterais, isto é, prática actos administrativos: o acto
administrativo é o modo mais característico do exercício do pode
administrativo, é a forma típica da actividade administrativa.
Muitas vezes, porém, a Administração Pública actua de outra forma,
desta feita em colaboração com os particulares, usando a via do
contrato, que é uma via bilateral, para prosseguir os fins de interesse
público que a lei põe a seu cargo. Isso significa que, estes casos, a
Administração Pública, em vez de impor a sua vontade aos particulares,
necessidade chegar a acordo com eles para obter a sua colaboração na
realização dos fins administrativos.
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REGIME JURÍDICO
280. Preliminares
O regime jurídico dos contratos administrativos é constituído quer
por normas que conferem prerrogativas especiais de autoridade à
Administração Pública, quer por normas que impõe à Administração
Pública especiais deveres ou sujeições que não têm paralelo no regime
dos contratos de Direito Privado.
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A Constituição diz no art. 271º, que esse aspecto será regulado pela
lei. Ora das nossas leis – e dos princípios gerais aplicáveis – resulta que,
nestes casos, há sempre direito de regresso da Administração contra o
órgão, agente ou representante que tiver actuado em nome dela, excepto
nos casos seguintes:
1. Se tiver havido culpa do serviço;
2. Se o órgão, agente ou representante não tiver procedido com
diligência e zelo manifestamente inferiores àqueles a que se
achava obrigado em razão do seu cargo, isto é, se tiver actuando
apenas culpa leve – e não com culpa grave ou com dolo.
3. Se o autor do facto danoso tiver agido no cumprimento de
ordens ou instruções superiores a que deva obediência, desde que
delas tenha previamente reclamado ou que tenha exigido a sua
transmissão ou confirmação por escrito.
a) Para efeitos do DL 48051 de 21 de Novembro de 1967,
consideram factos ilícitos:
- Os actos jurídicos, incluindo os actos administrativos, que
violem as normas legais, as normas regulamentares ou os
princípios gerais aplicáveis;
- Os actos materiais, que infrinjam essas normas ou
princípios, ou ainda as regras de ordem técnica e de prudência
comum que devam ser tidas em consideração (art. 6º DL
48051).
b) A culpa dos órgãos, agentes ou representantes da
Administração, para efeitos de responsabilidade civil, é apreciada
nos termos do Código Civil, isto é, em função da diligência de um
bom pai de família e em face das circunstâncias de cada caso (art.
4º DL 48051; art. 487º CC);
c) Se houver pluralidade de responsáveis é solidária a sua
responsabilidade, presumindo-se iguais as culpas de todos os
responsáveis (art. 4º/2 DL 48051, art. 497º CC);
d) Tanto o direito do particular à indemnização como os direitos
de regresso a que houver lugar prescrevem, em regra, no prazo de
três anos (art. 5º DL 48051, art. 498º CC);
e) A efectivação do direito à indemnização não depende, em
princípio, de prévia interposição de recurso contencioso de
anulação do acto causador do dano. Mas o direito à indemnização
só subsistirá se o dano não puder ser imputado à falta de
interposição do recurso, ou a negligente conduta processual do
recorrente durante o recurso (art. 7º DL 48051).
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