Captação e Água e Parâmetros

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Parte 2 - Captação de água e suas características

Tema 1 - Fatores que devem ser observados na escolha do local de captação de água

Condições a serem analisadas

As águas superficiais empregadas em sistemas de abastecimento geralmente são


originárias de um curso de água natural. Opções mais raras seriam captações em lagos
naturais ou no mar com dessalinização posterior.

As condições de escoamento, a variação do nível d’água, a estabilidade do local de


captação, etc, é que vão implicar em que sejam efetuadas obras preliminares a sua
captação e a dimensão destas obras. Basicamente as condições a serem analisadas são:
● quantidade de água
● qualidade da água
● garantia de funcionamento
● economia das instalações
● localização

Quantidade de água

São três as situações que podemos nos deparar quando vamos analisar a quantidade de
água disponível no possível manancial de abastecimento:
● a vazão é suficiente na estiagem
● é insuficiente na estiagem, mas suficiente na média
● existe vazão, mas inferior ao consumo previsto.

A primeira situação é a ideal, pois, havendo vazão suficiente continuamente, o problema


seguinte é criar a forma mais conveniente de captação direta da correnteza. Esta é a forma
mais comum onde os rios são perenes (ou perenizados artificialmente).

A segunda situação significa que durante determinado período do ano não vamos encontrar
vazão suficiente para cobertura do consumo previsto. Como na média a vazão é suficiente,
então durante o período de cheias haverá um excesso de vazão que se armazenado
adequadamente poderá suprir o déficit na estiagem. Este armazenamento normalmente é
conseguido por meio das barragens de acumulação que são reservatórios construídos para
acumularem um volume tal que durante a estiagem compensem as demandas com o
volume armazenado em sua bacia hidráulica. Esta é a forma mais frequente para sistemas
com vazões de consumo para comunidades superiores a 5000 habitantes, no interior do
Nordeste Brasileiro, onde é comum o esvaziamento completo dos rios nos períodos de
seca.

A terceira situação é a mais delicada quanto ao aproveitamento do manancial. Como não


temos vazão suficiente, a solução mais simplista é procurarmos outro manancial para a
captação. Se regionalmente não podemos contar com outro manancial que supra a
demanda total, então poderemos ser obrigados a utilizarmos mananciais complementares,
ou seja, a vazão a ser fornecida pelo primeiro não é suficiente, mas reunida com a captada
em um manancial complementar (ou em mais de um) viabiliza-se o abastecimento, dentro
das condições regionais. É a situação mais comum no abastecimento dos grandes centros
urbanos.

Qualidade da água

Na captação de águas superficiais parte-se do princípio sanitário que é uma água sempre
suspeita, pois está naturalmente sujeita a possíveis processos de poluição e contaminação.
É básico, sob o ponto de vista operacional do sistema, captar águas de melhor qualidade
possível, localizando adequadamente a tomada e efetivando-se medidas de proteção
sanitária desta tomada, como por exemplo, no caso de tomada em rios, instalar a captação
à montante de descargas poluidoras e da comunidade a abastecer.

Especificamente, as tomadas em reservatórios de acumulação não devem ser tão


superficiais nem também tão profundas, para que não ocorram problemas de natureza
física, química ou biológica. Superficialmente ações físicas danosas podem ter origem
através de ventos, correntezas (principalmente durante os períodos de enchentes com
extravasão do reservatório) e impactos de corpos flutuantes. Nas partes mais profundas
sempre teremos maior quantidade de sedimentos em suspensão, dificultando ou
encarecendo a remoção de turbidez nos processos de tratamento. Agentes químicos
poderão estar presentes a qualquer profundidade mas há uma tendência das águas mais
próximas da superfície terem maiores teores de gases dissolvidos (CO2 , por exemplo), de
dureza e de ferro e manganês e seus compostos.

Biologicamente, nas camadas superiores da massa de água, temos maior proliferação de


algas. Essa ocorrência dá gosto ruim e odor desagradável a estas águas, dificultando o
tratamento, principalmente em regiões de clima quente e ensolarado. A profundidade desta
lâmina, a partir da superfície livre, dependerá da espessura da zona fótica, que por sua vez
vai depender da transparência da água armazenada, visto que o desenvolvimento
algológico depende da presença de luz no ambiente aquático, isto é, a espessura da
camada vai depender de até onde a luz solar irá penetrar na água. Enquanto isso no fundo
dos lagos gera-se uma massa biológica, chamada de plâncton, que também confere
características impróprias para utilização da água ali acumulada.

Garantia de funcionamento

Para que não hajam interrupções imprevistas no sistema decorrentes de problemas na


captação, devemos identificar com precisão, antes da elaboração do projeto da captação,
as posições do nível mínimo para que a entrada de sucção permaneça sempre afogada e
do nível máximo para que não haja inundações danosas às instalações de captação. A
determinação da velocidade de deslocamento da água no manancial também é de suma
importância para dimensionamento das estruturas de captação que estarão em contato com
a correnteza e ondas e sujeitas a impactos com corpos flutuantes. Além da preocupação
com a estabilidade das estruturas, proteção contra correntezas, inundações,
desmoronamentos, etc., devemos tomar medidas que não permitam obstruções com a
entrada indevida de corpos sólidos, como peixes, por exemplo. Esta proteção é conseguida
com emprego de grades, telas ou crivos, conforme for o caso, antecedendo a entrada da
água na canalização.

Economia nas instalações

Os princípios básicos da engenharia são a simplicidade, a técnica e a economia. A luz


destes princípios o projeto da captação deve se guiar por soluções que envolvam o menor
custo sem o sacrifício da funcionalidade. Para que isto seja conseguido devemos estudar
com antecedência, a permanência natural do ponto de captação, a velocidade da
correnteza, a natureza do leito de apoio das estruturas a serem edificadas e a vida útil
destas, a facilidade de acesso e de instalação de todas as edificações necessárias (por
exemplo, a estação de recalque, quando for o caso, depósitos, etc.), a flexibilidade física
para futuras ampliações e os custos de aquisição do terreno.

Localização

A princípio, a localização ideal é aquela que possibilite menor percurso de adução


compatibilizado com menores alturas de transposição pela mesma adutora no seu
caminhamento. Partindo deste princípio, o projetista terá a missão de otimizar a situação
através das análises das várias alternativas peculiares ao manancial a ser utilizado. Para
melhor rendimento operacional, é importante que, além das medidas sanitárias citadas
anteriormente, a captação em rios seja em trechos retos, pois nestes trechos há menor
possibilidade de assoreamentos. Quando a captação for em trecho curvo temos que na
margem côncava haverá maior agressividade da correnteza, enquanto que na convexa
maiores possibilidades de assoreamentos, principalmente de areia e matéria orgânica em
suspensão. É, portanto, preferível a captação na margem côncava, visto que problemas
erosivos podem ser neutralizados com proteções estruturais na instalação, enquanto que o
assoreamento seria um problema contínuo durante a operação do sistema. A captação em
barragens deve situar-se o mais próximo possível do maciço de barramento considerando
que nestes locais há maior lâmina disponível, correntezas de menores velocidades, menor
turbidez, condições mais favoráveis para captação por gravidade, etc. Em lagos naturais as
captações devem ser instaladas, de preferência, em posições intermediárias entre as
desembocaduras afluentes e o local de extravasão do lago.

Tema 2 - Qualidade dos mananciais e seus usos

Mananciais são todas as fontes de água, superficiais ou subterrâneas, que podem ser
usadas para o abastecimento público. Isso inclui, por exemplo, rios, lagos, represas e
lençóis freáticos. Para cumprir sua função, um manancial precisa de cuidados especiais,
garantidos nas chamadas leis estaduais de proteção a mananciais.

O aumento da demanda por água é conseqüência direta do crescimento populacional e da


ampliação dos níveis de consumo per capita, e tais fatores aumentam a pressão sobre os
mananciais de abastecimento Seus usos são indispensáveis a um grande número de
atividades, onde se pode destacar o abastecimento público e industrial, a irrigação agrícola,
a produção de energia elétrica e as atividades de lazer e recreação, bem como a
preservação da vida aquática. A crescente expansão demográfica e industrial observada
nas últimas décadas trouxe como conseqüência o comprometimento das águas dos rios,
lagos e reservatórios.

O índice de qualidade de águas (IQA) é um parâmetro desenvolvido pela National sanitation


foundation dos estados unidos utilizado para regular a qualidade das águas. O IQA varia de
0 a 100 classificando a água em muito ruim, ruim, médio, bom ou excelente. Os critérios
considerados são oxigênio dissolvido, coliformios fecais, pH, dbqo, nitratos, turbidez e
sólidos totais.

Diversos são os fatores que causam a degradação dos mananciais de água e põem em
risco o abastecimento das populações. Entre esses fatores pode-se destacar os
desmatamentos, mineração, lixões, disposição incorreta dos resíduos sólidos, lançamento
de esgoto, erosão, assoreamento e crescimento desordenado dos núcleos habitacionais.

A escolha do manancial se constitui na decisão mais importante na implantação de um


sistema de abastecimento de água, seja ele de caráter individual ou coletivo. Havendo mais
de uma opção, sua definição deverá levar em conta, além da predisposição da comunidade
em aceitar as águas do manancial a ser adotado, os seguintes critérios:
1. previamente é indispensável a realização de análises de componentes orgânicos,
inorgânicos e bacteriológicos das águas do manancial, para verificação dos teores
de substâncias prejudiciais, limitados pela resolução nº 20 do Conselho Nacional do
Meio Ambiente (CONAMA)
2. vazão mínima do manancial, necessária para atender a demanda por um
determinado período de anos
3. mananciais que dispensam tratamento, incluem águas subterrâneas não sujeitas a
qualquer possibilidade de contaminação
4. mananciais que exigem apenas desinfecção: inclui as águas subterrâneas e certas
águas de superfície bem protegidas, sujeitas a baixo grau de contaminação
5. mananciais que exigem tratamento simplificado: compreendem as águas de
mananciais protegidos, com baixos teores de cor e turbidez, sujeitas apenas a
filtração lenta e desinfecção
6. mananciais que exigem tratamento convencional: compreendem basicamente as
águas de superfície, com turbidez elevada, que requerem tratamento com
coagulação, floculação, decantação, filtração e desinfecção.

Tema 3 - Fontes mais utilizadas na captação de águas

Manancial

O homem possui dois tipos de fontes para seu abastecimento que são as águas superficiais
(rios, lagos, canais, etc.) e subterrâneas (lençóis subterrâneos). Efetivamente essas fontes
não estão sempre separadas. Em seu deslocamento pela crosta terrestre a água que em
determinado local é superficial pode ser subterrânea em uma próxima etapa e até voltar a
ser superficial posteriormente.

Há duas formas de captação em mananciais:

● Captação superficial: é feita em rios, lagos ou represas por bombeamento ou


gravidade. A água retirada segue pela adutora até a estação de tratamento. As
águas de superfície são as de mais fácil captação e por isso havendo, pois, uma
tendência a que sejam mais utilizadas no consumo humano. No entanto temos que
menos de 5% da água doce existente no globo terrestre encontram-se disponíveis
superficialmente, ficando o restante armazenado em reservas subterrâneas.
● Captação subterrânea é realizada através de poços artesianos para obter água dos
lençóis subterrâneos. Em média, as perfurações são de 50 a 100 metros e a água é
conduzida por motobombas até a estação de tratamento. Diferentemente da água
captada superficialmente, seu tratamento é feito com cloro para desinfecção. A
captação do lençol freático pode ser executada por galerias filtrantes, drenos, fontes
ou poços freáticos.

Quanto a sua dinâmica de deslocamento as águas superficiais são frequentemente


renovadas em sua massa enquanto que as subterrâneas podem ter séculos de acumulação
em seu aqüífero, pois sua renovação é muito mais lenta pelas dificuldades óbvias,
principalmente nas camadas mais profundas.

A captação tem por finalidade criar condições para que a água seja retirada do manancial
abastecedor em quantidade capaz de atender o consumo e em qualidade tal que dispense
tratamentos ou os reduza ao mínimo possível.

Água da chuva

A água da chuva, com tratamentos simples, é uma alternativa concreta para uso em
descargas de sanitários, irrigação de jardins e para lavagem de carros, pisos e roupas.
Captação de água da chuva é uma atitude ecologicamente responsável, pois reaproveita a
água da chuva em vez de utilizar o recurso hídrico potável, diminuindo sua pegada hídrica.

O reservatório para a captação de água da chuva pode ser instalado em qualquer ambiente:
rural ou urbano, casa ou apartamento. Além disso, o território brasileiro recebe chuvas
abundantes durante o ano em maior parte de suas regiões e as condições climáticas e
geológicas propiciam a formação de uma extensa e densa rede de rios, com exceção do
semi-árido, onde os rios são pobres e temporários. Essa água, no entanto, é distribuída de
forma irregular, apesar da abundância em termos gerais.
Tema 4 - Parâmetros físicos e sua impotância na escolha do manancial

A qualidade da água é um conjunto de características físicas, químicas e biológicas que a


água apresenta e são medidos por parâmetros. Assim de acordo com a sua utilização existe
um conjunto de critérios e normas para esta qualidade , logo a água de consumo humano, a
água de uso industrial, a água de uso agrícola e etc possuem especificações diferentes.

Sendo assim, quando os parâmetros alcançam valores superiores aos estabelecidos para
determinado uso isso constituirá em impurezas na água. Devido a isso conhecer os
diversos parâmetros é importante para a escolha do manancial pois quanto mais impuro ele
for, para determinado fim, maior será o custo do tratamento da água para deixá-la na
especificação desejada, tanto em relação a produtos químicos quanto em relação a
tecnologias avançadas.

Condutividade elétrica: é a capacidade que a água possui de conduzir corrente elétrica.


Está associada a presença de íons dissolvidos na água, que são partículas carregadas
eletricamente. Logo a água terá alta condutividade se tiver muitos íons dissolvidos. Esses
íons podem ser oriundos de compostos iônicos como cloretos, sulfatos, nitratos e fosfatos
(representam as cargas negativas) e de compostos catiônicos como sódio, magnésio,
cálcio, ferro, alumínio e amônio (representam as cargas positivas). A condutividade pode
ser influenciada pela presença de compostos orgânicos, inorgânicos, pela temperatura e
pela formação geológica do local do manancial. Esse parâmetro pode ser medido em
unidades de miliSiemens por cm² ou microSiemens por cm².

Temperatura: É a medida da intensidade de calor. É um parâmetro importante, pois


influencia em algumas propriedades da água como densidade, viscosidade, Oxigênio
dissolvido, com refluxos sobre a vida aquática. A temperatura pode variar em função de
fontes naturais (energia solar) e fontes antropogênicas (despejos industriais e águas de
resfriamento de mananciais). Os ambientes aquáticos brasileiros tem uma faixa de
temperatura de 20ºC á 30ºC. A temperatura elevada aumentam as perspectivas de rejeição
ao uso. Águas subterrâneas captadas a grandes profundidades necessitam de unidades de
resfriamento a fim de adequá-las ao abastecimento.

Sabor e Odor: Uma das principais fontes de odor nas águas naturais é a decomposição
biológica da matéria orgânica, no lodo de fundo de rios e de represas ocorre a formação de
gás sulfídrico que representa odor típico de ovo podre. Temos também algas do gênero
cianófilas, como por exemplo as algas azuis que são resistentes às condições de severas
poluições, produzindo compostos odoríferos que podem ser tóxicos. O sabor da água é
proveniente de metais, acidez, ou alcalinidade pronunciada. A adsorção com carvão ativado
é a técnica mais utilizada e eficiente no controle de odor.

Cor: A cor da água resulta de existências de substâncias em solução, como por exemplo o
Ferro e o Manganês, que tornam a água imprópria para consumo. As águas naturais
possuem intensidade de cor que varia entre 0 a 200 unidades, pois acima disso já seria
água de pântano com elevada concentração de matéria orgânica dissolvida, já coloração
abaixo de 10 unidades quase não é perceptível. No Brasil aceita-se água bruta (antes do
seu tratamento) possuem valores de até 75 unidades de cor.

Turbidez: É o grau de atenuação de intensidade que um feixe de luz sofre ao atravessá-la


devido à presença de matéria em suspensão como argila, substâncias orgânicas finamente
divididas, organismos microscópicos e outras partículas. A turbidez também é um parâmetro
que indica a qualidade estética das águas para abastecimento público. Nos projetos dos
decantadores um dos parâmetros mais importantes é a turbidez. São conduzidos ensaios
em colunas de sedimentação onde é monitorada a turbidez remanescente em função do
tempo. A erosão nas margens dos rios é um exemplo de fenômeno que resulta em aumento
de turbidez, podendo decorrer do mau uso do solo, impedindo a fixação da vegetação.
Esgotos sanitários e efluentes industriais também aumentam a turbidez.

Sólidos: Correspondem a toda matéria que permanece como resíduo, após secagem ou
calcinação da amostra. Tipos de sólidos:
1. Sólidos em suspensão:
● Sólidos sedimentáveis: sedimentam após um período t de repouso da
amostra. (alta velocidade de sedimentação)
● Sólidos não sedimentáveis: somente podem ser removidos por
processos de coagulação, floculação e decantação. (baixa velocidade
de sedimentação)

2. Sólidos dissolvidos: representam a matéria em solução ou estado coloidal presente


na amostra. As legislações sobre a quantidade permitida de sólidos totais permitem
1000 mg/L (Ministério da Saúde) e 500 mg/L (CONAMA). Utiliza-se a lei de maior
rigor de concentração, nesse caso, a lei da CONAMA.

As concentrações de sólidos em suspensão são medidas importantes no controle de


decantadores e outras unidades de separação de sólidos. Constituem um parâmetro
importante utilizado em análises de balanço de massa.

Tema 5 - Parâmetros químicos e sua impotância na escolha do manancial

Potencial hidrogêniônico (pH): representa a intensidade das condições ácidas ou


alcalinas do meio líquido por meio da medição da presença de íons hidrogênio (H+). É
calculado em escala antilogarítmica, abrangendo a faixa de 0 a 14 (inferior a 7: condições
ácidas; superior a 7: condições alcalinas). O valor do pH influi na distribuição das formas
livre e ionizada de diversos compostos químicos, além de contribuir para um maior ou
menor grau de solubilidade das substâncias e de definir o potencial de toxicidade de vários
elementos. As alterações de pH podem ter origem natural (dissolução de rochas,
fotossíntese) ou antropogênica (despejos domésticos e industriais). Em águas de
abastecimento, baixos valores de pH podem contribuir para sua corrosividade e
agressividade, enquanto valores elevados aumentam a possibilidade de incrustações. Para
a adequada manutenção da vida aquática, o pH deve situar-se geralmente na faixa de 6 a
9. Existem, no entanto, várias exceções a essa recomendação, provocadas por influências
naturais, como é o caso de rios de cores intensas, em decorrência da presença de ácidos
húmicos provenientes da decomposição de vegetação. Nessa situação, o pH das águas é
sempre ácido (valores de 4 a 6), como pode ser observado em alguns cursos d’água na
planície amazônica. A acidificação das águas pode ser também um fenômeno derivado da
poluição atmosférica, mediante complexação de gases poluentes com o vapor d’água,
provocando o predomínio de precipitações ácidas. Podem também existir ambientes
aquáticos naturalmente alcalinos em função da composição química de suas águas, como é
o exemplo de alguns lagos africanos nos quais o pH chega a ultrapassar o valor de 10. O
intervalo de pH para águas de abastecimento é estabelecido pela Portaria no 1469/2000
entre 6,5 e 9,5. Esse parâmetro objetiva minimizar os problemas de incrustação e corrosão
das redes de distribuição.

Alcalinidade: A alcalinidade indica a quantidade de íons na água que reagem para


neutralizar os íons hidrogênio. Constitui, portanto, uma medição da capacidade da água de
neutralizar os ácidos, servindo assim para expressar a capacidade de tamponamento da
água, isto é, sua condição de resistir a mudanças do pH. Ambientes aquáticos com altos
valores de alcalinidade podem, destarte, manter aproximadamente os mesmos teores de
pH, mesmo com o recebimento de contribuições fortemente ácidas ou alcalinas. Os
principais constituintes da alcalinidade são os bicarbonatos (HCO3 ), carbonatos (CO3 2-) e
hidróxidos (OH- ). Outros ânions, como cloretos, nitratos e sulfatos, não contribuem para a
alcalinidade. A distribuição entre as três formas de alcalinidade é dada abaixo:
● pH > 9,4 (hidróxidos e carbonatos)
● pH entre 8,3 e 9,4 (carbonatos e bicarbonatos)
● pH entre 4,4 e 8,3 (apenas bicarbonatos)

Verifica-se assim que, na maior parte dos ambientes aquáticos, a alcalinidade deve-se
exclusivamente à presença de bicarbonatos. Valores elevados de alcalinidade estão
associados a processos de decomposição da matéria orgânica e à alta taxa respiratória de
microorganismos, com liberação e dissolução do gás carbônico (CO2) na água. A maioria
das águas naturais apresenta valores de alcalinidade na faixa de 30 a 500 mg/L de CaCO3 .

Acidez: A acidez, em contraposição à alcalinidade, mede a capacidade da água em resistir


às mudanças de pH causadas pelas bases. Ela decorre, fundamentalmente, da presença de
gás carbônico livre na água. A origem da acidez tanto pode ser natural (CO2 absorvido da
atmosfera ou resultante da decomposição de matéria orgânica, presença de H2S – gás
sulfídrico) ou antropogênica (despejos industriais, passagem da água por minas
abandonadas). De maneira semelhante à alcalinidade, a distribuição das formas de acidez
também é função do pH da água:
● pH > 8.2 – CO2 livre ausente
● pH entre 4,5 e 8,2 → acidez carbônica
● pH < 4,5 → acidez por ácidos minerais fortes, geralmente resultantes de despejos
industriais.

Águas com acidez mineral são desagradáveis ao paladar, sendo portanto desaconselhadas
para abastecimento doméstico.
Dureza: A dureza indica a concentração de cátions multivalentes em solução na água. Os
cátions mais freqüentemente associados à dureza são os de cálcio e magnésio (Ca2+,
Mg2+) e, em menor escala, ferro (Fe2+), manganês (Mn2+), estrôncio (Sr2+) e alumínio
(Al3+). A dureza pode ser classificada como dureza carbonato ou dureza não carbonato,
dependendo do ânion com o qual ela está associada. A primeira corresponde à alcalinidade,
estando portanto em condições de indicar a capacidade de tamponamento de uma amostra
de água. A dureza não carbonato refere-se à associação com os demais ânions, à exceção
do cálcio e do magnésio. A origem da dureza das águas pode ser natural (por exemplo,
dissolução de rochas calcáreas, ricas em cálcio e magnésio) ou antropogênica (lançamento
de efluentes industriais). A dureza da água é expressa em mg/L de equivalente em
carbonato de cálcio (CaCO3 ) e pode ser classificada em:
● mole ou branda: < 50 mg/L de CaCO3
● dureza moderada: entre 50 mg/L e 150 mg/L de CaCO3
● dura: entre 150 mg/L e 300 mg/L de CaCO3
● muito dura: > 300 mg/L de CaCO3

Águas de elevada dureza reduzem a formação de espuma, o que implica um maior


consumo de sabões e xampus, além de provocar incrustações nas tubulações de água
quente, caldeiras e aquecedores, em função da precipitação dos cátions em altas
temperaturas. Existem evidências de que a ingestão de águas duras contribui para uma
menor incidência de doenças cardiovasculares. Em corpos d’água de reduzida dureza, a
biota é mais sensível à presença de substâncias tóxicas, já que a toxicidade é inversamente
proporcional ao grau de dureza da água. Para águas de abastecimento, o padrão de
potabilidade estabelece o limite de 500 mg/L CaCO3 . Valores dessa magnitude usualmente
não são encontrados em águas superficiais no Brasil, podendo ocorrer, em menor monta,
em aqüíferos subterrâneos.

Oxigênio dissolvido: Trata-se de um dos parâmetros mais significativos para expressar a


qualidade de um ambiente aquático. Conforme já comentado anteriormente, a dissolução de
gases na água sofre a influência de distintos fatores ambientais (temperatura, pressão,
salinidade). As variações nos teores de oxigênio dissolvido estão associadas aos processos
físicos, químicos e biológicos que ocorrem nos corpos d’água. Para a manutenção da vida
aquática aeróbia são necessários teores mínimos de oxigênio dissolvido de 2 mg/L a 5
mg/L, de acordo com o grau de exigência de cada organismo. A concentração de oxigênio
disponível mínima necessária para a sobrevivência das espécies piscícolas é de 4 mg/L
para a maioria dos peixes e de 5 mg/L para trutas. Em condições de anaerobiose (ausência
de oxigênio dissolvido), os compostos químicos são encontrados na sua forma reduzida
(isto é, não oxidada), a qual é geralmente solúvel no meio líquido, disponibilizando portanto
as substâncias para assimilação pelos organismos que sobrevivem no ambiente. À medida
que cresce a concentração de oxigênio dissolvido, os compostos vão-se precipitando,
ficando armazenados no fundo dos corpos d’água.

Demandas química e bioquímica de oxigênio: Os parâmetros DBO (Demanda


Bioquímica de Oxigênio) e DQO (Demanda Química de Oxigênio) são utilizados para indicar
a presença de matéria orgânica na água. Sabe-se que a matéria orgânica é responsável
pelo principal problema de poluição das águas, que é a redução na concentração de
oxigênio dissolvido. Isso ocorre como conseqüência da atividade respiratória das bactérias
para a estabilização da matéria orgânica. Portanto, a avaliação da presença de matéria
orgânica na água pode ser feita pela medição do consumo de oxigênio. Os referidos
parâmetros DBO e DQO indicam o consumo ou a demanda de oxigênio necessária para
estabilizar a matéria orgânica contida na amostra de água. Essa demanda é referida
convencionalmente a um período de cinco dias, já que a estabilização completa da matéria
orgânica exige um tempo maior, e a uma temperatura de 20 °C. A diferença entre DBO e
DQO está no tipo de matéria orgânica estabilizada: enquanto a DBO se refere
exclusivamente à matéria orgânica mineralizada por atividade dos microorganismos, a DQO
engloba também a estabilização da matéria orgânica ocorrida por processos químicos.
Assim sendo, o valor da DQO é sempre superior ao da DBO. Além do mais, a relação entre
os valores de DQO e DBO indica a parcela de matéria orgânica que pode ser estabilizada
por via biológica. Tanto a DBO quanto a DQO são expressas em mg/L. A concentração
média da DBO – que é, entre os dois, o parâmetro normalmente mais utilizado – em
esgotos domésticos é da ordem de 300 mg/L, o que indica que são necessários 300
miligramas de oxigênio para estabilizar, em um período de cinco dias e a 20 °C, a
quantidade de matéria orgânica biodegradável contida em um (1) litro da amostra. Alguns
efluentes de indústrias que processam matéria orgânica (laticínios, cervejarias, frigoríficos)
apresentam valores de DBO na ordem de grandeza de dezenas ou mesmo centenas de
gramas por litro. Em ambientes naturais não poluídos, a concentração de DBO é baixa (1
mg/L a 10 mg/L), podendo atingir valores bem mais elevados em corpos d’água sujeitos à
poluição orgânica, esta em geral decorrente do recebimento de esgotos domésticos ou de
criatórios de animais.

Série nitrogenada: No meio aquático, o elemento químico nitrogênio pode ser encontrado
sob diversas formas:
● nitrogênio molecular (N2): nessa forma, o nitrogênio está, continuamente, sujeito a
perdas para a atmosfera. Algumas espécies de algas conseguem fixar o nitrogênio
atmosférico, o que permite seu crescimento mesmo quando as outras formas de
nitrogênio não estão disponíveis na massa líquida
● nitrogênio orgânico: constituído por nitrogênio na forma dissolvida (compostos
nitrogenados orgânicos) ou particulada (biomassa de organismos)
● íon amônio (NH4 +): forma reduzida do nitrogênio, sendo encontrada em condições
de anaerobiose; serve ainda como indicador do lançamento de esgotos de elevada
carga orgânica
● íon nitrito (NO2 - ): forma intermediária do processo de oxidação, apresentando uma
forte instabilidade no meio aquoso
● íon nitrato (NO3 - ): forma oxidada de nitrogênio, encontrada em condições de
aerobiose.

O ciclo do nitrogênio conta com a intensa participação de bactérias, tanto no processo de


nitrificação (oxidação bacteriana do amônio a nitrito e deste a nitrato) quanto no de
desnitrificação (redução bacteriana do nitrato ao gás nitrogênio). O nitrogênio é um dos
mais importantes nutrientes para o crescimento de algas e macrófitas (plantas aquáticas
superiores), sendo facilmente assimilável nas formas de amônio e nitrato. Em condições
fortemente alcalinas, ocorre o predomínio da amônia livre (ou não ionizável), que é bastante
tóxica a vários organismos aquáticos. Já o nitrato, em concentrações elevadas, está
associado à doença da metaemoglobinemia, que dificulta o transporte de oxigênio na
corrente sangüínea de bebês. Em adultos, a atividade metabólica interna impede a
conversão do nitrato em nitrito, que é o agente responsável por essa enfermidade. Além de
ser fortemente encontrado na natureza, na forma de proteínas e outros compostos
orgânicos, o nitrogênio tem uma significativa origem antropogênica, principalmente em
decorrência do lançamento, em corpos d’água, de despejos domésticos, industriais e de
criatórios de animais, assim como de fertilizantes.

Fósforo: O fósforo é, em razão da sua baixa disponibilidade em regiões de clima tropical, o


nutriente mais importante para o crescimento de plantas aquáticas. Quando esse
crescimento ocorre em excesso, prejudicando os usos da água, caracteriza-se o fenômeno
conhecido como eutrofização. No ambiente aquático, o fósforo pode ser encontrado sob
várias formas:
● orgânico: solúvel (matéria orgânica dissolvida) ou particulado (biomassa de
microorganismos)
● inorgânico: solúvel (sais de fósforo) ou particulado (compostos minerais, como
apatita)

A fração mais significativa no estudo do fósforo é a inorgânica solúvel, que pode ser
diretamente assimilada para o crescimento de algas e macrófitas. A presença de fósforo na
água está relacionada a processos naturais (dissolução de rochas, carreamento do solo,
decomposição de matéria orgânica, chuva) ou antropogênicos (lançamento de esgotos,
detergentes, fertilizantes, pesticidas). Em águas naturais não poluídas, as concentrações de
fósforo situam-se na faixa de 0,01 mg/L a 0,05 mg/L.

Ferro e manganês: Os elementos ferro e manganês, por apresentarem comportamento


químico semelhante, podem ter seus efeitos na qualidade da água abordados
conjuntamente. Muito embora esses elementos não apresentem inconvenientes à saúde
nas concentrações normalmente encontradas nas águas naturais, eles podem provocar
problemas de ordem estética (manchas em roupas ou em vasos sanitários) ou prejudicar
determinados usos industriais da água. Dessa forma, o padrão de potabilidade das águas
determina valores máximos de 0,3 mg/L para o ferro e 0,1 mg/L para o manganês. Deve ser
destacado que as águas de muitas regiões brasileiras, como é o caso de Minas Gerais, por
exemplo, em função das características geoquímicas das bacias de drenagem, apresentam
naturalmente teores elevados de ferro e manganês, que podem até mesmo superar os
limites fixados pelo padrão de potabilidade. Altas concentrações desses elementos são
também encontradas em situações de ausência de oxigênio dissolvido, como, por exemplo,
em águas subterrâneas ou nas camadas mais profundas dos lagos. Em condições de
anaerobiose, o ferro e o manganês apresentam-se em sua forma solúvel (Fe2+ e Mn2+),
voltando a precipitar-se quando em contato com o oxigênio (oxidação a Fe3+ e Mn4+).

Micropoluentes: Existem determinados elementos e compostos químicos que, mesmo em


baixas concentrações, conferem à água características de toxicidade, tornando-a assim
imprópria para grande parte dos usos. Tais substâncias são denominadas micropoluentes.
O maior destaque nesse caso é dado aos metais pesados (por exemplo, arsênio, cádmio,
cromo, cobre, chumbo, mercúrio, níquel, prata, zinco), freqüentemente encontrados em
águas residuárias industriais. Além de ser tóxicos, esses metais ainda se acumulam no
ambiente aquático, aumentando sua concentração na biomassa de organismos à medida
que se evolui na cadeia alimentar (fenômeno de biomagnificação). Outros micropoluentes
inorgânicos que apresentam riscos à saúde pública, conforme sua concentração, são os
cianetos e o flúor. Entre os compostos orgânicos tóxicos destacam-se os defensivos
agrícolas, alguns detergentes e uma ampla gama de novos produtos químicos elaborados
artificialmente para uso industrial (compostos organossintéticos). Além de sua difícil
biodegradabilidade, muitos desses compostos apresentam características carcinogênicas
(geração de câncer), mutagênicas (influências nas células reprodutoras) e até mesmo
teratogênicas (geração de fetos com graves deficiências físicas).

Tema 6 - Parâmetros biológicos e sua impotância na escolha do manancial

Microorganismos de importância sanitária: O papel dos microorganismos no ambiente


aquático está fundamentalmente vinculado à transformação da matéria dentro do ciclo dos
diversos elementos. Tais processos são realizados com o objetivo de fornecimento de
energia para a sobrevivência dos microorganismos. Um dos processos mais significativos é
a decomposição da matéria orgânica, realizada principalmente por bactérias. Esse processo
é vital para o ambiente aquático, na medida em que a matéria orgânica que ali chega é
decomposta em substâncias mais simples pela ação das bactérias. Como produto final,
obtêm-se compostos minerais inorgânicos, como, por exemplo, nitratos, fosfatos e sulfatos
que, por sua vez, são reassimilados por outros organismos aquáticos. O processo de
decomposição, também designado como estabilização ou mineralização, é um exemplo do
papel benéfico cumprido pelos microorganismos. Ademais, existem algumas poucas
espécies que são capazes de transmitir enfermidades, gerando, portanto, preocupações de
ordem sanitária. O problema de transmissão de enfermidades é particularmente importante
no caso de águas de abastecimento, as quais devem passar por um tratamento adequado,
incluindo desinfecção. No entanto, a determinação individual da eventual presença de cada
microorganismo patogênico em uma amostra de água não pode ser feita rotineiramente, já
que envolveria a preparação de diferentes meios de cultura, tornando o procedimento
complexo e financeiramente inviável. Na prática, o que é feito é a utilização de organismos
facilmente identificáveis, cuja ocorrência na água está correlacionada à presença de
organismos patogênicos, ou seja, são usados os chamados organismos indicadores. O
mais importante organismo indicador são as bactérias coliformes, apresentadas a seguir.

Bactérias coliformes: As bactérias do grupo coliforme habitam normalmente o intestino de


homens e de animais, servindo portanto como indicadoras da contaminação de uma
amostra de água por fezes. Como a maior parte das doenças associadas com a água é
transmitida por via fecal, isto é, os organismos patogênicos, ao serem eliminados pelas
fezes, atingem o ambiente aquático, podendo vir a contaminar as pessoas que se
abasteçam de forma inadequada dessa água, conclui-se que as bactérias coliformes podem
ser usadas como indicadoras dessa contaminação. Quanto maior a população de coliformes
em uma amostra de água, maior é a chance de que haja contaminação por organismos
patogênicos. Uma grande vantagem no uso de bactérias coliformes como indicadoras de
contaminação fecal é sua presença em grandes quantidades nos esgotos domésticos, já
que cada pessoa elimina bilhões dessas bactérias diariamente. Dessa forma, havendo
contaminação da água por esgotos domésticos, é muito grande a chance de se encontrar
coliformes em qualquer parte e em qualquer amostra de água, o que não acontece, por
exemplo, no caso de metais pesados, que se diluem bastante na massa líquida e muitas
vezes não são detectados nas análises de laboratório. Além disso, a identificação de
coliformes é feita facilmente, já que as bactérias pertencentes a esse grupo fermentam a
lactose do meio de cultura, produzindo gases que são observados nos tubos de ensaio.

Comunidades hidrobiológicas: As principais comunidades que habitam o ambiente


aquático são:
● Plâncton: organismos sem movimentação própria, que vivem em suspensão na
água, podendo ser agrupados em fitoplâncton (algas, bactérias) e zooplânc-ton
(protozoários, rotíferos, crustáceos). A comunidade planctônica exerce papel
fundamental na ecologia aquática, tanto na construção da cadeia alimentar quanto
na condução de processos essenciais, como a produção de oxigênio e a
decomposição da matéria orgânica.
● Bentos: é a comunidade que habita o fundo de rios e lagos, sendo constituída
principalmente por larvas de insetos e por organismos anelídeos, semelhantes às
minhocas. A atividade da comunidade bentônica influi nos processos de
solubilização dos materiais depositados no fundo de ambientes aquáticos. Além
disso, pelo fato de serem muito sensíveis e apresentarem reduzida locomoção e fácil
visualização, os organismos bentônicos são considerados excelentes indicadores da
qualidade da água.
● Nécton: é a comunidade de organismos que apresenta movimentação própria,
sendo representada principalmente pelos peixes. Além do seu significado ecológico,
situando-se no topo da cadeia alimentar, os peixes servem como fonte de proteínas
para a população e podem atuar como indicadores da qualidade da água.

A avaliação da qualidade de uma água deve ser feita de forma integrada, considerando-se o
conjunto das informações de caráter físico, químico e biológico. Os diversos parâmetros
aqui apresentados constituem instrumentos de avaliação que podem ser agrupados para
contemplar as características mais relevantes da qualidade das águas naturais, como, por
exemplo:
● grau de mineralização: obtido por meio da análise da condutividade, alcalinidade,
dureza
● poluição orgânica: oxigênio dissolvido, DBO, DQO e amônio
● presença de nutrientes: nitrogênio e fósforo
● presença de poluentes significativos: metais pesados, detergentes, pesticidas e
compostos organossintéticos
● contaminação fecal: bactérias coliformes
● aspecto físico: série de sólidos, cor e turbidez
● padrão de circulação do corpo d’água: temperatura e oxigênio dissolvido.
Tema 7 - Tecnologias para o pré- tratamento de água

O tratamento preliminar é a primeira etapa do tratamento de águas e esgotos/efluentes


industriais e municipais, e tem como finalidade a remoção de sólidos grosseiros, finos
abrasivos e areia do afluente a ser tratado.

Os equipamentos que compõem o tratamento preliminar funcionam como uma barreira


física, evitando passagem de detritos que possam danificar os equipamentos das etapas
subsequentes do tratamento. O principal problema das ETAs que não possuem esse
tratamento preliminar, é o entupimento das bombas e tubulações que ocorrem pela entrada
de galhos, sacolas plásticas, garrafas PET, entre outros. Além disso, ocorre um maior
consumo de agentes químicos que podem proporcionar um posterior reprocesso,
acarretando em um maior custo no processamento. A maioria das ETAs não possuem esse
pré tratamento.

Grades mecanizadas

Utilizadas na remoção dos sólidos grosseiros, as grades mecanizadas estão disponíveis em


diversos modelos para diferentes dimensões de canais, com limpeza manual ou
mecanizada. Entre os tipos disponíveis estão:
● grade cremalheira, grade de cabos
● grade fuso castanha, grades manuais
● grades de correntes
● grade rotativa, entre outros.
A NBR 12213 (ABNT 1992) fornece todas as orientações para o dimensionamento destes
dispositivos.

Peneiras

Utilizadas na remoção de partículas finas, as peneiras estão disponíveis em modelos para


ambientes abertos e altamente corrosivos, em canais de concreto ou em canais metálicos
em aço inox.

Desarenadores

Também conhecidos como caixas de areia, os desarenadores são utilizados para a


retenção de areia e sólidos finos abrasivos presentes no afluente.

A aQuamec, empresa especialista em tratamento de águas e efluentes municipais e


industriais, reúne na América Latina a oferta das principais tecnologias internacionais para
tratamento preliminar. Alguns exemplos são:
● Peneira fina escalar – Se destaca por seu movimento progressivo, fazendo com que
apenas uma pequena parte do material peneirado seja transportado para cima
durante cada ciclo, resultando em menor perda de carga com que o fluído passa
pela gradeamento, quando comparado com equipamentos tradicionais.
● Triturador - Solução ideal para sólidos grosseiros, pode ser utilizado em aplicações
secas e úmidas. Permite triturar sólidos em efluentes, lama e lixo, operando em
tubulações fechadas ou canais abertos. Com construção robusta em aço inoxidável,
pode ser operado em conjunto com outros equipamentos, como grades, para
aumento de eficiência operacional.

Tema 8 - Monitoramento dos processos

Um sistema de abastecimento de água é formado por diversas unidades, dentre elas:


● Manancial: nada mais é que a fonte onde se retira a água para abastecimento da
região.
● Captação: consiste nos equipamentos e instalações que retiram a água do
manancial e a joga no sistema de abastecimento.
● Adução: é a tubulação, normalmente sem variações, que liga a captação ao
tratamento e/ou do tratamento à rede de distribuição.

O monitoramento é um procedimento contínuo, para obtenção de dados que permitem a


avaliação da quantidade e da qualidade das águas.

Monitoramento dos mananciais

O monitoramento dos mananciais, local onde a água é captada, é realizado em pontos


estratégicos de cada represa para acompanhar a qualidade da água que será captada para
tratamento e posteriormente distribuída à população.
Monitoramento laboratorial: é feito através do recolhimento de amostras para posterior
análise em laboratório. Exemplos:

● Oxigênio Dissolvido
● Ferro
● Demanda Química de Oxigênio - DQO
● Cloreto
● Fósforo
● Nitrogênio
● Cor
● Alumínio
● Manganês
● Alcalinidade
● Dureza
● Oxigênio Consumido
● Condutividade
● Coliformes Totais
● Cianobactérias

Monitoramento automático: é feito de forma automático e em tempo real pelo uso de


instrumentos. São medidos diretamente no local, por meio de uma sonda multiparâmetro,
com os seguintes sensores instalados:
● pH
● Turbidez
● Condutividade
● Potencial de Oxi-redução
● Oxigênio Dissolvido
● Temperatura
Monitoramento captação e adução

● Monitoramento da tubulação com equipamentos (válvulas, medidores de pressão,


etc)
● Controle de pressão (deve ser ideal e satisfatória ao longo do trajeto)
● Controle de vazão

Tema 9 - Disposição dos resíduos gerados

Os resíduos gerados em Estações de Tratamento de Água provêm essencialmente da


limpeza de decantadores, lavagens dos filtros, floculadores e tanques de preparação e
armazenamento de produtos químicos. E é proveniente também de duas etapas do
prétratamento, que são: Gradeamento e Caixa de Areia. No gradeamento, vão ficar retidos
os mais diversos materiais como pedaços de madeira, tecidos, plásticos e papéis, por conta
desta diversidade o descarte correto é mais difícil de ser feito, sendo destinados
exclusivamente aos aterros sanitários.

Sabe-se que em um meio liquido, partículas apresentam comportamento diferenciado uma


das outras durante a sedimentação. Assim, determinadas partículas sedimentam com
velocidade constante, enquanto outras modificam sua forma, peso e volume, durante o
processo, variando suas características. As partículas possíveis de serem separadas por
sedimentação são classificadas em discretas e floculentas. As partículas discretas, retidas
principalmente nas caixas de areia, são aquelas que durante a sedimentação não alteram
seu tamanho, forma ou peso e sua velocidade final de sedimentação é constante. As
partículas floculentas são constituídas principalmente de matéria orgânica, flocos que são
formados por coagulantes químicos e de micro-organismos que tendem a se aglutinar,
formando aglomerados de diferentes tamanhos, forma ou peso. Possíveis destinos:

Disposição em aterros: a disposição do lodo da ETA em aterros sanitários torna-se uma


alternativa bastante utilizada para o tratamento e disposição final dos lodos das ETAs no
Brasil (em cidade de pequeno e médio porte) pois, os mesmos são relativamente próximos
e com custo de transporte economicamente viável. A NBR 10004:2004 classifica o lodo da
ETA como resíduo sólido não inerte e não perigoso, de CLASSE II A, podendo o mesmo ser
disposto em aterros sanitários municipais ou particulares. Os custos estão em torno de R$
60,00 a R$ 80,00 por tonelada de lodo desidratado (custo médio referente a região
metropolitana de São Paulo).A maior dificuldade desta alternativa de disposição é que nem
sempre há disponibilidade de aterro sanitário que esteja preparado para a codisposição do
lodo de ETA, com custos economicamente viáveis para sua operacionalização. A
construção de um aterro exclusivo para atendimento a ETA é geralmente a última opção a
ser considerada, devido ao seu alto custo de implantação e de operação.

Aplicação controlada no solo​: sendo o lodo um material rico em matéria orgânica, argilas,
micro e macronutrientes, alumínio e ferro, que são tipicamente encontrados no solo, a sua
aplicação no solo seria uma alternativa viável. Logo, sua utilização depende de
características da água bruta e do tipo de coagulante utilizado. O maior cuidado deve ser
tomado em relação ao teor de alumínio, pois em altas concentrações pode reduzir a
disponibilidade de fósforo e ser tóxico à maioria das plantas cultivadas.

Compostagem: o uso do lodo de ETA, após secagem e higienização, na produção de


substratos através da compostagem, utilizando-se o sistema de leiras em conjunto com
restos vegetais, tem se mostrado um método eficiente para o aproveitamento destes
resíduos, com alguns benefícios tais como: ajuste da umidade, fornecimento de minerais,
ajuste de pH e aumento do volume de composto.

Fabricação de material cerâmico: por possuir na sua constituição argilominerais, siltes,


areias finas, hidróxidos de ferro e alumínio(que compõem as argilas utilizadas em
cerâmicas), o lodo de ETA possui grande potencial de reciclagem na produção de cerâmica
vermelha.Os recentes estudos nesta área têm sido bastante promissores, demonstrando
sua viabilidade técnica e ambiental, visto que a incorporação do lodo de ETA pode contribuir
para a redução do consumo de argilas, recurso natural não renovável, sem prejuízos para
as características técnicas do produto final. A viabilidade econômica está atrelada
principalmente à maneira pela qual a companhia de saneamento irá disponibilizar o lodo
para a indústria. Existe a divergência de alguns autores sobre os reais efeitos e proporções
a serem aplicadas nas cerâmicas.

Aplicação em concreto: os óxidos de cálcio, sílica, alumínio e ferro são os principais


constituintes do cimento Portland e são retirados da natureza na forma de carbonatos ou
sulfatos. Os lodos de ETA também possuem estes mesmos componentes em sua
constituição, e, portanto, podem substituir parte da matéria prima utilizada na fabricação do
cimento. Por apresentarem redução na qualidade do concreto, usa-los em funções não
estruturais mostrouse bastante promissor.

Lançamento em sistemas de tratamento de esgoto: a disposição do lodo de ETA em


estações de tratamento de esgotos (ETEs), via rede coletora ou por meio de transporte em
caminhão, constitui-se de um método alternativo, pois elimina a implantação do sistema de
tratamento do resíduo na própria ETA, muito embora esteja transferindo a gestão do lodo
para a administração da ETE. Esta alternativa deve ser criteriosamente analisada, pois a
sua viabilidade técnica depende de fatores tais como: tipo do coagulante utilizado no
tratamento da água, regime de descarga dos decantadores da ETA, concentração de
sólidos totais (ST) e matéria orgânica (DQO) no lodo, presença de metais pesados, diluição
do lodo em relação ao efluente da ETE, processo adotado para o tratamento do esgoto, e
método de disposição do lodo da ETE. Já a viabilidade econômica desta opção está
atrelada basicamente à disponibilidade de rede coletora de esgotos entre a ETA e a ETE,
ou, em caso contrário, ao custo do transporte entre as duas estações. Em todo caso,
devesse observar que esta não é uma alternativa de custo zero, uma vez que,
invariavelmente, haverá aumento do volume de lodo processado na ETE. Entre os autores
do tema, observa-se que se chega na viabilidade desta disposição, mas, o principal
problema encontrado no lançamento do lodo de ETA em uma ETE com sistema
convencional de lodos ativados ocorre na digestão do lodo. Nas ETEs com aeração
prolongada, o impacto pode ocorre na fase líquida. Em lagoas aeradas e lagoas de
estabilização, o maior problema está na redução do tempo entre as limpezas de fundo. Nos
reatores anaeróbios, pode ocorrer toxicidade às bactérias pelo alumínio presente no lodo da
ETA, além do aumento de frequência no descarte do lodo.

Portanto deve-se buscar a destinação correta dos resíduos visando a minimização de


impactos ambientais gerados e com a maior preocupação com o meio ambiente na
atualidade, respaldada pela legislação brasileira vigente e pela introdução de certificações
como a ISO 9001 e ISO 14001, têm propiciado o avanço das discussões. Em face da
complexidade do assunto, não se pode ser identificada uma solução única para o
tratamento e a disposição dos lodos das ETAs, e, como as pesquisas na área ainda são
recentes, é necessário que estes estudos sejam aprofundados, de modo a fundamentar
cada uma das alternativas de disposição e reaproveitamento destes resíduos.

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