Em2004 PDF
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Publicações UMA/Worldwatch
Todos os direitos desta edição reservados à UMA - Universidade Livre da Mata Atlântica
Av. Frederico Pontes, 375
40460-001 - Salvador - BA
Fone/fax: (71) 312-7897 / E-mail: [email protected]
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Estado do Mundo 2004
NOME DO CAPÍTULO
Apresentação
Estado do consumo e o consumo sustentável
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APRESENTAÇÃO
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APRESENTAÇÃO
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UMA PEQUENA HISTÓRIA DA PARCERIA WWI – UMA NO BRASIL
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UMA PEQUENA HISTÓRIA DA PARCERIA WWI – UMA NO BRASIL
lestra na UFBA sobre “O Papel das Flores- produziam, hoje brotam espécies nativas da
tas Tropicais no Desenvolvimento Susten- mata, atraindo o canto dos pássaros. Em-
tável”. Juntamente com a pesquisadora brião de reflorestamento.
Ashley Matoon é entrevistado pela VEJA e Christopher Flavin é convidado pelo
pelo portal do UOL. Apoiando as ações da governo brasileiro para proferir palestra na
UMA, o WWI lança edição da sua revista – reunião preparatória da Rio+10, que reuniu
World Watch – com matéria de capa sobre os presidentes do Brasil, da África do Sul e
o cacau e a Mata Atlântica, mostrando ambientalistas de todo o mundo no Rio de
como a economia do chocolate pode aju- Janeiro. Reúne-se com o físico José Gol-
dar na sua preservação. Destacada pelo jor- demberg para montar estratégias de pro-
nal Washington Post, a matéria repercute moção das energias renováveis em Joanes-
em todo o mundo e atrai a atenção da TV burgo. A Secretaria de Meio Ambiente do
National Geographic, que envia equipe às Estado de São Paulo e CETESB dão desta-
fazendas de cacau do sul da Bahia para fil- que ao Estado do Mundo 2002 no seu site.
mar documentário baseado na publicação. Durante a Rio+10, na África do Sul, o
2002 – Veja lança o Estado do Mundo WWI e a UMA relançam o relatório 2002
2002, destacando a edição especial da Cú- no stand brasileiro – ganhador do “primei-
pula Mundial para o Desenvolvimento ro lugar” (outorgado pelo júri oficial, for-
Sustentável – Rio+10. O presidente Fer- mado por artistas locais) entre as exibições
nando Henrique Cardoso alia-se à divul- de todos os países presentes em Joanes-
gação das idéias do WWI, apresentando burgo. Ainda na conferência a UMA reúne-
a versão brasileira 2002 e assinalando a se com Klaus Töpfer, secretário executivo
sua relevância para estimular o debate do PNUMA, organizando a publicação do
público no Brasil. A publicação é prefaci- relatório GEO 3 Internacional no Brasil.
ada por Kofi Annan, Secretário-Geral da 2003 – A senadora Marina Silva, minis-
ONU e Prêmio Nobel da Paz. tra do Meio Ambiente do novo governo,
Hilary French, diretora do Projeto de distingue-nos assinando a apresentação de
Governança Global do WWI, visita o Bra- Estado do Mundo 2003. Leitora do WWI
sil e fala para empresários sobre a impor- desde as primeiras versões brasileiras, re-
tância da governança local. A UMA amplia fere-se às nossas publicações como fonte
as pesquisas com o WWI sobre a Mata destacada de informações para “a intera-
Atlântica para a elaboração de livro sobre ção dos elementos sociais, econômicos,
as possibilidades e vantagens da preserva- ecológicos e culturais no foco da ação pú-
ção da Mata Atlântica, hotspot, bioma que blica”. Partindo da “Senadora da Flores-
registra uma das maiores taxas de biodi- ta”, como é carinhosamente chamada por
versidade do mundo e alto nível de devas- Ziraldo, essa afirmação tem valor especial.
tação. A convite do fotógrafo Sebastião A convite da UMA, Waldemar Wirzig,
Salgado e da sua esposa Lélia, Chris Bright representante do BID no Brasil, visita o
visita o projeto-piloto de recuperação da município de Cairu, para conhecer a área
Mata Atlântica na fazenda de Aymorés, em do projeto “Cairu 2030”, apresentado pela
Minas Gerais. Onde pastos secos nada UMA ao BID, para realização de um diag-
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é por meio dos econegócios, que agregam ais criam redes de reciprocidade e infor-
valor, gerando ocupação e renda. mações que lubrificam a atividade econô-
Os jornalistas Lenilson Ferreira, Ted- mica sustentável.
suji Ida e Yumi Osaki, da Kyodo News, Parceria é a base para um mundo sus-
maior agência de notícias da Ásia, fazem tentável. Sem uma sólida rede de parceiros
reportagem sobre o projeto “Fazenda de não seria possível o nosso trabalho. Mes-
Chocolate”, em Ilhéus, e são entrevista- mo correndo o risco de omitir momenta-
dos pela TV Santa Cruz, filiada à Rede neamente alguns, não podemos deixar de
Globo. Matéria de duas páginas sobre o destacar Rui Rocha, ativo presidente do
projeto é divulgada por 47 jornais asiáti- parceiro Instituto Floresta Viva; Nicholas
cos. O chocolate sustentável ganha inte- Carels, Fátima Cascardo e Julio Cascardo,
resse da comunidade internacional e des- cientistas que prospectam bionegócios para
perta o interesse dos amantes do choco- o banco de germoplasma da “Fazenda de
late em todo o mundo. Chocolate”; deputada Sônia Fontes, que,
Com o apoio da Rede Bahia de Televi- por intermédio do projeto de lei 8420/02,
são, filiada à Rede Globo, “pílulas” de in- de sua autoria, credenciou a UMA como
formações de Estado do Mundo 2004 vão instituição de utilidade pública; Geraldo
ao ar, convidando o telespectador à refle- Machado, presidente da Fundação Luís
xão sobre a importância do consumo sus- Eduardo Magalhães, que sempre estimula
tentável. Diretores e profissionais da Rede a difusão de novas idéias; Fausto Pinheiro
Bahia de Televisão – Isaac Edington, Mau- e Marc Nuscheler, produtores de cacau
rício Magalhães, Marcelo Lyra, Frank Al- orgânico e dirigentes da Cabruca – Coope-
buquerque, Carlos Henrique Medeiros, Cé- rativa de Produtores Orgânicos do Sul da
sar Mazzoni, Sérgio Siqueira, Marcos Les- Bahia –, o professor Asher Kiperstock, do
sa e Leonardo Villanova – aliam-se na cru- Teclim – Centro de Tecnologias Limpas –,
zada para o consumo sustentável. da Universidade Federal da Bahia, que nos
O Sebrae entra no projeto “Fazenda de ensina tecnologias limpas; o engenheiro
Chocolate” para treinar micro e pequenos holandês Jörgen Lewenstein, que nos mu-
empresários na produção do Chocolate da nicia com informações especializadas so-
Mata Atlântica, usando outros produtos da bre recursos hídricos; Amyra Khalili, co-
agrofloresta. Paulo Manso Cabral, visioná- mandante das commodities ambientais;
rio diretor do Sebrae Bahia, sempre pre- Rosita e Antônio Couto, pioneiros proprie-
sente nas discussões dos cenários para o tários da Pousada Farol de Morro de São
empreendimento de ações sustentáveis, Paulo, distrito de Cairu, que investem no
estimula a UMA na introdução dos concei- desenvolvimento sustentável no seu muni-
tos de econegócios nas micro e pequenas cípio; Virginia Garcez e Pierre Weil, que
empresas, batizadas por nós de MPEcos. abrem nossos caminhos para a visão ho-
Relacionamento é uma forma de capi- lística; Daniel Athayde de Almeida, Fernando
tal, o chamado capital social, que, como o Torres e Caio Mario Marques, nossos con-
capital financeiro, rende juros. Laços soci- sultores jurídicos; Beatriz Cerqueira Lima,
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cientizado, o cidadão tende a optar pelo Quem fala em consumo com sustentabi-
consumo sustentável. lidade não pode esquecer do mais perfeito
Nos países industrializados, o alto po- sonho de consumo que alguém pode ter: o
der aquisitivo dos leitores permite a com- amor. Permitam-me parênteses para decla-
pra de livros e facilita o acesso às infor- rar uma intimidade: o amor à minha família.
mações contidas nas publicações WWI, Minha mulher, Luciana, companheira incan-
referências para o desenvolvimento sus- sável na organização das nossas vidas, e meus
tentável. A Biblioteca Digital WWI – UMA, filhos, Daniel, Rogerio, Marcella, Luisa, Re-
desenvolvida no Brasil, é uma experiência nata e Ricardo, carinhosos e pacientes. Com-
pioneira do WWI no mundo. Versões di- preensivos, convivem com um pai empresá-
gitais das publicações estão disponíveis rio, obstinado e sonhador. A família é base de
para download integral e gratuito, demo- equilíbrio numa sociedade sustentável.
cratizando a informação. Propicia o livre Neste ano de eleições, é oportuno lem-
acesso ao rico conteúdo das publicações brar que o voto é exercício de cidadania,
válido todos os dias – não apenas de dois
para professores, alunos, pequenos em-
em dois anos, quando somos compulsori-
presários, cooperativas, ONGs e comuni-
amente convocados para as urnas. Enquan-
dades, ajudando a construir as bases para
to o voto do consumidor, válido a cada se-
o desenvolvimento sustentável. Incentiva gundo, tem o poder de empurrar a socie-
a eco-economia, difundindo tendências e dade no sentido da sustentabilidade, o veto
experiências sobre grandes e pequenos a cadeias produtivas não-sustentáveis e
econegócios. Além das nossas publica- seus produtos é uma alavanca poderosa
ções, a Biblioteca Digital disponibiliza ou- para guindar as comunidades para o con-
tras, consideradas referências nessa área sumo sustentável.
no Brasil e no mundo. Está entre os sites Até agora, esta é a pequena história da
ambientais mais visitados do Brasil, e no parceria WWI – UMA no Brasil.
topo dos resultados de pesquisas por
“worldwatch” no Google Internacional, Eduardo Athayde
www.google.com, maior máquina de pes- Diretor da UMA – Universidade Livre
quisa da Internet no mundo. Na era da da Mata Atlântica e Editor do WWI –
Internet a informação não pode ficar ape- Worldwatch Institute no Brasil
nas presa ao papel. E-mail: [email protected]
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AGRADECIMENTOS
Agradecimentos
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AGRADECIMENTOS
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AGRADECIMENTOS
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AGRADECIMENTOS
excelente substituto em John Holman. Ele Romênia; Hamid Taravaty, no Irã; Eduardo
e a assistente de desenvolvimento, Cyndi Athayde, no Brasil, e Jonathan Sinclair
Cramer, trabalham incessantemente para Wilson, no Reino Unido. Para uma lista
divulgar a palavra do Worldwatch e dar completa de nossos parceiros globais, visite
as boas-vindas às novas adições à www.worldwatch.org/partners.
família Worldwatch. As atividades de Gostaríamos também de expressar
levantamento de recursos da fundação do nossa gratidão à nossa editora de longa data
Instituto continuam sob a liderança capaz nos Estados Unidos, W.W. Norton &
de Kevin Parker, nosso diretor de relações Company. Graças à dedicação de sua equipe
com a fundação, assistido pela associada – especialmente Amy Cherry, Leo
de desenvolvimento Mary Redfern. Wiegman, Andrew Marasia, Julia Druskin
Ambos vêm trabalhando com nossos e Lucinda Bartley – as publicações do
patrocinadores na fundação, cultivando Worldwatch estão disponíveis em qualquer
novos relacionamentos, que sustentarão lugar, desde campi universitários até
o trabalho do Instituto nos anos futuros. pequenas livrarias locais.
Estendemos nossos agradecimentos Nossos agradecimentos especiais pelo
especiais a nossos parceiros em todo o trabalho árduo e leal dos membros do
mundo por seus esforços extraordinários Conselho de Administração do Instituto, que
na divulgação da mensagem do deram contribuições importantes em
desenvolvimento sustentável. O Estado do planejamento estratégico, desenvolvimento
Mundo é publicado regularmente em 31 organizacional e levantamento de fundos
idiomas e 39 edições diferentes, graças, em durante o último ano. Estamos felizes com
grande parte, à dedicação de uma gama de a entrada de três novos e eminentes
editores, organizações não-governamentais, membros do Conselho: Akio Morishima,
grupos da sociedade civil e indivíduos que presidente do Conselho do Instituto de
prestam serviços de consultoria, como Estratégias Ambientais Globais, no Japão;
também de tradução, atividades de campo, Geeta Aiyer, presidente da Boston Common
publicação e assistência para nossas Asset Management, nos Estados Unidos, e
pesquisas. Gostaríamos de agradecer Satu Hassi, ex-Ministro do Meio Ambiente
particularmente a ajuda recebida de Øysten da Finlândia e atual membro do Parlamento
Dahle, Magnar Norderhaug e Helen Eie, na finlandês.
Noruega; Brigitte Kunze, Christoph Bals, Dedicamos esta edição de Estado do
Klaus Milke, Bernd Rheinberg e Gerhard Mundo a Tom e Cathy Crain, membros
Fischer, na Alemanha; Soki Oda, no Japão; do Conselho de Administração do Instituto
Anna Bruno Ventre e Gianfranco Bologna, e do Conselho de Patrocinadores. No final
na Itália; Lluis Garcia Petit e Marisa dos anos 90, os Crains tiveram uma
Mercadoi, na Espanha; Jung Yu Jin, na “epifania” quando trabalhavam na indústria
Coréia, George Cheng, em Taiwan; Yesim financeira, que os levou a abraçar a causa
Erkan, na Turquia; Viktor Vovk, na Ucrânia; da sustentabilidade. Hoje, Tom e Cathy são
Tuomas Seppa, na Finlândia; Zsuzsa tão bem-informados sobre a economia da
Foltanyi, na Hungria; Ioana Vasilescu, na sustentabilidade e a globalização e tão
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AGRADECIMENTOS
Sumário
Apresentação por Enrique Iglesias vii 4 Controlando Nossa Alimentação 82
Presidente do BID - Banco Brian Halweil e Danielle
Interamericano de Nierenberg
Desenvolvimento
Uma Pequena História da Parceria ATRÁS DOS BASTIDORES: Água Engarrafada 105
WWI – UMA no Brasil Frangos 108
ix Chocolate 111
Agradecimentos xvii Camarões 114
Lista de Quadros, Tabelas e
Refrigerantes 117
Figuras xxiii
Introdução xxvii
5 Rumos para uma Economia
BØrge Brende
Menos Consumista 120
Ministro do Meio Ambiente da
Michael Renner
Noruega
Prefácio xxix ATRÁS DOS BASTIDORES: Telefones Celulares 148
Estado do Mundo:
Um Ano em Retrospecto xxxiii 6 Comprando para as Pessoas e
Lori Brown o Planeta 151
Lisa Mastny
1 O Estado do Consumo Hoje 3 ATRÁS DOS BASTIDORES: Papel 175
Gary Gardner, Erik
Assadourian e Radhika Sarin
7 Articulando Globalização,
ATRÁS DOS BASTIDORES: Sacos Plásticos 25 Consumo e Governança 178
Hilary French
2 Escolhendo Melhor a Energia 28 ATRÁS DOS BASTIDORES: Camisetas de
Janet L. Sawin
Algodão 200
ATRÁS DOS BASTIDORES: Computadores 52
8 Repensando a Boa Vida 203
3 Incrementando a Produtividade Gary Gardner e Erik Assadourian
Hídrica 55
Sandra Postel e Amy Vickers Notas 223
ATRÁS DOS BASTIDORES: Sabonetes
Antibacterianos 79
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AGRADECIMENTOS
Lista de Quadros,
Tabelas e Figuras
Quadros
1 O Estado do Consumo Hoje
1-1 E Quanto à População? 6
2 Escolhendo Melhor a Energia
2-1 Surto da Demanda Energética na China e Índia 32
2-2 Só Eficiência Não Basta 36
2-3 Os Altos e Baixos da Tecnologia da Informação 39
3 Incrementando a Produtividade Hídrica
3-1 Dessalinização – Solução ou Sintoma? 66
3-2 Privatização e Vazamento: Omissão de Prestação de Contas 68
3-3 Programas Urbanos de Conservação Hídrica que Poupam Água e Dinheiro 70
3-4 Bebendo o Gramado e a Farmácia do Vizinho 73
3-5 Medidas que Podemos Tomar para Reduzir Nosso Impacto sobre a Água Doce 76
4 Controlando Nossa Alimentação
4-1 Varrendo os Mares 85
4-2 Alimentos de Luxo 86
4-3 Políticas Prioritárias para Repensarmos Nossa Relação com os Alimentos 104
5 Rumos Para uma Economia Menos Consumista
5-1 A Alternativa Berço-a-Berço 130-131
5-2 Consumidores Americanos, Produtos Baratos e a Exploração Global
da Mão-de-obra 144-145
6 Comprando para as Pessoas e o Planeta
6-1 Esverdeando Contratos de Compra 154
6-2 Compromisso da Home Depot com Produtos de Madeira Sustentável 163
6-3 A Abordagem de Ciclo de Vida 169
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LISTA DE QUADROS, TABELAS E FIGURAS
Tabelas
1 O Estado do Consumo Hoje
1-1 Gastos com Consumo e População, por Região, 2000 7
1-2 Classe de Consumidores, por Região, 2002 7
1-3 Dez Maiores Populações Nacionais de Classe de Consumidor, 2002 8
1-4 Proporção das Despesas Domésticas em Alimentação 9
1-5 Consumo Familiar, Países Selecionados, Cerca de 2000 10
1-6 Gasto Anual em Itens de Luxo Comparado com os Recursos Necessários
para o Atendimento de Necessidades Básicas Selecionadas 11
1-7 Tendências Globais dos Recursos Naturais e do Meio Ambiente 19
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LISTA DE QUADROS, TABELAS E FIGURAS
Figuras
1 O Estado do Consumo Hoje
1-1 Gastos em Publicidade nos Estados Unidos e Mundiais, 1950–2002 16
1-2 Mudanças na Atividade Econômica e na Saúde dos Ecossistemas,
1970–2000 20
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Estado do Mundo 2004
LISTA DE QUADROS, TABELAS E FIGURAS
5-3 Jornada Anual Trabalhadas por Pessoa Empregada nos Principais Países
Industrializados, Anos Selecionados, 1913–98 141
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Estado do Mundo 2004
INTRODUÇÃO
Introdução
Um leitor cético poderia perguntar se o nidade singular para uma gama diversifica-
mundo ainda precisa de outro relatório de- da de comunidades – desde povos indíge-
talhando a extensão e urgência dos desafi- nas até educadores, agricultores e executi-
os globais. Porém, Estado do Mundo 2004 vos – compartilharem idéias sobre como
é diferente. Enfoca o consumo – um dos enfrentar os desafios impostos por nossa
elementos mais centrais e também um dos sociedade de consumo. Nas reuniões anu-
mais negligenciados na busca global por um ais da CDS, as pessoas tomam conheci-
futuro sustentável. mento sobre o que está e não está funcio-
O Plano de Ação que surgiu da Cúpula nando em várias partes do mundo e forta-
Mundial sobre Desenvolvimento Sustentá- lecem-se com a experiência de outros.
vel em Joanesburgo, África do Sul, em Governos aprendem como aplicar o prin-
2002, declara: “Mudanças fundamentais na cípio politicamente complexo do “poluidor
forma de as sociedades produzirem e con- paga” e como eliminar subsídios danosos.
sumirem são indispensáveis para a conquis- A 12ª reunião da CDS, que presidirei
ta de um desenvolvimento sustentável glo- nas Nações Unidas em abril de 2004, des-
bal”. A manutenção desse compromisso so- lanchará o programa decenal de produção
lene é hoje parte das minhas responsabili- e consumo sustentáveis exigido em Joa-
dades desde que fui eleito, em 2004, presi- nesburgo. Além disso, essa reunião dará um
dente da Comissão sobre Desenvolvimen- foco importante à água, ao saneamento e
to Sustentável (CDS), o órgão das Nações aos assentamentos humanos, todos elemen-
Unidas de acompanhamento dos acordos tos essenciais do consumo sustentável e
do Rio e Joanesburgo. também chave para a conquista de outra
O consumo, naturalmente, é essencial prioridade central das Nações Unidas – a
para o bem-estar da humanidade, porém o eliminação da pobreza em todo o mundo.
consumo exagerado ou o consumo errado Como os qualificados especialistas do
mina tanto nossa saúde pessoal quanto a Worldwatch Institute mostram em grande
saúde do meio ambiente natural do qual detalhe nesta edição de Estado do Mundo,
dependemos. A CDS oferece uma oportu- novos padrões de consumo serão necessá-
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Estado do Mundo 2004
INTRODUÇÃO
rios para retirar bilhões de pessoas da po- paga”, eliminar subsídios danosos e criar
breza de uma forma consistente com a sus- novos mercados. Quando utilizarmos es-
tentabilidade global. Todos nós tomamos sas ferramentas, mudaremos nossos pa-
decisões importantes, diariamente, que afe- drões de consumo e produção, tornando-
tam não apenas nossas próprias comunida- os mais sustentáveis.
des, mas também o mundo como um todo Estou compromissado na realização de
– tanto sua população atual quanto a futura. uma das singulares competências da CDS no
Como foi reconhecido em Joanesbur- que tange ao consumo e a outras questões:
go, grande parte da responsabilidade de forjar alianças entre o setor corporativo, gru-
equilibrar nossa sociedade de consumo pos de cidadãos e outros, a fim de conseguir
com o planeta recai sobre as nações mais mudanças positivas para o mundo. Espero
ricas, não apenas por serem responsáveis que, ao destacar as realizações dessas alian-
pelo maior consumo global, mas porque ças e enfatizar soluções inovadoras, Estado
podem ajudar os países em desenvolvimen- do Mundo 2004 contribua para a evolução de
to a “pular” algumas das escolhas insus- uma sociedade sustentável.
tentáveis que as nações industrializadas hoje Não pude ler todo o conteúdo deste li-
exportam. No final, o consumo sustentá- vro e, assim, não poderei endossar cada idéia
vel é uma preocupação comum que requer que contém. Mas, com base no que li até
nossos esforços conjuntos. agora, estou convencido de que Estado do
Um exemplo de uma nova abordagem Mundo, da mesma forma que no passado,
do consumo, envolvendo produtores e con- proporcionará uma gama significativa de
sumidores, é o trabalho da Rainforest Alli- idéias inovadoras que, seguramente, serão
ance, organização sem fins lucrativos. Esta úteis para mim e para outros envolvidos nas
assinou acordos importantes com uma deliberações da CDS em 2004. Como assi-
grande empresa de café, como também nalam os autores, o que está faltando hoje é
com um produtor de banana e outras gran- ação determinada. É com isso que todos nós
des empresas alimentícias, para monitorar devemos estar comprometidos.
as práticas ambientais em fazendas onde O desafio é gigantesco, mas a alter-
suas matérias-primas são produzidas. Con- nativa é inconcebível. Mais do que nun-
sumidores ambientalmente conscientes ca, o que fica claro em Estado do Mun-
poderão adquirir os produtos ecorrotula- do 2004 é que cada de um nós desempe-
dos que serão os frutos desse projeto. nha diariamente um papel na mudança do
Precisamos de mais exemplos como mundo. E embora isso possa parecer in-
este para mostrar que dispomos de meios timidador, poderá também ser uma fonte
– se quisermos utilizá-los – para aplicar o de energia coletiva.
conceito da produção mais limpa, dar aos
consumidores condições de fazerem esco- BØrge Brende
lhas informadas e exigir e fornecer infor- Ministro do Meio Ambiente da Noruega
mações ambientais. Também dispomos de Presidente da Comissão sobre
meios para aplicar o princípio do “poluidor Desenvolvimento Sustentável
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PREFÁCIO
Prefácio
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PREFÁCIO
fio social que exigirá uso efetivo de regu- Guide, a Silicon Valley Toxics Coalition e
lamentação oficial e política fiscal para al- o Center for a New American Dream.
cançar o bem comum. Porém, mais do Seria ingenuidade subestimar o desafio de
que na maioria das questões, mudanças conter o ímpeto consumista. Poucas forças
nas práticas de consumo requererão mi- são tão poderosas ou disseminadas. Porém,
lhões de decisões individuais que podem à proporção que os custos do consumo de-
somente ter origem nas bases. senfreado tornem-se claros, acreditamos que
Como ajuda neste processo estare- as idéias inovadoras descritas nestas páginas
mos, em breve, abrindo um portal de também serão aceitas num ritmo acelerado.
consumo no website do Worldwatch que No longo prazo, tornar-se-á aparente que atin-
conterá material selecionado de Estado gir objetivos geralmente aceitos – atendimen-
do Mundo, links com organizações que to das necessidades básicas humanas, me-
trabalham ativamente em campanhas so- lhoria da saúde humana e apoio a um mundo
bre consumo e dicas sobre como tornar- que nos possa sustentar – exigirá que con-
se um consumidor mais informado. Esse trolemos o consumo em vez de permitirmos
portal também incluirá um guia para Es- que o consumo nos controle.
tado do Mundo que terá dúzias de vinhe- Esperamos que você leia, analise e ques-
tas sobre itens comumente usados, como tione as informações e idéias desenvolvi-
também sugestões para encontrar alter- das nestas páginas. Aguardamos suas su-
nativas mais sustentáveis. Adicionalmen- gestões para o fortalecimento das futuras
te, o portal fornecerá informações de edições de Estado o Mundo.
contatos para muitas das organizações
parceiras em todo o mundo que ajuda- Christopher Flavin
ram a reunir informações para este livro Presidente
e que estão trabalhando para mudar os Worldwatch Institute
hábitos de consumo, incluindo o Green Novembro de 2003
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Estado do Mundo 2004
ESTADO DO MUNDO: UM ANO EM RETROSPECTO
Estado do Mundo:
Um Ano em Retrospecto
Em seguida à reação positiva à inovação da 2002 até a impressão de Estado do Mundo
seção “Estado do Mundo: Um Ano em 2004, em outubro de 2003. Novamente, é
Retrospecto” no ano passado, continuamos um misto de avanços, retrocessos e passos
a documentar os vários eventos e desafios em falso em todo o mundo, que afetam os
ao longo do caminho para o desenvolvimento objetivos sociais e ambientais da sociedade.
sustentável. A edição deste ano foi compilada Não houve ênfase em abrangência, e sim
pela bibliotecária pesquisadora Lori Brown, no destaque de eventos que aumentaram a
com contribuições de toda a equipe. Zöe conscientização das ligações entre pessoas
Chafe, Lisa Mastny e Radhika Sarin deram e meio ambiente. Sempre apreciamos
uma ajuda especial na composição da nova qualquer feedback dos nossos leitores e
cronologia. esperamos continuar compilando a
A cronologia, este ano, cobre eventos e cronologia, à medida que avançamos no
relatórios significativos desde outubro de novo milênio.
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ESTADO DO MUNDO: UM ANO EM RETROSPECTO
FLORESTAS S A ÚD E GOVERNANÇA
Cientistas informam que Mortes causadas por onda Reunião da OMC fracassa
10% das espécies arbóreas de calor na França superam em meio a disputas sobre
do planeta estão ameaçadas 14.800 após as barreiras comerciais e
de extinção, devido à temperaturas terem, subsídios agrícolas, quando
atividade madeireira, repetidamente, excedido 40 uma coalizão de países em
fragmentação florestal e graus centígrados. desenvolvimento muda o
plantações de espécies equilíbrio de força nas
alienígenas invasivas. negociações.
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O ESTADO DO CONSUMO HOJE
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Estado do Mundo 2004
O ESTADO DO CONSUMO HOJE
CAPÍTULO 1
O Estado do
Consumo Hoje
Gary Gardner, Erik Assadourian
e Radhika Sarin
A China bem merece a reputação de ser o 2015, nesse ritmo, os analistas da indús-
país da bicicleta. Durante todo o século XX, tria calculam que 150 milhões de automó-
milhões de bicicletas, literalmente, apinha- veis estarão congestionando as ruas chi-
vam as ruas de suas cidades, não apenas nesas – 18 milhões a mais do que circula-
como meio de transporte pessoal, mas tam- vam nas ruas e rodovias dos Estados Uni-
bém como veículo de entrega – levando de dos em 1999. A classe emergente de con-
tudo, desde materiais de construção até sumidores chineses está aderindo entusi-
frangos a caminho do mercado. Mesmo asticamente ao aumento da mobilidade e
nos anos 80 poucos automóveis circula- elevação do status social representado pelo
vam nas ruas chinesas.1 automóvel – milhões aguardam durante
Um visitante dos anos 80 que retorne meses e assumem dívidas substanciais
hoje a Xangai ou outra cidade chinesa di- para tornarem-se membros pioneiros da
ficilmente a reconhecerá. Em 2002, havia nova cultura automobilística chinesa.2
10 milhões de carros particulares e o nú- As vantagens desse caminho
mero de proprietários crescia acelerada- desenvolvimentista são evidentes para as
mente: a cada dia, em 2003, cerca de autoridades governamentais, que o encora-
11.000 mais veículos juntavam-se ao trá- jam. Cada novo automóvel fabricado na
fego das rodovias chinesas – 4 milhões China representa dois novos postos de tra-
de carros novos no ano. As vendas au- balho para trabalhadores chineses, e a renda
mentaram 60% em 2002 e em mais de que recebem estimula, por sua vez, outros
80% no primeiro semestre de 2003. Até setores da economia chinesa. Ademais, a
corrida para atender à demanda está atrain-
do investimentos maciços de empresas es-
As unidades de medidas mencionadas neste livro são
métricas, salvo quando o uso normal determine de
trangeiras – a General Motors investiu US$
outra forma. 1,5 bilhão em uma nova montadora em Xan-
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O ESTADO DO CONSUMO HOJE
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O ESTADO DO CONSUMO HOJE
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O ESTADO DO CONSUMO HOJE
paridade de poder aquisitivo (uma medida mas seus membros caracteristicamente dis-
de renda ajustada ao poder aquisitivo em põem de televisão, telefones e Internet, junto
moeda local), ou seja, aproximadamente o à cultura e idéias que esses produtos trans-
nível da linha oficial de pobreza da Europa mitem. Essa classe de consumidor soma
Ocidental. A própria classe de consumidor cerca de 1,7 bilhão de pessoas – mais de
global varia muito em termos de riqueza, um quarto do mundo. (Vide Tabela 1-2.)9
6
Estado do Mundo 2004
O ESTADO DO CONSUMO HOJE
Tabela 1-1. Gastos com Consumo e Quase a metade dessa classe de consu-
População, por Região, 2000 midor global vive nos países em desenvolvi-
Participação Participação mento, e somente China e Índia respondem
nos Gastos na por 20% do total mundial. (Vide Tabela 1-3.)
Região Mundiais do População Na verdade, a classe conjunta de consumi-
Consumo Mundial
Privado
dores nesses dois países, com 362 milhões
de pessoas, é maior do que esta classe em
(percentual)
Estados Unidos e
toda a Europa Ocidental (embora o consumi-
Canadá 31,5 5,2 dor chinês ou indiano comum, naturalmente,
Europa Ocidental 28,7 6,4 consuma significativamente menos do que o
Leste da Ásia e
europeu). Entretanto, grande parte do mundo
Pacífico 21,4 32,9 em desenvolvimento não está representada
América Latina e neste incremento de novo consumo: a classe
Caribe 6,7 8,5 de consumidor da África Subsaariana, a me-
Europa Oriental e nor de todas, é de apenas 34 milhões de pes-
Ásia Central 3,3 7,9 soas. Na realidade, a região tem ficado essen-
Sul da Ásia 2,0 22,4 cialmente à margem da prosperidade vivida pela
Austrália e maior parte do mundo nas últimas décadas.
Nova Zelândia
Medidas em termos de gastos per capita de
1,5 0,4
consumo privado, a África Subsaariana
Oriente Médio e
África do Norte 1,4 4,1
caiu 20% em 2000, em comparação às
África Subsaariana 1,2 10,9 duas décadas anteriores, distanciado-se
cada vez mais do mundo industrializado.10
FONTE: vide nota final 7.
7
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O ESTADO DO CONSUMO HOJE
Tabela 1-3. Dez Maiores Populações veis na Ásia para os níveis da média mundi-
Nacionais de Classe de Consumidor, 2002 al adicionaria 200 milhões de veículos à fro-
Populaçao da Participação
ta global – uma vez e meia o número de
Classe de na População carros existentes, hoje, nos Estados Unidos.
País Consumidores Nacional Preocupações quanto ao impacto desse tipo
(milhões) (percentual) de desenvolvimento demonstram a urgên-
Estados Unidos 242,5 84 cia da busca de caminhos alternativos, sus-
China 239,8 19
121,9 12
tentáveis, para a prosperidade da região. Ao
Índia
Japão 120,7 95 mesmo tempo, temores quanto a aumentos
Alemanha 76,3 92 potenciais do consumo asiático ficarão des-
Federação Russa 61,3 43 locados caso ofusquem a necessidade de
Brasil 57,8 33
53,1 89
reformas nos países ricos, onde altos níveis
França
Itália 52,8 91 de consumo têm sido a regra por décadas.
Reino Unido 50,4 86 Os antigos países industrializados da Euro-
pa e América do Norte, juntamente com Ja-
FONTE: vide nota final 10.
pão e Austrália, são responsáveis pelo maior
volume de degradação ambiental global as-
sociada ao consumo.12
Os países em desenvolvimento não só As tendências do consumo abrangem
dispõem de grandes blocos de consumido- praticamente todo e qualquer bem e servi-
res como também têm maior potencial para ço, que podem ser categorizados sob diver-
expandir suas fileiras. Por exemplo, o grande sas formas. De maior interesse são os itens
contingente de consumidores da China e fundamentais, como água e alimentos; suas
Índia constitui apenas 16% da população, tendências indicam se as necessidades bási-
enquanto na Europa esta cifra atinge 89%. cas estão sendo satisfeitas. Outros itens de
Efetivamente, na maioria dos países em consumo indicam como as opções de vida
desenvolvimento, a classe de consumido- estão se desenvolvendo para as pessoas e o
res representa menos da metade da popu- nível de conforto que estão tendo.
lação – às vezes muito menos –, havendo Em termos de necessidades básicas, as
bastante espaço para crescimento. Com tendências são mistas. A absorção diária de
base apenas nas projeções populacionais, a calorias aumentou tanto no mundo industria-
classe de consumidores globais está proje- lizado quanto nos países em desenvolvimen-
tada, conservadoramente, para atingir pelo to, desde 1961, à medida que a oferta de ali-
menos 2 bilhões de pessoas até 2015.11 mentos ampliou-se pelo menos em nível glo-
Esses números indicam que a história do bal. Todavia, a Organização das Nações Uni-
consumo no século XXI poderá referir-se das para Alimento e Agricultura (FAO) divul-
tanto a nações consumidoras emergentes ga que 825 milhões de pessoas ainda estão
quanto a tradicionais. Em um dos seus in- subnutridas e que, em 1961, uma pessoa ab-
formativos em 2003, o Programa das Na- sorvia, diariamente, 10% a mais de calorias
ções Unidas para o Meio Ambiente obser- (2.947 calorias) no mundo industrializado do
vou que o incremento da posse de automó- que as pessoas consomem, hoje, no mundo
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O ESTADO DO CONSUMO HOJE
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Muitas dessas conveniências eram con- forto ou sobrevivência, mas que tornam a
sideradas como luxo quando surgiram ori- vida mais agradável. Essas compras inclu-
ginalmente, mas são agora consideradas em desde os pequenos prazeres diários,
necessidades. Realmente, onde infra-es- como doces e refrigerantes, até grandes
truturas sociais desenvolveram-se em tor- aquisições, como iates oceânicos, jóias e
no deles, alguns desses bens de consumo carros esportes. Os gastos nesses produ-
tornaram-se parte integrante do dia-a-dia tos não representam necessariamente con-
moderno. Os telefones, por exemplo, duta censurável por parte da sociedade glo-
transformaram-se num instrumento es- bal de consumo, uma vez que pessoas sen-
sencial de comunicação – em 2002, havia satas podem discordar quanto ao que cons-
1,1 bilhão de linhas fixas e outro 1,1 bi- titui consumo excessivo. Mas esses gas-
lhão de aparelhos celulares. Um percentual tos são uma indicação da riqueza exceden-
significativo da população mundial, inclu- te que existe em muitos países. Na realida-
indo a grande maioria dos consumidores de, os valores gastos no consumo extremo
globais, hoje dispõe no mínimo de acesso contestam a visão de que muitas das ne-
básico a telefones. As comunicações tam- cessidades básicas dos pobres mundiais
bém avançaram após a introdução da não-atendidas sejam muito dispendiosas
Internet. Esta adição mais recente às co- para atender. A provisão de alimentação ade-
municações modernas conecta hoje cerca quada, água potável e educação básica para
de 600 milhões de usuários.18 os mais pobres pode ser realizada gastan-
Uma grande parcela dos gastos em con- do-se muito menos do que se gasta anual-
sumo está concentrada em produtos reco- mente em cosméticos, sorvetes e ração de
nhecidamente desnecessários para o con- animais de estimação. (Vide Tabela 1-6.)19
Tabela 1-6. Gasto Anual em Itens de Luxo Comparado com os Recursos Necessários
para o Atendimento de Necessidades Básicas Selecionadas
Gasto Objetivo Social ou Econômico Investimento Extra
País Anual Anual Necessário para
Atingir o Objetivo
Cosméticos US$ 18 bilhões Saúde reprodutiva para todas as mulheres US$ 12 bilhões
Ração de animais de
estimação na Europa e
Estados Unidos US$ 17 bilhões Erradicação da fome e má-nutrição US$ 19 bilhões
Perfumes US$ 15 bilhões Alfabetização universal US$ 5 bilhões
Cruzeiros marítimos US$ 14 bilhões Água potável para todos US$ 10 bilhões
Sorvetes na Europa US$ 11 bilhões Vacinação de todas as crianças US$ 1,3 bilhão
11
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O ESTADO DO CONSUMO HOJE
sintéticos, como plásticos, 5,6 vezes. Esse Enquanto isso, o apetite mundial cres-
crescimento superou o aumento da popu- cente por papel pressiona cada vez mais as
lação mundial, tendo ocorrido mesmo quan- florestas globais. Reservas virgens desti-
do a economia global mudou para abran- nadas à produção de papel, por exemplo,
ger mais indústrias de serviços, como tele- representam, aproximadamente, 19% da
comunicações e finanças, que não são tão colheita mundial de madeira e 42% da ma-
intensivas em materiais como indústria, deira produzida para uso “industrial” (tudo
transportes e outros setores outrora domi- menos lenha). Em 2050, a indústria de ce-
nantes. A duplicação do consumo de me- lulose poderá representar mais da metade
tais, por exemplo, ocorreu mesmo quando da demanda industrial da madeira global.22
estes se tornaram menos essenciais para a O consumo de matérias-primas como
geração de riqueza: em 2000, a economia metais e madeira poderá, em princípio,
global consumiu 45% menos metais do que separar-se do consumo de bens e servi-
três décadas anteriores para gerar um dó- ços, uma vez que muitos produtos pode-
lar de produto econômico.20 rão ser remanufaturados ou fabricados de
O consumo de combustível e materi- materiais reciclados. Todavia, os materiais
ais reflete o mesmo padrão de desigual- na maioria das economias no século XX
dade global encontrado no consumo de não circularam mais de duas ou três vezes.
produtos finais. Só os Estados Unidos, Mesmo hoje, a reciclagem fornece apenas
com menos de 5% da população global, uma pequena parcela dos materiais utiliza-
consomem aproximadamente um quarto dos nas economias mundiais. Cerca de me-
dos recursos mundiais de combustíveis tade do chumbo consumido atualmente
fósseis, queimando quase 25% do car- vem de fontes recicladas, como também
vão, 26% do petróleo e 27% do gás na- um terço do alumínio, aço e ouro. Apenas
tural mundial. Adicionando-se a isso o 13% do cobre vem de fontes recicladas,
consumo de outras nações ricas, a em comparação a 20% em 1980. Enquan-
dominância de apenas uns poucos países to isso, a reciclagem do lixo urbano conti-
sobre o consumo de materiais globais faz- nua, em geral, baixa, mesmo nas nações
se evidente. Em termos de consumo de que têm condições de implantar uma infra-
metais, os Estados Unidos e Canadá, Aus- estrutura de reciclagem. As 24 nações que
trália, Japão e Europa Ocidental – que de- compõem a Organização para Cooperação
têm, entre si, 15% da população mundial e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e
– consomem 61% do alumínio produzi- fornecem esses dados, por exemplo, têm
do a cada ano, 60% do chumbo, 59% do uma taxa média de reciclagem de apenas
cobre e 49% do aço. O consumo per 16% para o lixo urbano; metade deles recicla
capita também é alto, especialmente em menos de 10% do seu lixo.23
relação ao que é verificado nas nações Enquanto isso, a parcela do suprimento
mais pobres. O americano comum con- total de fibra de papel originária de fibra
some 22 quilos de alumínio por ano, en- reciclada teve um crescimento apenas mo-
quanto o indiano consome 2 quilos e o desto, de 20% em 1921 para 38% hoje.
africano, menos de 1 quilo.21 Esse pequeno aumento, frente a aumentos
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O ESTADO DO CONSUMO HOJE
bem superiores no consumo de papel, sig- ciações psicológicas, cada um dos quais
nifica que o volume de papel não-reciclado potenciais incrementadores do consumo.25
é maior do que nunca. À luz das projeções As motivações fisiológicas desempe-
da FAO de que o consumo global de papel nham um papel central no estímulo ao con-
aumentará em quase 30% entre 2000 e sumo. O desejo inato do estímulo prazeroso
2010, a parcela de papel a ser reciclada será e alívio do desconforto são motivações
de importância crucial e terá um grande poderosas que evoluíram durante milênios
impacto sobre a saúde das florestas mun- para facilitar a sobrevivência, como quan-
diais nos anos futuros.24 do a fome leva uma pessoa a buscar comi-
da. Esses impulsos são reforçados pelas
Motivadores Díspares, experiências dos consumidores. Produtos
que nos satisfizeram no passado são lem-
Resultados Comuns brados como prazerosos, aumentando o
desejo de consumi-los novamente. Nas
O apetite global por bens e serviços é movi- sociedades de consumo, onde alimentos e
do por um conjunto de influências, em gran- outros bens são abundantes, esses impul-
de parte, independentes, desde avanços sos estão levando a níveis danosos de con-
tecnológicos e energia barata até novas es- sumo devido, em parte, a serem mais esti-
truturas comerciais, meios poderosos de mulados ainda pela propaganda. De fato,
comunicação, crescimento populacional e estudos psicológicos recentes constataram
até mesmo necessidades sociais dos seres que esses impulsos podem até ser incita-
humanos. Esses motivadores díspares – al- dos subconscientemente, despertando um
guns heranças naturais, outros acidentes da desejo maior, como por uma bebida após a
história e outros mais inovações humanas – sensação de sede ter sido instigada.26
interagiram para impulsionar a produção e a Hábitos de consumo, também, têm
demanda a níveis recordes. No processo, raízes sociais. O consumo é, em parte, um
criaram um sistema econômico de abundân- ato social através do qual as pessoas ex-
cia sem precedentes e impacto ambiental e pressam suas identidades pessoais e grupais
social sem paralelo. – escolhendo o jornal de uma certa linha
A história começa com o consumidor. política, por exemplo, ou a moda preferida
Economistas de renome, desde Adam entre pares sociais. Motivadores sociais
Smith, têm alegado que os consumidores podem ser impulsionadores insaciáveis de
são atores “soberanos” que fazem esco- consumo, contrastando com o desejo por
lhas racionais a fim de maximizar sua sa- alimento, água ou outros bens, que está
tisfação. Ao contrário, os consumidores circunscrito aos limites da capacidade. Em
tomam decisões falhas por intermédio de 1954, o cidadão britânico comum, por
um conjunto de julgamentos baseados em exemplo, podia contar com uma base ma-
informações incompletas e tendenciosas. terial ampla – alimentos, vestuário, abrigo
Suas decisões são basicamente movidas e acesso a transporte em quantidade sufi-
pela propaganda, regras culturais, influên- ciente para levar uma vida digna. Assim, o
cias sociais, impulsos fisiológicos e asso- gasto maior que acompanhou a duplicação
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dos 250 principais filmes realizados entre vido a essa explosão do financiamento. Um
1988 e 1997 mostrando fumantes em cena. dos diretores da General Motors, Philip
De fato, o fumo está mais predominante Murtaugh, realça a importância do crédito
nos filmes do que entre a população dos na China: “Assim que implantamos o tipo
Estados Unidos. Com Hollywood de sistema financeiro abrangente da GM,
auferindo talvez metade da sua receita de como temos nos Estados Unidos, anteci-
vendas fora dos Estados Unidos, o fumo pamos um grande salto nas vendas”.38
nos filmes continua a formar padrões de Finalmente, políticas governamentais
conduta também. E os estúdios estrangei- são, às vezes, responsáveis pelo incremen-
ros prestam-se, cada vez mais, como to do consumo. Subsídios econômicos,
veículos de propaganda do tabaco. Entre que hoje totalizam cerca de US$ 1 trilhão
1991 e 2002, cerca de três quartos dos anuais, mundialmente, age como uma
filmes produzidos em Bollywood (o equi- marola através da economia, estimulando
valente indiano de Hollywood) continham o consumo ao longo do seu curso. O go-
cenas de fumantes.36 verno dos Estados Unidos, por exemplo,
Práticas inovadoras de vendas também desde a II Guerra Mundial, subsidiou a
ajudaram a incrementar a demanda. A intro- construção de residências suburbanas por
dução do cartão de crédito nos Estados Uni- intermédio de benefícios fiscais e outros
dos, nos anos 40, ajudou a aumentar o total incentivos. Lares suburbanos espaçosos
do consumo quase onze vezes entre 1945 e ajudaram a atiçar o consumo de uma vas-
1960. Hoje, o uso maciço de cartões de cré-
ta gama de bens de consumo duráveis,
dito é incentivado vigorosamente, uma vez
incluindo refrigeradores, televisores, mo-
que os lucros das empresas emitentes de-
bílias, lavadoras e automóveis. Estes, por
pendem da manutenção de grandes saldos
sua vez, requerem enormes quantidades
mensais por parte dos consumidores. Em
2002, 61% dos usuários de cartões de cré- de matérias-primas, um terço do ferro e
dito nos Estados Unidos mantiveram um aço, um quinto do alumínio e dois terços
saldo médio mensal em aberto de US$ do chumbo e borracha nos Estados Uni-
12.000, a uma taxa de juros anual de 16%. dos. E a expansão dos subúrbios levou a
(Vide Capítulo 5.) Dessa forma, um usuário um maior gasto público em novas rodovi-
pagaria cerca de US$ 1.900 anuais em cus- as, postos de bombeiros, delegacias de
tos financeiros – mais do que a renda média polícia e escolas. O Centro de Tecnologia
per capita (na paridade de poder de com- Distrital de Chicago constatou, no final dos
pra) de pelo menos 35 países.37 anos 90, que empreendimentos imobiliári-
O crédito também incentiva o gasto na os de baixa intensidade são cerca de 2,5
Ásia, América Latina e Europa Oriental. No vezes mais intensivos no uso de materiais
Leste Asiático, a parcela familiar dos em- do que os empreendimentos de alta densi-
préstimos bancários totais aumentou de dade. Assim, a decisão de subsidiar resi-
27%, em 1997, para 40% em 2000. Em dências suburbanas teve um grande efeito
vários países, as principais montadoras nos padrões de consumo nos Estados
estão ampliando sua linha de produção de- Unidos na última metade do século XX.39
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mento de renda é quebrado logo que níveis sociedades para um caminho menos dano-
modestos de renda são atingidos. O fracas- so, a maioria das pessoas nos países in-
so da tese de que mais riqueza e consumo dustrializados ainda continua numa rota de
proporcionam às pessoas uma vida mais consumo ascendente e muitas outras, nos
realizada pode ser o argumento mais elo- países em desenvolvimento, permanecem
qüente para uma reavaliação da nossa abor- atoladas na pobreza. A fim de promover o
dagem do consumo.49 interesse experimental por um novo papel
O desapontamento pela capacidade de o para o consumo, qualquer visão terá que
consumo produzir vidas mais realizadas está incluir respostas a quatro quesitos-chave:
gerando descontentamento entre acadêmicos,
legisladores e a população. Um grande nú- • Estará a classe de consumidor global
mero de livros publicados nos anos 90 docu- tendo uma qualidade de vida melhor
mentou o desagrado com as sociedades or- em função dos seus níveis crescen-
ganizadas em torno do consumo. Os títulos tes de consumo?
dizem tudo: O Americano Pródigo, O Ame- • Poderão as sociedades perseguir o
ricano Estressado, Um Século Todo consumo de forma equilibrada, espe-
Consumista, Confrontando o Consumo e O cialmente harmonizando o consumo
Alto Preço do Materialismo, entre outros. ao ambiente natural?
Embora as análises divirjam, todos esses au- • Poderão as sociedades reformular as
tores expressam o ponto de vista de que as opções do consumo para uma esco-
sociedades focadas no consumo não são sus- lha genuína?
tentáveis, por razões ambientais ou sociais.
• Poderão as sociedades priorizar o
Descontentamento com um compro-
atendimento às necessidades básicas
misso com o alto consumo ficou patente
de todos?
também em termos políticos e básicos.
Vários governos europeus já estão De modo geral, os consumidores es-
implementando ou planejando reformas de tarão se beneficiando da cultura global
horários de trabalho e férias, por exemplo. de consumo? Indivíduos, importantes
E algumas pessoas na Europa e nos Esta- árbitros dessa questão, podem conside-
dos Unidos estão começando a adotar esti- rar os custos pessoais associados a altos
los de vida mais simples. De forma lenta, níveis de consumo, dívida financeira,
mas constante, já é evidente o interesse das tempo e estresse relacionado ao trabalho
pessoas em atribuir ao consumo um papel para sustentar um alto consumo e ao tem-
mais coadjuvante do que principal.50 po necessário para limpar, melhorar, guar-
dar ou, de outra forma, manter as pos-
Um Novo Papel ses. E como o consumo substitui o tem-
para o Consumo po com família e amigos.
Tanto indivíduos quanto legisladores de-
Apesar dos problemas associados à socie- vem analisar o aparente paradoxo de que a
dade de consumo, e não obstante as medi- qualidade de vida, freqüentemente, é melho-
das experimentais para redirecionar as rada quando se age dentro de limites clara-
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AT R Á S D O S B A S T I D O R E S
Sacos Plásticos
Sacos plásticos são o item de densidade é o padrão industrial para os
consumo mais comum na face sacos plásticos.) O polietileno é
da Terra. Sua leveza, baixo superaquecido e a resina líquida é
custo e impermeabilidade os extraída com um tubo, semelhante ao
tornam extremamente processo de fabricar macarrão.
convenientes para carregar Quando se obtém a forma
mantimentos, peças de desejada, a resina é
vestuário ou qualquer outra resfriada e endurecida,
compra do dia-a-dia, sendo podendo ser achatada,
difícil imaginar a vida sem eles. selada, reforçada,
As primeiras “embalagens” plásticas perfurada ou impressa.2
para pão, sanduíches, frutas e outras Os sacos plásticos
verduras surgiram nos Estados Unidos, em típicos, que pesam apenas alguns gramas e
1957. Sacos plásticos de lixo já estavam têm poucos milímetros de espessura,
presentes nos lares e ao longo das calçadas poderiam parecer completamente inócuos
em todo o mundo no final dos anos 60. Mas não fosse o gigantesco volume da produção
esses itens popularizaram-se realmente em global. Fábricas em todo o mundo
meados dos anos 70, quando um novo produziram aproximadamente 4–5 trilhões de
processo de produção barata de sacos sacos plásticos – desde grandes sacos de
plásticos tornou possível para os grandes lixo e sacolas resistentes para lojas até sacos
varejistas e supermercados oferecerem a mais finos para supermercados – em 2002, de
seus clientes uma alternativa para os sacos acordo com estimativas do Chemical Market
de papel. Hoje, em cada cinco sacos usados Associates, uma firma de consultoria da
nos mercados, quatro são plásticos, do tipo indústria petroquímica. A América do Norte e
de duas alças, semelhantes a uma camiseta.1 Europa Ocidental são responsáveis por
Esses sacos partem do petróleo bruto, quase 80% do consumo desses produtos. Os
gás natural ou outros derivados americanos descartam, anualmente, 100
petroquímicos, que são transformados nas bilhões de sacos plásticos, que estão se
fábricas de plásticos em cadeias de tornando cada vez mais comuns também nas
moléculas de hidrogênio e carbono, nações mais pobres. E hoje sacos produzidos
conhecidas como polímeros ou resina de na Ásia representam um quarto dos sacos
polímero. (Resina de polietileno de alta usados nas nações ricas.3
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ATRÁS DOS BASTIDORES: SACOS PLÁSTICOS
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ATRÁS DOS BASTIDORES: SACOS PLÁSTICOS
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O ESTADO DO CONSUMO HOJE
CAPÍTULO 2
Escolhendo Melhor
a Energia
Janet L. Sawin
Aninhadas entre as ondulantes e verdes sível que flui mágica e silenciosamente para
colinas ao sul do Estado de West Virginia, iluminar um cômodo, resfriar um refrige-
encontram-se velhas cidades como Clear rador, aquecer um fogão ou dar vida à tele-
Creek, Duncan Fork, Superior Bottom e visão. Entre uma conta de energia e outra,
White Oak. As Montanhas Apalaches nes- a maioria pouco pensa a respeito.
sa região abrigam algumas das pessoas Todavia, no momento em que alguém
mais pobres dos Estados Unidos. Durante aciona um interruptor de luz, ou liga um
gerações, os habitantes dependeram da mi- computador, uma reação em cadeia entra
neração do carvão para seus empregos e em ação. A corrente flui para o imóvel, atra-
sustento. Mas muitos acreditam que “as vés de linhas de transmissão que se esten-
Apalaches estão sendo assaltadas” e que a dem por meio de campos e vias urbanas,
indústria que os sustentaram por gerações trazendo eletricidade de usinas distantes. Ao
está hoje empobrecendo-os. Cumes estão longo do caminho, grande parte dessa ener-
sendo explodidos para extrair o carvão que gia perde-se pela resistência nas linhas de
cobriam. No processo, montanhas trans- transmissão e dissipa-se como calor.
formaram-se em terra agreste, florestas Para criar eletricidade, em grande parte
nobres desapareceram, córregos entupi- do mundo pilhas gigantescas de carvão são
ram-se com lodo tóxico, poços secaram e conduzidas por correias transportadoras
comunidades inteiras foram expulsas.1 para serem pulverizadas em um fino pó e
A quilômetros de distância desses cu- lançadas numa fornalha na usina. O fogo
mes áridos, alguém chega em casa e acen- produz vapor d’água, que move um gera-
de a luz, querendo apenas clarear a escuri- dor, a fim de produzir uma corrente elétri-
dão, sem pensar no que isso envolve além ca. No processo, a usina emite poluentes
das paredes da casa. Para a grande maioria que causam chuva ácida e nevoeiro
de pessoas, a eletricidade é uma força invi- enfumaçado, como também mercúrio e
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ESCOLHENDO MELHOR A ENERGIA
dióxido de carbono (CO2), um gás de aque- tura e o modo de vida de povos indígenas,
cimento global. No máximo, 35% da ener- da Amazônia ao Ártico.
gia do carvão é convertida em eletricidade, A intensidade energética – ou seja, o
o que significa que quase dois terços são insumo de energia por dólar de produto –
perdidos sob a forma de calor de escape, da economia global está em declínio, tendo
sem beneficiar ninguém e freqüentemente havido melhorias contínuas de eficiência
prejudicando os ecossistemas vizinhos. E energética nas décadas recentes. Todavia,
todo esse carvão tem que ser transportado essas melhorias estão sendo neutralizadas
para a usina, por trens ou chatas, de locais por um nível cada vez maior de consumo
como as Montanhas Apalaches ou sul de em todo o mundo. Naturalmente, não é de
West Virginia.2 se estranhar que o uso de energia esteja
Tudo o que consumimos ou utilizamos crescendo nos países em desenvolvimen-
– nossos lares, seu conteúdo, nossos car- to, onde a maioria das pessoas nunca diri-
ros e as vias que percorremos, as roupas giu um carro, ligou um ar-condicionado ou
que usamos e os alimentos que comemos cozinhou utilizando outra coisa que não le-
– requer energia para ser produzido e em- nha ou dejeto animal. À proporção que ob-
balado, distribuído às lojas ou em domicí- têm melhoria de vida, seu uso de energia
lio, operado e depois descartado. Raramente aumenta, e vice-versa.
pensamos de onde vem essa energia ou O que é mais surpreendente é o aumen-
quanto consumimos – ou de quanto real- to dramático do uso de energia em muitos
mente precisamos. países industrializados. Em comparação a
Seja na forma de gasolina para alimen- apenas 10 anos atrás, por exemplo, os
tar um carro, ou urânio para gerar eletrici- americanos estão dirigindo carros maiores
dade, a energia necessária para sustentar e menos eficientes, comprando casas mai-
nossas economias e estilos de vida propor- ores e mais eletrodomésticos. Conseqüen-
ciona grande conveniência e benefícios. temente, o consumo de petróleo nos Esta-
Mas também impõe altos custos à saúde dos Unidos aumentou ao longo da década
humana, aos ecossistemas e até à seguran- em quase 2,7 milhões de barris/dia – mais
ça. O consumo de energia afeta tudo, des- do que é consumido, diariamente, na Índia
de a dívida externa de um país (devido às e no Paquistão, que, conjuntamente, têm
importações de combustíveis) até a estabi- mais de quatro vezes a população dos Es-
lidade do Oriente Médio. Desde o ar que tados Unidos. Será que essa demanda cres-
respiramos até a água que bebemos, nosso cente é sustentável? E deverá haver uma
uso da energia afeta a saúde das gerações mudança fundamental no modo que pro-
atuais e futuras. O uso ineficiente e insus- duzimos e consumimos energia?3
tentável da biomassa em países pobres leva O tipo e o volume de energia que as pes-
ao desmatamento e desertificação, enquanto soas consomem são influenciados por vári-
o uso insustentável de combustíveis fós- os fatores, incluindo renda, clima, recursos
seis está alterando o clima global. E à me- disponíveis e políticas corporativas e gover-
dida que buscamos fontes mais remotas de namentais. Por intermédio de impostos,
combustível, colocamos em perigo a cul- subsídios, regulamentos, normas e investi-
29
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mentos em infra-estrutura, os governos in- 2000, a mesma energia por dólar de PIB
fluenciam como, onde, quanto e que forma consumida em 1970, o consumo de energia
de energia utilizamos. Mas nós, como con- teria totalizado 177 quads, em vez dos 98,5
sumidores, não somos meros e impotentes quads efetivamente consumidos. De acor-
espectadores. Somos aqueles que adquirem do com o analista de energia Amory Lovins,
veículos, eletrodomésticos, roupas, casas e medidas de eficiência energética, promulga-
outros bens e serviços, com base em das a partir de meados dos anos 70, propor-
parâmetros como preço, moda e valores. No cionaram uma economia de US$ 365 bilhões
fundo, dentro dos limites de disponibilidade para os Estados Unidos só em 2000.5
e acessibilidade, são os consumidores que
escolhem o produto a ser comprado e sua
utilização; e, assim, são os consumidores que Com apenas 2% das reservas
podem provocar mudanças. globais e 4,5% da população total,
os Estados Unidos continuam
Tendências Globais do sendo o maior consumidor
Uso de Energia mundial de petróleo.
Entre 1850 e 1970, a população mundial mais
que triplicou e a energia consumida aumen- O potencial para poupanças futuras nos
tou 12 vezes. Em 2002, nossos números já Estados Unidos e outros países continua
haviam crescido mais 68% e o consumo de gigantesco. Ainda desperdiçamos imensas
combustíveis fósseis outros 73%. O uso de quantidades de energia. Consideremos o
energia alimentou o crescimento econômi- caminho percorrido da mina de carvão até
co e vice-versa, mas não estão tão estreita- o interruptor de luz e imaginemos essas
mente ligados, como acreditava-se outrora. perdas de energia através de toda a eco-
Antes da primeira crise global do petróleo, nomia e em cada país. Nos Estados Uni-
muitos economistas pensavam que o con- dos, por exemplo, para cada 100 unida-
sumo maior de energia era pré-requisito de des de energia que alimenta usinas, prédi-
crescimento econômico. Mas quando os os, veículos e fábricas, apenas 37 unida-
preços do petróleo deram um salto repenti- des emergem como serviços úteis, tais
no, no início dos anos 70, governos e con- como calor, eletricidade e mobilidade. Glo-
sumidores reagiram, estabelecendo padrões balmente, a eficiência média da conver-
de eficiência e conservando combustível. são de energia primária em energia útil é
Entre 1970 e 1997, a intensidade global de de 28%. E as perdas variam enormemen-
energia caiu 28%, enquanto a produção eco- te de um uso ou país para o próximo: por
nômica continuou a crescer.4 exemplo, Lovins calcula que apenas 14%
Quanto mais eficientemente produzirmos do petróleo na boca do poço chega às ro-
e consumirmos energia, de menos energia das de um automóvel moderno.6
necessitaremos para os mesmos serviços. O consumo de energia, especialmente
Caso os Estados Unidos consumissem, em de petróleo, vem crescendo constantemen-
30
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te, com apenas uma pequena desaceleração, Hoje, os povos mais ricos do mundo
durante as crises dos anos 70. Apenas a consomem, em média, 25 vezes mais ener-
Europa Oriental e os antigos estados sovi- gia, per capita, do que os pobres. Na rea-
éticos sofreram declínios no consumo de lidade, quase um terço da população mun-
energia. Os países industrializados conti- dial não dispõe de acesso à eletricidade ou
nuam a consumir a maior parcela do pe- outros serviços modernos de energia, en-
tróleo global – 62%. O consumo de petró- quanto outro terço dispõe apenas de aces-
leo nos Estados Unidos duplicou a partir so limitado. Cerca de 2,5 bilhões de pes-
de 1960. Embora sua participação no con- soas, a maioria na Ásia, dispõem apenas
sumo global tenha caído consideravelmen- de madeira ou outra biomassa para sua
te desde 1960, começou a subir novamen- energia. O cidadão americano comum
te durante os anos 90. Com apenas 2% das consome cinco vezes mais energia que o
reservas globais e 4,5% da população to- cidadão global, 10 vezes mais que o chi-
tal, os Estados Unidos continuam sendo o nês e quase 20 vezes mais que o indiano.
maior consumidor mundial de petróleo.7 (Vide Tabela 2–1.) 8
Tabela 2-1. Consumo de Energia e Emissões de Dióxido de Carbono Anuais, Países Selecionados
Emissões de Dióxido
País Energia Comercial Petróleo Eletricidade de Carbono
(toneladas de (barris por dia por (quilowatt-hora (toneladas por
equivalência em mil habitantes) por pessoa) pessoa)
petróleo por pessoa)
31
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é de se estranhar que a média de passageiros so dos Estados Unidos promulgou uma lei
nos transportes seja menor hoje que há 50 triplicando um crédito fiscal corporativo nas
anos, apesar da duplicação da população dos compras de SUVs, da ordem de US$ 75.000
Estados Unidos. Uma exceção para essa ten- cada, comparado com uma dedução de US$
dência é a cidade de Nova Iorque, onde, de- 2.000 para veículos elétricos híbridos.22
vido à alta densidade e proliferação de táxis e Apesar das políticas norte-americanas
opções de transportes urbanos, apenas 25% e dos baixos preços de combustível, alguns
dos seus habitantes têm habilitação para diri- americanos preferem pagar mais, a fim de
gir. E em cidades como Denver, Colorado, consumir menos. Enquanto os motores
onde os serviços estão melhorando ou ampli- modernos de combustão interna são ape-
ando, a utilização de transportes de massa nas 20% eficientes, os carros híbridos po-
voltou a crescer.20 dem ir mais longe com um litro de com-
Em contraste, muitos países destinaram bustível. Em janeiro de 2003, cerca de
recursos significativos para os transportes 150.000 motoristas em todo o mundo com-
públicos, desencorajando o uso de veículos praram um carro híbrido; muitos desses
particulares por meio de políticas de trânsito novos proprietários estão nos Estados Uni-
e cobrança de taxas. No Japão e Europa, gran- dos, onde as vendas mensais do modelo
de parte dos investimentos em infra-estrutu- Prius, da Toyota, foram quatro vezes mais
ra de transportes após a II Guerra Mundial que no Japão. (Vide Quadro 2-2.)23
centrou-se em trens e ônibus urbanos. Hoje,
quase 92% das pessoas que se deslocam ao
QUADRO 2-2. SÓ EFICIÊNCIA
centro de Tóquio utilizam trens, com apenas
NÃO BASTA
55% utilizando carros. Os europeus ociden-
tais, hoje, utilizam transportes públicos para Inúmeros estudos constataram que, ao longo dos
10% dos seus trajetos urbanos e os canaden- próximos 10–15 anos, a economia de
ses 7%, contra apenas 2% para os america- combustível dos novos carros e caminhões leves
nos. Isso é significativo porque, para cada nos Estados Unidos poderá aumentar em até um
terço com as tecnologias existentes. A mais longo
quilômetro rodado por um veículo particular,
prazo, o uso de materiais compostos leves,
consome-se duas a três vezes mais combus- porém resistentes, da era espacial, com base em
tível do que por transporte público.21 fibras de carbono, desenho avançado e tecnologia
As diferenças nas tendências dos trans- híbrida ou de célula de combustível, poderá no
portes também explicam-se pelos preços. O mínimo triplicar a economia de combustível.
crescimento mais acelerado na propriedade Todavia, melhorias de eficiência irão apenas
e uso de um veículo particular ocorre ca- começar a resolver os problemas associados às
nossas escolhas de transporte. E os avanços de
racteristicamente em países com os mais eficiência, por si só, poderão na realidade
baixos preços de combustível e automóveis. encorajar as pessoas a utilizar mais energia,
Os carros e a gasolina são mais baratos nos incrementando suas viagens e compras de
Estados Unidos do que na Europa, por veículos já que os custos de energia representam
exemplo, por não sofrerem tanta taxação. uma parcela menor das despesas totais.
Na realidade, os maiores beberrões de ga- ___________________________________________________________________________________________________
FONTE: vide nota final 23.
solina são subsidiados: em 2003, o Congres-
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os – para aquecimento, refrigeração, culi- res e em maior número. E à medida que cai
nária, iluminação e uso de eletrodomésti- a quantidade de pessoas por residência, de-
cos. A demanda de energia relacionada a vido a uma variedade de tendências sociais,
prédios está crescendo rapidamente, parti- aumenta o número de casas necessárias para
cularmente dentro dos nossos lares.28 uma determinada população. Cada residên-
Mas há grandes diferenças no uso do- cia adicional requer materiais de construção,
méstico de energia de um país para outro. iluminação aquecimento e refrigeração, apa-
As pessoas nos Estados Unidos e Canadá relhos eletrodomésticos e freqüentemente
consomem 2,4 vezes mais energia em casa mais carros e vias – tudo que requer energia
do que na Europa Ocidental. Uma pessoa para produzir e operar. Entre 1973 e 1992, a
comum, no mundo em desenvolvimento, redução do tamanho das famílias, só nos
consome cerca de um nono da energia em países industrializados, foi responsável por
prédios do que a pessoa comum do mundo um aumento de 20% no consumo per capita
industrializado, mesmo incluindo combus- de energia.31
tíveis não-comerciais. Entretanto, uma par- Eletrodomésticos são os consumidores
cela bem maior da energia total nos países de energia de crescimento mais acelerado
em desenvolvimento é consumida em casa, do mundo, responsáveis por 30% do con-
devido à ineficiência de combustíveis e sumo de eletricidade dos países industriali-
tecnologias. Na China, os domicílios con- zados e 12% das emissões de gases de es-
somem cerca de 40% da energia nacional; tufa. A saturação da propriedade de gran-
na Índia, 50% e na maioria da África é ain- des aparelhos nessas nações é continuamen-
da maior, em comparação aos 15–25% do te compensada pela difusão de novos, in-
mundo industrializado.29 clusive computadores e outras formas de
Embora talvez um quarto da população tecnologia da informação (TI), enquanto os
mundial disponha de abrigos inadequados ganhos de eficiência obtidos a partir dos
ou até abrigo nenhum, para muitas outras anos 70 estão sendo desperdiçados na tro-
pessoas o tamanho de suas casas aumenta ca por mais (e maiores) amenidades. (Vide
mesmo quando o número de pessoas por Quadro 2-3.) O tamanho médio de refrige-
família diminui. Os Estados Unidos repre- radores nas residências americanas, por
sentam o caso extremo, onde as novas re- exemplo, aumentou 10% entre 1972 e
sidências cresceram quase 38% entre 1975 2001, e a quantidade por residência tam-
e 2000, para 210 m2 – duas vezes o tama- bém subiu. O ar-condicionado também se-
nho das residências típicas da Europa ou guiu um caminho semelhante: em 1978,
Japão, e 26 vezes o espaço de habitação do 56% dos lares americanos dispunham de
africano comum.30 sistemas de refrigeração, a maioria dos
À medida que os lares tornam-se maio- quais consistiam de pequenas unidades ins-
res devido, em grande parte, aos baixos pre- taladas nas janelas; 20 anos depois, três
ços da energia, cada lar individual tem mais quartos dos lares dispunham de condicio-
espaço para aquecer, resfriar e iluminar, nadores de ar e quase a metade consistia
como também espaço para aparelhos maio- de sistemas centrais.32
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Entre 2000 e 2020, o consumo de ele- muitos outros estão “desligados” mas não
tricidade para os aparelhos no mundo in- desconectados – será provavelmente o
dustrializado poderá aumentar 25%. A consumidor de maior crescimento. Em
energia stand-by – a eletricidade que é 2020, poderá representar 10% do consu-
consumida quando computadores, televi- mo total de eletricidade nesses países,
sores, aparelhos de fac-símile, estéreos e exigindo quase 400 usinas adicionais de
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500 megawatts, que emitirão mais de 600 sa energia é gerada através de combustí-
milhões de toneladas de dióxido de carbo- veis tradicionais, não-comerciais. Por
no anualmente.33 exemplo, quase três quartos da popula-
Nos países em desenvolvimento, a ção da Índia depende da biomassa tradi-
maior parte das necessidades energéticas cional para cozinhar. Mesmo assim, a
relacionadas aos prédios é para a cozi- demanda por aparelhos modernos está
nha, aquecimento de água e aquecimento crescendo também no mundo em desen-
espacial – o básico – e a maior parte des- volvimento. (Vide Tabela 2-3.)34
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traram alta eficácia até hoje, e as melhorias é possível. No início dos anos 90, frente a
contínuas podem nos ajudar a avançar no um aumento anual de 14% na demanda de
atendimento a essa demanda crescente. Os eletricidade, o governo da Tailândia deu iní-
Estados Unidos implantaram padrões na- cio a uma parceria com fabricantes para
cionais em 1987 após uma proliferação de melhorar a eficiência dos prédios, ilumina-
programas em âmbito estadual. Em res- ção e eletrodomésticos frios (como refri-
posta, os fabricantes obtiveram grandes geradores e condicionadores de ar). Em
economias no consumo de energia de ele- 2000, a Tailândia havia excedido suas me-
trodomésticos, quase triplicando a efici- tas de economia de energia e redução de
ência de novos refrigeradores entre 1972 CO2 em pelo menos 200%. Só entre 1996
e 1999, proporcionando, ao mesmo tem- e 1998, a participação de mercado de refri-
po, economia aos consumidores. Na Eu- geradores eficientes disparou de 12 para
ropa, os preços mais altos de energia, com- 96%. E no Brasil, graças, em grande parte,
binados com normas e selos, como o Blue a normas voluntárias e de rotulagem, os
Angel (Anjo Azul) da Alemanha, influen- consumidores reduziram o consumo de
ciaram as opções dos consumidores e le- energia relacionada a refrigeradores em
varam os fabricantes a produzir produtos 15% entre 1985 e 1993.37
mais eficientes, a fim de competir, e as- Melhorias no desenho e construção de
sim transformar mercados inteiros. (Vide prédios também poderão gerar economias
Capítulo 5.) Ainda assim, muito mais pode significativas de energia. De acordo com o
ser feito. As tecnologias disponíveis hoje analista de energia Donald Aitken, “os pré-
podem avançar a eficiência dos eletrodo- dios continuam sendo o aspecto mais me-
mésticos em, pelo menos, mais 33% ao nosprezado da ciência econômica da ener-
longo da próxima década, e outras gia, e a oportunidade mais inexplorada para
melhorias no consumo de energia de se- melhoria de eficiência”. O potencial de eco-
cadores, televisores, iluminação e nomia nos prédios existentes é gigantesco,
stand-by poderão economizar mais da e os consumidores já começaram a realizar
metade do crescimento projetado do con- melhorias. Na UE, a construção de prédios
sumo no mundo industrializado até 2030.36 é responsável por mais de 12% da ativida-
Nos países em desenvolvimento, as de econômica, e mais da metade disso en-
pessoas poderiam economizar até 75% da volve reinstalação de prédios existentes.
sua energia, por meio de melhorias no iso- Mas as edificações novas têm maior po-
lamento dos prédios, cozinha, aquecimen- tencial para economia e os números não
to, iluminação e aparelhos eletrodomésti- são insignificantes – só nos Estados Uni-
cos. Infelizmente, a difusão de tecnologias dos 1,7 milhão de casas residenciais foram
mais eficientes é extremamente lenta, de- construídas em 2002.38
vido aos altos custos iniciais, à falta de Uma vez que novas edificações duram
combustíveis modernos, como gás pelo menos 50–100 anos – e alguns sécu-
encanado, e às falhas nos sistemas de dis- los – é essencial que estejam adequadas
tribuição existentes. Entretanto, experiên- desde o início. Mesmo em climas frios,
cias na Tailândia e no Brasil mostram o que as pessoas podem reduzir as necessida-
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dos Unidos, em gás e petróleo, Austrália, em mento, como aquelas introduzidas recen-
carvão, e a Escandinávia, em eletricidade.55 temente em Londres, também podem en-
Quando os preços estão baixos, o corajar as pessoas a fazerem escolhas
consumo de energia para os indivíduos energéticas mais eficientes.57
representa a parcela menor do custo de Até mesmo a escolha do tamanho e
explorar um negócio, fabricar um pro- localização da residência é influenciada
duto ou administrar um lar; conseqüen- por impostos, políticas habitacionais e
temente, investimentos em economia de normas. Os Estados Unidos oferecem
energia são baixos. A longo prazo, os pre- uma dedução fiscal plena sobre juros em
ços afetam o que decidimos possuir, o hipotecas, permitindo às pessoas adqui-
tamanho de nossas casas, quando utili- rir residências de qualquer tamanho, mas,
zamos nossos carros e eletrodomésticos ao mesmo tempo, encorajando lares mai-
e até os bens e tecnologias à nossa dis- ores em comunidades estendidas. A polí-
posição. Entretanto, políticas governa- tica fiscal da Suécia também favorece a
mentais desempenham um papel impor- aquisição de uma propriedade, porém,
tante, às vezes sustentando ou reduzindo devido à política habitacional ter se con-
os preços de energia. Por intermédio de centrado durante décadas em apartamen-
subsídios, impostos, normas e outras tos, a maioria das pessoas optou por esse
medidas, políticas governamentais têm tipo de moradia, resultando assim em ci-
um impacto direto sobre a oferta, deman- dades mais compactas. Os lares e seu
da e eficiência energética de nossos la- conteúdo são mais eficientes em locais
res, aparelhos, carros e fábricas.56 como Califórnia e Japão, onde os códi-
Impostos sobre automóveis e combus- gos de construção e normas de eletrodo-
tível em muitos países, juntamente com mésticos estão se tornando cada vez mais
investimentos em transportes públicos e rigorosos à medida que as tecnologias
infra-estrutura ciclista, afetam as tendên- aprimoram-se. 58
cias de propriedade e distância percorrida E os governos podem influenciar o vo-
por automóveis e até as características da lume de energia incorporada nos produtos
frota veicular, podendo encorajar o uso de que as pessoas utilizam e o que é descarta-
ônibus, bicicletas e trens. Onde os gover- do. Pelo menos 28 países – do Brasil e Uru-
nos ou empresas subsidiam o transporte guai até a China, passando pela Europa –
público, as pessoas são mais propensas a hoje obrigam os fabricantes a receber seus
deslocarem-se de ônibus ou metrô do que produtos de volta para reutilização e
de automóvel. Na Dinamarca, onde o im- reciclagem. Assim, as empresas interessam-
posto sobre registros de veículos ultrapas- se mais e investem na desmontagem e
sa o preço de varejo do automóvel, e onde reciclagem de sua mercadoria e aumentam
a infra-estrutura de ferrovias e ciclovias a qualidade e vida útil de seus produtos,
estão bem desenvolvidas, mais de 30% das reduzindo o volume de energia que é utili-
famílias nem possuem carro – principal- zado em sua fabricação.59
mente porque não o desejam, e não porque Mesmo assim, a maioria dos países
não poderiam tê-lo. Taxas de congestiona- incentiva viagens de avião e automóvel em
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da mão-de-obra para a energia e outros re- através de mercados de energia verde. Até o
cursos, devido freqüentemente a preocu- fim de 2002, mais de 980 megawatts de
pações ambientais, como mudança climá- nova capacidade renovável havia sido adici-
tica. Como parte do seu esforço para redu- onada para atender à demanda de clientes
zir dramaticamente as emissões de gás de de energia verde nos Estados Unidos, e ou-
estufa, por exemplo, a Alemanha instituiu tros 430 megawatts estavam projetados ou
novos impostos sobre energia convencio- em construção. E como resultado de cam-
nal em 1999, concedendo incentivos finan- panhas estudantis reclamando por liderança
ceiros para a conservação de energia e no manejo ambiental, os campi da Universi-
tecnologias de energia renovável, como tam- dade da Califórnia e Los Angeles College
bém redução da carga fiscal sobre folhas District comprometeram-se a reduzir o con-
de pagamento.63 sumo de energia, adquirindo energia verde e
Enquanto políticas governamentais instalando sistemas fotovoltaicos nos prédi-
agem influenciando o consumo de ener- os. Esses dois sistemas universitários, jun-
gia sob várias formas, as decisões indivi- tos, podem aumentar as instalações
duais dos consumidores também causam fotovoltaicas conectadas à grade nos Esta-
grande impacto. Em todo o mundo, os con- dos Unidos em 30%.64
sumidores estão fazendo a diferença, para Alguns consumidores estão indo mais
melhor ou pior. Se compram um novo além. Autoridades locais e representantes
veículo híbrido ou “Hummer”, se viajam municipais de toda a Europa assinaram a
de avião, trem ou bicicleta, ou se decidem Declaração de Bruxelas em prol de uma
não ir a lugar algum, são, todas, escolhas Política Urbana de Energia Sustentável,
que fazem diferença. Infelizmente, mais e comprometendo-se a trabalhar pelo uso de
mais consumidores estão escolhendo apa- energia sustentável na Europa e encorajan-
relhos eletrodomésticos maiores, lares do a criação de um arcabouço legal em
mais amplos e veículos que mais parecem apoio à iniciativa. Em 1992, as populações
tanques para percursos individuais em de mais de 30 municípios holandeses vota-
vias urbanas para shopping centers ou ram para eliminar os carros do centro de
hipermercados. Em contrapartida, mas suas cidades, enquanto por todo o país, por
nem tanto, outros consumidores estão ad- exigência da população, os estacionamen-
quirindo carros híbridos eficientes, esco- tos de bicicletas excedem, de longe, as áreas
lhendo produtos agrícolas cultivados lo- para automóveis nas estações de trem. Os
calmente, instalando sistemas foto- alemães e suíços iniciaram o com-
voltaicos e comprando energia verde. partilhamento de carros nos anos 80 e o
(Vide também Capítulo 6.) conceito ampliou-se desde então para mais
Em grande parte da Alemanha e Dina- de 550 comunidades em oito países euro-
marca, as pessoas individualmente, e como peus, com pelo menos 70.000 membros.
parte de cooperativas, instalaram turbinas O compartilhamento de carros está se di-
eólicas para fornecimento de energia local fundindo na América do Norte também,
às suas comunidades. Em outros países, as com programas em mais de 40 cidades, de
pessoas estão explorando energia renovável Seattle a Washington, D.C.66
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mo per capita de energia de um país, isso Bem-estar. (Vide Capítulo 8.) Esta é uma
não se correlacionaria com um aumento no classificação numérica de 180 países, ba-
IDH daquele país. Países que se aproxi- seada em 87 indicadores de bem-estar
mam de 3.000 kgep per capita incluem Itá- humano e de ecossistemas, incluindo saú-
lia, Grécia e África do Sul; em contrapartida, de, educação, riqueza e direitos e liberda-
os americanos consomem quase três ve- des individuais, como também diversida-
zes mais por pessoa.67 de e qualidade de ecossistemas, qualidade
do ar e da água e uso dos recursos. De
acordo com o índice, a Suécia ocupa o
primeiro lugar em bem-estar mundial, en-
A Alemanha instituiu novos quanto os Emirados Árabes Unidos (EAU)
impostos sobre energia figuram quase em último; todavia, o cida-
convencional em 1999, concedendo dão comum nos EAU consome quase o
incentivos financeiros para dobro da energia do sueco. (Vide Tabela
conservação de energia e 2-4.) Os austríacos, por outro lado, con-
somem cerca de 61% da energia do sue-
tecnologias de energia renovável.
co; contudo, ainda figuram próximos ao
topo em termos de bem-estar. Assim, não
há uma relação fixa entre consumo de
Numa tentativa diferente de medir a energia e bem-estar visível, e há potencial
qualidade de vida, o pesquisador Robert para grandes avanços no front do consu-
Prescott-Allen desenvolveu o Índice do mo, com melhoria da qualidade de vida.68
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soas – agravando a poluição atmosférica e Embora essa taxa de crescimento seja al-
hídrica, aumentando os problemas de saúde tamente improvável, dificilmente as fontes
e elevando os custos econômicos e de se- convencionais de combustíveis fósseis aten-
gurança associados à extração e uso de com- derão à demanda crescente ao longo do pró-
bustíveis, como também enfraquecendo os ximo século. E cada vez mais nosso consu-
sistemas naturais dos quais dependemos para mo de combustíveis e tecnologias convenci-
nossa própria existência, inclusive o clima onais ameaçará ainda mais o meio ambiente
global. Muitas nações em desenvolvimento, natural, a saúde pública e a estabilidade inter-
nacional, com graves implicações em nossa
com populações gigantescas em áreas den-
qualidade de vida. Seremos pressionados para
samente povoadas, estão percebendo esses
atender às necessidades energéticas mundi-
limites rapidamente e começando a
ais, mesmo com energia renovável e grandes
administrá-los. Por exemplo, os graves pro- melhorias em eficiência, caso as tendências
blemas de congestionamentos e poluição em atuais de consumo continuem. Padrões de
Xangai forçaram a cidade a limitar o regis- consumo terão que mudar também. Precisa-
tro de novos veículos mensalmente.69 remos encontrar novas formas de satisfazer
Poderá a Terra sustentar nossas necessi- as necessidades do corpo e da mente e ao
dades crescentes de energia no século XXI, mesmo tempo reduzir o consumo de energia
mesmo com uma mudança rápida e dramáti- para os transportes e nossos prédios enquanto
ca para tecnologias mais eficientes e uso mais minimizamos a energia incorporada em tudo
intenso de energia renovável? Ninguém sabe que adquirimos.
ao certo, mas com certeza não será fácil. O Secretário-Geral da Organização para
Aumentos populacionais e níveis crescentes Cooperação e Desenvolvimento Econômi-
de consumo per capita – particularmente nos co, que representa as nações mais ricas do
países em desenvolvimento, onde 75% do mundo, reconheceu recentemente que em
mundo vive hoje – têm o potencial de suplan- todo o mundo “existe um consenso cres-
tar até mesmo os mais ambiciosos esforços cente de que os padrões de consumo de
da tecnologia energética.70 energia precisam ser alterados radicalmen-
Em 2050, a população global está proje- te”. Governos poderão ajudar a determinar
tada para aumentar mais de 40%, para 8,9 o consumo de energia por meio de medidas
como investimentos em infra-estrutura, re-
bilhões de pessoas. Se cada pessoa no mun-
gulamentos, incentivos e tarifas. Vontade
do em desenvolvimento consumir o mesmo
política e programas eficazes e adequados
volume de energia que uma pessoa comum
são essenciais para promover a mudança.72
em países de alta renda hoje – um nível sig- Mas também cabe a nós, como indiví-
nificativamente abaixo do consumo per duos – tanto como consumidores como
capita dos Estados Unidos – o consumo de membros de comunidades diversificadas –,
energia no mundo em desenvolvimento au- reconhecer os elos entre nossas escolhas
mentará mais de oito vezes entre 2000 e de consumo e os impactos que causamos
2050. Caso todos no planeta consumissem no mundo todo. Devemos saber lidar com
nesse ritmo, o uso global de energia aumen- os limites que teremos à frente e mudar a
taria cinco vezes ao longo desse período.71 maneira que consumimos energia.
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ATRÁS DOS BASTIDORES: COMPUTADORES
AT R Á S D O S B A S T I D O R E S
Computadores
A economia da informação produtos químicos que podem ser
pós-industrial é muitas vezes associados a cânceres, abortos e
erradamente caracterizada defeitos congênitos. Essas
como precursora de uma era instalações também
de “desmaterialização”, geram volume
porque minúsculos exagerado de lixo
semicondutores, o químico, que contaminou
ingrediente básico para os os lençóis freáticos em
chips de computador e numerosos centros de alta
dispositivos eletrônicos, geram alto tecnologia. O condado de
valor e utilidade. Mas, na realidade, Santa Clara, na Califórnia,
semicondutores são intensivos em materiais terra natal da indústria de
do que a maioria dos produtos semicondutores, contém mais
“tradicionais”. Um simples microchip de 32 locais de lixo tóxico do que qualquer outro
megabites requer pelo menos 72 gramas de condado nos Estados Unidos.2
produtos químicos, 700 gramas de gases O número de computadores no mundo
elementares, 32.000 gramas de água e 1.200 quintuplicou de 1988 a 2002 – de 105
gramas de combustíveis fósseis. Outros 440 milhões para mais de meio bilhão. Cada um
gramas de combustíveis fósseis são usados desses aparelhos é uma armadilha tóxica.
para operar o chip durante seu ciclo de vida Um monitor típico, com tubo de raio
– quatro anos de operação por três horas catódico (CRT), contém de dois a quatro
diárias. A massa total de materiais quilogramas de chumbo, bem como fósforo,
secundários usados para produzir um chip bário e cromo hexavalente. Outros
de 2 gramas é 630 vezes a do produto final. ingredientes tóxicos incluem o cádmio, nos
Comparativamente, os recursos necessários resistores e semicondutores do chip, berílio,
para fabricação de um automóvel pesam em nas placas-mãe e conectores e retardadores
torno de duas vezes o produto final.1 de chama à base de bromo, nas placas de
Os chips são fabricados em “ambientes circuito e capas plásticas.
limpos”, livres de poeira e outras partículas Plásticos, incluindo cloreto de polivinil
prejudiciais às delicadas membranas de (PVC), compõem até 6,3 quilos de um
silicone. No entanto, os trabalhadores nesses computador comum. A combinação de
ambientes ficam expostos a uma gama de vários plásticos torna a reciclagem um
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Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: COMPUTADORES
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Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: COMPUTADORES
também são expostos aos vapores tóxicos para regulamentar a disposição final do
da solda de chumbo e estanho quando e-lixo em aterros e incineradores, o fluxo
aquecem as placas de circuito para de computadores para os países em
recuperar o conteúdo de ouro dos chips, e desenvolvimento provavelmente
os banhos de ácidos usados para dissolver aumentará, a menos que outras medidas
e precipitar o ouro emitem gases de cloro e sejam introduzidas para lidar com o lixo. Em
dióxido sulfúrico. Pilhas de cabos de PVC 2002, o parlamento da União Européia
são queimadas ao ar livre, para recuperar a adotou duas diretivas sobre o “princípio da
fiação de cobre. Ironicamente a China responsabilidade do produtor”, exigindo
proibiu a importação de resíduos sólidos em que os fabricantes de produtos eletrônicos
1996 e acrescentou uma proibição específica diminuam gradativamente o uso de
em 2000 contra computadores usados, materiais prejudiciais e sejam
monitores e CRTs, mas a implementação responsabilizados pela recuperação e
dessas leis é muito fraca.8 reciclagem do e-lixo.9
À proporção que as nações
industrializadas adotem leis mais rigorosas — Radhika Sarin
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ATRÁS DOS BASTIDORES: COMPUTADORES
CAPÍTULO 3
Incrementando a
Produtividade Hídrica
Sandra Postel e Amy Vickers
Na xícara do café desta manhã e no gole áreas da China, Índia, Irã, México, Oriente
do chá da tarde residem moléculas de água Médio, África do Norte, Arábia Saudita e
que circularam pela atmosfera terrestre Estados Unidos. Muitos córregos e rios –
milhares e milhares de vezes. Esse líquido inclusive os grandes, como o Amu Dar’ya,
tem estado presente no planeta por pelo Colorado, Ganges, Indus, Rio Grande e o
menos 3 bilhões de anos, circulando entre Amarelo – secam hoje durante parte do ano.
terra, mar e ar. Impelido pelo sol, esse ci- Grandes lagos interioranos, particularmente
clo cria uma ilusão de abundância – água o Mar de Aral, na Ásia Central, e o Lago
doce aparentemente ilimitada, pois cai do Chad, na África, estão reduzidos a meras
céu, ano após ano. sombras do que foram. Mundialmente, áre-
Ao longo das duas últimas décadas, en- as alagadas de água doce – ecossistemas
tretanto, essa ilusão foi desfeita pela escala que realizam um esplêndido serviço de puri-
de influências humanas sobre os ficação da água – diminuíram pela metade.
ecossistemas de água doce da Terra – os Pelo menos 20% das 10.000 espécies de
rios, lagos, terras alagadas e aqüíferos sub- peixe de água doce estão ameaçadas de
terrâneos que armazenam, movem e limpam extinção ou já estão extintas.1
a água à medida que ela circula. Lençóis A escala e ritmo dos impactos huma-
freáticos estão em queda devido à extração nos sobre os sistemas de água doce ace-
predatória da água subterrânea em grandes leraram ao longo do último meio século,
Sandra Postel é co-autora de Rivers for Life: Managing Water for People and Nature (Island Press, 2003) e
diretora do Projeto de Políticas Globais para a Água em Amherst, MA. Amy Vickers, autora do premiado
Handbook of Water Use and Conservation: Homes, Landscapes, Business, Industries, Farms (WaterPlow
Press, 2001), é engenheira e especialista em conservação hídrica, residente em Amherst, MA.
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INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA
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INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA
tão harmonizadas a ele. Elas migram, ge- gurará que as extrações permaneçam den-
ram, nidificam e alimentam-se segundo as tro dos limites ecológicos definidos por ci-
leis da natureza. Ao perturbar os padrões entistas e pelas comunidades. Nos Estados
naturais de fluxo, através da construção de Unidos, num caso envolvendo alocação de
barragens, represas e projetos de desvio de água na Ilha de Oahu, a Corte Suprema do
rios, a humanidade involuntariamente des- Havaí determinou, em agosto de 2000, que
trói muitas das condições de habitat e de cada desvio particular de água fique subor-
sustentação de vida que nossos companhei- dinado “a um interesse público superior nes-
ros terrenos – e os serviços ecológicos que sa riqueza natural” e que o interesse públi-
nos prestam – necessitam.6 co, que inclui o ecossistema, deve ser
O que isso implica para o consumo e priorizado frente a usos comerciais priva-
gestão da água doce? Significa que o velho dos nas decisões de alocação de água.7
objetivo do esforço contínuo para atender O estabelecimento de limites para o uso
a demandas cada vez maiores é um empre- de rios e outros ecossistemas de água doce
endimento fadado ao fracasso. A otimização é a chave para o avanço econômico sus-
de um equilíbrio entre o atendimento das tentável, pois protege os ecossistemas que
necessidades humanas e a proteção das escoram a economia enquanto promovem
funções valiosas dos ecossistemas requer melhorias na produtividade hídrica – o be-
a alocação de água suficiente durante todo nefício líquido derivado de cada unidade
o ano para a sustentação dessas funções. de água extraída do meio ambiente natural.
Uma vez estabelecida essa alocação, o de- Da mesma forma que a melhoria de
safio é utilizar a água remanescente para produtividade da mão-de-obra – a produ-
satisfazer as demandas humanas de forma ção por trabalhador – ajuda uma econo-
eficiente, eqüitativa e produtiva. mia, também o fazem as melhorias na pro-
Para realizar essa mudança é mais fácil dutividade hídrica – a produção por metro
falar do que fazer. Porém, aqui e ali começa cúbico de água. (Um metro cúbico equi-
a acontecer. Na Austrália, as extrações de vale a 1.000 litros.)
água da bacia hidrográfica do Rio Murray- Medida a grosso modo como o valor
Darling – o maior e mais economicamente de bens e serviços econômicos por metro
importante do país – foram limitadas, num cúbico de água consumida, a produtivi-
esforço para coibir a deterioração grave de dade hídrica tende a aumentar, juntamen-
sua saúde ecológica. Esforços que já tarda- te com a renda nacional, por três razões
vam: a vazão do Murray caiu tanto em 2003 principais. Primeiro, porque a produção
que seu estuário ficou entupido com areia. agrícola é tão intensiva em água e os pre-
A inovadora legislação hídrica da África do ços são tão baixos, em relação à maioria
Sul, em 1998, exigiu o atendimento às ne- de outros bens, que uma mudança em di-
cessidades hídricas básicas tanto das pes- reção a uma economia mais industrializa-
soas quanto dos ecossistemas antes que a da aumentará a produção econômica por
água seja alocada a usos não-essenciais. Essa metro cúbico de água. Segundo, porque
“reserva” de água doce é priorizada e, se leis de controle de poluição, como as
for implementada como se pretende, asse- adotadas no Japão, Estados Unidos e mui-
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Bangladesh
Egito
Fonte: FAO, USGS, OCDE
(Dólares de 2000)
Índia
Peru
China
Indonésia
México
Federação Russa
África do Sul
Estados Unidos
Brasil
Espanha
Austrália
França
Alemanha
0 10 20 30 40
PIB por metro cúbico de consumo
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PIB real por metro cúbico de extração anual de água dial, uma vez que a distribui-
20 ção de água é freqüentemente
Fonte: USGS, OCDE
(base=2000) desigual também dentro de
15 países. A China, por exemplo,
tem 21% da população mun-
10 dial, mas apenas 7% da água
doce do planeta – e a maior
5
parte encontra-se na região
sul do país. A Planície Norte
da China, que inclui o Rio
0
Amarelo, é uma das regiões
1950 1960 1970 1980 1990 2000
mais populosas do mundo,
Figura 3-2. Produtividade Hídrica dos Estados com escassez hídrica. Abri-
Unidos, 1950–2000 gando cerca de 450 milhões
de pessoas, seu suprimento
per capita de água é de menos de 500 metros
Riqueza Hídrica, cúbicos por ano, quase igual à Argélia. O
consumo de água na Planície Norte já su-
Pobreza Hídrica pera o suprimento sustentável. Quase todo
ano, o baixo Rio Amarelo seca completa-
O ciclo hidrológico da Terra distribui água mente antes de alcançar o mar. E por toda
de forma irregular por todo o planeta. Ape- a planície, que produz um quarto dos grãos
nas seis países – Brasil, Rússia, Canadá, da China, os lençóis freáticos estão caindo
Indonésia, China e Colômbia – representam a uma taxa de 1–1,5 metro ao ano. Como
metade do suprimento renovável total de observa o economista hídrico Jeremy
água doce, de 40.700 quilômetros cúbicos Berkoff, a escassez de água na Planície
(contando apenas o escoamento de rios e Norte da China “afetará mais aqueles com
águas subterrâneas, sem a evaporação e menor condição de suportá-la e pequenos
transpiração vegetal). O fato de uma região agricultores que cultivam grãos em locais
ser hidrologicamente rica ou pobre depen- mais isolados”.11
de, em parte, de quanto do legado global Locais de pobreza hídrica geralmente
recebe em relação à sua população. O Cana- exercem maior pressão sobre rios e
dá, por exemplo, situa-se próximo ao topo aqüíferos do que locais de riqueza (vide
da riqueza hídrica, com mais de 92.000 Tabela 3-1) porque em climas mais secos
metros cúbicos de água por habitante. No a produção agrícola – intensiva no uso da
lado pobre do espectro estão a Jordânia, com água – requer irrigação. O consumo de
um manancial renovável anual de 138 metros água per capita do Egito é quase o dobro
cúbicos por habitante, Israel com 124 e o da Rússia, não porque os egípcios sejam
Kuwait, com basicamente nada.10 mais sedentos (embora consumam mais
Entretanto, as cifras nacionais masca- do que sua parcela justa do Nilo), e sim
ram grande parte do estresse hídrico mun- porque toda sua região agrícola necessita
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INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA
Em 2000, a Assembléia Geral das Na- tísticas da ONU, cinco países – Bangladesh,
ções Unidas adotou, como uma das Metas Camoros, Guatemala, Irã e Sri Lanka –
Desenvolvimentistas do Milênio para 2015, obtiveram sucesso em reduzir à metade a
a redução pela metade da parcela de pesso- parcela de suas populações carentes de água
as sem condições de acesso à água potá- potável entre 1990 e 2000. (Essas estatís-
vel. Dois anos depois, na Cúpula Mundial ticas, entretanto, não incluem a descoberta
sobre Desenvolvimento Sustentável, em de níveis venenosos de arsênio em poços
Joanesburgo, as nações comprometeram- de água subterrânea em extensas áreas de
se igualmente a reduzir à metade, até 2015, Bangladesh.)16
a proporção de pessoas sem acesso a sa- A África do Sul avançou também na
neamento adequado. A difusão de serviços prestação de serviços de água. Quando o
de saneamento tem ficado bem atrás do Congresso Nacional Africano assumiu o
fornecimento de água doméstica, deixan- poder, em 1994, cerca de 14 milhões de
do 2,4 bilhões de pessoas, mundialmente, sul-africanos não tinham acesso a água
sem saneamento básico. (Vide Tabela 3-2.) potável. A constituição pós-apartheid,
A fim de atender aos novos compromis- ratificada em 1996, declarou a água po-
sos, os serviços de água terão que alcançar tável um direito universal, e a lei da água
mais 100 milhões de pessoas, e o sanea- de 1998, que estabeleceu uma reserva
mento adequado outras 125 milhões de hídrica em duas partes – atender às ne-
pessoas, anualmente, entre 2000 e 2015.15 cessidades hídricas de todas as pessoas e
ecossistemas –, concedeu prioridade má-
xima à prestação de serviços de abasteci-
Tabela 3-2. Populações sem Acesso a Água mento de água. Entre 1994 e abril de 2003,
Potável e Saneamento, 2000 o Programa Comunitário de Abastecimen-
to de Água e Saneamento do país propor-
Parcela da População cionou acesso a 8 milhões de pessoas, a
Sem Acesso a
um custo médio de US$ 80 por pessoa. As
Água Saneamento autoridades estimam que os 6 milhões de
Região Potável Adequado pessoas restantes terão acesso até 2008.17
(percentual) A fim de atender à população mais po-
África 36 40 bre da África do Sul e, também, conseguir
Ásia 19 53 uma recuperação razoável de custos, foi
América Latina e estabelecido um preço baixo de “linha de
Caribe 13 22 vida” para os primeiros 25 litros diários,
FONTE: vide nota final 15. aumentando a tarifa acima desse nível. Uma
vez que até a tarifa mínima onerava as fa-
mílias pobres, as autoridades começaram
Embora ambiciosas, essas metas a conceder gratuidade a esse volume. Nas
conquistáveis são marcos essenciais no regiões onde o governo contratou empre-
caminho para uma cobertura universal de sas privadas para gerir os sistemas de água,
água e saneamento. De acordo com esta- entretanto, a recuperação de custos parece
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INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA
ter adquirido prioridade sobre o direito cons- mudar as dietas, a fim de satisfazer as neces-
titucional à água, provocando protestos da sidades nutricionais com menos água.
população. Em Joanesburgo, por exemplo, Uma grande parte da água armazenada
onde a concessionária assinou um contra- por trás de barragens, e desviada através de
to de gestão com a corporação francesa canais de irrigação, nunca beneficia uma la-
Suez, foram instalados hidrômetros de pa- voura. Uma análise em 2000 constatou que
gamento prévio que só fornecem às famí- a eficiência de irrigação da água de superfí-
lias a quantidade paga antecipadamente. cie varia entre 25 e 40% na Índia, México,
Empresas privadas de água, preocupadas Paquistão, Filipinas e Tailândia; entre 40 e
principalmente em aumentar os lucros para 45% na Malásia e Marrocos e entre 50 e
seus acionistas, pouco incentivo têm para 60% em Israel, Japão e Taiwan. A grande
atender às necessidades básicas dos pobres, parcela de água que não atinge as raízes das
a não ser quando obrigadas, pelos poderes lavouras não é, necessariamente, perdida ou
públicos, a fazê-lo.18 desperdiçada: pode, por exemplo, escorrer
por um campo ou canal e recarregar o len-
Água, Lavouras e Dietas çol subterrâneo, transformando-se no su-
primento de outro agricultor. Todavia, parte
A agricultura consome cerca de 70% de toda é perdida pela evaporação do solo ou super-
fícies de canais. De qualquer forma, essas
a água extraída dos rios, lagos e aqüíferos
ineficiências acarretam altos custos:
subterrâneos da Terra, e até 90% em mui-
indisponibilidade de água quando e onde ne-
tos países em desenvolvimento. Projeções
cessária, habitats aquáticos destruídos des-
recentes indicam que, até 2025, inúmeras necessariamente, maior área de terra tornan-
bacias hidrográficas e nações enfrentarão do-se salina e maior volume de água doce
uma situação em que 30% ou mais de suas poluído por sais e pesticidas.20
necessidades de irrigação não poderão ser A maioria das regiões obteve ganhos ape-
atendidas, devido à escassez de água. Essas nas modestos na melhoria da eficiência de
incluem a maioria das bacias da Índia, as irrigação. Com a água de irrigação,
bacias Hai e Amarela, na China, do Indus, freqüentemente cobrada a menos de um
no Paquistão, e muitas bacias hidrográficas quinto do seu custo real, e com a extração
da Ásia Central, África Subsaariana, África de água subterrânea praticamente não-regu-
do Norte, Bangladesh e México.19 lamentada, os agricultores e gestores de ir-
Elevar a produtividade do uso da água rigação têm pouca motivação para moderni-
agrícola é crucial para o atendimento das ne- zar suas práticas. Melhorias na regulação e
cessidades alimentares das pessoas à medida confiabilidade na distribuição de água são
que o estresse hídrico aumente e se espalhe. pré-requisitos para muitas das medidas de
Esse desafio tem três partes principais: for- eficiência que os próprios agricultores po-
necer e aplicar água à agricultura com maior dem tomar. Produtores de alguns distritos
eficiência, aumentar a produtividade por litro da Califórnia, por exemplo, gostariam de
de água consumida, tanto por lavouras transferir-se para sistemas mais eficientes
irrigadas quanto alimentadas pela chuva, e de irrigação, porém precisam de maior se-
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gurança sobre a freqüência, taxa de vazão e dução em 20–90%. Essa combinação pode
duração de seu fornecimento de água antes significar uma duplicação ou triplicação da
de fazê-lo.21 produtividade hídrica.22
Há um rico cardápio de escolhas para a Mundialmente, métodos de microirri-
melhoria da produtividade da água de irri- gação (inclusive gotejamento e micro-
gação, inclusive um conjunto de medidas espargidores) são utilizados em aproxima-
técnicas, gestoras, institucionais e agronô- damente 3,2 milhões de hectares ou pouco
micas. Um número cada vez maior de agri- mais de 1% das terras irrigadas. Um pu-
cultores em todo o mundo está constatan- nhado de países carentes de água hoje de-
do, por exemplo, que sistemas de irrigação pende, e muito, deles. (Vide Tabela 3-3.)
por gotejamento – que fornecem água di- Ademais, a área sob gotejamento e outras
retamente às raízes das plantas em baixo técnicas de microirrigação ampliou-se sen-
volume, através de tubos perfurados insta- sivelmente em vários países ao longo da
lados sobre ou sob o solo – podem econo- última década: mais do dobro no México e
mizar água, incrementando as colheitas ao África do Sul, um aumento de 3,5 vezes
mesmo tempo. Comparados à irrigação na Espanha e quase nove vezes no Brasil.
convencional por inundação ou valas, mé- Embora partindo de uma base pequena,
todos de gotejamento freqüentemente re- China e Índia também ampliaram o uso de
duzem o volume de água distribuída aos irrigação por gotejamento, a fim de lidar
campos em 30–70%, aumentando a pro- com a crescente escassez hídrica.23
1
A microirrigação inclui métodos de gotejamento (tanto superficial quanto subsuperficial) e
microespargidores; o ano de divulgação varia de país a país.
FONTE: vide nota final 23.
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Mudanças nos padrões de produção e mente. A maioria dos cerca de 800 mi-
métodos de cultivo também oferecem opor- lhões de pessoas famintas ou malnutridas
tunidades para se colher mais por gota. Esse pertencem a famílias de agricultores da
desafio é mais destacado na produção de África Subsaariana e sul da Ásia. Para
arroz, o alimento básico preferido de cerca elas, os equipamentos convencionais de
da metade da população global. Mais de 90% irrigação são muito dispendiosos, e o
do arroz mundial é cultivado na Ásia, onde acesso à água de irrigação é sua esperan-
muitos rios e aqüíferos já estão excessiva- ça para colheitas mais estáveis e produti-
mente explorados e a pressão para desviar vas, maior segurança alimentar e melho-
água das fazendas para as cidades está au- res rendas. Aumentar o acesso dos agri-
mentando. Ao longo do último quarto de cultores pobres à irrigação, por meio da
século, a adoção generalizada de variedades disseminação de tecnologias acessíveis
de arroz de alta produtividade e amadureci- para pequenas áreas, melhoraria imensa-
mento precoce levou a um aumento de 2,5 mente a produtividade hídrica – gerando
a 3,5 vezes o volume de arroz colhido por melhor saúde e benefícios sociais por li-
unidade de água consumida – uma conquis- tro de água consumida.26
ta impressionante. Maiores ganhos serão Um modelo de sucesso está em
mais difíceis de serem obtidos. Muitos es- Bangladesh, onde agricultores pobres ad-
tudos demonstraram, todavia, que a prática quiriram mais de 1,2 milhão de bombas a
tradicional de inundar arrozais durante a es- pedal que lhes dão acesso a lençóis rasos e
tação de cultivo não é essencial para aumen- permitem cultivos durante a estação seca,
tar a produção. Aplicar um espelho d’água aumentando suas rendas em US$ 100, em
mais raso, ou até mesmo deixar os arrozais média, por cada bomba de US$ 35 no pri-
secos entre irrigações, pode, em alguns ca- meiro ano. A International Development
sos, reduzir o uso de água em 40–70% sem Enterprises, do Colorado, está hoje desen-
perda significativa de produção.24 volvendo sua experiência em Bangladesh e
Igualmente, pesquisadores constataram em inúmeros outros países, numa iniciati-
que a produção de grãos pode ser susten- va multidoadora internacional chamada Ini-
tada com 25% menos de água de irrigação ciativa Mercadológica de Irrigação para
do que é normalmente utilizado, contanto Pequenos Produtores, que objetiva facili-
que as lavouras recebam água suficiente tar o acesso de agricultores pobres à irri-
durante seus estágios críticos de cresci- gação – incluindo sistemas de gotejamento
mento. Chamada de irrigação de déficit, de baixo custo e bombas a pedal – com a
essa prática está se tornando um recurso meta de livrar da pobreza cerca de 30 mi-
necessário em algumas áreas carentes de lhões de famílias rurais até 2015.27
água. Na Planície Norte da China, por exem- Por grandes áreas da Índia, grupos
plo, os agricultores hoje irrigam o trigo três comunitários estão reativando o uso de
vezes numa safra em vez de cinco.25 açudes tradicionais, barragens de deten-
Para muitos agricultores pobres, a ção e outros equipamentos para captação
questão não é como irrigar com maior e armazenagem de água da chuva, para
eficiência, e sim como irrigar, simples- irrigar suas lavouras durante a estação
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operar essas usinas também consome dade fornecida. Assim, a família média
água. A geração de energia hidrelétrica re- norte-americana, utilizando 10.000 kWh
sulta na evaporação da água de reserva- de eletricidade por ano, está indiretamente
tórios. Em conjunto, a água necessária consumindo também mais 83 metros
para atender às demandas energéticas é cúbicos de água – um volume equivalen-
substancial – nos Estados Unidos chega te a quase 14.000 descargas de um vaso
a cerca de 8,3 litros por kWh de eletrici- sanitário eficiente.39
Várias cidades e sistemas de água lançaram Hídrica, tem uma das menores taxas de
programas de eficiência hídrica nos últimos vazamento (cerca de 5%) do Japão, com um
anos, e várias outras conseguiram uma consumo per capita de aproximadamente
economia impressionante de custo e consumo: 20% menos do que outras cidades do
• Cingapura reduziu o índice de água não- mesmo tamanho. Fukuoka conseguiu essas
contabilizada de 10,6 para 6,2%, entre 1989 economias através de esforços em detecção
e 1995, e economizou mais de US$ 26 de vazamentos e reparo, técnicas
milhões, evitando gastos de capital na sofisticadas de leitura, coleta de águas
expansão de suas instalações, por meio de pluviais, utilização de água recuperada para
iniciativas agressivas de detecção e reparo sanitários, instalação de dispositivos
de vazamentos, renovação de adutoras e eficientes de torneiras em mais de 90% das
100% de leituras (incluindo o Corpo de residências e promoção de programas de
Bombeiros). Em 2003, a ANC caiu para conscientização pública das questões
5%. Hidrômetros industriais e comerciais hídricas.
são substituídos a cada quatro anos e • Desde o final dos anos 80, o Departamento
hidrômetros residenciais a cada sete anos, de Água do Estado de Massachusetts
para assegurar faturamento correto e (MWRA, na sigla em inglês), que abastece
minimizar perdas de água não-medida. Os mais de 40 cidades na área de Boston,
gestores de água de Cingapura também reduziu a demanda em toda a rede em cerca
promovem educação pública, programas de 25%, por intermédio da implementação
escolares, auditorias hídricas e reutilização de um programa abrangente de redução de
de água não-potável pelas indústrias. demanda que incluía reparos de vazamentos
Conexões ilegais são sujeitas a multas de até e instalação de equipamentos e dispositivos
US$ 50.000 ou três anos de detenção. Em eficientes na tubulação. Isso permitiu o
1995, os 3 milhões de habitantes da cidade cancelamento de um projeto para represar
consumiram, em média, 1,2 milhão de o Rio Connecticut – uma proposta
metros cúbicos por dia; em 2003, a politicamente polêmica – e poupou aos
demanda total de água havia aumentado 2,1 milhões de consumidores do MWRA
apenas 8%, embora a população tenha mais de meio bilhão de dólares só em
crescido 40%, para 4,2 milhões. dispêndio de capital.
• Fukuoka, no Japão, conhecida como a __________________________________________
Cidade com Consciência de Conservação FONTE: vide nota final 37.
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Laticínios United Milk 657.000 metros Sistemas de membranas de osmose reversa (OR),
(leite e derivados) Plc. Inglaterra cúbicos/ano; recupera e trata o condensado do leite para reutilização
US$ 405.000 pela fábrica, eliminando a necessidade de abastecimento
por ano externo. O excesso da água recuperada é posto à venda
para outros usuários na área industrial.
Computadores IBM, mundial 690.000 metros A economia de água em 2000 foi de 4,6% do total
(fábricas e cúbicos/ano utilizado; 375.000 metros cúbicos por ano poupados
laboratórios) com múltiplos projetos de eficiência hídrica e 315.000
metros cúbicos poupados com reciclagem e
reutilização.
Siderurgia Columbia Steel 1,63 milhão de Substituição do sistema de resfriamento por fluxo
Casting Co. metros cúbicos/ único, por torres de resfriamento recirculantes.
Inc., North ano US$ 588.000 Instalação de sistemas de reciclagem e tanques de
Portland, OR, ao ano armazenagem para captação de águas pluviais e
EUA reutilização de água não-potável de lavagem.
Otimização de práticas industriais.
Farmacêuticos Millpore Corp., 31.000 metros Água servida de processamento, reciclada através de
(pesquisa de ciência Jaffrey, NH, cúbicos/ano; tecnologia OR; investimento de US$61.000, retornado
de vida e EUA US$ 55.000 em 1,2 anos em redução de custos de água, água servida
biofarmacêuticos) ao ano e energia.
Construção Gusto Homes, 50% de economia O projeto Millenium Green envolveu a instalação de
Habitacional Inglaterra de água nas sistema de coleta de água pluvial e armazenagem
residências subterrânea em 24 residências e escritório da empresa.
(50 metros Instalação também de sanitários de descarga dupla,
cúbicos/ano) chuveiros e sanitários aerados e aquecedores solares
de água.
Produtos Agrícolas Unigro, Plc. 9.000–18.000 Instalações seladas, com controle climático, utilizam
(frutas, legumes, Inglaterra metros o sistema Greengro Farming e incluem irrigação de
vegetais e ervas cúbicos/ano; precisão e coleta de águas pluviais, requerendo 30%
livres de pesticidas) US$ 7.400 menos água por unidade de produção do que a irrigação
ao ano convencional.
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INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA
tém tinturas que exaurem os níveis de oxi- produtos de papel reciclado em vez de pa-
gênio de rios e lagos quando despejada sem pel virgem, por exemplo, poupa não só ár-
tratamento. Ao captar e reciclar essas tin- vores e energia, mas também a água utiliza-
turas dentro do processo fabril, as indús- da na manufatura do papel. E produtos de
trias podem reduzir as cargas poluentes e alumínio fabricados com sua sucata reque-
economizar em custos de insumos. Em rem apenas 17% da água que o mesmo pro-
Gana, na África Ocidental, um programa- duto necessita se feito de alumínio bruto.54
piloto, chamado de Sistema de Manejo de
Troca do Estoque de Rejeitos, objetiva au-
QUADRO 3-5. MEDIDAS QUE
mentar a reutilização e reciclagem de rejeitos
PODEMOS TOMAR PARA
industriais, a fim de proteger os
REDUZIR NOSSO IMPACTO
ecossistemas costeiros, fluviais e lacustres.
SOBRE A ÁGUA DOCE
Com o slogan “lixo de um, matéria-prima
de outro”, a iniciativa tem recebido uma • Adquirir menos bens materiais.
resposta entusiástica das indústrias locais.52 • Adotar dietas nutritivas, com menos
Da mesma forma que escolhas individu- carne vermelha.
ais de dietas e paisagens podem fazer uma • Selecionar plantas e gramas nativas para
jardins e paisagismo e depender apenas
grande diferença no impacto humano sobre
das chuvas.
corpos d’água, também o fazem as escolhas
• Instalar aparelhos e utensílios mais
de consumo de bens materiais. (Vide Quadro eficientes em termos de água e energia.
3-5.) Praticamente tudo que se compra – de • Pressionar por normas de uso do solo
roupas a computadores e a automóveis – que protejam áreas alagadas, aqüíferos e
necessita de água para ser fabricado, e este bacias hidrográficas.
processo pode também resultar em poluição • Participar de comissões locais de gestão
de córregos e lagos também. As pessoas que de água, a fim de monitorar e
dirigem veículos utilitários esportivos, ávidos implementar estratégias de proteção
hídrica.
consumidores de gasolina, em vez de carros
eficientes no consumo de combustível, por
exemplo, não estão apenas gastando cerca
de três vezes mais gasolina por quilômetro Prioridades Políticas
rodado, mas também estão indiretamente uti-
lizando muito mais água, uma vez que são Não há mistério algum sobre o fato de o
necessários 18 litros de água para produzir enorme volume de água extraído para con-
apenas um litro de gasolina.53 sumo humano ser desperdiçado e mal-ad-
No credo ambientalista de reduzir, ministrado: as políticas que embasam deci-
reutilizar, reciclar, a redução de compras sões sobre a água, na maioria das vezes,
materiais sempre tem lugar de destaque no fomentam ineficiências e más alocações, e
topo. Quando as pessoas adquirem algo, não a conservação e uso sustentável. Em
todavia, podem diminuir seus impactos à vez de nos desesperarmos frente a uma nova
água e energia escolhendo produtos fabri- era de escassez hídrica, precisamos con-
cados com materiais reciclados. Comprar frontar velhos erros e desperdícios.
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INCREMENTANDO A PRODUTIVIDADE HÍDRICA
AT R Á S D O S B A S T I D O R E S
Sabonetes Antibacterianos
“Livrar-se dos germes é hoje incentivará a demanda dos
mais divertido do que consumidores por sabonetes
nunca”, diz o rótulo de um incrementados, inclusive
frasco de sabonete líquido antimicrobianos. Na Índia e China, onde
com aroma de fruta Dial, o os sabonetes líquidos são vistos como
maior fabricante de produtos caros de luxo, a
sabonetes antibacterianos Procter & Gamble está
dos Estados Unidos. Na agora produzindo uma
realidade, o disparo na versão antibacteriana de
produção e uso globais de seu sabonete em barra,
tais produtos apresenta alguns Safeguard.2
riscos não tão divertidos para a Todos os sabões são produzidos
saúde e meio ambiente. por meio de uma reação química conhecida
Sabonetes líquidos e gel para banho como saponificação, na qual um sal alcalino,
com propriedades antibacterianas como soda cáustica (hidróxido de sódio),
tornaram-se cada vez mais populares nos potassa (hidróxido de potássio) ou barrela, é
últimos anos. Nos Estados Unidos, 75% aquecido com uma gordura vegetal ou
dos sabonetes líquidos e aproximadamente animal (sebo) e água. No processo, a
30% dos sabonetes em barra contêm agora gordura transforma-se em glicerol líquido
triclosan e outros compostos químicos (glicerina – que é normalmente removida
formulados para atacar os germes para outros usos cosméticos ou
superficiais. Embora rotulada de farmacêuticos) e sais ácidos graxos – que
antibacteriana, a maioria é na realidade formam os coalhos do sabão bruto. Esses
antimicrobiana, atacando tanto vírus coalhos são fervidos em água, para remoção
quanto bactérias. 1 de impurezas, despejados em fôrmas e
O mercado mundial para sabonetes está cortados em barras.3
projetado pra crescer continuamente, de Alguns dos mais antigos restos de
US$ 5,5 bilhões em 2003 para US$ 6,1 sabonetes foram encontrados em potes de
bilhões em 2008, informa o Icon Group, uma barros, datados de 2800 a.C., na Babilônia.
empresa de pesquisa mundial de mercado. O Antes do aparecimento das versões
maior crescimento deverá ocorrer na Ásia e germicidas, em 1948, os sabonetes
no Pacífico, onde a indústria de sabonetes eliminavam os microorganismos, tornando a
prevê que o crescimento econômico sujeira e oleosidades superficiais
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ATRÁS DOS BASTIDORES: SABONETES ANTIBACTERIANOS
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ATRÁS DOS BASTIDORES: SABONETES ANTIBACTERIANOS
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CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO
CAPÍTULO 4
Controlando Nossa
Alimentação
Brian Halweil e Danielle Nierenberg
Em meados dos anos 80, os cafeicultores selo de “comércio justo”, que garante aos
mexicanos informaram à organização ho- produtores de café um preço fixo acima
landesa de ajuda Solidaridad que mal con- dos níveis internacionais – um preço que
seguiam manter-se. Enquanto a fartura de cubra seus custos de produção e asse-
café no mercado mantivera baixos os pre- gure uma vida decente – e estabelece uma
ços do produto in natura, os programas série de outras condições sociais e
de ajuda internacional dos países industri- ambientais, desde o direito a se organiza-
alizados pouca utilidade tinham. Além dis- rem em cooperativas até certos requisi-
so, a Solidaridad soube que os produtores tos básicos de segurança. Em contraste
com o relacionamento injusto, em que o
e suas famílias adoeciam quando aplica-
bebedor de café aparentemente beneficia-
vam os fungicidas e outros agrotóxicos
se – embora involuntariamente – do so-
em voga em todo o mundo. Tudo isso
frimento do produtor, os compradores do
suportado em prol de cada xícara de ex-
café Max Havelaar pagam um pequeno
presso e cappuccino tomada pelos holan- ágio para assegurar uma vida melhor aos
deses, milhares de quilômetros de distân- produtores e comunidades no outro ex-
cia – e não por mexicanos.1 tremo do negócio.2
A Solidaridad reagiu, unindo-se com A idéia não era original. Já nos anos
outros grupos holandeses de ajuda para 50, grupos como Oxfam, no Reino Uni-
criar a Fundação Max Havelaar. (Max do, Ten Thousand Villages, nos Estados
Havelaar foi uma personagem escrupu- Unidos, e Stichting Ideele Import, na
losa de uma novela holandesa do século Holanda, ofereciam produtos dos países
XIX, que retratava a crueldade do trata- em desenvolvimento. Porém, a influên-
mento colonial nas Índias Orientais Ho- cia dessas “lojas do Terceiro Mundo” era
landesas.) A Fundação desenvolveu um limitada e o mercado pequeno.3
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está se tornando uma epidemia, não ape- é a tendência cada vez maior de as em-
nas nas nações mais ricas, mas nos cen- presas de alimentos, em busca de clien-
tros urbanos de países pobres também. tes, inundarem a mídia com publicidade e
Nutricionistas, psicólogos e defensores de tornarem os alimentos tão ubíquos quan-
consumidores concordam que pelo menos to possível – uma combinação que torna a
uma das causas da epidemia de obesidade gula quase inevitável.10
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o sistema global de alimentos de sua trajetó- comida, brincar e aninhar-se, mas a carne
ria atual. As manifestações locais dessa “de- que produzem é mais sadia e saborosa do
mocracia alimentar” serão naturalmente di- que a produzida em fazendas industriais.14
ferentes em todo o mundo, e as motivações Uma vez que os porcos se dão bem sob
nem sempre serão humanitárias, mas inclui- essas condições mais naturais, Willis pode
rão preocupações mais egoístas como sa- criá-los sem uso de antibióticos e
bor, segurança alimentar, saúde pessoal e a estimuladores de crescimento, o que reduz
preservação de espaços abertos. As ofertas seus custos. E em vez de vender a carne
nos supermercados comuns são, obviamen- para uma das grandes empresas que con-
te, infindáveis. Mas algumas das mudanças trolam a maior parte da produção suína dos
mais profundas que os “comedores” podem Estados Unidos – Smithfield ou IBP –,
Willis comercializa sua carne através do
fazer incluem repensar sua relação com a
Niman Ranch, uma empresa da Califórnia,
carne vermelha, selecionar alimentos pro-
formada em 1982 para distribuir carne de
duzidos sem agrotóxicos e comprar alimen-
animais criados humanitariamente aos con-
tos produzidos localmente. A carne repre-
sumidores e restaurantes.15
senta o segmento mais intensivo em recur- Willis é parte de um movimento cres-
sos da nossa dieta; agrotóxicos mantêm os cente de criadores e consumidores para
produtores atados a uma paisagem agrícola devolver os rebanhos de volta às suas
monótona; e os alimentos locais represen- raízes. Embora a mudança possa parecer
tam a melhor esperança de devolver o poder antiquada, produtores que criam animais ao
tanto para as pessoas que cultivam os ali- ar livre – e consumidores que adquirem a
mentos como àqueles que os consomem. carne rotulada como “alimentada a pasto”
ou free-range – estão ajudando a limpar o
Da Fazenda à Fabrica – e que se tornou o setor mais ecologicamente
destrutivo e insalubre da produção animal.
de Volta à Fazenda (Vide Figura 4-1.) A produção global de
carne quintuplicou desde 1950, e a fazen-
Como a maioria dos suínos no Centro-Oeste
da industrial é o método de produção com
dos Estados Unidos, as mais de 200 por- o crescimento mais acelerado em todo o
cas criadas na fazenda de Paul Willis, em mundo. Sistemas industriais são responsá-
Iowa, adoram comer milho. Mas os ani- veis por 74% da produção mundial de aves,
mais de Willis têm uma dieta e estilo de vida 50% da produção suína, 43% da bovina e
muito diferentes dos outros 15 milhões de 68% da produção de ovos. Os países in-
porcos criados no estado. Juntamente com dustrializados dominam a produção, mas
os grãos que comem diariamente, os por- as nações em desenvolvimento estão ex-
cos de Willis pastoreiam em campos, não pandindo-se rapidamente e intensificando
estando confinados nas fábricas de con- seus sistemas produtivos. De acordo com
creto que dominam a produção suína ame- a Organização das Nações Unidas para Ali-
ricana. Os animais de Willis não só têm a mentos e Agricultura (FAO), a Ásia possui
oportunidade de exibir seus comportamen- o setor pecuário de maior desenvolvimen-
tos naturais e instintivos, como fuçar por to, depois da América Latina e Caribe.16
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global, nacional e regional”. A recente epi- menos carne, é pouco provável que os
demia de aftosa no Reino Unido é um exem- grãos não-utilizados cheguem a bocas fa-
plo perfeito de como umas poucas vacas mintas, mas significa efetivamente que ha-
podem disseminar a doença através de uma verá consideravelmente menor pressão so-
nação inteira.22 bre terras agrícolas para cultivar gigantes-
Além das quebras na segurança alimen- cas monoculturas de milho e soja.24
tar, nutricionistas constatarem que o gado A reversão dos problemas de saúde e
alimentado com grãos não é tão sadio quan- ambientais causados por nosso apetite por
to o alimentado com capim. Animais con- carne moderna significará consumir me-
finados acumulam ácidos graxos Ômega 6 nos produtos animais. Animais criados em
(a má gordura), que estão ligados ao cân- pastos não se desenvolvem com a mesma
cer, diabetes, obesidade e distúrbios velocidade que os animais confinados, e as
imunológicos. Em contraste, a carne ali- pastagens sustentarão menos animais do
mentada a pasto contém ácidos graxos que podem ser espremidos em confi-
Ômega 3, como aqueles encontrados em namentos. Mas a demanda pela carne está
peixes gordurosos, que ajudam a reduzir o crescendo, especialmente no mundo em
colesterol. Além disso, produtos alimenta- desenvolvimento, onde o aumento da ren-
dos a pasto têm níveis mais altos de ácido da e desenvolvimento urbano estão mudan-
limoléico conjugado, que pode bloquear o do os hábitos alimentares. De acordo com
desenvolvimento de tumores e reduzir o David Brubaker, ex-vice-presidente execu-
risco de obesidade e outras doenças.23 tivo e presidente do Conselho da PennAg
Essas razões de saúde motivaram mui- Industries, as pessoas nas nações em de-
tas pessoas a preferirem carnes alimenta- senvolvimento não têm o luxo da escolha
das a pasto, sem antibióticos, hormônios entre carnes alimentadas a pasto ou orgâ-
ou qualquer outro insumo utilizado em fa- nicas. Em vez disso, galgam a escada
zendas industriais. Mas as pessoas que li- protéica e seguem o mau exemplo de pro-
mitaram seu consumo de carne podem tam- duzir e consumir produtos animais de bai-
bém estar interessadas nas implicações eco- xa qualidade impostos pelos Estados Uni-
lógicas de retornar os animais ao pasto. De dos e outros nações de fast-food. Coibir
acordo com o cientista canadense Vaclav esse apetite significará encorajar as nações
Smil, alimentar os animais com grãos é em desenvolvimento a preservarem os
“altamente ineficiente e um uso absurdo de métodos tradicionais de criação de gado,
recursos”. A produção de apenas uma ca- que tanto sustentam as economias locais
loria de carne – bovina, suína ou aviária – como enriquecem o meio ambiente.25
requer 11–17 calorias de ração, conforme Os insumos ineficientes das fazendas
Smil, enquanto animais criados em pastos industriais são espelhados nos produtos
quase não precisam de grãos. Conseqüen- ineficientes em termos de dejetos. Quando
temente, uma dieta com alto teor de carne dejetos do gado são utilizados para adubar
alimentada a grãos poderá exigir duas a lavouras, enriquece o solo e é a parte es-
quatro vezes mais terra do que uma dieta sencial de uma fazenda sadia – uma das
vegetariana. Quando as pessoas comem razões principais de os agricultores em todo
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o mundo criarem animais. Todavia, o dejeto galpões. Também achou um nicho no mer-
produzido por milhares de animais em cado filipino ao oferecer aos consumido-
confinamento geralmente excede a área de res o gosto de antes. Suas galinhas são parte
terra disponível para manejá-lo. Assim, o nativas e parte Sasso (uma raça francesa),
esterco transforma-se de valioso recurso mais adaptadas ao clima das Filipinas, con-
agrícola para resíduo tóxico. O esterco trariamente às brancas, que se ressentem
contém nitratos, que em altas concentra- do calor. As galinhas de Inocêncio não são
ções podem causar metemoglobinemia apenas criadas sem agressividade, mas são
(síndrome do bebê azul), câncer, flores- nutritivas e de bom sabor. Têm apenas 5%
cência de algas e eutrofização de águas de gordura, em comparação a 35% das
superficiais. As lagoas utilizadas para ar- brancas, e não contêm antibióticos.27
mazenar resíduos líquidos também são A criação de espaço e mercado para
vulneráveis a desastres naturais, como acon- esses tipos de granjas requer, às vezes,
teceu na Carolina do Norte, quando rom- mais do que ações dos produtores. Na
peram durante o Furacão Floyd, em 1999, Polônia, onde quase todas as granjas cri-
poluindo quilômetros de cursos d’água com am alguns porcos alimentados a capim ou
excremento e causando uma mortandade feno, grandes corporações de carne já
maciça de peixes.26 começaram a instalar-se. Animex, a sub-
Agricultores que começam a ter uma sidiária polonesa da Smithfield, o maior
percepção diferente do papel dos animais produtor mundial de carne suína, tem pla-
freqüentemente usufruem uma série de nos de transformar parte das terras pro-
benefícios inesperados. Nas Filipinas, dutivas mais ricas do país em áreas de
Bobby Inocêncio mudou a forma de mui- confinamento animal (ACAs), como as
tos filipinos produzirem e consumirem fran- que ponteiam as paisagens dos estados de
go. Anteriormente um produtor industrial, Carolina do Norte e Iowa, nos Estados
Inocêncio criou frangos brancos para Pure Unidos. Todavia, ativistas do Animal
Foods, uma das maiores empresas das Fi- Welfare Institute, dos Estados Unidos,
lipinas, seguindo o modelo padrão de es- uniram-se a Andrzej Lepper, diretor do
premer dezenas de milhares de aves em Sindicado dos Fazendeiros da Polônia, em
galpões apinhados de gaiolas. Mas em 1997 oposição à tentativa da Smithfield de as-
ele decidiu revitalizar empreendimentos sumir a indústria suína polonesa. Ao de-
avícolas locais que sustentam fazendas fa- monstrar aos produtores poloneses como
miliares. Começou a criar galinhas caipiras as ACAS destruíram muitas fazendas pe-
e a ensinar a outros criadores como fazer quenas de gado nos Estados Unidos, es-
o mesmo. Suas aves circulam livremente peram convencê-los, e ao governo polo-
em áreas arborizadas em sua propriedade, nês, a resistir à agricultura corporativa.28
cercadas com redes de pesca recicladas. E Essas coalizões estão motivando algu-
sua fazenda é lucrativa – em parte, porque mas corporações a mudarem seus concei-
seus custos por ave são sensivelmente tos sobre como a carne é produzida. Em
menores: nenhum antibiótico, promotores 2002, cedendo à pressão de grupos de di-
de crescimento, rações caras ou imensos reitos animais e saúde pública, a McDonald’s
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anunciou que não mais compraria ovos de nível aceitável. Desde os anos 50, o Minis-
frangos confinados e forçados à postura de tério de Agricultura e o Ministério de Pro-
ovos adicionais por inanição – práticas já teção Ambiental da Lituânia vêm esforçan-
proibidas na Europa, mas ainda permitidas do-se para reduzir as taxas de aplicações
nos Estados Unidos. Em 2004, a McDonald’s de fertilizantes e pesticidas na região norte
exigirá que seus fornecedores não utilizem de Karst, epicentro agrícola do país, onde
antibióticos para promover o crescimento e a água subterrânea tinha tornado-se alta-
dará preferência a fornecedores indiretos que mente contaminada. E em 1993 começa-
não os utilizem.29 ram a encorajar os agricultores a abrirem
Uma vez que a McDonald’s é um dos mão de produtos químicos.31
maiores compradores de frango dos Estados Ofereceram aulas de produção orgâni-
Unidos, a decisão da empresa de mudar seus ca, prestaram apoio técnico no campo e re-
padrões terá um efeito dominó em toda a in- muneraram os agricultores nos primeiros
dústria de carne. Wendy’s, Burger King e anos de conversão. O programa cresceu de
Kentucky Fried Chicken contrataram recen- 9 fazendas com certificação orgânica em
temente especialistas em bem-estar animal 1993 para 106 em 1998, e depois para 290
para pesquisarem e desenvolverem novos em 2001, cobrindo 6.469 hectares, junta-
padrões, a fim de assegurar melhor bem-es- mente com 8 empresas de processamento
tar animal. O Banco Mundial também mudou orgânico certificadas e 11 outras empresas
seus critérios de financiamento de projetos com certificação orgânica. Esse setor ainda
representa uma pequena fração da área e
pecuários de porte nas nações em desenvol-
mercado totais do país. Não obstante, as
vimento. Em 2001, o Banco declarou que à
taxas de contaminação da água subterrânea
medida que o setor cresce “há um perigo sig-
nas comunidades vizinhas às fazendas con-
nificativo de exclusão dos mais pobres, ero- vertidas caíram substancialmente, e a po-
são do meio ambiente e ameaça à segurança pulação local desfruta uma nova fonte de
alimentar global”. Prometeu adotar uma alimentação, livre de produtos químicos.32
“abordagem focada nas pessoas” para proje- Outras regiões em todo o mundo tam-
tos de desenvolvimento pecuário que redu- bém utilizam a agricultura orgânica para
zam a pobreza, protejam a sustentabilidade evitar a poluição da água subterrânea.
ambiental, assegurem segurança alimentar e Desde 1992, autoridades municipais em
promovam o bem-estar animal.30 Munique e Leipzig vêm oferecendo incen-
tivos financeiros a agricultores que ado-
Alimentos sem Poluição tem métodos orgânicos, tendo constata-
do a queda dos níveis de nitrato na água
Há apenas poucos anos, beber água na subterrânea não-tratada de mais de 40
Lituânia era um risco de saúde pública. Em miligramas por litro, nos anos 80, para
algumas regiões as concentrações de ni- menos de 26 miligramas em 1996. As con-
trato, um subproduto de fertilizantes, ve- cessionárias nessas cidades alemãs não
nenoso em altas doses, estavam muito aci- apenas remuneram e prestam consultoria:
ma dos limites de segurança – seis vezes o a empresa de água de Munique assessora
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a mesma lavoura a cada ano, dificultando a tudos demonstraram que a agricultura or-
competição com outras fazendas na pro- gânica pode ser igualmente produtiva e,
dução total de uma única cultura. Mas es- geralmente, mais lucrativa.37
Estados Unidos
(US$ 11 bilhões)
Alemanha (US$ 2,8 bilhões)
Milhões de hectares
12
Fonte: IFOAM
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gião por milhares de anos. Nesse caso, as Nos Estados Unidos, o item alimentar co-
pessoas não estão apenas pagando pelo mum viaja 2.500–4.000 quilômetros, cer-
valor nutricional, segundo Alejandro ca de 25% mais longe do que em 1980. No
Argumedo, da Andes, mas também “para Reino Unido, os alimentos viajam 50% mais
preservar o manejo espiritual das culturas longe do que há duas décadas. Uma refei-
montanhesas, das culturas planaltinas e ção “tradicional” domingueira na Grã-
das variedades indígenas que proporcio- Bretanha, feita com ingredientes importa-
nam melhor nutrição”. A Andes planeja dos, gera quase 650 vezes as emissões de
abrir um restaurante em Cuzco que se es- carbono relacionadas aos transportes que
pecializaria em alimentos regionais.48 a mesma refeição feita com ingredientes
O movimento para a preservação de produzidos localmente. (Vide Figura 4-4.)
fazendas, terras agrícolas e culinária está Como resultado, as pessoas que consomem
evoluindo numa ocasião em que os alimen- produtos locais podem ajudar a poupar
tos viajam mais e são controlados por um grandes quantidades de energia, reduzir as
número extremamente pequeno de entida- emissões de gás de estufa, conservar o di-
des globais. O valor do comércio interna- nheiro em suas comunidades e ganhar uma
cional de alimentos triplicou a partir de certa paz de espírito, que vem de conhecer
1960, tendo seu volume quadruplicado. seus produtores.49
Brócolis Batatas
8.780 km 2.447 km
GUATEMALA ITÁLIA
Mirtilo Britânicos
48 km Vagem
18.835 km
9.532 km
NOVA ZELÂNDIA
TAILÂNDIA
Quartos de Reses
Cenouras
21.462 km
9.620 km
AUSTRÁLIA
ÁFRICA DO SUL
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Uma boa regra empírica é que quanto agricultores criaram basicamente o que
mais um alimento viaja, menor é o valor chamamos de ‘Zonas de Liberdade’, ou
retido pelo produtor e a comunidade rural. seja, culturas livres de agrotóxicos, livres
O transporte, embalagem, processamento de insumos corporativos, livres de se-
e intermediação do alimento engole parce- mentes híbridas, livres no futuro de pa-
las cada vez maiores do preço final. Esse tentes e lavouras transgênicas”. Traba-
vazamento de dinheiro das comunidades – lhando com organizações de produtores,
e a capacidade dos alimentos locais de aju- grupos femininos e religiosos, Navdanya
dar a estancá-lo – pode ser particularmen- implantou mais de 20 bancos de semen-
te relevante onde as pessoas ainda estejam tes em sete estados. Organizadores do
engajadas na agricultura. Um estudo da movimento calculam que atendem a mais
New Economics Foundation, em Londres, de 10.000 produtores e resgataram mais
constatou que cada £10 gastas em um es- de 1.500 variedades de arroz, centenas
tabelecimento local vale £25 para a comu- de variedades de painços, leguminosas,
nidade, comparado com apenas £14 quan- oleaginosas e legumes.51
do o mesmo valor é gasto num supermer- Diversidades agrícolas locais podem
cado – ou seja, uma libra, dólar, peso ou suprir tudo que houver para comer em
rúpia gasto localmente gera quase o dobro muitas das nações mais pobres, onde as
de renda para a economia local.50 pessoas não têm condições de adquirir ali-
Esse multiplicador é parte da motiva- mentos importados. Em Zimbábue, agri-
ção por trás do movimento Navdanya cultores urbanos encontraram um merca-
(Nove Sementes), da Índia, fundado em do para legumes indígenas nos morado-
1987 pela Fundação de Pesquisa para a res das cidades que almejam um elo
Ciência, Tecnologia e Ecologia, destina- gastronômico com a identidade cultural do
da a proteger variedades locais de trigo, seu país. As famílias dependem de apro-
arroz e outras culturas contra patentes, ximadamente 25 legumes indígenas, inclu-
catalogando-as e declarando-as como indo quiabo, cleome, pepino e cabaça, que
propriedade comum. “Iniciamos o movi- proporcionam uma fonte de legumes
mento como precaução contra a engenha- folhosos, altamente nutritivos, de agosto
ria genética e monopólios de patentes a dezembro – época característica de es-
agrícolas”, explicou o ativista e cientista cassez –, dando aos pobres tanto uma fon-
indiano Vandana Shiva, que dirige te de renda como de nutrição. O Instituto
Navdanya, “e também para incrementar de Criação de Lavouras está ajudando os
as economias locais”. Navdanya come- agricultores no cultivo de suas lavouras
çou implantando bancos de sementes lo- distribuindo sementes e desenvolvendo
cais, lojas de suprimentos agrícolas e ins- tecnologias de processamento e preserva-
talações de armazenagem, encorajando ção. Os governos também podem enco-
uma mudança para agricultura orgânica, rajar economias agrícolas domésticas atra-
a fim de reduzir a dependência de produ- vés de programas de aquisição que levem
tos químicos importados. “Neste momen- produtos locais a repartições públicas,
to temos mais de 3.000 vilarejos onde os hospitais e escolas.52
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CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO
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CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO
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CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO
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CONTROLANDO NOSSA ALIMENTAÇÃO
AT R Á S D O S B A S T I D O R E S
Água Engarrafada
A próxima vez que você for ao águas estejam protegidas da
supermercado local, poderá poluição, pode ocorrer
surpreender-se com a incidência de bactérias
variedade de escolha de água naturais, uma vez que a
engarrafada, desde marcas água não é desinfetada.
nobres como Perrier e Evian Ainda que os
até as populares, engarrafadas engarrafadores
pelo próprio supermercado. precavenham-se, a
Mundialmente, o consumo de contaminação é sempre
água engarrafada está possível, como ocorreu, em
crescendo a uma taxa anual de 1990, com o recall mundial da
12%, embora em mercados mais novos, Perrier, devido aos altos níveis de benzeno.2
como a Índia, esteja aumentando em até Nos Estados Unidos, a Food and Drug
50% anualmente. Consumidores em todo o Administration (agência norte-americana para
mundo gastam hoje cerca de US$ 35 bilhões o controle de drogas e alimentos) define água
anuais em água engarrafada.1 mineral natural como a que contém 250 ppm
Embora o conteúdo possa parecer igual (partes por milhão) de sólidos totais
por toda parte, água engarrafada é dissolvidos e é originária de uma nascente
essencialmente apresentada de três formas subterrânea protegida. A água de fonte, por
diferentes: água mineral natural, água de outro lado, não precisa ter uma composição
fonte e água purificada. De acordo com a invariável de minerais e é, usualmente, mais
definição da União Européia, “água mineral barata. A água purificada, também chamada
natural é considerada como sendo de água potável, é retirada de lagos, rios ou
bacteriologicamente pura, tendo por origem fontes subterrâneas e é tratada – tornando-se
um lençol de água ou um depósito quase idêntica à água da torneira. 3
subterrâneo e proveniente de uma nascente, A popularidade disparada da água
explorada através de um ou mais pontos engarrafada decorre de várias razões. Na
naturais ou perfurados”. Na Europa, a Ásia e Pacífico, o crescimento populacional
reputação da água mineral como benéfica à e problemas com a qualidade e
saúde remonta ao Império Romano. abastecimento da água são as mais
Entretanto, os benefícios reais desses importantes. (De modo geral, 1,5 bilhão de
minerais são, atualmente, tidos como pessoas em todo o mundo não têm acesso a
mínimos. Embora as nascentes dessas água potável, e 12 milhões de pessoas
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Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: ÁGUA ENGARRAFADA
morrem anualmente por doenças veiculadas combustíveis fósseis no seu transporte por
por água insalubre). Embalagens de grande caminhão, trem ou navio, em vez de adutora.
volume tornaram a água engarrafada mais O Fundo Mundial para a Natureza, embora
acessível na Índia e nos Estados Unidos e observando que 75% da água engarrafada é
em muitos outros países no início dos anos produzida para consumo local, argumenta
90. E, motivados pela propaganda, muitos que as companhias internacionais deveriam
consumidores compram água engarrafada investir em engarrafadoras para o mercado
como uma alternativa a refrigerantes e local e transportar a água engarrafada em
álcool, porque é considerada mais saudável embalagens de grande volume. Mesmo
do que a água da torneira, e particularmente assim, isso seria mais ineficiente do que os
na França, porque tem melhor sabor.4 sistemas públicos de água potável.7
Porém, muitos estão preocupados com Um dos maiores problemas
os custos ambientais da produção da água enfrentados pela água engarrafada é o
engarrafada. Uma preocupação maior é que refugo plástico. Conforme o Container
a demanda crescente por água possa Recycling Institute, cerca de 14 bilhões de
estressar os recursos aqüíferos existentes. garrafas de água foram vendidos nos
Nos últimos anos, muitas companhias Estados Unidos em 2002, 90% das quais
internacionais de bebidas vêm explorando foram jogadas no lixo – mesmo que a
os abundantes mananciais do Canadá como maioria delas tenha sido feita com plástico
fonte de água engarrafada. Numa medida de PET reciclável. Em junho de 2003, o
prevenção, muitas províncias canadenses Conselho de Controle da Poluição, da
proibiram, ou estão considerando proibir, a Bengala Ocidental, na Índia, determinou
exportação de água a granel.5 que os fabricantes de garrafas fossem
O Container Recycling Institute relata responsabilizados pela coleta e reciclagem
que as vendas de resina virgem (tereftalato de garrafas usadas. Regulamentações
de polietileno – PET), o plástico mais usado eficazes promovendo a reciclagem de
nas garrafas de água, dispararam para 738 garrafa existem também na Áustria,
milhões de quilos em 1999, mais do que o Bélgica, Canadá, Dinamarca, Finlândia,
dobro do volume de 1990. A produção de 1 Alemanha, Holanda, Noruega, Suécia,
quilo de plástico PET requer 17,5 kg de água Suíça e 11 estados dos Estados Unidos.8
e resulta em emissões atmosféricas de 40 Os americanos dizem que a razão
gramas de hidrocarbonos, 25 gramas de principal de eles beberem água
óxidos sulfúricos, 18 gramas de monóxido engarrafada é por ser mais segura do que
de carbono, 20 gramas de óxido de a água da torneira. Mas um estudo
nitrogênio e 2,3 kg de dióxido de carbono. quadrienal do Conselho de Defesa dos
Só em termos de uso de água, a quantidade Recursos Naturais testou mil garrafas
gasta na fabricação das garrafas é muitas vendidas nos Estados Unidos e detectou
vezes maior do que a quantidade a ser que um quinto continha produtos
engarrafada.6 químicos tais como tolueno, xileno ou
E no que concerne à distribuição, a estireno – tidos como, ou com
grande diferença entre a água engarrafada e possibilidade de serem, cancerígenos – e
a água da torneira provém da queima de neurotoxinas. Na Índia, testes realizados
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Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: ÁGUA ENGARRAFADA
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Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: FRANGOS
AT R Á S D O S B A S T I D O R E S
Frangos
A maior parte das são os frangos de corte) –
galinhas tem dois aproximadamente a metade
destinos: são criadas do tamanho de um campo
para pôr ovos de futebol americano.
(poedeiras) ou Cada galpão pode acomodar
unicamente pela carne mais de 90.000 frangos; uma vez
(frango de corte). que a criação de frangos tornou-se
Começam sua jornada ao um negócio altamente tecnológico: um
longo da cadeia alimentícia fazendeiro pode, normalmente, administrar
industrial nas granjas de um galpão inteiro com pouca mão-de-obra.
propriedade da Tyson Foods, Perdue Embora muitos desses fazendeiros sejam
Chicken, ou qualquer outra empresa de proprietários de terra e arquem com a maior
agronegócio. Lá, os ovos são conservados parte do risco financeiro, estes não são
aquecidos por incubadoras cuidadosamente donos dos pintos que cuidam. Do início ao
controladas.Os criadores providenciam que fim, os pintos são propriedade da empresa.
todos os pintos saiam do ovo quase ao O galpão custa cerca de US$ 250.000, mais
mesmo tempo, pela inseminação artificial outros US$ 200.000 pelos equipamentos
das matrizes. Após a saída do ovo, os para seu funcionamento; juntando os
pintos destinados a poedeiras entram em frangos, ração e outras despesas gerais, os
contato com seres humanos pela primeira e, custos iniciais nos países industriais
muitas vezes, única vez. Com um dia de chegam a US$ 1 milhão no mínimo.2
nascidos, os operários selecionam as Uma vez na fazenda, cada poedeira é
fêmeas, jogando os machos em grandes colocada numa bateria de gaiolas de arame
recipientes. Esses infelizes pintos são com outras nove aves. Essas poedeiras
moídos (às vezes, ainda vivos), para uso produzirão, cada uma, cerca de 300 ovos por
como fertilizantes ou ração animal.1 ano – mais de três vezes o que as mesmas
As fêmeas são enfileiradas numa linha galinhas punham um século atrás, graças à
de montagem e debicadas, dolorosamente, manipulação genética e drogas de
com lâminas quentes. Após 18–20 semanas, crescimento misturadas ao alimento. As
são enviadas para criadores contratados galinhas também são induzidas a pôr mais
(juntamente com a ração, antibióticos e ovos pela iluminação artificial contínua.
outros insumos). As poedeiras são Suas gaiolas, empilhadas umas sobre as
abrigadas em galpões de 18 m x 110 m (como outras e cobertas de fezes, permitem pouco
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Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: FRANGOS
movimento. Elas assustam-se facilmente, que 37% dos frangos destinados ao corte,
porque raramente têm qualquer contato encontrados nos principais fornecedores,
humano. Geralmente, as únicas aves que os estavam contaminados com patógenos
produtores entram em contato são aquelas resistentes a antibiótico.) Freqüentemente,
que, de algum modo, escaparam da gaiola esses frangos ganham peso com tanta
ou morreram de estresse.3 rapidez que não podem manter-se em pé. Os
Não é de estranhar que galinhas frangos criados em fazendas industriais
criadas nessas condições sejam mais muitas vezes manquejam, e muitos morrem
vulneráveis e morram mais cedo do que de ataque cardíaco, porque seus corações
as galinhas criadas da maneira não são fortes o bastante para suportar
tradicional. De fato, em torno de um ano, seus corpos desproporcionais. 6
mais ou menos, a maior parte das Quando estão pesando cerca de 2 kg, os
galinhas está tão desgastada que sua frangos de corte são arrebanhados por
produção de ovos diminui. Os operários (“pegadores”), estufados em
produtores costumavam enviá-las para gaiolas e levados para fábricas de
serem processadas em alimento para cães processamento. Operários separam, cortam
e gatos, nuggets e mesmo alimento e pesam os frangos para distribuição em
infantil. Mas em alguns lugares elas são mercearias e restaurantes. Envoltas em
abatidas na fazenda ou enviadas para plásticos, as sobrecoxas, asas e coxas
mercados de animais vivos, onde a carne pouco assemelham-se ao animal vivo.
de aves no fim de sua vida poedeira Algumas embalagens trazem um aviso aos
ainda é valorizada pelo seu sabor.4 consumidores para cozinharem bem o
Os frangos de corte têm uma vida ainda frango, a fim de evitar que a carne, muitas
mais curta. Embora não sejam mantidos em vezes contaminada com fezes, transmita
gaiolas individuais, são apinhados em doenças, tais como Escherichia coli e
compartimentos com pouco espaço – cada Salmonella, comuns em ambientes de
um tem cerca de 22 cm x 22 cm. Tais aves criação industrial.7
não são expostas à luz natural ou ar fresco e Porém, nem todos os fazendeiros estão
têm dias artificialmente longos, porque os criando galinhas industrialmente. Conforme
compartimentos, sem janelas, são a Organização para Alimentos e Agricultura
iluminados até 23 horas por dia.5 das Nações Unidas (FAO), galinhas de
Esses frangos comem, diariamente, cerca quintal e caipiras chegam a representar
de 0,86 kg de ração especialmente 70% da produção de ovos e carne em
formulada, podendo conter antibióticos e alguns dos países mais pobres. Essas
estimuladores do crescimento. Embora os galinhas não somente fornecem alimento,
frangos sejam eficientes na conversão de como são, também, fonte de segurança
grãos em proteína, as condições em que são econômica. Como declara Robyn Alders, da
criados os tornam vulneráveis a doenças FAO, os fazendeiros podem usá-las como
respiratórias. Assim, os produtores vêm, há um tipo de “cartão de crédito, disponível a
muito, adicionando antibióticos cada momento, para venda ou troca em
semelhantes aos usados para tratar doenças sociedades em que o dinheiro não é
humanas. (Em 2002, um estudo averiguou abundante”. Elas são também uma fonte
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Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: FRANGOS
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Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: FRANGOS
AT R Á S D O S B A S T I D O R E S
Chocolate
A próxima vez que você provar uma produção aumentou
barra de chocolate pense neste substancialmente nas
gosto como uma referência a últimas décadas,
algumas das florestas crescendo quase um
mais ameaçadas do quarto desde 1990..2
mundo – e nos Uma vez que os
milhões de cacaueiros necessitam de um
fazendeiros que vivem suprimento abundante e
perto delas. O chocolate constante de água, só pode ser
provém das sementes de uma cultivado comercialmente em biomas de
pequena árvore de floresta tropical, o cacau floresta tropical. Esta limitação é uma
(Theobroma cacao). O cacau é nativo do espécie de bênção econômica: seja qual for
norte da América do Sul e talvez também do o valor que o cacau agrega às áreas de
sul da América Central. Seu fruto tem o floresta tropical, este não pode ser reduzido
tamanho aproximado de um melão pequeno se tal fruto for cultivado em outro lugar. Isso
e é recheado com essas sementes – as tem também grande importância para a
amêndoas de cacau. Elas são processadas conservação porque todas as principais
de vários modos para fabricação de licor de áreas de cacau – no Caribe, América Central
cacau, manteiga de cacau e chocolate.1 e do Sul, arquipélago indonésio-malaio e
O cacau é cultivado comercialmente em África Ocidental – são “hotspots de
quase 60 países, mas a produção está biodiversidade”. Estas são regiões que
concentrada em apenas alguns deles. foram identificadas como prioritárias para a
Costa do Marfim, o maior produtor conservação global por serem
mundial, produziu cerca de 35% da extraordinariamente ricas em biodiversidade
colheita mundial de amêndoa de cacau em e altamente ameaçadas. O cacau é uma
2002, abaixo de seu pico de 41%, em 1999 lavoura hotspot.3
e 2001. Os cinco maiores produtores, em O cacaueiro requer sombra, podendo
2002 – Costa do Marfim, Gana, Indonésia, crescer sob a cobertura da floresta. Nas
Nigéria e Brasil – representaram 79% da áreas de floresta tropical, a agricultura
produção global. Atualmente, as geralmente substitui a floresta, mas o cacau
plantações de cacau cobrem mais de permite que os fazendeiros ganhem dinheiro
70.000 km2 em todo o mundo, uma área um sob as árvores – ou pelo menos sob
pouco maior do que a Irlanda. A área de algumas árvores. (Colheitas razoáveis
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Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: CHOCOLATE
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ATRÁS DOS BASTIDORES: CHOCOLATE
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ATRÁS DOS BASTIDORES: CAMARÕES
AT R Á S D O S B A S T I D O R E S
Camarões
Há muito, camarões Nos fins dos anos 90,
têm constado nos os Estados Unidos
cardápios de ultrapassaram o
populações costeiras. Japão como o
Pinturas nas tumbas cliente principal
do antigo Egito retratam do mercado de
cenas de pescadores retirando camarões do camarão, com as
Nilo. E por séculos produtores do sudeste importações
asiático mantêm camarões nativos anuais alcançando 300.000 toneladas.
confinados em lagoas litorâneas para uma Na verdade, em 2001 o camarão havia
coleta fácil.1 substituído o atum enlatado como a primeira
Hoje, a multibilionária indústria de escolha em frutos do mar nos pratos
camarão pouco assemelha-se à pesca do americanos. Entretanto, os japoneses
camarão de outrora. Por uma razão, esse continuam encabeçando o consumo per
pequeno crustáceo de muitas pernas não é capita, apesar do recuo da economia, que
mais uma iguaria usufruída principalmente ajudou a diminuir o consumo anual de
por quem vive perto da fonte. Hoje, camarão para menos de 3 kg por pessoa.4
quantidades imensas de camarões são Partindo de um início modesto há
produzidas no mundo em desenvolvimento poucas décadas, a indústria do camarão
para consumo no Japão, Estados Unidos e tornou-se uma das mais lucrativas
Europa Ocidental. A produção de camarão atividades pesqueiras do mundo. Estados
não é mais um negócio pequeno: em 2001, Unidos e Japão, sozinhos, importaram um
mais de 4,2 milhões de toneladas de volume equivalente a US$ 7 bilhões em
camarões entraram no mercado mundial.2 2000. No entanto, essa indústria é também
A China produz mais camarão que uma das mais destrutivas.
qualquer outro país: mais de 1,2 milhão de Aproximadamente, três quartos do camarão
toneladas em 2000, mais do dobro do seu no mercado são pescados imoderadamente
total em uma década antes e três vezes mais – principalmente por barcos de pesca
do que seus concorrentes mais próximos – puxando imensas redes cônicas (arrasto)
Índia, Tailândia e Indonésia. Porém, o sobre estuários, baías e plataformas
grosso da pesca chinesa permanece no país. continentais. As traineiras varrem o leito do
A honra do primeiro lugar na exportação de mar de forma semelhante a uma derrubada
camarão fica com a Tailândia.3 de mata – destruindo o habitat e escavando
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Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: CAMARÕES
o que esteja no caminho das redes. Esse extirpados. Os manguezais têm muitas
método arrasa alguns dos pontos mais funções, servindo como local de procriação
biologicamente produtivos dentro do e habitat a muitas espécies (inclusive
ecossistema marinho.5 proporcionando criatórios para 85% das
A pesca do camarão, como é praticada espécies comerciais de peixes tropicais),
atualmente, não é apenas destrutiva, mas funcionando como filtro da água e
também incrivelmente inconseqüente. oferecendo proteção vital contra a erosão
Tartarugas, peixes e outras espécies do litoral e tempestades tropicais violentas.
marinhas arrastadas nas redes são Quase um quarto dos manguezais
consideradas “pesca indesejada”, não- remanescentes do mundo foi destruído nas
lucrativa, e geralmente são jogados – últimas duas décadas, na maior parte para
mortos – de volta ao mar. Em áreas dar lugar a fazendas de camarão.8
temperadas, a relação da pesca indesejada Uma série de abusos de direitos
para o camarão é de 5:1. Nos trópicos, essa humanos tem acompanhado a grave
relação chega a 10:1, e é mais alta em alguns degradação ambiental da cultura do
pesqueiros. No total, a pesca do camarão é camarão, ao tempo em que poderosos
responsável por um terço da pesca interesses dos criadores chocam-se com os
descartada no mundo, enquanto produz habitantes locais prejudicados pela
menos de 2% do pescado mundial.6 atividade. Caracteristicamente, investidores
Nos anos 80, novas tecnologias domésticos e estrangeiros, com pouco ou
inovadoras provocaram um incremento na nenhum laço com as comunidades locais,
aqüicultura do camarão, suplementando a entram para implantar as fazendas
captura oceânica. Em 1989, criatórios de destruindo, no processo, recursos vitais,
camarões floresceram ao longo do litoral esgotando meios de vida e deixando a
tropical em todo o mundo e produziram um população desamparada. Confisco de terra,
quarto da safra mundial de camarões. Desde intimidação violenta de pescadores locais e
então, a participação de mercado do até assassinatos são muito comuns.9
camarão cultivado estabilizou-se, com seu O físico e advogado ambiental indiano
crescimento prejudicado, em parte, por Vandana Shiva fez uma estimativa de que,
surtos de doenças disseminadas em em média, uma fazenda de camarão cria
criatórios densamente povoados.7 talvez 15 empregos na fazenda e 50
A aqüicultura de camarão não é mais empregos em segurança ao redor da
benigna, ecologicamente, do que a captura fazenda, enquanto desloca 50.000 pessoas
natural. Uma fazenda típica de camarão pela perda da terra e abandono da
produz quantidades copiosas de lixo, agricultura e pesca tradicionais. Um
altamente tóxico. Produtos químicos e pescador filipino lamentava: “O camarão
fertilizantes utilizados nas fazendas escoam vive melhor do que nós. Eles têm
para manguezais e estuários, enquanto eletricidade, mas nós não. O camarão tem
criadores jogam grande quantidade de lixo água limpa, nós não. O camarão tem muita
diretamente no oceano. comida, e nós passamos fome”.10
Onde são instaladas fazendas de A indústria de camarão tem um longo
camarão, os manguezais nativos são caminho a percorrer antes que possa ser
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ATRÁS DOS BASTIDORES: CAMARÕES
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Estado do Mundo 2004
ATRÁS DOS BASTIDORES: CAMARÕES
AT R Á S D O S B A S T I D O R E S
Refrigerantes
Os refrigerantes, com sua 2003, a licença de funcionamento de
doçura decadente, provaram uma fábrica da Coca-Cola depois de
ser donos de um apelo universal. reclamações dos habitantes sobre
Em 2002, as pessoas beberam 185 poços secando, piora da
bilhões de litros de refrigerante, qualidade da água restante
constituindo-se a terceira e liberação de efluentes
bebida comercial mais popular tóxicos. Porém, após
do mundo, depois do chá e do pressão da Coca-Cola
leite. No entanto, Company, um dos
diferentemente dos dois, o maiores investidores
refrigerante é uma mistura estrangeiros na economia
complexa de ingredientes, incluindo indiana, o governo nacional está
água, adoçantes, dióxido de carbono, dúzias considerando a revogação dessa medida.
de sabores naturais e artificiais e Mais recentemente surgiram novos
freqüentemente cafeína. Toda essa mistura é problemas para as companhias de
cuidadosamente acondicionada em garrafas refrigerantes na Índia, quando cientistas do
e latas atraentes, comercializada e grupo ambientalista Centre for Science and
distribuída, para a delícia de consumidores the Environment detectaram pesticidas nas
em quase todos os países do mundo.1 principais marcas de refrigerante em todo o
A água é o principal ingrediente do país – uma descoberta mais tarde
refrigerante e é também vital para o confirmada pelo governo.2
processamento de seus outros ingredientes Os refrigerantes devem muito do seu
e materiais de embalagem. As instalações de gosto, textura e todas suas calorias à
uma engarrafadora média produz mais de generosa dose de adoçantes. Um lata média
300.000 litros de bebida diariamente – um de refrigerante comum, 355 mililitros, tem 38
processo que requer até 1,5 milhão de litros gramas (ou 150 calorias) de adoçantes
de água, o bastante para atender às adicionados. Ao tempo em que contribuem
necessidades mínimas de pelo menos 20.000 para a cárie dentária, os adoçantes
pessoas. Na verdade, em algumas áreas com substituem alimentos mais saudáveis ou,
estresse hídrico, engarrafadoras entraram quando consumidos conjuntamente com a
em conflito com comunidades locais. Em dieta costumeira, aumenta a ingestão
Plachimada, na Índia, por exemplo, as calórica total. Assim a adição de açúcares
autoridades locais revogaram, em abril de pode levar à deficiência de nutrientes ou
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ATRÁS DOS BASTIDORES: REFRIGERANTES
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ATRÁS DOS BASTIDORES: REFRIGERANTES
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Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA
CAPÍTULO 5
Em 1895, o caixeiro viajante King Camp do tempo daquele conceito introduzido por
Gillette teve a idéia de vender lâminas de Gillette e seus contemporâneos.2
barbear descartáveis – um produto que os
consumidores teriam que comprar cons- Consumo como
tantemente. As vendas logo dispararam,
atingindo mais de 70 milhões em 1915, ten-
Meio de Vida
do a Gillette hoje transformado-se numa
Os avanços tecnológicos do último século
empresa com um faturamento anual de US$
tornaram possível “produzir mais que a de-
10 bilhões. O que começou como um veí-
manda e oferecer mais que o necessário”,
culo de alto lucro para um comerciante
assegurar um fluxo inesgotável de vendas como observou o jornalista Edward Rothstein
transformou-se num conceito amplamente recentemente no New York Times. Cresci-
adotado – a obsolescência programada.1 mento econômico infindável, motivado pelo
Pulando para o presente: em meados de consumo descontrolado, tem sido elevado
2003, a Walt Disney anunciou que iria, em ao status de religião moderna. Isso é tanto
breve, testar no mercado um novo DVD, um objetivo de executivos corporativos,
destinado a substituir os videodiscos e cas- desejosos de manter acionistas felizes, como
setes de locadoras e que deixam de funcio- é uma meta de líderes políticos com um olho
nar após um tempo predeterminado. A aber- na vitória nas próximas eleições.3
tura da embalagem hermeticamente fecha- Deixando de lado se posse material e fe-
da dispara uma contagem regressiva quí- licidade humana trilham o mesmo caminho
mica que torna o disco inutilizável após (vide Capítulo 8), alguns observadores ar-
meras 48 horas. As sofisticadas tecnologias gumentam que produção em massa, consu-
envolvidas podem ser estritamente do sé- mo em massa e sistemas de descarte em
culo XXI, mas a filosofia subjacente vem massa são nada menos do que simples ne-
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RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA
cessidade econômica. Em 1950, por exem- igualdade social, as nações ricas precisari-
plo, o analista de marketing americano Victor am reduzir seu uso de materiais em até 90%
Lebow escreveu que “Nossa economia al- ao longo das próximas décadas.6
tamente produtiva... exige que façamos do No momento, o mundo lança-se na dire-
consumo um meio de vida... Precisamos que ção oposta. Economias modernas são capa-
as coisas sejam consumidas, queimadas, zes de produzir imensas quantidades de bens
desgastadas, substituídas e descartadas a um a um custo muito baixo. Isso leva tanto pro-
ritmo cada vez mais intenso”.4 dutores quanto consumidores a considera-
Mas a veneração compulsiva no altar do rem mais e mais produtos como nada mais
consumo colocou a humanidade à beira de um que commodities que podem ser descarta-
abismo ambiental – exaurindo recursos, dis- das com relativa rapidez, e não como itens
seminando poluentes perigosos, minando que incorporam valiosos materiais e energia
ecossistemas e ameaçando conturbar o equilí- e que devem ser bem conservados e
brio climático do planeta. Afastar-se desse pre- projetados para uma longa vida útil.
cipício exigirá um recuo radical das preten- Matérias-primas baratas, muitas delas ori-
sões humanas sobre os recursos da Terra. ginárias de países em desenvolvimento, sus-
As profundas divisões de classe da hu- tentam a fartura consumista. As quantidades
manidade dificultam essa tarefa. Mesmo quan- globais de matérias-primas comercializadas
do crescem evidências de que a classe global internacionalmente estão aumentando signi-
de consumidores, com cerca de 1,7 bilhão ficativamente, porém os preços das
de pessoas (vide Capítulo 1), precisará con- commodities têm mantido-se numa trajetória
ter seu apetite material voraz, um número descendente desde meados dos anos 70, con-
igualmente significativo de pessoas numa tinuando uma queda que remete ao início do
classe média global emergente busca emular século XX. A extração maciça de combustí-
a aparente “boa vida.” E quase 3 bilhões de veis, minerais e madeira assola ecossistemas
pessoas – os pobres do mundo – lutam para dos países em desenvolvimento, provoca dis-
sobreviver com poucos dólares por dia.5 túrbios sociais e, em alguns casos, causa
Há muito se vem repetindo que o plane- guerras devastadoras por recursos, mesmo
ta não poderá suportar o ônus de todos no quando as pessoas nas áreas em conflito
mundo em desenvolvimento possuírem tan- auferem pouco benefício.7
tos carros, refrigeradores e outros bens de
consumo como americanos, europeus ou
japoneses. Do ponto de vista da justiça e
igualdade global, entretanto, a solução não
Matérias-primas baratas, muitas
pode ser um sistema de apartheid do con- delas originárias de países em
sumo, que apóia a farra ocidental e nega desenvolvimento, sustentam a
aos pobres um padrão de vida decente. Pelo fartura consumista.
contrário, os ricos precisam conter seus
apetites materiais descomunais. Cálculos
aproximados indicam que, para acomodar Embora as velhas nações industriali-
o duplo imperativo de proteção ambiental e zadas continuem sendo os principais pro-
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RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA
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RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA
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Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA
(bilhões de euros)
Receita 54,6 130,4 237,7
(percentual)
Receita como Parcela de Todos os Impostos e
Contribuições Sociais 5,8 6,2 6,5
Receita como Parcela do Produto Interno Bruto 2,2 2,5 2,7
FONTE: vide nota final 12.
Não obstante esses totais, realocações Isso não quer dizer que nada foi con-
ecofiscais, até hoje, ainda são relativa- quistado. Na Alemanha, por exemplo, um
mente poucas. Impostos ambientais nos ecoimposto sobre formas diferenciadas de
países da OCDE representam, em mé- consumo de energia foi introduzido origi-
dia, apenas 6–7% de toda a receita fis- nalmente em 1999, com quatro aumentos
cal. Impostos sobre folhas de pagamen- anuais subseqüentes. Em 2002, já havia aju-
to e contribuições sociais, por outro lado, dado a evitar emissões de mais de 7 mi-
têm uma carga de 25%. (Na União Euro- lhões de toneladas de dióxido de carbono
péia, devido a seus programas sociais (CO2). As receitas anuais aumentaram de
extensos, o ônus fiscal da mão-de-obra aproximadamente US$ 4 bilhões em 1999
é muito maior – entre 45 e 47% no final para cerca de US$ 19 bilhões em 2003. As
dos anos 90).13 reduções nas contribuições sociais,
124
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA
viabilizadas por esses recursos, ajudaram al subiu para 60%, tendo o governo decla-
a criar 60.000 postos adicionais de traba- rado que a indústria, em breve, terá que
lho em 2002, um número que deverá cres- pagar a taxa plena caso não atinja uma meta
cer para 250.000 até 2010.14 voluntária para 2010 de redução das emis-
sões de CO2 em até 35%.16
Para chegar a ser uma ferramenta im-
Todas as economias modernas portante para a sustentabilidade, o escopo
podem ser mais enxutas sem da reforma ecofiscal precisaria ser bem
que isso implique em sua mais ampla e eliminar todas as brechas.
Isso exigirá vencer difíceis batalhas políti-
condenação.
cas contra aqueles interessados em manter
o status-quo. O desafio é ilustrado pela ex-
Infelizmente, ecoimpostos são enfraque- periência alemã, na qual políticos oposici-
cidos freqüentemente por uma série de bre- onistas e setores da mídia lançaram uma
chas – concessão de isenções a certas in- intensa campanha desabonadora do
dústrias ou fontes energéticas, aplicação de ecoimposto. Tendo alcançado rapidamente
alíquotas reduzidas a empresas de energia uma ampla aceitação junto a todos os par-
intensiva ou concessão de reembolsos par- tidos políticos e o grande público nos anos
ciais a empresas. Isso quase sempre é fei- 90, a reforma ecofiscal sofreu um declínio
to em nome da preservação da igualmente veloz em sua popularidade logo
competitividade da indústria doméstica no que foi implementada.17
mercado internacional. Esses argumentos Outra ferramenta importante que os
perderiam força se as políticas nacionais governos podem utilizar é a licitação, con-
fossem harmonizadas. (Vide Capítulo 7.) forme descrito detalhadamente no Capítu-
Isso é o que a União Européia está tentan- lo 6. Seja em âmbito federal ou municipal,
do fazer com uma diretriz para taxação de autoridades governamentais nos países in-
energia, que deverá entrar em vigor em dustrializados gastam trilhões de dólares em
2004. Até hoje, entretanto, as deliberações concorrências públicas todo ano. Ao ad-
iniciadas em 1997 resultaram num texto quirir produtos ambientalmente desejáveis,
desapontador de concessões que enfraque- poderão exercer uma forte influência so-
ceram o projeto original.15 bre o modo como esses produtos são
Na Alemanha, o carvão e combustíveis projetados, sua eficiência e durabilidade, e
de jatos não estão sujeitos ao ecoimposto. também se são manejados responsavelmen-
Empresas dos setores mineiros e te no fim de sua vida útil. Regras de aquisi-
manufatureiros, concessionárias de servi- ção bem planejadas podem provocar ino-
ços públicos, construtoras e empreendimen- vações tecnológicas e ajudar a implantar
tos agrícolas são taxados a apenas 20% da mercados verdes.18
taxa nominal aplicada ao gás natural, óleo Os governos poderão influenciar o de-
para aquecimento e eletricidade. Entretan- senvolvimento de produtos ainda mais, atra-
to, no início de 2003, essa taxa preferenci- vés de instrumentos normativos. Normas
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RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA
Área de Produção
ou Setor Países com Legislação PRP
Embalagens Mais de 30 países, inclusive Alemanha, Brasil, Coréia do Sul, China, Holanda,
Hungria, Japão, Peru, Polônia, República Tcheca, Suécia, Taiwan e Uruguai
(apenas vasilhames de bebidas).
Equipamentos Elétricos Atualmente, mais de uma dúzia de países, inclusive Alemanha (voluntariamente),
e Eletrônicos Bélgica, Brasil, Coréia do Sul, China, Dinamarca, Holanda, Itália, Japão, Noruega,
Portugal, Suécia, Suíça e Taiwan.
Pneus Brasil, Coréia do Sul, Finlândia, Suécia e Taiwan; Uruguai está considerando
medidas voluntárias.
Baterias Pelo menos 15 países, inclusive Alemanha, Áustria, Brasil, Holanda, Japão,
Noruega e Taiwan; Uruguai está considerando medidas voluntárias.
1
As diretivas na União Européia foram promulgadas em todos os setores cobertos pela tabela, exceto
pneus. Além das regras nacionais adotadas individualmente por países membros da UE, essas diretivas
são obrigatórias para todos os atuais 15 membros (e serão obrigatórias para os 10 países do Leste
Europeu que estão prestes a se tornar membros).
FONTE: vide nota final 36.
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RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA
barão decidindo que, já que são obriga- entes. Fabricantes de carpetes e alguns dos
das a atender às exigências do PRP na seus maiores fornecedores, por exemplo,
Europa e em outros países, poderiam vêem a devolução como um veículo de
adotar essas políticas também nos Esta- vantagem competitiva, tendo iniciado uma
dos Unidos. A IBM começou a implantar variedade de programas para a reutilização
programas de devolução já em 1989, na e reciclagem de carpetes usados. A Kodak
Europa, e depois iniciou um programa deu início a um programa de devolução de
mais restrito nos Estados Unidos em câmeras descartáveis em 1990 (porém
1997. Mas a IBM pode ser uma exceção; acredita-se que um quarto dessas câmeras
o que se vê atualmente oferece pouca ainda acabe em lixões). A Nike implantou
esperança para que isso ocorra.40 um programa chamado “Reutilize-um-Sa-
Vários governos estaduais e muni- pato”, numa reciclagem “descendente” de
cipais (incluindo Flórida, Maine, tênis usados. A borracha da sola e a espu-
Massachusetts, Minnesota, Carolina do ma da meia-sola dos tênis usados são con-
Sul e Wisconsin) demonstraram interes- vertidas em material de revestimento de
se em leis de devolução no estilo euro- pistas de corrida e outras instalações atléti-
peu. Caso surgisse um conjunto de re- cas e playgrounds. O tecido da parte supe-
gulamentos locais, poder-se-ia esperar rior transforma-se em estofamento para
que as empresas decidissem que regras carpetes.43
nacionais (embora talvez ainda voluntá- Mas o progresso ainda é limitado nos
rias) seriam preferíveis. Foi exatamente Estados Unidos. E, apesar de avanços
isso que ocorreu em relação às baterias significativos na Europa, ainda há alguns
de níquel-cádmio – tendo a indústria lan- desafios técnicos e políticos. A reci-
çado uma iniciativa nacional de devolu- clagem de plásticos tem mostrado-se re-
ção e reciclagem em 1995.41 sistente a soluções fáceis, como tam-
Algumas empresas estão imple- bém certos materiais de embalagem que
mentando ações voluntárias de devolução, consistem de um amálgama complexo de
para que se evitem programas obrigató- camadas de materiais diferentes. A opo-
rios. Sob crescente pressão das autori- sição da indústria está longe de ser der-
dades normativas e grupos locais para rubada. Na Alemanha, o setor de varejo
cuidarem do lixo eletrônico, grandes fa- está minando uma tentativa ambiciosa de
bricantes de computadores como Dell, exigir a devolução de todas as garrafas e
Hewlett Packard e IBM implantaram pro- latas de bebida e desencorajar o uso de
gramas voluntários. Todavia, as taxas de descartáveis. Finalmente, o ritmo acele-
devolução tendem a ser baixas, pois co- rado com que muitos aparelhos eletrôni-
bram dos consumidores US$ 20–30 na cos, como celulares, palm-pilots e com-
devolução do produto.42 putadores, ficam obsoletos é um desafio
Outras empresas e indústrias vêem o tremendo: é difícil implantar sistemas efi-
PRP como uma oportunidade de reduzir cientes de coleta quando o giro é tão ace-
custos de produção ou angariar simpatia lerado e o volume de materiais acumula-
de consumidores ambientalmente consci- se tão rapidamente.44
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RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA
arrenda três quartos dos seus equipamen- onais, utiliza 40% menos matéria- prima e
tos. A Carrier Corp., em vez de vender equi- incorpora energia, podendo ser totalmen-
pamento de ar-condicionado, está criando te remanufaturado em novos carpetes, em
um programa de venda de serviços de re- vez de ser descartado ou sofrer
frigeração, assessorando clientes sobre me- “reciclagem descendente” para produtos
didas de eficiência energética que ajudarão de menor valor.52
a reduzir as necessidades de ar-condicio- Talvez no seu lance mais audacioso, a
nado. A Dow Chemical e Safety-Kleen de- Interface introduziu o “Arrendamento Sem-
ram início ao arrendamento de solventes pre Verde” em 1995, com o qual a empresa
orgânicos para clientes industriais e comer- retém a propriedade do produto e permane-
ciais, aconselhando-os quanto ao uso ade- ce responsável por mantê-lo limpo median-
quado e recuperando esses produtos, em te uma remuneração mensal. Inspeções re-
vez de deixar o cliente com a responsabili- gulares permitiriam à empresa concentrar-
dade de descartá-los. Isso é um forte in- se apenas na substituição das placas com
centivo para utilizarem menos solventes.50 maior desgaste, em vez de todo o carpete,
Algumas empresas especializam-se em como no passado. Essa substituição mais
“contratação de desempenho”, ajudando direcionada ajuda a reduzir o volume de
clientes institucionais – empresas privadas, material necessário em cerca de 80%.53
órgãos governamentais, hospitais e outros Porém, apenas uma meia-dúzia de ar-
– a identificarem formas de reduzir seu rendamentos foram efetivamente realizados,
consumo de energia, matérias-primas e pois a maioria dos clientes optou pela com-
água. Num contraste marcante com os in- pra tradicional. O programa não teve suces-
teresses comerciais tradicionais, impediu o so por várias razões, algumas específicas
consumo de recursos e evitou o desperdí- ao negócio de carpetes. Alguns clientes acha-
cio e poluição que fazem essas empresas ram o contrato de arrendamento muito com-
prosperarem.51 plexo ou muito inflexível, amarrando-os num
Um exemplo freqüentemente citado de acerto de longo prazo que limitava suas op-
uma empresa buscando reinventar-se dessa ções futuras. Mas talvez o maior problema
forma é a Interface, um dos maiores fabri- tenha sido o custo – um reflexo da ênfase
cantes de tapetes comerciais. Após seu fun- da Interface em material e serviços de ma-
dador e diretor-presidente, Ray Anderson, nutenção de alta qualidade. No final, a em-
experimentar uma epifania ambiental em presa viu-se forçada a abandonar o arrenda-
meados dos anos 90, a empresa empenhou- mento “sempre-verde”.54
se numa iniciativa para reduzir drasticamente A história da Interface é, ao mesmo tem-
seu impacto ambiental, saindo de vendas po, encorajadora e acauteladora. É claro
para arrendamento de carpetes. Conseguiu que o novo modelo comercial que a em-
reduzir substancialmente seu consumo de presa estava propondo ainda enfrenta obs-
água e energia e cortou sua dependência táculos gigantescos. Mas, da mesma for-
de matérias-primas de petróleo. Em 1999, ma que ocorre com todos os desafios radi-
introduziu “solenium”, um material que dura cais às práticas estabelecidas, uma aceita-
quatro vezes mais que os carpetes tradici- ção ampla não virá facilmente.
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RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA
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RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA
refa difícil ou impossível. Embora a deci- consumidor cada vez mais alto. Porém, a
são sobre que tipo de automóvel comprar capacidade de anunciantes projetarem no-
seja do consumidor, a necessidade de vas “necessidades” ultrapassa facilmente o
comprá-lo, ou não, freqüentemente foge de alcance do bolso do consumidor; “dese-
seu controle. Da mesma forma, na mora- jos” sempre parecem maiores do que os
dia, os proprietários dispõem de escolhas meios disponíveis.
sobre aquecimento e ar-condicionado. Mas Particularmente a partir dos anos 90, a
é decisão das incorporadoras e construto- poupança na maioria dos países da OCDE
ras se uma residência terá isolamento ade- começou a cair, enquanto as dívidas fami-
quado e janelas eficientes em energia; es-
liares subiam. Jovens adultos, vulneráveis
sas decisões fundamentais ditam as neces-
ao marketing agressivo direto de bancos e
sidades de aquecimento e refrigeração du-
outros emitentes de cartões de crédito, es-
rante a vida de uma casa.
tão afundando cada vez mais num atoleiro
Reconhecendo essas realidades, a OCDE
tem referido-se a uma “infra-estrutura de de dívidas. O número de jovens de 20 a 24
consumo” que força as pessoas a adotar anos à beira da falência pessoal na Alema-
padrões involuntários de consumo. Da mes- nha, por exemplo, aumentou um terço só
58
ma forma que é importante para os consu- entre 1999 e 2002.
midores escolher produtos mais eficientes, O endividamento dos consumidores
só isso não pode superar essas limitações americanos cresce hoje duas vezes mais rá-
estruturais. Políticas governamentais avan- pido que suas rendas. O crédito ao consu-
çadas – melhor planejamento do uso do solo, midor a receber disparou nas últimas duas
normas e padrões focados no meio ambi- décadas, atingindo US$ 1,8 trilhão em julho
ente e a criação de uma infra-estrutura pú- de 2003. (Vide Figura 5-2.) A proporção de
blica revigorada, que permita maior provi- portadores de cartões de crédito com sal-
são social de certos bens e ser-
viços – ajudarão a assegurar que Bilhões de Dólares
2.000
os consumidores não sejam (base=2001)
compelidos a fazer “escolhas”
consumo-intensivas.57 1.500
Outra área-chave em que
uma ação governamental faz-se
1.000
necessária é o crédito ao con-
sumidor. O rufo inexorável da
500
propaganda, insinuando que
marcas corporativas simboli- Fonte: Federal Reserve Board
zam estilos desejáveis de vida e 0
que a felicidade individual está 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010
intrinsecamente relacionada aos Figura 5-2. Crédito ao Consumidor a Receber
produtos que possuímos, aju- nos Estados Unidos, 1950–2003
da a propelir a preferência do
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Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA
dos em aberto no final de cada mês aumen- midores, oferecendo condições vantajosas de
tou para 61%, e o endividamento médio su- financiamento para determinadas aquisições.
perou US$ 12.000 em 2002. No Reino Uni- Os governos do Japão e Alemanha fazem isso
do, a dívida do consumidor quase triplicou em apoio à instalação de telhados solares em
(em bases atuais) entre 1991 e 2001. Na residências, porém muitas outras aquisições
Alemanha, o crédito ao consumidor dobrou ecoamigáveis poderiam ser incentivadas da
em 1989–99 para 216 bilhões de euros, e mesma forma. Ou governos podem oferecer
em 2001 quase um quarto de todas as famí- descontos direcionados. O governo do Ca-
lias tinham dívidas pendentes. E o número nadá, por exemplo, anunciou em agosto de
de famílias holandesas buscando proteção 2003 que iria destinar C$ 131,4 milhões (US$
contra credores dobrou em 1992–99.59 95 milhões) para um programa que oferece
Até meados dos anos 90, consumidores um desconto médio de C$ 1.000 por resi-
fora da América do Norte e Europa Ociden- dência, a fim de motivar proprietários a faze-
tal raramente assumiam um grande volume rem melhorias em eficiência energética.61
de dívidas pessoais. Hoje, os gastos com A fim de encorajar ainda mais a fabrica-
cartões de crédito estão aumentando rapi- ção e compra de produtos ambientalmente
damente entre consumidores emergentes, de benignos, os governos poderiam desenvol-
classe média, na Ásia, América Latina, Eu- ver políticas que oferecessem descontos fis-
ropa Oriental e até em partes da África. O cais a produtos de melhor desempenho, ta-
volume de dinheiro gasto por sul-coreanos xando aqueles que fiquem aquém dos pa-
por meio de cartões de crédito mais que drões. Poderia ser criado um sistema gra-
duplicou em 2001, mas 2,5 milhões destes duado onde os níveis tanto de descontos
estão inadimplentes. Falências pessoais es- quanto de taxas seriam escalonados confor-
tão aumentando não apenas na Coréia do me a eficiência, durabilidade ou nível de be-
Sul, mas também na Argentina, Brasil, Chi- nefício ambiental de determinado produto.
le, China, México e Tailândia.60 Essa combinação, conhecida como “taxa-
Embora o crédito ao consumidor esteja desconto”, tem sido utilizada para produto-
hoje atrelado à manutenção de uma econo- res de energia, porém o conceito ainda não
mia hiperprodutiva, que encoraja as pessoas
foi implementado num cenário consumidor.
a assumir altas dívidas pessoais, as finanças
Um sistema taxa-desconto poderá até ser
de uma economia de consumo sustentável
mais eficaz se for atrelado a outras políti-
terão que desenvolver formas que permitam
cas, como leis de ecorrotulagem e PRP.62
– e premiem – a compra de produtos eficien-
tes, de alta qualidade, duráveis e
ambientalmente amigáveis. Estes, sem dúvi- Livrando-se da Armadilha
da, terão maior custo inicial de aquisição, mas do “Ganhar-e-Gastar”
ao longo do tempo serão mais economica-
mente vantajosos para os consumidores do Os países industrializados são extraordi-
que produtos mais baratos e frágeis, que te- nariamente produtivos – ou seja, a mes-
rão de ser substituídos com freqüência. ma quantidade de produto pode ser
Os governos poderão ajudar os consu- fabricada com cada vez menos trabalho
140
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA
humano. Nos Estados Unidos, por exem- um papel central, a canalização de ganhos
plo, apenas cerca de 12 horas semanais de produtividade para maior tempo de lazer,
de trabalho foram necessárias para pro- em vez de aumento de salário, que poderia
duzir, em 2000, o mesmo que em 40 ho- redundar em consumo crescente, também
ras em 1950. Em princípio, isso pode ser faz sentido sob uma perspectiva ecológica
transformado em um de dois objetivos: (presumindo-se que um maior tempo de
elevação de salários (em linha com a pro- lazer não se traduza em atividades
dutividade), conservando a jornada de ambientalmente questionáveis, como via-
trabalho constante, ou concessão de mai- gens aéreas longas para férias em locais
or tempo de lazer, mantendo constante a “exóticos”).64
renda do trabalho. Na prática, quase sem- Levou quase um século para se che-
pre tem sido o primeiro. A maioria das gar à semana de 40 horas na maioria dos
pessoas tem ficado presa a um padrão países industrializados. Onde outrora ha-
de “ganhar-e-gastar”. Maior disponibili- via uma tendência comum para jornadas
dade de renda traduz-se em maior des- menores por todo o mundo industrializa-
pesa de consumo. E a sedução da propa- do, há hoje uma divergência cada vez
ganda, o acompanhamento de status mais maior entre Estados Unidos e Europa.
elevados e outros fatores fazem com que Numa reversão da situação antes dos anos
cada centavo ganho seja necessário para 70, os americanos hoje trabalham perío-
continuar na senda batida do consumo.63 dos mais longos que a maioria dos euro-
Desde a ascensão da industrialização em peus (trabalhadores japoneses, entretan-
massa do final do século XIX tem havido to, ainda têm, de longe, a maior jornada
um cabo-de-guerra contínuo entre patrões de trabalho). (Vide Figura 5-3.)65
e sindicatos sobre a jor-
nada de trabalho. Os Horas
empregados batalham 2.800 Fonte: Hayden
pela redução das horas 2.600 Reino Unido
de trabalho, seja dire-
2.400
tamente, diminuindo-se
Japão
realmente a jornada, ou 2.200
maior período de féri-
as, aposentadoria mais 2.000 Alemanha
França
cedo ou ausência re- 1.800
munerada. A motivação Estados Unidos
básica disso foi o de- 1.600
sejo de melhoria da 1.400
qualidade de vida e cri- 1913 1929 1938 1950 1960 1973 1990 1998
ação de mais empre-
gos. Embora as ques- Figura 5-3. Jornada Anual de Trabalho por Pessoa Empregada
tões ambientais não te- nos Principais Países Industrializados,
nham desempenhado Anos Selecionados, 1913–98
141
Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA
Dinamarca Inaugurou um sistema pioneiro de férias pagas para educação, cuidado infantil e estudos
universitários que permite rotação entre empregados e desempregados. (Variações disso
foram posteriormente implementadas na Bélgica, Finlândia e Suécia).
Mais do que os americanos, os euro- Juliet Schor, relata que “durante a pri-
peus preferem reduções da jornada em meira metade dos anos 90, um quinto de
lugar de aumento de renda. Mesmo as- todos os americanos passaram por algum
sim, as pesquisas revelam que quase dois tipo de redução voluntária da jornada de
terços de todos os empregados nos Es- trabalho, com um pouco mais da metade
tados Unidos trabalhavam mais tempo do desejando que fosse uma mudança per-
que desejado no final dos anos 90, con- manente”. “Redução da jornada” é a reti-
tra metade em 1992. Ao mesmo tempo, rada, ou retirada parcial, da força de traba-
todavia, a economista do Boston College, lho, que é às vezes disparada por uma mu-
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Estado do Mundo 2004
RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA
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RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA
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RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA
A partir de 1995, a demanda interna nos valor positivo de US$ 3,7 bilhões em 1991
Estados Unidos cresceu o dobro da taxa para um negativo de US$ 503 bilhões em
de outras nações industrializadas. O saldo 2002 – um nível recorde. Os dólares que
da balança de pagamentos dos Estados fluíram para fora dos Estados Unidos,
Unidos (medindo fluxos comerciais e para pagar importações crescentes, estão
transferências financeiras) saiu de um voltando aos Estados Unidos à medida que
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RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA
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RUMOS PARA UMA ECONOMIA MENOS CONSUMISTA
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ATRÁS DOS BASTIDORES: TELEFONES CELULARES
AT R Á S D O S B A S T I D O R E S
Telefones Celulares
Telefones celulares hoje são países, promovido pela
onipresentes. Em 1992, menos Organização Mundial de Saúde
de 1% da população mundial para determinar se o uso de
possuía um celular e somente um celulares pode estar relacionado
terço de todas as nações tinha com cânceres de cabeça e
uma rede de telefonia celular. pescoço, deve ser concluído em
Apenas 10 anos depois, 18% 2004. Sem dados de longo prazo
das pessoas já tinham um celular disponíveis, os pesquisadores
– 1,14 bilhão, mais do que o 1,10 estão recomendando aos usuários
bilhão com linha fixa convencional a colocação de um dispositivo em
– e mais que 90% dos países seus celulares para manter o
dispunham de uma rede. 1 aparelho mais afastado. E um estudo
Agora, europeus enviam e recebem de um grupo organizado pelo governo
textos curtos nos seus celulares mais do britânico desencorajou o uso excessivo de
que usam a Internet de seus celulares por crianças.3
computadores.Os filipinos lideram o envio Similarmente aos computadores, os
de textos via celular, mundialmente; na celulares são produtos de vida curta,
realidade, “mensagens de textos” via celular representando a mais patente ameaça à
dos manifestantes para organizar saúde humana e ao meio ambiente, quando
demonstrações contra o Presidente Joseph são criados ou destruídos, porque contêm
Estrada contribuíram para sua expulsão. Na chips semicondutores, ricos em substâncias
África, os celulares ultrapassam as linhas tóxicas. Análises de ciclo de vida revelam a
fixas numa média mais alta do que em placa de circuitos contendo o chip do
qualquer outro continente; lá, donos de celular, o visor de cristal líquido e as
celulares que alugam seus aparelhos fazem baterias como os maiores riscos, seguidos
um benefício aos habitantes de vilarejos, da capa plástica, de difícil reciclagem. Nos
que anteriormente tinham de caminhar Estados Unidos, segundo maior mercado
quilômetros para fazer uma ligação.2 mundial de celulares depois da China,
Como as pessoas usam seus celulares aparelhos são rejeitados depois de 18
principalmente para bater papo, o aparelho meses, e o grupo de pesquisa INFORM
atrai ondas de rádio mais perto de suas calcula que até 2005 os consumidores terão
cabeças do que a maioria de outros acumulado cerca de 500 milhões de celulares
aparelhos eletrônicos. Um estudo de 10 usados, que provavelmente terminarão em
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ATRÁS DOS BASTIDORES: TELEFONES CELULARES
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ATRÁS DOS BASTIDORES: TELEFONES CELULARES
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ATRÁS DOS BASTIDORES: TELEFONES CELULARES
CAPÍTULO 6
Comprando para as
Pessoas e o Planeta
Lisa Mastny
Uma versão mais detalhada deste capítulo foi publicada como Worldwatch Paper 166, Purchasing Power:
Harnessing Institutional Procurement for People and the Planet (Washington, DC: Worldwatch Institute,
julho 2003).
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COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA
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COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA
ia
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Suí
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pan
Itá
Un
Un
nam
Áu
Ca
em
Ho
Es
ino
tad
Re
de escolas e templos em
Figura 6-1. Gastos Governamentais como Parcela do PIB todo o mundo. E institui-
em Países Selecionados, 1998 ções internacionais, como
as Nações Unidas e o Ban-
Corporações, universidades, entidades co Mundial, adquirem grandes quantida-
religiosas e outras grandes instituições des de bens e serviços para suas ativida-
também têm grande poder aquisitivo. des nos países industrializados, como
Muitas empresas, por exemplo, compram também para manter seus escritórios de
não apenas miríades de produtos acaba- campo e operações no mundo em desen-
dos, como canetas e computadores, mas volvimento – tendo assim uma oportuni-
também matérias-primas, embalagem e dade singular de ajudar a construir mer-
outros bens como insumos para seu pro- cados sustentáveis em todo o mundo. Só
cesso fabril. Segundo uma estimativa, o as Nações Unidas compraram quase US$
gasto agregado das empresas ao longo de 4 bilhões em bens e serviços em 2000.9
suas “cadeias de suprimento” supera, em Mas o enorme volume de suas aquisi-
muito, o consumo dos produtos finais. À ções é apenas uma das razões por que as
medida que a produção torna-se cada vez instituições podem ser agentes poderosos
mais global, as indústrias podem desem- de mudanças ambientais positivas. “Con-
penhar um papel importante, influencian- trariamente a muitas pessoas, grandes ins-
do o comportamento ambiental de forne- tituições adotam uma abordagem muito
cedores em outros países, inclusive no sistêmicas em suas compras”, observa
mundo em desenvolvimento.8 Scot Case, do Center for a New American
Enquanto isso, as universidades gas- Dream, de Maryland. “Aquisições são cla-
tam bilhões de dólares anualmente em ramente definidas em contratos detalha-
uma enorme diversidade de compras, dos, que especificam quase todos os as-
desde prédios de campus universitário até pectos do produto ou serviço a ser adqui-
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madeira seria suficiente para atravessar sete xicos podem reduzir os custos de indeniza-
vezes todo o território americano com uma ções de seguro e de trabalhadores associados
cerca de 1,8 metro de altura.12 a certos acidentes de trabalho.14
A aquisição de produtos mais verdes tam- Talvez o mais importante, a demanda
bém pode trazer benefícios à saúde de funci- institucional crescente poderá desempenhar
onários e ocupantes de prédios. Muitas com- um papel preponderante na criação de mer-
pras comuns, inclusive tintas para paredes e cados maiores para bens e serviços mais
móveis, pesticidas para prédios e manuten- verdes. Se esses consumidores buscarem
ção de áreas externas, como também produ- cada vez mais produtos e serviços mais be-
tos de limpeza e manutenção, contêm ingre- néficos ao meio ambiente, os produtores
dientes tóxicos, como metais pesados e com- terão mais incentivo para projetá-los e pro-
postos orgânicos voláteis. Essas substâncias duzi-los. À medida que os mercados para
podem poluir o ar interno e acumular-se em esses produtos crescerem, impulsionados
tecidos vivos, ameaçando a saúde humana e pelas forças da concorrência e da inovação,
ambiental. O Projeto de Prevenção à Polui- as economias de escala resultantes acaba-
ção, da Janitorial Products, divulgou que 6 rão por reduzir os preços, tornando as com-
pras verdes mais acessíveis a todos.
em cada 100 faxineiros no estado de Wa-
shington ficaram ausentes do serviço devido
a doenças relacionadas ao uso de produtos Pioneiros da
tóxicos de limpeza, particularmente limpado- Compra Verde
res e desengraxantes de vidros e sanitários.13
Muitas instituições têm constatado que A maioria das instituições que compram
aquisições verdes também poupam dinheiro. verde visam aquisições menores, como
Alguns produtos verdes são mais baratos que papel e artigos de escritório, fáceis de ma-
suas alternativas tradicionais. Por exemplo, nejar sem mudanças significativas nas prá-
cartuchos reciclados de toner para impresso- ticas organizacionais. Porém, algumas ou-
ras e copiadoras chegam a custar até um terço tras já começaram a reestruturar fundamen-
do preço do produto original. Outros itens, talmente a forma de fazerem negócios.
como sanitários de descarga baixa ou lâmpa- Em termos corporativos, os pioneiros da
das fluorescentes compactas, proporcionam compra verde incluem empresas em pratica-
economia considerável ao longo de sua vida mente todos os setores da economia, inclu-
útil. Embora as LFCs cheguem a custar até 20 indo bancos, hotéis, montadoras, varejistas
vezes mais que as lâmpadas incandescentes, de confecções e supermercados. (Vide Ta-
duram 10 vezes mais e consomem um quarto bela 6-1.) Muitas dessas empresas são moti-
da eletricidade para gerar a mesma vadas por um auto-interesse esclarecido: es-
luminosidade. Adquirir produtos que sejam tão constatando que, ao adotarem medidas
duráveis, remanufaturados ou recicláveis pode de eficiência energética e outras mudanças
baixar os custos da manutenção, substituição em pequena escala em suas operações inter-
ou disposição final de um produto. Enquanto nas, podem reduzir seus impactos ambientais
isso, produtos de limpeza e outros menos tó- e também incrementar sua rentabilidade.
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Bank of America Incrementou compras de papel reciclado em 11% em 2001 para 54% do papel adquirido. Reutiliza e
recupera móveis de escritórios e carpetes e utiliza materiais reciclados nos utensílios e balcões de
serviço do banco. Pretende incluir exigências ambientais em todos os contratos futuros com fornecedores.
Boeing Até 1999, modernizou mais da metade de seu espaço funcional com iluminação eficiente, reduzindo
os custos de energia em US$ 12 milhões ao ano e economizando energia suficiente para suprir
cerca de 16.000 residências.
Canon Dá prioridade em suas aquisições globais a quase 4.600 fornecedores de artigos verdes de escritório
aprovados pela empresa. Atualmente procura esverdear suas licitações para construção de instalações
no Japão, Ásia e América do Norte. Um amplo plano de ação direcionado a fornecedores redundou
em níveis altos de cumprimento a políticas vigentes.
Federal Express Em 2002, comprometeu-se a substituir todos os 44.000 veículos da frota com caminhões elétricos
a diesel, aumentando a eficiência de combustível pela metade e reduzindo as emissões de fumaça
e fuligem em 90%.
Hewlett-Packard Em 1999, decidiu adquirir papel apenas de fontes florestais sustentáveis. Prioriza fornecedores
que vendem produtos verdes e mantém práticas comerciais verdes. Restringe ou proíbe o uso de
certos produtos químicos na industrialização e embalagem.
IKEA Prioriza madeira de florestas que sejam certificadas como de manejo sustentável ou em transição
para esse padrão. Adquire madeira através de um processo de quatro etapas que encoraja os
fornecedores a buscar certificação florestal.
McDonald’s Gastou mais de US$ 3 bilhões em compras com teor reciclado entre 1990 e 1999, inclusive
bandejas, mesas, carpetes e embalagem. Em 2001, adotou embalagens compostáveis para alimento
feitas de amido recuperado de batata e outros materiais. Instalou iluminação de eficiência energética
nos restaurantes.
Migros Em 2002, esse supermercado suíço tornou-se o primeiro varejista europeu a deixar de comprar
suprimentos de óleo de palma de fontes não-seguras, ecologicamente, na Malásia e Indonésia.
Realiza auditorias nos fornecedores para constatar cumprimento dos critérios ambientais e rotula
produtos que “protegem florestas tropicais”.
Riu Hotels Ao mudar para compras a granel de itens de café da manhã, essa cadeia alemã de hotéis conseguiu
reduzir o lixo em 5.100 quilogramas anuais, poupando 24 milhões de itens de embalagens individuais
e uma média de 5 milhões de sacos plásticos de lixo a cada ano.
Staples Em 2002, comprometeu-se a incrementar o conteúdo reciclado médio em seus artigos de papel para
30% e eliminar gradativamente as compras de florestas ameaçadas. Utiliza iluminação e material de
cobertura de eficiência energética em seus prédios. Até o final de 2003 pretende adquirir apenas
produtos de papel reciclado para operações internas e aumentar suas compras de energia verde em 5%.
Starbucks Desde novembro de 2001, ofereceu incentivos financeiros e preferência de fornecimento a produtores
de café que atendiam a determinados padrões ambientais, sociais, econômicos e de qualidade. Em
2002, 28% da fibra de papel utilizada era pós-consumo e 49% continham fibra não-branqueada.
Toyota Em 2001, trocou 1.400 itens de artigos de escritório e 300 computadores e outros equipamentos por
alternativas verdes. Atingiu 100% de compras verdes nessas áreas em 2002. No exercício financeiro
de 2001, adquiriu 500.000 kWh de energia eólica e pretende aumentar para 2 milhões de kWh ao ano.
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Áustria As atividades em âmbito municipal datam do final dos anos 80. Legislação federal de 1990
e 1993 obriga os órgãos públicos a inserirem critérios ambientais nas especificações dos
produtos. (A Lei de 1993 foi adotada por oito das nove províncias.) A partir de 1997, o
Ministério do Meio Ambiente ajudou as prefeituras e outros ministérios a comprarem
verde. Em 1998, o governo aprovou diretrizes básicas de aquisições verdes em setores como
o de equipamentos de escritório, construção, limpeza e energia.
Canadá Existe uma forte estrutura nacional, legislativa e política para aquisições verdes. As metas
incluem atingir 20% das compras federais de energia de fontes verdes até 2005 e, onde for
viável, tanto em termos de custo quanto operacionais, operar 75% da frota de veículos
federais com combustíveis alternativos até abril de 2004. O programa Canadá Ambiental
orienta os compradores a considerarem os impactos do ciclo de vida de um produto,
utilizarem produtos ecorrotulados e adotarem critérios de eficiência energética e outros
verdes em suas aquisições.
Dinamarca Líder mundial em aquisições verdes. Uma lei de 1994 obriga todos os órgãos públicos
federais e municipais a utilizarem produtos reciclados ou recicláveis, e também todas as
autoridades a adotarem uma política de aquisições verdes. Em 2000, 10 dos 14 condados já
haviam adotado essa política. Pelo menos metade dos municípios também declarou já
dispor de políticas implantadas ou em implantação.
Alemanha Legislação federal sobre o lixo obriga as instituições públicas a darem preferência a produtos
verdes nas suas aquisições. Diretrizes estaduais e municipais também exigem a inclusão de
critérios ambientais nas licitações, embora critérios econômicos assumam prioridade nas
avaliações;
Japão Outro líder mundial em aquisições verdes, a partir de atividades municipais desde o início dos
anos 90. Uma lei de 2001 obriga organizações governamentais federais e municipais a
desenvolverem políticas e compras específicas de produtos verdes. No início de 2003, 47
órgãos municipais e 12 das principais prefeituras estavam comprando verde, com quase a
metade dos 700 municípios tendo implantado essa política. O maior avanço está nos
setores de papel, artigos de escritório, informática, veículos e eletrodomésticos.
Reino Unido Regulamentos permitem aos compradores utilizarem critérios ambientais nas aquisições,
contanto que isso não prejudique a livre concorrência. As autoridades podem escolher que
peso aplicar a critérios ambientais e outros ao adjudicarem contratos. Órgãos governamentais
são obrigados a adquirir pelo menos 5% de sua energia de fontes renováveis até março de
2003, quando deverão aumentar para 10% até 2008.
Estados Unidos Uma ampla variedade de leis e diretrizes exige que os órgãos federais adquiram itens verdes,
incluindo produtos com conteúdo reciclado e eficientes em energia, e veículos bi-combustível.
A coordenação e implementação nas agências têm sido fracas, mas estão melhorando.
Entre os estados, 47 do total de 50 possuem programas “compre reciclado” desde o final
dos anos 80. Pelo menos uma dúzia de estados ampliaram esses programas para incluir
outras compras verdes.
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Os Estados Unidos também têm teste- papel reciclado sobre o suprimento padrão
munhado um maior avanço no esverde- nos escritórios de muitos países europeus
amento das aquisições públicas mais em às demandas cumulativas dos poderes pú-
âmbito estadual e municipal do que fede- blicos, que têm proporcionado a esse pro-
ral. Em 1999, Santa Mônica, na Califórnia, duto uma vantagem competitiva. Uma mu-
tornou-se a primeira cidade a adquirir 100% dança semelhante ocorreu quando o gover-
de sua energia municipal de fontes no dos Estados Unidos aumentou para 30%
renováveis, inclusive energia geotérmica e a norma de teor reciclado nas compras de
eólica. O estado de Minnesota hoje tem órgãos federais, em 1998. Em 1994, apenas
cerca de 110 contratos diferentes para pro- 12% do papel de copiadoras adquirido por
dutos e serviços verdes, incluindo veícu- agências federais tinha conteúdo reciclado,
los bicombustível, produtos de limpeza de e mesmo assim apenas 10% de material
baixa toxicidade, computadores eficientes reciclado. Em 2000, entretanto, 90% do papel
em energia e tinta sem solventes. Outros adquirido pelos dois principais comprado-
pioneiros locais incluem os estados de res do governo tinha conteúdo reciclado de
Massachusetts, Vermont e Oregon; a cida- 30%. O aumento da demanda pública não
de de Seattle, Washington e o condado de só incrementou o padrão global do mercado
Kalamazoo, em Michigan.23 para teor reciclado como também ajudou a
No mundo em desenvolvimento, Taiwan elevar o padrão do principal fornecer de pa-
é um dos poucos países que formalizaram pel reciclado para o governo, Great White.25
aquisições públicas verdes, declarando uma Aquisições governamentais verdes po-
preferência por produtos verdes aprovados dem ser particularmente eficazes em influ-
num decreto presidencial de 1998. Outros enciar mercados onde o setor público pos-
governos promulgaram leis em apoio a pro- sui uma participação significativa da deman-
gramas de reciclagem; todavia, as iniciati- da global ou onde a tecnologia esteja mu-
vas para agilizar a promoção e compra de dando rapidamente, como no caso dos equi-
produtos reciclados não têm avançado mui- pamentos de computadores. O governo dos
to. Está se discutindo a inclusão de com- Estados Unidos, maior comprador indivi-
pras verdes nas políticas públicas no Brasil, dual de computadores, adquire mais de 1
Irã, México e Tailândia, e o governo de milhão anualmente – cerca de 7% dos com-
Mauritius movimenta-se para um uso maior putadores mundiais. Em 1993, o Presiden-
de plásticos e papéis reciclados, tendo in- te Bill Clinton assinou uma medida provi-
troduzido lâmpadas mais eficientes de neon sória (executive order) exigindo que os ór-
na iluminação pública.24 gãos federais só adquirissem equipamen-
Na maioria dos casos, ainda é cedo para tos de computadores que atendessem às
julgar o impacto global desses pioneiros. exigências de eficiência descritas no pro-
Todavia, alguns sucessos de destaque apon- grama Energy Star, do governo. Hoje, em
tam para a tremenda capacidade das aquisi- grande parte como resultado desse aumen-
ções verdes influenciarem mercados. Por to de demanda, 95% de todos os monitores,
exemplo, o ICLEI atribui a ascendência do 80% dos computadores e 99% das impres-
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soras vendidas na América do Norte aten- sucatas que acabam em aterros. Até 2007,
dem às normas do Energy Star. Os analis- 85% (em peso) de cada veículo novo de-
tas atribuíram um salto semelhante no de- verá ser fabricado com componentes
sempenho ambiental dos produtos eletrô- recicláveis (atualmente a reciclagem de
nicos japoneses à predominância desse país veículos está limitada a 75% de peso me-
nas aquisições verdes desses itens.26 tálico). A DaimlerChrysler pretende su-
perar esse padrão e atingir 95% da ca-
Pressões e Motivadores pacidade de reciclagem até 2005, em
parte através do incremento do seu uso
Instituições de todos os tipos sofrem, cada de plásticos recuperados e outros ma-
vez mais, uma ampla variedade de pressões teriais. Caso seja amplamente adotado,
normativas e de consumidores para que fa- esse processo de reciclagem poderá
çam compras verdes. Por exemplo, muitos poupar à indústria automotiva mundial
governos hoje dão rebates, isenções fiscais US$ 320 milhões anuais. 28
e outros incentivos econômicos para enco- Os governos não são os únicos a for-
rajar empresas, escolas, indivíduos e outros çar as instituições a comprar verde. Em
consumidores a investirem em tudo, desde todo o mundo, consumidores individuais
aparelhos eletrodomésticos eficientes em estão começando a incorporar preocupa-
energia até veículos bicombustível. Em ções pessoais sobre sua saúde, meio am-
2002, a Arquidiocese de Los Angeles rece- biente e justiça social e a realizar compras
beu milhares de dólares de rebates munici- mais verdes em âmbito domiciliar. Hoje,
pais quando a Catedral de Nossa Senhora cerca de 63 milhões de adultos america-
dos Anjos tornou-se o primeiro prédio reli- nos, ou aproximadamente 30% das famí-
gioso a instalar painéis solares no telhado, lias, realizam alguma forma de compras
gerando energia suficiente para suprir a igreja ambientais ou socialmente conscienciosas,
e mais de 60 residências.27 de acordo com uma pesquisa realizada pela
Os governos também estão utilizando LOHAS Consumer Research. No Reino
seu poder normativo para forçar institui- Unido, compras éticas por indivíduos –
ções a realizarem compras mais verdes. em setores que vão de alimentos orgâni-
Novas leis ou regulamentos que obrigam cos até energia renovável – aumentaram
os fabricantes a satisfazerem determinados 19% entre 1999 e 2000, seis vezes mais
padrões de eficiência energética ou rápido do que os mercados globais nos
reciclagem influenciam a forma como mui- vários setores.29
tas empresas hoje projetam e fabricam seus Esses consumidores, cada vez mais,
produtos. Montadoras, por exemplo, tive- esperam melhor desempenho ambiental
ram que repensar tanto suas fontes quanto das instituições que os orientam, das em-
seu uso de materiais, a fim de atender às presas que apóiam e dos produtos que
disposições de uma nova diretriz da União compram. Os fabricantes nos Estados
Européia sobre veículos no fim de sua vida Unidos divulgam um volume crescente de
útil, objetivando reduzir a proporção de pedidos de informação de consumidores
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sobre seus produtos, como, por exemplo, seu foco no setor privado: “É importante
o teor reciclado. A Pesquisa do Milênio visar as corporações, porque têm uma ima-
sobre Responsabilidade Social Corpo- gem. O objetivo é aumentar o custo de fa-
rativa, em 1999, constatou que cerca de zer negócio de forma ambientalmente da-
60% dos consumidores em 23 países es- nosa”. Marx acredita que boicotes e outras
peram que as empresas, além de realiza- ações de maculação pública podem ser
rem lucros e gerarem empregos, resolvam muito mais eficazes para conseguir mudan-
questões-chaves ambientais e sociais atra- ças ambientais do que, por exemplo, lobbies
vés dos seus negócios.30 por ações normativas que podem levar anos
A pressão dos consumidores foi instru- ou até mesmo décadas.32
mental na decisão das autoridades munici-
pais em Ferrara, Itália, de introduzir alimen-
tos orgânicos nos lanches escolares. Após Hoje, cerca de 63 milhões de
um grupo de pais preocupados chamar adultos, ou o aproximadamente
atenção à baixa qualidade da comida servi- 30% das famílias nos Estados
da nos jardins de infância em 1994, a Pre- Unidos, realizam alguma forma
feitura formou uma comissão para estudar
de compras ambientalmente
a possibilidade de realizar mudanças nas li-
citações de alimentos. Dentro de quatro responsáveis.
anos, Ferrara havia sistematizado suas aqui-
sições de alimentos orgânicos num edital Em outros casos, as ONGs estão en-
especial de licitação e, em 2000, 80% dos trando em parcerias com as principais
alimentos servidos nos jardins de infância corporações para ajudá-las a redirecionarem
municipais eram orgânicos.31 seu grande poder aquisitivo para objetivos
Números crescentes de consumidores, ambientais. A Aliança para Inovações
acionistas e organizações não-governamen- Ambientais, um projeto da Environmental
tais (ONGs) também estão participando de Defense, uma ONG sem fins lucrativos,
boicotes e outras ações diretas de pressão está trabalhando com empresas como
a empresas para mudarem suas práticas de Citigroup, Starbucks, Briston-Myers
compras. Nos últimos anos, grupos Squibb e Federal Express para alterar
ativistas, como a Rainforest Action suas compras de papel, veículos e ou-
Network (RAN) e ForestEthics, organiza- tros produtos. E o Programa Salvado-
ram atos públicos nos Estados Unidos e res do Clima, uma iniciativa conjunta do
em todo o mundo para pressionar grandes Fundo Mundial para a Natureza e Center
varejistas, como a Home Depot, a parar de for Energy and Climate Solutions, da
adquirir produtos de madeira oriundos de Virginia, trabalha com empresas globais
florestas virgens. (Vide Quadro 6-2.) como Johnson & Johnson, IBM, Nike e
Michael Marx, diretor executivo da Polaroid para incrementar sua eficiên-
ForestEthics, observa que um fator-chave cia energética e uso de energia verde.
por trás do sucesso dessas campanhas foi Igualmente o World Resources Institute
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está recrutando grandes empresas para megawatts de nova energia verde até
ajudá-lo a atingir seu objetivo de desen- 2010 – capacidade suficiente para
volver mercados corporativos para 1.000 750.000 lares americanos.33
Em meados dos anos 90, a Rainforest Action 20 milhões para mais de US$ 200 milhões.
Network (RAN), de São Francisco, lançou A decisão da empresa causou um efeito
uma campanha de destaque para pressionar a marola significativo nos mercados de produtos
Home Depot, maior varejista mundial de para o lar e de construção. Dentro de um ano
artigos para o lar, a aprimorar suas práticas de sua mudança de política, varejistas que
compradoras de madeira. Essa cadeia representavam mais de um quinto da madeira
varejista de Atlanta vende mais de US$ 5 vendida para o mercado de reformas
bilhões em produtos de madeira, portas, residenciais nos Estados Unidos, inclusive
compensados e outros anualmente através de seus principais concorrentes, Lowe’s e
suas 1.450 lojas em todo o mundo. Wickes, Inc., anunciaram que eles também
RAN agiu em boicotes, demonstrações em iriam eliminar gradativamente produtos de
lojas, campanhas publicitárias e ativismo florestas ameaçadas, substituindo-os por
acionário para chamar a atenção do público à madeira certificada. Duas das maiores
prática da Home Depot de adquirir madeira construtoras do país também
oriunda de florestas sob grave ameaça de comprometeram-se a não comprar madeira
extinção na Colúmbia Britânica, Sudeste ameaçada.
Asiático e Amazônia. Em agosto de 1999, em Essas mudanças de política elevaram o
resposta a essa pressão, a empresa anunciou padrão global da indústria madeireira. Com
que iria eliminar gradativamente todas as muitas empresas hoje movimentando-se para
compras de madeira virgem até o final de obter aprovação do FSC, em breve será um
2002. Em janeiro de 2003, já havia reduzido entrave para outros produtores de madeira não
suas compras de lauan da Indonésia (madeira se certificarem. Michael Marx, da
nobre tropical utilizada em componentes de ForestEthics, observa que “ uma declaração da
portas) em 70%, deslocando mais de 90% de Home Depot fez mais para mudar as práticas
suas compras de cedro para florestas de madeireiras da Colúmbia Britânica do que 10
segunda e terceira geração nos Estados anos de protestos ambientais”.
Unidos. Hoje, a empresa informa saber as Porém, críticos lamentam que a Home Depot
fontes originais de aproximadamente 8.900 não tenha ido longe o bastante no uso de sua
produtos de madeira. força de mercado para influenciar seus
A Home Depot também comprometeu-se a fornecedores. Um obstáculo tem sido o custo
dar preferência a produtos certificados como mais alto na compra de madeira certificada ou
originários de florestas sob manejo sustentável. na produção de alternativas sintéticas, embora a
(Atualmente, cerca de 1% da madeira vendida Home Depot tenha concordado em absorver
mundialmente é certificada). Entre 1999 e 2002, qualquer aumento de preço. Outro desafio foi
o número de seus fornecedores que vendiam afastar consumidores de opções
madeira aprovada pelo Forest Stewardship ambientalmente inseguras. De acordo com a
Council (FSC) – Conselho de Manejo Florestal empresa, poucos clientes pedem,
–, um dos principais órgãos de certificação especificamente, madeira certificada.
florestal, saltou de apenas 5 para 40, e o valor _______________________________________________________
de suas compras certificadas disparou de US$ FONTE: vide nota final 32.
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sições Verdes, a fim de desenvolverem cri- critérios estabelecidos pela Green Seal,
térios e linguagem contratual uniformes para uma organização americana sem fins lu-
aquisições verdes de energia, papel e pro- crativos que desenvolveu padrões
dutos de limpeza. Um grupo de trabalho ambientais rigorosos em cerca de 30 ca-
conquistou uma grande vitória ao concor- tegorias de produtos. Uma das grandes pre-
dar com um conjunto único de critérios para ocupações é que a escolha de produtos de
a identificação de produtos verdes de lim- rotulagem específica poderá criar uma
peza em contratos públicos (anteriormen- barreira comercial injusta, nos termos da
te, os compradores chegavam a utilizar até regras da Organização Mundial do Comér-
17 tipos diferentes de linguagem cio, discriminando pequenos fornecedo-
contratual).53 res, que talvez não possam arcar com os
Muitos compradores (e outros consu- custos de qualificação às condições dos
midores) também procuram orientação so- rótulos. (Vide Capítulo 7.)55
bre iniciativas nacionais, regionais e globais
de ecorrotulagem. Ecorrótulos são selos de
aprovação utilizados para indicar que um A Rede de Aquisições Verdes,
produto atende a critérios específicos de do Japão, tem hoje cerca de
segurança ambiental durante uma ou mais 2.730 membros, incluindo Sony,
etapas de seu ciclo de vida. Embora a varie-
Toyota e Canon.
dade de produtos e serviços ecorrotulados
seja relativamente pequena, esses rótulos já
podem ser encontrados em vários itens, des- Tem surgido também forte oposição
de eletricidade verde até produtos de madei- à ecorrotulagem por parte da indústria,
ra. Os certificadores incluem órgãos gover- particularmente nos Estados Unidos. O
namentais, ONGs, grupos profissionais ou presidente da Green Seal, Arthur
privados e entidades de certificação interna- Weissman, explica que fabricantes como
cional. (Vide também Capítulo 5.)54 Procter & Gamble, principal produtor de
Algumas instituições permitem que seus artigos domésticos, utilizam várias táti-
compradores exijam especificamente itens cas – desde argumentos legais até forte
ecorrotulados em seus contratos. A cidade lobby governamental – para evitar que
de Ferrara, na Itália, por exemplo, procura produtos verdes certificados entrem no
comprar papel com o rótulo da Nordic mercado americano. “Na visão deles, in-
Swan. Porém muitos compradores (parti- terrompo o relacionamento com o con-
cularmente governamentais) hesitam em sumidor”, diz Weissman... “terceiros in-
endossar produtos ecorrotulados específi- terferindo com a marca”. 56
cos, exigindo, em vez disso, que seus for- Em alguns casos, fabricantes globais
necedores satisfaçam os critérios básicos com múltiplas linhas de produtos têm
dos rótulos. O estado da Pensilvânia de- resistido aos esforços de especificar qual-
monstrou o desejo de adquirir apenas pro- quer um dos seus produtos como
dutos de limpeza e tintas que atendam aos ambientalmente desejável, por temerem
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po, que ajuda seus membros na troca de in- para 130 especificações de contrato em
formações e experiências, na união de esfor- âmbito municipal, estadual e federal, para
ços e nas aquisições verdes conjuntas. A or- 523 normas de desempenho ambiental de
ganização também realiza conferências anu- produtos e para 25 listas de vendedores e
ais e edita uma revista, distribuída para mais produtos que atendem a essas normas.60
de 5.000 compradores na Europa. E, em um O Center for a New American Dream,
dos seus primeiros esforços, a ICLEI está de Maryland, ajuda grandes compradores,
trabalhando num projeto para quantificar a particularmente governos estaduais e mu-
economia ambiental associada a aquisições nicipais, a incorporarem considerações
verdes, a fim de determinar a melhor manei- ambientais em suas decisões de compra.
ra de combinar estrategicamente o poder de Seu Programa de Estratégias Aquisitivas foi
compra das cidades e divulgar aquisição ver- um motivador por trás da Iniciativa Norte-
de por toda a Europa. Por exemplo, o projeto Americana de Aquisições Verdes, em 2002,
constatou que a substituição dos 2,8 milhões que visa gerar uma massa crítica para aqui-
de computadores que os governos da UE sições verdes no continente. O grupo tam-
adquirem anualmente por modelos eficientes bém pretende agir como câmara de com-
em energia poderá reduzir as emissões euro- pensação para informações sobre aquisições
péias em mais de 830.000 toneladas de dióxido verdes para fabricantes, compradores e for-
de carbono equivalente.59 necedores.61
Na América do Norte, o principal pro- A Rede de Aquisições Verdes (RAV), do
ponente de aquisições institucionais verdes Japão, agrega cerca de 2.730 organizações,
é o programa Aquisições Ambientalmente De- incluindo mais de 2.100 empresas (entre
sejáveis, da Agência de Proteção Ambiental elas Panasonic, Sony, Fuji, Xerox, Toyota,
(EPA), criado em 1993 por decreto presi- Honda, Canon, Nissan e Mitsubishi); 360
dencial. O programa oferece apoio e infor- prefeituras em locais como Tóquio, Osaka,
mações em áreas como construção, produ- Yokohama, Kobe, Sapporo e Kyoto e 270
tos de escritório, serviços de conferências e grupos de consumidores, cooperativas e
impressão, produtos de limpeza, aquisições outras ONGs. A RAV realiza seminários e
para lanchonetes e produtos eletrônicos. A exposições pelo país sobre aquisições ver-
EPA também lançou vários projetos-piloto, des, publica diretrizes de compras e livros
incluindo parcerias com o Departamento da de dados ambientais de diferentes produ-
Defesa (para esverdear operações e instala- tos e serviços e distribui prêmios a organi-
ções militares) e com o Serviço Nacional de zações exemplares.62
Parques (para ajudar os parques tanto a Na área de educação superior, mais de
esverdearem suas compras quanto educa- 275 presidentes e chanceleres de universi-
rem os visitantes sobre consumo). Através dades em mais de 40 países assinaram a
da sua base central de dados, a EPA tam- Declaração de Talloires, em 1990, um pla-
bém atua como câmara de compensação para no de ação de 10 pontos que, entre outras
mais de 600 produtos e serviços coisas, encoraja as universidades a estabe-
ambientalmente desejáveis, incluindo links lecerem políticas e práticas de conserva-
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COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA
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COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA
Na maioria dos casos, todavia, já é um to dentro quanto fora das instituições mem-
grande desafio conseguir simplesmente que bros. Esse grupo interagências espera tam-
instituições internacionais comprem dos bém incorporar critérios de justiça social
países em desenvolvimento, quanto mais às decisões licitatórias dos membros.68
comprar verde. Embora algumas dessas Evidentemente, as instituições mundi-
instituições tentem efetivamente comprar ais têm um poder significativo de realizar
localmente, suas aquisições geralmente fa- mudanças sociais e ambientais por inter-
vorecem empresas do mundo industriali- médio de suas aquisições. Mas não im-
zado. (Na realidade, a maioria das agências porta quão ambientalmente seguras sejam
doadoras atrelam sua ajuda a aquisições em essas aquisições: elas ainda utilizam recur-
seus próprios países.) Em 2000, apenas um sos e geram resíduos. A fim de mitigar
terço das aquisições do sistema das Nações realmente os impactos de seu consumo,
Unidas foi no mundo em desenvolvimento. as instituições precisarão buscar meios
Ocasionalmente, essas instituições fazem para atender a suas necessidades sem ad-
exigências socialmente responsáveis em quirirem novos produtos – por exemplo,
suas aquisições: o UNICEF, por exemplo, eliminando compras desnecessárias e es-
busca desenvolver políticas e estratégias de tendendo a vida útil dos produtos existen-
origens que apóiem metas nacionais de in- tes. Pori, na Finlância, implementou um
cremento ao bem-estar das crianças. Mas, serviço urbano de reutilização de merca-
até agora, raramente especificam critérios dorias que permite aos funcionários de
ambientais devido, em parte, ao risco de qualquer repartição municipal negociar ou
essas especificações contratuais alienarem dar produtos que não precisem mais. E
pequenos fornecedores que talvez não pos- desde 1994 o projeto SWAP (sigla em in-
sam atendê-las.67 glês de Sobras com Objetivo), da Univer-
Ao incrementar aquisições verdes nos sidade de Wisconsin-Madison, subseqüen-
países em desenvolvimento, as instituições temente ampliado para todo o estado, vem
internacionais podem não apenas estimular ajudando a redirecionar produtos usados
mercados, mas também aprimorar sua ima- – como mobília de escritório, computa-
gem em função das constantes críticas dores e outros – de aterros para outros
sobre os impactos ambientais de suas ati- usuários no campus e em todo o estado.69
vidades. Há interesse crescente, por exem- Aquisições verdes não são a única for-
plo, em inserir critérios ambientais nas lici- ma de minimizar os problemas associa-
tações associadas a empréstimos do Ban- dos ao consumo excessivo. Mas é um
co Mundial, como parte de esforços maio- passo importante no caminho para um
res para esverdear as operações do Banco. mundo mais sustentável. Como indivídu-
O Banco está hoje trabalhando com uma os, precisaremos pressionar organizações
coalizão de outros bancos multilaterais de para as quais trabalhamos e das quais de-
desenvolvimento, agências da ONU e pendemos para que se unam a nós na
ONGs para estimular aquisições verdes tan- construção deste mundo.
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COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA
AT R Á S D O S B A S T I D O R E S
Papel
Durante a maior parte de sua história, o papel fibroso como conhecemos
papel existiu como uma mercadoria foi inventado na China, menos de
preciosa e rara. Agora cobre o 2.000 anos atrás. Nos dois
planeta. Nos tempos atuais, milênios seguintes, trapos e
dificilmente notamos a cânhamo eram as matérias-primas
quantidade de papel mais populares na fabricação do
passando por nossas vidas. papel. A Bíblia de Guttenberg, o
Do conteúdo de nossas primeiro e segundo esboço da
caixas de entradas às Declaração de Independência
cédulas de nossas carteiras dos Estados Unidos e as obras
e até as embalagens de originais de Mark Twain foram
nossos jantares congelados, o todos impressos em papéis feitos de
papel está sempre à mão. cânhamo. Só a partir de 1850 Friedrich
Mundialmente, o consumo do papel Gottlob Keller, da Alemanha, inventou um
aumentou mais de seis vezes na última método de fabricar papel a partir da
metade do século XX. Os Estados Unidos – madeira.Foram necessárias várias décadas
com 331 kg por pessoa, anualmente, e para árvores tornarem-se a matéria-prima
aproximadamente 30% do uso total mundial preferida, quando outros refinaram as
por ano – são o maior consumidor de papel. técnicas de Keller e descobriram novos
Numa base per capita, os japoneses vêm a métodos de produção em massa de papel,
seguir, com 250 kg por pessoa. Embora baseados na madeira.2
inventado como um meio de comunicação, No século XXI, dificilmente pensamos em
cerca da metade do papel consumido pela papel derivado de outra coisa que não de
sociedade atualmente tem outro destino: papel. Realmente, 93% do papel atual vem de
embalagem. De precioso a descartável – o árvores, e a produção de papel é responsável
papel hoje é responsável por grande parte pela colheita de um quinto da madeira em
do lixo moderno, representando 40% do lixo todo o mundo. Atualmente, 55% do
sólido urbano que sobrecarrega muitos suprimento total provém do corte de novas
países industrializados.1 árvores, 7% provêm de fontes não-arbóreas e
Embora o papel seja derivado do os 38% restantes são provenientes da
“papiro”, uma planta aquática colhida, reciclagem de papel feito de madeira.3
amassada e prensada para que os antigos Árvores em todo o mundo alimentam o
egípcios registrassem seus hieróglifos, o suprimento de papel. As florestas dos
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ATRÁS DOS BASTIDORES: PAPEL
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ATRÁS DOS BASTIDORES: PAPEL
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ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA
CAPÍTULO 7
Articulando Globalização,
Consumo e Governança
Lisa Mastny
Em maio de 2003, uma delegação de líderes nia Equatoriana declaram que a posição de
indígenas da Amazônia Equatoriana e Perua- nossas comunidades é não para a explo-
na visitou Washington, DC, para expor o pe- ração do petróleo, não para diálogo e ne-
sado ônus ambiental e social da extração de gociações, não para desmatamento, não
petróleo por corporações americanas em suas para contaminação e não para todas ativi-
terras. Em seguida às reuniões em Washing- dades ligadas ao petróleo”.2
ton, a delegação seguiu para Houston, Texas, Esses líderes indígenas trazem vividamente
para encontros com a Burlington Resources, à tona o dano enorme e, quase sempre, ocul-
uma empresa que possui duas concessões to que o consumo dos países mais ricos do
de petróleo numa área de 400.000 hectares mundo pode causar a povos e lugares distan-
dentro de seu território ancestral.1 tes. A visita dessa delegação colocou uma face
Em nome dos 100.000 Shuar, Achuar humana na tendência da economia global
e Quichua que vivem em aproximadamente moderna de isolar os consumidores dos vári-
1,6 milhão de hectares de florestas tropi- os impactos negativos de suas compras ao
cais virgens, a delegação entregou uma distanciar as diferentes fases do ciclo de vida
carta ao diretor-presidente da Burlington de um produto – da extração da matéria-
Resources, exigindo que a empresa ces- prima ao processamento, uso e disposição
sasse todas as atividades na área e deixas- final. Quando as vendas de veículos utilitá-
se o território imediatamente. Citando a rios esportivos dispararam nos Estados
contaminação tóxica e destruição flores- Unidos durante a última década, por exem-
tal deixadas pelas operações petrolíferas plo, será que alguns de seus novos propri-
anteriores em outros locais na Amazônia, etários pararam para pensar na ligação en-
o presidente da Federação Independente tre sua aquisição e o destino de povos indí-
dos Povos Shuar declarou enfaticamente genas cujas vidas e meios de vida foram
que “os povos Shuar e Achuar da Amazô- vilipendiadas na ânsia pelo petróleo?3
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ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA
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ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA
Hennes & Mauritz Empresa sueca de confecções que emprega 39.000 pessoas em 17 países europeus e
Estados Unidos. Opera 893 estabelecimentos e pretende inaugurar mais 110, expandindo-
se para o Canadá em 2003. O faturamento em 2002 foi de US$ 6,8 bilhões. H&M tem
fornecedores na Europa e Ásia.
Levi Strauss Empresa americana que vende confecções em mais de 100 países, com marca registrada
em 160 nações. Emprega 12.400 pessoas mundialmente. Divulgou vendas totais de
US$ 4,1 bilhões em 2002 e uma receita líquida de US$ 151 milhões em 2001.
Tata Group O Tata Group opera em sete setores industriais, incluindo transportes, energia, produtos
químicos e serviços de comunicação. Desenvolvida na Índia, hoje tem parcerias em 11
países em todo o mundo. Divulgou um faturamento de US$ 2,9 bilhões em 2001– 2002,
mais que o dobro do ano anterior.
Altria Group, Inc. O Altria Group é a empresa controladora de Kraft Foods, segunda maior empresa de
alimentos do mundo, e da Philip Morris, a mais lucrativa empresa internacional de
cigarros. O Altria Group teve uma receita líquida de US$ 80,4 bilhões em 2002,
incluindo US$ 28,7 bilhões do mercado internacional de tabaco. Emprega 169.000
pessoas em 150 países.
Siemens Essa empresa alemã emprega 426.000 pessoas e está representada em 190 países. Vende
telefones celulares, computadores, medicamentos, artigos de iluminação e sistemas de
transporte. Em 2002, o faturamento líquido da Siemens somou US$ 96,4 bilhões, 79%
dos quais internacionalmente. Um milhão de pessoas possuem ações da empresa.
Yum! Brands Anteriormente parte da PepsiCo, essa empresa e suas seis subsidiárias – KFC, Pizza Hut,
Taco Bell, A&W, All-American Food Restaurants e Long John Silvers – registraram um
faturamento global superior a US$ 24 bilhões em 2002. Opera 32.500 restaurantes em
mais de 100 países e empregou 840.000 pessoas em 2002. Yum! Brands inaugurou 1.000
restaurantes fora dos Estados Unidos em 2001, quase 3 por dia. A China hoje tem 800
KFCs e 100 Pizza Huts.
McDonald’s Corp. McDonald’s serve 46 milhões de fregueses diariamente. Opera 30.000 restaurantes em
119 países. Sua receita total em 2002 foi US$ 15,4 bilhões. No dia da inauguração na
cidade de Kuwait, a fila do drive-thru tinha 10 quilômetros de extensão.
Domino’s Pizza Domino’s inaugurou seu 7.000o estabelecimento em 2001 e opera em 60 países. As vendas
em todos os países totalizaram US$ 4 bilhões em 2002. Seu serviço de entrega em
domicílio percorre mais de 14 milhões de quilômetros só nos Estados Unidos. Utiliza 67,7
milhões de quilos de queijo anualmente e 12,1 milhões de quilos de pepperoni.
Coca-Cola Coca-Cola vende mais de 300 marcas de refrigerantes em mais de 200 países. Mais de 70%
da sua receita vem de fora dos Estados Unidos e, em 2002, sua receita líquida atingiu
US$ 19,6 bilhões. Coca-Cola emprega 60.000 pessoas só na África.
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Milhões de Toneladas
60
Fonte: FAO
50
Açúcar e Adoçantes
40
30
Arroz
Legumes e
20 Verduras
Soja
10
Carne
0
1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005
Hectares
25
Fonte: Redefining Progress
20
Capacidade Disponível Pegada Ecológica
15
10
0
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Várias outras organizações internaci- O PNUMA é outro ator ativo nos esfor-
onais estiveram ativas nas questões de ços para promover consumo sustentável em
produção e consumo durante a década escala global. Esse programa das Nações
após a Cúpula da Terra. A Organização Unidas, sediado em Nairobi, lançou uma Ini-
para Cooperação e Desenvolvimento ciativa de Ciclo de Vida em 2002, reunindo
Econômico, com sede em Paris, um líderes industriais, acadêmicos e legisladores,
fórum de políticas econômicas e soci- para encorajar o desenvolvimento e dissemi-
ais para os principais países industriali- nação de instrumentos práticos para avalia-
zados do mundo, patrocinou uma série ção dos impactos ambientais dos produtos
de reuniões e pesquisas visando enco- ao longo de suas vidas. O PNUMA também
rajar governos a implementarem políti- coopera com outras agências das Nações
cas inovadoras sobre produção e consu- Unidas e Banco Mundial para incentivar a co-
mo sustentáveis, incluindo sistemas de laboração no esverdeamento de procedimen-
ecorrotulagem que ajudem os consumido- tos licitatórios nessas instituições. Trabalha
res a selecionar produtos ambientalmente com indústrias de porte na busca de um con-
seguros, legislação de “devolução”, que sumo sustentável, inclusive nos setores de
obriga os fabricantes a recolher as emba- publicidade, moda, finanças e varejo, para
lagens e produtos descartados, reduções encorajá-los a adotar medidas que promovam
nos subsídios governamentais a indústrias a produção e consumo sustentáveis. E pro-
ambientalmente danosas e impostos cura engajar organizações não-governamen-
ambientais para internalizar os custos tais (ONGs) na mudança para o consumo
ambientais nos preços dos produtos. sustentável, inclusive grupos de consumido-
(Vide Capítulo 5.)16 res e de jovens.(Vide Quadro 7-2.)17
Há mais de 1 bilhão de jovens entre as idades de comprar mais. Com a globalização do cinema,
15 e 24, de acordo com o Fundo de População televisão e publicidade, há o perigo de que a
das Nações Unidas, e mais de 500 milhões de tendência dessa mídia de glorificar estilos jovens
jovens entrarão na força de trabalho nos países e materialistas de vida nos países mais afluentes
em desenvolvimento ao longo da próxima do mundo possa ter um impacto negativo nas
década. Esses números sinalizam a imensa atitudes e padrões de consumo de outros jovens.
influência em potencial que os jovens podem ter Em resposta a essas tendências, o Programa
na determinação de um futuro melhor, como das Nações Unidas para o Meio Ambiente e
resultado de suas escolhas de estilo de vida e UNESCO realizaram uma pesquisa em 2000 –
contribuições profissionais. Porém, os poderes chamada “Será que o Futuro é Seu?” – sobre
de compra e tomada de decisão de 1 bilhão de atitudes de consumo entre jovens de 18 a 25
jovens hoje estão longe de uma homogeneidade. anos. Mais de 8.000 pessoas em 24 países
Metade deles vive na pobreza. Na outra ponta responderam à pesquisa, fornecendo
do espectro, jovens em sociedades afluentes informações importantes sobre as aspirações e
representam uma parcela crescente do consumo interesses da juventude, sua conscientização
total, e estão sob pressão constante para sobre o consumo ambientalmente e eticamente
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A União Européia proibiu a importação de carne bovina dos Estados Unidos após ter verificado a presença de
hormônios de crescimento, por considerá-los um risco à saúde. Os Estados Unidos ajuizaram uma ação de
contestação no Órgão de Resolução de Disputas da OMC, argumentando que a proibição representava uma
barreira comercial injusta. Em 1998, o Painel da OMC determinou que a proibição da UE contrariava as regras
da OMC. A UE recusou-se a abolir a proibição. Em 1999, em retaliação, os Estados Unidos impuseram
restrições comerciais de US$ 117 milhões anuais contra a UE. Em outubro de 2003, após a divulgação de
novos estudos que demonstravam que hormônios de crescimento representam um risco à saúde humana, a UE
emitiu uma nova diretiva, aprimorando suas proibições de vários hormônios de crescimento encontrados em
carnes. Alegando que essa nova diretiva segue as recomendações da OMC, a UE espera que os Estados Unidos
retirem suas restrições comerciais.
Em seguida à Lei de Proteção aos Mamíferos Marinhos, os Estados Unidos impuseram um embargo ao atum
mexicano pescado por meio de técnicas polêmicas conhecidas como “enredamento de golfinhos”. O México
argumentou que esse embargo criou uma barreira comercial injusta, ajuizando uma ação nos termos da legislação
do Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT). Em setembro de 1991, o painel do GATT concluiu que os
Estados Unidos não podiam embargar as importações de atum mexicano, uma vez que o embargo referia-se à
forma como o atum era produzido, e não à qualidade ou conteúdo do produto.
A Índia, juntamente com outros países asiáticos, ajuizou uma reclamação na OMC quando os Estados
Unidos proibiram importações de camarão e produtos específicos deste fruto do mar. Nos termos da Lei de
Espécies Ameaçadas de Extinção, os Estados Unidos exigiram que barcos pesqueiros de camarão utilizassem
“dispositivos excludentes de tartarugas”, a fim de evitar que tartarugas marinhas ameaçadas ficassem presas
às redes de camarão. Os Estados Unidos perderam a questão porque discriminaram os países asiáticos ao não
lhes prestar assistência técnica adequada de proteção às tartarugas. Embora o órgão de apelação da OMC
tenha decidido contra os Estados Unidos, esclareceu que um país tem o direito de impor sanções comerciais
para proteger seu ambiente doméstico.
Em 1991, receando a exaustão de seus estoques de peixe-espada, o Chile deixou de permitir que barcos
espanhóis aportassem em seu país ou obtivessem novas licenças de pesca. A pesca predatória e proibições
visando a regeneração dos pesqueiros reduziram a pesca anual de peixe-espada pela metade entre 1994 e
1999. A UE alega que o veto do Chile a barcos espanhóis, prejudicando o transporte de mercadorias de
embarcações-fábrica para navios de exportação, viola acordos da OMC sobre o livre movimento de
mercadorias. O Chile argumenta que a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar autoriza-lhe
a proteger seus recursos marinhos. Em novembro de 2000, a UE solicitou que o painel da OMC resolvesse
a disputa. O painel, todavia, foi suspenso, quando a UE e Chile chegaram a um acordo, em janeiro de 2001.
Esse acordo permitiu que alguns barcos da UE atracassem em portos chilenos e forneceu monitoramento
científico multilateral pra o pesqueiro em questão.
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O Canadá contestou uma proibição francesa ao amianto de crisotilo, um mineral cancerígeno encontrado em
muitos produtos. O Canadá alegou que uma proibição ampla violava a exigência da OMC de utilizarem-se
meios “menos restritivos ao comércio” em relação a questões de saúde. Um painel da OMC manteve a
proibição da França ao amianto. Reafirmando o fato de que amianto é cancerígeno, o painel opinou, em
fevereiro de 2001, que existem alternativas mais seguras. A sociedade civil saudou essa decisão como “a
primeira vez em seus cinco anos” que a OMC decidia a favor da saúde pública.
A União Européia argumenta que podem existir riscos à saúde e ecologia associados a organismos
geneticamente modificados (transgênicos) e tem sido reticente na aprovação do uso ou importação
desses produtos. O governo dos Estados Unidos não considera os transgênicos perigosos à saúde e o
Canadá declarou que não há base científica para a norma da UE. Nos termos da legislação dos
transgênicos, adotada pelo Parlamento Europeu em julho de 2003 e que deverá entrar em vigor no
início de 2004, a UE estabelece que todos os produtos alimentícios e rações animais que contenham
mais de 0,9% de organismos geneticamente modificados sejam rotulados como tal e que todos os
produtos alimentícios geneticamente modificados devem ter sua origem determinada. Em agosto, os
Estados Unidos, Canadá e Argentina solicitaram à OMC a formação de um painel de arbitragem para
julgar a proibição da UE aos transgênicos.
O setor pecuário dos Estados Unidos caminho para o governo dos Estados Uni-
convenceu o governo a defender a causa dos retaliar, aplicando em julho de 1999,
perante a OMC, tendo o governo argumen- com autorização da OMC, tarifas de 100%
tado que a lei não se justificava cientifica- sobre US$ 117 milhões de importações eu-
mente nem se baseava numa avaliação ade- ropéias, incluindo sucos de fruta, mostar-
quada de risco. A Comissão Européia, to- da, carne suína, trufas e queijo Roquefort.
davia, sustentou que a lei era consistente Quatro anos depois, a lei européia ainda
com o princípio da precaução, uma norma estava em vigor e as sanções também,
emergente no direito internacional que pre- embora a UE esteja reclamando sua aboli-
ceitua que, “quando houver perigo de dano ção, uma vez que concluiu uma avaliação
grave ou irreversível, a falta de uma certe- de risco que, segundo ela, valida sua lei.30
za absoluta não deverá ser utilizada para Enquanto isso, UE, Estados Unidos e
postergar-se a adoção de medidas eficazes outros países estão hoje enredados em ou-
para prevenir a degradação ambiental”. Mas tra grande polêmica do comércio agrícola –
um painel de apelação da OMC decidiu, em uma com implicações importantes tanto no
fevereiro de 1998, que a lei européia viola- direito dos consumidores de fazerem suas
va, de fato, as regras da OMC, abrindo próprias escolhas quanto aos possíveis im-
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foram mistas, mesmo entre ONGs. Alguns consenso entre uma grande diversidade de
acharam que o fracasso revelou falta de interesses em todo o mundo. Mesmo as-
vontade política no confrontamento de sim, os eventos recentes sugerem que os
questões urgentes de desenvolvimento; termos do debate estão mudando, já que
outros viram Cancun como um ponto crí- pessoas em todo o mundo perceberam que
tico fundamental em que governos de paí- nosso rumo insustentável atual ameaça
ses em desenvolvimento uniram-se numa tanto o bem-estar da humanidade quanto
nova e poderosa coalizão, apoiados por uma a saúde ecológica. Embora as forças po-
sociedade civil fortalecida.37 derosas do Jihad e do McMundo continu-
Nos meses futuros, governos e orga- em a varrer o globo, a esperança para o
nizações da sociedade civil, conjuntamente, futuro vem do crescente número de pes-
contemplarão as grandes lições dos even- soas que rejeitam ambos os caminhos e
tos recentes. O caminho à frente não está apóiam o desenvolvimento de uma comu-
totalmente claro, com a situação compli- nidade global baseada no respeito pelas
cada pela necessidade de se formar um pessoas e pela natureza.
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ARTICULANDO GLOBALIZAÇÃO, CONSUMO E GOVERNANÇA
AT R Á S D O S B A S T I D O R E S
Camisetas de Algodão
Em 1913 a Marinha dos Estados incluindo organofosfatos
Unidos lançou uma roupa como parathion e
de baixo branca de diazinon, que são
algodão para todo o particularmente
efetivo – primeiro nocivos ao sistema
registro do aparecimento nervoso de bebês e
da camiseta. Em 1938, a crianças.2
grande cadeia Sears Os pesticidas utilizados
introduziu uma linha de no algodão contaminam e
camisetas para uso civil. também matam trabalhadores
Mas só nos anos 50 essa rurais. Entre 1997 e 2000, os
peça tornou-se realmente campos de algodão foram os
popular, graças aos galãs rebeldes locais dos 116 casos de
Marlon Brando, James Dean e Elvis Presley.1 envenenamento agudo de agricultores por
Atualmente, camisetas são uma maneira pesticidas registrados na Califórnia. E em
relativamente barata de consumidores em 2001 a morte de mais de 500 agricultores de
todo o mundo exibirem a logomarca de uma algodão no estado produtor de Andhra
grife favorita, um time ou designer. Mas, Pradesh, na Índia, foi atribuída à exposição a
mesmo quando feitas de algodão natural, as pesticidas. Em muitos casos, agricultores
camisetas representam um custo alto para desconhecem ou não aplicam
os operários e o meio ambiente. procedimentos de segurança adequados
Algodão é a fibra mais vendida no mundo quando manuseiam e utilizam produtos
e fazendeiros, do Texas à Turquia, colhem químicos: em uma pesquisa no Benin, África
mais de 19 milhões de toneladas anualmente. Ocidental, 45% dos produtores de algodão
Todavia, o cultivo carrega no seu bojo uma declararam que usam recipientes de
carga ambiental. Os produtores aplicam pesticidas para carregar água, enquanto 20–
quase US$ 2,6 bilhões de pesticidas no 35% os utilizam para colocar leite ou sopa.
algodão, anualmente, em todo o mundo – Pessoas também foram afetadas em fábricas
mais de 10% do total global, de acordo com a e comunidades onde os pesticidas do
Pesticide Action Network North América. A algodão são produzidos: em1984, o
Organização Mundial de Saúde classificou criminoso vazamento de gás tóxico nas
muitos dos pesticidas comumente utilizados instalações da Union Carbide, no Bhopal,
no algodão como “extremamente perigosos”, Índia, matou 8.000 pessoas.3
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gastaram US$ 6,2 bilhões em 478 milhões cultivado sem pesticidas e fertilizantes
de camisetas em 2002.) Do mesmo modo sintéticos. Em um projeto agrícola egípcio,
que em muitos países em desenvolvimento, o cultivo orgânico incrementou a
os trabalhadores da indústria de produção de algodão em mais de 30%,
confecções na China recebem salários sendo a fibra transformada em tecido sem
menores e trabalham mais horas. A nenhum produto químico sintético. A
indústria de confecções nos países melhor opção, em termos de bem-estar do
industrializados geralmente exploram a trabalhador, é o produto certificado pela
mão-de-obra na América Central e sudeste Fair Trade Federation. Numa tendência
da Ásia, onde a legislação trabalhista e positiva, o algodão orgânico e fabricantes
ambiental é muito menos rigorosa do que de confecções de comércio justo estão se
nos seus países de origem.10 unindo para proteger o ambiente e, ao
O que faz o usuário de camisetas? A mesmo tempo, promover a justiça social. 11
escolha mais ecológica, não sendo a
compra de roupa usada, é uma camiseta — Mindy Pennybacker,
feita de algodão orgânico certificado, The Green Guide
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COMPRANDO PARA AS PESSOAS E O PLANETA
CAPÍTULO 8
Repensando a
Boa Vida
Gary Gardner e Eric Assadourian
Bogotá, a capital da Colômbia, é comumente via elevada ao custo de US$ 600 milhões,
associada com guerra civil e violência. Mas, uma solução de transporte padrão em mui-
nos fins da década de 90, a reputação da tas cidades engarrafadas por automóveis. Em
cidade começou a mudar, quando o Prefeito vez disso, o Prefeito criou um sistema de
Enrique Peñalosa liderou uma campanha transporte rápido e mais barato usando as
para melhorar a qualidade de vida lá. As linhas de ônibus existentes. O sistema trans-
matrículas escolares aumentaram em porta 780.000 passageiros diariamente
200.000 estudantes – cerca de 34% – du- – mais do que o dispendioso metrô de
rante o mandato de Peñalosa. Sua adminis- Washington, DC – e é tão bom que 15%
tração construiu ou reconstruiu totalmente dos usuários regulares são proprietários de
1.243 parques – alguns pequenos, outros carros. Peñalosa também investiu em cen-
bastante grandes – agora usados por cerca tenas de quilômetros de ciclovias e em cal-
de 1,5 milhão de visitantes anualmente. Um çadões. E incrementou a infra-estrutura cul-
sistema de transporte rápido, eficiente, aces- tural da cidade, com a construção de novas
sível a todos, foi planejado e construído. E bibliotecas e escolas, ligando-as a uma rede
a taxa de assassinatos da cidade caiu dra- de 14.000 computadores. Juntamente com
maticamente: hoje, ocorrem menos assassi- a reabilitação dos parques, as melhorias no
natos, per capita, em Bogotá do que em transporte e culturais incentivaram uma meta
Washington, DC.1 estratégica para Bogotá: orientar a vida ur-
Seja qual for o padrão, o avanço da cida- bana em torno de pessoas e comunidades.2
de é um sucesso de desenvolvimento. No Peñalosa baseia-se num parâmetro
entanto, a transformação de Bogotá foi incomum para avaliar sua estratégia de de-
alcançada de uma maneira bastante hetero- senvolvimento. “Uma cidade é bem-suce-
doxa. Quando Peñalosa assumiu, consulto- dida não quando é rica”, diz ele, “mas quan-
res propuseram a construção de uma rodo- do sua população é feliz”. Essa declaração
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• Boas relações sociais, inclusive uma parado com os níveis de felicidade. Nos
vida de coesão social e uma estrutura Estados Unidos, por exemplo, a renda
de apoio social; média individual mais que dobrou entre
• Segurança, tanto em termos pessoais 1957 e 2002, embora a parcela de pesso-
quanto de posses pessoais, e as descrevendo-se como “muito felizes”
• Liberdade, o que inclui a capacidade no mesmo período tenha permanecido
estática. (Vide Figura 8-1.)7
de atingir o potencial de desenvolvi-
mento. 6
Em suma, o termo de- 25.000 Renda Média Porcentagem de Pessoa Muito Felizes
100
nota essencialmente uma (base=1995)
alta qualidade de vida, na
qual as atividades diárias 20.000 80
desenvolvem-se de forma Renda Média
mais planejada, com menos
15.000 60
estresse. Sociedades cen-
tradas no bem-estar envol-
vem maior interação com 10.000 Pessoas Muito Felizes
40
a família, amigos e vizi-
nhos, uma experiência
mais direta com a natureza 5.000 20
e mais dedicação à procu-
ra de realização e expres- Fonte: Myers
0 0
são criativa do que acumu- 1955 1965 1975 1985 1995 2005
lação de bens. Estas
enfatizam estilos de vida Figura 8-1. Renda Média e Felicidade nos Estados Unidos,
que evitam abuso da pró- 1957–2002
pria saúde, do próximo ou
do mundo natural. Ou seja, geram um sen- Não é de surpreender que a relação en-
tido mais profundo de satisfação com a tre riqueza e satisfação pessoal seja dife-
vida do que as pessoas têm atualmente. rente nos países pobres. Nestes, renda e
O que é que promove uma vida gratifi- bem-estar estão bem ligados, provavelmente
cante? Nos últimos anos, psicólogos es- porque mais do que a renda individual é
tudando parâmetros de satisfação de vida usada para atender às necessidades bási-
têm, em geral, confirmado o velho adágio cas. (Vide Capítulo 1.) Constatações da
que diz que dinheiro não traz felicidade – World Values Survey, numa série de pes-
pelos menos para pessoas já afluentes. quisas, em mais de 65 países, sobre vida
Essa desconexão entre dinheiro e felici- gratificante, realizada entre 1990 e 2000,
dade nos países ricos é possivelmente mais demonstraram que renda e felicidade ten-
bem ilustrada quando o crescimento da dem a caminhar juntas até mais ou menos
renda nos países industrializados é com- US$ 13.000 de renda anual por pessoa (na
205
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paridade do poder aquisitivo de 1995). Além no, mas crescente, de consumidores está
desse nível, renda adicional parece gerar questionando a forma como fazem compras,
apenas melhoria modesta na felicidade o volume de “coisas” que se amontoam e
autodeclarada.8. complicam suas vidas e o tempo que gas-
Se os psicólogos estão certos sobre os tam no trabalho. Esses consumidores insa-
limites da riqueza na obtenção da felicidade, tisfeitos ainda não criaram um movimento
estão igualmente certos na descrição do que consistente porque suas ações são, basica-
contribui para uma vida gratificante. Repeti- mente, privadas, ocorrendo em bolsões des-
damente, estudos sugerem que pessoas feli- conexos em muitos países. Mesmo assim,
zes tendem a ter relações solidárias fortes, a natureza espontânea dessas atividades pode
senso de controle sobre suas vidas, boa saú- sinalizar um desejo profundo de muitas pes-
de e trabalho compensador. Muito rapidamen- soas construírem uma vida recompensadora
te, esses fatores estão cada vez mais sob para si e suas famílias.10
estresse nas sociedades industrializadas, de Talvez a expressão mais evidente de um
ritmo acelerado, nas quais as pessoas muitas desejo por uma melhor qualidade de vida
vezes tentam usar o consumo como um esteja no número crescente de pessoas que
substituto para as fontes genuínas de felici- fazem compras de olho no bem-estar. Na
dade. Entretanto, há pelo menos alguns indi- Europa, por exemplo, a demanda por ali-
víduos, comunidades e governos que, insa- mentos orgânicos elevou as vendas para US$
tisfeitos com a qualidade da vida, estão de- 10 bilhões em 2002, 8% acima do ano ante-
senvolvendo esforços para construir vidas, rior, quando um público chocado com a
vizinhanças e sociedades de bem-estar. 9 doença da vaca louca e outros sustos ali-
mentícios buscou garantias cada vez maio-
A Potência Um res de segurança em sua alimentação. Ana-
listas de mercado estimam que 142 milhões
Durante o verão de 2003, cerca de 50 mi- de europeus são consumidores de produtos
lhões de americanos inscreveram-se num orgânicos, embora um núcleo “fiel” de 20
Cadastro Nacional Não Liguem, patrocina- milhões tenha representado 69% dos gastos
do pelo governo, destinado a evitar que nesses produtos em 2001. E 150 milhões de
telemarqueteiros os telefonassem. A enxur- pessoas na Europa ou são vegetarianas ou
rada de respostas a esse novo programa do reduziram seu consumo de carne vermelha.11
governo – na essência, uma tentativa de as Enquanto isso, o grupo de consumido-
pessoas resgataram um pouco do seu tem- res nos Estados Unidos interessado em
po e privacidade das táticas de marketing compras que melhorem a saúde e o meio
cada vez mais agressivas – indica a frustra- ambiente já é bastante grande para mere-
ção que muitos sentem quando forças eco- cer o reconhecimento de pesquisadores de
nômicas começam a dominá-los, ao invés mercado como um grupo demográfico dis-
de servi-los. Entretanto, um número peque- tinto. Chamados de consumidores LOHAS*
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– pessoas que têm estilos de vida com saú- temente compensam a menor escolha. E
de e sustentabilidade – estes compram de os membros da Seikatsu não estão só; cer-
tudo, desde lâmpadas fluorescentes com- ca de 50 milhões de pessoas pertencem a
pactas e células solares a café e chocolate cooperativas locais afiliadas à Consumer
de comércio justo (produtos que pagam Coop International, uma entidade interna-
um salário justo aos produtores ou que cau- cional que facilita treinamento para coope-
sam impacto ambiental menor que os pro- rativas locais de consumidores.13
dutos comuns). Esse grupo hoje inclui qua- Em alguns casos, as pessoas voltam-se
se um terço dos americanos adultos e, em para organizações em busca de ajuda para
2000, foi responsável por cerca de US$ 230 tornar seu consumo mais verde. Uma coa-
bilhões em compras – aproximadamente lizão de organizações em 19 países, conhe-
3% dos gastos totais de consumo nos Es- cida como Plano de Ação Global, oferece
tados Unidos. Embora seja uma proporção treinamento a famílias para reduzir o lixo,
relativamente baixa, comparada com o nú- aliviar o uso de energia e mudar para pro-
mero de pessoas identificadas como con- dutos ecoamigáveis. Na Holanda, pelo me-
sumidores LOHAS, isso provavelmente nos 10.000 famílias trabalham no
deve-se às poucas opções de consumo sa- redirecionamento do seu consumo; após o
dio disponíveis atualmente.12 treinamento, essas pessoas reduziram seu
Em muitos países, as pessoas formam lixo doméstico em 28% em média. Seis a
cooperativas para alavancar seu poder de nove meses depois, já haviam alcançado
mercado por uma melhor qualidade de vida. 39%. E em 2003 o governo francês lançou
No Japão, por exemplo, a União de Coope- uma iniciativa semelhante, la famille
rativas de Consumidores Seikatsu Club, durable (a família sustentável), que ofere-
com 250.000 membros, estoca alimentos ce formas práticas de as pessoas viverem
livres de agrotóxicos e aditivos e sustentavelmente no lar, na escola, no tra-
conservantes artificiais, juntamente com balho e durante as férias.14
produtos domésticos livres de toxinas. A E nos Estados Unidos, o Center for a
cooperativa acondiciona seus produtos em New American Dream insta as pessoas a
potes reutilizáveis para reduzir o descarte viverem uma vida com “mais diversão,
de embalagens, que representa 60% do lixo menos tralhas”. Através do seu programa
doméstico. Contrariamente a muitos super- Vire a Maré, o centro encoraja as pessoas
mercados que estocam dezenas de milha- a seguirem um plano de conservação
res de itens individuais, as cooperativas ambiental simples, de nove etapas, envol-
Seikatsu Club mantêm apenas 2.000 itens, vendo ações como substituir torneiras por
principalmente produtos alimentícios. Ca- outras de eficiência hídrica e comer me-
racteristicamente, estocam apenas uma ou nos carne. Os 14.000 membros dessa ini-
duas variedades por item, mas para seus ciativa relatam terem economizado mais de
membros que buscam uma vida mais 500 milhões de litros de água e evitado que
compensadora, a melhor qualidade, os ali- mais de 4 milhões de quilos de dióxido de
mentos sadios e a redução do lixo aparen- carbono fossem liberados na atmosfera.15
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para declararem sua independência nova- material infinito, e sim uma vida equili-
mente – dessa vez, porém, da “pobreza de brada, plena e sustentável para todos”.22
tempo” que acompanhou a ascendência da
cultura do consumo.20 Os Laços que Unem
Nos Estados Unidos, uma aliança chamada
“Fórum da Simplicidade” busca mobilizar os Humanos são seres sociais; portanto, não é
milhões de americanos às voltas com muito de se estranhar que boas relações sejam um
a fazer e com muito pouco tempo. Instituí- dos ingredientes mais importantes para uma
ram 24 de outubro de 2003 como o Dia do alta qualidade de vida. O professor de Políti-
Resgate do Tempo, instando os americanos cas Públicas de Harvard, Robert Putnam,
a deixarem o trabalho cedo, chegarem tarde, observa que “a constatação mais comum em
levarem mais tempo almoçando, ou até mes- meio século de pesquisa sobre os correlatos
mo ausentarem-se do serviço. Milhares ade- de realização de vida... é que a felicidade é
riram a eventos em casas de vizinhos, igrejas melhor vaticinada pela extensão e profundi-
locais, salões de conferências e universida- dade das relações sociais”. Assim, os esfor-
des para discutir a carência de tempo enfren- ços individuais de construção de uma vida
tada por todos os americanos. A data foi es- feliz têm mais probabilidade de sucesso se
colhida deliberadamente – nove semanas an- envolverem a família, amigos ou vizinhos.
tes do fim do ano – para lembrar aos ameri- Felizmente, esforços individuais e comunitá-
canos que são um dos povos que mais traba- rios freqüentemente andam de mãos dadas.
lham no mundo industrializado, permanecen- A pessoa que trabalha menos horas a cada
do 350 horas a mais em serviço (ou seja, nove semana tem mais tempo para a família, os
jornadas semanais), anualmente, do que o tra- amigos e a comunidade. E os laços comuni-
balhador europeu.21 tários, reforçados, por exemplo, quando vi-
Os organizadores esperam utilizar a zinhos compartilham ferramentas ou respon-
energia da iniciativa americana para ini- sabilidades no cuidado de bebês, podem re-
ciar um movimento popular centrado no duzir as despesas domésticas e ajudar as pes-
resgate do tempo para uma maior quali- soas a levarem vidas mais simples.23
dade de vida. A campanha buscaria re- Pessoas que mantêm relações sociais
formar a legislação federal de férias, jor- tendem a ser mais saudáveis – e,
nadas de trabalho e outras medidas que freqüentemente, de forma significativa.
liberariam tempo para os elementos ne- Mais de uma dúzia de estudos de longo
gligenciados da vida, como família, ami- prazo no Japão, Escandinávia e Estados
gos e comunidade. Como explica o co- Unidos revelam que as chances de morrer
ordenador do Dia do Resgate do Tempo num determinado ano, seja qual for a cau-
e produtor de Affluenza, John de Graaf, sa, são duas a cinco vezes maiores nas
“o Movimento do Tempo significa olhar pessoas isoladas do que nas socialmente
além do PIB como medida de uma boa relacionadas. Por exemplo, um estudo
sociedade e entender que o objetivo real constatou que em 1.234 pessoas que so-
da nossa economia não é o crescimento freram ataques cardíacos, a taxa de outro
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ataque em seis meses foi quase o dobro Laços sociais fortes são
para aqueles que viviam sozinhos. E um particularmente úteis na promoção
estudo de saúde e desconfiança nos Esta- do consumo coletivo, o que
dos Unidos, realizado pela Universidade de
Harvard, concluiu que a mudança para um
freqüentemente traz vantagens
estado com alto nível de relações sociais, sociais e ambientais.
vindo de um estado onde este nível é bai-
xo, melhoraria a saúde individual quase na Pesquisadores oferecem várias explica-
mesma extensão que deixar de fumar.24 ções para o elo entre relacionamento social
Um exemplo particularmente marcante e menor risco de saúde. Alguns são extre-
da relação entre relacionamento social e mamente práticos: gente relacionada tem
saúde vem de um estudo da cidade de alguém a quem recorrer quando acontecem
Roseto, na Pensilvânia, que chamou a problemas de saúde, reduzindo a probabili-
atenção dos pesquisadores nos anos 60 em dade de a doença se desenvolver numa con-
função do seu índice de doenças cardía- dição grave. Redes sociais podem reforçar
cas ser menos da metade das cidades vi- comportamentos sadios; estudos revelam
zinhas. As causas usuais dessa anomalia que as pessoas isoladas são mais propen-
– dieta, exercício, peso, fumo, predispo- sas a fumar ou beber, por exemplo. E co-
sição genética, etc. – não explicavam o munidades coesas podem ser mais efica-
fenômeno de Roseto. Na realidade, a po- zes no lobby por tratamento de saúde. Mas
pulação de Roseto era até pior em muitos a ligação pode ser mais profunda. O conta-
desses fatores de risco que seus vizinhos. to social pode efetivamente estimular o sis-
Assim, os pesquisadores investigaram tema imunológico do indivíduo a resistir a
outras explicações possíveis e verificaram doenças e estresse. Animais de laboratório,
que a cidade tinha uma estrutura social por exemplo, têm mais probabilidade de
coesa, que gerou clubes esportivos, igre- desenvolver endurecimento das artérias
jas, um jornal e um grupo de escoteiros. quando isolados, enquanto animais e seres
Socialização informal ampla era a norma. humanos isolados tendem a sofrer respos-
Posteriormente os pesquisadores atribuí- ta imunológica baixa e pressão alta.26
ram os níveis mais altos de saúde aos for- Profissionais de desenvolvimento inter-
tes laços sociais dos moradores – a maio- nacional também reconhecem que laços so-
ria vinha do mesmo vilarejo da Itália e ciais fortes são grandes incentivadores de
trabalhou duro para manter seu senso de desenvolvimento de uma nação. O Banco
comunidade nos Estados Unidos. O triste Mundial, por exemplo, vê o relacionamento
adendo a essa história é que, a partir do social como uma forma de capital – um bem
final dos anos 60, quando os laços sociais que rende uma torrente de benefícios úteis
enfraqueceram nesta cidade e por todo o para o desenvolvimento. Da mesma forma
país, o índice de doenças cardíacas au- que uma conta bancária (capital financeiro)
mentou em Roseto, vindo a superar o da rende juros, os laços sociais tendem a criar
cidade vizinha.25 vínculo, reciprocidade ou redes de informa-
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ção, que lubrificam as rodas da atividade em Bangladesh, que realiza pequenos em-
econômica. Vínculos, por exemplo, facili- préstimos a mulheres extremamente pobres,
tam as transações financeiras ao criar um que não dispõem de garantias para emprés-
clima de confiança nas relações contratuais timos bancários comuns. As mulheres or-
ou na segurança de investimentos. Um es- ganizam-se em grupos de cinco, e cada gru-
tudo de contatos sociais, realizado pelo Ban- po solicita empréstimos do Banco, às ve-
co Mundial, entre comerciantes agrícolas de zes, inferiores a US$ 100. Elas contam com
Madagáscar comprovou que aqueles que sua confiança nas vizinhas quando as con-
faziam parte de uma extensa rede de co- vidam para se unir ao grupo. Essa função
merciantes e que podiam contar com cole- da informação – algo como onde bancos
gas em épocas de dificuldades tinham renda comerciais gastam dinheiro quando compi-
superior aos comerciantes com menos con- lam um histórico de crédito de um solicitante
tatos. De fato, os comerciantes bem-relaci- – é um exemplo de como o capital social
onados declararam que as relações são mais pode reduzir os custos da atividade finan-
importantes para seu sucesso do que mui- ceira. Laços sociais também servem como
tos fatores econômicos, inclusive o preço garantia para empréstimos. Uma vez que as
de suas mercadorias ou o acesso a crédito mulheres são solidariamente responsáveis
ou equipamentos.27
pela amortização, e que uma inadimplência
Falta de capital social também parece
pode desqualificar todas as cinco para em-
estar ligado a um fraco crescimento econô- préstimos futuros, cada mulher está sujeita
mico em âmbito nacional. Stephen Knack, a uma forte pressão social para pagar.29
do Banco Mundial, alerta que níveis baixos A compensação econômica desses tipos
de confiança social podem prender nações a de relacionamentos sociais tornou o
uma “armadilha de pobreza”, em que o cír- microcrédito um sucesso em muitos paí-
culo vicioso da desconfiança, baixos inves- ses. O Grameen Bank declara que 98% de
timentos e pobreza é difícil de romper. Knack seus empréstimos são resgatados, um re-
e seus colegas testaram a relação entre con- gistro melhor do que na maioria dos bancos
fiança e desempenho econômico em 29 pa- comerciais. O Grameen inspirou a dissemi-
íses incluídos na Pesquisa de Valores Mun- nação do microcrédito mundialmente. Uma
diais. Constataram que cada aumento de 12 iniciativa conhecida como a Campanha da
pontos na medida de confiança da pesquisa Cúpula do Microcrédito estabeleceu uma
estava associado a um aumento de 1% no meta de habilitar 100 milhões de pessoas em
crescimento da renda anual, e que cada au- programas de microcrédito até 2005. No fi-
mento de 7 pontos na confiança correspondia nal de 2002, já estavam a meio caminho,
a um aumento de 1% no índice de participa- com 68 milhões de participantes.30
ção de investimentos no PIB.28 Além de melhorar a saúde e facilitar a
O papel do “veículo” social, de facilita- segurança econômica, laços sociais fortes
ção de transações econômicas, é particular- são particularmente úteis na promoção do
mente evidente nas iniciativas de consumo coletivo, o que freqüentemente
microcrédito, como as do Grameen Bank, traz vantagens sociais e ambientais. Um
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sito, vias verdes e habitação aces- de. Na Suécia, toda a publicidade é proi-
sível, utilizar empreiteiras e arqui- bida nas programações direcionadas a cri-
tetos locais, eficiência hídrica e anças, um grupo altamente influenciável.
energética, incorporar um merca- E nos Estados Unidos anúncios de cigar-
do e outros estabelecimentos de ro foram proibidos na televisão há déca-
varejo, preservar o patrimônio das. A União Européia recentemente am-
histórico e reutilizar prédios exis- pliou sua proibição de propaganda de ci-
tentes. Há pontos por paisagismo, garro na televisão para cobrir outra mídia,
planejamento viário, por ser con- incluindo jornais, revistas, rádio e a Internet,
sistente com projetos locais e por até 2005, como também eventos esportivos
participação e apoio locais.45 até 2006. O estabelecimento de limites na
Algumas empresas também estão co- publicidade é um tema sensível, em virtude
meçando a reconhecer que podem tornar das preocupações com a liberdade de ex-
sua própria infra-estrutura física mais pressão, porém esses exemplos demonstram
aprazível para o bem-estar dos funcio- que os países podem atingir um equilíbrio
nários. Na nova sede internacional da sadio entre garantia da liberdade de expres-
Sprint, em Kansas, uma empresa de tele- são e saúde pública.47
comunicações, os carros devem estacio- Enquanto isso, a própria publicidade está
nar em garagens na extremidade do sendo utilizada como um instrumento para
campus corporativo, forçando os funci- combater o alto número de mensagens de
onários a andarem uma certa distância consumo que bombardeia os consumido-
até o trabalho. Os prédios possuem ele- res. O grupo canadense Adbusters patro-
vadores lentos, o que encoraja o uso das cina “descomerciais” de televisão, que en-
escadas. E a área de alimentação no com- corajam os telespectadores a reduzirem o
plexo está localizada fora dos escritóri- consumo, deixarem seus carros na gara-
os, em vez de estarem convenientemente gem ou desligarem seus televisores. Alguns
no meio deles, para que os funcionários governos estão colocando publicidade ou
gastem alguma energia para almoçarem. anúncios de serviço público na televisão e
Esse projeto inovador reflete um enten- outros veículos para encorajar o consumo
dimento de que promoção do bem-estar mais sustentável, como fez o governo da
nem sempre é sinônimo de maximização Tailândia, através de comerciais humorís-
de conforto ou conveniência.46
ticos na televisão pedindo aos consumido-
Novas infra-estruturas políticas e físi-
res que gastem menos energia e água. O
cas de consumo estão sendo comple-
Programa das Nações Unidas para o Meio
mentadas por um novo e florescente
Ambiente (PNUMA) adotou uma aborda-
arcabouço cultural, particularmente na
promoção de uma ética de consumo para gem diferente, trabalhando com anuncian-
o bem-estar. Nesse sentido, as pessoas tes no desenvolvimento de propaganda que
estão cada vez mais ativas na exigência encoraje as pessoas a utilizar produtos sus-
de um melhor padrão ético na publicida- tentáveis. (Vide Quadro 8-3.)48
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QUADRO8-3.ENCORAJANDOANUNCIANTESAPROMOVERASUSTENTABILIDADE
O marketing é uma ferramenta poderosa, que direcionado a empresas e profissionais de
está freqüentemente implicada no estímulo ao marketing, para convencê-los de que “longe
consumo – e, portanto, em minar os esforços de deprimir vendas, os princípios
de se construir um mundo sustentável. Porém sustentáveis poderão ser essenciais à
o Programa das Nações Unidas para o Meio proteção tanto da saúde da marca quanto da
Ambiente está tentando transformar os lucratividade futura”. Em parceria com
marqueteiros em aliados, recrutando-os para Sustentabilidade e o PNUMA, a Associação
promoverem a sustentabilidade. Em 1999, o Européia de Agências de Comunicações
Fórum do PNUMA sobre Publicidade e elaborou um guia para as agências de
Comunicações foi estabelecido para criar uma publicidade descrevendo o mercado
conscientização de “consumo sustentável” – internacional crescente de consumo
um consumo que melhore a qualidade de vida sustentável. E a Associação Mundial de
ao mesmo tempo em que minimize as Profissionais de Pesquisa solicitou um
desigualdades sociais e ecológicas – e levantamento das reações do consumidor às
encorajar anunciantes e marqueteiros a questões de sustentabilidade.
promoverem-na. Ademais, o PNUMA está colaborando com
As principais associações empresariais setores industriais específicos – notadamente
dentro da indústria da publicidade e o automotivo, turístico e varejista – para
marketing responderam através do ajudar a desenvolver estratégias inovadoras de
desenvolvimento de publicações pró- marketing que avancem na promoção de
sustentabilidade, em colaboração com o opções sustentáveis.
PNUMA, e organizando sessões especiais
sobre desenvolvimento sustentável nos seus – Solange Montillaud-Joyel,
congressos internacionais. Por exemplo, a Programa das Nações Unidas para o
agência McCann-Ericson publicou, Meio Ambiente
juntamente com o PNUMA, um folheto _____________________________________________
intitulado “Será que Sustentabilidade Vende?” FONTE: vide nota final 48.
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te idênticos. Empresas seriam encorajadas, terna coletora de água da chuva, por exem-
através de incentivos econômicos, a for- plo, ou um vasilhame de compostagem ou
necer o que os consumidores realmente horta. Em suma, aprenderiam a amar a na-
procuram – transporte confiável, não ne- tureza e a se tornar seus defensores. Como
cessariamente um carro; ou produtos sa- o finado biólogo de Harvard, Stephen Jay
borosos, sazonais e locais, em vez de fru- Gould, disse: “Precisamos desenvolver um
tas e legumes transportados de outro país; laço emocional e espiritual com a natureza,
ou relacionamentos fortes com vizinhos em pois não podemos lutar para salvar aquilo
lugar de uma casa grande com extenso ter- que não amamos”.52
reno. Escolhas seriam redefinidas, para sig- Finalmente, uma sociedade focada no
nificarem opções que melhorem a qualida- bem-estar asseguraria que todos nela ti-
de de vida, em vez de opções entre produ- vessem acesso a alimentos sadios, água
tos ou serviços individuais. limpa e saneamento, educação, tratamen-
Para os indivíduos, a escolha genuína to de saúde e segurança física. É pratica-
provavelmente incluiria a escolha de não mente impossível imaginar uma socieda-
consumir. Todos precisarão tornar-se exí- de de bem-estar que não propicie as ne-
mios em lidar com uma questão-chave: cessidades básicas de uma pessoa. E, mais
quanto é demais? As respostas serão dife- do que isso, é inconcebível que uma soci-
rentes de pessoa a pessoa, porém uma di- edade de bem-estar satisfaça-se com seu
retriz que vale a pena considerar é uma do próprio sucesso quando outros, além dos
filósofo chinês Lau Tzu: “Saber quando se seus limites, sofrem em larga escala. Re-
tem o suficiente é ser rico”. Consumidores almente, aquelas sociedades que pontuam
que abraçam essa sabedoria antiga dão um alto no Índice de Bem-Estar, especialmente
grande passo em direção à fuga da tirania no norte da Europa, também possuem al-
da comparação social e marketing que guns dos programas de ajuda externa mais
move grande parte do consumo moderno.51 generosos do mundo.53
As pessoas numa sociedade de bem-es- Fazer a transição para uma sociedade
tar também desenvolveriam relacionamen- de bem-estar será, sem dúvida, um desa-
tos íntimos com o meio ambiente natural. fio, dado o hábito das pessoas de coloca-
Reconheceriam as árvores em seus parques rem o consumo no ápice dos valores soci-
e as flores em seus jardins com a mesma ais. Porém, qualquer movimento nessa di-
facilidade com que identificam logomarcas reção começa com duas grandes vantagens.
corporativas. Entenderiam os fundamentos Primeiro, a família humana hoje tem uma
ambientais de sua atividade econômica: de base de conhecimento, tecnologia e espe-
onde vem sua água, para onde vai seu lixo e cialização que supera em muito tudo o que
se a energia que sua usina usa para gerar qualquer geração anterior tenha conheci-
eletricidade é carvão, nuclear ou renovável. do. Ironicamente, essa base é o produto de
Provavelmente gostariam de desenvolver um sistema econômico orientado para al-
projetos em casa que os ajudassem a viver tos níveis de consumo. Mas nossas esco-
mais intimamente com a natureza – uma cis- lhas desenvolvimentistas do século XX,
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direcionadas para o consumo, independen- qualidade de vida pode ser mais imperfei-
temente de quão mal-orientadas sejam, po- to em outras sociedades industrializadas,
dem ser resgatadas agora, assegurando que mas os sinais estão lá: trabalhadores que
o estoque moderno de conhecimento e desejam mais tempo livre do que aumento
tecnologia seja investido no bem-estar, e de salário, compradores que escolhem ali-
não na continuação do acúmulo material. mentos orgânicos e outros produtos “éti-
Uma segunda vantagem é simples, po- cos”, pessoas que buscam relações fami-
rém poderosa: para muitas pessoas, uma liares mais fortes. Quando os componen-
vida de bem-estar é preferível a uma vida tes de uma sociedade de bem-estar são
de alto consumo. O ex-Primeiro-Ministro disponibilizados, a receptividade é, quase
da Holanda Ruud Lubbers captou essa re- sempre, extraordinariamente positiva.54
alidade fundamental quando observou que, Ao cultivar relacionamentos, facilitar
nos seus esforços para construírem uma escolhas sadias, aprender a viver em har-
alta qualidade de vida, os holandeses tra- monia com a natureza e atender às neces-
balham jornadas limitadas: “Preferimos sidades básicas de todos, as sociedades
assim. Desnecessário dizer que há mais podem mudar de uma ênfase no consumo
espaço para todos aqueles aspectos im- para uma ênfase no bem-estar. Isso pode-
portantes de nossas vidas que não são rá ser uma tamanha conquista no século
parte de nossos empregos, pelos quais não XXI, como os tremendos avanços em
somos pagos e para os quais nunca há tem- oportunidade, conveniência e conforto fo-
po suficiente”. O desejo de uma melhor ram no século XX.
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Estado do Mundo 2004
REPENSANDO A BOA VIDA
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assumindo que uma tonelada de petróleo op. cit., nota 10, p. 29.
equivalente seja igual a aproximadamente 12
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Tabela 2-3 dos seguintes: Schipper, op. cit., nota
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NOTAS, CAPÍTULO 3
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256
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CHOCOLATE E CAMARÕES
257
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAMARÕES E REFRIGERANTES
258
Estado do Mundo 2004
NOTAS, REFRIGERANTES
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contribuindo assim diretamente para a Global Environmental Impacts pf Aluminum
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259
Estado do Mundo 2004
NOTAS, REFRIGERANTES E CAPÍTULO 5
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específico de pessoas nessas categorias, e Towards Sustainable Consumption: An
os limiares da categoria, estejam Economic Conceptual Framework
constantemente instáveis, a distinção (Paris: Environment Directorate, junho de
2002),p. 41.
continua sendo útil para fins conceituais.
260
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 5
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24. Moll, Brinzegu e Schutz, op. cit., nota “The Extravagant Gesture: Nature, Design, and
23; Peter Bartelmus, “Dematerialization and the Transformation of Human Industry”, em
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no, 46 (2003), p. 74; Figura 5-1 de Matthews et 1 de trabalhos realizados por McDonough
al., op. cit., nota 23, pp. 84-85, 112-13. Braungart Design Chemistry e de William
262
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 5
263
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 5
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264
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 5
265
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 5
266
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NOTAS, CAPÍTULO 5 E TELEFONES CELULARES
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NOTAS, TELEFONES CELULARES E CAPÍTULO 6
268
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 6
269
Estado do Mundo 2004
NOTAS, CAPÍTULO 6
10. Case, op. cit., nota 7. 15. Tabela 6-1 dos seguintes: Bank of
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Publicações WWI - Worldwatch Institute no Brasil
UMA - Universidade Livre da Mata Atlântica
Sinais Vitais
Analisa o crescimento econômico e seus impactos
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Relatório Anual do Worldwatch, publicado há 20 anos consecutivos, em cerca
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