Eclesiastes Por Douglas WILSON
Eclesiastes Por Douglas WILSON
Eclesiastes Por Douglas WILSON
Douglas Wilson
Copyright © 1999 de Douglas Wilson
Publicado originalmente em inglês sob o título
Joy at the End of the Tether: The Inscrutable Wisdom of Ecclesiastes
pela Canon Press,
P.O. Box 8729, Moscow, ID 83843, EUA.
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Todos os direitos em língua portuguesa reservados por
EDITORA MONERGISMO
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Brasília, DF, Brasil - CEP 70.842-970
Telefone: (61) 8116-7481 — Sítio: www.editoramonergismo.com.br
1a edição, 2015
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P ROIBIDA A REPRODUÇÃO POR QUAISQUER MEIOS,
SALVO EM BREVES CITAÇÕES, COM INDICAÇÃO DA FONTE.
Wilson, Douglas
Alegria no limite das forças: a inescrutável sabedoria de Eclesiastes / Douglas Wilson, tradução Marcos
Vasconcelos ― Brasília, DF: Editora Monergismo, 2015.
Título original: Joy at the End of the Tether: The Inscrutable Wisdom of Ecclesiastes
ISBN 978-85-62478-39-0
1. Bíblia 2. Antigo Testamento 3. Eclesiastes
CDD 230
Este livro é dedicado,
com imensa e calorosa afeição,
a todos os tolos da CRISTANDADE.
Sumário
1 De profundis
2 O significado da alegria
3 Sabor de nada
4 No limite das forças
5 A formosura no momento certo
6 O silêncio do desespero
7 Sacrifício de tolos
8 Justo juízo
9 Alminhas pequenininhas & juízos rigorosos
10 Andando nos corredores do poder
11 Ame sua esposa
12 Use a cabeça, amigo
13 Tempo de ser velhote
14 A conclusão
Capítulo 1
De Profundis[1]
Das profundezas clamo a ti, SENHOR.
SALMOS 130.1
Segundo nossas luzes, a teoria é clara e simples: nada vemos ao redor, exceto
repetição inescrutável. Mas aqui, é-nos oferecida a vivência de Salomão
proporcionando-nos melhor compreensão do mundo como um palco giratório vazio.
Tomara sejam firmes os meus passos, para que eu observe os teus preceitos!
12
Eu, o Pregador, venho sendo rei de Israel, em Jerusalém. 13Apliquei o coração a
esquadrinhar e a informar-me com sabedoria de tudo quanto sucede debaixo do céu;
este enfadonho trabalho impôs Deus aos filhos dos homens, para nele os afligir.
14
Atentei para todas as obras que se fazem debaixo do sol, e eis que tudo era vaidade e
correr atrás do vento. 15Aquilo que é torto não se pode endireitar; e o que falta não se
pode calcular. 16Disse comigo: eis que me engrandeci e sobrepujei em sabedoria a
todos os que antes de mim existiram em Jerusalém; com efeito, o meu coração tem tido
larga experiência da sabedoria e do conhecimento. 17Apliquei o coração a conhecer a
sabedoria e a saber o que é loucura e o que é estultícia; e vim a saber que também isto é
correr atrás do vento. 18Porque na muita sabedoria há muito enfado; e quem aumenta
ciência aumenta tristeza. (Ec 1.12-18)
Como cortesia da Roma antiga, certo epitáfio resume bem a situação: “Banhos,
vinho e casos de amor ― essas coisas machucam o corpo, mas fazem a vida valer à
pena. Aproveitei os meus dias. Diverti-me e bebi o quanto quis. Antes eu não era,
depois eu era, e agora, uma vez mais, nada sou, mas não dou a mínima!”. Na beira do
abismo, vemos o grito desafiador de outro tolo que sabe das coisas. Mas mesmo o tolo
consciente não enxerga longe o bastante.
Isso irritou tanto a Salomão que ele chega a dizer que não dava a mínima [à
vida].[6] “Pelo que aborreci a vida” (v. 17). Essa é a falta de sentido anterior à dádiva
de Deus que a faz deleitosa. Aqui, a palavra empregada para “aborreci” abrange a ideia
de desprezo e desdém. De fato, ele não poderia dar a mínima. Salomão está preparando
o caminho para que cheguemos à grande verdade. O dom divino não manda embora a
falta de sentido; o dom de Deus torna essa vaidade deleitosa.
Mas, nesse ínterim, somos instados a atentar para os tolos que virão depois. Ao
morrerem, os sábios têm de deixar o quanto fizeram para os outros. E, eles serão
sábios? Quem sabe? O resultado é aflição (v. 17), desesperança (v. 20), dores (v. 23),
desgosto (v. 23) e fadiga (v. 23). Salomão entrega o coração ao desespero (v. 20). Ele
se desespera em busca de uma saída debaixo do sol. Da mesma forma que antes se
entregara ao prazer, assim ele agora cede ao desespero.
O teu servo considerou nos teus decretos
24
Nada há melhor para o homem do que comer, beber e fazer que a sua alma goze o bem
do seu trabalho. No entanto, vi também que isto vem da mão de Deus, 25pois, separado
deste, quem pode comer ou quem pode alegrar-se? 26Porque Deus dá sabedoria,
conhecimento e prazer ao homem que lhe agrada; mas ao pecador dá trabalho, para que
ele ajunte e amontoe, a fim de dar àquele que agrada a Deus. Também isto é vaidade e
correr atrás do vento. (Ec 2.24-26)
Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de
todos os homens.
1 CORÍNTIOS 15.19
Seja, porém, a tua palavra: Sim, sim; não, não. O que disto passar vem do maligno.
MATEUS 5.37
Os tolos também adoram fazer votos impensados. Conversar sobre o que você
vai fazer é uma forma boa e barata de melhorar a reputação aqui em baixo na igreja.
Imagine uma tática semelhante à empregada pelos falecidos Ananias e Safira. Esta
seção de Eclesiastes refere-se a um compromisso financeiro, mas quando o emissário
do templo vem buscá-lo, a história contada por quem fez o voto agora é outra (v. 4-7).
Sonhadores gostam de falar, e faladores gostam de sonhar. Pague o que você votou,
Deus não se agrada de tolos. Você não quer colocar Deus contra si mesmo no seu
trabalho. Tema ao Senhor.
É caso de não pouco espanto tão poucas pessoas se preocuparem em saber se
Deus é contra ou a favor da obra que elas estão tentando realizar. A oração do sábio
busca o favor do Senhor sobre a obra realizada. “Seja sobre nós a graça do Senhor,
nosso Deus; confirma sobre nós as obras das nossas mãos, sim, confirma a obra das
nossas mãos” (Sl 90.17).
O tolo desconsidera esse dever e ignora os desdobramentos de ter votado a
Deus algo que não cumpriu. Se Deus resolvesse destruir o empreendimento de alguém,
acaso teria alguma dificuldade para fazê-lo? Se Deus decidiu que a ruína financeira
acometerá outro tolo hoje, seria o tipo de coisa que algum analista financeiro poderia
interromper?
Dá-me entendimento, e guardarei a tua lei
8
Se vires em alguma província opressão de pobres e o roubo em lugar do direito e da
justiça, não te maravilhes de semelhante caso; porque o que está alto tem acima de si
outro mais alto que o explora, e sobre estes há ainda outros mais elevados que também
exploram. 9O proveito da terra é para todos; até o rei se serve do campo. (Ec 5.8,9)
Isso tem ligação com a cobiça. A concupiscência exige sempre cada vez mais, e
ainda mais e mais (v. 10-17). Mas como Salomão nos ensina aqui… você não pode
levar nada consigo. Esse bem conhecido clichê é ignorado na mesmo proporção em que
é enunciado ― e quase sempre pelas mesmas pessoas. Mas quem ama a fartura da prata
dorme com falsos amantes que não podem satisfazer (v. 10). O crescimento de bens traz
consigo o crescimento de contadores, advogados, funcionários, gerentes, e hostes de
consultores com um olhar faminto nos olhos (v. 11).
Os que constroem impérios o mais das vezes se descobrem segurando um urso
feroz pelas orelhas. Quanto mais fazem, menos são capazes de fazer. Quanto mais
controle acumulam, menos poderosos se sentem. Isso é porque a vaidade de crescer, a
futilidade da prata e do ouro, tem vida própria. O homem pode trabalhar arduamente
para adquirir dinheiro, só para descobrir no final do dia que, na verdade, foi o dinheiro
quem o adquiriu.
Poucos homens têm riquezas, e bem menos as controlam quando as têm.
Que diremos, pois, se Deus, querendo mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu poder,
suportou com muita longanimidade os vasos de ira, preparados para a perdição, a fim de
que também desse a conhecer as riquezas da sua glória em vasos de misericórdia, que
para glória preparou de antemão, os quais somos nós, a quem também chamou, não só
dentre os judeus, mas também dentre os gentios? (Rm 9.22-24)
A explicação definitiva é que Deus faz todas as coisas para glorificar seu nome
e exaltar sua majestade. Mas a despeito de várias razões para a tortuosidade do mundo,
a verdade é que a Bíblia ratifica a soberania de Deus sobre o que está torcido. Ele é
verdadeiramente o único Senhor.
Devemos receber nossa prosperidade como se procedesse dele, porque procede
dele (v. 14). Mas no dia da adversidade, devemos também nos lembrar da nossa
doutrina acerca da soberania divina. Foi Deus que fez tanto um dia como o outro
(v. 14). O Senhor traz a primavera, e o Senhor traz os terremotos. O Senhor concede
mais um ano de vida, e o Senhor designa o dia do luto. Jó aconselhou sua esposa da
forma correta. Ela estava falando como se tivesse adotado a teologia da mulher
insensata. “Mas ele lhe respondeu: Falas como qualquer doida; temos recebido o bem
de Deus e não receberíamos também o mal? Em tudo isto não pecou Jó com os seus
lábios” (Jó 2.10). A igreja hoje está dominada pela teologia de mulheres tolas. Deus
nunca faz coisas ruins; ele só faz coisas boas. Ele faz as flores e os gatinhos, não o
trovão, o raio nem a chuva azul.
Adoramos a Deus, que é Sabedoria Inescrutável. O que vemos não encerra a
questão.
Vimos na seção anterior que nada é como parece aos nossos olhos. A
prosperidade pode ser o mal camuflado; o homem pode estar rodeado de riquezas nas
quais não se deleita. A adversidade pode ser o meio pelo qual Deus traz grandes
bênçãos; como sabia Rutherford, quando no porão da angústia, o homem é capaz de
encontrar os vinhos mais seletos de Deus. Todas as situações não são o que parecem
ser.
Nesta seção, vemos que os homens não são o que aparentam ser. Podemos
chegar a conclusões erradas acerca do mundo ao nosso redor, porque julgamos com
base nas experiências externas. Cristo, porém, proíbe todos os juízos superficiais.
Naquela mesma hora, alguns fariseus vieram para dizer-lhe: Retira-te e vai-te daqui,
porque Herodes quer matar-te. Ele, porém, lhes respondeu: Ide dizer a essa raposa que,
hoje e amanhã, expulso demônios e curo enfermos e, no terceiro dia, terminarei.
LUCAS 13.31,32
Devemos ter em mente que Salomão não está apenas se repetindo pelo livro
inteiro. Seu argumento, convincente e irrefutável, edifica. Ao longo de toda a
argumentação, ele retorna muitas vezes às lições básicas que devemos aprender, se
quisermos nos tornar sábios, mas ele também sempre amplia esse fundamento.
A conclusão, uma vez mais, só pode vir da mão do Deus soberano. Só ele pode
conceder dádiva tão gloriosa neste mundo fútil. “Vai…”. A razão da admoestação é
clara: “Deus já de antemão se agrada das tuas obra” (v. 7). Começamos com a
justificação, depois avançamos para como devemos crescer na santificação ― em
conformidade com a Palavra de Deus.
O teor do que devemos fazer nessa santificação é claro. Primeiro, devemos
comer nosso pão (v. 7), e comê-lo com alegria. Segundo, devemos beber nosso vinho
com o coração cheio de alegria. Por acaso, a palavra hebraica para vinho é yayin ―
bebida alcoólica. Nossas roupas devem ser sempre alegres. Devemos cuidar de nós
mesmos.
Passando a tratar dos relacionamentos, Salomão diz que os homens devem viver
alegremente com sua esposa por todos os seus dias estúpidos. Achamos que isso
pareceria terrível em um cartão de aniversário de casamento ― porque somos
governados mais pelo sentimento que pela sabedoria. Como isso é possível? À parte da
graça de Deus, não é possível.
A linguagem do romantismo sentimental não é a linguagem da Bíblia. Quando os
homens entendem a futilidade da existência terrena e a compreendem da forma como
Salomão a apresenta para nós, estarão preparados para se deleitar com seu pão pela
primeira vez, e podem ficar maravilhados com a vermelhidão do vinho e achar graça
disso com uma alegria sábia e satisfeita. Devem amar sua esposa, não porque o amor
sexual seja eterno, mas, ao contrário, porque não é. No mundo das criaturas, só
podemos desfrutar do que não adoramos.
Mas só poderemos ter prazer em nossa vida tola quando entendermos que ela é
a porção a nós designada pela sabedoria infinita. Só poderemos entender de fato que é
a nossa porção quando tivermos fé no Deus que a concede. Essas coisas, as quais
devemos desfrutar, são passadas para nós pela mão de Deus. Assim, aqui está a palavra
do Senhor. Deus já aprovou sua obediência. Cheio de gratidão ― coma seu pão, beba
seu vinho, vista-se de branco, e faça amor com sua esposa.
O tempo e o acaso têm cada um deles a sua vez. Devemos trabalhar duro agora
porque a noite vem, quando ninguém pode trabalhar (9.10). Somos chamados ao dever
de trabalhar e não ao dever de predizer resultados. A palavra hebraica aqui para acaso
(pega) não se refere à aleatoriedade filosófica, mas significa apenas “ocorrência”. O
evento não é planejado por nós. No que tange a nós, tudo pode acontecer.
Dizer que as coisas ocorrem por “acaso”, se não for apenas uma figura de
linguagem usada por nós, é ser incoerente tanto do ponto de vista teológico quanto do
filosófico. Tudo que ocorre é causado por alguma coisa. A Bíblia ensina que é causado
por alguém. Dizermos que algo ocorre por acaso significa apenas confessar nossa
ignorância da causa.
Queremos ter alguma medida de controle. Queremos nós mesmos estabelecer as
probabilidades. Mas Salomão sabe que os resultados não são previsíveis por nenhum
dos que vivem debaixo do sol. “Quem teria imaginado que…?”. Os resultados de todos
os nossos esforços estão completamente nas mãos de Deus.
O tempo em que teremos de cessar nosso labor se abaterá sobre nós (9.12). A
morte chega de repente, portanto, trabalhe como se essa noite estivesse chegando…
porque ela está.
A tua palavra me vivifica
13
Também vi este exemplo de sabedoria debaixo do sol, que foi para mim grande.
14
Houve uma pequena cidade em que havia poucos homens; veio contra ela um grande
rei, sitiou-a e levantou contra ela grandes baluartes. 15Encontrou-se nela um homem
pobre, porém sábio, que a livrou pela sua sabedoria; contudo, ninguém se lembrou mais
daquele pobre. 16Então, disse eu: melhor é a sabedoria do que a força, ainda que a
sabedoria do pobre é desprezada, e as suas palavras não são ouvidas. 17As palavras
dos sábios, ouvidas em silêncio, valem mais do que os gritos de quem governa entre
tolos. 18Melhor é a sabedoria do que as armas de guerra, mas um só pecador destrói
muitas coisas boas. (Ec 9.13-18)
A lição da singela situação descrita pode ser a de ingratidão ou a de conselho
não aceito. Aqui, seria preferível a última. A sabedoria do homem poderia ter salvado
a cidade, mas seu conselho não foi aceito. Mas a sabedoria ainda é melhor que a
insensatez, mesmo quando é deixada fora de uso. A voz do sábio é melhor que a gritaria
do demagogo ― mas um único pecador também pode causar uma tremenda confusão.
A sabedoria está à mão (10.2). Ela manifesta uma criteriosa destreza, ao passo
que a insensatez se atrapalha. A insensatez conserva a posição de destaque (10.3). O
insensato não consegue descer a rua sem se atrapalhar nas pernas. Enquanto vivemos e
respiramos manifestamos o que somos. Se formos insensatos, o povo vê quando a gente
chega. Se formos sábios, essa competência também é visível.
A conversa vazia não leva a lugar nenhum. O insensato começa com a alienação
mental e termina com a imbecilidade ― e faz uma bela viagem entre uma e outra. As
palavras do sábio estão em gritante contraste com isso.
Os insensatos são loquazes. Os fatos nus e crus podem ser expostos diante dele,
mas ele não os compreende. Não podemos prever o futuro, mas quem consegue
transmitir isso ao insensato? Ele teima em comprar livros que preveem o futuro, quase
sempre de livrarias evangélicas especializadas em escatologia, marcas da besta,
computadores na Bélgica e os pequenos códigos de barra usados nos supermercados.
Algumas pessoas são esmagadas por nada. Vemos aqui mais algum
entendimento. Esse menino é capaz de se perder até na escada rolante.
Companheiro sou de todos os que te temem
16
Ai de ti, ó terra cujo rei é criança e cujos príncipes se banqueteiam já de manhã.
17
Ditosa, tu, ó terra cujo rei é filho de nobres e cujos príncipes se sentam à mesa a seu
tempo para refazerem as forças e não para bebedice. (Ec 10.16,17)
O rapaz preguiçoso não chega a nada. A ociosidade destrói, mas o insensato não
é capaz de ver isso. Seus olhos estão fechados ao que se revelou.
O dinheiro, como disse o outro, fala. Banquetes e vinho têm limitações debaixo
do sol. O dinheiro não. Nesse ponto Salomão recorre a uma hipérbole.
É assim que as coisas são, diz ele. Receba a vida do jeito que ela vier. É isso
aí. E cá estamos. Tive uma deliciosa imagem do sentido de Eclesiastes alguns meses
atrás. Eu estava olhando a estrada que passa em frente à nossa propriedade, e um
sujeito em uma camionete seguia deliberadamente para o sul. “Bem”, pensei eu, “lá vai
ele!”.
Lembre-se de suas limitações (11.5,6). Deus controla e faz tudo, e ele não nos
fez privar dos detalhes. Reconheça o que você não sabe (quase tudo), e aplique-se ao
que sabe (ao deveres designados). Trabalhe com empenho nesses deveres, pois não
sabe o que vai acontecer, se você vai para a direita ou para a esquerda.
Lembre-se sempre que Eclesiastes está em guerra contra a insensatez da
autossuficiência. A chave para a sabedoria é dar-se conta do que não sabemos.
Assim Salomão encerra o livro. Eis a conclusão de tudo ― é este o ponto a que
chegamos no final da argumentação. Tema a Deus, preconiza Salomão, e faça o que ele
diz. Essa é nossa porção, e nosso tudo, e quando a recebemos, recebemos alegria das
mãos de Deus.
Devemos observar que essa é a conclusão de Salomão. A dedução a qual ele
nos traz nesse lugar decorre das premissas. Para quem não acompanhou a
argumentação, é uma tentação afirmar que Salomão apenas incorreu em desespero
existencial e deu um salto de fé edificador. Mas não foi assim que ele agiu. A
lembrança do juízo final é a conclusão do seu argumento, e devemos nos lembrar de que
as capacidades de argumentação de Salomão eram consideráveis.
Portanto, Deus julgará as coisas secretas, todas elas, quer boas quer más. Mas
como é possível a ideia do julgamento de tudo, em todas as suas minúcias, trazer prazer
e encorajamento em qualquer lugar, em especial no meio da vaidade?
Eis, aqui, a palavra do Senhor: é o dom de Deus.