PraCorAlt CRC PDF
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Olá! Meu nome é Janaina Demarchi Terra. Sou licenciada em Educação Física pela Unesp
de Rio Claro e mestre em Ciências da Motricidade também por essa instituição.
e-mail: [email protected]
Batatais
Claretiano
2013
© Ação Educacional Claretiana, 2011 – Batatais (SP)
Versão: dez./2013
615.82 T311
ISBN: 978-85-67425-36-8
Preparação Revisão
Aline de Fátima Guedes Cecília Beatriz Alves Teixeira
Camila Maria Nardi Matos Felipe Aleixo
Carolina de Andrade Baviera Filipi Andrade de Deus Silveira
Cátia Aparecida Ribeiro Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz
Dandara Louise Vieira Matavelli Rodrigo Ferreira Daverni
Elaine Aparecida de Lima Moraes Sônia Galindo Melo
Josiane Marchiori Martins
Talita Cristina Bartolomeu
Lidiane Maria Magalini
Vanessa Vergani Machado
Luciana A. Mani Adami
Luciana dos Santos Sançana de Melo
Luis Henrique de Souza Projeto gráfico, diagramação e capa
Patrícia Alves Veronez Montera Eduardo de Oliveira Azevedo
Rita Cristina Bartolomeu Joice Cristina Micai
Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli Lúcia Maria de Sousa Ferrão
Simone Rodrigues de Oliveira Luis Antônio Guimarães Toloi
Raphael Fantacini de Oliveira
Bibliotecária Tamires Botta Murakami de Souza
Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11 Wagner Segato dos Santos
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer
forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na
web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do
autor e da Ação Educacional Claretiana.
CRC
Ementa––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Introdução às Práticas Corporais Alternativas (PCAs). Das práticas tradicionais
às alternativas: uma volta ao passado ou uma evolução. As PCAs e a Educação
Física. Princípios das PCAs. Corporeidade e PCAs: sensações, sentimentos,
pensamentos, ações, simbolismos e transcendências. A auto-organização e as
PCAs. Vivências alternativas, holísticas, reflexivas, críticas e criativas. PCAs: sa-
ber, sabor e sabedoria.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
1. INTRODUÇÃO
Neste Caderno de Referência de Conteúdo (CRC), você en-
contrará as quatro unidades que o ajudarão a compreender a im-
portância dos conhecimentos básicos das experiências, dos dados
de pesquisa e dos livros e revistas especializados. Esses dados são
destinados à formação de um profissional voltado à promoção e
à manutenção da educação, da saúde e do lazer, tanto na nossa
sociedade (de forma geral) como no contexto escolar (de forma
específica), dando subsídios para o planejamento e a implementa-
8 © Práticas Corporais Alternativas
Abordagem Geral
Aqui você entrará em contato com os assuntos principais
deste conteúdo, de forma breve e geral, e terá a oportunidade de
aprofundar essas questões no estudo de cada unidade.
Desse modo, esta Abordagem Geral visa fornecer-lhe o co-
nhecimento básico necessário a partir do qual você possa cons-
truir um referencial teórico com base sólida – científica e cultural
–, para que, no futuro exercício de sua profissão, você a exerça
com competência cognitiva, ética e responsabilidade social.
Claretiano - Centro Universitário
10 © Práticas Corporais Alternativas
Glossário de Conceitos
O Glossário de Conceitos permite a você uma consulta rá-
pida e precisa das definições conceituais, possibilitando-lhe um
bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de
conhecimento dos temas tratados em Práticas Corporais Alterna-
tivas. Veja, a seguir, a definição dos principais conceitos:
1) Autorregulação: é a capacidade que o indivíduo tem
de equilibrar-se e adaptar-se às diferentes situações ou
condições de vida. As Práticas Corporais Alternativas va-
lorizam a autonomia do sujeito, e esta não será plena se
não for acompanhada pela autorregulação, pois, não só
as pessoas, mas tudo que nos cerca, está em constante
modificação e transformação. Assim, a autorregulação
não é só importante, mas necessária a uma adaptação
satisfatória.
2) Bioenergética: foi criada por Wilhelm Reich como uma
terapia corporal que visava ao tratamento de doenças
psicossomáticas. O trabalho corporal pretendia integrar
corpo, mente e espírito na busca de uma saúde vibran-
te, da liberação da respiração, da intensificação e me-
lhora das experiências emocionais, da compreensão dos
pensamentos e da sexualidade, entre outros fatores que
pudessem trazer ao indivíduo uma experiência boa e in-
tensa da vida. Dessa forma, essa terapia visa ao autoco-
nhecimento, fazendo que a pessoa tome conhecimento
das suas posturas, atitudes e pensamentos.
3) Consciência pelo Movimento: nome dado ao método
criado por Moshe Feldenkrais, o qual visa à consciência
por meio do movimento. Individualmente ou em grupo,
as instruções são dadas verbalmente, e o movimento é
© Caderno de Referência de Conteúdo 27
FRAGMENTAÇÃO
PLASTICIDADE CORPORAL
CORPORAL
COMPETIÇÃO,
EQUILÍBRIO HOLÍSTICA MECANIZAÇÃO,
ENERGÉTICO
PADRONIZAÇÃO
COOPERAÇÃO, RESPEITO,
ÉTICA, AUTOCONHECIMENTO,
HOLÍSTICO,
AUTORREGULAÇÃO
ESPORTES
LUTAS
DANÇAS HOLÍSTICAS
DANÇAS
JOGOS ETC.
COOPERATIVOS
MASSAGEM
GINÁSTICA
HOLÍSTICA
EURRITMIA ETC. Gaiarsa Keleman
Reich SEGUIDORES
Alexander
Ehrenfried
Gindler
Feldenkrais
Hengstenberg
Lowen
CONSCIÊNCIA PELO
MOVIMENTO
Questões Autoavaliativas
No final de cada unidade, você encontrará algumas ques-
tões autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados. Responder,
discutir e comentar essas questões, bem como relacioná-las com
as PCAs pode ser uma forma de você avaliar o seu conhecimento.
Assim, mediante a resolução de questões pertinentes ao assunto
tratado, você estará se preparando para a avaliação final, que será
dissertativa. Além disso, essa é uma maneira privilegiada de você
testar seus conhecimentos e adquirir uma formação sólida para a
sua prática profissional.
Bibliografia Básica
É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus
estudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as biblio-
grafias complementares.
Dicas (motivacionais)
Este estudo convida você a olhar, de forma mais apurada,
a Educação como processo de emancipação do ser humano. É
importante que você se atente às explicações teóricas, práticas e
científicas que estão presentes nos meios de comunicação, bem
como partilhe suas descobertas com seus colegas, pois, ao com-
partilhar com outras pessoas aquilo que você observa, permite-se
descobrir algo que ainda não se conhece, aprendendo a ver e a
notar o que não havia sido percebido antes. Observar é, portanto,
uma capacidade que nos impele à maturidade.
Você, como aluno do curso de Graduação na modalidade EaD
e futuro profissional da educação, necessita de uma formação con-
ceitual sólida e consistente. Para isso, você contará com a ajuda do
tutor a distância, do tutor presencial e, sobretudo, da interação com
seus colegas. Sugerimos, pois, que organize bem o seu tempo e rea-
lize as atividades nas datas estipuladas.
É importante, ainda, que você anote as suas reflexões em
seu caderno ou no Bloco de Anotações, pois, no futuro, elas pode-
rão ser utilizadas na elaboração de sua monografia ou de produ-
ções científicas.
3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
KELEMAN, S. O corpo diz sua mente. São Paulo: Summus, 1996.
ORLICK, T. Vencendo a competição. 2. ed. São Paulo: Círculo do Livro, 1990.
EAD
Introdução às Práticas
Corporais
Alternativas
1
1. OBJETIVOS
• Conhecer o significado das Práticas Corporais Alternativas
(PCAs).
• Compreender as diversidades do corpo nas várias cultu-
ras.
• Distinguir as semelhanças e diferenças entre as práticas
corporais tradicionais e as alternativas.
• Compreender como as PCAs passaram a ser percebidas e
valorizadas pelos profissionais da Educação Física.
2. CONTEÚDOS
• "Pensar o corpo, um corpo, um certo corpo".
• Corpo e cultura: tradição e evolução.
• Holismo e pluralidade.
36 © Práticas Corporais Alternativas
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
A literatura sobre crianças em colônias de férias e escolas
de esportes, sobre o ensino de habilidades desportivas, lúdicas e
sobre aulas de ginástica mostra que a formação do professor de
Educação Física requer um currículo escolar com disciplinas, pro-
jetos integrados, experiências, pesquisas ou quaisquer outras cir-
cunstâncias que façam uma ponte entre os fatores pedagógicos,
lúdicos, terapêuticos, agônicos (de agón: disputas e competições)
e artísticos do movimento, ou que se discuta a função bio-sócio-
-psicológica da motricidade.
Não considerar o corpo como uma globalidade ou apenas o
ver como um fator isolado pode predispor a uma formação profis-
sional distorcida, fora do âmbito de uma educação geral que con-
temple a humanização (a formação do homem sensível) e a homi-
nização (a formação do homem maduro) do ser verdadeiramente
humano.
7. HOLISMO E PLURALIDADE
"Holismo" é uma palavra derivada de holos, que dá a ideia
de um fato, pensamento, algo ou alguém percebidos na sua com-
pletude, e não na soma de suas partes. Ela vem acompanhada da
palavra "pluralidade", que é justamente o inverso de "unidade",
ou o fato percebido apenas de um único ponto de vista. No entan-
to, essa explicação não pode ser considerada ao pé da letra, já que,
diante dos processos tese, antítese e síntese, o holismo alcança
uma amplitude maior e bem diferente.
Diante disso, você deve estar se perguntando: como o pro-
cesso de desenvolvimento humano, que envolve concepção, re-
produção, crescimento, desenvolvimento e maturação, é percebi-
do?
Após a concepção, embora o ovo ou zigoto seja formado por
apenas uma célula, ele já contém todas as estruturas, formas, sis-
temas, dimensões e funções de um ser vivo. Uma semente, em-
bora pareça algo limitado, uno, indivisível e contido em si, vai se
transformar em raízes, tronco, galhos, folhas, flores e frutos, pois
carrega o potencial de uma árvore inteira.
8. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Sugerimos que você procure responder, discutir e comen-
tar as questões a seguir, que tratam de aspectos introdutórios às
PCAs. A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
você testar o seu desempenho, e, se você encontrar dificuldades
em responder a essas questões, procure revisar os conteúdos es-
tudados para esclarecer as suas dúvidas. Este é o momento ideal
para que você faça uma revisão desta unidade. Lembre-se de que,
na Educação a Distância, a construção do conhecimento ocorre de
forma cooperativa e colaborativa; compartilhe, portanto, as suas
descobertas com os seus colegas.
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu
desempenho no estudo desta unidade:
1) Quais as situações de ausências e presenças que podem proporcionar um
ambiente cooperativo de aprendizagem?
que muitos dos padrões de beleza e valores estéticos são reforçados pela
mídia. Partindo dessa realidade, relacione-a com a concepção de "identida-
de do próprio corpo" trabalhada por Stanley Keleman e fale sobre a relação
dessa realidade com a apropriação do corpo abordada pela bioenergética.
Além disso, procure responde como as PCAs poderiam auxiliar na educa-
ção e aceitação do "si" do próprio corpo, para que essas fragmentações de
imagem corporal, tais como a anorexia e a vigorexia, possam ser superadas.
7) Essa notícia revela uma distorção do que seria o ideal de atividades físicas
para crianças da faixa etária de Tyanna. Em que esse tipo de proposta de
atividade física se diferencia e se assemelha às PCAs? Elenque os aspectos
positivos e negativos do halterofilismo para a formação da cultura corporal
da criança, de acordo com os princípios das PCAs abordados nesta unidade.
9. CONSIDERAÇÕES
Essa primeira unidade tratou das bases das PCAs e das con-
dições mínimas para o desenvolvimeto de um ambiente inclusivo,
© U1 - Introdução às Práticas Corporais Alternativas 51
LORENZETTO, L. A. O corpo que joga: o jogo do corpo. In: II Congresso de Educação Física
dos Países da Língua Portuguesa: as Ciências do Desporto e a Prática Desportiva no
Espaço da Língua Portuguesa, 1991, Porto; Portugal. Atas... Porto; Portugal: Universidade
do Porto, 1991, v. 2, p. 531-539.
LORENZETTO, L. A.; MATTHIESEN, S. Q. Práticas corporais alternativas. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2008.
EAD
Os Precursores, os
Seguidores, os Inovadores
e os Princípios e
Valores das PCAs
2
1. OBJETIVOS
• Compreender e caracterizar aqueles que anunciaram as
Práticas Corporais Alternativas (PCAs).
• Identificar e conhecer aqueles que deram continuidade a
tais práticas e os que as renovaram.
• Compreender os princípios envolvidos nessas práticas.
2. CONTEÚDOS
• Os precursores das PCAs.
• Os seguidores das PCAs.
• Os inovadores das PCAs.
• Princípios e valores das PCAs.
54 © Práticas Corporais Alternativas
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
No estudo da Unidade 1, você foi subsidiado com conteúdos
introdutórios sobre as PCAs.
Já nesta unidade, trataremos sobre seus precursores, seus
inovadores e os valores dessas práticas.
Sugerimos que, a cada novo autor estudado, você volte a ler (mes-
mo que rapidamente) o autor anterior para buscar compreender
mais facilmente suas ideias, fixar melhor as relações entre as te-
orias, os fatos e estabelecer o sentido das ligações conceituais.
Émile Jaques-Dalcroze
Nascido em Viena, Áustria (1865-1950), trabalhou a fim de
mudar o método tradicional de formação do ator e do bailarino,
François Delsarte
Segundo Caminada (2011), François Delsarte, nascido na
França (1811-1871), tentou a carreira de cantor, sofreu problemas
com a voz e decidiu estudar a relação entre o gesto, as emoções e
a natureza em toda a sua exuberância. Ao visitar hospitais, asilos,
necrotérios, prisões, seus olhos não procuravam a perfeição, mas
a humanidade com todas as suas irracionalidades, defeitos e pos-
sibilidades.
© U2 - Os Precursores, os Seguidores, os Inovadores e os Princípios e Valores das PCAs 61
Wilhelm Reich
Embora as abordagens corporais ligadas à saúde, à arte e à
educação tenham se expandido mundialmente, o processo holís-
tico que deve acompanhá-las é muito difícil de ser seguido, pois
depende de um conhecimento conjunto de psicologia, biologia,
antropologia, biomecânica, física, pedagogia, sociologia, fisiologia
que nem sempre faz parte do processo formador do profissional.
Enquanto Dalcroze e Delsarte iniciaram seus estudos com
base na área artística, Reich enveredou pelo caminho da medicina,
inicialmente seguindo os passos de Freud, o criador da Psicanálise,
e rompendo, mais tarde, com seu mestre.
Wilhelm Reich, nascido na Ucrânia (1897-1957) , com sua
visão aguçada, é aqui citado por ser um dos mais importantes
precursores modernos das atuais PCAs, principalmente no campo
da Saúde, uma vez que ele era médico e psicanalista. Embora seu
campo de ação fosse a Medicina, ele conseguiu influenciar pro-
fissionais das mais diferentes formações e abordagens corporais,
visto que seu método terapêutico/educacional podia ser utilizado
para revelar uma verdadeira e profunda linguagem corporal.
Ele defendia uma ação pedagógica de natureza política e
afirmava que a neurose (como a repressão e a falta de prazer) era
resultado de questões sociais, cujo remédio estava na leitura cor-
Elsa Gindler
Pode-se dizer que há certa facilidade em se relacionar os es-
tudos e obras dos precursores das PCAs, já que, na corrente dessa
cultura corporal, eles promovem uma sucessão integrada de ex-
periências, mesmo agindo em locais e circunstâncias diferentes:
François Delsarte, nos Estados Unidos, formou Genevieve Ste-
bbins, professora, por sua vez, de Hedwig Kallmeyer, que teve a
oportunidade de passar seus conhecimentos para Elsa Gindler, na
Alemanha.
Elsa Gindler, nascida na Alemanha (1885-1961), embora
não tivesse dado um nome específico para sua obra, é considera-
da uma das criadoras da ginástica harmônica, e o seu único texto
conhecido é Saúde, trabalho social e atividade física, datado de
1926.
Alexander Lowen
Alexander Lowen, nascido nos Estados Unidos da América
(1910-2008), foi discípulo de Wilhelm Reich e deu continuidade
aos seus estudos, trabalhos e práticas clínicas por meio de um mé-
todo que ele chamou de bioenergética, visando compreender e
dissolver as tensões crônicas apresentadas pela musculatura das
pessoas, fruto de forças irracionais pessoais, sociais e políticas.
Segundo Lowen (1982, p. 13), essas tensões ou couraças
musculares e do caráter:
São assim definidas pois servem para proteger o indivíduo contra
experiências emocionais dolorosas e ameaçadoras. São como um
escudo que o protege contra impulsos perigosos oriundos de sua
própria personalidade, assim como das investidas de terceiros.
Moshe Feldenkrais
A história de Moshe Feldenkrais, nascido na Rússia (1904-
1984), registra mais um caso de pesquisadores que evitaram uma
cirurgia para seus males, criaram seu próprio método de cura (que
consistia na ativação do seu sistema nervoso) e o ampliaram, co-
locando-o à disposição de pessoas de natureza das mais distintas
(pessoas normais ou com deficiências, atletas, músicos, dançari-
nos, professores de Educação Física, fisioterapeutas, atores, psicó-
logos, entre outros).
Feldenkrais (1977) deu ao seu método o nome de "consci-
ência pelo movimento e integração funcional", visando contrariar
a uniformização de movimentos, o gesto puramente mecânico, a
vida por trás de máscaras, a motivação extrínseca, privilegiando a
presença dos desejos espontâneos, o aumento das habilidades po-
tenciais, a emancipação dos educadores e protetores, a fuga aos
padrões sociais e a autovaloração.
Segundo Feldenkrais, o processo acontece quando a autoi-
magem é formada pela integração das dimensões da corporeida-
de: movimento, sensação, sentimento e pensamento.
As sensações (órgãos do sentido) mantêm as pessoas aten-
tas e conscientes de si próprias, dos outros e do meio ambiente; as
emoções estabelecem relações pessoais de tristeza, raiva, medo
ou felicidade; as ações auxiliam a expressar, transportar, brincar,
jogar, dançar, amar e viajar, e os pensamentos mantêm as pessoas
alertas e conscientes.
David Zemach-Bersin, Kaethe Zemach-Bersin e Mark Reese
(1992), seus alunos quando Feldenkrais ministrou cursos nos Esta-
dos Unidos, informam que o segredo dos movimentos propostos
por ele é deixar que o cérebro tenha tempo para distinguir sensa-
ções, diminuir a quantidade de força e a velocidade empregadas
nos exercícios, a fim de que o sistema nervoso e muscular possa
ter tempo para realizar a auto-organização.
Gerda Alexander
Gerda Alexander, nascida na Alemanha (1908-1994), viveu
na mesma época das outras grandes precursoras das PCAs, sendo
algumas delas encontradas neste trabalho: Elsa Gindler, Hedwig
Kallmeyer, Genevieve Stebbins, Elfriede Hengstenberg , Lily Ehren-
fried, Françoise Mezièrés, Ida Rolf, Isadora Duncan e muitas ou-
tras, a maioria partindo dos trabalhos de Dalcroze e Delsartes.
Gerda Alexander criou um método chamado eutonia (em
grego, "eu" significa "bem, beleza, harmonia, equilíbrio"; "tonia"
significa "tônus, tensão muscular"), que propunha o equilíbrio do
tônus muscular e emocional. Segundo pesquisas, Gerda baseou-se
em Henri Wallon para estudar o corpo consciente, no que ele con-
tinha de mais significativo: o caráter emocional do tônus muscular.
De acordo com todos os outros precursores das PCAs, ela
também se propunha a respeitar a individualidade e a espontanei-
dade do ser humano, e abordá-lo na sua pluralidade; sem impor
modelos, Gerda, por meio de muita consciência, competência e
coerência, conseguiu curar diversas patologias. Por essa razão, ela
utilizava seu trabalho, tanto como pedagoga como terapeuta, em
uma completude digna de elogios.
Reforçando a informação anterior:
Gostaríamos inicialmente de destacar a amplitude e a profundida-
de da Eutonia, que, como experiência vital, presta-se tanto para o
cuidado de pessoas normais como de pessoas doentes, tanto para
o cuidado de atletas como de sedentários, tanto para o cuidado
dos aspectos somáticos quanto dos aspectos psíquicos, graças às
Lily Ehrenfried
Continuando a sequência e a inevitável troca de experiência
entre autores que desejavam uma nova abordagem para a edu-
cação, para a arte, para a terapia e para o cotidiano de toda uma
população, Lily Ehrenfried, nascida na Alemanha (1896-1994), foi
uma das criadoras da ginástica holística e discípula de Elsa Gindler.
Mendonça (2000) relata que ela se formou enfermeira, de-
pois médica, fisioterapeuta e massagista. Levou seus conhecimen-
tos à França, país onde se radicou, a partir de 1933, fugindo da
ascensão do nazismo na Alemanha. Sua formação em medicina
© U2 - Os Precursores, os Seguidores, os Inovadores e os Princípios e Valores das PCAs 73
Elfriede Hengstenberg
Elfriede Hengstenberg, nascida na Alemanha (1892-1992),
diplomou-se em Ginástica e começou a lecionar em 1915. A única
coisa que desejava era oferecer uma boa preparação física aos alu-
nos, cujos pais entendiam que tal preparação era suficientemen-
te importante para que as crianças desenvolvessem o sentido da
vivacidade, da energia e da disposição durante as tarefas diárias.
Os médicos que atendiam as crianças consideravam que Elfriede
conseguiria corrigir seus pés planos, suas pelves desequilibradas,
suas colunas vertebrais desalinhadas, sua respiração e posturas
deficientes.
As próprias crianças acreditavam que conseguiam mais êxito
nas suas atividades do que nas sessões de ginástica e esporte na
escola onde estudavam, porém, isso só acontecia quando Hengs-
tenberg estava por perto. Longe das suas vistas, as crianças con-
tinuavam com os mesmos vícios corporais, e ela procurou outras
soluções.
Como posso conseguir estabelecer para as crianças uma relação
mais compreensível entre aquilo que praticam em minhas aulas
e aquilo que precisam na vida para seu livre desenvolvimento?
Achei-a em meu trabalho com Elsa Gindler e Heinrich Jacoby: era
necessário cuidar do seu desenvolvimento físico, do seu desenvol-
vimento global, das leis interiores do seu desenvolvimento normal
e dos caminhos da própria natureza da criança (HENGSTENBERG,
1994, p. 13-15)
Stanley Keleman
Stanley Keleman, nascido nos Estados Unidos da América
(1931-), é outra grande personalidade que não pode ser conside-
rada com apenas um perfil, mas muitos, tamanha a dimensão da
sua obra e a importância do seu trabalho, que reforça a necessida-
de da área das práticas corporais (tradicionais, alternativas, com-
plementares e convergentes; lúdicas, desportivas, rítmico-expres-
Meir Schneider
Antes de relatar as informações sobre o método self-healing
(método de autocura), vale a pena conhecer um pouco da vida do
seu criador, pois se trata de um processo de superação, sofrimen-
to, determinação, paciência e esperança. Só uma pessoa tão bem
dotada como Meir poderia ter chegado onde ele chegou.
Dror Schneider
Dror Schneider nasceu em Israel e teve dois filhos com Meir.
As crianças nasceram com os mesmos problemas visuais e têm re-
cebido o mesmo tratamento que o pai. Dror traduziu para o he-
braico o primeiro livro de Meir, Self-Healing: my life and vision (Au-
tocura: minha vida e a visão), e é terapeuta de autocura.
Depois de conhecer um pouco os coautores de Meir Schnei-
der, voltemos às informações contidas no livro Manual da Autocu-
ra.
Meir, Larkin e Dror estão de pleno acordo no que diz respeito
às pessoas deverem, no início, executar bem os exercícios propos-
tos, para, em seguida, estabelecerem sua própria rotina de expe-
rimentações. Não há problemas se a pessoa for sedentária, mas é
preciso começar os exercícios em algum momento.
Ninguém deve conhecer seu corpo, seu potencial, suas difi-
culdades e suas necessidades melhor do que você, mas uma orien-
tação segura, por um profissional capacitado, no início do traba-
lho, é sempre um bom conselho.
Ler esses livros que relatam o método da autocura sem exer-
citá-lo vai adiantar muito pouco, pois essa é uma obra que envolve,
essencialmente, compreensão e prática, e, de preferência, deve
ser praticado à medida que a leitura avança, pois sua metodologia
envolve calma, paciência e muita determinação. Alguns pacientes
chegaram a realizar mil vezes cada movimento, em benefício da
naturalidade, segurança, graça, precisão e harmonia.
Segundo Lorenzetto e Matthiesen (2008), o método de auto-
cura proposto por Meir Schneider e suas colaboradoras representa
uma abordagem segura e profunda no processo de reabilitação e
demonstra como a "conscientização, o pensamento e o movimen-
to" podem ser utilizados para educar e curar dentro do processo
holístico, atentando para:
1) tensões crônicas;
2) tensões musculares nos ombros e pescoço;
3) articulações rígidas;
4) má respiração;
5) cansaço muscular e sonolência;
6) concentração deficiente;
7) má circulação;
8) ansiedade.
Embora Meir dê uma ênfase especial ao corpo fisicamente
ativo, isso não significa que ele deva ser submetido ao desafio, à
destruição e à competição, pois, ao invés da saúde, pode acarretar
traumas e desistência. Segundo ele, a maioria dos acidentes pode-
ria ser evitada se os corpos apresentassem maior sensibilidade na
execução dos movimentos. Destaca:
1) Músculos: nem se discute o valor do sistema muscu-
lar, já que ele, pelo seu sistema de alavancas, "põe em
ação" toda uma personalidade. Ele empurra, segura, tra-
va, eleva, suspende, expande, muda, transmite mensa-
gens, ajuda na digestão e contrai, descontrai e relaxa; é
o motor do corpo; demonstra, esconde, fixa e valoriza as
emoções.
2) É o que podemos observar na Figura 1 a seguir:
© U2 - Os Precursores, os Seguidores, os Inovadores e os Princípios e Valores das PCAs 89
Al Chung-Liang Huang
Lorenzetto e Matthiesen (2008) recorrem ao pensamento
contemporâneo de Alan Watts na tentativa de explicar as origens
da filosofia e da técnica taoísta, o tai chi chuan, na visão de Al
Chung-Liang Huang. Ele prefacia o livro de Huang (1979) e infor-
ma que o seu trabalho difere tanto de um mestre asiático oriental
como de um mestre ocidental. Huang não reduz o tai chi a movi-
mentos preestabelecidos e mecânicos de ginástica. Em vez disso,
ele visa basicamente agir em torno do eixo, do centro e do equilí-
brio.
T´ai Chi exemplifica o princípio mais sutil do taoísmo como wu-wei.
Literalmente poderíamos traduzir como "não ação", porém mais
apropriado seria "agir sem constringir": mover-se de acordo com o
fluxo da natureza, imagem esta que corresponde à palavra Tao. [...]
© U2 - Os Precursores, os Seguidores, os Inovadores e os Princípios e Valores das PCAs 93
8. PRINCÍPIOS E VALORES
A fim de garantir a inteireza e a integridade (unidade na plu-
ralidade) do ser humano quando ele vivencia as PCAs, apresenta-
mos algumas reflexões que podem ser utilizadas pelos profissio-
nais de quaisquer áreas que pretenderem utilizar-se de projetos
educacionais, lúdicos, expressivos, agônicos (de agón: disputas,
9. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
1) Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu desempenho no
estudo desta unidade:
7) Até hoje, muitas escolas de dança clássica ainda baseiam suas metodologias
de ensino na repetição incessante de movimentos, nos treinos árduos de fle-
xibilidade, nas posturas rígidas – das pontas dos pés, passando pelo tronco,
até chegar ao pescoço e ao olhar. Esses treinamentos ou condicionamentos
corporais ultrapassam os muros das academias e transparecem nos corpos
dos dançarinos. Émile Jaques-Dalcroze, um dos precursores das PCAs, teve o
intuito de mudar o método tradicional de formação de atores e bailarinos e,
para isso, apresentou novas metodologias baseadas numa concepção holís-
tica e plural. Apresente os principais enfoques da sua metodologia e discuta
sua importância para a formação dessas e de outras pessoas que vivenciam
práticas corporais.
10. CONSIDERAÇÕES
Esta segunda unidade tratou dos precursores, dos seguido-
res, dos inovadores e dos princípios e valores das PCAs e de como
se produz a integração e evolução das obras aqui citadas, de ma-
neira que não pareça uma simples continuidade ou cópia.
Nos trabalhos pesquisados e apresentados a você, encon-
tramos mais semelhanças do que diferenças entre os autores es-
tudados, uma vez que um aprende (com muita nobreza) com o
anterior, visando ao desenvolvimeto de novas possibilidades, de
novos jeitos, a fim de criar um ambiente de aprendizagem onde os
alunos aprendam com responsabilidade e, também, com amor, e
onde os professores possam fazer o mesmo.
Cabe lembrar que citações bibliográficas são absolutamente
necessárias para evidenciar pessoas que não envidaram esforços
para romper com tabus da sua época (cada povo cultua seus usos
e costumes de formas absolutamente inusitadas) e defrontar-se
com novas experiências, tudo em benefício de uma melhor quali-
dade de vida da população.
11. E-REFERÊNCIAS
Sites pesquisados
CALEIDOSCÓPIO. Homepage. Disponível em: <http://www.caleidoscopio.art.br/>.
Acesso em: 13 fev. 2012.
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2. CONTEÚDOS
• Plasticidade humana.
• Propriocepção, forças, equilíbrio e apoios (físicos e psico-
lógicos).
• Passo a passo das PCAs.
104 © Práticas Corporais Alternativas
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na unidade anterior, você estudou os seguidores e os inova-
dores das PCAs e compreendeu os princípios que norteiam essa
prática.
Nesta unidade, estudará o próprio corpo, a fim de compre-
ender como acontece a sistematização das práticas corporais no
que tange à plasticidade humana, além de ver a propriocepção, as
forças, o equilíbrio e os apoios físicos e psicológicos.
A fim de sistematizar as PCAs, não é suficiente criar um
ambiente diferente, com inúmeros materiais, dançando o último
sucesso musical e utilizando técnicas distintas. Faz-se necessário
conhecer o próprio corpo, percebendo-o de formas diferentes, di-
versificadas, humanas, maduras, prazerosas e positivas.
Deve-se contar, também, com a postura e a atitude de pro-
fissionais e alunos que almejam uma melhor qualidade de vida,
viver em uma sociedade mais solidária, aumentar sua autoestima,
compartilhar o sucesso e respeitar os potenciais alheios.
Nesse sentido, as informações sobre as práticas corporais,
seja sua falta, excesso ou distorção, são veiculadas pela mídia ou
pertencem ao senso comum.
Os estereótipos de uma modelo com um belo corpo, mas
que se acha magra e feia, do senhor com medo de falar em público
e do garoto repudiado pelos amigos por ser pequeno são resulta-
dos de baixa autoestima, consequente de um processo educativo
ou deseducativo que nunca levou em consideração as diferenças
individuais, a saúde mental e o processo de inclusão.
Ainda permanece a forte presença comparativa dos corpos
modelados, devido a um alto nível de expectativa e, numa socie-
dade de consumo, o quase inevitável e radical agonismo (de agón:
disputas, competições) dos corpos competitivos.
5. PLASTICIDADE HUMANA
Como estamos continuamente em transformação, deforma-
ção e reconstrução, a plasticidade corporal é um grande recurso
para quem souber usá-la em seu benefício, pois pode moldar-se
com mais facilidade, rapidez e eficiência.
Voltando aos trabalhos dos precursores, seguidores e inova-
dores das PCAs, podemos lembrar de suas insistentes preocupa-
ções com o processo de transformação, já que o espaço, o tempo,
as leis, a mídia e o mundo estão em constante mudança.
7. PASSO A PASSO
O corpo humano, como o de todos os seres vivos, em quais-
quer circunstâncias, permanece pouco, razoavelmente ou muito
preparado para agir. Às vezes, pode ser pego de surpresa por aco-
modação, lerdeza, falta de aptidão, falta de interesse na ação ou
falta de recursos naturais que o coloquem em condições de igual-
dade ou consensualidade com seu oponente, amigo, adversário
ou amor.
Metodologia do como
Apresentamos a seguir, segundo Keleman (1995, p. 23-60),
duas propostas sobre de que maneira o como pode funcionar.
Exemplo n. 1
1º Passo – O que estou fazendo?
2º Passo – Como estou fazendo?
3º Passo – Como paro de fazê-lo?
4º Passo – O que acontece quando paro de fazê-lo?
5º Passo – Como uso o que aprendi a respeito?
Exemplo n. 2
1º Passo – Como crio um espaço interno? (Paraliso a ação externa,
converso comigo, silencio meus sentimentos habituais?)
2º Passo – Como faço isso muscularmente?
3º Passo – Como intensifico e desintensifico isso?
4º Passo – Como faço uma pausa, espero, permito que algo se crie?
5º Passo – Volto à minha atividade habitual ou pratico criar a forma
que acabei de aprender?
8. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu
desempenho no estudo desta unidade:
1) Por que a sistematização das PCAs exige, inicialmente, o conhecimento do
próprio corpo?
2) De que maneira podemos apreender o próprio corpo nas suas várias dimen-
sões?
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9. CONSIDERAÇÕES
Com o estudo desta terceira unidade, você compreendeu
a sistematização e a aplicação dos princípios e valores das PCAs,
bem como a importância do conhecimento do próprio corpo, das
relações da plasticidade corporal com a propriocepção, as forças
internas e externas ao corpo, os equilíbrios e os apoios físicos e
psicológicos.
Diante de tantas comparações, modas e modernidades cor-
porais, o conhecimento intencional e global do próprio corpo ad-
quire uma importância fundamental, para permitir ao seu "usu-
ário" uma visão mais aproximada do real, evitar estereotipias e
garantir uma autoestima elevada, e, dessa forma, contribuir para
melhorá-la.
Nesse sentido, a fim de que as pessoas possam reorganizar-
-se e adquirir novos conceitos corporais, elas precisam também
apresentar-se "sem forma", para poderem reformar-se. Daí a im-
portância da plasticidade como um atributo corporal.
Às vezes, a simples experiência individual ou coletiva das
PCAs bem conduzida é suficiente para provocar mudanças compor-
tamentais, atitudinais e conceituais eficazes e duradouras, mesmo
em indivíduos bem intencionados e desejosos de mudanças.
Quando isso não é totalmente possível, alguns autores pro-
põem que as mudanças sejam executadas passo a passo, como
ficou demonstrado nesta unidade.
Na próxima unidade, serão apresentadas algumas possibili-
dades de realizar as PCAs, já apresentadas (em forma de cursos,
palestras ou confraternizações) em escolas, congressos, clubes,
academias, hoteis, acampamentos, hospitais, clínicas e ao ar livre.
© U3 - Sistematização e Utilização das Práticas Corporais Alternativas 119
2. CONTEÚDOS
• Danças holísticas.
• Jogos cooperativos.
• Massagem.
• Ginástica holística.
122 © Práticas Corporais Alternativas
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na terceira unidade, você viu a sistematização, a propriocep-
ção, as forças, o equilíbrio e os apoios físicos e psicológicos das
PCAs. Estudou, também, a plasticidade humana dessas práticas.
Ainda na Unidade 3, você se deparou com o termo "alterna-
tivo", o qual está relacionado às práticas corporais. Como suges-
tão para complementar o estudo dessa unidade e, também, para
compreender melhor esse termo, leia a obra Liberdade sem medo,
escrita por Alexander Sutherland Neill. Com a leitura dessa obra,
você terá a oportunidade de transformar sua prática profissional
em cuidado profissional.
Agora, em nossa última unidade, você terá a oportunida-
de de conhecer e compreender as danças e ginástica holísticas, a
massagem e os jogos cooperativos.
Summerhill é o nome de uma escola em Essex, Inglaterra,
hoje dirigida pela filha do seu criador, o qual tinha uma visão alter-
nativa de educação em todos os seus setores: quanto à autonomia,
aos prêmios e castigos, à disciplina, à coeducação, ao trabalho, à
diversão, ao teatro, à dança, à música, aos esportes e aos jogos.
Neill (1968) afirmava que criança difícil era criança infeliz, se-
melhante a um adulto infeliz. Ele dizia que um homem feliz jamais
havia perturbado uma reunião, insuflado uma guerra e linchado
um negro. Portanto, a única cura que deveria existir era a cura da
infelicidade.
Em contrapartida, ele sugeria que a educação também deve-
ria ter como meta alcançar a felicidade.
Diante desses fatos, ele resolveu criar uma escola que acre-
ditava na bondade das crianças, dando-lhes a liberdade para se-
rem elas próprias.
Uma escola como essa geraria bons frutos na formação es-
portiva dos alunos, na resolução pessoal e social de problemas de
movimento e no aumento da versatilidade do acervo locomotor.
Foi o que aconteceu.
No livro Summerhill, há o relato de um fato bastante curioso
e raro de acontecer mesmo em uma competição escolar. Os joga-
dores do outro time são considerados concorrentes, e não adver-
sários: eles jogam uns com os outros, e não uns contra os outros:
As crianças organizam partidas com outras escolas da cidade e du-
rante uma partida de criket contra uma escola moderna, vizinha, os
alunos de Summerhill tinham resolvido que seu melhor elemento
não fizesse parte do jogo, pois o melhor jogador do outro quadro
estava doente (NEILL, 1968, p. 76).
5. AS DANÇAS HOLÍSTICAS
As danças holísticas constituem um conjunto de atividades
rítmicas, expressivas, lúdicas, artísticas e formativas que podem
ser divididas ou intituladas: danças criativas, danças circulares,
contato e improvisação, expressão corporal, dança contemporâ-
nea, dança-teatro, rodas brincantes, danças étnicas, danças folcló-
ricas e as danças de salão.
Essas atividades procuram retratar, explorar e aperfeiçoar
os sentimentos, ideias, percepções e gestos espontâneos do "ser
dançante", como ilustra a Figura 1, na qual há a apresentação de
um grupo de dança no SESC de São Carlos, interior de São Paulo.
6. JOGOS COOPERATIVOS
Para valorizar as tradições folclóricas, muitos povos costu-
mam se reunir em locais especiais, em datas especiais, trajando
roupas especiais para realizar atividades especiais: jogos, festivais
de ginástica, brincadeiras, danças circulares e folclóricas, sob a
orientação de líderes comunitários (profissionais ou não), manten-
do, assim, a unidade e a continuidade dos seus usos e costumes.
No campo da educação corporal, essas atividades são rea-
lizadas por professores geralmente especializados ou ligados ao
assunto, que tenham alguma facilidade de organizar e desenvol-
ver atividades lúdicas, ficando, então, implícita a necessidade do
educador físico demonstrar capacidade de liderança, criatividade,
desembaraço, alegria, autenticidade, confiança, empatia e conhe-
cimento da cultura na qual vai se envolver.
Atualmente, desenvolve-se com bastante interesse, em qua-
se todos os países, a ideia dos jogos ou brincadeiras cooperativas.
Essa ideia é explicada da seguinte forma por Orlick (1990):
1) Jogar com outras pessoas é melhor do que jogar contra
elas.
2) É preferível superar desafios do que superar pessoas.
3) Estar livre para vivenciar a verdadeira estrutura dos jo-
gos e encontrar prazer no próprio jogo.
Princípios cooperativos
De acordo com os princípios cooperativos, o jogador deve
realizar todas as operações possíveis, para que todos ou o maior
número de pessoas possam alcançar o lugar desejado. Esse tam-
bém é o princípio do sucesso coletivo, pois, por menor que seja a
participação de alguém, ela será sempre valorizada. Isso desper-
ta um compartilhamento precioso, muita alegria, criatividade e,
como não poderia deixar de ser, muito respeito, amizade e amor.
Acompanhe, a seguir, algumas dicas de princípios coopera-
tivos:
1) Realizar o jogo das cadeiras em círculo, sempre faltando
uma cadeira, mas sem deixar que ninguém seja excluído
do jogo. Os jogadores que ficarem sem cadeira podem
se sentar no colo uns dos outros, permanecerem dois
em cada cadeira quando sobrar uma cadeira e dois parti-
cipantes. Assim, um novo jogo pode se iniciar no centro
ou fora da roda, até que todos estejam no mesmo jogo.
Discuta com o grupo como os jogos cooperativos desen-
volvem a ética da solidariedade, valorizam a generosida-
de e criam noções de cidadania.
2) Brincar em duplas, trios ou em círculo de "joão-balan-
ça", discutindo, logo após a aplicação do jogo, sobre:
segurança, riscos de acidentes em caso de descuidos,
desequilíbrios, apoio dos colegas, sentir-se acolhido ou
não, conviver com o medo e a surpresa e o nível das suas
emoções, como podemos observar na Figura 2 a seguir.
Figura 2 Alunos saltam duas cordas manuseadas por duplas sentados (2000).
Figura 3 Exemplo de "jogo em família" em que representamos um pai, uma mãe e uma
criança brincando de escalar uma árvore. Curso de Educação Física Escolar em Sinop/MT
(2003).
7. MASSAGEM
Um elemento corporal como a pele não é um assunto discu-
tido, pesquisado e trabalhado normal e corriqueiramente no cam-
po da Educação Física, principalmente nas escolas, onde o aspecto
desportivo-competitivo ainda constitui uma das principais opções
curriculares, o que faz o contato pessoal ainda ser visto como um
tabu, não só pelos professores e pais, mas também pela sociedade
em geral.
Daí a razão para insistir numa ação com tato e contato, des-
de a mais tenra idade, para que as pessoas cresçam sabendo do
prazer do toque.
Os cinquenta anos de experiência clínica em psicoterapia
corporal de José Ângelo Gaiarsa e sua perspicácia na análise do
gesto e do movimento humano credenciam-no a ser o primeiro
autor citado para falar do toque:
O corpo no qual ninguém toca se faz cesta de lixo de tudo o que
não se deve, não pode, não convém, não está certo, não se faz, é
© U4 - As Práticas Corporais Alternativas – Ações Cotidianas 135
8. GINÁSTICA HOLÍSTICA
Schneider, Larkin e Schneider (1998) relatam que o movi-
mento, por meio da sua versatilidade, é a ênfase da autocura e
a essência da vida, razão pela qual ele deve ser explorado na sua
totalidade, pois contém em si mesmo ferramentas que devem ser
utilizadas em benefício do próprio ser humano, evitando, possi-
velmente, até o uso de medicação: raramente apresentam efeitos
colaterais, não mascaram os sintomas, e a única dependência que
causam é o prazer de movimentar-se.
Podemos cuidar de debilidades corporais caminhando, cor-
rendo, sentados sobre bolinhas ou bambus, meditando, realizando
alongamentos, girando a cabeça, mantendo o olhar fixo ou vice-
-versa, aplicando técnicas de reflexologia, shiatsu ou do-in, utili-
zando apenas parte da visão ou focalizando pontos fora do campo
visual.
Quando esse trabalho é executado, pode revelar sensibili-
dades preexistentes, pois, embora o processo seja divertido, não
é completamente indolor. Algumas reações aos estresses podem
deixar o corpo anestesiado, e, quando o tratamento é iniciado, a
conscientização pode revelar dores por nós bloqueadas.
Apresentamos, em seguida, algumas vivências relativas às
habilidades motoras, às capacidades físicas, à respiração, aos mi-
cromovimentos, ao relaxamento, à circulação e à tomada de cons-
ciência e operacionalização dos seus funcionamentos, fundamen-
tadas nos estudos de Schneider, Larkin e Schneirder (1998).
1) Apoiar seus ossos mais salientes sobre uma bolinha de
tênis, varinhas de bambu e bolas de borracha (ajoelha-
© U4 - As Práticas Corporais Alternativas – Ações Cotidianas 139
9. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu
desempenho no estudo desta unidade:
1) Após a leitura desta unidade, como você classifica as PCAs?
10. CONSIDERAÇÕES
Esta unidade completa as informações sobre o princípio al-
ternativo relacionado ao movimento, organizado em torno das
danças holísticas, dos jogos cooperativos, da massagem e da gi-
nástica holística.
O aspecto holístico, convergente, plural, transcendente e
simbólico das PCAs, e a riqueza da sua diversidade e adaptabilida-
de, sistematizadas por meio de uma Educação Física humanizado-
ra (sensível) e hominizadora (madura), fundamentada em valores
como inclusão, participação ativa, saúde, coeducação, paz, ética,
estética, solidariedade, liberdade, prazer, vitalidade, graciosidade,
naturalidade e criatividade, conferem às PCAs um grau de utiliza-
ção quase inimaginável.
Quando esses fundamentos não são respeitados, a procura
por expedientes como as drogas, os "rachas", a violência, o consu-
mismo desenfreado e a prática de exercícios físicos para aumentar
o poder pessoal e grupal de força acabam tornando-se um despre-
zo pelo corpo e pela vida.
Também é bom lembrar que a realização de projetos de na-
tureza alternativa e holística não acontece por mágica ou simples
vontade, sendo necessárias muita inspiração e muita transpira-
ção para compreender suas linguagens, transpor seus obstáculos,
estabelecer uma comunicação reversível e fincar marcos sólidos,
tudo de comum acordo com os participantes, pois cooperar é pre-
ciso! (LORENZETTO; MATHHIESEN, 2008).
Na Introdução desta unidade, foi relatado um fato ocorrido
numa escola inglesa, onde, durante uma partida de críquete, o
© U4 - As Práticas Corporais Alternativas – Ações Cotidianas 145
11. E-REFERÊNCIAS
Sites pesquisados
BETTO, F. Educação e mudança da realidade. Disponível em: <http://www2.uol.com.br/
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