Jacques Lacan - O Seminário - Livro 11 - Os Quatro Conceitos Fundamentais Da Psicanálise-Páginas-23-65 (Caps 2,3 e 5) PDF
Jacques Lacan - O Seminário - Livro 11 - Os Quatro Conceitos Fundamentais Da Psicanálise-Páginas-23-65 (Caps 2,3 e 5) PDF
Jacques Lacan - O Seminário - Livro 11 - Os Quatro Conceitos Fundamentais Da Psicanálise-Páginas-23-65 (Caps 2,3 e 5) PDF
Para come~ar na hora, vou encetar minha fala de hoje com a leitura
de urn poema que, na verdade, nao tern nenhuma rela~ao com 0 que lhes
vou dizer - mas sim com 0 que disse 0 ana passado, em meu semiOlirio, so-
bre 0 objeto misterioso, 0 objeto mais oculto - 0 da pulsao esc6pica.
Trata-se do curto poema que na pagina 73 de Fou d'Elsa, Aragon
intitula Contracanto.
Dedico este poema a nostalgia que alguns podem sentir daquele se-
minario interrompido, daquilo que nele eu desenvolvia sobre a angUstia e
sobre a fun~ao do objeto a minusculo.
Eles sacarao,4 eu acho, esses tais, - desculpo-me por ser tao alusi-
vo - eles sacarao 0 sabor do fato de Aragon, - nessa obra admiravel onde
me orgulho de encontrar 0 eco dos gostos de nossa gera~ao, que faz com
queeu seja for9ado a me reportar a meus camaradas da mesma idade que inabordado - que nao creio poder fazer mais, este ano, do que so tornar a
eu, para poder ainda me entender sobre esse poema - Aragon faz seguir seu ela depots que tivermos falado da transferencia.
poema com esta linha enigmlitica - Assim disse uma vez An-Nadi, quando Veremos entao apenas a essencia da analise - especialmente 0 que
o convidaram para uma circuncisiio. tern, nela, de profundamente problematico, e ao mesmo tempo dire tor , a
Ponto em que aqueles que ouviram meu seminario do ana passado fun9ao da analise didatica. S6 depois de passar por esta exposi9ao e que
reencontrarao a correspondencia das formas diversas do objeto a com a poderemos talvez, pelo fim do ana - sem que nos mesmos minimizemos
fun9ao central e simb6lica do menos-fi [(- lP)] - aqui evocado pela refe- o lado movente, se mIo escabroso, da aproxima9ao desse conceito - abor-
rencia singular, e certamente nao casual, que Aragon confere a conota9ao dar a pulsao. Isto em contraste com os que nisto se aventuram em nome
hist6rica, se assim posso dizer, da emissao, por seu personagem, 0 poet a de referencias incompletas e fnigeis.
louco, desse contracanto. As duas flechinhas que voces estao vendo indicadas no quadro de-
pois de 0 inconsciente e de A repetirQo visam 0 ponto de interroga9ao que
segue. Ele indica que nossa concep9l1'o do conceito implica ser este sempre
estabelecido numa aproxima9ao que nao deixa de ter rela9ao com 0 que
Ha algumas pessoas aqui, eu sei disso, que se estao introduzindo ao nos impoe, como forma, 0 calculo infinitesimal. Se 0 conceito se modela,
meu ensino. Elas se introduzem atraves de escritos que ja fizeram epoca. com efeito, por uma aproxima9ao da realidade que ele foi feito para apre-
Eu gostaria que elas soubessem que uma <tas coordenadas indispensaveis ender, s6 por urn salto, por uma passagem ao limite, e que ele chega a se
para apreciar 0 sentido desse primeiro ensino deve ser encontrada no se- realizar. Dai somos requisitados a dizer no que pode dar - direi, sob forma
guinte: que elas nao podem, onde estao, imaginar ate que grau de desprezo, de quantidade fin ita - a elabora9ao conceitual que se chama 0 inconscien-
ou simplesmente de desconhecimento para com seu proprio instrumento, te. Igualmente para a repeti9ao.
podem chegar os praticantes. Que elas saibam que, durante alguns anos, foi Os outros dois termos inscritos no quadro no fim da linha, 0 sujeito
preciso todo 0 meu esfor90 para revalorizar aos olhos deles esse instrumen- e 0 real, e em rela9ao a eles que seremos levados a dar forma a questao
to, a [ala - para lhe devolver sua dignidade, e fazer com que ela nao seja posta da Ultima vez - pode a psicanalise, sob semi aspectos paradoxais, sin-
sempre, para eles, essas palavras desvalorizadas de antemao que os for9a- gulares, aporeicos, ser considerada entre nos como constituindo uma cien-
yam a fixar os olhos em outra parte, para lhes encontrar urn fiador. cia,uma esperan9a de ciencia?
Assim e que passei, pelo menos por algum tempo, por ser obsedado Torno primeiro 0 conceito de inconsciente.
por nao sei que fIlosofia da linguagem, mesmo heideggeriana, quando se
tratava apenas de uma referencia propedeutica. E nao e porque eu falo nes-
sas coisas que eu tenha que falar como fIlosofo.
Para me defrontar com algo diferente, que aqui estarei efetivamente A maioria desta assembleia tern n09ao de que ja adiantei isto - 0 in-
mais a vontade para nomear, 0 de que se trata e algo que nao chamarei de consciente e estruturado como uma linguagem - 0 que se relaciona com
outra coisa senao a recusa do conceito. it por isso que, como anunciei no urn campo que hoje nos e muito mais acessivel do que no tempo de Freud.
fim da minha primeira aula, e aos conceitos freudianos principais - que llustrarei com algo que e materializado num plano seguramente cientifico,
l
isolei como sendo em numero de quatro, e mantendo propriamente esta com esse campo que explora, estrutura, elabora Claude Levi-Strauss, e que
fun9l1'o- que tratarei hoje de introduzir voces. ele rotulou com 0 nome de Pensamento selvagem.
Essas palavras que estao af no quadro-negro sob 0 titulo de conceitos Antes de qualquer experiecia, antes de qualquer dedu9ao individual,
freudianos, sao os dois primeiros - 0 inconsciente e a repeti9ao. A transfe- antes mesmo que se inscrevam as experiencias coletivas que s6 SaDrela-
rencia - eu a abordarei, assim espero, da proxima vez - nos introduzira cionaveis com as necessidades sociais, algo organiza esse campo, nele ins-
diretamente aos algoritmos que acreditei dever adiantar na pratica, espe- crevendo as linhas de for9a iniciais. E a fun9ao que Claude Levi-Strauss nos
cialmente para os fins do nosso manejo da t6cnica analitica como tal. mostra ser a verdade totemica, e que reduz sua aparencia - a fun9ao classi-
Quanto a pulsao, ela 6 de acesso ainda tao dificil - a hem dizer, tao ficat6ria primaria.
Antes ainda que se estabeleyam relay6es que sejam propriamente hu- de compreender pela razao - se e que a regra da razao, a Vernunftsregel, e
manas, certas relay6es ja SaDdeterminadas. Blas se prendem a tudo que a sempre alguma Vergleichung, ou equivalente - e que sobra essencialmente
natureza possa oferecer como suporte, suportes que se disp6em em temas na funyao da causa uma certa hidnda, termo empregado nos Prolegomenos
de oposiyao. A natureza fornece, para dizer 0 termo, significantes, e esses do mesmo autor.
significantes organizam de modo inaugural as relay6es hurnanas, lhes dao Eu nao vou querer lembrar que 0 problema da causa foi sempre 0
as estruturas, e as modelam. embarayo dos ftl6sofos, e que eYenao e tao simples quanta se pode crer ao
o importante, para nos, e que vemos aqui 0 nivel em que - antes ver equilibrarem-se em ~ist6teles as quatro causas - pois nao estou aqui
de qualquer formayao do sujeito, de urn sujeito que pensa, que se situa ftlosofando, e nao pretendo me desincumbir de uma tarefa tao pesada com
ai - isso conta, e contado, e no contado ja esta 0 contador. So depois e essas poucas referencias que bastam para tornar sensivel, simplesmente, 0
que 0 sujeito tern que se reconhecer ali, reconhecer-se ali como contador. que quer dizer isto.sobre que insisto ..A causa, para nos, qualquer que seja a
Lembremos a topada ingenua em que 0 medidor de nivel mental se esbal- modalidade com que Kant a increva nas categorias da razao pura - mais
da com sacar 0 homenzinho que enuncia - Tenho tres irmiios, Paulo, Er- exatamente ele a inscreve no quadro das relay6es, entre a inerencia e a co-
nesto e eu. Mas e muito natural - primeiro sao contados os tres irmaos, munidade - a causa nao e por isso racionalizada.
Paulo, Ernesto e eu, e depois ha 0 eu no nivel em que se diz que eu tenho Ela se distingue do que ha de determinante numa cadeia, dizendo
que refletir 0 primeiro eu, quer dizer, 0 eu Rue conta. melhor, da lei. Para exemplificar, pensem no que se figura na lei de ayao e
Hoje em dia, no tempo historico em que estamos, de formayao reayao. So existe aqui, se quiserem, apenas urn titular. Urn nao anda sem
de uma ciencia, que podemos qualificar de humana, mas que e preciso dis- o outro. Urn corpo que se esborracha no chao, sua massa nao e a causa de
tinguir bem de qualquer psicossociologia, isto e, a lingiiistica, cujo modelo ele receber de volta sua forya viva, sua massa e integrada a essa forya que a
e 0 jogo combinatorio operando em sua espontaneidade, sozinho, de ma- ele retorna para dissolver sua coerencia por um efeito de retorno. Aqui, ne-
neira pre-subjetiva - e esta estrutura que da seu estatuto ao inconsciente. nhurna ruancia, a nao ser no fmal.
E ela, em cada caso, que nos garante que ha sob 0 termo de inconsciente Ao contrario, cada vez que falamos de causa, ha sempre algo de anti-
algo de qualificavel, de acessfvel, de objetivavel. Quando incito os psicana- conceitual, de indefinido. As fases da lua SaDa causa das mares - quanta a
listas a nao mais ignorarem este terreno, que lhes da urn apoio solido para isto, e claro, sabemos nesse momenta 1ue a palavra causa esta bem empre-
sua elaborayao, quer isto dizer que eu penso manter os conceitos introduzi- gada. Ou ainda, os miasmas sao a causa da febre - isto, tambem, nao quer,
dos historicamente por Freud sob 0 termo de inconsciente? Muito bern, dizer nada, hli urn buraco, e algo que vem oscilar no intervalo. Em suma, so'
nao!, eu nao penso assim. 0 inconsciente, conceito freudiano, e outra existe causa para 0 que manca.5
coisa, que eu gostaria de tentar fazer voces apreenderem hoje. Muito bern, 0 inconsciente freudiano, e nesse ponto que eu tento fa-
Certamente nao basta dizer que 0 inconsciente e urn conceito dinei- zer voces visarem por aproximayao que ele se situa nesse ponto em que,
mico, pois isto e substituir a ordem do misterio mais corrente por urn mis- entre a causa e 0 que eia afeta, ha sempre claudicayao.6 0 importante nao
terio particular - a forya, isto serve em geral para designar urn lugar de e que 0 inconsciente determina a Deurose - quanta a isto, Freud fez de
opacidade. E a funyao da causa que me referirei hoje. born grado 0 gesto pilatico de lavar as maos. Mais dia menos dia, vli"oachar
Bern sei que entro por ai nurn terreno que, do ponto de vista da cri- talvez alguma coisa, determinantes hurnorais, pouco importa - para ele dli
tica ftlosofica, nao deixa de evocar uma pOryaO de referencias, 0 bastante na mesma. Pois 0 inconsciente DOSmostra a hi3ncia por onde a neurose se
para me fazer hesitar entre elas - apenas sofreremos para escolher. Hlt pelo conforrna a urn real - real que bem pode. ele sim, DaO ser determinado.
menos uma parte do meu audit6rio que vai mesmo ficar sem matar a fome Nessa hiancia, algurna coisa acontece. Essa hiancia. uma vez cosida
se eu simplesmente indicar que no Ensaio sobre as Grandezas Negativas de sua boca, estara curada a neurose? Antes de mais nada, a questao estli
Kant, podemos sacar como e bem aproximada a hiancia que, desde sempre, sempre aberta. SO que a Deurose se toma outra coisa, as vezes simples
a funyao da causa oferece a todo saque conceitual. Neste ensaio, quase se enferrnidade, cicatriz, como diz Freud ~ nao cicatriz da neurose. mas do
diz tratar-se de urn conceito, no fun das contas, inanalisavel - impossivel inconsciente. Esta topologia, nao a estou arrumando muito cientificamen-
te para voces, poniue nao tenho tempo - estou entrando dire to nela, e compreender 0 de que se trata na psicamilise, tomar a evocar 0 conceito
creio que voces poderao sentir-se guiados pelos termos que introduzo de inconsci,ente nos tempos em que Freud procedeu para forja-Io - pois nao
quando forem aos textos de Freud. Vejam de onde ele parte - de A Etio- podemos completa-Io sem leva-Io ao seu limite.
logia das Neuroses - e 0 que e que ele acha no buraco, na fenda, na hilin- o inconsciente freudiano nada tern a ver com as formas ditas do in-
cia caracteristica da causa? Algo que e da ordem do niio-realizado. consciente que 0 precederam, mesmo as que 0 acompanhavam, mesmo lfs
Fala-se de recusa. E ir depressa demais nessa materia - alias, ha ai- que 0 cercam ainda. Abram, para compreender 0 que quero dizer, 0 dicio-
gum tempo, quando se fala em recusa, nao se sabe mais do que se esta nario Lalande. Leiam a enumeracrao muito bonita que fez Dwelshauvers
falando. 0 inconsciente, primeiro, se manifesta para n6s como algo que nurn livro publicado ha uma quarentena de anos por Flammarion. La ele
fica em espera na area, eu diria algo de niio-nascido. Que 0 recalque derra- enumera oito ou dez formas de inconsciente que nao ensinam nada a nin-
me ali alguma coisa, isto nao e de se estranhar. E a relacrao da fazed ora de guem, que simplesmente designam 0 nao-consciente, 0 mais ou menos
anjos com os limbos. consciente e, no campo das elaboracroes psicol6gicas, encontram-se mil
Esta dimensao seguramente deve ser evocada num registro que nao variedades suplementares.
e nada de irreal, nem de desreal, mas de nao-realizado. Nunca e sem peri- o inconsciente de Freud nao e de modo algum 0 inconsciente ro-
go que se faz remexer algo nessa zona de larvas, e talvez seja mesmo a mantico da criacrao imaginante. Nao e 0 lugar das divindades da noite. Sem
posicrao do analista - se ele a ocupa de verdade - dever ser sitiado - que- duvida que isto nao deixa totalmente de ter relacrao com 0 lugar para on de
ro dizer, realmente - por aqueles em quem ele evocou esse mundo de lar- se volta 0 olhar de Freud - mas 0 fato de lung, reIe dostermos do incons-
vas sem ter po dido sempre traze-Ias Ii luz. Nem todo discurso e aqui ciente romantico, ter sido repudiado por Freud, nos indica bast ante que a
inofensivo - 0 discurso mesmo que pude manter esses dez anos encontra psicanalise introduz outra coisa. Do mesmo modo, para dizer que 0 in-
nisso alguns desses efeitos. Nao e a toa que, mesmo num discurso publico, consciente tao intrometido, tao heter6clito, que durante toda a sua vida
se visem os sujeitos, e que se os toque naquilo que Freud chama 0 umbi- de fil6sofo solitario Eduardo Von Hartmann elaborou, nao e 0 inconscien-
go - umbigo dos sonhos, escreve ele para the designar, em ultimo termo, 0 te de Freud, tambem nao seria preciso ir muito longe, pois Freud, no seti-
centro inc6gnito - que nao e mesmo outra coisa, como 0 pr6prio umbigo mo capitulo de A CiencUzdos Sonhos, refere-se, ele pr6prio, a isto, em no-
anatomico que 0 representa, senao essa hiiincia de que falamos. ta - quer dizer que e preciso olhar isso mais de perto para designar 0 que,
Perigo do discurso publico, no que ele se dirige justamente ao mais em Freud, se distingue.
pr6ximo - Nietzsche sabia que urn certo tipo de discurso s6 pode dirigir-se A todos esses inconscientes sempre mais ou menos afiliados a uma
ao mais long in quo. vontade obscura considerada como primordial, a algo de antes da consci-
A bem dizer, essa dimensao do inconsciente, que eu evoco, estava encia, 0 que Freud opoe e a revelacrao de que, ao nivel do inconsciente, ha
_. esquecida, como Freud havia previsto perfeitamente bem. 0 inconscien- algo hom610go em todos os pont os ao que se passa ao nivel do sujeito - is-
- te se havia refechado sobre sua mensagem gracras aos cuidados desses ati- so fala e funciona de modo tao elaborado quanta 0 do nivel consciente,
vos ortopedeutas em que se tomaram os analistas da segunda e da terceira que perde assim 0 que pare cia seu privilegio. Estou sabendo das resistencias
geracrao, que se dedicam, no que psicologizando a teoria psicanalitica, a su- que ainda provoca esta simples chamada, no entanto sensivel no minima
turar essa hiancia. texto de Freud. Leiam, sobre isto, 0 paragrafo desse setimo capitulo intitu-
Podem crer que, eu mesmo, eu nao a reabro jamais sem precaucrao. lado 0 Esquecimento nos Sonhos, a prop6sito de que Freud s6 faz referen-
cia aos jogos do significante.
Nao me contento com essa referencia macicra. Eu lhes soletrei, ponto
por ponto, 0 funcionamento do que nos foi produzido primeiro por Freud
Estou certamente, agora, na minha data, na minha epoca, em posi- como fenomeno do inconsciente. No sonho, no ato falho, no chiste - 0
~ao de introduzir no dominio da causa a lei do significante, no lugar onde que e que chama atencrao primeiro? E 0 modo de tropecro pelo qual eles
essa hiancia se produz. Nem por isso deixa de ser preciso, se queremos aparecem.
Trope~o, desfalecimento, rachadura. Numa frase pronunciada, escri- Onde esta 0 fundo? Sera a ausencia? Nao. A ruptura, a fenda, 0 tra~o
ta, alguma coisa se estatela. Freud fica siderado por esses fen6menos, e e da abertura faz surgir a ausencia - como 0 grito nao se perfIl a sobre fundo
neles que vai procurar 0 inconsciente. Ali, alguma outra coisa quer se reali- de silencio, mas, ao contrario, 0 faz surgir como silencio.
zar - algo que aparece como intencional, certamente, mas de uma estranha Se guardarem na mao esta estrutura inicial, voces se conterao de se
temporalidade. 0 que se produz nessa hiancia, no sentido pleno do termo livrar a tal ou tal aspecto parcial do que se trata no que concerne ao in-
produzir-se, se apresenta como um achado. E assim, de come~o, que a consciente - como, por exemplo, de que e 0 sujeito, enquanto alienado na
explora~ao freudiana en contra 0 que se passa no inconsciente. sua historia, no nivel em que a sin cope do discurso se conjuga com seu de-
Urn achado que e, ao mesmo tempo uma solu~ao - nao for~osamen- sejo. Voces verao que, mais radicalmente, e na dimensao de uma sincronia
te acabada, mas, por mais incompleta que seja, tern esse nao-sei-o-que que que voces devem situar 0 inconsciente - no nivel de urn ser, mas enquanto
nos toea com esse sotaque particular que Theodoro Reik tao admiravel- pode se portar sobre tudo, isto e, no nivel do sujeito da enuncia~ao, en-
mente destacou - apenas destacou, po is Freud tinha muito bem chamado quanta segundo as frases, segundo os modos, se perdendo como se encon-
a aten~ao para ele - a surpresa - aquilo pelo que 0 sujeito se sente ultra· trando, e que, numa interjei~ao, num imperativo, numa invoca~ao, mesmo
passado, pelo que ele acaba achando ao mesmo tempo mais e menos do num desfalecimento, e sempre ele que nos pae seu enigma, e que fala, -
que esperava - mas que, de todo modo, e, em rela~ao ao que ele esperava, em suma no nivel em que tudo que se expande no inconsciente se difund~,
de urn valor tinico. tal 0 micelium, como diz Freud a proposito do sonho, em torno de urn
Ora, esse achado, uma vez que ele se apresenta, e urn reachado, e ponto central. Trata-se sempre e do sujeito enquanto que indeterminado.
mais ainda, sempre esta prestes a escapar de novo, instaurando a dimensao Oblivium, e levis com e longo - polido, unido, liso. Oblivium, e 0
da perda. que apaga - 0 que? - 0 significante como tal. Ai esta onde reencontramos
Para me deixar levar por uma metafora, Euridice duas vezes perdida, a estrutura basal que torna possivel, de modo operatorio, que alguma coisa
esta a imagem mais sensivel que poderiamos dar, no mito, do que e a rela- , tome a fun~ao de barrar, de riscar uma outra coisa. Nivel mais primordial,
~ao de Orfeu analista com 0 inconsciente. estruturalmente, do que 0 recalque de que falaremos mais tarde. Muito
Com 0 que, se voces me permitem acrescentar alguma ironia, 0 in- bern, este elemento operatorio do apagamento, e isto que Freud designa,
consciente se acha na margem estritamente oposta a de que se trata no desde a origem, na fun~ao de censura.
am or , do qual todo mundo sabe que e sempre Unico e que a formula quem E a podagem com tesouras, a censura russa, ou ainda a censura ale-
perde um encontra dez en contra nele sua melhor aplica~ao. ma, confira Heinrich Heine no come~o do Livro da Alemanha. Senhor e
A descontinuidade, esta entao a forma essencial com que nos aparece Senhora Fulano tem 0 prazer de lhes participar 0 nascimento de um [ilho
de saida 0 inconsciente como fen6meno - a descontinuidade, na qual algu- belo como a liberdade. - 0 Doutor Hoffmann, censor, corta a palavra Ii-
ma coisa se manifesta como vacila~ao. Ora, se essa descontinuidade tern es- berdade. Seguramente, podemos nos interrogar sobre 0 que se torna 0 efei-
se carater absoluto, inaugural, no caminho da descoberta de Freud, sera to dessa palavra pelo fate dessa censura propriamente material 0 que e urn
que devemos coloca-la - como foi em seguida a tendencia dos analistas _. outro problema: Mas e sobre isso mesmo que age, da maneira mais eficien-
sobre 0 fundo de uma totalidade? te,o dinamismo do inconsciente.
Para retomar urn exemplo nunca bast ante explorado, aquele que foi
Sera que 0 um e anterior a descontinuidade? Penso que nao, e tudo
que ensinei esses tiltimos anos tendia a revirar essa exigencia de urn ~m o primeiro sobre que Fr~ud apoiou sua demonstra~ao, 0 esquecimento, 0
fechado - miragem a qual se apega a referencia ao psiquismo de envolucro, trope~o da memoria, concernente a palavra Signorelli apos sua visita as
uma esplkie de duplo do organismo on de residiria essa falsa unidade. Vo- pinturas de Orvieto, sera possivel nao ver surgir do texto mesmo, e se im-
ces concordarao comigo em que 0 um que e introduzido pela experiencia por, nao a metafora, mas a realidade do desaparecimento, da supressao,
do inconsciente e 0 um da fenda, do tra~o, da ruptura. da Unterdri.i.ckung, da passagem porbaixo? A palavra Signor, Herr, passa
Aqui brota uma forma desconhecida do um. 0 Un do Unbewu$ste. por baixo - 0 senhor absoluto, eu disse unia vez, a morte, para dizer tudo,
Digamos que 0 limite do Unbewusste e 0 Unbegri[[ - nao 0 nao-conceito, desaparece alL E tambem, sera que nao vemos, la detras, perfIlar-se tudo
mas 0 conceito da falta.7 que Freud necessita para encontrar nos mitos da morte do pai a regula-
~ao de seu desejo? Antes de mais nada, ele se reencontra com Nietzsche
para enunciaf, no mito dele, que Deus esta morto. E e talvez sobre 0 fundo
das mesmas razoes. Pois 0 mito de que Deus estd morto - do que eu estou,
de minha parte, bem menos convencido, como mito entendam bem do
que a maioria dos intelectuais contemporiineos, 0 que nao e de ~odo
algum uma declara~ao de teismo nem de fe na ressurrei~ao - este mito
talvez seja apenas 0 abrigo que se achou contra a amea~a de castra~ao.
Se voces souberem ler, voces 0 verao nos afrescos apocalipticos da
catedral de Orvieto. Se nao, leiam a conversa de Freud no trem - trata-se Nem ser, nem Mo-ser.
apenas do fim da potencia sexual, da qual seu interlocutor medico, 0 in- Finitude do desejo.
terlocutor precisamente diante de quem ele nao lembra 0 nome de Signo- o evasivo.
relli, the conta 0 carater dramatico para aqueles que sao ordinariamente o estatuto do inconsciente e etico.
seus pacientes. Que tudo estd por re[azer na teoria.
Assim, 0 inconsciente se manifesta sempre como 0 que vacHa num Freud cartesiano.
corte do sujeito - donde ressurge urn achado que Freud assimila ao de- o desejo da histerica.8
sejo - desejo que situaremos provisoriamente na metonimia desnudada
do discurso em causa, em que 0 sUjeito se saca em algum ponto inesperado.
Quanto a Freud e a sua rela~ao ao pai, nao esque~amos que todo 0 A semana passada, minha introdu~ao do inconsciente pela estrutura
seu esfor~o s6 0 levou a confessar que, para ele, essa questao per.manecia de uma hiiincia oferl!ceu ocasiao a urn de meus ouvintes, Jacques-Alain
inteira, ele disse a uma de suas interlocutoras - 0 que quer uma mulher? Miller, para urn excelente tra~ado do que, nos meus'escritos precedentes,
Questao que ele nunca resolveu, confira 0 que foi efetivamente sua rela- ele reconheceu como a fun~ao estruturante de uma falta, e ele a reuniu,
~ao com a mulher, seu carater uxorioso, como se exprime pudicamente por urn arco audacioso, com 0 que pude designar, falando da fun~ao do
Jones a seu respeito. Diremos que Freud teria dado segura mente urn admi- desejo, como falta-a-ser.
ravel idealista apaixonado se nao se tivesse consagrado ao outro, na for. Tendo realizado essa sinopsp- que certamente nao foi inutil, ao menos
ma da histerica. para aqueles que ja tenham algumas no~oes do meu ensino, ele me interro-
gou sobre minha ontologia.
Decidi parar sempre as vinte para as duas em ponto meu semina- . Nao the pude responder dentro dos limites impostos ao dialogo pelo
~io. Vo~es veem que hoje nao fechei a questao do que seja a fun~ao do horario, e ficou combinado que eu obtivesse dele, antes de mais nada, a
lllconSClente.
precisao daquilo com que ele. cerca 0 termo ontologia. Entretanto, que
Faltam questOes e respostas. ele nao pense que eu de modo algum achei a questao inapropriada. Direi
mesmo mais. Ela bateu particularmente em cheio, no senti do de que e
mesmo de uma fun~ao ontol6gica que se trata nessa hiiinda, pelo que acre-
ditei dever introduzir, como the sendo a mais essencial, a fun~ao do in-
consciente.
Pensamentos do inconsciente.
o cololao da duvida.
Subversao do sujeito.
Introdurao Ii repetirao.
Oreal e o·que se retorna sempre
ao mesmo lugar.
ta de certeza se nao tivesse sido guiado, como os textos nos atestam, por
sua auto-analise. e a~:a;r;~b::ft par ins;inctual, tern tais inconv~nient~s para 0 tradut?r (~~i
. da t d maneua umforme - 0 que ms I
Eo que e sua auto-analise - senao 0 mapeamento genial da lei do de- embQr~ s:ja. ma~~lda por to ~~ :on:trasenso absoluto, pois nada ha de
sejo Suspensa ao Nome-do-Pai? Freud avan~a sustentado por certa rela~ao a essa edls:ao mt;'I~I~h: ~~t~~~~o_la naquele texto, 0 desacordo aparec~ tao
seu desejo e pelo quee seu ato, isto e, constitui~ao da psicanaIise. ~omum. e~tqr~e ~;o se pode nem mesmo levar a frase ate 0 fim traduzmdo-
Nao me estenderei mais, ainda que eu hesite em deixar este terreno. ImpOSSlve 't At the beginning
Se insistisse, Ihe mostraria que a no~ao, em Freud, de alucina~ao, como se Triebhaft por insti~ctu:I. :::;c~~~e~~~ ~~~~;~r~ao~ revealing of th~
processo de investimento regressivo sobre a percep~ao, implica necessaria- of the next paragrap , ~ e . Trieb os futuca mais, meus amigUl-
mente que 0 sujeito deve nele ser completamente subvertido _ 0 que ele s6 urgency than the word mstmctual.? . . dito Ai esta como se
nhos e toda a diferen~a para com 0 mstmto, 0 asslm .
e, com efeito, em momentos extremamente fugazes.
trans~ite 0 ensino psicanalitico.
Sem duvida, isto talvez deixa inteiramente aberta a questao da aluci-
na~ao propriamente dita, na qual 0 sUjeito nao ere, e onde ele nao se reco- .
VeJamos - como 0 Wiederholen se
entao . introduz. Wiederholen tern
nhece como implicado. Sem dUvida, isto nao passa de urn empacotamento - .
relarao com Ermnerung, a e r memorarao.
y
0 sujeito
•
em suat casa, a rememo-
-I' I'te que se
mitico - pois nao e seguro que se possa falar do delirio da psicose alucina-
t6ria de origem confusional Como 0 faz Freud, muito rapidamente, vendo
I Y 'fi d' s6 marcha ate urn cer 0 1m ,
rializas:ao da blOgra la: tu O•.IS~Odl'ante de voces uma f6rmula spinoziana
h
c ama 0 r:.
al Se eu qUlsesse 10fJar .
de que se trata, diria _ cogitatio adaequata semperVl.tat
.
nela a manifesta~ao da regressao perceptiva do desejo estancado. Mas que
concerne~e~ aOUm pensamento adequado enquanto pensamento,-,-n~1
ali haja urn modo em que Freud possa conceber como possivel a subversao
eamdem
em que e~ll!9t . s , evita sempreO-_--=="-_
- ainda ~para.
v •••••••.
se reencontrar em tudo - a
mesma cois~9---t:eal e aq!!i. 0 que
reto~a~el!!Ere ao_m~smo lug~ esse
W~ ..Qnde o_!.uimo, na medida em Que ele cOg!ta onde a res cogjtans, I!Ko principio do prazer e do principio de realidade - nada se ~oma maio~ enig-
p encontra. ma do que esse Wiederholen que esta muito perto, n~ dlZer do~ etIrn610-
gos, do haler frances, do sirgar - como se faz nas trilhas de s:~gagem -
, Toda a hist6ria da descoberta por Freud da repeti~o como fun~o
muito perto do sirgar do sujeito, 0 qual puxa sempre seu trem por urn
,so se defme Com mostrar assim a rela~ao dopensamento com 0 real. Foi
caminho de onde nao pode sair.
born n~ come~o, .pois se tratavam de histericas. Como 0 processo de reme-
mora~ao era convmcente entre as primeirashistericas! Mas 0 de que se trata E por que, de primeiro, a repeti~ao teni aparecido ao nivel do que
chamamos neurose traumatica? ,
~essa r:m~~ora~ao, nao se podiaisaber de-siida! - nao se sabia que 0 dese-
JO da histenca era 0 desejo do pai, a ser sustentado em seu estatuto. Nada Freud contrariamente a todos os neurofisi610gos, patologistas e ou-
de espantoso que, em beneficio daquele que toma 0 lugar do pai, a gente tros, frisou bem que, se e problema para 0 sujeito reproduzir em sonho a
se rememore das coisas ate 0 fundinho. lembran~a do bombardeio intenso, por exemplo, de on de parte. a neuro-
, Nessa ocasiao, eu lhes mostro que, nos textos de Freud, repeti~ao se - isto nao lhe parece, em estado de vigIlia, nem feder nem cherrar. Q~al
nao e reprodu~ao. Jamais qualquer osci1a~ao sobre este ponto _ Wierder- e entao essa fun~ao de repeti~ao traumatica, se nada, muito pelo contnin~,
holen nao e Reproduzieren. pode parecer justifica-la do ponto de vista do principio do ~razer? Dorm~
Reproduzir, e 0 que se acreditava poder fazer no tempo das grandes nar 0 acontecimento doloroso, Ihes dirao - mas quem dormna, onde ~sta
e~peran~as de catarse. Tinha-se a cena primitiva em reprodu~o como se aqui 0 senhor, para dominar? Por que falar tao depressa q~ando, precIsa-
tern hOJe os quadros dos grandes mestres por nove francos e cinqiienta. mente, nao sabemos onde situar a instancia que se entregana a essa'opera-
SO que, 0 que Freud nos indica quando cla os passos seguintes, e ele nao ~ao de dominio? . . .
de~ora muito para da-Ios, e que nada pode ser m:go, nem destruido, llltm Freud, ao termo da serie de escritos de que eu Ihes del os dOlSessen-
g~nao de maneira, cOffio se diz, simb6Iica, in effigie, in absentia. ciais, indica que s6 podemos aqui conceber 0 que. se ~a~s~ nos sonhos da
~ repeti~[o a are~e p.Iimeiro !!!!.maforma que nao e clara, que naQ...e neurose traumatica ao nivel do funcionamento malS prrrmtivo - aquele em
~ontan~_como u~ repro_du~~ ~uma p.!esentifica~ao, em-3!0. Ai que se trata de obter a liga~ao da energia. Entao, nao presumamos .por
esta por q~e coloquel 0 Ato com urn grande ponto de interroga~ao na antecipa~ao que ai se trata de urn desvio qualq~er, o~ ~e, u~a r~partJ~[o
parte de baIXo do quadro, a fim de mostrar que esse ate ficani, enquanto de fun~ao tal que possamos encontra-la a urn lllvel de llllCIOmfmltam~~te
falarm?s das rela~oes da repeti~ao com 0 real, em nosso horizonte. mais elaborado do real. Ao contrario, ~os agui urn po~to que 0 ~uJe~to
. . E bastante curioso que nein Freud, nem nenhum de seus epigonos, s6 Rode aproximar diyid~a si mesmo, num certo numero de mstan-
Jamals tenha tentado rememorar-se do que esta, no entanto, ao alcance de cias. Poder-se-ia dizer 0 que se diz do reino dividido. que ~i p.erece q~-
to do mun~o no que diz respeito ao ato - acrescentemos humano, se qui- quer concep~ao de unidade do psiquismo, ~? p~etendido pSlqUlsmo totall-
serem, po~s ~e nosso conhecimento nao ha ate senao de homem. Por que zante sintetizante, ascendendo para a conSClenCla.
urn ato nao e urn comportamento? Fixemos os olhos, por exemplo, nesse ,Enfrrn, - p,esses primeiros tempos da ex eriencia em que a remem~-
ate que e, sem ambigiiidade este, 0 ate de abrir 0 pr6prio v~ntre em ra~co a pouco, se substitui a si mesma, e se aproxima cada vez malS
ccrtas ~ondi~oes - nao digam hara-kiri, 0 nome e sepuku. Por que eles de udta especie de foco, de centro onde todo acont .cimento parece dev.s:r
fazem ISSO?Porque creem que isso chateia os outros, porque, na estrutura, livrar-se - recisamente nesse momenta, vemos mamfestar-se 0 ~>
e urn ate que se faz em honra de alguma coisa. Esperemos. Nao nos apres- be~ c~ei - entre aspas, pois e precise mudar tambem 0 sentido das
semos, antes de saber,·e notemos isto, que ~ ato, urn verdadeiro ate, tern tres p~lavras que YOUdizer, e precise mudli-lo completamente para lhes. dar
~IDpre Y!!la parte de es~, por dizer respeito a urn real que nao 6 seu peso - a resistencia do su 'eito !We se toma, nesse momenta, repetJ@o
~. --~ em..A1Q.
. Wiede~hole~. Nada se toma maior enigma - especialmente a propo- o que YOUarticular da proxima vez Ihes mostrara c?mo nos,apropri-
SItO dessa blpartI~ao, Ufo estruturante de toda a psicologia freudiana, do armos, para este prop6sito, dos adminiveis quarto e qumto ~apltulos da
F(sica de Arist6teles. Este, gira e manipula dois termos que sac absoluta-
~l~nte rcnitel}Jes a sua teoria. no entanto a mais elaborada que jamais fui
elta sobre a funya~ da causa - do is termos que se traduzem impropria-
mente
. '.oor acaso e tortuna . T ra t ar-se-a'- entao de reVIsar
. a relayao que A . _
totdcs cSlabelece entre 0 automaton _ e sabemos flS
, • num certo ponto em
que estam~s da matcm~tic~ moderna, que e a rede dos significantes _ e 0
que ele desIgna como a tlque - que e para nos 0 encontro do real.
e
A psicandlise niio urn idealismo.
o real como trauma.
Teoria do sonho e dO" despertar.
A consciencia e a representariio.
Deus e inconsciente.
o objeto a minusculo no fort-da
I die Idee eine; anderer Lokalitiit - uma outra localidade urn outro
uma outra cima, 0 entre percepfiio e consciencia. ' espa~o, Para acentua-lo, retornemos aquele sonho - feito por inteiro tam-
It m sobre, 0 ruido - que dei tempo a todos voces de reencontrar na
('IUncia dos Sonhos. Lembrem-se daquele pai infeliz, que foi, no, quarto vi-
/.Inho ao em que seu fJlho morto repousava, repousar urn pouco - deixan-
~e pro.cesso primario, podemos apreende-lo a cada instante do 0 fJ1ho a guarda, nos diz 0 texto, de urn velhote, de urn outro veIho - e
'Iue e atingido, despertado por algo que e 0 que? - nao apenas a realidade, 0
utro dla, nao fui de modo algum despertado, de urn curto ~on
-hoque, 0 knocking, de urn ruido feito para tornar a chama:lo ao real,
~~e :::~::v:or;:::~:~~:~:~~~a coisa que batia a ~nha porta desd~ :: mas aquilo traduz, precisamente no seu soooo, a quase-identidade do que
formava urn 00 . que, com essas batIdas apressadas eu ja e passa, a realidade mesma de uma vela tombada e que vai pegar fogo na
so 0, urn sonho que me manife t . '
batidas E quand d s ava outra COlsaque nao essas Cllmaem que seu filho repousa.
. 0 me esperto, essas batidas _ _
tomo consciencia e na med' d essa percep~ao - se delas Ai esta uma coisa que parece pouco adequada para confirmar a tese
a minha represen:ara-o Se' I a em qu~, em torno delas, reconstituo toda de Freud na Traumdeutung - que 0 soOOa e a realiza~ao de urn desejo.
T • 1 que estou all a que h d .
::m aquele !ono. Quando 0 barulho da batid:::~n~::' :a~ ~~ed~ups:~ Vemos surgir aqui, quase que pela primeira vez na Traumdeutung,
a percep~ao, mas para minha cons' A " • lima fun~ao do soOOo que e, aparentemente, secundaria - 0 soOOo aqui
reconstitui em torno d _clencla, e que rmnha conscic~ncia se 11:1:0 satisfaz a precisao de prolongar 0 sana'. 0 que quer entao dizer Freud
tida do despertar, que e::~aur;~~:~;;.a~ao - de que sei que estou sob a ba- quando coloca ali, naquele lugar, pr(fcisamente aquele soooo, e acentuan-
do que ele e em si mesmo plena confirma~ao de sua tese quanta ao sonho?
, Mas ai e preciso me interrogar sobre como . '
- no instante tao imed' t . estou naquele momento Se a fun~ao do sonho e prolongar 0 sono, se 0 sonho, afinal de contas,
la amente antenor e tao afastad ' pode se aproximar tanto da realidade que 0 provoca, nao podemos dizer
que comecei a sonhar sob essa batida qu ' o. que e aquele em
A
perta. Eu estou, que eu saiba antes de e e, em _aparencla, 0 que me des· que, a essa realidade, ele poderia ter respondido sem sair do sono? - exis-
dito expletivo, ja designado ~ d' que eu nao r:zed~sperte - esse nao tem as atividades son.ambu!icas, afinal de contas. A questao que secolo-
de presen~ desse eu sou m urn os meus escntos, e 0 modo mesmo ca, e que de resto todas as indica~oes precedentes de Freud nos perrnitem
pletivo, ele mais e a expr~~s:
tern que se manifestar. A lingua
;:t:n~ea
~ntes ~o ~espertar. Ele nao e ex-
I' . I mpleancla, de cada vez que ela
produzir agora, e - 0 que e que'desperta? Nao sera, no soooo, uma outra
realidade? - aquela realidade que Freud nos descreve assim - Dass das
, a mgua francesa bem 0 define no t d kind an seinem Bette steht, que a crian~a esta perto de sua cama, ihn am
seu emprego Aurez-vous [ini avant qu'it ne vienne?12 .a 0 0
e que vo • t nh b . - 0 que me Importa Arme [asst, pega-o pelo bra~o e Ihe murmura em tom de reproche und ihm
ce e a aca ado, queira Deus que ele §i h
vous avant qu'il vienne?13 _. n 0 c egue antes. Passerez- vorwurfsvoll zuraunt: Vater, siehst du denn nickt, Pai, nao YeS,dass ich
estara mais la. pOlS, enta~, quando ele chegar, voce nao verbrenne, que estou queirnando?
Ha mais realidade, nao e, nesta mensagem, do que no ruido pelo
Vejam para 0 que eu os 00" " . qual 0 pai tanthem identifica a estranha realidade do que se pas.saoa pe~a
me faz depois d b tida d - IJO - para ~,~lmetria dessa estrutura que
, a a 0 despertar so pode t viziOOa. Nao sera que nessas palavras pas.saa realidade faltosa que causou a -,
numa relarao para com minh. ' r me sus entar,emaparencia, morte da crian~? 0 pr6prio Freud nao nos diz que, nesta frase, e preciso ,
T a representa~o a qual em '. [;
mim apenas consciencia. Reflexo de algum' modo '. lap~rencla, az d.e recoOOecer 0 que perpetua para 0 pai es.sas palavras para nunca mais sepa·
nha c . A e • ' , mvo utlvo - em rm· radas do fJ1ho morto que Ihe terao sido ditas, talvez, sUp<leFreud, por cau-
ons~encla, apenas minha representa~ao que eu reapreendo.
sa da febre - mas, quem sabe, talvez que es.sas palavras perpetuem 0 re-
mais o~:: ~U;e:oS6 istO?fiFreud nos disse bastante que precisava - ele ja.
mar a un~o da consciencia Tal . morso do pai, de que aquele que ele colocou perto da cama de seu fJ1ho a
ser velado, 0 veIhote, nao estaria talvez a altura de bem desempenhar sua
;;ee~~t~~~a~p:::~~;nd0f,0 ~ue e que ~o~iva ~ sur;::e:~~a:o;e~~~~: ~~
tarefa, die Besorgnis dass der greise Wachter seiner Au[gabe nicht gewach·
't' d ' 0 enomeno, a dlstancia, a hilincia mesma que cons
t 1 UI0 espertar. ' . sen sein diir[te, ele nao estara, talvez, a altura de sua tarefa. Com efeito, ele
dormiu.
('('ate que estti dormindo, quando dele s6 sabemos urna coisa , que nesse
· Esta f!'ase dita a prop6sito da febre - nao sera que ela lhes evoca Illul1do intejramente sonolento, apenas sua voz se fez ouvir -Pai, niio ves,
/',v(OU queimando. Esta frase, ela pr6pria e uma tocha - ela sozinha poe
aq~llo que, n~ dos meus ultimos discursos, chamei a causa da febre? A
a9ao: por malS pressurosa que ela seja, conforme toda verossimilhan93, de fogo onde cai _ e nao vemos 0 que queima, pois a chama nos cega sobre 0
acodtr ao que se passa na pe9a vizinha - nao e ela talvez, tambem, senti- luto de que 0 fogo pega no Urzterlegt, no Untertragen no real.
f da co~o d~ todo ~od?, agora, tarde demais - em rela9ao ao de que se E mesmo isto que nos leva a reconhecer, nessa frase do sonho, desta-
trata, a r.ealtda~e ~SlqU1caque se manifesta na frase pronunciada? 0 sonho cada do pai em seu sofrimento, 0 avesso do que sera quando ele acordar,
~ross~gU1do, nao e ele, essencialmente, se assim posso dizer, a homenagem sua consciencia, e a nos perguntarmos 0 que e correlativo, no sonho, da
a. realtda~e fa~tosa - a realidade que nao po de mais se dar a nao ser repe- I'cpresenta9ao. Esta questao e tanto mais contun<!tmte quanta aqui, 0
tmdo-se mfmltamente, num infinitamente jamais atingido despertar? Que sonho, n6s 0 vemos verdadeiramente como 0 avesso da representa¢o - e
encontro pode haver dai por diante com esse ser inerte para sempre - II imagetica do sonho, e oportunidade para n6s de sublinhar 0 que Freud,
mesmo a ser devorado pelas chamas - senao aquele que se passa justamen- quando fala do inconsciente, designa como 0 que 0 determina essencial-
~e no momenta em que a chama, por acidente como por acaso, vem se mente _ 0 Vorstellungsreprasentanz. 0 que quer dizer, nao 0 representan-
Juntar a ~le? Onde esta ela, a realidade, neste acidente? senao que algo se re- tc representativo como se traduziu monotonamente, mas 0 lugar-tenente
pete, malS fatal em suma, por meio da realidade - de uma realidade em da representa9ao. Veremos sua fun9ao no que segue.
que aque.le que estava e~carregado de velar junto ao corpo ainda permane- . Espero ter conseguido faze-los apreender 0 que, do encontro como
~ce dorml~do, mesmo altas quando 0 pai acode depois de ter acordado. para sempre faltoso, aqui e nodal e sustenta realmente, no texto de Freud,
r Asslm, 0 encontro, sempre faltoso, se deu entre 0 sonho e 0 desper- o que the parece, neste sonho, absolutamente exemplar.
tar, e~tre aquele que dorme ainda e cujo sonho nao conheceremos e aquele
lque so sonhou para nao despertar. o lugar do real, que vai do trauma a fantasia - na me did a em que a
fantasia nunca e mais do que a tela que dissimula algo de absolutamente
Se .Freud, maravilhado, ve aqui confirmada a teoria do desejo, isto e
primeiro, de determinante na fun9ao da repeti9ao - ai esta 0 que precisa-
me~mo_smal de que 0 sonho nao e ap~nas uma fantasia preenchendo uma
mos demarcar agora. Ai esta, de resto, 0 que, para n6s, explica ao mesmo
aspua9ao.
tempo a ambigiiidade da fun¢o do despertar e da fun9ao do real nesse des-
Pois nao e que, no sonho, se sustente que 0 filho vive ainda. Mas 0 fi-
pertar. 0 real po de ser representado pelo acidente, pelo barulhinho, a
lho morto peg~ndo seu pai pelo bra~o, visao atroz, designa urn mais-alem
pouca-realidade, que testemunha que nao estamos sonhando. Mas, por
que se faz o~vu no sonho. 0 desejo ai se presentifica pela perda imajadal4
outro lado, essa realidade nao e pouca, pois 0 que nos desperta ¢ a outra
ao ponto malS cruel, do objeto. E no sonho somente que se pQde dar esse
realidade escondida pOI tras da falta do que tern lugar de representa9ao - e-l
encontro verdadeiramente uni~o. S6 urn rito, urn ate sempre repetido,
po de co~emorar esse encontro lmemoravel - pois que ninguem pode dizer o Trieb, nos diz Freud.
o que seJa a morte de urn mho - senao 0 pai enquanto pai - isto e Cuidado! ainda nao dissemos 0 que e 0 Trieb - e se por falta de re-
nenhum ser consciente. ' presenta9ao, ele nao esta hi, qual e esse Trieb de que falamos - podemos
Pois a verdadeira f6rmula do ateismo nao e que Deus estd morto - ter que considera-lo como sendo apenas Trieb por vir.
mesmo fU~dando a origem da fun9aO do pai em seu assassinio, Freud pro- o despertar, como nao ver que ele tern duplo sentido - que 0 des-
tege 0 pal - a verdadeira f6rmula do ateismo e que Deus e inconsciente. ertar , que nos restitui a uma realidade constituida e representada,. tern~
P
~ despertar nos mostra 0 acordar da consciencia do sujeito na repre- e
duplo emprego? 0 real, para alem do sonho que temos que procuni-lo -
se_nta9ao do que se ~assou - 0 deploravel acidente da realidade, ao qual no que 0 sonho revestiu, envelopou, nos escondeu, por tras da falta de re-
nao se pode fazer malS do que acorrer! Mas 0 que era entao esse acidente? presenta9ao, da qualla s6 existe urn lugar-tenente. La esta 0 real que co-
- quando todo mundo ~orm.e, ao mesmo tempo aquele que quis repousar manda, mais do que qualquer outra coisa, nossas atividades, e e a psicana-
u~ .pouc~, aquele que ~ao pode manter a vigilia, e aquele de quem, sem lise que 0 designa para n6s. ..J
dUVlda, dlante de seu lelto, alguem bem intencionado poderia dizer - Pare-
3 Quando Freud percebe a repeti~ao no brinquedo de seu neto, no
Assim ~reud con segue dar solucrao ao problema que, para 0 mais agu- j()ft-da reit,erado, pode muito bem sublinhar que a crian~a obstrui 0 efeito
do dos questlOnadores da alma antes dele - Kierkegaard - ja estava centra- uo desaparecimento de sua mae fazendo-se 0 agente dele - este fenomeno
do na repetis:ao. secundeirio. Wallon sublinha, nao e de saida que a crians:a vigia a porta
Convido voces a relerem 0 texto que tern esse titulo, radiante de Ie- Ilor onde saiu sua mae, indicando assim queespera reve-Ia ali, mas, ante-
veza e de jogo. ironic~, verdadeiramente mozartiano em seu modo donjua- fiormente, e 0 ponto mesmo em que ela 0 deixou, 0 ponto que ela abando-
~esco de abobr as mlragens do amor. Com agudeza, sem replica possivel, 1I0U perto dele, que ele vigia. A hiancia int~oduzida pela ausencia desenha-
e acentuado esse tras:o que, em seu amor, 0 jovem de que Kierkegaard nos dll, e sempre aberta, permanece causa de urn tra~ado centrifugo no qual 0
faz o,r~trato ao ~e~mo tempo comovido e irrisorio so a si se dirige por in- que falha nao e 0 outro enquanto figura em que 0 sujeito se p~ojeta, mas
~ermedlo d~ memona. Verdadeiramente, nao havera ali algo mais profundo lIquele carre tel ligado a ele proprio por urn fio que ele segura - onde se
o que a formula de La Rochefoucauld - de que quae pouco provariam 'xprime 0 que, dele, se destaca nessa prova, a automutila~ao a partir da
do amor se nao se lhes explicassem os modos e os caminhos? Sim, mas qual a ordem da significancia vai se por em perspectiva. Pois 0 jogo do car-
quem. co~e~ou? E nao sera que tudo comes:a essencialmente pela tapeas:ao fetel e a resposta do sujeito aquilo que a ausencia da mae veio criar na
do pnmelro a quem se dirigia 0 encantamento do amor - que fez passar fronteira de seu dominio - a borda do seu ber~o - isto e, urn fossa, em
esse en~antamento por exalta~ao do outro, fazendo-se 0 prisioneiro dessa torno do qual ele nada mais tern a fazer senao 0 jogo do saIto.
ex~lta~ao, de sua perda de folego, - quem, com 0 outro, criou a demanda Esse carre tel nao e a mae reduzida a uma bolinha por nao sei que
mals falsa, a da satisfas:ao narcisica, quer ela seja do ideal do eu, ou do eu j go digno dos Jivaros - e alguma cois{nha do sujei to que se destaca embora
que se toma pelo ideal? ainda sendo bem dele, que ele ainda segura. E 0 caso de dizer, imitando
Nao mais que em Kierkegaard, nao se trata em Freud de nenhuma Aristoteles, que 0 homem pensa com seu objeto. E com seu objeto que a
repeti~ao que se assente no natural, de 'nenhum retorno da necessidade. 0 crian~a salta as fronteiras de seu dominie transformado em po~o e que co-
rr~t~rno da necessidade visa 0 consumo,posto a servis:o do apetite. A repe- me~a a encanta~ao. Se e verdade que 0 significante e a primeira marca do
tt.~ao d=man~a 0 novo. Ela se volta para 0 ludico que faz, de sse novo, sua' sujeito, como nao reconhecer aqui - so pelo fato de esse jogo se acompa-
~dlmensao - IStO Freud nos diz tambem no texto do capitulo de que lhes nhar de uma das primeiras apari~6es a surgirem - que 0 objeto ao qual essa
fiz referencia da ultima vez. oposi~ao se aplica em ato, 0 carretel, e ali que devemos designar 0 sujeito.
r
. Tudo que, na repeti~ao, varia, modula, e apenas alienas:ao de seu A este objeto daremos ulteriormente seu nome de algebra lacaniana - 0
sentldo. 0 adulto, se nao a crian~ mais desenvolvida, exige, em suas ativi- a minusculo.
dade~, no jogo, a novidade. Mas este deslizamento vela aquilo que e 0 ver- o conjunto da atividade simboliza a repeti~ao, mas nao, de modo
dadetr~ s~gredo ~o ludico, isto e, a diversidade mais radical que constitui algum, a de uma necessidade que pediria 0 retorno da mae e que se mani-
\ a repett~ao em Sl mesma. Vejam-na na crian~a, em seu primeiro movimen- festaria muito simplesmente pelo grito. E a repeti~ao da saida da mae
to, no momenta em que se forma como ser humane manifestar-se como como causa de uma Spaltung no sujeito - superada pelo jogo alternativo,
exigencia de que a estoria contada seja sempre a me;ma, que sua realiza- fort-da, que e urn aqui au ali, e que so visa, em sua alternancia, ser 0 fort
s:ao narrada seja ritualizada, isto e, textualmente a mesma. Esta exigencia de urn da e 0 da de urn fort. 0 que ele visa e aquilo que, essencialmente,
de ~ma _consis~en~ia distinta dos detalhes de sua narrativa significa que a nao estei lei enquanto representado - pois e 0 jogo mesmo que e 0 Reprd-
reabza~ao do slgmficante nao podeni jamais ser bastante cuidadosa em sua sentanz da Vorstellung. 0 que se tornara a Vorstellung quando, novamen-
memoriza~ao para chegar a designar a primazia da significancia como tal. E te, esse Repriisentanz da mae -em seu desenho tachado de toques, de
entao evasao, aparentemente, 0 fato de desenvolve-Ia varian do as significa. guaches do desejo - vier a faltar?
~6es. Esta varia~ao faz esquecer a visada da significancia ao transformar Eu vi, tambem eu, vi com me us olhos arregalados pela adivinha~ao
se~ a:o. em brinquedo e the propiciando felizes descargas em rela~ao ao maternal, a crian~a, traumatizada com a minha partida a despeito de seu
pnnclplO do prazer. apelo precocemente esbo~ado na voz e dai em diante mais renovado por
A descri/yao dos estagios, formadores da libido, nao deve ser refer~:-..
meses emeses - eu a vi, bastante tempo ainda depois disso, quando eu tla a uma pseudo-matura9ao natural, que permanece sempre opac~. ~s ,es~-
a tomava, essa crian9a, em meus bra90s - eu a vi abandonar.a cabe9a ios se o;ganizam em torno da angustia de castra9~0. 0. fato copu atono a
sobre meu ombro para cair no sono, 0 sono unicamente capaz de the dar introdu9ao da sexualidade e traumatizante - al esta ~m fisgamento de
acesso ao significante vivo que eu era depois da data do trauma. vulto - e tem uma fun9ao organizadora para 0 desenvolvlmento.
A angustia de castra/yao e como urn fio que_perfura. toda~ as etapa,~
Este desenho que lhes dei hoje da fun9ao da tique, voces verao que
do desenvolvimento. Ela orienta as rela90es que sao antenores, a s~a apa~
ele nos sera essencial para retificar 0 que e 0 dever do analista na interpre- . nte dl'ta desmame disciplina anal etc. Ela cnstahza ca a
ta9ao da transferencia. c,:aopropname - ,
urn desses momentos numa dialetica que tern por centro u~ mau enc?n-
Que me baste acentuar hoje que nao e de modo algum em vao que tro, Se os estagios sao consistentes, e em fun/yao de seu reglstro posslvel
a analise se ponha como modulando de maneira mais radical essa rela9ao
do homem para com 0 mundo que, por muito tempo, foi tomada como
sendo 0 conhecimento.
°
em termos de mau encontro. - d' "'\
mau encontro central esta no nivel do sexual., Isto ~~o quer .Izer
que os estagios tomam uma colora/yao sexual que se dlfU~dJr~a a partJ~ da
Se este se acha tao freqiientemente, nos escritos te6ricos, relaciona- angustia de castra9ao. E, ao contrario, porque essa empatla nao se pro uz, )
do a nao sei que de analogo a rela9ao da ontogenese a filogenese - e por que se fala de trauma e de cena primitiva.
uma confusao, e mostraremos da pr6xima vez que toda a originalidade da
analise e de nao centrar a ontogenese psicol6gica nesses pretensos estdgios
- que nao tern, literalmente, nenhum fundamento captavel no desenvol-
vimento observavel em termos biol6gicos. Se 0 desenvolvimento se anima
inteiramente pelo acidente, pelo trope90 da tique, e na medida em que a
tique nos traz de volta ao mesmo ponto em que a filosofia pre-socratica
procurava motivar 0 pr6prio mundo.
Ela precisava de urn clinamen em algum lugar. Dem6crito - quando
tentou designa-Io, ja se colocando como adversario de uma pura fun9ao
de negatividade por onde introduzir 0 pensamento - nos diz - rulo e 0
J.J:'10£lJ que e essencial, e acrescenta - lhes mostrando que, desde 0 que
uma de nossas alunas chamava a etapa arcaica da filosofia, a manipula-
9ao das palavras era utilizada exatamente como no tempo de Heidegger -
rulo e um J1T/OElJ, e um O€lJ, 0 que, em grego, e uma palavra forjada. Ele
nao disse ElJ para nao falar do DlJ, 0 que disse ele? - ele disse, respondendo
a questao que era a nossa hoje, a do idealismo, -Nada, talvez? nao - tal-
vez nada, mas rulo nada.
RESPOSTAS