Agricultura Familiar Brasileira
Agricultura Familiar Brasileira
Agricultura Familiar Brasileira
Cadernos PDE
I
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
A IMPORTÂNCIA DA AGRICULTURA FAMILIAR NA PRODUÇÃO
DE ALIMENTOS
2014/2015
A IMPORTÂNCIA DA AGRICULTURA FAMILIAR NA PRODUÇÃO DE
ALIMENTOS
RESUMO:
INTRODUÇÃO
1. MECANIZAÇÃO AGRÍCOLA
Durante vários milênios a agricultura foi a principal atividade econômica mundial.
Além de produzir alimentos básicos para a população, também empregava grande parte da
mão de obra no desempenho de várias atividades agropecuárias, nas quais a força humana era
fundamental, pois existiam poucas ferramentas de trabalho.
Nos últimos anos, tem-se verificado uma redução da participação das atividades
agropecuárias na economia dos países industrializados, além da diminuição do número de
indivíduos que se dedicam à agricultura. Conforme Silva (1998, p. 3) “as novas tecnologias já
estão não só alterando profundamente as formas de organização do processo de trabalho, mas
também reduzindo a escala mínima necessária da atividade econômica e redefinindo os
requisitos fundamentais de sua localização espacial”.
Isso pode ser explicado pelas transformações ocorridas no campo tecnológico,
permitindo um aprimoramento das técnicas de produção, com emprego de máquinas mais
modernas e sofisticadas, fazendo atingir um nível de produção maior, com o emprego de
menos mão de obra, contribuindo fortemente para o êxodo rural.
Silva (1998) afirma que a modernização agrícola no Brasil, iniciou-se após metade da
década de 1960, quando muitas indústrias de tratores, equipamentos agrícolas, fertilizantes
químicos, rações e medicamentos veterinários começaram a se instalar no país, contribuindo
para o princípio de uma transformação gradativa no campo, modificando inclusive a base
produtiva, priorizando a produção de produtos com fácil comercialização no mercado
exterior. Esse modelo de desenvolvimento que caracterizou a agricultura brasileira gerou uma
grande concentração de terras e de renda no meio rural, marginalizando do processo, mais de
dois terços da população que vivia no campo, forçando milhares de pessoas a deixarem o
trabalho no campo, migrando para os centros urbanos (Gráfico 1).
Até a década de 1960, a grande maioria da população brasileira morava no meio rural,
vivendo da exploração da atividade agropecuária. A partir dessa década, o processo de
modernização agrícola, aliado ao desenvolvimento da atividade industrial, principalmente nos
grandes centros, fez com que esse cenário se invertesse. Muitos trabalhadores rurais perderam
seus postos de trabalho e propriedades, pressionados pelo novo modelo agrícola que estava
sendo desenhado, no qual máquinas passaram a realizar o trabalho de muitas pessoas. Grandes
proprietários passaram a adquirir pequenos lotes rurais, promovendo uma concentração de
terras, com a prática da monocultura com foco na exportação.
O resultado deste modelo tem se refletido, de maneira geral, apesar de aumento na
produção, no agravamento de desemprego no campo, na degradação do meio
ambiente e, na ocupação desordenada do território nacional, a queda na qualidade
biológica dos alimentos e o progressivo desaparecimento das tradições culturais no
meio rural (SILVA, 1998, p. 87).
Segundo Mello (1988, p.11), desde então, o país teve um crescimento agrícola
concentrado nos produtos de exportação (soja, café, laranja, cacau, cana-de-açúcar e fumo,
principalmente), em detrimento a produtos alimentares domésticos (arroz, feijão, milho,
mandioca, batata, carne suína e ovos), apresentando uma consequente alta dos seus preços, em
especial durante o período que antecedeu a recessão econômica brasileira (1981/1983).
Este acontecimento é explicado por Fleischefresser (1988), quando diz que a
tecnologia moderna influenciou na mudança econômica e social entre os grandes produtores
rurais, sendo que os pequenos produtores não foram totalmente absorvidos pelo mesmo
processo. Ainda segundo o autor, as políticas agrícolas adotadas pelos governos ao longo do
tempo, beneficiaram a modernização das técnicas utilizadas para cultivo, favorecendo uma
minoria - principalmente os grandes proprietários e deixando em desvantagem a Agricultura
Familiar.
Silva (1998, p. 3), define o processo de modernização da agricultura “como a
introdução de ‘novos fatores’ que incluíam desde as sementes geneticamente melhoradas da
Revolução Verde, os adubos e defensivos químicos, as máquinas e equipamentos, até a
educação formal, nos moldes urbanos, é claro”. Esse processo fez ocorrer uma especialização
da produção agrícola em torno de produtos de fácil mecanização e bem aceitos no mercado
internacional, as chamadas “commodities”.
10000 9298
9000
8000 7556
7158
7000
6000 5146 5115 5349
5041
5000 4446
3737
4000
2576
3000 2539
1742 2012
2000 1304
903
1000
0 1970 1980 1991 2000 2010
1970 1980 1991 2000 2010
Em São Tomé até a década de 1970 haviam 9.298 habitantes e maioria morava no
campo e trabalhava nas lavouras de café. As pressões do processo de modernização agrícola
ocorridas a partir da década de 1960, aliada a fatores naturais como à geada negra ocorrida no
ano de 1975, que dizimou muitas lavouras de café, fizeram com que muitas pessoas fossem
vítimas do processo de êxodo rural. Deixaram a zona rural em busca de novas oportunidades
de trabalho e instalaram-se no espaço urbano de São Tomé e principalmente nos grandes
centros urbanos (CARVALHO, 2003). Diante de tal situação, o café que se desenvolvia com
facilidade nas terras férteis do município foi dando lugar a outras culturas:
A produção das lavouras cafeeiras no município era muito grande e proporcionou
um grande desenvolvimento, tanto na agricultura como para o comércio local e
moradores da época. Mas a partir de 1975, alguns problemas começaram a surgir,
como as geadas que além de prejudicar os cafezais, desestimulou os cafeicultores,
fazendo com que muitos deixassem de produzir café passando a cultivar outras
culturas, como a mandioca, pecuária, frutíferas, etc (CAIADO et al., 1997, p. 11).
Com o enfraquecimento das lavouras cafeeiras, o cultivo que passou a ser feito de
forma quase extrativista, sem nenhum tipo de adubação e controle de pragas, também
contribuiu para que o rendimento diminuísse gradativamente, desestimulando o agricultor.
Outro fator desfavorável à cultura do café foi a implantação da COAMTO (Cooperativa
Agroindustrial dos Produtores de Cana de São Tomé), na década de 80, estimulando os
agricultores que não estavam contentes com a cafeicultura, a migrar ao cultivo da cana-de-
açúcar para o setor sucroalcooleiro.
Segundo dados do escritório local da EMATER de São Tomé (2014), atualmente,
poucos agricultores cultivam café, devido à falta de mão de obra, altos custos de manutenção
dessa cultura e baixos preços pagos. À medida que ocorreu a diminuição das lavouras
cafeeiras, cresceu a diversificação na produção agrícola com o cultivo de várias lavouras
temporárias e algumas permanentes, além da pecuária que também é bastante expressiva no
município. As pastagens ocupam cerca de 44% das terras de São Tomé e a agricultura 51%
sendo os 5% restantes, ocupado por áreas de matas nativas, reflorestamento e outras áreas.
Os 20.443 hectares de São Tomé utilizados com a agropecuária são explorados por
638 produtores, sendo 312 agricultores familiares (48,9%), 303 médios produtores (47,4%) e
23 (3,7%) grandes proprietários (EMATER, 2013).
No início da colonização de São Tomé, a pecuária era uma atividade de pouca
expressão, devido à intensa expectativa em torno da cultura do café. Com o tempo, cresceu o
número de pecuaristas praticando uma pecuária semiextensiva. Atualmente a pecuária tem
grande expressão na economia do município, existindo 98 pecuaristas, com um rebanho
estimado em 4.911 cabeças (EMATER, 2013). Segundo Caiado et al (1997, p. 12) a pecuária
“destina-se na maior parte à produção de gado de corte, sendo que em menor parte à produção
de leite na qual vários produtores utilizam técnicas modernas como Inseminação Artificial
(prestada pela Prefeitura Municipal).
O município de São Tomé, tem grande aptidão agrícola. No entanto, a maior parte de
sua produção está concentrada em produtos que não estão presentes na alimentação básica dos
brasileiros, com destaque para a soja e a cana-de-açúcar. A maior parte dessa produção tem
como origem pequenas propriedades de até 80 hectares, que na maioria das vezes não tem
como base o trabalho familiar. É administrada pelo seu dono, ou por um arrendatário, ou pela
usina de álcool, instalada nesse município, utilizando-se de técnicas mais modernas, por meio
de máquinas e equipamentos com tecnologia avançada, que garantem alta produtividade com
pouca mão de obra. A produção da soja e do etanol em São Tomé tem como destino o
mercado externo, não circulando no comércio local.
No Quadro 1 é possível verificar a variedade de culturas no Municipio, observando
que os alimentos básicos concentram-se nas pequenas propriedades:
Lavouras Produtores n.º Área (ha) Produtividade em kg/há
Amendoim 04 8,00 1.800
Amoreira 03 9,60 380 (Casulo)
Café Adensado 08 78,00 956 (em coco)
Cana-de-açúcar 02 10.154,00 764
Feijão das águas 04 5,00 800
Feijão das secas 06 25,00 1,500
Mandioca 30 570,00 19,933
Milho safra normal 05 25,00 3,200
Milho safrinha 17 1.500,00 4.000
Soja 33 1.840,00 3.200
Abacaxi 03 2,00 55.000
Acerola 03 2,50 25.000
Goiaba 16 27,00 20.000
Laranja 11 168,00 22,000
Maracujá 05 4,00 15.000
Morango 08 10,00 26.000
Olerícolas 153 Variada Variada
Palmito pupunha 15 23,00 2.000
Quadro 1 - Produtividade das lavouras predominantes no município de São Tomé.
Fonte: EMATER, 2013.
4. METODOLOGIA
A metodologia para realização deste trabalho caracterizou-se pela pesquisa ação, com
intervenção do professor pesquisador através de projeto de pesquisa e ensino com uma turma
de alunos de 7º ano do Ensino Fundamental, do período vespertino no Colégio Estadual Pedro
Fecchio – EFM, situado no município de São Tomé.
A primeira etapa da pesquisa pautou-se em pesquisa bibliográfica sobre agricultura
familiar, mecanização agrícola, segurança alimentar e produção agropecuária no município de
São Tomé.
Na segunda etapa foi elaborada uma unidade didática, intitulada “A importância da
agricultura familiar na produção de alimentos” (SERENINI e MALYSZ, 2015), para
utilização com alunos do Ensino Básico.
A terceira etapa consistiu na pesquisa participativa com implementação do projeto
junto aos alunos de 7º ano do Ensino Fundamental, com utilização da unidade didática
produzida, entre outros materiais, e o trabalho de campo, em uma perspectiva da Geografia
Crítica. Foi desenvolvida uma proposta de metodologia de trabalho com participação dos
alunos em todas as etapas dessa fase do projeto, com aulas expositivas dialogadas com
projeção de imagens e vídeos, aula de campo em propriedades de agricultores familiares e na
cantina da escola, sistematização do conhecimento e organização de materiais para exposição
à comunidade escolar (Quadro1).
A avaliação foi contínua. Os alunos foram avaliados em todas as etapas, por meio da
participação, interação, envolvimento, realização de atividades, trabalhos, pesquisas, entre
outras atividades e também na avaliação final, onde todos, de forma oral, expressaram suas
considerações a respeito da participação e do conhecimento adquirido.
Etapa Temática e Objetivo Principal Metodologia/estratégias N. de
conteúdos aulas
1. Divulgação do Valorização da Divulgar o projeto para Exposição do projeto 01
Projeto para Agricultura Familiar comunidade escolar para comunidade com
comunidade escolar. (AF) recursos audiovisuais.
2. Avaliação Agricultura Familiar Avaliar o conhecimento Questões abertas 01
Diagnóstica e sua importância dos alunos sobre o tema
trabalhado.
3. Análises, Conceitos da AF, Caracterizar a AF e sua Textos, debates, vídeos, 27
discussões, reflexões formas de importância, figuras, reportagens,
teóricas e atividades organização, sua principalmente na gráficos e pesquisas na
em sala de aula sobre importância e promoção da Segurança Internet e outros.
o tema viabilidade. Alimentar
4. Aula de Campo Modo de vida no Relacionar teoria e Entrevista aos 05
em propriedades campo, cultivo de prática, abstraindo o agricultores e cantineiras,
rurais de São Tomé e alimentos e forma de conhecimento. registro fotográfico,
na Cantina da Escola. comercialização. relatório de campo.
5. Coleta de objetos Evolução dos Perceber que as técnicas Coleta de instrumentos 02
utilizados nas instrumentos de de produção do meio de trabalho no campo nas
práticas agrícolas. trabalho no campo. rural estão em constante propriedades visitadas,
evolução. com outros agricultores e
com pais de alunos.
6. Produção de Vídeo A importância da Sistematizar os Seleção, organização, 03
baseado na visita Agricultura Familiar conhecimentos catalogagem de fotos e
feita em propriedades na Produção de adquiridos, incentivando filmagens e montagem
rurais de São Tomé Alimentos. o protagonismo dos do vídeo.
alunos.
7. Apresentação dos A distinção da AF em Valorização da Exposição na escola com 02
resultados à relação a outras Agricultura Familiar com apresentação de paineis,
comunidade escolar. formas de a divulgação do resultado projeção de vídeo e
organização, suas do projeto à comunidade exposição de objetos do
particularidades e escolar. trabalho no campo
resultados.
8. Avaliação do Viabilidade da
Avaliar o conhecimento Atividades escritas 02
Projeto Agricultura Familiar adquirido pelos alunos diversificadas, debates e
e sua importância em no decorrer da depoimentos.
vários aspectos. implementação do
projeto.
Quadro 1: Etapas e atividades desenvolvidas na implementação do Projeto.
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES
3
Disponível no endereço eletrônico: https://www.youtube.com/watch?v=FvMoY2OdupE
economia dos pequenos municípios, a quantidade de pessoas envolvidas e a forma de
organização e produção. Com tais atividades 60% dos alunos conseguiram descrever as
principais características da agricultura familiar e sua importância. Dentre a turma, 40%
confundiram o rural e o urbano e não distinguiram a pequena propriedade do agronegócio,
sendo que alguns deles se referiam a propriedade como “fazenda”.
- Evolução das técnicas agropecuárias no meio rural: Tratou-se do processo de
evolução das técnicas de produção agropecuária que ocorreram no Brasil a partir da década de
1970, por meio de leitura de textos da Unidade Didática. Com utilização de projeção de
imagens, foram comparadas algumas técnicas de produção, máquinas e implementos
utilizados pelos agricultores ao longo do tempo. A temática chamou muito a atenção dos
alunos, principalmente com a discussão sobre as diferentes máquinas existentes no mercado e
as tecnologias focadas no meio rural, que vem facilitando o trabalho e gerando consequências
positivas e negativas que foram elencadas em conjunto com os alunos. A organização
fundiária brasileira foi discutida por meio de demonstrações em gráficos e tabelas, destacando
a concentração de terras existente no país, o avanço das tecnologias e o estimulo a
monocultura, priorizando produtos de exportação.
Os debates ocorreram com várias interferências e contribuições dos alunos, que
demonstraram ter conhecimento sobre esse assunto, citando exemplos da realidade do
município de São Tomé, no qual a modernização está presente no campo, principalmente nas
áreas exploradas pela usina de álcool, que utiliza tratores e implementos modernos, até
mesmo a aplicação de herbicidas por meio de avião. O aprofundamento de conteúdo ocorreu
com pesquisas no laboratório de informática da escola, seleção de de imagens e construção de
painel. Esta atividade despertou o interesse dos alunos para o processo de evolução das
técnicas de produção agropecuárias, eles realizaram comparações entre ferramentas e
máquinas antigas, com as utilizadas na atualidade. Houve relato de alunos que disseram nunca
terem visto algumas das máquinas apresentadas nas imagens. Concluiram, por exemplo que
atualmente está mais fácil trabalhar na roça, pois as máquinas facilitaram o trabalho, além de
agilizar as etapas de produção, com aumento na produtividade.
- Comparação entre agricultura familiar e o agronegócio: Aproximadamente 80% dos
estudantes não conheciam a diferença entre o Agronegócio e a Agricultura Familiar. Quando
questionados em sala de aula, responderam que no meio rural haviam apenas agricultores,
sendo todos iguais. Apenas 20% dos estudantes conseguiram dar respostas coerentes com a
realidade.
Diante dessas respostas, trabalhou-se em sala de aula com as diferentes formas de
produção, por meio de textos, tabelas e gráficos. Os alunos puderam compreender então, as
principais diferenças entre a Agricultura Familiar e o Agronegócio, no que diz respeito ao
tamanho das propriedades rurais; a relação existente entre o proprietário e o trabalho
desenvolvido; a rentabilidade; os principais produtos cultivados, com destaque para a
produção de alimentos; o acesso ao crédito rural; o volume de produtos agrícolas
comercializados; as tecnologias empregadas no cultivo; a importância de ambas as formas de
produção, tanto no fortalecimento da economia, através das exportações de commodities,
quanto na segurança alimentar, produzindo comida aos brasileiros.
Para aprofundamento deste conteúdo, com destaque ao protagonismo da Agricultura
Familiar na produção de alimentos, foi apresentado o vídeo A força dos pequenos na
agricultura familiar4, que demonstra a quantidade de pessoas envolvidas nesse trabalho, a
participação desse segmento no cultivo orgânico, os principais incentivos dados pela esfera
governamental e as principais tecnologias empregadas nessa atividade. Foram confeccionados
cartazes e gráficos, demonstrando a participação da agricultura familiar, na comparação com
o agronegócio. Por meio de questionamentos escritos e debates em sala de aula, verificou-se
que 90% dos alunos atingiram os objetivos do trabalho.
- Importância da agricultura familiar na produção de alimentos: O conteúdo foi
mediado por meio de interpretação de gráficos, tabelas e textos; pesquisas na internet; debate
em sala, com cada aluno expondo os resultados da pesquisa. Evidenciou-se a forte atuação
dos Estados da região Sul do Brasil na produção de alimentos, dentre eles o Paraná. Foi
debatido com os alunos a importância do protagonismo da agricultura familiar na produção de
alimentos, na promoção da Segurança Alimentar e Nutricional, garantindo uma grande
variedade de alimentos, em boas condições de sanidade para o consumo humano. Assistindo o
filme Segurança Alimentar – Expedições5, os alunos perceberam que os pequenos agricultores
também se destacam no cultivo e produção orgânica, devido a demanda do mercado
consumidor; a disponibilidade de mão de obra, fundamental para a prática agroecológica; e
pelo preço diferenciado na hora da venda, que agrega valor ao produto.
A partir desses estudos, os alunos fizeram um levantamento em suas residências sobre
a origem dos principais alimentos que consumiam, resultando em um debate em sala de aula.
Todos os alunos relataram que consomem produtos da agricultura familiar, com destaque para
o arroz, o feijão, o leite, a carne, frutas e verduras, mas também consomem produtos
industrializados, como bolachas, chips, lanches, entre outros. Nenhum dos alunos tem o
hábito de consumir alimentos orgânicos, 70% deles não sabiam o que eram orgânicos e 30%
4
Disponível no endereço eletrônico: <https://www.youtube.com/watch?v=GWr4jCS2aLQ>
5 Disponível no endereço eletrônico: <https://www.youtube.com/watch?v=mvE_gWcvR1Q>
disseram já ter ouvido falar de orgânicos, mais não associavam esses produtos à inexistência
de agrotóxicos em sua produção.
A partir do vídeo e dos materiais analisados pelo grupo, os alunos concluíram que a
agricultura familiar vive em maior harmonia com a natureza, com menor degradação do solo,
das matas e dos rios, quando comparada ao agronegócio; sendo a agricultura empresarial, a
maior responsável pela degradação ambiental, resultante da utilização de produtos
agroquímicos.
Algumas imagens foram projetadas, destacando as diferentes formas de aplicação de
agrotóxicos nas lavouras. Os alunos relacionaram as imagens apresentadas com realidade
vivenciada no município: por exemplo, o aluno A1 relatou que tem visto com certa frequência
um avião aplicando agrotóxico em lavouras de cana-de-açúcar do município. O aluno A2
disse que já viu esse avião e sentiu um cheiro forte, considerando ser do veneno aplicado. O
aluno A3, filho de produtor rural, relatou que ouviu seu pai dizer que devido ao veneno
lançado nas lavouras de cana por esse avião, o pomar do sítio deles deixou de produzir.
Ressaltou-se que o agrotóxico utilizado pode causar uma série de danos ao meio ambiente,
inclusive à saúde humana.
- Algumas das principais dificuldades enfrentadas pela agricultura familiar na atualidade:
Este conteúdo foi mediado por meio de uma dinâmica com textos. A turma foi dividida em
quatro grupos, que recebeu um texto cada, abordando diferentes problemas, para estudo. Após
meia hora, cada grupo fez uma breve exposição do assunto. Os demais grupos deveriam fazer
no mínimo um questionamento, sobre o assunto. Houve muita interação entre os grupos e
80% dos alunos souberam tecer comentários a respeito do tema abordado e fizeram
questionamentos com coerência.
O conhecimento foi ilustrado por meio de duas músicas que trazem em suas letras,
elementos que caracterizam a vida no campo, fazendo comparações entre o meio rural e o
urbano: Saudade da Minha Terra (Belmonte e Amaraí) e Caboclo na Cidade (Chitãozinho e
Xororó). Os alunos perceberam que no passado, mesmo a agricultura sendo praticada com
técnicas rudimentares, com quase todas as etapas da produção realizadas de forma manual,
havia mais preservação da natureza, maior convívio familiar, interação entre as gerações e
respeito pela cultura camponesa.
- Principais características do Município de São Tomé: Inicialmente o conteúdo foi
mediado aos alunos por meio de textos, mapas, tabelas e gráficos da Unidade Didática e de
projeção de imagens, trazendo as principais características do município de São Tomé, no que
se refere à localização, clima, solo, relevo, população e potencial agrícola. Antes do trabalho,
cerca de 40% dos alunos declararam que não sabiam da grande extensão de área rural
existente em São Tomé, nem mesmo tinham conhecimento do cultivo de tantos produtos
agrícolas. Após o trabalho, os alunos se apropriaram do conhecimento, por exemplo, o aluno
A1 destacou que grande parte das terras do município, estão concentradas nas mãos de poucos
proprietários, sendo que os pequenos agricultores cultivam uma área de terra bem menor, e,
conseguiu destacar a diversificação agrícola na Agricultura Familiar.
Figura 3C. trevista com Marcos A. Escudeiro Figura 3D. Entrevista com Marciel de Lima
Figura 3. Entrevista com agricultores
Análise das entrevistas realizadas nas aulas de campo nas propriedades rurais e
seleção das fotos para montagem do vídeo:
A partir das aulas de campo nas propriedades rurais e das informações coletadas, foi
realizado um debate em sala de aula, no qual os alunos tiveram oportunidade de expressar sua
opinião, relatando os principais elementos que viram. Grande parte dos alunos relataram que
não tinham conhecimento das condições de vida dos agricultores, pensavam que eram
atrasados, moravam em casas antigas e trabalhavam de forma diferente.
Por exemplo, o aluno A1 considerou as propriedades visitadas bem organizadas e se
encantou com as lavouras de frutas, principalmente a de morango. O aluno B1 falou sobre a
quantidade de pessoas que trabalham no meio rural, verificando assim que praticamente todos
são da mesma família. O aluno B2 relatou a existência de carros novos sob a posse dos
agricultores e de muitas tecnologias que naturalmente podem ser vistas na cidade, como é o
caso de antenas parabólicas, celulares, computadores ligados à internet, além de muitos
eletrodomésticos existentes nas residências dos agricultores. Já o aluno C1 disse ser
interessante a forma dos produtores levarem seus produtos para serem comercializados, nas
caixas, organizados nas caminhonetas. O aluno D1 considerou que a renda declarada pelos
agricultores é muito boa, bem mais do que seu pai ganha trabalhando de empregado na Usina
de Álcool. O aluno D2 fez relação dos produtos vistos nas diferentes propriedades com alguns
produtos que são servidos na merenda da escola. De forma geral, todos os alunos fizeram
comentários, sendo que 90% dos educandos participaram mais ativamente do debate.
Na sequencia ocorreu a sistematização do conteúdo, com as informações relevantes
das entrevistas e seleção das fotos e imagens para elaboração de um pequeno vídeo. Dentre as
principais formas de comercialização dos produtos agrícolas, foram destacadas as vendas
feitas por meio dos programas governamentais PAA e PNAE dos quais fornecem produtos
para escolas, creches, Assistência Social e outras entidades beneficentes desse município, do
comércio local, do comércio ambulante nas residências e em algumas indústrias de
beneficiamento existentes principalmente em São Tomé e no município de Japurá.
Exposição:
Figura 7A: Comunidade Escolar participando da exposição. Figura 7B: Exposição de ferramentas utilizadas no trabalho
rural.
REFERÊNCIAS:
ADAS, Melhem; ADAS, Sergio. Expedições Geográficas. 1ª ed. São Paulo: Moderna, 2011.
RIBEIRO, Victor Hugo. São Tomé: Um município ilhado pelo canavial. Revista Pegada.
Presidente Prudente. vol. 14 n.1. 2013.