SISTEMA AGONÍSTICO - Final
SISTEMA AGONÍSTICO - Final
SISTEMA AGONÍSTICO - Final
PORTUGUESA - BRAGA
FACULDADE DE FILOSOFIA
CURSO DE PSICOLOGIA – PÓS-LABORAL
INTRODUÇÃO
SISTEMA AGONÍSTICO
AGRESSÃO E CONTRA-AGRESSÃO
Vivemos num mundo cada vez mais violento, onde muitas formas de
agressão se estendem à escala planetária, desde as explosões da
criminalidade nas modernas sociedades, até expressões mais ou menos
alargadas de genocídio. É num clima de preocupação com várias formas de
violência social em que vivemos que etólogos tomaram a atitude ousada de
proceder à reabilitação da agressão, redefinindo-lhe limites e precisando-lhe
as funções adaptativas e evolutivas, e sobretudo realçando-lhe as raízes
biológicas. Entende-se por agressão “um todo e qualquer comportamento
desenvolvido com vista a ferir ou lesionar (haming or injuring) um outro ser
vivo, motivado ele próprio para escapar “(Baron, 1980).
Sendo, o ser humano, o resultado de uma longa cadeia evolutiva, é
natural que a sua estrutura basilar mantenha formatos próximos dos outros
elementos da cadeia evolutiva.
Ao analisar outros animais, encontramos, em todos eles, mecanismos
de defesa ligados, essencialmente, à preservação da espécie, e manifestando-
se nos aspectos da defesa do território e/ou do grupo.
Tinbergen (1968), cit. in Soczka (2003), diz-nos que " ... a leitura
etológica de um comportamento, assenta na tentativa de resposta às
seguintes quatro questões:
1) De que modo este comportamento influi na sobrevivência e no êxito
adaptativo deste animal?
2) O que faz com que este comportamento ocorra neste dado momento
e qual o seu mecanismo?
que, para isso, se tenha que recorrer à morte do outro, como é o caso da
busca de alimento. O fim não é abater a vítima mas alimentar o indivíduo que
mata. Quando se ataca para fins sexuais, o que se pretende é preservar a
continuidade da espécie. Em quase todas as espécies se assiste à
manifestação de mecanismos que têm, regra geral, a função de afastar as
consequências nefastas dos actos agressivos fazendo aparecer sinais de aviso
ou, mesmo, torneios ritualizados.
Os comportamentos agonísticos formam uma rede de informação que
permite prevenir a violência inter-individual, intra-grupal e até, por vezes,
inter-grupal. “Em princípio, a selecção natural favorece a inibição e a
ritualização da agressividade desde que se esboçam esquemas motores de
apaziguamento – às vezes ressemantizados a partir de outros sistemas
comportamentais.” (Vieira, 1989)
“Em muitas situações, os animais exibem sinais que dizem ao outro
quais as suas intenções, seja para o ataque seja para a submissão. Todas
estas manifestações fanéricas servem para evitar a agressão desnecessária e,
em última análise, servem a sobrevivência quer do indivíduo quer do grupo ou
da espécie.
Desta agressão intra-específica, ou actuada dentro de elementos da
mesma espécie, direccionada sobretudo a reequilibrar as relações de
hierarquia e dum certo desenho selectivo, há que realçar aqueles factores que
podem levar à erosão da sua função agonística:
a) A ruptura do ambiente físico;
b) A ruptura do ambiente social ou por sobre população, isolamento ou
por efeito do cativeiro;
c) Ruptura das condições fisiológicas, por efeitos de condicionantes
sazonais ou de stress;
d) Actuação sobre estruturas da agressividade como do sistema
nervoso por razões experimentais (por exemplo, a administração de
testosterona ou progesterona podem aumentar ou diminuir a agressividade)
ou lesionais.
De um modo geral, a Etologia diz-nos que é impossível determinar a
agressividade sem a relacionar com um meio. É sempre em relação com este
que se pode avaliar um comportamento e determiná-lo como agressivo ou
não”. (Vieira, in Revista Militar, 2006)
fase, se desenvolvem em favor das crias mas, mais tarde, são aproveitados
como inibidores perante um agressor congénere.
O facto de o cão se rebolar e mostrar o ventre a um congénere, serve
de sinal inibidor por representar o comportamento da cria canina que tem que
ser lambida na zona ventral e ano-genital pela mãe para, nos primeiros dias
de vida, suscitar a micção. A imitação de sons infantis serve, muitas vezes, na
vida adulta para apaziguar congéneres. Para a união sexual os sinais
apaziguadores são essenciais pois se trata da invasão da zona de conforto e,
por isso, não é facilmente tolerável. Assim, tem de haver suficientes sinais
apaziguadores para que a necessária procriação se efectue e seja assegurada
a continuidade da espécie, muito embora tenham que mostrar sem
ambiguidades que há a disposição para a cópula e não há qualquer intuito de
agressão quer de um lado quer do outro “A selecção premeia a comunicação
não ambígua.” (Vieira, 1989). A não ser assim, a ultrapassagem das
fronteiras invisíveis do espaço de conforto, provocaria imediata reacção
agressiva. Esses sinais passam, muitas vezes, por sinais et-epimeléticos,
como é demonstrados por inúmeros estudos efectuados desde as aves aos
mamíferos. Em muitos deles manifestam-se os sinais de apelo a
comportamentos parentais para inibir a agressividade.
Outro conjunto de sinais utilizados para inibir a agressão de
antagonistas é o do léxico sexual, maioritariamente feminino. Quando se
manifesta um sinal sexual de cariz masculino, tem mais a função de ameaça
dissuasora. São muitos os exemplos que a natureza nos apresenta, como o
caso dos gatos que apresentam a sua zona ano-genital e o erguer da cauda
como sinal de fêmea em cio. Em muitos dos primatas se encontram estes
sinais de submissão ou de exposição genital para apaziguamento.
Muitos são, também, os sinais dirigidos ao sentido da visão e que
servem de semáforos aos comportamentos agressivos, nomeadamente os
sinais cromáticos. Desde as paradas de penas, bicos, bolsas, pelagens,
piloerecções até às presas e cornos, tudo serve de ostentação, de chamariz
para cativar a fêmea ou para avisar o oponente da mesma espécie. Claro que
os comportamentos fanéricos podem ser contraproducentes por servirem de
chamarizes para os predadores e por isso eles têm de ser limitados para não
extravasarem a função a que se destinam. Assim, na presença de um
oponente superior, os sinais de ostentação devem ser suprimidos ou, pelo
menos, esbatidos para não alterarem a sua função e suscitarem o ataque. Até
as nossas regras de boa educação nos dizem que devemos entregar um
objecto pontiagudo ou cortante com a parte perigosa voltada para nós: é um
sinal de não-agressão. A apresentação da parte vulnerável, ao outro é um
sinal de apaziguamento, bem como o desviar do olhar, o baixar da cabeça,
etc.
Também o estabelecimento e manutenção de ordens sociais
hierárquicas bem como os comportamentos ligados à dispersão espacial e à
delimitação do território contribuem para a minimização da agressividade
intra-específica. Nos mamíferos, é norma a existência de hierarquias. Estas
levam à estabilização do grupo pelo aparecimento do animal Alfa, ou
dominante. Quando essa ordem é estabelecida todos os elementos, quer
dominante quer dominados, tendem a reforçar esses estatutos.
A sinalização de um território aparece, em muitas espécies, na estação
reprodutora, servindo, assim, para proteger o momento da corte, da cópula,
da nidificação, do choco e da alimentação das crias. Trata-se da protecção do
futuro da espécie.
A não existirem estes reguladores da agressão, esta, quando
desadaptativa, teria consequências nefastas para a espécie pois colocaria em
risco a sobrevivência da mesma. No mundo animal, estes sistemas
reguladores estão largamente difundidos e servem para proteger a própria
espécie evitando dispêndios de energia desnecessários e contribuindo para a
preservação e para a ritualização agonística e ainda trás vantagens
adaptativas importantes.
Como já foi focado em relação ao acto reprodutor, existe um espaço
individual ou zona de conforto que, a ser ultrapassada sem a respectiva
autorização, leva ao aparecimento do confronto, da agressão, da defesa da
distância individual.
Não podemos, no entanto, cair na tentação de considerar que toda a
natureza se rege por leis imutáveis de harmonia entre os seus diversos
elementos. Pelo contrário! Sabemos que as regras são quebradas muitas
vezes. Nem sempre os sinais resolvem as contendas. Muitas vezes a agressão
aparece e a sua explicação não é de todo condizente com o que anteriormente
se expôs relativamente aos sinais agonísticos evitadores da resposta
agressiva. Nem tudo é belo e harmonioso na natureza, nem tudo é romântico.
VANTAGENS DA INTOLERÂNCIA
CONCLUSÃO
BIBLIOGRAFIA
Morris, D. (1997)