Elementos Fundamentais de Uma História
Elementos Fundamentais de Uma História
Elementos Fundamentais de Uma História
Queremos Emoções
A principal razão de uma história.
Queremos Emoções
Por Sandro Massarani
A técnica da escrita de uma obra, como sabemos, está longe de ser uma ciência exata. Ainda está
envolta em mistérios a fórmula mágica da história perfeita. Logo, o autor deve saber de antemão
que ele nunca agradará a todos. Esse pensamento por si só já retira um grande peso de nossos
ombros. Sempre haverá críticas.
Já que não existe uma obra "perfeita", o que de mais importante o escritor deve buscar ao construir
uma história? Simples: provocar emoção. Mas o que seria emoção? Vamos ver o significado
acadêmico do termo:
Emoção - Fenômeno que se caracteriza por forte perturbação do estado psíquico, acompanhada de
alterações somáticas transitórias, como tremores, suor, rubor ou palidez. (Enciclopédia Barsa)
Quem é que vai reclamar do impacto de um filme que provoca no espectador palidez? Quem é que
vai reclamar de um poderoso livro que lhe causou forte perturbação do estado psíquico? Tremores?
Suor? Rubor? Queremos sim sentir essas alterações! Lógico que a emoção provocada deve ser
honesta com a própria obra e ficar dentro de um contexto preparado. Nada de provocar sensações
sem uma razão justificável.
Scott McCloud afirma que o ser humano possui apenas seis expressões básicas que refletem suas
emoções: raiva, desgosto, medo, alegria, tristeza e surpresa. Porém, se intensificarmos ou
reduzirmos o grau dessas expressões provocaremos várias outras. A raiva exagerada vira fúria, a
tristeza moderada causa melancolia, a surpresa ao extremo é um forte choque. Outra maneira de
obtermos mais complexidade é simplesmente misturarmos as expressões básicas. Tristeza com
surpresa causa desapontamento. Desgosto com medo traz horror. O autor não precisa realmente
saber todas essas combinações, mas ter um bom conhecimento sobre as expressões e emoções
básicas é o mínimo que se pede de um bom escritor.
Quando sentamos dentro de um cinema, seja para ver uma obra épica ou um simples romance
enlatado, estamos entrando em um novo mundo construido para aquele momento. E queremos fazer
sim parte desse mundo. Se uma obra faz a gente chorar, ter medo, ansiedade, tensão, provoca nos
nossos rostos aquele sorriso, ela está cumprindo o papel de não somente entreter ou ensinar, mas
sim de provocar em nosso corpo emoções que precisamos sentir, pois somos seres humanos e que
mesmo buscando viver no racionalismo ainda temos instintos que precisam ser saciados e expostos.
Uma obra deve causar na audiência a maior gama possível de emoções e sentimentos. Por que um
filme de ação só deve ter confrontos físicos? Por que um filme de romance não pode ser apimentado
com doses de suspense? É a diversificada utilização e manipulação honesta dessas sensações que
diferencia a qualidade do produto. Muitas vezes assistimos a um filme de três horas para no final
olharmos para o lado e lamentarmos o tempo perdido, pois aquele filme de nada significou.
Mas como provocamos emoções na audiência? Logicamente essa é a parte mais difícil. Requer
muito estudo, leitura, conhecimento das grandes obras e bom senso. Precisamos saber construir
personagens que provoquem empatia na audiência já que as pessoas precisam se importar com o
destino do personagem. Precisamos criar uma história com uma estrutura sólida, que pode ser
simples, mas que através de forte conflitos e de sua sequência de cenas provoque a curiosidade do
espectador / leitor de querer saber o que vai acontecer no final. O conflito forma a essência de cada
cena e eles precisam ser magnéticos o suficiente para manter a nossa atenção.
Já repararam que existem filmes cuja história não é interessante, mas que continuamos assistindo
por que acabamos gostando do personagem? O inverso também é verdadeiro. Às vezes um filme
com personagens vazios e sem graça acaba nos prendendo somente por causa da história. Muitos
dos grandes filmes de todos os tempos não possuem uma estrutura muito bem montada, mas no
final acabamos relevando esse fato pois os grandes filmes e obras fazem o mais difícil: eles
prendem e agitam a audiência.
Portanto, quando for escrever algo, não se esqueça de provocar uma chuva de emoções, lembrando
de deixar o melhor sempre para o final, concluindo com chave de ouro. Não há nada mais
desagradável que um final murcho sem tempero. Ao levar a audiência da tranquilidade ao
desespero, do ódio ao amor, da tristeza para a felicidade, estaremos com certeza passando nossa
mensagem e colaborando para criar uma viagem inesquecível para todos.
Ficha Básica de uma História
Escreva as partes mais importantes de sua história para não se perder
2ª PARTE
Personagens
Criação de Personagens
Características básicas para a criação de personagens marcantes
em uma narrativa.
Criação de Personagens - Nível Básico
Características básicas de criação de um personagem em uma narrativa.
Por Sandro Massarani
"Bem, ninguém é perfeito"
Osgood Fielding III (Joe Brown) - Quanto Mais Quente Melhor
Este texto deve ser usado em conjunto com a Ficha Básica de Personagem (clique para download).
Um personagem bem construído é fundamental para o funcionamento de uma história e de sua
narrativa. Um escritor deve, através do roteiro, saber criar personagens marcantes que consigam
provocar na audiência as emoções desejadas, sejam elas de atração ou de repulsa, amor ou ódio,
preocupação ou indiferença.
A Necessidade Dramática
Talvez o passo mais importante para a criação de um personagem seja o de saber qual é a sua
NECESSIDADE DRAMÁTICA. O que esse personagem quer na história? Todo personagem
precisa de um objetivo, caso contrário será apenas uma carcaça vazia. Esse objetivo dramático não
deve ser construído apenas para os personagens principais, mas também para os personagens
coadjuvantes.
Além disso, a motivação do personagem precisa ser convincente. O roteiro precisa deixar bem claro
a importância do objetivo para o personagem. É uma falha grave fazermos o personagem atravessar
toda uma história sem que haja uma forte necessidade por trás de suas ações. A regra tradicional é a
de que o personagem precisa agir, correr atrás do seu desejo, e não ficar estático observando o que
acontece ao seu redor. Tudo deve ser obtido com sacrifício, para ter maior valor. Geralmente, o
personagem enfrenta no fim o seu maior medo, o obstáculo supremo.
Esse objetivo não precisa sempre ser algo externo. Pode ser um forte conflito interior, o que
geralmente produz obras mais densas e menos comerciais.
As Escolhas do Personagem
Devemos retratar um personagem pelas suas contradições, escolhas e relações.
Cada ação escolhida, cada resposta dada pelo personagem é o que o definirá perante a audiência. A
vida nos apresenta a todo momento a oportunidade da escolha. Nossa vida representa nossas
escolhas, e com um personagem fictício acontece o mesmo.
A roupa de cada dia, a música a ser tocada em uma ocasião íntima, o que dizer em um determinado
momento, quais amigos escolher, qual profissão sonhar. A audiência formará sua opinião em relação
ao personagem de acordo com as escolhas que ele fizer. Se a audiência se identificar e concordar
constantemente com as ações do personagem, a tendência é gostar deste personagem, mesmo que na
vida real não exista para o leitor/espectador a possibilidade de realizar e imitar essas mesmas ações.
É fundamental que o personagem tenha escolhas difíceis ao longo da obra, caso contrário ele não
terá força dramática. São nas horas mais difíceis que conhecemos melhor cada pessoa, e assim
também deve ser em uma narrativa.
O Arco do Personagem
As escolhas feitas pelo personagem não são ações vazias. Elas devem também provocar mudanças
em sua personalidade ao longo da história. A narrativa é mais eficiente quando o personagem que
começou a história seja transformado pelas suas ações. Chamamos as mudanças ocorridas com o
personagem ao longo de uma história de Arco do Personagem.
Há uma forte identificação na audiência com pessoas que mudam ao longo de suas vidas. Pode ser
uma mudança visível ou uma mudança sutil, mas ambas proporcionam o enriquecimento e o
crescimento de um personagem.
Dimensões de um personagem
Para construirmos um personagem realista, também temos que entender o princípio das dimensões.
Um personagem com uma dimensão é um indivíduo que possui apenas um traço de personalidade.
Ele ou só é egoísta, ou só bom, ou só mal, ou só rancoroso, etc. Sempre preso dentro de apenas um
sentimento. Sua personalidade sendo a mesma dentro de qualquer situação, com respostas
automáticas e previsíveis. Os heróis e vilões dos quadrinhos eram assim até Stan Lee e Jack Kirby
revolucionarem o meio com seus personagens problemáticos e humanos, começando com o
Quarteto Fantástico.
A evolução de um personagem de uma dimensão é o personagem bi-dimensional, que por possuir
mais uma característica, geralmente contraditória, é um pouco mais complexo. Um personagem
pode ser ao mesmo tempo bondoso e super controlador, ou um vilão maldoso e excelente pai de
família, ou bonito mas extremamente tímido. Não há um desenvolvimento muito grande, mas
personagens bi-dimensionais dão a ilusão de profundidade.
Já os personagens de três dimensões são bem realistas com várias contradições. Se você quer que o
seu personagem principal tenha mais complexidade e seja mais realista, faça-o tri-dimensional.
Logicamente, nem todos os personagens de uma história precisam ser tri-dimensionais. Os
personagens terciários raramente possuem mais do que uma dimensão e inclusive alguns
personagens secundários podem ter somente uma ou duas dimensões.
Características Físicas
As características físicas precisam ser bem detalhadas no processo de criação do personagem. É
imprescindível que o caracter principal tenha uma distinção visual destacada, ou seja, um físico, um
rosto, um jeito de falar, manias e comportamento diferenciado.
Cada indivíduo é único e deve-se evitar a qualquer custo basear um personagem importante de uma
história em um estereótipo. Estereótipos são para escritores preguiçosos e fracos, e sempre
diminuem a credibilidade de uma narrativa.
O Antagonista
Tudo que é válido no processo de criação dos personagens principais, também deve ser utilizado
para a criação do antagonista, o comumente chamado de "vilão". Muitas vezes, o antagonista acaba
se tornando o personagem mais importante da história, e já é célebre o ditado de que o herói é tão
bom quanto o seu vilão.
Assim como o personagem principal, o antagonista também deve ter uma motivação convincente e
deve ser extremamente difícil de ser derrotado. Um dos principais problemas do herói Superman é a
falta de bons antagonistas, pois a excessiva força do personagem acaba dificultando processo de
criação dos seus inimigos, até para escritores experientes.
Conclusão: Estabelecendo Laços entre o Público e o Personagem
O objetivo principal na construção de um personagem deve ser o estabelecimento de fortes laços
entre ele e o público da obra. Se o personagem for um "herói", o público deve torcer para ele. Se
construirmos um vilão eficiente, o público deve odiá-lo, ou como ocorre muitas vezes, também
amá-lo.
O que queremos que a audiência sinta ao ver o personagem é empatia, e não simpatia. Você pode
achar algum personagem simpático mas não se importar e nem torcer por ele. A empatia é muito
mais forte.
Existem várias formas de fazermos com que o leitor/espectador sinta empatia por um personagem.
Podemos fazer com que ele sinta medo e dúvidas, ou seja, humanizá-lo. Podemos tornar o seu
objetivo algo praticamente impossível, constituindo uma causa nobre utópica. Pode-se fazer com
que o personagem sofra com a vida, mas nunca entregue os pontos (o famoso underdog).
Blake Snyder sintetiza muito bem esse princípio, ao defender no início de uma obra uma cena de
"Salvar o Gato" (Save the Cat scene) - É a cena onde encontramos o herói e ele realiza uma ação
"agradável", daí o exemplo de salvar um gato na árvore, que define um pouco do personagem e
conquista a audiência. Um outro exemplo clássico fornecido é o diálogo de cenas iniciais de Pulp
Fiction entre John Travolta e Samuel L. Jackson dentro do carro. O diálogo fala sobre nomes de
sanduíches e faz a audiência se identificar com personagens que são assassinos. Como essa cena é
mostrada antes dos personagens praticarem atos de matança, a audiência já foi conquistada e eles
não são vistos como simples bandidos, mas como pessoas reais.
ANÁLISES DE UM PERSONAGEM (James Scott Bell)
Analise seu Personagem Principal
O seu personagem é inesquecível? Cativante? Forte o suficiente para carregar o leitor por todo o
enredo? Um personagem principal tem que pular para fora da página. O seu faz isso?
O seu personagem evita clichés? Ele é capaz de nos surpreender? O que é único nesse
personagem?
O objetivo do personagem é forte o suficiente?
Como o personagem evolui ao longo da história?
Como o personagem demonstra e mostra sua força interior?
Analise sua Oposição (Antagonista)
A oposição ao seu personagem é interessante?
Ela está bem desenvolvida, não sendo apenas algo a ser jogado como obstáculo?
Ela acredita (pelo menos em sua mente) na validade de suas ações?
Ela é realística?
A oposição é tão ou mais forte que o personagem principal? (Deve Ser)
Analise a relação entre a Oposição e o Personagem Principal
O conflito entre a oposição e o personagem principal é crucial para ambos?
Porque eles simplesmente não desistem? Não se afastam? O que os prende? O que os liga?
Analise os Personagens Menores
Quais são os objetivos deles no enredo?
São vibrantes e/ou interessantes?
PERGUNTAS PARA SEU PERSONAGEM (Victoria Lynn Schmidt)
Faça também as seguintes perguntas sobre seu personagem:
Ele é introvertido ou extrovertido?
Ele resolve os problemas usando instintos, pensamento lógico ou emoção?
Ele quer mudar o mundo?
Onde ele vive? Descreva seu quarto.
Como ele se sente em relação a sua aparência?
Como ele se sente em relação sua família e filhos?
O que ele pensa sobre o casamento e o sexo oposto?
Quais são seus hobbies?
Quais são seus tipos de amigos?
O que ele acha engraçado e/ou prazeroso?
Como ele se sente em relação a sua sexualidade?
Ele precisa ter sempre o controle sobre o que há em sua volta?
O que outros personagens dizem sobre ele quando ele sai da sala?
Ele leva a vida a sério ou age como uma criança a maior parte do tempo?
Onde ele passa seus tempos vagos?
O que importa para o seu personagem?
O que o motiva?
Como os outros personagens o vêem?
Quais as três coisas que mais possuem valor? Seu modo de vida?
Um objeto?
De que ele tem medo?
Como ele agirá quando estiver com medo?
Bons estudos!