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MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //


GRAU I

FUNCIONAMENTO

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE //


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES
DO CORPO HUMANO,
NUTRIÇÃO E
PRIMEIROS SOCORROS
Luís Horta // Raul Pacheco

1. FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO

2. ESTILOS DE VIDA SAUDÁVEIS/LESÕES DESPORTIVAS/PRIMEIROS SOCORROS

3. SUPORTE BÁSICO DE VIDA

4. NUTRIÇÃO

IPDJ_2016_V1.0
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU I

Índice
INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

1. FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO 3


1.1 APARELHO LOCOMOTOR 3
1.1.1 As estruturas osteo-articulares 3
1.1.2 As estruturas músculo-tendinosas 5
1.2 APARELHO CARDIORRESPIRATÓRIO 9
1.2.1 Sistema circulatório 9
1.2.2 Sistema respiratório 10
1.3 SISTEMA DE REGULAÇÃO 12
1.3.1 Sistema neuro-hormonal 12
1.3.2 Regulação da temperatura e sistema de arrefecimento 14

CONCLUSÕES 15
AUTOAVALIAÇÃO 15
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 113
GLOSSÁRIO 117

1. FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO

2. ESTILOS DE VIDA SAUDÁVEIS/LESÕES DESPORTIVAS/PRIMEIROS SOCORROS

3. SUPORTE BÁSICO DE VIDA

4. NUTRIÇÃO

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FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
1. Adquirir conhecimentos básicos sobre anatomia
humana e fisiologia, relacionados com o movimento,
os esforços e a recuperação funcional.
2. Conhecer o funcionamento do corpo humano para
melhor contribuir para a prevenção de lesões.
3. Reconhecer as estruturas envolvidas nas lesões
desportivas mais frequentes.

1. FUNCIONAMENTO DO
CORPO HUMANO FUNCIONAMENTO
DO CORPO HUMANO,
NUTRIÇÃO E PRIMEIROS

1.1 Aparelho locomotor SOCORROS

1.1.1 AS ESTRUTURAS OSTEO-ARTICULARES


O aparelho locomotor humano é formado pelos sistema ósseo e muscular.
Os ossos, os músculos e os tendões, produzem diversos tipos de movimentos
através do trabalho que realizam em conjunto nos pontos onde existem
articulações.
O esqueleto do ser humano adulto tem 208 ossos, constituídos por uma
matriz de fibras e proteínas, na qual se depositam sais de cálcio e fósforo,
que conferem ao osso uma dureza caraterística. No seu interior, o osso con-
tém a medula óssea, vermelha ou amarelada, onde se produzem as células
sanguíneas.
Quanto à sua forma, os ossos podem ser longos, como os dos braços e
pernas, com extremidades arredondadas (epífises) e uma zona intermédia
(diáfise); curtos, como os do tarso; e planos, como os do crânio.
O esqueleto humano divide-se em três partes: cabeça, tronco e membros.
A cabeça apresenta duas áreas: crânio, que compreende oito ossos (um frontal,
dois parietais, um occipital, dois temporais, um etmoide e um esfenoide);
e os ossos da face.

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GRAU I
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PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

A coluna vertebral, fundamental para a mobilidade do corpo, possui


33 vértebras, que são ossos curtos divididos: coluna cervical com 7 vértebras
VÉRTEBRAS
CERVICAIS
que constituem a região do pescoço; 12 vértebras dorsais que se articulam
C1-C7 com as costelas e constituem o tórax. A coluna lombar com cinco vértebras;
o sacro com cinco vértebras fundidas e o cóccix com quatro vértebras muito
reduzidas e geralmente fundidas.
As costelas são ossos longos em forma de arco que delimitam a caixa
VÉRTEBRAS torácica, protegendo os pulmões e o coração. São 12 pares dispostos simetri-
DORSAIS
T1-T12 camente, 10 articulam-se pela extremidade anterior com o esterno, enquan-
to os restantes dois pares têm as extremidades anteriores livres (costelas
flutuantes).
Os membros superiores incluem o braço, formado pelo úmero; antebraço,
com dois ossos longos (cúbito e rádio); e mão, constituída pelo carpo (oito
VÉRTEBRAS ossos curtos que estruturam o pulso), metacarpo (cinco ossos) e dedos (fa-
LOMBARES
L1-L5
langes). A união dos membros superiores com o troco denomina-se cintura
escapular, contendo ainda as duas clavículas e duas omoplatas.
Os membros inferiores articulam-se com o tronco pela cintura pélvica,
que é constituída pelos ossos da púbis, ísquio e ílio. Também se dividem em
SACRO
três partes: coxa com o fémur; perna com a tíbia e o perónio; e o pé consti-
tuído por tarso, metatarso e dedos (falanges). Na articulação do joelho existe
COXIS
ainda um pequeno osso que é a rótula.

CLAVÍCULA ARTICULAÇÕES
ESCÁPULA
As articulações correspondem a «junções» dos ossos permitindo que as vá-
rias regiões realizem um número complexo de movimentos, que são a base
ÚMERO fundamental da vida corrente e em particular da vida desportiva.
Uma articulação é formada por topos ósseos, cartilagem e ligamentos.
RÁDIO
Para que os ossos se possam mover nas articulações, as suas superfícies
ULNA articulares estão cobertas de cartilagem (cartilagem articular) e lubrificados
ESCÁPULA
por um líquido sinovial. Estas estruturas são mantidas em posição pelos
OSSOS
DA MÃO ligamentos e pelas cápsulas articulares (estruturas fibrosas).
FÉMUR

RÓTULA
TÍBIA

FIBULA Pelo seu grande envolvimento na prática


desportiva e ser local frequente de lesões,
OSSOS
DO PÉ
destacamos a articulação do joelho e a
articulação tibiotársica.

4
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO

Fémur
Patela
Tendões fibulares Retináculo superior
Retináculo superior
Retináculo inferior Tendão dos extensores
Ligamento
Cartilagem longos dos dedos
lateral
articular Extensores
Ligamento
cruzado longos
Menisco
Retináculo
anterior
Tendão fibular curto inferior
Perónio
Tendão fibular longo
Tibia Tendão de Aquiles Tendão fibular

ARTICULAÇÃO DO JOELHO ARTICULAÇÃO TIBIOTÁRSICA

O conhecimento
Assim, para a estabilidade da Na articulação tibiotársica, os liga-
articulação do joelho salientamos mentos laterais contribuem para
destas estruturas
a importância dos ligamentos late- uma correta estabilidade desta contribui para uma
rais (interno e externo), ligamentos articulação.
cruzados (anterior e posterior) e
melhor interpretação
meniscos. do gesto desportivo e
prevenção das lesões FUNCIONAMENTO
DO CORPO HUMANO,

1.1.2 AS ESTRUTURAS MÚSCULO-TENDINOSAS desportivas. NUTRIÇÃO E PRIMEIROS


SOCORROS

Os músculos são constituídos pelas fibras musculares, células alongadas


compostas de miofibrilhas. Estas contêm duas proteínas, a miosina e a actina,
responsáveis pela contração muscular.

Fibra Muscular Retículo


Sarcoplasmático

Miosina

Miofibrila

Actina
Sarcómero

Os músculos respondem aos impulsos transmitidos pelas fibras nervosas e,


ao contraírem-se, movem os ossos como se fossem alavancas. Os mús-
culos são capazes de transformar energia química em energia mecânica.

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Representam cerca de 40 a 50 % do peso corporal. Distinguem-se dois tipos de


músculos: os esqueléticos (ou estriados), de contração voluntária, e os lisos, de
contração involuntária responsáveis pelos movimentos viscerais do organismo.
Exceção feita ao músculo cardíaco que é estriado e de contração involuntária.

COMPONENTES ANATÓMICOS
DOS MÚSCULOS ESTRIADOS
CORPO MUSCULAR (A) – parte contrátil do músculo constituída por fibras
musculares.
TENDÃO (B) – constituído por tecido conjuntivo, rico em
colagéneo e que fixa o corpo muscular ao osso.
APONEVROSE – membrana que envolve os músculos.
BAINHAS TENDINOSAS – estruturas sobre as quais deslizam os tendões. A sua
função é permitir o deslizamento fácil do tendão.
BOLSAS SINOVIAIS – pequenas bolsas formadas por uma membrana
serosa que possibilitam o deslizamento muscular.

Úmero
O corpo humano
tem cerca de Pronador
redondo

500
Cúbito
Rádio
Pronador
quadrado

músculos SUPINAÇÃO PRONAÇÃO


esqueléticos.

OS MÚSCULOS SÃO ÓRGÃOS ATIVOS DO MOVIMENTO.


EXEMPLOS DE MOVIMENTOS:
Flexão – diminuição da amplitude (grau) de uma articulação. com aproximação do plano de simetria do corpo.
Extensão – aumento da amplitude (grau) de uma articulação. Abdução do membro inferior – movimento para fora
Pronação da mão – movimento de rotação do dorso da com afastamento do plano de simetria do corpo.
mão para cima. Inversão do pé – movimento complexo que roda a ponta
Supinação da mão – movimento de rotação da palma do pé para dentro e para baixo.
da mão para cima. Eversão do pé – movimento complexo que roda a ponta
Adução do membro inferior – movimento para dentro do pé para fora e para cima.

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FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO

SISTEMA MUSCULAR
Esternocleidomastóideo
Trapézio

Deltoide
Peitoral Maior
Reto Abdominal
Oblíquo Externo
Dorsal

Tríceps Braquial
Bíceps Braquial
Flexores Dedos
Extensores Dedos

Glúteo Máximo
Sartório
Adutor Longo
Reto Femoral
FUNCIONAMENTO
Semitendinoso DO CORPO HUMANO,
Bíceps Femoral NUTRIÇÃO E PRIMEIROS
SOCORROS

Gastrocnémios
Sóleo

No tronco e na região dorsal, os principais músculos são o trapézio, na parte


superior do tórax, que eleva os ombros e mantém a cabeça em posição vertical;
e os grandes dorsais, que cobrem toda a parte inferior do dorso. Na região
anterior, destacam-se os peitorais e os intercostais que participam ativamen-
te nos movimentos respiratórios.
Nos membros superiores, destacam-se os deltoides, os bíceps e os tríceps
que executam a flexão e extensão do antebraço sobre o braço.
Nos membros inferiores, destacam-se os glúteos na região nadegueira;
os músculos da região anterior da coxa, psoas, rectofemural, vasto interno
(vasto médio), vasto externo (vasto lateral) e sartório que são músculos flexores
da articulação coxo-femural e extensores do joelho. Na face posterior des-
tacamos os ísquiotibiais (bicípite femural, semitendinoso, semimembranoso),
que são músculos extensores da articulação coxo-femural e flexores do joelho.
Destaque ainda para os músculos adutores da articulação coxo-femural.

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Nos músculos da perna, salientamos os anteriores (tibial anterior), responsá-


veis pela dorsiflexão do pé e extensão dos dedos, os peroniais laterais que fa-
zem a eversão do pé e o tibial posteriores e os flexores dos dedos que fazem
a inversão do pé e a flexão plantar.
A necessidade do conhecimento mais exaustivo da musculatura do
membro inferior, advém do facto de aí se localizarem muitas das lesões des-
portivas provenientes de traumatismos diretos (agudos) ou de sobrecarga
(hipersolicitação).

MÚSCULOS ÍSQUIOTIBIAIS
Músculo ilíaco Músculo psoas maior
Músculo
glúteo médio
Músculo iliopsoas
Músculo tensor
da fáscia lata Músculo pectíneo
Músculo adutor longo
Músculo grácil
Músculo
sartório Músculo reto da coxa
Músculo vasto medial
Músculo
vasto lateral

SEMIMEMBRANOSO BÍCEPS FEMURAL SEMITENDINOSO

A cada conjunto de músculos com a mesma função, chama-se músculos


agonistas. Aos seus pares, ou seja, ao conjunto de músculos que fazem o
movimento contrário, chama-se músculos antagonistas.
O músculo pode ter dois tipos de atividade: concêntrica, na qual se contrai
e encurta e, excêntrica, na qual se contrai e alonga. Esta última atividade é
muito importante nas manobras de desaceleração e travagem e é muito
exigente para o tecido muscular.

QUE TIPO DE CONTRAÇÃO PODEMOS TER A NÍVEL DO MÚSCULO?


CONTRAÇÃO ISOTÓNICA CONTRAÇÃO ISOMÉTRICA CONTRAÇÃO ISOCINÉTICA
Refere-se a uma contração em Refere-se a uma contração em Refere-se a uma contração em
que um músculo encurta enquanto que o comprimento externo do que o músculo se contrai e encurta
exerce uma força constante que músculo não se altera, pois a força a velocidade constante em toda
corresponde à carga que está gerada pelo músculo é insuficiente a amplitude articular qualquer
sendo erguida pelo músculo. para mover a carga à qual está que seja o ângulo articular do
fixado. movimento.

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FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO

1.2 Aparelho cardiorespiratório


1.2.1 SISTEMA CIRCULATÓRIO
O coração e vasos sanguíneos constituem o sistema cardiovascular, cuja
finalidade é o transporte através do sangue de nutrientes e oxigénio a todas
as células, removendo daí os produtos nocivos para o organismo.
O coração é o órgão central do sistema circulatório. É um músculo de
forma cónica, localizado entre os dois pulmões, no interior da caixa torácica,
rodado para o lado esquerdo. No adulto tem aproximadamente 250 gramas
equivalentes a um punho fechado.

Aorta

Veia cava superior

Artéria pulmonar Artéria pulmonar


(pulmão direito) (pulmão esquerdo)

Veias pulmonares esquerdas


Veias pulmonares direitas (do pulmão esquerdo)
(do pulmão direito para
a auricula esquerda)

Válvula semilunar aórtica

Válvula tricúspide Válvula bicúspide (Mitral)

FUNCIONAMENTO
DO CORPO HUMANO,
Veia cava inferior
NUTRIÇÃO E PRIMEIROS
SOCORROS
Septo

Circulação arterial (com O2)


Circulação venosa (com CO2)

O coração é formado por pericárdio (membrana externa), miocárdio (mús- A


culo contrátil do coração) e endocárdio (camada interna). Está dividido em
duas câmaras. As superiores são as aurículas e as inferiores os ventrículos,
separadas por válvulas. As aurículas recebem o sangue das veias, enquanto
os ventrículos enviam o sangue nas artérias. O ventrículo direito envia o
sangue aos pulmões para se oxigenar, enquanto o ventrículo esquerdo envia
o sangue a todas as partes do corpo. É o sangue arterial proveniente dos
pulmões. No seu movimento o coração tem uma fase de contração (sístole)
e uma fase de repouso ou dilatação (diástole).

Tipos de circulação
A GRANDE CIRCULAÇÃO OU SISTÉMICA - Ventrículo esquerdo // Todo o corpo // Aurícula direita
B PEQUENA CIRCULAÇÃO OU PULMONAR - Ventrículo direito // Pulmão // Aurícula esquerda

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VASOS SANGUÍNEOS
Artérias: são vasos eferentes que possuem paredes espessas constituídas por
tecido elástico, que conduzem o sangue do coração para as diversas partes
do corpo. São pulsáteis. As artérias, à medida que se afastam do coração,
Fluxo sanguíneo formam ramos sucessivamente menores A arteríolas B capilares.
Arteríola Veias: são unificações das vénulas que aumentam de calibre à medida
Metarteríola que se aproximam do coração. Têm paredes mais finas com válvulas que
impedem o refluxo de sangue que circula a baixa pressão. Geralmente acom-
Capilares
panham o trajeto das artérias.
Esfincter
Pré-capilar Capilares: são vasos originados das arteríolas. A sua unificação forma as
vénulas. É aqui nesta rede fina de vasos que se processam as trocas de oxigé-
Vénula
nio e nutrientes e se removem os resíduos metabólicos.
Fluxo sanguíneo

TENSÃO ARTERIAL E FREQUÊNCIA CARDÍACA


A tensão arterial referencia dois valores: o valor mínimo, que corresponde
à diástole, e o valor máximo, que corresponde à sístole.

Em cada contração cardíaca, num adulto em repouso, é expelido cerca de


70 ml de sangue; como existem em média 70 contrações por minuto, temos
cerca de 5 litros bombeados por minuto.
Chama-se frequência cardíaca ao número de contrações cardíacas por
minuto; as pulsações correspondem ao sangue lançado para a artéria aorta
em jatos sucessivos.

Habitualmente, o número de pulsações por minuto, medido no pulso (arté-


ria radial) corresponde aos batimentos cardíacos.
Convenciona-se como normal no ser humano uma frequência cardíaca
entre 50 e 100 batimentos por minuto. Frequências cardíacas em repouso
abaixo de 50 batimentos por minuto constituem a bradicardia e acima de
100 batimentos por minuto a taquicardia.
Os praticantes desportivos têm frequência cardíaca em repouso baixa
devido ao processo de adaptação provocado pelo treino e por isso pode ter
bradicardias fisiológicas. O chamado «coração do atleta» tem igualmente
um peso e tamanho maior por aumento da espessura das suas paredes e/ou
volume das suas cavidades.

1.2.2 SISTEMA RESPIRATÓRIO


O sistema respiratório é constituído pelas fossas nasais, pela boca, laringe, tra-
queia, brônquios e pulmões. O tecido pulmonar é constituído por uma grande
quantidade de alvéolos. Por sua vez, a parede dos alvéolos é revestida por uma

10
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO

membrana respiratória ao nível da qual se processam as trocas gasosas. Assim,


os pulmões funcionam como interface entre o meio gasoso e o meio líquido
(sangue), pois é aqui que se enriquece de oxigénio (O2) e elimina o dióxido de
carbono (CO2).

Cavidade nasal
Nariz Cavidade nasal
Boca
Lingua Faringe
Laringe

Traqueia

Costelas Brônquios

Pulmão
direito
Alvéolos
Coração
Pulmão
esquerdo
Pleura
Sistema Respiratório
Diafragma

Nos alvéolos pulmonares, o O2 passa para o sangue (glóbulos vermelhos), en- FUNCIONAMENTO
DO CORPO HUMANO,
quanto o CO2 o abandona. Este intercâmbio de gases obedece às leis da física de
NUTRIÇÃO E PRIMEIROS
difusão de uma zona de maior concentração para outra de menor concentração. SOCORROS

A respiração compõe-se de inspiração (entrada ativa de ar nos pulmões) e


expiração (saída passiva de ar dos pulmões). Para respirar é indispensável
efetuar movimentos ao nível da caixa torácica que possibilitem a inspiração
e expiração. Os músculos intercostais, escalenos, abdominais e o diafragma,
entre outros, asseguram os movimentos necessários.

INSPIRAÇÃO EXPIRAÇÃO

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CONTROLO DA RESPIRAÇÃO
Em repouso, A respiração é controlada automaticamente por um centro nervoso localizado

a frequência no bulbo raquidiano. Desse centro partem os nervos responsáveis pela contração
dos músculos respiratórios (diafragma e músculos intercostais).
respiratória A respiração é ainda o principal mecanismo de controlo do pH do sangue.
ronda os Se o pH for baixo, logo, com maior quantidade de CO2, aumenta a frequência
e a amplitude dos movimentos respiratórios, portanto aumenta a ventilação
pulmonar. Quanto maior for o trabalho muscular, maior será a produção de
CO2 e maior será o ritmo respiratório.

1.3 Sistema de regulação


1.3.1 SISTEMA NEURO-HORMONAL
É constituído pelo Sistema Nervoso e pelo Sistema Hormonal e tem como
função coordenar toda a atividade corporal.
O Sistema Nervoso é constituído pelo sistema nervoso central e sistema
nervoso periférico. O primeiro integra o encéfalo e a espinal-medula; segundo
é constituído pelos nervos e pelos gânglios.
O encéfalo é constituído pelo cérebro, cerebelo e tronco cerebral. As células
que em essência constituem o Sistema Nervoso designam-se por neurónios.

Pontos de Sinapse

Sinapses
Sinal elétrico

Bainha de Mielina

Axónio
Dendritos

Núcleo

COMUNICAÇÃO Axónio do
ENTRE NEURÓNIOS neurónio anterior

12
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO

Os neurónios são constituídos pelo corpo celular, dendrites e axónios e têm


como função principal transmitir e receber as «mensagens» que lhe chegam.
As mensagens nervosas designam-se impulsos ou influxos nervosos. O con-
tacto que um neurónio estabelece com outro neurónio ou com uma célula
muscular designa-se por sinapse.
O Sistema Endócrino ou Hormonal tem uma estreita relação com o Sistema
Nervoso, através do eixo hipotálamo ➝ hipófise (glândulas localizadas no cére-
bro e que regulam a secreção hormonal).
É constituído pelas glândulas endócrinas que produzem e lançam hormonas
diretamente no sangue. As hormonas são mensagens químicas que regulam
a atividade de diferentes órgãos. Como o sangue percorre todo o organismo,
as hormonas atuam à distância sobre os tecidos, órgãos ou outras glândulas
(ex: a adrenalina que é produzida pela glândula suprarrenal e que prepara o
organismo para os esforços físicos).
A comunicação hormonal realiza-se por via química através das hormonas.
Somente determinadas células, chamadas células alvo, estão equipadas para rece-
ber o sinal que uma dada hormona transmite através de recetores que possuem.

FUNCIONAMENTO
DO CORPO HUMANO,
NUTRIÇÃO E PRIMEIROS
SOCORROS

EXEMPLO
O ciclista, perante um obstáculo, trava de imediato sem pensar para evitar a
queda. Assim, perante uma situação ameaçadora, o corpo reage sempre de
forma a proteger-se. As respostas motoras e hormonais são conjuntas.

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1.3.2 REGULAÇÃO DA TEMPERATURA E SISTEMA DE ARREFECIMENTO


O ser humano é um ser homeotérmico, isto é, possui a capacidade de manter
a temperatura corporal dentro de um certo intervalo pré-determinado, ape-
! sar das variações térmicas do meio ambiente (homeostasia térmica).

A temperatura de equilíbrio ronda os 37ºC (limites normais: 36,1ºC - 37,2ºC).


Quando se verifica um aumento da temperatura no exterior, o corpo
humano, através de mecanismos homeostásicos de termogénese, diminui
a temperatura corporal por processos como a vasodilatação, havendo uma
transferência de energia para o exterior e a produção de suor, que evapora,
diminuindo a temperatura ao nível da pele. A sudorese é um eficiente me-
canismo de arrefecimento do organismo em situações desencadeadas, por
exemplo, por atividade física intensa ou por temperaturas ambientais eleva-
das. O organismo liberta, através das glândulas sudoríparas, água aquecida,
que evapora na superfície externa da pele, libertando energia térmica para o
meio ambiente e arrefecendo o organismo. Em situações de atividade muito
intensa, a perda de água por transpiração pode ultrapassar os 1,5 litros por
hora. Daí a importância da ingestão regular de líquidos, sobretudo água,
para repor as necessidades hídricas e evitar assim a desidratação.
Quando a temperatura externa diminui, o centro coordenador envia en-
tão uma mensagem por vias eferentes (nervos motores), de modo a ocorrer
uma vasoconstrição e contração muscular que aumenta o calor metabólico.

14
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO

Conclusões
O aparelho locomotor tem como principal função a execução dos movimen-
tos, sendo os ossos as estruturas de suporte e de proteção e os músculos os
seus elementos ativos. As articulações constituem a forma de permitir a reali-
zação dos movimentos envolvendo as estruturas ósseas das várias regiões.

As articulações do joelho e tibio-társica, pelo seu grande envolvimento


na prática desportiva em geral, são frequentemente atingidas por lesões.
O conhecimento das suas estruturas anatómicas, contribui para uma
melhor interpretação do gesto desportivo e prevenção de lesões.

O número de pulsações por minuto, medido habitualmente no pulso


(artéria radial) corresponde aos batimentos cardíacos.

Chama-se ritmo ou frequência respiratória à frequência da inspiração/expiração


(ciclos) durante um minuto. Num adulto em repouso ronda os 10 a 15 ciclos/minuto.

O sistema nervoso central e o sistema hormonal comandam e coordenam


toda a atividade corporal.

O exercício físico produz, como reação imediata do organismo, o aumen- FUNCIONAMENTO


DO CORPO HUMANO,
to de todas as suas funções, nomeadamente a frequência cardíaca, a
NUTRIÇÃO E PRIMEIROS
frequência respiratória e o metabolismo celular. SOCORROS

Autoavaliação
n Que ossos constituem o membro inferior?

n O que é uma articulação? Dê um exemplo.

n Quais são os componentes anatómicos dos músculos estriados?

n Que tipo de contrações musculares conhece?

n
Que tipos de circulação sanguínea conhece?

O que são vasos capilares?

Quais são os principais músculos envolvidos nos movimentos


?
respiratórios?
n Como é constituído o sistema neuro-hormonal?

n Qual é a importância da sudorese?

15
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Índice
INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

2.ESTILOS DE VIDA SAUDÁVEIS/LESÕES DESPORTIVAS/PRIMEIROS SOCORROS 17


2.1 ESTILOS DE VIDA SAUDÁVEIS 17
2.1.1 Regras de higiene na atividade desportiva 17
2.1.2 O exame médico desportivo 21
2.2 PRINCIPAIS LESÕES NA ATIVIDADE DESPORTIVA 22
2.2.1 Lesões macrotraumáticas 23
2.2.2 Lesões microtraumáticas 23
2.2.3 Lesões desportivas 24
2.3 FATORES DE RISCO DE LESÃO DESPORTIVA 36
2.3.1 Intrínsecos 37
2.3.2 Extrínsecos 42
2.3.3 Específicos da modalidade/especialidade desportiva 46
2.4 OS PRIMEIROS SOCORROS 47
2.4.1 Nas feridas cutâneas 48
2.4.2 Nas lesões osteo-músculo-articulares 49
2.4.3 Nos traumatismos cranianos e vertebrais 55

CONCLUSÕES 58
AUTOAVALIAÇÃO 62
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 113
GLOSSÁRIO 117

1. FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO

2. ESTILOS DE VIDA SAUDÁVEIS/LESÕES DESPORTIVAS/PRIMEIROS SOCORROS

3. SUPORTE BÁSICO DE VIDA

4. NUTRIÇÃO

16
ESTILOS DE VIDA SAUDÁVEIS
LESÕES DESPORTIVAS/PRIMEIROS SOCORROS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
1. Reconhecer as regras de higiene na prática desportiva.
2. Valorizar a importância do exame de avaliação médico-
-desportivo na saúde do praticante desportivo.
3. Identificar as principais lesões desportivas e os prin-
cipais mecanismos inerentes à sua génese.
4. Reconhecer os principais fatores de risco de lesão
desportiva.
5. Executar primeiros socorros básicos e ter noções
básicas de referenciação.

ESTILOS DE VIDA SAUDÁVEIS/


2.

LESÕES DESPORTIVAS/
OBSERVAÇÃO E
ANÁLISE DAS
HABILIDADES
DESPORTIVAS

PRIMEIROS SOCORROS
2.1 Estilos de vida saudáveis
2.1.1 REGRAS DE HIGIENE NA ATIVIDADE DESPORTIVA
Todos reconhecemos que a prática da atividade desportiva tem um papel
fundamental na nossa sociedade, não só promovendo a saúde das popula-
ções, mas também lutando contra alguns dos flagelos que a afetam atual-
mente, como, por exemplo, a toxicodependência e a exclusão social.
A saúde é definida pela organização mundial de saúde como o mais alto
nível de bem-estar físico, psíquico e social.

17
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU I
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PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

“O treinador não
deve restringir a
sua intervenção
junto dos atletas
apenas à orien-
tação técnica da
atividade des-
portiva.”

O treinador deve ter uma intervenção pedagógica junto dos jovens atletas
transmitindo-lhe uma série de regras de higiene que, por um lado, promo-
vam a saúde e, por outro, façam com que a relação do atleta com a atividade
desportiva seja salutar e sem problemas.

Em suma, o treinador não deve demitir-se do seu pa-


pel de educador, principalmente junto dos mais jovens.

OS CUIDADOS NUTRICIONAIS
O treinador deverá incentivar o jovem atleta a ter uma nutrição adequada,
rica e diversificada, através de uma ingestão equilibrada dos diversos alimentos
contendo os macronutrientes e micronutrientes necessários.

!
O SONO
O período de descanso noturno é essencial para a recuperação biológica do atleta,
principalmente do jovem atleta. Cada indivíduo tem um padrão ideal de sono
que deve ser respeitado, tanto em termos de duração como em termos de horá-
rio. A maioria das pessoas dorme cerca de 8 horas diárias, mas existem pessoas
que lhes bastam 7 horas de sono diário enquanto outras necessitam de 9 horas.
A qualidade do sono tem igualmente um papel preponderante. O padrão usual
de sono de cada atleta não deverá ser alterado, mesmo durante estágios ou
antes de competições, o que acontece com alguma frequência devido a atitudes
incorretas de determinados técnicos ligados ao fenómeno desportivo.

18
ESTILOS DE VIDA SAUDÁVEIS
LESÕES DESPORTIVAS/PRIMEIROS SOCORROS

!
O BANHO
O treinador deve incentivar os atletas a tomarem um banho após os treinos
ou competições, o que representa um ato fundamental de higiene física, per-
mitindo eliminar os produtos da sudação resultantes da atividade desportiva
e proceder à limpeza da própria pele.
O monitor deve aconselhar os atletas a não compartilharem toalhas e a
utilizarem chinelos no balneário de forma a evitarem o contágio de agentes
que provocam infeções cutâneas e das unhas (pé de atleta, por exemplo).

A HIGIENE ORAL
O treinador deve recomendar ao jovem atleta os seguintes cuidados de higiene
dentária de forma a contribuir para a prevenção das lesões desportivas:
- evitar a ingestão de alimentos ricos em hidratos de carbono simples (açú-
cares), principalmente no intervalo entre as refeições;
- lavagem dos dentes com uma técnica adequada e utilizando um dentífrico
com flúor pelo menos duas vezes ao dia;
- observação regular por um estomatologista ou especialista em medicina
dentária, mesmo que o atleta não tenha sintomas, para despiste de patolo- OBSERVAÇÃO E
ANÁLISE DAS
gia dentária assintomática. HABILIDADES
DESPORTIVAS

!
O ÁLCOOL
O treinador deve chamar a atenção do jovem atleta para os efeitos negativos
que o álcool pode ter no rendimento desportivo após a sua ingestão e,
simultaneamente, para o aumento de risco de lesões desportivas (dimi-
nuição da coordenação motora, da atenção, dos reflexos e da capacidade
de reação). O atleta deve igualmente estar informado que o álcool tem um
efeito diurético e por isso prejudica a sua recuperação, principalmente após
esforços em que perdeu muita água através da sudação.
O alcoolismo conduz à dependência física e psíquica, a inúmeras doen-
ças do fígado (cirrose), do pâncreas (pancreatite), do coração (miocardiopatia
alcoólica), dos músculos (miosite), entre outras.

!
O TABACO
O treinador, ao trabalhar nos grupos etários em que normalmente se dá a
iniciação dos hábitos tabágicos, deve informar os jovens atletas sobre os
riscos do uso do tabaco.
Deverá esclarecer o atleta que a utilização do tabaco, para além de au-
mentar a incidência de doenças cardiovasculares, respiratórias e cancerosas,
tem efeitos nefastos na prestação desportiva devido principalmente a uma
diminuição da difusão alveolo-capilar a nível pulmonar.

19
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GRAU I

!
INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

AS DROGAS SOCIAIS
Tal como para o tabaco, o treinador que trabalha nos grupos etários em
que normalmente se dá a iniciação da utilização das drogas sociais, deve
informar os atletas dos perigos da utilização das drogas sociais, explican-
do-lhes que mesmo as ditas mais leves provocam dependência física e
psíquica e uma tendência para o aparecimento de uma escalada para dro-
gas mais pesadas. O jovem atleta deve ser igualmente informado de que a
utilização de drogas sociais fornece a ilusão de uma felicidade transitória,
mas que na maioria das vezes acaba numa desinserção social do utilizador
com o recurso ao roubo e à prostituição.
O atleta deverá ser igualmente informado que, no desporto, a utilização
de drogas consideradas leves, como os canabinóides (marijuana, haxixe, etc.)
é proibida, não porque provoquem um aumento do rendimento des-
portivo na grande maioria das modalidades desportivas mas porque o
desporto deve ser encarado como uma escola de virtudes, onde não cabe
um atleta que utiliza este tipo de substâncias. A utilização de algumas
drogas ditas mais pesadas (heroína e cocaína) é igualmente proibida no
desporto.
O treinador, se detetar que um dos seus jovens atletas utiliza drogas
sociais, não deve ter uma atitude de rejeição do atleta, mas sim utilizar
a prática desportiva como método para promover a sua recuperação e a
reinserção social.

!
SUBSTÂNCIAS DOPANTES
A utilização de substâncias dopantes há muito que deixou de ser um proble-
ma restrito ao desporto de alto rendimento. Sabemos hoje que a utilização
de substâncias dopantes pode começar durante a adolescência, não só com
o intuito de se obterem melhores resultados desportivos, mas essencialmente
por motivos estéticos e na procura de melhorar a imagem corporal.
O treinador deve informar e/ou recomendar o jovem atleta sobre algu-
mas medidas relacionadas com a utilização de substâncias dopantes:
- a sua utilização, para além de representar uma batota, é ilegal e pode
pôr em causa a preservação da saúde, devido aos efeitos secundários da
generalidade destas substâncias;
- o jovem deve ser ensinado a saber lidar com a sua imagem corporal.
O treinador deve ajudar o jovem com problemas de imagem corporal
(excessivamente magro ou gordo, por exemplo) a inserir-se no grupo,
minorando desse modo os efeitos psíquicos que podem advir daquela
imagem. O jovem magro e longilíneo não se integra facilmente nos
desportos que envolvam força e contacto físico, enquanto que o gordo e
brevilíneo não se sente à vontade nos desportos que envolvam resistên-
cia aeróbia;

20
ESTILOS DE VIDA SAUDÁVEIS
LESÕES DESPORTIVAS/PRIMEIROS SOCORROS

- o treinador deverá instruir o jovem atleta em relação à inexistência de


produtos milagrosos que lhe possam ser sugeridos por terceiros como for-
ma de melhorar o rendimento desportivo ou a imagem corporal. Alguns
suplementos nutricionais muitas vezes encobrem substâncias dopantes
na sua composição.

!
DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS POR CONTACTO SEXUAL
O treinador deve informar os atletas que não há perigo de contágio do
vírus da imunodeficiência adquirida ou de outros vírus transmitidos por via
sanguínea (hepatites B e C, por exemplo) durante a prática da atividade des-
portiva, se forem tomadas as medidas preventivas adequadas. Desse modo,
nenhum atleta pode permanecer em competição ou no treino com uma
lesão que sangra sem que a hemorragia esteja controlada e a lesão devida-
mente coberta por um penso.
O treinador deve informar os jovens atletas da necessidade da utiliza-
ção de preservativo em qualquer tipo de relação sexual tida com um(a)
parceiro(a), muitas vezes facilitada pelo convívio social associado à própria
atividade desportiva. Atualmente não existem parceiros(as) considerados(as) OBSERVAÇÃO E
ANÁLISE DAS
seguros(as) para não existir a proteção adequada. HABILIDADES
DESPORTIVAS

2.1.2 O EXAME MÉDICO DESPORTIVO


Uma boa forma física, adquirida na juventude e mantida ao longo da vida,
parece ser uma condição essencial para que o corpo possa funcionar sauda-
velmente na melhor das suas capacidades. A prática desportiva só deve ser
aconselhada após a realização de um exame médico desportivo. Para atletas
federados, este é obrigatório e tem uma validade anual, devendo ser realiza-
do no mês correspondente ao da data de nascimento do candidato.

O exame médico desportivo não deve ser encarado apenas como uma
mera resposta a um requisito burocrático e legal, mas sim como um ato médico
fundamental para a saúde e segurança do candidato.
De acordo com a legislação em vigor, deve ser utilizado o modelo obriga-
tório de ficha de exame de avaliação médico-desportiva, fornecido pelo
Instituto Português do Desporto e Juventude, IP.
Cada candidato deve assim fazer-se acompanhar deste modelo próprio onde
serão registadas declarações pessoais, da responsabilidade do candidato (ou
seu encarregado de educação no caso dos menores de 18 anos). Seguem-
-se os antecedentes: familiares, pessoais e desportivos. Logo de seguida
o exame objetivo com os seguintes parâmetros em avaliação: biometria e
exame ectoscópico, oftalmológico, otorrinolaringológico, estomatológico,

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abdominal, genito-urinário, cardiocirculatório e respiratório. Por fim, registo


dos exames auxiliares de diagnóstico, frequência cardíaca e tensão arterial.
Esta deve ainda ser a oportunidade para o esclarecimento de algumas
dúvidas sobre regras alimentares corretas, uso de medicamentos e conheci-
mento das implicações médico-legais do uso de substâncias dopantes.

O exame médico-desportivo é assim um meio de triagem


de determinadas patologias ou situações clínicas, principalmente
na população jovem, imprescindível para aferir a aptidão ou
inaptidão dos praticantes para o desempenho desportivo.

Este exame pode ser realizado por qualquer médico, mediante o preenchi-
mento do impresso próprio para a realização do exame. Se necessário ou se
existirem contraindicações deverá referenciar para um médico com formação
específica em medicina desportiva ou para os Centros de Medicina Desportiva
do Instituto Português do Desporto e Juventude, IP (Lisboa, Coimbra, Porto).
No caso dos praticantes inscritos no regime de Alto Rendimento e no caso de
sobreclassificação de um praticante desportivo para além do escalão imediatamente
superior ao correspondente à sua idade, é obrigatória a realização do exame médico
desportivo nos Centros de Medicina Desportiva de Lisboa, Coimbra ou Porto.

2.2 Principais lesões na atividade desportiva


A prática desportiva é apontada nos nossos dias como um fator muito impor-
tante para a preservação e promoção do bem-estar físico, psíquico e social
dos praticantes. No entanto, da prática desportiva não se obtém unicamente
benefícios podendo surgir determinados malefícios, principalmente quando
não são respeitadas algumas regras fundamentais. Um dos maiores riscos que
pode advir da prática desportiva é a lesão desportiva. A incidência e a preva-
lência das lesões desportivas têm vindo a aumentar nos últimos anos, ao que
não é estranho, certamente, o aumento do número de praticantes, o volume
e a intensidade das cargas de treino e o aparecimento de desportos radicais,
entre outros.

22
ESTILOS DE VIDA SAUDÁVEIS
LESÕES DESPORTIVAS/PRIMEIROS SOCORROS

As lesões macrotrau-
máticas são típicas
das atividades envol-
vendo contacto físico,
como nas modalida-
des coletivas ou des-
portos de combate, e/
ou caraterizadas por
gestos explosivos e
que requerem atividade
gestual complexa.

2.2.1 LESÕES MACROTRAUMÁTICAS


As lesões macrotraumáticas são originadas por um agente agressor de alta
energia que provoca lesão das estruturas orgânicas, porque a sua energia é OBSERVAÇÃO E
ANÁLISE DAS
superior à capacidade de resistência do tecido lesado. São lesões, em geral, de HABILIDADES

fácil diagnóstico, pois instalam-se de forma aguda e perceciona-se facilmente DESPORTIVAS

uma relação entre o agente agressor e o aparecimento da lesão.


As fraturas ósseas, as entorses e as luxações articulares, as roturas musculares
e tendinosas são exemplos deste tipo de lesões.

2.2.2 LESÕES MICROTRAUMÁTICAS


As lesões microtraumáticas, ou também chamadas de sobrecarga, são ori-
ginadas por um agente agressor de baixa energia, que não provoca lesão
de imediato, porque a sua energia é inferior à capacidade de resistência
dos tecidos orgânicos. O seu estabelecimento é assim insidioso, motiva-
do por microtraumatismos de repetição inerentes a gestos desportivos
estereotipados e frequentes. Os tecidos orgânicos vão assim sendo pro-
gressivamente «alvejados» por microvibrações que os vão deteriorando.
Estes respondem com uma reação inflamatória rebelde ao tratamento, que
provoca limitação da capacidade funcional, fazendo com que o praticante
não consiga treinar e competir, ou o consiga com grandes limitações.
A génese deste tipo de lesões não é facilmente percetível pois é difícil
de entender que a dor que aparece num tendão num determinado mo-
mento do tempo resultou de agentes agressores que atuaram durante me-
ses ou mesmo anos antes de a lesão começar a dar os primeiros sintomas.
Por outro lado, os diversos técnicos ligados ao fenómeno desportivo
têm dificuldade em reconhecer a importância dos múltiplos fatores que
podem contribuir para a sua génese. Estas lesões exigem, para o seu trata-

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mento e prevenção, uma multiplicidade de cuidados, desde os nutricionais


até ao próprio equipamento desportivo, passando pelas condições atmos-
féricas, morfotipo, entre outros.

Na génese das lesões microtraumáticas aplica-se na íntegra a mensagem


de um velho ditado popular:

“ÁGUA MOLE EM PEDRA DURA TANTO DÁ ATÉ QUE FURA“

As lesões microtraumáticas são típicas das modalidades ditas de alto


impacto que pressupõem um gesto desportivo estereotipado e repetido
envolvendo o contacto com agentes agressores geradores de microvibra-
ções (solo duro, contacto da bola de ténis com a raquete, entre outros).
A corrida, a dança aeróbia de alto impacto e o ténis são exemplos de mo-
dalidades que predispõem os seus praticantes a este tipo de lesões.
As fraturas de fadiga (ou também intituladas de stress) e as lesões infla-
matórias de sobrecarga (tendinites, periostites, bursites, sinovites, ligamen-
tites, etc.) representam exemplos de lesões microtraumáticas.

2.2.3 LESÕES DESPORTIVAS


Feridas cutâneas
As feridas cutâneas são lesões macrotraumáticas que consistem na existên-
cia de uma solução de continuidade na superfície cutânea.

As feridas cutâneas podem ser classificadas quanto à sua profundidade:

- superficiais, se só atingem as - profundas, se atingem estru-


camadas da pele e o tecido
subcutâneo; ou turas mais profundas como os
músculos, tendões, ligamentos,
etc. Estas são geralmente graves.

Em relação à sua configuração, as feridas cutâneas podem ainda ser classificadas:

- erosivas, geralmente provocadas pela fricção da pele contra uma superfície


rugosa (campo de futebol pelado, por exemplo). Provocam hemorragias em
«toalha» e são dolorosas pois deixam as terminações nervosas em contacto
com fatores agressivos do meio ambiente;
- incisas, provocadas por um agente cortante (faca, vidro, por exemplo), apre-
sentando bordos regulares e ausência de perda de substância;
- contusas, provocadas por um agente não cortante, apresentando bordos
irregulares e com perda de substância (pele, tecido celular subcutâneo,
tecido muscular, entre outros);
- inciso-contusas, apresentando zonas incisas associadas a zonas contusas.

24
ESTILOS DE VIDA SAUDÁVEIS
LESÕES DESPORTIVAS/PRIMEIROS SOCORROS

Esta última classificação é muito útil, pois estes diversos tipos de feridas têm
diferentes formas de aplicação dos primeiros socorros.

Uma ferida pode apresentar complicações:

- hemorragia, mais ou menos grave - infeção, que pode ser local ou


conforme o calibre e o tipo do vaso disseminar-se à distância por
(artéria ou veia) seccionado. Uma outros tecidos ou órgãos.
hemorragia proveniente de uma
artéria pode levar a uma perda
volumosa e repentina de sangue, OBSERVAÇÃO E
ANÁLISE DAS
pondo em risco a vida do atleta; HABILIDADES
DESPORTIVAS

Hemorragias
As hemorragias surgem geralmente na atividade desportiva associadas a
feridas cutâneas. Podem-se manifestar por diversos graus de intensidade,
desde hemorragias em «toalha», quando pequenos e múltiplos capilares
são lesados numa ferida erosiva, até hemorragias em jato, quando um vaso
de maior calibre é seccionado. A hemorragia pode também ser interna,
quando é lesado um vaso que se encontra num interior de uma cavidade
(hemorragias intra-abdominal, intratorácica, intracraneana).


Como se manifesta uma hemorragia interna?
As hemorragias internas manifestam-se por dor de intensidade progressiva referida a uma cavi-
dade (craniana, torácica, abdominal, entre outras) após traumatismo das mesmas acompanha-
das de palidez e aumento da frequência cardíaca. Nessas situações, o atleta deverá ser enviado
com urgência para um centro hospitalar acionando o 112.

Hematoma subcutâneo ou muscular


Um hematoma é uma lesão macrotraumática que consiste numa coleção
de sangue, a nível de um órgão ou tecido, confinada a um espaço limitado.
O hematoma resulta sempre de uma rotura de um vaso, que ao não poder

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libertar o sangue para o exterior, forma um hematoma confinado a um


espaço limitado. Na atividade desportiva, os hematomas mais frequentes
são os musculares, que acompanham as roturas musculares ou que são
originados por ação contundente direta (joelhada na coxa, por exemplo) e
os subcutâneos, geralmente por traumatismos diretos.
Manifestam-se numa fase inicial por dor local e pela existência de uma
massa que pode ser visível se o hematoma é superficial, e apenas palpável
se este for profundo. O atleta geralmente refere impotência funcional por
dor, ao solicitar aquela região.

Imagem de um hematoma
muscular numa ecografia.
Deveremos limitar ao máximo o volume do hematoma, pois quanto maior
este for, mais será a cicatriz resultante da sua cura (fibrose), constituída por
tecidos menos elásticos do que o tecido muscular normal e sem as capa-
cidades contráteis deste. Uma fibrose de grandes dimensões e/ou pouco
funcional origina dor com o movimento e a possibilidade de ocorrência
de nova lesão muscular na zona de interseção entre a fibrose e o tecido
muscular adjacente, após a retoma da atividade desportiva.

Cãibra muscular
A cãibra muscular é uma contração muscular involuntária e sustentada de um
músculo. A sua causa, na maioria das vezes, é desconhecida, mas pode resultar
de alterações iónicas (baixo nível sanguíneo de sódio, cloro ou magnésio),
défice de hidratação muscular, isquemia muscular, entre outros.
Manifesta-se por um espasmo muscular doloroso com impotência funcional.
Deveremos executar um estiramento lento, suave, progressivo e suficientemente
prolongado no tempo, do músculo afetado. Se o estiramento for executado
bruscamente, arriscamo-nos a lesar o músculo. Se a cãibra persistir ou repetir,
o atleta deverá interromper a competição ou o treino. De seguida podem ser
tomadas outras medidas: aplicação de calor húmido (saco de água quente ou
toalha quente) durante 10-15 minutos na zona dolorosa, hidromassagem e
hidratação com bebida energética contendo hidratos de carbono e minerais.

26
ESTILOS DE VIDA SAUDÁVEIS
LESÕES DESPORTIVAS/PRIMEIROS SOCORROS

Contratura muscular
A contratura muscular é uma situação provocada por uma contração localizada de
algumas fibras musculares, que se perpetua no tempo (horas ou dias), em resposta
a uma agressão local que na maior parte das vezes é de origem metabólica (fadiga
localizada) ou mecânica (estiramento muscular súbito).
Manifesta-se pelo surgimento de dor e sensação de «cãibra» localizada na massa
muscular durante a atividade desportiva, mais frequentemente do tipo excêntrica,
resultando alguma impotência muscular (por exemplo, dor durante a marcha ou
corrida), dor ao estiramento muscular, à contração resistida e na palpação do músculo.
À palpação sente-se uma zona «empastada» sob a forma de uma pequena massa
de limites pouco precisos. Como iremos ver, esta sintomatologia é idêntica à de uma
micro-rotura, onde existe uma agressão tecidular geralmente provocada por um
agente agressor de maior energia com lesão de algumas fibras musculares.
A micro-rotura acompanha-se de uma contratura das fibras musculares intactas
na sua zona envolvente. Assim, numa fase inicial, é difícil, muitas vezes mesmo para
um médico, o diagnóstico diferencial entre micro-rotura e contratura muscular.
Só a evolução clínica ao longo do tempo poderá ajudar o médico a fazer o diagnósti-
co definitivo pois enquanto a contratura muscular evolui favoravelmente para a cura OBSERVAÇÃO E
ANÁLISE DAS
nas primeiras 24/48 horas, na rotura muscular os sintomas mantêm-se ao longo de HABILIDADES

vários dias. Em caso de dúvida, devemos tratar a contratura muscular como se fosse DESPORTIVAS

uma micro-rotura, com as quatro medidas do RICE e enviar o atleta o mais rapida-
mente possível ao médico. A continuação da atividade física sem consulta prévia de
um médico não deve ser aconselhada, pois pode originar o agravamento da lesão.

Rotura muscular/rotura do tendão


A rotura muscular é uma lesão macrotraumática que pode resultar de
dois mecanismos principais:
- ação contundente direta de tipo compressivo, quando um agente traumático
comprime o músculo contra o osso, como, por exemplo, através de uma DIVERSOS FATORES PODEM
joelhada na coxa; PREDISPOR À ROTURA MUS-
- rotura por estiramento súbito e excessivo de um grupo de fibras muscula- CULAR, COMO, POR EXEMPLO:
res, ocasionada pela contração concêntrica súbita e violenta do músculo aquecimento insuficiente;
n

agonista, resultando rotura do antagonista, ou pela contração excêntrica do défice de hidratação;


n

próprio músculo que se lesa, numa travagem ou desaceleração rápida. desequilíbrio muscular entre
n

agonistas e antagonistas ou
As roturas podem classificar-se da seguinte forma: encurtamento do músculo
- micro-rotura – rotura apenas de algumas fibras musculares, atingindo por défice de trabalho em
uma zona muito limitada do músculo; atividade excêntrica;
- rotura muscular parcial – em que há uma rotura de maior ou menor falta de flexibilidade;
n

dimensão, mas sem seccionar por completo o músculo; lesões musculares anteriores
n

- rotura muscular total – em que há uma rotura total da massa muscular (por exemplo, fibroses).
com afastamento total dos dois topos musculares.

27
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
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A micro-rotura
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Na rotura muscular parcial o praticante desportivo sente uma dor violenta


no músculo com a sensação de que algo «rasgou», resultando impotência
manifesta-se pela funcional, dor ao estiramento muscular e à contração resistida. A sintoma-
sintomatologia referida tologia será tanto mais evidente quanto maior for a dimensão da rotura.
À observação podemos constatar mesmo uma depressão na superfície
para a contratura cutânea, no local da lesão.
muscular. Na rotura muscular total, o atleta sente uma dor muito violenta com
a sensação de que levou uma pedrada ou foi atingido com uma bola de
golfe no local da lesão, tem impotência funcional total e podem observar-
-se duas massas resultantes da retração dos topos musculares com uma
depressão entre elas.

Na rotura muscular total, a evolução da intensidade da dor é enganadora!


A dor na rotura muscular total representa um sintoma enganador, pois apesar de ser muito violenta no mo-
mento de ocorrência da lesão, alivia rapidamente dando ao atleta uma falsa noção de ausência de gravidade
da lesão. O alívio da dor deve-se ao facto de, após a rotura muscular total, não terem restado fibras musculares
íntegras no local da lesão. Só elas poderiam despertar dor por estimulação dos seus recetores da dor durante o
seu estiramento.

O treinador ou o atleta deverão, em qualquer destas situações, executar as


quatro medidas do RICE, devendo o atleta ser enviado ao médico o mais
precocemente possível. Nos casos das rotura muscular parcial e total o
atleta deverá ser enviado imediatamente a uma urgência hospitalar.
Qualquer que seja o tipo de rotura há sempre a formação de um he-
matoma ou a ocorrência de uma hemorragia. Os primeiros cuidados (RICE)
são muito importantes na evolução e na recuperação de uma rotura, ao
limitarem ao máximo as dimensões do hematoma. É verdade que é a partir
dos elementos sanguíneos do hematoma que se vai dar início ao processo
de cicatrização, mas também é verdade que quanto mais volumoso ele
for, maior será a fibrose cicatricial resultante, com todos os malefícios que
dela podem resultar. Por mais pequena que uma rotura seja, o processo de
cicatrização tem uma evolução natural que não pode ser acelerada, e assim
uma retoma precoce da atividade antes do 15.º dia pode trazer malefícios
ao praticante desportivo. Deverá haver uma avaliação constante do lesio-
nado por parte do médico durante a recuperação. A retoma da atividade
desportiva será por decisão médica.

28
ESTILOS DE VIDA SAUDÁVEIS
LESÕES DESPORTIVAS/PRIMEIROS SOCORROS

Nas roturas do tendão, os sintomas e cuidados iniciais a seguir pelo pratican-


te desportivo ou pelo treinador são idênticos aos das roturas musculares.
Se a rotura total do tendão é tão evidente e limitante que leva rapidamente
o praticante desportivo ao médico, o mesmo não acontece nas pequenas
roturas parciais do tendão, onde a lesão é frequentemente negligenciada
pelo praticante desportivo e/ou pelo treinador, resultando daí lesões infla-
matórias crónicas que muitas vezes põem em causa o futuro do praticante.

Rotura de tendão do bícep.


OBSERVAÇÃO E
ANÁLISE DAS
Fraturas ósseas HABILIDADES

As fraturas ósseas são lesões macrotraumáticas que resultam de uma força DESPORTIVAS

exterior exercida sobre o osso, que ultrapassa a capacidade de resistên-


cia do mesmo. Neste tipo de fraturas, essa força é intensa e exercida de
uma forma aguda, sendo facilmente percetível a relação causa/efeito. Nas
fraturas de fadiga ou de stress essa força não é de grande intensidade, mas
resulta de uma sobrecarga mecânica repetida, que deteriora progressiva-
mente a estrutura óssea, conduzindo à fratura após meses ou anos de ação
do agente agressor.
O diagnóstico das fraturas traumáticas é, na maioria dos casos, fácil
pois resulta deformação, edema, dor e impotência funcional no local da
lesão, após um traumatismo violento.
As fraturas de fadiga são de difícil diagnóstico, pois manifestam-se por
uma dor, geralmente de longa duração, que se vai instalando progres-
sivamente sobre a superfície óssea, inicialmente apenas no decurso da
atividade desportiva e sem sinais radiológicos de fratura.

Para suspeitar de uma fratura de fadiga torna-se fundamental pensarmos nela!


Numa fratura de fadiga, temos de ter não só a sintomatologia já referida mas também a sua localização numa
região anatómica sujeita a impactos de repetição. Não pensaremos numa fratura de fadiga numa dor com
aquelas caraterísticas na mão de um corredor de fundo, mas torna-se obrigatório pensarmos dela se se tratar
de um ginasta.

29
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As fraturas são lesões graves pois não lesam apenas o osso mas também,
com maior ou menos intensidade, os tecidos moles circundantes (tendões,
músculos, ligamentos, nervos, vasos e a pele). Assim, as fraturas podem
classificar-se da seguinte forma:

- fraturas não complicadas;


- fraturas complicadas de ferida, se a ferida existente junto à fratura resul-
tou de um agente traumatizante externo e não está em contacto com o
foco da fratura;
- fratura exposta, quando os topos ósseos perfuram os tecidos moles,
incluindo a pele, resultando uma exteriorização dos topos ósseos e um
contacto direto do foco de fratura com o exterior;
Fratura de esforço da tíbia.
- fratura/luxação, quando a fratura é acompanhada de luxação articular.

Para evitar a lesão secundária das partes moles, o atleta deve ser imobi-
lizado o mais precocemente possível. Deve ser imobilizado o segmento
fraturado e as articulações acima e abaixo deste. Por isso, o praticante deve
ser reencaminhado com brevidade para uma urgência hospitalar.

Luxação articular
A luxação articular é uma lesão macrotraumática que resulta de uma força
externa violenta exercida sobre uma articulação, ocasionando uma perda
de contacto das superfícies articulares uma em relação à outra. A luxação
será completa se existir uma perda total do contacto entre as superfícies
articulares, ou parcial, se existir ainda algum contacto entre as mesmas
(sub-luxação). Uma luxação pressupõe sempre a existência de uma lesão
dos ligamentos e/ou da cápsula articular, de outras estruturas articulares
ou mesmo uma fratura óssea. A luxação pode ter caráter recidivante, se a
sua ocorrência se repete frequentemente, motivada por lassidão da cáp-
sula e ligamentos articulares, acompanhada ou não de insuficiência dos
músculos periarticulares. São típicas as luxações recidivantes do ombro
(gleno-umeral) e rótula (femuro-patelar). A luxação articular manifesta-se
por dor, deformação local, impotência funcional e edema.

30
ESTILOS DE VIDA SAUDÁVEIS
LESÕES DESPORTIVAS/PRIMEIROS SOCORROS

Os atletas e os treinadores subestimam a gravidade de algumas luxações articulares.


Um voleibolista ou um basquetebolista tem uma luxação articular num dos dedos da mão, por
instinto faz uma manobra de autorredução por tração do dedo em causa e tudo parece ter voltado
ao normal. O dedo tem alguma dor à mobilização e apresenta edema junto à articulação visada
mas mantém a sua capacidade funcional. O atleta fica descansado e não procura o médico.
A observação clínica por um médico é fundamental para afastar lesões associadas dos liga-
mentos e/ou da cápsula articular, de outras estruturas articulares ou mesmo de uma fratura
óssea, e para definição da estratégia terapêutica.

Perante uma luxação, o atleta ou o treinador deverão executar as quatro medidas


englobadas no RICE, realizada uma imobilização. A redução (recolocação das
superfícies articulares no seu local anatómico) só deve ser realizada por pessoal
médico. O atleta será enviado imediatamente para uma urgência hospitalar.

Entorse articular
A entorse articular resulta de uma ação traumática, levando a que a articulação OBSERVAÇÃO E
ANÁLISE DAS
faça um movimento para além da sua amplitude fisiológica, sem, no entanto, HABILIDADES

ocasionar uma perda de contacto permanente das superfícies articulares, ou DESPORTIVAS

seja, uma luxação articular. Surgem sempre lesões da cápsula articular, dos
ligamentos e/ou das cartilagens articulares. Podem surgir igualmente lesões
meniscais, caso a articulação em causa os possua (joelho, por exemplo).
A entorse articular pode ser mais ou menos grave, consoante a gravidade
das lesões surgidas a nível das estruturas articulares. Manifesta-se por dor,
edema e equimose locais e impotência funcional.

31
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU I

ESQUEMA ILUSTRANDO UMA LESÃO RADIAL E UMA POSSÍVEL


INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

EVOLUÇÃO PARA LESÃO COMPLEXA

Corte radial Corte radial Progressão para Progressão para


pequeno grande lesão tipo “flap” lesão complexa

“Flap” “Flap” Duplo “flap” Menisco discóide

Lesão periférica Lesão periférica Lesão horizontal Lesão horizontal


reparada deslocada

ESQUEMA DE LESÃO LONGITUDINAL E POSSÍVEL EVOLUÇÃO PARA


ALÇA DE BALDE

Diversos tipos de lesões


meniscais. Lesão longitudinal Lesão em alça de balde Lesão em alça de balde
sem deslocamento deslocada

Os sinais e sintomas são habitualmente tanto mais intensos quanto mais


grave é a lesão. Por exemplo, um edema exuberante e de aparecimento
precoce e uma equimose extensa e de aparecimento igualmente precoce
representam sinais de gravidade. No entanto, a dor na rotura ligamentar
total representa um sintoma enganador pois apesar de ser muito violenta
no momento de ocorrência da lesão alivia rapidamente dando uma falsa
noção de ausência de gravidade da lesão ao atleta. O alívio da dor deve-
-se ao facto de, após a rotura ligamentar total, não terem restado fibras
ligamentares íntegras no local da lesão que possam despertar dor por
estimulação dos seus recetores da dor durante o seu estiramento.

O atleta e o treinador deverão executar as quatro medidas


englobadas no RICE e enviar o atleta lesionado o mais rapi-
damente possível para uma urgência hospitalar.

32
ESTILOS DE VIDA SAUDÁVEIS
LESÕES DESPORTIVAS/PRIMEIROS SOCORROS

Lesões inflamatórias de sobrecarga


Estas lesões inflamatórias são lesões microtraumáticas que resultam geralmente
de uma sobrecarga de determinadas estruturas orgânicas, ocasionadas pela repe-
tição de um gesto desportivo estereotipado, acompanhada ou não de incorre-
ções ou anomalias do mesmo. Podem ocorrer nos tendões (tendinites), inserções
tendinosas (insercionites), bolsas serosas (bursites), ligamentos (ligamentites) e
periósteo (periostite), entre outros. O sufixo «ite» designa inflamação. Estas lesões
inflamatórias podem ser agudas, crónicas ou crónicas agudizadas. O seu diagnós-
tico e tratamento na fase aguda são fundamentais, pois a sua evolução para a
cronicidade ocasiona muitos problemas aos praticantes desportivos, chegando
por vezes à necessidade de abandono da atividade desportiva.

UMA TENDINITE AGUDA DO TENDÃO DE AQUILES MANIFESTA-SE POR:


- dor intensa no tendão que impossibilita o treino e dificulta a marcha;
- acompanhada de edema, calor e rubor (vermelhidão no tendão);
- dor ao estiramento e à palpação do tendão; OBSERVAÇÃO E
- a dor no tendão afetado inicialmente aparece apenas na fase inicial ANÁLISE DAS
HABILIDADES
do treino; pouco depois a dor aparece durante todo o treino e, por fim, DESPORTIVAS
mesmo em repouso.

Após o início da sintomatologia, o atleta deverá realizar crioterapia e repouso e


consultar rapidamente o seu médico assistente, colaborando com o mesmo no “NAS LESÕES
cumprimento integral do tratamento.
O atleta e o treinador dificilmente percebem que a génese desta lesão, que se
INFLAMATÓRIAS
manifestou subitamente num determinado momento, tenha começado muito pro- DE SOBRECARGA O
vavelmente há anos pela associação de microtraumatismos de repetição, gerados ATLETA E O TREINA-
pelo próprio treino desportivo, e outros fatores de risco que não foram devidamente DOR TÊM UM PAPEL
controlados ou eliminados. Se o atleta consultar um médico de imediato e seguir
FULCRAL NA SUA
com todo o rigor o tratamento prescrito, tem grandes probabilidades de atingir a
cura total. O tratamento terá de passar pelo repouso daquela região anatómica,
EVOLUÇÃO PARA A
o que não quer dizer que o atleta não possa fazer natação, por exemplo, de modo a CRONICIDADE."
preservar a sua condição física, e pela prescrição de terapêutica medicamentosa e do
foro da medicina física e de reabilitação. Torna-se fundamental eliminar ou controlar A palavra de ordem é:
todos os fatores de risco envolvidos na génese da tendinite, o que por vezes não
“TRATEMOS BEM AS
é uma tarefa fácil. Se o atleta não cumprir com rigor os tratamentos prescritos, se
retomar precocemente a atividade desportiva ou se não eliminar ou controlar todos
AGUDAS, DE FORMA
os fatores de risco envolvidos na génese da lesão, esta terá tendência a recidivar A EVITARMOS AS
sobre a forma de outra tendinite aguda. A ocorrência de diversos episódios agudos CRÓNICAS“.
no mesmo tendão conduzirá à cronicidade da lesão.

33
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU I
INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

Na tendinite crónica, o tendão já nunca consegue voltar à sua estrutura


histológica habitual, pois aparecem focos de fibrose e de calcificações no seu
interior, o que o fragiliza e predispõe para a rotura total ou parcial do tendão.
São muito típicas as roturas totais do tendão de Aquiles em ex-praticantes de
basquetebol ou voleibol. Estes ex-atletas têm uma tendinite crónica fruto da
sua atividade desportiva no passado e, ao fazerem um jogo de confraterniza-
ção entre ex-praticantes, surge um estiramento súbito do tendão fragilizado
num corpo que pesa mais 20 kg. A tendinite crónica manifesta-se da mesma
forma da aguda mas de uma forma muito menos exuberante. O tendão dói
de manhã ao sair da cama mas geralmente permite o treino e está ligeira-
mente edemaciado, ficando quente e mais edemaciado após o treino ou
competição, sintomas e sinais que revertem após crioterapia e repouso.
Em cima de uma tendinite crónica pode sempre enxertar-se uma tendini-
Xerografia evidenciando uma in- te aguda, resultando dessa forma uma tendinite crónica agudizada, que se
sercionite do tendão de Aquiles. manifesta de forma idêntica à tendinite aguda. A cada agudização, o tendão
vai ficando mais fragilizado e com mais alterações na sua histologia.
A cronicidade de uma lesão desportiva leva a que atleta nunca mais
consiga cumprir com rigor o planeamento de treino idealizado pelo seu
treinador pois está sempre condicionado pela lesão. Deveremos, por isso,
tratar de forma eficaz as fases agudas evitando que as lesões evoluam para
a cronicidade. Estas lesões têm uma causa multifatorial, com um contribu-
to muito importante do atleta e do treinador na sua resolução.

Que atitude se deve tomar quando uma lesão inflamatória de sobrecarga


é muito rebelde ao tratamento?
Nestes casos, equipa médica, treinador e atleta, entre outros, devem procurar um fator de risco que não foi ainda detetado,
controlado ou eliminado.

As considerações que acabámos de fazer relativamente ao tendão


aplicam-se às outras estruturas anatómicas onde podem aparecer lesões
inflamatórias de sobrecarga.

Bursa
supraprepatelar

Bursa prepatelar
inflamada
Ressonância magnética Bursa infrapatelar
nuclear do joelho evidenciando
uma bursite crónica agudizada Bursa susartorial
pré-patelar.

34
ESTILOS DE VIDA SAUDÁVEIS
LESÕES DESPORTIVAS/PRIMEIROS SOCORROS

Traumatismos cranianos e vertebro-medulares


Estas lesões macrotraumáticas podem ocorrer durante a atividade desportiva,
devendo o treinador e o atleta conhecer os seus sintomas e os primeiros
cuidados a ter.
Qualquer atleta que sofra um traumatismo craniano, com ou sem perda
de consciência, deve ser enviado a um centro hospitalar. No entanto, alguns
sinais e sintomas podem anunciar a gravidade da situação, podendo ocor-
rer imediatamente ou horas ou dias após o traumatismo craniano:

n deformações na cabeça;
n perda de consciência;
n perda de memória;
n náuseas ou vómitos;
n diminuição da força muscular nos membros superiores e/ou inferiores;
n «formigueiros» nos membros;
n cefaleias violentas;
n alterações visuais (diplopia).
OBSERVAÇÃO E
ANÁLISE DAS
Estes sintomas e sinais anunciam-nos que algo de grave se está a passar
Tanto nos HABILIDADES

no interior da cavidade craniana e que o praticante desportivo deve ser DESPORTIVAS

transportado o mais rapidamente para uma urgência hospitalar, acionan- traumatizados


do-se o 112.
cranianos com nos
Nos traumatismos vertebro-medulares podem existir fraturas da
coluna vertebral sem lesão da medula espinhal, que, no entanto, pode ser vertebro-medulares
secundariamente lesada, por um levantamento ou transporte inade- deveremos
quados do sinistrado. Assim, em qualquer atleta com traumatismo da
coluna vertebral deverão ser pesquisados os seguintes sinais e sintomas controlar o pulso
indicadores de gravidade: e a respiração
n diminuição ou ausência de movimentos nos membros inferiores (lesões
até à chegada da
medulares baixas) ou nos quatro membros (lesões medulares altas); emergência médica.
n «formigueiros» nos membros;

n dor ou deformação na coluna.

Se algum destes sinais estiver presente devemos deixar o atleta no chão, em


superfície dura e este só deve ser removido por pessoal especializado do
Instituto Nacional de Emergência Médica (112), que o transportará a uma
urgência hospitalar.
Tanto nos traumatizados cranianos com nos vertebro-medulares devere-
mos controlar o pulso e a respiração até à chegada da emergência médica.

35
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU I

2.3 Fatores de risco de lesão desportiva


INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

O médico e os profissionais de saúde em geral devem ser pessoas a que


recorremos cada vez mais para receber aconselhamento e não apenas
porque estamos doentes ou lesionados.

Lesão desportiva, uma questão de sorte ou azar?


Ouvimos com uma certa frequência alguns praticantes e outros agentes desportivos referirem que se lesionaram por
terem tido azar. Na maioria dos casos, a lesão desportiva não ocorre por uma questão de sorte ou azar, mas porque
existem fatores de risco que condicionaram o seu aparecimento.

A divulgação desses fatores de risco de lesão desportiva é fundamental


para a implementação de estratégias visando a sua prevenção, tal como
acontece com os fatores de risco de doenças cardiovasculares.
Antes de iniciarmos a descrição dos fatores de risco de lesão desportiva,
pensamos ser importante definir três níveis de prevenção.

• Prevenção primária - todos os cuidados visando minimizar ou anular a


possibilidade de ocorrência de lesões desportivas.
• Prevenção secundária - tem como principal objetivo o diagnóstico preco-
ce e o tratamento correto, a instituir o mais cedo possível, visando desta
forma curar ou minimizar os efeitos negativos da lesão, evitando eventuais
complicações e sequelas, encurtando o período de incapacidade.
• Prevenção terciária - trata basicamente da prevenção da cronicidade e
da recidiva das lesões desportivas e da reinserção do atleta lesionado na
prática da atividade desportiva após a ocorrência de uma lesão.

Os fatores de risco de lesão desportiva podem dividir-se em três grupos


principais:

fatores de risco intrínsecos, que estão relacionados com caraterísticas


1 do próprio indivíduo;

2 fatores de risco extrínsecos, que estão relacionados com caraterísticas


do meio envolvente;

fatores de risco relacionados com a atividade específica, que englobam


3 diversos fatores de risco específicos de determinados tipos de atividade
desportiva.

36
ESTILOS DE VIDA SAUDÁVEIS
LESÕES DESPORTIVAS/PRIMEIROS SOCORROS

Nos fatores intrínsecos iremos abordar:


1 n avaliação das contraindicações médicas;

n idade e o sexo;

n condição física e o domínio da tarefa;

n morfotipo e composição corporal;

n fatores psicológicos e sociológicos.

Nos fatores extrínsecos iremos abordar:


2 n condições atmosféricas;

n equipamento;

n planeamento do treino;

n local de treino e instalações desportivas;

n higiene física.

2.3.1 INTRÍNSECOS
AVALIAÇÃO DAS CONTRAINDICAÇÕES MÉDICAS OBSERVAÇÃO E
ANÁLISE DAS
Determinadas anomalias orgânicas ou situações clínicas podem repre- HABILIDADES

sentar contraindicações absolutas ou relativas para a prática da atividade DESPORTIVAS

desportiva.
Em relação às contraindicações relativas, por exemplo, um indivíduo
com uma dismetria acentuada dos membros inferiores (existência de
membro inferior mais comprido que o outro), não deverá realizar corrida,
por esta condicionar uma maior incidência de lesões osteo-músculo-arti-
culares dos membros inferiores e do tronco.
A ideia que gostaríamos que ficasse bem clara é que o exame de avaliação
médico-desportivo não se faz apenas para cumprir um mero ato administra-
tivo. Todos os agentes ligados ao fenómeno desportivo deverão contribuir
para que esse exame seja realizado por um médico competente e que este
execute o mesmo com rigor. Infelizmente, muitas vezes este é encarado
como um ato administrativo, que é chato, que demora tempo e que de
nada serve. Nada de mais errado, pois como iremos demonstrar, o referido
exame poderá ser muito importante como, por exemplo, na prevenção de
lesões desportivas.

37
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU I
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PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

A medição do peso, da estatura e das massas gorda e muscular corporal


e a sua comparação com valores de outros exames anteriores, pode ser
muito importante para o diagnóstico precoce de excesso de peso e sua
correção, através de estratégias de educação nutricional e modificação
do planeamento de treino. Todos sabemos que o excesso de peso pode
predispor o atleta para um aumento das lesões osteo-músculo-articulares
(ossos, músculos, tendões e articulações), principalmente do foro micro-
traumático, por maior sobrecarga dessas estruturas orgânicas.

O diagnóstico de alterações morfológicas do sistema osteo-articular ou


muscular, como por exemplo dismetria dos membros inferiores, esco-
lioses, cifoses, joelhos e retropés valgos ou varos, pés cavos ou planos, é
igualmente importante, pois estas situações, se não forem compensadas
ou corrigidas, podem predispor à lesão desportiva.

Exemplos de impressões
plantares de pé normal (II),
pé plano (III e IV) e pé cavo (I).

Os exames da visão são muito importantes, pois as aferências sensoriais são


fundamentais na execução ideal do gesto desportivo, quer na sua aprendizagem,
quer na sua correção, quer ainda nos mecanismos de defesa do nosso organismo,
no momento em que ocorre uma situação gestual que predisponha à lesão des-
portiva. Para nos darmos conta da importância da visão no equilíbrio, basta-nos
fechar os olhos quando tentamos manter-nos sustentados apenas num dos pés,
para percecionarmos como tudo se torna mais difícil. Os défices visuais e auditivos
não são situações raras na avaliação de atletas e a sua correção é fundamental na
prevenção da lesão desportiva e na otimização do rendimento físico e psíquico.

A realização do exame estomatológico (dos dentes e da cavidade bucal) é funda-


mental, pois sabemos como a cárie dentária e a infeção dentária que a acompa-
nha podem predispor para o aparecimento e lesões músculo-tendinosas. Por
outro lado, a falta de peças dentárias pode originar modificações na dinâmica das
articulações temporo-mandibulares (articulações que permitem o encerramento
e a abertura da boca), que provocam alterações nos estímulos partidos dos seus
mecanoreceptores, com as consequentes alterações no sistema propriocetivo, de
correção gestual que podem predispor à lesão e condicionar o rendimento físico.

38
ESTILOS DE VIDA SAUDÁVEIS
LESÕES DESPORTIVAS/PRIMEIROS SOCORROS

Por tudo o que se disse, pensamos poder concluir que o principal


interessado na existência e no rigor do exame de avaliação médico-
-desportivo é o próprio atleta. As atitudes dos diversos agentes ligados ao
fenómeno desportivo, tentando fugir ou menosprezar o referido exame, são
por isso contraproducentes e maléficas para aqueles que as praticam, muito
particularmente para o atleta.

IDADE E SEXO
Os macro e microtraumatismos de repetição ao nível de um osso em cresci-
mento, geralmente motivados por exageros ou incorreções na metodologia
do treino nos jovens, condicionam a que estes sejam mais predispostos a
lesões osteo-músculo-articulares.
Teoricamente, os mais idosos deveriam estar mais sujeitos a lesões de-
generativas articulares e tendinosas, motivadas pela ação microtraumática
repetitiva sobre estruturas com fenómenos degenerativos. OBSERVAÇÃO E
ANÁLISE DAS
As mulheres, devido à sua menor massa muscular, estão mais sujeitas a HABILIDADES

lesões osteo-articulares por menor suporte a nível articular. Por outro lado, DESPORTIVAS

determinadas diferenças anatómicas entre o homem e a mulher como, por


exemplo, uma maior largura da bacia condicionando um joelho valgo fisiológico
no sexo feminino, predispõem para lesões dos membros inferiores, tais como
lesões meniscais e ligamentares a nível das articulações do joelho.
Em termos de cuidados preventivos deveremos ter a preocupação que o
tipo, a intensidade, a duração e a frequência do exercício, sejam adaptados à
idade e ao género dos atletas. Deveremos impedir, por exemplo, que um jovem
de 10 anos utilize a máquina de musculação para fortalecimento das suas mas-
sas musculares ou que um idoso com lesões degenerativas dos joelhos utilize
exercícios de alto impacto geradores de microvibrações, como a corrida.

39
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GRAU I
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CONDIÇÃO FÍSICA E DOMÍNIO DA TAREFA


Quanto melhor for a condição física dos atletas e quanto melhor estes do-
minarem a atividade gestual da atividade em causa, menor predisposição
terão para a ocorrência de lesões osteo-músculo-articulares.
Os atletas, após períodos de inatividade por doença ou férias, são mais
vulneráveis a lesões desportivas, já que qualquer período de paragem
conduz a uma diminuição da condição física, com as inerentes diminuições
da força muscular, da capacidade de transporte de oxigénio e do metabo-
lismo oxidativo celular, bem como da integração do movimento a nível do
sistema nervoso central.
O domínio da tarefa, muitas vezes descurado no treino, é fundamental
para uma boa execução do movimento segmentar ou global, levando
assim a uma menor incidência de lesões.

A aprendizagem
motora deverá ser
o objetivo principal
do treino nos
primeiros anos de
prática de qualquer
atividade desportiva,
principalmente nas
disciplinas mais
técnicas.

Em termos preventivos, o treino deverá ser orientado para a obtenção de


uma boa condição física e de um correto domínio da tarefa. O treino deverá
ser adaptado em situações de diminuição da condição física, como nas
paragens para férias ou após lesão e não deverão ser realizados exercícios
cuja técnica não seja dominada com facilidade.

MORFOTIPO E COMPOSIÇÃO CORPORAL


Cada tipo de atividade física exige, geralmente, um morfotipo particular.
Um excesso de peso, principalmente quando à custa da massa gorda corporal,

40
ESTILOS DE VIDA SAUDÁVEIS
LESÕES DESPORTIVAS/PRIMEIROS SOCORROS

condiciona uma maior sobrecarga das estruturas osteo-músculo-articu-


lares, predispondo à lesão dessas estruturas. O mesmo acontece quando
há um excesso de massa muscular corporal, à custa da musculatura não
específica, à atividade física praticada. Um défice de peso, principalmente
quando à custa da massa muscular, poderá ocasionar uma diminuição do
suporte muscular das articulações e assim aumentar a predisposição para
a lesão.
O desajustamento entre o morfotipo do atleta e a especialidade
praticada pode conduzir a uma maior incidência de lesões. Por exemplo,
um atleta endomorfo estará mais sujeito a lesões na prática da corrida de
fundo do que um ectomorfo, acontecendo o inverso quando a especiali-
dade visada é um lançamento.
Em termos de cuidados preventivos torna-se fundamental o conheci-
mento de valores de referência em termos de composição corporal ideal
para cada tipo de atividade física, com definição de peso, massas gorda
e muscular ideais. As tabelas de peso/estatura utilizadas na população
sedentária não servem, pois para além de terem sido construídas para
uma população diferente da nossa e sedentária, não definem as massas OBSERVAÇÃO E
ANÁLISE DAS
gordas e muscular. Tabela de distribuição de HABILIDADES

Se tivermos valores de referência, podemos então estabelecer progra- percentis de parâmetros DESPORTIVAS

somáticos e de composição
mas nutricionais e de exercício físico visando a obtenção de valores ideais corporal em jovens futebo-
de composição corporal, controlando a evolução da mesma com méto- listas portugueses do grupo
etário sub 14 (n=35).
dos antropométricos simples, como a medição das pregas cutâneas.

PERCENTIL ESTATURA PESO IMC MASSA MASSA


(cm) (kg) GORDA MUSCULAR
% %

10 140,7 34,0 16,8 10,9 53,4

20 144,8 37,2 17,2 11,4 55,7

30 148,2 39,2 17,7 12,8 56,7

40 149,6 40,6 17,8 14,2 57,0

50 152,3 42,7 18,4 14,9 57,9

60 155,3 44,8 18,8 16,2 59,1

70 157,3 48,6 19,2 18,1 59,3

80 162,0 52,7 19,9 19,7 61,4

90 167,1 54,5 21,7 22,0 62,0

41
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FATORES PSICOLÓGICOS E SOCIOLÓGICOS


Os fatores sociológicos, embora sejam fatores extrínsecos, são englobados
neste item com os fatores psicológicos pelo seu amplo relacionamento com estes.
Os fatores psicológicos desempenham um papel fundamental na génese das
lesões desportivas assim como na sua recuperação. Ansiedades desajustadas ao
tipo de atividade física em causa e défices atencionais, condicionados por tipos
particulares de personalidade e por antecedentes stressantes, podem originar
problemas do controlo motor e assim predispor à ocorrência de lesão.

RESPOSTA AO STRESS

Williams J.M., Andersen M.B.,


Psychosocial antecedents of
sport injury: Review and cri-
tique of the stress and injury
model. Journal of Applied Sport
Psychology, 10, 5-25, 1998.

De grande importância na manutenção de um correto equilíbrio psíquico é


o relacionamento do atleta com o meio social envolvente, particularmente a
relação com os pais, treinador e dirigentes. Assim, grandes pressões psíquicas
vindas destes, inerentes à atividade desportiva ou a interferência desta com
atividades profissionais ou escolares do atleta, acarretam aumentos conside-
ráveis dos níveis de ansiedade, predispondo desta forma à lesão desportiva.
A relação do indivíduo com a prática da atividade desportiva deve diminuir
o seu stress e não aumentá-lo como muitas vezes acontece. O atleta deverá
conhecer técnicas de controlo da ansiedade de modo a poder lidar e controlar
situações stressantes.

2.3.2 EXTRÍNSECOS
As condições CONDIÇÕES ATMOSFÉRICAS
As condições atmosféricas podem atuar como fatores predisponentes de lesões
atmosféricas podem
osteo-músculo-articulares. O frio, ao aumentar o tónus muscular e ao alterar a
atuar como fatores sensibilidade à dor, pode condicionar um aumento de risco de lesão, principal-
predisponentes de mente em atividades que exijam movimentos rápidos. O calor e, particularmen-
te a humidade, levam a uma maior sudação, condicionando um défice de água
lesões osteo-músculo- no organismo com perda das qualidades elásticas e contrácteis do músculo e do
-articulares. tendão, e da sua resistência ao estiramento, predispondo à lesão dos mesmos.

42
ESTILOS DE VIDA SAUDÁVEIS
LESÕES DESPORTIVAS/PRIMEIROS SOCORROS

A chuva, ao tornar os pisos demasiadamente escorregadios ou aderentes (lama),


pode condicionar igualmente uma maior predisposição para as lesões osteo-
-músculo-articulares.
Em termos de cuidados preventivos será importante adaptar o equipamento
às condições atmosféricas, sendo por exemplo um erro crasso realizar exercício
físico com impermeáveis quando o clima não está frio, visando uma perda de
peso, pois esta não é mais do que uma perda de água. Deverá ser evitada a
prática desportiva em determinadas condições atmosféricas e em determinados
pisos tornados impraticáveis pelas mesmas. Os cuidados de hidratação durante
e após a prática desportiva, em climas quentes e húmidos, são fundamentais.

Nos climas frios


um bom aquecimento
na fase inicial da prática
OBSERVAÇÃO E

desportiva é igualmente ANÁLISE DAS


HABILIDADES

fundamental. DESPORTIVAS

EQUIPAMENTO
O equipamento utilizado pelo praticante durante a prática da atividade
desportiva pode predispor à lesão. A utilização de calções na prática da
corrida em clima frio pode condicionar um aumento do tónus muscular
e desse modo predispor à ocorrência de lesão. A utilização de sapatos
de boa qualidade mas deteriorados pelo uso pode originar alterações
biomecânicas durante a execução do gesto desportivo e predispor igual-
mente à lesão desportiva.
Em termos de cuidados preventivos será importante a escolha criteriosa
do equipamento a utilizar, que deverá ser específico ao tipo de atividade
física praticada. Deve difundir-se informação relativa às qualidades
que deve possuir o equipamento, não sendo necessariamente o mate-
rial mais publicitado e mais caro o melhor. Deve-se ponderar sobre a

43
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PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

eventual utilização de acessórios visando uma diminuição do risco de


lesão (ligaduras funcionais, joelheiras, punhos, «cotoveleiras», palmilhas
e talonetes – calcanheiras em material absorvente, entre outros). Não es-
quecer, igualmente, que todo o material tem um tempo útil de utilização,
após o qual perde as suas caraterísticas ideais, devendo ser substituído.

Um sapato de treino em mau estado de conservação é equivalente a


uma anomalia anatómica em termos de predisposição para lesões.

LOCAL DE TREINO E INSTALAÇÕES DESPORTIVAS


O local de treino ou de prática desportiva, quando inadequado ou em mau esta-
do de conservação, pode predispor o praticante à lesão. O piso do local de treino é
muito importante. Um relvado muito verde e bonito mas com irregularidades na
sua superfície térrea pode originar entorses da tibio-társica ou do joelho, o mesmo
acontecendo num piso demasiadamente aderente, como acontece em alguns
pavilhões onde se pratica andebol, basquetebol ou voleibol. A corrida em pisos de
alcatrão pode originar uma maior predisposição para lesões microtraumáticas.
A existência de obstáculos ou a inexistência de material protetor no local de treino
pode causar problemas. Uma barreira esquecida no meio de uma pista de atletis-
mo onde se pratica velocidade espelha a nossa afirmação.
Em termos de medidas preventivas devemos informar os atletas do risco que
podem correr se utilizarem locais de treino inadequados e os responsáveis pelo
planeamento e pela construção dos locais de treino dos cuidados necessários para
a prevenção de lesões. A manutenção e a organização dos locais de treino são
igualmente primordiais.

PLANEAMENTO DO TREINO
Um deficiente planeamento do treino pode ser muito importante para a pre-
disposição à lesão desportiva.

No nosso país existe uma considerável percentagem da população que diz


praticar alguma atividade desportiva, que o faz de uma forma não organizada e,
por isso, na maior parte das vezes sem qualquer tipo de enquadramento técnico
do seu planeamento de treino por um treinador qualificado.
É frequente surgirem praticantes de musculação que se lesionam porque reali-
zam trabalho em máquinas de musculação com posturas incorretas, que levam
a erros biomecânicos na execução do gesto desportivo e assim a uma predispo-
sição para a lesão. Na corrida há um aumento do risco de lesão com o aumento
do número de quilómetros percorridos diariamente.

44
ESTILOS DE VIDA SAUDÁVEIS
LESÕES DESPORTIVAS/PRIMEIROS SOCORROS

A execução do gesto desportivo em determinadas modalidades conduz ao


aparecimento de desequilíbrios musculares e a alterações posturais que
poderão conduzir à lesão, se o treinador não tiver o cuidado de os compen-
sar através da realização de exercícios específicos realizados no trabalho de
ginásio. Na natação é frequente o desequilíbrio entre rotadores externos e
internos do complexo articular do ombro conduzindo a patologia tendinosa.
No futebol, a «pubalgia» resulta muitas vezes não só da repetição exaustiva
de um gesto estereotipado, mas também de desequilíbrios entre os múscu-
los retroversores e anteversores da bacia.
Muitos atletas esquecem-se da importância do aquecimento na fase
inicial do treino, pois subestimam a sua importância na prevenção de lesões.

!
Isto deve-se muitas das vezes ao facto de terem pouco tempo para executa-
rem o treino, preferindo abreviar ou mesmo anular o período de aquecimento.

OBSERVAÇÃO E
ANÁLISE DAS
HABILIDADES
DESPORTIVAS

Representação esquemática
de músculos anteversores e
retroversores da bacia.

Em termos preventivos podemos dizer que o planeamento do treino deve


ser estabelecido por um técnico com formação para tal, que deverá adaptar
a mesma às caraterísticas individuais do atleta, como a idade, o género,
a composição corporal, o nível de condição física, entre outros. Devem ser
respeitados os princípios básicos do treino desportivo: aquecimento, pro-
gressividade, plasticidade, volume/intensidade, alternância, continuidade,
motivação, arrefecimento, entre outros. No planeamento do treino dever-se-á
sempre ter em conta o adequado planeamento da recuperação de forma a
evitar o aparecimento de lesões desportivas.

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PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

HIGIENE FÍSICA
O repouso, o sono, a abstenção do álcool, do tabaco e das substâncias do-
pantes e uma nutrição adequada diminuem o risco de lesões osteo-músculo-
-articulares. Alterações do estado de saúde, como infeções génito-urinárias,
respiratórias superiores e abcessos e microabcessos dentários associam-se
frequentemente a lesões osteo-músculo-articulares. Já falámos da importância
de uma correta hidratação na prevenção de lesões. Um pequeno-almoço defi-
ciente do ponto de vista quantitativo ou qualitativo ou mesmo ausente pode
ocasionar estados de hipoglicémia durante o treino da manhã, levando a uma
diminuição da coordenação motora e a estados de fadiga precoce que predis-
põem ao aparecimento de lesões desportivas.
As substâncias dopantes são um fator predisponente de lesões, atuando de
diversas formas. As anfetaminas, ao mascararem a sensação de fadiga, levam o
As substâncias praticante a executar esforços para os quais o seu organismo não está prepa-
dopantes são um rado. Os agentes anabolisantes, tão em voga nos nossos ginásios, levam a uma
hipertrofia das massas musculares e desenvolvimento da força muscular, não
fator predisponente acompanhada de um aumento proporcional do tamanho e da resistência dos
de lesões, atuando de tendões, o que conduz a uma incidência aumentada de lesões tendinosas.
Em termos preventivos, para todos os praticantes, é importante a divulgação
diversas formas.
de cuidados de higiene física, em relação a todos os fatores que acabámos de
descrever e em relação aos meios favorecedores da recuperação física e psíquica.

2.3.3 ESPECÍFICOS DA MODALIDADE/ESPECIALIDADE DESPORTIVA


Cada modalidade/especialidade desportiva tem fatores de risco específicos
ligados a caraterísticas da própria modalidade e da atividade gestual inerente à
prática da mesma que o treinador conhece melhor do que ninguém.
A divulgação dos fatores de risco de lesão desportiva junto dos treinadores e o
reconhecimento por estes da sua importância na génese da lesão desportiva
são etapas essenciais para que possamos implementar programas de preven-
ção da lesão desportiva eficazes.

46
ESTILOS DE VIDA SAUDÁVEIS
LESÕES DESPORTIVAS/PRIMEIROS SOCORROS

2.4 Os primeiros socorros


O insucesso do apoio médico à população desportiva deve-se, muitas vezes,
à falta de conhecimentos elementares de traumatologia desportiva dos
treinadores e atletas.
A prevenção secundária de lesão desportiva é definida como o conjunto
de cuidados necessários a um diagnóstico precoce e a um tratamento correto,
a instituir o mais cedo possível, visando desta forma curar ou minimizar a
lesão, evitando eventuais complicações e sequelas e encurtando o período
de incapacidade.

Os cuidados relacionados com a prevenção secundária


de lesão desportiva não são realizados ou são realizados
tardiamente por diversas razões. OBSERVAÇÃO E

1. O atleta ou o treinador, por deficientes conhecimentos de traumatologia desportiva,


ANÁLISE DAS
HABILIDADES
DESPORTIVAS
subvalorizam a lesão continuando a sua atividade desportiva, realizando tratamentos
«caseiros» inadequados e consultando tardiamente o médico.

2. A deficiente cobertura do nosso país, em termos de traumatologia desportiva, leva a


que o atleta tenha dificuldade em encontrar um médico especializado para lhe resolver
o problema, recorrendo aos cuidados de pessoal não preparado para fornecer um apoio
especializado.

3. O atleta consulta o médico especializado, mas não executa os tratamentos prescritos ou


as modificações a nível do plano de treino recomendadas.

Torna-se por isso fundamental que o atleta e o treinador tenham conhe-


cimentos elementares de traumatologia desportiva, de forma a não só
saberem reconhecer os diversos tipos de lesão e a sua gravidade, mas tam-
bém a atuarem precocemente, instituindo alguns cuidados elementares de
tratamento. Por exemplo, numa rotura muscular é fundamental o tratamento
instituído nas primeiras 24 horas, o qual, se adequado, pode minimizar os
danos lesionais; acontece precisamente o inverso, se os cuidados realizados
forem inadequados. Como o atleta na maior parte das vezes não tem acesso
ao médico nas primeiras 24 horas, deverá estar habilitado a realizar os pri-
meiros cuidados elementares de tratamento.

47
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2.4.1 NAS FERIDAS CUTÂNEAS


Recordemos que em relação à sua configuração, as feridas cutâneas podem
ainda ser classificadas:

Esta última classificação é muito útil, pois estes diversos tipos de feridas exigem,
no que toca a medidas de primeiros socorros, formas de atuação diferentes.

Qualquer que seja o tipo de ferida, os primeiros passos no tratamento são


geralmente idênticos.

1. Lavagem abundante com água corrente, ou idealmente com soro fisiológi-


co, procurando retirar corpos estranhos (terra, pedaços de madeira, vidros,
entre outros), transportando microrganismos fonte de infeção e coágulos
de sangue que dificultem a observação do local preciso de origem da
hemorragia. Mesmo que exista hemorragia abundante, a lavagem deve
realizar-se para obtenção dos objetivos atrás referenciados.

2. Se existir hemorragia devemos realizar, no local de origem da hemorragia,


uma compressão prolongada com compressa esterilizada através de
compressão manual ou por ligadura elástica colocada em torno da com-
pressa. A utilização de um garrote só muito raramente está indicada.

3. Após debelada a hemorragia, devemos desinfetar a ferida com um antisséptico,


sendo a polividona iodada (Betadine – solução dérmica®) a mais utilizada. O an-
tisséptico deve ser aplicado abundantemente com o auxílio de uma compressa
esterilizada. Idealmente, a compressa deve ser manipulada com uma pinça es-
terilizada, mas na ausência desta deve ser manipulada com o auxílio dos dedos
que, segurando na compressa através das pontas, executam um cogumelo com
a mesma. A desinfeção deve iniciar-se na região central da ferida seguindo-se
a região periférica de modo a evitarmos contaminar o centro da ferida com os
microrganismos vindos dos bordos da ferida, que representam a zona eventual-
mente mais contaminada da mesma. Se tivermos de voltar à região central da
ferida, devemos utilizar uma nova compressa embebida em antisséptico.

48
ESTILOS DE VIDA SAUDÁVEIS
LESÕES DESPORTIVAS/PRIMEIROS SOCORROS

4. De seguida iremos executar o penso que tem caraterísticas diferentes segundo


o tipo de ferida.

- Nas feridas incisas, contusas e inciso-contusas devemos aplicar uma


compressa esterilizada sobre a ferida, fixando a mesma com uma ligadura
elástica ou com adesivo. A ligadura deve ser compressiva se ainda persistir
alguma hemorragia. O atleta deve ser enviado para um centro médico para
ser observado.
- Nas feridas erosivas, que geralmente libertam um «soro» nas primeiras
horas, não podemos utilizar um penso com compressa seca, pois o referido
soro ao secar faz a ferida aderir à compressa, surgindo a recidiva da mesma
ao levantar o penso. As feridas erosivas, se não têm hemorragia e estão lo-
calizadas em regiões que não sofram a ação erosiva do vestuário, devem ser
deixadas sem penso, pois o soro ao secar forma uma superfície protetora
das mesmas. Caso contrário, deve ser realizado um penso com compressa
gorda (comprada na farmácia ou executada através de embebimento de
uma compressa seca com vaselina esterilizada), e posteriormente proceder
como se tratasse de uma ferida incisa. OBSERVAÇÃO E
ANÁLISE DAS
HABILIDADES

Nas feridas erosivas não deve ser utilizada a «pele plástica» para proteção DESPORTIVAS

da mesma, pois provoca um isolamento da ferida com acumulação de soro


por baixo dela, favorecendo a infeção. A pele plástica só deve ser utilizada a
nível hospitalar ou na fase final do processo cicatricial de uma ferida cutânea
quando queremos proteger a mesma durante a prática de modalidades des-
portivas que envolvam contacto com a água. O atleta e o treinador também
não devem utilizar sulfamidas em pó ou agentes cicatrizantes em pó ou
pomada, nos diversos tipos de feridas.
O socorrista deve utilizar luvas protetoras durante a realização das medi-
das supracitadas.
Devemos relembrar a necessidade de os atletas se encontrarem devida-
mente vacinados contra o tétano, pois a infeção tem origem muitas vezes
Nas feridas erosivas não
em feridas contaminadas com o agente do tétano. deve ser utilizada a “pele
plástica“ para proteção
2.4.2 NAS LESÕES OSTEO-MÚSCULO-ARTICULARES
A grande maioria das lesões osteo-músculo-articulares manifesta-se por fenóme- da mesma, pois provoca
nos hemorrágicos (hemorragia, hematoma, entre outros) e por sinais inflamató- um isolamento da
rios. A inflamação consiste num conjunto de manifestações (edema, dor, rubor e
calor) que representam uma resposta dos tecidos orgânicos a uma agressão. ferida com acumulação
As medidas de RICE (Rest, Ice, Compression, Elevation) são muito importantes de soro por baixo dela,
para que as manifestações hemorrágicas e inflamatórias possam ser devidamente
controladas. Tanto os fenómenos hemorrágicos como os inflamatórios represen-
favorecendo a infeção.
tam uma resposta benéfica do nosso organismo a uma agressão. É a partir de

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células (fibroblastos) que se encontram no sangue existente a nível da lesão


que se produzem fibras de colagéneo dando início ao processo cicatricial
conducente à formação da fibrose, por exemplo. Dessa forma, o objetivo da
aplicação das medidas de RICE não é eliminar os fenómenos hemorrágicos
e inflamatórios mas apenas controlá-los, pois se ultrapassam determinados
limites passam a ser contraproducentes.
Nas lesões inflamatórias de sobrecarga, após o início da sintomatologia,
o atleta deverá realizar crioterapia e repouso e consultar rapidamente o seu
médico assistente, colaborando com o mesmo no tratamento. Estas lesões
têm uma causa multifatorial, com um contributo muito importante do atleta
e do treinador na sua resolução.

Após a ocorrência de uma lesão osteo-músculo-articular como, por exemplo,


uma rotura muscular, o atleta deve:

1. Aplicar imediatamente gelo, através


da aplicação de um saco de gelo sobre
o hematoma (crioterapia), durante 10
2. Realizar uma ligadura compressiva atra-
vés da utilização de uma ligadura elástica,
que deve ser colocada, em espinha, em
a 15 minutos, e repetir esta aplicação torno do membro no local do hematoma.
de 2 em 2 horas durante as primeiras Esta ligadura deve permanecer nas pri-
24 horas. Esta manobra visa criar uma meiras 48 horas e visa evitar o agrava-
constrição dos vasos locais evitando o mento do hematoma. Pode ser retirada
agravamento do hematoma. para a realização da crioterapia. No entan-
to, a crioterapia pode ser realizada sobre a
ligadura compressiva, aumentando, como
é óbvio, o tempo de aplicação da mesma.

3. Realizar repouso local, através do uso


de canadianas no caso de uma lesão de
qualquer segmento do membro inferior,
4. Elevar o membro lesado para facilitação
do retorno venoso evitando o edema.

ou do uso de um cabresto (dispositivo


para colocação do braço ao peito) no caso
de se tratar de um membro superior.
No caso de se tratar de uma lesão, que
não possa ser imobilizada por um dos
dois mecanismos citados anteriormente,
teremos de recorrer à imobilização no
leito. Este repouso visa igualmente o não
agravamento do hematoma.

50
ESTILOS DE VIDA SAUDÁVEIS
LESÕES DESPORTIVAS/PRIMEIROS SOCORROS

Após a realização das medidas RICE, o atleta deve ser enviado, o mais
brevemente possível, a um médico ou a uma urgência hospitalar conforme
a gravidade da lesão pois podem ter de ser tomadas medidas urgentes.

Nas fraturas ósseas e nas luxações articulares de forma a evitar a lesão


secundária das partes moles, o atleta deve ser imobilizado o mais precoce-
mente possível. A imobilização deve abranger o segmento fraturado e as
articulações acima e abaixo deste.

Na ausência de pessoal qualificado, o socorrista pode utilizar diversos


tipos de imobilizações, consoante a localização da fratura, para que o pra-
ticante desportivo se possa dirigir de imediato a uma urgência hospitalar:

OBSERVAÇÃO E
ANÁLISE DAS
Talas HABILIDADES

São fabricadas geralmente em madeira e recobertas com algodão e liga- DESPORTIVAS

dura de gaze ou elástica. São colocadas no membro a imobilizar e fixadas


com ligadura elástica, de modo a que não garrotem o membro se o edema
aumentar. Utilizam-se em fraturas dos membros (região tibio-társica,
perna, coxa, punho, antebraço e braço). Podem igualmente ser metálicas
(talas de Zimmer) para imobilização dos dedos da mão, pois são facilmente
moldáveis e fixadas com ligadura elástica.

Cabresto
É uma imobilização por suspensão do membro superior para imobilização
provisória de fraturas da cintura escapular.

Não se deve tentar


alinhar a fratura. Essa tarefa
é exclusiva do pessoal médico
e paramédico, pois manobras
intempestivas poderão originar
lesões graves das partes moles.

51
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Perante uma luxação, o atleta ou o treinador não devem tentar realizar a redução
da luxação (recolocação das superfícies articulares no seu local anatómico), pois
esta manobra só deve ser realizada por pessoal médico.
De forma a podermos entender a utilidade da aplicação do gelo na fase
aguda das lesões desportivas, recordemos os efeitos orgânicos da terapia
pelo frio (crioterapia) e das suas diferentes formas de aplicação. A utilização
da crioterapia na fase aguda de múltiplas lesões traumáticas deve-se aos
seguintes efeitos orgânicos:

VASOCONSTRIÇÃO COM AÇÃO ANALGÉSICA


DIMINUIÇÃO DO EDEMA E DAS COM COMBATE À DOR
HEMORRAGIAS LOCAIS

O GRAU DE ARREFECIMENTO MUSCULAR PROVOCADO PELA CRIOTERAPIA


DEPENDE DE DIVERSOS FATORES:

n da camada adiposa da resposta vasocons-


n do perímetro do mem-
n da duração da criote-
n do tipo de aplicação da
n

subcutânea – quanto tritora ao arrefeci- bro – quanto maior o rapia – quanto maior crioterapia – o arrefeci-
maior esta for, menor mento cutâneo, que perímetro, menor é o a duração, maior é o mento conseguido por
o arrefecimento; varia de indivíduo para arrefecimento; arrefecimento; um banho de imersão
indivíduo; em água fria é maior
que o conseguido com
a aplicação do gelo
diretamente sobre a
pele, por exemplo.

Temos de levar em atenção a profundidade da lesão e/ou os meios de


contenção utilizados. A aplicação de crioterapia deve ser mais prolongada
quando a lesão muscular, por exemplo, for profunda ou quando exista uma
ligadura a imobilizar a zona lesada.

52
ESTILOS DE VIDA SAUDÁVEIS
LESÕES DESPORTIVAS/PRIMEIROS SOCORROS

O treinador ou o atleta podem utilizar as seguintes formas de aplicação de


crioterapia:

Saco de gelo
Representa talvez o método mais utilizado a nível domiciliar. Consis-
te num recipiente contendo gelo, idealmente triturado ou partido,
para aumentar a adaptabilidade do saco à zona a tratar. O recipiente
pode ser um saco de plástico, uma toalha ou um recipiente especial
para gelo. Deve evitar-se o contacto direto do saco com a superfície
cutânea, pelo risco de queimadura. Se o saco estiver imóvel devemos
utilizar uma toalha para proteção da pele. Se desejarmos realizar apli-
cações rápidas sem a utilização de uma toalha, e para proteção da pele,
podemos executar pequenos movimentos com o saco fazendo variar
a zona arrefecida. A duração da aplicação varia entre 10 e 20 minutos,
segundo a gravidade e a profundidade da lesão, a espessura do tecido
adiposo subcutâneo e o tipo de contenção utilizado.

OBSERVAÇÃO E
Sacos de gel frio
ANÁLISE DAS
Que contêm uma substância gelatinosa com propriedades anticongelantes HABILIDADES

de modo a que o saco se possa moldar, adaptando-se facilmente à zona DESPORTIVAS

anatómica a tratar, o que representa uma vantagem em relação à aplicação


do saco de gelo. Em contrapartida apresentam um efeito menos duradouro
que o do saco de gelo. Necessita de um congelador para ser armazenado
entre as utilizações pois é reutilizável. Representa um método de aplicação
de crioterapia muito prático e acessível. A técnica de utilização é semelhante
à utilizada com o saco de gelo.

Toalhas geladas
As toalhas são imersas em água com sal (500 gramas de sal para 5
litros de água) e posteriormente congeladas. São aplicadas durante 5
minutos.

Sacos de frio químico


São pequenos sacos constituídos por uma porção sólida e outra líquida
ou gasosa que quando se misturam, ao apertarmos o saco, produzem
uma reação química geradora de frio. São práticos para o uso em am-
bulatório pois obviam a existência de uma fonte geradora de frio, mas
são caros, e o arrefecimento obtido é muito limitado no tempo, não são
reutilizáveis e podem provocar queimaduras químicas se o saco estiver
danificado. A técnica de utilização é semelhante à utilizada com o saco
de gelo.

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Imersão em água fria ou água com gelo


É de fácil execução a nível domiciliar e muito utilizada, principalmente no
tratamento das extremidades. No entanto, é por vezes difícil de tolerar pelos
doentes, principalmente se a água estiver muito fria. Com este método o arre-
fecimento dos tecidos profundos é mais rápido e mais duradouro. O tratamento
deverá durar entre 10 e 15 minutos e a água deve estar entre 4°C e 10°C. Se o
arrefecimento estiver a ser intolerável, fazem-se breves interrupções entre as
imersões.

Massagem com gelo


É de fácil execução e extremamente eficaz, mas é preciso avisar o doente que
pode haver um aumento momentâneo da dor na fase inicial do tratamento,
que é normal e não provoca qualquer tipo de problema. Deve ter uma dura-
ção de 5 a 10 minutos e aplica-se em lesões superficiais dos tendões, bolsas
sinoviais e ligamentos, através de pequenos movimentos circulares sobre a
pele. Nas lesões musculares a aplicação deverá ser mais prolongada, cerca de
15 minutos.

Os sprays “milagrosos“ podem ser utilizados?


Os sprays frios, tão utilizados em situações de lesão durante a atividade
desportiva, não devem ser utilizados para a realização de crioterapia
quando integrada nas medidas de RICE, pois produzem apenas um
efeito analgésico muito rápido e potente não originando a desejada
vasoconstrição. Podem ser utilizados para combate rápido da dor sur-
gida durante a atividade desportiva se tivermos a certeza que esta não
resulta de uma lesão grave impeditiva da realização dessa atividade.
Cuidado, pois podem provocar queimaduras, devendo o jato do spray
ser aplicado a cerca de 30 centímetros de distância da zona da superfí-
cie corporal a atingir.

A crioterapia está contraindicada nas lesões isquémicas periféricas, na


intolerância ou alergia ao frio, nas vasculites, em situações de défice da sen-
sibilidade cutânea à dor e em feridas cutâneas abertas. De modo a evitarmos
queimaduras através da aplicação de crioterapia devemos parar a aplicação
quando surgirem parestesias (sensação de formigueiro ou dormência na
pele). O risco de queimadura pode ser minimizado evitando o contacto dire-
to da forma de aplicação de crioterapia com a superfície cutânea e limitando
a duração da mesma.

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ESTILOS DE VIDA SAUDÁVEIS
LESÕES DESPORTIVAS/PRIMEIROS SOCORROS

Em resumo, quanto mais intensas forem a dor e o edema, mais frequente deve
ser a aplicação da crioterapia. Devemos respeitar o tempo máximo de aplica-
ção para cada tipo de crioterapia, mas podemos repetir o tratamento várias
vezes ao dia. A crioterapia executada com um tempo de aplicação superior ao
aconselhado pode ser prejudicial, pois a partir de uma certa altura deixa de se
produzir a vasoconstrição desejada, surgindo uma vasodilatação reativa. Todas
estas formas de frio podem ser usadas nas fases agudas da grande maioria das
lesões desportivas, ou na fase tardia das mesmas no combate à dor.

As medidas do RICE devem aplicar-se


durante as primeiras 24 horas da fase aguda
das lesões desportivas. No entanto, se os
fenómenos hemorrágicos e/ou a inflamação
não estiverem controlados, devemos prolongar OBSERVAÇÃO E

a aplicação dessas medidas até às 48 horas ou ANÁLISE DAS


HABILIDADES

mesmo, por vezes, até às 72 horas. DESPORTIVAS

2.4.3 NOS TRAUMATISMOS CRANIANOS E VERTEBRAIS


Se o traumatizado craniano estiver inconsciente, devemos colocá-lo em posi-
ção lateral de segurança para evitar uma aspiração de um eventual vómito.
O traumatizado vertebro-medular não pode ser colocado em posição lateral
de segurança pois isso poderia levar à lesão medular. Em alternativa, os trau-
matizados vertebro-medulares a nível lombar e dorsal deverão ser colocados
em decúbito dorsal com a rotação da cabeça e do pescoço para um dos lados
minorando os efeitos de um eventual vómito. Nos traumatizados vertebro-
-medulares a nível cervical nem isso podemos fazer, devendo mantê-los em
decúbito dorsal.
Se o sinistrado estiver consciente, deve permanecer imobilizado em
decúbito dorsal, quer tenha um traumatismo craniano quer um traumatismo
vertebro-medular e esperar nessa posição pela emergência médica.

Posição lateral de segurança.

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Medidas a tomar numa perda de consciência


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As perdas de consciência podem dever-se a múltiplas causas e podem acon-


tecer durante a atividade desportiva. Dentro das causas que podem motivar
PERDA DE
CONSCIÊNCIA uma perda de consciência citamos:

perda de consciência curta, causada na maior parte das vezes por uma descarga do sistema
LIPOTIMIA SIMPLES parassimpático, motivada por uma emoção forte, pela observação de situações desagradáveis,
ou de sangue, entre outras.

quando um traumatismo craniano se associa a uma perda de consciência, mesmo que pouco
TRAUMATISMO CRANIANO
duradoura, tem geralmente gravidade, e deve inspirar cuidados.

PROBLEMAS RESPIRATÓRIOS por afogamento ou crise asmática, por exemplo.

PROBLEMAS CARDÍACOS por enfarte do miocárdio ou arritmia cardíaca, por exemplo.

por hipoglicémia ou hiperglicemias em diabéticos ou por excesso de ingestão de álcool, por


PROBLEMAS METABÓLICOS
exemplo.

COMA HIPOVOLÉMICO por hemorragias graves com grande perda de sangue e anemia aguda.

DESIDRATAÇÃO E GOLPE DE CALOR

EM CASO DE DÚVIDA
ACIONAR SEMPRE O 112 Como vimos, algumas destas causas podem ocorrer durante a atividade
desportiva e, assim, o atleta e o treinador devem estar preparados para as so-
correr. Perante um atleta inconsciente, o socorrista deve fazer a avaliação dos
sinais vitais e iniciar as manobras de suporte básico de vida, se necessárias e
se estiver habilitado a realizá-las.
Um armário ou uma mala de primeiros socorros devem ter, no mínimo
os seguintes materiais:

UMA EMBALAGEM DE SORO FISIOLÓGICO; LIGADURAS ELÁSTICAS DE DIVERSAS DUAS TALAS DE ZIMMER® PARA
UMA EMBALAGEM DE BETADINE® DIMENSÕES; IMOBILIZAÇÃO DE FRATURAS DOS DEDOS
SOLUÇÃO DÉRMICA; ROLOS DE GAZE TUBULAR DE DIVERSAS DA MÃO;
UMA EMBALAGEM DE ÁLCOOL; DIMENSÕES; UM DISPOSITIVO PARA SUSPENSÃO DE
VÁRIAS EMBALAGENS DE COMPRESSAS LIGADURA FUNCIONAL ELÁSTICA E NÃO BRAÇO AO PEITO;
ESTERILIZADAS DE DIVERSAS DIMENSÕES; ELÁSTICA; LUVAS DESCARTÁVEIS;
UMA EMBALAGEM DE COMPRESSAS UMA EMBALAGEM DE FITA ADESIVA; PROTETOR FACIAL DESDOBRÁVEL PARA
GORDAS; UMA TESOURA; REALIZAÇÃO DE REANIMAÇÃO CARDIOR-
UMA EMBALAGEM DE ALGODÃO; DIVERSAS PINÇAS ESTERILIZADAS RESPIRATÓRIA;
UMA EMBALAGEM DE PENSOS RÁPIDOS DESCARTÁVEIS; SACOS DE PLÁSTICO;
DE DIVERSAS DIMENSÕES; ALFINETES DE AMA; UMA EMBALAGEM DE ESPÁTULAS;
LIGADURAS DE GAZE DE DIVERSAS TALAS PARA IMOBILIZAÇÃO DE PACOTES DE AÇÚCAR.
DIMENSÕES; FRATURAS DE DIVERSAS DIMENSÕES;

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ESTILOS DE VIDA SAUDÁVEIS
LESÕES DESPORTIVAS/PRIMEIROS SOCORROS

Para finalizar, gostaríamos de salientar que, perante um situação onde haja


necessidade da intervenção do treinador em termos de primeiros socorros e
se o mesmo tiver dúvidas do que deve fazer, mais vale uma atitude passiva,
utilizando sempre o bom senso e acionando os adequados meios para socor-
rer o praticante desportivo.
Quando surge uma lesão desportiva ou uma doença, é fundamental que o
atleta recorra a uma consulta médica onde possa ser realizado um diagnóstico
correto e prescrito um tratamento adequado, que pode passar pela prescri-
ção de medicamentos ou de meios e métodos terapêuticos executados por
outros profissionais de saúde (fisioterapeutas, enfermeiros, entre outros). A
realidade é, no entanto, bem diferente pois há uma tendência para o atleta
subestimar a doença ou a lesão desportiva, não recorrendo a uma consulta
médica.
A falta de cuidados terapêuticos adequados faz com que uma lesão
aguda (rotura muscular ou entorse articular, por exemplo) de fácil tratamen-
to evolua para uma lesão crónica com todos os malefícios que daí podem
advir. O recurso a pseudo-profissionais de saúde é também frequente e gera
geralmente situações de difícil resolução. OBSERVAÇÃO E
ANÁLISE DAS
As seguintes situações necessitam de observação imediata e urgente de HABILIDADES

um médico e, por isso, o recurso a uma urgência hospitalar ou ao Instituto DESPORTIVAS

Nacional de Emergência Médica. Em caso de dúvida, e nos seguintes casos,


acionar sempre o 112:

perda de consciência, cefaleias violentas, náuseas, vómitos, vertigens,


perdas de memória, «formigueiros» ou perda de força nos membros após
um traumatismo craniano;
problemas respiratórios após uma pancada na cabeça, pescoço ou caixa
torácica;
traumatismos da coluna vertebral com ponto doloroso sobre a mesma,
«formigueiros» ou perda de força nos membros;
dores abdominais intensas;
presença de sangue na urina;
fraturas ou suspeita de fraturas;
lesões articulares, ligamentares, musculares e tendinosas graves;
lesões oculares;
feridas profundas com hemorragias;
hemorragia grave;
qualquer tipo de lesão cuja gravidade ou atitude a tomar se duvide.

De qualquer forma, um praticante desportivo deve ser sempre observado


por um médico nas 24 horas após qualquer outro tipo de lesão cujos sinto-
mas persistam ou se existirem dúvidas na atitude a tomar.

57
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GRAU I

Conclusões
INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
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O treinador deve ter uma intervenção pedagógica junto dos jovens atletas trans-
mitindo-lhe uma série de regras de higiene, que por um lado promovam a saúde
e por outro façam com que a relação do atleta com a atividade desportiva seja
salutar e sem problemas. Em suma, o treinador não deve demitir-se do seu
papel de educador principalmente junto dos mais jovens.

O treinador de jovens atletas no seu papel de educador deve abordar os cui-


dados nutricionais, a importância do sono, da higiene corporal e oral, os perigos
do álcool, do tabaco, das drogas sociais e das substâncias dopantes e os cuidados
a ter na prevenção das doenças transmitidas por contacto sexual, entre outros.

O exame médico desportivo é obrigatório para atletas federados e tem uma


validade anual. Deve ser realizado no mês correspondente ao aniversário do
praticante. É fundamental para garantir uma prática desportiva em segurança.

A incidência e a prevalência das lesões desportivas têm vindo a aumentar


nos últimos anos, ao que não é estranho, certamente, o aumento do número de
praticantes, o volume e a intensidade das cargas de treino e o aparecimento de
desportos radicais, entre outros.

O treinador tem um papel fundamental nas estratégias de identificação e en-


caminhamento correto do praticante desportivo para a equipa ou unidade
de saúde que possa fazer o diagnóstico correto e o tratamento adequado, dado o
lugar privilegiado que ocupa junto dos atletas. Para isso, necessitam de reco-
nhecer os principais tipos de lesão desportiva e reconhecer os sinais e sintomas
indicadores da sua gravidade.

As lesões macrotraumáticas são típicas das atividades envolvendo contacto


físico, como nas modalidades coletivas ou desportos de combate, e/ou carateriza-
das por gestos explosivos e que requerem atividade gestual complexa.

As lesões macrotraumáticas são originadas por um agente agressor de alta


energia que provoca lesão das estruturas orgânicas, porque a sua energia é
superior à capacidade de resistência do tecido lesado. São lesões em geral de fácil
diagnóstico, pois instalam-se de forma aguda e perceciona-se facilmente uma
relação entre o agente agressor e o aparecimento da lesão.

As lesões microtraumáticas, ou também chamadas de sobrecarga, são origina-


das por um agente agressor de baixa energia, que não provoca lesão de imediato,
porque a sua energia é inferior à capacidade de resistência dos tecidos orgânicos.
O seu estabelecimento é assim insidioso, motivado por microtraumatismos de
repetição inerentes a gestos desportivos estereotipados e frequentes.

58
ESTILOS DE VIDA SAUDÁVEIS
LESÕES DESPORTIVAS/PRIMEIROS SOCORROS

Na génese das lesões microtraumáticas aplica-se na íntegra a mensagem de


um velho ditado popular: «Água mole em pedra dura tanto dá até que fura. »

As feridas cutâneas, as hemorragias, os hematomas, as roturas musculares e dos


tendões, as fraturas ósseas, as luxações e as entorses articulares e os traumatismos
cranianos e vertebro-medulares são exemplos de lesões macrotraumáticas.

As fraturas de fadiga e as lesões inflamatórias de sobrecarga (tendinites, inser-


cionites, bursites, ligamentites, periostites, entre outras) são exemplos de lesões
microtraumáticas.

As hemorragias internas manifestam-se por dor de intensidade progressiva


referida a uma cavidade (craniana, torácica, abdominal, entre outras), após
traumatismo das mesmas acompanhadas de palidez e aumento da frequência
cardíaca. Nessas situações, o atleta deverá ser enviado com urgência para um
centro hospitalar acionando o 112.
OBSERVAÇÃO E
ANÁLISE DAS
A dor na rotura muscular total ou ligamentar total representa um sintoma HABILIDADES
enganador pois, apesar de ser muito violenta no momento de ocorrência da lesão, DESPORTIVAS

alivia rapidamente dando uma falsa noção de ausência de gravidade da lesão ao


atleta. O alívio da dor deve-se ao facto de após a rotura muscular total, por exemplo,
não terem restado fibras musculares íntegras no local da lesão. Só elas poderiam
despertar dor por estimulação dos seus recetores da dor durante o seu estiramento.

Para suspeitar de uma fratura de fadiga, torna-se fundamental pensarmos nela.


Numa fratura de fadiga temos de ter não só a sua sintomatologia habitual mas
também a sua localização numa região anatómica sujeita a impactos de repeti-
ção. Não pensaremos numa fratura de fadiga numa dor com aquelas caraterísti-
cas na mão de um corredor de fundo mas torna-se obrigatório pensarmos dela se
se tratar de um ginasta.

As entorses articulares representam as lesões desportivas mais prevalentes e


muitas vezes os atletas, os treinadores e mesmo alguns membros das equipas de
apoio médico subestimam a sua gravidade. Todas as entorses devem ser observa-
das por um médico para que seja realizado um diagnóstico correto.

Os atletas e os treinadores subestimam a gravidade de algumas luxações arti-


culares. Um voleibolista ou um basquetebolista tem uma luxação articular num
dos dedos da mão, por instinto faz uma manobra de autorredução por tração
do dedo em causa e tudo parece ter voltado ao normal. O dedo tem alguma dor
à mobilização e apresenta edema junto à articulação visada mas mantém a sua
capacidade funcional. O atleta fica descansado e não procura o médico.

59
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU I
INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

Nas lesões inflamatórias de sobrecarga, o atleta e o treinador têm um papel


fulcral na sua evolução para a cronicidade. A palavra de ordem é: «Tratemos bem
as agudas de forma a evitarmos as crónicas».

Se uma lesão inflamatória de sobrecarga é muito rebelde ao tratamento, a


equipa médica, o treinador e o atleta devem procurar um fator de risco que não
foi ainda detetado, controlado ou eliminado.

Os treinadores e os atletas devem conhecer os sinais e sintomas anunciadores de


gravidade nos traumatismos cranianos e vertebro-medulares.

Na maioria dos casos, a lesão desportiva não ocorre por uma questão de
sorte ou azar, mas porque existem fatores de risco que condicionaram o seu
aparecimento.

A divulgação dos fatores de risco de lesão desportiva é fundamental para a


implementação de estratégias visando a sua prevenção, tal como acontece com
os fatores de risco de doenças cardiovasculares.

Nos fatores de risco intrínsecos de lesão desportiva, podemos definir diversos


grupos: avaliação das contraindicações médicas; idade e o sexo; condição física
e o domínio da tarefa; morfotipo e composição corporal; fatores psicológicos e
sociológicos.

Nos fatores de risco extrínsecos de lesão desportiva, devemos distinguir


diversos grupos: condições atmosféricas; equipamento; planeamento do treino;
local de treino e instalações desportivas; higiene física.

Determinadas anomalias orgânicas ou situações clínicas podem repre-


sentar contraindicações absolutas ou relativas para a prática da atividade
desportiva.

As atitudes dos diversos agentes ligados ao fenómeno desportivo,


tentando fugir ou menosprezar o exame médico desportivo, são por isso
contraproducentes e maléficas para aqueles que as praticam, muito parti-
cularmente para o atleta.

Torna-se por isso fundamental que o atleta e o treinador tenham conhe-


cimentos elementares de traumatologia desportiva, de forma a não só
saberem reconhecer os diversos tipos de lesão e a sua gravidade, mas
também a atuarem precocemente, instituindo alguns cuidados elementa-
res de tratamento.

60
ESTILOS DE VIDA SAUDÁVEIS
LESÕES DESPORTIVAS/PRIMEIROS SOCORROS

A grande maioria das lesões osteo-músculo-articulares manifesta-se por


fenómenos hemorrágicos (hemorragia, hematoma, entre outros) e por sinais
inflamatórios. A inflamação consiste num conjunto de manifestações (edema,
dor, rubor e calor) que representam uma resposta dos tecidos orgânicos a uma
agressão.

As medidas de RICE (Rest, Ice, Compression, Elevation) são muito impor-


tantes para que as manifestações hemorrágicas e inflamatórias possam ser
devidamente controladas.

As medidas do RICE devem aplicar-se durante as primeiras 24 horas da fase


aguda das lesões desportivas. No entanto, se os fenómenos hemorrágicos e/ou
a inflamação não estiverem controlados, devemos prolongar a aplicação dessas
medidas até às 48 horas ou mesmo, por vezes, até às 72 horas.

Perante uma situação onde haja necessidade da intervenção do treinador OBSERVAÇÃO E


em termos de primeiros socorros e se o mesmo tiver dúvidas do que deve fazer, ANÁLISE DAS
HABILIDADES
mais vale uma atitude passiva, utilizando sempre o bom senso e acionando os
DESPORTIVAS
meios adequados para socorrer o praticante desportivo.

61
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU I

Autoavaliação
INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

3.
n Em que questões básicas relativas a regras de higiene deve o
treinador intervir como educador junto dos mais jovens?

n Qual a importância do exame médico-desportivo? Em que data


deve ser realizado?

n Explique o que representa a importância do papel do treinador


no momento em que ocorre uma lesão desportiva.

n Como diferencia as lesões macrotraumáticas das lesões micro-


traumáticas em termos de fatores envolvidos na sua génese?

n Dê três exemplos de lesões macrotraumáticas e de lesões micro-


traumáticas.

n Como se manifesta uma rotura muscular e quais os sinais e


sintomas indicadores de gravidade?

?
n Refira como podemos suspeitar que um atleta tem uma fratura
de fadiga. Existem modalidades onde a predisposição é maior?

n Como se manifesta uma luxação articular e em que situações há


necessidade de se recorrer a uma urgência hospitalar perante
este tipo de lesão desportiva?

n Que atitude se deve tomar quando uma lesão inflamatória de


sobrecarga é muito rebelde ao tratamento?

n Descreva os sinais e sintomas anunciadores de gravidade nos


traumatismos cranianos e vertebro-medulares.

n Ter ou não ter uma lesão desportiva depende de uma questão


de sorte ou azar?

n Por que é que o treinador por vezes identifica com mais facilida-
de os fatores de risco de doença cardiovascular do que os fatores
de risco de lesão desportiva?

n Dê exemplo de fatores de risco de lesão desportiva, intrínsecos,


extrínsecos e relacionados com atividade específica.

62
ESTILOS DE VIDA SAUDÁVEIS
LESÕES DESPORTIVAS/PRIMEIROS SOCORROS

n Dê exemplos da contribuição do exame médico desportivo na


prevenção da lesão desportiva.

n Descreva as quatro etapas que devem ser realizadas nas medi-

?
das de primeiros socorros a prestar nas feridas cutâneas.

n Descreva as medidas RICE e refira em que tipos de lesão despor-


tiva podem ser realizadas.

n Refira que diferentes formas de aplicação de crioterapia conhece


e descreva os procedimentos e cuidados inerentes à sua aplica-
ção.

OBSERVAÇÃO E
ANÁLISE DAS
HABILIDADES
DESPORTIVAS

63
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU I

Índice
INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

3.SUPORTE BÁSICO DE VIDA 65


3.1 FORMAÇÃO TEÓRICA 65
3.1.1 Avaliação 65
3.1.2 Como acionar a emergência médica? 66
3.1.3 A posição lateral de segurança 66
3.1.4 Conceitos básicos de reanimação cardiorrespiratória 66
3.1.5 A utilização de Desfibrilhadores Automáticos Externos (DAE) 69
3.2 FORMAÇÃO PRÁTICA 69

CONCLUSÕES 70
AUTOAVALIAÇÃO 70
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 113
GLOSSÁRIO 117

1. FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO

2. ESTILOS DE VIDA SAUDÁVEIS/LESÕES DESPORTIVAS/PRIMEIROS SOCORROS

3. SUPORTE BÁSICO DE VIDA

4. NUTRIÇÃO

64
SUPORTE BÁSICO DE VIDA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
1. Fazer a abordagem da vítima em segurança.
2. Diagnosticar paragem respiratória e cardiorrespiratória.
3. Aplicar corretamente o suporte básico de vida e desfi-
brilhadores automáticos externos.
4. Adquirir treino na abordagem da via aérea.
5. Adquirir treino na execução das compressões torácicas.
6. Adquirir treino na ventilação boca-a-boca e com uso
de máscara insuflador manual.

3. SUPORTE BÁSICO OBSERVAÇÃO E


ANÁLISE DAS
HABILIDADES
DESPORTIVAS

DE VIDA
3.1 Formação teórica
3.1.1 AVALIAÇÃO
Após verificação das condições de segurança do local do sinistro, iniciar a
abordagem da vítima com avaliação dos sinais vitais.

a) CONSCIENTE? b) RESPIRA? c) TEM PULSO?


Tocar suavemente nos ombros e VOS (avaliar em 10 segundos): Palpar o pulso radial. Caso
perguntar em voz alta: Sente- Ver (movimentos do tórax); seja difícil, utilizar as artérias
-se bem? Está-me a ouvir? Se Ouvir (ouvir sons respiratório); carótidas situadas no pescoço.
a vítima não responder, pedir Sentir (sentir o ar expirado). O pulso deve ser sentido com os
ajuda e continuar a avaliação. dedos indicador e médio, que
devem pressionar levemente o
local de palpação.

65
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU I
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PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

3.1.2 COMO ACIONAR A EMERGÊNCIA MÉDICA?


Ligar 112, que é o número nacional de emergência.
Seguir as instruções do operador. Não esquecendo:

!
descrever a vítima
!
descrever o local, para
!
mencionar que sabe
(idade aparente, sexo); facilitar a chegada dos executar as manobras
meios de emergência; de suporte básico de
vida.

3.1.3 A POSIÇÃO LATERAL DE SEGURANÇA


A posição lateral de segurança (deitar a vítima em decúbito lateral), deve ser
utilizada quando a vítima está inconsciente, respira e tem bom pulso, uma
vez que permite uma melhor ventilação, libertando as vias aéreas superiores.

Não deve ser realizada a posição lateral de segurança se a pessoa:


n não estiver a respirar;

n tiver uma lesão na cabeça, pescoço ou coluna;

n tiver um ferimento grave.

3.1.4 CONCEITOS BÁSICOS DE REANIMAÇÃO CARDIORRESPIRATÓRIA


Em situações de paragem cardiorrespiratória, a avaliação da vítima e o início
imediato das manobras de suporte básico de vida podem salvar muitas
vidas e reduzir as sequelas. A probabilidade de sucesso decresce 7 a 10 %
em cada minuto que passa.
Atualmente, existem evidências de que a ressuscitação cardiorrespiratória
imediata e a disfibrilhação precoce diminuem a mortalidade de doentes em
paragem cardiorrespiratória. Surge assim o conceito de cadeia de sobrevi-
vência, que traduz um conjunto de ações que ligam uma vítima de paragem
cardíaca súbita à sua sobrevivência.

Esta cadeia de sobrevivência inclui quatro «elos»:

66
SUPORTE BÁSICO DE VIDA

Cadeia de sobrevivência

1. Acesso aos meios 2. Iniciar manobras 3. Desfibrilhação 4.Suporte Avançado


de emergência de Suporte Básico precoce de Vida (SAV)
– ligar 112. de Vida (SBV) – a maioria das paragens – é uma intervenção já
– isto só se consegue se cardiorrespiratórias ocorre diferenciada tecnicamente
quem presencia a situa- devido a uma perturba- e que permite uma ventila- OBSERVAÇÃO E
ção tiver a capacidade ção do ritmo cardíaco a ção e circulação mais efica- ANÁLISE DAS
HABILIDADES
de iniciar o SBV. que se chama Fibrilhação zes, através da entubação DESPORTIVAS
Ventricular (FV). Nesta ar- da traqueia e aplicação de
ritmia, o único tratamento fármacos, permitindo as-
eficaz é a aplicação de um sim o transporte da vítima
choque elétrico externa- para o hospital de uma
mente a nível do tórax da forma mais estabilizada.
vítima.

A formação e aquisição destes conhecimentos devem estar ao alcance de


todos os cidadãos. Particularmente no desporto, torna-se essencial dotar os
treinadores destas competências, contribuindo assim para a saúde e segu-
rança da prática desportiva.

A seguir descreve-se o algoritmo de SBV no adulto. Estas sequências serão


treinadas em formação prática para o efeito.

67
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU I
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PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

ALGORITMO DE SUPORTE BÁSICO DE VIDA NO ADULTO


- sequências e ações -

68
SUPORTE BÁSICO DE VIDA

SE NÃO RESPIRA E
NÃO TEM PULSO:

Se está acompanhado:
- peça para ligar 112;
- inicie SBV.

OBSERVAÇÃO E
ANÁLISE DAS
HABILIDADES

3.1.5 A UTILIZAÇÃO DE DESFIBRILHADORES AUTOMÁTICOS EXTERNOS (DAE) DESPORTIVAS

A maior parte dos episódios de morte súbita cardíaca, resulta da ocorrência de arrit-
mias graves, nomeadamente de fibrilhação ventricular.
O único tratamento eficaz na paragem cardíaca devido a fibrilhação ventricular,
é a desfibrilhação elétrica. Existem equipamentos automáticos (desfibrilhadores),
capazes de identificar automaticamente ritmos cardíacos desfibrilháveis, com capa-
cidade para emitir informações sonoras, alertar para as condições de segurança e de
produzir descargas elétricas automaticamente. Contudo, apesar de muito seguros,
estes aparelhos de DAE, só podem ser usados por não médicos por delegação de
um médico e sob a sua supervisão (pressupõe assim que os utilizadores não médicos
terão de ter creditação para o efeito). É ao INEM, I.P., que compete licenciar a utiliza-
ção do DAE, bem como monitorizar a sua utilização. A razão desta estratégia reside
no facto de em Portugal existir ainda um grande desconhecimento das técnicas de
suporte básico de vida, tornando arriscada a utilização livre dos desfibrilhadores.

3.2 Formação prática


Os treinadores devem adquirir competências complementares/adicionais em
suporte básico de vida com desfibrilhadores automáticos externos. Existem
entidades credenciadas pelo Conselho Português de Ressuscitação e que
disponibilizam cursos nesta área. Os formandos ficam assim credenciados para a
utilização dos DAE, cumprindo as determinações do decreto-lei n.º 188 / 2009 de
12 de agosto, que estabelece as regras a que se encontra sujeita a prática de atos de
desfibrilhação automática externa – DAE, por não médicos.

69
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU I

Conclusões
INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

Em situações de paragem cardiorrespiratória, a avaliação da vítima e o


início imediato das manobras de suporte básico de vida são fundamentais
para a cadeia de sobrevivência até à chegada das equipas de emergência.

Autoavaliação

?

n Em situação de paragem cardiorrespiratória, como agir se
a vítima não respira e não tem pulso? Enumere o respetivo
algoritmo.

70
SUPORTE BÁSICO DE VIDA

OBSERVAÇÃO E
ANÁLISE DAS
HABILIDADES
DESPORTIVAS

71
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU I

Índice
INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

4.NUTRIÇÃO 73
4.1 METABOLISMO ENERGÉTICO 73
4.2 CARBURANTES UTILIZADOS NA ATIVIDADE DESPORTIVA 77
a) Hidratos de carbono 79
b) Lípidos ou gorduras 84
c) Proteínas 88
4.3 RESERVAS DE GLICOGÉNIO MUSCULAR E HEPÁTICO 92
4.4 VITAMINAS E MINERAIS 98
4.5 HIDRATAÇÃO 105

CONCLUSÕES 110
AUTOAVALIAÇÃO 111
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 113
GLOSSÁRIO 117

1. FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO

2. ESTILOS DE VIDA SAUDÁVEIS/LESÕES DESPORTIVAS/PRIMEIROS SOCORROS

3. SUPORTE BÁSICO DE VIDA

4. NUTRIÇÃO

72
NUTRIÇÃO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
1. Adquirir conhecimentos básicos sobre o metabolismo
energético e sobre os diversos carburantes utilizados
na atividade desportiva.
2. Reconhecer a importância das reservas de glicogénio
muscular e hepático na génese da fadiga desportiva.
3. Identificar a contribuição das vitaminas e minerais na
nutrição desportiva.
4. Valorizar a importância da hidratação na saúde e no
rendimento desportivo.

OBSERVAÇÃO E
ANÁLISE DAS
HABILIDADES
DESPORTIVAS

4. NUTRIÇÃO
4.1 Metabolismo energético
A unidade de energia utilizada para medir a energia que gastamos para
realizar todas as funções orgânicas é a quilocaloria, isto é, a quantidade de
calor necessária para elevar a temperatura de um litro de água de 14,5ºC a
15,5ºC. A quilocaloria é vulgarmente designada apenas por caloria.
As necessidades calóricas de um indivíduo dependem de diversos fatores:
da idade; do peso corporal; do género; da atividade física diária; do estado
psíquico; das condições climatéricas; entre outros.
A energia encontra-se armazenada no organismo sob a forma de ATP
(Adenosina trifosfato) formada a partir do ADP (Adenosina difosfato), que
se liga com um fosfato através de uma ligação de alta energia.
As unidades contrácteis dos músculos são constituídas por filamentos
grossos de miosina envolvidos por filamentos finos de actina. Os fila-
mentos de actina deslizam sobre os filamentos de miosina permitindo
dessa forma a contração muscular. A energia necessária a este processo
é fornecida pela degradação de moléculas de ATP por perda de uma
molécula de fosfato, libertando-se oito calorias, numa reação inversa à
atrás explicitada.

73
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU I
INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

A energia é produzida a partir dos macronutrientes (hidratos de carbono,


lípidos e proteínas) que ingerimos diariamente através da alimentação. Estes
carburantes são ingeridos sob a forma de estruturas complexas, mas mercê
da atuação dos sucos digestivos ao longo do aparelho digestivo, são decom-
postos em substâncias mais simples, de modo a poderem ser absorvidos pela
mucosa intestinal (camada de revestimento interno do tubo intestinal), en-
trando seguidamente na corrente sanguínea. As proteínas decompõem-se em
aminoácidos, dos lípidos resultam os ácidos gordos e dos hidratos de carbono
a glicose. Os carburantes, depois de serem absorvidos no tubo digestivo, são
transportados até às células do nosso organismo para lá se dar a sua combus-
tão, geralmente na presença de um comburente – o oxigénio, que provém
do ar que respiramos. A combustão dá-se numa estrutura ultramicroscópica a
nível celular – a mitocôndria, muito abundante nas células do tecido muscular
– através de quatro séries de reações químicas: a glicólise, a beta-oxidação,
o ciclo do ácido cítrico e a cadeia respiratória. A glicólise, a partir da glicose,
e a beta-oxidação, através dos ácidos gordos, fornecem ácido acético desti-
nado ao ciclo do ácido cítrico. Este liberta dióxido de carbono e hidrogénio a
partir do ácido acético. Os eletrões do hidrogénio são transportados na cadeia
respiratória combinando-se com o oxigénio e formando água. É nesta última
reação que se formam grandes quantidades de energia sob a forma de ATP.

Detalhes das reações da com-


bustão nas mitocôndrias.

Existem três diferentes processos de formação de energia:

ANAERÓBIO ANAERÓBIO AERÓBIO


ALÁCTICO LÁCTICO

Os dois primeiros são realizados na ausência ou défice de oxigénio e o terceiro


em presença de oxigénio.

74
NUTRIÇÃO

O metabolismo anaeróbio aláctico é utilizado fundamentalmente em


atividades de grande intensidade, explosivas e de curta duração que duram
apenas alguns segundos. Uma corrida de 100 metros ou um arremesso do
martelo no atletismo são exemplos de atividades onde este tipo de metabo-
lismo é preferencialmente utilizado. Neste tipo de metabolismo, a energia é
fornecida a partir do ATP celular e das suas reservas, existentes na célula sob
a forma de fosfocreatina. OBSERVAÇÃO E
ANÁLISE DAS
HABILIDADES

O metabolismo anaeróbio láctico é fundamentalmente utilizado em ativi- DESPORTIVAS

dades de grande intensidade mas mais prolongadas no tempo, atingindo a


sua expressão máxima em atividades intensas e com cerca de 50 segundos
de duração como, por exemplo, na corrida de 400 metros no atletismo. Neste
tipo de metabolismo, a energia é fornecida a partir da glicose e das reservas
desta existentes no glicogénio muscular. A glicose é metabolizada através
da glicólise com formação de ácido pirúvico que na ausência de oxigénio é
transformado em ácido láctico pela intervenção da desidrogenase láctica.
Desta última reação resulta a formação de duas moléculas de ATP.

No indivíduo treinado e em boa condição física, as taxas de ácido


láctico no sangue são menos elevadas, pois há um transporte de oxigénio
mais rápido e volumoso resultante do aumento do aporte sanguíneo à fibra
muscular, produzindo-se menos ácido láctico e há igualmente uma maior
utilização a nível de algumas células do nosso organismo que o utilizam.

Este facto é muito relevante pois o ácido láctico, ao conduzir a uma acidifica-
ção do meio celular, provoca uma inibição de alguns enzimas intervenientes
na glicólise, conduzindo à fadiga muscular por falta de substrato energético.

75
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU I
INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

O metabolismo aeróbio é fundamentalmente utilizado em atividades de pe-


quena e média intensidade mas muito prolongadas no tempo. As corridas de
5000/10 000 metros e a maratona são bons exemplos de atividades onde este
tipo de metabolismo é preferencialmente utilizado. Neste tipo de metabolis-
mo, a energia é fornecida a partir da glicose e das reservas desta existentes
no glicogénio muscular, mas também a partir dos ácidos gordos. A glicose
é metabolizada através da glicólise com formação de ácido pirúvico que ao
entrar no ciclo do ácido cítrico permite a formação de ATP no decurso da
cadeia respiratória. Os ácidos gordos, armazenados no músculo ou provenien-
tes das reservas de triglicéridos no tecido celular subcutâneo, são inicialmente
metabolizados através da beta-oxidação e de seguida seguem um trajeto
semelhante ao que acabamos de descrever.
Numa corrida de velocidade, depois de se esgotarem as reservas de
fosfocreatina que duram cerca de 8-10 segundos, o glicogénio muscular e a
glicose em circulação constituem as principais fontes energéticas. Este facto é
facilmente percetível porque os hidratos de carbono são os únicos nutrientes
que continuam a fornecer energia quando o oxigénio que chega aos músculos
é insuficiente em relação às necessidades. No entanto, quando a degradação
da glicose é em anaerobiose (na ausência do oxigénio), produzem-se, como
atrás referimos, duas moléculas de ATP por cada molécula de glicose metabo-
lizada, enquanto a degradação é em aerobiose (em presença do oxigénio), por
cada molécula de glicose formam-se trinta e seis moléculas de ATP. Daí que em
condições de anaerobiose se gaste muito mais glicose do que em condições
de aerobiose para se obter o mesmo trabalho muscular.
Durante o esforço há um aumento de produção das catecolaminas (adre-
nalina e noradrenalina), que são lipolíticas, facilitando assim a mobilização dos
ácidos gordos nas reservas lipídicas do tecido adiposo. O atleta treinado inicia
a utilização dos ácidos numa fase mais precoce da atividade, o que é muito
importante em termos da poupança das reservas de glicogénio muscular, que
são esgotáveis.

76
NUTRIÇÃO

Em todas as atividades, embora haja um predomínio


de um tipo de metabolismo utilizado, acaba por haver
sempre mais do que um tipo de metabolismo que dá o seu
contributo para o fornecimento da energia necessária para o
desempenho de uma determinada atividade.
O metabolismo aeróbio tem um papel importante no
pagamento da dívida de ATP e fosfocreatina gerada
nas atividades anaeróbias realizadas. Dessa forma, o
metabolismo aeróbio ocupa assim um papel essencial nas
fases de recuperação dentro da própria atividade ou fora da OBSERVAÇÃO E

atividade, no intervalo entre as mesmas. ANÁLISE DAS


HABILIDADES
DESPORTIVAS

4.2 Carburantes utilizados na


atividade desportiva
A percentagem relativa de comparticipação de cada um dos carburantes
(hidratos de carbono, lípidos e proteínas) no fornecimento energético durante
a atividade desportiva varia de acordo com diversos fatores: a intensidade do
esforço; a duração do esforço; o treino; e a alimentação.
Podemos dizer que em repouso 85% do total das necessidades energéticas
da fibra muscular são fornecidos pelos ácidos gordos, comparticipando a glicose
com os restantes 15%.
A situação modifica-se quando o músculo entre em atividade. De acordo com
o tipo de exercício (e em especial, consoante a sua intensidade e duração), o meta-
bolismo utilizará predominantemente os hidratos de carbono ou os lípidos.

77
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU I

• Exercícios de intensidade ligeira a moderada


INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

Predomínio da utilização dos ácidos gordos, havendo uma utilização da gli-


cose na fase inicial e uma utilização progressiva dos ácidos gordos nas fases
seguintes. Neste caso, o metabolismo é de predominância aeróbia.

• Exercício de intensidade elevada


Predomínio de utilização da glicose, mas com uma crescente e progressiva
utilização de ácidos gordos ao longo do esforço se este se prolonga no
tempo. Neste caso, o metabolismo é de predominância anaeróbia.

Se tomarmos como exemplo uma corrida, quanto mais curta e intensa esta
for, maior é a utilização de glicose e menor a de ácidos gordos. Inversa-
mente são gastos mais ácidos gordos se a corrida for longa e o seu ritmo
for moderado, como numa corrida de fundo, em que, conforme os quiló-
metros vão passando, aumenta a percentagem de ácidos gordos utilizados.
Com o treino vai haver uma tendência para cada vez se pouparem mais
hidratos de carbono e se utilizarem mais ácidos gordos, pois as reservas
destes são grandes, enquanto as dos hidratos de carbono podem esgotar-
-se rapidamente.

O treino regular faz aumentar o débito circulatório a nível


muscular, abrem-se novos capilares e aumenta também o
número e o tamanho das mitocôndrias nas células musculares,
facilitando assim o funcionamento muscular.

Os aminoácidos (vindos das proteínas), por sua vez, contribuem pouco no


total energético num dado trabalho muscular. O papel dos aminoácidos é
essencialmente plástico: elaboração e reparação dos tecidos. São constituin-
tes das enzimas, das hormonas, da hemoglobina dos glóbulos vermelhos;
das imunoglobulinas, que garantem a defesa do organismo contra agentes
patogénicos como vírus e bactérias; da actina e miosina, constituintes da
fibra muscular; da elastina e queratina, constituintes dos tecidos orgânicos; e
da albumina e caseína, importantes como nutrientes.
Só em casos de fome ou de exercícios físicos muito prolongados (como
ultramaratonas e provas de ciclismo durante dias seguidos), em que há
uma insuficiência de reservas e fornecimentos de hidratos de carbono
e lípidos, é que o organismo vai aos músculos buscar aminoácidos para
os utilizar como carburantes.

78
NUTRIÇÃO

a) Hidratos de carbono
Existem três categorias principais de hidratos de carbono, também vulgar-
mente conhecidos como açúcares.

1. MONOSSACÁRIDOS
• Glicose ou dextrose.
• Frutose (açúcar dos frutos).
• Galactose (entra na composição da lactose do leite).

2. DISSACÁRIDOS
(formados a partir da junção de dois monossacáridos)
• Sacarose (glicose + frutose) - existente no açúcar de cana, beterraba e mel.
• Lactose (glicose + galactose) - existente no leite.
• Maltose (glicose + glicose) - existente no malte e cereais.

3. POLISSACÁRIDOS
(formados a partir da junção de três ou mais monossacáridos)
- Polissacáridos vegetais OBSERVAÇÃO E
ANÁLISE DAS
• Amido - existente nos cereais e produtos derivados (pão, flocos, mas- HABILIDADES

sas), ervilhas, favas, feijão, batatas e outros legumes. DESPORTIVAS

• Celulose - não é absorvida a nível intestinal, mas, por conter muitas fibras,
é essencial para dar volume às fezes e dessa forma contribuir para o bom
funcionamento dos intestinos.
- Polissacáridos animais
• Glicogénio - formado por uma cadeia mais ou menos longa de molé-
culas de glicose e existente em todos os produtos animais.

Existem quatro origens possíveis para a glicose que utilizamos durante a


atividade desportiva.

1. Reservas de glicose existente nas fibras musculares, sob a forma de glicogénio.


Nenhum músculo cede as suas reservas de glicogénio a outros grupos musculares. Por
exemplo, se esgotarem as reservas de glicogénio nos músculos dos membros supe-
riores, estes não as cedem. Só o próprio músculo pode utilizar as suas próprias reservas.

2. Reservas de glicose existentes no fígado, sob a forma de glicogénio. Estas


reservas, ao contrário das anteriores, podem ser cedidas a todas as células do
organismo, principalmente às musculares e às nervosas.

3. A glicose fabricada no fígado pela neoglucogénese, que abordaremos mais adiante.

4. A glicose que pode ser ingerida durante o desenrolar da atividade física.

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O glicogénio existente nas fibras musculares e no fígado é formado a partir


da glicose que é absorvida no intestino, proveniente dos alimentos ricos
em hidratos de carbono, e que não é utilizada diretamente na combustão
celular.

A glicogénese e a
glicogenólise

A formação do glicogénio a partir da glicose chama-se glicogénese (vem


do latim e do grego: glicogeno = glicogénio + génese = formação) e ocorre
depois da ingestão de uma refeição. Inversamente, quando o organismo
precisa de glicose e se esgotou a existente em circulação no sangue, como
durante uma competição ou no jejum, as moléculas de glicose do glicogé-
nio muscular e hepático (do fígado) separam-se e liberta-se glicose, que vai
ser utilizada como carburante na combustão celular. A esta operação chama-
-se glicogenólise (lise = destruição).
O fígado pode fabricar glicose por outra via diferente da glicogénese, a
neoglucogénese (neo = novo; gluco = glicose; génese = formação).

Nesta operação (figura), a glicose forma-se no fígado a partir de:

1. GLICEROL
2. ÁCIDO LÁCTICO E PIRÚVICO
3. AMINOÁCIDOS

A neoglucogénese
(adaptado de Peronnet, F.
Le marathon)

80
NUTRIÇÃO

A neoglucogénese representa um meio fundamental para o nosso


organismo arranjar uma fonte alternativa de glicose em situações
em que a diminuição de glicose no sangue é dramática, pois as
células do sistema nervoso central têm na glicose sanguínea a sua
única fonte energética.

Nos atletas, a principal fonte de fornecimento de hidratos de carbono deve


ter origem nos hidratos de carbono complexos, os quais são, em geral,
absorvidos mais lentamente a nível intestinal, indo preencher lentamente
as reservas de glicogénio hepático e muscular. São exemplo de hidratos de
ALIMENTOS MAIS RICOS EM
carbono complexos, os existentes nomeadamente no pão, nos cereais, nas OBSERVAÇÃO E
HIDRATOS DE CARBONO ANÁLISE DAS
massas alimentícias, nas batatas, nas leguminosas e nos vegetais. n CEREAIS HABILIDADES

Os hidratos de carbono simples (açúcar de mesa, bolos, guloseimas, n BATATA


DESPORTIVAS

compotas e bebidas açucaradas) são absorvidos muito rapidamente e assim, n PÃO


além de preencherem as reservas de glicogénio, são transformados em trigli- n MASSAS ALIMENTÍCIAS
céridos e depositados no tecido adiposo, pois o tecido muscular e hepático n LEGUMES
não conseguem absorver toda a glicose posta rapidamente à sua disposição. n VERDURAS
Tradicionalmente os hidratos de carbono simples são considerados n FRUTAS
AÇÚCAR DE MESA
açúcares rápidos, isto é, rapidamente absorvidos com elevação intensa e
n

COMPOTAS
rápida da glicemia, e os hidratos de carbono complexos são considerados
n

açúcares lentos, de absorção lenta resultando daí uma menor elevação da


taxa sanguínea de glicose. No entanto nem sempre assim acontece, pois
determinados hidratos de carbono simples podem comportar-se como
complexos, sendo absorvidos lentamente (é o caso da frutose) e hidratos
de carbono complexos comportam-se como açúcares rápidos, pois são
rapidamente absorvidos como, por exemplo, os existentes nas batatas e
no pão branco.

Sabe-se igualmente que a glicemia se eleva


mais intensamente quando os hidratos de carbono
de absorção rápida são ingeridos isoladamente do
que ingeridos no conteúdo de uma refeição.

81
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Existem piores e melhores momentos para ingerir alimentos ricos


em hidratos de carbono simples?
Se quisermos ingerir hidratos de carbono de absorção rápida devemos fazê-lo idealmente depois de um
treino ou, em segunda opção, dentro de uma refeição, nunca isoladamente. Evitar assim bolos, guloseimas,
refrigerantes, mel, compotas e outros hidratos de carbono simples, no intervalo das refeições.

Na tabela que apresentamos a seguir está descrito o índice glicémico de


alguns alimentos. Este índice utiliza-se para medir a rapidez de absorção
dos hidratos de carbono a nível intestinal. Quanto mais alto é, maior a rapi-
dez de absorção do hidrato de carbono em causa. Os amidos, quando são
cozidos, tornam-se açúcares mais rápidos. É o que acontece com a cenoura
e a beterraba, por exemplo.

ALIMENTOS ÍNDICE GLICÉMICO ALIMENTOS ÍNDICE GLICÉMICO


% %
CEREAIS LEGUMES
Pão branco 69 Beterraba 64
Pão completo 72 Cenoura 92
Arroz branco 72 Batata 80
Esparguete 50 Nabo 72
Corn Flakes® 59 Favas 79
Milho 59 Ervilhas 51
Feijão branco 29
FRUTOS Lentilhas 29
Maçã 39
Bananas 62 LACTICÍNIOS
Laranja 40 Iogurte natural 36
Sumo de laranja 46 Leite inteiro 34
Uvas 64 Sorvete 36

AÇÚCARES SIMPLES DIVERSOS


Frutose 20 Mel 87
Glicose 100 Mars® 68
Sacarose 59

82
NUTRIÇÃO

Da análise da tabela conclui-se que os produtos lácteos não levam,


geralmente, a grandes aumentos de glicemia, assim como os gelados,
embora um gelado que leve muito açúcar ou um iogurte muito açucarado
o possa fazer. As maçãs, as lentilhas, o feijão e as massas alimentícias têm
igualmente um baixo índice glicémico. A banana, a cenoura, a batata, as
favas, as uvas, o mel, o pão e o arroz comportam-se como açucares mais ou
menos rápidos.
Os atletas deverão evitar os alimentos com alto índice glicémico no
intervalo das refeições. No entanto, após treinos ou competições em que
houve esgotamento das reservas de glicogénio, o atleta deverá ingerir
alimentos contendo hidratos de carbono com alto índice glicémico, para
que essas reservas sejam respostas rapidamente.

No nosso país consomem-se hidratos de


carbono simples em demasia, sendo essa uma OBSERVAÇÃO E
ANÁLISE DAS
das causas da elevada prevalência de excesso de HABILIDADES
DESPORTIVAS
peso/obesidade na população portuguesa.

Se o atleta desejar ingerir hidratos de carbono simples deve preferir tomá-


-los a seguir a um treino onde gastou reservas de glicogénio muscular ou
no final de uma refeição principal. É muito diferente tomar um café com
açúcar e um bolo a seguir ao almoço ou no intervalo das refeições, sem
outros alimentos. No último caso, grande parte dos açúcares vão ser depo-
sitados sob a forma de gordura no tecido adiposo.
Não nos devemos esquecer de evitar o «açúcar disfarçado» que a
sociedade de consumo e a publicidade nos tentam impingir todos os dias.
Estão neste grupo os bolos, os chocolates, as guloseimas, os refrigeran-
tes (laranjadas, colas, gasosas, entre outros), iogurtes muito açucarados,
geleias, compotas, mel, entre outros.
As fibras são polissacáridos que existem nos cereais (principalmente
nos integrais), frutos, leguminosas, tubérculos e outros vegetais. Têm
funções de suporte nas plantas permitindo a sua posição ereta e dão maior
resistência às camadas exteriores de frutos, cereais e leguminosas.
Nas sociedades ocidentais, as dietas são pobres em fibras pois deixámos
de ingerir alimentos ricos em cereais integrais e ingerimos pouca fruta e
legumes. Daí talvez a existência de elevados índices de diabetes, obstipa-
ção, colesterol sanguíneo elevado e tumores intestinais.

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b) Lípidos ou gorduras
A maior parte dos lípidos encontra-se no nosso organismo sob a forma de triglicé-
ridos. Cada molécula de triglicérido é constituída por três ácidos gordos e um gli-
cerol. São os ácidos gordos que irão ser utilizados diretamente como carburantes.
Estes ácidos gordos têm um elevado potencial energético, pois da combus-
tão de 1 grama dos mesmos obtêm-se 9 quilocalorias, enquanto da combustão
de 1 grama de glicose ou aminoácidos resultam somente 4 quilocalorias. O uso
da energia dos ácidos gordos pelo organismo não é económico, pois por cada
caloria obtida a partir dos ácidos gordos gasta-se muito mais oxigénio do que em
igual caloria obtida a partir dos glúcidos. Por isso, com os ácidos gordos, não con-
seguimos um rendimento muscular tão eficaz como com os hidratos de carbono.

Os lípidos são mais abundantes no leite e seus derivados


(manteiga, queijo, cremes, entre outros), nos óleos vegetais, nas carnes
(mesmo nas magras), nos ovos, nozes e outros frutos secos, entre outros.

Os ácidos gordos podem ser saturados ou insaturados. Os saturados


existem, sobretudo, nas gorduras de origem animal (carne, ovos, leite e
derivados). Os insaturados são habitualmente de origem vegetal (óleos de
amendoim, milho, girassol, soja, azeite, entre outros.). Por sua vez os ácidos
gordos insaturados podem dividir-se em ácidos gordos monoinsaturados
(predominantes na constituição do azeite) e ácidos gordos polinsaturados
(predominantes na maioria dos restantes óleos vegetais).

Os ácidos gordos estão armazenados sob a forma de triglicéridos:

1. Nos adipócitos (células adiposas) do tecido adiposo, existente sob a pele no


tecido celular subcutâneo e envolvendo os órgãos abdominais e torácicos.

2. Entre as fibras musculares e no interior das mesmas, junto às mitocôndrias


onde se dão as reações de combustão celular, e no tecido nervoso.

84
NUTRIÇÃO

As reservas de triglicéridos do nosso organismo são constituídas essencialmente a


partir dos lípidos e dos hidratos de carbono provenientes da nossa alimentação diária.
Os triglicéridos são absorvidos no intestino sob a forma de ácidos gordos e
glicerol. Depois de absorvidos recombinam-se no interior das células intestinais,
formando novamente triglicéridos. A esta reação dá-se o nome de lipogénese.
A glicose absorvida que não é utilizada diretamente na combustão celular ou
armazenada nos músculos e no fígado sob a forma de glicogénio, é transformada
em triglicéridos e depositada no tecido adiposo. À reação que permite a transfor-
mação da glicose em triglicéridos dá-se o nome de neolipogénese.
Quando o nosso organismo é sujeito a qualquer esforço, as reservas
de triglicéridos do tecido adiposo e das fibras musculares são solicitadas,
e os ácidos gordos separam-se do glicerol através de uma reação inversa
da lipogénese – a lipólise. Esta ocorre no tecido adiposo e nas reservas de
triglicéridos das fibras musculares.
Os ácidos gordos resultantes da lipólise são enviados pela corrente
sanguínea às células, onde se dá a sua combustão nas mitocôndrias através
da beta-oxidação. O glicerol, o segundo produto da lipólise, não será usado
diretamente como carburante, mas irá ser utilizado para o fabrico de glicose OBSERVAÇÃO E
ANÁLISE DAS
no fígado através da neoglucogénese. HABILIDADES

Na figura seguinte, verifica-se que, tanto a ingestão de hidratos de DESPORTIVAS

carbono simples, em períodos de repouso afastados da realização de ativi-


dade física, como a de alimentos ricos em lípidos, leva a um aumento das
reservas de triglicéridos no tecido adiposo e nas células musculares e ao
consequente aumento da massa gorda corporal e do peso.

Resumo dos lípidos como


carburantes energéticos.

85
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Para sabermos as reservas de lípidos do nosso organismo, temos de


determinar a percentagem de massa gorda do nosso peso corporal total.
Este cálculo pode ser realizado através de métodos antropométricos, pela
medição das pregas cutâneas em diversos locais da superfície corporal.
A percentagem de massa gorda anda à volta de 5-15% no homem e 10-25%
na mulher. Geralmente, os desportistas têm valores baixos de massa gorda
corporal que variam muito conforme o desporto praticado e os métodos utili-
zados na medição da mesma. Os valores mais baixos aparecem habitualmente
nos corredores de fundo, principalmente nos maratonistas. Os nadadores têm
índices de massa gorda mais elevados pois necessitam de tecido adiposo
como termo isolador e como agente flutuador. Nos desportos de contacto,
as percentagens de massa adiposa são igualmente superiores, pois o teci-
do adiposo exerce uma função amortecedora no contacto físico.
Estudos correlacionando a capacidade física dos atletas em diversos
momentos de forma física e o peso das diversas massas do organismo
parecem provar que, embora dependendo de diversos fatores e mesmo
da modalidade desportiva praticada, existem percentagens ideais dessas
massas, que correspondem a um desempenho desportivo mais eficaz. A
medição seriada da massa gorda corporal permite acompanhar a evolu-
ção da composição corporal ao longo da época, correlacionando as suas
alterações com a dieta do atleta, períodos de máxima forma, paragens por
lesões ou doença, entre outros.
O peso da massa gorda não é equivalente ao peso das reservas em
triglicéridos, pois um quilograma de tecido adiposo tem geralmente 860
gramas (86%) de triglicéridos. Metade dos ácidos gordos utilizados como
combustíveis vem dos triglicéridos armazenados nas fibras musculares.
A outra metade vem das reservas de triglicéridos dos adipócitos (células
adiposas) do tecido adiposo.

86
NUTRIÇÃO

As reservas de triglicéridos existentes nos músculos e tecido adiposo


são esgotáveis?
As reservas de triglicéridos existentes nos músculos e tecido adiposo são mais que suficientes para satis-
fazer as solicitações do exercício físico. Poderíamos correr várias maratonas, umas a seguir às outras, sem
que elas se gastassem totalmente. O mesmo não acontece com as reservas de hidratos de carbono. Assim,
a preocupação deverá ir no sentido de economizar as reservas de hidratos de carbono o mais possível e
utilizar em sua substituição as reservas de ácidos gordos.

Os lípidos existem nos produtos animais (carne, peixe, ovos, leite e derivados,
entre outros) e nos produtos vegetais (óleos de milho, de soja, de girassol,
de amendoim, de cártamo, no azeite, na margarina de origem vegetal, en-
tre outros). As gorduras animais são mais ricas em ácidos gordos satura- OBSERVAÇÃO E
ANÁLISE DAS
dos, os mais implicados como fator de risco nas doenças cardiovasculares. HABILIDADES

As gorduras vegetais são mais ricas em ácidos gordos insaturados, menos DESPORTIVAS

maléficos para o organismo humano. No entanto, existem exceções pois


a gordura do peixe é pobre em colesterol e em ácidos gordos saturados e
rica em ácidos gordos insaturados. Do mesmo modo, os óleos de palma e
coco, embora sendo vegetais e com baixo teor de colesterol, são ricos em
ácidos gordos saturados.
O colesterol não é usado como carburante na produção de energia a
nível celular. O facto de um atleta praticar exercício físico intenso não lhe
permite ingerir mais colesterol que um indivíduo sedentário. O colesterol
tem funções orgânicas importantes, entrando na constituição de algumas
hormonas e dos sais biliares, estes últimos tão importantes no processo de
digestão das gorduras. A carne, os ovos e o fígado dos animais são muito
ricos em colesterol. O peixe e a pele de frango possuem-no em menor
quantidade.
Alguns peixes ricos em ácidos gordos do tipo Omega-3, como o ácido
eicosapentanóico, parecem diminuir a produção de colesterol pelo fígado
e a adesividade das plaquetas sanguíneas, atuando, assim, como fatores
protetores das doenças cardiovasculares. Os peixes mais ricos no ácido
eicosapentanóico são a cavala, a sardinha, o atum, o sável, o salmão, a
truta, o arenque e a enguia.
O azeite, rico em ácidos gordos monoinsaturados, representa uma gordura
muito saudável pelo que o seu consumo deve ser incentivado.

87
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c) Proteínas
Os prótidos ou proteínas são formados por uma sequência de unidades pri-
márias, os aminoácidos (grupo amina + ácido orgânico). Existem cerca de
vinte aminoácidos diferentes no organismo, que permitem as mais diversas
combinações para formação das proteínas.

As proteínas encontram-se no nosso organismo a três níveis:


- PROTEÍNAS PLASMÁTICAS – a nível do sangue como a hemoglobina, a
albumina, entre outras.
- PROTEÍNAS MUSCULARES – a nível do músculo que são fundamentais à
sua capacidade contrátil.
- PROTEÍNAS VISCERAIS - a nível dos diversos órgãos que compõem o
nosso organismo.

1.
Os aminoácidos estão agrupados:
AMINOÁCIDOS ESSENCIAIS – o nosso organismo não os sintetiza por isso
têm de ser fornecidos pela alimentação.

São oito: fenilalanina, isoleucina, leucina, lisina, metionina, treonina, valina e


triptofano.

2. AMINOÁCIDOS SEMIESSENCIAIS – são sintetizados no nosso organismo e


por isso não são essenciais. No entanto, são formados a partir de dois ami-
noácidos essenciais: a fenilalanina e a metionina. São dois: cisteina e tirosina.

3. AMINOÁCIDOS NÃO ESSENCIAIS – são sintetizados no nosso organismo. A sua


designação não significa que do ponto de vista fisiológico não sejam importantes.

As proteínas podem ser encontradas tanto em produtos animais como


em produtos vegetais.
• Proteínas animais – ovos, leite e derivados, carne, peixe, entre outros.
• Proteínas vegetais – soja, feijão, grão, favas, ervilhas, nozes, arroz e
outros cereais integrais, entre outros.

88
NUTRIÇÃO

Valor biológico de uma proteína


O valor biológico de uma proteína é estimado pela sua capacidade de
fornecer ao nosso organismo os aminoácidos essenciais. Quanto mais
aminoácidos essenciais tiver a proteína de um alimento, maior o seu valor
biológico.

De todas as proteínas, a de maior valor biológico


é a do ovo. As proteínas animais têm, na generalidade,
melhor valor biológico do que as vegetais. No entanto,
certas proteínas vegetais como, por exemplo, as da
soja, têm um alto valor biológico.

Não pretendemos entrar na velha discussão entre defensores da alimentação


tradicional e defensores da alimentação vegetariana ou macrobiótica em rela- OBSERVAÇÃO E
ANÁLISE DAS
ção às vantagens e desvantagens das proteínas animais e vegetais. Parece-nos, HABILIDADES

no entanto, que uma dieta equilibrada contendo proteínas animais e vegetais DESPORTIVAS

pode satisfazer, com eficácia, as necessidades em proteínas do organismo.


Todos os dias o organismo recebe aminoácidos novos através da alimen-
tação e das proteínas do próprio organismo que são destruídas regularmente.
Estes aminoácidos vão ser utilizados para a formação de novas proteínas,
que ocupam o lugar das destruídas. Os aminoácidos restantes, como não
podem ser armazenados, são utilizados para formação de alanina que, por
sua vez, através da neoglucogénese, dá origem à formação de glicose. Esta
é utilizada durante a atividade física, ou então transformada em gordura e
depositada no tecido adiposo.

Hoje em dia estão bem definidas as causas que levam a uma maior ne-
cessidade de proteínas na alimentação dos atletas:
n maior síntese proteica a nível muscular;

n maior remodelação diária das proteínas musculares, isto é, são destruí-

das mais proteínas para darem lugar a outras;


n maior massa muscular nos atletas pois na sua composição corporal os

músculos ocupam uma percentagem mais elevada que nos indivíduos


sedentários;
n aumento do uso de proteínas como carburantes durante a atividade

física. O papel das proteínas como carburantes durante a atividade des-


portiva é superior ao inicialmente pensado, principalmente em ativida-
des tipo endurance;

89
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n aumento das perdas de derivados proteicos no suor;


n maior necessidade de proteínas para formação acrescida de glóbulos verme-
lhos, enzimas digestivas, hormonas e por uma maior descamação da pele;
n aumento das perdas proteicas a nível intestinal. Durante a atividade

desportiva há uma diminuição do aporte sanguíneo a determinados


órgãos, principalmente ao intestino, com morte de células intestinais e
consequentes perdas proteicas nas fezes.

Podemos concluir que, através dos conhecimentos


científicos atuais, os atletas necessitam de uma
quantidade de proteínas superior aos sedentários
na sua alimentação.
No entanto as necessidades parecem não ser superiores a 2 g/kg/dia.
. ALIMENTOS ANIMAIS MAIS Os atletas de disciplinas explosivas e de força não têm necessidades
RICOS EM PROTEÍNAS proteicas muito acrescidas, no entanto, atletas de disciplinas que envolva
l ovos grandes cargas de treino, tanto em termos de volume como de intensida-
l leite de, podem ter necessidades acrescidas, principalmente se tiverem baixas
l produtos lácteos reservas de glicogénio muscular, com maior utilização de proteínas como
peixe
carburantes.
l

l carne
A maioria dos alimentos ricos em proteínas animais, como a carne, os ovos,
l mariscos
o leite gordo e derivados, são também muito ricos em gorduras saturadas e
colesterol e por isso devem ser tomados com moderação na dieta diária.
. ALIMENTOS VEGETAIS MAIS
As proteínas vegetais podem ter falta de alguns aminoácidos essenciais.
RICOS EM PROTEÍNAS
No entanto, estes podem ser fornecidos por outros alimentos ingeridos
l cereais
(trigo, arroz, milho, cevada, simultaneamente. Por exemplo, o arroz e o trigo podem ter falta de um dos
centeio), principalmente se aminoácidos essenciais, a lisina. No entanto, se com estes cereais ingerir-
forem integrais mos leguminosas ou legumes ou derivados do leite ou um pouco de carne
l leguminosas (feijão, ervilhas, ou peixe, todos eles ricos em lisina, o défice nesse aminoácido essencial
grão, favas e soja) é preenchido. Os alimentos ricos em proteínas animais têm outra grande
l nozes vantagem, a de serem geralmente pobres em lípidos e ricos em hidratos de
l amêndoas carbono maioritariamente complexos, tão necessários ao atleta.
Defendemos que, através de uma associação de proteínas animais
e vegetais, vamos obter de uma forma saudável todos os aminoácidos
necessários à síntese das nossas proteínas.
Os atletas, ao ingerirem mais calorias que uma pessoa sedentária,
também estão a tomar uma quantidade superior de proteínas. A dieta do
tipo ocidental tem, em geral, uma ingestão de proteínas muito superior
às necessidades proteicas diárias, mesmo para um desportista.
Pelas duas razões atrás apresentadas pensamos não se justificar a
suplementação de proteínas na alimentação dos atletas.

90
NUTRIÇÃO

Essa suplementação pode, no entanto, justificar-se em algumas situa-


ções particulares:

n atletas realizando dietas hipocalóricas com baixa ingestão de proteínas,


porque querem emagrecer (modalidades em que há categorias por pesos) OBSERVAÇÃO E
ANÁLISE DAS
ou manter a estética corporal (modalidades onde a vertente estética tam- HABILIDADES

bém é valorizada a nível competitivo); DESPORTIVAS

n atletas vegetarianos, com baixa ingestão de proteínas de alto valor biológico;

n atletas com baixa ingestão de proteínas por outras razões (económicas,

sociais, culturais, entre outras);


n atletas com uma atividade desportiva muito intensa durante todo o dia,

como por exemplo os triatletas, pois não podem ingerir refeições muito
volumosas ricas em proteínas. A suplementação com produtos ricos em
proteínas «solúveis» de fácil digestão pode ser importante nestes atletas.

Um uso exagerado de proteínas na alimentação poderá levar, entre ou-


tros, aos seguintes problemas:

• aumento da massa gorda corporal, quer por aumento da ingestão de


gordura nos alimentos ricos em proteínas, principalmente animais, quer
por transformação em gordura do excesso de proteínas ingeridas e não
utilizadas na síntese proteica;
• excesso de produção de ureia e outros produtos nitrogenados derivados
do metabolismo proteico, que ao serem eliminados na urina levam a uma
maior produção da mesma, com perda de mais líquidos tão necessários
para os atletas;
• aumento de produção de ácido úrico, com taxas sanguíneas elevadas do
mesmo, o que poderá levar a ocorrência de cálculos renais, tendinites,
bursites, problemas articulares, entre outras.

91
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU I

4.3 Reservas de glicogénio muscular e hepático


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As reservas de glicogénio muscular e hepático representam uma importante


fonte de fornecimento de glicose ao organismo humano. São polissacáridos
formados por uma cadeia mais ou menos longa de moléculas de glicose,
permitindo o armazenamento de grandes quantidades de glicose num espa-
ço limitado do músculo ou do fígado.

Reservas de glicogénio muscular


As reservas de glicogénio muscular são fundamentais como fonte de
fornecimento de glicose à célula muscular para que ela a possa utilizar como
fonte energética, tanto quando utiliza o metabolismo anaeróbio láctico
como quando utiliza o metabolismo aeróbio.

Estas reservas variam muito de indivíduo para indivíduo segundo


o tipo de atividade praticada, o tipo de alimentação e o nível de treino.

Indivíduo normal sedentário – 10 a 20 gramas/kg de músculo.


Atleta bem treinado – 30 a 45 gramas/kg de músculo.
Atleta após dieta hiperglucídica – 30 a 45 gramas/kg de músculo.
Atleta após corrida intensa e prolongada – 0 a 5 gramas/kg de músculo.

Quanto mais intensa for a atividade física, maior será a potência do trabalho
muscular e assim maior a utilização do glicogénio muscular – o supercarbu-
rante do músculo.
Para realizarem boas provas, os bons maratonistas têm reservas muscu-
lares de glicogénio superiores aos indivíduos normais. Isto é não só devido
a um fator inato de origem genética, mas também ao resultado do treino,
pois este aumenta as reservas de glicogénio muscular.

92
NUTRIÇÃO

Uma diminuta quantidade de massa muscular pode ser um fator condicio-


nante em relação à capacidade de armazenamento de glicogénio muscular.
Se associarmos esta condicionante ao facto de cada célula muscular só po-
der utilizar as suas próprias reservas de glicogénio e não as de outras células,
localizadas por exemplo noutros músculos, podemos chegar à conclusão
que é fundamental um nível mínimo de massa muscular em determinados
músculos, que integrem cadeias musculares essenciais à execução do gesto
desportivo de uma determinada modalidade.

Quando se esgotam as reservas de glicogénio muscular e o atleta entra


em défice de supercarburante, de pouco serve ingerir glicose ou uma bebida rica
em hidratos de carbono, pois só o glicogénio permite ao músculo trabalhar a
níveis de intensidade elevada e, além disso, a glicose penetra na fibra muscular
de uma forma muito lenta.
OBSERVAÇÃO E
ANÁLISE DAS
Antigamente pensava-se que as reservas de glicogénio muscular eram HABILIDADES

apenas importantes nas atividades de longa duração que utilizam essen- DESPORTIVAS

cialmente o metabolismo aeróbio. Hoje sabe-se que as suas reservas são


importantes em atividades de caraterísticas mistas (modalidades coletivas,
por exemplo) ou mesmo em atividades explosivas que se repetem no tempo
(desportos de combate, por exemplo).
O futebol, por exemplo, é uma disciplina de caraterísticas mistas, que en-
globa atividades puramente aeróbias intercaladas por atividades anaeróbias
(alácticas e lácticas), onde os gastos energéticos provenientes dos hidratos
de carbono são muito elevados. No final de um jogo de futebol, os níveis de
glicogénio muscular são geralmente muito baixos. As necessidades energé-
ticas do futebol são elevadas sendo o glicogénio muscular apontado como o
principal carburante utilizado durante o jogo.
O judo é uma modalidade de combate onde predomina a utilização do
metabolismo anaeróbio (aláctico e láctico). Num torneio de judo, um judoca
realiza uma série de combates durante um dia de competição indo gastando
progressivamente as reservas de glicogénio muscular. Se não se apresentar
na competição com boas reservas glicogénio muscular, corre o risco de lhe
faltar carburante nos combates decisivos da final da competição, pondo
desse modo em causa o seu rendimento desportivo.

O défice de glicogénio muscular representa uma das causas mais comuns


de fadiga de instalação súbita na atividade desportiva.

93
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GRAU I

As reservas de glicogénio muscular podem ser aumentadas


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através:

1. DO TREINO. 2. DA REALIZAÇÃO DE UMA DIETA RICA


EM HIDRATOS DE CARBONO.

A atividade da glicogénese muscular aumenta quando a quantidade de gli-


cogénio no músculo diminui e vice-versa. Uma das formas de ativar a glico-
génese, e assim aumentar as reservas de glicogénio, é diminuir as reservas de
glicogénio muscular, através de uma dieta pobre em glúcidos e de um treino
intenso concomitante, seguido de uma dieta muito rica em glúcidos, aprovei-
Após a realização tando o aumento de atividade de glicogénese, e de uma redução do treino,
permitindo uma economia do glicogénio muscular produzido. As reservas de
de um treino visando
glicogénio nos músculos podem aumentar até valores de 45 g/kg de músculo.
a estimulação da Por outro lado, cada sessão de treino representa um regime semelhante ao
resistência aeróbia, anterior. Com o treino, as reservas de glicogénio são reduzidas e assim a
glicogénese é estimulada. O atleta, após o treino, chega a casa, geralmente,
realizado a uma com bastante apetite. Se ingerir uma refeição rica em hidratos de carbono,
intensidade tal que leve estes irão preencher as reservas de glicogénio. Ao fim de semanas, ou mes-
mo meses, de treino, o atleta desenvolve uma grande capacidade de preen-
a frequência cardíaca a cher as reservas de glicogénio muscular. Importante salientar que o aumento
um nível perto do limiar das reservas de glicogénio muscular pode conduzir a um aumento do peso
corporal pois por cada grama de glicogénio armazenada são armazenadas
anaeróbio, e prolongado três gramas de água, acontecendo precisamente o contrário quando o glico-
no tempo, assistimos génio é utilizado como fonte de glicose para produção de energia.
Após a realização de um treino visando a estimulação da resistência aeróbia,
a um esgotamento do
realizado a uma intensidade tal que leve a frequência cardíaca a um nível perto
glicogénio muscular. do limiar anaeróbio, e prolongado no tempo, assistimos a um esgotamento do
glicogénio muscular. Esse esgotamento conduz a uma estimulação máxima da
glicogénese, principalmente na primeira e segunda horas a seguir ao final do
mesmo, indo diminuindo progressivamente com o passar do tempo. Podemos
assim concluir que, após um treino com estas caraterísticas, o atleta deve
ingerir imediatamente uma bebida energética rica em hidratos de carbono de
absorção rápida e a seguir realizar uma refeição rica em hidratos de carbono,
de preferência durante as seguintes primeira e segunda hora.

A quantidade ideal de hidratos de carbono necessária para maximizar a reposição das reservas
de glicogénio muscular é de 1,0 gramas/kg de peso, em cada 2 horas até à próxima refeição. Idealmente um atleta
deverá ingerir 10 gramas/kg de peso nas primeiras 24 horas após um exercício intenso e prolongado, como, por
exemplo, o de um jogo de futebol ou de uma maratona, de modo a que ocorra a reposição do glicogénio muscular.

94
NUTRIÇÃO

Se essa ingestão não for incentivada, a maioria dos atletas não consegue
ingerir as supracitadas 10 gramas/kg de peso de hidratos de carbono, de modo
a repor de uma forma eficaz e rápida as reservas de glicogénio muscular.
Se os atletas não estiverem conscientes da necessidade de reforçarem a inges-
tão de hidratos de carbono nas primeiras horas após os treinos e competições
onde utilizaram as suas reservas de glicogénio muscular como fonte ener-
gética de forma a reporem as suas reservas de glicogénio muscular, podem
através da repetição frequente deste erro, reduzir progressivamente aquelas
reservas. Este facto conduz inevitavelmente à instalação de uma síndroma
de fadiga de instalação prolongada, de difícil diagnóstico e com enormes
repercussões negativas a nível do rendimento desportivo dos atletas. Os trei-
nadores, quando os atletas apresentam uma diminuição do seu rendimento
desportivo, quer no treino quer na competição, referindo simultaneamente
sensação de fadiga, tentam encontrar justificação para essa constatação numa
possível falta de motivação dos atletas, na existência de excesso de noitadas
ou em problemas relacionadas com a metodologia do treino, por exemplo, OBSERVAÇÃO E
ANÁLISE DAS
sem habitualmente pensarem numa causalidade do foro nutricional. HABILIDADES
DESPORTIVAS

Qualquer atleta, e principalmente aqueles que praticam modalidades onde a prática


competitiva pode conduzir a défice de glicogénio muscular, deve iniciar uma com-
petição com o nível máximo possível de glicogénio muscular e deve ter a preocupa-
ção de o poupar ao máximo, utilizando preferencialmente os ácidos gordos.
Com base nos conhecimentos científicos atuais pensamos que na genera-
lidade não se justifica a utilização da dieta glucídica clássica tipo escandinava,
como era prática comum no passado, mas sim a utilização de dietas alter-
nativas com aumento do aporte de hidratos de carbono no dia ou nos dias
anteriores à competição.
A necessidade de um ou vários dias de dieta rica em hidratos de carbono,
depende da previsão dos gastos de glicogénio durante a competição, do nível
de treino do atleta e da sua capacidade inata em armazenar glicogénio.

95
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GRAU I

Reservas de glicogénio hepático


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As reservas de glicogénio hepático são fundamentais com fonte de forneci-


mento de glicose ao sangue para que glicemia seja mantida a níveis adequa-
dos. A glicose funciona como único nutriente do sistema nervoso central e
dessa forma a manutenção da glicemia em níveis adequados é o garante de
um bom funcionamento daquele sistema.
As reservas de glicogénio hepático sofrem variações muito rápidas ao
longo do dia. Aumentam a seguir às refeições por uma maior atividade da
glicogénese. Diminuem entre as refeições e, principalmente, durante o jejum
noturno, quando se dá a degradação do glicogénio hepático, a fim de man-
ter a glicemia dentro de valores normais.
Na figura podemos ver as variações das reservas de glicogénio hepático
ao longo do dia e a importância das refeições na sua manutenção em níveis
adequados.

Adaptação de Peronnet, F.
Le marathon.

As reservas hepáticas de glicogénio são geralmente suficientes para cobrir


adequadamente as necessidades de glicose durante a atividade desportiva.
No entanto, se uma competição de atletismo tem mais de 20 quilómetros ou
excede três horas de corrida, por exemplo, as reservas de glicogénio hepático
normais, de 50 gramas por quilograma de fígado, podem não ser suficientes.
O mesmo pode acontecer em competições muito prolongadas como, por
exemplo, no esqui de fundo, no ciclismo de estrada e no triatlo.

96
NUTRIÇÃO

A glicemia
A glicemia é a concentração de glicose livre no sangue, cuja taxa normal é
inferior a 100-110 mg/dl. Quando esta concentração é mais elevada, diz-se
que há uma hiperglicemia, como acontece por exemplo nos diabéticos. Pode
existir uma ligeira hiperglicemia no final de uma competição que, no entanto,
é transitória e inofensiva.
Abaixo dos 50 mg/dl, dizemos que há uma hipoglicemia. A glicose é prati-
camente o único carburante do sistema nervoso. Este não possui reservas de
hidratos de carbono como o músculo e, assim, quando há uma hipoglicémia o
rendimento fica automaticamente afetado, surgindo sintomas típicos do seu
mau funcionamento. Esses sintomas podem ir desde uma ligeira sonolência,
dificuldade na concentração, alterações do equilíbrio e da coordenação neuro-
-muscular e fadiga, até à perda de consciência, convulsões e coma, nos casos
mais graves. A hipoglicémia pode aparecer igualmente após a atividade física,
pois o atleta por vezes está muitas horas sem comer nada.
A glicemia depende da quantidade de glicose gasta pelos principais consu-
midores de glicose livre no organismo (sistema nervoso e músculos) e da glicose
que entra em circulação vinda diretamente do intestino ou do fígado (através do OBSERVAÇÃO E
ANÁLISE DAS
glicogénio hepático e da neoglucogénese). A hipoglicemia pode ser rapidamen- HABILIDADES

te revertida pela ingestão de água com açúcar (sacarose) numa fase precoce e DESPORTIVAS

se a pessoa estiver consciente, pois este é um hidrato de carbono de absorção


rápida. Nos casos mais graves em que a pessoa já está inconsciente, trata-se de
uma emergência médica pois há necessidade de repor rapidamente a glicemia
através da administração de glicose por via intravenosa.
As hipoglicemias são mais frequentes nas atividades muito prolongadas no
tempo, como as maratonas e ultramaratonas, etapas longas no ciclismo, no
triatlo, entre outras.

97
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O que podemos fazer para prevenir a ocorrência de uma hipoglicemia?


1. Aumentar as reservas de glicogénio hepático antes da competição, pois a quantidade de glicose obtida
na neoglucogénese não pode ser aumentada.

2. Tomar bebidas ricas em hidratos de carbono (frutose e/ou glicose) durante a competição.

O défice de glicose no sangue por esgotamento das reservas de glicogénio


hepático representa uma causa de fadiga de instalação súbita na atividade
desportiva e um fator de risco de lesão desportiva, por perturbação de ativi-
dades nobres do sistema nervoso central (concentração, atenção, alterações
da visão e da coordenação neuro-muscular, entre outros).
A quantidade
Fatores que condicionam o nível de glicogénio hepático no início
normal de glicogénio
de uma competição
hepático anda à volta Como vimos, para um bom desempenho muscular durante a competição, as reser-
de 50 gramas/kg de vas de glicogénio muscular e hepático deverão ser o mais altas possíveis à partida.

fígado, mas com uma No início de uma competição, o nível de reservas de glicogénio hepático
estratégia adequada depende:
• da atividade da glicogénese a nível do fígado, que pode ser aumentada
podemos obter níveis quer pelo treino quer por dieta rica em hidratos de carbono, tal como
de 100 gramas/kg de acontece a nível muscular;
• do tipo de alimentação na véspera da competição;
fígado. • do tempo de intervalo entre a última refeição e a hora da competição, que
deve ser idealmente cerca de três horas.

4.4 Vitaminas e minerais


As vitaminas são, como o nome indica, aminas essenciais à vida.

Os atletas questionam-se com frequência em


relação às vitaminas que devem tomar.
A resposta é sempre a mesma: «Se tiveres uma alimentação rica e
diversificada não precisarás de preocupar-te, pois ela contém todas as
vitaminas necessárias e em quantidades suficientes.»

98
NUTRIÇÃO

Só devemos recorrer a complexos vitamínicos farmacológicos quando não


podemos ter, por diversas razões, uma alimentação rica e diversificada.
Embora os complexos vitamínicos existentes no mercado contenham gran-
de parte das necessidades vitamínicas diárias, nunca podem substituir por
completo a qualidade das vitaminas dos alimentos naturais e frescos.
Há um sentimento generalizado entre os atletas, e em quase todos os
agentes desportivos, de que os suplementos farmacológicos de vitaminas e
minerais podem melhorar o rendimento desportivo.
As vitaminas são importantes na alimentação do atleta mas não au-
mentam o seu rendimento desportivo quando tomadas em quantidades
superiores às necessidades diárias. As vitaminas
são importantes
Tipos de vitaminas na alimentação
do atleta mas não
Podemos dividir as vitaminas em dois grandes grupos:
• Vitaminas hidrossolúveis (complexo B e vitamina C). aumentam o seu
• Vitaminas lipossolúveis (A, D, E, e K). rendimento desportivo OBSERVAÇÃO E
ANÁLISE DAS

quando tomadas
HABILIDADES

As vitaminas hidrossolúveis são solúveis em água, como o nome indica, DESPORTIVAS

e, assim, são excretadas na urina quando em excesso no nosso organismo. em quantidades


Praticamente não são armazenadas no organismo e, por isso, os seus níveis
dependem inteiramente da sua ingestão diária. Podem surgir défices destas
superiores às
vitaminas mas as hipervitaminoses são raras. necessidades diárias.
As vitaminas lipossolúveis são armazenadas no tecido adiposo do or-
ganismo, não são solúveis em água e assim podem surgir hipervitaminoses,
pois não são excretadas na urina.

As necessidades vitamínicas dos atletas


Teoricamente, os atletas poderão ter maiores necessidades de algumas
vitaminas, por diminuição da sua absorção intestinal, por aumento da sua
eliminação no suor, urina e fezes e por adaptação fisiológica ao próprio
exercício físico. Na prática, os estudos não têm sido muito conclusivos em
relação a esta problemática.
Um atleta com um treino intenso parece ter necessidades vitamínicas
superiores às de um indivíduo sedentário, principalmente em relação às
vitaminas do complexo B, vitamina C, vitamina A e vitamina E. No entanto,
a experiência demonstra que a dieta diversificada satisfaz com facilidade
os requisitos diários do atleta, não havendo desenvolvimento de situações
deficitárias. As hipervitaminoses são igualmente raras.

99
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As vitaminas do complexo B são muito importantes para a dieta do


atleta, pois participam no metabolismo dos hidratos de carbono no orga-
nismo. Os seus requisitos diários são diretamente proporcionais à quanti-
dade de hidratos de carbono na alimentação. A dieta do atleta é muito rica
nesses macronutrientes e, por isso, ele necessita de mais alimentos ricos em
vitaminas do complexo B.
Os atletas realizando treino intenso, principalmente se treinarem em
zonas com poluição atmosférica intensa necessitam de maiores quantidades
de vitaminas A, C e E. Estes atletas produzem um excesso de radicais livres de
oxigénio e precisam de uma maior quantidade daquelas vitaminas que atuam
como substâncias antioxidantes, neutralizando os referidos radicais livres.

As melhores fontes vitamínicas


Existem determinados alimentos que, embora sendo ótimas fontes de vita-
minas, são muitas vezes esquecidos na alimentação do atleta:

- VÍSCERAS DE ANIMAIS - principalmente rins e fígado de bovinos, suínos


e ovinos – O fígado destes animais é um alimento barato, muito rico em
vitaminas A, B1, B2, B6, ácido nicotínico, biotina, ácido pantoténico, ácido
fólico, B12, vitamina C, vitamina D (óleo de fígado de peixes, principalmente),
vitamina E e vitamina K. O único problema da sua utilização exagerada é
serem muito ricos em colesterol e os de origem bovina não poderem ser
utilizados atualmente devido à BSE.

100
NUTRIÇÃO

- CEREAIS INTEGRAIS – estes cereais contêm muitas vitaminas nas suas cama-
das mais externas, que são perdidas durante a moagem. Assim, os cereais não
integrais perdem grande parte das suas vitaminas. Podemos ultrapassar este
inconveniente, pelo enriquecimento artificial dos cereais e dos seus derivados
ou pelo consumo de cereais integrais. Estes cereais são pobres em vitamina
B12 e a vitamina K, contendo as outras vitaminas. O arroz e o trigo são pobres
em vitamina A, mas o milho é muito rico nesta vitamina.

O quadro seguinte ilustra o que se disse sobre a riqueza em vitaminas dos


cereais integrais.

VITAMINAS PÃO BRANCO PÃO DE TRIGO INTEGRAL

TIAMINA 0,05 mg/100 g 0,30 mg/100 g

RIBOFLAVINA 0,08 mg/100 g 0,13 mg/100 g

NIACINA 0,90 mg/100 g 3,00 mg/100 g

FRUTOS SECOS (amendoins, avelãs, amêndoas, nozes, passas, pinhões, entre ou-
tros) – são muitos ricos em vitaminas e minerais. São muitos usados ao pequeno- OBSERVAÇÃO E
ANÁLISE DAS
-almoço, juntamente com cereais integrais e leite, em alguns países europeus. HABILIDADES
DESPORTIVAS

FRUTAS E VEGETAIS – são alimentos muito ricos em vitaminas e minerais. Os minerais


São geralmente pobres em proteínas e gorduras, mas muito citados como
fontes vitamínicas em detrimento dos alimentos citados anteriormente, que
desempenham funções
são, no entanto, e na generalidade, mais ricos em vitaminas do que estes. muito importantes
no nosso organismo.
As necessidades em minerais no atleta São essenciais para
Os minerais desempenham funções muito importantes no nosso orga-
o sistema músculo-
nismo. São essenciais para o sistema músculo-esquelético e em numerosas
ações biológicas, como, por exemplo, no crescimento em geral e no desen- esquelético e em
volvimento ósseo em particular, entre outros. numerosas ações
O conteúdo mineral varia de tecido para tecido, assim como do espaço
extracelular para o intracelular. Só uma parte muito pequena de cada um biológicas, como,
dos minerais existentes no nosso organismo é metabolicamente ativa, ge- por exemplo, no
ralmente a que se encontra no sangue e no espaço intersticial. A quantidade
de cada um dos minerais no nosso organismo, depende do aporte alimentar
crescimento em geral
e das perdas pelo suor, urina e fezes. O nível sanguíneo dos minerais é cons- e no desenvolvimento
tantemente estabilizado através de trocas com os tecidos que os contêm
ósseo em particular,
ou através da sua eliminação pela urina, fezes ou suor. Estes mecanismos de
controlo dos níveis de minerais no sangue funcionam, em períodos limitados entre outros.
de défice mineral, mas podem ser insuficientes em défices prolongados,
como acontece em dietas pobres em determinados minerais.

101
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Um atleta necessita por dia de alguns gramas de potássio, sódio, cálcio e cloro;
miligramas de ferro e magnésio; microgramas de cobre, zinco, cobalto, flúor,
iodo, manganésio e selénio. As necessidades do atleta em minerais e em oli-
goelementos são, em alguns casos, superiores às de um indivíduo sedentário. No
entanto, uma alimentação rica e diversificada possui geralmente as quantidades
destes micronutrientes necessárias. Quando a carga competitiva é grande e o
treino intenso, há um aumento das perdas de água e de minerais, devendo haver
um aumento da sua ingestão através de águas minerais, lacticínios, frutos secos,
vegetais, fruta fresca, sumos naturais, cereais, carne e vísceras de animais.
Os atletas parecem necessitar de quantidades superiores de sódio,
potássio, cloro, cálcio, ferro, magnésio, cobre, zinco, manganésio e selénio
em relação aos sedentários, embora não haja indicações muito precisas
sobre os valores ideais de ingestão diária de minerais para atletas.
O cálcio e o ferro são geralmente os minerais que originam mais proble-
mas aos atletas.

Cálcio
O cálcio tem uma elevada importância no metabolismo dos ossos e dos
dentes, na coagulação sanguínea e no funcionamento do sistema nervoso,
assim como na contração muscular. Os atletas parecem necessitar de mais
cálcio que um indivíduo sedentário. Um baixo aporte de cálcio na dieta pode
trazer problemas para o atleta. Parece haver uma certa relação entre uma
dieta pobre em cálcio e o aparecimento de fraturas de fadiga no desporto.

102
NUTRIÇÃO

Baixos níveis de ingestão de cálcio associados a baixos níveis de estrogénios no


sangue em atletas amenorreicas, parece correlacionar-se com a diminuição da
densidade óssea, o que pode condicionar o aparecimento de uma osteoporose
a longo prazo. Na osteoporose, os ossos tornam-se rendilhados e por isso mais
fracos, surgindo dores e fraturas ósseas.
As necessidades diárias de cálcio no atleta são 1200 mg. Quando o nível
de ingestão de cálcio é diminuto, os níveis de cálcio no sangue são mantidos à
custa do cálcio vindo do osso, através de um aumento do catabolismo ósseo,
surgindo os problemas que atrás explicitámos.

O nível de ingestão de cálcio nos atletas parece ser diretamente


proporcional ao total de calorias ingeridas. Deste modo, atletas com baixas
ingestões calóricas habituais ou porque estão a tentar perder peso (ginastas,
dançarinas, praticantes de modalidades com categorias por peso, entre outros)
têm geralmente baixas ingestões de cálcio. OBSERVAÇÃO E
ANÁLISE DAS
HABILIDADES

As atletas com amenorreia (mais frequentemente corredoras, ginastas, dança- DESPORTIVAS

rinas, entre outras) têm necessidade de aportes nutricionais de cálcio superiores


às atletas não amenorreicas, com valores ideais à volta de 1500 mg por dia. Nas
atletas com baixas ingestões de cálcio deve ser tentado inicialmente o aumento
da ingestão de alimentos ricos em cálcio e numa segunda opção a suplementa-
ção com cálcio oral.
O leite e os seus derivados são os alimentos mais ricos em cálcio.
Existem outros alimentos ricos em cálcio como os vegetais verdes (brócolos,
espinafres, salsa, agrião, nabiça); gema de ovo; algas; soja; figos secos; passas
de uva; amêndoas; amendoins; nozes; sardinhas em lata; entre outros. Algumas
águas minerais possuem cálcio, mas outras como, por exemplo, a Água de Luso®,
não possui praticamente cálcio, pelo que não deve ser utilizada frequentemente
por atletas com baixas ingestões de cálcio.

Ferro
O ferro tem um papel importante na atividade física pois participa no transporte
do oxigénio como componente da mioglobina (proteína transportadora do
oxigénio no músculo); da hemoglobina (proteína transportadora do oxigénio
nos glóbulos vermelhos) e dos citocromos.
Os seus requisitos diários são superiores nos atletas, verificando-se maio-
res necessidades nas mulheres em relação aos homens. Os atletas necessitam
geralmente de duas vezes mais ferro que a população não ativa. As necessidades
de ferro nos atletas são maiores, porque as perdas são igualmente superiores.

103
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As mulheres
desportistas são mais
predispostas a este
tipo de anemia, devido
às perdas repetidas
de sangue pela
menstruação. O défice de ferro leva a uma anemia ferropénica. Os glóbulos vermelhos
tornam-se pequenos e pálidos e a sua hemoglobina é escassa havendo assim
uma dificuldade no transporte do oxigénio. Os sintomas mais frequentes são:
recuperação lenta e difícil após o esforço; irritabilidade; cansaço; depressão;
insónias e maus resultados desportivos.
As mulheres desportistas são mais predispostas a este tipo de anemia,
devido às perdas repetidas de sangue pela menstruação.
Quando os atletas fazem treino de altitude, há uma maior síntese de
hemoglobina por parte do organismo, para tentar compensar a baixa con-
centração de oxigénio do ar nos pontos elevados. Estes atletas devem receber
suplementos durante este tipo de treino.
Os alimentos mais ricos em ferro são (por ordem decrescente de riqueza):
fígado; coração e rins de animais; carne; gema de ovo; feijão; lentilhas; soja;
vegetais de folha verde; cereais integrais; nozes; amêndoas; passas; amendoins,
entre outros.
Do ferro ingerido na dieta só cerca de 10% é absorvido pela mucosa intestinal, o
restante é perdido nas fezes. No entanto, a absorção intestinal aumenta quando
surge défice de ferro. O ferro contido na hemoglobina (carne e vísceras) parece
ser melhor absorvido que o ferro não hemoglobínico (gema de ovo, feijão, soja,
vegetais de folha verde, cereais integrais, entre outros).
As dietas pobres em carne, como as vegetarianas ou as ricas em fibras, apre-
sentam uma maior predisposição para serem deficitárias em ferro.

Quais são os fatores que podem influenciar a absorção do ferro?


A vitamina C, o ácido cítrico, os aminoácidos e os glúcidos parecem aumentar a sua absorção intestinal.
Alguns autores preconizam em atletas com défice de ferro, a ingestão de carne vermelha (bife ou fígado) conjunta-
mente com um sumo de laranja, muito rico em vitamina C, para facilitação da absorção intestinal do ferro.
O cálcio, os taninos (café e chá escuro), os fosfatos (conservantes dos alimentos e dos refrigerantes) e as
fibras diminuem a absorção intestinal do ferro.

104
NUTRIÇÃO

A ingestão de ferro parece ser diretamente proporcional ao total de


calorias ingeridas e assim atletas com baixas ingestões calóricas, porque
querem manter a estética corporal, como as ginastas e as bailarinas, ou
praticantes de modalidades com escalões de peso, estão geralmente mais
predispostos a défice de ingestão de ferro.

Caso se confirme por análises sanguíneas o défice de ferro devemos


tentar a correção nutricional, com aconselhamento de alimentos ricos
em ferro hemoglobínico, em associação com nutrientes que facilitem a
absorção intestinal do ferro e eliminação dos nutrientes que dificultem a
mesma.
Um atleta com uma alimentação rica e diversificada e com uma boa
educação nutricional consegue retirar dos alimentos todas as vitaminas e
minerais que necessita diariamente, não requerendo por isso de suple-
mentos farmacológicos. A grande tarefa dos nutricionistas, dietistas e
médicos é fornecer aos atletas a informação nutricional necessária a uma OBSERVAÇÃO E
ANÁLISE DAS
correta escolha dos alimentos e a um planeamento nutricional adequado. HABILIDADES
DESPORTIVAS

4.5 Hidratação
A água corporal tem um papel fundamental no funcionamento do nosso
organismo. Pelo menos 60% do nosso peso é pura e simplesmente água.
A atividade desportiva pode levar a défice ou esgotamento das reservas de
água do nosso organismo, devido às perdas deste líquido pelo suor e pelas
vias respiratórias.
O rendimento competitivo diminui à medida que se vai instalando um
défice de hidratação no nosso organismo. Quanto maior for esse défice
maior é a perda de rendimento competitivo numa relação diretamente
proporcional.

105
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Mecanismos de arrefecimento orgânico


Durante a atividade desportiva o atleta pode produzir milhares de quilocalo-
rias de calor. A temperatura corporal subiria a níveis incompatíveis com a vida
se o nosso organismo não tivesse um sistema de arrefecimento, assim como o
motor de um automóvel tem um radiador.
Não nos esqueçamos que a temperatura corporal normal é de 37ºC, que
durante o esforço físico usual sobe a 38ºC, e que para valores acima dos 41ºC
MECANISMOS DE surge o coma com perigo de morte iminente.
ARREFECIMENTO ORGÂNICO
O calor perde-se sempre dos meios mais quentes para os meios mais frios. Ao
. O NOSSO ORGANISMO POSSUI suarmos, a água que existe no suor evapora-se à superfície da pele, produzindo um
UM SISTEMA DE ARREFECI- abaixamento da temperatura local e, assim, uma perda de calor da pele para o meio
MENTO COMPOSTO: ambiente. Devemos salientar que não é a transpiração por si que faz arrefecer o indi-
1. Evaporação da água do suor à víduo, mas sim a evaporação da água do suor produzido. Nos pulmões, o contacto
superfície da pele. do ar frio inspirado com os alvéolos faz com que se dissipe calor destes para aquele.
Por isso, quando o ar ambiente está frio, ao expirarmos fazemos uma névoa de vapor
2. Calor perdido pela respiração. de água, parecendo que estamos fumando. Na pele, quando a temperatura ambien-
te é baixa há uma perda direta de calor para o meio que a rodeia.
3. Perda de calor da pele para
o meio ambiente, quando A capacidade de arrefecimento do nosso organismo depende
a temperatura ambiente é de diversos fatores:

1.
baixa.
da superfície corporal - quanto maior a superfície corporal, maior a
superfície de troca de calor e, assim, maior a facilidade da sua perda
por parte do organismo;

2. da percentagem de gordura no peso corporal - quanto mais massa gor-


da corporal, maior a camada isoladora subcutânea e mais difícil a perda
de calor. Daí que os gordos tenha mais capacidade para resistir ao frio;

106
NUTRIÇÃO

3.
da quantidade de sangue existente na circulação sanguínea e
da capacidade cardíaca em transportar o calor, pois é o sangue
que transporta o calor do músculo onde é produzido até à superfície
cutânea e pulmões onde é dissipado;

4.
da quantidade de glândulas sudoríparas - estas glândulas, existentes
na superfície cutânea, produzem o suor a partir do plasma do sangue.
A sua quantidade depende de caraterísticas genéticas de cada raça,
e essencialmente, do clima onde o indivíduo habita. Os indivíduos
de raça negra e os que vivem em climas quentes e húmidos têm
mais glândulas sudoríparas que aqueles que vivem em climas frios,
temperados e secos. Para além disso, aqueles produzem uma maior
quantidade de suor. Quanto maior a quantidade de suor produzida,
mais diluído este é, com as vantagens de se perderem menos sais
minerais e da sua evaporação resultar mais fácil;

5.
da exposição aos raios solares - faz aumentar a temperatura corporal; OBSERVAÇÃO E
ANÁLISE DAS

6.
da temperatura do ar ambiente - quanto mais baixa esta for, mais fácil
HABILIDADES
DESPORTIVAS

é a cedência de calor do corpo humano para o meio ambiente;

7.
do vento - ao fazer renovar o ar que rodeia a superfície cutânea, facilita
as trocas de calor. No entanto, se é muito forte e oposto à direção do
movimento, torna-se prejudicial, pois leva a um maior gasto calórico;

8.
da humidade relativa do ar ambiente - quanto mais elevada esta for,
mais difícil é o arrefecimento. Embora com uma humi-
dade elevada o atleta produza mais suor, a sua
evaporação é mais difícil, perdendo-se muito
suor que cai para o chão sem se evaporar.
Assim perdemos mais água, agravando a
desidratação, e não arrefecemos, fican-
do em perigo de sobreaquecimento.
Este parece ser o fator mais impor-
tante, de todos aqueles que citámos
como influentes na capacidade de
arrefecimento do nosso organismo;

107
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU I

Avaliação das condições atmosféricas ideais para o arrefe-


INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
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cimento corporal
Para fazermos a avaliação das condições ideais para o arrefecimento corporal neces-
sitamos de conhecer três tipos de temperaturas:

- temperatura seca, dada geralmente no boletim meteorológico;


- temperatura húmida, medida à sombra por um termómetro envolvido por um
tecido mantido húmido;
- temperatura raionante, medida por um termómetro cujo reservatório de
mercúrio é envolvido por uma esfera de metal negra e exposta ao sol. Geralmente
não é dada no boletim meteorológico.

A partir da temperatura húmida obtém-se a humidade relativa, que nos é dada nos
boletins meteorológicos dos países com humidades relativas elevadas. Os serviços
de meteorologia informam que em determinado local estão 40 ºC de temperatura
com 90% de humidade, por exemplo.
Através do conhecimento das três temperaturas atrás explicitadas, podemos
determinar o índice de calor e, através deste, avaliar as condições de arrefecimento.
Como, geralmente, a temperatura raionante não nos é fornecida pelo boletim
meteorológico, torna-se pouco prática a determinação do índice de calor. No entan-
to, através da temperatura seca e da humidade relativa atingimos o mesmo objetivo,
como podemos observar na figura seguinte.

Condições de arrefecimento
(avaliação).

Estratégias de adaptação ao calor


Como já referimos, os indivíduos que vivem em países quentes possuem maior
número de glândulas sudoríparas e produzem um suor mais diluído, o que permi-
te uma menor perda de minerais e uma maior capacidade de evaporação do suor.
Têm também um maior volume circulatório, que facilita o transporte do calor.

108
NUTRIÇÃO

As adaptações a nível
do sistema cardiovascular
atingem o seu valor máximo
a partir do 6.º dia de
aclimatação, enquanto as
adaptações na sudação e na
resposta termo reguladora
aparecem um pouco mais tarde.

Os atletas vindos de climas frios não possuem um sistema de arrefecimento tão


eficiente e, por isso, o seu rendimento físico diminui em países quentes e húmidos.
Para se adaptarem ao calor, estes atletas devem treinar em condições atmosféricas OBSERVAÇÃO E
ANÁLISE DAS
idênticas às do local da competição. Parecem ser necessários pelo menos 15 dias HABILIDADES
para que o sistema de arrefecimento se adapte às novas condições atmosféricas. DESPORTIVAS

As adaptações a nível do sistema cardiovascular atingem o seu valor máximo a partir


do 6.º dia de aclimatação, enquanto as adaptações na sudação e na resposta termo
reguladora aparecem um pouco mais tarde.
Este objetivo pode ser atingido pelo treino no local de destino ou em clima
idêntico nos 15 a 21 dias que precedem a competição ou por treino em bicicleta
ergométrica ou tapete rolante no interior de um compartimento fechado regulado
com temperatura seca e húmida ideal. A adaptação do sistema de arrefecimento
pode manter-se, a posteriori, durante meses se o atleta fizer um treino com exposição
às mesmas condições de calor e humidade, uma vez por semana.

Ao iniciarmos os treinos no novo clima, devemos ter diversos cuidados:

1.º Os primeiros treinos devem ser curtos e suaves.


2.º O treino deve aumentar progressivamente de volume e intensidade.
3.º O atleta deve controlar o seu peso, pois é um indicador indireto do
estado de hidratação, pesando-se todos os dias ao levantar sempre nas
mesmas condições.

4.º Devemos ter cuidado na reposição de líquidos e minerais no intervalo


entre os treinos.

109
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU I

Cuidados a ter quando as condições de arrefecimento são


INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

deficientes

Quando as condições de arrefecimento são deficientes o atleta deverá ter os


seguintes cuidados:

1.º Usar o mínimo de roupa possível que deve ser porosa e deixar o máximo de
superfície cutânea descoberta.

2.º Usar chapéu molhado na cabeça.


3.º Fazer um aquecimento curto. O aquecimento destina-se unicamente
a preparar o organismo para o esforço, com dez a quinze minutos de
REFERÊNCIAS corrida lenta e relaxada associada a estiramentos musculares dos grupos
BIBLIOGRÁFICAS musculares que vão ser mais utilizados. Um aquecimento longo e intenso
Balyi, I. (S/D) Long-Term Athlete Develop- eleva muito a temperatura corporal, tornando mais difícil o arrefecimento
ment- Resource Paper V2. Canadian Sport
durante a competição.
Centres.

Decreto-Lei nº 188 / 2009 de 12 de agosto


4.º Molhar o corpo ou passar uma esponja pela face, braços e pescoço durante
Horta, L. (2006). Nutrição no Desporto. a competição ou nos seus intervalos, sempre que possível.
Editorial Caminho (3.ª Edição)

Horta, L. (2011). Prevenção de Lesões no 5.º Diminuir o ritmo competitivo. Não podemos pensar, por exemplo, que é
Desporto. Texto Editores possível a mesma velocidade de corrida num ambiente quente e húmido
Netter, Frank H. (2009). Atlas de Anatomia em comparação com um clima fresco e seco.
Humana. Editora Elsevier (4ª Edição)

Parker, Steve (2007). Anatomia e Fisiologia


6.º Beber regularmente líquidos durante a competição.
do Corpo Humano. Civilização Editora (2.ª
Edição)
7.º Parar ou diminuir o ritmo competitivo quando aparecerem os sinais anun-
Teixeira P., Sardinha L. B., Themudo Barata ciadores de desidratação.
J.L (2008). Nutrição, Exercício e Saúde. LIDEL

LIGAÇÕES
www.infopedia.pt
Enciclopédia e Dicionários Porto Editora

www.idesporto.pt
Instituto Português de Desporto e Juventude

www.inem.pt
Instituto Nacional de Emergência Médica

110
NUTRIÇÃO

Autoavaliação
n De que fatores dependem as necessidades calóricas de um atleta?

n Descreva em que tipos de atividades são utilizados o metabo-


lismo anaeróbio aláctico, anaeróbio láctico e aeróbio e a partir
de que substratos é fornecida a energia para cada um deles.

n Descreva a importância do metabolismo aeróbio nas fases de


recuperação.

n De que fatores depende a percentagem relativa de compar-


ticipação de cada um dos carburantes (hidratos de carbono,
lípidos e proteínas) no fornecimento energético durante a
atividade desportiva?

n Refira as vantagens e desvantagens da utilização de hidratos


de carbono complexos versus hidratos de carbono simples nos
OBSERVAÇÃO E
hábitos nutricionais dos atletas. ANÁLISE DAS
HABILIDADES
DESPORTIVAS
Qual a importância do índice glicémico dos alimentos? Dê

?
n

exemplo de alimentos com índices glicémicos baixos e eleva-


dos. Em que momentos devem os atletas privilegiar a ingestão
de alimentos com alto índice glicémico?

n Quais os alimentos mais ricos em lípidos?

n As reservas de triglicéridos existentes nos músculos e tecido


adiposo são mais do que suficientes para satisfazer as solicita-
ções do exercício físico? E as reservas de hidratos de carbono?

n Em que alimentos podemos encontrar proteínas animais e


proteínas vegetais?

n Descreva a importância das reservas de glicogénio muscular e


hepático em atletas.

n Por que razão o glicogénio muscular é conhecido como o su-


percarburante do músculo?

n Descreva como o défice de reservas de glicogénio muscular


pode conduzir a sindromas de fadiga de instalação súbita e de
fadiga de instalação prolongada no desporto.

111
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU I

Como se manifesta uma fadiga de instalação prolongada por


INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

défice de glicogénio muscular?

n Qual a estratégia a seguir para obtermos boas reservas de


glicogénio muscular ou hepático?

n As vitaminas e os minerais podem aumentar o rendimento


desportivo quando tomadas em quantidades superiores às
necessidades diárias?

n Quais as necessidades acrescidas de vitaminas e minerais nos

?
atletas e como podemos obtê-las?

n A que patologias pode predispor o défice de ferro e cálcio nos


atletas?

n Explique a importância da água corporal no funcionamento


do nosso organismo. Descreva os principais mecanismos do
sistema de arrefecimento orgânico.

n Que estratégias podemos utilizar para a adaptação ao calor e


humidade relativa elevadas?

n Que cuidados a ter quando as condições de arrefecimento são


deficientes e de forma a podermos implementar uma estra-
tégia adequada de prevenção do défice de hidratação e da
desidratação?

112
NUTRIÇÃO

Conclusões
As necessidades calóricas de um indivíduo dependem de diversos fatores:
da idade; do peso corporal; do género; da atividade física diária; do estado
psíquico; das condições climatéricas; entre outros.

A energia encontra-se armazenada no organismo sob a forma de ATP


(adenosina trifosfato) formada a partir do ADP (adenosina difosfato), que se
liga com um fosfato através de uma ligação de alta energia.

O metabolismo anaeróbio aláctico é fundamentalmente utilizado em


atividades de grande intensidade, explosivas e de curta duração que duram
apenas alguns segundos. Neste tipo de metabolismo, a energia é fornecida
a partir do ATP celular e das suas reservas existentes na célula sob a forma
de fosfocreatina.

O metabolismo anaeróbio láctico é fundamentalmente utilizado em ativi-


dades de grande intensidade mas mais prolongadas no tempo, atingindo a
sua expressão máxima em atividades intensas e com cerca de 50 segundos OBSERVAÇÃO E
ANÁLISE DAS
de duração. Neste tipo de metabolismo a energia é fornecida a partir da
HABILIDADES
glicose e das reservas desta existente no glicogénio muscular. DESPORTIVAS

O metabolismo aeróbio é fundamentalmente utilizado em atividades de


pequena e média intensidade mas muito prolongadas no tempo. Neste
tipo de metabolismo a energia é fornecida a partir da glicose e das reservas
desta existente no glicogénio muscular, mas também a partir dos ácidos
gordos.

Em todas as atividades, embora haja um predomínio de um tipo de


metabolismo utilizado, acaba por haver sempre mais do que um tipo de
metabolismo que dá o seu contributo para o fornecimento da energia
necessária para o desempenho de uma determinada atividade.

O metabolismo aeróbio tem um papel importante no pagamento da dívida


de ATP e fosfocreatina gerada nas atividades anaeróbias realizadas. Dessa
forma, o metabolismo aeróbio ocupa assim um papel essencial nas fases
de recuperação dentro da própria atividade ou fora da atividade no inter-
valo entre as mesmas.

A percentagem relativa de comparticipação de cada um dos carburantes


(hidratos de carbono, lípidos e proteínas) no fornecimento energético
durante a atividade desportiva varia de acordo com diversos fatores: a
intensidade do esforço; a duração do esforço; o treino, e a alimentação.

113
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU I
INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

Nos atletas, a principal fonte de fornecimento de hidratos de carbono deve


ter origem nos hidratos de carbono complexos, os quais são, em geral,
absorvidos mais lentamente a nível intestinal, indo preencher lentamente
as reservas de glicogénio hepático e muscular. São exemplo de hidratos de
carbono complexos, os existentes nomeadamente no pão, nos cereais, nas
massas alimentícias, nas batatas, nas leguminosas e nos vegetais.

Os hidratos de carbono simples (açúcar de mesa, bolos, guloseimas, com-


potas e bebidas açucaradas) são absorvidos muito rapidamente e assim,
além de preencherem as reservas de glicogénio, são transformados em trigli-
céridos e depositados no tecido adiposo, pois o tecido muscular e hepático
não conseguem absorver toda a glicose posta rapidamente à sua disposição.

Se quisermos ingerir hidratos de carbono de absorção rápida devemos


fazê-lo idealmente depois de um treino ou em segunda opção dentro de
uma refeição, nunca isoladamente. Evitar assim bolos, guloseimas, refrige-
rantes, mel, compotas e outros hidratos de carbono simples, no intervalo
das refeições.

O índice glicémico utiliza-se para medir a rapidez de absorção dos hidratos


de carbono a nível intestinal. Quanto mais alto é, maior a rapidez de absor-
ção do hidrato de carbono em causa.

Os lípidos são mais abundantes no leite e seus derivados (manteiga, queijo,


cremes, entre outros), nos óleos vegetais, nas carnes (mesmo nas magras),
nos ovos, nozes e outros frutos secos, entre outros.

As reservas de triglicéridos existentes nos músculos e tecido adiposo são


mais que suficientes para satisfazer as solicitações do exercício físico. O mes-
mo não acontece com as reservas de hidratos de carbono. Assim, a preocupação
deverá ir no sentido de economizar as reservas de hidratos de carbono o mais
possível e utilizar em sua substituição as reservas de ácidos gordos.

As proteínas podem ser encontradas tanto em produtos animais como em


produtos vegetais: proteínas animais – ovos, leite e derivados, carne, peixe,
entre outros; proteínas vegetais – soja, feijão, grão, favas, ervilhas, nozes,
arroz e outros cereais integrais, entre outros.

As reservas de glicogénio muscular e hepático representam uma impor-


tante fonte de fornecimento de glicose ao organismo humano. São polis-
sacáridos formados por uma cadeia mais ou menos longa de moléculas de
glicose, permitindo o armazenamento de grandes quantidades de glicose
num espaço limitado do músculo ou do fígado.

114
NUTRIÇÃO

As reservas de glicogénio muscular são fundamentais como fonte de for-


necimento de glicose à célula muscular para que ela a possa utilizar como
fonte energética, tanto quando utiliza o metabolismo anaeróbio láctico
como quando utiliza o metabolismo aeróbio.

Quanto mais intensa for a atividade física, maior será a potência do trabalho
muscular e assim maior a utilização do glicogénio muscular – o supercar-
burante do músculo.

As reservas de glicogénio muscular não são apenas importantes nas


atividades de longa duração que utilizam essencialmente o metabolismo
aeróbio. Hoje sabe-se que as suas reservas são importantes em atividades
de caraterísticas mistas (modalidades coletivas, por exemplo) ou mesmo
em atividades explosivas que se repetem no tempo (desportos de combate,
por exemplo).

O défice de glicogénio muscular representa uma das causas mais comuns


OBSERVAÇÃO E
de fadiga de instalação súbita na atividade desportiva.
ANÁLISE DAS
HABILIDADES

As reservas de glicogénio muscular podem ser aumentadas através de um DESPORTIVAS

planeamento de treino adequado e da realização de uma dieta rica em


hidratos de carbono.

A síndroma de fadiga de instalação prolongada pode instalar-se se os


atletas não estiverem conscientes da necessidade de reforçarem a ingestão
de hidratos de carbono nas primeiras horas após os treinos e competições
onde utilizaram as suas reservas de glicogénio muscular como fonte ener-
gética e se este erro se repetir ao longo do tempo, reduzindo progressiva-
mente aquelas reservas.

Os treinadores, quando os atletas apresentam uma diminuição do seu


rendimento desportivo, quer no treino quer na competição, referindo
simultaneamente sensação de fadiga, tentam encontrar justificação para
essa constatação noutros motivos sem habitualmente pensarem numa
causalidade do foro nutricional.

As reservas de glicogénio hepático são fundamentais como fonte de for-


necimento de glicose ao sangue para que a glicemia seja mantida a níveis
adequados. A glicose funciona como único nutriente do sistema nervoso
central e dessa forma a manutenção da glicemia em níveis adequados é o
garante de um bom funcionamento daquele sistema.

115
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU I
INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

O défice de glicose no sangue por esgotamento das reservas de glicogénio


hepático representa uma causa de fadiga de instalação súbita na ativi-
dade desportiva e um fator de risco de lesão desportiva por perturbação
de atividades nobres do sistema nervoso central (concentração, atenção,
alterações da visão e da coordenação neuro-muscular, entre outros).

As vitaminas e os minerais são importantes na alimentação do atleta mas


não aumentam o seu rendimento desportivo quando tomadas em quanti-
dades superiores às necessidades diárias.

Um atleta com um treino intenso parece ter necessidades vitamínicas


superiores às de um indivíduo sedentário, principalmente em relação às
vitaminas do complexo B, vitamina C, vitamina A e vitamina E. No entan-
to, uma dieta diversificada satisfaz com facilidade os requisitos diários do
atleta, não havendo desenvolvimento de situações deficitárias.

Os atletas, parecem necessitar de quantidades superiores de sódio, potás-


sio, cloro, cálcio, ferro, magnésio, cobre, zinco, manganésio e selénio em
relação aos sedentários, embora não haja indicações muito precisas sobre
os valores ideais de ingestão diária de minerais para atletas.

O défice de cálcio pode originar uma maior predisposição para fraturas de


fadiga, enquanto que o défice de ferro predispõe para o aparecimento de
anemia ferropénica.

A água corporal tem um papel fundamental no funcionamento do nosso


organismo. Pelo menos 60% do nosso peso é pura e simplesmente água.
A atividade desportiva pode levar a défice ou esgotamento das reservas de
água do nosso organismo, devido às perdas deste líquido pelo suor e pelas
vias respiratórias.

O rendimento competitivo diminui à medida que se vai instalando um


défice de hidratação no nosso organismo. Quanto maior for esse défice
maior é a perda de rendimento competitivo numa relação diretamente
proporcional.

O treinador deve conhecer as estratégias de adaptação ao calor e os


cuidados a ter quando as condições de arrefecimento são deficientes de
forma a poder ser implementada uma estratégia adequada de prevenção
do défice de hidratação e desidratação.

116
NUTRIÇÃO

GLOSSÁRIO
A B
CASEÍNA
Proteína do tipo fosfoproteína en-
contrada no leite fresco.

ÁCIDO PIRÚVICO BIOMETRIA CATABOLISMO


Produto intermédio do metabolismo Estudo estatístico das caraterísticas Processo pelo qual os compostos
energético. físicas ou comportamentais dos orgânicos complexos são fraciona-
seres vivos. dos em compostos químicos mais
ACTINA simples, produtos residuais e, em
Proteína constituinte das fibras BREVILÍNEO geral, libertam energia.
musculares. Indivíduo cujo corpo é mais baixo e
largo do que o padrão normal. CEFALEIAS OBSERVAÇÃO E
ANÁLISE DAS
ADRENALINA Dor de cabeça. HABILIDADES

Hormona suprarrenal muito impor- BSE DESPORTIVAS

tante na atividade física. A encefalopatia espongiforme bo- CIFOSE


vina, vulgarmente conhecida como Aumento anormal da convexidade
ALBUMINA doença da vacas loucas. anterior da coluna vertebral.
Proteína de alto valor biológico
presente principalmente na clara do BULBO RAQUIDIANO CITOCROMOS
ovo, no leite e no sangue. Principal Porção inferior do tronco encefáli- Proteínas contendo ferro, muito im-
proteína do plasma sanguíneo, é sin- co, juntamente com outros órgãos portantes nas reações de oxi-redu-
tetizada no fígado pelos hepatócitos. como o mesencéfalo e a ponte, que ção, a nível da cadeia respiratória.
estabelece comunicação entre o
ALTERAÇÕES IÓNICAS cérebro e a medula espinhal. CONTRAÇÃO RESISTIDA
Alterações dos iões intra ou extrace- Contração de um músculo contra
lulares. uma resistência que pode ser a

C
própria ação da força da gravidade
AMINOÁCIDO ou de um haltere.
Constituinte das proteínas.

ATLETAS AMENORREICAS CADEIAS MUSCULARES


Que padecem de amenorreia, ou Grupos de músculos que con-
seja, ausência de período menstrual tribuem para a execução de um
durante um determinado período. determinado movimento.

117
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GRAU I
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PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

D
ENZIMAS ESTROGÉNIOS
Substâncias que aceleram as reações Hormonas sexuais femininas.
químicas.
EXAME DE SOBRECLASSIFICAÇÃO
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL EQUIMOSE Exame médico realizado a um atleta
Método sistemático usado para Mancha formada na pele por candidato à prática desportiva para
identificar doenças. É feito, essencial- extravasão de sangue resultante além do escalão imediatamente
mente, por processo de eliminação. de contusão, e cuja cor passa do superior ao correspondente da sua
vermelho ao azulado e finalmente idade. Exige uma avaliação rigo-
DIPLOPIA ao amarelado. rosa da maturidade física (estudo
Visão dupla é a perceção de duas biométrico, idade óssea, matura-
imagens a partir de um único objeto. ESCOLIOSE ção sexual, avaliação cardíaca) e
Desvio da coluna vertebral para a maturidade psicológica, de forma
esquerda ou direita, resultando num a assegurar que o praticante tem

E
formato de «S» ou «C». É um desvio capacidade para ser submetido a
da coluna no plano frontal acom- cargas de treinos e competições
panhado de uma rotação e de uma superiores às previstas para a sua
gibosidade. idade cronológica. Este exame
EDEMA é realizado exclusivamente nos
Acumulação anormal de líquido no ESPAÇO EXTRACELULAR Centros de Medicina Desportiva sob
compartimento extracelular inters- Espaço composto pela junção do a tutela do Instituto Português de
ticial ou nas cavidades corporais espaço vascular com o espaço Desporto e Juventude.
devido ao aumento da pressão hi- intersticial.
drostática, diminuição da pressão os- EXAME ECTOSCÓPICO
mótica, aumento da permeabilidade ESPAÇO INTERSTICIAL Faz parte do exame objetivo na
vascular (inflamações) e diminuição Espaço formado pelo meio líquido avaliação clínica e dá-nos uma ideia
da drenagem linfática. que se encontra entre as células. global da morfologia do atleta.

EFERENTE ESPAÇO INTRACELULAR

F
Que vai da região central para a Espaço formado pelos líquidos que
periferia. se encontram no interior das células.

ELASTINA ESTOMATOLÓGICO
Proteína que possibilita a elasticida- Parte da medicina que estuda a FIBRAS DE COLAGÉNEO
de dos tecidos. boca e as suas doenças. Colagéneo é uma proteína de impor-
tância fundamental na constituição

118
NUTRIÇÃO

G I
da matriz extracelular do tecido
conjuntivo, sendo responsável por
grande parte das suas propriedades
físicas. No corpo humano, o colagé-
neo desempenha várias funções, GENITO-URINÁRIO IMPOTÊNCIA FUNCIONAL
como, por exemplo, unindo e forta- Relativo ao sistema genital e urinário. Incapacidade de realizar uma função.
lecendo os tecidos.
GLICEROL IMUNOGLOBULINAS
FIBRILHAÇÃO VENTRICULAR Constituinte dos triglicéridos em Substâncias que garantem a defesa
A fibrilhação ventricular é uma série associação com os ácidos gordos. do organismo contra agentes pato-
descoordenada e potencialmente génicos como vírus e bactérias.
fatal de contrações ventriculares GLÓBULOS VERMELHOS OBSERVAÇÃO E
ANÁLISE DAS
muito rápidas e ineficazes, produzi- Células sanguíneas, também cha- INSULINA HABILIDADES

das por múltiplos impulsos elétricos madas de eritrócitos, que contêm a Hormona produzida pelo pâncreas DESPORTIVAS

caóticos. Na fibrilhação ventricular, hemoglobina. importante na resposta anabólica.


os ventrículos tremem, mas não
contraem de forma coordenada. GLUCAGINA IÓNICAS
Hormona produzida pelo pâncreas Relativa a iões.
FIBROSE MUSCULAR como a insulina, mas com funções
Zona cicatricial formada por tecido opostas a esta. ISQUEMIA
conjuntivo formado por entrançado Situação motivada por uma diminui-
de fibras de colagéneo que ocorre ção do aporte sanguíneo a um órgão

H
após uma lesão muscular. ou tecido, ocasionando, se prolonga-
da, morte celular.
FOCO DE FRATURA
Conjunto de tecidos lesados pelo

J
traumatismo comum que conduziu HEMOGLOBINA - Proteína transpor-
à fratura, podendo envolver lesões tadora do oxigénio no sangue.
vasculares, nervosas, ligamentares,
musculares, tendinosas junto ao HORMONAS - Substância segregada
local da lesão óssea. por uma glândula endócrina. JOELHO VALGO
Projeção dos joelhos para dentro da
linha média do corpo.

119
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O
JOELHO VARO MEDULA ÓSSEA
Projeção dos joelhos para fora da Tecido esponjoso que ocupa o
linha média do corpo. interior dos ossos, onde são produ-
zidos os componentes do sangue:
glóbulos vermelhos, glóbulos brancos OFTALMOLÓGICO

L
e plaquetas. Os glóbulos vermelhos Relacionado com Oftalmologia, especia-
transportam o oxigénio dos pulmões lidade médica que trata as doenças da
até às células de todo o organismo, e visão e dos olhos.
o dióxido de carbono das células até
LESÕES ISQUÉMICAS PERIFÉRICAS aos pulmões, para ser expirado. Os OLIGOELEMENTOS
Lesões de tecidos orgânicos glóbulos brancos são os agentes mais Elementos químicos essenciais
causadas por isquemia a nível das importantes na defesa do organismo e para os seres vivos, geralmente são
extremidades. as plaquetas fazem parte do sistema de encontrados em baixa concentração
coagulação do sangue. nos organismos, mas são essenciais
LIPOLÍTICAS aos processos biológicos por serem
Que causa a destruição ou utilização METABOLISMO CELULAR fundamentais para a formação de
dos lípidos. A célula constitui a unidade estrutural, enzimas vitais para determinados
reprodutiva e fisiológica fundamen- processos bioquímicos como, por
LONGILÍNEO tal em todos os seres vivos. No seu exemplo, a fotossíntese ou a digestão.
Indivíduo cujo corpo é mais longo e interior processam-se uma série de
delgado do que o padrão normal. reações químicas, cujo conjunto forma OTORRINOLARINGOLÓGICO
o metabolismo celular. A matéria-pri- Relacionado com Otorrinolaringolo-
ma para as reações metabólicas são os gia, especialidade médica que trata as

M
nutrientes, provenientes da absorção doenças dos ouvidos, nariz e garganta.
intestinal, que são utilizados quer na
elaboração de novos componentes

P
orgânicos quer como combustível
MECANORECEPTORES para a produção de energia.
Recetor sensorial que responde a
pressão ou outro estímulo mecâ- MIOSINA
nico. Proteína constituinte da fibra muscular. PÉ CAVO
Designação usada na área da saúde
MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO MUCOSA INTESTINAL para designar a deformidade do pé
Especialidade médica também Tecido de revestimento interno do onde há um aumento da curvatura da
designada como Fisiatria. intestino por onde se processa a arcada longitudinal do pé.
absorção intestinal.

120
NUTRIÇÃO

PÉ PLANO QUILOCALORIA - Unidade de medi- através delas que o impulso que leva
Designação usada na área da saúde da de energia que não pertence ao a informação é transmitido. Podem
para designar a deformidade do pé Sistema Internacional de Unidades. ser de dois tipos: sinapse química
onde há um diminuição da curvatura (neuro-transmissores), utilizadas
da arcada longitudinal do pé. no sistema nervoso; e as sinapses

R
elétricas, utilizadas pelos músculos
PERDA DE SUBSTÂNCIA e coração.
Perda de tecidos orgânicos (pele,
tecido celular subcutâneo, músculo, SISTEMA PARASSIMPÁTICO
entre outros) numa ferida. RADICAIS LIVRES DE OXIGÉNIO Parte do sistema nervoso autónomo
Radicais formados pela redução incom- responsável por estimular ações que
PERIÓSTEO pleta do oxigénio, gerando espécies permitem ao organismo responder OBSERVAÇÃO E
ANÁLISE DAS
Membrana muito vascularizada, que apresentam alta reatividade para a situações de calma, como fazer HABILIDADES

fibrosa e resistente, que envolve outras biomoléculas, principalmente ioga ou dormir. Essas ações são: DESPORTIVAS

por completo os ossos, exceto nas lípidos e proteínas das membranas a desaceleração dos batimentos
articulações. celulares e, até mesmo, o DNA. cardíacos, diminuição da pressão
arterial, a diminuição da produção
pH REAÇÃO INFLAMATÓRIA de adrenalina e a diminuição da taxa
Escala de 0 a 14 que nos permite classifi- Resposta defensiva do nosso orga- de glicose no sangue.
car uma substância como ácida (pH<7), nismo a um agente agressor provo-
alcalina (pH>7) ou neutra (pH=7). cando edema, calor, dor e rubor. SISTEMA PROPRIOCETIVO
É a estrutura orgânica que, entre
PLASMA RETROPÉ VALGO outras, informa o cérebro sobre o
Componente líquido do sangue, Retropé pronado. estado de cada segmento do corpo
no qual as células sanguíneas estão humano, sobre a relação entre cada
suspensas. RETROPÉ VARO segmento e o todo corporal. Informa
Retropé supinado. também sobre a relação do corpo
com o espaço que o rodeia.

Q S SOBREAQUECIMENTO
Situação clínica grave motivada por
aumento excessivo da temperatura
QUERATINA SINAPSE corporal.
Proteína sintetizada por muitos ani- Ponto de união entre duas células.
mais para formar diversas estruturas As sinapses servem como meio SUBCUTÂNEO - Algo que se encon-
do corpo. de comunicação entre células e é tra abaixo da pele.

121
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GRAU I
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PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

V
SUDORESE - Mecanismo fisiológico
para produção e eliminação de suor
pelas glândulas sudoríparas.

VASOCONSTRIÇÃO

T
Diminuição do calibre dos vasos
sanguíneos diminuíndo o aporte de
sangue às celulas.

TECIDO CELULAR SUBCUTÂNEO VASODILATAÇÃO


Também designado de hipoderme, Aumento do calibre dos vasos san-
é uma camada de tecido conjun- guíneos aumentando o aporte de
tivo localizada abaixo da derme, a sangue às celulas.
camada profunda da pele, unindo-a
de maneira pouco firme aos órgãos
adjacentes.

TERMOGÉNESE
Desenvolvimento do calor nos seres
vivos.

TESTOSTERONA
Hormona sexual masculina.

TRANSPORTE DE OXIGÉNIO
Os glóbulos vermelhos contêm
um pigmento respiratório que dá a
cor avermelhada ao sangue e que
se chama hemoglobina (Hg). É a
hemoglobina, que é uma proteína
que possui ferro, que permite o
transporte de oxigénio na corrente
sanguínea.

122
FICHA TÉCNICA
PLANO NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES
MANUAIS DE FORMAÇÃO - GRAU I

EDIÇÃO
INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE, I.P.
Rua Rodrigo da Fonseca nº55
1250-190 Lisboa
E-mail: [email protected]

AUTORES
FEDERAÇÃO PORTUGUESA DE DESPORTO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
O DESPORTO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
HUGO LOURO
OBSERVAÇÃO E ANÁLISE DAS HABILIDADES DESPORTIVAS
JOÃO BARREIROS
DESENVOLVIMENTO MOTOR E APRENDIZAGEM
JOSÉ RODRIGUES
OBSERVAÇÃO E ANÁLISE DAS HABILIDADES DESPORTIVAS
LUÍS HORTA
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO, NUTRIÇÃO E PRIMEIROS SOCORROS
LUTA CONTRA A DOPAGEM
LUÍS RAMA
TEORIA E METODOLOGIA DO TREINO - MODALIDADES INDIVIDUAIS
OLÍMPIO COELHO
DIDÁTICA DO DESPORTO
PEDAGOGIA DO DESPORTO
PAULO CUNHA
TEORIA E METODOLOGIA DO TREINO - MODALIDADES COLETIVAS
RAÚL PACHECO
FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO, NUTRIÇÃO E PRIMEIROS SOCORROS
SIDÓNIO SERPA
PSICOLOGIA DO DESPORTO

COORDENAÇÃO DA PRODUÇÃO DE CONTEÚDOS


António Vasconcelos Raposo

COORDENAÇÃO DA EDIÇÃO
DFQ - Departamento de Formação e Qualificação

DESIGN E PAGINAÇÃO
BrunoBate-DesignStudio

© IPDJ - 2016

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