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NOTAS DO CURSO

de

MATEMÁTICA I
2009/2010

Carlos Leal

Departamento de Matemática da F.C.T.U.C.


NOTA INTRODUTÓRIA

Estas notas foram escritas como apoio à disciplina de Matemática I das


Licenciaturas em Quı́mica e Quı́mica Industrial. A introdução de vários
exemplos e exercı́cios ao longo do texto tem por objectivo, facilitar a compre-
ensão das matérias aı́ expostas e fomentar a sua utilização nas aulas práticas.
No final de cada capı́tulo, colocaremos alguns exercı́cios que serão resolvidos
pelos alunos.
O nosso objectivo ao elaborar estas notas é orientar o estudo dos alunos
fornecendo-lhe um texto que, no essencial, traduzirá o que se passará nas
aulas. Sugiro que outros elementos de estudo sejam utilizados, em particular
os livros que constam da bibliografia aconselhada.
Tentaremos que, o uso regular destas notas, dê um melhor enquadra-
mento teórico aos exercı́cios práticos sem que haja necessidade de relembrar
constantemente os resultados teóricos que suportam a sua elaboração.
Este curso é constituido por quatro capı́tulos: Funções; Cálculo integral;
Equações diferenciais; Equações paramétricas e coordenadas polares.
No capı́tulo sobre funções começaremos por rever alguns conceitos e pro-
priedades fundamentais que caracterizam as funções. A seguir, estudaremos
limites, continuidade e,por fim, o cálculo diferencial.
No segundo capı́tulo, sobre cálculo integral, começaremos por estudar
primitivas, definir o integral definido duma função e faremos aplicações ao
cálculo de áreas, volumes e comprimentos de arco. Por último, definiremos
integral impróprio e daremos alguns métodos de integração numérica.
As equações diferenciais de primeira ordem serão estudadas no terceiro
capı́tulo. Estudaremos métodos gráficos, numéricos e analı́ticos.
No último capı́tulo, estudaremos curvas em coordenadas polares e pa-
ramétricas com aplicação à determinação de áreas, volumes e comprimen-
tos de curva. Nos dois primeiros capı́tulos seguimos de muito perto o livro
Cálculo Vol I de James Stewart, para os dois últimos usamos o Volume II
do mesmo autor.
Como bibliografia sugerimos as seguintes referências:
• Cálculo Vol I - James Stewart
• Cálculo Vol II - James Stewart
• Princı́pios de Análise Matemática Aplicada - J. Carvalho e Silva
• Análise Matemática Aplicada - J. Carvalho e Silva e C. Leal

2
Capı́tulo 1

Funções

1.1 Generalidades
Nesta secção iremos rever alguns conceitos fundamentais sobre funções. Serão
recordadas algumas noções que caracterizam as funções e que serão usadas
ao longo do curso.

1.1.1 Noção de função


O conceito de função tem uma importância fundamental em Matemática.
Duma forma simplificada podemos dizer que uma função estabelece a forma
como uma quantidade depende de outra.
Podemos afirmar que uma função f é uma regra ou lei, que a cada ele-
mento x dum conjunto A associa um só elemento f (x) dum conjunto B.
Ao conjunto A chamamos domı́nio da função f e a B conjunto de che-
gada. Ao sı́mbolo x, que representa um número arbitrário do domı́nio de f ,
chamamos variável independente.
As funções podem ser definidas de várias formas:
• por palavras
• por uma tabela de valores
• graficamente
• algebricamente (analiticamente)
Neste último caso, para funções reais de variável real, isto é, funções cujo
domı́nio está contido em R e cujo conjunto de chegada é R, é usual escrever
f : R→R
x → f (x)

3
dando uma expressão para f (x).

Exemplo 1.1 Quando se considera a função

f : R→R
x → x2

percebemos claramente como é que a função está definida.

1.1.2 Gráfico duma função

Para uma função


f : A⊂R→R
x → f (x)
define-se gráfico de f por

Grf = {(x, y) ∈ R2 : y = f (x), x ∈ A}

Habitualmente associamos esta definição à representação gráfica desta


função.

Exemplo 1.2 Para a função do exemplo anterior temos

Grf = {(x, x2 ) : x ∈ R}

Este conjunto é representado em R2 por

4
Exercı́cio 1.1 Faça um esboço dos gráficos das funções abaixo definidas:
a) f : R → R b) f : [0, +∞[ → R
x → x x → x2

c) f : [−2, +2][ → R

x → 4 − x2

1.1.3 Propriedades que caracterizam as funções


Função injectiva

Uma função f : A ⊂ R → R é dita injectiva se a elementos distintos de


A corresponderem imagens diferentes. Isto é,

∀x1 , x2 ∈ A, x1 6= x2 ⇒ f (x1 ) 6= f (x2 ).

Observação 1.1 A função do exemplo 1.1 não é injectiva.

Com efeito, se traçarmos uma recta horizortal de equação y = c, com


c > 0, verificamos que ela intersecta o gráfico de f em dois pontos distintos.

Isto significa que há dois pontos do domı́nio de f que têm a mesma
imagem. Logo a função não é injectiva.

Observação 1.2 Veremos mais tarde a importância desta noção para a de-
finição de função inversa.

Exercı́cio 1.2 Determine, graficamente, quais as funções do exercı́cio 1.1


que não são injectivas.

5
Função sobrejectiva

Uma função f : A ⊂ R → R é dita sobrejectiva se todo o elemento y do


conjunto de chegada, neste caso R, for imagem dum elemento x do domı́nio
de f . Isto é,

∀y ∈ R, ∃x ∈ A : f (x) = y.

Observação 1.3 A função do exemplo 1.1 não é sobrejectiva. Com efeito,


considerando um qualquer número negativo y1 , não existe x1 ∈ R tal que
f (x1 ) = y1 . No entanto se tivessemos considerado R+ para conjunto de
chegada essa função seria sobrejectiva.

Exercı́cio 1.3 Verifique se as funções do exercı́cio 1.1 são sobrejectivas.

Função par

Uma função f : A ⊂ R → R é dita par se

f (−x) = f (x) , ∀x ∈ A.
O gráfico de uma função par é simétrico em relação ao eixo dos yy.
Para que se possa falar em função par é necessário que o domı́nio de f
seja simétrico em relação à origem para que façam sentido f (x) e f (−x).
A função do exemplo 1.1 é par.
Função ı́mpar

Uma função f : A ⊂ R → R é dita ı́mpar se

f (−x) = −f (x) , ∀x ∈ A.
O gráfico de uma função ı́mpar é simétrico em relação à origem.

Exemplo 1.3 A função


f : R→R
x → x3
é ı́mpar.

Exercı́cio 1.4 Dê dois exemplos de funções pares e de funções ı́mpares.

6
Função monótona

Diremos que uma função f : A ⊂ R → R é crescente (estritamente


crescente) se

∀x1 , x2 ∈ A, x1 < x2 ⇒ f (x1 ) ≤ f (x2 ) (f (x1 ) < f (x2 )).


Diremos que uma função f : A ⊂ R → R é decrescente (estritamente
decrescente) se

∀x1 , x2 ∈ A, x1 < x2 ⇒ f (x1 ) ≥ f (x2 ) (f (x1 ) > f (x2 )).


Uma função que seja crescente, estritamente crescente, decrescente ou
estritamente decrescente, diz-se monótona.
Exercı́cio 1.5 Verifique se as seguintes funções são monótonas:

a) f : R → R b) f : [0, +∞[ → R
x → x2 x → x2

c) f : R → R d) f : ] − ∞, 0] → R
x → x3 x → x2

Função limitada

Uma função f : A ⊂ R → R diz-se limitada se o conjunto das suas


imagens ( contradomı́nio) for um conjunto limitado, isto é,
∃M ∈ R : |f (x)| ≤ M, ∀x ∈ A.
Observação 1.4 Graficamente isto significa que o gráfico de f se situa den-
tro duma faixa simétrica em relação ao eixo dos xx.
Exercı́cio 1.6 Dê um exemplo duma função que seja limitada e de outra
que seja ilimitada.

Função periódica

Uma função é dita periódica se existir α 6= 0 tal que para todo o x ∈ R,

f (x + α) = f (x).
A um tal α chamamos perı́odo de f . Ao menor α positivo nestas condições
chamamos perı́odo fundamental. Se nada for dito em contrário, daqui por
diante chamaremos perı́odo de f ao perı́odo fundamental.

7
Observação 1.5 Se uma função for periódica de perı́odo α basta conhecer
a função num intervalo de comprimento α para se saber o que se passa em
todo o R

Exemplo 1.4 A função


f : R→R
x → sin x
é periódica de perı́odo 2π . O gráfico da restrição desta função ao intervalo
[−π, π] está representado na figura abaixo

Sin@xD
1

0.5

x
-3 -2 -1 1 2 3

-0.5

-1

Exercı́cio 1.7 Use a figura anterior para representar o gráfico da função


sin x com domı́nio R.

Exemplo 1.5 A função

f : R→R
sin x
x → tg x = cos x

cujo domı́nio é
π
Dtg = {x ∈ R : cos x 6= 0} = R − { + kπ, k ∈ Z}
2
é periódica de perı́odo π. O gráfico da restrição desta função ao intervalo
] − π2 , π2 [ está representado na figura abaixo
tg x

x
-1.5 -1 -0.5 0.5 1 1.5
-2

-4

8
1.1.4 Composição de funções

Dadas duas funções f e g definimos a sua composição f og por

f og(x) = f (g(x)).

Obviamente que, para que tal seja possı́vel, o contradomı́nio de g deve


estar contido no domı́nio de f .

Exemplo 1.6 Se as funções reais de variável real f e g são definidas por


f (x) = x2 e g(x) = 2x + 1, respectivamente, então

f og(x) = 4x2 + 4x + 1
enquanto que

gof (x) = 2x2 + 1.

Exercı́cio 1.8 Calcule f ◦ g e g ◦ f onde

a) f (x) = 3x + 1, g(x) = x2 ;

b) f (x) = ex , g(x) = x2 + 1.

1.1.5 Função inversa

Seja f uma função injectiva com domı́nio A e contradomı́nio B. Podemos


definir a sua inversa f −1 , com domı́nio B e conradomı́nio A da seguinte
forma:

f −1 (y) = x sse f (x) = y.


As funções f e f −1 verificam as seguintes relações:

f −1 (f (x)) = x, ∀x ∈ A

f (f −1 (y)) = y, ∀y ∈ B.

9
Exemplo 1.7 Seja
f : [0, 1] → R
x → 2x2 .
Neste caso A = [0, 1] e B = [0, 2]. A função f −1 tem domı́nio [0, 2] e con-
tradomı́nio [0, 1]. Em termos geométricos é muito simples definir a imagem
f −1 (y) para qualquer valor y entre 0 e 2.

Vejamos agora qual o processo a seguir, num caso geral, para determinar
a expressão analı́tica de f −1 .

• Escrevemos y = f (x).

• Resolvemos esta equação em ordem a x, isto é, obtemos x como função


de y.

• Na expressão encontrada substituimos y por x e ficamos com f −1 (x).

Voltando ao caso particular do exemplo anterior

• Escrevemos y = 2x2 .
py
• Resolvendo esta equação anterior em ordem a x obtemos x = ± 2
.
Como x > 0, escolhemos r
y
x= .
2
• Obtemos então r
x
f −1 (x) = .
2

10
Exercı́cio 1.9 Calcule a função inversa de cada uma das seguintes funções:
a) f : R −→ R
;
x 7−→ x3 + 3
b) f : [0, 2] −→ R
.
x 7−→ x2 + 1
Observação 1.6 Como f (a) = b ⇔ f −1 (b) = a, podemos afirmar que
(a, b) ∈ Gr f ⇔ (b, a) ∈ Gr f −1 .
Concluı́mos então que os gráficos de f e de f −1 são simétricos em relação
à recta de equação y = x.
Exemplo 1.8 Para a > 0 considere-se a função exponencial de base a defi-
nida por
f : R → R
x → ax .
Como se pode observar através da figura que se segue onde estão represen-
tados os gráficos da função exponencial nos casos em que a > 1 e a < 1,
esta função é injectiva. Vamos definir a sua inversa f −1 e chamar-lhe loga .
4

-2 -1 1 2

Teremos então
loga x = y ⇔ ay = x.
Usando a informação anterior sobre a relação existente entre os gráficos
duma função e da sua inversa podemos concluir que, no caso em que a > 1
o gráfico de loga tem a seginte forma:

2 4 6 8 10

-1

-2

Exercı́cio 1.10 Faça um esboço dos gráficos das funções do exercı́cio 1.9,
bem como das respectivas inversas.

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1.2 Limites
A noção de limite duma função dá-nos alguma informação sobre a função
nas vizinhanças dum dado ponto.
Por definição, diremos que

lim f (x) = L
x→a

se os valores de f (x) estiverem arbitrariamente próximos de L desde que x


esteja suficientemente próximo de a, mas x 6= a.
Do ponto de vista formal podemos afirmar que

lim f (x) = L ⇔ ∀² > 0, ∃δ > 0 : 0 < |x − a| < δ ⇒ |f (x) − L| < ².


x→a

Desta definição resulta claramente que a noção de limite duma função


quando x → a, não tem nada a ver com o que se passa no ponto a.
Limites laterais
Se estivermos interessados em caracterizar a função para valores de x
próximos de a mas à esquerda (direita) de a podemos usar a noção de limite
lateral.
Diremos que o limite à esquerda(direita) de f no ponto a é igual a L e
denotaremos esse facto por

lim f (x) = L e lim+ f (x) = L


x→a− x→a

respectivamente, se f (x) estiver arbitrariamente próximo de L para x sufici-


entemente próximo de a, com x < a (x > a).

Exemplo 1.9 Na figura seguinte representamos o gráfico duma função f .

Podemos concluir que lim− f (x) = 2 e lim+ f (x) = 1.


x→0 x→0

12
Exercı́cio 1.11 Para a função f representada na figura seguinte, determine,
caso existam:

(a)lim f (x); (b) lim f (x); (c) lim+ f (x); (d) lim− f (x); (e)lim f (x).
x→0 x→−1 x→1 x→1 x→1

Podemos também, à semelhança do que aconteceu anteriormente, dar


uma definição formal de limite à esquerda e de limite à direita.

Como consequência imediata das definições de limite e limite lateral po-


demos concluir que


 lim+ f (x) = L
 x→a
lim f (x) = L ⇔ e
x→a 
 lim f (x) = L
− x→a

Observação 1.7 Se os limites laterais lim+ f (x) e lim− f (x) forem diferen-
x→a x→a
tes então não existe lim f (x)
x→a

Exemplo 1.10 Desta observação concluimos que não existe lim f (x) para a
x→1
função definida no exemplo 1.9.

Exercı́cio 1.12 Esboce o gráfico de uma função f que satisfaça as condições:


lim f (x) = 4, lim f (x) = 2, lim f (x) = 2, f (3) = 3, f (−2) = 1.
x→3+ x→3− x→−2

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Se uma função estiver definida nas vizinhanças de a, excepto possivel-
mente em a, diremos que

lim f (x) = +∞
x→a

se f (x) tomar valores arbitrariamente grandes para x suficientemente próximo


de a mas diferente de a.
De forma análoga se definem

lim f (x) = −∞ ; lim f (x) = −∞ ; lim f (x) = +∞


x→a x→a− x→a−

lim f (x) = +∞ ; lim f (x) = −∞


x→a+ x→a+

Exemplo 1.11 Na figura seguinte está representado o gráfico duma função


f.

Podemos concluir que

lim f (x) = +∞; lim− f (x) = −∞; lim f (x) = 3; lim f (x) = 0
x→0+ x→0 x→−∞ x→+∞

14
Exercı́cio 1.13 Esboce o gráfico de uma função f que satisfaça as seguintes
condições:
lim f (x) = −∞, lim f (x) = 1, lim f (x) = 0,
x→0− x→0+ x→2−

lim f (x) = +∞, f (0) = 1, f (2) = 1.


x→2+

Em alguns casos a partir do conhecimento do limite de algumas funções


é possı́vel determinar o limite de outras funções que são definidas à custa
dessas, usando as chamadas regras de limites que a seguir se apresentam.
Regras:

Sejam c uma constante real e f, g duas funções tais que lim f (x) e lim g(x)
x→a x→a
existem, e são finitos. Nestas condições

1.
lim (f + g)(x) = lim f (x) + lim g(x)
x→a x→a x→a

2.
lim (c.f )(x) = c. lim f (x)
x→a x→a

3.
lim (f × g)(x) = lim f (x) × lim g(x)
x→a x→a x→a

4.
f lim f (x)
lim ( )(x) = x→a , se lim g(x) 6= 0
x→a g lim g(x) x→a
x→a

5.
lim (f (x))n = (lim f (x))n , n∈N
x→a x→a

6. p q
n
lim f (x) = n lim f (x)
x→a x→a

Observação 1.8 Como lim x = a, a utilização das regras anteriores permite-


x→a
-nos concluir que se f é uma função polinomial ou racional(quociente de
funções polinomiais) e a ∈ Df então

lim f (x) = f (a).


x→a

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Exemplo 1.12 Da observação anterior podemos concluir que
x2 + x − 2 0
lim 3
= = 0.
x→1 x +3 4

Exercı́cio 1.14 Sabendo que lim f (x) = −3, lim g(x) = 0 e lim h(x) = 8,
x→a x→a x→a
calcule:
p 1 2f (x)
(a) lim [f (x)]2 (b) lim 3 h(x) (c) lim (d) lim
x→a x→a x→a f (x) x→a h(x) + 4f (x)

Exercı́cio 1.15 Calcule usando as regras dos limites:

(x4 + x2 − 6)
(a) lim (x3 + 2)(x2 − 5x) (b) lim
x→3 x→1 (x4 + 2x + 3)

(c) lim (t + 1)9 (t2 − 1)
2
(d) lim− 16 − x2
t→−2 x→4

Exercı́cio 1.16 Dê um exemplo de duas funções f e g tais que nem lim f (x)
x→0
nem lim g(x) existam, e no entanto:
x→0
(a) lim [f (x) + g(x)] existe (b) lim [f (x) × g(x)] existe.
x→0 x→0

Exercı́cio 1.17 Dê um exemplo de duas funções f e g tais que


lim f (x) = +∞ e lim g(x) = 0 e, para h = g.f se verifique:
x→0 x→0

(a) lim h(x) = +∞ (b) lim h(x) = −∞ (c) lim h(x) = 7


x→0 x→0 x→0

(d) lim h(x) = 0 (e) lim h(x) não existe.


x→0 x→0

Teorema 1.1 Se f e g são duas funções tais que f (x) ≤ g(x), nas vizi-
nhanças de a, excepto possivelmente em a e existirem

lim f (x) e lim g(x)


x→a x→a

então
lim f (x) ≤ lim g(x).
x→a x→a

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Como consequência deste resultado podemos afirmar que se f, g e h são
funções tais que
f (x) ≤ g(x) ≤ h(x)
nas vizinhanças de a, excepto possivelmente em a, e

lim f (x) = lim h(x) = L então lim g(x) = L


x→a x→a x→a
O resultado anterior pode ser usado para calcular o limite quando x → a,
de uma função que esteja ”enquadrada”por duas outras que tenham o mesmo
limite, quando x → a.
Exemplo 1.13 Seja g a função real de variável real definida por
1
g(x) = x2 sin .
x
Obviamente que temos o seguinte enquadramento
−x2 ≤ g(x) ≤ x2
e
lim (−x2 ) = lim x2 = 0.
x→0 x→0
Do resultado anterior concluimos que
lim g(x) = 0.
x→0

Exercı́cio 1.18 Prove, usando o teorema das funções enquadradas:


1 1 √ sin π
(a) lim x sin = 0 (b) lim x4 sin2 √ = 0 (c) lim xe x = 0
x→0 x x→0 3
x x→0+

(d) lim x2 f (x) = 0, sendo f (x) tal que −c ≤ f (x) ≤ c, ∀x ∈ IR, e c > 0.
x→0

Limites no infinto

Até aqui considerámos limites de funções quando x → a onde a é um


valor real. Iremos agora considerar os chamados limites no infinito, isto é,
limites quando x → +∞ ou x → −∞.
Seja f uma função real de variável real definida num subconjunto de R
contendo um intervalo da forma ]a, +∞[ (] − ∞, a]).
Diremos que
lim f (x) = L ( lim f (x) = L)
x→+∞ x→−∞

se f (x) estiver arbitrariamente próximo de L para x suficientemente grande


(grande em módulo mas negativo).

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Duma forma rigorosa poderemos escrever:

• lim f (x) = L ⇔ ∀² > 0, ∃N > 0 : x > N ⇒ |f (x) − L| < ²


x→+∞

• lim f (x) = L ⇔ ∀² > 0, ∃N > 0 : x < −N ⇒ |f (x) − L| < ²


x→−∞

De forma análoga ao que foi feito anteriormente podemos definir limites


infinitos, no infinito, da seguinte forma:

• lim f (x) = +∞ ⇔ ∀M > 0, ∃N > 0 : x > N ⇒ f (x) > M


x→+∞

• lim f (x) = −∞ ⇔ ∀M > 0, ∃N > 0 : x > N ⇒ f (x) < −M


x→+∞

• lim f (x) = +∞ ⇔ ∀M > 0, ∃N > 0 : x < −N ⇒ f (x) > M


x→−∞

• lim f (x) = −∞ ⇔ ∀M > 0, ∃N > 0 : x < −N ⇒ f (x) < −M


x→−∞

Observação 1.9 Nem todos os limites de funções podem ser determinados


usando este resultado das funções ”enquadradas”e as regras de limites.
Por vezes não é possı́vel determinar o limite duma dada função a partir
do conhecimento que se tenha sobre os limites das funções que a constituem.
Poderão aparecer os chamados limites indeterminados ou indeterminações
aos quais voltaremos, mais adiante, quando estivermos munidos de outras
ferramentas que nos permitam calcular estes limites.

1.3 Continuidade
A continuidade é uma noção local e está relacionada com a noção de limite.
Por definição diremos que uma dada função real de variável real f é contı́nua
num ponto a ∈ Df se
lim f (x) = f (a).
x→a

Diremos que f é contı́nua em A ⊂ R se for contı́nua em todos os pontos de


A.

Observação 1.10 Uma função f será então descontı́nua em a ∈ Df se uma


das seguintes condições se verificar.
• Existe lim f (x) mas é diferente de f (a).
x→a

• Não existe lim f (x).


x→a

18
Exercı́cio 1.19 Faça o esboço do gráfico duma função onde possamos en-
contrar pontos de descontinuidade. Essas descontinuidades deverão traduzir
o que foi referido na observação anterior.

Exercı́cio 1.20 Estude, quanto à continuidade, as seguintes funções:


 x
 2e + 1 se x < 0; ½ 1
se x < 0;
(a) f (x) = 1 se x ∈ [0, 2]; (b) f (x) = x
 x se x ≥ 0
cos(πx) se x > 2;
½ ¡1¢ (
1
x sin se x 6= 0; 1 se x 6= 0;
(c) f (x) = x (d) f (x) = 1+e x
0 se x = 0 1 se x = 0

Como consequência da definição de função contı́nua num ponto e das


regras de limites podemos concluir que, se f e g são duas funções reais de
variável real contı́nuas num dado ponto a, então f + g, f − g, f × g e
f
g
(se g(a) 6= 0) também são contı́nuas em a.

Exemplo 1.14 As funções polinomiais, racionais, trigonométricas (!!!), ex-


ponenciais e logaritmicas são contı́nuas.

O resultado que se segue dá um processo para o cálculo do limite da função


composta. O seu aparecimento nesta secção sobre continuidade deve-se ao
facto da noção de continuidade simplificar a sua formulação.

Teorema 1.2 Se f é uma função contı́nua em b e lim g(x) = b então


x→a

lim f (g(x)) = f (lim g(x))


x→a x→a

Como consequência deste teorema podemos garantir que a composição


de funções contı́nuas é uma função contı́nua. Com efeito, se g é uma função
contı́nua em a e f é uma função contı́nua em g(a) = b teremos

lim f (g(x)) = f (lim g(x)) = f (g(a)) = f og(a)


x→a x→a

A primeira igualdade resulta do teorema anterior e a segunda da conti-


nuidade de g em a.

Teorema 1.3 (Valor intermédio) Seja f uma função contı́nua em [a, b]


e N um valor entre f (a) e f (b). Nestas condições existe c ∈]a, b[ tal que
f (c) = N .
Isto significa que f toma todos os valores intermédios entre f (a) e f (b).

19
Exercı́cio 1.21 Interprete geometricamente este resultado.

Observação 1.11 Este resultado pode ser usado para localizar raı́zes de po-
linómios. Por exemplo, é fácil de ver que, considerando

f (x) = 2x3 − x2 + 2x − 1
se tem
f (0) = −1 e f (1) = 2.
Podemos então afirmar que existe um valor a entre 0 e 1 tal que f (a) = 0.
Isto significa que o polinómio

2x3 − x2 + 2x − 1

tem uma raı́z entre 0 e 1.

Podemos usar o teorema anterior para garantir a existência de solução


para outro tipo de equações.

Exemplo 1.15 A equação

2 sin x = cos x
tem pelo menos uma solução no intervalo [0, π2 ].
Com efeito, considerando a função f definida por

f (x) = 2 sin x − cos x

verificamos facilmente que f (0) = −1 e f ( π2 ) = 2. Usando o resultado


anterior concluimos que existe a ∈]0, π2 [ tal que f (a) = 0, isto é,

2 sin a = cos a.

Exercı́cio 1.22 Use o Teorema do Valor Intermédio para mostrar que existe
uma raı́z da equação dada no intervalo especificado:

(a) x3 − 3x + 1 = 0, no intervalo (0, 1)

(b) cos(x) = x, no intervalo (0, 1)

(c) f (x) = x, no intervalo [0, 1], onde f é uma qualquer função continua
que verifique f (x) ∈ [0, 1] para x ∈ [0, 1].

20
π 3π
Exercı́cio 1.23 Seja£ π f3π(x)
¤ = tan(x). Embora f ( 4 ) = 1 e f ( 4 ) = −1, não
existe nenhum x ∈ 4 , 4 tal que f (x) = 0.
Será que este facto contraria o Teorema do Valor Intermédio?
Justifique.

Exercı́cio 1.24 Seja f uma função contı́nua em [0, 1] com 0 ≤ f (x) ≤ 1,


para todos os valores de x ∈ [0, 1]. Mostre que existe c ∈ [0, 1] tal que
f (c) = c.

1.4 Derivadas
1.4.1 Motivação
Tangente
Se considerarmos o gráfico duma função f e quisermos determinar a tan-
gente C ao gráfico de f no ponto P ≡ (a, f (a)) podemos começar por consi-
derar um ponto Q ≡ (x, f (x)) com x 6= a e determinar a inclinação da recta
secante P Q. Este declive é dado por

f (x) − f (a)
mP Q = .
x−a
Deslocando Q sobre o gráfico para junto de P vamos obtendo valores
diferentes para mP Q . Se à medida que aproximarmos Q de P , mP Q convergir
para um certo valor m, definiremos a tangente ao gráfico de f no ponto
P ≡ (a, f (a)) como a recta que contém esse ponto e tem declive m.

21
Definimos então

f (x) − f (a)
m = lim
x→a x−a
e a recta tangente ao gráfico de f no ponto P ≡ (a, f (a)) por
y = m(x − a) + f (a).
Exemplo 1.16 Seja f a função real de variável real definida por f (x) = 2x2 .
Então y = 4x − 2 é uma equação da recta tangente ao gráfico de f no ponto
P (1, 2).
Com efeito,

f (x) − f (1) 2x2 − 2


lim = lim = lim 2(x + 1) = 4
x→1 x−1 x→1 x − 1 x→1

logo uma equação da recta tangente ao gráfico de f no ponto P ≡ (1, 2) é


y = 4(x − 1) + 2.

Velocidade

Quando um automóvel se desloca dum ponto A para um ponto B e per-


corre uma distância d num certo tempo T , definimos a sua velocidade média
por
distância percorrida d
velocidade média = = .
tempo gasto T
Define-se velocidade instantânea como sendo o limite da velocidade média
quando o tempo gasto tende para zero.
Se considerarmos um movimento rectilı́neo dum ponto com um sentido
bem definido, cuja posição em cada instante t , seja dado pela função f (t),
podemos afirmar que no intervalo de tempo entre t = a e t = a + h o espaço
percorrido é
f (a + h) − f (a)
e o tempo gasto é h.
Assim a velocidade média é

f (a + h) − f (a)
.
h
Se diminuirmos o intervalo de tempo, isto é, se fizermos h tender para
zero, temos a velocidade instantânea v(a) dada por

f (a + h) − f (a)
v(a) = lim .
h→0 h

22
1.4.2 Definição

Seja f uma função definida em a e nas suas vizinhanças. Definimos derivada


de f no ponto a como

f (x) − f (a)
f 0 (a) = lim
x→a x−a
ou, considerando x − a = h,

f (a + h) − f (a)
f 0 (a) = lim
h→0 h
se este limite existir.

Observação 1.12 Da definição resulta imediatamente que tanto a veloci-


dade instantânea como o declive da tangente ao gráfico são derivadas de
funções.
No caso da recta tangente ao gráfico poderemos então escrever uma sua
equação na seguinte forma:

y − f (a) = f 0 (a)(x − a).

Exercı́cio 1.25 Determine uma equação de recta tangente à parábola


y = x2 − 8x + 9 no ponto (3, −6).

Exercı́cio 1.26 Se a recta tangente a y = f (x) em (4, 3) passa no ponto


(0, 2), determine f (4) e f 0 (4).

Se em vez de fixarmos a, considerarmos um ponto qualquer x, teremos

f (x + h) − f (x)
f 0 (x) = lim
h→0 h
caso este limite exista. Podemos assim definir uma nova função que denota-
remos por f 0 chamada derivada de f .
Considerando a notação y = f (x) é usual encontrar na literatura
dy df
f 0 (x) ≡ y 0 (x) ≡
(x) ≡ (x).
dx dx
Diremos que f é diferenciável num intervalo ]a, b[ se existir f 0 (x) em todos
os pontos x de ]a, b[.

23
Exemplo 1.17 A função real de variável real f definida por f (x) = |x| é
diferenciável em R − {0}.
Com efeito,
para x > 0

f (x + h) − f (x) |x + h| − |x| x+h−x


f 0 (x) = lim = lim = lim = 1,
h→0 h h→0 h h→0 h
para x < 0

f (x + h) − f (x) |x + h| − |x| −(x + h) − (−x)


f 0 (x) = lim = lim = lim = −1.
h→0 h h→0 h h→0 h
No ponto zero não existe

f (0 + h) − f (0)
lim .
h→0 h
Com efeito,
|h| |h|
lim+ =1 e lim− = −1.
h→0 h h→0 h
Concluimos então que

 1, se x > 0
f 0 (x) =

−1, se x < 0

Teorema 1.4 Se f for diferenciável em a então é contı́nua em a.

Prova: Como

f (x) − f (a)
f (x) − f (a) = .(x − a)
x−a
teremos

f (x) − f (a)
lim (f (x) − f (a)) = lim . lim (x − a) = f 0 (a) × 0 = 0.
x→a x→a x−a x→a

Uma vez que,

lim f (x) = lim [(f (x) − f (a)) + f (a)] = f (a)


x→a x→a

concluı́mos que f é contı́nua em a.

24
ATENÇÃO! O recı́proco não é verdadeiro. A função real de variável
real f definida por f (x) = |x| é contı́nua em zero mas não é diferenciável em
zero.

Como consequência do resultado anterior podemos concluir que se f não


é contı́nua em a então f não é diferenciável em a.

Exercı́cio 1.27 Averigue se as seguintes funções são deriváveis no ponto


zero e esboce os(respectivos gráficos. (
x2 se x > 0 x2 se x ≤ 0
(a)f (x) = (b) f (x) =
−x se x ≤ 0 x3 se x > 0

Exercı́cio 1.28 Dê exemplo de uma função contı́nua que não seja derivável:

1. em exactamente um ponto;

2. em exactamente dois pontos;

3. em infinitos pontos.

O cálculo de derivadas faz-se, habitualmente, a partir do conhecimento de


algumas derivadas e das chamadas regras e de derivação. Uma lista com
estas regras segue em apendice a estas notas.

Exemplo 1.18 Consideremos a função real de variável real F definida por


F (x) = cos x3 . Como facilmente se pode constactar, F é a composição das
funções f e g definidas por f (x) = cos x e g(x) = x3 , respectivamente.
Assim,

F 0 (x) = f 0 (g(x)) × g 0 (x) = − sin x3 × 3x2 = −3x2 . sin x3 .

Exercı́cio 1.29 Seja f uma função derivável em [−1, 1] tal que f 0 (0) = 2.
Sendo g a função definida por

g : [− π2 , π2 ] → R
x → f (sin x)
calcule g 0 (0).

25
Exemplo 1.19 Se a função real de variável real F é definida por
F (x) = esin x . Então

F 0 (x) = esin x . cos x.

Exercı́cio 1.30 Calcule a derivada das funções definidas pelas seguintes ex-
pressões:
2
(a) sin x2 ; (b) ecos x ; (c) esin x ;
p sin x+ex
(d) 5
(x2 + 1); (e) x
; (f ) log (sin x);
¡ ¢3
(g) earctan x ; (h) t − 1t 2 .

Derivação implı́cita

Vimos anteriormente como se deriva uma função do tipo

y = f (x).
Isto é, estudámos processos para determinar y 0 (x) através do conheci-
mento explı́cito de y como função de x. Pode, no entanto, acontecer que a
função y = y(x) seja definida duma forma implı́cita, por uma relação envol-
vendo x e y.
Por exemplo, se x e y estiverem relacionados através da equação

x3 + y 3 = 6xy
constatamos que não é fácil obter y como função de x. No entanto, se ad-
mitirmos que y = f (x) é uma função que verifica esta relação para todos os
valores de x num certo domı́nio D, podemos concluir que se verifica

x3 + (f (x))3 = 6x(f (x)), x ∈ D.


Derivando então esta expressão em ordem a x obtemos

3x2 + 3y 2 y 0 = 6xy 0 + 6y.


Resolvendo, agora, esta equação em ordem a y 0 obtemos

2y − x2
y0 = .
y 2 − 2x

26
A expresão de y 0 é dada em função de x e de y. Poderemos então calcular
a derivada da função y em qualquer ponto do gráfico.
Se, por exemplo, estivessemos interessados em determinar uma equação
da recta tangente à curva definida por x3 + y 3 = 6xy no ponto (3, 3), bastava
calcular
6−9
y 0 (3) == −1
9−6
e obtinhamos a seguinte expressão para uma equação da recta tangente:

y = −x + 6

Exemplo 1.20 Para determinar a derivada da função y definida implicita-


mente pela relação
sin(x + y) = y 2 cos x
começamos por derivar esta expressão em ordem a x considerando que y é
uma função de x.
Obtemos então

(1 + y 0 ) cos(x + y) = 2yy 0 cos x − y 2 sin x.

Resolvendo esta equação em ordem a y 0 obtemos

cos(x + y) + y 2 sin x
y0 =
2y cos x − cos(x + y)

dy
Exercı́cio 1.31 Calcule dx
nos seguintes casos:

1. x3 + y 3 = 6xy.

2. y 2 = 5x4 − x2 , (“Kampyle de Eudoxo ”) e determine uma equação da


recta tangente a essa curva no ponto (1, 2).

3. x2 + y 2 = 25, e determine uma equação da recta tangente à curva no


ponto (3, 4).

27
1.4.3 Funções trigonométricas inversas

Vimos anteriormente como se define a inversa duma função. Usando essa


definição e a derivação implı́cita iremos definir a inversa das funções trigo-
nométricas e calcular as respectivas derivadas.
arcsin
Como se sabe, as funções trigonométricas, quando definidas em R não são
injectivas e portanto não é possı́vel definir as suas inversas. No entanto, se
restringirmos o seu domı́nio de forma conveniente, podemos ter injectividade.
Consideremos então a restrição da função seno ao intervalo [− π2 , π2 ]. Na
figura que se segue temos representado o gráfico desta restrição.
1

0.5

-1.5 -1 -0.5 0.5 1 1.5

-0.5

-1

Como se pode observar esta função é injectiva e podemos definir a sua


inversa que denotaremos por arcsin.
Pelo que vimos anteriormente teremos
π π
arcsin x = y ⇔ sin y = x, ≤y≤ . −
2 2
Assim, se x ∈ [−1, 1], arcsin x é o número y entre − π2 e π
2
tal que
sin y = x.

Exemplo 1.21 Teremos então


√ √
2 π 3 π π
arcsin = ; arcsin = ; arcsin 0 = 0 ; arcsin 1 = ;
2 4 2 3 2
arcsin (−1) = − π2

Uma vez que as funções seno e arcosseno são inversas uma da outra,
teremos
arcsin (sin x) = x, − π2 ≤ x ≤ π
2

sin(arcsin x) = x, −1 ≤ x ≤ 1.

28
O gráfico desta função obtém-se por simetria em relação à recta y = x do
gráfico da restrição da função seno anteriormente definida.
1.5

0.5

-1 -0.5 0.5 1
-0.5

-1

-1.5

Da relação
π π
arcsin x = y ⇔ sin y = x, − ≤y≤ ,
2 2
obtemos, usando a técnica da derivação implicita,

y 0 cos y = 1

ou seja,
1 π π
y0 = , y ∈] − , [
cos y 2 2
Como neste intervalo cos y > 0, da identidade fundamental da trigonometria
obtemos q √
cos y = 1 − sin2 y = 1 − x2 .
Substituindo este valor na expressão da derivada encontrada anteriormente
teremos
1
y 0 ≡ (arcsin x)0 = √ , x ∈] − 1, 1[.
1 − x2
arccos
De forma análoga ao que foi feito para a função seno, podemos considerar
a restrição da função cosseno ao intervalo [0, π]. Obtém-se assim uma função
injectiva que poderá então ser invertida. A sua inversa será denotada por
arcos. Esta função será definida por

arcos x = y ⇔ cos y = x, 0 ≤ y ≤ π.

O seu gráfico obtém-se por simetria em relação à recta y = x do gráfico da


função cosseno e está representado na figura seguinte.

29
3

2.5

1.5

0.5

-1 -0.5 0.5 1

Exercı́cio 1.32 Prove, de forma análoga ao que foi feito no caso da função
arcsin, que
d 1
(arcos x) = − √ , x ∈] − 1, 1[.
dx 1 − x2

arctg
Se considerarmos a restrição da função tangente ao intervalo ] − π2 , π2 [
podemos também definir a sua inversa que será representada por arctg.
À semelhança do que foi feito anteriormente será definida por
π π
arctg x = y ⇔ tg y = x, −
<y< .
2 2
O gráfico desta função encontra-se na figura abaixo.
1.5

0.5

-10 -5 5 10
-0.5

-1

-1.5

Para a derivada desta função temos


d 1
(arctg x) = , x ∈] − ∞, +∞[.
dx 1 + x2
Outras funções trigonométricas inversas

Considerando as funções trigonométricas cosec , sec e cotg definidas por


1 1 1
cosec x = ; sec x = cotg x =
sin x cos x tg x
podemos também definir as suas inversas e calcular as suas derivadas.

Observação 1.13 Algumas propriedades destas funções trigonométricas, os


seus gráficos e os gráficos e derivadas das respectivas funções inversas serão
fornecidos em complemento a estas notas.

30
Observação 1.14 Alguma atenção será dada às chamadas funções hiperbólicas,
definidas a partir da função exponencial, cujas propriedades e respectivos
gráficos aparecerão como complemento destas notas

1.4.4 Taxas de variação


Seja y uma quantidade que depende de x, isto é da forma y = f (x).
Se x variar de x1 para x2 , então a variação de x, chamada incremento de
x será denotada por
∆x = x2 − x1 .
A correspondente variação de y é então

∆y = f (x2 ) − f (x1 ).

Ao quociente
∆y f (x2 ) − f (x1 )
=
∆x x2 − x1
chamamos taxa média de variação de y em relação a x, no intervalo [x1 , x2 ].
Ao limite da taxa média de variação quando o incremento de x tende
para zero chamamos taxa instantânea de variação de y. Verificamos que não
é mais do que a derivada de y relativamente a x.
As chamadas taxas de variação relacionadas surgem para determinar a
taxa de variação duma dada grandeza, sabendo a taxa de variação da outra,
partindo duma equação que relacione essas grandezas.
Suponhamos que se enche um balão esférico e que o seu volume cresce a
uma taxa de 100cm3 /m.
Suponhamos que estamos interessados em determinar a taxa de variação
do raio quando o diâmetro é 50 cm.
Representando a função volume por V (t) e a função raio por r(t), sabemos
que estas grandezas estão relacionadas por
4
V (t) = π(r(t))3 .
3
Derivando obtemos uma relação entre a taxa de variação de V e a taxa
de variação de r
dV dr
(t) = 4πr2 (t).
dt dt
Daqui podemos exprimir a taxa de variação de r em função da taxa de
variação de V .
dr 1 dV
(t) = (t).
dt 4πr2 dt

31
Se o diâmetro do balão é 50 cm então r = 25 cm e teremos
dr 1 dV 1 1
(t25 ) = 2
(t25 ) = 2
100 = .
dt 4π(25) dt 4π(25) 25π

Exercı́cio 1.33 Uma escada com 5 metros de comprimento está encostada a


uma parede vertical. Se o fundo da escada deslizar horizontalmente afastando-
-se da parede a uma taxa constante de 0, 4 metros por segundo, a que velo-
cidade estará o topo da escada a deslizar ao longo da parede quando a base
estiver a 3 metros da parede?

Exercı́cio 1.34 Um homem segue um caminho recto a uma velocidade de


1m/s. A 20 metros do caminho está colocado um holofote que vai focando o
homem à medida que ele avança. A que taxa estará o holofote a girar quando
o homem se encontrar a 15 metros do ponto do caminho mais próximo do
holofote?

1.4.5 Aproximações lineares e diferenciais


Partindo do facto de que, na vizinhança dum certo ponto a, a recta tangente
ao gráfico de f no ponto (a, f (a)) se aproxima do gráfico de f

podemos pensar em aproximar a função f pela recta

L(x) = f (a) + f 0 (a)(x − a).

Diremos então que


f (x) ≈ f (a) + f 0 (a)(x − a).
Esta é a chamada aproximação linear de f .

32
Observação 1.15 O que fazemos é aproximar f por um polinómio do pri-
meiro grau. Veremos mais adiante que é possı́vel melhorar esta aproximação
usando polinómios de grau superior.

Exemplo 1.22 Um frango é colocado num forno a assar. Ao fim de 10 m


atinge uma temperatura de 60o e ao fim de 20 m atinge uma temperatura de
90o . O que é que podemos esperar para a temperatura ao fim de 30 m?
Considerando o valor aproximado da derivada da temperatura no instante
t = 20 dado por
T (10) − T (20)
T 0 (20) ≈ =3
10 − 20
obtemos o valor aproximado da temperatura do frango no instante t = 30
através da aproximação linear. Teremos então

T (30) ≈ T (20) + T 0 (20)(30 − 20) = 120o



Exercı́cio 1.35 Encontre a aproximação linear de f (x)
√ = 3
1+√x em x = 0
e use-a para obter uma aproximação para os números 3 0.95 e 3 1.1. Esboce
os gráficos de f e da recta tangente no ponto x = 0.

Diferenciais
O não conhecimento explı́cito da função traz algumas dificuldades na
determinação da variação da função.
Se tivermos y = f (x), representaremos por dx (diferencial de x) uma
variável independente, isto é, dx pode tomar um valor qualquer.
A diferencial dy é dada por dy = f 0 (x)dx.

33
Teremos
z
= f 0 (x) ⇒ z = f 0 (x)∆x
∆x
Se considerarmos ∆x = dx teremos z = f 0 (x)dx ou seja z = dy.
Para valores de x pequenos concluı́mos que dy é uma boa aproximação
de ∆y, isto é,

dy ≈ ∆y.
Exemplo 1.23 O valor encontrado ao medirmos o raio duma esfera foi de
21 cm. Sabendo que o erro máximo da medição é de 0.05 cm, determine o
erro máximo cometido na determinação do volume da esfera.
Representando por V o volume da esfera e por r o seu raio teremos
4
V = πr3 .
3
Se o erro na medição de r for denotado por dr = ∆r, o erro correspondente
no volume será ∆V que poderá ser aproximado por dV . assim,
dV = 4πr2 dr = 4π(21)2 .(0.05) ≈ 277 cm3 .
Por vezes a determinação do erro máximo pode não dar uma informação
qualitativa suficiente sobre a verdadeira dimensão do erro. Para ultrapassar
esta situação é usual definir o erro relativo. No exemplo anterior
∆V dV dr
Erro relativo = ≈ =3
V V r
Assim o erro relativo do volume é triplo do erro relativo do raio.
Neste caso
dr dV
≈ 0.0024 e ≈ 0.007
r V
Em termos percentuais um erro é de 0.24% e o outro de 0.7%, respecti-
vamente.
Exercı́cio 1.36 A aresta de um cubo tem 30cm, com um erro possı́vel de
0,1 cm. Utilizando diferenciais, estime o erro máximo possı́vel no cálculo do
volume e da área de superfı́cie do cubo.
Exercı́cio 1.37 Efectuou-se a medição dum terreno quadrado tendo-se ob-
tido o valor de 100m para o comprimento do lado. Sabendo que o erro
máximo cometido na medição é de 10cm, determine o erro máximo cometido
na determinação da área do terreno.

34
1.4.6 Aplicações da derivada
Máximos e mı́nimos:

Uma das aplicações do cálculo diferencial são os chamados problemas de


optimização, que consistem em determinar máximos e mı́nimos de funções.
Por definição diremos que uma função f atinge um máximo (mı́nimo)
em c ∈ Df se

f (c) ≥ f (x) (f (c) ≤ f (x)), ∀x ∈ Df .


Ao valor f (c) chamamos valor máximo (mı́nimo) de f ou simplesmente
máximo(mı́nimo) de f .
Na figura abaixo está representado o gráfico duma função que atinge o
seu valor máximo no ponto C5 e o seu valor mı́nimo no ponto zero.

Diremos que a função f atinge um máximo local (mı́nimo local) em


c se existir alguma vizinhança V de c tal que

f (c) ≥ f (x) (f (c) ≤ f (x)), ∀x ∈ V.


No exemplo anterior os pontos 0, C2 e C4 são pontos de mı́nimo local e
C1 ,C3 e C5 são pontos de máximo local.
Os pontos de máximo e mı́nimo local são chamados extremos da função
f.
Iremos agora enunciar alguns resultados que, por um lado garantam a
existência de extremos duma função e, por outro, dêm um processo para a
sua determinação.

35
Teorema 1.5 Se f é uma função contı́nua definida num intervalo fechado
[a, b] então f atinge um máximo e um mı́nimo em [a, b].

Teorema 1.6 Se uma função f atingir um máximo ou um mı́nimo local em


c e existir f 0 (c) então f 0 (c) = 0.

Observação 1.16 Se uma função f for derivável os extremos da função que


estejam no interior do intervalo são zeros da derivada. Por essa razão é que
no processo de cálculo dos extremos duma função se determinam os pontos
onde a derivada se anula. São candidatos a máximos ou mı́nimos locais.

Observação 1.17 Após o cálculo dos zeros da derivada deveremos efectuar


uma análise local para perceber o que se passa nas vizinhanças desses pontos.
Note-se que o anulamento da derivada é uma condição necessária mas não
suficiente para que exista máximo ou mı́nimo local.
A função real de variável real f definida por f (x) = x3 tem derivada nula
em zero e, no entanto, neste ponto a função não atinge um máximo nem um
mı́nimo local.

As observações anteriores vêm no seguimento do teorema 1.6 em que se


admite que a função é derivável. No entanto, a função pode ter extremos em
pontos onde não seja derivável ou até nos extremos do intervalo.

Exemplo 1.24 A função f , definida por

f : [−1, 1] → R
x → |x|

Tem extremos locais em −1, 0 e 1 como facilmente se observa pelo gráfico da


função.

Aos pontos onde a derivada se anula ou não existe juntamente com os


extremos do intervalo, chamaremos pontos crı́ticos de f . Estes pontos são
os candidatos a extremos da função.
Determinados os pontos crı́ticos deveremos ser capazes de verificar se são
ou não extremos da função. Para isso iremos enunciar um resultado que dará
um contributo fundamental para essa análise.

36
Teorema 1.7 [Valor médio de Lagrange]: Seja f uma função definida
num intervalo [a, b] tal que:

1. f é contı́nua em [a, b]

2. f é derivável em ]a, b[.

Então existe c ∈]a, b[ tal que

f (b) − f (a)
f 0 (c) =
b−a
ou, duma forma equivalente,

∃c ∈]a, b[: f (b) − f (a) = f 0 (c)(b − a).

Este resultado pode ser interpretado duma forma geométrica. Supostas


verificadas as condições do teorema podemos afirmar que existe um ponto
(c, f (c)) do gráfico de f tal que a recta tangente ao gráfico neste ponto é
paralela à recta que une os pontos (a, f (a)) e (b, f (b)), como a seguir se
representa.

Exemplo 1.25 Consideremos a função f , definida por

f : [−1, 1] → R
x → x3

Podemos garantir a existência de dois pontos do gráfico de f onde a tangente


ao gráfico nesses pontos é paralela à recta que une os pontos (−1, f (−1)) e
(1, f (1)). Este exemplo não está em contradição com o teorema de Lagrange!

37
Exercı́cio 1.38 Usando o Teorema de Lagrange e o teorema do Valor In-
termédio, mostre que:

(a) 2x5 + 3x3 + 4x + 6 tem exactamente uma raı́z real;


(b) x5 − 6x + c, c ∈ IR tem no máximo uma raı́z no intervalo [−1, 1];
(c) 2x = cos(x) tem exactamente uma solução real;
(d) 3x − 2 + cos πx
2
= 0 tem uma e uma só solução.

Exercı́cio 1.39 Calcule o número de raı́zes reais dos polinómios:


(a) 4x5 − 5x4 + 2; (b) 3x4 − 8x3 + 6x2 − 5.

Exercı́cio 1.40 Dois atletas iniciam uma corrida no mesmo instante, e


terminam-na empatados. Mostre que em algum momento durante a corrida
os dois tiveram exactamente a mesma velocidade.

Nos exercı́cios anteriores garantimos a existência de solução para uma


dada equação. No entanto, os resultados utilizados não dão nenhum processo
para determinar essa solução. Recorremos com alguma frequência a métodos
numéricos que nos conduzem a valores aproximados da solução. Um dos
métodos mais utilizados é o método de Newton ou de Newton-Raphson.
Este método consiste no seguinte:
Suponhamos que pretendemos encontrar uma solução para a equação
f (x) = 0, onde f é uma função diferenciável. Para utilizar este método,
partimos de uma estimativa da solução, xo , traçamos a tangente ao gráfico
nesse ponto e procuramos a sua intersecção com o eixo dos Ox. Designamos
esse ponto por x1 . Repetimos o processo para este novo ponto, obtemos x2 ,
e assim sucessivamente. Analiticamente temos:

f (xn )
xn+1 = xn −
f 0 (xn )
Obtemos assim uma sucessão de pontos, que “esperamos”que convirja
para a solução da equação. Note-se que para certos pontos iniciais, o método
pode não convergir, devendo-se nesses casos escolher uma melhor aproximação
inicial e tentar de novo.
É habitual parar-se a sucessão no momento em que xn+1 e xn coincidem
nas primeiras k casas decimais, onde k é dado. Em geral, isto indica que a
aproximação é correcta pelo menos até à k-ésima casa decimal.

38
Exercı́cio 1.41 Utilize o método de Newton (e uma máquina de calcular)
para encontrar uma solução aproximada de cos(x) = 2x, correcta até à quarta
casa decimal.

Exercı́cio 1.42√Utilize o método de Newton (e uma máquina de calcular)


para encontrar 6 2, correcta até à terceira casa decimal.

De seguida iremos admitir que estamos nas condições do teorema do valor


médio de Lagrange e apresentaremos algumas consequências desse resultado.

Consequência 1 : Se para todo o x ∈]a, b[ se tem f 0 (x) = 0 então f é


constante em [a, b].
Com efeito, se x1 e x2 são dois pontos quaisquer de ]a, b[, com x1 < x2 ,
do teorema 1.6 podemos garantir a existência de c em ]x1 , x2 [ tal que

f (x2 ) − f (x1 ) = f 0 (c)(x2 − x1 ).


Uma vez que f 0 (c) = 0 concluimos que f (x2 ) = f (x1 ), ou seja f é cons-
tante em ]a, b[. Da continuidade concluimos que f será constante em [a, b].

Consequência 2 : Se f e g estão nas condições do teorema 1.8 e para


todo o x ∈]a, b[ se tem f 0 (x) = g 0 (x), então

f (x) = g(x) + C te , ∀x ∈ [a, b].

Com efeito, definindo F por F (x) = f (x) − g(x), concluı́mos que para
x ∈]a, b[ se tem F 0 (x) = 0. Usando a Consequência 1, concluı́mos que
F (x) = C te , isto é, f (x) − g(x) = C te .

Consequência 3 : Se f : [a, b] → R é derivável em ]a, b[ excepto


possivelmente em c ∈]a, b[ onde a função é contı́nua, e existe lim f 0 (x) = L
x→c
então existe f 0 (c) e

f 0 (c) = L.

A justificação deste resultado não será dada. Poderemos, no entanto, usar


esta consequência do teorema 1.6 para calcular derivadas duma função num
ponto sem usar directamente a definição de derivada.

39
Exemplo 1.26 A função f , definida por

f : ] − π, π[ → R

 sin2 x, se x ≥ 0
x →

0, se x < 0

é derivável em ] − π, π[ excepto possivelmente no ponto zero. Por outro lado,


conforme se pode facilmente verificar, a função é contı́nua em zero. Para
x 6= 0 a função f é derivável e temos

 2 sin x cos x, se x > 0
0
f (x) =

0, se x < 0
Como

lim+ f 0 (x) = 0 = lim− f 0 (x)


x→0 x→0

podemos afirmar que


lim f 0 (x) = 0
x→0

Usando o resultado anterior podemos então concluir

f 0 (0) = 0.

Consequência 4 :
Se f 0 (x) > 0 em ]a, b[ então f é crescente em ]a, b[.
Se f 0 (x) < 0 em ]a, b[ então f é decrescente em ]a, b[.
Com efeito, se x1 e x2 são dois quaisquer elementos de ]a, b[ com x1 < x2 ,
usando o teorema 1.6, podemos garantir a existência de c ∈]a, b[ tal que

f (x2 ) − f (x1 ) = f 0 (c)(x2 − x1 ).


Se f 0 (x) > 0 em ]a, b[ então f 0 (c) > 0 e consequentemente f (x2 ) > f (x1 ),
o que significa que f é crescente.
Se f 0 (x) < 0 em ]a, b[ então f 0 (c) < 0 e consequentemente f (x2 ) < f (x1 ),
o que significa que f é decrescente.
Esta consequência do teorema 1.6 está na base do chamado teste da pri-
meira derivada para avaliar se um dado ponto crı́tico de f é máximo ou
mı́nimo local ou não é uma coisa nem outra.

40
Teste da primeira derivada:

Seja c um ponto crı́tico duma função f , sendo c um ponto de continuidade


de f . Então:

1. Se o sinal de f 0 passa de positivo a negativo então f tem um máximo


local em c.
2. Se o sinal de f 0 passa de negativo a positivo então f tem um mı́nimo
local em c.
3. Se f 0 não muda de sinal então f não tem um máximo nem mı́nimo
local em c.

Este resultado permite avaliar se os pontos crı́ticos, onde haja continui-


dade são máximos ou mı́nimos locais ou não são uma coisa nem outra.
Mais adiante daremos outro resultado que permite estudar os pontos
crı́ticos em que a função tem derivadas de ordem superior.

1.4.7 Estudo de funções

O teste da primeira derivada dá-nos informação sobre o crescimento da


função.
Através da segunda derivada podemos tirar informação sobre a forma
do gráfico duma função. Para isso usaremos o chamado teste da segunda
derivada.
Teste da segunda derivada:

Seja f um função duas vezes derivável num intervalo I. Então,

• Se para todo o x ∈ I, f 00 (x) > 0 então o gráfico de f tem em I a


concavidade voltada para cima.
• Se para todo o x ∈ I, f 00 (x) < 0 então o gráfico de f tem em I a
concavidade voltada para baixo.

Aos pontos do gráfico de f onde a função muda o sentido da concavidade


chamamos pontos de inflexão.
Usando o que foi feito até aqui neste capı́tulo podemos, duma forma apro-
ximada, elaborar o gráfico duma função. O estudo que conduz à elaboração
do gráfico duma função pode ser feito de acordo com o seguinte esquema:

41
Estudo duma função:

1. Domı́nio.

2. Redução do domı́nio(periodicidade, simetria).

3. Pontos de descontinuidade.

4. Cálculo da primeira derivada.

5. Cálculo da segunda derivada.

6. Quadro de variação com determinação dos extremos locais e dos limites


da função nos extremos.

7. Contradomı́nio.

8. Assı́mptotas.

9. Pontos de intersecção com os eixos.

10. Esboço do gráfico.

Exercı́cio 1.43 Faça o estudo completo (domı́nio, continuidade, intersecção


com os eixos coordenados, paridade, periodicidade, assı́mptotas, intervalos
de monotonia, extremos locais, concavidade, pontos de inflexão e gráfico) de
cada uma das seguintes funções: ½ −1
p e x2 se x 6= 0
2
(a) f (x) = |1 − x |; (b) f (x) = ;
0 1
se x = 0
x2 − 2x + 2  e − x+1 se − 1 < x < 0
(c) f (x) = ; (d) f (x) = 0 se x = 0 .
x−1  1−x
ex
se x > 0

1.4.8 Fórmula de Taylor


Vimos anteriormente como é que podemos aproximar uma função pela tan-
gente, nas vizinhanças dum ponto. Isto é, vimos que

f (x) ≈ f (a) + f 0 (a)(x − a)

para x próximo de a.
Se considerarmos x = a + h teremos

f (a + h) ≈ f (a) + f 0 (a).h

42
Estamos a aproximar a função por uma função polinomial do primeiro grau.
O nosso objectivo é melhorar esta aproximação. Para isso iremos considerar
funções polinomiais de grau superior.

Teorema 1.8 Sejam I um intervalo e f : I → R uma função n vezes de-


rivável em a ∈ I. Então, para h ∈ R tal que a + h ∈ I teremos

f 00 (a) 2 f (n) (a) n


f (a + h) = f (a) + f 0 (a).h + .h + . . . + .h + r(h) (∗)
2! n!
onde a função r(h), a que chamaremos resto de Taylor, verifica

r(h)
lim = 0.
h→0 hn

O valor da função em a + h é aproximado por um polinómio de grau n a


que chamaremos polinómio de Taylor de grau n

f 00 (a) 2 f (n) (a) n


f (a + h) ≈ f (a) + f 0 (a).h + .h + . . . + .h .
2! n!
À expressão (∗) chamamos fórmula de Taylor. A fórmula de Taylor terá
diferentes denominações para as diferentes formas do resto r(h).

Exercı́cio 1.44 Determine o polinómio de Taylor de f , de grau n e centrado


em a para:
(a) f (x) = cos(x), a = 0, n = 9; (b) f (x) = x2 , a = 2, n = 6;

(c) f (x) = arctan(x), a = 0, n = 4; (d) f (x) = log(x), a = 1, n = 6.

Exercı́cio 1.45 Determine os polinómios de Taylor de graus 1, 3, 5 e 7,


centrados em 0, para a função f (x) = sin(x). Com o recurso a uma calcu-
ladora gráfica, compare os gráficos de cada polinómio com o da função f e
comente o grau de aproximação obtido.

Fórmula de Taylor com resto de Lagrange:

Seja f : [a, b] → R, uma função n vezes derivável em [a, b] com derivada


contı́nua até à ordem n e (n + 1) vezes derivável em ]a, b[. Então existe
θ ∈]0, 1[ tal que

f 00 (a) 2 f (n) (a) n f (n+1) (a + θh) n+1


f (a+h) = f (a)+f 0 (a).h+ .h + . . . + .h + .h
2! n! (n + 1)!

43
Exercı́cio 1.46 Usando a fórmula de Taylor com resto de Lagrange, prove
que:
2
(a) cos x ≥ 1 − x2 , para todo x ∈ [−1, 1];

x2
(b) ex ≥ 1 + x + 2
, para todo x ≥ 0;

(c) log(1 + x) ≤ x, para todo x ≥ 0.

Aplicações:

1. Critério de extremo.
Vimos anteriormente que a análise dos pontos crı́ticos duma função podia
ser feita através da variação do sinal da derivada. Iremos agora dar outro
método para caracterizar os pontos crı́ticos que são zeros da derivada.
Se f é uma função n vezes derivável em a ∈ I e
00
f 0 (a) = f (a) = . . . = f (n−1) (a) = 0 e f (n) (a) 6= 0

então
 (n)
 f (a) < 0, ⇒ a é um máximo local
Se n par ⇒

f (n) (a) > 0, ⇒ a é um mı́nimo local

Se n ı́mpar ⇒ a não é um máximo nem mı́nimo local.

Com efeito, da fórmula de Taylor temos

f (n) (a) r(h) n


f (a + h) = f (a) + [ + n ].h
n! h
com
r(h)
lim = 0.
h→0 hn

Se n é par, então o sinal da segunda parcela do segundo membro será o


de f (n) (a), já que r(h)
hn
será tão pequeno quanto se queira e hn é positivo.
Assim f (a + h) será maior do que f (a), se f (n) (a) for positivo e, será
menor se f (n) (a) for negativo.
Se n é ı́mpar a escolha de h negativo e de h positivo dá valores de sinal
contrário para a segunda parcela e portanto não haverá máximo nem mı́nimo
local em a.

44
Exemplo 1.27 A utilização do critério anterior permite concluir que a função
f definida por f (x) = x20 + x100 atinge em x = 0 um mı́nimo local.

Exercı́cio 1.47 Um fazendeiro tem 240 metros de cerca, com os quais pre-
tende vedar um campo rectangular. Um dos lados do campo é margem de um
rio, pelo que não precisa de cerca. Qual a área máxima que o fazendeiro pode
vedar?

Exercı́cio 1.48 Uma caixa de cartão sem tampa é construı́da a partir duma
peça quadrada de cartão com 60cm de lado. O processo de fabrico consiste
em retirar um quadrado de cada um dos quatro cantos e dobrar para cima o
que resta, para formar as partes laterais da caixa. Determine as dimensões
da caixa de volume máximo que se consegue obter por este processo.

Exercı́cio 1.49 Identifique os pontos do gráfico de y = 4−x2 mais próximos


do ponto (0, 2).

Exercı́cio 1.50 Um homem está num bote, num certo ponto A na margem
de um rio, e pretende atingir o mais rapidamente possı́vel o ponto B, que
se situa na outra margem, 8 km rio abaixo. Para isso ele pode remar em
linha recta até um ponto da outra margem, e fazer o resto do caminho a pé.
Sabendo que ele rema a 3 km/h e corre ao longo da margem a 5 km/h, e que
o rio tem uma largura da 4 km, como deve proceder? (Note-se que se está a
considerar a velocidade da água desprezável)

2. Indeterminações

Iremos usar a fórmula de Taylor para calcular limites indeterminados.


Sejam f, g : I → R funções n vezes deriváveis em a ∈ I tais que

f (i) (a) = g (i) (a) = 0, i = 2, 1, , , , , n − 1


e
f (n) (a) e g (n) (a) não simultaneamente nulas.
Suponhamos ainda que para x na vizinhança de a mas x 6= a, g(x) 6= 0.
Nestas condições

f (x) f (n) (a)


lim = (n) , se g (n) (a) 6= 0
x→a g(x) g (a)
e
f (x)
lim | | = +∞ , se g (n) (a) = 0
x→a g(x)

45
A justificação deste resultado é muito simples se usarmos a fórmula de
Taylor. Com efeito, considerando x = a + h, temos
(n)
f (x) f (a + h) [ f n!(a) + ρ(h)].hn
= = g(n) (a)
g(x) g(a + h) [ n! + σ(h)].hn
Como lim σ(h) = lim ρ(h) = 0 obtemos o resultado.
h→0 h→0
Mais geralmente, para calcular os chamados limites indeterminados po-
demos usar a chamada regra de L’Hôpital que generaliza a regra anterior.
Regra de L’Hôpital:
Sejam f e g funções diferenciáveis e g 0 (x) 6= 0 nas vizinhanças de a,
excepto possivelmente em a.
Suponhamos que

lim f (x) = 0 e lim g(x) = 0


x→a x→a
ou
lim f (x) = ±∞ e lim g(x) = ±∞
x→a x→a

Nestas condições

f (x) f 0 (x)
lim = lim 0
x→a g(x) x→a g (x)

se este último limite existir.

Exemplo 1.28 Para calcular


2x
lim
x→0 x + sin x

começamos por verificar que existe


2
lim .
x→0 1 + cos x
Como este limite é 1 concluı́mos que o limite anterior também é 1.

Observação 1.18 A regra de L’Hôpital é ainda válida se em vez de x → a


tivermos x → a+ , x → a− , x → −∞ ou x → +∞.

Observação 1.19 Se ao usarmos a regra encontrarmos novamente um li-


mite indeterminado podemos voltar a usar a regra.

46
Exemplo 1.29 Se quisermos usar a regra de L’Hôpital para calcular
2x3
lim
x→+∞ 3x2 + x3

derivamos o numerador e o denominador uma vez e verificamos que conti-


nuamos com um limite indeterminado. Repetimos o processo duas vezes e
concluı́mos que o limite inicial é 2.
A regra anterior permite calcular limites indeterminados da forma 00 e


. Há, no entanto, outro tipo de indeterminações. Podemos ter 7 tipos de
indeterminações:
0 ∞
; ; ∞ − ∞ ; o × ∞ ; 00 ; ∞0 ; 1∞
0 ∞
Mediante manipulações algébricas é possı́vel transformar qualquer uma das
indeterminações numa indeterminação do tipo 00 ou ∞ ∞
para as quais podemos
usar a regra de L’Hôpital.
Com as notações óbvias teremos:

1 1
T ipo (∞ − ∞) ⇒ lim (f (x) − g(x)) = lim ( 1 − 1 )
x→a x→a
f (x) g(x)

1 1
g(x)
− f (x)
= lim 1 ( 00 )
x→a
f (x).g(x)

1
T ipo (0 × ∞) ⇒ lim (f (x) × g(x)) = lim f (x) × 1 ( 00 )
x→a x→a
g(x)

g(x))
T ipo (00 ) ⇒ lim (f (x)g(x)) = lim eln (f (x)
x→a x→a

= lim e(g(x)×ln f (x)) (0 × ∞)


x→a

g(x))
T ipo (1∞ ) ⇒ lim (f (x)g(x)) = lim eln (f (x)
x→a x→a

= lim e(g(x)×ln f (x)) (∞ × 0)


x→a

g(x))
T ipo (∞0 ) ⇒ lim (f (x)g(x)) = lim eln (f (x)
x→a x→a

= lim e(g(x)×ln f (x)) (0 × ∞)


x→a

47
As indetrminações do tipo (00 ), (1∞ ) e (∞0 ) transformam-se em indeter-
minações do tipo (0×∞) que por sua vez se transformam em indeterminações
do tipo ( 00 ).

Exemplo 1.30 No cálculo do limite


k
lim (1 + )x
x→+∞ x
onde k é uma constante real, encontramos uma indeterminação do tipo (1∞ ).
Procedendo da forma indicada anteriormente, consideramos
k
k x lim [x.ln (1 + )]
lim (1 + ) = e x→∞ x
x→+∞ x
Somos então conduzidos a uma indeterminação do tipo (0 × ∞).

k ln (1 + xk ) 0
lim [x.ln (1 + )] = lim 1 ( )
x→+∞ x x→+∞
x
0

Tratando-se duma indeterminação do tipo ( 00 ) iremos usar a regra de


L’Hôpital. Teremos então
−kx
x2 (x+k) kx3
lim −1 = lim =k
x→+∞ x→+∞ x3 + kx2
x2
e portanto
k
lim (1 + )x = k
x→+∞ x
Exercı́cio 1.51 Utilize a Regra de L’Hôpital para calcular os seguintes limi-
tes:
ex − 1 sin x ex
(a) lim ; (b) lim 3 ; (c) lim ;
x→0 sin x x→0 x x→+∞ x


(d) lim+ x log x ; (e) lim x2 ex ; (f ) lim+ xsin x ;
x→0 x→−∞ x→0

µ ¶ ³
1 a ´bx 1
(g) lim − cosec(x) ; (h) lim 1 + ; (i) lim x x
x→0 x x→+∞ x x→+∞

Exercı́cio 1.52 Prove que para todo o inteiro positivo n se tem:


ex (log x)n
lim = +∞, lim = 0.
x→+∞ xn x→+∞ x

48
Exercı́cios de controlo:

1. Considere a função f : R → R definida por

f (x) = |x2 − 9|.


Verifique, analiticamente, se f é par ou ı́mpar.

2. Esboce o gráfico da função f , e use-o para estimar os valores de a para


os quais o valor lim f (x) existe, com f definida por
x→a


 2 + x; se x < −1

−x; se −1≤x<1
f (x) =

 (x − 1)2 ; se 1≤x<2

cos(πx) se x≥2

3. Calcule os limites, se existirem:

cos(x) x2 − 5x + 6
(a) lim (b) lim
x→0 x2 x→3 x−3
½
0 se x < 0 1
(c) lim f (x), com f (x) = (d) lim sin
x→0 1 se x ≥ 0 x→0 x

4. Esboce o gráfico e determine, caso existam, os valores lim f (x) e


x→+∞
lim f (x) para cada uma das funções:
x→−∞
½ |x|
se x 6= 0
(a) f (x) = x (b) f (x) = cos(x) (c) f (x) = ex cos(x)
0 se x = 0
2
(d) f (x) = ex +cos(x) (e) f (x) = e1−x (f ) f (x) = x2 cos2 (x)

5. Determine uma equação da recta perpendicular ao gráfico da função f


definida por f (x) = x2 − 1 no ponto (1, 0)

6. Considere a função f : R → R definida por

f (x) = |x2 − 9|.

Mostre que f não é derivável em x = 3.

49
7. Seja y uma função de x tal que, para todo o ponto x do seu domı́nio
verifica
sin(x + y) = y 2 cosx. (∗)
Determine uma equação da tangente à curva definida por (∗) no ponto
(0, 0).

8. Considere a função y = f (x) definida implicitamente por

sin(x + y) = y 2 cos(xy 2 ).

Determine a expressão da derivada de y.

9. Determine uma equação da tangente à curva definida por

y 2 sin(πex + y) = x + 2yx

no ponto (0, π).

10. Diga, justificando, se a recta tangente à curva definida por

π
(4 − x)y 3 + y 2 = x3 + 4y + 4 sin( x.y)
8
no ponto (2, 2), é paralela à recta y = 72 x + 1.

11. (a) Partindo do método de Newton, mostre que a raiz quadrada de


um número a pode ser aproximada pela sucessão xn+1 = x2n + 2xan .

(b) Obtenha uma aproximação do valor de 2. Use como aproximação
inicial x0 = 1 e faça 3 iterações.

12. Considere a função g definida por

g : [0, π2 ] → R

 x sin x1 , se ∈]0, π2 ]
x →

0, se x = 0

(a) Verifique se g é contı́nua em [0, π2 ].


(b) Mostre que g é derivável em ]0, π2 [ e calcule g 0 (x).
(c) Mostre que existe c ∈]0, π2 [ tal que g 0 (c) = 1 .

50
13. Mostre que o polinómio

x5 − 5x + 1

tem exactamente 3 raı́zes reais.

14. Considere a função

f: R → R
x → arctg(ex )

(a) Calcule lim f (x) e lim f (x).


x→+∞ x→−∞

(b) Mostre que existe x ∈ R : f (x) = 13 .


(c) Determine uma equação da recta tangente ao gráfico de f no ponto
de abcissa zero.
(d) Diga, justificando, se a função g definida por

g: R → R

 arctg(ex ), se x > 0
x →
 x π
2
+4 se x ≤ 0
é derivável no ponto zero.

15. (a) Seja f : I → R uma função com derivadas de todas as ordens no


intervalo aberto I. Mostre que se a ∈ I é tal que f 0 (a) = 0 e h
é tal que a + h ∈ I então a fórmula de Taylor garante que existe
uma função r(h) tal que
· ¸
f 00 (a) r(h) 2
f (a + h) = f (a) + + 2 h.
2! h
(b) Conclua da alı́nea anterior que se para além de f 0 (a) = 0 tivermos
f 00 (a) < 0 então a função f atinge em x = a um máximo local.

16. Pretendemos construir uma lata em chapa metálica com a forma de um


cilindro. Este recipiente deve ter a capacidade de 1l = 1000cm3 e não
tem tampa superior. Determinar as dimensões da lata por forma a que
a quantidade de material gasto na sua construção seja mı́nimo.

17. Determine o perı́metro dum triângulo rectângulo de área máxima sa-


bendo que a soma do comprimento dos catetos é 32 metros.

51
18. Diga se são verdadeiras ou falsas as seguintes afirmações. Deverá justi-
ficar, devidamente, a sua resposta no caso em que considere a afirmação
falsa. Essa justificação pode ser feita graficamente, através de contra-
exemplos ou analiticamente.

(a) Se f e g são funções deriváveis em R então

(f og)0 (x) = f 0 (x).g 0 (x), ∀x ∈ R.

(b) Temos
1
lim arctg( ) = +∞
x→0 x2
(c) Se f é uma função positiva, diferenciável em ]1, +∞[ cuja derivada
é sempre negativa então lim f (x) = 0.
x→+∞

(d) Se f : [a, b] → R é uma função derivável em ]a, b[ então f é


contı́nua em [a, b].
(e) Se f :] − ∞, +∞[→ R é crescente então lim f (x) = +∞.
x→+∞

(f) Se f é diferenciável em [a, b] então f toma todos os valores entre


f (a) e f (b).
(g) A função f : R → R definida por
½
0 , x≤0
f (x) =
x2 , x > 0
é contı́nua em R mas não é derivável em R.

52
Capı́tulo 2

Cálculo integral

Neste capı́tulo iremos começar com a definição de primitiva duma função e


estudaremos alguns processos para a sua determinação. De seguida daremos
a definição de integral definido duma função num intervalo fechado [a, b] e
enunciaremos um resultado que estabelece uma relação entre o cálculo do
integral e a primitiva da função.
Faremos algumas aplicações dos integrais ao cálculo de áreas, volumes e
comprimentos de curva.
Estudaremos,também, alguns métodos numéricos que nos permitirão cal-
cular o valor aproximado dum integral duma função, da qual não se conheça
a primitiva.
Finalmente definiremos integral imprópio e estudaremos alguns critérios
de convergência.

2.1 Primitivas
Seja f uma função real de variável real, definida em ]a, b[. Diremos que g é
uma primitiva de f em ]a, b[ se

g 0 (x) = f (x), ∀x ∈]a, b[.


Este facto será denotado por
Z
P f (x) = g(x) ou f (x)dx = g(x)

Obviamente que, se g é uma primitiva de f então g + c onde c é uma


constante qualquer, também é uma primitiva de f . Por outro lado, vimos
anteriormente que, se h é uma função tal que

53
h0 (x) = f (x), ∀x ∈]a, b[
então

h(x) = g(x) + c
com c uma constante.
Concluimos asim que as primitivas duma função diferem por uma cons-
tante.

Teorema 2.1 Se f é uma função contı́nua em [a, b] então f tem primitiva


nesse intervalo.

Este resultado, do qual não daremos a demonstração, estabelece uma


condição suficiente para a existência de primitiva duma função. Há, no
entanto, funções que embora se saiba que são primitiváveis, porque são
contı́nuas, não é possı́vel exprimir a primitiva como combinação finita de
funções elementares.

Exemplo 2.1 As funções

2 e±x sin x cos x 1


e−x ; ( n
, n ∈ N ) ; sin x2 ; ; ;
x x x ln x
são primitiváveis mas não é possı́vel exprimir as suas primitivas como com-
binação finita de funções elementares.

De seguida iremos estudar alguns processos para calcular primitivas de


funções.

2.1.1 Primitivas imediatas


Sendo a primitivação a operação inversa da derivação podemos, em certos
casos usar, os conhecimentos que temos sobre derivadas,para obter duma
forma directa, as primitivas de certas funções. Se isto for possı́vel diremos
que estamos em presença duma primitiva imediata. É necessário ter alguma
facilidade no cálculo de derivadas par duma forma simples identificar e calcu-
lar a primitiva duma função, usando uma tabela de derivadas ou primitivas.
A construção duma tabela de primitivas pode ser feita usando uma tabela
de derivadas. Vejamos como proceder num caso prticular.
Uma vez que

54
(eu )0 = u0 eu
podemos concluir que Z
u0 eu dx = eu + c

onde c é uma constante arbitrária.


Consideremos agora alguns exemplos de cálculo de primitivas imediatas
Exemplo 2.2 Como calcular a primitiva da função real de variável real f
definida por f (x) = e2x ?
Se repararmos na expressão anterior que nos dá a primitiva de u0 eu perce-
bemos que não estamos exactamente nessas condições uma vez que não temos
a derivada de u. Neste caso essa derivada é igual a 2. Como é constante
multiplicamos e dividimos por 2 e podemos de seguida usar a tabela. Teremos
então Z Z
2x 1 1
e dx = 2e2x dx = e2x + c
2 2
Exemplo 2.3 De forma análoga
Z Z
2 3 1 1
x sin x dx = 3x2 sin x3 dx = sin x3 + c
3 3
Exemplo 2.4 Duma forma mais directa podemos concluir que
Z
1
dx = arctg x + c
1 + x2
Exercı́cio 2.1 Calcule as primitivas das funções definidas pelas seguintes
expressões:
x3 + x + 2 3x + 5
(a) x4 + 2x2 − 1 (b) √ (c) 2
x x +1

e2x
(d) cos x.esin x (e) sinh2 x. cosh x (f )
4 + e2x

log x x2
(g) (h) tan2 x.sec2 x (i) √
x x3 + a2
−3x 1 1
(j) (k) (l) √
x4 + 5 4 x2 + 2x + 5 2 + x − x2

arcsin x etan x 1
(m) √ (n) (o)
1 − x2 cos2 x x(1 + log2 x)

55
2.1.2 Primitivas por partes
Há situações em que a simples manipulação da função não nos permite deter-
minar uma primitiva, duma forma imediata, a partir da tabela das derivadas
ou das primitivas.
Sabendo que

(f.g)0 (x) = f 0 (x).g(x) + f (x).g 0 (x)


podemos concluir que
Z
(f 0 (x).g(x) + f (x).g 0 (x))dx = (f.g)(x) + c

isto é,
Z Z
0
f (x).g(x)dx = (f.g)(x) − (f (x).g 0 (x))dx + c

Se considerarmos f 0 = h podemos escrever a fórmula anterior da seguinte


forma:

Z Z Z Z
h(x).g(x)dx = ( h(x)dx).g(x) − ( h(x)dx.g 0 (x))dx + c

chamada fórmula de integração por partes.


Trata-se duma fórmula que permite efectuar o cálculo da primitiva dum
produto de duas funções.
A primeira dificuldade que encontramos, ao usarmos esta fórmula é a
de saber por qual das duas funções deveremos começar a primitivar. Como
poderemos verificar posteriormente esta ordem não é arbitrária.

Exemplo 2.5 Suponhamos que estamos interessados em calcular


Z
xex dx.

Se começarmos pela função ex obtemos


Z Z
xe dx = e x − ex .1dx = ex x − ex + c.
x x

Se tivessemos começado pela função f (x) = x não chegarı́amos a qualquer


resultado.

56
Quando se pretende usar a fórmula anterior há regras que podem ser
usadas para escolher a função pela qual se começa a primitivar.

REGRAS:

1. Começa-se a primitivar pelo factor que menos se simplifica por de-


rivação.

2. Podemos introduzir o factor 1 e começar a primitivar por essa função.

3. Quando temos um produto de exponenciais, senos ou cossenos por po-


linómios deveremos começar por essas funções para que apareça a de-
rivada dos polinómios.

4. Podemos usar mais do que uma vez a fórmula de primitivação por


partes.

5. Por vezes fazemos aparecer no segundo membro a primitiva que se


pretende calcular e resolvemos uma equação em ordem a essa incógnita.

Exemplo 2.6 Suponhamos que o objectivo é calcular


Z
arcos xdx.

Usando a regra 2 introduzimos o factor 1 e começamos a primitivar por


esse factor. Obtemos então
Z Z
−1
arcos xdx = xarcos x − x √ dx
1 − x2
Z
1
= xarcos x − 2 (−2x)(1 − x2 )− 2 dx
1

1
= xarcos x − (1 − x2 ) 2 + c

Exemplo 2.7 Consideremos agora a seguinte primitiva,


Z
x2 cos xdx.

A utilização da regra 3 conduz-nos ao seguinte:


Z Z
2 2
x cos xdx = x sin x − 2x sin xdx

57
Voltando a utilizar a mesma regra, já que a primitiva que aparece no
segundo membro é do mesmo tipo obtemos
Z Z
2x sin xdx = −2x. cos x + 2 cos xdx
= −2x. cos x + 2 sin x + c
Obtendo-se assim
Z
x2 cos xdx = x2 sin x + 2x. cos x − 2 sin x + c
= (x2 − 2) sin x + 2x cos x + c
Exemplo 2.8 Consideremos agora a primitiva,
Z
ex sin xdx.

para exemplificar a utilização da regra 5


Utilizando duas vezes a fórmula de integração por partes obtemos
Z Z
e sin xdx = e sin x − ex cos xdx
x x

Z
x x
= e sin x − [e cos x + ex sin xdx]

Z
x x
= e sin x − e cos x − ex sin xdx

Observamos que no segundo membro aparece, justamente, o integral que


pretendı́amos calcular. Resolvendo uma equação em ordem a este integral
obtemos Z
2 ex sin xdx = ex sin x − ex cos x + c

Teremos então
Z
1
ex sin xdx = ex (sin x − cos x) + c
2
Exercı́cio 2.2 Calcule as primitivas das funções indicadas
x
(a) x cos x (c) √ arcsin x
1 − x2
¡√ ¢
(d) x. arctan x2 − 1 (e) log x

58
2.1.3 Fracções racionais
Iremos agora considerar funções que são o quociente de duas funções polino-
miais.
Consideremos então uma função da forma fg(x) (x)
, onde f e g são duas
funções polinomiais.

1. Se o grau do numerador for maior ou igual ao grau do denominador,


efectua - se a divisão de f (x) por g(x); obtém-se então

f (x) R(x)
= Q(x) + ,
g(x) g(x)

sendo agora R é uma fracção polinomial cujo grau é inferior ao grau de


g. A este tipo de quocientes chamamos fração própria.

2. Decompõe-se o denominador g da fracção própria em factores; os fac-


tores obtidos são da forma

(x − a)m ,

correspondendo a raı́zes reais a de multiplicidade m, ou da forma

[(x − p)2 + q 2 ]n ,

correspondendo estes às raı́zes complexas p ± qi de multiplicidade n.

3. Decompõe-se então a fracção própria numa soma de elementos simples,


de acordo com os factores obtidos:

(a) cada factor do tipo (x − a)m dá origem a

A1 A2 Am
+ + · · · + ,
(x − a)m (x − a)m−1 x−a

com A1 , A2 , . . . , Am constantes a determinar;

59
(b) cada factor do tipo [(x − p)2 + q 2 ]n dá origem a

P1 x + Q1 P 2 x + Q2 Pn x + Qn
2 2 n
+ 2 2 n−1
+ ··· + ,
[(x − p) + q ] [(x − p) + q ] (x − p)2 + q 2

com P1 , Q1 , P2 , Q2 , . . . , Pn , Qn constantes a determinar.

4. Cálculo das constantes


As constantes Ai , Pi e Qi podem ser determinadas pelo método dos
coeficientes indeterminados.

Observação 2.1 Se à partida o grau do numerador já é inferior ao grau do


denominador passamos imeditamente para a fase 2.

Exemplo 2.9 Consideremos então a seguinte primitiva:


Z
x+1
dx
(x2 + 1)2 (x − 1)3
A função a primitivar é definida por um quociente de dois polinómios em
que o grau do numerador é inferior ao grau do denominador. Podemos então
passar para a decomposição da fracção em elementos simples.
Atendendo ao que foi exposto anteriormente deveremos procurar uma de-
composição da forma

x+1 A1 A2 A3 P1 x + Q1 P2 x + Q2
= + + + 2 +
(x2 2
+ 1) (x − 1)3 (x − 1) 3 (x − 1)2 (x − 1) (x + 1)2 (x2 + 1)

A determinação das constantes A1 , A2 , A3 , P1 , P2 , Q1 e Q2 será efectuada


usando o método dos coeficientes indeterminados.

Exemplo 2.10 Consideremos agora uma outra situação em que o cálculo


das constantes é bastante mais simples que no caso anterior.
Z
x+1
dx.
(x − 2)2 (x − 1)
Usando o que foi exposto anteriormente iremos decompor a função da
seguinte forma:
x+1 A1 A2 B
2
= 2
+ + .
(x − 2) (x − 1) (x − 2) x−2 x−1

60
Efectuando a soma das fracções do segundo membro obtemos

x+1 A1 (x − 1) + A2 (x − 2)(x − 1) + B(x − 2)2


= .
(x − 2)2 (x − 1) (x − 2)2 (x − 1)
Daqui resulta

x + 1 = A1 (x − 1) + A2 (x − 2)(x − 1) + B(x − 2)2


ou seja

x + 1 = (A2 + B)x2 + (A1 − 3A2 − 4B)x + (2A2 + 4B − A1 ).


Identificando as potências do mesmo grau obtemos o seguinte sistema de
3 equações a 3 incógnitas.

 A2 + B = 0
A1 − 3A2 − 4B = 1

2A2 + 4B − A1 = 1
cuja solução é A1 = 3, A2 = −2 e B = 2.
Assim, teremos
R x+1
R 3 R 2
R 2
2
(x−2) (x−1)
dx = (x−2)2 dx − x−2
dx + x−1
dx =

3
= − (x−2) + 2 log| x−1
x−2
|+C

Exercı́cio 2.3 Calcule as primitivas das funções abaixo definidas


x5 + x4 − 8 3x + 2 x+1
(a) (b) (c)
x3 − 4x x3 − 2x2 + x x4 + x2

2.1.4 Potências de funções trigonométricas e hiperbólicas


A utilização da tabela 2 sobre potências de funções trigonométricas e hi-
perbólicas permite determinar as primitivas de funções que sejam potências
ı́mpares ou pares em seno, cosseno, tangente, cotangente, secante e cosse-
cante bem como das funções seno hiperbólico, cosseno hiperbólico,tangente
hiperbólica , cotangente hiperbólica, secante hiperbólica e cossecante hi-
perbólica.
Permite ainda determinar primitivas de funções que sejam produtos de
potências de senos e de cossenos ou de senos hiperbólicos por cossenos hi-
perbólicos. Pode também ser usada quando temos produtos de funções seno e
cosseno ou seno hiperbólico e cosseno hiperbólico com argumentos diferentes.

61
Exemplo 2.11 Ao considerarmos a primitiva
Z
sin4 x dx

percebemos imediatamente que se trata duma primitiva onde a função envol-


vida é uma potência par em seno.
Seguindo a indicação que se encontra na tabela passamos ao arco duplo e
obtemos
Z Z Z
4 1 1
sin x dx = [ (1 − cos 2x)]2 = (1 − 2 cos 2x + cos2 2x)dx.
2 4
Encontramos uma potência par em cosseno e voltamos a usar a tabela. Ob-
temos então
R R
sin4 x dx = 14 x − 41 sin 2x + 14 12 (1 + cos 4x)dx =

1
= 4
x − 41 sin 2x + 18 x + 1
32
sin 4x + C

Exemplo 2.12 Se tivermos uma primitiva onde a função envolvida é uma


potência ı́mpar em seno.
Z
sin5 x dx

Seguindo a indicação da tabela destaca-se uma unidade à potência e no


factor resultante usamos a fórmula fundamental.

R R R
sin5 x dx = sin x. sin4 xdx = sin x(1 − cos2 x)2 dx =
R
= sin x((1 − 2 cos2 x + cos4 x)dx =

= −cosx + 32 cos3 x − 15 cos5 x + C

Exercı́cio 2.4 Calcule as primitivas das seguintes potências de funções tri-


gonométricas:
(a) cos3 x (b) sin2 x (c) cotg3 x

(d) sec4 (3x) (e) cosec3 x (f ) sin3 (2x). cos3 (2x)

62
2.1.5 Substituição
Para calcular uma primitiva
Z
f (x)dx

podemos considerar a substituição x = g(t) e usar a fórmula


Z ·Z ¸
0
f (x)dx = f (g(t)).g (t)dt
t=g −1 (x)

A escolha da função g é feita usando a tabela de substituição e será


feita de acordo com a forma da função f . A substituição irá transformar a
primitiva inicial numa primitiva à qual possa ser aplicada alguma das técnicas
anteriores. Calculada a primitiva na variável t, voltamos à variável inicial
invertendo a função g e substituindo t por g −1 (x).

Exemplo 2.13 Consideremos a seguinte primitiva:


Z
1
√ dx.
x 1 − x2
A consulta
√ da tabela permite perceber que se trata duma razão√(quociente)
envolvendo 1 − x2 ou seja, trata-se duma função da forma R(x, a2 − b2 x2 ).
Para este tipo de função poderemos efectuar a seguinte substituição:

x = sin t
isto é considerar g(t) = sin t.
Consideramos então a primitiva
Z
1
p cos tdt
sin t 1 − sin2 t
Usando a fórmula fundamental da trigonometria e considerando cos t > 0
obtemos
Z Z
1 1
p cos tdt = dt = log |cosec t − cotg t| + C
sin t 1 − sin2 t sin t

Invertendo a função g obtemos t = arcsin x. Substituindo t por arcsin x na


expressão encontrada obtemos a primitiva pretendida

Z
1
√ dx = log |cosec(arcsin x) − cotg(arcsin x)| + C
x 1 − x2

63
Exemplo 2.14 Consideremos agora a primitiva:
Z
cos x
dx.
cos2 x − 2
Observamos que se trata duma primitiva da forma

R(sin x, cos x)
Uma vez que é uma função ı́mpar em cos x poderemos efectuar a substi-
tuição sin x = t.
Derivando esta expressão obtemos
dx
. cos x = 1
dt
e, consequentemente
dx 1
=√
dt 1 − t2
Efectuando a substituição teremos
Z √
1 − t2 1
2
.√ dt
1 − t − 2 1 − t2
ou seja
Z
1
− 2
dt
t +1
cujo valor é

−arctg t + C.
Concluı́mos então que
Z
cos x
dx = −arctg (sin x) + C.
cos2 x − 2

Exercı́cio 2.5 Calcule as primitivas das seguintes funções efectuando a subs-


tituição adequada.
1 x5 3x
(a) √ √ (b) √ (c)
x−1− 3x−1 a + bx2 32x − 3x − 2

cos x 1 1
(d) 3 (e) p (f ) √
sin x + 2 cos2 x. sin x (1 − x2 )3 (4 + x2 ). 4 + x2

1 1
(g) (h)
4 cos2 x − sin2 x 4 cos x + 3 sin x

64
2.2 Integral definido

Nesta secção iremos definir integral duma função num intervalo fechado
[a, b].
Estudaremos algumas das suas propriedades e estabeleceremos a relação
entre integral e primitiva.

2.2.1 Motivação
Vejamos como pensar para determinar a área da região plana que a seguir se
representa.

Embora não saibamos determinar a área S da região assinalada percebe-


mos facilmente, que deverá ser possı́vel atribuir-lhe um valor. A dificuldade
com que nos deparamos tem a ver com o facto da região não ser um polı́gono
regular nem se poder decompor em polı́gonos regulares.
A área da região acima referida deve estar compreendida entre SD e SE
onde estes valores são as áreas das regiões assinaladas nas figuras seguintes.

65
Se aumentarmos o número de rectângulos melhoramos a aproximação,
quer por defeito, quer por excesso da área S.
Podemos ainda pensar de outra forma. Começando por considerar uma
partição do intervalo [a, b]

a ≡ x0 < x1 < x2 < ... < xn ≡ b

onde os pontos xi estão a igual distância entre si, em cada intervalo [xi−1 , xi ]
considerar um ponto qualquer x∗i e aproximar a área por
n
X
Sn = f (x∗1 )∆x + ... + f (x∗n )∆x ≡ f (x∗i )∆x
i=1

Nesta figura está representado um rectângulo com largura xi − xi−1 e


comprimento f (x∗i ).
O valor da área poderá então ser aproximado pelo limite de Sn quando n
tende para infinito.
Surge então a seguinte definição:
Definição: Seja f : [a, b] → R uma função contı́nua. Considere-se uma
partição de [a, b] em subintervalos de comprimento ∆x = b−a
n
e

xi = a + i∆x, i = 0, 1, 2, ..., n
os extremos desses intervalos.
Define-se o integral definido de f entre a e b por
Z b n
X
f (x)dx = lim f (x∗i )∆x
a n→+∞
i=1

onde x∗i é um elemento qualquer de [xi−1 , xi ].

66
Usaremos a seguinte terminologia:
R
− sinal ou sı́mbolo de integral
a − extremo inferior de integração
b − extremo superior de integração
f − função integranda
n
X
A f (x∗i )∆x chamamos soma de Riemann de f em [a, b].
i=1

Observação 2.2 O limite anterior existe e é independente de x∗i ∈ [xi−1 , xi ].

Observação 2.3 Se a > b então teremos


Z b Z a
f (x)dx = − f (x)dx.
a b
Se a = b teremos Z b
f (x)dx = 0.
a

Da definição de integral, dada anteriormente, resultam algumas proprie-


dades do integral que a seguir se apresentam. Supondo que as funções são
contı́nuas teremos

Z b
1. c dx = c(b − a) onde c é uma constante real.
a
Z b Z b Z b
2. (f + g)(x)dx = f (x)dx + g(x)dx.
a a a
Z b Z b
3. c.f (x)dx = c f (x)dx, ∀x ∈ R.
a a
Z b Z b Z b
4. (f − g)(x)dx = f (x)dx − g(x)dx.
a a a
Z b Z c Z b
5. f (x)dx = f (x)dx + f (x)dx, ∀a, b, c ∈ R, se f estiver defi-
a a c
nida no maior dos intervalos de extremos a, b e c.

67
Z b
6. Se f (x) ≥ 0, ∀x ∈ [a, b], então f (x)dx ≥ 0.
a
Z b Z b
7. Se f (x) ≥ g(x), ∀x ∈ [a, b], então f (x)dx ≥ g(x)dx.
a a

8. Se m ≤ f (x) ≤ M, ∀x ∈ [a, b], então


Z b
m(b − a) ≤ f (x)dx ≤ M (b − a)
a

Z b Z b
9. | f (x)dx| ≤ |f (x)|dx
a a

Z b
Exemplo 2.15 Se f (x) = C, ∀x ∈ [a, b] então f (x) dx = C.(b − a)
a

Exemplo 2.16 Se f é a função definida em [a, b] por



 f1 (x) , a ≤ x ≤ c
f (x) =

f2 (x) , c < x ≤ b

então
Z b Z c Z b
f (x)dx = f1 (x)dx + f2 (x)dx.
a a c

Exemplo 2.17 Da propriedade 8 resultam imediatamente as seguintes desi-


gualdades:
Z 1√ √
2≤ 1 + x2 dx ≤ 2 2
−1 √
Com efeito a função integranda 1 + x2 verifica

1≤ 1 + x2 ≤ 2, ∀x ∈ [−1, 1].

68
Exercı́cio 2.6 Mostre que
Z e t
2 e
1. e − e ≤ dt ≤ ee − ee−1 ;
1 t
Z √π

2. sin(t2 )dt ≤ π.
0

Exemplo 2.18 Algumas destas propriedades podem ser justificadas usando


as propriedades anteriores. Podemos facilmente mostrar que a propriedade 7
é uma consequência da propriedade 6,que a propriedade 8 é uma consequência
da propriedade 7 e que a propriedade 9 é uma consequência da propriedade
8.

Teorema 2.2 (Fundamental do cálculo)


Seja f uma função contı́nua em [a, b]. Então

1. A função g definida em [a, b] por


Z x
g(x) = f (t)dt
a

é derivável em ]a, b[ e g 0 (x) = f (x). Além disso g é contı́nua em [a, b].

2. Se F é uma qualquer primitiva de f então


Z b
f (x)dx = F (b) − F (a)
a

Demonstração:

1. Sejam x ∈]a, b[ e h > 0 tais que x + h ∈]a, b[. Teremos então


Z x+h
g(x + h) − g(x) 1
= f (t)dt.
h h x

Por outro lado, sendo f contı́nua, atingirá no intervalo [x, x + h] um


máximo M e um mı́nimo m em u e v, respectivamente. Da propriedade
8 resulta então que

69
Z x+h
m[(x + h) − x] ≤ f (t)dt ≤ M [(x + h) − x]
x

Dividindo por h e usando as definições de M e m obtemos


Z x+h
1
f (v) ≤ f (t)dt ≤ f (u)
h x
ou seja
g(x + h) − g(x)
f (v) ≤ ≤ f (u).
h
Como u e v pertencem ao intervalo [x, x + h] podemos concluir que
quando h tende para zero, tanto f (u) como f (v) convergem para f (x).
Calculando o limite da expressão anterior quando h tende para zero
concluı́mos que

g(x + h) − g(x)
lim = f (x).
h→0 h
0
Isto significa que g+ (x) = f (x).
0
Analogamente se prova que g− (x) = f (x) e portanto g 0 (x) = f (x).
Por outro lado, se x = a e h > 0 a demonstração anterior permite
0
concluir que f (a) = g+ (a) e, portanto g é derivável à direita de a e
portanto contı́nua em a. De forma análoga poderemos garantir que g
é contı́nua em b. Assim g será contı́nua em [a, b].

2. Vimos, anteriormente, que g 0 (x) = f (x) e, portanto, g é uma primi-


tiva de f . Se F for outra primitiva de f sabemos que F e g estão
relacionadas por

F (x) = g(x) + C, ∀x ∈ [a, b]

Da continuidade de F e de g em [a, b] podemos concluir que

F (a) = lim F (x) = g(a) + C


x→a

F (b) = lim F (x) = g(b) + C


x→b

70
Teremos então
Z b
F (b) − F (a) = [g(b) + C] − [g(a) + C] = g(b) − g(a) = f (t)dt
a

ou seja
Z b
f (t)dt = F (b)−F (a) ≡ [F (x)]ba , onde F é uma qualquer primitiva de f .
a

Observação 2.4 A primeira parte do teorema fundamental do cálculo dá-


-nos um processo para determinar a derivada dum integral indefinido.

Observação 2.5 Da segunda parte do teorema fundamental do cálculo veri-


ficamos que o cálculo dum integal fica simplificado pelo conhecimento duma
primitiva da função integranda.

Vejamos agora alguns exemplos de como este resultado pode ser usado.

Rπ π
Exemplo 2.19 0
2
sin tdt = [− cos t]02 = − cos π2 + cos 0 = 1


Exemplo
R0 2.20 Seja f a função real de variável real definida em [0, π] por
2
x
sin t dt.
Podemos usar o teorema anterior para determinar f 0 (x). Teremos
Z 0 Z x
0 2 0
f (x) = ( sin t dt) = (− sin t2 dt)0 = − sin x2 < 0
x 0

Exemplo 2.21 Seja f a função real de variável real definida por


Z cos x
f (x) = (t + sin t2 )dt
1
Podemos considerar f como a composição de duas funções,

f (x) = ho cos(x)
onde h é definida por

71
Z x
h(x) = (t + sin t2 )dt
0
e usar a fórmula de derivação da função composta.

f 0 (x) = h0 (cos x).(cos x)0 = −(cos x + sin(cos2 x)). sin x

Z x
et
Exercı́cio 2.7 Considere G :]0, +∞[→ R, definida por G(x) = dt.
1 t

1. Mostre que G(x) < 0, ∀x ∈]0, 1[;


2. Calcule G0 (x) e G00 (x);
3. Estude a monotonia e continuidade de G.

Z cos(t)
ex
Exercı́cio 2.8 Considere f : R → R, definida por f (t) = dx.
1 2+x
Verifique se zero é um ponto de mı́nimo local.

Exercı́cio 2.9 Seja F a função definida por

F : ]1, +∞[ → R
R sin x et
x → x 1 t
dt
Determine F 0 (x).
Z x
sin t
Exercı́cio 2.10 Seja G : [− 3π
2
, 3π
2
] → R definida por G(x) = dt.
−π t2 +1
1. Calcule G(−π) e G(π);
2. Calcule os extremos locais de G.

Exercı́cio 2.11 Calcule os seguinte integrais:


Z π Z π
(a) sin t dt; (b) sin2 t dt
0 0
Z π Z e
t 1 1
(c) sin t.e dt; (d) log( 2 ) dx
0 1 x x

72
Observação 2.6 Se para o cálculo dum certo integral, a primitiva da função
integranda tiver que ser calculada por substituição, poderemos proceder de
duas formas:
• Calculamos a primitiva F da função integranda, voltando à variável
inicial e usamos o teorema fundamental do cálculo.
• Efectuamos a mudança de variável indicada, tendo o cuidado de alterar
também os extremos de integração, isto é,
Z d Z g −1 (d)
f (x)dx = f (g(t)).g 0 (t)dt
c g −1 (c)

Supondo que se efectua a mudança de variável x = g(t) onde g 0 é contı́nua


em [c, d]

Exemplo 2.22 Considere-se o seguinte integral


Z 1 x
e + 4e2x
dx.
0 1 + ex
Efectuando a mudança de variável aconselhada, ex = t o que equivale a
considerar g(t) = ln t, obtemos
Z 1 x Z e Z e
e + 4e2x t + 4t2 1 1 + 4t
x
dx = dt = dt
0 1+e 1 1+t t 1 1+t

A função integranda que aparece neste último integral é uma função raci-
onal para as quais temos uma forma própria de calcular primitivas. Depois
de divididos os polinómios obtemos
Z e Z e
1 + 4t 3
dt = (4 − )dt = 4e − 3 ln(e + 1) − 4 + 3 ln 2
1 1+t 1 t+1

Exercı́cio 2.12 Calcule os seguinte integrais:


Z 1 √ Z 1
1
(e) 1− x2 dx (f ) √ √ dx .
0 1
2
x 2−x

73
2.3 Aplicações
Nesta secção iremos fazer algumas aplicações do cálculo integral à deter-
minação de áreas, volumes, comprimentos de curva e áreas de superfı́cies de
sólidos de revolução.

2.3.1 Áreas
Se A é a área da região delimitada pelas curvas definidas por

y = f (x), y = g(x), x=a e x=b


onde f e g representam duas funções contı́nuas tais que

f (x) ≥ g(x), ∀x ∈ [a, b]


então
Z b
A= (f − g)(x)dx.
a

Observação 2.7 A condição f (x) ≥ g(x) deve ser verificada para todo o
x ∈ [a, b]. Poderemos ter necessidade de calcular mais do que um integral
para determinar a área duma determinada região.

74
Exemplo 2.23 Podemos determinar a área da região assinalada na figura
abaixo usando o resultado anterior.

Com efeito,
Z −1 Z 2
2
A= (x − x − 2)dx + (x + 2 − x2 )dx.
−2 −1

Se tivermos uma região A delimitada pelas curvas definidas por


x = f (y), x = g(y), y=c e y=d
onde f e g representam duas funções contı́nuas tais que
f (y) ≥ g(y), ∀y ∈ [c, d]
então

Z d
A= (f (y) − g(y))dy
c

75
Exemplo 2.24 A área da região assinalada na figura abaixo pode ser calcu-
lada usando o resultado anterior

Começamos por determinar a abcissa dos pontos de intersecção da parábola


com a recta. Obtemos x = −2 e x = 4. Da fórmula anterior resulta que
Z 4
1
A= ([(y + 1) − ( y 2 − 3)]dy.
−2 2

Exercı́cio 2.13 Determine as áreas das regiões indicadas:

(a) A região delimitada pela parábola de equação y = −x2 + 4x − 3, e pelas


rectas tangentes à parábola nos pontos (0, −3) e (3, 0);

(b) A região delimitada pela parábola de equação y 2 = −x + 2y e pela recta


x = 0;

(c) A região S = {(x, y) ∈ [1/1000, e] × R : y ≤ f (x) ∧ y ≥ mx + b} onde


f : R → R é definida por f (x) = − log x e y = mx + b é uma equação
da recta tangente ao gráfico de f no ponto de abcissa x = e.

76
2.3.2 Volumes
Chamamos cilindro a um objecto que é formado por uma base B, que tem
uma altura h e é limitado superiormente por uma região paralela à base como
indica a figura

O volume do cilindro é V = B × h, onde B é a área da base e h a altura


do cilindro.
Considerando agora um sólido como aquele se representa na figura se-
guinte.

Podemos pensar em aproximar o volume do sólido através da soma do


volume das fatias.
Na figura seguinte representamos uma dessas fatias

77
Cada uma destas fatias terá um volume aproximado igual a A(x∗i ).∆x.
Somando as várias fatias que se obtém do sólido teremos o seguinte valor
aproximado para o seu volume:
n
X
V ≈ A(x∗i )∆x
i=1

Surge então a seguinte definição para o volume do sólido


n
X Z b
V = lim A(x∗i )∆x = A(x)dx
n→+∞ a
i=1

Exemplo 2.25 Vejamos como usar esta fórmula para calcular o volume
duma esfera de raio r.
Para definirmos a função A(x) iremos considerar a figura
√ abaixo onde se
percebe facilmente que A(x) é a área dum cı́rculo de raio r2 − x2 ou seja

A(x) = π(r2 − x2 )

Sendo assim Z r
4
V = π(r2 − x2 )dx = πr3
−r 3

78
Exercı́cio 2.14 Calcule o volume do tronco de pirâmide com base quadrada
de lado b, topo quadrado de lado a, e altura h.

Definição: Chamamos sólido de revolução a um sólido que é obtido pela


rotação, duma região plana, em torno dum eixo.

Exercı́cio 2.15 Determine o volume do sólido de revolução gerado pela rotação,


em torno de Ox, da região delimitada pelo eixo Ox pela recta x = 1 e pela
parábola definida por x = 4y 2 .

Usando argumentos análogos aos considerados anteriormente, podemos


concluir que o volume do sólido de revolução gerado pela rotação, em torno
de Ox, da região delimitada pelo eixo Ox, pelas rectas x = a e x = b e pela
curva definida por y = f (x)

é dada por
Z b
V = πf 2 (x)dx
a

Exercı́cio 2.16 Calcule o volume dos seguintes sólidos:

(a) Sólido gerado pela rotação


√ em torno de Ox, da região delimitada pelas
curvas de equação y = 4 − x2 e y = 0;

(b) Sólido gerado pela rotação em torno de Ox, da região delimitada por
y = x2 , x = 0, x = 1 e y = 0.

79
Outro método:(Cascas cilı́ndricas)
Consideremos agora uma região do mesmo tipo da anterior a rodarem
torno de Oy.

Se considerarmos a região assinalada a tracejado na figura do lado direito


a rodar em torno de Oy podemos facilmente verificar que vai gerar um sólido
cujo volume é

πx2i f (x∗i ) − πx2i−1 f (x∗i )


Se somarmos para todo o i de 1 até n e passarmos ao limite iremos ter
n
X
V = lim (πx2i f (x∗i ) − πx2i−1 f (x∗i ))
n→+∞
i=1

Xn
xi + xi−1
= lim (πf (x∗i ) (xi − xi−1 ).2
n→+∞
i=1
2

n
X
= lim (πf (x∗i ).2∆x
n→+∞
i=1

Z b
= 2πxf (x)dx
a

Exemplo 2.26 Consideremos a região delimitada pelo eixo Ox e pelas rectas


de equação x = a e y = ab x, onde a e b são duas constantes positivas. A
rotação desta região em torno de Oy gera um sólido cujo volume será então
dado por
Z a
b 2πba2
V = 2πx. xdx =
0 a 3

80
Exercı́cio 2.17 Calcule o volume do sólido:

(a) gerado pela rotação da região delimitada por y = x2 , x = 0, x = 1 e


y = 0 em torno de Oy;

(b) obtido pela rotação, em torno de Oy, da região delimitada por x = 1,


x = 2, y = 10 e y = 0.

2.3.3 Comprimento de arco


Seja f : [a, b] → R uma função contı́nua. De forma análoga ao que foi feito
anteriormente para o estabelecimento das fórmulas do volume dos sólidos
de revolução, podemos aproximar o comprimento da curva, que a seguir se
representa, pelo comprimento duma linha poligonal.

Usando a fórmula que nos dá a distância entre dois pontos obtemos a
seguinte expressão para o comprimento da linha poligonal:
n
X p
(xi − xi−1 )2 + (f (xi ) − f (xi−1 ))2
i=1

Definimos então o comprimento da curva como


n
X p
lim (xi − xi−1 )2 + (f (xi ) − f (xi−1 ))2
n→+∞
i=1

A definição de integral, juntamente com o teorema do valor médio de


Lagrange, permite concluir que
Z bp
Com C = 1 + (f 0 (x))2 dx
a

81
Exemplo 2.27 Vejamos como calcular o comprimento L da curva C defi-
nida por
C = {(x, coshx), x ∈ [0, 1]}
Da fórmula anterior teremos
Z 1p Z 1
2 e − e−1
L= 1 + sinh xdx = cosh xdx = .
0 0 2

Exercı́cio 2.18 Estabeleça os integrais que lhe permitem calcular o compri-


mento das seguintes curvas:

(a) y = 1 − x2 , entre os pontos de abcissa x = 0 e x = a, onde a ∈ [0, 1];

(b) y = x2 , entre os pontos x = 0 e x = 1;

(c) y = arcsn (e−x ), entre os pontos de abcissa x = 1/2 e x = 1;

(d) O perı́metro de uma elipse com semieixos de comprimento 1 e 2.

2.3.4 Área duma superfı́cie de revolução


A medida da área da superfı́cie de revolução gerada pela rotação em torno
de Ox do gráfico duma função contı́nua f , com x ∈ [a, b], é dada por
Z b p
S= 2πf (x) 1 + (f 0 (x))2 dx
a

Exemplo 2.28 Vejamos como se pode calcular a área lateral do cone usando
a fórmula anterior. Consideremos então um cone cujo raio da base é r e a
altura h. Consideremos então as seguintes figuras.

82
Criamos um modelo matemático que traduz a situação real e que nos
permita, com as ferramentas que temos, resolver o problema. A área lateral
do cone é dada por
Z h r
r r √
S= 2π. x 1 + ( )2 dx = πr h2 + r2
0 h h

Exercı́cio 2.19 Calcule a área das seguintes superfı́cies de revolução:



(a) Superfı́cie obtida pela rotação em torno de Ox da curva y = 4 − x2 ,
onde −1 ≤ x ≤ 1;
x2 y2
(b) Elipsoide obtido pela rotação em torno de Ox da elipse a2
+ b2
= 1,
onde a > b.

2.4 Integrais impróprios


A noção de integral que apresentámos no inı́co deste capı́tulo assenta em dois
pressupostos fundamentais:
• O intervalo de integração é fechado e limitado.
• A função integranda f é limitada.
No que se segue iremos estender este conceito a intervalos ilimitados e a
funções ilimitadas.

2.4.1 Intervalos ilimitados


Seja f : [a, +∞[→ R uma função contı́nua.
Para cada t > a podemos considerar a área da região que a seguir se
representa

83
o integral Z t
f (x)dx
a
representa essa área.
Definimos assim uma função A : [a, +∞[→ R por
Z t
A(t) = f (x)dx.
a

Se existir lim A(t) diremos que o integral impróprio de a a +∞ da


t→+∞
função f é convergente e que
Z +∞
f (x)dx = lim A(t)
a t→+∞

caso não exista limite diremos que o integral impróprio é divergente.


De forma análoga, se f :] − ∞, b] → R é uma função contı́nua, podemos
considerar o integral impróprio
Z b
f (x)dx.
−∞

Este integral impróprio será convergente de existir


Z b
lim f (x)dx
t→+∞ −t
e nesse caso Z Z
b b
f (x)dx = lim f (x)dx
−∞ t→+∞ −t

Caso este limite não exista o integral impróprio diz-se divergente.


Analogamente, para uma função f definida em todo o R, diremos que
Z +∞ Z a Z +∞
f (x)dx = f (x)dx + f (x)dx
−∞ −∞ a

se estes dois integrais impróprios forem convergentes para algum valor de a.

Exemplo 2.29 Da definição resulta


Z +∞ Z t
1 1 1
2
dx = lim 2
dx = lim [− + 1] = 1
1 x t→+∞ 1 x t→+∞ t
Trata-se, portanto, dum integral impróprio convergente cujo valor é 1

84
Exemplo 2.30 De forma análoga ao que fizemos anteriormente
Z +∞ Z t
1 1
dx = lim dx = lim (ln t − ln 1) = +∞
1 x t→+∞ 1 x t→+∞

Concluı́mos então que o integral impróprio é divergente.

Exemplo 2.31 Teremos


Z 0 Z 0
x
xe dx = lim xex dx = lim (−1 − te−t + et ) = 1
−∞ t→−∞ t t→−∞

e portanto trata-se dum integral impróprio convergente.

Exemplo 2.32 Consideremos agora um exemplo dum caso diferente dos an-
teriores. Para estudarmos o integral impróprio
Z +∞
1
2
dx
−∞ 1 + x

deveremos considerar separadamente


Z 0 Z +∞
1 1
2
dx e dx
−∞ 1 + x 0 1 + x2
Temos
Z 0 Z 0
1 1 π
dx = lim dx = lim (arctg 0 − arctg t) =
−∞ 1 + x2 t→−∞ T 1+x 2 t→−∞ 2

e, analogamente,
Z +∞
1 π
2
dx = lim (arctg t − arctg 0) = .
0 1+x t→+∞ 2
Concluimos então que o integral impróprio é convergente e que
Z +∞
1
2
dx = π
−∞ 1 + x

85
2.4.2 Funções ilimitadas
Consideremos uma função contı́nua f : [a, b[→ R que possua uma assimptota
em x = b.

Para t ∈ [a, b[, consideramos


Z t
A(t) = f (x)dx
a
Como no caso anterior definimos
Z b Z t
f (x)dx = lim− f (x)dx
a t→b a
se este limite existir. Se o limite não existir o integral impróprio diz-se
divergente.
Para uma função contı́nua f :]a, b] → R que possua uma assimptota em
x = a. Define-se
Z b Z b
f (x)dx = lim+ f (x)dx
a t→a t
caso este limite exista.
Se tivermos uma função f contı́nua em [a, c[ e em ]c, b] e que possua uma
assimptota em x = c então
Z b Z c Z b
f (x)dx = f (x)dx + f (x)dx
a a c
caso estes integrais impróprios sejam convergentes.

86
Exemplo 2.33 Da definição anterior temos
Z 5 Z 5 √ √
1 1 √
√ dx = lim+ √ dx = lim+ 2( 3 − t − 2) = 2 3
2 x−2 t→2 t x−2 t→2

Exemplo 2.34 Da definição dada anteriormente resulta também que


Z 1 Z 0 Z 1
1 1 1
1 dx = 1 dx + 1 dx
−1 |x| 2 −1 (−x) 2 0 x2

se estes dois integrais impróprios forem convergentes. Teremos


Z 0
1 1
1 dx = lim [−2(−t)
2 + 2] = 2

−1 (−x) 2 t→0−

e Z 1
1 1
1 dx = lim+ [2 − 2t 2 ] = 2
0 x 2 t→0

Logo Z 1
1
1 dx = 4.
−1 |x| 2

Exercı́cio 2.20 Determine a natureza dos seguintes integrais impróprios,


utilizandoZ a+∞
definição: Z +∞ Z 0
−x 2
(a) e dx; (b) cos(x)dx; (c) x.5−x dx;
0 −∞ −∞

Z 2 Z 1 Z 5
1 1 1
(d) dx; (e) √ √ dx; (f ) √ dx.
0 4 − x2 0 x ( x + 1)
3
2 x−2

Exercı́cio 2.21 Mostre que:



Z +∞  1
se α > 1
1 α−1
dx =
1 xα 
diverge se α ≤ 1

2.4.3 Teste de Comparação


Em certos casos não é possı́vel determinar o valor do integral impróprio mas
é importante saber se ele é ou não convergente. Há processos que permitem
tirar essa conclusão sem termos necessidade de calcular o integral. São os
chamados critérios de convergência.

87
Teorema 2.3 Se f e g são funções contı́nuas em [a, +∞[ e

f (x) ≥ g(x) ≥ 0, ∀x ≥ a

então: Z +∞ Z +∞
a) Se f (x)dx converge, então g(x)dx também converge.
Z +∞
a Z a
+∞
b) Se g(x)dx diverge, então f (x)dx também divverge.
a a

Vejamos agora como é que este resultado pode ser usado.

Exemplo 2.35 A determinação do integral impróprio


Z +∞
1 + e−x
dx
1 x
não é propriamente evidente. Nesta altura não será mesmo possı́vel deter-
miná-lo com os conhecimentos que temos.
Mas, uma vez que

1 1 + e−x
≤ , ∀x ≥ 1
x x
e
Z +∞
1
dx = lim [ln x]t1 = +∞
1 x t→+∞

concluı́mos que o integral impróprio inicial também é divergente.

Teorema 2.4 Seja f : [a, +∞[→ R uma função contı́nua:


Z +∞ Z +∞
Se |f (x)|dx converge então f (x)dx também converge.
a a

A conjugação do teorema 2.3 com o teorema 2.4 pode em alguns casos


ser usada com sucesso.

Exemplo 2.36 Para estudarmos a natureza (saber se é convergente ou di-


vergente) do integral impróprio
Z +∞
cos x
dx
1 x3
podemos proceder da seguinte forma:

88
Como
cos x 1
| 3
|≤ 3
x x
e Z +∞
1 x−2 t 1
3
dx = lim [ ]1 =
1 x t→+∞ −2 2
podemos concluir pelo teorema 2.3 que
Z +∞
cos x
| 3 |dx
1 x
é convergente e de seguida, usando o teorema 2.4, concluir que o integral
impóprio dado é convergente.

Exercı́cio 2.22 Determine a natureza dos seguintes integrais impróprios:


Z +∞ Z 1
−x cos(x)
(a) e arctan(x)dx; (b) √ dx;
0 0
3
x
Z +∞ Z +∞
sin(x) + cos(x) 2 (x)−x+1
(c) dx; (d) e−x cos dx.
0 x2 + x + 1 0

2.5 Integração numérica


Em muitos casos não é possı́vel determinar uma primitiva duma função f e,
portanto, não podemos usar o teorema fundamental do cálculo para deter-
minar o integral da função f num dado intervalo [a, b].
Há métodos numéricos que nos permitem determinar um valor aproxi-
mado do integral tendo o controlo do erro que se comete com essa apro-
ximação.
Nesta secção iremos apresentar alguns métodos de integração numérica
indicando, para cada método uma estimativa do erro.
Vimos anteriormente que
Z b Xn
f (x)dx ≈ f (x∗i )∆x
a i=1

onde x∗i é um qualquer valor pertencente ao intervalo [xi−1 , xi ].


Considerando x∗i o extremo inferior, o extremo superior ou o ponto médio
do intervalo [xi−1 , xi ] teremos, respectivamente
Z b n
X
f (x)dx ≈ f (xi−1 )∆x = Ln
a i=1

89
Z b n
X
f (x)dx ≈ f (xi )∆x = Rn
a i=1
Z b n
X xi + xi−1
f (x)dx ≈ f( )∆x = Mn
a i=1
2
Uma nova aproximação desse integral é a média entre a aproximação Ln
e a aproximação Rn , ou seja,

Z n n
b
1 1X X
f (x)dx ≈ (Ln + Rn ) = [ f (xi−1 )∆x + f (xi )∆x]
a 2 2 i=1 i=1

Xn
f (xi−1 ) + f (xi )
= [ ]∆x
i=1
2

∆x
= 2
[f (x0 ) + 2f (x1 ) + . . . + 2f (xn−1 ) + f (xn )]

onde ∆x = b−an
e xi = a + i∆x, i = 0, 1, 2, ..., n.
Esta é a chamada regra do trapézio por usar a aproximação da área por
trapézios.

Estimativas de erro
Seja K um majorante da segunda derivada ,isto é,

|f 00 (x)| ≤ K, ∀x ∈ [a, b]
então,

K(b − a)3 K(b − a)3


|ET | ≤ e |E M | ≤
12n2 24n2

90
onde ET e EM representam, respectivamente, o erro na regra do Trapézio e
na regra do ponto médio.
Da observação destas estimativas resulta imediatamente que quanto maior
for o n menor será o erro e, portanto melhor será a aproximação.
De seguida iremos dar um exemplo para percebermos como é que estas
estimativas de erro podem ser usadas para calcular um valor aproximado dum
integral com a informação sobre o erro máximo cometido nessa aproximação.

Exemplo 2.37 Suponhamos que estavamos interessados em determinar um


valor aproximado de
Z 2
1
dx
1 x
cometendo um erro inferior a 0.0001 .
Neste caso temos
2
|f 00 (x)| = |
| ≤ 2, ∀x ∈ [1, 2]
x3
Sendo K = 2 a fórmula da estimativa de erro garante que

2(2 − 1)3 1
|ET | ≤ 2
= 2
12n 6n
Como estamos interessados em que o erro seja inferior a 0.0001 iremos
impor que
1
< 0.0001
6n2
donde se conclui que basta considerar n=41.
Se usarmos a regra do ponto médio a fórmula da estimativa de erro per-
mite concluir que para garantir um erro inferior a 0.0001 basta considerar
n= 29.

Nos métodos anteriores usamos aproximações por rectângulos e por trapézios.


Iremos apresentar um método em que a aproximação do gráfico da função é
feita usando parábolas.
O princı́pio fundamental do método consiste em considerar três pontos
da partição xi−1 , xi , xi+1 e com estes três pontos definir uma parábola.
Este método, conhecido por Regra de Simpson, consiste em considerar
Z b
f (x)dx ≈ Sn
a

91
com
∆x
Sn = [f (x0 ) + 4f (x1 ) + 2f (x2 ) + . . . + 2f (xn−2 ) + 4f (xn−1 ) + 2f (xn )]
3
b−a
e ∆x = n
. Neste método, n deverá ser par.

Estimativas de erro
K(b−a)5
Se |f (4) (x)| ≤ K então |ES | ≤ 180n4
.

Uma análise simples desta fórmula permite concluir que, em geral, para
obtermos um valor aproximado dum integral não cometendo um erro superior
a um dado valor dado, o número de intervalos a considerar será menor quando
se usa a Regra de Simpson.

Exemplo 2.38 Ao usarmos a Regra de Simpson com n = 10 obtemos o


seguinte:
Z 1
2
ex dx ≈ 1.462681
0
Atendendo a que neste caso
2
f (4) (x) = (16x4 + 48x2 + 12)ex
concluı́mos que K = 76e. Usando a fórmula da estimativa do erro obtemos

76e(1 − 0)5
|ES | ≤ ≈ 0.000115
180.104
Exercı́cio 2.23 Use a regra do trapézio e a regra de Simpson (com n = 10)
para calcular
Z 2 o valor aproximado de Z 2
1 sin(x)
(a) dx; (b) dx.
1 x 1 x
Exercı́cio 2.24 Calcule um majorante para o erro em cada um dos casos
anteriores.

Exercı́cio 2.25 Quantos subintervalos deve considerar para que, usando a


regra do trapézio para aproximar o integral
Z π
2
cos(x)dx,
− π2

cometa um erro inferior a 5 × 10−4 ?

92
Exercı́cios de controlo:

1. Calcule as primitivas das funções indicadas:


1 −3x
(a) (b) 4 (c) tan x
x log x x + e4

earctan x 1 log (log x)


(d) (e) (f)
1 + x2 sin x − cos x x

2. Calcule:
Z
x
(a) arctg(x2 ) dx.
1 + x4
Z
1 ln x
(b) . dx . Sugestão: Efectue a substituição ln x = t
x 4 + ln x

3. Calcule
Z Z Z
1 sin x 1 ln x
a) dx ; b) dx ; c) . dx
x4 − 1 1 − cos4 x x 4 + ln2 x

4. Considere a região A delimitada pelo gráfico da função y = x2 e pela


recta de equação y = 9.

(a) Determine a área de A.


(b) Determine o volume do sólido B, gerado pela rotação da região A
em torno de Oy.
(c) Determine a área da superfı́cie de B.

5. Diga, justificando se são verdadeiras ou falsas as seguintes afirmações:


R3 2
(a) Para calcular 1 −ex dx usando a regra do trapézio, e não cometer
9
um erro superior a 304e
1200
basta considerar ∆x = 15 .
(b) Se f : [a, b] → R é definida por f (x) = mx + c com m e c duas
constantes reais,
Z então a regra do trapézio dá, neste caso, um valor
b
exacto para f (x)dx
a

93
6. Seja f : [a, b] → R uma função contı́nua.

(a) Use as somas de Riemann para definir


Z b
f (x)dx.
a

(b) Mostre, usando a definição anterior, que se

f (x) ≤ 1, ∀x ∈ [a, b]

então Z b
f (x)dx ≤ b − a.
a

7. Seja f : [1, +∞[→ R a função definida por


Z ln x
et
f (x) = dt.
1 1+t

(a) Mostre que f é derivável em ]1, +∞[.


(b) Calcule f 0 (x).
(c) Indique três pontos x0 , x1 e x2 tais que

f (x0 ) < 0 ; f (x1 ) = 0 ; f (x2 ) > 0 .

8. Calcule, apresentando todos os cálculos:


Z +∞
(a) (1 − x)e−x dx
Z1 e
x
(b) 2
cos(ln(x2 + 2))dx
1 x +2
Z 1
ex + 1
(c) 2x − 2ex + 1
dx
ln 2 e

9. Determine o volume do sólido (ovo) gerado pela rotação, em torno de


Oy, da região que a seguir se define: reunião dos pontos do primeiro
2 2
quadrante interiores à elipse definida por x4 + y9 = 1 com os pontos do
quarto quadrante interiores à circunferência definida por x2 + y 2 = 4.

94
10. A regra de Simpson permite calcular um valor aproximado do integral
Z b
f (x)dx
a

através de
∆x
[f (x0 ) + 4f (x1 ) + 2f (x2 ) + ... + 2f (xn−2 ) + 4f (xn−1 ) + f (xn )].
3
Determine n por forma que, ao aproximar o valor do integral
Z 2
(x5 − 10x4 + 1)dx ,
1

1
usando a regra de Simpson, não cometa um certo erro superior a 1000
.

11. Calcule:
Z
x
(a) arctg(x2 ) dx.
1 + x4
Z
1 ln x
(b) . dx . Sugestão: Efectue a substituição ln x = t
x 4 + ln x
Z 1
(c) ln x dx
0

12. Um balão esférico com raio 2, contém no seu interior um lı́quido. De-
termine, em função da altura h do lı́quido no balão, a quantidade de
lı́quido que existe no balão.

13. Calcule
Z 1 Z Z
1 sin x
a) sin3 xdx ; b) 4
dx ; c) dx.
−1 x −1 1 − cos4 x

14. Considere um copo em forma de cone, com raio da base igual a 5cm e
altura 10cm.

(a) Determine a quantidade de lı́quido existente no copo em função


da altura deste no copo.
(b) Determine a capacidade máxima do copo.

95
¯R ¯
¯ π cos(x2 ) ¯
15. Mostre que ¯ 1 x
dx¯ ≤ ln π

16. Considere a região A delimitada pelo gráfico da função y = −x2 e pela


recta de equação y = −4.

(a) Determine o volume do sólido B, gerado pela rotação da região A


em torno de Oy.
(b) Determine a área da superfı́cie de B.

96
Capı́tulo 3

Equações Diferenciais

Muitos problemas reais são modelizados por uma equação onde a incógnita
é uma função que aparece na equação bem como algumas das suas derivadas.
A uma equação deste tipo chamamos equação diferencial.
Vejamos algumas situações onde problemas reais são modelizados por
equações diferenciais.

3.1 Exemplos de Equações diferenciais

Iremos começar este capı́tulo com a apresentação de dois problemas reais


cuja solução passa pela resolução duma equação diferencial.

1. Modelo de crescimento populacional


Um modelo de crescimento duma certa população assenta no princı́pio de
que a população cresce a uma taxa proporcional ao tamanho da população.
Não ter em conta outros factores pode ser em muitos caso irrealista. Mas
será um ponto de partida para o estudo da evolução duma população, pelo
menos em algum perı́odo da sua evolução.
Representando por t o tempo e por N o número de indivı́duos da po-
pulação podemos a firmar que a lei que enunciámos anteriormente se traduz
por
dN
(t) = KN (t) (3.1)
dl
Esta equação traduz o facto da taxa de variação do número de indivı́duos
da população ser, em cada instante, proporcional ao número de indivı́duos

97
da população. A constante K é chamada constante de proporcionalidade.
Na equação (3.1) encontramos a função N e a sua derivada. Trata-se
duma equação diferencial.
Neste momento, com os conhecimentos que temos, podemos facilmente
concluir que uma solução de (3.1) será dada por

N (t) = CeKt (3.2)


onde C é uma qualquer constante real. Como para cada C, (3.2) é uma
solução de (3.1) diremos que temos uma famı́lia de soluções da equação di-
ferencial (3.1).
Do ponto de vista matemático todas as funções do tipo 3.2 são soluções
de 3.1. No entanto, como a equação 3.1 representa um fenómeno real, há
soluções que não podem ser consideradas. Neste caso, uma vez que o número
de elementos da população deve ser positivo deveremos ter necessariamente
C > 0.
Como foi referido, o modelo anterior é bastante simples e não tem em
conta alguns factores que poderiam ser traduzidos no modelo.
Há populações que crescem exponencialmente até um certo valor K e
estabilizam à volta desse valor, diminuindo se a população ultrapassa esse
valor.
Deveremos então considerar um modelo que tenha em conta que
dN
≈ KN
dt
se N é pequeno ( inicialmente a taxa de crescimento é proporcional a N).
dN
< 0 se N > K
dt
traduzindo o facto de N ter que diminuir se N for superior a K.
Podemos traduzir estes dois principios, considerando a seguinte equação
diferencial
µ ¶
dN N (t)
(t) = KN (t) 1 − (3.3)
dl K
Esta equação é chamada equação diferencial logı́stica e foi estabelecida
por um biólogo holandês por volta de 1810 para um modelo de crescimento
mundial.

98
2. Movimento duma mola
Considere-se uma mola que tem uma extremidade fixa a um suporte e na
outra um objecto de massa m como indicado na figura.

A lei de Hooke estabelece que a força necessária para manter a mola esti-
cada x unidades relativamente ao seu estado natural( desprovido de tensões)
é proporcional a x isto é, a força que a mola exerce sobre o objecto é dada
por

F (x) = −Kx
onde a constante K é chamada a constante da mola.
Da 2a lei de Newton (F~ = m~γ ) somos conduzidos à seguinte equação
diferencial:

d2 x
(t) = −Kx(t) (3.4)
dt2
Neste caso a função incógnita é x(t).

3.2 Noções gerais


Uma equação diferencial é uma equação onde a incógnita é uma função desco-
nhecida que aparece na equação juntamente com algumas das suas derivadas.
Chamaremos ordem da equação diferencial ao valor da derivada de ordem
mais elevada que aparece na equação diferencial.

99
Exemplo 3.1 Neste exemplo pretendemos que se perceba esta caracteristica
(ordem) das equações diferenciais
1. y 00 (x) + y 0 (x) + 2x = 0 (Ed. dif. 2a ordem)

2. y 0 (x) + y(x) = 2x (Ed. dif. 1a ordem)

3. y 0 (x) = x.y(x) (Ed. dif. 1a ordem)


Diremos que uma certa função f é solução duma equação diferencial se
substituindo a incógnita por f se obtém uma identidade.

Exemplo 3.2 Se tivermos a equação diferencial

y 0 (x) = x3
4
podemos afirmar que a função f definida por f (x) = x4 + C, onde C é uma
constante arbitrária, é solução da equção diferencial. Com efeito, substi-
4
tuindo na equação y por x4 + C obtemos a identidade verdadeira

x3 = x3 .
3
Exemplo 3.3 A função f definida por f (x) = 2 + e−x é solução da equação
diferencial
y 0 (x) + 3x2 y(x) = 6x2

Se para além da equação diferencial juntarmos uma condição inicial


(condição que a solução da equação diferencial deverá verificar num deter-
minado ponto ) temos aquilo a que se chama problema de valor inicial.
Esta condição inicial irá fixar a constante arbitrária que aparece na solução
da equação diferencial.
x4
Exemplo 3.4 A função f definida por f (x) = 4
+ 5 é solução do problema
de valor inicial
 0
 y = x3

y(0) = 5

Exercı́cio 3.1 Verifique que y = 2+log(x)


x
é uma solução de:
 2 0
 x y + yx = 1

y(1) = 2

100
3.3 Equações diferenciais de primeira ordem
Neste curso iremos considerar apenas equações diferenciais de primeira or-
dem.

3.3.1 Método gráfico


Neste parágrafo iremos apresentar um método gráfico que nos permite obter
uma representação aproximada do gráfico da solução dum problema de valor
inicial.
Sabemos que se tivermos uma função f definida em R, a derivada de f
no ponto a é o declive da recta tangente ao gráfico de f no ponto (a, f (a)).
Com base nesta observação, para uma equação diferencial da forma

y 0 = F (x, y)
podemos afirmar que se y(x) for a solução desta equação então o declive da
recta tangente ao gráfico de f no ponto (x, y) é, justamente, F (x, y).
Iremos então considerar uma malha no plano oxy e, em cada ponto (x, y)
dessa malha, representaremos um pequeno segmento com declive F (x, y).
Esses segmentos serão tangentes ao gráfico da solução da equação diferencial.
Obtemos assim aquilo a que habitualmente se chama campo de direcções. A
condição inicial servirá para conhecermos um ponto do gráfico da solução e
podermos traçar a curva de acordo com a informação que está contida no
campo de direcções.

Exemplo 3.5 Consideremos o seguinte problema de valor inicial


 0
 y = x+y

y(1) = 1
Para esta equação diferencial o campo de direcções tem a seguinte forma:

101
No gráfico da direita está representada a solução exacta do problema de
valor inicial dado.

Exercı́cio 3.2 Para cada uma das seguintes equações diferenciais identifique
o respectivo campo de direcções.
(a) y 0 = y − 1; (b) y 0 = y − x;

(c) y 0 = y 2 − x2 ; (d) y 0 = y 3 − x3 .

Exercı́cio 3.3 Para cada uma das equações diferenciais anteriores defina
condições iniciais e represente graficamente a respectiva solução.

102
3.3.2 Método numérico
Neste parágrafo iremos apresentar um método numérico para aproximarmos
a solução duma equação diferencial.
Este método, denominado método de Newton, é de certa forma inspirado
no método anterior e na aproximação linear duma função.
Consideremos o seguinte problema de valor inicial
 0
 y = F (x, y)

y(x0 ) = y0
Partindo do ponto (x0 , y0 ) definido pelas condições iniciais construimos
uma semi-recta com extremidade nesse ponto e declive igual a F (x0 , y0 ). In-
tersectamos esta semi-recta com a recta vertical x = x1 e obtemos o ponto de
coordenadas (x1 , y1 ). Repetimos o processo para este ponto (x1 , y1 ), conside-
rando a semi-recta com extremidade neste ponto e declive igual a F (x1 , y1 ).
Intersectamos esta semi-recta com a recta vertical x = x2 obtemos então o
ponto de coordenadas (x2 , y2 ). E assim sucessivamente.
A linha poligonal obtida é uma aproximação da solução do problema de
valor inicial.

Habitualmente a distância entre x0 e x1 , entre x1 e x2 etc..., considera-se


constante. A esta distância chamamos passo do método de Euler.
Consideremos então o passo igual a h. O método que foi descrito anteri-
ormente pode ser traduzido pelo algoritmo que iremos construir de seguida.
A recta que contém o ponto (x0 , y0 ) e tem declive F (x0 , y0 ) é definida por

y = y0 + F (x0 , y0 )(x − x0 )

103
A intersecção com a recta x = x1 definirá o ponto y1 por

y1 = y0 + h.F (x0 , y0 )
Do mesmo modo

y2 = y1 + h.F (x1 , y1 )
Dum modo geral, teremos

yn = yn−1 + h.F (xn−1 , yn−1 ) n = 1, 2, 3, ...

Observação 3.1 Obviamente que, quanto mais pequeno for o passo do método
de Euler, mais cálculos teremos que efectuar. No entanto a aproximação será
melhor.

Exemplo 3.6 Se considerarmos o seguinte problema de valor inicial


 0
 y = x+y

y(0) = 1
e considerarmos o passo h = 0.1 obtemos a seguinte tabela de valores

xn yn
0.1 1.1
0.2 1.22
0.3 1.362
0.4 1.5282
0.5 1.721020
0.6 1.943120
0.7 2.187434
0.8 2.487178
0.9 1.815895
1.0 3.187485

Se para o mesmo problema de valor inicial tivessemos considerado passos


diferentes obterı́amos, em cada caso uma tabela de valores análoga à anterior.
Se o passo fosse menor, para chegarmos ao ponto 1 terı́amos que efectuar
mais iterações.

104
Na tabela que se segue apresentamos a evolução do valor y(0.5) para vários
tipos de passo.
Passo h y(0.5)
0.5 1.5
0.25 1.625
0.1 1.721020
0.05 1.757789
0.02 1.781212
0.01 1.789264
0.005 1.793337
0.001 1.796619

Exercı́cio 3.4 Use o método de Euler com passo 0.1 para estimar y(0.5)
onde y é a solução do seguinte problema de valor inicial:
 0
 y = x2 + y 2

y(0) = 1

3.3.3 Equações diferenciais de variáveis separáveis


Um dos casos particulares de equações diferenciais que iremos considerar são
as chamadas equações diferenciais de variáveis separáveis.
São equações diferenciais de 1a ordem da forma
dy
= g(x).f (y)
dx
isto é, a derivada de y pode-se escrever como o produto duma função de x
por uma função de y.
Supondo f (y) 6= 0 teremos

dy g(x) g(x)
= 1 ≡
dx f (y)
h(y)
que podemos separar da seguinte forma

h(y).dy = g(x).dx
Integrando ambos os membros obtemos
Z Z
h(y) dy = g(x) dx

105
que define implicitamente y como função de x. Em certos casos é possı́vel
obter y = y(x).

Exemplo 3.7 Consideremos o seguinte problema de valor inicial


 dy 6x2
 dx = 2y+cos y


y(1) = π
Para encontrar a solução dum problema deste tipo deveremos começar
por resolver a equação diferencial.
Como facilmente constatamos trata-se duma equação diferencial de variáveis
separáveis.
Separando variáveis e integrando, obtemos
Z Z
(2y + cos y)dy = 6x2 dx

isto é

y 2 + sin y = 2x3 + C
Num problema de valor inicial a constante C é determinada através da
condição inicial. Exigindo que para x = 1 se tenha y = π obtemos uma
equação que nos dará o valor de C.

y(1) = π ⇐⇒ π 2 + sin π = 2 + C
Desta equação resulta C = π 2 − 2.
A solução é então dada duma forma implı́cita por

y 2 + sin y = 2x3 + π 2 − 2

Exemplo 3.8 No caso duma equação diferencial da forma

yy 0 = x

a separação de variáveis também é imediata e teremos


Z Z
ydy = xdx

cuja integração conduz a

y2 x2
= +C
2 2

106
A técnica usada anteriormente só pode ser usada se tivermos uma equação
diferencial de variáveis separáveis. Por vezes a identificação da equação dife-
rencial não é evidente. No exemplo seguinte iremos considerar uma equação
diferencial que numa primeira observação parece não ser de variáveis se-
paráveis.

Exemplo 3.9 Considere-se agora a equação diferencial


du
= 2 + 2u + t + tu
dt
Depois de efectuarmos alguns cálculos elementares obtemos
du
= (2 + t).(1 + u)
dt
Percebemos então que se trata duma equação diferencial de variáveis se-
paráveis. Separando variáveis teremos
Z Z
1
du = (2 + t)dt
1+u
donde obtemos

t2
ln |u + 1| = 2t + + C
2
Esta expressão define implicitamente u como função de t. Neste caso é
possı́vel ir mais além e determinar u = u(t). Com efeito,
t2
|u + 1| = De2t+ 2
e consequentemente
t2
u = Ae2t+ 2 − 1
onde A é uma constante.

Exercı́cio 3.5 Resolva as seguintes equações diferenciais:


(a) y’=xy; (b) dz
dt
+ ez+t = 0.

Exercı́cio 3.6 Para cada uma das seguintes equações diferenciais, encontre
a solução que satisfaz a condição inicial dada:
dy
(a) dx = y 2 + 1, y(1) = 0; (b) xe−t dx
dt
= t, x(0) = 1.

107
Problemas de misturas

Iremos estabelecer uma equação diferencial que modeliza um problema


de misturas. Essa equação diferencial é de variáveis separáveis podendo ser
resolvida pelo método anterior.

Suponhamos que temos um recipiente que tem um lı́quido com uma certa
substância dissolvida.
Uma solução contendo essa substância entra no recipiente a uma taxa fixa
e, depois de misturada com a que já se encontrava no tanque, sai também a
uma taxa fixa, que pode ser diferente da anterior.
Se y(t) representar a quantidade da tal substância que existe no recipiente
no instante t então temos

y 0 (t) = taxa de entrada − taxa de saı́da


Esta relação dá origem a uma equação diferencial.

Exemplo 3.10 Uma piscina tem 200Kg de sal dissolvidos em 50000l de


água. Água salgada com uma concentração de 0.03Kg de sal por litro é
introduzida na piscina a uma taxa de 250l/min. A solução é misturada e sai
do tanque à mesma taxa. Qual a quantidade de sal que permanece no tanque
depois de 30min?
Para estabelecermos a equação diferencial cuja solução permitirá dar res-
posta a esta questão deveremos determinar as taxaa de entrada e a taxa de
saı́da de sal.
A taxa de entrada de sal é a quantidade de sal que entra na piscina por
minuto.
Se em cada litro de água há 0.03Kg de sal e por minuto entra na piscina
250l podemos concluir que a quantidade de sal que entra na piscina em cada
minuto é de 7, 5Kg.
Em relação à taxa de saı́da poderemos estabelê-la da seguinte forma: se
y(t)
em 50000 litros há y(t) Kg de sal, em cada litro haverá 50000 Kg e em 250
y(t)
litros haverá 200 Kg. Assim a taxa de saı́da será de

y(t)
Kg/min
200
Podemos, então, estabelecer a seguinte equação diferencial
dy y
= 7.5 −
dt 200
Trata-se duma equação diferencial de variáveis separáveis.

108
Separando variáveis e integrando obtemos
t
ln |1500 − y| = − + C1
200
donde obtemos
t
1500 − y = ±Ae− 200 .
Uma vez que y(0) = 200 teremos
t
y(t) = 1500 − 1300e− 200 .
Ao fim de 30 minutos teremos aproximadamente 381kg de sal na piscina. A
concentração será nessa altura de 0.00762 kg/l

Crescimento populacional-(Exponencial)
Vimos anteriormente que um modelo de crescimento exponencial pode
ser representado pela equação diferencial
dy
= Ky
dt
Trata-se duma equação diferencial de variáveis separáveis cuja solução pode
ser obtida através do método anterior.
Separando variáveis e intergrando obtemos

y = AeKt
onde A é uma constante.
Se soubermos qual o tamanho y0 da população no instante inicial
(t = 0) obtemos

y(t) = y0 eKt .

Observação 3.2 Na prática, a determinação da constante K é feita com


uma segunda observação. Supondo que conhecemos o número de indivı́duos
y0 da população no instante t = 0 e o número de indivı́duos y1 da população
no instante t = t1 teremos, por um lado

y(t) = y0 eKt
e por outro, como y(t1 ) = y1 teremos

y1 = y(t1 ) = y0 eKt1 .

109
Daqui obtemos
1 y1
K= ln
t1 y0

Crescimento populacional-(Equação logı́stica)


Vimos anteriormente que um certo tipo de crescimento populacional pode
ser modelizado pela chamada equação logı́stica.
dP P
= kP (1 − ).
dt K
Trata-se duma equação diferencial de variáveis separáveis.
A separação de variáveis conduz a
Z Z
K
dP = kdt
P (K − P)
Facilmente constatamos que temos no primeiro membro uma função ra-
cional. A sua decomposição em elementos simples conduz a
Z Z
1 1
( + )dP = kdt
P K−P
Neste caso a integração permite obter duma forma explı́cita P como
função de t
K
P =
1 + Ae−kt
O conhecimento do número de elementos da população para t = 0 permite
determinar o valor da constante A. Da equação
K
P (0) =
1+A
K−P(0)
obtemos A = P (0)
.

Observação 3.3 Podemos verificar facilmente que

lim P (t) = K
t→+∞

Isto significa que o número de indivı́duos da população tende para K. Esta


constante é chamada capacidade de carga ou capacidade de suporte.

110
Exemplo 3.11 Se tivermos uma população que se desenvolva segundo a se-
guinte equação diferencial
dP
= 0.05P − 0.0005P 2
dt
podemos identificar um crescimento logistico e definir imediatamente a solução
P = P (t).

Exercı́cio 3.7 Um cardume de atum do Pacı́fico foi modelado pela equação


diferencial
dy ³ y´
= ky 1 −
dt K
onde y(t) indica a biomassa (massa total dos elementos da população) medida
em quilogramas, ao fim de um espaço de tempo t, medido em anos, K é a
capacidade de suporte, estimada em 8 × 107 kg, e k é uma constante estimada
em k = 0,71.

(a) Se y(0) = 2 × 107 kg, calcule a biomassa um ano depois.

(b) Quanto tempo levará a biomassa a alcançar 4 × 107 kg?

3.4 Equações diferenciais lineares


Iremos agora estudar equações diferenciais de primeira ordem de outro tipo.
São equações do tipo
dy
(x) + P (x)y(x) = Q(x) (∗)
dx
onde P e Q são duas funções contı́nuas dadas. A uma equação deste tipo
chamamos equação diferencial linear de 1a ordem.
Iremos de seguida construir a solução geral duma equação deste tipo.
Admitamos que é possı́vel determinar uma função I tal que
µ ¶
dy
I(x) + P (x)y(x) = (I(x)y(x))0
dx
Da equação (*) resulta que

(I(x)y(x))0 = I(x)Q(x).
Integrando esta equação obtemos a solução de (*)

111
·Z ¸
1
y(x) = I(x)Q(x)dx + C
I(x)
O problema que se coloca agora é o de definir uma função I nas condições
requeridas.
Como queremos que
µ ¶
dy
I(x) + P (x)y(x) = (I(x)y(x))0
dx
deveremos ter

I(x)y 0 (x) + I(x)P (x)y(x) = I 0 (x)y(x) + I(x)y 0 (x)


ou seja,

I(x)P (x)y(x) = I 0 (x)y(x)


Concluı́mos então que I deve verificar

I 0 (x) = I(x)P (x).


Trata-se duma equação diferencial de variáveis separáveis cuja solução é
R
P (x)dx
I(x) = Ae .
Como qualquer função serve desde que verifica a condição requerida, po-
demos considerar o caso particular de A = 1 e não colocar a constante ar-
bitrária na primitiva de P .
Obtemos então a seguinte espressão para a função I
R
P (x)dx
I(x) = e
A esta função I chamaremos factor integrante.

Conclusão: A solução de (*) é dada por


·Z ¸
1
y(x) = I(x)Q(x)dx + C
I(x)
com
R
P (x)dx
I(x) = e

112
Exemplo 3.12 Consideremos a equação diferencial
dy
(x) + 3x2 y(x) = 6x2 .
dx
Trata-se duma equação diferencial linear de 1a ordem onde

P (x) = 3x2 ; Q(x) = 6x2


Começamos por calcular o factor integrante I,
R
3x2 dx 3
I(x) = e = ex .

Usando este valor calculamos a solução y. Teremos então


·Z ¸
1 x3 3
y(x) = x3 e .6x dx + C = 2 + Ce−x
2
e

onde C é uma constante arbitrária.

Exemplo 3.13 A equação diferencial

y 0 = 2(ex − y)
é também uma equação diferencial linear de 1a ordem. Com efeito, esta
equação pode ser escrita na forma

y 0 (x) + 2y(x) = 2ex

Teremos então
P (x) = 2 ; Q(x) = 2ex
Assim
I(x) = e2x
e, consequentemente,
·Z ¸
1 2
y(x) = 2x e .2e dx + C = ex + Ce−2x
2x x
e 3
onde C é uma constante arbitrária.

Exemplo 3.14 Consideremos agora o seguinte problema de valor inicial


 0
 y + y = x + ex

y(0) = 0

113
Começamos por determinar a solução geral da equação diferencial.
Tendo em conta a forma da equação diferencial concluı́mos facilmente
que o factor integrante é definido por

I(x) = ex .
Para a solução da equação diferencial obtemos então
·Z ¸
1 1
y(x) = x e (x + e )dx + C = [x − 1 + ex + Ce−x ]
x x
e 2
Da condição inicial y(0) = 0 obtemos a seguinte relação:
1
0 − 1 + e0 + Ce−0 = 0
2
Através desta equação determinamos o valor da constante arbitrária C.
Neste caso C = 12 .
A solução do problema de valor inicial será então
1 1
y(x) = x − 1 + ex + e−x = (x − 1) + cosh x
2 2
Exercı́cio 3.8 Resolva as seguintes equaçções diferenciais:
(a) y 0 + 2y = 2ex ; (b) y 0 = x + 5y.

Exercı́cio 3.9 Resolva o problema de valor inicial:


2
(a) y 0 + y = x + ex , y(0) = 0; (b) dv
dt
− 2tv = 3t2 et , v(0) = 5.

3.5 Equação diferencial de Bernoulli


Iremos agora considerar uma generalização das equações diferenciais lineares
a que chamaremos equação diferencial de Bernoulli. Trata-se duma equação
com a seguinte forma:
dy
(x) + P (x)y(x) = Q(x)[y(x)]n (∗∗)
dx
Obviamente que é uma generalização das equações diferenciais lineares de
a
1 ordem. Basta considerar nesta equação n = 0 ou n = 1 para que tenhamos
uma equação diferencial linear.
Analisemos então apenas os casos em que n 6= 0 e n 6= 1. Efectuemos em
(**) a seguinte substituição:
u = y 1−n .

114
Da definição resulta que
du
= (1 − n)y 0 y −n
dx
donde se obtém
dy 1 du n
= y .
dx (1 − n) dx
Da definição de u resulta imediatamente que y = uy n .
Substituindo estes valores na equação (**) concluı́mos que u deverá veri-
ficar a seguinte igualdade:
du
+ (1 − n)P (x)u = (1 − n)Q(x).
dx
Trata-se duma equação diferencial linear de 1a ordem que se resolve pelo
método do factor integrante. Obtido u, determinamos y a partir de

u = y 1−n

Exemplo 3.15 Considere-se a seguinte equação diferencial

2 y3
y0 + y = 2 .
x x
Constatamos imediatamente que se trata duma equação diferencial de
Bernoulli onde
2 1
P (x) = ; Q(x) = ; n = 3.
x x2
Iremos então resolver a equação
du 4 −2
− u= 2.
dx x x
Para esta equação diferencial o factor integrante é
1
I(x) =
x4
e a solução u é dada por
2
u(x) = + Cx4 .
5x
Como u = y −2 teremos

115
1
y = ±q .
2
cx4 + 5x

Exercı́cio 3.10 Resolva as seguintes equações diferenciais de Bernoulli:


(a) xy 0 + y = −xy 2 ; (b) y 0 + y = xy 3 .

Exercı́cios de controlo:

1. Determine a solução dos seguintes problemas de valor inicial

(a) ½
x2 (1 + y)y 0 + (1 − x)y 2 = 0
y(1) = 1
(b) ½
y 0 + xy − xy 3 = 0
y(0) = 2
(c) y 0 − y 2 tg x = 0 ; y(0) = 7
(d) y 0 − 5y − sin x = 0 ; y(0) = 7
(e) x2 y 0 + x(x + 2)y = ex ; y(1) = 2
(f) xe−y sin x − yy 0 = 0 ; y(0) = 1
(g) y 0 + y = cos x , y(0) = 2.

2. Resolva a seguinte equação diferencial.

100 − y
y 0 = 2y( ).
100

116
Capı́tulo 4

Equações paramétricas e
coordenadas polares

4.1 Equações paramétricas

Como sabemos há curvas no plano que não são o gráfico duma função
y = f (x). Para que tal aconteça basta que uma recta vertical intersecte a
curva em mais do que um ponto.
Podemos usar outras formas para caracterizar as curvas no plano. Uma
dessas formas são as chamadas coordenadas paramétricas. Para cada t ∈
D ⊂ R, consideramos
½
x = f (t)
y = g(t)
que, para cada valor do parâmetro t, nos dá as coordenadas (x, y) da curva.

Exemplo 4.1 Para t ∈ R ,


½
x = t2 − 2t
y = t+1

são as equações paramétricas duma curva.

117
A representação geométrica desta curva pode ser feita usando uma ta-
bela de valores onde, para cada valor de t, determinamos os correspondentes
valores de x e y.

t x y
-2 8 -1
-1 3 0
0 0 1
1 -1 2
2 0 3
3 3 4
4 8 5

Representando os valores de x e y num referencial ortonormado obtemos

Figura 4.1: Curva definida parametricamente

Se unirmos esses pontos obtemos uma curva que tem o aspecto duma
parábola. Obviamente que quantos mais valores de t forem considerados
mais fácil se torna o esboço da curva.

Exercı́cio 4.1 Faça um esboço das seguintes curvas:


 
 x = 2t + 4  x = 2 cos θ
a) , t∈R ; b) , θ ∈ [0, 2π] ∈ R
  1
y = t−1 y = 2 sin θ

 x = 1 − 2t
c) , t ∈ [0, 3]
 2
y = t +4

118
Em alguns casos é fácil eliminar o parâmetro t nas duas equações e obter
uma relação entre x e y. Poderá ser então mais fácil identificar a curva e
efectuar o seu esboço.
Neste caso, da segunda equação obtemos

t=y−1
e, substituindo na expressão de x, t por este valor, obtemos

x = (y − 2)2 − 1.
Verificamos então, que se trata duma parábola com eixo horizontal, vértice
em (−1, 2) e voltada para a parte positiva de OX.

Exercı́cio 4.2 Elimine o parâmetro nas equações paramétricas das curvas


do exercı́cio 4.1 e obtenha as equações paramétricas das curvas aı́ definidas

No exemplo apresentado anteriormente, não impusemos qualquer res-


trição à variação do parâmetro t, isto é considerámos t ∈ R. Se tivessemos
considerado, por exemplo, t ∈ [−1, 3] terı́amos o gráfico seguinte, em que A
é chamado ponto inicial e B ponto final.

Figura 4.2: Curva com ponto inicial e ponto final

Duma forma geral, numa curva definida por



 x = f (t)
, t ∈ [a, b]

y = g(t)
ao ponto (f (a), g(a)) chamamos ponto inicial e ao ponto (f (b), g(b)) chama-
mos ponto final.

119
Exemplo 4.2 Considerem-se as curvas definidas parametricamente por

 x = cost
, t ∈ [0, 2π]

y = sint
e

 x = cos2t
, t ∈ [0, 2π]

y = sin2t
A eliminação do parâmetro t nestas duas representações paramétricas
permite-nos concluir que geometricamente estas duas curvas são iguais.
Isto é, os conjuntos de pontos definidos por estas representações paramétricas
coincidem. Além disso, podemos verificar que têm o mesmo ponto inicial e
o mesmo ponto final. Embora o conjunto dos pontos seja o mesmo, a ma-
neira como são descritos é diferente. Diremos que são curvas paramétricas
dife-rentes embora sejam geometricamente iguais.

Exercı́cio 4.3 Consideremos o movimento duma roda de bicicleta e tente-


mos determinar as várias posições que um certo ponto da roda ( por exemplo
a válvula) vai tomando, quando a bicicleta se desloca.
Estabeleça que esse ponto da roda descreve uma curva definida parame-
tricamente por

 x = r(θ − sinθ)
, θ∈R

y = r(1 − cosθ)
onde r representa o raio da roda e θ o ângulo de rotação. A esta curva damos
o nome de ciclóide.

Curiosidade: Consideremos um ponto A e um ponto B, abaixo de A,


mas não na vertical. Prova-se que, para deslocar um objecto de A até B,
pela acção da gravidade, mais rapidamente, devemos fazê-lo deslizar por um
cicloide invertido.

120
Tangentes:

Também neste caso, em que se tem uma curva definida parametricamente,


é possı́vel definir a recta tangente à curva num dado ponto. Sabendo que a
recta deverá passar por esse ponto, resta então definir o seu declive.
Se tivermos uma curva definida parametricamente por
½
x = f (t)
y = g(t)
a eliminação do parâmetro t nestas equações permitirá escrever
y = F (x)
ou seja,
g(t) = F (f (t)).
Derivando, obtemos

g 0 (t) = F 0 (f (t)).f 0 (t).


Podemos então concluir que, no caso em que f 0 (t) 6= 0, teremos

0 g 0 (t)
F (f (t)) = 0
f (t)
ou seja,
dy g 0 (t)
= F 0 (x) = 0 .
dx f (t)
Em conclusão, podemos afirmar que o declive da tangente à curva no
ponto (f (t), g(t)) é dado por :
dy g 0 (t)
dx
= f 0 (t)
se f 0 (t) 6= 0

dy
dx
= 0 se g 0 (t) = 0 e f 0 (t) 6= 0

dy
dx
= ∞ se g 0 (t) 6= 0 e f 0 (t) = 0
No segundo caso, a tangente é horizontal e no terceiro é vertical.
Exercı́cio 4.4 Determine uma equação da tangente às curvas definidas por
 
 x = 2cost  x = t − sin t
a) , t ∈ [0, 2π] ; b) , t ∈ [0, 2π]
 
y = 3sint y = 1 − cos t

3 1
nos pontos (0, 3) e ( π3 − , ),
2 2
respectivamente.

121
Concavidades:
Como sabemos o sentido da concavidade de uma curva é caracterizado
pela segunda derivada.
dy
Usando a expressão anterior de dx , que podemos reescrever da seguinte
forma
dy
dy dt
= dx
dx dt
dy
obtemos, depois de substituir y por dx
,
d dy
d dy ( )
dt dx
( )= dx
dx dx dt

ou seja,
d dy
d2 y ( )
dt dx
= dx
.
dx2 dt

Exemplo 4.3 Para o ciclóide



 x = r(θ − sinθ)
, θ∈R

y = r(1 − cosθ)

teremos
dy sinθ
= , para θ 6= 2kπ, k∈Z
dx 1 − cosθ
Uma vez que
d dy d sinθ 1
( )= ( )=−
dθ dx dθ 1 − cosθ 1 − cosθ
obtemos
d2 y 1
2
=− .
dx r(1 − cosθ)2
Como a segunda derivada é negativa podemos concluir que esta curva tem a
concavidade voltada para baixo.

Exemplo 4.4 Para a mesma curva, podemos determinar a equação da tan-


gente à curva num qualquer ponto correspondente aos valores de θ diferente
de 2kπ com k ∈ Z.

122
Considerando por exemplo θ = π3 teremos
 √
3
 x( π3 ) = r( π3 − 2
)

y( π3 ) = r
2

Por outro lado temos

dy π sin π3 √
( )= = 3
dx 3 1 − cos π3

3
Assim a equação da recta tangente à curva no ponto (r( π3 − 2
), 2r ) será

r √ π 3
y − = 3(x − r + r ).
2 3 2

Exercı́cio 4.5 Para esta curva determine os pontos onde a tangente à curva
é horizontal.
R: São os pontos da forma (r(2k − 1)π, 2r) onde k ∈ Z.

Áreas:

Para uma função y = F (x), com F uma função positiva, sabemos que a
área da região delimitada por x = a, x = b, pelo eixo OX e pelo gráfico da
função F é dada por
Z b
A= F (x)dx.
a
Se o gráfico de F for uma curva cuja representação, em coordenadas
paramétricas, é definida por

 x = f (t)
, t ∈ [α, β]

y = g(t)
de tal forma que a = f (α) e b = f (β) e é percorrida uma só vez, então a área
anterior é dada por Z β
A= g(t)f 0 (t)dt.
α
No caso da curva ser descrita no sentido inverso então teremos
Z α
A= g(t)f 0 (t)dt.
β

123
Exemplo 4.5 Retomemos o exemplo anterior do cicloide. A área da região
delimitada pelo eixo OX e pelo cicloide, para valores de θ compreendidos
entre 0 e 2π é dada por
R 2π
A = 0 r(1 − cos θ)r(1 − cos θ)dθ
R 2π
= r2 0
(1 − cos θ)2 dθ = 3πr2

Exercı́cio 4.6 Use estes resultados para determinar a área da região deli-
mitada pela curva definida por

 x = a cos θ
, θ ∈ [0, 2π]

y = b sin θ

onde a e b são duas constantes reais positivas.

Comprimento de arco:

Se tivermos uma função y = F (x), com x ∈ [a, b] sabemos que, se F 0 é


contı́nua, o comprimento da curva é dado por
s µ ¶2
Z b
dy
L= 1+ dx.
a dx
Se esta curva for dada na forma paramétrica por

 x = f (t)
, t ∈ [α, β]

y = g(t)
dx
com dt
= f 0 (t) > 0 e f (α) = a e f (β) = b, então,
r
Rbq ¡ dy ¢2 Rβ ³ dy ´2
dx
L = a 1 + dx dx = α 1 + dx dt
dt
dt
dt

R β q¡ dx ¢2 ¡ dy ¢2
= α dt
+ dt
dt
Mais geralmente temos o seguinte resultado:

124
Teorema: Se C é uma curva definida por

 x = f (t)
, t ∈ [α, β]

y = g(t)
com f 0 e g 0 contı́nuas em [α, β], e C descrita apenas uma vez quando t
varia de α até β, então o comprimento de C é dado por
s
Z β µ ¶2 µ ¶2
dx dy
L= + dt
α dt dt

Exemplo 4.6 Se C é a curva dada por



 x = r cos t
, t ∈ [0, θ]

y = r sin t
com r uma constante positiva e θ menor do que 2π, então o comprimento de
C é dado por
Z θp
L= r2 (− sin t)2 + r2 cos2 t dt = rθ.
0

Exercı́cio 4.7 Calcule o comprimento da seguinte curva:



 x = r(θ − sin θ)
, θ ∈ [0, 2π]

y = r(1 − cos θ)

Áreas de superfı́cie de revolução:


Se uma curva C definida por

 x = f (t)
, t ∈ [α, β]

y = g(t)
com g 0 e f 0 contı́nuas e g(t) ≥ 0 em [α, β], rodar em torno do eixo OX, então
a área da superfı́cie obtida é dada por
sµ ¶ µ ¶2
Z β 2
dx dy
S= 2πy + dt.
α dt dt

125
Exemplo 4.7 Usando este resultado podemos concluir que a área da su-
perfı́cie duma esfera de raio r é dada por 4πr2 . Com efeito, uma esfera de
raio r pode ser obtida pela rotação, em torno de OX da curva

 x = r cos t
, t ∈ [0, π]

y = r sin t

Assim sendo, a área da superfı́cie da esfera é dada por


Z π p Z π
S= 2 2 2 2
2πr sin t r sin t + r cos t dt = 2πr2 sin t dt = 4πr2 .
0 0

Exercı́cio 4.8 Calcule a área da superfı́cie obtida pela rotação, em torno de


OX, da curva definida por

 x = t3
, t ∈ [0, 1]

y = t2

4.2 Coordenadas polares

Trata-se de um outro sistema de coordenadas planas que permite definir


a posição dum qualquer ponto do plano relativamenmte a um sistema de
referência.
Fixemos um ponto do plano chamado pólo que representaremos por O.
Consideremos uma semi-recta com origem em O, chamada eixo polar.

Figura 4.3: Sistema de coordenadas polares

126
Usualmente, se tivermos um sistema de coordenadas cartesianas OXY ,
fazemos coincidir O com a origem de OXY e o eixo polar com OX positivo.

Figura 4.4: Coordenadas polares / Coordenadas cartesianas.

Dado um qualquer ponto P do plano considerem-se r, a distância de P à


origem e θ o ângulo positivo de OX com OP .
A (r, θ) chamamos coordenadas polares do ponto P .
Usam-se as seguintes notações:

• Se r = 0 então (0, θ) representa o pólo.

• Se r é negativo (r, θ) é o ponto que tem coordenadas polares (−r, θ)

Exercı́cio 4.9 Represente no plano os pontos cujas coordenadas polares são:


2π 3π 3π
P1 ≡ (2, − ) ; P2 ≡ (−3, ) ; P3 ≡ (−3, − )
3 4 4
Exercı́cio 4.10 Determine as coordenadas polares dos pontos, cujas coorde-
nadas cartesianas são:

(1, 1) ; (−1, − 3) ; (−2, 3)

Observação: Num sistema de coordenadas polares um ponto tem mais


do que uma representação.

Exercı́cio 4.11 Dê exemplos que justifiquem a afirmação anterior.

127
Relação entre coordenadas polares e coordenadas cartesianas:
Consideremos um sistema de coordenadas polares cujo semi-eixo polar
coincide com o eixo OX dum sistema de coordenadas cartesianas OXY e o
pólo com a origem desse sistema.

Figura 4.5: Coordenadas polares / Coordenadas cartesianas.

As coordenadas polares estão então relacionadas com as coordenadas car-


tesianas através das relações
½
x = r cos θ
y = r sin θ

Assim é fácil determinar as coordenadas cartesianas (x, y) a partir do


conhecimento das coordenadas polares (r, θ).
Para determinar as coordenadas polares (r, θ) a partir das coordenadas
cartesianas (x, y) temos as seguintes relações:
½ 2
r = x2 + y 2
tgθ = xy

ATENÇÃO: Em [0, 2π] há dois valores de θ para os quais os valores de


tgθ coincidem. Para decidir entre estes dois valores é necessário usar outra
informação, por exemplo a posição do ponto (x, y) no plano.

Exemplo 4.8 Para referênciais nas condições dos anteriores


√ o ponto de
π
coordenadas polares (2, 3 ) tem coordenadas cartesianas (1, 3).
Com efeito, temos
π
x = 2cos = 1
3
π √
y = 2sin = 3.
3

128
Exemplo 4.9 O ponto √ do plano com coordenadas cartesianas (1, −1) tem
coordenadas polares ( 2, − π4 ).
Com efeito teremos

r2 = 2 e tgθ = −1.
Daqui concluimos que
√ π 3
r= 2 e θ=− ou θ = π.
4 4
Como (1, −1) está no quarto quadrante, escolhemos θ = − π4 . Assim as

coordenadas polares são ( 2, − π4 ).

Poderı́amos também considerar ( 2, 74 π).

Definição: O gráfico duma curva dada em coordenadas polares por r = f (θ)


ou F (r, θ) = 0 é definido como o conjunto dos pontos P que admitem uma
representação (r, θ) cujas coordenadas verificam a equação que define a curva.

Exemplo 4.10 A expressão r = 2 define, em coordenadas polares, uma cir-


cunferência centrada no pólo de raio r.
Com efeito, qualquer ponto da forma (2, θ), com θ ∈ R verifica a condição
r = 2.

Exemplo 4.11 A condição θ = π4 define, em coordenadas polares, uma recta


que contém o pólo e que faz com o eixo polar um ângulo de π4 .
De forma análoga ao que fizemos no caso anterior é fácil de ver que todos
os pontos da forma (r, π4 ), com r ∈ R verificam a condição θ = π4 .

Num caso geral, para representar geometricamente uma curva definida


em coordenadas polares, podemos construir uma tabela de valores e usar as
simetrias da função que define a curva.

Exercı́cio 4.12 Faça um esboço das curvas definidas em coordenadas


polares por

a) r = 5 ; b) θ = ; c) r = 1 − 3 cos θ.
4

129
Tangentes à curva:
Para as curvas que sejam definidas em coordenadas polares pela equação
r = f (θ), podemos usar a relação entre coordenadas polares e coordenadas
cartesianas para estabelecer as equações paramétricas da curva
½
x = f (θ) cosθ
y = f (θ) sinθ
Já vimos como é que a partir das equações paramétricas se determina a
dx
equação da tangente à curva. Por exemplo, no caso de 6= 0, teremos

dr
dy dθ
sinθ + rcosθ
= dr
dx dθ
cosθ − rsinθ

Exercı́cio 4.13 Determine uma equação da recta tangente à curva


r = 2 cos θ no ponto correspondente ao valor de θ = π2 .

Áreas em coordenadas polares:


Para uma curva definida em coordenadas polares por r = f (θ), com
θ ∈ [a, b], considere-se a região A delimitada pela curva r = f (θ) e pelos
raios vectores correspondentes aos valores de θ = a e θ = b como indica a
figura abaixo.

Figura 4.6: Região A

Nestas condições a área da região A é definida por


Z b
1 2
área(A) = r dθ
a 2

130
Exemplo 4.12 Se tivermos uma curva definida por r = 2sinθ , com θ ∈
[ π6 , π2 ] então a área da região assinalada é definida por

Figura 4.7: Região A

Z π √
2 1 2 π 3
área(A) = 4 sin θdθ = +
π
6
2 3 4

Exercı́cio 4.14 Determine a área da região delimitada pela curva:

a) r2 = sin(2θ) ; b) r = 2 sin(2θ).

Comprimento de arco:
Procedendo como no caso da determinação da tangente à curva, se a
curva for dada por r = f (θ), com θ ∈ [a, b] podemos estabelecer as equações
paramétricas 
 x = f (θ) cosθ
, θ ∈ [a, b]

y = f (θ) sinθ
Usando a fórmula que nos dá o comprimento de arco para uma curva dada
em coordenadas paramétricas podemos facilmente estabelecer que o compri-
mento L desta curva é dado por
Z br
dr
L= r2 + ( )2 dθ.
a dθ
Exercı́cio 4.15 Calcule o comprimento da espiral logarı́tmica r = e2θ desde
o ponto correspondente a θ = 0 até ao ponto correspondente a θ = 2π.

131
Exercı́cios de controlo:

1. Faça um esboço das seguintes curvas


(a) x = 3 − t, y = 2t − 3, −1 ≤ t ≤ 4
1
(b) x = 2 cos θ, y = sin θ, 0 ≤ θ ≤ π
√ 2
(c) x = t, y = 1 − t, t ≥ 0
t t
(f) x = e π cos t, y = e π sin t, 0 ≤ t ≤ 2π.
2. Em cada uma das alı́neas do exercı́cio anterior, elimine o parâmetro
para encontrar a equação cartesiana da curva.

3. Suponha que a posição de uma partı́cula num dado instante de tempo


t é dada por

x1 = 3 sin t, y1 = 2 cos t, 0 ≤ t ≤ 2π,

e a posição de uma segunda partı́cula é dada por

x2 = −3 + cos t, y2 = 1 + sin t, 0 ≤ t ≤ 2π.

Faça um esboço de ambas as trajectórias. Existem pontos em que as


duas trajectórias se intersectam ? E existem pontos de colisão, ou seja,
há algum instante de tempo em que as partı́culas ocupam a mesma
posição?

4. Calcule a área da região delimitada pelas curvas

(a) x = cos t, y = et , 0 ≤ t ≤ π/2, a recta x = 0 e a recta y = 1;


1 1
(b) x = t − , y = t + , t > 0 e a recta y = 2.5.
t t
5. Calcule o comprimento da curva definida por x = t3 , y = t2 , 0 ≤ t ≤ 4.

6. Calcule a área da superfı́cie do elipsóide obtido pela rotação da elipse


x = a cos θ, y = b sin θ, a > b, em torno do eixo dos xx.

7. Calcule a área da superfı́cie obtida pela rotação da curva x = t3 ,;


y = t2 , 0 ≤ t ≤ 1, em torno do eixo dos yy.

8. Esboce a região determinada em coordenadas polares pelas seguintes


desigualdades
π π 3π
(a) 0 ≤ r ≤ 2, ≤ θ ≤ π; (b) −1 ≤ r ≤ 1, ≤θ≤ .
2 4 4

132
9. Determine a equação cartesiana das curvas definidas em coordenadas
polares por
(a) r = 2; (b) r cos θ = 1; (c) r2 = sin(2θ); (d) r2 = θ.

10. Exprima em coordenadas polares as curvas definidas pelas seguintes


equações cartesianas:
(a) y = 5; (b) x2 + y 2 = 25; (c) x2 = 4y; (d) x2 − y 2 = 1; (e) 2xy = 1.

11. Faça um esboço das curvas definidas em coordenadas polares pelas


equações
(a) r = θ, θ ≥ 0; (b) r = 4θ, θ ≤ 0; (c) r = 2 sin(2θ).

12. Determine o declive da recta tangente à curva no ponto indicado.


π 1
(a) r = 2 cos θ, θ = ; (b) r = , θ = 2π; (c) r = 4 − 3 sin θ, θ = π.
2 θ
13. Calcule a área

(a) interior ao cardióide r = 4(1 − cos θ) e exterior à circunferência


r = 6;
(b) interior r = 2 sin(2θ) e exterior a r = 1;
(c) interior a r = k e exterior a r = k sin(3θ), k > 0.

14. Calcule o comprimento

(a) da espiral logarı́tmica r = e2θ desde θ = 0 até θ = 2π;


(b) do cardióide r = 1 + cos θ.

133
Exames anteriores
Departamento de Matemática da Universidade de Coimbra
8 de Janeiro de 2008 Duração: 2 hora 30 minutos
ATENÇÃO: Deve justificar as suas respostas e apresentar os cálculos
que efectuar.
I
1. Determine uma equação da recta tangente às curvas abaixo definidas
nos pontos indicados.
a) C1 : {(x, y) ∈ R2 : exy + xy 3 = y 2 }, no ponto (0, −1).

 x = 2 cos t √ √
b) , no ponto ( 2, 32 2).

y = 3 sin t
2. Calcule as seguintes primitivas:
Z Z √
t2 x
a) dt b) √ dx
t2 + 1 ( x + 1)x
3

3. Determine a natureza do seguinte integral impróprio:


Z +∞
x sin x
dx.
1 x4 + 1
4. (a) Determine os pontos onde a função f definida por

f : [1, 3] → R
t
t → et2
atinge os seus máximos e mı́nimos locais.
(b) Mostre que
Z 3 t
e2 √
e≤ dt ≤ 2 e
1 t
5. Considere a função f definida por
f : [0, 10] → R
Rt
t → 0 g(x)dx
onde g é uma função contı́nua em [0, 10]. Sabendo que f (10) = 10,
mostre que
(a) Existe t0 ∈]0, 10[ tal que f (t0 ) = 1.
(b) Existe t1 ∈]0, 10[ tal que g(t1 ) = 1.

134
6. Na figura abaixo estão representados um copo e o gráfico da função que,
ao rodar em torno de Oy, gera a parte do copo destinada a colocar o
lı́quido.

(a) Determine a capacidade do copo.


(b) Determine a altura h do lı́quido no copo, contada a partir do
vértice da parábola, por forma a que a quantidade de lı́quido seja
metade da capacidade do copo.

7. Determine a solução do seguinte problema de valor inicial:


 dy 1
 y dx + x2 +1
ey = 0

y(0) = 1
II
Diga se são verdadeiras ou falsas as seguintes afirmações. Deverá justifi-
car, devidamente, a sua resposta.
1. A área dum sector circular é igual ao produto de metade do raio pelo
ângulo ao centro. Sugestão: Use coordenadas polares.
2 eθx+1 3
2. Existe θ ∈]0, 1[ tal que ex+1 = e + ex + e x2 + 6
x
ecos x − e 1
3. lim = −
x→0 x2 2
R x cos x
4. (arctg(sin x)+ 1+sin2 x )dx = x.arctg(sin x)+C onde C é uma constante
arbitrária

135
Departamento de Matemática da Universidade de Coimbra
Exame RECURSO de Matemática I
29 de Janeiro de 2008 –Duração: 2 horas 30 minutos
ATENÇÃO: Deve justificar as suas respostas e apresentar os cálculos
que efectuar.
I
1. Determine uma equação da recta tangente às curvas abaixo definidas
nos pontos indicados.
a) C1 : {(x, y) ∈ R2 : cos(xy) + xey = −xy + 2}, no ponto (1, 0).
b) r = 2θ, no ponto correspondente a θ = π2 .
2. Calcule:
Z Z 1 √
x x
a) sin4 tdt b) √ dx
0 2−x
3. Determine
Z +∞
1
dx.
1 x3 + 2x2 + x
4. Considere a função h definida em [0, +∞[, que verifica, 0 < h(t) ≤ 2
para todo o t > 0 e cujo gráfico se encontra representado na figura
abaixo.

h2 (t0 ) + 1
(a) Será que existe algum valor t0 tal que =1 ?
h(t0 ) + 2
(b) Será que existe algum valor t1 tal que h0 (t1 ) = 32 ?
(c) Determine os pontos onde a função f definida por

f : [0, 10] → R
R h(t) x
t → 1 ex dx
atinge os seus valores máximo e mı́nimo.

136
5. Na figura abaixo estão representados:
-em A um recipiente com a forma dum cone com 30 cm de altura e com
a capacidade de 1 litro.
1
-em B o mesmo recipiente contendo 2
l dum certo lı́quido.

(a) Determine, usando o cálculo integral, a medida do raio da base


cone.
(b) Determine a altura h do lı́quido no copo definido na figura B.

6. Determine a solução do seguinte problema de valor inicial:


 −x dy
 e ( dx + y) − 1 = 0

y(0) = 1

7. Num recipiente estão dissolvidos 100g de açúcar em 200l de água. Ao


mesmo tempo que no recipiente é introduzida água com açúcar, com
uma concentração de açúcar de 0.002 Kg/l a uma taxa de 5 l/m, é reti-
rada água do recipiente com o açúcar dissolvido à mesma taxa (5 l/m).
Qual a quantidade de açúcar que estará no recipiente ao fim de 1 hora.

137
II
Diga se são verdadeiras ou falsas as seguintes afirmações. Deverá justifi-
car, devidamente, a sua resposta.

1. Num sistema de coordenadas cartesianas rectangulares com origem em


O uma curva é definida por (x−2)2 +y 2 = 4. A mesma curva é definida
num sistema de coordenadas polares com pólo em O por r = 2.
R1
2. Ao usarmos a regra de Simpson, com n = 6, para calcular 0 (x3 + x2 +
1)dx, obtemos o valor 19
12
R t e−x
dx
3. lim 0 x+1 =1
t→0 −t
4. Uma função f não pode ser a primitiva dela própria.

138
Departamento de Matemática da Universidade de Coimbra
Exame de Matemática I
9 de Janeiro de 2008
ATENÇÃO: Deve justificar as suas respostas e apresentar os cálculos
que efectuar.
Duração: 2 hora 30 minutos
I

1. Determine uma equação da recta tangente às curvas abaixo definidas


nos pontos indicados.
a) C1 : {(x, y) ∈ R2 : exy + sin(xy) = y 2 }, no ponto (0, 1).

 x = −t2 + 1
b) onde t ∈ R, no ponto (−3, 2).

y = t
2. Calcule as seguintes primitivas:
Z Z
t3 e6x
a) dt b) dx
(t + 1)2 (e2x + e3x )(ex + 1)
3. Determine a natureza do seguinte integral impróprio:
Z +∞
x
dx.
1 e2x
4. Determine os valores máximo e mı́nimo da função f definida por

f : [0, 2] → R
x → ex2x

5. Considere a função f definida por

f : [0, 100] → R
Rt
t → 0 g(x)dx

onde g é uma função contı́nua em [0, 100]. Sabendo que f (100) =


100, mostre, usando o teorema do valor médio de Lagrange, que existe
t1 ∈]0, 100[ tal que g(t1 ) = 1.

139
6. Na figura abaixo estão representados:
- Em A, uma curva constituı́da pelo segmento de recta [(1, 1), (1, 4)] e
por uma parábola de equação y = x2 .
- Em B, o recipiente que se obtém por rotação, em torno de Oy, da
curva representada em A.
- Em C, o recipiente representado em B contendo um lı́quido até à
altura h.

(a) Determine a capacidade do recipiente representado em B.


(b) Determine a quantidade de lı́quido contido no recipiente represen-
tado em C. Sugestão: Considere separadamente os casos h > 1
e h ≤ 1.

7. Determine a solução do seguinte problema de valor inicial:


 dy cos2 x
 sin y dx − y
= 0
 π
y(0) = 2

II
Diga se são verdadeiras ou falsas as seguintes afirmações. Deverá justifi-
car, devidamente, a sua resposta.
1. A área dum sector circular é igual ao produto de metade do raio pelo
ângulo ao centro. Sugestão: Use coordenadas polares.
2. Para todo o x > 0 temos: ln(e + x) ≥ 1 + 1e x.
e−x
3. lim = 0.
x→+∞ π − arctg x
2
R
4. (cos2 x − sin x)esin x dx = esin x . cos x + C, onde C é uma constante
arbitrária.

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Departamento de Matemática da Universidade de Coimbra
Exame de Matemática I
30 de Janeiro de 2008
ATENÇÃO: Deve justificar as suas respostas e apresentar os cálculos
que efectuar.
Duração: 2 horas 30 minutos
I
1. Determine uma equação da recta tangente à curva definida por
C1 : {(x, y) ∈ R2 : exy + y cos(xy) = x}, no ponto (1, 0).
2. Determine a área da região limitada pela curva definida por

 x = 2 cos t
, t ∈ [0, 2π]

y = 3 sin t
3. Calcule:
Z +∞ Z Z 1 √
1 2 x
a) dx ; b) sin t dt ; c) √ dx
2 x2 + x − 2 0 2−x
4. Considere a função derivável h, definida em [0, +∞[, que verifica,
0 < h(t) ≤ 2 para todo o t > 0 e cujo gráfico se encontra representado
na figura abaixo.

h2 (t0 ) + 4
(a) Será que existe algum valor t0 tal que =3 ?
h(t0 ) + 1
(b) Será que existe algum valor t1 tal que h0 (t1 ) = 1 ?
(c) Determine os pontos onde a função f definida por
f : [0, 4] → R
Z h(t) 2
x
t → dx
1 sin x
atinge os seus valores máximo e mı́nimo.

141
5. Na figura abaixo estão representados:
- em A um cone com altura h cm e cujo raio da base mede r cm.
- em B o mesmo cone cuja parte lateral está pintada com duas cores.

(a) Determine a área lateral do cone recorrendo ao cálculo integral.


(b) Determine a altura h0 , indicada na figura B, por forma que a área
da parte branca seja igual à área da parte vermelha.
6. Determine a solução do seguinte problema de valor inicial:
 2 dy
 (x + 1)[ dx − sin 2x] + 2xy = 0

y(0) =2
II
Diga se são verdadeiras ou falsas as seguintes afirmações. Deverá justifi-
car, devidamente, a sua resposta.
1. Na figura sequinte está representada uma curva cuja expresão em co-
ordenadas polares é r = 2 sin θ, com θ ∈ [0, π2 ].

Z t
1 ex
2. lim dx = 0.
t→0 t 0 x+1
R1
3. Ao usarmos a regra do trapézio com n = 6 para calcular 0
(2x + 1)dx
obtemos o valor 2

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