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Documentos Históricos
OS HOLANDESES NO BRASIL
JAN ANDRIES MOERBEECK — M o t i v o s p o r q u e a C o m p a -
nhia das índias Ocidentais
d e v e t e n t a r tirar a o Rei d a
E s p a n h a a terra d o B r a s i l .
A m s t e r d a m , 1624.
L 1 S T A d e t u d o q u e o Brasil p o d e
produzir anualmente. 0 6 2 5 )
Tradução de:
Pew Pde. Fr. Agostinho Keijzers, O. C.
e
J o s é H o n o r i o Rodrigues
RIO DE JANEIRO
SEPARATA
DE
BRASIL AÇUCAREIRO
N. de Março de 1942
INSTITUTO DO AÇÚCAR E DO ÁLCOOL
Documentos Históricos
OS HOLANDESES NO BRASIL
JAN ANDRIES MOERBEECK — Motivos porque a C o m p a -
nhia das índias Ocidentais
deve tentar tirar ao Rei da
Espanha a terra do Brasil.
Amsterdam, 1624.
Tradução de:
Rev. Pde. Fr. A g o s t i n h o Keijzers, O. C.
e
J o s é H o n o r i o Rodrigues
19 4 2
È.yáaàãêk^y
N D IC E
Ao leitor H
Motivos porque a Companhia das índias Ocidentais deve tentar tirar ao rei
dução que foi feita, entre todas as línguas —, revivendo um trabalho so-
bre o qual havia caido o esquecimento de três séculos, causam realmente
sensação aos estudiosos e investigadores do nosso passado.
*
*
Não foi por mera coincidência que o sr. José Honorio Rodrigues
deu com os dois documentos holandeses nos escaninhos de uma bibliote-
ca povoada por milhares de livros. Estes, às vezes, são como os habitantes
de uma grande cidade. E' a própria multidão que os esconde e quase que
só os entendidos, os pesquisadores metódicos, incansáveis, dedicados, po-
dem encontrá-los.
Não foi, como se vê, por acaso que deparou com tais documen-
tos, já que tem, de há muito, andado à cata de livros, papeis, etc, que pos-
sam trazer novas luzes sobre o assunto ou tão somente aumentar a vasta
bibliografia que já reuniu sobre o mesmo. O interesse ou paixão do sr.
— 15 —
José Honorio Rodrigues é tão grande que aprendeu a língua falada por
aqueles calvinistas que durante algum tempo, no segundo século, pertur-
baram, com a sua heresia, a catolicidade luso-brasileira.. .
*
*
Por isso, era necessário que Portugal restaurasse o Brasil para res-
taurar-se a si mesmo.
i'AMSTER D A M ,
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fcatch üauoe ©eurjí, inben âíaüdenfc&cn ídj*ui/fcuno 1614.
Fac-simile da folha de rosto do folheto de Moerbeeck
M O T I V O S
PORQUE A COMPANHIA
DAS ÍNDIAS OCIDENTAIS DEVE TENTAR TIRAR
AO REI DA ESPANHA A TERRA DO BRASIL,
E ISTO QUANTO ANTES.
AMSTERDAM
Por Cornelis Lodewijcksz, vendedor da Praça do
Livro, na esquina da Bolsa, na Bíblia Italiana.
Ano 1624.
O autor a todos os bons e fiéis
P A T R I O T A S
Primeiro, por-
que os habitan-
Porque este país é dominado e habitado por duas nações
tes são inexpe-
rientes em as-
ou povos, isto é, brasileiros e portugueses, que no momento são
suntos milita-
res.
totalmente inexperientes em assuntos militares e, além disto,
não têm a prática nem a coragem de defendê-la contra o pode-
rio da Companhia das índias Ocidentais, podendo ser facilmente
vencidos, principalmente quando forem agredidos ou assaltados
com coragem varonil, magnanimidade neerlandesa, bom proce-
dimento e prudência; e isto é possível se fôr feito de improviso.
II
III
Terceiro, apo- Embora a terra do Brasil seja maior do que toda a Ale-
derar-se desse . n
Quarto, estas Estes dois lugares, isto é, Baía e Pernambuco (nos quais
duas praças não
são muito for- consiste este grande pais, conforme ja disse), não dispõem de
tes.
forças consideráveis ou fortalezas; de modo que, com a graça
de Deus, os mesmos poderão ser e serão ocupados, conforme se
vê e se experimenta diariamente, principalmente se a Compa-
nhia das índias Ocidentais para aí enviar oficiais corajosos, bons
soldados, mestres ou engenheiros experimentados e adequados
instrumentos de guerra.
V
IX
XI
XII
DUO décimo, Tje tudo isso aparece claramente que a Companhia das In-
c
porque também
os soldados e ^ias Ocidentais recobrará, com proveito, as despesas feitas,
tripulantes dos
navios conse- e em b r e v e tempo, tendo-se em vista, principalmente, a presa
r
guirao grandes .
presas. q U e s e r á encontrada nas duas referidas cidades e nos lugares vi-
zinhos, a qual consistirá de mercadorias, navios, munições de
guerra, produtos da terra, rendas, dívidas das plantações, como
já foi dito, pois durante a pilhagem dos habitantes, por parte
dos soldados e marinheiros, tudo isso reverteria à Companhia.
Os soldados e marinheiros obterão, também, muita presa, tanto
em moeda corrente, como em jóias, pratarias, vestidos precio-
sos, linho e outras coisas, uma vez que estando essas duas cida-
des tão perto do mar e sendo de tão fácil acesso, não terão os
seus habitantes tempo para transportá-los, ocultá-los ou man-
dá-los para outros lugares. Se a Companhia das índias Ociden-
tais permitir, de boa vontade, essas pilhagens, obterá tão gran-
de reputação que, em todos os tempos, poderá dispor de tanto
pessoal quanto precisar.
XIII
XIV
Décimo quarto,
porque a posse
1. Desta terra do Brasil podem, anualmente, ser trazidas
desta terra será
de grande pro-
para cá e aqui vendidas ou distribuídas sessenta mil cai-
veito para a
Companhia por
xas de açúcar. Estimando-se as mesmas, atualmente, em
sete razões, a
saber :
uma terça parte de açúcar branco, uma terça parte de açú-
car mascavado e uma terça parte de açúcar panela, e ava-
liando-se cada caixa em quinhentas libras de peso, poder-
se-ia comprar no Brasil, sendo estes os preços comuns
nesse país, o açúcar branco por oito vinténs, (2) o masca-
vado por quatro e o panela por dois vinténs a libra, e re-
vender, respectivamente, por dezoito, doze e oito vinténs
a libra; e descontando-se doze florins de carga e de pe-
quenas despesas por cada caixa, ter-se-ia um lucro de,
aproximadamente, cinqüenta e três toneladas de ouro.
2. Item. As mesmas sessenta mil caixas de açúcar custam
no Brasil, conforme a citada compra, aproximadamente
as trinta e cinco toneladas de ouro, que a Companhia das
índias Ocidentais poderá pagar, em sua maior parte, com
mercadorias, lucrando, com isto, ao menos trinta por cen-
to e podendo, ainda, vender bem as suas mercadorias com
trinta por cento de vantagem sobre os preços que Portu-
gal costuma cobrar. Donde resulta que a Companhia terá,
ainda, um lucro anual de dez toneladas de ouro.
XV
Décimo quinto,
porque não po- À República ou à comunidade da mesma, este negocio
de haver nada
de mais provei- não será menos proveitoso e rendoso, pois que para car-
toso à Repú-
blica, por de- gas e outras despesas que a Companhia deverá pagar, como
zesseis motivos,
a saber : já dissemos, tirarão os particulares, cujos navios e pes-
soas serão empregados nisso, cerca de oito toneladas de
ouro anuais.
XVI
XVII
Décimo sétimo,
por causa dos
Item. Isto será a ruína e o empobrecimento completos
inconvenientes
que se segui-
do reino de Portugal, porque ele depende totalmente do
rão para ele e
que são sete, a
domínio no Brasil (sendo que o comercio das índias Ori-
saber : entais, de Cabo Verde, Guiné e Angola já lhes foi pertur-
bado e tirado, em grande parte, pela Companhia das ín-
dias Orientais) e, sendo-lhe tirado esse comercio, o pouco
restante de Portugal não poderá subsistir. Assim, o Rei
da Espanha será obrigado a exonerar o mesmo reino de
muitas de suas rendas reais.
— 42 —
XIX
Assim, a Companhia das índias Ocidentais obterá meios
Décimo nono,
para conseguir e ocasião de arrebatar ao Rei da Espanha as suas outras terras
um meio de ar-
rancar ao Eei e reinos decentemente, sem perigo e sem despesas, porque com
da Espanha to- ; x- o sr r -a
da a índia oci- os lucros do comercio com o Brasil ela poderá manter poderosas
dental.
frotas e muitos milhares de soldados e atacar de improviso o
Brasil, seja de frente, desde o Mar do Norte, seja de trás, desde
o Mar do Sul, com tropas frescas e navios, ocupando, assim, as
suas terras. XX
Por causa do grande tráfego que há nas terras do Brasil
Vigésimo,
Co por-
a
quê a ™P^ e por causa da grande quantidade de açúcar e de outras merca-
/iroteger facil- dorias que daí procedem, a Companhia sempre terá, aí, gran-
mente e com
pequenas des- de número de navios, os quais poderão ser usados ao lado dos
pesas essas
concessões. navios ordinários de guerra que a Companhia sempre manterá
nesse lugar para a sua defesa. Nestas condições, o mesmo país
poderá ser facilmente defendido contra o poderio do Rei da Es-
panha.
XXI
Vigésimo pri-
meiro, porque,
Finalmente, com isto será lançado o fundamento para pôr
assim,holandeses
tros os ou- e m liberdade os outros Paises Baixos,' visto como o Rei da Es-
serã
m> dP°dSt°s P a n n a será, assim, obrigado a despedir aqui neste país ao me-
w
— 43 —
Tudo isso não poderá ser explorado se a terra não fôr repovoada è
(s arruinados engenhos restaurados e postos em atividade; o que seria ne-
cessário que acontecesse para este Estado com o povo desta terra, que é
tão industrioso quanto os de qualquer outra nação, para que ele, de tem-
pos em tempos, pusesse em prática novos inventos, pelo uso dos quais os
mesmos engenhos poderiam ser administrados com menores despesas e
maiores lucros, e inventasse e aplicasse, num país tão fértil, vários meios
que seriam úteis e prestimosos para o sustento da vida humana.
NIJHOFF, Martinus — Catalogue n. 488. Books of the 17th and 18th Centuries.
The Hague. s/d.
LIPPMANN, Dr. E . O. von — Geschichte des Zuckers, ein Beitrag zur Kultur
Geschichte. Magdeburgo, 1890.