Interações Ecologicas
Interações Ecologicas
Interações Ecologicas
Interações
Ecológicas –
A Teia da Vida
Para início de conversa
ção dos dados são as principais formas que os cientistas têm para reconhecer e
compreender os padrões.
todos os seres vivos são formados por células, têm um metabolismo que consome
uma vasta rede de relacionamentos: a Teia da Vida! Cada um deles consegue aten-
der às suas necessidades de obter matéria e energia para manter-se vivo a partir
dos seus relacionamentos com todos os outros. Interdependência é a natureza de
outros seres. O Ser Humano, em especial, interfere de forma muito intensa nessa
pode ser um pequeno passo para você, mas é um passo gigante para a humani-
de analogia entre os diversos seres vivos e sua interrelação. A teia deve estar ao fundo, o globo deve estar em desta-
que.
Figura 1: No planeta Terra, todos os seres vivos relacionam-se entre si. Como um aranha fiandeira, a vida molda a sua Teia,
interligando os seres vivos em uma dinâmica complexa, que toma formas belíssimas! Vamos observar essas formas com
olhos mais atentos?
Objetivos de aprendizagem
Analisar as interrelações e interdependências entre os diferentes organismos e com os fatores abióticos do meio,
explicando como essas relações contribuem para a estabilidade do ecossistema.
Investigar como as mudanças nas condições ambientais afetam os organismos e as dinâmicas populacionais.
70 Módulo 4 • Unidade 2
Seção 1
Decifrando os padrões
Observando atentamente as interações entre os seres vivos, os cientistas reconheceram várias formas pelas
quais eles podem interagir. As interações ocorrem tanto entre seres da mesma espécie (Relações Intraespecíficas)
Além disso, podem ser classificadas como Harmônicas ou Desarmônicas (caso pelo menos um dos participan-
tes da relação seja prejudicado de alguma forma com a relação). Assim, as possibilidades de interações podem ser
resumidas pelas combinações: neutras (0), positivas (+) e negativas (-), como se segue para os organismos envolvidos
nas relações:
(0) (0), (-) (-), (+) (+) , (+) (0), (-) (0) e (+) (-).
Tabela 1: Na Natureza, os seres podem interagir entre si de diversas maneiras. Aqui, estão representados os
diversos tipos de interações (à direita), as quais podem ser neutras, harmônicas ou desarmônicas e ocorrerem dentre
Dizer que uma relação é neutra é o mesmo que dizer que não há relação direta entre as populações. Estudare-
mos a seguir os casos em que a relação se dá de forma positiva, ou seja, uma população afeta outra, de alguma forma,
Nas relações harmônicas não há prejuízo para nenhum dos participantes da relação. Nesta seção veremos
Colônias
Se você já mergulhou alguma vez com equipamento de mergulho próximo a um costão rochoso, você já deve
ter visto um coral! Os corais são colônias formadas por vários pólipos, ou seja, pequenos animais do filo dos cnidários.
Cnidários
seres vivos, pertencentes ao Reino dos animais, caracterizado por viverem exclusivamente em ambientes aquáticos; possuírem
corpos simples; apresentarem células especiais, os cnidocistos, especializadas em capturar presas, injetando uma toxina nelas..
A costa brasileira é repleta de formações coralinas, como o Atol das Rocas e o recife de corais da praia de Boa
Viagem, em Recife, capital de Pernambuco. Não menos belas e famosas são as barreiras de corais de Porto Seguro,
no sul da Bahia. Os recifes são considerados os ecossistemas que têm a maior biodiversidade em nosso planeta, tão
Também formam colônias seres como bactérias, protozoários, algas, além de um outro cnidário, a caravela, que
72 Módulo 4 • Unidade 2
Figura 2: Um coral (à esquerda) e uma caravela (à direita), ambos são colônias de cnidários, um dos animais mais simples do Reino.
Sociedades
As sociedades são agrupamentos de indivíduos que, embora não apresentem qualquer tipo de ligação
anatômica, desenvolveram o comportamento gregário, ou seja, têm uma grande tendência de vive-
rem juntos.
res da comunidade apresentam diferentes formas corporais de acordo com a tarefa que desempenham. Por exemplo,
nas sociedades dos cupins, os operários são formados por machos e fêmeas estéreis. Os soldados também são ma-
chos e fêmeas estéreis, só que apresentam mandíbulas e patas bem mais fortes para proteger a sociedade. Machos e
fêmeas férteis apresentam asas à época do acasalamento e a rainha tem seu abdômen aumentado centenas de vezes
e pode botar milhares de ovos por dia. Em uma mesma sociedade, cada grupo fisicamente diferente forma o que é
Estéril
aquele indivíduo que não pode se reproduzir. Esterilidade é o contrário de fertilidade. Fértil é aquele que pode se reproduzir.
Também apresentam o comportamento gregário de formação de sociedades animais como peixes (formam
cardumes), aves (bandos), cães (matilhas), lobos (alcateias), búfalos e elefantes (manadas) e primatas, como os micos,
Figura 3: A divisão de tarefas nas sociedades de cupins é tão forte que moldou seus corpos ao longo da evolução. Aqui, da
esquerda para a direita, vemos um operário, um soldado, e em seguida uma rainha com o abdômen repleto de ovos. Repare
que o exoesqueleto não consegue cobrir completamente seu corpo e forma plaquinhas que dão ao seu abdômen o aspecto
rajado.
Exoesqueleto
esqueleto que recobre a superfície do corpo de certos animais, tais quais os insetos e crustáceos (siris, camarões, dentre outros)
74 Módulo 4 • Unidade 2
O mundo secreto das formigas
Você já deve ter reparado que as formigas doceiras, aquelas que andam pelas pare-
des de nossas cozinhas, caminham sempre em fila indiana como se seguissem uma trilha
invisível.
delas quando elas não estiverem passando e observe o que acontece a partir daí.
Sabendo que as formigas possuem um cheiro que somente elas sentem e que é
formigas e elabore uma hipótese para explicá-lo, levando em consideração o seu hábito
Seção 3
Relações Harmônicas Interespecíficas
Desta vez, vamos no debruçar sobre as relações harmônicas entre seres de espécies diferentes.
Simbiose
A alimentação dos cupins é baseada em fontes de origem vegetal, como a madeira e o papel. Acontece que os
cupins, como os outros animais, não possuem enzimas capazes de digerir a celulose presente na parede celular que
reveste as células vegetais. Então, como os cupins conseguem retirar os nutrientes das células dos vegetais? A arma
secreta dos cupins é uma parceria com protozoários que vivem em seu tubo digestivo. Os protozoários são capazes
tindo que as enzimas digestivas do cupim façam a digestão das células vegetais.
Já foi observado que quando nascem os cupins são alimentados por cupins operários “babás” com pelotas de
fezes de cupins adultos. Em experimentos onde larvas de cupim eram isoladas da colônia e alimentadas somente
com madeira após nascerem, ficou claro que a coprofagia é fundamental para colonizar seus tubos digestivos com
protozoários que os ajudam a digerir seus alimentos. Porque as larvas de cupim que não comiam as fezes dos adultos
Larva
é um estágio de vida pelo qual alguns seres vivos passam antes de chegar à fase adulta.
Coprofagia:
Mas essa relação também é fundamental para os protozoários que recebem, no tubo digestivo dos cupins,
abrigo e alimentação. A relação entre os cupins e os protozoários que digerem celulose para eles é conhecida como
simbiose.
A simbiose é um tipo de mutualismo (existe benefício mútuo, ou seja, para as duas espécies envolvidas)
em que a interdependência é tão grande a ponto de eles não serem capazes de viver isoladamente.
Liquens – associações de algas com fungos. Os fungos, que são seres incapazes de produzir seu alimento (hete-
rotróficos), garantem para as algas a umidade da qual elas dependem para viver fora d´água. Em troca, as algas
dividem com os fungos parte dos alimentos que elas produzem na fotossíntese. Não porque elas sejam justas, mas
sim porque elas precisam manter os fungos vivos para a sua própria sobrevivência.
Micorrizas – associações de fungos com raízes de plantas. Os fungos aumentam a superfície de absorção de nu-
trientes, facilitando a germinação e a nutrição adequada de várias plantas. Como isso é interessante para as plan-
76 Módulo 4 • Unidade 2
tas, elas cultivam os fungos com parte dos açúcares que elas produzem na fotossíntese para mantê-los vivos,
Protocooperação
Você já deve ter visto como é comum ver aves pousadas nas costas de bois pastando. E elas não estão ali por
acaso, mas sim em busca de alimentos no meio do pelo. Isso mesmo, elas comem carrapatos que estão presos à pele
dos bois, sugando seu sangue. Não preciso nem dizer o quanto isso é bom para o boi, que fica livre desses incômodos
Figura 4: O bovino aqui da foto conta com a ajudinha do amigo pássaro para se livrar dos indesejados carrapatos. E o pássa-
ro, de papo cheio, também agradece.
Nessa relação também há benefício para os dois (o boi e o pássaro). No entanto, o pássaro não depende exclu-
sivamente dos carrapatos do boi para sobreviver, pois consegue achar alimentos também em outros lugares. E o boi
A protocooperação é uma relação de mutualismo (de benefício mútuo entre animais de diferentes es-
pécies) em que os seres não dependem dessa relação para sua sobrevivência, mesmo ela sendo boa
para ambas as partes.
seus tentáculos,��������������������������������������������������
são paralisados pelas����������������������������
suas toxinas. Os peixes-pa-
lhaço não correm esse risco porque possuem uma proteção con-
frem com o ataque das joaninhas, que são suas predadoras. Mas os pulgões
de seiva que sai do ânus dos pulgões e precisam deles vivos. Como você
pode ver, embora não haja dependência entre formigas e pulgões, a rela-
Comensalismo
Muita gente acha que toda planta que cresce em cima de outra planta é parasita, ou seja, retira seiva e acaba
matando a hospedeira. Isso até acontece, com veremos mais adiante, mas muitas das plantas que nascem sobre as
outras (chamadas, por isso, de epífitas) estão apenas pegando uma “carona” na hospedeira em busca de luz. Esse é o
caso das orquídeas e bromélias, que não causam prejuízo algum às árvores onde crescem. Mas também não causam
Comensalismo é essa relação em que um ser se beneficia da relação com outro ser, sem lhe causar
prejuízo nem benefício.
O mesmo ocorre com aqueles pássaros que ficam em volta dos animais que estão no pasto, como bois e
cavalos. Há casos em que eles não comem os carrapatos (que seria uma protocooperação), mas apenas insetos que
estavam no meio da vegetação e que pulam ou voam para fugir do pisoteio do animal.
78 Módulo 4 • Unidade 2
O prejuízo do fogo
No Brasil, ainda é muito comum o hábito de fazer a coivara, usar fogo para a “lim-
peza” de uma área que se deseja usar para o plantio. Sabendo que as sementes de muitas
plantas dependem de uma simbiose com fungos presentes no solo para germinar, expli-
Seção 4
Relações Desarmônicas Interespecíficas
Nas relações desarmônicas, pelo menos um dos participantes é prejudicado pela relação. Nesta seção, vamos
Amensalismo
Quando manadas de búfalos ou elefantes se deslocam, causam um grande estrago por onde passam. Plantas
e pequenos animais morrem pisoteados. Embora a relação seja fatal para os pequenos seres, os animais que lhes
Uma boa parte das doenças que podemos ter é causada por parasitas como vírus, bactérias, protozoários,
fungos e vermes. Insetos e aracnídeos também usam e abusam de outros seres; e, quem diria, até as plantas podem
Embora a maioria dos vermes não seja parasita, os poucos do grupo que são parasitas fazem a sua má fama:
tênias, esquistossomos, lombrigas, filárias, oxiúros e ancilóstomos são alguns dos vermes mais famosos que podem
da malária) estão entre os protozoários parasitas de seres humanos. Mas é bom lembrar que existem muitas espécies
Não poderíamos deixar de falar dos vírus, parasitas obrigatórios de outros seres, uma vez que não possuem
estruturas celulares capazes de desempenhar as funções vitais. Gripe, herpes, hepatite e AIDS estão entre doenças
Figura 5: Além dos citados, os humanos possuem diversos outros parasitas. Dentre os parasitas da pele humana, estão os
carrapatos, como os da imagem, as pulgas, os piolhos, as larvas de moscas e os ácaros.
80 Módulo 4 • Unidade 2
A erva-de-passarinho é uma planta parasita de outras. Ela nasce de sementes deixadas por aves nos galhos das
árvores. Quando germina, ela lança raízes com uma especialização para perfurar o caule da outra planta a fim de su-
gar a seiva; são raízes sugadoras. A erva-de-passarinho se desenvolve como um cipó, cobrindo a copa da outra planta,
mas ela retira a seiva bruta, que contém apenas água e sais minerais, e faz fotossíntese para produzir a sua própria
O cipó-chumbo é outra planta parasita, mas com uma estratégia um pouco diferente da erva-de-passarinho.
Embora seja um vegetal, ele deixou de fazer fotossíntese e suga seiva elaborada. Por isso, o cipó-chumbo é conside-
Predação
Gaviões, entre outras coisas, comem cobras. Cobras costumam alimentar-se de sapos. Sapos são insetívoros.
Entre os insetos que os sapos comem estão os grilos, que por sua vez são herbívoros. Embora aqui esteja representada
Insetívoro
animal que se alimenta de insetos.
Predação é uma relação desarmônica em que um ser mata o outro para alimentar-se dele.
Plantas carnívoras, na verdade, costumam ser insetívoras, e nem por isso deixam de ser seres autotrófi-
cos, produtores de seu próprio alimento. Essas plantas desenvolveram a capacidade de atrair e prender
insetos para absorver os nutrientes de seus corpos. Essa foi uma adaptação dessas plantas a ambientes
pobres em nutrientes, especialmente nitrogênio, essencial para o crescimento das plantas e abundan-
te na proteína presente no corpo dos animais.
As insetívoras não têm um tubo digestivo como o dos animais e raramente conseguem capturar ani-
mais maiores que os insetos. Logo, não são carnívoras de verdade.
Predadores procuram por presas que atendam às suas necessidades nutritivas e cuja captura não ofereça um
risco muito grande de danos. Por isso, há geralmente uma grande diferença entre predador e presa (de tamanho ou
de força). E é por isso que geralmente a presa prefere fugir a ficar e enfrentar o predador. As que apresentarem esse
comportamento tendem a ser eliminadas, justamente por causa dessa disputa desleal.
O controle biológico de pragas é um método usado como alternativa ao uso de pesticidas. A ideia é
responder à invasão de uma praga com a introdução de inimigos naturais dela, como predadores ou
parasitas específicos. Embora seja uma técnica recomendada para a agricultura orgânica, a introdução
de espécies sempre gera riscos de desequilíbrios ecológicos e deve ser feita com cautela e sob a orien-
tação de especialistas experientes.
Competição Interespecífica
Todas as plantas precisam da luz do Sol para fazer fotossíntese. Nas florestas, todas as plantas de todas as espé-
cies estão disputando por luz o tempo todo. Crescer, ramificar-se, crescer sobre outras plantas, aumentar o tamanho
de suas folhas e até mesmo produzir uma toxina que retarda o crescimento das adversárias são algumas estratégias
Entre animais, as disputas são ainda mais fervorosas. Disputas territoriais são comuns entre várias espécies. O
que está em jogo é a disputa pela exploração dos mesmos recursos, no mesmo território e ao mesmo tempo.
Um recurso é qualquer coisa usada diretamente por um organismo que pode levar ao crescimento da popu-
lação e que tem a quantidade reduzida quando é usada, como, por exemplo, comida, espaço, luz, água etc. Fatores
82 Módulo 4 • Unidade 2
como temperatura, umidade, salinidade e pH, mesmo que tenham forte influência sobre o tamanho da população,
não são considerados recursos, porque não podem ser consumidos nem monopolizados.
Cada espécie sobrevive explorando certo conjunto de recursos. Isso define o seu nicho ecológico, também en-
tendido como o papel desempenhado por esta espécie no ecossistema. Se não existissem competidores, predadores e
parasitas em seu ambiente, uma espécie seria capaz de viver sob maior amplitude de condições ambientais (seu nicho
fundamental) do que faria na presença de outras espécies que a afetam negativamente (seu nicho realizado). Por outro
lado, a presença de espécies benéficas pode aumentar a gama de condições em que uma espécie consegue sobreviver.
Recursos cuja reposição é menor que o consumo são considerados recursos limitantes. Eles influenciam a
abundância e a distribuição das espécies. Os recursos que não são limitantes têm uma influência muito pequena
sobre a dinâmica populacional de uma espécie. Por exemplo, para os animais terrestres a quantidade de gás oxigênio
ção da atmosfera, está sempre acima do nível mínimo de consumo. No ambiente de água doce, onde a concentração
máxima de gás oxigênio dissolvido é apenas 0,5%, quase sempre os organismos consomem todo o gás e este se torna
um recurso limitante. Ecólogos de ambientes aquáticos, ao contrário de ecólogos de ambientes terrestres, prestam
A competição é uma relação de disputa pelo uso de um recurso que é limitado. Ela ocorre entre seres
que procuram pelos mesmos recursos, no mesmo local e ao mesmo tempo, ou seja, compartilham o
mesmo nicho ecológico e o mesmo hábitat.
Não haverá competição se as populações das espécies que usam um mesmo recurso habitam lugares
diferentes, porque evidentemente elas não estarão disputando o consumo daquele recurso no mesmo lugar.
Os parasitas usualmente têm tempo de geração muito mais curto do que seus hos-
Seção 5
Relações Desarmônicas entre
Seres da Mesma Espécie
Competição Intraespecífica
tico. Os machos vocalizam para atrair as fêmeas. Em regra, quanto mais alto um macho vocalizar, maiores são as suas
chances de reprodução. Mas quando vocaliza, além de atrair as fêmeas, os machos também atraem predadores.
Como nas aves, cada espécie de anuro tem uma vocalização característica. Por isso, quando um macho de uma
espécie não encontra concorrentes, ele vocaliza apenas um pedaço da sua “canção”. Assim, ele avisa às fêmeas da sua
localização, mas não se expõe tanto à predação. Se houver um ou mais concorrentes, eles disputarão as fêmeas voca-
lizando o mais alto e o mais completo possível, ainda que assim eles corram o risco de atrair predadores.
Seres da mesma espécie geralmente exploram os mesmos recursos. Como desempenham o mesmo
nicho ecológico, quando dividem o mesmo hábitat onde um recurso é limitante, competem por esse
recurso. A competição intraespecífica ocorre frequentemente por território, alimento e parceiro sexual.
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O que está por trás deste comportamento competitivo é a seleção das características que aumentam as chan-
ces de reprodução e perpetuação do seu material genético. Cada ser escolhe o parceiro que julga trazer mais bene-
fícios para seus descendentes, garantindo a sobrevivência deles e a transmissão do seu material genético adiante.
Canibalismo
O louva-deus é um inseto predador, devora vorazmente outros insetos que captura com suas típicas patas
dianteiras. Estas parecem em prece enquanto esperam a oportunidade para dar um bote em sua presa. Mas durante
o acasalamento o louva-deus apresenta um comportamento estranho. Antes ainda do término da cópula, a fêmea
começa a devorar o macho. Come-o por inteiro, da cabeça aos pés, ou melhor, às patas.
Quando a predação acontece entre seres da mesma espécie, ela é chamada de canibalismo.
O canibalismo é raro, porque a seleção natural tende a eliminar esse comportamento, afinal, teoricamente, ele
reduz o número de indivíduos daquela espécie, deixando-a mais vulnerável à extinção. Além disso, como o canibalis-
mo ocorre entre seres da mesma espécie, a igualdade física deixa a captura da presa pelo predador bem arriscada e
com grandes chances de não ser bem-sucedida ou provocar danos sérios ao predador.
Mas há casos em que, pelo contrário, o canibalismo aumenta as chances de sucesso evolutivo da espécie.
No caso do louva-deus, a interpretação é que, após cumprir seu papel reprodutivo, o macho é mais útil morto – ali-
mentando a fêmea e garantindo recursos para o desenvolvimento dos embriões e a postura dos ovos – do que vivo,
competindo com os descendentes por recursos alimentares.
Muitos animais criados presos apresentam o canibalismo como um distúrbio comportamental gerado pelo
estresse do cativeiro.
Hannibal
Na espécie humana, o canibalismo é considerado um desvio grave, como no caso do psicopata Hanni-
bal, interpretado por Anthony Hopkins, no filme “Silêncio dos Inocentes”.
Mas a antropologia já registrou tribos indígenas e aborígenas que adotam a prática do canibalismo.
Mas, nestes casos, o canibalismo tem mais a ver com aspectos religiosos subjetivos do que uma es-
tratégia nutricional. Os índios Tupinambás, por exemplo, acreditavam que ao derrotar um adversário
deveria comer a sua carne para incorporar a coragem do espírito dele. Não era para matar a fome que
estas tribos praticavam o canibalismo.
Pudemos ver claramente, nesta Unidade, que as interações entre os seres vivos são fortes agentes de pressão
evolutiva. Relações ecológicas estreitas favorecem processos de seleção natural combinados nas duas populações que
interagem, onde a evolução de cada um é dependente da evolução do outro. Isso acontece, por exemplo, entre plantas
A coevolução é um tipo de evolução da comunidade, envolvendo interação seletiva entre dois grupos
de organismos com uma relação ecológica estreita.
Supõe-se que a grande diversidade de plantas nos trópicos pode estar relacionada a uma grande diversidade
de insetos herbívoros. Através de mutações casuais, as plantas produzem compostos químicos que tornam suas folhas
desagradáveis para herbívoros. Tais plantas, protegidas, entram em uma nova zona de adaptação e, eventualmente,
aquilo que começou como mutação casual se espalha e pode caracterizar uma família botânica inteira. Se numa po-
pulação de insetos herbívoros surgir um mutante capaz de se alimentar de uma planta com paladar desagradável, ele
terá uma vantagem sobre os outros insetos. Melhor alimentado, ele tenderá a crescer e se reproduzir melhor que os
outros, espalhando sua característica pela população. Assim, a diversidade de plantas tende a aumentar a diversidade
As relações simbiontes também sugerem processos de coevolução. É o que parece ocorrer entre embaúbas
e formigas do gênero Azteca. As formigas vivem em sociedade no interior do caule oco das embaúbas, de onde de-
fendem ferozmente a árvore que lhe dá abrigo, reduzindo o ataque de outros insetos herbívoros. A seleção natural
age de forma conjunta para as duas populações, reforçando as características dessas árvores e o comportamento das
formigas.
Há inúmeros exemplos de plantas que são polinizadas exclusivamente por uma espécie de inseto ou beija-flor.
A anatomia da flor parece ter sido desenhada exclusivamente para uma abelha, mariposa ou beija-flor. E os animais,
por sua vez, parecem ter o encaixe perfeito com bicos e trombas compridos. Essa relação tão específica é uma forte
evidência de coevolução.
86 Módulo 4 • Unidade 2
Outro exemplo de coevolução são o mimetismo e a camuflagem, adaptações contra a predação. A diferença
entre elas está na mensagem transmitida ao predador pelas mudanças no corpo da presa. Enquanto na camuflagem
a presa tente a se confundir com o ambiente, no mimetismo a estratégia envolve ser visto, mas não identificado.
Mariposas que se parecem com folhas fazem camuflagem, pois passam despercebidas por pássaros que poderiam
Mariposas que parecem ter olhos de coruja desenhados em suas asas são vistas por pássaros predadores de
mariposas, mas não são incomodadas por eles porque eles pensam estar olhando para uma coruja. Geralmente fo-
gem com medo. Estas mariposas fazem mimetismo porque sua aparência confunde seus predadores. Elas são vistas,
Um hospedeiro morto é um problemão para um parasita. A seleção natural que age na evolução dos parasitas
segue duas linhas principais e estranhamente opostas. A primeira seleciona as adaptações que aumentem a eficiência
dos parasitas em retirar nutrientes de seus hospedeiros, como, por exemplo, o desenvolvimento de raízes sugadoras
nas epífitas parasitas. A outra linha é a de reduzir os danos causados no hospedeiro, já que a sobrevivência do parasi-
É possível que essa redução de virulência possa ter levado alguns parasitas a coevoluir para uma relação de
simbiose, quando, além de reduzir a virulência, passaram a contribuir de alguma forma para a sobrevivência do seu
Virulência
Os parasitas muito virulentos (agressivos) acabam investindo em contágio. Se vão esgotar os recursos, é bom
que consigam abandonar logo aquele hospedeiro e ir para outro, caso contrário eles morrerão.
uma região para outra. Elabore um texto explicando o risco da introdução de espécies exó-
-hospedeiros e competidores.
Nesta Unidade, desvendamos as mais sutis relações entre os seres vivos, uma verdadeira Teia da Vida. Compro-
meter a fragilidade do equilíbrio desta teia reforça o compromisso que temos com a conservação de toda diversidade
de vida. Questões como “Para que servem as baratas?” são muito comuns. Ainda que alguém possa questionar a
importância de alguns seres, agora você sabe que cada ser desempenha um papel importante no equilíbrio da vida.
É fácil perceber como as seleções naturais entre seres com relações íntimas podem contribuir para o curso da
Recursos complementares
São muito tensas as relações entre o predador e a sua presa, pois a de sobrevivência da popula-
sas diminuir até se aproximar de zero, o número de predadores também vai diminuir, visto que a sua fonte alimentar
“secou”.
Ficou difícil de entender essa dinâmica, então vamos analisar um pouco mais profundamente.
88 Módulo 4 • Unidade 2
Quando um predador captura e come uma presa, ele reduz o tamanho da população de presas. Para entender
as complexas relações entre os predadores e presas, devemos entender como a densidade dessas últimas influencia
a facilidade com a qual elas são capturadas e a velocidade com a qual se reproduzem.
Análises de como variam as populações de diversas relações predadores-presas revelaram um padrão muito
característico de flutuações entre a população de predadores e a de presas. Esse padrão pode ser descrito da seguin-
te forma: um predador deve encontrar o suficiente para sobreviver, caso contrário perde peso e, eventualmente,
morre de fome. O número de predadores pode ser reduzido pela morte ou pela emigração, o que daria um alívio na
população de presas, permitindo um crescimento desta população. Esse aumento poderá, por sua vez, permitir um
Observe no gráfico a seguir a flutuação de duas populações: a da lebre (presa) e a da raposa. A densidade
(número de indivíduos por área) da população de lebre sempre diminui quando a da raposa aumenta. E, ao contrário,
quando a densidade de lebres diminui drasticamente (porque foi muito predada), a de raposas também decai, pois o
As interações ocorrem tanto entre seres da mesma espécie (Relações Intraespecíficas) como entre seres de
espécies diferentes (Relações Interespecíficas). E as interações podem ser classificadas como Harmônicas
(caso não haja prejuízo para nenhum dos participantes da relação) ou Desarmônicas (caso pelo menos um
As sociedades são agrupamentos de indivíduos que, embora não apresentem qualquer tipo de ligação ana-
tômica, desenvolveram o comportamento gregário, ou seja, tem uma grande tendência de viverem juntos.
A simbiose é um tipo de mutualismo (existe benefício mútuo, ou seja, para os dois envolvidos) em que a
interdependência é tão grande a ponto de eles não serem capazes de viver isoladamente.
A protocooperação é uma relação de mutualismo (de benefício mútuo entre animais de diferentes espé-
cies) em que os seres não dependem desta relação para sua sobrevivência, mesmo ela sendo boa para
ambas as partes.
Comensalismo é uma relação na qual um ser se beneficia da relação com outro ser, sem lhe causar prejuízo
nem benefício.
Amensalismo é o tipo de relação em que há seres prejudicados com a relação sem intenção, benefício nem
prejuízo do outro.
90 Módulo 4 • Unidade 2
Identificamos o parasitismo quando um organismo ataca e consome partes de um organismo muito maior
do que ele mesmo. Neste tipo de relação, o hospedeiro é prejudicado pelo benefício que o parasita tira
dele.
Predação é uma relação desarmônica na qual um ser mata o outro para alimentar-se dele.
A competição é uma relação de disputa pelo uso de um recurso que é limitado. Ela ocorre entre seres que
procuram pelos mesmos recursos, no mesmo local e ao mesmo tempo, ou seja, compartilham o mesmo
nicho ecológico e o mesmo hábitat.
Seres da mesma espécie geralmente exploram os mesmos recursos. Como desempenham o mesmo nicho
ecológico, quando dividem o mesmo hábitat onde um recurso é limitante, competem por esse recurso. A
competição intraespecífica ocorre frequentemente por território, alimento e parceiro sexual.
Quando a predação acontece entre seres da mesma espécie, ela é chamada de canibalismo.
É fácil perceber como as seleções naturais entre seres com relações íntimas podem contribuir para o curso
da evolução no sentido da diversidade, interdependência e equilíbrio da comunidade.
Veja ainda...
http://super.abril.com.br/mundo-animal/bobeou-virou-comida-443852.shtml
Referências
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PURVES, William e outros. Vida, a ciência da biologia. 6ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2005. 1044 p.
DAWKINS, Richard. O gene egoísta. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1979. 230 p.
Imagens
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• http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Macro_Termite_Soldier.jpg
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• http://www.flickr.com/photos/giffordclan/4769226710
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• http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Tick_male_(aka).jpg
• http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Leopard_kill_-_KNP_-_001.jpg
• http://www.sxc.hu/985516_96035528.
92 Módulo 4 • Unidade 2
Atividade 1
Você deve ter percebido que quando atingem o ponto onde você passou o dedo
cortando seu caminho, as formigas se espalham, perdendo o rastro das que já passaram
por ali.
feromônios. Elas literalmente deixam um rastro para marcar a trilha por onde passaram si-
Se você ficar observando o experimento por mais tempo, você notará que as formi-
gas vão procurar uma passagem para reconectar seu caminho antigo e todas as formigas
que passarem por ali depois seguirão o novo caminho neste trecho.
Atividade 2
Além dos danos óbvios como a morte de plantas e animais das áreas queimadas e
a poluição atmosférica, a queimada mata também boa parte dos micro-organismos pre-
sentes no solo. Alguns deles são fundamentais para o desenvolvimento das plantas por
Atividade 3
Como sua sobrevivência depende do seu hospedeiro, os parasitas têm uma seleção
natural que leva em conta também as chances de sobrevivência do hospedeiro. Esse argu-
mento foi bem explorado um pouco mais adiante na Seção 6, que trata da relação entre as
relações ecológicas e a evolução dos seres envolvidos na relação. Fica claro que uma ten-
brio nas relações ecológicas deste ecossistema. O novo ser pode ser uma ameaça às outras
espécies por ser parasita, predador ou competir com elas. Mesmo se o invasor estabelecer
uma relação harmônica com alguma espécie preexistente no ecossistema, ele vai alterar o
beneficiada. Não raro, a introdução de espécies exóticas gera extinções nas novas áreas.
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O que perguntam por aí?
Um estudo recente feito no Pantanal dá uma boa ideia de como o equilíbrio entre as espécies, na natureza, é
co é o único pássaro que consegue abrir o fruto e engolir a semente do manduvi, sendo, assim, o principal dispersor
de suas sementes. O manduvi, por sua vez, é uma das poucas árvores onde as araras-azuis fazem seus ninhos.
Até aqui, tudo parece bem encaixado, mas... é justamente o tucano-toco o maior predador de ovos de arara-
-azul — mais da metade dos ovos das araras são predados pelos tucanos. Então, ficamos na seguinte encruzilhada:
se não há tucanos-toco, os manduvis se extinguem, pois não há dispersão de suas sementes e não surgem novos
manduvinhos, e isso afeta as araras-azuis, que não têm onde fazer seus ninhos. Se, por outro lado, há muitos tucanos-
-toco, eles dispersam as sementes dos manduvis, e as araras-azuis têm muito lugar para fazer seus ninhos, mas seus
a. o manduvi depende diretamente tanto do tucano-toco como da arara-azul para sua sobrevivência.
tucanos-toco.
d. a conservação das araras-azuis depende também da conservação dos tucanos-toco, apesar de estes
Gabarito: Letra D.
Comentário: O texto do enunciado expõe a delicada interação entre três populações diferentes: a de mandu-
vis, araras-azuis e tucanos-toco. Todas elas são interdependentes, portanto, para a conservação de uma, é preciso que
O controle biológico, técnica empregada no combate a espécies que causam danos e prejuízos aos seres hu-
manos, é utilizado no combate à lagarta que se alimenta de folhas de algodoeiro. Algumas espécies de borboleta
depositam seus ovos nessa cultura. A microvespa Trichogramma sp. introduz seus ovos nos ovos de outros insetos,
incluindo os das borboletas em questão. Os embriões da vespa se alimentam do conteúdo desses ovos e impedem
que as larvas de borboleta se desenvolvam. Assim, é possível reduzir a densidade populacional das borboletas até
A técnica de controle biológico realizado pela microvespa Trichogramma sp. consiste na:
Gabarito: Letra A.
Comentário: A microvespa é um parasita da borboleta, uma vez que ela se beneficia de recursos desse animal
para se manter vivo. Sua ação acaba por exterminar os embriões da borboleta (presentes nos ovos).
Quem disse que vida de ameba é fácil? Alimentar-se pode ser um ato muito difícil quando mais predadores
http://pt.searchgames.org/deluxes/jogar/food-chain_v1