Texto Suplementar - Educação Patrimonial - A Pedagogia Política Do Esquecimento
Texto Suplementar - Educação Patrimonial - A Pedagogia Política Do Esquecimento
Texto Suplementar - Educação Patrimonial - A Pedagogia Política Do Esquecimento
DOI: 10.5965/2175180304022012063
http://dx.doi.org/10.5965/2175180304022012063
Resumo
Tendo por base a análise de dados empíricos de uma série de atividades de ensino em espaços museológicos, o
presente artigo sistematiza uma série de elementos que orientam o uso dos museus no ensino de história.
Propomos uma metodologia para um uso didático do museu na sala de aula que preveja, primeiro, a vinculação
dos conteúdos estudados em sala de aula à exposição que será visitada; segundo, a realização da visita de forma
articulada com uma programação definida e; terceiro, de volta a sala de aula, a utilização da experiência vivida
no museu para a realização de uma produção cultural.
Abstract
Based on the analysis of empirical data from a series of educational activities in museum spaces, this article
explores a series of factors which guide the use of museums in teaching history. We propose a methodology for a
didactic use of the museum in the classroom that allows, first, the linking of the contents studied in the
classroom with the exposure to be visited, and second, the realization of the visit jointly with a set schedule and,
third, back to the classroom, the use of the museum experience to conduct a cultural product.
Para a maioria dos professores, conduzir uma turma de escola ao museu é uma
aventura. Uma operação que demanda um esforço de organização e uma disposição para
*
Doutor em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Professor da Universidade Federal Rural
de Pernambuco. E-mail: [email protected]
O MUSEU NA SALA DE AULA:
Propostas para o planejamento de visitas ao museu
Ricardo de Aguiar Pacheco
XVIII que os estados nacionais passam subvencionar e expor coleções voltadas ao público
geral. Atualmente museus são instituições internacionalmente reconhecidas como lugares que
ensinam seus visitantes na medida em lhes propõe uma relação com os objetos expostos.
Pierre Nora argumenta que diferentes lugares – entre eles os museus de história – se
constituem em lugares de memória porque assumem a tarefa de difundir determinada versão
dos eventos do passado na memória coletiva de uma comunidade. “São lugares, com efeito,
nos três sentidos da palavra, material, simbólico e funcional, simultaneamente, somente em
graus diversos.” (Nora, 1993, 21). Neste argumento entende-se que os museus – não apenas
os de história – são materialidades que tem a funcionalidade de produzir uma simbologia
sobre a dimensão temporal, seja o tempo físico (Piaget, 2002), seja o tempo histórico (Rusen,
2001; Hartog, 2006); no que toca ao ensino de história em museus podemos dizer que entre os
temas de interesse estejam, entre outros, os eventos históricos, o tempo histórico e a memória
social.
Os museus também se diferenciam quanto à sua forma de organização. Inúmeros
museus ainda se mantêm como um gabinete de curiosidades reunindo um conjunto de itens
mais ou menos conexos entre si. Este é o caso típico do museu da cidade pequena que,
formado e mantido por iniciativa individual, reúne um acervo de objetos diversos, agrupados
mais pela perseverança que por uma lógica interna a coleção. Outros museus ainda trazem as
marcas dos discursos nacionalistas e se empenham em destacar o ‘maior isso’, o ‘mais aquilo’
de cada lugar. Já os museus mais recentes estão carregados de tecnologia, luzes e som
atrativos que mobilizam da atenção do visitante. Todos eles, contudo, podem ser utilizados
pelo professor de história com o mesmo sentido: educar para a percepção da aventura humana
no tempo por meio do contato com o objeto.
Já a metodologia triangular foi formulada por Ana Maria Barbosa (1995) tem sua
origem nos dos museus de arte. Ela está focada no desenvolvimento da sensibilidade e na
fruição da obra. E faz isso buscando localizar a peça na história da arte, no contexto histórico
de criação do autor. Esta metodologia, de maneira muito sintética, propõe três tipos de ações:
a livre leitura e interpretação da obra pelo público; o estudo e o debate sobre o momento
histórico de sua produção; e a releitura da obra por meio da produção de outra obra por parte
do sujeito que está vivendo a ação educativa.
museal para realizar outras atividades didáticas. Por isso propomos que o planejamento para o
uso didático do museu na sala de aula deve estar atento e prever, inicialmente, a vinculação
dos conteúdos estudados à exposição que será visitada, segundo, a realização da visita com
uma programação definida e, de volta à sala de aula, a utilização da experiência vivida no
museu para a realização de uma produção cultural.
Sabemos que a didática não pode ser pensada como “a arte de ensinar tudo a todos”
como propôs Comênico (2006) em um passado e, portanto, como alerta Vera Candau (1984)
não nos propomos a ser prescritivos de ações didáticas previamente concebidas a revelia do
espaço social em que serão desenvolvidas as ações pedagógicas. Na outra margem,
entendemos, como José Carlos Libâneo (1990) e Antoni Zabala (1998), que a reflexão sobre a
experiência docente pode – e deve – reorientar o planejamento da prática pedagógica com
vistas a qualificar a relação ensino-aprendizagem. Com estes parâmetros estamos aqui
sistematizando um conjunto de orientações gerais construídas ao longo de diferentes ações
didáticas vividas em diferentes espaços museais. Estas ações foram desenvolvidas
primeiramente como professor da educação básica, depois como professor da disciplina de
Prática de Ensino em História e, mais recentemente, como orientador de bolsistas de Iniciação
à Docência que tematizam as relações escola-museu.
Ao longo de anos temos desenvolvido diversas atividades de ensino que envolvem
escola e museu dando origem a estudos que descrevem e analisam experiências específicas
(Pacheco, 2010a, 2010b, 2012). O passo que damos nesse momento é a busca de uma síntese
desses diferentes estudos anteriores e a configuração de um roteiro que não se pretende
prescritivo, mas que, fruto da reflexão sobre a prática pedagógica, seja útil ao planejamento e
a reflexão de outras atividades que envolvem escola e museus. As indicações e generalizações
que seguem não evitam o surgimento de problemas na execução da atividade, mas permite
nos anteciparmos para procurar soluções e assim gerenciá-los de forma mais racional.
Para utilizarmos o museu em sala de aula é preciso ter em mente que a visita se inicia
muito antes do professor e seus alunos chegarem ao museu. E se estende para além deste
momento. Acreditamos que a qualidade da atividade e seu significado pedagógico dependem
conteúdos que estão sendo trabalhados em sala de aula. Libâneo (2008) destaca o significado
político-pedagógico do ato de planejar a ação educativa afirmando que:
Museus costumam ter uma exposição permanente (ou de longa duração) e outra
exposição temporária (que são trocadas com certa frequência). Outros têm exposições
extensas e por isso divididas em partes com salas abordando temas diferentes. Todas estas
possíveis divisões de uma exposição podem ser tratadas como se fossem capítulos de um
mesmo livro. E um livro que não precisa ser lido integralmente em uma única visita. Mesmo
que a turma seja conduzida por todo o espaço do museu é possível planejar quais as partes da
exposição, quais os temas serão de fato objeto de atenção da atividade didática. Ou seja, não é
por que a exposição de museu apresenta duzentos objetos que o relatório de visita deve relatar
cada um deles. Do outro lado, não é responsabilidade do aluno, por seu próprio critério,
escolher o objeto mais interessante para descrever apenas este. Entendemos que cabe ao
professor, no seu planejamento, estabelecer o tema da visita, definir o tipo de informações que
interessam para o estudo que a turma esta desenvolvendo em sala de aula e definir
previamente as ações que serão solicitadas aos alunos.
Imaginemos uma visita ao Museu Histórico Nacional (Rio de Janeiro, RJ) ou ao
Museu Imperial (Petrópolis, RJ) que possuem, cada um, mais de 15 espaços temáticos para
serem explorados. têm uma exposição muito rica e ampla apresentando objetos de diferentes
períodos históricos e relacionados a diversos grupos sociais e suas atividades. Para que a
visita não se torne cansativa é recomendável que o professor defina previamente quais
elementos serão focados na atividade didática. A visitação também pode ser focada e
explorada em apenas algumas salas para que o volume de informação da exposição não
dificulte o entendimento do tema que está sendo estudado.
No momento de agendar a visita é possível estabelecer uma rápida conversa com o
setor educativo do museu e obter respostas para algumas questões importantes para o
planejamento da visita: o museu dispõe de mediadores que recebem os alunos ou o professor
fará a condução da turma? Estes mediadores fazem adequações a temas específicos ou existe
apenas um roteiro fixo de visitação? O museu já oferece alguma atividade educativa posterior
a visita? Existe um espaço diferenciado para atividades didáticas do professor? Estas e outras
questões são rapidamente esclarecidas em conversa prévia e podem evitar inúmeros atropelos
e desentendimentos no momento da atividade no museu.
O professor também deve observar o espaço global e o entorno do museu. Existe um
local adequado para realizar o lanche e o momento de lazer da turma? A área do museu conta
com uma lanchonete ou loja de lembranças? O local onde a turma irá desembarcar exige
algum cuidado especial como atravessar a rua ou dobrar uma esquina? Saber destas condições
oferecidas permite ao professor tomar decisões no momento do planejamento que irão fazer a
diferença na execução da atividade. A localização de algumas instituições, como o Museu do
Mamulengo situado no Sítio Histórico de Olinda, PE, não permite que o ônibus deixe a turma
na entrada do prédio. Assim é preciso planejar o trajeto a caminhar com as crianças. Por outro
lado, este mesmo museu dispõe de um pátio interno que é franqueado aos grupos de
estudantes para fazer o lanche e brincar livremente. Da forma semelhante, outros museus
situados em vias de grande movimentação, como o Museu de Arte de São Paulo, localizado
em plena Av. Paulista, ou o Museu Júlio de Castilhos (Porto Alegre, RS) requerem cuidados
adicionais no momento de desembarque e embarque dos estudantes que devem ser pensados
com antecedência.
Com esse diagnóstico inicial é preciso planejar uma sequência didática que preveja
três momentos: a inserção do tema da exposição a ser visitada no programa da disciplina e a
construção de um instrumento de registro da visita; a visita em si para a coleta de informações
sobre o tema estudado; o uso das informações do museu em sala de aula para aprofundamento
do tema estudado e a confecção de um produto final. Estes momentos devem estar ligados por
uma atividade a ser desenvolvida sucessivamente nos diferentes momentos e espaços. Ou
seja, é preciso trazer o museu para a sala de aula, levar os assuntos de aula para o museu e
retornar a sala com as informações e impressões da visita.
As atividades anteriores
Uma visita ao museu é sempre uma atividade motivadora para a turma. Os alunos
invariavelmente ficam agitados com a possibilidade de sair da escola e realizar um ‘passeio’,
com a possibilidade da realização de uma ‘não aula’, de um momento em que não será preciso
estudar. O professor não precisa concordar com essa primeira intenção dos alunos, mas
também não precisa contrariá-los ou desiludi-los com ameaças que não está disposto a
cumprir ou tarefas imensas que não tem disposição para corrigir. Ao contrário, propomos que
o interesse dos alunos seja mobilizado na direção de ajudar na própria organização da
atividade. Isso pode ser feito de diferentes formas: Alunos pequenos, do primeiro ciclo do
ensino fundamental, podem ser mobilizados para confeccionarem os crachás de identificação
com seus nomes, nome da escola, nome e telefone da professora. Alunos maiores podem ser
mobilizados com a produção das listas de passageiros que devem ser entregues ao motorista
do ônibus e à recepção do museu. Alunos do ensino médio podem ser divididos em comissões
que assumam diferentes tarefas para a operacionalização da atividade: orçamento do ônibus,
arrecadação, lanche... O importante nesta visão é reservar momentos em sala de aula para
realizar estas tarefas, no caso dos menores, ou para verificar o andamento de tarefas
extraclasse. Assim como é importante o professor reconhecer que esta capacidade de
organização da atividade já representa um aprendizado sócio-histórico, um aprendizado sobre
como os grupos sociais percebem e se organizam para a realização de trabalhos coletivos e
como cada indivíduo se organiza na dimensão temporal (Rusen, 2001; Hartog, 2006).
Mas também é preciso deixar muito claro com a turma qual será o foco da atividade.
Para isso é importante que a visita ao museu esteja articula com as atividades didáticas
ocorridas em sala de aula, com os conteúdos que estão sendo estudados no período da visita.
Uma vez anunciada e marcada a data da visita ao museu o professor poderá direcionar suas
aulas para temas que serão vistos na exposição fazendo uso de frases como “poderemos ver
objetos como este na visita ao museu” ou “no museu que vamos visitar existem peças
relacionadas a esse assunto”. Frases assim servem tanto para o reforço do conteúdo a ser
estudado como para produzir lentamente nos alunos a percepção que a visita não será apenas
para diversão. O que certamente aumentará o grau de comprometimento dos alunos na
atividade.
Desta forma propomos que na sala de aula, antes da visita ao museu, a turma seja
mobilizada com indagações, questões, debates que requeiram informações disponíveis na
exposição. O planejamento da visita deve definir os conteúdos a ser explorados na visita.
Temas como os objetos da vida cotidiana de um determinado período ou local, os
instrumentos de trabalho de determinada atividade econômica. E os conceitos articuladores
destes objetos, como cotidiano e trabalho. Neste momento é interessante utilizar recursos
convencionais, como livros didáticos e materiais de divulgação do próprio museu, como
cartazes e panfletos. Diversos museus mantêm páginas de internet onde é possível visualizar
detalhes da exposição e que também podem ser explorados nesta preparação da visita. Todos
estes movimentos têm como objetivo levar o aluno a reconhecer o museu como espaço para a
descoberta de novas informações.
Para que a exposição seja vista e explorada como fonte de informação é preciso definir
com os alunos a forma de registro que será feito durante a visitação. O instrumento mais
utilizado para isso é o relatório: texto extenso onde se descreve a maior quantidade de
informações coletadas na visita, sem a necessidade de articular estes dados entre si ou com as
informações das aulas anteriores. Trabalho cansativo, tanto para o aluno que realizar como
para o professor que deve corrigir. Por ser muito abrangente também facilita que o aluno não
relacione a visita com o conteúdo que está sendo trabalhado em sala de aula. Por isso é
importante que no momento da proposição do relatório seja recortado um foco, um ou mais
temas a serem explorados no texto.
Outra ferramenta tradicional é a ficha de observação. Comumente este instrumento é
construído e distribuído pelo professor na chegada do museu. Lembramos que as fichas de
observação podem ser construídas em aula com a turma definindo que dados interessa coletar
no museu visitado. Nessa construção coletiva o professor deve cuidar para incluir itens que
interessam ao assunto estudado. É importante o professor ter presente que dados estão
disponíveis nas peças em exposição, mas também pensar que incluir perguntas que não serão
Por fim, não importa qual desses registros seja utilizado, é importante combinar com a
turma, antes da visita, a confecção de um produto final para o momento posterior a visita. O
museu se fundamenta no estudo materialidade dos objetos – tangíveis ou intangíveis – e nada
mais natural que utilizar a materialidade para finalizar a atividade. Lembre que o produto final
deve estar associado à forma de registro proposta. Ao solicitar a produção de relatórios
teremos como produto final a entrega destes relatórios. Já as fichas de registro podem ser
transformadas em um catálogo da exposição. As fotografias podem formar painéis que
remetam aos diferentes momentos e aspectos da visita.
A visita em si
Então é hora da vista. Invariavelmente esse momento não acontece exatamente como
foi planejado. Isso não é motivo para não realizarmos o planejamento, lembre que sem o
planejamento estaríamos menos preparados para os imprevistos. O conjunto de reflexões que
foram feitos, no momento da formalização e da escrita do plano, nos apontou possíveis falhas
e nos permitiu pensar com antecedência como resolvê-las. Assim se o ônibus atrasou, já se
havia marcado sair mais cedo; se um aluno não trouxe a autorização, ele ficará na escola com
uma atividade diferenciada já preparada; se o monitor não atender as expectativas da turma o
professor já tem informações básicas sobre o tema da exposição e sobre os conteúdos que
deseja destacar.
Chegando ao museu o primeiro passo, como deve ter sido previsto no roteiro feito com
a turma, é sempre reunir o grupo em um local próximo ao ônibus e somente depois ir, em
grupo, para a entrada do museu. Não é aconselhável que os alunos já desembarquem no local
se dispersem tão pouco que entrem diretamente no espaço de exposição.
É recomendável que o professor que fez a reserva procure a recepção, confirme o
agendamento e espere as instruções. Cada museu tem uma rotina de recepção, mas elas
passam, via de regra, pela indicação de um mediador que irá acompanhar o grupo. É
importante que o professor converse rapidamente com esse mediador retomando o assunto
que a turma está estudando, e o que espera que seja destacado na visita, bem como descreva
brevemente o perfil da turma. Estas informações simples são essenciais para o mediador
definir suas ações e possibilitar uma visita mais prazerosa e proveitosa. Outro cuidado é o
próprio professor fazer a apresentação do monitor à turma.
É comum os professores se afastarem da turma durante a visitação, mas isso tem duas
implicações negativas: primeiro sobrecarrega o mediador que não tem a responsabilidade de
Não podemos esquecer que a visita ao museu também é um passeio, também deve ser
divertida para os alunos. Julgamos que a melhor forma de evitar que os alunos se dispersem
durante a visita ao museu e deixem de acompanhar a atividade é combinar com eles
antecipadamente o local e o momento da confraternização. Assim cada aluno passa a esperar
por este momento que, para eles, é o mais importante do passeio: a hora do recreio. É
interessante que o professor participe deste momento se integrando ao grupo e também se
divertindo. Locais como o Museu Regional de Olinda (Olinda, PE) dispõem de um pátio
interno lindamente arborizado e ajardinado que é oferecido aos professores para a realização
do lanche. Espaços mais modernos como o Museu do Futebol (São Paulo, SP) possuem bares
no seu entorno e a permissão para o uso desses espaços deve ser bem ponderada.
Instituições como o Museu do Ceará (Fortaleza, CE) têm atividades especiais para a
serem oferecidas aos alunos no momento posterior a visita tais como oficinas de desenho ou
jogos relativos à própria exposição. Caso isso não exista é possível o professor propor uma
dinâmica, uma brincadeira possível de ser realizada pelo grupo no espaço disponível ou no
pátio do museu. Papel e lápis de cor são recursos suficientes para a realização de atividades
simples como a produção de um texto ou de um desenho alusivo a exposição. Lugares como o
Museu da Abolição (Recife, PE) possuem um amplo pátio onde é possível brincar de pega-
pega, mas o mais recomendado são jogos de roda e dinâmicas de atenção como adoleta, jogo
de mímicas ou de perguntas e respostas sobre os objetos expostos.
As atividades posteriores
cognoscíveis. E esta rigorosidade metódica não tem nada que ver com o
discurso ‘bancário’ meramente transferidor do perfil do objeto ou do
conteúdo. É exatamente neste sentido que ensinar não se esgota no
‘tratamento’ do objeto ou do conteúdo, superficialmente feito, mas se alonga
à produção das condições em que aprender criticamente é possível.” (Freire,
1996, p. 26)
Ao longo do texto esperamos ter deixado claro que é possível trazer o museu e seus
objetos para dentro da sala de aula. Este movimento, contudo, exige o que Paulo Freire chama
de “rigorosidade metódica,” uma postura consciente, uma conduta planejada de quem deseja
produzir situações onde a leitura do objeto museológico não se limite a decodificação, onde o
estudo das informações da exposição não se confunda com a memorização, e o pensar sobre o
passado não se limite a repetição do que já se sabe.
Um bom planejamento é mais que uma prescrição das atividades que serão realizadas
ou um texto escrito a ser entregue a burocracia. O planejamento de ensino é uma ferramenta
de reflexão sobre a prática pedagógica que será realizada. Ao colocar no papel os objetivos da
ação, dos conteúdos focados e dos procedimentos a serem realizados estamos materializando
na escrita nossa concepção sobre o significado da prática pedagógica. É no momento da
escrita que verificamos a coerência da atividade com nossas intenções e nos defrontamos com
os limites concretos para a sua realização.
Nossa proposta é que a atividade didática com o museu não se limite ao momento da
visita. Ao contrário o museu pode e deve ser colocado no interior da sala de aula e utilizado
como recurso didático para o ensino de história. Os museus sempre foram pensados como
espaço de aprendizagem, uma aprendizagem mediada pelo objeto, uma aprendizagem
amparada na concretude do objeto cultural, das relações sociais existentes no tempo e no
espaço. Suas exposições estão aguardando quem esteja disposto a interpretá-las.
Para isso é preciso superar a ideia de que a vista ao museu se encerre em si mesmo. Ao
contrário faz-se necessário um projeto didático que estabeleça atividades que se iniciem na
sala de aula antes da visita, que se desdobre em ações concretas durante a visita ao museu, e
volte à sala de aula como informação qualificada a ser confrontada com os demais recursos
didáticos. Ou seja, um planejamento que possibilite que as informações do museu e da sala de
aula se completem.
Defendemos que uma ação educativa que envolva escola e museu deve focar não
apenas das informações históricas específicas. Ela deve prever o uso de conceitos históricos e
a aplicação de procedimentos de pesquisa. Deve ainda promover a sensibilização dos
estudantes sobre o papel dos museus como lugares de memória na sociedade contemporânea.
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