As Mulheres Na Revolução Francesa

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 8

A MULHER E A REVOLUÇÃO FRANCESA

Delacroix, Eugène. La Liberté guidant le peuple. Museu do Louvre, Paris. 1830.

1
INTRODUÇÃO

A Revolução Francesa foi um marco político e ideológico para a civilização ocidental.

Diversos paradigmas estabelecidos pelo Antigo Regime foram quebrados pelas

conquistas revolucionárias. Tal movimento se estendeu de 1789 a 1815, com a queda de

Napoleão Bonaparte.

A França do século XVIII era o país mais

populoso da Europa, a população vivia em Alguns artigos da Declaração dos Direitos


do Homem e do Cidadão
constantes crises econômicas e agrárias,

onde as idéias do Iluminismo ganhavam Art.1.º Os homens nascem e são livres e


iguais em direitos. As distinções sociais só
mais espaço. O movimento revolucionário
podem fundamentar-se na utilidade comum.
se estabeleceu para tentar colocar fim a
Art. 2.º A finalidade de toda associação
problemas crônicos dos franceses,
política é a conservação dos direitos naturais
acabando com os privilégios da nobreza,
e imprescritíveis do homem. Esses direitos

criando uma constituição laica e são a liberdade, a propriedade, a segurança e


a resistência à opressão.
formulando uma das mais preciosas

declarações já feitas: a Declaração dos Art. 3.º O princípio de toda a soberania


reside, essencialmente, na nação. Nenhum
Direitos do Homem e do Cidadão. Esse
corpo, nenhum indivíduo pode exercer
documento concede aos franceses
autoridade que dela não emane

igualdade, fraternidade e liberdade. expressamente.

Entretanto, “uns eram mais iguais que


Art. 4.º A liberdade consiste em poder fazer
outros” e logo ficou claro que determinados tudo que não prejudique o próximo: assim, o
exercício dos direitos naturais de cada
segmentos da sociedade não possuíam tanta
homem não tem por limites senão aqueles que
liberdade para participar dos assuntos

franceses.

2
Ainda sim, é indiscutível que, a

principal herança da Revolução

Francesa seja o estabelecimento

dos direitos primordiais dos

homens, ou seja, o direito à vida,

à propriedade e à liberdade.

Um exemplo de segmento

excluído foi o das mulheres, que

apesar de participarem dos

movimentos revolucionários de

Representação da Declaração dos 1789, tiveram seus direitos de


Direitos do Homem e do Cidadão de 1789
participação política vetados pelos

homens revolucionários. Nesse contexto, as mulheres começarão a reivindicar mais

atenção para seus problemas e aparecerão para definir seu papel na sociedade. A partir

dessas ações revolucionárias, a causa feminina ganhará voz para vir se consolidar no

século XX. É sobre isso que o presente artigo irá tratar, sobre a situação feminina

durante a Revolução Francesa.

A MULHER E A REVOLUÇÃO FRANCESA

Ao contrário do que se pensa, o século XIX não é um período de uma absoluta

submissão das mulheres. Este é o século ao qual nasceu o movimento feminista que

obteve tanto sucesso no século XX. A mulher busca sair da posição de esposa, de mãe,

de mulher submissa, para almejar um papel de cidadã, de trabalhadora, de indivíduo

perante a sociedade.

3
Pode-se dizer que essa tentativa de sair de uma posição marginal teve início já nos fins

do século XVIII. A posição mais presente das mulheres foi capaz de “movimentar” a

Revolução Francesa, pois eram elas que estavam por trás dos homens dando-lhes

coragem e iniciativa. Segundo Michelet, “As mulheres estiveram na vanguarda da

nossa Revolução. Não é de admirar: elas sofriam mais.” 1 Foram elas, que reuniram-se

para protestar contra a fome e pedir pão no Palácio de Versalhes, e em seguida foram

seguidas pela Guarda Nacional.

No período que se estende dos fins do século XVIII ao início do século XIX, havia uma

definição muito bem marcada das tarefas femininas e masculinas. Cada um sabia

exatamente qual era seu lugar na sociedade. Para mulher cabia a função de ser boa

esposa, boa mãe e dos cuidados com a casa. Em alguns lares, devido à necessidade, elas

trabalhavam em serviços temporários, em tarefas ditas não-qualificadas. Já o homem era

o responsável pelo trabalho pesado, estava sempre envolvido em assuntos políticos e

econômicos. Esses dois mundos raramente se misturavam.

Entretanto é errado pensar que não havia interesse político por parte das mulheres. Ao

contrário, apesar dessa segmentação, elas discutiam suas opiniões políticas com outras

mulheres. Devido ao pensamento machista da sociedade, elas tiveram sua participação

política na Revolução vetada. Contudo, arrumaram uma forma de participar: estavam

sempre presentes nos tribunas abertas ao público.

A partir de 1789, as mulheres buscam ser ouvidas. Fazem isso por meio de textos

manuscritos ou impressos e discursos orais visando um público mais ou menos extenso.

Essa leitura não era apenas feita por mulheres, mas também por amigos e familiares.

1
Michelet, Histoire de La Révolution Française. Ed.Pléiade, I, página 254.

4
Um dos eventos que marcaram a participação da mulher na Revolução ocorreu em

março de 1792, quando Pauline León, leu na tribuna uma petição assinada por trezentas

mulheres, reivindicando o direito de se organizarem em Guarda Nacional. Os

revolucionários não permitiram tal organização.

Em 24 de julho de 1793 é aprovado pela Convenção, o Sufrágio Universal Masculino,

que excluía a mulher do direito de voto, ou seja, à mulher foi concedido apenas o direito

de permanecer atuando indiretamente na política, como não-cidadãs.

A formação de uma Guarda Nacional, a participação na Assembléia e o direito ao voto

representavam a condição de igualdade entre os sexos e cidadania. A negação desses

direitos traduz claramente a oposição e a divisão entre o sexo feminino e masculino.

Apesar das respostas negativas que obtiveram, as revolucionárias se reuniram para

informar a Convenção da sua não aprovação ao Sufrágio Universal, exigindo o direito

das mulheres, também. Este protesto, perante a decisão da Convenção, acabou

transformando um ato de um único grupo privado do direito político, para a ação e

contestação de vários e diferentes indivíduos.

Nesse contexto, três grandes autores escreveram sobre


Marry
os direitos da mulher: Olympe de Gouges, Condorcet Wollstonecraft

e Mary Wollstonecraft. Para eles, era função da


Olympe de
Gouges Revolução tratar da igualdade dos sexos, era um

assunto de extrema urgência. Segundo Condorcet,


Condorcet

“ou nenhum indivíduo da espécie humana tem verdadeiros direitos, ou todos têm os mesmos; e
aquele que vota contra o direito de outro, quaisquer que sejam a sua religião, a sua cor ou o
sexo, abjurou, a partir desse momento, dos seus próprios direitos.” 2

2
Condorcet, Journal de la Société de 1789, Nº5. Publicado em 3 de julho de 1790.

5
No entanto, a mentalidade machista ainda governava a França e toda Europa, logo, não

seria tão simples garantir a igualdade dos sexos. Os homens não aceitavam que as

mulheres pudessem se envolver com a vida pública e postergaram o quanto puderam a

igualdade dos sexos.

Apesar disso, a Revolução Francesa mudou a condição feminina, não só porque mudou

a condição de toda a França, mas também porque a partir desse momento, passa-se a

questionar o papel e os direitos da mulher. É através do período revolucionário, que as

mulheres começam a perceber que não precisavam ser submissas aos homens,

começaram a ver que eram seres humanos completos, tais como seus pais e maridos.

Também conquistaram direitos sobre o estado civil e o divórcio (1792) e se estabeleceu

os mesmos direitos de autoridade paternal para o pai e para a mãe (1793). A conquista

desses direitos representa a abertura da visão machista em prol dos direitos feministas.

Traduz-se no caminho para a conquista dos direitos civis.

CRONOLOGIA

• 14 de julho de 1789 – As mulheres


vão a Versalhes reivindicar pão e
protestar contra a fome.

• Em julho de 1790, Condorcet


publica Sur l’admission des
femmes au droit de cité.

• Em setembro de 1791, Olympe de


Goouges escreve a Declaração dos
direitos da mulher e da cidadã.

• Em 1792, foi conhecida a tese da


inglesa Mary Wollstonecraft:
Vindication of the rights of woman.

• Em 1792 as mulheres conquistaram


direitos sobre o estado civil e sobre
o divórcio. Avant-garde des femmes allant à Versailles – Pintura
que retrata a ida das mulheres a Versalhes para
reivindicar pão e protestar contra a fome e a miséria
que se instalou na França.

6
• 6 de março de 1792 – Pauline León lê uma petição assinada pelas mulheres para
permitir a organização da Guarda Nacional.

• 24 de julho de 1793 – É aprovado pela Convenção o Sufrágio Universal Masculino,


excluindo as mulheres do direito ao voto.

• Em 1793 se estabeleceu os mesmos direitos de autoridade paternal para o pai e para a


mãe.

PARA SABER MAIS...

• Procure sobre a história de Olympe de Gouges, Manon Roland, Charlotte

Corday, que foram mulheres ativamente ligadas a Revolução Francesa. Suas

participações dentro da Revolução foram de tamanha importância que marcaram

o rumo da Revolução. Vale a pena conferir!

• Não existem filmes específicos para o papel da mulher na Revolução, mas foram

criados belos filmes tratando da Revolução Francesa:

Danton - O Processo da Revolução Casanova e a Revolução


Título Título original: (La
original: (Danton) Nuit de Varennes)
Lançamento: 1982 Lançamento: 1982
(França e Polônia) (França) (Itália)
Direção: Andrzej Direção: Ettore
Wajda Scola
Atores: Gérard Atores: Jean-Louis
Depardieu , Wojciech Pszoniak , Barrault , Marcello
Anne Alvaro , Roland Blanche , Mastroianni , Hanna Schygulla ,
Patrice Chéreau Harvey Keitel , Jean-Claude Brialy
Duração: 130 min Duração: 150 min
Gênero: Drama Gênero: Drama

BIBLIOGRAFIA

• Arendt, Hannah. Da Revolução. São Paulo: Ática e UNB, 1988.

• Hobsbawm, Eric J. A Era das Revoluções: 1789 - 1848. São Paulo: Paz e Terra, 1977.

• Hobsbawm, Eric J. A Revolução Francesa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

7
• Hunt, Lynn. “Revolução Francesa e vida privada.” In: História da vida privada: da
Revolução Francesa à Primeira Guerra, por Michelle Perrot. São Paulo: Companhia
das Letras, 1991.

• Marques, Adhemar Martins, Flávio Costa Berutti, e Ricardo de Moura Faria. “As
Revoluções Burguesas.” In: História Contemporânea através de textos. São Paulo:
Contexto, 1994.

• Péronnet, Michel. “Mulheres.” In: A Revolução Francesa em 50 palavras. São Paulo:


Brasiliense, 1988.

• Perrot, Michelle. “Mulheres.” In: Os excluídos da História. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1988.

• Perrot, Michelle e George Duby. História das Mulheres no Ocidente - Século XIX.
Porto: Edições Afrontamento, 1991.

• Adoro Cinema. 15 de 11 de 2010. http://www.adorocinema.com/.

Você também pode gostar