Feira Dos Anexins by Francisco Manuel de Melo PDF
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* * *TIPOGRAFIA DA PARCERIA
ANTONIO MARIA PEREIRA* * *
* * *RUA AUGUSTA ,44, 46, 48
* * *LISBOA* * *
FEIRA DOS ANEXINS
OBRA POSTHUMA
DE
2-a EDIÇÃO
1916
PARCERIA ANTONIO MARIA PEREIRA
LIVKAKIA EDITOKA
Rua Augusta, 44 a 54
LISBOA
«A outra obra inedita de D. Francisco Manueli que lemos, e
de que possuímos uma copia, é a Feira de Anexins, livro
curioso, em que estão lançadas methodicamente as metaphoras e
locuções populares da lingua portugueza, e que seria quasi um
manual para os escriptores dramáticos, principalmente do
gênero cômico, que quizessem fazer falar as suas personagens
com phrase conveniente, e com as graças e toque próprio da
nossa língua portugueza e do verdadeiro estylo dramático, cousa
a mais difficil, talvez, n'este gênero de litteratura. e de que tão
arredios andam os que ora o começam a cultivar entre nós,
embuidos dos destemperos, escaraccose expressões
falsrssimas,.que aprendem pelos livros do visconde
d'Arlincourt, e ainda dos grandes auctores dramáticos francezes,
etc, etc.»
II
III
IV
PRELIMINARES 35
v
Já no Diccionario bibliographico (tomo IX,
impresso em 1870, a pag. 331) cremos ter
levado á evidencia o erro manifesto em que
laboraram todos os biographos de D.
Francisco Manuel (1) (e em que também por
falta de reflexão nós tropeçámos n'outro
tempo) suppondo dictada ou escripta por Luiz
XIII de França, cinco annos depois de falecido
a 14 de Maio de 1643, uma carta de
intercessão dirigida em favor do preso a el-rei
D. João IV, a qual tem a data de 6 de
Novembro de 1648. Parece que em negocio de
tão simples e clara intuição ficavam de uma
vez desfeitas todas as duvidas, e não haveria
margem para novas repetições do mesmo erro.
(i) Talvez não tarde muito que isso se patenteie por modo
irrecusável. As cem redificações, miudamente analliysadas e
rectificadas, ficarão reduzidas ao seu justo valor.
PRELIMINARES 43
24 de Agosto de 1875.
J. F. da Silva.
PARTE PRIMEIRA
METAPHORAS
ou
FEIRA DE ANEXINS
A QUE A VULGATA NESCIA APPLAUDE POR EQUÍVOCOS,
TRAZIDOS A PUBLICO
PARA DESENGANO DA DISCRIÇÃO PRUDENTE
PELO
QUARE ?
METAPHORAS OU FEIRA DE ANEXINS
PARTE PRIMEIRA
DIALOGO PRIMEIRO
Em metaphora de cabellos
§ 1.
Em metaphora de cabeça
§ 2.°
Em metaphora de testa
§ 3.°
Em metaphora de cara
— Que tal?
— A da «Carochinha.»
— Não buscará outra mais cara, que essa é
mui barata?
— Pois digo-lhe, que ainda com a carocha é
esta historia o feitiço das creanças.
— Adeus, meus amigos.
— Não diga tal, que vossê é cara de poucos
amigos.
— Não mo disse na cara; mas vossê é que
os não sabe grangeár: que é mais secco que
um carapau; e a cara pôde desmammar
meninos.
— Baila carapêta.
§4.
Em metaphora de rosto
§ 5.°
Em metaphora de faces
§ 6.°
Em metaphora de olhos
§ 7.
Em metaphora de narizes
§8.°
Em metaphora de boca
§ 9.°
Em metaphora de dentes
§ 10.
Em metaphora de beiços
— Ambos que?
— Os seus beiços.
— Olhem o beiço d'alguidar, com que se saiu!
— Só para aquillo tem elle lingua.
§11.
Em metaphora de lingua
§ 12.°
Em metaphora de queixo
§ 13.°
Em metaphora de barba
§. 14.
Em metaphora de orelhas
Em metaphora de corpo
§ 1.°
Em metaphora de pescoço
§4.°
Em metaphora de mãos
§5.°
Em metaphora de dedos
§ 6.°
Em Metaphora de unhas
§ 7.°
Em metaphora de peito
§8.°
Em metaphora de mama
§ 10.°
Em metaphora d'estomago
§ 11.°
Em metaphora de pernas
§ 12.°
Em metaphora de pés
— Eu em um pé os alcanço.
— Vossê entrou com o pé direito ; sabe muito,
mas anda a pé.
— Ao menos não affasto o pé do assumpto.
— Aquillo traz pé de cantiga.
— Pois não! Se o senhor, em lhe achando
difficuldades, ah pés para que te quero!
— Eu a pé quedo sigo as metaphoras: vou
com o assumpto mui pé ante pé; e vêem-me
occorrendo ali os equívocos pelo pé, como as
cerejas.
— Quanto se eu os houvera de dizer como
os seus, que não têem pés, nem cabeça, eu os
dissera ahi do pé para a mão: que em ser
prompto me não chega vossê com a ponta do pé.
— Eu cá, estou com um pé no ar, como
grou, ouvindo-os a vossês gabar-se: porém,
não quero dizer nada; que ainda não pondo o
pé já faço pegada.
— Bom pé de verso! Esse foi zaimbo.
— Não o digo eu! Debaixo dos pés se
levantam os callos: hei de arrimar os pés á
parede a não dizer nada.
— Ora diga, meu senhor! Se o offendi, aqui
me tem a seus pés.
— Elle, em que lhe pez, ha de dizer o que
souber.
— Eil-o seguindo a metaphora ao
passapello.
— O equivocosinho merece encastoado em
pez.
— Ai o senhor, que lhe dão o pé, e toma a
mão! Faz-se coxo d'um pé, para nos dar uma
carreira.
OU FEIRA DE ANEXINS 93
Em metaphora de coração
§ 1.
Em metaphora de sangue
§2.
Em metaphora de tripas
§3.°
§4.°
m
100
METAPHORAS
§ 5.°
§ 6.°
§ 7.°
Em metapliora de humores
Em metaphora d’alma
— Porque?
— Porque não sei que almas christãs haverá,
que aturem a sua arenga: em começando, agonia-
se-me a alma.
— Venha cá, alma perdida: que graça quer
achar em metaphoras serias?
—N'essas, acho eu mais alma: que como
tem alma de cera, podem-se torcer como
quizerem.
— Apegou-se-lhe o serio, por ser cousa de
cera, como se fora com almacega.
— Homem, se não sabes que cousa é serio,
pede para as almas, e ensinar-te-hão.
— Isso é para a cera.
— Aquillo de cera, foi caracter que se lhe
imprimiu na alma.
— Pois que cousa é metaphora séria? E'
alguma sereia, com que aqui nos querem
encantar?
— E' uma figa para a sua alma de cantaro.
— Por amor do quebranto, não lhe será pouco
necessaria a figa.
— Eis ahi um equivoco limpo e secco.
— Eu digo-os com toda a limpeza, sem ser
almotacel.
— Tem-me feito somno esta metaphora:
haverá aqui alguma almofaça?
— Ora aquiete a sua alma.
— Por minha alma trinta missas, que estou
podre de somno, e tenho de ir para Almeirim.
§ 1.°
Em metaphora de potencias
§ 2.°
Em metaphora de sentidos
§3. °
Em metaphora de vêr
§4. °
Em metaphora d'ouvir
§ 5.°
Em metaphora de cheirar
§ 6.°
Em metaphora de gostar
§ 7.°
Em metaphora de palpar
v
DIALOGO QUINTO
Em metaphora de acções
§ 1.°
Em metaphora de chorar
§ 2.°
Em metaphora de rir
— Rossim.
— Como se lhe alegra o olho com o dito!
Pegue-me aqui nas alegrias.
— Que cousas são alegrias ?
— São tuberas.
— Eu não jogo.
— Vá de pulhas, que a metaphora é de joco.
— Pois vossês com isso se alegram ?
— isso não vale ; e ainda que o senhor
imaginou, que estávamos em o Mondego, este
não é o Valle da Alegria.
— Muito miolo tem: ha mister alegrar-lhe
os cascos, que creio, lhe não cabem na cabeça.
— Contentou-lhe aquelle equivoco?
— Almas santas, que lhe contente.
— Não esteja tão contente; que eu quando
falo, vou mais comtento, e não me contenta
tudo o que ouço.
— Nunca é contente : sempre dá máo grado.
— Se o ouvir parvoices para mim é um
degredo ! Que agrado quer vossê que mostre a
cousas tão pouco agradaveis ? Nem que me
cobrissem d'ouro.
— Pois se nos quizer ouvir, ha de ser gratis.
— Não sou para essas galhofas : sou um corpo
velho, incapaz de romarias ; já se me acabaram
as fúrias. Deixe-me ir jantar.
— Lembraram-lhe as galhofas.
— Espere, que temos muita fatia.
134 METAPHORAS
§ 3.°
Em metaphora de comer
§4. °
Em metaphora de beber
5.°
Em metaphora de ouspir
§ 6.°
Em metaphora de cocar
§ 7.°
Em metaphora d'andar
§8.°
Em metaphora de falar
§9.°
Em metaphora de dormir
Em metaphora de cama
§ 1.°
Em metaphora de camisa
§ 2.°
Em metaphora de vestido
§3. °
Em metaphora de calçar
— Teve graxa !
— Ora vá-se surrrando, não lhe cheguem ao
cordovão.
— A agua de corda-vão cheirando os seus
equivocos.
— Oh! já vossê aperta como sapato novo!
Parece, que lhe hão de metter a fôrma em
fôrma.
— Está mal informado: não se metta em
debuxos, que me embezérro.
— Tire a mão da faquinha, que só vel-a, me
causa medo.
— Não é elle o cravador, que dê furo aos
ameaços, mas que se ponha no pino.
— Isso foi pinote.
§ 4.°
Em metaphora d'espada
§5. °
Em metaphora de chapeo
DIALOGO PRIMEIRO
Em metaphora de Deus
§ 1.°
Em metaphora de céo
§2°
Em metaphora de anjos
§3.°
Em metaphora de fogo
§ 4.°
Em metaphora de agua
§ 5. °
Em metaphora de ar
§ 6.°
Em metaphora de terra
Em metaphora de aves
§1.°
Em metaphora de animaes
t
202 METAPHORAS
§2.°
Em metaphora de bichos
— Ao cheiro da moscovia?
— Não, do moscatel.
— Já elles começam a picar, mas guardem-se,
não me encha eu de brotoeja que os hei de ir
enxotando, como as vinhas.
— Bato-que vossê cá, pode ser que o
espichem.
— Ao menos põe-se em risco de lhe
metterem os tampos dentro.
— Muito tempo ha, que a elle !he falta uma
aduéla.
— Olhe não lhe vá aos quartos.
— Não fale com a boca na torneira, só tonei
com calções, e pipa com capa.
— Mereceu agora dous piparotes,. porém é
tarde, vou-me por baixo dos Arcos, que já o
joanico (que ainda não perdeu a confraria da
camaldola) estará com as lanternas. Também
vossê lhe resa pela conta benta ? Nunca esse
bêbado me encheu as medidas.
— Elle é uma vasilha, mas anda enfrascado
na beatice.
— E' conveniencia pedir para a candêa,
mandal-o trabalhar — hoc opus hie labor est.
— Victor equivoco, ó copos: pois quem
melhor que elle tira uma nódoa ?
— A sua não lava elle com muita agua.
— Olhem os diabos dos mosquitos o que
foram fazer ! Eu não enxergo metaphora, nem
signal d'ella.
— Espere, que elle engrilla-se comigo.
— Isto foram pragas.
— O Grillo dava isto no seu prognostico.
— Besouro ! Mau agouro ; temos reportorios,
216 METAPHORAS
§ 3.°
Em metaphora de peixes
§4.°
Em metaphora de marisco
Em metaphora de ponto
FABULA PRIMEIRA
Das flores
FABULA SEGUNDA
Dos fructos
Da hortaliça
Dos legumes
Do pão
Das carnes
Dos pescados
FIM
INDICE
PAG
Preliminares .................................................................................... 5
PARTE PRIMEIRA
PAG.
§ 5.° Em metaphora de dedos .................. 85
§ 6.° » » de unhas ............... 86
§ 7. ° » » de peito ................. 87
§ 8.° » » de mama ................. 88
§ 9. ° » » de barriga............ 89
§ 10.° » » de estômago ......... 90
§ 11.° » » de pernas.............. 90
§ 12°. » » de pés..................... 91
PAG.
PARTE SEGUNDA
PARTE TERCEIRA