Ritmos Do Candomblé KEtu Na Bateria PDF
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ESCOLA DE MÚSICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO PROFISSIONAL EM MÚSICA
Salvador
2017
Salvador
2017
Ficha catalográfica elaborada pela
Biblioteca da Escola de Música - UFBA
CDD: 781.53
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
ESCOLA DE MÚSICA
~
outora  ela Elisabeth Lü~
Pe 4 Jt i1A(J-f).wfilrl
Doutor Pedro Amorim de Oliveira Filho
1 ri 1t ltJ _1n
Mest~ r l . í~ael Na~ to Ezequiel
RESUMO
ABSTRACT
This document includes the final work presented to the Professional Postgraduate Program in
Music of UFBA and its main objective is to propose adaptations of Candomblé Ketu rhythms
for drumset, from de pratices of the musician and alabê Iuri Passos. Initially will be presented
a Memorial, where the summary of the musical history of the author, emphasizing the trajectory
covered during the course, will be described. Then an academic article that elaborates initial
notes on a Theory of Learning of the Drumset will be shared. In the sequence, the search result
will be presented in book-method format for the instrument, where four rhythms of Candomblé
Ketu and their respective adaptations in the drums will be explained. The transcripts and
adaptations described in the method will also be shared in audiovisual format, in DVD attached
at the end of it. Closing, reports, describing the practices performed in the period, will be
presented.
SUMÁRIO
1 Memorial .................................................................................................................... 7
1.1 Introdução ..................................................................................................................... 7
1.2 A pré-história ................................................................................................................. 7
1.3 A história ....................................................................................................................... 9
1.3.1 Disciplinas ...................................................................................................................... 10
1.3.2 Atividades Obrigatórias ................................................................................................ 11
1.3.3 Pesquisa e orientações ................................................................................................... 14
1.3.4 O produto ....................................................................................................................... 16
1 Memorial
1.1 Introdução
1.2 A pré-história
Acabando o Ensino Médio, defini minha profissão: músico, cantor. Tentei Vestibular
para canto na UFBA mas não passei. Depois entendi que não seria bem o meu perfil e descobri
que existiam cursos de graduação voltados ao ensino da Música Popular. Participei de processos
seletivos para bacharelado em canto popular em duas Instituições. Mas no mesmo descobrir
que a voz não seria meu instrumento principal.
Além de buscar livros e outros CDs que tratassem do tema, o já citado amigo Rodrigo
Lima me apresentou um colega seu de faculdade, o percussionista, alabê e educador musical
Iuri Passos; o mesmo que havia tentado contato sem sucesso alguns anos antes. Tudo só
acontece no tempo que deve acontecer!
Então, comecei a fazer aulas com Iuri, iniciando, a meu pedido, com o toque Vassi.
Nessas aulas registrava em partitura principalmente as variações do rum (tambor solista).
Posteriormente, em casa, tentava elaborar algumas adaptações a partir do material absorvido
nas aulas com Iuri. Esse processo foi ganhando corpo e “Adaptações do Vassi para a Bateria”
foi o tema do TCC da minha graduação que, sob a orientação de professor Pedro Dias, culminou
num artigo de mesmo nome e em um recital onde compartilhei alguns resultados encontrados
no processo.
Mesmo este memorial sendo referente à trajetória percorrida no mestrado, acredito que
minha trajetória anterior deve ser considerada, pois esse interesse pelo tema vem se construindo
ao longo do tempo. Nesse contexto, Iuri tem um destaque especial. Como no trabalho da
graduação, neste ele foi e é meu Mestre. Ele quem me ensinou muito do pouco que tenho
tentado compartilhar. Pensando em termos de pesquisa, ele seria o que está sendo “observado”.
Mas, não. Ele me ensinou mesmo. E esse trabalho é parte do resultado do jeito como eu venho
aprendendo (existe vários!).
1.3 A história
Iniciando o curso em julho de 2016, sempre tive bem definido o tema que desejava
trabalhar: adaptações de elementos rítmicos presentes na música de Candomblé Ketu para a
Bateria. Também sempre esteve claro que profissionais, professores e estudantes de Bateria era
o público alvo do trabalho. E foi pensando principalmente nesse público que elaborei o método
(produto). Pouco do objetivo principal mudou. O que mudou foi minha percepção em relação
à importância do tema (aumentou muito!), e consequentemente minha responsabilidade em
tratar de um assunto extremamente complexo. O caminho que percorri nesses quinze meses
muito me ajudou no posicionamento do trabalho, deixando mais claro para mim suas as
potencialidades e limitações. Optei por relatar esse percurso dividindo-o de acordo com caráter
das atividades e ações: Disciplinas; atividades obrigatórias; pesquisa e orientações; o produto.
10
1.3.1 Disciplinas
No segundo semestre tive a oportunidade (mais uma vez com professora Katarina) de
conhecer e estudar um pouco do conceito e exemplos de Community Music, podendo ao mesmo
tempo relacionar com minha prática de docência no Gantois (atividade que será relatada mais
à frente).
11
Meu intuito era aliar atividades que contemplassem a parte mais prática instrumental
(contemplando elaboração das adaptações, identificação e desenvolvimento de estratégias para
execução e estudo na Bateria, além de suas aplicabilidades em contexto musical) e a
transmissão desse conhecimento através de aulas para públicos variados. Assim sendo, seguem
um breve relato das atividades realizadas e seus desdobramentos no trabalho.
- 1º semestre: Optei que fosse um período voltado mais para a prática. Rowney topou e
me matriculei nas práticas “ Preparação de Recital/ Concerto Solístico” (MUSD53) e “Prática
em Criatividade Musical” (MUSD54).
-https://youtu.be/Xp462lYVglM
12
utilizavam o toque Jinká. Devido a uma mudança repentina e brusca realizada pela organização
do evento, infelizmente não foi possível nos apresentarmos.
-2º semestre: Esse período teve como foco aspectos educacionais, tanto no que se refere
às estratégias e recursos por mim utilizadas para uma maior proficiência com o instrumento no
tema, como também os mecanismos de compartilhamento desse conhecimento. Para tanto
foram realizadas quatro atividades: “Oficina de Prática Técnico-Interpretativa” (MUSD48),
“Prática Docente em Ensino Coletivo Instrumental/Vocal” (MUSD56), “Prática de educação
em Comunidades” (MUSD59) e “Pesquisa Orientada” (MUSD60).
13
apresentaria o método, bem como quais perspectivas adotar. Alguns exercícios estão
disponíveis no seguinte link:
-https://www.youtube.com/playlist?list=PL7l2IMO-GiEecgPZ7gNlthnrx5qaXC2az
14
No primeiro semestre tive encontros semanais com Iuri. Foi nesse período que
cataloguei os padrões rítmicos dos quatro toques. Nos dois semestres subsequentes apresentei
para ele os resultados das transcrições do Rum, corrigindo algumas distorções, além de mostrar
15
as adaptações para a Bateria. Concomitantemente fui elaborando o método. Nesse processo tive
enorme ajuda de Carlos Ezequiel e Rowney (respectivamente meus co-orientador e orientador).
Carlos foi essencial no que diz respeito aos aspectos técnicos do instrumento e sua
disposição no método. Nesse processo eu gravava vídeos das adaptações que produzia e
mandavam para ele. Carlos me mandava sugestões e dicas por e-mail ou mensagens da
whatsapp. Em uma dessas conversas, logo no início, lembro que ele me disse algo do tipo “tome
cuidado para que esse trabalho não vire apenas uma sequência lógica de exercícios. A música
tem que estar sempre em primeiro plano”. Desde então venho perseguindo isso.
Rowney me ajudou em tudo! Opinava sobre minhas performances nos recitais, sugeria
e discutia comigo sobre as questões gerais a serem abordadas no método etc. Conheço seu modo
de agir desde a graduação: atento a tudo, é sua característica proporcionar um ambiente
participativo, intervindo nos momentos exatos. Sua autoridade é construída não pelo status de
ser professor, mas sim por sua sensibilidade, competência e inteligências (múltiplas!). E assim
foi nesse período; para um observador desatento, Rowney estava deixando o trabalho “correr
solto”. Porém, ele estava sempre ligado em tudo, deixando que eu andasse, mas sempre me
mostrando os possíveis caminhos.
Ainda sobre a produção do método, iniciei uma busca por trabalhos que discorressem
sobre a aprendizagem na Bateria, para que assim eu pudesse embasar os caminhos adotados.
Não encontrei nada para o instrumento, e fui pesquisar outras áreas. Roninho me indicou
professor Paulo Novaes e o mesmo sugeriu algumas obras que tratam do tema a partir da prática
pianística. Escolhi duas (A arte de tocar piano: Uma abordagem científica de George
Kochevitsky e Teoria da Apredizagem Pianística: Uma abordagem psicológica de José Alberto
Kaplan) e elaborei algumas comparações de afirmações contidas em ambas com a
aprendizagem na Bateria. Carlos muito me ajudou discutindo as possibilidades e limitações de
abordar o tema. Como resultado parcial do processo, produzi um artigo denominado Teoria da
Aprendizagem da bateria: apontamentos iniciais e o mesmo foi aceito na XI CONFERÊNCIA
REGIONAL LATINO-AMERICANA DE EDUCAÇÃO MUSICAL–ISME.
Os três (Iuri, Carlos e Rowney) foram essenciais no processo. Iuri, pelos motivos
apresentados em outras partes desse texto. Carlos e Rowney por tudo aqui descrito e mais um
pouco. Vale ressaltar nesse “mais um pouco” as inúmeras correções e sugestões de ambos para
os meus artigos publicados (já citados).
16
1.3.4 O produto
Sabia que captar e editar áudio e vídeo proporcionaria mais de trabalho, mas o resultado
valeria a pena. Não tive verba para contratar esse serviço, mas vontade para editar os vídeos e
ajuda de Rodrigo Graça na captação e edição de áudio não faltaram. Também não posso
esquecer do enorme coração de Chico Gomes que (não só para gravar esses vídeos, mas
empréstimos de equipamentos para os recitais, ensaios etc) cedeu se estúdio. Antes de gravar,
ainda pensando no formato do vídeo, conclui que ter uma performance de Iuri de cada toque
estudado no trabalho seria perfeito, pois assim reforçaria a ideia de que as variações que
transcrevi são um pequeno recorte de um imenso universo. Não sei se conseguiria, visto que
Iuri também está em preparação para sua defesa no mestrado, correndo contra a tempo. Mas
como “mais vale um amigo na praça do que dinheiro no bolso” (e para gravar esses vídeos tive
3!), Iuri conseguiu um tempo e gravamos. Então registramos em vídeos além das performances
de Iuri (uma para cada toque), as variações do Rum que transcrevi e suas respectivas
adaptações.
17
O método está divido em três seções. A primeira compreende a parte introdutória; nela
é apresentada uma breve contextualização sobre o tema, além de diretrizes relativas à
utilizaçãodo livro.
Na segunda seção está o conteúdo didático do método. Nela são abordados os toques
Agueré, Vassi, Daró e Jinká. Para cada toque é dedicado um capítulo onde são apresentadas
transcrições dos instrumentos tradicionais e suas respectivas adaptações para a bateria. No final
da seção está um capítulo contendo padrões nos quais o pé esquerdo assume um papel de
protagonismo.
18
2 Artigo:
Teoria da aprendizagem da Bateria: apontamentos iniciais
2.1 Introdução
19
Para isso, serão aqui realizadas conexões e comparações com obras que tratam da
teoria da aprendizagem do piano, mais especificamente os trabalhos já citados anteriormente
de Kaplan (2013) e Kochevitsky (1967), com o ensino, aprendizagem e prática do instrumento
Bateria. Nesse momento, afirmações, indicações e direcionamento fornecidos pelos autores
serão analisados a partir da ótica do instrumento em questão, resultando em possíveis futuros
direcionamentos e posturas a serem assumidas e estudas por profissionais e alunos do
instrumento.
Além das obras supracitadas, o trabalho de Cerqueira (2009), o qual, a partir do estudo
de Kaplan, propõe um modelo para o ensino e aprendizagem da performance mais genérico (no
sentido de ser uma proposta aplicável a diversos instrumentos, que não apenas o piano), é
também utilizado como embasamento. Como referencial comparativo, serão utilizados livros
específicos para o instrumento, a exemplo de Formularo e Bergamini (2001).
20
No ensino de instrumento musical, seja ele qual for, a preocupação com o movimento
e seu estudo se apresentam como uns dos mais importantes tópicos. Sem dúvida, através do
domínio consciente dos movimentos do corpo em interação com determinado instrumento, é
possível alcançar determinado nível de proficiência desejado com maior brevidade.
Kaplan (2013, p. 14) afirma que “a técnica de execução do piano poderia ser
conceituada como sendo a melhor maneira de coordenar os variados movimentos”. Mais a
frente, em capítulo dedicado ao movimento (p. 25), completa reforçando que “o elemento
essencial da execução pianística é o movimento. “
Seguindo uma possível árvore genealógica do ensino da técnica Moeller, entre muitos
renomados bateristas, o baterista e educador Dom Formularo é atualmente umas das maiores
autoridades no ensino da técnica Moeller. Em seu livro “It’s your move, Motions and
emotions”, escrito em parceria com o também baterista e educador Joe Bergamini
(FORMULARO; BERGAMINI. 2001) afirmam que
Sanford Moeller did not invent this stroke. He simply observed many of the top
professional drummers of his time and noticed that they all seemed to use a whipping
21
Produzem-se quando os braços ou algumas das partes não atuam ao mesmo tempo, e
sim alternadamente, em sucessão. Quando estes movimentos alternados são
simétricos, como no caso de tocar um tambor em dois tempos - sendo um tempo
marcado com a mão direita e o segundo com a esquerda, ou vice-versa – foi
comprovado que são de fácil realização
22
Outro aspecto que vale a comparação é o que se pode chamar de estratégias de estudo.
Cerqueira (2009, p.117), a partir da já mencionada obra de Kaplan, propõe um modelo de ensino
para instrumentos musicais. Numa seção denominada “Ferramentas idiomáticas”, o autor, entre
outros tópicos, sugere o estudo das mãos separadas para o piano, declarando que, na etapa de
estudo tal procedimento auxilia na assimilação motora. Transportando tal afirmação para o
contexto baterístico, infere-se que, além do estudo de membros separados, a combinação inicial
de dois membros (sejam um superior e um inferior, ou dois inferiores ou superiores) em fases
primárias de determinado estudo, é de grande eficácia.
Tem sido demonstrado (GATES e outros) que pensar uma determinada atividade
muscular aumenta a tensão dos músculos que iriam intervir na ação. Esse fenômeno
sugere a possibilidade de que a aprendizagem e o aperfeiçoamento das habilidades
motoras podem ser logrados pensando-se, isto é, repetindo mentalmente os diversos
“passos” da atividade a ser aprendida
23
A leitura mental, silenciosa, de uma composição musical (ou alguma parte dela, se
necessário), muitas vezes ajuda mais do que o toque real para unir sons separados em
linhas musicais significativas
Outro aspecto que pode ser percebido na declaração acima é a leitura, trazendo para a
discussão outro importante elemento na aprendizagem: a memória. No caso, segundo Kaplan
(2013, p. 63), trata-se de memória visual. Sendo assim, no processo de aprendizagem da
Bateria, é aconselhável que sempre que possível seja utilizada a escrita/leitura como recurso
para aprendizagem. Seja através de notação ocidental tradicional, ou mesmo por escritas
alternativas, utilizando símbolos espacialmente organizados, de acordo com o objetivo do
exercício.
24
A escolha do tipo de material para determinada apresentação artística, deve ser pautada
levando em conta o estilo em questão a ser executado, sensível às aspirações artísticas de cada
indivíduo. No caso da Bateria, a grande oferta de materiais com características distintas, auxilia
o músico na busca pela sonoridade desejada. Entretanto, o desconhecimento do potencial e
característica de cada equipamento, faz com que o baterista se afaste do objetivo de expressar-
se artisticamente. Portanto, é imprescindível em níveis de uma educação profissionalizante, a
inclusão de tópicos que versem sobre as opções de materiais e suas características, numa futura
elaboração da teoria da aprendizagem baterística.
Sobre esse tema vale destacar o trabalho de Johnson (2007), o qual elabora um
detalhado guia no qual descreve e compara diferentes tipos de peles, aros e tambores. Mesmo
não contemplando todas as marcas e modelos (o que, diante da crescente industrialização do
mercado de instrumentos musicais, seria impossível), o baterista e educador, a partir do
compartilhamento de suas experiências, fornece valioso material para estudo de tais aspectos.
Outras possíveis fontes de informação sobre materiais são os sites dos mais diversos fabricantes
de equipamentos e acessórios, onde são expostas algumas informações técnicas sobre os
produtos.
25
o ensino e aprendizagem da Bateria, mas o domínio dos mesmos é de grande importância para
a elaboração de práticas de aprendizagem eficazes e concisas do instrumento.
Outro significativo aspecto a ser levando em conta é a ansiedade de palco, que algumas
vezes evolui para pânico de palco. Kochevitsky (1967, p. 75-77) dedica um capítulo para
apresentar a ansiedade de palco enfocando o Sistema Nervoso, e assim relata o processo e
possíveis consequências. Sobre isso afirma:
Algumas ações para diminuir a ansiedade na preparação para uma performance são
sugeridas por Ray (2009), como “planejar o tempo (de estudo) considerando as atividades extra-
26
musicais do dia (dia ‘pesado’, estudo mais ‘leve’ e vice-versa) “ e “ensaiar sempre o que já foi
estudado individualmente”, “pulando” trechos que ainda precisam ser trabalhados, otimizando
assim o tempo de estudo.
Ray e Marques (2015) fazem uma importante contribuição nesse sentido. As autoras
explanam conceitos de alongamento e aquecimento, suas funções e benefícios tendo como foco
principal o performer. Em seguida, propõem uma sequência de alongamentos básicos (p. 1226-
1227) para músicos.
27
28
2.9 Referências
29
3 Método:
Ritmos do Candomblé Ketu na Bateria
30
3.1 Prefácio
É possível identificar na Música Popular Brasileira a presença de diversos elementos da
música de matriz africana. Desde meados do séc. XX, compositores, arranjadores e artistas vêm
utilizando elementos da música do Candomblé como importante referencial em seus trabalhos.
Nesse contexto, o ritmo tem especial destaque, sendo um elemento de assídua presença na
Música Popular.
Este livro tem o intuito de contribuir com o processo de adaptação de ritmos afro-
brasileiros para a bateria. Para isso, a partir das práticas de Iuri Passos (Alabê2 do Gantois, um
dos Terreiros mais tradicionais da cidade de Salvador, Bahia), serão apresentadas adaptações
de 4 toques3 do Candomblé Ketu. Espero que o conteúdo aqui apresentado possa servir de
ferramenta para profissionais, professores e estudantes de bateria, não apenas apresentando
diferentes possibilidades rítmicas a serem incluídas em suas práticas, mas também
possibilitando novas abordagens no instrumento, a partir de produções baseadas na música de
matriz africana.
Acredito também que este material pode ser de significativa valia para artistas e
estudiosos de outros instrumentos, fornecendo subsídios para suas produções ligadas ao tema,
a partir das células rítmicas e adaptações apresentadas4.
Em última análise, espero que esse método possa contribuir na difusão e preservação da
música afro-baiana, compartilhando adaptações de ritmos do universo afro-religioso para a
bateria.
Rafael Palmeira
2
Alabê é cargo dado ao músico mais experiente do Terreiro Candomblé.
3
No âmbito do Candomblé, os ritmos são conhecidos como “toques”.
4
Além do aspecto rítmico, é necessário considerar também a utilização de melodias de cânticos religiosos em
diversos contextos da música popular. Essa é uma questão complexa que envolve temas como apropriação cultural,
direitos autorais, além dos limites do que deve ou não ser publicizado do Candomblé. Tais questões extrapolam a
abrangência deste trabalho, que tem como foco a adaptação para a bateria, de padrões rítmicos executados pelos
instrumentos tradicionais. Entretanto, ao fim do livro, na seção Sugestões de leituras, algumas obras que abordam
esses temas serão citadas, com o intuito de proporcionar ao leitor um maior embasamento no que se refere ao
assunto.
31
32
3.3 Seção 1
33
Portanto, é importante afirmar que este método foi baseado nas práticas musicais do
Terreiro Ilê Iyá Omi Axé Iyámassê, pertencente à Nação Ketu, mais conhecido como Terreiro
do Gantois, localizado no bairro da Federação, cidade de Salvador- Bahia. Todas as transcrições
e adaptações tiveram como fonte aulas com Iuri Passos, filho de santo e alabê do Terreiro do
Gantois. Além das aulas, serviram como material adicional de comparação, algumas visitas a
festas públicas do referido Terreiro5 e a análise de áudios de CDs com a presença de músicos
do Gantois.
5
Vale ressaltar que não houveram registros das visitas às festas públicas. Tais momentos contribuíram para uma
compreensão mais ampla de todo o contexto, além da possibilidade de vivenciar os conteúdos apreendidos nas
aulas e nas audições.
34
trouxeram para o carnaval de Salvador um pouco desse universo musical através da execução
de cânticos, melodias e ritmos, mais especificamente o toque Ijexá.
6
Todas indicações relativas à utilização de membros dominante e não-dominante dizem respeito aos destros. Para
os canhotos, solicito que invertam o comando: onde tiver indicação de mão direita, leia-se mão esquerda, e vice-
versa.
35
Diversos estudiosos das Músicas de matriz africana defendem que a escrita musical
ocidental é inadequada quando o assunto são ritmos da afro-diáspora. Sem dúvida esses ritmos
possuem nuances que uma transcrição baseada em tais parâmetros não contempla. Porém, vale
ressaltar que esse livro tem como público-alvo músicos (bateristas em especial), e a escrita
ocidental é a linguagem mais comumente utilizada em livros e métodos do gênero.
36
importante ferramenta, além de ter acesso a um maior número de abordagens (no caso das
performances de Iuri) de cada toque.
Ainda sobre a escrita, desta vez relativa às questões mais específicas da Bateria, optei
por não distinguir a localização no pentagrama dos instrumentos chimbal e prato de condução.
Assim cada leitor ficará livre por optar entre os dois instrumentos em suas práticas.
Como afirmado anteriormente, será dedicado um capítulo para cada toque. O início de
cada capítulo será iniciado com uma breve descrição de suas principais características. Em
seguida estarão as transcrições dos instrumentos tradicionais do Candomblé Ketu (ver p. 33),
enfatizando algumas variações do Rum (tambor solista). Em relação às variações do Rum,
denomino Base a variação que aparece com maior frequência em contextos de execução. Além
da Base, são transcritas de 4 a 6 outras variações. No que diz respeito a essas últimas, são
numeradas apenas com finalidade didática, não havendo hierarquia entre elas. Apenas a última
variação é identificada como Variação Final por ser o padrão rítmico que anuncia a finalização
das execuções em contextos ritualísticos.
Logo após, serão sugeridos alguns Sistemas de Condução. Para cada sistema são
apresentadas versões com diferentes padrões rítmicos para o pé esquerdo. Na sequência, as
Adaptações para o instrumento são apresentadas. Vale ressaltar que essas adaptações são
elaboradas a partir das variações do Rum, ou seja, a Base faz referência à Base do Rum, a
Variação 1 faz referência à Variação 1 do Rum, e assim sucessivamente. Finalizando, são
apresentados os Exemplos de combinações: condução 1 + adaptações, onde são escritos os
exemplos da condução 1, acrescidos de todas as variações de bateria. É interessante observar
37
que existe possibilidades de combinações com todas as conduções, ficando a critério do leitor
praticar as combinações utilizando a (s) condução (ões) que mais lhe agrada (m).
38
3.3.4 Legenda
1) Gã
2) Lé e Rumpi
3) Rum
4) Bateria
39
-Os padrões de condução devem ser executados pela mão direita, enquanto os
grupos serão explorados pela mão esquerda e/ou pelo pé direito (para destros. Ver pg.
33)
-Nos grupos que contém dois ou três toques seguidos, sugiro uma sequência de
combinações possíveis entre o bumbo e a caixa (Opções de Combinação, pg 41)
-Mesmo sendo representadas apenas pela caixa, as variações da mão devem ser
executadas também pelos demais tambores.
40
41
Exercícios preparatórios
42
3.3.6.3 Opções de Combinação
2)
4)
1)
4)
2)
5)
3)
6)
43
3.4 Seção 2
44
3.4.1 Agueré
Ritmo tocado exclusivamente para o Orixá Oxóssi, divindade relacionada à
caça. O Agueré é executado entre 75 e 95 bpm (aproximadamente).
Quarteto Instrumental
Gã
Rumpi
Lé
Rum
Base
45
- Variação 1
-Variação 2
-Variação 3
-Variação 4
46
-Variação 5
-Variação 6 (final)
obs:
1- A variação (4) é um pequeno motivo extraído da variação (3)
2- É comum encontrarmos a variação (5) no início da execução.
3- A variação final (6), frequentemente decorre do desenvolvimento da variação (3).
47
Bateria
Exercícios preparatórios Agueré
48
Sistemas de Condução
1)
1a)
1b)
1c)
2)
2a)
49
2b)
2c)
3)
3a)
3b)
3c)
50
4)
4a)
4b)
4c)
51
Adaptações
Base
Variação 1
Variação 2
Variação 3
52
Variação 4
Variação 5
Variação 6 (final)
53
-Condução 1 + Base
-Condução 1 + variação 1
-Condução 1 + variação 2
-Condução 1 + variação 3
54
-Condução 1 + variação 4
-Condução 1 + variação 6
Obs:
A combinação da condução 1 com a variação 5 não foi exemplificada devido
ao fato dessa variação exigir a execução utilizando os dois membros superiores,
impossibilitando a combinação.
55
3.4.2 Vassi
Ritmo tocado para vários Orixás, dentre eles os Exu, Ogum, Oxóssi, Oxum. O
Vassi é executado entre 80 e 90 (aproximadamente). Vale ressaltar que “Vassi” é um
termo utilizado para identificar diferentes toques, sendo as variações do Rum o
principal fator de diferenciação.
Quarteto Instrumental
Gã
Rumpi
Lé
Rum
Base
56
- Variação 1
-Variação 2
-Variação 3
57
-Variação 4 (final)
obs:
1- A variação (3) frequentemente decorre do desenvolvimento da variação (2).
58
Bateria
Exercícios preparatórios
59
Sistemas de Condução
1)
1a)
1b)
2)
2a)
2b)
60
3)
3a)
3b)
4)
4a)
4b)
61
Adaptações
Base
Variação 1
Variação 2
62
Variação 3
Variação 4 (final)
63
-Condução 1 + Base
-Condução 1 + variação 1
-Condução 1 + variação 2
64
-Condução 1 + variação 3
-Condução 1 + variação 4
65
3.4.3 Daró
Ritmo tocado exclusivamente para o Orixá Iansã, divindade relacionada aos
ventos e tempestades. O Daró também é conhecido por Ilú ou Agueré de Iansã. É
executado entre 90 a 120 (aproximadamente).
Quarteto Instrumental
Gã
Rumpi
Lé
Rum
Base
66
- Variação 1 (intro)
-Variação 2
-Variação 3
67
-Variação 4 (final)
obs:
1- A variação (1) além de cumprir o papel de introdução (“chamada”), pode aparecer em
outros momentos da execução (que não o inicial).
2- Frequentemente a variação (2) vem seguida da variação (3)
3- A variação final (4), frequentemente é um desenvolvimento da variação (1). Portanto,
o primeiro compasso da variação final corresponde ao último da variação (1) (casa 2).
68
Bateria
69
Sistemas de Condução
1)
1a)
1b)
1c)
2)
2a)
70
2b)
2c)
3)
3a)
3b)
3c)
71
4)
4a)
4b)
4c)
72
Adaptações
Base
Variação 1
Variação 2
Variação 3
73
Variação 4 (final)
74
-Condução 1 + Base
-Condução 1 + variação 1
-Condução 1 + variação 2
75
-Condução 1 + variação 3
Obs: Nas combinações que utilizam as variações 2 e 4, algumas células das conduções
foram omitidas, no intuito de manter as variações com todos seus elementos.
76
3.4.4 Jinká
Ritmo característico da Orixá Iemanjá, divindade relacionada aos mares. O
Jinká é executado entre 85 a 95 bpm (aproximadamente).
Quarteto Instrumental
Gã
Rumpi
Lé
Rum
Base
77
- Variação 1
-Variação 2
-Variação 3
78
-Variação 4 (final)
obs:
1- Diferentemente dos demais toques, onde a fórmula de compasso foi escolhida a partir
da extensão da base do Rum, no Jinká a fórmula foi escolhida tendo como referencial
os padrões do Gã, Rumpi e Lé, devido à grande extensão da base.
2- Algumas variações do Jinká surgem a partir de diferentes localizações da base, que não
o fim. Por isso é possível encontrar elementos da base em todas as variações, indicando
assim seus respectivos inícios.
79
Bateria
80
Sistemas de Condução
1)
1a)
1b)
2)
2a)
2b)
81
3)
3a)
3b)
4)
4a)
4b)
82
Adaptacões
Base
Variação 1
Variação 2
83
Variação 3
Variação 4 (final)
84
-Condução 1 + Base
-Condução 1 + variação 1
-Condução 1 + variação 2
85
-Condução 1 + variação 3
86
A seguir estão alguns sistemas de condução avançados, nos quais a linha rítmica
do Gã está sendo executada pelo pé esquerdo com o Cowbell. Para cada toque serão
demonstrados dois exemplos: a combinação de uma condução acrescida à linha do Gã no
pé esquerdo (denominado sistema de condução avançado); a combinação de um sistema
de condução avançado acrescido à base de cada ritmo.
Vassi
Sistema de Condução
87
Daró
Sistema de Condução
Jinká
Sistema de Condução
88
89
3.5 Seção 3
90
-BASTIDE, Roger. O Candomblé da Bahia: Rito nagô. 3. ed. São Paulo: Companhia
-CARDOSO, Angelo Nonato Natale. A linguagem dos tambores. 2006. 402 f. Tese
Salvador, 2006.
Funarte, 1989.
91
92
<http://www.casadeoxumare.com.br/index.php/2015-07-31-13-11-20/cd1>.
-NAGO, Grupo Korim. Shiré Orishás Èdè Yoruba. [S.l]: Musicolor, 1974.
independente, 1998.
em:<https://museuafrodigital.ufba.br/podcast/sakai-mãe-menininha-1>.
93
94
3.5.4 DVD
https://www.youtube.com/playlist?list=PL7l2IMO-
GiEdmnE9S0NlvAkuCZO5u9VNt
95
96
Descrição da Prática
97
a.2) Recital
98
99
a) Relatório/memorial da Prática.
b) Vídeoclipe
8) Orientação:
100
Descrição da Prática
101
Toques catalogados:
-Agueré
-Vassi
-Daró
-Jinká
Músicas selecionadas:
- Cânticos para Exu, de Domínio Público.
102
Repertório:
- Cânticos para Exu, de Domínio Público.
- A Oyo Baubá, de Domínio Público.
- Nibè, de Márcio Melgaço.
- Cântico para Oxóssi, de Domínio Público
103
Músicos: Fabrício Cyem (baixo), Eric Almeida (saxofone), Márcio Melgaço (piano) e
Márcio Rodrigo (guitarra)
Programa:
- Cânticos para Exu, de Domínio Público.
- A Oyo Baubá, de Domínio Público.
- Nibè, de Márcio Melgaço.
- Cântico para Oxóssi, de Domínio Público.
- Floresta Azul, de Letieres Leite.
- Refavela, de Glberto Gil.
104
c.2) Recital
a) Relatório/memorial da Prática.
b) Gravações do recital.
c) Leads sheets para inserção no produto final (método).
8) Orientação:
105
106
Descrição da Prática
a) Catalogação e transcrição dos padrões rítmicos presentes nos toques – durante todo
o semestre – 17hs (1h semanal) – 17 semanas – Local: Gantois.
107
8) Orientação:
108
Descrição da Prática
109
8) Orientação:
110
Descrição da Prática
111
8) Orientação:
112
Descrição da Prática
a) Catalogação e transcrição dos padrões rítmicos presentes nos toques – durante todo
o semestre – 17hs (1h semanal) – 17 semanas – Local: Gantois.
113
8) Orientação:
114
Descrição da Prática
Músicas selecionadas:
115
b) Ensaios
Repertório:
116
8) Orientação:
117