Budismo No Cotidiano

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 108

O Que É

O budismo é uma religião? Será que karma significa destino? Será que
todos nós renasceremos? Perguntas sobre conceitos budistas básicos
são respondidas aqui.
O Que É o Budismo?
Dr. Alexander Berzin, Matt Lindén

Share on facebook

O budismo é um conjunto de métodos que nos ajudam a desenvolver


nosso potencial humano através da compreensão da natureza da
realidade.

Fundado há 2500 anos por Sidarta Gautama, mais conhecido como o


Buda, o budismo espalhou-se pela Asia e atualmente é a quarta maior
religião do mundo. O Buda passou a maior parte de sua vida ensinando os
métodos que ele descobriu para despertar, a fim de que outras pessoas
também pudessem tornar-se budas. Ele viu que apesar de todos serem
iguais em sua capacidade de tornarem-se budas, as pessoas diferem
enormemente em suas preferências, interesses e talentos. Por respeitar
essas diferenças, o Buda ensinou uma grande variedade de métodos para
superarmos nossas limitações e alcançarmos nosso potencial completo.

Cada cultura que adotou o budismo enfatizou um aspecto diferente mas,


apesar de haver muitas formas de budismo, todas elas compartilham os
mesmos ensinamentos básicos.
Os Ensinamentos Básicos Budistas — As Quatro Nobres Verdades
O ensinamento mais fundamental do Buda chama-se “As Quatro Nobres
Verdades”, que são quatro fatos vistos como verdadeiros por seres
altamente elevados espiritualmente:

A Primeira Nobre Verdade: Verdadeiros Problemas


Embora haja muitas alegrias na vida, todos os seres — desde um pequeno
inseto até um sem-teto ou um bilionário — passam por problemas. Entre
o nascimento e a morte, envelhecemos, ficamos doentes e nossos entes
queridos morrem. Enfrentamos frustrações e desapontamentos por não
conseguir o que queremos e ter que conviver com o que não queremos.

A Segunda Nobre Verdade: A Verdadeira Causa dos Problemas


Nossos problemas surgem devido a causas e condições muito complexas,
mas o Buda disse que a derradeira causa é nossa ignorância em relação à
realidade, ou seja, à forma como nossa mente projeta formas impossíveis
de existência em nós mesmos, nos outros e em tudo mais.

A Terceira Nobre Verdade: O Verdadeiro Cessar dos Problemas


O Buda descobriu que é possível nos livrarmos de todos os nossos
problemas, de forma que nunca mais voltem. Para isso, basta destruir sua
causa: a ignorância.

A Quarta Nobre Verdade: O Verdadeiro Caminho Mental


Os problemas cessam quando eliminamos a ignorância e compreendemos
corretamente a natureza da realidade. Para isso, precisamos perceber que
somos todos interconectados e interdependentes. Com base nisso,
desenvolvemos igualmente o amor e a compaixão por todos os seres. Uma
vez que tenhamos eliminado a confusão sobre como nós e os outros
existem, podemos agir de forma que nossas ações beneficiem a nós
mesmos e aos outros.

O Âmbito dos Ensinamentos do Buda


O Dalai Lama divide o budismo em três parte:

 A ciência budista da mente — que investiga como a percepção, o


pensamento e as emoções funcionam do ponto de vista da experiência
subjetiva.
 A filosofia budista — a ética, a lógica e a compreensão budista da
realidade.
 A religião budista — a crença em vidas passadas e futuras, no karma,
os rituais e as preces.

A ciência budista suplementa a neurociência moderna ao oferecer um


mapa abrangente das várias funções cognitivas da mente, incluindo a
percepção sensorial, a concentração, a atenção, a consciência e a
memória, assim como todas as emoções positivas e negativas.

O pensamento budista baseia-se mais na investigação do que na fé,


portanto, as descobertas científicas são muito úteis ao budismo — O 14o.
Dalai Lama.

No nível físico, a ciência budista engloba sofisticados sistemas de


medicina que tratam de muitas doenças. Externamente, ela apresenta
uma análise detalhada da matéria e da energia, com muitas semelhanças
com a física quântica. Ela também discute a origem, a permanência e o fim
do universo, afirmando a existência de um fluxo sem início de universos
que precederam este universo.

A filosofia budista trata de questões como a interdependência, a


relatividade e a causalidade. Apresenta um sistema detalhado de lógica,
baseado em teorias estabelecidas e debates, que nos ajudam a entender
as projeções errôneas de nossa mente.

A ética budista está baseada no discernimento entre o que é benéfico e o


que é prejudicial, tanto para si mesmo quanto para os outros.

Independente de sermos crentes ou agnósticos, de acreditarmos em Deus ou


no karma, todos podemos procurar ser éticos. — O 14o. Dalai Lama

Isso significa apreciar e desenvolver os valores humanos fundamentais da


bondade, da honestidade, da generosidade e da paciência, enquanto
tentamos ao máximo não prejudicar os outros.

A religião budista trata de temas como karma, vidas passadas e futuras,


o mecanismo do renascimento, a libertação do renascimento e a
conquista da iluminação. Inclui práticas como cânticos, meditação e
orações. No budismo não há um livro sagrado, uma “Bíblia Budista”, cada
tradição tem seus textos, baseados nos ensinamentos originais do Buda.
Muitos dos textos da tradição tibetana podem ser encontrados nas nossa
seção de Textos Originais.

As pessoas podem rezar a qualquer hora e em qualquer lugar, mas muitas


escolhem fazê-lo em templos ou em frente a altares em suas casas. O
objetivo da prece não é ter seus desejos realizados, mas despertar para
nossa força interior, sabedoria e compaixão

[Veja: Como Desenvolver a Compaixão]

No budismo também não há regras sobre o que se pode comer, mas


muitos mestres encorajam seus alunos a serem vegetarianos, se possível;
e o Buda também instruiu seus seguidores a não beber nem uma gota de
álcool ou consumir drogas. O treinamento budista visa desenvolver a
presença mental e a disciplina, que são coisas que normalmente deixamos
de ter quando bebemos ou nos drogamos.

O budismo possui uma tradição monástica com monges e monjas que têm
de manter centenas de votos, incluindo o celibato total. Eles raspam a
cabeça, têm vestimentas padronizadas e vivem em comunidades
monásticas onde dedicam as suas vidas ao estudo, à meditação e à oração,
e realizam cerimônias para a comunidade leiga. Hoje em dia, muitas
pessoas leigas estudam budismo e praticam meditação em centros
budistas.

O Budismo Está Aberto a Todos


O Buda era um ser humano como nós, mas ele viu a realidade sobre como
existimos, superou todos as suas deficiências e alcançou seu total
potencial. No budismo chamamos isso de “iluminação” [Veja: O Que É a
Iluminação?]. O Buda não podia simplesmente estalar os dedos e fazer
todos os nossos problemas desaparecerem. Assim, ele nos mostrou um
caminho a seguir para nos libertar dos problemas e desenvolver boas
qualidades em nossas mentes, como amor, compaixão, generosidade,
sabedoria e muitas mais.

Os ensinamentos sobre como desenvolver essas qualidades estão


disponíveis para todos – independente de sua cultura ou religião. No
budismo, não é preciso ter fé em um Deus ou em deuses, o budismos só
nos pede que examinemos seus ensinamentos da mesma forma que
examinamos uma mercadoria muito valiosa antes de comprá-la. Assim,
passamos a apreciar a essência dos ensinamentos do Buda – ética,
compaixão e sabedoria – e naturalmente evitamos ações prejudiciais e
passamos a nos envolver com ações positivas, que são benéficas para nós
e para os outros. Isso só nos leva àquilo que é desejado por todos os
seres: a felicidade e o bem-estar.
O Que é a Prática Budista?
Dr. Alexander Berzin, Matt Lindén

Share on facebook

O foco principal do budismo é trabalhar para superar nossas próprias


falhas e desenvolver nossos potenciais positivos. As falhas de que
estamos falando incluem nossa falta de clareza mental e desequilíbrio
emocional, que fazem com que tenhamos uma visão confusa sobre o que
acontece em nossas vidas e, consequentemente, nos comportemos de
forma compulsiva, impulsionados por emoções perturbadoras como a
raiva, a ganância e a ingenuidade. Nossos potenciais positivos são a nossa
habilidade de nos comunicar com clareza, entender a realidade, ter
empatia com os outros e melhorar a nós mesmos.

[Veja: Como Desenvolver Amor]

Começamos a prática budista desenvolvendo uma mente calma e


presente, ou seja, que está sempre consciente de como estamos agindo e
falando com os outros e do que estamos pensando quando estamos
sozinhos. Mas não basta estar consciente e apenas observar. Quando
temos uma mente presente, conseguimos distinguir entre o que
construtivo e o que é destrutivo. E isso não é autocentramento. Na
verdade, ficamos mais cuidadosos e abertos aos outros.

O objetivo da introspecção e da autoconsciência é encontrar as causas dos


nossos problemas. Fatores externos e outras pessoas certamente
fornecem as circunstâncias para que surjam as dificuldades, mas a
abordagem budista é de tentar identificar suas causas mais profundas, e
para isso precisamos olhar para nossa própria mente [Veja: O Que É a
Mente?]. Nossos hábitos mentais, assim como nossas emoções positivas e
negativas afetam a forma como experimentamos a vida.

Quando nos estressamos com o trabalho, ou sentimos depressão,


ansiedade, solidão e insegurança, nossa dificuldade em lidar com isso
vem do nosso estado mental e emocional, e não do problema em si
[Veja: Como Lidar Com a Ansiedade]. A melhor forma de lidar com os
desafios da vida é acalmar a mente e obter equilíbrio emocional e clareza
mental.

Uma vez que nos tornamos conscientes das emoções, atitudes e


comportamentos que estão nos causando estresse e dificuldades,
podemos corrigi-los.

“Precisamos fazer uma espécie de higiene emocional baseada em um


entendimento mais claro da realidade e do funcionamento da mente.” — O
14o. Dalai Lama

Todos nós nos preocupamos com nossa higiene física, mas cuidar do
nosso estado mental é tão importante quanto. Para desenvolver uma
higiene emocional, precisamos nos lembrar de, três coisas: dos
antídotos para os estados perturbadores de nossa mente, de aplicá-
los quando necessário, de mantê-los.

Para lembrar de todos os antídotos, precisamos:

 Aprender quais são eles.


 Refletir sobre eles até que os compreendamos corretamente,
saibamos como aplicá-los e estejamos convencidos de que funcionam.
 Praticar aplicá-los durante a meditação, para ganharmos
familiaridade.

Precisamos ser nosso próprio médico: aprender a diagnosticar nossas


doenças, entender suas causas, ver quais remédios existem e como aplicá-
los, e então praticar aplicá-los. Por isso, o Dalai Lama sempre destaca a
importância de estudar e aprender os ensinamentos budistas –
especialmente aqueles que se referem às ciência da mente e filosofia
budistas.

Quando temos uma doença crônica, precisamos nos convencer dos


benefícios de uma mudança radical do nosso estilo de vida antes de fazer
qualquer mudança. A maioria das pessoas não começa estudando
profundamente nutrição e ginástica, elas começam com uma dieta e uma
rotina de exercícios. Claro, elas precisam receber instruções antes de
começar mas, depois que sentem os resultados, podem sentir-se
motivadas a se aprofundar.

O mesmo processo ocorre com o nosso esforço para ter saúde emocional.
Uma vez que sentimos o gostinho do bem estar proporcionado pelo
treinamento em presença mental, é mais fácil desenvolver a motivação e
o interesse de aprender mais sobre as práticas budistas, para melhorar
nossa qualidade de vida e poder ajudar melhor os outros.
O Buda foi como nós – uma pessoa normal, sujeita às dificuldades da vida.
E, como todos nós, ele também queria melhorar sua vida e a das pessoas
ao seu redor. Através de sua própria introspecção, ele descobriu que,
independente daquilo que acontece à nossa volta, nós temos a capacidade
e a habilidade de ficarmos calmos, presentes e no controle das nossas
emoções.

Isso — que o Dalai Lama gosta de chamar de “higiene emocional”, —


transcende os limites da cultura e da religião, pois vai ao centro daquilo
que todos desejamos: uma vida tranquila e feliz, livre de problemas.
10 Crenças Budistas Básicas
Dr. Alexander Berzin

Share on facebook

1. Todos gostariam de ter uma vida mais feliz, mas poucos sabem o
que isso significa e o que fazer para alcançar a felicidade.
2. Nossas emoções e atitudes influenciam a maneira como nos
sentimos. Se treinarmos, podemos nos livrar das emoções e atitudes
são negativas e desenvolver as que são mais saudáveis e positivas. Se
conseguirmos fazer isso, nossa vida será mais feliz e gratificante.
3. Emoções perturbadoras, como raiva, medo, ganância e apego,
acabam com nossa paz de espírito e autocontrole. Se treinarmos,
podemos deixar de ser controlados por essas emoções.
4. Agir compulsivamente, por raiva ou ganância, nos traz problemas e
infelicidade. Se treinarmos, podemos aprender a relaxar, pensar
claramente e agir com sabedoria.
5. Emoções positivas, como amor, compaixão, paciência e compreensão,
nos ajudam a permanecer calmos, receptivos e lúcidos, e nos trazem
mais felicidade. Se treinarmos, podemos aprender a desenvolvê-las.
6. O comportamento e pensamento egocêntrico e egoísta nos afasta
dos outros e nos traz infelicidade. Se treinarmos, podemos eliminá-lo.
7. Reconhecer que estamos todos interconectados, e que nossa
sobrevivência depende dos outros, abre nosso coração e mente, nos
ajuda a termos mais consideração pelos outros e nos traz felicidade.
8. A maior parte do que percebemos a nosso respeito e a respeito dos
outros são projeções fantasiosas baseadas em confusão. Quando
acreditamos que nossas projeções correspondem à realidade, criamos
problemas para nós e para os outros.
9. Com a compreensão correta, podemos nos livrar da confusão e
enxergar a realidade. Isso nos dá calma e sabedoria para lidar com os
eventos da vida.
10.Nos trabalharmos para ser pessoas melhores é um desafio para toda a
vida, mas é a coisa mais significativa que podemos fazer com ela.
O Que São as Quatro Nobres Verdades?
Dr. Alexander Berzin, Matt Lindén

Share on facebook

As quatro nobres verdades são fatos elementares que delimitam o


caminho para superarmos nossos problemas. Esse foi o primeiro
ensinamento do Buda e é a estrutura básica de todos os demais
ensinamentos budistas.

A Primeira Nobre Verdade: O Verdadeiro Sofrimento


A primeira verdade é que, em geral, a vida é insatisfatória. Do nascimento
à morte temos muitos momentos felizes, mas eles nunca duram, e as
situações desagradáveis também são muitas:

Infelicidade - doença, desapontamentos, solidão, ansiedade e


insatisfação são fáceis de reconhecer e entender. Muitas vezes não estão
nem relacionadas ao que está acontecendo no momento — podemos
estar com o nosso melhor amigo e comendo nossa comida favorita e
mesmo assim estarmos infelizes.

Felicidade comum de curta duração - tudo aquilo que apreciamos


nunca dura e nunca nos satisfaz, rapidamente transforma-se em
sofrimento. Quando estamos com muito frio, queremos entrar em um
ambiente bem aquecido, mas logo ficamos com calor e queremos sair
novamente. Seria muito bom se a felicidade durasse para sempre, mas o
fato é que não dura [Veja: O Que É Felicidade?]

Problemas recorrentes - o pior é que a forma com que lidamos com os


altos e baixos da vida só nos traz mais problemas. Quando estamos em
um relacionamento que vai mal, agimos de uma forma que só faz com que
piore. Então resolvemos nos separar e começar um novo relacionamento
mas, por termos reforçado tanto os nossos maus hábitos, repetimos os
mesmos padrões e ele também acaba mal.

A Segunda Nobre Verdade: A Verdadeira Causa do Sofrimento


A infelicidade e os breves momentos de felicidade não surgem do nada,
surgem de uma ampla variedade de causas e condições. Os fatores
externos, como a sociedade em que vivemos, servem como condição para
que nossos problemas surjam; mas se quisermos saber a verdadeira
causa, temos que olhar para a nossa própria mente, assim disse o Buda.
Nossas emoções perturbadoras — raiva, inveja, ganância, e assim por
diante — nos fazem pensar, falar e agir compulsivamente de forma
destrutiva.

O Buda viu ainda mais longe, e revelou até mesmo a verdadeira causa dos
nossos estados emocionais, que é a forma como compreendemos a
realidade. Não temos consciência, ou temos uma visão confusa, dos
efeitos de longo prazo do nosso comportamento e temos uma visão
equivocada em relação à forma como nós, os outros e o mundo existe. Ao
invés de vermos a interconexão entre todas as coisas, achamos que elas
existem por si mesmas, independentes dos fatores externos.

A Terceira Nobre Verdade: O Verdadeiro Cessar do Sofrimento


O Buda mostrou que não precisamos tolerar o sofrimento, pois se
conseguirmos extirpar a causa, os resultados não surgirão. Se nos
livrarmos da nossa confusão a respeito da realidade, nossos problemas
nunca mais surgirão. E ele não estava falando apenas de um ou outro
problema — ele disse que todos os nossos problemas cessarão e não
criaremos novos problemas.

A Quarta Nobre Verdade: O Verdadeiro Caminho da Mente


Para nos livrarmos da ingenuidade e da falta de consciência, precisamos
saber o que se contrapõe a isso, que é:

 Planejar a longo prazo, ao invés de buscar gratificação imediata.


 Ter uma visão ampla ao invés de focar apenas em um pequeno
aspecto da vida.
 Considerar as consequências de nossas ações para esta vida e para
as gerações futuras, ao invés de fazer apenas o que é mais fácil no
momento.

Quando nos desapontamos com a vida, achamos que a única maneira de


lidar com isso é através da distração: beber e se encher de guloseimas
sem pensar nas consequências a longo prazo. Mas se fizermos disso um
hábito, podemos danificar seriamente nossa saúde, sabotar a própria vida
e causar um efeito devastador em nossa família. Por traz desse tipo de
comportamento está a crença de que somos totalmente desvinculados
das consequências das nossas ações. O melhor antídoto para essa
confusão é:
 Perceber que estamos intimamente conectados com resto da
humanidade e do planeta, e entender que nossas fantasias a respeito
de como existimos não correspondem à realidade.

Se conseguirmos nos acostumar a esse insight, através de repetida


meditação, eventualmente iremos desfazer a confusão que sustenta
nossas projeções vazias.

[Veja: Como Meditar]

Todos queremos ser felizes, mas a felicidade teima em nos escapar. A


forma como o Buda abordou a questão da felicidade — descrita nas
Quatro Nobres Verdades — é universal. E permanece relevante 2500
anos depois dele ter pensado nisso pela primeira vez.

Não precisamos ser budistas para usar As Quatro Nobres Verdades para
lidar com nossos problemas. As coisas nunca acontecerão da forma como
gostaríamos, mas isso não é motivo para nos deprimirmos ou perdemos
as esperança. Tudo o que precisamos pra encontrar felicidade genuína e
fazer com que nossas vidas sejam realmente significativas está nas
Quatro Nobres Verdades.

Resumindo, precisamos estar cientes da existência do verdadeiro


sofrimento, nos livrar da verdadeira causa, conseguir o verdadeiro cessar
e chegar ao fim do verdadeiro caminho da mente.
O Que É Meditação?
Dr. Alexander Berzin, Matt Lindén

A meditação pode significar coisas diferentes para pessoas diferentes, mas no budismo, trata-
se de um método estruturado, passo a passo, para fazer a experiência da vida com um estado
mental mais benéfico e feliz.

Share on facebook

Quando ouvimos a palavra “meditação”, muitas vezes temos várias ideias


sobre o que ela é. Para algumas pessoas, ela traz uma imagem de uma
prática mística na qual, de alguma forma, vamos a uma dimensão
diferente em nossa mente. Para outras, pode trazer a ideia de um certo
tipo de disciplina praticada por certas pessoas na Ásia. Se quisermos
olhar de forma mais séria para a meditação, temos que abordar essas três
questões:
 O que é a meditação?
 Por que eu gostaria de meditar?
 Como é que se medita?

O Que É a Meditação?
Se a “mente” no budismo se refere à nossa experiência individual,
subjetiva das coisas em nossa vida, e “karma” explica os impulsos mentais
que nos levam a agir, falar e pensar de formas compulsivas, como
geralmente o fazemos, então a “meditação” se refere aos métodos através
dos quais podemos mudar esses padrões.

A meditação é um método para treinarmos a experiência da vida com um


estado ou uma atitude mental mais benéfica.

Podemos mudar esses padrões gerando repetidamente um certo estado


mental para nos acostumarmos a ele e o transformarmos em um hábito.
No nível físico, fazer isso realmente cria as novas trilhas neurais.

Há muitos diferentes estados e atitudes mentais que são benéficos.

 Estar mais relaxados, menos estressados e tensos


 Estar mais focados e menos apáticos ou distraídos
 Estar mais calmos e tranquilos, livres de preocupações compulsivas e
constante diálogo mental
 Ter uma melhor compreensão de nós mesmos, dos outros, de nossa
vida e assim por diante, livres de confusões e equívocos
 Ter mais emoções positivas em relação aos outros, como amor e
compaixão, livres de raiva ou indiferença.

Por Que eu Gostaria de Meditar?


Para responder a esta pergunta, precisamos nos perguntar:

Qual o Meu Objetivo e por Que?


Um exemplo é que pode ser que simplesmente queiramos uma mente
mais calma e clara. Uma razão para ter este objetivo seria obviamente que
a nossa mente não é calma e isso nos faz sentir perturbados, causando
bastante infelicidade, e impede que funcionemos da melhor forma
possível em nossas vidas. A nossa mente perturbada também pode estar
afetando a nossa saúde de forma negativa, ou pode esta causando ou
agravando problemas em nossas famílias e comprometendo nossos
outros relacionamentos. Pode estar dificultando as coisas para nós em
nosso local de trabalho.
Neste exemplo, o nosso objetivo é superar alguma espécie de deficiência
ou problemas que tenhamos, tanto mental quando emocional. Decidimos
tomar responsabilidade para superar este problema de uma forma
ordenada através da prática de meditação.

De uma Perspectiva Emocional, O Que Me Leva a Querer Alcançar Este


Objetivo?
Qual é o estado emocional que nos levaria a começar a prática de
meditação? Bem, pode ser que estejamos totalmente cansados de nosso
estado mental. Então, dizemos a nós mesmos: “Agora chega. Tenho que
sair desta situação. Tenho que fazer algo a este respeito. Isso está me
fazendo infeliz.” Além disso, se quisermos ajudar mais os nossos entes
amados, o estado emocional também inclui nosso amor por eles, e a
preocupação de como os nossos estados e comportamentos mentais
negativos podem afetá-los de forma negativa. A combinação dessas
emoções nos leva a achar algum método que nos possibilite ajudá-los
mais.

É irrealista pensar que apenas a meditação solucionará todos os nossos


problemas.

É importante ter uma compreensão realista do que é a meditação.


Meditação é uma ferramenta; é um método. Quando queremos alcançar
um resultado e temos uma razão positiva e uma emoção que nos
impulsiona nesta direção, precisamos entender que nenhum resultado é
alcançado por uma única causa. Muitas causas e condições precisam se
reunir para produzir um resultado. Por exemplo, se eu tiver pressão alta e
hipertensão, é claro que a meditação seria útil. A meditação diária com
certeza pode nos ajudar a nos preocupar menos. Apenas a meditação, no
entanto, não baixará a minha pressão. Pode ajudar, mas também preciso
mudar a minha dieta, fazer mais exercício físico, e pode ser que também
ainda precise tomar remédios. Muitos fatores aplicados em conjunto
trarão o resultado desejado de baixar a minha pressão.

Como Devo Meditar?


Há vários métodos de meditação que podemos usar, dependendo do
estado mental que queremos desenvolver. Uma coisa comum a todos
esses métodos é a necessidade de praticar.

“Praticar meditação” significa repetir um exercício mental e emocional de


novo e de novo.
Quando queremos treinar nossos corpos, temos que praticar algum tipo
de atividade física com regularidade; da mesma forma, precisamos
praticar com as nossas mentes.

Aquietar-se
A meditação começa com aquietar-se. Mas a meditação não é
simplesmente um método asiático para relaxamento. Aquietar-se é
apenas um passo preparatório, mas trata-se de um pré-requisito e da
fundação sobre a qual podemos construir um estado mental mais
positivo. Dos muitos métodos para aquietar a mente, um dos mais
comuns é praticar focando na sensação da respiração entrando e saindo
das narinas. Para ajudar a manter a atenção, podemos contar
mentalmente repetidos conjuntos de onze rodadas de inspirações e
expirações.

Quando estamos tentando aquietar a mente, não é nosso objetivo parar


todo o pensamento e ter uma mente em branco, como um rádio que foi
desligado. Este seria um equívoco. Ao invés de parar todo o pensamento,
na meditação paramos com o pensamento supérfluo e desnecessário, tais
como pensamentos perturbadores sobre o futuro (o que vou jantar?) e
pensamentos negativos e inúteis (você foi ruim comigo ontem. Você é
uma pessoa horrível). Com uma atenção maior, tentamos notar o mais
rápido possível quando as nossas mentes se distraem e imediatamente
retornamos a nossa atenção para a contagem das respirações.

Certas emoções podem ser bem perturbadoras, como quando estamos


nervosos, preocupados ou com medo. Precisamos aquietá-las também. Ao
focar na respiração calma e constante, as tensões em nossos músculos
lentamente relaxam e o nosso estado emocional também se acalma.

No entanto, não é suficiente que a nossa atividade mental seja aquietada


de pensamentos e emoções perturbadores; ela também tem que estar
clara e alerta. Precisamos elevar a nossa atividade mental de sua apatia e
de suas distrações. Então, à medida que retornamos a nossa atenção para
a respiração quando detectamos que estamos vagando mentalmente; e,
da mesma forma, refrescamos a nossa atenção quando detectamos que
está ficando apática.

Gerar Emoções Positivas


Calmar emoções perturbadoras e pensamentos negativos não nos torna
zumbis emocionais que não sentem nada. Não sentir nada também é uma
forma de bloqueio emocional que precisa ser liberado no processo de
aquietar-se. Um sinal de sucesso na meditação de aquietar a mente é
quando os nossos corações estão abertos; fazemos a experiência da paz
interna com um sentimento gentil de calidez e felicidade. Quando nutrido,
este sentimento calmo e gentil pode crescer, como uma célula-tronco, e
tornar-se uma matriz de sentimentos positivos.

É muito duro gerar qualquer sentimento verdadeiro apenas sentando na


meditação e simplesmente dizendo a si mesmo: “seja mais amável.” Não
se trata de uma questão de força de vontade. Para gerar uma atitude
sincera de cuidado com outros e gentileza amorosa, por exemplo,
precisamos elevar a nossa mente rumo a este estado positivo passo a
passo. Se o fizermos com o suporte da razão, o nosso sentimento positivo
será mais estável.

Um método é imaginar uma situação difícil e usar a razão para entender


por que certo sentimento emocional é adequado, razoável e necessário
para lidar com ela. À medida que focamos na cena imaginária e
raciocinamos, gradualmente sentimos as emoções intencionadas, embora
sejam inicialmente muito fracas. Depois, focamos na situação com a
emoção e a compreensão de quanto ela é adequada, e usamos os mesmos
métodos que usamos para calmar a mente, para corrigir distrações
mentais e apatia e manter a atenção. Quanto mais forte for o nosso foco
na situação imaginária com uma compreensão firme, mais forte será o
foco na emoção que sentimos por ela. Desta forma, esta emoção se torna
mais forte.

O seguinte exemplo pode ajudar. Imaginem que estão em um elevador


com dez pessoas e, de repente, o elevador para e vocês ficam presos nele
por alguns dias. Como vocês podem se relacionar com as outras pessoas
no elevador? Com uma mente calma e sóbria vocês avaliam a situação na
meditação. “Aqui estamos. Estamos todos igualmente presos neste
elevador e todos queremos igualmente passar por esta provação da forma
mais pacífica possível e sair dali com segurança. A forma como
interagiremos uns com os outros afetará cada um de nós aqui; assim
sendo, se eu apenas pensar em mim e ficar irritado com os outros e
começar a brigar, eu apenas tornarei as coisas piores para todos,
incluindo para mim mesmo. Portanto, para conseguir superar esta
situação difícil, preciso ter cuidado com o bem estar de todos e tratá-los
com gentileza amorosa, compreensão e paciência.

Desta forma, trabalhamos em nós mesmos até conquistarmos um


sentimento de cuidado e gentileza amorosa que dirigiremos para as
pessoas em nosso elevador imaginário. Gradualmente, quando a nossa
emoção positiva se estabilizar, estenderemos este sentimento a todos
aqueles que estão presos juntos neste gigantesco elevador chamado
Terra.

A Meditação Melhora o Nosso Cotidiano


Quando praticada de forma adequada, a nossa prática de meditação
começa a afetar o nosso cotidiano em meio às nossas sessões de
meditação formal. Se estivermos praticando um certo tipo de estado
mental durante a nossa sessão de meditação, quer seja um estado mais
calmo, mais focado, mais amoroso, não se trata apenas de gerar este
estado mental enquanto você estiver calmamente sentado em meditação.
Toda a questão trata de desenvolver o estado positivo de forma tão
minuciosa até que ele se torne um hábito que possamos aplicar quando
dele precisarmos, a qualquer hora do dia e da noite. Em última instância,
torna-se algo que é apenas natural; simplesmente está ali o tempo todo.
Estamos sempre amando, entendendo, mais focados e calmos.

Se em algum momento descobrimos que não estamos neste tipo de


estado mental, apenas precisamos nos lembrar: “seja mais amável”. Como
estamos bem familiarizados com este estado mental por causa da prática,
podemos instantaneamente voltar a este estado mental. Por exemplo,
quando percebemos que estamos perdendo a nossa paciência com
alguém, imediatamente o percebemos e nos lembramos, consciente ou
inconscientemente: “Não quero ser assim.” Então, como em um estalar de
dedos, ou como reiniciar o nosso computador quando ele nos notifica
sobre algum erro, fechamos esta “sessão” de falta de paciência e
regeneramos a nossa atitude para demonstrarmos paciência e gentileza
amorosa com a pessoa em questão.

Conclusão
Ninguém é perfeito, e a maioria de nós pode achar em si ou admitir algum
tipo de falha emocional ou mental. Alguns de nós tem um mau gênio;
alguns podem sentir um ciúme extremo, enquanto outros podem ter uma
capacidade muito limitada de prestar atenção por curto tempo. Esses
hábitos não estão impressos na pedra, mas podem ser modificados, caso
queiramos realmente fazer um esforço de mudá-los.

Essa mudança não requer nada além de um trabalho duro e um esforço


constante. Muitas pessoas passam muitas horas a cada semana se
exercitando em uma academia e, no entanto, esquecem de exercitar sua
maior habilidade: a mente. Embora seja difícil no início, quando
começamos a compreender os benefícios que a meditação traz para
nossas vidas, encaramos cada sessão com alegria. Com o tempo, à medida
que nos familiarizamos com os estados mentais positivos, nos tornamos
naturalmente mais gentis, amorosos e, em última instância, mais felizes.
O Que É o Amor?
Dr. Alexander Berzin, Matt Lindén

Share on facebook

O amor é o desejo de que os outros sejam felizes e tenham as causas da


felicidade. Considerando que todos queremos isso, podemos dizer que é
universal e incondicional. Inclui a qualidade de ter sensibilidade em
relação às necessidades dos outros e a disposição de contribuir para que
encontrem a felicidade. Pode estender-se igualmente a todos,
independente de sua relação conosco e suas ações, e não espera nada em
troca. No budismo, o amor é a maior fonte de felicidade.

Amor versus Apego


Em geral, o amor é acompanhado de outras emoções. O apego doentio
exagera as boas qualidades de alguém— reais ou imaginárias — e nega os
defeitos. Nos agarramos à outra pessoa e ficamos chateados quando ela
não nos dá atenção: “Eu te amo; nunca me deixe; não consigo viver sem
você.”

O verdadeiro amor é o desejo de manter a felicidade de todos os seres,


independente de gostarmos ou não deles — Yongdzin Ling Rinpoche

O amor, no budismo, inclui um sentimento de proximidade com os outros,


mas que não está baseado no fato deles nos amarem ou importarem-se
conosco, portanto, não envolve dependência. Quando misturado com
dependência e apego, o amor é instável. Se a pessoa que amamos fizer
algo que nos magoe, podemos não amá-la mais. Pensem em quantos
casamentos começam com amor e terminam com divórcio! Quando não
temos expectativas, nada nos abala. Desenvolver um amor estável nos dá
forças para lidar até com as pessoas mais difíceis, assim como os pais que
amam e querem o bem de um filho problemático. Requer treinamento,
mas todos temos essa habilidade.

[Veja: Como Desenvolver Amor]


Amor Próprio
O amor universal inclui um aspecto bastante negligenciado: precisamos
nos amar também — não de uma forma autocentrada e narcisista, mas
com uma preocupação sincera com o nosso bem estar de curto e longo
prazo. Pode ser que não gostemos de certos aspectos autodestrutivos de
nossa personalidade, mas isso não quer dizer que queremos ser infelizes
– o que seria o oposto do amor. É lógico que queremos ser felizes.

Quando dirigimos o amor a nós mesmos, isso não significa apenas querer
que nosso interminável desejo por prazer e entretenimento seja
satisfeito. A pequena quantidade de felicidade que obtemos com essas
coisas nunca dura e sempre acabamos querendo mais. Se nos amarmos
sinceramente, tentaremos encontrar felicidade duradoura, e não apenas
prazer temporário. Somente quando conseguirmos nos amar de verdade
é que realmente conseguiremos amar os outros
O Que É Compaixão?
Dr. Alexander Berzin, Matt Lindén

Share on facebook

No budismo a compaixão é “o desejo de que todos estejam livres do


sofrimento e das causas do sofrimento”. A compaixão tem como base a
apreciação dos sentimentos alheios, especialmente quando já passamos
pelo mesmo infortúnio que a outra pessoa. Se nunca tivermos passado
por nada parecido, procuramos nos colocar no lugar do outro e imaginar
como deve ser, e então sentimos como gostaríamos de nos livrar desse
sofrimento, e aspiramos que o outro também se livre.

O amor e a compaixão são necessidades, não são luxo. Sem eles, a


humanidade não pode sobreviver – o 14o. Dalai Lama

A compaixão abre o nosso coração e mente para os outros, ajudando-nos


a nos libertar das limitações solitárias e autoimpostas de pensarmos só
em nós mesmos. Todos enfrentam problemas na vida. Quando nos
sentimos conectados aos outros, superamos os sentimentos de
isolamento e alienação. Está cientificamente comprovado que ser
compassivo nos faz sentir mais felizes e seguros. Levar a dor e os
sofrimento dos outros a sério e querer ajudá-los nos dá força e confiança.
Se nos treinarmos para sermos mais compassivos, a compaixão se tornará
uma verdadeira fonte de bem estar.

[Veja: Como Desenvolver Compaixão]

A compaixão deve ser ativa e nos motivar a tomar a iniciativa de aliviar o


sofrimento dos outros. Nossa capacidade de ajudar pode ser limitada,
mas devemos fazer o que nos for possível, pois é insuportável não fazer
nada quando outros estão infelizes e sentem dor. A compaixão é mais
eficiente quando combinada ao conhecimento e à sabedoria, para que
saibamos o que fazer. Se formos maduros o suficiente para não nos
chatearmos, desencorajarmos ou nos sentirmos culpados quando formos
incapazes de ajudar, ou quando aquilo que sugerimos não funcionar, a
compaixão se tornará a motivação mais forte para superarmos nossas
falhas e imperfeições e atingirmos nosso pleno potencial.
Um Dia na Vida de um Budista
Dr. Alexander Berzin, Matt Lindén

Share on facebook

Os ensinamentos budistas nos oferecem muitas dicas para o cotidiano.


Segue algumas:

Quando Acordarmos
Depois de acordar, e antes de levantar, deveríamos nos sentir
extremamente felizes e gratos por ainda estarmos vivos e prontos para
enfrentar um novo dia. Estabelecemos uma forte intenção de:

1. Fazer com que esse dia seja significativo,


2. Não desperdiçar a oportunidade preciosa que temos de nos trabalhar e
de ajudar os outros.
Se tivermos que ir para o trabalho, preparamos nossa mente para nos
manter concentrados e produtivos. Tentamos não ficar irritados,
impacientes ou mal-humorados com nossos colegas de trabalho.
Procuramos ser amigáveis com todos, mas não desperdiçar o tempo das
pessoas com conversa fiada e fofoca. Se tivermos que cuidar da família,
nos comprometemos a não perder a paciência e cuidar de suas
necessidades físicas e emocionais da melhor maneira possível, cuidando
com amor.

Meditação Matinal
Em geral, procuramos meditar antes do café da manhã. Cinco a dez
minutos sentados tranquilamente, focando na respiração e aquietando a
mente já ajuda.

[Veja: Como Meditar]

Refletimos sobre o fato de nossa vida estar entrelaçada com a de todos os


seres ao nosso redor e que os sentimentos e ações de cada um de nós
afeta todos os demais; e assim geramos um sentimento amoroso: “Que
todos sejam felizes,” e também compassivo: “Que todos estejam livres da
infelicidade e de qualquer problema que tiverem.” Então, nos
comprometemos a tentar ajudar os outros da melhor maneira possível e,
se não for possível, pelo menos evitar prejudicá-los.

Presença Mental Durante o Dia


Durante todo o dia tentamos permanecer atentos a como estamos agindo,
falando, pensando e sentindo. Tentamos principalmente perceber quando
as emoções perturbadoras da raiva, ganância, inveja e arrogância
começam a surgir. E notamos se estamos agindo de forma egoísta ou
insensível, com auto-piedade ou preconceito. Em um nível mais sutil,
nosso objetivo é estarmos conscientes de quando estamos projetando
histórias absurdas sobre nós mesmos, os outros e as situações em geral.
Procuramos ficar atentos aos momentos em que imaginamos que nunca
chegará nossa vez naquela longa fila ou que ninguém é capaz de amar
como nós ou quando a única coisa que pensamos é “pobre de mim.”

Quando nos pegamos agindo, falando ou pensando compulsivamente


sobre alguma dessas coisas, que só nos trazem problemas, temos que
ficar mais atentos. Precisamos tentar parar antes de fazer ou dizer algo de
que possamos nos arrepender. E se já tivermos feito, ou dito, alguma
coisa procuramos parar assim que percebermos, para não piorar a
situação. Também tentamos parar imediatamente se percebermos que
entramos em um ciclo de pensamentos negativos. Mantemos em mente os
antídotos para acalmar e combater esses distúrbios mentais e emocionais
e os aplicamos até conseguirmos retomar nosso equilíbrio emocional.

Um exemplo com o qual a maioria de nós pode se identificar é quando


alguém no trabalho ou em casa faz algo que nos irrita. Nesse caso
precisamos:

1. Lembrar que gritar não ajuda, e tentar se acalmar, focando na


respiração. Assim como fazemos de manhã.
2. Lembrar que todos querem ser felizes e não querem ser infelizes, mas
que a maioria das pessoas está confusa e age de uma forma que só cria
mais problemas.
3. Desejar ativamente que elas sejam felizes e encontrem as causas da
felicidade.
4. Se a pessoa for receptiva a críticas, apontar os efeitos negativos de seu
comportamento e pedir-lhe para parar.
5. Se a pessoa não for receptiva, permanecer em silêncio e tomar o
incidente como uma oportunidade de treinar paciência. Mas nunca
devemos permanecer passivos se pudermos ajudar a terminar com
algum tipo de distúrbio.

Uma das coisas que mais temos de controlar é o instinto de ficarmos na


defensiva quando os outros nos criticam. Procuramos permanecer calmos
e analisar honestamente se o que disseram está certo. Se estiver, nos
desculpamos e corrigimos nosso comportamento; se o que disseram for
um absurdo, deixamos para lá — caso não tenha importância. Se for
importante, podemos mostrar que a pessoa está equivocada, contanto
que o façamos sem nenhum tipo de condescendência ou agressividade.

[Veja: 8 Dicas Budistas para Lidar com a Raiva]

No Fim do Dia
Antes de dormir, podemos fazer outra meditação curta, para relaxar das
atividades do dia. Novamente focamos na respiração. Revemos os
eventos do dia e observamos como lidamos com eles. Perdemos nossa
paciência ou dissemos alguma idiotice? Se sim, nos arrependemos de
não termos nos controlado e, sem nenhum sentimento de
culpa, resolvemos melhorar no dia seguinte. Observamos também se
lidamos com as situações com sabedoria e gentileza. Se sim,
nos alegramos e decidimos continuar nessa direção. Então vamos
dormir, esperando o amanhã para continuarmos trabalhando em nós
mesmos e ajudando os outros. Podemos nos sentir realmente felizes em
estarmos tornando nossa vida preciosa tão significativa.
O Que É a Mente?
Dr. Alexander Berzin, Matt Lindén

Share on facebook

A mente é a experiência individual e subjetiva de “algo” que esta


mudando o tempo todo.

O conceito de “mente” é elusivo, e é diferente nos diferentes idiomas. No


sânscrito, o termo budista para mente é chitta, e tem vários significados,
incluindo percepções dos sentidos, o pensamento abstrato e verbal, as
emoções, os sentimentos de felicidade e infelicidade, a atenção, a
concentração, a inteligência e outras coisas mais. No budismo, quando
falamos em mente, estamos falando de todo tipo de atividade mental.

O foco não é a base física – o cérebro, o sistema nervoso, os hormônios e


assim por diante – nem a atividade química e elétrica envolvida. O
budismo não nega nada disso, pois é claro que essas coisas existem e
estão integralmente envolvidas. Mas a mente tampouco se refere a uma
“coisa” imaterial que ocupa o cérebro e produz a sua atividade. Além
disso, o budismo não corrobora a existência de um inconsciente coletivo
ou uma mente universal.

O Que é Atividade Mental?


Se a mente e a atividade mental são uma experiência individual e
subjetiva de algo, o que significa exatamente ter raiva, por exemplo?
Significa o surgimento da raiva e da sensação da raiva, que ocorrem
simultaneamente. Juntos, eles descrevem um evento em um fluxo
continuo de experiências. Experiências de quem? Se eu estou com raiva,
é minha experiência, e não sua. Mas não existe um “eu” separado,
apertando o botão da raiva em uma máquina chamada “mente” — somos
apenas parte da experiência.
É como ver alguma coisa, como uma maçã, por exemplo. Do um ponto de
vista científico, os raios de luz entram em nossos olhos através da córnea
e se encontram com as células fotoreceptoras da retina. Isso faz com que
ocorram impulsos elétricos que fornecem a informação ótica ao córtex
visual do cérebro, onde ela é processada. A experiência subjetiva desse
processamento é o surgimento do holograma mental de uma maçã, e isso
é o que significa vê-la. No entanto, a mente não é um espaço vazio em
algum lugar do cérebro no qual esse holograma de maçã surge, como
sugere a expressão “ter algo em mente”.

Os hologramas mentais também podem ser representações de visões,


sons, odores, sabores e sensações físicas, até mesmo na imaginação ou
nos sonhos. O holograma mental também pode descrever o surgimento
de emoções e níveis de felicidade ou infelicidade baseados na secreção de
hormônios por várias outras partes do cérebro. Em um dado momento, o
conteúdo do nosso holograma mental é uma combinação de muitos
fatores: um objeto, tal como uma visão ou um pensamento, uma mescla
de emoções e algum nível de felicidade ou infelicidade.

[Veja: O Que é Felicidade?]


A Neurociência e o Budismo
Desde a inauguração do Mind and Life Institute (Instituto Mente e Vida),
em 1987, pelo Dalai Lama e o neurocientista chileno Francisco Varela,
equipes internacionais de cientistas e renomados professores budistas
têm explorado a interface entre a mente e o cérebro. Os neurocientistas
vêm monitorando a atividade mental de meditadores experientes e
novatos, revelando que a prática meditativa contínua afeta a
neuroplasticidade do cérebro, criando novos caminhos neurais, que
facilitam a concentração e a geração de emoções positivas, como a
compaixão.

Até agora, as descobertas da ciência ocidental e do budismo têm se


complementado e enriquecido as duas partes, e o esforço conjunto de
praticantes budistas e cientistas é a marca registrada daquilo que o Dalai
Lama chama de budismo do século XXI.

A atividade mental relacionada à experiência da vida é o que o budismo


chama de “mente”. Essa atividade muda a cada instante e vem sempre
acompanhada de vários fatores mentais. O budismo nos ensina que não
somos vítimas das circunstâncias, mas que influenciamos o que
experimentamos e a forma como experimentamos. Se treinarmos nossa
mente, poderemos transformar radicalmente as nossas experiências para
melhor e, com esforço contínuo, essa mudança positiva virá
naturalmente.
O Que É Karma?
Dr. Alexander Berzin, Matt Lindén

Share on facebook

Karma refere-se aos impulsos — baseados em nossos padrões de


comportamento — que nos fazem agir, falar e pensar de uma
determinada maneira. Nossos hábitos pavimentam vias neurais no
cérebro que, quando acionadas pelas circunstâncias corretas, nos fazem
repetir nossos padrões de comportamento. Ou seja, quando temos
vontade de fazer alguma coisa, a fazemos compulsivamente.

Muitas vezes, o karma é confundido com sorte ou predestinação. Quando


alguém se machuca ou perde dinheiro, as pessoas dizem: “Nossa, que má
sorte, que karma.” Esse tipo de pensamento é semelhante à ideia da
vontade de Deus – algo que não compreendemos e nem podemos
controlar. Mas esse não é o conceito budista de karma. O karma, no
budismo, refere-se aos impulsos mentais que nos fazem, por exemplo,
gritar com alguém que está nos perturbando ou esperar pacientemente
até a pessoa se acalmar e então conversar com ela. O karma também
refere-se aos impulsos que nos fazem costumar torcer o tornozelo
quando descemos as escadas ou descer as escadas com cuidado.

Fumar cigarros é um bom exemplo do funcionamento do karma pois,


cada vez que se fuma um cigarro, isso age como um potencial para fumar-
se outro. E quanto mais fumamos, mais forte é a tendência de
continuarmos fumando, até que acendemos o cigarro sem pensar. O que
nos leva a compulsivamente acender o cigarro é um impulso kármico. O
karma explica de onde a vontade e o impulso de fumar vêm — vêm de um
hábito previamente construído. Fumar não só gera o impulso de repetir a
ação, mas também influencia os potenciais físicos do corpo para
desenvolver um câncer, por exemplo. Nesse caso, tanto o impulso de
fumar quanto o desenvolvimento do câncer são resultados de ações
compulsivas anteriores, e, quando ocorrem, dizemos que houve o
“amadurecimento do karma”.

Mudando Nossos Hábitos


O karma faz sentido porque explica de onde vêm nossas vontades e
impulsos, e por que algumas vezes nos sentimos felizes e outras infelizes.
É tudo um resultado de nossos próprios padrões de comportamento.
Portanto, o que fazemos, e o que acontece conosco, não é
predeterminado.

“Karma” é um termo que designa uma força ativa, indicando que os eventos
futuros estão em nossas mãos — O 14o. Dalai Lama

Apesar de parecer que somos escravos dos nossos hábitos — afinal, nosso
comportamento habitual é baseado em vias neurais bem estabelecidas —
o budismo diz que é possível mudar isso. Temos a capacidade de mudar e
construir novos caminhos neurais ao longo da vida.

Quando sentimos vontade de fazer alguma coisa, existe um espaço antes


do impulso kármico nos fazer agir. Nós não agimos imediatamente de
acordo as nossas vontades — afinal, nós aprendemos a nos segurar para
ir ao banheiro! Da mesma forma, quando surge a vontade de dizer uma
grosseria, podemos escolher: “Será que devo mesmo dizer isso?”
Podemos sentir um alívio momentâneo ao expressar nosso desagrado
gritando com alguém, mas o hábito de gritar com os outros é um estado
mental de infelicidade. Todos sabem que resolver um conflito através do
diálogo é um estado muito mais pacífico e feliz. Essa habilidade de
distinguir entre uma ação construtiva e uma destrutiva é o que realmente
diferencia os seres humanos dos animais — essa é nossa maior vantagem.

Dito isso, nem sempre é fácil escolher não engajar-se em uma ação
destrutiva. Mas fica mais fácil escolher quando temos espaço suficiente
em nossa mente para termos consciência dos sentimentos que surgem. E
é por isso que o treinamento budista nos encoraja a desenvolver
consciência. [Veja: O Que É Meditação?] À medida que ficamos mais
calmos, ficamos bem mais conscientes do que estamos pensando e do que
estamos prestes a dizer ou fazer. Começamos a observar: “Estou com
vontade de dizer algo que machucará alguém. Se disser, poderei causar
problemas. Então, não direi.” Podemos escolher. Mas quando não temos
consciência, somos inundados por uma quantidade tão grande de
pensamentos e sentimentos que compulsivamente fazemos o que nos
passa pela cabeça, e isso nos causa inúmeros problemas.

Preveja o Futuro
Podemos prever o que pode ocorrer no futuro com base em nosso
comportamento kármico passado e atual. No longo prazo, ações
construtivas trazem bons resultados e felicidade, e ações destrutivas
trazem consequências indesejadas.
A forma como uma ação kármica amadurece depende de muitos fatores e
condições. Quando jogamos uma bola para cima, podemos prever que
cairá no chão. Mas, se pegarmos a bola antes, ela não cairá. Da mesma
forma, uma vez que podemos prever, com base nossas ações anteriores, o
que ocorrerá no futuro, podemos dizer que o futuro não é determinado,
não é destino e nem é gravado na pedra. Várias tendências, ações, e
circunstâncias influenciam o amadurecimento do karma. Se formos
obesos e continuarmos a comer muita comida que engorda, podemos
prever uma alta probabilidade de termos diabete, mas se fizermos uma
dieta severa e perdermos bastante peso, pode ser que não adoeçamos.

Quando batemos o nosso pé, não temos que acreditar em karma ou causa
e efeito para experimentar a dor — ela simplesmente ocorre,
naturalmente. Da mesma forma, se mudarmos nossos hábitos e
desenvolvermos hábitos mais benéficos, o resultado positivo virá,
independente de nossas crenças.
O Que É Ética?
Dr. Alexander Berzin, Matt Lindén

Share on facebook

A ética é um sistema de valores morais que molda o nosso


comportamento para fazer nossa vida mais feliz. Com a ética, vivemos
com honestidade, o que faz com que as pessoas tenham mais confiança e
amizade conosco. A ética é a chave para a felicidade.

Ética no Budismo
No Budismo, a ética baseia-se na consciência discriminativa: usamos
nossa inteligência para discernir entre o que gera felicidade duradoura e
o que gera problemas recorrentes. Não é uma questão de obedecer
cegamente uma lista de regras, mas de perceber que faz sentido seguir
algumas orientações éticas.
Se realmente nos preocupamos conosco, faz sentido tomarmos decisões
inteligentes em relação ao nosso comportamento. [Veja: O Que é
Felicidade?] A baixa autoestima nos leva a uma atitude de indiferença
moral, enquanto uma autoestima positiva nos leva à dignidade. Quando
temos dignidade, nos respeitamos tão profundamente que nunca
cogitamos agir de maneira antiética, simplesmente não parece certo.

Como uma abelha que recolhe o néctar das flores sem perturbar sua cor ou
fragrância; o sábio move-se pelo mundo - Dhammapada: Flores, verso 49

Ética e Votos Baseados na Razão


A prática budista é baseada no bom senso. Se formos egoístas, irritados e
arrogantes, como esperar uma vida pacífica e feliz?

No budismo, pode-se tomar vários níveis de votos. Por exemplo, monges


plenamente ordenados, na tradição tibetana, têm que seguir 253 votos, e
muitos budistas leigos tomam os “cinco preceitos dos leigos”, que são:

 Abster-se de matar
 Abster-se de pegar para si o que não lhe for dado
 Abster-se do comportamento sexual inadequado
 Abster-se de falar mentiras
 Abster-se de substâncias intoxicantes

Esses preceitos são tomados voluntariamente pelos praticantes budistas,


a fim de criar uma vida conducente à prática. Essas regras nos ajudam a
permanecer na direção correta, e também geram as causas para
desenvolvermos uma vida feliz e bem sucedida.

[Veja: Refúgio: Um Direcionamento Seguro e Significativo para a Vida]

Ética para uma Vida Bem Sucedida


Algumas pessoas acham que uma vida bem-sucedida é ter muita riqueza
material e poder. Mesmo que consigamos essas coisas, nunca estaremos
satisfeitos e ficaremos paranóicos com medo de perdê-las. E quanto mais
coisas tivermos, especialmente se as obtivemos às custas dos outros, mais
inimigos teremos. Ninguém diria que uma vida bem sucedida é quando as
pessoas não gostam de nós. Uma vida bem sucedida é uma vida em que
fazemos muitas amizades e as pessoas sentem-se felizes em nossa
companhia. Então, não importará quanto dinheiro ou poder tenhamos;
teremos apoio emocional, o que nos dará força para lidar com o que quer
que venha a nos acontecer.
As diretrizes éticas indicam os tipos de comportamento que geram
felicidade e os que criam problemas. Quando somos honestos e
desejamos trazer felicidade aos outros, as pessoas confiam que não as
trairemos, maltrataremos ou exploraremos. Essa confiança é a base para
um relacionamento amistoso com todos aqueles que encontramos. As
pessoas sentem-se à vontade e felizes conosco, pois sabem que há nada a
temer. E nós também nos sentimos felizes. Quem gostaria que as pessoas
ficassem sempre na defensiva ou tremendo de medo em sua companhia?
Todos gostam de um sorriso.

Humanos são seres sociais: precisamos do apoio uns dos outros para
sobreviver, e não só quando somos recém nascidos ou idosos, mas
durante toda a vida. Sempre precisamos da ajuda e cuidado dos outros. O
apoio emocional que recebemos de amigos afetuosos faz com que nossa
vida seja gratificante. Uma ética forte nos permite criar relacionamentos
de amizade com todos as pessoas.
O Que É a Felicidade?
Dr. Alexander Berzin, Matt Lindén

Felicidade – aquela sensação de bem estar, paz de espírito e satisfação em nossas vidas – é um
sentimento que todos queremos. Mesmo quando experimentamos somente um pouquinho,
queremos que continue para sempre.

Share on facebook

Mas qual a fonte da felicidade? Muitas pessoas pensam que se


satisfizerem todas as suas necessidades e desejos serão felizes. Na
verdade, estar preocupados de forma egoístasomente com nós mesmos
leva à solidão e depressão. Por isso, o Budismo diz que a maior fonte de
felicidade é alegrar-se pelos outros: quando sinceramente nos
preocupamos com o bem estar dos outros e sua felicidade, nossos
corações se abrem e nos sentimos conectados com eles. Tentamos ajudá-
los o máximo possível e evitamos fazer algo que possa prejudicá-los. Isso
gera amizades confiáveis que tornam nossas vidas mais plenas. Com o
apoio emocional da família e amigos encontramos a força para lidar com
o que quer que surja em nossas vidas.

Porque muitos de nós achamos desconfortável estar sozinhos com nossos


pensamentos e emoções, constantemente nos distraímos ouvindo música
ou jogando no computador, o que nos afasta dos outros. Num esforço
para nos sentirmos conectados frequentemente nos voltamos para as
redes sociais, onde esperamos atentamente por curtidas e comentários
sobre as nossas selfies. Mas isso não nos conecta realmente com os
outros, nem fornece uma verdadeira sensação de felicidade.

O que realmente nos conecta com os outros é pensar em sua felicidade e


em como ajudá-los, ao invés de olharmos para as pessoas buscando
afirmação de nosso valor ou algo que nos fará feliz. Tudo se resume a
preocupar-se consigo versus preocupar-se sinceramente com o bem-estar
dos outros.

É fácil achar que não temos poder algum para impactar o mundo de hoje,
e assim talvez pensemos: “Não importa mesmo… Para que me
preocupar?” Mas a realidade é que podemos afetar até mesmo
desconhecidos, pensando no seu bem e tentando ajudá-los. Até um
pequeno sorriso ou deixar a pessoa passar na nossa frente na fila do caixa
nos faz sentir que fazemos a diferença. Dá-nos a sensação de valor
próprio – temos algo para dar e isso nos faz bem. Tornamo-nos mais
felizes conosco e com a vida.

Nós, seres humanos, somos animais sociais: só conseguimos prosperar


quando estamos conectados com os outros. Gentileza, preocupação e
compaixão pelos outros, são, portanto, aquilo que mais devemos cultivar
para vivermos uma vida feliz.
O Que é Iluminação?
Dr. Alexander Berzin, Matt Lindén

Share on facebook

Ser iluminado significa ser um buda — o pináculo do desenvolvimento e


potencial humano. Esse é o objetivo último do budismo, e todos os seres
deste planeta têm o potencial de atingir a iluminação.

No momento, não somos budas, experimentamos a vida como sendo cheia


de altos e baixos, e problemas. Estamos presos nisso porque nossa mente
automaticamente projeta todo tipo de absurdo, e acreditamos que é a
realidade. Agimos da forma que achamos que irá nos trazer felicidade,
mas que só nos traz infelicidade.

[Veja: O Que é Ética?]

Normalmente, fazemos o que queremos, sem pensar muito em como


nosso comportamento pode afetar os outros, pois sentimos que somos o
centro do universo, o único que importa. Esse tipo de pensamento não
corresponde à realidade: é autocentrado e causa infelicidade a nós e aos
outros. Para nos iluminarmos, precisamos:

 Entender o efeito do nosso comportamento em nós mesmos e nos


outros, e evitar agir de forma destrutiva.
 Perceber como as coisas realmente existem e não deixar que nossas
projeções nos enganem.

Quando paramos de acreditar em nossas projeções mentais, emoções


destrutivas como a raiva, o ódio, a ganância e a inveja também param de
surgir dessa confusão. Nunca mais agimos compulsivamente com base em
nossos sentimentos negativos. Mas isso requer:

 Autodisciplina ética, para ter força de evitar o comportamento


insensato
 Concentração, para evitar distração e torpor
 Sabedoria, para discernir entre o que ajuda e o que atrapalha, e entre o
que é verdadeiro e o que é falso
 Equilíbrio emocional, que vem de cultivar qualidades positivas, como
amor e compaixão

Mas mesmo que isso nos traga paz de espírito, não é o suficiente: ainda
não conseguiremos enxergar a interdependência e a interconexão de
absolutamente tudo e todos. Portanto, nunca saberemos exatamente qual
a melhor coisa que podemos fazer para ajudar os outros.

Para isso, precisamos nos tornar budas totalmente iluminados, um estado


em que nossa mente não projeta mais nada, em que conseguimos ver
claramente a interdependência de tudo o que existe e saber exatamente
como ajudar os outros. O corpo de um buda tem energia ilimitada,
consegue comunicar-se perfeitamente com todos e sua mente entende
absolutamente tudo. Quando nos tornamos budas, nosso amor,
compaixão e equanimidade com todos os seres é tão forte que é como se
todos fossem nosso/a único/a filho/a. [Veja: O Que é Compaixão?]
Trabalhamos para beneficiar os outros sem esperar nenhuma
recompensa. Quando somos iluminados, é impossível perdermos a
paciência, ficarmos com raiva, nos apegarmos às pessoas ou ignorá-las
por estarmos ocupados ou cansados.

Como budas, também somos oniscientes, mas não onipotentes. Não


conseguirmos eliminar o sofrimento alheio, mas podemos mostrar como
eliminá-lo, através de ensinamentos e do nosso exemplo. Para seguirmos
o caminho da iluminação, precisamos:

 Gerar uma incrível quantidade de força positiva: beneficiando os


outros da melhor maneira possível e desinteressadamente.
 Trabalhar no sentido de compreender a realidade: parar de projetar
coisas absurdas no mundo.

Todos temos o necessário — nosso corpo físico e inteligência humana —


para criar as causas da iluminação. Assim como o céu, nossos corações e
mentes são naturalmente livres da poluição dos tumultos emocionais e
pensamentos perturbadores. Para que atinjam seu pleno potencial, só
precisamos desenvolvê-los.

A iluminação pode parecer um objetivo distante e impossível de alcançar


— ninguém disse que é fácil! No entanto, seguir nessa direção dá um
sentido impressionante à nossa vida. Compreender nossa interconexão
com todos os seres nos protege de sentimentos de isolamento, depressão
e ansiedade. Nossa vida fica completa quando embarcamos na maior de
todas as aventuras: alcançar a iluminação pelo bem de todos.
Como Fazer?
Instruções claras e passo-a-passo sobre os métodos budistas para treinar a
meditação e desenvolver amor, compaixão e uma ampla gama de emoções
positivas.
8 Dicas Budistas para a Felicidade
Dr. Alexander Berzin

Share on facebook

A felicidade é algo que todos gostaríamos de sentir, não importando o que


estiver acontecendo. Mas como ser uma pessoa basicamente feliz, capaz
de lidar com o que quer que aconteça na vida? Aqui vão algumas dicas
budistas:

1. Todos os dias tire um tempinho para aquietar-se - acalme-se focando


em sua respiração.

2. Quando estiver com os outros, esteja consciente de como você se


comporta e fala; quando sozinho, esteja consciente sobre o que está
acontecendo com sua mente - tente agir, falar e pensar de maneiras
construtivas.

3. Faça algo agradável para alguém diariamente - tenha o interesse


sincero na sua felicidade.

4. Seja generoso com os outros - isso impulsionará sua sensação de valor


próprio.

5. Foco nos seus pontos fortes e dos outros - faça sugestões úteis quando
problemas surgirem.

6. Deixe para lá os erros dos outros - pratique o perdão.

7. Deixa para lá seus próprios erros - perdoe-se.

8. Aceite a realidade - a vida está cheia de altos e baixos, mas não importa
o quanto as coisas piorarem, tudo passa.

Ser feliz não vem de lugar algum; você tem que trabalhar nisso. No
entanto, com prática, todos podem levar uma vida mais feliz.
Como Meditar
Dr. Alexander Berzin, Matt Lindén

A maioria dos iniciantes começa a meditar focando na respiração, muitas vezes como um
método para aliviar o estresse. Ao trazer a atenção repetidamente de volta para a respiração,
quando ela se distrai ou se torna apática, nós ficamos mais calmos e repousamos em um
estado mental calmo, aberto e alerta. Este estado neutro pode servir como base sobre a qual
desenvolver, com mais meditação, sentimentos positivos como amor e compreensão para com
os outros.

Share on facebook

Muitos iniciantes se entusiasmam em começar logo a meditação, sem


receber muitos ensinamentos budistas. Isto está bem no começo, embora
seja necessário aprender a sabedoria que Buda transmitiu para ir mais
fundo e compreender os próprios problemas, a fonte destes nas próprias
mente e atitudes, e como a meditação pode transformá-los
completamente. No entanto, se não estiverem preparados para isso,
podemos olhar o que pode ser feito no nível mais iniciante.

Pontos Gerais antes de Começar


Quando começarem a praticar a meditação, será útil praticar em um
espaço conducente ao silêncio. Quando se tornarem avançados, poderão
meditar em qualquer lugar, mas no início, o entorno afeta muito a mente.

Lugar para a Meditação


Algumas pessoas pensam que a situação mais favorável para a meditação
tem que ser como um cenário de filme de Hollywood – um quarto especial
com velas, flores e incenso. Se você quiser ter este tipo de ambiente, tudo
bem, mas esta configuração elaborada certamente não é necessária. No
entanto, como sinal de respeito, é importante que o quarto esteja
arrumado e limpo. Não tenha roupas espalhadas pelo chão, etc.

Se o ambiente ao nosso redor estiver ordenado, isso ajudará a mente a se


tornar ordenada. Se o ambiente for caótico, isso afetará a mente de forma
negativa.
Também é muito útil, especialmente no início, se o ambiente for quieto.
Para muitos de nós, não é tão fácil achar um lugar quieto, especialmente
na cidade. Então, muitas pessoas meditam de manhã cedo ou mais tarde,
à noite, quando há menos barulho. Eventualmente, quando vocês se
tornarem avançados, o barulho não os afetará; mas no começo ele pode
ser muito inquietante.

Música e Meditação
Na tradição budista, certamente não meditamos com música. A música é
uma fonte externa que talvez possa ser usada para tentar acalmar a
pessoa. No entanto, ao invés de confiar em uma fonte externa de
tranquilidade, é melhor serem capazes de gerar a paz internamente. A
música também pode ser bastante hipnótica e vocês não vão querer
entrar em torpor. Não é necessário se tranquilizar, como em uma sala de
espera de um dentista, com música gentil tocando para acalmar a pessoa.
Não se trata de uma boa atmosfera para meditação.

A Postura da Meditação
No que diz respeito à postura de meditação, a coisa mais importante é
sentar em uma posição confortável com as costas retas e os ombros, os
músculos do pescoço e da face relaxados. A sessão de meditação não
deveria ser uma sessão de tortura na qual a pessoa está sentada sentindo-
se horrível porque o joelho dói e ela mal pode esperar para que a coisa
acabe. Se você precisar sentar em uma cadeira, tudo bem. Em exercícios
muito avançados de meditação, nos quais se trabalha com sistemas de
energia do corpo, a postura é importante. Mas, em geral, é preciso ser
capaz de meditar em qualquer tipo de situação. Vocês podem estar
acostumados a sentar de pernas cruzadas em uma almofada, mas se
estiverem em um avião ou trem e não puderem sentar de pernas
cruzadas, então vocês simplesmente meditam enquanto sentados
normalmente na poltrona.

Tempo para a Meditação


A quantidade de tempo de sua meditação também variará à medida que
vocês progredirem. No início, sempre é recomendável meditar por um
período muito curto – de três a cinco minutos – pois será muito difícil
concentrar e ficar focado por qualquer período mais longo do que isso. É
melhor ter um período curto no qual estão mais focados do que um longo
período no qual estão divagando mentalmente, sonhando acordados, ou
adormecendo.

Se estiverem fazendo um certo tipo de meditação zen, então manter a


postura e não se mexer é muito importante. Em outros tipos de
meditação, se precisarem mover as pernas, se moverem as pernas – não é
um grande problema. Em todos esses tipos de práticas espirituais, é
muito importante estar relaxados, tanto na mente quanto no corpo, não
se esforcem demais. É claro que é preciso demonstrar respeito pelo que
estão fazendo, mas não transformem isso em uma situação dramática,
como por exemplo: “Sou uma pessoa sagrada sentada aqui e preciso ser
perfeito.”

Um dos princípios mais importantes a ser lembrado é que há altos e baixos


em todos os âmbitos. Alguns dias a meditação vai muito bem, outros dias
não tão bem.

Alguns dias vocês terão vontade de meditar, outros não. Nunca será o
caso da sua meditação se tornar cada vez melhor. O progresso não é
linear desta forma; sempre haverá altos e baixos.

Talvez, depois de alguns anos, vocês serão capazes de ver que há uma
tendência geral que demonstra que a sua prática está melhorando, mas
sempre alguns dias serão melhores do que outros. Como dizia um de
meus professores: “Nada de especial.” Se for bem – nada de especial. Se
não for bem – nada de especial. Vocês apenas continuam.

Quantas Vezes Meditar


O mais importante é perseverar. Meditar todos os dias. Como praticar o
piano, é preciso fazê-lo todos os dias. Apenas por alguns minutos de cada
vez, está bem assim. Façam uma pausa, e meditem por mais alguns
minutos. Façam outra pequena pausa, e mais alguns poucos minutos de
meditação. É melhor praticar assim, ao invés de sentar por uma hora em
uma sessão de tortura.

Meditação na Respiração
A primeira meditação que a maioria das pessoas aprende é simplesmente
sentar em silêncio e focar na respiração. Ela é especialmente útil para se
acalmar e ficar mais claros quando estiverem estressados. Vocês apenas
respiram normalmente através do nariz: não rápido demais, não devagar
demais, não profundo demais, não superficial demais. Com certeza, não é
para hiperventilar; se respirarem profundo demais, ficarão muito tontos
e isso não é nada útil.

Vocês podem focar na respiração em dois lugares: ou na sensação da


respiração entrando e saindo do nariz, ou na sensação do abdômen
entrando e saindo. Se a mente estiver divagando muito e vocês estiverem
viajando com a mente nas nuvens, então focar na área do ventre ao redor
do umbigo ajuda a aterrar. Por outro lado, se estiverem muito sonolentos
e apáticos, então focar na sensação da respiração entrando e saindo do
nariz ajuda a elevar a energia. Julguem para si mesmos o que necessitam
em cada dado momento.

A ideia é ficar focado na respiração com a consciência. Vocês não estão


apagando suas mentes; estão conscientes da sensação de respiração, sem
pensamentos extras passando pela mente. No começo, podem
repetidamente contar ciclos de inspiração e expiração até onze, como
uma forma de redirecionar a voz na cabeça quando forem incapazes de se
acalmar. Eventualmente, no entanto, podem parar com a contagem e
apenas focar na sensação da respiração.

O real trabalho é reconhecer o mais rápido possível quando a atenção


divaga e trazê-la de volta; ou, se começarem a ficar apáticos e sonolentos,
trata-se de despertar. Não se enganem: isso não é fácil, pois tendemos a
ser muito apegados a nossos pensamentos e à nossa divagação mental, e
nos esquecemos que precisamos trazer a nossa atenção de volta.
Especialmente, se houver alguma emoção perturbadora envolvida, como
pensar em alguém a quem somos muitos apegados, alguém que nos faz
falta, ou alguém de quem realmente temos raiva, então é mais difícil
trazer de volta a atenção. Mas a respiração sempre está ali; é algo estável
para onde sempre podemos trazer de volta a nossa atenção.

Benefícios da Meditação na Respiração


Focar na respiração tem muitos outros benefícios além de ajudar vocês a
lidar com o estresse. A respiração é muito conectada com o corpo. Se
vocês forem o tipo de pessoa que é muito preocupada com seus
pensamentos ou alguém que tem a “cabeça nas nuvens”, então focar na
respiração, independentemente de focar nas narinas ou no ventre, nos
ajuda a aterrar, a nos trazer mais para o próprio corpo, para a realidade.

Focar na respiração também é muito útil se vocês tiverem dor. Aliás, as


meditações da respiração foram adotadas em alguns hospitais,
especialmente nos Estados Unidos, para o gerenciamento da dor. Se
pensarem sobre isso, quando um bebê chora, e a mãe o segura perto do
peito, o bebê sente a respiração da mãe entrando e saindo, o que é muito
calmante. Da mesma forma, se focarem na própria respiração, isso pode
ajudá-los a se acalmarem, especialmente se tiverem muita dor. E a
respiração pode aliviar não apenas a dor física; pode também aliviar ou
diminuir a dor emocional.
Gerar Amor pelos Outros
Uma vez que tenham calmado a mente com a meditação na respiração,
vocês podem usar este estado mental calmo, aberto e alerta para gerar
mais amor pelos outros. Para gerar amor, precisam se elevar rumo a um
estado amoroso. No começo, não dá para apenas pensar: “Agora eu amo
todo mundo.” e depois realmente sentir isso. Não há poder por detrás de
um pensamento como este. Então, usamos um processo de pensamento
para nos elevar rumo a um sentimento de amor, como por exemplo:
“Todos os seres vivos são interconectados; todos estamos juntos aqui.
Todos são iguais: queremos ser felizes, ninguém quer ser infeliz; todos
querem ser amados, ninguém quer ser repudiado ou ignorado. Todos os
seres são simplesmente como eu.”

Meditação sobre a Gentileza Amorosa


E já que estamos todos juntos aqui e somos interconectados, então o
amor é o sentimento de: “Que todos sejam felizes e tenham as causas da
felicidade. Quão maravilhoso seria se todos fossem felizes e ninguém
tivesse nenhum problema.” À medida que vocês desenvolvem este estado
mental e este coração amoroso, vocês podem imaginar uma luz cálida e
amarela como o sol brilhando de dentro de vocês e levando amor a todos.
Se a atenção divagar, vocês a trazem de volta para este sentimento: “Que
todos sejam felizes”

Meditação para o Cotidiano


Se nos acostumarmos com este tipo de meditação, desenvolveremos as
ferramentas que podemos usar no cotidiano. Simplesmente focar na
nossa respiração não será a única atividade do dia inteiro. Este não é o
objetivo final, não é mesmo? No entanto, podemos definitivamente usar
em nosso cotidiano a habilidade que desenvolvemos de sempre voltar a
trazer a nossa atenção para um foco. Por exemplo, se estivermos tendo
uma conversa com alguém e as nossas mentes começarem a divagar, e
estivermos pensando: “quando ela vai se calar?” e fizermos todos os tipos
de julgamentos e comentários em nossa mente sobre o que ela anda
dizendo, assim que notarmos que isto está acontecendo, precisaremos
aquietar tudo isso. Apenas trazemos de volta a nossa atenção para a
pessoa e o que ela estiver dizendo. Depois, geramos a compreensão sem
julgamento: “Trata-se de um ser humano. Ela quer ser amada. Ela quer
que eu a escute quando está falando comigo. Ela quer que eu a leve a
sério, como eu quero ser levado a sério.”
Conclusão
O objetivo da meditação é, pois, ser capazes de aplicar as habilidades que
desenvolvemos nas experiências cotidianas. A intenção não é ganhar a
medalha olímpica de ouro por ser capazes de sentar de forma perfeita na
meditação que foca na respiração; este não é o objetivo! Ao invés disso,
queremos meditar para que a prática nos ajude em nossas vidas pessoais
e em nossas interações com os outros. Para fazer isso, temos que
desenvolver mais hábitos benéficos. É disto que trata a meditação.
Como Desenvolver Amor
Dr. Alexander Berzin, Matt Lindén

Share on facebook

Ninguém pode negar o benefício que o amor – o tema de inúmeros


poemas, peças, músicas e filmes – traz para o mundo. Todos nós sentimos
graus variáveis de amor por nossa família, pelos amigos e animais de
estimação, mas este sentimento pode ser estendido para todos em todas
as partes. Este artigo introduz métodos budistas para desenvolver o
nosso amor para que ele possa abraçar todos os seres.

O amor universal – o desejo de que todos sejam felizes e tenham as causas


da felicidade – surge do entendimento e da apreciação de como as nossas
vidas são totalmente conectadas com as vidas de todos. Somos parte da
humanidade como um todo, o nosso bem-estar está interligado com o
bem-estar de toda a comunidade global. Todos somos afetados pela
economia global, pelas mudanças climáticas, pela destruição do meio-
ambiente e assim por diante. É exatamente como o nosso próprio corpo: a
mão ajuda ao pé quando entra uma farpa neste, já que o bem-estar de
cada parte do corpo afeta o corpo inteiro. Da mesma forma, como uma
parte do corpo da humanidade, faz todo sentido que estendamos o nosso
cuidado e a nossa gentileza amorosa para todos os outros membros deste
corpo.

Cultivar amor pelos outros automaticamente acalma a mente. É a fonte


absoluta de sucesso na vida. – O 14º Dalai Lama

Uma vez que desenvolvemos um sentimento de conexão, pensamos em


como tudo aquilo que consumimos e desfrutamos vem a nós através do
trabalho duro dos outros. Apenas pensem em quantas pessoas em
diferentes lugares do mundo estiveram envolvidas em fazer e transportar
o aparelho eletrônico no qual você está lendo isso. Quantos milhões
estiveram envolvidos em criar esta demanda do mercado? Isso nos
permite gerar um sentido de gratidão por como os outros, direta e
indiretamente, nos beneficiam. Ao nos sentir conectados e gratos em
relação a todos, naturalmente nos sentimos felizes e temos o cuidado com
a felicidade alheia. Estes sentimentos são a base para o amor universal,
livre de apego.

Para gerar bondade amorosa, progredimos em etapas. Primeiro, nós


focamos em nós mesmos, pois se não desejarmos ser felizes, porque
desejaríamos que qualquer outra pessoa o fosse? Depois, estendemos
este desejo ao círculo de entes amados, depois vamos além, às pessoas
neutras que encontramos no cotidiano, e depois até mesmo para aqueles
de quem não gostamos especialmente. Lentamente, nós estendemos o
âmbito de aplicação a toda a nossa comunidade, região, ao país, e
finalmente ao mundo. Podemos até mesmo estendê-lo aos animais
também.

Em cada fase, pensamos em qualquer felicidade que esses grupos possam


estar vivenciando e geramos os seguintes pensamentos e sentimentos:

 Quão maravilhoso seria se todos eles fossem felizes e tivessem as


causas da felicidade.
 Que eles sejam felizes. Desejo que eles sejam felizes.
 Que eu seja capaz de criar felicidade para eles.

Se formos capazes de realmente fazer algo para contribuir com a


felicidade alheia, então nós o faremos. Se não for possível, então nos
imaginamos dando aos outros não apenas algo que os levará a uma
felicidade a curto prazo, mas especialmente a um bem-estar a longo
prazo. Não se trata apenas de ajudar materialmente, oferecendo comida
aos que têm fome e alojamento aos desabrigados. Muitas pessoas ricas e
bem-sucedidads também são miseráveis e temos que incluí-las em nossos
pensamentos. Oferecer as causas da felicidade significa, além disso,
desejar a todos os outros ingredientes essenciais para felicidade a longo
termo tais como equilíbrio emocional, paz mental, entendimento e
sabedoria.
Como Desenvolver a Compaixão
Dr. Alexander Berzin, Matt Lindén

Share on facebook

Todos os seres nasceram com o potencial de ter compaixão e desejar que


os outros sejam livres do sofrimento e suas causas. Não somente isso, mas
da mesma forma como podemos treinar um instrumento de música ou
um esporte, a compaixão é algo que todos nós podemos treinar e
desenvolver, trazendo incrível benefício para nós e os outros.

A melhor forma de começar a desenvolver compaixão é inicialmente


limitar o nosso âmbito de aplicação a um número pequeno de seres, como
as pessoas que encontramos ou pessoalmente ou na mídia social, e talvez
alguns animais. Lentamente, tentamos estender a nossa compaixão a
todos de forma igual, expandindo o âmbito de aplicação para todos
aqueles de quem gostamos e com que somos amáveis, depois com
estranhos, e depois com as pessoas de quem absolutamente não
gostamos. Continuamos até que a nossa compaixão inclua todos os seres
humanos e todos os animais – o mundo inteiro. Lembrem-se de que a
nossa compaixão tem que incluir todos aqueles animais, pássaros e
insetos dos quais temos medo e que consideramos como sendo pestes.
Sim, até mesmo as baratas!

A compaixão tem tanto um componente emocional como também um


componente racional. A parte emocional consiste em apreciar a
interdependência de toda vida neste planeta. Se olharmos para a
economia global, tudo aquilo que consumimos ou utilizamos – a comida,
as roupas, os aparelhos, as casas, os veículos, e a lista continua – é
produzido pelo trabalho duro de outras pessoas. Sem seus esforços, não
poderíamos ter estradas, eletricidade, combustível, água ou a comida que
degustamos. Quando entendemos este fato, naturalmente nos sentimos
gratos, o que é um estado mental feliz, levando àquilo que chamamos de
“amor que acalenta o coração”. Quanto mais forte for a nossa gratidão,
mais estimaremos os outros, como uma mãe a seu precioso filho único,
que se sentiria péssima se algo de horrível acontecesse com ele ou com
ela. Este sentimento que acalenta o coração oferece o componente
emocional da compaixão. Nos sentimos tristes pelos infortúnios alheios,
mas ao invés da comiseração, não mantemos uma distância emocional e
sentimos pena da pessoa, lastimando a sua sorte. Sentimos empatia, como
se os problemas dela fossem nossos.

A base racional para estender a nossa compaixão de forma igual para


todos é tão óbvia, mas é algo que muitas pessoas nem mesmo
consideram: todos são iguais no desejo de ser felizes e todos também são
iguais no desejo de ser livres de infelicidade e sofrimento. Esses dois fatos
são verdadeiros e isso independe da pessoa ser próxima ou distante de
nós e daquilo que ela faz. Mesmo se alguém causa muito sofrimento, a
pessoa faz isso por ignorância, confusão e ilusão, pensando de forma
errônea que isso a beneficiará, a ela ou à sociedade. Não é porque esta
pessoa é inerentemente má; ninguém é inerentemente “mau”. Portanto, é
razoável e adequado ter compaixão por ela, pois da mesma forma que não
queremos sofrer, ela também não quer.

Meditação da Compaixão
O treino para desenvolver compaixão consegue gerá-la em estágios de
intensidade. Primeiro focamos nos sofrimentos daqueles de quem
gostamos, depois daqueles em relação a quem somos neutros, depois
daqueles de quem não gostamos. Em última instância, focamos no
sofrimento de todos, em todas as partes, de forma igual.

Em cada estágio geramos três sentimentos:

 O quão maravilhoso seria se eles fossem livres do sofrimento e suas


causas
 Desejamos que eles sejam livres; gostaríamos que eles fossem livres.
 Que possamos ajudar a libertá-los.

Portanto, a compaixão contem o desejo de ajudar os outros a se libertar


de seus problemas e ir além de sua infelicidade. Ela confia que os
problemas podem ser resolvidos por métodos realistas e que nenhuma
situação é sem esperança. Então, a compaixão no budismo é um estado
ativo da mente que está preparada para, a qualquer momento, entrar em
ação para o benefício dos outros.
11 Maneiras de Ajudar os Outros
Dr. Alexander Berzin, Matt Lindén

Share on facebook

Existem muitas maneiras de ajudar os outros, mas precisamos


compreender a situação de cada um e discernir a melhor maneira de
ajudar. Sermos compassivos e habilidosos não é suficiente, também
precisamos ser generosos com o nosso tempo, ter autodisciplina,
paciência, perseverança, concentração e sabedoria. Aqui estão 11
maneiras de ajudar as pessoas, mas que também nos ajudam a romper a
barreira da solidão e dar significado à nossa vida:

1. Cuidar dos que Estão Sofrendo


Precisamos cuidar dos doentes, dos inválidos e daqueles que sentem dor.
Se virmos alguém em dificuldade, temos que intervir e compartilhar de
seu fardo.

2. Orientar os Que Estão Confusos em Relação a Como se Ajudar


Às pessoas que estão confusas em relação a como se ajudar, podemos
oferecer um conselho, se nos pedirem, ou ao menos um ouvido que as
ouça. Se o nosso cachorro ou gato estiver preso em um quarto, abrimos a
porta para deixá-lo sair. Aplicamos essa orientação até mesmo quando
uma mosca estiver voando perto da janela. A mosca não quer ficar em
nosso quarto; ela quer sair. Então, abrimos a janela e a deixamos sair.

3. Retribuir a Bondade Dos que Nos Ajudaram


É importante apreciar o trabalho de todos os que fazem o mundo
funcionar e tentar ajudar os que já fizeram tanto por nós, como os nossos
pais. Mas temos que fazer isso com um sentimento sincero de gratidão, e
não por culpa ou obrigação.

4. Reconfortar e Proteger os que Têm Medo


Precisamos tentar ao máximo confortar as pessoas e animais que
estiverem assustados. Se alguém precisar ir a um lugar perigoso, onde
possa se machucar, lhe oferecemos nossa companhia e proteção. Aos
refugiados que escaparam de um passado violento, damos segurança e
lhes ajudamos a se estabelecer. Os que ficaram traumatizados pela guerra
ou por alguma forma de abuso precisam de compreensão especial e ajuda
para curar suas feridas emocionais.

5. Consolar os Que Estão Tomados Pelo Luto


Quando as pessoas estão em luto por conta de um divórcio ou da perda de
um ente querido, tentamos lhes consolar de uma forma compassiva.
Nunca devemos tratá-los com pena, “Ah, coitadinho!” Ao invés disso,
devemos nos colocar no lugar deles e compartilhar de sua dor.

6. Dar Ajuda Material Aos Pobres


É importante doar para instituições de caridade, mas também é
importante doar para os mendigos que encontramos nas ruas. Temos que
superar qualquer resistência que tenhamos, especialmente quando os
mendigos parecerem sujos e repugnantes e não quisermos nem mesmo
olhar para eles, muito menos sorrir ou tratá-los com respeito. Imaginem
se aquela pessoa vivendo nas ruas fosse a nossa mãe ou o nosso filho:
como poderíamos passar por ela com frieza, como se ela fosse uma pilha
de lixo?

7. Introduzir o Dharma os que São Apegados a Nós


Também precisamos trabalhar para ajudar aqueles que querem estar
conosco o tempo inteiro. Não queremos que fiquem dependentes. Se
tiverem uma conexão kármica muito forte conosco, podemos tentar
ajudá-los ensinando alguns métodos budistas básicos para alcançar a
felicidade e ajudar os outros, mas apenas se demonstrarem interesse. Não
queremos converter as pessoas, queremos apenas lhes proporcionar
ajuda e conselhos. Assim, podemos fazer com que nosso relacionamento
com elas seja mais significativo.

8. Ajudar os Outros de Acordo com Aquilo que Desejam


Devemos tentar ajudar os outros de acordo com suas preferências. Se
alguém nos pedir para ensinar uma determinada coisa e formos capazes
de ensinar, devemos tentar fazê-lo da melhor maneira possível, mesmo
que ensinar não seja aquilo que mais gostamos de fazer. É como quando
vamos a um restaurante com um amigo. Seria egoísmo e falta de
consideração insistir para que todas as vezes pedíssemos nosso prato
favorito. Às vezes também podemos comer o que o outro gosta. Em um
relacionamento afetivo também precisamos achar um meio-termo entre
aquilo que queremos e o que o outro quer. Não tem que ser sempre como
a gente quer.
9. Encorajar os Que Levam uma Vida Integra
Podemos ajudar elogiando as pessoas que levam uma vida íntegra, que
seguem um caminho positivo e estão fazendo um bom trabalho. Para
pessoas com baixa autoestima, o elogio é especialmente importante. No
caso de pessoas que têm boas qualidade mas são arrogantes, podemos
elogiá-las para os outros, mas não na sua frente, para não deixá-las ainda
mais arrogantes. Podemos encorajá-las a usar de suas habilidades para
beneficiar os outros, mas também apontar seus erros, para ajudá-las a ter
menos orgulho.

10. Ensinar Comportamentos Construtivos Para os Que Levam


Vidas Destrutivas
Se encontrarmos pessoas que levam vidas muito destrutivas e negativas,
não devemos nunca as repudiar, rejeitar ou condenar. Ao invés de julgá-
las, devemos tentar mostrá-las maneiras de superar o comportamento
negativo, se elas estiverem abertas a isso.

11. Quando Todo o Resto Falhar, Usar Nossas Habilidades


Alguns de nós têm habilidades extraordinárias. Pode ser que sejamos
experts em artes marciais mas não façamos alarde em relação a isso. No
entanto, se virmos alguém sendo atacado, pode ser que tenhamos que
usar o nosso treinamento para subjugar o atacante, caso não haja outra
maneira de pará-lo.

Resumo
Há muitas maneiras de beneficiar os seres. Precisamos ter a capacidade
de saber como ajudar cada pessoa, e também quando oferecer ajuda e
quando deixar que a pessoa aprenda a se virar sozinha. Aqueles que
estiverem claramente sofrendo, seja física ou mentalmente, precisam de
nossos cuidados imediatos. Entretanto, a ajuda tem que ser dada na
medida exata – nem demais e nem de menos. Precisamos ajudar os menos
afortunados a se erguerem, mas, no longo prazo, a melhor ajuda é
oferecer as condições e as ferramentas para que sejam capazes de seguir
em frente e cuidar de si.
Como Lidar com a Ansiedade
Matt Lindén

Share on facebook

Muitas vezes, o mundo parece ser um lugar louco. Basta ligar as


notícias: Os terroristas estão prestes a atacar! A economia é um desastre! E
o meio-ambiente – não adianta nem perguntar. Tudo isso já é suficiente
para você querer ficar de cama o resto da semana.

E isso é apenas o mundo lá fora. Também temos que lidar com nossas
próprias vidas. Aonde vamos nas próximas férias? Como encararemos
aquele colega que acabou de receber a promoção que desesperadamente
queríamos? O que realmente devemos fazer com as nossas vidas?

Quando somos jovens, as pessoas nos dizem que podemos ser qualquer
coisa que quisermos ser. “Siga o seus sonhos”, elas dizem. Mas quantos de
nós estão vivendo seus sonhos? Quantos de nós navegam pelas mídias
sociais com inveja daqueles que parecem de fato estar vivendo seus
sonhos? Aquelas férias na praia e os perfeitos dentes brancos – essas
pessoas acharam a chave para a vida perfeita enquanto nós estamos
presos em um escritório aborrecido.

A ideia de “felicidade” pode ser como um conto de fadas ou apenas outro


slogan de publicidade – algo com que trabalhamos agora para desfrutar
em alguma data não especificada no futuro. No entanto, não importa quão
duro nós trabalhamos, não há garantia de felicidade. Algumas pessoas
fazem um doutorado e acabam trabalhando no McDonalds, enquanto
outras se tornam incrivelmente ricas e famosas, apenas para terminar
com depressão e cometer suicídio. No que se refere às nossas vidas, tudo
isso nos deixa ansiosos, e leva à ansiedade social, na qual
constantementes estamos nos comparando aos os outros.

Esta é a praga de nosso tempo. Pode não parecer tão perigoso quanto a
AIDS, o câncer ou a depressão, mas a ansiedade drena a nossa energia e
cria um constante sentimento de fundo de inquietação. É isso que faz com
que queiramos nos distrair com a nova série de TV e com o feed de
notícias do facebook, simplesmente porque nos é insuportável ficar a sós
com nossos pensamentos.
Não tem que ser assim. Todos sabemos que deveríamos ser gratos em
relação às nossas vidas e que nunca deveríamos nos comparar aos outros.
Mas o que realmente significa isso? Como podemos superar a ansiedade?

Retrocesso
Precisamos retroceder e analizar nossas vidas. Parece chato, mas
simplesmente não podemos pular este passo. O que queremos fazer com
nossas vidas? Não há um caminho certo para todos, mas houve pessoas
no mesmo caminho antes de nós. Talvez queiramos ser uma estrela do
rock, mas será que realmente seríamos felizes se os paparazzi nos
perseguissem 24 horas por dia e sete dias por semana? Será que as
estrelas do rock se tornam mais felizes com o passar dos anos? Quantas
recorrem ao álcool e às drogas? Depois temos que pensar se estamos
dispostos a investir o tempo e a energia que isso requer.

Encontre um Mentor
Se achamos uma maneira de viver que torna a nossa vida mais feliz e
significativa, o próximo passo é achar alguém que incorpora isso. Para ser
um grande músico, temos que praticar. Para ser um jogador de futebol,
temos que praticar. Até para caminhar, tivemos que praticar, mesmo se
não nos lembramos disso agora. A mensagem aqui é que, sem uma causa,
não há um resultado. Chegar a algum lugar na vida requer dedicação. Um
mentor pode nos dar dicas e se tornar uma grande fonte de inspiração.

Ajudar os Outros
É tão fácil tornar-se absorvido com nossos próprios pensamentos e
desejos. Pensamos acima de tudo naquilo que queremos e precisamos
para nossas vidas e, cada vez que alguém interfere nisso, damos um
chilique. Uma grande parte da ansiedade é o sentimento de isolamento,
mas a melhor forma de se conectar com os outros é de genuinamente se
importar com eles. Se apenas pensarmos em nós mesmos, estamos
fadados a nos sentir miseráveis; enquanto é provado cientificamente que
ajudar os outros de coração alivia a ansiedade e aumenta a felicidade.

Não precisa ser nada de grande. Um sorriso para alguém em um dia


sombrio ou apenas agradecer sinceramente a alguém pode ser suficiente
para melhorar o astral de ambos os lados. Não façam isso com um
sentimento de obrigação, mas com o genuíno desejo de melhorar o dia de
alguém. Depois disso, vejam o que acontece com seu estado mental.

Descubra Quem Você É


Todos gostamos de pensar que somos únicos, mas isso apenas prova que
somos todos iguais. Quando dizemos “descubra quem você é” trata-se
realmente de entender quem nós somos. Todos nós temos problemas, e
uma vida perfeita simplesmente não existe. Não acreditem em tudo
aquilo que vocês pensam!

Da mesma forma que nunca mostraríamos fotos nas quais pensamos que
não estamos com uma boa aparência, os outros também não o fazem.
Temos medo de ser ridicularizados em público – e, adivinhem – todo
mundo tem este medo. Embora vivamos em uma era na qual somos
bombardeados por vidas aparentemente perfeitas, não deveríamos cair
nesta armadilha. Se tivermos consciência desses pontos e tentarmos
trazer fecilidade aos outros, do fundo de nosso coração, e trabalharmos
para trazer significado para nossas vidas, a nossa ansiedade se dissolverá
gradualmente.
8 Dicas Budistas para Lidar com a Raiva
Matt Lindén

Share on facebook

Vivemos em uma época em que nos dizem para expressar a raiva, mas o
Buda discordaria disso. Agir com raiva nos deixa mais propensos a voltar
a agir assim no futuro, iniciando um ciclo interminável de episódios de
raiva. O Buda nos aconselhou a não suprimir e nem extravasar nossas
emoções, mas analisá-las, e tentar compreender o pensamento
equivocado que está por trás da raiva.

Os budistas podem falar muito sobre amor, compaixão e tolerância, mas


como até os grandes mestres, como o Dalai Lama, admitem que às vezes
ficam com raiva, será que podemos ter alguma esperança? A ciência diz
que sentir raiva é totalmente normal, psicólogos recomendam
expressarmos nossa raiva e algumas religiões dizem que está certo ter
raiva, mas o budismo diz que raiva é sempre ruim.

Shantideva, um erudito budista do século VIII, descreveu a raiva como a


força negativa mais extrema, uma força que tem a capacidade de destruir
tudo de bom que trabalhamos tanto para conseguir. Pense nisso. Um
momento de raiva, combinado com o acesso a uma arma, pode mudar
completamente o futuro de uma pessoa, de uma vida livre para uma vida
atrás das grades. Um exemplo mais cotidiano seria que a raiva pode
destruir a confiança e as amizades que talvez tenhamos levado décadas
para construir. Em última análise, a raiva é mais perigosa do que todas as
bombas e armas do mundo juntas.

Sabemos que a raiva não é um estado mental de felicidade, mas será que
podemos fazer alguma coisa? O budismo oferece uma variedade de
métodos simples para nos ajudar a transformar a mente. Mas não existem
milagres! Aqui estão nossas principais dicas para lidar com a raiva:

1. A Vida é Assim Mesmo: Samsara


O primeiro ensinamento do Buda, há 2.500 anos, vai direto ao ponto: a
vida é insatisfatória. E adivinha?! Ela nunca será satisfatória.
Se nascemos, morreremos. Entre esses dois eventos, haverá épocas boas,
épocas ruins e épocas em que provavelmente serão mais neutras. Esse
ciclo interminável, [de altos e baixos], é o que o budismo chama de
“samsara”.Quando viemos ao mundo, ninguém nos disse que a vida seria
fácil, um eterno divertimento, e que as coisas seriam sempre do jeito que
gostaríamos que fossem. Quando compreendemos nossa própria situação
no samsara, fica mais fácil compreendermos a situação dos outros
também.

Estamos todos juntos nisso. Ficar irritado com as situações, com os


outros, ou conosco não ajuda em nada. Outras pessoas fazem e dizem
coisas que não gostamos porque suas vidas também são complicadas.

Este tipo de pensamento pode transformar radicalmente nossa


perspectiva. Mesmo que cada um de nós pareça ser o centro de seu
próprio universo, isso não significa que tudo tem que acontecer
exatamente da maneira que queremos.

2. Seja um Herói: Paciência


Emoções perturbadoras são mais bem superadas quando usamos aquilo
que é diametralmente oposto a elas, afinal, combater fogo com fogo não
dá certo. Por quê usar a emoção oposta? Porque é impossível para nossa
mente manter duas emoções opostas ao mesmo tempo. Não dá pra gritar
com alguém e ser paciente ao mesmo tempo, simplesmente não funciona.
A paciência é muitas vezes vista como um sinal de fraqueza, de deixar que
os outros se aproveitem de você sem que sofram as consequências. Mas,
na realidade, isso não poderia estar mais errado. Quando estamos
frustrados, é muito fácil simplesmente gritar. E como é difícil
permanecermos calmos e controlar nossas emoções! Seguir nossos
sentimentos para onde quer que nos conduzam não nos faz heróis, pelo
contrário, nos enfraquece. Então, da próxima vez que estiver a ponto de
perder a cabeça e gritar, puxe a sua espada da paciência e corte a cabeça
de sua própria raiva.

Como? Podemos tentar respirar profundamente se notarmos que


estamos ficando tensos e frustrados, isso é um antídoto direto às
respirações curtas e fortes da raiva. Podemos contar lentamente até 100
para evitarmos dizer coisas que definitivamente lamentaremos mais
tarde. Ou, se estivermos em um confronto direto, talvez queiramos sair da
situação antes que ela piore. Cada situação é diferente, portanto, você
precisará analisar e ver o que funciona melhor para o seu caso.
3. Seja Realista: Analise a Situação
Quando estamos com raiva, nossa ira parece surgir como um protetor,
como nosso melhor amigo, que está cuidando dos nossos interesses,
ajudando-nos na batalha. Essa ilusão nos permite pensar que irritar-se é
justificável. Mas, se olharmos bem, veremos que a raiva não é nossa
amiga, ela é nossa inimiga.

A raiva causa stress, angústia, perda de sono e de apetite. Se ficarmos


continuamente com raiva, criaremos uma impressão negativa nos outros.
Vamos encarar os fatos: quem gosta de estar ao lado de uma pessoa com
raiva?

Quando alguém nos acusa e sentimos aquele nó começando a apertar


nosso estômago, temos que parar e pensar racionalmente. Só existem
duas possibilidades: ou a acusação é verdadeira, ou é falsa. Se for
verdadeira, por que ficar com raiva? Se quisermos ser adultos maduros,
temos que admitir, aprender com isso e seguir com nossas vidas. Se for
falsa, por que ficar com raiva? A pessoa errou. Será que nunca erramos?

4. Olhe para a Sua Mente: Meditação


As práticas de meditação e de mindfulness podem ser extremamente
benéficas no combate à raiva. Muitas pessoas acham que meditação é
perda de tempo: Por que perder 20 minutos numa almofada quando você
pode fazer algo melhor com o seu dia? Outros acham que meditação é
uma agradável fuga da vida real, onde podemos passar um tempo longe
das crianças/e-mails/marido/ esposa.

Mas a meditação é muito mais que isso - meditação é


uma preparação para a vida real. Não iria adiantar nada se meditássemos
sobre compaixão todos os dias pela manhã e assim que chegássemos ao
trabalho começássemos a gritar com nossos funcionários e reclamar dos
colegas.

A meditação é uma ferramenta que familiariza nossa mente com


pensamentos positivos - paciência, amor, compaixão - e é algo que
podemos fazer a qualquer hora e em qualquer lugar. Se passamos meia
hora todas as manhãs escutando música a caminho do trabalho, o mínimo
que poderíamos fazer seria passar dez minutos desse tempo gerando
pensamentos de bondade amorosa pelos outros - que é bom para reduzir
a raiva e para nos tornarmos pessoas mais agradáveis.
5. Sujeite-se: Aprenda com seu Inimigo
Em geral, o budismo nos ensina a fazer exatamente o contrário do que
faríamos normalmente. Quando ficamos com raiva de alguém, nosso
impulso é de nos vingar. O resultado? Terminamos tão mal ou pior do que
antes. Pode parecer contraintuitivo, mas, na realidade, fazer o contrário
do que costumamos fazer dá o resultado oposto: o caminho da felicidade.

Parece loucura, mas pense que a pessoa de quem tem raiva é como se
fosse um professor para você. Se quisermos ser pessoas melhores, ou
seja, mais pacientes, amáveis, simpáticas e felizes, precisamos praticar.
Sabemos que leva tempo e esforço para se tornar um jogador de futebol
ou um violinista de fama mundial; então por que seria diferente com
nossos exercícios mentais? Se estivermos sempre cercados de pessoas
que fazem e concordam com tudo que queremos, nunca teremos nenhum
desafio.

Assim, a pessoa que nos dá raiva é extremamente preciosa, pois nos dá a


oportunidade de realmente praticar paciência. Isso diminui
imediatamente o surgimento de sentimentos de raiva, porque muda
nossa perspectiva, passando do que nos fizeram ao que estão fazendo por
nós.

6. Lembre-se da Morte: Impermanência


Você vai morrer. Eu vou morrer. Todos morreremos. Então, quando
aquela pessoa que não suportamos fizer algo que nos deixe com raiva,
devemos parar e pensar: “Quando estiver em meu leito de morte, será
que vou me importar com isso?” A resposta, a menos que você saiba que a
pessoa está realmente determinada a invadir e destruir o mundo, será
provavelmente um sonoro “não”. Essa pequena dica é muito simples,
contudo, ajuda a aliviar muitos dos pequenos aborrecimentos da vida.

Todos sabemos que vamos morrer, mas obviamente não é algo


que realmente saibamos. Achamos que a morte é um conceito distante e
abstrato que só acontece com os outros - o velho, o doente, os envolvidos
em acidentes terríveis. Mas a realidade não é assim. Jovens podem morrer
antes dos mais velhos, pessoas saudáveis podem morrer antes das
doentes, isso acontece todos os dias.

Quando focamos em nossa morte (amanhã? Em um ano? Em 50 anos?),


muitas das coisas que nos tiram, literalmente, do sério, perdem
totalmente a importância. Não é que elas não nos irritem mais, mas
reconhecemos que não faz sentido algum desperdiçarmos nosso precioso
tempo, respiração e energia com elas.
7. Aqui se faz: Karma
As pessoas costumam dizer: “aqui se faz, aqui se paga”, ou: “É seu karma,
ele merece o que está acontecendo,” querendo dizer que as pessoas
colhem o que plantam. Esta não é bem a compreensão budista de karma,
que é muito mais complexa e sutil. Mesmo assim, enquanto as pessoas
parecem bastante convencidas de que o sofrimento dos outros vem do
seu próprio karma, a maioria reluta em ver que quando está em uma
situação difícil essa situação também surgiu de seu próprio karma.

Tudo que experimentamos, dos momentos incrivelmente felizes aos de


profundo desespero, surge de causas. Essas causas não vê1m de lugar
nenhum e simplesmente caem no nosso colo, essas causas são criadas por
nós mesmos. Assim, quando estivermos experimentando alguma situação
ruim, ao invés de deixar a raiva tomar conta, podemos parar e pensar: De
onde vem isso, será que quero que continue assim?

O karma tem a ver com nosso comportamento compulsivo, com a forma


como reagimos às coisas da mesma velha maneira de sempre. Se
compreendermos como o karma funciona, veremos que temos a
capacidade de mudar nossas experiências futuras através daquilo que
fazemos agora - e, aqui, isso significa praticar paciência quando a raiva
beliscar.

8. Não é Real: Vacuidade


Enquanto a paciência é o antídoto direto da raiva, a vacuidade é o
antídoto mais forte, e não apenas para a raiva, mas para todos os nossos
problemas e dificuldades. Não importa o quão pacientes sejamos, se não
tivermos compreendido a vacuidade, os problemas continuarão a chover,
como as chuvas das monções na Índia.

Se tirarmos um momento para analisar nossa mente quando estivermos


com raiva, perceberemos um forte sentimento de “mim” ou “eu”:
“Eu estou muito bravo com o que você disse para mim. Eu não posso
acreditar no que ele fez ao meu amigo! Eu definitivamente estou certo
sobre isto e ela está definitivamente errada!” Eu, eu, eu.

Quando estamos com raiva, temos a oportunidade perfeita para analisar


esse “eu” que parece assim tão concreto. Ele não existe! Não estou
dizendo que não existimos, ou que nada importa; mas que quando
tentamos encontrar esse “eu” — será que ele está em minha mente? no
corpo? em ambos? — não há como dizer que sim, “sim, aí está ele!”

As pessoas têm dificuldade em compreender isso, mas o fato é que


quando começamos a analisar a realidade, nossa perspectiva muda
radicalmente. Vemos que nunca houve nada que pudéssemos realmente
apontar como sendo o objeto da nossa raiva.

Resumo
Não importa quanto vezes tenhamos que repetir: “Eu não ficarei irritado”;
sem nos esforçarmos, nunca conseguiremos a paz de espírito que tanto
desejamos.

Esses itens não são para serem vistos apenas como uma bela lista — são
ferramentas que podemos usar para nos livrar da frustração, da raiva e
da tristeza. Com a prática, qualquer um de nós é capaz!
Como Lidar com o Ciúme nos
Relacionamentos
Dr. Alexander Berzin

Share on facebook

O ciúme nos deixa paranóicos, achando que nossos amigos ou parceiros


irão nos abandonar. Com isso, desestabilizamos nossos relacionamentos e
perdemos totalmente a paz de espírito. Quanto mais ciumentos e
possessivos formos, mas afastaremos as pessoas. Perceber que todos
temos capacidade de amar uma enorme quantidade de pessoas e coisas
nos ajuda a superar o ciúme. Amar os amigos, a profissão, esportes e
assim por diante não diminui nosso amor pelo nosso parceiro e nem o
dele por nós, na verdade, esses outros interesses enriquecem o
relacionamento.

Ciúme nos Relacionamentos


Quando temos ciúmes, não toleramos qualquer tipo de rivalidade ou
possibilidade de infidelidade. Não suportamos que nosso parceiro saia
com seus amigos ou vá a algum evento sem nós. O ciúme contém
elementos de ressentimento e hostilidade, além de fortes elementos de
insegurança e desconfiança. Até os cães sentem ciúme quando um bebê
recém-nascido chega em casa.

Se formos inseguros, sempre que o nosso amigo ou parceiro estiver com


outra pessoa, ficaremos com ciúme. Isso acontece porque somos
inseguros em relação ao nosso próprio valor e ao amor que a outra
pessoa tem por nós e, assim, não confiamos nela. Temos medo de sermos
abandonado, e podemos sentir esse medo mesmo quando nosso parceiro
ou amigo não sai com outros amigos. A possessividade extrema nos deixa
paranóicos, achando que o outro pode nos deixar a qualquer momento.

Superando o Ciúme
Para lidar com o ciúme, precisamos refletir sobre a capacidade do coração
de amar a todos – esse é um aspecto da natureza búdica. Quando
reafirmamos esse fato, isso nos ajuda a superar o ciúme, porque vemos
que amar uma pessoa não exclui amar as outras. Podemos pensar no
nosso próprio caso, em como conseguimos abrir nosso coração a várias
pessoas e coisas. [Veja: O Que é Amor?] Com o coração aberto, podemos
amar o amigo, o filho, o animal de estimação, o país, os pais, o nosso povo,
a natureza, Deus, os nossos passatempos, o nosso trabalho, etc. Existe
espaço para tudo isso em nosso coração, porque o amor não é excludente.
Somos perfeitamente capazes de lidar e de nos relacionar com todos
esses objetos do nosso amor e de exprimir os nossos sentimentos
adequadamente a cada objeto, afinal, é claro que não exprimimos amor e
afeição aos nossos cães do mesmo modo que exprimimos à nossa esposa
ou marido, ou aos nossos pais.

Se podemos ter um coração aberto, nosso parceiro ou amigo também


pode. Todo mundo tem a mesma capacidade de estender seu amor a
muitas pessoas e coisas, até mesmo a todo o mundo. É injusto e irreal
esperar ou demandar que nosso parceiro ame apenas a nós e nunca tenha
outra amizade afetuosa ou outros interesses além de nós. Será que
achamos que seu coração é tão pequeno que não tem lugar para nós e
outras pessoas? Será que realmente queremos privá-lo de atingir a
capacidade de amar de sua natureza búdica e, consequentemente, uma
das maiores alegrias da vida?

[Leia mais em Natureza Búdica]

Aqui não estamos falando de infidelidade sexual. A questão da


monogamia e da infidelidade sexual são extremamente complexas e têm
varias outras questões envolvidas. Em todo caso, se o nosso parceiro
sexual, especialmente se for nossa esposa ou marido, for infiel e passar
muito tempo com outros — especialmente se tivermos crianças pequenas
— ciúme, ressentimento e possessividade não são respostas emocionais
úteis. Precisamos lidar com a situação com sobriedade, porque gritar com
nosso parceiro ou tentar fazê-lo sentir-se culpado quase nunca conquista
seu amor.

Abrindo o Coração ao Amor


Quando achamos que só podemos ter uma amizade íntima com uma única
pessoa, achamos que o amor dessa pessoa — nosso parceiro ou amigo —
é o único que importa. Mesmo que haja muitas outras pessoas que nos
amem, tendemos a ignorar ou achar que “isso não conta”. Abrir o nosso
coração constantemente aos outros, e admitir e reconhecer o amor que
eles – amigos, familiares, animais de estimação, etc. – têm por nós, ou já
tiveram ou terão no futuro, ajuda-nos a sentir mais seguros
emocionalmente. Isso, por sua vez, ajuda-nos a ultrapassar qualquer
fixação que possamos ter em alguém como sendo um objeto especial de
amor.
Ser omnisciente e “todo-amoroso”, implica ter todos os seres em nossa
mente e coração. Contudo, quando um buda está com uma pessoa, ou
focado em uma pessoa, ele ou ela está 100% concentrado nessa pessoa.
Por isso, amar todos os seres não significa diluir o amor. Não precisamos
ter medo de que, se abrirmos os nossos corações a muitos seres, os
nossos relacionamentos pessoais serão menos intensos ou menos
satisfatórios. Talvez nos tornemos menos agarrados e menos
dependentes de um único relacionamento para satisfazer todas as nossas
necessidade, e talvez passemos menos tempo com cada indivíduo, mas
cada relacionamento continuará completo. O mesmo se aplica a quando
temos ciúme por acharmos que o amor do outro por nós se diluirá por
conta dele ter outras amizades.

Não é realista pensar que existe alguém especial que vai nos completar
perfeitamente, como se fosse a nossa “outra metade,” e com quem
poderemos partilhar todos os aspectos da nossa vida. Esse conceito
ébaseado em um mito grego antigo contado por Platão, em que
originalmente todos éramos inteiros, mas que depois fomos partidos em
duas metades. Alguém, “lá fora” é a nossa outra metade, e o amor
verdadeiro acontece quando a encontramos e nos reunimos com ela.
Embora esse mito tenha sido a base do romantismo ocidental, ele não se
refere à realidade. Acreditar nele é como acreditar que um dia um
príncipe encantado virá nos salvar num cavalo branco. Precisamos ter
amizade com muitas pessoas para compartilharmos todos os nossos
interesses e necessidades. E se isso é verdadeiro para nós, também é
verdadeiro para nosso parceiro e amigos. É impossível satisfazermos
todas as suas necessidades, por isso eles também precisam de outras
amizades.

Resumo
Quando uma pessoa entra em nossa vida, é bom vê-la como um pássaro
selvagem que pousou em nossa janela. Se tivermos ciúme dele e não
quisermos que pouse na janela de outras pessoas, iremos trancá-lo em
uma gaiola e ele ficará infeliz, perderá o brilho dos olhos e provavelmente
morrerá. Porém, se não formos possessivos e deixarmos o pássaro voar
livremente, poderemos aproveitar o tempo que ele estiver conosco.
Quando ele voar, o que é um direito dele, será mais provável que retorne
se sentir-se seguro conosco. Se aceitarmos e respeitarmos o fato de todos
terem o direito a ter vários amigos íntimos, nossos relacionamentos serão
mais saudáveis e duradouros.
Valores Universais
Os valores universais da bondade, afetuosidade, sinceridade e compaixão são
apreciados por todas as pessoas. Eles são o segredo das amizades duradouras
e da felicidade.
Obtenha uma Mente Feliz Através da
Ética
O 14º Dalai Lama

Share on facebook

Hoje irei explicar como atingir uma mente feliz usando métodos seculares
como contexto. Estou contente de ter esta oportunidade de conversar
com a grande quantidade de pessoas que estão aqui. Um dos meus
maiores amigos, um cientista americano, David Livingstone, o qual não
está mais entre a gente, me explicou que quando uma pessoa que tem um
coração caloroso encontra-se com outras pessoas, os olhos dele, ou dela,
se abrem e suas pupilas se dilatam. Ele me falou que, quando me
conheceu, seus olhos se abriram e suas pupilas se dilataram e que isso
somente havia acontecido assim com duas pessoas, quando ele me
conheceu e quando ele vê sua esposa. Mas agora, todo lugar que vou, as
pessoas agem igualmente. Elas demonstram um sentimento caloroso
genuíno à mim e eu aprecio isto imensamente. Então, obrigada.

O que significa “secularismo”? Eu uso de acordo como é usado na tradição


indiana. Alguns dos meus amigos muçulmanos e cristãos, entretanto,
sentem que a palavra “secularismo” implica um pouco em algo contra
religião. Por isto eles não gostam quando uso este termo. Ademais,
algumas pessoas pensam que “ética” precisa ser baseada em religião,
porém a constituição indiana é baseada em secularismo. Ela não é anti-
religiosa. Na Índia, as pessoas respeitam muito religião. Gandhi e os
autores da constituição indiana eram pessoas muito religiosas. “Secular”
neste contexto significa ter respeito por todas as religiões sem a ideia que
uma religião deve ser considerada melhor que as outras. Por milhares de
anos este secularismo tem respeitado os direitos de descrentes na Índia
também. Então eu uso o termo “secularismo” com este significado.

Como seres humanos, e mesmo entre os animais e insetos, todos nós


temos o desejo por mais paz e calma. Ninguém quer ser perturbado e
todos tem o direito a atingir a felicidade e superar pertubações,
problemas e sofrimento. Não há necessidade de provar isto logicamente
ou por experimentos. Esta é simplesmente a natureza das coisas; todos os
seres sencientes – aves, animais, humanos – todos nós tentamos atingir
esta meta. O que é importante é o método de como atingir esta meta. Ele
precisa ser realista, pois métodos irrealísticos simplesmente nos levam a
falhar e não atingir a meta. Por exemplo, algumas vezes vemos animais
que estão tão assustados que acabam correndo na direção errada, eles
correm na direção do perigo ao invés de se afastarem dele. Todavia,
somos seres humanos e temos uma maravilhosa inteligência e, por isso,
temos uma maior habilidade de seguirmos métodos realísticos baseados
em razão e inteligência. Somos mais efetivos por isto. Temos percepção
de longo-prazo e, as vezes, voluntariamente sacrificamos benefícios
imediatos por um sucesso de longo-prazo. Isto é uma indicação da nossa
inteligencia acima da dos animais. E assim, por causa desta inteligência,
nós humanos tentamos atingir benefícios de longo-prazo.

A questão é: qual o nível de experiência que nos trará mais benefício? O


nível sensorial é principalmente temporário. Por exemplo, quando você
vê uma foto, ou um evento esportivo, ou você é um turista vendo lugares,
cenários, roupas e pessoas diferentes, bem, disto você sente algum prazer
– nestes casos pelos olhos. Por exemplo, meu motorista em Deli, um
indiano, ama críquete. Quando perguntei para ele quantas horas dormiu
na noite anterior, quando teve um jogo, ele me respondeu quatro horas.
Eu o critiquei, falei que é melhor ter uma boa noite de sono do que assistir
esportes. É melhor para a mente. Também existem musicas, deliciosas
fragrâncias, comidas e sensações físicas prazerosas. Esses prazeres
sensoriais são simplesmente temporários. Quando eles terminam, a única
coisa que sobra é a memória deles.

Do outro lado da moeda, algumas experiências são no nível mental. Elas


não são dependentes de uma experiência sensorial. Ademais, o prazer
que advém delas dura muito mais. Então é importante perceber que
existem dois níveis de experimentar felicidade e infelicidade. Um, no nível
sensorial, é temporário; e o outro, no nível mental, é muito mais
profundo.

No nosso mundo moderno, as pessoas se encontram envolvidas demais


com o nível sensorial, que é o nível que elas consideram ser o mais
importante. Por isso, elas estão sempre procurando fontes externas
materiais para conseguirem felicidade. Elas negligenciam o nível interno,
o profundo. Uma vez, muitos anos atrás, eu estava em Berlim, Alemanha,
e o hotel que eu estava hospedado era de frente para uma boate. Por volta
das 19:30/20:00 horas, fui me deitar para dormir e percebi luzes
coloridas do lado de fora, vermelho, azul, piscando e música alta agitada.
Fui dormir e, quando acordei meia-noite, a festa ainda estava
acontecendo. Quando acordei por volta das quatro, assim mesmo a festa
ainda estava acontecendo. A energia das pessoas ali envolvidas estava
toda absorvida no nível sensorial. Acredito que, no dia seguinte, todos
estavam completamente exaustos.

Recentemente, conheci uma família indiana. Tivemos uma conversa


casual onde estavam presentes os pais e algumas crianças. Mencionei que
faziam dois ou três anos que eu não assistia televisão, que somente
escutava as notícias na rádio BBC. Os membros mais jovens da família me
disseram: – Você deve ficar entediado sem ver televisão! Isto implica que
eles assistem muito à televisão. Especialmente na América e na Europa, as
crianças estão assistindo muita televisão. Isto não é algo benéfico, pois
modifica a capacidade mental delas de analisar usando inteligência
aguçada. Então, faz mais sentido trabalhar no nível mental do que
somente no nível sensorial como caminho para conseguir felicidade.

Outro ponto é que os reais distúrbios das emoções têm origem


principalmente no nível mental. Então, para uma vida feliz precisamos de
uma mente calma. Como a fonte dos distúrbios tem origem no nível
mental, precisamos trabalhar com o nível mental para conseguirmos isso.
Primeiramente, devemos prestar mais atenção ao nosso mundo interno,
aos nossos valores internos. No pequeno espaço do cérebro há um vasto
espaço interno da mente ao qual podemos explorar. Porém, na realidade
conhecemos muito pouco deste espaço interno. Portanto, precisamos
analisar nossas emoções. Quando fortes emoções surgem, precisamos
com parte da nossa mente examinar a emoção e então, gradualmente,
perceberemos que elas minguam. Nós temos a habilidade de observar a
mente enquanto ela está dominada pela raiva e, assim que a observamos,
a intensidade diminui. É bastante interessante observar profundamente
nossa mente.

Nos encontramos agora em pleno século XXI. O século XX por enquanto


parece que foi o século mais importante da história da humanidade. Isto
se deve a todos os avanços na área científica e tecnológica. Nosso
conhecimento aumentou, nosso padrão de vida aumentou. Todavia, ao
mesmo tempo, foi um século onde se derramou muito sangue. Seus pais e
avós viveram grandes sofrimentos e preocupações. Mais de duzentas
milhões de pessoas foram mortas, incluindo várias por armas nucleares.
Se, pelo menos, toda esta imensa violência tivesse resultado numa ordem
nova, talvez poderíamos justifica-la. Mas este não é o caso. Mesmo agora,
no começo do século XXI, existem tantos problemas no Iraque, no Irã e no
Afeganistão, tanto terrorismo. Isto é um sintoma dos erros passados e de
negligencia. Houve demasiada ênfase em somente coisas externas. Agora,
precisamos pensar mais sobre nossos valores internos; não somente nas
circunstancias externas.

Também a desigualdade financeira entre os ricos e os pobres é um grande


problema, embora o progresso material, em geral, é OK. Aqui, na Áustria,
o nível de igualdade é muito bom, mas ano passado visitei países como
México, Argentina e Brasil e, quando perguntei sobre a diferença
financeira entre os ricos e os pobres, me responderam que era muito
grande. Aqui, na Áustria, talvez seja menor.

Também quando pergunto: “O nível de corrupção é grande ou pequeno?”


Em países democráticos, onde há liberdade de fala e imprensa, assim
mesmo há muita corrupção. Isto se deve à falta de autodisciplina, uma
falta de princípios morais. A Índia, por exemplo, é uma nação muito
religiosa, e mesmo assim há muita corrupção lá também. Nos seus lares,
muitos indianos possuem estátuas de deuses e deusas, eles oferecem
incenso, flores e preces. Porém, às vezes brinco que a prece deles é: “ Que
minha corrupção tenha sucesso”. Isto é muito triste. Eles são religiosos e
assim mesmo muitos são corruptos. Supostamente são crentes, mas não
crentes na extensão de realmente seguir os princípios das suas religiões e
de serem tementes a Deus.

Alguns anos atrás, tive uma discussão com um acadêmico sobre as


empresas multinacionais e sobre como o lucro delas não é transparente.
Debatemos sobre estes assuntos e ele me falou: “As pessoas que lideram
estas empresas supostamente são tementes a Deus, então deveriam ter
alguma disciplina”; e complementou: “ Porém, este é um pensamento do
século XVIII”. Então, mesmo que essas pessoas talvez rezem para Deus,
elas não são muito sérias. Se elas fossem sérias, elas iriam seguir os
conselhos de Deus e seriam honestas, carinhosas e éticas. Portanto,
precisamos nos preocupar com os outros e com o meio-ambiente.
Precisamos dar mais ênfase na nossa ética moral, e isto significa mais
ênfase na auto-disciplina. Não por um senso de dever ou medo, mas
voluntariamente, baseado no conhecimento de: se eu me envolver neste
ato, será contra os princípios morais.

Precisamos colocar mais esforço na nossa ética moral, se não, com todo
este aumento da população mundial e a diminuição dos recursos naturais,
simplesmente haverá mais e mais problemas. Então, precisamos fazer o
século XXI um século onde colocaremos nossos esforços em fazê-lo o
século da compaixão. Este é o princípio básico da ética moral, da ética
secular.

Ética moral está muito relacionada a se ter um coração acolhedor. Isto


significa preocupar-se cada vez mais e mais com outros seres humanos.
Eles também querem ser felizes, eles não querem ser infelizes; e somos
todos interligados. A felicidade dos outros é a fonte da nossa própria
felicidade. Quando entendemos isto e respeitamos os outros, então não há
lugar para mentiras, traições, maltratos ou exploração. É neste sentido
que ter um coração acolhedor é a fonte de felicidade, e isto vem de um
fator biológico desde o tempo das nossas mães: nós sobrevivemos através
da afeição da nossa mãe, do leite materno dela. Esta experiencia está
fundida nos nossos genes e sangue. A questão é: as crianças se importam
mais em receber afeto e cultura dos outros do que dinheiro, mas quando
elas crescem, a não ser que elas se tornem sábias, seus valores
retrocedem. Por quê? Porque elas se tornam egocêntricas. Se, alguma vez,
elas ajudarem alguém, será por interesse, como: “o que ganharei em
retorno”? Então, o egocentrismo apoia o senso do importante “eu”. Esta é
uma fonte de grandes problemas. Precisamos considerar toda a
comunidade humana como “nós”, como considerarmo-nos parte da União
Europeia, ou parte do mundo. Precisamos pensar em termos de todos os
sete bilhões de pessoas neste mundo como “nós”, e que somos parte deste
“nós”. Não simplesmente pensar em termos deste pequeno “eu”. Portanto,
precisamos respeitar à todos, tanto rico quanto pobre. Todos devem ter
direitos iguais, tanto economicamente quanto nas outras áreas. Este
respeito virá se desenvolvermos preocupação pelo bem estar dos outros.
Isto não é necessariamente parte da religião; religião é um assunto
privado. Essas preocupações são para toda a humanidade. Se tivermos
respeito a todos, não haverá exploração. Também, ter um coração
acolhedor é muito benéfico para a saúde física. Alguns cientistas dizem
que perigos constantes e medo enfraquecem nosso sistema imunológico.
Então, quando somos egocêntricos, experienciamos muito medo por nós
mesmos e ficamos muito desconfiados dos outros. Isto nos leva a um
senso de isolamento e medo, o que nos leva à frustração e eventualmente
à raiva. Porém, quando abrimos nossos corações e temos um senso de
acolhimento aos outros, então desenvolvemos auto-confiança. Através
dela podemos agir abertamente e transparentemente. Não importa quem
conheçamos, quem vemos, iremos considerar todos à nossa volta como
irmãos e irmãs. E, se tivermos um coração acolhedor e um senso de
preocupação pelos outros, a maioria das pessoas responderá
positivamente. Nem sempre será assim. Sempre que alguém me leva de
carro, fico olhando para as pessoas na rua e sorrio para elas. Uma vez, na
Alemanha, quando sorri para uma senhora que estava na calçada, ela
ficou muito suspeita. Ao invés do meu sorriso ter feito ela ficar feliz, ele a
fez ficar assustada. Então virei minha cabeça. Mas isto normalmente não é
o caso.

Ter um coração acolhedor é algo que aprendemos das nossas mães, então
é algo que precisamos carregar conosco por toda nossa vida. Numa
conferência de ciência, tivemos o seguinte slogan: mente saudável, corpo
saudável. Para isto, precisamos compreender a realidade, precisamos ter
uma mente calma. Quando ficamos preocupados, nos tornamos pré-
conceituosos e não conseguimos enxergar a realidade. Isto traz muitos
problemas. Então, ter um coração acolhedor ajuda a desenvolver uma
mente calma.

Se não tivermos uma mente calma, isto resultará em problemas na nossa


educação. Se nossa mente não está calma e feliz, fica muito difícil
aprender. Então, uma mente calma nos ajuda a executar qualquer
trabalho em qualquer profissão, incluindo na política. Resumindo, a
calmosidade da mente leva à auto-confiança e, com esta auto-confiança,
somos capazes de enxergar a realidade mais claramente e, baseado nisto,
desenvolver mais e mais um coração acolhedor.

Estes são os princípios básicos da ética secular e a chave para a arte da


felicidade. Para mim, considero tudo isto muito útil. Se você sente que o
que falei faz sentido, então tente colocar em prática. Se não fez sentido
para você, então esqueça. Obrigado.
Como Levar uma Vida Ética
O 14º Dalai Lama

Share on facebook

Interesse próprio versus o Interesse do Outro como Base para um


Vida Ética
A essência do Budismo é: Se podemos ajudar os outros devemos ajudar;
senão, devemos pelo menos não prejudicá-los.

Toda ação vem de uma motivação. Se prejudicamos os outros, isso vem de


uma motivação, e se ajudamos, isso também vem de uma motivação.
Então, para ajudar os outros, para servir os outros, precisamos de certa
motivação. Para isso, precisamos de certos conceitos. Porque ajudamos e
porque não prejudicamos?

Por exemplo, quando estamos para prejudicar alguém, podemos ter


algum tipo de consciência que nos segura. Isso significa que temos algum
tipo de determinação [não causar mal]. Um lado da nossa mente quer
fazer mal, mas por causa de um determinado estado mental, já uma outra
parte da mente diz que isso é errado, isso não é certo. Porque
conseguimos enxergar que é errado, desenvolvemos força de vontade e
nos abstemos. Em termos das duas alternativas [prejudicar e nos
abstermos de prejudicar], precisamos ter a consciência de que certas
ações terão conseqüências de longo prazo. Então, quando as vemos,
conseguimos de imediato, nos abstermos.

Podemos abordar isso de duas maneiras diferentes. Na primeira,


pensamos em termos do interesse próprio, e então se podemos ajudar, o
fazemos; e se não podemos ajudar, nos abstemos [de prejudicar]. Em
termos de nos abstermos de prejudicar outros, podemos pensar: “Se eu
fizer isso, terei conseqüências negativas inclusive de ordem legal”.
Abstermos-nos por essa razão é abstermo-nos por interesse próprio.
Agora, em termos de pensar nos outros como nossa razão, pensaríamos:
“Os outros são como eu. Eles não querem sofrimento e dor; portanto eu
vou me abster de prejudicá-los.”
Quando treinamos [nossas mentes], primeiro pensamos em nós mesmos,
em nossos próprios interesses, e então pensamos fortemente nos outros.
Em termos de eficácia, pensarmos fortemente nos outros é mais
poderoso. Em termos de pratimoksha – os votos de liberação individual, a
tradição vinaya de treinamento monástico – o nível básico é pensarmos
em nossos próprios interesses e, por causa disso, nos abstermos de
fazermos mal. Isso porque estamos visando a liberação. No nível de
prática de bodisattva, a principal razão de nos abstermos de prejudicar os
outros é a consideração pelo outro. Talvez o segundo, nos abstermos de
prejudicar, e ajudar os outros com base no altruísmo, tenha uma conexão
com a responsabilidade universal da qual eu frequentemente falo.

Nossa Natureza Básica como Seres Humanos


Geralmente, nós humanos somos animais sociais. Não importa quem seja,
sua sobrevivência depende do resto da humanidade. Uma vez que a
sobrevivência e bem estar individual depende de toda a sociedade, a
necessidade de pensarmos e nos preocuparmos com o bem estar dos
outros deriva de nossa própria natureza fundamental. Se olharmos para
os babuínos, por exemplo, o mais velho é totalmente responsável por
todo o bando. Enquanto os outros estão se alimentando, um macho
babuíno mais velho está sempre ao lado, vigiando. O mais forte ajuda a
cuidar do resto do grupo para o bem de toda a sociedade.

Em tempos pré-históricos, nós seres humanos não tínhamos educação ou


tecnologia. A sociedade humana básica era simples: todos trabalhavam
juntos e compartilhavam juntos. Os comunistas dizem que isso era o
comunismo original: todos trabalhando e desfrutando juntos. Então,
eventualmente, a educação se desenvolveu e ficamos civilizados. A mente
[humana]se tornou mais sofisticada e então a ganância aumentou. Isso
trouxe inveja e ódio que, com o tempo, ficaram mais fortes.

Hoje, no século vinte e um, tantas mudanças ocorreram [na sociedade


humana. As diferenças entre nós se cresceram – diferenças em] educação,
trabalho e nível social. Mas até diferenças de idade e raça – todas são
secundárias. Num nível fundamental, ainda somos seres humanos e
somos todos iguais. Isto é, no nível de várias centenas de milhares de
anos atrás.

A atitude das crianças pequenas é assim. Elas não se importam com nível
social, religião, raça, cor ou riqueza das outras crianças. Elas brincam
juntas, são colegas de verdade, desde que sejam amigáveis umas com as
outras. Agora, nós adultos somos supostamente mais inteligentes e
altamente desenvolvidos, mas julgamos os outros baseados no seu nível
social. Calculamos, “Sera que se eu sorrir, ganharei o que quero; mas se
fizer cara feia perderei alguma coisa?”

Responsabilidade Universal
O sentido de responsabilidade universal ou global funciona em um nível
humano. Preocupamos-nos com outros seres humanos porque: “Sou um
deles; meu bem estar depende deles, não importa quais são as
diferenças”. Diferenças sempre existirão; mas isso pode ajudar.

Por diversos séculos, a população do planeta era de apenas um bilhão de


pessoas; agora temos mais de seis bilhões. Por causa da superpopulação,
um país já não consegue prover toda comida e recursos para sua própria
população. Então temos a economia global. Portanto, de acordo com a
realidade atual, o mundo é menor e fortemente interdependente. Isso é a
realidade. Além disso, existe uma questão ecológica: o aquecimento
global. Isso é uma preocupação para todos os seis bilhões de habitantes
desse planeta, não só para uma ou duas nações. A nova realidade precisa
de um senso de responsabilidade global.

Por exemplo, antigamente, os ingleses pensavam somente em si próprios


e algumas vezes exploraram outras áreas do globo. Eles não se
importavam com as preocupações ou sentimentos dessas outras pessoas.
Ok, isso é passado. Mas agora as coisas são diferentes; as coisas mudaram.
Agora, precisamos cuidar dos outros países.

Na realidade, os imperialistas britânicos fizeram coisas boas, de fato. Eles


trouxeram boa educação na língua inglesa para a Índia. A Índia tem que
reconhecer isso. A Inglaterra também trouxe tecnologia, o sistema
ferroviário. Essas são algumas de suas qualidades resgatadas. Quando eu
vim para a Índia, alguns seguidores de Gandhi ainda eram vivos e eles me
informaram dos métodos não violentos de Gandhi. Naquela época, eu
achava que os imperialistas Britânicos eram muito maus. Mas então eu vi
que existia uma magistratura indiana independente, liberdade de
imprensa, liberdade de expressão e coisas do tipo. Então quando eu
refleti mais profundamente, vi que essas coisas eram muito boas.

Hoje, nação a nação e continente a continente, existe uma forte


interdependência. De acordo com essa realidade, nós realmente
precisamos de responsabilidade global. Seus interesses próprios
dependem do desenvolvimento e interesse dos outros. Então para seu
próprio interesse, você tem que cuidar dos outros. No campo econômico,
essa situação já existe. Mesmo havendo diferentes ideologias e mesmo
que não confiemos uns nos outros, temos que interagir em nossa
economia global interdependente. Portanto, responsabilidade global
baseada no respeito aos interesses dos outros é muito importante.

Precisamos considerar os outros como irmãos e irmãs e termos um


sentimento de proximidade. Isso não tem nada a ver com religião. Nós
realmente precisamos disso. O próprio conceito de “nós e outros” – em
certo nível, claro que podemos dizer isso – mas o mundo todo precisa se
considerar parte de “nós”. Os interesses de nossos vizinhos são nossos
próprios interesses.

Contentamento
Levar uma vida ética como um indivíduo quer dizer não prejudicar os
outros e, se possível, ajudá-los. [Fazendo isso], se tomarmos o bem estar
dos outros como base para nossa própria ética – isso se torna um escopo
mais amplo de ética. Nosso próprio estilo de vida deve tomar esses
fatores em consideração.

Existe uma grande lacuna entre ricos e pobres, até mesmo nos Estados
Unidos. Se olharmos para os Estados Unidos, o país mais rico, ainda há
bolsões de pobreza lá. Uma vez quando fui a Washington DC, a capital do
país mais rico, eu vi que haviam muitas áreas pobres. As necessidades
básicas dessas pessoas não eram adequadamente atendidas.
[Similarmente,] em um nível global, o norte industrializado é muito mais
desenvolvido e rico [que o restante do planeta]; enquanto muitos países
na metade sul do globo enfrentam até fome. Isso não é apenas
moralmente errado; é uma fonte de grandes problemas. Então, certos
países ricos têm que olhar e examinar seu estilo de vida; eles precisam
praticar o contentamento.

Certa vez, no Japão, há quinze anos, eu expressei para as pessoas que a


suposição de que a economia tem que crescer todo o ano e de que todo o
ano deve haver progresso material é um grande engano. Um dia, você
poderá ver sua economia se tornando limitada. Vocês devem estar
preparados para, quando isso acontecer, não ser um desastre nas suas
mentes. Há alguns anos, essa situação realmente aconteceu lá no Japão.

O estilo de vida de algumas pessoas é muito luxuoso. Sem roubar, sem


explorar, sem trapacear, elas têm uma grande quantidade de dinheiro. Do
ponto de vista de seu próprio interesse, não há nada de errado enquanto
ganharem o dinheiro de maneira etica. Mas, do ponto de vista do
interesse dos outros, apesar de não haver nada de errado com relação a si
mesmos, ainda assim, eticamente, não é bom quando os outros enfrentam
fome. Se todos tivessem o mesmo estilo de vida luxuoso, OK; mas até que
isso seja alcançado, um estilo de vida melhor seria ter mais
contentamento. Como eu expliquei no Japão, nos Estados Unidos e em
outras sociedades ricas, algumas modificações no estilo de vida são
necessárias.

Em muitos países, cada família tem dois ou até três carros. Imagina Índia
e China, essas duas nações que juntas tem uma população de mais de dois
bilhões de pessoas. Se dois bilhões de pessoas adquirissem dois bilhões
de carros ou mais, seria muito difícil. Haveria um grande problema e
grandes complicações com combustível, recursos materiais, naturais e
assim por diante. Ficaria muito complicado.

Consideração com o Meio Ambiente


Um aspecto adicional de uma vida ética é, portanto, a consideração com o
meio ambiente, por exemplo, com o uso da água. Minha própria
contribuição pode ser boba, mas há muitos anos que não tomo banho de
banheira; eu só tomo banho de chuveiro. Uma banheira usa muita água.
Talvez eu esteja sendo bobo, já que tomandodois banhos de chuveiro por
dia, a quantidade de água que gasto é a mesma. Mas não obstante, no que
diz respeito a luz elétrica, por exemplo, quando eu saio de um cômodo, eu
sempre desligo as luzes. Assim, dou uma pequena contribuição à ecologia.
Então, uma vida ética vem de um senso de responsabilidade global.

Como Ajudar os Outros


Quanto à como ajudar os outros, existem várias maneiras; muitas
dependem das circunstancias. Quando eu era pequeno, sete ou oito anos,
e estudava, meu tutor Ling Rinpoche sempre tinha um chicote. Naquela
época meu irmão imediatamente mais velho e eu estudávamos juntos. Na
verdade, eram dois chicotes. Um deles era amarelo – um chicote sagrado,
um chicote para o sagrado Dalai Lama. Se o chicote sagrado fosse usado,
no entanto, não acho que não teria nada de sagrado na dor! Parece um
método severo, mas na realidade era muito útil.

Em última análise, se uma ação é útil ou prejudicial, depende da


motivação. Com a preocupação sincera com o bem estar a longo prazo dos
outros, métodos podem ser algumas vezes severos, algumas vezes
delicados. Algumas vezes até uma mentirinha pode ajudar. Por exemplo,
um amigo querido ou pai ou mãe em um país distante pode estar
seriamente doente ou quase morrendo e você sabe. Mas você também
sabe que se falar para uma pessoa que seu pai ou mãe estão pra morrer,
aquela pessoa pode ficar muito triste e preocupada e pode até desmaiar.
Então você fala, “ Eles estão OK”. Se você está cem por cento preocupado
em não deixar a outra pessoa triste, nesse caso, apesar de uma mentira
ser antiética do ponto de vista do interesse próprio, do ponto de vista do
outro, pode ser adequada.

Métodos Violentos versus Não Violentos


Então, como melhor ajudar os outros? Isso é difícil. Precisamos sabedoria;
precisamos ter uma consciência clara das circunstancias; e precisamos
flexibilidade para usar métodos diferentes de acordo as circunstâncias. E
o mais importante, nossa motivação: precisamos ter um sentimento
sincero de preocupação com os outros.

Por exemplo, se um método é violento ou não violento, depende da


motivação. Contar uma mentira é, em si, violento, mas conforme a
motivação pode ser um método para ajudar os outros. Então, desse ponto
de vista, é um método não violento. Por outro lado, se queremos explorar
os outros, e por isso lhes damos um presente, aparentemente não é
violento, mas em última análise, uma vez que queremos enganar a outra
pessoa e explorá-la, é um método violento. Então, ser violento ou não
violento também depende da motivação. Todas as ações humanas
dependem da motivação. Também depende um pouco do objetivo; mas se
visamos apenas o objetivo e nossa motivação é raiva, fica difícil. Então,
em última análise, a motivação é mais importante.

Harmonia Inter-religiosa
Quanto ao que você leva pra casa de nossas discussões aqui, o importante
é tentar desenvolver paz interior. Precisamos pensar e desenvolver isto
dentro de nós mesmos. Além disso,se tem algumas pessoas na platéia que
seguem uma religião ou são crentes, uma das minhas ênfases é sempre na
harmonia religiosa. Acho que todas as maiores religiões, nem tanto as
menores que idolatram o sol e a lua- essas não tem muita filosofia – mas a
maioria das maiores religiões tem alguma filosofia ou teologia. E porque
essas religiões são baseadas numa certa filosofia, tem se mantido por
milhares de anos. Mas apesar das diferentes filosofias, todas as religiões
consideram a maior prática como sendo a prática do amor e da
compaixão.

Com compaixão, um sentido de perdão vem imediatamente, seguidos de


tolerância e contentamento. Com esses três fatores, vem a satisfação. Isso
é comum a todas as religiões. Isso também é importante para estender os
valores humanos básicos dos quais temos falado. Então, no que diz
respeito a isso, todas as religiões ajudam, no sentido de que promovem o
que é básico para nossa felicidade, isto é, levar uma vida ética. Portanto,
como todas as religiões carregam a mesma mensagem, todas tem o
mesmo potencial para ajudar a humanidade.
Em épocas diferentes e locais diferentes, ensinamentos diferentes
sugiram. Isso é necessário. Esses tempos e locais diferentes e estilos de
vida diferentes se desenvolveram por causa das diferenças do meio
ambiente, e por causa disso, diferenças nas religiões se desenvolveram.
Para cada uma dessas épocas, certas idéias religiosas eram adequadas [e,
portanto, foram adotadas]. Por isso, cada uma das religiões milenares tem
suas próprias tradições. Precisamos dessa variedade de tradições ricas:
elas servem aos diferentes tipos de pessoas. Uma única religião não
consegue servir e ser adequada a todos.

Na época do Buda, já havia muitas tradições não budistas na Índia. O Buda


não tentou converter todos os indianos ao Budismo. As outras religiões
eram OK. Ocasionalmente, elas discutiam entre si. Especialmente após o
Buda, mestres discutiram uns com os outros por muitos séculos. Essas
discussões, esses debates, ajudaram muito, principalmente no campo da
epistemologia. Um erudito de uma tradição examina criticamente a
filosofia e visões de outra religião e isso faz com que todos pensem sobre
suas próprias religiões e suas próprias tradições e discussões. Então,
naturalmente isso gera um progresso. Em alguns casos, talvez houvesse
um pouco de violência envolvida nesses debates e discussões e isso é
lamentável; mas em geral, era um desenvolvimento saudável.

A Índia, então, é um exemplo muito bom de verdadeira tolerância


religiosa que vem durando séculos com uma tradição em si própria; e
essa tradição ainda é viva na Índia. Esse é um bom modelo para o resto do
mundo.

Na antiguidade, pessoas eram isoladas, então, tudo bem. Mas agora as


circunstâncias são outras. Por exemplo, Londres – é quase uma sociedade
multi religiosa. A tolerância religiosa é, então, muito importante. Então
para aqueles de vocês que tem fé em uma religião: harmonia e tolerância
sao muito importantes. Quando surgira oportunidade, contribua nesse
sentido.
Achar Paz e Plenitude Interiores
O 14º Dalai Lama

Share on facebook

A Importância de Investigarmos a Realidade de uma Situação


Paz interior está relacionada à tranquilidade mental. A experiência física
não determina necessariamente nossa paz mental. Se temos paz mental,
então o nível físico não é tão importante.

Porem será que nós desenvolvemos paz interior através de preces? Não,
realmente não. Através de treinamento físico? Não. Apenas adquirindo
conhecimento? Não. Tornando-nos insensíveis? Não. Mas, quando nos
deparamos com uma situação difícil, se, com base na plena consciência
dos benefícios e malefícios de qualquer uma das ações possíveis e suas
conseqüências, encararmos a situação, então nossa mente não é
perturbada e isso é paz interior de verdade.

Compaixão e uma abordagem realista são, pois, extremamente


importantes. Quando conseqüências inesperadas surgem e com elas uma
grande quantidade de medo, isso se deve a não termos sido realistas. Nós
não vimos realmente todas as conseqüências e portanto, houve uma falta
de consciência e entendimento. Nosso medo veio de uma falta de
investigação apropriada, por isso precisamos olhar de todas as quatro
direções, acima e abaixo, para termos uma imagem completa. Existe
sempre uma lacuna entre realidade e aparências, logo temos que
investigar de todas as direções.

Apenas olhando, não é possível ver se algo é positivo ou negativo.


Entretanto, somente quando nós [investigando completamente]
compreendemos a verdade sobre alguma coisa, podemos avaliar se é
positiva ou negativa. Portanto, precisamos de avaliação racional das
nossas situações. Se começarmos a investigar com o desejo: "Quero esse
resultado, aquele resultado", então a nossa investigação é parcial. A
tradição Nalanda da Índia diz que temos que ser sempre céticos e
investigar objetivamente todos os assuntos, inclusive a religião.

A Importância de Abrirmos Nossas Mentes aos Outros


Agora, quanto à falta de paz de espírito e insatisfação, elas surgem por
termos uma motivação extremamente auto centrada. Um indivíduo tem o
direito de superar o sofrimento e alcançar a felicidade. Mas, se pensarmos
somente em nós mesmos, a mente se torna muito negativa. Então um
pequeno problema parece enorme e ficamos desequilibrados. Quando
pensamos nos outros como sendo tão queridos quanto nós mesmos, a
mente se torna aberta e mais ampla. Como resultado, até mesmo um
problema sério não parece tão significante. Portanto, dependendo do
âmbito pelo qual olhamos as coisas, há uma grande diferença emocional.

Assim, existem dois elementos que são importantes para a paz de


espírito. O primeiro é a consciência da realidade. Se abordarmos as coisas
realisticamente, não haverá conseqüências inesperadas. O segundo é
compaixão, que abre a nossa assim chamada “porta interna”. Medo e
suspeita nos isolam dos outros.

Não Nos Preocuparmos com Nossa Aparência Externa


[Outra coisa que nos faz perder a paz de espírito é a preocupação com
nossa aparência externa]. Quando visitei Beijing pela primeira vez, por
exemplo, eu não tinha experiência alguma. Estava um pouco nervoso e
ansioso. Mas então vi que algumas pessoas, quando estão muito
preocupadas com sua aparência, ficam com o rosto vermelho se alguma
coisa dá errado. Mas se elas estiverem abertas e não se importarem se
alguma coisa der errada, então não há problema.

Por exemplo, em 1954, quando estava em Beijing, o embaixador indiano


veio me ver em meus aposentos. Os chineses fizeram uma preparação
enorme com flores, frutas e assim por diante, e insistiram que tivéssemos
um interprete chinês. Então a conversa foi do Tibetano para o Chinês para
o Inglês, apesar de alguns de meus funcionários saberem inglês. Em um
dado momento, o arranjo de frutas tombou e os funcionários chineses,
que estavam todos duros e formais antes, ficaram de quatro e
engatinharam pelo chão. Se não estivessem preocupados antes com a
aparência, não haveria problema. No entanto, foi muito constrangedor
para eles.

Uma vez, na Cidade do México, em um encontro inter-religioso, havia um


padre japonês. Ele tinha um rosário de contas na mão e o cordão
arrebentou. Ele continuou passando o dedo pelo rosário embora as
contas estivessem todas no chão. Tinha vergonha de catá-las do chão.
Sentia-se desconfortável porque estava muito preocupado com sua
aparência.

De qualquer modo, compaixão, altruísmo, veracidade, honestidade – são


muito importantes para trazer calma interior e não se preocupar com sua
aparência externa. Eu nunca digo que sou algo especial, mas pela minha
própria experiência não tenho qualquer sentimento de preocupação
sobre como me portar em frente a milhares de pessoas. Eu falo para
milhares de pessoas em palestras como esta e para mim é como falar com
apenas algumas pessoas. Se ocorrer um erro, eu vou esquecer, sem
problemas. Se outros cometerem erros também, eu apenas rio.

Transformação Interna
Quanto às transformações internas, uma transformação interna está
falando sobre um nível emocional. Existe uma categoria de transformação
interna que acontece naturalmente com a idade e outra que acontece
devido a circunstâncias externas. Esses tipos de transformações
acontecem automaticamente. Outras surgem através de esforço e são
principalmente essas que queremos que aconteçam: uma transformação
interna de acordo com nossos desejos. Este é o significado principal.

Porem, aqui não estamos falando sobre nossa próxima vida, salvação ou
paraíso, mas como manter esta vida calma e feliz apesar das dificuldades
e problemas. Para isso, os principais fatores com os quais temos que lidar
incluem, raiva, ódio, medo, inveja, desconfiança, solidão, estresse e assim
por diante. Todos eles relacionados com nossa atitude mental básica. Eles
surgem por sermos muito auto centrados. Para nós, quando
experimentamos essas coisas, o eu é o mais importante, e isso faz surgir a
inveja. Por nos termos em alta estima, então a menor irritação faz surgir
raiva e raiva faz surgir medo. Não nos importamos com os outros; só nos
importamos conosco. E pensamos que os outros também só se
preocupam consigo mesmos, e que certamente não se preocupam
conosco. Por causa disso, nos sentimos solitários. Pensamos, “não posso
contar com os outros”, e então nos tornamos desconfiados de quem está
na nossa frente, ao nosso lado, e principalmente de quem está atrás da
gente.

Basicamente, quando pensamos nisso, a natureza humana é tal que todos


apreciam a simpatia. Se estendermos para amizade, a maioria das pessoas
responderá positivamente. Já quanto às emoções negativas que trazem
ansiedade e assim por diante, precisamos de algumas contramedidas pra
combatê-las. Por exemplo, se estamos com muito calor, reduzimos a
temperatura, ou se queremos acabar com a escuridão, não há outra
maneira se não trazendo luz. Isso é verdadeiro num nível físico. A
mudança pode surgir por aplicarmos uma força contraditória – isso é da
natureza. Porém isso é verdade não só em um nível físico, mas também
em um nível mental. Então precisamos combater nosso ponto de vista ou
perspectiva com um que seja oposto [tal como opor o auto centramento e
desconfiança em relação à preocupação e amizade com as outras
pessoas].

Tomemos o exemplo de uma flor amarela. Se eu disser “é branca”, por


algum motivo e mais tarde considerá-la amarela, são duas perspectivas
contrárias. Não se sustentam simultaneamente. Assim que houver a
percepção do amarelo, a percepção do branco desaparece imediatamente.
Elas são diretamente opostas uma à outra. Então, uma maneira de
provocar uma mudança interna é produzindo um estado mental oposto.

Outra causa de dificuldade pode ser a mera ignorância. A contraposição a


isso é o estudo, analise e investigação. Isso porque a ignorância está
baseada em não vermos a realidade. Portanto, a força de contraposição
para a ignorância é a analise. Similarmente, a força de contraposição para
o auto-apreço é a preocupação com os outros e isso constitui o
treinamento da mente [ou a limpeza de nossas atitudes].
Ética Secular
Quanto a como treinar nossas mentes (ou limpar nossas atitudes), a
pergunta é se isso tem de estar relacionado à religião ou espiritualidade e
eu acho que basicamente não tem nada a ver com religião.

Quanto à espiritualidade, bem, há dois tipos: uma com religião e fé, e


outra sem. O tipo sem religião e fé eu chamo de “ética secular”. “Secular”
não significa uma rejeição à religião, mas uma atitude igualitária frente a
todas as religiões e respeito por todas elas. Por exemplo, a constituição
indiana tem respeito por todas as religiões; é uma constituição secular.
Portanto, mesmo sendo os Parsis ou a comunidade Zoroastriana muito
pequenos na Índia – existem somente algumas centenas de milhares de
membros, comparado a mais de um bilhão de pessoas na Índia- eles tem
uma posição igual na esfera militar e política.

Quando falamos sobre a ética secular, isso também implica em ética para
os não crentes. Podemos estender nossa ética e respeito mesmo para os
animais, com base na ética secular. E também outra parte da
espiritualidade secular ou ética é cuidarmos do meio ambiente. Então, de
uma maneira secular, precisamos cultivar nossa mente; precisamos
cultivar ética secular. Seis bilhões de pessoas no planeta precisam fazer
isso. Os sistemas religiosos podem ajudar a fazer com que esse cultivo
universal da ética secular cresça. Eles certamente não estão destinados a
reduzi-la.

E então, quando falamos sobre ética secular, temos uma atitude não
sectária. Se qualquer pessoa religiosa, seguindo qualquer tipo de religião
trabalhar para aprofundar a ética secular, então ela certamente é uma
praticamente religiosa. Caso contrário, mesmo que você frequente uma
igreja, mesquita ou sinagoga, duvido que ela realmente seja uma
verdadeira praticante religiosa.
Alcançar a Paz através da Paz Interior
O 14º Dalai Lama

Share on facebook

Desconforto Físico e Mental


A paz é uma preocupação de todos nós, no Oriente, no Ocidente, no Norte
ou no Sul. Ricos ou pobres, todos nós deveríamos estar verdadeiramente
preocupados com a paz. Todos nós somos seres humanos e por isso
temos geralmente as mesmas preocupações: ser feliz, ter uma vida feliz. E
todos merecemos uma vida feliz. Aqui, nós estamos falando a esse nível.
Cada um de nós tem a sensação do "eu" ou do "self" sem entendermos por
completo o que é esse "eu" ou "self". No entanto, apesar disso, temos um
forte sentimento do "eu". Com esse sentimento vem o desejo de sermos
felizes e não sofrermos. Este desejo surge ou aparece automaticamente.
Com base nisto, todos nós temos o direito a ser feliz.
No entanto, obstáculos e muitas coisas desagradáveis irão com certeza
acontecer durante as nossas vidas. Existem duas categorias de
sofrimento. Uma delas se deve a causas físicas, como por exemplo a
doenças e ao envelhecimento. Assim como eu, que já tenho alguma
experiência nesta área - já me é difícil ouvir, ver e andar. Estas coisas irão
com certeza acontecer. A outra categoria é principalmente a nível mental.
Se, a nível físico, tudo for confortável e luxuoso, e se apesar disso ainda
tivermos stress e dúvidas interiores, nos sentiremos sós. Teremos ciúmes,
medo e ódio, e por isso nos sentiremos infelizes. Assim, apesar de a nível
físico tudo estar bem, a nível mental podemos estar com muito
sofrimento.

Para o conforto físico, então, sim, com dinheiro podemos reduzir um


pouco o sofrimento e obter satisfação física. No entanto, esse [bem estar
a] nível físico, que inclui o poder, nome e fama, não nos pode trazer a paz
interior. A verdade é que às vezes ter muito dinheiro e riquezas só nos
traz mais preocupações. Ficamos muito preocupados com o nosso nome e
fama, e isso conduz a alguma hipocrisia, algum desconforto e algum
estresse. Assim, a felicidade mental é menos dependente de recursos
externos do que do nosso modo de pensar interior.

Podemos ver que há pessoas que, embora pobres, são felizes e muito
fortes a nível interior. De fato, se tivermos contentamento interior,
podemos tolerar qualquer tipo de sofrimento físico e conseguimos
transformá-lo por mais difícil que seja. Assim, entre a dor física e a
mental, penso que a dor mental é mais severa porque enquanto o
desconforto físico pode ser subjugado pelo conforto mental, o
desconforto mental não pode ser eliminado pelo conforto físico.

Os problemas mentais das pessoas são mais fortes e mais severos do que
os dos animais. A nível físico talvez o sofrimento de ambos seja igual, mas
em relação aos seres humanos, por causa da nossa inteligência, temos
dúvidas, inseguranças e estresse. Estes levam à depressão e tudo isso
surge por causa da nossa inteligência superior. Para contrariá-los
devemos usar também a nossa inteligência humana. A nível emocional,
algumas emoções, assim que surgem, fazem com que percamos a nossa
paz de espírito. Certas emoções, por outro lado, ainda nos dão mais força.
Estas são a base da confiança e força interior e nos levam a um estado de
espírito mais calmo e tranquilo.

Duas Categorias de Emoções


Temos, portanto, duas categorias de emoções. Uma delas é muito
prejudicial à paz de espírito; são as emoções destrutivas, como a raiva e o
ódio. Não só destroem a nossa paz de espírito aqui e agora, são também
muito destrutivas para a nossa fala e os nossos corpos. Por outras
palavras, elas afetam a nossa maneira de agir, levando-nos a agir de uma
forma prejudicial, sendo portanto destrutivas. Outras emoções, porém,
como a compaixão, trazem-nos paz e força interior. Trazem-nos por
exemplo a força do perdão. Mesmo que em determinado momento
possamos ter problemas com alguém, o perdão eventualmente nos levará
à tranquilidade e à paz de espírito. A pessoa com quem estávamos tão
incompatibilizados até poderá tornar-se o nosso melhor amigo.

Paz Exterior
Quando falamos sobre a paz temos de falar sobre estas emoções e sobre a
paz interior. Temos portanto de descobrir quais são as emoções que
levam à paz interior. Mas primeiro quero falar um pouco sobre a paz
exterior.

A paz exterior não é apenas a mera ausência de violência. Durante a


Guerra Fria aparentemente tivémos paz, mas essa paz era baseada no
medo, medo de um holocausto nuclear. Ambos os lados estavam com
medo que o outro lançasse as bombas, por isso essa paz não era genuína.
A verdadeira paz tem de vir da paz interior. Sempre que houver um
conflito, acho que devemos encontrar uma solução pacífica e com isto
quero dizer através do diálogo. A paz tem muito a ver com a bondade e o
respeito pela vida dos outros, com o resistir [à vontade de] fazer mal aos
outros e com a atitude de que a vida dos outros é tão sagrada quanto a
nossa. Temos que respeitar isso e, nessa base, se pudermos também
ajudar os outros, então tentamos ajudar.

Quando enfrentamos dificuldades e alguém nos vem ajudar, é claro que


apreciamos a ajuda. Se alguém estiver sofrendo, mesmo que
proporcionemos uma simples compreensão humana, essa pessoa irá
apreciar e sentir-se muito feliz. Assim, da compaixão interior e paz
mental, todas as ações se tornam pacíficas. Se conseguirmos estabelecer a
paz interior, então conseguiremos também trazer a paz exterior.

Como seres humanos, temos sempre pontos de vista diferentes nas


nossas interações com os outros. Mas, com base em fortes conceitos de
"eu" e "eles", então obtemos, além disso, conceitos de "meu interesse" e
"seu interesse". Com base nisso, podemos até chegar à guerra. Pensamos
que a destruição do nosso inimigo irá ser a causa da nossa vitória. Mas
agora temos uma nova realidade. Somos muito interdependentes uns dos
outros sob o ponto de vista económico e ecológico. Assim, os conceitos de
"nós" e "eles" já não são relevantes. Aqueles que considerávamos "eles" se
tornaram agora parte de "nós". Assim, o factor chave para o
desenvolvimento da paz mental é a compaixão, baseada no
reconhecimento de que somos seis bilhões de pessoas neste planeta e
todos nós temos o mesmo direito à felicidade. Com base nisto, levamos
todos a sério e assim devemos conseguir estabelecer a paz exterior.

Começar em Pequeno Nível


Precisamos assim, para a paz, começar a desenvolver a paz em nós
próprios, depois em nossas famílias e a seguir em nossas comunidades.
No México, por exemplo, um amigo meu criou uma "Zona de Paz" na sua
própria comunidade. Ele conseguiu isto fazendo com que todos na sua
comunidade concordassem com o seguinte: tentarem deliberadamente
evitar a violência dentro desta Zona de Paz. Se tivessem que lutar ou
discordar, concordarem todos eles em fazê-lo fora dos limites dessa zona.
Isso é muito bom.

É difícil pedir a paz mundial, embora eventualmente, a nível mundial, isso


seria melhor. Mas o que é mais realista é começar agora a um nível
pequeno, conosco, com a família, comunidade, distrito e assim por diante,
criando coisas como essas zonas de paz. A paz interior está, deste modo,
muito ligada à compaixão.

As coisas estão neste momento a mudar muito no mundo. Lembro-me de


há alguns anos, um amigo alemão, o falecido Friedrich von Weizsäcker,
que considero como meu professor, me ter dito que quando era jovem, do
ponto de vista de cada alemão, os franceses eram considerados inimigos
e, do ponto de vista dos franceses, os inimigos eram os alemães. Mas
agora as coisas estão diferentes. Agora temos uma força unificada, a
União Europeia. Isto é muito bom. Antes, cada Estado, do seu ponto de
vista, considerava a sua própria soberania como algo muito precioso. Mas
agora há uma nova realidade na Europa, há um interesse comum mais
importante do que os interesses individuais. Se a economia melhorar,
cada Estado-Membro benefíciará. Portanto, agora é importante propagar
este pensamento aos seis bilhões de pessoas do planeta. Precisamos de
pensar em todos como pertencendo à grande família humana.

Compaixão como fator biológico


Agora, quanto à compaixão, todos os mamíferos que nascem de mães –
seres humanos, mamíferos, aves, e assim por diante – dependem, para o
seu desenvolvimento, do carinho e afeição. Este é o caso, com a exceção
apenas de umas poucas espécies, como a tartaruga do mar, as borboletas,
os salmões que depositam seus ovos e morrem – estes seres são a
exceção. Vejam, por exemplo, as tartarugas marinhas. As mães colocam na
praia os seus ovos e depois vão-se embora, por isso a sobrevivência das
pequenas tartarugas depende unicamente do seu próprio esforço. Elas
não precisam do carinho da mãe e no entanto sobrevivem. Por isso digo a
algumas audiências que seria uma experiência científica muito
interessante colocar juntos a mãe com a tartaruga bebê quando este sai
do ovo, e ver se têm carinho um pelo outro. Eu acho que não teriam. A
natureza as criou assim, por isso não há necessidade de afeto. Mas quanto
aos mamíferos, e especialmente aos seres humanos, sem o cuidado
maternal todos nós morreríamos.

Cuidar de um bebê recém-nascido exige algumas emoções, como a


compaixão, afeição, o sentimento de dedicação e cuidado pelos outros. Os
cientistas dizem que durante as primeiras semanas após o nascimento, o
toque da mãe é essencial para o desenvolvimento do cérebro do bebê.
Notamos que as crianças que vêm de famílias meigas, carinhosas e
afetuosas tendem a ser mais felizes. Elas são até mais saudáveis a nível
físico. Mas as crianças sem afeto, especialmente quando são pequenas,
tendem a ter muitas dificuldades.

Alguns cientistas fizeram experiências, separando macaquinhos das suas


mães e observaram que andavam sempre brigando e de mau humor. Não
brincavam bem com os outros. Mas aqueles que permaneceram sempre
próximos de suas mães eram felizes e brincavam bem com os outros. E
especialmente as crianças humanas que não recebem afeto enquanto
bebês – elas tendem a se tornar frias. Têm dificuldade de demonstrar
afeto aos outros e em alguns casos se tornam violentas com os outros. Por
isso o afeto é um fator biológico, um fator com base biológica.

Além disso, acho que, como a compaixão e as emoções estão relacionadas


a este nível biológico e/ou físico, então, de acordo com alguns cientistas,
se andarmos constantemente irritados, cheios de ódio e medo, isso irá
corroer o nosso sistema imunitário tornando-o mais fraco. Mas a mente
compassiva ajuda e fortalece o sistema imunitário.

Vejamos outro exemplo. Na área da medicina, se houver confiança entre


as enfermeiras e os médicos por um lado, e os pacientes por outro, isso é
importante para a recuperação dos pacientes. E qual será o fundamento
da confiança? Se do lado do médico e dos enfermeiros forem
demonstradas dedicação e cuidados genuínos pela recuperação dos
pacientes, a confiança surgirá. Mas por outro lado, mesmo sendo o
médico um especialista, se tratar o paciente como uma máquina, então
haverá muito pouca confiança. Bem, se o médico tiver muita experiência
pode ser que haja alguma confiança, mas se o médico for mais
compassivo, então haverá ainda mais confiança. Os pacientes dormirão
melhor e sentir-se-ão menos perturbados. Se estiverem perturbados a um
nível mais profundo, tornam-se então muito agitados, o que afeta a sua
recuperação.

Mas na vida os problemas são, naturalmente, inevitáveis. Shantideva, o


grande mestre budista indiano, aconselhou que ao enfrentarmos
problemas precisamos de analisá-los. Se eles puderem ser superados
através de qualquer método, então não se preocupem, basta aplicar o
método. Mas se eles não puderem ser resolvidos, não há necessidade de
se preocuparem, pois isso não irá beneficiar ninguém. Pensar assim é de
uma grande ajuda. Mesmo que tenhamos um grande problema, podemos
minimizá-lo se pensarmos desta maneira.

Sentimos carinho e compaixão enquanto precisamos que outros cuidem


de nós, quando por exemplo somos bebês. Mas com mais independência à
medida que vamos crescendo, tendemos, na tentativa de obter o que
queremos, a achar que a agressão é mais importante do que a compaixão.
Mas todos os seis bilhões de pessoas vêm das mães. Todos nós
experienciamos felicidade e satisfação com os cuidados do amor materno
ou do afeto de alguém quando somos bebês. Aos poucos, porém, à medida
que vamos crescendo, essas qualidades se tornam mais frágeis e depois
tendemos a nos tornar agressivos, com mais bullying, e criamos mais
problemas.

A Necessidade de Ver a Realidade


Um cientista da Suécia disse-me que quando a mente se torna irritadiça e
o cérebro dominado pela ira, é uma projeção mental 90% da aparência
horrível da pessoa sobre quem estamos cheios de raiva. Por outras
palavras, 90% da negatividade são projetados mentalmente. Isso é
também semelhante a quando temos apego e um forte desejo por alguém:
vemos essa pessoa como 100% bonita e boa. Mas uma grande
percentagem disso também é projeção mental; não vemos a realidade.
Portanto, é muito importante ver a realidade.

Há um outro ponto importante: se ninguém quer problemas, porque é


que os problemas surgem? Devido à nossa ingenuidade, à nossa
ignorância, à nossa abordagem: nós não vemos a realidade. Do nosso
ponto de vista limitado, não conseguimos ver a realidade no seu todo.
Vemos apenas duas dimensões, e isso não é suficiente. Precisamos de ser
capazes de ver as coisas em três, quatro, seis dimensões. A fim de
investigarmos objetivamente, primeiro precisamos de acalmar as nossas
mentes.

Aqui também é importante a diferença entre emoções construtivas e


destrutivas a fim de compreendermos todos estes pontos. Quando
crescemos, o fator biológico da compaixão vai diminuindo pouco a pouco.
Por isso precisamos da educação e formação sobre a compaixão para
fortalecê-la uma vez mais. O tipo biológico da compaixão é, no entanto,
parcial: é baseado no receber do carinho dos outros. Mas usando isso
como uma base e adicionando-lhe depois a razão e os factores científicos
da nossa investigação, seremos capazes não só de manter este nível
biológico da compaixão como também de aumentá-la. Assim, com
treinamento e educação, a compaixão parcial e limitada se pode
transformar numa compaixão infinita e imparcial, abrangendo seis ou
mais bilhões de pessoas.

A Importância da Educação
A chave para tudo isto é a educação. A educação moderna presta atenção
ao desenvolvimento do cérebro e do intelecto, mas isso não é suficiente.
Nos nossos sistemas educacionais também precisamos de ser capazes de
desenvolver a bondade. Precisamos disso desde o jardim de infância à
universidade.

Na América, alguns cientistas têm desenvolvido programas de educação


para treinar crianças a desenvolverem mais compaixão e plena atenção. E
isso não é feito com o propósito de ajudar essas crianças a melhorar suas
vidas futuras e atingir o nirvana mas sim em benefício desta vida. Até em
algumas universidades já existem alguns programas de educação para o
desenvolvimento da bondade e compaixão. Esse tipo de compaixão
imparcial não está focalizado nas atitudes dos outros, mas simplesmente
por eles serem humanos. Todos nós fazemos parte da população de seis
bilhões de pessoas neste planeta, por isso, com base neste fator de
igualdade, todos merecem a nossa compaixão.

Desarmamento Interior e Exterior


Assim, para a paz interior e a paz mundial, precisamos do desarmamento
interior e do desarmamento exterior. Isto significa que, a nível interior,
desenvolvemos a compaixão e, eventualmente, com base nela, seremos
capazes de desarmar tudo, todos os países, a nível exterior. É como se
tivéssemos a força unificada franco-alemã do Exército Europeu, isso seria
ótimo. Se houvesse uma força unificada para toda a União Europeia, então
não haveria luta armada entre os seus membros.

Uma vez, em Bruxelas, houve uma reunião de ministros dos Negócios


Estrangeiros e eu disse que seria muito útil no futuro se a sede da União
Europeia fosse transferida mais para o leste, para um dos países do Leste
Europeu, por exemplo, a Polónia. Depois, seria eventualmente bom
expandir e incluir também a Rússia, e depois mudar a sede da OTAN para
Moscovo. Se isso viesse a acontecer, então não haveria perigo de guerra e
teríamos realmente paz aqui na Europa. Agora e por enquanto, existem
algumas dificuldades entre a Rússia e a Geórgia, mas precisamos manter
nossa esperança.

Com base nesta maior extensão de paz, então por exemplo a indústria de
armamento aqui em França, poderia eventualmente ser encerrada e
poderíamos mudar a economia para coisas mais produtivas. Em vez de
tanques, as fábricas poderiam ser convertidas para por exemplo a
produção de bulldozers!

As nações africanas também precisam muito da nossa ajuda. O fosso entre


os ricos e pobres é um grande problema, não só globalmente como
também a nível nacional, e este fosso entre ricos e pobres é horrível. Em
França, por exemplo, há uma grande discrepância entre os ricos e os
pobres. Algumas pessoas estão até passando fome. Mas somos todos
seres humanos e todos temos as mesmas esperanças, necessidades e
problemas. Temos que considerar todos estes pontos para o
desenvolvimento da paz através da paz interior.
A Compaixão como Fonte de Felicidade
O 14º Dalai Lama

Share on facebook

O Propósito da Vida é Tentar Alcançar a Felicidade


Nós estamos aqui; existimos e temos o direito de existir. Até os seres não-
sencientes, como as flores, têm o direito de existir. Se qualquer força
negativa for exercida contra elas, então as flores, a nível químico,
regeneram-se a si próprias para sobreviver. Mas [mais do que isso] nós,
os seres humanos, os insetos e até as amebas e os mais pequenos seres
somos considerados seres sencientes. [E, como seres sencientes, nós
temos ainda mais mecanismos para nos ajudar a sobreviver.]

Coisas que conseguem se movimentar sob sua própria vontade ou desejo,


isso é o que significa “ ser senciente” de acordo com os debates que tive
com cientistas. "Senciente" não significa necessariamente ser consciente
ou ser humano a um nível consciente. A verdade é que é difícil definir o
que significa "consciência" ou "consciente". Normalmente significa o
aspecto mais claro da mente, mas será que não há consciência quando
estamos semiconscientes ou inconscientes? Será que os insetos têm isso?
Talvez seja melhor falarmos de "faculdade cognitiva" em vez de
consciência.

De qualquer forma, o ponto principal que aqui estamos referindo [por


faculdade cognitiva] é a capacidade de experienciar sentimentos: dor,
prazer ou sentimentos neutros. Na verdade, o prazer e a dor [a felicidade
e a infelicidade] são coisas sobre as quais devemos analisar com mais
profundidade. Por exemplo, cada ser senciente tem o direito de
sobreviver, e sobreviver significa ter um desejo de felicidade ou conforto:
é por isso que os seres sencientes lutam pela sobrevivência. Portanto, a
nossa sobrevivência baseia-se na esperança – na esperança de algo bom:
a felicidade. Por causa disso, eu chego sempre à conclusão de que o
propósito da vida é a felicidade. Portanto, com esperança e um
sentimento de felicidade o nosso corpo sente-se bem. Por conseguinte, a
esperança e a felicidade são fatores positivos para a nossa saúde. A saúde
depende de um estado mental feliz.
Por outro lado, a raiva baseia-se num sentimento de insegurança e nos
provoca medo. Quando deparamos com algo bom, sentimo-nos seguros.
Quando algo nos ameaça, sentimo-nos inseguros e nos tornamos
irritados. A raiva é uma parte da mente que se defende daquilo que
prejudica a nossa sobrevivência. Mas a raiva [em si mesma faz-nos sentir
mal e, portanto, em última instância, ela] faz mal à nossa saúde....

O apego é um elemento útil para a sobrevivência. Por isso, até as plantas,


sem qualquer elemento consciente, têm no entanto uma parte química
que faz com que elas se protejam a si mesmas, e que ajuda ao seu
desenvolvimento. O nosso corpo, a nível físico, é igual. Mas, como seres
humanos, o nosso corpo também tem um elemento positivo a nível
emocional que nos leva a ter apego a alguém ou à nossa própria
felicidade. [A raiva, por outro lado, com o seu elemento] nocivo, leva-nos
a afastar das coisas [inclusive da felicidade].

Ao nível físico, o prazer [que a felicidade traz] é bom para o corpo,


enquanto que a raiva [e a tristeza que esta causa] é prejudicial. Portanto,
[numa perspectiva de luta pela sobrevivência,] o propósito da vida é ser
feliz, ter uma vida feliz.

Este é o nível humano fundamental de que estou falando; não estou


falando sobre o nível religioso, secundário. A nível religioso, é claro que
existem explicações diferentes sobre a finalidade da vida. O aspecto
secundário é muito complicado e, portanto, é melhor falarmos apenas a
nível humano fundamental.

O Que é a Felicidade?
Como o nosso objetivo e propósito de vida é a felicidade, o que é então a
felicidade? Às vezes, o sofrimento físico pode até trazer um sentimento de
satisfação mais profundo [como os atletas depois de um treino
extenuante.] Por isso, "felicidade" significa principalmente um
sentimento de profunda satisfação. O objeto da vida, o nosso objetivo, é
então a satisfação.

A alegria, tristeza ou sofrimento – para estes, existem dois níveis: um


nível sensorial e um nível mental. O nível sensorial é comum nos
pequenos mamíferos, até insectos – a mosca. Quando o sol aparece num
clima frio, as moscas exibem um aspecto feliz, voando aqui e ali. Numa
sala fria, elas desaceleram, voam devagarinho, dando mostras de tristeza.
Mas, se houver um cérebro sofisticado, então há até uma sensação ainda
mais forte de prazer sensorial. [Além disso, porém,] o nosso cérebro
sofisticado é o maior em tamanho e, portanto, também temos inteligência.
[Considerem o caso dos] seres humanos que se não sentem ameaçados
fisicamente. Têm uma vida feliz e confortável, bons amigos, salário e
reputação. Mas, mesmo assim, notamos que, por exemplo, alguns
milionários embora se considerem que são parte importante da
sociedade, muitas vezes eles enquanto pessoas são muito infelizes. Em
algumas ocasiões, eu conheci pessoas muito ricas e influentes que
mostraram um sentimento de perturbação muito forte. No fundo tinham
sentimentos de solidão, estresse e preocupação. Assim, a nível mental,
elas sofrem.

Nós temos uma inteligência maravilhosa, e por isso o nível mental da


nossa experiência é mais dominante do que o nível físico. A dor física
pode ser mitigada ou subjugada por ele. Um pequeno exemplo; há algum
tempo atrás eu desenvolvi uma doença grave. Senti muitas dores nos
meus intestinos. Nessa época, eu estava em Bihar, o Estado mais pobre da
Índia, e passei por Bodh Gaya e Nalanda. Ali, eu vi inúmeras crianças
muito pobres. Elas estavam coletando esterco de vaca. Não tinham
instalações de ensino e senti-me muito triste. Então, perto de Patna, a
capital do Estado, tive muitas dores e suores. Reparei numa pessoa idosa,
doente, vestindo roupas brancas, muito, muito sujo. Ninguém estava
cuidando dessa pessoa, era realmente muito triste. Naquela noite, no meu
quarto de hotel, a minha dor física era muito severa, mas a minha mente
estava pensando nessas crianças e nesse velho homem. Essa preocupação
reduziu imenso a minha dor física.

Tomem por exemplo aqueles que treinam para os Jogos Olímpicos. Fazem
um treino muito forte e, independentemente da quantidade de dor e
sofrimento que experienciam, eles se sentem felizes a nível mental. Assim,
o nível mental é mais importante do que a experiência física. Por isso o
que é na vida realmente importante é a felicidade e a satisfação.

As Causas da Felicidade
Quais são afinal as causas da felicidade? Eu penso que, como o nosso
corpo se sente bem com uma mente calma e não com uma mente
perturbada, uma mente calma é por isso muito importante. Não importa a
nossa situação física, é mais importante a tranquilidade mental. Então,
como é que podemos tornar a mente calma?

Agora, eliminarmos todos os problemas seria impraticável; e entorpecer a


mente e esquecer os nossos problemas também não resulta. Temos que
analisar objetivamente os nossos problemas e lidar com eles, mas ao
mesmo tempo manter a mente calma para podermos ter uma atitude
realista e sermos capazes de tratar e lidar bem com eles.
Relativamente àqueles que tomam tranquilizantes – bem, disso eu não
tenho experiência. Não sei se quando as pessoas tomam tranquilizantes a
sua inteligência é apurada ou entorpecida, tenho que perguntar. Por
exemplo, em 1959, quando eu estava em Mussoorie, a minha mãe, ou
talvez tenha sido outra pessoa, andava agitada, com muita ansiedade e
com o sono perturbado. O médico explicou que havia alguns
medicamentos que podia tomar, mas isso tornaria a mente um pouco
entorpecida. Pensei naquele momento que isso não seria bom. Por um
lado, obtém-se um pouco de calma mental, mas por outro lado, se o efeito
for o entorpecimento, isso não será bom. Eu prefiro uma outra maneira.
Prefiro ter a inteligência a funcionar na sua totalidade, atenta e alerta,
mas não perturbada. É melhor a tranquilidade mental não perturbada.

Para tal, o afeto humano compassivo é realmente importante: quanto


mais compassiva for a nossa mente, melhor funcionará o nosso cérebro.
Se nossa mente desenvolver o medo e a raiva, então quando isso
acontece, o funcionamento do nosso cérebro piora. Em certa ocasião
conheci um cientista com mais de oitenta anos de idade. Ele deu-me um
dos seus livros. Acho que se intitulava Somos Prisioneiros da Raiva, ou
qualquer coisa assim. Ao falar da sua experiência, disse que quando
desenvolvemos raiva a um objeto, o objeto parece ser muito negativo.
Mas noventa por cento dessa negatividade está na nossa projeção mental.
Isto veio da sua própria experiência.

O budismo diz o mesmo. Quando a emoção negativa surge, não


conseguimos ver a realidade. Quando temos que tomar uma decisão e a
mente está dominada pela raiva, então vamos provavelmente tomar a
decisão errada. Ninguém quer tomar a decisão errada, mas naquele
momento a parte do cérebro e da inteligência cuja função é diferenciar o
certo do errado e tomar a melhor decisão funciona muito mal. Até os
grandes líderes têm experiência disto.

Portanto, a compaixão e a afeição ajudam o cérebro a funcionar mais


facilmente. Além disso, a compaixão também nos dá força interior; dá-nos
auto-confiança, que reduz o medo, e isto, por sua vez, mantém tranquila a
nossa mente. Deste modo, a compaixão tem duas funções: faz com que o
nosso cérebro funcione melhor e dá-nos força interior. Estas são então as
causas da felicidade. Eu acredito que assim seja.

Agora, é claro que outras faculdades também são boas para a felicidade.
Por exemplo, todas as pessoas gostam de dinheiro. Se tivermos dinheiro,
podemos então desfrutar das boas coisas. Normalmente, consideramos
essas coisas como o mais importante, mas acho que não é assim. O
conforto material pode advir do esforço físico, mas o conforto mental tem
que vir do esforço mental. Se formos a uma loja e dermos dinheiro ao
empregado e dissermos que queremos comprar a paz de espírito, eles
dirão que não têm nada para vender. Muitos empregados iriam pensar
que somos loucos e fariam pouco de nós. Alguma injeção ou medicamento
talvez nos possa temporariamente dar felicidade ou tranquilidade de
espírito, mas não a nível total. Podemos ver através do exemplo de
aconselhamento psicológico, que temos de trabalhar com as emoções
usando o diálogo e o raciocínio. Assim, devemos ter uma abordagem
mental. Portanto, sempre que eu dou palestras, digo que as pessoas
modernas pensam muito sobre o desenvolvimento exterior. Se só
prestarmos atenção a esse nível, isso não será suficiente. A verdadeira
alegria e satisfação têm de vir de dentro.

Os elementos fundamentais para isso são a compaixão e o afeto humano,


que vêm da biologia. Enquanto crianças, a nossa sobrevivência depende
unicamente do afeto. Se houver afeto, sentimo-nos seguros. Sem afeto,
sentimos ansiedade e insegurança. Choramos se nos separarem da nossa
mãe. Se estivermos nos braços da nossa mãe, sentindo seu abraço seguro,
firme e sincero, então sentimo-nos felizes e tranquilos. Enquanto bebês,
isto é um fator biológico. Por exemplo, um cientista, meu professor,
biólogo envolvido com o movimento contra a violência nuclear, disse-me
que durante várias semanas após o nascimento, o contato físico da mãe é
muito importante para o desenvolvimento do cérebro e do próprio bebê.
Traz um sentimento de segurança e conforto, e isto conduz a um
desenvolvimento físico adequado, incluindo o do cérebro.

Assim, a semente do afeto e da compaixão não é algo que venha da


religião: ela vem da biologia. Cada um de nós veio do ventre das nossas
mães, e cada um de nós sobreviveu graças ao carinho e aos cuidados da
nossa mãe. Na tradição indiana, nós consideramos o nascimento numa
flor de lótus em uma terra pura. Isso soa muito bonito, mas se calhar as
pessoas de lá tenham mais afeição por flores de lótus do que por pessoas.
Por isso, é melhor nascermos do ventre da nossa mãe, pois já trazemos
conosco a semente da compaixão. Estas são, por conseguinte, as causas da
felicidade.
A Ética Além da Religião
O 14º Dalai Lama

Share on facebook

Desvantagens em Enfatizar as Diferenças Secundárias


Queridos irmãos e irmãs, estou extremamente feliz por essa
oportunidade de falar com vocês. Primeiramente, eu gosto sempre de
deixar claro que, quando dou palestras às pessoas, por favor, pensem em
si como um ser humano. Isso é dizer, por exemplo, não pense “eu sou
suíço”, “eu sou italiano”, ou “eu sou francês”. Meu tradutor não deveria
pensar que é francês! Eu também não devo pensar que sou tibetano. Além
disso, eu não deveria pensar em mim como budista, porque geralmente
nas minhas palestras, a base do caminho para viver uma vida feliz e
menos perturbada está em ser um ser humano.

Cada um dos sete bilhões de seres humanos deseja uma vida feliz, e cada
um tem todo o direito de atingir esse objetivo. Se nós enfatizamos
diferenças secundárias como “eu sou tibetano”, então isso faz parecer que
estou mais preocupado com o Tibete. Além disso, “eu sou budista” gera
algum tipo de sentimento de proximidade com outros budistas, mas
automaticamente cria algum tipo de distância de outras fés.

Na verdade, esse tipo de visão é fonte de problemas, incluindo os muitos


problemas e a imensa violência que os seres humanos têm enfrentado no
passando e que continuam a enfrentar no século XXI. Violência nunca
acontece se você considerar as outras pessoas como seres humanos,
assim como você. Não há razão para matar um ao outro; mas quando nós
nos esquecemos da humanidade como una, e ao invés disso nos
concentramos nas diferenças secundárias como “minha nação” e “a nação
deles”, “minha religião” e a “religião deles”, nós criamos distinções e nos
preocupamos mais com o nosso próprio povo e seguidores da nossa
religião. Assim, nós desconsideramos os direitos dos outros e temos
nenhum respeito pelas vidas dos outros. Muitos dos problemas que
enfrentamos hoje emergem dessa base, de colocar demasiada ênfase e
importância em diferenças secundárias.

Agora, o único remédio para isso é pensarmos logicamente em nós


mesmos como sendo seres humanos, sem demarcações ou barreiras.
Quando dou palestras, por exemplo, se eu me considerar budista tibetano
e, talvez, ainda mais, se eu pensar em mim mesmo como “Sua Santidade o
Dalai Lama”, isso cria certo tipo de distância entre mim e a audiência, o
que é tolice. Se eu estou sinceramente preocupado com o seu bem-estar,
tenho que falar com você no nível de sermos irmãos e irmãs humanos, os
mesmos seres humanos assim como eu. Na verdade, nós somos o mesmo:
mentalmente, emocionalmente e fisicamente. E mais o importante, todos
querem uma vida feliz sem nenhum sofrimento, e eu sou o mesmo, então
vamos conversar nesse nível.

Ética Laica
A ética laica está muito relacionada a fatores biológicos, mas fé religiosa é
algo que só os seres humanos têm. Entre a humanidade a fé se
desenvolveu, mas certamente não é um fator biológico. A ética secular
abrange toda a população de sete bilhões de seres humanos. Como eu
mencionei ontem, de sete bilhões de pessoas, um bilhão formalmente
afirmou que é cética, e se pensarmos, dos seis bilhões que supostamente
acreditam, existem tantas pessoas corruptas. Há escândalos, exploração,
corrupção, traição, mentira e bullying. Isso, eu acredito, é devido à falta de
genuína convicção nos princípios morais. Então, até a religião é usada
para propósitos errados. Se eu mencionei isso ontem ou não, às vezes eu
realmente sinto que a religião nos ensina como agir hipocritamente. Nós
dizemos coisas boas como “amor” e “compaixão”, mas na realidade não
agimos de acordo, e há muita injustiça.

A religião fala sobre essas coisas boas em uma espécie de maneira


tradicional, mas não de um jeito que realmente se conecta ao seu coração.
Isso acontece porque falta às pessoas os princípios morais, ou a falta de
convicção sobre o valor dos princípios morais. Independente de a pessoa
ser crente ou cética, nós precisamos pensar mais seriamente em como
educar as pessoas sobre esses princípios morais. Então, em cima disso,
você pode adicionar a religião, e isso se torna uma verdadeira e genuína
religião. Todas as religiões, como eu mencionei ontem, falam sobre esses
valores.

Desenvolvendo Desapego no Próprio Campo


No século passado, enquanto às pessoas matavam uma à outra, ambos os
lados estavam rezando para Deus. Difícil! Ainda hoje, às vezes, você vê
conflitos em nome da religião, e eu acho que ambos os lados rezam para
Deus. Às vezes eu brinco, dizendo que parece que Deus está confuso!
Como Ele poderia decidir, com os dois lados rezando para Ele,
procurando alguma forma de benção? É difícil. Uma vez na Argentina,
durante uma discussão com cientistas e alguns líderes religiosos, embora
não tenha sido um encontro inter-religioso, conheci um físico com o nome
de Maturana. Ele era professor do já falecido Varela e eu já havia o
conhecido anteriormente na Suíça, e então na Argentina, mas nunca mais
desde então. Durante sua palestra, ele mencionou que, como físico, não
deveria desenvolver apego em relação à sua própria área científica.
Então, essa foi uma afirmação maravilhosa e sábia que eu aprendi.

Eu sou budista, mas não devo desenvolver apego com relação ao budismo
porque apego é uma emoção negativa. Quando você desenvolve apego,
sua visão se torna tendenciosa. Uma vez que sua mente se torna
tendenciosa, você não consegue ver as coisas objetivamente.

É por isto que acho que, na maioria das vezes, para aqueles envolvidos em
conflitos em nome da religião a verdadeira razão não é a fé religiosa, mas
sim interesses econômicos ou políticos.

Mas em alguns casos, como os de fundamentalistas, eles se tornam tão


apegados à sua própria religião e então, por causa disso, não podem ver o
valor de outras tradições.

A afirmação de Maturana foi um grande conselho para mim. Como


resultado de me encontrar com muitas pessoas, eu admiro muitas outras
tradições e, claro, espero não ser fundamentalista ou fanático. Às vezes eu
menciono que uma vez estive em Lurdes, no sul da França. Fui como um
peregrino, e, na frente de uma estátua de Jesus Cristo eu bebi um pouco
de água. Eu estava na frente da estátua e refleti na minha mente, sobre o
que tinha ouvido, que milhões de pessoas ao longo dos séculos que
visitaram esse lugar, procurando conforto, com algumas pessoas doentes,
que através de sua fé e algum tipo de benção foram curadas. Então eu
refleti sobre essas coisas e tive alguma forma de sentimento profundo de
apreço pelo cristianismo, as lágrimas quase vieram. E então, em outra vez,
aconteceu uma coisa estranha em Fátima, Portugal. Cercado por católicos
e cristãos, nós fizemos um pequeno período de meditação silenciosa na
frente de uma pequena estátua de Maria. Quando eu e todos os outros
estávamos para ir embora, me virei para trás e a estátua de Maria estava
realmente sorrindo para mim. Eu olhei de novo e de novo, e sim, ela
estava sorrindo. Eu senti que Maria parecia ter algum tipo de
reconhecimento pelo meu caminho não sectário! Se eu tivesse passado
mais tempo com Maria discutindo filosofia, no entanto, talvez algo mais
complicado pudesse ter surgido!

De qualquer forma, até o apego pela sua própria fé não é bom. Às vezes a
religião causa conflitos e divisões, e isso é um assunto um tanto sério. A
religião é, supostamente, um método de aumentar a compaixão e o
perdão, que são os remédios para a raiva e o ódio. Então, se a própria
religião criar maior ódio contra as outras fés religiosas, é como um
suposto remédio para curar a doença, mas que, ao invés disso, causa mais
doença. O que fazer? Todas essas coisas tristes existem, essencialmente,
devido à falta de convicção nos princípios morais, por isso eu acredito
que nós precisamos de várias práticas e fatores, de modo a fazer um
verdadeiro esforço para promover a ética secular.

Secularismo e Respeito pelos Outros


Agora, sobre ética laica. Eu conhecia o ex-vice-primeiro-ministro indiano,
Advani, muito bem. Em uma ocasião ele mencionou que uma equipe de
televisão canadense o entrevistou e perguntou qual era a base para a
prática bem-sucedida da democracia na Índia. Ele respondeu que, por
milhares de anos na Índia, a tradição foi de sempre respeitar os outros,
apesar de argumentos e visões diferentes. Ele me contou que por volta de
3.000 anos atrás, o Charvaka, ou visão filosófica “niilista” se desenvolveu
na Índia. Os representantes de outras visões filosóficas indianas os
criticaram e condenaram seu ponto de vista, mas ainda se referiam aos
representantes do Charvaka como “rishi”, que significa sábio. Esse é um
indício de que, apesar dos desentendimentos ou discussões acaloradas,
ainda havia respeito. Significa que nós também devemos respeitar os
céticos.

Ontem eu disse que alguns dos meus amigos, alguns cristãos e alguns
muçulmanos, têm um pouco de reserva com a palavra “secularismo”. Eu
acho que é porque, durante a Revolução Francesa ou Revolução
Bolchevique, houve uma tendência a ser contra a religião. Mas eu quero
fazer uma clara distinção entre religião e instituições religiosas, que são
duas coisas diferentes. Como qualquer pessoa sensata pode ser contra a
religião? Religião significa amor e compaixão, e ninguém pode criticar
essas coisas. As instituições religiosas são, porém, algo diferente. Durante
as Revoluções Francesa e Bolchevique, em ambos os casos as classes
dominantes realmente abusavam das massas. Além do mais, a classe
dominante também recebia total apoio das instituições religiosas, e então,
logicamente, de modo a desenvolver uma determinação contra essa
classe dominante, foi incluído ser contra as instituições religiosas
também. Portanto, houve alguma forma de tendência a ser contra a
religião ou Deus.

Ainda hoje, se houver algum tipo de exploração ocorrendo dentro de


instituições religiosas, incluindo a comunidade budista tibetana, nós
temos que ser contra isso. Minha experiência própria é de que há dois
anos eu terminei com a tradição de 400 anos de que o Dalai Lama
automaticamente se torna líder espiritual e temporal dos tibetanos. Eu
acabei com ela, voluntariamente, feliz e orgulhoso. Coisas como essas na
realidade danificam o verdadeiro valor da religião, ou do Dharma. Assim,
nós devemos fazer a distinção entre as instituições religiosas, e as reais
práticas e mensagens religiosas.

De acordo com o entendimento indiano de secularismo, nunca há um


sentimento de negatividade com relação à religião, mas bastante respeito
por todas as religiões, e também respeito por todos os céticos. Eu acho
isso muito sábio. Como podemos promover isso? Através da pregação?
Não. Então, certamente através da prece? Não. Mas através da educação,
sim. Nós recebemos educação sobre higiene física, então por que não
receber educação sobre higiene mental ou emocional, simples
conhecimentos de como cuidar de uma mente saudável? Não há
necessidade de falar sobre Deus ou a próxima vida, ou sobre Buda ou
nirvana, mas simplesmente sobre como se tornar uma pessoa feliz com a
mente. Uma pessoa feliz gera uma família feliz, que gera uma comunidade
feliz. Logo, eu acho que nós precisamos de algumas lições sobre higiene
emocional.

Higiene Emocional
O que é higiene emocional? Significa tomar conta de fatores que destroem
sua calma mental, ou sua paz de espírito. Esses fatores são como doenças
mentais, porque essas emoções negativas não só destroem sua pacífica e
saudável mente, como também destroem sua habilidade mental para
julgar a realidade. Isso causa muito dano porque quando você está com
muita raiva, você não consegue ver a realidade, e sua mente se torna
estreita. Também com o apego, você não consegue ver a realidade
corretamente. Isso é uma doença da mente. A própria natureza da mente
é consciência e então qualquer forma de fator mental que reduza essa
capacidade de consciência é uma coisa negativa.

Higiene emocional é, portanto, a diminuição desses tipos de emoções e a


manutenção de sua habilidade mental para a clareza e calma, que
constitui uma mente saudável. De modo a fazer isso, nós devemos
primeiramente cultivar e desenvolver o interesse em fazê-lo. Sem
nenhum interesse, você não pode forçar as pessoas a fazê-lo. Nenhuma lei
ou constituição pode forçar as pessoas a fazê-lo. Tem de vir através do
entusiasmo individual, que só vem quando você vê o valor em fazê-lo. E
são sobre esses valores que nós podemos ensinar.

Descobertas Científicas sobre a Mente e Emoções


Agora nós podemos olhar para a ciência. Antes a ciência moderna focava
na matéria, da qual você pode tirar medidas. Eu acho que na parte final do
século XX e agora, no começo do século XXI, mais e mais cientistas estão
realmente mostrando interesse na mente e suas emoções, porque existe
uma conexão muito próxima entre a mente e as emoções quando se trata
da saúde. Alguns cientistas estão dizendo “mente sã, corpo sã”. Cientistas
médicos também dizem que o medo, raiva e ódio constantes, na verdade,
comem fora nosso sistema imunológico, enquanto uma mente mais
compassiva basicamente sustenta e pode até melhorar um corpo
saudável. Obviamente, sabemos que, para aquelas pessoas que são
mentalmente felizes, os efeitos positivos para seus corpos são imensos.

Reconhecendo o Positivo em Situações Negativas


Na minha própria vida, aos 16 anos, eu assumi muitas responsabilidades,
e a situação tornou-se muito difícil. Então, na idade de 24, perdi meu
próprio país e agora tenho vivido a maior parte de minha vida como um
refugiado. Nesse meio tempo, tem havido muito sofrimento e problemas
dentro do Tibete, e as pessoas colocam muita esperança e confiança em
mim. Mas eu não posso fazer muito. Entretanto, minha paz de espírito me
permitiu ver tudo isso de modo mais realista. Como disse Shantideva, se
as dificuldades podem ser superadas, então não há necessidade de ser
preocupar. E, se há uma situação difícil sem nenhuma possibilidade de ser
superada, então não faz sentido em se preocupar demais. Isso é bem
realista, então eu pratico essas coisas.

É importante olhar as coisas de maneira mais realista, e também enxergar


que todas as coisas são relativas. O que quer que aconteça, pode haver
algum efeito positivo. No meu próprio caso, me tornei um refugiado, mas
por causa disso, eu tenho tido a oportunidade de me encontrar com
muitas pessoas e aprender sobre diferentes pontos de vista. Conheci
mendigos, líderes, acadêmicos de diferentes campos, e pessoas que são
contra a religião. Isso é muito útil, já que se eu tivesse permanecido
dentro do Tibete, penso que meu conhecimento seria metade do que é
hoje. Então, de certa forma, é uma grande tragédia, mas por outro lado,
trouxe muitas boas oportunidades. Se olharmos por vários ângulos, então
nos sentiremos bem. Coisas ruins podem acontecer, mas pode haver
algumas coisas boas nelas.

O povo tibetano, no passado, esteve um pouco isolado, mas agora seu


pensamento é muito mais amplo. Através dos séculos, os tibetanos
estavam vivendo em um estado como o do sono, mas agora eles
acordaram. Isso é bom! Então veja, se você olhar de ângulos diferentes,
pode encontrar coisas positivas. Isso é de uma ajuda imensa na
manutenção da paz de espírito. Hoje em dia, muitos dos meus velhos
amigos falam em como meu rosto ainda parece jovem, quando encontro-
os, e algumas dessas pessoas perguntaram meu segredo. Eu geralmente
os digo que oito ou nove horas de sono ajuda para a paz de espírito. Na
verdade, esse é um fator, mas o que é de benefício real é se nossa mente e
estados mentais são comparativamente quietos e calmos.

Uma mente calma inclusive te ajuda a se recuperar de coisas como uma


cirurgia médica. Quando fiz uma cirurgia na minha vesícula biliar, foi
realmente muito sério. Mais tarde, o cirurgião me disse que a operação
leva de 15 a 20 minutos, mas meu caso foi tão sério que foi preciso quase
3 horas, porque minha vesícula biliar estava quase duas vezes o tamanho
normal, com muito pus. Mas, então, eu me recuperei no prazo de cinco
dias, simplesmente assim. Por isso, uma mente calma e atitude otimista
realmente ajudam na manutenção de um corpo saudável, e assim, mesmo
se alguma coisa der errado, você se recuperará mais rapidamente. Paz de
espírito realmente é um fator muito importante para a boa saúde.

Beleza Interior vs Beleza Exterior


Também irei mencionar aqui, meio brincando e meio implicando, que
algumas jovensgostam de gastar um tanto de dinheiro em cosméticos.
Algumas mulheres usam diferentes cores em seus rostos – azul, verde, e
outras. Não fica muito bom, mas elas acham que é muito bonito! As
pessoas parecem prestar mais atenção à beleza exterior. Numa palestra
pública outro dia, uma mulher tinha cabelo azul, o que era muito
incomum. Então, é claro, eu impliquei com ela e disse que o cabelo azul
não é necessariamente bonito! Obviamente, a beleza exterior é
importante, mas a coisa mais importante é a beleza interior. Àquelas
senhoras que gastam muito dinheiro na beleza exterior, por favor,
prestem mais atenção à sua beleza interior, que é muito melhor!

A Mente e as Emoções como um Assunto Acadêmico


Nós estamos falando sobre descobertas científicas. A verdadeira paz de
espírito é crucial. A base para a paz de espírito é a autoconfiança e a força
interior, que vêm da prática do amor e da compaixão, com um sentimento
de respeito pelos outros e preocupação pelo seu bem-estar. Isso é ética
secular.

Do jardim de infância até à universidade, nós podemos educar sobre a


mente e em como cuidar de nossas emoções. O assunto é vasto, e existem
muitas explicações sobre nossa mente e emoções, e a conexão entre elas.
Nós podemos ver um tipo de relação de causa e efeito, em que se alguma
coisa acontece em uma parte da mente, outra coisa acontece em outro
lugar. Então, para lidar com isso, nós precisamos seriamente considerar o
modo pelo qual a mente e o todo o cérebro estão conectados.
Esse vasto assunto realmente vale a pena, academicamente. Nos últimos
dois anos, nos Estados Unidos, cientistas vêm realizando experimentos
com base nessa informação, e alguns resultados um tanto quanto
concretos têm surgido. Como resultado, existem agora programas
educativos ensinando sobre ética secular. Agora nós também estamos
comprometidos para a criação de um projeto curricular sobre a ética
moral, baseado no secularismo, o que pode se encaixar no campo da
educação secular.

O público, em particular os educadores e pensadores aqui, deve pensar


mais sobre isso e se surgir uma oportunidade, deve realizar algumas
discussões sobre o assunto. Atualmente, parecem faltar lições sobre a
ética moral no sistema educacional, assim, a maioria das pessoas depende
dos ensinamentos religiosos para isso. É claro que isso é bom, mas
também existem aqueles que não têm interesse em religião, e acham
difícil aceitar conceitos religiosos. Isso dificulta. Portanto, nós precisamos
encontrar um caminho laico, que é universalmente aceitável.

Terminei. Agora algumas perguntas.

Perguntas
Pergunta: Sua Santidade, no seu último comentário você tocou na
questão sobre a qual eu iria perguntar, mas de modo a conseguir
uma resposta completa, eu vou perguntar de novo, se você não se
importa. Com relação ao ensino da ética secular nas escolas e
universidades, você está trabalhando para desenvolver um
programa de ensino adequado para qualquer um? Se sim, você
tem alguma instituição educacional ou financeira para te apoiar?

Sua Santidade: Na Índia, com a ajuda de algumas universidades em Délhi,


nós já começamos a trabalhar para criar um projeto curricular, como eu
mencionei antes. Assim, também temos o Mind and Life Institute. E nos
Estados Unidos, membros autônomos em seus próprios campos, em
lugares como Universidade de Wisconsin, Universidade Emory,
Universidade Stanford e assim por diante, já estão realizando educação
com ética secular. E essa instituição que já se expandiu na Europa. Em
breve queremos criar uma instituição em Délhi. Até agora, estivemos
simplesmente trabalhando nisso. Uma vez que o currículo estiver pronto,
então talvez possamos treinar alguns professores, e alguma coisa
acontecerá. Talvez valerá a pena, veremos.

Pergunta: Sua Santidade, eu amo o planeta e tudo que o compõe, a


terra e as plantas e animais, e a nós, humanos fascinantes. Mas
esses humanos estão sempre destruindo o planeta, com talvez
coisas muito pequenas e simples como comprando garrafas
plásticas, e então coisas maiores e mais importantes, como
desflorestamento. Eu sei que devo ser paciente, mas quando vejo
isso, quando vejo que a vida está morrendo e sofrendo, há muita
raiva vinda do meu estômago e eu quero lutar. Então minha
pergunta é: existe raiva saudável? Posso eu lutar com amor?

Sua Santidade: Como eu mencionei anteriormente, a raiva está


relacionada com a motivação. Então a raiva gerada por preocupação por
uma coisa ou alguém é uma coisa, e a raiva motivada com ódio é algo
muito diferente.

Pergunta: Sua Santidade, obrigado por estar aqui. É maravilhoso


te ver e te ouvir. Eu tinha uma pergunta muito simples. Se você
tivesse tempo livre amanhã para fazer qualquer coisa, o que
gostaria de fazer? Obrigado.

Sua Santidade: Geralmente, sempre que tenho tempo, eu leio as escrituras


budistas, principalmente em tibetano. No budismo tibetano, temos cerca
de 300 volumes. 100 volumes são as palavras do próprio Buda, quase
como uma Bíblia. Então temos outros 200 volumes de comentários.
Assim, estou sempre dizendo aos tibetanos que esses não são apenas
objetos de adoração, mas são textos a serem estudados. Enquanto eu digo
isso às outras pessoas, eu mesmo também tento ler esses livros. Eu acho
que, dos 300 volumes, eu talvez tenha lido até hoje 30-40 volumes. Então,
muitos livros ainda para estudar. E, talvez, se eu tiver dois dias de lazer,
então eu gostaria de ir a uma área de montanhas cobertas de neve. Eu iria
gostar de ver mais neve!

Pergunta: Sua Santidade, você tem falado sobre os seis bilhões de


fiéis e o provável um bilhão de ateus no planeta. Tenho a
impressão de que existe um terceiro grupo de pessoas que não se
sentem mais realmente em casa dentro da religião tradicional e
institucionalizada, mas que tampouco são ateus, e estão
procurando espiritualidade além da religião institucionalizada.
Qual é o seu conselho para eles?

Sua Santidade: Anos atrás em Estocolmo, eu conheci um pequeno grupo


de pessoas. Eles não favoreciam tradições ou religiões existentes, mas
ainda estavam procurando alguma forma de espiritualidade. Sim, existe
esse tipo de pessoa. Entretanto, eu descobri que o que vocês chamam de
“nova era”, ou pegar partes daqui e dali e criar uma grande mistura, não é
muito útil!
Eu penso que é bom não apenas satisfazer suas necessidades materiais,
mas tentar achar valores mais profundos é muito bom. Vale a pena
analisar nossas vidas, e ver que nossa felicidade não vem de alguma
forma de satisfação sensorial. É como, quando uma música está tocando,
você está satisfeito, mas quando a música para, não há mais satisfação. No
nível mental, ter um tremendo sentimento ou fé ou compaixão – a
satisfação que vem disso é muito mais duradoura.

Questão: O que é, para você, a coisa mais importante na vida


humana?

Sua Santidade: Eu estou sempre dizendo às pessoas que o propósito da


nossa vida é ter uma vida feliz. Agora, de modo a alcançar felicidade ou a
alegria, isso não deveria depender de faculdades mentais ou experiências,
mas deveria sim depender do nosso estado mental. Então, como eu
geralmente digo, devemos prestar mais atenção aos nossos valores
interiores. Muito obrigado.

Você também pode gostar