Ser Indígena No Brasil Contemporâneo
Ser Indígena No Brasil Contemporâneo
Ser Indígena No Brasil Contemporâneo
Aqui está um claro exemplo de como uma cultura de consumo contribui para a
reinvenção da identidade, assim como o turismo pode ter uma parcela
significante de contribuição para acelerar a renovação de uma consciência
étnica. Mas o que dizer sobre os não-indígenas que desejam "ser índio" e
pagam para isso? São ingênuos, por reificarem a visão romântica do "bom
selvagem" ou ameaçadores, pela possibilidade de apropriar-se de bens
culturais alheios?
CULTURA INDÍGENA
CULTURA
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Mitos e cosmologia
O mito (assim, no singular) pode também ser definido com um nível específico
de linguagem, uma maneira especial de pensar e de expressar categorias,
conceitos, imagens, noções articuladas em histórias cujos episódios se pode
facilmente visualizar. O mito, então, é percebido como uma maneira de
exercitar o pensamento e expressar idéias. Quais seriam, porém, suas
características distintivas?
É por todas estas razões que os mitos são, em sua plenitude, de difícil
compreensão. As verdades que dizem e as concepções que contêm, embora
refiram-se a questões pertinentes a toda a humanidade, são articuladas e
expressas com valores e significados próprios a cada sociedade e a cada
cultura. Para chegar até elas é, portanto, essencial um conhecimento bastante
denso dos contextos sócio-culturais que servem de referências à reflexão
contida em cada mito.
Mito e história
O mito, como a cultura, é vivo. Já que simultaneamente produto e instrumento
de conhecimento e reflexão sobre o mundo, a sociedade e a história, incorpora
como temas, os processos perpetuamente em fluxo nos quais se desenrola a
vida social. São produtos elaborados coletivamente, nos quais novas situações
são articuladas e tornadas significativas (como exemplos desses processos,
ver Gallois, 1993 e Lopes da Silva, 1984).
Estas idéias foram forçosamente revistas. Percebeu-se que aí havia uma visão
etnocêntrica que impedia a compreensão das sociedades nativas em seus
próprios termos. Sabe-se hoje (e isto é tema atual de inúmeras pesquisas) que
as culturas humanas desenvolvem variadas lógicas históricas, maneiras de
pensar, relacionar-se e viver os processos históricos.
Panorama da Diversidade
Veremos referências mais concretas aos modos indígenas específicos de
conceber o cosmos e de se situar nele. Segue a ilustração, feita aqui apenas
como ponto de partida.
Temas comuns
A recorrência de assuntos, noções, figuras e imagens nas mitologias indígenas
sul-americanas foram objeto da obra consagrada de Claude Lévi-Strauss, que
revelou, por debaixo e através das variações locais, problemáticas comuns. O
simbolismo prolífico e as imagens ricas e diversificadas dão concretude às
noções abstratas, filosóficas, que expressam a visão indígena do mundo.
Simetrias, inversões, valorações antagônicas que se alternam, homologias,
alteração de ênfases... são mecanismos da lógica do mito e, nesta medida, da
lógica do pensamento humano, ambos postos em movimento para propiciar a
reflexão sobre oposições, tais como a de natureza/cultura; vida/morte;
homem/mulher; particular/geral; identidade/alteridade. As mitologias e as
cosmologias indígenas tratam, portanto, de temas com que se preocupam
todos os homens, com menor ou maior grau de elaboração, expressão ou
consciência. São temas, como se vê, que remetem à essência do que significa
ser humano e estar no mundo. Por isto mesmo, apesar do estranhamento
inicial trazido por signos desconhecidos - que carregam concepções
inesperadas, articuladas a teorias cuja tradução escapa à primeira
aproximação - a comunicação é possível e se dá não só na pesquisa e na
divulgação, como também fascina e desafia.
Povos Jê
Entre povos da família lingüística Jê, o cosmos é concebido como habitado por
diferentes humanidades - a subterrânea, a terrestre, a subaquática e a celeste
– que existem desde sempre. O tempo das origens é o da indiferenciação e da
desordem, da convivência e da interpenetração daqueles domínios. Astros,
como o Sol e a Lua, são gêmeos primordiais que vivem aventuras na terra e
aqui deixam o seu legado, antes de partirem para sua morada eterna. Nos
mitos Jê, há referências explícitas às atividades de subsistência e às práticas
sociais de modo geral. Instituições sociais – a nomeação dos indivíduos, a
guerra, o xamanismo... – têm no mito descritas as suas origens e exposta a
sua essência.
Povos do Alto Rio Negro
Por contraste, caberia mencionar, a região do alto rio Negro, o noroeste
amazônico, morada de povos de língua Tukano. No início dos tempos,
antepassados míticos criaram o mundo que, antes, não existia. Das entranhas
de uma cobra grande ancestral, que fazia o percurso do rio, saíram, em pontos
precisos daquele percurso, os primeiros antepassados de cada um dos vários
povos da região, determinando, assim, seus respectivos territórios, suas
atribuições específicas e um padrão hierarquizado de relacionamento entre
eles.
Povos Tupi-Guarani
Desde há mais de 500 anos, os não-índios produzem análises na tentativa de
compreender as práticas sociais e as concepções cosmológicas dos Tupi-
Guarani. Do espanto inicial à sistematização das informações dos cronistas,
realizada entre as décadas de 1940 e 1950, passando pela catequese jesuítica
e pelos episódios dramáticos da Conquista, é constante a referência central a
temas como a guerra, o canibalismo, a vingança da morte através de novas
guerras e novas mortes e novas vinganças.
Aculturação
O fenômeno da aculturação se dá pelo contato de culturas diferentes e pela
adoção mútua de costumes pertencentes à cultura diferente.