Colectânea de Textos Maçónicos A PARTIR PEDRA. ANO (Índices Por Semestres)
Colectânea de Textos Maçónicos A PARTIR PEDRA. ANO (Índices Por Semestres)
Colectânea de Textos Maçónicos A PARTIR PEDRA. ANO (Índices Por Semestres)
A PARTIR PEDRA
http://a-partir-pedra.blogspot.pt/
ANO 2010
Máquina infernal... 4
O ágape 17
A escola 21
Ansiedade 30
“M” ? 34
Intolerância 49
O maçom e a Política 54
O maçom e a Religião 58
O maçom e o conflito 63
A viagem 77
Repto aceite 95
No Title 119
1
Não admira, assim, que alguns dos projetos iniciais desta nóvel - e
visivelmente dinâmica - Loja se inspirem no que a R.·. L.·. Mestre
Affonso Domingues vem desenvolvendo - e, a partir dessa
inspiração, desenvolvendo os seus próprios caminhos, buscando
aperfeiçoar o modelo, expurgá-lo do que de menos bom tem,
melhorá-lo.
2
tes.:o.dias, RF e H:. T:.), o que é quase o mesmo número de
autores de textos dos mais de mil já publicados aqui e,
comparativamente à dimensão das respetivas Lojas, denota uma
muito maior proporção de participação no Funchal do que em
Lisboa...
Rui Bandeira
3
Máquina infernal...
Embedded File ()
4
Porque razão havemos de ser tão complicados ?
JPSetúbal
5
O décimo oitavo Venerável Mestre
6
instituições de solidariedade que apoia, ele são as reparações de
material informático, ele é o sítio de informação regional, ele é a
televisão de informação regional (agora já são duas), ele é o tempo
que dedica aos amigos, conhecidos, companheiros, colegas e
ex-colegas, ele é o tempo que dedica à família (sempre pouco, no
dizer da sua permanentemente insatisfeita cara-metade.... como a
minha diz de mim... são feitios...), enfim, ele fica com pouco tempo
até para se coçar...
7
O JPSetúbal não propôs, nem preparou, nem organizou, nem
executou, nenhuma grandiosa iniciativa. nem era isso que se
propunha fazer - ou que tinha cabimento que fizesse. O JPSetúbal
fez precisamente aquilo que dele se esperava que fizesse: a gestão
calma, serena e normal de uma Loja maçónica em velocidade de
cruzeiro, sem especiais problemas nem visíveis desequilíbrios
relevantes, tomando o leme que o seu antecessor deixou entregue
ao seu cuidado e conduzindo a Loja no seu normal caminho até
chegar a altura de passar a direção da barca ao seu sucessor.
8
Affonso Domingues na homenagem a Aristides de Sousa Mendes,
organizada pela Loja que ostenta o seu nome, quem organizou e
dirigiu mais uma sessão de dação de sangue (esta, afinal, está mal
colocada: façam o favor de a considerar enfileirada no "trivial" -
para nós, já o é), levou a cabo a formalização da geminação com a
Respeitável Loja Rigor, ao Oriente de Bragança, teve o encargo e
responsabilidade de realizar a intervenção de saudação ao
Grão-Mestre e a todas as Lojas na sessão de Grande Loja do
equinócio da primavera de 2008 - algo que, uma vez que só há
quatro sessões de Grande Lojas por ano e porque tal compete por
rotatividade entre as Lojas, não voltará a ocorrer senão daqui a
muitos anos, se é que volte a suceder! - e programou, organizou e
participou na visita da Loja gémea Fraternidade Atlântica à outra
Loja gémea, a Rigor. Deixou preparada e pronta para execução a
receção dos Irmãos da Fraternidade Atlântica em Lisboa.
9
projetos para a parte final do seu mandato. Mas o que tem de ser
tem muita força. E, pelo menos, resta a consolação de que o
trabalho feito até que surgiu o impedimento foi profícuo e relevante.
E que a Loja reagiu com naturalidade e sem problemas a mais
esta, para si inédita, experiência, de ficar, durante um tempo não
negligenciável, a ser dirigida à distância, em óbvios "serviços
mínimos", sendo a ausência física do seu líder suprida pelos
elementos que, nestes casos, têm de suprir essa ausência.
Rui Bandeira
10
Entrar bem o ano
A Cristina, como todos os que seguem a sua arte bem sabem (no
Expresso e no Público é raro falhar um exemplar), tem uma visão
muito crítica da sociedade e não esconde, bem pelo contrário, nos
desenhos que faz.
11
E tenham um bom fim de semana, sem copos excessivos e com os
pés (todos os possiveis) bem assentes no chão.
JPSetúbal
12
Amigos como os de infância
13
por todos aceite e respeitada. Às vezes não era fácil. Às vezes
durava mais tempo. Às vezes implicava duas, três, quatro, as
conversas que fossem necessárias. Mas, mais tarde ou mais cedo,
sempre a tal posição comummente adotada acabava por emergir.
14
que, como sempre, algo de diferente acabasse por surgir, como
frequentemente acabava por suceder.
E disse então: a Loja é aquele sítio onde podemos ter amigos como
os de infância.
15
onde, afinal, se podia ter amigos como os de infância.
Rui Bandeira
16
O ágape
17
Destina-se a aprofundar os laços de amizade e fraternidade entre
os elementos que compõem a Loja e a debater assuntos de
interesse comum, num ambiente mais descontraído e informal do
que os trabalhos rituais.
18
guardanapos, etc.. Implica prévia organização de como decorre o
repasto: quem faz o quê, quando e como. Enfim, é um tipo de
ágape que não é prático nem fácil organizar rotineiramente - e que,
portanto, só ocorre extraordinariamente, seja para celebrar algo,
seja para permitir aos seus participantes a experiência de um
ágape inteiramente ritual.
Acresce ainda que, saídos de uma reunião com ritual, não apetece
propriamente passar a uma refeição... igualmente ritual, com óbvia
proscrição da informalidade e diminuição da descontração...
19
essencialmente ao convívio. Não ocorrem libações. É o ágape
possível quando apenas se tem disponível um local público, não
exclusivamente utilizado pelos maçons presentes.
Rui Bandeira
20
A escola
Uma Loja maçónica deve ser também uma escola. Uma escola
diferente. Não propriamente um local onde se ensina matéria única
para alunos múltiplos. Antes um meio de proporcionar a cada
elemento, que é ÚNICO, porque diferente de todos os outros, os
meios, o ambiente, a vontade, a orientação, para que ele apreenda
(mais do que simplesmente aprenda...) os múltiplos ensinamentos
éticos e morais que a vida nos ilustra e exige que um homem
verdadeiramente de bem pratique.
21
A Loja maçónica é uma escola que não ensina. Pelo menos, nada
ensina de novo. Ou nada que não possa ser aprendido noutros
locais, noutras escolas, em livros, publicações, etc.. No entanto, é
um lugar onde se aprende.
22
conhecimento. E, portanto, todos sabem que, por muito que
saibam, muito mais desconhecem e podem aprender. Cada um
contribui com a sua área de conhecimento para ilustração dos
demais. E assim todos podem aprender um pouco de (quase) tudo.
E quanto mais diversificada for a Loja, mais se pode aprender.
Rui Bandeira
23
exemplo (?) EXEMPLO (!!!)
Ora meus queridos Irmãos, Amigos e outros (os outros são poucos)
volto à cena depois de umas semanas de retiro trabalhoso, que
continua, mas este bocadinho hoje ninguém me tira.
Vem esta conversa a propósito de alguns dos escritos que por aqui
vão aparecendo de quando em vez, que me parece que nem com
desenho lá chegam.
Dei com um "desenho" que vos passo, e se por esta via ajudar os
que não entendem de outra forma, fico contente.
24
Ágape... não ? Bom, t'á certo.
Ritual... não ? Ok, fora.
Escola... também não ? Pronto, não há azar.
Não é mau !
Mas... mas já o meu avô dizia que "a tropa é qu'induca e a bola é
qu'instrói..."
Embedded File ()
JPSetúbal
25
Blog da ARLS Duque de Caxias IX, n.º 2198
26
assuntos voltados ao estudo e a pesquisa da infinita Sabedoria
Maçônica, por meio da apresentação de postagens, além da
discussão fraterna e do bom debate sobre assuntos relevantes da
Maçonaria Universal, sempre com o compromisso de fortalecermos
as Colunas e lutarmos pelo engrandecimento da Nação Brasileira,
respeitando a legislação Maçônica vigente.
27
com qualidade e apresenta-se uma bela pedra polida.
Rui Bandeira
28
Dançar, dançar, dançar...
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Pronto, tenho que ir fechar a mala para a visita que faremos este
fim de semana prolongado aos nossos Irmãos Vienenses
(Respeitável Loja Hipokrates)
JPSetúbal
29
Ansiedade
30
pode acometer - e seguramente que a todos já acometeu. Em bom
rigor, tal como o medo é uma arma que a natureza nos confere em
prol da nossa preservação e segurança, a ansiedade é uma
munição posta à nossa disposição para aguçar o nosso espírito,
prepararmo-nos para o que aguardamos que venha aí. Em si
mesma, a ansiedade não é boa, nem má - é um facto da vida.
31
alerta-nos; o temor do desconhecido apenas nos paralisa...
Na vida, temos muitas vezes que fazer opções sem que tenhamos
todos os dados disponíveis. Temos que assumir riscos. Que, por
muito calculados que sejam, continuam a ser riscos... Ainda que as
probabilidades de uma opção ter um resultado favorável sejam de
99 %, isso não é propriamente um grande conforto para aquele que
acaba por se deparar com a ocorrência do 1 % restante...
32
Em Maçonaria, aprendemos a gerir e a não confundir a positiva,
desde que equilibrada, ansiedade, com a impaciência nem com a
indecisão, nem com o temor do desconhecido. E o maçom aprende
a fazê-lo... mesmo antes de o ser: o candidato à iniciação tem de
aguardar algum tempo, por vezes bastante, outras vezes muito,
algumas outras muitíssimo, até saber a decisão sobre a sua
candidatura.
Rui Bandeira
33
“M” ?
34
visita.
35
Bom fim de semana.
JPSetúbal
36
Visita à Loja Hippokrates
37
geminaram-se em maio do ano passado e um dos pontos do
convénio de geminação respeita precisamente à promoção de
visitas mútuas entre os obreiros das duas Lojas.
38
sobrepôs-se e o debate no ágape acabou por revestir a forma de
respostas dos visitantes a perguntas dos Irmãos austríacos,
satisfazendo o legítimo interesse destes em conhecer melhor a
forma como se trabalha por cá.
39
Rui Bandeira
40
Portugal e Áustria - ligações históricas entre os dois
países, especialmente do ponto de vista maçónico
41
more than ten million people are living, the federal republic in
Central Europe is somewhat smaller, being inhabited by more than
eight million inhabitants at nearly 84000km² of surface size.
Nevertheless our subject is of historical interest – which means we
have to look backwards in history to examine commonness.
42
between the House of Habsburg and Portuguese Nobility; therefore
it is not so easy to see through the complexities which were created
in this way: these marriages mainly concern the so called “Spanish
Line” of the Habsburg Family whose establisher Emperor Karl V (I)
(1500 – 1558) married his first cousin, Infanta Isabella of Portugal
(1503 – 1539) and who were a very happy married couple; their son
Phillip II (1527 – 1598) became husband of Princess Infanta Maria
Manuela of Portugal (1527 – 1545) and named as Phillip I was later
the King of Portugal. Karl’s sister Infanta Eleonore of Castile (1498
– 1558) became the third wife of the Portuguese King Dom Manuel I
(1469 – 1521); he was the father of Eleonore’s sister in law, the
mentioned Isabella, while Eleonore at the same time was the niece
of Dom Manuel’s first and second wives. Another child of Karl,
Archduchess Johanna of Austria (1535 – 1573), was married to a
Portuguese member of high nobility as well: Prince João Manuel of
Portugal (1537 – 1554), her first cousin. A second sister of Karl,
Archduchess Katharina of Austria (1507 – 1578), became the wife
of King Dom João III of Portugal (1502 – 1557). At this point the
confusion for the listener is too big to imagine all the relations; only
an illustration could help.
The next important matrimony between Portugal and Austria was
during the 18th century, when Archduchess Maria Anna of Austria
(1683 – 1754) married her cousin King Dom João V of Portugal
(1689 – 1750).
In the early 19th century, Archduchess Maria Leopoldine (1797 –
1826) became the wife of Dom Pedro I (1798 – 1834) who was the
Emperor of Brazil and also King of Portugal for a bit more than two
months. The Portuguese royal family had been living in Brazil in
exile for ten years, as a result of the Napoleonic Wars. And a few
43
generations later, the third wife of Archduke Karl Ludwig of Austria
(1833 – 1896) was Portuguese as well, the Infanta Maria Theresa of
Portugal (1855 – 1944) who died here in Vienna during the Second
World War.
44
appreciated him so much that he was appointed Minister of Foreign
Affaires and later even Prime Minister.
The 1st of November 1755 for sure was the most tremendous day
ever for Lisbon and probably one of the most significant days in the
life of Sebastião José de Carvalho e Melo: having survived luckily
he immediately organized help for the people who had survived as
well as the burying of the victims. Thanks to his efforts there were
no epidemics in the city which in the course of the earthquake had
suffered fires and a tsunami. To rebuild of a main part of the city
new technologies for construction of earthquake-proof buildings
were invented and tried for the first time. Dom José I – not being
interested in political matters – gave him plenty of freedom for his
official functions so that under this aspect Sebastião José de
Carvalho e Melo can be regarded as the actual ruler of Portugal in
the middle of the 18th century; the so-called Pombaline Reforms
represent the enlightenment in Portugal and affected not only
Lisbon’s renewal and modernization, but also the position of the
Church in Portugal, especially the problems which had been caused
by the Jesuits who continued to preach that the earthquake had
been God’s punishment for the previous reforms. Furthermore he
abolished slavery in Portugal and India, though not in Brazil, where
the position of the native population was defined; he reorganized
the Portuguese Army and Navy, and even regulated production and
trade of Port Wine by law.
For his merits Sebastião José de Carvalho e Melo received the title
of Conde de Oeiras in 1759 and was made Marquês de Pombal in
1770 though the high Portuguese Nobility refused to accept the
noble titles of Marquês de Pombal; shortly after the King’s death in
1777 the succeeding sovereign withdrew all power from the Marquis
45
who died on the 8th of May 1782 peacefully in Pombal.
46
Gomes Freire de Andrade was born in Vienna on the 27th of
January 1757 as son of António Ambrósio Freire de Andrade e
Castro, Ambassador of Portugal to the Austrian Court and Elisabeth
Countess von Schaffgotsch who was descendant from an old and
distinguished family of Bohemia.
His father – who had been a great supplier of Marquês de Pombal
in the arduous campaign against the Jesuits in Portugal – sent
Gomes Freire de Andrade at the age of with 24 years to his actual
home country, to Portugal; it is said that Gomes Freire de Andrade
already by then had achieved the rank of commander in the Order
of Knights of Christ – which means that he had joined the Order in
Vienna. His military career began in 1782 and developed very well,
taking him around quite a lot. As he received permission to serve in
the army of Tsarina Catherine II in the war against Turkey he left for
Russia where he gained greatest sympathy at court, especially with
the Empress herself. Having been very successful in battles he was
awarded in 1790 by Catherine and was promoted to the rank of a
colonel which was confirmed in the Portuguese army – even though
he was absent in Portugal. By the time rumours of sympathy and
enthusiasm of the Tsarina towards Gomes Freire de Andrade came
up, apparently confirmed by the dissensions between him and
Prince Potemkin who had been her favourite. Back to Portugal his
life in battle continued when in 1793 he fought with his regiment in
Catalonia with the Spanish armed forces against the French Army
which constantly received reinforcements and finally won in the
following year. The so-called “Légion Portugaise” was integrated to
the French Army under its General Junot in 1808, had garrison in
Grenoble and even participated in the Russian campaign. But the
task Gomes Freire de Andrade was given by Napoleon in 1813 was
47
just to be the Governor of Dresden in this period.
After the defeat of Napoleon, Freire de Andrade again returned to
Portugal in 1815, where he was made a Lieutenant-General and –
became the Grand Master of Freemasonry in Portugal a year later.
As there were suspicions that Gomes Freire de Andrade had been a
leader in a conspiracy against the King Dom João VI he was
betrayed – according to the facts by three Portuguese masons –
and arrested. It was Gomes Freire’s position as grand master of the
Portuguese Freemasonry and his correspondence with masons in
other countries which gave him the appearance of being an
arch-conspirator. Many of the conspirators had been masons and
their secret meetings seem to have been partly disguised by
carrying out Masonic rituals. A day before his execution a British
officer who was a freemason offered to him the opportunity to
escape which he refused and so his execution took place on the
18th of October 1817 in the fortress Julião da Barra in Oeiras for the
crime of treason along with eleven other people. His body was
burned and the ashes were thrown into the Tejo River. This brutal
act, for which the commander of the British Army in Portugal, Lord
Beresford, was responsible, led to loud protests and intensified
anti-British tendencies in Portugal, having the Porto Revolution and
the fall of Beresford in 1820 as a consequence. Under this aspect
Gomes Freire de Andrade could be regarded as the first great
martyr of Portugal.
Rui Bandeira
48
Intolerância
49
da Tolerância é a estupidez". Portanto, se a estupidez está fora da
tolerância, aí temos: a Intolerância não será, então, mais do que
uma estupidez!
Mas, por muito tentador que seja proclamar isto, uma mais atenta
meditação permite-nos apreender que, em bom rigor, o oposto da
Tolerância não é a Intolerância, é o Preconceito.
50
que é o Preconceituoso que se pretende colocar numa posição de
superioridade, não o Tolerante que nela se coloca.
51
Intolerância - ao contrário do Preconceito - nem sempre é um mal.
Explico então, antes que o leitor conclua definitivamente que
ensandeci de vez.
52
quem procura ser uma pessoa de bons costumes.
Surpreendido?
Rui Bandeira
53
O maçom e a Política
54
cada maçon no seu Irmão um homem livre e de bons costumes,
grave atentado a essa liberdade seria não lhe reconhecer o direito
à sua crença religiosa e ao seu entendimento político. Não quer isto
dizer que um maçon não possa ou não deva afirmar a sua
convicção religiosa ou a sua posição política. Pode este, pode
aquele, pode aqueloutro, podem todos. Mas, isto feito, mais além
não se vai. Cada um crê no que crê, pensa como pensa, ponto
final! Não há lugar para discussões sobre se esta crença é melhor
do que aquela ou se aquele entendimento político é mais ou menos
adequado do que aqueloutro.
A controvérsia ou discussão política está, assim, completamente
banida em Loja, na Maçonaria Regular.
Este princípio implica um corolário, a que se chega por duas vias: a
Maçonaria Regular não toma posições políticas.
Não o faz, porque (1), uma vez que não existe discussão política
em Loja e, dado que as deliberações dos maçons são tomadas em
Loja, não há como tomar posição política que resulte de
deliberação validamente tomada; e porque (2), uma vez que a
tomada de uma posição política implica escolha - em favor de algo,
em detrimento de algo -, a instituição maçónica não toma posição,
pois, com toda a probabilidade, iria fazê-lo em concordância com
alguns dos seus membros, mas, por outro lado, afirmando
discordância em relação a outros. E a Maçonaria Regular não
privilegia nenhum dos seus elementos, nenhuma das ideias livres
de homens livres. Não se trata sequer de determinar maiorias e de
agir segundo as maiorias verificadas. Em matéria de ideias, tão
legítimas e respeitáveis são as ideias maioritárias como as
minoritárias. Afirmar uma posição institucional em detrimento do
livre entendimento de um elemento que seja seria desrespeitar
55
esse entendimento. A instituição é de todos, o espaço onde todos
cooperam para que cada um se aperfeiçoe e evolua. Não pode pois
privilegiar uns - ainda que porventura a maioria - em detrimento de
outros ou de apenas um que seja.
A Maçonaria Regular, enquanto instituição, não toma, pois,
posições políticas. A Maçonaria Regular não é monárquica nem
republicana. A Maçonaria Regular não é politicamente
conservadora, nem liberal, nem social-democrata, nem
progressista, não prossegue nem defende nenhum "ismo". A
Maçonaria Regular integra homens bons, que procuram ser
melhores, sejam monárquicos ou republicanos, conservadores ou
progressistas, liberais ou sociais-democratas, seja qual for o "ismo"
que prefiram.
Por seu turno, cada maçom tem as convicções políticas que
entende ter, toma e divulga (ou não...) as posições políticas que lhe
aprouver, declara (ou não...) as escolhas políticas que julga
adequado declarar, quando se lhe afigura oportuno, nos locais em
que pretenda e possa fazê-lo.
Cada maçom é, em suma, um homem livre, que assume e aceita e
com naturalidade pratica que há um espaço - a Loja - em que
convive e coopera com outros homens livres, que podem ter ideias
diversas das suas, sem que tal cause quaisquer dificuldades de
relacionamento. E assim a diversidade é, não causa de conflito,
mas catalisador de riqueza e abertura de espírito, de constante e
leal interação das ideias de todos com todos, cada um testando e
avaliando a validade das suas, a força das suas convicções, cada
um evoluindo em função da sadia análise das ideias e convicções
dos outros.
56
Fora do espaço da Loja, cada um é livre de assumir as posições
políticas que entenda, como entenda, quando entenda.
Por isso, e em suma, não há posições políticas da Maçonaria
Regular, mas cada maçom regular é livre de tomar e assumir e
divulgar as posições e convicções e escolhas políticas que muito
bem entenda. Que serão sempre suas e só suas e só a ele
vinculam.
Rui Bandeira
57
O maçom e a Religião
58
Como procedem então os maçons para satisfazer o seu interesse
na espiritualidade e nas convicções religiosas sem violar a
proibição de discussão ou controvérsia religiosa?
59
eficaz simplicidade: coletivamente, designam o Criador por uma
denominação que - mais uma vez - é um denominador comum -
Grande Arquiteto do Universo. E cada um, no seu íntimo, perante a
sua religião, designa-o como entende.
60
Ainda e sempre, o que os maçons há muito aprenderam e
diariamente aplicam é que a diversidade é uma riqueza, uma
vantagem, não um ónus, não algo que se deva corrigir.
61
diálogo, de aprendizagem, de cooperação no crescimento de cada
um.
Rui Bandeira
62
O maçom e o conflito
O conflito faz parte das nossas vidas. Quer queiramos, quer não.
Existem interesses divergentes, quantas vezes inconciliáveis.
Quando tal sucede, várias formas de lidar com o assunto existem: a
força, a imposição de poder, a desistência, a conciliação, a
cooperação, a hierarquização, etc..
Os maçons também vivem e estão sujeitos a conflitos. Tanto como
qualquer outra pessoa vivendo em sociedade.
Mas os maçons aprendem a lidar melhor com o conflito. Desde
logo, porque aprendem, interiorizam e procuram praticar a
Tolerância. Esta postura não elimina, obviamente, os conflitos, nem
63
leva quem a pratica a deles fugir, ou a ceder para os evitar. Pelo
contrário, ensina e possibilita a melhor gerir o conflito. E mais bem
gerir um conflito não é procurar ganhar a todo o custo. Mais bem
gerir um conflito consiste em detetar e obter a melhor solução
possível para o mesmo. Por vezes, "vencer" o conflito pode parecer
a melhor solução no curto prazo, mas revelar-se desastrosa depois.
O maçom aprende a gerir o conflito, desde logo treinando-se a
fazer algo que, sendo básico, é muitas vezes esquecido: ouvir!
Ouvir o outro, as suas razões, pretensões. Ouvir o outro não é
apenas deixá-lo falar. É prestar efetivamente atenção ao que diz e
como o diz. Para procurar determinar porque o diz e para que o diz.
E assim lobrigar exatamente em que medida existe realmente
conflito de interesses entre si e o outro - ou se existe apenas uma
aparência de conflito de interesses, por deficiente entendimento, de
uma ou das duas partes, de propósitos, intenções, objetivos.
Ouvir o outro é o primeiro exercício prático da Tolerância, da
verdadeira Tolerância. Porque esta não é o ato de,
condescentemente, admitir que o outro tenha uma posição
diferente da nossa e permitirmos-lhe, "generosamente", que a
tenha. A verdadeira Tolerância não é um ponto de chegada - é uma
base de partida. A verdadeira Tolerância resulta do pressuposto
filosófico de que ninguém está imune ao erro. Nem nós - por
maioria de razão. Portanto, tolerar a opinião do outro, a exposição
do seu interesse, porventura confituais com a nossa opinião e o
nosso interesse, não é um ato de generosidade, de condescente
superioridade. É a consequência da nossa consciência da
Igualdade fundamental entre nós e o outro. Que implica o inevitável
corolário de que, sendo diferentes as opiniões, se alguém está
errado, tanto pode ser o outro como podemos ser nós. A Tolerância
64
não é um ponto de chegada - é uma base de partida. Não é demais
repeti-lo.
Porque a consciência disto possibilita a primeira ferramenta para a
gestão do conflito: a disponibilidade para cooperar com o outro,
para determinar (1) se existe verdadeiramente divergência entre
ambos; (2) existindo, qual é ela, precisamente; (3) em que medida
é essa divergência, superável, total ou parcialmente; (4) ocorrendo
superação parcial da divergência, se o conflito se mantém e,
mantendo-se, se conserva a mesma gravidade; (5) finalmente, em
que medida é possível harmonizar os interesses conflituantes: cada
um abdicando de parte do seu interesse inicial? Garantindo ambos
os interesses, seja em tempos diferentes, seja em planos diversos?
Treinando-se na prática da Tolerância, o maçom aprende a lidar
melhor com o conflito, porque é capaz de, em primeiro lugar,
determinar se existe mesmo conflito, em segundo lugar
predispõe-se para cooperar na superação do conflito e finalmente
adquire a consciência de que existem várias, e por vezes
insuspeitas, formas de superar, controlar, diminuir, resolver,
conflitos - quantas vezes logrando-se garantir o essencial dos
interesses inicialmente em confronto.
E tudo, afinal, começa por saber ouvir e por saber tolerar (o que
implica entender) a posição do outro.
Por isso o primeiro exercício que é exigido ao maçom é a prática do
silêncio. Para que aprenda a ouvir, para que se aperceba do que
realmente é dito, para que reflita sobre a melhor forma de resolver
os problemas que ouça expostos.
Através do silêncio, aprende o maçom a sair de si e a atender ao
Outro. Através da Tolerância da posição do Outro, aprende o
maçom a descobrir a forma de harmonizá-la com a sua. Através da
65
busca da Harmonia, aprende o maçom a gerir os conflitos. Através
da gestão dos conflitos, torna-se o maçom melhor, mais eficiente,
mais bem sucedido.
Rui Bandeira
66
A propósito de três perguntas que já não existem...
67
- tanto que reservei um texto para lhes responder... Terá, relido o
comentário, dele discordado ao ponto de ter achado melhor
eliminá-lo? Ou simplesmente decidiu não gastar cera com este ruim
defunto?
68
pertinente e que seria interessante para os leitores deste blogue
apreciarem as perguntas feitas e as respostas que julgo asado
dar-lhes; por outro, não é justo privar os leitores do blogue de uma
matéria que eu julguei que seria interessante ser objeto de um
texto...
69
comentador arrependido (sei quem é, mas obviamente que não
julgo pertinente aqui designá-lo...) a, em comentário a este texto ou
através de mensagem privada, esclarecer se, no seu juízo - que
sem reserva será absolutamente respeitado - entende dever ficar
definitivamente esquecido que alguma vez elaborou o comentário
que apagou, ou se concorda em que eu divulgue as três perguntas
que fez e a elas procure responder.
70
resolvidos...
Rui Bandeira
71
A Maçonaria não é uma religião
72
único grande Arquitecto, também um movimento orgânico de
criação de uma religião própria, em alternativa às várias confissões,
religiões existentes?
Não será esta uma forma de criar uma religião alternativa, agarrada
a um lema, “profano”, da necessidade de o homem se tornar livre,
honrado e mais culto, uma forma de “angariar novos membros para
essa tal e hipotética nova religião?
73
Religião é a ligação entre os homens e o Divino. A Maçonaria
Regular limita-se - e muito é! - a buscar a melhoria dos homens que
crêem no Divino.
74
também o crente deísta, isto é, aquele que prescinde da
intermediação da Revelação, da igreja, do sacerdote, na sua
relação com o Divino, aquele que crê poder estabelecer essa
relação sem necessidade dessa intermediação. A partir do
momento em que a maçonaria se alarga até este ponto, admite no
seu seio qualquer crente, qualquer que seja a sua crença individual.
Deixa portanto de ser essencial qualquer conceção de Criador, do
Divino. Porque reconhecida a liberdade individual de crença, é a
crença individual que conta. Uma ponte a todos une: a crença de
que somos mais do que mera carne e ossos e sangue e miolos, a
crença que somos também, ou quiçá principalmente, espírito, que
sobreviverá à extinção da chama da vida na carne, nos ossos, no
sangue e nos miolos. O que essencialmente conta é portanto a
crença na permanência da dimensão espiritual do Ser, chame-se
ela vida para além da vida, reencarnação, ressurreição, nirvana - o
que for. Assim a tónica se estende à espiritualidade, inclusiva, por
exemplo, dos budistas.
75
de bom em todas as religiões existe. Mostra-se o que de
essencialmente semelhante em todas elas há. Deixa-se as
particularidades das diferenças para as práticas particulares de
cada um. A Maçonaria não é a religião das religiões. É, se se
quiser, o primeiro espaço ecuménico, em que os crentes das
diversas religiões desde sempre puderam confraternizar e
aperfeiçoar-se, nos aspetos comuns, sem se deixarem perturbar ou
afetar pelas diferenças. É portanto um espaço em que a diferença é
assumida, apreciada e valorizada. Nada se funde. Tudo se aceita
no que contribui para os demais.
Rui Bandeira
76
A viagem
77
A VIAGEM
Acompanhe-me numa singular viagem.
Para isto é necessário que você aceite alguns postulados e a pouca
consistência do que mostrarei, considerando que, em essência,
tudo não passa de simples fantasia, mas os conceitos são os mais
modernos de que a ciência dispõe. Façamos à semelhança de
nossas lendas na Maçonaria, que mesmo em sendo ficções,
pretendem transmitir profundos conhecimentos filosóficos,
dependendo apenas do grau de interesse e desenvolvimento de
cada indivíduo e da perseverança em alcançar o conhecimento que
leva a educação natural.
Tenha certeza que a pretensão é flutuar por caminhos fascinantes
que poderão revelar entendimento de verdades complexas e
difíceis de explicar de outra forma.
Preparando o Ambiente da Viagem
Façamos de conta que estamos parados no centro de uma loja
aberta ritualisticamente. Aparelhada com todos os instrumentos de
trabalho do maçom, bem como sua matéria prima: a pedra bruta.
Esotericamente falando, o teto não existe, então, vamos tirar de vez
esta cobertura do lugar de onde está e empurrá-la para bem longe,
tão longe que desapareça. Descortina-se sobre nós o espaço
infindo e ao longe brilha o sol.
Empurremos também as paredes de nosso templo para bem longe.
Estamos no centro do espaço infindo que só não é totalmente
negro porque a luz do luzeiro o ilumina.
Eliminemos igualmente o piso de nosso templo, afastando-o mais
devagar para que nossa mente se acostume lentamente com o
flutuar no espaço. Como não temos mais referenciais, não
78
sabemos ao certo se é o piso da loja e a Terra que estão se
afastando, ou se somos nós que estamos levitando, viajando
espaço afora.
Se pensar que paramos aí, enganou-se, agora possuímos poderes
sobrenaturais que nos permitem parar o tempo, o que fazemos.
Este é nosso novo Universo: nada ao nosso redor, o tempo parado
e apenas o Sol a nos iluminar. Neste ambiente especial construído
por nossa imaginação, apenas nós nos movemos. Estamos sem
ponto de referência a não ser o sol. Longe de tudo. Não existe
ruído ou necessidade de ar. Somos poderosos.
Olhamos ao redor e observamos a imensidão. Como é diminuta a
nossa estatura em relação a este Universo ilimitado e sem
horizonte.
Com nossa nova capacidade de imaginação deixamos nosso corpo
material e flutuamos para fora de nossa prisão. Olhamos para as
pedras brutas que somos pelo seu lado externo de formas como
nunca nos foram dadas observar. Observamos como é nosso
túmulo material. Como já aprendemos, o que este corpo tem por
fora é mero invólucro de nossa manifestação material no Universo
tridimensional, o importante desta massa é seu conteúdo interno,
algo que aos olhos materiais é impossível identificar.
Foi devido a esta limitação que saímos de nossos túmulos
materiais e estamos aqui fora olhando para eles.
Aqui somos finitos e infinitos. Nesta existência artificial não rege
tempo ou matéria, não existe início ou fim. Todas as coisas
materiais que possuímos em nossa efêmera vida material são nada
se comparados com a imensidão que ora contemplamos ao lado de
fora de nossos cárceres que nos servem apenas como
instrumentos de nossas experiências sensoriais.
79
Locke defendeu que as idéias são formadas a partir de
experiências sensoriais exteriores e que a reflexão interior colocava
em seu devido lugar. Combateu o Inatismo, filosofia que parte do
pressuposto do homem possuir idéia inata do Grande Arquiteto do
Universo; que esta idéia já nasce com a pessoa. Vamos comprovar
esta assertiva ao sairmos do nosso corpo apenas por força de
nosso pensamento e levarmos junto conosco apenas nossas
capacidades de ver e pensar.
Na Maçonaria nos é ensinado que nascemos livres porque
nascemos racionais e os seres humanos são, por isto,
considerados iguais, independente de governos e outros homens.
Usamos desta experimentação sensorial não apenas através de
nossos dispositivos de percepção da realidade, criamos uma nova
percepção, pela fantasia, e por um exercício do pensamento
estamos passeando fora de nossos corpos físicos pelo espaço
infindo.
Parece insanidade, mas é divertido. E como diz Domenico de Masi:
não sei se estou trabalhando, aprendendo ou me divertindo.
Os trabalhos do Rito Escocês Antigo e Aceito querem demonstrar
ser o homem infinito e que suas posses são finitas. Locke concebe
o infinito como resultante da unidade homogênea de espaço,
número e duração, e o que diferencia uma da outra é que o infinito
apenas não tem limite. Deduzimos que o homem material é finito
enquanto presa da materialidade e torna-se infinito quando
desperta para a liberdade da razão apoiada pelo conhecimento.
É isto a que este passeio conduz.
Início do Passeio
Percebe quão devagar estão nossos passos neste passeio? Não
há necessidade de correr. Nossas experiências mais eficientes não
80
ocorrem sempre aos saltos, mas em pequenos avanços de uma
dimensão para a outra de um conhecimento alicerçando o próximo,
ciclos eternos de tese, antítese e síntese. Assim se faz na
Maçonaria. O salto é dado pela mente e não pelo corpo material. É
disto que devemos nos libertar para penetrar nos segredos de nós
mesmos. Apenas em condições especiais obtemos a verdadeira luz
para investigar a verdade oculta em nós mesmos. Nossa fantasia
cria o ambiente, nossa racionalidade preenche os vazios.
Se olharmos todo o trajeto que nos trouxe até aqui é realmente um
salto imenso para a nossa pequenez de criatura vivente do espaço
tridimensional. Aqui só existe a noção de espaço porque trouxemos
junto conosco as carcaças que nos contêm. Qualquer forma que
adotarmos, seja ela material ou assim como nos imaginamos
agora, não passamos todos de simples viajantes espaciais, é o que
todos somos; astronautas deslocando-se permanentemente pelo
espaço sideral numa velocidade estonteante a um destino
desconhecido.
Vamos diminuir de tamanho, aliás, nós não temos dimensão,
podemos ser imensamente grandes ou infinitamente pequenos,
basta querer. Nossa mente vai fazer com que diminuamos de
tamanho lentamente, porque ainda faz pouco tempo que
abandonamos nossa clausura física e adentramos nesta nova
condição de existência.
Vamos encolher até que possamos entrar pelo ouvido do meu
corpo material aí em frente e que conheço bem, haja vista que já fiz
alguns passeios dentro dele ultimamente. Vamos diminuir de
tamanho até que possamos divisar as moléculas desta carcaça.
Percebeis como meu corpo está desaparecendo?
O corpo está se dissolvendo lentamente.
81
Porque será?
Um Universo Interior
Boyle foi o primeiro que não aceitou mais as teorias de Aristóteles
dos quatro elementos: água, terra, ar e fogo e formulou as bases e
conceitos dos elementos químicos.
A diversidade de moléculas com que um corpo físico é composto é
enorme, então escolhamos a primeira molécula que encontrarmos
e vamos continuar a diminuir de tamanho para podermos abordar
um dos átomos.
Sabia que não foi Boyle quem criou a idéia de átomo? Isto já foi
cogitado na antiga Grécia, por Demócrito; é dele a idéia que os
materiais são formados por partículas minúsculas. Hoje dispomos
deste conhecimento porque estamos apoiados nos ombros de
gigantes do passado.
Pode-se dizer que o átomo é formado por duas regiões que
ocupam o espaço: o núcleo, que é seu centro compacto e pesado,
e uma coroa ou eletrosfera. No núcleo estão os nêutrons e prótons
e na eletrosfera movem-se os elétrons em diversas órbitas.
Rutherford sugeriu que o tamanho do átomo seria algo em torno
0,000.000.01 centímetro. Para imaginarmos melhor o significado
desta dimensão consideremos o homem do tamanho de um átomo
e toda a população da Terra caberia na cabeça de um alfinete e
ainda sobraria muito espaço.
E nós estamos do tamanho de um átomo agora.
Só que não vemos nada.
Por quê? Se moléculas das mais diversas compõem um corpo
físico, elas deveriam estar em todo lugar, trilhões delas deveriam
estar presentes aqui, e deveriam obliterar a luz do sol.
82
Onde estarão?
A eletrosfera de um átomo é cerca de 10.000 a 100.000 vezes
maior que o núcleo. Então, porque não estamos vendo nada?
Vamos diminuir mais umas 100.000 vezes o nosso tamanho. Ainda
não vemos nada. O corpo pelo qual estamos viajando
simplesmente sumiu. O que existe ao nosso redor é apenas espaço
vazio. Só a luz do sol chega até nós.
Continuemos a procurar até encontrar um núcleo de átomo,
formado de prótons, nêutrons e outras partículas insignificantes, e
assim como nós, desloca-se solitário nesta imensidão do espaço. É
do tamanho de uma laranja, e cabe em nossa mão.
Onde estará o elétron que faz par com este núcleo?
Sabemos que a massa do elétron tem em torno de 1.840 vezes
menos massa que o núcleo. Muito pequenos para serem vistos,
mesmo com estes olhos que temos agora. Temos que diminuir
ainda mais de tamanho para divisar corpúsculo tão diminuto, será
por isto que não vemos o elétron?
Não! Ele não é visto porque nós paramos o tempo, lembra?
Somos criaturas muito poderosas em nosso mundo de fantasia.
O elétron deste átomo está parado em algum lugar que pode estar
em termos proporcionais a nossa atual estatura a alguns
quilômetros daqui, ou até bem perto como alguns centímetros. Não
o vemos apenas devido suas dimensões relativas diminutas.
Estou cansado. Vamos diminuir mais nossa estatura, até ficarmos
tão pequenos que possamos sentar confortavelmente sobre o
núcleo deste átomo.
Ainda não vemos o elétron, e teríamos que encolher ainda cerca de
quase umas 2.000 vezes a nossa atual estatura, e ainda assim
83
seria muito difícil encontrá-lo.
Vamos restaurar o fluxo do tempo.
Não se assuste com a escuridão!
Consegue imaginar o que aconteceu?
Porque esta escuridão súbita?
São os elétrons! Eles nos deixaram cegos! Esconderam o Sol.
O Mundo Material
Os elétrons em movimento impedem a luz de chegar até nós. Isto
porque a velocidade com que o elétron gira em torno do núcleo é
tão alta que mesmo com sua minúscula massa impede a passagem
da luz.
Sua velocidade é tal que pode ser comparada à própria velocidade
da luz.
A velocidade dos elétrons é de tal magnitude que num determinado
instante cada um deles pode estar ocupando qualquer espaço ao
redor do núcleo. Ele tem apenas uma probabilidade de estar
fisicamente num determinado lugar, num determinado instante. As
fórmulas matemáticas da mecânica da física quântica não oferecem
valores determinados, apenas probabilidades.
Compare com as hélices de um avião; as pás parecem estar em
todo o entorno de seu eixo ao mesmo tempo, podemos olhar
através delas porque sua velocidade é inferior a da luz. Mesmo
assim, as pás parecem estar em todo lugar ao mesmo tempo. Com
o elétron é parecido, mas em escala de velocidades imensamente
superior.
É assim que se forma a matéria sólida de que são formados nossos
corpos, o mausoléu de nossos pensamentos. A velocidade com
que os elétrons giram ao redor de seus núcleos cria a matéria, lhe
84
proporciona solidez. É como tudo no Universo físico é construído.
Esta é a assinatura do Grande Arquiteto do Universo dentro de nós
mesmos.
Isto até contradiz Locke, mas não esqueçamos que nossa
existência aqui é apenas resultado de ficção, do exercício de nossa
mente criativa.
Mesmo assim, esta constatação nos leva a inferir ser este, de fato,
o nosso local mais sagrado. Como é imenso o corpo físico de
qualquer ser vivente! O homem em sua inteireza, considerando a
carcaça, a mente, as emoções, sua espiritualidade e outros
detalhes é um universo tremendamente complexo, semelhante ao
grande Universo.
A este universo que existe dentro de cada ser vivente, devido
exatamente a esta diversidade e complexidade, denominamos
Macrocosmo apenas para simplificar nossas limitações de
entendimento.
É assim, de forma espantosa, com quase nada de matéria, com
quase absoluto espaço vazio que o Grande Arquiteto do Universo
produziu toda a matéria sólida do Universo.
Milagre ou realidade?
Será que legitima a expressão do penso, logo existo, de
Descartes?
Se tomarmos a realidade do ponto de vista em que nos
encontramos agora, certamente deduziríamos que nada somos.
Tudo o que existe é feito essencialmente de espaço vazio, somos
feitos do nada, então nada deveríamos ser. Existimos apenas como
que por milagre. Um maravilhoso feito do Incriado.
85
Heidegger argumentava que o ser se faz no tempo; e é o que
constatamos em nossa experiência; o ser é o nada que o constitui.
Simples fótons?
86
instante do inicio da expansão do Universo, o inicio de toda a
história que nossos cientistas sonhadores dão para o Universo e ao
qual denominam big bang, já nos satisfazemos com o fato de
constatar que existe um projeto racional e um objetivo válido para
tomar parte nesta grande orquestra da vida, esta milagrosa massa
de seres viventes. Porque olhando em nossa própria essência,
sequer deveríamos existir! É um milagre! Os fatos apontam para
uma realidade onde a vida tem uma insignificante possibilidade de
se manifestar.
A Improbabilidade da Vida
Partindo da constatação que as fórmulas da mecânica quântica nos
fornecem apenas probabilidades e nunca certezas qual seja a
verdadeira constituição do átomo. Acrescente-se que as moléculas
de que nossas carcaças são formadas constituem apenas um por
cento de toda a massa do Universo, isto porque, 75% de toda
matéria do Universo é formada por Hidrogênio, 24% é Hélio, e o
restante 1% (um por cento) é constituído por todos os demais
elementos da tabela periódica. Desde o lítio, passando pelo
carbono até chegar ao urânio.
87
Percebe a maravilha desta descoberta dentro de nós mesmos?
88
Abrangência do Mundo Interior
Estenda esta visão às outras dimensões que temos: espiritualidade,
emotividade, pensamentos, e outros. Este conhecimento de nós
mesmos não fica limitado ao que estamos percebendo neste
instante, este crescimento exige a perfeição tanto do espírito como
do coração.
89
Maçonaria nos ensina que o caminho da perfeição também não se
dá aos saltos, senão com muita prudência e lentidão. Velocidade é
coisa de elétron em sua órbita, nós devemos lentamente ir
formando uma base educacional em busca da verdadeira liberdade
que nos liberta do fanatismo, do ódio e outros vícios. Pois se
viéssemos até aqui na superfície deste núcleo de átomo num salto,
certamente desfaleceríamos. A escuridão nos enlouqueceria! Não
entenderíamos que na escuridão de nosso mais recôndito ser, na
falta da liberdade a que o elétron nos levou, nos sentiríamos
presos, imobilizados, com medo de nos mexer, inclusive de pensar.
E o medo desta prisão certamente nos induziria a adotar alguma
postura fanática e alienante, quem sabe até, num ato desesperado,
o suicídio.
90
verdades cada vez mais complexas e intrincadas.
Templos Vivos
Todo maçom é considerado de fato um templo vivo.
91
éticos cujo objetivo preservará a pureza do lugar sagrado de seu
interior. Isto faz do mundo interior um lugar perenemente limpo e
puro.
92
O medo pode nos imobilizar e escravizar aos extremismos.
Agora que mostrei a minha senda, faça as tuas viagens a sós para
dentro de você mesmo e descubra teus próprios caminhos. Só não
se assuste com a escuridão do lugar, leve sempre junto a luz de tua
capacidade intelectual para de lá sair em segurança. Ao homem
maçom é dado caminhar só na busca de sua espiritualidade e
liberdade, exatamente porque ninguém a pode fazer por outrem. É
tarefa individual e intransferível.
93
Conhecimento, Primeira Edição, Madras Editora Ltda., 2003.
LOCKE, John, Ensaio Acerca do Entendimento Humano, Editora
Nova Cultural Ltda., 2005
OLIVEIRA FILHO, Denizar Silveira de, Comentários aos grandes
Inefáveis do Rito Escocês Antigo e Aceito, primeira Edição,
Coleção Biblioteca do maçom, Editora Maçônica A Trolha Ltda.,
primeira Edição, 1997.
REALE, Giovanni e ANTISERI, Dario, História da Filosofia, Volume
1, Editora Paulus, 9ª edição, 2005.
Com a devida vénia ao autor,
Rui Bandeira
94
Repto aceite
95
Estas reações mostram-me que acertei ao ter pedido ao Irmão
Charles Evaldo Boller autorização para aqui publicar o seu texto: só
textos de qualidade são suscetíveis de gerar tão contraditoriamente
extremas reações...
Se aos comentários adjetivantes pouco mais há a acrescentar, os
comentários críticos - absolutamente legítimos - do Diogo abrem
perspetivas interessantes e que talvez propiciem um diálogo
frutuoso, de onde resulte um melhor entendimento do texto de
Charles Evaldo Boller.
Aceito a proposta do Diogo. Discutamos o texto, então. Troquemos
opiniões, analisemos o que nele se escreve. Vamos lá então, ponto
por ponto, conforme sugerido.
96
A premissa apenas nós nos movemos é estabelecida pelo autor.
Faz parte da alegoria...
É certo que, mesmo com esta premissa, não se pode afirmar, com
certeza absoluta, que só o observador se move e o Sol está imóvel,
pois o observador sente o seu movimento, verifica a diferença de
posição relativa em relação ao Sol, mas não pode afirmar, com
absoluta certeza que essa variação de posição relativa se deve
apenas ao seu movimento ou também ao movimento do Sol. Mas,
mesmo considerando este aspeto, a objeção do Diogo carece, a
meu ver, de sentido, em face do enquadramento semântico da
frase: o Sol - o segundo ponto de referência, na economia do texto
está fora do ambiente referido pelo autor. É assim logicamente
correta a afirmação de que Neste ambiente especial construído por
nossa imaginação, apenas nós nos movemos.
97
2 - «Olhamos ao redor e observamos a imensidão. Como é
diminuta a nossa estatura em relação a este Universo ilimitado e
sem horizonte. »
98
3 - «não passamos todos de simples viajantes espaciais, é o que
todos somos; astronautas deslocando-se permanentemente pelo
espaço sideral numa velocidade estonteante a um destino
desconhecido. »
99
existe noção de espaço, logo de dimensão, logo - e mais uma vez
sensorialmente se usando a perspetiva e a sensação de movimento
- é possível a noção de velocidade, independentemente de "outros
pontos de referência" (que, aliás, nesta passagem do texto se não
diz que não existam; apenas não são expressamente referidos,
obviamente por desnecessários para a exposição...).
E, por favor, não me objete, Diogo, que a imaginação não tem lugar
no pensamento científico. Se me fizesse essa objeção, de novo
teria de afirmar estar errado: a própria ciência experimental
baseia-se na confirmação, repetida, através de experiências
práticas, de hipóteses colocadas como objeto de investigação. De
onde surgem essas hipóteses iniciais senão da imaginação, da
capacidade de considerar algo que pode ser verdadeiro ou falso (as
experiências o confirmarão ou infirmarão...)?
100
hiper-racionalista Diogo esqueceu-se da teoria do Big Bang e de
que ela postula que com o dito cujo se criou o Universo, o espaço e
o tempo (conferir
http://pt.shvoong.com/exact-sciences/496537-teoria-da-grande-explos%C3
Meu caro Diogo, essa sua pergunta deveria ter sido formulada ao
Einstein, não ao Irmão Charles Evaldo Boller...
101
Esta é a assinatura do Grande Arquiteto do Universo dentro de nós
mesmos.
E releia mais esta passagem:
102
Corretíssimo, Diogo. Se reparar bem, a pergunta do texto do Irmão
Boller é meramente retórica. Ele também pensa assim - igualzinho
ao Diogo!
103
deveríamos existir! É um milagre! Os fatos apontam para uma
realidade onde a vida tem uma insignificante possibilidade de se
manifestar… Conscientizou-se agora do quanto somos livres e
iguais neste Universo criado pelo Grande Arquiteto do Universo? »
Mas, para bem entender ao que aqui venho, faça o leitor, antes de
mais, a fineza de aproveitar o atalho que acima coloquei e ler o dito
texto Serei ateu?, da autoria de Carl Sagan. Vale a pena!
104
reacção foi de admiração por ser possível uma tão grande
comunhão de pensamento entre duas pessoas que, de alguma
forma, estruturaram a sua forma de ver o mundo a partir de
pressupostos opostos: noventa e muitos por cento daquilo que Carl
Sagan naquele texto escreveu poderia ter sido escrito por mim - se,
para tanto, tivesse tido engenho e arte... No entanto, enquanto Carl
Sagan se define como ateu (embora colocando na devida
perspectiva a sua posição), eu defino-me como crente. E,
parafraseando o que Carl Sagan escreveu, também eu julgo
adequado colocar um ponto de interrogação à frente da minha
afirmação, porquanto também eu, na mesma linha, me considero
crente até que alguém me prove racional e definitivamente que não
existe um Criador.
105
do outro? A tentação primária é afirmá-lo. Mas creio que seguir tal
tentação seria um erro!
106
anos, só haja conhecimento de UM Big Bang, quando seria de
esperar uma repetição do fenómeno?
107
a matéria, e...
É exactamente pelo mesmo uso da Razão que sou crente. É por ter
o mesmo cepticismo que Carl Sagan que, como ele, acrescento um
ponto de interrogação ao meu postulado.
108
enorme e incalculável sucessão de acasos cumulativos, que
superam em milhões de milhões de milhões (e ponha ainda mais
milhões aí...) de vezes as probabilidade de ganhar o Euromilhões.
Por mim, tudo bem: cada um acredita no que acredita. Mas, se eu
sou crente, quem acredita nessa incalculável megassucessão de
mega-acasos, o que é? Talvez... crédulo???
Quase que fui tentado a pensar que todo o seu comentário foi uma
introdução a esta frase final, Diogo...
Pois bem, Diogo, não vá por aí: releia o texto precisamente anterior
ao que motivou o seu comentário (A Maçonaria não é uma religião)
e não insista em afirmações inconsequentes como a da sua última
109
frase: além do mais, esta tecla de afirmar que a Maçonaria é uma
religião é normalmente tocada pelos fundamentalistas evangélicos
americanos - e o Diogo vale muito mais que isso e do que eles!
Rui Bandeira
110
Réplica e tréplica
111
misto de teísmo [O Grande Arquitecto, o Sol que tudo ilumina] e de
Budismo – a constante procura da perfeição pessoal: Retirado de
“O que é o budismo?” - «no entanto, o praticante Vajrayana iniciado
nas instruções secretas, muitas delas dadas somente de mestre
para discípulo oralmente, também denominadas, verdades
sussurradas ao ouvido, iria pelo rio em busca das bagas
venenosas, para as retirar directamente do rio, e assim todos
poderem livremente beber a água o mais rápido possível.» Mas eu
sou ateu. A minha filosofia de vida é aprender o mais possível (não
num sentido moral) e fazer conscientemente o máximo de bem e o
mínimo de mal. Bom, posto isto, vamos então ao debate: Rui: «E,
desculpar-me-á o Diogo, mas a sua afirmação de que, na ausência
de um terceiro ponto de referência nem sequer se pode afirmar que
há movimento, não está certa: se variar a posição relativa entre o
ponto A e o ponto B, é indesmentível que há movimento. O que
pode desconhecer-se, na ausência de um terceiro ponto de
referência, é se o movimento foi de A, foi de B ou foi de ambos...»
Sem um terceiro ponto de referência não pode afirmar que há
movimento. O movimento é sempre relativo. A move-se em relação
a B em função de C. Mais, o movimento é uma função do espaço e
do tempo. Pior, o tempo é uma função de um movimento em
relação a outro movimento. Enfim, uma grande salgalhada.
Evidentemente, estou a falar num sentido estritamente físico, o que
não era a intenção do autor. Quanto ao ponto 4 – O que é o
Tempo? Há algum relógio universal a medir o Tempo? Rui: «Esta
pergunta, Diogo, tenho-a por retórica... Então o nosso céptico,
hiper-racionalista Diogo esqueceu-se da teoria do Big Bang e de
que ela postula que com o dito cujo se criou o Universo, o espaço e
o tempo (conferir
112
http://pt.shvoong.com/exact-sciences/496537-teoria-da-grande-explos%C3
Meu caro Diogo, essa sua pergunta deveria ter sido formulada ao
Einstein, não ao Irmão Charles Evaldo Boller... Não lhe faço a
injúria de considerar que estava a colocar esta objeção a sério...
Assentemos em que estava só a testar se eu estava distraído...»
Estou a falar muito a sério Rui. Tanto a teoria da relatividade como
a do Big Bang estão muito longe de estarem confirmadas. Eu estou
convencido que ambas estão erradas. Acredito num Universo
infinito e estacionário, sem princípio e sem fim. Quanto ao ponto 5 –
Mas haverá matéria sólida? Se continuar a diminuir de tamanho e
entrar dentro dos núcleos dos átomos e dos electrões não irá
perceber que afinal todo o Universo é apenas energia? «Meu
caríssimo Diogo, está a objetar a quê? Esta sua afirmação é
precisamente a afirmação do texto do Irmão Charles Evaldo
Boller...» - estou de acordo consigo. Quanto 6 - «Será que legitima
a expressão do penso, logo existo, de Descartes? » - também
estamos de acordo. Rui: «Para cada argumento que se possa
aduzir em abono de que Deus existe, existe um argumento com
igual força que o refuta; para cada argumento que se apresente
demonstrando que Deus não existe, existe um outro, de igual
fortaleza que defende essa existência.» Onde é que o Rui foi
buscar este postulado? Rui: «à pergunta quem criou o Mundo?,
respondem os crentes que foi Deus; mas de imediato surge então a
irrespondível pergunta de quem criou Deus?; similarmente, a tese
da Ciência contemporânea de que o Universo teve origem num Big
Bang é reduzida à sua dimensão de nada realmente explicar se se
pergunta o que (ou quem...) criou, originou esse Big Bang, como e
de onde surgiu essa tão fenomenal e extraordinária Força que do
Nada fez surgir o Tudo. E, sendo postulado da Ciência que tudo o
113
que existe pode ser reproduzido (e nisso se baseia a Ciência
Experimental), como se explica que, desde há biliões e biliões de
anos, só haja conhecimento de UM Big Bang, quando seria de
esperar uma repetição do fenómeno?» Como lhe disse acima, a
teoria do Big Bang está muito longe de estar provada. Eu não
acredito nela. De qualquer forma, um Deus, qualquer Deus, teria de
ser considerado um ser vivo por mais imaterial que o
consideremos. Ele não pensa? Não age? Rui: «Respondendo
directamente às suas perguntas, Diogo, o significado da Vida e da
criação (ou da primitiva aparição) da Vida é o Grande Enigma. Uns,
como eu, crêem só poder ter sucedido e existir pela intervenção de
um Poder Criador (que eu designo por Grande Arquiteto do
Universo); outros acreditam que a Vida surgiu de uma enorme e
incalculável sucessão de acasos cumulativos, que superam em
milhões de milhões de milhões (e ponha ainda mais milhões aí...)
de vezes as probabilidade de ganhar o Euromilhões. Por mim, tudo
bem: cada um acredita no que acredita. Mas, se eu sou crente,
quem acredita nessa incalculável megassucessão de mega-acasos,
o que é? Talvez... crédulo???» Curiosamente, eu também não sou
darwinista e portanto também não acredito que a vida e a evolução
sejam fruto do acaso. Mas o que é a vida? Entre as muitas dezenas
de descrições que podemos encontrar aqui –
http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:http://pt.wikipedi
- uma diz que: «Vida é um sistema que reduz localmente a entropia
mediante um fluxo de energia» Donde, será aquilo a que
chamamos vida apenas um aglomerado relativamente vulgar no
Universo de matéria e energia? Moléculas com um determinado
comportamento? Algo, afinal, sem nada de mágico? Quanto ao
ponto 9 - «O caminho para a liberdade e perfeição do maçom é
114
dominar suas paixões com o objectivo de acabar com atitudes
extremadas e fanáticas. E a vereda do espírito passa pela
capacidade de sonhar, com grandes chances de converter a fera
humana, apenas controlada pelas leis, em ser humilde diante da
grandiosidade do que daqui divisamos. » Rui, aqui não vou discutir
consigo. Você já sabe a minha opinião.
115
de só a fixar a ela e nada mais. (Temos outra situação de
observador A e ponto B e nada mais - que capte a atenção, pelo
menos). A certa altura, a sua perceção é que a mulher que fixa se
está movimentar para a sua direita. Dois pontos, um observador e o
observado. O observador, sem necessidade de mais qualquer
ponto de referência, regista a existência de movimento. Precisa
efetivamente de um terceiro ponto de referência é para determinar
se é o comboio "dela" que suavemente se movimenta, ou o "seu"
(ou ambos, eventualmente). Dito isto, não procuro convencer o
Diogo de nada, tal como certamente o Diogo não espera
convencer-me do contrário do que afirmei. Fique cada um com a
sua convicção - e felizmente que esta matéria é de irrisório
interesse para nosso debate.
116
O outro aspeto da réplica de Diogo que considero merecer especial
realce é o conjunto de proposições que começa com a sua
afirmação de princípio (que é esclarecedora e que também só pode
merecer uma atitude de respeito pela mesma) de que se considera
ateu. Fica esclarecido. Nada a comentar ou objetar. Já na sua
réplica especificada, Diogo formula ainda uma reveladora e (para
mim) inesperada consideração: está pessoalmente convencido que,
quer a teoria da relatividade, quer a teoria do Big Bang estão
erradas. E prossegue declarando que acredita num Universo infinito
e estacionário, sem princípio nem fim. Estas afirmações de
princípio de Diogo abrem, creio, um campo de análise porventura
interessante e que talvez o próprio Diogo não tenha ainda detetado.
117
declara afinal se limita a transferir a resposta ao Grande Enigma da
Divindade para o Universo? O que é então esse Universo infinito,
estacionário, eterno? Não será afinal o ateu Diogo afinal um crente
no panteísmo? Não andaremos afinal todos a falar da mesma coisa
- só que chamando-lhes nomes diferentes?
Rui Bandeira
118
No Title
119
E esta eu não perdôo.
É mais uma tradição do Maio português a que todos, novos e
velhos, homens e mulheres, nacionais ou estrangeiros, costumam
corresponder com entusiasmo comprando o boneco, este ano de
côr “salmão”, lindo, amável e patusco como sempre, pelos 2 euros
de sempre.
O resultado da venda vai direitinho para as Cerci’s, que bem
necessitam de ajuda, com a certeza do agradecimento das
“crianças” ali recolhidas e tratadas.
Comprem o Pirilampo, e/ou o PIN que sempre o acompanha, e
contribuam para a alegria das “Crianças” das CERCI’s.
E não se demorem.
Não arrisquem a estragar a coleção dos Pirilampos anuais por falta
de um exemplar.
Em caso de dificuldade deixem aqui um comentário com a V.
indicação, porque tratarei de vos fazer chegar um Pirilampo,
destes, lindos por todos os lados.
E tão fofiiiinhos......
JPSetúbal
120
Loja Mestre Affonso Domingues: o sítio e o blogue
121
Este blogue procura ser mais coloquial, diversificado, subjetivo. O
seu objetivo é mostrar como pensam, o que são, os maçons da
Loja Mestre Affonso Domingues. Por isso, o subtítulo deste blogue
afirma que este é feito por maçons da Loja Mestre Affonso
Domingues - não pela Loja! Este blogue é a concretização de um
dos princípios essenciais da Maçonaria: o respeito da identidade
individual de cada um, a riqueza que constitui a integração da
diversidade - de pensamento ou da simples opinião, da religião, de
sentimentos, de estilos, de personalidades.
Com estes dois diferentes instrumentos (sítio e blogue), a Loja
mostra a quem quiser ver duas diferentes facetas da Maçonaria:
enquanto grupo, com um acervo de valores comuns (o sítio, cujo
responsável sabe que tudo o que ali é publicado é visto, lido e
entendido como manifestação da Loja) e (blogue) enquanto
indivíduos, pessoas, maçons individualmente considerados, que
espelham as suas opiniões, sentimentos, estilos, com a diversidade
que cada um que aqui escreve mostra. O todo composto por
indivíduos com um núcleo de valores comuns (sítio), os indivíduos
que, na sua diversidade, contribuem para as caraterísticas
específicas do grupo (blogue). Quem consulta o sítio, consulta a
informação, as ideias do grupo, do todo, da Loja; quem lê o blogue,
contacta com as ideias de quem escreve, assumindo-se como
maçom e como integrante da Loja, mas sempre e principalmente
posições individuais, independentes, pessoais. No sítio, tem-se o
pensamento coletivo da Loja; no blogue os pensamentos
individuais dos maçons que integram a Loja e que se dispõem a
aqui os expressar, e quando a tal se dispõem.
Por isso, ainda que este blogue tenha tido, até agora, a maior parte
dos textos nele publicados escrita por mim, sempre deixei bem
122
claro e bem frisado que este blogue não é o blogue do Rui
Bandeira e amigos, é o blogue dos Mestres Maçons da Loja Mestre
Affonso Domingues. A maioria dos textos, até agora ter sido minha,
haver períodos em que só se publicam textos meus, são apenas
elementos circunstanciais, alteráveis a todo o tempo e,
seguramente se, como espero, este blogue tiver longa existência e
prosseguir enquanto a Loja existir, a médio ou longo prazo
inevitavelmente alterados. Tempo virá - talvez mais próximo do que
longínquo - em que os textos que eu aqui publico serão minoria;
tempo se seguirá em que outrem assegurará o essencial deste
blogue; tempo chegará em que este blogue prosseguirá sem novos
textos meus, em que, na coluna da direita o meu nome não estará
mais no rol dos que escrevem aqui - quando muito será porventura
referenciado no número dos que aqui escreveram...
As caraterísticas que este blogue foi assumindo, individualidade de
textos, interatividade com os leitores que decidem comentar,
diálogo entre os maçons que escrevem e aqueles, profanos ou
maçons, que comentam, os caminhos, quiçá anárquicos mas de
uma riqueza e abertura gratificantes, que segue, à boleia da
interação dos pensamentos de quem escreve e de quem comenta,
podem, por vezes, fazer esquecer que este é um projeto executado
por maçons da Loja Mestre Affonso Domingues, um meio, um tipo,
uma forma específicos, de comunicação da Loja com o seu
exterior. Mas é! Que isso por vezes não se note é a confirmação do
êxito do projeto! O blogue A Partir Pedra espera merecer ser
considerado um Hino à Liberdade de Pensamento dos Maçons da
Loja, enquanto o sítio da Loja, desejavelmente, é a Sinfonia do
Pensamento da Loja.
123
Aqui no blogue, vamos falando, debatendo, expondo ideias sobre
de tudo um pouco, sejam matérias maçónicas, seja temas que
nada têm a ver com a Maçonaria. O tema aqui é, afinal, a forma
como os maçons pensam e vêem o Mundo, as coisas e os
interesses que têm e que cultivam. O tema do sítio é o pensamento
maçónico, que se divulga e mostra, para que quem quiser encontre,
veja e leia. O responsável do sítio entende que alguns dos textos
que se publicam aqui no blogue merecem estar incluídos também
no sítio - e assim o sítio é também uma espécie de arquivo de
textos selecionados do blogue. Isso mostra que o que os maçons
da Loja Mestre Affonso Domingues aqui escrevem, sendo o produto
do seu labor, do seu pensamento e da sua liberdade individuais,
também integra o acervo do conjunto multifacetado de fontes que
integram o pensamento institucional da Loja - e deixa-nos, aos que
aqui escrevem, felizes.
A diferente natureza dos meios sítio e blogue é conscientemente
utilizada em planos diversos. Que seja do meu conhecimento, a
Loja Mestre Affonso Domingues é pioneira nesta utilização
integrada e diferenciada das ferramentas proporcionadas pelas
atuais Tecnologias de Informação. Procura utilizar rentavelmente os
diferentes meios do século XXI para divulgar uma mensagem cujas
raízes ideológicas provêm do Iluminismo e de mais além. E, com
isso, procura desmontar dois mitos em relação Maçonaria: o seu
secretismo e o seu poder oculto. Ninguém de boa fé pode acusar
de secretismo uma Loja que põe à disposição de quem a ela quiser
aceder dois meios de comunicação diferentes, com diferentes
níveis e estilos de comunicação e com mais de dois milhares de
textos sobre si própria, o seu pensamento, a forma como se
organiza, o que faz, porque o faz, como o faz, etc., etc.. E quem ler
124
e souber ler, atentar e souber entender, facilmente concluirá que o
único poder que a Maçonaria busca é o de esclarecer, divulgar e,
sobretudo, praticar os seus princípios.
A Loja Mestre Affonso Domingues está à beira e comemorar o
vigésimo aniversário da sua criação. Esta comemoração envolve
iniciativas internas e iniciativas pensadas e trabalhadas e colocadas
à disposição de todas as pessoas, sejam ou não maçons. Nos
tempos mais próximos, as duas diferentes dimensões do sítio e do
blogue vão, temporariamente, aproximar-se. O blogue e o sítio,
ambos, vão dedicar parte dos seus espaços à divulgação do
vigésimo aniversário da Loja e às iniciativas por esta efeméride
suscitadas.
Para já, fiquem atentos: a primeira iniciativa a ser divulgada é
dedicada a todos, profanos e maçons. Mas só vou revelar o que é
daqui por uma semana...!
Rui Bandeira
125
A Grande Máquina
126
funcionar (o tal primeiro movimento da manivela) o primeiro dos
primeiros robôts.
127
Vocês já não se lembravam destas charadas para distração de fim
de semana.
Embedded File ()
J.P.Setubal
128
Loja Mestre Affonso Domingues - 20 Anos de História
129
quase duzentos obreiros. Regista-se e dá-se a conhecer os tempos
de implantação, o primeiro crescimento, a grande crise de
1996/1997, a recuperação, os tempos mais recentes. São também
evocados aqueles que, em qualquer momento, foram obreiros da
Loja e já passaram ao Oriente Eterno. Publicam-se dezoito
trabalhos (nós, maçons, chamamos-lhes "pranchas") de dezoito
obreiros atuais da Loja - e apenas dezoito porque só isso o espaço
disponível permitiu...
O livro é edição de autor - da Loja. É a Loja que paga os respetivos
custos de produção, armazenagem e comercialização. Mesmo
assumindo o risco destes custos, a Loja,confiante no bom
acolhimento desta sua iniciativa de comemoração do seu vigésimo
aniversário, abalançou-se a uma edição considerável, que
ultrapassa a média das edições de autor, de poucas centenas de
exemplares.
A comercialização desta primeira edição do livro vai ser
exclusivamente feita fora do circuito comercial. Vai ser totalmente
efetuada diretamente pela Loja. A sua divulgação vai assentar
essencialmente na Internet.
O preço fixado para o livro é de 14 Euros. Porém, uma vez que a
Loja assume o risco da publicação, decidiu privilegiar as compras e
encomendas efetuadas até ao dia do lançamento. Assim, os livros
vendidos no dia do lançamento e os livros encomendados e
pagos até esse dia custarão apenas 12 Euros.
As encomendas podem ser feitas mediante o envio de mensagem
de correio eletrónico para [email protected],
indicando nome, o número de exemplares pretendido e endereço
postal para envio. Será acusada a receção da mensagem e
fornecido o NIB da conta para onde deverá ser efetuada
130
transferência do custo de aquisição e um código que deve ser
mencionado na ordem de transferência (esta menção de código é
essencial para determinar quem procedeu ao pagamento, em
ordem a ser-lhe enviada a encomenda). A expedição da
encomenda para a morada indicada será confirmada por envio de
mensagem de correio eletrónico para a caixa de correio de onde
partiu a encomenda.
Em alternativa, pode também a encomenda ser feita mediante
envio de cheque do valor correspondente ao número de livros
encomendados e indicação de nome e endereço postal para envio
para Apartado 22777, EC Socorro, 1147-501 LISBOA.
Em qualquer dos casos, o envio será feito, a partir de 15 de junho,
no prazo máximo de cinco dias após a receção do pagamento e,
para as encomendas anteriores a esta data, entre 15 e 18 de junho.
De onde resulta que quem fizer rapidamente a encomenda
receberá o livro ainda antes do seu lançamento público!
Bom, e agora o aviso: a edição é grande, mas não é ilimitada. Este
blogue é lido nos cinco continentes, a Loja Mestre Affonso
Domingues é conhecida por muita gente, entre os maçons e os
profanos. COMO É QUE É? ESTÁ À ESPERA QUE ESGOTE E
NÃO CONSIGA O LIVRO? Toca mas é a despachar e proceder à
encomenda do livro!!!!
Rui Bandeira
131
7º Encontro Nacional da APNF
132
No encontro, aberto a todos os interessados, para além da parte
científica com a participação de médicos e outros técnicos, haverá
ainda a possibilidade de serem divulgados testemunhos de sócios
e/ou familiares que queiram, na primeira pessoa, partilhar a sua
vivência com a NF. Para o efeito, poderão enviar até ao dia 20 do
corrente mês de Maio, para a sede da APNF ou para o E-mail: , um
depoimento sobre o modo como têm vivido ou convivido com a NF,
que será posteriormente preparado para ser exposto no local do
encontro.
Para mais informações : 960 173 375 ou consulte a página
Ajudem, colaborem... Há quem precise de Solidariedade, de
Fraternidade e de Igualdade.
JPSetúbal
133
As pranchas do livro
134
também é aprender e partilhar com os demais o que se aprendeu.
135
Pensamentos, sensações e emoções de um Aprendiz - parte II
Irmandade e música
Intocáveis
Quantos compõem uma Loja justa e perfeita
Breves reflexões acerca do Tudo
A dúvida
Primeiro passo.
A Luz
Maçonaria e intervenção na sociedade
A identidade social
Maçonaria e Ambiente
136
indicação de nome e endereço postal para envio para Apartado
22777, EC Socorro, 1147-501 LISBOA.
Rui Bandeira
137
Eu serei, apenas, mais um! A partir pedra ao Vosso lado…
a bem da Ordem.
138
verificar pelo seu currículo:
139
Cavaleiros Templários de Portugal;
• Membro da Ordem dos Sumo-Sacerdotes Ungidos e
Consagrados;
• Membro da Ordem da Trolha;
• Membro da Cruz Vermelha de Constantino;
• Membro da Societas Rosicruciana In Lusitania;
• Membro do Shrine; e
• Grande Oficial Efectivo e Honorário em diversas Estruturas de
Altos
Graus Estrangeiros.
• Grande Oficial da Ordem General Gomes Freire de Andrade
140
A Partir Pedra ao nosso lado! Gosto!!!
Rui Bandeira
141
António Cunha Coutinho, maçom absoluto
142
mais cedo que mais tarde que se comprovou isso... Pois bem, se
não pode já entrar no livro,opta-se pela segunda melhor solução
possível: aqui fica a evocação do António Cunha Coutinho.
143
Com o passar do tempo e a convivência, percebi mais e melhor.
Classificar o António Cunha Coutinho de conservador,
ultramontano, ou qualquer outro epíteto do género era incorreto e
redutor. O António Cunha Coutinho era, tinha orgulho de ser, e
mostrava-o a quem quisesse e soubesse ver, bem mais do que
isso: era a representação do pensamento do português do
antigamente, do Antigo Regime, da velha tradição lusitana! E,
quando falo do Antigo Regime, não falo do tempo da Outra
Senhora, nem da monarquia. O pensamento do António recuava
bem mais atrás, ao tempo do senhor D. Miguel, rei absoluto de
Portugal e dos Algarves, d'aquém e d'além mar em África e resto
do Mundo! O António era conservador, mas não era só
conservador. Era também monárquico, mas não era só
monárquico. Era, com todas as letras, miguelista!
144
contra todos, por aquilo em que se acredita, se necessário
quebrando, mas nunca torcendo.
145
homem de bem. Assim o declaro, proclamo e recordo.
Absolutamente!
Rui Bandeira
146
Esclarecimento
Meditei sobre o pedido e resolvi que não o faria, pelas razões que
abaixo exponho. Mas o respeito pela memória do António Cunha
Coutinho e pelos seus familiares determinam que acrescente e
publique aqui algumas informações que a senhora entende
relevantes. Tão relevantes que, no seu entender, justificariam a
retirada do texto de homenagem.
147
Não retiro o texto, desde logo pela inutilidade do ato, para os
objetivos pretendidos pela mencionada familiar. As pessoas
poderão não ter a noção da mudança de paradigma, mas, uma vez
publicado um texto na Internet, é impossível apagá-lo de todo. No
mesmo dia em que o texto foi publicado, foi automaticamente
enviado por e-mail para os atuais 238 subscritores desse serviço,
foi disponibilizado via Blogger, para os atuais 130 seguidores desse
serviço, foi enviado para os atuais 17 seguidores no Facebook. Só
no próprio dia 9 de junho, o texto foi acedido por 250 outros leitores
deste blogue. E, só nos três dias subsequentes, por mais 564.
Algumas destas pessoas têm ligados programas que publicam
automaticamente os textos deste blogue nas suas páginas de
Facebook. Qualquer destas 1199 pessoas pode ter guardado o
texto no seu computador. Seguramente, algumas fizeram-no.
Qualquer das pessoas que guardaram o texto pode publicá-lo,
difundi-lo. enviá-lo por correio eletrónico, hoje, amanhã, para a
semana, daqui por um ou dez anos. Apagar um texto que se
publicou na Internet é uma ilusão: o texto "apagado" está.
automática ou manualmente guardado num desconhecido número
de computadores e bases de dados, apto a ressurgir, ser publicado,
disponibilizado, a qualquer momento - independentemente da
vontade de quem originalmente o publicou e porventura
posteriormente o tivesse "apagado".
Mas também não retiro o texto, porque entendo não ter o dever de
o fazer e não ter a vontade de assim proceder. Reli-o
cuidadosamente. Em nada afeta a honra e a memória do António
Cunha Coutinho. Pelo contrário, é uma homenagem. Mais: uma
148
homenagem feita por quem assumidamente em muito divergia do
pensamento, das ideias, das opções do António. O que não
impediu de o admirar e de manifestar essa admiração pelo seu
caráter. Retirar o texto era retirar a homenagem, trair a admiração e
a amizade.
149
desonrosa. Que revelá-la atenta contra a memória do António.
Esconder que o António foi maçom é que seria trair a sua memória.
Honrá-la é recusar esconder essa sua opção. O António nunca o
teria feito: tinha a coluna vertebral bem direita para alguma vez o
fazer!
150
como, na minha opinião, sempre viveu: como um bom católico!
Rui Bandeira
151
30 de junho, 19 horas
152
Domingues.
30 de junho, 19 horas é a derradeira oportunidade de adquirir o
livro em preço de lançamento - 12 Euros. A partir daí, o livro é
vendido pelo seu preço de capa de 14 Euros.
O livro "Loja Mestre Affonso Domingues - 20 anos de história" não
interessa somente a maçons. Foi pensado, estruturado, organizado
e escrito tendo em vista não apenas os maçons mas também -
quiçá principalmente - os que não o são.
A Loja Mestre Affonso Domingues acredita que a melhor forma de
destruir o mito de a Maçonaria Regular ser uma "sociedade
secreta" é... agir de forma aberta. A melhor forma de quem não é
maçom não se enredar nas malhas deste mito é dispor de
informação fidedigna e clara sobre o que é a Maçonaria, uma Loja
maçónica, o que são e o que fazem os maçons.
É isso que procuramos possibilitar com este livro. Quem o ler ficará
com uma ideia razoavelmente clara do que foi e é a Loja Mestre
Affonso Domingues, dos seus sucessos e insucessos ao longo de
vinte anos, das alegrias e tristezas, dos bons e dos maus
momentos. Lerá as homenagens e evocaões que fazemos
daqueles que um dia foram dos nossos e já partiram na derradeira
viagem. Lerá trabalhos que foram expressamente feitos para serem
apresentados em Loja e que o foram. Enfim, ficará a saber - por si,
pelo que lerá, pelo juízo que pessoalmente fará - o que fazem os
maçons. E verá que, afinal, são homens comuns, que fazem coisas
comuns e têm a comum ambição de se tornarem cada dia
melhores. Tão só - e, sendo pouco, tanto é!
30 de junho, 19 horas, sabemos que muitos maçons estarão no
lançamento do livro "Loja Mestre Affonso Domingues - 20 anos de
história". Teremos muito prazer, todo o agrado, muita felicidade, se
153
também tivermos connosco muitos não-maçons. E em com eles
trocarmos dois dedos de conversa. Abertamente!
Rui Bandeira
154
Eleição do Grão Mestre
Foi eleito para o cargo o Muito Respeitavel Irmão José Moreno, que
recolheu a maioria dos votos expressos.
José Ruah
155
19 horas: Grémio Literário; até lá: Eça
156
Já na semana passada deixei o anúncio: hoje, pelas 19 horas, no
Grémio Literário, Rua Ivens, n.º 37, Lisboa, vai ter lugar o
lançamento do livro Loja Mestre Affonso Domingues - 20 anos de
História. Será feita a apresentação e leitura de alguns excertos do
livro, o mesmo será vendido a 12 euros o volume (a partir de
amanhã, 14 euros) e haverá sessão de autógrafos. Todos, maçons
ou profanos, estão convidados.
157
Queiroz.
158
e aquele monte, e o Sol que, agora, se esconde são moléculas do
mesmo Todo, governadas pela mesma Lei, rolando para o mesmo
Fim. Desde logo se somem as responsabilidades torturantes do
individualismo. Que somos nós? Formas sem força, que uma Força
impele. E há um descanso delicioso nesta certeza, mesmo fugitiva,
de que se é o grão de pó irresponsável e passivo que vai levado no
grande vento, ou a gota perdida na torrente! Jacinto concordava,
sumido na sombra. Nem ele nem eu sabíamos os nomes desses
astros admiráveis. Eu, por causa da maciça e indesbastável
ignorância de bacharel, com que saí do ventre de Coimbra, minha
mãe espiritual. Jacinto, porque na sua ponderosa biblioteca tinha
trezentos e dezoito tratados sobre astronomia! Mas que nos
importava, de resto, que aquele astro além se chamasse Sírio e
aquele outro Aldebarã? Que lhes importava a eles que um de nós
fosse José e o outro Jacinto? Éramos formas transitórias do mesmo
ser eterno e em nós havia o mesmo Deus. E se eles também assim
o compreendiam, estávamos ali, nós à janela num casarão serrano,
eles no seu maravilhoso infinito, perfazendo um ato sacrossanto,
um perfeito ato de Graça - que era sentir conscientemente a nossa
unidade, e realizar, durante um instante, na consciência, a nossa
divinização.
Rui Bandeira
159
Contents
Retomando o curso... 1
A liberdade absoluta 11
O teórico da conspiração 55
Religião e espiritualidade 71
O Grifo 80
Os sinais de reconhecimento 82
O terceiro Grão-Mestre 85
Prioridades 119
Diversidade 224
Quite 249
1
A sessão e o jantar comemorativo do 20.º aniversário da Loja
ocorrerão no próximo sábado, dia 10 de julho.
Este blogue vai assim retomar o seu curso normal. Nas próximas
semanas, tenciono responder a algumas questões colocadas pelo
Diogo, na sequência de uma sua pergunta e uma resposta minha.
Para que quem nos segue possa localizar-se, transcrevo aqui as
pergunta e resposta iniciais:
2
encarada como natural - e é-o. Essa é uma das razões porque
entendo que a Maçonaria Europeia do século XXI, particularmente
a Maçonaria Regular Portuguesa deve rejeitar a fama e o (mau)
proveito de secretismo, divulgando o que faz, porque faz, como faz
e dizendo abertamente o pouco que reserva para si, e porquê -
como nós procuramos fazer aqui no A Partir Pedra.
Rui Bandeira
3
A nota de um dólar dos Estados Unidos e as teorias da
conspiração (I)
4
que George Washington não tinha o direito de colocar um símbolo
maçónico na nota... a resposta é: não colocou! Pela simples razão
de que a nota de um dólar americano foi concebida e fabricada
muitíssimo depois do tempo de vida de George Washington - que
faleceu em 14 de dezembro de 1799!
A primeira nota de um dólar americano foi criada e fabricada no ano
de 1862 (mais de sessenta anos depois da morte de Washington) e
nem sequer tinha a configuração atual: apresentava a imagem de
Salmon P. Chase, que foi Secretário de Estado do Tesouro na
Administração de Abraham Lincoln.
A primeira efígie de George Washington só aparece na segunda
nota de dólar, criada em 1869. Também esta versão era diferente
da atualmente existente: a imagem de George Washington, ao
centro, estava acompanhada, à esquerda, de uma imagem de
Cristóvão Colombo avistando terra...
Em 1886, é criada a nota de um dólar "Silver Certificate", com a
imagem de... Martha Washington, a mulher do primeiro Presidente
norteamericano!
Em 1896, imprimiu-se a nota de dólar denominada de "série
educacional", em cuja frente figuravam os retratos de George e
Martha Washington, constando no verso uma imagem alegórica da
História instruindo a Juventude.
Em 1899, a nota de dólar passou a apresentar as imagens de
Abraham Lincoln e Ulysses S. Grant, sob uma imagem contendo o
Capitólio, a águia careca (animal símbolo dos Estados Unidos) e
uma bandeira americana.
Todas estas notas (e outras versões que foram emitidas, mas que
aqui não refiro, por menos interessantes ou curiosas)
apresentavam uma dimensão superior à nota de dólar atual.
5
A primeira nota de dólar com a dimensão da atual foi introduzida
em 1929, com a efígie de George Washington.
Só em 1957 foi introduzida na nota de dólar a divisa IN GOD WE
TRUST.
A introdução, no verso da nota de dólar da frente e verso do
Grande Selo dos Estados Unidos (que tem a tal imagem com a
pirâmide inacabada e o "olho que tudo vê" que alimenta as
disparatadas teorias da conspiração que por aí circulam) só ocorreu
em 1935, durante a Presidência de Franklin D. Roosevelt.
Portanto, nem George Washington, nem nenhum dos "Pais
Fundadores" dos Estados Unidos tiveram nada a ver com a
introdução dos símbolos que as teorias da conspiração acusam os
maçons de subrepticiamente terem feito introduzir na nota de
dólar...
As informações contidas neste texto, para além das obtidas nos
locais para onde apontam os atalhos supra colocados, foram
obtidas na entrada da Wikipedia em inglês United States - one
dollar bill. Tão simples como isso! Desmontar as disparatadas
teorias da conspiração requer apenas um pouco de informação,
que nem sequer dá um grande trabalho a obter...
No próximo texto, tratarei dos símbolos incluídos no Grande Selo
dos Estados Unidos (a tal pirâmide inacabada e o "olho que tudo
vê"), sempre apontados como "provas" pelos inefáveis teóricos da
conspiração.
Rui Bandeira
6
Os Segredos da Maçonaria, o silêncio e o saber calar-se
7
que esta valoriza, como a delicadeza de trato associada aos
gentlemen, ou essa mistura de contenção e refreamento que
constitui a tão conhecida fleuma britânica. Pode, nesta perspetiva,
dizer-se que o segredo, o silêncio e o "saber calar "são
manifestação de três virtudes que a Maçonaria muito preza: a
circunspeção, a discrição e o auto-controlo. Terá sido esta atitude,
a par de um contexto histórico de guerras religiosas e de luta
política de que a Maçonaria queria (e quer) manter-se afastada,
que ditou o 6º Landmark, "A Maçonaria impõe a todos os seus
membros o respeito das opiniões e crenças de cada um. Ela
proíbe-lhes no seu seio toda a discussão ou controvérsia, política
ou religiosa. Ela é ainda um centro permanente de união fraterna,
onde reinam a tolerante e frutuosa harmonia entre os homens, que
sem ela seriam estranhos uns aos outros." Quantas vezes uma
frágil harmonia se consegue, sabe-se lá com que custo, pela
exaltação dos pontos de concórdia, e pela minimização da
exposição dos pontos de dissenção... É por isso que, em
Maçonaria, se respeita em absoluto a liberdade de expressão de
cada um - ao mesmo tempo que se espera que cada um tenha
aprendido a, no seu exercício, não ameaçar a harmonia, o
equilíbrio e a fraternidade.
8
podem ser revelados aos de grau inferior. A natureza do que se
cala é menos importante do que a aprendizagem do guardar
silêncio, do calar-se e do refrear-se. Sem calar não se pode ouvir; é
por isso que nas sessões é imposto absoluto silêncio aos
Aprendizes e aos Companheiros. Como exercício, fora destas,
são-lhes confiados os "segredos de grau", que não passam, neste
sentido, de um mero exercício de contenção. Por outro lado, a
separação entre os graus evidencia e promove o progresso de
cada maçon, e permite que, expostos aos mesmos conceitos na
mesma ordem cronológica, todos percorram caminhos
relativamente semelhantes. Os símbolos marcam o caminho, e a
sua interpretação ou o aprofundamento do seu estudo constituem
segredos na medida em que antecipação do conhecimento dos
mesmos poria em risco a sua frutuosa interiorização. O silêncio não
termina, porém, com a elevação a Mestre, antes se transfigura de
silêncio imposto em silêncio voluntário. De facto, um Mestre deverá
ter já interiorizado o que a sabedoria do povo nos repete: que, se a
palavra é de prata, o silêncio é de ouro.
9
desse nome.
Paulo M.
10
A liberdade absoluta
11
liberdade de expressão se todo o debate é proibido.
É claro que nem todo o debate é proibido; desde que dentro das
regras de urbanidade, com respeito pela posição do outro, e com
toda a delicadeza, pode discutir-se quase tudo. A proibição - mais
do que tricentenária - de debate de assuntos políticos e/ou
religiosos decorre da experiência de onde tais debates costumam
levar quando os envolvidos residam em campos antagónicos: a
palavras acaloradas, menosprezo e desrespeito pela posição do
outro (o que pode ser feito de forma muito fria e educada mas não
menos ofensiva) e defesas e ataques de parte a parte. No final, o
confronto de pontos de vista, longe de permitir o enriquecimento de
cada um ou de possibilitar uma posição de consenso, apenas
redunda em desconforto, mágoa ou - no pior cenário - mesmo de
ideias ainda mais extremadas e repisadas pelo confronto.
12
Espero que esta rápida análise semântica tenha contribuído para
esclarecer o que se pretende, de facto, evitar com esta proibição.
Contudo, sei bem que o Diogo não se fica com uma resposta tão
superficial. De facto, relegarmos a questão para um mero
disagreement linguístico sería risível. O que está em causa é o meu
emprego da palavra "absoluto". Poderia eu, para simplificar a coisa,
limitar-me a escusar-me, e a retirá-la, dizendo então apenas que
"em Maçonaria, se respeita a liberdade de expressão de cada um"
em vez de se dizer que se respeita "em absoluto". Todavia, a
questão - filosófica - é importante demais para ser deixada cair tão
displicentemente - especialmente quando creio que, esta sim,
traduz as ideias tão argutamente apontadas como incompatíveis .
13
"absoluto" que anteciparíamos. Mais do que um "absoluto", a vida é
um permanente compromisso - e aí, na busca de posições
relativamente concordantes mais do que absolutamente finais, a
Maçonaria tem muito para ensinar.
Paulo M.
14
Uma história de sucesso ?
Ora bem, cá regresso eu, e cada vez que regresso trago menor
dose de pachorra para as “cutuquices” ! É da idade, não liguem.
Por isso, mas muito mais por razões que alguns de vós bem
conheceis (pelo menos o Rui e o Paulo M sabem o que se passa)
tornei-me em faltista militante aqui neste “cantinho da escrita” que
também está “prantado” à beira mar.
E se hoje regresso ao convívio destes letrados é para contar uma
“história” de sucesso !!!
E esta história de sucesso é a do Bernardo.
15
Trata-se de um jovem porreiro, castiço na sua limitação, risonho
quase sempre.
Tem uma "casa" na “net” que lhe é dedicada e que dá pelo título de
“Anda Bernardo !”
(http://andabernardo.blogspot.com/) onde está todo o texto desta
história de sucesso, desde o argumento aos interpretes e acabando
nos SGS (Special Guest Star).
Como podem ver a lista de SGS’s está aberta, completamente
aberta e o Bernardo, que é o dono da casa, honrar-se-á muito com
a Vossa presença na história.
Ele gosta de Vocês, é Vosso admirador, Vocês é que não sabem…
e provavelmente Ele também não ! Mas esta história que já tem o
elenco dos intérpretes fechado, está muito necessitada de
Convidados, são precisos muitos SGS’s, e é por isso que venho
aqui contá-la.
E desta vez fico todo contente. Quem não gosta de poder contar
histórias de sucesso ? Todos gostam, portanto só posso estar
contente.
Agora, o que realmente é importante, é que não me façam ficar
triste e que se inscrevam também na lista dos Convidados.
Vá, tem de ser já a seguir ! Vão ao “Anda Bernardo !” e
inscrevam-se, não tenham vergonha de aparecer nos ecrans da
vida.
No da morte irão aparecer algum dia, quer queiram quer não… Isso
eu garanto.
Só espero que demorem muito ainda. Não tenham pressa disso
que eu também não.
Mas no ecran da vida é a Vossa vontade que manda, e neste caso
até estão convidados. Especialmente convidados !
16
E ficam a saber... esta é uma história de sucesso, digo eu que até
nem sou aldrabão (?), porque se não fôr… é porque Vocês não
quiseram que fosse !
Abrações.
JPSetúbal
17
A nota de um dólar dos Estados Unidos e as teorias da
conspiração (II)
18
Não é minha preocupação vir agora com os factos perturbar as
teorias com que se entretêm aqueles senhores mas... os factos são
os que seguidamente apresento.
19
O simbolismo do Grande Selo dos Estados Unidos é, assim,
dominado, pelo número 13 (que nenhum significado particular tem
em Maçonaria), em referência, repetida, às 13 colónias que
declararam a Independência. A própria pirâmide inacabada tem 13
degraus e é inacabada porque os 13 Estados originais estavam
abertos a que outros se lhes juntassem.
20
Independência e as palavras por baixo significam o princípio da
Nova Era Americana, que se iniciou naquela data.
Factos são factos. Calculo que, por muito perturbadores que sejam
para as teorias dos teóricos da conspiração, não será por isso que
as vão abandonar e vão deixar de insistir que os símbolos da nota
de um dólar e do Grande Selo dos Estados Unidos são maçónicos,
porque os maçons (melhor dizendo: os maçons de um determinado
rito, nem sequer presente nos Estados Unidos), dizem eles - e, se o
dizem, passa, segundo eles, a ser verdade... - também usam uma
pirâmide como símbolo (e a questão de a pirâmide do selo ter 13
degraus, como os Estados originais e ser inacabada, em alusão à
aceitação de mais Estados que se juntassem à União - e agora são
cinquenta... - é um mero detalhe que não impede a insistência na
tese da cabala maçónica...) e o "olho que tudo vê " é, só pode ser,
e "toda a gente" o reconhece como símbolo maçónico, apesar de
ser uma secular representação do Criador (desde o tempo dos
egípcios, então sob a forma do "olho de Hórus"), especificamente
cristã quando inserido num triângulo (simbolizando a Santíssima
Trindade) e mostrar-se presente, por exemplo, numa antiquíssima
Catedral, construída quando não havia Maçonaria.
Mas factos são factos. E, para que não restem dúvidas (senão as
"certezas" dos teóricos da conspiração), ainda dedicarei um terceiro
texto ao processo de criação do Grande Selo dos Estados Unidos.
Assim se verá se este processo foi público e transparente ou
encoberto e conspirativo, como juram os ditos teóricos...
21
artigos da Wikipedia:
Rui Bandeira
22
A Guerra Civil Inglesa (ou porque não se discute política
ou religião em Loja)
23
Igreja estabelecida, apoiada pela nobreza (que pretendia ver o seu
poder perpetuado) e protestantes puritanos radicais, oriundos de
uma classe média emergente, desejosos de se governar a si
mesmos. A guerra só terminaria sete anos depois, com a
condenação de Carlos I à morte e a tomada do poder por Cromwell
e pelos puritanos. Não obstante Carlos I ter sido mal amado pelo
seu povo e não ter propriamente deixado saudades, bastou menos
de uma década de um estilo tirânico e sangrento de governação
com Cromwell à cabeça para que os ingleses quisessem a sua
monarquia de volta. Carlos II foi coroado em 1661 e, ao contrário
do seu pai, era um homem bem mais interessado na ciência e na
razão do que na perseguição religiosa. Abriu, assim, as portas para
uma nova era, uma era que iria acolher favoravelmente os novos
princípios da Maçonaria Especulativa.
24
Em seu lugar, as Lojas insistiam no estabelecimento de laços
fraternais entre os seus membros. Ficava, de igual modo,
estabelecido um valor muito querido à Maçonaria: a tolerância.
25
que tenha por conveniente.
Paulo M.
26
Tudo se aprende, nada se ensina
27
Assim, podemos dizer que a nossa identidade passa pelas
convicções que decorrem da nossa experiência ao longo da nossa
passagem pelo mundo. Ora, essas nossas convicções -
especialmente a política e a religiosa - são um pouco como a nudez
física. Assim, há quem, (à semelhança dos nudistas - e, até, dos
exibicionistas) esteja disposto a desnudar a sua intimidade do ser,
do crer e do pensar, expô-la e questioná-la; e, no outro extremo,
quem (à semelhança de quem nem ao médico revela a nudez) sinta
como agressão o mero questionamento das suas convicções,
sentindo que tal abalaria a delicada construção interna da sua
relação consigo mesmo, com o mundo e com os outros.
Atacar essa matriz assim exposta seria atacar a pessoa no que tem
de mais íntimo, de mais pessoal, de mais sagrado. Por isto, uma
das primeiras coisas que se aprende na Maçonaria é a respeitar a
diferença e a diversidade, sejam estas de pontos de vista, de
crenças ou de convicções. Cada um dá um pouco de si; quem quer,
colhe daí o que lhe aprouver. Ninguém é obrigado a aderir a
28
conclusões conjuntas, a versões definitivas, a consensos
alargados; estes procuram-se apenas até onde é possível fazê-lo
sem atropelar a convicção e a vontade de cada um.
Paulo M.
29
A nota de um dólar dos Estados Unidos e as teorias da
conspiração (III)
30
disfarçar, esta ponta levantada do véu da Grande Conspiração
Maçónica...
31
Horsa, os dois irmãos que foram os lendários líderes dos primeiros
colonos anglossaxões na Bretanha. Adams escolheu uma pintura
chamada " Julgamento de Hércules", na qual este tem de escolher
entre o florido caminho da Facilidade ou o rude carreiro do Dever e
da Honra. Não sendo versados em heráldica, pediram a ajuda de
um artista plástico de Filadélfia, Pierre Eugene du Simitiere (não foi
maçom), que veio a elaborar uma proposta com um brasão com
seis secções, simbolizando os seis países de onde eram originários
os habitantes das colónias independentistas (Inglaterra, Escócia,
Irlanda, França, Alemanha e Holanda), rodeado pelas iniciais dos
treze estados. Suportavam o brasão uma figura feminina, a
Liberdade, e um soldado americano. Sobre o brasão, o "Olho da
Providência" inscrito num Triângulo Radiante e a divisa E plurubus
unum.
32
disso. Hopkinson, um dos signatários da Declaração de
Independência, ajudara a desenhar a bandeira americana e foi
autor dos Selos de vários Estados. Apresentou duas propostas,
com temas de guerra e paz. A primeira continha um escudo com
treze barras diagonais, alternadamente vermelhas e brancas,
suportado num dos lados pela Paz, uma figura feminina com um
ramo de oliveira, e no outro por um guerreiro índio, com arco e
flechas. Por cima, uma constelação radiante de treze estrelas. A
divisa era "Preparado Para A Guerra E Para A Paz". No verso, a
Liberdade, sentada numa cadeira, segurando um ramo de oliveira,
com a divisa "Perene pela virtude" e a data 1776. Na segunda
proposta, o guerreiro índio foi substituído por um soldado
segurando uma espada e a divisa foi encurtada para "Para A
Guerra Ou Para A Paz". A Comissão escolheu a segunda proposta
e apresentou-a ao Congresso. Mais uma vez, o Congresso não deu
a sua aprovação, vindo a nomear uma terceira comissão. Da
proposta desta segunda comissão, transitaram para o desenho final
as treze listas no escudo e respetivas cores, a constelação de
estrelas rodeada por nuvens, o ramo de oliveira e as flechas (da
primeira proposta de Hopkinson).
33
República Americana Confederada" e por um soldado americano.
Ao alto, uma águia. No escudo, um pilar com uma Fénix Em
Chamas. As divisas eram "Em Defesa Da Liberdade" e "Só Virtude
Invicta". No reverso, uma pirâmide de treze degraus encimada por
um "Olho da Providência" radiante (da primeira comissão) e as
divisas "Com O Favor De Deus" e "Perene". Ainda uma terceira
vez, a proposta não mereceu a aprovação do Congresso. Da
proposta da terceira comissão, transitou para o desenho final a
pirâmide de treze degraus.
34
teóricos das conspirações brandem as suas "certezas"! Mais
palavras para quê?
http://en.wikipedia.org/wiki/Great_Seal_of_the_United_States#History
http://en.wikipedia.org/wiki/Great_Seal_of_the_United_States#Speculation
Rui Bandeira
35
Por que são secretos os rituais maçónicos
36
Identicamente, os rituais maçónicos determinam e regulam uma
série de acontecimentos que sucedem durante uma reunião (a que
os maçons chamam "sessão"), no sentido de conferir alguma
ordem aos trabalhos - precisamente do mesmo modo que numa
sala de aula. Assim, fazem parte dos rituais procedimentos
meramente administrativos como o são a chamada ou a leitura da
ata da sessão anterior. Estes procedimentos nada têm de secreto,
e poderia dizer-se que só não se referem por não o merecerem, de
tão enfadonhos que são...
37
Então porquê o secretismo? Por uma razão: porque, para aqueles a
quem interessa, há um momento certo para se saber. E porque é
que há esse "momento certo", e não se pode saber logo? Procurei
um bom paralelismo que o explicasse, e creio que o encontrei:
imaginem-se a ler um bom livro policial, daqueles bem elaborados;
ou a ver um bom filme de suspense. Agora imaginem que alguém
chega, e vos diz: "Ah, conheço, já vi, foi o mordomo na biblioteca
com o candelabro." Pior: imaginem que vo-lo dizem mesmo antes
de iniciarem o livro ou o filme. Acham que irão retirar o mesmo
prazer, ler com o mesmo empenho, analisar com o mesmo
estímulo? Claro que não. A experiência ficou arruinada pelo
conhecimento prévio. O mesmo se passa com os rituais maçónicos.
Por isso se recomenda a quem pretenda ingressar a Maçonaria que
não leia, não procure, não se informe. Mas, se o fizer, apenas a si
mesmo se prejudica - na mesma medida de alguém que,
sorrateiramente, ludibriando-se a si mesmo, ardendo de
curiosidade, fosse ler as últimas páginas do tal romance policial.
38
diferente é estar de fora a ver, ou participar de dentro. Tentem que
vos expliquem a diferença, e serão unânimes: "não dá para
explicar, tens que viver a experiência para a compreenderes". Com
um ritual maçónico - já o adivinharam - passa-se o mesmo. Não se
explica, não se revela, não se estuda - vive-se, ou não se entende.
Paulo M.
39
A Maçonaria: tecnologia avançada (I)
40
ótica num caso, e de mecânica no outro. No entanto, uma vez
transmitidos e apreendidos os conceitos, poder-se-ia avançar para
o entendimento de engenhos mais avançados - como um motor a
vapor, por exemplo. Por outro lado, se tentarmos explicar como
funciona um despertador sem nos assegurarmos de que o nosso
interlocutor sabe o que é uma alavanca e quais os seus princípios
subjacentes, o que é por sua vez essencial ao entendimento de
como funciona uma roda dentada, então estamos condenados ao
fracasso. O conhecimento desta natureza deve ser tansmitido de
forma sequencial, começando-se pelo simples e criando-se
progressivamente alguma complexidade com base no
conhecimento adquirido, de modo a garantir-se a sua interiorização.
41
imbuído da nossa forma de pensar eurocêntrica e ocidental que nos
custa a ponderar as alternativas. Muitos dos povos do mundo ainda
estão arredados dos fundamentos da forma de pensar que levou ao
surgimento do pensamento e do método científicos: a
experimentação e repetição, o isolamento das causas dos
fenómenos, o raciocínio e a matemática enquanto ferramentas de
trabalho. Em seu lugar encontramos uma profusão de
conhecimentos passados de geração em geração em que se
mistura informação útil sobre plantas, animais e metodologias
validáveis com superstições, demonologias e pura feitiçaria. De
facto, a própria matriz cultural subjacente à interiorização enquanto
"fenómenos mágicos" de meros acontecimentos naturais dificulta
tremendamente a tentativa de explicação da sua verdadeira
natureza. Não é, assim, senão natural que manifestações de
tecnologias estranhas sejam interpretadas como poderosas magias
aos olhos de quem apenas encontra magia no mundo que o rodeia.
Paulo M.
42
A nota de um dólar dos Estados Unidos e as teorias da
conspiração (IV - conclusão)
43
Divindade. Na mitologia egípcia, encontramos o "Olho de Ra",
44
Não admira, assim, que, seja por influência cultural, seja pela
crença religiosa, todos os maçons conhecessem e interiorizassem
os símbolos cristãos, incluindo o Olho da Providência, símbolo da
Santíssima Trindade.
45
Particularmente importante nessa iconografia é o Templo de
Salomão e a Lenda associada à sua construção. Nada na
Maçonaria remete para a Tradição egípcia ou suméria, nem para as
pirâmides egípcias (bem vistas as coisas, meros jazigos de gente
rica e poderosa...) ou sumérias (tidos como artefatos destinados a
favorecer a observação astronómica).
46
Fontes das informações contidas neste texto:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Olho_da_Provid%C3%AAncia
http://en.wikipedia.org/wiki/Eye_of_Providence
http://www.masonicinfo.com/eye.htm
Rui Bandeira
47
A Maçonaria: tecnologia avançada (II)
48
Quem quisesse aprender um ofício tinha, primeiro, que ser aceite
como aprendiz por um mestre artesão. Este iria, ao longo do tempo
- frequentemente, de anos - ensinar-lhes primeiro as bases e
depois, técnicas progressivamente mais elaboradas. Em troca, era
frequente ficar o aprendiz obrigado a trabalhar um certo número de
anos para o seu mestre. No âmbito da sua formação, os aprendizes
aprendiam, assim, os “segredos do ofício”, primeiro através da
observação do trabalho do mestre e depois através da prática. Esta
transmissão de conhecimento queria-se fortemente restrita e
regulada, pelo que não só os mestres artesãos apenas revelavam
os segredos à medida da progressão dos recipiendários, como os
aprendizes tinham, frequentemente, que jurar guardar os segredos
que lhes eram confiados, Assim, era-lhes absolutamente proibido
revelá-los quer a estranhos quer a aprendizes que ainda os não
conhecessem.
49
interesses comuns, os mestres artesãos tivessem procurado
associar-se; podemos assim, sem medo de errar, presumir serem
as associações de artesãos tão antigas quanto as respetivas artes.
Ao longo dos séculos, cada uma dessas associações foi sendo
reconhecida perante a sociedade enquanto interlocutor de toda a
classe profissional que lhe dera origem. Era frequente as
corporações assistirem os seus membros doentes, e tomarem a
cargo as viúvas e órfãos dos artesãos menos prósperos. Davam
dinheiro e comida aos pobres, e ofereciam aos hospitais a carne
que sobrava dos seus banquetes. Refletindo a religiosidade
omnipresente na Idade Média, as associações de artesãos
operavam sob o patronato de um santo, que era considerado o
especial protetor dessa arte, e em honra de quem era comum
existir pelo menos uma pequena capela na zona da povoação em
que os respetivos artesãos laboravam.
50
laboração, tamanho dos artigos, a qualidade da matéria-prima, e
mesmo o preço de venda; tentavam, igualmente, prevenir fraudes e
falsificações, pelo que os mestres eram, por exemplo, obrigados a
marcar com o seu cunho pessoal os bens que produziam.
Referências:
http://www.medieval-spell.com/Medieval-Guilds.html
http://en.wikipedia.org/wiki/Artisan
Paulo M.
51
A Maçonaria: tecnologia avançada (III)
52
três pedaços de madeira.
53
estreitamento destes laços entre os que habitavam a mesma loja.
Havia, por fim, outra razão para que algumas das técnicas não
fossem reveladas. Numa época de grande superstição e
ignorância, a simples aplicação de uma técnica científica podia ser -
e era-o frequentemente - interpretada como bruxaria ou invocação
de demónios. Não será, de facto, muito mais cómodo atribuir o
sucesso alheio à ação de forças sobrenaturais do que admitir o seu
mérito e, eventualmente, a sua superioridade intelectual? Para
evitar "contratempos" dessa natureza é que muito do conhecimento
da época, especialmente o ligado à química e à matemática, era
cuidadosamente ocultado, não fosse confundido com artes de
bruxaria ou adivinhação... Manter e saber guardar um segredo era,
assim, mais do que o mero cumprimento de um dever ou a defesa
do ganha-pão: era uma verdadeira "técnica de sobrevivência".
Paulo M.
54
O teórico da conspiração
55
desonestos não dou importância -, ou de inesperada incapacidade
de ajuizar com lógica sobre factos desconexos - e a estes, bem
vistas as coisas, nem sequer censuro, porque quem a mais não
pode, a mais não está obrigado.
56
da experiência, como rejeitando toda e qualquer demonstração da
inveracidade da sua adorada iluminação.
57
independentes e coincidentes apenas pela força das coisas, é a
sua especialidade, amorosamente cultivada contra e acima de tudo
e de todos.
Pouco importa que isto não tenha qualquer lógica, que se extraiam
conclusões de factos não interrelacionáveis. Uma vez que à mente
do teórico da conspiração assole esta ideia, passa, de imediato, à
58
categoria de Verdade Irrefutável, a ser divulgada e repetida, à
exaustão, contra toda e qualquer demonstração da sua
irrazoabilidade!
59
Que os teóricos da conspiração, pobres espíritos que a mais não
alcançam, se entretenham com alarvidades deste género, isso a
mim não me preocupa. Afinal, dos simples é o Reino dos Céus... O
que me admira, me faz abrir a boca de espanto, é que gente
manifestamente inteligente, e culta, e capaz, aceite sem sombra ou
rasto de espírito crítico, as baboseiras espremidas de tão simplórios
espíritos, no fundo e afinal numa mistura de crendice acéfala com a
mais pura preguiça de verificar a veracidade de factos e da sua
efetiva possibilidade de relacionação.
Mas isto sou eu, que me sinto incomodado por estes maçadores
dos teóricos da conspiração andarem para aí a denunciar tudo e
todos e temo que ainda descubram o meu maçónico plano de
agente de forças extraterrestres para dominar a Terra e entregar,
de mão-beijada, a sua escravizada população ao domínio dos
senhores de Sirius, que há uma mão-cheia de anos deram uns
quantos segredos aos meus antepassados maçons, para com eles
executarmos tão execrando plano (Uupppsss! Entusiasmei-me...
Isto não era para escrever... Era segredo... Façam de conta que
60
não leram esta última frase e continuem felizes enquanto
preparamos o dia do Domínio Final...).
Rui Bandeira
61
A Maçonaria: tecnologia avançada (IV)
62
nas Ordens dos Médicos ou dos Advogados, mas com um espírito
que os tempos modernos já perderam. Na prática, estes rituais -
com uma grande componente mística - giravam em torno da leitura
das "old charges", episódios retirados da bíblia, da História, da
lenda ou do imaginário que descreviam a importância, ascendência
e grandes feitos dos construtores ao longo dos tempos, e
mostrando serem eles os Mestres da Geometria. Um dos mais
antigos manuscritos das "old charges" que persistiu até aos nossos
dias remonta a 1588; encontra-se no museu da Grande Loja Unida
de Inglaterra, e consiste num rolo de papel com a altura de um
homem e um palmo de largura.
63
maçons operativos: o uso de senhas e sinais secretos. De acordo
com o nível de conhecimento que um maçon obtinha, à medida que
progredia na arte, era informado de certas palavras ou certos sinais
de reconhecimento. Agora, de acordo com os estatutos de Schaw,
tomava carácter obrigatório outro costume: a proibição de um
Mestre dar trabalho a um operário a não ser que este lhe desse a
sua "chave": a palavra e/ou o sinal que atestavam que estava
capacitado a fazer determinado tipo de trabalhos.
64
buscavam o conhecimento que era transmitido nas lojas, e que, por
ser secreto, gerava curiosidade, para além do prestígio que a sua
nova qualidade de membros lhes conferia. Por outro lado, as lojas,
apesar de serem organizações conceituadas e prestigiosas, mais
prestígio ganhavam através do reconhecimento social destes seus
novos membros. Estes, durante a iniciação como aprendizes nas
Lojas, recebiam, além dos segredos, o avental e as luvas (uma vez
que não dispunham dos seus próprios objectos de trabalho), e era
a última vez que eram vistos: apenas vinham por causa do fascínio
com os segredos, e não estavam propriamente interessados no
convívio com os trabalhadores.
65
surgindo em seu lugar a Maçonaria Especulativa.
Referências:
http://libcom.org/library/trade-guilds-initiation-through-work-andre-nataf
http://www.scottishkey.com/
Paulo M.
66
A Maçonaria: tecnologia avançada (V)
67
Enquanto as autoridades política e religiosa em Inglaterra se
encontravam diminuídas e fragilizadas - e eram agora mais fonte de
desavença do que de união - surgia no Mundo um novo paradigma
entre os meios intelectuais da época: o do primado da razão como
fonte de legitimidade e de autoridade, num movimento que veio a
ficar conhecido como Iluminismo. Este é, historicamente,
coincidente com o século XVIII, mas as suas raízes podem ser
encontradas algumas décadas antes.
68
Ora, Robert Moray fora iniciado maçon na Mary's Chapel Lodge, e
não foi o único "gentleman mason" iniciado numa loja escocesa.
Havia muitos outros que, juntando-se em Lojas em Londres ou
constituindo clubes, trariam para esta cidade esta visão, esta forma
de estar na vida. Sabemos hoje que muitos dos membros da Royal
Society se interessavam pelos clubes maçónicos que acabavam de
surgir, pois encontravam neles uma mistura dos princípios
científicos e racionais que acarinhavam com os princípios morais a
que aspiravam, de mais a mais embelezados por uma rica teia de
ensinamentos místicos, o que a tornava muito atrativa.
69
denominações religiosas da época, enformaram-nos num clube de
cavalheiros com tradições seculares, e tornaram-nos apelativos ao
cidadão vulgar. Finalmente, após as guerras religiosas e civis, após
os ódios fratricidas, a Inglaterra dispunha de um movimento
unificador que, em torno de uma espiritualidade não sectária, para
além dos partidos e das religiões, juntasse homens que de outro
modo se manteriam para sempre afastados.
Paulo M.
70
Religião e espiritualidade
Raramente publico aqui no blogue textos que não são escritos por
mim. Mas toda a regra tem exceções, quando as exceções o
justificam. É o caso do texto que abaixo segue. Recebi-o através do
Grupo Maçônico Orvalho do Hermon. Não confirmei a factualidade.
mas a confiança em meus Irmãos do Grupo leva-me a não duvidar
da mesma. E o texto do pastor Ed René Kivitz é de primeira água -
e merece ser divulgao, lido e, sobretudo meditado.
Primeiro o enquadramento factual, tal como o recebi na mensagem
do Grupo Maçônico Orvalho do Hermon:
71
No dia 1°/Abr/2010, o elenco do Santos, atual campeão paulista de
futebol, foi a uma instituição que abriga trinta e quatro pessoas. O
objetivo era distribuir ovos de Páscoa para crianças e adolescentes,
a maioria com paralisia cerebral.
Ocorreu que boa parte dos atletas não saiu do ônibus que os levou.
Entre estes, Robinho (26a), Neymar (18a), Ganso (21a), Fábio
Costa (32a), Durval (29a), Léo (24a), Marquinhos (28a) e André
(19a), todos ídolos super-aguardados.
O motivo teria sido religioso, a instituição é espírita, o Lar Espírita
Mensageiros da Luz, de Santos-SP, cujo lema é Assistência à
Paralisia Cerebral
Visivelmente constrangido, o técnico Dorival Jr. tentou convencer o
grupo a participar da ação de caridade. Posteriormente, o Santos
informou que os jogadores não entraram no local simplesmente
porque não quiseram.
Dentro da instituição, os outros jogadores participaram da doação
dos 600 ovos, entre eles, Felipe (22a), Edu Dracena (29a), Arouca
(23a), Pará (24a) e Wesley (22a), que conversaram e brincaram
com as crianças.
Eis que o escritor, conferencista e Pastor (com P maiúsculo) ED
RENÉ KIVITZ, da Igreja Batista de Água Branca (São Paulo), fez
uma análise profunda sobre o ocorrido e escreveu o texto abaixo
que tenho o prazer de compartilhar.
No Brasil, futebol é religião, por Ed Rene Kivitz
72
superação da religião, e cada vez mais me dedico a pensar nas
categorias da espiritualidade, em detrimento das categorias da
religião.
A religião está baseada nos ritos, dogmas e credos, tabus e
códigos morais de cada tradição de fé. A espiritualidade está
fundamentada nos conteúdos universais de todas e cada uma
das tradições de fé.
Quando você começa a discutir quem vai para céu e quem vai
para o inferno; ou se Deus é a favor ou contra à prática do
homossexualismo; ou mesmo se você tem que subir uma
escada de joelhos ou dar o dízimo na igreja para alcançar o
favor de Deus, você está discutindo religião. Quando você
começa a discutir se o correto é a reencarnação ou a
ressurreição, a teoria de Darwin ou a narrativa do Gênesis, e se
o livro certo é a Bíblia ou o Corão, você está discutindo
religião. Quando você fica perguntando se a instituição social
é espírita kardecista, evangélica, ou católica, você está
discutindo religião.
O problema é que toda vez que você discute religião você
afasta as pessoas umas das outras, promove o sectarismo e a
intolerância. A religião coloca de um lado os adoradores de
Allá, de outro os adoradores de Yahweh, e de outro os
adoradores de Jesus. Isso sem falar nos adoradores de Shiva,
de Krishna e devotos do Buda, e por aí vai. E cada grupo de
adoradores deseja a extinção dos outros, ou pela conversão à
sua religião, o que faz com que os outros deixem de existir
enquanto outros e se tornem iguais a nós, ou pelo extermínio
através do assassinato em nome de Deus, ou melhor, em nome
de um deus, com d minúsculo, isto é, um ídolo que pretende se
73
passar por Deus.
Mas, quando você concentra sua atenção e ação, sua práxis,
em valores como reconciliação, perdão, misericórdia,
compaixão, solidariedade, amor e caridade, você está no
horizonte da espiritualidade, comum a todas as tradições
religiosas. E quando você está com o coração cheio de
espiritualidade, e não de religião, você promove a justiça e a
paz.Os valores espirituais agregam pessoas, aproxima os
diferentes, faz com que os discordantes no mundo das
crenças se deem as mãos no mundo da busca de superação
do sofrimento humano, que a todos nós humilha e iguala,
independentemente de raça, gênero, e inclusive religião.
Em síntese, quando você vive no mundo da religião, você fica
no ônibus. Quando você vive no mundo da espiritualidade que
a sua religião ensina ou pelo menos deveria ensinar, você
desce do ônibus e dá um ovo de páscoa para uma criança que
sofre a tragédia e miséria de uma paralisia mental.
Ed René Kivitz, cristão, pastor evangélico, e santista desde
pequenininho.
Não sei se o Pastor Ed René Kivitz é ou não maçom. Nem sequer
sei se ele aprecia os maçons. Sei que concordo em todas as
frases, em todas as palavras, em todas as letras, com o que o
Pastor escreveu.
Isto é o que a Maçonaria ensina. Isto é o que os maçons devem e
procuram aprender. Que seja ensinado por quem, porventura, não
é maçom, não interessa nada. Porque as boas lições são para
serem aprendidas, venham de onde vierem. Hoje tenho muita
honra em bradar que aprendi com este texto e em aqui o publicar
para que outros possam também com ele aprender.
74
Rui Bandeira, maçom, advogado e benfiquista desde pequenininho.
75
A Maçonaria: tecnologia avançada (VI - Epílogo)
76
Por tudo isto, é inegável que a Maçonaria actual não tenha quase
nada em comum com a maçonaria operativa da Idade Média.
Então, o que é hoje a Maçonaria? A chave desta questão
encontra-se na forma como a própria Maçonaria se define: "A
Maçonaria é um sistema peculiar de moralidade, velado por
alegorias e ilustrado por símbolos". A Maçonaria é, portanto, um
sistema de moralidade, e um que, como vimos já, abraça os
princípios do Iluminismo - com o primado da razão enquanto fonte
de autoridade e legitimidade - bem como a tolerância religiosa. A
Maçonaria, não obstante partindo do princípio da imortalidade e da
crença num princípio criador regular e infinito, apresenta uma
conceção do mundo afastada da ignorância, do obscurantismo e da
superstição, promovendo a busca da virtude, entendida como a
força de fazer o bem no seu sentido mais lato do cumprimento dos
nossos deveres para com a sociedade e para com a nossa família
sem interesse pessoal. A ética da Maçonaria é, por outro lado, uma
ética de trabalho, não pondo nenhum obstáculo ao esforço na
busca da verdade, nem reconhecendo outro limite nessa busca
senão o da razão.
77
mesmo modo, não têm significados universais, podendo ser
interpretados por cada um da forma que entenda. A par de todo o
aperfeiçoamento moral e espiritual, promove-se um saber
diversificado, muito para além da especialização profissional que é
a norma do nosso tempo. Cada um é, por exemplo, incentivado a
apresentar oralmente trabalhos que tenha escrito e que podem ser
sobre qualquer tema que possa interessar os obreiros da Loja, o
que, promove para além do conteúdo apresentado, a prática da
Retórica e da Gramática. Enquanto tudo isto sucede, vai cada um
aprendendo a respeitar a posição alheia, mesmo que com ela não
concorde; a calar um reparo se do mesmo não resulte senão a
quebra da harmonia; a exercer a sua Liberdade dentro dos limites
que a Igualdade e a Fraternidade impõem.
Mas então, porque continua a Maçonaria a manter "segredos" já
revelados? Porque é que se continua a imitar uma profissão extinta,
e a perpetuar lendas e símbolos de outros tempos? Por outras
palavras, porque é que a Maçonaria é o que é, e porque é que, na
Maçonaria, se faz o que se faz, e do modo que se faz? A resposta
não poderia ser mais simples: porque funciona. De facto, o passar
dos séculos tem demonstrado ter a Maçonaria uma metodologia
eficaz de propagação dos princípios que esta acarinha e
representa.
Por outro lado, pode dizer-se ser o seu "tradicionalismo" uma das
causas da sua longevidade e, contrariamente a tantas associações
que aparecem e desaparecem num curto espaço de tempo, a
Maçonaria não tenciona deixar de existir de um dia para o outro. De
facto, é inegável que nas sociedades atuais, como no século XVII,
grassa a ignorância e a mediocridade, prevalece o
78
fundamentalismo e o preconceito, e o oportunismo sobrepõe-se à
retidão de princípios. Os propósitos da Maçonaria estão ainda
longe de se ter concretizado, e longe de se ter esgotado os motivos
da sua existência. Por esta razão, enquanto houver Homens com o
firme propósito de se melhorar, de aprender a viver em proximidade
com perspetivas diferentes das suas e de praticar a virtude e o
bem, haverá lugar para que, por seu intermédio, a Maçonaria torne
o mundo num lugar mais justo e mais perfeito.
Paulo M.
79
O Grifo
80
Parabéns, Rui Bandeira! Um grande abraço, e um dia feliz!
Paulo M.
81
Os sinais de reconhecimento
82
que os maçons são delas instruídos para que possam reconhecer
irmãos apesar das diferenças.
83
de símbolos e alegorias para transmitir os seus ensinamentos.
Assim, os segredos de grau recordam a cada maçon que deve ser
um homem honrado, de bons costumes, capaz de guardar para si
um segredo que lhe tenha sido confiado. Por outras palavras, os
maçons guardam segredo desses sinais de reconhecimento, uma
vez mais, por uma razão muito simples: porque juraram fazê-lo.
Paulo M.
84
O terceiro Grão-Mestre
85
Bem-disposto, bonacheirão, sempre com um sorriso na cara, José
Manuel Anes transmitiu a todos a sua confiança. E o seu mandato
foi um percurso em crescendo para a normalidade...
86
actualmente está na situação de aposentado.
87
e das seguintes Associações de estudos dos Novos Movimentos
Religiosos: a francesa AEIMR dirigida por Bernard Blandre e a
italiana CESNUR (Torino) dirigida pelo Doutor Massimo Introvigne
(Torino). Foi Director da "Biblioteca Hermética" da Hugin Editores,
onde publicou obras de diversos autores, entre os quais Lima de
Freitas, Gilbert Durand, Adalberto Alves, Carlos Calvet, etc.
88
Violência Religiosa e Terrorismo Religioso, quer no ISER, a partir
de 2001, quer em 2006, na Reitoria da Universidade (Clássica) de
Lisboa, na Universidade Autónoma de Lisboa e na Faculdade de
Direito da Universidade Nova de Lisboa, num curso de
Pós-graduação e Mestrado em Estudos Avançados de Segurança e
Direito, onde lecciona as cadeiras de Violência Religiosa e de
Criminalística. É co-autor no livro “As Teias do Terror” (Ésquilo,
2006).
Bibliografia publicada:
89
"A Quinta da Regaleira: história, símbolo e mito", Fundação
Cultursintra, 1998; "Portugal Misterioso", Lisboa, SRD, 1998;
"L'Âme secrète du Portugal", Paris, L'Originel, nº 9, 2000;
"L'Homme à venir - Mémoire du XXe.siècle - nº.2", Paris, Rocher,
2000; "Discursos e práticas alquímicas - I", Lisboa,
Hugin/CICTSUL, 2001; "Esoterismo e Humanidades"
-Colibri/Faculdade de Letras de Lisboa, 2001; "Discursos e práticas
alquímicas - II" - Lisboa, Hugin/CICTSUL, 2002; "O Homem do
futuro - um ser em construção" - São Paulo -Br., Triom/USP, 2002;
"A Creação - La Création" - Lisboa, Atalaia/Intermundos, 2003; "Le
Sacré aujourd'hui" - Paris, Rocher, 2003; “Templiers: les yeux du
Baphomet” – Monts (Fr.), Rafael de Surtis/Editinter, 2004.
Percurso Maçónico
90
Helvécia, de que é Membro de Honra), Cavaleiro maçónico de
Malta - KM (armado no Grande Priorado da Gálias, em Paris), do
Grande Priorado de Inglaterra e Gales) e 33º., Grau honorário do
Rito Escocês Antigo e Aceite (Supremo Conselho para Portugal).
91
É detentor das mais altas distinções do Grande Oriente do Brasil -
GOB, entre as quais, a Condecoração da "Estrela da Distinção
Maçónica" (Conferida pelo Grão Mestre Geral do GOB), Diploma e
Medalha de Honra ao Mérito "Gonçalves Ledo" (Conferida pelo
Grão Mestre do Grande Oriente do Estado de São Paulo, federado
ao GOB), Medalha do Mérito "Presidente Ivo Ramos de Mattos"
(Conferida pela Assembleia Estadual Legislativa do Grande Oriente
do Estado do Rio de Janeiro, federado ao GOB) e Medalha "Jubileu
de Prata do GOERJ- 2003" (Conferida pelo Grão Mestre do Grande
Oriente do Estado do Rio de Janeiro, federado ao GOB). É ainda
detentor da Medalha do "Mérito Montezuma" do Supremo Conselho
para o Brasil do Supremo Conselho do Grau 33 do REAA (atribuída
pelo Soberano Grande Comendador).
Rui Bandeira
92
Brincadeira de "gente crescida"
93
tudo e mais alguma coisa, as noites de sono bem passadas, as
almofadas mágicas, o auto-controlo, a alternância equilibrada entre
períodos de descanso e períodos de trabalho, os amuletos, o
cumprimento de determinados rituais, enfim... Todas elas nos
prometem mais e melhor saúde. Umas serão globalmente mais
eficientes do que outras - e não esqueçamos que a eficiência é
diferente de pessoa para pessoa - e umas terão mais
contra-indicações do que outras. No fim, cada um deverá procurar
aquela que mais se lhe adequa, e pode, até, conseguir bons
resultados combinando vários métodos ou aplicando apenas parte
deles.
Mas que ensinamentos são esses, afinal?! Ah, esses são tão
94
únicos como único é cada indivíduo! Pretender sabê-los seria
como, através da descrição das técnicas de pintura de um dos
grandes Mestres, pretender saber o que viriam a representar as
telas pintadas por cada um dos seus discípulos... A Maçonaria
apenas indica os princípios, e esses são bem simples: a
fraternidade, a entre-ajuda, a tolerância perante a diversidade, a
crença num Princípio Criador, o trabalho como meio de obter
resultados, o desenvolvimento intelectual, a procura do Bem e da
Virtude, o combate ao Vício e às Paixões, e tudo isto focado em
cada um, do modo que este melhor entenda que mais lhe aproveita
para atingir os objetivos que definiu para si mesmo. É, por isso,
impossível dizer-se que ensinamentos é que a Maçonaria
transmite: era preciso, para isso, que cada um estivesse ciente dos
mesmos - que, tantas vezes, são absorvidos quase que "por
osmose", pelo contacto com ideias alheias, sem que sejam
propriamente sequer verbalizados, e por vezes nem mesmo
conscientemente apercebidos, o que traz a segunda dificuldade:
mesmo que apercebidos, podem não se conseguir transmitir senão
de forma imperfeita. Pensemos como explicaríamos como se pinta
a alguém que nunca pegou num pincel, mas sem o fazer passar
pela experiência de conspurcar dezenas de telas brancas, nem se
besuntar nas tintas, ou passar pelo experimentar, olhar e tentar de
novo...
95
dos que adere à Maçonaria fá-lo pelo seu próprio pé, por sua
própria opção e no exercício da sua própria liberdade.
Paulo M.
96
Os símbolos e os rituais maçónicos: ferramentas de
trabalho
97
passa, ao que ele lhe responde, com os olhos rasos de lágrimas:
«Aqui diz "celebrado", não diz "celibato"...»
O tempo e as sucessivas passagens de testemunho encarregam-se
de que as palavras, os símbolos e os gestos percam o seu
significado original, adquirindo eventualmente outros
completamente distintos. "Quem conta um conto acrescenta um
ponto", diz com razão a sabedoria popular. Aquilo que, na sua
génese, poderia constituir mero artifício literário destinado a ilustrar
uma ideia pode, ao fim de algum tempo, ser distorcido pela própria
evolução linguística. Ainda hoje se discute a que se referiria,
precisamente, a frase bíblica que diz ser "mais fácil um camelo
passar por um buraco de uma agulha do que um rico entrar no
Reino dos Céus". O camelo seria o bicho de duas bossas, ou uma
má tradução da palavra grega que significa "cordel", ou ainda um
tipo de cabo usado nos barcos para os amarrar ao cais? E o buraco
da agulha, é mesmo um buraco literal de uma agulha vulgar, ou é
uma porta, uma passagem, um estreito, como especulam alguns?
As palavras - simbólicas - ficaram connosco; o seu contexto original
perdeu-se. Ficou a ideia que se pretenderia passar: de que aos
ricos é difícil "entrar no Reino dos Céus".
Por outro lado, algumas mentes têm tendência para tomar os
símbolos por aquilo que representam. A partir deste instinto
formam-se verdadeiros cultos: veja-se o das personalidades
políticas nos países do bloco soviético ou , mais proximamente, o
do Doutor Sousa Martins. Cientes deste facto, várias religiões têm
duras regras de condenação da idolatria, que mais não é do que a
adoração de um símbolo, ao tomar-se o objeto por aquilo que ele
representa. O Islão proíbe, por exemplo, qualquer representação de
pessoas ou animais, não vá alguém tentar-se e lançar-se em sua
98
adoração; e os protestantes costumam acusar os católicos de
idolatria por terem nas suas igrejas imagens humanas.
Quer as restrições alimentares estipuladas por certas religiões
como o Islão ou o Judaísmo (segundo as quais não se pode
consumir carne de porco, e se impõe que os animais sejam
abatidos de forma ritualizada e sangrados) quer a proibição de
consumo de álcool pelo Islão, parecem refletir hábitos e costumes
anteriores ao surgimento dessas mesmas religiões.
Recordemo-nos de que o álcool desidrata, e que quem o consuma
no calor do deserto pode correr perigo de vida; que a carne de
porco, rica em gordura, se decompõe facilmente com o calor,
podendo provocar epidemias; que o mesmo se pode dizer do
sangue, que, se retirado da carne, permite que esta chegue a secar
ou, pelo menos, dure mais em temperaturas altas. Estas medidas
constituem, por si mesmas, sensatas medidas sanitárias de defesa
da saúde pública. Se a sua inclusão enquanto preceito das religiões
em causa decorreu de causa humana ou revelação divina já é
questão a ser respondida no foro íntimo de cada um.
99
e existe ainda hoje - mas a maioria dos maçons tem os pés mais
assentes na terra, e considera serem os símbolos, rituais e lendas
simples ferramentas de trabalho. Cada um é, todavia, livre de crer
no que quiser, e mesmo de fabricar o próprio objeto da sua crença,
mas essa é uma postura que, em certa medida, é contrária ao
espírito da Maçonaria, segundo o qual o Homem deveria caminhar
para a Luz e para o Esclarecimento.
E aqui se suscita uma questão essencial: onde acaba a liberdade
religiosa e começa a superstição e o disparate? Como se concilia, a
este respeito, o facto de a Maçonaria defender a liberdade
individual (que passa pelo direito de cada um crer no que quiser)
com a defesa da Razão enquanto fonte de autoridade e de
legitimidade? Perante princípios antagónicos temos que
estabelecer hierarquias; e a Maçonaria dá primazia ao respeito pela
liberdade individual, o direito de cada um acreditar no que queira,
sobre o interesse em que todos sejam racionais e esclarecidos.
Assim, cada um é senhor de si mesmo e do caminho pessoal que
escolheu e, desde que respeite os ideais e princípios maçónicos e
a liberdade alheia, tem o direito de não ver questionado,
escrutinado ou dissecado aquilo em que acredita.
Paulo M.
100
A Cadeia de União
101
É um momento de reflexão, de solidariedade, de união, em que
cada um sente que contribui para o grupo - mas também sente que
beneficia da força comum do grupo.
102
A Cadeia de União é uma prática pela qual se forma, reforça e
assinala a coesão do grupo. Nos momentos em que o grupo assim
se une, desvanecem-se os individuais egos, avulta o coletivo, na
busca de uma egrégora fortalecida e fortalecedora. Todos os
espíritos se unem no mesmo objetivo, na mesma intenção, na
mesma prece, na mesma celebração, seja o que for, mas o
mesmo...
Rui Bandeira
103
Uma loja maçónica não é uma tertúlia (I)
104
tempo (se bem que seja difícil de gerir) mas, mesmo quando isso
acontece há sempre uma que é a "principal"; pode-se cortar os
laços com essa, e ou arranjar outra "principal" ou mesmo passar a
não ter nenhuma, mas ambas são situações dolorosas. Uma Loja é
como que uma família. Uns nascem, outros morrem, mas a família
é a mesma - se não se extinguir; numa Loja, são iniciados uns,
adormecem ou partem para o Oriente Eterno outros, mas a Loja
permanece - se não abater colunas. Há lojas várias vezes
centenárias, e esse vínculo a algo que existia antes de nós e
continuará a existir depois é uma das coisas boas que a Maçonaria
nos proporciona; ao mesmo tempo que nos reduz à nossa
pequenez de meros "passadores de testemunho" dá-nos a
satisfação de saber que pertencemos a essa cadeia de
continuidade.
Pertencer a um grupo «...que se encontrava quase todos os dias»
deve ser algo de muito exigente, e pouco consentâneo, suponho,
com os deveres conjugais, laborais e parentais. Claro que isso é
questão que só se põe a quem esteja sujeito a esses deveres... Por
outro lado, encontros diários não serão, como dizia Shakespeare,
"too much of a good thing"? Não terão esgotado em 15 anos
conversa que dava para uma vida inteira? Em contraste, a
maçonaria alerta os seus membros de que os seus principais
deveres são para com a família, para com o Criador (qualquer que
seja a conceção que dele se faça), e para com o país; a maçonaria
vem depois.
Dizer-se, ao fim de 15 anos, que «ainda continuamos todos
amigos» implica ter-se começado por aí: pela amizade enquanto
vínculo genitor. Ora, quando se ingressa uma loja é-se integrado
num grupo de desconhecidos; as amizades que surjam são
105
paralelas ao grupo, não são condição prévia do mesmo. Os nossos
amigos são pessoas que nós conhecemos e cujo contacto
decidimos manter e aprofundar, e com quem nos identificamos
mais; numa loja, pelo contrário, não se escolhe nada; um pouco
como a família do cônjuge, fica-se com o que nos calha na rifa. A
um amigo perdoa-se mais, aceita-se mais e tolera-se mais do que a
um desconhecido; por isso, as regras e os pressupostos de uma
loja e de um grupo de amigos não podem deixar de ser diferentes,
pois que numa loja a diversidade é maior do que num grupo de
amigos.
Tertúlias como aquela de que o Diogo fala são próprias da
adolescência e da juventude. Nos debates, frequentemente acesos,
cada um tenta marcar a sua posição, convencer os demais, ensinar
e impor o seu ponto de vista. Contudo, é normal que os seus
membros, uma vez "crescidos", tendo adquirido a sua própria
individualidade e identidade fora do grupo, se afastem
progressivamente.; é normal que haja menos disponibilidade para
um contacto tão íntimo e envolvente, para uma exposição tão
prolongada, para um desnudar-se tão profundo - até porque as
ideias se vão cimentando e há cada vez menos temas novos a
debater sem que o resultado do debate esteja determinado a priori.
Assim, a maturidade acaba por estabelecer o limite. Em loja, pelo
contrário, o objetivo não é "converter" ninguém a um determinado
ponto de vista, mas permitir que cada um encontre o seu.
Paulo M.
106
Uma loja maçónica não é uma tertúlia (II)
107
clarificar algo que não tenha sido dito da forma mais inteligível. Esta
imposição obriga a que se tenha um cuidado multiplicado com
aquilo que se diz, de forma a dizê-lo bem à primeira.
Há uma ordem estrita a ser seguida. Primeiro começa-se pelas
colunas (do Norte e do Sul), para que os mestres maçons que aí se
sentam possam, querendo, pedir a palavra. Depois de não haver
mais pedidos de intervenção, os dois Vigilantes podem pedir a
palavra para si mesmos, primeiro o 2º Vigilante e depois o 1º
Vigilante. É então dada a indicação de que não há mais
intervenções nas colunas, e esta passa ao Oriente, onde residem o
Venerável Mestre, o Secretário, o Orador, o Ex-Venerável e
eventuais visitas a quem tenha sido dada essa distinção. A palavra
é dada, no Oriente, a quem quiser dela fazer uso, e o Venerável
Mestre é o último a intervir. Caso esteja em causa uma decisão,
esta poderá ser tomada pelo Venerável Mestre de imediato, ou este
poderá consultar a Loja através de uma votação. De qualquer
modo, a intervenção do Venerável Mestre deve ser sempre no
sentido de procurar encontrar uma conclusão que seja harmoniosa
para a loja, e com que a maioria se identifique.
Para além da forma, já exposta, há o objetivo. Idealmente, cada
intervenção destinar-se-ia a que cada um, na medida em que
considerasse ser isso útil, apresentasse a sua posição ou opinião a
respeito do assunto em causa, e sem que o seu conteúdo fosse
condicionado por ser a primeira ou a última intervenção a ser
efetuada. O que se diz não deve ser dirigido a ninguém em
particular, mas a toda a Loja, e não deveria sequer referir-se
alguma intervenção anterior, mas apenas fazer-se referência ao
tema que esteja em discussão. Não deve haver interpelações,
refutações ou contraditório, uma vez que isso colocaria em
108
desvantagem aquele que já fez a sua intervenção e não pode agora
responder. Pretende-se, assim, que cada um possa dar a conhecer
a sua posição, sem que tente impô-la aos demais, e sem que
explicitamente contrarie alguma posição já exposta, e por outro
lado que cada um tenha a oportunidade de ser confrontado com
opiniões alheias - porventura distintas das suas - num tom e numa
postura que não ameacem a posição com que cada um se
identifica.
A Maçonaria cria, deste modo, um contexto que induz cada um a
confrontar-se com opiniões e posições distintas da sua, num
ambiente de boa fé, entre iguais, sem que ninguém possa impor a
ninguém nenhuma obrigação, mas em que cada um possa,
querendo, tomar para si as palavras do outro, seja como as
recebeu seja na forma que as queira incorporar naquilo que
constitui a sua identidade.
Por fim, é costume - se bem que não creia haver nenhuma regra
escrita a esse respeito - serem públicos os louvores e privados os
reparos. Quando um bom trabalho é apresentado, é frequente que,
nas palavras proferidas por cada um, sejam manifestadas palavras
públicas de louvor e de encorajamento. Quando, porém, foi dito
algo passível de ser interpretado como menos bom ou menos
correto, a correção fraterna - que raramente falha - surge quase
sempre em voz baixa directamente ao ouvido do "prevaricador". A
franqueza e honradez manifestadas, de mão dada com a genuína
preocupação que os maçons têm uns com os outros, levam a que
seja frequente surgirem amizades muito fortes entre irmãos da
mesma loja - e mesmo entre irmãos de lojas diferentes. A este
respeito não me sai da cabeça uma frase que li há tempos numa
entrevista em que alguém dizia: «A maçonaria é a única
109
organização em que se faz amigos de infância aos 40 anos». Não
sei se é a única, mas que se faz, faz.
Paulo M.
P.S.: Devo recordar que a Loja Mestre Affonso Domingues está
integrada numa Obediência Regular - a Grande Loja Legal de
Portugal / GLRP, e que o que descrevi se aplica a esta. Noutras
obediências far-se-á de forma distinta; um destes dias escreverei
um texto sobre isso.
110
33.º = 3.º
Uma das razões pelas quais quem está de fora da Maçonaria tem
dificuldade em compreender, na sua plenitude, o que esta é resulta
- bem vistas as coisas, naturalmente - de aquele que vê do exterior
julgar, apreciar, avaliar, a instituição segundo o paradigma da
sociedade em que se insere e não através do paradigma próprio
criado pela Maçonaria.
Quem vê de fora tem tendência a conceber a Maçonaria segundo o
cânone da hierarquia, que é comum à maior parte das instituições
humanas. O Governo é dirigido por um Primeiro-Ministro, que
manda nos, ou coordena os, Ministros, que, por sua vez, mandam
no seu Ministério, dando ordens aos seus Secretários de Estado, e
estes aos Diretores-Gerais, que ordenam aos Diretores de Serviço,
que mandam nos Chefes de Repartição, que exercem autoridade
111
sobre os Chefes de Secção, que dão instruções aos
Administrativos, que... E todo o titular de um cargo superior
hierarquicamente exerce autoridade não só sobre o seu inferior
hierárquico imediato, mas por todos os que hierarquicamente estão
abaixo deste e de si.
Se pensarmos nas Forças Armadas, idem, aspas, apenas com a
diferença de o superior ter o título de General, aquele que está na
base da pirâmide, o praça, ser o soldado e, entre um e outro, haver
toda uma cadeia hierárquica de Oficiais, Sargentos e Cabos.
Se nos lembrarmos de um clube desportivo, lá está: facilmente
visualizaremos a cadeia hierárquica que vai do Presidente da
Direção ao roupeiro, passando pelos Diretores, Treinadores,
Adjuntos, Capitão de Equipa e seus substitutos, jogadores e
demais pessoal.
Se nos detivermos na Igreja do credo religioso maioritário em
Portugal, lá temos a omnipresente hierarquia de Papa, Cardeais,
Arcebispos, Bispos, Cónegos, Padres e, na aparente base da
pirâmide, afinal a sua única razão de ser e de existir, a massa dos
crentes.
Em suma, e para não me alongar em exemplos, a maneira comum
de ver as instituições da sociedade é de forma hierárquica, em que
alguém manda, alguém é mandado e manda, em sucessivos
patamares até se chegar a quem só obedece.
A tendência de quem olha de fora para a Maçonaria é vê-la
segundo este paradigma e, portanto, considerar que, se no Rito
Escocês Antigo e Aceite há 33 graus, os detentores do grau 33.º
são os que estão no topo da hierarquia e "mandam" em todos os
que se integram nos graus inferiores e o mesmo sucede ao longo
da "cadeia hierárquica".
112
Esta forma de ver a instituição maçónica é profundamente errada e
conduz a graves vícios de análise. Persiste quer pelo contágio das
demais instituições sociais, quer porque os próprios maçons têm
negligenciado o esclarecimento do erro. É por isso que não me
escandalizo quando um dos nossos interlocutores afirma - como
por vezes sucede - que Fulano era do grau 33 e portanto pertencia
ao topo da hierarquia e o que disse ou escreveu há de ter um
especial significado, pois integrava o escol dos que mandam. Se
este erro persiste, a culpa não é só dos meus interlocutores - é
também minha! É, pois, tempo de alijar o fardo da minha culpa e
esclarecer!
A Maçonaria não se organiza segundo o princípio da hierarquia. A
Maçonaria funciona estritamente segundo o princípio da Igualdade!
A única - e temporária - derrogação destes princípio respeita aos
Aprendizes e Companheiros (graus 1.º e 2.º), os quais, por estarem
em processo de formação e integração, têm uma diminuição de
faculdades, não tendo (ainda) o direito de voto nem o direito de
palavra (em reunião formal). Mas esta derrogação da plena
Igualdade é temporária e estritamente decorrente da natureza do
processo de formação e de integração de Aprendizes e
Companheiros. O seu percurso far-se-á com naturalidade até que -
sem demasiada demora, mas também sem grandes pressas -
aquele que um dia se apresentou à Iniciação se submete ao Ritual
de Elevação ao 3.º grau e assume a condição de Mestre Maçom.
A partir desse exato momento, é um Mestre com exatamente os
mesmos direitos e deveres e a mesma e igual posição hierárquica
que todos os outros Mestres. Nem a antiguidade importa. Nem esta
é um posto. O maçom acabado de ser elevado a Mestre pode, no
minuto seguinte, ver ser-lhe confiado o exercício de um ofício em
113
loja. E, logo que tenha exercido o ofício de 2.º ou de 1.º Vigilante,
pode ser eleito Venerável Mestre, em estrito pé de igualdade com
todos aqueles que estão na mesma situação há 1, há 10 ou há 30
anos. E todo aquele que tenha exercido o ofício de Venerável
Mestre de uma Loja pode ser eleito Grão-Mestre.
É indiferente, em Loja, se A tem "apenas" o 3.º grau, B o 9.º, C o
15.º, D o 33.º. Todos são estritamente iguais e aquele que tem
"apenas" o 3.º grau pode ser eleito Venerável Mestre e dirigir os
outros, os que têm o 9.º, o 15.º ou o 33.º grau. Todos os Mestres
maçons são estritamente iguais, independentemente do grau dos
Altos Graus a que cada um tenha acedido. Um maçom do 3.º grau
não é menos, nem mais, do que um maçom do 33.º grau. São
ambos Mestres maçons - e com um estatuto rigorosamente igual
em Loja. Um dos Mestres maçons da Loja é eleito para, durante um
ano, exercer o ofíci0 de Venerável Mestre. Outro dos Mestres
maçons da Loja é eleito para, durante o mesmo período, exercer o
ofício de Tesoureiro da Loja. O Venerável Mestre eleito designa,
segundo os costumes e os critérios próprios da Loja, estabelecidos
ao longo do tempo, os Mestres maçons que exercem os demais
ofícios necessários para o bom funcionamento da Loja.
Independentemente do grau que tenha ou deixe de ter cada um dos
designados. Durante um ano, os Oficiais da Loja exercem os
poderes e cumprem os deveres inerentes aos respetivos ofícios e
os demais elementos da Loja respeitam esse exercício e, se assim
o quiserem, colaboram. Em qualquer assunto que se debata, todos
- mas rigorosamente todos! - os Mestres maçons,
independentemente do grau que porventura adicionalmente
detenham ou do ofício que no momento cada um exerça ou não,
têm exatamente o mesmo direito à palavra e o mesmo direito ao
114
voto, com exatamente o mesmo valor.
Igualdade absoluta, pois.
Também as Lojas são estritamente iguais. Nenhuma tem mais
direitos ou deveres do que as outras.
Sendo assim, perguntará, e bem, quem está de fora, porque há 33
graus, que relação existe entre eles, se não é hierárquica, em que
consiste esse paradigma de graus "iguais"?
Essa é matéria que procurarei esclarecer no próximo texto,
dedicado aos Altos Graus.
Rui Bandeira
115
Simplicidade, lógica, razão e o comportamento humano
116
de ligar/desligar, e a escolha entre "roupa de cor ou muito suja" e
"roupa de limpeza fácil"; o resto do programa é determinado pelo
próprio aparelho, que dispõe de um automatismo tal que, com toda
a simplicidade, parcimónia e racionalidade, reduz ao mínimo os
gastos de água, detergente, tempo e energia. Contudo, esta
máquina acaba por ser apresentada ao público com uma profusa
quantidade de controlos adicionais, impostos pelo resultado de
estudos feitos pelo Departamento de Marketing!
Pois é. Todo o racionalismo na conceção, toda a simplificação do
uso, toda a sofisticação do funcionamento, esbarraram em dois
factores de peso. Por um lado, a perceção por parte do
consumidor, quando compara as máquinas em exposição à procura
da que vai adquirir, de que quanto mais funcionalidades a máquina
tiver, melhor é - e que as funcionalidades têm, forçosamente, que
se traduzir em mais comandos e botões. Por outro lado, um
sentimento primário absolutamente contrário aos clamores por
mecanismos mais simples, e que pode ser traduzido por algo como
"mas queres uma máquina que mande em ti, ou vais tu mandar na
máquina?" e que deita por terra os automatismos mais argutamente
desenvolvidos.
A razão é um valor que a Maçonaria muito preza. Contudo, a mente
humana não paira no éter: reside no cérebro, que por sua vez está
agarrado ao resto desta coisa a que chamamos corpo. E mesmo a
mente humana não é, como podemos ver, um bastião de razão
pura. Por isso a Maçonaria insiste na tolerância, no equilíbrio e na
diversificação dos saberes enquanto medidas conducentes à
harmonia entre corpo e espírito, à aceitação das diferenças, e à
interiorização de que, no fundo, somos frágeis, falíveis e imperfeitos
- primeiro passo para pretendermos tornar-nos melhores.
117
Paulo M.
118
Prioridades
119
cumprimento das leis dos países onde está constituída, pelo que
não faria sentido reconhecer uma Grande Loja que, para existir,
violasse as leis do país que proíbem a sua própria existência -
também, por idêntica ordem de razão, não deveria, em princípio,
ser admitido à iniciação um profano que ocultasse do cônjuge esse
facto, ou cujo cônjuge desaprovasse a sua admissão, uma vez que,
devendo prevalecer o auxílio e a harmonia familiares sobre os
deveres para com a Maçonaria, estaria a ser esta causa de
desavenças e contendas, o que de modo algum é desejável.
Mesmo assim, se se conseguir fazer como defendia um dos
comentadores habituais deste blogue - que, entre dois cenários
alternativos, escolhia os dois - o ideal será, igualmente, conjugar
ambos os deveres sem faltar a nenhum, que foi o que tentei fazer
hoje, na medida das escassas possibilidades que tive, escrevendo
um texto, apesar de curtinho e publicado para além da hora do
costume. Desculpem-me os habituais leitores, mas deveres
familiares não permitiram mais; sexta-feira cá estarei com outro
texto - que se espera mais disponível e mais inspirado.
Paulo M.
120
Altos Graus
121
Onde conduzem esses caminhos? Ao interior de si próprio! À
interiorização das virtudes e normas de comportamento e princípios
que devem reger a conduta de um homem bom e justo e que
procura aproximar-se o mais possível do conceito de homem
perfeito. Porquê? Porque crê que é esse trabalho, esse esforço,
esse objetivo, o verdadeiro significado da vida, a razão de ser da
nossa existência, porque o nosso caráter, o nosso espírito, a nossa
alma (chame-se-lhe o que se quiser) necessita desse esforço,
desse reforço, desse aperfeiçoamento, para evoluir e passar
adiante (chame-se-lhe Ressurreição, ou Glória, ou Paraíso, ou
Nirvana, ou o que se quiser). Complementarmente à sua crença
religiosa e em reforço e desenvolvimento desta, o maçom procura
assim descortinar o inescrutável, entrever o sentido da vida e o
Plano do Criador, cumprir a sua vocação.
122
respetiva lição e - mais e sobretudo - aplicá-la na sua conduta de
vida. O Mestre Maçom tem tudo o que necessita para o seu
trabalho e a obrigação de ensinar os que se lhe seguem - cedo
descobrindo que será também ensinando que ele próprio aprende...
123
desenvolvidas, mas que não havia mal nenhum se o fossem
através de um roteiro bem organizado.
124
dela!
Rui Bandeira
125
A Maçonaria incorpórea
126
A Medicina, a Engenharia, a Dança, o Atletismo, a Geografia, a
Química, não são entidades; são, quando muito, nomes de áreas
do saber, de técnicas, de actividades. Dizer-se que "a Medicina" fez
isto ou aquilo é desprovido de sentido, assim como o é acusar-se
"a Política" de má fé. Já dizer-se que "o quadro médico do Hospital
X ganhou prémo de excelência" é um discurso pelo menos
coerente, como o será acusar-se "o Secretário de Estado de Z" de
má fé. Por outro lado, não parece correto dizer-se que "a ponte foi
construída com recurso aos mais modernos conhecimentos da
Ordem dos Engenheiros", mas se dissermos "aos mais modernos
conhecimentos da Engenharia" tudo muda de figura.
Entaladas entre dois conceitos ficam frases como "Igreja Católica
condena o uso do preservativo", ou "O Futebol está de luto". O que
não é claro, nestes casos, é a identidade do sujeito. "Igreja
Católica" refere-se a quê, precisamente? Ao conjunto dos fiéis,
significando que estes, na sua maioria, condenam o uso do
preservativo; ou, por outro lado, ao Papa, enquanto representante
da Igreja Católica, sendo este quem condena independentemente
da posição da massa de fiéis? Quanto ao futebol, pode a notícia
significar que, por exemplo, a Federação Portuguesa de Futebol
decretou luto oficial por uma qualquer razão; ou pode, por outro
lado, querer dizer que milhões de adeptos da modalidade sofrem
com a perda de uma figura de referência. Qualquer das
interpretações faz sentido; traduz é realidades distintas.
Precisamente o mesmo fenómeno ocorre de cada vez que se ouve
ou lê: "A Maçonaria fez...", "Maçonaria implicada em..." ou
"Ligações à Maçonaria no caso...", como se a Maçonaria, à
semelhança de uma Igreja, de uma Colmeia ou um Clube
Desportivo, fosse uma entidade, uma soma das partes, um
127
substantivo coletivo. E aqui, uma vez mais, há quem tenha um
entendimento, e quem tenha outro, quem concorde com esta
posição e quem a repudie.
Para a Maçonaria Regular - de origem Britânica, recorde-se - "a
Maçonaria" não é o conjunto dos Maçons, mas o nome daquilo que
eles fazem, do mesmo modo que "a Medicina" é o nome daquilo
que os médicos fazem, e não o nome que se dá ao conjunto dos
médicos. Da esfera da Maçonaria Regular faz parte o princípio de
que a Maçonaria não deve intervir na sociedade enquanto tal, mas
apenas através de cada maçon. Cada um destes pode - deve! -
promover a melhoria da sociedade através do seu próprio exemplo,
da sua atuação e da sua influência, seja isoladamente seja em
ações conjuntas dos elementos da mesma Loja ou, mesmo, da
mesma Obediência (ou seja: da mesma Grande Loja ou Grande
Oriente). Assim, não se pode dizer que a Maçonaria Regular tenha
um "corpo" atuante, pois cada mão, cada dedo, cada cabelo, age
por si mesmo, sem que haja concertação daquilo que se faz.
128
Em Portugal, a obediência internacionalmente reconhecida no seio
da Maçonaria Regular é a Grande Loja Legal de Portugal/GLRP, de
que a Respeitável Loja Mestre Affonso Domingues faz parte. A
maior das obediências portuguesas internacionalmente
reconhecidas no seio da Maçonaria Liberal é o Grande Oriente
Lusitano (GOL). Uma e outra praticam Maçonaria - mas fazem-no
de forma substancialmente diferente, decorrendo esta diferença,
nomeadamente, do distinto entendimento que têm da ação da
Maçonaria na sociedade. Não será alheia a esta diferença de
postura perante a sociedade a profusão de referências nos media
ao GOL, enquanto que a GLLP/GLRP tem uma exposição
mediática muito mais reduzida. A avaliação do quanto de benéfico
ou de nefasto para cada uma das Obediências e para a Maçonaria
advém destas distintas posturas é algo que vos deixo como
exercício de especulação individual.
129
Dos demónios e falsos deuses
130
o mundo por outros olhos, de outro ângulo, sob outra luz. Num
contexto histórico em que o confronto entre lados opostos tinha
dado origem a uma guerra civil, a maçonaria estimulava a
contenção, a tolerância e o amor fraterno entre homens que, de
outro modo, nunca demonstrariam sequer um mínimo de
urbanidade uns para com os outros. Estabelecendo conceitos
passíveis de ser considerados um mínimo denominador comum,
uma plataforma base de estabelecimento de pontes culturais e
religiosas entre crentes de diversas fés, a maçonaria proibia - de
modo a manter a harmonia custosamente conquistada - que cada
um ultrapassasse esses frágeis compromissos e, em loja,
manifestasse o que quer que fosse de próprio e exclusivo de uma
qualquer denominação religiosa.
Logo vozes clamaram que a maçonaria queria destruir esta ou
aquela religião, e que a maçonaria era um anátema, uma
abominação, uma obra dos seguidores de satanás. Ao pretender
conciliar várias crenças sob uma mesma égide, a maçonaria teria
tocado num ponto nevrálgico: a maioria das pessoas não estava (e
não está...) na disposição de admitir que o "outro" possa, seguindo
um caminho diverso do seu, chegar ao mesmo lugar. Muitas
religiões ensinam, mesmo, que os "deuses" das outras religiões
são, na verdade, demónios empenhados em confundir os incautos,
e que segui-los é caminho certo para a danação eterna. Esta
perspetiva é, de facto, absolutamente incompatível com a
maçonaria, por ser diametralmente oposta ao conceito de
tolerância que a maçonaria promove e defende. Como poderia um
maçon sentar-se em loja ao lado de alguém que ele considerasse
um adorador de demónios, e com ele dizer estarem ambos a
trabalhar "à Glória do Grande Arquiteto do Universo", expressão
131
que congrega os diversos conceitos de divindade de cada um dos
maçons sob uma denominação comum? Por outro lado, quem
tivesse a alma grande e quisesse "salvar" o seu irmão do erro em
que este estivesse metido, apresentando-lhe as virtudes da sua
própria fé, logo se veria remetido ao silêncio, senão voluntário, logo
imposto. Como conciliar esta limitação ao proselitismo com deveres
assumidos para com a sua igreja ou religião?
A resposta é simples: a maçonaria não é para esses. Quem assim
pensar e quiser juntar-se a nós, melhor será que o não faça, ou
rapidamente se verá confrontado com situações que lhe serão
desconfortáveis e que pode entender serem contrárias aos ditames
da sua fé. Nesse caso, o melhor que teria a fazer - pois nunca
deveria ter sido admitido, no seu próprio interesse - seria pedir o
atestado de quite e abandonar a maçonaria, pois os deveres de
cada um para com a sua fé sobrepõem-se aos deveres para com a
maçonaria. Quem achar que é sua obrigação converter o mundo a
uma determinada fé, pois que o faça (ou que o tente...) mas sem a
condição de maçon a atrapalhar. E quem, no mais fundo do seu
coração, achar que todos quantos abraçam outras fés são
adoradores de falsos deuses, ou mesmo de demónios, então nada
tem que aprender connosco.
Mas quem aceite as limitações do seu entendimento, que a fé e a
certeza são coisas distintas, e que várias pessoas podem olhar
para a mesma coisa e ver coisas diferentes; quem queira
ultrapassar o preconceito, praticar a virtude e tornar-se numa
pessoa melhor; quem queira fazê-lo acompanhado, ajudando e
sendo ajudado num espírito de fraternidade que ultrapassa as
diferenças e as diversidades de pontos de vista; então encontrará
entre nós verdadeiros irmãos na pessoas de uns quantos homens
132
bons que, sob um mesmo Deus - mas respeitando as diferenças de
entendimento que cada um tem d'Ele - se juntam para se tornarem
melhores.
Paulo M.
133
O Visitante, o Viajante e o Turista
134
O primeiro homem, chamemos-lhe Visitante, contratou através da
sua agência de viagens os serviços do melhor operador turístico da
cidade, que lhe preparou meticulosamente a estada. Chegado a
essa cidade, o Visitante tinha preparado um completo programa de
trinta dias de visitas guiadas a tudo o que a cidade de melhor tinha
para oferecer aos seus visitantes. Foi uma visita inesquecível! O
Visitante foi guiado pelos melhores museus da cidade, onde lhe
foram mostradas as mais significativas obras de arte que aí havia e
as mesmas foram explicadas, enquadradas histórica e
artisticamente. Foi guiado nas visitas aos mais relevantes
monumentos, sendo-lhe chamada a sua atenção para o seu
significado histórico, os detalhes da sua construção, a sua
utilização nos dias de hoje. O operador reservou-lhe bilhete para
assistir ao melhor espetáculo da cidade, proporcionou-lhe um guia
para o conduzir pelas mais esconsas vielas da Cidade Antiga, pelos
mais pitorescos recantos, pelos mercados mais tradicionais,
apresentando-o a interessantes pessoas que ali viviam ou
trabalhavam. Também ao Visitante foram mostradas as mais
deslumbrantes paisagens da cidade e proporcionados demorados e
agradáveis passeios nos mais agradáveis parques e jardins ali
existentes. Claro que foi conduzido também às melhores, mais
concorridas, completas e diversificadas zonas comerciais da
cidade, onde o Visitante pôde admirar a maior variedade de objetos
e bens de consumo e adquirir o que lhe interessou adquirir. Visitou
a Universidade e as Bibliotecas, guiado por um culto guia que o
operador contratou para o efeito. Visitou o Parlamento e os mais
emblemáticos edifícios onde funcionavam os representantes
políticos da urbe e do país, ouvindo as explicações de um guia
especializado, que o esclareceu sobre as circunstâncias e a prática
135
política ali vigentes. Maravilhou-se com a grandiosidade dos
edifícios religiosos, enquanto ouvia as informações e explicações
proporcionadas pelo guia especialista em Arte Sacra que o
operador turístico contratou para o efeito. Enfim, foram trinta dias
de algum cansaço, muitas visitas, muitos conhecimentos novos
para digerir, mas foi realmente uma viagem extraordinária! No
regresso, o Visitante pensava na melhor forma de elucidar os seus
conterrâneos sobre as maravilhas, as riquezas, as belezas, que
existiam naquela deslumbrante metrópole.
O segundo homem, designemo-lhe por Viajante, preparou e
realizou a sua viagem de forma muito diferente. Não contratou os
serviços de qualquer operador turístico, dispensou excursões e
visitas guiadas. Preparou a sua viagem lendo tudo o que conseguiu
descobrir sobre a cidade, a sua história, os seus monumentos e
locais de interesse, as suas gentes. E mal desembarcou na cidade
e se instalou no hotel escolhido, lançou-se numa contínua
exploração da cidade. Também visitou, mas por si só, museus. Não
viu tudo. Não teve ninguém que lhe chamasse a atenção para as
melhores obras. Mas viu o que antecipadamente lera que era
importante ver, apreciou demoradamente aquilo de que gostou,
passou mais brevemente pelo que achou menos significativo.
Também visitou e fotografou os monumentos da cidade,
descobrindo ângulos curiosos, vestígios do passado interessantes.
Falou com os guardas dos monumentos e descobriu curiosas e
picarescas histórias, do passado e do presente, por eles contadas.
Perguntou aos habitantes locais que espetáculos interessantes
havia e acabou por ir ver um par de espetáculos que não
constavam dos circuitos turísticos, que o elucidaram sobre a
genuinidade das gentes daquela terra. Vagabundeou pela Cidade
136
Antiga e ali se perdeu horas esquecidas, recanto aqui, conversa
acolá, absorvendo a atmosfera da cidade e da sua história e da sua
vida. Provou o que se vendia nos mercados, comeu as comidas
típicas da cidade, confraternizou à roda de uns copos com
genuínos habitantes da cidade, apercebeu-se dos seus anseios e
desilusões, das suas alegrias e tristezas, do seu labor e do seu
ócio. Passeou por agradáveis jardins, observando as brincadeiras
das crianças e nelas se intrometendo. Conheceu muita gente,
conversou, ouviu histórias interessantes, soube onde adquirir as
mais genuínas coisas da cidade ao melhor preço, visitou fábricas e
locais de trabalho, escolas e locais de culto. Em descontraída
manhã de domingo, ousou mesmo jogar com um grupo de jovens o
desporto preferido na cidade e - claro! - perdeu... Falou com
taxistas e polícias, vendedores e ardinas e artesãos e
comerciantes, enfim embrenhou-se no coração da cidade,
misturou-se com as suas gentes, viu e visitou a cidade e tudo o que
de bom e bonito ela tinha pelos olhos dos seus habitantes. Quando
findou o tempo que tinha reservado para aquela visita, o Viajante
quase se sentia um novo habitante daquela urbe, dela partia com
alguma pena. Na sua máquina fotográfica, tinha mais fotografias de
pessoas do que de monumentos, mas cada imagem de cada
pessoa recordava-lhe um momento único, uma história curiosa, um
episódio pitoresco. Na viagem de regresso, pensava de si para si
que ficara mesmo a conhecder a cidade e as suas gentes e que
talvez fosse interessante elucidar os seus conterrãneos como se
vivia naquela importante urbe.
O terceiro homem, refiramo-lo por Turista, antes de viajar, comprou
um guia de viagem relativo à cidade, consultou-o e assinalou meia
dúzia de monumentos a visitar, viu quais os restaurantes
137
recomendados, anotou as mais agradáveis esplanadas. Escolheu
cuidadosamente o hotel onde ficaria. Chegado à cidade, instalou-se
no hotel e tratou de descobrir os serviços que proporcionava.
Reservou um dia para utilizar o SPA, comprou umas horas de
consumo de Internet, para que, diariamente, ou quase, reservasse
um pedaço do dia a ler as notícias do seu país. Contratou, para
determinado dia, uma visita guiada à cidade, daquelas de autocarro
aberto com guia de microfone, que vai debitando informações sobre
o que se vai vendo. Visitou descansamente a cidade. Viu os
monumentos que selecionara, calma e descontraídamente. Comeu
em todos os restaurantes que referenciara. Passou agradáveis fins
de tarde em sossegadas esplanadas. Passeou quando lhe
apeteceu, olhando para onde o seu olhar caía, falando com quem o
acaso colocava perto de si, ouvindo os ruídos ou músicas que a
sorte e o local proporcionavam, cheirando aqu o perfume de flores,
ali o odor de comida. Enfim, descansadamente viu o que quis ver,
visitou o que lhe agradou visitar. Descansou e andou, parou e
avançou. Voltou aos locais que mais lhe agradaram. Nem sequer
passou por onde não lhe interessava. No regresso, satisfeiro e
repousado, começou a germinar na sua mente algo que decidiu
partilhar com os seus conterrâneos.
Caro leitor, faça agora uma pausa, pense e decida de si para si:
qual dos três agiu melhor? E qual o pior?
A minha opinião é que nenhum foi melhor ou pior do que os
demais. Cada um viu a cidade da e pela forma que a ele mais lhe
convinha. Todos tiraram proveito da estada. Certamente proveitos
diferentes - mas isso não é melhor nem pior, apenas diferente!
O Visitante, de regresso a casa, escreveu um exaustivo guia de
viagem sobre a cidade, pelo qual os seus conterrâneos quase
138
podiam saber tudo o que havia a saber sobre ela, mesmo antes de
lá chegarem. O Viajante escreveu um livro de viagem, que retratou,
com grande fidelidade, como era, como vivia, o que sentia, a gente
daquela cidade. As suas impressões, os seus relatos permitiram a
quem leu esse livro saber como é realmente, por dentro, essa
cidade e como são os seus habitantes, mesmo antes de lá irem. O
Turista, esse, regressado da sua despreocupada, descansada e
nada exaustiva viagem... escreveu um romance passado naquela
cidade. Quem o leu, admirou, além da qualidade da escrita e da
trama da história, a forma como daquelas páginas se desprendia,
leve mas sensivelmente, a atmosfera da cidade.
Que tem isto que ver com Maçonaria? Releia, caro leitor, o meu
último texto sobre os Altos Graus. O Visitante simboliza o maçom
que decide percorrer os Altos Graus, fazer a sua viagem apoiado
no guia. Tudo aprende, certinho, direitinho. Compensa a falta de
espontaneidade com a qualidade e quantidade do saber que
recolhe. O Viajante simboliza o maçom que opta por seguir o seu
caminho por si, fazendo a sua busca desenvolvendo ele as noções
que aprendeu no seu percurso até à sua Exaltação como Mestre
Maçom. Não tem a sua viagem tão organizada, tão completa, mas
vive intensamente a sua busca. Não recolherá talvez a quantidade
de ensinamentos passível de ser recolhida numa viagem
organizada, mas recolheu o que lhe interessa e, no que lhe
interessa, aprende a fundo. Vive a sua viagem e apreende a
essência dela. E o Turista? Esse é o maçom que não se preocupa
grandemente com tempos e saberes. Faz a sua viagem, segundo o
seu tempo, o seu ritmo, os seus gostos. Não conhecerá tão
profundamente como os outros, mas tudo vê, talvez mais de
passagem, talvez mais intermitentemente, mas sempre de uma
139
forma para si agradável. Só vai à Loja quando lhe apetece ir à Loja,
uns anos exerce ofícios, noutros não está nisso interessado.
Quando vai, quando está, participa e contribui. Mas nem sempre
está disponível, necessita das suas pausas nas esplanadas. Faz a
sua viagem como gosta, ao seu ritmo. Não aprende tanto como o
Visitante, nem tão profundamente como o Viajante, mas o que
aprende, aprende com gosto e por gosto e disso retira proveito. E
partilha-o.
Todos fazem a sua viagem conforme preferem. Todos partilham o
que aprendem com ela. Cada um à sua maneira. É útil partilhar a
erudição. Mas também é útil partilhar a profundidade, a vivência, a
genuinidade. E não menos útil partilhar a Beleza, a satisfação, que
se tira da viagem, seja ela mais esforçada ou mais descansada.
Nenhuma forma de viajar é melhor do que a outra. São,
simplesmente, diferentes.
Afinal, o Visitante, que tudo aprendeu na sua primeira estada,
quando voltar, já só voltará a lugares escolhidos, para relembrar a
sua beleza e terá disponibilidade para sentir a vida do povo do
lugar. E o Viajante, que conheceu ao início como vive a cidade,
quando voltar certamente quererá saber mais sobre os seus
monumentos e sua história, dará mais atenção à erudição, mas
também apreciará fazê-lo mais descansadamente, com mais
pausas, para melhor apreciar a atmosfera da cidade. E o Turista,
esse, sempre visitando ao seu descansado ritmo, quando volta
aprende mais um pouco e mais profundamente.
Não importa como se começa, como se prefere fazer a viagem. O
que importa é fazê-la e ir aliando a Sabedoria (os conhecimentos
privilegiados pelo Visitante), à Força (a profundidade, a vivência, a
genuinidade, em primeiro lugar buscadas pelo Viajante) e à Beleza
140
(descansadamente privilegiada pelo Turista).
Maçonaria é vida, faz parte da vida, é uma forma de aprender e
apreciar e viver o mundo à nossa volta. De evoluir com a nossa
vivência. E sobretudo de partilhar a nossa vivência, os nossos
conhecimentos, a nossa evolução com os demais e beneficiar da
partilha do que os demais nos proporcionam. Em suma, de cada
um fazer a sua viagem, da forma que prefere e de que retira mais
proveito e partilhar esse proveito com os demais, pela forma como
melhor o conseguir fazer.
Rui Bandeira
141
Correlação e causalidade (I)
142
cujas crianças tinham piores notas. Excelente ideia - no papel. E o
resultado? Zero. Os livros não tiveram qualquer impacto
mensurável.
"- Mas como é possível?!" - perguntarão. Muito simplesmente -
especulou-se depois - porque não era dos livros que decorriam as
boas notas, mas de toda uma cultura familiar de que os livros eram
um mero sintoma. Assim, nas famílias cujos pais detinham um nível
de escolarização superior, ou um nível cultural mais elevado, era
natural que existissem livros que lhes interessassem ou que
achassem que interessariam aos filhos. Os bons resultados
adviriam do tipo de contacto, de atividades, do estilo de educação
que os pais imprimiam nos filhos, e quem nem um milhão de livros
poderia substituir.
Mas não nos fiquemos por aqui. Já todos ouvimos certamente dizer
que "um ou dois copos de vinho tinho por dia tomados às refeições
fazem bem ao coração". De facto, há estudos que apontam para
uma fortíssima correlação entre o consumo moderado e regular de
vinho tinto e uma boa saúde cardíaca. O que poucos saberão é
que, estudo clínico após estudo clínico, as farmacêuticas têm - em
vão - tentado isolar as substâncias do vinho responsáveis por esse
efeito. Parece que o efeito se desvanece assim que o vinho é
separado nas substâncias que o constituem. Pior: se o vinho tinto,
por si mesmo, foi administrado como se de um medicamento se
tratasse, de forma controlada e medida, deixa de apresentar
qualquer efeito.
Uma vez mais, conjetura-se que quem pratica esse consumo
moderado - os tais dois copitos por dia de vinho tinto - é quem, por
um lado, tem algum poder económico que lho permita, e por outro
lado não caia em exageros ou em excessos de consumo. Em
143
suma: alguém com dinheiro para investir na sua própria saúde e
bem-estar, e com um estilo de vida descontraído que lhe permita
fazer refeições sem pressas, quiçá em boa companhia, mesmo que
não consuma vinho, terá certamente menos problemas cardíacos
do que a média... Uma vez mais, o consumo de vinho seria um
sintoma, um indicador, e não uma causa.
Estes exemplos são bem ilustrativos da diferença entre "correlação"
e "causalidade". Para haver correlação entre dois fenómenos basta
que se detete que quando um se verifica mais, ou outro também se
verifique mais (ao que se chama uma correlação positiva), ou se
verifique menos (caso em que passa a ser uma correlação
negativa). No primeiro caso havia uma correlação entre os livros e
o sucesso escolar; no segundo, entre o consumo de vinho e a
doença cardíaca. Contudo, para que haja causalidade, é
necessário que se prove que uma das ocorrências foi causada pela
outra - o que nem sempre é fácil, pois obriga a que se descubra,
com perfeita clareza, os mecanismos que leva de um estado ao
outro.
De facto, a indústria farmacêutica desconhece as razões por detrás
do funcionamento de muitos medicamentos à venda no mercado;
não fazem ideia de qual seja o nexo de causalidade, apenas
conhecem a existência de uma correlação. Para estabelecer a
correlação basta observar e reter; contudo, para determinar a
causalidade é necessário, através do raciocínio, procurar a regra, a
fórmula, a razão por detrás dos fenómenos ocorridos. Especulativa
que é, cada uma dessas regras pode sempre ser refutada caso se
encontre um caso concreto à qual ela se não aplique; tem, então,
que se encontrar uma nova regra de que decorram os mesmos
resultados para o que foi já estabelecido, mas que comporte ainda
144
os resultados dos casos novos.
É esta a base do conhecimento e do método científicos: a
observação - e mensuração - repetida dos fenónenos, a
especulação das regras a partir dos resultados, e a validação das
regras ao longo do tempo. E que tem isto que ver com maçonaria,
perguntareis? Tudo! Um maçon é um homem tendencialmente
esclarecido e completo, e distinguir estes dois conceitos -
correlação e causalidade - é essencial para a compreensão de
muitos argumentos, e para o desmontar de muitas falácias e
desonestidades intelectuais que tolhem e limitam a nossa
capacidade de escolha - pois que, só na medida directa em que
estamos de posse da verdade, é que podemos verdadeiramente
agir com liberdade.
Paulo M.
145
O dia foi bom para a Mestre Affonso Domingues
José Ruah
146
O Sexto Grão Mestre
147
José( como ele me chama a mim)
148
Correlação e causalidade (II)
149
mesmo quando a encontramos - a regra perfeita que explica a
correlação perfeita - nada fica explicado, apenas registado.
Suponhamos que eu pego num copo de água e o provo. Não sabe
a nada - ou não deve saber, pois a água pura é insípida e inodora.
Agora pego num pouco de açúcar, deito-o na água e provo. A água
passou a "saber a doce"! Posso repetir esta experiência as vezes
que quiser, até chegar a uma conclusão: de todas as vezes que
deitei açúcar na água a água ficou doce. A partir desta constatação
vou inferir uma regra que, espera-se, seja universal: sempre que
alguém deitar açúcar na água, esta fica doce. Estabelecemos uma
correlação.
Esta informação é útil? Claro que sim. Perguntem-no a qualquer
pessoa que trabalhe numa cozinha. Mas explica verdadeiramente
alguma coisa? Claro que não. Ficamos a saber que a água fica
doce, mas não sabemos porquê. Para isso, teremos que estudar as
papilas gustativas, os recetores que detetam os iões presentes no
açúcar, e os estímulos gerados nas mesmas para o cérebro. Aí,
sim, podemos dizer que entendemos o fenómeno, e que, da
correlação, passámos à causalidade: o açúcar é, de facto, a causa
do sabor a doce. Com base nesta informação, e cientes de como
funciona a nossa língua, podemos, agora, inventar coisas novas,
como adoçantes que não tenham as propriedades do açúcar. E que
nos adianta isso sobre o conhecimento inicial de que o açúcar
adoça a água? Por vezes, muito; as mais das vezes, nada para
além da satisfação de entendermos um pouco melhor o nosso
mundo.
A maioria do conhecimento que temos é meramente correlacional,
e não estabelece qualquer prova quanto à causalidade. Uma
correlação consegue-se pegando nos dados, na observação dos
150
fenómenos repetidos muitas vezes, e inferindo, através de métodos
matemáticos, uma ligação entre eles. A correlação, contudo, nada
demonstra por si mesma. Peguemos, por exemplo, no crescimento
semanal, em centímetros, das tulipas de uma certa estufa, ao longo
de alguns meses; e no preço, em euros, das botas de neve numa
loja de desporto. Poderia suceder, por mero acaso estatístico - ou
por qualquer outra razão - que houvesse um a correlação perfeita
entre ambas as medidas. Uma correlação é algo de objetivo e
indesmentível por definição: contra factos não há argumentos,
como se costuma dizer.
Já o mesmo não pode dizer-se das conclusões de causalidade
supostamente decorrentes de tal correlação. Seria, por exemplo,
pouco sensato dizer-se que "o crescimento das tulipas torna as
botas mais caras", ou que "as tulipas crescem tanto melhor quanto
mais caras estiverem as botas de neve". Pior, ainda, seria
aumentar-se o preço das botas esperando que isso aumentasse a
taxa de crescimento das tulipas... Já, por outro lado, dizer-se que
"quanto mais alta a temperatura, mais crescem as tulipas por um
lado, e mais raras são as botas de neve nas lojas - pois terão sido
vendidas na época fria - o que as torna mais caras" pode ter todo o
cabimento - mas carece de demonstração para se poder
estabelecer uma causalidade.
Contrariamente à correlação, estritamente objetiva, a causalidade
implica sempre uma dose de especulação e de juízo sobre os
dados objetivos que lhe darão suporte. Estabelecer uma correlação
é, muitas vezes, trivial; provar uma causalidade é, por outro lado,
frequentemente um desafio, para não dizer impossível. É, quase
sempre, um trabalho árduo. Contudo, provar-se uma causalidade
permite-nos chegar mais fundo, entender melhor, alargar o
151
conhecimento dos conceitos em causa, coisas que a mera
correlação não garante. Deveremos, por isso, abandonar as
correlações e focar-nos nas causalidades? Claro que não.
Devemos é saber distingui-las, dar a umas e a outras o devido valor
e, acima de tudo, não tomar por causalidades o que não passa de
meras correlações - falácia que muitos órgãos de comunicação
social, ávidos da nossa atenção, repetem vezes sem conta.
Paulo M.
152
Terminando um periodo
153
Quero pensar que fizemos uma boa equipa, e que o resultado final
sendo positivo, se resume a uma Grande Loja melhor e mais
estruturada, mais muito mais por intervenção do Mário.
Mário, Muito Respeitável Irmão, Antigo Grão Mestre, mas para mim
e para mais uns quantos – Tio Mário ou melhor Muito Respeitável
Tio – obrigado pelo trabalho que fizeste e que proporcionaste fazer.
José Ruah
154
André Franco de Sousa, maçom nacionalista angolano
155
Conheci-o já idoso. Manteve sempre o seu apreço pela
Democracia, que o levara a cortar com a organização que fundara.
Dele guardo uma imagem de completa serenidade e enorme
simpatia.
Contou-se, embora brevemente, entre os obreiros da Mestre
Affonso Domingues. Foi um dos nossos e como um dos nossos é
aqui recordado. Foi um dos veteranos que criaram as condições
para a Loja ser o que ela é. Estamos-lhe gratos pelo seu contributo.
Há já alguns anos que a doença o afastara do nosso convívio e o
André se encaminhava para o nicho das recordações. Das boas
recordações. Agora ali encontrou, em definitivo, o seu lugar.
Rui Bandeira
156
Correlação e causalidade (III)
Por esta hora estarão já uns quantos a pensar: "Podia ter-lhe dado
para pior. Falar de coisas que nada têm que ver com a Maçonaria
num blogue sobre Maçonaria..." Quem assim pensar está
rotundamente equivocado, por três razões.
Em primeiro lugar, porque, como disse já, confundir estes dois
conceitos leva-nos a conclusões precipitadas e, frequentemente,
erradas e afastadas da verdade, porque ilógicas; e o estudo da
Lógica é parte integrante da formação de um maçon. De facto, o
estudo das Artes Liberais - base da formação para o gentlemanship
- é promovido e incentivado entre os maçons.
Em segundo lugar porque um meio a que os maçons recorrem para
se aperfeiçoarem consiste, precisamente, na exposição aos demais
das sua próprias conquistas, das suas próprias conclusões e do
seu próprio aperfeiçoamento, para que cada um possa dela retirar
os ensinamentos que tiver por convenientes. Neste caso, estes
textos, decorrentes da minha própria pesquisa e especulação,
157
refletem o meu percurso na busca de algumas razões que quero
agora partilhar convosco.
Como sabeis, uma das diferenças entre a Maçonaria Regular e a
Maçonaria Liberal consiste na obrigatoriedade - numa - e a sua
ausência - na outra - de crença num Ser Supremo, a que
chamamos, para não dar prevalência à terminologia de nenhum
credo religioso, "Grande Arquiteto do Universo". Começando por
ser estritamente cristã, a Maçonaria Regular alargou o âmbito das
fés "aceites", até aceitar qualquer crença em qualquer Ser
Supremo, desde que não fosse a crença em coisa nenhuma. A
Maçonaria Liberal aceita no seu seio quem tenha ou não qualquer
crença. A Maçonaria Regular proíbe a discussão ou controvérsia
religiosa ou política em loja; a Maçonaria Liberal promove ambas.
Mas porquê estas restrições? Não poderá surgir uma discussão
sadia sobre religião entre pessoas de entendimentos religiosos
distintos? Não poderá ser útil a discussão política entre irmãos de
facções opostas, quiçá promovendo um entendimento que em mais
contexto algum seria possível? E não poderia um ateu
aperfeiçoar-se e auxiliar outros no seu respetivo aperfeiçoamento,
com respeito pela crença dos demais? Claro que sim! Então porque
é que nem um Grão-Mestre, com a unanimidade de toda a sua
Obediência, pode mudar alguns princípios da Maçonaria Regular?
Estas questões colocavam-se-me há já algum tempo, quando me
surgiu uma resposta: os Landmarks da Maçonaria nada explicam,
apenas enunciam, e isso basta. Não é necessário saber-se de que
é feita uma aspirina - e muito menos entender-se como interage
com o nosso organismo - para que ela nos livre de uma dor de
cabeça. Não precisamos de provar a causalidade para nada -
basta-nos constatar a correlação. Toma-se a aspirina e - puf! - lá se
158
foi a dor de cabeça. Mesmo sem se perceber porquê.
Do mesmo modo, determinadas regras - algumas velhas de três
séculos - não precisam de se justificar. Passaram já a prova do
tempo, e este tem-lhes dado razão. São como são, e moldam a
Maçonaria de um modo com que os maçons se identificam. Como a
aspirina, funcionam sem que saibamos muito bem porquê. Se
compreendermos como funciona a aspirina, e com base nesse
conhecimento a alterarmos de modo que atue de outra forma,
tenha outros efeitos, trate doutras patologias, obteríamos talvez um
medicamento melhor - mas não era aspirina. Também podíamos
passar a aceitar que se jogasse futebol com a mão - mas o jogo,
ao sofrer tal alteração de dinâmica, deixava de ser futebol. E
também como é evidente, muita coisa se poderia mudar na
Maçonaria - mas deixava de ser, de certeza, a Maçonaria que
conhecemos e, quem sabe, deixaria, de todo, de ser Maçonaria. E
por isso, mudar por mudar, fica como está.
Paulo M.
159
Poema à Amizade
160
Mas, se ainda sobrar amizade,
Nasceremos de novo, um para o outro.
Pode ser que um dia tudo acabe...
Mas, com a amizade construiremos tudo novamente,
Cada vez de forma diferente.
Sendo único e inesquecível cada momento
Que juntos viveremos e nos lembraremos para sempre.
Há duas formas para viver a sua vida:
Uma é acreditar que não existe milagre.
A outra é acreditar que todas as coisas são um milagre.
Albert Einstein
161
5 de Outubro, revolução e maçonaria
162
Por um lado, tomemos a questão da discussão de política e religião
em loja. Pelo que se sabe, esta revolução - como outras - foi
preparada durante sessões de loja. Forçosamente se discutiu o
mérito desta política sobre aquela e - sabendo-se que havia
maçons quer na fação republicana quer na monárquica -
certamente houve vozes minoritárias que viram os seus Irmãos, a
sua Loja, e mesmo a sua Obediência, agirem como um corpo na
prossecução de objetivos e de ideias contrários aos seus. Por fazer
prevalecer, na escala dos valores, a harmonia fraterna, é que a
maçonaria regular proíbe essas discussões, para que não se
estabeleçam partidos opostos dentro das lojas, para que estas não
escolham lados, e para que as grandes lojas não manifestem
preferências que poriam, em qualquer dos casos, uns "de dentro" e
outros "de fora".
Por outro lado, atente-se a que a maçonaria regular exige dos seus
membros que sejam cidadãos cumpridores das leis do país. Ora,
esta questão tem duas consequências. Por um lado, de forma mais
imediata, implica que caso um maçon seja condenado pelo sistema
judicial civil por um crime que tenha cometido, sofrerá quase que
por certo uma sanção disciplinar no seio da sua Obediência,
sanção essa que poderá mesmo constituir a sua expulsão (mas,
evidentemente, ninguém é expulso por algo como uma multa de
estacionamento). Por outro lado, esta exigência reflete-se nas
Obediências, não sendo reconhecidas a nível internacional aquelas
que, para existirem, impliquem que os seus membros cometam
algume ilegalidade; por exemplo, se as leis do país passarem a
proibir a Maçonaria, e mesmo assim uma Grande Loja continue a
existir - cometendo uma ilegalidade - ser-lhe-á retirado o
reconhecimento internacional por parte das outras Grandes Lojas
163
regulares.
Tais condicionantes - a proibição de discussão política e religiosa, e
a obrigação de cumprimento da lei do Estado - não se verificam na
Maçonaria Liberal. Cada maçon que pertença a uma Obediência da
Maçonaria Regular é livre de agir como a sua consciência lhe dite e
continuar a ser maçon - desde que não cometa nenhum crime.
Participar de - e, especialmente, promover - uma revolução,
atentando contra os órgãos do Estado, é um crime contra o mesmo
Estado, e não é considerado pela Maçonaria Regular uma forma
aceitável de se agir. Entendimento diametralmente oposto tem a
Maçonaria Liberal, que argumenta que uma lei injusta não tem
legitimidade, que crime seria observá-la, e que promove o seu
derrube.
Dois pontos de vista.
Duas formas de agir.
Duas Maçonarias.
Paulo M.
164
José Luís Ribeiro Moita de Macedo, maçom improvável
Ao longo dos quase vinte anos que tenho da Loja Mestre Affonso
Domingues, conheci umas centenas de Irmãos. Com alguns forjei
laços de amizade. Com outros, construí uma agradável relação de
camaradagem. Com outros ainda, uma saudável relação fraterna
de integração num mesmo grupo. Com poucos, muito poucos, as
circunstâncias do nosso contacto não possibilitaram um
conhecimento mútuo. José Luís Moita de Macedo foi um desses
poucos casos, nem sei bem porquê. Quando preparava a edição do
livro relativo aos Vinte Anos da Loja, o José Ruah enviou-me a lista,
que trabalhosamente efetuou, dos obreiros que, ao longo deste
tempo, passaram pela Loja. Um dos nomes incluídos nessa lista
era o do José Luís Moita de Macedo - com a indicação de que já
tinha falecido.
165
impossível elaborar o texto evocativo que era de toda a justiça
dedicar-lhe. Pergunta daqui, inquire dacolá, cheguei à conclusão de
que a pessoa indicada para escrever essa evocação era o Antigo
Venerável da Loja, presentemente adormecido mas sempre
fraterno e disponível para colaborar, Vítor E. C.. A ele solicitei o
texto evocativo, que foi incluído no livro. O In memoriam do blogue
não ficaria completo sem a evocação aqui deste Irmão.
Jornalista Profissional
166
No conteúdo, contudo, o Zé Luís, foi sempre um Irmão! Um Irmão
e… um Amigo! Quando nem sempre o Amigo é um Irmão e, muitas
vezes, o Irmão não pode ser o Amigo! De facto, ele foi Irmão, por
um sentimental, emotivo e singular laço de amizade que o unia a
alguns de nós - ao Manuel A. G., ao José Manuel Severino, ao
João M. V., ao H. S. e a mim – e a Todos foi fiel bem como a Todos
os outros Irmãos que, pela sua simpatia e bonomia, o adoptaram,
também, pela sua fidalga e discreta maneira de estar e de ser.
167
Vítor E. C.
Aqui deixo esta evocação do José Luís. Não o conheci muito bem.
Mas não o esqueci!
Rui Bandeira
168
Ainda os Altos Graus
169
fala por ninguém senão por si mesmo. Por isto é que é frequente,
sempre que alguém nota que fulano de tal, "que até é grau 33",
disse isto ou aquilo, de imediato se recordar que cada um apenas
fala por si, e é livre de manifestar a sua opinião como quiser, sem
que os demais se sintam obrigados pela sua palavra.
Em terceiro e último lugar, foquemo-nos onde se encontra o
verdadeiro poder: nos Grandes Oficiais. Destes, apenas o
Grão-Mestre é eleito, indigitando depois o seu quadro de Grandes
Oficiais. Todavia, se recordarmos que a Maçonaria é como que um
"pequeno mundo em miniatura", em que pode desempenhar-se
papéis a que, doutro modo, dificilmente se acederia - sendo assim
uma espécie de "Kidzania para crescidos" onde se aprende com a
experiência - então vemos que, quais notas de Monopólio, qual
jogo a feijões, o "poder" da Maçonaria se confina aos limites da
própria Ordem, e mesmo dentro desta os "poderes" são,
essencialmente, administrativos e/ou rituais. Ser-se Grande Oficial,
longe de conferir qualquer poder real, é antes uma carga de
trabalhos, e visto, acima de tudo, como um serviço que se presta.
Para terminar, para quando virem um texto assinado por um "grau
33", deixo uma pista para se aferir a legitimidade do discurso e da
sua representatividade: um "grau 33" não fala, normalmente, senão
por si mesmo; no entanto, um Grão Mestre pode falar por toda uma
Obediência...
Paulo M.
170
Vida em sociedade: confiança vs. ordem?
171
houve coscuvilheiras...) e caía implacavelmente em cima do
prevaricador.
Como a Terra não estica, o progressivo aumento de população
traduziu-se, inevitavelmente, num aumento de densidade
populacional - mais pessoas por quilómetro quadrado - o que
acarretou um maior número de contactos com um maior número de
desconhecidos anónimos, de que decorre um maior número de
conflitos. Ao mesmo tempo, ia-se criando um nevoeiro difuso
decorrente do aumento de número, que impedia que se
conhecesse, já, a totalidade dos "nossos", e não se conseguisse
distingui-los dos "outros". A confiança que se tinha começa a
declinar - as portas passam a ter fechaduras, e estas passam a
ficar trancadas. Surgem crimes cuja autoria se desconhece.
Hoje em dia, a elevadíssima densidade populacional,
especialmente nas zonas urbanas, levou a que a convivência nas
sociedades modernas seja fortemente regulada, a um ponto que
seria impensável há pouco tempo atrás. Não precisamos de recuar
muito - basta fazê-lo uma década, para quando se podia viajar
tranquilamente de avião para todo o lado sem o verdadeiro
strip-tease abelhudo a que hoje nos sujeitam - para vermos em que
curto espaço de tempo foram criadas tantas defesas, tantas
barreiras, tantos controlos. A partir de certo ponto, os controlos
deixam de ser instrumentais, e passam a constituir um fim em si
mesmos, propulsionados por toda uma indústria que deles se
alimenta. Cada vez há menos confiança da polícia no cidadão -
que, afinal, pode ser um bandido - e deste na polícia - que, afinal,
tem a faca e queijo na mão para cometer os abusos que entenda.
O poder político, esse, desconfiado de ambos e numa posição
altaneira, produz leis a um ritmo acelerado - muitas das quais nem
172
os cidadãos cumprem, nem a polícia consegue fazer cumprir.
E neste momento interrompo este texto para vos convidar a ver
este video. Tomar-vos-á apenas 5 minutos. Para quem o não
queira ou não possa ver, descreve como, na baixa de uma cidade
de Inglaterra, foram eliminados por completo os semáforos e a
maioria dos sinais de trânsito, regulando-se este apenas pelas
regras mais básicas de prioridade. O resultado? O trânsito parece
mais caótico - com todos a andar ao mesmo tempo - mas
desapareceram as longas filas nos semáforos e grandes tempos de
espera. O tráfego automóvel adquiriu uma fluidez nunca vista, e isto
sem se diminuir o número de viaturas e até diminuindo o número de
acidentes! Uma das habitantes relata, estupefacta, que o percurso
que antes lhe levava mais de 20 minutos é agora feito em 5. E a
cidade parece outra, sem filas de carros em ponto morto e a deitar
fumo. As pessoas são mais cordiais ao volante, e muitas dão
passagem com um sorriso. Só os cegos se queixam de que as
mentalidades demoram a mudar, e têm medo de atravessar a rua
sem o conforto dos semáforos e sinais sonoros nas passadeiras
para garantir que os carros param mesmo. Este problema está
presentemente em estudo, e quer-se resolvido.
Eis como, deixando as coisas nas mãos do cidadão comum que
age num espaço público perante a vigilância atenta dos demais
peões e condutores, se consegue obter um modelo muito mais
justo e perfeito de circulação. Eis como se muda uma cidade sem
revoluções, sem derrubar leis, e sem atentar contra a vontade de
uma população - fazendo-o estritamente a partir do edifício legal
existente. Se a maçonaria regular fosse uma autoridade de trânsito,
arrisco dizer que seria assim que deliberaria.
Paulo M.
173
Maçonaria e Modernidade
174
Neste dealbar de novo século e milénio, no findar da sua primeira
década, importa refletir sobre o papel da Maçonaria num Mundo
que evolui e se transforma a um ritmo nunca dantes visto, com um
avanço tecnológico ímpar na História da Humanidade, mas também
com riscos e desequilíbrios de uma dimensão global, também
novos, em tão ampla escala.
175
Nós, maçons, somos os cultores por excelência da Tradição!
Rui Bandeira
176
"Sim, mas o que é que fazem na cama?"
177
"- A liberdade não se perde; passa-se é a decidir em conjunto, e em
função um do outro. Ao ter que se conjugar as vontades
aprende-se, por outro lado, a ver a realidade sob outros ângulos, e
a estabelecer prioridades. Isso torna-nos pessoas melhores."
"- Não concordo nada. Não vejo a vantagem de abdicar de
concretizar os meus desejos, nem vislumbro que essa mortificação
me tornasse uma pessoa melhor. Quando muito, mais amarga."
"- De modo nenhum. Estar ao serviço do outro é um privilégio: é
sinal de que temos valias, e que estas podem ser postas em
prática. Isso dá-nos uma satisfação muito grande. Por outro lado,
esta dádiva de si mesmo, praticada por ambos, leva a que ambos
se tornem melhores, que cada um apreenda do outro o que este
tem de mais positivo."
"- Pois, mas não percebo. Afinal, o que fazem na cama? Dão
privilégios um ao outro? Praticam a camaradagem? Eu e os meus
amigos também praticamos camaradagem, mas praticamos
desporto juntos e passamos noitadas nos bares. Isso é que é
camaradagem. Agora numa cama? Num sítio onde se dorme,
pequeno e acanhado? Não percebo."
"- São coisas completamente diferentes. Os amigos podem ter
muitas afinidades, mas um casal constroi essas afinidades para
além das que originaram o relacionamento, e fá-lo durante toda
uma vida. As amizades são mais efémeras, apesar de poderem
durar mais do que muitos casamentos. Os casamentos desejam-se
eternos, e moldam toda a vida dos envolvidos."
"- Uma vez mais, não vejo nada que distinga um casamento de
uma boa amizade. Tenho amizades que mantenho desde miúdo, e
que espero fazer durar até ao túmulo."
178
"- Pois, seja. No entanto, há uma sensação de bem-estar, de
realização pessoal, de completude, que o casamento proporciona e
que uma amizade, por mais intensa, não atinge, por se tratar de um
registo completamente diferente."
"- Isso deve ser um registo mesmo muito esquisito, que eu e os
meus amigos não passamos dias enfiados numa cama a cheirar a
dormido, embrulhados nas almofadas, a sacrificar-nos uns pelos
outros. A camaradagem pratica-se ao ar livre, no meio da natureza.
Mas diga lá, que eu prometo não contar a ninguém. Afinal, o que
fazem na cama?"
"- Olhe, o que um casal faz numa cama não é nada que se possa
contar. Aliás: até podia, mas para isso deixaria de cumprir com os
meus deveres de decoro e discrição conjugal. Estaria a ser um mau
marido. Por outro lado, de nada lhe aproveitaria: é algo que precisa
de ser vivido para se entender. As palavras não são adequadas. Se
lho descrevesse, acharia eventualmente a descrição repulsiva,
quando na verdade se trate de algo de sublime. Poderia até afastar
qualquer desejo de vir, um dia, a casar-se. Se alguma vez decidir
casar-se, e o fizer de facto, verá depois a que me refiro."
"- Segredinhos e mais segredinhos! Isso são desculpas.
Explique-me lá, que eu tenho um estômago de ferro, e sou capaz
de aguentar o embate. Afinal, o que fazem na cama?"
"- Ó homem, já lho disse. Um casamento é algo que vai muito para
além do que se faz na cama. É possível, até, ser-se casado, ter-se
alguém com quem se partilha tudo, e nunca se partilhar dessa
intimidade. O estar-se casado é mais um modo de vida, um estado
de espírito, uma forma de estar no mundo, e a partilha na cama
mera manifestação disso mesmo; no entanto, não é absolutamente
essencial que essa manifestação exista. As mentes mais ortodoxas
179
lhe dirão que para se ser casado tem, mesmo, que se fazer essa
partilha. Contudo, há verdadeiros «casamentos sem aliança», em
que duas pessoas vivem em comunhão de tudo - exceto de cama.
Fiz-me explicar?"
"- Mais ou menos. Continuo a achar que a cama é apertada e
inadequada à camaradagem de que fala, e que partilhar de um
copo de cerveja se faz numa mesa de um bar com muito mais
propriedade do que numa cama, onde ainda se entorna o precioso
líquido no colchão. A não ser que o que fazem seja muito diferente.
É? É diferente? O que é que fazem na cama?"
"..."
Lembra-vos alguma coisa?
Paulo M.
180
Como se pode - ou não - falar de religião em loja
181
admissível em loja? Vejamos com mais atenção o que se diz. "Que
o Senhor"... Até este início insuspeito pode gerar controvérsia; se,
por exemplo, se pertencer a uma religião que denomine a
Divindade de uma outra forma, é quanto basta para que se sinta a
expressão como estranha. Nesse sentido, não é difícil imaginar
uma situação em que alguém interprete isto como sinónimo de "que
o meu Deus - que não é o teu - te conceda isto e aquilo". "... a
verdade que liberta ...", esta sim, é uma quase certa fonte de
discórdia, por causa da sua mais pequena palavra: "a". Referir-se
"a" verdade que liberta, especialmente junto de um nome
comummente associado a certa religião, implica ser esta verdade
algo de único, que não há outra, e que muito menos há várias.
Referirmos a existência de um único caminho certo implica que
quem não o percorra estará a ir... por caminhos errados - o que é
contrário à ideia de que cada um deva sentir ser respeitadas as
suas crenças de forma que não haja preponderância de quaisquer
outras sobre estas - ou destas sobre quaisquer outras. Isto faz-nos
chegar à última parte: "... e está em Cristo Jesus". Se a todas as
outras fórmulas se poderia, eventualmente, fazer "vista grossa"
quando utilizadas em loja, esta última não é, de todo, passível de
ser aceite, por ser indiscutivelmente própria de uma religião, e por
isso sentida como estranha por quem professe uma fé diversa.
Cada religião tem uma terminologia própria para referir a(s)
divindade(s) a quem presta culto. Forçar seguidores de várias
crenças a utilizar a terminologia de uma delas seria algo de muito
pouco paritário. Para ultrapassar esta dificuldade, a maçonaria
decidiu adotar uma nomenclatura própria, alheia a qualquer crença
ou religião - e por isso equidistante de todas estas - para designar a
Divindade. Assim, em vez de um dizer Elohim, outro Deus e outro
182
Jesus Cristo; em vez de invocar Allah ou Jeová, Krishna ou
Zoroastro, Thor, Zeus - ou a Divindade por qualquer outro nome -
os maçons dizem "Grande Arquiteto do Universo". Essa expressão
designa não um qualquer "deus maçónico" - pois tal não existe -
mas constitui apenas um mesmo nome através do qual todos os
maçons se referem cada um ao seu próprio Deus.
De fora fica também, evidentemente, tudo o que é próprio desta ou
daquela religião. Não faria sentido dizer-se "invoquemos Maria,
mãe do Grande Arquiteto do Universo", ou "O Grande Arquitecto do
Universo é grande, e Mohammed é o seu profeta". Assim, em loja,
apenas nos referimos ao "Grande Arquiteto do Universo". As
pranchas maçónicas - na maçonaria regular - começam sempre: "À
G.·.D.·.G.·.A.·.D.·.U.·. ", uma vez que todo o trabalho é feito "À
Glória Do Grande Arquiteto Do Universo". Cada um dedica o
trabalho que fez ao Deus da sua predileção, mas todos sob uma
"alcunha" comum. Um pouco como cada adepto se refere ao
respetivo clube como "o Glorioso"...
Um dos momentos altos de cada sessão é a Cadeia de União. Uma
vez formada, um dos irmãos profere uma curta oração, que não
deve ser própria de nenhuma religião, e é, as mais das vezes,
espontânea. Pode ser algo como: "Agradeçamos ao Grande
Arquiteto do Universo a graça de estarmos todos aqui, juntos uma
vez mais, e recordemos todos quantos já partiram para o Oriente
Eterno". Dificilmente alguém poderá sentir-se posto de parte
perante tal fórmula, e é precisamente o que se pretende: fomentar
a união, a identificação apesar da diversidade, e o foco naquilo que,
de facto, é comum a todos. Não faria sentido, apesar de a
esmagadora maioria dos maçons da nossa loja ser cristã, rezar-se
um "pai-nosso" na cadeia de união - até porque um dos nossos
183
irmãos é judeu, e sentir-se-ia certamente desconfortável. E mesmo
que todos fôssemos cristãos, o princípio é para manter - basta
recordar que recebemos frequentemente visitas de irmãos de
outras lojas, e nunca sabemos que fé professam...
Esta limitação de expressão pode tornar-se problemática para os
seguidores de certas religiões que tenham por princípio o
testemunho permanente perante os outros dos valores, princípios e
verdades da sua religião - e, no limite, tentar converter os demais
para a sua fé, expondo as fraquezas de uma crença e exaltando a
outra. Quem sinta essa obrigação não poderá sentir-se bem na
maçonaria, pois esta não lho permite.
Apesar de tudo o que disse ser regra apenas vigente em loja e em
sessão ritual, o que acaba frequentemente por suceder é - por força
do hábito por um lado, pela interiorização dos princípios pelo outro,
e por último pela generalização da sua aplicação - desenvolver-se
um certo comedimento nas palavras, e acabar por se evitar a
utilização de expressões manifestamente próprias de uma ou outra
religião, substituindo-as por outras menos passíveis de fazer o
nosso interlocutor sentir-se desconfortável. Assim, não posso
senão agradecer o cumprimento, e retribuir: "Que o Grande
Arquiteto do Universo lhe conceda o discernimento para encontrar -
e saber manter - a Luz!"
Paulo M.
P.S.: Tenho, desde que comecei a escrever aqui no blogue, vindo a
escrever dois textos por semana. Afazeres diversos impedem-me
de manter este ritmo, pelo que irei passar a escrever, no futuro
mais próximo, apenas um texto por semana, ao fim de semana.
Assim que possa passarei, de novo, a escrever mais.
184
A Maçonaria nos dias de hoje
185
O pós Segunda Guerra Mundial foi assim um período de grande
florescimento da Maçonaria, em que os números dos maçons
cresceram até atingirem níveis nunca antes historicamente
atingidos.
186
para muitos, de um resto do passado, em vias de fossilização, em
persistente declínio, precursor da inevitável decadência e do
inexorável arquivamento nas prateleiras das curiosidades da
história! A vida moderna, a tecnologia, o progresso imparável, o céu
que é o limite do pujante avanço da Humanidade, relegavam a
vetusta organização para a sala dos fundos onde as relíquias do
passado acumulavam respeitável poeira...
187
Cada um de nós sente que, por si só, não consegue deixar de ser
apenas um número, inseto numa colmeia, peça de uma imensa
máquina que é a sociedade de hoje. Mas verifica que, inserida num
grupo com dimensão humana, em que todos se conhecem e se
podem conhecer, a individualidade de cada um tem significado e é
reconhecida nesse grupo com dimensão humana. E que, inserido
nesse grupo, os progressos de cada um são reconhecidos pelos
demais, tal como cada um reconhece os progressos dos demais.
Ser um parafuso bem polido num depósito de milhões de parafusos
é irrelevante. Mas ser uma pessoa, um indivíduo, com virtudes a
cultivar, com defeitos a combater, com arestas a polir, no meio de
iguais, também com virtudes e defeitos e arestas, mas sobretudo
sendo cada um UM, diferente entre iguais - isso é gratificantemente
diferente!
188
de novo como coisa do passado. Não é esse o tempo que vivemos.
O tempo de agora é de crescimento, de consolidação, de
valorização. Porque os Valores que recebemos dos nossos
antecessores e que cultivamos para transmitir aos vindouros são
intemporais, essenciais e imprescindíveis para o Homem e para a
Humanidade.
189
Rui Bandeira
190
A interpretação e significado dos símbolos maçónicos
191
Algo de semelhante sucede na maçonaria com os símbolos. Há
símbolos a que se atribui significados convencionados - como o
esquadro que, servindo para traçar ângulos retos, evoca a retidão
de caráter - o que não impede que lhes sejam atribuídos outros
significados. Outros símbolos traduzem uma maior diversidade de
sentidos - como o G que a maçonaria regular coloca entre o
esquadro e o compasso. Símbolos mais obscuros, menos
frequentes e de menor universalidade são por vezes encontrados
num contexto maçónico, mas poderão ser apenas percetíveis e
utilizados num determinado contexto cultural, no âmbito de certo
rito, ou confinados a um perímetro geográfico específico.
Contrariamente ao teste de Rorschach, todavia, o recurso à
simbologia pela maçonaria não tem o fim de constituir qualquer
análise psicológica ou psiquiátrica por um terceiro, mas apenas de
cada um por si mesmo.
A simbologia maçónica - que tem como tema dominante a
maçonaria operativa medieval, a que hoje chamaríamos arquitetura
ou engenharia civil - tem o triplo propósito de estabelecer uma
estrutura e um contexto cultural para os arquétipos universais que
identificam a maçonaria, uma forma sintética de comunicação de
conceitos, e uma cultura de heterogeneidade e tolerância. Cada
símbolo maçónico - normalmente coisas tão banais como uma
pedra ou uma colher de pedreiro - evoca um ou mais significados
que, no seu conjunto, constituem uma matriz semântica que dota a
Ordem de um contexto cultural que, por sua vez, enquadra e dá
corpo aos conceitos e princípios que a maçonaria pretende
transmitir, propagar e perpetuar. Fica assim estabelecida, em torno
dos símbolos, uma linguagem que, de forma sintética, permite a
rápida e eficaz evocação, relacionamento e comunicação de
192
conceitos, bastando por vezes uma simples palavra para transmitir
um conceito complexo no seu contexto adequado. Por fim, ao não
fazer corresponder de forma imposta, rígida e imutável os símbolos
aos conceitos, a simbologia maçónica permite que cada maçon
atinja as sua próprias respostas às importantes questões filosóficas
que a vida coloca.
Contudo - e isto é a minha interpretação pessoal, que vale o que
vale - a maior virtude do recurso à simbologia e à alegoria consiste
no distanciamento que estabelece entre os princípios e a sua
aplicação. Este distanciamento possibilita que a interiorização dos
conceitos decorra da sua aplicação a um sujeito abstrato (e,
mesmo, claramente do foro do mítico e do imaginário), e que só
uma vez absorvida a sua essência e apercebidas as consequências
da sua incorporação no edifício ético e moral individual - o que
pode levar mais ou menos tempo, ou nunca suceder de todo - cada
um aplique então a si mesmo o significado pessoal e personalizado
que atribuiu ao símbolo, interiorizando-o e consolidando-o da forma
que entende ser a que mais se adequa à sua própria realidade e,
por fim - porque, em maçonaria, nada se ensina mas tudo se
aprende - tire partido da lição que deu a si mesmo.
Paulo M.
193
Regra particular
194
para a eleição do Grão-Mestre, efetuada a votação e contados os
votos, apenas seja divulgado quem foi eleito Grão Mestre, não se
divulgando o concreto resultado quantitativo da eleição - isto é, o
número de votos recebido por cada candidato. Mais, os elementos
que integram a assembleia de apuramento dos resultados -
composta pela Comissão Eleitoral e pelos candidatos ou seus
representantes - ficam obrigados a rigoroso dever de sigilo quanto
a esse resultado quantitativo.
195
dos candidatos ou seus representantes. Todos sabem que o
candidato que for anunciado como tendo sido eleito é aquele que,
sem margem para dúvidas ou suspeitas, recolheu mais votos. Isso
é ponto assente!
196
Sobretudo, não implica que não seja ou sejam capazes ou
merecedores para exercer o ofício de Grão-Mestre. Significa
apenas que, naquele particular momento, a escolha recaiu noutro.
Tão só.
197
apenas os que são escolhidos e os que, naquele momento, o não
são. Aquele que foi preterido numa escolha eleitoral não deve ficar,
de forma alguma, diminuído para o futuro. Essa preterição não
significa que não tenha capacidade ou merecimento para o
exercício da função. Significa apenas que, naquele momento
concreto, se entendeu haver outro um pouco mais bem qualificado
ou um pouco mais merecedor de a exercer. E a diferença de valia,
naquele momento, entre ambos, pode ser muitíssimo menor, do
que a expressão eleitoral quantitativa resultante de uma votação.
Não é comum, sabemos, esta regra. Mas é uma regra que protege
e salvaguarda os preteridos numa votação, mantendo incólumes as
suas possibilidades no futuro. E isso já sucedeu! Já foi eleito um
candidato que, na eleição anterior, tinha sido preterido em favor de
outrem. Sem problemas: a generalidade dos votantes não sabia se,
nessa eleição, fora preterido por curta margem ou copiosamente
batido na escolha. A eleição subsequente não foi, assim,
perturbada por um elemento que - manifestamente - não fez falta
nenhum para a escolha então efetuada.
Rui Bandeira
198
O 1º dia como Venerável Mestre
Caros Leitores
199
constitui um excelente exemplo
• ...
200
Como é que se resolve o problema da comparação??? trabalhando
muito todos os dias, buscando levar a Loja ainda mais alto, usando
como alicerces, tudo o que os anteriores Veneráveis "plantaram".
Para todos eles, o meu Muito Obrigado e para mim, Mãos à obra...
201
O Vigésimo Primeiro Veneravel Mestre
Da Loja, sabe ele já que receberá tudo o que houver para dar, A
Loja ao escolhe-lo sabe bem que o espremerá para que dê tudo o
que tem para dar.
202
José Ruah
203
A liberdade na interpretação da simbologia maçónica
204
ligeiramente diferente dos demais. Por isto, é quase certo que, uma
vez estabelecidos, os símbolos "adquiram vida própria",
alterando-se o seu significado com o passar do tempo. Por
exemplo, a Estrela de David é um símbolo que começando por
constituir - de acordo com a tradição judaica - uma marca aposta
nos escudos com que os guerreiros do rei David se protegiam,
adquiriu, a partir de certa altura, um caráter místico, passando a ser
gravado como amuleto ou proteção, e acabando por ser adotada
como símbolo do Estado de Israel.
Não pode falar-se de simbolismo maçónico sem citar a velha
definição de maçonaria: "É um sistema de moral velado por
alegorias e ilustrado por símbolos". De facto, a maioria dos
símbolos usados em maçonaria é evocativa dos princípios morais
com que a maçonaria se identifica. O importante são os princípios;
os símbolos são apenas os meios usados para que não os
esqueçamos. E, uma vez que cada um recorda de forma diferente,
e interioriza o princípio de forma única e pessoal - pois que único,
individual e irrepetível é cada indivíduo e a sua experiência de vida
- seria um exercício de futilidade tentar-se exigir que o significado
dos símbolos fosse sempre o mesmo para todos. De facto, nem tal
seria proveitoso.
Uma das frequentes utilizações dos símbolos é como oportunidade
e meio de auto-análise - e também por isso se diz da maçonaria ser
especulativa - que permita a cada um determinar as suas próprias
"asperezas" no sentido de as "polir". Sendo as "rugosidades do
espírito" diferentes de pessoa para pessoa - apesar da
universalidade dos princípios, que podem aplicar-se a todos - cada
um vê, sente e aplica o princípio a si mesmo de forma distinta da de
todos os demais. Cada um pode, então, especulando, dar ao
205
símbolo os significados que entenda, pois o símbolo é meramente
instrumental - não tem nada de sagrado ou de "conspurcável" com
este processo - para além de que atribuir novos significados a um
símbolo não implica a perda dos significados mais convencionais,
pelo que o diálogo sobre os mesmos continua a ser possível.
Dou-vos um exemplo que se passou comigo. Diz-se das lojas
maçónicas serem "Lojas de S. João". Mas de qual? A resposta
convencional é dizer-se que de dois: de João Batista - conhecido
pela sua retidão e verticalidade, implacável consigo mesmo e com
os outros, a ponto de fazer com que lhe cortassem a cabeça - e de
João Evangelista - apóstolo do amor, cultor da fraternidade, e
promotor da tolerância. Ambos se celebram por volta dos solstícios
- João Evangelista no de Verão, João Batista no de Inverno. Isto
são as premissas. Os princípios a transmitir são os que foram
expostos: o da retidão e verticalidade de espírito por um lado, e o
do amor fraterno pelo outro. Estes significados são mais ou menos
universais na maçonaria. Há quem refira, ainda, que os raios de sol
no solstício de Verão estão no seu ponto mais próximo da vertical,
e no solstício de Inverno no seu ponto mais próximo da horizontal.
Partindo desta pista, ávido de explorar estes símbolos e de fazer
boa figura ao apresentar a respetiva prancha, o aprendiz que eu
era então não se ficou por aqui; procurou especular mais ainda.
Notou que João Batista - o da Verticalidade - era celebrado por
entre uma Luz predominantemente horizontal, e que João
Evangelista - o do amor fraterno entre pares - o era quando a Luz
Solar era mais vertical. Conclusão? "Devemos ser equilibrados e
equilibrantes: retos e justos quando à nossa volta todos falem de
fraternidade e tolerância, e tolerantes e fraternos quando insistam
na aplicação dos princípios de forma implacável."
206
São um significado e uma conclusão com alguma lógica? São -
pelo menos, do meu ponto de vista. É um significado
universalmente reconhecido? Não. E está certo? Ou está errado?
Bom... para mim, parece-me certo, na medida em que foi
instrumental para que aplicasse a mim mesmo os princípios
referidos de forma mais eficaz. Para outros não resultará. Os
símbolos são isso mesmo: instrumentos, meios, meras ferramentas
coadjuvantes na prossecução de um objetivo maior. Aqui posso
dizer: se da "adulteração" do significado "puro" e "convencional" do
símbolo resultou a melhor aplicação do princípio à minha vida
tornando-me numa pessoa melhor, então - porque a ninguém
prejudica o meu entendimento peculiar deste símbolo - o exercício
foi profícuo. Se, para além disso, a alguém aproveitou para além de
mim, então dou-me por muito satisfeito...
Paulo M.
207
Vencedor e... vencedor!
208
colaborador de Luís Nandin de Carvalho e em boa parte também a
ele se devera a manutenção do reconhecimento internacional, após
a cisão. Alberto Trovão do Rosário, professor universitário, obreiro
de uma Loja no distrito de Setúbal, era então menos conhecido,
mas era-lhe reconhecida grande capacidade, profunda estatura
cívica e intelectual e era ardentemente apoiado por alguns Irmãos
que suportavam a sua candidatura.
209
confronto.
210
ocorreu com grande ou pequena vantagem. Não houve elementos
quantitativos a deslustrar a valia qualitativa de ambos os
candidatos. E o Grão-Mestre eleito designou como
Vice-Grão-Mestre o seu opositor na eleição!
Rui Bandeira
211
Os símbolos em Maçonaria: o ensinar e o aprender
212
se recordarem dos ensinamentos que os seus mestres lhes haviam
transmitido. De facto, muitos dos trabalhadores da pedra não
sabiam ler nem escrever, pelo que se socorriam de pictogramas e
representações de objetos para o efeito. Os símbolos não eram
propriamente secretos; o seu significado - as técnicas a que os
mesmos se referiam - é que era apenas revelado a alguns. A
maçonaria especulativa veio a adotar esse método de transmissão
de conhecimento. Assim, hoje como outrora, os símbolos são
auxiliares de memória, instrumentos de suporte ao conhecimento,
verdadeiras mnemónicas- diriamos hoje: são cábulas - que nos
permitem recordar, evocar e especular.
Mas se o seu significado pode ser individualizado, como é que o
conhecimento passa sem se perder, sem se desvanecer, sem se
espraiar numa mar de semânticas? De forma muito simples: para
tudo há um início, e o método consiste, precisamente, em dar a
cada um os pontos de partida, sem estabelecer qualquer ponto de
chegada... Assim, a um aprendiz é, desde logo, ensinado o
significado comum de vários símbolos: o esquadro, o prumo, o
nível, o mosaico bicolor do chão dos templos, a pedra bruta, a
pedra polida, entre outros. É das poucas ocasiões que, em
maçonaria, alguma coisa é verdadeiramente ensinada, e mesmo aí
os significados gerais são dados com parcimónia de explicações e
de forma sucinta e concisa. A cada um é dito, então, que deverá
procurar interpretar cada símbolo de forma pessoal, podendo quer
aplicar o significado original, quer levá-lo até onde o deseje. E é
esse o trabalho do aprendiz: estudar os símbolos, construir um
significado em torno dos mesmos, e aplicá-lo a si mesmo.
E como se mantém um denominador comum? Quando um maçon
se refere ao prumo, os demais sabem que se refere à retidão
213
moral, à integridade, à verticalidade de caráter - aquilo que ouviu
quando, ainda aprendiz, lhe "apresentaram" os símbolos. Contudo,
mais tarde cada um irá interiorizar a seu jeito o que estas palavras
significam. O que será sinal de caráter para um poderá ser
duvidoso para outro; a nenhum, porém, é imposto qualquer
significado universal. E porquê? Porque, se a maçonaria se destina
a tornar cada homem num homem melhor, deve fazê-lo dentro do
absoluto respeito pela sua liberdade. Por isso se diz que em
maçonaria tudo se aprende e nada se ensina, no sentido de que
cada um deve procurar os seus próprios ensinamentos sem
esperar que lhos facultem. Cada um deverá poder procurar, no
mais íntimo de si, o que quer fazer dos princípios que lhe são
transmitidos: se quer segui-los ou ignorá-los, quais aqueles a que
vai dar maior preponderância, e até onde vai levar esse ânimo de
se superar. E é por tudo isto que, sendo essa luta de cada homem
consigo mesmo algo de mais único do que uma impressão digital, a
liberdade individual de interpretação se impõe sobre qualquer
eventual tentativa de normalização do significado dos símbolos.
Paulo M.
214
O quarto Grão-Mestre
215
com a normalidade restabelecida.
216
Este blogue, em devido tempo, registou o pensamento do quarto
Grão-Mestre, quando publicou, entre 30 de outubro e 20 de
novembro de 2006, na íntegra, mas dividido em nove excertos, o
seu artigo "A Actualidade da Maçonaria", originalmente publicado
no boletim da Grande Loja, "O Aprendiz". Ainda hoje vale a pena
reler este artigo. Ainda hoje tem as marcas da atualidade e da
qualidade.
Alberto Trovão do Rosário não foi travão. Foi pausa, foi estudo, foi
prudência. Foi o que era necessário na altura. E o seu trabalho
possibilitou que o seu sucessor estabelecesse o seu rumo, sem
receio de que o terreno da partida estivesse em falso. O vigor dos
passos que se dá também depende da consolidação do terreno em
que esses passos se dão... Hoje, quando o seu sucessor deu já por
terminada a sua tarefa e novo elemento tomou as rédeas da
Grande Loja, podemos com justiça afirmar que o tempo de
consolidação proporcionado pelo quarto Grão-Mestre foi precioso.
Percurso Maçónico
217
• Nestas RRLL desempenhou todas as funções do quadro de
Loja tendo sido VM da RL Santiago por duas vezes e sido VM
da RL Pisani Burnay.
218
• Representante do GC dos MC do Arizona junto do GC de MR e
E de Portugal.
Rui Bandeira
219
A clivagem racial e cultural e o insucesso escolar
220
que constatem encontrar-se acima da média os estudantes de
ascendência asiática, seguidos dos descendentes de judeus e de
indianos, não obstante colocarem os de ascendência africana no
fim da cauda. Os factos foram estes e, tendo sido recolhidos e
tratados de acordo com as melhores práticas e normas da
estatística, não serão passíveis de grande discussão. Já as
tentativas da sua interpretação - e, especialmente, as medidas a
tomar - levantam interessantes questões.
Uma das conclusões hoje em dia mais bem fundamentadas é a de
que a questão não é de modo algum racial, mas cultural, e as suas
raízes podem encontrar-se bem fundo na educação que as famílias
dão às suas crianças desde o berço até que ingressam no sistema
escolar. As expetativas dos pais para com os seus filhos por um
lado, a forma como entendem o papel da escola por outro,
condicionam o apoio - ou a falta dele - que as crianças receberão
do seu núcleo familiar no sentido da obtenção de melhores
resultados escolares.
É assim que, em famílias de ascendência asiática - em que o
respeito quase reverencial para com os mais velhos é um valor
cultural muito forte, e em que o trabalho e o esforço são entendidos
como parte da normalidade da vida e como um caminho para o
sucesso, o que leva os pais a andar "em cima dos filhos" para os
fazer estudar e fazer os trabalhos de casa - as crianças têm, em
média, dos melhores resultados escolares. Por oposição, famílias
em que as crianças tratem os pais com displicência, passem o
tempo livre a ver televisão ou na rua com os amigos, não se
esforçando por obter bons resultados - e, mesmo, chamando a isso
"to act white" (diríamos nós: "armar-se em branco") - não terão as
mesmas alegrias na hora de assinar o boletim das notas.
221
Também importante é a diferente atitude dos pais para com a
escola e para com o seu próprio papel no sucesso escolar dos
filhos. Enquanto que uns delegam por completo na escola todas as
tarefas atinentes ao bom aproveitamento escolar, outros vêem a
escola um parceiro sobre o qual não podem colocar todo o peso da
educação da criança, e outros ainda, desconfiados da eficiência do
sistema escolar, complementam-no das mais diversas formas, de
explicações particulares a escolas de línguas, de música, de estudo
acompanhado, sei lá... Certo, certo, é que será, essencialmente, o
tipo de educação familiar o principal fator determinante para o
sucesso escolar das crianças.
222
Esta questão, apesar de melindrosa, poderia perfeitamente ser
discutida numa Loja como a Mestre Affonso Domingues. A questão
levantada é filosófica, antropológica e, apesar de também política,
não o é de forma partidária ou inevitavelmente conducente a
divisões entre posições tomadas. Traz informação que é,
certamente, útil a que cada um de nós entenda melhor o mundo
que o rodeia, e ajudará, certamente, a combater preconceitos
retrógrados. Estou certo de que qualquer opinião formulada seria
no sentido de se dar prevalência ao respeito pela liberdade
individual, que não haveria qualquer comentário racista - muito pelo
contrário, e que seria salientado que a tolerância só faz sentido se
houver diversidade. No fim, todos manifestariam agrado com o
tema tratado, e cada um sairia com uma posição forçosamente
diferente de todos os demais, mas enriquecida pela exposição a
ideias diferentes daquelas que possuía.
Como vêem - e ao contrário do que dizem algumas vozes - há,
numa Loja Maçónica, muito mais a discutir do que a cor dos
aventais ou a decoração do templo.
Paulo M.
223
Diversidade
224
localização geográfica. Só para falar das Ilhas Britânicas, a
organização específica das Lojas Operativas inglesas diferia das
escocesas, que por sua vez, tinham sensíveis diferenças das
irlandesas. Em França, não se pode falar dos antecedentes
históricos da Maçonaria sem referir a Compagnonage. As
agremiações de construtores da Flandres tinham usos diversos das
italianas e estas das teutónicas. Por isso, quando se afirma que a
Maçonaria Especulativa moderna evoluiu da Maçonaria Operativa -
afirmação que, pessoalmente, considero correta -, é bom que se
tenha presente que esta evolução resulta de diferentes Tradições,
não inteiramente díspares, mas também não totalmente
semelhantes.
225
Continental. Não é de todo a mesma a realidade da Maçonaria
Inglesa e da Latinoamericana. Isto para não falar da diversidade
asiática e da progressiva afirmação maçónica em África.
226
repito - respeitáveis e valiosas. Ambas têm assinaláveis pontos de
contacto entre si, partilham aqui e ali caminhos e princípios e
valores comuns. Ambas têm - sobretudo - a inestimável
caraterística de integrarem homens que procuram ser melhores.
Mas são intrinsecamente diferentes. Para os cultores de cada uma
das vias, essa é a melhor. Intrinsecamente nenhuma é melhor do
que a outra. Apenas diferentes.
227
busca, a sua individual interpretação, o seu diferente caráter, a sua
diversa história, o seu incomparável plano. Buscam todos o mesmo
- o seu aperfeiçoamento -, utilizando o mesmo método, seguindo o
mesmo rito, integrando-se no mesmo grupo. Mas, porque intrínseca
e gloriosamente diferentes, não prosseguem todos o mesmo
caminho, à mesma velocidade e não chegarão aos mesmos
lugares. Embora naveguem à vista um dos outros. Embora se
auxiliem e influenciem mutuamente. Cada um é um diferente
maçom, ainda que na mesma maçonaria.
Rui Bandeira
228
As elites e a curva de Gauss
229
distribuição chama-se "distribuição normal", e a sua universalidade
tem uma explicação matemática. Uma vez que o saber não ocupa
lugar, e o conceito até é fácil de abarcar, vamos a ele.
Tomemos um dado de jogar: um cubo, com 6 faces, em cada uma
das quais está inscrito um certo número de pintas: 1, 2, 3, 4, 5 ou 6.
A probabilidade de cada face ficar por cima é igual para todas as
faces. Suponhamos agora que lançamos o dado uma centena de
vezes. é natural que "saia" cada um dos números o mesmo número
de vezes - entre 16 e 17, uma vez que 100/6 = 16,666666. Até
aqui, nada de novo.
As coisas começam, porém, a tornar-se interessantes se
decidirmos lançar de cada vez não um mas dois dados, e registar a
soma das pontuações. Podemos obter qualquer número de 2 a 12,
inclusive, num total de 11 resultados diferentes, correspondentes
respetivamente de um par de "uns" a um par de "seis". A
probabilidade de se obter qualquer desses números é que não é
igual. Senão, vejamos: para se obter "2" tem que se obter 1 no
primeiro dado e 1 no segundo dado; não há outra forma. Já para se
somar 3, podemos ter 1 no primeiro dado e 2 no segundo (1+2), ou
2 no primeiro dado e 1 no segundo (2+1). Pode, do mesmo modo,
somar-se 4 com 1+3, 2+2 ou 3+1. A soma "7" pode ser obtida com
1+6, 2+5, 3+4, 4+3, 5+2 ou 6+1, ou seja, de seis formas distintas!
Diz-se, por isso, que a probabilidade de obtermos "7" é 6 vezes
maior do que a de obtermos "2". Se somarmos o número de formas
que nos permitem obter um dado número, ficamos com:
Total de "2": 1 (1+1)
Total de "3": 2 (1+2, 2+1)
Total de "4": 3 (1+3, 2+2, 3+1)
Total de "5": 4 (1+4, 2+3, 3+2, 4+1)
230
Total de "6": 5 (1+5,2+4, 3+3, 4+2, 5+1)
Total de "7": 6 (1+6, 2+5, 3+4, 4+3, 5+2, 6+1)
Total de "8": 5 (2+6, 3+5, 4+4, 5+3, 6+2)
Total de "9": 4 (3+6, 4+5, 5+4, 6+3)
Total de "10": 3 (4+6, 5+5, 6+4)
Total de "11": 2 (5+6, 6+5)
Total de "12"": 1 (6+6)
Se lançarmos os dados cem vezes, é natural que obtenhamos a
soma "7" cerca de seis vezes mais do que a soma "2". Os valores
"2" e "12" são mais raros do que quaisquer dos restantes,
ocorrendo em média uma vez em cada 36, enquanto que o valor
"7" ocorrerá em média 6 vezes em cada 36, que é o mesmo que
dizer 1 vez em cada 6. Os valores de "5" a "9", que são menos de
metade dos números possíveis, acumulam entre si 24 em cada 36
lançamentos - ou seja, dois terços, ou quase 67%.
Se repetirmos o mesmo exercício com 3 dados, depois com 4, e
por aí fora, ir-nos-emos aproximando sucessivamente de uma
distribuição normal. É isto mesmo o que nos diz o "Teorema do
Limite Central", de acordo com o qual "a soma de muitas variáveis
aleatórias independentes e com mesma distribuição de
probabilidade tende à distribuição normal".
Em qualquer população heterogénea há, incontornavelmente, quem
se situe no topo, como sucede com a nata do leite que, rica em
gordura, flutua sobre este, e donde vem a expressão "a nata da
sociedade". Do francês - em que "crème" é, precisamente, a nata
do leite - nos vem, precisamente, a expressão "la crème de la
crème", que significa os melhores de entre os melhores. As elites,
termo usado no século XVIII para nomear produtos de qualidade
231
excepcional, viriam a constituir, por alargamento semântico do
termo, grupos sociais superiores, tais como unidades militares de
primeira linha ou os elementos mais altos da nobreza.
Quem tiver lido até aqui não estranhará, agora, ouvir-me dizer que
as elites não são, no fundo, senão uma inevitabilidade matemática
que tem na sua origem a própria diversidade humana. Se
tomarmos como premissa que cada dimensão que procurarmos
medir decorre de uma multiplicidade de fatores, podemos dizer que
enquanto os homens forem diferentes haverá, para cada dimensão,
uns grandes e outros pequenos, uns mais acima e outros mais
abaixo, uns melhores e outros piores. As elites são, tão só, aqueles
que se encontram junto ao limite superior da medida cujo critério
tivermos estabelecido.
Paulo M.
232
O Orador
233
Capelão em outros ritos. Com efeito, o Orador é o oficial da Loja
que tem, além da anteriormente referida, a função ritual de proferir
Orações. Mas isso não quer dizer Preces... A Oração proferida por
este Oficial da Loja é de outra natureza: o Orador tira, de cada
debate, as suas conclusões e nisso deve consistir a Oração final
(no sentido de "intervenção oral") que lhe compete produzir. Assim,
compete ao Orador, no final de cada debate, resumir e organizar as
várias posições que tenham sido expostas e, em função das
mesmas dar o seu parecer ao Venerável Mestre sobre a decisão a
tomar e a forma como deve ser tomada.
234
estabelece diálogo: cada Mestre fala para toda a Loja, não para
uma pessoa em particular. Cada um dá a sua opinião sobre o tema,
não gasta o seu latim e a paciência dos demais a refutar ou criticar
outras opiniões anteriormente expressas: a assembleia é composta
de homens inteligentes, que facilmente podem discernir que se A
entende branco e B amarelo, B não concorda com A e tem uma
opinião diversa dele - não vale a pena afirmá-lo expressamente. A
mera expressão da fundamentação da sua opinião chega para
mostrar a todos as concordâncias e discordâncias com
intervenções anteriores. Em resumo, em Loja não se diz "não
concordo com...", declara-se "o meu entendimento sobre o assunto
em debate é este, por estas razões").
235
Mestre decida em conformidade com o sentido expresso pela Loja,
sem necessidade de votação - ou indica as posições expressas
que, não sendo evidente uma tendência largamente maioritária,
devem ser colocadas à votação pela Loja. O enunciar dessas
posições deve ser claro e inequívoco, para que a Loja, ao votar,
saiba exatamente o que está em causa na escolha que vai fazer.
Quando tal se justifique, seja por das intervenções ressaltar a falta
de elementos suficientes para uma decisão devidamente
fundamentada, seja por se notarem mais dúvidas do que certezas,
o Orador deve recomendar o adiamento da decisão, sugerindo as
diligências a efetuar para possibilitar, em devido tempo, uma
decisão mais esclarecida.
236
No final da sessão, após ter sido concedida a palavra a bem da
Ordem ou da Loja (o que, em reuniões profanas corresponde ao
"período depois da Ordem do Dia"...), o Orador tira as suas
conclusões sobre a reunião. Não se trata aqui de sumariar as
intervenções a bem da Ordem ou da Loja, porque estas, ou são
meramente informativas ou, se carecerem de deliberação, são
apenas introdutórias de um debate a efetuar em sessão futura.
Trata-se de sumariar o que foi feito e deliberado na sessão. Este
breve sumário, para além de evidenciar o trabalho realizado, facilita
a tarefa do Secretário de elaboração da ata da sessão, a ser
aprovada na reunião seguinte.
237
conclusão final do Irmão Orador resumir-se-á ao sumário dos
trabalhos (incluindo a referência a essa Prancha Traçada,
obviamente). Se tal não tiver sucedido, incumbe ao Orador, Mestre
que efetua a última intervenção formal antes do encerramento dos
trabalhos, garantir que a Loja não fique sem matéria para estudo e
meditação, através então de uma brevíssima Prancha Traçada, em
que, mais do que ensinamentos ou proposições, deve levantar
pistas para reflexão. Assim, ficam os trabalhos justos e perfeitos!
Rui Bandeira
238
A pedra bruta
239
Num dos seus sonhos, o seu olhar recaiu sobre um calhau quase
em bruto, semi-enterrado, com um dos lados mais plano - o mais
batido pela intempérie - e o resto, por ter passado a maior parte do
tempo oculto debaixo da terra, ainda cheio de rugosidades e
imperfeições. Algo de familiar lhe chamara a atenção para com
aquela pedra, pelo que a fixou com atenção. Logo acordou, mas
aquele calhau, mais áspero de uns lados, mais liso de outro, não
lhe saía da cabeça.
Só dias depois, ao fazer uma introspeção sobre as suas fraquezas
e as suas forças, se reconheceu, não sem algum embaraço, na
pedra com que sonhara. O seu lado mais polido - aquele, afinal, em
que mais tempo investira, e que era aquele que lhe punha o pão na
mesa - estava, não obstante, rachado e eivado de sulcos aqui, mas
ali ainda com sinais de pouco trabalho e pouca perseverança que
traíam a rugosidade original. Do resto nem valia a pena falar;
precisava de tudo.
Inspirou fundo e quase desistiu; a tarefa era árdua, e não sabia
sequer por onde começá-la. Apercebeu-se, então, que nem sequer
sabia onde queria chegar, pelo que não fazia sentido meter-se,
antes disso, ao caminho. O que deveria fazer dessa pedra que era
ele mesmo?
240
Inquieto, procurou junto de um dos seus Mestres orientações
quanto ao que deveria fazer. Este, à guisa de resposta, mostrou-lhe
dois muros, igualmente sólidos e compactos: um, formado por
pedras de forma paralelepipédica, cada um com as suas 6 faces
laboriosamente aparadas; outro, formado por pedras irregulares
mas firmemente encaixadas umas nas outras, em que apenas uma
ou duas faces - as exteriores - tinham sido polidas, mas essas, oh,
como brilhavam!
Mais baralhado ainda, perguntou ao Mestre que pedra deveria ser,
e o que deveria fazer para o atingir. Deveria ir aparando, nas várias
faces, as rugosidades maiores, esperando que, ao fim de muitas
passagens, a forma se fosse compondo? Ou deveria investir numa
ou duas das faces e ignorar as restantes? Ou, pelo contrário,
deveria trabalhar todas, mas dando forte preponderância a uma ou
duas, e limitando-se a atingir os mínimos nas remanescentes?
241
Respondeu-lhe o Mestre que não tinha resposta para lhe dar. Que
cada um deveria aparelhar a sua pedra da forma que entendesse
ser a mais perfeita, e que o Grande Arquiteto saberia usá-la, como
ficasse, na construção do Templo. Umas, mais toscas, seriam
usadas como enchimento, sem o qual as paredes não teriam
consistência para se suster; outras, mais ornamentadas, seriam
colocadas em lugar de destaque, mas seriam eventualmente mais
frágeis; outras ainda, robustas e fortes, aparadas de forma
milimétrica mas sem quaisquer adornos, tornar-se-iam nas pedras
que susteriam os vãos e as abóbadas. Algumas pedras, pela sua
própria natureza, nunca poderiam servir para certos fins; mas todas
conseguiriam tornar-se úteis para alguma coisa, e tanto mais úteis
quanto mais trabalho tivesse sido despendido nas mesmas.
O Aprendiz olhou então, longamente, a sua pedra, inspecionou
minuciosamente a face mais polida - mas imperfeita - bem como as
outras, rugosas e ásperas, e lançou-se ao trabalho.
.·.
Anos mais tarde, já o Aprendiz chegara, por sua vez, a Mestre,
tendo a oportunidade de ir apreciando os trabalhos dos Aprendizes
242
e Companheiros da sua Loja, e o quanto eram diferentes uns dos
outros. Enquanto uns se esforçavam mais por distribuir o seu
esforço por várias faces - obtendo belas peças geométricas que
formavam um todo harmonioso, em que nenhuma face sobressaía
das demais - outros persistiam em trabalhar a mesma face até que
esta brilhasse como um espelho, ofuscando as imperfeições que
haviam ficado por trabalhar nas restantes, e que podiam, mesmo,
ser vistas como uma promessa de aperfeiçoamento futuro. Em
todas elas o Mestre teve oportunidade de aprender algo de novo. E
apercebeu-se, então, de que o seu Mestre tivera razão, pois que
de nenhuma poderia dizer, com segurança, que fosse melhor do
que as outras.
Paulo M.
243
O décimo nono Venerável Mestre
244
informalmente instituída na Loja Mestre Affonso Domingues. Depois
de, já Mestre Maçom, ter assegurado ocasionalmente alguns
ofícios em substituição do titular, foi eleito Tesoureiro da Loja e
exerceu tal ofício um ano. Seguidamente, cumpriu outro ano no
ofício de Secretário. e depois mais outro no de Orador. Cumpriu
então mais dois anos de exercício de maiores responsabilidades,
assegurando sucessivamente os ofícios de 2.º e 1.º Vigilante.
Inegavelmente, estava bem preparado. Tinha a experiência, a
competência e a vontade necessárias para ter um mandato
auspicioso.
245
todos nós. As prioridades existem e têm de ser respeitadas. Havia
postos de trabalho a assegurar, o sustento e o conforto da sua
família a defender. João F. teve de deixar para segundo plano a
liderança da Loja. Não tinha nem tempo, nem cabeça, para se
dispersar da sua principal preocupação.
O ano em que a Loja foi dirigida por João F. foi, assim, um ano de
relativa acalmia, de alguma pausa, de trabalho de rotina (também
necessário). E também de reflexão e de programação do que se
faria seguir.
246
que a nossa ambição pretendia. Mas fez-se: foi elaborado e
aprovado o regulamento de funcionamento do sítio da Loja na
Internet; organizou-se e realizou-se o já tradicional almoço de
solstício de inverno da Loja, com leilão de objetos doados, para
recolha de fundos para doação a instituição de solidariedade social;
efetuou-se uma ação de doação de sangue, em colaboração com
os escuteiros da Pontinha; auxiliou-se e preparou-se a criação da
Loja João Gonçalves Zarco, ao Oriente do Funchal; a Loja
geminou-se com a Loja Hippokrates, do Oriente de Viena, da
Grande Loja da Áustria; fizeram-se iniciações, passagens e
elevações; apresentaram-se pranchas.
Bem vistas as coisas, que agradável que é olhar para uma lista
destas e considerar-se que só se fez trabalho de rotina, "serviços
mínimos"...
247
inimigo do bom... e que o bom, afinal, não é mau...
Rui Bandeira
248
Quite
Um maçom deve estar sempre quite para com a sua Loja, isto é, ter
cumpridas as suas obrigações para com esta. As obrigações
mínimas do maçom perante a Loja respeitam ao dever de
assiduidade, isto é, à comparência em todas as sessões de loja
para que for convocado, e o pontual pagamento da quota mensal.
249
Não está quite perante si próprio, perante a sua consciência.
Porque, incumprindo o seu dever de assiduidade, sem justificação
para tal, incumprindo, podendo fazê-lo, o seu dever de pagar a sua
quota mensal, o obreiro está, antes de mais, a faltar aos
compromissos que assumiu, respetivamente, de assiduidade e de
comparticipação para o Tesouro da Loja. E o cumprimento dos
compromissos livremente assumidos é uma questão de honra!
Logo, o maçom que injustificadamente falte a uma sessão de Loja
para que foi convocado, que se deixa, sem razão que o justifique,
entrar em mora no cumprimento do seu dever de contribuição para
as despesas da Loja, antes de tudo e cima de tudo sente-se ele
próprio desonrado.
250
por fazer. Assim se fica, de novo, quite. Quite para com a Loja. Mas
sobretudo – e principalmente! – quite perante si próprio!
251
um de nós. Livre, especial, insubstituível e... quite!
Rui Bandeira
252
Meus irmãos em todos os vossos graus e qualidades... ...
... disse!
253
Fez-se silêncio absoluto na Loja - como, de resto, é suposto
acontecer. Todos aguardavam com curiosidade e expetativa as
primeiras palavras que este irmão proferiria em sessão. Contudo,
estas teimavam em não surgir. O silêncio, já denso, adensava-se a
cada segundo que passava sem que fosse quebrado. Visivelmente,
o Irmão debatia-se com as palavras que queria dizer. O esforço
mental transparecia-lhe na face, e começava, decorridos alguns
silenciosos segundos, a ficar visivelmente horrorizado com a
circunstância em que ele mesmo se havia colocado. É que as
palavras não saíam.
"... ... ..."
Nem um sopro se ouviu. Todos partilhavam do esforço, da
atrapalhação, do embaraço do Irmão. Mas ninguém podia
socorrê-lo. Uma vez dada a palavra a um Irmão, só o Venerável
Mestre ou o Orador podem tomá-la antes que esse irmão indique
ter terminado a sua alocução. Não fez, porém, nenhum destes
qualquer diligência nesse sentido, pois todos sentiam que só ele
podia - e só ele devia - quebrar o silêncio que iniciara. E assim foi.
Com grande esforço, recorreu à fórmula com que, em Loja - e por
vezes, fora dela - os maçons indicam ter terminado a sua
intervenção:
"... Disse!"
E sentou-se.
Toda a Loja sorriu de alívio e, prazenteiramente, vários, no fim da
sessão, entre abraços de cumprimentos, lhe disseram ter sido uma
intervenção memorável. E foi-o de verdade - o certo é que nunca
mais a esqueci. Recentemente outro episódio semelhante sucedeu
- de novo com um Mestre recém-exaltado - que me fez, de novo,
recordar o primeiro. Para além do evidente humor da situação, que
254
ensinamentos se pode retirar destes episódios?
Em primeiro lugar, constatou-se que qualquer dos Mestres em
questão aprendera de que forma a sua intervenção teria que
ocorrer: como e quando pedir a palavra, como se colocar para falar,
as fórmulas a utilizar para marcar o início e o fim da sua
intervenção, e o que fazer após ter terminado; nisso ambos foram
irrepreensíveis. Foi, por isso, uma lição de forma, mais do que de
conteúdo, como se alguém experimentasse uma peça de roupa e
se mirasse ao espelho, fazendo-a sua, imaginando-se a usá-la na
rua ou numa circunstância especial, para que, chegada esta, a
roupa nova o não atrapalhasse.
Em segundo lugar, a Loja comportou-se com enorme dignidade.
Apesar de ser uma situação confrangedora - todos partilharam do
evidente desconforto do Irmão que, engasgado, não sabia como
prosseguir - todos se mantiveram impávidos, sem um sinal de
impaciência, sem esboçar um sorriso. A disciplina da Loja revelou
que todos tinham interiorizado o valor do silêncio, que sabiam
praticá-lo, e que não era só coisa de aprendizes e companheiros;
não, o silêncio e a contenção eram para todos.
Em terceiro lugar, veio-se a constatar que esse Irmão - que, da
primeira vez, "entupiu" e quase nada conseguiu dizer - até tinha o
que partilhar, até possuía ideias válidas, até acabou por ter
algumas intervenções muito pertinentes, que se foram tornando
mais sólidas e seguras de cada vez que lhe era concedida a
palavra. E quem não podia, ainda, falar, teve a oportunidade de ver
um outro percorrer o seu caminho, e com isso aprender que apesar
de falar não ser, de início, tarefa fácil, é algo que a experiência vai
ensinando.
255
Falar é, mais do que um direito, um dever dos Mestres. Faz parte
da formação de um homem - e, consequentemente, de um maçon -
saber dirigir-se a uma assembleia e transmitir por palavras o que
lhe vai na alma. Poder ir aprendendo a fazê-lo face a uma
assistência disciplinada, paciente e cooperante é só mais um dos
pequenos privilégios que advêm do facto de se estar integrado
numa Loja Maçónica.
Paulo M.
256
O tempo de Companheiro
257
Não é assim, embora pareça que seja assim. E é assim que deve
ser.
258
explorar. Se errar, aprenderá com o erro. Mas, no final, crescerá
até à responsável maturidade da Mestria. É o que se pretende.
Rui Bandeira
259
A (im)perfeição e as Old Charges (I)
260
no contexto da altura, conferir à Ordem recém criada uma certa
patine, alguma daquela aura de autoridade que só a idade
proporciona. Foi assim que, nesse ano, apareceram diversas
cópias de documentos referente à Maçonaria Operativa - as "Gothic
Constitutions". Face a estas, e não as achando adequadas, o
Grão-Mestre e a Grande Loja ordenaram ao Irmão James Andersen
que as coligisse e elaborasse um novo e melhor Método.
James Anderson, em 1973, com a aprovação da sua Grande Loja,
publicou o resultado do seu laborioso trabalho, no que se tornou
uma das obras que mais influenciou a Maçonaria até aos nossos
dias: o primeiro livro de "The Constitutions of the Free-Masons".
Nele incluiu uma secção chamada "the Charges of a Free-Mason" -
os chamados "Antigos Deveres" - extraída de registos de lojas
"para além do mar", bem como de Inglaterra, Escócia e Irlanda,
para uso pelas Lojas de Londres. Foi assim que James Anderson
fez uso dos antigos manuscritos a que chamou "The Old Gothic
Constitutions", e que citou e parafraseou extensivamente na sua
obra. É por esta razão que, num livro destinado a Maçons
Especulativos, encontramos regras que só fazem sentido quando
aplicadas a Maçons Operativos.
Os "Antigos Deveres" são os documentos históricos que constituem
as tais "Gothic Constitutions". De um total de 119 documentos,
cerca de dois terços são anteriores à primeira Grande Loja de 1717
- talvez uns 75 - e uns 55 são anteriores a 1700. Quatro foram
escritos por volta de 1600, um é datado de 1583, outro de cerca de
1400 ou 1410, e outro será de cerca de 1390.
Quase todos começam com uma invocação: "Que a vontade do Pai
do Céu, com a sabedoria do seu Glorioso Filho, através da graça e
bondade do Espírito Santo, que são três Pessoas num só Deus,
261
estejam connosco no nosso início, e nos dêem a graça de que
governemos a nossa vida aqui de modo que possamos chegar à
Sua felicidade que não tem fim. Amen."
Pode ler-se então o anúncio do propósito e do conteúdo, seguido
de uma breve descrição das Sete Artes Liberais ou Ciências, uma
das quais é a Geometria. Seguia-se uma extensa História
Tradicional da Geometria, Maçonaria e Arquitetura, que tomava
mais de metade do texto, e que se iniciava nos tempos bíblicos de
Noé, terminando no ano de 930, em que o Príncipe Edwin reuniu
uma assembleia de maçons na cidade de York, e estabeleceu os
regulamentos usados "desde esse dia até aos dias de hoje".
A seguir vinha a forma de se fazer um juramento: "Um dos anciãos
segurava o Livro, de modo que ele ou eles pudessem colocar as
mãos sobre o Livro, e então as regras eram lidas." a que se seguia
o aviso: "Que cada maçon tome nota destes juramentos, pois se
alguma vez se vir culpado de ter violado um, que possa
reconciliar-se com Deus. E especialmente tu que vais prestar
juramento, toma atenção ao cumprimento destes juramentos, pois é
um grande perigo para um homem quebrar um juramento feito
sobre um Livro".
Seguia-se a lista das regras a cumprir, algumas de cariz comercial,
outras de índole comportamental. Sem dúvida que eram essenciais
a uma comunidade de artesãos que trabalhavam em grande
proximidade vinte e quatro horas por dia. Por fim, vinha o
juramento: "Estas ordens que ensaiámos, e outras que pertençam
à Maçonaria, iremos guardar, assim Deus nos ajude, e por este
Livro e para o seu poder. Amen."
Paulo M.
262
Elegia a um homem bom
263
Escondi o meu pensamento, proferi as palavras de conforto e
encorajamento que devem ser levadas por quem visita quem está
doente - esperando que às mesmas conseguisse conferir um pouco
de credibilidade. Como é meu hábito (defesa?) nestas situações,
procurei orientar a conversa para temas ligeiros e lançar um par de
larachas que, por momentos embora, desanuviassem o ambiente.
Senti-me grato por ter conseguido vislumbrar um par de sorrisos no
homem doente. Pensei que, quando chegasse a altura de ser eu a
fazer a mesma viagem que adivinhava que aquele homem não
demoraria muito a fazer, também gostaria que alguém conseguisse
fazer-me sorrir - a tal viagem é certa para todos nós, já que todos
temos que a fazer, que se faça bem-disposto...
264
durante o sono - e de novo dei graças por tal. A minha mulher,
imersa na sua emoção, perguntava, insatisfeita, porque eram os
bons que partiam quando tantos maus ficavam por aqui
atormentando os seus semelhantes. Perguntei-lhe se sabia ela que
se estava melhor aqui do que para onde se seguia...
265
Providência ter-lhe dado, a ele e aos seus e a todos nós um pouco
mais de tempo para apreciarmos a nossa mútua companhia? É
humano que o desejemos. Mas a hora foi esta porque a sua missão
aqui fora ultimada, cumprida, realizada - e com êxito! Já o homem
bom era, porventura, mais necessário onde seu espírito agora
prossegue a sua caminhada.
Rui Bandeira
266
Boas festas!
267
A distância não se mede em segundos
268
És meu irmão amigo
És meu irmão
E tu que dormes só no pesadelo do ciúme
Numa cama de raiva com lençois feitos de lume
E sofres o Natal da solidão sem um queixume
És meu irmão amigo
És meu irmão
Natal é em Dezembro
Mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
É quando um homem quiser
Natal é quando nasce uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto que há no ventre da mulher
Tu que inventas ternura e brinquedos para dar
Tu que inventas bonecas e comboios de luar
E mentes ao teu filho por não os poderes comprar
És meu irmão amigo
És meu irmão
E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei
Fatias de tristeza em cada alegre bolo-rei
Pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei
És meu irmão amigo
És meu irmão
Natal é em Dezembro
Mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
269
É quando um homem quiser
Natal é quando nasce uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto que há no ventre da mulher.
Ary dos Santos
JPSetúbal
270
A (im)perfeição e as Old Charges (II)
271
se pense que, sem mais debate, a questão se ficava por aqui, ou
que os argumentos alegados eram desprovidos de substância; pelo
contrário.
272
cada um ia tratando de polir, não seria contrário à mesma
maçonaria aceitar pedras "tortas"? Que Templo Perfeito poderia a
Maçonaria almejar construir à Glória do Grande Arquiteto se as
pedras não fossem todas perfeitas?
273
E um surdo? Ou um cego? Poderão ser iniciados maçons? Não
vejo porque não. Desde que aptos a comunicar, estou certo de que
se providenciaria o que fosse razoável para os acomodar. Um
surdo pode, por exemplo, ler nos lábios; e poderia "falar" por
escrito, à falta de melhor. Um cego pode ouvir e falar - apesar de
poder ser curioso ouvir da sua boca algumas fórmulas rituais que
se referem à Luz e às Trevas, por exemplo, mas basta que
interiorizemos que a Luz e as Trevas, em Maçonaria, são
simbólicas, não precisando nós dos olhos para as poder entender,
para que logo as suas palavras deixassem de soar estranhas.
Paulo M.
274
Paulo Guilherme D'Eça Leal, maçom irreverente
Mas, para mim, para nós, os mais antigos da Loja Mestre Affonso
275
Domingues, foi simplesmente o Paulo Guilherme, um dos nossos,
um pouco, um tudo nada, excêntrico, um espírito vivo e irreverente.
E uma língua afiada também...
276
A idade, a doença e a debilidade foram-no tornando um pouco mais
rezingão do que o habitual. Mas o génio, o vivo espírito crítico, a
autoconfiança, esses, permaneceram sempre. O Paulo Guilherme
foi, de facto, um artista com um génio admirável. A sua ironia
enfeitiçava-me. A sua cultura maravilhava qualquer um.
277
génio, também irreverente, deixará a sua marca na Loja. E então
teremos um pouco da noção do que teria sido a marca do Paulo
Guilherme na Mestre Affonso Domingues.
Rui Bandeira
278
A (im)perfeição e as Old Charges (III)
279
viva constantemente assoberbada com o que vai amanhã colocar
na mesa para os filhos, ou falte mesmo aos seus deveres
familiares, não tem disponibilidade mental para ser maçon - decorra
essa carência económica ou não de deficiência mental.
- Liberdade de pensamento. Uma pessoa que não seja livre de
poder, voluntariamente, alterar a sua forma de pensar não tem
lugar na maçonaria, pois a maçonaria tem como objetivo o
aperfeiçoamento do Homem, e aperfeiçoar-se é, forçosamente,
mudar. Ora, procurar aperfeiçoar-se é sinal de que se admitiu já a
própria imperfeição, e isto só pode ter decorrido de uma
auto-análise - que, por sua vez, só pode ter tido lugar numa mente
suficientemente ordenada para a ter efetuado. Por esta razão,
quem não tenha a capacidade de ver e aceitar como válido um
ponto de vista distinto do seu - o que sucede, por exemplo, com
alguns fundamentalistas, cujas crenças podem ser rígidas a ponto
de que o impeçam de pensar por si mesmo - também não está
apto, independentemente da sua sanidade mental, a ser iniciado.
- Liberdade de agir em consciência. Uma pessoa incapaz de pôr
em prática os seus próprios desígnios e de agir de acordo com os
ditames da sua consciência dificilmente poderia tirar algum proveito
da maçonaria. Se a maçonaria não tiver repercussões na forma de
agir do maçon, então estamos perante um caso de insucesso. É
essencial que o maçon não só tenha uma consciência bem formada
- uma boa noção do bem e do mal - como paute o seu modo de agir
por esses mesmos princípios. Uma pessoa que, em virtude de uma
dependência (do jogo, de uma droga...) que condicione a sua
vontade, não possa agir em consciência - não porque esta não
exista, mas porque a sua concretização esteja fortemente
condicionada - não deverá ser iniciada.
280
Não esqueçamos, por fim, que o conceito de normalidade é
puramente arbitrário e estritamente decorrente das características
da população em que o indivíduo se insira: um indivíduo "normal"
numa população pode ser "anormal" se inserido noutra. A fronteira
tem que ser traçada algures, mas isso quer dizer o quê? Que, se a
pessoa estiver num dia bom, pode ser iniciada, e depois, num dia
mau, é excluída? Mas não temos todos momentos melhores e
piores, de maior ou menor lucidez, uns mais felizes do que outros?
Uma pessoa dependente do álcool a ponto de que isso perturbe a
sua vida quotidiana está tão privada de liberdade de ação como
uma pessoa que tenha o espírito igualmente embotado mas sem
que tal decorra da bebida. Ou um fanático religioso pode ser tão
inabalável e impermeável à mudança quanto um
obsessivo-compulsivo. Não é a deficiência mental, em si mesma, o
obstáculo, mas as limitações - que podem ter variadas origens para
além da deficiência mental - a que a liberdade do indivíduo esteja
sujeita.
Pretender que apenas seres perfeitos e perfeitamente livres se
tornem maçons seria um contrassenso. Por não existirem homens
perfeitos, seria esta uma excelente receita para se acabar com a
maçonaria. Mas, acima de tudo, a maçonaria é um método de
aperfeiçoamento - e só se aperfeiçoa quem não é perfeito. Pedras
polidas não precisam de desbaste - e liberdade absoluta não existe.
Como em tantas outras coisas, aqui só podemos socorrer-nos das
linhas gerais e, para cada caso particular, aplicar uma das mais
importantes regras: a do bom senso.
Paulo M.
P.S.: Este é o meu último texto deste ano. Para todos, um feliz ano
281
novo de 2011!
282