Historia Social Da Escravidao Negra No Piaui
Historia Social Da Escravidao Negra No Piaui
Historia Social Da Escravidao Negra No Piaui
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Mestrando em História Social do Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do
Ceará. Bolsista Capes.
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gerou tensões e conflitos pela exigência de submissão e violência. Lima revelou ainda
através de queixas e denúncias de escravos as formas de limitar a exploração dos cativos
e as reações diretas, como assassinatos e fugas. O historiador evidencia uma série de
atividades desenvolvidas não só nas fazendas, mas no recinto das vilas e cidades,
demonstrando que essas atividades realizadas eram direcionadas ao mercado. Esses
estudos se diferenciam em suas respectivas e abordagens, trouxeram várias
possibilidades de temas que podem ainda ser explorados (LIMA, 2005).
A partir dos estudos feitos por Solimar Lima sobre o sistema de quarta, fica claro
que existia uma rede de relações entre os cativos e livres ou “agregados”, implícita na
documentação oficial. Lima afirma, que os bens dos trabalhadores mortos, por exemplo,
apesar de continuar nas mãos dos administradores das fazendas, eram reclamados pelos
parentes ou descendentes. O sistema de “quarta” pode ter sido um mero instrumento de
controle e disciplina dos trabalhadores escravizados. No entanto, é bem possível que a
reação dos próprios trabalhadores pelo reconhecimento dos seus direitos tenha tido um
peso no desenrolar dessas questões. Apesar de ser difícil mostrar até que ponto a
resistência cotidiana dos trabalhadores escravizados contribuiu para mudar essa
situação, muito se tem feito para entrever na documentação os sinais de ação e
mobilização e negociação em busca de seus próprios interesses. Lima mostra ainda em
seu trabalho, que os agregados das fazendas eram moradores indesejados “aos olhos das
autoridades”, por serem “acusados de matar bois da Nação para o consumo, apropriar-se
de cavalos e, sobretudo, de ‘praticarem desordens e estímulos aos escravos’”. Muitos
desses “agregados”, eram libertos que moravam a muito tempo nas fazendas (LIMA, p.
122-123).
Os cativos estavam em todos os ambientes da vida urbana, nas igrejas, nas casas,
nas ruas, nos becos e travessas, nos morros, nas praças, mesmo diante das proibições
dos códigos de posturas e as estratégias policiais, que tentavam disciplinar a presença
negra em alguns espaços do ambiente urbano sem a devida autorização. Uma rede de
práticas que foram mapeadas pela historiografia da escravidão urbana no Brasil. No
trabalho como vendedores, escravos de ganho que realizavam algum tipo de tarefa
diária, escravos de aluguel, manipulando a pouca liberdade que tinha nas ruas, no
contato com outros escravizados e pessoas livres (ALGRANTI, 1988).
As tarefas domésticas de cozinheiras, lavadeiras, amas e demais empregados e
outras ocupações praticadas nos centros urbanos como sapateiros, alfaiates, carpinteiros,
pedreiros, ferreiros, eram realizadas tanto por escravos quanto por libertos das camadas
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ALGRANTI, Leila M. O Feitor Ausente: estudos sobre a escravidão urbana no Rio de Janeiro
– 1808-1822. Editora Vozes: Petropolis, 1988, p.47.
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SILVA, Mairton Celestino da. Escravos e libertos: uma história da escravidão em Teresina –
1871 -1888. 2005. 132f. Monografia (História) – Centro de Ciencias Humanas e Letras –
Universidade Federal do Piauí, Teresina, 2005. ________. Batuque na rua dos negros: cultura e
polícia na Teresina da segunda metade do século XIX. 2008. 137 f. Dissertação (Mestrado em
História) – Centro de Ciências Humanas Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2008.
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SILVA, Mairton Celestino da. Batuque na rua dos negros: cultura e polícia na Teresina da
segunda metade do século XIX. 2008. 137 f. Dissertação (Mestrado em História) – Centro de
Ciências Humanas Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2008.
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COSTA, Francisca Raquel da. Escravidão e Conflitos: cotidiano, resistências e controle de
escravos no Piauí na segunda metade do século XIX. 2009. 152f. Dissertação (Mestrado em
História) – Centro de Ciências Humanas e Letras Universidade Federal do Piauí, Teresina,
2009.
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FALCI, Miridan Britto Knox. Escravos do sertão: demografia, trabalho e relações sociais.
Piauí. 1826-1888. Teresina: Fundação Cultural Monsenhor Chaves, 1995,
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BRANDÂO, Tanya Maria Pires. O escravo na formação social do Piauí: perspectivas
do século XVIII. Teresina: Editora da Universidade Federal do Piauí,1999.
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FALCI, Miridan Britto Knox. Escravos do sertão: demografia, trabalho e relações sociais.
Piauí. 1826-1888. Teresina: Fundação Cultural Monsenhor Chaves, 1995, p. 38.
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FALCI, Miridan Britto Knox. Escravos do sertão: demografia, trabalho e relações sociais.
Piauí. 1826-1888. Teresina: Fundação Cultural Monsenhor Chaves, 1995, p. 45.
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Emilia, que tinha 15 anos em 1879, pertencia a D. Theodora Maria do Espírito Santo. Quando
Emília nasceu, foram doadas duas novilhas de gado por Thomé, “que se dizia seu pai”, para
constituir pecúlio logo que completasse os 15 anos, e comprar sua liberdade. Até completar a
idade, Emília foi sendo enganada pela sua dona e seus filhos, que se aproveitaram do gado de
Emilia para comer e vender em proveito próprio, ainda por cima sem libertá-la, mesmo após a
morte de D. Theodora, que tinha prometido a libertá-la quando morresse. APEP. Caixa 170.
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CHALHOUB, Sidney. Precariedade estrutural: o problema da liberdade no Brasil escravista
(século XIX). In: História Social, n. 19, segundo semestre de 2010.
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CARVALHO, Marcus J. M. de. Resistência escrava no Brasil: raízes e roteiros de algumas
discussões recentes. In: ALADAA - Associação Latino-Americana de Estudos Africanos e
Asiáticos X Congresso Internacional. Rio de Janeiro, 2000, p. 12. Disponível em:
<biblioteca.clacso.edu.ar/ar/libros/aladaa> acesso: 20-05-2014.
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SCOTT, James. A Dominação e a Arte da Resistência: Discursos Ocultos. Trad. Pedro S.
Pereira. Letra Livre: Lisboa, 2013, p. 254.
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Referências
ALGRANTI, Leila M. O Feitor Ausente: estudos sobre a escravidão urbana no Rio de
Janeiro - 1808-1822. Editora Vozes: Petropolis, 1988.
BRANDÂO, Tanya Maria Pires. O Escravo na Formação social do Piauí. Teresina:
EDUFPI, 1999.
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SCOTT, James. Exploração normal, resistência normal. In: Revista Brasileira de Ciência
Política, n° 5, Brasília, jan-jul de 2011, pp. 217-243.
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SILVA, Eduardo e REIS, João José. Negociação e conflito: a resistência negra no Brasil
escravista. São Paulo: Companhia das Letras, 1989, p. 14.
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KOSELLECK, Reinhart. Futuro Passado: Contribuição à semântica dos tempos históricos;
tradução, Wilma Patrícia Maas, Carlos Almeida Pereira; revisão César Benjamin. Rio de
Janeiro: Contraponto-Ed. PUC-Rio, 2006.
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LIMA, Solimar Oliveira. Braço Forte. Trabalho escravo nas Fazendas da Nação do
Piauí – (1822 – 1871). Passo Fundo: UPF, 2005.
SILVA, Eduardo e REIS, João José. Negociação e conflito: a resistência negra no Brasil
escravista. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
SILVA, Mairton Celestino da. Batuque na rua dos negros: cultura e polícia na Teresina
da segunda metade do século XIX. 2008. 137 f. Dissertação (Mestrado em História) –
Centro de Ciências Humanas Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2008.