Celso Woltzenlogel Metodo Ilustrado de Flauta
Celso Woltzenlogel Metodo Ilustrado de Flauta
Celso Woltzenlogel Metodo Ilustrado de Flauta
Resumo: Esse artigo tem como objetivo abordar os escritos políticos de Delio Cantimori (1904-
1966), entre 1927 e 1940, relativos à situação política e cultural alemã, enfatizando suas leituras
sobre a Konservative Revolution e o nacional-socialismo. Baseado nesses escritos, o artigo
pretende apresentar também como a consolidação do Nazismo interferiu no desequilíbrio
político do continente europeu e na reinterpretação cantimoriana do fascismo, regime o qual,
para o intelectual italiano, perdia sua áurea revolucionaria ao se distanciar dos ideais
corporativistas, implantar uma política militarista expansionista e aderir os princípios
irracionalistas e racistas do nazismo. Esses fatores interferiram diretamente na dissidência de
Cantimori, em meados da década de 1930, quando começava a desenvolver uma simpatia
particular ao projeto político comunista.
Palavras-chave: Delio Cantimori; Fascismo; Corporativismo; Revolução Conservadora;
Nacional-socialismo.
Abstract: This paper aims to approach the political writings of Delio Cantimori (1904-1966),
between 1927 and 1940, about the German political and cultural situation, emphasizing his
readings about the Konservative Revolution and National Socialism. Based on the writings, the
article also aims to present as the consolidation of Nazism interfered in the political imbalance
of Europe and in the cantimorian reinterpretation of fascism, political regime which, for the
Italian intellectual, lost its revolutionary aura, distancing of the corporative ideals, implanting an
expansionist militarist policy and adhering the irrationalist and racist ideals of Nazism. These
factors interfered directly in the political dissidence of Cantimori, in the mid-1930s, when He
developed a particular sympathy with the communist political project.
Keywords: Delio Cantimori; Fascism; Corporatism; Conservative Revolution; Nacional
Socialism.
1
Doutor em História – Programa de Pós-graduação em História – Departamento de História – UFJF –
Universidade Federal de Juiz de Fora. Minas Gerais, MG – Brasil. E-mail:
[email protected].
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religiosidade, ao equilibro político europeu e à formação da Europa Moderna, tomando
o paradigma idealista de seus professores Giovanni Gentile e Giuseppe Saitta como
principal base interpretativa.
Sob a influência do ambiente universitário idealista atualista pisano, se inscreveu
no Partido Nacional Fascista, acreditando ser este o órgão capaz de elevar ética e
moralmente o povo italiano para realizar a verdadeira Revolução Republicana
sindicalista europeísta de Mazzini e de Filippo Corridoni. (CANTIMORI, 1971, p. 285)
Nesse contexto, Cantimori começava a realizar suas pesquisas sobre a formação
da Idade Moderna tendo como fio condutor o exame da trajetória de personagens
históricos os quais – no juízo do estudioso – compartilharam, defenderam e praticaram
uma religiosidade laica, imanente e herética a todas as confissões, pautados na ação
político-religiosa concreta de transformação da estrutura social e mental, mas que
tiveram seus planos reprimidos pelas atitudes conservadoras das igrejas, no período da
Reforma e Contrarreforma.
Em consonância à tal temática, em 1928, Cantimori defendeu sua monografia,
em História da Filosofia pela Scuola Normale Superiore di Pisa, sobre o cavaleiro e
teólogo alemão, Hutten, publicada em 1930 com o título: Ulrico von Hutten e i Rapporti
tra Rinascimento e Riforma.
Em 1931, o jovem estudante concluiu seu curso de Lettere na Universitá di Pisa,
com sua tesi di laurea sobre a literatura e o Estado romântico alemão: L’“Agnes
Bernauer” di Friedrich Hebbel e la rappresentazione romantica dello stato.
(CANTIMORI, 1933 e 1934)
Seu interesse pela cultura, história, literatura e política alemã levou o estudante a
despontar como um dos jovens intelectuais mais atentos às transformações as quais
vinham ocorrendo na Alemanha, após o Tratado de Versalhes.
Em colaboração com a revista fascista Vita Nova, entre 1927 e 1931, Delio
Cantimori redigiu um grupo de escritos sobre a situação política europeia, nos quais se
encontram textos específicos, datados entre 1927 e 1928, sobre Cultura,
Conservadorismo, Nacionalismo, Racismo e o Estado alemão, intitulados como
Germania giovane.
Não obstante, no ano de 1929, Cantimori passou em um concurso para a Cátedra
de História da Filosofia para liceus e se tornou professor no Liceo Classico Dettòri di
Cagliari, onde se fixou até o final do ano letivo de 1931, quando recebeu uma bolsa de
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estudos de seis meses para permanecer em Basileia pesquisando a história dos hereges
italianos perseguidos e exilados durante o Cinquecento.
De volta à Itália, em 1932, como professor do Liceo Classico Ugo Foscolo di
Pavia, Cantimori conseguiu uma nova bolsa para dar andamento às suas pesquisas,
financiada pela Fondazione Volta, a qual lhe proporcionou a oportunidade de viajar e
estudar em diversos lugares da Europa.
Dentre muitos países europeus, Delio Cantimori passou pelos Cantões suíços
alemães, Áustria e Alemanha, absorvendo importantes informações sobre o universo
espiritual do século XVI, a República Weimar e a ascensão do regime nacional-
socialista.
Dessa maneira, ao mesmo tempo em que o intelectual se dedicava às suas
pesquisas sobre o Cinquecento, também redigia resenhas – publicadas principalmente
na revista Leonardo – e fazia traduções para a editora Sansoni, muitas vezes, referentes
à cultura e à política alemã.
Com a erudição adquirida pelos estudos e viagens e apoiado pelo seu ex-
professor Giovani Gentile, em 1934, o estudioso romanholo começou a trabalhar no
Istituto italiano di studi germanici, em Roma. Ali conseguiu maior respaldo para
escrever textos relativos à história política alemã, o conservadorismo e a consolidação
do nacional-socialismo, com o intuito de esclarecer melhor os eventos políticos
vivenciados na Alemanha nazista e a influência destes na Itália fascista.
A partir desses estudos, Cantimori foi percebendo o fortalecimento da cultura
espiritualista racista irracional nazista e a aproximação de Mussolini aos projetos
militaristas e expansionistas de Hitler, decepcionando-se por completo com o regime
fascista, agora visto como incapaz de realizar a revolução ético-moral, necessária para a
formação espiritual do povo italiano.
Portanto, esse artigo tem como objetivo explorar os escritos de Delio Cantimori,
entre 1927 e 1940, relacionados ao universo político alemão, ressaltando os parâmetros
nos quais os estudos cantimorianos sobre a situação política e cultural na Alemanha se
embasaram, em meio à ascensão e consolidação do nazismo, as suas consequências do
fortalecimento do nacional-socialismo para o equilíbrio político europeu e como tudo
isso interferiu na trajetória política e intelectual cantimoriana.
O conservadorismo alemão
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Composto por integrantes unidos em prol de uma maior consciência nacional e
pela hostilidade às decisões de Versalhes e aos princípios liberal-democráticos da
República de Weimar, os conservadores alemães ao mesmo tempo em que lançavam
propagandas nacionalistas pangermanistas e antissemitas, se voltavam com simpatia
para o fascismo italiano e os projetos organizativos de uma sociedade corporativista.
(PETERSEN, 1993, p. 821-822)
Em busca de entender melhor as ideias que impulsionavam aquela nova entidade
política na cena europeia, a qual se dizia misturar preceitos revolucionários e
conservadores, o estudante italiano buscou informações através das revistas
conservadoras “(...) Europäische Revue de Rohan, da Europäische Hefte de Amburgo;
da revista geopolítica de Haushofer, do semanal conservador alemão “Der Ring” (...)
“Neue Schweizer Rundschau” de M. Rychner”. (CANTIMORI, 1965, p. 137)
Nesse contexto, periódicos de esquerda como Weltbühne de Carl von Ossietzky
e Kurt Tucholsky, Tagebuch de Leopold Schwarzschild, Sozialistische Monatshefte de
Rudolf Hilferding, Aktion de Franz Pfempfert, e o Institut für Sozialforschung de
Frankfurt de Horkheimer, Adorno, Pollock, Benjamim, e a Berliner Hochschuler für
Politik e weimarianos como Berliner Tageblett, Frankfurter Zeitung, Vossische Zeitung,
Kölner Zeitung, não chamaram atenção do jovem intelectual italiano. (PETERSEN,
1993, p. 821)
No entanto, a principal referência de Cantimori foi a Europäische Revue dirigida
pelo Príncipe Rohan, intelectual com o qual promoveu um diálogo importante sobre o
europeísmo fascista. De cunho conservador europeísta, essa revista foi fundada em
1925, sob uma concepção da nação como entidade substancialmente imersa na
comunidade europeia, constituída através da consciência histórica e da civilização.
Segundo o intelectual italiano, seu diretor tratava realisticamente os pontos mais
vivos na política internacional, permitindo enxergar como o espírito fascista
correspondia ao novo espírito da juventude europeia, e compartilhava de perspectivas
defendidas por líderes fascistas como Giuseppe Bottaii e Dino Grandiii. (CANTIMORI,
1991, p. 89)
Em consonância com o conservador alemão, o estudioso italiano citava suas
palavras:
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Europa e esvaziar as resoluções defendidas pela Sociedade das Nações, mantenedora do
Tratado de Versalhes e dos interesses particulares de algumas poucas nações.
Em acordo com esta perspectiva, o modelo corporativo italiano se posicionava,
para o intelectual romanholo, como o mais preparado para guiar a Europa contra o
racismo e o nacionalismo agressivo pangermanista.
Segundo Cantimori, apesar de a Grande Guerra ter gerado o positivo
desaparecimento do individualismo alemão, para construir o sentido da vida individual
como parte da nação, ela também deixou o pangermanismo como herança negativa.
(CANTIMORI, 1991, p. 42)
Esta propaganda racista, originalmente francesa – criação dos teóricos da
eugenia como Gobineau e Lapouge –, teria atingido grande parte dos países europeus,
obtendo forte aceitação na Alemanha, onde conectou um grande esforço na construção
de um projeto no qual permitisse exaltar a estirpe, a raça e as eternas qualidades do seu
povo, em dissonância com o continente. (CANTIMORI, 1991, p. 34 - 35)
Sendo assim, aos olhos de Cantimori, o pangermanismo seria um fator de
degeneração da vida espiritual alemã e a Itália deveria permanecer sempre atenta na
defesa do ideal fascista europeísta.
(...) o grande inimigo dessa gente são os hebreus, pais naturais do livre
pensamento e assim hostis à genuinidade do sentimento religioso
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desse povo, que, depois da derrota [na I Guerra], sente, na sua parte
mais elevada, que só com uma alma profundamente religiosa poderá
restituir a nova grandeza.v (CANTIMORI, 1991, p. 28)
Durante boa parte da década de 1930, Delio Cantimori permaneceu fiel à sua
crença no Estado Corporativo Ético como a “terceira via fascista”, acreditando ser o
único projeto oposto ao decadente liberalismo democrático, superior ao modelo
socialista soviético e capaz de formar civil e eticamente a sociedade italiana e europeia,
de maneira que as elites e as massas se unissem em prol da tão almejada Revolução
Republicana mazziniana. (CANTIMORI, 1971, p. 285)
Naquele contexto, o filósofo e também ex-aluno de G. Gentile, Ugo Spirito, se
despontava como um dos principais estudiosos italianos sobre a economia e o
corporativismo.
Ugo Spirito acreditava que o fascismo teria sido o único regime a solucionar os
problemas mais essenciais das sociedades contemporâneas ao reconhecer os sindicatos
juridicamente e igualar o capital e o trabalho, superando o socialismo soviético.
Entretanto, para o filósofo, as nações prósperas seriam aquelas capazes de incorporar os
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princípios econômicos da URSS e não daquelas que os negassem. (SPIRITO, 1933, p.
14 – 15)
Em consonância a esses ideais, em 1932, no II Convênio de estudos sindicais e
corporativos, em meio aos principais estudiosos italianos do corporativismo, Spirito
defendeu sua tese apresentando o conceito de “corporação proprietária” ou
“corporativismo integral”, na qual propunha a fusão entre o capital e o trabalho através
da concentração da propriedade dos meios de produção nas mãos das corporações, com
o intuito de unir o indivíduo e o Estado e superar o comunismo de uma vez por todas.
(PARLATO, 2002, p. 660)
Essa teoria econômica, a qual veio ser acusada de bolchevista pelos fascistas
mais ortodoxos, foi muito bem recebida por Delio Cantimori ao alimentar seus ideais
antiburgueses e sua crítica ao liberalismo. A partir disso, o intelectual romanholo se
tornou um atento admirador da Revolução Russa.
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Segundo Cantimori, uma perspectiva análoga foi oferecida pela obra de Ernst
Jünger, Der Arbeiter, Herrschaft und Gestalt, (CANTIMORI, 1991, p. 220), a qual
expunha o universo alemão onde “as diferenças entre reação e revolução fundem-se de
modo estranho, aflorando teorias nas quais os conceitos “conservador” e
“revolucionário” são identificados, desesperadamente”. (JÜNGER, In: CANTIMORI,
1991, p. 165)
Nesse ambiente, Jünger professava o surgimento de uma “nova aristocracia” do
“trabalhador” de perfil nietzschiano, soldadesco e ascético (CANTIMORI, 1991, p. 167)
semelhante à representação de “nova aristocracia operária” construída por Sorel.
(CANTIMORI, 1991, p. 210)
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Como ressaltou Nicola D’Elia, a vitória do partido nacional-socialista na
Alemanha, em 1932, despertou o interesse da imprensa e da intelectualidade italiana.
Este evento alimentou um forte debate sobre a razão pela qual o povo alemão teria
preferido o NSDAP em meio a tantos outros partidos de orientações nacionalistas que
também defendiam a revisão do Tratado de Versalhes.
Sumariamente, de um lado, havia aqueles os quais acreditavam assistir a
formação de um país inspirado nos fundamentos ideológicos do fascismo; do outro, se
levantava uma série de dúvidas sobre a relação entre Itália e a Alemanha racista
antissemita, nutrindo uma rivalidade ideológica entre os dois regimes totalitários.
(D’ELIA, 2007, p. 61)
A revista dirigida por G. Bottai, Critica Fascista – uma referência para
Cantimori –, foi um dos principais órgãos italianos de informação a direcionar a atenção
para esse episódio político, com a intenção de decodificá-los para decifrar as
características particulares das quais a identidade do partido nacional-socialista foram
constituídas, a fim de fazer uma comparação mais concreta com o Fascismo italiano.
Com o artigo de Gustav Glaesser, La lotta fra razzismo e universalismo nella
Germania di oggi, publicado em 1931, o partido nacional-socialista começava a ser
visto não apenas como um movimento político, mas também como uma “visão do
mundo (Weltanschauung)”. (D’ELIA, 2007, p. 62)
Reforçando essa leitura, o colaborador do periódico, Mario Da Silva, afirmou
que o partido nacional-socialista extrapolava o limite de um movimento político e
portava consigo uma “orgânica concepção da vida política no geral e dos destinos
políticos da nação alemã em espécie, ou seja, para dizer à maneira alemã, de uma
Weltanschauung, uma visão do mundo” e enfatizou o núcleo fundamental racista do
NSDAP, o qual embasava o conceito de nação nacional-socialista, diferente do ideal
fascista e sua nação “como máxima espiritualidade, comunhão de sentimento,
pensamentos, ideais, costumes, etc”. (DA SILVA, 1932. apud. D’ELIA, 2007, p. 62)
Em contraposição, intelectuais como Valentino Piccoli, reforçaram as
semelhanças entre os governos alemão e italiano. Para Piccoli, o nacional-socialismo
despontava como um dos primeiros passos para a concretização do “fascismo
universal”, segundo o qual as diferenças seriam geradas pela adaptação dos preceitos
políticos do regime de Mussolini às particularidades da nação alemã. (D’ELIA, 2007, p.
63)
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Como visto, por parte de Cantimori, esse exercício de análise do universo
político alemão já vinha sendo feito desde 1927. Entretanto, como afirmou Roberto
Pertici, desde a morte de Gustav Stresemannx, em 1929, até a vitória NSDAP, em 1932
– momento no qual a política alemã vivenciava a formação de uma nova conjuntura e o
nacional-socialismo se tornava um dos assuntos mais importantes nas discussões em
relação à política internacional italiana –, encontramos uma lacuna nos escritos políticos
cantimorianos publicados sobre esta temática em específico. (PERTICI, 1997, p. 69-70)
Em busca de tapar esta fenda, D’Elia se deparou e utilizou o texto datilografado
intitulado “Nazis”, no qual Cantimori examinou as vitórias eleitorais do NSDAP e as
reações da imprensa italiana que, segundo o intelectual romanholo, deveria defender a
construção concreta de políticas de aliança e cooperação entre os dois países, não
apenas discursos voltados a uma possível simpatia e semelhança ideológica entre o
nacional-socialismo e o governo fascista. (CANTIMORI. In: D’ELIA, 2007, p. 123)
Nesse texto, Delio Cantimori também defendeu uma maior investigação sobre o
movimento nazista, ressaltando a necessidade de trazer algumas “notícias sobre as
ideias, ideologias, a história do NSDAP (Partido nacional-socialista Alemão dos
Trabalhadores)”, começando pelo resgate histórico da formação do nacional-socialismo,
ligado ao antiliberalismo de Moeller van den Bruck, as bases teóricas racistas de D.
Eckart e Alfredo Rosenberg, a defesa de uma nova religião nórdica neopagã por Guido
von List e a presença do mito do Terceiro Reich.xi Essencialmente, também reforçou as
diferenças entre os regimes e defendeu a superioridade do Estado Corporativo Ético
italiano como a via de superação do capitalismo. (CANTIMORI. In: D’ELIA, 2007, p.
123 – 129)
Em 1933, ainda em viagem pela Europa, em busca dos rastros dos hereges
italianos na cultura europeia do Cinquecento, Cantimori já levava a bagagem intelectual
e política de sua estadia em Basileia, a qual abrira seus olhos para o uso da teologia
como chave interpretativa do universo político alemão e para o recorrente apelo nazista
ao intolerante irracionalismo espiritualista e racista a fim de agitar os instintos das
massas e unificar a nação. (CANTIMORI, 1991, p. 203)
No mesmo ano, Cantimori escreveu uma importante resenha a respeito da obra
do judeu Conrad Heiden, Geschichte des Nationalsozialismus,xii referindo-se
particularmente ao nacional-socialismo. Preocupado com o tom teológico e ideológico
dos escritos os quais vinham abordando o regime nacional-socialista, estimulado pelo
próprio projeto nazista, nesse texto, o intelectual italiano elogiou a importância desse
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trabalho embasado em fontes de primeira mão, classificando-o como a “(...) melhor obra
histórica e crítica e não apologética ou propagandista que se tem sobre o assunto”.
(CANTIMORI, 1991, p. 143)
Entretanto, também ressaltou suas deficiências, realçando a unilateralidade da
obra, suas críticas demasiadamente corrosivas à personalidade de Hitler e,
principalmente, a concepção abstrata referente às forças partidárias nacional-socialistas,
questões as quais teriam levado Heiden a negligenciar elementos ideológicos essenciais
do nazismo.
Segundo Cantimori, a história do NSDAP seria vista como um elemento interno
à formação de um “Estado no Estado, desligando-o do desenrolar dos últimos dez anos
da história alemã, descuidando-se dos elementos espirituais que conduziram os jovens
desse partido e os escritores do nacional-socialismo”. (CANTIMORI, 1991, p. 142-143)
No juízo de Cantimori, seria fundamental reconhecer o valor das ideias e obras
dos irmãos Strasser, os quais, animados por uma forte simpatia pela Revolução Russa e
seu caráter nacional, (CANTIMORI, 1991, p. 170-172) se empenharam no encontro
entre socialismo e nacionalismo, e que tiveram suas ideias e obras diluídas por Heiden
no campo das suas ações político-partidárias gerais. (CANTIMORI, 1991, p.143)
Naquele momento, o intelectual romanholo classificava o nacional-socialismo
ainda como “Confuso e turvo movimento, herdeiro espiritual do pangermanismo racista
pré-guerra, e do estadismo romântico”, incapaz de realizar na Alemanha a síntese do
Estado Ético italiano. (CANTIMORI, 1991, p. 144)
Adolf Hitler era visto como o
(...) guia do maior partido da Alemanha, mas não do partido que ele
queria... Assim, se poderá duvidar se o Nacional-socialismo será
capaz de conseguir aquilo que o Fascismo conseguiu imediatamente: a
formação de um Regime. Isto é, de uma potência estatal sustentada
pelas forças determinadas pela Nação.xiii (CANTIMORI, 1991, p. 145)
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nacional-socialismo, as reformas sociais, as ideologias prussianas e pangermanistas e as
teorias racistas e antissemitas, as quais, na Alemanha, tiveram terreno fértil e
reivindicaram valor universal de Weltanschauung. (CANTIMORI, 1991, p.163)
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ganhando grande espaço entre as reflexões de jovens militantes nazistas, em especial da
Sturmabteilungen (S.A.). (CANTIMORI, 1991, p.169 e 174)
Delio Cantimori ainda explorou o ambiente cultural alemão, reafirmando a forte
presença da teologia na construção do pensamento das vertentes políticas presentes
naqueles anos.
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ressentimentos sociais na Alemanha atual, nacional-socialista.xvi
(CANTIMORI, 1991, p. 187)
Não obstante, após cerca de três meses da redação desse artigo, junto à
intelectualidade e à classe política europeia, Delio Cantimori assistiu a dois eventos que
trouxeram a sensação de instabilidade para o continente e o sentimento da eminência de
uma nova concorrência armamentista: o assassinato do ditador austríaco Englebert
Dolfuss, aliado de Mussolini, e a “Noite dos longos punhais”, expurgo no qual teve
como alvo principal os membros stasserista da S.A. (PERTICI, 1997, p. 73-74)
Esses eventos estremeceram ainda mais a confiança do romanholo em relação à
mentalidade irracional religiosa, a intolerância do regime hitlerista e seu viés belicoso
pangermânico.
Dessa maneira, meses depois de ter redigido seu texto, prestes a ser impresso
pelo Archivio di Studi Corporativi, o intelectual italiano sentiu-se na obrigação de
improvisar uma nota esclarecedora sobre os limites de sua interpretação, perante aqueles
estarrecedores episódios. (SIMONCELLI, 1997, p. 144)
Nessa referência, Cantimori veio a classificar o massacre da S.A. como a
representação da vitória do elemento “militar reacionário” sobre o ideal revolucionário:
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Às vezes, ao ler certa literatura política ou pseudopolítica, mas não
por isto menos difusa, menos lida e menos absorvida pelos ignaros, dá
uma violenta tentação de deixar de nos ocupar desse tipo de gente que
não vale nada, que confunde o interesse dos homens de cultura de vida
nacional com aquele nationales Kitsch, que o habilíssimo ministro
Goebbels já proibiu faz muito tempo, desses seres anacrônicos, dessas
“meias culturas”. Mas depois, vagamos pelas ruas, vemos estes
escritos nas livrarias, nos quiosques das estações, os vemos lidos por
jovens, os vemos, às vezes, discutidos com seriedade e então
pensamos que qualquer coisa deva existir debaixo daquelas
avalanches de palavras e de insolências, sob aquelas evocações de
costumes passados, sob aquelas exaltações dos misticismos frios.
Qualquer coisa de não bem definido, nem definível, que sobre as
aparências rústicas e ingênuas, faz o seu caminho mais e mais e unge.
O filósofo talvez o reduzisse à irracionalidade, o político o chamaria
reação, mas na verdade não se sabe bem que coisa é. Mas o perigoso é
certamente a sutileza com a qual sabe sempre colocar os seus
adversários na situação de acusados, como mornos, incertos, “bestas
intelectuais”, perante a sua teocrática segurança de fé, o seu
entusiasmo aquecido ao máximo, proclamado descaradamente.
Rudemente sim, mas não ingenuamente, e com uma consequência de
decisão, com uma vontade permanente, embora não clara, que não se
deve negligenciar e nem desvalorizar. Atrás dos entusiasmos pela
aristocracia e pela teocracia de Adamo Muller está também o
secretário de Metternich. Adam Mueller era rude e ingênuo, embora
soubesse despertar o entusiasmo das damas nas saletas, mas
Matternich era hábil e forte, e era também um sábio e grande politico.
Não basta ter mostrado a inutilidade do argumento do adversário,
porque o adversário não existe mais. Especialmente quando este
adversário oferece argumentos fáceis e lisonjeiros à preguiça das
massas e aos temores e aos rancores dos indivíduos.xviii
(CANTIMORI, 1991, p. 195)
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Segundo o intelectual italiano, nessa obra, defendia-se que toda publicidade
deveria ser popular e o seu nível de complexidade medido com base na capacidade de
compreensão das mentes mais limitadas entre todos aqueles passíveis de serem
atingidos. Deveriam também ter caráter unilateral, sem se preocupar com a verdade
objetiva, servindo apenas à própria verdade defendida. O exame dos vários direitos não
deveria ser o foco, mas, sim, a implantação exclusiva daquele direito pelo qual a
propaganda é feita. (CANTIMORI, 1991, p.308)
Tendo sido a própria tradução um exercício ideológico-propagandístico, sua
tendenciosa busca pela eficácia teria retirado questões fundamentais dos preceitos
nazistas, como sua essência racista e a maneira nacional-socialista de se comportar
diante dos outros partidos alemães. (CANTIMORI, 1991, p. 309 – 310)
Sendo assim, Delio Cantimori levava para o campo da tradução, o exercício
positivo da análise filológica como ferramenta de entendimento político e histórico, a
fim de desvendar as práticas propagandistas ideológicas tão presentes na cultura alemã,
permeada pelo irracionalismo teológico, tão acionado pelas estratégias nazistas de
manipulação.
Dessa maneira, o intelectual romanholo concluía que
Considerações finais
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e a reedição dos Eretici italiani del Cinquecento, realizada por Adriano Prosperi, abriu-
se uma nova onda de interpretações da trajetória política e intelectual de Delio
Cantimori.
Isso ficou evidente com a jornada de estudos sobre Cantimori, realizada pelo
Istituto Gramsci, a qual gerou uma sessão de artigos publicados pela revista Studi
Storici, onde os textos se dividiram entre os debates sobre o método analítico
cantimoriano e as temáticas dos hereges, Humanismo, Renascimento e Reforma, e as
reflexões políticas de Cantimori sobre a Alemanha e o nacional-socialismo, que agora
entravam em destaque como questão essencial para um melhor entendimento da
trajetória política do intelectual romanholo nos anos de 1930 e 1940.xxii (STUDI
STORICI, 1993)
Impulsionado por esses debates, em 1994, Paolo Simoncelli – ex-aluno de Renzo
De Felice – lançou sua importante obra, Cantimori, Gentile e la Normale di Pisa, na
qual expôs um exame profícuo sobre a relação entre Cantimori, seu professor Giovanni
Gentile e o ambiente idealista fascista da Scuola Normale di Pisa.
Onze anos se passaram e o jornal Corriere della Sera estampava acusações
incisivas de estudiosos como Eugenio Di Rienzo (2005, p.31), Dino Messina (2005,
p.37) e Simoncelli (2005, p.35), entre outros, reivindicando uma maior rigidez nas
leituras do pensamento autoritário fascista de Delio Cantimori e da sua – possível –
afinidade em relação ao pensamento nacional-bolchevique.
Em concordância com esse discurso, em 2007, foram publicados a obra Delio
Cantimori e la cultura politica tedesca (1927-1940) de Nicola D’Elia e, no ano
seguinte, Cantimori e o libro mai edito. O movimento nazionalsocialista dal 1919 al
1933, de Simoncelli, nos quais os autores ressaltaram a existência de uma forte
admiração cantimoriana pelo nacional-bolchevismo, com via de confronto ao
liberalismo democrático e ao capitalismo, que permaneceu até a Segunda Grande
Guerra.
Nesse contexto, esses historiadores se viam impelidos em combater a
“blindagem ideológica” de Delio Cantimori realizada, após a sua morte, por parte de
integrantes da esquerda e pelo seu ex-aluno normalista, (D’ELIA, 2007, p. 10) Adriano
Prosperi, o qual rebateu as críticas dirigidas a ele, defendendo a inexistência de
evidências cabíveis que pudessem assegurar a aproximação de Cantimori com o projeto
político nacional-socialista. (PROSPERI, 2005)
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Entretanto, sem optar pela defesa da subjetividade do ex-aluno em suas leituras
sobre Cantimori ou por perspectivas partidárias carregadas e inspiradas nas leituras de
Simoncelli, é possível identificar abordagens mais pertinentes sobre a trajetória política
de Cantimori, como aquelas apresentadas por Roberto Pertici, P. Chiantera-Stutte e
Luisa Mangoni.
A partir delas, percebe-se com mais clareza que Cantimori foi sim um fascista
entusiasta, ligado à tradição idealista gentiliana, mas que sua crença política fascista se
exauriu após assistir o distanciamento entre regime e o ideal cantimoriano de Estado
corporativos ético, o qual se embasava em componentes racionais e laico-espirituais.
Não foi inspirado no nacional-bolchevismo ou através do apelo simpático ao
nacional-socialismo – como defenderam P. Simoncelli e Nicola D’Elia – que Cantimori
passou a depositar sua esperança no Partido Comunista Italiano, como órgão capaz de
promover uma reforma social, implantando um novo “sistema de verdade”, um novo
mito, um novo humanismo, uma sociedade renovada, (BELARDELLI, 1993, p. 391) na
qual se poderia realizar o seu antigo projeto de elevação ético-moral do povo italiano,
em oposição ao falido projeto político fascista, agora reacionário, racista, próximo do
nazismo, adepto do Pacto Anticomintern, baluarte do anticomunismo europeu.
(PERTICI, 1997, p. 115 e 123)
Foi sim, a partir da sua concepção ético-política do corporativismo, a qual
colocava o fascismo e o bolchevismo como projetos antiliberais bem similares, e por
meio da sua relação com sua esposa, Emma Mezzomonti, e seus contatos com
integrantes do partido comunista, que Cantimori faria sua adesão ao PCI, permanecendo
sempre atento aos prejuízos gerados pelo irracionalismo nazista, e interessando-se, cada
vez mais, pelos preceitos igualitários marxistas e pelos políticos jacobinos e
reformadores italianos, os quais fomentaram suas reflexões sobre a influência da
Revolução Francesa no Risorgimento italiano, dando base para o seu segundo livro:
Utopisti e Riformadori italiani (1794-1847).
Referências
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2013.
Notas
i
Giuseppe Bottai defendia a concepção gentiliana de Risorgimento como revolução espiritual
interrompida, vendo no fascismo a missão de cumprir esse movimento histórico. Foi um dos principais
idealizadores do Corporativismo, não somente como instrumento para harmonizar as classes sociais, mas
como organização totalitária capaz de atingir uma nova fase de vida social, se sobrepondo aos preceitos
capitalistas até anulá-los. Assim, o corporativismo se posicionava como a “terceira via” que deveria
superar tanto o liberalismo como o comunismo. (DI NUCCI, 2002, p. 194 – 197.)
ii
Dino Grandi (1895-1988) fez parte do movimento interventista dos Fascios de ação revolucionária,
escrevendo pelo jornal liberal-nacionalista L’Azione. Inicialmente foi crítico aos Fasci di Combattimento
de Mussolini, mas em 1920 aderiu ao movimento ocupando cargo na direção nacional do PNF. Sua
trajetória política junto ao fascismo foi marcada por críticas e acordos políticos com Mussolini. Com sua
habilidade política, Grandi ascendeu hierarquicamente de forma rápida, tornando-se líder do estado maior
dos quadrumviri, De Bono, De Vecchi, Balbo e Bianchi, os quais foram os responsáveis pela organização
da Marcha sobre Roma. No governo de Mussolini, tornou-se Secretario do Interior, Ministro de Negócios
Estrangeiros e depois embaixador italiano na Inglaterra, onde conseguiu abrandar os conflitos gerados
pela invasão da Etiópia. (MALLETT, 2002, p. 631-633)
iii
Il senso della vita delle nuove generazione è religioso e sociale. Il loro nazionalismo è collettivistico
come il loro socialismo. Per una soluzione della situazione disperata nella quale si trova l’Europa
moderna bisogna guardare al punto nel quale i due miti Nazione e Classe entrano in urto; di lí noi
potremo conquistare, procedendo freddamente, senza invocare miti entusiasmanti, il secolo XX. Da quel
punto si deve partire per realizare in politica l’idea corporativa, in politica estera l’idea di un’ampia
collaborazione internazionale. La nuova coscienza sociale può creare una forma di società organicamente
articolata, nella quale l’individuo rimanga fondamentalmente libero, ma allo stesso tempo sorgano
legami che possano risolvere creativamente, da una parte la lotta delle classi, dall’altra i conflitti
internazionali.
iv
Siamo troppo sicuri di noi, della nostra cultura, della nostra civiltà per dover sempre stare in guardiã e
in ispavento di fronte a pangermanismi o francofilie e via dicendo, e per temere di venire in piu stretto
contatto con la vita degli altri popoli. Sappiamo che l’attenzione e la circospezione e la prudenza non
sono mai troppe: ma queste non devono divenir pregiudizî sui popoli, sulle nazioni, pregiudizî che
servono agli altri per scavare fosse al luogo dei confini, per elevare muri al luogo delle pietre che segnano
fin dove è arrivata l’Italia: fosse e muri che isolano, che impediscono di vedere, che impediscono di
vivere nel mondo, mentre nel mondo e non piú in “casa” noi vogliamo e dobbiamo vivere, per ubbidire al
comando del Duce.
v
(...) il gran nemico di questa gente sono gli ebrei, padri naturali del libero pensiero, e però ostili alla
genuinità del sentimento religioso di questo popolo, che, dopo la sconfitta, sente, nella sua parte piú
elevata, che solo con un’anima profondamente religiosa potrà risollevarsi a nuova grandeza.
vi
Una certa ammirazione e stima che alcuni fra i piú intelligenti e vivaci scrittori del Fascismo dimostrano
per i modi e lo svolgimento della Rivoluzione russa, derivano proprio da una noia estetica per la
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pacchianeria di certi atteggiamenti nostrani, e dalla ammirazione per la sicurezza con la quale i comunisti
russi si proclamano e si mostrano rivoluzionariamente intransigenti, senza richiamarsi a principii piú o
meno immortale nel passato.
vii
Como professor do Liceo Classico Dettòri di Cagliari, lecionando filosofia e direito corporativo e
incentivado pela curiosidade de seus alunos, Cantimori fez suas primeiras leituras sobre Karl Marx,
através do clássico O Capital. (CANTIMORI, 1965, p. 140)
viii
L’“Arbeiter” dello Jünger non è infatti il “lavoratore” delle varie forme di socialismo, utopico o
scientifico, né l’“operaio” organizzato: è invece il “milite del lavoro”, l’asceta costruttore di una nuova
società, la cui rununzia ad ogni personale sentimento e ad ogni motivo d’azione individuale, il cui
atteggiamento di fronte agli altri uomini e il cui contegno generale posson esser paragonati solo con quelli
del “soldato”, del “milite”, come s’è presentato specie verso l’ultima epoca piú meccanica della guerra
mondiale.
ix
Il “borghese” è guardato con disprezzo perché è l’uomo che “assume la sicurezza come uno dei valori
supremi, e determina di conseguenza il suo modo di vivere”: è l’uomo decadente e vile disprezzato dal
Nietzsche, dal Marx, Junker Otto von Bismarck.
x
Gustav Stresemann foi um político da Republica de Weimar, ganhador do prêmio Nobel da paz por ser
um dos principais responsáveis pelo Pacto de Locarno, em 1925, com o objetivo de manter a paz e
organizar as fronteiras alemãs com as nações vencedoras da I Guerra Mundial, e pela entrada da
Alemanha na Sociedade das Nações.
xi
O Mito do III Reich foi definido por Cantimori como uma entidade imanente irrealizável a ser atingida
pela nação alemã. Este mito teria sua origem com a queda do Sacro Império Romano Germânico,
ressurgindo após a queda do Segundo Reich de Bismarck, minado pelo frágil patriotismo da Era
Guilhermina e arruinado pela Guerra e a revolução. No juízo de Cantimori, com o mito do Terceiro
Reich, a nação alemã buscava criar um império formado por todos alemães, com um Estado guiado por
uma elite aristocrática. Entretanto, a questão positiva deste mito, na leitura do jovem romanholo, não seria
aquilo que queria fazer, mas sim o aquilo que queria combater: a burguesia, o nacionalismo chauvinista e
a democracia. (CANTIMORI. In: D’ELIA, 2007, p. 125)
xii
Como enfatizou Luiza Mangoni, em quatro de abril de 1932, Cantimori já havia projetado, junto à
Federico Gentile, uma possível tradução do livro de Heiden pela editora Sansoni, convicto que a obra
seria útil para esclarecer as ideias em relação ao movimento nacional-socialista alemão. (MANGONI,
1991, p. XXXIII). Segundo D’Elia, a proposta estava em voga ainda na carta enviada por Cantimori à F.
Gentile, em oito de fevereiro de 1934, na qual o intelectual se dispunha a deixar seu trabalho de tradução
dos textos de Carl Schmitt e empenhar nesse novo projeto. Entretanto, o sequestro na Alemanha do livro
de Conrad Heiden fez com que Cantimori abandonasse essa ideia. (D’ELIA, 2007, p 66)
xiii
Hitler divenne il duce maggior partito della Germania, ma non del partito ch’egli voleva... Così si potrà
dubitare se potrà riuscire al Nazionalsocialismo quel che è súbito riuscito al Fascismo: la formazione di
un Regime, cioè di una potenza statale, portata dalle forze determinante della Nazione.
xiv
Ora, non si può ancora chiaramente distinguere se il sentimento nazionale dei tedeschi avvilito ed
offeso abbia avuto ed abbia nella Rivoluzione nazionalsocialista una funzione in prevalenza maieutica nei
riguardi di questo desiderio di riforma sociale, di questo bisogno di ricostruzione politica, di affermazione
di una nuova “Weltanschauung”, o se tutte queste affermazione, aspettazioni, speranze, se tutti questi
progetti, stiano in funzione, prevalentemente, della represa nazionalistica ed espansionistica della
Germania, della sua “révanche”. Né si può ancora discernere con precisione se il fervore di rinnovamento
sociale e nazionale stia in semplice funcione ideologico-propagandistica di uma reazione del capitalismo
industriale-agrario tedesco allo slancio di conquiste operaie e popolari degli ultimi decenni, reazione che
si fonderebbe col motivo di rivendicazione nazionalistica di fronte alle altre potenze europee, o se a lor
volta i motivi nazionali e tradizionali nascondono un distacco completo e totale dalla concreta tradizione
storica della Germania moderna, bismarckiano-guiglielmina, prussiana.
xv
Era naturale che nella Germania, paese teologico, e nella Germania del dopoguerra, rica di sètte, di
nuovi misticismi, di movimenti sentimental ed irrazionalistici come forse solo negli anni che
accompagnarono e precedettero la violenta manifestazione religiosa luterana del bisogno di rinnovamento
e di reforma della vita sociale in genere e della sua specie ecclesiastica in particolare, questo contrasto
assumesse forma ed aspetto teologico e religioso.
xvi
Date le teorie razzistiche e le loro conseguenze “socialistiche” le manifestazioni di sentimenti e
risentimenti sociali dovevano di necessità rivolgersi contro lo “straniero” “borghese” (come vien sempre
rivelato nella propaganda ufficiale nazionalsocialista) o “dissolvitore dell’unità völkisch” e quindi in
sostanza ostacolo alla realizzazione del “deutsches Sozialismus”. L’ antisemitismo tedesco odierno è
insomma nella sua sostanza uma delle forme, che qui non giudicheremo, con le quali si manifestano, sai
pure deviate su binarî morti, le aspirazioni e i risentimenti social nella Germania odierna,
nazionalsocialista.
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xvii
Para um melhor esclarecimento daquele evento, Cantimori indicou uma interpretação contraposta à
sua, presente no texto de Mario Silva, Lettera dalla Germania, publicado em novembro de 1934, na
revista Critica Fascista , que segundo D’Elia, enxergou os acontecimentos de trinta de junho como a
consagração do Estado sobre o primado revolucionário, deixando-o sob os interesses dele próprio. Sendo
assim, o nacional-socialismo teria saído reforçado de uma grave crise, solucionando as
incompatibilidades nazistas de movimento e de Estado. (D’ELIA, 2007, p. 76.)
xviii
A volte, a leggere certa letteratura politica o pseudopolitica, ma non perciò meno difusa, meno letta e
meno assorbita dagli ignari, afferra violenta la tentazione: lasciamo di occuparci di questa gente, che non
vale nulla, che confonde l’interesse degli uomini di cultura alla vita nazionale con quel “nationales
Kitsch” che l’abilissimo ministro Goebbels ha già da tempo proibito, di questi esseri anacronistici di
queste “mezze culture”. Ma poi giriamo per le strade e vediamo questi scritti nelle librerie, nei chioschi
delle stazioni, li vediamo letti dai giovani, li vediamo a volte discussi con serietà: ed allora pensiamo che
qualcosa ci debba pur essere sotto quelle valanghe di parole e di insolenze, sotto quelle rievocazioni di
costumi passati, sotto quelle esaltazioni pei misticismi a freddo. Qualcosa di non ben definito, né
definibile, che sotto le apparenze rozze ed ingenue si fa strada sempre piú, ed incalza: il filosofo forse lo
ridurrebbe all’irrazionalità, il politico lo chiamerebbe reazione, in verità non si sa bene che cosa sai. Ma
pericoloso è certo, per la sottigliezza con la quale sa sempre porre i suoi avversarî in istato d’accusa,
come tiepidi incerti, “bestie intellettuali”, di fronte alla sua teocrática sicurezza di fede, al suo entusiasmo
riscaldato a bianco, proclamato sfacciatamente:rozzamente sí, ma non ingenuamente, e con una
conseguenza di decisione, con una volontà permanente se pur non chiara, che non sono affato da
trascurarsi, né da sottovalutare. Dietro gli entusiasmi per l’aristocrazia e per la teocrazia di Adamo Muller
sta pure il segretario del Metternich. Adam Mueller era rozzo e ingenuo, benché sapesse destar
l’entusiasmo delle dame nei salotti, ma il Matternich era abile e forte, ed era anche un saggio e grande
politico. Non basta avermostrato la vanità dell’argomento dell’avversario, perché l’avversario non esista
piú. Specialmente quando questo avversario offre argomenti facili e lusingatori alla pigrizia delle masse
ed ai timori ed ai rancori dei singoli.
xix
La traduzione di un autore famoso è sempre cosa difficile. Ma quando questo autore è un uomo
politico, vivente, in una posizione politica eccezionale, la cosa diventa anche più difficile e delicata.
Delicatissima diventa poi quando ci sono precedenti come quelli che ho ricordato all’inizio, quando cioè
la traduzione diventa per se stessa un atto politico, e questo atto politico deve essere compiuto tenendo
conto di precedenti di notavele importanza.
xx
Muitos dos estudiosos advertiram que 1934 seria o ano da mudança política italiana. Realmente, nesse
contexto, ocorreram questões importantes para essa transformação, como a Lei instrutiva das corporações,
que gerou forte insatisfação entre os idealizadores do corporativismo fascista. Como consequência,
ocorreu uma verdadeira diáspora de intelectuais que defendiam o ideal corporativo, próximo ao daquele
do ex-ministro Bottai – que, em 1952, veio a afirmar que, naquele momento, “o corporativismo entendido
como sistemática tendência a uma ordem qualificada pela corporação acabou” – e do filósofo Ugo
Spirito, que teve seus estudos interrompidos, perdeu sua cátedra pisana de política e economia corporativa
e foi transferido para o Magistério de Messina, por ser considerado defensor do “bolchevismo”. Fruto
dessa crise política e filosófica, o mesmo Spirito lançava, em 1937, seu livro La vita come ricerca, no
qual deixou claro seu abandono do fascismo e do pensamento atualista. PERTICI. Op. cit. 1997. p. 116.
xxi
Emma Mittempergher era alemã e, após seu casamento com Delio Cantimori, teve seu sobrenome
italianizado como Mezzomonti. (VITTORIA, 2013, p. 16)
xxii
Participaram A. Prosperi, Massimo Firpo, Giovanni Miccoli, Antonio Rotondò, Silvana Seidel
Menchi, Corrado Vivanti, Bruno Bongiovanni, Enzo Collotti e Jens Petersen.
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