Sob Regencia Deus

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Sob a Regência de

Deus
O diferencial na vida de um músico
Sob a Regência de
Deus
O diferencial na vida de um músico

Daniel Azevedo
200 p. ; 21 cm.

978-85-67302-43-0
Apresentação

A música é parte integrante da vida diária, sendo ela


percebida de modo consciente ou não. O poder inerente de
melodias, ritmos e harmonias são desconhecidos pela maioria
das pessoas que, constantemente, estão expostas a esta grandiosa
forma artística.
Alguns anos atrás tive o prazer de conhecer esse criterioso
músico, autor desta obra, que se tornou meu irmão e amigo. Sua
história de vida, sua fé, seus conhecimentos de ciência e arte se
complementam.
Através das páginas deste livro, o leitor embarcará em uma
viagem, onde os sonhos se deparam com as realidades e os
desejos se conflitam com princípios. No mundo em que vivemos
hoje, não é muito comum vermos grandes preocupações em
relação a “princípios”. Essa despreocupação pode ser uma forma
clara de externar o egoísmo que existe em cada um de nós.
No decorrer dos capítulos, você verá que o autor quebra
vários paradigmas em relação às atitudes e influências,
visualizando o melhor não somente para si mesmo, mas também
para o próximo.
As questões humanas vão muito além dos nossos
horizontes. A visão física é apenas uma parte nesse processo e
aquele que consegue enxergar com os olhos da fé, amplia sua
visão e compreensão de forma imensurável. Nesse contexto o
autor trava lutas pessoais com verdades que aos poucos se
descortinam claramente em seu dia a dia.
As histórias possuem um poder fantástico de nos conduzir
a outros mundos e situações, onde não vemos o tempo passar e o
aprendizado se torna muito prazeroso. Tudo isso você
encontrará neste livro que também inclui embasamento científico
que provavelmente causará surpresas e fortes impressões.
É importante não permitir que os preconceitos impeçam o
desenvolvimento de nossas compreensões; é importante buscar
sabedoria, com inteligência a todo o momento, para decidir sobre
todas as questões de nossa existência; e é claro, sabedoria para
decidir sobre a questão musical também.
Apresento um texto bíblico para reflexão:
“Não sejas sábio a teus próprios olhos; teme ao Senhor e
aparta-te do mal” - Provérbios 3:7.
Com essa atitude com certeza estaremos “Sob a Regência
de Deus”.

José Elias Dotti


Bacharel em Música com habilitação em Regência Coral pela Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Pós-Graduado em Regência Coral e Capacitação
para Docência, pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP). Maestro,
professor e arranjador musical. Regente do Coral Vívere, projeto do Programa UCS
Sênior da Universidade de Caxias do Sul, RS.
Apresentação

Daniel Azevedo é um jovem que procura, juntamente com


sua esposa e filha, levar a sério as verdades reveladas por Deus.
Tive o privilégio de conhecê-lo e trocar ideias sobre diversos
assuntos, inclusive música.
Em um mundo com uma infinidade de estilos musicais
devemos parar e analisar se todos eles agradam a Deus, ou se
estão mais saciando nossos gostos do que nos aproximando do
Altíssimo. Entendemos que há muitos desafios na questão da
música em relação ao ideal de Deus, pois é verdade que em nossa
esfera humana e degradada nem ao menos sabemos exatamente
como é o ideal. No entanto, tendo em vista que o Senhor deseja
através de Sua palavra nos mostrar Sua vontade, Ele nos revelou
muitos aspectos para que saiamos da apatia e nos aproximemos
dEle o máximo possível.
Neste livro o autor descreve sua trajetória de vida. Ele
apresenta sua história desde a infância, juventude até o momento
em que se tornou instrumentista e conta, com detalhes, como se
desvinculou das apresentações seculares para chegar onde está
agora.
O autor teve a preocupação de apresentar também
inúmeros textos bíblicos e de outros autores para embasar seu
ponto de vista, que é o defendido pela Igreja Adventista do
Sétimo Dia como ele mesmo insere ao longo do livro.
Além de uma linda história de conversão que permanece
até os dias atuais, você encontrará muitas informações sobre
estilos de música diferenciados, a música e o funcionamento do
corpo, entre tantos outros pontos que não falarei para deixar
você com desejo de iniciar a leitura o quanto antes.
Recomendo fortemente a leitura do livro “Sob a Regência
de Deus” para todos os que querem compreender mais sobre o
assunto da música e da verdadeira adoração ao Grande Deus, de
acordo com o que nos foi revelado em Sua palavra.

Rogério Silva
Bacharel em Teologia pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo
(UNASP). Pastor distrital na Associação Sul Rio-Grandense da Igreja Adventista do
Sétimo Dia.
Agradecimentos

Ao meu Salvador e Senhor Jesus Cristo, por toda inspiração


e direção na concretização deste projeto.
À minha mãe, Sra. Vera Lúcia, por todo seu amor e por sua
dedicação.
Aos meus queridos irmãos, Marco e André. Vocês fazem
parte de tudo isso.
À minha amada esposa, Regina, por toda sua paciência e
por seu apoio. Obrigado por ser assim como você é. Eu te amo
muito!
Ao maestro José Elias Dotti, por suas orações e por todo
seu apoio desde o início da minha caminhada com Cristo. Você
me inspirou a não desistir da música.
A todos os que, de algum modo, me incentivaram a
escrever e a compartilhar as experiências aqui registradas.

Daniel
NOTA: Algumas pessoas citadas neste livro tiveram seus nomes
trocados, a fim de proteger suas privacidades.
Prelúdio | 13

Prelúdio

Pela contemplação, somos transformados. Palavras,


sensações, atitudes, hábitos e posturas são impressos em nossa
mente, de modo muito interessante, através da música que
ouvimos e praticamos. Então, como podemos fazer escolhas
sábias diante da ilimitada variedade de opções que atinge nossos
ouvidos por meio de um vasto cardápio de gêneros e subgêneros
musicais? Por que informações relevantes sobre a influência da
música permanecem apagadas pela ditadura da mídia? Como
identificar problemas e soluções, quando estou andando às cegas,
me deixando guiar apenas pelo prazer gerado pelos sons?

Após dez anos de experiência profissional como baixista ao


lado de cantores, bandas e projetos instrumentais do cenário
musical porto-alegrense (1995-2005), o encontro com Jesus Cristo
por meio do exame das Escrituras me trouxe para a realidade de
uma guerra travada na mente humana. Nesse conflito, que tem
resultados eternos, a música tem sido uma das mais eficazes
estratégias do inimigo de Deus para alcançar o êxito em seus
planos.

As dúvidas expostas acima, somadas ao profundo desejo


de conhecer mais sobre a música que agrada a Deus, me
conduziram por um caminho de observações, descobertas e
novas aventuras musicais. Parti em busca de respostas, através
da oração, da leitura e da fé prática. Conheci, assim, a
dependência de um Deus amoroso ao me sujeitar à Sua vontade.
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Ao ler este livro, você poderá contemplar Suas


maravilhosas revelações em minha vida nos últimos anos.
Muitos milagres ocorreram antes, durante e depois de minha
conversão. Esse tempo para mim tem sido um período de lutas,
quedas e vitórias, dia após dia; também de crescimento, ao tomar
novas decisões acerca do que é realmente mais importante que é
fazer a vontade de Cristo ao invés de seguir o meu coração
vulnerável e familiarizado a tudo o que nos separa de Deus.

“E todos nós, que com a face descoberta contemplamos a


glória do Senhor, segundo a sua imagem estamos sendo
transformados com glória cada vez maior, a qual vem do
Senhor, que é o Espírito.” – II Coríntios 3:18 (NVI).
Traçando os primeiros planos musicais | 15

Capítulo 1

Traçando os primeiros
planos musicais

“O coração do homem traça o seu caminho, mas


o Senhor lhe dirige os passos.”
Provérbios 16:9 (ARA)

Nasci e cresci na cidade de Porto Alegre, que é a capital do


Estado do Rio Grande do Sul, no Brasil. Desde a infância, sempre
me senti envolvido e atraído pela música. Podia ouvi-la no rádio,
nos programas e comerciais de TV, nos filmes e na escola. Meus
presentes, muitas vezes, eram discos de vinil com histórias ou
canções infantis.
Apesar do forte movimento cultural tradicionalista
existente no sul do Brasil, meus pais ouviam diferentes gêneros
musicais em casa: música popular brasileira, rock and roll, soul
music e jazz. A música era um elemento presente em todos os
momentos.
Mais tarde, comecei a ouvir música popular de todos os
tipos. Costumava colecionar fitas k-7 e discos de vinil, além de
ouvir diversas estações de rádio. Tive contato também com a
música erudita de diferentes períodos, por intermédio de outros
familiares que a apreciavam e possuíam caixas com coleções de
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discos contendo textos explicativos, biografias resumidas de


compositores famosos e muitas ilustrações.
Apesar de naquele momento de minha vida não possuir
nenhum discernimento sobre a música dos diferentes períodos
históricos e suas respectivas características, as sonoridades dos
períodos Barroco e Clássico, em especial, me fascinavam. Passava
horas ouvindo obras de compositores como Antonio Vivaldi,
Wolfgang Amadeus Mozart, Ludwig van Beethoven e outros.
Contudo, o impacto da música popular no sistema sociocultural
mundial, fortemente propagado pela mídia, principalmente pelos
canais de TV, exerceu uma poderosa influência sobre a minha
mente. Eu desejava tocar instrumentos comuns à música popular,
como teclado, guitarra ou bateria.
Ainda no ensino fundamental, passei a ouvir uma estação
de rádio FM alternativa que tocava predominantemente o gênero
musical rock e seus subgêneros, como o hard rock, o rock
progressivo, o heavy metal, o punk rock, etc. Nessa mesma época
meu pai me levou a um show da banda de rock Engenheiros do
Hawaii, que era formada por três músicos gaúchos. Este foi o
meu contato inicial com o ambiente teatral de um espetáculo, que
é constituído por palco e plateia, lugar do ídolo e lugar dos fãs,
respectivamente. Eu não imaginava o quão poderosas seriam
essas impressões sobre minhas futuras decisões pessoais e
profissionais. Também foi essa a primeira vez em que meus
ouvidos foram expostos a intensidades de som extremas por
tanto tempo. Ao final daquele concerto, meus ouvidos pareciam
fechados e havia como que um zumbido permanente durante
algumas horas. O que eu não imaginava era que, anos mais tarde,
esses sintomas se tornariam parte da minha rotina semanal de
trabalho, trazendo sérios prejuízos para a minha audição.
Como resultado daquelas impressões estéticas e sonoras,
com quatorze anos já sonhava em formar uma banda de rock com
Traçando os primeiros planos musicais | 17

amigos da escola. Havia uma disputa entre qual de nós seria o


baterista, mas a briga logo teve fim quando, ao visitarmos uma
loja de equipamentos musicais, comparamos os preços de
baterias com os demais instrumentos. Este kit de tambores e
pratos (bateria) custava muito mais caro do que imaginávamos.
Eu não estava interessado em guitarras e assim, escolhi o
contrabaixo elétrico como o “meu” instrumento. Esta escolha
deveu-se ao seu tamanho maior, ao seu timbre grave e
imponente e também ao seu número reduzido de cordas que
chamavam a minha atenção.
Adquirimos instrumentos bem simples, os mais baratos
que pudemos encontrar. Eu e meus amigos de escola nos
reuníamos aos finais de semana por muitas horas de ensaio e
convívio musical. Em pouco tempo, estávamos frequentando
cursos em escolas de música.
No início da década de 1990, o hard rock e o heavy metal
eram os estilos predominantes no meu círculo de amizades.
Durante o ensino médio, meus colegas e eu costumávamos
passar horas nos chamados sebos1 de discos, pesquisando sobre as
nossas bandas favoritas, negociando LPs2 usados e aumentando
nossas coleções. A influência dos amigos sobre meu estilo de
vida foi muito forte. Ao contemplar seus hábitos, me apropriei de
seus gostos musicais, bem como do modo como se vestiam e
deixavam o cabelo crescer.
Algumas cenas desse período ficaram bem gravadas em
minha memória. Por exemplo, em 1992, assisti aos shows das
bandas britânicas de heavy metal Black Sabbath e Iron Maiden
realizados num grande ginásio de Porto Alegre, o mesmo local
onde eu estivera anos antes assistindo aos primeiros concertos de
rock. Mas naqueles últimos eventos, a atmosfera era semelhante a
1
Lojas de discos de vinil e CDs usados.
2
Long-Plays ou discos de vinil.
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um culto de adoração, onde uma grande massa humana cantava


em coro canções que traziam o ocultismo como tema central. A
multidão, hipnotizada pelos sons em altíssimo volume, imitava
os gestos e a aparência de seus ídolos. Luzes, cenários, efeitos
visuais e pirotécnicos tornavam o espetáculo ainda mais
impressionante e atraente para os fãs.
Naquele tempo eu não tinha nenhuma consciência dos
males inerentes, e nem do poder destrutivo, de todo esse
conjunto de estímulos sonoros e visuais. Outros fatores pesavam
em minhas escolhas: a influência e a pressão do grupo, o orgulho
pessoal e a sensação de prazer e euforia associada àquelas
músicas.
Com o passar do tempo meu gosto musical mudou. As
antigas bandas de rock pesado já não me agradavam e minha
atenção estava agora no virtuosismo da música instrumental.
Procurando ouvir estilos musicais com ênfase no
contrabaixo, eu retornava às mesmas lojas de discos para realizar
novas pesquisas. O cenário artístico local de Porto Alegre
também atraía a minha atenção. Músicos talentosos
desenvolviam seus projetos instrumentais misturando rock, jazz,
ritmos latinos, música regional e outros gêneros em composições
abarrotadas de solos e arranjos bem elaborados.
Em 1994, enquanto assistia a um desses shows
instrumentais, fiquei extremamente impressionado com a técnica
dos músicos. Todo aquele virtuosismo exercia um grande
fascínio sobre o público. Naquele momento um sentimento
diferente cresceu em meu coração. Almejei percorrer uma
trajetória como baixista até atingir um elevado nível musical.
Desejei estar um dia sobre o palco, ocupando o lugar dos
músicos e sendo o alvo das atenções, dos aplausos e da
admiração da plateia. Com determinação, pensei: “É isso! Esse é
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o caminho que vou seguir. Quero me tornar um instrumentista


profissional”.
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Capítulo 2

Um novo caminho
para a felicidade

“Cada um é tentado pela sua própria cobiça,


quando esta o atrai e seduz.”
Tiago 1:14 (ARA)

“Pedis e não recebeis porque pedis mal, para o


gastardes em vossos prazeres.”
Tiago 4:3 (AEC)

Com as economias de um estágio, pude adquirir meu


primeiro contrabaixo elétrico importado, um instrumento de
qualidade mediana e de fabricação asiática, porém incrivelmente
superior ao meu primeiro contrabaixo. Poucos meses depois, ao
concluir o ensino médio, decidi viver somente para a música e
assim percorrer um caminho profissional através da arte. A partir
de então a prática do contrabaixo passaria a ocupar todo e
qualquer tempo livre. Meu alvo era progredir rapidamente,
crendo que, tão logo me tornasse “um dos melhores”, mais cedo
estaria inserido no meio artístico profissional e poderia
sobreviver somente da música. A cada dia, os sentimentos de
egoísmo e orgulho eram alimentados. É triste admitir isso, mas
eu gostava de chamar a atenção e procurava elogios acerca de
Um novo caminho para a felicidade | 21

meu desempenho musical. Essa é uma postura ingênua que pode


nos conduzir por um caminho repleto de armadilhas.
Ainda no ensino médio conheci um notável amigo com
admirável musicalidade. Jônatas estudava bateria e com ele
aprendi muito sobre os diferentes ritmos da música popular.
Costumávamos ouvir e conversar sobre música durante horas.
Nós dois morávamos na zona sul de Porto Alegre e
permanecíamos sempre em contato, ligados aos mesmos
interesses musicais.
Esse mesmo jovem era também muito religioso e
costumava falar sobre Deus e sobre a Bíblia. Eu respeitava sua fé
e não duvidava da veracidade das Escrituras Sagradas, porém o
sonho de me tornar um músico bem sucedido suprimia
quaisquer outros interesses. Não havia espaço para Deus. Meus
objetivos já estavam traçados e a música havia se tornado a
minha religião em tempo integral.
Lentamente e sem perceber, eu estava me afastando da
família e dos amigos que não estavam envolvidos com música.
Eu construí uma rotina voltada para os interesses pessoais, que
naquele momento estavam resumidos à prática musical. Essa
postura influenciou meus dois irmãos mais novos, Marco e
André, que mais tarde se tornaram músicos profissionais
também. Marco é guitarrista, violonista e compositor. André,
meu irmão mais novo, se aperfeiçoou como baterista e
percussionista. Em 1995, surgiram os primeiros alunos de
contrabaixo e logo em seguida, a primeira indicação para um
trabalho como baixista.
Meu amigo Jônatas foi chamado para tocar bateria num
pequeno e tradicional Café em Porto Alegre ao lado de um
conhecido guitarrista. Devido à indisponibilidade de outro
baixista, Jônatas me indicou para participar daquele mesmo
22 | Sob a Regência de DEUS

evento. Seria uma apresentação instrumental, onde tocaríamos


standards1 da música brasileira e composições do guitarrista,
entre outras músicas. Assim, meu amigo Jônatas e eu tocamos
juntos em público pela primeira vez em uma formação
instrumental que incluía duas guitarras, bateria e contrabaixo
elétrico.
Aquela experiência foi válida, mas ao mesmo tempo
traumática, pois descobri que precisaria melhorar bastante. Ao
encarar pela primeira vez aquelas complicadas harmonias de jazz
e bossa nova, compreendi que minha carência de informações
nessa área era enorme e eram insuficientes meus esforços
autodidatas. Por indicação desses músicos, encontrei um bom
professor de contrabaixo que me ajudou de maneira positiva no
meu desenvolvimento musical e profissional.
Os dez anos seguintes foram dedicados somente à
realização de conquistas individuais nessa trajetória musical.
Novos trabalhos surgiram com cantores e bandas. Eu estava
envolvido numa grande corrida, aparentemente sem fim, não
havendo mais tempo para as pessoas, para a família. Em pouco
tempo decidi sair de casa e morar com uma namorada, passando
meses sem visitar meus pais por estar sempre ocupado com o
estudo do contrabaixo, com os ensaios e com os shows.
Grande parte do dinheiro que ganhei no passado como
músico foi empregado na aquisição de contrabaixos. Inúmeras
vezes abri mão de investir em coisas mais importantes apenas
para adquirir novos instrumentos e acessórios. Lembro-me de
que as contas vencidas se acumulavam enquanto meu saldo
bancário permanecia negativo devido às novas aquisições. Horas
foram gastas na internet visitando sites de luteria2, pesquisando

1
Músicas muito conhecidas do público e dos músicos. Termo comumente utilizado no
gênero jazz.
2
Arte de projetar e construir instrumentos de cordas.
Um novo caminho para a felicidade | 23

sobre madeiras, reformas e preços de contrabaixos. Permiti


facilmente que a cobiça ocupasse meu coração vulnerável e,
como numa hipnose, me comportei de modo despreocupado,
vivendo uma obsessão por instrumentos. Trabalhei para
satisfazer a ambição e os caprichos pessoais, desperdiçando
dinheiro e tempo com as prioridades erradas. Até hoje, essa é
uma das minhas maiores lutas.
Em 2000, recebi um prêmio de melhor instrumentista no 3º
Festival de Música de Porto Alegre. Ao lado de Marco, André e
Beatriz, uma grande amiga cantora e compositora. O prêmio
trouxe grande alegria e alguma ajuda financeira. Contudo, mais
do que um mero incentivo ou reconhecimento musical, esse
prêmio serviu também para intensificar sentimentos como
autossuficiência e arrogância. Ironicamente, os encontros com os
meus dois irmãos ocorriam somente em ensaios ou nos palcos.
Meu egoísmo também provocou o fim de um relacionamento de
aproximadamente sete anos com minha primeira companheira.
Minha vida parecia completa por gigs3, gravações, viagens,
novos instrumentos, nome nos jornais, aplausos e dinheiro.
Julguei ter realizado todos os sonhos musicais e profissionais. No
entanto, faltava algo que eu não sabia exatamente o que era. Eu
não me sentia plenamente feliz. Todas essas coisas traziam
apenas uma passageira sensação de liberdade, de contentamento.
Ao cessarem os momentos de glória minha vida estava
incompleta e imperfeita. Minha realidade era vazia como uma
bela embalagem de presentes muito bem adornada, mas sem
nenhum conteúdo.
Além disso, eu percebia uma série de pontos negativos no
trabalho com a música popular. Francamente, eu não apreciava o
repertório de grande parte dos projetos nos quais estava inserido.

3
Performances musicais ao vivo.
24 | Sob a Regência de DEUS

Com raras exceções, há uma constante atmosfera de comparações


entre profissionais da música, sendo extremamente difícil
manter-se neutro e não se comportar de modo egocêntrico
também. Os ambientes de trabalho são carregados de vícios,
promiscuidade e corrupção. O volume da música nos bares e nas
festas é ensurdecedor. Eu permanecia exposto, por horas, a níveis
altíssimos de ruídos.
Muitas vezes, ao voltar para casa de madrugada, com o
cheiro de cigarro impregnado na roupa, pensei: “Por quanto
tempo ainda vou trocar o dia pela noite, destruindo minha saúde
e tocando essas músicas apenas por dinheiro? Onde está a arte
em tudo isso? Compensa continuar?”.
Novamente, alguém me falava a respeito de Deus, como
um anjo enviado para despertar a minha atenção para algo
maior. Conheci uma jovem adorável chamada Regina. Éramos
namorados há pouco tempo e ela costumava falar sobre sua fé e
seus princípios bíblicos. Sempre ofereci resistência, pois assuntos
ligados à Bíblia contrastavam com minha realidade e meus
interesses. Mesmo sem conhecer a Bíblia, eu não podia servir a
dois senhores.
Ao lhe contar sobre o meu envolvimento com os espíritos
(ver capítulo três), Regina me ofereceu um livro chamado Viagem
ao Sobrenatural4, relatando as experiências do próprio autor,
Roger J. Morneau. O livro fala de Alguém que eu não conhecia.
Um Deus pessoal que Se identifica realmente comigo, que Se
preocupa com meus problemas e com minha felicidade nos
mínimos detalhes, demonstrando inexplicável amor na Pessoa de
Seu Filho Jesus Cristo. Esse mesmo Deus, apesar da minha
resistência, me ama e me aceita incondicionalmente. A leitura
daquele livro foi um meio pelo qual a Pessoa do Espírito Santo

4
Roger Morneau, Viagem ao Sobrenatural (São Paulo: CPB, 2004).
Um novo caminho para a felicidade | 25

trabalhou em minha mente, apelando, convidando com amor,


despertando minha atenção para a Bíblia.
Em pouco tempo, minha curiosidade aumentou e desejei
estudar as Escrituras Sagradas. No início quis apenas tirar
dúvidas e comprovar fatos históricos. Na verdade, eu era um
grande contestador em busca de falhas que pudesse usar como
desculpas para justificar minhas paixões. Mas logo conheci mais
profundamente o Deus de amor revelado nas páginas inspiradas
da Bíblia. Encontrei conforto e segurança ao estabelecer um
relacionamento diário com Jesus Cristo através da oração e da
leitura da Bíblia. Pouco a pouco, me desarmei de todas as antigas
críticas, revendo conceitos e valores sobre Deus, vida, família,
relacionamentos, trabalho e, é claro, sobre o significado e a
influência da música.
Percebi que essa arte tem grande poder para construir, mas
pode também destruir. Isso está diretamente relacionado à
moralidade e à saúde física e espiritual. Por muito tempo
sobrevivi tocando em ambientes onde pessoas fumavam cigarros
sem parar, bebiam até cair, usavam drogas e praticavam a
promiscuidade sexual. E havia uma trilha sonora selecionada
para aqueles ambientes, estimulando tais práticas. Ao
contemplar aquelas cenas eu me autodestruía, comprometia
minha audição e meus pulmões, perdia valiosas noites de sono
ouvindo e tocando músicas comerciais. O antigo sonho da
adolescência se transformou em terrível pesadelo.
Senti-me livre para tomar novas decisões. Para mim estava
claro que a música não poderia mais ocupar o lugar de Deus. Eu
precisava devolver a Jesus, por livre e espontânea vontade,
aquilo que já era Seu por direito: o primeiro lugar em meu
coração e em minha vida. Jesus Cristo me comprou com o Seu
precioso sangue derramado na cruz e oferecido como preço pelos
meus pecados. A partir daí as coisas seriam diferentes, pois
26 | Sob a Regência de DEUS

aprenderia a confiar nEle e a esperar Sua direção em todas as


coisas. Eu poderia andar seguro, confiando nAquele que dirigiria
os meus passos nesse novo caminho para a felicidade.
E assim aconteceu. Eu podia então discernir os sentimentos
mesquinhos que haviam guiado os meus passos até ali, até
aquela condição de conforto e independência financeira. Senti
vergonha de mim mesmo ao pensar nas escolhas que fizera
devido à minha vaidade.
Percebi que minha “carreira” de instrumentista popular
estava com os dias contados, apesar do desconforto causado a
muitas pessoas. Inúmeras decisões foram tomadas entre o final
de 2004 e o início de 2005, período em que desisti definitivamente
dos shows e das gravações artísticas, dando início a um lento e
gradativo processo de reciclagem no meu gosto musical e na
minha vida profissional.
Abordarei essas mudanças com mais detalhes a partir do
capítulo quatro. Antes, porém, é importante citar uma
experiência singular ocorrida pouco antes desse período de
renúncias.
O sucesso a qualquer custo | 27

Capítulo 3

O sucesso a qualquer custo

“Levou-lhe ainda o diabo a um monte muito


alto, mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a
glória deles e lhe disse: Tudo isto te darei se,
prostrado, me adorares.”
Mateus 4:8 e 9 (ARA)

O sucesso é algo muito atraente. Envolve orgulho, ambição


e vaidade. Numa visão secular o sucesso profissional de um
instrumentista consiste em ser reconhecido no meio musical,
obtendo indicações para trabalhos ao lado de artistas e músicos
famosos. Por muito tempo persegui esse alvo.
Após alguns anos de experiência como baixista fui
indicado para tocar com Nicolas, um cantor e compositor gaúcho
nacionalmente conhecido. A indicação partiu de amigos músicos
que já o acompanhavam há alguns anos. Com certeza aquela
seria uma excelente oportunidade de trabalho e autopromoção.
Porém, o tempo passou e não houve nenhum retorno, nenhuma
confirmação do convite. Logo percebi que outro baixista havia
sido chamado para preencher a vaga.
Minha decepção foi grande. Fiquei profundamente
aborrecido e enciumado, pois alimentava a fantasia de fazer
parte daquele trabalho. É claro que todo aquele desejo foi
28 | Sob a Regência de DEUS

movido por cobiça, não somente quanto à remuneração, mas,


principalmente, pela possibilidade de maior prestígio. Eu
participaria de um trabalho autoral com viagens e shows em
diferentes locais do estado e do país. Isso me levaria a uma
posição de destaque em comparação a outros baixistas,
ocupando uma vaga desejada por muitos. Até mesmo meu
antigo professor de contrabaixo havia tocado com Nicolas há
muitos anos e, agora, eu assumiria o seu lugar.
Infelizmente, são esses os sentimentos que movem cantores
e instrumentistas em sua busca por crescimento e realização
profissional, com poucas exceções. Bom seria direcionar
conhecimentos e habilidades musicais para proporcionar
benefícios físico, emocional e espiritual às pessoas. E por que não
realizar algo assim a partir de uma perspectiva cristocêntrica de
estilo de vida?
Poucos dias depois recebi um estranho recado por
intermédio de alguém que, semanalmente, frequentava reuniões
espíritas. O recado vinha de uma médium ou, talvez, de alguma
“entidade” através dessa médium. De acordo com a mensagem
meus desejos de prosperidade e sucesso seriam realizados, mas
com uma condição: eu deveria cumprir certas orientações dadas
pelos espíritos. Durante alguns dias eu deveria realizar uma série
de rituais que incluíam velas acesas, orações em voz alta
expressando meus desejos e também diferentes “receitas”
preparadas com ervas, cinzas, mel, anil e outros ingredientes que
não me recordo. A cada dia, eu deveria preparar e derramar uma
dessas misturas sobre meu corpo num horário determinado. A
sujeira resultante após cada um daqueles “banhos” deveria ser
completamente descartada e jogada do lado de fora da casa ao
anoitecer. “Quanta maluquice!”, pensei ao ouvir tudo aquilo.
Na verdade, experiências com o sobrenatural sempre me
fascinaram. Aprendi sobre o espiritismo quando criança, por
O sucesso a qualquer custo | 29

influência de familiares que me levavam a reuniões em casas de


umbanda1 e centros espíritas kardecistas. Naqueles locais
testemunhei possessões, cânticos repetitivos ao som de
instrumentos de percussão igualmente tocados de forma
contínua e repetitiva, festas, danças, curas e outras manifestações
impressionantes muito semelhantes às manifestações que
acontecem em inúmeras denominações cristãs. Durante a
infância fui submetido ao recebimento de “passes espíritas”, a
“tratamentos de desobsessão” e a “cirurgias realizadas por
espíritos”. Conheci o modo como esses seres trabalham, mesmo
ignorando sua verdadeira origem. Contudo, por influência de
Jônatas, o músico cristão que eu conhecera no ensino médio, há
muito tempo eu deixara de buscar soluções místicas para os
meus problemas. Jônatas sempre me aconselhou a evitar todo e
qualquer contato com o espiritismo. Com base em seus conselhos
questionei muito a origem daquela mensagem, ridicularizando e
desconsiderando toda e qualquer hipótese de me submeter a tais
exigências.
Para a minha surpresa, na semana seguinte recebi um novo
recado dos espíritos. Segundo a mesma médium, que era uma
praticante da umbanda branca2, não havia motivos para eu
duvidar ou temer; pois todas aquelas orientações vinham de
espíritos “bons” que somente procuravam ajudar, curar e fazer o
bem às pessoas “segundo a vontade de Deus”. Além disso,
minha frustração e minha preocupação com o sucesso em curto
prazo aumentavam a cada dia. Consequentemente, consenti em
obedecer às orientações da médium, reafirmando minha fé na
imortalidade da alma. Eu me submeti àqueles rituais
repugnantes, crendo, de forma ingênua, que tais práticas
estariam, de algum modo, ligadas a Deus.
1
Fundada em 1908, a religião afro-brasileira Umbanda reúne elementos do
catolicismo, do xamanismo, do espiritismo e do paganismo africano.
2
Segmento ou “linha” da religião afro-brasileira Umbanda.
30 | Sob a Regência de DEUS

Quão degradante é a situação do ser humano quando


permanece distante de Cristo, sem conhecer o Deus de amor
revelado nas páginas inspiradas da Bíblia. Formamos uma
imagem do Seu caráter de acordo com nossos interesses e com
nossas aspirações. Aceitamos a Deus, contanto que Ele esteja
num “formato” que se encaixe em nossos planos. Como é bom
perceber que Deus não é assim. Pelo contrário, Ele é nosso Pai
amoroso e jamais exige que Seus filhos, criados à Sua imagem e
semelhança, se rebaixem a tal ponto para somente então
conceder o que de fato necessitam. Seu amor por nós é
incondicional.
Finalmente decidi cumprir a minha parte do acordo,
concluindo todos os rituais. Na manhã seguinte recebi um
telefonema pessoal do próprio Nicolas, o artista com quem
sonhara em tocar. Durante um ano e meio, aproximadamente,
participei de shows e gravações com o novo trabalho. Meu nome
apareceu nos principais jornais, listado entre os músicos que o
acompanhavam. As respostas vieram com rapidez, conforme o
cumprimento das condições impostas pelos espíritos. A sensação
de vitória e de reconhecimento era agradável, porém falsa. Eu
não havia sido chamado para aquele trabalho por merecimento
ou empenho, mas sim como resultado de um pacto com os
espíritos. Mesmo assim, entendia que não havia nada de errado
em contar com uma “ajudinha extra” na realização dos meus
planos.
Aqui está o segredo de muitos artistas que se tornam
celebridades da noite para o dia. Perseguem o sucesso
desesperadamente e, ao se depararem com quaisquer
dificuldades ou fracassos, são seduzidos por uma promessa
condicional de êxito. Entregam-se às exigências dos espíritos,
firmando pactos que envolvem as mais humilhantes condições.
Esses pactos significam futuros sucesso e prosperidade. No
O sucesso a qualquer custo | 31

primeiro momento, provam sua fé através de rituais mais


simples, como aqueles aos quais me submeti, mas logo precisam
estabelecer novos e maiores acordos. São manipulados ao
estabelecerem relacionamentos cada vez mais profundos,
baseados na fé e na obediência a tais espíritos.
Mas afinal, o que há por trás de tudo isso? Para muitos
esses espíritos se manifestam visivelmente, reproduzindo a
forma, a voz e até mesmo o cheiro de entes queridos já falecidos.
Como podemos ter certeza de que aquilo que declaram é a
verdade? E quanto ao seu aparente poder de controlar o futuro e
realizar desejos?
Há uma fonte segura que nos informa a sua origem e revela
com clareza a verdade sobre a imortalidade da alma. Essa fonte é
a Bíblia. Em muitos textos das Escrituras Sagradas encontramos
respostas para as dúvidas que nos inquietam. No livro de
Eclesiastes lemos o seguinte:
“Porque os vivos sabem que hão de morrer, mas os
mortos não sabem coisa nenhuma, nem tampouco terão eles
recompensa, porque a sua memória jaz no esquecimento.
Amor, ódio e inveja para eles já pereceram; para sempre não
têm eles parte em coisa alguma do que se faz debaixo do sol.” –
Eclesiastes 9:5 e 6 (ARA).
Analisemos agora os seguintes versículos:
“[...] aos homens está ordenado morrerem uma só vez,
vindo, depois disto, o juízo” – Hebreus 9:27 (ARA).
“Sai-lhes o espírito, e eles tornam ao pó; nesse mesmo dia
perecem todos os seus desígnios” – Salmos 146:4 (ARA).
Os textos são muito claros. Não há memória, sentimentos,
conhecimento, nem planos depois da morte. A vida é realmente
interrompida, desligada. Não há uma passagem ou uma
32 | Sob a Regência de DEUS

continuação, conforme muitos creem e ensinam. De forma


bastante objetiva a Bíblia afirma que morremos uma só vez e não
existe vida após a morte. Sobre os seres que se dizem “espíritos
desencarnados”, encontramos as seguintes informações no livro
de Apocalipse:
“Houve peleja no céu. Miguel e seus anjos pelejaram
contra o dragão. Também pelejaram o dragão e seus anjos;
todavia, não prevaleceram; nem mais se achou no céu o lugar
deles. E foi expulso o grande dragão, a antiga serpente, que se
chama diabo e Satanás, o sedutor de todo o mundo, sim, foi
atirado para a terra, e, com ele, os seus anjos.” – Apocalipse
12:7-9 (ARA).
Há símbolos que, desvendados, tornam fácil a
compreensão do texto. Miguel significa “Quem é como Deus?” ou
“Aquele que é como Deus”. Nas Escrituras Sagradas, esse nome
refere-se a Jesus Cristo, o único que é igual a Deus. A palavra
dragão simboliza o anjo Lúcifer, que se tornou Satanás, ou
“adversário” de Deus. Lúcifer liderou um grande exército de anjos
rebeldes que foram derrotados e expulsos do céu. Aqui na Terra
esses anjos foram aceitos pelo primeiro casal humano, Adão e
Eva, que escolheu desobedecer ao Criador, duvidando de Suas
diretrizes.
Satanás e seus anjos caídos seduzem o mundo com
inúmeras estratégias e variados enganos, mantendo os seres
humanos ocupados, distraídos, cegos para a verdade e a salvação
apresentadas na Bíblia. Esses anjos têm poder de personificar
pessoas falecidas nos mínimos detalhes. Podem também
controlar a mente de indivíduos que se colocam à sua disposição
como intermediários ou “médiuns”. Durante uma possessão
esses anjos imitam com perfeição amigos e parentes falecidos,
como atores interpretando personagens. Assim, enganam a
muitos corações sinceros que, ingenuamente, são impressionados
O sucesso a qualquer custo | 33

e confortados com as “boas notícias” de seus queridos que se


foram.
O objetivo de Satanás é obter dos seres humanos – mesmo
que o façamos inconscientemente – a adoração e a obediência que
devemos prestar somente ao Criador do universo. Quando o
diabo tentou Jesus no deserto, exigindo adoração em troca de
glória e riquezas, Jesus, o nosso Salvador, lhe respondeu:
“[...] Retira-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor,
teu Deus, adorarás, e só a Ele darás culto” – Mateus 4:10 (ARA).
Só há dois senhores a servir. Ao fazermos a vontade de um,
automaticamente, desprezamos o outro. Quando consenti em
atender às ordens dos espíritos, eu não tinha consciência de que
estava obedecendo, servindo e adorando a Satanás e, assim,
desagradando a Deus. Minhas escolhas permitiram que os anjos
caídos atuassem livremente, manipulando pessoas e situações em
favor dos meus desejos e do cumprimento de suas promessas.
Contudo, ao investigar a Bíblia, enxerguei a ação do inimigo.
“Não se achará entre ti quem faça passar pelo fogo o seu
filho ou a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador,
nem agoureiro, nem feiticeiro; nem encantador, nem
necromante, nem mágico, nem quem consulte os mortos; pois
todo aquele que faz tal coisa é abominação ao Senhor; e por
estas abominações o Senhor, teu Deus, os lança de diante de ti”
– Deuteronômio 18:10 a 12 (ARA).
No momento oportuno abandonei o trabalho com Nicolas.
Essa não foi uma decisão fácil, pois tive que superar a vaidade
musical, o julgamento e a reprovação dos músicos, e o meu
apego ao dinheiro. Apesar disso, a vontade de servir unicamente
a Deus através da música crescia e tornava-se maior do que tudo
isso. A Pessoa do Espírito Santo realizava, então, uma obra de
transformação em minha mente, refinando os meus valores e as
34 | Sob a Regência de DEUS

minhas preferências. Esse é um trabalho lento e gradativo que


requer submissão da parte do ser humano à ação de Jesus Cristo
em sua vida, a cada dia.
Ao contrário do sucesso vazio e passageiro, sem propósito
nem significado – aquele falso sucesso que o príncipe deste
mundo promove – há um caminho pleno de realizações e prazer
ao lado de Cristo. É maravilhoso sentir-se como instrumento em
Suas mãos, seja através da música, seja através de palestras e
testemunhos, semeando esperança em corações vazios e sedentos
por salvação.
Ao abrir mão das sedutoras ofertas de prosperidade e
status que acompanhavam o trabalho na música popular, escolhi
viver em paz, descansando na providência de Deus e
submetendo todos os meus sonhos à Sua direção, à Sua vontade.
Escolhi, de modo consciente, servir somente a Jesus Cristo.
“Algumas pessoas vão pedir que vocês consultem os
adivinhos e os médiuns, que cochicham e falam baixinho. Essas
pessoas dirão: ‘Precisamos receber mensagens dos espíritos,
precisamos consultar os mortos em favor dos vivos!’ Mas vocês
respondam assim: ‘O que devemos fazer é consultar a Lei e os
ensinamentos de Deus. O que os médiuns dizem não tem
nenhum valor.’” – Isaías 8:19 e 20 (NTLH).
Quando Deus é o Regente | 35

Capítulo 4

Quando Deus é o Regente

“Todavia, não seja como eu quero, e sim como


tu queres.”
Mateus 26:39 (ARA)

Obedecer de maneira voluntária não é uma tendência


natural do ser humano. Minha inclinação é a de fazer tudo o que
quero e sempre do meu modo. Tudo tem de ser assim, pois, de
modo presunçoso, estou seguro de que posso ser o “senhor de
mim mesmo”. Sinto-me independente e capaz de administrar
tudo sozinho. Essa sempre foi a minha postura com a música e
com as demais áreas da vida antes de encontrar meu Mestre
Jesus Cristo. E mesmo depois desse encontro, continuo sujeito a
cair nessa perigosa armadilha se, por apenas um momento,
perder de vista a realidade de que Deus é o nosso Senhor e
Mantenedor. É Ele quem está no controle dos acontecimentos
como um Regente ao conduzir Sua orquestra. Preciso me
submeter à Sua ação e à Sua direção, mesmo que a batalha pareça
estar ganha por meus próprios méritos e não perceba a
necessidade de orar e de buscar a Jesus. O ato de submissão
movido por amor, conforme Deus nos revela em Sua Palavra, é
algo que me fez refletir muito durante esses anos de contato com
Jesus Cristo.
36 | Sob a Regência de DEUS

Em uma orquestra os músicos precisam estar submissos e


atentos à coordenação do maestro em todo o tempo. Do contrário
não haverá concordância entre músicos e regente, e o resultado
será desastroso. O mesmo acontece na caminhada cristã. Se eu
tirar os olhos do meu Maestro, estou simplesmente perdido.
Deus é o Regente em minha vida. Devo me submeter a Ele e
confiar em Sua regência, a fim de que as notas do meu viver
soem bem afinadas, em perfeita harmonia e sempre de acordo
com o Seu arranjo, que é perfeito. Somos composições Suas. Os
planos de Deus são os mais lindos arranjos que podem ser
escritos para nós, que somos Suas inspiradas composições.
Já experimentei resultados surpreendentes ao entregar
meus caminhos aos cuidados do Onipotente e Onisciente Deus.
Em várias situações pude contar com uma força inigualável em
meu auxílio, algo semelhante a um Pai que vem em socorro de
seu filho em apuros. Há momentos em que parece não haver
mais saída e, do ponto de vista humano e limitado, não há
mesmo. Mas há o Deus poderoso em quem posso confiar sempre.
Sei que Ele está à frente de tudo, e que somente nEle posso
descansar. Em Jesus Cristo encontro poder, que não há em
nenhuma outra fonte, para suportar as dificuldades e ser
vitorioso.
Com muito carinho e paciência, o Senhor tem me mostrado
mudanças e aprimoramentos que preciso fazer em meu gosto
musical, em meus hábitos em geral, em minhas prioridades e em
meus valores. Essas decisões são alicerçadas em orações e na
submissão, e nunca são tomadas da noite para o dia. A ação do
Espírito Santo ao influenciar nossas escolhas acontece dia após
dia, de modo racional, à medida que permitimos Sua influência
em nossa mente. Deus aponta as melhores soluções e nos mostra
razões concretas para cada passo indicado. Nosso Deus é um
Quando Deus é o Regente | 37

Deus real, sempre presente e com amor atento às nossas orações,


segundo Sua perfeita vontade.
Respostas claras e impressionantes de Deus têm ocorrido
desde que experimentei esse poder sem limites que está ao
alcance de todos. Por aproximadamente dez anos corri atrás do
sucesso profissional como baixista em palcos e estúdios de
gravação. No início de 2005, ao passar por um período de sérias
decisões acerca da música como único ou principal meio de
subsistência, eu permanecia ligado a oito projetos musicais,
simultaneamente. Entre eles, havia bandas de pop rock, cantores
de música popular brasileira, um projeto instrumental autoral,
um grupo de música cubana e um trio de jazz. Desse modo, todo
o meu tempo estava distribuído entre os ensaios, as passagens de
som, as muitas viagens, as incessantes horas de estudo do
contrabaixo elétrico e também a prática do contrabaixo acústico1,
além das eventuais aulas que ministrava aos alunos baixistas.
Muitas pessoas oravam por mim nessa época e eu já tivera
contato com os primeiros estudos bíblicos.
À procura de soluções para alguns problemas pessoais,
decidi confiar literalmente nas minhas próprias mãos, dando
início à prática de artes marciais. Assim, estaria também
realizando alguma atividade física, algo que certamente traria
benefícios à minha saúde. Descobri que não muito longe da
minha residência havia uma escola de Pa-Kua, uma arte marcial
chinesa. Após realizar a matrícula, percebi que precisaria de um
uniforme adequado, uma roupa bastante leve que
proporcionasse total liberdade de movimentos. Decidi ir ao
centro de Porto Alegre e, depois de realizar uma pesquisa rápida
em lojas de roupas esportivas, encontrei um item de qualidade
que atenderia às minhas necessidades por um valor acessível.

1
Contrabaixo clássico ou double bass. O contrabaixo utilizado em orquestras. O maior
instrumento da família das cordas com arco.
38 | Sob a Regência de DEUS

Então, ao passar pelo caixa da loja, realizei o pagamento


pela roupa. Porém, antes de sair eu recebi um pequeno cartão de
papel, um cartão de visitas comum com o logotipo da loja, o
endereço e os telefones para contato. Naquele mesmo cartão,
abaixo dessas informações havia ainda um último texto, uma
frase curta dizendo o seguinte:
“Bem aventurado o homem que teme ao Senhor.” – Salmo
112:1 (ARA).
Foi como se o tempo parasse naquele exato momento. A
mensagem no cartão estava diretamente endereçada à realidade
que eu estava vivendo, onde um grande conflito passava a
ocupar a minha mente, dia após dia. Quanto mais eu me
aproximava da Verdade revelada na Pessoa de Jesus, mais
provações e distrações surgiam para desviar o meu foco. Mas
agora a Palavra de Deus me alcançava num lugar inesperado e
de modo inexplicável. Por que fui parar logo naquela loja, com
tantas outras ao redor naquele mesmo prédio ou nos arredores
vendendo os mesmos produtos? Por que eu tinha que receber o
cartão? Por que justamente naquele lugar havia um texto bíblico
impresso no cartão de contatos da loja? E por que aquele texto
tão apropriado para aquele momento em que eu buscava
soluções humanas?
Mesmo reconhecendo aquele milagre, permaneci resistente
e frequentei o curso de artes marciais por mais alguns meses,
procurando tirar proveito do condicionamento físico. Sem
dúvida essa foi uma justificativa infantil, já que o mesmo preparo
físico pode ser encontrado em quaisquer outras atividades que
não envolvam agressividade e competição. Mas em pouco
tempo, abandonei a escola de artes marciais ao perceber quais
eram os verdadeiros princípios filosóficos e idólatras implícitos
naquelas práticas.
Quando Deus é o Regente | 39

Por meio de um simples cartão de visitas, Deus me


orientou, dizendo que eu poderia descansar nEle, pois o Senhor é
a nossa Solução para qualquer problema. Deus buscou assim, de
forma tão incomum e ao mesmo tempo tão concreta, reger os
meus passos mais uma vez me conduzindo para longe da
autossuficiência. Certamente esse mesmo princípio se aplicaria às
futuras decisões sobre o trabalho e a música.
40 | Sob a Regência de DEUS

Capítulo 5

Um novo olhar sobre os


gêneros populares

“E assim, se alguém está em Cristo é nova


criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se
fizeram novas.”
2 Coríntios 5:17 (ARA)

Após alguns meses contemplando o caráter de Jesus Cristo


através da leitura da Bíblia e da oração, as coisas estavam
diferentes e eu não sentia mais aquele mesmo desejo de tocar em
qualquer lugar apenas pelo dinheiro. O meu olhar sobre o
trabalho como instrumentista na música popular, e sobre todos
os aspectos relacionados àquele trabalho, estava mudando, dia a
dia.
Por opção pessoal eu estava abandonando aquela “corrida
do ouro”. Meu novo Regente me conduzia com mansidão, de
modo desacelerado e suave. Inexplicavelmente me senti seguro
em Suas mãos e pude seguir sem medo de cair. E o melhor de
tudo é que ao me submeter a Deus, me senti verdadeiramente
feliz. Essa submissão não era algo incômodo ou forçado, mas sim
uma atitude natural em resposta ao Seu infinito amor
demonstrado por mim na cruz do Calvário. Pela primeira vez eu
Um novo olhar sobre os gêneros populares | 41

experimentava caminhar pela fé, movido por esse amor


incondicional.
Pouco a pouco entrei em contato com os músicos
responsáveis de cada um dos projetos nos quais atuava como
baixista. Estava comunicando o meu afastamento ou, em outras
palavras, “pedindo demissão”.
Esse desligamento não ocorreu com todos os trabalhos ao
mesmo tempo. Comecei deixando os grupos cujo trabalho
contrastava demais com meus novos princípios e também com
meu gosto musical. Por exemplo, há muitos anos eu já não
apreciava o gênero rock, apesar de permanecer submisso aos
shows por dinheiro tocando aquelas mesmas músicas pelo menos
uma ou duas vezes por semana. Essa rotina se estendeu por
aproximadamente seis anos e eu cumpria aqueles compromissos
sem nenhum prazer, mas apenas no modo “piloto automático”.
Logo, com tranquilidade e convicção, abandonei primeiro as
bandas e demais projetos voltados para o rock.
Obviamente, muitas dúvidas surgiram nesse período. De
modo maravilhoso e prático a Pessoa do Espírito Santo
respondeu a todos os meus questionamentos relacionados aos
estilos musicais, aos eventos e aos ambientes profissionais que
poderiam ou não estar de acordo com o estilo de vida cristão.
Deus nos responde através do estudo bíblico, através de
pessoas agindo como seus canais de providências e através de
indicações à mente racional1. Sua voz amorosa falava à minha
consciência chamando minha atenção nos instantes e lugares
certos, apontando a direção e trazendo segurança nas decisões
mais difíceis. Em muitos casos, isso aconteceu nos momentos em
que eu estava no palco participando de um show. Gradualmente,

1
Ver “Uma Voz Suave e Delicada”. Vídeo disponível em:
terceiroanjo.com/post/uma-voz-suave-e-delicada-pr-henry-feyerabend
42 | Sob a Regência de DEUS

pude analisar cada aspecto negativo nos trabalhos com a música


popular ao discernir Sua orientação.
“Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são
filhos de Deus.” - Romanos 8:14 (ARA).
“Quando te desviares para a direita e quando te desviares
para a esquerda, os teus ouvidos ouvirão atrás de ti uma
palavra, dizendo: Este é o caminho, andai por ele.” - Isaías 30:21
(ARA).
Pop rock, rhythm and blues, soul music, jazz, samba, baião,
bossa nova, música popular brasileira, salsa, reggae e jazz fusion
foram os principais gêneros musicais com os quais tive contato
no período de atuação como baixista profissional.
Uma atenção especial deve ser dirigida àqueles gêneros
que vêm sendo utilizados em larga escala em associação com a
música cristã contemporânea nas últimas décadas. Essa perigosa
combinação acabará por atribuir valores desmoralizantes às
composições que pretendem elevar-nos à alta norma da Lei de
Deus. Não há necessidade de um estudo mais aprofundado em
cada um desses gêneros populares para que possamos realizar
comparações e ponderações a respeito de seu uso; seja na
apreciação pessoal, seja na execução musical em nível
profissional ou não. Para isso é útil apresentar algumas de suas
respectivas características e dados históricos, além de
experiências pessoais.
Rhythm and Blues (R&B) | 43

Capítulo 6

Rhythm and Blues (R&B)

“Infiéis, não compreendeis que a amizade do


mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser
ser amigo do mundo constitui-se inimigo de
Deus.”
Tiago 4:4 (ARA)

Participei de duas bandas de rhythm and blues, tocando em


pequenos bares da capital gaúcha e região metropolitana.
Tocávamos músicas de B.B. King, Willie Dixon, Bessie Smith,
Floyd Dixon, Robert Johnson, Freddie King, Stevie Ray Vaughan,
Eric Clapton, Jimi Hendrix e outros.
Os shows eram contagiantes e vibrantes. Apesar disso,
nunca houve um público numeroso nos pequenos pubs1 onde
costumávamos tocar. As músicas possuíam muita energia, cheias
de solos e riffs2 de guitarra com momentos que culminavam num
intenso volume de amplificadores e bateria. Havia também solos
de contrabaixo sobre algumas canções.

1
Locais que servem diferentes tipos de bebidas alcoólicas onde se pode ouvir música
(rock, blues, etc.) inspirados nos tradicionais Pubs do Reino Unido.
2
Sequência de notas musicais, acordes ou intervalos, tocada de modo repetitivo como
acompanhamento para uma música.
44 | Sob a Regência de DEUS

As estruturas harmônicas eram simples e repetitivas,


tradicionalmente conhecidas como “twelve bar blues” (blues de
doze compassos) e “minor blues” (blues em tom menor). As letras
eram em inglês e falavam sobre mulheres, vícios, bebedeiras,
angústia, sexo e pactos com o diabo em encruzilhadas, temas
bastante corriqueiros no universo do blues. Algumas vezes, os
textos traziam o nome de Deus misturado a esses assuntos, em
um tom de lamentação.
A característica rítmica no rhythm and blues (também
conhecido como “R&B”) consiste em acentuar os tempos fracos
do compasso quaternário (o segundo e o quarto tempos) com um
toque na caixa da bateria (snare drum). Nas gravações mais
antigas, a partir da década de 1930, podemos perceber que o
contrabaixo acústico imita a mesma acentuação da caixa no
rhythm and blues, fortalecendo as notas tocadas nos tempos fracos
do compasso (ver capítulo vinte). A caixa é um tambor com
menos profundidade do que os demais, que possui timbre seco e
agudo, semelhante ao tarol utilizado nas bandas marciais. Nesse
tambor, o baterista pode produzir um ruído agressivo e
explosivo, semelhante a um tiro. Essa acentuação na caixa da
bateria, ocorrendo sempre no segundo e no quarto tempos do
compasso de modo repetitivo e contínuo, é chamada de ritmo
sincopado ou back beat.

Esse padrão rítmico tornou-se a assinatura da música


popular norte-americana e ganhou força a partir da segunda
metade do século 20.
Rhythm and Blues (R&B) | 45

“Um back beat, ou backbeat, é uma acentuação sincopada na


batida 'discordante'. Em um compasso simples 4/4, são as batidas
2 e 4.”3
Assim se dá a acentuação dos tempos fracos no rhythm and
blues e no rock and roll. Devemos observar que essa mesma
assinatura rítmica está presente também em todos os subgêneros
do rock e do R&B: pop rock, soul music, rockabilly, ska, funk music,
country rock, disco music, hard rock, heavy metal, reggae music, punk
rock, gospel music, rap, hip hop, techno pop, grunge, nu metal, folk
rock, emocore, samba rock, neo soul, smooth jazz, screamo, indie rock,
acid jazz, etc.
Nos próximos capítulos conheceremos os resultados da
influência desse ritmo sobre nossa saúde, sobre nosso
comportamento e sobre nossa espiritualidade. Se estivermos
cientes da realidade desses resultados e acostumados a
identificar a batida do rhythm and blues que está impressa na
música popular contemporânea, poderemos selecionar melhor as
músicas que ouvimos e que nos influenciam. Não apenas isso,
mas saberemos como discernir entre aquelas músicas cristãs que
genuinamente edificam nossa experiência com Deus, e aquelas
músicas religiosas comerciais que enfatizam a mesma batida do
rock e do R&B, conservando seus resultados.
“Há caminho que parece direito ao homem, mas afinal
são caminhos de morte” - Provérbios 16:25 (ARA).
Perceba que há um elemento comum e sutil presente em
todas as músicas populares que são influenciadas pelos ritmos
norte-americanos. Grande parte do repertório dos demais
trabalhos de que participei continha esse mesmo ingrediente
musical poderoso e contagiante.

3
“Backbeat”. Oxford Music Online. Grove Music Online. 2007
46 | Sob a Regência de DEUS

Acima de tudo, em nossa vida espiritual, é preciso filtrar o


que é prejudicial e buscar conhecer músicas que podem edificar
nosso caráter e contribuir de maneira positiva em nossa
experiência diária com Jesus Cristo.
“Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa
qualquer, fazei tudo para a glória de Deus.” - I Coríntios 10:31
(ARA).
Pop Rock | 47

Capítulo 7

Pop Rock

“Não ameis o mundo nem as coisas que há no


mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai
não está nele.”
I João 2:15 (ARA)

Pude distinguir claramente que não agia em harmonia com


a vontade de Deus ao passar noites em claro, tocando em bares
com diferentes bandas de pop rock. O rock é o combustível certo
para provocar comportamentos irresponsáveis e agressivos,
motivando escolhas insensatas. Uma banda de rock em uma festa
funciona como uma usina de energia, produzindo no público
estímulos moralmente degradantes, sensações de prazer e
euforia. Pude comprovar isso na prática ao contemplar o público
em seus divertimentos nos muitos locais onde estive com meu
contrabaixo elétrico nas mãos, sendo eu mesmo um dos
responsáveis por aqueles resultados.
O rock possui o mesmo ritmo sincopado do rhythm and
blues, marcado pelo toque forte na caixa da bateria ocorrendo
sempre nos tempos 2 e 4 do compasso.
48 | Sob a Regência de DEUS

A exposição, por horas, a esse ritmo repetitivo


característico do rock somado ao volume intenso podem
estimular músicos e público à dança sensual, à libertinagem e ao
consumo desenfreado de álcool e outras drogas. Esses resultados
são comprovados pela ciência (ver capítulo vinte) e estão
registrados na história da música popular do século 20.
Alguns anos depois de meu afastamento do ambiente
artístico, encontrei grande variedade de informações sobre a
origem, os propósitos e a influência do rock na sociedade
mundial. Uma rápida pesquisa na internet é suficiente para que o
leitor tenha acesso a diversos materiais relevantes a esse respeito
incluindo palestras, literatura, vídeos e artigos.
Em seguida destaco alguns desses materiais. No livro
Música, Reverência e Adoração, do graduado em matemática e
músico Leandro Dalla, há um capítulo inteiro sobre o assunto
“Rock and Roll”. Esta publicação está disponível em e-book para
download gratuito no blog Música e Contemplação1. Outros livros
interessantes editados em língua portuguesa que expõem muitas
das armadilhas da música pop rock e da indústria do
entretenimento são estes: Livre das Garras do Sucesso2, do jornalista
e ex-compositor de música popular Miguel Bispo dos Santos; Nos
Bastidores da Mídia3, escrito pelo jornalista e mestre em teologia
Michelson Borges; Cristãos em Busca do Êxtase4, do jornalista e
editor Vanderlei Dorneles; Novo Ritmo5, do ex-artista de hip-hop
Ivor Myers; O que Deus Diz Sobre a Música6, escrito pela doutora
em arte musical Eurydice Valenis Osterman. Há também listas de
1
musicaecontemplacao.blogspot.com
2
Disponível em www.cpb.com.br
3
Ibidem
4
Ibidem
5
Ibidem
6
Disponível em adventus21.com
Pop Rock | 49

vídeos com grande número de palestras e testemunhos7 que


poderão trazer mais detalhes sobre o assunto.
Todas as informações que encontrei nesses anos de
pesquisas descrevem exatamente as desagradáveis cenas que
vivenciei no passado, quando mergulhado no mundo do rock.
Por aproximadamente seis anos eu estive ligado às chamadas
“bandas cover” de música pop rock tocando em diferentes cidades
do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. Ao invés de
composições próprias, essas bandas apresentavam somente
canções conhecidas de artistas nacionais e internacionais como:
Legião Urbana, Lulu Santos, Rita Lee, Os Paralamas do Sucesso,
Titãs, Barão Vermelho, Capital Inicial, Marina Lima, Skank, Jota
Quest, O Rappa, Raimundos, Charlie Brown Jr., Planet Hemp,
Cássia Eller, Fernanda Abreu, Ed Motta, Tim Maia, Marisa
Monte, Tribalistas, Frejat, Nando Reis, Fito Páez, Maná, Shakira,
Santana, U2, Red Hot Chili Peppers, Lenny Kravitz, Oasis, Alanis
Morrisette, Audioslave, Avril Lavigne, Cold Play, Maroon 5, Jack
Johnson, Joss Stone, Eagle-Eye Cherry, The Strokes, Sublime,
Counting Crows, Shania Twain, Morcheeba, Natalie Imbruglia,
Des’ree, Cheryl Crow, 4 Non Blondes, Meredith Brooks, R.E.M.,
Nirvana, Stone Temple Pilots, Pearl Jam, Green Day, The
Offspring, The Black Crowes, Metallica, Guns N’ Roses, Vaughan
Brothers, Sting, Prince, David Bowie, Talking Heads, Madonna,
Simply Red, Sade, George Michael, The Police, Aerosmith, KISS,
Van Halen, Led Zeppelin, Roy Orbison, Joe Cocker, Doobie
Brothers, Bob Marley, Eric Clapton, Queen, Creedence
Clearwater Revival, Pink Floyd, The Doors, Janis Joplin, The
Rolling Stones, The Beatles, James Brown, Marvin Gaye, The
Temptations, Otis Redding, Elvis Presley e muitos outros. Os
repertórios daquelas bandas eram um misto de rhythm and blues,
rock, reggae e soul music.

7
Disponíveis em musicaecontemplacao.blogspot.com.
50 | Sob a Regência de DEUS

É possível que a maioria das pessoas seja um ouvinte


despreocupado e acostumado a consumir esses gêneros musicais.
É provável que muitas pessoas, se forem músicos como eu,
tenham o hábito de ouvir, tocar e cantar as canções desses
artistas pop. Se uma pessoa acredita, com sinceridade, que isso
não interfere negativamente em sua espiritualidade, em seus
hábitos e em suas escolhas, saiba que está sinceramente
enganada.
Em dois de março de 2016, na semana em que a banda The
Rolling Stones esteve pela primeira vez em Porto Alegre para um
único show, o jornal Zero Hora publicou esta curiosa declaração:
“Ainda não coloquei a morte na minha agenda. Eu ainda
não quero encontrar meu velho amigo Lúcifer. Ele é o cara com
quem vou encontrar. Com certeza não vou lá para cima.” – Keith
Richards, guitarrista da banda de rock The Rolling Stones.
Essa é apenas uma amostra das inúmeras afirmações
semelhantes feitas por celebridades da indústria da música pop.
Temas como relativismo, idolatria, abandono de valores morais,
ateísmo, satanismo, panteísmo e espiritualismo são assuntos
corriqueiros em suas declarações.
Conheci diferentes músicos cristãos que apreciavam e
consumiam músicas de Michael Jackson, Phil Collins, Michael
Bolton, Mark Knopfler, John Meyer, Dream Theater, Steve Vai,
Dave Matheus Band, AC/DC, The Beatles, U2, Elton John, Paul
McCartney e vários outros nomes já citados aqui. Conheci
também cristãos sinceros que não eram músicos, contudo em
seus momentos de entretenimento ouviam e cantavam canções
de Whitney Houston, Toni Braxton, Mariah Carey, Backstreet
Boys, Justin Timberlake, Christina Aguilera, Britney Spears,
Madonna, INXS, Roxette, Brian Adams, Creed, Linkin Park,
Black Eyed Peas, Fergie, Beyoncé, Adele, etc.
Pop Rock | 51

Este é o momento de parar para refletir seriamente sobre


aquilo que temos consumido no campo musical. As músicas
daqueles artistas já mencionados é que “embebedavam” o
público em suas paixões até o amanhecer nos bares onde estive
trabalhando como baixista durante anos a fio, semana após
semana. Vi de perto os resultados terríveis da influência dessas
mesmas músicas na mente e na vida de muitas pessoas.
Acompanhei a decadência moral de vários ex-colegas músicos e
de outros profissionais daquele meio, como roadies8, motoristas e
engenheiros de som, que tiveram sua saúde e seus
relacionamentos seriamente abalados ou completamente
destruídos.
A seguir, um resumo do testemunho de alguém que teve
sua vida arruinada por essa influência:
“Em companhia de alguns amigos, passei a ouvir certas
músicas. Um cântico levou a outro e finalmente meus talentos
naturais para a música e a arte foram canalizados para o sonho
irreal e psicodélico do rock. Acabei sendo fisgado. O poder, as
vestes, a fama e a presença mundial da revolução
do rock cativaram-me. Logo me vi separado do mundo espiritual
e da fé de meus pais. Uma nova era, uma nova cultura, tinham-se
apoderado de minha vida, como ocorrera com a vida de tantos
outros.
“Logo passei para um estado permanente de rebelião. Nas
palavras de um pop star do rock, David Crosby, 'imaginei que a
única coisa a fazer era roubar seus meninos... Ao dizer isso, não
estou falando de sequestrar, mas de mudar o sistema de valores,
que os remove muito efetivamente do mundo de seus pais'.

8
Profissionais responsáveis pela manutenção, instalação e preparação de
equipamentos e instrumentos musicais para a realização de um concerto ou show.
52 | Sob a Regência de DEUS

“O rock afastou-me efetivamente do mundo de meus pais.


Enquanto ainda adolescente, fugi do internato e de casa, fui
preso por uso de drogas e prática de roubo, além de envolver-me
em lutas corporais com colegas e professores.
“Meu sonho era aprender a tocar violão, coisa que fiz a
toda pressa a fim de conquistar o 'mundo deslumbrante de sexo,
drogas, moda e rock’n’roll. Eu sabia que o rock era exatamente
isso. O próprio empresário dos Rolling Stones havia dito
inequivocamente: 'Rock é sexo. Você precisa impressionar os
adolescentes com isso'.”9
Pense nos ídolos da música que atraem milhares de fãs aos
seus shows. Seus admiradores investem tempo e dinheiro
consumindo um “pacote de serviços” que inclui músicas, vídeos,
imagens, hábitos, linguagem, vestuário, corte de cabelo e outros
itens. Suas mensagens e atitudes influenciam poderosamente o
comportamento de seus seguidores.
Na minha adolescência, o rock foi a música que mais me
entusiasmou. Aparentemente, toda aquela informação musical e
visual era inofensiva. Letras, roupas, gestos e símbolos pareciam
não me influenciar, mas esses aspectos eram parte de um estilo
de vida que, pouco a pouco, moldava as minhas atitudes. Com o
tempo, comecei a refletir no meu modo de vestir, falar e agir, as
características daquilo que eu contemplava. Meu comportamento
revelava a quem eu seguia, a quem imitava e a quem adorava.
Adolescentes e jovens buscam uma identidade, um grupo
que os compreenda e os aceite. Na maioria das vezes, a música é
quem os guia. Pessoas demasiadamente expostas a um
determinado estilo musical ou cultura são fortemente
influenciadas. A mudança é nítida e inevitável.

9
Disponível em: dialogue.adventist.org/pt/704/a-fuga-do-rock
Pop Rock | 53

Jamais subestimemos as estratégias e as táticas do inimigo


de nosso Criador. Conversar com Deus sobre esse assunto em
oração particular e silenciosa, é fundamental. É preciso fazer isto
de maneira sincera, expondo a Ele todos os conflitos e todas as
dúvidas. É necessário aguardar a ação divina, confiando e
descansando nEle. As respostas dEle são surpreendentes; e até
hoje Ele sempre me surpreende.
Mesmo não apreciando os repertórios e considerando os
ambientes degradantes, me submetia àqueles trabalhos por
dinheiro; era uma forma de “prostituição musical”. Estava
conformado com a justificativa de que “o mercado local não
oferecia melhores opções para o instrumentista”. Em resumo,
pagava minhas contas à custa do meu declínio moral, da perda
gradual da audição e da obrigação de tocar canções monótonas e
com um nível de exigência técnico-musical muito pequeno.
Um dos problemas mais graves daqueles shows era a
exposição prolongada ao ruído. Sons com intensidade superior a
oitenta e cinco decibéis são considerados de risco, podendo
provocar perdas irreversíveis na audição. O tempo máximo
recomendado de exposição diária a ruídos com intensidade de
oitenta e cinco decibéis é de oito horas.
“Durante uma passagem de som, o músico e a equipe
técnica chegam a ficar expostos, por algumas horas, a cerca de
120, às vezes até 130 decibéis! De acordo com a legislação de
controle de ruído do Ministério do Trabalho, o limite seguro para
a exposição sem proteção vai de 80 a 85 decibéis, pelo período de
seis a oito horas. Quando a intensidade do som aumenta para 90
decibéis, o tempo de exposição sem dano aos ouvidos cai para
três horas. Subindo a 120 ou 130 decibéis, tal período passa a ser
54 | Sob a Regência de DEUS

de apenas 15 minutos. Com esses dados, é possível ter ideia do


risco que a audição dos profissionais do ramo está correndo.”10
“A Organização Mundial de Saúde (OMS) alerta que 1,1
bilhão de jovens em todo o mundo correm risco de sofrer perda
auditiva devido à exposição ao barulho causada por seus hábitos
diários. [...] Especialistas avaliam que 85 decibéis (dB) até 8 horas
é o nível máximo de exposição sem riscos a que um ser humano
pode se submeter. Esse período de tempo diminui na medida em
que a intensidade do som aumenta. [...] Já em discotecas e bares,
os níveis de ruído podem variar entre 104 dB e 112 dB.”11
Com as bandas de pop rock tocávamos em locais aonde o
nível de intensidade de som chegava muitas vezes aos cento e
dezoito decibéis. Lembro-me muito bem dos comentários e
piadas dos engenheiros de som a respeito da “marca dos 118 dB”
alcançada. Os músicos e o público permaneciam ali expostos
durante horas e, na maioria das vezes, durante uma noite inteira.
Curiosamente, “arte dos sons” é uma das definições mais
empregadas para a palavra música. De acordo com Aurélio
Buarque de Holanda Ferreira, no Novo Dicionário da Língua
Portuguesa, a música é a “arte e ciência de combinar os sons de
modo agradável ao ouvido”. No entanto, para onde vai essa arte
quando o som é mal utilizado a ponto de se tornar não somente
desagradável, mas perigoso para a audição? Deveria a arte dos
sons prejudicar os órgãos responsáveis para a percepção e para a
apreciação desses mesmos sons?
Em 14 de setembro de 2006, o jornal Zero Hora trazia a
seguinte declaração do guitarrista inglês Eric Clapton:

10
Revista Cover Baixo, novembro de 2002.
11
BBC Brasil. Disponível em:
www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/03/150306_ruido_audicao_lgb
Pop Rock | 55

“Minha audição está arruinada e, se paro para escutar,


ouço uma espécie de assovio constante em meu ouvido. Acho
que sofro de tinnitus. Provavelmente toquei diante de alto-
falantes com cem watts de potência. Foi uma loucura.”
Na semana seguinte, a Revista Veja publicava a mesma
declaração, enquanto o jornal Zero Hora retomava o assunto com
o seguinte comentário do médico otorrinolaringologista José
Seligman, intitulado A Surdez do Guitarrista:
“O guitarrista britânico Eric Clapton fez uma declaração
pública que, seguramente, vai contribuir para a prevenção da
surdez devida a ruído de forma muito mais efetiva que todos os
trabalhos científicos sobre este assunto publicados na última
década. [...] Na verdade sua doença é bastante comum, sendo
conhecida sobremaneira por otorrinolaringologistas, médicos do
trabalho e fonoaudiólogos e designando-se, no Brasil, como PAIR
– perda auditiva induzida por ruído. Desde 1993 há um esforço
por parte dos profissionais para convencer as pessoas que vivem
sob efeito do barulho de que, de uma forma ou de outra, não
podem se descuidar de sua proteção. [...] Trata-se de uma
inversão de valores. O fumo, o álcool, as drogas, o ruído, entre
tantos outros agressores conhecidos, merecem uma avaliação
mais correta por parte da população. Mas parece que as pessoas
só se conscientizam de seus efeitos danosos quando uma
personalidade como o guitarrista inglês vem a público para
denunciar.”
O que dizer, então, de todos esses agressores - fumo, álcool,
drogas, ruídos - somados num mesmo evento?
Nessa mesma época, já distante dos palcos, eu trabalhava
como monitor em uma biblioteca. Havia um bibliotecário que
estava sofrendo com o seu recém-diagnosticado tinnitus, fruto da
exposição contínua ao ruído em ensaios com bandas de rock na
56 | Sob a Regência de DEUS

sua juventude. Lemos o jornal com o texto acima no dia de sua


publicação. Lembro-me claramente do desconforto expresso em
seu semblante causado pelo zumbido ininterrupto, enquanto
pronunciava a seguinte frase: “Essa é uma cultura destrutiva!”.
Concluímos que a realidade profissional do instrumentista o
expõe a perigos para a sua audição em diferentes contextos
musicais.
Aqueles meus seis últimos anos nesta profissão foram os de
maior exposição a volumes extremos. Foram muitas horas
despendidas em ensaios, passagens de som e shows, além do
tempo de permanência em eventos com música mecânica em
níveis de volume excessivamente altos. Por vezes, procurei
reduzir o desconforto e a dor nos ouvidos com algodão ou com
diferentes tipos de protetores auriculares (earplugs), mas sem
alcançar resultados efetivamente satisfatórios. Uma audiometria
realizada durante aquele período revelou certo grau de perda
auditiva.
Mesmo hoje, após alguns anos de férias para os tímpanos,
os sintomas de uma audição prejudicada já começam a surgir,
lentamente. Meus cuidados têm sido redobrados, evitando a
permanência em locais com muito ruído ou música alta, pois
pretendo preservar ao máximo o que ainda resta desse
maravilhoso sentido.
Esse é um assunto que merece profunda reflexão e exame
de valores. Com cuidado e bom senso, posso escolher abandonar
o que me prejudica e ficar com a música que não agride, mas
beneficia o corpo, o intelecto e as emoções. De fato, estamos
inseridos numa “cultura destrutiva” que nos cerca e consome.
A audição comprometida foi apenas uma dentre as tantas
razões que me levaram a abandonar primeiro as bandas de pop
rock. Permaneci tocando apenas com os projetos que considerava
Pop Rock | 57

mais “artísticos” e menos insalubres. No entanto, pouco a pouco


pude perceber aspectos e dificuldades semelhantes em outras
situações profissionais.
58 | Sob a Regência de DEUS

Capítulo 8

Reggae Music

“Vou cantar com o meu espírito, mas também


cantarei com a minha inteligência.”
I Coríntios 14:15 (NTLH)

A música reggae estava presente em diversos trabalhos,


sendo esses autorais ou não. Nos repertórios daquelas mesmas
bandas de música pop rock, havia canções de artistas de reggae
mundialmente conhecidos como Bob Marley, The Wailers, Ziggy
Marley, Inner Circle, Jimmy Cliff e Peter Tosh. Noutros projetos
mais voltados à MPB, tocávamos músicas de Gilberto Gil, Os
Paralamas do Sucesso, O Rappa, Skank, Chico César, Cidade
Negra, Tribo de Jah, Sine Calmon, Natiruts e outras, todas
temperadas com o ritmo jamaicano.
No reggae há uma característica sonora marcante que fica
evidente até mesmo para leigos que é a repetição. Há um ritmo
sincopado, conhecido como skank1, executado por guitarra,
violão, teclado ou instrumentos como o ukulele2.

1
Base rítmica da música reggae executada na guitarra quando o músico acentua os
tempos fracos do compasso (tempos 2 e 4). Dança associada a esse ritmo.
2
Instrumento de cordas de origem portuguesa, comum na música havaiana.
Reggae Music | 59

Este ritmo sincopado se repete ao longo de toda a música


pronunciando os acordes somente no segundo e no quarto
tempos do compasso.
O contrabaixo traz sempre uma equalização
excessivamente grave, realizando linhas melódicas pesadas e
igualmente repetitivas. Nos shows de reggae, essas frequências
graves são intensificadas ainda mais pelo volume dos
amplificadores de potência, fazendo com que os ouvintes
literalmente “sintam” a música pelas vibrações das notas do
contrabaixo. Esse e outros elementos sonoros intensos e
repetitivos colaboram para a movimentação do corpo e para a
inibição da razão.
Há muito misticismo implícito na música reggae. O Ph. D.
Wolfgang Hans Martin Stefani, que é músico e professor
especialista na área da música sacra, traz uma interessante
citação em seu livro Música Sacra, Cultura e Adoração. Stefani
define o reggae caribenho como um ritmo secular que consiste
em: “(...) uma imitação do batuque religioso rastafári conhecido
como ‘música Nyabingi’”.3
O consumo livre de maconha, associado à música e à busca
por estados alterados de consciência, é outro elemento
característico nos círculos musicais, ensaios, camarins ou entre o
público dos shows de reggae. Muitas canções fazem apologia ao
uso da droga.

3
Barret, The Rastafarians, p. 245; citado em: Stefani, Música Sacra, Cultura e
Adoração, p. 133.
60 | Sob a Regência de DEUS

Na cultura reggae o estado de inibição do lobo frontal


(raciocínio) induzido pelo ritmo hipnótico e pelo consumo de
maconha, é aceito como um meio de contato com o sagrado, e
como um despertar para maiores conhecimentos.
“A música reggae surgida na Jamaica, era uma expressão
mística do rastafarianismo, movimento político-religioso,
também de caráter étnico, surgido na Jamaica, que a partir de sua
luta contra a ‘estrutura escravista britânica’ reinterpretou a
promessa bíblica da Terra Prometida, localizada agora na
‘Etiópia/África’. O reggae está profundamente ligado com
substâncias alucinógenas, produtoras de ‘estados de consciência’,
que, por sua vez ‘são ao mesmo tempo fonte de conhecimentos e
comunicação com o sagrado, provocados não só pela música
como pela erva, pelo contato com elementos da natureza, pelos
sonhos e pelas visões’”.4
Ivor Myers, ex-astro de hip-hop, nasceu na Jamaica e é autor
do livro Novo Ritmo, em que descreve sua trajetória de renúncias
à fama e à fortuna em submissão à vontade de Cristo. Sobre a
religião rastafári, Myers escreve:
“Essa religião peculiar ensina que o ex-imperador da
Etiópia, Hailé Selassié I, era a manifestação de Deus no século 20.
Surgira como um grito rebelde dos escravos jamaicanos e cresceu
para se tornar uma das forças religiosas dominantes do mundo
do hip-hop. O rastafarianismo usa a maconha como chave para a
meditação e a comunicação mais intensa com Deus. As mechas
de cabelo trançadas são o símbolo da religião. Suas raízes se
fundamentam nos ensinos de Marcus Garvey, um nacionalista
jamaicano negro que ensinava o poder dos negros e iniciou o
movimento ‘De Volta à África’, no início dos anos 1900. Marcus
Garvey propagava a ideia de que um rei negro seria coroado e se
4
Cunha, Fazendo a coisa certa: Reggae, rastas e pentecostais em Salvador. Disponível
em: www.anpocs.org.br/portal/publicacoes/rbcs_00_23/rbcs23_09
Reggae Music | 61

tornaria o libertador da raça negra. Muitos acharam que a


profecia se cumprira quando, em 1930, Ras Tafari foi coroado
como o Imperador Hailé Selassié I da Etiópia e proclamado como
‘Rei dos reis’, ‘Senhor dos senhores’ e ‘Conquistador Leão de
Judá’, alguns de seus títulos. O movimento rastafári tira seu
nome da combinação do vocábulo Ras, que significa ‘Cabeça’,
‘Duque’ ou ‘Chefe’, com a palavra Tafari Makonnen, que é o
nome de Hailé Selassié I antes da coroação”.5
Em entrevista concedida à revista High Times em 1981, o
cantor de reggae Peter Tosh fez a seguinte declaração:
“[A] espiritualidade e a inspiração são decorrentes da
capacidade do reggae de ‘hipnotizar’ e fazer o ouvinte ‘sair de si’,
isto é, a música é capaz de provocar no ouvinte o acesso a outros
‘estados de consciência’”.6
Nunca experimentei maconha, apesar de estar
frequentemente cercado de pessoas que consumiam a droga.
Tocar reggae era agradável, mas tornava-se monótono depois de
alguns minutos, justamente devido à repetição excessiva no
ritmo conduzido pelo baixo e pela guitarra. É algo literalmente
“hipnótico”.
Em 16 de novembro de 2008, o jornal britânico The
Guardian trazia uma matéria sobre música e drogas em que o
autor Kevin Sampson apontava aspectos peculiares da cultura
reggae:
"Reggae era cadenciado e gentilmente magnético, como se
houvesse sido criado pela erva daninha que inspirou sua forma e
teologia. O reggae rapidamente se tornou a trilha sonora de uma

5
Ivor Myers, Novo Ritmo: A história de um ex-artista de hip-hop. Tatuí, SP: Casa
Publicadora Brasileira, 2012. (p. 43 e 44)
6
Cunha, Fazendo a coisa certa: Reggae, rastas e pentecostais em Salvador. Disponível
em: www.anpocs.org.br/portal/publicacoes/rbcs_00_23/rbcs23_09
62 | Sob a Regência de DEUS

jovem Jamaica cada vez mais politizada. Com a chegada de


bandas como The Pioneers e The Wailers (com Peter Tosh e Bob
Marley), a nascente cena reggae começou a abraçar temas
sociopolíticos e religiosos e, particularmente, a crescente
influência do rastafarianismo sobre a juventude jamaicana. O
fumo de cannabis em sua forma mais pura [...] tornou-se uma
parte tão intrínseca da trindade sagrada Rasta, quanto a bandeira
etíope e o skank irregular da guitarra base do reggae [ritmo
sincopado repetitivo]. Para os Rastas, o fumo de erva ou ganja é
um ato espiritual, muitas vezes, um acompanhamento para a
leitura da Bíblia, com o reggae sendo o contratempo musical para
ambos, religião e modo de vida".7
Podemos concluir que as características deste gênero
musical apontam para uma direção contrária aos princípios
estabelecidos por Deus em Sua Palavra para nossa saúde e nossa
espiritualidade. Deus espera de nós um culto racional, onde
devemos orar e cantar com a mente em estado de lucidez.
“Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que
apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável
a Deus, que é o vosso culto racional.” – Rom. 12:1 (ARA).
“Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas também
orarei com a mente; cantarei com o espírito, mas também
cantarei com a mente.” – I Cor. 14:15 (ARA).
Não há, em qualquer texto bíblico, afirmação de que sejam
usadas substâncias tóxicas, bebidas fortes e drogas alucinógenas
como meios de crescimento espiritual.
O mesmo princípio se aplica à música. Nenhum ritmo que
é aceito e utilizado como meio para hipnotizar ou para alcançar
estados alterados de consciência poderá nos aproximar de Deus,

7
Disponível em: www.theguardian.com/society/2008/nov/16/drugs-music-link
Reggae Music | 63

mesmo que essa mesma música apresente um texto com


mensagem cristã. E, infelizmente, não faltam exemplos de
produções de reggae na música cristã contemporânea.
64 | Sob a Regência de DEUS

Capítulo 9

Soul Music

“Porventura, procuro eu, agora, o favor dos


homens ou o de Deus? Ou procuro agradar a
homens? Se agradasse ainda a homens, não seria
servo de Cristo.”
Gálatas 1:10 (ARA)

No final dos anos 1960 surge nos Estados Unidos a música


soul, gênero que combina letras românticas, ritmo envolvente e
uma interpretação peculiar dos cantores. Há um forte apelo
emocional nas vozes, semelhante à música gospel secularizada
daquele período. É também frequente o uso de recursos vocais
como melismas1 e falsetes2. Cantores famosos da música soul
como Aretha Franklyn, Patti LaBelle, Wilson Picket, Al Green,
Isaac Hayes, Ray Charles e Whitney Houston começaram
cantando em igrejas cristãs.
A sessão rítmica nesses arranjos, normalmente composta
por contrabaixo elétrico e bateria, passa a ter mais destaque. As

1
“Desenhos melódicos” cantados de modo improvisado. Quando usado de modo
exagerado, torna a letra da canção incompreensível e desvia a atenção do ouvinte para
a técnica do cantor.
2
Registro vocal “falso”, semelhante ao sussurro, com o qual os cantores geralmente
alcançam notas mais agudas e com menos intensidade de som.
Soul Music | 65

composições conservam, na maioria das vezes, o compasso


quaternário, herdando o mesmo ritmo sincopado do rhythm and
blues (toque na caixa da bateria acentuando o segundo e o quarto
tempos do compasso).

A guitarra ganha uma função mais rítmica e harmônica,


sendo menos utilizada em solos do que no rock and roll, onde
permanece em primeiro plano. Órgão e orquestrações para
cordas e metais estão presentes em inúmeras produções, além de
palmas e instrumentos de percussão.
Foi através da gravadora norte-americana Motown que
inúmeros artistas tiveram suas carreiras impulsionadas na
música soul. Dentre esses, podemos citar Stevie Wonder, The
Jackson 5, Marvin Gaye, The Supremes, Diana Ross e The
Temptations.
Ainda nos anos 1960, o conhecido cantor de rhythm and
blues norte-americano James Brown combina harmonias
simplificadas com ideias rítmicas repetitivas e extremamente
percussivas (grooves), dando origem a um novo gênero musical
chamado de funk music3.
O movimento corporal sensual está associado à música soul
e funk, devido à constante presença de determinados motivos
rítmicos que se repetem ao longo de uma música. Os norte-
americanos chamam esses motivos rítmicos de grooves,
independente da origem ou do estilo. Nos gêneros soul ou funk os
grooves são conduzidos e fortalecidos essencialmente pelo
contrabaixo elétrico e pela bateria.

3
Não confundir com os gêneros funk carioca ou funk paulista.
66 | Sob a Regência de DEUS

Devido à inversão na acentuação natural da música, a


repetição contínua desses grooves pode estimular respostas físicas
e movimentos ritmados que são contrários aos ritmos biológicos
do corpo humano, gerando distúrbios como ansiedade, alteração
nos batimentos cardíacos, euforia e outros (ver capítulo 20).
Nas performances de James Brown, instrumentos como o
contrabaixo elétrico, a bateria e a guitarra sustentavam os
mesmos grooves por um longo tempo, enquanto Brown cantava e
dançava de modo incansável e eletrizante. Tão estimulante
quanto o seu ritmo eram algumas de suas letras, como por
exemplo, "Sex Machine" (Máquina de Sexo), "Hot Pants" (Calças
Quentes) e "Cold Sweat"(Suor Frio).
Grupos como Tower of Power, The Meters, Sly and the
Family Stone, Parliament, Earth Wind & Fire e The Commodores
surgem nos Estados Unidos nesse mesmo período misturando
ingredientes da música soul ao ritmo contagiante do funk
desenvolvido por James Brown.
Nos anos 1970 uma nova febre musical invade o mercado
fonográfico e os meios de comunicação de massa. A chamada
disco music torna-se um fenômeno comercial e se espalha
rapidamente alcançando rádios populares, trilhas sonoras de
filmes, programas de TV e pistas de dança nas vozes de Donna
Summer, Barry White, Chic, KC & The Sunshine Band e Bee
Gees, entre outros.
Durante a década de 1990, surge o acid jazz, uma das mais
modernas ramificações do rhythm and blues. Vários artistas
europeus e norte-americanos como Jamiroquai, Brand New
Heavies, Incognito, Count Basic, Maxwell e outros, promoveram
um resgate dos ritmos funk, disco e soul trazendo de volta timbres
e sonoridades que haviam sido abafados pelas programações
eletrônicas da música pop dos anos 1980.
Soul Music | 67

As músicas no estilo soul, e suas variações, levaram as notas


graves e percussivas do contrabaixo elétrico para a linha de
frente das produções, fazendo desse instrumento uma
ferramenta sonora poderosa capaz de mover as pessoas. Esses
ritmos sempre me contagiaram justamente pelo destaque dado
ao trabalho dos baixistas nas gravações. A primeira banda cover
de que participei não apresentava rock, mas somente disco music,
funk music e acid jazz. Mais tarde, ao tocar com as bandas de pop
rock, eu procurava transformar as linhas do baixo em grooves com
mais percussividade, influenciados pela música soul.
Há muitas décadas, a música religiosa comercial4 incorpora
os mesmos elementos da música soul norte americana, ou seja, o
ritmo dançante e percussivo que gera estímulos físicos, o uso de
falsetes que traz sensualidade à interpretação, o excesso de
melismas em busca de virtuosismo e o apelo às emoções do
ouvinte. Estes são alguns dos segredos do sucesso da música
gospel no mercado fonográfico, à semelhança de outros
segmentos musicais populares.
Ao me aproximar da música cristã busquei naturalmente
ouvir e tocar canções que se assemelhavam à música soul, algo
que já era significativo e prazeroso para mim. Mas com o tempo e
com muita paciência e carinho, meu Maestro me apresentou
novas orientações ao derramar luz sobre os contrastes que
existem entre a música que Lhe agrada e as músicas, e ritmos,
que eu tanto apreciava no passado. A luta para ficar liberto desse
gênero musical sempre foi um dos meus maiores desafios.
Precisei decidir a quem agradar: a mim mesmo ou a Jesus.
Ele deixou o céu para habitar entre nós, assumir a forma de
servo, sofrer e morrer na cruz pagando o preço dos meus
pecados para que eu venha a receber a vida eterna. Diante de
4
Na indústria do entretenimento, “música religiosa comercial” é a definição que está
diretamente associada ao termo gospel music.
68 | Sob a Regência de DEUS

tamanho amor, como permanecer indiferente, alimentando


minhas paixões individuais?
Música Cubana (Salsa) | 69

Capítulo 10

Música Cubana (Salsa)

“A meu povo ensinarão a distinguir entre o santo


e o profano e o farão distinguir entre o imundo e o
limpo.”
Ezequiel 44:23 (ARA)

A música cubana, mundialmente conhecida como salsa, é


composta por ritmos extremamente envolventes e dançantes
caracterizados pela repetição e pelas síncopes1. É quase
impossível não se mover ouvindo os ritmos cubanos. Um dos
nomes mais conhecidos da música cubana é o grupo Buena Vista
Social Club.
As apresentações com o grupo de salsa aconteciam em
casas noturnas ou festas particulares, com participação de
dançarinos profissionais e escolas de dança de salão. As pessoas
dançavam realizando movimentos extremamente sensuais.
Todos bebiam e se excitavam com aqueles ritmos “quentes”. Por
vezes presenciei cenas de assédio e traição. E ali estava eu
tocando contrabaixo, promovendo as frequências graves que,
somadas aos instrumentos de percussão, criavam o ambiente
1
Deslocamento da acentuação natural dos tempos e das partes de tempo nos
compassos.
70 | Sob a Regência de DEUS

sonoro ideal para a dança e o adultério. Em síntese, os resultados


sobre o público não eram diferentes daqueles produzidos nos
shows de rock.
Certa vez houve um episódio curioso quando tocávamos
na inauguração de um pequeno bar. Enquanto o público
dançava, nos divertíamos com o ritmo e com os improvisos do
cantante cubano que estava à frente do grupo. Em determinado
momento o pianista sugeriu um coro diferente sobre a mesma
música. Então, não somente tocávamos como também
cantávamos, repetindo as palavras muitas e muitas vezes ao som
ininterrupto dos tambores. Mais tarde procurei meu amigo
pianista e perguntei-lhe sobre o significado dos versos daquele
coro. Tratava-se de uma reza, um cântico de adoração a uma
“entidade”, a um “orixá”. Na verdade, enquanto tocávamos e
cantávamos aquela reza, de modo repetitivo e contagiante,
estávamos invocando a presença de um espírito (um demônio ou
anjo caído) naquele local. Tudo parecia curioso e atraente como
sendo apenas mais um traço do folclore e da religiosidade
inerentes à cultura musical cubana. Na época eu ainda
permanecia às cegas com relação à verdade contida na Bíblia
sobre o estado dos mortos.
Havia outra canção no repertório daquele grupo chamada
“El Nazareno”, que falava sobre Jesus Cristo. É interessante
perceber como em diferentes estilos musicais populares o nome
de Cristo aparece misturado a um contexto totalmente inverso
àquilo que é a essência de Seu caráter.
O terceiro mandamento do Criador é muito claro,
expressando a vontade de Deus sobre não usarmos o Seu santo
nome associado a coisas comuns e a práticas ou assuntos banais.
Música Cubana (Salsa) | 71

“Não tomarás o nome do Senhor, teu Deus, em vão,


porque o Senhor não terá por inocente o que tomar o Seu nome
em vão.” – Êxodo 20:7 (ARA).
Nosso Deus é santo e puro, Ele é mansidão e humildade. A
Pessoa Jesus Cristo não promove comportamentos promíscuos
nas criaturas humanas em favor das quais derramou Seu sangue
na cruz. Somente um falso cristo opera dessa maneira.
Sob um olhar individualista era musicalmente mais
interessante tocar ritmos cubanos do que tocar rock. Anos atrás
eu havia estudado esses ritmos e, finalmente, podia aplicá-los
num projeto singular ao lado de bons instrumentistas.
Tocávamos por prazer e não por dinheiro, pois os cachês eram
pequenos e sempre estávamos em um grande número de
músicos.
Todavia, não mais eram o prazer e as preferências musicais
que estavam em jogo, mas sim os princípios bíblicos que revelam
o verdadeiro caráter de Cristo. Ao me afastar daqueles
ambientes, alguns compreenderam minha decisão e aceitaram
bem as mudanças. Outros protestaram, outros riram e outros
lamentaram.
72 | Sob a Regência de DEUS

Capítulo 11

Música Popular
Brasileira (MPB)

“Porque o Senhor dá a sabedoria, e da sua boca


vem a inteligência e o entendimento.”
Provérbios 2:6 (ARA)

A música brasileira tornou-se conhecida em todo o mundo


através de ritmos como o samba, a bossa nova, o baião, o frevo, o
afoxé, o maracatu e outros caracterizados por sonoridades ricas e
envolventes, divisões e acentuações específicas chamadas de
síncopes, e certa complexidade na execução. A nossa pluralidade
de ritmos tem origem nas inúmeras tradições folclóricas e
religiosas oriundas de diferentes povos, nativos e vindos de
outros países, que habitam nas regiões do Brasil. A música
brasileira herda uma carga cultural fortíssima que inclui
instrumentos exóticos, danças, festas, roupas típicas, rituais,
símbolos, etc.
A dança, vinculada muitas vezes à sensualidade e aos
rituais religiosos, está enraizada nas origens da música popular
brasileira. No meio profissional da música popular o
instrumentista é considerado competente quando é capaz de
Música Popular Brasileira (MPB) | 73

executar ritmos brasileiros com balanço ou “swing”, palavra


relacionada ao modo mais percussivo de execução. Esse músico
tem que tocar de modo percussivo, ou “swingado”, com o objetivo
de movimentar, de “balançar” o ouvinte.
Muitas vezes não encontramos razões para deixar de ouvir
determinadas músicas populares por serem consideradas mais
“refinadas” ou “elitizadas" do que outras. Contudo, os artistas
transmitem ao público aquilo em que acreditam, com raras
exceções. O fazem através das letras de suas canções, de suas
posturas nos palcos ou em seus estilos de vida divulgados pela
mídia. Seus hábitos são imitados por seus fãs que, pela
contemplação, serão transformados segundo a imagem de seus
ídolos (deuses).
Quais influências nós estamos recebendo ao contemplar a
música desses artistas? Estaremos livres das más influências e
dos vícios se somente deixarmos de ouvir rock, reggae ou outro
gênero que esteja explicitamente, ou comercialmente, associado
ao consumo de drogas?
Conheci em Porto Alegre um pianista que justificava o seu
hábito de fumar charutos ao afirmar que o maestro Antônio
Carlos Jobim também fumava charutos. Tom Jobim, João
Gilberto, Elis Regina, Baden Powell, Dorival Caymmi, Vinícius
de Moraes, Jorge Ben, Roberto Menescal, Sérgio Mendes, Marcos
Vale, Nara Leão, Wilson Simonal, João Donato, Leny Andrade e
tantos outros artistas do movimento bossa nova frequentavam o
chamado Beco das Garrafas, um movimentado local que
abrigava diferentes bares em Copacabana no Rio de Janeiro.
O Beco das Garrafas, circuito do movimento musical entre
o final dos anos 1950 e início dos anos 1960, é considerado o
berço da bossa nova e recebeu este nome devido às brigas que
ocorriam na saída das boates do local. Essas brigas eram
74 | Sob a Regência de DEUS

resolvidas somente quando garrafas eram jogadas e, assim, o


tumulto dissipado. Em 1958, o local chegou a ser chamado de
“um novo culto aguardando seguidores”.1
“Antes de gravar ‘Corcovado’, em 1960, João Gilberto fez
uma sugestão ao compositor Tom Jobim, prontamente acatada:
mudar as primeiras palavras da canção de ‘um cigarro, um
violão’ para ‘um cantinho, um violão’. Segundo Ruy Castro no
livro Chega de Saudade, ali João já não fumava nada. É que,
segundo a mesma fonte, João passou boa parte da década de 50,
nos tempos pré-bossa nova em que frequentava com João Donato
a boate do Hotel Plaza para ouvir Johnny Alf ao piano, sob a
influência da então ainda não criminalizada marijuana [maconha]
– a ponto de Carlinhos Lyra lembrá-lo pelo apelido ‘Zé
Maconha’. [...] Agora… vai dizer que você não queria ouvir os
sons criados pelos jovens Joões Gilberto e Donato de cuca fresca,
1954?”.2
Nos últimos meses como baixista no meio artístico,
acompanhei três cantores em seus trabalhos autorais. Também
acompanhei intérpretes que apresentavam canções de Djavan,
Gilberto Gil, Caetano Veloso, Ivan Lins, Chico Buarque, Milton
Nascimento, João Bosco, Alceu Valença, Lenine, Cazuza, Cássia
Eller, Jorge Vercillo e outros. As apresentações eram realizadas
em cafés, bares, teatros, festivais de música e eventos culturais
diversos por todo o estado do Rio Grande do Sul, além de
participações em programas de TV.
Houve momentos em que a antiga rotina característica das
festas de rock se repetia. Em fevereiro de 2005 fui chamado para
acompanhar um cantor por duas noites num bar a céu aberto.

1
Beco das Garrafas, documentário. Disponível em:
www.updateordie.com/2015/05/08/revivendo-a-bossa-nova-no-beco-das-garrafas/
2
Disponível em: ronaldoevangelista.blogosfera.uol.com.br/2011/06/10/ze-maconha-
mas-pode-chamar-de-joao-gilberto/
Música Popular Brasileira (MPB) | 75

Tocamos numa cidade do litoral gaúcho durante o feriado de


carnaval. A essa altura da minha vida eu havia deixado alguns
trabalhos, fiz novas opções e estudava a Bíblia. Compreendia a
direção de Deus, mas ainda estava muito apegado às minhas
paixões. Mesmo relutante aceitei o convite, pensando no dinheiro
e nas contas a pagar.
Como era de se esperar, lá estavam os vícios, a depravação,
as músicas monótonas, etc. Tive a certeza de que as coisas nunca
seriam diferentes. Esse tipo de entretenimento sempre
apresentaria os mesmos atrativos para os amantes dos prazeres.
Enquanto estivesse disponível como músico profissional
autônomo, vez ou outra, eu estaria inserido nesse meio, ainda
que afastado das bandas de rock. O repertório mudaria, mas os
ambientes e as práticas não. Na segunda noite, um amigo
baixista que visitava o local tocou algumas músicas em meu
lugar e, para a minha satisfação, sua participação especial se
estendeu até ao final do evento. Assisti a tudo de longe,
arrependido e decidido a selecionar com mais cuidado os
próximos convites.
Nos shows autorais, realizados em auditórios e salas de
teatro, a plateia apreciava a música reverentemente sem fumar
ou beber. Devido ao contraste com a atmosfera enfumaçada dos
bares, aquele cenário parecia inofensivo. Por algum tempo eu
assim justificava minhas inclinações e meu sustento. Contudo, ao
perceber minha fraqueza, pedi sabedoria e discernimento a Deus
em silenciosa oração.
Dúvidas ocuparam meus pensamentos por meses. Em
muitos casos o conflito em minha mente surgia no exato
momento em que eu me encontrava no palco me apresentando
com outros músicos. Havia, de um lado, o desejo de seguir a
Cristo e submeter a minha vontade à Sua. Simultaneamente, no
lado oposto, estava o sonho de viver para a música e sentir o
76 | Sob a Regência de DEUS

prazer de tocar os diferentes ritmos brasileiros com sua pesada


carga de estímulos que, há muitos anos, haviam encontrado
morada em minha mente. Outra vez, meu grande Maestro me
conduziu com muito amor e paciência, e respondeu minhas
orações.
Em teatros dois problemas tornaram-se evidentes. Um
deles, à semelhança dos demais trabalhos com vocalistas, está
nas letras das canções. Não poucas vezes as composições têm
textos vulgares com palavrões, com apologia ao uso de drogas
lícitas e ilícitas, banalização do sexo e do relacionamento conjugal
e, finalmente, o uso do nome de Deus em vão. Durante as horas
de contemplação num show, ou na apreciação de CDs e DVDs, o
conteúdo textual é assimilado de forma quase inconsciente.
Definitivamente eu não mais desejava fazer parte daquilo.
Não mais queria empregar bens e talentos dados por Deus para
influenciar pessoas com tais mensagens.
O segundo problema é a atmosfera de adoração
estabelecida num ambiente teatral, onde espectadores admiram
ou veneram artistas-ídolos. O propósito de um show artístico não
é outro senão promover o artista que vende seu produto, sua
imagem, sua arte. Enquanto nos bares as pessoas estão distraídas
com danças, vícios ou paixões, no teatro o público está
concentrado no espetáculo. Os aplausos, a plateia cantando em
coro e os constantes elogios somente intensificam o desejo de ser
glorificado.
Impossível para mim era permanecer indiferente àquela
realidade e ficar sobrevivendo do comércio de valores
distorcidos, de hipocrisia e de ilusões que corrompiam meu
caráter. Não poucas vezes, essa atmosfera de idolatria se faz
presente também nos ambientes de música erudita e até mesmo
em igrejas cristãs, infelizmente.
Jazz | 77

Capítulo 12

Jazz

“Amado, não imites o que é mau, senão o que é


bom. Aquele que pratica o bem procede de Deus;
aquele que pratica o mal jamais viu a Deus.”
III João 1:11 (ARA)

No jazz e noutros gêneros populares que contenham


elementos jazzísticos, como solos, improvisação e virtuosismo, o
sentimento de orgulho pode ser alimentado consciente ou
inconscientemente. Durante um improviso é comum o
instrumentista atrair toda a atenção para si, buscando
impressionar com musicalidade, técnica, capacidade criativa e
domínio da linguagem. Muitos anos são despendidos com o
estudo dos métodos, das concepções musicais e da história dos
ídolos do jazz. Esses músicos são admirados e imitados por
legiões de discípulos.
À medida que essa busca por exaltação própria é exercitada
durante as performances, o prazer de ser glorificado começa a
funcionar como uma substância química causando dependência.
Isso ocorre quando o músico deseja ser adorado como se fosse
um deus. Sem dúvida, é um sentimento diabólico, pois de igual
modo, Lúcifer deseja adoração com a arrogância de uma criatura
que pretende ser o Criador:
78 | Sob a Regência de DEUS

“Subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante


ao Altíssimo.” – Isaías 14:14 (ARA).
“[...] Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares.” –
Mateus 4:9 (ARA).
Nas Escrituras Sagradas encontramos sólidas orientações
sobre esses sentimentos e suas armadilhas. No livro de
Provérbios, Salomão nos adverte:
“A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito, a
queda.” – Provérbios 16:18 (ARA).
“O temor do Senhor consiste em aborrecer o mal;
a soberba, a arrogância, o mau caminho e a boca perversa, eu os
aborreço.” – Provérbios 8:13 (ARA).
“Em vindo a soberba, sobrevêm a desonra, mas com os
humildes está a sabedoria.” – Provérbios 11:2 (ARA).
“A soberba do homem o abaterá, mas o humilde de
espírito obterá honra.” – Provérbios 29:23 (ARA).
No Salmo 19, Davi ora a Deus dizendo:
“Também da soberba guarda o teu servo, para que se não
assenhoreie de mim. Então serei sincero, e ficarei limpo de
grande transgressão.” – Salmo 19:13 (AEC).
E no Salmo 24, encontramos ainda as seguintes palavras de
Davi:
“Quem subirá ao monte do Senhor? Quem estará no seu
lugar santo? Aquele que é limpo de mãos e puro de coração,
que não entrega a sua alma à vaidade, nem jura
enganosamente. Este receberá a bênção do Senhor e a justiça do
Deus da sua salvação.” – Salmo 24:3 a 5 (AEC).
Já o apóstolo João, em sua primeira carta, aponta a origem
do orgulho:
Jazz | 79

“Nada que está no mundo vem do Pai. Os maus desejos


da natureza humana, a vontade de ter o que agrada aos olhos e
o orgulho pelas coisas da vida, tudo isso vem do mundo.” – I
João 2:16 (NTLH).
Jesus é “manso e humilde de coração” – Mateus 11:29
(ARA). Seu caráter é totalmente contrário aos sentimentos de
orgulho ou altivez. Ele mesmo é o maior de todos os exemplos de
abnegação e humildade:
“Tende em vós o mesmo sentimento que houve também
em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não
julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se
esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em
semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si
mesmo se humilhou, tornando-se obediente até a morte e morte
de cruz.” – Filipenses 2:5 a 9 (ARA).
O próprio Jesus Cristo também afirmou:
“Eu não aceito glória que vem dos homens.” – João 5:41
(ARA).
Músicos de jazz, jazz fusion1, música instrumental brasileira
ou latin jazz2 alimentam uma postura egocêntrica, em maior ou
menor grau, até mesmo sem que percebam. Isto ocorre por
estarem constantemente contemplando seus ídolos que
apresentam tal postura e, também, porque na maioria das vezes
buscam estar em evidência. E comigo não foi diferente, em
ambos os aspectos.
Entre 2000 e 2005, permaneci tocando com maior
frequência em espaços culturais e pequenos bares de Porto
Alegre que abriam suas agendas para os grupos de jazz da
1
Estilo que teve origem no início da década de 1970, a partir da mistura de elementos
do jazz às sonoridades e aos instrumentos elétricos comuns no rock.
2
Ritmos cubanos associados à improvisação e forma jazzística.
80 | Sob a Regência de DEUS

cidade. Zelig Bar, Mercato Jazz, Music Hall, Espaço Miró, Fellini
Bar, Santander Cultural, Foyer do Theatro São Pedro, Sala
Radamés Gnattali do Auditório Araújo Vianna, Salão Mourisco
da Biblioteca Pública de Porto Alegre, Teatro do Instituto Goethe
e Café Concerto Majestic da Casa de Cultura Mário Quintana
eram alguns dos principais locais frequentados por músicos e
apreciadores do gênero. A maioria desses espaços não mais
existe.
Nos bares, diferentes formações se reuniam para tocar
standards de jazz e música brasileira de forma livre e com muitos
improvisos. Para os músicos eram momentos prazerosos e
desafiadores que se estendiam até altas horas. Para os
proprietários dos bares era apenas mais uma noite de trabalho
com o objetivo de vender muitos litros de bebidas alcoólicas.
Naqueles mesmos bares recebíamos sempre de acordo com
o número de clientes que pagavam um couvert artístico3. Mas
houve ocasiões em que os contratantes agiram de modo
desonesto. Certa vez, tocando num trio na formação piano,
bateria e contrabaixo elétrico, num dia de grande movimento, o
proprietário do local não revelou o valor total do couvert
artístico, ficando com boa parte do nosso dinheiro. Isso aconteceu
também com outros grupos de jazz que atuaram naquele mesmo
lugar.
Lembro-me das vezes em que tocamos nesses bares onde
amigos permaneceram até a madrugada, envolvidos pela música,
deixando o local completamente embriagados e comunicando-se
com muita dificuldade. Aquele era um cenário deprimente para
momentos de tanto proveito para nós, os músicos. Como podia
aquela música ser tão prazerosa e por outro lado, tão
destruidora? Como podia o jazz, um gênero musical considerado
3
Quantia cobrada a mais num bar ou restaurante para o pagamento de uma
apresentação artística.
Jazz | 81

tão rico, tão fino e interessante por músicos e ouvintes em todo o


mundo, rebaixar a tal ponto a condição moral do ser humano
criado à imagem e semelhança de Deus?
Em 2004 fui chamado para tocar ao lado de uma jovem
cantora norte americana de jazz. Seu esposo era brasileiro e,
naquela ocasião, o casal passava férias em Porto Alegre. O
repertório reuniria jazz e bossa nova, com músicas que
compunham o seu primeiro CD solo. O grupo seria composto
por guitarra, piano elétrico, bateria e contrabaixo elétrico. Foram
duas apresentações realizadas num bar de Porto Alegre chamado
Abbey Road Studio Pub.
Nos dias que antecederam essas apresentações, tivemos
uma breve convivência nos dias de ensaio com aquela jovem que
era recém-formada pela maior faculdade independente de
música do mundo, a Berklee College of Music, localizada em
Boston, Estados Unidos. Houve uma tarde em que, na
companhia do casal e do pianista que integrava o grupo, fui até a
casa de outro baixista, sem saber ao certo qual era o objetivo da
visita. Chegando lá, percebi que aquela cantora de jazz fumava
maconha e que seu estoque pessoal da droga havia acabado.
Fomos àquele endereço para comprar maconha, porque a jovem
cantora estava precisando muito fumar. Fiquei bastante surpreso
e também decepcionado, pois esperava um comportamento mais
sóbrio de alguém com uma trajetória musical e artística
aparentemente brilhante e até mesmo invejável para a maioria
dos músicos.
Extensa é a lista dos músicos de jazz que arruinaram suas
vidas pelo abuso de álcool e drogas. Quando mais jovem, ao
buscar novas referências musicais, me deixei atrair naturalmente
pela técnica e pela musicalidade dos baixistas e demais
instrumentistas de jazz e jazz fusion, mas sem me preocupar com
o caráter deles.
82 | Sob a Regência de DEUS

Nomes como Charlie Parker, Miles Davis, John Coltrane,


Bill Evans, Billie Holiday, Bix Beiderbecke, Bunny Berigan,
Bubber Miley, Fats Navarro, Tommy Dorsey, Paul Gonsalves,
Art Blakey, Gerry Mulligan, Chet Baker, Art Pepper, Ronnie
Scott, Dick Twardzik, Bud Powell, Paul Chambers, Sonny Clark,
Dexter Gordon, Sonny Rollins, Stan Getz, Jaco Pastorius e tantos
outros, mancharam sua genialidade criativa entregando-se ao
consumo de heroína, cocaína, maconha, álcool e outras drogas
lícitas ou ilícitas. Muitos deles sofreram com uma saúde
extremamente debilitada. Outros tiveram uma morte prematura
como consequência de cirrose, câncer ou overdose de drogas.
Gerações de instrumentistas e admiradores foram influenciadas
não somente por sua arte, mas também por seus vícios.
O texto a seguir, extraído de uma matéria sobre a relação
entre o consumo de drogas e a produção artística, exemplifica
essa triste realidade:
“À época, o bebop, uma variação ‘acelerada’ do jazz, estava
em voga. E Charlie Parker era um de seus representantes
supremos. Bird, como o chamavam, tocava seu saxofone movido
a vinho barato e muita heroína, a droga da moda e socialmente
aceitável entre as pessoas ligadas à música. ‘Achava-se que
usando heroína era possível tocar como Charlie Parker’, disse
Frank Morgan, um dos companheiros de Charlie, num
documentário sobre o saxofonista. O uso da droga ajudou-o a
gravar discos sensacionais como Jazz at Massey Hall, mas também
o levou a uma morte prematura, aos 34 anos. Para se ter uma
ideia do estrago que a droga lhe fez, o médico responsável pela
autópsia – sem saber a idade real do músico – estimou que o
corpo era de alguém entre 55 e 60 anos de idade. [...] No início do
século 20, em Nova Orleans, o jazz era associado à maconha. Na
década de 30, diversas músicas sobre o tema já haviam sido
compostas e até Louis Armstrong falara bem a respeito da erva.
Jazz | 83

Milton Mezzrow, um jazzista judeu de Nova York, fez o mesmo


na década de 40 e afirmou em sua autobiografia, Really the Blues
(algo como ‘O Verdadeiro Blues’, sem tradução para o
português), que fumar maconha o ajudava a tocar melhor”.4
Hoje, ao me deparar com músicos cristãos estudando a
linguagem jazzística de Charlie Parker com profundo interesse,
fico impressionado diante de tamanha incoerência e
ingenuidade. Esse músico norte-americano estabeleceu sua
própria maneira de tocar e improvisar ao saxofone a partir do
consumo de heroína. Muitas de suas famosas gravações estão
associadas aos efeitos das drogas em sua mente. E o mesmo
aconteceu com vários jazzistas famosos.
Esse mesmo tipo de atmosfera musical seria adequado no
lar cristão e na igreja cristã? É essa a música que deve envolver os
meus pensamentos? É esse o tipo de inspiração que devo buscar
se quero servir a Cristo com minhas mãos e meus ouvidos e,
através da música, pregar o Evangelho até um dia poder vê-Lo
voltando em glória sobre as nuvens do céu?
“Quem da imundícia poderá tirar coisa pura?
Ninguém!” – Jó 14:4 (ARA).

4
Revista Superinteressante, janeiro de 2005.
84 | Sob a Regência de DEUS

Capítulo 13

O poder oculto do Jazz

“Quanto, porém, aos covardes, aos incrédulos,


aos abomináveis, aos assassinos, aos impuros, aos
feiticeiros, aos idólatras e a todos os mentirosos, a
parte que lhes cabe será no lago que arde com
fogo e enxofre, a saber, a segunda morte.”
Apocalipse 21:8 (ARA)

O que faz com que o jazz exerça um fascínio tão grande


sobre ouvintes e músicos? Por que existem tantos apreciadores
do gênero? Vale destacar aqui alguns aspectos intrigantes
pertinentes ao jazz e seu efeito magnético sobre os fãs.
Na infância, um dos meus passatempos favoritos era
desenhar naqueles livros de ligar pontos. Pouco a pouco, os
traços ganhavam forma e significado, desfazendo assim, toda a
expectativa sobre as imagens ocultas. Minha experiência com o
jazz, como ouvinte e instrumentista, fixou os primeiros pontos
que futuramente revelariam uma imagem nítida da realidade
invisível disfarçada em gênero musical.
Roger Morneau, em seu livro Viagem ao Sobrenatural, narra
um episódio interessante, onde, num encontro com um baterista
de jazz bem sucedido, o autor tem acesso a informações não
divulgadas sobre o gênero popular. Durante um jantar o músico
O poder oculto do Jazz | 85

revela a Roger que, após experimentar o fracasso como músico


de jazz por muitos anos, conheceu o culto aos demônios, um
poder através do qual alcançou o sucesso de forma instantânea
por meio de rituais, submissão e adoração. Desde então o músico
e sua banda de jazz permaneciam sendo aclamados pela mídia,
atendendo a uma grande demanda de concertos e entrevistas.
Até aqui o relato soava familiar para mim, pois já havia
realizado práticas semelhantes em troca de sucesso (ver capítulo
três), mas havia algo mais. No decorrer da conversa, Roger ouve
a seguinte declaração daquele músico de jazz:
“Na realidade, os espíritos tomam conta de nós; em outras
palavras, eles se apossam de nós e nos dão energia, e nós
repassamos essa influência para o público. Eles gostam do que
recebem e sempre voltam para buscar mais da mesma coisa”.1
Ao ler esse livro, exatamente neste ponto, não pude deixar
de associar aquela declaração com um fato que me perturbava.
As músicas que formam o repertório comum entre os
músicos de jazz são chamadas de standards e estão reunidas em
grossos livros, do mesmo modo como são os hinos cristãos
organizados em hinários. O livro de standards mais antigo e
comum chama-se The Real Book (O Livro Real) e começou a ser
utilizado na década de 1970 por músicos jazzistas nos Estados
Unidos. O livro foi produzido e distribuído de forma ilegal em
suas primeiras cinco edições, não havendo autor nem
informações sobre publicação e sem qualquer relação com a lei
de direitos autorais sobre as composições. Somente em 2004, a
partir da sexta edição, o livro passou a ser publicado de forma
legal.

1
Roger Morneau, Viagem ao Sobrenatural (São Paulo: CPB, 2004), p. 20.
86 | Sob a Regência de DEUS

Eu possuía uma cópia daquele livro, bem como vários


materiais semelhantes para o estudo de standards de jazz. A
música que abre o livro chama-se “A call for all demons”, que
significa “Um chamado a todos os demônios”. Conhecendo o
testemunho de Roger Morneau, aquilo parecia muito mais do
que coincidência. Por que a primeira partitura do livro mais
popular entre os instrumentistas de jazz em todo o mundo traz
um título tão alusivo?
Por algum tempo ainda utilizei meu Real Book, mas
arranquei a página que continha a música. Ao final daquela
partitura está a seguinte informação: Sun Ra - Angels and demons
at play. O compositor se autodenomina “Sun Ra” (Sun = sol; Ra =
deus da mitologia egípcia) e seu álbum traz o título “Anjos e
demônios envolvidos”. A capa do álbum é uma pintura com
criaturas estranhas ao redor de uma árvore com uma serpente
sobre um dos galhos. Seria esta apenas mais uma coincidência,
ou uma representação direta da serpente (Satanás) sobre a árvore
da ciência do bem e do mal, localizada no meio do jardim do
Éden, conforme o relato bíblico no livro de Gênesis?
"Ordenou o Senhor ao homem, dizendo: De toda a árvore
do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento
do bem e do mal, dela não comereis, certamente morrerás." -
Gênesis 2:16 e 17 (AEC).
"Ora, a serpente era o mais astuto de todos os animais do
campo, que o Senhor Deus tinha feito. Esta disse à mulher: É
assim que Deus disse: Não comereis de toda a árvore do
jardim? Respondeu a mulher à serpente: Do fruto das árvores
do jardim podemos comer, mas do fruto da árvore que está no
meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele
tocareis, para que não morrais. Então a serpente disse à mulher:
Certamente não morrereis." - Gênesis 3:1-4 (AEC).
O poder oculto do Jazz | 87

"[...] o grande dragão, a antiga serpente, que se chama


diabo e Satanás, que engana a todo o mundo." - Apocalipse 12:9
(AEC).
Sun Ra era músico de jazz, poeta e filósofo conhecido por
suas filosofias “cósmicas”, pregando “a consciência e a paz sobre
todos”. Outras composições contidas no Real Book também
apresentam nomes sugestivos como: “Prince of Darkness”
(Príncipe das Trevas) de Wayne Shorter, “Reincarnation of a
Love Bird” (Reencarnação de um Pássaro do Amor) de Charles
Mingus, “The Magician in You” (O Mago em Você) de Keith
Jarret e “Wings of Karma” (Asas de Karma) de John McLaughlin.
Seriam essas informações apenas fatos desconectados e sem
relação direta com um poder sobrenatural agindo nos
"bastidores" do mundo do jazz? Quando ligamos esses relatos às
origens históricas e místicas do jazz, as peças do quebra-cabeça
começam a se encaixar.
O músico porto-riquenho Louis R. Torres foi baixista da
famosa banda de rock and roll Bill Haley and the Comets. Ao ser
alcançado pelo infinito amor de Deus, se entregou a Jesus Cristo
sem reservas, deixando para trás o sucesso, o dinheiro e a
idolatria. Torres é pastor, palestrante internacional e escritor,
coautor do livro Notes on Music. Ao estudar sobre polirritmia e
sua influência, constatou que está no antigo Egito a origem da
música de percussão sincopada, e que pode alterar estados de
consciência. Essa música polirrítmica de adoração pagã foi
levada para a África Central, e, mais tarde, para o Caribe e para o
sul dos Estados Unidos onde o vodu é praticado até hoje. New
Orleans, cidade conhecida como “berço do jazz”, se tornou o
centro da música pagã baseada em polirritmos.
Os polirritmos da música vodu foram combinados com a
melodia e a harmonia da música europeia. Novas receitas
88 | Sob a Regência de DEUS

musicais como jazz, gospel, blues, rhythm and blues e rock and roll
surgiram dessas combinações, conservando até hoje os
polirritmos egípcios como princípio ativo. No texto a seguir,
Louis R. Torres apresenta as evidências históricas que apontam a
origem e a trajetória dos elementos rítmicos característicos do
jazz e de outros gêneros musicais.
"Conforme estudei música e seus poderosos efeitos nas
pessoas, minha atenção se voltou para os polirritmos (ou
síncopes complexas) que eu costumava tocar com tanto
entusiasmo. [...] A história revela que o uso de ritmos
sincopados, com sua habilidade para alterar estados de
consciência, descende do Egito antigo. É no Egito antigo que os
historiadores encontraram a origem da música de percussão
sincopada e seus usos. Nos templos, os sacerdotes utilizavam
intencionalmente síncopes complexas para induzir transes e
outras perturbações2. Os primeiros percussionistas aprenderam a
induzir respostas psicológicas, desde êxtases e alucinações até
convulsões e estados de inconsciência3. Essa forma de adoração
pagã foi, com o passar do tempo, transportada para a África
Central, onde fincou raiz em Duhomy, conhecida hoje como
República Democrática do Congo·. Duhomy (ou Congo) se
tornou o centro da religião vodu. [...] Através do comércio de
escravos, essa música de adoração ao demônio, com sua batida
ininterrupta, foi transportada para a ilha de Hispaniola, no
Caribe. [...] Hoje, o vodu continua a ser praticado no Haiti, que
ocupa o terço oeste da ilha de Hispaniola, e na República
Dominicana, que ocupa o restante da ilha. Com a continuidade
do tráfico de escravos, esse ritmo foi levado para os Estados

2
Pennethorne Hughes, Witchcraft (Londres: Longman Green, 1965), p. 23; citado em
Ismael Reed, Mumbo Jumbo (Nova Iorque: Doubleday, 1972), p. 191.
3
Michael Segell, “Rhythmitism”, Americam Health, Dezembro de 1988, pp. 19, 37.
O poder oculto do Jazz | 89

Unidos, e New Orleans se tornou o lar para o 'rufar' dos


tambores e a dança extravagante que o acompanhava."4
É importante enfatizar que esse é apenas um relato de fatos
históricos que apontam as raízes rítmicas do jazz e de outros
gêneros da música popular na América.
A música sacra produzida na África é ricamente melodiosa,
cheia de beleza e originalidade. É espiritualmente edificante,
assim como a música sacra produzida em qualquer lugar do
planeta por corações sinceros e submissos à direção do Maestro
Jesus Cristo. Em minhas pesquisas tenho encontrado
preciosidades musicais produzidas no continente africano ou por
músicos cristãos africanos radicados no Reino Unido, Estados
Unidos e outros países.

4
Adventists Affirm. Vol 13, Nº 1. Primavera de 1999, pp. 17-20. Disponível em:
musicaeadoracao.com.br/29130/como-surgiu-a-musica-crista-
contemporanea. Tradução: Fábio Araújo Martins – Janeiro de 2005.
90 | Sob a Regência de DEUS

Capítulo 14

Um disfarce para
falsos ensinos

“No passado vocês já gastaram bastante tempo


fazendo o que os pagãos gostam de fazer.
Naquele tempo vocês viviam na imoralidade, nos
desejos carnais, nas bebedeiras, nas orgias, na
embriaguez e na horrível adoração de ídolos.”
I Pedro 4:3 (NTLH)

Muitos anos depois de conhecer o testemunho de Roger


Morneau, li uma entrevista com o pianista de jazz e compositor
norte-americano Herbie Hancock, onde ele expõe sua visão
espiritual acerca deste gênero musical e de seu poder sobre os
ouvintes. Segundo Hancock, que foi criado na tradição cristã,
tudo começou numa noite de sexta-feira em meados de 1972,
quando o pianista e seu grupo tocavam num clube de jazz em
Seattle. O local estava lotado e os músicos podiam sentir a
“energia” do público que permanecia completamente
"hipnotizado" pela música. Em seguida, ele pede à banda para
tocar uma nova canção que inicia com um solo de contrabaixo
acústico. Hancock descreve a cena da seguinte maneira:
Um disfarce para falsos ensinos | 91

“Então, o baixista Buster Williams começa tocando essa


introdução. E o que saiu dele foi algo que eu nunca havia
escutado antes. E não somente dele, mas nunca o ouvira de mais
ninguém. Era tão somente pura beleza e ideias, e aquilo foi
mágico. Mágico. E as pessoas estavam fora de si, por ser tão
incrível o que ele estava tocando. Eu o deixei tocando por um
longo tempo, talvez dez, quinze minutos. Ele apenas veio com
ideia após ideia, cheio de inspiração. Então, eu pude sentir-me
acordando, pouco antes de retornarmos com a melodia da
música. E eu poderia dizer que toda a banda acordou e havia
alguma energia que era gerada a partir de Buster. Nós tocamos o
set e foi como mágica. Quando terminamos, muitas pessoas
correram até a frente do palco e estenderam suas mãos para
apertar as nossas. Alguns deles estavam chorando, muito
comovidos com a música. A música era muito espiritual também.
Eu sabia que Buster era o catalisador para tudo isso, então eu o
levei para a sala dos músicos e disse: ‘Ei, Buster, eu ouvi que
você estava em alguma nova filosofia ou algo assim e, se ela pode
fazer você tocar baixo como aquilo, eu quero saber o que é’”.1
É possível perceber como as cenas se assemelham nesses
dois relatos que descrevem a influência dessa música sobre o
público, e sua reação em resposta a esses efeitos:
“Na realidade, os espíritos [...] se apossam de nós e nos dão
energia, e nós repassamos essa influência para o público. Eles
gostam do que recebem e sempre voltam para buscar mais da
mesma coisa”.2

1
Disponível em: www.beliefnet.com/Faiths/Buddhism/2007/10/Herbie-Fully-
Buddhist.aspx
2
Roger Morneau, Viagem ao Sobrenatural (São Paulo: CPB, 2004), p. 20.
92 | Sob a Regência de DEUS

“E as pessoas estavam fora de si, por ser tão incrível o que


ele estava tocando. [...] havia alguma energia que era gerada a
partir de Buster”.3
Há sempre uma “energia” que é gerada e contagia o
público, que está fora de si como num transe. Não há dúvidas de
que há um poder externo e sobrenatural agindo através desse
magnetismo, como numa hipnose musical. Mais uma vez,
percebemos a música sendo usada como um meio de
atrair pessoas para longe do Verdadeiro Caminho.
Por influência do baixista Buster Williams, Herbie Hancock
tornou-se praticante do Budismo de Nitiren Daishonin, uma
forma de filosofia centralizada na repetição do mantra Nam-
myoho-rengue-kyo que significa “devotar-se à lei mística de causa
e efeito”. Segundo creem os adeptos dessa prática, esse mantra é
“o caminho para alcançar a suprema iluminação”. Porém, na
Bíblia, Jesus Cristo nos ensina:
“Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a
vida; ninguém vem ao Pai senão por mim.” – João 14:6 (ARA).
“E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios;
porque presumem que pelo seu muito falar serão ouvidos.” –
Mateus 6:7 (ARA).
Quando mais jovem estive em duas reuniões budistas onde
recitamos de forma contínua e repetitiva, por aproximadamente
trinta minutos, textos escritos em ideogramas chineses com
fonemas correspondentes no alfabeto em português. As pessoas
realmente acreditavam estar “em sintonia com o universo”,
supondo, segundo essa crença, despertar uma “natureza de
Buda” que estaria “dentro de cada um de nós”.

3
Disponível em: www.beliefnet.com/Faiths/Buddhism/2007/10/Herbie-Fully-
Buddhist.aspx
Um disfarce para falsos ensinos | 93

Crenças como o Budismo ou o Hinduísmo, entre outras,


anulam por completo a fé no precioso sangue de Jesus Cristo
derramado na cruz do Calvário como preço pelos nossos
pecados, pois sugerem que eu alcance uma perfeição que está,
supostamente, dentro de mim mesmo. Um argumento
semelhante foi utilizado por Satanás:
“[...] os seus olhos se abrirão, e vocês serão como Deus,
conhecendo o bem e o mal” – Gênesis 3:5 (NTLH).
Sua linguagem enganosa atrai milhares de pessoas sinceras
através de filosofias que utilizam o conceito do “deus interior”.
Essas e outras filosofias semelhantes estão bem presentes entre os
músicos de jazz, servindo muitas vezes como fonte de inspiração
até mesmo para suas composições. Essa influência é fortíssima
sobre ouvintes e músicos.
O objetivo do adversário de Deus é desviar a nossa atenção
da salvação que nos é oferecida somente mediante a fé no
sacrifício de Jesus na cruz do Calvário. Os caminhos e as
distrações são os mais variados, porque para Satanás os fins
justificam quaisquer meios. Mas as Escrituras Sagradas são muito
claras quando se referem ao Único e Verdadeiro Caminho que
nos leva a Deus. Só há uma Pessoa por meio da qual podemos ser
salvos: Jesus Cristo.
“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu
filho unigênito para que todo o que nEle crê não pereça, mas
tenha a vida eterna.” – João 3:16 (ARA).
“Assim também Cristo, tendo-se oferecido uma vez para
sempre para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez,
sem pecado, aos que o aguardam para a salvação.” – Hebreus
9:28 (ARA).
“Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede
também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se
94 | Sob a Regência de DEUS

assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar.
E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei
para mim mesmo, para que, onde eu estou estejais vós
também.” – João 14:1-3 (ARA)
Para alcançar seus objetivos, Satanás utiliza, entre outras
armas, o conceito do “deus interior” e a doutrina da vida após a
morte. Esses falsos ensinos permeiam diversas crenças e
filosofias que são defendidas por músicos e artistas em geral.
O Hinduísmo, tradição religiosa da Índia caracterizada por
inúmeras seitas e divindades, tem como uma de suas principais
bases filosóficas a crença na imortalidade da alma. Apoia práticas
de meditação transcendental e prega a reencarnação, que creem
ser um ininterrupto ciclo de nascimento, morte e renascimento.
Ao comentar sobre as características que contribuem para o
sincretismo religioso mundialmente conhecido como movimento
Nova Era, o PhD. e escritor David Marshall explica:
“Do hinduísmo ela [a Nova Era] adota a reencarnação e
técnicas de meditação. A reencarnação dispensa pecado e
julgamento, oferecendo uma série de vidas nas quais se livram
do 'karma' negativo; e técnicas de meditação [Hatha Yoga,
Kundalini Yoga, etc.] que são usadas para fazer da mente 'uma
posse vazia'”.4
Mas Deus, por Sua Palavra, nos ensina algo bem diferente a
respeito da morte (ver capítulo três). Para cada verdade,
o adversário de Deus apresenta uma contrafação. A mensagem
demoníaca que contradiz aquilo que Deus nos ensina sobre a
morte é mais antiga do que imaginamos. Foi através desse
mesmo engano que nossos primeiros pais desobedeceram ao
Criador:

4
David Marshall, A Nova Era Não É Tão Nova. Disponível em:
dialogue.adventist.org/pt/artigos/07-3/marshall/a-nova-era-nao-e-tao-nova
Um disfarce para falsos ensinos | 95

“Então, a serpente disse à mulher: É certo que não


morrereis.” – Gênesis 3:4 (ARA).
A mesma mensagem é transmitida a todos até hoje,
inclusive por meio dos ídolos da música e de seus estilos de vida.
A influência de suas crenças é claramente percebida sobre outros
músicos e admiradores.
Muitos são os músicos de jazz e fusion que aderiram às
diferentes formas de Budismo ou Hinduísmo, inserindo em suas
obras os mais variados elementos da religiosidade mística
oriental.
Dentre aqueles que refletiram em sua arte as influências da
música indiana5, ou a linguagem que caracteriza essas religiões
orientais, destacam-se:
Guitarristas – John McLaughlin, Larry Coryell, Carlos
Santana, Fareed Haque, R. Prasanna, Gábor Szabó, Rez Abbasi,
Matthias Mueller, Dewa Budjana e David Lindley.
Pianistas – Herbie Hancock, Alice Coltrane, Keith Jarret,
Terri Riley, Sun Ra, Marc Rossi e Louis Banks.
Baixistas – Buster Williams, Charles Mingus, Miroslav
Vitous, Jaco Pastorius, Victor Wooten, Kai Eckhardt, Lucas
Pickford, Steve Zerlin, Jayen Varma, Jonas Hellborg, Sheldon
D'Silva, Karl Peters, Michael Gam, Perry Wortman, Colin D'Cruz
e Ratzo Harris.
Bateristas – Narada Michael Walden, Buddy Rich, Steve
Smith, Danny Gottlieb, Jerry Granelli, Tom Rainey, Frank Bennet,
Sameer Gupta e Dan Weiss.

5
Marc Rossi, The Influence of Indian Music on Jazz. Disponível em:
sessionville.com/articles/the-influence-of-indian-music-on-jazz
96 | Sob a Regência de DEUS

Saxofonistas – Kenny G, Wayne Shorter, John Coltrane,


Michael Brecker, David Liebman, Bennie Maupin, Sonny Rollins,
Joseph Jarman, Yusef Lateef, John Handy, Phill Scarff, Pharoah
Sanders, Charlie Mariano, Joe Harriott, Rudresh Mahanthappa,
George Brooks e Steve Gorn.
Trompetistas – Miles Davis, Maynard Ferguson, Don
Cherry e Jon Hassell.
Percussionistas – Badal Roy, Trilok Gurtu, Zakir Hussain,
Bob Becker, e Jammie Haddad.
Além desses, podemos citar o clarinetista Tony Scott; os
flautistas Paul Horn e Bud Shank; o tecladista Jan Hammer; a
cantora Tamm E. Hunt e os violinistas John Mayer e Arun
Ramamurthy, entre outros.
Através de sua música mística e de seu virtuosismo na
cítara, o indiano Ravi Shankar exerceu enorme influência sobre
artistas como The Byrds, The Beatles e John Coltrane, apenas
para citar alguns. Shankar contribuiu grandemente para
incorporar a música clássica indiana à música ocidental. Nas
palavras do próprio Ravi Shankar, a música indiana não pode ser
separada da religião hindu:
“O sistema de música indiano conhecido como 'Raga
Sangeet' pode ser rastreado até quase dois mil anos no
passado, para a sua origem nos hinos védicos dos templos
hindus, a fonte fundamental de toda a música indiana.
Assim como na música ocidental, as raízes da música clássica
indiana são religiosas”.6
George Harrison, John McLaughlin, Michael Walden e
muitos outros artistas se converteram ao hinduísmo logo após os

6
Ravi Shankar, On Appreciation of Indian Classical Music. Disponível em:
www.ravishankar.org/-music.html
Um disfarce para falsos ensinos | 97

primeiros contatos com a música indiana. Muitos deles tiveram


até mesmo seus nomes alterados por seus gurus, como por
exemplo, o cantor, produtor e baterista Narada Michael Walden,
os guitarristas Devadip Carlos Santana e Mahavishnu John
McLaughlin, e a pianista e harpista Alice Coltrane, que adotou o
nome de Swamini Turiyasangitananda.
Esses exemplos revelam a íntima e forte união da
religiosidade com a arte musical da Índia, e o quanto essa música
pode influenciar as escolhas espirituais de seus ouvintes. Todos
esses artistas contribuíram direta ou indiretamente para a
disseminação dessas crenças entre fãs e músicos em geral.
É possível perceber a doutrina da reencarnação como um
dos ensinos comuns entre os adeptos do espiritismo, do budismo
e do hinduísmo. Essas três crenças têm como “cerne” a mesma
mensagem pregada pelo diabo no Éden: “[...] É certo que não
morrereis.” – Gênesis 3:4 (ARA).
É importante considerar também que o jazz não é
essencialmente instrumental. Ao cursar a faculdade de
Licenciatura em Música estive novamente em contato com os
standards de jazz na disciplina de Composição, onde analisamos a
forma, a interpretação e os textos das canções. A maioria dos
standards que recheiam os Real Books são canções de amor escritas
para cinema e teatro. As letras falam de romances sem
compromisso, aventuras amorosas, sedução, cobiça, paixões
baixas, adultério, etc. Como mais um entre tantos instrumentistas
despreocupados, eu não tinha ideia de que, ao tocar essas
canções, fazia soar melodias associadas a tais valores.
“Toda música reflete componentes básicos da cultura ou
subcultura em que foi concebida, bem como dos valores pessoais
e, em certos casos, até mesmo o estilo de vida do seu compositor.
Isso significa que cada música transmite uma mensagem aos seus
98 | Sob a Regência de DEUS

ouvintes. Essa mensagem pode ser enunciada explicitamente


através de uma letra específica ou, simplesmente, comunicada às
emoções dos ouvintes através da combinação de sons.
“Em sua obra How Should We Then Live? [Como devemos
viver?], Francis A. Schaeffer demonstra como a música
contemporânea tem refletido a cosmovisão e os valores
existenciais do homem contemporâneo (The Complete Works of
Francis A. Schaeffer, 2.ª ed., vol. 5, págs. 195-209). Conflitos
interiores, egocentrismo, sensualismo e abandono de padrões
morais são alguns dos valores popularizados por grande parte da
música moderna. Já desde a mais tenra idade, as crianças de
nossa sociedade têm sido inescrupulosamente estimuladas, em
nome da cultura e da popularidade, a substituir os valores
morais do cristianismo tradicional pelo sensualismo de inúmeras
canções populares, entoadas como melodias repetitivas e ritmos
eletrizantes.
“Embora o cristão seja ao mesmo tempo um cidadão deste
mundo e do reino de Deus (ver Mt 22:21), ele não pode se
esquecer de que sua cidadania celestial tem precedência sobre
sua cidadania terrestre (Mt 6:33; Jo 17:14-16). Mesmo não tendo
que romper com toda a música secular, o cristão deve ter em
mente que o fato de uma música ser popular e culturalmente
aceita não significa necessariamente que ela seja apropriada, pois
nem sempre a maioria está correta. A cultura popular deve ser
aceita apenas até o ponto em que não conflite com os valores
bíblicos. Quando tal conflito surge, o verdadeiro cristão não
hesita em romper com os componentes antibíblicos de sua
própria cultura, pois, de acordo com o conceito apostólico, ‘antes,
importa obedecer a Deus do que aos homens’ (At 5:29).
“O subjetivismo dos gostos pessoais e o apelo da cultura
popular devem ser subjugados e reeducados em conformidade
com os princípios normativos da Palavra de Deus. Não apenas a
Um disfarce para falsos ensinos | 99

letra de uma música, mas também os estímulos da própria


música sobre as emoções dos ouvintes devem ser
cuidadosamente analisados. O rei Salomão nos adverte: ‘Sobre
tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem
as fontes da vida’ (Pv 4:23)”.7
“A música é uma das mais sublimes artes. A boa música
não apenas nos proporciona prazer, mas nos eleva a mente e
cultiva nossas mais refinadas qualidades. Deus, com frequência,
tem usado canções espirituais para tocar o coração de pecadores
e levá-los ao arrependimento. Música desvirtuada, ao contrário,
quebranta a moralidade e nos afasta de nosso relacionamento
com Deus. Devemos exercer grande cuidado na escolha da
música no lar, nos encontros sociais, nas escolas e igrejas. Toda
melodia que partilhe da natureza do jazz, rock ou formas híbridas
relacionadas, ou toda linguagem que expresse sentimentos tolos
ou triviais serão evitadas”.8
“Toda música que se ouve, quer seja sacra ou secular, deve
glorificar a Deus. 'Portanto, quer comais, quer bebais ou façais
outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus' (I Cor.
10:31). Este é o princípio bíblico fundamental. Tudo o que não
atende a esse elevado padrão, enfraquecerá nossa experiência
com Ele”.9
Diante da coerência entre estas citações e as informações
abordadas até aqui, como eu poderia considerar qualquer música
como sendo apenas uma forma de expressão moralmente neutra?
Muito mais do que uma arte com um fim em si mesma, a música
é uma linguagem poderosa capaz de influenciar as decisões
do ser humano.

7
Alberto R. Timm, Sinais dos Tempos, novembro de 1997, p. 29.
8
Manual da IASD. Edição revisada na Assembleia da Associação Geral de 2015, p.154.
9
Voto 144-03G da Associação Geral da IASD.
100 | Sob a Regência de DEUS

É real e gigantesco o contraste entre os princípios bíblicos e


os propósitos associados à música secular mundana ou popular.
Ao compreender a vontade de Deus para a minha vida, expressa
em Sua Palavra, percebi o quão difícil seria harmonizar as notas
bem afinadas e organizadas de uma vida cristã com os sons tão
dissonantes da rotina de instrumentista na música popular.
O grupo instrumental Terra do Fogo | 101

Capítulo 15

O grupo instrumental
Terra do Fogo

“Se alguém vem a mim e não aborrece a seu pai,


e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda
a sua própria vida, não pode ser meu discípulo.”
Lucas 14:26 (ARA)

E quanto a um projeto instrumental autoral? Embora sendo


música secular, seria inofensivo por não possuir mensagens
textuais? Seria possível produzir e trabalhar com música
instrumental autoral sendo cristão e buscando guardar os
mandamentos de Deus?
Essas e outras questões foram entregues ao Criador da
música em oração. “Senhor, existe algo aqui que te desagrada? O
que é? Dá-me a Tua direção onde não existem respostas claras”.
Sempre apreciei os repertórios instrumentais, pois
ofereciam maior grau de desafio. Aquele era o momento de
crescer, de praticar o que eu havia assimilado nas sessões de
estudo. Por esse motivo os projetos instrumentais foram os mais
difíceis de abandonar.
102 | Sob a Regência de DEUS

Desde o início da minha trajetória profissional a música


instrumental foi o que me motivou a estudar de forma obsessiva,
pretendendo chamar a atenção de todos para o meu talento.
Desejei receber a glória dos homens. Agarrei-me a isso,
influenciando e arrastando comigo meus dois irmãos.
Antes mesmo de me profissionalizar como baixista,
pesquisei sobre a música instrumental produzida no Brasil e, em
especial, no Estado do Rio Grande do Sul. Descobri que, no início
da década de 1990, vários músicos gaúchos radicaram-se na
Europa, alcançando reconhecimento internacional com seus
projetos instrumentais autorais em países como Alemanha,
Suécia e Áustria. Eventualmente retornavam ao Brasil para
concertos e workshops. Grupos gaúchos como Raiz de Pedra e
Alegre Corrêa Sextett tornaram-se minhas principais referências,
porque eu sonhava realizar um trabalho autoral de qualidade
misturando improvisação, ritmos brasileiros e elementos da
música sul-rio-grandense.
Com esse objetivo, em 2001, eu e meus irmãos formamos o
grupo instrumental Terra do Fogo. Este nome fazia alusão ao
extremo sul e ao frio rigoroso, característica peculiar do inverno
gaúcho. Além dos três irmãos, o grupo receberia um quarto
músico, um amigo muito querido, pianista e compositor. Com
um bom número de músicas próprias realizamos concertos em
pequenos bares de Porto Alegre.
Em 2004, com a ajuda de um jovem produtor, conseguimos
um encaixe na agenda musical do Santander Cultural em Porto
Alegre, um espaço ligado a uma instituição privada que, além de
programações teatrais e exposições de artes visuais, promovia
concertos semanais com expressiva visibilidade na mídia local.
Nossa foto foi divulgada num folder da instituição ao lado de
nomes como o percussionista Naná Vasconcelos e o pianista
Cláudio Dauelsberg, músicos brasileiros prestigiados nacional e
O grupo instrumental Terra do Fogo | 103

internacionalmente que participaram daquela mesma temporada


de concertos no Santander Cultural. Além disso, gravamos
programas para a TVE e FM Cultura, emissoras públicas de
televisão e rádio do Estado do Rio Grande do Sul.
De todos os projetos musicais que participei o grupo Terra
do Fogo foi, sem dúvida, o mais significativo justamente por
envolver criatividade, laços familiares, amizade e dedicação.
Buscávamos fazer sempre o nosso melhor, embora muitas vezes
os resultados de ensaios e gravações revelassem muitas de nossas
limitações como instrumentistas, compositores ou arranjadores.
De fato, havia ainda muito que melhorar nos aspectos musicais.
Mas não era isso o que me inquietava.
Após ter abandonado grande parte dos trabalhos seculares,
a dúvida maior que ocupava meus pensamentos era sobre
permanecer ou não no nosso grupo instrumental. Houve grande
necessidade de oração por sabedoria em cada decisão. Não
poucas vezes procurei racionalizar a situação, justificar minha
vontade humana com um ou outro motivo e, assim, permanecer
tocando meu contrabaixo com os projetos artísticos que me
traziam prazer ou, noutros casos, benefícios materiais.
Em minha mente os ensinamentos bíblicos ganhavam
força. Eu sabia que estava inserido em um grande conflito entre
Cristo e Satanás, uma guerra de proporções universais e de
resultados eternos, tendo esse mundo como campo de batalha. E
após esse encontro com a Verdade (Jesus Cristo), meu olhar
sobre todas as questões artísticas e profissionais estava mudando
gradativamente. Os antigos sonhos perdiam o sentido, como
fumaça que se dissipa pelo ar. Os propósitos eram outros agora.
Eu simplesmente não conseguia harmonizar o objetivo
artístico final do grupo instrumental Terra do Fogo com o
propósito de seguir e servir a Jesus Cristo completamente, sem
104 | Sob a Regência de DEUS

reservas. Por mais que tentasse encontrar desculpas, por mais


que desejasse haver harmonia entre esses dois caminhos,
precisaria fazer uma escolha: ou a vontade de Cristo para as
minhas mãos e meus ouvidos, ou as paixões do instrumentista
popular com um coração cheio de ambições e vaidade.
Não mais me imaginava investindo tempo em ensaios e em
gravações para mostrar às pessoas nada mais do que
composições interessantes e improvisos que apenas
evidenciariam o meu potencial técnico como solista no
contrabaixo. É importante reconhecer que, apesar dos esforços e
da dedicação, improvisar sobre aquelas harmonias nunca fora
algo fácil para mim. Definitivamente, a improvisação não era a
minha especialidade.
Em resumo, faltava uma razão mais profunda, um objetivo
maior do que apenas o prazer pessoal e a autopromoção. Passei a
querer compartilhar as novidades, a repartir com outros o
alimento que me nutria dia a dia: Jesus Cristo.
Nos meses que antecederam minha decisão final de
abandonar os palcos, o grupo Terra do Fogo participou de uma
triagem para o Fumproarte, um fundo de apoio para o
financiamento de produções artístico-culturais no município de
Porto Alegre. Os projetos musicais selecionados seriam
beneficiados com 80% do valor total para a produção de um CD.
Enquanto os demais integrantes do quarteto alimentavam
esse sonho, eu já não via propósito em realizar algo assim. O
concurso da Prefeitura deixava de ser prioridade para mim,
porém, eu ainda era o responsável por representar o grupo
instrumental Terra do Fogo nas reuniões burocráticas e por
acompanhar o processo de seleção. Mas, desatento à agenda do
projeto, perdi uma das reuniões mais decisivas. A partir daquela
O grupo instrumental Terra do Fogo | 105

reunião, os projetos sem representação seriam eliminados do


concurso.
Simplesmente não tenho como descrever em palavras a
reação dos demais músicos e familiares ao perceberem o que
estava acontecendo. Em nenhum momento tive a intenção de
sabotar nossas chances no Fumproarte, mas não havia
justificativa para aquele esquecimento. Infelizmente, os parentes
e amigos, que há algum tempo estranhavam minhas novas
escolhas espirituais e renúncias profissionais, não tiveram um
olhar imparcial sobre meu descuido; ao contrário, sentiram-se
ofendidos e profundamente decepcionados. Fiquei extremamente
envergonhado com os resultados da minha falta de atenção e até
mesmo evitei tocar no assunto com algumas pessoas, com receio
de ouvir mais repreensões. Após aquele incidente, nosso projeto
instrumental foi interrompido.
Em oração, pedi a Deus para que Ele tornasse as pessoas
mais compreensivas e tolerantes diante das mudanças em minha
vida. Com o tempo, de maneira firme e abrangente, procurei
esclarecer o meu posicionamento com relação à fé bíblica e sobre
não mais trabalhar com a música popular.
106 | Sob a Regência de DEUS

Capítulo 16

O sábado bíblico

“Santificai os meus sábados, pois servirão de


sinal entre mim e vós, para que saibais que eu sou
o Senhor, vosso Deus.”
Ezequiel 20:20 (ARA)

Houve um elemento de grande relevância no meu


afastamento da agenda da música popular. Ao me aproximar de
Jesus Cristo, através da leitura da Bíblia e do testemunho de
pessoas próximas, percebi que havia algo relacionado ao fator
tempo que tornaria a minha rotina profissional incompatível com
a vontade de Deus. Tive contato com a doutrina do sábado
bíblico ao realizar estudos com cristãos adventistas do sétimo
dia. Ficou claro que o sábado, o sétimo dia da semana, é o
memorial da criação, o sinal entre o Deus Criador e Suas
criaturas humanas e, portanto, é o único dia a ser santificado.
De acordo com as Escrituras Sagradas, o sábado é um
período de vinte e quatro horas separado para descanso dos
trabalhos de sobrevivência, para cultuar o Criador em gratidão às
Suas bênçãos, para estar em maior convívio com a família. É o
momento de parar e recompor-se física, emocional e
espiritualmente antes de encarar uma nova semana com os
desafios do dia a dia.
O sábado bíblico | 107

O sábado bíblico tem início ao pôr do sol de sexta-feira e


finda ao pôr do sol de sábado. Durante essas horas não devemos
nos envolver com preocupações profissionais, acadêmicas,
financeiras ou com tarefas comuns aos outros seis dias da
semana. Nossa mente deve estar focada em Deus e em Sua
vontade. Por esta razão é comum passarmos as horas do sábado
em ambientes tranquilos com a família e em contato com a
natureza que é o “segundo livro de Deus”. O objetivo é
contemplar a criação e meditar no infinito amor de Deus por nós
também manifestado através dessas Suas obras. Também
manifestamos nossa gratidão e devoção ao Criador
compartilhando a esperança de salvação com outras pessoas, seja
em cultos de adoração, seja em encontros para estudo da Bíblia
ou em visitas levando auxílio espiritual e material aos que
necessitam.
Separar este dia para uso santo significa, de maneira
prática, afirmar ao mundo que creio num Deus que criou todas
as coisas em seis dias e separou o sétimo dia para, no descanso,
relembrar-nos do Seu processo criador deste mundo.
A Bíblia revela, ainda, que o sábado é o selo identificador
do Criador colocado sobre a fronte (consciência) e sobre a mão
(ação). Muitos receberão o selo de Deus sobre a fronte ao
tomarem a decisão racional e consciente de separar o dia por Ele
determinado para repouso e adoração. O selo de Deus sobre a
mão será colocado quando, em atitude de obediência, escolherem
não realizar atividades seculares no dia de sábado,
demonstrando submissão à Sua vontade.
Nos dez mandamentos (decálogo), que são a lei moral, o
Criador mostra-nos o sábado estabelecido por Ele na semana da
criação:
108 | Sob a Regência de DEUS

“Lembra-te do dia de sábado, para o santificar. Seis dias


trabalharás e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado
do Senhor, teu Deus; não farás nenhum trabalho, nem tu, nem
o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva,
nem o teu animal, nem o forasteiro das tuas portas para dentro;
porque, em seis dias, fez o Senhor os céus e a terra, o mar e
tudo o que neles há e, ao sétimo dia descansou; por isso, o
Senhor abençoou o dia de sábado e o santificou.” – Êxodo 20: 8
a 11 (ARA).
Eis um novo conflito em minha mente. Deveria eu ainda
realizar shows aos sábados, ou seja, no período do sábado bíblico
que vai do pôr do sol de sexta-feira ao pôr do sol de sábado?
Como explicar isso aos demais músicos? Todos achariam isso um
absurdo. E não foi diferente.
As principais programações culturais e musicais, em todo o
país, são agendadas para os finais de semana, especialmente às
sextas-feiras ou aos sábados à noite. Para um instrumentista a
maior demanda de shows acontece nesse período da semana.
Mesmo quando um evento ocorre no sábado à noite, parte
daquele dia envolve viagens e sound checks (passagens de som).
Seria possível conciliar tudo com a obediência ao quarto
mandamento da Lei de Deus?
Passei por muitos momentos de crise e inquietação. Por um
lado eu estava trabalhando e me divertindo, mas por outro eu
desobedecia ao mandamento de Deus. Numa noite de sexta-feira,
ao tocar com a banda de salsa num bar em Porto Alegre, me senti
extremamente incomodado. Durante um intervalo saí do local e
andei um pouco pela rua; sentia-me triste por estar fazendo o
que sabia ser errado, desagradando a Deus. Naquele dia, após
cumprir minhas obrigações, saí decidido a não mais trabalhar nas
noites de sexta-feira.
O sábado bíblico | 109

Aquela situação exigia uma atitude irrevogável. Optei


entregar meus medos e minhas dúvidas a Cristo, e tomei uma
firme decisão: estaria submisso à Sua direção diante de quaisquer
problemas. Comuniquei ao líder do grupo a minha escolha de
santificar o sétimo dia de um pôr do sol ao outro. A partir de
então estaria disponível para tocar somente nas noites de sábado
ou em outros dias; e para as festas de sexta-feira enviaria um
baixista substituto.
No encontro seguinte com o grupo, no bar onde
costumávamos sempre tocar, alguns músicos me indagaram
sobre o assunto e outros brincaram com minha nova religião.
Este foi um bom momento para testemunhar aos colegas sobre o
sábado. Acima de tudo eu estava feliz e convicto de que tinha
tomado a decisão certa, mesmo ainda não tendo abandonado
completamente os círculos musicais.
Aqueles músicos, conhecendo meus hábitos e minhas
preferências, sabiam que eu não consumia nenhum tipo de
bebida alcoólica, cigarro ou outras drogas. Satanás aproveitou o
momento para escarnecer sobre as minhas decisões, procurando
me enfraquecer naquela noite. Diante da minha nova postura,
alguns colegas me ofereceram cerveja e, como normalmente agia,
recusei. Então, num tom sarcástico, um deles perguntou diante
de todos na mesa onde estávamos: “Por que você não bebe? Sua
religião não o permite?”. A piadinha gerou algumas risadas, mas
respondi naturalmente: “Alguma vez eu já bebi com vocês?”.
Esse era apenas o começo de um processo de
estranhamento e distanciamento desses ambientes de diversão.
Minha mente era agora atraída para outros valores e outras
aspirações, para interesses mais elevados. Cada dia estava mais e
mais interessado em Jesus Cristo, em Sua personalidade, em Seus
ensinos e em Seu amor incondicional.
110 | Sob a Regência de DEUS

Capítulo 17

Renúncias

“Em verdade, em verdade vos digo que se o grão


de trigo, caindo na terra, não morrer, fica só. Mas
se morrer, produz muito fruto. Quem ama a sua
vida, perdê-la-á, mas quem odeia a sua vida neste
mundo, guardá-la-á para a vida eterna.”
João 12:24 e 25 (NVI)

Ao firmar minha decisão, curiosamente fui rodeado por


novas e sedutoras propostas de trabalho. Os cachês tornavam-se
maiores a cada novo convite. Os elogios aumentavam. Recebi
muitos telefonemas, chamados para novas gravações e novos
shows. É óbvio que Satanás fez de tudo para não perder sua
presa. Mais uma vez, com as mesmas estratégias, ele buscava
atrair minha atenção para a glória dos homens.
No início de 2005 um guitarrista gaúcho radicado na
Alemanha visitaria o Brasil para realizar concertos nas cidades de
São Paulo e Porto Alegre. Surgia, então, uma singular e atraente
oportunidade de trabalho. Desde minha adolescência apreciava o
trabalho instrumental daquele músico, quando ouvia suas
gravações em discos de vinil. Suas composições e seu estilo
sempre me inspiraram.
Renúncias
112 | Sob a Regência de DEUS

Após o pôr do sol, percebi o quanto meus esforços para


santificar as horas do sábado haviam sido em vão. Apesar das
distrações e da ansiedade, permaneci buscando a Deus em
oração. Enquanto assistia ao concerto de abertura, realizado pelo
grupo PianOrquestra, e mesmo durante a nossa apresentação,
percebi aquela mesma ausência de propósitos evidenciada em
tantos outros trabalhos. Todas as coisas convergiam para o “eu”,
para o artista, para o espetáculo. Deus me alcançava ali mesmo
naquele teatro, perdido em meio às paixões e à rebeldia, me
oferecendo uma nova chance de ser feliz em Seus caminhos.
Houve um momento em que, por livre e espontânea
vontade, tomei a decisão de dizer não, de recusar a todos os
convites. Descartei indicações para gravações bem remuneradas;
abandonei grupos e projetos autorais com amigos; enfrentei
protestos de familiares e músicos que, inconformados,
reprovaram minhas escolhas.
Consciente da realidade invisível por trás dos
acontecimentos, não cairia novamente nos mesmos enganos,
independentemente das pressões externas. Já havia escolhido um
novo Senhor a quem servir: Jesus Cristo.
Depois de vários meses sem tocar com o cantor e
compositor Nicolas (ver capítulo três), recebi um telefonema da
agência responsável pela produção de seus shows. Até então, eu
ainda estava vinculado ao projeto. Fui informado sobre um novo
concerto agendado para um sábado à noite. A passagem de som
aconteceria no sábado pela manhã, horário em que eu costumava
estar na igreja, já há alguns meses, frequentando os cultos de
adoração. Naquele momento comuniquei à secretária da agência
que não poderia participar do evento, porque havia outro
compromisso agendado no mesmo dia e horário da passagem de
som. Mal sabia ela que o meu compromisso era com o Deus
Criador do universo.
Renúncias
114 | Sob a Regência de DEUS

Pedro, em sua primeira carta, declara que:


“[...] O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como
leão que ruge procurando alguém para devorar” – I Pedro 5:8
(ARA).
Ao mesmo tempo, Deus nos faz a promessa maravilhosa
por meio das palavras de Paulo:
“Não vos sobreveio tentação que não fosse humana; mas
Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além das vossas
forças; pelo contrário, juntamente com a tentação, vos proverá
livramento, de sorte que a possais suportar” – I Coríntios 10:13
(ARA).
Para muitos eu perdera o juízo ao abandonar posições de
destaque na área da música. No entanto, me sentia muito feliz e
livre para adorar somente a Deus, obedecendo aos Seus
mandamentos sem interferências. As pessoas que oravam por
mim davam glórias a Deus pelas respostas, percebendo a
influência divina em minhas decisões.
Minhas últimas apresentações como baixista no meio
musical popular ocorreram em maio de 2005 num pub bar em
Porto Alegre, ao lado de uma intérprete e músicos selecionados.
Foram dois shows que aconteceram numa mesma semana, na
terça e na quarta-feira. O repertório, predominantemente
constituído por ritmos brasileiros, era uma espécie de tributo à
cantora Elis Regina.
Por anos eu escutara aquelas mesmas canções como uma
fonte de informação, uma referência de “como tocar samba”.
Minha mente estava condicionada a apreciar aquele repertório.
No entanto, por mais que a harmonia e os ritmos soassem
agradáveis aos meus ouvidos, algumas letras realmente me
incomodavam.
Renúncias
116 | Sob a Regência de DEUS

Mesmo assim continuei saudoso do teu estilo e sonoridade.


Encontrar músicos que combinem assim técnica e sensibilidade
não é lá muito fácil.
“Sei que estás distante da música popular faz tempo,
e considerei isso, evitando te incomodar com convites para shows.
Mas surgiu agora um momento irresistível: é um único show,
apresentando por inteiro um repertório que fizemos juntos
muitas vezes. Enfim, criei a coragem de te sondar, e dou detalhes
de como seria: show no dia 22 de fevereiro [um sábado], às 21h,
no Auditório Araújo Vianna. Cachê de mil reais. Então, está feito
o convite. Se te interessar, será um grande prazer contar contigo.
E, seja como for, te desejo muita paz e deixo o meu abraço”.
Os elogios foram escritos de maneira extremamente
educada e afável, demonstrando leal consideração de Nicolas. O
convite era interessante e o cachê bastante sedutor. Novamente
Satanás estava a manipular pessoas sinceras e circunstâncias,
criando assim, uma nova armadilha para desviar meu foco dos
propósitos de Deus. Orei pedindo que Deus não permitisse que
essa nova tentação ocupasse minha mente.
Note que o e-mail chegou exatamente no momento em que
eu registrava testemunhos e denunciava os ardis do diabo nas
páginas de um livro. Mas ao mesmo tempo, com um simples e-
mail, Deus abria uma via de acesso a essa pessoa, uma nova
chance de declarar a Verdade. Não podia eu perder aquela nova
oportunidade de testemunhar. Eis a minha resposta ao cordial
convite:
“Querido Nicolas, bom é receber a tua mensagem e de
modo algum me sinto incomodado com a tua lembrança e
contato. Fique à vontade para escrever sempre. Fico feliz que
estejas acompanhando o blog. É um grande prazer tê-lo como
leitor, meu amigo. Entendo o teu entusiasmo e motivação com o
Renúncias
118 | Sob a Regência de DEUS

“Há ainda um princípio a considerar. [Neste trecho do e-


mail, incluí os mesmos textos e citações bíblicas do capítulo
dezesseis, explicando sobre o sábado bíblico, um memorial da
criação e selo de Deus]... Futuras leis nos obrigarão a guardar o
domingo. Isso não será nenhuma novidade para quem vem
acompanhando os noticiários internacionais. Basta ligar os
pontinhos. O interessante é já estar revelado há séculos, nas
páginas da Bíblia. É óbvio que poucos tocam no assunto.
“Nicolas, eu te agradeço demais pelo convite e por
guardares boas lembranças da música que fizemos juntos, mas
por uma questão de princípios, não posso aceitar. Não posso
fazer de conta que não sei de nada, ignorar fatos e experiências e
voltar atrás em minhas decisões. Isso seria negociar princípios.
Uma conhecida escritora norte-americana certa vez declarou que:
‘A maior necessidade do mundo é a de homens - homens
que se não comprem nem se vendam; homens que no íntimo da
alma sejam verdadeiros e honestos; homens que não temam
chamar o pecado pelo seu nome exato; homens, cuja consciência
seja tão fiel ao dever como a bússola o é ao polo; homens que
permaneçam firmes pelo que é reto, ainda que caiam os céus’.2
“Também te desejo muita paz e saúde, meu querido.
Abraço na família e nos guris da banda. Sinta-se livre para
escrever quando quiser, ou se desejar, pode marcar um encontro.
Que tal um almoço?”
Após redigir essa resposta, decidi registrar a conversa neste
capítulo. Pela primeira vez em minha experiência cristã conduzi
um estudo bíblico não presencial sobre o sábado com uma pessoa
tão influente no meio artístico.

2
WHITE, Ellen. Educação. Tatuí, SP. CPB: 2004. (p. 57).
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120 | Sob a Regência de DEUS

Capítulo 18

Reeducando os ouvidos

“Depois, erguendo os olhos ao céu, suspirou e


disse: Efatá!, que quer dizer: Abre-te! Abriram-se-
lhe os ouvidos [...]”
Marcos 7:34 e 35 (ARA)

Durante anos, com minhas músicas favoritas, exercitei


minha percepção para distinguir os sons graves do contrabaixo
na audição de discos de vinil, fitas K-7 e CDs. Na adolescência, o
gênero popular que me atraiu foi o rock em suas múltiplas
tendências com todo o seu poder de influência sobre o
comportamento e as emoções. Mais tarde o jazz, a soul music e os
ritmos brasileiros me fascinaram. Colecionei CDs e mais CDs
com gravações de baixistas famosos, apenas para absorver
informações sonoras necessárias para o meu crescimento musical
como baixista, e nada mais.
Essa constante audição à procura dos sons do contrabaixo
tornou-se um mecanismo automático que, muitas vezes, me
impedia de apreciar a música de forma mais ampla. Nunca me
preocupei com o conteúdo textual das composições ou com a
qualidade dos arranjos. As letras poderiam conter palavrões ou
até mesmo mensagens satânicas nada subliminares; a harmonia
de um standard de jazz poderia ser medíocre e repetitiva; assim
Reeducando os ouvidos | 121

mesmo eu estaria satisfeito, desde que houvesse um bom


desempenho do contrabaixista.
A música possui, entre outras funções, um caráter didático.
Muitos compositores dedicaram-se à elaboração de métodos de
estudo para instrumentos. Mas a apreciação musical não deve se
resumir à técnica. A técnica é uma ferramenta a serviço do
intérprete que poderá, ou não, expressar as intenções do
compositor ou do arranjador. Há que se considerar, ainda, a letra
da canção que tem uma carga de informações a ser absorvida
pelo ouvinte. Mas minha rotina reduziu o hábito de ouvir música
à pesquisa de aspectos técnicos relacionados ao contrabaixo.
Eventualmente ouvia música erudita em concertos, ou música
regional gaúcha em festivais nativistas.
No convívio com Regina, quando ainda éramos
namorados, tive acesso à música cristã adventista do sétimo dia
produzida no Brasil em diferentes períodos, desde os hinos
tradicionais até músicas contemporâneas com arranjos pop. Esse
contato ocorreu durante o ano de 2004, época em que conservava
um olhar bastante preconceituoso sobre “músicas de igreja”. As
músicas gospel produzidas no Brasil não chamavam a minha
atenção, pois tudo o que ouvira até aquele tempo soava como
uma cópia de músicas populares, excetuando as letras.
Ao ouvir músicas cristãs adventistas do sétimo dia, porém,
fiquei surpreso com a qualidade das vozes e a excelência dos
arranjos. Havia algo diferente ali; originalidade nas composições
e um cuidado especial com a harmonia das vozes somado aos
bem elaborados arranjos de base e de orquestra. Havia também
músicas com arranjos mais pop, que apresentavam muita
percussividade na execução. Acostumado a ouvir e a tocar
diferentes ritmos da música popular no contrabaixo,
naturalmente me identifiquei com aquelas músicas mais
122 | Sob a Regência de DEUS

percussivas, ou seja, com aqueles arranjos que apresentavam


ênfase nos elementos ritmo, contrabaixo, bateria, soul music, etc.
No início, sentia desconforto ao ouvir músicas que falavam
sobre Jesus. Não compreendia as mensagens de salvação das
letras das canções. Cheguei ao ponto de querer ouvir somente os
playbacks, as gravações de base com instrumentos apenas, sem as
letras cristãs que pareciam tão estranhas e que permaneciam
muitas vezes em segundo plano, sendo obscurecidas pelos ritmos
dançantes que eu tanto apreciava.
Meu interesse por essas músicas cresceu ao descobrir que
havia instrumentistas brasileiros famosos listados nas fichas
técnicas das produções adventistas do sétimo dia, os mesmos que
eu já ouvia e admirava em trabalhos seculares. Minha atenção
fixava-se ainda no virtuosismo dos músicos aplicado aos ritmos
populares das canções.
Conhecendo o perfil daqueles músicos, algo me intrigou ao
notar que eram contratados para gravar música cristã. Muitos
deles eram usuários de drogas e levavam uma vida
extremamente dissoluta, apesar de seu grande talento
reconhecido nacional e internacionalmente.
O consumo de álcool e drogas pelos profissionais da
música é algo corriqueiro. Em Porto Alegre, conheci
instrumentistas que consumiam cocaína para permanecerem
acordados estudando por mais horas, a exemplo dos seus
grandes ídolos do jazz. Outros diziam que fumar maconha antes
de tocar poderia aumentar a sensibilidade musical, de acordo
com a crença da cultura reggae onde o estado de consciência
alterado resultante do uso da erva torna-se fonte de
conhecimento.
Em 2002, durante as mixagens de uma gravação com o
grupo instrumental Terra do Fogo, o engenheiro de som pediu
Reeducando os ouvidos | 123

uma pausa para fumar maconha. Álcool e drogas como maconha


ou cocaína eram elementos comuns nos camarins de teatros e
bares. Práticas como essas nunca me influenciaram, pois
realmente eu procurava levar a música a sério como arte e
profissão.
Mesmo não sendo um cristão, percebi certa incoerência na
combinação de mensagens textuais bíblicas cantadas com
acompanhamento instrumental realizado por músicos não
cristãos. Como somar ideias musicais concebidas muitas vezes
sob o efeito de drogas às letras que falam sobre um Deus puro e
perfeito? Não seria possível alcançar resultados excelentes a
partir de planejamento cuidadoso e minuciosa escolha dos
músicos participantes, sendo estas pessoas competentes e
envolvidas no serviço cristão?
Anos mais tarde, ao ser contratado para uma gravação com
cantores cristãos, entendi que um dos motivos para convocar um
músico não cristão (ou recém-convertido, como eu) para essas
produções é uma busca por um resultado sonoro semelhante às
produções seculares comerciais. Certamente, não há ninguém
mais qualificado para prestar esse serviço do que instrumentistas
com experiência na música popular.
Noutra ocasião, Regina e eu ouvimos juntos uma música
diferente que me chamou muito a atenção. Desta vez era algo
melhor, com uma sonoridade mais refinada. Tratava-se de uma
canção chamada “Calma, mansa, serena”1, uma gravação a
cappella com o quarteto masculino Arautos do Rei. Não havia
nenhum elemento em conflito com o texto, mas tudo estava em
perfeita ordem. A harmonia sustentava a melodia sem suprimi-
la, enquanto esta carregava as palavras, valorizando a
mensagem. Vozes afinadas e melodiosas mantinham a harmonia

1
Composição e arranjo de Jader Dornelles Santos.
124 | Sob a Regência de DEUS

soando perfeitamente, mesmo sem quaisquer instrumentos. Não


mais procurei frases de contrabaixo, mas passei a me concentrar
nos acordes e movimentos sonoros. “Uau, como se faz isso?
Como se cria algo assim?”, pensei.
Após os momentos de habitual apreciação técnica,
mergulhei no texto que era cuidadosamente amparado pela
suavidade e profundidade do arranjo. Essa combinação criava
um ambiente sonoro repleto de paz e segurança. Pela primeira
vez pude sentir a presença de Deus ao ouvir música, descansar
meus pensamentos e refletir sobre minha necessidade de um
Salvador pessoal. Nunca antes eu havia experimentado tal prazer
espiritual e, ao mesmo tempo, racional. Não existia conflito entre
ritmo e mensagem, ou entre harmonia e mensagem. O ritmo
estava presente, mas permanecia subjugado à melodia e à
harmonia.
Esse foi meu primeiro contato com a verdadeira música
sacra e sua ação benéfica e enobrecedora. Ao degustar uma vez
esse alimento musical tão raro e saudável, houve em mim grande
anseio por conhecer mais sobre arranjos para vozes e orquestra,
música sacra a cappella ou algo que apresentasse aquela mesma
riqueza sonora.
Por muito tempo resisti ao estudo das Escrituras Sagradas e
a uma aproximação maior com seu Autor. Contudo, Deus
trabalhou em meu coração carinhosamente, fortaleceu minha fé e
me levou a uma futura decisão ao Seu lado.
Logo após convergir meu foco para Jesus Cristo, e
conhecendo outros músicos cristãos adventistas do sétimo dia,
toquei contrabaixo ao lado de corais e grupos. As músicas
utilizadas em muitos cultos eram semelhantes ao gospel norte-
americano, apresentando extremismos vocais, ritmos dançantes e
Reeducando os ouvidos | 125

instrumentos ruidosos, quase sempre invisíveis, mas presentes


nos playbacks.
Em outros momentos, havia a predominância da melodia
sobre os demais elementos da música e a mensagem exercia sua
função de modo mais eficaz sobre a congregação e sobre mim.
Alguns arranjos produziam reações de paz e outros,
movimentação corporal. Percebia claramente esse contraste entre
músicas que deveriam servir a uma mesma finalidade: edificar a
experiência espiritual de um povo que aguarda a segunda vinda
de Jesus Cristo.
Uma das experiências musicais mais emocionantes que
vivenciei foi com um coral de jovens poucas horas depois do
meu batismo, a convite de um grande amigo, o maestro José Elias
Dotti. Nunca antes acompanhara tantas vozes cantando juntas
numa música tão bela e de reflexão. Tratava-se de um hino que
apresentava como mensagem os versículos de um Salmo
bastante conhecido2. Naquele dia pude sentir novamente o
prazer racional da genuína música sacra, mas, desta vez, como
músico executante e não apenas como ouvinte.
Meu gosto por músicas mais ritmadas ainda predominou
por muitos anos. Minhas novas composições eram semelhantes
às antigas músicas do grupo Terra do Fogo, mas com letras que
falavam de Jesus. Participei do Grupo Instrumental de Porto
Alegre com outros músicos adventistas. Havia os instrumentos
saxofone, violão, contrabaixo elétrico, guitarra, bateria e teclado.
Nessa época, meu irmão mais novo, André, já tivera contato com
a Bíblia e se tornara adventista do sétimo dia também. André
participou deste projeto tocando bateria. Tocávamos versões
instrumentais de hinos conhecidos, mas não exatamente música
sacra. Fazíamos arranjos contemporâneos para músicas cristãs

2
Salmo 23. Composição e arranjo de Flávio Almeida Santos.
126 | Sob a Regência de DEUS

comerciais e tradicionais com improvisos, harmonias dissonantes


e ritmos sincopados repetitivos (grooves) enfatizados pelo baixo e
bateria. Utilizávamos ritmos como soul music, pop ballad e bossa
nova sobre hinos do Hinário Adventista do Sétimo Dia e outras
produções mais modernas.
Ao mesmo tempo em que pesquisava sobre música sacra,
meu olhar era atraído para livros e artigos sobre a influência da
música. Investiguei sobre diferentes questões ligadas à música
sacra, liturgia, instrumentos e efeitos sobre a mente humana.
Confesso que nem tudo o que li me agradou, em especial
aquelas informações que contrastavam com o meu gosto musical
profundamente enraizado nas antigas influências. Passadas as
primeiras crises e decepções, logo as coisas começaram a fazer
sentido.
Deus escreve arranjos para as nossas vidas | 127

Capítulo 19

Deus escreve arranjos


para as nossas vidas

“Não temas porque Eu sou contigo; não te


assombres porque Eu sou o teu Deus; Eu te
fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a minha
destra fiel.”
Isaías 41:10 (ARA)

Minha estabilidade financeira sofreu um estrondoso


impacto quando deixei para trás os palcos e estúdios, porque
esse havia sido meu meio de subsistência durante anos. Por
muitos meses permaneci somente ministrando aulas de
contrabaixo elétrico em escolas de música. Decidido a não mais
me envolver com o meio artístico, procurei me distanciar mais e
mais da música e considerava as aulas de instrumento apenas
como um trabalho momentâneo. Meus planos agora eram outros,
talvez cursar uma faculdade de história ou de psicologia. Mas os
planos de Deus não eram esses.
Em meados de 2005, após deixar todos os trabalhos com
música secular, passei a praticar e tocar com menos frequência.
Nesse período eu ainda possuía alguns itens de valor,
equipamentos de qualidade que já não eram utilizados como
128 | Sob a Regência de DEUS

antigamente. Havia um pequeno amplificador e quatro


diferentes contrabaixos. Um deles era um antigo Fender,
fabricado nos Estados Unidos em 1975; havia sido a principal
ferramenta de trabalho naqueles últimos anos. Havia ainda um
baixo fretless1, um grande contrabaixo clássico de 4/4 de escala e
também um contrabaixo elétrico de seis cordas construído sob
encomenda por um luthier2.
Além de todos esses utensílios, restavam muitas dívidas e o
desejo de não piorar a situação. Contudo, confiante em Deus,
sabia que Ele poderia solucionar qualquer problema mediante
minha submissão e minha dependência.
Ao visitar Guilherme, um amigo baixista, este me
apresentou a seguinte questão:
“Daniel, o meu amplificador está com problemas. Procuro
algo de tamanho menor, mas com qualidade, como aquele que
você possui. Por acaso você conhece alguém que queira vender
um amplificador igual ao seu?”
No primeiro momento disse-lhe que não pretendia vendê-
lo, pois seria útil para tocar em eventuais programações com o
coral da igreja. Porém, ao refletir sobre aquela proposta, percebi
que seu interesse era uma resposta de Deus para a minha
necessidade momentânea. Mais uma vez, foi preciso estar atento
à regência de Deus.
Em poucos dias, vendi meu amplificador para Guilherme,
sanando com isso uma das dívidas mais urgentes. Precisei abrir
mão de algo que parecia ser importante para mim; precisei me
desprender de um bem material que até certo ponto poderia ser

1
Contrabaixo elétrico sem trastes. Nesse instrumento, as cordas tocam a madeira da
escala, como num violino ou violoncelo.
2
Profissionais especializados em construção, reparos e avaliação de instrumentos de
cordas.
Deus escreve arranjos para as nossas vidas | 129

útil. Somente assim pude compreender que aquela era a primeira


solução provida por Deus para um momento de crise.
Minha primeira atitude em favor do desprendimento
fortaleceu as decisões seguintes. Ao perceber que as prioridades
eram outras e que não haveria utilidade para uma coleção de
contrabaixos, decidi vender meu instrumento “relíquia” de 1975
e também o grande contrabaixo clássico. Mais adiante vendi
também o baixo fretless, restando apenas um instrumento, o
suficiente para atender às necessidades musicais daquele
momento.
Em todos os casos, os compradores apareceram como que
“do nada”, pois não precisei anunciar formalmente nenhum
daqueles itens. Apenas orei e esperei em Deus. Simplesmente fui
contatado pelos interessados que souberam do negócio através
de amigos em comum. Foi realmente surpreendente. Alguns
chegaram propondo a compra à vista, com o valor em mãos.
Assim, muitos problemas foram sanados. Por Sua
providência Deus não somente mostrou soluções financeiras,
mas me ensinou importantes lições sobre abnegação.
Durante o ano de 2006 trabalhei como monitor na
biblioteca de um curso pré-vestibular. Em troca, eu tinha o
direito de assistir às aulas do curso no turno inverso. Naquela
biblioteca encontrei muitos livros de história que confirmavam as
profecias bíblicas e os relatos históricos do livro “O Grande
Conflito”, da escritora norte-americana Ellen G. White. Pude
também testemunhar de Cristo a muitos colegas, presenteando-
os com este e com outros livros.
Na primavera daquele mesmo ano Regina e eu nos
casamos. Com o casamento surgiram novos desafios e maiores
responsabilidades, mas Deus esteve sempre presente conosco,
provendo o necessário em todos os aspectos. As surpresas de
130 | Sob a Regência de DEUS

Deus foram muitas e cada uma foi revelada no tempo certo, no


Seu tempo. Procurei esperar e crer em Suas soluções que são
sempre melhores do que as limitadas soluções humanas. Apesar
de meus esforços para mudar de profissão, a voz divina sempre
me conduziu de volta para a música.
Após um breve período de escassez, o número de alunos
nas escolas de música aumentou muito. Jamais tive tantos alunos
de contrabaixo como naquela época. Surgiram também alunos
particulares de violão. Milagrosamente os recursos eram
proporcionais às nossas necessidades.
No convívio com os demais professores numa daquelas
escolas de música observei que a maioria deles possuía algum
tipo de graduação na área. Aqueles profissionais dedicavam-se à
educação musical em tempo integral com seriedade e prazer. Há
anos eu exercia aquela mesma função, porém nunca havia
atribuído grande importância à educação musical. Ao observá-
los durante uma reunião pedagógica, percebi que estava rodeado
de pessoas que construíram sua trajetória profissional na música
como educadores.
Naquele momento uma doce voz sussurrou à minha
mente:
“Daniel, o que o impede de prosseguir nessa direção? Você já é
um músico e ministra aulas há mais de dez anos. Olhe para os seus
colegas. São professores felizes e bem-sucedidos. Sei que a música é a sua
paixão. Confie em Mim.”
Havia muita segurança naqueles pensamentos que não
eram meus. A partir dali iniciei uma pesquisa sobre cursos
superiores de música. Conversei com os colegas mais experientes
em busca de informações. Pedi a Deus orientação nas futuras
decisões acadêmicas e profissionais.
Deus escreve arranjos para as nossas vidas | 131

No final de 2007 realizei o Exame Nacional do Ensino


Médio (ENEM) e obtive bons resultados, após muitas orações e
sob a regência do meu Mestre Jesus Cristo em cada momento.
Com isso, no ano seguinte, recebi uma bolsa de estudos integral
oferecida para o curso de Licenciatura em Música em uma
universidade particular, o Centro Universitário Metodista -
Instituto Porto Alegrense (IPA).
Deus abriu o caminho para a minha graduação na área da
música. Sua providência foi muito clara em cada etapa de todo o
processo. Percebi Sua ação no súbito aumento em número de
alunos, no meu desempenho e na minha tranquilidade ao
realizar a prova objetiva e a redação, na classificação e no
ingresso na faculdade. No ano anterior minha esposa Regina
passara pela mesma experiência, tendo recebido uma bolsa de
estudos integral para o curso de Nutrição em outra universidade
particular. Tudo isso era apenas o princípio do plano de Deus
para nós.
No curso de Licenciatura em Música tive contato com áreas
da pedagogia e do conhecimento musical até então pouco ou
nada exploradas por mim como a psicologia do
desenvolvimento, o canto coral, a regência, a técnica vocal, a
prática de flauta doce e piano, entre outras atividades
pedagógicas.
No trabalho como professor nas escolas particulares de
música não havia um vínculo empregatício. Por muito tempo
orei por um contrato de trabalho, pois as aulas de instrumento
não ofereciam os benefícios e a estabilidade de um emprego.
Então, o Senhor operou um novo milagre em nossas vidas
respondendo a essas orações.
Em março de 2009, com apenas dois semestres do curso de
licenciatura concluídos, fui indicado para assumir uma vaga de
132 | Sob a Regência de DEUS

professor de musicalização infantil e regente de corais em uma


das maiores escolas da rede adventista de educação do sul do
país: o Colégio Adventista de Porto Alegre. A partir daí, o
trabalho como educador musical estaria associado à obra de
pregação do Evangelho. Deus escolheu pessoas especiais que
foram usadas por Ele naquele momento, desde a indicação até a
entrevista e a contratação.
Naquela escola, estive à frente de diferentes grupos e
projetos musicais durante cinco anos como professor, arranjador,
compositor e regente. Deus me conduziu para algo novo e me
colocou diante de um gigantesco desafio, um trabalho com o qual
jamais sonhara cujos benefícios não mais estariam centralizados
no eu; os benefícios musicais e espirituais seriam coletivos e
imensuráveis. Pude falar sobre a segunda vinda de Jesus para
muitas crianças e famílias através das músicas cantadas em
ensaios e recitais com os corais infantis. No contato com os
pequeninos alunos de quatro anos experimentei pela primeira
vez o desejo de ser pai.
Em pouco tempo, Regina e eu adquirimos nossa primeira
casa própria, um pequeno apartamento na zona leste de Porto
Alegre, próximo à igreja onde fui batizado. Essa foi mais uma
vitória, concedida após um longo período de espera e orações.
O ano de 2013 ficou marcado para mim devido ao
falecimento de meu pai, que sofreu um infarto fulminante aos 67
anos. Após essa e outras provações - o desgastante e excessivo
número de horas/aula e a contínua e crescente indisciplina dos
alunos - nosso Senhor outra vez apontou soluções maravilhosas
em resposta às nossas súplicas.
Recebi um inesperado convite para dar aulas em outra
escola da mesma rede educacional. Desta vez num colégio
menor, com uma carga horária reduzida, localizado em um
Deus escreve arranjos para as nossas vidas | 133

bairro mais próximo de nossa casa. Somada a essas vantagens,


uma atraente proposta foi apresentada: além das aulas de
musicalização infantil e canto coral que integravam o currículo,
eu também ministraria aulas terceirizadas de instrumentos em
horários alternativos. Aquele seria o primeiro passo para
estabelecer a minha própria microempresa.
Em 2014, então, no Colégio Adventista do Partenon, em
Porto Alegre, iniciei o Projeto Escola de Violões. Organizei uma
escola de música com cursos de diferentes instrumentos para
alunos e pais no ambiente escolar. O projeto fez tanto sucesso
que em pouco tempo foi necessário contratar outra professora
para assumir alguns cursos. Logo nos primeiros meses, o elevado
número de alunos ultrapassou quaisquer estimativas.
Nessa mesma época, Regina e eu havíamos feito nosso
planejamento familiar e aguardávamos a chegada do bebê com
grande expectativa. O nascimento de nossa filha Raíssa foi, sem
dúvida, o maior presente de nossas vidas. Orei ao Senhor da vida
pedindo uma menina saudável e perfeita. Ele atendeu às minhas
preces e me tornou um homem privilegiado ao viver a
incomparável experiência de ser pai. Deus colocou em minhas
mãos a grandiosa responsabilidade de liderar uma família, de ser
o sacerdote de um lar.
Após um período de oito anos, diversos fatores como o
estresse, a indisciplina e outras provações do ambiente escolar
pesaram para o meu afastamento das salas de aula. Com os
joelhos dobrados, todas as dúvidas foram entregues Àquele que
tudo pode e que sonda os corações. E as respostas vieram.
O trabalho com o Projeto Escola de Violões em parceria
com o Colégio Adventista Partenon prosperou significativamente
a partir de 2017. Os meus horários semanais, antes ocupados
pelas atividades escolares, foram rapidamente preenchidos com
134 | Sob a Regência de DEUS

aulas individuais de instrumentos, que é uma atividade


prazerosa, gratificante e musicalmente produtiva. Os resultados
desta atividade, em curto prazo, ficaram evidenciados nas
audições realizadas com os alunos. Além disso, Deus enviou
alunos particulares e abriu uma nova porta para lecionar violão
clássico e técnica vocal para adultos na Escola de Música
Adventista (EMA), em Porto Alegre.
Deus age diretamente em nossas vidas. Conhecendo todos
os detalhes do nosso dia a dia, Ele é cuidadoso em nos conceder
aquilo que somente Ele sabe ser o melhor para nosso
amadurecimento no tempo oportuno.
As respostas divinas relatadas neste livro são apenas
fragmentos de Sua ação permanente. São como trechos de um
arranjo que o Grande Regente Jesus Cristo escreveu para uma de
Suas composições, isto é, para minha vida.
Em busca de mais respostas | 135

Capítulo 20

Em busca de mais respostas

“Mas, se alguém tem falta de sabedoria, peça a


Deus, e Ele dará porque é generoso e dá com
bondade a todos. Porém peçam com fé e não
duvidem de jeito nenhum, pois quem duvida é
como as ondas do mar, que o vento leva de um
lado para o outro. Quem é assim não pense que
vai receber alguma coisa do Senhor, pois não tem
firmeza e nunca sabe o que deve fazer.”
Tiago 1:5-8 (NTLH)

A experiência com a música popular no passado me ajudou


a assimilar novos conceitos, confirmando aquilo que Deus nos
revelou e a ciência tem comprovado. Detalhes daquele cenário
em que eu estivera inserido por dez anos foram descritos por
cientistas, autoridades em música e pesquisadores; bem como
pelos escritores da Bíblia em diferentes passagens, abordando
princípios morais e consequências da desobediência a Deus.
Em seu livro O Que Deus Diz Sobre a Música, a Dra.
Eurydice V. Osterman1 explica, com base em diferentes
referências científicas, que a música “cria e influencia os

1
Eurydice Valenis Osterman é doutora em arte musical pela University of Alabama. É
palestrante internacional, educadora musical, regente, compositora, arranjadora,
organista e pianista.
1 2 1 2 1 2 1 2

1 2 3 1 2 3
1 2 1 2 1 2 1 2

1 2 3 1 2 3
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Em busca de mais respostas | 139

A essa divisão da música em compassos, organizados em


tempos fortes e fracos, chamamos Métrica.
“Métrica envolve nossa percepção inicial, bem como a
antecipação subsequente de uma série de batidas que extraímos
da superfície rítmica da música à medida que ela se estende no
tempo”.3
O músico e autor Bohumil Med fornece-nos as seguintes
definições para Acento e Acento Métrico ou Natural:
“[Acento] É o grau de intensidade atribuído à determinada
nota de um desenho ou frase musical. É a ênfase dada a um som
(alguns sons são mais fortemente acentuados que outros). Acento
métrico ou natural corresponde ao tempo forte ou parte forte do
tempo”.4
Muitos dos ritmos biológicos do corpo humano são
também organizados em sequências de pulsos com ênfase
natural no primeiro pulso; assim como o acento métrico dos
compassos exemplificados aqui.
Respiração, batimentos cardíacos, ondas cerebrais e pressão
arterial são exemplos de ritmos do nosso organismo que
correspondem ao compasso binário ou quaternário, e ainda os
movimentos musculares para caminhada ou marcha, entre
outros. O ciclo sono/vigília, por exemplo, além de outros
movimentos musculares, seguem o ritmo do compasso ternário.
Portanto, músicas que apresentam ritmos com essa
acentuação biológica natural influenciam de forma positiva os
nossos ritmos, pois estão de acordo com o que Deus estabeleceu
para o bom funcionamento de nossa mente e de nosso corpo.

3
London, Justin. Hearing in Time: Psychological Aspects of Musical Meter.
Oxford: Oxford University Press, 2004. (pg. 4-5)
4
MED, 1996, pg. 217
1 2 1 2 1 2 1 2

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Em busca de mais respostas | 141

excessivo como na maioria dos ritmos populares que ouvimos no


dia a dia em lojas, em shopping centers, restaurantes, na mídia
secular e até mesmo em igrejas cristãs?
Certa vez, uma amiga recomendou que eu assistisse às
palestras realizadas em todo o Brasil por um professor chamado
Hélio dos Santos Pothin. Além de músico, Hélio é doutor em
fisiologia humana pela Universidade Federal do Rio Grande do
Sul (UFRGS) e também professor de fisiologia humana na
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Essa amiga
sugeriu que eu o procurasse para tirar dúvidas sobre esses
assuntos.
Em pouco tempo ficaram esclarecidas diversas questões
com um profissional que tanto conhece os caminhos do som no
organismo humano quanto possui experiência como músico
instrumentista (trompetista) e regente de corais. Com paciência e
atenção ele respondeu a cada uma de minhas indagações, sendo
que muitas delas sobre síncopes aplicadas aos tempos do
compasso, ou às partes do tempo, conforme ocorre em centenas
de composições:
“Os efeitos prejudiciais ao nosso corpo são provocados
pelos ritmos sincopados que são discordantes dos nossos ritmos.
Entendo, pelo que conheço do nosso organismo, que todo o som
percorre o sistema nervoso da mesma maneira, através de
impulsos nervosos. O que difere em um tipo de som ou ritmo é a
quantidade de impulsos nervosos originados nos receptores
auditivos e no local da membrana do interior da cóclea, onde foi
provocada a estimulação.
“Além disso, nosso sistema nervoso interpreta os intervalos
de tempo entre uma salva de impulsos e outra. De acordo com
esses intervalos, e com a quantidade de impulsos desses
estímulos nervosos, eles serão enviados com maior ou menor
142 | Sob a Regência de DEUS

intensidade para locais determinados, principalmente pelo


Tálamo5. Portanto, o ritmo sincopado provoca um mesmo efeito
nas pessoas, porém pode ocorrer com intensidades diferentes.
“Exemplo: O álcool é uma substância que provoca um
efeito inibidor no sistema nervoso central. Esse efeito pode ser
maior ou menor, dependendo da dose (quantidade). Para uma
pessoa que não ingere álcool costumeiramente, qualquer
quantidade pode induzir a um efeito mensurável. Porém, uma
pessoa que está acostumada a ingerir quantidades maiores de
álcool não sentirá um efeito com pequenas doses, mas precisará
de doses maiores. Cada pessoa sofre efeitos com intensidades
diferentes e nunca se sabe qual dose vai provocar efeito
suficiente para levar ao vício.
“Assim é a síncope. Mesmo os ritmos sincopados que não
são fortalecidos por instrumentos, como tambores, irão provocar
efeitos nos ouvintes. Cada ouvinte sofrerá efeito em intensidades
diferentes, porém o resultado será o mesmo.
“O ritmo sincopado induz à liberação de hormônios e
neurotransmissores no organismo, os quais provocam prazer.
Devido a esse efeito, o ouvinte tende a querer escutar cada vez
mais esse tipo de ritmo, podendo levar à dependência e ao vício
de modo semelhante às drogas psicoativas.
“Todos esses efeitos são potencializados quando o ritmo
sincopado for repetitivo e marcado por tambores. Pessoas já
acostumadas a apreciarem os efeitos dos ritmos sincopados terão
o desejo de fortalecê-los cada vez mais, com instrumentos
próprios para isso.

5
Parte do cérebro que recebe informações dos sentidos da audição, visão, gustação e
tato, enviando-as para outras regiões do cérebro.
Em busca de mais respostas | 143

“Em resumo, o efeito dos ritmos sincopados na música


pode levar à necessidade de mais síncopes, e cada vez mais
acentuadas, para produzir o efeito desejado.
“A harmonia influencia, predominantemente, o córtex pré-
frontal (centro da razão e da consciência); a melodia,
predominantemente, o sistema límbico (emoções e
comportamentos sociais); o ritmo, predominantemente, nossos
ritmos biológicos. Melodias ou ritmos monótonos podem
provocar a liberação de Adrenalina, estimulando os Corpos
Amigdaloides do Sistema Límbico. Deste modo, as emoções
poderão superar ou até inibir a influência do córtex pré-frontal.
Assim, quando as emoções superam a razão, ocorre o que
conhecemos por êxtase.
“Quando o ritmo sincopado marcado e repetitivo é
exagerado, leva à liberação de hormônios e neurotransmissores
que inibirão totalmente a razão e a consciência; e o indivíduo
pode ser levado ao transe, que é um estado de inconsciência ou
semiconsciência em que se verificam muitos fenômenos
psíquicos e mediúnicos, onde se mantém um vínculo ativo entre
o sujeito e as circunstâncias ambientais que provocaram o
fenômeno”.6
A revista Mente e Cérebro, em sua Edição Especial nº 12,
tendo como matéria de capa o tema “Segredos dos Sentidos”,
trouxe uma entrevista com o neurocientista e Ph.D. em
Psicologia, Norman M. Weinberger. Conforme aponta o doutor
Weinberger:
“O ritmo repetitivo sincopado e marcado aumenta os níveis
de neurotransmissores (noradrenalina, serotonina e dopamina) e
de adrenalina no sistema nervoso central, gerando prazer. A

6
Explicações concedidas por Hélio dos Santos Pothin em consultas realizadas em 2014.
144 | Sob a Regência de DEUS

música com este tipo de ritmo ativa alguns dos mesmos sistemas
de recompensa estimulados por comida, por sexo e por drogas”.7
Esses mesmos efeitos ocorrem quando ouvimos ou tocamos
ritmos populares como rock, country, soul, reggae, samba, jazz,
salsa ou quaisquer outros em que síncope e repetição ganham
maiores destaques. É importante relembrar que a síncope nada
mais é do que o deslocamento da acentuação natural dos tempos
(ou das partes de tempo) no compasso e que, se usada sem
excessos torna a música interessante.
Penso nas massas humanas aglomeradas em shows de rock,
buscando mais e mais daquele mesmo estímulo; penso na paixão
manifestada no carnaval e noutras festas populares nacionais,
onde o samba, e outros ritmos brasileiros, fortemente
caracterizados pelo excesso de síncopes, contagiam a milhares.
Penso, também, no prazer que eu e os demais músicos sentíamos
ao tocar os grooves sincopados e envolventes da música popular.
Após conhecer todas essas questões, novas dúvidas
surgiram, pois os ritmos sincopados repetitivos permeiam
gravações utilizadas nos cultos de adoração, em diferentes
denominações cristãs. Como poderá haver significativo
crescimento espiritual e pleno entendimento sobre as verdades
bíblicas para esse tempo, se estamos a contemplar músicas cristãs
com efeitos prejudiciais cientificamente comprovados durante os
cultos das igrejas e também em nossas residências ou em nossos
dispositivos móveis?
Em oração reflitamos e respondamos com racionalidade no
Senhor: é possível acreditar que “somente a letra é importante”
na seleção e na apreciação da música cristã?

7
Mente e Cérebro, Edição Especial nº 12, p. 53
Em busca de mais respostas | 145

O experiente maestro cristão Jeffrey K. Lauritzen, em seu


artigo “Música na Adoração - Estamos Realmente adorando-O?”,
escreve:
“A música forma parte da adoração a Deus no céu, e
pretende elevar a alma a despertar para um espírito de devoção e
gratidão; ela é tanto um ato de adoração quanto de oração. [...]
simplesmente ‘apresentar’ música sacra não é o bastante. Uma
vez que o alvo essencial no culto é glorificá-Lo, deveria ser nosso
objetivo que se destine mais ao deleite de Deus do que do
homem. No culto, Deus é o auditório. [...] A tendência da posição
de alguns compositores é de que qualquer estilo musical,
contanto que contenha um texto sagrado, é adequado para o
estabelecimento da adoração. [...] Pode-se concluir que a música
por si mesma, e não apenas o texto, é uma questão chave na
aceitação de música para a adoração. [...] A música, em sua
definição mais simples, é composta de três componentes:
melodia, harmonia e ritmo. [...] Ao escolher a música para o culto
sua hierarquia deve ser mantida intacta: a melodia deveria reinar
suprema. A harmonia dá sustentação à melodia, mas nunca a
suplanta. O ritmo deveria sustentar ambas, mas nunca suplantá-
las. [...] A melodia é o veículo que transporta o texto da música.
No culto, especialmente, este texto deve prevalecer. [...] O fato é
que muito dessa música incorpora uma hierarquia inversa, com
respeito à melodia – o veículo que transporta o texto – sendo de
menos importância”.8
Em resumo, os três elementos básicos da música são assim
distribuídos e bem organizados, de maneira hierárquica:
(1) Melodia – sequência de notas tocadas em separado. A
melodia de uma música normalmente funciona como uma
história contada (cantada ou tocada) com início, meio e fim. Na

8
Adventist Perspectives V. 1, p. 31
146 | Sob a Regência de DEUS

música sacra, este elemento deve estar em primeiro plano, pois


carrega a mensagem bíblica com texto inspirador, rico e para
reflexão, para apelo e fortalecimento na tomada de decisões ao
lado de Cristo.
(2) Harmonia – sons relacionados e organizados em
simultaneidade (acordes, vozes, cadências). A harmonia estimula
a nossa racionalidade e, em consequência, a nossa capacidade de
fazer escolhas lúcidas. Ela proporciona a sustentação, a
preparação e o repouso para a melodia.
(3) Ritmo – assim como em qualquer música, na música
sacra o ritmo também está presente na divisão da melodia e na
cadência dos acordes. A diferença é que não ganha a mesma
ênfase que nos gêneros populares caracterizados por repetição,
síncopes excessivas, dança, euforia, etc. O ritmo influencia,
predominantemente, nossos ritmos biológicos naturais.
Diante da divergência de opiniões de músicos e
produtores cristãos, opiniões estas que na maioria das vezes
variam de acordo com o gosto pessoal, ou seguem as exigências
de mercado da indústria da música religiosa, decidi deixar de
lado as minhas inclinações musicais e as sensações de prazer
pertinentes aos ritmos populares tocados no contrabaixo. Era
preciso desconstruir meu gosto e meu modo de tocar, a fim de
conhecer a vontade de Deus para as minhas mãos e para os meus
ouvidos. Também buscar mais sobre aquilo que Deus nos deixou
revelado a respeito da música no céu, aquela que Lhe é agradável
em todos os aspectos. E ainda mais, conhecer o propósito de
Deus para essas mudanças que, certamente, trariam benefícios a
outras pessoas.
Isso somente seria possível através da oração, da leitura da
Bíblia e da minha submissão à regência do Espírito Santo.
Reeducando os dedos – Parte I | 147

Capítulo 21

Reeducando os dedos
Parte I

“E, se a tua mão direita te faz tropeçar, corta-a e


lança-a de ti; pois te convém que se perca um dos
teus membros, e não vá todo o teu corpo para o
inferno.”
Mateus 5:30 (ARA)

Mediante decisões racionais, meu gosto musical enfrentava


um processo de reeducação. Não podia eu permanecer
indiferente diante de evidências tão claras apontadas por Deus
em resposta às muitas dúvidas que eu mesmo havia colocado em
Suas mãos.
Pouco a pouco, minha mente buscava novos estímulos
sonoros com maior ênfase na melodia, na harmonia e menos no
ritmo. Os timbres acústicos, com toda a riqueza de seus
harmônicos1, a cada dia me cativavam mais e mais. Lentamente as
sonoridades dos instrumentos elétricos e amplificados da
segunda metade do século 20 perdiam seus encantos, e já não me
atraíam como no passado.

1
Frequências de ressonância.
148 | Sob a Regência de DEUS

Ao contemplar novos sons minhas mãos produziam e


buscavam algo novo também. Passei a ouvir e a pesquisar
música erudita, especialmente a do período barroco (1600 –
1750), por apresentar, de modo singular, equilíbrio entre os
elementos melodia, harmonia e ritmo, cada um em seu
respectivo grau de importância. O que tornou essa música ainda
mais interessante para mim foi a sua relação com a fé cristã da
Reforma Protestante. Alguns dos mais conhecidos compositores
desse período lançaram os alicerces para a música litúrgica
tradicional do cristianismo protestante.
Fiquei impressionado ao conhecer a vasta obra de Johann
Sebastian Bach, uma preciosa fonte de ideias e possibilidades
musicais. Naquelas músicas tão antigas encontrei sonoridades
semelhantes àquelas que me elevaram a mente, quando pela
primeira vez ouvi música sacra a capella.
Meu interesse maior pela obra de J. S. Bach surgiu durante
a faculdade de Licenciatura em Música. O contato mais
significativo ocorreu em aulas expositivas da disciplina de
História da Música, quando pude apreciar peças belíssimas desse
fantástico compositor do período barroco.
Na adolescência, tive contato com a música erudita de
diferentes períodos. As composições de Vivaldi, Beethoven e
Mozart me fascinavam, mas pouco conhecia a respeito da
influência de Bach sobre os compositores do classicismo e do
romantismo. Johannes Brahms afirmou: “Estude Bach! Aí você
encontrará tudo”.2 E de acordo com Ludwig van Beethoven, que
o considerava o pai da harmonia: “Bach [riacho, em alemão]
deveria se chamar Ozean [oceano] e não Bach!”.

2
Citado por Russell H. Miles em seu livro Johann Sebastian Bach: an introduction to his
life and works, p. 19.
150 | Sob a Regência de DEUS

Até então, o violão era apenas um instrumento secundário


para mim, sendo utilizado somente para a composição ou para
eventuais aulas particulares. Minha abordagem do violão sempre
estivera ligada às harmonias da música popular.
Logo iniciei a construção de arranjos de hinos cristãos
tradicionais para contrabaixo solo. Busquei uma abordagem
diferente para interpretar canções nesse instrumento ao enfatizar
melodia e acordes simultaneamente durante a execução. Com
esse enfoque é possível perceber as cores da harmonia e a
composição de um modo mais amplo. Mesmo considerando a
extensão limitada de um contrabaixo elétrico de quatro cordas,
esses arranjos podem proporcionar maior independência e
prazer ao músico. Não é preciso contentar-se somente em
acompanhar gravações restringindo-se às notas mais graves do
instrumento. Esta é apenas uma função básica do contrabaixo. As
possibilidades de um instrumento são tão numerosas quanto a
nossa imaginação permitir.
Essas primeiras ideias foram apresentadas na faculdade
durante o ano de 2011 em dois eventos, sendo o primeiro uma
recepção aos calouros do curso de Licenciatura em Música com a
participação dos meus irmãos Marco e André. O último deles foi
o workshop Baixo em Pauta, uma oficina ministrada durante a
semana acadêmica daquele mesmo curso. Desde a adolescência
estivera em contato com o baixo elétrico, mas pela primeira vez
conduzia um workshop com meu instrumento. André participou
do encontro tocando bateria ao meu lado.
Eu vivia um período de transição musical onde as antigas
influências pareciam perder sua força, mas restavam muitas
informações do velho músico sob meus dedos, misturadas às
novas melodias de hinos cristãos. Alguns daqueles arranjos
soavam como versões jazzísticas de hinos sacros.
Reeducando os dedos – Parte I | 151

O foco da oficina estava sobre o repertório sacro e sobre a


inspiração que me movia a pegar o contrabaixo e fazer música
que era o meu relacionamento com Jesus Cristo. Afirmei isto para
o público presente, formado por alunos, professores do curso e
músicos convidados.
Com o passar do tempo, à medida que tive acesso às
orientações e informações científicas sobre a influência da música
(ver capítulos vinte e vinte e quatro), o meu olhar sobre seu uso
na adoração a Deus mudou. Ao utilizar o contrabaixo dessa
forma mais abrangente, procurei explorar ao máximo seus
recursos melódicos e harmônicos. O ritmo continuava presente,
mas permanecia agora subjugado pelo tema da composição. Ao
compor novas músicas podia escolher, de forma consciente,
quais compassos, ritmos e acentuações utilizar, de modo a não
gerar os efeitos indesejados nos ouvintes. Não mais quero
movimentar pessoas com músicas e instrumentos musicais. No
passado meu objetivo era “balançar” e excitar o público nas
festas e nos bares. Mas, definitivamente, essa não é a finalidade
da música num momento de adoração a Deus.
O desejo de tocar um instrumento de orquestra também
brotou em meu coração. Durante a graduação, devido à
convivência com colegas músicos, fui atraído por novos timbres
como o clarinete, a trompa e a flauta transversa, porém não tomei
nenhuma decisão relacionada à compra e à prática de um
instrumento de sopro.
Em 2012, durante uma aula de musicalização, uma aluna
do 3º ano do ensino fundamental realizou uma breve
demonstração com um violoncelo de 3/4 de escala. Estudávamos
sobre a família dos instrumentos de cordas com arco. Após sua
demonstração pedi permissão para tocar. Pela primeira vez fiz
soar as cordas de um violoncelo e foi incrível. O som era lindo e
me fez muito bem. Mesmo sendo um instrumento menor em
152 | Sob a Regência de DEUS

proporções havia nele características ergonômicas familiares. Era


como dedilhar um pequeno contrabaixo clássico.
Essa experiência despertou meu interesse pelo violoncelo.
Ali estava o instrumento de orquestra que eu desejava tocar.
Pesquisei valores e opções de compra e logo descobri que se
tratava de um instrumento pouco acessível. Todos os meus
esforços por adquirir um violoncelo usado, ou emprestado,
mostraram-se inúteis.
Então, conversei com Deus mais uma vez: “Senhor, perdoe-
me porque talvez isso seja apenas uma paixão egoísta. Já tens me
dado muito, até mais do que necessito. Devo e quero me
contentar com o que tenho. Apenas se for da Tua vontade me
conceder o privilégio de tocar também esse instrumento e com
ele louvar Teu nome e alcançar pessoas, que assim seja, mas no
Teu tempo”.
Um músico de orquestra que ministrava aulas de violino
na mesma escola, ao perceber o meu interesse e a minha
dificuldade em adquirir um violoncelo para estudo, além da
carência de um violoncelista para acompanhar seus alunos nos
recitais, decidiu me presentear com um instrumento usado,
bastante acessível. Estranhei a proposta, pois não é todo dia que
alguém decide investir em presentes para os colegas. Não tenho
dúvidas de que Deus usou aquele homem na realização de mais
um sonho.
O violoncelo é um instrumento incrível com um som
belíssimo, profundo e envolvente. Nítida é a sensação de prazer e
conforto nos ouvintes após as primeiras notas.
É interessante notar que a maioria dos instrumentos
acústicos possui qualidades benéficas ao ser humano. Isso é
naturalmente perceptível até mesmo para leigos, e também
cientificamente evidenciado através de testes e comparações
Reeducando os dedos – Parte I | 153

entre as diferentes amplitudes de onda de instrumentos


amplificados e de instrumentos acústicos e seus respectivos
efeitos.
154 | Sob a Regência de DEUS

Capítulo 22

Reeducando os dedos
Parte II

“Não amem o mundo, nem o que há nele. Se


vocês amam o mundo, não amam a Deus, o Pai.
Nada que está no mundo vem do Pai. Os maus
desejos da natureza humana, a vontade de ter o
que agrada aos olhos e o orgulho pelas coisas da
vida, tudo isso vem do mundo. O mundo passa,
com tudo aquilo que as pessoas desejam, porém
quem faz a vontade de Deus vive para sempre.”
I João 2:15 a 17 (NTLH)

Diante dessas novas percepções e da perspectiva sobre


futuras produções de músicas que pudessem contribuir para o
enobrecimento do caráter, novas ideias passaram a ocupar meus
pensamentos. E se fosse possível associar a ergonomia de um
contrabaixo elétrico com a sonoridade rica e confortável
produzida por uma caixa de ressonância, algo semelhante aos
instrumentos de cordas acústicos? E se, ao mesmo tempo,
pudesse usufruir de um registro mais abrangente, alcançando
maior extensão em notas agudas, como num violoncelo ou num
contrabaixo elétrico de seis cordas?
158 | Sob a Regência de DEUS

Estes foram recursos úteis que contribuíram para mudar


ainda mais minha abordagem no contrabaixo. Pude dar início a
uma série de gravações instrumentais sacras e acústicas, além de
tocar em pequenas igrejas sem a necessidade de um
amplificador. Pensei, então, em repetir a iniciativa bem sucedida
do violinista e maestro paranaense Paulo Torres que é a prática
de voluntariado em hospitais para levar conforto às pessoas
através dos sons de algum desses instrumentos acústicos.
Há cerca de quatro anos atrás, na primavera de 2010, eu
havia trocado meu contrabaixo elétrico artesanal de seis cordas
por outro baixo Fender antigo, este fabricado em 1978. Naquele
tempo, meus ouvidos ainda buscavam a antiga e familiar
sonoridade dos contrabaixos elétricos tradicionais, ou “vintage”;
minhas mãos ainda desejavam a ergonomia daquele mesmo
instrumento de quatro cordas que utilizara por tantos anos na
música popular. Preciso reconhecer que, ao manusear meu
contrabaixo elétrico, as antigas técnicas e informações musicais
que estabeleceram minha trajetória como instrumentista popular
ressurgiam vez ou outra enquanto os dedos executavam
movimentos espontâneos, revendo ideias, frases de solos, grooves
percussivos e até mesmo trechos de músicas populares
arquivados em minha mente. Não resta dúvida de que aquele
instrumento significava, para mim, um link entre o passado –
sentimentos, valores, prazeres, hábitos e gostos musicais, técnicas
e sons característicos da soul music, do jazz fusion, da MPB e da
música pop em geral – e o presente – o desejo de buscar uma
renovação no meu fazer musical baseado em novas sonoridades
e novas influências.
Ao lado de marcas também famosas como Gibson e
Rickenbacker, os instrumentos elétricos e amplificadores
projetados por Leo Fender revolucionaram a música popular do
século passado. Desde a invenção dos modelos Precision Bass e
160 | Sob a Regência de DEUS

Essas invenções proporcionaram um grande “poder de


fogo” aos músicos de blues, country e jazz da primeira metade do
século 20 que, antes limitados aos timbres suaves e ao volume
reduzido de seus violões, banjos e contrabaixos acústicos
contavam agora com guitarras e baixos elétricos dotados de
captadores1 conectados a amplificadores valvulados. Toda essa
tecnologia fazia com que as notas literalmente “gritassem”. O
timbre dos contrabaixos elétricos oferecia, assim, mais peso e
potência às frequências graves.
A alta intensidade de som dos instrumentos amplificados,
como é normalmente utilizada nos gêneros musicais populares, é
uma questão que carece de atenção especial. Guitarras e baixos
elétricos foram projetados para trabalhar em volumes extremos,
competindo com o volume de som dos tambores e pratos que,
por sua vez, são microfonados nos shows. Essa intensidade de
som exagerada caracteriza a atmosfera dos estúdios de ensaio e
dos palcos, bem como de inúmeras igrejas cristãs que utilizam o
volume excessivo de suas músicas como parte vital dos cultos de
adoração. Esse é um aspecto que contribui fisiologicamente para
a inibição do raciocínio e para a excitação dos sentidos dos
ouvintes, em qualquer ambiente.
É possível perceber uma sutil relação entre a poluição
sonora característica da influente cultura musical norte-
americana desde os anos 1950 e os instrumentos comuns no rock.
Os captadores eletromagnéticos utilizados nas guitarras e
contrabaixos elétricos somente poderão oferecer o máximo de
seu desempenho sonoro, quando devidamente amplificados em
volumes altíssimos que são prejudiciais ao equilíbrio do corpo
humano.

1
Componentes eletromagnéticos que captam as vibrações das cordas de metal, sendo
responsáveis pelo timbre característico das guitarras e dos contrabaixos elétricos.
Reeducando os dedos – Parte II | 161

Meu interesse pelos timbres acústicos crescia e cada vez


mais eu me dedicava ao novo e prático contrabaixo
eletroacústico, utilizando-o tanto para estudo pessoal e criação de
arranjos instrumentais como para uso na igreja. O contrabaixo
elétrico perdia seu lugar entre as minhas prioridades,
permanecendo guardado, sem utilidade. Antes, planejava usá-lo
nas futuras gravações dos arranjos solo para hinos sacros, pois
afinal, as primeiras ideias envolvendo tais arranjos foram
desenvolvidas naquele baixo elétrico de quatro cordas com bons
resultados. Porém, mudei de ideia e escolhi realizar o mesmo
projeto de maneira mais original, gravando somente com o
contrabaixo eletroacústico e explorando os seus novos e
interessantes recursos.
Minha opção por um contrabaixo alternativo foi alicerçada
também nos resultados das influências sonora e estética dos
instrumentos elétricos sobre as transformações culturais e sociais
no mundo todo ao longo das últimas seis décadas.
Os textos a seguir foram extraídos de um documentário
produzido pelo canal de TV Globo News em 20142 sobre a
história da fabricante de guitarras e contrabaixos elétricos mais
famosa do mundo, a Fender Musical Instruments Corporation.
Essas declarações foram selecionadas de diferentes momentos do
programa de acordo com sua relevância:
“Ele [Leo Fender] criou as guitarras elétricas mais vendidas
no mundo. E na mão de grandes músicos, elas produziram um
som inédito. Mudaram a trilha sonora da humanidade.”
“Melódica ou estridente, a guitarra elétrica revolucionou os
instrumentos de corda e a atitude dos músicos. [...] Ela mudou a
forma de tocar e de compor música. Então, na raiz da cultura

2
Disponível em: www.youtube.com/watch?v=FLRhqOWe0sw.
162 | Sob a Regência de DEUS

musical americana, ela foi a engrenagem para a criação dessa


mudança.”
“Pode me mostrar o que quer dizer com ‘o som da Fender’?
[...] Bem, é um som agressivo, cujo objetivo é atrair atenção.”
“A Fender levou ao desenvolvimento de guitarras [e
baixos] de corpo sólido, que permitiam um volume maior e mais
variedade de timbres. [...] Com a amplificação ao máximo,
produziam acordes de alta intensidade [...] e o som era capaz de
encher um estádio. [...] Inovações que incendiaram a alma de
rockeiros, geraram riffs inesquecíveis e conquistaram uma legião
de fãs.”
“Quatro anos depois de criar a Telecaster, Fender lançou um
outro modelo, a Stratocaster. As diferenças eram: o corpo mais
fino, as formas sensuais e uma nova tonalidade produzida por
três captadores magnéticos.”
“A Fender não divulga dados financeiros. [...] e para
crescer conta com uma estratégia pouco usual que inclui a paixão
pela música e a disponibilidade de dinheiro na camada crítica
dos consumidores: os jovens.”
“Nosso cliente mais importante é o jovem iniciante, porque
é ele que vai criar as novas obras musicais. [...] Enquanto
inspirarmos a criatividade e o espírito do rock and roll, a Fender
terá relevância”.3
As informações apresentadas nesse documentário foram
determinantes para o desprendimento de uma paixão alimentada
desde minha adolescência. Não há como negar a conexão entre
essas invenções e as mudanças culturais na sociedade ocidental e

3
O próprio site da empresa Fender traz o seguinte slogan: “Fender: The Spirit of Rock
‘n’ Roll since 1946” (Fender: O Espírito do Rock ‘n’ Roll desde 1946).
Reeducando os dedos – Parte II | 165

características, são os mais imitados por fabricantes de guitarras


e baixos no mundo inteiro até hoje; são emblemas da cultura rock
e de quaisquer valores associados a este gênero. Há um antigo
anúncio da empresa que diz “the most imitated guitar in the
world” (a guitarra mais imitada no mundo).
Os principais modelos de contrabaixos elétricos Fender
tiveram seu design baseado na guitarra Stratocaster e em suas
“formas sensuais”, conforme aponta o mesmo documentário
citado anteriormente. É interessante observar que o uso de
imagens com modelos femininas também esteve vinculado às
campanhas de publicidade da empresa.
Uma das estratégias de marketing utilizada pela Fender
nos primeiros anos foi o uso de gravuras com garotas seminuas
desenhadas em poses provocantes, conhecidas como pin up girls,
ilustrando catálogos, anúncios e instrumentos musicais.
Em 1994, a empresa lançou uma edição comemorativa da
guitarra Stratocaster celebrando os 40 anos da revista Playboy,
veículo de comunicação direcionado ao público masculino que
teve importante papel na revolução sexual da segunda metade
do século 20. Marilyn Monroe foi capa da primeira edição da
revista lançada em 1954 nos Estados Unidos. Uma pintura com a
atriz e modelo norte americana nua cobria a parte frontal do
corpo da guitarra. O instrumento ficou conhecido como Fender
Playboy Marilyn Monroe Stratocaster.
Esse tipo de apelo sexual continua presente nas campanhas
de marketing desses e de outros instrumentos semelhantes através
da mídia contemporânea. Porém, não mais por meio de simples
gravuras com pin up girls, e sim com fotos de modelos nuas ou
seminuas com um contrabaixo elétrico ou uma guitarra nas
mãos. Um dos exemplos mais comuns da banalização da imagem
da mulher no contexto da música rock pode ser encontrado nas
166 | Sob a Regência de DEUS

capas do catálogo Guitar World Buyer's Guide, o guia de compras


da revista norte americana Guitar World Magazine.
Por alguns anos utilizei meu contrabaixo elétrico na igreja,
influenciando e incentivando outros jovens músicos a fazer o
mesmo, e também a usar livremente instrumentos como a
guitarra elétrica, a bateria e a percussão popular. Em muitos
casos servi como uma referência para adolescentes e jovens
cristãos que, pelo meu exemplo e de outros músicos igualmente
despreocupados, investiram em contrabaixos semelhantes ao
meu, ou em guitarras, amplificadores, pedais de efeito, baterias,
etc.
Hoje percebo o grande estrago feito pela influência dessa
cultura musical disseminada no meio cristão. Entristeço-me ao
ver aqueles jovens que, por meio da mistura entre o sagrado e o
profano, afastaram-se de Jesus Cristo e da igreja; apegaram-se
aos sons distorcidos da música popular que vicia e encanta suas
mentes. Arrependo-me profundamente por ter sido, para muitos
deles, um canal para essa influência que é física, moral e
espiritualmente destruidora.
Conversei com meu Senhor, refleti, clamei por Sua força e
aguardei Sua direção. Depois de muitas orações e ponderações
sobre o assunto, tomei a decisão pessoal, livre e racional de não
mais tocar com o contrabaixo elétrico, por tempo indeterminado.
Escolhi mudar meus hábitos musicais e separá-los de algo
que pudesse estabelecer conexões com a música pop/rock, com as
minhas vivências musicais prejudiciais do passado, ou com algo
que influenciasse as pessoas para qualquer forma de mal e as
aproximasse disso.
Ao fazer essa escolha pensei muito em nossa pequena filha
Raíssa que cresceria contemplando o pai com um contrabaixo
elétrico nas mãos. Seria enorme a probabilidade de a filha imitar
Reeducando os dedos – Parte II | 167

o pai e querer tocar um instrumento idêntico. Preferi cercá-la


com uma atmosfera musical permeada pela estética e pelos sons
cativantes e benéficos dos instrumentos acústicos, justamente por
não estarem diretamente associados ao contexto cultural norte-
americano, ou ao surgimento e estabelecimento do gênero rock.
Compreendemos que é através dos instrumentos, ou das
vozes, que transformamos nossas ideias musicais em realidade. É
correto buscar “ferramentas de qualidade”, desde que essa busca
não se torne uma paixão e, ultrapassando a necessidade, a paixão
se transforme em obsessão.
Desde a adolescência, ao iniciar minhas pesquisas sobre
luteria, a contemplação de materiais impressos, vídeos,
performances ao vivo, workshops e sites da internet tornou-me um
aficionado por contrabaixos elétricos. Por longos anos estes
foram os meus principais objetos de consumo.
Mesmo após a minha conversão e o desprendimento de
grande parte daqueles itens, existiram muitas ocasiões em que a
antiga paixão parecia reencontrar seu lugar em minha lista de
prioridades. Somente tem sido possível distinguir certo e errado
pelo gradativo aprendizado de submissão do meu ego ao Senhor
Jesus Cristo, da entrega da minha vontade e da minha prática em
obedecer a Seus princípios.
Depois de firmar minha decisão, anunciei para venda os
itens excedentes: o contrabaixo elétrico americano Fender de
1978, um amplificador e outros materiais. Deus agiu mais uma
vez com misericórdia, providenciando pessoas que compraram
os produtos rapidamente. Por todas as razões descritas até aqui e
por outras que não saberia explicar em palavras, não me sinto
arrependido por ter descartado aquelas ferramentas.
Com sinceridade posso afirmar que me sinto feliz e
aliviado por ter abandonado antigas paixões musicais, reduzindo
168 | Sob a Regência de DEUS

meus instrumentos ao mínimo necessário para desempenhar com


eficácia o ministério musical que Deus escolheu para mim.
Todos aqueles antigos interesses musicais individuais
caíram por terra diante dos propósitos estabelecidos por Deus
para a minha vida. Com orações, avaliei e percebi as indicações
seguras do meu Eterno Regente e novos planos ocuparam meus
pensamentos.
Jesus me resgatou de um mundo de egoísmo, de vaidade e
de toda a espécie de imundície para que eu testemunhasse de
Seu poder transformador. Não quero acariciar hábitos do velho
homem que foram pregados na cruz por Jesus Cristo. Aceitei o
Seu sacrifício por mim para viver sob Seu poder, sob Sua
regência. Ele nos ensina que “o discípulo não está acima do seu
mestre, nem o servo acima do seu senhor.” - Mateus 10:24
(ARA). Se Jesus deixou a glória do Pai para vir aqui e morrer por
mim na cruz, como posso viver apegado a paixões e valores tão
pequenos, tão distantes dos meus novos propósitos?
Atendendo ao chamado do Mestre | 169

Capítulo 23

Atendendo ao chamado
do Mestre

“Volta para casa e conta quão grandes coisas


Deus fez por ti.”
Lucas 8:39 (AEC)

Quando conheci Jesus Cristo, pensei em seguir uma


direção oposta na minha vida profissional. Isto significava
afastar-me completamente da música. Mas os planos do Mestre
eram outros. Seu chamado envolvia um testemunho de
conversão; perspectivas acadêmicas e profissionais na educação
musical; um ministério na Igreja Adventista do Sétimo Dia como
instrumentista, regente, engenheiro de som, palestrante e líder; a
pregação do evangelho em escolas, igrejas e hospitais através da
música; a reunião de informações relevantes para a estruturação
de um livro; o trabalho de pesquisa e de produção em música
sacra.
Eu precisava contar às pessoas sobre a maravilhosa
esperança de salvação em Jesus Cristo. Desejava externar
publicamente minha alegria, de modo prático e eficaz. No início
de 2010, desenvolvi o blog Música e Contemplação, com o
170 | Sob a Regência de DEUS

objetivo de compartilhar experiências, reflexões e testemunhos;


estimulei esperança em amigos, músicos e até mesmo
desconhecidos. Três anos depois, realizei palestras e pregações
sobre assuntos relacionados à influência da música nas pessoas.
Hoje o blog é também um canal de acesso à música sacra
produzida no Brasil e no mundo.
Em 2012 atuei como auxiliar no ministério da música na
Igreja Adventista do Sétimo Dia do bairro Lomba do Pinheiro,
em Porto Alegre, congregação onde fui batizado em 2005. Meses
mais tarde, assumi a direção desse ministério local,
permanecendo nesta função por quatro anos.
Durante esse período como diretor do ministério da
música, meus ouvidos ficaram mais seletivos na escolha das
músicas utilizadas nos cultos e nas reuniões da igreja. Muitas
vezes substituímos playbacks por acompanhamento instrumental,
evitando estímulos rítmicos exagerados e repetitivos presentes
em inúmeros arranjos gravados.
Nos cultos de sábado pela manhã procurei, sempre que
possível, orientar cantores visitantes para que as mensagens
musicais fossem apresentadas de maneira solene, acompanhadas
com violão ou com playbacks contendo arranjos de piano, violão
e/ou orquestra, sem os grooves dançantes da música pop. Desse
modo, alcançamos resultados sonoros equilibrados durante os
cultos, mantendo o foco da congregação na melodia e na
mensagem cantada, e evitando a excitação causada por gravações
carregadas de ruídos e acentuações rítmicas agressivas ao
organismo humano.
Logo após minhas primeiras palestras sobre a influência da
música nas pessoas, fui requisitado para uma gravação com um
jovem cantor adventista do sétimo dia que estava prestes a
gravar seu primeiro CD solo. Haveria remuneração por esse
Atendendo ao chamado do Mestre | 171

trabalho. De início minha alegria foi grande. Então, soube que o


projeto seria produzido por outro músico cristão de São Paulo
conhecido por seu estilo soul e pop/rock. Orei e refleti bastante
sobre o assunto, e escolhi não participar do projeto.
Em outros tempos eu teria realizado a gravação com
prazer, crendo que tudo seria somente para a honra e glória de
Deus. Entretanto, não conseguia deixar de pensar que,
futuramente, aquelas mesmas músicas seriam utilizadas nos
cultos de sábado pela manhã em diferentes igrejas adventistas do
sétimo dia; e lá estariam as notas do meu contrabaixo, somadas
aos arranjos pop/rock, inibindo o poder decisório dos ouvintes na
congregação, gerando estímulos físicos e dificultando a ação do
Espírito Santo sobre a mente das pessoas no momento de uma
decisão ao lado de Cristo. Isso já acontecera com outras
produções cristãs nesse estilo em que eu havia gravado
contrabaixo elétrico.
Interessante, seria coincidência um convite como esse no
mesmo momento em que iniciei minhas palestras sobre esses
assuntos? Satanás tentava me desviar do foco. Era o momento de
testemunhar ao universo sobre a Quem escolhera servir. Se eu
aceitasse o convite, estaria negociando princípios, ensinando
uma coisa e praticando outra. Decidi ser coerente com as
verdades que escolhera viver. E quanto ao dinheiro que eu teria
recebido pela gravação, “muito mais do que isso pode dar-te o
Senhor” – II Crônicas 25:9 (ARA).
Obviamente, já encontrei obstáculos nesse caminho de
mudanças. Ao realizar palestras sobre tais assuntos, ou mesmo
ao orientar os músicos convidados para os cultos na igreja, nem
todos foram receptivos. Muitos ignoraram completamente
qualquer tipo de orientação nesse sentido, insistindo em utilizar
arranjos ruidosos e ritmados antes, depois e até mesmo durante o
estudo da Palavra de Deus. A música escolhida para os cultos de
172 | Sob a Regência de DEUS

adoração nas igrejas cristãs têm a finalidade de elevar os


pensamentos a Cristo e estimular racionalmente a congregação
para a ação do Espírito Santo na compreensão clara da Bíblia e
nas decisões individuais ao Seu lado.
No passado, em nome do gosto musical e do prazer gerado
pelos sons, fui muito resistente a essas mesmas verdades. É bom
constatar que há vários músicos, líderes e jovens, em todo o
mundo, que estão despertando e percebendo a gravidade dessas
questões, demonstrando interesse por mais informações a
respeito da influência da música nas pessoas e na edificação da
experiência espiritual da congregação durante os cultos de
adoração a Deus.
Se buscares a sabedoria | 173

Capítulo 24

Se buscares a sabedoria

“Se buscares a sabedoria como a prata e como a


tesouros escondidos a procurares, então,
entenderás o temor do Senhor e acharás o
conhecimento de Deus.”
Provérbios 2:4 e 5 (ARA)

Ao perceber a carência de conhecimento e de


direcionamento na área da música, bem como de seu uso na
adoração a Deus, no lazer, nas atividades seculares, entre outros
fins, decidi selecionar e compartilhar textos que apresentam
soluções práticas e respostas para as dúvidas de músicos cristãos
adventistas do sétimo dia e demais pessoas ligadas a esse
ministério. Inicio com um resumo dos princípios, dos padrões e
das diretrizes através dos quais a Dra. Eurydice V. Osterman
aponta respostas que servirão como auxílio na escolha da música.
“A música é um dos talentos confiados por Deus. É uma
ferramenta poderosa que pode ser usada para elevar, edificar,
inspirar, evangelizar, reforçar doutrinas e crenças, ‘subjugar
naturezas rudes e incultas’ e promover harmonia de ação. Pode
fixar palavras na memória e impressionar o coração com verdade
espiritual, servir como uma arma contra o desânimo e ‘trazer a
alegria celestial à alma’. Também serve como meio de trabalho,
174 | Sob a Regência de DEUS

bem como ‘recreação’ (atividades de lazer com qualidades


redentoras). [...] deveria ser executada com ‘dignidade manifesta
por disciplina, com solenidade e respeito, com entonação clara e
articulação distinta’ num volume que não seja opressivo ou
agressivo aos sentidos. [...] À luz dessas qualidades a igreja crê
que:
1) Toda a música deveria construir e ter uma influência
edificante sobre o caráter. ‘Mas o fruto do Espírito é: amor,
alegria, paz, longanimidade, bondade, fidelidade, mansidão,
domínio próprio. Contra estas coisas não há lei.’ (Gálatas 5:22 e
23).
2) A música deveria ser adequada para ser apresentada ou
ouvida na presença de Deus. ‘Para onde me ausentarei do Teu
Espírito? Para onde fugirei da Tua face? Se subo aos céus, lá
estás; se faço a minha cama no mais profundo abismo, lá estás
também; se tomo as asas da alvorada e me detenho nos confins
dos mares, ainda lá me haverá de guiar a Tua mão, e a Tua
destra me susterá’ (Salmos 139:7-10).
‘Nunca estamos sós. Temos um Companheiro, quer O
escolhamos ou não. [...] Ninguém pode escapar de sua
responsabilidade para com Ele’ (White, Para Conhecê-Lo, p. 234).
3) A música deveria possuir valor moral e ético a fim de
promover crescimento espiritual e intelectual. ‘... cresçamos em
tudo nAquele que é a cabeça, Cristo, de quem todo o corpo,
bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta,
segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio
aumento para a edificação de si mesmo em amor’ (Efésios 4:15,
16). [...] Os hinos representam a música do corpo da igreja. Eles
incorporam e reforçam as doutrinas e filosofia da igreja e servem
como um veículo pelo qual o Espírito Santo pode falar ao
coração. Uma constante dieta musical de canções de louvor
Se buscares a sabedoria | 175

contemporâneas, ‘animadas’ e não litúrgicas em lugar de hinos


irá enfraquecer espiritualmente a congregação e torná-la
deficiente no sentido de saber quem é e a quem pertence.
4) A música é sacra ou secular; o santo não deveria ser
misturado ao profano. ‘... a meu povo ensinarão a distinguir
entre o santo e o profano e o farão discernir entre o imundo e o
limpo’ (Ezequiel 44:23). Não existe algo como ‘jazz gospel’ ou ‘rap
cristão’, etc. [...] Trivializar o evangelho pela mistura com o
secular (comercial) não é somente sacrilégio, mas uma afronta à
magnitude maior em relação a Jesus Cristo. A ‘música’ rap é uma
fala rítmica que contradiz a diretiva bíblica de ‘cantar’ e fazer
‘melodia’. O inimigo não quer que ‘cantemos ao Senhor’, assim,
ele cria uma contrafação para o cantar. Infelizmente, há aqueles
que se iludem crendo que tal música pode ser usada para guiar
outros a Cristo. Deus nunca usou nem vai usar os métodos do
diabo para atrair pecadores a Si.
’Quando se associa o comum com o sacro sempre há perigo
que o comum tome o lugar do sacro. [...] Quando se une o que é
objetável com o que é sacro [...] as bênçãos não podem pousar
sobre o trabalho feito.’ (White, Testemunhos vol. 8, p. 88).
5) A música deveria ser ‘funcional’ – apropriada para a
ocasião. ‘Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para
todo o propósito debaixo do céu.’ (Eclesiastes 3:1). Música
apropriada é aquela que é aceitável, agradável, compatível,
complementar, correta, decente, exemplar, funcional, adequada,
modesta, pertinente, apresentável, própria, relevante, e a lista
continua. Qualquer que seja a ocasião, a música deveria ser
adequada para o evento. [...] Vale frisar que devemos aplicar a
seguinte regra, ‘quando estiver em dúvida, não utilize tal
música’, especialmente se ela preconiza fins comerciais.
176 | Sob a Regência de DEUS

6) A música não deveria ser prejudicial para o templo do


corpo. ‘Acaso não sabeis que o vosso corpo é o templo do
Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus,
e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por
preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo. Se alguém
destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque o
santuário de Deus, que sois vós, é sagrado.’ (I Coríntios 6:19,20;
3:17). [...] Pela agitação do corpo e paralisação dos pensamentos,
o inimigo usa certos elementos da música (ritmo, vibrações,
volume, tempo e mesmo instrumentação) a fim de tomar posse
de nossas mentes. [...] perda auditiva, sobrecarga sensitiva,
aumento de pressão sanguínea e alteração nos batimentos
cardíacos, excesso de secreção de hormônio, dificuldade
perceptiva, confusão, hiperatividade, inquietação, [...] perda na
capacidade de aprendizagem, diminuição de taxa de glicose no
sangue [...] são o resultado direto do abuso físico que a música
pode infligir sobre o corpo. [...] o corpo foi construído para
mover-se para frente. Estes elementos musicais causam
contrações musculares involuntárias que põe nossos corpos em
movimento, promovendo um balanço de um lado a outro ou
convulsão (frequentemente interpretado como sendo uma
resposta ao Espírito Santo). [...] Como pode o Espírito Santo
habitar confortavelmente em tal ambiente?
7) A música deve ter qualidades artísticas (beleza,
sentimento e poder) que resistam ao teste do tempo – não ser
uma névoa que logo passa. ‘... porque tudo o que há no mundo,
a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a
soberba da vida, não procede do Pai, mas procede do mundo.
Ora, o mundo passa, bem como a sua concupiscência; aquele
porém, que faz a vontade de Deus permanece eternamente.’ (I
João 2:16 e 17).
Se buscares a sabedoria | 177

8) A música deve ser edificante ao ouvinte. ‘Finalmente,


irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo
o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o
que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor
existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento.’ (Filipenses
4:8) [...]
9) Escolhas musicais não devem ser ofensivas, nem pedras
de tropeço a ninguém. ‘Todas as coisas me são lícitas, mas nem
todas convêm; todas são lícitas, mas nem todas edificam.
Ninguém busque o seu próprio interesse, e sim o de outrem.
Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa
qualquer, fazei tudo para a glória de Deus. Não vos torneis
causa de tropeço nem para judeus, nem para gentios, nem
tampouco para a igreja de Deus, assim como também eu
procuro, em tudo, ser agradável a todos, não buscando o meu
próprio interesse, mas o de muitos, para que sejam salvos.’ (I
Coríntios10:23, 24; 31-33). [...] Embora possamos ter certas
preferências musicais, nossas escolhas não devem ser pedra de
tropeço para alguém que é fraco nem ofender a igreja. Deus nos
considerará responsáveis por qualquer pessoa que venha a ser
afastada dEle em consequência de nossas ações.
10) Escolhas musicais devem ser feitas sob a guia do
Espírito Santo. ‘... O Espírito Santo... vos guiará em toda a
verdade...’ (João 16:13)”.1
Vejamos agora um resumo dos padrões Educação,
Excelência, Eternidade e Serviço2, baseados nos atributos revelados
em Filipenses 4:8:

1
Osterman, Eurydice V. O Que Deus Diz Sobre a Música. Engenheiro Coelho, SP:
UNASPRESS, 2010. (p. 98 a 102).
2
Osterman, Eurydice V. O Que Deus Diz Sobre a Música. Engenheiro Coelho, SP:
UNASPRESS, 2010. (p. 102 a 104).
178 | Sob a Regência de DEUS

“Educação é o veículo que transporta alguém da escuridão


para a luz. É um elemento chave para resolver muitas destas
confusas e controvertidas questões sobre a música. Deus não
deseja que nós permaneçamos no escuro acerca da música; Ele
quer que tenhamos sabedoria, conhecimento e compreensão”.
“A excelência em música implica em qualidade, perícia,
exatidão e preparo. [...] Contudo, isso nem sempre é o caso
quando se refere ao preparo para a obra na casa do Senhor”.
“Eternidade representa o motivo pelo qual fazemos o que
fazemos e o alvo que todos nós estamos buscando alcançar.
Somos admoestados a ‘estabelecer (nossa) afeição nas coisas
que estão lá em cima, não nas que há sobre a Terra’ –
Colossenses 3:2. [...] Se nossa música sacra representa ou reflete
os atributos comerciais da indústria musical (a batida, o volume,
a sensibilidade, etc.) ao ponto em que somente pode ser
distinguida pela letra, então ela não representa nosso destino
eterno, pois a música do céu está em inimizade com a do
mundo”.
“O serviço é um corolário do cristianismo. [...] os dons e
talentos com os quais temos sido agraciados serão usados para
ministrar ou conduzir outros a Cristo, quer seja na igreja ou
profissionalmente”.
Osterman finaliza fornecendo diretrizes sólidas para a
seleção da música para a igreja3. Vejamos algumas delas:
“Se os músicos da igreja não têm comunhão diária com
Deus, então não podem efetivamente ministrar à igreja (de modo
a nutrir, edificar e falar ao coração) e à consciência, porque não
estão ligados a Deus”.

3
Osterman, Eurydice V. O Que Deus Diz Sobre a Música. Engenheiro Coelho, SP:
UNASPRESS, 2010. (p. 104 a 106).
Se buscares a sabedoria | 179

“Se a música não é funcional e nem apropriada para a


ocasião, então, ela não pode nutrir e edificar efetivamente o
corpo coletivo”.
“Se a música não produz reverência (respeito) por Deus e
Sua casa de culto, então ela é imprópria”.
“Se as respostas comportamentais da congregação são
orquestradas (‘sente-se e relaxe’, ‘junte as mãos’, ‘diga amém’) ou
se um músico está sendo aplaudido enquanto entra na
plataforma para apresentar a música, então se cria uma
atmosfera teatral, pois o foco da atenção é dirigido ao
executante”.
“Se a música para o culto consiste primeiramente de
música ‘religiosa’ não litúrgica ou música animada de louvor,
então ela não nutre a igreja e eventualmente vai torná-la fraca
espiritualmente e deficiente em conhecimento sobre quem somos
e a quem pertencemos”.
“Se o motivo para a escolha da música para o culto está
arraigado na cultura e tradição, então é dirigida à criatura e não
ao Criador”.
“Se a música é apresentada de maneira pobre, então não irá
testemunhar de modo efetivo nem será edificante à
congregação”.
“Se o espírito, o caráter e a maneira pela qual a música é
apresentada estão associados a um ambiente que não representa
a igreja (clube noturno, etc.), então é imprópria”.
“Se a música da igreja soa como R&B, Rock, Rap, Jazz,
Country-Western e outras do gênero secular ‘pop’, então é
imprópria”.
180 | Sob a Regência de DEUS

“Se a apresentação musical está inundada de sons sensuais


excessivos (sussurros guturais, respiração ofegante, etc.) então
ela é imprópria”.
“Se a música é apresentada de uma maneira sensacional
(malabarismo vocal, uso excessivo de ornamentação, cadências
do teclado, acordes excessivos, etc., que encanta, excita ou induz
à vibração, bater palmas, balanceios, etc.) ou se a música elicia
estas e outras respostas da congregação num esforço de 'levantar
o ânimo', então ela é imprópria”.
“Se a música ou o músico se torna um ‘ídolo acariciado’
que absorve a mente e a desvia de Deus, então ambos perderão
sua eficácia como veículos para o ministério”.
“Se qualquer instrumento (incluindo-se gravações)
suplanta a melodia, harmonia e a letra, então a música apelará só
aos sentidos, excitando-os e não à mente, perdendo-se a
mensagem”.
“Se um músico ‘imita’ outro artista ou executa num estilo
que não é apropriado para seu tipo de voz ou habilidade, então a
apresentação parecerá artificial e poderá não ser edificante”.
“Se a música secular tem um valor moral (elevando os
pensamentos àquilo que é puro, nobre, virtuoso, verdadeiro,
honesto e ético) então ela é apropriada para o corpo coletivo
dentro do contexto [casamentos, eventos cívicos, concertos,
recreação, clube de desbravadores, etc.]”.
Tais orientações se harmonizam com os documentos
oficiais da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Examinemos a
seguir, textos extraídos de documentos que definem oficialmente
a postura e o compromisso desse movimento profético como
igreja (pessoas) que aguarda a segunda vinda de Jesus:
Se buscares a sabedoria | 181

“Visto que Deus criou os seres humanos à Sua imagem,


partilhamos do amor e apreciação pela música com todos os Seus
seres criados. Na verdade, a música pode nos atingir e tocar com
um poder que vai além das palavras ou qualquer outro tipo de
comunicação. Na sua forma mais pura e refinada, a música eleva
nosso ser à presença de Deus, onde anjos e seres não caídos O
adoram com cânticos.” (Voto 144-03G da Associação Geral4, 13
de outubro de 2004).
“A música não é moral nem espiritualmente neutra. Pode
nos levar a alcançar a mais exaltada experiência humana, pode
ser usada pelo príncipe do mal para degenerar e degradar, para
suscitar a luxúria, paixão, desesperança, ira e ódio.” (Idem).
“A mensageira do Senhor, Ellen G. White, nos aconselha
continuamente a elevar nosso conceito a respeito da música. [...]
Quanto ao poder da música, ela escreve: ‘Ao guiar-nos nosso
Redentor ao limiar do infinito, resplandecente com a glória de
Deus podemos aprender o assunto dos louvores e ações de
graças do coro celestial em redor do trono; e despertando-se o
eco do cântico dos anjos em nossos lares terrestres, os corações
serão levados para mais perto dos cantores celestiais. A
comunhão do Céu começa na Terra. Aqui aprendemos a nota
tônica de seu louvor.’ – Educação, pág. 168.” (Idem).
“Cremos que o evangelho exerce impacto em todas as áreas
da vida. Por conseguinte, sustentamos que, por causa do vasto
potencial da música para o bem ou para o mal, não podemos ser
indiferentes a ela. Embora reconhecendo que o gosto, na questão
da música, varia grandemente de indivíduo para indivíduo,
cremos que a Bíblia e os escritos de Ellen White sugerem
princípios que podem direcionar nossas escolhas.” (Idem).

4
White, Ellen G. Música: Sua Influência na Vida do Cristão. Tatuí, SP: Casa Publicadora
Brasileira, 2005. (p. 73).
182 | Sob a Regência de DEUS

“A música sacra não deve evocar associações seculares ou


sugerir a conformação com normas de pensamento ou
comportamento da sociedade em geral. [...] ‘Música secular’ é
uma música composta para ambientes alheios ao serviço de culto
ou de devoção pessoal e apela aos assuntos comuns da vida e das
emoções básicas do ser humano. [...] Pode elevar ou degradar
moralmente o ser humano. Embora não esteja destinada a louvar
a Deus, pode ter um lugar autêntico na vida do cristão.” (Idem).
“Toda música que se ouve, toca ou compõe, quer seja sacra
ou secular, deve glorificar a Deus. ‘Portanto, quer comais, quer
bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória
de Deus’ (I Cor. 10:31). Este é o princípio bíblico fundamental.
Tudo o que não atende a esse elevado padrão, enfraquecerá
nossa experiência com Ele. [...] Toda música que o cristão ouve,
toca ou compõe, quer seja sacra ou secular, deve ser a mais nobre
e melhor. Desses dois fundamentos – glorificar a Deus em todas
as coisas e escolher o mais nobre e o melhor – dependem os
demais princípios [...] para a escolha musical.” (Idem).
“É preciso ter um encontro pessoal com Deus, para então,
reconhecer Sua santidade, desenvolvendo assim uma adequada
sensibilidade musical. Diante dessa realidade, aqueles que
produzem, selecionam ou executam a música usada na igreja,
necessitam de muita comunhão, sabedoria, orientação e apoio.
Precisam ter a visão da grandeza do ministério que têm em suas
mãos, bem como o máximo cuidado ao fazerem suas escolhas.”
(Voto 2005-116 da Divisão Sul-Americana da IASD5, 4 de maio de
2005).
“O Músico: [...] Canta com entonação clara, pronúncia
correta e perfeita enunciação. [...] Evita tudo o que possa tirar a
atenção da mensagem da música, como gesticulação excessiva e
5
White, Ellen G. Música: Sua Influência na Vida do Cristão. Tatuí, SP: Casa Publicadora
Brasileira, 2005. (p. 83).
Se buscares a sabedoria | 183

extravagante e orgulho na apresentação. [...] Evita, em suas


apresentações, a amplificação exagerada, tanto vocal como
instrumental. Evita o uso de tonalidades estridentes, distorções
vocais ou instrumentais, bem como o estilo dos cantores
populares.” (Idem).
“A Música: [...] Deve harmonizar letra e melodia, sem
combinar o sagrado com o profano. [...] Não se deixa guiar
apenas pelo gosto e experiência pessoal. Os hábitos e a cultura
não são guias suficientes na escolha da música. [...] Não deve ser
rebaixada a fim de obter conversões, mas deve elevar o pecador a
Deus. [...] Provoca uma reação positiva e saudável naqueles que a
ouvem.” (Idem).
“Deve haver um cuidado especial para não utilizar músicas
que apenas agradem aos sentidos, tenham ligação com o
carismatismo ou tenham predominância de ritmo.” (Idem).
“Deve haver muito cuidado ao serem usados instrumentos
associados com a música popular e folclórica ou que necessitem
de exagerada amplificação. Quando mal utilizados, concorrem
para o enfraquecimento da mensagem da música.” (Idem).
“Os princípios de escolha musical devem servir tanto para
a música ‘sacra’ quanto para a ‘secular’. [...] A escolha da música
‘secular’ deve ser caracterizada por um equilíbrio saudável nos
elementos do ritmo, melodia e harmonia com uma letra que
expresse ideias de alto valor.” (Idem).
“A música que estamos ouvindo ou apresentando tem
consistência moral e teológica tanto na letra como na melodia?
[...] O músico está promovendo uma atmosfera de reverência? A
letra e a música dizem a mesma coisa? Estamos buscando a
orientação do Espírito Santo na escolha da música religiosa ou
secular?” (Idem).
184 | Sob a Regência de DEUS

“O conselho de Paulo é claro: ‘Cantarei com o espírito, mas


também cantarei com a mente’ (I Cor. 14:15). Não há dúvida de
que a música é uma expressão artística, que toca os sentimentos.
Isso nos leva a avaliar, escolher e produzir a música de maneira
racional, tendo em vista o seu poder, e buscando cumprir o
propósito de Deus para a edificação da igreja e a salvação do
mundo.” (Idem).
“Visto que a música exerce um papel importante na
formação do caráter dos jovens, os músicos serão eleitos tão
cuidadosamente quanto os outros oficiais da SJA [Sociedade de
Jovens Adventistas].” (Manual da Igreja Adventista do Sétimo
Dia, edição 2010, p. 108).
“A igreja tomará grande cuidado na seleção dos líderes da
música, escolhendo apenas aqueles que são inteiramente
consagrados e que provejam música adequada para todos os
cultos e reuniões da igreja. Música secular ou de natureza
duvidosa nunca deve ser introduzida em nossos cultos.”
(Manual da Igreja Adventista do Sétimo Dia, edição 2015, p. 97).
“A música sacra é uma parte importante do culto público.
A igreja deve exercer cuidado ao escolher os membros do coral e
outros músicos para que representem corretamente os princípios
da Igreja. [...] Por ocuparem um lugar de destaque nos cultos da
igreja, devem ser exemplos de modéstia e decoro em sua
apresentação e no vestuário.” (Idem).
“A música é uma das mais sublimes artes. A boa música
não apenas nos proporciona prazer, mas nos eleva a mente e
cultiva nossas mais refinadas qualidades. Deus, com frequência,
tem usado canções espirituais para tocar o coração de pecadores
e levá-los ao arrependimento. Música desvirtuada, ao contrário,
quebranta a moralidade e nos afasta de nosso relacionamento
com Deus. Devemos exercer grande cuidado na escolha da
Se buscares a sabedoria | 185

música no lar, nos encontros sociais, nas escolas e igrejas. Toda


melodia que partilhe da natureza do jazz, rock ou formas híbridas
relacionadas ou toda linguagem que expresse sentimentos tolos
ou triviais, serão evitadas.” (Idem, p. 154).
“Evitar o uso de instrumentos impróprios ao culto, como
percussão [popular] e outros excessivamente identificados com a
música popular, e que os demais sejam tocados em estilo e
conotação litúrgicos.” (Voto da Associação Geral da IASD sobre a
Filosofia Adventista de Música; Concílio Outonal de 1972).
“Recomenda-se que os hinos do culto sejam de caráter
solene e evite-se o uso de música leve, ligeira e ritmada. [...] Que
os executantes devem cuidar de seus trajes, postura e maneiras
de se apresentar, evitando exibições de indumentária e técnica.”
(Idem).
“Aqueles, pois, que escolhem músicas para fins definidos
em sua igreja, devem exercer um alto grau de discernimento na
escolha e no uso das músicas. No esforço de atingir o ideal,
necessita-se de mais do que sabedoria humana.” (Idem).
“A música deve: [...] revelar uma compatibilidade entre a
mensagem transmitida por palavras e a música, evitando-se a
mistura do sagrado com o profano. [...] Fugir a exibições teatrais
e com ostentação. [...] Dar primazia à mensagem da letra, que não
deve ser sobrepujada pelos instrumentos musicais que
acompanham. [...] Manter ponderado equilíbrio dos elementos
emocional, intelectual e espiritual. [...] Jamais comprometer
elevados princípios de dignidade e superioridade em esforços
rasteiros para alcançar as pessoas até onde elas estão. [...] ‘Nunca
devemos rebaixar o nível da verdade a fim de obter conversões,
mas precisamos elevar o pecador corrupto à alta norma da Lei de
Deus.’ (Evangelismo, p. 137).” (Idem).
186 | Sob a Regência de DEUS

“[...] os gostos e práticas musicais de todos devem


conformar-se ao valor universal do caráter semelhante ao de
Cristo, e todos devem lutar pela unidade no espírito e propósito
do Evangelho [...] Deve-se tomar cuidado em evitar os valores
mundanos na música, os que deixam de expressar os altos ideais
da fé cristã. [...] Certas formas de música, como o jazz, o rock e
outras formas híbridas semelhantes, são consideradas pela igreja
como incompatíveis com esses princípios.” (Idem).
“Se no culto há solos vocais ou música especial, deve-se dar
preferência aos que se relacionem com textos bíblicos, e a música
deve estar bem de acordo com o alcance de voz do cantor e sua
capacidade, e ser apresentada ao Senhor sem exibição de
virtuosidade vocal. A comunicação da mensagem deve ser o
objetivo supremo.” (Idem).
“O desejo de alcançar a juventude com o Evangelho de
Cristo onde ela se encontra, leva às vezes ao emprego de estilos
musicais questionáveis. Em todos esses estilos, o elemento que
traz maiores problemas é o ritmo, ou ‘batida’. De todos os
elementos musicais é o ritmo o que provoca a mais forte reação
física. Os maiores êxitos de Satanás são frequentemente obtidos
pelo seu apelo à natureza física. [...] Os já mencionados estilos de
‘jazz’, ‘rock’ e formas híbridas semelhantes são notórias em criar
reações sensuais nas multidões.” (Idem).
“Deve-se evitar música saturada com acordes de 7ª, 9ª, 11ª
e 13ª, bem como outras sonoridades extravagantes. Esses
acordes, quando com restrição, produzem beleza, mas quando
em excesso desviam a atenção do conteúdo espiritual do texto.
[...] Deve-se ter muito cuidado em evitar excessiva amplificação
do som, quer instrumental, quer vocal. [...] Toda apresentação de
música sacra deve ter o objetivo supremo de exaltar a Cristo, em
lugar de exaltar o músico ou prover entretenimento.” (Idem).
Se buscares a sabedoria | 187

Por mais convincentes que pareçam os argumentos


relativistas da pós-modernidade em favor de mudanças
comportamentais; por maiores que sejam os esforços para uma
acomodação da verdadeira música sacra aos padrões comerciais
do mercado da música gospel; ao compararmos os diferentes
textos citados aqui, verificamos que os fundamentos
organizacionais para a escolha e uso da música na Igreja
Adventista do Sétimo Dia permanecem os mesmos há décadas.
E, como sólido alicerce para todas essas referências aqui
mencionadas, encontramos as seguintes orientações da Palavra
de Deus na epístola aos Romanos:
“Porque os que vivem como a natureza humana quer têm
suas mentes controladas por ela. Mas os que vivem como o
Espírito de Deus quer têm as suas mentes controladas pelo
Espírito. Ter a mente controlada pela natureza humana produz
morte; mas ter a mente controlada pelo Espírito produz vida e
paz. Por isso o ser humano se torna inimigo de Deus quando a
sua mente é controlada pela natureza humana. Porque ele não
obedece à Lei de Deus e de fato não pode obedecer a ela. Os
que obedecem à sua natureza humana não podem agradar a
Deus.
“Porém vocês não vivem como manda a natureza
humana, mas como o Espírito de Deus quer, se é que de fato o
Espírito de Deus vive em vocês. Quem não tem o Espírito de
Cristo não pertence a Ele. Mas, se Cristo vive em vocês, isso
quer dizer que, embora o corpo vá morrer por causa do pecado,
para vocês o Espírito de Deus é vida porque vocês têm sido
aceitos por Deus. Se vive em vocês o Espírito de Deus, que
ressuscitou Jesus, então Aquele que ressuscitou Jesus Cristo
dará também vida aos seus corpos mortais, pela presença do
Seu Espírito, que vive em vocês.
188 | Sob a Regência de DEUS

“Portanto, meus irmãos, temos uma obrigação, que é a de


não viver de acordo com a nossa natureza humana. Porque, se
vocês vivem de acordo com a natureza humana, estão indo para
a morte; mas, se pelo Espírito de Deus matam as suas ações
pecaminosas, vocês viverão. Pois todos os que são guiados
pelo Espírito de Deus são filhos de Deus.” – Romanos 8:5-14
(NTLH).
Poslúdio | 189

Poslúdio

É fácil apontar problemas, mas difícil é prover soluções


práticas em curto prazo. Uma das maiores necessidades em
nosso meio cristão é identificar materiais musicais edificantes
produzidos em meio à avalanche de música religiosa comercial
que nos atinge constantemente. Diante desse desafio, decidi dar
início a uma pesquisa musical criteriosa buscando identificar
sonoridades que não se distanciem de nossos princípios. Trata-se
de uma aventura extraordinária, como uma “caça ao tesouro”.
Este tem sido também um excelente exercício de apreciação
musical.
Em muitos casos, após analisar todas as músicas de um
mesmo CD, é possível separar e aproveitar apenas uma ou duas
faixas verdadeiramente saudáveis e que se enquadram nos
padrões de música já citados. Raríssimos são os projetos cristãos
que promovem coerência entre sua mensagem e suas produções
musicais. Alguns dos raros exemplos são: Fountainview
Orchestra and Singers (Canadá), Nebblett Family (Estados
Unidos), Grupul Vocal Bel Canto (Romênia), The Advent
Heralds (Estados Unidos) e Coro Musicap (Argentina). É certo
que, em breve, alcançaremos os 100% de maturidade e qualidade
em música sacra. Mas isso somente será possível quando
estivermos no céu, na companhia do coro dos anjos celestiais,
livres de tudo o que é mortal e corruptível.
O resultado dessas pesquisas pode ser encontrado na seção
Cardápio Musical, do blog Música e Contemplação1.

1
musicaecontemplacao.blogspot.com/cardapiomusical
190 | Sob a Regência de DEUS

Desejo, sinceramente, que essas iniciativas sirvam como


encorajamento para uma nova jornada nos campos da
composição, da produção, da execução, da apreciação e da
educação musical a todos aqueles que estiverem dispostos a
crescer em sabedoria e discernimento espiritual.
O nosso Salvador Jesus Cristo, a quem tanto aguardamos,
está às portas. Há uma descrição objetiva nas Escrituras Sagradas
sobre o extraordinário evento de Sua volta. Cristo nos diz:
“Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem;
todos os povos da terra se lamentarão e verão o Filho do
Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e muita
glória. E Ele enviará os Seus anjos, com grande clangor de
trombeta, os quais reunirão os seus escolhidos, dos quatro
ventos, de uma a outra extremidade dos céus.” – Mateus 24:30 e
31 (ARA).
Sua ordem para este tempo é esta: “Portanto, vigiai,
porque não sabeis em que dia vem o vosso Senhor.” – Mateus
24:42 (ARA).
O conselho do apóstolo Paulo é: “Assim, pois, não
durmamos como os demais; pelo contrário, vigiemos e sejamos
sóbrios.” – I Tessalonicenses 5:6 (ARA).
O apóstolo Pedro também nos aconselha de igual modo:
“Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário,
anda em derredor, como leão que ruge, procurando alguém
para devorar; resisti-lhe firmes na fé, certos de que sofrimentos
iguais aos vossos estão se cumprindo na vossa irmandade
espalhada pelo mundo. Ora, o Deus de toda a graça, que em
Cristo vos chamou à sua eterna glória, depois de terdes sofrido
por um pouco, ele mesmo vos há de aperfeiçoar, firmar,
fortificar e fundamentar.” – I Pedro 5:8-10 (ARA).
Poslúdio | 191

Ser sóbrio é ser temperante. É permanecer consciente. É


não se deixar distrair nem embriagar pelos estímulos e pelas
distrações lançados pelo diabo. Somente poderemos vigiar com
eficácia se nossa mente permanecer sóbria, se nossos
pensamentos estiverem puros, limpos, ao invés de poluídos pelas
imundícies sonoras e visuais, entre outras, que estamos a
contemplar continuamente.
Que possamos estar a cada dia contemplando a face de
Jesus Cristo através da música que apreciamos e executamos,
para Sua honra e Sua glória, eternamente. Amém!
“Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que
apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável
a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com
este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa
mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e
perfeita vontade de Deus.” – Romanos 12:1 e 2 (ARA).
200 | Sob a Regência de DEUS

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