Direito Do Consumidor STJ
Direito Do Consumidor STJ
Direito Do Consumidor STJ
DIREITO DO CONSUMIDOR
1. CONCEITO DE CONSUMIDOR
1.1. DPVAT: Não se aplica o CDC para as discussões envolvendo o DPVAT – (Info
614)
1.2. Não se aplica o CDC para contrato de transporte de insumos – (Info 600)
O pedido da empresa “AUTOTEC” deverá ser aceito? NÃO. Não é possível reconhecer
a caracterização de relação de consumo no contrato de transporte de mercadoria
celebrado no caso concreto. O conceito básico de consumidor foi fixado no CDC, em
seu art. 2º, ao estatuir que “consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire
ou utiliza produto ou serviço como destinatária final”. A nota característica dessa
definição está na identificação de uma pessoa (física ou jurídica) como destinatária
final de um produto ou serviço para que possa ser enquadrada como consumidora. A
condição de destinatário final de um bem ou serviço constitui a principal limitação
estabelecida pelo legislador para a fixação do conceito de consumidor e,
consequentemente, para a própria incidência do CDC como lei especial. Há
necessidade, assim, de se estabelecer o alcance dessa expressão, que constitui o
elemento teleológico dessa definição. Considera-se destinatário final aquele que, no
ato de consumir, retira o bem do mercado. A jurisprudência, posteriormente, evoluiu
para admitir uma certa mitigação da teoria finalista na hipótese em que, embora não
verificada a condição de destinatário final, constata-se a vulnerabilidade do
consumidor profissional ante o fornecedor. Nesse sentido, confira o seguinte julgado
que evidencia a posição atual do STJ acerca da matéria:
(...) 1. É relação de consumo a estabelecida entre o
caminhoneiro que reclama de defeito de fabricação do
caminhão adquirido e a empresa vendedora do veículo,
quando reconhecida a vulnerabilidade do autor perante a ré.
(...)
STJ. 4ª Turma. AgRg no AREsp 426.563/PR, Rel. Min. Luis
Felipe Salomão, julgado em 03/06/2014.
No caso em tela, não se aplica a referida mitigação da teoria finalista, pois a empresa
autora da demanda sequer alegou a sua vulnerabilidade perante a empresa
demandada. Com efeito, sob a ótica da teoria finalista, seria o caso de analisar se a
contratante do serviço de transporte de carga é destinatária final fática e econômica
desse serviço. Contudo, uma vez que a carga transportada é insumo, o contrato
celebrado para o transporte desse insumo fica vinculado a essa destinação, não
havendo necessidade de se perquirir acerca da destinação econômica do serviço de
transporte.
Contrato de seguro continha uma cláusula que previa, de forma genérica, cobertura
apenas para furto qualificado (excluindo, portanto, o furto simples). Essa cláusula é
válida?
NÃO. A cláusula securitária que garante a proteção do patrimônio do segurado
apenas contra o furto qualificado, sem esclarecer o significado e o alcance do termo
“qualificado”, bem como a situação concernente ao furto simples, está eivada de
abusividade por falha no dever geral de informação da seguradora e por sonegar
ao consumidor o conhecimento suficiente acerca do objeto contratado. Não pode
ser exigido do consumidor o conhecimento de termos técnico-jurídicos específicos,
ainda mais a diferença entre tipos penais de mesmo gênero.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.352.419-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 19/8/14
(Info 548).
1.8. Competência para julgar demanda e consumidor por equiparação – (Info 542)
2. CONCEITO DE CONSUMIDOR
2.1. Indivíduo que contrata serviço de corretagem de valores e títulos mobiliários
é considerado consumidor – (Info 600)
Deve ser reconhecida a relação de consumo existente entre a pessoa natural, que
visa a atender necessidades próprias, e as sociedades que prestam, de forma
habitual e profissional, o serviço de corretagem de valores e títulos mobiliários.
Ex: João contratou a empresa “Dinheiro S.A Corretora de Valores” para que esta
intermediasse operações financeiras no mercado de capitais. Em outras palavras,
João contratou essa corretora para investir seu dinheiro na Bolsa de Valores. A
relação entre João e a corretora é uma relação de consumo.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.599.535-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 14/3/17 (Info 600).
3. CONVENÇÃO DE VARSÓVIA
3.1. Transporte internacional envolvendo importador que não seja consumidor:
aplica-se a Convenção de Varsóvia – (Info 541)
4.2. Dever de utilização do sistema Braille por instituições financeiras – (Info 559)
– IMPORTANTE!!!
A inversão do ônus da prova de que trata o art. 6º, VIII, do CDC é REGRA DE
INSTRUÇÃO, devendo a decisão judicial que determiná-la ser proferida
preferencialmente na fase de saneamento do processo ou, pelo menos, assegurar à
parte a quem não incumbia inicialmente o encargo a reabertura de oportunidade
para manifestar-se nos autos.
STJ. 2ª Seção. EREsp 422.778-SP, Rel. para o acórdão Min. Maria Isabel Gallotti (art.
52, IV, b, do RISTJ), julgados em 29/2/2012 (Info 492 STJ).
5. VÍCIO DO PRODUTO
5.1. É válida a prática de loja que permite a troca direta do produto viciado se feita
em até 3 dias da compra – (Info 598)
Não existe obrigação legal de se inserir nos rótulos dos vinhos informações acerca
da quantidade de sódio e de calorias (valor energético) existentes no produto.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.605.489-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 4/10/16
(Info 592).
6. RESPONSABILIDADE CIVIL
6.1. FATO DO SERVIÇO: Prazo prescricional para ação de indenização em caso de
furto de joia empenhada – (Info 616)
A parte celebrou contrato de mútuo com a instituição financeira e deu uma joia em
penhor como garantia do débito.
Ocorre que a joia foi furtada de dentro do banco.
Diante disso, o devedor (mutuário) terá que pleitear indenização pelos prejuízos
sofridos com o furto, sendo de 5 anos o prazo prescricional para essa ação de
ressarcimento.
O furto das joias, objeto do penhor, constitui falha do serviço prestado pela
instituição financeira, devendo incidir o prazo prescricional de 5 anos para a ação
de indenização, conforme previsto no art. 27 do CDC.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.369.579-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 24/10/17 (Info
616).
OBS: O furto ocorrido deve ser entendido como fortuito interno, inerente à atividade
explorada pelo banco. Assim, a instituição financeira é responsável por furtos ou
mesmo roubos em seus cofres (REsp 1.250.997/SP, Rel. Min. Marco Buzzi, Quarta
Turma, julgado em 5/2/2013).
6.2. FATO DO SERVIÇO: Para ocorrer indenização por danos morais em função
do encontro de corpo estranho em alimento industrializado, é necessária a sua
ingestão? – (Info 616) – Tema Polêmico!
Vale ressaltar, contudo, que essa diferenciação não consta de forma expressa nos
julgados. Trata-se, contudo, de uma constatação pessoal, razão pela qual deve-se ter
cautela em afirmar isso nos concursos públicos. Para fins de prova, é importante ficar
com a redação literal das ementas, conforme exposta no quadro acima.
Em caso de informação prévia, não se pode dizer que os alunos foram surpreendidos
com a situação, tendo sido enganados pela instituição ao longo dos anos de curso. Não
houve engodo ou violação do dever de informação. A situação do curso era conhecida
por todos e as providências cabíveis foram tomadas pela Instituição, razão pela qual
não há direito à indenização.
De que forma tem que ocorrer essa “reclamação”? Pode ser verbal?
SIM. A reclamação obstativa da decadência, prevista no art. 26, § 2º, I, do CDC,
pode ser feita documentalmente ou verbalmente.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.442.597-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 24/10/17 (Info 614).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João comprou um veículo usado da “BB
Auto”. Ocorre que o carro apresentou uma série de “defeitos” (vícios) que
comprometiam a utilização do produto. Por diversas vezes, o consumidor levou o
veículo à assistência técnica, sem que os vícios fossem sanados. Diante disso, João
ajuizou ação redibitória contra a empresa pedindo a rescisão do contrato de compra e
venda de veículo, com a restituição do valor pago, bem como o ressarcimento por
todas as despesas realizadas relacionadas ao veículo defeituoso.
De que forma tem que ocorrer essa “reclamação”? Pode ser verbal ou tem que ser
escrita? A reclamação obstativa da decadência, prevista no art. 26, § 2º, I, do CDC,
pode ser feita documentalmente ou verbalmente. STJ. 3ª Turma. REsp 1.442.597-DF,
Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 24/10/17 (Info 614).
6.5. Lanchonete não tem o dever de indenizar consumidor vítima de roubo ocorrido
no estacionamento externo e gratuito do estabelecimento – (Info 613) –
IMPORTANTE!!!
A Súmula 130 do STJ prevê o seguinte: a empresa responde, perante o cliente, pela
reparação de DANO ou FURTO de veículo ocorridos em seu estacionamento.
Em casos de roubo, o STJ tem admitido a interpretação extensiva da Súmula 130 do
STJ, para entender que há o dever do fornecedor de serviços de indenizar, mesmo
que o prejuízo tenha sido causado por roubo, se este foi praticado no
estacionamento de empresas destinadas à exploração econômica direta da referida
atividade (empresas de estacionamento pago) ou quando o estacionamento era de
um grande shopping center ou de uma rede de hipermercado.
Por outro lado, não se aplica a Súmula 130 do STJ em caso de roubo de cliente de
lanchonete fast-food, se o fato ocorreu no estacionamento externo e gratuito por ela
oferecido. Nesta situação, tem-se hipótese de caso fortuito (ou motivo de força
maior), que afasta do estabelecimento comercial proprietário da mencionada área
o dever de indenizar.
Logo, a incidência do disposto na Súmula 130 do STJ não alcança as hipóteses de
crime de roubo a cliente de lanchonete praticado mediante grave ameaça e com
emprego de arma de fogo, ocorrido no estacionamento externo e gratuito oferecido
pelo estabelecimento comercial.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.431.606-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. Acd.
Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 15/8/17 (Info 613).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João lanchou na McDonald´s que fica em uma
rua próxima à sua casa. Após realizar a refeição, ao retornar ao estacionamento da
lanchonete, João foi abordado por dois ladrões armados, que levaram a sua
motocicleta. Vale ressaltar que esta unidade da lanchonete não fica dentro de
shopping. Importante também esclarecer que o estacionamento oferecido pela
lanchonete é externo e gratuito. João ajuizou ação de indenização por danos contra a
lanchonete, argumentando, em síntese, que:
• a relação entre ele e a empresa é de consumo, de forma que a responsabilidade é
objetiva;
• houve defeito na prestação do serviço (art. 12 do CDC);
• a simples disponibilização de estacionamento (ainda que por cortesia e sem efetivo
controle de acesso), por agregar valor e comodidade ao serviço oferecido, enseja a
assunção pela lanchonete dos deveres de guarda e vigilância;
• há dever de indenizar, nos termos do que preconiza a Súmula 130 do STJ.
Súmula 130-STJ: A empresa responde, perante o cliente, pela
reparação de dano ou furto de veículo ocorridos em seu
estacionamento.
O pedido de João deve ser acolhido segundo o entendimento do STJ? NÃO. O STJ
entendeu que não havia como a lanchonete impedir o roubo da motocicleta,
especialmente porque o bem foi subtraído diretamente da vítima e o delito foi
praticado por meliantes que fizeram uso de arma de fogo, situação que caracteriza
causa excludente de responsabilidade. Não se aplica, no caso, a Súmula 130 do STJ
porque aqui não se trata de simples subtração (furto) ou avaria (dano) da
motocicleta pertencente ao autor. Houve, na verdade, um roubo praticado por
terceiros, inclusive com emprego de arma de fogo, o que evidencia ainda mais a
inevitabilidade do resultado danoso. O art. 393 do Código Civil prevê a força maior
e o caso fortuito como causas excludentes do nexo causal e, por consequência, da
própria responsabilidade civil. O parágrafo único do mencionado dispositivo, por
sua vez, dispõe que ambos se configuram na hipótese de fato necessário, cujos
efeitos se revelem impossíveis de evitar ou impedir:
Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes
de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se
houver por eles responsabilizado.
Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se
no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou
impedir.
A ideia que esse dispositivo transmite é que o agente não deve responder pelos danos
causados na hipótese em que não lhe era possível antever e, sobretudo, impedir o
acontecimento, como foi o caso do roubo no estacionamento externo e gratuito da
lanchonete.
Ex3: durante o transporte da matriz para Ex2: um terremoto faz com que o telhado
uma das agências, ocorre um roubo e são do banco caia, causando danos aos
subtraídos diversos talões de cheque clientes que lá estavam.
(trata-se de um fato que se liga à
organização da empresa e aos riscos da
própria atividade desenvolvida).
O fortuito interno NÃO exclui a O fortuito externo é uma causa
obrigação do fornecedor de indenizar o excludente de responsabilidade.
consumidor.
OBS:
Fornecedor de produto perigoso: O fornecedor de um produto que possui uma
periculosidade inerente não responde objetivamente pelo simples fato de ter colocado
o produto no mercado. Para que ele responda, é necessário que tenha violado o dever
jurídico de segurança, o que se dá com a fabricação e a inserção no mercado de um
produto defeituoso. Em outras palavras, não basta que o produto seja perigoso, é
necessário que seja defeituoso. O próprio CDC reconhece que há determinados
produtos que são naturalmente perigosos:
Art. 8º Os produtos e serviços colocados no mercado de
consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos
consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis
em decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-se os
fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações
necessárias e adequadas a seu respeito.
Diz-se, neste caso, que são produtos com periculosidade inerente. Como se observa
do art. 8º, os riscos normais e previsíveis, em decorrência da natureza ou da fruição
do produto, são absolutamente admissíveis e o fato de um produto ser naturalmente
perigoso não significa que ele seja defeituoso.
Os provedores de busca devem ser responsabilizados caso a loja virtual não cumpra
suas obrigações contratuais (inadimplemento contratual) ou se a mercadoria
adquirida apresentar algum problema (vício do produto)? NÃO. O serviço dos
provedores de busca é realizado sem qualquer intermediação entre consumidor e
vendedor. Os resultados apresentados pelos buscadores nada mais são que outros
sites ou recursos da Internet, que ali se encontram de forma pública, isto é,
independentemente do provedor de busca. Mesmo com a existência de diversos
mecanismos de filtragem do conteúdo da Internet, na maioria das vezes é inviável ao
provedor da busca exercer alguma forma de controle sobre os resultados da busca.
Em razão dessas características, o STJ entende que os provedores de pesquisa:
a) não respondem pelo conteúdo do resultado das buscas
realizadas por seus usuários;
b) não podem ser obrigados a exercer um controle prévio do
conteúdo dos resultados das buscas feitas por cada usuário; e
c) não podem ser obrigados a eliminar do seu sistema os
resultados derivados da busca de determinado termo ou
expressão (STJ. 3ª Turma. REsp 1.316.921/RJ, julgado em
26/06/2012).
Não configura dano moral in re ipsa a simples remessa de fatura de cartão de crédito
para a residência do consumidor com cobrança indevida.
Para configurar a existência do dano extrapatrimonial, é necessário que se
demonstre que a operadora de cartão de crédito, além de ter incluído a cobrança na
fatura, praticou outras condutas que configurem dano moral, como por exemplo:
a) reiteração da cobrança indevida mesmo após o consumidor ter reclamado;
b) inscrição do cliente em cadastro de inadimplentes;
c) protesto da dívida;
d) publicidade negativa do nome do suposto devedor; ou
e) cobrança que exponha o consumidor, o submeta à ameaça, coação ou
constrangimento.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.550.509-RJ, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 3/3/16 (Info 579).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João foi surpreendido quando chegou em sua
casa a fatura do cartão de crédito. Isso porque ele estava sendo cobrado por uma
suposta compra de R$ 3 mil, que ele não realizou. O consumidor entrou em contato
com o serviço de atendimento ao cliente e contestou a cobrança. A atendente da
operadora do cartão afirmou que iria ser aberto um procedimento interno para apurar
o ocorrido e que, durante esse período, ele não precisaria pagar essa dívida. Depois
de dois meses, João foi informado que seu cartão havia sido "clonado" e a cobrança foi
definitivamente cancelada. Vale ressaltar que João não pagou os R$ 3 mil e que a
instituição financeira não inscreveu o seu nome nos serviços de proteção de crédito
(SPC/SERASA).
Ação de indenização por danos morais: Mesmo tendo recebido a notícia de que a
cobrança foi cancelada, João ingressou com ação de indenização por danos morais
contra a operadora do cartão de crédito alegando que o simples fato de ter sido
incluída indevidamente a compra em sua fatura já lhe gerou inúmeros transtornos e
preocupações. O juiz julgou improcedente o pedido, argumentando que João não
provou o dano moral sofrido e que o simples fato de a empresa ter incluído a dívida
na fatura do cartão não é suficiente para caracterizar o abalo extrapatrimonial.
O autor não desistiu e recorreu contra a sentença sustentando a tese de que o simples
fato de a operadora do cartão de crédito incluir na fatura uma cobrança indevida
contra o consumidor gera dano moral in re ipsa (dano moral com prejuízo presumido),
não sendo necessária nenhuma outra comprovação.
Apesar disso, a ECT é responsável pelos danos sofridos por consumidor que for
assaltado no interior de agência dos Correios na qual é fornecido o serviço de banco
postal.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.183.121-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
24/2/2015 (Info 559).
OBS: O STJ entendeu que a imposição legal de recursos de segurança específicos para
proteção dos estabelecimentos financeiros não abrange o serviço de correspondente
bancário realizado pela ECT. Ao realizar contrato com o banco para atuar na função
de correspondente bancário, a ECT não se transforma em uma agência bancária nem
deixa de ser uma agência dos Correios. Sua natureza jurídica continua a mesma. Ela
não se transforma em instituição financeira nos termos do art. 17 da Lei nº 4.595/64.
A Lei nº 7.102/83 fica restrita aos "bancos oficiais ou privados, caixas econômicas,
sociedades de crédito, associações de poupança, suas agências, postos de
atendimento, subagências e seções, assim como as cooperativas singulares de crédito
e suas respectivas dependências" (art. 1º, § 1º).
O intuito do legislador, ao criar o Banco Postal, não foi o de transformá-lo em uma
instituição financeira e seria financeiramente muito penoso submeter o
correspondente bancário a arcar com as obrigações típicas de segurança a que se
encontram submetidas as instituições financeiras. Correr-se-ia o risco de inviabilizar
a própria atividade do correspondente bancário em virtude dos custos dos itens de
segurança.
Não confundir:
Os bancos postais não estão obrigados a cumprir as regras de segurança
previstas na Lei nº 7.102/83 (REsp 1.497.235-SE).
Apesar disso, a ECT é responsável pelos danos sofridos por consumidor que
for assaltado no interior de agência dos Correios na qual é fornecido o serviço
de banco postal (REsp 1.183.121-SC).
A ECT é responsável pelos danos sofridos por consumidor que foi assaltado no
interior de agência dos Correios na qual é fornecido o serviço de banco postal. STJ.
4ª Turma. REsp 1.183.121-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 24/2/2015
(Info 559).
6.19. Responsabilidade civil dos Correios por extravio de carta registrada – (Info
556)
6.22. Dano moral decorrente de carro 0km que apresentou inúmeros problemas –
(Info 544)
6.23. Veículo importado que não poderia ser abastecido com combustível nacional
– (Info 544)
O consumidor tem direito à indenização por danos morais e materiais pelo fato de
ter adquirido no mercado nacional um veículo 0km que apresentou inúmeros
problemas obrigando o adquirente a retornar à concessionária, recorrentemente
por mais de 30 dias, para sanar panes decorrentes da incompatibilidade, não
informada no momento da compra, entre a qualidade do combustível necessário ao
adequado funcionamento do veículo e a do combustível disponibilizado nos
postos nacionais.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.443.268-DF, Rel. Min. Sidnei Beneti, j. 3/6/14 (Info 544).
OBS: Segundo o STJ, houve, no caso, vício do produto (art. 18 do CDC). O vício do
produto ocorre quando o produto não se mostra adequado ao fim a que se destina,
incompatível com o uso a que se propõe. Se o veículo não podia ser abastecido com os
combustíveis vendidos no Brasil, esse automóvel se torna impróprio ao consumo a
que se destina (art. 18 do CDC).
A instituição financeira não pode ser responsabilizada por assalto sofrido por sua
correntista em via pública, isto é, fora das dependências de sua agência bancária,
após a retirada, na agência, de valores em espécie, sem que tenha havido qualquer
falha determinante para a ocorrência do sinistro no sistema de segurança da
instituição.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.284.962-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
11/12/2012 (Info 512 STJ).
6.27. O banco possui responsabilidade objetiva, com base na teoria do risco, não
podendo alegar caso fortuito porque se trata de um fortuito interno (e não fortuito
externo).
b) 10 (dez) anos, tal como previsto no art. 205 do Código Civil de 2002,
observando-se a regra de direito intertemporal, estabelecida no art. 2.028 do Código
Civil de 2002.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.532.514-SP, Rel. Min. Og Fernandes, j. 10/5/17 (recurso
repetitivo) (Info 603).
(TRF4-2012): Não é aplicável o prazo de prescrição de cinco anos previsto pelo art.
27 do Código de Defesa do Consumidor na hipótese de ação de restituição de taxa
de água e esgoto cobrada indevidamente, pois não se trata de ação de reparação
de danos causados por defeitos na prestação de serviços, aplicando-se o prazo
prescricional estabelecido pela regra geral do Código Civil. BL: art. 205 do CC/02.
OBS:
Exemplo: Repetição de indébito de tarifa de água e esgoto prescrevia em 20 anos no
CC-1916. No CC-2002 foi reduzido para 10 anos.
Se o usuário pagou a tarifa cobrada indevidamente em 1991, em 2003 (data em
que entrou em vigor o CC), já havia se passado 12 anos. Logo, prevalece o
prazo do CC-1916 e este usuário só terá mais 8 anos para ajuizar a ação.
Se o usuário pagou a tarifa em 1994, em 2003 havia se passado apenas 9 anos.
Logo, será aplicado o novo prazo do CC-2002 (de 10 anos). A partir de
11/01/2003 (data da entrada em vigor do CC-2002) iniciou o prazo de 10 anos
para que o usuário ajuizasse a ação.
7.3. Prazo prescricional para moradores de casas atingidas por queda de aviação
ajuizarem ação indenizatória contra a companhia aérea
Qual é o prazo prescricional para que moradores de casas atingidas por queda de
avião ajuízem ação de indenização contra a companhia aérea? 5 anos (art. 27 do
CDC).
Os moradores, embora não tenham utilizado o serviço da companhia aérea como
destinatários finais, equiparam-se a consumidores pelo simples fato de serem
vítimas do evento. São conhecidos como bystanders (art. 17 do CDC). Não se aplica
o prazo prescricional do Código Brasileiro de Aeronáutica quando a relação
jurídica envolvida for de consumo.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.202.013-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/6/2013.
8. PROTEÇÃO CONTRATUAL
8.1. É válido o desconto de pontualidade presente em contratos de serviços
educacionais – (Info 591) – IMPORTANTE!!!
OBS: sobre este tema, importante reler o REsp 832.293-PR, Rel. Min. Raul Araújo,
julgado em 20/8/2015 (Info 572) que traz um entendimento ligeiramente diferente
em determinado aspecto (vide arquivo Direito Civil)
OBS:
O "desconto de pontualidade", também chamado de "abono de pontualidade" possui
uma característica em comum com a multa moratória: ambos têm por objetivo reforçar
na parte contratante a vontade de cumprir a sua obrigação, ou seja, de pagar a
mensalidade em dia. No entanto, apesar de terem este ponto de semelhança, não se
pode dizer que o desconto de pontualidade seja uma multa disfarçada.
Assim, não existiu a chamada "venda casada" de que trata o art. 39, I, do CDC. O que
houve foi a exigência de uma providência que é imposta por lei.
8.3. Cobertura de home care por plano de saúde – (Infos 564 e 571)
João é cliente de um plano de saúde. Após ficar doente, ele foi internado no
hospital, onde permaneceu por algumas semanas. Até então, o plano de saúde
estava pagando todas as despesas. O médico que acompanhava seu estado de saúde
viu que seu quadro clínico melhorou e recomendou que ele fosse para casa, mas lá
ficasse realizando tratamento domiciliar (home care) até que tivesse alta completa.
Ocorre que o plano de saúde não aceitou, afirmando que, no contrato firmado com
João, havia uma cláusula proibindo o serviço de home care. Segundo a operadora,
apenas o tratamento hospitalar está incluído.
O plano de saúde pode ser obrigado a custear o tratamento domiciliar (home care)
mesmo que isso não conste expressamente do rol de serviços previsto no contrato?
Mesmo que exista cláusula no contrato proibindo o home care? SIM. Ainda que, em
contrato de plano de saúde, exista cláusula que vede de forma absoluta o custeio
do serviço de home care (tratamento domiciliar), a operadora do plano será
obrigada a custeá-lo em substituição à internação hospitalar contratualmente
prevista, desde cumpridos os seguintes requisitos:
1) tenha havido indicação desse tratamento pelo médico assistente;
2) exista real necessidade do atendimento domiciliar, com verificação do quadro
clínico do paciente;
3) a residência possua condições estruturais para fazer o tratamento domiciliar;
4) haja solicitação da família do paciente;
5) o paciente concorde com o tratamento domiciliar;
6) não ocorra uma afetação do equilíbrio contratual em prejuízo do plano de saúde
(exemplo em que haveria um desequilíbrio: nos casos em que o custo do
atendimento domiciliar por dia supera a despesa diária em hospital).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.378.707-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 26/5/15
(Info 564).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.537.301-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 18/8/15
(Info 571).
Consumidor adquire veículo novo e, para pagar o carro, contrata leasing oferecido
pelo banco da própria montadora. O automóvel apresenta vício redibitório que o
torna imprestável ao uso. O banco que realizou o financiamento será também
responsável? O contrato de leasing também será rescindido?
SIM. A instituição financeira vinculada à concessionária do veículo (“banco da
montadora”) possui responsabilidade solidária por vício do produto (veículo novo
defeituoso), uma vez que ela foi parte integrante da cadeia de consumo.
Todos aqueles que participam da introdução do produto ou serviço no mercado
devem responder solidariamente por eventual defeito ou vício.
O contrato de arrendamento mercantil não foi feito de forma independente. Ao
contrário, está atrelado ao contrato de compra e venda, de forma que é possível
vislumbrar a existência de uma “operação casada”.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.379.839-SP, Rel. originária Min. Nancy Andrighi, Rel. para
Acórdão Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 11/11/2014 (Info 554).
9. PRÁTICAS ABUSIVAS
9.1. TV por assinatura e cobrança pelo ponto adicional – (Info 617)
O pedido do MP foi aceito pelo STJ? SIM. A transparência e a informação são deveres
dos prestadores de serviços e constituem direito do consumidor de ter pleno
conhecimento acerca do produto ou serviço que está adquirindo. É o que dispõe o
CDC em seus arts. 4º e 6º, os quais devem ser analisados conjuntamente com a cláusula
geral da boa-fé (art. 51). Não há manifestação de vontade livre e consciente se o
interessado não detém as informações necessárias para formar seu convencimento.
Transportando esse entendimento para o caso em análise, observe-se que a seguradora
deve:
9.11. Prática de venda casada por operadora de telefonia celular gera dano moral
coletivo in re ipsa – (Info 553) – IMPORTANTE!!!
I – Em uma mesma ação coletiva, o autor pode formular pedidos relacionados com
direitos individuais homogêneo, direitos coletivos em sentido estrito e direitos
difusos. As tutelas pleiteadas em ações civis públicas não são necessariamente
puras e estanques. Não é preciso que se peça, de cada vez, uma tutela referente a
direito individual homogêneo, em outra ação uma de direitos coletivos em sentido
estrito e, em outra, uma de direitos difusos, especialmente em se tratando de ação
manejada pelo Ministério Público, que detém legitimidade ampla no processo
coletivo.
II – Havendo violação a direitos transindividuais, é cabível, em tese, a condenação
por dano moral coletivo que se caracteriza como uma categoria autônoma de dano
e que não está relacionado necessariamente com os tradicionais atributos da pessoa
humana (dor, sofrimento ou abalo psíquico).
III – No caso concreto julgado, o STJ entendeu que não cabia condenação por dano
moral coletivo. Os usuários do Plano de Saúde “ZZZ” que precisassem de próteses
para cirurgias de angioplastia precisavam pagar um valor extra considerando que
determinada cláusula excluía da cobertura o implante de próteses cardíacas. Essa
cláusula é abusiva e ilegal, no entanto, ela não gerou danos difusos ou coletivos,
mas apenas individuais homogêneos.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.293.606-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
2/9/2014 (Info 547).
9.13. É abusiva a cláusula que preveja a perda integral dos valores pagos em caso de
desistência de pacote turístico – (Info 533)
Plano de saúde não pode negar o custeio de cirurgia de gastroplastia (indicada para
tratamento de obesidade mórbida)
Assim, é abusiva a negativa do plano de saúde em cobrir as despesas de intervenção
cirúrgica de gastroplastia, necessária à garantia da sobrevivência do segurado.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.249.701-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
4/12/2012 (Info 511 STJ).
9.16. Cláusula abusiva (limite de valor em tratamento pelo plano de saúde) – (Info
491)
Súmula 597-STJ: A cláusula contratual de plano de saúde que prevê carência para
utilização dos serviços de assistência médica nas situações de emergência ou de
urgência é considerada abusiva se ultrapassado o prazo máximo de 24 horas
contado da data da contratação.
STJ. 2ª Seção. Aprovada em 08/10/2017. (Info 614)
OBS:
O que é carência nos contratos de plano de saúde? Carência é o tempo que a pessoa
terá que esperar para poder gozar dos serviços oferecidos pelo plano de saúde. Esse
prazo normalmente varia de acordo com o procedimento médico ou hospitalar. Ex:
consultas médicas, sem carência; partos – carência de 300 dias etc. Os prazos de
carência devem estar previstos no contrato.
Imagine agora a seguinte situação hipotética: João, há dois meses, contratou o plano
de saúde “X”. João estava se sentindo mal e foi até o hospital conveniado ao plano.
Constatou-se que ele necessitava de internação em caráter de urgência/emergência,
porque estava com suspeita de AVC. O plano de saúde negou a autorização para
internação alegando que existe uma cláusula no contrato prevendo carência de 180
dias para que o usuário tenha direito à internação.
A legislação permite que o contrato estipule prazo de carência (art. 12, da Lei
9.656/98). No entanto, mesmo havendo carência, os planos de saúde e seguros
privados de saúde são obrigados a oferecer cobertura nos casos de urgência e
emergência a partir de 24 horas depois de ter sido assinado o contrato (art. 12, V, c).
13.3. Custeio das sessões de psicoterapia além dos limites previstos no contrato –
(Info 612)
13.4. Plano de saúde pode exigir dos médicos que indiquem a CID nas requisições
de exames – (Info 610)
13.5. Ex-empregado demitido sem justa causa tem direito de permanecer vinculado
ao plano de saúde em que se encontrava antes da demissão com as mesmas condições
de valor – (Info 599)
É indevido cobrar reajuste de ex-empregado demitido sem justa causa que opta por
permanecer vinculado ao plano de saúde em que se encontrava antes da demissão,
na condição de beneficiário, pelo prazo que lhe assegura o art. 30, § 1º, da Lei nº
9.656/98, nas mesmas condições de cobertura assistencial e mediante o pagamento
integral das mensalidades, só lhe podendo ser atribuído algum aumento que
também tenha sido estipulado aos empregados em atividade.
Em 2011, a ANS editou a Resolução ANS 279/2011, prevendo que "a manutenção da
condição de beneficiário no mesmo plano privado de assistência à saúde em que se
encontrava quando da demissão ou exoneração sem justa causa ou aposentadoria
observará as mesmas condições de reajuste, preço, faixa etária e fator moderador
existentes durante a vigência do contrato de trabalho" (art. 16).
Vale ressaltar, no entanto, que, mesmo antes da Resolução ANS 279/2011, os
empregados demitidos sem justa causa já possuíam esse direito de permanecerem
pagando o mesmo valor. Isso porque esse direito decorre diretamente do art. 30 da
Lei nº 9.656/98 (e não da Resolução, que só veio confirmar essa conclusão).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.539.815-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 7/2/17 (Info
599).
Em 1999, João aposentou-se pelo INSS. Em 2000, voltou a trabalhar para uma
empresa e passou a usufruir do plano de saúde coletivo empresarial no qual a
empregadora pagava metade e ele a outra metade das mensalidades. Em 2009, João
foi demitido sem justa causa, mas continuou no plano, assumindo o pagamento
integral das mensalidades. Em 2015, João faleceu e Maria continuou no plano, não
mais na condição de dependente, mas sim na de beneficiária principal. Em 2017,
contudo, o plano enviou uma carta para Maria comunicando que havia cessado a sua
condição de segurada no plano de saúde coletivo. O argumento utilizado pelo plano
de saúde para cessar a condição de segurada de Maria foi o de que a sua situação se
enquadrava no art. 30 da Lei nº 9.656/98. Maria não concordou e afirmou que, quando
João faleceu, ele estava aposentado, de forma que deveria incidir a regra do art. 31 da
Lei nº 9.656/98. A manutenção de Maria no plano ocorreu com base no art. 30 ou no
art. 31 da Lei nº 9.656/98?
Aplica-se o disposto no art. 31 da Lei nº 9.656/98 ao aposentado – e ao grupo familiar
inscrito, na hipótese de seu falecimento – que é contratado por empresa e,
posteriormente, demitido sem justa causa.
No caso concreto, Maria terá direito de continuar no plano por tempo indeterminado
(regra do caput do art. 31) ou por prazo determinado (regra do § 1º do art. 31)?
Por prazo determinado. A lei somente assegura ao aposentado a sua manutenção
como beneficiário, sem qualquer restrição temporal, quando houver contribuído
para os planos de assistência à saúde pelo prazo mínimo de 10 anos (regra do caput
do art. 31).
A vigência do contrato de seguro saúde iniciou-se em 2000, quando João foi
contratado pela empresa X. Em 2009 João foi demitido sem justa causa e continuou
como beneficiário do plano de saúde, assumindo o ônus integral do pagamento das
mensalidades, o que fez até a data de seu óbito, em 2015. Desta feita, tem-se que o
tempo de filiação original ao plano foi de 9 anos (2000 a 2009), mostrando-se,
impossível, portanto, a aplicação do art. 31, caput, da Lei, que exige tempo de
contribuição mínimo de 10 anos.
Maria alegou que, com a morte de João, ela o teria sucedido no plano de saúde,
devendo, portanto, somar o tempo que João contribuiu (9 anos) com o tempo que ela
também pagou o plano (2 anos, ou seja, de 2015 a 2017). Logo, somando esses dois
períodos, haveria mais que 10 anos de contribuição ao plano. Essa tese foi aceita pelo
STJ?
NÃO. O art. 31 da Lei expressamente exige que o APOSENTADO tenha
contribuído por prazo mínimo de 10 anos, não prevendo a possibilidade de haver
a soma do período de contribuição do aposentado com seus eventuais sucessores.
João contribuiu por 9 anos para o plano coletivo de assistência à saúde. Logo, a
manutenção do contrato em favor de Maria deve se dar por 9 anos. O termo inicial
para a contagem desses 9 anos de manutenção do contrato não pode ser considerado
a data do óbito de João (2015) mas sim a data em que ocorreu a cessação do vínculo
empregatício (2009), considerando que foi neste momento que nasceu o direito à
manutenção do titular, bem como de sua dependente no plano de saúde.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.371.271-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 2/2/2017 (Info 597).
E se o fato começou na época do CC/16 e continuou durante o CC/02, neste caso, qual
dos dois prazos será aplicado? Neste caso, deverá ser observada a regra de transição
do art. 2.028 do CC/2002:
Art. 2.028. Serão os da lei anterior os prazos, quando
reduzidos por este Código, e se, na data de sua entrada em
vigor, já houver transcorrido mais da metade do tempo
estabelecido na lei revogada.
No caso em que, nas informações divulgadas por plano de saúde aos seus usuários,
determinado hospital particular figure como instituição credenciada sem ressalvas,
se o usuário optar pela realização de tratamento contratado e disponibilizado pelo
aludido hospital, a operadora do plano será obrigada a custeá-lo, ainda que o
serviço seja prestado em parceria com instituição não credenciada, cuja unidade de
atendimento funcione nas dependências do hospital, sendo irrelevante o fato de
haver, na mesma localidade, outras instituições credenciadas para o mesmo tipo de
tratamento de saúde.
Ex: João, cliente do plano de saúde, precisava fazer quimioterapia. Na página do
plano na internet consta que o Hospital São Carlos integra a rede credenciada.
Dentro deste hospital, no setor de oncologia, funciona o Instituto Santa Marta.
Diante disso, ele pediu as guias de serviço para fazer a quimioterapia lá. O plano
de saúde não autorizou alegando que o Instituto Santa Marta, apesar de funcionar
dentro do Hospital São Carlos, é uma instituição diferente e que apenas o Hospital
é credenciado. João terá direito de fazer o tratamento lá. Quando um hospital
credenciado não prestar determinados serviços para os usuários do plano, este
deverá informar ao consumidor, de forma clara, qual é a restrição existente e quais
as especialidades oferecidas pela entidade que não estão cobertas, sob pena de
todas elas estarem incluídas no credenciamento.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.613.644-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 20/9/16
(Info 590).
OBS:
Os planos de saúde são regidos pela Lei 9.656/98. Esta lei determina que as
operadoras de planos de saúde deverão ajustar com as entidades conveniadas,
contratadas, referenciadas ou credenciadas, mediante instrumentos formais, as
condições de prestação de serviços de assistência à saúde.
Desse modo, quando a operadora do plano de saúde divulga para os seus usuários a
lista dos prestadores credenciados (ex: hospitais), ela deverá também descrever, de
forma bem clara, os serviços que cada um está apto a executar, pessoalmente ou por
meio de terceiros, segundo o contrato de credenciamento que foi assinado.
O fato de o plano de saúde ter credenciado o hospital, sem restrições, faz com que seus
serviços abranjam, para fins de cobertura, todas as especialidades médicas oferecidas
pela instituição, ainda que prestadas sob o sistema de parceria com instituição não
credenciada.
Repare que, para o trabalhador continuar tendo direito, deverão ser atendidas três
exigências:
a) durante o vínculo empregatício, ele contribuía para o
pagamento do plano;
b) ele foi demitido sem justa causa;
c) ele se compromete a assumir o pagamento integral das
parcelas.
O trabalhador terá direito de continuar com o plano de saúde por um tempo máximo
de 24 meses, conforme prevê o § 1º do art. 30 da Lei nº 9.656/98.
Situação 2: João era empregado de um banco e possuía plano de saúde oferecido aos
funcionários da instituição. O custeio do plano era mantido integralmente pelo
empregador, ou seja, todos os meses o banco pagava R$ 200,00 para manutenção do
plano de saúde e João não precisava arcar com nada. Vale ressaltar, contudo, que o
plano de saúde era regido pelo sistema de coparticipação, ou seja, sempre que João
iria se submeter a uma consulta ou tratamento, o plano pagava 70% e ele deveria arcar
com os 30% restantes. João foi demitido sem justa causa e deseja continuar no plano
de saúde com as mesmas condições de cobertura assistencial que gozava. Para tanto,
ele se compromete a pagar mensalmente R$ 200,00 que eram pagos pelo antigo
empregador. Ele possui esse direito? NÃO. Isso porque o art. 30 acima transcrito
afirma que o ex-empregado só tem direito de manter o plano de saúde se, durante o
contrato de trabalho, ele contribuía para o pagamento do plano. Veja novamente
trecho da redação:
Art. 30. Ao consumidor que contribuir para produtos de que
tratam o inciso I e o § 1º do art. 1º desta Lei (...)
João alegou que contribuía para o plano de saúde, considerando que o plano era do
tipo coparticipação, de forma que todas as vezes que usava, ele tinha que pagar uma
parte do tratamento. Essa tese foi aceita? A coparticipação pode ser considerada
como contribuição do ex-empregado para os fins do art. 30 da Lei 9.656/98? NÃO. O
§ 6º do art. 30 é expresso ao negar essa possibilidade:
§ 6º Nos planos coletivos custeados integralmente pela
empresa, não é considerada contribuição a co-participação do
consumidor, única e exclusivamente, em procedimentos,
como fator de moderação, na utilização dos serviços de
assistência médica ou hospitalar.
Para os fins do caput do art. 30 da Lei 9.656/98, contribuir para o plano de saúde
significa pagar uma mensalidade, independentemente de se estar usufruindo dos
serviços de assistência médica.
Essas mesmas regras acima expostas valem também para o empregado que tinha o
plano de saúde da empresa, mas teve seu contrato extinto porque se aposentou? SIM,
porém, existem algumas peculiaridades relacionadas com o tempo mínimo em que ele
deve ter contribuído. Veja:
Art. 31. Ao aposentado que contribuir para produtos de que
tratam o inciso I e o § 1º do art. 1º desta Lei, em decorrência de
vínculo empregatício, pelo prazo mínimo de dez anos, é
assegurado o direito de manutenção como beneficiário, nas
mesmas condições de cobertura assistencial de que gozava
quando da vigência do contrato de trabalho, desde que
assuma o seu pagamento integral.
§ 1º Ao aposentado que contribuir para planos coletivos de
assistência à saúde por período inferior ao estabelecido no
caput é assegurado o direito de manutenção como
beneficiário, à razão de um ano para cada ano de contribuição,
desde que assuma o pagamento integral do mesmo.
§ 2º Para gozo do direito assegurado neste artigo, observar-se-
ão as mesmas condições estabelecidas nos §§ 2º, 3º, 4º, 5º e 6º
do art. 30.
§ 3º Para gozo do direito assegurado neste artigo, observar-se-
ão as mesmas condições estabelecidas nos §§ 2º e 4º do art. 30.
Exames, internações e demais procedimentos hospitalares não podem ser vedados aos
usuários cooperados exclusivamente pelo fato de terem sido solicitados por médico
não credenciado porque isso configura discriminação com os galenos (médicos) não
cooperados, tolhe o direito do consumidor de usar o plano de saúde e restringe a sua
liberdade de escolher o profissional que lhe aprouver.
Vale ressaltar que, além de ser nula com base no CDC, esta cláusula também é vedada
pela Resolução do Conselho de Saúde Suplementar - CONSU nº 8, de 3 de novembro
de 1998:
Art. 2º Para adoção de práticas referentes à regulação de
demanda da utilização dos serviços de saúde, estão vedados:
(...)
VI - negar autorização para realização do procedimento
exclusivamente em razão do profissional solicitante não
pertencer à rede própria ou credenciada da operadora.
Não confundir. Alguns planos de saúde permitem que o usuário se consulte com
médicos não credenciados e depois solicitem o reembolso da quantia paga (total ou
parcialmente). Outros planos de saúde não oferecem isso. Se o plano de saúde disser
no contrato que não irá reembolsar o paciente por consultas realizadas com médicos
não cadastrados, esta previsão é considerada válida? SIM. Essa limitação contratual
não se mostra abusiva, uma vez que é razoável e busca resguardar a operadora de
fortes e imprevisíveis impactos econômico-financeiros do contrato.
13.12. Não se aplica o CDC ao contrato de plano de saúde administrado por entidade
de autogestão – (Info 588)
Por essas razões, as regras do CDC não se aplicam às relações envolvendo entidades
de planos de saúde constituídas sob a modalidade de autogestão. Isso porque tais
entidades não oferecem serviços no mercado e não exercem empresa com o intuito de
lucro, razão pela qual não se lhes aplica o conceito de fornecedor estabelecido no art.
3º, § 2º do CDC.
Dessa forma, pela decisão acima explicada, pode-se concluir que as operadoras de
planos de saúde constituídas sob a modalidade de autogestão representam uma
exceção à regra da súmula 469 do STJ, considerando que para elas não se aplica o CDC.
13.13. A cláusula de coparticipação em planos de saúde é abusiva? – (Info 586) –
IMPORTANTE – (VÍDEO TELEGRAM)
13.14. Dever de assistência ao neonato durante os trinta primeiros dias após o seu
nascimento – (Info 584)
O plano de saúde deve reembolsar o segurado pelas despesas que pagou com
tratamento médico realizado em situação de urgência ou emergência por hospital
não credenciado, ainda que o referido hospital integre expressamente tabela
contratual que exclui da cobertura os hospitais de alto custo, limitando-se o
reembolso, no mínimo, ao valor da tabela de referência de preços de serviços
médicos e hospitalares praticados pelo plano de saúde.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.286.133-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
5/4/2016 (Info 580).
13.17. Migração de plano de saúde coletivo empresarial para plano individual ou
familiar e inexistência de direito de que o valor da mensalidade permaneça o mesmo
– (Info 578)
OBS2: Assim, não existe direito de manutenção do mesmo valor das mensalidades aos
beneficiários que migram do plano coletivo empresarial para o plano individual, haja
vista as peculiaridades de cada regime e tipo contratual (atuária e massa de
beneficiários), que geram preços diferenciados.
A Unimed fez convênio com a Caixa de Assistência dos Advogados por meio do
qual disponibilizou um plano de saúde coletivo de adesão. Assim, o advogado que
quisesse poderia aderir ao plano de saúde oferecido com a interveniência da Caixa
de Assistência e que tinha condições mais vantajosas do que se ele fizesse um plano
de saúde individual. Centenas de advogados aderiram ao plano, dentre eles João.
Ocorre que passados alguns anos, houve um grande reajuste no valor da
mensalidade do plano de saúde. Inconformado, João ação de revisão de cláusula
contratual contra a Unimed alegando que o reajuste foi abusivo e requerendo a
manutenção dos valores originais.
O autor tem legitimidade para, sozinho, discutir a validade desse aumento mesmo
se tratando de plano de saúde coletivo?
SIM. O STJ decidiu que o usuário de plano de saúde coletivo tem legitimidade
ativa para ajuizar individualmente ação contra a operadora pretendendo discutir a
validade de cláusulas contratuais, não sendo empecilho o fato de a contratação ter
sido intermediada por caixa de assistência da categoria profissional.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.510.697-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
9/6/2015 (Info 564).
O valor que seria objeto de mútuo, negado por força de inscrição indevida em
cadastro de inadimplentes, não pode ser ressarcido a título de dano emergente.
Não há perda material efetiva pelo fato de ter sido negado crédito ao consumidor.
Dessa forma, o ressarcimento por dano emergente, neste caso, seria destituído de
suporte fático, consistindo a condenação, nessas condições, em verdadeira hipótese
de enriquecimento ilícito.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.369.039-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 4/4/17 (Info
602).
OBS:
O parâmetro de ressarcimento do dano material é fixado pelo art. 402 do CC/02, que
dispõe:
Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as
perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele
efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar.
No caso concreto, o valor do financiamento bancário foi pedido pelo autor como sendo
dano emergente. Entretanto, o patrimônio da vítima antes e depois do ilícito não
sofreu alteração. É certo que a inscrição indevida impediu que o autor tivesse um
ingresso de valores em sua conta (R$ 50 mil). No entanto, esse dinheiro não viria sem
custos, tendo ele que devolver a quantia ao banco futuramente, acrescida de juros e
correção monetária.
Passado esse prazo, o próprio órgão de cadastro deve retirar a anotação negativa,
independentemente de como esteja a situação da dívida (não importa se ainda está
sendo cobrada em juízo ou se ainda não foi prescrita).
Súmula 323-STJ: A inscrição do nome do devedor pode ser
mantida nos serviços de proteção ao crédito até o prazo
máximo de cinco anos, independentemente da prescrição da
execução.
A partir de quando se começa a contar este prazo de 5 anos: após a data em que houve
o vencimento da dívida ou após o dia em que o nome do devedor foi inserido no
SPC/SERASA?
Ex: João deixou de pagar a conta do celular que venceu em 01 de março 2015; em 01 de
julho 2015, a operadora incluiu o devedor no SERASA; caso não pague, o nome de João
sairá do cadastro negativo em 02 de março 2020 ou em 02 de julho de 2020? Em 02 de
março de 2020. É o que foi decidido pelo STJ.
O § 1º do art. 43 não diz expressamente qual deverá ser o termo inicial da contagem
do prazo de 5 anos. No entanto, é possível concluir que esta contagem deverá levar
em consideração a data do vencimento da obrigação (e não o dia de inclusão no
cadastro de inadimplentes). Existem duas razões para isso:
15.4. A Súmula 385 do STJ aplica-se também para ações propostas pelo consumidor
contra o credor que efetivou a inscrição irregular – (Info 583) – IMPORTANTE!!!
Todavia, isso não quer dizer que o credor não possa responder por algum outro tipo
de excesso. A anotação irregular, já havendo outras inscrições legítimas
contemporâneas, não enseja, por si só, dano moral. Mas o dano moral pode ter por
causa de pedir outras atitudes do suposto credor, como a insistência em uma cobrança
eventualmente vexatória e indevida, ou o desleixo de cancelar, assim que ciente do
erro, a anotação indevida.
No “credit scoring”, a pessoa que está pedindo o crédito é avaliada por meio de
fórmulas matemáticas, nas quais são consideradas diversas variáveis como a idade, a
profissão, a finalidade da obtenção do crédito etc. Tais variáveis são utilizadas nas
fórmulas matemáticas e, por meio de ferramentas da estatística, atribui-se uma espécie
de pontuação (nota) para a pessoa que está pedindo o crédito. Quanto maior a nota,
menor seria o risco de se conceder o crédito para aquele consumidor e,
consequentemente, mais fácil para ele conseguir a liberação.
O “credit scoring” pode ser utilizado no Brasil como sistema de avaliação do risco de
concessão de crédito? SIM. O STJ entendeu que essa prática comercial é LÍCITA,
estando autorizada pelo art. 5º, IV e pelo art. 7º, I, da Lei 12.414/11 (Lei do Cadastro
Positivo), que, ao tratar sobre os direitos do cadastrado nos bancos de dados,
menciona indiretamente a possibilidade de existir a análise de risco de crédito. Vale
ressaltar, no entanto, que para o “credit scoring” ser lícito, é necessário que respeite os
limites estabelecidos pelo sistema de proteção do consumidor no sentido da tutela da
privacidade e da máxima transparência nas relações negociais, conforme previsão do
CDC e da Lei 12.414/11. STJ. 2ª Seção. REsp 1.419.697-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, julgado em 12/11/2014 (recurso repetitivo) (Info 551).
A pessoa que tem seus dados registrados no crediscore tem direito de pedir para saber
quais as informações a seu respeito que lá constam? SIM. Apesar de ser possível a
inserção de dados do consumidor no crediscore mesmo sem o seu prévio
consentimento, caso este solicite, a empresa deverá fornecer esclarecimentos sobre as
fontes dos dados considerados (histórico de crédito), bem como sobre as informações
pessoais que foram valoradas (STJ. 2ª Seção. REsp 1419697/RS, Rel. Min. Paulo de
Tarso Sanseverino, julgado em 12/11/2014. Nesse sentido:
O pedido de João deve ser aceito? Existe interesse de agir no caso concreto? NÃO. Em
nosso exemplo, o consumidor comprovou que existiu recusa na concessão do crédito
em virtude da pontuação que ele recebeu no Crediscore. No entanto, não houve
resistência em fornecer as informações requeridas pelo consumidor. Apenas exigiu-se
que ele fizesse o pedido pessoalmente, o que não caracteriza recusa.
Além de saber a sua pontuação, o consumidor tem direito de saber qual foi a
metodologia utilizada no cálculo? NÃO. O consumidor terá direito de saber a sua
pontuação e as informações pessoais utilizadas. No entanto, nem o consumidor nem
ninguém terá direito de saber a metodologia de cálculo, ou seja, qual foi a fórmula
matemática e os dados estatísticos utilizados no “credit scoring”. Isso porque essa
fórmula é fruto de estudos e investimentos, constituindo segredo da atividade
empresarial (art. 5º, IV, da Lei 12.414/11: ..."resguardado o segredo empresarial”). STJ.
2ª Seção. REsp 1.419.697-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
12/11/2014 (recurso repetitivo) (Info 551).
15.6. Ação de cancelamento de diversas inscrições em cadastro negativo de proteção
ao crédito – (Info 571)
EXCEÇÕES:
Existem duas exceções em que não haverá indenização por danos morais mesmo
não tendo havido a prévia comunicação do devedor:
1) Se o devedor já possuía inscrição negativa no banco de dados e foi realizada uma
nova inscrição sem a sua notificação. Súmula 385-STJ: Da anotação irregular em
cadastro de proteção ao crédito, não cabe indenização por dano moral quando
preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito ao cancelamento.
2) Se o órgão de restrição ao crédito estiver apenas reproduzindo informação
negativa que conste de registro público (exs.: anotações de protestos que constem
do Tabelionato de Protesto, anotações de execução fiscal que sejam divulgadas no
Diário Oficial).
Qual é o prazo que tem o credor para retirar (dar baixa) do nome do devedor no
cadastro negativo?
5 (cinco) dias úteis.
Dever de informação: Vale ressaltar que o incorporador terá que informar claramente
o consumidor, inclusive em ofertas, informes e peças publicitárias, do eventual prazo
de prorrogação para a entrega da unidade imobiliária, sob pena de haver publicidade
enganosa, cujo descumprimento implicará responsabilidade civil.
O art. 88 do CDC proíbe que o fornecedor que foi acionado judicialmente pelo
consumidor faça a denunciação da lide, chamando para o processo outros
corresponsáveis pelo evento.
Esta norma é uma regra prevista em benefício do consumidor, atuando em prol da
brevidade do processo de ressarcimento de seus prejuízos devendo, por esse
motivo, ser arguida pelo próprio consumidor, em seu próprio benefício.
Assim, se o fornecedor/réu faz a denunciação da lide ao corresponsável e o
consumidor não se insurge contra isso, haverá preclusão, sendo descabido ao
denunciado invocar em seu benefício a regra do art. 88.
Em outras palavras, não pode o denunciado à lide invocar em seu benefício a regra
de afastamento da denunciação (art. 88) para eximir-se de suas responsabilidades
perante o denunciante.
STJ. 4ª Turma. REsp 913.687-SP, Rel. Min. Raul Araújo, j. 11/10/16 (Info 592).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João comprou um iogurte da marca "Milk" no
supermercado "Mart". Ocorre que, após consumir o produto, ele teve uma grave
infecção intestinal, tendo sido confirmado que o iogurte estava estragado. Diante
disso, João ajuizou ação de indenização contra o fabricante "Milk" alegando que houve
fato do produto (art. 12 do CDC).
Imaginemos, contudo, que o consumidor não se opôs ao fato de o réu ter feito a
denunciação da lide. Diante disso, o supermercado (denunciado) foi citado e alegou,
entre outros argumentos, que esta denunciação da lide não é válida porque existe
expressa vedação no art. 88 do CDC, razão pela qual ele deverá ser excluído do
processo. A alegação do comerciante (denunciado) deverá ser aceita? NÃO. O
propósito do legislador ao prever a regra do art. 88 do CDC e não permitir a
denunciação da lide foi evitar que houvesse um atraso ou dificuldade na tutela
jurídica do consumidor, dando, assim, celeridade ao seu pleito indenizatório e
evitando a multiplicação de teses e argumentos de defesa que pudessem dificultar a
identificação da responsabilidade do fornecedor do serviço. Dessa forma, a norma do
art. 88 do CDC consubstancia-se em regra insculpida totalmente em benefício do
consumidor. Por essa razão, somente ele poderá insurgir-se contra a denunciação. Se
há o deferimento da denunciação sem manifestação contrária do consumidor, opera-
se a preclusão, sendo descabido ao denunciado invocar em seu benefício a regra de
afastamento da denunciação. Em outras palavras, a invocação da proibição contida
no art. 88 do CDC é um direito subjetivo público assegurado ao consumidor para a
facilitação de sua defesa, não sendo um direito do denunciado.
Informação extra: Aproveitando que estamos tratando sobre o tema, fica aqui uma
informação muito importante: apesar de o art. 88 do CDC remeter ao art. 13, que trata
sobre o comerciante, o STJ entende que a vedação de denunciação da lide prevista no
art. 88 do CDC não se restringe à responsabilidade de comerciante por fato do produto
(art. 13 do CDC), sendo aplicável também nas demais hipóteses de responsabilidade
civil por acidentes de consumo (arts. 12 e 14 do CDC). Em outras palavras, não cabe
denunciação da lide nas lides consumeristas de uma forma geral. STJ. 4ª Turma. AgRg
no AREsp 694.980/MS, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 22/09/2015.
Como regra, para que uma associação possa propor ACP, ela deverá estar
constituída há pelo menos 1 ano.
Exceção. Este requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz, quando
haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do
dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido (§ 4º do art. 5º da Lei
7.347/85). Neste caso, a ACP, mesmo tendo sido proposta por uma associação com
menos de 1 ano, poderá ser conhecida e julgada.
Como exemplo da situação descrita no § 4º do art. 5º, o STJ decidiu que:
É dispensável o requisito temporal (pré-constituição há mais de um ano) para
associação ajuizar ação civil pública quando o bem jurídico tutelado for a prestação
de informações ao consumidor sobre a existência de glúten em alimentos.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.600.172-GO, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 15/9/16 (Info 591).
24. COMPETÊNCIA
24.1. Competência internacional e relação de consumo – (Info 580)
No exemplo narrado acima, João terá direito de ser indenizado por danos morais? Há
dano moral indenizável neste caso? SIM.
O banco deve compensar os danos morais sofridos por
consumidor vítima de saque fraudulento que, mesmo diante
de grave e evidente falha na prestação do serviço bancário,
teve que intentar ação contra a instituição financeira com
objetivo de recompor o seu patrimônio, após frustradas
tentativas de resolver extrajudicialmente a questão. STJ. 4ª
Turma. AgRg no AREsp 395.426-DF, Rel. Min. Antonio Carlos
Ferreira, Rel. para acórdão Marco Buzzi, julgado em
15/10/2015 (Info 574).
SITUAÇÃO 2
Imagine agora uma situação diferente: Pedro mantém uma conta poupança no Banco
"ZZ". Determinado dia, Pedro constata que um terceiro conseguiu realizar um saque
fraudulento e retirou R$ 2 mil de sua conta. O cliente procurou o gerente do banco
comunicando o ocorrido. Depois de alguns dias, a instituição financeira efetuou a
devolução dos valores sacados, reconhecendo que estes não foram feitos pelo autor,
que foi vítima de ação criminosa. Mesmo assim, Pedro ajuizou ação de indenização
por danos morais. O autor alegou que o saque fraudulento por terceiro na conta-
corrente do consumidor gera dano moral in re ipsa. Assim, se houve saque fraudulento
da conta bancária, este fato, por si só, gera direito à indenização por danos morais.
26.3. A instituição pode cobrar tarifa bancária pela liquidação antecipada do saldo
devedor? – (Info 605) – IMPORTANTE!!!
26.5. Validade da cobrança de tarifa bancária a partir do quinto saque mensal – (Info
596) – IMPORTANTE!!!
O cliente paga alguma tarifa bancária quando ele saca dinheiro de sua conta? Os
bancos adotam a seguinte prática contratual: o cliente pode fazer até quatro saques
por mês sem pagar nada. A partir do quinto saque, é cobrada uma tarifa bancária.
Esta prática bancária é válida? SIM.
É legítima a cobrança, pelas instituições financeiras, de tarifas relativas a saques
quando estes excederem o quantitativo de quatro realizações por mês.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.348.154-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 13/12/16 (Info
596).
27. ACESSIBILIDADE
27.1. Logo depois de ter sido publicada a Lei 10.098/2000, as empresas de transporte
coletivo já tinham o dever de adaptar seus veículos para pessoas com deficiência –
(Info 599)
Por essa razão, a cobrança de mais esse valor (fora o preço que o consumidor já irá
pagar pelo bem) configura flagrante violação aos deveres de correção, lealdade e
transparência, impostos pela boa-fé objetiva. Em verdade, a imobiliária está cobrando
para cumprir algo que já é seu dever prestar por força do próprio contrato celebrado.
Observação final: Ressalve-se, contudo, que a abusividade da SATI não deve implicar
enriquecimento sem causa do consumidor de modo que eventual serviço específico
prestado ao consumidor, como eventuais serviços de despachante ou a cobrança de
taxas de serviços cartorários, podem ser efetivados.
OBS:
O que é um contrato de corretagem? Pelo contrato de corretagem, o corretor obriga-se
a obter para uma pessoa que o contrata (denominada “cliente” ou “comitente”) um ou
mais negócios, conforme as instruções recebidas. O contrato de corretagem está
previsto, de forma genérica, nos arts. 722 a 729 do CC. Quando se fala neste contrato,
normalmente as pessoas só se lembram da corretagem de imóveis. No entanto,
existem outras espécies de corretagem, como é o caso do corretor de ações na Bolsa de
Valores ou o corretor de mercadorias (bens móveis). No caso do corretor de imóveis,
a profissão está regulamentada pela Lei 6.530/78 e pelo Decreto 81.871/78. Para
exercer a profissão de corretor de imóveis, exige-se a aprovação em curso técnico de
Transações Imobiliárias ou curso superior em Gestão Imobiliária, com registro no
Conselho Regional de Corretores de Imóveis (CRECI).
E se não estiver previsto na lei nem no contrato? Neste caso, este valor será arbitrado
segundo a natureza do negócio e os usos locais (art. 724 do CC). Não há lei estipulando
o valor da comissão de corretagem na venda de imóveis. Aplica-se, portanto, os usos
e costumes. No dia-a-dia imobiliário, quando não há previsão contratual, deverá ser
pago ao corretor 6% sobre o valor do imóvel urbano vendido, conforme prevê a tabela
do CRECI.
A tese de João é aceita pelo STJ? É abusiva a cláusula prevista em promessa de compra
e venda que transfira para o promitente-comprador a responsabilidade pelo
pagamento da comissão de corretagem? NÃO. Esta cláusula não é abusiva.
Não há prejuízo aos consumidores porque o custo disso já seria embutido no preço:
Entende-se que não há prejuízo aos consumidores nesta prática porque se a
incorporadora pagasse a comissão de corretagem, ela iria embutir este custo no preço
final do produto. Dessa forma, na prática, mostra-se irrelevante se o consumidor
pagará diretamente ao corretor ou não, considerando que ele já arcaria com esse
pagamento porque se trata de um dos custos do imóvel vendido e que comporia seu
preço. Desse modo, em princípio, é válida a cláusula que transfere para o consumidor
a obrigação de pagar a comissão de corretagem. São necessárias, contudo, algumas
cautelas.