Uso Da Concha de Marisco Como Agregado Miúdo Na Produção de Tijolo Maciço Prensado Manualmente

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Uso da concha de marisco como agregado miúdo na produção de tijolo

maciço prensado manualmente


Using the evaluation seafood shell as little aggregate in production of manually pressed
solid brick

Anathyr Nazária Rodrigues (1); João Manoel de Freitas Mota (2); Ronaldo Faustino da Silva (3);
André Miranda dos Santos (4)

Engenheira Civil, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco


Professor Doutor, Departamento de Infraestrutura e Construção Civil, Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia de Pernambuco
Professor Doutor, Departamento de Infraestrutura e Construção Civil, Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia de Pernambuco
Técnico em Edificações, Departamento de Infraestrutura e Construção Civil, Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia de Pernambuco
Av. Professor. Luís Freire, 500 - Cidade Universitária, Recife - PE, 50740-540

Resumo
A maricultura é uma classe de pesca artesanal exercida no litoral norte de Pernambuco, sendo
responsável pela subsistência das comunidades pesqueiras e de significativa importância para a economia
local. Após a extração da parte comercializável, as conchas de mariscos são depositadas na faixa de areia
ou em terrenos baldios. Este descarte inadequado vem gerando uma série de impactos ambientais. Essa
pesquisa tem o objetivo de dar um destino apropriado a esses rejeitos, a partir do seu reaproveitamento
como agregado miúdo na produção de tijolos maciços prensados manualmente. Para fins de análise e para
uma mesma dosagem de cimento, agregado miúdo e água, foram moldados corpos de prova definidos em
Famílias, T1, T2 e T3, com diferentes proporções de incorporação das conchas em substituição ao
agregado miúdo. Foram confeccionadas amostras para análise do comportamento mecânico das dosagens,
tais como: ensaios de resistência à compressão axial, módulo de elasticidade e absorção de água por
imersão, todos os corpos de prova moldados segundo a normatização vigente. Os resultados demonstraram
que tijolos moldados com adição da concha de marisco, em substituição ao agregado natural, apresentaram
resultados aceitáveis havendo um aumento na resistência a compressão quando comparado à família de
referência, o que torna viável a utilização desse resíduo como agregado miúdo na composição de tijolos.
Palavra-Chave: maricultura, conchas de marisco, tijolos

Abstract
Mariculture is a class of artisanal fishing practiced in the north coast of Pernambuco, being responsible for
the subsistence of the fishing communities and of significant importance for the local economy. After
extracting the tradable part, the shells of shellfish are deposited in the strip of sand or in vacant lots. This
improper disposal has generated a series of environmental impacts. This research has the objective of giving
an appropriate destination to these tailings, from its reuse as a small aggregate in the production of solid
bricks pressed manually. For the purpose of analysis and for the same dosage cement, small aggregate and
water, specimens were defined in Families, T1, T2 and T3, with different proportions of incorporation of the
shells in substitution to the small aggregate. Samples were prepared for analyzing the mechanical behavior
of the dosages, such as axial compressive strength tests, modulus of elasticity and water absorption by
immersion, all test pieces molded according to current regulations. The results showed that molded bricks
with addition of shellfish, replacing the natural aggregate, presented acceptable results with an increase in
compressive strength when compared to the reference family, which makes feasible the use of this residue
as a small aggregate in the composition of bricks.
Keywords: mariculture, shells of shellfish, bricks

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1 Introdução
No litoral brasileiro a pesca de moluscos é uma atividade bastante disseminada que se
destaca com grande importância econômica, histórica, social e cultural, mas ao mesmo
tempo tem causado impactos ambientais nos manguezais. Os recursos pesqueiros
marinhos e estuarinos do Nordeste brasileiro têm sido considerados de vital importância
para promoção do desenvolvimento integrado da Região, principalmente como meio de
subsistência e fonte alimentar para as populações ribeirinhas e servindo de matéria-prima
para indústrias de pesca (CASTRO, 1997).
O molusco Anomalocardia brasiliana está presente em toda a costa brasileira. Silva
(2007) destacou o estado de Santa Catarina no Brasil como o segundo maior produtor de
moluscos bivalves da América Latina. O termo marisco compreende uma grande
variedade de animais marinhos caracterizados por possuírem uma concha rígida,
geralmente situada no exterior do corpo; são os moluscos e crustáceos. Os moluscos
compreendem os bivalves, dotados de duas valvas ou conchas articuladas sobre uma
chancela (WOOD, 1975). Lovatelli (2002) apud Bispo et al. (2004) indicam que em 2002,
os bivalves representaram mais de 8% do total da produção da indústria pesqueira
mundial.
Em 2006 a coleta de marisco no litoral pernambucano foi responsável por 17,7% da
produção pesqueira estadual, com destaque para os municípios de Goiana, Itapissuma e
Igarassu (CEPENE, 2008). A extração do marisco representa uma fonte tradicional de
alimento e renda para os pescadores.
O resíduo gerado no beneficiamento deste molusco vem provocando um grande problema
ambiental, pois o descarte se dá logo após a retirada dos moluscos capturados, no
próprio local de beneficiamento, nas margens do manguezal, ou nas suas proximidades.
Segundo Lima et al. (2007) quando o beneficiamento é realizado em locais próximos a
extração, as conchas são deixadas no local em montanhas que se sobrepõem, causando
consequentemente impacto ao meio ambiente, conforme ilustra a Figura 1.

Figura 1 - Depósito de conchas na praia do Capitão. (RÊGO et al. (2016))

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Na Coreia do Sul a geração anual de cascas de ostras e mexilhões ultrapassa 300.000
toneladas causando um problema grave de geração de resíduos. Diante da importância
econômica da atividade para o país o governo incentiva pesquisadores para buscarem
soluções técnicas viáveis para a reciclagem desses resíduos (YOON; YOON; CHAE,
2009).
As conchas do molusco bivalves possuem como principal constituinte o carbonato de
cálcio (CaCO3). Esse material pode ser utilizado na agricultura, indústria, artesanato
dentre outras alternativas (CHIERIGHINI et al., 2011). Boicko et al. (2007) afirma que o
carbonato de cálcio pode ser usado em diversos processos produtivos, tais como
construção de estradas, pasta de papel, mármore compacto para pavimentos e
revestimento, adubos e pesticidas, rações, indústria da cerâmica, tijolos, tintas, espumas
de polietileno, talcos, vidros, cimentos, vernizes e borrachas, impermeabilizantes de
lagoas, correção de solos, medicamentos, carga de polímeros, entre outros. Também
pode-se dizer que, devido ao carbonato de cálcio, as conchas podem ser utilizadas na
indústria farmacêutica, de papel, como também na produção de medicamentos indicados
na reposição de cálcio e para corrigir problemas de osteoporose (PEDROSA;
COZOLLINO, 2001).
Os resíduos da maricultura vêm sendo utilizados empiricamente nas construções
venaculares. É possível encontra-los incorporados nas argamassas, usados como
revestimento, ou na execução de contrapisos. Segundo Rego Neto e Batista (2014), a
utilização da casca do marisco possibilitaria a diminuição da utilização da areia em
construções, pois o resíduo triturado, que é constituído de cálcio, apresenta maior
resistência dos materiais e têm poder de absorção de menos água podendo contribuir na
diminuição dos custos na construção. Rêgo et al. (2016) realizou um estudo e comprovou
que as conchas de marisco podem ser utilizadas em substituição a areia na produção de
argamassa de piso gerando uma economia de 30% na produção de argamassa para piso.
As conchas incluem no mínimo três camadas, uma orgânica e duas calcárias. A mais
externa das camadas consiste em proteínas associadas a quitina, constituída de duas a
quatro camadas cristalinas de carbonato de cálcio. Nessas camadas o carbonato de
cálcio é depositado sobre as formas de cristais. As camadas calcárias podem ser
inteiramente compostas de aragonita ou uma mistura de aragonita e calcita (RUPPERT;
FOX; BARNES, 2005).
A NBR 7170/1983 define tijolo maciço como um tijolo que possui todas as faces plenas de
material, podendo apresentar rebaixos de fabricação em uma das faces de maior área.
No tocante à resistência à compressão mínima, a NBR 7170/1983 classifica os tijolos
maciços em A, B e C, cujos valores mínimos devem ser de 1,5 MPa, 2,5 MPa e 4,0 MPa,
respectivamente, não sendo apresentados, neste caso, critérios de aceitação quanto a
absorção de água.

2 Materiais e métodos
2.1 Localização da coleta dos mariscos
As conchas de mariscos foram coletadas na Praia do capitão, popularmente conhecida
como Mangue Seco, no Município de Igarassu/PE, Região Metropolitana do Recife,
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representado na figura 2. A praia possui cerca de 1500 metros de extensão e no local é
possível encontrar as conchas acumuladas ao longo da costa.

Figura 2 - Depósito de conchas na praia do Capitão. (Google Maps (2017))

2.2 Materiais
Para a pesquisa foram utilizadas as conchas da espécie Anomalocardia brasiliana,
pertencentes à família Veneridae, conhecida popularmente no Brasil por marisco.
(BOEHS et al., 2010). O cimento empregado na produção dos tijolos foi o CPIV-32 RS,
um Cimento Portland Pozolânico e, por ser um dos mais utilizados, é facilmente
encontrado no mercado. A areia utilizada na produção possui módulo de finura de 2,38 e
diâmetro máximo de 4,75 mm. Para execução do ensaio utilizou-se água da Companhia
Pernambucana de Saneamento. Para a moldagem dos tijolos utilizou-se chapas de
madeira plastificadas para a confecção das fôrmas.

2.3 Moagem das conchas


Antes da moagem das conchas o material foi exposto ao sol por 6 meses e depois
submetido a 4 ciclos de lavagens, com 25 minutos cada, em betoneira para a eliminação
da matéria orgânica e salinidade. Para atingir a faixa granulométrica ideal as conchas
foram trituradas com o auxílio de um soquete de Proctor de 4,5 Kg que é utilizado no
ensaio de compactação. Após esta etapa, o material triturado foi passado na peneira de
malha 4,8 mm e 0,05 mm para que se aproximasse da granulometria da areia natural
conforme ilustra a figura 03. As conchas trituradas que passaram na peneira 4,8 mm e
ficaram retidas na 0,05 mm, sendo esta última para a eliminação da parte fina gerada
após a trituração, foram utilizada para a produção dos tijolos.

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Figura 3 - Conchas trituradas após o peneiramento.

2.4 Produção dos tijolos, moldagem e cura dos corpos de prova


A produção dos tijolos, corpos de prova e ensaios foi realizada no laboratório de materiais
de construção do IFPE Campus Recife.
Para a mistura dos materiais utilizou-se uma betoneira de 150 litros e o procedimento de
dosagem se deu a partir de um processo volumétrico. A determinação da quantidade de
água adicionada no traço foi governada em função da consistência desejada, o qual foi
fixado em 200 mm +/- 10 mm. Conforme a NBR 13276/2016, foi preenchido um molde
tronco-cônico com a argamassa fresca em três camadas sucessivas e aplicado em cada
camada, respectivamente, 15, 10 e 5 golpes com o soquete, de maneira a distribuí-las
uniformemente Após a retirada do molde foram executados 30 golpes da mesa de
consistência, conforme ilustra a figura 4. Esse procedimento foi repetido para cada
família, justificando assim a diferença na relação água/cimento.

Figura 4 - Ensaio de determinação do índice de consistência.

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Para fins de referência, o primeiro traço executado foi o da família de T1 que não possui
adição de agregado miúdo gerado pelas conchas de marisco e que servirá de parâmetro
para a avaliação das demais famílias após a substituição da areia natural pelo marisco,
conforme a tabela 1. Em seguida foram preparados os traços das famílias T2 e T3 com as
devidas incorporações de conchas.

Tabela 1 – Traços das famílias estudadas.


Famílias T.U.V. (cim.: areia: concha: água/cim.)
Família T1 (100 % areia) 1 : 6 : 0 : 1,25
Família T2 (50% areia / 50% concha) 1 : 3 : 3 : 1,19
Família T3 (100 % concha) 1 : 0 : 6 : 1,19

Para cada família analisada foram produzidos 6 tijolos prismáticos, com dimensões de
200x 100 x 50 mm (C x L x A), sendo destinados ao ensaio de resistência à compressão
axial, como pode ser obervado na figura 5. Na confecção destes elementos foram usadas
fôrmas de madeira plastificada, nas dimensões especificadas. Visando facilitar a retirada
dos tijolos das fôrmas as mesmas foram untadas com óleo mineral. Após essa fase os
tijolos foram devidamente identificados e destinados à cura na câmara úmida.

Figura 5 - Tijolos das famílias T1, T2 e T3.

Também foram confeccionados corpos de prova cilíndricos, onde após a retirada dos
moldes, foram colocados na câmara úmida permanecendo até a idade dos ensaios. Eles
foram utilizados para realização do ensaio de absorção por imersão e determinação do
módulo de elasticidade. Foi definido para o ensaio de módulo de elasticidade estático a
confecção de corpos de prova de 100 x 200 mm. Antes da realização desse ensaio os
corpos de prova foram retificados conforme especifica a NBR 5738/2015.
Após a cura, os tijolos prismáticos foram submetidos aos ensaios de resistência à
compressão axial. Para a execução do ensaio tomou-se como referência o procedimento
da NBR 6460/1983. Os tijolos foram cortados perpendicularmente à sua maior dimensão
e superpostos as duas metades ligando-as com uma camada fina de pasta de cimento,
conforme exibido na figura 6.

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Figura 6 - Preparação dos tijolos para o ensaio de resistência à compressão.

Para determinação do resultado foram rompidos 6 corpos de prova por família, conforme
exibido na figura 7. A resistência à compressão de cada família correspondeu à média
aritmética das resistências individuais dos tijolos. A prensa utilizada para o ensaio foi uma
servo-controlada com capacidade para 200 toneladas.

Figura 7 - Tijolo rompido após a aplicação da carga axial.

O ensaio de módulo de elasticidade foi executado conforme a NBR 8522:2008 e foi


determinado pela declividade da curva tensão x deformação sob um carregamento
uniaxial. Para a definição do módulo de elasticidade os corpos de prova foram submetidos
a um carregamento crescente à velocidade de (0,25 ± 0,05) MPa/s, até que seja
alcançada uma tensão de aproximadamente 30% da resistência à compressão da
argamassa (fc). Este nível de tensão é mantido por 60 segundos e em seguida, foi
reduzida a carga, à mesma velocidade do processo de carregamento, até o nível da

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tensão básica que corresponde a 0,5 MPa. Realizaram-se mais dois ciclos de carga e
descarga, alternadamente, conforme mostra a figura 8.

Figura 8 - Ensaio de módulo de elasticidade.

Para a realização do ensaio de absorção por imersão e tomou-se como referência a NBR
9778/2005. Após a cura os corpos de prova foram colocados na estufa para a secagem
por 24 horas. Depois de secos foram pesados na balança de precisão e imersos em água
na temperatura ambiente por um igual período para então serem pesados na condição
saturada.

3 Resultados
3.1 Densidade e índice de consistência
Tabela 2 – Densidade e Índice de consistência.
Nomenclatura Densidade de massa aparente Índice de consistência
g/cm³ mm
Família T1 2,12 200
Família T2 2,09 203
Família T3 (100 % concha) 1,90 200

A diferença na relação água/cimento nos traços das diversas famílias é justificada pelo
abatimento que foi mantido, sendo necessária a diminuição da quantidade de água
mediante a substituição da areia natural pelas conchas, conforme Tabela 2. Sabe-se que,
não se usou aditivo tensoativos, devida dificuldade da comunidade pesqueira utilizar esse
material.

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3.1 Ensaio de resistência à compressão axial

Tabela 3 – Resultado do ensaio de resistência à compressão axial.

Família T1 Família T2 Família T3


MPa MPa MPa
M SD CV M SD CV M SD CV
6,91 1,08 15,70 11,76 1,25 10,64 8,44 1,25 14,81

M – média; SD – desvio padrão (MPa); CV – coeficiente de variação (%)

Segundo a NBR 7170/1983 os tijolos produzidos atendem aos limites indicados de


resistência mínima à compressão relacionados à categoria C que corresponde a 4 Mpa
(Figura 10). Através da Tabela 3 pode-se constatar que a substituição total da areia pelas
conchas de marisco, Família T3, proporciona um aumento na resistência à compressão
de 22% em relação à Família T1 de referência. A Família T2 apresentou valores de
resistência à compressão 70% maior que a família de referência, fato possivelmente
relacionado com a dureza dos grãos de areia/ resíduos de concha.
Não obstante, Paes et al., (1999) e Angelim (2003), demonstraram que houve ganho de
resistência mecânica (Tração e Compressão) em todos os traços utilizados com adições
de finos calcários (pó), em substituição a areia na argamassa mista (cimento e cal) de
revestimento, quando comparados com a argamassa sem adição de pó calcário.

3.2 Absorção de água por imersão


Tabela 4 – Absorção de água por imersão.
Famílias Taxa de absorção de água
%
Família T1 11,69
Família T2 8,99
Família T3 8,75

Através dos resultados apresentados na Tabela 4, foi possível notar que, com a
substituição total da areia por conchas de marisco, as Famílias T2 e T3 apresentaram
percentuais de absorção de água menores que a família de referência (Figura 11). Isso
pode ser justificado, devido a maior porosidade da argamassa tendo apenas a areia como
agregado miúdo.

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3.3 Módulo de elasticidade

Tabela 3 – Resultado do ensaio de resistência à compressão axial.


Família T1 Família T2 Família T3
MPa MPa MPa
M SD CV M SD CV M SD CV
15,90 1,20 7,55 17,55 3,75 16,63 15,65 0,95 6,07

M – média; SD – desvio padrão (MPa); CV – coeficiente de variação (%)

Os resultados do módulo de elasticidade mostraram patamares interessantes quando se


usou a concha e o agregado natural juntos.

3 Conclusões e Perspectivas
As análises dos resultados dos ensaios permitem refletir as seguintes conclusões. Os
tijolos aos quais foram incorporadas as conchas de mariscos atenderam as
especificações da NBR 7170/1983 no que diz respeito à resistência à compressão axial e
apresentaram valores maiores quando relacionados à família de referência. Na família T2
o aumento na resistência à compressão foi de 70,18% quando comparada a família T1.
Pode-se atribuir esse resultado ao fato de que o cálcio das conchas pode contribuir com
as reações de hidratação do cimento. O aumento na resistência à compressão da Família
T2 é justificada pelo incremento na resistência mecânica favorecida pela adição do
carbonato de cálcio aliada a resistência mecânica dos grãos de areia.
O módulo de elasticidade, que indica a rigidez da argamassa no estado endurecido,
mostrou-se satisfatório, onde o resultado da Família T2, com maior valor, pode ser
justificado pelo fato dos grãos de sílica do agregado natural serem mais rígidos que o
agregado proveniente das conchas de marisco.
Em relação ao ensaio de absorção por imersão, o valor da amostra da família T3 mostrou-
se numericamente menor que as demais famílias, alinhada com a menor densidade.
O custo x benefício do emprego das conchas como agregado foi favorável e em todas as
dosagens estudadas houve economia em relação a família de referência. A Família T2
mostrou-se 12,00 % mais econômica que a Família de referência. Já a substituição total
da areia pelas conchas trituradas pode gerar uma economia de aproximadamente 23 %
na produção dos tijolos. Ademais, avaliando com o preço de mercado, pode-se dizer que
o custo direto dos materiais do bloco é reduzido em 80% quando comparado com a
Família T3.
Todo o processo de produção dos tijolos em estudo se deu de forma simples, podendo
ser reproduzida facilmente pela comunidade pesqueira e utilizado na construção de suas
próprias moradias. No entanto, para a confecção maior quantidade é necessário que haja
soluções técnicas para a trituração das conchas em grande escala. Diante disso, o
aproveitamento desse resíduo é viável no âmbito ambiental e na utilização como
agregado miúdo na produção de tijolos para alvenaria de vedação.

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