Uso Da Concha de Marisco Como Agregado Miúdo Na Produção de Tijolo Maciço Prensado Manualmente
Uso Da Concha de Marisco Como Agregado Miúdo Na Produção de Tijolo Maciço Prensado Manualmente
Uso Da Concha de Marisco Como Agregado Miúdo Na Produção de Tijolo Maciço Prensado Manualmente
Anathyr Nazária Rodrigues (1); João Manoel de Freitas Mota (2); Ronaldo Faustino da Silva (3);
André Miranda dos Santos (4)
Resumo
A maricultura é uma classe de pesca artesanal exercida no litoral norte de Pernambuco, sendo
responsável pela subsistência das comunidades pesqueiras e de significativa importância para a economia
local. Após a extração da parte comercializável, as conchas de mariscos são depositadas na faixa de areia
ou em terrenos baldios. Este descarte inadequado vem gerando uma série de impactos ambientais. Essa
pesquisa tem o objetivo de dar um destino apropriado a esses rejeitos, a partir do seu reaproveitamento
como agregado miúdo na produção de tijolos maciços prensados manualmente. Para fins de análise e para
uma mesma dosagem de cimento, agregado miúdo e água, foram moldados corpos de prova definidos em
Famílias, T1, T2 e T3, com diferentes proporções de incorporação das conchas em substituição ao
agregado miúdo. Foram confeccionadas amostras para análise do comportamento mecânico das dosagens,
tais como: ensaios de resistência à compressão axial, módulo de elasticidade e absorção de água por
imersão, todos os corpos de prova moldados segundo a normatização vigente. Os resultados demonstraram
que tijolos moldados com adição da concha de marisco, em substituição ao agregado natural, apresentaram
resultados aceitáveis havendo um aumento na resistência a compressão quando comparado à família de
referência, o que torna viável a utilização desse resíduo como agregado miúdo na composição de tijolos.
Palavra-Chave: maricultura, conchas de marisco, tijolos
Abstract
Mariculture is a class of artisanal fishing practiced in the north coast of Pernambuco, being responsible for
the subsistence of the fishing communities and of significant importance for the local economy. After
extracting the tradable part, the shells of shellfish are deposited in the strip of sand or in vacant lots. This
improper disposal has generated a series of environmental impacts. This research has the objective of giving
an appropriate destination to these tailings, from its reuse as a small aggregate in the production of solid
bricks pressed manually. For the purpose of analysis and for the same dosage cement, small aggregate and
water, specimens were defined in Families, T1, T2 and T3, with different proportions of incorporation of the
shells in substitution to the small aggregate. Samples were prepared for analyzing the mechanical behavior
of the dosages, such as axial compressive strength tests, modulus of elasticity and water absorption by
immersion, all test pieces molded according to current regulations. The results showed that molded bricks
with addition of shellfish, replacing the natural aggregate, presented acceptable results with an increase in
compressive strength when compared to the reference family, which makes feasible the use of this residue
as a small aggregate in the composition of bricks.
Keywords: mariculture, shells of shellfish, bricks
2 Materiais e métodos
2.1 Localização da coleta dos mariscos
As conchas de mariscos foram coletadas na Praia do capitão, popularmente conhecida
como Mangue Seco, no Município de Igarassu/PE, Região Metropolitana do Recife,
ANAIS DO 60º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2018 – 60CBC2018 3
representado na figura 2. A praia possui cerca de 1500 metros de extensão e no local é
possível encontrar as conchas acumuladas ao longo da costa.
2.2 Materiais
Para a pesquisa foram utilizadas as conchas da espécie Anomalocardia brasiliana,
pertencentes à família Veneridae, conhecida popularmente no Brasil por marisco.
(BOEHS et al., 2010). O cimento empregado na produção dos tijolos foi o CPIV-32 RS,
um Cimento Portland Pozolânico e, por ser um dos mais utilizados, é facilmente
encontrado no mercado. A areia utilizada na produção possui módulo de finura de 2,38 e
diâmetro máximo de 4,75 mm. Para execução do ensaio utilizou-se água da Companhia
Pernambucana de Saneamento. Para a moldagem dos tijolos utilizou-se chapas de
madeira plastificadas para a confecção das fôrmas.
Para cada família analisada foram produzidos 6 tijolos prismáticos, com dimensões de
200x 100 x 50 mm (C x L x A), sendo destinados ao ensaio de resistência à compressão
axial, como pode ser obervado na figura 5. Na confecção destes elementos foram usadas
fôrmas de madeira plastificada, nas dimensões especificadas. Visando facilitar a retirada
dos tijolos das fôrmas as mesmas foram untadas com óleo mineral. Após essa fase os
tijolos foram devidamente identificados e destinados à cura na câmara úmida.
Também foram confeccionados corpos de prova cilíndricos, onde após a retirada dos
moldes, foram colocados na câmara úmida permanecendo até a idade dos ensaios. Eles
foram utilizados para realização do ensaio de absorção por imersão e determinação do
módulo de elasticidade. Foi definido para o ensaio de módulo de elasticidade estático a
confecção de corpos de prova de 100 x 200 mm. Antes da realização desse ensaio os
corpos de prova foram retificados conforme especifica a NBR 5738/2015.
Após a cura, os tijolos prismáticos foram submetidos aos ensaios de resistência à
compressão axial. Para a execução do ensaio tomou-se como referência o procedimento
da NBR 6460/1983. Os tijolos foram cortados perpendicularmente à sua maior dimensão
e superpostos as duas metades ligando-as com uma camada fina de pasta de cimento,
conforme exibido na figura 6.
Para determinação do resultado foram rompidos 6 corpos de prova por família, conforme
exibido na figura 7. A resistência à compressão de cada família correspondeu à média
aritmética das resistências individuais dos tijolos. A prensa utilizada para o ensaio foi uma
servo-controlada com capacidade para 200 toneladas.
Para a realização do ensaio de absorção por imersão e tomou-se como referência a NBR
9778/2005. Após a cura os corpos de prova foram colocados na estufa para a secagem
por 24 horas. Depois de secos foram pesados na balança de precisão e imersos em água
na temperatura ambiente por um igual período para então serem pesados na condição
saturada.
3 Resultados
3.1 Densidade e índice de consistência
Tabela 2 – Densidade e Índice de consistência.
Nomenclatura Densidade de massa aparente Índice de consistência
g/cm³ mm
Família T1 2,12 200
Família T2 2,09 203
Família T3 (100 % concha) 1,90 200
A diferença na relação água/cimento nos traços das diversas famílias é justificada pelo
abatimento que foi mantido, sendo necessária a diminuição da quantidade de água
mediante a substituição da areia natural pelas conchas, conforme Tabela 2. Sabe-se que,
não se usou aditivo tensoativos, devida dificuldade da comunidade pesqueira utilizar esse
material.
Através dos resultados apresentados na Tabela 4, foi possível notar que, com a
substituição total da areia por conchas de marisco, as Famílias T2 e T3 apresentaram
percentuais de absorção de água menores que a família de referência (Figura 11). Isso
pode ser justificado, devido a maior porosidade da argamassa tendo apenas a areia como
agregado miúdo.
3 Conclusões e Perspectivas
As análises dos resultados dos ensaios permitem refletir as seguintes conclusões. Os
tijolos aos quais foram incorporadas as conchas de mariscos atenderam as
especificações da NBR 7170/1983 no que diz respeito à resistência à compressão axial e
apresentaram valores maiores quando relacionados à família de referência. Na família T2
o aumento na resistência à compressão foi de 70,18% quando comparada a família T1.
Pode-se atribuir esse resultado ao fato de que o cálcio das conchas pode contribuir com
as reações de hidratação do cimento. O aumento na resistência à compressão da Família
T2 é justificada pelo incremento na resistência mecânica favorecida pela adição do
carbonato de cálcio aliada a resistência mecânica dos grãos de areia.
O módulo de elasticidade, que indica a rigidez da argamassa no estado endurecido,
mostrou-se satisfatório, onde o resultado da Família T2, com maior valor, pode ser
justificado pelo fato dos grãos de sílica do agregado natural serem mais rígidos que o
agregado proveniente das conchas de marisco.
Em relação ao ensaio de absorção por imersão, o valor da amostra da família T3 mostrou-
se numericamente menor que as demais famílias, alinhada com a menor densidade.
O custo x benefício do emprego das conchas como agregado foi favorável e em todas as
dosagens estudadas houve economia em relação a família de referência. A Família T2
mostrou-se 12,00 % mais econômica que a Família de referência. Já a substituição total
da areia pelas conchas trituradas pode gerar uma economia de aproximadamente 23 %
na produção dos tijolos. Ademais, avaliando com o preço de mercado, pode-se dizer que
o custo direto dos materiais do bloco é reduzido em 80% quando comparado com a
Família T3.
Todo o processo de produção dos tijolos em estudo se deu de forma simples, podendo
ser reproduzida facilmente pela comunidade pesqueira e utilizado na construção de suas
próprias moradias. No entanto, para a confecção maior quantidade é necessário que haja
soluções técnicas para a trituração das conchas em grande escala. Diante disso, o
aproveitamento desse resíduo é viável no âmbito ambiental e na utilização como
agregado miúdo na produção de tijolos para alvenaria de vedação.
NBR 7170: Tijolo maciço cerâmico para alvenaria. Rio de Janeiro, 1983.
NBR 8522: Concreto - Determinação do módulo estático de elasticidade à
compressão. Rio de Janeiro, 2008.
BOEHS, G.; VILLALBA, A.; CEUTA, L.O.; LUZ, R. J. Parasites of three commercially
exploited bivalve mollusc species of the estuarine region of the Cachoeira river
(Ilhéus, Bahia, Brazil). Journal of Invertebrate Pathology, v.103, n.1, p.43-47, 2010.
BOICKO, A.L.; HOTZA, D.; SANT’ANNA, F.S.P. Utilização das conchas da ostra
Crassostrea gigas como carga para produtos de policloreto de vinila (pvc). Anais IV
Simpósio Internacional de Qualidade Ambiental, v.1, p. 1- 8. Porto Alegre, 2004.
CASTRO, A.C.L. Aspectos ecológicos da Ictiofauna da Ilha de São Luís - MA. Tese
de Professor Titular - Universidade Federal do Maranhão, 1997.
PAES, I. N. L.; ANDRADE, M. D.; ANGELIM, R.; HASPARYK, N.; OLIVEIRA, R. D.;
PASSOS, J.; CARASECK, H. O efeito de finos calcários nas propriedades da
argamassa de revestimento. III Simpósio Brasileiro de Tecnologia das Argamassas –
SBTA, Vitória/ES, 1999.
YOON G. L., YOON W. Y., CHAE S. K. Shear Strength and Compressibility of Oyster
Shell-sand Mixtures. Journal Environmental Earth Sciences. Heidelberg – Berlin –
Germany.September, 2009.