Sindrome Munchausen Procuracao
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Sindrome Munchausen Procuracao
RELATO DE CASO
ABSTRACT
INTRODUÇÃO
A primeira internação foi cerca de quatro meses ção do Trato Urinário. A mãe descrevia sono-
após, onde apresentou queixa principal de sono- lência, porém todos os exames físicos na crian-
lência, vômitos, febre, hiporexia e diurese dimi- ça encontravam-se com esta ativa e reativa.
nuída. Segundo a mãe, no dia anterior a criança
estava aos cuidados de uma babá que fazia uso Aproximadamente um mês após, deu entrada
de antidepressivo, mas não sabia informar se no PSI com relatos de dor em membros inferio-
Jasmim havia ingerido esta medicação. res, fala arrastada e enrolada e febre, quando
ocorreu a terceira internação. Manteve picos
Durante a internação, a criança permaneceu febris quase diários associados a períodos de so-
com sonolência que a impediam de deambular nolência esporádicos.
ou ficar em pé, taquicardia, hiporexia, oligúria,
picos febris e relatos de irritabilidade e tristeza. A queixa principal da mãe nesta internação es-
tava relacionada com a diurese, em que a crian-
Seis dias após a admissão, a mãe alertou a equi- ça urinava pouco. Foi realizado cateterismo ve-
pe que Jasmim apresentava rigidez de membros sical de demora para monitorização do volume
superiores, suspeitando-se de uma possível urinário, que permaneceu quase sempre abaixo
convulsão. Após o episódio, passou a apresen- de 1,5 ml/Kg/h, ratificando a queixa da genito-
tar estados de confusão mental e alucinações, ra, alcançando 0,4ml/Kg/h, o que representa
relatados pela mãe. Durante os períodos de so- oligúria, mesmo com a hidratação venosa. Um
nolências, a criança teve 5 quedas da própria al- mês depois a criança teve alta hospitalar.
tura enquanto estava com a genitora, batendo a
cabeça em todas elas. Na consulta ambulatorial seguinte, a mãe re-
feriu que há cerca de três dias atrás a criança
Foram elaboradas então as seguintes hipóteses apresentava sonolência, febre, vômitos e oligú-
diagnósticas: intoxicação exógena, meningoen- ria. Foi encaminhada de imediato ao PSI com
cefalite, encefalomielite aguda disseminada, quadro de desidratação e um possível início de
febre de origem central e ataxia intermitente, infecção, com consequente internação, perma-
quando realizou diversos exames e fez uso de necendo com os sintomas anteriores e evoluin-
inúmeras medicações, inclusive corticóides. do com taquicardia, diarréia, algias em mem-
Devido ao uso prolongado deste último, apre- bros inferiores e região abdominal, cefaléia e
sentou picos hipertensivos e leve paralisia fa- desvio de comissura labial.
cial, e consequente uso de antihipertensivo.
Durante um parecer da psicologia, a mãe reve-
Durante este período, houve sugestões de pre- lou que o pai biológico não era o que registrou a
paro para a alta hospitalar, porém a mãe re- criança, e sim um namorado da época. Referiu
cusava referindo estar insegura, adicionado também que já havia sido diagnosticada com
a consequente piora do quadro da criança, ge- depressão e transtorno de personalidade bor-
rando pela primeira vez a suspeita de Síndro- derline, e por isso fazia uso de clonazepam, mas
me de Munchausen por Procuração, mas sem com baixa adesão ao tratamento, e acompanha-
continuidade da investigação para esta doença. mento em um hospital público psiquiátrico do
Enfim, a alta foi definida para o início de 2012, DF.
iniciando acompanhamento ambulatorial com
a genética e neurologia. Nesta internação iniciaram-se os sinais de san-
gramentos, identificado primeiramente na fral-
Em março de 2012 internou novamente, por da, com hematúria em dias alternados e com
sete dias, com história de disúria, polaciúria, in- subsequentes epistaxes, otorragias, gengivorra-
continência urinária, dor em baixo ventre, fezes gias e equimoses em membros. Após esses epi-
acolóricas e picos febris intermitentes. Trouxe sódios, eram colhidos exames de coagulograma
consigo resultado de urocultura realizada em com resultados na maioria normais. A criança
hospital particular positiva para Escherichia necessitou fazer uso de vitamina K, hidratação
coli, portanto sendo diagnosticada com Infec- venosa e plasma.
ções hospitalares, 9) doença da vítima é inco- O modelo teórico de Wanda Horta5 é baseado
mum e de difícil diagnóstico, 10) várias recaí- nas necessidades Humanas Básicas, que são es-
das da vítima e má resposta ao tratamento, 11) tados de tensões, conscientes ou inconscientes
elaboração de várias hipóteses diagnósticas in- resultantes dos desequilíbrios hemodinâmi-
cos dos fenômenos vitais. Quando estamos em
consistentes, 12) exames complementares não
equilíbrio dinâmico, as necessidades não se ma-
concordam com estado físico da criança, 13)
nifestam, porém estão latentes5. Maslow define
44% dos sintomas encontrados nesta síndrome
que estas necessidades estão hierarquizadas em
são de sangramentos e 42% são depressão do cinco níveis: 1) necessidades fisiológicas, 2) se-
sistema nervoso central. gurança, 3) amor, 4) estima e 5) autorrealização.
Um indivíduo só passa a procurar satisfazer as
O papel do enfermeiro em um caso deste deve do nível seguinte após um mínimo de satisfa-
ser o de aplicar o processo de enfermagem ga- ção das anteriores5.
rantindo a segurança à vítima e o apoio e supor-
te ao perpetrador, além de facilitar o processo Foi então utilizado este modelo como referen-
de interação inter e multiprofissional para de- cial teórico para elaborar um plano de cuidados
para o caso descrito, como mostram os quadros
bates aprofundados e efetivação do diagnóstico
1 e 2.
diferencial.
Quadro 1
Plano de Cuidados para Perpetradora*
Maternidade prejudicada evidenciada por doenças -Melhora da relação mãe e filha; -Encorajar o tratamento como um todo;
frequentes da filha, abuso infantil, cuidado incon- -Cessar abuso infantil. -Orientar mudanças de comportamento
sistente da criança e habilidades impróprias para o para cessar o abuso;
cuidado, relacionada com Síndrome de Munchausen
por Procuração. -Apoiar a mãe a identificar a insu-
ficiência em seu papel.
Risco de automutilação relacionado com transtorno -Autocontrole de Comporta- -Retirar objetos perigosos do ambiente
de Personalidade Boderline, história de compor- mento impulsivo e pensamento do paciente;
tamento autolesivo e abuso sexual na infância em distorcido; -Orientar a paciente sobre estratégias
relação a mãe. -Controle de riscos; de enfrentamento;
Risco de suicídio da mãe relacionado com com- -Apoio social. -Ajudar a paciente a identificar situ-
portamento de armazenar medicamentos, história ações e/ou sentimentos que possam
de tentativa de suicídio anterior, impulsividade e incitar a autoagressão;
transtorno psiquiátrico.
-Usar abordagem calma e não punitiva
ao lidar com comportamentos de auto
agressão.
Quadro 2
Plano de Cuidados para vítima*
Risco de envenenamento relacionado a ingestão -Cessar abuso infantil; -Restringir o acesso da mãe à cri-
indevida de medicamentos oferecidos pela mãe. -Evitar que a mãe continue ofer- ança, junto a justiça, até tratamento,
ecendo medicamentos a filha. recuperação e autocontrole da mãe;
-Informar a mãe os riscos para a
criança do uso das medicações;
-Supervisionar visitas da mãe.
Risco de síndrome pós-trauma relacionado com a -Cessar abuso infantil; -Usar linguagem adequada ao
Síndrome de Munchausen por procuração. -Apoio social após o trauma; desenvolvimento para fazer perguntas
sobre o trauma;
-Autocontrole da criança após o
trauma. -Usar arte e brinquedo para promover
a expressão;
-Envolver o pai na terapia, conforme
apropriado;
-Investigar e corrigir atributos incor-
retos sobre o trauma;
-Ajudar a criança a restabelecer uma
sensação de proteção em sua vida.
*Diagnósticos, resultados e intervenções baseados na Nanda6, NOC7 e NIC8.
REFERÊNCIAS