GOFF, Jacques Le Confiança No Século 21
GOFF, Jacques Le Confiança No Século 21
GOFF, Jacques Le Confiança No Século 21
CONFIANÇA NO
SÉCULO 21
Entrevista com Laurent Theis
O historiador Jacques Le Goff, que lança no
Brasil seu livro São Francisco de Assis pela editora
Record, é um dos mais importantes pesquisadores
vivos e considerado o maior especialista francês da
Idade Média. Como mostra a entrevista abaixo, na
qual ele aborda um leque amplo de temas — como
a história total, o dever de memória, a Ocupação,
a guerra da Argélia — Le Goff é um guia ideal para
revisitar o século 20 e encetar o novo milênio.
[1]
considerado mais como um período de duração ex-
tremamente longa, apresentando uma particulari-
dade identificável, geralmente associada ao nome
de um grande personagem: o século de São Luís, o
de Luís XIV...
Essa divisão em séculos, ou períodos centená-
rios, constitui um progresso porque ajuda a domi-
nar o tempo e, portanto, a enquadrar o curso da
história, mas não corresponde a nenhuma reali-
dade. Georges Duby, que compartilha esta maneira
de ver, estabeleceu os anos de 1140 e 1280, na rea-
lidade muito significativos, como datas-limites (iní-
cio e fim) para a sua magnífica Europa das Cate-
drais.
De maneira geral, os historiadores se dividem
entre os que se interessam mais pelos fatos e pela
mudança e os que preferem insistir na continui-
dade.
Qual seria o seu caso?
[5]
de obscurantismo. Quando vejo o impacto das sei-
tas sobre nossos contemporâneos, o número e a
condição social e intelectual das pessoas que às es-
condidas se precipitam em busca de cartomantes e
de adivinhadoras da sorte, me pergunto: onde está
o obscurantismo? Os homens da Idade Média eram
mais sinceros e mais racionais em suas crenças e
práticas!
Passemos ao exercício de sua profissão de his-
toriador. O senhor fixou há muito tempo o
objetivo ambicioso, e talvez ingênuo, da “his-
tória total”, à maneira de Michelet: captar o
homem todo e para isso utilizar todas as ciên-
cias sociais. O senhor mantém essa orienta-
ção?
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luí, primeiramente por razões práticas: o historia-
dor não tem os meios materiais e intelectuais para
realizar esta história total. E, sobretudo, dei-me
conta de que a história não era isso! A ressurreição
integral do passado é, no mínimo, uma heresia e,
na pior das hipóteses, um erro. Portanto, depois de
um período de dúvida em relação à história global,
inclino-me a voltar à história por outro caminho, o
que esbocei, juntamente com meu colega e amigo
Pierre Toubert, num artigo2, sob a forma do con-
ceito de “objeto globalizante”. A nosso ver, o pro-
cedimento correto consiste em definir um objeto
histórico de tal forma que, para tratá-lo com serie-
dade, a pessoa seja obrigada a levar em considera-
ção e a integrar tudo o que interessa nesse dado
momento na vida da sociedade estudada. Creio que
[9]
a maneira de contribuir para isso?
[12]
Roma... A Europa é uma vitória póstuma de
Carlos Magno?
PubLicação originaL:
Le Point (12. 01. 2001)
[15]