Arthur Omar e As Videoinstalações
Arthur Omar e As Videoinstalações
Arthur Omar e As Videoinstalações
Resumo
Este artigo trata da relação entre o artista multimídia Arthur Omar e as Artes Visuais,
privilegiando a Videoinstalação, destacando o papel dessa configuração artística em sua
obra e as implicações desta produção com o público. Além disso apresenta algumas
reflexões do diálogo entre sua obra e a História da Arte.
Abstract
This article deals with the relationship between the multimedia artist Arthur Omar and the
Visual Arts, focusing on Video installation, highlighting the role of art in their work setting and
the implications of this production with the public. Also presents some reflections of the
dialogue between his work and art history.
campo das Artes Visuais possa ser considerada como uma ampliação natural de seu
trabalho fílmico.
A partir de 1980, Omar adensa cada vez mais sua produção audiovisual
usando o vídeo como suporte. Destacam-se, nessa trajetória, os trabalhos nos quais
dialoga com a produção de diversos artistas (brasileiros e estrangeiros). Essa
atuação pode ser exemplificada em obras como: Nervos de Prata (1987), sobre
Tunga, As férias do Inspetor (1994), cujo elemento principal é o trabalho de Milton
Machado; Derrapagem no Éden (1997), sobre Cildo Meirelles, e ainda Palavras no
Ateliê, sobre Eduardo Sued (2000).
Outra incursão pelo ambiente, mas de natureza sonora, foi a obra Silêncios
do Brasil, realizada durante a ECO 92, no Rio de Janeiro. Nessa produção, Arthur
Omar gravou vários sons que congregam diversidade, tais como vozes humanas,
cantos de passarinho, coaxar de sapos, cantorias de origem negra e indígena, rezas
mineiras, músicas folclóricas, chuvas, as quais compunham uma trilha sonora
fragmentada que acompanhava os espectadores pelo hall do CCBB (Centro Cultural
do Banco do Brasil). Com duração de uma hora, essa compilação sonora repetia-se
ao longo do dia, num efeito semelhante ao loop imagético do vídeo. Essa
„composição‟ foi fruto de uma viagem de seis meses do artista pelo Brasil,
recolhendo esses fenômenos acústicos que posteriormente foram “reprocessados
e mixados com sons digitais e eletrônicos”8 que, de acordo com artigo da Folha de
São Paulo, “produzem mais que uma trivial „fusion‟ natureba”. Segundo o artista,
essas vozes, no espaço, abrigam a concepção de “algo a ser experimentado com
todo corpo, que se pode percorrer exatamente como uma paisagem, sem uma
ordem cronológica ou narrativa”,9 pois, além dos sons, oferecidos de forma breve e
fragmentada, apresentaram-se sobretudo os intervalos e silêncios dessa sonoridade.
referencial individual é subsumido pela ação que emana da obra, pelas imagens,
pelos sons que absorvem a atenção do visitante, incorporando-o ao devir dos
acontecimentos.
Esse trabalho apresenta uma relação com a ideia do site específico, pois o
próprio artista afirma que sua proposta foi pensada para esse local singular
oferecido pelo CCBB - Rio de Janeiro, na passagem entre a entrada lateral e a
rotunda no primeiro andar, assinalando que não apenas a dimensão da obra foi
calculada para corresponder ao espaço alocado, mas que também os seus
elementos cromáticos deveriam relacionar-se com seu entorno. Nesse sentido, a
atmosfera barrenta dessa produção manteria uma similitude não só com os
revestimentos do prédio, mas também com as águas do rio Amazonas.
Essa feição do trabalho enfatiza outro aspecto da obra de Omar, que pode ser
apontado como „similaridade intertextual‟ entre o tema apresentado e a própria
produção. No caso dessa Videoinstalação, há uma analogia de sua forma com o
próprio curso do rio, a seguir um caminho sempre à frente, transformando e
mudando sua matéria, tal qual o caminhar dos passantes/espectadores da produção
muda o que se vê, paralelamente alterando a paisagem e se identificando com os
meninos a nadar.
1598
Não obstante esse apreço pela questão imagética, Arthur Omar está
interessado também na questão temporal. Nessa perspectiva, o tempo se oferece
como material a ser transformado, através da aceleração, repetição, recorte,
congelamento e extensão dos movimentos. Essa artificialidade é perceptível a partir
do agenciamento do programa de computador que interfere no transcurso natural
dos elementos da cronologia imagética.
Por ser uma trabalho aberto, o artista investe numa segunda versão dessa
mesma produção que chama de Tesoura sobre a Mesa,23 exposta na cidade de São
Paulo. Nessa outra variante, a feição edênica é substituída por uma relação de
conflito, por conta da trilha sonora dominada pela ideia de fogos, de metralhadoras
que, em alto volume, interferem sobre a percepção dos espectadores. Segundo
Omar, as imagens ganham um peso inexistente na obra apresentada no Rio de
Janeiro.
Dervixxx é composta por três „paredes‟ nas quais são projetadas imagens
de uma cerimônia ritual dos derviches,25 uma consagração estritamente masculina
na qual todos os presentes cantam e se movimentam num ritmo análogo ao da
respiração até chegarem a um estado mítico de relação com o real, no seu
comentário sobre a obra, o artista diz não ter havido uma preocupação em “duplicar
o lado religioso da cerimônia, as imagens apontam para a existência virtual de uma
realidade que é atingida apenas por uma sofisticada técnica mental, colocando entre
parênteses nossas toscas indagações tecnológicas.”26
Podemos considerar que o artista está com seu trabalho ainda em processo,
redimensionada e transitando pelas várias possibilidades expressivas do meio
visual.
1
Informação colhida em entrevista do artista a Guiomar Ramos, consultada em 10-08-207 disponível em
www.museuvirtual.com.br/.../arthuromar/.../entrevistas/.../sobrecarreiraebiografia.html
2
Disponível em www.arthuromar.com.br/AO-curriculo.pdf consultado em 28/02/2010.
3
Disponível no site http://videobrasil.org.br/vbonline, consultado em 10 de agosto de 2007.
4
Arthur Omar in artigo assinado por Beatriz Coelho da Silva. Arthur Omar abre no Rio sua maior retrospectiva.
São Paulo: O Estado de São Paulo, Caderno 2 17-05-2001 p. D10.
5
Depoimento de Arthur Omar dado à autora em seu ateliê no Rio de Janeiro, em 23/04/2008.
6
Ibid
7
MELLO, Christine. Op. cit.
8
Instalação de Arthur Omar foge da trivial fusão natureba. Sem assinatura. Folha de São Paulo. Seção Ilustrada.
São Paulo: 02-06-1992. p. 4.
9
OMAR, Arthur apud em matéria assinada por MENDES, David França. Jornal do Brasil – Caderno B: Rio de
Janeiro, 02-06-1992. s.p.
10
Instalação de Arthur Omar foge da trivial fusão natureba. Op. cit. p. 4.
11
CANONGIA, Ligia apud GONÇALEZ, Tereza Cristina. A Imagem Indecidível. Tese de Doutorado. Orientador
Prof. Dr. Roberto Berton de Ângelo. Campinas, Unicamp, 2006 p. 107.
12
OMAR, Arthur disponível em http://www.arthuromar.com.br/AO-currículo.pdf., consultado em 28/02/2010.
13
Ibid, id
14
Ibid, loc. cit.
15
MELLO,Cristina Mello. Op. cit.
16
ALVAREZ, Carolina. Arthur Omar: a imagem em êxtase. Orientadora: Ivana Bentes. Rio de Janeiro: UFRJ /
ECO; CAPES, 2002. Dissertação (Mestrado em Comunicação e Cultura). p. 10
17
Arthur Omar in A Lógica do Êxtase, vídeo de 35 minutos. Disponível no Centro Cultural do Banco do Brasil-
Rio de Janeiro/Memória CCBB. Nesse vídeo realizado no último dia da exposição ocorrida neste centro cultural
em 2001, o artista apresenta e reflete sobre a Videoinstalação Fluxus, exposta durante a retrospectiva de sua
obra. Transcrição da autora.
18
Ibid
19
Dissertação de Mestrado, realizada na Escola de Comunicação da UFRJ, já citada anteriormente na nota 109.
20
BRISSAC, Nelson apud ALVAREZ, Carolina Alvarez. Op. cit. p. 105.
21
OMAR, Arthur in A Lógica do Êxtase, Op. cit. Transcrição da autora.
22
Ibid
23
Ibid
24
Denominação dada pelo artista a uma série de retratos realizados durante o carnaval carioca em que explora o
caráter extático dessa festa, ao revelar rostos deformados pela dimensão dionisíaca que suscita. É um tema
recorrente em sua obra, na medida em que as fotografias são continuamente reelaboradas e migradas para
outros meios.
25
Grupo religioso mulçumano de caráter ascético.
26
http://www.arthuromar.com.br/AO-currículo.pdf.,, Texto de Arthur Omar. Consultado em 28/10/2010.
Referência:
CANONGIA, Ligia. O legado dos anos 60 e 70. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.
CANTON, Kátia. Espaço e Lugar. São Paulo: Martins Fontes, 2009.
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nineteenth century. Massachussets: First MIT Press, 1992.
FARIAS, Agnaldo. Arte Brasileira hoje. São Paulo: Publifolha, 2002.
FRANÇA, Cristina Pierre de. Estevão Silva e Hélio Oiticica: Brasilidade a sensação
revisitada. Dissertação de Mestrado. Orientação: Maria Luisa Távora.rio de Janeiro EBA –
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VINHOSA, L.. Penser louvre dans son sens élargi. In: Figures de l'art, n 10 L'esthetique
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ARQUIVOS DIGITAIS
SILVA, Beatriz Coelho. Arthur Omar abre no Rio sua maior retrospectiva. São Paulo: O
Estado de São Paulo, Caderno 2, 17/05/2001 p. D10
Doutora em Artes Visuais – UFRJ. Professora de Artes do Colégio Pedro II, na Escola
Técnica Estadual Adolpho Bloch e na UNIGRANRIO. Pesquisa envolvendo os séculos XIX e
a Arte Moderna e Contemporânea.