Conflito Na Líbia

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Conflito na Líbia: Uma análise crítica do

intervencionismo ocidental pelo poder e recursos


energéticos em nome da defesa da democracia
Lito Nunes Fernandes, Mamadou Alpha Diallo, Maria Lorena Allende Garcia

2012-03-03, Edição 41

http://pambazuka.org/pt/category/features/80407

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O atual distúrbio que se vive na Líbia corresponde uma estratégia geopolítica das
grandes potências ocidentais pelo controle do poder e dos recursos energéticos. As
justificativas para a ocupação da OTAN estão relacionadas com a iniciativa da política
externa líbia a partir de 1990 de lutar contra a ocupação ocidental na África; no fato do
Khadafi nunca ter assinado o acordo de AFRICOM; na iniciativa do Khadafi de
estabelecer uma moeda africana para as transações intra-africanas em substituição do
Euro e o Dólar para assim permitir um maior desenvolvimento da África. O objetivo do
artigo é demonstrar que a invasão da OTAN é algo planejado faz muito. Conclui-se que
independentemente de usurpar os recursos petrolíferos líbio, as verdadeiras razões
continua sendo o velho ditado de dividir para reinar e assim continuar a perpetuar a
dependência da África face ao ocidente.

Palavras chaves: Líbia, recursos energéticos, Ocidente, Democracia

1. INTRODUÇÃO

O atual distúrbio que se vive na Líbia corresponde uma estratégia geopolítica das
grandes potências ocidentais pelo controle do poder e de recursos energéticos. Ou seja,
são disputas coloniais pelos territórios e não tem nenhuma relação com a implantação
da democracia como os meios de comunicações pressionados pelos EUA e a OTAN
vêm apregoando. A grande verdade é que o ocidente de forma estratégica conduziu os
acontecimentos através dos meios de comunicação e a mídia internacional com o
objetivo de fazer o mundo acreditar que as razões do genocídio cometido na Líbia
seriam pela implantação da democracia.

Antes de prosseguir, convém deixar claro que o trabalho não pretende apoiar o regime
de Khadafi, mas, tentar narrar os acontecimentos como ocorreram e as causas para que
essa situação chegasse às atuais circunstâncias. A rápida forma como começou o
conflito armado na Líbia depois de poucos dias de protestos, constitui uma forte
justificativa de que já existia uma ação ocidental bem planejada e só se esperava o
momento certo para sua execução (ABUGRE, 2011). Os motivos ocidentais para a
invasão a Líbia numa análise simplista pode parecer que se limita somente aos
interesses nos recursos petrolíferos tendo em conta que Líbia é o país africano que
possui as maiores reservas do petróleo. Porém, essa questão apresenta outro
componente talvez muito mais grave ainda: perpetuar o subdesenvolvimento africano e
manter sua dependência face ao ocidente, sobretudo perante as instituições de Bretton
Woods.

Ressaltar que até poucos anos atrás, o Khadafi era tido como o exemplo de uma boa
liderança por parte do ocidente. Porque o panorama mudou radicalmente nos últimos
tempos? Várias são as justificativas para esse fato. Em primeiro lugar, tem-se que, a
partir de 1990, a política externa do governo Khadafi era lutar contra a ocupação
ocidental na África. Em segundo, a Líbia nunca assinou o acordo de AFRICOM, uma
armação dos EUA pelo posicionamento estratégico, em desconfiança do poderio da
China na África, disfarçado com a justificativa de resolver os conflitos na África
(CHENNTOUF, 2005, MANGU, 2008). Outra forte razão está relacionada com a
proposta feita por Khadafi aos outros lideres africanos de estabelecer uma moeda
africana para as transações intra-africanas em substituição do Euro e o Dólar permitindo
um maior desenvolvimento da África, assim como aumentar os acordos de cooperação
sul-sul, sobretudo, com China, Índia e Brasil.

Neste sentido, se as manifestações do líder líbio viessem concretizar, seria altamente


prejudicial para os interesses ocidentais. Dito de outra maneira, as ameaças do Khadafi
se traduziriam em perdas geoestratégicas do ocidente na África, em perdas de fontes de
extração ilícita de recursos naturais, mão-de-obra barata. Obviamente, o ocidente não
poderia permitir que essa situação acontecesse.

Desta forma, estamos assistindo ao ressurgimento do imperialismo como o ocorrido no


século passado, só que agora, esse novo imperialismo é um “imperialismo coletivo”,
termo cunhado por Amin (2001) em alusão de que atrela a tríade (EUA, União Européia
e Japão) para perpetuar o domínio sobre outros países. Para Mirhan (2011) é sabido que
não existe outra forma do mundo substituir a dependência do petróleo e gás natural
pelos próximos 30 ou 50 anos. Para a mesma autora, é desta forma que alguns governos
ditatoriais garantem a estratégia norte-americana do domínio do fluxo petrolífero em
todo oriente médio, em troca de alguns benefícios estratégicos. Porém, quem sair da
regra imposta pelos EUA, é fortemente penalizado. O mesmo ocorreu com o Iraque e
agora é a Líbia. Quem será o próximo?

Este artigo tem por objetivo demonstrar que a invasão da OTAN a Líbia foi algo
planejado pelo ocidente faz já algum tempo, sendo que as verdadeiras razões
independentemente do poderio dos recursos petrolíferos, continua sendo o velho ditado
de dividir para reinar, e assim continuar a perpetuar a dependência da África face ao
ocidente. Sabe-se que a Líbia através do governo de Khadafi já começava a constituir o
principal obstáculo para as intenções ocidentais na África. Por tal razão, a idéia da
OTAN era clara: eliminar o Khadafi sobre qualquer pretexto. Justamente por Khadafi
ser o alvo, os EUA e a OTAN recusaram todas as tentativas de resolução pacífica do
conflito como as sugeridas pela União Africana entre outras.

O artigo está divido em quatro partes independentemente desta introdução. A primeira


parte expôs de forma breve algumas características da história da Líbia. Na segunda
sessão é apresentada os pontos fundamentais da nova colonização ou o imperialismo
coletivo do século XXI. A quarta sessão apresenta os verdadeiros motivos
para a invasão da OTAN a Líbia. Na quinta sessão é exposta a importância da Líbia no
desenvolvimento do continente africano. Na sexta parte aparecem as conclusões do
artigo.
2. LÍBIA: BREVE HISTÓRICO

A República da Líbia, esta situada na África do Norte, fronteiriça com Egito e Sudão no
leste, com Chade e Níger ao sul, com Argélia e Tunísia ao oeste. Sua capital é Trípoli e
apresenta uma população de aproximadamente 6,5 milhões de habitantes (FMI, 2010).
Durante muito tempo a Líbia fazia parte da Itália, após a invasão deste último país em
1911, no momento em que era parte do Império Otonamo. Década depois, diferentes
partes da Líbia estavam sob o comando de franceses, ingleses norte- americanos e
italianos (casualmente, as mesmas potências que hoje decidiram ocupar novamente o
país). Após a independência, a Líbia passou a ser governado pelo Sayyid Idris al-Sanusi
(CHOUALA, 2007), que teve forte apoio dos países ocidentais, sobretudo a Inglaterra e
os EUA, em troca do estabelecimento de bases militares destas duas potências no
território líbio.

Em 1969, teve uma insurreição liderada por Khadafi, um jovem de 27 anos, que
culminou com a monarquia de Sanusi, e com isso, decretar o fim do sonho das grandes
potências ocidentais de usurpar o petróleo líbio, cujas jazidas foram descobertas em
1961. Ademais, para bater no coração do imperialismo norte-americano e inglês,
Khadafi proclamou o Estado líbio como islâmico e socialista, em meio da época da
guerra fria (YASMINA, 2005). Seguidamente Khadafi fechou todas as bases militares
norte-americanas e britânicas, estabeleceu um restrito controle sobre o petróleo do país
e nacionalizou algumas empresas estrangeiras.

Na atualidade, Líbia é o país africano mais desenvolvido, muito embora a imprensa


ocidental intenta colocar a toda custa que é a África do Sul. Segundo as estatísticas FMI
(2010), a Líbia tinha o maior IDH da África (0, 755) e ocupava o número 55 no mundo.
O índice de alfabetização líbio é de 87% e somente 5% de sua população é considerada
pobre. A esperança de vida ao nascer da Líbia é equiparada com os países
desenvolvidos (74 anos), assim como a mortalidade infantil por cada mil nascidos vivos
(18 mortos por cada 1000 nascidos vivos) com infra-estruturas de ponta em todos os
setores da economia (ABUGRE, 2011; FMI, 2010).

Por fim, precisamos ressaltar que a Líbia foi o grande propulsor das três principais
instituições pan-africanas: o Fundo Monetário Africano, o Banco Africano de
Investimento e da União Africana. O governo líbio estava financiando as empresas de
telecomunicações africanas, as fábricas de petróleos, construções de hospitais etc. Com
todas essas evidencias, é visível que a Líbia era o principal oponente do FMI na África e
suas contribuições estava enfraquecendo as posições geopolíticas dos países da OTAN
no continente negro.

3. A NOVA COLONIZAÇÃO E O IMPERIALISMO COLETIVO DO SÉCULO XXI

A forma como estão decorrendo os acontecimentos nos países da África do Norte, nos
fazem recuar um na história e lembrar a intensidade com a qual se desenvolveram a
colonização e o imperialismo desde a década de 1880 até a irrupção da primeira Guerra
Mundial. Nessa época, os países ocidentais para poderem expandir seu domínio sobre o
continente africano usaram como métodos
[1], a diplomacia, a invasão militar ou a combinação de ambas (UZOIGNE, 2010;
BOAHEN, 2010).
O que está acontecendo hoje, muito embora de forma distinta, é um reflexo de que as
pretensões imperialistas, mesmo que tenha passado várias décadas, continua sendo as
mesmas: apoderar-se das riquezas dos países periféricos a custa de quaisquer
circunstâncias. Estamos assistindo uma nova fase do imperialismo onde os continentes
antes repartidos durante a primeira etapa imperialista pelas grandes potências
imperialistas durante a época da Conferência de Berlim continuam sendo os mesmo: a
África e a Ásia. A grande diferença é que na atual conjuntura internacional globalizada
com um grande avanço tecnológico, e com as grandes potências ocidentais submergidas
em crises econômicas e financeiras, atrelam de forma estratégia quase a totalidade dos
meios de comunicação e a mídia internacional em geral com a falsa política da “defesa
da democracia”.

Ou seja, o imperialismo, aqui entendido como a dominação política das superpotências


ocidentais sobre os países periféricos, estabelecendo suas hegemonias sociopolíticas e
culturais, continua com as mesmas pretensões. A liderança desta nova fase imperialista
corresponde aos EUA que acompanhado pelos países da União Européia e o Japão,
tenta impor suas hegemonias políticas e culturais aos outros povos.

Segundo Amin (2001), a conquista do planeta pelas grandes potências imperialistas


(europeus e norte americanos) realizou-se em duas fases e está entrando na terceira. A
primeira fase organizou-se em torno da conquista das Américas, dentro do quadro do
sistema mercantil da Europa Atlântica daquela época. Para ele, o resultado foi claro:
destruição das civilizações indígenas e a cristianização ou simplesmente o genocídio
sobre o qual foi construído os EUA.

A segunda fase baseou-se na revolução industrial e sua manifestação foi à repartição das
colônias asiáticas e africanas pelas grandes potências européias. Nesta segunda fase,
está a origem do maior problema que enfrenta a humanidade: a imensa polarização que
aumentou a desigualdade no mundo. Na atualidade, presenciamos a terceira fase do
imperialismo. O discurso ideológico atual desenhado para assegurar o domínio dos
povos da tríade (EUA, União Européia e Japão) agora tem sido direcionado no direito
de intervir, supostamente justificado pela defesa da democracia. Foi em alusão a essa
tríade que Amin (2001) cunhou essa terceira fase do imperialismo de “imperialismo
coletivo”.

4. O CONFLITO LÍBIO E OS VERDADEIROS MOTIVOS DA INVASÃO DA


OTAN

O ódio do ocidente pelo líder Khadafi vem desde a ascensão do líder líbio ao poder em
1970, significando o fim do controle ocidental na Líbia. Neste sentido, o atual conflito
líbio é uma questão planejada fazia muito tempo, e era só esperado o momento para sua
execução. Desde o início do conflito os EUA, a Inglaterra, a França e a Itália
rechaçaram todos e quaisquer intentos de mediação pacífica. Lembrar que dias depois
do seu início, a União Africana criou uma “Comissão especial” para o conflito líbio
liderado por África do Sul, Mali, Mauritânia, Congo e Uganda com o objetivo de
encontrar solução “pacífica” e não via armada. Entretanto, o esforço da União Africana
não foi tido em consideração pelas potências ocidentais que decidiram iniciar os
bombardeios a Líbia porque o objetivo da missão era claro. Em várias conferias de
imprensas, após o início do conflito, o Presidente da Comissão da União Africana Jean
Ping saiu publicamente criticando a não intenção dos Estados Unidos e a União
Européia de encontrar soluções pacíficas do conflito.

É bom não esquecer que a União Africana conta entre sua estrutura organizacional com
o Conselho da Paz e Segurança (CPS), uma instituição pan-africana de promoção da paz
e segurança na África. O CPS representa um órgão de decisão para a prevenção, gestão
e resolução de conflitos, constituído na Cúpula de Durban (África do Sul) em 2002,
muito embora suas ações começassem oficialmente em 2004.

O CPS está conformado por 15 Estados considerados de maior capacidade militar e


projeção regional5 e além de sua função de diplomacia preventiva e manutenção da paz,
também é o encarregado de preparar as ações de intervenções humanitárias da União
Africana nos países em conflitos e nos campos de refugiados (UNIÃO AFRICANA,
2001). Neste sentido, pode-se dizer que s potências ocidentais, independentemente
violar os direitos de uma instituição supranacional como a União Africana, humilharam
a maior organização no continente africano usando suas forças e influências em prol de
saciar suas necessidades.

Porém, independentemente do esforço da União Africana, outras iniciativas pacíficas


foram colocadas na mesa. Entre elas, temo a iniciativa do ex presidente brasileiro, Luiz
Inácio Lula da Silva, que se ofereceu para dirigir uma um comitê de mediação do cessar
fogo, uma iniciativa apoiada pelos países da América Latina, a União Africana e a Liga
Árabe. O Khadafi aceitou a idéia de cessar fogo e a presença de observadores
internacionais para avaliar a questão dos direitos humanos. Mas, novamente, todas essas
iniciativas foram rechaçadas, porque o objetivo era claro: tirar o Khadafi do poder sem
importar as conseqüências colaterais que possam causar.

Segundo Abugre (2011), a França começou a planejar o ataque a Líbia desde outubro de
2010, enviando para Benghazi armamentos e tropas. Posteriormente no dia 16 de
novembro de 20110, França mandou um trem de cargas com soldados disfarçados em
“empresários” que chegaram para investir na Líbia. É por esta razão que houve uma [2]
revolta nesta região que iniciou como protestas e manifestação da população civil e que
em dois dias se transformou em rebelião armada e em menos de um mês a OTAN já
tinha declarado que ia invadir o país. Se não houvesse, a priori, tropas francesas na área,
dificilmente o combate aconteceria com essa velocidade [3].

Noutro ângulo de análise, o líder do Conselho Nacional de Transição (CNT) o coronel


Khalifa chegou a Líbia para liderar o levante armado depois de um mês dos
acontecimentos terem iniciado. Khalifa vivia nos EUA desde a década de 1980, e
segundo Abugre (2011) tudo indica que trabalhava para a Central de Inteligência
Americana (CIA).

As potências ocidentais implicadas diretamente no conflito líbio apresentam motivos


suficientes para acabar com o governo da Líbia e seu líder. Para a França de Sarkoky,
Abugre (2011) afirma que foi Khadafi quem financiou a campanha eleitoral do
presidente francês e, para esconder esse fato, nada melhor que aniquilar o credor para
ficar sem dívida, e mais ainda, isso sem contra com as pretensões imperialistas da
própria frança em relação ao poderio líbio na África como se demonstra em outras
sessões. Em relação a Itália, Silvio Berlusconi usou estrategicamente o conflito líbio
para desviar a atenção do povo, tendo em cota que vinha sendo acusado de subornos,
assédio as mulheres, uso do fundo público para seus prazeres pessoais. Para Inglaterra e,
sobretudo os EUA, a questão está na negativa do Khadafi de privatizar os poços
petrolíferos e continuar a exercer uma influência sobre o petróleo da Líbia.

Dentro do continente, Khadafi foi quem lançou o primeiro satélite africano de


comunicações (RASCOM1), que garantiu a cobertura universal do continente em
telefone, televisão, radiodifusão e múltiplas outras aplicações tais como a tele medicina
e o ensino a distância. Segundo Pougala (2011), pela primeira vez, uma conexão de
baixo custo se torna disponível na África inclusive nas zonas rurais devido a um sistema
por ponte radio WMAX. A idéia iniciou em 1992, quando 45 países africanos criaram a
sociedade (empresa) RASCOM para dispor de um satélite africano a fim de diminuir os
custos da comunicação no continente. Até essa data, telefonar desde qualquer país da
África ou para a qualquer país da África tinha a tarifa mais cara do mundo, devido ao
imposto de US $500 milhões por ano, que a Europa cobrava sobre as conversações
telefônicas mesmo que estes fossem, no interior do mesmo país africano, para a
transmissão da voz nos satélites europeus como Intelsat. E, para deixar de pagar esse
imposto, era necessário adquirir um satélite africano, que custava cerca de 400 milhões
de dólares pagável em uma única prestação (POUGALA, 2011)

Para este autor, ninguém estava disposto a financiar tal projeto. Ao longo de quatorze
anos, os países africanos correram atrás de financiamento, solicitando todos os parceiros
incluindo o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial (BM), os EUA e a
União Européia, mas, não resolveram o problema. Foi então que, em 2006, o governo
líbio decidiu aportar US$ 300 milhões a disposição dos países africanos e o Banco
Africano de Desenvolvimento (BAD) e o Banco Oeste Africano de Desenvolvimento
(BOAD) entraram com os restantes US$ 100 milhões que faltava. Este fato propiciou
que, em 2007, a África possuísse seu primeiro satélite, mudando completamente o
panorama de telecomunicações. Portanto, essas ações representaram um duro golpe para
os interesses. Eram evidências que indicavam ao ocidente, de que para continuar seu
domínio sobre a África, o Khadafi não tem que estar presente.

Ressaltar que desde início da década de 1990 a política externa líbia era evidente: lutar
contra a ocupação ocidental no continente africano. Posteriormente, Khadafi tinha
declarado publicamente a criação da moeda única africana “o dinar de ouro” para
substituir o Euro e o Dólar nas transações comerciais inter e intra-africana. Ainda neste
nível de generalidade, Khadafi propôs aos governos africanos aumentar a cooperação
com os países emergentes (especialmente China, Índia e Brasil) em detrimento dos
países europeus e os EUA (CHOUALA, 2007).

Será que a invasão da OTAN está salvando vidas dos civis na Líbia? Evidentemente que
a respostas é não. Até por que era impossível salvar vidas com os bombardeamentos da
OTAN contra a população civil. Era necessária uma intervenção dessa índole? Será que
proteger civis é sinônimo de aviões da OTAN sobrevoando o espaço aéreo líbio,
violando, bombardeando populações civis e os principais poços petrolíferos ou
destruindo as infra-estruturas do país mais estável da África? A mesma atrocidade foi
cometida no Iraque, e a pergunta é: hoje tem democracia no Iraque? A grande
justificativa para invadir ao Iraque era que esse país tinha armamentos de destruição em
massa e depois do assassinato do Saddam Husseim, se comprovou que era tudo falso.
Podia se perguntar se essa farsa não tem punição? Será que só tem um grupo de países
que devem ser punidos e outros não? O caso da Líbia será a mesma coisa, ou seja,
porque dentro de alguns anos, vai-se comprovar da mesma maneira que tudo o que foi
dito contra o governo de Khadafi não era bem o que diziam.

5. IMPORTÂNCIA DA LÍBIA NO CONTINENTE AFRICANO

Sem lugar a dúvidas, a Líbia é um país estratégico no continente africano e o principal


propulsor dos ideais desenvolmentistas. O conflito atual nesse país é importante para
situar tais fatos no contexto africano. Para tanto, é necessário, lembrar que desde início
dos processos de democratização nos anos noventa, o continente africano enfrenta
problemas sociopolíticos econômicos e culturais que lembram as dificuldades
enfrentadas nas primeiras décadas das autonomias nacionais. Logo depois das
independências, a África não somente enfrentou um marasmo econômico sem
precedente, mas também do Oeste ao Este e de Norte ao Sul, o continente teve que
enfrentar a conflitos multiformes cujas violências inquietam e perturbam os mais
lúcidos espíritos (MANGU, 2008; MAROUF, 2005).

Passada as festividades e a euforia das independências, os novos dirigentes africanos


seguiram a cartilha dos antigos colonizadores, que de forma planejada, conscientes,
pensaram e colocaram em prática a estratégia da dependência eterna e da subordinação
econômica e política dos territórios ultramarinos, fatos que levou Wade (2005) afirmar
que a África ficou independente somente em 2000. Ou seja, ao longo dos quatro
décadas que precederam esta data, a estratégia européia fez reinar o sistema conhecido
como o neocolonialismo. Neste sentido, o início do século XXI, que viu a criação da
União Africana (UA) em substituição a antiga Organização da Unidade Africana
(OUA), e a criação da Nova Parceria para o Desenvolvimento (NEPAD), marcam o
início do renascimento africano no cenário internacional devido ao engajamento e luta
de algumas lideranças africanas entre os quais se destaca a figura do Coronel Mohamar
Khadafi.

A importância da Líbia no continente africano e conseqüentemente os impactos da


possível eliminação “física” do seu líder, seria uma tentativa ocidental de demonstrar a
longa tradição de influenciar e dominar a África, para desta forma derrocar a afirmação
da vocação africana onde a Líbia aparecia como o ator mais determinando.

Admitindo que a revolução que levou Khadafi no poder em 1969, tinha como inspiração
o nasserismo [4], é fácil entender a importância da África na política externa líbia ou
vice-versa ao longo das últimas quatro décadas. Segundo Chouala (2007), a África
constitui ao mesmo capital e um elemento fundamental para a política externa da Líbia.
De fato, como conjunto de elementos pelos quais uma entidade se firma e se consolida
em relação ao mundo exterior, a política da Líbia se apoiou fortemente nas questões
africanas para se firmar como um ator importante a ser respeitado nas discussões
geopolíticas internacionais nos últimos vinte anos. A ambição de exercer uma influência
na África tem sido uma fonte e um capital geopolítico que Khadafi soube usar na sua
busca de monopólio ou hegemonia no continente em oposição à ordem mundial
estruturado em volta e pelas potências ocidentais, como inclusive ilustra o epigrafo a
seguir:

"L á ccés à la position de leader hégémonique de l ́Afrique est, dans la stratégie libyenne
d ́opposition à l ́Occident, un capital efficient ; il l ́est à la fois en tant qu ́arme et en tant
qu é njeu d ́opposition. L ́influence de l ́Afrique permet à la Libye «d ́exercer un pouvoir,
une influence, donc d ́exister dans le champs [eurafricain] au lieu de d ́être une simple
quantité negligeable" (CHOUALA, 2007, p.131).

Ou seja, a ambição da Líbia de estar presente e de ter poder de influência no continente


africano entra numa dinâmica de luta, de protagonismo e de concorrência entre Khadafi
e o ocidente em geral e especificamente com a França, pelo papel hegemônico na
região. Na ultima década, que viu o nascimento da União Africana, Khadafi fez do
continente negro uma prioridade na política externa do seu país tanto do ponto de vista
tática, quanto do ponto de vista estratégica, além de considerar a consolidação da sua
influência no continente como vital para a inserção internacional da Líbia. Para alguns
autores (CHOUALA, 2007; ABUGRE, 2001), a influência e o controle do espaço
sociopolítico e econômico regional africano são fontes e meios de contenção da ameaça
externa, portanto, de sobrevivência e de perpetuação da entidade revolucionaria líbia.

A partir deste fato, fica evidente a impossibilidade de negar ou evitar o choque de


interesses entre o desejo e a ambição Líbia de se projetar como uma potência regional e
estender sua influência na África (já que essa possibilidade não foi aceita no mundo
árabe), como os interesses neo-imperialistas dos antigos colonizadores.

Grosso modo, o caráter prepotente do ocidente e da política externa de seus integrantes,


constituiu foi um dos elementos de peso na determinação da política externa líbia, visto
que a ambição hegemônica no continente deve se concretizar somente mediante o recuo
da influência ocidental na África (WADE, 2005). Nesta perspectiva, é importante
lembrar que desde a sua ascensão ao poder, Khadafi, buscou constantemente, os
caminhos e meios para alcançar suas ambições revolucionarias e se afirmar em relação
às potências internacionais que em contrapartida trabalham em favor da exclusão dos
Estados ou potências pretendentes [5] a tais posições tanto no plano regional quanto
internacional.

Nesta ótica, é fácil entender o porquê do ocidente se opor ao surgimento de lideranças


regionais potentes (Sadam Hussein no Iraque, Khafadi na Líbia e Almaddinejad, no
Irão) e muito menos ao fortalecimento da solidariedade regional, principalmente quando
se trata da África, dominada ao longo da história graças a estratégia de dividir para
reinar. Estratégia que funcionou tanto durante a ocupação colonial quanto ao longo das
cinco décadas pós- independência africana, nos quais os projetos ou sonhos de Estados
Unidos da África se mostraram improvável devido a divergências internas entre os
principais dirigentes.

No entanto, a atitude dos africanos nos últimos anos mostrou que a União Africana não
somente é possível, mas sim, que ela é á única forma de independência e de
desenvolvimento da África, mandando assim, um sinal forte ao imperialismo ocidental.
Esse fato vinha sendo um sinal para o ocidente de que a África está pronta a tomar seu
destino em mãos e interromper a história da dominação, econômica, política e
sociocultural sofrida desde século diz oito. Segundo Esterhuyse (2010), a mensagem
tácita de que “queremos tomar as rédeas de nosso próprio destino” tendo em conta que
durante muito tempo o futuro da África era manipulado principalmente pela Grã-
Bretanha, França, Bélgica e Portugal durante na era colonial e os EUA, após as
independências nacionais.

Ainda para este autor, é importante ressaltar o fato de que um dos principais obstáculos
ocidentais nos últimos tempos é a solidariedade africana que alcançou seu apogeu com
o estabelecimento da União Africana com Khadafi como principal inspirador, distinta
da União Européia. Assim, apesar das divergências internas, a União Africana reflete a
solidariedade, particularmente com respeito a questões tais como anti- colonialismo e
africanismo. Admitindo que a Líbia de Khadafi seja um dos grandes pilares desta nova
postura africana diante dos desafios da globalização, é fácil entender a hostilidade
ocidental contra o líder líbio que alias, nunca escondeu sua oposição à ocidentalização
da África.

O objetivo geopolítico da criação da União Africana consiste na tentativa de encaixar da


melhor maneira a África na Nova Ordem Mundial, baseada nos princípios de igualdade
de todos os povos, de todos os Estados, de todas as raças, de todas as culturas, o direito
de todos ao respeito, desenvolvimento, estabilidade, segurança, paz, mas também e
principalmente, a compreensão mútua fundada numa cooperação igualitária onde todos
ganham (THIAM, 2009). Ora, sabe-se na ordem atual, o continente africano sofre dos
efeitos da desigualdade dos termos de troca, da dominação cultural, política e de uma
forte exploração econômica que começou com a colonização, continuou durante o
período da Guerra Fria e se agravou com os planos de ajustamento Estruturais,
resultando nos conflitos internos do período pós-queda do muro de Berlim.

Neste último período, no entanto, observou-se um início de mudanças significativas no


continente africano graças a chegada de uma geração de liderança e de chefes de Estado
comprometidos a trabalhar juntos para libertar a África da dependência socioeconômica,
política e cultural, o que significa tecnicamente enfrentar de forma enérgica o sistema
até então estabelecido e controlado pelos antigos impérios coloniais [6].

Os eventos que marcaram a aproximação e o engajamento dessa liderança são entre


outros, a primeira conferência dos intelectuais e homens da cultura da África e da
diáspora da era pós- independência organizado por Abdoulaye Wade em 1996, a criação
da União Africana sobre o comando de Khadafi em 1999 e a instituição da paridade de
representação entre homens e mulheres na organização e finalmente, o lançamento da
NEPAD, em 2001 (THIAM, 2009).

Essas mudanças estruturais além de permitir o alargamento dos parceiros bilaterais além
das fronteiras tradicionais (Europa), estreitam os laços entre os africanos, permitindo o
incremento das trocas comerciais, os investimentos internos, a promoção da paz, da
democracia e do desenvolvimento do continente partindo dos próprios africanos. Isto
abre um espaço político, econômico, cultural e geopolítico para Khadafi, que, sempre
aspira a se tornar uma potência regional e um líder continental na África.

Desde chegada de Khadafi ao poder na Líbia, ele não escondeu a sua convicção de ter
um papel importante e histórico a desempenhar no continente africano. Para tanto, é
importante e mesmo imprescindível se opor ao imperialismo europeu como o fez
Khadafi desde sua chegada ao poder em 1969. Militante do pan-arabismo, do terceiro
mundismo, do nacionalismo revolucionário, do messianismo ideológico, do islamismo e
do movimento dos países não alinhados, Khadafi percebe as relações euro-africanas
baseadas no regime dito de associação entre a comunidade européia e os países e
território do ultramar como sendo uma pura e simples perpetuação da dominação
européia da África (CHOUALA, 2007).
Nesta ótica, a doutrina de Khadafi, que se fixa como objetivo reconquistar a pátria
usurpada pelas potências imperialistas, afirma com razão que África não pertence aos
africanos, mas sim aos europeus, que confiscam a soberania e os recursos africanos,
sobre a guarda chuva da ajuda e da cooperação visto e chamado pelos nacionalistas, e
pan-africanistas como o neocolonialismo e/ou neo-imperialismo.

O neocolonialismo designa etimologicamente, novas formas de colonialismo que


caracteriza a política adotada pelas antigas potências coloniais nas suas relações com
suas antigas colônias que se tornaram independentes, no intuito de manter ou
restabelecer esses territórios dependentes econômica, política e culturalmente A
doutrina do neocolonialismo está baseada na idéia de que o fim do período colonial não
coloca ponto final à opressão e exploração dos antigos territórios coloniais pelas
metrópoles (AMIN, 1972, 2001;WADE, 2005). O colonizador elaborou novas formas e
mecanismos de dominação [7] que colocam em evidências o caráter teórico da
independência política e deixa claro para os descolonizados, que não haverá verdadeira
independência política sem independência econômica (ARDANT, 1965). Neste
contexto fica fácil entender a importância do continente africano nas políticas externas
tanto dos países europeus quanto para a Líbia e conseqüentemente do antagonismo dos
dois neste campo política, econômica e culturalmente.

Segundo Smith e Glaser (2005), neste âmbito, da busca incondicional dos países
europeus em geral e particularmente da França, de continuar salvaguardando os
interesses das potências imperialistas se chocam com a afirmação da vocação
continental e internacional da Líbia revolucionária dirigida por Khadafi. Esta rivalidade
entre a França e a Líbia no solo africano que iniciou na década de 1970, começou ser
mais frenético após o fim da Guerra Fria, particularmente depois, da criação da União
Africana e a NEPAD respectivamente em 2001 e 2002, que tem entre outros objetivos
buscar o desenvolvimento socioeconômico, político e cultural, além do fortalecimento
das relações inter-africano, diversificarem, as parcerias internacionais do continente no
mundo globalizado. Isto significa automaticamente o questionamento dos resultados
alcançados ao longo dos quarenta anos de cooperação franco africanos e o
reconhecimento dos prejuízos causados pelo neocolonialismo aos países africanos.

Khadafi, como um dos principais mentores e líder da União Africana passa a representar
uma ameaça para os interesses políticos e econômicos do ocidente em geral e da França
em particular. O que justifica o engajamento francês na ajuda militar aos insurgentes e
na liderança das forças da OTAN, sem as quais certamente, Khadafi saíram vencedor
desta guerra. A intervenção das forças européia entra na lógica da estratégia francesa de
usar em seu favor as estruturas européias, para reocupar seu espaço perdido no
continente africano, que foi e continua sendo uma prioridade essencial da política
externa francesa e um eixo fundamental da cooperação da União Européia com a África
(KLEIN, 2008).

Portanto, apesar de levantar a bandeira da democracia e de direitos humanos para


justificar e legitimar a intervenção ocidental, a verdadeira razão é encontrada nas
motivações econômicas e geopolíticas. No entanto, vale ressaltar que a intervenção
ocidental sobre a guarda chuva da ONU na África não é novidade e sempre foram
dirigidos contra dirigentes africanos engajados em promover e defender os interesses e o
desenvolvimento do continente [2].
Deste modo, vê-se que a crise da Líbia não é um caso isolado do intervencionismo
ocidental na África ao longo da história, no entanto, as conseqüências (negativas) desta
crise serão enormes para o continente africano. Enquanto o ocidente se festeja vitória e
desfrutam das riquezas do sol e do subsolo Líbia e africano pós- Khadafi, o continente
negro está chorando e vendo um futuro nebuloso e incerta. Querendo ou não este
Khadafi era temido pelo ocidente não pela sua força, mas sim pela sua postura na frente
da União Africana e sua coragem de enfrentar a ordem internacional vigente, portanto,
para os africanos, a eliminação de Khadafi, significa menos um parceiro disposto a
resolver os problemas africanos, menos uma alternativa a ajuda “humanitária” européia,
mas também isto significa o fechamento de mais uma porta até então aberta para os
imigrantes africanos, perseguidos pelas leis homo fóbicas e racistas em vigor no âmbito
da União Européia.

6. CONCLUSÃO

Existem várias interpretações para a problemática do conflito na Líbia na qual


destacaremos duas delas. A primeira está relacionada em que no caso do governo do
Khadafi vier a ser derrotado, a África estaria novamente submetido aos interesses
ocidentais. A intenção ocidental é evitar a completa integração da África, que era um
dos objetivos do governo de Khadafi. Uma África forte e desenvolvida seria um forte
impedimento para os interesses ocidentais. E, como Khadafi era o líder mais ativo no
processo do desenvolvimento africano, a melhor alternativa era acabar com a sua
presença física.

A segunda interpretação está relacionada em que as conseqüências do conflito, vai


trazer mais divisões dentro da sociedade líbia, mais fragmentações de grupos étnicos e
frações armadas em forma de pequenos grupos de guerrilhas, o que causaram muitos
instabilidade no país. Os intensos bombardeios da OTAN a residência do Khadafi na
Líbia é o novo modelo criado pelas grandes potências imperialistas a ser aplicado em
qualquer país que incomoda s interesses ocidentais. Será que os bombardeios da OTAN
não constituem violação de direitos humanos que supostamente foi o motivo pela qual
invasão a Líbia? Segundo as circunstancias, parece que a intervenção pela violação dos
direitos humanos deve ser respondida com outra violação dos direitos humanos.

O curioso é o fato de que as justificativas para ocupar os países subdesenvolvidos em


nome da democracia ser somente nos países com recursos energéticos (petrolíferos) ou
de predominância de alguns produtos mineiros. Porque então não ocupar o Yemen, ou a
Costa do Marfim? Na sua intervenção em relação ao caso do Yemen, o ex secretário do
Estado America diz que o assunto do Yemem incumbia só aos yemenitas. Será que o
mesmo não poderia ser dito, em relação ao caso líbio?

Conclui-se que os distúrbios na Líbia não passam do velho ditado das potências
ocidentais de dividir para reinar, e mais ainda, num momento em que tanto os EUA
como a União Européia enfrentam profundas crises financeiras. Nada melhor que
invadir um país com grandes reservas de petróleo para apoderar-se de seus recursos e
tentar justificar perante o passivo olhar do mundo, o genocídio ancorado e apoiado pelas
Nações Unidades e a OTAN contra a população civil em busca de satisfazer suas
necessidades e suprir as carências. Porém, a verdadeira intenção da invasão a Líbia, não
é só pelo petróleo deste país, mas sim acabar com o Khadafi e desta forma, impedir a
verdadeira integração africana rumo ao desenvolvimento.

~~~~~~
[1] Foi o período da corrida aos tratados, de invasões, conquistas e ocupações dos
exércitos colônias.

[2] Desde Março de 2006, os 15 países membros de PSC são: África do Sul, Argélia,
Botsuana, Burkina Faso, Camarões, Egito, Etiópia, Gabão, Gana, Malaui, Nigéria,
Republica Democrática do Congo, Ruanda, Senegal e Uganda.

[3] A situação começou quando Nuri Mesmar, chefe de protocolo de Khadafi e um dos
seus amigos mais próximos chegou a Paris no dia 21 de outubro de 2010 para uma
realizar uma cirurgia e não foi recebido pelos médicos, mas sim por Nicolas Sarkozy.
Posteriormente, no dia 16 de novembro, Mesmar e o governo francês acordaram colocar
as tropas francesas na Líbia com a justificativa de que eram homens de negócios. Dois
dias depois, um avião de carga francês pousou em Benghazi com uma delegação
francesas que imediatamente reuniu com militares de alta liderança do governo líbio
motivando a que eles abandonassem o governo de Khadafi. Entre os que abandonaram,
se encontrava o coronel Gehan Abdallah, cuja milícia posteriormente liderou a rebelião
(ABUGRE, 2011).]

[4] É ideologia política baseada nos pensamentos do líder nacionalista egípcio Gamal
Abdel Nasser quem pregava a construção e o fortalecimento do mundo árabe.

[5] Entre os Estados que buscaram a ascensão ou construção de Estados fortes, que
caíram frente a resistência ocidental (Europa e Estados Unidos das Américas), pode se
citar aqui o exemplo dos países do golfo, Irã e Iraque.

[6] Entre tais lideranças pode se citar o sul africano Thabo Mbeki, Obasanjo da Nigéria,
Abdoulaye Wade do Senegal, Boutefikha do Egito e principalmente o líder líbio
Mohamar El Khadafi.

[7]. Estes mecanismos iniciam com a balcanização do continente africano em pequenos


Estados inviáveis econômicas, política e socialmente, facilitando a montagem de
estruturas econômica- políticas dirigidas por representantes da antiga metrópole
principalmente a França. O mecanismo de dominação mais eficaz é certamente, é a rede
de cooperação conhecido e descrito por Fraçois Xavier Verchavis, como “ la
Françafrique” e cujo alguns mecanismos são bem descritos e detalhados por Glaser,
Smith em seu livro intitulado “ Comment la França a Perdu l ́Afrique” publicado em
2005. Neste livro os autores, mostram que os verdadeiros dirigentes dos países africanos
independentes eram diferentes da figura do presidente, mas sim os ocupantes dos cargos
de diretor de Gabinete, secretários gerais do governo, cargos que, coincidentemente
eram ocupados por franceses que até a véspera da independência africana eram
administradores coloniais, e logo pegam a cidadania africana para fazer parte da nova
equipe dirigente. Isto se verifica nos principais países amigos da França como Costa de
Marfim, Gabão, Senegal etc. Assim, em Côte d ́Ivoir, Guy Nairay, que foi
sucessivamente administrador colonial no Senegal (1942- 1946), da Mauritânia até
1959, chega como comandante geral de uma das maiores cidades do sul marfinense de
1950 a 1954. Em 1956, depois de dois anos, no anonimato, foi promovido diretor de
Gabinete do único representante e candidato a presidência marfinense, Felix Houphouet
Boigny onde, ele é encarregado dos dossiês políticos e da gestão dos recursos humanos
do Estado, até 1993, ano da sua morte. No mesmo período, a secretaria geral do governo
e do Estado, estava nas mãos de Alain Belkiri, outro Francês, que coordena a
administração e a intendência do país (SMITH; GLASER, 2005). O mesmo exemplo se
aplica, nos diversos países de colônia francesa, tais como Senegal onde Jean Collin
desempenho as mesmas atividades de 1960 até 1993, no Gabão Bob Maloubier, que
assume o cargo depois da eliminação por golpe do Estado do primeiro presidente do
país Léon Mba Além destes mecanismos, pode-se citar a criação e uso de organização
econômica e monetária como a zona do Franco CFA, bem como a Organização
Francófona como meios eficazes de dominação e de controle na era do neocolonialismo.

[8] A título de exemplo pode se citar o caso da República Democrática do Congo de


Patrice Lumumba entre 1960 e 1964, Burkina Faço de Thomas Sankara em 1987
(MAZRUI, 2010). Na verdade, entre 1960 e 1990, setenta e nove golpes de Estados
tiveram êxito e as tentativas de golpes verdadeiras ou falsas são tantas que ninguém
conseguiu catalogá-los, e, assim, a África foi o teatro de guerras de substituição, que
tiveram como resultado de derramar o sangue dos africanos em beneficio ou para a
defesa dos interesses das potências ocidentais (SIMITH; GLASER, 2005).

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* Lito Nunes Fernandes: Doutorando em economia pela UFRGS e professor da


Universidade Colinas de Boe.
* Mamadou Alpha Diallo: Doutorando em PPGEEI pela UFRGS e Mestre em Ciências
Políticas.
* Maria Lorena Allende Garcia: Mestre em Economia pela UFRGS e Investigadora do
Instituto de Economia e Administração da Universidade Nacional de La Rioja
(Argentina).

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