Segré (1987) - Dos Raio-X Aos Quarks PDF
Segré (1987) - Dos Raio-X Aos Quarks PDF
Segré (1987) - Dos Raio-X Aos Quarks PDF
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PRéMIO NQEEL
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Físicos modernos
e suas descobertas
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DOS RAIOS X AOS QUARKS: FÍ SICOS
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Emiiio Segr è
janeiro de 1980
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Capitulo I
1 Introdu ção
devemos interessar - nos pelas coisas e n ão pelas pessoas ] , acredito que tal
opini ã o seja excessivamente r ígida .
Neste livro tentarei evocar as personalidades de alguns dos grandes
f í sicos deste s éculo e salientar algumas de suas realiza çõ es , procurando
2 Introdu çã o Introdu çã o 3
torn á - las apreens í veis para os leigos . Com um pouco de boa vontade e za çà o dos franceses pode ser medida pela rea çã o de Pasteur e de outros
algumas lacunas , isso ser á poss í vel . Evitarei ser muito t écnico para ser cientistas franceses diante dos desastres da guerra . Amargurados , feridos no
intelig í vel para aqueles que n â o s â o profissionais . De quando em vez , os mais fundo de seu patriotismo , associaram eles a derrota à atitude de
leitores poderã o pular algumas p áginas , se as acharem muito dif í ceis , sem negligê ncia quanto à s ci ê ncias nos cinquenta anos anteriores e lembraram
perder o fio da meada . com orgulho o papel desempenhado pelas ci ê ncias na defesa do pa í s durante
Mas é necess ário que se tenha algum conhecimento de f í sica . Embora a Revolu ção e durante as guerras napoleô nicas . Pasteur esperava que , atrav é s
todos possamos admirar o Davi , de Michelangelo , ou ler Hamlet ( e mesmo das ci ê ncias , se pudesse apressar a recupera çã o da Fran ça .
nesses dois casos pode haver grandes diferen ças de ponto de vista , A Alemanha , em r á pido processo de ascens ã o e dominada pelos
dependendo de nossa forma ção ), n ã o é poss í vel entender a dupla natureza militares , tinha tomado um rumo imperialista . A longa luta entre a
dos quanta de luz ou a equa çã o de Schr õdinger sem um m í nimo de preparo. autoridade civil e a autoridade militar , que durara mais de sessenta anos ,
As fó rmulas matem á ticas simplificam a hist ó ria . A matem á tica é a linguagem infelizmente terminara com a vit ó ria dos militares . Bismarck fora demitido
natural da íí sica , conforme Galileu salientou , c , embora Volta e Faraday em 1890 . O C áiser Wilhelm II ( 1859 - 1941 ) era , entre os governantes da
tivessem escrito grandes teorias de f ísica sem fazerem uso de uma linguagem é poca , jovem e inexperiente . Considerando - se brilhante — o que n ã o era
matem á tica formai , pensavam matematicamente c o desconhecimento que
ambos tinham da inatem á tica - padrâ o os torna menos - e n ão mais - inteli -
verdade — acreditava ele que estava governando a Alemanha de forma
soberba e propiciando - lhe uma fase gloriosa . No in í cio da Primeira Guerra
gí veis . í ' : [ “ Levo -
Mundial , declarou o seguinte : lchfiihre euchherrlichen Zeiten entgeger
N ã o devemos ainda esquecer que muitos avan ços cient í ficos foram os a tempos gloriosos ” . ] Era apenas sua opini ã o .
conseguidos mediante as contribui çõ es de uma multid ã o de trabalhadores ,
que prepararam o terreno e fizeram o trabalho preliminar essencial . Trata - se No mundo de 1895 n ã o havia avi õ es , praticamente n ã o havia telefones
de pessoas quase sempre desconhecidas ou esquecidas em sua qualidade de e a eletricidade era muito prec ária . O oceano podia ser cruzado num navio a
indiv í duos , mas que, coletivamente , sã o indispens á veis . Al é m do mais , os vapor , mas mesmo ent ão , setenta e cinco anos depois que os transad â nticos
fatos cient íficos relacionam -se entre si e podem coincidir no tempo e no tinham come ç ado a fazer uso do vapor , os navios eram ocasionalmente
espa ço . Se procurarmos acompanh á - lo bem de perto , esse intrincado contra - equipados com velas suplementares . A principal forma de comunica çã o era
o correio , n ã o apenas entre lugares distantes , mas tamb é m dentro das
ponto pode levar a complicações e confus õ es . Por isso , escolhi seguir a
tend ê ncia dos eventos , às vezes em detrimento da ordem cronol ó gica estrita . pró prias cidades. Paris , por exemplo , tinha um sistema bastante rá pido de
correio pneum á tico: uma rede de tubos em que as cartas eram impulsio -
O Mundo do Físico em 1895 nadas por ar comprimido . As ruas eram iluminadas a gá s .
Em 1895 , n ão havia autom ó veis . Mas , dois anos mais tarde , quando
E natural que comecemos nossa hist ó ria por volta do ano de 1895 Erncst Rutherford visitou a exposi çã o do Crystal Palace , em Londres ,
porque durante dois ou três anos dessa é poca os f í sicos deram uma guinada escreveu o seguinte para sua m ãe: “ O que mais despertou meu interesse
decisiva: algumas descobertas experimentais ampliaram um conhecimento foram as carruagens sem cavalos , duas das quais estavam treinando nos
microscó pico do mundo ató mico. Os qu í micos j á sabiam da exist ê ncia dos p á tios em frente ” . Essas carruagens andavam a cerca de 12 milhas por hora
á tomos desde pelo menos cem anos antes e , atrav é s da teoria cin é tica dos mas faziam “ muito barulho ” e “ chocalhavam ” . Contudo , mesmo sem
gases , os f í sicos també m obtiveram bom aproveitamento das ideias sobre o autom ó veis havia acidentes de trâ nsito , quando os cavalos que puxavam
á tomo , mas nada se conhecia a respeito da sua composi çã o e estrutura . . cabriol é s ou charretes escapavam ao controle . Alguns anos mais tarde , em
No mundo ocidental , que foi onde come ç ou a revelar - se o conheci - 1906 , a ci ê ncia perderia um de seus maiores nomes em um desses acidentes .
mento da estrutura do á tomo , a Inglaterra , a Fran ç a e a Alemanha eram os N ã o havia polui çã o , mas as estradas cheiravam a estrume , consequ ê ncia t ã o
tr ê s pa íses l í deres na á rea de ci ê ncias . As tr ês grandes pot ê ncias passavam por inevit á vel dos meios de transporte daquela é poca quanto a fuma ça dos
situa çõ es pol í ticas e sociais diferentes . A Inglaterra estava no auge do nossos ve í culos movidos a gasolina . As cidades eram menores e mais bonitas
esplendor sob o império da Rainha Vitó ria. A Rainha , que se tornara do que hoje em dia , mas nem sempre dispunham de condi çõ es de
Imperatriz da í ndia em 1876 , estava no trono desde 1837 . A celebra çã o de saneamento satisfat ó rias .
seu jubileu em 1887 transfermou -se em uma demonstra çã o da lealdade do Os laborat ó rios de f í sica eram muito diferentes em mat é ria de
pais para com ela e de orgulho por seu impé rio . Enriquecida por 2.500 . 000 organiza çã o e de equipamentos se comparados com os atuais. Em geral
milhas quadradas de territ ó rios recentemente adquiridos , a Britannia havia apenas um professor , que quase sempre morava no pr ó prio labora -
“ dominava os mares ” em espl ê ndido isolamento . t ó rio e que tinha pouqu í ssimos assistentes . Atualrncnte , quando classifi -
A Fran ç a ainda estava sofrendo as consequ ê ncias das derrotas da guerra camos uma institui çã o , fazemo - lo segundo a pot ê ncia de seu acelerador ou
franco - prussiana de 1870 e 1871 , que representara violento abalo para seu talvez a capacidade de refrigera çã o de suas instala çõ es criogê nicas . Mas em
ego e para a imagem que o povo francê s tinha de si mesmo . A desmorali - 1895 os aceleradores c as instala çõ es criog ê nicas estavam muito longe de se
Introdu çã o Introdu çã o 5
S. P . Thomson , Light Visible and Invisibte, 1897 . ) A afirmava que todos os fen ô menos podiam ser explicados atrav és da açã o
rec í proca da energia , sem a necessidade de á tomos. Mais tarde , publicou um
bomba ama prendendo o ar no tubo descendente. O
tubo rnedidor compara o vácuo obtido com o vácuo manual de qu í mica que n ã o usava a teoria at ó mica e em 1909 esse livro foi I
do bar ó metro .
traduzido para o ingl ês com o t í tulo de Fundamental Principies of Chemistry . 1
Ostwald manteve -se arraigado em sua posiçã o at é queJ .J . Thomson e S . A .
Arrhenius conseguiram abalar - lhe as convic çõ es e ele retratou -se na edi ção
calores espec í ficos; ondas eletromagn éticas e, especificam ente , tentativas de de 1912 de sua Allgemeine Chemie .
reproduzir , com ondas eletromagn é ticas , todos os fen ô menos da ó ptica: Entre os f í sicos , um dos mais not á veis c é ticos com rela çã o à “ hip ó tese ”
difra çâ o , rota çã o do plano de polarização , e assim por diante . A termodi - at ó mica foi Ernst Mach ( 1838 - 1916 ) , que era tamb é m afamado psicó logo . Na
nâmica tinha ent ã o cerca de quarenta anos de idade e ainda n ã o estava edi ção de 1906 de The Analysis of Scnsations , Mach faz referê ncia aos “ á tomos e
totalmente consolidada . As descargas de gás eram estudadas com a espiral de mol éculas hipoté ticos e artificiais ‘ da f í sica e da qu í mica ” e , sem negar “ o
Ruhmkorff ecom v álvulas como as das Figuras 1.6 e 1.7 . A teoria cin é tica dos valor desses instrumentos para seus prop ó sitos especí ficos e limitados ” ,
gases estava -se desenvolve ndo com grande rapidez , embora n ã o houvesse comparou - os aos s í mbolos da álgebra . Somente ap ós ver as cintila ções das
muita gente interessada nela , e algumas das grandes figuras que atuaram part í culas alfa é que se convenceu de que os á tomos existiam , ou pelo menos
nessa á rea n ão tivessem recebido o reconhecim ento que mereciam . Josiah diminuiu o n í vel de seu ceticismo .
Willard Gibbs ( 1839 - 1903 ) , que lecionava na Universida de de Yale, foi A razã o desse ceticismo tã o di í undido n ã o era tanto a oposi çã o ao fato
ignorado pela rfiaior parte do mundo cient ífico ( à exceçã o de Maxwell e de de que ningu é m nunca tinha “ visto ” um á tomo de maneira convincente .
alguns outros ). Ludwig Boltzmann ( 1844 - 1908 ) , um dos fundadores da Mesmo hoje em dia , ningu é m ainda viu um á tomo no sentido literal , mas as
mecâ nica estat í stica, lamentou -se em Viena de que ningu é m nos pa í ses de provas em favor dos á tomos sã o mais convincente s do que as provas em favor
l í ngua alem ã dava aten çã o à sua obra . Outros assuntos tratados nas publica - de coisas que muita gente tem “ visto ” , como milagres e discos voadores .
ções daquela é poca eram qu í mica , f í sica e dissocia çã o i ô nica , o in í cio do con - Devemos recordar tamb é m que , embora a Lei de Avogadro — volumes
ceito de íons em solu ção e o relacionam ento entre termodin â mica e equil í - iguais de gás à mesma temperatura e press ã o cont ê m o mesmo n ú mero de
brio qu í mico . Ningu é m pensava seriamente em construir modelos de á to -
—
moléculas tivesse sido formulada em 1811 , s ó em 1860 , quase cinquenta
mos ; isso n ã o apenas estava alé m da viabilidade, mas o á tomo ainda nao
tinha atingido pleno reconhecim ento . em um mol —
—
anos mais tarde , é que esse n ú mero de Avogadro o n ú mero de mol éculas
foi “ medido ” , ou que os cientistas tiveram um pressenti -
E evidente que os qu í micos sabiam da “ hip ó tese ” at ó mica , mas nem mento de sua magnitude , junto com a ordem de magnitude de diversas
todos participava m da cren ça na realidade dos á tomos . Numa vis ã o quantidades at ó micas , como a massa e o volume at ó micos .
retrospectiv a , uma vez que os qu í micos elaboravam fó rmulas qu í micas e No final do s é culo XIX , mesmo um homem como Max Planck receava
tinham conhecime nto da Lei de Avogadro e das Leis dc Eletró lise de manifestar sua cren ç a no á tomo . Conforme o pró prio Planck lembra na sua
Faraday , parece- nos que deveriam tamb é m ter acreditado nos á tomos . Mas Autobiografia Cient ífica , era “ n ão apenas indiferente , mas , em certa medida , at é
Ò
Introdu çã o
mesmo hostil à teoria ató mica ” . E só veio a aceitá- la quando ela se tornou
necessária para a fundamentaçã o teó rica de sua lei da radiação.
! Introdu ção 9
durante a Segunda Guerra Mundial . ) Na Fran ça , Napole ã o III , imitando cena na Itália e na Fran ça durante pelo menos trinta anos . A alegoria
seu
ilustre tio , recebia cientistas importantes na Corte. A Inglaterra concedia o mostrava o lluminismo levando o Obscurantismo, que era o g ê nio das
grau de cavaleiro a seus cientistas famosos com a mesma frequ ência com que trevas, a testemunhar as grandes descobertas e as grandes inven çõ es de uma
o faz hoje em dia e, de quando em vez , elevava os maiores dentre civilizaçã o que se inspirava no Poder Divino : o barco a vapor , o “ tel égrafo
eles à
categoria de nobres — Lorde Kelvin , por exemplo. Lorde Rayleigh quase
sempre recebia em sua propriedade a visita de amigos pol í ticos , inclusive do
el é trico ” , o canal de Suez e o t ú nel do monte Cenis . O Obscurantismo então
assistia ao espet áculo de todas as pessoas unidas num elo de fraternidade ,
Primeiro - Ministro . enquanto que , a seus p é s , a terra se abria e o tragava. O bal é se encerrava com
Essa é poca , que testemunhou o nascimento de uma nova f í sica , o triunfo da Ci ê ncia , do Progresso , da Fraternidade e do Amor .
caracterizou -se por pensamentos novos e empreendedores em todas as
á reas , n ão apenas nas ci ê ncias. Era um período de fermentação social Novos Horizontes
e
intelectual , de exalta çã o do indiv í duo na literatura e de revolta contra o
-
academicismo nas artes apenas a arquitetura proclamava de maneira Agora voltemos à f í sica propriamente dita e à obra que levou ao enten -
obstinada as virtudes do passado . Eclodiam movimentos de car á ter socialista dimento da estrutura ató mica . Os anos de 1895 a 1897 foram fundamentais
em todos os lugares , enquanto que o anarquismo atingia o cl í
max da em raz ã o de quatro grandes descobertas : os raios X , o el éctron , o efeito
viol ê ncia com o assassinato de membros da realeza e de chefes de Estado . Zeeman e a radioatividade . Embora a descoberta do el éctron tenha sido a
Na França , os impressionistas e outras novas escolas de pintura estavam ú ltima do ponto de vista cronol ógico (foi conclu ída apenas em 1897 com a
em ebuli çã o , embora n ã o fossem muito valorizadas as obras mais mediçã o da propor çã o crnre sua carga e massa ), dela tratarei em primeiro
contro -
versas , como as de Van Gogh , que n ão encontravam nenhum mercado . No lugar , visto que é parte do resultado da longa preocupa çã o de cientistas do
mundo da m ú sica , Debussy continuava a compor na semi - obscuridade . s éculo XIX com a descarga de eletricidade em tubos de “ v á cuo ” .
As
duas grandes figuras literá rias eram Anatole France e Émile Zola . France Em um antigo estudo ( 1883 ) , a respeito de descargas el é tricas em gases ,
retratava o car á ter espec í fico de seu pa í s e Zola era um romancista Michael Faraday descobriu que “ a rarefa çã o do ar favorece extremamente
da escola
naturalista , bastante popular , que acusou a sociedade francesa ao defender
a fen ô menos de incandescê ncia ” ( “ Experimental Researches on Electricity ” ).
inocê ncia de Dreyfus no affaire que manteve o pa í s em turbul ê ncia por v á rios Examinou a incandesc ê ncia em diversos gases a baixa pressã o e nunca
anos no final do s é culo . conseguiu isol á - la em “ descargas intermitentes vis í veis e elementares ” .
A Inglaterra passara pela pungente experiê ncia intelectual de Descreveu a beleza dessa incandescê ncia e observou o espa ç o escuro nas
assimilar a
teoria da evolu ção de Darwin . Em 1895, treze anos ap ós a morte de Darwin , Her proximidades do anodo que hoje em dia leva seu nome . O vácuo que
bert Spencer , o filósofo do movimento científico na tradição darwiniana , ainda- conseguia obter era muito parco , mais parco do que ele , Faraday , podia dar -
estava bem vivo aos setenta e cinco anos de idade , e continuava se conta, embora tivesse consciê ncia de que “ o vácuo mais perfeito que se
a pensar e a
escrever manifestando a confian ça no progresso que era t í pica daquela fase . podia conseguir ” estava longe de ser um v á cuo absoluto.
Na literatura , Oscar Wilde deliciava as platéias com peças espirituosas , Em 18 58 , Julius Pl úcker teve a id éia de aproximar um im ã de um tubo
enquanto Thomas Hardy e George Meredith , com uma tend êpcia de “ v á cuo ” para ver o que aconteceria à descarga. Pl ú cker ( 1801 - 1868 ) era
algo
sombria , escreviam os ú ltimos romances vitorianos. H . G . Wells e G . B . um matem á tico alem ã o , um topó logo que mais tarde veio a ser professor de
davam os primeiros passos de suas carreiras . Shaw , ainda um iniciante como
Shaw
f í sica em Bonn e passou a interessar -se pela rela çã o entre magnetismo e
dramaturgo popular , exercia maior influ ê ncia como esp í rito provocativo da descargas de gás (devemos recordar que naquela é poca era normal que um
Sociedade Fabiana , uma instituição socialista , do que como escritor . cientista se dedicasse a mais de urn campo: Gauss era matem á tico e f í sico ,
A Alemanha produzira Friedrich Nietzsche , o poeta de Assim Kirchhofi era qu í mico e professor de fisica teó rica ) . Quando Pl ú cker
Falou
Zaratustra e o fil ósofo do super - homem movido pelo “ desejo de poder ” . aproximou o í m â do tubo de v á cuo , percebeu algum desvio magn é tico da
As
doutrinas de Nietzsche eram uma manifesta çã o dr á stica e completa do descarga . No ano seguinte , registrou ter visto uma fosforescê ncia verde no
esp í rito inovador e de revolta contra os valores vigentes no final do s é culo vidro do tubo perto do c á todo e conseguiu fazer com que as manchas de
XIX . Em 1895, Nietzsche estava doente e n ã o mais escrevia fosforescê ncia mudassem de pusi çã o usando um im ã . Mas n ã o p ôde fazer
mas
influ ê ncia começava a fazer -se sentir nas obras de outros , como sua muito mais , porque o v á cuo que tinha conseguido n ã o era suficiente.
exemplo, na poesia e nos romances de Gabriele D ’ Annunzio , por
expoente £ m 1869 , Johann Hittorf ( 1824 - 1914 ) , aluno de Pl ú cker , teve mais
estetico e fan á tico do nacionalismo italiano bornbas de merc ú rio
e futuro “ super - homem ” da sucesso Nos anos
. intermedi á rios , as primeiras
Primeira Guerra Mundial . Infelizmente , os ideais de Nietzsche entraram em uso e ele conseguiu esvaziar os tubos al é m do que seus
inspirar homens mais perigosos, como os futuros ditadores
viriam a '
3
12 Introdu çã o 13
Introdu çã o
ativamente da pol í tica francesa como militante esquerdista e participar A id é ia fundamental é que a luz era emitida por part í culas carregadas
Nova Iorque ap ó s ter fugido da Fran ça ocupada .
morreu em ( el éctrons) que se moviam no á tomo . O movimento dessas paruculas era
Entre o trabalho de Perrin c o trabalho diretamente i influenciado pelo campo magn é tico correspondente às leis clássicas do
Thomson , fez -se alguma coisa de import â ncia sobre o el é ctron
correlato dej. J V
clearoniagnetismo. A partir da mudan ça de frequ ê ncia da luz emitida ,
técnicas espectroscópicas, mas relacionada com o
ligado com Zeeman e Lorentz puderam determinar e/m , a carga espec í fica das part í culas
problema geral do eléctron . que provocam a emissão de luz , bem como o sí »r>b*4e da carga . Zeeman
Ss ml
14 Introdu çã o 1 n tradu ção 15
: i' 7o
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Figura 1.5. Joseph John Thomson ( 1856 - 1940 ) , o famoso f í sico
ingl ê s , celehVà do por suas ( b)
experi ê ncias com o élcctron e os is ótopos. Foi o terceiro diretor do Laborat
Uma foto de Thomson estudando uma vá lvula de raios ório Cavendish .
cat ó dicos pode ser vista no Sal Ao
Maxwell de Confer ê ncias do Laborat ó rio . Aparentemente,
Thomson n á o tinha muita
destreza , mas seu racioc í nio era r á pido quando se tratava de
aparelhos. ( Laborat ó rio Cavendish , Universidade de Cambridgc. ) funcionamento dos
captar o
sua experiência . Na Figura 1.6 - a , os raios íoram produzidos a partir do
cá todo A na válvula à esquerda . Através de uma fenda no â nodo B os raios
. i
í m à para dentro de uma esp écie de gaiola de Faraday . A carga coletada foi
* v
negativa . Assim ficou demonstrado que os raios cató dicos eram partí culas
A descoberta dos raios X por Rõ ntgen ( assunto tratado mais carregadas negativamente . Experi ê ncias semelhantes tinham sido feitas por
adiante ,
neste mesmo cap í tulo ) permitiu um novo m é todo de ionização de
gases e J . Perrin na Fran ça . Em um segundo tipo de v álvula ( Figura 1.6 - b ) , os raios
maiores esclarecimento s a respeito do comportamento dos íons gasosos . cat ó dicos gerados em C foram passados atrav é s das fendas terradas A e B ,
Thomson começ ou a trabalhar nessa linha , que acabou por conduzi - lo ao formando um estreito feixe de raios que se transferiram para a extremidade
estudo dos el éctrons livres . da v álvula . O local em que o feixe atingiu a extremidade bulbosa da v álvula
Em 1897 , Thomson comprovou a natureza corpuscular dos raios foi marcado por um pequeno tra ço dc fosforescê ncia brilhante .
cat ó dicos e mediu a velocidade e a rela ção entre carga e masSa dos Quando Thomson conectou a.s duas placas de metal E e D ( vide Fig ura
corp ú sculos . A Figura 1.6 mostra duas das válvulas usadas por Thomson em 1.6 - b ) com os terminais de uma bateria , a mancha fosforescente moveu -se ,
mostrando que os raios cat ódicos eram desviados pelo campo el é trico . Com
Introdu çã o 19
18 Introdu çã o
urn campo magn é tico perpendicul ar ao campo el é trico , pôde ele ent ã o Pouco mais tarde , em 1899 , usando t écnicas e ideias desenvolvi
das por
. . Thomson mediu a carga e a massa do
desviar os raios magneticam ente. A deflex ã o magn é tica j á tinha sido seu cx - aluno C . T. R Wilson , J J .
, em circunst â ncias
observada , mas J . J . Thomson foi o primeiro a observar a deflex ã o el é trica . el é ctron isoladamen te . Wilson tinha observado que de condensaçã o para
Sua aparente ausência foi a primeira motivaçã o para a pesquisa de J . J . favorá veis , as cargas el é tricas atuam como n ú cleos porque a água se
Thomson . Porque ningu é m linha visto a deflex ão el é trica nas v árias d écadas vapores supersatura dos . Favorecem a forma çã o de neblina
pela presen ça de cargas
durante as quais os raios cat ó dicos foram objeto de pesquisa ? Por uma condensa sobre eles. Em tal neblina , determinada a da velocidade com
simples ta / á o : a n ã o ser que haja um v á cu ò suficiente no tubo rat ó di é n , n ã o -
el é tricas , pode se medir o volume
do
das got
total
í
de
culas
á gua
partir
precipitado ou a partir da
se pode estabelecer nenhum campo el é trico . Um vá cuo insuficiente é um que caem , e seu n ú mero a partii
condutor e nenhum campo el étrico está tico pode manter -se em um v ácuo supersatura ção inicial . Com esses dados , obté -
m se o n ú mero de got ículas
desse tipo . Mas Thomson teve êxito , n ã o apenas com a aparelhage m contido na neblina . Da carga total transportad a pela neblina , diretamente
, êntica à carga
mostrada na Figura 1.6 , mas també m com outras duas . mensurável , acha -se então a carga em uma got cula média id í
Em agosto de 1897 , escreveu seu famoso trabalho , onde descrevia do el é ctron . do eléctron
experi ê ncias “ para testar a teoria das part í culas eletrificad as ” e aplicou os Essa pesquisa, feita no10Laborat ó rio Cavendish , deu a carga
á ticas absolutas . A partir do
como em cerca de 3 x IO unidades eletrost
'
corp ú sculos , nela contidos , vezes a carga e de cada uma: 1929 , para
anos esse valor foi o melhor diretamente medido. Mas em , muito mais
Ne =d surpresa de todos , descobriu - se um erro de cerca de 1 por cento
em uma
do que o erro poss í vel previsto . A origem da discrep â ncia estava do i
medi çã o deficiente da viscosidad e do ar . Hoje em dia o valor da carga }•;
Depois , mediu a energia W transportad a pelos corp ú sculos medindo o
calor desenvolvid o ; este tinha de ser igual à energia cin é tica das part í culas de
massa m e velocidade v :
el é ctron é conhecido com a precis
4 , 803242 x IO 10 esu ; oe / m , conhecido
'
ã o de cerca de 3 panes por milh ã
com uma precisã o de cerca de 6 partes
—
o e é de
17
por milh ã o , é de 5, 272764 x 10
'
esu /g .
A descoberta do el é ctron , por mais importante que fosse , foi obscure -
i Nmi 2 = W cida por uma outra descobena que ocorrera no final de 1895
. Essa grande
C R ò ( 1845 - 1923 ) , que espantou o mundo
descoberta foi feita por W . . ntgen
raios
!v
Tendo desviado o feixe de part í culas magneticam ente , ele descobriu ao anunciar “ um novo tipo àt raios ” e demonstrar o que esses !f!
que": poderiam fazer . 9
ocorreram na á rea da acú stica , mas ele tamb é m é conhecido por uma .
tinha o valor de 2 , 3 x 1017 esu /g , muito maior do que e / m para loris em determina ção engenhosa , embora grosseira , do n ú mero de Avogadro
eletr ó lise . -
R ò ntgen graduou se no Instituto Polit é cnico em
recebeu o t ítulo de doutor pela Universida de dc Zurique . Em 1870 ,
1868 e em 1869
voltou à
No trabalho de 1 897 , 1 homson fez outra observa çã o digna de nota : os
rzburg c depois em
corp ú sculos que constitu í am os raios cat ódicos eram os mesmos , qualquer Alemanha como assistente dc Kundt , primeiro em ú W
tendo sido
Estrasburgo; passou a exercer o cargo dz Privat Dozent e em 1 875 ,
que fosse a composi ção do cá todo ou do anticatodo ou do gás na válvula . Alemanha ,
Tratava -se de um componente universal de toda a mat é ria . nomeado professor de F í sica em uma pequena universida de da
Introdu ção Introdu çã o 21
começou uma carreira acad êmica normal como um bom ( ísico , mas n ão
extraordin á rio . Em 1888 , fez um trabalho importante mostrando entretanto , estava coberta por uma cartolina negra e nenhuma luz ou
que a nenhum raio cató dico poderia ter escapado dali . Surpreso e perplexo com o
corrente de convecção era a mesma que a corrente de condu
ção . Hoje essa fen ô meno , R õ ntgen decidiu pesquisá- lo mais a fundo. Virou a tela, de modo
descoberta pode parecer banal , mas devemos lembrar que Faraday traba
lhou muito para convencer -se de que a eletricidade de uma pilha era a - a que o lado sem platinociane ro de b ário ficasse voltado para a v álvula ; mesmo
mesma que a eletricidade produzida por uma m á quina eletrostá tica , fato assim , a tela continuava a brilhar . Ele entã o afastou a tela para mais longe da
que em sua é poca n ão era absolutamen te ó bvio . R õ ntgen provou que a v álvula e o brilho persisdu . Depois , colocou diversos objetos entre a v álvula e
corrente obtida por cargas em movimento era a mesma corrente em um a tela e todos pareceram transparentes . Quando sua m à o escorregou em
fio . frente à v álvula ele viu os ossos na tela ( Figura 1.8 ) . Descobrira “ um novo ripo
També m fez boas mediçõ es de calores espec í ficos , campo padrão de
interesse em seu tempo . Passou de uma universidad e para outra e, no outono de raio ” , conforme ele mesmo explicou em sua primeira publica çã o sobre o
de 1888 , assumiu o quarto cargo , uma cadeira na mesma Universidad e de assunto .
Wurzburg , onde tinha sido assistente de Kundt . Era uma boa universidade , R õ ntgen estava trabalhando sozinho no laborat ó rio . Continuou a .
embora n ã o fosse das mais conceituadas . At é o in í cio de novembro de 1895 , trabalhar sozinho nos dias que se seguiram , sem falar de suas observa çõ es a
Rõ ntgen já tinha escrito quarenta e oito trabalhos , hoje praticamente ningu é m . Sua mulher percebeu que ele estava preocupado , sem saber a
esquecidos . O quadrag é simo nono foi o á pice de sua obra . causa , e come ç ou a afligir - se . O marido só lhe disse que estava trabalhando
Na noite de 8 de novembro de 1895 , R õ ntgen estava trabalhando em algo importante . Mais tarde , explicou - lhe por que tinha sido reticente:
uma v álvula de Hittorf que rinha coberto totalmente com uma
com ficara t ão ató nito com sua descoberta, sua incredulidad e era tal , que sentira
cartolina necessidade de convencer - se a si mesmo muitas outras vezes a respeito da
negra . A sala estava inteiramente à s escuras. A certa distâ ncia da v álvula havia
uma folha de papel , usada romo tela . tratada com plaiinot i a n c t o rir b r i exist ê ncia daqueles novos raios . Finalmente , registrou sua descoberta eru
á o.
Para seu espanto , R õ ntgen vi ti -a brilhar , emitindo luz . Alguma coisa devia
(hap .is fotográ ficas , r s ó ent ã o passou a ter certeza.
ter atingido a tela para que ela reagisse dessa forma . A v álvula de R õ
Em 28 de dezembro de 1895 , fez entrega de um relat ó rio preliminar ao
ntgen , Secret á rio da Sociedade F í sico - M é dica , de Wurzburg . Esse relat ó rio foi
22 Introdu çã o Introdu ção 23
imediatamen te reproduzido e , antes do in í cio de 1896 , j á estava sendo medo de n à o conseguir esvaziar a v álvula suficienteme nte , o que , para sorte
distribu í do . Em sua comunica ção s ó bria e concisa , R õ ntgen n ã o revelou sua , n à o aconteceu . A Rainha teve o espet á culo que queria .
nenhuma das suas sensa çõ es e d ú vidas iniciais . O relat ó rio come ça da O trabalho de R õ ntgen sobre os raios X foi perfeito á luz do
seguinte forma : conhecimen to existente em sua é poca . Mas ele, Rõ ntgen , n ã o conseguiu
“ Se passarmos a descarga
de uma grande bobina de Ruhmkor íf atrav é s apreender a natureza dos raios X . Ao concluir seu famoso relat ó rio de 1895 ,
de um aparelho Hittorf ou de Lenard , de Crookes ou de outro suficiente - escreveu o seguinte:
mente esvaziado de ar , e cobrirmos a v á lvula com uma manta bem ajustada “ Ser á que os novos raios n à o se devem à s vibra çõ es longitudina is
de cartolina negra , observarem os, em um compar ú mento inteirament e à s existentes no é ter ? Devo confessar que a cada momento que passa mais
escuras , que uma tela de papel coberta com platinocian eto de b á rio acredito nessa ideia durante minhas pesquisas e agora, portanto , cabe a mim
se
ilumina e fluoresce da mesma forma , quer se ponha voltado para a v á lvula de anunciar tal suspeita , embora saiba muito bem que essa explica ção exige uma
descarga o lado tratado quer se ponha o outro lado ” . [ ‘‘ Ú ber eine neue Ari corroboraçáo maior ” .
von Srrahlen ” , Sitzungsberichte der Phys. Mediz . Gesellschaft zu A “ corrobora çá o maior ” nunca chegou , mas passaram - se bem uns
Wurzburg 1 J 7 , 132
( 1895 ) . Traduzido cm Nature 53, 274 ( 1896 ) . ] dezesseis anos at é que o trabalho de Max von Laue e de Fricdrich e Knipping
R õ ntgen prosseguiu descrevendo as descobertas resultantes de suas esclarecesse as d ú vidas a respeito da natureza dos raios X .
sete semanas de pesquisas " secretas ”: os objetos tornavam Nos meses que se seguiram à sua descoberta , R õ ntgen foi convidado a
-se transparentes
diante de seus “ novos raios ” em diferentes graus ; as chapas fotográficas
eram fazer palestras em todo o mundo , mas recusou todos os convites , à exce çã o
sens í veis aos r a j o s X ; ele n à o conseguia ver qualquer reflexo ou retra çã o
dos de um , pois queria continuar a estudar seus raios X . Escrevia r á pidos
raios dignos de nota , nem podia desviá- los com um campo magn é tico ;
os
bilhetes para colegas que lhe pediam que demonstrass e os novos raios , para
raios X originavam -se na área da ampola de descarga onde os raios cat ó
dicos lhes pedir desculpas e informar que n ào tinha tempo para fazer quaisquer
colidem com a parede da ampola de vidro . confer ê ncias ou demonstra çõ es . A exceçã o foi ao C áiser , a quem R õ ntgen
Em Io de janeiro , tinha distribu ído o relat ó rio preliminar que mostrou seus raios X em 13 de janeiro de 1896 .
provocou grande agita ção . O documento era inacredit ável — mas , em A id éia de fazer demonstrações para o Cáiser tinha- o deixado ansioso .
it “ Espero ter um pouco da sorte do C áiser com essa
anexo , estavam fotografias em raios X de suas m ãos, o que fornecia
provas v álvula ” - disse ele -
“ pois esse tipo de v á lvula é muito sens í vel e quase sempre se
que n à o podiam ser refutadas com facilidade . Entre os que receberam essa quebra com
primeira comunicaçã o estavam Boltzmann , Warburg , Kohlrausch , Lorde facilidade .. . e s ã o precisos uns quatro dias para expelir inteiramente o ar de
Kelvin , Stokes e Poincaré. Ao ler o documento de R õ ntgen , muitos cientistas uma outra ” . Mas nada se quebrou . Um convite para a corte como o que
correram a seus laborat ó rios , pegaram suas espirais de centelhas e pro - R õ ntgen recebeu envolvia , al é m da palestra e da demonstraçã o , jantar com o
curaram ver os raios X . E conseguiram . Cá iser , receber uma condecora çã o ( Kronen -Ordern 2. Klasse ) e , no momento da
Em janeiro de 1896 , a not ícia da descoberta dos raios Xj á tinha criado despedida , fazer rever ê ncias a Sua Majestade . A prop ó sito disso , Richard
em todo o mundo uma enorme como çã o . Podemos imaginar o deslum - Willst à tter , o grande qu í mico org â nico que deslindou as complexida des da i -l
bramento em relaçã o a esses raios aos quais quase tudo se tornava clorofila , conta que ele e Fritz Haber , o sintetizador da am ó nia , ap ós terem
transparente e por meio dos quais todos podiam ver seus pr ó prios ossos .
'
feito suas descobertas , licaram na expectativa de receber um convite do
C á iser . Por isso , treinaram fazer rever ê ncias . Willstà tter era um colecionado r
Podiam -se ver praticament e os dedos sem os m ú sculos , mas com an é is ,
como se podia ver tamb é m uma bala alojada no corpo . As consequ ê ncias
de porcelanas e havia um vaso precioso no sal ã o em que ambos estavam
para a medicina foram imediatame nte percebidas . N ã o se precisava ser um treinando . Como era de se esperar , os exercí cios terminaram esfacelando o
vaso . Os dois n ã o foram convidados pelo C á iser , mas esse treinamento n ã o
cientista para valorizar a descoberta. Ao futuro fí sico A . N . da Costa
Andrade , ainda um menino em 1896 , tinham ensinado que Deus podia ver - representou uma causa perdida . Ambos , mais tarde , foram laureados com o
to Pr é mio Nobel e , segundo o cerimonial , tiveram de fazer rever ê ncias ap ó s
das as coisas e todos os lugares ; ap ós ouvir falar dos raios X , ele come çou a acre -
ditar naquilo de que antes duvidava. Em 23 de janeiro , R õ ntgen fez seu ú nico receberem o pr é mio das m ã os do Rei da Su écia .
Em 8 de fevereiro de 1896 , R õ ntgen escreveu a seguinte carta a seu
pronunciam ento p ú blico a respeito da descoberta, diante da Sociedade grande amigo Ludwig Zehnder , descrevendo cloq ú entemente os aconte -
Fí sico - M é dica. Foi saudado com uma tempestade de aplausos . cimentos que envolveram sua descoberta: »
Um pouco dessa excitaçã o envolveu - me trinta anos mais tarde , “ Prezado Zehnder !
quando
era estudante em Roma . Um velho curador do Instituto de Fí sica , Os bons amigos ficam para o final . É sempre assim que acontece . Mas
Augusto
Zanchi , contou - me como passara cena vez uma noite inteira tentando voc ê é o primeiro a receber uma resposta . Agrade ç o - lhe muito por tudo o
expelir o ar de uma válvula com uma bomba de merc ú rio porque a que escreveu a meu respeito . Ainda n à o posso usar suas especula çõ es sobre a li
Rainha da Itália queria ver os raios X e pedira ao professor de f ísica natureza dos raios X , visto aparentemen te n ão ser muito recomend á vel ou
que lhe
fizesse uma demonstra çã o . Durante toda a noite o pobre curador util tentar explicar um fen ô meno de natureza desconhecid a com uma
teve
introdu çã o
Introdu çã o 25
hip ó tese que não deixe nenhum lugar a d
para mim qual seja a natureza dos raios . E vidas . N ão está inteiram ente claro
ú
ai rigos sobre os raios X , em 1896 e em 1897 . Depois , voltou aos velhos temas
serem raios de luz longitu dinais é para a possibil idade de eventua lmente c , nos vinte e quatro anos que se seguira m , elaboro u sete relató rios de
fato é que são import antes. E , quanto a mim de import â ncia secund á ria . O interess e efé mero , deixan do a pesqui sa dos raios X para outros cientist as
isso , minha obra recebeu reconh e -
cimento de muitas fontes. Boltzm ann , mais jovens e menos preocu pados . A raz ã o para isso ficaria apenas no campo
Warbu
que ) Lorde Kelvin , Stokes , Poinca r é e outros rg, Kohlra usch e ( nada menos das especu la çõ es .
pela descob erta e , ao mesmo tempo , seu já me manife staram sua alegr ia Em 1902 R õ ntgen foi lauread o com o primeir o Pré mio Nobel de F í sica.
signific a muito para mim e deixo que os reconh ecimen to . Isso realrne nte Em 1900 , tinha -se transfe rido para Muniqu e , onde veio a ocupar o cargo de
dina . N ã o estou nada preocup ado ! invejos os fiquem falando em sur -
diretor do Institut o de Fí sica Experi mental .
Eu n ão tinha falado com ningu é m a Em 1914 assinou o famoso manife sto dos cientist as alem ães em
mulher contei apenas que estava fazend o respeito de meu trabalh o . A minha solida riedad e a uma Aleman ha militar ista , mas depois arrepen deu - se .
pessoa s , ao descob rirem , diriam : Der alguma coisa a respeit o da qual as Sofreu conside ravelm ente durante a Primeir a Guerra Mundia l c com os
Rõntgen ist wohl verrikkt geworden
( Rõ ntgen ficou mesmo ensand ecido ) . efeitos econ ó mico - finance iros do conflit o , vindo a morrer em Muniqu e em
No dia Io de janeiro enviei as novas
cópias e , depois , o diabo que se encarre 10 de feverei ro de 1923 , com setenta e oito anos .
gasse do resto! O Wiener Pressei oi o
primeir o a tocar die Reklametrompete (“ o
seguida os outros seguira m seu exempl o . Eu trompe te do arauto ” ) e logo em
n o
próprio trabalh o nas reporta gens. A fotogra fiaâ, chegav a a reconhe cer meu
leva a um fim , mas foi transfo rmada na coisa para mim , é um meio que
fui - me acostum ando ao turbilh ã o , mas isso mais import ante . Aos poucos
levou tempo . H á exatamen te
quatro semana s que n ão consigo fazer uma
só experiê ncia! Outras pessoa s
poderi am trabalh ai , mas eu n ã o . Você n ã o imagin
a como as coisas ficaram
confus as .
Em anexo , encamin ho - lhe as fotogra fiass
mostrá - las em aula , para mim não faz prometi das . Sc quiser
diferença. Mas eu recome ndaria que as
colocas se em vidro e moldur a , para que n ã o sejam
a ajuda das explicações , você n ã o ter roubada s . Creio que , com
á problem as; caso contrá rio , é s ó
escreve r - me.
Uso uma grade Ruhmk orff de 50 / 20 cent
Deprez e uma corrente prim ária de cercaí metros com um interrupt or
de 20 ainp è res . Minha
aparelh agem , que continh a uma bomba Raps ,
evacuaçã o total do ar . Os melhor es resultad exige vá rios dias para a
os s ã o obtidos quando o espaço
de ccntelh amento de um conden sador conecta
do em paralelo é de cerca de
três cent ímetros .
Com o tempo a aparelh agem ficar á cheia de furos
Qualqu er m é todo de produ ção de raios cató dicos ter ( com uma exceção).
l â mpadas incande scentes segund o Tesla e com v á á ê xito , inclusiv e com
lvulas sem eletrod os. Para a
fotogra fia , eu uso de três a dez minutos , depend endo
das condi ções das
experi ê ncias .
Para sua aula, envio - lhe a caixa de bú ssola , o
rolo de madeira, o
conjunt o de pesos e a folha de zinco , bem como uma
conserv ada de uma m ã o , feita por Pernet , de fotogra fia muito bem
Zurique . Mas , por favor ,
devolv a esse materia l logo que poss í vel , e coberto
uma tela maior com platino cianeto ? Recome ndapor seguro . Você disp õ e de
ções a todos os seus .
( Dr . \V . C . R õntgen, p . 8 7 ) R õ ntgen ”
Apó s a descob erta de R õ ntgen , os f í sicos e o pessoal
passara m avidam ente a investig ar os novos raios . No ano ligado à medici na
mais de mil trabalh os sobre o assunto . O pr ó pr io R õ
de 1896 , j á havia
ntgen escreve u mais dois
Capítulo II
H . Becquerel , os Curie e a
descoberta da radioadvidade
i
Descobe rta da Radioati vidade H . Becquer el , os Curie c a Descobe rta da Radioati vidade 29
a velha
—
fluoresc ê ncia ?" “ Em caso posiuvo ” afirmava ele —
tipo n ã o estariam associad os a uma causa el é trica ” .
“ os fen ô menos desse
edi ção do manual de Ganot , que me desperto u para a f ísica Becquer el retomou suas experi ê ncias e , dessa vez , tentou o sal de
.
Edmond , o filho de Antoine C é sar , que viveu de 1820 a ur â nio , sulfato de potássio de urânio , que ames tinha estudado com o pai .
praticam ente seguiu as pegadas do pai , exceto quanto ao serviço 1891 ,
militar . Foi Em 21 de fevereiro , fez um relató rio à Academi a :
admitido na É cole Polytech nique , tornou - se assistent e do pai e “ Cobri uma . .. chapa fotogr á fica . .. com duas folhas
pro í essor no Mus ée. O cargo de professo r do Musée estava - se tornando depois de papel negro
grosso , t ã o grosso que a chapa n ã o ficou manchad a ao ser exposta ao sol
esp é cie de trust heredit á rio , passando de pai para filho , pois mais urna durante um dia inteiro. Coloque i sobre o papel uma camada de substância
bisneto de Antoine C ésar , Jean ( 1878 - 1953 ) , també m ocupou tarde o fosfores cente e expus tudo ao sol por v á rias horas. Quando revelei a chapa
a mesma
cadeira . Quatro gera ções dos Becquere l viveram , conforme escreveu fotogr á fica , percebi a silhueta da substância fosforesc ente cm negro sobre o
em um artigo , na m è me maison , même jardin , m ême laboratoire ( “ Jean
mesma casa , negativo . . . A mesma experiê ncia pode ser feita com uma l âmina de vidro fina
mesmo jardim , mesmo laborat ó rio ” ) , no Jardin des Plantes , em frente colocada entre a substâ ncia fosforesc ente e o papel , o que exclui a
Cuvier . Edmond Becquere l estudou a açã o qu í mica da luz e foi casa de
à
um dos possibili dade de urna a ção qu í mica resultant e de vapores que poderiam
primeiro s a fotografa r o espectro solar . Era tamb é m grande especiali sta emanar da substância quando aquecida pelos raios solares. Portanto ,
fluorescê ncia e a subst ância que melhor conhecia era o urâ nio . em
Projeto u um podemos concluir dessas experi ê ncias que a subst â ncia fosforesc ente cm
fluorosc ó pio e mediu intensid ade e dura ção da fluorescê ncia do ur â nio quest ã o emite radia çõ es que penetram no papel que é opaco à luz . . . ”
sob a
a çã o de diferente s luzes . ( Cornptes -rendus de 1' Académie des Sciences , Paris, 122, 420 ( 1896 ) . )
À cpoca da descober ta de R õ ntgen , o filho de Edmond Becquere É como se os raios X fossem efetivam ente emitidos pelo composto de
l,
Henri ( 1852 - 1908 ) , tinha sucedido ao pai na direçã o do Musée d Histoire ur â nio enquanto fluoresci a . Mas , uma semana mais tarde , quando a
H . Becqucrel , os Curie e a Descoberta da Radioatividade H . Becqucrel , os Curie e a Descoberta da Radioatividade
30
-
Academia voltou a reunir se em 2 de março , Becqucici j á estava u c i u c dt
outras coisas . A razã o pela qual estava ciente de outras coisas c que u tempo
em Paris tinha mudado! Tentara ele repetir as experi ê ncias anteriores , mas
nos dias ’2 () e 27 de levei eiro o tempo eslava ruim e o Sol mal aparei ia Assim ,
ele colocou tudo em uma gaveta escura , deixando as amostras de sal de
urâ nio no lugar , sobre as chapas envoltas em papel . E dessa vez íez o seguinte
relat ó rio à Academia :
“ Como o Sol n ã o voltou a aparecer durante v á rios dias , revelei as
cat ólica praticante e como tal criou os filhos ; mas , logo após sua morte, a filha
Nesse ponto de nossa hist ó ria , cerca de dois anos ap ós a descoberta de
Becquerel , Pierre e Marie Curie entraram em cena . N ã o que Becquerel n ã o Marie , ent ã o adolescente , abandonou a religi ão e a ela nunca mais retornou .
!l í
; «i
;•
tenha dado continuidade a sua obra , ao contr á rio: prosseguiu nela com A fam í lia inclu í a um filho , Josef , e tr ê s filhas , Hela , Bronya e Marie .
entusiasmo . Mas restringiu - se ao urânio como fonte de seus r a j o s, pois o Era uma fam í lia extremamente patriota e as crian ças chegavam a N '
urâ nio era a subst ância que ele melhor conhecia . Anos mais tarde escreveu o participar de atividades culturais clandestinas no territ ó rio dominado pela i
seguinte: R ú ssia , sob o risco de serem presas ou de lhes acontecer algo pior . Por toda a
“ Mas , visto que os novos raios tinham sido identificados com o ur â nio , sua hist ó ria , a Pol ó nia quase sempre foi oprimida pelos vizinhos e ent ão era
parecia improv á vel a priori que a atividade de outros corpos conhecidos oprimida principalmente pela R ú ssia . As escolas polonesas eram obrigadas a ' .d
I
pudesse ser consideravelme nte maior , e as pesquisas sobre a generalidade do usar o idioma russo e a adotar livros que n ã o queriam . O antagonismo da
novo fen ô meno pareciam ent ão menos urgentes do que o estudo fisico de popula ção polonesa em rela çã o aos dominadores russos tinha base
sua natureza ” . religiosa , pol íú ca e lingu í stica . Os sentimentos eram fortes e a situa ção era ;:2
E assim , n ã o foi Becquerel mas os Curie que deram o salto à frente: tensa . Marie ficou profundamente chocada quando um dos amigos de seu
pesquisaram outros elementos e , ao descobrirem primeiramente o pol ó nio e irm ã o foi enforcado por quest õ es pol í ticas . Para reagir a essa press ã o , os
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ii . Decquere l , os Curie c a Descober ta da Radioativ idade 33
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uma é poca em que estavam na moda histó rias de hero í nas eslavas. O que d á
polonese s se transform aram ern patriotas fan á ticos e , ironicam ente , se um particula r realce a essa hero í na é que ela era um g ê nio e queria realment e
tornaram cru é is opressor es de minorias inocente s
quando tiveram estudar Física .
oportuni dade - foi o que experime ntaram os alem ães e os judeusa
quando se reconsut uiu urna Pol ó nia livre após a Primeira Guerra Mundial . Em Paris , Marie matricul ou - se na Faculdad e de Ci ê ncias e frequent ou
cursos de Física , Qu í mica e Matem á tica com os Professor es Lippman n , Bouty
Marie concluiu com distin çã o o curso secund ário aos dezessei s
anos . e Appell , este o autor do famoso tratado M écanique Rationnelle ( sobre mec â nica
Nesse meio tempo , o pai perdera a fortuna e as filhas tiveram de procurar
te ó rica). Fora da universid ade ela vivia entre os imigrant es polonese s , um dos
meios de sustentar -se . Bronya e Marie tinham ambi çõ es e erarri muito ligadas
quais era um jovem e talentoso pianista chamado Paderew ski . A vida de
uma a outra . Eram voluntar iosas , muito inteligen tes e muito polonesa .
s Marie foi um tanto bo émia na sua pobreza , mas sua extrema disciplin a e seus
Bronya seguiu para Paris , a fim de estudai Medicina, por sua pr ó pria conta e
'
h á bitos r ígidos de trabalho n ão eram nada boé mios . Ela estudava e
com algum aux ílio de Marie , que durante cerca de cinco anos trabalho u trabalha va com fanatism o , quase sem dinheiro e com muito pouca coisa
como governan ta — emprego que n ão estava muito acima do de emprega para comer . Em 1893, recebeu a bolsa de estudos Alexandr owitch , pequena
da
dom éstica —de v árias fam ílias , primeiro em Vars ó via e depois no interior .
Suas parcas economi as eram enviadas a Bronya , no entendim ento de que ,
doa çã o de 600 francos concedid a por uma organiza çã o polonesa . Como era
caracter í stico nela, alguns anos mais tarde guardou seus primeiro s sal á rios
tão logo a irm ã conclu í sse os estudos , lhe daria apoio . Foi assim
que , em para ressarcir o dinheiro da bolsa de estudos . Em 1894 , um f í sico polon ê s em
1891 , Marie abandon ou a Pol ónia , com uma passagem de 4 a classe para Paris visita a Paris , Joseph Kovalski , apresento u - a a Pierre Curie ( 1859 - 1906 ) .
c 4 rublos ( 20 d ó lares ) no bolso . Imagine - se uma jovem polonesa chegando a Pierre Curie ( Figura 2.3 ) era o segundo filho do fí sico Eugè ne Curie . O
Paris cm 1891 para estudar Física ! Era uma situa çã o totalmen te rom â ntica em pai . oficialm ente de religi ã o protestan te , era um livre - pensado r de ten -
35
34 H . Becquerel , os Curie e a Descobena da Radioatividade H . Becquerel , os Curie e a Descoberta da Radioatividade Í
ti 55?!, «
t' que C . Wiegand e eu usamos o que t í nhamos entendido da ess ê ncia
tf , acumulada na d écada anterior .
O Relat ó rio Curie foi um pequeno tratado sobre a radioatividade
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i: m conforme era conhecida em 1900; em 1904 , Marie finalmente escreveu sua
rese de doutoramento, um tratado semelhante , poré m atualizado.
At é 1902 Marie já havia perdido cerca de dez quilos em consequ ê ncia
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de seu trabalho , mas ainda tinha rádio suficiente paraajud á- la a medir o peso
um ató mico . Descobriu que era de 225 , uma resposta quase correta . Tamb é m
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tinha urna quantidade suficiente de r ádio para observar as linhas espectrais.
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il 1111 havia observado . N ào espanta que o casal tenha começado a sofrei de doen ças
estranhas e de difí cil diagn óstico . É muito prová vel que tenham recebido
radiaçã o e ingerido substâ ncias radioauvas em quantidades suficientes para
<43
deixá - los enfermos. Embora Pierre tenha morrido de acidente , Marie
chegou aos sessenta e sete anos de idade , mas ficou doente durante muito
tempo e , finalmente , morreu de anemia aplástica , uma das consequ ê ncias da
superexposi çã o à radiação. Seu genro , F. Joliot, examinou os livros de
anota çõ es de Marie e constatou que estavam intensamente contaminados de
radioatividade . Al é m disso, Marie cozinhava em casa e seus cadernos de
receitas ainda estavam contaminados cinquenta anos ap ós terem deixado de
ser usados .
i . Enquanto isso , como progrediu a carreira dos Curie ? Poder - se- ia
imaginar que teriam recebido algum auxílio ap ós os anos de incansá vel
labuta durante os quais fizeram memorá veis descobertas e perderam a
sa ú de . Grandes nomes das ci ê ncias , como Lorde Kelvin , tinham reconhe -
r
!
r cido as contribui çõ es feitas pelo casal de cientistas , mas a burocracia oficial
francesa, responsá vel pelo sustento m í nimo dos dois , n ã o o tinha feito .
Figura 2.7. Parte interna do laborat ó rio dos Curie. [ De Qeuvres de Pierre Curie, Paris , 1908 . ) Algumas autoridades mais chegadas arranjaram a Legi ã o de Honra para
> •. Pierre , mas ele recusou - a , dizendo que precisava era de um laborat ó rio , n ão
de urna condecora ção . Os amigos insistiram em que aceitasse a homenagem ,
. ressaltando que isso o ajudaria a conseguir um laborat ó rio. Mas Pierre
t
beA
ii estava
^ efinidae os cientistas n ão demonstravam muita vontade quanto
a desistir defà . De onde vinha a energia do pol ó nio ? Foram apresentadas as
hipó teses mais absurdas . Uma id éia incorreta , embora n ão de todo
continuava o orgulhoso e obstinado de sempre e n ã o recebeu nem a
condecora çã o nem o laborat ó rio . Em 1898 , candidatou -se à cá tedra de fí sica
e qu í mica da Sorbonne, mas n ão a conseguiu . Naquela é poca , seu sal á rio era
irracional , foi exposta por Marie Curie em seu primeiro trabalho sobre a
radioatividade ( 1898 ). Pressupunha a exist ê ncia de raios que encobrissem
—
modesto cerca de 500 francos por m ê s . Ele tinha duas filhas para educar ,
Irene ( Figura 2.8 ) , que veio a ser uma cientista digna dos pais , e Eve , que se
todo o mundo , em todas as direçõ es , algo semelhante aos neutrinos. Por tornou pianista e mais tarde ficou conhecida por uma famosa biografia da
alguma razão misteriosa , esses raios só eram absorvidos por subst â ncias mãe.
radioauvas , que os capturavam e produziam calor . Ernest Rutherford Em 1900 , os Curie foram bafejados pela sorte . A Universidade de
apresentou a id éia de que a radioatividade poderia depender da possibi - Genebra ofereceu a Pierre uma cá tedra em condi çõ es bastante favor á veis . Ele
lidade de a amostra ser ou n ão bastante fracionada . Os pró prios Curie hesitou , mas acabou cedendo . Tal fato , entretanto , chegou ao conhecimento
tinham pesquisado se o aquecimento ou o resfriamento de uma amostra das autoridades francesas , que finalmente , lhe deram um cargo na Sorbonne
aumentaria ou diminuiria sua radioatividade —
a qu í mica sugeria tal
experi ê ncia , mas nada aconteceu . Tamb é m tentaram comprimir tal amostra ,
em 1904 . Pierre ficou muito satisfeito , sobretudo porque , ingenuamente ,
julgou que , como professor de f í sica , teria direito a um laborat ó rio . Mas
mas nada do que fizessem alterava a radioatividade . Era um grande mist é rio . estava enganado . A c á tedra n ã o dava direito a nenhum laborat ó rio c , na
De fato , a taxa de decaimento dos elementos radioativos s ó veio a ser alterada é poca de sua morte , Pierre Curie ainda n ã o conseguira um laborat ó rio
ap ós a Segunda Guerra Mundial , e ent ã o por sutis influ ê ncias qu í micas em adequado . Na medida em que os Curie continuavam a trabalhar em
H . Beeque rel , os Curie e a Descob
erta da Radioa tividad e H . Beequ erel , os Curie e a Descob erta da Radioa tividad e 43
nuisible. L'exemple des dccoiwcitcs de A' obe.l est unaetrnstn/ ur , les ex/ dosijs puissants
ontpernas aux hornmes dcjairc des iravaux admirables. lis sont aussi uu moyen lerrible
de destruclion entre les mains des grands crimineis qui entrainent les peuples vers la
guerre . Je suis de ceux qui pensent avec Nobel que ihumanit é tirera plus de bien que de
mal des d écouvertes nouvelles” ( Lex Piix Nobel en 1903 ).
[ “ Pode -se ainda conceb er que, em m ãos crimin osas , o rádio venha a
tornar - se bastant e perigo so , e aqui podem os indaga r - nos se é vantajo so para
a human idade conhec er os segred os da natureza , se est á madura para
usufru ir desses segred os ou se esse conhec imento lhe será nocivo . O
exemp lo das descob ertas de Nobel é caracter í stico, os podero sos explos ivos
tê m permit ido aos homen s executar tarefas admir á veis . S ã o tamb é m um
meio terr í vel de destruiçã o nas m ãos dos grande s crimino sos que arrastam os
povos para a guerra . Estou entre aquele s que pensam , como Nobel , que a
human idade extrair á mais bem do que. mal das novas descob ertas . ” ]
As palavr as de Curie s ã o dignas de nota porque mostram tamb é m uma
consci entizaçáo dos proble mas que debatem os hoje em dia . Demon stram
ainda que o otimism o das d écadas anterio res estava começando a esvane cer -
Figura 2.8 . Mane Curie se.
com a filha Ir è ne . A
m ã e treinou a filha em Na é poca em que foram lauread os com o Pr é mio Nobel , Pierre tinha
pesquisa s cientific as e , quarent a e quatro anos e Marie trinta e seis ; ambos já tinham a sa ú de precá ria
durante a Primeira e estavam cansad os . Viviam em grande isolame nto, procur ando usufrui r da
Guerra Mundial , le - vida no campo o m á ximo que podiam . Seu c í rculo social era compos to , na
vou - a como assistent e
maior parte das vezes , de velhos amigos da á rea das ciê ncias: . Perrin , P .
Langev in , G . Urbain , A . Cotton , A . Debier ne , G . Gouy e outros , Jtodos f í sicos
no serviço de ambu -
lâ ncias equipada s com
aparelho s radiol ògicos ou qu í micos . Durant e certo tempo interes saram - se pelo espirit ismo , mas
que ela mesma criara. logo desisti ram . Tamb é m conhec iam alguns artistas : na casa dos Curie
( Arquivo s do Instituto
do R á dio . )
podia- se encontra r tanto o esculto r Rodin quanto alguma famosa dan ç arina
do Folies Berg è res .
Em 19 de abril de 1906 , uma terr í vel trag édia desabo u sobre Marie. Ao
condi çõ es deplor á veis , o problem a do laborat ó atravess ar uma rua de Paris , à tarde , Pierre foi atrope lado por uma carrua
rio foi - se transfo rmand o em gem
obsess ã o . Em 1902 , Pierre apresen tou sua candid cujo cavalo tinha -se soltado das rédeas . A morte de Pierre perturb ou Marie
atura à Acade mia france sa . profun damen te e ela passou a sentir - sc extrema mente s ó e sobrec arrega da
Era obriga çã o dos candid atos fazer visitas aos
membr os e cumpri r outras de respon sabilid ades e trabalh o e , al é m do mais , envolta numa aura de fama
formal idades o que Curie despre zava. Com alguma relut ncia
â , fez o que era que n ã o era de seu agrado . Afasto u - se de tudo , real çando sua person alidade
necess á rio . Mas a cadeira foi destina da a E . H .
Amaga t , conhec ido pela reserva da e sua inclina çã o para o isolame nto . De 1900 a 1 906 , Marie deu aula
liquefa çã o de gases ; hoje sabemo s que Amaga t n ã o pode
Curie . Ap ó s essa derrota , Curie desisti u de procur
ser compar ado a na É cole Norma le Femini ne , em S è vres , e depois ocupou o cargo de Chef de
Fran ça . Em 1905 , poré m , um ano antes de
Academ ia .
ar reconh ecimen to na
sua morte , foi eleito para a —
Travaux na Faculd ade de Ci ê ncias isto é , assisten te do marido . Em seguid ,
foi indicad a para o lugar de profes sora da Sorbon ne , em substit ui ção aa
Em 1903, os Curie receber am o Pré mio Nobel Pierre . Sem fazer qualqu er coment á rio , Marie deu prosseg uiment o à s aulas
juntam ente com Henri de Pierre sobre radioat ividade , partind o exatame nte do ponto onde ele as
Beeque rel . Esse fato contrib uiu bastan te para melhor
do casal , mas nem o Pr é mio Nobel nem o Pr rnio
ar a situa ção financ eira interr omper a .
ê Os í ris , de 25.000 franco s , Em 191 1 , foi lauread a com um segund o Pr é mio Nobel . Tamb é m por
que recebe ram mais tarde , propic iaram a eles o ansiad o
labora t essa mesma é poca teve um caso com P . Langev in , quest ã o particu lar que loi
Quand o da apresen ta çã o do Pr é mio Nobel , Pierre Curie ó rio .
discurs o com as seguin tes palavra s : encerr ou seu assunto de muitos comentá rios escand alosos , pois Langev in era casado e
‘'
On peut concevoir encore que dam des mains crimine hnha Filhos . Sua mulher abando nou - o por um certo per í odo e é um dos
lies dangereux el ici on peut se demander si
lles le radium puí sse devenir filhos de Langev in que relata esses episódios em uma biogra fia do pai .
Vhumanit é a avanlage à connaitre les secrets
de la nature , si elle est mure pour en profiter ou si cetle J á citei o nome de Langev in ( 1872 - 1 946 ) diversa s vezes . Trata - se de um
connaissance ne lui sera pas brilha nte f í sico franc ê s que exerceu grande influ ê ncia em sua é poca . Como
' •* J c a Descoberta da Radioatividade H . Becqucrd , os Curie e a Descoberta da Radioatividade 45
profissã o v á rias vezes. Foi fazende iro , depois montou uma '
i
ii
50 Rutherford no Mundo No \ 'o: A Transmuta çã o dos Elementos Ruiherford no Mundo Novo: A Transmuta çã o dos Elementos 51
com elas , Rutherford exerceu toda a sua influ ê ncia para que issu n ã o De in í cio , Rutherford prosseguiu seus estudos sobre magnetismo . Em
acontecesse . ) Rutherford foi o segundo colocado , mas o vencedor desistiu , o outra carta , conta que tudo estava correndo bem , que tinha de preparar
qu é lhe permitiu continuar os estudos na Inglaterra . Diz - se que , quando relat ó rios sobre seus estudos para um semin á rio e que todos acatavam suas
recebeu o an ú ncio da premiaçã o , Rutherford estava na í azenda da fam í lia , opini ões com muita seriedade . O trabalho sobre magnetismo logo veio a ter
colhendo batatas . Leu o telegrama que trazia a not í cia e disse : “ Esta é a ú ltima aplica çã o prá tica , pois sua descoberta foi usada na detecçà o de sinais sem
batata que colho em minha vida ”. Teve de tomar dinheiro emprestado para fio . Marconi estava fazendo coisa semelhante na Itália , mas havia diferen ças
as despesas de viagem . No percurso , parou em Adelaide para um encontro fundamentais entre os dois . Marconi , mais inventor do que cientista , estava
com W . H . Bragg ( 1862 - 1942) , que també m viriaaserum dos maiores f ísicos interessado sobretudo nas possibilidades prá ticas do detector . Rutherford ,
do Impé rio . Bragg era pouco mais velho que Rutherford e , à é poca , era ainda embora tivesse reconhecido as potencialidades de aplicação de seus estudos ,
um jovem professor. Mais tarde , W . H . Bragg e seu filho , W . L. Bragg ( 1890 - n ão estava tio interessado nessas potencialidades . N ã o obstante , o detector
1971 ) , fizeram descobertas memor á veis na á rea da cristalografia e dos magn é tico de fio era de grande importâ ncia e chegou mesmo a causar
raios X . W . L. Bragg sucedeu a Rutherford em Manchestcre em Cambridge . problemas legais quanto a patentes at é que o aperfei çoamento das v á lvulas
Rutherford chegou a Cambridge, Inglaterra, em setembro de 1895 , e de v á cuo o tornaram obsoleto .
foi aceito como aluno de pesquisas por J . J . Thomson , que , conforme j á
vimos , tinha sido nomeado professor do Instituto Cavendish ainda bem Pesquisas de Radioatividade
jovem . Quando da chegada de Rutherford , Cambridge estava passando por
importantes transforma çõ es em seu curriculum , abrindo maior campo para o Enquanto isso , Rò ntgen tinha feito sua espantosa descoberta e todos
treinamento experimental e inaugurando laborat ó rios para estudantes procuravam avidamente trabalhar com os raios X . Rutherford , junto com
estrangeiros. O primeiro aluno estrangeiro a trabalhar sob o novo plano de Thomson , começou a medir a ionizaçã o produzida pelos raios X e , em 1897 ,
reformas foi Rutherford . Sua fama espalhou -se rapidamente entre os ap ó s a descoberta da radioatividade , imediatamente aplicou sua experi ê ncia
companheiros , que logo se deram conta de que estavam tratando com na medi çã o da ioniza ção produzida pelo urâ nio .
algu é m fora do comum. N ão muito tempo após sua chegada, um colega Em longo trabalho realizado no Laborató rio Cavendish , cm 1898 ,
escreveu o seguinte: “ Temos aqui um coelho que veio de terras ant í podas e Ruiherford percebeu que havia dois tipos de radiaçã o emitidas do urâ nio:
que está cavando bem fundo ” . chamou - os de alfa e beta . Essas radiaçõ es distinguem - sc por sua capacidade
Existe uma respeitável coletânea da correspond ê ncia de Rutherford . de absorção na maté ria . Ao mesmo tempo , os Curie estavam descobrindo o
——
Ele escrevia regularmente para a m ãe a cada duas semanas enviava uma
cana, o que fez durante toda a sua vida e ela viveu at é os noventa e dois
pol ó nio e o r á dio . Tamb é m eles , assim corno Becquerel , estavam estudando
as propriedades das radia çõ es emitidas por substâncias radioativas. Seus
anos . Enquanto ainda estava na escola secund á ria , ele se enamorara de uma esfor ços e os esfor ç os de Rutherford e de muitos outros pesquisadores
colega, Mary Ncwton , e também escrevia para ela. A maior parte das cartas de coincidem de uma maneira complicada . N ã o era raro ocorrerem erros , mas
Rutherford para sua m ã e est ã o desaparecidas , mas talvez ainda existam ; em alguns anos tinham chegado à conclus ã o de que os raios beta eram raios
Mary guardou as que lhe eram dirigidas. Uma dessas canas cont é m a cató dicos , isto é, el éctrons . Al é m disso , P . V . Villard , na Fran ç a, descobriu
seguinte descri çã o deThomson , conforme a opini ã o de Ruiherford em 1895 : uma radia çã o mais penetrante , chamada gama , que é similar aos penetrantes
“ Fui at é o laborat ó rio e ali encontrei Thomson , mantendo com ele um raios X . Mas os raios alfa permaneciam um mist é rio. Tanto Rutherford
longo bate - papo . Trata - se de um homem de conversa bastante agrad á vel , quanto os Curie suspeitavam tratar -se de part í culas , á tomos carregados
nada fossilizado . Quanto â apar ê ncia , é um sujeito de altura m é dia , moreno eletricamente e projetados a uma alta velocidade. Do ponto de vista
e ainda muito jovem
— sempre mal - barbeado e de cabelos relativamente
compridos . Seu rosto é um pouco longo e magro . Tem uma cabe ça boa e um
-
fenomenol ógico , caracterizavam se por sua capacidade de absor çã o e pelo
pequeno desvio em um campo magn é tico . Talvez o leitor conheça a famosa
par de sulcos verticais bem acima do nariz . Falamos sobre generalidades e figura freq ú entemente encontrada em manuais , que remonta à é poca dos
sobre trabalho de pesquisa , e ele pareceu apreciar o que eu ia fazer . Curie e Becquerel ( Figura 3.3 ). També m se suspeitava que os raios alfa
Convidou - me para almo ç ar , em Scroop Terrace , onde o encontrei junto com i tinham um alcance definido .
a esposa , mulher aJta e morena um tanto p álida , mas bastante e íoq ú eme e Em 1898 , vagou um cargo na Universidade McGill , em Montreal , e
am á vel ; fiquei conversando durante mais de uma hora ap ó s terminado o Rutherford decidiu apresentar -se como candidato . Foi uma decis ã o repen -
jantar e depois voltei para a cidade ... Esqueci de mencionar a grande coisa tina . Mudar -se de Cambridge , o centro mundial da f í sica , para uma
que vi : o ú nico menino da casa , de uns tr ê s anos e meio , um guri robusto , universidade colonial no Canad á era um salto no escuro . Mas Rutherford
com um ar sax à o , mas o mais bonito quej á conheci ern termos de aparê ncia e unha um esp í rito aventureiro e , afinal de contas , tinha vindo da Nova
de tamanho ” . ( Eve, Rutherford, p . 15 . ) Zel â ndia , que n ã o era exatamente o centro cient í fico do mundo. Al é m do
O menino era G . P . Thomson , o futuro descobridor da difra çá o do
el é ctron , que morreu em 197 5 .
roais , sempre — e justificadamente — teve grande confian ç a em si mesmo .
Conseguiu uma carta de recomenda çã o com J J . Thomson , que escreveu o
* » V U . .v .
1 1 uiMiiuu
^ au tios Elementos
Assim , deu in ício a urna experi ê ncia bem simples , no verdadeiro estilo O outro problema dizia respeito à natureza dos raios alia . Tamb é m
Rutherford , usando uma v álvula aberta equipada com uma s é rie de seriam um gás ; Rudierfoi d testou essa hipó tese, mas o resultado foi negativo .
eleirodos , conectada a um eletrô metro ( Figura 3.5 ) . Pasmou os gases , Entã o , tentou outra coisa . Se fossem part í culas carregadas , qual seria sua
misturados com ar , atrav és da v álvula . O gás entrou por uma extremidade e rela çã o entre carga e massa , isto é , sua carga espec í fica ? Eram ou nao
saiu pela outra. Ele mediu o fluxo e, por conseguinte , a velocidade do g á s . desviados em um campo magn é tico? As opiniões sobre esse ponto b á sico
Mediu també m a radioatividade na entrada e ao longo de toda a válvula e sua variavam . Rutherford , em uma publica çã o , discordou de Becquerel , que , a
depend ê ncia da velocidade do gás. A partir dessas medi ções Rutherford princí pio , julgava que os raios alfa n ão eram desviados por um campo
conseguiu determinar a meia - vida de gases radioativos. Tamb é m fez outras magn é tico . Depois , ambos concordaram em que eram desviados . Exami -
experiências para convencer-se de que os portadores de radioatividade eram naram v árias hip ó teses e chegaram a alguns resultados experimentais
realmence gases , porque essa conclusã o parecia muito estranha . erró neos , conforme se pode ver nos Cullected Papers de Rutherford . Mas,
Nesse ponto , Sir William MacDonald doou ao laborat ó rio equipa - finalmente, Rutherford chegou à importante conclus ã o de que a carga
mentos para liquefa çã o de ar . Rutherford passou o ar que continha os gases espec í fica para os raios alfa era semelhante à do h é lio ionizado . Descobriu
radioativos através de uma v álvula de cobre resfriada com ar l íquido para tamb é m que , quando se aquecem substâ ncias radioativas , elas emitem h é lio
verificar se os gases radioativos se condensavam . Descobriu que eles res - e que o mesmo ocorre com minerais radioativos . Todo esse trabalho levou
friavam e que, quando a válvula era aquecida , vaporizavam - se de novo. Mas , tempo , mas , entre 1903 e 1904 , Rutherford se convenceu de que as part ículas
quando tentou medir a temperatura da vaporiza çã o cometeu um erro : alfa eram í ons de h é lio . Agora era uma quest ã o de tempo prov á - lo .
acreditou ter achado uma diferen ça de comportamento das v á rias erna -
naçõ es ”, que era como chamava os gases. Uso a palavra várias porque ele
tinha gases origin ários de t ó rio ou de ur ânio. Hoje sabemos que as Os Disc í pulos e a Descoberta da Transmuta çã o
emanações sã o isotó picas e, por conseguinte, todas t ê m id ênticas tempera -
turas em estado de ebuli çã o e de vaporiza çã o . Mas Rudierford
descobriu Enquanto o estudo f í sico da radioatividade estava provocando esses
diferen ças sistem á ticas na evapora çã o , o que mostra que mesmo ele , resultados surpreendentes , tamb é m os estudos qu í micos estavam revelando
ocasionalmente , podia cometer erros . De qualquer forma , a pr ó pria fen ô menos espantosos . Crookes descobriu em 1900 que, ao precipitar
descoberta da exist ê ncia de gases radioativos estava correta e foi muito hidr ó xido de ferro em uma solu çã o salina de uranilo , toda a radioatividade
importante . Mostrou também que , de algum modo, os átomos de urâ nio e passava para o precipitado e o ur â nio permanecia inativo. Mas , ap ós alguns
de t ó rio desintegravam -se e que , entre os fragmentos , havia gases . dias , o precipitado perdia sua atividade e o ur â nio a readquiria . Fen ô menos
semelhantes ocorriam em outras subst âncias radioativas em diferentes
—
escalas de tempo às vezes em horas , à s vezes em minutos . Era como se
fossem fantasmas nos laborat ó rios que se divertissem em p ô r de volta
durante a noite as prepara çõ es cuidadosamente isoladas durante o dia . Tudo
parecia misterioso , at é que Rutherford e Soddy , a quem nos referiremos em
MO*
breve , tiveram a id é ia de que as substâ ncias radioativas transmutavam - se
uma na outra .
Í ARTAf
Examinemos um exemplo de transmuta çã o . O urânio produz conti -
nuamente , por sua desintegra çã o espont â nea , uma outra substâ ncia radio -
ativa — — UX , que por sua vez , se desintegra espontaneamente. Em um
min é rio n ã o alterado , tudo isso ocorre à mesma taxa , ou seja , o mesmo
n ú mero de á tomos de U e de UX se desintegra espontaneamente a cada
segundo . Mas , se separarmos quimicamente o ur â nio da subst â ncia ativa ,
UX , cuja radioatividade é a ú nica que pode ser observada em virtude da
A
*1 natureza das radia çõ es , constataremos qu é a atividade do UX se reduz com a
caracter ística de meia - vida de UX porque j á n ã o é reabastecida por ur â nio .
Ao mesmo tempo , o ur ânio , que tinha perdido sua radioatividade pela
separa çã o de UX , volta a adquiri -la . Portanto , temos duas curvas de
Figura J . y Aparelhagem para detectar a emana çã o do ló rio c medir
sua meia -vida . O ar ,
passado pelo material C , transporia o gás radioativo até a ampola à direita.
e H servem para medir a ioniza çã o causada pelo gás . A partir desse c
Os eletrodos E , F
—
auvidades uma para a subst ância separada e outra para o urâ nio . Uma
desce e a outra sobe ( Figura 3.6 ). A soma das atividades é constante , porque
á lculo e da velocidade
do gá s é que se obtem a meia vida . [ Do artigo de Rutherford e F.
Soddy em Tramací ions of lhe
corresponde a urânio em equil í brio ou urânio como é encontrado em um
Cli/ mical Society tf / . 321 ( 1902 ) | M min é rio natural .
» t u l u mundo INOVO : A 1 ransmutação
“ O
dos Elementos Rutherford no Mundo Novo: A Transmuta çã o dos Elementos 57
1. Nomenc latura .
2. Taxa de desinteg ra ção espont ânea da atividad e excitada do t rio
ó edo
r á dio em diferent es per í odos de exposi çã o à emana çã o e para diferent
es tipos
de radia çã o. ’
V x E = - 1r dB
dt
V
V x H
H 0
l <3E
= -c dt
4-
An ] ! l
ú nica base absolutam ente firme para construir uma teoria f í sica . Sempre que
tinham de enfrentar grandes obstáculos , recorriam a ela .
A termodin â mica distingue os fen ô menos revers í veis dos irrevers í veis .
i Um exemplo dos primeiros é a colis ão elástica perfeita entre duas esferas
isto é , as equa çõ es de Maxwell que governam o conform e considera das em mecânica ; por outro lado , a expans ã o de um gás
luz . E , para o moviment o dos corpos celestes ,
campo eletromag n é tico da
em um v ácuo é irrevers ível . Na nossa experi ê ncia quotidian a , vemos
fen ô menos praticame nte revers í veis em ambos os sentidos do tempo . Por
F = ma
, mm exemplo , em uma colisão el ástica poder íamos come çar do final , reverter
rl2 todas as velocidad es e voltar ao est ágio inicial . Isso n ão é poss í vel com os
J fen ô menos irrevers í veis . Ningu é m viu ainda todas as mol é culas de um
ditada por Newton . volume de gás concentrare m -se espontane amente em um canto de um ,
Uin ponto de vista tã o radical é t ão ing é nuo quanto o dos recipient e . Se filmarmo s um fen ô meno , podemos fazer o filme rodar para a
listas que acreditam em uma interpret ação literal da B í blia . fundame nta- frente ou para tr á s . Sc o fen ô meno for revers í vel , n ã o acharemo s nenhum
M
í
66 Planck, um Revolucioná rio Obstinado: A í d éia da Quaniiza
çà Planck , um Revolucion á rio Obstinado: A Í d éia da Quamiza çã o 67
. ah
1' .
x = bv / kT
h g u i a -/ . I . ( a ) O gr áfico da distribui ção dc velocidade de
mol é culas em um g á s mostra o numero
.
de mol éculas n por intervalo de unidade de
velocidade . Essa curva pode ser usada para qualquer corpo negro à temperatura I , a densidade dc energia por intervalo de
( b ) Para radia çã o do
massa molecular m e qualquer tempertura absoluta T , frequ ê ncia de unidade ) é representada graficamente . A curva pode ser usada para qual -
que .v ( Nil 2 kT ) i ' 1r e a escala da ordenada seja tal , que desde que a escala da abscissa seja tal ,
= quer temperatura , desde que a abscissa tenha uma escala tal que * = hvlkTe a ordenada
-
va é y = x‘ exp( x 2 ). A velocidade mais provável é
uma mol écula é (
= ) ( SmhrkT ) uln . A equa çã o da cur -
( 2 kT / m ) iric a energia cinética m édia
3/ 2 ) kT independente da massa ni.Esses resultados foram obtidos por Maxwell.
de —
tenha uma escala que y ( TT* b :C 3lk *T * ) u . A equa çã o da curva é y = x */ ( exp x - 1 ) . As formas
limitantes de Rayleigh e de Wien s ão apresentadas no quadro , para o x pequeno .
macroscó pica , ter í amos de esperar muito mais tempo do que o Resultado importante da mecânica estat í stica foi a descoberta leita por
de idade . Por exemplo , dadas muitas moléculas universo tem Maxwell da lei que governa a distribui çã o de velocidade em um g á s
em
impede que essas mol é culas se acumulem na metade urn recipiente , nada monat ô rnico . Maxwell chegou à conclus ão dc que o n ú mero de mol é culas
Mas, para ver um evento desse tipo , talvez tivéssemosesquerda do recipiente . cm um determinado intervalo de velocidade é proporcional á densidade do
de esperar
extremamente longo , de aproximadamente 1010 anos , a ordem deum tem- po g ás e depende apenas da temperatura do g á s e da massa absoluta das
de da idade do universo . Assim , o grande Maxwell magnitu -
escreveu o mol éculas . Podemos calcular essa distribui çã o de velocidade com a mecâ ni -
Lorde Rayleigh : " Moral . A segunda lei da termodin seguinte para
â mica tem o mesmo n í vel ca estat í stica , mas n à o com a termodin â mica . Maxwell descobriu essa lei em
de verdade que a afirma ção de que, se voc ê 1859 por um racioc í nio intuitivo , mas n ão rigoroso . Forneceu melhores
d ’água no mar , n ã o conseguirá reaver o atirar o conte ú do de um copo
mesmo conte ú do ” . [ Rayleigh , Lijeof provas mais tarde , mas sua tese inicial é espantosamente clara e mostra a
Lord Rayleigh , p. 47 ( University of for ça de seu gê nio . Só em 1921 é que O . Stern obteve uma confirmaçã o
Wisconsin Press, 1968 ) . ]
A entropia considerada pela termodin â experimental direta ( vide Figura 4.1 ) .
lidade do estágio de um sistema e també m damica é uma medida da probabi
“ desordem ” do sistema . Tanto
- A mecânica estat í stica teve muito sucesso e foi profundamente estuda -
a probabilidade quanto a da por Boltzmann e por muitos outros f í sicos depois de Maxwell . Provocou
desordem tendem a aumentar em um sistema
isolado. muitas quest ões sutis e dif í ceis . Um resultado digno de nota foi que qualquer
A mecânica estat í stica possibilita grau de liberdade de um sistema em equil í brio t é rmico tem a energia cin é tica
al é m do escopo da termodinâmica . -nos enfrentar problemas que vào
Mas exige modelos mais circunstancia - m é dia de ikT . Foi poss í vel provar rigorosamente esse resultado com base na
dos ou outros postulados e é, portanto , mecâ nica cl ássica e , em muitos casos , ele chegou a ser verificado experimen -
menos segura e imutá vel do que a
termodin âmica . Tanto a termodin âmica telmente , mas em outros casos falhou . Assim , por exemplo , os graus internos
ú teis apenas quando aplicadas a problemas quanto a mecânica estat ís ú ca sà o
que envolvem muitas partículas de liberdade de um á tomo n ã o se manifestavam no calor espec ífico e um gás
ou , de um ponto de vista mais t écnico monat ô rnico tinha um calor espec í fico como se os á tomos fossem pontos , o
muitos graus de liberdade .
que certamente n ão s ã o . Esses paradoxos atordoaram os estudiosos de
oo i iaiick , um Revolucionário Obstinado : A Id é ia da Quantização A Id é ia da Quantização 69
Planck, um Revolucionário Obstinado :
mec ânica estat í stica , como Boltzmann , Lorde Kelvin , Lorde Rayleigh e
muitos outros . Mas n ão suspeitavam eles que a raiz das dificuldades estava ele se devotava obstinadamente . Primeiro explicarei o problema e depois
simplesmente na validade da pró pria mecâ nica cl ássica. falarei de Planck .
Talvez o tratado mais perfeito sobre a mecânica estatí stica cl ássica Um corpo negro é um corpo que absorve completamente as radiaçõ es
tenha sido escrito porjosiah Willard Gibbs , em 1902: um livro pequeno , mas eletromagn é ticas que sobre ele caem . O orif í cio de uma cavidade , tal como a
de apreci á vel n í vel de dificuldade e sutileza, intitulado Elementary Principies of porta de um forno , na prádea se comporta como um corpo negro . O poder
Statistical Mechanics . O autor, o maior físico norte -americano do século XIX , emissivo - ou emissividade - de um corpo é a potê ncia eletromagnética
tinha uma inteligê ncia profundamente original e cr í tica . Levou uma vida um emitida por unidade de superfí cie . O poder de absorção é a fração de energia
tanto isolada, dando aulas na Universidade de Yale , e foi reconhecido por incidente que é absorvida . Para um corpo negro o poder de absorção a é igual
gente como Maxweel , mas n ão era particularmente apreciado nos Estados a 1 porque absorve toda a energia incidente , pela pró pria defini ção de corpo
Unidos de sua época . No prefácio do livro ele diz o seguinte: negro . A radia ção é emitida em forma de ondas eletromagn éucas , de certa
“ Al ém do mais , evitamos as mais s érias frequê ncia , e todas as frequê ncias est ão nela representadas , cada uma com
dificuldades quando , desistin - sua pró pria intensidade . Poder í amos examinar a radiação com um espec -
do da tentativa de elaborar hip óteses referentes à constituição de corpos
materiais , analisamos indaga çõ es estatí sticas como em um dom í nio trosc ó pio e achar a energia em cada intervalo de frequ ência , obtendo a
da distribui çã o espectral da energia . É poss í vel calcular a temperatura de um
mecânica racional . No atual est ágio da ci ê ncia , parece pouco poss í vel a
elaboração de uma teoria dinâmica de ação molecular que abranja os j forno olhando para dentro dele atrav és do vidro da portinhola . J á em 1792 ,
T. Wedgewood , o fabricante de porcelana e antecessor de Darwin , unha
fenô menos da termodinâmica, da radiação e das manifestações el étricas que
acompanham a uniã o de á tomos . Mas qualquer teoria que não levar em
conta esses fen ô menos será evidentemente inadequada . Mesmo
i observado que , quando são aquecidos , todos os corpos se tornam vermelhos
à mesma temperatura . Essa observação r ú stica foi formulada do ponto de
que limite- vista cient í fico e de modo preciso por Kirchhoff , que em 1859 provou pela
mos nossa aten ção aos fenômenos distintamente termodinâmicos , não .
fugiremos às dificuldades em quest ões t ão simples como os graus de I termodinâmica que a proporção entre emissividade e coeficiente de absor -
liberdade de um g ás diatômico . Ê conhecido o fato de que , embora a teoria | ção é uma fun çã o apenas da frequ ência e da temperatura e independe da
determine para o gás seis graus de liberdade por mol écula , em nossas natureza do corpo . Para um corpo negro que tenha um coeficiente de
experiências sobre calor espec í fico , não podemos contar com mais de cinco . | j absor ção 1 , o poder emissor depende apenas da temperatura e da frequê n -
Certamente , quem basear seu trabalho em hipó teses relativas à constituição i cia , pouco importando de que modo o corpo negro é obtido na prá tica . A
da matéria estará construindo alguma coisa sobre um alicerce inseguro . Figura 4.2 mostra um aparelho cl ássico usado pelos fisicos do Reichsanstalt
Dificuldades desse tipo já dissuadiram o autor de tentar explicar os para medir a emissividade de um forno fechado mantido a determinada
mistérios da natureza e forçaram - no a satisfazer -se com o objetivo mais temperatura .
modesto de deduzir algumas das propostas mais ó bvias relacionadas com o Podemos facilmente avaliar que a descoberta da lei que rege a
ramo estat í stico da mecâ nica . Neste ponto , n ã o pode haver erro quanto ao emissividade de um corpo negro constitui problema importante . O fato de
consenso das hipóteses com os fatos da natureza , pois não sc pressupõe nada independer da natureza do corpo indica um cará ter geral do resultado , mas
T a esse respeito . Ò ú nico erro em que se pode cair é a falta de consenso entre as mesmo os cientistas que trabalhavam nessa área não podiam suspeitar que
premissas e as conclusões e isso com certo cuidado , pode - se basicamente consequ ê ncias amplas e fundamentais viriam a ter as pesquisas sobre a
tentar evitar ” . emissividade de um corpo negro .
Qual o ponto de vista da termodinâmica a respeito da emissividade do
corpo negro ? O primeiro e mais importante resultado é a lei de Kirchhoff
Um Problema Abrangente : o Corpo Negro citada acima . Tal resultado poderia ir mais al é m ? Em combinação com a
teoria eletromagn é tica , poderia proporcionar maiores detalhes . A emissivi -
H á um outro problema um tanto semelhante à distribui ção da dade total tinha de ser proporcional à quarta pot ê ncia da temperatura , o que
velocidade de uma molé cula de gás - o problema do corpo negro . A havia sido descoberto experimentalmente pelo f í sico austr í aco J . Stefan
( 1835 - 1893 ) em 1879 e , em 1884 , Boltzmann obteve esse resultado ao
termodinâmica cl ássica pode indicar algumas importantes limitaçõ es à sua
solu ção , mas não pode resolv ê- lo completamente . Alguns fisicos experimen - combinar a termodin â mica com a teoria da eletricidade de Maxwell ( vide
tais de renome , como Heinrich Rubens ( 1865 - 1922 ) , Ernest Pringsheim Ap ê ndice 1 ) .
Outro passo foi dado por W . Wien em 1893 . Conseguiu ele , mais uma
( 1859 - 1917 ) e Otto Lummer ( 1860 - 1925 ) , do Physikalisch Technische
vez atrav é s da termodin âmica combinada com a teoria de Maxwell ,
Reichsanstalt de Berlim ( o equivalente alemão do íf ureau Nacional de Padrões demonstrar que a emissividade era o produto do cubo da frequê ncia
dos EUA ) , já estavam trabalhando nessa área na virada do s éculo , bem como
outros fí sicos teó ricos de outros locais , como W . Wien , Lorde Rayleigh ej . H .
multiplicado por uma fun ção do quociente da frequ ê ncia dividida pela tem -
peratura . A partir da lei de Wien , torna - se fá cil deduzir a lei de Stefan . A lei de
Jeans . Acima de tudo , um termodinamicista cl á ssico de realce, Max Planck , a Wien nos conduz at é onde é poss í vel ao combinar a termodin â mica com a
f .t
70 Planck, um Revolucion ário Obstinado: A Id é ia da Quantiza ç ao Planck , um Revolucion á rio Obstinado: A Id é ia da Quantiza çao 71
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Figura 4 2 ( a ) Aparelho para medir a imensidade da radia çã o infravermelha emitida do
Jrr N i
( corpo negro ) .
forno K v d
A
/
W-
teoria de Maxwell sem introduzir hipó teses mais detalhadas . O fato é que fa - \ d ittl
-
0
. Kl . tlnrL.Jtuu*r
lharam todas as tentativas de encontrar a f ó rmula exata para a emissividade ,
inclusive tentativas importantes feitas pelo pr ó prio Wien . Os resultados obti - k
••
/
/ *i ' MtZ ikari
t ifuA iffji
dos eram incompat í veis com a experi ê ncia , à s vezes at é absurdos , porque pre - 'JCmjr Àn
V
t nrw .váairkjtrji yy
viam uma emissividade total infinita . Em lugar da emissividade , quase sempre F O O G f
/
conv é m examinar a densidade de energia no volume do corpo negro , P
por A
exemplo , dentro de um forno. A densidade de energia també m pode ser 1
analisada com rela çã o à frequ ê ncia , e a densidade de energia é simplesmen -
h
te proporcional à emissividade ; o fator de proporcionalidade é ATTIC ,
onde c é /
a velocidade da luz. /
(b)
Max Planck ( b ) Curvas de emiss à o do corpo negro a uma frequê ncia constante e temperatura vari ável ,
comparadas com dados experimentais . ( De H Rubens e F . Kurlbaum , em Annalen der Physik 4 ,
Agora passemos a Max Planck ( Figura 4.3 ) , que viria a dar um passo 649 ( 1901 ) .!
decisivo ao descobrir a lei da emissividade e, atrav é s dela , abrir novos e
insuspeitados campos em toda a f í sica . Planck nasceu em 1 8 de abril de 18 58,
em Kiel , Alemanha , descendente de uma fam í lia de advogados
e ministros duas celebridades : Kirchhoff e Helmholtz . O primeiro dava aulas perfeitas e
protestantes . O pai era renomado professor de Direito . Os Planck de alto n í vel que , vez por outra , provocavam sono nos estudantes . O
tons -
titulam exemplo das melhores qualidades dos alem ã es: a honestidade segundo n ã o preparava as aulas de modo satisfat ó rio e era muito dif í cil
dedica çã o ao dever e talvez tamb é m uma certa rigidez de cará >
dade , matriculou -se na de Berlim , onde frequentou cursos de universi - gg ão para várias gera çõ es de fí sicos . Max Planck , entretanto , n ão sabia que
m i n i s t r a d o », n n r Gihhs c p m r e o n a r a a o\ p A ^ v á rias formas O n o r t e - a m e r i c a n o rinha
/ 1* idiius um Revolucion ário Obstinado : A Ideia da Quantizaçã o 1 lanuq um Revolucion á rio Obstinado: A Ideia da Quanuza ção 73
^
autobiografia , ele registra que Helmholtz o elogiou em duas ocasiões: por sua 8 - kT
u { v ,T ) = r
teoria de solu çõ es e poi seu elogio a Hertz .
A dedicaçã o de Planck a quest õ es b á sicas e gerais levou - o a envolver - se
conforme Rayleigh acentuou . Essa lei n ã o parecia concordar com dados
no problema do coipo negro , que era independente de modelos ató micos ou
experimentais e, al é m disso era obviarnente indefensá vel porque a
de outras hipó teses espec í ficas . Planck idolatrava o absoluto c o corpo negro
pot ê ncia emissiva total , integrada em todas as frequ ê ncias , seria infinita .
eia o absoluto .
74 Planck , um Revolucion á rio Obstinado: A Id éia da Quantizaçà o Planck, um Revolucion á rio Obstinado: A Id é ia da Quantizaçào 76
^
No inicio de seu trabalho , Planck desejava achar a prova para uma
Os osciladores hertzianos da parede do corpo negro t ê m urna certa
f ó rmula proposta por Wien : u { v ,T ) = A e - 11 que aparentemente estava
^
em conson â ncia com dados experimentais . Como mestre em termodin
â mi -
distribui çã o de energia e uma distribui çã o de entropia . hm equ í brio , a
entropia tem de ser m áxima e pode ser calculada estatisticamen te com o uso
ca , ele postulava uma express ã o para a entropia dos osciladores que daria da equaçã o fundamenta] de Boltzmann . Para calcular a probabilidade por
a
f ó rmula de Wien , e tentou mostrar que sua escolha , que obedecia à s exig ê n - m é todos de an álise combinató ria , Planck achou conveniente dividir a
cias da termodin â mica , era muito especial . energia de um oscilador em quantidades pequenas , mas finitas , de modo
Nesse meio tempo , algumas experi ê ncias começ aram a lan ç ar d ú vidas que a energia dos osciladores pudesse ser registrada como £ = Pc , onde P é
sobre a fó rmula de Wien . No Reichsanstalt os f ísicos estavam chegando à um n ú mero inteiro. Com essa hip ó tese , Planck p ô de calcular a energia
conclus ã o de que a baixas frequ ê ncias , para a radia çã o infravermelha , as m édia de um oscilador e , assim , chegou à fó rmula do corpo negro . Planck
diverg ê ncias eram maiores do que erros experimentais poss í veis . Planck confiava em que c podia tornar - se arbitrariament e pequeno e que a
inteirou - se desses resultados e tentou alterar sua express ã o para a decomposi çã o de £ em quanridades finitas seria apenas um artif í cio de
entropia
da radia çã o , generaJizando - a ( vide Ap ê ndice 2 ) . A partir da nova express ã o , cálculo . Mas , para que os resultados combinassem com a lei termodin â mica
voltou a calcular a emissividade e descobriu uma fó rmula , que foi divulgada , de Wien , c tinha de ser finito e proporcional à frequ ê ncia do oscilador
em 19 de outubro de 1900 , no Semin á rio de Fí sica da Universidade de
Berlim . Nesse mesmo dia , Rubens e Kurlbaum confrontaram a fó rmula de e = hv
Planck com os resultados de suas pr ó prias experi ê ncias e chegaram à
conclusã o de que se encaixavam perfeitamente . Planck tinha descoberto a onde h é uma nova constante universal , denominada apropriadamen te
f ó rmula do corpo negro . Talvez fosse apenas uma feliz interpola çã o mas constante de Planck .
aparentemente n ã o havia erro . Dessa maneira , a densidade de energia no corpo negro torna - se
No entanto , era preciso justificá - la do ponto de vista teó rico . Planck
declarou o seguinte no seu discurso pelo Pr é mio Nobel , vinte anos mais 8 7T V * h
tarde:
u ( v, 7 )
'
~
rl e hulkT
_
“ Mas , ainda que a f ó rmula da radia çã o estivesse perfeita e irrefuta -
^
velmente correta , teria sido , afinal de contas , apenas uma fó rmula de onde hv é uma quantidade finita , um quantum de energia . O oscilador
interpola çã o descoberta por um feliz acaso do raciocí nio e isso nos teria harm ó nico n ã o podia ter nenhuma energia conforme ensinado pela
deixado relativamente insatisfeitos . Em consequ ê ncia , a partir do dia da eletricidade e pela mec â nica cl á ssica , mas apenas valores discretos m ú ltiplos
descoberta , dispus - me a dar - lhe uma interpreta çã o f í sica , o que me levou a integrais de hv . A fó rmula de Planck para hvlkT < 1 d á uma ex-
examinar as rela çõ es entre entropia e probabilidade segundo os conceitos de press ã o aproximada do limite cl á ssico descoberto por Rayleigh ; para
Boltzmann . Ap ó s algumas semanas do mais intenso trabalho que j á realizei hvlkT !> 1 , d á a fó rmula descoberta por Wien em 1893 e , para os casos inter -
na vida , as coisas come çaram a clarear e visõ es inesperadas reveleram - se a medi á rios , discorda de ambos , mas , naturalmente, apó ia - se nas medidas
distancia ” . [ Les Prix Nobel en 1920. ) experimentais ( vide Figuras 4.1 b , parte interna , e 4.2 - b ) .
O que é que Planck tinha feito ? Primeiro , sem nenhuma dificuldade , O resultado é revolucion á rio . Um juiz competente e nada t í mido como
achaia a express ã o da entropia da radia çã o , correspondente à sua f ó rmula Einstein disse o seguinte a respeito:
“ Todas as minhas tentativas de adaptar as bases te ó ricas da f í sica a essas
para // ( t ' , 7 ) , tendo , por é m , de justificá - la depois . Enquanto lidava com a
termodin â mica cl á ssica , Planck estava pisando em terreno conhecido, novas no çõ es fracassaram integralmente. Era corno se o ch ão tivesse sido
terreno no qual era mestre ; mas a tarefa extrapolou os limites da termodi - arrancado de debaixo dos p é s de algu é m e esse alguern n ã o visse nenhuma
n âmica cl á ssica . Era preciso fazer uso dos m é todos de mecânica estat í stica , -
base firme onde pudesse apoiar se ” . (Schlipp , Albert Einstein, Pkilosopher -
com os quais estava menos familiarizado e , acima de tudo , nos Scieniisl , p . 45 . )
quais tinha
muito menos confian ça . Mas era a ú nica maneira de poder prosseguir . Era evidente que a teoria nem era um pesadelo nem uma fantasia ,
Entre a entropia e a probabilidade ( deixando - se de lado algumas s é rias porque as consequ ê ncias experimentais foram abrangentes , corretas e
dificuldades na defini çã o de probabilidade ) est á a rela çã o antes desenvol - concretas . Desde o primeiro trabalho , Planck salientou que da lei de Stefan e
vida por Boltzmann ( e gravada em sua sepultura , em Viena ): da lei termodin â mica de Wien é poss í vel inferir as duas constantes
universais £ ç k , e destas , a carga do el éctron , o n ú mero de Avogadro e muitas
\ outras coisas . No documento de Planck de 1900 , achamos /? = 6 , 55 x IO 27 '
S = klog \\/ erg - sec . ç k = 1 , 346 x IO 16 erg . / 0 C ( Figuras 4.4 e 4.5 ) . Hoje sabemos que
'
welche rum Wien 'schen Euergieverteilungsgesetz fllhrten , daa - mann k . Abaixo , os valores numéricos dch e item 1900 (fórmulas ( 15) e ( 16)) . Usando esses
jenige Glied ausfindig zu machen , welches einer Ab & nderung e
n ú meros , pode -se obter os valores num éricos da carga do el éctron , do n ú mero de Avogadro
dc outras constantes universais da física . Esses valores mantiveram - se inigualados durante
f à hig ist ; eodann aber wird es sich darutn haudeln , dieses
Glied aus der Reihe zu entfernen und einen geeigneten Ersatz muitos anos .
daf ú r zu schaffen .
Dass die physikalischen Grundlagen der elektromagnetischen
Strahlungstheorie , einschliesalich der Hypothese der „ natllr -
licben Strahlung 1* , auch einer gesch â rften Kritik gegenUber
Stand halten , habe ich in ineinem lotzten Aufsatz 4) Uber diesen
Hieraua und aua ( 14 ) ergeben sich die Werte der Natur-
—
0' *
Figura 4.4 . A pá gma - ti - 1) 0 L u m m e r u , E. P r i D g n h e i m , Verhaodl. der Deutach . Pbysiksl . constanten :
tulo do artigo de Max .
Geeellach . 2 p. 168. 1900. ( 15) A 6 , 55 . 10 - 77 erg . sec ,
Planck publicado em .
2 ) H . R u b e n a u n d F. K u r l b a u m , Sitzuugsber . d k . Akad . d .
Annalen der Physik ( 4 , 553
( 1901 ) ] , no qual acons -
.
Wiaaenacb zu Berlin vom 25. Oclober 1900, p. 929
. -.
.
3) H . B e c k c n a n n , Inaug. DilserUtioa , TlibiogCu 1898. Vgl. auch
(16 ) * .
= 1 , 346.10 ~ u .
gr*d
H . R u b e n a , Wied. Aon. 69 . p 582 . 1899. Das sind dieselben Zahlen , welche ich in meiner frtiheren
^
tante aparece pela pri -
meira vez , assinalando
o nascimento da fí sica
.
Aooftlan d » r Phyilk. IV . Folj*. i .
.
4 ) M . P l a n c k , Ano d . Phyo . 1 p. 719 . 1900 .
38
Mitteilung angegeben habe.
.
1) O. L a r a a e r a n d E. P r i n g a h e i m , Verh &ndl der Deatacben
qu â ntica . .
Physikal. Genelbacb. 2 p. 174. 1900.
( ELngegnngen 7 . Junir 1901.)
Em 1931 , o f í sico norte - americano R . W . Wood perguntou - lhe como norte - americanos a enviarem um carro para transport á - lo a um lugar
tinha inventado algo t à o incr í vel como a teoria dos quanta . Pianck respondeu relativamente seguro , em G ò itingen . Pianck sobreviveu à guerra e a
o seguinte : Alemanha , tentando demonstrar que estava emergindo da barb á rie , con -
“ Foi um ato de desespero . Durante seis anos Fiquei lutando com a cedeu - lhe diversas honrarias . Preparou -se uma grande solenidade para
celebrar seu 90° anivers á rio , m s ele morreu poucos meses ames , em 4 de
teoria dos corpos negros . Era preciso que eu descobrisse uma explica çã o
teó rica a qualquer pre ço que n â o fosse a inviolabilidade das duas leis da outubro de 1947 . ^
termodin â mica ” . ( Armin Hermarm , The Genesis of Quantum Theor- y ( MIT Press ,
1971 ) , p . 23 . ]
Ao final de sua vida , ele fez outro comentá rio:
“ Minhas tentativas in ú teis no sentido de conciliar de alguma forma o
quantum elementar com a teoria cl á ssica prosseguiram durante muitos anos
e me custaram um grande esforço . Muitos de meus colegas viram nisso quase
que uma tragédia , mas o meu enfoque era diferente porque o profundo
aperfei çoamento de meus conceitos , resultante desse trabalho , significou
muito para mim . Agora tenho certeza de que o quantum de a çã o tem um
significado muito mais fundamental do que eu imaginava antes ” .
Mesmo no in í cio , poré m , Pianck tinha consci ência da import â ncia de
sua descoberta : conta - se que , durante um passeio , ele dissera ao filho ter
descoberto qualquer coisa digna de um Newton .
Com o passar do tempo , Pianck tornou -se um dos fí sicos alem ã es mais
considerados. Foi secret á rio da Academia Prussiana de Ci ê ncias , e um dos
mais renomados representantes das ciê ncias na Alemanha . Einstein , apesar
de n ã o sentir a menor simpatia pelas condi çõ es da Alemanha de ent ã o , tinha
profundo respeito por seu colega , mesmo que os enfoques pol í ticos e
cient í ficos de ambos fossem totalmente opostos . A amizade entre os dois foi
—
refor çada pelo amor que ambos devotaram à m ú sica que eles tocavam
juntos. Al é m de sua emin ê ncia cient ífica , o cará ter de Pianck inspirava
respeito em todo o mundo . Conservador arraigado , viu -se compelido
pela for ç a dos fatos e pelo rigor da l ógica a promover uma das maiores
revolu çõ es na filosofia natural .
Sofreu rudes golpes no decorrer de toda a sua vida . Sua primeira
mulher morreu em 1909 e dos quatro filhos que teve com ela , tr ês morreram
durante a Primeira Guerra Mundial (o mais velho morreu no front e as duas
filhas casadas morreram de parto ). Mais tarde ele casou - se de novo e teve
outro filho . Com setenta e cinco anos de idade , assistiu à ascens ã o de Hitler .
Para um patriota alem ã o como ele, foi um golpe s é rio. A pedido de amigos e
colegas , Pianck aceitou a presid ê ncia da Kaiser Wilhelm Gesellschaft ,
atualmente chamada de Sociedade Max Pianck , institui çã o importante que
prestou apoio a boa parte da ci ê ncia alem ã . O fardo era pesado e , naquelas
circunst âncias , bastante desagrad á vel , mas Pianck considerou ser de seu
dever tentar salvar o que fosse poss í vel . Chegou a falar com Hitler na
esperan ça de conseguir atenuar algumas das piores aberra çõ es do Fulirer , i
mas foi posto porta afora . Mais tarde, o filho sobrevivente de seu primeiro
casamento foi condenado à morte pelos nazistas por ter conspirado contra
Hider em 1944 . Pianck , que ent ão já estava bem idoso , perdeu a casa em um
bombardeio aé reo e ficou acuado entre os alem ã es em fuga e os aliados que
avan çavam . Um f í sico alem ão ouviu falar de sua situaçã o e convenceu os
Capítulo V
Einstein —
novas formas de pensar:
espaço , tempo , relatividade e os quanta
tempo para pensar sem ser perturbado . Mais tarde , aconselhou os jovens a
procurarem empregos semelhantes , pois , segundo ele , tais empregos davam
tempo para pensar e , por isso , eram os mais apropriados para as pessoas que
tivessem ideias originais . Come çou a escrever artigos sobre f í sica , que
enviava para os Annalen der Physik , ent ã o sob a direçã o de W . Wien , já famoso
por seus estudos sobre o corpo negro . Apresentou um trabalho em 1901 ,
dois em 1902 , um em 1903 e um em 1904 . Eram estudos profundos na á rea
da termodin â mica e da mecânica estat í stica . Mas, sem que Einstein o
soubesse , o trabalho já tinha sido realizado por Gibbs ; coisa parecida
ocorreu com o de Planck alguns anos mais tarde .
Em 1905 , o g ê nio de Einstein eclodiu com uma luminosidade
insuperada . Em março , maio e junho ele escreveu tr ê s obras , cada uma das
quais sozinha , teria sido suficiente para imortalizá- lo . Somente Newton , aos
vinte e tr ê s anos de idade , confinado pela praga que devastava sua aldeia de
—
Woolsthorpe , tivera um vigor semelhante . A primeira obra Ú ber einen die
Erzeugung und Verwandlung des Lichies berrcfenden heuristischen Gesichtspunkt ( Um
—
ponto de vista heur í stico sobre a gera çã o e transforma ção da luz ) conté m a
descoberta dos quanta de luz e , como aplicaçã o secund á ria , a explicação do
efeito fotoel é trico ( Figura 5.2 ) . A segunda - Ú ber die von der Molekularkine -
tischen Theorie der W àrme Geforderte Bewegung von in ruhenden Flussigkeiten suspen -
dierten Teilchen (Sobre os movimentos de part í culas suspensas em l í quidos em
repouso conforme a teoria cin é tica do calor ) — cont é m a teoria do
movimento browniano , mostra mais uma vez a exist ê ncia real dos á tomos e
determina a constante de Boltzmann de urna nova maneira . A terceira
Figura 5.7. Albert Einstein ( 1879 - 1955). Foto daiada do perí odo em que
trabalhava
federai de patentes em Berna e escreveu as obras imortais que foram publicadas no escni ó riu
( Figura 5.3 )— Zur Elektrodynamik bewegter Korper ( Sobre a eletrodin â mica dos
Physik em 1905 . nos Annalen der
—
corpos em movimento ) cont é m a teoria espec í fica da relatividade , da qual
sai a famosa fó rmula E = mc 2 que é praticamente tudo o que o p ú blico
sabe a respeito de Einstein . A verdade é que h á algumas pessoas que
acreditam que esse é “ o segredo da bomba at ó mica ”! É um segredo , no
categoria , mas aprendeu muito pouco com eles, que nem chegaram a dar entanto , que n ã o mais existe , da mesma forma que o unicó rnio: ambos s ã o
conta de sua presen ça . No entanto , Einstein já tinha dado
- se
in ício a $uas produtos da imagina çã o .
medita çõ es solitá rias sobre os grandes problemas da f í sica moderna , unindo Essas obras , sobre temas diferentes , t ê m alguma caracter í stica em
à inspira çã o informa çõ es retiradas de suas pró prias leituras .
Fez amizade comum que deriva da personalidade cient í fica de Einstein . S ã o revolucio -
com um colega de estudos , Mareei Grossmann , um su íço que n á rias , abertas e fazem uso de m é todos matem á ticos simples . Ele alcan ça
depois veio a resultados inteiramente surpreendentes aplicando uma l ógica rigorosa ,
ser um professor de matem á tica de respeitável reputação.
Einstein gostava solidamente baseada em experi ê ncias .
mais do laborató rio de f ísica prá uca , onde podia ver fenô menos
com seus
pró prios olhos , do que dos s í mbolos matem á ticos.
Ao graduar-se, teve dificuldade em encontrar Relatividade
emprego ;
trabalhou como professor subsrituto e dava aulas particulares de fde in í cio ,
ísica . Ern
1902, a fam í lia Grossmann conseguiu -lhe um emprego Primeiro tratarei da terceira obra , sobre relatividade . Dela emergiram
tó rio federal de patentes no Cantão de Berna .
modesto no escri - gTandes consequ ê ncias pr á ticas que v ã o do equil í brio da energia em uma
Mais ou menos nessa é poca , bomba at ó mica bem como no Sol , at é a din âmica necess á ria à constru çã o de
Einstein casou -se com Mileva Maric. Tiveram dois filhos ,
ser professor altamente conceituado de engenharia daum dos quais veio a grandes aceleradores de part í culas . Acima de tudo , esse documento
Califó rnia, em Berkeley . Universidade da provocou uma revolu ção em nossos conceitos de tempo e espa ço . Durante
s éculos , os fil ó sofos tinham tentado analisar esses conceitos sem nunca
u
O emprego no escrit ó rio de patentes servia perfeitamente &
( Figura 5.1 ). Enquanto se desincumbia de suas fun para Einstein chegarem a resultados tio profundos e tão definitivos quanto os de Einstein .
çõ es no escrit ó rio , Para facilitar o entendimento desta e de outras obras de Einstein ,
examinando as inven ções que lhe eram encaminhadas , tamb m
é achava precisarei fazer uma breve digress ã o a respeito da luz. O estudo cient í fico da
84 Einstein Novas Formas de Pensar: Espaço, Tempo,.. .
Einstein - Novas Formas de Pensar: Espaço, Tempo , . . . 85
0. Vber einen
die Erxeugung und Verwandlung des IAchtet 3. Zur Elcktrodgnamik beweejter
K õ rper ;
betreftenden Keui' istischey\ Qesichtspunkt ; von A» Einstein,
. .
von A Einstein
Zwischen den tkeoretiBcken Vorstellungen , welebe sich die
Physiker Uber die Gase und andere ponderable õ
K rper ge -
Di\ B die Elektrodyaftuiik Maxwell
wlrtig nufgefatí t zu werdeu pflegt
—
.— wie dieselbe gegen
in ihrer Anwendung auf
-
bewegte K õ rper zu A » ymraetrien ÍQhrt, welche
bildet haben , und der Maxwellschen Theorie der den Phinomenen
magnetischen Prozesoe im sogenannten leeren
elektro
Raume besteht
- nicbt aiizuhaften sebeinen , ist bekannt Man
die elektrodjnamiBche Wecbselwirkung zwiechen
.
denke z B. an
ein tiefgreifender formaler Unterschied. W â brend
wir uns neten und einem Leiter. Das beobachtbare Phã nomen
einem Mag -
n á mlich den Zustand eines K õ rpers durch die há ngt
Lagen uod Ge
schwindigkeiten eiuer zwar sehr groBen , jedoch endlichen
An -
- hier iiur ab ron der Relativbewegung ton Leiter und
w & brend nacb der Ublicben Auffksiung die
Magnet,
zabl ron Atomen und Elektronen fUr rollkomm beiden Fàlle , dafl
en bestimmt der eine oder der andere dieser K õ rper der bewegte
tei, itreog
anaehen , bedieneu wir uns zur Bestimraung
des elektromag ne- Toneioander zu treonen eind . Bewegt sich nimlicb der
Magnet
tischen Zustandes eines Raumes kontinuierlicher und rubt der Leiter, eo entsteht in der Umgebung de » Magneten
r à umlicher
Funktionen , so íIAB siso eine endliche Anzahl
nicht ala genOgend anzusehen ist zur vollsUlndigen
des elektromagnetischen Zustandes eines
ron Grõ Ben
Festlegung
Raumes. Nach der
I ehi elektrisches Feld ron gewissem Energiewerte , welche»
den Orten , wo sich Teile de» Leiter» befinden , einen
.
erzeugt Ruht aber der Magnet und bewegt ich der Leiter
so entsteht in der Umgebung de» Magneten kein *
an
Strom
,
elektrisches
Feld , dagegen im Leiter ein é elektromotorísche Kraft , welcher
an sich keine Energie entspricht, die aber
—
Gleicbheit der
Relatitbewegung bei den beiden ina Auge gefaBten Fàllen
.
5 Vber die von der molekularkinetischen
der W ãrme geforderte Bewegung von in
Theorie
ruhenden Figura 3.2. Acima, a pá-
orausgesetzt
— zu elektrischen Strõ men ton derselben Gr õ Be
und demselben Verlaufe Veranlaasnng gibt, wie im eraten Falle
Figura 5.J . A terceira
FiasHgkeiten suspendierten Teilchen
; gina - t í tulo do primei-
die elektrischen Krftfte . grande obra de 1905 .
Beispiele ftbnlicher Art, lowie die miBlungenen Versuche,
von A , Einstein . ro dos tr ès grandes tra -
balhos de 1905 , a for-
eine Bewegung der Erde relatir zum ,,Lichtmedium zu kon
“ -
Intitulada "Sobre a ele-
statieren , fuhren zu der Vermutung , dafl dem Begriffe trodin ã mica dos cor -
mula çã o por escrito da der pos em movimento" é
hip ó tese dos quanta de absoluten Ruhe nicht nur in der Mecbanik, sondem aucb in
In dieser Arbeit » oll gezeigt werden , daB nach der molekular o documento sobre a
kinetischen Theorie der W&rme io FlQssigkeiten
K õ rper ron mikroskopisch sicbtbarer Grõ Be infolge der
luspendierte
- luz . O manuscrito ti -
nha chegado aos Anna -
der Elektrodynamik keine Eigenachaften der Erscheinungen ent
sprechen , sondem daB rielmebr fOr alie Koordinatensysteme, - relatividade . Chegou
aos Annalen der Physik
kularbowegung der WUrrae Bewegungen yon solcher
Mole -
Gr õ Be
Un (Ur Physik em 18 de
mar ç o de 1905. Abai-
fUr welebe die inechanischen Gleichungen gelten , auch die
gleichen elektrodynoraischen und optischen Gesetze gelten , wie
em 30 de junho de 1905
c foi publicado no vo -
!
ausfilhren mttasen , daB dieie Bewegungen leicbt mit die» fUr die GrõBen erater Ordnung bereits erwiesen ist Wir
dem xo , o segundo grande lume 17 , p. 891. Os
Mikroskop nacbgewiesen werden k õ nnen. Ee ist m õglich wollen dieae Vermutung (deren Inlia.lt im folgenden „Prinzip
, daB trabalho: a formulaçã o dois artigos anteriores
die hier zu behandelnden Bewegungen mit der por escrito da teoria der RelHtivitiLt“ genannt werden wird ) zur Voraussetzung er -
„Brown »chen Molekularbewegung “ identisch »indsogenannt ; die mir
en
molecular do movi- beben und auBerdem die mit ilim nur icheinbar uiirertrâgliche
foram publicados no
mesmo volume nas pá -
*
erreichbaren Angaben Uber letztere sind jedoch so ungenau mento browniano, re -
, 5' ginas 132 e 549 , respec -
daB ich mir hierttber kein Urteil bilden konnte. cebido para publica- *1
•s tivameme.
2
çã o em 11 de maio de
1905 .
í
w porque duas ondas de fases opostas e de mesma amplitude podem destiuir -
' *.
luz começou na Renascen ça e atingiu o auge na é poca de
Newton e de C .
í se uma à outra — as cristã s de uma enchendo os vales da outra . Mas a
interfer ência n ão pode ser explicada com a teoria corpuscular. Alé m do mais ,
Huygens . Esses dois grandes expoentes dos prim ó rdios da f í sica ós Galileu
tinham formulado teorias conflitantes sobre a luz . Segundo Newton p - a teoria das ondas exige que nos fen ô menos de refraçào a luz seja propagada
, a luz mais lentamente em meios mais densos , enquanto que na teoria corpuscular
era constitu ída de projéteis que se moviam a grande velocidade ;
segundo ocorre o contr ário. També m a esse respeito as experi ê ncias favorecem a
Huygens , era constitu í da de ondas propagadas em um meio bastante i teoria das ondas .
delicado , o é ter . Durante anos , ambas as teorias permaneceram conflita ;
ntes Mais tarde , as equa çõ es de Maxwell , que pareciam quase sobre -
mas , no in ício do s éculo XIX , demonstrou -se que a luz podia í humanas em sua for ça e generalidade , explicaram todos os fen ô menos da luz
mostrar
fenô menos de interfer ê ncia , isto é , acrescentando - se luz à luz , podia- se obter conhecidos . A velocidade da propagação podia relacionar - se com quanti-
escurid ão . Essa ocorr ê ncia é facilmente explicada pela teoria
u
das ondas , dades el é tricas que podiam ser medidas em laborat ó rio por instrumentos
86 Einstein - Novas Formas de Pensar : Espa ç o , Tempo , .. Einstein - Novas Formas de Pensar: Espa ço , Tempo, ... 87
el é tricos como condensadores , galvan ô metros e im ã s , que n ã o pareciam ter outros , procurara dar- lhe urna formula çã o. Lorentz , G . F . Fitzgcrald e
qualquer rela çã o com a luz . Como a luz foi reduzida a vibra çõ es el é tricas do Poincar é tinham dedicado muita aten çã o ao assunto . 1 .o i e n t /. julgava que as
é ter , suigiu o problema de determinar as propriedades do é ter . Em algumas equa çõ es de Maxwell n ã o mamem a mesma forma quando passam de um
teorias , o é ter era dotado de propriedades mecâ nicas espec í ficas , como um sistema de refer ê ncia a outro segundo as regras dadas por Galileu e ,
coeficiente de elasticidade . De qualquer modo , todas as teorias precisavam aparentemente , baseadas no bom - senso . Chamando - se dex a coordenada
de alguma espécie de é ter . de espa ç o e de t o tempo no primeiro sistema ; e dex ' e / ' as quanddades
Se uma fonte de luz ou um observador move - se em rela çã o ao é ter , esse correspondentes no segundo sistema , que se move a uma velocidade v em
movimento deve de alguma forma manifestar -se . No caso do som propagado rela çã o ao primeiro sistema , as equa çõ es de transforma ção de Galileu ficam :
no ar , quando uma fonte se move com a velocidade do som em rela çã o ao ar
em repouso ( mach 1 ) , ocorrem efeitos espetaculares , que j á foram chamados
de barreira do som . Por outro lado , n ão se poderia observar nada que mostrasse
x
t'
=x
= /.
— vt
sua conexão histó rica com o eletromagnedsmo. Relaciona espaço e tempo na e Huygens foram inesperadamente reconciliados por uma profunda
transforma ção de Lorentz ; é a velocidade limite que n ão pode ser superada revolu ção na filosofia natural , que mostrou estarem ambos , em
parte ,
na transmissão de sinais; aparece na conexão entre velocidade , energia e certos .
momentum de um ponto material que tem a massa m em repouso . Essa Planck quantizava a energia dos osciladores que formavam as paredes
conexão é dada pelas fó rmulas E = - v 2lc 2 a p mvl\/ \ - vVc2 A
massa dos corpos , definida como a propor ção entre for ç a=e aceleraçã o , torna -- » de sua vers ã o do corpo negro . Com referê ncia à radiação propriame
p ô de apenas dar a expressão u { v,T ) . Acredito que ele mesmo n ão tinha
nte dita,
se vari ável com a velocidade . A conservaçã o da rnassaj á n ão constitui uma lei
precisa e substitui uma generalização da conserva ção da energia , na qual a
? d ú vidas de que as equações de Maxwell descreviam exatamente
as ondas
eletromagn é ticas que enchem a cavidade. Einstein , no entanto , perguntava -
massa pode transformar - se em energia segundo a f ó rmula
í se se a descrição de Maxwell era compat ível com a fó rmula do
corpo dcT
Planck e chegou à surpreendente conclusã o de que a pró pria luz dnegro êv íãler
composta de quanta quase-corpusculares . N ã o posso deixar de lado seu
wr 2 = E. racioc í nio porque , quando o li, s ú a força e simplicidade me atingiram quase
F í sicos modernos chegaram a descobrir " part í culas ” sem massa , sendo que fisicamente ( vide Ap ê ndice 3) .
a mais not ável o quantum de luz ( vide mais adiante) . Para essas part í culas , Einstein observou que a derivação de Planck , ao consideraras trocas de
E = cp , e elas se movem com a velocidade da luz em Relaçã o a qualquer sistema energia entre osciladores e radiaçõ es , " pressup õe implicitamente que a
inercial . energia pode ser absorvida e emitida pelo oscilador isolado apenas em
Os novos conceitos desnortearam os f ísicos . Mesmo um grande físico quanta de magnitude hvy isto é , que a energia de uma estrutura mecâ nica
teó rico como H . A . Lorentz , que achara a transformaçã o b ásica capaz de oscila çõ es , bem como a energia da radiação , pode ser transferida
para a apenas nesses quanta , em contradi çã o com as leis da mec ânica e da
relatividade , teve dificuldade para aceitar as novas id éias . N ão que a
matem á tica apresentasse um obstáculo : as dificuldades nesse campo eram eletrodin â mica ” .
A f í sica cl ássica leva - nos inevitavelmente ao enfoque Rayleigh -
m í nimas . A barreira estava na verdadeira forma de pensar e , em conse - Jeans da
fó rmula de Planck . É v á lido para hvfkT < 1 , e nela h n ã o aparece . Para
i
90 Einstein - Novas Fornias dc Pensar: Espa ç o , Tempo , .. . Einstein - Novas Formas de Pensar: Espa ço , Iempo, . .. 91
Um estudante de f ísico -qu í mica origin á rio de rica fam ília de Praga 9 para a depend ê ncia de temperatura do calor especí fico representando
-
uniu -se a Einstein. Tratava se de Otto Stem ( 1888 1969 ) , sobre quem falarei
- 1 á tomos em cristais como osciladores de determinada frequ ê ncia ( vide
mais adiante . Stern tinha -se dado conta de que Einstein era o f í sico do Apê ndice 6). Segundo a teoria dos quanta ,eles só poderiam ter a energia nhv
futuro, 1
ou melhor, do presente, e aproveitou -se de sua pr ó pria independ ê ncia corn n como n ú mero inteiro. Se hv < kT , estaremos no dom í nio da f ísica
financeira para estudar e trabalhar com ele. Este é outro exemplo do inter - | clássica e os osciladores ter ão a energia m édia de 3kT. O calor ató mico , isto é,
relacionamento das carreiras de muitos dos grandes f ísicos. o calor especí fico referente a um á tomo , é 3k , conforme Dulong e Petit ti -
Por esta é poca, Einstein já se unha tornado um f ísico importante do nham achado . Se , entretanto , kT < hv , a quantização torna -se apreci á vel e
ponto de vista profissional . Em 1909 , em uma reuni ão realizada em “
j obteremos um calor espec í fico muito diferente do clássico . Do ponto de vi ' a
Salzburgo , conheceu Planck, Wien , Sommerfeld , Rubens , Nernst e outros qualitativo quando os osciladores são altamente estimulados , a adição de um
grandes físicos modernos. Sentiu prazer em debater frente a frente com quantum de energia produz uma mudança energética que é pequena e *
todos eles . Antes disso , poré m , já tinha aperfei çoado suas ideias de 1905. comparaçã o à energia já existente no oscilador e aí n ã o estaremos muito
Conforme mencionei acima , ao calcular a entropia da radiação e adotar longe do caso cl ássico , que pressupõe mudar continuamente a energia . Para
a lei de Wien para u { v,T ) , Einstein concebera a ideia dos quanta de luz e que tal situaçã o ocorra, a temperatura do ambiente em volta do oscilador
relacionara -a com provas experimentais. A entropia da radiação está deve ser tal que kT t> h v. Na realidade a energiado oscilador será ent ão kT cm
infimamente vinculada à flutua ção da energia contida em um determinado tennos brutos , o que é muito , se comparado com os poss í veis saltos de
volume e a hipó tese dos quanta de luz fornece uma expressão bastante j energia hv. No caso extremo e oposto kT < h v aagita ção pela temperatu -
simples para tais flutuações . O que acontece se se efetuam os cálculos n ão ra é insuficiente para produzir saltos dê quanta no oscilador, que, assim , se toma
usando alei aproximada de Wien , que s ó é v álida sehvt> kT , mas alei exata de incapaz de absorver energia do ambiente em torno. O comportamento do
Planck ? Einstein fez o cálculo rria ís uma vez e conseguiu uma fó rmula oscilador é dominado por suas propriedades qu ânticas e o calor espec í fico
notá vel para a flutuação da energia contida em um volume fixo e em certo desaparece .
intervalo de frequ ê ncia em torno de v. .; A teoria foi aperfei çoada por P. Debye e outros e está em conson â ncia
Einstein achou dois tennos que tinham de sei somados ( vide Apê n - com dados experimentais.
dice 5). O primeiro é um term fido em 1905 com a fó rmula de Wien Tais considerações são importantes porque mostram que a constante
e é perfeitamente análogo à expii ^ áo da flutuação do n ú mero de mol é culas h desempenha um papel vital na mecâ nica das mol éculas e dos á tomos . O
gasosas e * m volume. Indica a estrutura granular da energia radiante e ê xito desses conceitos serviu para despertar mais interesse ainda oelns
confirrn ' £ “ wA isto é, que a luz se comporta como se fosse composta conceituar ' ’ qu ânticas , que ainda se restringiam a um c í rculo inuuo
*
de qua ^
J . energia e - hv . A segunda expressã o , por outro lado , é reduzi d ' ' lados .
exatanu iue a que se obteria . artir da teoria eletromagn é tica pura e é
causada pela interferê ncia com tiva ou destrutiva das ondas . O fato digno A Ordem entra em Derrocada e o Espaço é Curvo
\I
—
de nota da presen ça de ambos ii • ca a natureza dual da luz ondulat ó ria e
Em lizou -se a primeira s é rie de Confer ências do Cons : .
corpuscular. As id é ias de Newton e de Huygens , que pareciam exclusivas
entre si , s ão confirmadas . Conforme Einstein escreveria em 1909:
| Solvay so .
•
“ E inegável que existe um extenso grupo de dados relacionados à nome de E inventor de um m é todo industrial para a preparaçã o
radia çã o que mostram ter a luz certas propriedades fundamentais que f de carbonate • > " soda . Solvay instituiu e Financiou uma sé rie de
podem ser entç udidas muito mais facilmente a partir do ponto de vista da encontros inte u i obre f í sica , com temas preestabelecidos , para os
teoria newtorm . ia de admissão do que a partir do ponto de vista da teoria i quais se c o n v i d a o mdes físicos relacionados à área escolhida . As
ondulatória. Portanto , sou de opini ão que a pr ó xima fase do desenvolvi - conferê ncias , limitadas a de trinta pessoas , tinham lugar em Bruxelas . A
mento da Física teó rica nos trará uma teoria da luz que pode ser interpretada l) orientaçã o dos debates i . laçã o de convidados para o primeiro deles foram
•
-
t .s como uma espé cie de fusã o das teorias ondulató ria e da emiss ã o ... ” - elaboradas em grande pane por H . Walther Nernst ( 1864- 1941 ) , professor de
Enquanto isso , em 1907 , Einstein tinha descoberto outra importante f í sico-qu í mica em Berlim , um dos principais termodinamicistas da é poca e
aplica çã o das id éias do quantum . Em 1819 , P. L. Dulong e A . T. Petit tinham uma força da ci ê ncia alem ã. Nernst tinha descoberto um teorema impor -
anunciado que , segundo seus cálculos , " Les atomes dc tous les corps simples ont 4 tante, às vezes chamado de terceiro princí pio da termodin âmica , segundo o
exactement la même capacitepour la chaleur" ( “ Os á tomos de todos os elementos qual a entropia de qualquer subst â ncia pura ao zero absoluto era a mesma :
t ê m exatamente a mesma capacidade t é rmica ” ] , e Boltzmann tinha explicado zero . Seu teorema tinha profundas ra í zes na teoria qu ântica. Em razã o de
esse í ato com o princí pio da eq ui parti ção da energia . No entanto , quando se suas altas qualifica çõ es em f ísica e lingu í stica e de suas habilidades
tornou poss í vel medir calores espec í ficos a baixas temperaturas , graças á diplomá ticas e prest ígio geral , H . A . Lorentz era um convidado permanente
disponibilidade de ar l í quido e a outros m é todos criogê nicos , descobriu - se e quase sempre atuava como presidente do encontro. O n ú mero restrito de
que a lei de Dulong e Petit tinha muitas exceções . Einstein forneceu a razã o participantes e o n ível dos convidados asseguravam debates ardentes e
yt tmstein - Novas Formas de Pensar: Espa ço, 1 empo,..
'
/ .
importâ ncia em astrof í sica e cosmologia . É aqui que a relatividade geial fel
A
1.
recebe a parte que lhe cabe e se toma indispensá vel para descrever e
interpretar as observa çõ es astron ó micas. &
Em 1917 , Einstein publicou outra obra de grande importâ ncia uma
nova e bem simples deriva çã o da lei do corpo negro , que d á condnuidade a
conceitos bastante profundos . A emissão de luzjá n ão era considerada de um
ponto de vista maxwelliano . Pela primeira vez , leis estatísticas , as mesmas
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convites , mas as palestras eram interromp idas por seus adversá rios e
transform adas em torpes demonstra çõ es pol í ticas . Einstein n ào tinha muito
autocontro le e reagia atrav és da imprensa de uma maneira que , segundo Figura 5.8. Arthur Holly Compton (1892- 1967 ), em foto tirada por F. Rasetti durante uma ex-
seus curs ã o ao lago de Como organizada para os participantes do Congresso Volta cm 1927 . Em
amigos mais í ntimos , n ão era absolutam ente a ideal .
A situação tomou um rumo dif í cil , pois os extremista s n ã o hesitavam .
1922 Compton tinha feito estudos experimentais sobre colis õ es f ó ton - el é ctron . ( Cortesia de
F. Rasetti . )
em assassinar os inimigos . O assassinato de W . Rathenau , Ministro dos
Negócios Estrangeir os da Rep ú blica de Wcimar, foi uma advert ê ncia a
respeito do que poderia acontecer . Tratava -se de um grande patriota e Figura
ilustre da ind ú stria alem ã que trabalhara infatigá vel e proveitosa rnentc em opunha a representar o papel do grande cientista e era evidente que gostava
favor da organiza ção da economia de guerra e depois fora elevado ao cargo disso . Talvez esse fato explique algumas de suas afeta çõ es , sua maneira
de ministro . Era amigo pessoal de Einstein e sua rnorte, bem como a dos estranha de vestir -se e alguns h á bitos que podem ter sido um tanto
socialistas K . Liebknech t e Rosa Luxembur go , e de outras figuras notá veis , exibicionis tas . Afinal de contas , era admirador e amigo de Charles Chaplin .
era apenas um prel ú dio do que viria a acontecer durante a era nazista . Mas nenhuma dessas atividades desviava Einstein de seus estudos mais
Einstein j á estava -se sentindo saturado e iniciou uma longa viagem pelo s é rios . O ano de 1922 fora testemunh a de outra confirmaçã o espetacula r de
mundo . Os amigos , Planck , von Laue e outros , insistiam em que ele n ã o seus conceitos sobre os quanta quando o í f sico norte- americano Arthur Holly
deveria abandonar a Alemanha num per íodo dif í cil como aquele e que n ã o Compton ( 1892 - 1967 ; Figura 5.8 ) descobriu que os raios X eram espalhado s
deveria aceitar nenhuma das in ú meras propostas que vinha recebendo do por el é ctrons livres como part í culas com uma energia /? vc com um momento
exterior . Leyden atra í a - o de maneira bastante peculiar tanto por causa de sua h vfc . conforme Einstein havia predito . Particularm ente, o quantum difundido
amizade com Ehrenfest quanto por causa da insist ê ncia de Lorentz em que tinha uma frequ ê ncia diferente , que variava de acordo com o â ngulo dc
ele ali se fixasse . Mas, ao final da viagem , Einstein voltou a Berlim depois de difusã o . Eram fatos que a teoria ondulató ria n ão poderia explicar .
ter estabeleci do rela çõ es pessoais nos Estados Unidos e em outros pa í ses . A A dualidade onda - corp ú sculo da luz estava -se tornando cada vez mais
situaçã o parecia ter - se acalmado um pouco por volta de 1924 , e ele passou a evidente quando um f ísico indiano desconhec ido, Satiendran ath ( S . N . ) Bose
levar uma vida social relativame nte ativa . Em casa , recebia grande variedade ( 1894 - 1974 ) , apresentou um manuscrito a Einstein em busca de sua opiniã o .
de pessoas , inclusive o pintor Sleevogt , o m édico Plesch , o qu í mico F. Haber , O manuscrit o continha uma nova confirmaçã o da fó rmula do corpo negro ,
os m ú sicos F . Kreisler e A . Schnabel , o industrial e Ministro do Exterior Craf obtida atrav és da mec â nica estat í stica ; mas Bose considerav a os quanta de luz ,
Rantzau e o pintor M . Lieberm ã nn ( Figura 5.7 ). Em seus momentos de lazer , aos quais aplicava a mecâ nica estat í stica , de uma forma diferente da usual . A
continuav a a tocar violino , atividade que exerceu durante toda a vida . N ã o se diferen ça b á sica é que , na mec ânica estat í stica de Boltzinann , cada mol écula
. 102 Einstein - Novas Formas de Pensar : Espa ço , Tempo , . . . Einstcin - Novas Formas cie Pensar: Espa ç o , Tempo , . . . 103
tem uma individualidade ; portanto , podemos designar cada uma por urn convenc ê- lo . At é o fim da vida , Einstein , um dos grandes criadores da fisica
nome e assim reconhecê - la . Em contraste , para Bose , os quanta de luz s ã o qu â ntica , manteve - se cé tico quanto à interpreta çã o de Copenhague , embora
absolutamente id ê nticos . Para Boltzmann , a troca da mol é cula A pela estivesse ficando cada vez mais isolado em seu ponto de vista .
mol écula B permite uma nova configuraçã o , que deve ser considerada à Com a ascens ã o do nazismo , Einstein finalmente emigrou da Alema -
parte ; mas para Bose a troca de dois quanta idê nticos n ã o implica outra nha , onde sem d ú vida alguma teria sido morto , e , depois de alguma
configura çã o . O resultado é uma nova confirma çã o da fó rmula do corpo peregrina çã o , fixou - se no Institute for Advanced Study de Princeton , New
negro . Einstein leu o trabalho que Bose lhe havia enviado , traduziu - o e fez jersey . A chama de seu g ê nio estava - se enfraquecendo < Einstein , que
*
com que fosse publicado em um periódico alem ã o , acrescentando algumas durante d écadas enxergai a ruais à frente do que qualquei outro homem e
palavras de louvor e o comentário de que o que Bose tinha feito pelos quanta que intoduzira algumas das mais profundas e mais prof í cuas ideias no
de luz ele mesmo, Einstein , demonstraria ser tamb é m poss ível para as campo da f í sica , passou a dedicar- se a problemas que aparentemente n ã o
mol éculas . Einstein manteve a promessa e em 1924 publicou um trabalho tinham solu ção e que talvez estivessem sendo colocados de forma err ó nea .
sobre o tema . Assim surgiram as novas estat ísticas , que seriam complemen - As linhas mestras da nova f í sica que se originaram em Berna , Zurique e
tadas dois anos depois pela obra de Fermi e Dirac , que mostraram n ã o serem Berlim n ão tiveram sequ ê ncia a partir de Princeton .
as estat ísticas de Bose e de Einstein as ú nicas poss íveis , mas que , na natureza , N ão obstante, Einstein ainda estava destinado a desempenhar um
existem os dois tipos . Trataremos dessa questã o mais adiante , quando papel importante , embora paradoxal para um pacifista : pressionar os
falarmos de Fermi . Estados Unidos para que fosse constru í da a bomba at ó mica. Chamo esse
Como era de se esperar , Einstein també m calculou as flutua çõ es de um papel de paradoxal , mas trata - se de posi ção que se enquadrava em seus
gás Bose-Einstein e mais uma vez descobriu um ind ício da natureza dual n ã o pró prios princí pios nas circunstâncias da Segunda Guerra Mundial . Mas era
apenas dos quanta , mas també m - e aí vinha uma novidade - das mol é culas . um passo mais pol í tico do que t écnico : Einstein certamente n ã o estava em
A dualidade onda -corp ú sculo estava-se tornando cada vez mais dia com a f ísica nuclear da d é c ada de quarenta , nem contribuiu tecnicamente
evidente a partir da nuvem de mist é rio em que estava envolvida . Mais ou para o desenvolvimento da energia at ó mica . Em 18 de abril de 1955 ,
menos naquela é poca , L . de Broglie fez progressos decisivos nesse campo . terminou seus dias tranq ú ilamente , em Princeton , aos setenta e seis anos de
Vamos falar a esse respeito mais tarde , mas aqui tamb é m a contribui çã o de idade.
Einstein foi muito importante , sobretudo em seu papel de avalista de A respeito de si pr ó prio , certa vez afirmou o seguinte: “ Deus é
conceitos novos e surpreendentes . inexor á vel no oferecimento de dons . Deu - me apenas a teimosia de urna
A propor çã o que a fama de Einstein crescia , ele ia fazendo pronuncia - mula . N ã o ! Deu - me tamb é m um agudo sentido do olfato !”
mentos pol í ticos e humanitários com maior frequ ê ncia. Tamb é m assumiu
uma posi çã o firme de pacifista e de defensor do Estado de Israel . Quando
Israel foi criado , muitos anos mais tarde , ofereceram a Einstein o cargo de
Presidente , mas , sabendo de suas pró prias qualidades e limita çõ es , ele
declinou do convite . Qualquer boa causa podia ganhar o apoio de Eiastein ,
do mesmo modo como qualquer bom f ísico que ele conhecesse poderia
obter uma recomenda ção de sua pane . Assim , ironicamente , qualquer
recomenda çã o feita por Einstein , que pnrna facie deveria significar muito ,
passou a n ão ter valor . •
Em 1927 , a mecâ nica qu ântica n à o - relativista já poderia ser considera -
da completa e as primeiras linhas de sua interpretaçã o , segundo a famosa
interpreta çã o de Copenhague , já tinham sido formuladas . Bohr apresen -
tou um trabalho a esse respeito à Confer ê ncia Internacional de Fí sica , reali -
zada em Como para celebrar o centenário de Volta. Einstein n ão compare-
ceu à Confer ê ncia porque n ão queria visitar a Itália fascista , mas pouco mais
tarde , quando Bohr repetiu as mesmas id éias no Conselho Solvay , recebeu a
oposi çã o dc Einstein . Bohr , que muitas vezes se inspirara em Einstein , tinha
por ele verdadeira idolatria , e Einstein j á fizera repetidas manifesta çõ es de
admira çã o e apre ço por seu colega. A rejeiçã o de Einstein aos mais caros
conceitos de Bohr deixaram - no amargurado e desorientado . Surgiu da í um
longo debate , durante o qual Bohr destruiu todas as obje çõ es apresentadas
por Einstein , mas teve de enfrentar outras sem contudo , conseguir
Capítulo VI
Sir Ernest e Lorde Rutherford of Nelson
I
1
tratando das dimensões e constitui ção do n ú cleo , observou que Bohr tinha
aduzido argumentos para atribuir uma origem nuclear aos eléctrons
emitidos no decaimento radioativo , assim diferenciando el éctrons at ó micos
de el éctrons nucleares . Com rela çã o à carga nuclear, Rutherford apresentou a
hip ó tese de van den Broek , bem como a lei de Soddy sobre o deslocamento
Figura 6 . J . A aparelhagem usada por H . radioativo . Esta diz que um n ú cleo muda sua natureza qu í mica de acordo
Geiger c E . Marsden para estudar o espa - com seu lugar no sistema peri ódico , movendo - se dois lugares para trá s na
lhamento de partí culas alfa. R é a fome de emissã o de uma part í cula alfa e um para a frente na emiss ã o de uma partí cula
partí culas alfa , encerrada ern um recipien - beta . Isso , naturalmente , deriva da carga da part í cula alfa Z = 2 e da carga do
te de chumbo dentro do recipiente de v á -
cuo B . Um fino feixe de partí culas alfa pas - eléctron : -- 1 . Ao emitir uma part í cula alfa , o n ú cleo perde duas unidades de
sa através da fenda e colide com uma carga ; ao emitir um el éctron , ganha urna .
fina folha de metal F. As part í culas alfa que Os raios X s à o ú teis na medi çã o do n ú mero at ó mico usando - se os
passam arrav és da folha colidem com a tela m é todos baseados na difus ã o , primeiramente sugeridos porW . Barkla , ou os
fluorescente S e sâ o observadas atrav é s do
microscó pio M , que , com B , pode ser
poderosos m é todos inventados por H . G . J . Moseley . Finalmente , h á o
movido em volta de TF. ( Do Philoiophiail seguinte trecho:
Maga úne 25, 604 ( 191 3 ) .| “ Bohr passou a concentrar sua aten çã o nas dificuldades de construir
á tomos segundo a teoria do ‘ n ú cleo ’ c demonstrou que a posi çã o est á vel dos
‘ eléctrons externos n ã o pode ser deduzida da mec â nica cl á ssica . Introduzin -
do urna concep çã o relacionada com o quantum de Planck , mostrou que, sob
Usando o modesto aparelho que é mostrado na Figura 6.3 , Geiger v certas hip ó teses , é poss í vel construir moléculas e á tomos simples a partir de
Marsden confirmaram essa fó rmula em todos os seus detalhes , mudando a n ú cleos positivos e negativos , como , por exemplo , a mol écula e o á tomo do
subst â ncia sobre a qual as part ículas alfa s ào projetadas , o que altera Z , hidrogé nio e o á tomo do h é lio , que se comportam , sob muitos aspectos ,
mudando a velocidade das partículas alfa , a espessura da folha ou mudando como mol é culas ou á tomos reais . Embora possa haver uma grande diferen ça
o â ngulo de observa çã o , 6. de opini ã o quanto à validade e quanto ao significado f í sico na base das
O n ú mero Z , caracter í stico da natureza qu í mica do alvo , foi chamado suposi çõ es apresentadas por Bohr , n ã o pode haver d ú vida de que as teorias
n ú mero at ó mico . Ele representa a carga el é trica do n ú cleo , em unidades de Bohr s ã o de grande interesse e importâ ncia para todos os f í sicos , como o
iguais à carga do el éctron , mas com o sinal contrá rio: para o hidrogé nio . Z = 1 , primeiro e definitivo esfor ço no sentido de construir mol éculas e á tomos
para o h élio , Z *= 2 , e assim por diante . Essa descoberta lan ç ou nova luz simples e explicar seus espectros ” .
sobre a defini çã o do elemento qu í mico . A cada elemento podia - se agora
associar um n ú mero inteiro Z, que também fornece o n ú mero de el éctrons Por uma quest ã o de clareza , s ó darei mais detalhes sobre o trabalho de
em ó rbita . Quando , por volta de 1869 , Mendeleev , com genial intui çã o , Bohr no cap í tulo seguinte .
aperfei çoou seu sistema peri ó dico , unha ordenado os elementos de acordo
com o peso at ó mico de cada um . Agora o modelo de Rutherford revelava que O Mesmo, mas Diferente : O Conceito de Isotopismo
o que conta é o n ú mero at ó mico , e n ã o o peso . A primeira pessoa a observar
tal fato foi Antonius van den Broek ( 1870 - 1926 ) , um cientista amador da Mais ou menos por essa é poca estava -se tornando cada vez mais
Holanda , em 1913. evidente que existiam á toinos id ê nticos do ponto de vista qu í mico mas
diferentes ern termos de radioatividade. J á ern 1906 Boltwood tinha demons -
O Á tomo Planetá rio frado em Yale que o i ô nio n ã o podia ser separado do tó rio. Em 1910 ,
Marckwald , F . Soddy e O . Hahn tinham demonstrado a mesma inseparabi -
Neste ponto torna - se muito dif ícil seguir detalhadamente as descober -
f Y£ lidade
'
: para o MsTh ( descoberto por Hahn ) e o r á dio , e outros exemplos
12S quase simult âneas de muitos aspectos do á tomo nuclear . Podemos ter % uv.v $ç
irielhantes tamb é m foram descobertos . Em 1912 , Rutherford apresentou o
uma id é ia da situa çã o lendo , por exemplo , um artigo publicado por
Rutherford em fevereiro de 1914 , intitulado “ A Estrutura do Á tomo ” ( em Problema da separaçã o de RaD do chumbo a dois de seus pesquisadores ,
de Hevesy e F. A . Paneth , austro - h ú ngaros que estavam visitando o
Philosophical Magazine VI , 26 , 937 ) . Nesse trabalho, Rutherford tratava da laboratório de Rutherford . Disse - lhes o seguinte: “ Se você s forem qu í micos
dispers ã o de part í culas alfa e beta e das conclus õ es que podem ser extra í das
no que diz respeito à localiza çã o de caxgas positivas. Deu entã o aten çã o
especial à passagem de part í culas alfa no hidrogé nio e à s colis ões com o que
—
fcj gnos desse nome , separem - os ” . Ap ó s dois anos de trabalho , durante os
lis tentaram de tudo , os dois homens infelizmente tiveram de desistir.
Mas de Hevesy e Paneth transformaram sua derrota em vit ó ria inven -
hoje chamamos de pr ò tons ou n ú cleos de hidrog é nio . Em outra ocasi ã o , a “ t é cnica dos tra çadores ” , que , enriquecida pela descoberta posterior
i iZ Sir Ernest e Lorde Rutherford o í Nelson Sir Ernest c Lorde Rutherford of Nelson 113
da radioatividade artificial, veio a ser uma das t écnicas mais importantes da Mas voltemos a Manchester. O modelo at ó mico, depois de formulado
ci ê ncia moderna , talvez equivalente ao microsc ó pio. Eis como funciona: por Rutherford , foi mais aperfei ç oado por Bohr do que pelo pr ó prio Ru -
Dadas subst âncias que sejam id ê nticas do ponto de vista qu í mico , mas dis - therford . Este , por seu lado , prosseguiu com o estudo dos raios beta c gaina ,
tingu í veis por sua radioatividade , é poss í vel realizar experi ê ncias em que os chegando a resultados válidos , mas n ào revolucion á rios . Nesse meio tempo,
á tomos radioativos podem sempre ser reconhecidos , mesmo ap ó s a ocor- a Inglaterra entrara na guerra e a popula çã o do Laborat ó rio de Manchester
r ê ncia de reaçõ es complicadas . Por exemplo , se algu é m comer sal comum diminuiu . Rutherford també m foi -se envolvendo cada vez mais no trabalho
misturado com sal que contenha s ó dio radioauvo , um exame da radioati - para o AJmirantado e com a defesa do Impé rio . Esses compromissos o
vidade de uma gota de sangue ou de uma amostra de urina revelará a levaram à Am é rica , onde passou um período considerável em Washington .
quantidade de s ódio ingerida na amostra medida . A capacidade de reconhe- Enquanto isso , tomara-se Sir Ernest . Ind ício dos tempos ainda relativamente
cer á tomos classificados por sua radioatividade permite a solu çã o de proble- civilizados foi o fato de , durante a guerra , Rutherford ainda poder manter
mas bastante importantes que, caso contrário , permaneceriam inteiramente correspond ê ncia com Stefan Meyer na Á ustria e com Geiger na Alemanha.
inacess í veis. Geiger , por seu lado , conseguiu que J . Chadwick , um dos melhores alunos
Estava-se , portanto, estabelecendo o conceito de isotopismo em subs - de Rutherford , que tinha sido preso e internado na Alemanha durante a
t â ncias radioativas ; em 1913, Soddy cunhou esse nome, que significa “ mes - 1 guerra , continuasse a realizar pesquisas naquele pa í s .
mo lugar ” no sistema peri ódico . O isotopismo logo iria ampliar- se para
n ú cleos está veis. Em 1912 , J . J . Thomson descobriu ind í cios de que o fen ô -
meno do isotopismo n ão se limitava a elementos radioativos , mas era uma
propriedade geral de muitos elementos. Mediu a razão entre massa e carga
i A Desintegra çã o do N úcleo
Por volta de 1917 , Rutherford era um dos poucos cientistas que perma -
de í ons positivos com o chamado m é todo parab ólico. Nesse m é todo , as
deflexões perpendiculares de um feixe de íons s ã o produzidas por meio de
um campo magn é tico e um campo elé trico que são paralelos entre si e
-
*
neciam no Laborató rio de Manchester , juntamente com seu técnico Kay . Fal -
tava - lhe, poré m , a ajuda de estudantes capacitados a quem pudesse encarre
-
gar de experiê ncias. Marsden, o fiel Marsden , antes de voltar como professor
perpendiculares à velocidade dos íons com uma carga e e massa m . Se o cam - a seu pa í s , a Nova Zelâ ndia, em 1915 , unha observado um fen ô meno
po el é trico E e o campo magn é tico B seguem ao longo do eixo x e os íons
-
estão se movendo na direção z , os desvios s ão tais que íons com a mesma 4 estranho: a presen ça de algumas partículas com alcances excepcionalmente
longos quando bombardeava o ar com partículas alfa. Uma poss í vel explica-
razã o e / m , independente de sua velocidade , caem numa pará bola localizada * çã o é que se tratava de n ú cleos de hidrogé nio , porque aparecem recuos de
em um plano perpendicular à velocidade do feixe ( vide Ap ê ndice 8 ) . longo alcance quando o hidrogé nio é bombardeado com part ículas alfa. Mas
Quando J . J . Thomson aplicou esse m étodo ao neon , descobriu que o Rutheriod suspeitou que fosse outra coisa de enorme importância e, em
elemento continha í ons de massas 20 e 22 vezes à quelas do hidrogé nio . j demorado e paciente estudo realizado sobretudo quando suas fun çõ es ofi -
Thomson considerou a possibilidade de que í ons de uma massa 22 ; ciais o permi ú am , decidiu verificar a natureza da partí cula projetada. Em um
pudessem ser obtidos pelo composto NeH 2 , mas descobriu que essa trabalho de novembro de 1917 , perguntava se se tratava de á tomos N , He , H
hip ó tese apresentava grandes dificuldades. Em 1913 , v á rias tentativas de
fracionar Ne em diferentes is ó topos tiveram ê xito apenas parcial . As
ou Li. -
Em junho de 1910 , Rutherford já estava pronto para publicar um
pesquisas de Thomson abriram o campo da espectroscopia de massa , no trabalho intitulado “ Colis ões de Part í culas Alfa com Á tomos Leves ”. A obra
qual se obteve grande ê xito após a Primeira Guerra Mundial , graças a F. W . era composta de quatro partes. As tr ês primeiras eram excelentes , mas
Aston ( 1877 - 1945 ) , que aperfei çoou espectrosc ó pios que davam a massa abrangiam pesquisas mais ou menos rotineiras ; a quarta , subtitulada “ Um
i ô nica com uma precis ã o cada vez maior . Eleito An ó malo no Nitrogé nio ” , afirma o seguinte :
Um dos resultados importantes conseguidos por Aston foi a descoberta “ Devemos concluir que o átomo de nitrogé nio se desintegra sob for ças
de que os pesos reladvos de todos os á tomos examinados , à exce çã o do intensas liberadas na estreita colisã o com uma part í cula alfa r á pida e que o
hidrogé nio e do l í tio , eram um n ú mero inteiro comparado com a acuidade á tomo de hidrogé nio que é liberado formava parte integrante do n ú cleo de
da medição, uma parte por mil , quando tomando -se 1 / 16 do peso de O 16 nitrogénio . .. Os resultados, como um todo , indicam que, se se dispusesse de
como unidade . Pressup ô s -se , ent ão , que os n ú cleos eram constitu í dos de part í culas alfa - ou de projé teis semelhantes - de mais energia ainda para
pr ó tons e el éctrons. Os pró tons conferiam aipassa; os el éctrons ajustavam a experimentação , poder íamos ter certeza de decompor a estrutura nuclear de
carga e , sendo cerca de 1 / 1840 mais pesaif òs do que os pr ó tons , n ão muitos dos á tomos mais leves ” . [ Philosophical Magazine, 31, 581 ( 1919 ) . ]
alteravam grandemente a massa nuclear . As divergê ncias origin árias da Era isso a desintegraçã o nuclear , o sonho dos alquimistas em uma
“ regra do n ú mero inteiro ” foram interpretadas em razã o da perda de massa forma mais atualizada . Rutherford tinha realizado todas as experi ê ncias de
que ocorre quando part í culas livres se unem , segundo a lei de Einstein controle poss í veis antes de anunciar sua descoberta . Queria estar absoluta -
E = mc2 ( vide tafribé m p . 140 ) . mente certo dos resultados obtidos e isso custou - lhe cerca de três anos . A
Figura 6.4 . A aparelhagem usada por Ruihcrford para observar a primeira desintegra çã o
nuclear . A ilustra çã o íoi retirada de Radiationsfrom Radioachue Substances , de Rutheríord , Chadwick
e Ellis ( Cambridge University Press , 1931 ) , onde na realidade aparece duas vezes! Mostra ela um
recipiente sem arque pode ser enchido de gá s ( nitrog é nio ) e cont é m uma fonte de partí culas alfa
-
colocadas em D . Visto que o alcance DS é maior que o das part í culas alfa , pode se concluir que
partículas que causam as cintilações na tela F sã o emitidas na desintegra çã o de n ú cleos do gá s
nitrogé nio atingidos por part í culas alfa. Um estudo detalhado mostra que os fragmentos s ã o
pr ó tons . Figura 6.5. A desintegra ção de um n ú cleo de nitrogénio em uma câmara de nuvens , con -
forme observada por Blackett . A fome contém Pb 212 -f Bi 21 + Po 212 em equil í brio
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radioativo e emite part í culas alfa com dois alcances: 8 , 6 e 4 , 8 cm . Uma das part í culas com
Figura 6.4 mostra a aparelhagem usada por Rutherí ord . Trata - se de alcance mais longo atinge um n ú cleo de nitr.og ê nio e rompe - o segundo a rea çã o
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+ , H . O traço transverso mais longo é o do pr ó ton , o outro o
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aparelhagem que custou menos de um milion ésimo do que custa hoje em de hOw . | De P . M . S . Blackett e D . Leaem Proceedmgs ofiht RoyalSocieí y , Londres 136 , 325
dia um acelerador ; mas precisava do olho do cientista ao microscó pio , ( 1932 ). ]
exigência que nem sempre se pode preencher .
As experi ê ncias de Ruther íord se repetiram em Viena e alguns de que era capaz , escreveu a seu ex - professor e as duas autoridades
cientistas austr í acos descobriram maior n ú mero de desintegra çõ es do que esclareceram o assunto , evitando assim divergê ncias que pudessem vir a
Ruther íord havia descoberto . Levantou -se um debate acalorado , mas , no ocorrer .
finai , chegou - se à conclus ão de que Ruther íord estava certo . No Laborat ó rio Rutherford foi convidado a pronunciar a Confer ê ncia Baker pela
Cavendish , P . M . S. Blackett obteve imagens na c â mara de bolhas de Wilson •
segunda vez em 1920 . À semelhan ça da primeira ocasi ã o ( 1904 ) , resumiu o
que confirmavam os resultados de Ruther íord ( Figura 6.5 ) . trabalho que havia realizado , dessa vez tratando do per í odo em Manchesier ,
isto é , a partir da formula çã o do modelo de á tomo nuclear até a desinte-
Diretor do Laborató rio Cavendish gra çã o do n ú cleo . Ao descrever o á tomo , citou detalhes de suas experi ê ncias
sobre a dispers ã o de part ículas alfa e depois citou trabalho de Barkla e
No fina] da guerra , J . J . Thomson aposentou - se do Laborat ó iio Moseley , que estabeleciam a exist ê ncia do n ú mero at ó mico. Ainda tinha
Cavendish ( Figura 6.6 ) e passou a ocupar a fun ção de Master no Trinity muitas reservas quanto ao trabalho de Bohr . Depois , descreveu em porme-
College , de Cambridge . Procurou -se um sucessor à sua altura para o cargo de nores seu trabalho sobre a desintegra çã o . Nessa conferê ncia , manifestou
professor Cavendish e diretor do laborató rio , mas n ão era tarefa fá cil . O novo tamb é m algumas id é ias tentativas sobre a poss í vel exist ê ncia de uma
diretor teria de seguir uma impressionante linha de sucess ã o : Maxwell , part í cula neutra com urna massa similar à do pró ton ( termo que tinha
Rayleigh e j. J . Thomson . Em termos de capacidade cient ífica , o candidato cunhado para referir - sc ao n ú cleo de hidrogé nio ) . Considerava essa part í cula
ó bvio era Rutherford . O sucessor tamb é m tinha de dispor de apreci á vel dose hipot é tica mais como um á tomo de hidrog é nio em que o el éctron tivesse
de autoconfian ç a em vista de poss í veis compara ções com seus antecessores . i c do dentro do n ú cleo , neutralizando -o eletricamente . Essa especula çã o , no
Rutherford n ão era homem dado a medos e não era nada modesto nem tinha — ^
k final das contas , mostrou sua importância , conforme veremos mais adiante .
motivo para sê- lo . Mas queria ter certeza de que J . J . Thomson n ã o também especulou sobre um poss ível is ó topo de hidrog é nio de massa 2
procuraria exercer grande influ ê ncia no Laborat ó rio. Com toda a franqueza I (deut é rio ) .
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