v1 Classificacao Do Melasma Pela Dermatoscopia Estudo Comparativo Com Lampada de Wood
v1 Classificacao Do Melasma Pela Dermatoscopia Estudo Comparativo Com Lampada de Wood
v1 Classificacao Do Melasma Pela Dermatoscopia Estudo Comparativo Com Lampada de Wood
artigo de
investigação
Classificação do melasma pela
dermatoscopia: estudo comparativo com
lâmpada de Wood
Classification of melasma by dermoscopy: comparative study with
Wood’s lamp
INtRoDuçÃo
O melasma é causa importante de hiperpigmentação adquirida, sendo a principal em rela-
ção à hipercromia facial. De caráter crônico, caracteriza-se por máculas acastanhadas simétricas Recebido em 17/07/2009
e assintomáticas em áreas fotoexpostas. É condição frequente e de considerável influência na Aprovado em 15/09/2009
Declaramos a inexistência de conflitos
qualidade de vida dos pacientes afetados.1,2,3,4 de interesse.
pia e correlacionar os achados dermatoscópicos à classificação Figura 1 – Melasma epidérmico. A) Clínica; B) Exame sob a lâmpada de
pela lâmpada de Wood. Wood; C) Exame dermatoscópico.
RESULTADOS
Dos pacientes avaliados, dois eram do sexo masculino e 38
do feminino. A idade variava entre 26 e 69 anos, e os fototipos
A
de II a V de acordo com a escala de Fitzpatrick.
Pelo exame clínico, 24 apresentavam o tipo centrofacial,
14, o malar, três, o mandibular e três, o tipo extrafacial. Em
relação aos fototipos, três pacientes eram de fototipo II, nove
pacientes de fototipo III, 17 de fototipo IV e 11 de fototipo V.
Das 16 lesões consideradas como tipo epidérmico pelo
exame dermatoscópico, a concordância pelo exame sob a lâm-
pada de Wood foi de quatro. Das nove consideradas dérmicas
pela dermatoscopia, a concordância foi de dois pela luz de
Wood. E das 15 mistas pela dermatoscopia, a concordância foi B
de seis através do exame pela luz de Wood.
DISCUSSÃO
A luz de Wood é uma luz ultravioleta A de longo com-
primento de onda, emitida do filtro de Wood, o qual é opaco
C a todas as radiações, com exceção daquelas com comprimento
Figura 2 – Melasma dérmico. A) Clínica; B) Exame sob a lâmpada de de onda entre 320 a 400 nm, no espectro ultravioleta, com
Wood; C) Exame dermatoscópico. pico em 365 nm.13,14
A lâmpada de Wood é o método mais amplamente em- os grupamentos celulares mais pigmentados, dependendo da
pregado na classificação do melasma. Estudo realizado por quantidade de pigmento e de sua profundidade, e a pigmen-
Ponzio et al. (1993), com o objetivo de avaliar a validade do tação observada decorre primariamente da melanina e da he-
instrumento na identificação do padrão do melasma, buscou moglobina da rede vascular. Através do exame, a cor da me-
determinar em 61 pacientes os casos corretamente classifica- lanina dependerá de sua quantidade ou densidade e nível de
dos, tendo como comparação o exame histopatológico. O tra- localização, indo do preto quando na camada córnea, passando
balho evidenciou baixos índices de sensibilidade, especificida- por tonalidades de castanho nas camadas mais inferiores da
de e acurácia, do exame sob a lâmpada de Wood nos três tipos epiderme ao azul ou cinza-azulado na derme.23,24,25,26
histopatológicos do melasma. Pelos resultados obtidos nesta Ainda, o método permitiu a observação de um compo-
amostra, concluíram que a “classificação do melasma através nente vascular na maior parte dos pacientes. Não desconsi-
do exame da pele sob a lâmpada de Wood apresenta baixa derando que tratamentos tópicos contendo esteroides e reti-
proporção de acertos, já que se mostrou mediamente sensível, noides podem induzir telangectasias, Kim EH et al. (2007)27
porém com baixa especificidade, resultando em uma acurácia demonstraram por imuno-histoquímica um significativo au-
de 46%, aquém da expectativa”.12 mento no número e tamanho dos vasos sanguíneos dérmicos
A luz ultravioleta emitida pela lâmpada de Wood pene- e relataram que apenas a área envolvida pela dermatose apre-
tra predominantemente no estrato córneo e epiderme, onde a senta pronunciadas alterações vasculares. Além disso, os autores
melanina está distribuída. A profundidade do pigmento deter- consideraram que o número de vasos tem relação positiva com
minará a fluorescência. As regiões cutâneas que apresentam um o grau de pigmentação, o que também é citado em outros
aumento na concentração da melanina epidérmica acentuarão estudos que referem que a deoxi-hemoglobina contribui sig-
a sua coloração e tornar-se-ão mais escuras, contrastando com nificativamente para a coloração da pele.27,28,29 Kim EJ et al.
a pele normal ao redor. Já as áreas com concentrações diminu- (2005)30 sugerem uma interação entre a vasculatura alterada e
ídas de melanina, se apresentarão mais claras e brilhantes. os melanócitos, podendo influenciar no desenvolvimento da
Assim, variações na pigmentação epidérmica são mais vi- hiperpigmentação na epiderme sobrejacente.30
síveis sob a luz de Wood, enquanto as alterações dérmicas são
muito menos evidentes ou ausentes sob a lâmpada em relação CONCLUSÃO
à luz visível. Menos luz UV alcança a derme, e esta contribui Pelo exame dermatoscópico, foi possível nítida observa-
muito menos para a fluorescência que retorna aos olhos; ou ção dos componentes pigmentares, bem como de sua disposi-
seja, a melanina dérmica não afeta a quantidade de luz obser- ção nas camadas da pele. O método permitiu uma classificação
vada. O contraste entre a pele acometida e não acometida é objetiva do melasma, visto que a coloração da melanina é ob-
consideravelmente diminuído ou mesmo inaparente em com- servada de forma precisa através da técnica e não sofre influên-
paração à luz visível.17,18 Portanto, uma desvantagem estabele- cia de fatores como fototipo do paciente, alterações vasculares,
cida é o fato de a técnica não ser de utilidade em indivíduos de colágenas ou uso de produtos tópicos.
fototipo V e VI em decorrência de fatores ópticos. Além disso, Na análise de concordância entre a dermatoscopia e a
alterações colágenas, vasculares, uso de medicamentos tópicos lâmpada de Wood na classificação da dermatose, os resultados
e filtro solar podem alterar o exame acarretando em resultados evidenciaram discordância importante entre os métodos. Ba-
não fidedignos.15,19,20 seados nos princípios do exame dermatoscópico, os autores
Relata-se que as terapias propostas são eficazes princi- consideram a técnica aplicável, mais adequada e de acréscimo
palmente no tipo epidérmico, não apresentando boa ação à rotina, diagnóstico, avaliação e acompanhamento dos pacien-
em relação ao componente dérmico.19,21,22 Alguns dos pa- tes com melasma.
cientes encontravam-se em tratamento, entretanto, este fato A dermatoscopia possibilitou também a observação do
não deve ser considerado um viés, visto que o estudo tem significativo componente vascular em grande número de pa-
como objetivo comparar os métodos em relação à classifi- cientes, indo de acordo com o reportado na literatura recente
cação do melasma, ou seja, basicamente avaliar a capacidade e que pode ser de relevância em função de futuras perspectivas
de localização da melanina e correlacioná-los em relação ao para patogênese e considerações terapêuticas.
mesmo paciente.
A dermatoscopia é método não invasivo cuja técnica para REFERÊNCIAS
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