Sebenta - Edição-De-09 - 01 - 2017 FAMILIA E MENORES PDF

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 375

J. M.

NOGUEIRA DA COSTA

Procurador da República

SANDRA ALMEIDA SIMÕES

Juiz de Direito

SEBENTA

_________________________________________________________

Família e Menores

BREVE FORMULÁRIO

Edição de 9 de janeiro de 2017


Os significados de SEBENTA na Universidade de Coim-
bra:

- Salazar é burro e não tem albarda.

- Se és bom estudante não tenhas amores.


Os processos tutelares cíveis são processos de jurisdi-
ção voluntária (artigo 150.º da Organização Tutelar de Me-
nores, revogada, art.º 12.º do Regime Geral do Processo Tu-
telar Cível, 292.º a 295.º e 986.º a 988.º do Cód. Proc. Civil) o
que significa que, nas providências tutelares cíveis, existe
uma diferente modelação prática de certos princípios ou re-
gras processuais cuja distinção tende a basear-se nos crité-
rios de decisão do tribunal e no maior relevo atribuído ao
princípio do inquisitório e em que existe um interesse fun-
damental tutelado pelo direito (o superior interesse da cri-
ança) acerca do qual podem formar-se posições divergentes
que ao juiz cumpre regular nos termos mais convenientes.

Assim, o julgamento realizado pelo juiz não está vincu-


lado à observância rigorosa do direito aplicável ao caso
concreto na medida em que aquele tem a liberdade de se
subtrair a esse enquadramento rígido e de proferir a deci-
são que lhe pareça mais equitativa e conforme com o supe-
rior interesse da criança.

Tendo em conta a especial natureza destes processos, o


juiz deve indeferir, por despacho irrecorrível, os requeri-
mentos que se mostrarem inúteis, de realização impossível
ou com intuito manifestamente dilatório (n.º 2 do artigo
147.º-E da Organização Tutelar de Menores, já revogada, e
art.º 25.º, n.º 2, do Regime Geral do Processo Tutelar Cível),
sem prejuízo do disposto no art.º 531.º do Cód. Proc. Civil.
É bem reconhecido que o divórcio ou a separação dos
pais, embora genericamente desagradável para os filhos,
não é «tóxica» para os mesmos, sendo, no entanto, o conflito
e a discórdia parental crónicos e graves um dos maiores fa-
tores de risco para o desenvolvimento de psicopatologia in-
dividual e social nos filhos.

Neste sentido, é necessário promover maior funcionali-


dade e estabilidade nas rotinas e responsabilidades paren-
tais, de modo que os menores integrem no seu desenvolvi-
mento competências transmitidas por ambos os progenito-
res.

Com ajuda eficaz estes menores podem ter um prognós-


tico muito favorável, mas sem ajuda, o prognóstico pode ser
muitas vezes reservado, particularmente a nível individual.

Neste sentido, urge intervir a nível familiar de forma


competente e eficaz, em particular informados por duas
premissas:

- Não há famílias resistentes, mas terapeutas incom-


petentes;

- Uma boa decisão judicial é frequentemente mais


útil do que vários anos de psicoterapias.

A intervenção que seja possível deve evitar a pulveriza-


ção da família por múltiplos técnicos, o que é facilitado em
especial com a tendência para o trabalho multidisciplinar,
que tanto pode ser benéfico como iatrogénico.

(excerto extraído de relatório de perícia médico-legal de psi-


quiatria de crianças e adolescentes, num caso em que se gerou
uma relação fusional entre o menor e a mãe, que leva à aversivi-
dade emocional em relação ao pai, que também é visto negativa-
mente pela mãe, ao que acresce o facto de o modo negativo como o
pai vê a mãe agrava e “prova” este sentimento negativo em rela-
ção ao pai)
I. GUARDA/RESIDÊNCIA

1. Na legislação portuguesa não foi consagrada nem a «guarda conjunta» nem a


«guarda alternada ou partilhada», conceitos que não pressupõem a fixação de uma
residência habitual da criança, vivendo esta, respetivamente, períodos duradouros
com cada um dos pais ou residindo alternamente com ambos, de acordo com um
determinado ritmo semanal, quinzenal ou mensal. (Temas de Direito das Crianças,
págs. 72 e 73, Clara Sottomayor, 2014, Almedina)

2. Existe ainda um modelo de “exercício unilateral das responsabilidades pa-


rentais com alternância de residências” que se caracteriza pela possibilidade de
cada dos pais deter a guarda da criança alternadamente, de acordo com um ritmo
temporal, o qual pode ser um ano escolar, um mês, uma semana ou uma parte da
semana, detendo, cada progenitor, durante os seus períodos de estadia com a crian-
ça, a totalidade dos poderes-deveres integrados no conteúdo das responsabilidades
parentais (artigo 1878.º do Código Civil), não só quanto às decisões quotidianas mas
também quanto às decisões de particular importância, sem que se exija diálogo en-
tre os pais ou a definição conjunta de orientações educativas. Durante cada turno,
cada progenitor exerce exclusivamente as responsabilidades parentais, enquanto o
outro beneficia de um direito de visita. No termo de cada período, os papéis inver-
tem-se.
Crítica: são grandes os riscos de contradição e de bloqueio neste modelo, po-
dendo as decisões de um dos pais, durante o seu turno de guarda, frustrar e anular
as decisões do outro. Por outro lado, para terceiros (cf. escolas, hospitais, etc.), as
incertezas podem ser enormes…
Defendendo este modelo: Pamplona Corte-Real/Silva Ferreira, Direito da
Família, Tópicos para uma Reflexão Crítica, Lisboa 2008, p. 104, e Jorge Duarte Pi-
nheiro, O Direito da Família Contemporâneo, 3.ª Edição, Lisboa, 2010, p. 349.
Aplicando este regime, ainda que mitigado, o Ac. Rel. Lisboa, de 22.05.2012
(processo n.º 1900/05.7TBSXL-E.L1-1).

3. Na decisão sobre esta questão é fundamental que a criança não se torne, em


nome de uma pretensa paridade parental, num objeto dos direitos dos pais.

4. «No modelo de exercício conjunto das responsabilidades parentais com resi-


dência habitual, o mais utilizado pelas famílias e o que está previsto na lei (artigo
1906.º do Código Civil), a criança tem a residência habitual com um dos pais, per-
manecendo junto do outro, durante estadias de duração variável, que a lei pretende
que sejam mais amplas e frequentes do que os tradicionais direitos de visita (art.º
1906.º, n.º 7, do Código Civil). As decisões de particular relativamente à vida da cri-
ança, por exemplo, intervenções cirúrgicas, mudanças de estabelecimento de ensi-
no, estabelecimento de residência no estrangeiro, prática de desportos perigosos,
etc., devem ser tomadas por ambos os progenitores, tal como na constância do ca-
samento (artigo 1906.º, n.º 1).
O modelo escolhido pelo legislador, no art.º 1906.º do Código Civil, e que é
imposto às famílias, salvo demonstração de que se revela contrário ao interesse da
criança (artigo 1906.º, n.º 2), é aquele em que as decisões de particular importância
relativas aos filhos são tomadas em conjunto, com residência principal da criança
junto de um dos pais e um regime de convívios em relação ao progenitor não resi-
dente. (Temas de Direito das Crianças, pág. 72, Clara Sottomayor, 2014, Almedina)
Este exercício conjunto deverá ser desaconselhado quando a história de fa-
mília está impregnada de uma grande violência, quando existe um conflito extre-
mamente intenso a fase de rutura, quando um dos progenitores tem medo intenso
(físico e psicológico) do outro progenitor, quando existe num progenitor uma ansi-
edade fundamentada no que concerne à forma como o outro progenitor irá lidar
com o filho, quando existe uma patologia grave na família, quando existe negligên-
cia grave, nos casos de ausência prolongada por parte de um dos cônjuges, nos casos
de grande diferença de poder(es) entre os cônjuges, ou em situações de grande de-
pendência de um deles em relação ao outro e quando há oposição de um dos proge-
nitores. Diremos que serão estas algumas das situações em que, nos termos do n.º 2
do art.º 1906.º do Cód. Civil: «Quando o exercício em comum das responsabilidades
parentais relativas às questões de particular importância para a vida do filho for
julgado contrário aos interesses deste, deve o tribunal, através de decisão funda-
mentada, determinar que essas responsabilidades sejam exercidas por um dos pro-
genitores.») o juiz deve considerar desaconselhável a aplicação do regime do exer-
cício conjunto das RP quanto às questões de particular importância do filho, por o
entender contrário aos interesses deste (cf. Maria Saldanha Pinto, Divórcio – guarda
conjunta dos filhos e mediação familiar - entrevistas aos pais, Sintra, Edições Pé da
Serra, 1999, p. 147, e A Criança e a Família – Uma Questão de Direito(s), pág. 180,
nota 30, Helena Bolieiro/Paulo Guerra, Coimbra Editora).
O artigo 40.º, n.º 9, do Regime Geral do Processo Tutelar Cível veio estabele-
cer que «Para efeitos do disposto no número anterior e salvo prova em contrário,
presume-se contrário ao superior interesse da criança o exercício em comum das
responsabilidades parentais quando seja decretada medida de coação ou aplicada
pena acessória de proibição de contacto entre os progenitores.»

5. Na redação anterior do art.º 1911.º do Cód. Civil, a mãe não casada não ne-
cessitava sequer, ao contrário do pai, de lançar mão de qualquer pedido de regula-
ção do exercício das responsabilidades parentais para poder tutelar, junto de qual-
quer entidade pública ou privada, a sua posição de progenitora guardiã. Com a eli-
minação da presunção do art.º 1911.º, n.ºs 1 e 2, do Cód. Civil, atualmente, as res-
ponsabilidades parentais relativas às questões de particular importância para a
vida do filho são exercidas em comum por ambos os progenitores nos termos que
vigoravam na constância do matrimónio, salvo nos casos de urgência manifesta, em
que qualquer dos progenitores pode agir sozinho, devendo prestar informações ao
outro logo que possível (cf. artigos 1901.º, 1906.º, n.º 1, 1911.º e 1912.º, todos do
Código Civil)
O exercício conjunto (das responsabilidades parentais), porém, refere-se
apenas aos “atos de particular importância”; a responsabilidade pelos “atos da vida
quotidiana” cabe exclusivamente ao progenitor com quem o filho se encontra.

6. A Lei n.º 61/2008 autonomizou a determinação da residência do filho do


exercício das responsabilidades parentais, instituindo como regime-regra o exercí-
cio em comum por ambos os progenitores das responsabilidades parentais relativas
às questões de particular importância para a vida do filho (cf. art.º 1901.º do Cód.
Civil). O tribunal pode até impor o exercício em comum das responsabilidades pa-
rentais, quer contra a vontade de um dos progenitores, quer contra a vontade de
ambos.
O conceito de residência estabelecido no art.º 1906.º, n.º 5, do Código Civil
não é equivalente a “guarda” ou “confiança”, mas aproxima-se do conceito de domi-
cílio do art.º 85.º
A lei atual dissociou a guarda e confiança do exercício das Responsabilidades
Parentais e, de igual modo, dissociou a residência desse exercício.
O mesmo não constitui, pois, obstáculo à alternância da residência, aqui no
sentido mais amplo de habitação associada a guarda.
Em face da novidade do regime, das questões que levanta e de todas as incer-
tezas que sobre o mesmo pairam quanto ao benefício para a criança, deve haver
especiais cautelas e na decisão, mesmo que homologatória, devem ser enunciados
os pressupostos que estiveram na base da decisão e a razão pela qual a mesma é
aquela que de forma mais eficaz satisfaz o interesse dos menores.
Porque cada um dos progenitores reside habitualmente com o filho, em face
do disposto no 1906.º, n.º 3, há que estabelecer quais as orientações educativas
mais relevantes que não podem ser contrariadas.

7. «A expressão “exercício conjunto das responsabilidades parentais” utilizada


no art.º 1906.º do Código Civil refere-se, apenas, à questão jurídica de saber a quem
compete a tomada de decisões relativas aos assuntos de particular importância da
vida criança, estipulando a lei que os pais devem decidir de comum acordo estas
questões (art.º 1906.º, n.º 1). Mas este princípio do exercício conjunto não abrange a
fixação de uma residência dupla da criança nem significa a imposição legal de uma
relação frequente desta com ambos os pais. O exercício conjunto das responsabili-
dades parentais nada tem a ver com a relação afetiva ou com o convívio da criança
com ambos os pais, mas apenas com a exigência legal de que as decisões mais rele-
vantes, no domínio da educação e da saúde da criança, sejam tomadas por ambos os
pais. Deste princípio não se pode deduzir qualquer decisão legislativa favorável à
partilha do tempo da criança entre ambos os pais, nos moldes de uma alternância
de residência. Inclusivamente, este princípio do exercício conjunto é compatível
com o modelo tradicional da guarda única, residência da criança com um dos pais e
direito de convívio do outro, em fins de semana alternados. A posição do legislador,
em relação aos modelos que permitam uma relação frequente da criança com am-
bos os pais e acordos de partilha de responsabilidades, para além do que estipula o
art.º 1906.º, n.º 1, está consagrada no art.º 1906.º, n.º 7, e surge restringida aos ca-
sos em que os pais estão de acordo, embora o juiz assuma o papel conciliador rele-
vante na determinação dos conteúdos dos acordos.» (Temas de Direito das Crianças,
págs. 70 e 71, Clara Sottomayor, 2014, Almedina)

8. O exercício conjunto das responsabilidades parentais foi pensado para pais


que têm capacidade de cooperação e de diálogo, que sabem separar os seus proble-
mas pessoais dos seus papéis enquanto progenitores e que confiam um no outro
como pais. Exige-se, pois:
- capacidade de cooperação entre os pais concretizada num projeto educativo
apresentado por estes;
- capacidade educativa de ambos os pais;
- relação afetiva sólida entre a criança e cada um dos pais e o interesse da cri-
ança, ou seja, as suas necessidades e o seu grau de desenvolvimento, a sua
opinião, etc.

Se o exercício conjunto das responsabilidades parentais abranger a residên-


cia alternada, é de ponderar a exigência:

- que os pais estejam de acordo, devendo existir um baixo nível de conflito en-
tre eles, ou mesmo nenhum;

- que tenham com a criança uma relação afetiva de idêntica profundidade e re-
levância;

- que tenham a mesma aptidão moral e material para prover à educação da


criança e ao seu sustento;

- que tenham a mesma capacidade para cuidar da criança;

- que não exista grande diferença de estilos de vida e de valores1;

- que os pais sejam capazes de acordar num programa educativo quanto à sa-
úde, disciplina, religião, tratamentos médicos e estabelecimento de ensino;

- que os pais tenham residências próximas;

- que o ambiente das residências dos pais seja semelhante;

- que os horários de trabalho dos pais sejam flexíveis;

- que os pais tenham recursos financeiros para manter duas casas separadas
com condições de acolher a criança.

9. A guarda compartilhada não pode ser uma medida para satisfazer os interes-
ses dos pais, mas sim uma medida que providencie pelo melhor desenvolvimento e
educação da criança, que deve crescer com uma ideia clara do que é um lar fixo e
estável, que tem direito a construir um círculo específico de amigos e um ambiente
estável.

10. Na fixação de um regime de residência alternada deve atender-se à prática


adotada pelos pais antes do divórcio, à sua capacidade de cooperação e de corres-
ponsabilização.
1
Não é qualquer influência que desagrade a um dos progenitores que constitui fundamento para medidas limitativas. Estas
medidas apenas serão aplicadas se o comportamento do progenitor em causa puser em perigo a continuidade da educação da criança.
A divergência de valores e de estilos de vida pode até constituir um fator positivo para a formação da criança, pois esta
tem interesse em conhecer e conviver com ambos os progenitores, enriquecendo-a a diferença entre estes.
Os convívios devem ocorrer numa situação de conjunção de responsabilidade/afetividade/liberdade.
A prática anterior dos pais nas suas relações com os filhos e as suas aptidões
pessoais, a idade das crianças, o seu número, os seus desejos e o resultado de rela-
tórios sociais, periciais (psicologia e pedopsiquiatria) não pode deixar de ser levado
em consideração.
A guarda compartilhada não se pode traduzir em sucessivas metodologias
educacionais.

11. Se um progenitor, no âmbito da relação delegou sempre no outro as tarefas


de educar e cuidar dos filhos, a residência alternada poderá não fazer sentido.
Pode sempre mudar, mas terá que haver garantias que tal ocorre e que não
vai agora delegar nos avós ou numa terceira pessoa o que no âmbito da relação de-
legava na mãe.

12. É totalmente desaconselhado o regime de guarda conjunta e muito mais o de


guarda compartilhada (cf. residências alternadas) quando um dos pais:

- tem uma enorme necessidade de controlo, dos outros e das situações, sendo
muito inflexível na leitura que faz do mundo e das pessoas que o rodeiam;
- sente-se mais confortável quando as coisas são como ele as lê e as vê, apre-
sentando dificuldades em admitir leituras e opiniões diferentes da sua;
- apresenta dificuldades em colocar-se no lugar do outro e em perceber outras
perspetivas que não as dele;
- demonstra arrogância e atitudes altivas;
- pontua, em situações de crise, a incompetência do outro;
- é impulsivo, embora por vezes aparente alguma teatralidade e exagero na
expressão emocional;
- assume, por vezes, uma imagem social de “l’enfant terrible” que gosta de
manter associada a crença de que é único e especial;
- revela ter relações interpessoais intensas e instáveis.

13. Em vez de uma «guarda alternada», deve ser fixada, nos acordos de regula-
ção do exercício das responsabilidades parentais, uma residência principal da cri-
ança para efeitos jurídicos, conforme exige a lei (cf. art.º 82.º, n.º 1, e 85.º, n.º 1, am-
bos do Código Civil), admitindo-se, nos casos em que os pais estejam de acordo e
tenham capacidade de cooperação e de diálogo, a fixação de estadias alternadas
junto de ambos, com exercício conjunto das responsabilidades parentais em relação
às questões de particular importância (cf. guarda compartilhada).

14. Para Clara Sottomayor, Temas de Direito das Crianças, Almedina, 2014, pág.
103, as crianças em idade pré-escolar, sobretudo antes dos 4 anos, não devem ser
sujeitas a um regime de “guarda compartilhada”, por implicar desorganização da
vinculação com ambos os pais e as crianças entre os 4 e os 10 anos não devem ser
sujeitas ao regime de “guarda compartilhada” quando existam conflitos entre os
pais, dados os inconvenientes para a sua estabilidade e para a saúde física e psíqui-
ca.
Esta opinião começa, todavia, a ser posta em causa.
Cito aqui um texto de Ricardo Simões, Presidente da Direção da Associação
Portuguesa para a Igualdade Parental e Direito dos Filhos:

«Qualquer preferência inicial por parte da criança acaba por desaparecer por volta dos 18 meses, quan-
do os convívios com ambos os progenitores se mantêm regulares e pouco espaçados.

O Direito de Família e das Crianças tem vindo a substituir os grandes princípios filosóficos por juízos
morais assentes no conhecimento científico sobre a Psicologia e o desenvolvimento da criança. A desinstituciona-
lização da família e recentramento na criança levanta desafios à legitimação das práticas jurídicas em função
das aspirações dos cidadãos. Na sociedade onde a informação se encontra acessível de forma mais ou menos
democrática através da internet, assistimos à proliferação de pseudociência, que frequentemente é confundida
com evidência científica. Assim, assistimos nesta área à circulação de dogmas que pouco devem à atual evidência
científica de outras Ciências Sociais, colocando em causa o superior interesse de qualquer criança a conviver com
ambos os progenitores ou pais.
O alerta para o uso de pseudociência e a seleção sectária de estudos para fazer valer determinados pon-
tos de vista, já tem sido dado há algum tempo por Linda Nielsen, uma reputada investigadora norte-americana
nesta matéria.
Segundo esta investigadora os mitos e a evidência científica sobre a residência alternada podem ser sin-
tetizados da seguinte forma:

Mito
Os progenitores têm de estar de acordo;

Evidência científica
Em crianças com residência alternada observou-se que 50% a 80% dos progenitores não concordou inici-
almente com a mesma.

Mito
A comunicação entre eles tem que ser frequente e positiva;

Evidência científica
A comunicação em residência alternada é essencialmente formal, não presencial e limitada.

Mito
Ambos têm que trabalhar como uma equipa;

Evidência científica
A Parentalidade em residência alternada é essencialmente uma parentalidade paralela, também típica das
residências únicas, ou seja, não existem diferenças entre modelos.

Mito
Não pode existir conflito ou o mesmo deve ser praticamente inexistente.

Evidência científica
Com a residência alternada em 59% das situações o conflito mantém-se, em 40% diminui e em apenas 1%
aumenta

Estes mitos estão também plasmados na nossa doutrina jurídica e ainda prevalecem no ensino do Direi-
to e junto dos magistrados. Mas a realidade, com base nas investigações dos últimos 25 anos e pela própria obser-
vação empírica das práticas dos profissionais em Portugal, é outra. Se a lógica doutrinal para a aceitação da
residência única observa comportamentos semelhantes por parte dos progenitores com a criança em residência
alternada, então as condições impostas “a priori” não passam de uma construção abstrata e ideologicamente
determinada.
A justificação da modelo de residência com base na situação de conflito no momento da regulação do
exercício das responsabilidades não é só rejeitada pela evidência científica, mas ainda confirmada empiricamente
em diferentes estudos, e em particular no livro recém-publicado, “A Família das Crianças no Divórcio dos Pais”, do
Juiz de Direito, Joaquim Manuel Silva. A ideia, com várias décadas, que a residência única era o único modelo que
defendia a criança da violência do conflito parental, é uma ideia contradita pela própria realidade, especialmente
nos últimos 20 anos em Portugal, com o aumento exponencial de divórcios e consequentemente do número alar-
mante de incumprimentos, até aos dias de hoje. Assim, não podemos continuar com o paradigma baseado na
avaliação do conflito parental para definir regimes de residência para as crianças. O conflito parental é negativo
para as crianças em qualquer dos regimes. Mas porque é devemos relativizar de alguma maneira o conflito?
Geralmente um ou ambos os progenitores tendem a exagerar no conflito aquando da separação/divórcio para
impedir a residência alternada e/ou os contactos da criança com o outro. Conflito presente não significa conflito
no futuro. Aliás, os estudos demonstram que o conflito tende a diminuir passados 12 a 24 meses, o que nos leva à
questão: teremos que condicionar toda uma vida de uma criança em função de um momento transitório de confli-
to parental por parte dos seus progenitores?
Nesse sentido, não podemos associar a menor ou maior qualidade parental à existência de conflito, mas
antes ter em conta que os tempos de convívio e a qualidade do mesmo têm mais impacto na criança do que o
conflito parental. Se estes dados nos apontam para que a residência alternada se apresente, à partida, como a
melhor opção para a criança, a verdade é que exigem também uma alteração do paradigma de intervenção junto
da família da criança. Ou seja, o superior interesse da criança passa não só por amplos convívios com ambos os
progenitores, mas igualmente pela redução ou eliminação do conflito parental, através de uma intervenção que
se quer mais terapêutica e menos institucional.
Por fim, um dos maiores mitos nesta matéria: as crianças até aos 3 anos não devem ter residência alter-
nada e os contatos com o progenitor não residente, geralmente o pai, devem ser limitados. A esmagadora maioria
dos investigadores na área da vinculação e do desenvolvimento infantil dizem-nos que não existe uma única figu-
ra de referência, mas antes que a criança estabelece vinculações com ambos os progenitores e quase ao mesmo
tempo. Qualquer preferência inicial por parte da criança acaba por desaparecer por volta dos 18 meses, quando
os convívios com ambos os progenitores se mantêm regulares e pouco espaçados. O investigador e Professor em
Psiquiatria na Universidade do Texas, Richard Warshak, elaborou em 2014 um relatório, apoiado por 110 profis-
sionais, onde ficou claro que a residência alternada é adequada a crianças de qualquer idade, ou seja, que as
pernoitas de bebés com os progenitores não residentes não apresentam, genericamente, resultados negativos
para os mesmos.
Com isto não se pretende dizer que a residência alternada seja adequada para todas as crianças, mas
que, atualmente, a evidência científica nos chama à atenção para a necessidade de mudança de paradigma sobre
o que é o superior interesse da criança. É preciso estar atento, informado e não recusar as evidências cientificas
da Psicologia, Sociologia e sobre o desenvolvimento da criança.»

15. O regime de “guarda compartilhada” deve ter, se necessário, um período ex-


perimental, se necessário for com acompanhamento de psicólogo ou pedopsiquia-
tra, e uma cláusula de revisão para a hipótese da criança revelar sintomas de insta-
bilidade psicológica, enurese noturna, pesadelos, ou outras perturbações.

16. Modelo do ninho: o jovem vive em casa autónoma ou na casa de morada de


família e são os pais que alternam. Trata-se de um modelo que pode funcionar num
período inicial de separação dos pais. Tem sérios inconvenientes, pois acaba por
induzir no jovem que são os pais que vão a sua casa…

17. Só o tribunal, através de decisão fundamentada, pode determinar que as res-


ponsabilidades parentais sejam exercidas apenas por um dos progenitores quando
o exercício conjunto for julgado contrário aos interesses da criança (artigo 1906.º,
n.º 2 do Código Civil).
A primeira consequência desta disposição normativa é a de que o Ministério
Público não pode conferir parecer favorável a um acordo de regulação do exercício
das responsabilidades parentais que lhe tenha sido remetido pelo conservador do
registo civil no âmbito de um divórcio por mútuo consentimento na medida em que
contenha a decisão de atribuir em exclusivo a um dos pais o exercício das responsa-
bilidades parentais, sem que exista justificação expressa para o efeito, não bastando
o mero acordo.
A segunda é a de que o acordo dos progenitores quanto ao modo de exercício
das responsabilidades parentais não pode fundamentar a decisão do tribunal em
atribuir esse exercício apenas a um deles, já que a decisão judicial deverá ser fun-
damentada em circunstâncias que permitam concluir que o exercício em comum é
considerado contrário aos interesses do filho e não no mero acordo dos pais (neste
sentido, Tomé d’Almeida Ramião, O Divórcio e as Questões Conexas, 3.ª edição, pgs.
159-163).
Contudo, estabelecida a premissa de que o exercício conjunto das responsa-
bilidades parentais se restringe às decisões sobre as questões de particular impor-
tância da vida da criança (questões existenciais graves e raras), não é difícil deter-
minar algumas das circunstâncias que poderão justificar esse exercício exclusivo
(neste sentido, Helena Gomes de Melo e outros, Poder Paternal e Responsabilidades
Parentais, 2.ª edição, págs. 161-166):

a) a prática de atos de violência doméstica;


b) ter o menor nascido em consequência de gravidez subsequente a um crime
de violação;
c) a falta de diálogo e incapacidade dos progenitores em se relacionarem entre
si e de que resultem situações de forte litigiosidade que interfiram no desen-
volvimento da criança;
d) a recusa reiterada ou o protelamento do progenitor não residente em en-
tregar a criança àquele com quem reside habitualmente;
e) o desinteresse por parte do progenitor com quem o filho não reside habitu-
almente;
f) o afastamento geográfico do progenitor com quem a criança não reside, de-
signadamente perante um progenitor residente no estrangeiro ou em locali-
dade muito distante, acompanhado do facto dos contactos entre ambos serem
raros e muito espaçados no tempo;
g) a ausência de um dos progenitores em parte incerta.

18. Subcritérios ou fatores relevantes para a determinação do interesse da cri-


ança no que respeita à guarda indicados em “A Criança e a Família – Uma Questão de
Direito(s)”, pág. 185 e segs., Helena Bolieiro/Paulo Guerra, Coimbra Editora:

a) Fatores relativos à criança:

 As suas necessidades físicas, religiosas, intelectuais e materiais;


 O seu sexo;
 A sua idade;
 O seu grau de desenvolvimento físico e psíquico;
 A continuidade das relações afetivas da criança;
 A adaptação da criança ao ambiente extrafamiliar de origem (a escola, ami-
gos, comunidade, atividades não escolares);
 Os efeitos de uma eventual mudança de residência causados por uma rutu-
ra com este ambiente;
 O seu comportamento social;
 A sua preferência (verbalizada ou intuída).

b) Fatores relativos aos pais:

 A capacidade dos pais para satisfazer as necessidades do filho (qualidade e


consistência das relações afetivas da criança com os pais) - critério do Primary
Caretaker (a figura primária de referência para a criança, ou seja, aquele progeni-
tor que tem a primeira responsabilidade pelo desempenho inter alia de alguns
deveres de cuidado e sustento da criança);
 O tempo disponível para cuidar do filho;
 A sua saúde física e mental;
 O seu sexo (o princípio da atribuição da guarda ao progenitor que tem o
mesmo sexo da criança);
 A continuidade das relações afetivas da criança;
 O seu estilo de vida e comportamento moral;
 A sua religião;
 A sua situação financeira;
 A sua ocupação profissional;
 A estabilidade do ambiente que cada um deles pode facultar ao filho;
 A vontade que cada um deles manifesta de manter e incentivar a relação
dos filhos com o outro progenitor – cf. art.º 1906.º, n.º 5, do Cód. Civil);
 A existência de conduta maltratante ou abusadora.

c) Outros fatores:

c.1.) Condições geográficas:

 Proximidade da casa de um dos pais da escola do filho.

c.2.) Condições materiais:

 Caraterísticas físicas de cada casa;


 A possibilidade de criação de um espaço próprio para a criança;
 O número de ocupantes da casa.

c.3) Condições familiares:

 A companhia dos outros irmãos (o princípio da não separação dos irmãos);


 A assistência prestada a um dos pais por outros membros da família (avós,
por exemplo);
 A relação da criança com os novos cônjuges/companheiros dos progenito-
res.
A lei continua a prever um exercício residual das responsabilidades paren-
tais (cf. art.º 1906.º, n.º 3, do Cód. Civil), pois o exercício das responsabilidades pa-
rentais relativas aos atos da vida corrente do filho cabe ao progenitor com quem ele
reside habitualmente, ou ao progenitor com quem ele se encontre temporariamen-
te; porém, este último, ao exercer as suas responsabilidades, não deve contrariar as
orientações educativas mais relevantes, tal como elas são definidas pelo progenitor
com quem o filho reside habitualmente.

19. As famílias que recorrem aos tribunais para obter a resolução dos seus con-
flitos são as que revelam menos capacidade para executar soluções de partilha das
responsabilidades parentais e da guarda.
Não se deve utilizar a partilha da guarda como um meio para resolver litígios
em situações familiares altamente conflituosas.

20. Ao atribuir ao progenitor residente a tarefa de estabelecer essas regras edu-


cativas, o legislador parte do princípio de que será com aquele que a criança terá
uma relação de maior proximidade e, por isso, vai-lhe transmitindo e definindo de-
terminados valores, princípios e regras que lhe permitem estruturar a sua persona-
lidade e modelar o seu comportamento, designadamente:

a) os horários de dormir e de tomar as refeições;


b) os horários e cumprimento das obrigações curriculares e extracurricu-
lares (preparar trabalhos de casa ou a frequência de alguma atividade
que a criança desenvolva habitualmente);
c) as regras corretivas (retirada do telemóvel e proibição de ir ao cinema
ou de sair impostos por comportamentos desadequados, como ter faltado
às aulas, ter tirado uma nota negativa por falta de estudo, ter desobedeci-
do a um dos progenitores ou desrespeitado um professor).

21. Na fixação da residência do filho e do regime de convívios o tribunal atende a


dois fatores, além de outros relevantes: o eventual acordo dos pais; a disponibilida-
de revelada por cada um dos pais para promover relações habituais do filho com o
outro (cf. princípio do progenitor que favorece mais as relações da criança com o
outro progenitor).

22. O conceito de progenitor de referência traduz o reconhecimento de que um


dos progenitores cuidava da criança no dia-a-dia, na constância do casamento, e
existência desta especial relação não pode ser esquecida na altura da regulação do
exercício das responsabilidades parentais.

23. O conceito de “tenra idade” mostra-se esvaziado, salvaguardado o período de


aleitamento da criança.
Todavia, é inquestionável a importância da continuidade das vinculações
afetivas precoces da criança ao cuidador primário para o seu desenvolvimento físi-
co, psíquico e intelectual, assim como para a sua capacidade, na idade adulta, para
formar e manter relações afetivas saudáveis. Muitas das dificuldades na infância e
na idade adulta ou psicopatologias resultam dos efeitos adversos da privação ma-
terna, a chamada «disrupção da vinculação».
Quando a criança é de tenra idade, ou seja, até aos 3 anos, as separações re-
petidas da pessoa de referência tornam-se um traumatismo maior para a criança do
que as consequências provocadas pela redução do contacto com o outro progenitor.
Num quadro de separação dos pais, as mudanças constantes de residência e
de cuidador podem provocar nas crianças mais pequenas, pelas separações repeti-
das em relação à mãe, a sua cuidadora primária na maioria dos casos, a desorgani-
zação do seu vínculo com esta, sem que, em contrapartida, sejam estabelecidos vín-
culos seguros e fortes com o pai, dado que também convive com a criança num sis-
tema de divisão do tempo com a mãe.
A vinculação estabelece-se através de um conjunto de trocas, pelas quais a
criança experimenta: um apaziguamento das suas tensões e das suas necessidades
de contacto; a partilha dos prazeres como o de ser acarinhada, olhada, e de jogar em
conjunto; um sentimento de segurança, quando verifica a disponibilidade dos seus
pais, a sua permanência física e emocional, a sua adequação, e, a partir dos seis me-
ses, a sua solidez em face de movimentos agressivos ou de oposição; um sentimento
de autoestima e de identidade.
Devem ser evitados períodos longos de separação da criança em relação à fi-
gura de vinculação principal.
(cf. sobre o tema, Clara Sottomayor, Temas de Direito das Crianças, páginas
165 e segs, Almedida, 2014)

24. A preferência do filho, cuja opinião deva ser tomada em conta, é um critério
muito importante a atender na fixação da residência do mesmo.
A Observação Geral n.° 12 sobre o direito da criança a ser ouvida
(CRC/C/GC/12, 1 de julho de 2009) do Comité das Nações Unidas para os Direitos da
Criança interpreta o direito da criança a ser ouvida, que é um dos quatro princípios
orientadores da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança, empre-
gando o termo «garantem», que é um termo jurídico especialmente forte, que não
deixa qualquer margem para a discricionariedade dos Estados Partes. A referida
Observação refere o facto de a idade não poder, por si só, determinar a importância
dos pontos de vista da criança. Na sua Observação Geral n.º 5, o Comité observa jus-
tamente que: «se é relativamente fácil dar a impressão de que se ouve uma criança,
dar o devido valor aos seus pontos de vista, pelo contrário, exige uma verdadeira
mudança.»
O artigo 3.º da Convenção Europeia sobre o Exercício dos Direitos da Criança
(STE n.º 160) conjuga o direito a ser ouvido com o direito a ser informado: em pro-
cessos judiciais, as crianças devem receber toda a informação relevante, ser consul-
tadas e exprimir os seus pontos de vista, e ser informadas sobre as possíveis conse-
quências da adoção desses pontos de vista e as eventuais consequências de qual-
quer decisão.
Importa, no entanto, ter presente que o stress da criança com o divórcio dos
pais pode prejudicar o seu testemunho e capacidade de decisão e que o reconheci-
mento do direito da criança a ser ouvida não pode representar uma demissão dos
adultos nem a delegação das suas responsabilidades nas crianças, o que seria uma
forma de abandono ou de maltrato psicológico.
«…A menoridade não é vista, pela lei, como um bloco, mas como um processo
gradual do desenvolvimento, ao longo do qual as crianças vão adquirindo autono-
mia e capacidade de decisão, sendo admitidas maioridades parciais.» (Temas de
Direito das Crianças, Clara Sottomayor, pág. 59, 2014, Almedina).

25. A preocupação com a divisão do tempo por proporções exatamente iguais


entre os pais, revelada quer por estes, quer pelas decisões judiciais, pode ser opres-
siva para as crianças, que sentem não ter o poder de controlar as suas vidas.
A igualdade entre os pais não se mede pela igualdade na divisão do tempo,
mas pela igualdade na qualidade dos cuidados e dos afetos.
(Temas de Direito das Crianças, Clara Sottomayor, pág. 175, Almedina, 2014).

26. A não separação dos irmãos e a continuidade das relações da criança são fa-
tores também muito importantes a atender.

27. O art.º 1906.º, n.º 6, do Cód. Civil consagra o direito de vigilância, ao consa-
grar que «Ao progenitor que não exerça, no todo ou em parte, as responsabilidades
parentais assiste o direito de ser informado sobre o modo do seu exercício, desig-
nadamente sobre a educação e as condições de vida do filho.»

28. Com a alteração introduzida no art.º 1906.º, n.º 3, do Cód. Civil, fica claro que
as questões de gestão quotidiana serão da competência do progenitor com quem o
menor se encontre e não apenas do progenitor com quem resida. Este poder-dever
não preclude, todavia, o direito e dever do progenitor com quem o menor reside de
definir as orientações educativas mais relevantes.
O exercício conjunto (das responsabilidades parentais) refere-se apenas aos
“atos de particular importância”; a responsabilidade pelos “atos da vida quotidiana”
cabe exclusivamente ao progenitor com quem o filho se encontra.

29. O art.º 1906.º, n.º 4, do Cód. Civil introduziu a figura da delegação de respon-
sabilidades relativas a atos da vida corrente:

- vestir o filho;
- alimentar o filho;
- as decisões usuais relativas à disciplina da criança;
- as decisões relativas ao tipo de alimentação;
- as decisões sobre atividades e ocupação de tempos livres, os contactos sociais;
- as tarefas de levar e ir buscar o filho regularmente à escola;
- o acompanhar nos trabalhos escolares e efetuar a respetiva matrícula (no en-
sino público obrigatório);
- as decisões quanto à higiene diária, ao vestuário e calçado;
- a imposição de regras de convivência;
- as decisões sobre idas ao cinema e saídas à noite, consultas médicas de rotina;
- o uso e a utilização de telemóvel e do computador.
- etc.
30. A Lei n.º 105/2009, de 14.09, regula a participação de menor em atividade de
natureza cultural, artística ou publicitária, nos termos referidos no art.º 81.º do Có-
digo do Trabalho.

31. Questões de particular importância:

a) a escolha e inscrição da criança em estabelecimento de ensino privado ou pú-


blico, mas já não, qual o estabelecimento de ensino público;
b) as intervenções cirúrgicas que impliquem risco para a vida ou integridade fí-
sica da criança (incluindo as estéticas);
c) o exercício de uma atividade laboral por parte da criança ou adolescente (in-
cluindo as passagens de modelos, participação em espetáculos e atividades artís-
ticas ou de publicidade);
d) a escolha da orientação religiosa até aos dezasseis anos (artigos 1886.º do
Código Civil e 11.º da Lei da Liberdade Religiosa);
e) as saídas (de férias ou participando em atividades) para o estrangeiro;
f) a localização ou determinação do centro de vida (a alteração de residência
que implique uma mudança geográfica para local distante dentro do próprio pa-
ís ou para o estrangeiro);
g) a prática de atividades desportivas que impliquem risco para a vida, saúde ou
integridade física;
h) a celebração de casamento aos dezasseis anos (artigos 1612.º do Código Civil
e 149.º do Código de Registo Civil);
i) uso de contraceção ou a interrupção da gravidez até aos dezasseis anos (arti-
go 142.º do Código Penal);
j) a obtenção da licença de condução de ciclomotores e de carta de condução de
motociclos de cilindrada não superior a 125 cm3;
k) o exercício do direito de queixa (artigos 1881.º do Código Civil e 113.º do Có-
digo Penal): tendencialmente deverá ser de ambos os progenitores que tenham a
guarda conjunta;
l) as decisões de administração que envolvam onerações ou alienações de bens
ou direitos da criança (artigo 1889.º do Código Civil);
m) as decisões que envolvam questões de disciplina grave relativas à criança ou
adolescente, nomeadamente aquelas que possam implicar a aplicação de medi-
da educativa disciplinar sancionatória;
n) a escolha da naturalidade (artigo 101.º, n.º 2 do Código de Registo Civil);.
o) a escolha de ensino universitário ou profissional;
p) mudança de domicílio para o estrangeiro ou das Ilhas ou para as Ilhas;
q) receber indemnização a pagar ao menor (cf. Acórdão da Rel. Porto de
20.09.1994, CJ XIX, IV, 34);
r) requisição de passaporte;
s) orientação profissional do filho;
t) outros casos: «Poder Paternal e Responsabilidades parentais», 2.ª Edição, He-
lena Gomes de Melo e outros, Quis Juris, páginas 139 e seguintes.
32. O artigo 23.º, n.º 2, do DL 83/2000, de 11.05, na redação do DL 108/2004, de
11.05, estabelece que para a saída de menores para o estrangeiro é necessária a
“autorização escrita por parte de quem exerça o poder paternal”. Obviamente que
não constitui questão de particular importância a ida de férias com os filhos para o
estrangeiro, desde que para lugar seguro, mas em caso de conflito, o tribunal pode
declará-lo e dispensar a autorização escrita do progenitor com quem o menor resi-
de.

33. No artigo 1903.º do Cód. Civil, alterado pela Lei n.º 137/2015, de 07.09, esta-
belece-se que «Quando um dos pais não puder exercer as responsabilidades paren-
tais por ausência, incapacidade ou outro impedimento decretado pelo tribunal, ca-
berá esse exercício unicamente ao outro progenitor ou, no impedimento deste, por
decisão judicial, à seguinte ordem preferencial de pessoas…» As expressões ausên-
cia e incapacidade têm um sentido vulgar e não técnico-jurídico (cf. «Poder Paternal
e Responsabilidades parentais», 2.ª Edição, Helena Gomes de Melo e outros, Quis
Juris, página 168):

-Ausência: significa todo o paradeiro em lugar remoto ou não conhecido;


-Incapacidade: significa qualquer facto que impossibilite um dos pais, ou
ambos, de exercerem as responsabilidades parentais.

Já a expressão outro impedimento se reporta às situações enunciadas no


art.º 1913.º, n.º 1, do Cód. Civil, que constituem casos de inibição de pleno direito do
exercício das responsabilidades parentais.

34. Embora se possam suscitar algumas dúvidas quanto ao conteúdo dos pode-
res e deveres passíveis de transferência, a possibilidade de confiança da criança a
terceira pessoa ou a instituição passou a estar prevista no artigo 1907.º do Código
Civil, eliminando-se a referência a “estabelecimento de reeducação ou assistência”.

35. Confiança de Menor a Terceira Pessoa:


Para além das situações suscetíveis de darem origem a processo de promo-
ção e de proteção - cf. art.º 3.º da Lei n.º 147/99, de 01.09, na redação da Lei n.º
31/03, de 22.08, e 142/2015, de 08.09, -, no qual é possível a aplicação das medidas
de apoio junto de outro familiar (cf. art.º 40.º) ou de confiança a pessoa idónea (cf.
art.º 43.º), passaram a existir as seguintes possibilidades legais de confiança de me-
nor a terceira pessoa:

- a tutela (cf. art.º 67.º do Regime Geral do Processo Tutelar Cível), verificados
os pressupostos do art.º 1921.º do Cód. Civil, designadamente se os pais hou-
verem falecido, estiverem inibidos, estiverem há mais de seis meses impedi-
dos de facto de exercerem as responsabilidades parentais ou se forem incógni-
tos;

- a limitação ao exercício das responsabilidades parentais (cf. arts. 1903.º,


1907.º e 1918.º do Cód. Civil), por via de ação tutelar comum do art.º 67.º do
Regime Geral do Processo Tutelar Cível (cf. Acórdão da Relação de Lisboa, de
01-04-2004, Processo n.º 2476/2004-6, Relator: Pereira Rodrigues; in
www.dgsi.pt );

- a inibição total ou parcial do exercício das responsabilidades parentais pela


via dos arts. 1913.º ou 1915.º do Cód. Civil, conjugados com os arts. 194º e
segs da O.T.M.;

- a confiança a terceira pessoa por acordo prévio, homologado judicialmente,


nos termos do art.º 1903.º do Cód. Civil, homologação essa que seguirá a for-
ma de ação especial de regulação do exercício das responsabilidades parentais
(art.º 43.º, n.º 2, do Regime Geral do Processo Tutelar Cível);

- a confiança a terceira pessoa (cf. arts. 1903.º, 1907.º e 1918.º do Cód. Civil e
40.º, n.º 5, do Regime Geral do Processo Tutelar Cível) no âmbito de ação de
regulação ou de alteração do exercício das responsabilidades parentais, na se-
quência de acordo ou de sentença.

36. Em caso de violência doméstica, o tribunal pode e deve suspender o convívio


do menor que a presenciou com o progenitor agressor, se isso for recomendado pe-
lo interesse superior da criança.
Não se deve permitir que os agressores usem o litígio em torno da guarda das
crianças como um instrumento de controlo das mulheres.
O afastamento do progenitor sem a guarda nem sempre é negativo para a
criança, pois a relação da criança com ambos os pais, permitindo a exposição daque-
la aos conflitos dos progenitores, cria um conjunto de reações, nas crianças, pertur-
badoras do seu desenvolvimento.
A investigação demonstra um conjunto significativo de problemas físicos as-
sociados à exposição de crianças à violência doméstica (cf. sobre o assunto, Temas
de Direito das Crianças, Clara Sottomayor, 2014, pág. 127 e segs, e nota 100):

- agressividade e comportamentos autodestrutivos;


- crueldade em relação aos animais;
- consumo de álcool ou de drogas;
- depressão e tendências para o suicídio;
- baixa autoestima;
- sentimentos de culpa;
- passividade e rejeição;
- problemas somáticos como dores de cabeça, enurese, insónia e úlceras;
- pesadelos, ansiedade e hipervigilância, e perturbações de sono;
- deficit de atenção;
- comportamentos obsessivo-compulsivos;
- deficit de capacidades sociais e de resolução de problemas;
- baixa empatia e aceitação;
- perpretação de violência;
- insucesso e absentismo escolar, e problemas de disciplina.
O progenitor que expõe a criança a uma situação de violência doméstica está,
não só a agredir o cônjuge, mas também a criança.
As crianças que assistem à violência doméstica são crianças em perigo, para
o efeito de legitimar a intervenção do Estado na família, de acordo com os princípios
orientadores da lei de proteção das crianças e jovens em perigo (cf. art.º 3.º, al.ªs b)
e f), da LPCJP).
E mesmo não existindo ainda perigo, é inequívoco que as crianças estão par-
ticularmente em risco na presença de níveis baixos de maturidade e de discerni-
mento dos pais, disponibilidade emocional pobre dos pais para os filhos, níveis ele-
vados de conflito parental, clima de amargura psicológica significativa entre os pais
ou quando um ou ambos os pais consideram que a criança está em risco quando
entregue aos cuidados do outro.
No processo de regulação das responsabilidades parentais deve ser conside-
rada a existência de medidas de coação aplicadas no processo penal e requerida,
pelo Ministério Público, ao abrigo do art.º 27.º, n.º 3, do Regime Geral do Processo
Tutelar Cível, uma medida de proteção da criança coincidente com a medida de coa-
ção aplicada no processo-crime, por exemplo, sendo decretada a medida de afasta-
mento do agressor da residência podem ser suspensas as visitas ou sujeitas a su-
pervisão por uma terceira pessoa da confiança da criança e da Segurança Social,
juntamente com uma medida de apoio junto da mãe, a qual engloba, se necessário,
apoio económico, ao abrigo do art.º 35.º, al.ª a), da LPCJP (cf. neste sentido, Clara
Sottomayor, Temas de Direito das Crianças, pág. 130, Almedina, 2014).
O art.º 31.º da Convenção de Istambul (Convenção do Conselho da Europa pa-
ra a Prevenção e Combate à Violência Contra as Mulheres e a Violência Doméstica),
ratificada por Portugal, estatui o seguinte:

Artigo 31.º
Direito de guarda, direito de visita e segurança
1. As Partes deverão adotar as medidas legislativas ou outras que se revelem ne-
cessárias para assegurar que os incidentes de violência abrangidos pelo âmbito de
aplicação da presente Convenção sejam tidos em conta na tomada de decisões re-
lativas à guarda das crianças e sobre o direito de visita das mesmas.
2. As Partes deverão adotar as medidas legislativas ou outras que se revelem ne-
cessárias para assegurar que o exercício de um qualquer direito de visita ou de
um qualquer direito de guarda não prejudique os direitos e a segurança da vítima
ou das crianças.

Nos termos do art.º 51.º da referida Convenção:

Artigo 51.º
Avaliação e gestão do risco
1. As Partes deverão adotar as medidas legislativas ou outras que se revelem ne-
cessárias para garantir que todas as autoridades competentes avaliem o risco de
mortalidade, a gravidade da situação e o risco de repetição da violência, de modo
a gerirem o risco e, se necessário, proporcionarem segurança e apoio coordena-
dos.
2. As Partes deverão adotar as medidas legislativas ou outras que se revelem ne-
cessárias para que, em todas as fases da investigação e da aplicação das medidas
de proteção, a avaliação referida no n.º 1 tenha devidamente em conta o facto de
os perpetradores de atos de violência abrangidos pelo âmbito de aplicação da
presente Convenção possuírem ou terem acesso a armas de fogo.

As preocupações com a coparentalidade depois de divórcio ou separação não


podem obscurecer as situações de violência doméstica.
Muitos agressores, depois de privarem o(a) companheiro(a) de recursos
económicos, não pagando alimentos e prejudicando-o(a) na divisão dos bens, invo-
cam falta de condições financeiras ou habitacionais do(a) companheiro(a) para pe-
dir a transferência da guarda; depois de exercerem violência psicológica continuada
sobre o companheiro(a), invocam o seu estado mentalmente perturbado, para de-
monstrar a sua incapacidade parental.
As decisões de guarda e de visitas devem ser moldadas pelas necessidades de
segurança do progenitor e das crianças, vítimas diretas ou indiretas, e o tribunal de
família e de menores deve recorrer, sempre que necessário, a profissionais alta-
mente especializados e dotar-se de mecanismos rigorosos de avaliação. Por outro
lado, é fundamental a articulação entre a CPCJ, a Segurança Social, as Redes existen-
tes, os órgãos de polícia criminal e os tribunais (criminais e de família e de meno-
res), em caso de abusos ou de violência na família. As decisões não podem ser adia-
das por falta de coordenação entre tais entidades, como, por vezes, sucede, até por-
que é hoje um dado assente a inadequação da guarda partilhada ou conjunta para as
famílias com histórias de violência doméstica e conflitualidade elevada.
Para além de a partilha da guarda ser desaconselhável, nos casos de violên-
cia doméstica e de abusos sexuais, ou noutras situações de perigo para o interesse
da criança, como toxicodependência ou alcoolismo de um dos pais, negligência pa-
rental, ou outros maus tratos, a investigação científica tem concluído que também é
desaconselhável a dupla residência da criança, nos casos de conflitualidade elevada
entre os pais, e que, mesmo nos casos de acordo dos pais, não deve, em regra, ser
aplicada em relação a crianças em idade pré-escolar (cf. Clara Sottomayor, Temas de
Direito das Crianças, pág. 135, Almedina, 2014).
A forma de guarda exerce uma influência mínima na adaptação psicológica
da criança. Outros fatores pesam mais: a ansiedade ou depressão da mãe, o funcio-
namento emocional dos pais na separação, o grau de conflito entre os pais, a idade e
o sexo da criança, e o seu temperamento.
Não é aconselhável que os tribunais imponham a guarda conjunta física nas
famílias em conflito.
(cf. Clara Sottomayor, Temas de Direito das Crianças, pág. 155, Almedina,
2014).
A alternância de residências em famílias em que os pais mantêm um nível
elevado de conflitualidade, consiste numa solução altamente prejudicial à saúde
física e mental das crianças, com a agravante de que é precisamente nas famílias
mais conflituosas que surge a tendência de os juízes e mediadores familiares mais
aplicarem esta solução. A transição entre duas casas pode reforçar a ansiedade da
criança em relação à constância dos lugares e à confiança nas pessoas.
O art.º 40.º do RGPTC estabelece o seguinte nos seus números 8 a 10:
8 - Quando for caso disso, a sentença pode determinar que o exercício das responsabi-
lidades parentais relativamente a questões de particular importância na vida do filho
caiba em exclusivo a um dos progenitores.

9 - Para efeitos do disposto no número anterior e salvo prova em contrário, presume-


se contrário ao superior interesse da criança o exercício em comum das responsabili-
dades parentais quando seja decretada medida de coação ou aplicada pena acessória
de proibição de contacto entre os progenitores.

10 - Nos casos previstos no número anterior, o regime de visitas pode ser condiciona-
do, contemplando a mediação de profissionais especializados ou, verificando-se os
respetivos pressupostos, suspenso nos termos do n.º 3.

37. O principal fator na redução do bem-estar das crianças é o pouco rendimento


do progenitor de referência. Assim, mesmo num regime diferente da guarda única, a
existência de apoio económico suficiente ao progenitor de referência é um critério
muito importante a concretizar. Para o bem-estar da criança o regime de guarda
não é tão importante como o apoio económico a prestar ao progenitor de referência.
A redução do tempo da criança com o seu progenitor de referência, que tem com a
criança uma vinculação mais forte pode, nalguns casos, colocar em perigo a segu-
rança do vínculo primário, o que produz uma série de consequências negativas para
o desenvolvimento da criança.
Não se verifica uma relação linear entre a quantidade do tempo que as crian-
ças passam com os progenitores e a qualidade dessa relação.
Os modelos de guarda adotados pelas famílias desempenham um papel se-
cundário e mínimo na explicação das variações no bem-estar das crianças e até pro-
duzem efeitos negativos no bem-estar destas, em famílias em que um dos progeni-
tores manifesta preocupações com a segurança da criança e em famílias com histó-
ria de violência doméstica, problemas de saúde mental de um dos progenitores ou
de dependência de substâncias.
As crianças não devem ser objeto de experiências sociais e judiciais.
A proteção da criança deve prevalecer sobre a relação significativa da crian-
ça com cada um dos pais. E o certo é que a lei não exige uma sentença de condenação
penal para que a violência familiar seja ponderada nas decisões de guarda e de con-
vívio (visita).

II. ALIMENTOS

38. O conflito parental é a maior fonte de diminuição do bem-estar das crianças


após o divórcio.
O envolvimento do progenitor não residente na vida dos filhos pode promo-
ver o bem-estar da criança, na medida em que faça aumentar o montante da pensão
de alimentos. Mas esta conclusão só é verdadeira se as decisões judiciais de deter-
minação do montante da pensão não admitirem exclusão da pensão ou redução do
seu montante em função do tempo de residência com o pai, e se o envolvimento do
progenitor não residente não expuser as crianças a um conflito parental contínuo.
Um rendimento inadequado das famílias monoparentais depois do divórcio é
uma das maiores causas de dano para as crianças. Em consequência, uma execução
eficaz e rápida das obrigações de alimentos é a medida mais eficaz que os tribunais
podem praticar para promover o bem-estar da criança.
A análise de investigações levadas a cabo com famílias após o divórcio indica
que o conflito dos pais é a principal causa de diminuição do bem-estar das crianças
e que os fatores mais importantes para determinar o seu bem-estar são um rendi-
mento familiar adequado às suas necessidades e o bem-estar psicológico do proge-
nitor residente, não desempenhando a quantidade do contacto com o progenitor
não residente um papel relevante na medição do bem-estar da criança
As ciências sociais não suportam a ideia popular de que se deve presumir
que a relação frequente e contínua da criança com ambos os pais promove o seu
melhor interesse. Pelo contrário, o que tem sido demonstrado é que a relação afeti-
va da criança com o progenitor que cuida dela, no dia-a-dia, desde o nascimento, é o
fator mais importante para o bem-estar da criança quando os pais vivem separados.
E daí a importância do apoio económico que lhe é prestado.
As investigações feitas sobre o impacto do divórcio nas crianças também
concluíram, diferentemente da convicção popular dos leigos, que a manutenção de
uma relação frequente da criança com ambos os pais ou soluções de guarda conjun-
ta não têm qualquer impacto na adaptação da criança ao divórcio. Esta resulta mais
do facto de a criança estar ao cuidado de um progenitor responsável e consciencioso
do que de uma relação frequente com ambos os pais, a qual não evita os efeitos do
divórcio na saúde metal das crianças e dos adultos que enfrentaram o divórcio nos
seus pais na infância.
(cf. Clara Sottomayor, Temas de Direito das Crianças, pág. 159 a 164, Almedi-
na, 2014).

39. A propósito da fixação de alimentos a cargo do progenitor não residente


quando se desconheça a sua situação económica, a doutrina e a jurisprudência dos
tribunais superiores não formularam ainda uma posição uniforme.
Considerando que devem ser fixados alimentos mesmo quando o paradeiro e
condições económicas do progenitor sejam desconhecidas, foi proferido (entre ou-
tros) o Ac. STJ de 15/05/2012 (em revista excecional).
Em sentido contrário, o Ac. RL de 06/12/2011 (relator Tomé Ramião), consi-
derando que o artigo 2004.º do Código Civil exige a demonstração das possibilida-
des do obrigado e, por isso, não permite a fixação de alimentos a cargo deste.
Em qualquer uma destas decisões, são ainda enunciadas as diversas posições
da doutrina e da jurisprudência.

40. Mesmo em caso de inibição do exercício das responsabilidades parentais, a


obrigação de contribuir pecuniariamente para as despesas com os filhos mantém-se
relativamente ao progenitor inibido (art.º 1917.º do Cód. Civil).

41. A medida da obrigação de alimentos que recai sobre os pais é muito mais
ampla do que a consagrada no art.º 2003.º do Cód. Civil, a qual abrange apenas o que
é indispensável ao sustento, habitação e vestuário, deixando de fora, nomeadamen-
te, as despesas com a educação, mas pressupõe sempre a exigência de prestações de
conteúdo patrimonial.

42. O Ac. Rel. Lisboa, de 25.09.2008, relator Granja da Fonseca, processo n.º
6146/2008-6, decidiu que aos créditos de alimentos não se aplicam os limites mí-
nimos de impenhorabilidade fixados pelo n.º 2 do art.º 824.º do Cód. Proc. Civil (na
redação do DL n.º 38/2003, de 08.03) – cf. a penhora não pode abranger a totalidade
dos rendimentos do progenitor faltoso, por tal pôr em crise o princípio base da dig-
nidade humana, pelo que se deverá ter por não penhorável, de modo a assegurar a
sobrevivência do devedor, a parte dos seus rendimentos equivalente, não ao salário
mínimo nacional, mas ao rendimento social de inserção, que no subsistema de soli-
dariedade social se assume como o mínimo dos mínimos compatíveis com a digni-
dade humana).
O Acórdão n.º 394/2014, do Tribunal Constitucional publicado no Diário da
República n.º 108, Série II, de 5.6.2014, julga inconstitucional a norma extraída do
artigo 189.º, n.º 1, alínea c), do Regime Jurídico da Organização Tutelar de Menores,
aprovado pelo Decreto-Lei n.º 314/78, de 27 de outubro, na redação da Lei n.º
32/2003, de 22 de agosto, na medida em que prive o obrigado à prestação de ali-
mentos do mínimo indispensável à sua sobrevivência.

Entretanto, o artigo 738.º do Cód. Proc. Civil, na sua nova redação, dispõe o
seguinte:

Artigo 738.º
Bens parcialmente penhoráveis

1 - São impenhoráveis dois terços da parte líquida dos vencimentos, salá-


rios, prestações periódicas pagas a título de aposentação ou de qualquer
outra regalia social, seguro, indemnização por acidente, renda vitalícia,
ou prestações de qualquer natureza que assegurem a subsistência do exe-
cutado.
2 - Para efeitos de apuramento da parte líquida das prestações referidas
no número anterior, apenas são considerados os descontos legalmente
obrigatórios.
3 - A impenhorabilidade prescrita no n.º 1 tem como limite máximo o
montante equivalente a três salários mínimos nacionais à data de cada
apreensão e como limite mínimo, quando o executado não tenha outro
rendimento, o montante equivalente a um salário mínimo nacional.
4 - O disposto nos números anteriores não se aplica quando o crédito
exequendo for de alimentos, caso em que é impenhorável a quantia
equivalente à totalidade da pensão social do regime não contributi-
vo.2
5 - Na penhora de dinheiro ou de saldo bancário, é impenhorável o valor
global correspondente ao salário mínimo nacional ou, tratando-se de
obrigação de alimentos, o previsto no número anterior.

2
Nos termos do art.º 7.º, n.º 1, da Portaria n.º 378-B/2013, de 31.12, o valor é de 197,55 euros
6 - Ponderados o montante e a natureza do crédito exequendo, bem como
as necessidades do executado e do seu agregado familiar, pode o juiz, ex-
cecionalmente e a requerimento do executado, reduzir, por período que
considere razoável, a parte penhorável dos rendimentos e mesmo, por pe-
ríodo não superior a um ano, isentá-los de penhora.
7 - Não são cumuláveis as impenhorabilidades previstas nos n.ºs 1 e 5.

43. Na fixação dos alimentos deve procurar-se, dentro do possível, assegurar a


manutenção do nível de vida do menor. Este desiderato é, por vezes, difícil de atin-
gir, uma vez que com a rutura da vida em comum aumentam, em regra, as despesas.
Antes os progenitores viviam numa só residência, depois passam a viver em resi-
dências diferentes, suportando os custos decorrentes da nova situação.

44. No regime de guarda compartilhada (cf. residências alternadas) a regra será


a de que cada progenitor suportará as despesas inerentes à alimentação (e vestuá-
rio) no período de tempo em que o filho está consigo.
Só assim não será se for muito diversa e acentuada a capacidade económica
de cada um dos progenitores, caso em que poderá haver necessidade de se fixar
uma pensão de alimentos a pagar por aquele com capacidade económica superior.
As despesas relativas à saúde e educação serão, por regra, divididas por am-
bos, em igual medida.

45. Os créditos de alimentos não são suscetíveis de compensação (art.º 2008.º,


n.º 2, do Cód. Civil) e o direito a alimentos não pode ser renunciado ou cedido, em-
bora se possa renunciar às prestações vencidas (art.º 2008.º, n.º 1, do Cód. Civil) – cf.
Ac. RL, de 20.04.2010.

46. Caso não se conheçam ao devedor de alimentos quaisquer entidades devedo-


ras, a única via para se obter o pagamento será o recurso à execução especial por
alimentos.
A este respeito importa ter em consideração que antigamente a execução
corria por apenso ao processo onde foi regulado o exercício das responsabilidades
parentais (art.º 90.º do Cód. Proc. Civil anterior). A realização da penhora era efetu-
ada antes de se dar conhecimento ao executado da instauração da execução.
Com a nova redação do art.º 85.º do Cód. Proc. Civil estatui-se o seguinte:

Artigo 85.º (art.º 90.º CPC 1961)


Competência para a execução fundada em sentença
1 - Na execução de decisão proferida por tribunais portugueses, o requerimento
executivo é apresentado no processo em que aquela foi proferida, correndo
a execução nos próprios autos e sendo tramitada de forma autónoma, exce-
to quando o processo tenha entretanto subido em recurso, casos em que corre no
traslado.
2 - Quando, nos termos da lei de organização judiciária, seja competente para a
execução secção especializada de execução, deve ser remetida a esta, com ca-
ráter de urgência, cópia da sentença, do requerimento que deu início à execução
e dos documentos que o acompanham.
3 – (…)

Acontece, porém, que a Lei n.º 62/2013, de 26.08, atribui aos Tribunais de Família
e de Menores:

- competência para preparar e julgar execuções por alimentos entre cônjuges


e entre ex-cônjuges (art.º 122.º, n.º 1, al.ª f)); e
- competência para fixar os alimentos devidos a menores e aos filhos maiores
ou emancipados a que se refere o artigo 1880.º do Código Civil, aprovado pelo
Decreto-Lei n.º 47344, de 25 de novembro de 1966, e preparar e julgar as
execuções por alimentos (art.º 123.º, n.º 1, al.ª e)).

Assim sendo, a Lei n.º 62/2013 afastou as execuções por alimentos do regime
geral do art.º 85.º do CPC. Estas execuções continuam a correr por apenso e nos Tri-
bunais de Família e de Menores.

Consulte-se ainda o artigo 6.º, al.ª d), do Regime Geral do Processo Tutelar
Cível.

A execução especial por alimentos segue o regime dos artigos 933.º e seguin-
tes do Código de Processo Civil:

Artigo 933.º
Termos que segue
1 - Na execução por prestação de alimentos, o exequente pode requerer a
adjudicação de parte das quantias, vencimentos ou pensões que o execu-
tado esteja percebendo, ou a consignação de rendimentos pertencentes a
este, para pagamento das prestações vencidas e vincendas, fazendo-se a
adjudicação ou a consignação independentemente de penhora.
2 - Quando o exequente requeira a adjudicação das quantias, vencimentos
ou pensões a que se refere o número anterior, é notificada a entidade en-
carregada de os pagar ou de processar as respetivas folhas para entregar
diretamente ao exequente a parte adjudicada.
3 - Quando requeira a consignação de rendimentos, o exequente indica lo-
go os bens sobre que há de recair e o agente de execução efetua-a relati-
vamente aos que considere bastantes para satisfazer as prestações venci-
das e vincendas, podendo para o efeito ouvir o executado.
4 - A consignação mencionada nos números anteriores processa-se nos
termos dos artigos 803.º e seguintes, com as necessárias adaptações.
5 - O executado é sempre citado depois de efetuada a penhora e a sua opo-
sição à execução ou à penhora não suspende a execução.

Artigo 934.º
Insuficiência ou excesso dos rendimentos consignados
1 - Quando, efetuada a consignação, se mostre que os rendimentos consig-
nados são insuficientes, o exequente pode indicar outros bens e volta-se a
proceder nos termos do n.º 3 do artigo anterior.
2 - Se, ao contrário, vier a mostrar-se que os rendimentos são excessivos, o
exequente é obrigado a entregar o excesso ao executado, à medida que o
receba, podendo também o executado requerer que a consignação seja li-
mitada a parte dos bens ou se transfira para outros.
3 - O disposto nos números anteriores é igualmente aplicável, consoante as
circunstâncias, ao caso de a pensão alimentícia vir a ser alterada no pro-
cesso de execução.

Artigo 935.º
Cessação da execução por alimentos provisórios
A execução por alimentos provisórios cessa sempre que a fixação deles fi-
que sem efeito, por caducidade da providência, nos termos gerais.

Artigo 936.º
Processo para a cessação ou alteração dos alimentos
1 - Havendo execução, o pedido de cessação ou de alteração da prestação
alimentícia deve ser deduzido por apenso àquele processo.
2 - Tratando-se de alimentos provisórios, observam-se termos iguais aos
dos artigos 384.º e seguintes.
3 - Tratando-se de alimentos definitivos, são os interessados convocados
para uma conferência, que se realiza dentro de 10 dias; se chegarem a
acordo, é este logo homologado por sentença; no caso contrário, deve o
pedido ser contestado no prazo de 10 dias, seguindo-se à contestação os
termos do processo comum declarativo.
4 - O processo estabelecido no número anterior é aplicável à cessação ou
alteração dos alimentos definitivos judicialmente fixados, quando não ha-
ja execução; neste caso, o pedido é deduzido por dependência da ação
condenatória.

Artigo 937.º
Garantia das prestações vincendas
Vendidos bens para pagamento de um débito de alimentos, não deve orde-
nar-se a restituição das sobras da execução ao executado sem que se mos-
tre assegurado o pagamento das prestações vincendas até ao montante
que o juiz, em termos de equidade, considerar adequado, salvo se for pres-
tada caução ou outra garantia idónea.

47. A via do art.º 48.º do Regime Geral do Processo Tutelar Cível, quando possí-
vel, é mais célere que o recurso à execução especial de alimentos prevista nos art.ºs
933.º e segs. do Cód. Proc. Civil. Há quem sustente que o incidente de incumprimen-
to pode iniciar-se logo com o desconto nos rendimentos, sem prévia declaração de
incumprimento, uma vez demonstrado o mesmo. Todavia, para que o Fundo de Ga-
rantia possa intervir deve existir declaração prévia de incumprimento.
48. Para a fixação dos alimentos, o tribunal não se deve limitar a atender ao va-
lor atual dos rendimentos atual e conjunturalmente auferidos pelo devedor, deven-
do valorar, de forma global e abrangente, a sua condição social, a sua capacidade
laboral e todo o acervo de bens patrimoniais do que seja ou possa a vir a ser deten-
tor (cf. Ac. STJ de 12.11.2009, relator: Lopes do Rego; processo n.º 110-A/2002).

49. A intervenção do Fundo de Garantia pressupõe uma pessoa judicialmente


obrigada a alimentos. Na jurisprudência vem-se defendendo que o tribunal deve
sempre fixar alimentos, quer se desconheça a concreta situação de vida do obrigado
e até o seu paradeiro, quer anda se tenha apurado que não aufere qualquer rendi-
mento – cf. Acórdãos RL de 26.06.2007, proc. n.º 5797/2007-7, RC de 28.04.2010,
proc. n.º 1810/05.8, entre outros. Para o efeito invocam-se os artigos 1878.º, al.ª c),
e 2009.º, n.º 1, al.ª c), ambos do Cód. Civil, o art.º 36.º, n.º 5, do Constituição e ainda o
interesse superior da criança – artigos 40.º, n.º 1, do Regime Geral do Processo Tute-
lar Cível, 1905.º e 1906.º, n.º 7, do Cód. Civil e art.º 3.º da Convenção dos Direitos da
Criança - e o facto de recair sobre o réu o ónus de provar que os meios de que dispõe
não lhe permitem realizar a prestação pretendida, integralmente ou mesmo parci-
almente (art.º 342.º, n.º 2, do Cód. Civil – cf. Ac. RÉvora, de 05.12.1985, BMJ 354, p.
626).

50. No Acórdão da Relação de Porto de 23-02-2006 admitiu-se a condenação do


Fundo a pagar alimentos não fixados anteriormente e apenas estipulados na decisão
que responsabilizou ao seu pagamento.
Para Helena Bolieiro/Paulo Guerra, em a “A Criança e a Família – Uma Ques-
tão de Direito(s)”, pág. 1229-230, nota 108, Coimbra Editora, urge fazer uma inter-
pretação atualista do art.º 2004.º, n.º 1, do Cód. Civil, havendo que distinguir três
situações:

a) Quando não são conhecidos rendimentos ao progenitor obrigado a ali-


mentos, muitas vezes em resultado de uma reiterada falta de colaboração
daquele com o tribunal:

- a recusa do dever de colaboração para a descoberta da verdade implica, nos


termos do art.º 417.º, n.º 2, do Cód. Proc. Civil, consequências a nível probatório,
implicando a fixação judicial do montante dos alimentos;

b) Quando o progenitor obrigado a alimentos, conhecedor da ação, se desli-


gou do trabalho que então desempenhava:

- Ac. Rel. Coimbra de 13.03.2001 (Apelação n.º 3605/00) e Ac. Rel. Lisboa, de
13.10.2005: presume-se que ganha o salário mínimo nacional, não constando que
sofra de enfermidade ou deficiência que o impossibilite de trabalhar; deve aqui
ter-se em conta a prova por presunção judicial extraída dos factos apurados por
via testemunhal (artigos 349.º e 351.º do Cód. Civil;
- Ac. Rel. Guimarães, de 25.09.2002: determinou que a situação de desemprego
não dispensa o progenitor de cumprir a obrigação de alimentos, que será calcula-
da atenta a sua capacidade de trabalhar e de auferir rendimentos;

c) Quando o obrigado se encontra mesmo impossibilitado de prestar ali-


mentos em virtude de causa que não lhe é imputável (doença ou incapaci-
dade física):

- Para Helena Bolieiro/Paulo Guerra, em a “A Criança e a Família – Uma Questão


de Direito(s)”, págs. 229-230, nota 108, Coimbra Editora, nesta situação, parece
não ser de fixar alimentos, atento o que dispõem os artigos 2013.º, n.º 1, al.ª b),
do Cód. Civil e 2004.º, n.º 1, Cód. Civil, havendo, com toda a certeza, outros meios
de segurança social que possam ajudar o credor de alimentos, em caso de dificul-
dade económica, sem ter de se acionar obrigatoriamente o Fundo.

- Há quem entenda que, mesmo nestes casos, deverá fixar-se alimentos, já que de
outra forma ficará inviabilizada a intervenção do mesmo, o qual pressupõe uma
prestação determinada e o não cumprimento da mesma. E argumenta-se que se
os alimentos forem fixados por acordo e existir incumprimento a seguir o efeito
desejado é o mesmo.

- Todavia, o certo é que antes de se fazer intervir o Fundo de Garantia, deve pro-
curar-se apurar a existência de responsáveis subsidiários (cf. art.º 2009.º do Cód.
Civil):

Artigo 2009.º

(Pessoas obrigadas a alimentos)

1. Estão vinculados à prestação de alimentos, pela ordem indicada:

a) O cônjuge ou o ex-cônjuge;

b) Os descendentes;

c) Os ascendentes;

d) Os irmãos;

e) Os tios, durante a menoridade do alimentando;

f) O padrasto e a madrasta, relativamente a enteados menores que estejam, ou esti-


vessem no momento da morte do cônjuge, a cargo deste.

2. Entre as pessoas designadas nas alíneas b) e c) do número anterior, a obrigação


defere-se segundo a ordem da sucessão legítima.

3. Se algum dos vinculados não puder prestar os alimentos ou não puder saldar in-
tegralmente a sua responsabilidade, o encargo recai sobre os onerados subsequen-
tes.
Quanto à demanda prévia dos obrigados do art.º 2009.º do Código Civil, afi-
gura-se-nos a mesma imperiosa, até porque a família deve responder em
primeira linha e a obrigação do Estado é residual.

Estes devem ser demandados em ação de alimentos ou a regulação do exer-


cício das responsabilidades parentais pode prosseguir em relação aos ali-
mentos contra eles nos termos do art.º 316.º, n.º 2, do Cód. Proc. Civil (in-
tervenção principal provocada).

A ação de alimentos pode ser intentada, correndo por apenso.

51. Questão a ponderar é a da intervenção do Fundo de Garantia como prestador


de alimentos provisórios, seja quando eles já estão fixados seja quando ainda não
estão. A resposta terá de ser igual à dos alimentos definitivos.

52. Rendimento líquido para efeitos do art.º 1.º da Lei n.º 75/98 e alínea b) do n.º
1 do art.º 3.º do Dec. Lei n.º 164/99 na redação original não era o rendimento do
menor ou do agregado familiar menos as despesas comuns e inerentes à vivência do
menor ou de um agregado familiar, tais como despesas com a habitação e alimenta-
ção que não tinham que ser deduzidas (Ac. RP de 24.02.2005, processo 0530542, e
de 25.01.2007, processo 1914/06.3), mas sim o rendimento que se recebe efetiva-
mente, ou seja, o rendimento bruto menos as deduções específicas das categorias de
rendimentos (cf. também o Ac. RC de 25.05.2010, processo 2215/05.6) – exemplos:
contribuições obrigatórias para a segurança social e imposto sobre o rendimento).
Com a nova redação da Lei n.º 75/98, de 19.11, introduzida pela Lei n.º 66-
B/2012, de 31.12, e do Decreto-Lei n.º 164/99, de 13.05, na redação do Decreto-Lei
n.º 70/2010, de 16.06, o alimentado não pode ter rendimento ilíquido superior ao
valor do indexante dos apoios sociais (IAS) nem beneficiar nessa medida de rendi-
mentos de outrem a cuja guarda se encontre.

Para efeitos de recurso ao Fundo de Garantia de Alimentos entendia-se, no


regime anterior, que faziam parte do agregado familiar em que o menor se inseria, o
atual cônjuge ou companheiro do progenitor com quem reside (cf. Ac. STJ de
22.05.2003, processo 03B1378) e os filhos da atual relação ou apenas de um deles.
Obtido o rendimento líquido do menor ou do seu agregado familiar, neste último
caso seria necessário dividi-lo pelo número de elementos que o compõem, para ob-
ter o rendimento per capita e o Fundo só intervirá se este for inferior ao salário mí-
nimo nacional. E o rendimento a considerar para chegar à capitação exigida pelos
diplomas do Fundo de Garantia de Alimentos era, por exemplo, a soma dos rendi-
mentos do pai e da sua nova companheira, corrigido (diminuindo tal montante do
total do seu rendimento), caso a dita companheira pague alimentos a outros seus
filhos, frutos de anteriores relacionamentos.
Esse rendimento era encontrado independentemente das despesas suporta-
das pelo agregado.
Exemplo:
Passo 1: o pai guardião tem 900 € de rendimentos mensais, auferindo a com-
panheira 630 € mensais, obtém-se um total de rendimentos de 1.530 €.
Passo 2: Divide-se tal rendimento de 1.530 € por 3 (nesse agregado vive o pai,
a companheira e a criança credora), ou seja, 510 €.
Passo 3: verificar se o resultado obtido excede ou não o salário mínimo nacio-
nal.

No novo regime entende-se que o alimentado não beneficia de rendimentos


de outrem a cuja guarda se encontre, superiores ao valor do IAS, quando a capitação
do rendimento do respetivo agregado familiar não seja superior àquele valor (art.º
3.º, n.º 2, do Decreto-Lei n.º 164/99, de 13.05, na redação do Decreto-lei n.º
70/2010, de 16.06). Por outro lado, o agregado familiar, os rendimentos a conside-
rar e a capitação dos rendimentos, referidos no número 2 do art.º 3.º do Decreto-Lei
n.º 164/99, de 13.05, na redação do Decreto-lei n.º 70/2010, de 16.06, são aferidos
nos termos do disposto no Decreto-Lei n.º 70/2010, de 16 de junho, alterado pela
Lei n.º 15/2011, de 3 de maio, e pelos Decretos-Leis n.ºs 113/2011, de 29 de no-
vembro, e 133/2012, de 27 de junho (art.º 3.º, n.º 3, do DL n.º 164/99, de 13.05, na
redação do Decreto-lei n.º 70/2010, de 16.06).

No novo regime, para efeitos da capitação do rendimento do agregado fami-


liar do menor, considera-se como requerente o representante legal do menor ou a
pessoa a cuja guarda este se encontre (art.º 3.º, n.º 4, do DL n.º 164/99, de 13.05, na
redação do Decreto-lei n.º 70/2010, de 16.06) – cf. Acórdão da Relação do Porto, de
07-05-2015 (Processo 2196/09.7TBPYZ-B.P1; relator: Pedro Martins): neste acór-
dão cita-se a jurisprudência em sentido contrário, de Coimbra e Évora, formulada
ainda antes da alteração do art.º 3.º, n.º 4, do DL n.º 164/99, à exceção de um único
Acórdão da Relação de Coimbra, o de 21-10-2014 (processo 784/08.8TBCTB-B.C1),
que já refere esta alteração, mas da consulta dessa jurisprudência não resulta qual-
quer acórdão que tenha ponderado este artigo 3.º, n.º 4, do DL n.º 164/99, na reda-
ção atual, à semelhança deste acórdão da Relação do Porto, que se mostra mais fun-
damentado.

Para aferição dos pressupostos para o Fundo de Garantia de Alimentos, divi-


de-se o salário bruto do progenitor com quem o menor vive por 12 e depois divide-
se o valor mensal de salário bruto, sem «abonos» e sem abater despesas, que não
contam, pela soma dos fatores de ponderação, tudo em conformidade com o Decre-
to-Lei n.º 70/2010, de 16.06.

Quanto à consideração do rendimento bruto e não líquido, existe a opinião


divergente de Márcio Rafael Marques Rodrigues, Da Obrigação de Alimentos à in-
tervenção do FGADM, FDUC, Coimbra, 2014, Ponto 2.3, contudo, este autor não indi-
ca qualquer argumento ou fundamentação que permita contrariar o teor literal da
lei.
No novo regime, as prestações a que se refere o n.º 1 do art.º 3.º do DL n.º
164/99, de 13.05, na redação do Decreto-lei n.º 70/2010, de 16.06, são fixadas pelo
tribunal e não podem exceder, mensalmente, por cada devedor, o montante de 1
IAS, devendo aquele atender, na fixação deste montante, à capacidade económica do
agregado familiar, ao montante da prestação de alimentos fixada e às necessidades
específicas do menor.

53. Segundo o AUJ do STJ de 07.07.2009, proc. n.º 09A0682, o Fundo de Garantia
de Alimentos só respondia a partir da data da decisão judicial que julgou o incidente
de incumprimento do devedor originário, ordenou a sua intervenção e fixou o mon-
tante que deverá suportar, contemplando as prestações que se vencerem a partir
dessa data, não tendo aplicação o disposto no art.º 2006.º do Cód. Civil. Embora o
Fundo responda a partir da data da decisão, o pagamento das prestações apenas é
exigível no mês seguinte ao da notificação da decisão do Tribunal (art.º 4.º, n.º 5, do
DL n.º 164/99). A prestação a cargo do Fundo é independente e autónoma da do de-
vedor originário.
Nos termos do art.º 4.º, n.º 4, do DL n.º 164/99, de 13.05, na redação do De-
creto-lei n.º 70/2010, de 16.06, o IGFSS, I. P., inicia o pagamento das prestações, por
conta do Fundo, no mês seguinte ao da notificação da decisão do tribunal, não ha-
vendo lugar ao pagamento de prestações vencidas. E nos termos do n.º 5 desse art.º
4.º, a prestação de alimentos é devida a partir do 1.º dia do mês seguinte ao da deci-
são do tribunal.
Pelo ACÓRDÃO Nº 481/2014 (Processo n.º 801/2012, 1.ª Secção; relatora:
Maria Lúcia Amaral), o Tribunal constitucional decidiu «Não julgar inconstitucional
a norma constante do artigo 4.º, n.º 5, do Decreto-Lei nº 164/99, de 13 de maio, na
interpretação de que a obrigação de o Fundo de Garantia de Alimentos Devidos a
Menores assegurar as prestações a menor judicialmente fixadas, em substituição do
devedor de alimentos, só se constitui com a decisão do tribunal que determine o
montante da prestação a pagar por este Fundo, não sendo exigível o pagamento de
prestações respeitantes a períodos anteriores a essa decisão, e, em consequência,
conceder provimento ao recurso…» interposto pelo Ministério Público.

54. As prestações de alimentos a pagar pelo Fundo de Garantia eram fixadas pelo
tribunal e não podiam exceder, mensalmente, por cada devedor, o montante de 4
UC, devendo o tribunal atender, na fixação deste montante, à capacidade económica
do agregado familiar, ao montante da prestação de alimentos fixada e às necessida-
des específicas do menor (art.º 3.º, n.º 3, do Decreto-Lei n.º 164/99, de 13.05).
O pagamento levado a cabo pelo Fundo era independente do montante fixado
ao obrigado a alimentos que não cumpriu, devendo o tribunal atender à capacidade
económica do agregado familiar, ao montante da prestação de alimentos fixada e às
necessidades específicas do menor. Perguntava-se: e poderia exceder o montante de
4 UC por cada devedor?

. No sentido de que a prestação não podia ser superior à do obrigado a ali-


mentos, o Ac. RL de 25.10.2007, relatora Lúcia de Sousa, processo n.º
7590/2007-2.
. No sentido de que podia ser superior à do obrigado a alimentos, mas com o
limite de 4 UCs por cada devedor, o Ac. RP de 18.06.2007, relator José Fer-
raz, processo n.º 0733397.

Em face do disposto no art.º 2.º, n.º 1, da Lei n.º 75/98 e 3.º, n.º 3, do DL
164/99, na redação original, vinha-se maioritariamente defendendo que, mesmo
em caso de pluralidade de menores, o limite máximo que o Fundo podia ser obriga-
do a suportar era de 4 UCs por devedor. Contudo, no Acórdão do STJ de 04.06.2009
(relatora: Maria Prazeres Beleza; processo n.º 91/03.2TQPDL.S1), e já antes o Acór-
dão da Relação de Lisboa de 20.09.2007 (relatora: Fátima Galante; processo n.º
5846/2007-6; neste acórdão já se sustentava que, em caso de pluralidade de meno-
res filhos de um só devedor, o tribunal podia condenar para além de das 4 UCs refe-
ridas), o STJ entendeu que, sob pena de incongruência com o objetivo do regime
legal, o limite máximo de 4 UCs por devedor a que aludem as disposições citadas
tinha de ser entendido em relação a cada menor beneficiário. Este acórdão do STJ
tem um voto de vencido do juiz conselheiro Salvador da Costa.

Com a nova redação do art.º 3.º, n.º 5, do Decreto-Lei n.º 164/99, de 13.05, in-
troduzida pelo Decreto-Lei n.º 70/2010, de 16.06, as prestações a que se refere o n.º
1 são fixadas pelo tribunal e não podem exceder, mensalmente, por cada devedor, o
montante de 1 IAS (cf. 421,32 €), devendo aquele atender, na fixação deste montan-
te, à capacidade económica do agregado familiar, ao montante da prestação de ali-
mentos fixada e às necessidades específicas do menor. Pergunta-se, pois, se o limite
máximo de 1 IAS (421,32 € - Portaria 4/2017, de 03.01) por devedor a que alude a
disposição citada tem de ser entendido em relação a cada menor beneficiário.

55. Nos casos em que o progenitor que deva pagar alimentos o não possa fazer e
isso seja verificável de forma incontornável pelo tribunal, ou se condena mesmo
assim o referido progenitor numa prestação simbólica, passando depois o Fundo a
Intervir de forma autónoma, ou se condena desde logo o Fundo. Trata-se de matéria
sob discussão jurídica. Todavia, a solução da condenação direta do Fundo de Garan-
tia é mais discutível.

56. Quanto à cobrança de alimentos no estrangeiro, importa desde já advertir


para o facto de que não se deve recorrer à Associação Portuguesa para o Serviço
Social Internacional.
Outras soluções existem, como por exemplo as convenções bilaterais, a Con-
venção de Nova Iorque, a Convenção da Haia de 2007, de 23 de novembro, sobre a
Cobrança Internacional de Alimentos em Benefício dos Filhos e de Outros Membros
da Família e o Regulamento (CE) n.º 4/2009 do Conselho, de 18 de dezembro de
2008, relativo à competência, à lei aplicável, ao reconhecimento e à execução das
decisões e à cooperação em matéria de obrigações alimentares.

57. PALOPS (ACORDOS BILATERAIS): CONSULTAR

http://www.cji-dgaj.mj.pt/Paginas/terceiros.aspx
Instrumento de cooperação judiciária internacional aplicável:

Angola - Acordo de Cooperação Jurídica e Judiciária entre a República


Portuguesa e a República de Angola - Art.14.º, 18.º, 20.º, 21.º, 24.º, 25.º e
30.º Resolução da A.R. n.º 11/97, de 4/3

Cabo Verde - Acordo Sobre Cobrança de Alimentos entre a República


Portuguesa e a República de Cabo Verde, de 3 de março de 1982

Guiné-Bissau - Acordo de Cooperação Jurídica entre a República Portu-


guesa e a República da Guiné-Bissau - art.15.º, 19.º, 21.º, 22.º, 25.º, 27.º e
31.º Resolução da A.R. n.º 11/89, de 19/5

Moçambique - Acordo de Cooperação Jurídica e Judiciária entre a Re-


pública Portuguesa e a República de Moçambique - artigos 15.º, 19.º,
21.º, 22.º, 25.º, 27.º e 30.º Resolução da A.R. n.º 7/91, de 14/2

São Tomé e Príncipe - Acordo sobre Cobrança de Alimentos entre a


República Portuguesa e a República Democrática de S. Tomé e Príncipe -
Decreto n.º 44/84, de 1/8

Entidade a que deve ser dirigido o pedido:

DGAJ - Serviço de Cooperação Judiciária Internacional

58. Cobrança de Alimentos nos EUA:

http://www.cji-dgaj.mj.pt/Paginas/terceiros_2.aspx

59. Direito legal a alimentos:

- Indisponível (art.º 2008.º, n.º 1, do Cód. Civil), pois não pode haver renún-
cia ao mesmo, sob pena de nulidade do contrato – art.º 280.º do Cód. Civil),
podendo, contudo, deixar de se peticionar alimentos ou renunciar-se a
prestações vencidas;

- Impenhorável (art.º 2008.º, n.º 2, do Cód. Civil);


- Não pode o devedor proceder à compensação da dívida de alimentos por
créditos de outra ordem que tenha para com o alimentando (art.º 853.º, n.º
1, al.ª b), do Cód. Civil);

- Trata-se de uma obrigação conjunta e não solidária (art.º 513.º do Cód. Ci-
vil), já que o devedor apenas responde de acordo com as suas reais possibi-
lidades, sendo, então, a regra a conjunção e não a solidariedade;

- Natureza pessoal, cessando com a morte do alimentante e do alimentando,


não se transmitindo aos respetivos sucessores as prestações vincendas
(art.º 2013.º, n.º 1, al.ªs a) e b) do Cód. Civil). Todavia, as prestações venci-
das que não tenham sido pagas podem ser peticionadas aos herdeiros do
obrigado;

- Caraterística da atualidade: devem aferir-se no momento da decisão as


possibilidades económicas do obrigado e as necessidades do beneficiário –
art.º 2004.º, n.º 1, do Cód. Civil;

- Caraterística da variabilidade: podendo ser reduzida ou aumentada a me-


dida exata do quantum alimentício – art.º 2012.º do Cód. Civil;

- O credor de alimentos goza de hipoteca legal sobre os bens do obrigado


(art.º 705.º, al.ª d), do Cód. Civil);

- Nos termos do art.º 737.º, n.º 1, do Cód. Civil, o credor de alimentos goza
de privilégio mobiliário geral.

60. É recomendável que os alimentos sejam depositados em conta bancária ou pagos


mediante transferência bancária, por meio de cheque, vale postal ou contra recibo
até ao dia 8 de cada mês, por forma a evitar conflitos no que respeita à prova do seu
pagamento. O desconto no salário, pelo seu caracter estigmatizante, em princípio só
deverá ser ordenado em situações que o justifiquem, designadamente após o in-
cumprimento.

61. Os alimentos devem ser fixados em 12 prestações (mensais) pecuniárias anuais


(art.º 2005.º, n.º 1, do Cód. Civil). Contudo, consulte-se o art.º 2005.º, n.º 2, do Cód.
Civil). Não há prestação de alimentos como subsídio de férias e de Natal.
Cumpre salientar, todavia, que em face da impossibilidade de o progenitor não
guardião deduzir as despesas extraordinárias (tudo o que não sejam alimentos,
“stricto sensu”) na sua declaração fiscal, será um bom regime a previsão de duas
prestações fixas por conta de tais despesas, a pagar aquando do recebimento do
subsídio de férias e de natal (para quem receba por inteiro), em montante que cu-
bra as despesas anuais a esse título. É que este regime tem a vantagem de não se
andar a discutir por fatura/recibo e o devedor não é surpreendido, pois sabe quan-
do tem e pagar e o quê. Obviamente não se incluem as despesas muito extraordiná-
rias: próteses, óculos, operações cirúrgicas, etc. Neste caso, para que o progenitor
não guardião possa deduzir esse valor, convém dizer que são “prestações comple-
mentares a título de sustento”, pois esta expressão – sustento – tem um âmbito que
vai para além dos meros alimentos em sentido estrito.

62. Não integra o conceito de alimentos o subsídio familiar a crianças e jovens (cf.
Decreto-Lei n.º 133-B/97, de 30.05, alterado pelos Decretos-Lei n.º 341/99, de
25.08, e 250/2001, de 21.09).
63. Na fixação dos alimentos atende-se, no que respeita às possibilidades do alimentan-
te:

- aos rendimentos de trabalho (os salários) do alimentante (a parte disponível


do seu rendimento normal, certo, regular e atual);
- aos rendimentos de caráter eventual, como gratificações, emolumentos e os
subsídios de Natal e de férias (a decisão relativa aos alimentos deve especifi-
car um aumento correspondente aos subsídios de férias e de Natal nos meses
em que o obrigado aufere tais subsídios, não havendo, a nosso ver, que fixar
tal pensão em mais do que 12 prestações mensais por não haver lugar a pres-
tação de alimentos como subsídio de férias e de Natal); a este propósito, os
pais podem optar por distribuir o aumento correspondente aos subsídios pe-
los 12 meses do ano, sem permitir qualquer desconto nestas prestações pelo
tempo em que o progenitor não guardião passa com os filhos durante as visi-
tas (o tempo de «convívio») ou durante as férias;
- os rendimentos de capital;
- as poupanças;
- as rendas provenientes de imóveis arrendados;
- o valor dos seus bens.
(cf. Paulo Guerra e Helena Bolieiro, A Criança e a Família - Uma Questão de Di-
reito(s), pág. 210)

64. Para determinação das necessidades atuais do alimentando tem que se atender:

- ao custo de vida em geral (custo médio e normal de subsistência);


- à idade do filho (quanto mais velha é a criança mais avultados são os encar-
gos com a sua educação, vestuário, alimentação, vida social, atividades extra-
curriculares – ex.: lições de música, futebol, basquetebol, natação, campos de
férias, etc.);
- à sua saúde;
- à sua situação social;
- ao nível de vida anterior à rutura de convivência entre os pais.
(cf. Paulo Guerra e Helena Bolieiro, A Criança e a Família - Uma Questão de Di-
reito(s), pág. 213)

65. Na fixação dos alimentos devidos a menor, filho de pais separados, ter-se-á
presente o disposto nos artigos 2003.º e 2004.º do Cód. Civil, mas o tribunal julgará
de harmonia com a equidade, segundo os critérios de um bom pai de família (cf. Ac.
Rel. Évora, de 31.03.1977).

66. Fundamentos para uma alteração da prestação de alimentos (art.º 42.º do


Regime Geral do Processo Tutelar Cível):

- aumento ou diminuição da taxa de inflação;


- aumento do custo de vida;
- depreciação do valor da moeda (índices de preços do consumidor publicados
pelo Instituto Nacional de Estatística – art.º 551.º do Cód. Civil);
- alteração das circunstâncias financeiras do obrigado;
- modificação das necessidades do filho.
(cf. Paulo Guerra e Helena Bolieiro, A Criança e a Família - Uma Questão de Di-
reito(s), págs. 214-215)

67. Para que a adaptação da prestação de alimentos ao aumento do custo de vida


se faça anualmente, de forma automática, na decisão ou no acordo da primitiva ação
deve fixar-se uma cláusula de indexação do montante a pagar à taxa de inflação ou à
taxa de crescimento dos salários.

68. Os alimentos encontram-se sujeitos a atualização, devendo fixar-se o critério


respetivo na sentença.
Por vezes fixa-se o aumento por indexação à taxa de inflação, outras vezes
por indexação aos aumentos da função pública e outras vezes em função dos aumen-
tos no vencimento.
A indexação aos aumentos da função pública tanto pode ser um bom critério
como um mau critério, tudo dependendo do facto de os aumentos compensarem ou
não a taxa de inflação, o que nem sempre sucede.
A aplicação da fórmula:

Salário (do devedor) de Janeiro do ano a atualizar : salário de janeiro do ano anterior x pensão de alimentos
do ano anterior = pensão atualizada

pode a dada altura tornar-se demasiado onerosa para o devedor de alimentos.


O critério da fixação da atualização em função da taxa de inflação também
esquece certos produtos que não entram no cabaz para cálculo de tal taxa.
De qualquer das formas, deve sempre procurar-se um critério que seja o
mais adequado à situação dos pais.
Assim, não faz sentido o critério da atualização da pensão em função do au-
mento dos salários da função pública quando o pai trabalha numa empresa privada
que lhe aumenta o salário de forma mais generosa.
Por outro, lado, pode o pai trabalhar no estrangeiro, devendo então o critério
ser o mais conforme ao nível de vida em tal país.

69. Não se pode ignorar que o progenitor que tem a guarda de uma criança acaba
sempre por gastar mais, todos os meses, com o seu sustento pois está em contacto
com as suas necessidades diariamente. Assim, não se devem admitir reduções na
prestação mensal a pagar no mês em que a criança está a passar férias com o proge-
nitor sem a guarda ou nos períodos de tempo correspondentes ao exercício normal
do direito de visita, em que a criança está em casa deste e a seu cargo. Note-se que a
diminuição de despesas do progenitor que detém a guarda refere-se, principalmen-
te, às despesas de alimentação, já que as restantes (vestuário, educação, saúde) não
são substancialmente alteradas pelo facto de o menor estar a visitar o progenitor
que não tem a guarda.
A pensão de alimentos não é para a mãe, é para o menor.

70. Os alimentos provisórios são insuscetíveis de restituição, caso os definitivos


sejam em valor inferior ao seu (cf. art.º 2007.º, n.º 2, do Cód. Civil).

71. Os alimentos definitivos não devem ser restituídos em caso algum, podendo
ainda o alimentado exigir a diferença que existir a seu favor, caso os definitivos se-
jam em valor superior aos provisórios.
72. Os alimentos provisórios são devidos desde o primeiro dia do mês subse-
quente à data do respetivo pedido (art.º 386.º do Cód. Proc. Civil), sendo os alimen-
tos definitivos devidos desde a data da propositura da ação (art.º 2006.º do Cód.
Civil).

73. Tem aplicação o disposto no artigo 777.º do Cód. Proc. Civil aos casos do art.º
48.º do Regime Geral do Processo Tutelar Cível, o qual regula o depósito ou entrega
da prestação devida:

Artigo 777.º do CPC


1 - Logo que a dívida se vença, o devedor que não a haja contestado é obrigado:
a) A depositar a respetiva importância em instituição de crédito à or-
dem do agente de execução ou, nos casos em que as diligências de
execução sejam realizadas por oficial de justiça, da secretaria; e
b) A apresentar o documento do depósito ou a entregar a coisa devi-
da ao agente de execução ou à secretaria, que funciona como seu de-
positário.
2 - Se o crédito já estiver vendido ou adjudicado e a aquisição tiver sido notifica-
da ao devedor, a prestação é entregue ao respetivo adquirente.
3 - Não sendo cumprida a obrigação, pode o exequente ou o adquirente
exigir, nos próprios autos da execução, a prestação, servindo de título exe-
cutivo a declaração de reconhecimento do devedor, a notificação efetuada
e a falta de declaração ou o título de aquisição do crédito.
4 – (…)
5 – (…)

74. Segundo Helena Bolieiro, Novos Modelos e Tendências na Regulação do Exer-


cício Das Responsabilidades Parentais, A Residência Alternada, CEJ:

Até 2011: o exercício em comum era irrelevante para efeitos de dedução de despe-
sas com os filhos, particularmente quando só tinham um filho, uma vez que apenas um dos
progenitores podia apresentar despesa com o filho.

A partir de 2012 (Lei n.º 64-B/2011, de 30 de dezembro): no caso de exercício


em comum das responsabilidades parentais (na sequência de divórcio, separação judicial
de pessoas e bens, declaração nulidade ou anulação do casamento), as deduções à coleta
em geral eram até 50% relativamente a cada dependente. Ou seja, cada progenitor passava
a poder deduzir os encargos que suportou com os dependentes, até 50% dos tetos máxi-
mos estabelecidos.

A partir de 2012 (Lei n.º 64-B/2011, de 30 de dezembro): a dedução à coleta das


importâncias relativas a encargos com pensão de alimentos a que o sujeito passivo são
deduzidas 20% das importâncias comprovadamente suportadas e não reembolsadas res-
peitantes a encargos com pensões de alimentos a que o sujeito esteja obrigado por senten-
ça judicial ou por acordo homologado nos termos da lei civil, salvo nos casos em que o seu
beneficiário faça parte do mesmo agregado familiar para efeitos fiscais ou relativamente
ao qual estejam previstas outras deduções à coleta ao abrigo do artigo 78.º do Código do
IRS, com o limite mensal de um IAS, por beneficiário.

Atualmente, as pensões de alimentos consideram-se rendimentos da categoria H


(art.º 11.º, n.º 1, al.ª a), do CIRS), são dedutíveis à coleta, nos termos do art.º 78.º, n.º 1, al.ª
f), do CIRS, quando enquadráveis no artigo 83.º-A, são tributadas autonomamente à taxa
de 20 % (art.º 72.º, n.º 5, do CIRS), e a dedução à coleta prevista no artigo 83.º-A impede a
consideração das demais deduções referentes ao dependente por referência ao qual o su-
jeito passivo efetua pagamentos de pensões de alimentos (art.º 78.º, n.º 10, do CIRS). E nos
termos do

Artigo 83.º-A do CIRS


(Importâncias respeitantes a pensões de alimentos)

1 - À coleta devida pelos sujeitos passivos são deduzidas


20 % das importâncias comprovadamente suportadas e
não reembolsadas respeitantes a encargos com pensões
de alimentos a que o sujeito esteja obrigado por sentença
judicial ou por acordo homologado nos termos da lei ci-
vil, salvo nos casos em que o seu beneficiário faça parte
do mesmo agregado familiar para efeitos fiscais ou rela-
tivamente ao qual estejam previstas outras deduções à
coleta ao abrigo do artigo 78.º

2 - A dedução de encargos com pensões de alimentos


atribuídas a favor de filhos, adotados, enteados e afilha-
dos civis, maiores, bem como àqueles que até à maiori-
dade estiveram sujeitos à tutela, depende da verificação
dos requisitos estabelecidos na alínea b) do n.º 5 do arti-
go 13.º 3

Os pais divorciados ou separados judicialmente de pessoas e bens que exerçam


guarda compartilhada (cf. guarda conjunta alternada) dos filhos, em detrimento da atri-
buição de uma pensão de alimentos, podem repartir entre si (50% para cada um) as dedu-
ções à coleta relativas às despesas que têm com os seus dependentes. Mas atenção, para
que tal aconteça é necessário que as faturas relativas às despesas dos filhos tenham os
números de identificação fiscal (NIF) das crianças.
Em caso de divórcio, quando os filhos ficam a cargo de ambos os pais (com guarda
conjunta alternada), as deduções à coleta das despesas relacionadas com os descenden-
tes são divididas a 50% por cada um dos progenitores. Assim, as faturas com gastos rela-
cionados com os filhos devem conter a identificação fiscal dos pequenos e não dos pais.
Pelo contrário, quando a guarda apenas é atribuída a um dos progenitores e o
outro paga uma pensão de alimentos, o primeiro pode deduzir a totalidade das despe-
sas relacionadas com o filho, enquanto o segundo apenas pode abater à coleta as impor-

3
Art.º 13.º, n.º 5, do CIRS:
«Para efeitos do disposto no número anterior, e desde que devidamente identificados pelo número fiscal
de contribuinte na declaração de rendimentos, consideram-se dependentes:

a) (…);

b) Os filhos, adotados e enteados, maiores, bem como aqueles que até à maioridade estiveram sujei-
tos à tutela de qualquer dos sujeitos a quem incumbe a direção do agregado familiar, que não tenham
mais de 25 anos nem aufiram anualmente rendimentos superiores ao valor da retribuição mínima
mensal garantida;

c) (…);

d) (…).
tâncias pagas em pensões de alimentos. No caso do progenitor que não tem a custódia dos
filhos, apenas poderá beneficiar da dedução à coleta das importâncias respeitantes a pen-
sões de alimentos decretadas por sentença judicial ou resultantes de acordo homologado
nos termos civis.
O progenitor que recebe a pensão de alimentos tem de indicar no IRS, no campo
destinado a rendimento de pensões, a totalidade do valor recebido (no anexo A), e o pro-
genitor que paga a pensão de alimentos pode abater ao seu imposto 20% do valor pago,
com um limite mensal, preenchendo o anexo H, no campo respetivo.
No caso dos progenitores que ficam com o encargo de pagar a pensão, o Fisco consi-
dera como dedução apenas 20% do total, com um limite mensal máximo. Tenha em aten-
ção que só o valor decidido em Tribunal ou por acordo em Conservatória pode ser deduzi-
do. O montante deverá ser declarado no quadro seis do anexo H.
Todos montantes que ultrapassem o valor fixado não são aceites pelo Fisco.
Portanto, caso o progenitor que paga a pensão decida, voluntariamente, aumentar o
valor estabelecido pelo Tribunal, este não será tido em conta para efeitos de dedu-
ções de IRS. Para que seja considerado pelo Fisco, é preciso que o Tribunal reconhe-
ça o novo valor e o homologue. O pedido de homologação do acordo deve ser dirigi-
do ao juiz do tribunal da área da residência.
O progenitor que recebe a pensão de alimentos, também tem de declarar como ren-
dimento o valor que aufere no anexo A.
A pensão de alimentos declara-se no IRS já que é encarada como um rendimento da
categoria H. Contudo, se a pensão for paga voluntariamente (filhos a pais, por exemplo),
quem a recebe não tem de declarar a mesma.
Cumpre salientar que em face da impossibilidade de o progenitor não guardião de-
duzir as despesas extraordinárias (tudo o que não sejam alimentos, “stricto sensu”) na sua
declaração fiscal, será um bom regime a previsão de duas prestações fixas por conta de
tais despesas, a pagar aquando do recebimento do subsídio de férias e de natal (para quem
receba por inteiro), em montante que cubra as despesas anuais a esse título. É que este
regime tem a vantagem de não se andar a discutir por fatura/recibo e o devedor não é
surpreendido, pois sabe quando tem a pagar e o quê. Obviamente não se incluem as des-
pesas muito extraordinárias: próteses, óculos, operações cirúrgicas, etc. Neste caso, para
que o progenitor não guardião possa deduzir esse valor, convém dizer que são
“prestações complementares a título de sustento”, pois esta expressão – sustento –
tem um âmbito que vai para além dos meros alimentos strictu sensu.

75. Em face de um requerimento em que se alegue o incumprimento da presta-


ção de alimentos, por força do novo regime introduzido pelo art.º 41.º, n.º 3, do Re-
gime Geral do Processo Tutelar Cível, a notificação do requerido para alegar o que
tiver por conveniente em cinco dias, com a menção de que, nada dizendo, serão con-
siderados confessados os factos constantes do requerimento apresentado (artigos
986.º, n.º 1, e 293.º, n.º 3, do Código de processo Civil: «A falta de oposição no prazo
legal determina, quanto à matéria do incidente, a produção do efeito cominatório que vigore
na causa em que o incidente se insere.»), passa a ser excecional, devendo em regra de-
signar-se data para conferência de pais.
76. Quanto à demanda prévia dos obrigados do art.º 2009.º do Cód. Civil, afigura-
se-nos a mesma imperiosa, até porque a família deve responder em primeira linha e
a obrigação do Estado é residual.
Estes devem ser demandados em ação de alimentos ou a regulação do exercí-
cio das responsabilidades parentais ou incidente de incumprimento pode prosse-
guir em relação aos alimentos contra eles nos termos do art.º 316.º, n.º 2, do Cód.
Proc. Civil.
A ação de alimentos pode ser intentada, correndo por apenso.

77. Da consequência jurídica da não reclamação no processo de insolvência dos


créditos alimentares constituídos anteriormente à declaração de insolvência

“O processo de insolvência é um processo de execução universal que tem co-


mo finalidade a satisfação dos credores pela forma prevista num plano de insol-
vência, baseado, nomeadamente, na recuperação da empresa compreendida na
massa insolvente, ou, quando tal não se afigure possível, na liquidação do patri-
mónio do devedor insolvente e a repartição do produto obtido pelos credores” (ar-
tigo 1.º, n.º 1, do CIRE, na redação introduzida pela Lei nº 16/2012, de 20 de
abril).

Por isso, de acordo com o disposto no artigo 90.º do CIRE [cf. Os credores
da insolvência, como previsto no artigo 128º, nº 3, do CIRE, se nele quiserem
obter pagamento, têm o ónus de reclamar no processo de insolvência os seus
créditos, qualquer que seja a sua natureza e fundamento e ainda que o crédito
em apreço esteja reconhecido por decisão definitiva. Por isso também se prevê
no artigo 173.º do CIRE que “O pagamento dos créditos sobre a insolvência ape-
nas contempla os que estiverem verificados por sentença transitada em julgado”],
“Os credores da insolvência [cf. Credores da insolvência são os que vêm previstos
no n.º 1, do artigo 47.º do CIRE, ou seja, todos os titulares de créditos de natureza
patrimonial sobre o insolvente, ou garantidos por bens integrantes da massa in-
solvente, cujo fundamento seja anterior à data da declaração de insolvência e logo
que ocorra esta declaração, qualquer que seja a sua nacionalidade e domicílio]
apenas poderão exercer os seus direitos em conformidade com os preceitos do
presente Código, durante a pendência do processo de insolvência.”

A natureza universal do processo de insolvência determina a impossibili-


dade de ser instaurada qualquer ação executiva após a declaração de insolvên-
cia contra o insolvente, tal como se prevê no nº 1 do artigo 88º do CIRE.

A violação deste comando jurídico integra uma causa de impossibilidade


legal originária da lide e é fundamento de extinção da lide executiva intentada
com preterição da regra da universalidade do processo de insolvência (artigo
277.º, alínea e), do Código de Processo Civil).

A reclamação de créditos da insolvência efetua-se dentro do prazo fixado


na sentença de insolvência, nos termos previstos no artigo 128º do CIRE e pode
ainda ser efetuada, findo o prazo para as reclamações de créditos fixado na sen-
tença, nos seis meses subsequentes ao trânsito em julgado da sentença de insol-
vência, ou nos três meses subsequentes à sua constituição, quando se constitu-
am volvidos mais de seis meses sobre o trânsito em julgado da sentença de in-
solvência (artigo 146.º do CIRE, na redação introduzida pela Lei nº 16/2012).

De acordo com o n.º 1, do artigo 245.º do CIRE, a decisão final de exonera-


ção do passivo restante importa a extinção de todos os créditos sobre a insol-
vência [cf. Créditos sobre a insolvência, de acordo com o nº 1, do artigo 47º do
CIRE, são todos os créditos de natureza patrimonial sobre o insolvente, ou ga-
rantidos por bens integrantes da massa insolvente, cujo fundamento seja ante-
rior à declaração de insolvência, sendo equiparados a estes créditos, os créditos
adquiridos, rectius, transmitidos no decorrer do processo (artigo 47º, nº 3, do
CIRE)] que ainda subsistam à data em que é concedida, sem exceção dos que
não tenham sido reclamados e verificados, não sendo contudo afetados os direi-
tos dos credores da insolvência contra os codevedores ou os terceiros garantes
da obrigação.

Desta previsão legal resulta, diretamente, que a decisão final de exoneração


do passivo restante implica a extinção de todos os créditos da insolvência que
ainda não se mostrem satisfeitos, ainda que não tenham sido reclamados. Ex-
trai-se também desta norma que os créditos da insolvência que não tenham si-
do reclamados não se extinguem por esse facto, pois que se assim não fosse, fi-
caria sem explicação a expressa referência a estes créditos.

Porém, a exoneração final do passivo restante não abrange, entre outros, os


créditos de alimentos, tenham ou não sido reclamados (artigo 245º, nº 2, alínea
a) do CIRE), porquanto a exigência da reclamação apenas está prevista para as
indemnizações devidas por factos ilícitos dolosos praticados pelo devedor (arti-
go 245.º, n.º 2, alínea b), do CIRE) e, por outro lado, sendo esta previsão uma ex-
ceção à norma geral do nº 1, na falta de qualquer ressalva na norma definidora
da exceção, deve concluir-se que se refere a todos os créditos de alimentos, te-
nham ou não sido reclamados.

Não se perca de vista que determinado o encerramento do processo de in-


solvência, se acaso não houvesse sido deferido inicialmente o incidente de exo-
neração do passivo restante, os credores da insolvência poderiam exercer os
seus direitos contra o devedor, sem outras restrições que não as derivadas do
eventual plano de insolvência ou de um plano de pagamentos (artigo 233.º, n.º
1, alínea c), do CIRE).

A preclusão derivada do artigo 90.º do CIRE não é equiparável a uma extin-


ção dos créditos da insolvência que não tenham sido reclamados nos termos
previstos no CIRE. A aludida preclusão apenas obsta ao exercício dos direitos
dos credores da insolvência, durante a pendência do processo de insolvência.
Trata-se assim de uma mera preclusão processual, apenas operante dentro e
enquanto pende o processo de insolvência e não de uma nova causa legal de ex-
tinção de direitos de crédito.

Assim, por tudo quanto precede, conclui-se que não ocorre qualquer extin-
ção dos créditos exequendos referentes a prestações alimentares existentes à
data da declaração de insolvência, ainda que não tenham sido reclamados na in-
solvência.

78. Da consequência jurídica da não exigência de alimentos contra a massa in-


solvente relativamente aos créditos de alimentos posteriores à declaração de insol-
vência

Nos termos do disposto no artigo 93.º do CIRE, na redação introduzida pela


Lei nº 16/2012, “[o] direito a exigir alimentos do insolvente relativo a período
posterior à declaração de insolvência só pode ser exercido contra a massa se ne-
nhuma das pessoas referidas no artigo 2009.º do Código Civil estiver em condições
de os prestar, devendo, neste caso, o juiz fixar o respetivo montante.”

A nosso ver, não obstante as especificidades do dever de sustento dos me-


nores previsto no artigo 1878.º, n.º 1, do Código Civil, relativamente à geral
obrigação de prestação de alimentos prevista no artigo 2003.º, do mesmo di-
ploma legal, a exigibilidade de prestações alimentares vencidas após a declara-
ção de insolvência, pelas forças da massa insolvente, segue o regime previsto no
artigo 93º do CIRE.

Porém, este normativo não é no caso em apreço aplicável porquanto o pro-


cesso de insolvência foi encerrado por insuficiência da massa insolvente. Por is-
so, ainda que se consiga demonstrar a impossibilidade dos menores exigirem
alimentos a qualquer das pessoas previstas no artigo 2009.º do Código Civil,
que não o insolvente, sempre essa pretensão estaria votada à improcedência em
virtude de inexistir massa insolvente que pudesse responder por tal obrigação,
o que aliás determina o encerramento do processo de insolvência.

Na nossa perspetiva, tendo sido deferido liminarmente o incidente de exo-


neração do passivo restante e estando em causa prestações alimentares consti-
tuídas após a declaração de insolvência, ou seja, créditos que não são créditos
da insolvência, o problema em análise deve resolver-se tendo em atenção o pre-
visto no artigo 242º, nº 1, do CIRE.

Ora, de acordo com o normativo que se acaba de citar, a impossibilidade de


instauração de execuções contra o devedor beneficiário do incidente de exone-
ração do passivo restante, durante o período da cessão, apenas opera relativa-
mente aos créditos da insolvência, não sendo aplicável aos créditos constituídos
após a declaração de insolvência, como sucede relativamente às prestações ali-
mentares vencidas após a declaração de insolvência.

79. No sentido sustentado nos pontos 78 e 79 anteriores, consultem-se os Acór-


dãos da relação de Guimarães de 22-02-2011 (relatora: Maria Luísa Ramos; proces-
so 2115/10.8TBGMR-F.G1)) e do Porto de 25-01-2016 (relator: Carlos Gil; processo
1634/14.1T8MTS-CP1).

III. CONVÍVIO COM O PROGENITOR QUE NÃO TEM A GUARDA FÍSICA

80. Num processo em matéria de visitas, Hokkannen/Finlândia, o TEDH conside-


rou que uma rapariga de 12 anos tinha «maturidade suficiente para que a sua opi-
nião seja tida em conta, pelo que as visitas não devem ser autorizadas contra a sua
vontade.» (cf. Tribunal Europeu dos Direitos do Homem (Secção), acórdão de 23 de
setembro de 1994, Hokkanen/Finlândia, n.º 19823/92, ponto 61.
Para resolver o problema da recusa da criança não devem ser usados meios
coercivos como intervenção policial com arrombamento de portas ou multas ou
indemnizações a pagar pelo progenitor com a guarda, salvo em casos muito especi-
ais, adiante identificados (cf. SAP).
81. O interesse superior da criança deve ser a consideração primordial em todos
os processos que digam respeito a crianças. A avaliação da situação deve ser feita
com precisão. As diretrizes a adotar devem promover o desenvolvimento de méto-
dos multidisciplinares de avaliação do interesse superior da criança, reconhecendo
que se trata de um exercício complexo. Tal avaliação torna-se ainda mais difícil
quando esse interesse tem de ser conciliado com o interesse das demais partes en-
volvidas, tais como outras crianças, pais, vítimas, etc. Tal deve ser feito com profis-
sionalismo e caso a caso.

82. O interesse superior da criança deve ser sempre tomado em consideração


em conjugação com outros direitos da criança como, por exemplo, o direito a ser
ouvida, o direito a ser protegida contra a violência, o direito a não ser separada dos
pais, etc. (cf. Para sugestões práticas, ver Diretrizes do ACNUR sobre a determinação
do interesse superior da criança, 2008:
www.unhcr.org/refworld/docid/148480c342.html.
A abordagem global tem de ser a regra.

83. Em vários litígios de natureza familiar, o Tribunal Europeu dos Direitos do


Homem declarou que os tribunais nacionais devem apreciar a difícil questão do in-
teresse superior da criança com base num relatório psicológico fundamentado, in-
dependente e atualizado, e que a criança deve, se possível e de acordo com a sua
maturidade e a idade, ser ouvida pelo psicólogo e pelo tribunal sobre questões res-
peitantes ao direito de visita, de residência e de guarda (cf. especialmente, Tribunal
Europeu dos Direitos do Homem (Grande Secção), acórdão de 13 de julho de 2000,
Elsholz/Alemanha, n.º 25735/94, ponto 53, e acórdão de 8 de julho de 2003, Som-
merfeld/Alemanha, n.º 31871/96, pontos 67-72. Ver, ainda, o voto parcialmente
discordante do juiz Ress, acompanhado pelos juízes Pastor Ridurejo e Türmen no
acórdão Sommerfeld/Alemanha (ibid.), ponto 2.

84. O conceito de relações pessoais abrange, designadamente, o denominado


direito de visita (permanência ou simples encontro) mas também toda e qualquer
forma de contacto entre a criança e os familiares (incluindo nesta definição toda e
qualquer relação estreita de tipo familiar como a existente entre os netos e os avós
ou entre irmãos, emergentes da lei ou de uma relação familiar de facto) e abrangen-
do o direito dos familiares à obtenção de informações sobre a criança (cf. artigo 2.º,
alínea a), da Convenção sobre as Relações Pessoais Relativas às Crianças aberta à
assinatura em 5 de maio de 2003 - instrumento ainda não ratificado e aprovado pe-
lo Estado Português.

85. O direito de convívio deve ser visto como um direito natural decorrente da
relação biológica, por isso designado como direito de conteúdo altruístico ou poder
funcional, por não servir exclusivamente o titular do “poder-dever”, mas o interesse
do outro - da criança ou do jovem - devendo ser exercido tendo em vista a realização
do fim que está na base da sua concessão, ou seja, a manutenção e fomento da rela-
ção de afetividade e de amizade entre a criança e os seus progenitores.

86. O regime de contactos pessoais (ou direito de convívio) definido no acordo


ou na decisão judicial de regulação do exercício das responsabilidades parentais
serve ainda para, entre outras coisas, possibilitar ao progenitor com quem a criança
não reside habitualmente a oportunidade de acompanhar a maneira como o filho
está a ser educado e orientado pelo outro progenitor.

87. Paulo Guerra e Helena Bolieiro, A Criança e a Família - Uma Questão de Direi-
to(s), pág. 189, sustentam que o progenitor guardião tem o direito de conhecer o
local onde vai ter lugar o exercício do direito de convívio (visitas) do outro progeni-
tor, podendo acordar os progenitores ou ser decidido pelo tribunal alguma limita-
ção a tal exercício, eventualmente proibindo o titular desse direito de abandonar o
país com o filho. Importa, no entanto, conjugar o direito de vigilância do progenitor
que tem a guarda com o direito à reserva da intimidade da vida privada do progeni-
tor que tem o direito de convívio (visita).

88. Aspetos a regular:

- transporte da criança e custos desse transporte;


- Natal, Páscoa, Carnaval e Verão;
- aniversários;
- Ano Novo;
- horários de telefonemas.

89. O direito ao convívio pode ser negado em casos devidamente fundamentados


e como ultima ratio, devendo tal restrição ser necessária e proporcional à salva-
guarda do interesse do filho. Antes de negar tal direito, pode o tribunal suspender
provisoriamente o direito de convívio ou pode subordiná-lo a certas condições, co-
mo, por exemplo, a imposição da presença de uma terceira pessoa da confiança do
progenitor não guardião durante as visitas, a exigência de que o progenitor não
guardião, alcoólico ou toxicómano, não tenha ingerido álcool ou droga antes da visi-
ta, a proibição de que a criança passe a noite em casa do outro progenitor, a proibi-
ção de levar a criança para cafés, etc.
A intervenção do Estado, negando o direito de convívio, só se justifica, aí en-
contrando a sua licitude e a sua razão de ser, quando ocorra o mesmo fundamento
que justifica a aplicação de uma medida limitativa do exercício das RP (art.º 1918.º
do Cód. Civil) ou uma medida inibitória do exercício das mesmas (art.º 1915.º do
Cód. Civil).

Exemplos:

- o progenitor que apresente comportamento maltratante para com


o filho;
- a hostilidade do progenitor em relação ao filho;
- o estado mental do progenitor não guardião;
- a recusa de um adolescente em ver o progenitor sem a guarda,
confirmada por um psicólogo (ver adiante a questão da Síndrome
de Alienação Parental);
- os riscos de rapto;
- as suspeitas de abuso sexual ou de maltrato.
(cf. sobre este ponto: Paulo Guerra e Helena Bolieiro, A Criança e a
Família - Uma Questão de Direito(s), pg. 194 e nota 54; Clara So-
ttomayor, Regulação do Exercício do Poder Paterna nos casos de di-
vórcio, 4.ª edição, Almedina, pág. 87).

Sobre o assunto, consulte-se o art.º 40.º, n.ºs 9 e 10, do Regime Geral do Pro-
cesso Tutelar Cível

90. A investigação científica demonstra que a criança maltratada ou abusada,


quando não se sente protegida pelo sistema, faz uma aliança com o abusador, ten-
dendo a relacionar-se com este de forma positiva, como uma forma de adaptação ao
maltrato ou de resiliência, para sobreviver a violências psicológicas profundas pe-
rante as quais se sente impotente.
Nenhum tribunal deve confiar a guarda a um progenitor acusado de um cri-
me tão grave nem impor visitas coativamente, nos casos em que se verifica a hipóte-
se de ter ocorrido um abuso sexual.
(cf. Temas de Direito das Crianças, Clara Sottomayor, páginas 215 a 216, Al-
medina 2014)

91. Em caso de não exercício prolongado do direito de convívio, o progenitor


guardião pode invocar, com base nos art.ºs 41.º, n.º 7, e 42.º, n.º 1, do Regime Geral
do Processo Tutelar Cível, uma modificação temporária do exercício do direito de
convívio (visita), ficando desobrigado de ter a criança disponível nos dias e horas
marcadas para o exercício do direito de convívio, podendo ainda condicionar o
exercício do mesmo direito ao aparecimento do progenitor não guardião até uma
determinada hora, sob pena de este perder a possibilidade de exercer o direito de
visita mais tarde. (cf. Paulo Guerra e Helena Bolieiro, A Criança e a Família - Uma
Questão de Direito(s), pg. 195)

92. Ao progenitor que não exerça, no todo ou em parte, as responsabilidades


parentais assiste o direito de ser informado sobre o modo do seu exercício, desig-
nadamente sobre a educação e as condições de vida do filho (art.º 1906.º, n.º 6, do
Cód. Civil).
Não se trata de um direito de ingerência, mas sim de um direito de informa-
ção, de um direito de consulta e de propor. Todavia, em casos justificados, a discor-
dância pode dar origem a uma ação judicial.

93. Os pais não podem injustificadamente privar os filhos do convívio com os


irmãos e ascendentes (art.º 1887.º-A do Cód. Civil). Em caso de violação deste direi-
to, deve recorrer-se a uma ação tutelar comum (art.º 67.º do Regime Geral do Pro-
cesso Tutelar Cível).
Não existe um direito de visita dos avós. O que existe é o direito da criança de
manter regularmente relações pessoais e contactos diretos com os pais, salvo se tal
se mostrar contrário ao interesse superior da criança – art.º 9.º, n.º 3, da Convenção
sobre os Direitos da Criança.
Mas já será usada a ação do art.º 44.º do Regime Geral do Processo Tutelar
Cível quando os pais estiverem em desacordo relativamente à convivência de um
filho com os avós.

94. No regime de guarda compartilhada apenas se justifica regular as férias, os


dias festivos e, eventualmente, os aniversários. Mas cada caso é um caso…

III.1 SÍNDROME DE ALIENAÇÃO PARENTAL

Assiste-se cada vez mais à transformação do conflito conjugal num conflito paren-
tal, com perturbação da convivência familiar (outro progenitor e família alargada, tidos
como “adversários”).

O progenitor que não tem a guarda não pode ser visto sequer como um mero visi-
tante, devendo antes «fazer parte» da relação parental.
Não se exige um casal parental após a separação, mas exige-se pais para sempre.

«Pai» é uma palavra que todos conhecem, é uma palavra universal. Ela indica uma
relação fundamental cuja realidade é antiga como a história do homem. Contudo, hoje che-
gou-se a afirmar que a nossa seria «uma sociedade sem pais». Noutros termos, sobretudo
na cultura ocidental, a figura do pai estaria simbolicamente ausente, esvaecida, removida.

Num primeiro momento isto foi sentido como uma libertação: libertação do pai-
patrão, do pai como representante da lei que se impõe de fora, do pai como censor da feli-
cidade dos filhos e impedimento à emancipação e à autonomia dos jovens. Por vezes havia
casas em que no passado reinava o autoritarismo, em certos casos até a prepotência: pais
que tratavam os filhos como servos, sem respeitar as exigências pessoais do seu cresci-
mento; pais que não os ajudavam a empreender o seu caminho com liberdade – mas não é
fácil educar um filho em liberdade -; pais que não os ajudavam a assumir as suas próprias
responsabilidades para construir o seu futuro e o da sociedade.

O problema dos nossos dias não parece ser, todavia, tanto a presença dos pais, mas
ao contrário, a sua ausência, o seu afastamento. Por vezes os pais estão concentrados em si
mesmos e, sem querer, deixam as crianças sozinhas, sem os afetos devidos. Outras vezes
são afastados, por força de conjunturas sociais ou mesmo de comportamentos que bem ou
mal se designam de «alienação parental».

A «alienação parental» constitui um abuso moral, um maltrato. E, por isso, proces-


sos em que tal exista devem ser tramitados como muito urgentes, posto que o tempo da
criança não é igual ao tempo do adulto. E sempre com o cuidado de não deixar que a inter-
venção em rede ou o recurso a perícias ou mesmo a produção de prova seja instrumentali-
zada pelo progenitor “abusador/maltratante”.

Uma vez desencadeado um processo de SAP, nenhuma tendência de cura se obser-


va, pelo contrário, a maioria dos casos entregues a si próprios evolui de forma grave. Con-
trariamente ao que o bom sendo parece indicar, o tempo é um inimigo implacável nes-
tes casos, para além de que a noção de temporalidade da criança é diferente da do adulto.

A SAP requer um diagnóstico rápido e medidas simples e eficazes.

Em certos casos de abusos deste tipo é necessário mudar terapeutas, quando o


resultado não é adequado.

Alguns exemplos:

. dificultar o exercício da autoridade parental;


. racionalizações fracas, absurdas ou frívolas para descrédito do progenitor
alienado;
.pequenas punições subtis e veladas, quando a criança ou jovem expressa sa-
tisfação em se relacionar com o progenitor alienado;
. fazer com que a criança ou jovem pense que foi abandonado e não é amado
pelo progenitor alienado;
. induzir a criança a escolher entre um progenitor e outro;
. criar a impressão de que o progenitor alienado é perigoso;
. confiar segredos à criança ou jovem, reforçando o sentimento de lealdade e
de cumplicidade;
. evitar mencionar o progenitor alienado dentro de casa;
.desvalorizar o progenitor alienado, seus hábitos, costumes, amigos e paren-
tes;
. provocar conflitos entre o progenitor alienado e a criança ou jovem;
. cultivar a dependência entre o progenitor alienador e a criança ou jovem;
. intercetar telefonemas, presentes e cartas do progenitor alienado;
. interrogar o filho quando regressa dos convívios com o progenitor alienado;
. induzir culpa no filho por ter um bom relacionamento com o progenitor alie-
nado;
. instigar a criança ou jovem a chamar o progenitor alienado pelo seu primeiro
nome;
. induzir a criança a chamar o padrasto/madrasta de pai/mãe;
. ocultar a respeito do verdadeiro pai/mãe biológico(a);
. abreviar o tempo de convívios da criança ou jovem com o progenitor aliena-
do por motivos fúteis;
. realizar uma campanha de desqualificação da conduta do progenitor no exer-
cício da paternidade ou maternidade;
. dificultar o exercício da autoridade parental;
. dificultar o contacto da criança ou adolescente com o outro progenitor;
. dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar;
. omitir deliberadamente ao outro progenitor informações pessoais relevantes
sobre a criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de
endereço;
. apresentar falsa denúncia contra o outro progenitor, contra a família deste ou
contra avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou
adolescente;
.induzir a criança ou jovem a prestar testemunho dirigido, a prestar falso tes-
temunho, a omitir factos relevantes para a apreciação do tribunal;
. mudar o domicílio para local distante, sem justificação, visando dificultar a
convivência da criança ou adolescente com o outro progenitor, com familiares
deste ou com avós…
. propagação de animosidade aos amigos e/ou família alargada do progenitor
alienado.

A Síndrome de Alienação Parental (SAP) é um distúrbio caracterizado pelo conjun-


to de sintomas resultantes do processo pelo qual um progenitor transforma a consciência
dos seus filhos, mediante diferentes estratégias, com o objetivo de impedir, obstaculizar ou
destruir os seus vínculos com o outro progenitor, até a tornar contraditória em relação ao
que devia esperar-se da sua condição.

Neste processo existe a introdução de uma visão falseada do mundo ou manipula-


da. Após este processo surge a indução de pavor, que pode ser alcançado até através de
uma linguagem de duplo sentido ou através de olhares cheios de subentendidos, apare-
cendo o progenitor alienado como alguém que trava o desejo de liberdade da criança alie-
nada. E a partir de certo momento surge um dever de lealdade, a verdadeira base da ali-
enação, a motivação essencial das crianças, aparecendo numa fase posterior a criança ou
jovem a afirmar por si mesma ter decidido recusar os convívios com o progenitor alienado.

8 (oito) critérios para identificar a presença da SAP:

(1) Uma campanha para denegrir o progenitor alienado;


(2) Racionalizações fracas, absurdas ou frívolas para descrédito do pai aliena-
do;
(3) Falta de ambivalência;
(4) Fenómeno do pensador independente;
(5) Apoio automático ao progenitor alienador;
(6) Ausência de sentimento de culpa relativamente à crueldade e/ou explora-
ção do progenitor alienado;
(7) Presença de encenações encomendadas;
(8) Propagação de animosidade aos amigos e/ou família alargada do progeni-
tor alienado.

Desenvolvendo estes critérios:

«1) Na campanha para denegrir um dos progenitores, sucedem-se falsas acu-


sações (por exemplo, de abusos sexuais4, maus tratos), injúrias, ataques de-
preciativos e/ou mal-intencionados, e redução do contacto com justificações
diversas (doenças, excursões, atividades extracurriculares, familiares, etc.). No
culminar do processo, o filho começa a agir de modo espontâneo, ativo e sis-
temático, encarando o progenitor dito alienado como um desconhecido odio-
so, cuja proximidade sente como uma agressão.

2) O segundo critério – racionalizações fracas, absurdas ou frívolas - refere-se,


nomeadamente, à forma como as crianças reagem a obrigações que os pais
impõem, relacionadas com hábitos de higiene ou alimentares, por exemplo,
atribuindo doenças dermatológicas exclusivamente a padrões de higiene do
progenitor alienado ou doenças gastroenterológicas a características sui gene-
ris na alimentação fornecida pelo mesmo; ou também, exagerando de traços
de personalidade ou de carácter do progenitor alienado, ou fazendo ocasio-
nalmente referências a episódios negativos da vida em comum, previamente à
separação. Este tipo de argumentos pode inviabilizar qualquer tentativa de di-
álogo por parte do progenitor designado como alienado.
Nesta fase os menores chegam a ser levados pelo progenitor alienante ao ser-
viço de urgência pediátrica (cf. cefaleias, tonturas, ansiedade marcada, etc.),
especialmente após um dia em que tenham estado com o pai.

4 As acusações de abuso sexual ocorrem, principalmente, quando os filhos ainda são pequenos e facilmente
manipuláveis, podendo afirmar-se que a criança é vítima de manipulação e abuso emocional por parte do progenitor alie-
nante, que objetivamente a utiliza como instrumento para denegrir a imagem do outro progenitor.

O resultado deste comportamento é, sobretudo, a destruição psicológica da criança. Com efeito, perante as pre-
tensas denúncias de abuso sexual e até se demonstrar a inconsistência das queixas, os senhores juízes sentem-se compelidos
a ordenar a suspensão imediata das visitas da criança ao pai, interrompendo a normal convivência entre ambos, até que
sejam realizados os estudos periciais e realizados os relatórios sociais e psicológicos que permitam aferir da veracidade ou
não das denúncias. Sendo fundamentais, algumas vezes, estes estudos são demorados, permitindo apurar, muitas vezes, que
se tratavam de falsas acusações.

Como consequência deste conflito, alguns efeitos devastadores sobre a saúde emocional da criança podem vir
verificar-se, nomeadamente, um sentimento incontrolável de culpa, por ter sido cúmplice inconsciente das injustiças prati-
cadas contra o progenitor acusado, dificuldade no estabelecimento de relações interpessoais, por ter sido traída e usada pelo
progenitor acusador, uma das pessoas em quem mais confia, desenvolver um sentimento de vida polarizada, doenças psicos-
somáticas de ansiedade e nervosismo sem razão aparente, depressão crónica, transtornos de identidade e de imagem de
desespero, um sentimento de isolamento, rejeição, insegurança, baixa auto-estima, comportamento hostil ou agressivo, entre
outros sintomas de profundo mal-estar.

Ao criar falsas acusações de maus-tratos e abuso sexual e ao afastar a criança da vida do outro progenitor e da
família respetiva, o comportamento do progenitor acusador configura a promoção de um maltrato violento sob a forma de
abuso para com a criança.
3) Relativamente ao critério de falta de ambivalência, convém explicar que,
habitualmente, e mesmo quando se nutre sentimentos fortes por alguém, nin-
guém é absolutamente maravilhoso ou completamente mau; existe uma mis-
tura de sentimentos, particularmente no caso de relações familiares. Mesmo
crianças abusadas sexualmente são capazes de reconhecer situações agradá-
veis que viveram com o abusador, noutras circunstâncias, e mulheres maltra-
tadas pelos maridos podem recordar com saudade algumas lembranças do
noivado. Só mesmo o filho de um pai alienado seria capaz de expressar um
sentimento de ódio puro, sem qualquer ambivalência perante um progenitor,
o que se deveria ao efeito do progenitor reportado como alienador, e permiti-
ria identificar este alegado síndrome.

4) O quarto critério (fenómeno do pensador independente), é indispensável


para confirmar o processo, e refere-se ao facto de o filho assumir que os atos e
decisões que ponham em causa o progenitor alienado, são já da iniciativa do
menor (após o processo estar consolidado), e até da sua aparente "responsabi-
lidade", como é quase sempre sublinhado pelo próprio alienador. Nestas cir-
cunstâncias, o progenitor alienador passa então a assumir um novo papel, com
menor conflituosidade, ou torna-se mesmo aparentemente conciliador, peran-
te o filho que se recusa a estar com o progenitor dito alienado.

5) O critério referente ao apoio automático da criança ao progenitor referido


como alienador no conflito parental consubstancia-se na circunstância de o
conflito entre os pais ser vivido como resultado de razões lógicas e reais, em
que o menor sente que tem que tomar partido pelo progenitor alienador,
apoiando-o de forma consciente. Qualquer ataque ao progenitor alienador é
visto pela criança como um ataque a si própria, assumindo esta a responsabi-
lidade pela defesa contra tudo o resto. Este critério está interligado com a fal-
ta de ambivalência, e é, no fundo, revelador do tipo de vínculo existente. O
progenitor alienante parentaliza a criança elevando-a hierarquicamente
ao mesmo nível que o seu por um determinado tempo, enquanto se apresen-
ta como vítima e único bom protetor da criança, utilizando a sua autoridade
natural para incentivar a criança, com o uso de não-ditos, a rejeitar o outro
progenitor; e a criança, ao experimentar a omnipotência de ser tratada co-
mo mais valiosa do que o outro progenitor pelo aniquilamento de qualquer
vínculo hierárquico5 passa a sentir-se tanto adulta como criança, sendo o pro-
genitor alienador quem distribui os papéis, desaparecimento da hierarquia
natural e confusão do lugar da criança que traduz o abuso de poder a que a
criança se encontra sujeita, pois a criança não é capaz de chegar a uma au-
tonomização e a uma diferenciação suficientes).

6) Nos casos em que a SAP está bem consolidado, não existe qualquer senti-
mento de culpabilidade do menor relativamente aos sentimentos gerados no
progenitor alienado, nem relativamente a uma eventual exploração económica
deste, encarando-se todos os sacrifícios como uma obrigação natural. Quando
um menor acusa o progenitor odiado de ter maltratado o outro membro do
casal sem evidências ou certezas, estará geralmente consciente da invenção ou
interpretação dos factos, mas não terá paradoxalmente afetos negativos; justi-
fica os seus atos, mesmo os mais injustos, com o facto de a meta que pretende
atingir estar acima de qualquer prioridade, visando uma "colagem" ao proge-

5
Muitas vezes o progenitor alienado é infantilizado pelo progenitor alienador.
nitor alienador e defendendo-o e "defendendo-se", com vigor, de uma amea-
çadora rutura com este.

7) No que diz respeito ao sétimo critério, pode existir com a referência a ce-
nas, paisagens, conversas e termos que o filho adota como próprios ou vividos
na primeira pessoa, mesmo que nunca tenha estado presente quando ocorre-
ram ou sejam incoerentes com a idade. Quando entrevistado, o menor necessi-
ta de um maior esforço para "recordar" factos, as recordações são mais incon-
gruentes, têm menos pormenores e maior número de contradições, aspetos
que se podem tornar mais evidentes se forem ouvidos, por exemplo, dois ir-
mãos separadamente, ou se estiver presente a mãe (nos casos em que é alie-
nadora), que interrompe com esclarecimentos, intervém com olhares ou con-
tactos físicos subtis.

8) Finalmente, e como seria previsível, pode existir propagação generalizada


da animosidade à família alargada do progenitor alienado, amigos, e eventu-
almente novos companheiros(as), quando essa situação se verifica.

A SAP pode ser de 3 tipos e estruturar-se em 4 fases.

Os 3 tipos - ligeiro, moderado e grave - correspondem a um continuum de está-


dios de intensidade relacionados com o grau de gravidade com que se verificam cada um
dos critérios elencados.

As 4 fases de evolução do SAP têm correspondência com os tipos de SAP, corres-


pondendo o tipo ligeiro à primeira e segunda fase, o tipo moderado à terceira fase, e o tipo
grave à quarta fase.

Trata-se de um fenómeno social que existe e obedece a um certo padrão de com-


portamento que se deixa tipificar, sendo suscetível de ser estudado, como tem sido, e de-
vidamente conceitualizado.

Existe uma realidade, suscetível de ser verificada em múltiplas situações concretas,


por isso suscetível de tipificação, em que ocorre um afastamento do filho ou filhos em rela-
ção a um progenitor, em regra em situações de rotura conjugal, com quebra ou dano rele-
vante dos vínculos afetivos próprios da filiação, entre esse filho e esse progenitor, sem que
para tal haja uma justificação moral ou socialmente aceitável, situação que tem como cau-
sa a ação do outro progenitor, familiares ou terceiros dirigida a esse fim.

A alienação parental é abuso emocional, privar os filhos a convívio saudável é clini-


camente patológico

O Tribunal Europeu dos Direitos do Homem também já se pronunciou sobre casos,


embora não qualificados como SAP pelo tribunal, em que um dos pais, após a rotura con-
jugal, não mais conseguiu ter um relacionamento minimamente aceitável com os filhos,
condenando este tribunal situações em que os poderes públicos (judiciais) não agiram de
forma a remover as causas impeditivas desses contactos e averiguar as causas reais que
estiveram na origem da rejeição do progenitor por parte do filho.

Tal ocorreu pela primeira vez no caso Elsholz v Germany, seguindo-se outros ca-
sos, como Sahin v Germany, Sommerfeld v Germany, Hoffman v Germany, Soderback v
Sweden, Kuppinger v. Alemanha.
Perante uma situação de alienação parental teremos de perceber em que grau de
abuso estamos: leve, moderado ou severo.

Por outro lado, devemos escalonar a intervenção em função do perigo existente.


Podemos estar em certos casos perante “disputas intratáveis”.

A SAP desenvolve um vínculo psicológico de carácter patológico entre o menor e o


progenitor alienador, baseado no dogmatismo, na adesão mais férrea e na ausência de
reflexão.

Como primeiro elemento, destaca-se o facto de que se estão a educar indivíduos


com valores totalmente contrários ao que, por exemplo, o currículo escolar contempla; se
educarmos no ódio e no dogmatismo, estaremos a produzir adultos em cujo leque de res-
postas estes valores ocuparão um lugar proeminente; no melhor dos casos se o indivíduo
não se libertar desta base cultural, repetirá o modelo com os seus filhos, perpetuando a
síndrome e as suas consequências.

Um segundo elemento está no facto de que estes menores, se em adultos tiverem


oportunidade de comprovar a realidade das suas relações paterno-filiais, sofrerão desmo-
ronamentos da estrutura de valores e crenças fundamentais sobre as quais apoiaram toda
a sua existência.

Um terceiro elemento é o facto de que, atingido o ponto anterior, ganham consci-


ência de que o arquiteto dessa estrutura foi o seu progenitor custódio, a figura fundamen-
tal em torno da qual girou a sua vida.

Como resumo do que fica dito, devemos considerar que, à dor da desilusão vem
juntar-se a aceitação final da culpa. Quando estes indivíduos revivem o seu passado, in-
cluirão claramente, tanto as ações do pai alienador, como as suas próprias iniciativas, das
quais – mesmo desconhecendo a sua origem – se culpabilizarão sem reservas. Valores ina-
dequados, destruição de crenças estruturais, dor e culpa, é a herança que terão que assu-
mir um dia.

Um progenitor SAP não é um educador adequado, uma vez que educa os seus filhos
de acordo com modelos patológicos e valores rejeitados pela nossa sociedade.
Considerando a classificação (ligeira, moderada e grave) em que se diagnostique a SAP,
devem inevitavelmente tomar-se determinadas decisões que impliquem necessariamente
uma mudança substancial na realidade verificada até ao momento.

Falar de alienação parental é falar de maus-tratos.

A experiência vivenciada pela criança sujeita a um processo de SAP realiza-se em


acumulação, uma vez que o seu impacto nocivo aumenta com o tempo, estendendo-se para
a idade adulta, afetando a sua personalidade, a capacidade de confiar, as expectativas nas
relações com as outras pessoas e a capacidade de adaptação a mudanças.

Expor a criança a uma longa e destrutiva batalha emocional, num contexto em que
o progenitor alienador é quem imagina e convoca os problemas, para depois expor, expli-
cita ou implicitamente, a criança aos mesmos, levando ainda a que o outro progenitor, de-
sesperado, se defenda, num contraditório sem fim, é um maltrato. A investigação psicoló-
gica sobre esta matéria, realizada em vários países, constata unanimemente, que não é a
separação dos pais que origina desadaptações sociais, mas sim o clima de violência, menti-
ra que a pode caraterizar. O que seria expectável e não acontece é que que os próprios pais
fossem os protetores primordiais da criança e não a causa dos seus problemas.

A criança sujeito ao conflito parental é levada a agir com receios/medos face aos
conflitos, pelo que podem estar em causa as saudáveis lealdades de relação com os pais.

Os conflitos existentes entre os progenitores em matéria de parentalida-


de/responsabilidades parentais, deixará a criança exposta a situações de angustia e ansie-
dade, acabando por gerar, supostamente, estados afetivos internos de sofrimento emocio-
nais e/ou psicológicos. Para se defender, a criança poderá recorrer, de acordo com o con-
texto que se insere, a eventuais argumentações ambivalentes e/ou diferenciadas nas suas
relações significativas, numa tentativa de minorar esse sofrimento.

O uso da criança como arma de arremesso ao outro progenitor (cf. «criança-


soldado»), infligindo-lhe maus-tratos de abuso psicológico e emocional (intencionais) só
pode representar um mau (péssimo) exercício da parentalidade que apontam numa tenta-
tiva da destruição dos laços de relação da criança contra esse progenitor e respetiva famí-
lia, ao contrário de representar uma genuína preocupação para com o interesses e quali-
dade desenvolvimento da criança, como pode vir a ser argumentado pelo progenitor alie-
nante… É uma ameaça e não uma forma de salvaguarda da sua integridade, traduzindo-se
atualmente e no futuro, numa situação de perigo, nos aspetos psicológico, emocional e
cognitivo, com prejuízo da sua autoestima, sentimento de segurança e aquisição gradual
da sua independência.

Não faz sentido que a consagração explícita do chefe de família seja, hoje, substitu-
ída pelo exercício, tácito, do «poder maternal».

A estratégia de sujeitar as crianças a permanente acompanhamento psicológico ou


pedopsiquiátrico revela inexistência de competência parental, amiudadas vezes.

A psicoterapia não é um cuidado paliativo. As situações cumulativas não podem


deixar de ser interrompidas.

Dada a colossal diferença de proximidade emocional com que os menores são cria-
dos, em relação a cada um dos pais e também dado o conflito marcado entre estes, os me-
nores desenvolvem importante aversividade emocional6 em relação ao progenitor que
não tem a sua guarda, que também é, em regra, visto negativamente pelo outro.

Por outro lado, o modo negativo como o progenitor cuidador vê o outro, agrava e
«prova» este sentimento negativo em relação ao progenitor que não tem a guarda. O pro-
ceso de identificação fica comprometido, pois a transmissão da imensa parte da herança
cultural da criança é paralisada brutalmente.

Neste contexto, naturalmente a lealdade parental do menor inclina-se inexoravel-


mente para o lado do progenitor que o controla, estando de forma incondicional ao seu
lado, para o que não pode aceitar o progenitor censurado por aquele.

Neste contexto, não é possível desenvolver uma terapêutica de aproximação


entre o progenitor e o menor, dada a relação fusional existente mãe e menor e vice-
versa, existindo falta de autonomia na relação, recomendando-se intervenção terapêuti-

6
É neste contexto que podemos perceber que certos progenitores alienantes tenham roupas exclusivamen-
te reservadas para serem utilizadas aquando dos convívios com o progenitor alienado ou que digam «tens
de ir ao teu pai, porque se não fores ele vai queixar-se ao Tribunal e não paga a pensão de alimentos.»
ca urgente centrada na relação existente entre mãe e filho e vice-versa, beneficiando am-
bos de apoio individual especializado em serviço público de saúde, de forma a garantir o
desenvolvimento da autonomia da mãe e do filho.

Importa não esquecer aqui a síndrome de stress pós-traumático que se desenvolve


no progenitor alienado, traumatizado pela rejeição brutal dos seus filhos, não sabendo
mais como proceder, temendo atitudes ainda mais hostis, progenitor esse que chega a te-
mer encontrar os filhos, stress esse que impede o descanso tranquilo, que terá efeitos ne-
gativos em todas as áreas da sua vida, pelo aniquilamento generalizado que produz: pro-
fissional, relações de amizade, etc. E a esta expulsão associa-se muitas vezes uma explora-
ção económica por parte do progenitor alienador. Esta síndrome depressiva torna-se inso-
lúvel, pois a situação de SAP eterniza-se com o tempo. O desespero do progenitor alienado
irá modificar o seu comportamento e personalidade, o que o irá descreditar ainda
mais…Em última instância, procurará o exílio.

O problema dos afetos não se resolve, portanto, apenas com decisões judiciais. Mas
também não se resolve, em muitos casos, sem uma boa decisão judicial.

Existe uma realidade, suscetível de ser verificada em múltiplas situações concretas,


por isso suscetível de tipificação, em que ocorre um afastamento do filho ou filhos em rela-
ção a um progenitor, em regra em situações de rotura conjugal, com quebra ou dano rele-
vante dos vínculos afetivos próprios da filiação, entre esse filho e esse progenitor, sem que
para tal haja uma justificação moral ou socialmente aceitável, situação que tem como cau-
sa a ação do outro progenitor, familiares ou terceiros dirigida a esse fim.

A alienação parental é abuso emocional, privar os filhos a convívio saudável é clini-


camente patológico.

A SAP desenvolve um vínculo psicológico de carácter patológico entre o menor e o


progenitor alienador, baseado no dogmatismo, na adesão mais férrea e na ausência de
reflexão.

Considerando a classificação (ligeira, moderada e grave) em que se diagnostique a


SAP, devem inevitavelmente tomar-se determinadas decisões que impliquem necessaria-
mente uma mudança substancial na realidade verificada até ao momento.

Num contexto normal de SAP, relativamente ao progenitor alienado, é de extrema


importância o convívio diário e integral deste com o menor, quando possua condições psi-
cológicas que poderão permitir que o menor “apague” memórias infundadas, relativize um
bom pai, melhore os níveis educacionais, aumente a autoestima e diminua os níveis de
ansiedade.

Nesses casos será importante a realização simultânea de Psicoterapia Cognitivo-


Comportamental ao menor de forma a fazer um “reset” à memória e restabelecer o bem-
estar psicológico, tal como Terapia Familiar para progenitor-menor junto de psicólogo
clínico.

A alienação parental é um flagelo, se não houver intervenção rápida terá efeitos


irreversíveis na estrutura do “self” do menor, que mais tarde, tornará, o mesmo frustrado,
numa vivência de “mentira” e de “culpabilização” pelos conflitos interparentais, que em
nada combinam com a evolução saudável do menor.

Em caso de SAP, a atribuição de uma sobrecarga ou parentificação a menor pode


até desencadear nele distúrbios emocionais e de conduta.
A SAP é uma bomba-relógio. Na maioria dos casos, as crianças estão aparentemen-
te muito bem. Os sintomas só aparecem bem mais tarde, quando chegam à maioridade e à
autonomia. Pode-se falar de uma doença crónica, aquela da “falta de terceiros”.

Esses efeitos a longo prazo podem trazer inúmeros sintomas patológicos distintos.
Eles giram ao redor da noção de dificuldade do vínculo, quando se funciona somente
num modo dominante/dominado, de uma necessidade de controlo, sobre seu corpo, por
exemplo, e de segurança quando todo o resto escapa, de uma visão do mundo irrevogá-
vel e maniqueísta. Essas crianças, uma vez adultas, têm a impressão de padecer mais do
que decidir sua vida.

Dentre os distúrbios, podem-se citar:

• Rasgos ou divisões em suas relações;


• Dificuldades em formar relações íntimas;
• Um deficit na capacidade de gerir a ira ou um conflito nas suas relações pes-
soais;
• Sintomas psicossomáticos e distúrbios do sono ou da alimentação;
• Vulnerabilidade psicológica e dependência;
• Relações conflituosas com as pessoas detentoras da autoridade;
• Sentimento insano de ter o direito de perder a paciência sem justificação
válida («entitlement for one’s rage»), que leva geralmente a uma clivagem
social.

Para ser mais concreto, as crianças alienadas são mais predispostas do que outras
à anorexia, bulimia, toxicomania, relações sexuais precoces e condutas de risco em geral,
suicídio e acidentes suicidas, a interromper precocemente os estudos, a desenvolver uma
personalidade antissocial ou border line.

Portanto, a SAP tem consequências graves essencialmente sobre o desenvolvimen-


to das relações da criança, na sua relação consigo mesma mas também nas suas relações
interpessoais.

Ela terá muitas dificuldades em construir uma vida adulta equilibrada, principal-
mente no comportamento amoroso ou em relação aos seus próprios filhos.

Perante um fenómeno de SAP, em regra o regime de exercício que melhor respeita


ao interesse do menor, é residir diariamente com o progenitor alienado, se competente.

É essencial que o menor conviva diariamente com o mesmo progenitor de forma a


reconstruir a sua imagem sem ser em falsos pressupostos.

O progenitor alienador, ao não comunicar ao outro factos importantes relaciona-


dos com a vida da criança (ex.: rendimento escolar, agendamento de consultas de pedop-
siquiatria, etc.), e ao tomar decisões importantes sobre a vida da criança, sem prévia con-
sulta do outro progenitor (ex.: mudança de residência, mudança de escola, tentativa de
batizá-la), está a exclui-lo da vida da criança e a promover a consequente anulação de uma
parte das suas referências parentais, o que favorece o desenvolvimento de uma inseguran-
ça emocional atual e futura.
Com efeito, somente a convivência normal com ambos os pais permite que a crian-
ça vivencie, de forma natural, os processos de identificação e diferenciação pessoal, sem
desequilíbrios ou prejuízos emocionais na constituição da sua personalidade. Neste senti-
do, a criança precisa de ter oportunidade de construir a sua imagem de cada um dos pais, a
partir dos seus próprios referenciais e não a partir da interpretação do outro.

A criança colocada numa situação de alienação parental vê serem violados e des-


respeitados os seus direitos, direta e intencionalmente, pelo progenitor alienante. Com
efeito, deixa de ser percebida como sujeito com direito a seu desejo, para se tornar objeto
de satisfação dos desejos do progenitor alienante, que a trata como propriedade sua, não
restando ao outro progenitor outra alternativa, a não ser recorrer à justiça, para ver ga-
rantido o saudável desenvolvimento do(a) seu(sua) filho(a).

É importante estabelecer tempos parentais paralelos, ainda que progressivos, de


forma a que a criança se vá ambientando aos novos espaços, para que os pais não tenham
que negociar, acordar em pormenores, ou colocar a criança no meio do conflito. Este plano
permite um ambiente mais pacífico para a criança que pode, em troca, dedicar-se a apren-
der, brincar, relacionar-se com amigos e família, em vez de se envolver a monitorizar as
reações dos pais e a inquietar-se com o facto os mesmos apresentarem interações negati-
vas e hostis.

Os tribunais devem aumentar o contacto com o progenitor alienado, pois


quando o fazem verifica-se uma mudança positiva em 90% das relações entre os
filhos e aqueles. Esta mudança inclui a eliminação ou redução de problemas psicológicos,
físicos e educativos presentes antes da medida. É realmente significativo que tal aconteça
mesmo quando estas decisões são tomadas mesmo contra o desejo dos menores.

Em casos mais graves, o tribunal deve decidir a transferência da custódia e/ou


limitação do contacto com o progenitor alienador, sujeitando-o a uma intervenção psico-
lógica.

Tentativa de encontrar soluções:

Ponto 1. Relativamente ao progenitor-vítima, é de extrema importância o


convívio diário e integral deste com o menor, designadamente quando possui
ótimas condições psicológicas que poderão permitir que o menor “apague”
memórias infundadas, relativize um bom pai, melhore os níveis educacionais,
aumente a auto-estima e diminua os níveis de ansiedade.

Ponto 2. Será importante a realização simultânea de Psicoterapia Cognitivo-


Comportamental ao menor de forma a fazer um “reset” à memória e restabele-
cer o bem-estar psicológico, como Terapia Familiar para progenitor-menor
junto de psicólogo clínico.

Ponto 3. A intervenção pedopsiquiátrica e psiquiátrica poderá ter de ser


equacionada, designadamente quando o privar o filho do convívio saudável se
revela já como clinicamente patológico, não sendo todavia, suficiente no con-
texto processual em que estaremos esta intervenção.

Ponto 4. Não se mostrará nunca possível um progressivo e profícuo estreitar


das relações pai/mãe filhos, mesmo num contexto de intervenção psicológica
ou pedopsiquiátrica/psiquiátrica se estes continuarem num convívio diário
com quem destrói a imagem do progenitor-vítima, pelo que, em casos mais
graves, o tribunal deve decidir a transferência da custódia e/ou limitação do
contacto com o progenitor alienador, sujeitando-o a uma intervenção psicoló-
gica ou mesmo psiquiátrica.

O alienador, regra geral, utiliza os seguintes argumentos:

O recurso, muitas vezes sistemático a urgências ou consultas


médicas, após a estadia com o outro progenitor;
A alegação de que é a figura de referência primária, pelo que
não deve ser separado da criança ou jovem;
A desproporcionalidade da mudança da guarda e da restri-
ção do regime de convívios;
As consequências imprevisíveis que poderão advir da mu-
dança da guarda e da restrição de convívios, ainda que com
terapias auxiliares, com o perigo de agravamento da situa-
ção emocional do menor;
A vontade da criança ou do jovem.

É comum que, tanto psicólogos como juristas, considerem as expressões de rejei-


ção que as crianças realizam como um reflexo do conflito verificado nos adultos. Nesta
perspetiva, levam as partes a chegar a acordos, forçam a sua participação na terapia psico-
lógica ou remetem-nos para mediação familiar ou pontos de encontro. Esta convicção é
completamente errada. A SAP é normalmente um meio de conseguir gerar ou perpetuar o
conflito, e não um seu resultado.

Por conseguinte, qualquer argumentação que se possa produzir a favor da manu-


tenção do status quo só poderia proceder se se superar a situação de alienação parental.
Como já se referiu, a psicoterapia não é um cuidado paliativo.

Algumas ideias a reter em matéria de SAP:

Ideia 1: inexistência de uma justificação moral ou socialmente aceitável, situ-


ação que tem como causa a ação do outro progenitor, familiares ou terceiros
dirigida a esse fim.

Ideia 2: existência de um vínculo psicológico de carácter patológico entre o


menor e o progenitor alienador, baseado no dogmatismo, na adesão mais fér-
rea e na ausência de reflexão.

Ideia 3: considerando a classificação (ligeira, moderada e grave) em que se


diagnostique a SAP, devem inevitavelmente tomar-se determinadas decisões
que impliquem necessariamente uma mudança substancial na realidade veri-
ficada até ao momento.

Em termos de intervenção, deverão ser ponderadas, entre outras, as seguintes pos-


sibilidades:

- advertência, no sentido de devem ser adotadas medidas educativas eficazes;


- ampliação de convívios;
- multa (nota: na Alemanha o máximo atinge 25.000 €);
- acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial;
- alteração da guarda compartilhada ou inversão da guarda;
- fixação cautelar de domicílio da criança;
- suspensão da autoridade parental, com imposição da condição de tratamen-
to.

Por outro lado, cumpre não esquecer a regra do favorecimento do progenitor que
mais favorece o convívio com o outro.

Além disso, o mau relacionamento entre pais e avós não deve ser impeditivo do
contacto dos menores com a família alargada, avós incluídos.

É extremamente grave programar uma criança para odiar um dos progenitores.


Projetar ódios pessoais através das crianças é uma forma de abuso muito grave. As cam-
panhas denegridoras, as justificações fúteis, a ausência de ambivalência, o fenómeno do
pensador independente (como se fosse autoelaborado), a ausência de culpa, os cenários
encomendados, a extensão dos conflitos à família alargada, são aspetos que devem mere-
cer intervenção urgente, eficaz, preventiva e reparadora.

Há uma obrigação positiva de adoção de remédios efetivos, que são os que pre-
vinem e resolvem.

A mera suspensão temporária de visitas ou as visitas acompanhadas não são re-


médios efetivos, quando o progenitor cuidador continua a boicotar a progressão da rela-
ção afetada. Na verdade, estas medidas, num contexto de boicote, não impedem que a cri-
ança cresça com uma imagem distorcida, injusta e errada do progenitor-vítima e não im-
pede que a criança proceda de modo espontâneo, ativo, sistemático, encarando o progeni-
tor-vítima como abusador e agressor, numa aparente consolidação de processos.

Em casos de alienação parental o primeiro passo é a desconstrução eficaz do “abu-


so”.

Sobre este tema, consulte-se o Acórdão da Relação do Porto de 09-07-2014, (Pro-


cesso 1020/12.8TBVRL.P1; relator: Alberto Ruço):

http://www.dgsi.pt/jtrp.nsf/56a6e7121657f91e80257cda00381fdf/c7eabcdb5ab87fdf80
257d1d00326e02?OpenDocument

Cumpre salientar que quando se trata de incumprimentos devidos à relutância da


criança em estar com o outro progenitor com alguma frequência, ela pode trazer dentro de
si um problema de lealdade ao progenitor do qual depende.

A abordagem consistente na audição da criança pelo Tribunal, com preparação


prévia, reveste-se de uma sensibilidade particular e depende, não tanto da estratégia utili-
zada pelo técnico, mas fundamentalmente do ambiente que a criança vive e particularmen-
te do progenitor com quem reside – por vezes até de membros da família, tais como os
avós – e que sobre ela exerce, naturalmente, grande influência.

O progenitor que fica com o filho junto de si, se for elemento facilitador do contacto
com o outro progenitor e criar oportunidades para que tal aconteça, permitirá ao filho/a
em causa sentir-se à vontade e aceite no seu novo ambiente familiar permitindo-lhe reor-
ganizar-se nos seus afetos na nova realidade da rutura conjugal, mantendo-se assim con-
dições adequadas/ideais para que o convívio e relacionamento com ambos os progenito-
res decorram com normalidade. Por outro lado, se tal não se verificar, a criança é colocada
no centro de um dilema sem solução, o da lealdade a um dos pais com exclusão do outro.
Além de poder ser explicado à criança o papel do tribunal na decisão das questões
familiares e a importância de ela própria poder ser ouvida no processo, não parece benéfi-
co para uma criança que é chamada a pronunciar-se sobre a situação de conflito dos seus
progenitores sobre si própria, qualquer forma de “preparação para ser ouvida.” O que so-
bressai como fundamental é a importância de que a abordagem à criança nessas circuns-
tâncias permita que ela expresse os seus sentimentos e emoções de forma natural e sem
receios, sem que se sinta colocada em causa a lealdade a ambos os progenitores.

Importa, todavia, considerar a possibilidade de a versão da criança ser apreciada


por um perito.

Só uma intervenção mais consistente e estruturada de natureza psicoterapêutica


poderá ajudar pais e filho(a) a integrar toda a realidade subjacente à desagregação famili-
ar e a construir uma nova realidade familiar afetiva e relacional.

A terapia familiar, todavia, consiste numa modalidade de intervenção terapêutica


com indicações e contraindicações que necessitam de prévia avaliação e orientação médi-
ca.

ASSIM, EM CERTOS CASOS, IMPORTA PROCEDER PREVIAMENTE A UMA PERITA-


GEM COM VISTA A SUGERIR A MELHOR ORIENTAÇÃO PARA O CASO, SEM AS IMPLICA-
ÇÕES NA RELAÇÃO TERAPÊUTICA E SIGILO MÉDICO QUE UM ACOMPANHAMENTO CLÍ-
NICO TEM INERENTES.

Para tal, deve ser solicitada perícia pedopsiquiátrica ao Instituto Nacional de Medi-
cina Legal e Ciências Forenses que procederá à sua distribuição (cf. artigos 2.º, 3.º e 24.º da
Lei n.º 45/2004, de 19.08).

O afeto não existe naturalmente nas relações de filiação biológica ou nas relações
socioafetivas. Todavia, importa distinguir os diversos casos, pois nos casos em que a o
distanciamento afetivo é provocado por um progenitor alienante, trata-se de um verdadei-
ro maltrato e não de um caso de simples inexistência de afeto.

Na ausência ou inexistência de laços de afetividade com a criança, por opção de um


dos pais, o direito deve ponderar até que ponto é viável a imposição do que naturalmente
não existe.

Nem sempre o superior interesse da criança exige a imposição de convívios com


ambos os progenitores.

As relações de convivência forçada não podem acarretar perigosidade ao bem-


estar da criança e ao desenvolvimento psíquico e social.

Ainda que não seja caso de inibição do exercício das responsabilidades parentais, o
regime de convívios pode ter de ser adaptado a uma realidade afetiva concreta.

Todavia, contrariamente ao que o bom senso gostaria de acreditar, o tempo é o


inimigo implacável em situações como a dos menores alienados por um dos
pais. Se ninguém oferecer ajuda a estes jovens e a estes pais, a situação só poderá piorar.

Em relações consideradas como sadias ou normais, cada um tem seu lugar bem
atribuído. Para simplificar, tomemos o modelo clássico do pai e da mãe. Podemos muito
facilmente reutilizar o modelo substituindo o “pai” e a “mãe” arbitrariamente definidos
como progenitor 1 e progenitor 2. A mãe carrega o seu feto e a relação é fusional nos pri-
meiros meses de vida. O pai, como terceiro elemento, vai proteger a mãe durante esta rela-
ção fusional, depois ajudará a criança a deixar esta relação fusional para pouco a pouco se
interessar pelo mundo externo e comunicar diferentemente. Ele vai tirar a criança da om-
nipotência que esta relação tão íntima com a mãe lhe conferia. Mais tarde, é possível que a
mãe intervenha por sua vez como terceira pessoa para reequilibrar uma relação muito
fusional com o pai. Assim, pelo jogo das trocas, a criança vai progressivamente construir
sua personalidade a partir de um modelo masculino e feminino, ou mais simplesmente a
partir da noção de diferença entre os dois progenitores. Essa diferença relativiza a força
decisional e autoritária de cada progenitor, a força da personalidade da criança. Cada um
tem o espaço para se construir e existir no respeito e na diferença. Ela permite a experi-
mentação de uma alteridade e a construção da personalidade da criança.

Os progenitores alienantes travam de imediato toda possibilidade de alteridade


e/ou a negam, estabelecendo de fato um abuso de poder, enquanto que progenitores sós e
sadios são teoricamente capazes de construir relações fundamentadas sobre a alteridade
para a criança.

Por outro lado, nessa relação de triangulação, se cada um está em seu devido lugar,
numa visão ideal, os progenitores protegem seus filhos, respeitam suas necessidades fun-
damentais, ensinam-lhes os limites que não devem ser ultrapassados e desta forma edu-
cam-nos, isto é, ajudam-nos a crescer.

Quanto às crianças, elas respeitam e obedecem (a maior parte do tempo!!) seus


pais. Aqui, cuidado, não se trata de respeito servil, mas sim de reconhecimento, de aceita-
ção e de aprendizagem da vida em comum com os pais.

Durante um divórcio, o vínculo entre os dois progenitores é rompido, mas eles


ainda comunicam entre si e sempre (mais ou menos) no interesse da criança. Mesmo que a
vida de casal não exista mais, a parentalidade permanece. Eles são obrigados a conver-
sar sobre os horários da guarda das crianças, suas férias, a escola, as notas, os amigos, as
horas de lazer e também são obrigados a encontrar uma área de entendimento. A criança
pode preferir um ou outro progenitor (o que é sempre o caso, num certo momento) em tal
ou tal período, mas um progenitor sadio está consciente da importância de manter os vín-
culos com o outro. Ele incentivará ativamente os seus filhos a telefonar, não aceitará que
as crianças falem do outro em termos injuriosos. Claro, os rancores podem subsistir e der-
rapagens ocorrer, nenhum progenitor pode ser perfeito. Mas, de novo, existe aqui uma
questão de grau de variações da normalidade, deixando de lado uma eventual relação pa-
tológica.

A triangulação permanece, portanto, por meio do vínculo da parentalidade, mesmo


nos casos de divórcio ou de vidas paralelas, em que não chegou sequer a existir união de
facto, e enriquece-se eventualmente com novas interações com um(a) padrasto/madrasta,
um meio-irmão...

O menor alienado não experienciou este modelo de parentalidade. Apagou um dos


progenitores da sua vida e só com muita ajuda, se necessário for, através de recurso a um
acolhimento familiar/residencial, com terapêuticas adicionais, retomará a relação com o
progenitor alienado.

O menor alienado é uma criança em perigo por isso mesmo. Estabeleceu uma rela-
ção fusional e patológica com um dos progenitores.

Deve ser feito um trabalho em três níveis:


O dos afetos ao progenitor alienado;
O da vinculação segura com esse progenitor;
O sentimento de proteção que o menor deve ter em relação
ao progenitor alienado.

Não interessa a história da não relação entre os progenitores, mas sim a urgente
necessidade de que aprendam a comunicar enquanto pais.

O menor alienado carece de ser ajudado pelo progenitor alienado e por todos a
deixar esta relação fusional para pouco a pouco se interessar pelo mundo externo e comu-
nicar diferentemente.

A criança/jovem alienado tem de ser retirado da esfera psicológica da omnipotên-


cia que esta relação tão íntima com a mãe/pai alienante lhe confere.

Os casos de violação dolosa ou negligente do direito de convívios da criança com os


pais podem dar lugar a indemnização por danos morais. Estas ações indemnizatórias de-
vem ser propostas nas instâncias cíveis, segundo a legislação atual, por falta de previsão
da competência dos Tribunais de Família, ou em processo-crime. Todavia, importa ponde-
rar o efeito psicológico que a propositura da ação implicará na criança/jovem, pois correr-
se-á o risco de receber uma indemnização, mas de perder a verdadeira causa…

Os casos de abandono afetivo podem dar lugar a indemnização por danos morais.
Estas ações indemnizatórias também devem ser propostas nas instâncias cíveis.

A competência dos Juízos de família e menores não resulta do art.º 122.º, n.º 1, al.ª
g), da Lei n.º 62/2013, de 26.08, onde se estabelece:

1 - Compete às secções de família e menores preparar e julgar:


(…)
g) Outras ações relativas ao estado civil das pessoas e família.

Sobre este assunto, consultar o Acórdão da Relação de Coimbra de 11-10-2016


(Processo 1457/15.0T8LRA.C1; relator: António Domingues Pires Robalo):

I – Temos para nós que a referência na parte final da al. g) do artº 122º da LOSJ à palavra “famí-
lia” tem de ser entendida como referida às ações sobre o estado civil das pessoas, fazendo qualifi-
car o conceito de “estado civil” usado este no seu sentido restrito, pois que os tribunais de família
têm tido, desde que foram criados pela Lei 4/70, de 29/4 (regulamentados pela primeira vez pelo
Decreto-Lei nº 8/72, de 7/1) uma esfera de competência especializada para ações que versam o
Direito da Família, pois se o legislador pretendesse romper com esta tradição, estendendo a com-
petência daquele tribunal de competência especializada a um tipo de ações em que não há lugar à
aplicação de normas de Direito da Família, tinha o dever de o fazer expressamente e de forma ine-
quívoca no texto da lei e não o fez, certamente por desnecessário, apontando no sentido restrito.

II - As ações de interdição não se reportam sobre o estado civil das pessoas, mas apenas com a si-
tuação pessoal que lhes afeta a sua capacidade de exercício de direitos. E o facto das ações sobre o
estado das pessoas pressuporem um registo, como nas ações de interdição, tal não implica que es-
tas assumam essa natureza.

III - A alínea g) do art. 122º da Lei 62/2013, de 26 de Agosto, não confere competência, em razão
da matéria, às secções de família e menores para preparar e julgar as ações de interdição, sendo
as “outras ações relativas ao estado civil das pessoas e família” da competência material das sec-
ções de família e menores (alª g) do nº 1 do art.º 122º da Lei 62/2013) que são aquelas que cor-
respondem às condições ou qualidades pessoais e que têm como fonte as relações jurídicas familia-
res, no sentido estrito de “estado civil” como referimos.

Nos casos muito graves deparar-nos-emos com uma situação em que o próprio
progenitor alienador se dá conta do seu erro, ou admite-o publicamente, mas já não con-
segue controlar a criança ou jovem e inverter o processo.

Nestes casos a quebra da relação fusional entre criança/jovem e progenitor aliena-


dor deve acontecer, ainda que o resultado expectável possa não compreender a retoma da
relação com o progenitor-vítima a curto ou médio prazo.

Não sendo viável o recurso à família alargada nem a simples mudança da guarda,
resta a possibilidade de institucionalização.

Esta decisão carece, muitas vezes, de validação médico-legal, sendo necessário um


trabalho célere e rigoroso na identificação da instituição capaz de lidar com a situação.

Trata-se de uma situação muito problemática, pois perante um conflito intratável e


uma situação de natureza patológica, podemos estar a acrescentar novos problemas a uma
equação já por si muito difícil de resolver.

À institucionalização imputa-se o defeito de não permitir a manutenção da ligação


da criança à figura primária de referência nem o estabelecimento de laços emocionais com
uma nova pessoa de referência, nesse âmbito institucional. Mas no quadro a que nos refe-
rimos, trata-se precisamente daquilo que se procura – a quebra da relação fusional com o
progenitor alienante. O fundamental é não permitir que a criança ou jovem desenvolva
uma baixa autoestima, solidão e sentimos de isolamento, devendo trabalhar-se com a
mesma a ideia de que a separação dos pais não foi culpa sua, identificando bem os aconte-
cimentos, de forma a ir explicando com o tempo, em sessões sucessivas, o que aconteceu.

A institucionalização deve almejar o restabelecimento da comunicação parental,


em função do interesse superior da criança/jovem, introduzindo-se esta, gradualmente,
nesta nova relação parental. E em último termo poderemos passar da institucionalização
para uma fase experimental de estadias alternadas semanais, monitorizadas.

E uma vez aqui chegados, teremos uma maior felicidade e segurança no futuro,
pois teremos apagado más memórias, que não ajudam nunca a ser-se feliz.

Resumo:

- De um simples incumprimento do regime de regulação do exercício das res-


ponsabilidades parentais até à existência de um conflito intratável, temos diver-
sas fases que exigem intervenções distintas, que poderão passar de um simples
incidente de incumprimento até à instauração de um processo de promoção e
de proteção;
- Neste último caso, as CPCJ’s deverão remeter sempre a notícias dos factos ao
Ministério Público para intervenção em sede tutelar cível ou de promoção e de
proteção, consoante a sua gravidade e em respeito do princípio da intervenção
mínima.

Um magistrado vê-se, muitas vezes de supetão, transformado – mais do que em


mediador de família – em tutor familiar.
É fácil que o dever de imparcialidade de um magistrado seja tingido pela cascata
confusional de afetos contraditórios apensos a um processo, podendo ele reagir em espe-
lho quando não o devesse, fazendo uso da racionalidade quando talvez devesse ser empá-
tico ou caindo em empatias resvalantes quando devesse antes apelar à racionalidade.

A sua imparcialidade deve ser escorada em sínteses minuciosas e assessoradas por


técnicos exteriores ao Tribunal.

Cumpre recordar que judicializar a parentalidade pressupõe que só a deliberação


judicial garante os direitos de uma criança. Judicializar a parentalidade é limitar, por ine-
rência, a responsabilidade parental. Mas a judicialização da parentalidade pode surgir co-
mo fator de proteção ou antes como desamparo. E será desamparo quando, em função de
conflitos insanáveis, mais do que a mediação, só uma decisão judicial parece enquadrar
uma fratura de interesses parentais numa moldura de cuidados – muitas vezes, minimalis-
ta – que, efetivamente, proteja uma criança.

Note-se que a litigância dos pais em torno da parentalidade, por maioria de razão,
quando ascende ao meio judicial, provoca danos que, embora não se traduzam em provas
analíticas ou imagiológicas, são irreparáveis, para sempre, não devendo, por isso, sosse-
gar-nos a aparente indiferença das crianças diante de tamanhos litígios (o que só é possí-
vel quando o choque que decorre deles se torne quotidiano e banal). Cumpre recordar que
a aparente resiliência das crianças aos conflitos esconde e ilude o stress pós-traumático
inevitável.
IV. REGULAMENTO BRUXELAS II BIS (NOVO REGULAMENTO BRUXELAS II): REGU-
LAMENTO (CE) N.º 2201/2003 DO CONSELHO, DE 27.11.2003 (cf. entrou em vigor
em 1 de agosto de 2004 e tornou-se aplicável a partir de 1 de março de 2005)

Autoridade Central Portuguesa: DGRSP (Gabinete Jurídico e de Contencioso - Despa-


cho n.º 9954/2013)

95. Duas linhas condutoras do Regulamento:

a) o alargamento do princípio do reconhecimento mútuo a todas as


decisões em matéria de responsabilidade parental, tendo em vista
garantir a igualdade de tratamento de todas as crianças. Ou seja, o
presente regulamento visou reunir num único documento as dispo-
sições relativas à dissolução do vínculo matrimonial e à responsabi-
lidade parental de todos os filhos, independentemente da existência
de um processo de dissolução do vínculo matrimonial [logo, inde-
pendentemente até de os progenitores serem casados] ou de serem
ou não filhos comuns do casal.

b) a consagração de um sistema de execução das decisões relativas


ao direito de visita que assenta fundamentalmente na atribuição de
executoriedade automática às sentenças dos Estados da União, logo,
na abolição do exequatur, igualmente estendida às decisões que exi-
jam o regresso de crianças ilicitamente transferidas para o estran-
geiro ou aí retidas.

O Regulamento Bruxelas II bis constitui no contexto da cooperação judiciária


em matéria civil um passo muito relevante na construção de um Espaço de Liberda-
de, Segurança e Justiça [artigo 3.º do Tratado da UE e Título V (artigo 67.º ss.) do
TFUE].

96. As normas em matéria de reconhecimento e execução apenas são aplicáveis


às decisões que concedem um direito de visitas, já que as decisões que recusam um
pedido de direito de visita são reguladas pelas disposições gerais em matéria de
reconhecimento.

97. O Regulamento não define o que seja um menor, ao contrário da Convenção


de Haia de 1996.

98. Art.º 41.º, n.º 1 e 2, do Regulamento:

a) deixa de ser necessário requerer um exequatur;


b) deixa de ser possível contestar o reconhecimento da decisão.

Mas o titular do exercício da responsabilidade parental não fica impedido de


requerer o reconhecimento e a execução de uma decisão em conformidade com o
procedimento de exequatur, nos termos previsto nos arts. 21.º e segs. e 28.º e segs.
do Regulamento – cf. art.º 40.º, n.º 2.

99. Para que se assegure a dispensa do exequatur, nos processos das Conserva-
tórias de Registo Civil devem ser ouvidas as crianças, ou consignar-se por que razão
se entendeu não deverem serem ouvidas.
100. Certidão relativa ao direito de visita a emitir pelo juiz: anexo III ao Regula-
mento.
Embora o Regulamento não o diga, o juiz pode incluir nos fundamentos da
sua decisão uma descrição das razões pelas quais a criança não foi ouvida.
Todas as obrigações especificadas na certidão referentes ao direito de visita
são, em princípio, diretamente executórias nos termos das novas disposições.

101. Emissão oficiosa da certidão: se na data em que a decisão é proferida o direi-


to de visita tiver caráter transfronteiriço (cf. art.º 41.º, n.º 3, do Regulamento). Se
esse caráter transfronteiriço for adquirido depois, a certidão é emitida a requeri-
mento.

102. A emissão da certidão não é suscetível de recurso (art.º 43.º, n.º 2, do Regu-
lamento).

103. O juiz pode declarar a sua decisão executória, ainda que não exista trânsito
em julgado. Neste caso deve recorrer ao artigo 28.º do Regime Geral do Processo
Tutelar Cível. Cumpre recordar que os recursos no Regime Geral do Processo Tute-
lar Cível têm o efeito que o tribunal fixar (art.º 32.º, n.º 4), tendo efeito meramente
devolutivo como regra.

104. A parte que requerer a execução da decisão em matéria de visita noutro Es-
tado-Membro deve apresentar uma cópia da decisão e a certidão. Esta não carece de
ser traduzida, com exceção do disposto no ponto 12 do Anexo III relativo às disposi-
ções respeitantes ao exercício do direito de visita (art.º 45.º).

105. Os tribunais do Estado-Membro de execução podem adotar as disposições


práticas para o exercício do direito de visita, desde que sejam respeitados os ele-
mentos essenciais da decisão do tribunal da residência habitual do menor (art.º
48.º, n.º 1, sem prejuízo do n.º 2, do Regulamento).

106. Dois conceitos de rapto (cf. art.º 2.º, n.º 11, do Regulamento): deslocação ilíci-
ta; retenção ilícita.

107. Sobre a Convenção de Haia de 1980 podem consultar-se jurisprudência na


base de dados INCADAT e o relatório explicativo e os guias práticos em
http://www.hcch.net/index_en.php

108. O Regulamento reforça o princípio segundo o qual o tribunal deve ordenar o


regresso imediato da criança, limitando ao mínimo as exceções previstas na al.ª b)
do art.º 13.º da Convenção de Haia de 1980. O princípio é o de que a criança deve
sempre regressar se estiver garantida, em concreto, a sua proteção no Estado-
Membro de origem.
O tribunal não é obrigado a ordenar o regresso da criança se esta ficar sujeita
a perigos de ordem física e psíquica ou, de qualquer outro modo, ficar numa situa-
ção intolerável (art.º 13.º, al.ª b), da Convenção de Haia de 1980).
Todavia, o Regulamento Bruxelas II Bis alarga a obrigação de ordenar o re-
gresso da criança aos casos em que um regresso poderia expor a criança a tais peri-
gos, mas apesar disso estiver estabelecido que as autoridades no Estado-Membro de
origem tomaram ou estão prontas a tomar as medidas adequadas (medidas concre-
tas) para garantir a proteção da criança após o regresso (art.º 11.º, n.º 4 do Regula-
mento).
109. Nos termos do art.º 11.º, n.º 5, do Regulamento o tribunal não pode recusar o
regresso se a pessoa que o requereu não teve oportunidade de ser ouvida.

110. Considerando o prazo de seis semanas para decidir, exceto em caso de cir-
cunstâncias excecionais que o impossibilitem (art.º 11.º, n.º 3, do Regulamento), a
audição deve efetuar-se da forma mais célere e eficaz possível, podendo recorrer-se
às disposições do REGULAMENTO (CE) N.º 1206/2001 DO CONSELHO, DE
28.05.2001, aplicável a toda a União Europeia, com exceção da Dinamarca, desde
01.01.2004, e que substitui a Convenção de Haia de 1970.

111. A Dinamarca não está vinculada pelo Regulamento de Bruxelas, em confor-


midade com o Protocolo anexo ao Tratado da União Europeia e ao Tratado que insti-
tuiu a Comunidade Europeia.
Quer Portugal quer a Dinamarca assinaram a Convenção de Haia de 1996, em
vigor no plano internacional desde 01.01.2002. A Convenção entrou em vigor mas
como não foi ratificada em qualquer destes países, a mesma não se encontra aí em
vigor.
Deve aplicar-se a Convenção de Haia de 1980 nos casos de deslocação ou re-
tenção ilícita com a Dinamarca.

112. O sistema instituído pela Convenção de Haia de 1980 apela nos seus artigos
7.º, al.ª c), e 10.º a um encorajamento de soluções amigáveis, podendo afirmar-se a
existência de uma fase pré-contenciosa prévia a toda a ação judicial, que, a não exis-
tir, deve ser justificada.

113. Importa ter em consideração as normas relativas a assistência judiciária


(art.º 50.º do Regulamento).

114. Nos termos do art.º 49.º do Regulamento, o disposto no Capítulo III (Reco-
nhecimento e Execução), com exceção da Secção 4, é igualmente aplicável à fixação
do montante das custas de processos instaurados ao abrigo do presente regulamen-
to e à execução de qualquer decisão relativa a essas custas.

115. As medidas relativas aos bens da criança não relacionadas com a sua prote-
ção não são abrangidas pelo Regulamento, mas pelo Regulamento (CE) n.º 44/2001,
incumbindo ao juiz avaliar, no caso concreto, se uma medida relativa aos bens da
criança está ou não relacionada com a sua proteção). [cf. Considerando 9].
Entretanto entrou em vigor o Regulamento (CE) n.º 4/2009, de 18 de dezem-
bro (competência, à lei aplicável, ao reconhecimento e à execução das decisões e à
cooperação em matéria de obrigações alimentares).

116. O Regulamento Bruxelas II Bis só é aplicável às “matérias civis” (artigo 1.º).


Ora, o conceito de “matérias civis” é definido em termos amplos (autonomamente)
para efeitos do Regulamento e abrange, no tangente aos menores, todas as matérias
enumeradas no n.º 2 do artigo 1.º. Deste modo, mesmo nos casos em que nos termos
do direito nacional uma medida específica de responsabilidade parental é uma me-
dida de “direito público” (por exemplo, a colocação de uma criança ao cuidado de
uma família de acolhimento ou de uma instituição [artigo 1.º, n.º 2, al. d)]), ainda
assim o Regulamento será aplicável.

117. São excluídos do âmbito de aplicação do Regulamento (uma delimitação ne-


gativa feita no artigo 1.º, n.º 3):
 o estabelecimento ou impugnação da filiação;
 as decisões em matéria de adoção, incluindo as medidas preparatórias,
bem como a
 anulação e revogação da adoção;
 os nomes e apelidos da criança;
 a emancipação;
 os fideicomissos ("trusts") e sucessões;
 as medidas tomadas na sequência de infrações penais cometidas por crian-
ças;
 e os alimentos (cf. Regulamento (CE) n.º 4/2009, de 18 de dezembro
(competência, à lei aplicável, ao reconhecimento e à execução das de-
cisões e à cooperação em matéria de obrigações alimentares).

118. Em geral, este regime comunitário derroga as convenções existentes que ha-
jam sido celebradas entre dois ou mais Estados-Membros, designadamente quanto
às matérias reguladas pelo Regulamento Bruxelas II bis (artigo 59.º, n.º 1, artigo
62.º, n.º1).

Pensamos, por exemplo, na Convenção de cooperação judiciária relativa à


proteção de menores entre o Governo da República Portuguesa e o Governo da Re-
pública Francesa (1983) e na Convenção entre a República Portuguesa e o Grão-
Ducado do Luxemburgo relativa ao auxílio judiciário em matéria de direito de guar-
da e de direito de visita (1992), já que ambas versam matéria relativa à proteção de
menores.

Além disso, o Regulamento prevalece sobre determinadas convenções multi-


laterais nas relações entre os Estados-Membros relativamente às matérias abrangi-
das pelo Regulamento (artigo 60.º). Assim acontece, por exemplo, com:

- a Convenção de 20 de Maio de 1980, sobre o reconhecimento e a exe-


cução das decisões relativas à custódia de menores e sobre o restabe-
lecimento da custódia de menores;

- a Convenção da Haia de 25 de Outubro de 1980 sobre os aspetos ci-


vis do rapto internacional de crianças;

- e a Convenção da Haia de 1961 relativa à competência das autorida-


des e à lei aplicável em matéria de proteção de menores (atualmente,
só se aplica em matéria de competência nas relações com Macau e a
Turquia).

119. No que diz respeito às relações com a Convenção da Haia, de 19 de Outubro


de 1996, relativa à competência, à lei aplicável, ao reconhecimento, à execução e à
cooperação em matéria de responsabilidade parental e de medidas de proteção das
crianças (artigo 61.º), o Regulamento será aplicável na sua integralidade se a crian-
ça tiver a sua residência habitual no território de um Estado-Membro.
Além disso, as disposições do Regulamento sobre o reconhecimento e a exe-
cução serão aplicáveis quando o tribunal competente de um Estado-Membro profe-
re uma decisão, mesmo se a criança em causa tiver a sua residência habitual no ter-
ritório de um Estado não membro que seja parte contratante na referida Convenção
(artigo 61.º).
Ainda assim, quanto à competência e apesar do artigo 61.º, alguma doutrina
tem defendido que parece resultar do artigo 52.º, 3 e 4, da Convenção da Haia de
1996 (cláusula de desconexão) que o Regulamento deveria ceder perante o regime
convencional nas relações entre Estados-Membros e Estados terceiros partes na
Convenção.

120. Nos termos do Acórdão do Tribunal de Justiça (Terceira Secção), 2 de abril de


2009 (pedido de decisão prejudicial apresentado pelo Korkein hallinto-oikeus, Fin-
lândia): “… O conceito de “residência habitual”, na aceção do artigo 8.º, n.º 1, do Re-
gulamento n.º 2201/2003, deve ser interpretado no sentido de que essa residência
corresponde ao local que revelar uma determinada integração do menor num am-
biente social e familiar. Para esse fim, devem ser tidas em consideração, nomeada-
mente a duração, a regularidade, as condições e as razões da permanência no terri-
tório de um Estado-Membro e da mudança da família para esse Estado, a nacionali-
dade do menor, o local e as condições de escolaridade, os conhecimentos linguísti-
cos, bem como os laços familiares e sociais que o menor tiver no referido Estado.
Incumbe ao órgão jurisdicional nacional determinar a residência habitual do menor
tendo em conta o conjunto das circunstâncias de facto relevantes em cada caso con-
creto.”

121. Nos termos do artigo 8.º (Competência geral), os tribunais de um Estado-


Membro são competentes em matéria de responsabilidade parental relativa a uma
criança que resida habitualmente nesse Estado-Membro à data em que o processo
seja instaurado no tribunal, o que vale sob reserva do disposto nos artigos 9.º, 10.º e
12.º

122. Nos termos do art.º 9.º, quando uma criança se desloca legalmente de um
Estado-Membro para outro e passa a ter a sua residência habitual neste último, os
tribunais do Estado-Membro da anterior residência habitual da criança mantêm a
sua competência, em derrogação do artigo 8.º, durante um período de três meses
após a deslocação, para alterarem uma decisão, sobre o direito de visita proferida
nesse Estado-Membro antes da deslocação da criança, desde que o titular do direito
de visita, por força dessa decisão, continue a residir habitualmente no Estado-
Membro da anterior residência habitual da criança. Esta regra não é aplicável se o
titular do direito de visita referido tiver aceitado a competência dos tribunais do
Estado-Membro da nova residência habitual da criança, participando no processo
instaurado nesses tribunais, sem contestar a sua competência.

123. O artigo 12.º regula os casos de extensão de competência. Aqui importa ter
em consideração que os tribunais do Estado-Membro que, por força do artigo 3.º,
são competentes para decidir de um pedido de divórcio, de separação ou de anula-
ção do casamento, são competentes para decidir de qualquer questão relativa à res-
ponsabilidade parental relacionada com esse pedido quando:

a) Pelo menos um dos cônjuges exerça a responsabilidade parental em re-


lação à criança; e
b) A competência desses tribunais tenha sido aceite, expressamente ou de
qualquer outra forma inequívoca pelos cônjuges ou pelos titulares da res-
ponsabilidade parental à data em que o processo é instaurado em tribunal,
e seja exercida no superior interesse da criança.

A competência exercida nos termos do n.º 1 do art.º 12.º cessa:

a) Quando a decisão de procedência ou improcedência do pedido de divór-


cio, de separação ou de anulação do casamento transite em julgado; ou
b) Se, à data referida na alínea a), ainda estiver pendente uma ação relativa
à responsabilidade parental, logo
que a decisão deste processo transite em julgado; ou
c) Nos casos referidos nas alíneas a) e b), logo que o processo tenha sido
arquivado por qualquer outra razão.

124. Os tribunais de um Estado-Membro são igualmente competentes em matéria


de responsabilidade parental em processos que não os referidos no n.º 1, quando:

a) A criança tenha uma ligação particular com esse Estado-Membro, em es-


pecial devido ao facto de um dos titulares da responsabilidade parental ter
a sua residência habitual nesse Estado-Membro ou de a criança ser nacio-
nal desse Estado-Membro; e (requisito cumulativo)
b) A sua competência tenha sido aceite explicitamente ou de qualquer ou-
tra forma inequívoca por todas as partes no processo à data em que o pro-
cesso é instaurado em tribunal e seja exercida no superior interesse da cri-
ança.

Nestes casos o Acórdão do TJUE de 12-11-2014 C-656/13 (curia.europa.eu)


entendeu que a extensão de competência aqui prevista não depende de ter sido ins-
taurado previamente outro processo nesse tribunal (ex.: ação de divórcio).

125. Competência baseada na presença da criança (artigo 13.º): uma competência


subsidiária.
São competentes os tribunais do Estado-Membro onde a criança se encontra
quando:

- não puder ser determinada a residência habitual da criança nem


for possível determinar a competência com base no artigo 12.º (fo-
ro do divórcio/foro mais conexionado);
- perante crianças refugiadas ou crianças internacionalmente des-
locadas, na sequência de perturbações no seu país.

126. Regime da litispendência internacional: art.º 19.º, n.º 2 e 3, do Regulamento.

127. Transferência para um tribunal melhor colocado para apreciar a ação (artigo
15.º): uma flexibilização do regime da competência tendo em vista o interesse supe-
rior da criança.

128. Medidas provisórias e cautelares (artigo 20.º do Regulamento).

129. Cumpre, por fim, salientar que se deve recorrer ao art.º 55.º do Regulamento
(CE) n.º 2201/2003 do Conselho de 27 de novembro de 2003 (cf. Autoridade Central
portuguesa: DGRSP), no caso de menores que se desloquem para o estrangeiro e se
encontrem em situação de perigo, no sentido de, através da Autoridade Central des-
se país estrangeiro, se comunicar às autoridades locais da nova residência da crian-
ça, que a mesma pode estar ou está em perigo e se encontra carente de proteção. Em
casos mais graves, pode recorrer-se ao art.º 31.º, al.ª c), da Convenção de Haia de
1996.
V. NORMAS DE CONFLITOS

130. Tal como dispõe o art.º 25.º do Cód. Civil, as relações de família são reguladas
pela lei pessoal dos respetivos sujeitos.
Determina o art.º 31.º, n.º 1, do Cód. Civil que a lei pessoal é a da nacionali-
dade do indivíduo.
Todavia, as regras processuais aplicáveis são as do direito processual portu-
guês.

131. Caso de menor que seja portuguesa mas resida em Angola, onde os pais tam-
bém se encontrem e exista necessidade de regular o exercício das responsabilida-
des parentais:

O artigo 57.º, n.º 1, do Código Civil (Relações entre pais e filhos) estabelece que “1.
As relações entre pais e filhos são reguladas pela lei nacional comum dos pais e, na falta
desta, pela lei da sua residência habitual comum; se os pais residirem habitualmente em
Estados diferentes, é aplicável a lei pessoal do filho.»

A ideia orientadora, neste preceito é a de, na medida do possível, regular a sociedade


familiar por uma lei única.

Recorre-se, em primeiro lugar, às conexões que exprimem uma ligação estreita com
a vida familiar. Só na falta de nacionalidade comum ou residência habitual comum dos pais
é que releva a lei pessoal do filho.

O domínio de aplicação da lei reguladora das relações entre pais e filhos abrange, no
essencial, a responsabilidade parental.

Sobre o exercício das responsabilidades parentais regem os artigos 127.º, 128.º,


130.º, 131.º, 134.º e seguintes, 139.º e seguintes, e, em especial, o art.º 148.º a 151.º, 160.º
e 161.º, 247.º, 248.º, al.ª a), 249.º, 250.º, 251.º a 259.º do Código da Família de Angola,
aprovado pela Lei n.º 1/83, de 20.02.

Nos termos do art.º 251.º, «A medida dos alimentos devidos a filhos menores, sem-
pre que o obrigado tenha vencimento ou rendimento determinável, deverá consoante as
circunstâncias, ser fixada entre o mínimo de um quarto e o máximo de metade da totali-
dade do valor auferido.»

O Código da Família de Angola não prevê a guarda compartilhada, mas prevê o prin-
cípio do interesse superior da criança na fixação do regime de regulação do exercício das
responsabilidades parentais, via esta que autoriza, quando justificada, a guarda comparti-
lhada.

Esclarecido este ponto, da lei substantiva, importa abordar a da competência inter-


nacional.
Angola não é parte na Convenção de Haia de 1996, cujo critério de competência é o
da residência habitual da menor, que no caso concreto seria Angola.

Nos termos do art.º 9.º, n.º 7, do RGPTC (Lei n.º 141/2015, de 08.09, «Se no mo-
mento da instauração do processo a criança residir no estrangeiro e o tribunal por-
tuguês for internacionalmente competente, é competente para apreciar e decidir a
causa o tribunal da residência do requerente ou do requerido.»

A criança reside em Angola, pois aí frequenta a escola e aí se encontra com ambos os


pais, não existindo dados que o contrariem. Não se aplica, pois, o art.º 9.º, n.º 7, do RGPTC.
É que o critério da residência é o da residência habitual.

A regra geral, em matéria de competência internacional, é o foro do domicílio do réu,


seja qual for a sua nacionalidade.

Temos, pois, de recorrer ao artigo 59.º (Competência internacional) do Cód. Proc. Ci-
vil, o qual estabelece que: «Sem prejuízo do que se encontre estabelecido em regulamentos
europeus e em outros instrumentos internacionais, os tribunais portugueses são interna-
cionalmente competentes quando se verifique algum dos elementos de conexão refe-
ridos nos artigos 62.º e 63.º ou quando as partes lhes tenham atribuído competência nos
termos do artigo 94.º»

De acordo com o artigo 62º, do Código de Processo Civil, para que, como visto, reme-
te a segunda parte do artigo 59º daquele Código:

"Os tribunais portugueses são internacionalmente competentes:

a)Quando a ação possa ser proposta em tribunal português segundo as regras


de competência territorial estabelecidas na lei portuguesa;

b)Ter sido praticado em território português o facto que serve de causa de pedir na
ação, ou algum dos factos que a integram;

c)Quando o direito invocado não possa tornar-se efetivo senão por meio de ação
proposta em território português ou se verifique para o autor dificuldade apreciável na
propositura da ação no estrangeiro, desde que entre o objeto do litígio e a ordem jurídica
portuguesa haja um elemento ponderoso de conexão, pessoal ou real."

Entre as providências tutelares cíveis previstas no Regime Geral do Processo Tutelar


Cível - aprovado pelo artigo 1.º da Lei n.o 141/2015, de 8 de setembro - inclui-se "A regu-
lação do exercício das responsabilidades parentais e o conhecimento das questões a este
respeitantes.", vd. artigo 3.º, alínea c), do referido RGPTC.

E, de acordo com o artigo 9º do referido Regime Geral - sob a epígrafe "Competência


territorial":

"1-Para decretar as providências tutelares cíveis é competente o tribunal da resi-


dência da criança no momento em que o processo foi instaurado.

2-Sendo desconhecida a residência da criança, é competente o tribunal da residência


dos titulares das responsabilidades parentais.
3-Se os titulares das responsabilidades parentais tiverem residências diferentes, é
competente o tribunal da residência daquele que exercer as responsabilidades parentais.

4-No caso de exercício conjunto das responsabilidades parentais, é competente o


tribunal da residência daquele com quem residir a criança ou, em situações de igualdade
de circunstâncias, o tribunal em que a providência tiver sido requerida em primeiro lugar.

5-Se alguma das providências disser respeito a duas crianças, filhos dos mesmos
progenitores e residentes em comarcas diferentes, é competente o tribunal em que a pro-
vidência tiver sido requerida em primeiro lugar.

6-Se alguma das providências disser respeito a mais do que duas crianças, filhos dos
mesmos progenitores e residentes em comarcas diferentes, é competente o tribunal da
residência do maior número delas.

7-Se no momento da instauração do processo a criança residir no estrangeiro e o


tribunal português for internacionalmente competente, é competente para apreciar e de-
cidir a causa o tribunal da residência do requerente ou do requerido.

8-Quando o requerente e o requerido residam no estrangeiro e o tribunal português


for internacionalmente competente, o conhecimento da causa pertence à secção da instân-
cia central de família e menores de Lisboa, na Comarca de Lisboa.

9-Sem prejuízo das regras de conexão e do previsto em lei especial, são irrelevantes
as modificações de facto que ocorram após a instauração do processo."

Sendo aqui de assinalar que no transcrito n.º 8, não se define qualquer critério de
atribuição de competência internacional aos tribunais portugueses, mas, tão só, de atribui-
ção de competência territorial ao tribunal nacional, na hipótese de ele ser internacional-
mente competente.

Ora, estando ambos os pais a residir em Angola, que são os requeridos na ação, a
ação não podia ser proposta em tribunal português segundo as regras de competên-
cia territorial estabelecidas na lei portuguesa. É que o critério de competência terri-
torial é o da residência dos réus (art.º 80.º, n.º 1, e 82.º, n.º 1, do Cód. Proc. Civil),
pelo que sendo esta em Angola, não podia a ação ser proposta em Portugal.

Por outro lado, a menor reside em Angola, não se podendo invocar aqui uma
interpretação no sentido de que o interesse superior da menor deveria prevalecer
na fixação da competência, por ser provável a sua confiança a residente em Portu-
gal, a terceira pessoa a que se refere o art.º 151.º do Código da Família de Angola.

Não se pode também invocar a exceção do art.º 62.º, n.º 1, al.ª c), do Cód. Proc. Civil
(consagra o princípio da necessidade, segundo o qual a ação pode ser instaurada nos tri-
bunais portugueses quando uma situação jurídica, que apresenta uma ponderosa conexão,
pessoal ou real, com o território português, só possa ser reconhecida em ação proposta
nos tribunais nacionais, ou constituir para o autor dificuldade apreciável a sua propositura
no estrangeiro), que estabelece a competência internacional dos Tribunais portugueses
«Quando o direito invocado não possa tornar-se efetivo senão por meio de ação proposta
em território português ou se verifique para o autor dificuldade apreciável na propositura
da ação no estrangeiro, desde que entre o objeto do litígio e a ordem jurídica portuguesa
haja um elemento ponderoso de conexão, pessoal ou real.» É que os pais e a menor estão
em Angola!

Termos em que se deve excecionar a incompetência internacional dos tribunais por-


tugueses para conhecer da regulação do exercício das responsabilidades parentais desta
menor, exceção esta de incompetência absoluta, de conhecimento oficioso em qualquer
estado do processo, até ao trânsito em julgado da sentença sobre o mérito da causa, que
implica a absolvição dos réus da instância (artigos 96.º, 97.º e 99,º, n.o 1, do Código de Pro-
cesso Civil).

132. Menor portuguesa, mãe e pai angolanos, residindo todos em Angola, comuni-
cando a Conservatória de Registo Civil o nascimento para averiguação oficiosa de
paternidade:

O artigo 56.º, n.º 1, do Código Civil (Constituição da filiação)) estabelece que “1. À constituição da
filiação é aplicável a lei pessoal do progenitor à data do estabelecimento da relação.»

A ideia orientadora, neste preceito é a de, na medida do possível, regular a sociedade familiar por
uma lei única.

Recorre-se, em primeiro lugar, às conexões que exprimem uma ligação estreita com a vida famili-
ar. Só na falta de nacionalidade comum ou residência habitual comum dos pais é que releva a lei pessoal
do filho (cf. art.º 56.º, n.º 2, do Cód. Civil).

Sobre o estabelecimento da filiação regem os artigos 162.º e seguintes do Código da Família de


Angola, aprovado pela Lei n.º 1/83, de 20.02.

Nos termos do art.º 184.º, n.º 2, do Código da Família de Angola, a ação de investigação de pa-
ternidade pode ser proposta oficiosamente, pelo representante do Ministério Público, até três anos após
o nascimento (al.ª a)) ou pelo filho ou pelo seu representante legal (cf. mãe), durante a menoridade
do filho.

Esclarecido este ponto, da lei substantiva, importa abordar a da competência internacional.

A criança vai residir em Angola, pois aí reside a mãe, e aí residem quer o indigitado progenitor
quer as testemunhas indicadas, tendo os factos relativos à conceção da criança sido praticados em Ango-
la.

A regra geral, em matéria de competência internacional, é o foro do domicílio do réu, seja qual
for a sua nacionalidade.

Temos, pois, de recorrer ao artigo 59.º (Competência internacional) do Cód. Proc. Civil, o qual es-
tabelece que: «Sem prejuízo do que se encontre estabelecido em regulamentos europeus e em outros
instrumentos internacionais, os tribunais portugueses são internacionalmente competentes quando se
verifique algum dos elementos de conexão referidos nos artigos 62.º e 63.º ou quando as partes
lhes tenham atribuído competência nos termos do artigo 94.º»

De acordo com o artigo 62º, do Código de Processo Civil, para que, como visto, remete a segunda
parte do artigo 59º daquele Código:

"Os tribunais portugueses são internacionalmente competentes:


a)Quando a ação possa ser proposta em tribunal português segundo as regras de compe-
tência territorial estabelecidas na lei portuguesa;

b)Ter sido praticado em território português o facto que serve de causa de pedir na ação, ou al-
gum dos factos que a integram;

c)Quando o direito invocado não possa tornar-se efetivo senão por meio de ação proposta em ter-
ritório português ou se verifique para o autor dificuldade apreciável na propositura da ação no estran-
geiro, desde que entre o objeto do litígio e a ordem jurídica portuguesa haja um elemento ponderoso de
conexão, pessoal ou real."

Ora, estando o réu na ação de investigação de paternidade a instaurar a residir em Angola, a ação
não pode ser proposta em tribunal português segundo as regras de competência territorial esta-
belecidas na lei portuguesa. É que o critério de competência territorial é o da residência dos réus
(art.º 80.º, n.º 1, e 82.º, n.º 1, do Cód. Proc. Civil), pelo que sendo esta em Angola, não pode a ação
ser proposta em Portugal.

Por outro lado, a menor vai residir em Angola, onde reside a mãe e família materna, da
qual algumas pessoas são testemunhas.

Não se pode também invocar a exceção do art.º 62.º, n.º 1, al.ª c), do Cód. Proc. Civil (consagra o
princípio da necessidade, segundo o qual a ação pode ser instaurada nos tribunais portugueses quando
uma situação jurídica, que apresenta uma ponderosa conexão, pessoal ou real, com o território portu-
guês, só possa ser reconhecida em ação proposta nos tribunais nacionais, ou constituir para o autor difi-
culdade apreciável a sua propositura no estrangeiro), que estabelece a competência internacional dos
Tribunais portugueses «Quando o direito invocado não possa tornar-se efetivo senão por meio de ação
proposta em território português ou se verifique para o autor dificuldade apreciável na propositura da
ação no estrangeiro, desde que entre o objeto do litígio e a ordem jurídica portuguesa haja um elemento
ponderoso de conexão, pessoal ou real.» É que os pais e testemunhas estão em Angola!

Termos em que se torna imperioso excecionar a incompetência internacional dos tribunais portu-
gueses para conhecer da filiação desta menor, exceção esta de incompetência absoluta, de conhecimento
oficioso em qualquer estado do processo (artigos 96.º, 97.º e 99,º, n.o 1, do Código de Processo Civil).

Deverá sim, a mãe da menor, dirigir-se em Angola ao Ministério Público junto do Tribunal compe-
tente, para pedir a abertura de processo para investigação da paternidade, ou agir em representação da
filha, durante a sua menoridade, na propositura de ação de investigação de paternidade.

Deve, pois, ser declarada a incompetência internacional do Tribunal para a propositura da ação,
determinando-se o arquivamento dos autos de averiguação oficiosa de paternidade.

VI. PROCESSO DE REGULAÇÃO DO EXERCÍCIO DAS RESPONSABILIDADES PARENTAIS

133. Aferição de idoneidade na tomada de decisões de confiança de menores em


caso de adoção, tutela, curatela, acolhimento familiar, apadrinhamento civil, entre-
ga, guarda ou confiança de menores ou regulação do exercício das responsabilida-
des parentais:

Lei n.º 113/2009, de 17 de setembro:


Artigo 3.º
Aferição de idoneidade na tomada de decisões de confiança de
menores
1 - As autoridades judiciárias que, nos termos da lei, devam decidir
sobre a adoção, tutela, curatela, acolhimento familiar, apadri-
nhamento civil, entrega, guarda ou confiança de menores ou re-
gulação do exercício das responsabilidades parentais acedem à
informação sobre identificação criminal das pessoas a quem o menor
possa ser confiado, como elemento da tomada da decisão, nomeada-
mente para aferição da sua idoneidade.
2 - As autoridades judiciárias podem ainda aceder à informação so-
bre identificação criminal das pessoas que coabitem com as referidas
no número anterior.
3 - A informação referida nos números anteriores abrange o teor in-
tegral do registo criminal, salvo a informação definitivamente cance-
lada, e pode ser obtida por acesso direto, nos termos do artigo 14.º da
Lei n.º 57/98, de 18 de agosto.
4 - Tratando-se de procedimento não judicial, a Comissão de Proteção
de Crianças e Jovens, ou a entidade que for competente, solicita in-
formação ao Ministério Público, que pode proceder de acordo com o
n.º 1.
5 - As entidades que acedam a informação constante do registo cri-
minal nos termos do presente artigo asseguram a sua reserva, salvo
no que seja indispensável à tramitação e decisão dos respetivos pro-
cedimentos.

134. São aplicáveis a todos os processos tutelares cíveis os princípios orientado-


res de intervenção previstos no artigo 4.º da LPCJP, com as devidas adaptações (art.º
4.º do Regime Geral do Processo Tutelar Cível).

Artigo 4.º do Regime Geral do Processo Tutelar Cível


Princípios orientadores

1 - Os processos tutelares cíveis regulados no RGPTC regem-se pelos princípios


orientadores de intervenção estabelecidos na lei de proteção de crianças e jo-
vens em perigo e ainda pelos seguintes:

a) Simplificação instrutória e oralidade - a instrução do processo recorre


preferencialmente a formas e a atos processuais simplificados, nomeadamente,
no que concerne à audição da criança que deve decorrer de forma compreensí-
vel, ao depoimento dos pais, familiares ou outras pessoas de especial referência
afetiva para a criança, e às declarações da assessoria técnica, prestados oral-
mente e documentados em auto;
b) Consensualização - os conflitos familiares são preferencialmente dirimi-
dos por via do consenso, com recurso a audição técnica especializada e ou à
mediação, e, excecionalmente, relatados por escrito;
c) Audição e participação da criança - a criança, com capacidade de com-
preensão dos assuntos em discussão, tendo em atenção a sua idade e maturi-
dade, é sempre ouvida sobre as decisões que lhe digam respeito, preferencial-
mente com o apoio da assessoria técnica ao tribunal, sendo garantido, salvo
recusa fundamentada do juiz, o acompanhamento por adulto da sua escolha
sempre que nisso manifeste interesse.

2 - Para efeitos do disposto na alínea c) do número anterior, o juiz afere, ca-


suisticamente e por despacho, a capacidade de compreensão dos assuntos em
discussão pela criança, podendo para o efeito recorrer ao apoio da assessoria
técnica.

Artigo 4.º da LPCJP

(Princípios orientadores da intervenção)

A intervenção para a promoção dos direitos e proteção da criança e


do jovem em perigo obedece aos seguintes princípios:

a) Interesse superior da criança e do jovem - a intervenção deve


atender prioritariamente aos interesses e direitos da criança e do jo-
vem, sem prejuízo da consideração que for devida a outros interesses
legítimos no âmbito da pluralidade dos interesses presentes no caso
concreto;

b) Privacidade - a promoção dos direitos e proteção da criança e do


jovem deve ser efetuada no respeito pela intimidade, direito à ima-
gem e reserva da sua vida privada;

c) Intervenção precoce - a intervenção deve ser efetuada logo que a


situação de perigo seja conhecida;

d) Intervenção mínima - a intervenção deve ser exercida exclusiva-


mente pelas entidades e instituições cuja ação seja indispensável à
efetiva promoção dos direitos e à proteção da criança e do jovem em
perigo;

e) Proporcionalidade e atualidade - a intervenção deve ser a necessá-


ria e a adequada à situação de perigo em que a criança ou o jovem se
encontram no momento em que a decisão é tomada e só pode interfe-
rir na sua vida e na da sua família na medida do que for estritamente
necessário a essa finalidade;

f) Responsabilidade parental - a intervenção deve ser efetuada de


modo que os pais assumam os seus deveres para com a criança e o jo-
vem;

g) Prevalência da família - na promoção de direitos e na proteção da


criança e do jovem deve ser dada prevalência às medidas que os inte-
grem na sua família ou que promovam a sua adoção;

h) Obrigatoriedade da informação - a criança e o jovem, os pais, o re-


presentante legal ou a pessoa que tenha a sua guarda de facto têm
direito a ser informados dos seus direitos, dos motivos que determina-
ram a intervenção e da forma como esta se processa;
i) Audição obrigatória e participação - a criança e o jovem, em sepa-
rado ou na companhia dos pais ou de pessoa por si escolhida7, bem
como os pais, representante legal ou pessoa que tenha a sua guarda
de facto, têm direito a ser ouvidos e a participar nos atos e na defini-
ção da medida de promoção dos direitos e de proteção;

j) Subsidiariedade - a intervenção deve ser efetuada sucessivamente


pelas entidades com competência em matéria da infância e juventude,
pelas comissões de proteção de crianças e jovens e, em última instân-
cia, pelos tribunais.

135. Não sendo obrigatória a constituição de advogado nestes processos, a não ser
na fase de recurso (cf. art.º 18.º do Regime Geral do Processo Tutelar Cível), por for-
ça do disposto no art.º 18.º, n.º 2, do Regime Geral do Processo Tutelar Cível, conju-
gado com o art.º 4.º da LPCJP, é obrigatório nomear defensor ao menor, quando o
interesse superior do mesmo se demarque do dos progenitores e não obstante a
presença no processo do Ministério Público.

136. Caso um dos progenitores não compareça, estando citado pessoalmente, é o


progenitor faltoso condenado em multa, caso não justifique a falta no prazo de dez
dias (cf. artigos 35.º, n.º 4, do Regime Geral do Processo Tutelar Cível, 149.º, n.º 1 do
Código de Processo Civil e 27.º do Regulamento das Custas Processuais: a multa de-
ve ser fixada entre meia unidade de conta e cinco unidades de conta).

137. Os processos tutelares cíveis de regulação das responsabilidades parentais


podem também correr em férias (assumindo caráter urgente) se isso for entendido
pelo juiz e ponderada a circunstância da demora puder causar prejuízo aos interes-
ses do menor (artigo 13.º do Regime Geral do Processo Tutelar Cível).

138. Embora o artigo 28.º Regime Geral do Processo Tutelar Cível permita que o
tribunal possa decidir, a título provisório, matérias que possam ser apreciadas a
final, discute-se se é possível proferir sentença homologatória do regime na parte
acordada e regular provisoriamente outras questões durante a conferência de pais
ou anteriormente à realização da audiência de julgamento (cf. a favor, Helena Go-
mes de Melo e outros, em Poder Paternal e Responsabilidades Parentais, 2.ª edição,
pg. 53).

139. Compete aos Centros Distritais do Instituto da Segurança Social I.P. a realiza-
ção dos inquéritos e a assessoria técnica no âmbito dos processos tutelares cíveis
(artigo 3.º, alínea p), do Decreto-Lei n.º 214/2007, de 29 de maio, e Portaria n.º
638/2007, de 30 de maio).

140. Não faz sentido fazer depender do relatório social a elaborar pela Segurança
Social a prova dos montantes de despesas e receitas dos pais do menor, sendo como
são normalmente todas elas provadas por documentos – a entidade que elabora o
relatório social não tem que servir de mediador de a informação, devendo o tribu-

7
Sobre a audição obrigatória da criança que tenha maturidade para ser ouvida, para além deste
artigo 4.º, al.ª i), da LPCJP, consultem-se os artigos 5.º e 35.º, n.º 3, do RGPTC, artigo 1901.º, n.ºs 2 e 3,
do Código Civil, artigos 12.º, n.ºs 1 e 2, da Convenção de Nova Iorque, artigo 12.º da Convenção sobre os
Direitos da Criança de 1989 e os artigos 23.º, al.ª b), art.ºs 11.º, n.º 2, e 42.º, n.º 2, al.ª a), do Regulamento
(CE) do n.º 2201/2003 Conselho de 27.11.2003 e art.º 13.º da Convenção de Haia de 25-10-1980.
nal solicitar a produção de tal prova documental a quem invoca despesas e receitas,
funcionando aí muito, também a equidade, podendo, oficiosamente, o tribunal soli-
citar diretamente às competentes autoridades ou entidades alguma informação de
que careça – cf. neste sentido, Paulo Guerra e Helena Bolieiro, A Criança e a Família -
Uma Questão de Direito(s), pg.264., nota 175.

141. Caso o tribunal entenda necessário, podem ser realizados exames médicos e
psicológicos, acautelando-se os necessários consentimentos para o efeito, mas de-
vendo evitar-se a submissão excessiva da criança ou jovem a estes exames, aprovei-
tando, para o efeito, outros relatórios e exame realizados noutros processos (cf. ar-
tigo 147.º-B, n.º 3 da Organização Tutelar de Menores e economia do art.º 21.º do
Regime Geral do Processo Tutelar Cível).

142. Pode ainda o juiz nomear ou requisitar assessores técnicos, a fim de assisti-
rem a diligências, prestarem esclarecimentos, realizarem exames ou elaborarem
pareceres, devendo estes prestar toda a colaboração quando prestem serviços em
instituições públicas ou privadas e prevalecendo o serviço do tribunal sobre qual-
quer outro (artigo 21.º e segs. do Regime Geral do Processo Tutelar Cível).

143. Perícias:
Não se verificando nenhuma das hipóteses da 2.ª parte do n.º 3 do art.º 480.º
do CPC, a parte tem direito a assistir às perícias médico-legais e fazer-se assistir por
assessor técnico (nos termos do art.º 480.º/3, 1.ª parte, do CPC).
O critério de envio aos peritos de elementos que constem do processo decor-
re do disposto nos arts. 481.º/1 do CPC e 10.º, n.º 1 da Lei 45/2004 (cf. «No exercício
das suas funções periciais, os médicos e outros técnicos têm acesso à informação
relevante, nomeadamente à constante dos autos, a qual lhes deve ser facultada em
tempo útil pelas entidades competentes por forma a permitir a indispensável com-
preensão dos factos e uma mais exaustiva e rigorosa investigação pericial.»): qual-
quer informação relevante, de forma a permitir a indispensável compreensão dos
factos e uma mais exaustiva e rigorosa investigação pericial.

144. Ao longo de todo o processo, o juiz deve providenciar pela observância do


princípio do contraditório (artigo 25.º do Regime Geral do Processo Tutelar Cível),
acautelando que as partes sejam notificadas da junção das informações, exames e
pareceres constantes do processo, com vista a que aqueles possam pedir esclareci-
mentos, juntar outros elementos ou requerer a solicitação de informações que con-
siderem necessárias.
O exercício do direito de defesa e do contraditório pressupõe o conhecimen-
to pelas partes das informações e relatórios, exames e pareceres constantes do pro-
cesso, e da concessão de um prazo razoável para pedirem esclarecimentos, junta-
rem outros elementos e requererem a solicitação das informações necessárias.

145. A sentença de regulação do exercício das responsabilidades parentais tem a


estrutura formal de uma sentença cível (artigos 40.º do Regime Geral do processo
Tutelar Cível e 607.º e segs., todos do Código de Processo Civil, com as devidas adap-
tações, tendo em conta a natureza de jurisdição voluntária destes processos e o
objeto que visa definir):
a) o relatório (exposição historiada mas concisa dos termos da providên-
cia);
b) o saneamento do processo;
c) as questões a resolver;
d) a fundamentação de facto (enumeração dos factos provados);
e) a fundamentação de direito; e
f) o dispositivo (a residência da criança, o exercício das responsabilidades
parentais, a determinação dos contactos pessoais com o progenitor não re-
sidente e a fixação da obrigação de alimentos a cargo deste).

A sentença que fixa o exercício das responsabilidades parentais deve deter-


minar a residência da criança ou do jovem com um dos progenitores, terceira pes-
soa ou estabelecimento de educação e assistência, o regime de convívio (visitas)
com o progenitor não residente, a menos que, excecionalmente, o interesse daquela
o desaconselhe, e a determinação da obrigação de alimentos a cargo do progenitor
não residente (artigos 40.º do Regime Geral do processo Tutelar Cível e 1905.º,
1906.º, 1907.º, n.º 3, 1911.º, 1912.º e 1918.º, todos do Código Civil).

146. O processo de incumprimento da regulação do exercício das responsabilida-


des parentais tem natureza incidental, correndo por apenso se tiver havido prévia
regulação aos autos da regulação das responsabilidades parentais (artigo 7.º, al.ª e),
16.º, parte final, e 41.º, n.º 2, do Regime Geral do processo Tutelar Cível) ou em inci-
dente autónomo (quando a regulação do exercício das responsabilidades parentais
tenha sido realizada na conservatória do registo civil).
O tribunal competente para processar o incidente de incumprimento será
aquele onde foi homologado judicialmente o acordo ou proferida a decisão de regu-
lação das responsabilidades parentais (artigo 16.º, n.º 1, e 41.º, n.º 1, do Regime Ge-
ral do Processo Tutelar Cível) – o tribunal competente para execução das diligências
necessárias ao cumprimento coercivo, a condenação do remisso em multa até 20
UCs ou em indemnização será o da residência da criança (41.º, n.º 1, do Regime Ge-
ral do Processo Tutelar Cível).

147. Se o exercício das responsabilidades parentais tiver sido regulado em pro-


cesso de divórcio judicial por mútuo consentimento, o incidente de incumprimento
corre por apenso e no tribunal que efetuou a regulação mas, se o exercício das res-
ponsabilidades parentais tiver sido acordado em processo de divórcio por mútuo
consentimento celebrado na conservatória do registo civil, o incidente ex novo é
instaurado autonomamente no tribunal com a respetiva competência material ins-
talado na área de residência do menor (Ac. RC de 28/01/1986 in BMJ 353.º-522; Ac.
RP de 22/01/1981 in BMJ 303.º-268; art.º 41.º, n.º 1, do Regime Geral do Processo
Tutelar Cível).

148. Não é qualquer incumprimento que faz desencadear as consequências pre-


vistas no artigo 41.º do Regime Geral do Processo Tutelar Cível, só relevando o in-
cumprimento que, não sendo ocasional, é grave, culposo e reiterado; não o é aquele
que surge por razões imponderáveis alheias à vontade do pai dito incumpridor ou
no caso em que este está convencido que não está a incumprir, até por má compre-
ensão do acordado ou sentenciado” (Ac. RP de 03/10/2006).

149. O art.º 41.º do Regime Geral do Processo Tutelar Cível não impede que o in-
cidente de incumprimento seja suscitado por referência a processo em que o menor
tenha sido confiado a terceira pessoa (cf. art.ºs 1903.º e 1907.º do Cód. Civil).
Contra este entendimento, no âmbito da OTM revogada, sustentando que ca-
so o menor tenha sido confiado a terceira pessoa, parecia não ser possível o recurso
ao incidente de incumprimento do art.º 181.º uma vez que a disposição normativa
em causa circunscreveria essa possibilidade apenas aos progenitores, Paulo Guerra
e Helena Bolieiro, A Criança e a Família - Uma Questão de Direito(s), pg. 246, nota
147; Tomé d’Almeida Ramião, Organização Tutelar de Menores Anotada e Comenta-
da, 9.ª edição, pg. 137; nesta linha de pensamento, nestes casos deveria ser instau-
rada nova regulação do exercício das responsabilidades parentais (Ac. RP de
26/07/1979 in BMJ 290.º-468) – o problema foi agora expressamente solucionado,
pois o artigo 181.º da OTM foi substituído pelo art.º 41.º do Regime Geral do Proces-
so Tutelar Cível, que tornou inequívoco que o incidente de incumprimento pode ser
suscitado por referência a processo em que o menor tenha sido confiado a terceira
pessoa.

150. O prazo de dois dias previsto no artigo 181.º da Organização Tutelar de Me-
nores passou a ser de cinco dias por força do artigo 2.º do Decreto-Lei n.º 457/80, de
10 de outubro, e este prazo, por sua vez, passou a ser de dez dias, por força do artigo
6.º do Decreto-Lei n.º 329-A/95, de 12 de dezembro. Agora, com o art.º 41.º, n.º 3, do
Regime Geral do Processo Tutelar Cível, o prazo volta a ser de 5 dias, muito embora
a realização de conferência seja a regra e não a notificação para alegar.

151. Por se tratar de causa que não importa a constituição de mandatário, tendo o
requerimento de “incumprimento da prestação de alimentos” sido apresentado di-
retamente pelo requerente, deve promover-se a sua notificação para, no prazo de
10 dias, efetuar o pagamento da taxa de justiça devida, calculada de acordo com o
disposto no artigo 11º da Portaria n.º 419-A/2009 de 17 de Abril (ou juntar docu-
mento comprovativo da concessão do benefício de apoio judiciário, na modalidade
de dispensa de tal pagamento), sob pena de desentranhamento do referido reque-
rimento e a devolução do mesmo ao requerente, nos termos definidos pelos artigos
14º, n.º 6 do Regulamento das Custas Processuais e 145º, n.ºs 1 e 3, e 642.º, n.º 2, do
Código de Processo Civil.

152. O valor processual do incidente de incumprimento é o valor correspondente


ao valor das prestações alimentícias em dívida.

153. Sendo o procedimento previsto no art.º 48.º do Regime Geral do Processo


Tutelar Cível um procedimento pré-executivo, não admite oposição por via de em-
bargos.

154. Discute-se se este procedimento pode ou não ser impulsionado independen-


temente do procedimento a que alude o art.º 41.º do Regime Geral do Processo Tu-
telar Cível. No sentido de que é autónomo, consulte-se o Ac. Rel. Lisboa de
09.02.1988, in CJ 1988, T. I, p. 127. Em sentido diferente, Rui M. L. Epifânio – António
H. L. Farinha, Organização Tutelar de Menores, Contributo para uma visão interdis-
ciplinar do Direito de Menores e de Família, 2.ª edição atualizada, 1992, p. 433.

155. Na falta de acordo, no incidente de incumprimento o tribunal apenas pode


decidir as questões suscitadas no incumprimento? Neste sentido, «Guia Prático do
Divórcio e das Responsabilidades Parentais», CEJ, 2012, pág. 80, nota 102.
Trata-se de matéria muito discutível, atenta a natureza de jurisdição volun-
tária do processo (cf. art.º 12.º do Regime Geral do Processo Tutelar Cível) e o dever
de atuação oficiosa do juiz. Na verdade, o interesse superior do menor pode deman-
dar uma alteração do regime que melhor se adeque ao mesmo, não fazendo sentido
coarctar os poderes de alteração do juiz, sobretudo quando o regime do art.º 41.º do
Regime Geral do Processo Tutelar Cível manda seguir, na falta de acordo, os artigos
38.º e segs.

156. Artigo 48.º do Regime Geral do Processo Tutelar Cível: a cobrança coerciva
de alimentos é uma fase pré-executiva e não uma ação executiva pelo que não admi-
te oposição à execução (artigos 728.º e segs. do Código de Processo Civil) (Ac. RE de
02.07.1981, in CJ, IV, pg. 266).

157. Não são legalmente admitidas deduções ao montante dos alimentos emer-
gentes da efetivação dos descontos (e.g. comissões bancárias ou postais) as quais
serão a cargo do devedor.

158. Constitui também boa prática ordenar que, na notificação ou requisição a


efetuar à entidade processadora dos vencimentos, remunerações, pensões ou sub-
sídios, seja igualmente determinado que esta deve remeter ao processo cópia do
último recibo da remuneração, pensão ou subsídio, logo que se iniciem os descon-
tos, que deverão ocorrer no mês seguinte ao da notificação.
Com efeito, entre o início do processo e a concretização efetiva dos descontos
pode ocorrer algum tempo até que estes se iniciem e, por outro lado, nem sempre o
progenitor residente inicia logo o procedimento suscitando o incumprimento ape-
nas quando se verifique um atraso mais prolongado no pagamento da pensão men-
sal o que implica que poderão ficar por pagar algumas quantias a título de alimen-
tos em dívida.

159. Caso o devedor, durante o processo de incumprimento, proceda ao pagamen-


to voluntário das quantias em dívida, nem assim fica isento da aplicação do sistema
de dedução automática nos rendimentos, quanto às prestações que se forem ven-
cendo posteriormente.

160. Notificada a entidade processadora dos vencimentos, remunerações, pen-


sões ou subsídios, se esta não contestar essa obrigação e não a cumprir, aplica-se o
artigo 777.º, n.º 3 do Código de Processo Civil.
Assim, caso a entidade patronal não cumpra a obrigação, pode o progenitor
residente, a pessoa com quem resida a criança ou o Ministério Público (em repre-
sentação dos interesses da criança) exigir o pagamento da prestação na competente
ação executiva comum, servindo de título executivo a declaração de reconhecimen-
to do devedor, a notificação efetuada e a falta de declaração.
Iniciados os descontos sobre as prestações em dívida e sobre aquelas que se
forem vencendo posteriormente, é determinado o arquivamento do incidente de
incumprimento suscitado, ficando as custas respetivas a cargo do devedor, na me-
dida em que deu causa ao incidente e podendo o juiz determinar o pagamento de
um valor acrescido ao que seria normalmente devido pelo incidente, se este revestir
especial complexidade (artigo 7.º, n.ºs 3, 5 e 6 do Regulamento das Custas Processu-
ais).

161. Existem prestações cujo desconto não é legalmente possível, designadamen-


te quando ao devedor não reste quantia considerada suficiente à satisfação das suas
necessidades básicas com um mínimo de dignidade, ou seja, que ponha em causa a
sua própria subsistência, já que é necessário salvaguardar o direito fundamental a
uma sobrevivência com um mínimo de dignidade.
Assim, não é permitido o desconto, para dedução de prestação alimentar a fi-
lho menor, de uma parcela da pensão social de invalidez do progenitor que prive
este do rendimento necessário para satisfazer as suas necessidades essenciais (Ac.
TC n.º 306/2005 publicado no Diário da República 2.ª série n.º 150 pgs. 11186-
11190).
Também a prestação inerente ao direito ao rendimento social de inserção
não é totalmente suscetível de penhora (cf. por via das alterações introduzidas pelo
Decreto-Lei n.º 133/2012, de 27 de junho, a prestação do rendimento social de in-
serção pode ser parcialmente penhorável nos termos da lei geral (artigo 23.º), aten-
ta a sua natureza, uma vez que se destina a conferir às pessoas e aos agregados fa-
miliares apoios adaptados à sua situação pessoal, que contribuam para as suas ne-
cessidades essenciais (artigo 23.º da Lei n.º 13/2003, de 21 de maio, que criou o
rendimento social de inserção).

162. Nos termos do art.º 738.º, n.º 4, do Código de Processo Civil , no caso de dívi-
da de alimentos, é impenhorável a quantia equivalente à totalidade da pensão social
do regime não contributivo – nos termos do art.º 12 da Portaria n.º 65/2016, de
01.04, o quantitativo mensal das pensões provisórias de invalidez que esteja a ser
concedido à data da entrada em vigor desta portaria FOI fixado em € 202,34.

163. Para efeitos de atribuição de alimentos a cargo do Fundo de Garantia de Ali-


mentos Devidos a Menores, não deve ser considerado já o conceito de remuneração
mínima mensal garantida, mas antes o conceito de indexante de apoios sociais cf.
(3.º, n.ºs 1, alínea b), 2 e 5, do Decreto-Lei n.º 164/99, de 13 de maio, na redação do
n.º 1 do artigo 17.º da Lei n.º 64/2012, de 20 de dezembro).
Esclarece o artigo 3.º, n.º 2, do DL 164/99, de 13/5, na sua atual redação (cf.
n.º 1 do artigo 17.º da Lei n.º 64/2012, de 20 de dezembro), que se entende “que o
alimentado não beneficia de rendimentos de outrem a cuja guarda se encontre, su-
periores ao IAS, quando a capitação de rendimentos do respetivo agregado familiar
não seja superior àquele valor”.
Tais prestações, a adiantar pelo Estado, são fixadas pelo Tribunal e não po-
dem exceder, mensalmente, por cada devedor, o montante de 1 IAS (outrora 4 UCs) -
sendo o valor do IAS de 421,32 €, nos termos fixados na Portaria n.º 4/2017, de
03.01 -, independentemente do número de filhos menores.
O “quantum” a suportar pelo Fundo deverá, em princípio, ser tendencialmen-
te idêntico ao primitivamente fixado pelo tribunal, podendo todavia ser inferior,
designadamente por força da limitação acima referida, não podendo ser mais eleva-
do do que o valor originariamente fixado, e será determinado de acordo com a ca-
pacidade económica do agregado familiar, o valor da prestação de alimentos que
haja sido estabelecido e as necessidades específicas da criança.
Só no montante alimentício fixado em anterior decisão fica o Estado sub-
rogado nos direitos do credor, mesmo que pague mais, o que parece possível, desde
que não ultrapasse a baliza de 1 IAS (421,32 €), entendendo-se os “pais” (os dois,
quando a guarda é entregue a terceira pessoa) como um só devedor.
Como, então, calcular o rendimento “per capita”, pressuposto no artigo 3.º,
n.º 3, do DL 164/99, na redação da Lei n.º 64/2012, de 20 de dezembro?
Antes de mais, é necessário ter em mente a noção correta de agregado fami-
liar para este efeito.
Nesse sentido, afasta-se a interpretação segundo a qual se imporia atender
apenas aos rendimentos auferidos por aquele pai sob cuja guarda a criança se en-
contra, sendo, pois, necessário provar com exatidão (o que é feito no inquérito alu-
dido no artigo 3.º, n.º 3, da Lei 75/98) quantas pessoas vivem numa família, apuran-
do os respetivos rendimentos.
Trata-se de um direito social e não uma fonte de relações familiares e tem-se
em conta que estamos perante uma família, desejável comunidade de afetos.
Por isso, a operação que há a realizar para efeito de cálculo da capitação de
determinado agregado é a seguinte: somam-se todos os rendimentos brutos (ou
seja, os do progenitor e dos demais elementos adultos que integram o agregado) e o
resultado obtido é dividido pela soma dos fatores de ponderação legalmente estabe-
lecidos – cf. arts. 4º. e 5º. do DL n.º 70/2010, de 16 de junho, na sua atual redação.
Note-se que tal rendimento é encontrado, independentemente das despesas
suportadas pelo agregado.
Assim, e exemplificando,

- se o pai guardião tem € 700 de rendimentos brutos mensais, auferindo


a sua companheira € 630 de rendimentos brutos mensais, obtém-se um
total de rendimentos de € 1330;
- depois, divide-se tal rendimento por 2,2 (1+0,7+0,5) e obtém-se o valor
de €604,54 (na consideração de que naquele agregado vive o pai – fator
1 -, a companheira – fator 0,7 - e a criança credora – fator 0,5), logo, valor
superior ao IAS (indexante dos apoios sociais, ou seja, €421,32, nos ter-
mos fixados na Portaria n.º 4/2017, de 03.01);
- feitas as contas, conclui-se assim que o Fundo não pode pagar qualquer
quantia, pois um dos pressupostos falece.
164. Quanto às regras de apensação, resulta das normas dos artigos 11.º do Regi-
me Geral do Processo Tutelar Cível e 81.º da LPCJP o seguinte:

- Ação de Regulação seguida de Ação de Alteração noutro Tribunal:


apensa-se a alteração à Ação de Regulação, que será solicitada para o
efeito e distribuída no novo tribunal (art.º 42.º, n.º 1, do Regime Geral do
Processo Tutelar Cível) – neste caso, recebida a petição de alteração, em
vez de se distribuir a mesma como processo, que teria de ser apensado
logo de seguida, a petição deve ir a despacho do juiz, para solicitação da
ação de regulação ao outro tribunal, devendo o juiz ter o cuidado de per-
guntar primeiro se existe aí processo de promoção e de proteção ou pro-
cesso tutelar educativo, pois neste caso a petição deverá ser remetida ao
tribunal competente, que é aquele onde tais processos correm – trata-se
de uma situação similar àquela que ocorre quando se pede processo ao
arquivo, em que não se atribui NUIP à petição de alteração;

- Processo de Promoção e de Proteção ou Processo Tutelar Educativo,


seguido de ação tutelar cível: esta corre por apenso àquele, sem prejuízo
do disposto no art.º 79.º, n.º 4, da LPCJP, após a aplicação da medida;

- Ação tutelar cível seguida de processo de promoção e de proteção:


apensa-se o processo de promoção e de proteção, mas após a aplicação
da medida, pode aplicar-se a regra do art.º 79.º, n.º 4, da LPCJP (neste ca-
so vai o processo todo para o tribunal que seja competente);

- Ação tutelar cível seguida de intervenção urgente ao abrigo do art.º 92.º


da LPCJP, que dá lugar à abertura de Processo de Promoção e de Prote-
ção: o art.º 92.º da LPCJP não define qual o tribunal competente, sendo
válida a regra geral do art.º 81.º, mas para a decisão provisória do n.º 1
pode ser o tribunal da área onde a criança seja encontrada. Ora, neste
caso, diz o art.º 92.º, n.º 3, que proferida a decisão provisória referida no
n.º 1, o processo segue os seus termos como processo judicial de promo-
ção e de proteção. Assim, terá de ser ponderada a competência em fun-
ção do art.º 81.º da LPCJP, pelo que deverá ser remetido para apensação
à ação tutelar cível. Todavia, caso a criança fique com residência na área
do tribunal competente para a intervenção urgente, após a aplicação da
medida em meio natural de vida, para evitar o retorno do processo, ao
abrigo do art.º 79.º, n.º 4, da LPCJP, deve solicitar-se a ação tutelar cível
para apensação, a qual não será distribuída, por excessivo, para além de
que as decisões no processo de promoção e de proteção prevalecem.

Em suma: a regra é a da apensação ao processo primeiramente instaurado,


independentemente do seu estado, exceto no caso do art.º 42.º, n.º 1, do Regime Ge-
ral do Processo Tutelar Cível, caso este que não tem aplicação quando o processo
primeiramente instaurado é o de promoção e de proteção ou tutelar educativo.

Importa sempre ponderar a necessidade de uma apreciação conjunta da si-


tuação do menor de modo a permitir a produção de decisões que convirjam harmo-
niosamente na satisfação das suas necessidades, proporcionando proteção e pro-
moção do menor, por forma a garantir o seu bem-estar, desenvolvimento e inserção
digna e responsável na sociedade, que é o objetivo visado com os diplomas indica-
dos.
Sobre o tema, consulte-se ainda o Memorando n.º 12/15 Coimbra - PGD -
Procurador-Geral Distrital, nesta Sebenta.

VII. AÇÃO TUTELAR COMUM DO ARTIGO 67.º DO REGIME GERAL DO PROCESSO TU-
TELAR CÍVEL

165. Providências tutelares cíveis para as quais não se prevê, em termos legais,
qualquer tramitação específica:

- instituição de tutela e da administração de bens;


- fixação de dias de convívio aos irmãos ou ascendentes que não os pais;
- medidas limitativas do exercício das RP – art.º 1918.º do Cód. Civil –
quanto à pessoa do filho (VER, PORÉM, O QUE SE DIZ NO PONTO 162);
- determinação da remuneração do tutor ou do administrador;
- nomeação de pessoa que celebre negócios em nome da criança;
- decisão sobre a prestação de caução pelos pais;
- substituição da hipoteca legal por caução em caso de tutela ou de ad-
ministração de bens;
- remoção, exoneração ou escusa do tutor.

166. Tendo sido aplicada em processo de promoção e de proteção a medida de


apoio junto de outro familiar, em casos de menor gravidade e que não justifiquem
ação de inibição em relação aos pais, deve instaurar-se ação tutelar comum de limi-
tação e não ação de regulação, a não ser que exista a possibilidade de confiança aos
pais. Na ação de limitação pode, porém, convolar-se para a regulação, atenta a natu-
reza de jurisdição voluntária do processo, desde que o rito processual seja o ade-
quado.

167. O conceito de perigo resulta do art.º 3.º, n.º 2, da LPCJP.


O perigo tanto pode decorrer da ação ou omissão dos pais, como da ação de
terceiros a que os pais não consigam pôr termo, afastando a nefasta influência desse
terceiro.
Além disso, o perigo também pode resultar da própria ação da criança a que
os pais, igualmente, não se oponham de modo adequado a removê-lo.
O perigo pode não ser atual ou iminente, bastando-se a lei com o perigo me-
ramente potencial, embora com algum grau de probabilidade (cf. Ac. Rel. Évora, de
01-02-1990, in BMJ, 394/549).

168. A ser decretada a inibição do exercício das responsabilidades parentais em


relação a ambos os progenitores, deve instaurar-se uma ação de tutela em benefício
do menor (art.º 1921.º, n.º 1, al.ª b), do Cód. Civil).

169. Para efeitos do disposto no art.º 1921.º, n.º 1, al.ª c), do Cód. Civil, um pai só
está impedido de facto de exercer as responsabilidades parentais quando, querendo,
não as pode exercer (o caso de pais hospitalizados de forma contínua e prolongada,
os pais reclusos com longas penas, os ais ausentes no estrangeiro, por emigração,
por estudos, e longe do filho, ou o caso do filho que vem estudar para Portugal com
um familiar, com o consentimento dos pais, etc.).
Quando os pais se demitam do exercício dessas responsabilidades, deve ins-
taura-se antes ação limitativa ou de inibição e não tutela.
A tutela não é o meio idóneo para provar culpas dos progenitores.
Sobre isto, consulte-se Helena Bolieiro/Paulo Guerra, em a “A Criança e a
Família – Uma Questão de Direito(s)”, pág. 298 e segs., Coimbra Editora.

170. O menor deve ser ouvido sobre a nomeação do tutor, quando tenha 12 anos
ou maturidade suficiente (cf. art.º 5.º e 35.º, n.º 3, do Regime Geral do Processo Tu-
telar Cível e LPCJP).

171. Na sentença que decida favoravelmente a tutela deve constar:

- a nomeação de tutor e de protutor;


- a fixação de prazo para a apresentação, pelo tutor, da relação de bens –
ativo e passivo – da criança (art.º 1943.º do Cód. Civil), caso eles existam
(caso não existam, o juiz deve declará-lo na sentença, assim se explici-
tando a razão pela qual não fixa prazo para a apresentação da referida
relação de bens);
- a fixação de remuneração ao tutor (art.º 1942.º do Cód. Civil), se hou-
ver dados fáticos suficientes (contudo, a regra é que tal fixação se faça
apenas após a apresentação da relação de bens e a prestação de contas
(prestação essa que corre por apenso – art.º 16.º do Regime Geral do
Processo Tutelar Cível);
- a designação de data para juramento do tutor e do protutor; e
- comunicação ao registo civil.

VIII. SANÇÃO PECUNIÁRIA COMPULSÓRIA

172. Discute-se a admissibilidade da sanção pecuniária compulsória (artigo 829.º-


A do Cód. Civil) para garantir o regime de visitas.

A favor, consulte-se «Poder Paternal e Responsabilidades parentais», 2.ª Edi-


ção, Helena Gomes de Melo e outros, Quis Juris, página 125.
Contra: o facto de o recente Regime Geral do Processo Tutelar Cível não o
prever e ter atualizado o valor da multa aplicável. Subscrevemos este entendimento.

173. Já os juros compulsórios são líquidos, à luz do art.º 829-A, n.º 4, do Cód. Civil,
o qual estabelece que «Quando for estipulado ou judicialmente determinado qual-
quer pagamento em dinheiro corrente, são automaticamente devidos juros à taxa de
5% ao ano, desde a data em que a sentença de condenação transitar em julgado, os
quais acrescerão aos juros de mora, se estes forem também devidos...».

IX. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ

174. Sobre a admissibilidade de condenação como litigante de má-fé: «Poder Pa-


ternal e Responsabilidades parentais», 2.ª Edição, Helena Gomes de Melo e outros,
Quis Juris, página 125. Não se trata de sancionar a substância do incumprimento,
trata-se de sancionar o comportamento processual do incumpridor, o falsear a ver-
dade e adiar intencionalmente a decisão do processo.
No sentido da não admissibilidade de cumulação de outros meios processu-
ais sancionatórios, consulte-se o Ac. Rel. Lisboa de 17.06.99, processo 0024202, in
www.dgsi.pt

X. MULTA E INDEMNIZAÇÃO

175. O art.º 41.º, n.º 1, do Regime Geral do Processo Tutelar Cível prevê a multa e
a indemnização em caso de incumprimento.

176. Cumpre salientar, porém, que a imposição de sanções pecuniárias em caso de


alegações apenas não provadas de violência é excessiva, pois funciona como um de-
sincentivo para as vítimas revelarem a violência ou o abuso aos tribunais de família,
por medo de serem consideradas progenitoras não colaborantes com o outro e per-
derem a guarda dos filhos e por falta de recursos económicos para pagarem as cus-
tas dos processos e multas.
Sobre o tema, consulte-se Clara Sottomayor, Temas de Direito das Crianças,
páginas 208 e segs., Almedina 2014.

XI. INIBIÇÃO/LIMITAÇÃO

177. Inibição: de pleno direito (art.º 1913.º do Cód. Civil) ou judicial (art.º 1915.º
do Cód. Civil: culpa, inexperiência, enfermidade, ausência ou outras razões e grave
prejuízo).
Inibição: total ou parcial (art.º 1915.º, n.º 2, do Cód. Civil).
Inibição em relação a filhos que nasçam depois: art.º 1915.º, n.º 3, do Cód. Civil.

178. A ser decretada a inibição do exercício das responsabilidades parentais em


relação a ambos os progenitores, deve instaurar-se uma ação de tutela em benefício
do menor (art.º 1921.º, n.º 1, al.ª b), do Cód. Civil).

179. Limitações ao exercício das responsabilidades parentais: art.º 1918.º (pessoa


do menor) e 1920.º (património), ambos do Cód. Civil.

180. A inibição/limitação do exercício das responsabilidades parentais não pode


ser decretada em ação de inabilitação/interdição, mas sim em ação que corra em
Tribunal de Família e de Menores.

181. Tendo sido aplicada em processo de promoção e de proteção a medida de


apoio junto de outro familiar, em casos de menor gravidade e que não justifiquem
ação de inibição em relação aos pais, deve instaurar-se ação tutelar comum de limi-
tação e não ação de regulação, a não ser que exista a possibilidade de confiança aos
pais. Na ação de limitação pode, porém, convolar-se para a regulação, atenta a natu-
reza de jurisdição voluntária do processo, desde que o rito processual seja o ade-
quado.
Todavia, existindo uma ação de regulação do exercício das responsabilidades
parentais já instaurada e se no decurso da mesma se vier a constatar não servir o
interesse superior do menor a sua confiança a qualquer dos progenitores, nada im-
pede que a limitação se concretize nessa mesma ação.
182. O conceito de perigo resulta do art.º 3.º, n.º 2, da LPCJP.
O perigo tanto pode decorrer da ação ou omissão dos pais, como da ação de
terceiros a que os pais não consigam pôr termo, afastando a nefasta influência desse
terceiro.
Além disso, o perigo também pode resultar da própria ação da criança a que
os pais, igualmente, não se oponham de modo adequado a removê-lo.
O perigo pode não ser atual ou iminente, bastando-se a lei com o perigo me-
ramente potencial, embora com algum grau de probabilidade (cf. Ac. Rel. Évora, de
01-02-1990, in BMJ, 394/549).

183. Nos termos do artigo 58.º do Regime Geral do Processo Tutelar Cível (Outras
medidas limitativas do exercício das responsabilidades parentais), o Ministério Pú-
blico ou qualquer das pessoas aí referidas pode requerer as providências previstas
no n.º 2 do artigo 1920.º do Código Civil ou outras que se mostrem necessárias
quando a má administração de qualquer dos progenitores ponha em perigo o pa-
trimónio do filho e não seja caso de inibição do exercício das responsabilidades pa-
rentais (cf. n.º 1 do art.º 52.º d0 mesmo diploma legal) e nos casos referidos no nú-
mero 1 desse preceito observar-se-á o disposto nos artigos 54.º a 56.º (cf. n.º 2 do
art.º 58.º do Regime Geral do Processo Tutelar Cível).
O artigo 1920.º, n.º 2, do Cód. Civil estatui que «Atendendo em especial ao va-
lor dos bens, pode nomeadamente o tribunal exigir a prestação de contas e de in-
formações sobre a administração e estado do património do filho e, quando estas
providências não sejam suficientes, a prestação de caução.»
Outras medidas possíveis são o retirar a administração de certo e determi-
nado bem da esfera de ação do progenitor, entregando-a a terceiro ou a não entrega
a esse progenitor dos rendimentos de certo bem (ou seja, tais proventos não passam
pelas suas mãos, para evitar a delapidação) – cf. neste sentido, Helena Boliei-
ro/Paulo Guerra, em a “A Criança e a Família – Uma Questão de Direito(s)”, pág. 284,
Coimbra Editora.
CASO PRÁTICO 1

(Violação do Direito de Visitas - residente em Espanha)

Caros colegas
Muito agradecia as vossas sugestões para a seguinte situação:
Num processo de regulação de responsabilidades parentais, em que a guarda da me-
nor, com 5 anos, foi atribuída ao progenitor e este alterou o seu domicílio para terri-
tório Espanhol, estipulou-se que a progenitora teria direito a passar as férias da Pás-
coa e 15 dias das férias de Verão com a menor. Para tal a progenitora devia ir buscar
a menor a casa do pai, a Espanha e o pai vir, depois, buscar a menor a casa da mãe,
sita na ilha Terceira.
A mãe veio suscitar o incumprimento, por parte do progenitor, que nas férias da pás-
coa se recusou a entregar-lhe a menor para vir passar férias.
Veio agora requerer que se diligencie pela solicitação às entidades espanholas, para
que colaborem com a progenitora, no sentido de e caso haja recusa, obriguem o pro-
genitor a entregar a menor à mãe, a fim de esta poder efetivar o seu direito de visita.
O que se pode fazer nesta situação?
Agradeço sugestões, com alguma urgência.
Muito obrigada.

Respostas e comentários
1 - RE: violação do direito de visitas - residente em Espanha [Ana Leal 17-07-
2009 09:41]
Colega, aqui vai o meu contributo, que espero lhe seja útil.
A esta matéria aplica-se o Regulamento (CE) n.º 2201/2003 do Conselho, de 27 de
nov. de 2003, relativo à competência , ao reconhecimento e à execução de decisões
em matéria matrimonial e em matéria de responsabilidade parental.
Nos termos dos arts. 40.º e 41.º, o direito de visitas é reconhecido e goza de força
executória.
A decisão proferida pelo Tribunal Português será reconhecida e executada em Es-
panha, sem necessidade de reconhecimento e "exequatur", desde que acompanhada
da certidão a que se refere o art.º 41.º, n.ºs 1 e 2.
Esta certidão é emitida pelo juiz desde que verificados os requisitos estabelecidos
naquele preceito.
Para a emissão da certidão utiliza-se o formulário constante do Anexo III, e utiliza-
se a nossa língua.
A Autoridade Central em Portugal é a Direção-Geral de Reinserção Social, através da
qual será dirigido o pedido à sua congénere Espanhola que, por sua vez, o fará che-
gar ao Tribunal Competente.
CASO 2

(Deslocação ilícita de menor)

A) O regime de regulação do exercício das responsabilidades parentais de António,

que tinha a sua residência habitual em Portugal, é o da guarda conjunta, mas é leva-

do sem o consentimento da mãe para França, pelo seu pai, que para aí foi trabalhar

e residir com o menor

Nota 1: Tribunal competente é o português. Mas se a mãe tivesse consentido na deslocação

seria o francês.

A.1. Antes do fim do prazo de um ano de o menor estar a residir em França, a mãe

pediu à DGRSP o regresso da criança, mas depois veio a desistir do pedido de re-

gresso e não apresentou novo pedido dentro do prazo de um ano da deslocação ilíci-

ta.

Nota 1: passa a ser competente o tribunal francês, pois o menor, decorrido um ano, adqui-

re a residência habitual francesa.

A.2. Após um ano da deslocação ilícita do menor, que ficou a residir em França, a

mãe lembrou-se de requerer o regresso do menor.

Nota 1: tendo decorrido mais de um ano após a data em que mãe tomou conhecimento da

deslocação da criança ou devia ter tomado, competente é o tribunal francês, pois o menor

passou a ter residência habitual em França.

A.3. Dentro do prazo de um ano a mãe pediu o regresso da criança e um tribunal

francês proferiu uma decisão de retenção, cuja cópia foi enviada ao tribunal compe-

tente em Portugal (cf. art.º 11.º, n.º 6, do Regulamento). O tribunal português cum-

priu o art.º 11.º, n.º 7, do Regulamento e não foram apresentadas observações no

prazo de 3 meses.
Nota 1: o Tribunal Português arquiva o processo.

A.4. Dentro do prazo de um ano a mãe pediu o regresso da criança e um tribunal

francês proferiu uma decisão de retenção, cuja cópia foi enviada ao tribunal compe-

tente em Portugal (cf. art.º 11.º, n.º 6, do Regulamento). O tribunal português cum-

priu o art.º 11.º, n.º 7, do Regulamento e foram apresentadas observações no prazo

de 3 meses e o tribunal português decidiu ordenar o regresso (art.º 42.º do Regula-

mento e certidão do seu Anexo IV).

Nota 1: a decisão de retenção francesa deixa de prevalecer (cf. art.º 11.º, n.º 8, do Regula-

mento).

Cumpre salientar neste caso aqui o seguinte:

Diversamente da cláusula de ordem pública que figura no artigo 34.°, ponto 1, do Regulamento (CE) n.°
44/2001 do Conselho, de 22 de dezembro de 2000, relativo à competência judiciária, ao reconhecimento e à
execução de decisões em matéria civil e comercial (JO 2001, L 12, p. 1), que foi objeto do acórdão “Diageo
Brands”, C-681/13, EU:C:2015:471, n.° 42, o artigo 23.°, alínea a), do Regulamento n.° 2201/2003 exige
que a decisão sobre uma eventual recusa de reconhecimento seja tomada tendo em conta o superior
interesse da criança.

Uma alegada violação do artigo 15.° do referido Regulamento pelo tribunal de um Estado-Membro não
permite ao tribunal de outro Estado-Membro, da residência habitual da criança, controlar a competência desse
primeiro tribunal, para onde ela foi deslocada e que recuse o seu regresso, não obstante o facto de a proibição
enunciada no artigo 24.° do mesmo regulamento não conter uma referência expressa ao referido artigo 15.°

O juiz do Estado da residência habitual, perante uma decisão que recuse o regresso da criança, não po-
de, sob pena de pôr em causa a finalidade do Regulamento n.° 2201/2003, recusar o reconhecimento de
uma decisão de outro Estado-Membro, apenas por considerar que, nessa decisão, o direito nacional ou o
direito da União foi mal aplicado.

O Regulamento n.° 2201/2003 contém, no seu artigo 11.°, disposições específicas relativas ao regresso
de uma criança que foi ilicitamente deslocada ou retida num Estado-Membro diferente do da sua residência
habitual imediatamente antes da sua deslocação ou retenção ilícitas.

Além disso, este artigo prevê, no seu n.° 8, um procedimento autónomo que permite resolver o even-
tual problema de decisões conflituantes na matéria (v., neste sentido, acórdãos Rinau, C-195/08 PPU,
EU:C:2008:406, n.° 63, e Povse, C-211/10 PPU, EU:C:2010:400, n.° 56).

Assim, a questão da retenção ilícita de uma criança deve ser resolvida não através de uma recusa de re-
conhecimento, com fundamento no artigo 23.°, alínea a), do Regulamento n.° 2201/2003, de uma decisão,
formulada no Estado para onde a criança foi deslocada, mas, sendo caso disso, recorrendo ao procedimento
previsto no artigo 11.° deste regulamento.

O referido procedimento permite ao tribunal do Estado-Membro da residência habitual da criança an-


tes da sua deslocação ou da sua retenção ilícitas tomar uma decisão posterior com vista a assegurar o regresso
da criança ao Estado-Membro onde tinha a sua residência habitual imediatamente antes da sua deslocação ou
retenção ilícitas.
Todavia, importa recordar que o tribunal competente, antes de proferir essa decisão, deve ter em conta
os motivos e os elementos de prova com base nos quais foi proferida a decisão de retenção (acórdão Povse, C-
211/10 PPU, EU:C:2010:400, n.° 59), em função do superior interesse da criança.

Assim, o Tribunal de Justiça da União Europeia, 4ª Secção, pelo Acórdão de 19 nov. 2015, Proces-
so C-455/15 (Relator: Alexandra Prechal; Processo: C-455/15) declarou o seguinte:

“Resulta das considerações precedentes que há que responder à questão


submetida que o artigo 23.°, alínea a), do Regulamento n.° 2201/2003 deve
ser interpretado no sentido de que, não se verificando uma violação mani-
festa, tendo em conta o superior interesse da criança, de uma regra jurídica
considerada essencial na ordem jurídica de um Estado-Membro ou de um
direito reconhecido como fundamental nessa ordem jurídica, esta disposi-
ção não permite que o tribunal desse Estado-Membro, que se considera
competente para se pronunciar sobre a guarda de uma criança, recuse re-
conhecer a decisão de um tribunal de outro Estado-Membro que se pronun-
ciou sobre a guarda dessa criança.”

A.5. Após a deslocação ilícita, e dentro do prazo de um ano, o pai, autor da desloca-

ção ilícita, pede ao Tribunal Português que lhe confie a criança, o que este veio a

fazer.

Nota 1: deixa de existir a possibilidade de pedir o regresso da criança.


XII. Audição da criança ou jovem

A Convenção do Conselho da Europa para a Proteção das Crianças contra a

Exploração Sexual e os Abusos Sexuais, assinada em Lanzarote em 25 de outubro de

2007 estabelece no seu

Artigo 35.º

Audição da criança

1 — Cada Parte toma as necessárias medidas legislativas ou outras para garantir

que:

a) As audições da criança tenham lugar sem atrasos injustificados após a denún-

cia dos factos as autoridades competentes;

b) As audições da criança tenham lugar, sempre que necessário, em instalações

adequadas ou adaptadas para esse efeito;

c) As audições da criança sejam efetuadas por profissionais com formação ade-

quada a esse fim;

d ) Se possível e apropriado, as audições da criança sejam efetuadas pelas mes-

mas pessoas;

e) O número de audições seja limitado ao mínimo e na estrita medida do necessá-

rio a evolução do processo;

f ) A criança possa fazer -se acompanhar do seu representante legal ou, se apro-

priado, por um adulto da sua escolha, salvo decisão razoável em contrario no que

se refere a tal pessoa.

2 — Cada Parte toma as necessárias medidas legislativas ou outras para garantir

que todas as audições da vítima ou, se apropriado, com uma criança na qualida-

de de testemunha possam ser gravadas em vídeo e que as audições assim regista-

das possam ser aceites em tribunal como elementos de prova, segundo as regras

previstas no seu direito interno.

Sobre este tema recomenda-se a leitura de “Casos Práticos em Psicologia Foren-

se”, Rute Agulhas e Alexandra Anciães, Edições Sílabo, páginas 51 a 56.


As boas práticas quanto a revelação de indícios e obtenção de prova em matéria de

crimes contra menores estão descritas, designadamente, no estudo de Teresa Magalhães e

outros, in Ata Médica 2011 n.º 2 – “Procedimentos forenses no âmbito da recolha de

informação exame físico e recolha de vestígios em crianças e jovens vítimas de abu-

so físico e ou sexual” - e são dirigidas a evitar a vitimização secundária que resulta da

sujeição da vítima a uma segunda intervenção traumática por força do processo que afinal

a deve proteger.

Neste contexto, seria uma boa-prática - com ou sem consentimento do progenitor -,

a condução do menor ao Gabinete Médico-Legal, ou ao Hospital, se razões terapêuticas se

sobrepuserem às de recolha de vestígios, para que num único momento se proceda, com

saber pericial, ao conjunto da intervenção preliminar, no que se inclui a eventual fotogra-

fia de lesões.

Parece fulcral, na obtenção da colaboração e adesão do menor à inquirição, e à cor-

reta formulação das questões, a intervenção do perito médico-forense.

A latere, recordar-se-á em matéria de cuidados de saúde, o disposto na Convenção

da Biomedicina, art.ºs 6.º a 8.º, e também o Código Deontológico dos Médicos, designa-

damente art.ºs 45.º a 54.º

O artigo 5.º do Regime Geral do processo Tutelar Cível estabelece regras sobre a

audição da criança em processo tutelar cível.

Este dispositivo deve ser conjugado com o artigo 35.º, n.º 3, do mesmo diploma le-

gal.

O artigo 84.º da LPCJP remete para os artigos 4.º e 5.º do RGPTC.

A audição da criança pressupõe a análise prévia da sua finalidade e em função da


mesma se terá de construir um modelo adequado.

Deve ter-se em consideração se existe um ambiente familiar ou não, de conflito ou


não, e a maturidade da criança.

As questões passam, desde logo, pelos seguintes pontos:


- guarda;

- convívios;

- alimentos;

- horários;

- condutas adotadas pela criança;

- crimes sofridos;

- crimes presenciados;

- relações com os progenitores.

É fundamental adequar o espaço a utilizar à audição da criança.

Devem evitar-se múltiplas audições e a intervenção deve ser célere.

A diligência deve ser devidamente documentada quando se pretenda a sua utiliza-


ção como meio de prova futuro.

O recurso às declarações para memória futura deve ser um dos primeiros atos do
inquérito-crime, assim se evitando a contaminação da prova.

Aqui colocam-se várias questões:

- juramento (cf. 16 anos);

- possibilidade de recusa do representante legal e sua superação pe-


lo Juiz de Instrução, se for do interesse da criança, se necessário for
com recurso ao Tribunal de Família e de Menores;

- a questão da necessidade de constituição prévia de arguido e a si-


tuação de arguidos ausentes em parte incerta;

- a necessidade de nomeação de defensor ao arguido, se for neces-


sário;

- a questão da presença ou não do arguido;

- a questão do espaço e de quem faz as perguntas;

- o acompanhamento dos técnicos e quais;


- a necessidade de articulação com o Tribunal de Família e de Me-
nores.

O artigo 131.º do Cód. Proc. Penal prevê a perícia para a avaliação da capacidade e
dever de testemunhar:

Artigo 131.º

Capacidade e dever de testemunhar

1 - Qualquer pessoa que se não encontrar interdita por anomalia psíquica


tem capacidade para ser testemunha e só pode recusar-se nos casos previs-
tos na lei.

2 - A autoridade judiciária verifica a aptidão física ou mental de qualquer


pessoa para prestar testemunho, quando isso for necessário para avaliar da
sua credibilidade e puder ser feito sem retardamento da marcha normal do
processo.

3 - Tratando-se de depoimento de menor de 18 anos em crimes contra a li-


berdade e autodeterminação sexual de menores, pode ter lugar perícia so-
bre a personalidade. (cf. art.º 160.º do Cód. Proc. Penal)

4 - As indagações, referidas nos números anteriores, ordenadas anterior-


mente ao depoimento, não impedem que este se produza.

Temos, pois, que distinguir a capacidade (ou competência) para testemunhar da


credibilidade.

Quando se fala de credibilidade, importa ter em consideração que a criança pode


faltar à verdade e não querer mentir, por exemplo, por sugestionamento acidental, decor-
rente, por exemplo, de sucessivas inquirições, ou de sugestionamento deliberado ou ainda
de erros e distorções de memória.

Assim sendo, a avaliação da credibilidade não passa pela avaliação do sujeito, mas
pela avaliação do seu depoimento numa situação concreta.

A respeito do art.º 131.º, n.º 3, do Cód. Proc. Penal conhecem-se duas teses:

Tese 1: a avaliação pericial do art.º 131.º, n.º 3, do Cód. Proc. Penal deve cen-
trar-se sobre a capacidade de a criança testemunhar e não sobre a sua credibi-
lidade, pois este juízo pertence ao tribunal (cf. Ac. Rel. Lisboa, de 18-01-2006 e
Ac. STJ de 07.12.1999); e
Tese 2: a avaliação pericial pode incidir sobre a credibilidade do testemunho.
(cf. Ac. STJ de 23-10-2008, processo 08P2869):

.Nos termos deste acórdão:

- A perícia da personalidade a que alude o n.º 3 do art.º 131.º do CPP, visa


verificar a aptidão física e mental do menor de 18 para depor em crimes
contra a liberdade e autodeterminação sexual, designadamente quando de-
les foi vítima, para avaliar da sua credibilidade (n.º 2 desse artigo), enquan-
to a perícia de personalidade do arguido é realizada para efeito de avaliação
da sua personalidade e perigosidade do arguido, incidindo sobra as caracte-
rísticas psíquicas independentes de causas patológicas, bem como sobre o
seu grau de socialização (n.º 1 do art.º 160.º).

- A credibilidade que se prende necessariamente com a idade da testemunha


e a natureza do crime, postula a obtenção de um discurso sobre a situação,
pois não se trata de uma mera credibilidade geral e desligada da vida, tribu-
tária tão só de condicionantes psicobiológicas, mas sim da sua credibili-
dade relacionada com aquele pedaço de vida, que exatamente pela sua
natureza autoriza a avaliação pericial da credibilidade da testemu-
nha.

A criança colabora mais ativamente quando existe uma relação de confiança, de-
vendo evitar-se a preocupação excessiva em seguir um protocolo de entrevista.

Previamente à audição, devem questionar-se outras áreas temáticas da vida da


criança.

Trata-se, pois, de introduzir uma «fase introdutória».

O inquiridor não deve referir regras de entrevista, apresentando-se como figura


de autoridade.

Por outro lado, o entrevistador deve estar atento às indicações por parte da criança
no sentido de perceber se esta relação de confiança foi ou não estabelecida, dando particu-
lar atenção às manifestações não verbais, desde as mais explícitas (ex.: chorar, pedir para
sair da sala) até às mais subtis (ex.: evitar manter contacto visual, curvar-se sobre si pró-
pria).

Na avaliação da capacidade de a criança distinguir o que realmente aconteceu do


que lhe foi sugerido deve ter-se em consideração:
- a noção da criança do tempo e de espaço e sua relação;

- a informação demográfica e as dinâmicas familiares, que devem ser co-


nhecidas;

- dados relativos à memória e capacidade de narrar eventos.

O recurso a temas neutros pode ser um ótimo auxiliar de trabalho. Assim, importa
saber se a criança admite não saber de algo – ex.: qual a cor do meu carro? Se a resposta
for não sei, deve reforçar-se a correção da resposta.

Numa situação de recusa de conviver, importa perceber se a criança admite não


saber de algo…ou se aparece convencida de que sabe tudo.

A linguagem a utilizar deve ser própria e devem evitar-se perguntas sugestivas.

É a partir dos 3 anos que a criança começa a ser capaz de fornecer detalhes sobre
experiências pessoais.

Quanto à quantidade de informação recortada, até aos 3 anos a informação tende a


dissipar-se 1 a 3 semanas após o evento e, a partir dos 6 anos, tende a manter-se.

As crianças mais novas evidenciam maior dificuldade na concetualização de acon-


tecimentos complexos, atribuição de intenções, reconhecimento de emoções, identificação
de relações e em descrever verbalmente as suas memórias.

As crianças mais novas apresentam um pensamento mais concreto, que se traduz


num vocabulário mais limitado e menos descritivo, efetuando explicações breves, sem
adjetivos e com poucos ou nenhuns advérbios.

Ao ouvir uma criança não nos podemos esquecer de quem são os seus organizado-
res vinculativos na aprendizagem das dificuldades do encontro, da importância dos con-
sensos para superar conflitos.

Importa perceber sempre que importância a criança atribui ao diálogo como forma
de superar conflitos e se percebe que o diálogo pressupõe o respeito e a admiração mú-
tuos, mas também a diversidade. Será que a criança ou o jovem se toma como unidade de
medida, fechando-se nos seus particularismos? Tem a criança capacidade de alargar o seu
eu, distinto de todos os outros, de forma positiva, dando espaço aos outros para se corri-
girem, como ela também necessita disso mesmo?
XIII. COBRANÇA DE ALIMENTOS E CUSTAS NO ESTRANGEIRO

Introdução:

NOTA 1)

«Se o(a) credor(a) residente em Portugal desconhecer o paradeiro do(a) devedor(a) (Estado de
residência ou onde trabalha) como deve proceder?

O(A) credor(a) terá que primeiramente solicitar à Direção-Geral da Administração da Justiça


(DGAJ) que o(a) auxilie na localização do(a) devedor(a) com o intuito de vir a apresentar um
pedido para fixação/alteração/cobrança da pensão de alimentos no Estado em que for encon-
trado, enviando requerimento por escrito ou através de correio eletrónico, com os seguintes
elementos:

Do(a) próprio(a) credor(a)

- Nome completo;

- Endereço completo;

- Finalidade da informação pretendida.

Do(a) devedor(a)

- Endereço, tão completo quanto possível;

- Estado onde eventualmente se encontre o(a) devedor(a);

- Nome completo do(a) devedor(a) - obrigatório;

- Data de nascimento do(a) devedor(a) - obrigatório;

- Quaisquer outros elementos que sejam uteis à identificação/localização do(a) deve-


dor(a) – local de trabalho, moradas e contactos de familiares ou amigos no Estado on-
de supostamente o(a) devedor(a) reside… .

A Direção-Geral da Administração da Justiça (DGAJ) socorrer-se-á da colaboração das compe-


tentes entidades para localizar o devedor(a) noutro Estado.

A Direção-Geral da Administração da Justiça (DGAJ) não informará o(a) credor(a) da(s) mora-
da(s) obtida(s), já que se destina(m) exclusivamente à apresentação por esse do pedido para
fixação/alteração/cobrança da pensão de alimentos no Estado em que o(a) devedor(a) foi loca-
lizado.

NOTA 2:

As traduções são da responsabilidade da Direção-Geral da Administração da Justiça


(DGAJ).
NOTA 3):

O pedido deve ser entregue ou enviado para:

Direção-Geral da Administração da Justiça

Divisão de Cooperação Judiciária Internacional

Av. D. João II, n.º 1.08.01 D/E, Ed. H - Pisos 0 e 9.° ao 14.°

1990-097 LISBOA
1) Até 28-02-2002 (Convenção para a Cobrança de Alimentos no
Estrangeiro concluída em Nova Iorque)

Convenção para a Cobrança de Alimentos no Estrangeiro concluída em Nova Iorque, em


20.06.1956

Tramitação: VIA DGAJ /


Instrução do Pedido: Preenchimento de Formulários on-line www.cji-dgaj.mj.pt

Estados a que se aplica:

Alemanha, Argélia, Argentina, Austrália, Áustria, Barbados, Bélgica, Bielorrússia, Bolí-


via, Bósnia e Herzegovina, Brasil, Burkina Faso, Camboja, Cazaquistão, Chile, China,
Chipre, Colômbia, Cabo Verde, Croácia, Cuba, Dinamarca (b), El Salvador, Equador, Es-
tónia, Eslováquia, Eslovénia, Espanha, Filipinas, França, Grécia, Guatemala, Haiti, Hun-
gria, Irlanda, Israel, Itália, Luxemburgo, México, Mónaco, Montenegro, Marrocos, Nova
Zelândia, Níger, Países Baixos, Paquistão, Polónia, Portugal, Quirguistão, Reino Unido
da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte, Republica da Libéria, República da Macedónia,
República da Moldávia, República Checa, República Central Africana, República Domi-
nicana, Roménia, Santa Sé, Sérvia, Seychelles, Sri Lanka, Suécia, Suíça (a), Suriname, Tu-
nísia, Turquia, Ucrânia e Uruguai.
A Convenção aplica-se ainda aos seguintes territórios:
o da República Francesa: Arquipélago Comoro, Polinésia Francesa, Nova Caledó-
nia e Dependências e St. Pierre e Miquelon
o da Austrália: Ilha Norfolk
o dos Países Baixos: Antilhas Holandesas
o do Reino Unido: Ilha de Man e Bailiwick of Jersey

- Requerimento Impresso (formulário disponível on-line)

- Certidão da sentença ou decisão que fixa os alimentos, quando exista (acompanhada da certidão da sentença
ou decisão que altera os alimentos, quando exista) - a emitir pelo Tribunal/Conservatória - com a menção de
que a mesma foi notificada às partes e transitou em julgado, salvo tratando-se de alimentos provisórios

- Certidão (anexo V) - Só para a Suíça (a) - referida nos artigos 54.º e 58.º ou 57.º, n.º 4, da “Convenção Lugano
II” (preenchimento on-line obrigatório, pelo Tribunal ou Conservatória competente)

- Formulário Anexo I (decisões após 18/06/2011) ou II (decisões anteriores a 18/06/2011) do Regulamento (CE)
4/2009- Só para a Dinamarca (b) - Extrato de uma decisão/transação judicial em matéria de obrigações alimen-
tares sujeita a um procedimento de reconhecimento e declaração de força executória (preenchimento online
obrigatório, pelo Tribunal/Conservatória competente)

- Documento da Segurança Social, quando exista, que comprove em que medida o/a Requerente beneficiou de
apoio judiciário no Estado de origem

- Referências bancárias internacionais

- IBAN, BIC e Código SWIFT (formulário disponível on-line)

- Certificado(s) de frequência escolar do(s) filho(s), se maior(es)

- Assento de nascimento do/a(s) filho/a(s) menor(es)

- Assento de casamento, caso credor/a e devedor/a ainda estejam casados

- Relação dos montantes em dívida (formulário disponível on-line)

- Fotografias do credor/a e, se possível, do devedor/a (facultativo)

- Procuração passada à Instituição Intermediária (formulário disponível on-line)


No caso de envio de um pedido de cobrança de alimentos em Portugal, o mesmo é recebido pela DGAJ que o
encaminha para o Ministério Público competente no tribunal onde a execução virá a correr.

O Ministério Público deve aí abrir um processo administrativo, com vista a apurar se a execução é viável e se o
devedor pretende pagar, o que a acontecer torna inútil o prosseguimento.

Não esquecer que previamente a qualquer execução, o Ministério Público atrás referido deve solicitar à Procu-
radoria-Geral Distrital junto do Tribunal de Relação (cf. art.º 979.º do CPC) a revisão e confirmação da sentença
estrangeira.

CPC
Artigo 978.º
Necessidade da revisão
1 - Sem prejuízo do que se ache estabelecido em tratados, convenções, regulamentos da União Europeia e leis espe-
ciais, nenhuma decisão sobre direitos privados, proferida por tribunal estrangeiro, tem eficácia em Portugal, seja qual
for a nacionalidade das partes, sem estar revista e confirmada.
2 – (…)

Artigo 980.º
Requisitos necessários para a confirmação
Para que a sentença seja confirmada é necessário:
a) Que não haja dúvidas sobre a autenticidade do documento de que conste a sentença nem sobre a inteligência da
decisão;
b) Que tenha transitado em julgado segundo a lei do país em que foi proferida;
c) Que provenha de tribunal estrangeiro cuja competência não tenha sido provocada em fraude à lei e não verse sobre
matéria da exclusiva competência dos tribunais portugueses;
d) Que não possa invocar-se a exceção de litispendência ou de caso julgado com fundamento em causa afeta a tribu-
nal português, exceto se foi o tribunal estrangeiro que preveniu a jurisdição;
e) Que o réu tenha sido regularmente citado para a ação, nos termos da lei do país do tribunal de origem, e que no
processo hajam sido observados os princípios do contraditório e da igualdade das partes;
f) Que não contenha decisão cujo reconhecimento conduza a um resultado manifestamente incompatível com os prin-
cípios da ordem pública internacional do Estado Português.

Nos termos do art.º 6.º, n.º 1, da Convenção de Nova Iorque, agindo dentro dos limites dos poderes conferidos
pelo credor, a DGAJ toma, em nome deste, todas as medidas adequadas a assegurar a cobrança de alimentos.
Assim, poderá transigir, e, sendo necessário, intentar e prosseguir, através do Ministério Público, uma ação de
alimentos (cf. alimentos não fixados ainda), bem como fazer executar toda e qualquer decisão, ordem ou outro
ato judicial.

Embora previstas em diversas legislações (no Brasil, é regida pelo art.º 232.º do Código de Processo Civil), as
citações editais não têm sido consideradas válidas para fins de homologação de sentença estrangeira.
1.1) Petição de reconhecimento e revisão de sentença estrangeira
(artigos 978.º e seguintes do Cód. Proc. Civil)

Excelentíssimo Senhor Presidente do


Tribunal da Relação de ….

O Magistrado do Ministério Público junto deste Tribunal vem requerer, ao abrigo do


disposto nos artigos 978.º e ss. do Cód. Proc. Civil, a

Revisão de Sentença Estrangeira

proferida pelo Tribunal de … , nos termos da qual o cidadão de nacionalidade … R….., re-
sidente na rua …, em …, foi condenado a pagar alimentos à sua filha menor M…, nascida a
…/…/…,

Com os seguintes fundamentos:

1.º
Por decisão proferida pelo mencionado tribunal, datada de …/…/…, no Processo n.º
…/…, foi o referido cidadão condenado a pagar à sua ex-mulher …, residente em …, alimen-
tos para o sustento da filha menor de ambos, de nome M…, no montante de …, com início
em …/…/… e até a mesma atingir a maioridade.
2.º
Tal decisão transitou em julgado, segundo a legislação do país em que foi proferida,
ou seja,….
3.º
Não existe qualquer dúvida sobre a autenticidade do documento no qual consta a
decisão em causa nem sobre a inteligência da decisão.
4.º
O tribunal que a proferiu tinha competência para tal.
5.º
Não ocorre também qualquer exceção de litispendência ou caso julgado.
6.º
Foram, igualmente, cumpridos os demais trâmites legais, designadamente, o réu foi
regularmente citado para a ação, nos termos da lei do país do tribunal de origem, e no pro-
cesso foram observados os princípios do contraditório e da igualdade das partes.
7.º
De modo algum, a decisão proferida contraria os princípios de ordem pública ou as
disposições de direito privado português (cf. artigo1921.º e ss. do Cód. Civil)
8.º
Encontram-se, assim, verificados todos os requisitos enumerados no art. 980.º do
Cód. Proc. Civil.
Nestes termos,
Citado o réu para, no prazo de 15 dias do art.º 981.º do Cód. Proc. Civil, deduzir
a sua oposição, e seguidos os demais trâmites legais, deve tal decisão ser revista e
confirmada por este Venerando Tribunal, com todas as consequências legais.

Valor: 30.000,01 € (trinta mil euros e um cêntimo)


Junta: (expediente remetido pela DGAJ) + duplicados e cópia legais (salvo entrega eletró-
nica).

O Magistrado do Ministério Público,


2) A partir de 01-03-2002 até 30-01-2009 (Regulamento Bruxelas
I)

Trata-se do período de vigência do Regulamento (CE) n.º 44/2001, de 22 de dezembro (cf.


(JOUE N.º 12, Série L, 16 Janeiro 2001)

Nota: alterado pelo Regulamento (UE) n.º 156/2012, de 22/02) em matéria de alimentos

O Regulamento aplicava-se entre todos os Estados-Membros das União Europeia, inclu-


indo a Dinamarca, que concluiu um acordo paralelo sobre o Regulamento n.º 44/2001
com a Comunidade Europeia relativo à competência judiciária, ao reconhecimento e à
execução de decisões em matéria civil e comercial. Este acordo entrou em vigor em 1 de
julho de 2007.

Nota: Este Regulamento entrou em vigor em 01-03-2002 e cessou integralmente a sua vigência a 10-01-2015,
por força do artigo 80.º do Regulamento (UE) n.º 1215/2012 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 12 de
dezembro de 2012, relativo à competência judiciária, ao reconhecimento e à execução de decisões em matéria
civil e comercial (JOUE 20 dezembro), com efeitos a partir de 10 de janeiro de 2015.

Nota: o Regulamento (UE) n.º 1215/2012 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 12 de dezembro de 2012,
relativo à competência judiciária, ao reconhecimento e à execução de decisões em matéria civil e comercial
(JOUE 20 dezembro) não se aplica a obrigações alimentares e aplica-se à Dinamarca, por força do Acordo entre
a CE e o Reino da Dinamarca relativo à competência judiciária, ao reconhecimento e à execução de decisões
em matéria civil e comercial.

O Regulamento tinha 6 anexos:

ANEXO I. Regras de competência nacionais referidas no artigo 3.º, n.º 2, e no artigo 4.º, n.º 2
ANEXO II - Tribunais ou autoridades competentes a quem deve ser apresentado o requerimento mencionado
no artigo 39.º
ANEXO III - Tribunais dos Estados-Membros onde devem ser interpostos os recursos previstos no artigo 43.º,
n.º 2
ANEXO IV - recursos que podem ser interpostos nos termos do artigo 44.º
ANEXO V. Certidão referida nos artigos 54.º e 58.º do regulamento relativa às decisões e transações judiciais
ANEXO VI. Certidão referida no n.º 4 do artigo 57.º do regulamento relativa aos atos autênticos

As decisões proferidas num Estado-Membro e que nesse Estado tenham força executiva podiam ser executa-
das noutro Estado-Membro depois de nele terem sido declaradas executórias, a requerimento de qualquer
parte interessada (art.º 38.º, n.º 1) e qualquer das partes podia interpor recurso da decisão sobre o pedido de
declaração de executoriedade (art.º 43.º, n.º 1). Ou seja, ao reconhecimento/executoriedade das sentenças, era
aplicável o Regulamento (CE) n.º 44/2001; e não o que resultava dos art.º 1094.º e ss. do CPC (cf. artigos 978.º e
segs do CPC Novo).

O recurso da declaração de executoriedade era interposto no prazo de um mês a contar da sua notificação e se
a parte contra a qual a execução fora promovida tivesse domicílio num Estado-Membro diferente daquele onde
foi proferida a declaração de executoriedade, o prazo seria de dois meses e começava a correr desde o dia em
que tivesse sido feita a citação pessoal ou domiciliária, prazo não suscetível de prorrogação em razão da dis-
tância.

Nenhum imposto, direito ou taxa proporcional ao valor do litígio podia ser cobrado no Estado-Membro requeri-
do no processo de emissão de uma declaração de executoriedade (art.º 52.º).

Nos termos do art.º 33.º do Regulamento, o reconhecimento da sentença estrangeira é automático ou ipso iure;
depois de noutro Estado-membro "ter sido declarada executória, a requerimento de qualquer parte interessa-
da" (cf. art.º 38.º, n.º 1, do Reg. Bruxelas I)".

Tornando-se necessária a declaração de executoriedade, tem-se sustentado a necessidade de propositura de


Ação Declarativa de Reconhecimento de Decisão Estrangeira pelo Ministério Público, em representação do
credor menor, na qual se requer a declaração de executoriedade da decisão – cf. Acórdão da Relação de Coim-
bra, de 06-11-2012 (processo 222/11.9TBVZL-A.C1; relator: Virgílio Mateus).

Tratar-se-ia de uma ação não contraditória em que a parte requerida não podia apresentar observações (art.º
41.º); a apresentar ao tribunal ou à autoridade competente indicada na lista constante do anexo II ao Regula-
mento (art. 39.º, n.º 1, do Regulamento), que em Portugal é hoje a Secção da Instância Central de Família e
Menores dos Tribunais de Comarca.

A declaração de executoriedade era dada após um simples controlo formal e o próprio art.º 41.º do Regulamen-
to determinava que "a decisão será imediatamente declarada executória quando estiverem cumpridos os trâmi-
tes previstos no artigo 53.º, sem verificação dos motivos referidos nos artigos 34.º e 35.º"; isto é, havia como
que uma presunção favorável ao reconhecimento.

Quanto aos motivos de recusa:

a) Ordem Pública:

É a declaração de executoriedade e não a própria decisão que deve ser compatível com a ordem pública (cf. Ac. Rel.
Lisboa de 12-09-2013; processo 7614/12.4TBCSC.L1-6; relator: Olindo Geraldes)

De acordo com o TCE, o recurso à cláusula de ordem pública só é concebível quando o reconhecimento ou a execu-
ção da decisão proferida noutro Estado viole de uma forma inaceitável a ordem jurídica do Estado requerido, por aten-
tar contra um princípio fundamental.

A fim de respeitar a proibição de revisão de mérito da decisão estrangeira, esse atentado deve, todavia, constituir uma
violação manifesta de uma regra de direito considerada essencial na ordem jurídica do Estado requerido ou de um
direito reconhecido como fundamental nessa ordem jurídica.

Por outro lado, é o reconhecimento e não a própria decisão que deve ser compatível com a ordem pública do Estado
do reconhecimento.

b) Invocação do ato que iniciou a instância não ter sido comunicado em tempo útil e de modo a permitir a
defesa:

Este fundamento, de recusa de reconhecimento, tutela o direito de defesa do réu, no caso de falta de citação ou de
citação intempestiva; e que se articula com o disposto no art.º 26.º do Regulamento, que visa acautelar o direito de
defesa do réu revel.

Por outras palavras, quando, excecionalmente, as garantias do direito do Estado de origem e do Regulamento não
forem suficientes, o art.º 34.º, n.º 2, permite, em certos casos, que o reconhecimento seja recusado.

Efetivamente, de acordo com o art.º 26.º, n.º 2, do Regulamento o juiz "deve suspender a instância, enquanto não se
verificar que a esse requerido foi dada a oportunidade de receber o ato que iniciou a instância, ou ato equivalente, em
tempo útil para apresentar a sua defesa, ou enquanto não se verificar que para o efeito foram efetuadas todas as dili-
gências".

E por ato que iniciou a instância deve entender-se todo aquele ato ou atos que dão a possibilidade ao requerido de
fazer valer os seus direitos antes de ser proferida no estado de origem uma decisão com força executiva

Isto é, se o réu domiciliado num Estado-Membro não comparecer em tribunal, o tribunal deve verificar oficiosamente se
o réu teve a possibilidade de receber a citação ou ato equivalente, em tempo útil para apresentar a sua defesa; e,
enquanto não verificar que o réu recebeu o ato ou que para o efeito foram efetuadas todas as diligências, deve sus-
pender a instância.
É justamente a violação deste preceito que é sancionada, em sede de reconhecimento, com o fundamento de recusa
previsto no art.º 34.º, n.º 2.

Porém, sublinha-se, o próprio art.º 26.º, n.º 2 não exige que o réu tenha tido efetivo conhecimento da citação ou ato
equivalente em tempo útil; basta que lhe tenha sido dada oportunidade de receber a citação ou ato equivalente, cor-
rendo por sua conta os atrasos causados pela sua própria negligência ou pela dos seus colaboradores.

O tribunal pode condenar o réu à revelia mesmo que não possa ser apresentada nenhuma certidão que prove que o
réu foi notificado do ato que iniciou a instância, desde que se prove que para o efeito foram efetuadas todas as diligên-
cias junto das autoridades competentes do Estado em cujo território se situa o domicílio do réu, de modo a contactar
esse réu em tempo útil

Factos a alegar na dita Ação Declarativa de Reconhecimento de Decisão Estrangeira pelo Ministério Público:

• Os relativos à identificação do menor, sua filiação e residência

• Os relativos à identificação do requerido, mormente a sua residência no nosso país

• Os referentes à decisão:

– Data da prolação e entidade que a proferiu;

– Termos em que o requerido foi condenado na obrigação de prestar Alimentos;

– Invocação do não pagamento;

– Todos aqueles donde decorre que a decisão tem força executiva e cumpre os requisitos impostos pelo
instrumento internacional que se invoca;

• Trânsito em julgado

• Mesmo sem trânsito, desde que no Estado requerente tenha conferido força executiva à decisão.

Pedido:

• Declaração de que a decisão tem força executória.

A nossa posição:

Nos termos do art.º 33.º do Regulamento, o reconhecimento da sentença estrangeira é automático ou ipso
iure; depois de noutro Estado-membro "ter sido declarada executória, a requerimento de qualquer parte inte-
ressada" (cf. art.º 38.º, n.º 1, do Reg. Bruxelas I)".

Tornando-se necessária a declaração de executoriedade, o Regulamento não exigia qualquer ação judicial
autónoma para o efeito, mas apenas um requerimento, um pedido de declaração de executoriedade.

No Código de Processo Civil e na lei portuguesa não se prevê qualquer ação especial para o efeito.

A declaração de executoriedade era dada após um simples controlo formal e o próprio art.º 41.º do Regula-
mento determinava que "a decisão será imediatamente declarada executória quando estiverem cumpridos os
trâmites previstos no artigo 53.º, sem verificação dos motivos referidos nos artigos 34.º e 35.º"; isto é, havia
como que uma presunção favorável ao reconhecimento.

Aliás, sendo um procedimento não contraditório em que a parte requerida não podia apresentar observações
(art.º 41.º), não se vê a utilidade da propositura de qualquer ação autónoma de caráter declarativo, tratando-se
de cobrar alimentos devidos a menor, uma vez que as execuções respetivas correm nas Secções da Instância
Central de Família e de Menores.

Assim, o Ministério Público deveria instaurar a execução e pedir na execução, como preliminar ao seu pros-
seguimento, a declaração de executoriedade, havendo recurso da decisão sobre o pedido de declaração de
executoriedade, e não embargos, ao abrigo do art.º 43.º, n.º 1, do Regulamento em causa.

A burocracia dos tribunais, porém, depressa se encarregou de inventar uma ação…sem refletir adequadamen-
te sobre o que se pretendia: um mero controlo formal.
3) A partir de 30-01-2009 até 30-07-2014 (Regulamento (CE) n.º
4/2009, de 18 de Dezembro)

Regulamento (CE) n.º 4/2009, de 18 de Dezembro (competência, à lei aplicável, ao reco-


nhecimento e à execução das decisões e à cooperação em matéria de obrigações ali-
mentares)
Nota:
→ Aplicável a partir de 18-6-2011, data em que o Protocolo da Haia de 23 de novembro de 2007 pas-
sou a ser aplicável na Comunidade (artigo 76.º do Regulamento).
→ Disposições transitórias – artigo 75.º do Regulamento (As secções 2 e 3 do Capítulo IV (reconhe-
cimento, força executória e execução das decisões proferida nos EM não vinculados pelo Protocolo
da Haia de 2007 e disposições comuns), aplicam-se:
a) a decisões proferidas antes de 18.06.2011, relativamente às quais o reconhecimen-
to e a declaração de força executória são solicitados após 18.06.2011;
b) a decisões proferidas após 18.06.2011 em processos iniciados antes desta data
(desde que essas decisões, na perspetiva do reconhecimento e da execução se en-
quadrem no âmbito de aplicação do regulamento (CE) nº 44/2001)

Ex.: Decisão proferida na Alemanha em 1997 e Pedido de cooperação inter-


nacional feito em 2013:

- O Reg. 4/2009 Só é aplicável a processos ou decisões posteriores à sua


entrada em vigor;

- Às decisões proferidas anteriormente a essa data ou mesmo depois mas


em processos iniciados em momento anterior, são aplicáveis os arts. 23.º a
43.º do Reg. 4/2009;

- Quanto à decisão, porque anterior à e. v. deste Reg., torna-se necessária a


declaração de executoriedade, não se aplicando, por isso, o disposto no art.
17º (supressão do exequatur) – art. 75.º, n.º 2, al. a);

- No que se refere à cooperação entre as autoridades centrais as normas


deste Reg. são de aplicação imediata ( 75.º, n.º 3);

- Necessidade de propositura de Ação Declarativa de Reconhecimento de


Decisão Estrangeira pelo MP, em representação do credor menor, na qual se
requerer a declaração de executoriedade da decisão – cf. Acórdão da Rela-
ção de Coimbra, de 06-11-2012 (processo 222/11.9TBVZL-A.C1; relator: Virgí-
lio Mateus) ? Ver o ponto anterior sobre este tema.

Factos a alegar no pedido incidental de declaração de executoriedade, a


formular na ação executiva:

• Os relativos à identificação do menor, sua filiação e residência


• Os relativos à identificação do requerido, mormente a sua residência no nosso
país
• Os referentes à decisão:
– Data da prolação e entidade que a proferiu;
– Termos em que o requerido foi condenado na obrigação de prestar
Alimentos;
– Invocação do não pagamento;
– Todos aqueles donde decorre que a decisão tem força executiva e
cumpre os requisitos impostos pelo instrumento internacional que se
invoca;
• Trânsito em julgado
• Mesmo sem trânsito, desde que no Estado requerente tenha conferido força
executiva à decisão

Pedido incidental:
• Declaração de que a decisão tem força executória.

Junção dos documentos:


• Os remetidos, designadamente os mencionados no art.º 28.º, n.º1, do Reg.
4/2009
– Cópia da decisão devidamente certificada ou autenticada
– Extrato da decisão emitido pelo tribunal de origem com utilização do respetivo
formulário, devidamente traduzido. (que pode ser substituído ou dispensado nos
termos do art.º 29.º)
A decisão incidental e inicial na ação executiva apenas aprecia:
– Se as cópias apresentadas reúnem as condições necessárias a garantir a sua
autenticidade
• Através da certidão da decisão – Se a decisão reúne as condições formais ne-
cessárias a ser executada.
• Através de extrato da decisão emitida pelo tribunal de origem – Anexo II – art.
28º/1/b)
• Através de documento equivalente – art. 29º;
• Considerando-se esclarecida sobre este ponto, pode dispensar a junção de
outros documentos – art. 29º.

Art. 30º do Reg. 4/2009

• Não há verificação dos motivos de recusa do reconhecimento


• A decisão é proferida em 30 dias

O requerido não pode intervir nesta fase, mas esta decisão admite recurso, e
não embargos, a interpor no prazo de 30 ou 45 dias, consoante o requerido
tenha ou não a sua residência habitual no EM onde corre a ação – art.º 32.º
n.º 5

→ Aplicável em todos Estados-Membros, com ressalvas relativamente ao


Reino Unido e à Dinamarca:
► O Reino Unido aceitou o Regulamento (cf. Decisão 2009/451/CE da
Comissão, de 8 de Junho de 2009, JO L 149 de 12.06.2009, p. 73);
► A Dinamarca confirmou a intenção de aplicar o conteúdo do
Regulamento, na medida em que este altera o Regulamento (CE) n.º
44/2001 (cf. JO L 149 de 12.06.2009, p. 80);
► O Reino Unido e a Dinamarca não estão vinculados pelo Protocolo
da Haia de 2007, pelo que o artigo 15.º do Regulamento não é aplicável
nestes Estados-Membros.

→ Decisões proferidas nos Estados-Membros vinculados pelo Protocolo da Haia de 2007: Supressão
do exequatur (Secção 1 do Capítulo IV - artigos 17.º a 22.º)

→ Decisões proferidas nos Estados-Membros não vinculados pelo Protocolo da Haia de 2007: Decla-
ração de executoriedade (Secção 2 do Capítulo IV - artigos 23.º a 38.º)

Nota: Reconhecimento, força executória e execução (art.º 16.º a 43.º):


• Artigo 16º
• Secção I (artigos 17.º a 22.º) aplica-se às decisões proferidas num EM vinculado pelo PH de 2007
• Secção II (art.º 23.º a 38.º) aplica-se às decisões preferidas num EM não vinculado pelo PH de 2007
• Secção III (artigos 39.º a 43.º) aplica-se a todas as decisões

No caso do Reino Unido é importante ter em consideração a reserva feita no que respeita às despesas
com o processo, ou seja, podendo beneficiar de apoio judiciário, é importante que o requeira em Portugal para
efeitos de acionar os mecanismos de cobrança, pois no Reino Unido cobram os custos do processo.

O Reino Unido não está vinculado pelo Protocolo de Haia de 2007, pelo que não existe supressão de
exequátur. Mas o reconhecimento e a declaração de força executiva da decisão, nos termos do disposto no
art.º 26.º e cons. 26, ficam a cargo da DGAJ.

No caso do Reino Unido deve usar-se sempre os anexos II e VI do Regulamento (CE) Nº 4/2009 do Con-
selho, de 18 de Dezembro de 2008, relativo à competência, à lei aplicável, ao reconhecimento e à execução das
decisões e à cooperação em matéria de obrigações alimentares. Para o efeito, consulte o seguinte linK:
http://www.cji-dgaj.mj.pt/Paginas/documentosr4_antes.aspx

Nota: o artigo 1.º do Regulamento de Execução (UE) 2015/228 da Comissão, de 17 de fevereiro de 2015, substi-
tuiu os anexos I a VII do Regulamento (CE) n.º 4/2009 do Conselho relativo à competência, à lei aplicável, ao
reconhecimento e à execução das decisões e à cooperação em matéria de obrigações alimentares (JOUE 20
fevereiro).

Nota: Vide alínea d) do n.º 13.A.6 do anexo do Regulamento (UE) n.º 517/2013 do Conselho, de 13 de maio de
2013, que adapta determinados regulamentos e decisões nos domínios da livre circulação de mercadorias,
livre circulação de pessoas, direito das sociedades, política da concorrência, agricultura, segurança alimentar,
legislação veterinária e fitossanitária, política de transportes, energia, fiscalidade, estatísticas, redes transeu-
ropeias, sistema judiciário e direitos fundamentais, justiça, liberdade e segurança, ambiente, união aduaneira,
relações externas, política externa, de segurança e de defesa e instituições, devido à adesão da República da
Croácia (JOUE 10 junho), que altera os anexos I a VII.
Nota: o Regulamento (EU) n.º 1142/2011, de 10 de novembro estabelece os anexos X e XI do Reg CE n.º 4/2009
relativo à competência, à lei aplicável, ao reconhecimento e à execução das decisões e à cooperação em maté-
ria de obrigações alimentares

Nota: Dec 2009/451/CE, de 8 de junho (intenção do Reino Unido de aceitar o Reg CE n.º 4/2009 relativo à com-
petência, à lei aplicável, ao reconhecimento e à execução das decisões e à cooperação em matéria de obriga-
ções alimentares)

Nota: conjugar com o Protocolo de Haia, de 23 de novembro de 2007 (lei aplicável às obrigações alimentares),
em relação a Estados vinculados pelo mesmo.

Estados a que se aplica: Estados Membros da EU, com exceção da Dinamarca, ao qual se aplica a Convenção de Nova Iorque

Tramitação: VIA DGAJ


Instrução do Pedido: Preenchimento de Formulários on-line www.cji-dgaj.mj.pt

Documentos necessários à instrução de um pedido (decisões antes de 18 de


junho de 2011):

 Formulário II - Extrato de uma decisão/transação judicial em matéria de


obrigações alimentares sujeita a um procedimento de reconhecimento e declaração de
força executória (a solicitar no Tribunal ou na Conservatória)

 Formulário VI de pedido de reconhecimento, declaração de força executória


ou execução de uma decisão em matéria de obrigações alimentares
(vídeo explicativo de como preencher o formulário )

 Certidão da sentença ou decisão que fixa os alimentos com a menção de que a mesma
foi notificada às partes e de que transitou em julgado, salvo tratando-se de alimentos
provisórios (a solicitar no Tribunal ou na Conservatória)

 Documento comprovativo de que o requerente beneficiou de apoio judiciário, de isen-


ção de preparos e custas ou de um processo gratuito e, não tendo beneficiado, se,
presentemente, preenche as condições económicas para poder beneficiar de apoio ju-
diciário ou de isenção de preparos e custas (dado que o tribunal não pode emitir um
documento desta natureza, se a pessoa estiver em condições de beneficiar de apoio
judiciário e não beneficiou dele no processo, deve requerer a sua atribuição à Segu-
rança Social para efeitos de cobrança de alimentos no estrangeiro, entregando o do-
cumento comprovativo da concessão à DGAJ);
 Referências bancárias internacionais (IBAN, BIC e Código SWIFT)

Dados bancários

 Certificado(s) de frequência escolar do(s) filho(s) caso seja(m) maior(es)

 Certidão de nascimento do(s) menor(es)

 Relação dos montantes em dívida

Formulário em PDF não editável

Formulário em PDF editável

Formulário em EXCEL
 Procuração passada à Autoridade Central requerida:
A extrair de:
http://www.cji-dgaj.mj.pt/Paginas/documentosr4_antes.aspx

Documentos necessários à instrução de um pedido (decisões após 18 de ju-


nho de 2011):

 Formulário I- Extrato de uma decisão/transação judicial em matéria de obri-


gações alimentares não sujeita a um procedimento de reconhecimento e declaração de
força executória (a solicitar no Tribunal ou na Conservatória)

 Formulário VI - pedido de reconhecimento, declaração de força executória


ou execução de uma decisão em matéria de obrigações alimentares
(vídeo explicativo de como preencher o formulário )

 Certidão da sentença ou decisão que fixa os alimentos com a menção de que a mesma
foi notificada às partes e de que transitou em julgado, salvo tratando-se de alimentos
provisórios (a solicitar no Tribunal ou na Conservatória)

 Documento comprovativo de que o requerente beneficiou de apoio judiciário, de isen-


ção de preparos e custas ou de um processo gratuito e, não tendo beneficiado, se,
presentemente, preenche as condições económicas para poder beneficiar de apoio ju-
diciário ou de isenção de preparos e custas (dado que o tribunal não pode emitir um
documento desta natureza, se a pessoa estiver em condições de beneficiar de apoio
judiciário e não beneficiou dele no processo, deve requerer a sua atribuição à Segu-
rança Social para efeitos de cobrança de alimentos no estrangeiro, entregando o do-
cumento comprovativo da concessão à DGAJ);

 Referências bancárias internacionais (IBAN, BIC e Código SWIFT)

Dados bancários

 Certificado(s) de frequência escolar do(s) filho(s) caso seja(m) maior(es)

 Certidão de nascimento do(s) menor(es)

 Relação dos Montantes em Dívida

Formulário em PDF não editável

Formulário em PDF editável

Formulário em EXCEL

 Procuração passada à Autoridade Central requerida - a extrair de:


http://www.cji-dgaj.mj.pt/Paginas/documentosr4.aspx

NOTA: no caso de se ter uma sentença anterior a 18-06-2011 e uma declaração de


incumprimento formulada após essa data, devem incluir-se os formulários II (quan-
to à sentença) e I (quanto ao incumprimento).
Acórdão da Relação do Porto de 03.06.2013 – P.º 1707/11.2TBPVZ-A.P1 – relato-
ra: Anabela Luna de Carvalho

“O Regulamento (CE) n.º 4/2009 do Conselho de 18 de dezembro de 2008, apelando a uma


tutela urgente e eficaz das decisões em matéria de obrigações alimentares, prevê o reconhe-
cimento automático das mesmas, alterando expressamente o Regulamento (CE) n.º 44/2001,
substituindo as disposições desse regulamento relativamente a tal matéria.
Não só o reconhecimento ou declaração de executoriedade estão dispensados, como o facto
de a decisão ter caráter provisório não impede a sua eficácia executiva”.

Transcrição parcial:

«…Entendeu o Tribunal recorrido que:

“(…) a exequente deu à execução a sentença proferida por um Tribunal de um Estado-


Membro – Estado Francês - sem que previamente tivesse requerido a declaração de executo-
riedade da mesma, através do procedimento de natureza declarativa previsto nos arts. 38.° a
47.°, do referido Regulamento (CE) nº 44/2001.

Logo, fácil é de concluir que a mesma carece de força executiva por falta da respetiva decla-
ração de executoriedade”.

(…)

Importa ter presente o Regulamento (CE) n.º 4/2009 do Conselho de 18 de dezembro de


2008 (que entrou em vigor em 18/06/2011 e se aplica aos processos pendentes) relativo à
competência, à lei aplicável, ao reconhecimento e à execução das decisões e à cooperação em
matéria de obrigações alimentares, nomeadamente, os considerandos e artigos, que ora se
transcrevem e cujo realce se deixa sublinhado.

Assim:

(Considerando 9) «Um credor de alimentos deverá poder obter facilmente, num Estado-
Membro, uma decisão que terá automaticamente força executória noutro Estado-Membro
sem quaisquer outras formalidades».

(Considerando 10) «A fim de alcançar esse objetivo, é conveniente criar um instrumento


comunitário em matéria de obrigações alimentares que agrupe as disposições sobre os con-
flitos de jurisdição, os conflitos de leis, o reconhecimento e a força executória, a execução, o
apoio judiciário e a cooperação entre autoridades centrais».

(Considerando 11) «O âmbito de aplicação do presente regulamento deverá incluir todas as


obrigações alimentares decorrentes das relações de família, de parentesco, de casamento ou
de afinidade, a fim de garantir igualdade de tratamento entre todos os credores de alimen-
tos. Para efeitos do presente regulamento, o conceito de "obrigação alimentar" deverá ser
interpretado de forma autónoma».

(Considerando 22) «A fim de assegurar a cobrança rápida e eficaz de uma prestação de ali-
mentos e prevenir os recursos dilatórios, deverá, em princípio, ser atribuída força executó-
ria provisória às decisões em matéria de obrigações alimentares proferidas num Estado-
Membro. É, pois, conveniente prever no presente regulamento que o tribunal de origem de-
va poder declarar a decisão executória a título provisório, mesmo que o direito nacional não
preveja a força executória de pleno direito e mesmo que tenha sido ou possa ainda vir a ser
interposto recurso da decisão, nos termos do direito nacional».

(Considerando 24) «As garantias proporcionadas pela aplicação das normas de conflito de
leis deverão justificar que as decisões em matéria de obrigações alimentares proferidas num
Estado-Membro vinculado pelo Protocolo da Haia de 2007 sejam reconhecidas e tenham
força executória em todos os outros Estados-Membros, sem necessidade de qualquer outra
formalidade e sem qualquer forma de controlo quanto ao fundo no Estado-Membro de exe-
cução».

(Considerando 44) «O presente regulamento deverá alterar o Regulamento (CE) n.º 44/2001
substituindo as disposições desse regulamento aplicáveis em matéria de obrigações alimen-
tares. Sob reserva das disposições transitórias do presente regulamento, os Estados-
Membros deverão, em matéria de obrigações alimentares, aplicar as disposições do presen-
te regulamento sobre a competência, o reconhecimento, a força executória e a execução das
decisões e sobre o apoio judiciário em vez das disposições do Regulamento (CE) n.º 44/2001
a contar da data de aplicação do presente regulamento».

São as seguintes as normas que ora importa realçar alusivas ao seu âmbito de aplicação e
definições.

Artigo 1.º (Âmbito de aplicação)

1. O presente regulamento é aplicável às obrigações alimentares decorrentes das relações de


família, de parentesco, de casamento ou de afinidade.

2. Para efeitos do presente regulamento, entende-se por "Estado-Membro" todos os Estados-


Membros aos quais se aplica o presente regulamento.

Artigo 2.º (Definições)

1. Para efeitos do disposto no presente regulamento, entende-se por:

1. "Decisão", qualquer decisão em matéria de obrigações alimentares proferida por um tri-


bunal de um Estado-Membro, independentemente da designação que lhe for dada, tal como
acórdão, sentença, despacho judicial ou mandado de execução, bem como a fixação pelo se-
cretário do tribunal do montante das custas ou despesas do processo. Para efeitos do dispos-
to nos capítulos VII e VIII, entende-se igualmente por "decisão" qualquer decisão em matéria
de obrigações alimentares proferida num Estado terceiro;

SECÇÃO 1

Decisões proferidas num Estado-Membro vinculado pelo Protocolo da Haia de 2007.

Artigo 17.º (Supressão do exequatur)

1. As decisões proferidas num Estado-Membro vinculado pelo Protocolo da Haia de 2007 são
reconhecidas noutro Estado-Membro sem necessidade de recurso a qualquer processo e sem
que seja possível contestar o seu reconhecimento.

2. As decisões proferidas num Estado-Membro vinculado pelo Protocolo da Haia de 2007 e


que aí tenham força executória podem ser executadas noutro Estado-Membro, sem que seja
necessária uma declaração de força executória.
Artigo 20º (Documentos para efeitos de execução)

1. Para efeitos de execução de uma decisão noutro Estado-Membro, o requerente apresenta


às autoridades de execução competentes:

a) Uma cópia da decisão que reúna as condições necessárias para comprovar a sua autenti-
cidade;

b) O extrato da decisão emitido pelo tribunal de origem utilizando o formulário cujo modelo
consta do anexo I;

c) Se for caso disso, um documento estabelecendo a situação dos retroativos e indicando a


data em que foi efetuado o cálculo;

d) Se for caso disso, a transcrição ou tradução do conteúdo do formulário referido na alínea


b) na língua oficial do Estado-Membro de execução ou, caso esse Estado-Membro tenha mais
do que uma língua oficial, na língua oficial ou numa das línguas oficiais de processo do local
onde é requerida a execução, nos termos do direito desse Estado-Membro, ou em qualquer
outra língua que o Estado-Membro de execução tenha declarado aceitar. Cada Estado-
Membro pode indicar a língua ou as línguas oficiais das instituições da União Europeia, que
não a sua própria língua, que pode aceitar para o preenchimento do formulário.

2. As autoridades competentes do Estado-Membro de execução não podem exigir ao reque-


rente que apresente uma tradução da decisão. Todavia, pode ser exigida uma tradução se a
execução da decisão for contestada.

Artigo 21.º (Recusa ou suspensão da execução)

1. Os motivos de recusa ou suspensão da execução ao abrigo da lei do Estado-Membro de


execução aplicam-se desde que não sejam incompatíveis com a aplicação dos n.ºs 2 e 3.

2. A pedido do devedor, a autoridade competente do Estado-Membro de execução recusa, no


todo ou em parte, a execução da decisão do tribunal de origem quando o direito de obter a
execução da decisão do tribunal de origem se encontrar extinto devido à prescrição ou cadu-
cidade da ação, quer nos termos da legislação do Estado-Membro de origem, quer nos ter-
mos da legislação do Estado-Membro de execução, consoante a que previr um prazo de ca-
ducidade mais longo.

Além disso, a pedido do devedor, a autoridade competente do Estado-Membro de execução


pode recusar, no todo ou em parte, a execução da decisão do tribunal de origem quando essa
decisão for incompatível com uma decisão proferida no Estado-Membro de execução ou com
uma decisão proferida noutro Estado-Membro ou num país terceiro que reúna as condições
necessárias para o seu reconhecimento no Estado-Membro de execução.

Uma decisão que tenha por efeito alterar, com base na alteração das circunstâncias, uma
decisão anterior em matéria de obrigações alimentares não é considerada uma decisão in-
compatível na aceção do segundo parágrafo.

3. A pedido do devedor, a autoridade competente do Estado-Membro de execução pode sus-


pender, no todo ou em parte, a execução da decisão do tribunal de origem quando for apre-
sentado ao tribunal competente do Estado-Membro de origem um pedido de reapreciação da
decisão do tribunal de origem, em conformidade com o artigo 19.º.
Além disso, a pedido do devedor, a autoridade competente do Estado-Membro de execução
suspende a execução da decisão do tribunal de origem se a força executória dessa decisão
estiver suspensa no Estado-Membro de origem.

Artigo 39.º (Força executória provisória)

O tribunal de origem pode declarar a decisão executória provisoriamente, não obstante


qualquer recurso, mesmo que o direito nacional não preveja a força executória de pleno
direito.

Artigo 40.º (Invocação de uma decisão reconhecida)

1. A parte que pretenda invocar noutro Estado-Membro uma decisão reconhecida na aceção
do n.º 1 do artigo 17.º, ou nos termos da Secção 2, deve apresentar uma cópia dessa decisão
que reúna as condições necessárias para comprovar a sua autenticidade.

2. Se for caso disso, o tribunal perante o qual a decisão reconhecida for evocada pode pedir à
parte que pretenda invocar essa decisão que apresente um extrato emitido pelo tribunal de
origem utilizando o formulário constante, conforme o caso, do anexo I ou do anexo II.

O tribunal de origem deve emitir esse extrato igualmente a pedido de qualquer das partes
interessadas.

Artigo 42.º (Ausência de revisão quanto ao mérito)

Uma decisão proferida num Estado-Membro não pode em caso algum ser revista quanto ao
mérito no Estado-Membro em que seja pedido o reconhecimento, a força executória ou a
execução.

Artigo 75.º (Disposições transitórias)

1. O presente regulamento é aplicável exclusivamente aos processos já instaurados, às tran-


sações judiciais aprovadas ou celebradas e aos atos autênticos estabelecidos posteriormente
à sua data de aplicação, sob reserva dos n.ºs 2 e 3.

A Secção 1 respeita a Decisões proferidas num Estado-Membro vinculado pelo Protocolo da


Haia de 2007

O presente regulamento é obrigatório em todos os seus elementos e diretamente aplicável


nos Estados-Membros, em conformidade com o Tratado que institui a Comunidade Europeia.

Ora, atendendo ao que dispõe o Artigo 75.º do Regulamento de 2009 dúvidas não haverá
quanto à aplicação do referido Regulamento à execução em apreço.

Com efeito, nos termos do art. 75.º, n.º 1, do Regulamento, este só é aplicável, em regra, aos
processos já instaurados posteriormente à data da sua aplicação.

No entanto, tendo em conta que a sentença é de 04.11.2008 - portanto, anterior à data da


entrada em vigor do regulamento - dispõe o art.º 75.º, n.º 2, al. a) que as secções 2 e 3 do
capítulo IV são aplicáveis às decisões proferidas nos Estados-Membros antes da data de apli-
cação do regulamento relativamente às quais o reconhecimento e a declaração da força exe-
cutória são solicitados após essa data.

Ora, a secção 3 do capítulo IV do regulamento dispõe precisamente, no seu art.º 41.º, sobre o
processo e as condições de execução da decisão, sendo que o art.º 42.º proíbe qualquer revi-
são da sentença.
Assim, muito embora a sentença que prevê a obrigação de alimentos seja anterior à entrada
em vigor do regulamento, a execução dessa decisão ficará abrangida por esse regulamento à
luz dos arts. 41.º e 75.º, n.º 2, al. a), do regulamento.

Assim sendo, não só o reconhecimento ou declaração de executoriedade estão dispensados,


como o facto de a decisão ter caráter provisório não impede a sua eficácia executiva.

A decisão aqui apresentada como título executivo, satisfaz as condições para ser encarada
como título executivo perante um Tribunal português, de molde a poder desencadear, nesta
jurisdição, um processo executivo, sem necessidade de ser sujeita ao processo de revisão
previsto no art.º 1094 e ss. do CPC (cf. artigos 978.º e seguintes do CPC Novo).

O Regulamento (CE) nº 4/2009 do Conselho de 18 de dezembro de 2008, apelando a uma


tutela urgente e eficaz das decisões em matéria de obrigações alimentares, prevê o reconhe-
cimento automático das mesmas, alterando expressamente o Regulamento (CE) n.º 44/2001,
substituindo as disposições desse regulamento relativamente a tal matéria.

Assim, a sentença francesa junta aos autos constitui título executivo em Portugal, sem a pré-
via obtenção do correspondente exequatur.

Se for caso disso, o tribunal perante o qual a decisão reconhecida for evocada pode pedir à
parte que pretende invocar a decisão que apresente um extrato emitido pelo tribunal de
origem utilizando o formulário constante, conforme o caso, do anexo I ou do anexo II do Re-
gulamento citado. Não pode é obstar à sua execução.

A execução deve, por isso, prosseguir…»

Transcrição parcial de «O Regulamento (CE) N.º 4/ 2009 do Conselho, de 18 de Dezembro


de 2008, relativo à competência, à lei aplicável, ao reconhecimento e à execução das deci-
sões e à cooperação em matéria de obrigações alimentares.», Carlos Manuel Gonçalves de
Melo Marinho, E-book 2015, O Direito Internacional da Família, Tomo II, CEJ

O Regulamento deu continuidade ao percurso imposto pelo Tratado de Amester-


dão e iniciado com o Regulamento (CE) n.º 2201/2003 do Conselho de 27 de novembro de
2003 relativo à competência, ao reconhecimento e à execução de decisões em matéria ma-
trimonial e em matéria de responsabilidade parental, no sentido da absoluta supressão do
exequatur, ou seja, da total abolição da necessidade de prolação de uma sentença de revi-
são e confirmação da decisão estrangeira antes de a realização coerciva do decidido poder
ocorrer extramuros, assim concretizando o princípio da livre circulação das decisões judi-
ciais proferidas no espaço comum. Limitou, no entanto, esta supressão aos Estados-
Membros que se tenham vinculado ao Protocolo de Haia acima referido.
No domínio das obrigações alimentares, a supressão de um procedimento especial
de reconhecimento relativamente a todas as decisões emitidas num Estado vinculado pelo
Protocolo de Haia de 2007 (todos os Estados-Membros com exceção da Dinamarca e do
Reino Unido), consagrada no art.º 17.º, determina que o credor apenas necessite de forne-
cer às autoridades competentes para a execução do Estado-Membro requerido os docu-
mentos referidos no art.º 20.º, sendo que esse reconhecimento automático não envolve o
das «relações de família, de parentesco, de casamento ou de afinidade subjacentes às obri-
gações alimentares» geradoras da decisão.
A executoriedade imediatamente emergente de tal supressão traz consigo o poder
de solicitar a assunção de «quaisquer medidas cautelares previstas na lei do Estado-
membro de execução», conforme estabelecido no art.º 18.º.
Quanto ao reconhecimento e força executória das decisões, há que dizer que
nas decisões proferidas nos Estados-Membros vinculados pelo Protocolo da Haia de
2007 obteve-se a supressão do exequatur - vide Secção 1 do Capítulo IV (artigos 17.º
a 22.º), enquanto nas decisões proferidas nos Estados-Membros não vinculados pelo
dito Protocolo (todos, excepto Dinamarca e Reino Unido), terá de haver uma decla-
ração de executoriedade – vide Secção 2 do Capítulo IV (artigos 23.º a 38.º).
Se a decisão for proferida num Estado não vinculado pelo apontado Protoco-
lo (Dinamarca e Reino Unido, como se referiu), não existirá supressão de exequatur
e, consequentemente, antes de executar, a parte interessada terá que requerer o
reconhecimento e a declaração de força executiva da decisão, nos termos do dispos-
to no art.º 26.º e cons. 26.
O pedido respetivo deve ser apresentado perante o tribunal ou autoridade
competente indicado como tal pelo Estado-Membro em que se integre, ao abrigo do
imposto pelo artigo 71.º. Os órgãos para o efeito indicados por Portugal são as sec-
ções de família e menores dos tribunais de comarca.
Quanto às entidades competentes para esse reconhecimento nos demais Estados
da União, as mesmas poderão ser localizadas mediante recurso ao eficaz mecanismo de
busca que, para o efeito, foi inserido na página de Internet do Atlas Judiciário Europeu em
Matéria Civil e Comercial. Importa ter presente, neste sector, que o tribunal territorial-
mente competente determina-se em função do «lugar da residência habitual da parte con-
tra a qual a execução for promovida» ou do «lugar da execução» (cf. art.º 27.º, n.º 2).
O processo a adotar é o descrito no art.º 28.º do Regulamento em apreço. Mesmo
uma entidade pública que atue «em vez de um indivíduo a quem seja devida a prestação de
alimentos» ou «uma entidade à qual seja devido o reembolso das prestações fornecidas a
título de alimentos» podem apresentar o pedido de reconhecimento em apreço - cf. art.º
64.º, n.º 1.
Nenhum outro procedimento especial pode ser exigido e a decisão será declarada
exequível sem qualquer revisão quanto à sua substância e mérito - art.º 42.º
Neste âmbito, é muito importante que os juízes nacionais de primeira instância te-
nham presente que não podem exigir ao requerente que apresente uma tradução da deci-
são a reconhecer mas apenas a conversão linguística do conteúdo do formulário apresen-
tado e que a sua decisão deverá ser proferida no prazo de 30 dias (cf. art.s 28.º, n.º 2 e
30.º). Tal não deixa de representar uma derrogação localizada do disposto no n.º 1 do art.º
134.º do Código de Processo Civil. Daqui resulta a necessidade de o preenchimento do
formulário respetivo ser feito com particular rigor, já que será o único elemento em língua
nacional de que disporá o juiz do Estado-Membro de execução. Atenta o seu relevo fulcral
para a decisão a proferir, o juiz ao qual seja pedido o reconhecimento deve ordenar o aper-
feiçoamento das inscrições aí feitas, se necessário.
A tradução da decisão já pode ser exigida nos casos de recurso – Vd. o n.º 2 do
art.º 28.º - (e se «a execução da decisão for contestada» num quadro de dispensa de
exequátur - n.º 2 do art.º 20.º). Quanto aos documentos comprovativos, a conversão
só será exigida se o tribunal «considerar que essa tradução é necessária para profe-
rir a sua decisão ou para respeitar os direitos da defesa» ou, viabilizar prestação do
apoio solicitado à autoridade central (cf. art.s 66.º, 59.º, 45.º, al. f)). A necessidade
de transposição linguística poderá, ainda, emergir das regras relativas das regras à
citação e notificação de atos.
A decisão incidente sobre o pedido de reconhecimento pode ser objeto de re-
curso interposto por qualquer das partes, conforme autorizado pelo n.º 1 do art.º
32.º, sendo que o mesmo deve ser apresentado perante o órgão incluído na comuni-
cação nacional imposta pelo art.º 71.º, acima referida. Portugal indicou, para o efei-
to, os tribunais da Relação.
O reconhecimento só pode ser recusado nas condições apontadas no art.º
24.º, isto é, com fundamento em violação dos princípios da ordem pública nacional,
desrespeito do princípio do contraditório e colisão de julgados (quer dos proferidos
no mesmo Estado-Membro quer dos emitidos em distintos Estados, aqui se incluin-
do Estados terceiros). No que tange ao caso julgado interno apenas se exige a iden-
tidade das partes enquanto no externo se requer não só tal identidade mas também
a repetição do pedido e da causa de pedir.
Poderão, no entanto, ser arguidos e considerados procedentes outros moti-
vos de recusa ou de suspensão «previstos no direito nacional que não sejam incom-
patíveis com os enumerados no (X) regulamento, tais como o pagamento da dívida
pelo devedor no momento da execução ou o carácter impenhorável de certos bens»
(cf. Cons. 30) .
Nenhuma quantia pecuniária pode ser cobrada por esta atividade orientada
para o reconhecimento das decisões estrangeiras (cf. art.º 38.º).
A decisão proferida pode ser provisoriamente executada apesar da pendên-
cia de um recurso (Vd. art.º 39.º). A atribuição de efeito suspensivo à impugnação
judicial é, todavia, admitida sob as condições indicadas no art.º 35.º.
Não pode ser exigido ao exequente de dívida de alimentos que tenha um en-
dereço postal ou um representante no Estado-Membro de execução, sem prejuízo da
aplicação das regras relativas à obrigatoriedade do patrocínio judiciário (Vd. o n.º 2
do art.º 41). Quer esta dispensa quer a de tradução têm o objetivo confesso de redu-
zir as despesas a cargo do credor de alimentos (Vd. os cons. 27 e 28).
A lei aplicável ao processo executivo é a do Estado em que se situe o tribunal
perante o qual tenha sido pedida a execução e esta corre nos mesmos termos em
que correria a execução de uma sentença interna (Vd. o n.º 1 do art.º 41.º).
As regras do Regulamento são aplicáveis, na medida do necessário, às tran-
sações judiciais e aos atos autênticos, sendo que tais transações e atos «são reco-
nhecidos e gozam de força executória noutro Estado-Membro nas mesmas condi-
ções que as decisões» (cf. n.º 1 do art.º 48.º).
O ROA substitui as disposições dos Regulamentos (CE) n.ºs 44/2001 e
805/2004 no domínio das obrigações alimentares («exceto no que se refere aos tí-
tulos executivos europeus relativos a obrigações alimentares emitidos num Estado-
Membro não vinculado pelo Protocolo da Haia de 2007») – cf. . n.º 2 do art.º 68.º e
cons. 44.
4) A partir de 01-08-2014 (Convenção da Haia de 2007, de 23 de
novembro, sobre a Cobrança Internacional de Alimentos em Bene-
fício dos Filhos e de Outros Membros da Família)

Em 09-04-2014, perante o Council on General Affairs da Conferência da Haia, a UNIÃO


EUROPEIA tornou-se a 5.ª Parte Contratante a aderir à Convenção da Haia de 2007, de 23
de novembro, sobre a Cobrança Internacional de Alimentos em Benefício dos Filhos e de
Outros Membros da Família que entrou em aplicação em 1 de janeiro de 2013.

A partir de 1 de agosto de 2014, a Convenção da Haia de 2007 aplica-se entre todos os


Estados-Membros da União Europeia (com exceção da Dinamarca) e a Albânia, a Bósnia
e Herzegovina, a Noruega e a Ucrânia.

Nas relações entre as Partes Contratantes, a Convenção da Haia de 2007 substitui a


Convenção relativa à Cobrança de Alimentos no Estrangeiro, concluída em Nova Iorque,
em 20-06-1956, da qual 23 Estados-Membros da União Europeia são Estados Contratan-
tes.

A Convenção da Haia de 23 de novembro de 2007 sobre a Cobrança Internacional de


Alimentos constitui uma base fundamental para a criação, a nível mundial, de um siste-
ma de cooperação administrativa e para o reconhecimento e a execução das decisões
em matéria de obrigações alimentares e de acordos sobre alimentos, na medida em que
prevê apoio judiciário gratuito em praticamente todos os casos de alimentos em benefí-
cio dos filhos e um procedimento simplificado de reconhecimento e execução.

Uma vez que as questões regidas pela Convenção são igualmente abrangidas pelo Re-
gulamento (CE) n.º 4/2009 do Conselho, de 18 de dezembro de 2008, relativo à compe-
tência, à lei aplicável, ao reconhecimento e à execução das decisões e à cooperação em
matéria de obrigações alimentares, a União decidiu, neste caso particular, assinar sozi-
nha a Convenção e declarar-se competente em relação a todas as matérias regidas pela
Convenção.

Documentos necessários à instrução de um pedido: usar os anexos do Regulamento


(CE) Nº 4/2009 do Conselho, de 18 de dezembro de 2008, sempre que adequados.
5) Convenção relativa à competência judiciária, ao reconhecimen-
to e à execução de decisões em matéria civil e comercial – “Con-
venção Lugano II”

A Convenção de Lugano, per si, não é um instrumento jurídico internacional que


permite a cobrança dos alimentos transfronteiriça. É um instrumento jurídico internacional
que permite um reconhecimento “simplificado” de uma decisão.

Ora, a base do pedido de cobrança de alimentos no estrangeiro será a Convenção de


Nova Iorque de 1956 ou a Convenção da Haia de 2007.

Estados a que se aplica a Convenção de Lugano II:

Suíça

Islândia

Noruega

Noruega

- decisões proferidas após 1 de janeiro de 2010

Suíça

- decisões proferidas após 1 de janeiro de 2011

Islândia

- decisões proferidas após 1 de maio de 2011

Instrução do Pedido:
ISLÂNDIA: Tramitação - Direta entre os Interessados

Suíça e Noruega: Tramitação – via DGAJ

Documentos necessários à instrução de um pedido:

Suíça – instrução do pedido nos termos da Convenção de Nova Iorque

Islândia– instrução do pedido nos termos da Convenção de Nova Iorque

Noruega - instrução do pedido nos termos da Convenção da Haia de 2007

Certidão (anexo V) referida nos artigos 54.º e 58.º da Convenção de


Lugano II, relativa à competência judiciária, ao reconhecimento e à execução
de decisões em matéria civil e comercial (a solicitar no Tribunal ou Conservatória se
decisão judicial ou ato autêntico, respetivamente).
6) PALOPS (ACORDOS BILATERAIS)

PALOPS (ACORDOS BILATERAIS) – CONSULTAR:

http://www.cji-dgaj.mj.pt/Paginas/terceiros.aspx

No âmbito dos Acordos Bilaterais com os PALOP não é possível solicitar a instau-
ração de uma ação para fixação de alimentos, a determinação da Maternida-
de/Paternidade, localização de paradeiro e obtenção de documentos.

Instrumento de cooperação judiciária internacional aplicável:

Angola - Acordo de Cooperação Jurídica e Judiciária entre a República Portuguesa e a Repú-


blica de Angola - Art.14.º, 18.º, 20.º, 21.º, 24.º, 25.º e 30.º Resolução da A.R. n.º 11/97, de 4/3

Cabo Verde - Acordo Sobre Cobrança de Alimentos entre a República Portuguesa e a Repú-
blica de Cabo Verde, de 3 de março de 1982

Guiné-Bissau - Acordo de Cooperação Jurídica entre a República Portuguesa e a República


da Guiné-Bissau - art.15.º, 19.º, 21.º, 22.º, 25.º, 27.º e 31.º Resolução da A.R. n.º 11/89, de
19/5

Moçambique - Acordo de Cooperação Jurídica e Judiciária entre a República Portuguesa e a


República de Moçambique - artigos 15.º, 19.º, 21.º, 22.º, 25.º, 27.º e 30.º Resolução da A.R. n.º
7/91, de 14/2

São Tomé e Príncipe - Acordo sobre Cobrança de Alimentos entre a República Portuguesa e
a República Democrática de S. Tomé e Príncipe - Decreto n.º 44/84, de 1/8

Entidade a que deve ser dirigido o pedido:

DGAJ - Serviço de Cooperação Judiciária Internacional


Documentos necessários à instrução de um pedido:

 Requerimento

Angola Cabo Verde Guiné-Bissau Moçambique São Tomé e Príncipe

 Certidão da sentença ou decisão que fixa os alimentos com a menção de que a mesma foi notificada às partes e de que transi-
tou em julgado (salvo tratando-se de alimentos provisórios)

 Referências bancárias internacionais (IBAN, BIC e Código SWIFT)

 certificado(s) de frequência escolar do(s) filho(s) caso seja(m) maior(es)

 Assento de nascimento do(s) menor(es)


 Assento de casamento, caso credor e devedor ainda estejam casados
 Relação dos montantes em dívida:
o Formulário em papel para preenchimento à mão
o Formulário em EXCEL
 Referências bancárias internacionais (IBAN, BIC e Código SWIFT)

Dados bancários.pdf

 Procuração passada à Instituição Intermediária

Angola Cabo Verde Guiné-Bissau Moçambique São Tomé e Príncipe


7) Cobrança de Alimentos nos EUA

Cobrança de Alimentos nos EUA:

http://www.cji-dgaj.mj.pt/Paginas/terceiros_2.aspx

Instrumento de cooperação judiciária internacional aplicável:

 Acordo entre o Governo da República Portuguesa e o Governo dos Estados Unidos da


América sobre Cobrança de Alimentos

Entidade a que deve ser dirigido o pedido:

 DGAJ - Serviço de Cooperação Judiciária Internacional, enquanto Autoridade Central

Documentos necessários à instrução de um pedido:

 requerimento / uniform support petition

 Formulário de Declaração Executória / Certificate of Enforceability (a


solicitar no Tribunal onde foi proferida a decisão) certifica-
te_of_enforceability.docx

 Formulário de Sentença provisória / Provisional Order (a solicitar no


Tribunal, mas apenas se a decisão for provisória)

 Certidão da decisão com nota de trânsito em julgado ou, se esta ain-


da não tiver carácter definitivo, declaração de que é executável, bem
como comprovativo de que o requerido compareceu em juízo ou foi
notificado para comparecer e que teve possibilidade de ser ouvido

 Procuração com poderes limitados / limited power of attorney (só


no caso de ser indicado um advogado nos E.U.A.)
 Informação sobre sentença/decisão existente e declaração ajura-
mentada de prestações alimentares em dívida / existing order infor-
mation & sworn statement of arreas

 Relação dos montantes em dívida Instruções de preenchimento


calculo pensões

 Referências bancárias internacionais (IBAN, BIC e Código SWIFT)


impresso

 certificado(s) de frequência escolar do(s) filho(s) caso seja(m) mai-


or(es)

 Assento de nascimento do(s) menor(es)

Para obter uma decisão quanto à filiação:

Declaração ajuramentada para a determinação de paternida-


de/maternidade / affidavit in support of establishing parentage
8) REGULAMENTO BRUXELAS II BIS (NOVO REGULAMENTO BRU-
XELAS II): REGULAMENTO (CE) N.º 2201/2003 DO CONSELHO, DE
27.11.2003 (cf. entrou em vigor em 1 de agosto de 2004 e tornou-
se aplicável a partir de 1 de março de 2005) – cobrança de alimen-
tos em Portugal por titular do exercício das responsabilidades pa-
rentais aqui residente com o menor.

Dado que são excluídos do âmbito de aplicação do Regulamento (uma delimi-


tação negativa feita no artigo 1.º, n.º 3) os alimentos, o titular do exercício da res-
ponsabilidade parental não fica impedido de requerer o reconhecimento e a execu-
ção de uma decisão em conformidade com o procedimento de exequatur, nos termos
previsto nos arts. 21.º e segs. e 28.º e segs. do Regulamento – cf. art.º 40.º, n.º 2.
O pedido de declaração de executoriedade deve ser acompanhado dos docu-
mentos referidos nos artigos 37.º e 39.º
Nos termos do art.º 37.º:

A parte que pede ou contesta o reconhecimento de uma decisão ou pede uma


declaração de executoriedade de uma decisão deve, pois, apresentar:

a) Uma cópia dessa decisão, que preencha os requisitos de autentici-


dade necessários; e
b) A certidão referida no artigo 39.º

Além disso e em caso de decisão à revelia, a parte que pede o reconhecimento


ou uma declaração de executoriedade deve apresentar:

a) O original ou uma cópia autenticada do documento que ateste que


a parte revel foi citada ou notificada do ato introdutório da instância
ou ato equivalente; ou
b) Um documento que indique a aceitação inequívoca da decisão pelo
requerido.

Nos termos do art.º 39.º:

O tribunal ou a autoridade competente do Estado-Membro de origem deve


emitir, a pedido de qualquer parte interessada, uma certidão, utilizando o
formulário constante do anexo I (decisões em matéria matrimonial) ou do
anexo II (decisões em matéria de responsabilidade parental).

A competência territorial é determinada pelo lugar da residência habitual da


parte contra a qual a execução é requerida ou pelo lugar da residência habitual da
criança a que o pedido diga respeito.
O tribunal a que for apresentado o pedido deve proferir a sua decisão no
mais curto prazo. Nem a pessoa contra a qual a execução é requerida nem a criança
podem apresentar quaisquer observações nesta fase do processo.
O pedido só pode ser indeferido por um dos motivos previstos nos artigos
22.º, 23.º e 24.º
A decisão não pode em caso algum ser revista quanto ao mérito.
A decisão proferida sobre o pedido deve ser rapidamente comunicada ao re-
querente pelo funcionário do tribunal, na forma determinada pela lei do Estado-
Membro de execução.
Nos termos do art.º 33.º, qualquer das partes pode recorrer da decisão rela-
tiva ao pedido de declaração de executoriedade.
Nos termos do art.º 33.º, n.º 5, o recurso contra a declaração de executorie-
dade é interposto no prazo de um mês a contar da sua notificação. Se a parte contra
a qual é pedida a execução tiver a sua residência habitual num Estado-Membro dife-
rente daquele onde foi proferida a declaração de executoriedade, o prazo de recur-
so é de dois meses a contar da data em que tiver sido feita a citação pessoal ou do-
miciliária. Este prazo não é suscetível de prorrogação em razão da distância.

Vejamos este caso:

- Regulação do Exercício das Responsabilidades Parentais em Espanha, com


confiança do menor a avós paternos que residem em Portugal, ficando os
pais vinculados ao pagamento de uma prestação de alimentos;

- Os avós comunicam ao Ministério Público em Portugal que os alimentos não


são pagos pelos pais;

- O Ministério Público pede ao Tribunal espanhol os documentos dos artigos


37.º e 39.º, se não forem juntos pelos avós, o que pode fazer por contacto direto
(tem existido resposta adequada) ou através do Regulamento (CE) n.º
1206/2001 do Conselho de 28 de maio de 2001, ou seja, uma cópia dessa deci-
são, que preencha os requisitos de autenticidade necessários e a certidão refe-
rida no artigo 39.º;

- De seguida o Ministério Público instaura uma ação de incumprimento,


juntando os documentos, ao abrigo do art.º 41.º do RGPTC, na qual requer a
declaração de executoriedade, seguindo-se a mesma e a possibilidade de
recurso;

- Para não atrasar o processo, o juiz deve convidar as partes para que escla-
reçam se aceitam participar desde logo numa conferência de pais, onde pode
ser obtido acordo, sem prejuízo do direito de recurso do art.º 33.º;

- Não sendo cumprido o acordo e vindo a ser formulada declaração de in-


cumprimento, segue-se o recurso ao art.º 48.º ou a execução por alimentos,
sendo esta instaurada por apenso.
9) Execução por custas no estrangeiro

De forma muito genérica, em matéria civil e comercial, para a cobrança de custas no espa-
ço da União Europeia, pode optar-se, em alternativa, por usar um dos três instrumentos
legais de cooperação seguintes:

I. O Regulamento (CE) Nº 44/2001, de 22 de dezembro de 2000, relativo à Compe-


tência Judiciária, ao Reconhecimento e à Execução de Decisões em Matéria Civil e
Comercial (Bruxelas I) - relativamente a um processo iniciado antes de 10 de janeiro de
2015.

II.O Regulamento (UE) 1215/2012 de 12 de dezembro de 2012 (Bruxelas I reformu-


lado) – aplicável em relação a procedimentos iniciados, aos documentos autênticos emiti-
dos e aos acordos judiciais concluídos ou homologados, posteriormente a 10 de janeiro de
2015 (cf. o qual, a partir de 10-01-2015, revogou o Regulamento (CE) n.º 44/2001, de 22
de dezembro).

III. O Regulamento (CE) Nº 805/2004, de 21 de abril de 2004, que cria o título execu-
tivo europeu para créditos não contestados (cf. os Anexos I a VI do Regulamento
(CE) 805/2004 foram substituídos pelo Regulamento CE n.º 1869/2005, de 16 de
novembro).

O conceito de «créditos não contestados» abrange todas as situações em que o credor,


estabelecida a não contestação pelo devedor quanto à natureza ou dimensão de um crédi-
to pecuniário, tenha obtido uma decisão judicial ou título executivo contra o devedor que
implique a confissão da dívida por parte deste, quer se trate de transação homologada
pelo tribunal, quer de um instrumento autêntico.

A falta de contestação a que se refere a alínea b) do n.º 1 do artigo 3.º do Regulamento


805/2004 por parte do devedor pode assumir a forma de não comparência na audiência,
ou de falta de resposta a um convite do tribunal para notificar por escrito a sua intenção
de contestar.

O Regulamento 805/2004 apenas é aplicável às decisões judiciais, títulos ou ins-


trumentos autênticos relativos a créditos não contestados e a decisões pronuncia-
das na sequência de impugnação de decisões, transações judiciais ou instrumentos
autênticos, certificados como Título Executivo Europeu.

Para que uma decisão que condene em custas seja certificada como Título Executivo Euro-
peu têm de se verificar o preenchimento das condições previstas no artigo 6.º, que prevê,
entre outros requisitos cumulativos, que o crédito não tenha sido contestado e o devedor
seja consumidor.

O artigo 7.º deste Regulamento dispõe que «Sempre que uma decisão inclua uma decisão
com força executória sobre o montante dos custos das ações judiciais, incluindo as taxas de
juro, essa decisão será certificada como Título Executivo Europeu igualmente no que respeita
aos custos, a não ser que o devedor tenha especificamente contestado a sua obrigação de
suportar esses custos durante a ação judicial, em conformidade com a legislação do Estado-
Membro de origem.» Poder-se-ia sustentar a sua aplicabilidade a todos os casos de deci-
sões judiciais, o que a letra da lei não proíbe, mas a interpretação que vem sendo feita,
segundo o Ponto de Contacto, é a de restringir aos casos visados diretamente pelo Regu-
lamento em causa – consumidores.

Assim, tratando-se de ações respeitantes ao exercício das responsabilidades parentais, não


terá aplicabilidade este Regulamento, segundo esta interpretação dominante.

O Regulamento 1215/2012 aplica-se em matéria civil e comercial, independente-


mente da natureza da jurisdição, mas não abrange, por exemplo, as obrigações de ali-
mentos, abrangendo, todavia, a taxa de justiça e as custas processuais. Por outro lado, já
não se exige a declaração de executoriedade.

I. Regulamento (CE) Nº 44/2001

1. Nos termos do artigo 32.º considera-se decisão qualquer decisão proferida por
um tribunal de um Estado-Membro independentemente da designação que lhe seja dada,
tal como acórdão, sentença, despacho judicial ou mandado de execução, bem como a fixa-
ção pelo secretário do tribunal do montante das custas do processo.

2. Nos termos do artigo 38.º, se a decisão for exequível em Portugal sê-lo-á também
noutro Estado-Membro se o requerente pedir nesse Estado a declaração de executorieda-
de. Assim, terá de ser requerida no país requerido (ex.: França), o reconhecimento e
a declaração de executoriedade da decisão de custas em questão proferida em Por-
tugal.

3. Para efeitos da execução no estrangeiro, por exemplo em França, de uma decisão


proferida em Portugal, cabe à parte interessada pedir ao tribunal português a emissão de
uma certidão segundo o formulário constante do anexo V do Regulamento [art.º 54.º].
O pedido deve ser apresentado, pela parte interessada, juntamente com:

· uma cópia da decisão (que satisfaça as condições necessárias para atestar a sua
autenticidade) e

· a certidão acima referida (art.º 39.º, n.º 1, art.º 40.º, n.º 3, e art.º 53.º),

junto do Tribunal de Grande Instance competente em razão do território (domicílio do


Réu ou lugar da situação dos bens), cuja consulta pode ser realizada através do Atlas
Judiciário Europeu em Matéria Civil:

http://ec.europa.eu/justice_home/judicialatlascivil/html/rc_jccm_courtsapplication_p
t.jsp?countrySession=2&#statePage1

4. É aconselhável que a parte proceda à tradução do conteúdo da certidão e da deci-


são (art.º 55.º n.º 2);
5. A decisão sobre o pedido de declaração de executoriedade será imediatamente
levada ao conhecimento do requerente, na forma determinada pela lei francesa, consoante
o caso, e a declaração de executoriedade será notificada à parte contra quem é pedida a
execução, e será acompanhada da decisão, se esta não tiver sido já notificada a essa parte
(art.º 42.º).

6. Aplica-se a regra de jurisdição internacional prevista no artigo 22.º (5) do Regu-


lamento: são competentes para a execução os tribunais do Estado-Membro do lugar da
execução. Consequentemente, o processo de execução será regulado pela lei do Estado-
Membro requerido (França).

7. Cabe, à parte interessada, instaurar a correspondente ação executiva naquele


território.

II. O Regulamento (UE) 1215/2012 (Regulamento Bruxelas I [reformulado]).

1. Nos termos do artigo 32.º considera-se decisão qualquer decisão proferida por um
tribunal de um Estado-Membro, independentemente da designação que lhe for dada, tal
como acórdão, sentença, despacho judicial ou mandado de execução, bem como as deci-
sões de fixação do montante das custas do processo pela secretaria do tribunal.

2. Nos termos do art.º 24.º, n.º 5, os tribunais do Estado-Membro do lugar da execução têm
competência exclusiva, independentemente do domicílio das partes.

3. O Regulamento n.º 1215/2012 será aplicável na Dinamarca ao abrigo do Acordo entre a


Comunidade Europeia e o Reino da Dinamarca relativo à competência judiciária, ao reco-
nhecimento e à execução de decisões em matéria civil e comercial. As alterações legislati-
vas necessárias já entraram em vigor na Dinamarca em 1 de junho de 2013.

4. O Regulamento estabelece dois tipos de formulários.

5. As notificações dos Estados-Membros a título dos artigos 75.° e 76.° do Regulamento n.°
1215/2012 figuram no Portal Europeu da Justiça.

6. As informações fornecidas pela Croácia sobre a cooperação judiciária em matéria civil


podem ser consultadas no Portal Europeu da Justiça.

7. Estes formulários só estão disponíveis no Portal Europeu da Justiça.

8. Nos termos do artigo 36.º, n.º 1, do Regulamento, as decisões proferidas num Estado-
Membro são reconhecidas nos outros Estados-Membros sem quaisquer formalidades.

9. Nos termos do artigo 39.º, se a decisão for exequível em Portugal sê-lo-á também
França, sem que seja necessária qualquer declaração de executoriedade.

10. Para efeitos da execução no estrangeiro, por exemplo em França, de uma decisão pro-
ferida noutro Estado-Membro, o requerente deve facultar às autoridades de execução
competentes:

· uma cópia da decisão que satisfaça as condições necessárias para atestar a


sua autenticidade, e
· uma certidão emitida nos termos do artigo 53.º, utilizando o Anexo I, que
comprove que a decisão é executória e inclua um extrato da decisão, bem co-
mo, se for caso disso, informações relevantes sobre os custos processuais re-
embolsáveis e o cálculo dos juros. Chamo, todavia, a atenção para o facto de
que em Portugal, tal como em muitos países da União Europeia, a taxa de
justiça ser devida pelo impulso, e não em função de qualquer condena-
ção. Assim, pode o requerido devedor de alimentos ser declarado em in-
cumprimento e ser condenado em custas, e nada pagar a final por não
existirem encargos, pagando a requerente do incumprimento a taxa de
justiça devida pelo impulso. Ou seja, de nada serve, nestes casos, remeter
a sentença que regulou o exercício das responsabilidades parentais ou a
declaração de incumprimento. O Regulamento está desfazado da realida-
de de muitos países. Assim, bastará enviar o Anexo I ao Regulamento (UE)
1215/2012 de 12 de dezembro de 2012 e uma simples informação autên-
tica da Secção a atestar que o processo está findo e que a taxa de justiça,
devida pelo impulso processual do devedor, se encontra em dívida, do-
cumento este de que se deve depois fazer a retroversão para língua es-
trangeira.

E havendo dívida de custas, então, bastará uma retroversão parcial da


parte que condena em custas, não se tornando necessária, porque não
útil, a retroversão de toda a decisão, o que torna o procedimento muito
mais económico.

11. É aconselhável que a parte proceda à tradução do conteúdo da certidão e da decisão


(art.º 42.º, n.º 3), com as ressalvas indicadas.

12. Se for requerida a execução de uma decisão proferida noutro Estado-Membro, a certi-
dão emitida nos termos do artigo 53.o é notificada à pessoa contra a qual a execução é re-
querida antes da primeira medida de execução. A certidão deve ser acompanhada da deci-
são se esta ainda não tiver sido notificada a essa pessoa. (artigo 43.º, n.º 1).

13. O processo de execução de decisões proferidas noutro Estado-Membro rege-se pela lei
do Estado-Membro requerido (artigo 41.º, n.º 1).

14. Cabe, à parte interessada, instaurar a correspondente ação executiva naquele


território.

III. Regulamento (CE) Nº 805/2004

1. Aplica-se a decisões, sentenças, transações e confissões homologadas pelo Tribu-


nal ou documentos autênticos relativos a pedidos não contestados. Assim, a sentença que
inclua uma condenação em custas numa ação judicial não contestada ou que termi-
nou por confissão ou transação, e que preencha os demais requisitos enunciados
nos artigos 1.º a 6.º, pode ser certificada como título executivo europeu. A emissão da
certidão correspondente será feita mediante pedido dirigido ao tribunal de origem (o Tri-
bunal Português que proferiu a decisão), utilizando o formulário tipo constante do anexo I
do Regulamento.

2. Uma decisão que tenha sido certificada como Título Executivo Europeu no Estado-
Membro de origem (Portugal) será reconhecida e executada no outro Estado-Membro (em
Espanha) sem necessidade de declaração da executoriedade ou possibilidade de contesta-
ção do seu reconhecimento.

3. Aplica-se a regra de jurisdição internacional prevista em I e II: são competentes para a


execução os tribunais do Estado-Membro do lugar da execução. Os processos de execução
serão regulados pela lei do Estado-Membro requerido.

Em conclusão:

A)

- A cobrança de custas em processo relativos ao exercício das responsabilidades


parentais terá de ser feita ao abrigo de um dos dois outros instrumentos legais in-
ternacionais acima indicados em I e II.

- Quanto ao Regulamento 805/2004 (título executivo europeu): segundo a interpre-


tação dominante, este só pode ser utilizado em caso de ações não contestadas; em
que o devedor seja consumidor e a outra parte esteja no exercício da sua atividade
comercial ou profissional. Devem ainda ser levadas em conta as matérias excluídas
do âmbito do Regulamento previstas no artigo 2.º

- Fora dos países da União Europeia (onde não é possível recorrer ao instrumento
do título executivo europeu), a eventual cobrança de custas processuais contínua
dependente dos procedimentos diplomáticos do “exequatur”, de acordo com crité-
rios de índole político-governamental, não detendo aí o Ministério Público qualquer
legitimidade para promover a sua execução. Assim, sendo-lhe entregues certidões
para instauração de execução por custas, devem elas ser enviadas ao Ministério da
Justiça para os efeitos necessários, pela via hierárquica.

B) Vejamos estes dois casos:

A) Processo de RERP iniciado antes de 10-01-2015: a executoriedade da decisão noutro


Estado-Membro é regulada pelo Regulamento (CE) Nº 44/2001, de 22 de dezembro de
2000.

B) Apenso de Incumprimento àquela ação de RERP, intentado após 10-01-2015: será


aplicável o Regulamento (UE) 1215/2012 de 12 de dezembro de 2012.

NOTA:

- Tratando-se do Luxemburgo, o Ministério Público obtém da Secção uma cópia da


decisão que satisfaça as condições necessárias para atestar a sua autenticidade e
uma certidão emitida nos termos do artigo 53.º, utilizando o Anexo I, que comprove
que a decisão é executória e inclua um extrato da decisão, bem como, se for caso
disso, informações relevantes sobre os custos processuais reembolsáveis e o cálculo
dos juros. Após, procede à sua tradução, se a Secção não se disponibilizar para o
efeito. Seguidamente, envia a documentação diretamente a um «hussier de justice»,
à escolha, cuja lista se pode encontrar em www.huissier.lu . Este irá debitar os cus-
tos, que deverão ser pagos pelo Estado Português, através dos Serviços do Ministé-
rio Público.

- Tratando-se de outros países, importa conhecer a que entidades o Ministério Pú-


blico se deve dirigir para solicitar a execução.

Chama-se ainda a atenção para o facto de existir reconhecimento automático

das condenações em custas ou similares ao abrigo do Regulamento (CE) N.º

1347/2000 do Conselho de 29 de Maio de 2000 e Regulamento (CE) n.° 2201/2003

do Conselho, de 27 de Novembro de 2003:

Sobre o assunto:

Acórdão da Relação de Coimbra, de 15-04-2008

Processo: 225-C/1998.C1

Relator: TELES PEREIRA

Sumário:

I – O reconhecimento automático das decisões positivas de divórcio previsto nos Regulamen-

tos (CE) nºs 1347/2000 e 2201/2003, refere-se em exclusivo à dissolução do vínculo matrimonial.

II - Assim, a parte do pronunciamento decisório constante de uma sentença de divórcio profe-

rida por um tribunal francês que fixe uma indemnização decorrente do decretamento do divórcio, não

é abrangida por qualquer desses Regulamentos, não sendo objeto de reconhecimento automático, não

constituindo, essa parte da sentença francesa, título executivo em Portugal, sem a prévia obtenção do

correspondente exequátur.

III - Esses Regulamentos (1347/2000 e 2201/2003) reconhecem automaticamente, todavia,

as condenações em custas proferidas nas ações de divórcio por eles abrangidas, permitindo, assim, a

instauração de um processo executivo em Portugal, assente numa condenação em custas proferida por

um Tribunal francês num divórcio.

IV - A condenação numa indemnização prevista no artigo 700.º do Nouveau Code de Procédu-

re Civile francês, constitui, nesse direito processual, uma condenação em custas (paralela da condena-

ção em procuradoria por um tribunal português), sendo exequível em Portugal ao abrigo de qualquer

um dos mencionados Regulamentos.


TAXA DE JUROS DE MORA APLICÁVEIS ÀS DÍVIDAS AO ES-
TADO E OUTRAS ENTIDADES PÚBLICAS

DATAS DE VIGÊNCIA TAXA DIPLOMA LEGAL

01-01-2011 a 31-12-2011 6,351 % Aviso n.º 27831-F/2010, de


31 de dezembro
01-01-2012 a 31-12-2012 7,007 % Aviso n.º 24866-A/2011,
de 28 de dezembro
01-01-2013 a 31-12-2013 6,112 % Aviso n.º 17289/2012, de
28 de dezembro
01-01-2014 a 31-12-2014 5,535 % Aviso n.º 219/2014, de 7
de janeiro
01-01-2015 a 31-12-2015 5,476 % Aviso n.º 130/2015, de 7
de janeiro
01-01-2016 a 31-12-2016 5,168 % Aviso n.º 87/2016, de 6
de janeiro
FORMULÁRIO
A. Menores
A.1. Ações de Regulação do Exercício das Responsabilidades Parentais

MODELO 1

Exmo. Sr. Juiz do


Tribunal de Família e de Menores de …

O Ministério Público, ao abrigo do disposto nos artigos 35.ºº e segs. e 43.º, n.º 1, do
Regime Geral do Processo Tutelar Cível, e 3.º, n.º 1, al. p), e 5.º, n.º 1, al. g), do Estatuto do
Ministério, vem propor

AÇÃO ESPECIAL DE REGULAÇÃO DO EXERCÍCIO


DAS RESPONSABILDADES PARENTAIS

Contra:
J…; e
M…,

Com os seguintes fundamentos:

1.º
O requerente pretende ver regulado o exercício das responsabilidades parentais
em relação ao menor D…, nascido a .../…/…, em … (Doc.1).
2.º
O menor é filho dos requeridos (Doc. 1).
3.º
Os requeridos não são casados entre si.
4.º
O menor reside com a requerida.
5.º
Os requeridos não estão de acordo sobre a forma do exercício das responsabilida-
des parentais.
6.º
Impõe-se, assim, fixar os termos em que o exercício das responsabilidades paren-
tais deverá ser exercido.

D. e A., a presente ação, devem ser citados os RR para a con-


ferência a que se refere o artigo 35.º e segs. do Regime Geral
do Processo Tutelar Cível, com vista à decisão sobre o destino
do menor, visitas e alimentos, seguindo-se depois os demais
trâmites legais até final.

VALOR: € 30.000,01 (trinta mil euros e um cêntimo).


JUNTA: certidão de nascimento, cópia e duplicados legais.

O Procurador da República
MODELO 2

(Ação de regulação do exercício das responsabilidades parentais, numa situação de


progenitores casados e de iminência de viagem para o estrangeiro por parte de um
deles, levando a filha do casal, com oposição do outro progenitor.)

URGENTE

Exmo. Sr. Juiz de Direito do


Tribunal de Família e Menores de …

O Ministério Público, ao abrigo do disposto nos artigos 28.º, 13.º, 35.º e segs. e 43.º,
n.º 1, Regime Geral do Processo Tutelar Cível, e 3.º, n.º 1, al. p), e 5.º, n.º 1, al. g), do Es-
tatuto do Ministério, vem propor

AÇÃO ESPECIAL DE REGULAÇÃO DO EXERCÍCIO


DAS RESPONSABILDADES PARENTAIS,
de natureza URGENTE

Contra:

J…; e
M…,

Com os seguintes fundamentos:

1.º
A menor é filha dos requeridos, os quais são casados um com o outro – cf. docu-
mentos juntos sob os nºs.1 e 2.
2.º
Na sequência de desentendimento conjugal registado na passada quarta-feira, o
requerido adquiriu bilhetes de avião para o voo da TAP que se realizará às 15 horas do dia
de hoje com destino ao Rio de Janeiro, pretendendo levar consigo a menor, o que conta
com a oposição da requerida.
3.º
Com efeito, a requerida teme que o requerido concretize as ameaças que vem fa-
zendo de se ausentar em definitivo na companhia da criança para país estrangeiro, colo-
cando a filha fora do alcance da progenitora e inviabilizando que a criança mantenha con-
tactos com aquela última.
4.º
Deve pois, o exercício das responsabilidades parentais ser regulado de acordo com
o interesse da menor, segundo circunstâncias a averiguar.
5.º
Reveste urgência, no quadro acabado de descrever, a fixação de um regime provi-
sório que acautele adequadamente os interesses da criança, face ao clima de desentendi-
mento reinante entre os requeridos, capaz de comprometer o bem-estar integral daquela.

Assim requer-se a V. Ex.ª que D. e A., a presente ação:


- Se citem os RR para a conferência a que se refere o
artigo 35.º, n.º 1, do Regime Geral do Processo
Tutelar Cível, com vista à decisão sobre o destino
do menor, visitas e alimentos, seguindo-se depois os
demais trâmites legais até final;
- E ainda que se designe a realização da aludida con-
ferência de pais em data o mais próxima possível (de
imediato, uma vez que ambos os requeridos se en-
contram presentes neste Tribunal).

Junta: 2 documentos, cópia e duplicados legais

Valor: € 30.000,01 (trinta mil euros e um cêntimo).

O Procurador da República
MODELO 3

(Ação de regulação do exercício das responsabilidades parentais em que se pede a


confiança do menor ao avô)

Exmo. Sr. Juiz de Direito da


2.ª Secção de Família e de Menores
da Figueira da Foz
Comarca de Coimbra

O Ministério Público, ao abrigo do disposto nos artigos 6º, al. c), 40º, n.ºs 1 e 5, do
Regime Geral do Processo Tutelar Cível, e dos artigos 1907.º do Código Civil e 3.º, n.º 1, al.
p), e 5.º, n.º 1, al. g), ambos do Estatuto do Ministério Público, vem requerer a instauração
da presente

Ação de Regulação do Exercício das Responsabilidades Parentais,

com confiança a avô materno,

Em benefício da menor:

Diana …,

Contra:

.José e
.Maria,
casados, residentes na rua …,

nos termos e com os seguintes fundamentos:

1.º
A menor Diana é filha dos requeridos (documento n.º 1).

2.º
Os requeridos apresentam atraso cognitivo que afeta a sua capacidade de exercício
das responsabilidades parentais.

3.º
Desde o nascimento da Diana que a mesma vive com o avô materno.

4.º
Os requeridos revelam muitas dificuldades na gestão das atividades da vida diária,
tendo sido sinalizados ao Projeto CLDS+ para intervenção do Centro de Apoio Familiar de
Proximidade, com o objetivo de se intervir na organização e higiene do espaço habitacio-
nal, não tendo sido possível qualquer intervenção por falta de colaboração e envolvimento
da família.
5.º
A mãe da menor tem 34 anos de idade, recebe a título da sua incapacidade um sub-
sídio mensal vitalício de 176,76 € e uma pensão de sobrevivência de 113,51 € de sua mãe
adotiva, Maria da Conceição Ribeiro Peralta, já falecida, sendo seu «procurador» na Segu-
rança Social o avô materno da menor, pai adotivo da mãe desta.

6.º
O pai da menor encontra-se desempregado, sem registo de salários no sistema de
Segurança Social, realizando pequenos trabalhos que lhe sejam solicitados, sem qualquer
relevância económica.

7.º
A menor viveu sempre aos cuidados do avô materno, tendo sido confiada ao mes-
mo no processo de promoção e de proteção …/… a correr termos na CPCJ de …, não exis-
tindo outros apoios na família alargada.

8.º
A situação económica do avô materno é desafogada e permite que este assegure à
menor todo o apoio económico necessário.

9.º
A menor apresenta-se cuidada e feliz junto deste,

10.º
mantendo o convívio com os pais,

11.º
existindo um bom relacionamento entre todos.

12.º
Por conseguinte, nenhum dos progenitores da menor se encontra em condições de
cumprir a totalidade dos seus deveres para com a menor, devendo o exercício das respon-
sabilidades parentais ser confiado em exclusivo ao avô materno José M...

13.º
Deve ser estabelecido um regime de visitas livre e amplo da menor aos pais, de
modo a manter e solidificar o relacionamento entre todos, podendo os pais da menor con-
viver com ela sempre que queiram, sem prejuízo das orientações educativas do avô ma-
terno.

14.º
Os pais da menor não têm capacidade de pagar alimentos e o avô não necessita de
apoio económico deles.

Termos em que se requer que, D. e A., a presente ação, se citem os requeridos para
uma conferência de pais, com a presença do avô materno e das Dr.ªs Filipa… ou Teresi-
nha…, responsáveis pelo acompanhamento do processo de promoção e de proteção na
CPCJ de …, tendo em vista a formalização de acordo no sentido de se:

- Confiar a menor à guarda e cuidados de José M, nos termos


do art.º 1907.º, n.º 1, do Cód. Civil,
- Ficando a menor residir com este avô, o qual, nos termos
do art.º 1907.º, n.ºs 2 e 3, do Cód. Civil, ficará detentor do exer-
cício exclusivo das responsabilidades parentais;
- Estabelecendo-se um regime de visitas amplo da menor
aos pais, nos termos do disposto no artigo 1907.º, n.º 3, do Có-
digo Civil; e
- Dispensando-se estes últimos de contribuir para o susten-
to da menor, atenta a sua impossibilidade económica e desafo-
go financeiro do avô materno.

VALOR: 30.000,01 (trinta mil euros e um cêntimo)


Documentos: 3 documentos, cópia e duplicados legais.

O Procurador da República
A.2. Ação de Incumprimento da Prestação de Alimentos

Exmo. Sr. Juiz do


Tribunal de Família e de Menores de …

O Ministério Público, ao abrigo do disposto nos artigos 41º, n.º 1, do Regime geral do
processo Tutelar Cível, e 3.º, n.º 1, al. a), e 5.º, n.º 1, al. c), do Estatuto do Ministério Públi-
co, vem propor,

AÇÃO DECLARATIVA DE CONDENAÇÃO, COM PROCESSO DE JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA,


DE INCUMPRIMENTO DA PRESTAÇÃO DE ALIMENTOS

Contra

António, residente na …,

Nos termos e com os seguintes fundamentos:

1.º
O menor Igor nasceu no dia …/…/…

2.º
A menor Marta nasceu no dia …/…/…

3.º
São ambos filhos do requerido e de Luísa (documentos nºs 1 e 2), residindo com a
mãe, no …
4.º
Por decisão proferida em …/…/…, no processo de divórcio por mútuo consentimento
que correu os seus termos na Conservatória do Registo Civil da …, sob o n.º …, foi decreta-
do o divórcio do requerido e de Luísa e foram homologados os acordos quanto à regulação
do exercício das responsabilidades parentais dos filhos menores e quanto à casa de mora-
da de família (documento n.º 3).
5.º
No acordo quanto à regulação do exercício das responsabilidades parentais ficou as-
sente que os menores Igor e Marta ficavam à guarda e cuidados da mãe, a quem competia
o exercício das responsabilidades parentais, foi estabelecido um regime de visitas e o pai,
aqui requerido, ficou obrigado a contribuir com a quantia mensal de € 75 por cada menor,
no valor global de € 150 (cento e cinquenta euros), a pagar através de transferência ban-
cária ou depósito em conta bancária titulada por LA, até ao dia 5 do mês a que disser res-
peito.
6.º
Sucede que o requerido não efetuou nenhuma transferência bancária ou depósito em
conta bancária titulada por Luísa.
7.º
Pelo que, na presente data, a quantia total em dívida ascende a 1.950 € (mil novecen-
tos e cinquenta euros).

Nestes termos, D. e A. a presente ação, devem ser


convocados os pais dos menores para uma conferência
(artigo 41.º, n.º 3, Regime Geral do Processo Tutelar Cí-
vel), seguindo-se os demais termos até final.

VALOR: € 30.000,01 (trinta mil euros e um cêntimo)


JUNTA: 3 (três) documentos e duplicados legais.

O Procurador da República
A.3. Ação de Incumprimento da Prestação de Alimentos

Exmo. Sr. Juiz do


Tribunal de Família e de Menores de…

O Ministério Público, ao abrigo do disposto nos artigos artigo 41.º, n.º 3, Regime Ge-
ral do Processo Tutelar Cível, e 3.º, n.º 1, al. a), e 5.º, n.º 1, al. c), do Estatuto do Ministério
Público, vem propor,

AÇÃO DECLARATIVA DE CONDENAÇÃO, COM PROCESSO DE JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA,


DE INCUMPRIMENTO DA PRESTAÇÃO DE ALIMENTOS

Contra

Paulo Jorge…, divorciado, residente na rua …, em …,

Nos termos e com os seguintes fundamentos:

1.º
O menor Gonçalo…, nasceu no dia …/…/…, é filho do requerido e de Adelai-
de…(documento n.º 1) e reside com a mãe, na rua …, em ….
2.º
Por decisão proferida em …/…/…, no processo de divórcio por mútuo consentimento
que correu os seus termos na Conservatória do Registo Civil de …, sob o n.º 12 do ano de
…, foi decretado o divórcio do casal e foi homologado o acordo quanto à regulação do exer-
cício das responsabilidades parentais do filho menor supraidentificado (documento n.º 2).
3.º
No acordo quanto à referida regulação ficou assente que o menor ficava à guarda e
cuidados da mãe, a quem competia o exercício das responsabilidades parentais, foi estabe-
lecido um regime de visitas e o pai, aqui requerido, ficou obrigado a contribuir com a
quantia mensal de € 250 (duzentos e cinquenta euros), a atualizar de acordo com o coefi-
ciente inflacionário a publicar por portaria, e ainda com metade do valor das despesas não
suportadas pelos Serviços Sociais do Ministério da ….
4.º
Sucede que o requerido não efetuou o pagamento dos alimentos de 01-01-2008 a 31-
07-2008, no valor global de 1.500€ (mil e quinhentos euros),
5.º
não tendo pago também os alimentos de 01-04-2009 a 31-07-09, no valor global de
1.000€ (mil euros),
6.º
tendo pago apenas 85 € (oitenta e cinco euros) em abril de 2009.
7.º
Pelo que, até ao mês de julho de 2009, inclusive, a quantia total em dívida ascende a
2.415€ (dois mil e setecentos euros), sem contar com a atualização que teve lugar em ja-
neiro de 2009.
8.º
O pai do menor trabalha no restaurante “F…H..”, sito na Avenida…, em….
9.º
Importa determinar nos autos, para além do pagamento devido, acrescido de juros
de mora vencidos e vincendos e compulsórios vencidos e vincendos, estes à taxa de 5% ao
ano, nos termos do art.º 829.º-A, n.º 4, do Cód. Civil, o desconto da prestação de alimentos
no salário do requerido, nos termos do art.º 48.º1, al. b), e 2, do Regime Geral do Processo
Tutelar Cível, porquanto decorreu por diversas vezes o prazo de 10 dias de tal dispositivo
legal, sem que nada fosse pago.

Nestes termos, D. e A. a presente ação, devem ser


convocados os pais dos menores para uma conferência
(artigo 41.º, n.º 3, do artigo 41.º, n.º 3, Regime Geral do
Processo Tutelar Cível), seguindo-se os demais termos
até final.

VALOR: € 30.000,01 (trinta mil euros e um cêntimo)

JUNTA: 2 (dois) documentos e duplicados legais.

O Procurador da República
A.4. Ação de Alteração da Regulação do Exercício das Responsabilidades Parentais

Exmo. Sr. Juiz de Direito

….ª Secção de Família e de Menores

de …

Comarca de …

O Ministério Público junto deste Tribunal vem, nos termos do artigo 42.º, n.º 1, do
Regi-me Geral do Processo Tutelar Cível, intentar

Ação de Alteração da Regulação do Exercício das Responsabilidades Parentais,

contra:

- Joaquim …

- Judite …

com os seguintes fundamentos:

1.º

Na Ação de Regulação do Exercício das Responsabilidades Parentais n.º … de


… foi regulado o exercício das responsabilidades parentais em relação a Pedro Miguel,
nascido a …/…/…, em …, filho dos requeridos.

2.º

O jovem ficou a viver com a mãe, com exercício conjunto das responsabilidades pa-
rentais em relação às questões de particular importância, fixando-se um regime de conví-
vios com o pai e ficando este vinculado a pagar 75 € de alimentos ao filho, pois suportaria
também igual prestação em relação a filha já maior de idade e que se encontra já a traba-
lhar.

3.º

Acontece que não se fixou o contributo do requerido para as despesas médicas,


medico-medicamentosas, livros e material escolar, estando, porém, o requerido dispo-
nível para suportar o seu valor em metade, mediante apresentação de faturas/recibos
emitidos em nome do filho.

4.º

O requerido aufere subsídio de férias por inteiro e seria mais funcional a fixação de
uma quantia fixa por conta do referido subsídio como prestação complementar a título de
sustento, de valor não inferior a 150 € (cento e cinquenta euros), desonerando-se o mes-
mo das referidas despesas, à exceção das que se relacionassem com próteses, aparelhos
dentários, aparelhos auditivos, intervenções cirúrgicas, lentes e óculos, que seriam
suportadas na proporção de metade por cada progenitor, na parte não compartici-
pada, devendo ser comunicadas ao progenitor devedor no prazo máximo de 30 dias,
acompanhadas de apresentação das faturas respetivas, a emitir em nome do menor,
sendo pagas em idêntico prazo por transferência bancária.

5.º

Valor este que passaria a ser de 200 € (duzentos euros) caso o requerido auferisse
também o subsídio de Natal por inteiro, sendo 100 € (cem euros) por conta de cada subsí-
dio.

6.º

Acontece ainda que o valor dos alimentos – 75 € (setenta e cinco euros) - é muito
baixo e não conforme ao rendimento líquido do requerido, que aufere 1.322,87 € mensais,
isto apesar de ter uma filha menor, Maria Cristina, nascida a …/…/…, em …, e a sua esposa
se encontrar grávida, prevendo-se o nascimento de mais uma criança.

7.º

Os alimentos deveriam de ser aumentados para 90 € (noventa euros) mensais,


com uma taxa de atualização em janeiro de cada ano em função da inflação.

8.º

Acontece ainda que existem sinais de que o Pedro Miguel foi afastado do convívio
do pai, não aceitando de forma injustificada a retoma desse convívio, sendo importante
adequar o regime de convívios a esta realidade, acionando-se a audição técnica especiali-
zada (cf. art.º 23.º do R.G.P.T.C.), que permita a reaproximação entre o pai e filho, com ma-
nifesta vantagem para este, que também deve conviver com os seus irmãos consanguíneos.

Pelo exposto, requer-se a V. Ex.ª que, nos termos do art.º 42.º, n.º 2, al.ª b), do
R.G.P.T.C., autuada a presente ação por apenso à Ação de Regulação do Exercício das
Responsabilidades Parentais n.º …, da 3.ª Secção de Família e de Menores (Juiz 2), da
Instância Central de … - Comarca de …, a distribuir previamente nesta 2.ª Secção de
Família e de Menores, devendo ser requisitada para o efeito:

- Se digne mandar citar os requeridos para, no prazo de


10 dias, alegarem o que tiverem por conveniente, nos
termos do art.º 42.º, n.º 3, do RGPTC, seguindo-se os
demais termos até final.

Junta: três documentos, cópia e duplicados legais.

Valor: 30.000,01 € (trinta mil euros e um cêntimo).

(NOME,

Procurador da República)
A.5. Ação de Limitação do Exercício das Responsabilidades Parentais

Exmo. Sr. Juiz do


Tribunal de Família e de Menores de …

O Ministério Público, por apenso ao Processo de Promoção e Proteção n.º …/…, do


1.º Juízo deste Tribunal, (artigo 11.º, n.º 1, do artigo 41.º, n.º 3, Regime Geral do Processo
Tutelar Cível), nos termos dos artigos 52.º e segs do Regime Geral do Processo Tutelar
Cível e 3.º, n.º 1, al. p), e 5.º, n.º 1, al. g), do Estatuto do Ministério Público, vem propor

AÇÃO TUTELAR ESPECIAL DE LIMITAÇÃO AO EXERCÍCIO DAS RESPONSABILIDA-


DES PARENTAIS

Em benefício da menor:

AE…

Contra:

SE …,
FF …

Nos termos e com os seguintes fundamentos:

1.º
A menor AE nasceu no dia 18 de setembro de 1996 e é filha dos réus (documento
n.º 1).

2.º
Os réus não casaram um com o outro e a menor reside, desde bebé, com os avós
maternos – AE e ME – e com duas tias e um tio maternos,

3.º
Numa casa que dispõe de cozinha, 3 quartos e uma casa de banho,

4.º
Na qual partilha um dos quartos com as tias, dispondo de cama própria.

5.º
Até ao final do mês de outubro de 2007, SE (mãe da menor) e o seu marido residi-
ram num anexo junto à casa dos avós de A, dispondo de um quarto e uma cozinha.

6.º
Atualmente residem em …

7.º
O padrasto da A tem hábitos alcoólicos e fala com rispidez,

8.º
Razão pela qual a menor sente medo de estar com ele.
9.º
A mãe da menor mostrou vontade de levar a menor para viver consigo e com o seu
marido, o que colocaria a menor numa situação de perigo, face à incapacidade que revelou
para zelar pela segurança e saúde da menor, o que a determinou a entregar a menor aos
avós maternos desde bebé.

10.º
A menor não tem quaisquer contactos com o pai, o aqui réu FF, que não a procura.
11.º
Por conseguinte, nenhum dos progenitores da menor se encontra em condições de
cumprir a totalidade dos seus deveres para com a menor.

12.º
O rendimento do agregado onde a menor está inserida é constituído pelo venci-
mento do avô AE, no valor de € 450 (quatrocentos e cinquenta euros).

13.º
Ao nível escolar, a menor apresenta um bom desempenho, é cumpridora, revela
gosto pela escola, não teve dificuldades de integração pese embora num primeiro momen-
to se mostrasse introvertida, é meiga, prestável e correta.

14.º
Foi instaurado processo de promoção e proteção, com o n.º …, do 1.º Juízo deste
Tribunal, relativo à menor A, porém, considerando que as medidas de promoção e prote-
ção têm uma duração máxima e visam pôr cobro a uma situação de perigo (v. artigos 3.º,
nºs 1 e 2, 35.º, à exceção da al. g) do n.º 1, 60.º e 61.º da Lei de Proteção de Crianças e Jo-
vens em Perigo, aprovada pela Lei n.º 147/99, de 1 de setembro), é necessário definir a
situação futura da A e assegurar que a menor beneficia de orientação psicopedagógica e de
apoio que permitam um adequado desenvolvimento, acompanhamento, supervisão e es-
tabilidade, o que só será possível com a adoção de uma providência tutelar cível.

15.º
Deve ser estabelecido um regime de visitas da menor aos pais, sobretudo à mãe, de
modo a manter e solidificar o relacionamento entre ambas.

16.º
Os pais da menor devem ficar obrigados a suportar o montante que vier a ser fixa-
do a título de alimentos.

Nestes termos, requer-se que, D. e A. a presente ação, se ordene a realização de in-


quérito sobre a situação moral e económica dos requeridos e de AE e ME (avós da menor)
e, realizadas as pertinentes diligências, seja definida a situação da menor, designadamen-
te:

- Limitando o exercício das responsabilidades parentais dos re-


queridos sobre a sua filha AE (artigos 52.º e segs. do Regime Geral
do Processo Tutelar Cível e 1918.º do Código Civil), na modalidade
de confiança da menor à guarda e cuidados de Ae e ME, seus avós
maternos (artigos 52.º e segs. do Regime Geral do Processo Tutelar
Cível e 1918.º do Código Civil);
- Estabelecendo um regime de visitas aos pais (artigo 1919.º, n.º
2, do Código Civil);
- Fixando o valor da prestação de alimentos a cargo dos réus (ar-
tigo 1917.º do Código Civil, por maioria de razão).
Mais se requer a audição da menor AE, ao abrigo do disposto no
artigo 12.º da Convenção sobre os Direitos da Criança (Resolução
n.º 44/25 da Assembleia Geral das Nações Unidas, de 20 de novem-
bro de 1989, Resolução da Assembleia da República n.º 20/90, de
12 de setembro; Decreto do Presidente da República n.º 49/90, de
12 de setembro), conjugado com os artigos 4.º, al.ª j), da LPCJP, 5.º
e 35.º, n.º 3, do Regime Geral do Processo Tutelar Cível e 1901.º,
n.ºs 2 e 3, do Código Civil.

VALOR: € 30.000,01 (trinta mil euros e um cêntimo)


JUNTA: 1 (um) documento e duplicados legais

ROL DE TESTEMUNHAS: (…)

O Procurador da República
A.6. Ação Tutelar Comum - Instituição de Tutela

Exmo. Sr. Juiz do


Tribunal de Família e de Menores de …

O Ministério Público vem, ao abrigo do disposto nos artigos 3.º, al. a), 6.º, al.ª a), e
67.º do Regime Geral do Processo Tutelar Cível, 3.º, n.º 1, al. p), e 5.º, n.º 1, al. g), do Estatu-
to do Ministério, e artigos 124.º, 1921.º, n.º 1, als. c), 1923.º, n.º 1, 1927.º e 1931.º do Códi-
go Civil, propor

AÇÃO TUTELAR COMUM COM VISTA À INSTITUIÇÃO DE TUTELA

em benefício da menor:

Vanessa …, nascida a …/…/…, em …,

nos termos e com os fundamentos seguintes:

1.º
A Vanessa … é filha de Maria …, divorciada, residente em parte incerta, com último
endereço conhecido em …, constando também do seu assento de nascimento que é filha de
Custódio …, divorciado, pedreiro e residente na rua …, em …,
2.º
O averbamento de paternidade esse que apenas foi efetuado com base na presun-
ção do artigo 1826.º, n.º 1, do Código Civil, posto que, na altura, a mãe da menor era casada
com o Custódio … e não afastou tal presunção,
3.º
Tendo sido interposta ação de impugnação de paternidade em representação da
menor, que deu lugar à Ação Ordinária n.º …/…, do … Juízo deste Tribunal Judicial de …,
onde a menor é representada pela sua avó materna Lurdes …, casada, residente ...
4.º
O Custódio … não reconhece a paternidade da menor,
5.º
E a Maria … atribui a paternidade da menor a um tal António …, residente em …
6.º
A menor Vanessa … foi entregue pela mãe aos cuidados de Margarida … , viúva, re-
formada, residente em …, com três meses de idade,
7.º
Ausentando-se para parte incerta desde então
8.º
E nunca mais visitando ou contactando a menor.
9.º
Desde os referidos três meses de idade que tem sido, pois, a Margarida … a cuidar
da menor, alimentando-a, vestindo-a, ensinando-a a andar, a falar, a comer e assim se es-
tabelecendo entre ambas uma relação em tudo idêntica à que os pais têm com os seus fi-
lhos.
10.º
Os familiares da mãe da menor também nunca a procuraram, salvo raras visitas
realizadas há muito pelo avô materno, o qual, entretanto, deixou de aparecer em casa da
Margarida …,
11.º
Desinteressando-se da situação da sua neta.
12.º
O Custódio … ou a sua família nunca se interessaram pela situação da menor e pe-
los motivos já indicados.
13.º
O António … é pessoa desconhecida da menor.
14.º
A menor, por outro lado, não chegou a conhecer a mãe.
15.º
A Vanessa … frequenta desde setembro o 1º ano de escolaridade da escola Básica
do …, no período da tarde,
16.º
Sendo a Margarida … ou o seu filho Gustavo …, solteiro, segurança, com esta última
residente, de 48 anos de idade, que a vão levar e buscar à escola.
17.º
Até hoje a menor é assídua e pontual,
18.º
Com um rendimento escolar adequado.
19.º
A Vanessa … encontra-se inscrita no Centro de Saúde de …, sendo acompanhada
pela médica de família Dr.ª …,
20.º
Apresentando um desenvolvimento normal para a sua idade.
21.º
A Margarida … é pessoa estimada pelos seus vizinhos e pessoas que a conhecem,
22.º
Tendo acolhido várias crianças na situação da Vanessa …,
23.º
A quem providenciou pelos cuidados necessários ao seu crescimento em segurança
e com carinho,
24.º
Tendo todos uma grande adoração por ela,
25.º
Mantendo relações de afetividade mesmo depois de se autonomizarem.
26.º
Não obstante a idade da Margarida …, o certo é que foi a única “mãe” que a menor
realmente teve.
27.º
Na residência onde a menor e a Margarida … habitam residem também o Gustavo
… e Luísa …, solteira, doméstica,
28.º
Que conhecem a menor desde sempre e têm por ela grande amor e carinho, sendo
figuras gratas à menor, em especial o Gustavo …, seu padrinho.
29.º
Impõe-se assim a nomeação judicial de pessoa que represente a menor e zele pelos
seus interesses, defendendo-os, ou seja, a nomeação de tutor à menor,
30.º
Constituído que seja e ouvido o Conselho de Família,
31.º
Tudo nos termos das disposições conjugadas dos artigos 1951.º, 1952.º, n.º 2, e
1931.º, todos do Código Civil.

**

Nestes termos, D. a A. a presente ação:


· Deverão ser nomeados vogais do Conselho de Família Luísa… e Gustavo …,
devendo este desempenhar o cargo de protutor; e

· Ouvido este, não havendo razões ponderosas em contrário, se designe tu-


tora à menor Vanessa … a Margarida …, supraidentificada.

Valor: € 30.000,01 (trinta mil euros e um cêntimo).

APRESENTA: 4 (quatro) documentos, duplicados e cópia legal.

**

ROL DE TESTEMUNHAS: (…)

O Procurador da República
A.7. Tutela de menores confiados a estabelecimento de educação ou assistência

Exmo. Sr. Juiz do


Tribunal de Família e de Menores de …

O Magistrado do Ministério Público junto deste Tribunal , vem nos termos dos arts.
3.º, al. a), e 67.º do Regime Geral do Processo Tutelar Cível, 3.º n.º 1, al. p), e 5º, n.º 1, al. g),
ambos do Estatuto do Ministério Público, e 1921.º, n.º 1, al. c), 1923.º, 1962.º, nºs 1 e 2,
do Código Civil, propor

AÇÃO TUTELAR COMUM COM VISTA À INSTITUIÇÃO DE TUTELA

em benefício do menor :

Ricardo, nascido a, atualmente acolhido no Lar …, rua …

nos termos e com os fundamentos seguintes:

1.º
O menor nasceu em …, na freguesia de … e é filho de Isabel …. - doc. nº 1.
2.º
O pai do menor é desconhecido, encontrando-se omissa a paternidade no assento
de nascimento do menor. - doc. nº 1.
3.º
O Ricardo encontra-se acolhido no Lar ..., desde …,
4.º
Sendo esta instituição que cuida do menor, assegurando-lhe os cuidados básicos
inerentes ao seu desenvolvimento, desde essa altura.
5.º
A mãe do menor, portadora de deficiência mental, foi expulsa de casa dos progeni-
tores quando estes tiveram conhecimento da sua gravidez.
6.º
Nesta sequência, Isabel passou a pernoitar pelas ruas, dormindo em matas e num
lagar, situação que se manteve até ao nascimento do Ricardo.
7.º
Dada a ausência de suporte familiar, após o nascimento do menor Ricardo, surgiu a
necessidade de acolher mãe e filho numa instituição.
8.º
O que veio a acontecer, ficando este no Lar ...
9.º
Posteriormente, o menor Ricardo passou a ser acolhido no lar …
10.º
Onde se encontra desde …, não tendo desde essa data visitas da mãe ou de qual-
quer outro familiar.
11.º
A mãe do menor demonstrou, durante os últimos 12 anos, um total alheamento e
indiferença perante o filho.
12.º
Desconhece-se o paradeiro da mãe, assim como de outros familiares.
13.º
Nos últimos tempos, o Ricardo apresenta atitudes comportamentais problemáti-
cas, indiciando uma tendência para atos delinquentes.
14.º
Não existe qualquer familiar em condições de exercer a tutela, designadamente
avós,
16.º
Uma vez que, também estes, sempre demonstraram um total alheamento pelo ne-
to.
17.º
Alheamento este bem patente desde a altura em que a mãe do Ricardo se encon-
trava grávida deste, e que se manteve até os dias de hoje.
18.º
Quando não exista pessoa em condições de exercer a tutela, o menor é confiado à
assistência pública.
19.º
Exercendo as funções de tutor o diretor do estabelecimento público ou particular,
onde tenha sido acolhido o menor (artigo 1962.º, nºs 1 e 2 do Código Civil).
20.º
Assim, deverá o cargo de tutor ser exercido por …, diretor do Lar …, onde o menor
se encontra desde ….

Nestes termos, requer-se a Vª Ex.ª que, D. e A., se sigam os


demais trâmites legais, designando-se para o cargo de tutor do Ri-
cardo, nos termos dos artigos 1921.º, n.º 1, al. c) e 1962.º, nºs1 e 2,
todos do Código Civil, …, na qualidade de Diretor do Lar …

VALOR: € 30.000,01 (trinta mil euros e um cêntimo).


JUNTA: 2 documentos e duplicados legais.

ROL DE TESTEMUNHAS: (…)

O Procurador da República
A.8. Ação de Inibição do Exercício das Responsabilidades Parentais

Por apenso à Ação de Regulação


do Exercício das Responsabilidades Parentais
n.º …/…, do … Juízo

Exmo. Sr. Juiz do


do Tribunal de Família e Menores de …

O Ministério Público, ao abrigo do disposto nos artigos 3.º, al. h), 6.º, al.ª h), 9.º e
52.º e ss do Regime Geral do Processo Tutelar Cível e dos artigos 1915º do Código Civil e
3.º n.º 1, al. p) e 5º, n.º 1, al. g) ambos do Estatuto do Ministério Público, vem requerer, por
apenso à Ação de Regulação do Exercício das Responsabilidades Parentais suprarreferida, a
instauração da presente

Ação de Inibição do Exercício das Responsabilidades Parentais

Em benefício da menor Carolina …, nascida a …/…/…, natural de …

Contra:

Manuel…., residente …

Nos termos e com os seguintes fundamentos:

1.º
A menor Carolina …, nasceu a …/…/…, e é filha de Manuel … e Maria … – cf. certidão
de nascimento que se junta como documento 1.
2.º
No âmbito da ação n.º …/…, foi homologado, em …/…/…, o respetivo acordo de re-
gulação do exercício das “responsabilidades parentais”, tendo a menor ficado à guarda e
cuidados da mãe – cf. doc. 2.
3.º
Por seu turno, fixou-se o seguinte regime de visitas da menor ao progenitor: “O pai
poderá estar com a menor aos Domingos, entre as 15.00 horas e as 17.00 horas, sem preju-
ízo de outro convívio solicitado pelo pai e dentro da disponibilidade da mãe e da menor.”
4.º
Sucede que, o pai da menor apenas esteve com a criança em dois fins de semana,
sendo que, desde fins de abril de 2002, nunca mais esteve com ela – cf. doc. 3.
5.º
Realizou-se nova conferência de pais, em 12 de junho de 2002, onde se tentou efe-
tuar acordo entre ambos os pais, o que não foi possível, e onde se solicitou ao IRS a elabo-
ração de relatório social sobre os progenitores da menor - cf. doc. 4.
6.º
No relatório social respeitante ao requerido é referido que este “não parece preo-
cupado com as necessidades da filha.” – cf. doc. 5.
7.º
Também ali é feita referência ao facto do requerido não ter procurado a filha, sen-
do que este não o faz por dificuldades de relacionamento com a requerida e a mãe desta.
8.º
Atenta a informação anterior, decidiu-se convocar o requerido para prestar decla-
rações acerca do seu não cumprimento do direito de visitas – cf. doc. 6.
9.º
Nessa medida, foi convocado para nova diligência, que teve lugar no dia 03 de de-
zembro de 2002, e onde o progenitor se comprometeu a cumprir o regime de visitas esti-
pulado o que iria começar a fazer no fim de semana seguinte – cf. doc. 7.
10.º
Contudo, o mesmo voltou a não exercer o seu direito de visitas em relação à menor
– cf. doc. 8.
11.º
Por essa razão, foi convocada nova conferência de pais, realizada em 6 de maio de
2003, tendo-se apurado que o progenitor da menor, desde março e até fins de abril de
2003, esteve com a menor, aos Domingos, durante cerca de três horas, num café da zona
da sua residência – cf. doc. 9.
12.º
Procedeu-se à realização de nova conferência de pais, a 26 de maio de 2003, onde o
progenitor se comprometeu, mais uma vez, a visitar a menor – cf. doc. 10.
13.º
No entanto, em janeiro de 2004, o pai ainda não havia exercido o seu direito de vi-
sitas – cf. doc. 11
14.º
Razão pela qual foi convocada nova conferência de pais realizada em 20 de feverei-
ro de 2004, onde, novamente, o progenitor se comprometeu a visitar a menor – doc. 12.
15.º
Sucede que, mais uma vez, o pai da menor nunca procurou estar com a menor, ten-
do sido marcada nova conferência de pais, a qual ocorreu a 03 de dezembro de 2004 e
onde referiu ter intenção de ver a filha – doc. 13 e 14.
16.º
O que nunca se verificou - doc. 15.
17.º
Realizou-se nova conferência, a 28 de janeiro de 2005, na qual alegou não ter cum-
prido as visitas por falta de meio de transporte, e que doravante já o poderia fazer – doc.
16.
18.º
Contudo, e como em dezembro ainda não havia visitado a menor, foi realizada nova
conferência de pais, onde o requerido, para além de ter confirmado não visitar a filha há
cerca de quatro anos e que durante um ano e meio não o fez porque não tinha transporte,
referiu não ter qualquer interesse em querer efetuar as visitas à menor - doc. 17 e 18.
19.º
Por esse motivo, decidiu-se conceder um prazo de 60 dias ao progenitor, findos os
quais o mesmo seria confrontado com a questão da necessidade de efetuar as visitas à sua
filha.
20.º
Decorrido tal prazo, o requerido reafirmou o seu desinteresse em estar com a sua
filha, não querendo estabelecer com esta qualquer tipo de contacto – doc. 19.
21.º
O requerido não demonstra qualquer preocupação pelo destino da sua filha, não
mais a procurando, visitando ou por ela mostrando qualquer interesse.
22.º
O requerido nunca pagou a pensão de alimentos nem contribuiu até ao presente
com qualquer montante para a subsistência e educação da filha, sendo o Fundo de Garan-
tia de Alimentos Devidos a Menores que o tem substituído nessa tarefa, embora sabendo
que a mãe da criança tem escassos proventos económicos - doc. 6.
23.º
O requerido não só infringiu culposamente o dever de visitas para com a filha, com
grave prejuízo desta, como intencionalmente se alheia e rejeita o seu poder-dever parental
com aquela, apesar de estar ciente das necessidades afetivas e de referência parental que a
criança necessita para o seu desenvolvimento harmonioso.
Nessa medida,
24.º
Deve o requerido ser inibido totalmente de exercer as responsabilidades parentais
relativamente à filha.

Termos em que se requer que, autuada a presente


ação por apenso, se digne ordenar a citação do requerido
para contestar, nos termos do disposto no artigo 54º, n.º 1,
do Regime Geral do Processo Tutelar Cível e, realizadas as
diligências tidas por pertinentes, seja decretada a inibição
total do exercício das responsabilidades parentais em rela-
ção à menor Carolina.

VALOR: € 30.000,01 (trinta mil euros e um cêntimo).


JUNTA: x documentos e duplicados legais.

ROL DE TESTEMUNHAS: (…)

(nota: sendo indicado o menor como testemunha, aplicam-se as regras do art.º 5.º do
RGPTC, devendo requerer-se expressamente, para que não existam esquecimentos:
- a não utilização de traje profissional aquando da audição da criança;
- que a tomada de declarações seja realizada em ambiente informal e reservado,
com vista a garantir, nomeadamente, a espontaneidade e a sinceridade das respos-
tas, devendo a criança ser assistida no decurso do ato processual por um técnico
especialmente habilitado para o seu acompanhamento, previamente designado pa-
ra o efeito;
- que a inquirição seja feita pelo juiz, podendo o Ministério Público e os advogados
formular perguntas adicionais).

O Procurador da República
A.9. Ação de Inibição do Exercício das Responsabilidades Parentais

Por apenso à Ação de Regulação


do Exercício das Responsabilidades Parentais
n.º

Exmo. Sr. Juiz


do Tribunal de Família e de Menores de…

O Ministério Público, ao abrigo do disposto nos artigos 3.º, al. h), 6.º, al.ª h), 9.º e
52.º e ss do Regime Geral do Processo Tutelar Cível e dos artigos 1915º do Código Civil e
3.º, n.º 1, al. p), e 5.º, n.º 1, al. g), ambos do Estatuto do Ministério Público, vem requerer,
por apenso à Ação de Regulação do Exercício das Responsabilidades Parentais suprarreferi-
da, a instauração da presente

Ação de Inibição do Exercício das Responsabilidades Parentais

Em benefício do menor Bruno R…, nascido a …/…/…,

Contra:

Sónia Catarina …,

Nos termos e com os seguintes fundamentos:

1.º
O menor Bruno R. é filho de Sónia Catarina e de Paulo Jorge...
2.º
No âmbito da ação em epígrafe identificada foi o menor confiado aos avós pater-
nos, que passaram a deter o exercício das respetivas responsabilidades parentais a partir
de …/…/….
3.º
Por seu turno, fixou-se um regime de visitas do menor à progenitora, mas, muito
embora esta tenha sido convocada por diversas vezes a Tribunal, tendo em vista alertá-la
para a necessidade do menor estar consigo, aquela nunca o exerceu, salvo situações muito
esporádicas, com duração de minutos e muito espaçadas no tempo, pese embora as expec-
tativas geradas e frustradas no menor, a quem não procurou nem telefonou.
4.º
No entanto, durante todo este tempo Sónia Catarina esteve quase sempre desem-
pregada e com muito tempo para estar com o menor.

5.º
A mãe do menor residiu durante vários meses e até inícios de 2012 na rua …, em …,
em casa situada próximo da dos avós paternos do menor, a qual se situa na Avenida …,
naquela mesma cidade, mas nem assim o procurou aí ou mesmo na escola do mesmo.
6.º
A …/…/… a mãe do menor Bruno tinha ido buscá-lo uma única vez.
7.º
A …/…/… esteve com o filho 20 minutos, tendo feito promessas em relação a pren-
das, que não cumpriu.
8.º
A …/…/… não telefonou e não apareceu, tendo o menor estado à sua espera.
9.º
A …/…/… telefonou, mas não apareceu.
10.º
A …/…/… e a …/…/… não telefonou e não apareceu.
11.º
O menor ficou desde então e em diversos sábados à espera que a mãe aparecesse, o
que não aconteceu, nem tendo a mesma telefonado.
12.º
No período de …/…/… a …/…/…, após conferência neste Tribunal, a Sónia Catarina
esteve duas vezes com o seu filho.
13.º
Ao longo deste tempo a Sónia Catarina não tem revelado quaisquer esforços e si-
nais que sugiram real desejo de querer aproximar-se do seu filho e estabelecer vínculos
afectivos de si muito frágeis, conforme afirmado em conclusão inserta no relatório da D.-
G.R.S.P. de …/…/…, junto ao processo em epígrafe identificado.
14.º
A requerida não demonstra qualquer preocupação pelo seu filho, não mais o pro-
curando, visitando ou por ele mostrando qualquer interesse.
15.º
Nunca tendo contribuindo com qualquer quantia monetária para o sustento do
menor.
16.º
A requerida não só infringiu culposamente o dever de visitas para com o filho, com
grave prejuízo deste, como intencionalmente se alheia e rejeita o seu poder-dever parental
em relação àquele, apesar de estar ciente das necessidades afetivas e de referência paren-
tal que a criança necessita para o seu desenvolvimento harmonioso.
Nessa medida,
17.º
Deve a requerida ser inibido totalmente de exercer as responsabilidades parentais
relativamente ao seu filho Bruno R.

Termos em que se requer que, autuada a presente


ação por apenso, se digne ordenar a citação da requerida
para contestar, nos termos do disposto no artigo 54º, n.º 1,
do Regime Geral do Processo Tutelar Cível e, realizadas as
diligências tidas por pertinentes, seja decretada a inibição
total do exercício das responsabilidades parentais em rela-
ção ao menor Bruno R.

VALOR: € 30.000,01 (trinta mil euros e um cêntimo).


JUNTA: os documentos juntos à ação em epígrafe e duplicados legais.

ROL DE TESTEMUNHAS: (…)

(nota: sendo indicado o menor como testemunha, aplicam-se as regras do art.º 5.º do
RGPTC, devendo requerer-se expressamente, para que não existam esquecimentos:
- a não utilização de traje profissional aquando da audição da criança;
- que a tomada de declarações seja realizada em ambiente informal e reservado,
com vista a garantir, nomeadamente, a espontaneidade e a sinceridade das respos-
tas, devendo a criança ser assistida no decurso do ato processual por um técnico
especialmente habilitado para o seu acompanhamento, previamente designado pa-
ra o efeito;
- que a inquirição seja feita pelo juiz, podendo o Ministério Público e os advogados
formular perguntas adicionais).

O Procurador da República
A.10. Pedido de reconhecimento de direito de convívio e sua regulamentação em
favor dos avós.

Exmo. Sr. Juiz do


Tribunal de Família e de Menores de …

O Ministério Público, ao abrigo do disposto no art.º 67.º do Regime Geral do Pro-


cesso Tutelar Cível e art.º 1887.º-A do Cód. Civil, vem formular em ação tutelar comum

PEDIDO DE RECONHECIMENTO DE DIREITO DE CONVÍVIO E SUA REGULAMENTAÇÃO


EM FAVOR DOS AVÓS PATERNOS E MENOR A SEGUIR IDENTIFICADO

contra:

- Ana…, solteira, e
- Paulo Jorge…, solteiro, eletricista,

residentes na rua …, n.º 16, 1º esquerdo, em …,

com os seguintes fundamentos:

1.º
O Ministério Público pretende ver regulado o exercício do direito de convívio, no
que respeita aos avós paternos do menor

Tomás …, nascido a …/…/…, em …

2.º
O menor é filho dos requeridos (cf. doc. 1).

3.º
Com eles residindo e a eles pertencendo o exercício das responsabilidades paren-
tais.
4.º
Acontece que estando o menor aos cuidados dos pais, a mãe do mesmo e a avó pa-
terna encontram-se desentendidas e a primeira não permite que os avós paternos, Teresa
M. e Joaquim A., casados, residentes na rua …, em …, estejam com a menor ou pelo menos
que esteja com eles com a frequência normal entre avós e netos.
5.º
Os avós paternos pretendem gozar da presença do menor, sendo do interesse su-
perior deste que, apesar dos conflitos existentes e supra-aludidos, possa conviver com tais
ascendentes, situação esta a que corresponde o direito previsto no art. 1887-A do Cód.
Civil.
6.º
Impõe-se, assim, regular as visitas aos avós paternos.

R., pois, a V. Ex.ª, que, D. e A., se digne mandar citar os re-


queridos para a conferência a que se refere o art.º 35.º, n.º 1,
do Regime Geral do processo Tutelar Cível, com a presença
dos avós paternos, com vista à decisão sobre tais visitas aos
avós paternos, seguindo-se depois os demais trâmites legais
até final.

VALOR: € 30.000,01 (trinta mil euros e um cêntimo).


JUNTA: certidão de nascimento e duplicados legais.

O Procurador da República
A.11. Pedido de homologação judicial de acordo de limitação do exercício das res-
ponsabilidades parentais

Exmo. Senhor Juiz do


Tribunal de Família e de Menores de…

O Ministério Público, ao abrigo do disposto nos art.ºs 35.º e segs do Regime Geral
do Processo Tutelar Cível e art.ºs 1903.º, n.º 1, al.ª b), e 1907.º, n.º 1, 1.ª parte, 2 e 3, do
Cód. Civil, vem formular ao abrigo do disposto no art.º 43.º, n.º 2, do Regime Geral do Pro-
cesso Tutelar Cível
em ação de regulação do exercício das responsabilidades parentais

PEDIDO DE HOMOLOGAÇÃO JUDICIAL DE ACORDO DE LIMITAÇÃO DO EXERCÍCIO


DAS RESPONSABILIDADES PARENTAIS NO QUE RESPEITA AO MENOR JOSÉ …,

acordo esse apresentado ao Ministério Público pelos pais do menor:

- António…, casado, e
- Isabel…, casada,
residentes na rua …,

com os seguintes fundamentos:

1.º
O menor José … nasceu a …/…/…, em Luanda – Angola, (cf. doc. 1).

2.º
Os seus pais residem em Angola.

3.º
O menor encontra-se a residir em Portugal há cerca de dois anos,

4.º
estudando na Escola …, em …, onde frequenta o 9.º ano de escolaridade,

5.º
tendo vindo para Portugal para aqui prosseguir os seus estudos.

6.º
O menor José vive com a sua irmã Conceição Ramos…, nascida a …/…/…, em Ango-
la, residente na rua …, em …,

7.º
sendo esta que tem cuidado dele e pretende exercer as responsabilidades parentais por
referência ao menor.

8.º
Os pais do menor solicitaram ao Ministério Público a formulação do presente pedi-
do de homologação, tendo subscrito os documentos que se juntam.
R., pois, a V. Ex.ª, que, D. e A. a presente ação, se digne pro-
ceder à audição do menor e de Conceição Ramos, com vista
à homologação do acordo apresentado, nos termos do art.º
1903.º, n.º 1, al.ª b), do Cód. Civil e 43.º, n.º 2, do Regime Ge-
ral do Processo Tutelar Cível, ao qual o Ministério Público
nada tem a opor.

VALOR: € 30.000,01 (trinta mil euros e um cêntimo).


JUNTA: certidão de nascimento, duas declarações, duas cópias, uma certidão e duplicados
legais.

O Procurador da República
A.12. Pedidos de homologação judicial de acordo de exercício das responsabilidades
parentais (dois modelos)

Modelo 1

Exmo. Senhor Juiz do


Tribunal de Família e de Menores de …

O Ministério Público, ao abrigo do disposto nos arts. 43.º, n.ºs 1, e 35.º e seguintes
do Regime Geral do Processo Tutelar Cível e art.ºs 1906.º, n.º 1, e 1912.º do Cód. Civil, vem
formular
em ação especial de regulação do exercício das responsabilidades parentais

PEDIDO DE HOMOLOGAÇÃO JUDICIAL DE ACORDO


DE EXERCÍCIO DAS RESPONSABILIDADES PARENTAIS
NO QUE RESPEITA AO MENOR:

- Miguel F…, nascido a …/…/…, em …, residente …,

juntando para o efeito acordo subscrito pelos pais do menor.

Anexa-se ainda cópia de processo de promoção e de proteção existente na


Comissão de Proteção de Crianças e Jovens de …

R., pois, a V. Ex.ª, que, D. e A., por ser do interesse superior


do menor, se digne homologar o acordo apresentado.

VALOR: € 30.000,01 (trinta mil euros e um cêntimo).


JUNTA: certidão de nascimento do menor, acordo e dois documentos provenientes da
C.P.C.J. de...

O Procurador da República
Modelo 2

Exmo. Sr. Juiz de Direito do


Tribunal de Família e de Menores
De …

O Ministério Público, ao abrigo do disposto nos arts. 43.º, n.ºs 1, e 35.º e seguintes
do Regime Geral do Processo Tutelar Cível e art.ºs 1906.º, n.º 1, e 1912.º do Cód. Civil, vem
formular
em ação especial de regulação do exercício das responsabilidades parentais

PEDIDO DE HOMOLOGAÇÃO JUDICIAL DE ACORDO


DE EXERCÍCIO DAS RESPONSABILIDADES PARENTAIS
NO QUE RESPEITA AO MENOR:

- Bruno …, nascido a 23-01-2011, em …,

acordo esse apresentado ao Ministério Público pelos pais do menor:

- Anselmo …, viúvo, …, residente na rua …, em …; e


- Fernanda…, divorciada, empregada de restauração, residente na rua …, em …,

cujo teor aqui se dá por integralmente reproduzido para todos os efeitos legais.

R., pois, a V. Ex.ª, que, D. e A. a presente ação, se digne pro-


ceder à homologação do acordo apresentado, por ser o mais
adequado ao interesse superior do menor.

VALOR: € 30.000,01 (trinta mil euros e um cêntimo).


JUNTA: certidão de nascimento, acordo, cópia e duplicados legais.

___________________________________________________
(Procurador da República)
A.13. Requerimento de abertura de processo de promoção e de proteção, com pedi-
do de aplicação de medida provisória

URGENTE

Exmo. Sr. Juiz do


Tribunal de Família e de Menores de ...

O Ministério Público, por apenso à Ação de Regulação do Exercício das Res-


ponsabilidades Parentais n.º ..., vem, nos termos dos artigos 9.º, n.º 8, 11.º, al.ª c), 34º,
al.ªs a) e b), , 73.º, n.º 1, al. b), 105.º, n.º 1, da Lei n.º 147/99, de 01.09, na redação das Leis
n.ºs 31/2003, de 22.08, e 142/2015, de 08.09, requerer a

Instauração de processo de promoção e proteção

Em benefício do menor:

Damião ..., nascido a .../.../..., residente em ...

Nos termos e com os fundamentos seguintes:

1.º
O menor Damião ... tem 13 anos de idade e encontra-se confiado à mãe Berta ... na
ação de regulação do exercício das responsabilidades parentais supraidentificada.
2.º
Na residência onde vivem habitava um tio do menor que se mostrava violento à
frente do menor para com Berta, tendo deixado a referida residência, no início do corrente
ano, mas aí mantendo um quarto fechado,
3.º
Residência essa onde tal tio do menor continua a ir como se ainda aí vivesse, a
qualquer hora do dia ou da noite.
4.º
Depois da saída de tal tio foi viver para aquela residência uma tia materna do me-
nor, Paula ..., desempregada, a qual passou a ocupar a sala, estando o menor e a sua mãe
confinados ao quarto, ao quarto de banho e à cozinha.
5.º
Tal tia alcooliza-se com frequência, entra tarde em casa nesse estado e é violenta,
6.º
O que se tem vindo a agravar, ao ponto de na noite .../.../..., cerca das 2h00, após ter
entrado alcoolizada em casa, a tia do menor bateu e pontapeou por diversas vezes a porta
do quarto onde o menor e a mãe dormem, tentando entrar no mesmo, com intenção de
agredir a mãe do menor,
7.º
Chegando a bater com um martelo de cortar carne na porta do quarto,
8.º
O que levou a mãe do menor a pegar num ferro para se defender.
9.º
De manhã, nesse mesmo dia, as discussões recomeçaram, pelo que a mãe solicitou
ao pai do menor que o fosse buscar, o que este fez.
10.º
A mãe do menor apresenta forte instabilidade psicológica, tendo sido internada
compulsivamente num passado recente no Hospital Sobral Cid.
11.º
Atualmente encontra-se sem acompanhamento médico.
12.º
Desde há algum tempo até ao presente controla toda a vida do menor, não permi-
tindo a ocupação dos seus tempos livres com a prática desportiva – basquetebol e natação
-, alegando que o seu filho não é bem tratado, o que é contrariado pelo menor.
13.º
A Berta ... não deixa o menor expressar livremente a sua opinião na presença de
terceiros.
14.º
Quanto o menor se encontra em casa dos avós paternos telefona com frequência,
tentando controlar os tempos livres do menor, não permitindo, por exemplo, que o menor
vá para casa de outros colegas.
15.º
Raramente o menor consegue estar sozinho, pois a mãe não o permite.
16.º
Quando o menor emite uma opinião favorável aos avós paternos ou em relação ao
pai, a mãe interrompe-o e desvaloriza tal tipo de opiniões, afirmando que o menor está a
ser manipulado pelo pai e pelos avós.
17.º
A Berta ... dorme no mesmo quarto e na mesma cama juntamente com o menor, o
que já não é adequado à idade do menor, pela necessidade que tem de autonomia e de
privacidade, por forma a conseguir ter equilíbrio emocional.
18.º
O menor tem em casa dos avós um quarto próprio, com computador e os mesmos
são pessoas bem consideradas e idóneas segundo os elementos que se juntam, que desde
sempre têm acompanhado a situação do menor, apoiando-o e também a mãe, em especial
quando foi internada.
19.º
O menor vai todos os dias a casa dos avós paternos após a escola.
20.º
O pai do menor, Luís ... , reside em casa dos pais, sita na rua ..., em ..., estando a ser
acompanhado pelo CAT e mostrando-se abstinente do consumo de drogas.
21.º
A situação de violência existente na casa da mãe do menor, as condições em que
vivem e já descritas, a situação de instabilidade emocional da mãe do menor constituem
perigo manifesto para o equilíbrio emocional do menor, estando ainda exposto a situações
de violência.
22.º
A mãe do menor não colaborou com a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens
em Perigo, no sentido de o menor ser provisoriamente acolhido em casa dos avós pater-
nos, o que vai de encontro, inclusive, ao desejo do menor, que ameaça fugir de casa da mãe
se tal não acontecer.
23.º
Importa por termo à situação de perigo a que se encontra sujeito o menor.

Nestes termos, requer-se que, Autuado como processo de promoção e proteção, se:

1. Insista pelas informações pedidas pela CPCJP ao Hospital Sobral


Cid, IDT da ... e Hospital ...;
2. Proceda à audição do menor, progenitores e avós paternos, Manuel
... e Luísa ..., residentes
3. Se proceda à audição da representante da Comissão de Proteção de
Crianças e Jovens em perigo, a indicar por esta;
4. E, por forma a obviar o perigo imediato em que o menor se encon-
tra, que se confie o mesmo provisoriamente, por seis meses, nos
termos dos artigos 35º, n.º 1, al. b), e 2, 37º, 40º e 42º da Lei n.º
147/99, de 01.09, na redação das Leis n.ºs 31/2003, de 22.08, e
142/2015, de 08.09.

VALOR: € 30.000,01 (trinta mil euros e um cêntimo).


JUNTA: …

ROL DE TESTEMUNHAS: (…)

O Procurador da República
A.14. Requerimentos de abertura de processo de promoção e de proteção, com pe-
dido de aplicação de medida provisória.

MINUTA 1

URGENTE

Exma. Sr.ª Juiz do


Tribunal de Família e de Menores de …

O Ministério Público vem, nos termos dos artigos artigos 9.º, n.º 8, 11.º, al.ª c), 34º,
al.ªs a) e b), 73.º, n.º 1, al. b), 105.º, n.º 1, da Lei n.º 147/99, de 01.09, na redação das Leis
n.ºs 31/2003, de 22.08, e 142/2015, de 08.09, requerer a

Instauração de processo de promoção e proteção

Em benefício de:

Bebé do sexo feminino, nascida a …/…/…, na Maternidade …, em …, filha de Só-


nia F…, de 16 anos de idade, residente na Travessa …, n.º …, em …,

Nos termos e com os fundamentos seguintes:

1.º
No dia …/…/…, nasceu na Maternidade …, em …, a bebé suprarreferida, filha de
Sónia F…, de 16 anos de idade.
2.º
A mãe da menor é acompanhada na consulta de Risco Psicossocial/Adolescentes
da Unidade de Intervenção Precoce da referida Maternidade desde o dia …/…/…
3.º
Durante as consultas Sónia F… teve fortes dificuldades de comunicação,
4.º
apresentando um discurso pouco fluente e
5.º
nunca demonstrando qualquer vinculação à bebé.
6.º
Sónia F… refere que a gravidez não foi planeada, sendo fruto de um relacionamen-
to com Fernando, cujos demais elementos de identificação se desconhecem ainda, de 24
anos de idade, com quem verbaliza não ter um sentimento afetivo de grande proximidade.

Sónia F… vive atualmente com Fernando em casa dos pais dela, com quem mantém
um relacionamento conflituoso.
8.º
O agregado referido em 7.º apresenta grandes carências económicas e era benefi-
ciário de Rendimento Social de Inserção, prestação que foi cancelada por incumprimento
do acordo.
9.º
A casa não apresenta condições de habitabilidade para albergar mais alguém, mui-
to menos um bebé segundo informação de membros da Junta de Freguesia de …,
10.º
sendo de referir que neste tempo todo nada foi feito para melhorar as condições habitaci-
onais para acolher a bebé, nem tal foi requerido à Empresa Municipal …,
11.º
para além de que Sónia F… e Fernando se encontrarem na casa atribuída aos pais da mes-
ma sem o conhecimento e consentimento da referida empresa.
12.º
O pai de Sónia F… mantém hábitos alcoólicos e é referenciado como indivíduo vio-
lento dentro do agregado familiar.
13.º
O agregado é multiproblemático, pelas razões indicadas no relatório que se anexa
da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens, salientando-se o referido nos pontos ante-
riores e ainda a dependência quase exclusiva de apoios sociais, a má gestão dos recursos
económicos disponibilizados, o cancelamento do RSI e a sinalização dos pais de Sónia F…
como negligentes em relação aos filhos, que são quatro.
14.º
De acordo com informações do Centro de Apoio à Vida, Sónia F… foi para lá enca-
minhada, no entanto, raramente compareceu às sessões marcadas,
15.º
alegando a distância a que reside e falta de dinheiro para o transporte.
16.º
Revelou sempre uma postura de desinteresse para com as problemáticas aborda-
das e chegou mesmo a verbalizar a sua tristeza por estar grávida,
17.º
Em audição de Sónia F…, que teve lugar a …/…/…, referiu que só por se encontrar
fora do prazo legal não foi possível realizar a interrupção voluntária da gravidez, conforme
pretendia.
18.º
Sónia F… considera-se incapaz de cuidar da filha.
19.º
Questionada sobre a possibilidade de ir para uma Instituição para adolescentes
grávidas e/ou com filhos, recusou.
20.º
Quanto a autorizar o encaminhamento da bebé para adoção, mostrou-se com dúvi-
das, particularmente por achar que os pais e o Fernando ficariam muito aborrecidos e por
ter medo de, mais tarde, se arrepender dessa decisão.
21.º
Apesar de Fernando ter verbalizado querer ser pai, o certo é que esteve sempre
muito pouco presente durante o período de gravidez,
22.º
não tendo condições socioeconómicas para sustentar a filha,
23.º
sendo ainda manifesto o desinteresse dos pais de Fernando, ausentes durante a gravidez.
24.º
A medida que melhor salvaguarda o interesse superior da bebé e de Sónia F…seria
o acolhimento de ambas em instituição, nos termos do art.º 35º, n.º 1, al. f), da Lei n.º
147/99, de 01.09, na redação da Lei n.º 31/03, de 22.08, o que, porém, é recusado por Só-
nia F…
25.º
Não havendo assim condições para a bebé ter alta da Maternidade, importa por
termo à situação de perigo a que se encontra sujeita.

Nestes termos, requer-se que, Autuado como processo de promoção e prote-


ção, se:
1. Confie desde já a menor à Maternidade de …. – Centro Hospita-
lar de …, nos termos do art.º 35.º, n.ºs 1, al. f), e 2, 37º, 91º e 92º
da Lei n.º 147/99, de 01.09, na redação das Leis n.ºs 31/2003, de
22.08, e 142/2015, de 08.09;

2. Proceda à audição de Sónia F… e progenitores, designadamente


Fernando… e Madalena…, residentes na Travessa …, em …;

3. Se proceda à audição de Fernando, a identificar pela Guarda Na-


cional Republicana junto dos pais de Sónia F…, seu companheiro,
residente no mesmo endereço;

4. Se proceda à audição da representante da Comissão de Proteção


de Crianças e Jovens, a indicar por esta;

5. Se requisite relatório social a respeito dos avós paternos da bebé,


a identificar pelo Fernando, companheiro da Sónia F…;

6. Se solicite à E.M.A.T., mencionando urgência, a indicação de insti-


tuição que possa acolher a bebé e elabore relatório social a respeito
da conveniência e adequação da aplicação à bebé da medida de con-
fiança a pessoa selecionada para a adoção ou a instituição com vista
a futura adoção, nos termos do art.º 38.º-A da Lei n.º 147/99, de
01.09, na redação das Leis n.ºs 31/2003, de 22.08, e 142/2015, de
08.09.

VALOR: € 30.000,01 (trinta mil euros e um cêntimo).


JUNTA: 2 documentos.

O Procurador da República
Minuta 2

(Minuta requerimento para instauração de procedimento judicial urgente para


aplicação provisória de medida de acolhimento de menor em instituição no quadro
do processo de promoção e proteção de menores - hipótese: progenitor preso.)

URGENTE

Exma. Sr.ª Juiz do


Tribunal de Família e de Menores de …

O Ministério Público vem, nos termos dos 9.º, n.º 8, 11.º, al.ª c), 34º, al.ªs a), 73.º,
n.º 1, al. b), 91.º, 92.º e 105.º, n.º 1, da Lei n.º 147/99, de 01.09, na redação das Leis n.ºs
31/2003, de 22.08, e 142/2015, de 08.09, requerer a

Instauração de processo de promoção e proteção

Em benefício de:

António…, nascido a …/…/…, residente na Travessa …, n.º …, em …,

nos termos e com os fundamentos seguintes:

1.º
Conforme consta do expediente que, em anexo, se junta e que aqui se dá por intei-
ramente reproduzido, o menor António...., de 8 anos, nascido em 00.00.00, filho de Luís,
encontra-se neste Tribunal onde chegou conduzido pela P.S.P., na sequência da detenção
do seu progenitor F.........., ocorrida no dia de hoje;

2.º
No âmbito do processo n.º........ acaba de ser decretada a prisão preventiva do pro-
genitor do menor;

3.º
Tal facto e a circunstância de não se conhecer a existência de qualquer outro fami-
liar ou terceira pessoa idónea e apta a assegurar a prestação ao menor dos cuidados ade-
quados ao seu crescimento e desenvolvimento integral, colocam-no em situação de clara
desproteção e perigo para a sua integridade física;

4.º
Urge pois decretar o seu acolhimento residencial, como forma de impedir que o
menor fique entregue a si próprio, em clara situação de desproteção.
5.º
O pai do menor encontra-se descompensado e opõe-se a qualquer intervenção em
sede de promoção e de proteção, não indicando, todavia, qualquer solução adequada para
o menor.

Pelo exposto, uma vez que, tanto quanto flui dos elementos de convicção disponí-
vel, o menor seria sujeito a uma situação de perigo sério e grave para a sua saúde e segu-
rança, caso nenhuma medida fosse tomada – cf. art.º 3.º, n.º1, e 2.º, al.ª a) da L.P.C.J.P.-,
requer-se que, Autuado como processo de promoção e proteção:

a. Seja de imediato provisoriamente aplicada a medida de aco-


lhimento residencial, nos termos das disposições conjugadas
dos arts. 35.º, n.ºs 1, al.ª f), e 2, 37.º, 91.º e 92.º da L.P.C.J.P.;

b. de seguida, o processo prossiga os seus termos como proces-


so de promoção e proteção, relativamente ao mencionado me-
nor, declarando-se aberta a instrução e procedendo-se à sua
audição e dos progenitores;

c. se solicite urgente relatório à Segurança Social sobre a situa-


ção do menor, remetendo cópia deste requerimento e docu-
mentos com o mesmo juntos;

d. que, no prazo máximo de seis meses, se proceda à revisão de


tal medida, ao abrigo do disposto no art. 62.º, n.ºs 1 e 3 da refe-
rida L.P.C.J.P., sem prejuízo do disposto no n.º 2 deste último
artigo;

e. que se designe a entidade a quem competirá o acompanha-


mento da execução da medida, tendo presente o estatuído no
art.º 59.º, n.º 3, da L.P.C.J.P.;

f. uma vez que, por força do disposto nos arts. 59.º, n.º 2, e 54.º,
n.º 3, da mencionada Lei, tal medida será dirigida e controlada
por este tribunal, impendendo sobre a referida entidade o de-
ver de elaborar relatório relativo ao acompanhamento de exe-
cução da medida aplicada, promove-se que se comunique a tal
instituição o teor da decisão que vier a ser proferida, com a
menção a que deverá remeter a este tribunal, em tempo útil
(ou seja, antes de decorrido o prazo de seis meses acima aludi-
do), relatório social relativo ao diagnóstico da situação do me-
nor e à definição do seu projeto de promoção e proteção.

VALOR: € 30.000,01 (trinta mil euros e um cêntimo).


JUNTA: 2 documentos.

O Procurador da República
MINUTA 3

(Minuta requerimento para instauração de procedimento judicial urgente para


aplicação provisória de medida de acolhimento do menor em instituição, no quadro
do processo de promoção e proteção de menores - hipótese: menor abandonado na
via pública).

URGENTE

Exma. Sr.ª Juiz do


Tribunal de Família e de Menores de …

O Ministério Público vem, nos termos dos artigos 9.º, n.º 8, 11º, al. c), 34º, al.ªs a),
73.º, n.º 1, al. b), 91.º, 92.º e 105.º, n.º 1, da Lei n.º 147/99, de 01.09, na redação das Leis
n.ºs 31/2003, de 22.08, e 142/2015, de 08.09, requerer a

Instauração de processo de promoção e proteção

Em benefício de:

Alberto…, nascido a …/…/…, residente na Travessa …, n.º …, em …,

nos termos e com os fundamentos seguintes:

1.º.
Conforme consta do expediente que, em anexo, se junta e que aqui se dá por intei-
ramente reproduzido, o menor Alberto......, de 10 anos, nascido em 00.00.00, filho de ...,
encontra-se, desde o passado dia …/…/…, no Centro de Acolhimento Temporário de …, sito
na rua …;

2.º
O menor em referência ingressou na referida unidade, após solicitação da P.S.P.,
por virtude dos factos a seguir descritos.

3.º
No dia …/…/…, cerca das 22 horas e 30 minutos, o menor foi encontrado por um
agente da P.S.P., na Av. …, em …, afirmando encontrar-se perdido;

4.º
O menor referia na ocasião não saber indicar o nome dos pais, dando como morada
da sua residência a rua ........;

5.º
Porém, diligências levadas a cabo pela P.S.P. de imediato – e que se prolongaram
pela madrugada subsequente –, naquela morada e noutras artérias da referida localidade,
não permitiram apurar o local onde se situava a residência do referido menor, nem estabe-
lecer contacto com os seus progenitores, com outro familiar ou pessoa que pudesse forne-
cer qualquer elemento relevante a tal respeito;

6.º
O menor referiu ainda naquela altura que saíra de casa ao anoitecer e que os pais
na altura ali se não encontravam;
7.º
Posteriormente, de acordo com o informado pelo Centro de Acolhimento Tempo-
rário, o menor terá mencionado que naquele dia saíra de casa para ver um jogo de futebol
e que fora encontrava pela P.S.P., quando, cerca das já mencionadas 22 horas e 30 minutos,
vagueava na via pública, recusando-se a regressar a casa por ser alvo de maus tratos por
parte do progenitor.

8.º
Em razão de tal facto, a entidade policial providenciou o imediato acolhimento ins-
titucional do menor no mencionado Centro de Acolhimento, conduzindo-o às suas respeti-
vas instalações.

9.º
Encontrava-se, pois, o menor, à data em que deu entrada no Centro de Acolhimento
Temporário, em situação de clara desproteção e perigo para a sua integridade física, sem
que lhe fossem dispensados os cuidados necessários à sua segurança e bem-estar e ao seu
adequado equilíbrio psicológico;

10.º
Veio a apurar-se, por outro lado, que, à data de tal acolhimento, se mostrava arqui-
vado, desde 00.00.00, o processo de promoção e proteção que, sob o n.º XXX/…, correra
termos na C.P.C.J. de …, o qual se iniciara com a notícia da existência de maus tratos físicos
infligidos pelo pai do menor a este último;

11.º
Constata-se também que, na sequência da notícia do acolhimento do menor no re-
ferido Centro, a C.P.C.J. deliberou, em XX do corrente mês de abril, a reabertura de tal pro-
cesso e “a aplicação de medida de promoção e proteção de caráter urgente, no sentido de
ser assegurada a proteção do menor supracitado em casa de acolhimento temporário”;

12.º
Urge, porém, acionar o procedimento de confirmação judicial a que alude o estatu-
ído no art.º 92.º da L.P.C.J.P., certo que a lei não confere legitimidade, para efeito de con-
firmação de medidas adotadas no quadro de urgência a que alude o art.º 91.º do mesmo
diploma, às Comissões de Proteção de Crianças e Jovens;

13.º
Desconhece-se, por completo, a existência de quaisquer familiares ou de qualquer
outra pessoa disponível para, com idoneidade e aptidão, dispensar ao menor os cuidados e
apoio necessários à satisfação das suas necessidades de alimentação, saúde e segurança e
ao seu bem-estar, em ordem a que lhe possa ser proporcionado um ambiente estável e
securizante e um desenvolvimento sadio e equilibrado, nas vertentes física e psíquica.

Pelo exposto, uma vez que, tanto quanto flui dos elementos de convicção disponí-
vel, o menor seria sujeito a uma situação de perigo sério e grave para a sua saúde e segu-
rança, caso nenhuma medida fosse tomada – cf. art.º 3.º, n.º 1, e 2.º., als. a) e c) da L.P.C.J.P.
-, atendendo a que não dispunha de qualquer familiar ou terceira pessoa que lhe proporci-
onassem as condições mínimas adequadas para o seu adequado processo de crescimento e
desenvolvimento integral, requeiro:

a. que, confirmando-se as providências tomadas já para a imedi-


ata proteção do menor, seja de imediato provisoriamente aplica-
da a medida de acolhimento em instituição – Centro de Acolhi-
mento Temporário de … –, nos termos das disposições conjuga-
das dos arts. 35.º, n.ºs 1, al.ª f), e 2, 37.º, 91.º e 92.º da L.P.C.J.P.;

b. de seguida, o processo prossiga os seus termos como processo


de promoção e promoção, relativamente ao mencionado menor,
declarando-se aberta a instrução e procedendo-se à sua audição
e dos progenitores;

c. se determine a imediata apensação ao processo judicial de


promoção e proteção do processo que, sob o n.º XX/…, corre
termos na C.P.C.J. de …, face à circunstância de poder existir in-
compatibilidade das decisões que subsequentemente venham a
ter que se tomadas, na sequência do diagnóstico relativo à situa-
ção da criança que vier a ser feito;

d. que, no prazo máximo de seis meses, se proceda à revisão de


tal medida, ao abrigo do disposto no art.º 62.º da referida
L.P.C.J.P., sem prejuízo do disposto no n.º 2 deste último artigo;

e. se designe a Segurança Social como entidade a quem competi-


rá o acompanhamento da execução da medida, tendo presente o
estatuído no art.º 59.º, n.º 3, da L.P.C.J.P.;

f. uma vez que, por força do disposto nos arts. 59.º, n.º 2, e 54.º,
n.º 1 da mencionada Lei, tal medida será dirigida e controlada
por este tribunal, impendendo sobre a referida entidade o dever
de elaborar relatório relativo ao acompanhamento de execução
da medida aplicada, promove-se que se comunique a tal institui-
ção o teor da decisão que vier a ser proferida, com a menção a
que deverá remeter a este tribunal, em tempo útil (ou seja, antes
de decorrido o prazo de seis meses acima aludido), relatório so-
cial relativo ao diagnóstico da situação do menor e à definição do
seu projeto de promoção e proteção;

g. se comunique, de imediato, via fax, ao Centro de Acolhimento


Temporário de …, onde o menor se encontra acolhido, o teor da
decisão que vier a ser proferida;

h. se comunique igualmente à Comissão de Proteção de Crianças


e Jovens de … o teor de tal decisão.

VALOR: € 30.000,01 (trinta mil euros e um cêntimo).

Junta: expediente remetido pelo Centro de Acolhimento Temporário de … e pela C.P.C.J. de


… (num total de 12 folhas), cópia e duplicados legais.

O Procurador da República
MINUTA 4

(Minuta requerimento para procedimento judicial urgente, no quadro da promoção


e proteção de menores, numa situação de necessidade de intervenção médica hospi-
talar urgente recusada pelos pais - hipótese: transfusão de sangue)

URGENTE

Exmo. Sr. Juiz de Direito do


Tribunal de Família e de Menores de …

O Ministério Público vem, nos termos dos artigos 91.º, 92.º, 105.º e 11.º, al.ª c), da
L.P.C.J.P., e tendo também presente o disposto nos artºs 3.º, n.ºs 1 e 2, al.ª c), e 34.º, als. a) e
b), da mencionada Lei n.º 147/99, de 01.09, na redação das Leis n.ºs 31/2003, de 22.08, e
142/2015, de 08.09, requerer a

Instauração de processo de promoção e proteção

Em benefício de:

Pedro.........., com três anos de idade, filho de C............. e de M.........., atualmente inter-
nado no Hospital da Estefânia, em Lisboa,

nos termos e com os fundamentos seguintes:

1.º
O Pedro encontra-se internado na Unidade de Queimados do Hospital D. Estefânia
em Lisboa.
2.º

Devido a queimaduras graves que abrangem 25% da área corporal.

3.º
Necessitando, por isso, de ser sujeito a terapêuticas que incluem transfusões de
sangue.
4.º
Os pais do Ricardo, por motivos religiosos, recusam dar autorização para este tipo
de tratamento.
5.º
Colocando, desse modo, o Ricardo numa situação de perigo atual e concreto para a
sua saúde e integridade física.
6.º
Impõe-se, pois, decretar uma medida de promoção e proteção que permita afastar
tal situação de perigo em que o menor se encontra, proporcionando-lhe de imediato os
cuidados de saúde que promovam e protejam a sua saúde, bem-estar e desenvolvimento
integral.
7.º
Tal medida deverá ser decidida desde já e a título provisório, nos termos previstos
no art.º. 37.º da L.P.C.J.P.
Assim, requer-se a V. Ex.ª:

1 – Seja decretada, desde já, a título provisório, e nos termos dos


art.ºs. 35.º., n.ºs. 1, al.ª f), e 2, 37.º, 49.º, n.º 1,, todos da L.P.C.J.P., a
medida de acolhimento residencial, de curta duração, confiando o
menor ao Hospital D. Estefânia, com autorização expressa para efe-
tuar todos os cuidados terapêuticos que forem considerados neces-
sários para a sua saúde, incluindo transfusões de sangue;

2 – Proferida tal decisão, seja determinado o prosseguimento dos au-


tos como processo judicial de promoção e proteção, nos termos do
disposto no art.º 92.º, n.º 3, da L.P.C.J.P., para o que se requerem as
seguintes diligências:

- Audição dos pais da criança;

- Seja solicitada ao Hospital D. Estefânia Informação urgente


sobre todos os elementos de identificação da criança, bem
como sobre a morada dos pais;

- Seja solicitada ao Hospital da Estefânia informação sobre a


evolução da situação, designadamente da data da alta clínica,
quando for caso disso;

- Se solicite à E.A.T.T.L. (Equipa de Apoio Técnico ao Tribunal


de Lisboa) relatório social sobre a situação familiar, social e
económica da criança e respetiva família.

VALOR: € 30.000,01 (trinta mil euros e um cêntimo).

JUNTAM-SE: Documentos, cópia e duplicados legais

O Procurador da República
A.15. Requerimento de abertura de processo de promoção e de proteção.

URGENTE

Exmo. Sr. Juiz de Direito do

Tribunal de Família e de Menores de…

O Ministério Público, por apenso à Ação de Divórcio n.º …/…, do ….º Juízo (com
apenso A de incumprimento), vem, nos termos dos artigos 11.º, al. c), 34.º, al.ªs a) e b),
73.º, n.º 1, al. b), 105.º, n.º 1, da Lei n.º 147/99, de 01.09, na redação das Leis n.ºs 31/2003,
de 22.08, e 142/2015, de 08.09, requerer a

Instauração de processo de promoção e proteção

Em benefício do menor:

Tomás …,

Nos termos e com os fundamentos seguintes:

1.º

O menor Tomás é filho de Ana Sofia e de Alexandre G.

2.º

O menor Tomás encontra-se confiado à mãe na ação de regulação do exercício das


responsabilidades parentais supraidentificada.

3.º

No dia 22-01-2010 exibiu dois canivetes na sala de aula e aos seus colegas, na Es-
cola …,

4.º

situação esta pontual,

5.º
mas reveladora da instabilidade emocional do menor, o qual tem revelado dificul-
dades ao nível da aprendizagem e no cumprimento das regras da escola,

6.º

estando com frequência levantado na sala de aula e fora do seu lugar,

7.º

Sendo uma criança muito agitada e que normalmente arranja conflitos no recreio
com os colegas.

8.º

O menor dificilmente fazia os trabalhos de casa e mesmo após a inscrição do mes-


mo em ATL, por vezes aparece com os trabalhos de casa por fazer.

9.º

A mãe afirma que se paga o ATL é aí que o mesmo deve fazer os trabalhos de casa,
adotando uma postura de desresponsabilização em relação ao acompanhamento educati-
vo do menor.

10.º

O Tomás chega muitas vezes atrasado à escola, acumulando já algumas faltas.

11.º

Os problemas comportamentais evidenciados pelo Tomás, especialmente ao nível


da sua situação escolar estão relacionados com o conflito latente que existe entre os pais
desde a sua separação, que ocorreu quando a criança tinha 3 anos de idade.

12.º

Na CPCJ foi proposta a formalização de acordo de promoção e de proteção visando


a aplicação da medida de apoio junto dos pais, em que, entre outros compromissos, se fa-
ria alusão à necessidade dos progenitores frequentarem algumas sessões de mediação de
conflitos ou mediação familiar, orientadas pela jurista da CPCJ, com formação especializa-
da nesta matéria, o que foi prontamente rejeitado pela mãe do menor.

13.º

A mãe do menor adota uma postura acusatória em relação ao pai do mesmo, à re-
velia do interesse superior da criança.

14.º

Trata-se de uma mãe muito protetora, mas descomprometida em relação ao acom-


panhamento educativo do menor.

15.º
A mesma dificulta o exercício do direito de visitas por parte do pai do menor, não
obstante se tratar de um verdadeiro direito subjetivo deste último, que sai prejudicado.

16.º

Porém, afirma ser o pai que não visita o filho, dizendo que o mesmo se interessa
mais pela namorada.

17.º

A situação de instabilidade emocional dos pais do menor constituem perigo mani-


festo para o equilíbrio emocional do mesmo.

18.º

A mãe do menor retirou o consentimento para a intervenção da CPCJ da Figueira


da Foz.

19.º

Importa por termo à situação de perigo a que se encontra sujeito o menor.

Nestes termos, requer-se que, Autuado como processo de promoção e proteção, se:

1. Convoquem os pais do menor e este último para declarações;

2. Se aplique a medida de apoio junto da mãe (cf. arts. 39.º e 42.º


da Lei n.º 147/99, de 01.09, na redação das Leis n.ºs 31/2003,
de 22.08, e 142/2015, de 08.09), com regulamentação e aplica-
ção de um efetivo direito de visitas, apoio esse que deverá pas-
sar pelo recurso à mediação familiar e de conflitos, a organizar
pela E.M.A.T., por forma a obviar o perigo imediato em que o
menor se encontra.

VALOR: € 30.000,01 (trinta mil euros e um cêntimo).

JUNTA: 3 documentos e duplicados legais.

O Procurador da República
A.16. Pedido de regresso de menor ao Estado da residência habitual (Hungria)

URGENTE

Exmo. Sr. Juiz de Direito do


Tribunal Judicial de Família e Menores
de …

O Ministério Público, nos termos dos artigos 3.º, n.º 1, al.ª a), do E.M.P., 1.º, al.ªs a)
e b), 2.º, 3.º, 4.º, 5.º, al.ª a), 6.º, 7.º, al.ªs a), b) e f), 11.º, 12.º e 14.º, todos da Convenção dos
Aspetos Civis do Rapto Internacional de Crianças, concluída em Haia, em 25.10.1980, rati-
ficada pelo Estado Português pelo DL n.º 33/83, de 15.05, e pela Hungria, conforme aviso
do MNE, publicado no DR – 1.ª Série A, de 17.07, e artigos 1.º e 2.º do DL n.º 246-A/2001,
de 14.09, artigos 10.º e 11.º do Regulamento (CE) n.º 2201/2003 do Conselho, de
27.11.2003, art.º 1887.º do Código Civil e art.º 28.º do Regime Geral do Processo Tutelar
Cível, vem propor

PROVIDÊNCIA CAUTELAR DE ENTREGA DE MENOR,

COM VISTA AO REGRESSO À HUNGRIA DO MENOR

António…, com residência habitual em …Hungria, e atualmente residente


em …

Contra,

B…,

nos termos e com os fundamentos seguintes:

1.º

(…)

7.º

A deslocação do menor e a sua permanência em Portugal deve considerar-se ilícita


por ofensa do direito de custódia atribuído pelo Tribunal Húngaro…, conforme acima refe-
rido.

8.º

A violação desse direito de custódia, expressamente previsto no art.º 3.º, da citada


Convenção de Haia, impõe que o tribunal adote procedimentos de urgência (cf. art.ºs 2.º e
11.º da Convenção e 11.º, n.º 3, do Regulamento (CE) 2201/2003 do Conselho, de
27.11.2003, com vista ao regresso do menor à sua residência habitual, para que fique à
guarda do tutor.

9.º
Como atrás se referiu, existe manifesto perigo de a progenitora abandonar o nosso
país com o menor para parte incerta de Moçambique, pelo que qualquer contacto prévio
com a mesma irá potenciar tal perigo de fuga.

10.º

Por outro lado, a conduta da progenitora de retirar o menor durante a noite, do


hotel em que se encontrava de férias, sem o consentimento de quem tinha a sua guarda,
torna-se manifesto que a mesma não aceita um regresso voluntário do mesmo.

11.º

Por tais razões a autoridade central de Portugal não desenvolveu quaisquer dili-
gências tendentes a conseguir a reposição voluntária do menor, nos termos do art.º 7.º, al.ª
c), da Convenção de Haia.

Termos em que, D. e A., a presente ação tutelar, de forma a evitar novos danos ao
menor, se requer:

a) Se determine, nos termos do art.º 7.º, al.ª b), da citada


Convenção, conjugado com o art.º 28.º do Regime Geral
do Processo Tutelar Cível e 366.º, n.º 1, parte final, do
Cód. Proc. Civil, aplicável ex vi do art.º 33.º, n.º 1, do Re-
gime Geral do Processo Tutelar Cível, a imediata retirada
do menor à mãe, emitindo-se os competentes mandados,
a serem cumpridos pela entidade policial, em colabora-
ção com a E.M.A.T. (Segurança Social), que confiram per-
missão de entrada, se necessário, na habitação da reque-
rida e possibilitem a condução do menor a um Centro de
Acolhimento ou estabelecimento similar a indicar pela
mesma E.M.A.T., no qual ficará a aguardar pela decisão da
ação;

b) Se determine a inserção dos dados da criança e da sua


mãe no SIS (Sistema de Informação Schengen);

c) A decisão da retirada do menor seja de imediato e logo


que concretizada, notificada à mãe do menor, nos termos
do art.º 366.º, n.º 6, do Cód. Proc. Civil, para que se pro-
nuncie em 10 (dez) dias, ao abrigo dos artigos 13.º, 16.º e
20.º da citada Convenção de Haia e art.º 10.º do Regula-
mento (CE) n.º 2201/2003 do Conselho, de 27.11.2003,
mas sem prejuízo do disposto no art.º 11.º, n.º 8, do refe-
rido Regulamento;

e) Se dispense a audição do menor, ao abrigo do art.º


11.º, n.º 2, do Regulamento (CE) n.º 2201/2003 do Conse-
lho, de 27.11.2003, atenta a sua idade;
d) Se comunique o teor da decisão, via fax, à D.-G.R.S.P. -
autoridade central de Portugal - e E.M.A.T.;

e) A realização de quaisquer diligências tidas por ade-


quadas e pertinentes, com a urgência que a situação
aconselha, tendentes ao regresso do menor ao Estado da
sua residência habitual – Hungria – sob os cuidados e
responsabilidade da D.-G.R.S.P. – autoridade central de
Portugal -, por forma a ser entregue ao respetivo tutor.

Valor: 30.000,01 € (trinta mil euros e um cêntimo)

Junta: …documentos, cópia e duplicados legais.

O Procurador da República

Nota 1: normalmente, deve existir uma fase pré-contenciosa, ao abrigo do art.º 7.º,
al.ª c), da Convenção de Haia de 1980, cujas diligências se devem articular na peti-
ção.

Nota 2: a aplicação da Convenção de Haia de 1980 cessa quando a criança atingir a


idade de 16 anos (art.º 4.º da Convenção). Este limite de idade é também aplicável,
no silêncio do Regulamento (CE) n.º 2201/2003 do Conselho, de 27.11.2003 aos ca-
sos do art.º 11.º

Nota 3: em situações em que não exista perigo de fuga, deve ouvir-se o progenitor
incumpridor na ação, previamente à decisão.

Nota 4: sobre a inadequação do processo de incumprimento do art.º 41.º do Regime


Geral do Processo Tutelar Cível nos casos de pedido de regresso ou de retenção ilíci-
ta, consulte-se o Acórdão da Relação do Porto de 07-04-2011, disponível em
www.dgsi.pt (processo n.º 180/05.9TMMTS-B.P1).

Nota 5: cumpre recordar que os recursos nesta matéria têm efeito meramente devo-
lutivo (cf. art.º 32.º, n.º 4, do Regime Geral do Processo Tutelar Cível e 124.º, n.º 2, da
LPCJP: o efeito do recurso é fixado no Tribunal Recorrido). Por outro lado, não rele-
vam para o cômputo do prazo de 6 semanas mencionado no art.º 11.º, n.º 3, do Regu-
lamento (CE) n.º 2201/2003 do Conselho, de 27.11.2003.

Nota 6: vigora o princípio da audição da criança ou jovem até aos 16 anos, salvo se
tal for considerado inadequado em função da sua idade ou grau de maturidade
(art.º 11.º, n.º 2, do Regulamento (CE) n.º 2201/2003 do Conselho, de 27.11.2003). E
o art.º 13.º da Convenção de Haia de 25 de outubro de 1980 frisa mesmo que a opo-
sição da criança, cuja idade e maturidade justifiquem a consideração das suas opi-
niões, pode fundamentar a decisão de recusa do pedido de regresso.
B. FILIAÇÃO
B.1. Ação Complexa - Investigação de Maternidade e Impugnação de Paternidade
Presumida

Exmo. Sr. Juiz de Direito do


Tribunal de Família e de Menores de …

O Ministério Público, em representação da menor Filipa …, de harmonia com as


disposições conjugadas dos artigos 3.º, n.º 1, al. a), 5.º, n.º 1, al. c), do Estatuto do Ministé-
rio Público, artigos 1814.º, 1822.º, n.º 1, e 1823.º, n.º 1, do Código Civil e 82.º, n.º 1, do Cód.
Proc. Civil, vem intentar contra:

1. Joaquina …; e
2. Lopes …;

Ação Declarativa de Investigação de Maternidade com Impugnação da Paternidade


Presumida, com processo comum e sob a forma única

nos termos e com os fundamentos seguintes:

1.º
Em …/…/…, nasceu Filipa …, na freguesia de …, concelho de ...

2.º
A …/…/…, foi lavrado o assento de nascimento, sob o n.º …., na Conservatória do
Registo Civil da Figueira da Foz, nele se mencionando que a menor é filha da 1ª Ré, Joaqui-
na … e de Lopes … (documento n.º 1)

3.º
A …/…/…, foi lavrado o averbamento nº 1 ao mesmo assento de nascimento, do se-
guinte teor: "A menção de maternidade declarada fica sem efeito por não ser possível noti-
ficar a mãe. Em consequência, fica sem efeito a menção da paternidade” – (Documento nº
1).

4.º
Ora, a 1ª Ré, Joaquina … é, efetivamente a mãe da Autora, Filipa …, pois foi ela que a
deu à luz no dia …/…/…, pelas 4h00, no Hospital …. – conforme documento nº 2, cujo teor
se dá por integralmente reproduzido para todos os efeitos legais.

5.º
Após o nascimento da Autora, a 1ª Ré Joaquina …, sempre se assumiu publicamen-
te como mãe da mesma.

6.º
No meio social e familiar da menor, todos reconhecem Joaquina … como sendo a
sua mãe.

7.º
Aliás, todas as pessoas que os conhecem sabem que a Autora é filha da 1ª Ré, e as-
sim a consideram.

8.º
A 1ª Ré residiu com a menor desde o seu nascimento, alimentando-a, acompa-
nhando-a e velando pela sua segurança, saúde e educação, na qualidade mãe, sendo que
desde agosto de 2005, na rua …, em …

9.º
Até ao ano letivo de 2005/2006, onde a menor esteve inscrita na Escola …, a Ré
sempre matriculou a menor nos estabelecimentos de ensino, que esta frequentava, apre-
sentando-se como sua encarregada de educação.

10.º
Por outro lado, os Réus contraíram casamento um com o outro em …/…/…, em Lis-
boa, o qual ainda não foi dissolvido – Documento nº 3, cujo teor se dá por integralmente
reproduzido para todos os efeitos legais.

11.º
No entanto, não foi fruto das relações sexuais mantidas entre os Réus que Joaquina
… viria a engravidar e a dar à luz a Autora.

12.º
De facto, os Réus cessaram a comunhão de cama, mesa e habitação, desde pelo me-
nos 1984, anos antes do nascimento da Autora, Filipa …

13.º
Não mantendo, a partir daí, qualquer contacto de natureza sexual.

14º
Aliás, o 2º Réu nem sequer conhece a Autora e nunca a tratou como filha.

15.º
Face ao exposto, pretende a Autora ver reconhecida a maternidade, nos termos do
disposto nos artigos 1814º e 1816º, nºs 1 e 2, alínea a), do Código Civil e afastada a pater-
nidade presumida, nos termos do artigo 1823º, nº 1, do Código Civil.

Nestes termos, e nos mais de direito, deve a presente ação ser julgada procedente,
por provada, e, em consequência:

a) Reconhecer-se que a menor Filipa é filha da 1ª Ré, Joa-


quina …;
b) Declarar-se afastada a paternidade presumida do 2º Réu
Lopes … e
c) Ordenar-se que sejam lavrados os consequentes averba-
mentos ao assento de nascimento da mesma menor, em or-
dem a dele ficarem a constar a maternidade por parte da 1ª
Ré, Joaquina ...

PARA TANTO,

Devem os RR ser citados para contestarem, querendo, no prazo e sob legal comina-
ção, seguindo-se os demais termos processuais adequados.

Valor: € 30.000,01 (trinta mil euros e um cêntimo).


Junta: 6 documentos
Prova:
Ao abrigo do disposto no artigo 552.º, n.º 2, do Código de Processo Civil, apresenta, desde
já, o respetivo requerimento de prova:

Rol de Testemunhas:

1. A.
2. B…

testemunhas estas cuja notificação se requer seja realizada pelo Tribunal tendo em vista
a sua comparência em audiência de julgamento (cf. art.º 507.º, n.º 2, do Código de Pro-
cesso Civil).

O Procurador da República
B.2. Impugnação de Maternidade e de Perfilhação e Investigação de Maternidade

Exmo. Sr. Juiz de Direito do


Tribunal de Família e de Menores de …

O Ministério Público vem, em representação da menor Sandra M, residente em …,


nos termos dos arts. 23.º, n.º 1, do Código de Processo Civil, 1.º, 3.º, n.º 1, al. a), e 5º, n.º 1,
al. c), do Estatuto do Ministério Público e arts. 1807.º, 1814.º, 1817.º, n.º 1, e 1859.º, n.º 2,
todos do Código Civil, propor

Ação declarativa sob a forma única,


para impugnação da maternidade e da perfilhação e de investigação da maternida-
de,

contra

-Inês C, solteira, vendedora ambulante, residente em …,


-António F, solteiro, vendedor ambulante, residente em …, e
-Maria A., solteira, doméstica, residente em …,

O que faz nos termos e com os seguintes fundamentos:

1.º
No dia 18 de novembro de 2001, às 19h32m, no Hospital …, nasceu uma menina,
conforme Boletim que se junta como documento 1 e se dá por integralmente reproduzido
para todos os efeitos legais.

2.º
A parturiente e mãe daquela menina, conforme teor do citado documento 1, é a ré
Maria A.

3.º
Após sair daquela instituição de saúde, a ré Maria A entregou a criança aos cuida-
dos da ré Inês C, companheira de um seu irmão, o réu António F, por não ter condições
materiais para cuidar da sua filha.

4.º
Em 6 de dezembro de 2001, a ré Inês C e o seu companheiro, o réu António F, de-
clararam na Conservatória do Registo Civil de … o nascimento da criança filha de Maria A
no dia 25 de novembro de 2001, conforme certidão de assento de nascimento que se junta
como documento 2 e se dá por integralmente reproduzida para todos os efeitos legais.

5.º
Mais declararam ser o pai e a mãe desta criança, à qual puseram o nome de Sandra
M, conforme teor do documento 2.

6.º
A gravidez da ré Maria A é do conhecimento e estava à vista de todos os elementos
da comunidade em que se integrava, familiares, amigos e vizinhos.

7.º
Concomitantemente, é do conhecimento daquela comunidade, bem como de fami-
liares, amigos e vizinhos que a ré Inês C não engravidou durante o ano de 2001.

8.º
É igualmente do conhecimento da comunidade, familiares, amigos e vizinhos que a
menor Sandra M é filha da ré Maria A.

9.º
E também é do conhecimento da comunidade, familiares, amigos e vizinhos que a
menor Sandra M não é filha do réu António F.

10.º
Aliás, realizado exame no Instituto de Medicina Legal de … (cf. doc. n.º 5), aí se con-
cluiu que a análise dos diversos marcadores genéticos de Joaquim M, Maria A e Sandra M:
a) não permite excluir Joaquim M e Maria A como progenitores de Sandra M;
b) a análise estatística conduziu a um índice de filiação IF=152555000000000000
e a uma probabilidade de filiação W=99,9999999999999993%, quando compara-
do este casal com outro ao acaso da população.

11.º
Os réus Inês C e António F, este até ser preso preventivamente em 23 de abril de
2002, tiveram a seu cargo, cuidaram, alimentaram, e educaram a menor Sandra M até ao
dia 11 de novembro de 2003.

12.º
Neste dia, a ré Inês C visitou o réu António P no estabelecimento prisional regional
de …, acompanhada da menor Sandra M, quando no decurso de uma rixa entre elementos
daquela família, a menor foi levada por Joaquim M, companheiro da ré Maria A.

13.º
A menor Sandra M encontra-se atualmente a residir com a ré Maria A e o seu com-
panheiro Joaquim M, na rua …

14.º
Na presente ação é possível, por não existirem os obstáculos previstos na norma
contida no n.º 1 do artigo 37º do Código de Processo Civil, formular os pedidos de impug-
nação e reconhecimento da maternidade, dada a relação de dependência entre os pedidos
e a identidade quanto aos factos de que depende a sua procedência, de acordo com a nor-
ma contida no n.º 2 do artigo 37º do Código de Processo Civil (cf., neste sentido, acórdão
do STJ de 21 de maio de 1992, in BMJ n.º 417, pág. 743 e seguintes).

Termos em que deve a presente ação ser julgada procedente, por provada, e, em
consequência:
a) declarar-se que Inês C e António F não são a mãe e o pai, respetivamente,
de Sandra M,
b) ordenando-se o cancelamento do averbamento de maternidade constan-
te do registo do assento de nascimento tal como o averbamento de paterni-
dade ali existente referente à menor Sandra M; e
c) declarar-se que Maria A é a mãe de Sandra M,
d) ordenando-se a inscrição no assento de nascimento de tal maternidade.

Para tanto, requer-se a V. Exª se digne ordenar a citação dos réus para contestar,
querendo, seguindo-se os ulteriores termos até final.
Valor: € 30.000,01 (trinta mil euros e um cêntimo).
Junta: cinco documentos.

Rol de testemunhas:

1 – Joaquim M, solteiro, residente em …;


2 –H, casado, motorista …, residente em …;

testemunhas estas cuja notificação se requer seja realizada pelo Tribunal tendo em vista
a sua comparência em audiência de julgamento (cf. art.º 507.º, n.º 2, do Código de Pro-
cesso Civil).

O Procurador da República
B.3. Impugnação e Investigação de Paternidade

Exmo. Sr. Juiz de Direito do


Tribunal de Família e de Menores de …

O Ministério Público junto deste tribunal vem, nos termos do n.º 1 do artigo 23.º do
Código de Processo Civil, dos artigos 1838.º, n.ºs 1 e 2, do artigo 1839.º, alínea c) do n.º 1
do artigo 1842.º, n.º 1 e 2 do artigo 1846.º, 1847.º, 1869.º, alíneas c) e e) do n.º 1 do artigo
1871.º e 1873.º todos do Código Civil, da alínea a) do n.º 1 do artigo 3.º, da alínea c) do n.º
1 do artigo 5.º do EMP e do n.º 2 do artigo 36.º do Código de Processo Civil,

Propor,
Em representação do menor

Diogo …,nascido em … e residente com sua mãe, Marina …, em …,

Ação declarativa constitutiva, com processo comum, sob a forma única, para impug-
nação de paternidade presumida e investigação de paternidade

Contra:

- Marina …, mãe do menor, residente em …,


- José Manuel …, casado, residente em …,
- Paula Virgínia …, cônjuge sobrevivo, de Martins …, falecido em 30 de novembro
de 1997, residente em …
- Helena …
E
- Igor José …, filhos menores de Martins …, aqui representados por sua mãe, Paula
Virgínia e com ela residentes em …

O que faz nos termos e com os seguintes fundamentos:

1.º
O menor Diogo … nasceu a …, na freguesia de …, concelho de … e é filho da Ré Ma-
rina, no estado de casada com o 2.º Réu José Manuel.
2.º
Razão pela qual funcionou a presunção legal de paternidade que consta do artigo
1826.º do Código Civil, relativamente ao marido da mãe.

Sucede, porém que


3.º
a Marina e o 2º Réu José Manuel, tendo casado a …/…/… (cf. certidão de nascimen-
to n.º … da Ré Marina que ora se junta), estão separados de facto, desde novembro de
1994.
4.º
Desde 14 de novembro de 1994 que eles não têm entre si quaisquer contactos,
nomeadamente de natureza sexual e, designadamente, nos primeiros 120 dias dos trezen-
tos que precederam o nascimento do Diogo.
5.º
Aliás, desde finais de 1996 que a Ré Marina começou a viver maritalmente com
Martins, em comunhão de cama, mesa e habitação.
6.º
Inicialmente na cidade de … e depois nesta cidade de … e até agosto de 1997, altura
em que se separaram.
7.º
Mantendo com ele relações de cópula completa, designadamente nos primeiros
120 dias dos 300 que precederam o nascimento do Diogo
8.º
Relações de cópula que a Ré Marina não manteve com outro homem que não fosse
Martins, designadamente no período indicado no artigo antecedente,
9.º
Foi na sequência dessas relações de cópula que a Ré Marina ficou grávida do seu fi-
lho Diogo, em fevereiro de 1997, quando mantinha vida em comum com o Martins, menor
que veio a nascer em 13 de novembro de 1997.
10.º
Assim se presumindo que Martins é pai do Diogo, nos termos do previsto nas alí-
neas c) e e) do n.º 1 do artigo 1871º, do Código Civil.
11.º
O Réu José Manuel não esteve presente nem representado no ato de registo do
nascimento do Diogo, nem alguma vez o reconheceu como seu filho.
12.º
Negando até que seja o pai dele.
13.º
As pessoas que os conhecem são unânimes em afirmar que o Diogo não é filho do
José Manuel, mas sim de Martins,
14.º
Sendo certo que o Martins faleceu em 30 de novembro de 1997 (cf. certidão de óbi-
to n.º …, que se junta).
15.º
O Martins faleceu no estado de casado com Paula Virgínia, a 3.ª Ré (cf. certidão de
casamento n.º …, que ora se junta).
16.º
Deste casamento Martins deixou dois filhos menores, a Helena, 4.ª Ré, e o Igor, 5.º
Réu, de 6 e 4 anos, respetivamente (cf. certidões de nascimento nºs … e …, que agora se
juntam).
17.º
A coligação dos RR é consentida pelo disposto no n.º 2 do artigo 36º do Código de
Processo Civil, visto que a provar-se a presunção de paternidade indicada no artigo 9º
desta Petição Inicial, para além do mais articulado, se necessário com recurso aos exames
hematológicos requeridos, se decidem ambas as questões suscitadas nos pedidos formula-
dos.

Nestes termos e nos demais de direito, designadamente, artigos 1798.º e alínea c) e


e) do artigo 1871º do Código Civil, deve a presente ação ser julgada procedente por pro-
vada e, em consequência,

a) declarar-se que o José Manuel não é pai de Diogo,


b) ordenando-se o cancelamento do averbamento de tal paternidade,
c) bem como a referência aos avós paternos no assento de nascimento.
d) Mais se declarando que o Martins é pai do Diogo,
e) ordenando-se o averbamento de tal paternidade,
f) bem com a referência aos avós paternos no assento de nascimento.

Para tanto,
Devem os réus ser citados para contestarem, querendo, seguindo-se os demais
trâmites até final.
Valor: € 30.000,01 (trinta mil euros e um cêntimo).
Junta: sete documentos.
*
Para Prova

1. Por Documentos:
- Certidão de nascimento n.º … do Diogo;
- Certidão de nascimento n.º … de Marina, com o averbamento do seu casamento com José
Manuel;
- Certidão de casamento n.º … de Martins com Paula Virgínia;
- Certidão de nascimento n.º … de Martins;
- Certidão de óbito n.º … de Martins;
- Certidão de nascimento n.º … de Igor José;
- Certidão de nascimento n.º … de Helena Pat.

2. Pericial
Requer-se a realização de exames hematológicos, no Instituto de Medicina Legal de
…, em ordem a que se façam, nas pessoas da 1.ª Ré, Marina Isabel, do 2º Réu, José Manuel,
do menor Diogo, da 4ª Ré, Helena Pat e do 5.º Réu Igor José, determinações nos sistemas
de polimorfismos de ADN para estabelecimento da paternidade do menor.
Requer-se ainda o exame com base no ADN a extrair do falecido Martins que se en-
contra sepultado no cemitério de …

3. Por Testemunhas
a) Ana…
b) Maria…
c) Olga…

testemunhas estas cuja notificação se requer seja realizada pelo Tribunal tendo em vista
a sua comparência em audiência de julgamento (cf. art.º 507.º, n.º 2, do Código de Pro-
cesso Civil).

O Procurador da República
B.4. Ação Oficiosa de Investigação de Paternidade

Exmo. Sr. Juiz de Direito do


Tribunal de Família e de Menores de …

O Ministério Público junto deste Tribunal vem, nos termos dos artigos 3º, n.º 1, al.
p), 5º, n.º 1, al. g), do E.M.P. e artigos 1865.º, n.º 5, e 1868.º do Código Civil, interpor

AÇÃO DECLARATIVA OFICIOSA, SOB A FORMA ÚNICA,


DE INVESTIGAÇÃO DA PATERNIDADE,

contra

- RUI ALEXANDRE …,

o que faz nos termos e com os fundamentos que se seguem:

1.º
A menor Mariana …nasceu a …/…/…, na freguesia de …, concelho de … (cf. certidão
emitida pela Conservatória do Registo Civil de …, que se junta como documento número
um e se dá por integralmente reproduzida) - (Doc. 1).
2.º
A menor foi registada como sendo filha de Maria …, e residente na rua …, em ..., en-
contrando-se a sua paternidade omissa.
3.º
A mãe da menor e o réu Rui Alexandre … mantiveram um relacionamento íntimo,
com relações de cópula completa, durante vários anos, com início por volta de 1995, rela-
cionamento esse que se manteve após o nascimento da menor Mariana.
4.º
Nos primeiros 120 dias dos 300 dias que antecederam o nascimento da menor Ma-
riana, a mãe desta só manteve relações de cópula com o réu.
5.º
Durante tal período de tempo, o réu e a mãe da menor Mariana foram vistos juntos
por várias vezes por Fernanda …, solteira, residente em …, no restaurante onde esta traba-
lhava.
6.º
Na verdade, pelo menos durante o segundo semestre de 2001, a mãe da menor vi-
veu num apartamento sito em …, o qual foi arrendado e mobilado pelo réu.
7.º
As faturas do mobiliário referido no número anterior foram emitidas em nome da
sociedade com a denominação “O..., Lda.”, contribuinte número …, com sede na rua …, em
…, da qual o réu é sócio-gerente, respeitando aos bens a seguir discriminados:
- Quadro (100×50) ABS/PR/BR.239967/100505057;

(Docs. 2 a 6)
8.º
Naquele apartamento o réu passava algumas noites, dormindo no quarto da mãe
da menor, facto que foi presenciado, nomeadamente, por Lurdes …, residente em …, em
setembro de 2001, enquanto ali passava alguns dias de férias.
9.º
Lurdes …presenciou ainda, por várias vezes em que esteve junto do casal, a afirma-
ção feita pelo réu de que gostaria muito de ter um filho com a mãe da menor.
10.º
Já em 1 de fevereiro de 2002, o réu assumiu solidariamente com a mãe da menor
Mariana o cumprimento de todas as cláusulas, seus aditamentos e renovações de um con-
trato de arrendamento de um apartamento sito na rua …, ou seja, foi fiador da mãe da me-
nor no referido contrato
(Doc. 7)
11.º
Após o nascimento da menor Mariana, o réu sempre fez visitas regulares à mesma,
em casa da mãe, sita em …,
12.º
Mantendo com a menor uma relação de grande proximidade e carinho, compran-
do-lhe prendas e revelando uma verdadeira relação pai/filha.
13.º
Em 11 de dezembro de 2002, o réu esteve em casa da mãe da menor e teve a mes-
ma ao colo, deitou-se junto dela e brincou com ela, factos que foram presenciados por
Hermínia …, residente na rua …
14.º
O réu foi apresentado a Tiago …, residente na rua …, como pai da Mariana, apresen-
tação que aceitou e assumiu com orgulho.
15.º
Após tal apresentação, Tiago … viu o réu na casa referida em 7º por várias vezes.
16.º
Ao chegar à referida casa, o réu perguntava sempre pela sua filha, referindo-se com
isso à menor Mariana.
17.º
As pessoas que frequentam a casa da mãe da menor, entre as quais Lurdes …, Tiago
… e Hermínia …, atribuem a paternidade daquela ao réu.
18.º
Face a tudo o que acima ficou exposto, nos termos conjugados dos artigos 1798º e
1871.º, n.º 1, alínea e), do Código Civil, deve presumir-se a paternidade da menor Mariana
por parte do réu.
19.º
Entre o réu e a mãe da menor não existe qualquer relação de afinidade ou paren-
tesco que impeça a propositura da presente ação, nos termos do artigo 1866.º, alínea a),
do Código Civil
(Docs. 8 e 9)
20.º
Junto do 2.º Juízo do Tribunal de Família e Menores de …, correu os seus termos
sob o n.º …/…, processo de averiguação oficiosa da paternidade da menor Mariana, no
âmbito da qual foi proferida decisão no sentido da viabilidade da propositura da presente
ação de investigação

Nestes termos, deve a presente ação ser julgada proce-


dente, por provada, e, consequentemente, ser a menor Mariana
…declarada filha do réu, Rui Alexandre …, averbando-se tal fac-
to ao respetivo assento de nascimento da menor.

Junta:
Os seguintes dez documentos:
Docs….
Valor: € 30.000,01 (trinta mil euros e um cêntimo).

***

Rol de Testemunhas: (...)

testemunhas estas cuja notificação se requer seja realizada pelo Tribunal tendo em vista a
sua comparência em audiência de julgamento (cf. art.º 507.º, n.º 2, do Código de Processo
Civil).

***

Nos termos dos artigos 1801º do Código Civil e 475º, n.º 1, do Código de Processo
Civil, requer-se a realização de exames hematológicos à menor, à sua mãe e ao réu, a efe-
tuar pela Delegação do Centro do Instituto Nacional de Medicina Legal, pretendendo-se
com os mesmos aferir da possibilidade de exclusão da paternidade do réu e, em caso nega-
tivo, qual a probabilidade de tal paternidade.

O Procurador da República
B.5. Ação Declarativa Constitutiva de Impugnação de Perfilhação

MODELO 1

Exmo. Sr. Juiz de Direito da


…ª Secção de Família e de Menores de…
Comarca de …

O Ministério Público, junto deste tribunal, vem nos termos do disposto nos artigos
3.º, n.º 1, al. p), 5.º, n.º 1, al. g), do E.M.P. e artigos 1859.º, nºs. 1 e 2, do Código Civil, inten-
tar,

Ação declarativa constitutiva, sob a forma única,


de impugnação da perfilhação,

Contra:

.Luís Manuel …,

.Guida Elisabete …,
e

.Sílvia Elisabete, nascida a …/…/… (MENOR)…,

o que faz nos termos e com os seguintes fundamentos:

1.º
A menor Sílvia Elisabete, nasceu a 17-07-1998, em …, tendo esse facto sido decla-
rado na Conservatória do Registo Civil de …, pelo que foi lavrado o competente assento de
nascimento, conforme certidão do assento de nascimento que se junta como documento 1
e se dá por integralmente reproduzido para todos os efeitos legais.

2.º
Foi declarante a mãe do menor, e esta foi registada como sendo filha da mesma,
Guida Elisabete (cf. doc. 1).

3.º
No respetivo assento de nascimento ficou ainda a constar a paternidade da menor
(cf. doc. 1), sendo seu pai registral o réu Luís Manuel.

4.º
Contudo, este último não é o pai da menor Sílvia Elisabete.

5.º
Os réus foram submetidos à realização de exames hematológicos no Serviço de
Genética e Biologia Forenses, SGBF-C – Delegação do Centro do Instituto Nacional de Me-
dicina Legal, tendo os resultados do exame excluído a paternidade do réu (cf. doc. 2).

Nestes termos deve a presente ação ser julgada proce-


dente por provada, e, consequentemente, deve ser declarada
sem efeito a perfilhação averbada ao assento de nascimento da
menor Sílvia Elisabete, ordenando-se o cancelamento do aver-
bamento de paternidade constante do mesmo assento de nas-
cimento.

Para tanto, requer-se a V. Ex.ª seja ordenada a citação


dos réus, sendo a menor na pessoa dos seus avós maternos,
Américo Rodrigues e Rosa Maria, residentes …, para, querendo,
contestarem a presente ação, seguindo-se os ulteriores termos
até final.

Valor: € 30.000,01 (trinta mil euros e um cêntimo).


Junta: dois documentos (uma certidão de assento de nascimento, 1 relatório da perícia de
investigação da paternidade).

Requerimento Probatório:

Requer-se o depoimento dos dois primeiros réus, a toda a matéria da petição


inicial, nos termos do art.º 452.º, n.º 2, 453.º, n.º 3, e 454.º, n.º 1, todos do Código
Processo Civil

O Procurador da República
MODELO 2

Exmo. Sr. Juiz de Direito do


Tribunal de Família e de Menores de …

O Ministério Público, junto deste tribunal, vem nos termos do disposto nos artigos
3.º, n.º 1, al. p), 5.º, n.º 1, al. g), do E.M.P. e artigos 1859.º, nºs. 1 e 2, do Código Civil, inten-
tar,

Ação declarativa constitutiva, sob a forma única,


de impugnação da perfilhação,

Contra:

.Mário José…,

.Licínia Margarida…
e

.Luís Alberto, menor de idade, …

o que faz nos termos e com os seguintes fundamentos:

1.º
O menor Luís Alberto nasceu a …/…/…, na freguesia de …, concelho de …, tendo es-
se facto sido declarado na Conservatória do Registo Civil de …, pelo que foi lavrado o com-
petente assento de nascimento, conforme certidão do assento de nascimento que se junta
como documento 1 e se dá por integralmente reproduzido para todos os efeitos legais.
2.º
Foi declarante a mãe do menor, e este foi registado apenas como sendo filho da
mesma, Licínia Margarida, divorciada, residente na rua … (cf. doc. 1).
3.º
No respetivo assento de nascimento ficou omissa a paternidade do menor (cf. doc.
1).
4.º
Em …/…/…, a mãe do menor e o réu Mário José declararam perante a funcionária
da Conservatória do Registo Civil de … ser o réu o pai do menor.
5.º
Face a tal declaração, foi pela mesma funcionária lavrado o averbamento n.º 1 ao
assento de nascimento n.º … do ano de …, do menor Luís Alberto, no qual passou a constar
como sendo pai do menor, Mário José.
6.º
Contudo, Mário José antes do nascimento do Luís Alberto, não teve qualquer rela-
cionamento sexual com a mãe do menor, Licínia Margarida.
7.º
O réu Mário José conheceu a mãe do menor apenas em outubro do ano de …, cerca
de um ano e oito meses depois do nascimento do Luís Alberto.
8.º
O réu conheceu Licínia Margarida em virtude de a mãe daquele, Celeste Maria, ser
empregada doméstica da avó materna do menor.
9.º
O réu desconhece a identidade do pai do menor.
10.º
A mãe do menor, porque o queria batizar, pediu ao réu para declarar na Conserva-
tória do Registo Civil da Figueira da Foz ser o pai do menor.
11.º
Também lhe disse que o pai do Luís Alberto não queria assumir a paternidade des-
te, sendo que por isso não podia batizar o filho.
12.º
O réu assentiu no que a mãe do menor lhe pediu e manifestou a sua disponibilida-
de para perfilhar o filho daquela, o que fez.
13.º
Os réus, foram submetidos à realização de exames hematológicos no Instituto Na-
cional de Medicina Legal de …, no âmbito do inquérito n.º … , que correu termos neste
tribunal, tendo os resultados do exame excluído a paternidade do réu (cf. doc. 2).
14.º
O Ministério Público deduziu acusação pelos factos atrás aludidos contra Mário Jo-
sé e Licínia Margarida, imputando-lhes, em coautoria, o crime de …, do Código Penal, tendo
o tribunal dado como provada a matéria da acusação e condenado estes pela prática do
referido crime, no processo comum singular n.º , que correu termos no … juízo deste tri-
bunal. (cf. doc. 3).

Nestes termos deve a presente ação ser julgada proce-


dente por provada, e, consequentemente, deve ser declarada
sem efeito a perfilhação averbada ao assento de nascimento do
menor Luís Alberto, ordenando-se o cancelamento do averba-
mento de paternidade constante do mesmo assento de nasci-
mento.
Para tanto, requer-se a V. Ex.ª seja ordenada a citação
dos réus Mário José, Licínia Margarida e Luís Alberto, este na
pessoa do seu avô, para, querendo, contestarem a presente
ação, seguindo-se os ulteriores termos até final.

Valor: € 30.000,01 (trinta mil euros e um cêntimo).


Junta: três documentos (uma certidão de assento de nascimento, 1 certidão de sentença
proferida no processo comum singular n.º …, 1 relatório da perícia de investigação da pa-
ternidade do IML de …), cópia e duplicados legais.

Rol de testemunhas: (…)

testemunhas estas cuja notificação se requer seja realizada pelo Tribunal tendo em vista a
sua comparência em audiência de julgamento (cf. art.º 507.º, n.º 2, do Código de Processo
Civil).

O Procurador da República
B.6. Ação de Impugnação de Paternidade Presumida em Representação de Menor

Exmo. Sr. Juiz de Direito do


Tribunal de Família e de Menores de …

O Ministério Público neste tribunal, em representação do menor Vasco Rafael, nos


termos dos arts. 3.º, n.º 1, al. a) e 5.º, n.º1, al. c), do Estatuto do Ministério Público, art.º
23º, n.º 1, do Cód. Proc. Civil, vem propor, nos termos dos arts. 1838.º, 1839.º, n.º1, 1842.º,
n.º 1, al. c) e 1846.º, n.º 1, do Cód. Civil,

AÇÃO DECLARATIVA COMUM, SOB A FORMA ÚNICA,


DE IMPUGNAÇÃO DE PATERNIDADE PRESUMIDA,

contra:

Raquel …;
e
Carlos Alberto…,

Com os seguintes fundamentos:


Em …/…/…, nasceu, em …, o menor Vasco Rafael (Doc. nº1),

Filho de Raquel,

Que, à data da conceção e do nascimento do menor, se encontrava casada com Car-
los Alberto.

A paternidade do réu foi oficiosamente averbada ao assento de nascimento da me-
nor (Doc. nº1).

Porém, o marido da mãe do menor, o Carlos Alberto, não é o pai do menor.

Visto que, desde finais do ano de …, a mãe do menor e o Carlos Alberto estão sepa-
rados, não mais tendo voltado a viver juntos, a encontrarem-se ou a terem relações sexu-
ais.

Nunca tendo o R. Carlos Alberto contactado com o menor, nem o tratado ou assu-
mido como filho.

A mãe do menor vive, desde …, com Vasco José, em comunhão de cama, mesa e ha-
bitação, como se de marido e mulher se tratassem.

Com quem manteve e só com ele manteve relações sexuais de cópula, no período
legal da conceção do menor.
10º
Das quais resultou a gravidez e posterior nascimento do mesmo.
11º
No círculo de relações familiares e de amizade da Ré Raquel o menor é reputado
como sendo filho do Vasco José, a quem a paternidade é atribuída.
12º
Pelo que, nos termos dos arts. 1838.º, 1839.º, n.º 1, 1842.º, n.º 1, al. c) e 1846.º, n.º
1, do Cód. Civil, importa impugnar a paternidade presumida.

Assim, deve a presente ação ser julgada provada e procedente


e, consequentemente, ser declarado que o menor Vasco Rafael não é
filho de Carlos Alberto e se ordene a retificação do assento de nasci-
mento com o respetivo averbamento do qual se faça constar a decisão
de que não é o R. Carlos Alberto considerado o pai do menor.

PARA TANTO,
REQUER-SE A Vª. EX.ª. QUE, D. E A., SE DIGNE MANDAR CITAR OS RR, PARA CON-
TESTAREM, QUERENDO, SEGUINDO-SE OS DEMAIS TRÂMITES LEGAIS ATÉ FINAL.

Valor: € 30.000,01 (trinta mil euros e um cêntimo).


Junta:
- 2 Documentos

Rol de Testemunhas
(…)
testemunhas estas cuja notificação se requer seja realizada pelo Tribunal tendo em vis-
ta a sua comparência em audiência de julgamento (cf. art.º 507.º, n.º 2, do Código de
Processo Civil).

O Procurador da República
B.7. Ação de Impugnação de Paternidade Presumida em Representação de Menor

Exmo. Sr. Juiz de Direito do


Tribunal de Família e de Menores de …

O Ministério Público neste Tribunal, em representação da menor Alexandra Filipa,


nos termos dos artigos 3.º, n.º 1, al. a) e 5.º, n.º1, al. c), do Estatuto do Ministério Público,
artigo 23.º, n.º 1 do Cód. Proc. Civil, vem propor, nos termos dos artigos 1838.º, 1839.º,
n.º1, 1842.º, n.º 1, al. c) e 1846.º, n.º 1, do Cód. Civil,

AÇÃO DECLARATIVA COMUM, SOB A FORMA ÚNICA,


DE IMPUGNAÇÃO DE PATERNIDADE PRESUMIDA

Contra:
- Marta …;
e
- Paulo Alexandre …,

Com os seguintes fundamentos:


Em …/…/… nasceu, na freguesia de …, concelho de Lisboa, Alexandra Filipa, a qual
foi registada na Conservatória do Registo Civil de Lisboa, sob o assento n.º … (documento
nº1),

como filha de Marta,

que, à data da conceção e do nascimento da menor, se encontrava casada com Pau-
lo Alexandre (documento n.º2).

A paternidade do réu foi oficiosamente averbada ao assento de nascimento da me-
nor.

Porém, o marido da mãe da menor, o Paulo Alexandre, não é o pai da menor.

Visto que, desde o ano de …, a mãe da menor e o Paulo Alexandre estão separados,
não mais tendo voltado a viver juntos, a encontrarem-se ou a terem relações sexuais.

Nunca tendo o réu Paulo Alexandre contactado com a menor, nem a tratado ou
assumido como filha.

A mãe da menor vive, desde inícios do ano de …, com Jorge Manuel, em comunhão
de cama, mesa e habitação, como se de marido e mulher se tratassem.

Com quem manteve e só com ele manteve relações sexuais de cópula, no período
legal da conceção da menor.
10º
Das quais resultou a gravidez e posterior nascimento da mesma.
11º
No círculo de relações familiares e de amizade da ré Marta Alexandra a menor é
reputada como sendo filha do Jorge Manuel, a quem a paternidade é atribuída.
12º
Do relatório da perícia de investigação da paternidade resulta uma paternidade
praticamente provada (99,999999987%) relativamente a Jorge Pereira (documento nº3).
13º
Pelo que, nos termos dos artigos 1838.º, 1839.º, n.º 1, 1842.º, n.º 1, al. c) e 1846.º,
n.º 1 do C. Civil, importa impugnar a paternidade presumida.

Assim, deve a presente ação ser julgada provada e procedente


e, consequentemente, ser declarado que a menor Alexandra Filipa não
é filha de Paulo Alexandre e se ordene a retificação do assento de nas-
cimento com o respetivo averbamento do qual se faça constar a deci-
são de que não é o réu Paulo Alexandre o pai da menor.

Para tanto
Requer-se a V. Exa., que, D. e A., se digne mandar citar os réus, para contestarem,
querendo, seguindo-se os demais trâmites legais até final.

Valor: 30.000,01€ (trinta mil euros e um cêntimo).

Junta: 3 documentos.

Rol de Testemunhas:
- M;
- B;
- I;
- A.
testemunhas estas cuja notificação se requer seja realizada pelo Tribunal tendo em vista a
sua comparência em audiência de julgamento (cf. art.º 507.º, n.º 2, do Código de Processo
Civil).

O Procurador da República
B.8. Ação Oficiosa de Investigação de Paternidade (aplicação da Lei Pessoal do réu)

Exmo. Sr. Juiz de Direito do


Tribunal de Família e de Menores de …

O Ministério Público, ao abrigo do disposto nos art.º 3.º, n.º 1, al. p) e 5.º, n.º 1, al.
g) do respetivo Estatuto e artigos 1865.º, n.º 5, e 1868.º do Código Civil, vem propor

Ação oficiosa de investigação da paternidade, sob a forma única, contra:

- Daniel Pedro…, estudante, residente em …, Dakar,


Senegal,

O que faz nos termos e com os seguintes fundamentos:

I - Da Lei aplicável:


O Réu é de nacionalidade Guineense.

Estatui o art.º 25.º do Código Civil que “O estado dos indivíduos, a capacidade das
pessoas, as relações de família e as sucessões por morte são regulados pela lei pessoal
dos respetivos sujeitos (…)” (negrito nosso).

Por seu turno o art.º 31.º, n.º 1, do mesmo diploma prescreve que “a lei pessoal é a
da nacionalidade do indivíduo”, leia-se do Réu.

Assim, in casu, será de aplicar as normas do Código Civil Português de 1966, apro-
vado pelo Decreto-Lei n.º 47344/66, de 25 de Novembro, que regiam a matéria da investi-
gação da paternidade ilegítima (arts. 1824.º e seguintes), ainda vigente na Guiné Bissau, cf.
Doc. n.º 1.

II - Da ação


Em 29 de novembro de 2008, nasceu, na freguesia da …, concelho e distrito de …, o
menor Didier …, cujo assento de nascimento foi lavrado, em 2 de dezembro de 2008, na
Conservatória do Registo Civil de …, nele se omitindo a paternidade e mencionando que o
menor é filho de Crisália S… (cf. doc. n.º 2).

O menor, todavia, também é filho de Daniel Pedro.

Na verdade, o Réu e a mãe do menor mantiveram, desde 2006 até outubro de 2008
um relacionamento íntimo entre si,

No âmbito do qual passaram a manter um com o outro, com regularidade, relações
sexuais de cópula completa.

Foi em consequência de tais relações sexuais que o menor foi gerado.
10º
Durante os primeiros cento e vinte dias dos trezentos que precederam o nascimen-
to do menor, isto é entre 27 de janeiro e 26 de maio de 2008, a mãe deste apenas manteve
relações sexuais com o Réu.
11º
Presumindo-se, desta forma, a paternidade nos termos do art.º 1860.º, n.º 1, alínea
c), e 1866.º do Decreto-Lei n.º 47344/66, de 25 de novembro.
12º
O próprio Réu endereçou à mãe do menor um documento onde reconhece a pater-
nidade (doc. n.º 3).
13º
Documento esse que faz também presumir a paternidade do Réu, nos termos dos
arts. 1796.º, 1860.º, n.º 1, alínea b), e 1866.º do Decreto-Lei n.º 47344/66, de 25 de no-
vembro.
14º
Para além disso, o Réu e a sua família, nomeadamente a mãe e irmãos, consideram
e tratam o Didier como filho daquele primeiro, o que também constitui presunção de pa-
ternidade nos termos do art.º 1860.º alínea a), 1861.º e 1866.º do Decreto-Lei n.º
47344/66, de 25 de novembro.
15º
Entre a mãe do menor e o R. não existem relações de parentesco ou de afinidade
que obstem à propositura da presente ação (artigo 1866.º, al. a) do Decreto-Lei n.º
47344/66, de 25 de novembro) (Doc. n.º 4 e 5).
16.º
A presente ação foi julgada viável por despacho judicial de 10/05/2010, proferido
no processo de averiguação oficiosa de paternidade n.º …, do …Juízo deste Tribunal de…
(doc. n.º 6).

Nestes termos e nos mais de direito, deve a presente


ação ser julgada procedente, por provada, reconhecendo-se o
menor como filho Daniel Pedro…, ordenando-se o averbamen-
to de tal paternidade ao assento de nascimento daquele.

Valor: € 30.000,01 (trinta mil euros e um cêntimos).

Junta: 6 documentos e duplicados legais.

Prova testemunhal:
(…)
testemunhas estas cuja notificação se requer seja realizada pelo Tribunal tendo em vista a
sua comparência em audiência de julgamento (cf. art.º 507.º, n.º 2, do Código de Processo
Civil).

O Procurador da República
C. Autorização Para a Prática de Atos/Suprimento de consentimento

Estando estes processos abrangidos pelo RCP (art.º 2.º) e não existindo qualquer norma
que atribua um regime especial, deverá aplicar-se o regime geral:

a) Pagamento de uma taxa de justiça inicial, tendo em conta as regras da sua determinação
previstas no CPC (aplicável subsidiariamente ex vi art.º 19.º do DL 272/2001) e no RCP,
salvo se o requerente beneficiar de isenção ou apoio judiciário;

b) Pagamento dos encargos nos termos dos artigos 19.º e 20.º do RCP;

c) Elaboração de conta final de acordo com as regras do CPC (aplicável subsidiariamente


ex vi art.º 19.º do DL 272/2001) e do RCP.

A taxa de justiça inicial rege-se pelos artigos 7.º, n.º 1, e Tabela II do Reg. Custas Processu-
ais (último item): 0,75 UC da taxa de justiça normal, ou seja, 102 € x 75% = 76,50 €.

Cumpre ainda atender ao art.º 6.º, n.º 3, do Reg. Custas Processuais (redução em 90% da
taxa de justiça).

Falta de indicação do valor no requerimento inicial:

- recusa pelos serviços: art.º 558.º, al.ª e), e 552.º, n.º 1, al.ª f), ambos do Cód. Proc.
Civil.

- se passou nos serviços, dever-se-á aplicar o art.º 305.º, n.º 3, do Cód. Proc. Civil
que determina que «Quando a petição inicial não contenha a indicação do valor e,
apesar disso, haja sido recebida, deve o autor ser convidado, logo que a falta se-
ja notada e sob cominação de a instância se extinguir, a declarar o valor; nes-
te caso, dá-se conhecimento ao réu da declaração feita pelo autor e, se já tiverem
findado os articulados, pode o réu impugnar o valor declarado pelo autor.»

Falta de pagamento da taxa de justiça inicial:

- recusa pela Secretaria (art.º 558.º, al.ª f), do Cód. Proc. Civil);

Do ato de recusa de recebimento cabe reclamação para o magistrado do Ministério


Público titular do processo (art.º 559.º, n.º 1, do CPC).

O autor pode apresentar outra petição ou juntar o documento a que se refere a


primeira parte do disposto na alínea f) do artigo 558.º, dentro dos 10 dias subse-
quentes à recusa de recebimento ou de distribuição da petição, ou à notificação da
decisão do MP que a haja confirmado, considerando-se a ação proposta na data em
que a primeira petição foi apresentada em juízo.

- não havendo recusa pelos serviços do MP, a lei é omissa – aplicar-se-á o art.º
305.º, n.º 3, do CPC por analogia, conjugadamente com o art.º 560.º do Cód. Proc.
Civil? Isto é, deve o requerente ser convidado, logo que a falta seja notada e
sob cominação de a instância se extinguir, a juntar a autoliquidação da taxa
de justiça no prazo de 10 dias, considerando-se a ação proposta na data em
que a primeira petição foi apresentada em juízo, caso o requerente cumpra o
determinado? Pensamos que sim.
C.1. Despachos

Despacho 1

Processo de Autorização para a prática de atos


n.º

Américo G… e mulher Irene R… intentaram o presente processo de autorização para


venda de bem de menor, nos termos do art. 2.º e seguintes do DL 272/01, de 13 de outu-
bro.
Para tanto alegaram que ao menor pertence a nua propriedade do prédio descrito na
ficha … de … , registada em seu nome, estando o usufruto registado a favor do requerente
marido, e que receberam proposta de aquisição do mesmo por parte de Mário J…, residen-
te em …, pelo valor de … € ( …), sendo … € (…) pela nua propriedade e … € (…) pelo usu-
fruto.
Mais alegam que atentas as características do prédio, composto por terra pobre, pe-
dregosa, coberta de mato e arbustos silvestres, sem aptidão para fins agrícolas e votado ao
abandono há mais de 15 anos, localizado em zona que o P.D.M. não permite construção,
por se integrar em zona agrícola e sem acesso direto a caminho público infraestruturado, e
atento o facto de nem por … € (… euros) terem conseguido, no passado recente, interessa-
dos na aquisição, tal proposta do Mário J… vai de encontro ao interesse superior do menor.
Finalmente esclarecem que o interessado proponente da aquisição pretende abrir uma
rua que sirva futuras construções que vai fazer na área construível daquela zona e que o
requerente marido anuiu já na venda do usufruto que tem registado em seu nome.
Pretendem, pois, autorização para venda da nua propriedade de tal prédio, de que o
menor é titular, pelo valor indicado, a depositar numa conta a prazo de um ano a favor do
menor.
*
Citada a avó materna do menor, Maria R…, parente sucessível mais próximo do menor,
a mesma não contestou o pedido formulado pelos requerentes em representação do me-
nor.
*
O Ministério Público é competente em razão da nacionalidade (artigos 62.º do Código
de Processo Civil, ex vi do artigo 3.º, n.º 1 do Decreto-Lei n.º 272/01, de 13.10, e 3.º do
Estatuto do Ministério Público, aprovado pela Lei n.º 47/86, de 15 de outubro) e matéria
(artigo 2.º, n.º 1, al. b), do Decreto-Lei n.º 272/01, de 13.10, aplicável ex vi do artigo
1889.º/1 a) do Código Civil).
Nos termos do disposto no artigo 122.º do Código Civil, é menor quem ainda não tiver
completado dezoito anos e como tal carece de capacidade para o exercício de direitos (cf.
artigo 123.º do Código Civil)
A sua incapacidade é suprida pelas responsabilidades parentais (artigo 1877.º e
1878.º, ambos do Código Civil).
Nos termos do disposto na al. a) do n.º 1 do artigo 1889.º do Código Civil, os pais não
podem, sem autorização do Tribunal, alienar ou onerar bens, salvo tratando-se de aliena-
ção onerosa de coisas suscetíveis de perda ou deterioração.
O artigo 2.º, n.º 1 do Decreto-Lei n.º 272/01 preceitua que compete em exclusivo ao
Ministério Público a decisão relativamente a tais pedidos.
Conforme resulta de fls. 5, o António R… ainda não atingiu a maioridade.
O processo é isento de nulidades que o invalidem de todo.
As partes são dotadas de personalidade e capacidade judiciária, têm legitimidade para
a ação e estão patrocinadas.
*
Procedeu-se à inquirição das testemunhas arroladas pelos requerentes.

*
Factos Provados:
- Os requerentes são pais do menor Américo R…, nascido a …/…/…, em …;
- Por sentença de …, do … Juízo deste Tribunal Judicial de …, o menor foi confiado à
mãe, cabendo o exercício das responsabilidades parentais aos pais, conforme averbamen-
to ao assento de nascimento do menor;
- Em 28.05.1997 o requerente marido doou ao menor, com autorização da esposa, a
nua propriedade do prédio melhor descrito no artigo 2.º do requerimento inicial (prédio
rústico descrito sob a ficha … de …),
- Que, à data da doação era um bem próprio do requerente, tendo o mesmo reservado
para si o respetivo usufruto;
- Tal prédio é composto por terra pedregosa, coberta de mato e arbustos silvestres,
não sendo agricultado há mais de trinta anos;
- Não se pode construir no local, por força do PDM em vigor;
- O terreno apenas tem interesse para eventual construção de acesso a casas de habi-
tação;
- Mário J…, residente em …, propôs-se adquirir a nua propriedade do prédio em causa
por … € (… euros);
- Os requerentes são tidos por pessoas idóneas e bons pais.

*
Motivação de facto:
Na valorização da prova, antes de mais, foram valorados os elementos constantes dos
documentos autênticos juntos aos autos que, nos termos do artigo 371.º, n.º 1 do Código
Civil, fazem prova plena dos factos que referem como praticados pela autoridade pública
respetiva, não tendo sido ilididos com base na sua falsidade.
Foi ainda tido em consideração os depoimentos das testemunhas indicadas, designa-
damente José … e Gaspar … (identificados a fls. 29 a 30 dos presentes autos, onde foi regis-
tado o respetivo depoimento), já que mostraram que conheciam o prédio em questão des-
de há bastante tempo, realizando um depoimento que se nos afigurou isento, lógico e, por-
tanto, merecedor de confiança para o esclarecimento da verdade.
A testemunha José ... referiu mesmo que alienou prédio rústico situado nas proximida-
des, com uma área de cerca de 1000 (mil) metros quadrados e onde também não se podia
construir, ao Mário J…, tendo recebido pelo mesmo … € (… euros).
A ponderação de tudo o que ficou exposto, na sua conjugação com o depoimento das
testemunhas ouvidas e das regras da experiência comum permitiu o esclarecimento do
Ministério Público no que se refere à factualidade supra mencionada.
Reputa-se também de particular importância para a convicção firmada o facto de o
prédio se situar em Espaço Agrícola de Grau I – Solo da Reserva Agrícola Nacional (RAN),
nele não sendo possível levar a cabo qualquer edificação (cf. documento de fls…).

*
Do direito:
Nos termos do disposto na al. a) do n.º 1 do artigo 1889.º do Código Civil, os pais não
podem, sem autorização do tribunal, alienar ou onerar bens, salvo tratando-se de aliena-
ção onerosa de coisas suscetíveis de perda ou deterioração.
A ratio do preceito é a proteção dos bens dos menores (Moitinho de Almeida, Reforma
do Código Civil, 1981, pg. 148). Com efeito, por força da sua dependência natural e incapa-
cidade de exercício, poderão ser objeto de diligências no sentido de aquisição dos seus
bens por valores inferiores ao mercado.
Conforme refere Castro Mendes (Teoria Geral, 1979, 2.º, pg. 208), quanto à adminis-
tração, os pais exercem-na ex vi do artigo 1878.º, n.º1 do Código Civil e, nessa medida, ali-
enarão os bens cuja alienação seja ato de administração, ainda que não se trate de coisas
móveis suscetíveis de perda ou deterioração. Só quanto aos atos de disposição vale a res-
trição do artigo 1889.º, n.º 1, al. a): só podem alienar (ou onerar) elementos estáveis do
património do filho com autorização do Tribunal.
Tribunal, nesta aceção, tem de ser entendido em sentido amplo, abrangendo não só o
tribunal em sentido estrito, como também o Ministério Público. Conforme expresso no
preâmbulo do Decreto-Lei n.º 272/01, de 13 de outubro (retificado pela Declaração de
Retificação nº 20-AR/2001, de 30 de novembro; alterado pelo DL n.º 324/2007, de 28.09,
Lei n.º 61/2008, de 31.10, e DL n.º 122/2013, de 26.08), que procedeu à transferência da
competência decisória em processos cuja principal ratio é a tutela dos interesses dos inca-
pazes ou ausentes do processo jurisdicional para o Ministério Público.
Assim, dispõe a al. b) do n.º 1 do artigo 2.º do Decreto-Lei citado que é da exclusiva
competência do Ministério Público as decisões relativas a pedidos de autorização para a
prática de atos pelo representante legal do incapaz, quando legalmente exigida.
Ora, resulta da factualidade dada como provada que o valor oferecido pelo imóvel é
justo, tendo em atenção as suas características supraenunciadas, pelo que o deferimento
do requerido acautelará os interesses do menor.

*
F – Decisão

Por tudo o exposto, sendo de concluir, face aos elementos constantes dos autos, pela
justeza da pretensão dos requerentes, ao abrigo do preceituado nos artigos 1889.º, n.º 1,
al. a), do Código Civil e al. b) do n.º 1 do artigo 2.º do Decreto-Lei citado, vai a mesma defe-
rida, autorizando-se os requerentes a vender, em representação do seu filho António R…, a
nua propriedade do prédio rústico sito no lugar de …, freguesia de …, inscrito na matriz
sob o artigo … daquela freguesia e descrito na Conservatória do Registo Predial de … sob a
ficha … de … pelo valor de … € (…euros).
Prazo para a escritura de compra e venda: dois meses.
Uma vez efetuada a venda do imóvel, devem os requerentes no prazo de 15 dias fazer
prova nos autos do depósito de tal valor em conta aberta em nome do menor a prazo não
inferior a um ano.

Notifique.

Custas pelo menor, nos termos do artigo 7.º, n.º 1, do Regulamento das Custas pro-
cessuais («A taxa de justiça nos processos especiais fixa-se nos termos da tabela I, salvo os
casos expressamente referidos na tabela II, que fazem parte integrante do presente Regu-
lamento.») e Tabela II (último item) do Regulamento das Custas processuais: 0,75 UC
de taxa de justiça normal.

Processei, imprimi, revi e assinei o texto, seguindo os versos em branco.

…/…

O Procurador da República
Despacho 2

Processo de Autorização para a prática de atos


n.º

Anotação prévia a este despacho:

É muito contestável a solução que aqui se segue: a da admissibilidade do recurso


ao Decreto-Lei 272/2001, quando a legal representante do menor concorre com
este à herança aberta pela morte do «de cujus», mas em que está em causa não a
alienação/divisão do património hereditário, mas, outrossim, a «troca» da habi-
tação onde ambos residem e que integrava tal acervo (ainda que com recurso
parcial a financiamento bancário).

Todavia, será que a exceção referida no artigo 2.º, n.º 2, al. b), do sobredito di-
ploma, exclui da competência do MP a apreciação de decisões relativas a casos
deste estrito jaez (uma permuta de bem imóvel)? Incluir-se-á tal factologia, nu-
ma leitura interpretativa, na «autorização para outorga de partilha extrajudici-
al»?

Despacho:

Sandra Isabel, progenitora e legal representante do menor Guilherme, intentou o pre-


sente processo de autorização para a prática de atos, ao abrigo do disposto nos artigos
1889.º, n.º 1, al. a), do Código Civil, e 2.º, n.º 1, al. b), do Decreto-Lei n.º 272/2001, de 13 de
outubro, alegando, em síntese, para tanto, que:

- foi casada em comunhão de adquiridos com Luís José, o qual veio a falecer a
15.06.2010, na freguesia de São Martinho do Bispo, concelho de Coimbra;

- deste casamento há um filho menor, Guilherme, nascido a …/…/…, em Sé Nova, Coim-


bra;

- a herança aberta por óbito de Luís José encontra-se por partilhar, sendo certo que este
não deixou testamento ou qualquer disposição de última vontade;

- a requerente e o «de cujus» adquiriram em tempos uma fração autónoma designada


pela letra «G», correspondente ao rés-do-chão, lado Direito, de um apartamento tipo T3,
destinado a habitação, sito na rua …, n.º 32, freguesia de Tavarede, concelho da Figueira da
Foz, inscrito na respetiva matriz sob o artigo … e descrito na 1.ª Conservatória do Registo
Predial da Figueira da Foz sob a Ficha n.º …;

- tal fração constitui a casa de morada de família;


- após o decesso de Luís José, a requerente não consegue viver no espaço que durante
anos haviam partilhado, ficando perturbada, quer emocional, quer psicologicamente, pelas
constantes recordações que vêm à tona;

- neste contexto, diligenciou pela permuta da fração e ajustou, entretanto, a troca da


referida habitação por uma outra;

- esta outra fração trata-se da fração autónoma designada pela letra «C», correspondente
ao rés do chão, lado Esquerdo, entrada B, de um apartamento do tipo T3, destinado à habi-
tação, com uma garagem na cave, sito na rua …, n.º …, na Quinta da Borleteira, freguesia de
Tavarede, concelho da Figueira da Foz, inscrito na respetiva matriz sob o artigo n.º …. e
descrito na 1.º Conservatória do Registo Predial da Figueira da Foz sob a Ficha n.º …;

- o valor de tal permuta é de € 150.000,00 (cento e cinquenta mil euros);

- ora, porque a fração faça parte da comunhão hereditária, não pode a requerente outor-
gar a competente escritura de permuta ou venda, nem assinar quaisquer documentos ine-
rentes ao negócio, nomeadamente na competente Repartição de Finanças e Conservatória
do Registo Predial, sem a necessária autorização.

Neste conspecto, pretende a requerente que seja elaborada decisão no sentido do su-
primento do consentimento do menor para a outorga da escritura e para todos os actos de
registo ou outros que lhe sejam conexos.

Citados a avó materna do menor, Maria de Fátima, num primeiro momento, e os avós
paternos do menor, Francisco Pereira e Rosa Pereira, já em momento posterior – enquanto
parentes sucessível mais próximos, para além da requerente, cujo paradeiro se conheça –,
nos termos e para os efeitos do disposto no artigo 3.º, n.º 3, do Decreto-Lei n.º 272/2001,
de 13 de outubro, os mesmos não contestaram o pedido formulado pela requerente em
representação do menor, nem juntaram quaisquer documentos.

A requerente apresentou prova documental (cf. fls. 4 a 10 verso e 16 e 17).

Foram inquiridas Gracinda Maria (fls. 14 e 15) e Maria Luísa, ambas tias da requerente,
que se revelaram conhecedoras da respetiva dinâmica familiar; a primeira testemunha
esclareceu também alguns pormenores quanto ao negócio que a requerente pretende ce-
lebrar.

O Ministério Público é competente em razão da nacionalidade (artigos 62.º do Código


de Processo Civil, ex vi do artigo 3.º, n.º 1 do Decreto-Lei n.º 272/01, de 13.10, e 3.º do
Estatuto do Ministério Público, aprovado pela Lei n.º 47/86, de 15 de outubro) e matéria
(artigo 2.º, n.º 1, al. b), do Decreto-Lei n.º 272/01, de 13.10, aplicável ex vi do artigo
1889.º/1 a) do Código Civil).
Nos termos do disposto no artigo 122.º do Código Civil, é menor quem ainda não tiver
completado dezoito anos e como tal carece de capacidade para o exercício de direitos (cf.
artigo 123.º do Código Civil)
A sua incapacidade é suprida pelas responsabilidades parentais (artigo 1877.º e
1878.º, ambos do Código Civil).
Nos termos do disposto na al. a) do n.º 1 do artigo 1889.º do Código Civil, os pais não
podem, sem autorização do Tribunal, alienar ou onerar bens, salvo tratando-se de aliena-
ção onerosa de coisas suscetíveis de perda ou deterioração.
O artigo 2.º, n.º 1 do Decreto-Lei n.º 272/01 preceitua que compete em exclusivo ao
Ministério Público a decisão relativamente a tais pedidos.
Nos termos do artigo 939.º do Código Civil (Aplicabilidade das normas relativas à
compra e venda), as normas da compra e venda são aplicáveis aos outros contratos onero-
sos pelos quais se alienem bens ou se estabeleçam encargos sobre eles, na medida em que
sejam conformes com a sua natureza e não estejam em contradição com as disposições
legais respetivas.
Conforme resulta de fls. 5, o Guilherme ainda não atingiu a maioridade.
O processo é isento de nulidades que o invalidem de todo.
As partes são dotadas de personalidade e capacidade judiciária, têm legitimidade para
a ação e estão patrocinadas.
*

Da conjugação dos elementos documentais juntos aos autos e da prova testemunhal nos
mesmos produzida, resultaram os seguintes

Factos Provados:

1. A requerente foi casada em comunhão de adquiridos com Luís José, o qual veio a fale-
cer a 15.06.2010, na freguesia de São Martinho do Bispo, concelho de Coimbra.

2. Deste casamento há um filho menor, Guilherme, nascido a …/……, em Sé Nova, Coim-


bra.

3. A herança aberta por óbito de Luís José encontra-se por partilhar, sendo certo que
este não deixou testamento ou qualquer disposição de última vontade;

4. A requerente e o «de cujus» adquiriram em tempos uma fração autónoma designada


pela letra «G», correspondente ao rés-do-chão, lado Direito, de um apartamento tipo T3,
destinado a habitação, sito na rua …, n.º 32, no Casal da Areia, freguesia de Tavarede, con-
celho da Figueira da Foz, inscrito na respetiva matriz sob o artigo …. e descrito na 1.ª Con-
servatória do Registo Predial da Figueira da Foz sob a Ficha n.º ….

5. Tal fração constitui a casa de morada de família da requerente de seu filho menor Gui-
lherme.

6. Após o decesso ocorrido, a requerente não consegue viver no espaço que durante
anos partilhou com Luís José, sofrendo de problemas psicológico-emocionais por conti-
nuar a habitar numa casa que lhe proporciona inúmeras recordações do cônjuge precoce-
mente falecido.

7. Neste contexto, diligenciou pela permuta da fração e ajustou, entretanto, a troca da


referida habitação por uma outra.

8. Esta outra fração trata-se da fração autónoma designada pela letra «C», corresponden-
te ao rés-do-chão, lado Esquerdo, entrada B, de um apartamento do tipo T3, destinado à
habitação, com uma garagem na cave, sito na Rua Luís Cajão, n.º 21, na Quinta da Borletei-
ra, freguesia de Tavarede, concelho da Figueira da Foz, inscrito na respetiva matriz sob o
artigo n.º 4107 e descrito na 1.º Conservatória do Registo Predial da Figueira da Foz sob a
Ficha n.º 271.

9. O valor de tal permuta é de € 150.000,00 (cento e cinquenta mil euro), a concretizar


da seguinte forma:
- a requerente Sandra Flor cederá, pelo valor de € 60.000,00 (sessenta mil euros), à
«Fozneto Construções, Lda.», NIPC 501642986, com sede na rua … em Buarcos, Figueira da
Foz, a fração autónoma identificada em 4);

- a «Fozneto Construções, Lda», por sua vez dona e legítima proprietária da fração autó-
noma identificada em 8), cederá, à laia de permuta, à requerente Sandra Flor, esta outra
fração;

- a requerente Sandra Flor pagará de tornas a quantia de € 90.000,00 (noventa mil eu-
ros), sendo que, aquando do contrato-promessa de permuta, efetuado, na Figueira da Foz,
a …/…/…, esta entregou já à «Fozneto Construções, Lda.» o montante de € 20.000,00 (vin-
te mil euros), a título de sinal e princípio de pagamento por conta do preço acordado;

- o remanescente do preço, ou seja € 70.000,00 (setenta mil euros), será pago, no ato da
escritura pública, pela requerente Sandra Flor à «Fozneto Construções, Lda.», com recurso
a financiamento bancário;

10. A fração autónoma descrita em 4) fora adquirida em segunda mão.

11. A fração autónoma descrita em 8) trata-se de bem em estado novo.

Existem situações em que, para a concretização de certos atos ou negócios jurídicos, a lei
exige a autorização do Tribunal, como sucede relativamente à venda, pelos pais, de bens
pertencentes a filhos menores.

Com efeito, o artigo 1889.º, n.º 1, alínea a), do Código Civil, determina que “os pais, como
representantes do filho, não podem, sem autorização do tribunal, alienar ou onerar bens,
salvo tratando-se de alienação de coisas suscetíveis de perda ou deterioração”.

Com a entrada em vigor do Decreto-Lei n.º 272/2001, de 13 de outubro, procedeu-se à


transferência da competência decisória relativamente a processos desta natureza do Tri-
bunal para o Ministério Público, quando o que está em causa é a tutela dos interesses dos
incapazes ou ausentes, como sucede in casu.

Assim, a permuta do imóvel supraidentificado depende de autorização, nos termos atrás


indicados, uma vez que um dos comproprietários, Guilherme, é ainda menor e, como tal,
incapaz do exercício de direitos (cf. o artigo 123.º, do Código Civil).

Conjugados os elementos probatórios reunidos nos autos, designadamente tendo em


atenção que a requerente pretende deslocalizar-se com o menor para uma habitação nova
e deixar uma casa de morada de família que lhe vem proporcionando dolorosas recorda-
ções (na sequência do óbito prematuro do cônjuge Luís José de Oliveira Pereira, pai do
menor Guilherme), entendo ser de autorizar a respetiva permuta.

Na verdade, esta permuta afigura-se compatível com o interesse do menor Guilherme


Pereira, já que, sem embargo da necessidade do recurso ao crédito para a habitação, por
banda da recorrente, no ensejo de concretizar o negócio em causa, antolha-se que os
mesmos irão ocupar um imóvel novo situado em zona de reconhecida expansão imobiliá-
ria deste concelho e que, mais tarde, poderá, uma vez ultrapassada a atual conjuntura de
mercado, proporcionar uma valorização dos respetivos ativos; ademais, trata-se de imóvel
que não prejudica, pela sua localização, o acesso do menor à rede de escolas, cuidados de
saúde e de lazer disponíveis na zona urbana da Figueira da Foz; por fim, o novo imóvel
obtido em resultado da permuta irá ser utilizado no interesse de ambos.

*
Pelo exposto, considerando os elementos de prova reunidos nos autos e ao abrigo
do disposto na alínea b) do n.º 1 do artigo 2.º, do Decreto-Lei n.º 272/2001, de 13 de outu-
bro, e por entender que o mesmo se reputa como necessário, justificado e compatível com
os interesses do menor Guilherme, autorizo:

● o suprimento do consentimento do menor Guilherme para a outorga da escritura de


permuta relativa à fração autónoma designada pela letra «G», correspondente ao rés-do-
chão, lado Direito, de um apartamento tipo T3, destinado a habitação, sito na rua …, inscri-
to na respetiva matriz sob o artigo …. e descrito na 1.ª Conservatória do Registo Predial da
Figueira da Foz sob a Ficha n.º …, pela fração autónoma designada pela letra «C», corres-
pondente ao rés-do-chão, lado Esquerdo, entrada B, de um apartamento do tipo T3, desti-
nado à habitação, com uma garagem na cave, sito na rua …, freguesia de Tavarede, conce-
lho da Figueira da Foz, inscrito na respetiva matriz sob o artigo n.º …. e descrito na 1.º
Conservatória do Registo Predial da Figueira da Foz sob a Ficha n.º …;

● o suprimento do consentimento do menor Guilherme Flor de Oliveira Pereira para


todos os atos de registo ou autorização que sejam conexos com a sobredita outorga da
escritura de permuta.

Destarte:

Deverá a requerente, uma vez celebrada a outorga da escritura de permuta e efetuados


os atos de registo subsequentes, os quais terão de ser agilizados em 6 (seis) meses, com-
provar, nestes autos, a sua realização, bem como as condições concretas em que foram
efetuados.

Custas pelo menor, nos termos do artigo 7.º, n.º 1, do Regulamento das Custas
processuais («A taxa de justiça nos processos especiais fixa-se nos termos da tabela I,
salvo os casos expressamente referidos na tabela II, que fazem parte integrante do presen-
te Regulamento.») e Tabela II (último item) do Regulamento das Custas processuais:
0,75 UC de taxa de justiça normal.

Notifique a requerente e o seu Ilustre Mandatário.

Local/Data
(Despacho processado a computador e revisto integralmente pelo signatário).

O Procurador da República
Despacho 3

Processo de Autorização Judicial n.º

A – Relatório
*
Helena Maria, em …/…/…, intentou o presente processo de autorização judicial
para venda de bens de menores, nos termos do art. 2º e ss. do DL 272/01, de 13 de outu-
bro.
Para tanto alegou que:
- na qualidade de legal representante da sua filha Hanna Mónica, de 12 anos de
idade, consigo residente, pretende alienar a quota parte indivisa do prédio ur-
bano propriedade da menor;
- esta quota parte do prédio, adveio à propriedade da sua filha menor através de
escritura de doação, outorgada no dia …/…/… no 1.º Cartório Notarial da Fi-
gueira da Foz;
- doação esta outorgada por uma tia da ora requerente, de nome Judite M., a qual
fez uma doação à Helena do usufruto do referido prédio, à menor Hanna de ½
da nua propriedade desse prédio e a um outro filho da ora requerente de nome
Marco Alexandre, da outra metade da nua propriedade desse mesmo prédio;
- este prédio urbano tem somente 24 m2 de superfície coberta e não reúne con-
dições de habitabilidade para si e para a sua filha menor Hanna;
- o outro filho da ora requerente, de nome Marco Alexandre, comproprietário de
½ da nua propriedade do referido prédio é solteiro e maior;
- por não ter espaço na casa da mãe, foi-lhe cedido em comodato um pequeno
andar arrendado, sito no Bairro …, Bloco 4, rés do chão dt.º, na Figueira da Foz.
- ora, a casa doada, situa-se numa zona nobre da Figueira da Foz, no chamado
Bairro Novo, que é o coração da cidade;
- situa-se perto do Casino, numa rua pedonal, onde existem vários cafés, bares e
restaurantes;
- para viver é uma zona (especialmente no Verão e em todos os fins de semana
do ano) muito barulhenta, mas dada a sua situação, a casa tem um valor co-
mercial – dado o fim a que pode ser destinada – muito superior ao seu valor
real.
- pretende vender essa casa e comprar uma outra, numa zona da cidade menos
nobre, mas onde, além de conseguir ter outras condições habitabilidade, tenha
melhor qualidade de vida e mais espaço;
- foram consultadas várias agências imobiliárias, no sentido de avaliarem o bem
em apreço e os valores por elas referidos situam-se cerca dos € 124 600.
- a casa a adquirir seria comprada nas mesmas proporções daquela que preten-
de vender, isto é, ½ da nua propriedade em nome da menor, metade da nua
propriedade em nome do seu filho Marco e o usufruto para a requerente.
- o ato, cuja realização se pretende, visa satisfazer uma necessidade urgente e é
de proveito evidente para a menor, além de ser também proveitoso para os
demais comproprietários alienantes.
- de acordo com a Regulação do Exercício das Responsabilidades Parentais que
correu termos pelo … Juízo, sob o n.º 188/97, do Tribunal Judicial da Figueira
da Foz, detém o exercício das responsabilidades parentais.
Face a este elementos, a requerente pretende que lhe seja autorizada a venda de ½
da nua propriedade do prédio descrito, de que é titular a sua filha menor Hanna, pela
quantia não inferior a € 31 150, montante este que após se efetuar a venda ficaria deposi-
tada na Caixa Geral de Depósitos a favor da menor, até a requerente comprovar que vai
adquirir nova habitação, nas proporções referidas ou, autorizar a requerente para proce-
der à negociação e permuta do referido prédio, por uma habitação que reúna as condições
necessárias de habitabilidade ao seu agregado familiar, caso a hipótese de uma permuta se
venha a realizar.
Citados os parentes sucessíveis mais próximos da menor, os mesmos não contesta-
ram o pedido formulado pela requerente.
Procedeu-se à avaliação do bem em causa, encontrando-se o respetivo relatório a
fls. 66 a 69, tendo sido avaliado o imóvel pelo perito indicado em € 97 650,00 (noventa e
sete mil, seiscentos e cinquenta euros).
*
O Ministério Público é competente em razão da nacionalidade (artigos 62.º do Có-
digo de Processo Civil, ex vi do artigo 3.º, n.º 1 do Decreto-Lei n.º 272/01, de 13.10, e 3.º
do Estatuto do Ministério Público, aprovado pela Lei n.º 47/86, de 15 de outubro) e maté-
ria (artigo 2.º, n.º 1, al. b), do Decreto-Lei n.º 272/01, de 13.10, aplicável ex vi do artigo
1889.º/1 a) do Código Civil).
Nos termos do disposto no artigo 122.º do Código Civil, é menor quem ainda não
tiver completado dezoito anos e como tal carece de capacidade para o exercício de direitos
(cf. artigo 123.º do Código Civil)
A sua incapacidade é suprida pelas responsabilidades parentais (artigo 1877.º e
1878.º, ambos do Código Civil).
Nos termos do disposto na al. a) do n.º 1 do artigo 1889.º do Código Civil, os pais
não podem, sem autorização do Tribunal, alienar ou onerar bens, salvo tratando-se de
alienação onerosa de coisas suscetíveis de perda ou deterioração.
O artigo 2.º, n.º 1 do Decreto-Lei n.º 272/01 preceitua que compete em exclusivo
ao Ministério Público a decisão relativamente a tais pedidos.
O processo é isento de nulidades que o invalidem de todo.
As partes são dotadas de personalidade e capacidade judiciária, têm legitimidade
para a ação e estão patrocinadas.
A Hanna Mónica nasceu a …/…/…. Ainda não atingiu, pois, a maioridade, já que tem
apenas 13 anos de idade.
O processo é isento de nulidades que o invalidem de todo.
As partes são dotadas de personalidade e capacidade judiciária, têm legitimidade
para a ação e estão patrocinadas.
*
Realizaram-se as seguintes diligências:
a) citação dos parentes sucessíveis mais próximos da menor;
b) inquirição das testemunhas Carlos Francisco, Maria Helena Simões e Marco Ale-
xandre (cf. fls. 49 dos autos)
c) nomeação como perito do arquiteto Rui Manuel para avaliação do bem imóvel
constante do requerimento e junção do respetivo relatório.

*
B - Factos Provados
1. Hanna Mónica é filha da requerente Helena Maria (cf. certidão de nasci-
mento de fls. 25.
2. Na presente data, Hanna, tem menos de 18 anos de idade – nasceu em 24
de julho de ….
3. O exercício das responsabilidades parentais encontra-se entregue à mãe
da menor (cf. fls. 31 a 34).
4. A menor tem como pai Benedict Charles.
5. O imóvel de que a menor é comproprietária é composto de rés-do-chão
destinado a comércio e 1.º andar sito na Rua de S. Lourenço n.º … Figuei-
ra da Foz, inscrito na matriz urbana da freguesia de … sob o artigo n.º ….
e descrito na 1.ª Conservatória do Registo Predial na ficha n.º … de …,
onde se encontra a favor da menor Hanna (a sua quota parte) através da
inscrição G-4 (cf. folhas 11 a 18).
6. Esta quota-parte do prédio, adveio à propriedade da sua filha menor
através de escritura de doação, outorgada no dia …/…/… no 1.º Cartório
Notarial da Figueira da Foz (cf. fls. 19 a 23).
7. Esta doação foi outorgada por uma tia da ora requerente, de nome Judi-
te, a qual fez uma doação à Helena do usufruto do referido prédio, à me-
nor Hanna de ½ da nua propriedade desse prédio e a um outro filho da
ora requerente de nome Marco Alexandre, da outra metade da nua pro-
priedade desse mesmo prédio.
8. O prédio urbano tem somente 24 m2 de superfície coberta e não reúne
condições de habitabilidade para si e para a sua filha menor Hanna.
9. O outro filho da ora requerente, de nome Marco Alexandre, comproprie-
tário de ½ da nua propriedade do referido prédio é solteiro e maior.
10. Por não ter espaço na casa da mãe, foi-lhe cedido em comodato um pe-
queno andar arrendado, sito no Bairro …, na Figueira da Foz.
11. A casa doada, situa-se numa zona nobre da Figueira da Foz, no chamado
Bairro Novo, que é o coração da cidade.
12. Situa-se perto do Casino, numa rua pedonal, onde existem vários cafés,
bares e restaurantes.
13. Considerando a implantação no local, a área do imóvel, a existência de
rede de águas, de eletricidade, de saneamento e telefónica, de ilumina-
ção pública, as acessibilidades aí existentes, a qualidade ambiental do lo-
cal, o estado do prédio imóvel, as possibilidades de construção previstas
no âmbito respetivo P.D.M., bem como a imagem associada à zona do
Bairro Novo, Figueira da Foz, foi pelo perito atribuído como valor de
mercado a quantia de € 97 650.
*
C - Motivação de facto
Na valorização da prova, antes de mais, foram valorados os elementos constantes
dos documentos autênticos juntos aos autos que, nos termos do art.º 371.º/1 do Código
Civil, fazem prova plena dos factos que referem como praticados pela autoridade pública
respetiva, não tendo sido ilididos com base na sua falsidade.
Foi ainda tido em consideração os depoimentos das testemunhas indicadas, desig-
nadamente Carlos Francisco, Maria Helena, Marco Alexandre, bem como as declarações da
avó materna da menor Maria Manuela (todos identificados a fls. 49 dos presentes autos),
já que, não obstante serem pessoas próximas da Requerente, mostraram que conheciam o
prédio em questão desde há bastante tempo, realizando um depoimento que se nos afigu-
rou isento e portanto merecedor de confiança para o esclarecimento da verdade.
As testemunhas acabadas de referir com razão de ciência devidamente controlada,
depuseram de forma consentânea, objetiva e sem reparos, evidenciando conhecimento
direto dos factos sobre que depuseram e merecendo dessa forma, no que se refere aos
mesmos, a credibilidade do tribunal.
A ponderação de tudo o que ficou exposto, na sua conjugação com o depoimento
das testemunhas ouvidas e das regras da experiência comum permitiu o esclarecimento
do Ministério Público no que se refere à factualidade supra mencionada. Reputa-se tam-
bém de particular importância para a convicção firmada a perícia realizada, a qual permi-
tiu fazer uma análise circunstanciada e conhecedora do imóvel objeto do presente pedido
de autorização. Elenca os critérios que utilizou na avaliação e que correspondem a índices
objetivos do mercado. Por outro lado, é pessoa de reconhecida idoneidade, tendo sido in-
dicada por uma entidade independente (Câmara Municipal da Figueira da Foz), tendo uma
relação diária com o mercado imobiliário, sendo de credibilizar plenamente o seu relatório
pericial.
*
D - Questão a decidir nos presentes autos
1ª - autorização de venda do imóvel de que Hanna Mónica é comproprietária.
*
E - Fundamentação de Facto
Nos termos do disposto no art.º 122.º do Código Civil é menor quem ainda não
tiver completado 18 anos. Tendo Hanna Mónica nascido em …/…/…, a sua incapacidade de
exercício é suprida pelas responsabilidades parentais – arts. 124.º, 1877.º e 1878.º, todos
do Código Civil.
Nos termos do disposto na al. a) do n.º 1 do art.º 1889.º do Código Civil, os pais não
podem, sem autorização do tribunal, alienar ou onerar bens, salvo tratando-se de aliena-
ção onerosa de coisas suscetíveis de perda ou deterioração.
A ratio do preceito é a proteção dos bens dos menores (Moitinho de Almeida, Re-
forma do Código Civil, 1981, pg. 148). Com efeito, por força da sua dependência natural e
incapacidade de exercício, poderão ser objeto de diligências no sentido de aquisição dos
seus bens por valores inferiores ao mercado.
Conforme refere Castro Mendes (Teoria Geral, 1979, 2.º, pg. 208), quanto à admi-
nistração, os pais exercem-na ex vi 1978.º/1 e nessa medida alienarão os bens cuja aliena-
ção seja ato de administração, ainda que não se trate de coisas móveis suscetíveis de perda
ou deterioração (v.g. pedras de uma pedreira). Só quanto aos atos de disposição vale a
restrição do art.º 1889.º/1 a): só podem alienar (ou onerar) elementos estáveis do patri-
mónio do filho com autorização do Tribunal.
Tribunal, nesta aceção, tem de ser entendido em sentido amplo, abrangendo não só
o tribunal em sentido estrito, como também o Ministério Público. Conforme expresso no
preâmbulo do DL 272/01, de 13 de outubro, sujeito à Declaração de Retificação n.º 20-
AR/2001, DR de 30 de novembro (suplemento), este diploma procedeu à transferência da
competência decisória em processos cuja principal ratio é a tutela dos interesses dos inca-
pazes ou ausentes do processo jurisdicional para o Ministério Público.
Assim, dispõe a al. b) do n.º 1 do art.º 2.º que é da exclusiva competência do Minis-
tério Público as decisões relativas a pedidos de autorização para a prática de atos pelo
representante legal do incapaz, quando legalmente exigida.
Ora, da factualidade dada como provado resultou inequivocamente provado que o
domicílio onde a menor reside com a mãe oferece condições de habitabilidade algo precá-
rias. Porém, em momento algum do processo se fez qualquer menção da existência de uma
proposta de compra do imóvel, nem sequer do interesse de algum eventual comprador
para o mesmo. Bem como não se avançaram quaisquer valores que tenham sido oferecidos
para uma futura aquisição. Por outro lado, ao arrepio do que vem alegado, também nunca
se menciona que imóvel a mãe da menor estaria interessada em adquirir com o dinheiro
proveniente da venda do imóvel que agora se pretende obter autorização. De igual modo,
não se concretiza este pedido de autorização judicial em nenhum negócio imobiliário de
troca da presente fração por um outro imóvel que oferecesse melhores condições de habi-
tabilidade para a menor, e assim sendo, se coadunasse com o interesse desta criança.
Importa ainda referir que, e uma vez que estamos perante um processo de jurisdi-
ção voluntária, havendo um interesse fundamental tutelado pelo direito, mas que ao Mi-
nistério Público cumpre regular nos termos mais convenientes8, procedeu-se à notificação
da requerente para que viesse indicar nos autos a habitação que pretende adquirir, por
que valor e qual a sua localização, uma vez que só na posse destes elementos se tornaria
possível aquilatar da bondade da pretensão da requerente, atento sempre o superior inte-
resse da criança. Nesta sequência, Helena Maria veio requerer que lhe fosse concedido um
prazo não inferior a 60 dias, pois ainda não concretizou nenhum negócio para a venda da
casa objeto dos autos. Decorrido esse prazo e respetivas prorrogações mais nenhuma in-
formação foi trazida aos autos, o que nos permite concluir que a situação se mantém inal-
terada.
Os dados do problema, conforme nos são apresentados, expressam-se de forma
pouco consistente, desacompanhada de dois elementos essenciais para a prolação de uma
decisão sustentada, designadamente: elementos respeitantes à proposta de compra do
imóvel de que versam os presentes autos e a descrição pormenorizada do imóvel que a
requerente pretende comprar para aí passar a habitar com a sua filha Hanna, menor de
idade. Só na posse destes elementos, o Ministério Público estaria em condições de se pro-
nunciar sobre a nobreza de uma tal permuta para os interesses deste agregado familiar,
maxime da menor, sob pena de estar a sufragar uma intenção temerária que não acautela-
ria o património e bem-estar desta criança que aqui se pretende proteger.
A não ser assim, com o presente processo de autorização judicial, estar-se-ia a as-
sinar uma carta em branco, permitindo ao requerente que procedesse segundo o seu livre
arbítrio, destituído de qualquer controlo. Ora, não foi nestes termos que o legislador pre-
viu este regime, tornando-se necessário, aquando do pedido de autorização que se juntem
todos os dados inerentes à compra e venda que se pretende ver autorizada.
Considerando todas estas circunstâncias de facto, há que concluir que inexistem
elementos que permitam concluir que existe uma vantagem a favor da menor caso o bem
seja de facto vendido, na medida em que não se mostram salvaguardados os interesses da
menor, a que se reporta o art.º 1889.º/1 a) do Código Civil, sobretudo por falta de apresen-
tação de elementos essenciais à boa decisão da causa.
*
F - Decisão
Pelo exposto, julgo o presente processo improcedente, por não provado e conse-
quentemente:
a) não se autoriza a venda de ½ da nua propriedade do prédio descrito no art.º
1.º do requerimento inicial

8
Para um maior desenvolvimento na perspetiva processual vide, Antunes Varela, Manual de
Processo Civil, pág. 69.
b) não se autoriza a requerente que proceda à negociação e permuta do referido
prédio, por uma habitação que reúna as condições necessárias de habitabilida-
de ao seu agregado familiar, caso a hipótese de uma permuta se venha a viabi-
lizar.
*
Custas pela menor, nos termos do artigo 7.º, n.º 1, do Regulamento das Custas
processuais («A taxa de justiça nos processos especiais fixa-se nos termos da tabela I,
salvo os casos expressamente referidos na tabela II, que fazem parte integrante do presen-
te Regulamento.») e Tabela II (último item) do Regulamento das Custas processuais:
0,75 UC de taxa de justiça normal.
*
Notifique.
*
Local/data
Processei, imprimi, revi e assinei o texto, seguindo os versos em branco.

O Procurador da República
Despacho 4

Processo de Autorização Judicial n.º

A – Relatório
*
Luís Florindo, em representação da menor, Maria Ribeiro Paula, nascida a …/…/…,
intentou o presente processo de autorização judicial para a partilha extrajudicial do acer-
vo hereditário jacente por óbito de José Mesquita Ribeiro, nos termos do art.º 2.º e ss. do
DL 272/01, de 13 de outubro.
Para tanto alegou que:
- na qualidade de legal representante da sua filha Maria Ribeiro Paula, de 8 anos
de idade, consigo residente, pretende que se autorize a partilha extrajudicial da
herança aberta por óbito de José Mesquita Ribeiro;
- José Mesquita Ribeiro, que era natural da freguesia de Lavos, onde teve a sua
última residência no lugar de Costa de Lavos, faleceu em …/…/…, sem deixar
testamento ou qualquer outra disposição de última vontade, no estado de viú-
vo de Maria de Jesus Vieira Mesquita;
- Como seus únicos e universais herdeiros, deixou Natália Maria Mesquita Ribei-
ro, id. a fls. 14, Helena Maria, id. a fls. 11, e Alzira Mesquita Ribeiro, solteira,
maior, falecida em …/…/…, tendo-lhe sucedido, a sua filha menor, de 8 anos de
idade Maria Ribeiro Paulo;
- José Mesquita Ribeiro deixou herança constituída por um único bem imóvel –
Casa de Habitação de rés-do-chão e 1.º andar, sita em Costa de Lavos, inscrita
na matriz urbana da freguesia de Lavos, sob o art.º …., com o valor patrimonial
de € 279, 85 (duzentos e setenta e nove euros e oitenta e cinco cêntimos);
- é de grande interesse e deveras vantajoso para os interessados, se convencio-
nar, agora, a partilha dos bens da aludida herança, formalizando-a validamente
por via notarial.
*
Face a estes elementos, o requerente pretende que seja autorizado que se conven-
cione, por via notarial, a partilha, nos termos legais, dos bens deixados por óbito de José
Mesquita Ribeiro, falecido em …/…/…, na freguesia de Santo António dos Olivais – Coim-
bra, natural da freguesia de Lavos, onde teve a sua última residência habitual.
Citado o parente sucessível mais próximo da menor, o mesmo não contestou o pe-
dido formulado pelo requerente.
*
O Ministério Público é competente em razão da nacionalidade (artigos 62.º do Có-
digo de Processo Civil, ex vi do artigo 3.º, n.º 1 do Decreto-Lei n.º 272/01, de 13.10, e 3.º do
Estatuto do Ministério Público, aprovado pela Lei n.º 47/86, de 15 de outubro) e matéria
(artigo 2.º, n.º 1, al. b), do Decreto-Lei n.º 272/01, de 13.10, aplicável ex vi do artigo
1889.º/1 a) do Código Civil).
Nos termos do disposto no artigo 122.º do Código Civil, é menor quem ainda não
tiver completado dezoito anos e como tal carece de capacidade para o exercício de direitos
(cf. artigo 123.º do Código Civil)
A sua incapacidade é suprida pelas responsabilidades parentais (artigo 1877.º e
1878.º, ambos do Código Civil).
Nos termos do disposto na al. a) do n.º 1 do artigo 1889.º do Código Civil, os pais
não podem, sem autorização do Tribunal, alienar ou onerar bens, salvo tratando-se de
alienação onerosa de coisas suscetíveis de perda ou deterioração.
O artigo 2.º, n.º 1 do Decreto-Lei n.º 272/01 preceitua que compete em exclusivo
ao Ministério Público a decisão relativamente a tais pedidos.
O processo é isento de nulidades que o invalidem de todo.
As partes são dotadas de personalidade e capacidade judiciária, têm legitimidade
para a ação e estão patrocinadas.
A Maria Ribeiro Paula nasceu a …/…/…. Ainda não atingiu, pois, a maioridade, já
que tem apenas 8 anos de idade.
O processo é isento de nulidades que o invalidem de todo.
As partes são dotadas de personalidade e capacidade judiciária, têm legitimidade
para a ação e estão patrocinadas.
*
Realizaram-se as seguintes diligências:
a) citação do parente sucessível mais próximo da menor;
b) inquirição das testemunhas Natália Maria e Helena Maria (cf. fls. 20 dos autos).

*
B - Factos Provados
1. Maria Ribeiro Paulo é filha única de Alzira Mesquita Ribeiro, falecida no
dia …/…/… (cfr. certidão de nascimento de fls. 16 e certidão de assento
de óbito de fls. 17)
2. Na presente data, Maria Paula, tem menos de 18 anos de idade – nasceu
em …/…/… (cf. fls. 16).
3. A menor tem como pai o requerente Luís Florindo, o qual sobre a menor
exerce as responsabilidades parentais (certidão de nascimento de fls.
16);
4. José Augusto Mesquita, que era natural da freguesia de Lavos, onde teve
a sua última residência no lugar de Costa de Lavos, faleceu em …/…/…,
sem deixar testamento ou qualquer outra disposição de última vontade,
no estado de viúvo de Maria de Jesus Vieira Mesquita (certidão de óbito
de fls. 15)
5. Como seus únicos e universais herdeiros, deixou Natália Maria Mesquita
Ribeiro Dionísio Penedo, id. a fls. 14, Helena Maria Vieira Ribeiro, id. a
fls. 11 e Alzira Mesquita Ribeiro, solteira, maior, falecida em …/…/…,
tendo-lhe sucedido, a sua filha menor, de 8 anos de idade Maria Ribeiro
Paulo;
6. José Mesquita Ribeiro deixou herança constituída por um único bem
imóvel – Casa de Habitação de rés-do-chão e 1.º andar, sita em Costa de
Lavos, inscrita na matriz urbana da freguesia de Lavos, sob o art.º ….,
com o valor patrimonial de € 279, 85 (duzentos e setenta e nove euros e
oitenta e cinco cêntimos) - doc. de fls. 3 a 9;
7. é de grande interesse e deveras vantajoso para os interessados, se con-
vencionar, agora, a partilha dos bens da aludida herança, formalizando-a
validamente por via notarial.

*
C - Motivação de facto
Na valorização da prova, antes de mais, foram valorados os elementos constantes
dos documentos autênticos juntos aos autos que, nos termos do art.º 371.º/1 do Código
Civil, fazem prova plena dos factos que referem como praticados pela autoridade pública
respetiva, não tendo sido ilididos com base na sua falsidade.
Foi ainda tido em consideração os depoimentos das testemunhas indicadas, desig-
nadamente Natália Dionísio Penedo e Helena Maria Vieira Ribeiro (identificadas a fls. 21
dos presentes autos), já que, não obstante serem pessoas com interesse nos presentes
autos, mostraram que conheciam o imóvel em questão desde há bastante tempo, bem co-
mo a situação pessoal da menor, realizando um depoimento que se nos afigurou isento e
portanto merecedor de confiança para o esclarecimento da verdade, corroborando inte-
gralmente os factos alegados pelo requerente.
As testemunhas acabadas de referir com razão de ciência devidamente controlada,
depuseram de forma consentânea, objetiva e sem reparos, evidenciando conhecimento
direto dos factos sobre que depuseram e merecendo dessa forma, no que se refere aos
mesmos, a credibilidade do tribunal.
A ponderação de tudo o que ficou exposto, na sua conjugação com o depoimento
das testemunhas ouvidas e das regras da experiência comum permitiu o esclarecimento
do tribunal no que se refere à factualidade supra mencionada.
*
D - Questão a decidir nos presentes autos
1ª - autorização para convencionar partilha extrajudicial da herança deixada por
óbito de José Mesquita Ribeiro.
*
E - Fundamentação de Facto
Nos termos do disposto no art. 122.º do Código Civil é menor quem ainda não tiver
completado 18 anos. Tendo Maria Paula nascido em …/…/…, a sua incapacidade de exercí-
cio é suprida pelas responsabilidades parentais – arts. 124.º, 1877.º e 1878.º, todos do
Código Civil.
O requerente é ascendente da menor em primeiro grau na linha reta, sendo o titu-
lar das responsabilidades parentais de Maria Paula.
As responsabilidades parentais são um conjunto de poderes-deveres, um poder funci-
onal, irrenunciável e intransmissível que deve ser exercido altruisticamente, no interesse do
filho, tendo em vista o seu integral e harmonioso desenvolvimento físico, intelectual e moral
(cf. arts. 1874.º, 1878.º, 1882.º, 1885.º e ss. e 1997.º, todos do Código Civil).
Nos termos do disposto no art.º 2033.º/1 do Código Civil, os menores têm capaci-
dade sucessória.
No momento em que faleceu José Mesquita Ribeiro (cf. fls. 15), a menor foi chama-
da à titularidade das relações jurídicas do falecido – goza assim do direito de representa-
ção, já que é descendente da filha do autor da sucessão (cf. arts. 2039.º, 2041.º e 2042.º do
Código Civil).
Relativamente ao autor da sucessão, a partilha da herança, quanto à menor faz-se
não por cabeça, mas por estirpe,9 o que na prática, corresponde a que a menor, uma vez
que é filha única e não existe cônjuge, vai herdar a totalidade da quota hereditária que
caberia à sua mãe.
Conforme resulta de fls. 6 e 7, os herdeiros ao registarem os prédios, traduziram de
forma expressa a vontade, enquanto sucessíveis prioritários, de adquirir a herança (vide
Gomes da Silva, Direito das Sucessões, pág. 281). A aceitação da herança ou legado é um
ato jurídico unilateral e recetício, que corresponde ao exercício do direito de suceder con-
ferido a um sucessível através da manifestação de vontade de adquirir efetivamente a he-
rança ou legado. Revela sem dúvida esta intencionalidade, a inscrição no registo predial.10
Ora, verifica-se que os pais, como representantes do filho podem, sem autorização
do tribunal, aceitar herança sem encargos, cf. resulta do art.º 1889.º/1 l) do Código Civil a
contrario. E foi o que de facto aconteceu nos presentes autos.
Porém, nos termos do disposto na al. l) do n.º 1 do art.º 1889.º do Código Civil, os
pais não podem, sem autorização do tribunal, convencionar partilha extrajudicial
A ratio do preceito é a proteção dos bens dos menores (Moitinho de Almeida, Re-
forma do Código Civil, 1981, pg. 148). Com efeito, por força da sua dependência natural e
incapacidade de exercício, poderão estes ser objeto de diligências no sentido de verem a
sua quota no acervo hereditário sonegada. E é isso que se pretende evitar com os presen-
tes autos. Com esse escopo, o art.º 1889.º/1 l) do Código Civil impôs que, para que se con-

9
Pereira Coelho, Sucessões, 2ª edição, 1968, pág. 209.
10
Cfr. Acórdão do STJ de 10/02/97, BMJ 472, 443.
vencione partilha extrajudicial dos bens de herança de menor, seja necessária autorização
do Tribunal.
Tribunal, nesta aceção, tem de ser entendido em sentido amplo, abrangendo não só
o tribunal em sentido estrito, como também o Ministério Público. Conforme expresso no
preâmbulo do DL 272/01, de 13 de outubro, sujeito à Declaração de Retificação n.º 20-
AR/2001, DR de 30 de novembro (suplemento), este diploma procedeu à transferência da
competência decisória em processos cuja principal ratio é a tutela dos interesses dos inca-
pazes ou ausentes do processo jurisdicional para o Ministério Público.
Assim, dispõe a al. b) do n.º 1 do art.º 2.º que é da exclusiva competência do Minis-
tério Público as decisões relativas a pedidos de autorização para a prática de atos pelo
representante legal do incapaz, quando legalmente exigida.
Na redação do Código Civil anterior ao Decreto-Lei n.º 227/94, de 8 de setembro, a
herança deferida a menor só podia ser aceite a benefício de inventário. Nos termos das
disposições conjugadas do art.º 2052.º e 2053.º do Código Civil em vigor, não tem de ser
necessariamente partilhada através de inventário, podendo recorrer-se à partilha extraju-
dicial. Isto claro, com as limitações já aludidas impostas pela lei civil, no que se refere à
necessária autorização judicial para o efeito.
Verifica-se, in casu, que todos os interessados estão de comum acordo em que a
partilha se realize de forma extrajudicial, cumprindo o art.º 2102.º do Código Civil.
Ora, da factualidade dada como provado é possível extrair os elementos necessá-
rios para a prolação de uma decisão sustentada, designadamente: elementos respeitantes
à qualidade de herdeira legitimária da menor, bem como os elementos referentes aos de-
mais herdeiros e a descrição pormenorizada do imóvel que constitui o acervo hereditário.
Na posse destes elementos, o Ministério Público está em condições de se pronunci-
ar sobre a nobreza de se convencionar partilha extrajudicial e os termos em que esta deve
ser feita, acautelando o património e bem-estar desta criança que aqui se pretende prote-
ger.
Considerando todas estas circunstâncias de facto, havendo o acordo de todos os
herdeiros e estando salvaguardados os interesses da menor, é de conceder autorização
para partilha judicial da verba única, a que corresponde casa de habitação com rés-do-
chão e 1.º andar, inscrita na matriz urbana da freguesia de Lavos, sob o art.º …, com o valor
patrimonial de € 279,85 (duzentos e setenta e nove euros e oitenta e cinco cêntimos, de-
vendo esta ser equidividida em três partes de igual valia.

*
F – Decisão
Pelo exposto, julgo o presente processo procedente, por provado e consequente-
mente:
a) Autorizo o requerente, na qualidade de legal representante da menor, que
convencione extrajudicialmente, por via notarial a partilha, nos termos legais,
do bem deixado por óbito de José Mesquita Ribeiro.
b) Esta partilha deverá consistir na divisão do bem imóvel casa de habitação de
rés-do-chão e 1º andar, sita em Costa de Lavos, inscrita na matriz urbana da
freguesia de Lavos, sob o art.º …, a que corresponde o valor patrimonial de €
279, 85 (duzentos e setenta e nove euros e oitenta e cinco cêntimos), em três
partes iguais, adjudicando-se uma delas a Natália Maria, filha do de cujus, outra
a Helena Maria, também filha do de cujus, e a última à menor Maria Paulo, neta
do de cujus e que herda em representação da sua mãe, Alzira Mesquita, já fale-
cida, nos termos dos arts. 2131.º, 2133.º/1 a), 2136.º e 2138.º, todos do Código
Civil.
*
Uma vez efetuada a partilha extrajudicial, no prazo de 15 dias após a realização da
mesma, deve o requerente fazer prova nos autos dos moldes em que esta foi efetuada.
*
Custas pela menor, nos termos do artigo 7.º, n.º 1, do Regulamento das Custas
processuais («A taxa de justiça nos processos especiais fixa-se nos termos da tabela I,
salvo os casos expressamente referidos na tabela II, que fazem parte integrante do presen-
te Regulamento.») e Tabela II (último item) do Regulamento das Custas processuais:
0,75 UC de taxa de justiça normal.
*
Notifique.

Processei, imprimi e revi, seguindo os versos em branco.

Local/Data
O Procurador da República
Despacho 5

Processo n.º

Catarina Isabel, com os sinais dos autos, vem requerer ao Ministério Público, ao abrigo do
art.º 2.º, n.º 1, al.ª b), do DL n.º 272/2001, de 13.10, autorização para, em nome dos menores, seus
filhos, proceder à venda do veículo de matrícula …-…-…EM e da arma que também identifica, bens
estes pertencentes à herança ilíquida e indivisa por óbito de Pedro Miguel, falecido a 12-05-2…, da
qual são únicos herdeiros a requerente e seus filhos Tiago Miguel e Pedro Dinis, menores de idade.

Compulsado o normativo em apreço verifica-se que o Ministério Público é incompetente em


razão da matéria para apreciar o pedido formulado, pois não está só em causa autorizar a venda,
mas também garantir que o seu resultado seja devidamente acautelado, para o que seria necessário
definir a quota hereditária de cada menor e ordenar o depósito do valor apurado em conta aberta
em nome dos mesmos. E para isso teríamos de praticar atos de verdadeira partilha. Ora, nos termos
do artigo 2.º, n.º 2, al.ª b), do referido decreto-lei, o disposto no número 1 não se aplica às situações
previstas na alínea b), quando esteja em causa autorização para outorgarem partilha extrajudicial e
o representante legal concorra à sucessão com o seu representado, sendo necessário nomear cura-
dor especial, bem como nos casos em que o pedido de autorização seja dependente de processo de
inventário ou de interdição.

Note-se que mesmo que o valor apurado nas vendas fosse depositado em conta conjunta
aberta em nome da mãe e dos menores, o certo é que tal propósito não é mencionado na petição,
pois do seu artigo 15.º resulta que o destino a dar ao valor em causa seria fazer face a despesas
correntes do agregado familiar, e mesmo que fosse não estaria suficientemente garantido o interes-
se superior dos menores, que será o da conservação desse valor, até razão imperiosa em contrário.

Assim, decide-se pela incompetência material do Ministério Público para conhecer do pedido
formulado.

Custas pela requerente, nos termos do art.º 7.º, n.º 4, e Tabela II do Regulamento das Custas
Processuais, que fixo em 0,5 UC (51,00 €), sem prejuízo do apoio judiciário concedido.

Processei em computador, revi e imprimi.

Local/Data
O Procurador da República
Despacho 6

(Suprimento de consentimento)

Proc. n.º …

Nuno Cláudio (id. a fls. 2), pai da menor Ana Rute …, veio requerer o suprimento
do consentimento de Liliana …, mãe da menor, nos termos do disposto no art.º 2.º, n.º 1,
alínea a), do Decreto-Lei nº 272/2001, de 13 de outubro, com vista a instruir o compe-
tente processo de junção ao nome da criança dos apelidos paternos “C… D…” na Conserva-
tória do Registo Civil.
Para tanto alegou que a Ana Rute nasceu a 17 de junho de …., na freguesia de …, na
cidade de ...
A criança foi registada como filha de Liliana, solteira à data do registo, sendo, pos-
teriormente, em 30 de outubro de …., perfilhada pelo requerente.
A criança encontra-se aos cuidados de Celeste …, bisavó paterna, desde os 4 meses
de vida, tendo esta última sido instituída tutora daquela por sentença proferida no proces-
so de tutela n.º …/…, em 16 de abril de ….
A mãe encontra-se ausente em parte incerta desde os 4 meses de vida da criança,
não estabelecendo qualquer contacto com a menor.
O pai encontra-se a trabalhar na Áustria mantendo, contudo, uma relação de gran-
de proximidade com a menor, contactando-a frequentemente e passando com ela as férias,
nomeadamente as do Verão e do Natal.
Do nome da menor não constam os apelidos do pai, sentindo a mesma um imenso
desgosto por este facto.
Este sentimento é partilhado pelo pai da menor.
Pretende, pois, o requerente que seja suprido o consentimento da mãe para adição
ao nome da criança dos apelidos paternos “C… D…”.

*
Foram citados (fls. 45) os pais da ausente, avós maternos da menor, nos termos e
para os efeitos do art.º 3.º, n.º 3, alínea a), e n.º 4 do Decreto-Lei n.º 272/2001, de 13 de
outubro, não tendo deduzido oposição.
*
O Ministério Público é competente em razão da nacionalidade (art.º 62.º, do Códi-
go de Processo Civil, ex vi do art.º 3.º, nº 1, do Decreto-Lei n.º 272/01, de 13/10, e 3.º, do
Estatuto do Ministério Público, aprovado pela Lei n.º 47/86, de 15 de Outubro) e da maté-
ria (art.º 2.º, n.º 1, alínea a), do Decreto-Lei n.º 272/01, de 13/10).

*
Procedeu-se à inquirição das testemunhas arroladas e da criança.

Factos provados:
- A menor Ana Rute nasceu a …/…/…, na cidade de …
- A menor é filha de Liliana e de Nuno Cláudio.
- A paternidade da menor foi estabelecida por perfilhação, em …/…/…
- A menor está aos cuidados da bisavó paterna desde os 4 meses de vida.
- A mãe encontra-se em parte incerta desde essa data, não mantendo qualquer
contacto com a criança.
- O pai apesar de se encontrar a trabalhar na Áustria mantém uma relação de
grande proximidade e afeto com a criança, contactando-a frequentemente e passando com
ela as férias escolares.
- No nome da menor apenas consta o apelido da mãe “Nunes”.
- A criança tem manifestado à requerente o desejo de integrar no seu nome os ape-
lidos paternos “C… D…”, sentindo um imenso desgosto face à omissão daqueles apelidos.
- Tal sentimento é partilhado pelo progenitor.
*

Motivação de facto:
Na formação da convicção acerca da matéria de facto, antes de mais, foram valora-
dos os elementos constantes dos documentos autênticos juntos aos autos que, nos termos
do art.º 371.º, do Código Civil, fazem prova plena dos factos que referem como praticados
pela autoridade pública respetiva, não tendo sido ilididos com base na sua falsidade.
Foram ainda tidos em conta os depoimentos das testemunhas Luís Pena (id. a fls.
56) e Ema Almeida (id. a fls. 59) que depuseram de forma isenta, esclarecendo que são
vizinhos da requerente e da Ana Rute Nunes, a qual conhecem desde bebé.
Acrescentaram também que a mãe da criança nunca a visitou, desde a data em que
a mesma foi confiada aos cuidados da requerente.
Referiram ainda que por diversas vezes a Ana Rute lhes manifestou o desejo de no
seu nome serem integrados os apelidos paternos.
Foi, por fim, determinante o testemunho de Ana Rute Nunes (id. a fls. 61) que, ape-
sar da sua tenra idade, 12 anos, demonstrou grande maturidade, manifestando o desejo de
que, no seu nome, figurassem os apelidos do pai.

*
Do Direito:

Prescreve o art.º 104.º, nº 1, do Código de Registo Civil que: “ O nome fixado no as-
sento de nascimento só pode ser modificado mediante autorização do conservador dos Regis-
tos Centrais”.
O legislador verteu nesta norma registral uma das características essenciais do
nome das pessoas, a sua imutabilidade desde a sua menção no respetivo assento de nas-
cimento, admitindo, contudo, excecionalmente a derrogação daquele princípio mediante o
recurso ao processo especial regulado no art.º 278.º e seguintes, do Código de Registo Ci-
vil.
Casos há, porém, em que a alteração do nome pode ter lugar independentemente
de autorização do Conservador dos Registos Centrais, constituem eles as exceções enume-
radas no n.º 2 do citado art.º 104.º
De entre aquelas exceções importa, para a solução do caso em apreço, ter em conta
o disposto na alínea a) do n.º 2 daquela norma que permite a alteração fundada em estabe-
lecimento da filiação posterior ao assento de nascimento.
Esta exceção tem plena aplicabilidade no caso concreto, dado que a paternidade
foi estabelecida por perfilhação, em momento posterior à feitura do assento de nascimen-
to.
A alteração do nome faz-se nestes casos de acordo com o disposto no n.º 3 do
mesmo normativo, ou seja, a requerimento do interessado na Conservatória do Registo
Civil.
Estando em causa a alteração do nome de filho menor a legitimidade para tal pe-
dido cabe a ambos os progenitores ou a um deles com o acordo do outro. (Neste sentido
vide Parecer do Conselho Consultivo da PGR n.º 21/81, publicado no BMJ nº 312, pág. 127).
In casu, face ao desconhecimento do paradeiro da mãe da criança, não é possível
obter o seu consentimento.
Para obviar a esta situação o legislador conferiu ao Ministério Público legitimidade
para suprir tal consentimento, é o que resulta do estatuído no art.º 2.º, n.º 1, alínea a), do
Decreto-Lei nº 272/01, de 13/10.
A decisão a tomar acerca da supressão ou não do consentimento da mãe, ausente
em parte incerta, para alteração do nome da filha terá como critério orientador o interesse
desta última, aplicando-se analogicamente o disposto no art.º 1875.º, n.º 2, do Código Civil
(cf. «A escolha do nome próprio e dos apelidos do filho menor pertence aos pais; na falta
de acordo, decidirá o juiz, de harmonia com o interesse do filho.»).
No fundo, será a densificação e aplicação prática deste conceito indeterminado “in-
teresse do filho” que orientará o desfecho dos presentes autos.
Volvendo aos autos, importa, em primeira linha, conferir especial enfoque ao dese-
jo manifestado pela Ana Rute Dias, no sentido de ao seu nome serem acrescentados os
apelidos paternos “Castro Dias”.
O direito à identidade pessoal que abrange o direito ao nome tem expresso assen-
to e proteção constitucional no art.º 26.º, n.º 1, da CRP.
O nome é muito mais do que uma forma de identificação, aparece embrenhado de
simbolismo genealógico, é através do mesmo, mormente dos apelidos, que se consegue
identificar os progenitores, bem como os demais parentes e afins.
É certo que não é obrigatório que o nome seja composto por apelidos paternos e
maternos (art.º 1875.º, n.º 1, do Código Civil), contudo a tradição vai no sentido de ambos
os pais, pretendendo perpetuar a sua linhagem, transporem para o nome dos filhos o seu
apelido.
Sendo historicamente esta a regra é perfeitamente compreensível que uma meni-
na de 12 anos procure ter uma composição do nome idêntica à dos seus pares, sobretudo
quando o que está em causa é a adição dos apelidos do único progenitor com o qual man-
tém uma relação de proximidade.
De destacar ainda que a escolha do nome dos filhos é um direito legalmente con-
ferido a ambos os progenitores (art.º 1875.º, n.º 2, do Código Civil), contudo, ao pai da
criança não foi, in casu, possível exercer este direito aquando do registo da criança, dado
que só intervém no processo registral posteriormente aquando da perfilhação, estando já
definido o nome e apelidos da criança.
Estando a mãe em parte incerta, constituiria um desvirtuar do espírito legislativo,
que o pai não pudesse requerer o adicionamento dos seus apelidos, quando este é também
o desejo da Ana Rute, pelo simples facto daquela, face à ausência, não dar o seu acordo
aquele requerimento.
*

Decisão:
Face ao exposto e porque é a solução que melhor satisfaz o interesse da Ana Rute
supre-se o consentimento da mãe, Liliana Graça Nunes, para efeitos de adicionamento ao
nome da menor dos apelidos paternos “C… D…”.

Custas a cargo da menor.


Notifique.

Processei, imprimi, revi e assinei o texto, seguindo os versos em branco.

Local/Data
O Procurador da República
Despacho 7

(Suprimento de consentimento)

Proc. n.º

Celeste Ferreira Dias Castro, na qualidade de tutora da menor Ana Rute Nunes
(Processo de Tutela n.º …/…, que correu termos no 1.º Juízo deste Tribunal), veio requerer
o suprimento do consentimento de Liliana Graça Nunes, mãe da menor, nos termos do
art.º 2.º, n.º 1, alínea a), do Decreto-Lei nº 272/2001, de 13 de outubro, com vista a ins-
truir o competente processo de alteração do nome da menor na Conservatória do Registo
Civil.
Para tanto alegou que a Ana Rute Dias nasceu a …/…/…, na freguesia de …, na ci-
dade de …
A criança foi registada como filha de Liliana Graça Nunes, solteira à data do regis-
to, sendo, posteriormente, em …/…/…, perfilhada por Nuno Cláudio Castro Dias Alves.
A criança encontra-se aos cuidados da requerente, bisavó paterna, desde os 4 me-
ses de vida, tendo esta última sido instituída tutora daquela por sentença proferida no
processo suprarreferido, em …/…/….
A mãe encontra-se ausente em parte incerta, desde os 4 meses de vida da criança,
não estabelecendo qualquer contacto com a menor.
O pai encontra-se a trabalhar em França, mantendo, contudo, uma relação de
grande proximidade com a menor, contactando-a frequentemente e passando com ela as
férias, nomeadamente as do Verão e do Natal.
Do nome da menor não constam os apelidos do pai, sentindo a mesma um imenso
desgosto por este facto.
Este sentimento é partilhado pelo pai da menor.
Pretende, pois, a requerente que seja suprido o consentimento da mãe para adição
ao nome da criança dos apelidos paternos “Castro Dias”.

Questão Prévia:
Prescreve o art.º 104.º, n.º 1, do Código de Registo Civil que: “ O nome fixado no as-
sento de nascimento só pode ser modificado mediante autorização do Conservador dos Regis-
tos Centrais”.
O legislador verteu nesta norma registral uma das características essenciais do
nome das pessoas, a sua imutabilidade desde a sua menção no respetivo assento de nas-
cimento, admitindo, contudo, excecionalmente a derrogação daquele princípio mediante o
recurso ao processo especial regulado no art.º 278.º e ss., do Código de Registo Civil.
Casos há, porém, em que a alteração do nome pode ter lugar independentemente
de autorização do Conservador dos Registos Centrais, constituem eles as exceções enume-
radas no n.º 2 do citado art.º 104.º
De entre aquelas exceções importa, para a solução do caso em apreço, ter em conta
o disposto na alínea a), do n.º 2, daquela norma que permite a alteração fundada em esta-
belecimento da filiação posterior ao assento de nascimento.
Esta exceção tem plena aplicabilidade no caso concreto, dado que a paternidade
foi estabelecida por perfilhação, em momento posterior à feitura do assento de nascimen-
to.
A alteração do nome faz-se nestes casos de acordo com o disposto no n.º 3 do
mesmo normativo, ou seja, a requerimento do interessado na Conservatória do Registo
Civil.
Estando em causa a alteração do nome de filho menor a legitimidade para tal pe-
dido cabe a ambos os progenitores ou a um deles com o acordo do outro. (Neste sentido
vide Parecer do Conselho Consultivo da PGR n.º 21/81, publicado no BMJ n.º 312, pág. 127).
Esta faculdade de alteração do nome do filho menor constitui um direito próprio
dos progenitores, não integrando o conteúdo das responsabilidades parentais, nem reves-
tindo a natureza de um direito próprio do filho que aos pais cumpra exercer, em represen-
tação do menor, logo, como refere aquele Parecer do Conselho Consultivo da PGR, terá de
ser exercida por ambos os progenitores ainda que estejam reguladas as responsabilidades
parentais.
Transpondo tal ensinamento para os presentes autos, concluímos, desde logo, que
a requerente não poderá despoletar, enquanto tutora da menor, junto da Conservatória do
Registo Civil o procedimento tendente à adição ao nome da menor dos apelidos paternos.
Ora, se a requerente não tem legitimidade para instruir o processo junto da Con-
servatória do Registo Civil, não tem também, consequentemente, legitimidade para impul-
sionar os presentes autos, dado que neles não se pretende mais do que uma decisão prévia
e que constitui conditio sine qua non de tal instrução.
Refere o art.º 30.º, n.º 1, do Código de Processo Civil, aplicável por força da remis-
são operada pelo art.º 19.º do Decreto-Lei n.º 272/2001, de 13/10 que: “ O autor é parte
legítima quando tem interesse direto em demandar (…)”.
Densificando aquele conceito indeterminado acrescenta o n.º 2 daquela norma: “O
interesse em demandar exprime-se pela utilidade derivada da procedência da ação (…)”.
In casu, a procedência da ação e o consequente suprimento do consentimento da
mãe da menor não reveste qualquer utilidade para a requerente, dado que a mesma não
poderá, per si, dirigir-se à Conservatória do Registo Civil e requerer a alteração do nome
da criança, uma vez suprido o consentimento da mãe ausente.
Sendo a requerente parte ilegítima e configurando esta falta de pressuposto pro-
cessual uma exceção dilatória insuprível (art.º 577.º, alínea e), do Cód. Proc. Civil) de co-
nhecimento oficioso (art.º 578.º, do Cód. de Proc. Civil), o Ministério Público abstém-se de
conhecer do pedido formulado e absolve a requerida da instância, nos termos do art.º
278.º, n.º 1, alínea d), do Código de Processo Civil.

Decisão:
Face ao exposto absolve-se da instância a requerida Liliana Nunes, nos termos do
art.º 278.º, n.º 1, alínea d), do Cód. de Proc. Civil.
Custas a cargo da requerente.
Notifique.

Processei, imprimi, revi e assinei o texto, seguindo os versos em branco (art. 131.º, n.º 5, do C. P. Civil).

Local/Data
O Procurador da República
Despacho 8

Processo:

Compulsado o requerimento inicial, subscrito por Leonel dos Santos, verifica-se


que aí se requer autorização para venda de dois imóveis, pertença em parte ou na totali-
dade (não se refere) de um menor, Tomás Guimarães, e que o mesmo seja representado na
mesma por sua mãe, aí identificada.

O requerimento omite o valor, pelo que não deveria ter sido recebido pelos servi-
ços do Ministério Público (cf. art.º 558.º, al.ª e), do Cód. Proc. Civil).

Por outro lado, não se refere no mesmo que legitimidade tem o requerente para
formular o pedido, pois desconhece-se que relação de parentesco ou de representação tem
em relação ao menor.

Finalmente, o requerimento é totalmente omisso sobre as razões que permitiriam


ao Ministério Público avaliar do interesse da venda à luz do interesse superior do menor,
sendo assim inepto, para efeitos do art.º 186.º, n.º 1 e 2, al.ª a), e 577.º, al.ª b), ambos do
Cód. Proc. Civil, o que constitui exceção dilatória de conhecimento oficioso.

Nestes termos, julgo verificada a exceção em causa e determino, em consequência,


o arquivamento dos autos.

Nos termos do art.º 531.º do Cód. Proc. Civil, por decisão fundamentada do decisor,
pode ser excecionalmente aplicada uma taxa sancionatória quando a ação, oposição, re-
querimento, recurso, reclamação ou incidente seja manifestamente improcedente e a par-
te não tenha agido com a prudência ou diligência devida. Não obstante o requerimento dos
autos padecer dos aludidos vícios, certo é que estamos perante um procedimento menos
formal, sendo compreensível que as partes não dominem alguns dos seus contornos jurí-
dicos, pelo que não aplico a norma do art.º 531.º do Cód. Proc. Civil.

Nos termos do art.º 12.º, n.º 1, al.ª e), do Cód. Proc. Civil, fixo como valor do proces-
so o da linha 1 da Tabela I-B anexa ao Reg. Custas Processuais (2.000 €), e condeno o re-
querente em custas no valor de 0,5 UC, ou seja, 51 € (cinquenta e um euros).

Processei, imprimi e revi o texto.

Local, data

O Procurador da República
Despacho 9

Processo:

Ermelinda… , viúva, veio requerer autorização judicial para, em nome e em representação


do seu filho menor, Xavier …, nascido a …, menor de idade, aceitar o reembolso do seguro de capita-
lização de uma conta bancária solidária, no valor de 1.759,40 € (mil setecentos e cinquenta e nove
euros e quarenta cêntimos), da qual era cotitular com o pai do menor, António José , falecido a
…/…/…, mais esclarecendo serem herdeiros a requerente, o menor e outro irmão, maior de idade,
Fábio José.

Citados os avós maternos, nada disseram. Todavia, o avô materno já se havia pronunciado a
fls. 16 em sentido favorável.

O Ministério Público apenas pode autorizar a aceitação do reembolso e não atos de parti-
lha, por força do disposto no art.º 2.º, al.ª b), do Decreto-Lei n.º 272/2001, de 13.10, na redação
atual, o qual dispõe que «O disposto no número anterior não se aplica: a) (…) b) Às situações
previstas na alínea b), quando esteja em causa autorização para outorgarem partilha extrajudicial e o representante
legal concorra à sucessão com o seu representado, sendo necessário nomear curador especial, bem como nos casos em
que o pedido de autorização seja dependente de processo de inventário ou de interdição.»

Nestes termos, não havendo oposição nem prejuízo para o menor, autoriza-se a reque-
rente, em nome e em representação do seu filho menor, Xavier…, nascido a …/…/…, a aceitar
o reembolso do seguro de capitalização de uma conta bancária solidária, no valor de
1.759,40 € (mil setecentos e cinquenta e nove euros e quarenta cêntimos), da qual era coti-
tular com o pai do menor, António José, falecido a …/…/…, conta essa com o NUC (Número
Único de Conta) … existente no Banco …

Custas pelo menor, nos termos do artigo 7.º, n.º 1, do Regulamento das Custas Processuais
(«A taxa de justiça nos processos especiais fixa-se nos termos da tabela I, salvo os casos expressa-
mente referidos na tabela II, que fazem parte integrante do presente Regulamento.») e Tabela II
(último item) do Regulamento das Custas processuais: 0,75 UC de taxa de justiça normal, sem pre-
juízo do apoio judiciário concedido, devendo a requerente pedir na Segurança Social e juntar
aos autos a retificação da decisão de apoio judiciário no sentido de a ação proposta ser em
representação do seu filho menor, pois tal não consta da decisão junta.

Processei, imprimi e revi o texto.

Local, data

O Procurador da República
Despacho 10

Processo:

Rosa Maria, na qualidade de mãe de Diogo e Miguel, menores de idade, veio requerer
autorização ao Ministério Público para:

- autorizar a construção da habitação contemplada no contrato de empreitada de fls.


91 e seguintes, celebrado com D…, Lda, aí identificada, a realizar em terreno com apti-
dão construtiva pertença dos menores, conforme documentos juntos da Conservatória
de Registo Predial e escritura de doações, o qual se encontra inscrito na matriz rústica
sob o artigo … da União de freguesias de …, descrito na Conservatória de Registo Pre-
dial de … sob o n.º …;

- autorizar a entrega do processo de licenciamento da construção na Câmara Munici-


pal de …;

- autorizar a constituição de hipoteca sobre o aludido imóvel, com a construção, pelo


valor do empréstimo, que é de 80.000 € (oitenta mil euros), a favor da entidade mutu-
ária, no caso o Banco …, empréstimo esse a contrair em nome exclusivo da requerente
mãe, que por ele será única e exclusiva responsável;

- autorizar a doação da construção a realizar aos menores, registando a habitação em


nome dos menores na Conservatória de Registo Predial, mas reservando o direito de
uso e de habitação a favor da requerente até à sua morte.

Os menores estão à guarda e cuidado da requerente mãe, com exercício conjunto das
responsabilidades parentais em relação às questões de particular importância, conforme
regime acordado no processo de divórcio, sem oposição do Ministério Público.

Citado que foi o pai dos menores, não se opôs ao requerido.

A requerente alega que têm morado numa casa emprestada de casal emigrado no
Luxemburgo, que tem uma poupança de 26.000 € (vinte e seis mil euros) no banco, que
poderá ser também utilizada, em caso de necessidade.

Esclarece que suportará o encargo do empréstimo com o seu salário, pois aufere
cerca de 1.200 € como enfermeira no Centro de Saúde de …, podendo pagar a prestação
mensal do empréstimo a contrair, que será de cerca de 300 € (trezentos euros).

Foi inquirida a mãe dos menores a fls. 48, tendo sido chamada a atenção para um
conjunto de aspetos que foram agora vertidos no contrato de empreitada, que é na moda-
lidade «chave na mão», conforme dele consta. E fez novas simulações de empréstimo, con-
cluindo-se ser mais favorável a primeira com o Banco …

O menor Miguel foi inquirido, atenta a sua idade, foram-lhe explicados os termos do
presente processo e a pretensão formulada pela sua mãe, tendo demonstrado estar ciente
e concordar, sendo consensual entre todos – progenitores e filhos.

Apreciando:
Sendo vantajosa para os menores a pretensão apresentada, que ficarão pro-
prietários do terreno e da habitação, ainda que com o ónus da hipoteca, mas sendo a
sua mãe a suportar o pagamento do empréstimo bancário, tendo condições econó-
micas para o efeito, e sendo justo que se reserve o direito de uso e de habitação para
a mesma, nestas condições, a extinguir com a morte ou nos termos do Código Civil,
julgo procedente, por provada, a pretensão formulada, pelo que:

- autorizo a construção da habitação contemplada no contrato de empreitada de fls. 91


e seguintes, celebrado com D…, Lda, aí identificada, a realizar em terreno com aptidão
construtiva pertença dos menores, conforme documentos juntos da Conservatória de
Registo Predial e escritura de doações, o qual se encontra inscrito na matriz rústica
sob o artigo …da União de freguesias de …, descrito na Conservatória de Registo Predi-
al de … sob o n.º …;

- autorizo a entrega do processo de licenciamento da construção na Câmara Municipal


de …;

- autorizo a constituição de hipoteca sobre o aludido imóvel, com a construção, a favor


da entidade mutuária, no caso o Banco …, pelo valor do empréstimo a contrair em no-
me exclusivo da mãe dos menores e pelo valor de 80.000 € (oitenta mil euros), em-
préstimo esse que esta última por ele será a única e exclusiva responsável;

- autorizo a aceitação pelos menores da doação da construção a realizar, registando a


habitação em nome dos mesmos menores na Conservatória de Registo Predial, mas
reservando-se o direito de habitação a favor da requerente-mãe até à sua morte, direi-
to esse sujeito ao regime supletivo do Código Civil, desde já se consignando e tal de-
vendo ser consignado no contrato, que deverá ser ela a suportar o pagamento de todos
os impostos e taxas que recaiam sobre a habitação e realizar todas as obras de conser-
vação, enquanto vigorar o direito de habitação;

- os menores deverão ser representados em todos os processos e negócios, nos termos


aqui autorizados, pelo seu pai, Luís ….

Concluída a construção, com licença de utilização, e após os registos prediais a realizar


e a regularização na matriz, deverão ser juntos aos autos os documentos comprovativos da
execução da pretensão formulada, no prazo de 30 dias.

Custas pelos menores, nos termos do artigo 7.º, n.º 1, do Regulamento das Custas
processuais («A taxa de justiça nos processos especiais fixa-se nos termos da tabela I, sal-
vo os casos expressamente referidos na tabela II, que fazem parte integrante do presente
Regulamento.») e Tabela II (último item) do Regulamento das Custas processuais: 0,75 UC
de taxa de justiça normal.

Processei, imprimi e revi o texto.

Local, data

O Procurador da República
Despacho 11

Processo:

Gracinda…, na qualidade de mãe de Rúben, menor de idade, veio requerer autoriza-


ção ao Ministério Público para proceder à venda de duas frações autónomas – F e D -, iden-
tificadas no art.º 4.º do seu requerimento, em representação do seu filho menor, das quais
é herdeira juntamente com o mesmo, por óbito de Joaquim, falecido a …/…/…

Alega ainda ter o propósito de adquirir nova habitação com o resultado da venda,
que já procura, para ambos residirem.

O valor de venda é o que consta de um contrato-promessa que celebrou e juntou aos


autos: 64.000 € (sessenta e quatro mil euros).

Apreciando:

Havendo aceitação sucessória, mas sem que tenha havido ainda partilha, a herança
constitui uma universalidade de direito, com individualidade própria, sendo os herdeiros
apenas titulares de um direito indivisível, não sendo o co-herdeiro proprietário de cada
uma das coisas que a compõem, cabendo-lhe apenas uma quota ideal. Qualquer deles é
apenas titular de uma quota ideal da totalidade dos bens.

Permitindo a lei, desde que haja acordo de todos os interessados, a venda de bem
determinado de herança não partilhada (artigo 2091.º do Código Civil) pode pedir-se au-
torização para se proceder a essa venda, não se mostrando necessário proceder-se a pré-
via partilha, se afinal o objetivo pretendido é a venda de um determinado imóvel integrati-
vo da herança indivisa.

A lei permite que a alienação e oneração de património indiviso, designadamente o


resultante de aquisição por sucessão hereditária, se faça sem prévia divisão, desde que no
ato intervenham todos os herdeiros (art.° 2091.°, n.° 1, do CC).

A forma de alienação da herança ou de quinhão hereditário está prevista nos artigos


2124º e seguintes do CC.

No caso de herança deferida a incapazes, tendo cessado a obrigatoriedade de aceita-


ção a benefício de inventário, que implicava a partilha em processo de inventário obrigató-
rio (redação dos art.°s 2053.° e 2102.°, n.° 2, do CC, introduzida pelo DL 227/94, de 08.09),
não pode subsistir o entendimento de que para disposição ou oneração de bens pertencen-
tes a menores os seus representantes careçam de proceder a partilha prévia.

Necessitam, isso sim mas apenas, de autorização nos termos previstos no art.°
1889.°, n.° 1, alínea a), do Cód. Civil.

Portanto, antes de se proceder à partilha, mas depois de aceite a herança, esta pode
ser alienada na sua totalidade pelos vários herdeiros. Todavia também pode ser alienada
em parte, ou seja, apenas o “quinhão hereditário” que caiba a um só ou apenas a alguns
dos co-herdeiros.
É certo que, havendo vários herdeiros, antes de se proceder à partilha nenhum deles
tem um direito real sobre os bens da herança em concreto, nem sequer sobre uma quota-
parte em cada um deles (não existe um regime de verdadeira compropriedade). Tem, po-
rém, cada um deles direito ao quinhão hereditário, ou seja, à respetiva quota-parte ideal
da herança global em si mesma.

Todavia, por maioria de razão, parece nada obstar a que se proceda à venda de um
bem determinado da herança, desde que haja acordo de todos os interessados, nos termos
do artigo 2091.º do CC. É que, salvo os atos de mera administração, só os herdeiros em
conjunto podem exercer os direitos relativos à herança. No caso de todos os herdeiros
serem maiores parece nenhuma questão se colocar, até porque se trata de uma prática
normalmente seguida. Mas, existindo menores, será necessário pedir autorização
para essa venda. Concedida esta, a solução seria a mesma, desde que houvesse acordo
entre todos os interessados. Este acordo é essencial.

A ser assim, não é necessário proceder-se à partilha da herança, sendo suficiente


o pedido de autorização judicial para venda das frações em causa.

Conforme se decidiu no Acórdão do Tribunal da Relação do Porto, de 08-05-2003, “…


não há que proceder à partilha da herança como medida prévia à venda e compra (…). De
facto, estando-se perante a plenitude dos herdeiros, nenhum obstáculo existe que impeça a
venda, ainda que avulsa, de um bem dela integrante - cf. art.º 2091.º do CC (…).”

Da realização do ato para cuja prática se requer autorização judicial deverá resultar
a entrega do respetivo preço, o qual deverá integrar o acervo hereditário em substituição
do bem de que se pretende dispor.

Os pedidos formulados são, no caso concreto:

. autorização para vender determinados bens da herança, uma vez que há acor-
do de todos os interessados, nos termos do artigo 2091.º do CC; e

· a nomeação de curador especial para representar o menor nos atos a realizar.

Realizada que foi a citação do familiar mais próximo, veio o mesmo declarar estar de
acordo com a venda.

Realizada a peritagem ordenada, teve a mesma a conclusão inserta no relatório peri-


cial.

Ouvido o menor, atenta a sua idade, disse estar de acordo com a venda, que lhe foi
explicada.

DECISÃO:

Assim, porque o negócio de venda das duas frações é vantajoso para o menor, au-
torizo a legal representante do menor Rúben, nascido a …/…/…, em …, designada-
mente Gracinda..., a proceder à venda das frações autónomas F e D, artigo matricial
urbano … de …, localizadas na rua …, em …, descritas na Conservatória de Registo
Predial da … sob a ficha … da freguesia de …, pelo preço e termos acordados no con-
trato-promessa celebrado com Manuel … e Ana Cristina … (promitentes-
compradores) a …/…/…, devendo o menor ser representado por Maria Luísa…, auto-
rização extensiva aos atos de registo que lhe sejam conexos.

Realizada a venda, deverá a requerente comprovar a mesma e o recebimento


do preço nos autos, no prazo de 15 dias úteis.

Custas pelo menor, nos termos do artigo 7.º, n.º 1, do Regulamento das Custas pro-
cessuais («A taxa de justiça nos processos especiais fixa-se nos termos da tabela I, salvo os
casos expressamente referidos na tabela II, que fazem parte integrante do presente Regu-
lamento.») e Tabela II (último item) do Regulamento das Custas processuais: 0,75 UC de
taxa de justiça normal.

Oportunamente se determinará a abertura de processo administrativo para controlo


do valor monetário a obter, no que respeita ao interesse superior do menor.

Processei, imprimi e revi o texto.

Local, data

O Procurador da República
D. Inquérito Tutelar Educativo
D.1. Inquérito Tutelar Educativo – suspensão do processo

Cls.

Inquérito Tutelar Educativo n.º


___________________________________________________________________

Compulsados os autos, verifica-se que se iniciaram os mesmos com a participação de fls. 2


e verso, da Polícia de Segurança Pública, onde se dá notícia de que no dia 12-05-2015, cerca
das 11h45, o Bruno, aí identificado, nascido a 04-02-2002, à saída da aula de educação física,
na Escola …, dirigiu-se ao seu colega de turma, Rafael, id. a fls. 2, e, após lhe ter perguntado por
que motivo estava sempre a olhar para ele, desferiu-lhe uma bofetada , seguida de um soco na
face, do lado direito.
Segundo a agente da Polícia de Segurança Pública Rosa Duarte, desse comportamento
não resultou lesão visível no ofendido, tendo também apurado que o Bruno tem vindo a adotar
um comportamento incorreto em espaço escolar e que o mesmo, confrontado, na altura, com
os factos, assumiu de imediato a sua autoria, tendo explicado que foi pela forma como o Rafael
o olhava continuamente que ficou perturbado e resolveu agir como se descreveu.

Tais factos são suscetíveis de integrarem, sob a forma consumada, um crime de ofensa à in-
tegridade física p. e p. pelo art.º 143.º, n.º 1, do Código Penal, punível com pena de prisão até 3
anos ou pena de multa em relação a maiores de 16 anos.

De fls. 9 resulta que o menor não tem qualquer antecedente em sede de medidas tutelares
educativas.

Realizada a sua audição a fls. 17 a 18, esclarece as suas dificuldades escolares, admite que
este ano não deu grande atenção aos estudos.
Quanto aos factos ocorridos com o Rafael, que é seu colega de turma, esclarece que tudo
começou na aula de matemática, pois estava a fazer um teste e o Rafael, que estava atrás de si
estava a olhar para si a rir e a gozar, o que levou a que o viesse a abordar depois da aula de
educação física, tendo, nessa altura, agarrado o pulso do braço esquerdo do Rafael e pergunta-
do ao mesmo porque razão ele tinha estado a gozar consigo, após o que lhe desferiu uma bofe-
tada na cara, não sendo verdadeiro ter-lhe dado um murro.
Esclarece que o seu procedimento não foi correto e tendo-lhe sido perguntado porquê,
respondeu inicialmente que o comportamento relatado é errado porque lhe podiam acontecer
coisas más por fazer isto e vir a ter problemas com a polícia. Após algum diálogo com o Bruno,
concordou que a razão de ser se deve encontrar antes na necessidade de respeito pela digni-
dade do outro, por forma a construirmos uma sociedade civilizada, livre e segura, em que os
problemas se resolvam através dos meios legais, sem recurso à violência particular.
Como projeto para as férias de verão referiu que vai ficar em casa, vai jogar “playstation” e
também estudar com a tia um bocadinho todos os dias, para recuperar as matérias do 6.º ano.
Aceita pedir desculpa ao Rafael na presença do Magistrado e cumprir as injunções que se
entenderem por convenientes.

A D.-G.R.S.P. elaborou o relatório social de fls. 24 e seguintes, onde refere em síntese:


- Com os pais, o jovem mantém uma forte ligação afetiva, mas beneficia de práti-
cas parentais inconsistentes, revelando aqueles dificuldades em impor as regras
e os limites necessários a um desenvolvimento adequado e normativo;
- A diretora de turma refere os seus comportamentos disruptivos que prejudi-
cam os resultados escolares, assumindo atitudes perturbadoras das aulas e sen-
do insolente na relação, tanto com os pares, como com os professores, e num
crescendo que a família não vem a ser capaz de travar, assumindo atitudes de
aparente desculpabilização;
- Destaca-se como positivo para a trajetória pró-social do jovem, o facto de este
ter um relacionamento de estreita proximidade afetiva com os pais e registar
uma boa integração no meio comunitário;
- O percurso escolar de Bruno vem sendo condicionado pelas dificuldades de
aprendizagem (impulsividade, atenção/concentração e memória) e desmotiva-
ção;
- No 1º ciclo foi encaminhado para as consultas de pedopsiquiatria do Hospital
…, onde mantém o acompanhamento no presente, com diagnóstico de défice de
atenção com hiperatividade, sendo medicado em conformidade (Ritalina) desde
2009;
- No 2º ciclo transitou para a Escola … e, nesta fase, coincidente com a entrada na
adolescência, acentua as dificuldades manifestadas e apresenta comportamentos
que traduzem forte desmotivação pelas aprendizagens, não cumpre as regras,
nem mantém hábitos de estudo, registando retenção no 5.º e 6.º anos;
- No presente ano letivo frequentou o 6º ano pela segunda vez consecutiva na
escola indicada e manifestou um comportamento desajustado no espaço escolar,
sendo referenciado por todos os elementos do conselho de turma como um ele-
mento perturbador do normal funcionamento das aulas. A partir do 2.º período
letivo agravou o quadro descrito, mantendo um elevado nível de absentismo e
sendo alvo de procedimento disciplinar com aplicação de medida disciplinar de
realização de atividades de integração na escola onde colaborou com os assis-
tentes operacionais em serviços de limpeza e que, importa referir, cumpriu com
correção das ações e atitudes;
- No 3.º período registou um número significativo de faltas intercaladas e injusti-
ficadas que determinou a sua retenção letiva, por ter excedido, em 07/05/2014,
o limite de faltas previsto na lei, na sequência do que foi delineado um plano de
atividades a cumprir na escola, mas o jovem nem sempre cumpriu as atividades
escolares propostas, adotando um comportamento de confronto e desobediência
para com os responsáveis educativos e entrando em confronto com os colegas,
sendo nessa fase que se contextualizam os factos denunciados;
- Os pais mantêm-se informados sobre a situação escolar do filho, contudo, reve-
lam-se incapazes de assumir atitudes firmes e consistentes e de modo a travar
os comportamentos do filho, o qual, por esse mesmo motivo, não lhes reconhece
autoridade;
- As atitudes do jovem em contexto escolar e a presente situação em apreciação
(ocorrida no interior da sala de aula) são desculpabilizadas pelos pais ao referi-
rem as dificuldades de atenção/concentração do filho como justificativa para o
seu baixo rendimento escolar e as atitudes de provocação de que o jovem será
alvo, por vezes, por parte dos outros colegas e que agravam situações banais do
quotidiano;
- Confrontado com estas informações, o próprio reconhece que o seu comporta-
mento não o favorece, mas que também a turma onde se insere, constituída mai-
oritariamente por alunos com dificuldades de aprendizagem e problemas com-
portamentais, também não estará a facilitar, pelo que aceita a decisão dos pais
de efetuar a sua transferência escolar, no próximo ano letivo, para o Colégio …,
onde consideram que poderá beneficiar de um ambiente mais restrito e capaz de
maior contenção em termos comportamentais;
- O jovem integra um grupo de pares constituído por alguns colegas de escola e
outros jovens da comunidade, verificando-se que alguns elementos com quem
convive estão conotados com comportamentos problemáticos. A mãe não con-
trola suficientemente o seu quotidiano e as companhias.
- O jovem não integra atividades de tempos livres estruturadas; praticou futebol
na escola mas desistiu no período de maior desestabilização, ainda que pense
voltar a praticar essa, ou outra, modalidade desportiva.

Dispõe o artigo 84.º, n.º 1, da Lei Tutelar Educativa (aprovada pela Lei n.º 166/99, de 14 de
setembro, aplicável ao caso dos autos na sua redação da Lei n.º 4/2015, de 15/01), que,
1 - Verificando-se a necessidade de medida tutelar e sendo o facto qualificado como crime
punível com pena de prisão de máximo não superior a cinco anos, o Ministério Público pode deci-
dir-se pela suspensão do processo, mediante a apresentação de um plano de conduta, quando o
menor:
a) Der a sua concordância ao plano proposto;
b) Não tiver sido sujeito a medida tutelar anterior;
c) Evidenciar que está disposto a evitar, no futuro, a prática de factos qualificados pela lei
como crime.
Pelo que a aplicação da suspensão do processo em inquérito tutelar educativo depende da
verificação de três requisitos.
O primeiro, de carácter objetivo, é a exigência de o facto criminoso praticado pelo menor
ser de reduzida ou média gravidade, em concreto, tratar-se de facto qualificado como crime
punível com pena de prisão de máximo não superior a cinco anos.
O segundo critério, de natureza subjetiva, prende-se com a necessidade de aplicação de
uma medida tutelar, que terá de ser justificada pela necessidade de educação do menor para o
direito e de inserção do menor de forma digna e responsável na vida em comunidade, enquan-
to finalidades das medidas tutelares educativas (artigo 2.º, n.º 1, da Lei Tutelar Educativa).
Por fim, é necessário que o menor apresente um plano de conduta que evidencie estar dis-
posto a evitar, no futuro, a prática de factos qualificados pela lei como crime.
Na situação em apreço nos autos, o menor praticou um facto qualificado como crime puní-
vel com pena de prisão de máximo não superior a cinco anos.
Subjetivamente, o menor praticou um facto ilícito típico, o que justifica a necessidade de
corrigir a sua personalidade, de o educar para o respeito futuro pelo direito e para a vida em
sociedade, em suma de garantir a sua socialização.
Quanto ao conteúdo do plano de conduta, o legislador forneceu um catálogo exemplificati-
vo de condutas que o podem integrar (n.º 4 do artigo 84.º da Lei Tutelar Educativa), sendo que,
neste caso concreto, considerando que o menor assumiu a responsabilidade pelos seus atos,
manifestando presentemente algum sentido crítico, reconhecendo o valor das normas e reve-
lando aptidão para avaliar o impacto dos seus comportamentos nos outros, tendo cumprido
castigo disciplinar, é adequada e suficiente a aplicação das medidas propostas no seu interro-
gatório e pela D.-G.R.S.P., com a concordância dos pais do menor e deste último.
Na situação dos autos é importante que os pais do menor contribuam para a sua formação
e inserção correta na sociedade, adotando atitudes firmes e consistentes, de modo a travar os
comportamentos do filho, não o desculpabilizando e exigindo-lhe não só o cumprimento de
regras mas também de objetivos no que respeita à sua formação, evitando o seu convívio com
jovens sem perspetiva de futuro e reforçando-lhe a necessidade de respeito pela sua autorida-
de.
Cumpre salientar a mais-valia consistente no facto de o Bruno revelar comprometimento
com o acompanhamento em consultas de pedopsiquiatria.

Plano de Conduta:
- Apresentar um pedido de desculpa ao Rafael, na presença do magistrado do Ministé-
rio Público;
- Não faltar às consultas de pedopsiquiatria, devendo os pais identificar o serviço onde
as consultas têm lugar;
- Não faltar ao respeito devido a outrem;
- Não falta às aulas e fazer os trabalhos de casa que lhe forem assinalados;
- A suspensão durará até 31-12-2015.

Face ao exposto, determino a suspensão do processo, até 31-12-2015, sob as injun-


ções atrás mencionadas, tudo nos termos do disposto nos artigos 11.º, n.º 1, al.ª a), e 2,
al.ªs a) e b), 14.º, n.º 1, al.ª d), e 84.º, n.ºs 1, 4, als. a), c), e) e 6, da Lei Tutelar Educativa.
*
Notifique o menor, na pessoa dos seus progenitores (chamando a atenção para a necessi-
dade de prestarem a informação mencionada no plano de conduta), e ainda o seu ilustre defen-
sor.
Solicite à D.-G.R.S.P. o acompanhamento da suspensão.
Para o pedido de desculpa designo o dia 14 de setembro de 2015, pelas 14h30 horas.
Notifique os pais dos menores, para que os façam comparecer nessa data.
_____________________________________________________________________________________________________________
Processei, imprimi, revi e assinei o texto, seguindo os versos em branco (artigo 94.º, n.º 2, Código de Processo Penal)

Local, data

______________________________________________________
(Procurador da República)
D.2. Inquérito Tutelar Educativo – plano de conduta e suspensão do processo

PLANO DE CONDUTA

1. IDENTIFICAÇÃO

NOME:
FILIAÇÃO:
DATA DE NASCIMENTO:
IDADE:
NATURALIDADE:
NACIONALIDADE:
RESIDÊNCIA:
CARTÃO DE CIDADÃO N.º /VÁLIDO ATÉ:

2. PROCESSO

TRIBUNAL:
SECÇÃO:
INQUÉRITO TUTELAR EDUCATIVO N.º

Estando consciente da necessidade de orientar o meu percurso de vida sem come-


ter factos qualificados pela Lei como crime, ao abrigo do presente Plano de Conduta, com-
prometo-me a alterar o meu comportamento e cumprir os seguintes objetivos:

3. OBJETIVOS DE REPARAÇÃO

- Apresentar um pedido formal de desculpas ao ofendido, na presença do magis-


trado do Ministério Público.
- Compensar economicamente o ofendido pelos danos, entregando-lhe a quantia de
€ (x).

4. OBJETIVOS GERAIS

- Assumir comportamentos responsáveis relativamente ao ofendido.


- Estabelecer relações interpessoais adequadas com todos os elementos da comu-
nidade.
- Não praticar factos qualificados pela Lei como crime.

Local, data

O Menor

Os Pais/Representante legal
Este é um exemplo de plano de conduta, da responsabilidade do menor.

Estando cumpridos os requisitos dos artigos 84.º e 85.º da LTE, o menor, na ausên-

cia de plano de conduta seu e dos progenitores, pode ser convidado a apresentar o plano

de conduta, aquando da sua audição, que pode ser alterado por sugestão do Ministério

Público

Sendo junto aos autos o plano de conduta, nada mais resta do que suspender pro-

visoriamente o processo, de acordo com aquelas normas, em termos parecidos à suspen-

são do processo em processo penal, só que com menção dos objetivos específicos da LTE.
DESPACHO DE SUSPENSÃO

Inquérito Tutelar Educativo n.º


___________________________________________________________________

Compulsados os autos, verifica-se que no dia 28-01-2015, pelas 9h30, o menor Ivan, nas-
cido a …, conduzia na rua …, em Coimbra, o ciclomotor de matrícula …-…-…, de marca Funda-
dor, sem estar habilitado com licença de condução para o efeito.
Tais factos são suscetíveis de integrarem, sob a forma consumada, um crime de condução
sem habilitação legal p. e p. pelo art.º 3.º, n.º 1, do Decreto-Lei n.º 2/98, de 3 de janeiro (na
redação do DL n.º 44/2005, de 23/02, DL n.º 265-A/2001, de 28/09, Rect. n.º 1-A/98, de
31/01), punível com pena de prisão até 1 ano ou pena de multa até 120 dias em relação a mai-
ores de 16 anos.
O menor não tem antecedentes em sede de medidas tutelares educativas (cf. fls. 11).
Assume os factos, esclarecendo que foi a primeira vez que os praticou (cf. fls. 21).
A D.-G.R.S.P. elaborou o relatório social de fls. 25 a 27, onde refere, em síntese, que se trata
de um jovem de 15 anos que respeita, por norma, os valores normativos e os limites que lhe
são socialmente impostos no seu meio familiar e comunitário, acompanhando jovens com o
mesmo perfil, dissociados de condutas de risco e que a própria família considera referências
positivas, denotando-se, todavia, alguma imaturidade, tendo presente o esperado para a sua
faixa etária, o que, aliado a alguma permissividade da mãe, na ausência do pai, facilita a assun-
ção de comportamentos disruptivos em contexto escolar e que prejudicam seriamente os re-
sultados a esse nível. O jovem mostra-se, todavia, arrependido e refere não voltar a praticar
atos idênticos.
A mãe do menor e este último concordam com a suspensão a seguir determinada.
Dispõe o artigo 84.º, n.º 1, da Lei Tutelar Educativa que,
«1 - Verificando-se a necessidade de medida tutelar e sendo o facto qualificado
como crime punível com pena de prisão de máximo não superior a cinco anos, o
Ministério Público pode decidir-se pela suspensão do processo, mediante a
apresentação de um plano de conduta, quando o menor:
a) Der a sua concordância ao plano proposto;
b) Não tiver sido sujeito a medida tutelar anterior;
c) Evidenciar que está disposto a evitar, no futuro, a prática de factos qualifica-
dos pela lei como crime. ..»
Pelo que a aplicação da suspensão do processo em inquérito tutelar educativo depende da
verificação de três requisitos.
O primeiro, de carácter objetivo, é a exigência de o facto criminoso praticado pelo menor
ser de reduzida ou média gravidade, em concreto, tratar-se de facto qualificado como crime
punível com pena de prisão de máximo não superior a cinco anos.
O segundo critério, de natureza subjetiva, prende-se com a necessidade de aplicação de
uma medida tutelar, que terá de ser justificada pela necessidade de educação do menor para o
direito e de inserção do menor de forma digna e responsável na vida em comunidade, enquan-
to finalidades das medidas tutelares educativas (artigo 2.º, n.º 1, da Lei Tutelar Educativa).
Por fim, é necessário que o menor apresente um plano de conduta que evidencie estar dis-
posto a evitar, no futuro, a prática de factos qualificados pela lei como crime.
Na situação em apreço nos autos, o menor praticou um facto qualificado como crime puní-
vel com pena de prisão de máximo não superior a cinco anos.
Subjetivamente, o menor praticou um facto ilícito típico, o que justifica a necessidade de
corrigir a sua personalidade, de o educar para o respeito futuro pelo direito e para a vida em
sociedade, em suma de garantir a sua socialização.
Quanto ao conteúdo do plano de conduta, o legislador forneceu um catálogo exemplificati-
vo de condutas que o podem integrar (n.º 4 do artigo 84.º da Lei Tutelar Educativa), sendo que,
neste caso concreto, considerando que o menor assumiu a responsabilidade pelos seus atos,
tratando-se o dos autos um episódio isolado, manifestando o menor, presentemente, sentido
crítico, é adequada e suficiente a aplicação das medidas propostas a fls. 28 e aceites.
Na situação dos autos é importante que os pais do menor contribuam para a sua formação
e inserção correta na sociedade.

Plano de Conduta:
- Não poder obter a licença de condução de ciclomotores;
- Não poder faltar injustificadamente às aulas;
Durando a suspensão do processo desde a notificação deste despacho até 31-12-2015.

Face ao exposto, determino a suspensão do processo, até 31-12-2015, sob as injun-


ções atrás mencionadas, tudo nos termos do disposto no artigo 84.º, n.ºs 1, 2, 4, 5 e 6 (cf.
art.º 10.º) da Lei Tutelar Educativa.
*
Notifique o menor e a sua mãe e ainda o seu ilustre defensor, que deverão informar, desde
já, no prazo de 10 dias, qual o estabelecimento de ensino que o menor frequenta e, oportuna-
mente, qual o estabelecimento de ensino a frequentar pelo jovem no próximo ano.
Solicite à D.-G.R.S.P. o acompanhamento da suspensão.
Comunique à GNR para vigilância do cumprimento do plano de conduta, com a identifica-
ção do menor.
Comunique à Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR)
___________________________________________________________________________________________________
Processei, imprimi, revi e assinei o texto, seguindo os versos em branco.

Local, data

______________________________________________________
(Procurador da República)
D.3. Inquérito Tutelar Educativo – requerimento de abertura de fase jurisdicional

Inquérito Tutelar Educativo n.º

O Ministério Público, nos termos dos artigos 86.º, 89.º, 90.º e 92.º da Lei n.º
166/99, de 14 de setembro (Lei Tutelar Educativa), vem requerer a abertura da fase ju-
risdicional relativamente aos menores:

- João Carlos…;
- António César…; e
- Joel André…,
Porquanto,

No dia …/…/…, por volta das 17h00, os menores encontravam-se a conver-


sar, juntamente com Hugo Filipe, id. a fls. 187, e Rui Cícero, id. a fls. 187, em cima de uma
plataforma da EDP, em …, quando o João Carlos e o Rui Cícero sugeriram fazerem um
engenho explosivo, conforme tinham visto num sítio da Internet, ao que desde logo, todos
anuíram.
Desta forma, o António César, dirigiu-se a sua casa, tendo-se apoderado de
ácido clorídrico que se encontrava na garagem, utilizado para desentupir canos.
Reuniram-se os cinco, novamente, em casa de João Carlos, sita na rua …, em
… Aí, agindo concertadamente, enrolaram algumas bolas de alumínio e colocaram-nas
dentro de uma garrafa de plástico.
O Rui Cícero colocou um funil no gargalo da garrafa e João Carlos despejou
nessa garrafa ácido clorídrico. De seguida, fechou-a, agitou-a e arremessou pela varanda
de sua casa para um pequeno jardim em frente, em comunhão de esforços com os demais
e de acordo com um plano previamente traçado com estes.
Ao cair no chão, a garrafa dilatou, explodindo logo de seguida, provocando
um grande estrondo. Foi projetada cerca de três a quatro metros para o lado direito do
jardim, tendo parado quando embateu num pequeno muro do jardim.
A garrafa parou a uns quatro a cinco metros de distância de Ana Francisca,
nascida a …/…/…, melhor id. a fls. 105, que ali se encontrava. Em virtude desse incidente,
a menor ficou em sobressalto e bastante assustada.
Antes de arremessar a garrafa, os arguidos verificaram se haveria pessoas
nas imediações, não se tendo apercebido da presença de qualquer pessoa naquele local.
Analisado o conteúdo da garrafa, revelou a presença de cloreto, que associa-
do ao baixo valor de pH, revela a presença de ácido clorídrico, conforme relatório pericial
constante de fls. 68 a 70, cujo teor se dá aqui por integralmente reproduzido para todos
os efeitos legais.
Este tipo de engenho é apto a provocar danos pessoais ou patrimoniais.
Os menores agiram de forma livre, concertada e em comunhão de esforços,
com o propósito concretizado de fabricar o referido engenho explosivo, conhecendo as
suas características e aptidão para causar danos pessoais ou patrimoniais, não possuindo
licença ou autorização para o efeito, o que representaram.
Atuaram ainda de forma livre, em comunhão de esforços, com o propósito
concretizado de provocar uma explosão, ao arremessar tal engenho explosivo para aque-
le local, agiram com manifesta falta de cuidado, de que eram capazes de adotar e que de-
viam ter para evitar o perigo decorrente criado à menor Ana Francisca, perigo esse que
de igual forma podiam e deviam prever, mas que não previram.
Sabiam os menores que as suas condutas eram proibidas e punidas por lei
penal.
Os factos descritos integrariam, não fosse a inimputabilidade dos menores em
razão da idade, em coautoria material, na forma consumada e em concurso real e efetivo:
- Um crime de explosão, previsto e punível pelo ar-
tigo 272.º, n.º 1, alínea b), e n.º 2 do Código Penal; e

- Um crime de fabrico de engenho explosivo, pre-


visto e punível pelo artigo 86.º, n.º 1, alínea a), da Lei
5/2006, de 23.02.

O menor João Carlos, que tinha 15 anos à data dos factos, encontra-se integrado
no seu sistema familiar de origem, frequentando um curso de educação e formação, com
equivalência ao 9.º ano de escolaridade.
Trata-se de um curso que pretende paralelamente a obtenção de qualificação
profissional (empregado comercial), que tem vindo a permitir superar o baixo nível de
interesse manifestado pela frequência de ensino regular.
Praticando, paralelamente, atividades desportivas, como jogador de futebol, fe-
derado, a situação do menor tem vindo a evoluir de forma favorável e aparentemente dis-
sociada de fatores de risco.
Da avaliação efetuada pela D.-G.R.S.P., os indicadores obtidos apontam para ade-
quado nível de integração sociofamiliar e escolar, não traduzindo o menor particulares
necessidades de educação para o direito.

O menor António César, que tinha 15 anos à data dos factos, é um jovem inseri-
do numa família bem integrada socialmente e que traduz preocupação com o acompa-
nhamento do seu processo educativo.
A nível escolar veio a optar por um curso de educação e formação, com equiva-
lência ao 9º ano de escolaridade, mantendo um adequado nível de integração escolar. Nos
tempos livres mantém-se vinculado a atividades de carácter desportivo, nomeadamente
“prática de futebol de salão”.
O menor tem vivenciado com apreensão e preocupação a pendência destes au-
tos, estando consciente da necessidade de não repetir tal comportamento.

O menor Joel André, que tinha 13 anos à data dos factos, é o filho mais novo de
um casal que traduz preocupação com o seu processo educativo e socialização.
A frequentar regularmente o 9.º ano de escolaridade, na Escola …, o menor surge
bem integrado, não surgindo indicadores dignos de registo e que mereçam particular
atenção, do ponto de vista comportamental e relacional.
A frequência de atividades desportivas, na qualidade de federado, surge como fa-
tor de proteção, ao verificar-se que o menor reconhece que eventuais comportamentos
podem condicionar a sua “performance”.
Denotando algum nível de imaturidade à data dos factos, ainda que compreensí-
vel, atenta a sua idade, tal facto e o contexto grupal poderão ter contribuído para a sua
prática.
Da avaliação efetuada, verifica-se que o menor surge como um jovem bem inte-
grado a nível sociofamiliar e escolar, não traduzindo a sua situação necessidades particu-
lares de educação para o direito.

O Ministério Público, nos termos do artigo 90.º, al. e), da Lei Tutelar Educa-
tiva, propõe:

- A aplicação aos menores da medida tutelar educati-


va de admoestação prevista nos arts. 4.º, n.º 1, al. a),
e 9º do mesmo diploma legal.
_____________________________________________________________________________________________________

PROVA

a) Documental:

- Documentos juntos a fls. …;

b) Pericial:

- Relatórios de exame pericial, junto a fls. …;

c) Prova Testemunhal: (…)

_______________________________________________________________________________________________________

Remeta os autos à distribuição, nos termos e para os efeitos do disposto no artigo


93.º da Lei Tutelar Educativa.
_______________________________________________________________________________________________________

Processei, imprimi, revi e assinei o texto, seguindo os versos em branco – artigo 94.º, n.º 2, do Código de Processo Penal.

Local, data

O Procurador da República
E. Adoção/Apadrinhamento Civil

Nota 1: No processo Bronda/Itália considerou-se que o interesse da criança preva-


lecia sobre o das demais partes envolvidas: «[…] embora se deva obter um equilí-
brio justo entre o interesse de S. em permanecer com os pais adotivos e o interesse
da família natural em que viva com ela, o TEDH atribui um peso especial ao interes-
se superior da criança que, tendo agora 14 anos, sempre manifestou o firme desejo
de não deixar a família de acolhimento. No caso presente, o interesse de S. prevalece
sobre o dos seus avós» (cf. Tribunal Europeu dos Direitos do Homem (Secção), acór-
dão de 9 de junho de 1998, Bronda/Itália, n.º 22430/93, ponto 62)

Nota 2: Num processo relativo a um caso de adoção, Pini e Outros/Roménia, o TEDH


decidiu, perante a recusa da criança em ser adotada por uma família estrangeira,
que: «Nestes casos […] o interesse da criança pode, dependendo da sua natureza e
gravidade, sobrepor-se ao dos pais» (cf. Tribunal Europeu dos Direitos do Homem
(segunda secção), acórdão de 22 de junho de 2004, Pini e Outros/Roménia, n.os
78028/01 e 78030/01, ponto 155).
E.1. Parecer em processo de adoção

Vista em …/…/…

________________________________________________________________________________________________________

Processo de Promoção e Proteção

N.º …/…

I) Parecer do Ministério Público previsto no artigo 27.º, al.ª g), da Lei n.º
143/2015, de 08.09

No âmbito do Processo de Promoção e Proteção n.º …/…, que correu os seus ter-
mos no 1.º Juízo do Tribunal de Família e Menores de …, foi aplicada ao menor Rodrigo a
medida de confiança a pessoa selecionada para a adoção, prevista nos artigos 35.º, n.º 1,
g), 38.º-A e 62.º-A, da LPCJP, a indicar pela Equipa da Adoção da Segurança Social.

Por decisão de …/…/…, foi o menor Rodrigo confiado à guarda e cuidados do casal
José e Maria José.

O Instituto de Segurança Social, IP elaborou um relatório de inquérito, em …/…/…,


do qual se salientam os seguintes aspetos:

- “A motivação subjacente à decisão do casal de candidatar-se à adoção, prende-se


com o desejo de constituir família”;

- “Impossibilidade de conceção de um filho biológico”;

- “[N]este momento é uma criança alegre (contrastando com o ar triste que inici-
almente apresentava)”.

De acordo com as conclusões do relatório de inquérito elaborado pelo Instituto de


Segurança Social, IP, a adaptação do menor à nova família tem corrido bem e, durante o
período de pré-adoção, os adotantes proporcionaram ao menor várias atividades, bem
como promoveram a relação e interação do menor com a família e amigos íntimos, pelo
que a equipa da Segurança social entendeu estar consolidado o processo de vinculação e
estarem reunidas as condições necessárias para poder ser decretada a adoção plena no
menor pelo casal adotante.

Para que a adoção possa ser decretada, para além de realizar o superior interesse
da criança, têm ainda de se verificar os seguintes requisitos cumulativos (artigo 1974.º do
Código Civil):
1) Apresentar reais vantagens para o adotando, avaliadas depois
de ter estado ao cuidado do adotante;

2) Fundamentar-se em motivos legítimos ou em justas razões;

3) Não envolver sacrifício injusto para os outros filhos do adotan-


te;

4) Ser razoável supor que entre o adotante e o adotado se estabe-


lecerá um vínculo semelhante ao da filiação.

A adoção do menor Rodrigo pelo casal José e Maria José realiza o superior interes-
se do menor, na medida em que a sua família natural se revelou incapaz de o cuidar e a
vivência no seio de uma família, por contraposição à institucionalização, promove de for-
ma mais eficaz o desenvolvimento, crescimento e educação do menor.

Por outro lado, a adoção apresenta reais vantagens para o menor adotando, uma
vez que, de acordo com o relatório de inquérito efetuado pela Segurança Social depois de o
menor estado a residir com os adotantes cerca de 9 meses o seu estado de espírito alterou-
se, pois apresentava um ar triste antes de ingressar na família dos adotantes e depois
transformou-se numa criança alegre. Tal afirmação é ainda suportada pelas conclusões
emitidas pela Segurança Social em tal relatório de inquérito (“estarem reunidas as condi-
ções necessárias para poder ser decretada a adoção plena”).

A motivação do casal adotante é a de constituir família, pelo que se trata de um mo-


tivo legítimo e não há sacrifícios de outros filhos do casal, pois que não os têm.

Por último, está bem patente nas conclusões do inquérito da Segurança Social que
já se criaram laços próprios da filiação entre o adotando e o casal adotante, pelo que tam-
bém este requisito se verifica.

Posto isto, e considerando que se verificam as exigências subjetivas da adoção ple-


na previstas nos artigos 1979.º e 1980.º do Código Civil, entendo que deve ser decretada a
adoção plena do menor Rodrigo pelo casal José e Maria José.

II) Alteração do nome próprio do menor

O casal adotante requereu a alteração do nome próprio do menor, de Rodrigo M.


para Rodrigo T.

Para que o tribunal modifique o nome próprio do adotando, tal modificação deve
salvaguardar o interesse do menor, designadamente à sua identidade pessoal, e favorecer
a integração na nova família (artigo 1988.º, n.º 2, do Código Civil).

Posto que os adotantes apenas pretendem alterar o segundo nome próprio do me-
nor, esta alteração salvaguarda a sua identidade pessoal e, tratando-se de um nome esco-
lhido pela sua nova família, também favorece a integração.
Assim, uma vez que a ligação da criança ocorreu em tenra idade, não há nenhum
inconveniente para a vivência da criança com o novo nome próprio e salvaguarda os seus
interesses, sou de entendimento que o tribunal modifique o nome do menor nos termos
requeridos (v. Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, de 06-11-2007, proferido no
processo n.º 8155/2007-7, in CJ XXXII, Tomo V/2007).

________________________________________________________________________________________________________

Processei, imprimi, revi e assinei o texto.

Data…

O Procurador da República
E.2. Confiança judicial com vista a futura adoção

O Ministério Público já não pode propor a antiga ação especial de confiança judicial com
vista a futura adoção, que deixou de existir, pois tramita-se agora a medida em processo de
promoção e de proteção.
E.3. Consentimento Prévio Com Vista a Futura Adoção

URGENTE

Exmo. Sr. Juiz de Direito do


Tribunal Judicial de Família e Menores
de …

O Ministério Público, nos termos do artigo 27.º al.ª e), e 35.º do Regime Jurídico do
processo de Adoção e 1981º e 1982 do Código Civil, vem requerer a prestação de consen-
timento prévio com vista a futura adoção por parte de

Berta…,

Por referência à menor Maria… , nascida a …/…/…, em …, a qual se encontra presente


neste Tribunal, requerendo-se assim a imediata prestação do referido consentimento.

Mais se requer que uma vez prestado o referido consentimento seja entregue ao Minis-
tério Público junto deste Tribunal duas certidões do mesmo, com vista à sua junção ao
processo de promoção e proteção n.º … da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens em
Perigo de … e à sua remessa à equipa de adoção de ...

Espera deferimento.

O Procurador da República
E.3.1. Auto de Consentimento Prévio Com Vista a Futura Adoção

AUTO DE CONSENTIMENTO PARA ADOÇÃO DE MENOR

Data:

Hora:

Menor:

Progenitor:

Foi informado o progenitor do menor …. do seguinte:

- O consentimento para a adoção é irrevogável e não está sujeito a caducidade;

- A identidade do adotante não pode ser revelada aos pais naturais do adotado, salvo se
aquele declarar expressamente que não se opõe a essa revelação;

- Os pais naturais do adotado podem opor-se, mediante declaração expressa, a que a


sua identidade seja revelada ao adotante;

- Pela adoção, o adotado adquire a situação de filho do adotante e integra-se com os


seus descendentes na família deste, extinguindo-se as relações familiares entre o ado-
tado e os seus ascendentes e colaterais naturais, sem prejuízo do disposto quanto a im-
pedimentos matrimoniais nos artigos 1602.° a 1604.° do Código Civil; e

- O adotado perde os seus apelidos de origem, sendo o seu novo nome constituído, com
as necessárias adaptações, nos termos do artigo 1875.° do Código Civil.

Neste momento, pelo mesmo foi dito que dá o seu consentimento com vista à futura adoção plena do
seu filho …., nascido a …, declarando que se opõe a que a sua identidade seja revelada ao futuro adotante.

Mais referiu que o faz de forma livre, consciente das consequências do seu ato e depois de se ter
aconselhado.

O auto foi revisto e vai ser assinado:

_______________________________________________________________

(O progenitor)

______________________________________________________________

(O Mm.º Juiz)

______________________________________________________________

(funcionário)
E.4. Petição de ação constitutiva de vínculo de apadrinhamento civil (via eletrónica
– art.º 19.º, n.º 8, do da Lei n.º 103/2009, de 11.09, na redação da lei n.º 141/2015,
de 08.09): homologação de compromisso de apadrinhamento civil, lavrado na CPCJ
ao abrigo dos art.ºs 10.º, al.ª b), e 16.º da Lei citada.

Exmo. Sr. Juiz de Direito do


Tribunal Judicial de Família e Menores
de …

O Ministério Público junto deste Tribunal vem, ao abrigo do disposto nos arts. 3.º,
n.º 1, al. a), do E.M.P., 72.º, n.º 3, da LPCJP e 19.º da Lei 103/2009, de 11.09, na redação da
lei n.º 141/2015, de 08.09, instaurar a presente

AÇÃO PARA CONSTITUIÇÃO DO VÍNCULO DE APADRINHAMENTO CIVIL,

relativamente à menor:

- V…………, nascida a,

Filha de

- P…., residente no….

e de

- L…., residente na …,

o que faz nos termos e com os seguintes fundamentos:

1.º

(…)

5.º

Sucede que, a partir de dezembro de …, a menor começou a contactar frequente-


mente com o casal composto por XXX e XXX residentes na Rua XXX, tendo travado conhe-
cimento com esta última por força das funções que ela vem exercendo na XXX e na XXX
dessa comarca.

6.º

Na sequência desses contactos, a menor XXX começou a privar e a passar fins de


semana em casa dos agora candidatos a seus padrinhos.

7.º

Rapidamente a XXX se afeiçoou ao casal e aos filhos deste, manifestando vontade


de ir com eles viver.

8.º

Porque tal afeição e desejo são recíprocos, a CPCJ de XXX , em …/…/…, celebrou
acordo de promoção e proteção, aplicando à menor a medida de confiança a pessoa idó-
nea, confiando-a à guarda do sobredito casal (cf. cópia do acordo que se anexa).
9.º

Tendo vontade de apadrinhar civilmente a criança, XXX e XXX iniciaram, então,


junto da Segurança Social o respetivo processo de habilitação.

10.º

Por decisão de …/…/… – cf. doc. junto – a Segurança Social (…), considerou que o
referido casal, revelando maturidade, capacidade afetiva e estabilidade emocional, ter ca-
pacidades educativas e relacionais, possuir condições económicas e habitacionais, apre-
sentar estabilidade profissional e familiar e ausência de limitações de saúde, reúne as con-
dições para continuar a exercer as funções parentais, proporcionando à menor um ambi-
ente harmonioso e estável.

11.º

Como tal, a Segurança Social habilitou-os para apadrinhamento civil da XXX.

12.º

Na sequência dessa habilitação e sob a iniciativa da CPCJ de XXX, foi alcançado e ce-
lebrado – em …/…/… – o compromisso de apadrinhamento civil da menor XXX por
parte de XXX, casado, XXX e de XXX, casada, Técnica Superior XXX , ambos residentes na
morada acima mencionada.

13.º

Tal compromisso – consubstanciado no documento que se anexa e que aqui se dá


por integralmente reproduzido – reúne todos os requisitos legalmente previstos (cf. art.º
16.º da Lei 103/2009), prevendo designadamente a manutenção de contactos entre a me-
nor e os pais.

14.º

Mostra-se assinado por todos quanto nele têm de intervir e corresponde também à
vontade e desejo da menor.

15.º

Tal como resulta do relatório social anexo, a menor XXX mantém-se a residir em
casa dos candidatos a seus padrinhos civis, onde se inseriu rápida e harmoniosamente.

16.º

Com tal família (padrinhos, filhos e membros da família alargada) estabeleceu um


sentimento de pertença, sendo por todos aceite.

17.º

Recebendo todos os cuidados de que carece, está hoje devidamente alimentada,


não apresenta pediculose, tem as vacinas atualizadas e recebeu cuidados médicos através
de pediatra particular e de médico dentista.

18.º

Frequenta, tal como os dois filhos do casal, estabelecimento de ensino particular


em XXX, onde é aluna do 2.º ano de escolaridade, com aproveitamento e comportamento
muito bons.
19.º

Pratica ballet e escalada, possuindo brinquedos, jogos e livros adequados à sua


idade.

20.º

Tem mantido contactos regulares com a mãe e irmãos, a quem telefona e visita.

21.º

Com o pai, não tem mantido contactos, já que ele não a procura e a criança não re-
vela nisso vontade.

22.º

Os padrinhos têm mantido a progenitora informada sobre os aspetos mais relevan-


tes do desenvolvimento e do quotidiano da XXX

23.º

Os candidatos a padrinhos civis da menor não têm quaisquer antecedentes crimi-


nais, facto que se consigna nos termos e para os efeitos da Lei 113/2009 de 17.09 e do
art.º 7.º da Lei 57/98, de 18.08.

Nestes termos e face ainda ao teor dos documentos que se anexam, requer-se
a V.ª Ex.ª que, D. e. A. a presente ação, por ser do manifesto interesse da menor e por
se mostrarem reunidos todos os demais pressupostos legais para tanto, de harmo-
nia com o previsto no artigos 13.º, n.º 1, al.ª b), 16.º e 19.º:

. se digne constituir o vínculo de apadrinhamen-


to civil da menor XXX por XXX e por XXX, homo-
logando o respetivo compromisso;

. e que se comunique à Conservatória de Registo


Civil a constituição do apadrinhamento civil
(art.º 28.º da Lei n.º 103/2009, de 11.09, na re-
dação da lei n.º 141/2015, de 08.09).

Valor: € 30.000,01 (trinta milhões de euros e um cêntimo)

Junta: termo de compromisso de apadrinhamento civil, decisão de habilitação, relatório


social, cópia de acordo de P.P. celebrado na CPCJ.

O Procurador da República
E.5. Petições de homologação de compromisso de apadrinhamento civil, por apenso
a processo de promoção e de proteção.
E.5.1. Petição de homologação de compromisso de apadrinhamento civil, lavrado na
Segurança Social e por apenso a processo de promoção e de proteção.

Processo de promoção e de proteção


n.º …/…

Exmo. Sr. Juiz de Direito do


Tribunal Judicial de Família e Menores
de …

O Ministério Público vem, por apenso ao processo de promoção e proteção à mar-


gem identificado e ao abrigo do disposto nos arts. 19.º, n.º 1, da Lei n.º 103/2009, de
11.09, a favor de Ana …, nascida a …, residente na rua… , n.º…, em …

Instaurar incidente de homologação de apadrinhamento civil

nos termos e com os seguintes fundamentos:

1.º

A menor nasceu a 03.07.1996 e é filha de , já falecido, e de .

2.º

No processo de promoção e proteção n.º …/… deste tribunal em …/…/… foi aplica-
da à menor a medida de acolhimento em instituição, a título provisório, a qual veio a ser
substituída em …/…/… pela medida de apoio junto de outro familiar, neste caso a tia Lígia,
por estar em perigo junto da progenitora por ter sido vítima de maus tratos físicos por
parte do seu companheiro e por esta ter negligenciado os cuidados de higiene habitacional
e pessoal, educação e acompanhamento médico da menor e irmãos, tendo tal medida sido
decretada em termos definitivos por decisão judicial de …/…/….

3.º

Em 23.06.2004 a medida foi declarada cessada e determinada a reunificação fami-


liar da menor com a progenitora, sendo que apenas permaneceu junto desta cerca de um
mês e meio, dado ter ido residir para junto de pessoa que conheceu aquando do seu aco-
lhimento institucional e que sempre tem acompanhado a menor, passando com ela fins de
semana, ou seja, Maria Helena…

4.º

A menor desde 2001 que mantém com uma relação de grande proximidade e afeto
mútuos e desde 2004 que vive permanentemente no agregado familiar desta.
5.º
A encontra-se bem inserida no agregado familiar de Maria Helena, o qual é consti-
tuído atualmente apenas pelas duas e pretende continuar aí inserida, apesar de manter
contactos frequentes com a mãe e irmãos que visita regularmente.

6.º

A menor frequenta a Escola …, em …, e são-lhe prestados por todos os cuidados de


que necessita.

7.º

Sente grande afeição por Maria Helena, sendo que esta também nutre grande afeto
por aquela.

8.º

A casa onde moram possui boas condições de habitabilidade.

9.º
Maria Helena é reformada e recebe uma reforma de …, vive em casa própria, ….

10.º
Neste momento quer , quer , quer a progenitora da se mostram favoráveis ao apa-
drinhamento civil da por ,definindo desta forma juridicamente a situação da menor, tendo
em conta que o superior interesse da mesma.

11.º
Em …/…/… foi celebrado o respetivo compromisso de apadrinhamento civil na Se-
gurança Social.

12.º
Foi elaborado pela Segurança Social relatório de avaliação psicossocial que conclui
que tem vindo a assumir as responsabilidades parentais relativamente a revelando com-
petência afetiva e educativa, com condições habitacionais, económicas e de saúde, pelo que
o apadrinhamento civil é adequado.

Pelo exposto, atento o teor do relatório suprarreferido, bem como o compromisso


celebrado e os demais elementos que constam do processo principal, requer-se:

. a homologação do compromisso de apadrinha-


mento civil da menor, posto que os termos do
mesmo se mostram conformes ao superior inte-
resse da mesma;
. e que se comunique à Conservatória de Registo
Civil a constituição do apadrinhamento civil
(art.º 28.º da Lei n.º 103/2009, de 11.09, na re-
dação da lei n.º 141/2015, de 08.09).
Valor: € 30 000,01 (trinta mil euros e um cêntimo).

Junta-se: compromisso de apadrinhamento civil e relatório de avaliação psicossocial.

O Procurador da República
E.5.2. Petição de homologação de compromisso de apadrinhamento civil, lavrado no
Ministério Público e por apenso a processo de promoção e de proteção.

Processo n.º …
(promoção e proteção)

Exmo. Sr. Juiz de Direito do


Tribunal de Família e Menores de …

O Ministério Público vem, por apenso ao processo de promoção e proteção à


margem identificado, ao abrigo do disposto nos artigos 3.º, n.º 1, alínea a), e 5.º, n.º 1,
alínea c), do Estatuto do Ministério Público e à luz dos artigos 10.º, n.º 1, alínea a), 13.º, n.º
1, alínea b), 18.º e 19.º, n.º 1, do Regime Jurídico do Apadrinhamento Civil (Lei n.º
103/2009, de 11.09, na redação da lei n.º 141/2015, de 08.09), requerer a

HOMOLOGAÇÃO DO COMPROMISSO DE APADRINHAMENTO CIVIL,

em favor da menor

Ana Rita …, nascida a…, residente na Rua …

Com o seu consentimento e obtido entre

Os Progenitores da menor:
Carla Sofia …;
Carlos Manuel …;
e
Os Padrinhos :
Maria Alice …;
Manuel Almeida ….

Nos termos e com os fundamentos seguintes:

1.º
A menor Ana Rita nasceu a …/…/… e é filha de Carla Sofia e Carlos Manuel, con-
forme certidão de assento de nascimento que ora se junta e se dá por integralmente re-
produzido (doc. n.º 1).

2.º
O quadro vivencial dos progenitores do menor caracterizava-se por uma situação
de disfuncionalidade familiar que resultou na separação dos mesmos após o nascimento
do segundo filho – Pedro Miguel …, nascido a…

3.º
Após a separação dos progenitores, os filhos menores Ana Rita e Pedro Miguel pas-
saram a residir em casa dos avós maternos, na companhia da mãe, família igualmente dis-
funcional e problemática, caracterizada pelo consumo excessivo de álcool, parcos recursos
económicos, más condições habitacionais, violência do avô e grande conflitualidade entre
o avó e a sua filha.

4.º
Os menores passaram a ser vítimas de negligência generalizada ao nível dos cuida-
dos básicos – higiene, segurança, saúde e alimentação -, por parte da mãe, que evidenciava
fracas competências parentais, associadas a alguma debilidade mental.

5.º
Por vezes, a Ana Rita ia para a escola sem tomar o pequeno-almoço e a avó mater-
na era quem ia às reuniões da escola e acompanhava a avaliação da neta.

6.º
Por seu turno, o progenitor dos menores nunca se interessava pelo bem-estar dos
mesmos, não os visitando com frequência.

7.º
A progenitora levava consigo a menor Ana Rita para o restaurante, propriedade do
casal Maria Alice e Manuel Almeida, o que fez com que a mesma se fosse aproximando e
aos poucos a menor começou a gostar de ficar com esta família e a não regressar com a sua
mãe a casa.

8.º
A partir de Dezembro de …, a Ana Rita acabou por integrar o agregado familiar do
referido casal.

9.º
No início e enquanto trabalhava para o casal, a progenitora estava com a Ana Rita
sempre que a menina regressava da escola.

10.º
Porém, a progenitora, quando deixou de trabalhar no restaurante da família, foi as-
sumindo uma postura de progressivo afastamento da Ana Rita.

11.º
Perante este quadro familiar, em que os menores se encontravam em perigo e por
forma a garantir o seu bem-estar e desenvolvimento, a sua situação passou a ser acompa-
nhada pela Comissão de Proteção de Crianças de Jovens de …

12.º
Desse acompanhamento resultou que, o irmão Pedro Miguel foi, posteriormente,
apadrinhado civilmente por um casal e à Ana Rita foi aplicada medida de confiança a pes-
soa idónea, no casal Maria Alice e Manuel Almeida, nos termos do artigo 35.º, alínea c), da
L.P.C.J.P., no âmbito do processo de promoção e proteção n.º …, que correu termos neste
Tribunal, por decisão datada de …/…/…, a qual foi mantida por despachos de …/…/… e
…/…/…

13.º
Em …/…/…, a medida foi declarada cessada, por inexistência de perigo, uma vez
que a Ana Rita estava bem integrada no agregado familiar que a acolheu, o qual lhe pro-
porcionava a satisfação de todas as suas necessidades e convive com os seus progenitores
sempre que o deseja.

14.º
A Ana Rita tem uma relação de grande proximidade e afeto mútuos com o casal
Maria Alice e Manuel Almeida.

15.º
A Ana Rita encontra-se bem inserida no agregado familiar do casal e pretende ali
continuar inserida, apesar de manter contactos frequentes com a mãe, pai e irmãos.

16.º
A Ana Rita frequenta o 9.º ano de escolaridade na Escola Básica e Secundária J… ,
sita em …

17.º
É uma aluna assídua, pontual, com aproveitamento escolar bastante razoável, sen-
do bastante esforçada, trabalhadora e disponível, encontrando-se motivada para frequen-
tar o curso de hotelaria, em …

18.º
O casal tem 3 filhos, já maiores, que acolheram a Ana Rita de forma calorosa, tendo
uma posição favorável à presença da jovem na família, sendo que apenas André Almeida
reside na morada de família.

19.º
O casal demonstra atitudes de preocupação, responsabilidade e efetividade em re-
lação a Ana Rita, desempenhando as funções parentais a que se comprometeram ao aco-
lher a jovem e demonstrando a capacidade para prestarem todos os cuidados básicos,
proporcionando-lhe estabilidade emocional e psicológica.

20.º
A casa onde moram possui condições de habitabilidade, dispondo a Ana Rita de um
quarto individual.

21.º
A situação económica do casal é suficiente para satisfazer as necessidades materi-
ais que a Ana Rita tem, sendo que os rendimentos da família proveem da atividade profis-
sional de Maria Alice e do subsídio de desemprego de Manuel Almeida.

22.º
Ora, ao abrigo do disposto no artigo 2.º da Lei n.º 103/2009, de 11.09, na redação
da lei n.º 141/2015, de 08.09, que aprova o Regime Jurídico do Apadrinhamento Civil, “o
apadrinhamento civil é uma relação jurídica, tendencionalmente de carácter permanente,
entre uma criança ou jovem e uma pessoa singular ou uma família que exerça os poderes e
deveres próprios dos pais e que com ele estabeleçam vínculos afetivos que permitam o seu
bem-estar e desenvolvimento, constituída por homologação ou decisão judicial e sujeita a
registo civil”.

23.º
Da conjugação do artigo 4.º com o artigo 11.º, n.º 4, do mencionado diploma, po-
dem apadrinhar pessoas maiores de 25 anos, sem necessidade de serem habilitadas se
tiverem sido designadas como padrinhos, pessoas idóneas, a quem a menor tenha sida
confiada no processo de promoção e proteção.

24.º
A Ana Rita foi confiada ao casal Maria Alice e Manuel Almeida, como já vimos, no
âmbito de processo de promoção e proteção, por aplicação de medida de confiança a pes-
soa idónea, não necessitando, por conseguinte, os mesmos de serem habilitados.

25.º
A Ana Rita manifesta o forte desejo de permanecer junto desta família, que identi-
fica como sendo sua e também é intenção do casal em avançar com o apadrinhamento
civil.

26.º
Assim sendo, neste momento, quer a Ana Rita, quer o casal Maria Alice e Manuel
Almeida, quer os seus progenitores se mostram favoráveis ao apadrinhamento civil, defi-
nindo desta forma, juridicamente, a situação da menor, tendo sempre como baluarte o
superior interesse da mesma.

27.º
Em …/…/…, por iniciativa do Ministério Público, nos termos do artigo 10.º, n.º 1,
alínea a), do Regime Jurídico do Apadrinhamento Civil, foi celebrado o respetivo compro-
misso de apadrinhamento civil nos Serviços do Ministério Público, ao qual a Ana Rita deu o
seu consentimento, bem como os padrinhos e a progenitora, subscrevendo o mesmo, con-
forme documentos que ora se juntam e se dão por integralmente reproduzidos (doc. n.º 2).

28.º
Foi, posteriormente, dado consentimento pelo progenitor da Ana Rita, bem como
pelo representante da entidade encarregue de acompanhar o apadrinhamento civil, os
quais declararam subscrever o mesmo, conforme documentos que ora se juntam e se dão
por integralmente reproduzidos (doc. n.º 3 e 4).

29.º
Foi, ainda, elaborado pela Segurança Social, relatório de avaliação psicossocial que
conclui que o casal tem vindo a assumir as responsabilidades parentais relativamente à
Ana Rita, revelando competência afetiva e educativa, com condições habitacionais, econó-
micas e de saúde, pelo que, o apadrinhamento civil é adequado, conforme documentos que
ora se juntam e se dão por integralmente reproduzidos (doc. n.º 5).

30.º
Face ao exposto, considerando-se estarem reunidos os requisitos legais para ho-
mologação do apadrinhamento civil da Ana Rita e atento o teor do relatório suprarreferi-
do, bem como o compromisso celebrado e os demais elementos que constam do processo
principal, vislumbra-se de todo relevante definir a situação da Ana Rita, por forma a salva-
guardar o seu superior interesse e porque apresenta reais vantagens para a mesma.

Pelo exposto, requer-se a V. Exa.:

(i) a homologação do compromisso de apadrinhamento civil


da Ana Rita, posto que os termos do mesmo se mostram con-
formes ao superior interesse da mesma, nos termos dos arti-
gos 10.º, n.º 1, alínea a), 13.º, n.º 1, alínea b), 18.º e 19.º, n.º 1,
do Regime Jurídico do Apadrinhamento Civil (Lei n.º
103/2009, de 11.09, na redação da lei n.º 141/2015, de 08.09),
(ii) e que se comunique à Conservatória de Registo Civil a
constituição do apadrinhamento civil (art.º 28.º da Lei n.º
103/2009, de 11.09, na redação da lei n.º 141/2015, de 08.09).

Valor: € 30 000,01 (trinta mil euros e um cêntimo).

Junta: certidão de nascimento da Ana Rita, compromisso de apadrinhamento civil, subs-


crição do aditamento ao compromisso de apadrinhamento civil, declaração da Segurança
Social e relatório de avaliação psicossocial.

O Procurador da República
E.6. Compromisso de Apadrinhamento Civil

COMPROMISSO DE APADRINHAMENTO CIVIL

1 PREÂMBULO

O apadrinhamento civil é uma relação jurídica, tendencialmente de carácter permanente,


entre uma criança ou jovem e uma pessoa singular ou uma família que exerça os poderes e
deveres próprios dos pais e com ele estabeleçam vínculos afectivos que permitam o seu
bem-estar e desenvolvimento, constituída por homologação ou decisão judicial e sujeita a
registo civil.

O padrinho exerce as responsabilidades parentais, ressalvadas as limitações previstas no


presente compromisso de apadrinhamento civil.

O pai da menor não beneficia dos direitos expressamente consignados na Lei 103/2009,
de 11 de setembro, atento o facto de estarem reunidos os requisitos para a dispensa de
consentimento do progenitor ao abrigo do disposto no art.º 14.º, n.º 4, alíneas a) e b), da
Lei n.º 103/2004. Com efeito, o pai da menor não contacta a criança desde que ela nasceu.

Em conformidade com o Decreto-Lei n.º 121/2010 de 27 de outubro, que procede à regu-


lamentação do regime jurídico do apadrinhamento civil, aprovado pela Lei n.º 103/2009,
de 11.09, na redação da lei n.º 141/2015, de 08.09, é celebrado o presente compromisso
de apadrinhamento civil o qual será enviado ao tribunal competente para homologação:

2 DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DA CRIANÇA OU JOVEM

Nome com-
pleto:

Data de Nas-
Sexo: Idade: Anos
cimento:

BI ou CC: Contactos:

NIF:

NISS Regime Segurança Social:


DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO CANDIDATO AO APADRINHAMENTO CIVIL (ELEMENTO
3
1)

Nome com-
pleto:

Data de Nas-
Sexo: Anos
cimento:

Morada:

Código Pos-
Contactos:
tal:

BI ou cartão
Outros Contactos:
cidadão:
NIF:

NISS: Regime Segurança Social:

Estado civil: Naturalidade

Habilitações : Situação face ao emprego

Local de Tra-
Telefone
balho :

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DOS PAIS BIOLÓGICOS, REPRESENTANTES LEGAl(IS) OU DE-


4
TENTOR(ES) DA GUARDA DE FACTO (ELEMENTO 1)

Nome com-
pleto:

Data de Nas-
Sexo: Idade: Anos
cimento:

Morada:

Código Pos-
Contactos:
tal:

BI ou cartão
Outros Contactos:
cidadão:
NIF:

NISS: Regime Segurança Social:

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DOS PAIS, REPRESENTANTES LEGAl(IS) OU DETENTOR(ES)


5
DA GUARDA DE FACTO (ELEMENTO 2, se aplicável)

Nome com-
pleto:

Data de Nas-
Sexo: Idade: Anos
cimento:

Morada:

Código Pos-
Contactos:
tal:

BI ou cartão
Outros Contactos:
cidadão:

NIF:

NISS: Regime Segurança Social:

LIMITAÇÕES AO EXERCÍCIO, PELOS PADRINHOS, DAS RESPONSABILIDADES PARENTAIS


6
(SE APLICÁVEL)

Passa a caber ao padrinho civil o exercício das responsabilidades parentais. Tal significa que é da
competência do padrinho garantir a segurança, o sustento, velar pela saúde e dirigir a educação da
afilhada, representá-la e administrar os seus bens, em conjunto com a mãe da criança.

Cabem ao padrinho e à mãe da criança as decisões de particular importância relativamente à vida


do(a) menor, designadamente:

a) a escolha e inscrição da criança em estabelecimento de ensino privado ou público, mas já não, qual
o estabelecimento de ensino público;
b) as intervenções cirúrgicas que impliquem risco para a vida ou integridade física da criança (inclu-
indo as estéticas);
c) o exercício de uma atividade laboral por parte da criança ou adolescente (incluindo as passagens de
modelos, participação em espetáculos e atividades artísticas ou de publicidade);
d) a escolha da orientação religiosa até aos dezasseis anos (artigos 1886.º do Código Civil e 11.º da Lei
da Liberdade Religiosa);
e) as saídas (de férias ou participando em atividades) para o estrangeiro;
f) a localização ou determinação do centro de vida (a alteração de residência que implique uma mu-
dança geográfica para local distante dentro do próprio país ou para o estrangeiro);
g) a prática de atividades desportivas que impliquem risco para a vida, saúde ou integridade física;
h) a celebração de casamento aos dezasseis anos (artigos 1612.º do Código Civil e 149.º do Código de
Registo Civil);
i) uso de contraceção ou a interrupção da gravidez até aos dezasseis anos (artigo 142.º do Código
Penal);
j) a obtenção da licença de condução de ciclomotores e de carta de condução de motociclos de cilin-
drada não superior a 125 cm3;
k) o exercício do direito de queixa (artigos 1881.º do Código Civil e 113.º do Código Penal): tendenci-
almente deverá ser de ambos os progenitores que tenham a guarda conjunta;
l) as decisões de administração que envolvam onerações ou alienações de bens ou direitos da criança
(artigo 1889.º do Código Civil);
m) as decisões que envolvam questões de disciplina grave relativas à criança ou adolescente, nomea-
damente aquelas que possam implicar a aplicação de medida educativa disciplinar sancionatória;
n) a escolha da naturalidade (artigo 101.º, n.º 2 do Código de Registo Civil);.
o) a escolha de ensino universitário ou profissional;
p) mudança de domicílio para o estrangeiro ou das Ilhas ou para as Ilhas;
q) receber indemnização a pagar ao menor (cf. Acórdão da Rel. Porto de 20.09.1994, CJ XIX, IV, 34);
r) requisição de passaporte;
s) orientação profissional do filho;
t) outros casos: «Poder Paternal e Responsabilidades parentais», 2.ª Edição, Helena Gomes de Melo e
outros, Quis Juris, páginas 139 e seguintes.

O REGIME DAS VISITAS DOS PAIS OU DE OUTRAS PESSOAS, FAMILIARES OU NÃO, CUJO
CONTACTO COM A CRIANÇA OU JOVEM DEVA SER PRESERVADO (especificar os dias da
7
semana, horário, local e condições em que as visitas se deverão realizar, salvo acordo
expresso em contrário entre as partes)

Tal direito não se reconhece ao progenitor, atento o disposto no art.º 14.º, n.º 4, alíneas a) e b), da
Lei n.º 103/2004.

MONTANTE (incluir valor, forma de pagamento e prazo) DOS ALIMENTOS DEVIDOS PE-
8
LOS PAIS:

Fixam-se em … € a quantia a pagar mensalmente a título de alimentos pelo pai e em … € a pagar


mensalmente pela mãe.
9 INFORMAÇÕES RELEVANTES:

Exemplo: Se a mãe do menor integra o agregado familiar do padrinho, consignar que lhe cabem os
direitos sociais consignados no art.º 23.º da Lei 103/2009, de 11.09, na redação da lei n.º
141/2015, de 08.09.

Cada um dos seguintes subscritores compromete-se a observar com fidelidade a Lei nº


103/2009, de 11.09, na redação da lei n.º 141/2015, de 08.09, e o Dec. Lei n.º 121/2010,
de 27.10, em tudo o que for relativo ao menor …

E por ser a expressão da verdade, assinam o presente, para que produza os seus legais e
jurídicos efeitos.

10 SUBSCRIÇÃO DO COMPROMISSO DE APADRINHAMENTO CIVIL

Padrinho Civil:
____________________________________________________________________________________

Mãe do menor:
____________________________________________________________________________________

A entidade encarregue de apoiar o apadrinhamento civil:


____________________________________________________________________________________

Procurador da República:
____________________________________________________________________________________

Local e Data: ________________________________


F. Averiguações Oficiosas: Cartas Rogatórias.

Neste domínio e com vista a determinar os procedimentos a seguir, há que dividir os paí-
ses em dois grandes grupos: os que pertencem a União Europeia e os outros.

De facto relativamente aos países da União Europeia a aludida carta rogatória é expedida
ao abrigo e nos termos do REGULAMENTO COMUNITÁRIO (CE) 1206/2001, de 28-05-
2001

enquanto que, relativamente aos demais países, tal rogatória é expedida ao abrigo e nos
temos da CONVENÇÃO DE HAIA de 18 de março de 1970, Sobre Obtenção de Provas
no Estrangeiro em Matéria Civil ou Comercial.

Esta distinção é muito relevante, não só porque os formulários a utilizar são diferentes
mas também porque os procedimentos a adotar são diversos.

Assim e quanto a estes, quando a carta é expedida nos termos do Regulamento Comuni-
tário o expediente é enviado diretamente para o Tribunal territorialmente competente de
Estado-Membro onde deve ser cumprida.

A identificação desse tribunal competente pode ser procurada no seguinte link:

http://ec.europa.eu/justice_home/judicialatlascivil/html/te_searchmunicipality_pt.jsp

Diversamente, quando expedimos uma carta nos termos da Convenção de Haia o expedi-
ente é enviado para a DGAJ, a quem incumbe o seu encaminhamento, através da respetiva
congénere do Estado destinatário, para o Tribunal respetivo.

Naturalmente que, em ambos os casos, o nosso pedido tem de ser formalizado através do
formulário respetivo e deve ser instruído com os seguintes documentos:

 Certidão do assento de nascimento do menor

 Despacho do Magistrado que determinou a diligência

 Cópia dos seguintes artigos do Código Civil:

o ARTIGO 1849.º
o ARTIGO 1850.º

o ARTIGO 1852.º

o ARTIGO 1853.º

o ARTIGO 1858.º

 Cópia dos seguintes artigos do Regime Geral do Processo Tutelar Cível:

o ARTIGO 60.º;

o ARTIGO 61.º;

o ARTIGO 62.º;

o ARTIGO 63.º;

o ARTIGO 64.º;

o ARTIGO 65.º;

 Minuta de Termo de Perfilhação

Caso se pretenda a tomada de declarações ao pretenso progenitor deve ainda juntar-se


cópia do auto de declarações da mãe do menor e, se com tal pedido se pretender a audição
de testemunhas, deve igualmente juntar-se cópia do auto de declarações do pretenso pro-
genitor.

Todos estes documentos têm de ser traduzidos na língua do país destinatário da carta ro-
gatória.

Porque o conteúdo desses documentos é praticamente igual (o que é diferente são os no-
mes, moradas e datas), existe no SIMP a sua tradução nas línguas mais utilizadas11, assim
se obtendo maior celeridade e economia processuais.

Uma última nota para referir que, quer quando se expede carta precatória para o consula-
do português quer quando se envia carta rogatória para Tribunal estrangeiro para audição
da mãe do menor deve, cumulativamente, pedir-se também imediatamente a audição do
pretenso progenitor que aquela indique – e a subscrição por este de termo de perfilhação
se este aceitar a paternidade do menor –, bem como das testemunhas por ambos indica-
das, caso residam na área do consulado / país do tribunal deprecado.

11
Relativamente à língua alemã disponibiliza-se ainda a tradução dos algarismos e meses do ano
F.1. ANEXO: questões a colocar a mãe que regista filho sem menção da paternidade
em consulado de Portugal no estrangeiro.

a) Quem é o pai da menor (nome, morada, local de trabalho, data de nasci-


mento, naturalidade, filiação, telefones e telemóveis, correio eletrónico);

b) Se só com o pretenso pai manteve relações sexuais nos primeiros 120 di-
as dos 300 que precederam o nascimento da menor (caso tenha mantido re-
lações sexuais com outro(s) indivíduo(s) nesse período de tempo solicita-se
o fornecimento da sua identificação nos mesmos termos);

c) Se durante o mesmo período de tempo teve namoro ou viveu com o ale-


gado progenitor em condições semelhantes às dos cônjuges e, na afirmati-
va, onde tal aconteceu (indicar endereços, etc.) e quem tem disso conheci-
mento;

d) Se o pretenso progenitor usou de violência, ameaça, promessa de casa-


mento, abuso de confiança ou de autoridade para ter relações sexuais con-
sigo;

e) Se o pretenso pai reconheceu a paternidade da menor perante terceiros


e se estes também consideram o menor como filho daquele (concretizar lo-
cais, eventos, datas, etc.);

f) Se existe algum escrito – v.g. carta ou mensagem, correio eletrónico - re-


digido pelo pretenso pai e no qual o mesmo reconheça a paternidade do
menor;

g) Quais as testemunhas que indica para comprovar os factos alegados;

h) Se não se opõe, caso seja necessário, à realização de exames laboratori-


ais para determinação da paternidade de seu filho e, neste caso, se tem
meios económicos para os pagar.

Nota: juntar fotografias e outros elementos de prova relevantes.


F.2. Pedido de obtenção de provas nos termos do artigo 4.º do Regulamento (CE) n.º
1206/2001 do Conselho, de 28 de maio de 2001, relativo à cooperação entre os tri-
bunais dos Estados-Membros no domínio da obtenção de provas em matéria civil e
comercial (JO L 174 de 27.06.2001, p.1)

FORMULÁRIO A
(no SIMP encontram-se as versões em língua estrangeira)

Pedido de obtenção de provas nos termos do artigo 4.º do Regulamento (CE) n.º
1206/2001 do Conselho, de 28 de maio de 2001, relativo à cooperação entre os tri-
bunais dos Estados-Membros no domínio da obtenção de provas em matéria civil e
comercial (JO L 174 de 27.06.2001, p.1)

1. Referência do tribunal requerente: Tribunal de Família e Menores da Figueira da


Foz
Referência:
Processo n.º ……., Averiguação Oficiosa de Paternidade

2. Referência do tribunal requerido:

3. Tribunal requerente

3.1. Denominação: Serviços do Ministério Público junto do Tribunal de Famí-


lia e Menores da Figueira da Foz.

3.2. Endereço:

3.2.1. Rua e nº. / Caixa postal:

3.2.2. Localidade e código postal:

3.2.3. País: Portugal

3.3. Tel.:

3.4. Fax:

3.5. Correio eletrónico:

4. Tribunal requerido

4.1. Denominação:

4.2. Endereço:

4.2.1. Rua e n.º / Caixa postal:

4.2.2. Localidade e código postal:

4.2.3. País: França


4.3. Tel.:

4.4. Fax:

4.5. Correio eletrónico:

5. Demandante

5.1. Nome: Ministério Público junto do Tribunal de Família e Menores da Figueira


da Foz
5.2. Endereço:

5.2.1. Rua e nº. / Caixa postal:

5.2.2. Localidade e código postal:

5.2.3.País: Portugal

5.3. Tel.:

5.4. Fax:

5.5. Correio eletrónico:

6. Representantes do demandante

6.1. Nome:

6.2. Endereço:

6.2.1. Rua e n.º / Caixa postal:

6.2.2. Localidade e código postal:

6.2.3. País:

6.3. Tel.:

6.4. Fax:

6.5. Correio eletrónico:

7. Demandado

7.1. Nome:

7.2. Endereço:

7.2.1. Rua e n.º / Caixa postal: ….

7.2.2. Localidade e código postal:

7.2.3 País:
7.3. Tel.:

7.4. Fax:

7.5. Correio eletrónico:

8. Representantes do demandado

8.1. Nome:

8.2. Endereço:

8.2.1. Rua e n.º / Caixa postal:

8.2.2. Localidade e código postal:

8.3.2. País:

8.3. Tel.:

8.4. Fax:

8.5. Correio eletrónico:

9. Presença e participação das partes

9.1. As partes e, se for caso disso, os seus representantes estarão presentes


na obtenção das provas:

9.2. É solicitada a presença das partes e, se for caso disso, dos seus repre-
sentantes:

10. Presença e participação dos representantes do tribunal requerente

10.1. Os representantes estarão presentes na obtenção das provas:

10.2. É solicitada a participação dos representantes:

10.2.1. Nome:

10.2.2. Identificação

10.2.3. Cargo

10.2.4. Funções

11. Natureza e objeto da ação e exposição sumária dos factos (eventualmente em ane-
xo):
Averiguação Oficiosa de Paternidade cujo objeto visa a efetiva identificação
do progenitor
(através da progenitora) e da consequente perfilhação

12. Obtenção de provas


12.1. Descrição da obtenção de provas (eventualmente em anexo)

12.2. Audição de testemunhas / Audição da mãe da menor

12.2.1. Apelido e nome próprio: __________

12.2.2. Endereço: __________,

12.2.3. Tel.:

12.2.4. Fax:

12.2.5. Correio eletrónico:

12.2.6. Questões a colocar às testemunhas ou exposição dos factos so-


bre os quais devem ser ouvidas (em anexo, se for caso disso):

12.2.7. Direito de recusa de depor nos termos da legislação em vigor


no Estado-Membro do tribunal requerente (em anexo, se for caso dis-
so):

12.2.8. O depoimento deve ser feito sob

12.2.8.1. Juramento:

12.2.8.2. Declaração pela honra:

12.2.9. Quaisquer outras informações que o tribunal requerente con-


sidere necessárias (em anexo, se necessário)

12.3. Outra obtenção de provas

12.3.1. Documentos a examinar e uma descrição da obtenção de pro-


vas solicitada (em anexo, se for caso disso):

12.3.2. Objetos a examinar e uma descrição da obtenção de provas so-


licitada (em anexo, se for caso disso):

13. É favor executar o pedido

13.1. Em conformidade com o procedimento especial específico (n.º 3 do


artigo 10.º) previsto na legislação do Estado-Membro do tribunal reque-
rente e/ou através de tecnologias da comunicação (n.º 4 do artigo 10.º)
descritos no anexo:

13.2. São necessárias as seguintes informações para a sua aplicação:

Feito em: Figueira da Foz

Data:

O PROCURADOR DA REPÚBLICA
F.3. Pedido de obtenção de provas - Regulamento (CE) n.° 1206/2001, do Conselho
da União Europeia, de 28 de Maio de 2001: Oficio-Circular n.° 36/2003, da DGAJ/
DSJCJI

Oficio-Circular n.° 36/2003, da DGAJ/ DSJCJI

"A partir de 1 de Janeiro de 2004 será aplicável o Regulamento n.° 1206/2001, do Conselho
da União Europeia, de 28 de maio de 2001, aos pedidos de obtenção de provas em matérias
civil e comercial entre os tribunais dos seguintes Estados-Membros da União Europeia: Ale-
manha, Áustria, Bélgica, Espanha, Finlândia, França, Grécia, Irlanda, Itália, Luxemburgo,
Países Baixos (Holanda), Portugal, Reino Unido e Suécia. No âmbito do referido regulamento
destacam-se os seguintes aspetos:

1. O pedido

Os tribunais devem efetuar os pedidos em formulário anexo ao Regulamento n.° 1206/2001.


Assim:

a) Quando se solicitar ao tribunal estrangeiro que realize a diligência de obtenção de provas,


o tribunal português deve utilizar o formulário A;

b) Se, de modo diverso, se pretender que a obtenção de provas seja efetuada pelo magistrado
português, mediante a utilização da teleconferência, o tribunal português deve elaborar o
pedido através do formulário I (por lapso, o n.° 1 do artigo 4.° do regulamento, na versão
portuguesa, refere o formulário H, e a epígrafe da secção 4 do capítulo II alude ao tri-
bunal requerido quando está em causa o tribunal requerente).

Quanto às línguas a utilizar, os pedidos devem ser formulados do seguinte modo: no que se
refere à parte pré-impressa do formulário, pode ser utilizada qualquer uma das línguas ofi-
ciais da União Europeia. Quanto à parte a preencher, deve ser utilizada uma das seguintes
línguas:

a) Língua oficial do Estado-Membro requerido;

b) No caso de existirem várias línguas oficiais no Estado-Membro requerido, na língua oficial


ou numa das línguas oficiais do local em que devem ser obtidas as provas requeridas;

c) Numa outra língua que o Estado-Membro requerido tenha indicado poder aceitar.
Tendo em conta as declarações que alguns Estados-Membros já efetuaram, são as seguintes
as línguas que podem ser utilizadas nos pedidos efetuados para os seguintes Estados-
Membros:

Alemanha: alemão e inglês; Áustria: alemão e inglês; Espanha: espanhol e português; Fin-
lândia: finlandês, sueco e inglês; França: francês; Grécia: grego, francês e inglês; Itália: itali-
ano; Luxemburgo: francês e alemão;

Países Baixos: neerlandês e inglês;

Reino Unido: inglês e francês;

Suécia: sueco e inglês.

Portugal declarou aceitar, para além do português, o espanhol.

Todos os eventuais documentos que o tribunal requerente enviar para a execução do pedido
devem ser acompanhados de uma tradução na língua em que o pedido tiver sido redigido.

2. Receção do pedido

Recebido o pedido, o tribunal requerido deve enviar um aviso de receção ao tribunal reque-
rente, no prazo de sete dias a contar da receção, utilizando o formulário B. É utilizado o
mesmo aviso de receção quando no for possível, desde logo, tratar o pedido por ocorrer uma
das seguintes situações:

a) A língua em que o formulário está preenchido não é aceite;

b) O documento não é legível. Caso não seja competente para a realização do pedido, o tri-
bunal deve retransmiti-lo ao tribunal competente, informando o tribunal requerente, utili-
zando para o efeito o formulário A (vd. a sua parte final).

3. Pedido incompleto

Se o pedido não puder ser executado por:

a) Não conter todas as indicações exigidas;

b) Não ter sido efetuado um depósito ou adiantamento de pagamento, se a tal houver lugar,
nos termos do n.° 3 do artigo 18.°, o tribunal requerido deve informar o tribunal requerente
nos termos do artigo 8.°, utilizando, para o efeito, o formulário C.

4. Recusa de execução
Quando o tribunal requerido recusar a execução do pedido por:

a) O pedido não estar abrangido pelo âmbito de aplicação do regulamento;

b) O pedido não fazer parte das atribuições dos tribunais;

c) O tribunal requerente não responder ao pedido de elementos complementares no prazo de


30 dias a contar da data em que tal foi solicitado;

d) Não ser efectuado o depósito ou adiantamento de pagamento a que possa haver deve noti-
ficar o tribunal requerente, utilizando para o efeito o formulário H (por lapso, o n.° 4 do
artigo 14.° do regulamento, na versão portuguesa, refere o formulário G).

5. Notificação de atrasos

Se o tribunal requerido não puder proceder à execução do pedido no prazo de 90 dias a con-
tar da data da receção, deve informar do facto o tribunal requerente, utilizando para o feito
o formulário G. Para tanto o tribunal requerido deve indicar os motivos que estão na origem
do atraso e o lapso de tempo que considera necessário para executar o pedido.

6. Procedimento após a execução do pedido

Executado o pedido, o tribunal requerido envia ao tribunal requerente os documentos com-


provativos da execução do pedido, devolvendo, se necessário, os documentos enviados. Todos
esses elementos devem ser acompanhados de uma confirmação de execução, utilizando para
o efeito o formulário H.

7. Outras comunicações

Todas as demais comunicações efetuadas no domínio do presente regulamento devem ob-


servar as regras linguísticas enunciadas para os pedidos, devendo ser utilizados, sempre que
existam, os respetivos formulários.

8. Custas

Em regra, a execução dos pedidos não pode dar lugar ao reembolso de taxas ou custas. Tal
regra não se aplica a:

a) Honorários pagos a peritos e intérpretes;

b) Custos resultantes da aplicação dos n.°s 3 e 4 do artigo 10.º Quanto seja requerido o pare-
cer de um perito, o tribunal requerido pode, antes de executar o respetivo pedido, solicitar ao
tribunal requerente que efetue um depósito adequado ou um adiantamento sobre as despe-
sas a efetuar. Nos demais casos, um depósito ou um adiantamento não poderão ser condição
de execução do pedido.

9. Entidade central

A entidade central designada por Portugal no âmbito do presente regulamento é a Direcção-


Geral da Administração da Justiça.

10. Anexos

Em anexo à presente circular é remetido o Regulamento n.° 1206/2001, do Conselho da Uni-


ão Europeia, de 28 de Maio de 2001, incluindo os seus anexos, os quais estão igualmente dis-
poníveis no sítio Internet desta Direcção-Geral. A curto prazo poderão igualmente ser encon-
trados na aplicação informática Habilus.

11. Sítio Internet da União Europeia

No sítio Internet da Direcção-Geral da Administração da Justiça os senhores oficiais de justi-


ça poderão encontrar a ligação para o respetivo sítio Internet da União Europeia

(http:/ / europa.eu.int/comm/justice_home/fsj/civil/ evidence/ fsj_civil_regulation_en. htm).

12. Esclarecimentos adicionais

Para qualquer esclarecimento adicional poderá ser contactada a Divisão de Cooperação


Judiciária Internacional da Direcção-Geral da Administração da Justiça através dos seguintes
telefones: 21.790.62.10/21.790.62.13."

NOTAS AO REGULAMENTO (CE) n.° 1206/2001 do Conselho, de 28 de maio de 2001

- O n.º 2 do artigo 19.º do Regulamento foi alterado pelo ponto 1 do n.º 2 do anexo do Regu-
lamento CE n.º 1103/2008 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 22 de outubro de 2008,
que adapta à Decisão 1999/468/CE do Conselho certos atos sujeitos ao procedimento previs-
to no artigo 251.º do Tratado, no que se refere ao procedimento de regulamentação com
controlo (JOUE 14 novembro);

- O artigo 20.º do Regulamento foi alterado pelo ponto 2 do n.º 2 do anexo do Regulamento
CE n.º 1103/2008 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 22 de outubro de 2008, que
adapta à Decisão 1999/468/CE do Conselho certos actos sujeitos ao procedimento previsto
no artigo 251.º do Tratado, no que se refere ao procedimento de regulamentação com con-
trolo (JOUE 14 novembro).

- Vide Acórdão TJUE (Primeira Secção), de 17 de fevereiro de 2011, que declara: « Os artigos
14.° e 18.° do Regulamento (CE) n.° 1206/2001 do Conselho, de 28 de maio de 2001, relativo
à cooperação entre os tribunais dos Estados-Membros no domínio da obtenção de provas em
matéria civil ou comercial, devem ser interpretados no sentido de que um tribunal requeren-
te não está obrigado a pagar ao tribunal requerido um adiantamento da compensação a
atribuir à testemunha inquirida nem ao respetivo reembolso.»

- Relacionado com o Regulamento (CE) n.° 1206/2001 do Conselho, de 28 de maio de 2001,


está o Regulamento (EU) n.º 655/2014, de 15 de maio (procedimento de decisão europeia de
arresto de contas para facilitar a cobrança transfronteiriça de créditos em matéria civil e
comercial).
G. Diversos
G.1. Modelos de ACORDO de regulação do exercício das responsabilidades parentais

ACORDO DE REGULAÇÃO DO

EXERCÍCIO DAS RESPONSABILIDADES PARENTAIS

Os pais do(s) menor(es) acima identificado(s) vêm apresentar o seguinte


acordo de regulação do exercício das responsabilidades parentais:

1.º

O menor ficará a residir com ___________________________, sendo esse o seu domicí-


lio legal para efeitos do art.º 85.º do Código Civil.

2.º

As decisões de particular importância relativamente à vida do menor devem


ser tomadas por ambos os progenitores, designadamente as elencadas em docu-
mento anexo (Anexo 1).

3.º

O exercício das responsabilidades parentais relativas aos atos da vida cor-


rente do menor cabe ao progenitor com quem ele reside habitualmente, ou ao pro-
genitor com quem ele se encontre temporariamente; porém, este último, ao exercer
as suas responsabilidades, não deve contrariar as orientações educativas mais rele-
vantes (cf. a) os horários de dormir e de tomar as refeições; b) os horários e cumpri-
mento das obrigações curriculares e extracurriculares (preparar trabalhos de casa
ou a frequência de alguma atividade que o menor desenvolva habitualmente); c) as
regras corretivas), tal como elas são definidas pelo progenitor com quem o filho re-
side habitualmente.

4.º

O menor passará um fim de semana alternado com o pai/mãe, a começar no


dia___________, devendo este ir buscá-lo às __________horas de sexta-feira e entregá-lo às
______________horas de domingo.

5.º

Na semana em que o menor não esteja com o pai/mãe ao fim de semana, es-
te(a) último(a), à quarta-feira, irá buscá-lo à escola ou a casa da mãe/pai, neste caso
não havendo escola, sendo entregue na escola no dia seguinte, ou em casa da mãe,
até às 10h00, não havendo escola.

6.º
O menor passará com o pai/mãe o período compreendido entre o 1.º dia
após o termo do primeiro período escolar e as 11h30 do dia 25 de dezembro do
mesmo ano, ficando o restante período com a mãe/pai, alternando nos anos subse-
quentes.

Ou, Natal com um dos progenitores e Páscoa com o outro, alternando nos anos seguintes.

7.º

O menor passará a primeira semana das férias escolares de Páscoa de 20??


com a mãe/pai e a segunda semana com o pai/mãe, alternando-se a ordem nos anos
seguintes.

Ou, Natal com um dos progenitores e Páscoa com o outro, alternando nos anos seguintes.

8.º

Nas férias escolares de verão:

a) O menor passará o período de férias pessoais de cada progenitor com o


mesmo, devendo os períodos de férias ser comunicados pelos pais, um ao outro, até
30 de abril de cada ano;

b) Em caso de coincidência daqueles períodos, dever-se-á proceder à sua re-


partição em períodos iguais de gozo de férias do menor com os pais;

c) O restante período das férias escolares de verão será passado no regime


de estadias alternadas semanais, mudando ao domingo, após o jantar.

9.º

O menor passará o dia do aniversário de cada um dos pais na sua companhia,


sem prejuízo dos horários escolares e das suas atividades.

10.º

O menor passará o seu aniversário…

11.º

Os pais podem viajar nas férias escolares com o(s) filho(s) dentro da União
Europeia e para países terceiros, neste caso, desde que para lugar seguro, devendo
comunicar ao outro progenitor o país de destino e manterem-se telefonicamente
contactáveis.

12.º

O pai/mãe do menor pagará, a título de alimentos, o valor mensal de


_____________________, em 12 prestações anuais.

13.º
As despesas com a educação (material escolar, livros, viagens de estudo, re-
feições escolares), as atividades extracurriculares, desporto e explicações, estas
últimas três modalidades de despesas a combinar entre os progenitores, devendo a
aceitação revestir a forma escrita, médicas, consultas incluídas, e médico-
medicamentosas, todas na parte não comparticipada, serão comunicadas ao proge-
nitor devedor no prazo máximo e obrigatório de 30 dias, sob pena de não serem
exigíveis, acompanhadas de apresentação das faturas/recibos, a emitir em nome do
menor, devendo ser pagas no prazo de 30 dias, por transferência bancária.

OU

O pai/mãe do menor entregará uma prestação complementar a título de sus-


tento no valor de _________________________________, sempre que receber subsídio de férias
ou de Natal por inteiro.

Neste caso,

As despesas com próteses, aparelhos dentários, aparelhos auditivos, inter-


venções cirúrgicas, lentes e óculos, serão suportadas na proporção de metade por
cada progenitor, na parte não comparticipada, devendo ser comunicadas ao proge-
nitor devedor no prazo máximo de 30 dias, acompanhadas de apresentação das fa-
turas respetivas, a emitir em nome do menor, sendo pagas em idêntico prazo, por
transferência bancária.

14.º

Os alimentos serão depositados até ao dia 8 de cada mês na seguinte conta


bancária:
_______________________________________________________________________________________________________,
da agência ____________________________ do Banco________________________________________________,
não sendo legalmente admitidas deduções ao montante dos alimentos emergentes
da efetivação dos descontos (e.g. comissões bancárias ou postais) as quais serão a
cargo do devedor.

15.º

Ao alimentos serão atualizados anualmente em função de (riscar o que não


interessa):

Opção 1 - _________ € em janeiro de cada ano.

Opção 2- índice de inflação publicado pelo INE.

Opção 3 – aumentos na função pública.

Opção 4 - Salário (do devedor) de Janeiro do ano a atualizar : salário de janeiro do ano
anterior x pensão de alimentos do ano anterior = pensão atualizada

(exemplo: 1100: 1050= 1,047 x 250 € = 261,75 €, ou seja, atualizou-se a pensão de 250
€ para 261,75 €)

16.º
Não integra o conceito de alimentos o subsídio familiar a crianças e jovens
(cf. Decreto-Lei n.º 133-B/97, de 30.05, alterado pelos Decretos-Lei n.º 341/99, de
25.08, e 250/2001, de 21.09), que será processado ao progenitor com quem o me-
nor reside.

Os progenitores:

____________________________________________________________________

___________________________________________________________________

O menor

(deve dar a sua concordância, caso tenha maturidade ou, pelo menos, 10 anos):

__________________________________________________________________
ACORDO DE REGULAÇÃO DO

EXERCÍCIO DAS RESPONSABILIDADES PARENTAIS

(guarda compartilhada)

Os pais do(s) menor(es) acima identificado(s) vêm apresentar o seguinte


acordo de regulação do exercício das responsabilidades parentais:

1.º

O menor terá o seu domicílio civil e fiscal com o pai/mãe, para efeitos do art.º
85.º do Código Civil.

2.º

As decisões de particular importância relativamente à vida do menor devem


ser tomadas por ambos os progenitores, designadamente as elencadas em docu-
mento anexo (Anexo 1).

3.º

O exercício das responsabilidades parentais relativas aos atos da vida cor-


rente do menor cabe ao progenitor com quem ele reside habitualmente, ou ao pro-
genitor com quem ele se encontre temporariamente; porém, este último, ao exercer
as suas responsabilidades, não deve contrariar as orientações educativas mais rele-
vantes (cf. a) os horários de dormir e de tomar as refeições; b) os horários e cumpri-
mento das obrigações curriculares e extracurriculares (preparar trabalhos de casa
ou a frequência de alguma atividade que o menor desenvolva habitualmente); c) as
regras corretivas), tal como elas são definidas pelo progenitor com quem o filho re-
side habitualmente.

4.º

O menor passará uma semana alternada com o pai e com a mãe, a começar
no dia___________, devendo a troca processar-se ao domingo, após o jantar.

5.º

O menor passará com o pai/mãe o período compreendido entre o 1.º dia


após o termo do primeiro período escolar e as 11h30 do dia 25 de dezembro do
mesmo ano, ficando o restante período com a mãe/pai, alternando nos anos subse-
quentes.

6.º

O menor passará a primeira semana das férias escolares de Páscoa com a


mãe/pai e a segunda semana com o pai/mãe, alternando-se a ordem nos anos se-
guintes.
7.º

Nas férias escolares de verão:

a) O menor passará o período de férias pessoais de cada progenitor com o


mesmo, devendo os períodos de férias ser comunicados pelos pais, um ao outro, até
30 de abril de cada ano;

b) Em caso de coincidência daqueles períodos, dever-se-á proceder à sua re-


partição em períodos iguais de gozo de férias do menor com os pais;

c) O restante período das férias escolares de verão será passado no regime


normal, de alternância semanal.

8.º

O menor passará o dia do aniversário de cada um dos pais na sua companhia,


sem prejuízo dos horários escolares e das suas atividades.

9.º

O menor passará o seu aniversário…

10.º

Os pais podem viajar nas férias escolares com o(s) filho(s) dentro da União
Europeia e para países terceiros, neste caso, desde que para lugar seguro, devendo
comunicar ao outro progenitor o país de destino e manterem-se telefonicamente
contactáveis.

11.º

O pai/mãe do menor pagará, a título de alimentos, o valor mensal de


_____________________, em 12 prestações anuais.
(dever-se-á fixar uma prestação de alimentos a cargo do progenitor com mais rendimentos, quando a diferença de
rendimentos dos pais seja acentuada, pois o menor deve manter sensivelmente o mesmo nível de vida que teria se
os pais vivessem juntos, com as devidas adaptações)

12.º

As despesas com a educação (material escolar, livros, viagens de estudo, re-


feições escolares e atividades extracurriculares, designadamente, explicação a … e
prática desportiva de …), médicas e medicamentosas, na parte não comparticipada,
serão comunicadas ao progenitor devedor no prazo máximo e perentório de 30
(trinta) dias, acompanhadas de apresentação das faturas/recibos, a emitir em nome
do menor, devendo ser pagas no prazo de 30 (trinta), por transferência bancária.

OU

O pai/mãe do menor entregará uma prestação complementar a título de sus-


tento no valor de _________________________________, sempre que receber subsídio de férias
ou de Natal por inteiro.
Neste caso último caso,

As despesas com próteses, aparelhos dentários, aparelhos auditivos, inter-


venções cirúrgicas, lentes e óculos, serão suportadas na proporção de metade por
cada progenitor, na parte não comparticipada, devendo ser comunicadas ao proge-
nitor devedor no prazo máximo de 30 (trinta) dias, acompanhadas de apresentação
das faturas respetivas, a emitir em nome do menor, sendo pagas em idêntico prazo
por transferência bancária.

13.º

Os alimentos e o valor de despesas em dívida serão depositados até ao dia 8


de cada mês na seguinte conta bancária:

_______________________________________________________________________________________________________,
da agência ____________________________ do Banco________________________________________________,
não sendo legalmente admitidas deduções ao montante dos alimentos emergentes
da efetivação dos descontos (e.g. comissões bancárias ou postais) as quais serão a
cargo do devedor.

14.º

Ao alimentos serão atualizados anualmente em função de (riscar o que não


interessa):

Opção 1 - _________ € em janeiro de cada ano.

Opção 2- índice de inflação publicado pelo INE.

Opção 3 – aumentos na função pública.

Opção 4 - Salário (do devedor) de Janeiro do ano a atualizar : salário de janeiro do ano
anterior x pensão de alimentos do ano anterior = pensão atualizada

(exemplo: 1100: 1050= 1,047 x 250 € = 261,75 €, ou seja, atualizou-se a pensão de 250
€ para 261,75 €)

15.º

Não integra o conceito de alimentos o subsídio familiar a crianças e jovens


(cf. Decreto-Lei n.º 133-B/97, de 30.05, alterado pelos Decretos-Lei n.º 341/99, de
25.08, e 250/2001, de 21.09), que será processado ao progenitor com quem o me-
nor reside.

Os progenitores:

____________________________________________________________________
___________________________________________________________________

O menor

(deve dar a sua concordância, caso tenha maturidade ou, pelo menos, 10 anos):

__________________________________________________________________
G.1.1. Anexos ao acordo
ANEXO I

As decisões de particular importância relativamente à vida do menor devem


ser tomadas por ambos os progenitores, designadamente:

a) a escolha e inscrição da criança em estabelecimento de ensino privado ou pú-


blico, mas já não qual o estabelecimento de ensino público, se localizado na área
de residência habitual da criança;
b) as intervenções cirúrgicas que impliquem risco para a vida ou integridade fí-
sica da criança (incluindo as estéticas);
c) o exercício de uma atividade laboral por parte da criança ou adolescente (in-
cluindo as passagens de modelos, participação em espetáculos e atividades artís-
ticas ou de publicidade);
d) a escolha da orientação religiosa até aos dezasseis anos (artigos 1886.º do
Código Civil e 11.º da Lei da Liberdade Religiosa);
e) as saídas (de férias ou participando em atividades) para o estrangeiro;
f) a localização ou determinação do centro de vida (a alteração de residência
que implique uma mudança geográfica para local distante dentro do próprio pa-
ís ou para o estrangeiro, ou seja, a mudança de domicílio para o estrangeiro ou
das Ilhas ou para as Ilhas);
g) a prática de atividades desportivas que impliquem risco para a vida, saúde ou
integridade física;
h) a celebração de casamento aos dezasseis anos (artigos 1612.º do Código Civil
e 149.º do Código de Registo Civil);
i) uso de contraceção ou a interrupção da gravidez até aos dezasseis anos (arti-
go 142.º do Código Penal);
j) a obtenção da licença de condução de ciclomotores e de carta de condução de
motociclos de cilindrada não superior a 125 cm3;
k) o exercício do direito de queixa (artigos 1881.º do Código Civil e 113.º do Có-
digo Penal): tendencialmente deverá ser de ambos os progenitores que tenham a
guarda conjunta;
l) as decisões de administração que envolvam onerações ou alienações de bens
ou direitos da criança (artigo 1889.º do Código Civil);
m) as decisões que envolvam questões de disciplina grave relativas à criança ou
adolescente, nomeadamente aquelas que possam implicar a aplicação de medi-
da educativa disciplinar sancionatória;
n) a escolha da naturalidade (artigo 101.º, n.º 2 do Código de Registo Civil);.
o) a escolha de ensino universitário ou profissional;
p) receber indemnização a pagar ao menor;
q) requisição de passaporte; e
r) orientação profissional do filho.
ANEXO II

RESPONSABILIDADES PARENTAIS ACRESCIDAS


NO DIVÓRCIO OU SEPARAÇÃO

- Não envolvas os filhos nas disputas que tens com o(a) teu (tua) ex-companheiro(a);
- Estimula a relação deles com o outro progenitor e ambas as famílias alargadas;
- Entrega-os ao outro progenitor no caso de férias ou ausências e não a terceiros;
- Facilita o contacto telefónico dos filhos com o outro progenitor;
- Entrega-lhes toda a correspondência e prendas do outro progenitor;
- Valoriza sempre (ou, pelo menos, não desvalorizes) o outro progenitor;
- Não permitas críticas na presença dos filhos em relação ao outro progenitor;
- Faculta ao outro progenitor todas as informações escolares e de saúde dos vossos
filhos;
- Permite a participação do outro progenitor, se for conveniente, nas idas ao médico e
às reuniões da escola;
- Avisa o outro progenitor do evoluir das situações (ex.: novas consultas, resultados de
exames médicos, etc.);
- Consulta o outro progenitor antes de decidires questões relevantes;
- Faculta informações ao outro progenitor a respeito da escola, desporto, etc.;
- Não marques atividades nos fins de semana em que os vossos filhos menores vão
para o outro progenitor;
- Providencia pelo sustento (cf. alimentação, vestuário, etc.) dos vossos filhos; e
- Caso já exista um acordo ou decisão judicial de regulação do exercício das responsa-
bilidades parentais, cumpre e respeita sempre os termos lá fixados, pagando a pensão
de alimentos e as quantias lá fixadas, respeitando os períodos de visitas lá fixados e
facilitando o convívio dos vossos filhos com o outro progenitor;
Em suma, sede FELIZES com os vossos filhos!
Caso tenhas dúvidas:
- dirige-te aos serviços do Ministério Público da tua área;
- consulta o teu advogado;
- consulta o teu assistente social.
ANEXO III

O progenitor obrigado a pagar os alimentos DEVE ESTAR CIENTE de que o di-


reito legal a alimentos reveste as seguintes características:

- Indisponível (art.º 2008.º, n.º 1, do Cód. Civil), pois não pode haver renúncia ao
mesmo, sob pena de nulidade do contrato – art.º 280.º do Cód. Civil), podendo,
contudo, deixar de se peticionar alimentos ou renunciar-se a prestações vencidas;

- Impenhorável (art.º 2008.º, n.º 2, do Cód. Civil);

- Não pode o devedor proceder à compensação da dívida de alimentos por crédi-


tos de outra ordem que tenha para com o alimentando (art.º 853.º, n.º 1, al.ª b), do
Cód. Civil);

- Trata-se de uma obrigação conjunta e não solidária (art.º 513.º do Cód. Civil), já
que o devedor apenas responde de acordo com as suas reais possibilidades, sen-
do, então, a regra a conjunção e não a solidariedade;

- Natureza pessoal, cessando com a morte do alimentante e do alimentando, não


se transmitindo aos respetivos sucessores as prestações vincendas (art.º 2013.º,
n.º 1, al.ªs a) e b) do Cód. Civil). Todavia, as prestações vencidas que não tenham
sido pagas podem ser peticionadas aos herdeiros do obrigado;

- Caraterística da atualidade: devem aferir-se no momento da decisão as possibi-


lidades económicas do obrigado e as necessidades do beneficiário – art.º 2004.º,
n.º 1, do Cód. Civil;

- Caraterística da variabilidade: podendo ser reduzida ou aumentada a medida


exata do quantum alimentício – art.º 2012.º do Cód. Civil;

- O credor de alimentos goza de hipoteca legal sobre os bens do obrigado (art.º


705.º, al.ª d), do Cód. Civil), a qual deve ser registada na Conservatória de Registo
Predial/Comercial/Automóvel competente;

- Nos termos do art.º 737.º, n.º 1, do Cód. Civil, o credor de alimentos goza de pri-
vilégio mobiliário geral.

E ainda de que, em caso de não pagamento tempestivo dos alimentos, resulta


da lei que serão devidos juros de mora à taxa legal e compulsórios nos termos do
art.º 829-A, n.º 4, do Cód. Civil (cf. este artigo estabelece que «Quando for estipulado
ou judicialmente determinado qualquer pagamento em dinheiro corrente, são au-
tomaticamente devidos juros à taxa de 5% ao ano, desde a data em que a sentença
de condenação transitar em julgado, os quais acrescerão aos juros de mora, se estes
forem também devidos...»).
Anotações:

- Regimes possíveis de convívios:

a) um dia por semana;

b) dia de folga, devendo comunicar no início do mês ou com a antecedência possível as


folgas respetivas; em caso de coincidência de folgas, a alternar;

c) de sábado (10h30) a domingo (com ou sem jantar).

d) de sexta a domingo;

e) de sexta a segunda;

f) 5.ª feira após a escola até segunda-feira, a entregar na escola, quinzenalmente, passando
a quarta-feira (ou outro dia a definir) com o progenitor não guardião, desde a saída da
escola nesse dia e deixando na escola na quinta-feira ou em casa do progenitor guardião,
se for feriado, nas semanas em que não passa de 5.ª feira a segunda com o progenitor não
guardião.

g) de segunda a segunda, sem alimentos, suportando-se as despesas a metade;

h) guarda alternada quinzenal, com encontros durante a semana…

- Alimentos:

a) ver Tabela;

b) prestação complementar a título de sustento a retirar dos subsídios de férias e de Natal,


se recebidos por inteiro:

- Exemplo 1: recebe o salário mínimo e subsídio de férias e de Natal por in-


teiro: paga 79,50 € por mês e 200€ por conta de cada subsídio de fé-
rias/Natal; só ficam de fora as despesas com próteses, aparelhos dentá-
rios ou acústicos, consultas de especialidade (estas apenas se não exis-
tir subsistema), intervenções cirúrgicas, óculos e lentes, na parte não
comparticipada;

- Exemplo 2: recebe o salário mínimo e subsídio de férias, recebendo o de


Natal em duodécimos: paga 79,50 € por mês e 150€ por conta de cada sub-
sídio de férias; só ficam de fora as despesas com próteses, aparelhos
dentários ou acústicos, consultas de especialidade (estas apenas se não
existir subsistema), intervenções cirúrgicas, óculos e lentes, na parte
não comparticipada;

- Exemplo 3: dois filhos menores, sem deficiência, recebe o salário mínimo e


subsídio de férias e de Natal: paga 90,10 € por mês e 250€ por conta de cada
subsídio; só ficam de fora as despesas com próteses, aparelhos dentá-
rios ou acústicos, consultas de especialidade (estas apenas se não exis-
tir subsistema), intervenções cirúrgicas, óculos e lentes, na parte não
comparticipada;

- Exemplo 4: dois filhos menores, recebe o salário mínimo e subsídio de fé-


rias, recebendo o de Natal em duodécimos: paga 90,10 € por mês e 200€ por
conta de cada subsídio de férias; só ficam de fora as despesas com próte-
ses, aparelhos dentários ou acústicos, consultas de especialidade (estas
apenas se não existir subsistema), intervenções cirúrgicas, óculos e
lentes, na parte não comparticipada.
G.2. Introdução à Tabela para fixação de alimentos

No que concerne à obrigação de alimentos, importa referir que o art.º 36.º, n.º 3, da
C.R.P. estabelece o princípio de igualdade de deveres de ambos os progenitores na manu-
tenção dos filhos.
Com este princípio não pretende a lei que cada progenitor contribua com me-
tade do necessário à manutenção dos filhos, antes se visa que sobre cada um deles
impenda a responsabilidade de assegurar, na medida das suas possibilidades, o que
for necessário ao sustento, habitação e vestuário (alimentos naturais), bem como à
instrução e educação do menor (alimentos civis).
Como se vê, o conceito de sustento ultrapassa a simples necessidade de alimenta-
ção, abrangendo a satisfação de todas as necessidades vitais de quem carece de alimentos,
nomeadamente as relacionadas com a saúde, os transportes, a segurança, a educação e
instrução (art.º 2003.º do CC).
Por outro lado, a obrigação de sustento dos pais para com os menores é mais vasta
do que a existente nos restantes casos de direito a alimentos definidos na lei (art.º 2009.º,
do CC).
Com efeito, a obrigação de sustento dos pais não se afere pelo estritamente neces-
sário à satisfação das necessidades básicas dos seus filhos, compreendendo o indispensá-
vel à promoção adequada do desenvolvimento físico, intelectual e moral dos mesmos, sem
embargo de se ter em linha de conta as possibilidades dos pais para a satisfação daquelas
necessidades, prescrevendo o art.º 2004.º, n.º 1, do CC que os alimentos devem ser pro-
porcionais aos meios daquele que houver de prestá-los e à necessidade daquele que hou-
ver de recebê-los.

Aos valores da Tabela poderá acrescer uma prestação complementar a título de


sustento por conta de cada subsídio de férias e de Natal, se recebidos por inteiro. Como
refere Maria Clara Sottomayor, em Regulação do Exercício do Poder Paternal nos Casos de
Divórcio, Almedina, 2.ª Reimpressão da 4.ª Edição, página 205, «No Natal e nas férias a
prestação de alimentos deve ser aumentada proporcionalmente ao aumento do rendimen-
to auferido pelo progenitor sem a guarda.”

Exemplos de prestação complementar a título de sustento a retirar dos subsídios


de férias e de Natal, se recebidos por inteiro:

- Exemplo 1: recebe o salário mínimo e subsídio de férias e de Natal por in-


teiro: paga 79,50 € por mês e 200€ por conta de cada subsídio de fé-
rias/Natal; só ficam de fora as despesas com próteses, aparelhos dentá-
rios ou acústicos, consultas de especialidade (estas apenas se não exis-
tir subsistema), intervenções cirúrgicas, óculos e lentes, na parte não
comparticipada;

- Exemplo 2: recebe o salário mínimo e subsídio de férias, recebendo o de


Natal em duodécimos: paga 79,50 € por mês e 150€ por conta de cada sub-
sídio de férias; só ficam de fora as despesas com próteses, aparelhos
dentários ou acústicos, consultas de especialidade (estas apenas se não
existir subsistema), intervenções cirúrgicas, óculos e lentes, na parte
não comparticipada;

- Exemplo 3: dois filhos menores, sem deficiência, recebe o salário mínimo e


subsídio de férias e de Natal: paga 90,10 € por mês e 250€ por conta de cada
subsídio; só ficam de fora as despesas com próteses, aparelhos dentá-
rios ou acústicos, consultas de especialidade (estas apenas se não exis-
tir subsistema), intervenções cirúrgicas, óculos e lentes, na parte não
comparticipada;

- Exemplo 4: dois filhos menores, recebe o salário mínimo e subsídio de fé-


rias, recebendo o de Natal em duodécimos: paga 90,10 € por mês e 200€ por
conta de cada subsídio de férias; só ficam de fora as despesas com próte-
ses, aparelhos dentários ou acústicos, consultas de especialidade (estas
apenas se não existir subsistema), intervenções cirúrgicas, óculos e
lentes, na parte não comparticipada.

Ficarão de fora apenas as despesas muito extraordinárias, designadamente com


próteses, aparelhos dentários, aparelhos auditivos ou acústicos, consultas de especialidade
(estas apenas se não existir subsistema), intervenções cirúrgicas e óculos, que serão su-
portadas na proporção de metade por cada progenitor, na parte não comparticipada, de-
vendo ser comunicadas ao progenitor devedor no prazo máximo de 30 dias, acompanha-
das de apresentação das faturas respetivas, a emitir em nome do menor, sendo pagas em
idêntico prazo.

A acrescer à prestação pecuniária, em casos de rendimentos mais elevados, poderá


ainda ser acordado que o menor seja nomeado beneficiário de um seguro de vida subs-
crito pelo progenitor sem a guarda ou que este constitua a favor do menor um seguro de
saúde ou constitua um fundo bancário para prover à educação da criança (cf. Maria
Clara Sottomayor, em Regulação do Exercício do Poder Paternal nos Casos de Divórcio,
Almedina, 2.ª Reimpressão da 4.ª Edição, página 203). Trata-se de hipóteses aplicáveis em
situações de rendimentos mais elevados…
Aspetos operativos:

a) os valores poderão variar em função de diversos fatores, desde logo:

- idade do menor;

- existência de outros irmãos;

- deficiência do menor e necessidade de cuidados especiais;

- de o pai ter de percorrer uma distância muito longa para


poder conviver com a criança;

- pelo facto de o pai ter necessidades especiais;

- pelo facto de existirem dívidas dos pais;

- etc.

b) Na fixação do montante de alimentos devidos aos filhos deverá ter-se


presente que estes deverão manter o mesmo nível de vida que tinham an-
tes da separação dos pais, salvo se o nível de vida era exorbitante e estava
acima da capacidade dos pais.

c) Os progenitores devem sofrer a mesma redução de nível de vida, pelo


facto da separação e no que respeita aos encargos com os filhos.

d) Princípios a considerar:

*) Os pais têm o direito de manter um rendimento suficiente


para satisfazer as suas necessidades básicas, em ordem a
encorajar o trabalho;

*) Não se deve baixar do limiar de risco de pobreza, nos ca-


sos de rendimentos mais baixos, passando a ser necessário
convocar outros princípios do Estado de Direito Material e
Social nestes casos;
*) O limite de 202,34 € (cf. art.ºs 738.º, n.º 4, do Código de
Processo Civil e 12.º da Portaria 65/2016, de 31.04) apenas
deverá ser convocado em situações de manifesto incumpri-
mento e existindo força de trabalho não exercida;

*) Até as necessidades básicas das crianças serem satisfeitas


os pais não deviam reter mais rendimento do que o reque-
rido para providenciar às suas necessidades de autossobre-
vivência;

*) Quando o rendimento seja suficiente para cobrir as ne-


cessidades básicas dos pais e de todos os dependentes, os fi-
lhos têm o direito de partilhar o rendimento adicional dos
pais para que possam beneficiar do nível de vida destes.

e) Podemos identificar os seguintes escalões etários, sendo impor-


tante a construção de uma tabela de despesas essenciais em cada es-
calão:

- pré-escolar;

- escola primária;

- 5.º e 6.º ano de escolaridade;

- 7.º ao 9.º ano de escolaridade;

- 10.º ao 12.º ano de escolaridade;

- Curso superior ou equivalente.

f) Na construção da Tabela para fixação de alimentos teve-se por


objetivo que em casos de salário médio da União Europeia, espaço
económico em que se insere Portugal, os alimentos para um filho re-
presentem 28,50 % do rendimento líquido de quem paga, para dois
filhos 31,50 % e para três filhos 32,50%, sem consideração na Tabe-
la das despesas com habitação (renda ou prestação da casa) e de
educação, e dos subsídios de férias e de Natal.

g) O Fundo de Garantia de Alimentos está mal desenhado, pois:


- funciona em função de alimentos fixados pelas partes, o que
não é equitativo, violando o princípio da igualdade de tratamen-
to entre as crianças;

- não intervém complementarmente aos alimentos que os pais


podem pagar, designadamente em situações de deficiência, etc.,
sem prejuízo de outros apoios sociais que devem existir; e

- seria possível reconfigurar o FGADM de forma mais justa sem


aumento dos encargos do Estado, construindo uma Tabela au-
tónoma, sujeita a outros critérios, tarefa que não é difícil.
G.3. Tabela para fixação de alimentos
TABELA PARA FIXAÇÃO DE ALIMENTOS
(Limiar de risco de pobreza em Portugal:
- ano de 2015 (atualizado a 20-12-2016): 5.268 € : 12 = 439 €/mês – valor ainda provisório)

Limiar de risco de pobreza na EU e países vizinhos (18-10-2016 – dados do PORDATA):

- Grécia: 4.512 € anuais : 12 = 376 €/mês – salário mínimo em 2016: 683,76 €

- Eslovénia: 7.399 € : 12 = 616,58 €/mês – salário mínimo:


- Espanha: 8.011 € anuais : 12 = 667,58 €/mês – salário mínimo em 2016: 764,40 €
- Chipre: 8.276 € : 12 = 689,67 €/mês – salário mínimo:
- Itália: 9.508 € : 12 = 792,33 €/mês – salário mínimo:
- Alemanha: 12.401 € anuais: 12 = 1.033,42 €/mês – salário mínimo em 2016: 1.473,00 €
- Reino Unido: 12.567 € : 12 = 1.047,25 €/mês – salário mínimo em 2016: 1.529,03 €
- Países Baixos: 12.692 € : 12 = 1.057,66 €/mês – salário mínimo em 2016: 1.507,80 €
- França: 12.849 € anuais : 12 = 1.070,75 €/mês – salário mínimo em 2016: 1.466,62 €
- Bélgica: 12.993 € anuais : 12 = 1.082,75 €/mês – salário mínimo em 2016: 1.501,82 €
- Áustria: 13.959 € : 12 = 1.163,25 €/mês – salário mínimo:
- Islândia: 14.218 € : 12 = 1.184,83 €/mês – salário mínimo:
- Suécia: 15.984 € : 12 = 1.332,00 €/mês – salário mínimo:
- Dinamarca: 17.019 € : 12 = 1.418,25 €/mês – salário mínimo:
- Luxemburgo: 21.162 € anuais : 12 = 1.763,50 €/mês – salário mínimo em 2016: 1.922,96 €

- Suíça: 24.475 € anuais (ano de 2013) : 12 = 2.039,58 €/mês – salário mínimo:


- Noruega: 24.890 € anuais : 12 = 2.074,17 €/mês – salário mínimo:

Salário Mínimo nos E.U.A. em 2016: 1.155,35 €

Obs.: os salário mínimos supraindicados são valores médios mensalizados.

Obs.: não se consideram as despesas com prestações de casa/renda de casa, que deverão ser consideradas
à parte, nem as despesas médicas, medico-medicamentosas e escolares, que deverão ser pagas à parte.

Obs.: não se consideram os subsídios de férias e de Natal se recebidos por inteiro.

Obs.: As referências a salários mínimos de países estrangeiros incluem subsídios (férias e/ou Natal).

Salário Alimentos – 1 Salário Alimentos – Salário Alimentos Salário Alimen- Salá-


líquido filho líquido 2 filhos líquido – líquido tos – rio
disponível disponível 3 filhos disponível 4 filhos líqui-
do
dispo-
nível
15% 17 % 18 % 20 %

557 € 83,55 € 473,45 € 94,69 € 462,31 € 100,26 € 456,74 € 111,40 € 445,60



560 € 84,00 € 476,00 € 95,20 € 464,80 € 100,80 € 459,20 € 112,00 € 448,00

565 € 84,75 € 480,25 € 96,05 € 468,95 € 101,70 € 463,30 € 113,00 € 452,00

570 € 85,50 € 484,50 € 96,90 € 473,10 € 102,60 € 467,40 € 114,00 € 456,00

575 € 86,25 € 488,75 € 97,75 € 477,25 € 103,50 € 471,50 € 115,00 € 460,00

600 € 90,00 € 510,00 € 102,00 € 498,00 € 108,00 € 492,00 € 120,00 € 480,00

625 € 93,75 € 531,25 € 106,25 € 518,75 € 112,50 € 512,50 € 125,00 € 500,00

18% 20 % 21 % 23 %
650 € 117,00 € 533,00 € 130,00 € 520,00 € 136,50 € 513,50 € 149,50 € 500,50

675 € 121,50 € 553,50 € 135,00 € 540,00 € 141,75 € 533,25 € 155,25 € 519,75

683,76 € 123,08 € 560,68 € 136,76 € 547,00 € 143,59 € 540,17 € 157,26 € 526,50

(salário
mínimo na
Grécia em
2015)
700 € 126,00 € 574,00 € 140,00 € 560,00 € 147,00 € 553,00 € 161,00 € 539,00

725 € 130,50 € 594,50 € 145,00 € 580,00 € 152,25 € 572,75 € 166,75 € 558,25

750 € 135,00 € 615,00 € 150,00 € 600,00 € 157,50 € 592,50 € 172,50 € 577,50

19% 21% 22% 24%


186,00 €
775 € 147,25 € 627,75 € 162,75 612,25 € 170,50 € 604,50 € 589,00

(764,40 €)
(salário
mínimo em
Espanha no
ano de
2016

800 € 152,00 € 648,00 € 168,00 € 632,00 € 176,00 € 624,00 € 192,00 € 608,00



825 € 156,75 € 668,25 € 173,25 € 651,75 € 181,50 € 643,50 € 198,00 € 627,00

850 € 161,50 € 688,50 € 178,50 € 671,50 € 187,00 € 663,00 € 204,00 € 646,00

875 € 166,25 € 708,75 € 183,75 € 691,25 € 192,50 € 682,50 € 210,00 € 665,00

900 € 171,00 € 729,00 € 189,00 € 711,00 € 198,00 € 702,00 € 216,00 € 684,00

925 € 175,75 € 749,25 € 194,25 € 730,75 € 203,50 € 721,50 € 222,00 € 703,00

950 € 180,50 € 769,50 € 199,50 € 750,50 € 209,00 € 741,00 € 228,00 € 722,00

975 € 185,25 € 789,75 € 204,75 € 770,25 € 214,50 € 760,50 € 234,00 € 741,00

19,50 % 22,5 % 23 %
(…)
1.000 € 195,00 € 805,00 € 225,00 € 775,00 € 230,00 € 770,00 €
(sensível-
mente o
salário
médio em
Portugal,
em 2015)
1.025 € 199,88 € 825,12 € 230,63 € 794,37 € 235,75 € 789,25 €

1.050 € 204,75 € 845,25 € 236,25 € 813,75 € 241,50 € 808,50 €

1.075 € 209,63 € 865,37 € 241,88 € 833,12 € 247,25 € 827,75 €

1.100 € 214,50 € 885,50 € 247,50 € 852,50 € 253,00 € 847,00 €

20,50 % 23,50% 24,50%


1.125 € 230,63 € 894,37 € 264,38 € 860,62 € 275,63 € 849,37 €

1.150 € 235,75 € 914,25 € 270,25 € 879,75 € 281,75 € 868,25 €

1.155,35 €
(salário
mínimo nos
EUA em 2016)

1.175 € 240,88 € 934,12 € 276,13 € 898,87 € 287,88 € 887,12 €

1.200 € 246,00 € 954,00 € 282,00 € 918,00 € 294,00 € 906,00 €

21,50 24,50% 25,50%


1.225 € 263,38 € 961,62 € 300,13 € 924,87 € 312,38 € 912,62 €

1.250 € 268,75 € 981,25 € 306,25 € 943,75 € 318,75 € 931,25 €

1.275 € 274,13 € 1.000,87 € 312,38 € 962,62 € 325,13 € 949,87 €


(sensível-
mente o salário
médio em
Portugal, em
2015)
1.300 € 279,50 € 1.020,50 € 318,50 € 981,50 € 331,50 € 968,50 €

22,50% 25,50% 26,50%


1.325 € 298,13 € 1.026,87 € 337,88 € 987,12 € 351,13 € 973,87 €

1.350 € 303,75 € 1.046,25 € 344,25 € 1.005,75 € 357,75 € 992,25 €


(sensível-
mente o salário
médio em
Portugal, em
2015)

1.375 € 309,38 € 1.065,62 € 350,63 € 1.024,37 € 364,38 € 1.010,62 €

1.400 € 315,00 € 1.085,00 € 357,00 € 1.043,00 € 371,00 € 1.029,00 €

23,50% 26,50% 27,50%


1.425 € 334,80 € 1.090,20 € 377,63 € 1.047,37 € 391,88 € 1.033,12

1.450 € 340,75 € 1.109,25 € 384,25 € 1.065,75 € 398,75 € 1.051,25 €


(este valor
corresponde ao
que um pai
devedor de
alimentos com
salário líquido de
3.025,00 € - ver
final da Tabela -
paga a cada filho,
se tiver três
filhos)
***********************************************************************************************************************************
*********************************************************
1.475 € 346,63 € 1.128,37 € 390,88 € 1.084,12 € 405,63 € 1.069,37 €

1.466,62 € (A partir daqui a


(salário Tabela será,
mínimo em sobretudo,
França em aplicada, em
2015)
relação a um
1.473,00 € único filho, em
(salário Portugal, nos
mínimo na casos em que
Alemanha em apenas o vincu-
2016)
lado ao pagamen-
to de alimentos
trabalha ou
aufere rendimen-
tos suficientes
ou em caso de
estudos superio-
res dos filhos
ou de estudos
complementa-
res.)

1.500 € 352,50 € 1.147,50 € 397,50 € 1.102,50 € 412,50 € 1.087,50 €

1.501,82 €
(salário
mínimo na
Bélgica em
2016)

1.507,80 €
(salário
mínimo na
Holanda em
2015)

24,50% 27,50% 28,50%


1.525 €

1.529,03 €
(salário
mínimo no
Reino Unido
em 2015)

1.546,35 €
(salário
mínimo na
Irlanda em
2015)
1.550 €

1.575 €

1.600 €

25,50 % 28,50% 29,50%


1.625 €

1.650 €

1.675 €

1.700 €

26,50 % 29,50% 30,50%


1.725 €

1.750 €

1.775 €

1.800 €
27,50 % 30,50% 31,50%
1.825 €

1.850 €

1.875 €

1.900 € 522,50 € 1.377,50 € 579,50 € 1.320,50 € 598,50 € 1.301,50 €


1.922,96 €
(salário
mínimo do
Luxemburgo
em 2015)
28,50 % 31,50 % 32,50 %
1.925 €

1.950 €

1.975 €

2.000 € 550,00 € 1.450,00 € 610,00 € 1.390,00 € 630,00 € 1.370,00 €


(sensível-
mente o (paga 210 € a
salário cada filho)
médio na
União
Europeia)

29,50 % 32,50% 33,50%

2.025 €

2.050 €

2.075 €

2.100 €

2.125 €

2.150 €

2.175 €

2.200 €

2.225 €

2.250 €

2.275 €

2.300 €

2.325 €

2.350 €

2.375 €

2.400 €

2.425 €

2.450 €

2.475 €

2.500 €

2.525 €

2.550 €

2.575 €

2.600 €

2.625 €

2.650 €

2.675 €

2.700 €

2.725 €

2.750 €

2.775 €

2.800 €

2.825 €

2.850 €

2.875 €

2.900 €
2.925 €

2.975 € 966,88 € 2.008,12 €

(sensivelmente
o salário médio
na União
Europeia)

3.000 €

3.025 € 1.013,38 € 2.011,62 €

(cada filho: (sensivelmente


337,79 €) o salário médio
na União
Europeia)
G.4. Tabelas de Encargos
G.4.1. Tabelas de Encargos (progenitor não guardião)

TABELA DE ENCARGOS
(progenitor não guardião)

Renda de casa:
Prestação da casa:
IMI:12=
Condomínio (média mensal):
Água:
Luz:
Gás:
TV/NET:
Telemóvel:
Seguro da casa:12=
Seguro do carro:12=
Revisões do carro:12=
Imposto Único de Circulação:
Alimentação (pequeno-almoço, almoço,
lanche e jantar):
Vestuário e calçado:
Despesas de saúde:
Produtos de higiene pessoal:
Cabeleireiro/barbeiro:
Produtos de limpeza para a casa:
Lazer, recreação e cultura:
Outra despesa:

- combustível: ________________________________

- transportes: _________________________________

- ____________________________ _________________________________
Outra despesa:

- aquisição de mobiliário: _________________________________

- obras de conservação da casa: _________________________________

- ____________________________ _________________________________

Poupança (após satisfação das necessi-


dades básicas e essenciais):

Total:
G.4.2. Tabelas de Encargos (filho menor)

TABELA DE ENCARGOS MENSAIS


(filho menor)

Campos: Nome do filho


(primeiro e último nome):
Valores mensais

1 Roupa e calçado: 30 €
(360 € POR ANO)
2 Alimentação em casa e na escola: 167,40 €
(5,40 € dia – valor da alimentação na
cantina da Universidade Pública)
3 Saúde: 10 €
4 Água: 5€
5 Luz: 10 €
6 Gás: 5€
7 Transporte: 25 €
8 Internet: 10 €

9 Atividade desportiva/música/etc.: 30 €
10 Equipamento desportivo 10 €

Subtotal dos 302,40 €


pontos 1 a 10:

11 infantário/creche (elimina rubricas no valor de 145€,


designadamente as sob os pontos 12 a 17) 145 €

Subtotal dos 442,40 €


pontos 1 a 11:

12 Explicações: 70 €
13 Mesada: 20 €
14 Telemóvel: 9€
15 Material escolar: 13 €
16 Livros: 25 €
17 Viagens de estudo: 3€
Subtotal dos
pontos 12 a 140 €
17:

Total global
(verbas 1 a 10 442,40 €
e 11 ou 1 a 10
e 12 a 17):

Prestação de alimentos global, sem contar com despe-


sas muito extraordinárias, a acordar entre os pais,
designadamente: despesas com próteses, aparelhos 221,20 €
dentários, aparelhos auditivos, intervenções cirúrgi-
cas, lentes e óculos:
G.5. Dados do “PORDATA”

1) Limiar de risco de pobreza em Portugal:

- ano de 2014 (atualizado a 18-10-2016): 5.061 € : 12 = 421,75 €/mês)

2) Que percentagem do dinheiro das pessoas é gasto em alimentação, bebidas, vestuário,


habitação, acessórios para o lar, saúde, transportes, comunicações, lazer, educação, restau-
rantes ou hotéis, entre outros bens e serviços?

PORDATA
Despesas de consumo final das famílias por tipo de bens e serviços - Portugal
(última atualização: 2016-09-26)
Total Alimentação, Vestuário Habitação, Mobiliário, Saúde Transportes e Lazer, Educação Restaurante Bens e
bebidas e e calçado água, artigos de comunicações recreação e hotéis serviços
tabaco eletricidade, decoração, e cultura diversos
gás equipamento
doméstico e
manutenção
corrente da
habitação

2014 100,7% 20,6% 6,3% 19,4% 5,2% 4,9% 14,8% 6,0% 1,3% 11,5% 10,8%

GASTOS MENSAIS por SALÁRIO MÉDIO de 1000 € por FAMÍLIA


Alimentação e bebidas: 206 €
(2,22 € por uma refeição diária, no caso de uma
família de 3 pessoas)
Vestuário e calçado: 63 €
Habitação (ver nota em baixo), água, eletricida- 194 €
de e gás:
Mobiliário, artigos de decoração, equipamento 52 €
doméstico e manutenção corrente da habita-
ção:
Saúde: 49 €
Transportes e comunicações: 148 €
Lazer, recreação e cultura: 60 €
Educação: 13 €
Restaurantes e hotéis: 115 €
Bens e serviços diversos: 108 €
TOTAL: 1.008 € (deficit de 8 €)

Nota 1:
- A despesa de consumo final das famílias inclui os gastos em alimentação, vestuário e outros bens não dura-
douros; as compras de eletrodomésticos, automóveis e outros bens duradouros; as contas de água, eletrici-
dade, gás, comunicações e outros serviços feitos pelas famílias.
Nota 2:
- A despesa de consumo final das famílias inclui os seguintes exemplos:

a) Serviços de habitações ocupadas pelos proprietários;

b) Rendimento em espécie, como: bens e serviços recebidos como rendimento em espécie por empregados, bens e
serviços produzidos por empresas não constituídas em sociedade pertencentes a famílias e que são reservados ao
consumo por membros da família. É o caso dos alimentos e outros produtos agrícolas, do alojamento em habitação
própria e dos serviços domésticos produzidos por pessoal remunerado (criados, cozinheiros, jardineiros, motoristas,
etc.);

c) Elementos que não são considerados consumo intermédio, como: materiais destinados a pequenas reparações
em habitações e à decoração de interiores das mesmas, como as que são normalmente efetuadas por inquilinos e
proprietários e materiais destinados a reparações e à manutenção de bens duradouros de consumo, incluindo automó-
veis;

d) Elementos não considerados como formação de capital, designadamente, bens de consumo duradouros, que
continuam a desempenhar a sua função ao longo de vários períodos contabilísticos; tal inclui a transferência de propri-
edade de alguns bens duradouros de uma empresa para uma família;

e) Serviços financeiros diretamente cobrados e a parte dos serviços de intermediação financeira indiretamente
medidos utilizada para fins de consumo final pelas famílias;

f) Serviços de seguro, pelo montante do custo implícito do serviço;

g) Serviços relativos aos fundos de pensões, pelo montante do custo implícito do serviço;

h) Pagamentos efetuados pelas famílias relativamente a licenças, autorizações, etc., que sejam consideradas
aquisições de serviços;

i) Compra da produção a preços economicamente não significativos, como no caso das entradas para um museu.

Nota 3:
- Na sua função de consumidores, as famílias podem definir-se como pequenos grupos de pessoas que parti-
lham o mesmo alojamento, agrupam os seus rendimentos e o seu património e consomem coletivamente cer-
tos tipos de bens e serviços, essencialmente o alojamento e a alimentação. Esta definição pode ser completa-
da pelo critério da existência de laços familiares ou afetivos.

Os recursos principais destas unidades são: remuneração dos empregados, rendimentos de propriedade,
transferências de outros sectores, receitas provenientes da venda de produtos mercantis e receitas imputadas
da produção de produtos destinados ao consumo final próprio.

O sector das famílias compreende cinco subsectores:

a) empregadores e trabalhadores por conta própria;

b) empregados;

c) famílias com recursos provenientes de rendimentos de propriedade;

d) famílias com recursos provenientes de pensões;

e) famílias com recursos provenientes de outras transferências.

É a fonte de rendimentos mais importante (rendimentos dos empregadores, remuneração dos empregados,
etc.) da família, no seu conjunto, que determina o subsector ao qual esta pertence. Quando uma família recebe
vários rendimentos de determinada categoria, a classificação deve ser baseada no rendimento total da família
em cada categoria.
G.5.1. Gastos mensais individuais por salário mínimo

GASTOS MENSAIS individuais por SALÁRIO de 557 €


(adaptação das percentagens supra mencionadas)

Alimentação e bebidas: 155 € (5 € por dia, em mês de 31 dias)

Vestuário e calçado:

Água, eletricidade e gás: 60 €

Mobiliário, artigos de decoração, equipamento do-


méstico e manutenção corrente da habitação:

Saúde: 25,00 € (300 € / ano)

Transportes e comunicações: 40 €

Diversos: 10,00 €/mês

Alimentos a filho menor: 83,55 €

Renda de Casa: 183,45€ (remanescente)

TOTAL: 557 €
G.6. Ficha de articulação entre o DIAP e a Instância Central de Família e de Menores

FICHA DE ARTICULAÇÃO

DIAP/INSTÂNCIA CRIMINAL - INSTÂNCIA CENTRAL DE FAMÍLIA E MENORES

(crianças vítimas ou testemunhas)

Magistrado de turno/titular:
DIAP/INSTÂNCIA CRIMINAL

NUIPC
INSTÂNCIA CENTRAL DE Ação tutelar
FAMÍLIA E MENORES cível e qual
* PPP

N.º DO PROCESSO/JUÍZO ITE

Processo
tutelar educati-
vo
CRIME

IDENTIFICAÇÃO

SUSPEITO/ARGUIDO

TIR

Caução

Apresentação periódica
Suspensão do exercício das responsabilida-
des parentais/tutela/curatutela/administração
MEDIDAS DE COAÇÃO de bens
Permanência na habitação
Datas de aplica-
não sujeita a vigilância eletrónica
ção/revisão/cessação
(dia/mês/ano) Permanência na habitação
sujeita a vigilância eletrónica
Vigilância eletrónica especial e com a
teleassistência
Proibição ou imposição de condutas
(cf. Contactos/afastamento)
Prisão preventiva
ACOLHIMENTO DE VÍ-
TIMAS EM CENTRO DE Local:
ACOLHIMENTO DE
EMERGÊNCIA OU CASA Data:
ABRIGO
IDENTIFICAÇÃO

DE VÍTIMAS
*
ADULTOS/CRIANÇAS

(nome/relação com arguido/


morada)
ESTADO DO PROCESSO Instauração/início da investigação
CRIMINAL

Avaliação de risco e seu resultado global


(identificação e datas)
atualizado

Interrogatório

Declarações para memória futura

Audição da criança

Perícias

Comunicação da libertação de arguido e da


sua residência futura

Arquivamento/SPP/Acusação

Pena acessória requerida


Remessa à distribuição e tipo de processo
(sumário/Abreviado/Singular/Coletivo/Júri)
Sentença/Acórdão

Recurso e seu resultado

Advogado do menor

Técnico que acompanha os


processos

Magistrado ponto de contacto

Data da última atualização: _________________


Magistrado subscritor: ________________________________________________________________

Observações:
Ficha a acompanhar os processos-crime na contracapa.
Em cada atualização enviar cópia via SIMP ao magistrado interlocutor na Instância Central de Família e Menores, acompanhada em
anexo de cópias pertinentes.
Em cada alteração do magistrado titular do processo criminal, enviar cópia via SIMP ao magistrado titular da fase seguinte.
H. Documentos hierárquicos
H.1. Documentos hierárquicos da Procuradoria-Geral Distrital de Coimbra
H.1.1. Despacho n.º 3/12, de 08.02 - PGD de Coimbra/ Procurador-Geral Distrital:
Abuso sexual de menores - Boas práticas para intervenção articulada.

Despacho n.º 3/12 Coimbra - PGD - Procurador-Geral Distrital


Despacho n.º 3/12, de 08.02
Coimbra - PGD - Procurador-Geral Distrital
Euclides José Dâmaso Simões - Procurador-Geral Distrital
Sumário: Abuso sexual de menores - Boas práticas para intervenção articulada.

DESPACHO N.º 3/2012 – PGD

Importa estabelecer comunicabilidade entre o processo criminal e o processo de promo-


ção e proteção por forma a que, nos crimes contra a liberdade e autodeterminação
sexual de menor, se acautele maximamente o superior interesse da criança vítima, evi-
tando duplicação de diligências e a consequente vitimização secundária, e se potencie a
eficiência de ambos os aludidos procedimentos.

Assim, acolhendo proposta formulada, a meu pedido, por equipa de magistrados que pro-
cedeu ao estudo do tema, solicito a observância do seguinte:

1 – O Ministério Público deverá sempre sujeitar o inquérito criminal a segredo de justiça.

2 – Nas situações em que o suspeito agressor coabite ou conviva frequentemente com a


vítima ou tenha com ela uma relação familiar próxima o Ministério Público providenciará
pela instauração de processo judicial de promoção e proteção, sem prejuízo dos pro-
cedimentos de urgência que as entidades de proteção devam desencadear.

3 – O magistrado que seja responsável pelo inquérito criminal deve verificar se já foi ins-
taurado processo de promoção e proteção, assim como o magistrado responsável pelo
processo de promoção e proteção deve verificar se já foi, quando pertinente, instaurado
inquérito criminal. E ambos devem zelar para que esses processos entrem em comuni-
cação.

4 – Os magistrados titulares desses processos zelarão, nomeadamente, para que:

a) se aproveitem em ambos as diligências realizadas em cada um deles, evi-


tando repetições inúteis;

b) haja uma avaliação conjunta de cada caso, para acordo sobre as medidas
de promoção e de proteção, as medidas de coação e outras decisões interlo-
cutórias ou finais que cada magistrado haja de promover, defender ou tomar
no respectivo processo, com vista ao conseguimento da maior coerência e
eficácia na defesa do superior interesse da criança;

c) se observem estes procedimentos e se cumpram estes objectivos ainda


que o inquérito criminal esteja a ser executado por órgão de polícia criminal.

- Dê-se conhecimento aos Senhores Procuradores-Gerais Adjuntos, Procuradores da Re-


pública, Procuradores-Adjuntos e Substitutos deste distrito judicial, solicitando-se aos
Senhores Magistrados com funções de direção/coordenação que adequem aos respetivos
serviços a execução destas orientações.

- Dê-se conhecimento ao Senhor Diretor da Diretoria de Coimbra da Polícia Judiciária e aos


Senhores Comandantes Distritais da GNR e da PSP com jurisdição na área deste distrito
judicial.
- Remeta-se cópia, para conhecimento e demais fins tidos por convenientes, ao Senhor
Presidente da Comissão Nacional de Proteção de Crianças e Jovens em Risco

- Inscreva-se no SIMP: “Abuso sexual de menores – Boas práticas para intervenção articu-
lada”.
Coimbra, 8 de Fevereiro de 2012.

O Procurador-Geral Distrital,
Euclides Dâmaso Simões

Anotações:

Nota 1:

Quando existam simultaneamente intervenções criminal e de proteção, para se evitar as


audições sucessivas da criança por diversas entidades e profissionais, deve atribuir-se
centralidade às declarações para memória futura recolhidas no procedimento criminal,
devendo estas ser valoradas no processo de promoção e de proteção para recolher as in-
formações necessárias para a abordagem da situação social, familiar, psicológica e médica
da criança (Rui do Carmo, 2013, Declarações para memória futura, Crianças Vítimas de
crime contra a liberdade e a autodeterminação sexual, Revista do Ministério Público, n.º
134, páginas 117-147).

É fundamental, para este efeito, que seja organizada a comunicação entre os processos e
que se pondere a possibilidade de participação na diligência dos profissionais responsá-
veis pelas vertentes sociais, familiares e da saúde (Rui do Carmo, 2013, p. 142).

Nota 2:

Para o efeito da articulação entre a intervenção de promoção e de proteção e a intervenção


penal, é necessária a interação entre o magistrado interlocutor da CPCJ e o magistrado
titular do inquérito, tendo em vista avaliar a adequação das medidas de proteção e promo-
ver a transmissão de informação entre os dois processos (Diretiva Conjunta do Procura-
dor-Geral da República e do Presidente da Comissão Nacional de Crianças e Jovens em
Perigo, de 23.06.2009).
Nota 3:

«A criança tem o direito a fazer-se acompanhar por uma pessoa da sua confiança, em todas
as audições, e à nomeação de um advogado ou representante, não só nos processos de
promoção ou proteção, conforme está previsto na lei (art.º 103.º, n.º 2, da LPCJP), mas
também nos processos de regulação das responsabilidades parentais (cf. art.º 18.º do Re-
gime Geral do processo Tutelar Cível), e nos processos-crime.» (cf. sobre o assunto, Clara
Sottomayor, Temas de Direito das Crianças, pág. 305, Almedina 2014)

Nota 4:

Nos processos de regulação das responsabilidades parentais em que estejam em causa


situações de abusos sexuais ou mesmo de violência doméstica exercida contra ou pre-
senciada por menor o tribunal deve nomear um defensor oficioso para a criança, ao abri-
go do artigo 18.º, n.º 2, do Regime Geral do Processo Tutelar Cível.

E o Ministério Público deve pedir uma medida de proteção ao abrigo do art.º 27.º, n.º 3, do
Regime Geral do Processo Tutelar Cível.

Nota 5:

A violência doméstica/violência nas relações de intimidade pode estar associ-


ada a diversos processos judiciais ou a correr em CPCJ.

A troca de informações entre estes processos é muito relevante, sobretudo pa-


ra o processo de identificação e gestão de risco.

A ausência de articulação entre os processos pode colocar as víti-


mas/sobreviventes em situação de maior risco, especialmente quando existem de-
cisões e ordens conflituantes, como por exemplo uma ordem de afastamento e de
proibição de contactos e uma decisão que determina um regime de visitas às crian-
ças.

Cumpre sempre recordar que as notificações e as audiências do tribunal po-


dem constituir momentos que agravam o nível de risco para a vítima/sobrevivente,
uma vez que o agressor pode recorrer a atos de intimidação e ameaça, como forma
de a desencorajar em levar para a frente o processo.

Os casos de violência doméstica não devem ser tratados da mesma forma que
os casos onde a violência não existe.

Entre as medidas de proteção que minimizam o risco contam-se a prestação de


declarações para memória futura, os mecanismos de proteção de testemunhas, o
acesso a instalações de espera separadas, evitando o contacto entre víti-
ma/sobrevivente e o agressor, o estabelecimento de períodos de tempo diferencia-
dos para a vítima/sobrevivente e para o agressor no momento de saída do tribunal
e mecanismos de segurança e a informação à vítima, de forma atempada e segura,
de todas as decisões judiciais.
Tendo em vista um reforço da articulação entre os diversos processos existen-
tes, aconselha-se:

1) Que os magistrados do Ministério Público com competência na área dos in-


quéritos, instrução e julgamentos:

- Comuniquem à CPCJ competente, em situações de violência


doméstica, maus tratos ou em que estejam em causa situações
de perigo para menores:

a) o NUIPC dos processos abertos com base em comunicações


daquelas entidades ou que digam respeito a menores com pro-
cesso na CPCJ;

b) identificar o OPC encarregue da investigação;

c) identificar o tipo legal de crime em causa em tais processos.

- Sempre que se justifique, solicitem à CPCJ informação sobre o


teor de medidas de promoção e de proteção aplicadas a título
definitivo ou provisório.

- Informem, pelo meio mais expedito, a CPCJ ou os magistrados


da Secção de Família e Menores da Instância Central respetiva:

a) do resultado da aplicação dos instrumentos de avaliação de


risco utilizados e sua atualização (fichas de avaliação de risco
RVL 1L e RVD 2L);

b) do decretamento/alteração/ revogação de quaisquer medi-


das de coação que tenha lugar no âmbito dos inquéritos-crime
em que se investiguem factos relacionados com situações de
perigo para menores;

c) do resultado de perícias médico-legais que possam ser rele-


vantes para o processo de promoção e de proteção;

d) do encaminhamento de vítimas para Centro de Acolhimento


de Emergência ou Casa Abrigo;

e) da alteração relevante da indiciação criminal em relação a


arguido relacionado com os factos que fundamentem a situação
de perigo para a criança;

f) do teor do despacho final em inquérito-crime ou instrução e


da sentença que vier a ter lugar;

g) imediatamente, da libertação de arguidos sujeitos a medidas


de coação detentivas ou prisão e da sua residência futura; e

h) Remetam, se não existir inconveniente para a investigação,


ainda que com nota de confidencialidade, cópia da gravação e
certidão da transcrição das declarações para memória futura
de menores-vítimas (diretas ou indiretas); e

i) a identificação do(a) psicólogo(a) que for ou foi nomeado(a)


para assistir o/a menor nas declarações para memória futura.

Dever-se-á, ainda, averiguar nos inquéritos da existência de irmã(o)s que


possam estar na mesma situação da vítima.

2) Que os magistrados do Ministério Público interlocutores das CPCJ’s reme-


tam pelo SIMP ao magistrado coordenador da área criminal, com periodicidade
mensal, a listagem dos processos pendentes nas CPCJ’s, a solicitar a estas, nas quais
deverá sempre ser identificado os NUIPC’s das denúncias que lhes sejam diretamen-
te comunicadas.

Nota 6:

Consultar a INSTRUÇÃO n.º 1/2016-PGDC.


H.1.2. Despacho n.º 6/14, de 19.11 – PGD – Procurador-Geral Distrital: presidência
efetiva a atos processuais.

Despacho nº 6/14 Coimbra - PGD - Procurador-Geral Distrital


Despacho nº 6/14 de 19-11-2014
Coimbra - PGD - Procurador-Geral Distrital
Euclides José Dâmaso Simões - Procurador-Geral Adjunto
Sumário: Presidência efetiva de atos processuais.

DESPACHO Nº 6/2014-PGD

1 - Dando execução a deliberação de 21/10/2014 do Conselho Superior do Ministério Pú-


blico, recomendo aos Senhores Magistrados em funções na área desta Procuradoria-Geral
Distrital o maior rigor na presidência dos atos processuais cujo agendamento, realização e
presidência sejam da competência do Ministério Público.

2 - A presidência efetiva do ato exige a presença física do Magistrado do Ministério Público


e apresenta-se como a única forma de assegurar plenamente as suas finalidades.

3 - Sublinha-se, a este propósito, a particular exigência de que se revestem, entre outras,


certas intervenções na área laboral e de família e menores, tais como as tentativas de con-
ciliação nos processos especiais por acidente de trabalho e os atos de entrega do capital de
remição aos sinistrados, bem como a presidência do conselho de família.

4 - Solicito aos Senhores Magistrados Coordenadores das comarcas que integram esta Pro-
curadoria-Geral Distrital que zelem pela rigorosa observância desta recomendação.

- Inscreva-se no SIMP “Presidência efetiva de atos processuais”.

Coimbra, 19 de Novembro de 2014.

O Procurador-Geral Distrital,

(Euclides Dâmaso Simões)


H.1.3. Ordem de Serviço n.º 23/14, de 27.10 - PGD de Coimbra/Procurador-Geral
Distrital: mapas estatísticos (ITE’s e processos de promoção e de proteção).

Ordem de Serviço nº 23/14 Coimbra - PGD - Procurador-Geral Distrital


Ordem de Serviço nº 23/14, de 27.10 Ver documento no formato original
Coimbra - PGD - Procurador-Geral Distrital
Euclides José Dâmaso Simões - Procurador-Geral Adjunto
Sumário: Novos mapas estatísticos.

ORDEM DE SERVIÇO N.º 23/2014

A previsível adoção pela Senhora Procuradora-Geral da República, a curto prazo, de novos


modelos de mapas integrantes dos relatórios anuais, aconselha a que se introduzam algu-
mas (pequenas) alterações nos que vêm sendo utilizados por esta Procuradoria-Geral Dis-
trital, por forma a sintonizá-los o mais possível com aqueles.

Assim, ouvidos os Senhores Magistrados Coordenadores das comarcas de Castelo Branco,


Coimbra, Guarda, Leiria e Viseu, ao abrigo do art.º 58º, nº 1, a) do EMP, determino:

1 São aprovados, para utilização imediata, os seguintes mapas estatísticos:

a) mapa 1-1PGDC, respeitante a movimento de inquéritos.

b) mapa 2-2 PGDC, respeitante a processos sumários.

c) mapa 3-1 PGDC, respeitante à suspensão provisória do processo.

d) mapa 4-1 PGDC, respeitante a inquéritos tutelares educativos.

e) mapa 5-1 PGDC, respeitante a processos de promoção e proteção.

f) mapa 8-1 PGDC, respeitante a processos da área laboral.

g) mapa 9-1 PGDC, respeitante a processos da área do comércio.

2 Estes mapas devem ser remetidos bimestralmente a esta Procuradoria-Geral Distrital


pelos Senhores Magistrados coordenadores das comarcas, a partir de setembro último, até
ao dia 10 do mês seguinte ao período a que respeitam.

3 Para esclarecimento de eventuais dúvidas no preenchimento podem ser contactados os


Senhores Coordenadores das Comarcas e o Senhor Dr. Rui do Carmo, em funções na Pro-
curadoria-Geral Distrital de Coimbra.

- Inscreva-se no SIMP “Novos mapas estatísticos”.


Coimbra, 27 de outubro de 2014.

O Procurador-Geral Distrital,

(Euclides Dâmaso Simões)

Anexos:
(…)
mapa_modelo5_1pgdc_proc_prom_prote.xls
mapa_modelo4_1pgdc_proc_tutelares_educativos.xls
H.1.4. Ordem de Serviço n.º 3/15, de 22.01 - Coimbra - Proc. da Comarca - Coordena-
ção: Mapas estatísticos bimestrais.

Ordem de Serviço n.º 3/15 Coimbra - Proc. da Comarca - Coordenação


Ordem de Serviço n.º 3/15, de 22.01
Coimbra - Proc. da Comarca - Coordenação
Sumário: 'MAPAS ESTATÍSTICOS BIMESTRAIS'

ORDEM DE SERVIÇO Nº3/2015

MAPAS ESTATÍSTICOS BIMESTRAIS

Nos termos da Ordem de Serviço nº23/2014, de 27/10, proferida pelo Exmº Senhor Pro-
curador-Geral Distrital, foram aprovados novos modelos de mapas estatísticos, cuja utili-
zação se encontra em vigor.

Importa agora uniformizar práticas que regulem o seu correto preenchimento e agilizem o
seu envio atempado, tendo em conta os prazos estabelecidos na referida Ordem de Servi-
ço.

Foi ouvido o Exmº Senhor Diretor do DIAP.

Nesta conformidade, ao abrigo do disposto no art.101º, nº1, a) e e) da Lei nº62/2013, de


26 de agosto, determino

1 - Os mapas nºs (…), 4-1PGDC, 5-1PGDC, (…) são enviados diretamente pelos senhores
Procuradores da República a esta Procuradoria/Coordenação.

2- Relativamente ao Mapa nº (…), esclarece-se que -

a) – (…).

b) – (…).

3 - Todos os mapas acima referidos devem ser remetidos pelos senhores Procuradores da
República a esta Procuradoria/Coordenação até ao dia 5 do mês seguinte ao período a
que respeitam.

- Dê conhecimento, com cópia -

- Ao Senhor Procurador-Geral Distrital

- Ao senhor Diretor do DIAP


- Publicite no SIMP - “MAPAS ESTATÍSTICOS BIMESTRAIS ”, via através da qual se consi-
dera efetuada a comunicação a todos os senhores Magistrados do Ministério Público.

- Domínio PGD - Coimbra

- Arquive na pasta própria.

Coimbra, 22 de janeiro de 2015

A Magistrada do Ministério Público Coordenadora

_________________________________________________

(Maria José Valente de Melo Bandeira)


H.1.5. Ordem de Serviço n.º 3/12, de 06.03 - PGD de Coimbra/Procurador-Geral Dis-
trital: processos Administrativos - fichas utilizáveis.

Ordem de Serviço n.º 3/12 Coimbra - PGD - Procurador-Geral Distrital


Ordem de Serviço n.º 3/12, de 06.03
Coimbra - PGD - Procurador-Geral Distrital
Euclides José Dâmaso Simões - Procurador-Geral Distrital
Sumário: Processos Administrativos - fichas utilizáveis

ORDEM DE SERVIÇO N.º 3/2012

Importa atualizar e conferir maior detalhe à ficha de “Comunicação da instauração de Pro-


cesso Administrativo”, instituída pelo Despacho n.º 12/2010 do meu ilustre antecessor.

Importa, além disso, estabelecer uma ficha de acompanhamento dos processos judiciais a
que os mesmos se reportam, que permita, inserida no PA, imediata perceção dos trâmites
processuais.

Assim, ao abrigo do disposto no art.º 58º, nº 1, a), do EMP, determino:

1 – É aprovado o modelo 6 PGDC, para comunicação da instauração de processos admi-


nistrativos.

2 – É aprovado o modelo 7 PGDC para, inserido nos PA, facilitar a perceção da tramitação
dos processos judiciais.

3 – Devem os Senhores Magistrados e Oficiais de Justiça do Ministério Público zelar pela


sua apropriada utilização.

- Dê-se conhecimento aos Senhores Magistrados do Ministério Público do distrito judicial


de Coimbra, solicitando-lhes que transmitam o seu teor aos Senhores Oficiais de Justiça
que os coadjuvem.

- Inscreva-se no SIMP: “Processos Administrativos – fichas utilizáveis”.

Coimbra, 06 de Março de 2012.


O Procurador-Geral Distrital,
(Euclides Dâmaso Simões)
H.1.6. Memorando 13/2011, de 20.10: Apadrinhamento civil (Lei 103/2009 e Dec.-
Lei 121/2010).

Memorando n.º 13/11 Coimbra - PGD - Procurador-Geral Distrital

Memorando n.º 13/11, de 12.10

Coimbra - PGD - Procurador-Geral Distrital

Euclides José Dâmaso Simões - Procurador-Geral Adjunto

Sumário: Apadrinhamento civil (Lei 103/2009 e Decreto-Lei 121/2010).

Memorando

Anexo Informação de Serviço sobre o assunto em epígrafe, que me foi presente pelo Se-
nhor Procurador da República Dr. Rui do Carmo, solicitando a melhor atenção dos Senho-
res Magistrados com intervenção na matéria para a implementação desta nova medida
tutelar cível, alternativa à tradicional institucionalização.

O Procurador-Geral Distrital,

Euclides Dâmaso Simões

Consultar no SIMP.
H.1.7. Memorando 10/2012, de 11.04: Regulação do exercício das responsabilidades
parentais – obrigatoriedade de fixação de alimentos.

Memorando n.º 10/12 Coimbra - PGD - Procurador-Geral Distrital


Memorando n.º 10/12, de 11.04
Coimbra - PGD - Procurador-Geral Distrital
Euclides José Dâmaso Simões - Procurador-Geral Distrital
Sumário: Regulação do exercício das responsabilidades parentais – obrigatoriedade
de fixação de alimentos

MEMORANDO

1. Nos processos de regulação do exercício das responsabilidades parentais, para além da


atribuição da guarda da criança e da determinação de um regime de visitas, assume gran-
de relevância a fixação de alimentos a favor do menor. Alimentos que terão, segundo o art.
2004.º, n.º 1, do Cód. Civil, que ser “proporcionados aos meios daquele que houver de
prestá-los e às necessidades daquele que houver de recebê-los”.

2. A interpretação desse n.º 1 do art. 2004.º haverá de ser conforme com o art.º 69.º da
Constituição (que consagra o direito das crianças à proteção por parte da sociedade e do
Estado) e de ter em conta a unidade do sistema jurídico, nomeadamente as pertinentes
Recomendações do Conselho da Europa, a Convenção Europeia sobre o Exercício de Direi-
tos da Criança, de 1996, a Convenção da ONU sobre os Direitos das Crianças, de 1989, e, no
plano da legislação ordinária, a Lei 75/98, regulada pelo Dec.-Lei 164/99, de 13 de Maio
(que prevê que, subsidiariamente, o Estado assegure a prestação de alimentos).

3. Assim, a sentença que regule o exercício das responsabilidades parentais deve


fixar a pensão de alimentos a cargo do progenitor com quem o menor não resida ou
a quem não tenha sido confiado, mesmo sendo desconhecido o seu paradei-
ro/residência e a sua situação económica.

4. Este entendimento tem merecido acolhimento predominante, como refletem o Ac. da


Relação de Coimbra de 21/6/2011 e o Ac. do STJ de 29/03/2012, ainda inédito, cuja cópia
se anexa.

5. Recomendo, pois, aos Senhores Magistrados do Ministério Público deste distrito


judicial, que se dignem perfilhar tal interpretação, sem prejuízo de superveniente
jurisprudência obrigatória ou orientação superior de sentido diverso.

- Inscreva-se no SIMP: “Regulação do exercício do poder parental – obrigatoriedade de


fixação de alimentos”.

O Procurador-Geral Distrital,
Euclides Dâmaso Simões
H.1.8. Memorando 12/2015, de 13.10: apensação de processos - Lei 141/2015 (Re-
gime Geral do Processo Tutelar Cível) e Lei 142/2015 (Proteção de Crianças e Jo-
vens em Perigo).

Memorando n.º 12/15 Coimbra - PGD - Procurador-Geral Distrital

Memorando n.º 12/15, de 13.10 Ver documento no formato original


Coimbra - PGD - Procurador-Geral Distrital
Euclides José Dâmaso Simões - Procurador-Geral Adjunto
Sumário: Lei 141/2015 (Regime Geral do Processo Tutelar Cível) e Lei 142/2015
(Proteção de Crianças e Jovens em Perigo).

MEMORANDO

A recente entrada em vigor dos novos regimes do Processo Tutelar Cível e da Proteção de
Crianças e Jovens em Perigo logo despertou divergências interpretativas.

Assim, procurando corresponder ao apelo de alguns Magistrados, recomendo a observân-


cia dos entendimentos seguintes, com base em parecer elaborado, a meu pedido, pela Se-
nhora Procuradora-Geral Adjunta Dra. Clara Ribeiro e pelos Senhores Procuradores da
República Dr. Pedro Branquinho e Dr. Rui do Carmo:

1. Com a nova redacção dos arts. 81º da LPCJP e 11º do RGPTC a apensação de processos
(de promoção e protecção, tutelar cível e tutelar educativo) respeitantes à mesma criança
ou jovem ocorre sempre, mesmo quando o processo de promoção e protecção corre ter-
mos numa comissão.

Com efeito, foi revogado o nº 2 da anterior versão do artº 81º, que fazia depender a apen-
sação de processos pendentes nas comissões de avaliação e decisão casuística do Juiz, ten-
do o legislador pretendido, manifesta e expressamente, alcançar, na instrução, análise e
decisão de cada caso, objectivos de avaliação global e conjunta, uniformidade decisória e
economia de meios.

Este regime constitui excepção ao princípio da subsidiariedade enunciado no artº 4º, k) da


Lei 142/2015.

2. A apensação de processos (de promoção e protecção, tutelar cível e tutelar educativo),


prevista nos arts. 11º, nº 1 do RGPTC e 81º da LPCJP:

(i) tem lugar mesmo quanto a processos findos, por força do nº 4 do artº 81º, aditado em
consequência de proposta da Senhora Procuradora-Geral da República, elaborada com
essa precisa finalidade;

(ii) - excepto se se tratar de processos de promoção e protecção das Comissões, caso em


que a apensação a processos judiciais só terá lugar quanto aos pendentes e não também
quanto aos findos (i. é., aqueles em que já cessou a execução da medida aplicada),
(iii) sem prejuízo de, ainda quanto a estes, o Tribunal poder vir a solicitar à Comissão cer-
tidão do seu teor, para fundamentar decisão.
2.1. O legislador, em sintonia com o Parecer da Senhora Procuradora-Geral da República,
visou, com isto:

(i) permitir que os Magistrados tenham uma visão unitária dos processos que vão sendo
sucessivamente instaurados relativamente a cada criança e possam tomar as decisões que,
em cada momento, melhor defendem os seus interesses;
(ii) - evitar atuações e decisões contraditórias ao longo do tempo;
(iii) evitar repetições de diligências e diminuir a carga burocrática, com ganhos de conhe-
cimento, celeridade e eficácia, quando é necessário consultar processos findos;
(iv) e potenciar uma “cultura de responsabilidade” dos magistrados pelo “caso daquela
criança”.

3. O artº 59º, nº 3, da LPCJP, ao afastar as Comissões de execução das medidas de promo-


ção e protecção em processo judicial, vem na esteira do que constava já do ponto 1.4 da
Directiva Conjunta da PGR e da CNPCJP, de 23/6/2009.

4. A apensação de processos das Comissões a processos tutelares cíveis ou tutelares edu-


cativos depende, em princípio, de solicitação do Juiz, nos termos do artº 81º, nº 3 da LPCJP,
sem prejuízo de iniciativa do Ministério Público nesse sentido, na sequência da sua activi-
dade de interlocução com as CPCJP.

Devem, por isso, ser sensibilizadas as Comissões para não procederem ao seu envio mas-
sivo para tribunal.

- Inscreva-se no SIMP, sob a epígrafe.

Coimbra, 13 de Outubro de 2015.

O Procurador-Geral Distrital,

(Euclides Dâmaso Simões)


H.1.9. Instrução n.º 1/16 Coimbra - PGD - Procurador-Geral Distrital: 'Abuso Sexual
de menores - Boas práticas para intervenção articulada'.

Instrução n.º 1/16 Coimbra - PGD - Procurador-Geral Distrital

Instrução n.º 1/16, de 29.02 Ver documento no formato original

Coimbra - PGD - Procurador-Geral Distrital

Euclides José Dâmaso Simões - Procurador-Geral Adjunto

Sumário: 'Abuso Sexual de menores - Boas práticas para intervenção articulada'.

INSTRUÇÃO n.º 1/2016-PGDC

A criança vítima de crimes sexuais deve, pela sua ostensiva vulnerabilidade, merecer tra-
tamento especialmente cuidadoso por parte do Ministério Público, em cumprimento tam-
bém do Estatuto da Vítima aprovado pela Lei 130/2015, de 4 de setembro. Almeja-se so-
bretudo a máxima eficácia dos procedimentos e a menor vitimização secundária possível.

Assim, na esteira das boas práticas de comunicabilidade e articulação já propugnadas nos


Despachos nº 3/2012-PGD e nº 12/2012-PGD, ao abrigo do disposto no artº 58º, nº 1, a)
do EMP, acolhendo proposta formulada, a meu pedido, por equipa de magistrados que
reflectiu sobre o assunto, solicito a observância do seguinte, sem prejuízo de directiva,
ordem ou instrução superior que eventualmente sobrevenha:

1. As declarações para memória futura de criança vítima de crime contra a liberdade ou a


autodeterminação sexual devem ser tendencialmente as primeiras declarações a prestar
pela criança no âmbito do inquérito, e devem realizar-se em tempo próximo daquele em
que houve a notícia do crime.

2. Logo que lhe seja transmitida a notícia do crime, o magistrado do Ministério Público
titular do inquérito, tendo em vista a recolha e troca de informação relevante, contacta o
responsável pela investigação no órgão de polícia criminal, verifica se corre termos pro-
cesso de promoção e proteção dos direitos da criança e, em caso afirmativo, contacta o
magistrado que representa o Ministério Público no processo judicial ou que é interlocutor
da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens. Após o que decidirá quanto ao tempo e aos
termos do requerimento a apresentar ao juiz de instrução criminal para efeitos do dispos-
to no nº2 do art.º 271º do Código de Processo Penal.
3. Se decidir que só requererá a tomada de declarações para memória futura em momento
posterior da investigação, o magistrado titular do inquérito deve fazer constar dos autos
despacho em que justifique sucintamente essa opção.

4. O contacto entre o titular do inquérito e o magistrado que representa o MP no processo


de promoção e proteção dos direitos da criança ou que é interlocutor da CPCJ, para além
da recolha e troca de informação relevante, terá por objetivos:

4.1. Aferir os fundamentos da concentração da audição da criança, em benefício


dos objetivos de ambos os processos, no ato das declarações para memória futura,
a requerer pelo Ministério Público à luz do disposto na alínea d) do nº7 do artº 5º
do Regime Geral do Processo Tutelar Cível (ex vi artº 84º LPCJP), e a preparação da
diligência;

4.2. Avaliar a existência de conflito de interesses entre a criança, os seus pais, re-
presentante legal ou quem tem a guarda de facto e, havendo conflito, acordar sobre
quem a deverá representar no procedimento criminal;

4.3. Identificar o técnico de acompanhamento da criança na inquirição, previsto no


nº4 do artº 271º CPP, cuja nomeação deverá ser proposta ao juiz de instrução.

5. O magistrado do Ministério Público titular do inquérito deve, em função do resultado


desse contacto:

5.1. Propor justificadamente ao juiz de instrução o técnico que deve ser nomeado
nos termos do nº4 do artº 271º CPP;

5.2. Opor-se a que os pais, representante legal ou guardião de facto acompanhem a


criança na diligência (cfr. artº 22º, nº 2, do Estatuto da Vítima):

(i) quando existir conflito de interesses,

(ii) quando se mostrar inadequado em razão do interesse da investigação,

(iii) quando essa presença se revelar, por qualquer razão, perturbadora pa-
ra a criança;

5.3. Requerer ao juiz de instrução, existindo conflito de interesses, a nomeação de


pessoa que represente a criança no processo penal, nos termos dos arts. 7º, nº 6,
do Estatuto da Vítima.
6. Nos casos em que deva ser nomeado patrono à criança:

6.1. O Ministério Público providencia pela sua nomeação nos termos do artº 22º,
n.º 3 do Estatuto da Vítima;

6.2. Se existir já patrono nomeado em processo a correr termos na jurisdição de


família e menores, o Ministério Público deve requerer à Ordem dos Advogados a
substituição do patrono nomeado no inquérito pelo que já representa a criança
naquele procedimento, nos termos dos art.ºs 19.º, b) e 32.º da Lei n.º 34/2004, de
29/7 (alterada pela Lei n.º 47/2007, de 28/8), 3.º, n.º1, a), do EMP e 7.º, n.º 1, da
Portaria nº 10/2008, de 3/1, com nota de urgência e indicação da data provável de
realização da diligência em que deverá estar presente.

7. O magistrado do Ministério Público deve opor-se a que, nas situações previstas no artº
134º CPP, seja válida recusa de depoimento a prestar pela criança formulada pelos pais,
representante legal ou guardião de facto em representação da criança, considerando que
se trata de um ato pessoalíssimo que só pode ser praticado pela mesma, desde que para tal
tenha discernimento.

8. Nos casos em que haja lugar à prestação de depoimento em audiência de julgamento,


nos termos do n.º 8 do art.º 271.º CPP, o Ministério Público requererá que a criança seja
acompanhada pelo mesmo técnico que a assistiu nas declarações para memória futura e,
por regra, que seja utilizada videoconferência ou teleconferência, em conformidade com o
art.º 23.º do Estatuto da Vítima.

- Dê-se conhecimento aos Senhores Procuradores-Gerais Adjuntos, Procuradores da Re-


pública, Procuradores-Adjuntos e Substitutos em funções nesta Procuradoria-Geral Distri-
tal.

- Solicito aos Senhores Magistrados Coordenadores das Comarcas e ao Senhor Diretor do


DIAP distrital que instruam os OPC sobre a execução destas orientações, maxime do seu
n.º1.

- Inscreva-se no SIMP “Abuso sexual de menores Boas práticas para intervenção articulada”.

Coimbra, 29 de fevereiro de 2016.

O Procurador-Geral Distrital,

(Euclides Dâmaso Simões)


H.1.10. Memorando n.º 7/16 Coimbra - PGD - Procurador-Geral Distrital: Proteção
jurídica na jurisdição de menores – Valor dos honorários – “Intervenção ampla” e
“intervenção ocasional”.

Memorando n.º 7/16 Coimbra - PGD - Procurador-Geral Distrital

Memorando n.º 7/16, de 22.09 Ver documento no formato original


Coimbra - PGD - Procurador-Geral Distrital
Euclides José Dâmaso Simões - Procurador-Geral Distrital

Sumário: Proteção jurídica na jurisdição de menores – Valor dos honorários – “Inter-


venção ampla” e “intervenção ocasional”.

MEMORANDO

Tendo-se suscitado dúvidas sobre a classificação dos atos processuais de proteção jurídica
na jurisdição de menores, com projeção sobre o quantum da remuneração legalmente pre-
vista, ouvidos os Senhores Magistrados com funções de coordenação nas comarcas e nesta
Procuradoria-Geral Distrital, tomam-se como boas a interpretação e prática seguintes:

a) Os atos que possam classificar-se como de “intervenção ampla” são remunerados com
21 UR, nos termos do ponto 4.2 da tabela de honorários anexa à Portaria nº 1386/2004,
de 10 de Novembro.

b) Os atos que possam classificar-se como “intervenção ocasional” são remunerados com 5
UR, nos termos do ponto 6 da citada tabela de honorários.

c) A destrinça entre “intervenção ampla” e “intervenção ocasional” deve ser feita caso a
caso, mormente à luz dos elementos contidos no ponto 6 e na nota 2 da referida tabela (de
onde parece decorrer que um ato único não tem necessariamente de ser uma intervenção
ocasional, caso se integre numa atividade de maior abrangência - v.g. contactos prévios
com o menor e sua família, diligências sobre o contexto pessoal, familiar e escolar, acom-
panhamento a entrevista na DGRSP, para elaboração do relatório social, etc. - e que não se
esgote, à partida, naquela intervenção).

d) Para tal efeito, devem as notas de honorários do SINOA ser previamente presentes ao
Juiz e/ou ao Magistrado do Ministério Público.

- Inscreva-se no SIMP, sob o assunto em epígrafe.

Coimbra, 22 de setembro de 2016.

O Procurador-Geral Distrital,

(Euclides Dâmaso Simões)


Anotação a este documento hierárquico:

Regula o Capítulo III do RGPTC os processos especiais, aí cabendo:

- Secção I: RERP e resolução de questões conexas

- Secção II: alimentos devidos a criança

- Secção III: da efetivação da prestação de alimentos

- Secção IV: entrega judicial de criança

- Secção V: inibição e limitações

- Secção VI: averiguação oficiosa da maternidade ou da paternidade

- Secção VII: Processos regulados no Código de Processo Civil

- Secção VIII: apadrinhamento civil

- Seção IX: ação tutelar comum

O incumprimento do regime de RERP consta do artigo 41.º e a efetivação da pres-


tação de alimentos consta do art.º 48.º do RGPTC.

Na economia do diploma, o art.º 41.º e o 42.º, este para a alteração, aparecem na


Secção I e o art.º 48.º na Secção III.

Esta inserção sistemática levanta enormes dificuldades. Assim, pergunta-se:

- O incumprimento é um incidente ou um processo autónomo?

- A alteração é um incidente ou um processo autónomo?

- A efetivação da prestação de alimentos é um incidente ou um processo au-


tónomo?

Se a resposta é evidente quanto à efetivação da prestação de alimentos, ou seja, é


um processo especial autónomo, posto que está na Secção III do Capítulo III, já quanto à
alteração e incumprimento se podem colocar questões.

Assim, sendo a epígrafe da Secção I do Capítulo III «Regulação do exercício das


responsabilidades parentais e resolução de questões conexas», a primeira questão a colo-
car é a de se saber se as questões conexas são processos autónomos ou antes incidentes ou
nem uma coisa nem outra.
A favor da consideração da alteração e incumprimento como processos autónomos
está:

- o facto de não serem considerados incidentes na economia do diploma, de


forma expressa, não existindo qualquer norma que o diga, tendo regras pró-
prias de autuação e apensação (cf. art.º 41.º, n.ºs 2 e 3, e 42.º, n.º 2, al.ª b), do
RGPTC;

- o facto de quer o incumprimento quer a alteração deduzidos com base em


acordo de RERP homologado em Conservatória de Registo Civil darem lugar a
ação autónoma;

- o facto de, existindo processo de RERP, o processo de alteração ser autuado


por apenso;

- o facto de o incumprimento, no caso de existir processo judicial onde se regu-


lou o exercício das responsabilidades parentais, ser autuado por apenso.

- o facto de o critério de competência ser sempre, em qualquer caso, o da nova


residência do menor, pelo que o incumprimento deve ser deduzido no tribunal
desta residência, pedindo-se o processo de regulação ao tribunal onde a mes-
ma foi feita, ao qual será apenso;

- o facto de o processo de alteração e o de incumprimento terem hoje, ambos


os processos, uma tramitação praticamente igual à da RERP, pois no caso de
incumprimento a regra é a da conferência de pais, e não havendo acordo, o re-
gime é em tudo idêntico;

- o facto de, mesmo no caso de notificação do art.º 41.º, n.º 3, do RGPTC, poder
seguir-se uma conferência e uma tramitação mais complexa.

Contra a consideração da alteração e incumprimento como processos autónomos está:

- o facto de serem tratados na referida epígrafe da Secção I do Capítulo III co-


mo «questões conexas».

- o facto de existirem casos de alteração de RERP verdadeiramente irrisórios,


tais como o simples pedido de alteração de residência habitual do menor ou
de alteração do horário de entrega e de recolha ou mesmo de pedido de homo-
logação de acordo de alteração;
- o facto de no incumprimento se prever a simples notificação e não a citação,
havendo que distinguir entre incumprimento e alteração.

- o facto de no art.º 989.º, n.º 2, do Código de Processo Civil se estabelecer o


seguinte:

«2 - Tendo havido decisão sobre alimentos a menores ou estando a correr o res-


petivo processo, a maioridade ou a emancipação não impedem que o mesmo se
conclua e que os incidentes de alteração ou de cessação dos alimentos corram
por apenso.»

- finalmente, o facto de não se poder retirar qualquer ilação a favor da afirma-


ção do tratamento como processo e não como incidente pelo facto de existir
citação ou notificação, uma vez que nos incidentes pode existir citação, quan-
do a parte é chamada pela primeira vez ao processo, de que é exemplo o inci-
dente de intervenção provocada do art.º 316.º, n.º 2, do Código de Processo
Civil de responsáveis subsidiários do artigo 2009.º do Código Civil, onde se
prevê a citação no art.º 319.º, n.º 1, do Código de Processo Civil.

Perante este acervo de argumentos, cumpre perguntar se o rigor do direito, inde-


pendentemente das consequências tributárias ou outras, determina a classificação como
incidente ou de ação especial.

Caso 1: alteração ou incumprimento de regime de RERP homologado em


Conservatória de Registo Civil.

Caso 2: incumprimento ou alteração por referência a regime judicial-


mente homologado ou fixado.

Caso 3: incumprimento seguido de recurso ao processo especial do art.º


48.º do RGPTC.

No caso 1: trata-se indubitavelmente de uma ação autónoma, seja de incumpri-


mento seja de alteração.

No caso 2: a lei não é líquida, mas por identidade de razão com o caso 1 e ainda
atendendo ao facto de se tratar de processo com tramitação que pode ser em tudo idêntica
à regulação do exercício das responsabilidades parentais, não existe razão para tratar tais
processos como simples incidente.
No Caso 3: O incumprimento seguido do processo especial do art.º 48.º do RGPTC
acaba por ser um único processo especial, pois as diligências executivas exigem uma de-
claração de incumprimento prévia, conforme jurisprudência largamente maioritária.

Existirá, então, razão, para desconsiderar totalmente a indicação do art.º 989.º, n.º
2, do Cód. Proc. Civil, artigo este cuja redação foi revista pelo artigo 3.º da Lei n.º
122/2015, de 1 de setembro de 2015, que alterou o Código Civil e o Código de Processo
Civil, no que respeita ao regime de alimentos em caso de filhos maiores ou emancipados
(DR 1 setembro)? Será relevante o facto de a redação do n.º 2 não ter sido mexida, tendo
coexistido no passado com a OTM, em que a alteração era seguramente uma ação autóno-
ma?

Entendemos que nos casos de simples notificação do art.º 41.º, n.º 3, parte final, do
RGPTC, em que a declaração de incumprimento se siga à notificação, sem qualquer impul-
so do patrono nomeado em sede de processo do art.º 48.º do RGPTC, se deve considerar a
existência de simples incidente.

Já nos outros casos, teremos de concluir estarmos perante um verdadeiro proces-


so, para todos os efeitos legais, não sendo relevante a manutenção da redação do n.º 2 do
art.º 989.º do Cód. Proc. Civil, pois vê-se inequivocamente que o legislador agiu sem cuida-
do.

Os problemas subjacentes a esta conclusão residem na inadequação da tabela de


honorários e da inadequação da Tabela I do Regulamento das Custas Processuais, que im-
plica que nos casos de processos especiais do RGPTC a taxa de justiça seja de 3 UC (306 €
para cada impulso), a que acrescem honorários de 21 UR, ou seja, 21 x 25,50 € = 535,50 €
(intervenção em processo de jurisdição de menores). Mas este é um problema não inter-
pretativo, ao qual o intérprete da lei não deve dar resposta, pois trata-se de uma opção do
legislador.

Assim, não é legal a simples cobrança de 0,5 UC como «outros incidentes» nos ca-
sos de incumprimentos em que a tramitação não se tenha limitado à notificação do art.º
41.º, n.º 3, parte final, do RGPTC, tal como não é legal a atribuição ao patrono, fora desses
casos, de uma remuneração por incidente e não por processo. A não ser que se introduz
aqui uma interpretação corretiva, tarefa hermenêutica esta que carece de estudo mais
aprofundado.

Nos termos do art.º 26.º, n.º 1, da Portaria n.º 10/2008, de 03.01, na redação das
Portarias n.ºs 210/2008, de 29.02, e 654/2010, de 11.08, os valores das compensações
devidas aos profissionais forenses pela inscrição em lotes de escalas de prevenção ou pela
designação isolada para escalas de prevenção são os estabelecidos na Portaria n.º
1386/2004, de 10 de novembro.

Nos termos do n.º 3 desse mesmo artigo 26.º, se o profissional forense for nomea-
do para as restantes diligências do processo, nos termos do n.º 5 do artigo 3.º, apenas é
devida compensação pelo processo.

Nos termos do art.º 28.º, n.º 1, da Portaria 10/2008, o pagamento da compensação


devida aos profissionais forenses deve ser processado pelo IGFEJ, I. P. Dispõe o n.º 3 deste
artigo que o pagamento é sempre efetuado por via eletrónica, tendo em conta a informa-
ção remetida pela Ordem dos Advogados ao IGFEJ, I. P., confirmada nos termos dos núme-
ros anteriores. As Secções apenas confirmam se se tratou de ato isolado ou de intervenção
em processo, não podendo haver pagamento de ato isolado e de intervenção em processo
no mesmo processo.

Os honorários devidos por divórcio por mútuo consentimento que corram na Con-
servatória de Registo Civil são apresentados junto da Conservatória e os devidos por esca-
la, sem intervenção, são apresentados na Secção Central ou Secretaria, sendo pagos, em
ambos os casos, pelo Cofre Geral dos Tribunais (notas 4 e 5 à Tabela).

Os demais honorários, como por exemplo os devidos por intervenção isolada ou


em processo tutelar educativo, são pedidos ao IGFEJ, mas apresentados junto das entida-
des respetivas (nota 5 à Tabela).

Decorre da Tabela de Honorários da Portaria n.º 1386/2004, de 10.11 que no caso


de intervenção ocasional em ato ou diligência isolada do processo, por exemplo, em dili-
gências deprecadas ou em interrogatório único, o pagamento corresponde a 5 Unidades de
Referência (1 UR = 1/4 da UC = 25,50 €), ou seja, 5 x 25,50 € = 127,50 €.

No caso de intervenção em processo de jurisdição de menores, o pagamento cor-


responde a 21 UR, ou seja, 21 x 25,50 € = 535,50 €. Trata-se de valor igual ao da interven-
ção em processo com Tribunal de Júri ou em processo de divórcio litigioso ou de ações
com valor entre 14.963,91 € e 24.939,85 €.

Cumpre recordar que se o profissional forense for nomeado para as restantes dili-
gências do processo, nos termos do n.º 5 do artigo 3.º, apenas é devida compensação pelo
processo. Trata-se de norma que convoca a seguinte interpretação:
- nomeação no Inquérito Tutelar Educativo para o interrogatório do menor,
sem mais intervenção: 127,50 € (ato isolado);

- nomeação no Inquérito Tutelar Educativo para o interrogatório do menor,


que se prolonga para os dias seguintes, ou para a tarde seguinte e dia seguinte,
ou seja, com mais de uma sessão: 127,50 € (ato isolado), pela primeira sessão,
acrescendo 76,50 € (3 x 25,50 €) por cada sessão a mais, a partir da segunda,
pois a segunda não é paga a mais;

- nomeação no Inquérito Tutelar Educativo para o interrogatório do menor,


vindo a ser realizada acareação, e depois novo interrogatório, sendo depois o
processo arquivado: paga-se por intervenção em processo, pois não se trata de
sessões da mesma diligência - 535,50 €.

Cada apenso de Processo Tutelar Cível (cf. RERP, Apenso de incumprimento, Apen-
so de PPP, Apenso de Proc. Tt.Educativo) vale como um processo para efeitos de Tabela,
exceto, conforme defendemos em cima, no caso do art.º 41.º, n.º 3, parte final, do RGPTC,
verificados os condicionalismos indicados.

Sobre os conceitos de «intervenção ampla» e «ocasional» deve consultar-se o Me-


morando 7/2016, de 22.09, do Exmo. Sr. P.-G.D. de Coimbra, ora sob anotação.

O artigo 5.º, n.º 1, da Portaria 1386/2004, de 10 de novembro (foi revogada pelo


artigo 36.º da Portaria n.º 10/2008, de 3 de janeiro, artigo esse que foi posteriormente
revogado pela Portaria n.º 210/2008, de 29 de fevereiro, tendo esta última efetuado revo-
gações pontuais à presente Portaria) estabelece:

«Quando, no mesmo período da manhã ou da tarde, o advogado, advogado esta-


giário ou solicitador intervier em mais de um processo, os honorários são limita-
dos ao montante da remuneração mais elevada prevista para os processos em
que nesse período tiver intervindo, qualquer que tenha sido o número efetivo de
intervenções.»

Se num processo de promoção e de proteção se alcançar um acordo tutelar cível


(cf. art.º 112.º-A, da LPCJP), o advogado é remunerado nestes termos e não pelos dois pro-
cessos?

A adoção do critério pretendido levaria ao entendimento de que, independente-


mente do trabalho anteriormente desenvolvido, dois processos (apensos ou não) termina-
dos na mesma diligência por razões de celeridade ou economia processual (ou não), pu-
dessem dar origem apenas a uma compensação, com toda a injustiça daí decorrente.

Imagine-se o caso de no processo 1 o defensor elaborou alegações, após conferên-


cia de pais, vindo a alcançar-se acordo no dia 5, antes do julgamento. Mas nesse mesmo dia
5, também de manhã, o mesmo defensor, no processo 2, onde também alegou, alcançou
acordo antes do julgamento.

Só recebe por um? Só pelo facto de terem terminado no mesmo dia, de manhã?

O artigo 5.º, n.º 1, da Portaria n.º 1386/2004, de 10 de novembro, só vale para es-
calas de urgência.

Não vale para processos em relação aos quais o patrono/defensor está já nomeado
e em que, por razões de ordem formal, se entendeu efetuar apenas uma diligência, sob
pena de não se considerar a intervenção processual anterior.

Assim, se no processo de promoção e de proteção se alcançar acordo de RERP que


lhe ponha termo (art.º 112.º-A, n.º 1, da LPCJP), não é por esse facto que o patrono deixará
de ser remunerado autonomamente na ação de RERP, se aí ainda não foi remunerado e
teve intervenção efetiva.

Diferente será o caso de não ter tido intervenção efetiva! Aí sim, vale o art.º 5.º, n.º
1, da Portaria n.º 1386/2004, de 10 de novembro.

Trata-se de pagar apenas por serviços efetivamente prestados. O art.º 2.º da Porta-
ria 1386/2004, de 10 de novembro, estabelece expressamente que «1 - São devidos aos
advogados, pelos serviços que prestem no âmbito da proteção jurídica, os honorários
constantes da tabela em anexo.» Portanto, refere-se a serviços prestados.

Concluindo:

1.º) Alteração ou incumprimento de regime de RERP homologado


em Conservatória de Registo Civil.

Trata-se indubitavelmente de uma ação autónoma, seja de incum-


primento seja de alteração.

Taxa de justiça: 306 € por impulso (cf. art.º 7.º, n.º 1, e Tabela I A,
do Regulamento das Custas Processuais); honorários de 535,50 €.
2.º) Incumprimento ou alteração por referência a regime judicial-
mente homologado ou fixado.

A lei não é líquida, mas por identidade de razão com o caso 1 e ain-
da atendendo ao facto de se tratar de processo com tramitação que
pode ser em tudo idêntica à regulação do exercício das responsabi-
lidades parentais, não existe razão para tratar tais processos como
simples incidente, salvo, no caso do incumprimento, por recurso a
uma interpretação corretiva.

Taxa de justiça: 306 € por impulso (ou 51 €, tratando-se de inci-


dente, por recurso à aludida interpretação corretiva); honorários
de 535,50 € (ou, tratando-se qualificando-se como intervenção em
incidente processual, pagamento correspondente a 8 Unidades de
Referência (1 UR = 1/4 da UC = 25,50 €), ou seja, 8 x 25,50 € = 204
€).

3.º) Incumprimento seguido de recurso ao processo especial do


art.º 48.º do RGPTC.

O incumprimento seguido do processo especial do art.º 48.º do


RGPTC acaba por ser um único processo especial, pois as diligên-
cias executivas exigem uma declaração de incumprimento prévia,
conforme jurisprudência largamente maioritária.

Taxa de justiça: 306 € por impulso; honorários de 535,50 €. Leva-


se em conta o que foi pago como simples incidente de incumpri-
mento, se for o caso ou como processo de incumprimento, se for o
caso.

4.º) Incumprimento com simples notificação do art.º 41.º, nº 3, par-


te final, do RGPTC, seguido de declaração de incumprimento.

Entendemos que nos casos de simples notificação do art.º 41.º, n.º


3, parte final, do RGPTC, em que a declaração de incumprimento se
siga à notificação, sem qualquer impulso do patrono nomeado em
sede de processo do art.º 48.º do RGPTC, se deve considerar a exis-
tência de simples incidente.

Aplica-se a Tabela II (art.º 7.º, n.º 4, do Regulamento das Custas


Processuais): 0,5 UC de taxa de justiça por impulso.

Decorre da Tabela de Honorários da Portaria n.º 1386/2004, de


10.11 que, no caso de intervenção em incidente processual, o pa-
gamento corresponde a 8 Unidades de Referência (1 UR = 1/4 da
UC = 25,50 €), ou seja, 8 x 25,50 € = 204 €.

Cumpre recordar que, se o profissional forense for nomeado para


as restantes diligências do processo, nos termos do n.º 5 do artigo
3.º, apenas é devida compensação pelo processo.

Saliente-se que ao valor de honorários indicado acrescem sempre duas unidades


de referência (2 x 25,50 € = 51 €) em caso de acordo que ponha termo ao processo, se o
acordo ocorrer antes da audiência de julgamento (cf. art.º 25.º, n.º 4, da Portaria n.º
10/2008, de 03.01). Ou seja, num processo que termine por acordo antes da audiência de
julgamento, os honorários ascendem na jurisdição de menores a 535,50 € + 51 € = 586,50
€.
H.2. Documentos hierárquicos da Procuradoria-Geral Distrital do Porto
H.2.1. Recomendação n.º 2-PGDP/15 Porto - PGD - Procurador-Geral Distrital: Con-
clusões do III Encontro de Magistrados do Ministério Público da jurisdição de Famí-
lia e Menores das comarcas da área dos Tribunais da Relação do Porto e de Guima-
rães.

Recomendação n.º 2-PGDP/15 Porto - PGD - Procurador-Geral Distrital

Recomendação n.º 2-PGDP/15, de 12.11 Ver documento no formato original

Porto - PGD - Procurador-Geral Distrital


Maria Raquel Ribeiro Pereira Desterro Almeida Ferreira - Procurador-Geral Adjunto

Sumário: Conclusões do III Encontro de Magistrados do Ministério Público da jurisdi-


ção de Família e Menores das comarcas da área dos Tribunais da Relação do Porto e
de Guimarães

RECOMENDAÇÃO

Na sequência do III Encontro de Magistrados do Ministério Público da Jurisdição de Família e Me-


nores da área dos Tribunais da Relação do Porto e Guimarães, que teve lugar no dia 22.05.2015, em
Mezio-Arcos de Valdevez, formulam-se as seguintes conclusões:

1. Regime sancionatório por falta injustificada em processo de autorização para a práti-


ca de ato

Na economia do Decreto-Lei n.º 272/2001, de 13/10, a possibilidade de o Ministério Público


sancionar testemunha faltosa em multa processual, ordenar a sua comparência sob custódia e
passar os mandados com vista à sua condução não tem cabimento, mostrando-se manifesta-
mente inconstitucional por violação do art.º 27.º da Constituição da República Portuguesa.

2. Audição da criança nos processos de regulação do exercício das responsabilidades


parentais

A) A audição e participação da criança constitui um dos princípios orientadores da intervenção


em sede tutelar cível;

B) Tal princípio deverá, todavia, ser temperado com os princípios de intervenção mínima e da
proporcionalidade, no sentido de que a audição serve o propósito de melhor definir o quadro
vivencial que permitirá que a criança cresça e se desenvolva em condições de harmonia e se-
gurança, devendo, por isso, ser observada se e na medida em que se revele útil e vantajosa pa-
ra ela;

C) Em processo judicial é tendencialmente obrigatória a audição das crianças com idade igual
ou superior a 12 anos ou, não os tendo, sempre que revelem maturidade e discernimento sufi-
ciente para o efeito, salvo se a defesa do seu superior interesse o desaconselhar;

D) No domínio dos acordos sobre o exercício das responsabilidades parentais previstos no


art.º 14.º do Decreto-Lei n.º 272/2001 o Magistrado do Ministério Público deve proceder à au-
dição das crianças sempre que tal seja possível, a sua idade e maturidade o aconselhem e as
concretas circunstâncias do caso levantem dúvidas sobre a bondade do acordo, na perspetiva
do seu superior interesse;

E) A decisão de não proceder à audição da criança deve ser fundamentada com as razões de
facto e de direito que a justificam e ficar processualmente documentada.

3. Repercussão processual da oposição do ofendido ao prosseguimento do Inquérito Tu-


telar Educativo

A) Com a revogação do n.º 2 do art.º 72.º da Lei Tutelar Educativa e com a alteração introduzi-
da ao seu n.º 1 através da Lei n.º 4/2015 impõe-se agora ao Ministério Público a obrigatorie-
dade de iniciar inquérito uma vez adquirida a notícia do facto, sendo irrelevante a vontade do
ofendido na intervenção relativamente aos factos de que foi vítima, ainda que integrativos de
ilícito de natureza semipública ou particular;

B) Porém, com a alteração do n.º 2 do art.º 87.º, o legislador consagrou a possibilidade exceci-
onal de o processo ser arquivado sempre que o ofendido invoque motivo tão relevante que se
sobreponha ao interesse do Estado em educar o jovem para o direito;

C) Tais situações terão que ser aferidas casuisticamente e só deverão ser atendidas em casos
relevantes e devidamente justificados;

D) Seria incongruente com o espírito da reforma e lesivo do interesse público de educação do


jovem aceitar-se que a simples declaração pelo ofendido de que não pretende procedimento
tutelar contra o jovem ou que pretende desistir da queixa obrigaria o Ministério Público a ar-
quivar automaticamente o ITE.

4. Posição do Ministério Público nos casos de abandono escolar quando a intervenção


da CPCJ não teve êxito

A) O acesso à educação constitui um direito fundamental de cidadania, de que depende o efeti-


vo exercício de outros direitos, por se revelar fator estruturante da personalidade e o garante
da aquisição das competências necessárias ao pleno desenvolvimento pessoal e social dos ci-
dadãos;

B) O Ministério Público não tem um poder discricionário relativamente à iniciativa do proces-


so de promoção e proteção, apenas lhe sendo permitido arquivar liminarmente o processo
remetido pela CPCJ ao abrigo do art.º 68.º da LPCJP quando seja “manifesta a falta de funda-
mento ou a desnecessidade de intervenção” (art.º 74.º);

C) Nas situações em que estão em perigo as necessidades educativas da criança e mesmo que a
CPCJ considere esgotadas todas as possibilidades de fazer regressar o jovem à escolaridade,
impõe-se que Ministério Público providencie pela instauração de processo judicial de promo-
ção e proteção (art.º 73.º);

D) O Tribunal tem o dever de proteger as crianças, não lhe sendo permitido arquivar o proces-
so de promoção e proteção durante a sua menoridade sem esgotar efetivamente os instrumen-
tos e os meios que a lei coloca ao seu alcance.

5. Fiscalização pelo Ministério Público do produto dos bens vendidos no âmbito de


“processo de autorização para a prática de atos”

A) Na defesa dos interesses das crianças e jovens, o Ministério Público não pode alhear-se do
destino dos proventos em dinheiro correspondente ao preço a pagar nos em negócios que au-
torize;

B) Nas diligências que entenda realizar, assim como nas providências que suscitar, deve ter-se
em conta que, nos termos do disposto no art.º 1878.º n.º 1, do CC, compete aos pais, no inte-
resse dos filhos administrar os seus bens e que qualquer limitação a estes poderes só judicial-
mente pode ser decretada.

6. Compatibilização da competência para a prática de atos urgentes de promoção e pro-


teção entre a secção de família e menores e as secções genéricas da instância local

A) - Dos art.ºs 123.º, n.º 4 e 124.º, n.º 6, da LOSJ, segundo os quais a prática de atos urgentes é
assegurada pelas secções de competência genérica de instância local, ainda que a respetiva
comarca seja servida por secção de família e menores, nos casos em que esta se encontre sedi-
ada em diferente município, não decorre que quanto aos processos urgentes, a secção de famí-
lia e menores só tenha competência na área do município em que se encontre sediada e que,
quanto aos demais, continuem territorialmente competentes as instâncias locais;

B) - A intervenção das instâncias locais é residual e estritamente pontual, apenas naqueles ca-
sos em que a intervenção da secção de família e menores da instância central se mostre, de to-
do em todo, inviável, mercê das circunstâncias do caso.

7. Admissibilidade legal de cláusula automática de atualização da pensão alimentar


substitutiva a cargo do FGADM

A) O mecanismo de renovação anual da verificação dos pressupostos subjacentes à atribuição


da prestação a cargo do FGADM revela-se pouco compatível com a fixação de uma cláusula au-
tomática de atualização do valor da prestação substitutiva, que só se justificaria no caso de a
obrigação se prolongar por um período de tempo mais dilatado sem intervenção do tribunal;

B) Sem embargo, qualquer opção a tomar neste particular terá que atender à jurisprudência
uniformizadora emergente do Acórdão do STJ n.º 5/2015, de 4/5, segundo a qual a prestação
fixada a cargo do FGADM não pode exceder a obrigação a que está vinculado o devedor origi-
nário.

Assim,

RECOMENDO aos Senhores Magistrados do Ministério Público das Comarcas da área de jurisdição
do Tribunal da Relação do Porto (Aveiro, Porto, Porto Este) - e do Tribunal da Relação de Guima-
rães (Braga, Bragança, Viana do Castelo e Vila Real) a observação das conclusões acima formuladas,
consignando-se que o nível de execução e eficácia das mesmas será avaliado passados cinco meses
de vigência desta recomendação.

Porto, 12 de novembro de 2015

A Procuradora Geral Distrital

_________________________

(Maria Raquel Desterro Almeida Ferreira)


ÍNDICE
I. GUARDA/RESIDÊNCIA .............................................................................................................................................. 5

II. ALIMENTOS .............................................................................................................................................................. 22

III. CONVÍVIO COM O PROGENITOR QUE NÃO TEM A GUARDA FÍSICA .................................................... 43

III.1 SÍNDROME DE ALIENAÇÃO PARENTAL ...................................................................................................... 46

IV. REGULAMENTO BRUXELAS II BIS (NOVO REGULAMENTO BRUXELAS II): REGULAMENTO


(CE) N.º 2201/2003 DO CONSELHO, DE 27.11.2003 (cf. entrou em vigor em 1 de agosto de
2004 e tornou-se aplicável a partir de 1 de março de 2005) ..................................................................... 64
Autoridade Central Portuguesa: DGRSP (Gabinete Jurídico e de Contencioso - Despacho n.º
9954/2013) .................................................................................................................................................................. 64

V. NORMAS DE CONFLITOS ...................................................................................................................................... 70

VI. PROCESSO DE REGULAÇÃO DO EXERCÍCIO DAS RESPONSABILIDADES PARENTAIS ................... 74

VII. AÇÃO TUTELAR COMUM DO ARTIGO 67.º DO REGIME GERAL DO PROCESSO TUTELAR
CÍVEL ............................................................................................................................................................................... 85

VIII. SANÇÃO PECUNIÁRIA COMPULSÓRIA ........................................................................................................ 86

IX. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ......................................................................................................................................... 86

XI. INIBIÇÃO/LIMITAÇÃO ......................................................................................................................................... 87

CASO PRÁTICO 1 .......................................................................................................................................................... 89


(Violação do Direito de Visitas - residente em Espanha) ............................................................................................... 89

CASO 2 ............................................................................................................................................................................. 91
(Deslocação ilícita de menor) ..................................................................................................................................................... 91

XII. Audição da criança ou jovem .......................................................................................................................... 94

XIII. COBRANÇA DE ALIMENTOS E CUSTAS NO ESTRANGEIRO ................................................................100

1) Até 28-02-2002 (Convenção para a Cobrança de Alimentos no Estrangeiro concluída em Nova


Iorque) ............................................................................................................................................................................................... 102

1.1) Petição de reconhecimento e revisão de sentença estrangeira (artigos 978.º e seguintes do Cód.
Proc. Civil) ........................................................................................................................................................................................ 104

2) A partir de 01-03-2002 até 30-01-2009 (Regulamento Bruxelas I) ................................................................ 106

3) A partir de 30-01-2009 até 30-07-2014 (Regulamento (CE) n.º 4/2009, de 18 de Dezembro) ......... 110

4) A partir de 01-08-2014 (Convenção da Haia de 2007, de 23 de novembro, sobre a Cobrança


Internacional de Alimentos em Benefício dos Filhos e de Outros Membros da Família) ............................. 121

5) Convenção relativa à competência judiciária, ao reconhecimento e à execução de decisões em


matéria civil e comercial – “Convenção Lugano II” ........................................................................................................ 122

6) PALOPS (ACORDOS BILATERAIS) ................................................................................................................................... 123

7) Cobrança de Alimentos nos EUA ...................................................................................................................................... 125


8) REGULAMENTO BRUXELAS II BIS (NOVO REGULAMENTO BRUXELAS II): REGULAMENTO (CE)
N.º 2201/2003 DO CONSELHO, DE 27.11.2003 (cf. entrou em vigor em 1 de agosto de 2004 e
tornou-se aplicável a partir de 1 de março de 2005) – cobrança de alimentos em Portugal por titular
do exercício das responsabilidades parentais aqui residente com o menor. ..................................................... 127

9) Execução por custas no estrangeiro ............................................................................................................................... 129

FORMULÁRIO .............................................................................................................................................................136

A. Menores ...................................................................................................................................................................137

A.1. Ações de Regulação do Exercício das Responsabilidades Parentais ............................................................. 138

Modelo 1 ........................................................................................................................................................................................... 138

Modelo 2 ........................................................................................................................................................................................... 139


(Ação de regulação do exercício das responsabilidades parentais, numa situação de progenitores
casados e de iminência de viagem para o estrangeiro por parte de um deles, levando a filha do casal,
com oposição do outro progenitor.) ..................................................................................................................................... 139

Modelo 3 ........................................................................................................................................................................................... 141


(Ação de regulação do exercício das responsabilidades parentais em que se pede a confiança do
menor ao avô) ................................................................................................................................................................................ 141

A.2. Ação de Incumprimento da Prestação de Alimentos ........................................................................................... 144


A.3. Ação de Incumprimento da Prestação de Alimentos ........................................................................................... 146
A.4. Ação de Alteração da Regulação do Exercício das Responsabilidades Parentais.................................... 148
A.5. Ação de Limitação do Exercício das Responsabilidades Parentais ................................................................ 150
A.6. Ação Tutelar Comum - Instituição de Tutela ........................................................................................................... 153
A.7. Tutela de menores confiados a estabelecimento de educação ou assistência .......................................... 156
A.8. Ação de Inibição do Exercício das Responsabilidades Parentais ................................................................... 158
A.9. Ação de Inibição do Exercício das Responsabilidades Parentais ................................................................... 161
A.10. Pedido de reconhecimento de direito de convívio e sua regulamentação em favor dos avós. ....... 164
A.11. Pedido de homologação judicial de acordo de limitação do exercício das responsabilidades
parentais ........................................................................................................................................................................................... 166
A.12. Pedidos de homologação judicial de acordo de exercício das responsabilidades parentais (dois
modelos) ........................................................................................................................................................................................... 168

Modelo 1 ........................................................................................................................................................................................... 168


Modelo 2 ........................................................................................................................................................................................... 169

A.13. Requerimento de abertura de processo de promoção e de proteção, com pedido de aplicação


de medida provisória .................................................................................................................................................................. 170
A.14. Requerimentos de abertura de processo de promoção e de proteção, com pedido de aplicação
de medida provisória. ................................................................................................................................................................. 173
A.15. Requerimento de abertura de processo de promoção e de proteção. ....................................................... 183
A.16. Pedido de regresso de menor ao Estado da residência habitual (Hungria) ............................................ 186

B. FILIAÇÃO .................................................................................................................................................................190

B.1. Ação Complexa - Investigação de Maternidade e Impugnação de Paternidade Presumida ............... 191
B.2. Impugnação de Maternidade e de Perfilhação e Investigação de Maternidade ....................................... 194
B.3. Impugnação e Investigação de Paternidade............................................................................................................. 197
B.4. Ação Oficiosa de Investigação de Paternidade ........................................................................................................ 200
B.5. Ação Declarativa Constitutiva de Impugnação de Perfilhação ........................................................................ 203
B.6. Ação de Impugnação de Paternidade Presumida em Representação de Menor...................................... 207
B.7. Ação de Impugnação de Paternidade Presumida em Representação de Menor...................................... 209
B.8. Ação Oficiosa de Investigação de Paternidade (aplicação da Lei Pessoal do réu) .................................. 211
C. Autorização Para a Prática de Atos/Suprimento de consentimento ................................................213

C.1. Despachos............................................................................................................................................................215

Despacho 1 ....................................................................................................................................................................................... 215


Despacho 2 ....................................................................................................................................................................................... 218
Despacho 3 ....................................................................................................................................................................................... 223
A – Relatório .................................................................................................................................................................................... 223
Despacho 4 ....................................................................................................................................................................................... 230
A – Relatório .................................................................................................................................................................................... 230
Despacho 5 ....................................................................................................................................................................................... 236
Despacho 6 ....................................................................................................................................................................................... 237
(Suprimento de consentimento) ............................................................................................................................................ 237
Despacho 7 ....................................................................................................................................................................................... 242
(Suprimento de consentimento) ............................................................................................................................................ 242
Despacho 8 ....................................................................................................................................................................................... 245
Despacho 9 ....................................................................................................................................................................................... 246
Despacho 10 .................................................................................................................................................................................... 247
Despacho 11 .................................................................................................................................................................................... 249

D. Inquérito Tutelar Educativo ............................................................................................................................252

D.1. Inquérito Tutelar Educativo – suspensão do processo ....................................................................................... 253


D.2. Inquérito Tutelar Educativo – plano de conduta e suspensão do processo .............................................. 257
D.3. Inquérito Tutelar Educativo – requerimento de abertura de fase jurisdicional ..................................... 261

E. Adoção/Apadrinhamento Civil .......................................................................................................................264

E.1. Parecer em processo de adoção..................................................................................................................................... 265


E.2. Confiança judicial com vista a futura adoção ........................................................................................................... 268
E.3. Consentimento Prévio Com Vista a Futura Adoção .............................................................................................. 269

E.3.1. Auto de Consentimento Prévio Com Vista a Futura Adoção ......................................................................... 270

E.4. Petição de ação constitutiva de vínculo de apadrinhamento civil (via eletrónica – art.º 19.º, n.º
8, do da Lei n.º 103/2009, de 11.09, na redação da lei n.º 141/2015, de 08.09): homologação de
compromisso de apadrinhamento civil, lavrado na CPCJ ao abrigo dos art.ºs 10.º, al.ª b), e 16.º da
Lei citada. .......................................................................................................................................................................................... 271
E.5. Petições de homologação de compromisso de apadrinhamento civil, por apenso a processo de
promoção e de proteção. ........................................................................................................................................................... 274

E.5.1. Petição de homologação de compromisso de apadrinhamento civil, lavrado na Segurança


Social e por apenso a processo de promoção e de proteção. ..................................................................................... 275
E.5.2. Petição de homologação de compromisso de apadrinhamento civil, lavrado no Ministério
Público e por apenso a processo de promoção e de proteção. ................................................................................. 278

E.6. Compromisso de Apadrinhamento Civil .................................................................................................................... 285

F. Averiguações Oficiosas: Cartas Rogatórias. ................................................................................................291

F.1. ANEXO: questões a colocar a mãe que regista filho sem menção da paternidade em consulado
de Portugal no estrangeiro. ...................................................................................................................................................... 293
F.2. Pedido de obtenção de provas nos termos do artigo 4.º do Regulamento (CE) n.º 1206/2001 do
Conselho, de 28 de maio de 2001, relativo à cooperação entre os tribunais dos Estados-Membros no
domínio da obtenção de provas em matéria civil e comercial (JO L 174 de 27.06.2001, p.1).................... 294

FORMULÁRIO A ............................................................................................................................................................................. 294


F.3. Pedido de obtenção de provas - Regulamento (CE) n.° 1206/2001, do Conselho da União
Europeia, de 28 de Maio de 2001: Oficio-Circular n.° 36/2003, da DGAJ/ DSJCJI ........................................... 298

G. Diversos ...................................................................................................................................................................303

G.1. Modelos de ACORDO de regulação do exercício das responsabilidades parentais ................................ 304

G.1.1. Anexos ao acordo ............................................................................................................................................................. 312

G.2. Introdução à Tabela para fixação de alimentos ...................................................................................................... 319


G.3. Tabela para fixação de alimentos ............................................................................................................................ 324
G.4. Tabelas de Encargos ........................................................................................................................................................... 330

G.4.1. Tabelas de Encargos (progenitor não guardião) ................................................................................................ 331


G.4.2. Tabelas de Encargos (filho menor) .......................................................................................................................... 332

G.5. Dados do “PORDATA”......................................................................................................................................................... 333

G.5.1. Gastos mensais individuais por salário mínimo ................................................................................................. 335

G.6. Ficha de articulação entre o DIAP e a Instância Central de Família e de Menores ................................. 336

H. Documentos hierárquicos ................................................................................................................................338

H.1. Documentos hierárquicos da Procuradoria-Geral Distrital de Coimbra ....................................339

H.1.1. Despacho n.º 3/12, de 08.02 - PGD de Coimbra/ Procurador-Geral Distrital: Abuso sexual de
menores - Boas práticas para intervenção articulada. ................................................................................................. 340
H.1.2. Despacho n.º 6/14, de 19.11 – PGD – Procurador-Geral Distrital: presidência efetiva a atos
processuais. ..................................................................................................................................................................................... 345
H.1.3. Ordem de Serviço n.º 23/14, de 27.10 - PGD de Coimbra/Procurador-Geral Distrital: mapas
estatísticos (ITE’s e processos de promoção e de proteção). .................................................................................... 346
H.1.4. Ordem de Serviço n.º 3/15, de 22.01 - Coimbra - Proc. da Comarca - Coordenação: Mapas
estatísticos bimestrais. ............................................................................................................................................................... 348
H.1.5. Ordem de Serviço n.º 3/12, de 06.03 - PGD de Coimbra/Procurador-Geral Distrital: processos
Administrativos - fichas utilizáveis. ...................................................................................................................................... 350
H.1.6. Memorando 13/2011, de 20.10: Apadrinhamento civil (Lei 103/2009 e Dec.-Lei 121/2010). .. 351
H.1.7. Memorando 10/2012, de 11.04: Regulação do exercício das responsabilidades parentais –
obrigatoriedade de fixação de alimentos. .......................................................................................................................... 352
H.1.8. Memorando 12/2015, de 13.10: apensação de processos - Lei 141/2015 (Regime Geral do
Processo Tutelar Cível) e Lei 142/2015 (Proteção de Crianças e Jovens em Perigo). ................................... 353
H.1.9. Instrução n.º 1/16 Coimbra - PGD - Procurador-Geral Distrital: 'Abuso Sexual de menores -
Boas práticas para intervenção articulada'. ...................................................................................................................... 355

H.2. Documentos hierárquicos da Procuradoria-Geral Distrital do Porto ..........................................368


H.2.1. Recomendação n.º 2-PGDP/15 Porto - PGD - Procurador-Geral Distrital: Conclusões do III
Encontro de Magistrados do Ministério Público da jurisdição de Família e Menores das comarcas da
área dos Tribunais da Relação do Porto e de Guimarães. .................................................................................369

Você também pode gostar