2015 - A Cultura Do Arroz PDF
2015 - A Cultura Do Arroz PDF
2015 - A Cultura Do Arroz PDF
A cultura do arroz
Presidenta da República
Dilma Rousseff
Gerente de Geotecnologia
Tarsis Rodrigo de Oliveira Piffer
A cultura do arroz
180 p.
ISBN: 978-85-62223-06-8
Distribuição:
Companhia Nacional de Abastecimento
Superintendência de Informações do Agronegócio - Suinf
SGAS Quadra 901 Bloco A Lote 69, Ed. Conab - 70390-010 – Brasília-DF
+55(61) 3312-6259 / 3312-6260
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Distribuição gratuita
Apresentação
É com enorme satisfação que a Conab está celebrando 25 de anos de
existência. Não são poucos os serviços prestados ao país, aos produtores
rurais e à população brasileira.
Em uma diversidade ímpar de iniciativas, a Conab gera informações
do agronegócio, acompanha a safra dos principais produtos, monitora o
comportamento dos mercados nacionais e internacionais, planeja a oferta
e o abastecimento de alimentos essenciais e conduz etapas cruciais de polí-
ticas públicas agrícolas e de abastecimento, como a Política de Garantia de
Preços Mínimos (PGPM) e a Política de Garantia de Preços Mínimos para a
Sociobiodiversidade (PGPM-Bio), além de programas como o Programa de
Aquisição de Alimentos (PAA), o Programa Brasileiro de Modernização do
Mercado Hortigranjeiro (Prohort), o Programa de Vendas em Balcão, entre
outros.
Por ser uma companhia de abastecimento, naturalmente suas iniciati-
vas estão fortemente conectadas com o rural, com a produção agrícola, com
os setores econômicos e produtivos de todos os perfis e categorias sociais,
indo, muitas vezes, aonde nenhum outro órgão público consegue chegar.
Percorrendo diversas temáticas, para além dos temas agrícolas, a Co-
nab está engajada nos principais programas públicos de enfrentamento da
pobreza e da fome, de garantia da segurança alimentar e nutricional, de
reconhecimento da biodiversidade e do conhecimento dos povos tradicio-
nais, conectando-se diretamente com órgãos internacionais, como a Food
and Agriculture Organization of the United Nations (FAO).
Por essas características, nos desafiamos a elaborar um livro que pu-
desse reproduzir este compromisso com o país, que abordasse nossa his-
tória, nossos hábitos alimentares, técnicas de cultivo, de produção e de ar-
mazenagem de um dos principais alimentos consumidos pela população
brasileira: o arroz.
A história do arroz no mundo, ainda incerta, porém rica na sua vin-
culação aos povos, reinados e impérios, e que percorreu o planeta em dife-
rentes épocas e por muitos mecanismos de transporte, deve ser valorizada.
Merece uma atenção especial sua chegada e desenvolvimento no Brasil.
A história do arroz traz registros de milhares de anos nos países asi-
áticos. Os primeiros registros de uso no Brasil, pelos indígenas, ainda têm
contornos indefinidos. Mas o fato é que o arroz, atualmente, é produzido
em praticamente todo o território nacional, em diferentes sistemas de cul-
tivo, e conseguiu assegurar uma diversidade de preparos e combinações na
gastronomia brasileira.
No livro Tratado da Terra do Brasil, escrito pelo historiador português
Pero de Magalhães Gandavo, em 1568, consta que “há nesta terra muita co-
pia de leite de vacas, muito arroz, favas, feijões, muitos inhames e batatas, e
outros legumes que fartam muito a terra”.
Se há um parceiro que o arroz conseguiu aqui no Brasil e que caiu no
gosto dos brasileiros é o feijão. Eis uma dupla imbatível, criativa, colorida,
nutritiva e defendida por todos. Um completa ao outro. Ambos completam
os brasileiros.
Neste espírito de união e parceria, como a do arroz com feijão, é que
a Conab apresenta aos nossos parceiros, dos setores público e privado, da
classe produtora, da academia, dos movimentos sociais rurais, e aos nossos
funcionários esta publicação, que aborda o arroz no Brasil em todas as suas
dimensões, potencialidades e características.
Agradecemos a todos os empregados da Conab que contribuíram com
esta publicação, que trouxeram seus conhecimentos e informações, fruto
da sua atuação profissional e do seu compromisso. Em especial, agrademos
ao Aroldo Antonio de Oliveira Neto, Superintendente de Informações do
Agronegócio, que animou e conduziu este trabalho.
A todos, uma boa leitura.
Introdução
A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura
(FAO) vem envidando esforços no sentido de implementar a Estratégia Glo-
bal para Aprimoramento das Estatísticas Agrícolas, que une as dimensões
econômicas, ambientais e sociais na agricultura. Resumidamente, ela tem
como meta contribuir para maior segurança alimentar e nutricional, redu-
zir a volatilidade dos preços de alimentos, melhorar o bem-estar da popula-
ção rural, assim como oferecer condições para o desenvolvimento de políti-
cas públicas de sustentabilidade ambiental.
Outra ação convergente para promover a produção agrícola com vis-
tas a gerar alimentos para a população mundial é aquela das 20 maiores
economias do mundo (G20), que têm apoiado a investigação e o desenvol-
vimento da produtividade da agricultura. No contexto do desenvolvimento
de mecanismos de ação para acompanhamento da volatilidade de preços e
de reforço na transparência foi criado o Sistema de Informação do Mercado
Agrícola (AMIS). A preocupação é específica com o arroz, milho, soja e trigo.
Nesse contexto, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) tem
conjugado esforços para qualificar as informações agropecuárias, que são
de sua responsabilidade. A disponibilidade de novas metodologias, a me-
lhoria dos processos e sistemas, além de articulação com parcerias estra-
tégicas, são fatores que têm contribuído para se obter resultados positivos
no cumprimento dos acordos assumidos pelo Brasil perante a FAO e o G20.
Outro ponto importante a ressaltar é que a Companhia pode contribuir
ainda mais na formação de conhecimento relevante para a agricultura, o
abastecimento e a segurança alimentar e nutricional. O uso intensivo do
potencial do seu acervo de dados e informações, em harmonia com a expe-
riência e o conhecimento acumulado, é o diferencial que deve ser explorado
na busca da melhoria qualitativa e na elaboração de estudos técnicos que
tenham como objetivo alinhar os esforços da Companhia aos do governo e
das organizações internacionais.
O cenário atual oferece a oportunidade de inserir a Companhia no rol
das instituições especiais que focam seus resultados no processo alimentar
e nutricional. A Conab tem, no seu planejamento, um projeto de pesquisa
em que se responsabilizaria pela publicação de livros anuais, abordando,
inicialmente, as culturas de arroz, milho, soja e trigo. A publicação seria
com temas que representem as atribuições e competências da Companhia,
tendo como foco análises críticas sob os aspectos, principalmente, da enge-
nharia de alimentos, da nutrição, da estatística, da logística, da agronomia
e da economia.
O presente livro é o resultado do esforço na execução do projeto. A
escolha de se iniciar com a cultura do arroz tem relação direta com a sua
importância alimentar e nutricional para mais da metade da população
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mundial e de seu grande valor energético, além de ser integrante do hábito
alimentar da nossa população.
O estudo foi realizado através de ampla pesquisa que envolveu levan-
tamentos de dados, informações, documentos e bibliografias, contando,
inclusive, com a experiência vivenciada no âmbito das atividades da Com-
panhia. Considerando que a cultura do arroz está presente em todas as uni-
dades da Federação, as Superintendências Regionais da Conab têm forte
participação na construção do livro.
Dessa forma, a presente publicação está organizada em 4 partes, visan-
do melhor distribuir os assuntos de acordo com os temas escolhidos para a
sua composição. Na primeira parte, o assunto será a respeito dos aspectos
nutricionais e alimentícios do arroz, onde se registra breve histórico do pro-
duto, sua morfologia e composição, as formas de consumo, seus aspectos
nutricionais e o processo de pós-colheita no que se refere a industrialização
e a padrões de comercialização.
A segunda parte tem como foco a produção do arroz no Brasil, desta-
cando a cultura desse cereal nas diversas unidades da Federação, com in-
formações a respeito do histórico da cultura, a finalidade de plantio, a loca-
lização territorial das principais áreas de cultivo, os motivos de alterações
e da potencialidade no uso de área para a cultura, os registros a respeito
dos sistemas de plantio, pacotes tecnológicos e produtividade, incluindo
observações a respeito de solos, com informações das principais cultivares,
pragas e doenças, rotação de cultura e possíveis problemas ambientais e
sua minimização.
Outros assuntos tratados na segunda parte se referem ao uso da ge-
otecnologia no levantamento de safra da Conab e da problematização da
concentração da produção de arroz no Brasil. Com relação ao uso das ima-
gens de satélite e dos mapeamentos realizados pela Conab, destaca-se a
proximidade das áreas de cultivo do arroz apuradas em campo e pela geo-
tecnologia, além do uso dessa tecnologia no acompanhamento da produti-
vidade do arroz,
Com relação à concentração da produção, o texto tem o mérito de pro-
blematizar o tema evitando conclusões e juízos de valor, mas tem na sua
lógica apresentar elementos que incentivem a análise crítica e o debate da
matéria.
O armazenamento do arroz é o tema da terceira parte do livro. A aná-
lise se fixou nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Tocantins,
Maranhão e Mato Grosso, que produzem cerca de 85% do arroz no Brasil.
Destaca-se o histórico comparativo da capacidade estática com a produção
e a caracterização do parque armazenador localizado nas principais mi-
crorregiões do país produtoras de arroz.
A análise econômica da cultura do arroz, que é a quarta parte do livro, é
composta da conjuntura do mercado orizícula, da avaliação da formação de
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preços da cultura e da análise dos custos de produção do arroz irrigado no
estado do Rio Grande Sul. Nesse particular, pode-se decompor os elementos
dos custos das principais regiões do estado e oferecer informações impor-
tantes para a melhoria da eficiência produtiva.
A conclusão resume os diversos temas tratados nessa publicação e in-
duz a novas pesquisas complementares, dada a importância do arroz no
hábito alimentar da nossa população.
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PARTE I
ASPECTOS NUTRICIONAIS E
ALIMENTÍCIOS DO ARROZ
Breve histórico
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Nordeste (PEREIRA, 2002).
Foi em 1904, no município de Pelotas, no estado do Rio Grande do Sul,
que surgiu a primeira lavoura empresarial, já então irrigada. Depois, a cul-
tura chegou a Cachoeira do Sul, no mesmo estado, e, a partir de 1912, teve
grande impulso, graças aos locomóveis. Estes veículos, movidos a vapor,
acionavam bombas de irrigação, o que facilitava a inundação das lavouras
de arroz (PEREIRA, 2002).
O arroz é um dos cereais mais produzidos e consumidos no mundo,
caracterizando-se como o principal alimento de mais da metade da popula-
ção mundial. Somente na Ásia, de 60 a 70% do consumo calórico de mais de
2 bilhões de pessoas é proveniente do arroz e seus subprodutos (FAO, 2004).
A produção mundial estimada do grão é mais de 475 milhões de to-
neladas, sendo 8,3 milhões de toneladas produzidas no Brasil (USDA/FAS,
2015).
Formas de consumo
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em conteúdos de ferro e zinco (PEREIRA et al, 2009).
As características deste importante cereal possibilitam uma diversi-
dade de formas de preparo, quer em pratos salgados ou doces, podendo ser
associado a outros alimentos, de forma a enriquecer ainda mais a qualida-
de nutricional de uma preparação específica (BASSINELLO; CASTRO, 2004).
Quanto maior o conteúdo de amilose numa determinada variedade, mais
organizados e estáveis serão os grânulos de amido e, portanto, maiores se-
rão a quantidade de água, a temperatura e o tempo necessários para cozi-
nhar os grãos (MCGEE, 2014). O arroz com alta proporção de amilopectina
em relação à amilose, depois de cozido, fica mais pastoso e colante, sendo
indicado para preparações culinárias como o arroz-doce e o risoto italiano,
à base de arroz arbóreo (EMBRAPA, 2012; DORS et al, 2006; AUGUSTO-RUIZ
et al, 2003).
A depender da variedade do arroz, também é possível consumi-lo na
forma de paellas espanholas (preparadas com arroz arbóreo ou parboili-
zado) e sushi (arroz cateto) (MCGEE, 2014). No Brasil, sua utilização mais
comum é na forma de arroz com feijão (podendo ser o polido, o integral ou
o parboilizado), uma tradição no país, independentemente do estrato social
(FISBERG; WEHBA; COZZOLINO, 2002).
Também é adotado em receitas tipicamente brasileiras, ou adaptadas
às preferências alimentares do nosso povo, como o baião-de-dois, o arroz-
de-leite, o arroz com pequi, a galinhada, o bolo de arroz, o arroz-carreteiro e
o vatapá (FISBERG; WEHBA; COZZOLINO, 2002).
Outra forma de utilização do arroz é uma bebida alcoólica caracterís-
tica dos povos do Extremo Oriente: o saquê, obtido por um processo de fer-
mentação simultânea e gradativa do arroz cozido por fungos específicos e
acréscimo de leveduras que produzem álcool, resultando num delicado sa-
bor (MCGEE, 2014).
O guia alimentar para a população brasileira recomenda o consumo
de alimentos in natura ou minimamente processados, como o arroz, como
base para uma alimentação nutricionalmente balanceada, saborosa, cul-
turalmente apropriada e promotora de um sistema alimentar social e am-
bientalmente sustentável (BRASIL, 2014).
Apesar da relevância nutricional, culinária e cultural deste cereal, a
última Pesquisa de Orçamentos Familiares – POF, anos 2008 e 2009, exe-
cutada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, apontou
que, nas regiões metropolitanas e em Brasília-DF, o arroz polido apresentou
uma redução de 60% na quantidade anual per capita adquirida para con-
sumo no domicílio, desde 1975 até 2009. A redução foi mais intensa entre as
POF’s 1995-1996 e 2008-2009 (53%) (IBGE, 2010).
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Aspectos nutricionais
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nab, são muito importantes no combate à doença.
Pós-colheita e indústria do arroz
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ficação) (DORS; CASTIGLIONI; AUGUSTO-RUIZ, 2006; AUGUSTO-RUIZ et al,
2003).
Na forma nativa, o amido do arroz apresenta algumas propriedades
indesejáveis, tais como: pouca absorção e insolubilidade em água fria, ins-
tabilidade frente a ciclos de congelamento e descongelamento, e tendência
à retrogradação (a reorganização das cadeias de amilose a amilopectina
quando a pasta de amido é resfriada, com a consequente formação de um
gel cristalino, normalmente acompanhada da expulsão de água) (SILVA;
ASCHERI, 2009; HEISLER et al, 2008; AUGUSTO-RUIZ et al, 2003). Contudo,
na presença de água e calor, o grânulo de amido começa a sofrer altera-
ções induzidas em sua estrutura, resultando num fenômeno conhecido
como gelatinização, capaz de compensar tais desvantagens (ZAVAREZE et
al, 2009; SILVA et al, 2008).
Estudos de desenvolvimento tecnológico indicam que os subprodutos
do arroz podem ser usados como ingredientes para a melhoria nutricio-
nal e funcional de alimentos (HAMMOND, 1994). A farinha de arroz, por
exemplo, tem sido muito utilizada como substituta da farinha de trigo na
elaboração de produtos sem glúten, por ser atóxica e não alergênica para
portadores de doença celíaca, o que tem aumentado o seu apelo comercial
(HEISLER et al, 2008).
As propriedades da farinha de arroz também são interessantes do
ponto de vista tecnológico, devido às suas características reológicas — não
apresenta alta viscosidade, permitindo que pastas com alto teor de sólidos
possam ser bombeadas facilmente em processos industriais (ASCHERI et al,
2010; CLERICI; EL-DASH, 2008; AUGUSTO-RUIZ et al, 2003).
Desse modo, o desempenho e a aplicação do arroz enquanto produto
culinário, sucedâneo da farinha de trigo ou aditivo na indústria de alimen-
tos, estão intimamente ligados às propriedades intrínsecas do amido e às
alterações sofridas por ele.
Padrões de comercialização
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cia estabelecidos nesta norma.
O arroz é classificado em grupos (quanto à sua forma de apresentação),
em subgrupos (de acordo com o processo de beneficiamento), em classes
(de acordo com as dimensões do grão) e em tipos (de acordo com a sua qua-
lidade, expressos por números arábicos e definidos pelos limites máximos
de tolerância estabelecidos na Instrução Normativa, podendo ainda ser en-
quadrado como fora de tipo e desclassificado) (BRASIL, 2009).
Assim, este cereal é classificado em dois grupos (arroz em casca e arroz
beneficiado), que são subdivididos em subgrupos. O arroz em casca pode
ser dividido nos subgrupos natural e parboilizado; e o arroz beneficiado nos
subgrupos arroz integral, arroz polido, arroz parboilizado integral e arroz
parboilizado polido. Independente do grupo e do subgrupo, o arroz é classi-
ficado em cinco classes — longo fino, longo, médio, curto e misturado — e
classificado em cinco tipos — Tipo 1, Tipo 2, Tipo 3, Tipo 4 e Tipo 5 — poden-
do ainda ser enquadrado como Fora de Tipo e Desclassificado.
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dade. Braz. J. Food Technol, Campinas, v. 11, ed. esp., jan. 2009. Disponível em:<http://bjft.
ital.sp.gov.br/artigos/especiais/especial_2009/v11_edesp_07.pdf>. Acesso em: 30 jul. 2015.
23
A cultura do Arroz Conab
PARTE II
PRODUÇÃO DO ARROZ
24
A cultura do Arroz Conab
De acordo com a Conab (2015), a safra de arroz estimada para o ano
agrícola 2014/2015 é de aproximadamente 8,9 mil toneladas, com 6,5 mil
hectares de área plantada e produtividade média de 1.370 kg/ha.
Os principais fatores climáticos que influenciam a cultura do arroz são
a temperatura do ar, o fotoperíodo e a precipitação pluvial.
A temperatura do ar influencia na fisiologia da planta, prejudicando
seu crescimento, desenvolvimento e a produtividade conforme a fase fo-
nológica. As faixas de temperaturas ideais variam de 20ºC a 35ºC, sendo de
30ºC a 33ºC para fase de floração e de 20ºC a 25ºC para maturação.
A produção de arroz em regime de sequeiro é dependente do regime
pluvial, sendo mais prejudicial no estádio de florescimento e enchimento
de grãos, que podem comprometer a produtividade. No entanto, os índices
pluviométricos do estado são bastantes elevados, em torno de 2250mm à
2750mm anuais, favorecendo a prática desta cultura e ocasionando poucos
problemas por déficit hídrico.
A principal doença observada no cultivo de arroz no Acre é o carvão
do arroz (Tilletia barclayana). A doença encontra-se na maioria das áreas
cultivadas com arroz no mundo. Geralmente, as cultivares de arroz do tipo
grão longo são mais suscetíveis quando comparadas com as de grão curto
e médio. O carvão do arroz é uma doença pouco conhecida, principalmente
pelos produtores e extensionistas, que ao longo dos anos pode acumular ou
manter estoque de inóculo no ambiente, sendo frequentemente encontra-
da nos arrozais do Acre.
Na produção de arroz no estado, as principais pragas observadas são o
percevejo sugador (chupa o arroz quando o grão ainda não endureceu, es-
tando leitoso, e deixa as sementes chochas; ou ataca os grãos ainda novos),
o percevejo castanho, broca-da-cana e pulgão.
Para o controle de pragas e doenças, recomenda-se a rotação de cultu-
ras, tratos culturais, aquisição de sementes de empresas idôneas e realiza-
ção do plantio na época certa. A utilização de defensivos agrícolas é irrisó-
ria, pois a maioria da produção é proveniente de agricultores tradicionais
com foco na subsistência e que utilizam o excedente para comercialização.
Os solos aptos ao plantio de arroz no Acre são aqueles de textura are-
nosa, com teor mínimo de 10% de argila e menor do que 15%, ou com teor de
argila igual ou maior do que 15%, nos quais a diferença entre o percentual
de areia e o percentual de argila seja maior ou igual a 50.
Também são utilizados solos de textura média, com teor mínimo de
15% de argila e menor do que 35%, nos quais a diferença entre o percentual
de areia e o percentual de argila seja menor do que 50, e solos de textura
argilosa, com teor de argila maior ou igual a 35%.
No estado do Acre, a legislação em vigor não recomenda o cultivo na
preservação permanente e nas áreas com solos que apresentam profundi-
dade inferior a 50cm ou com solos muitos pedregosos, isto é, solos nos quais
25
A cultura do Arroz Conab
calhaus e matacões ocupem mais de 15% da massa e/ou da superfície do
terreno (BRASIL, 2013).
O calendário de plantio de arroz recomendado no Acre compreende
o período entre 11 de setembro a 20 de novembro, sendo que as cultivares
indicadas são GRUPO I AGRO NORTE: ANa 5011 e ANa 7007 e a EMBRAPA:
BRS MONARCA.
As áreas de cultivo de cada município deverão se restringir às áreas
delimitadas pelo zoneamento ecológico-econômico do estado do Acre, ins-
tituído pelo decreto estadual nº 1.904, de 5 junho de 2007, publicado no DOE
nº 9. 571, de 15 de junho de 2007.
Os municípios aptos ao cultivo são: Acrelândia, Assis Brasil, Brasileia,
Bujari, Capixaba, Cruzeiro do Sul, Epitaciolândia, Feijó, Jordão, Mâncio Lima,
Manuel Urbano, Marechal Thaumaturgo, Plácido de Castro, Porto Acre, Por-
to Walter, Rio Branco, Rodrigues Alves, Santa Rosa do Purus, Sena Madurei-
ra, Senador Guiomard, Tarauacá e Xapuri (BRASIL, 2013).
Referências bibliográficas
2 Ednabel Caracas Lima. Eng.ª Agrônoma - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB
Mestrado: Fisiologia Vegetal - Universidade Federal de Lavras/MG – UFLA. 7 anos de Conab; Marcelo
Ribeiro Eng.º Agrônomo - Universidade Federal da Bahia – UFBA. Especialização: Desenvolvimento Sus-
tentável para o Semiárido Nordestino - Universidade Federal de CampinaGrande/PB, 8 anos de Conab.
Aurendir Medeiros de Melo Administrador - Fundação Visconde de Cairu – Salvador/BA.. 10 anos, - Ger-
son Araújo dos Santos Assistente de Operações, 40 anos de Conab e Joctã Lima do Couto, Eng.º Agrônomo
- Universidade Federal da Bahia – UFBA. Mestrado: Ciências Agrárias - Universidade Federal do Recônca-
vo da Bahia – UFRB. 3 meses de Conab. Lotação: Superintendência Regional da Conab no Estado da Bahia.
26
A cultura do Arroz Conab
A produção de arroz na Bahia concentra-se na região oeste, portanto
no cerrado, apresentando características próprias, definidas pela precipi-
tação média anual entre 1.200 e 1.800mm de chuva e pela duração de um
período seco pronunciado, de cinco a seis meses na maior parte da região,
estendendo-se de abril-maio a setembro-outubro (ADÁMOLI et al, 1986).
Outra caraterística climática peculiar desses ambientes é a ocorrência
de períodos de interrupção da precipitação em plena época das chuvas (ve-
ranicos), que podem variar de duas a quatro semanas nos meses de janeiro
e fevereiro, predominantemente. Tal fenômeno, que na maioria das vezes
coincide com a fase de crescimento do arroz, assume importância decisiva
na produtividade, principalmente quando consideramos as características
intrínsecas da grande maioria dos solos dos Cerrados.
Segundo Evangelista et al (1999) e Silva e Assad (2001), no cerrado baia-
no há basicamente três tipos de solos no que diz respeito a capacidade de
armazenamento de água. Solos tipo 1: baixa capacidade de armazenamen-
to de água (30mm) – areia quartzosa e solos aluviais arenosos, teores de
argila < 15%; solos tipo 2: média capacidade de armazenamento de água (50
mm) – latossolo vermelho e latossolo amarelo (15% < argila < 35%); solo tipo
3: alta capacidade de armazenamento de água (70 mm), teores de argila
> 35% – podzólicos vermelho-escuro (terra roxa estruturada), cambissolos
roxo, latossolo vermelho-escuro (argila > 35%).
De acordo com os dados da Conab, no Gráfico 1 pode-se observar, por
meio da série histórica do arroz no estado da Bahia, que a área cultivada
para essa cultura, nas safras 1981/82, 1985/86 e 1986/87, apresentou incre-
mento acima de 80 hectares. No entanto, a partir da safra 2000/01, que teve
área de 33,3ha, iniciou-se uma redução mais acentuada até a safra 2013/14,
na qual cultivou-se 8,8ha. Como o cultivo de arroz na Bahia apresenta a fi-
nalidade de abertura de área, ao longo das safras 1976/77 até a 2013/2014,
muitas áreas já foram abertas. Assim, pode-se atribuir a retração da área a
este fato.
Gráfico 1 – Evolução da Cultura do Arroz
Área (ha)
Produção (t)
120.000
100.000
80.000
60.000
40.000
20.000
0
5
010
/77
00
14/ o
00
/8
/9
/8
/9
ã
15
/20
vis
76
84
9/2
94
4/2
79
89
Safras
pre
99
200
200
Fonte: Conab
27
A cultura do Arroz Conab
A experiência dos produtores do cerrado baiano é de que quando se faz
a abertura da área e se cultiva primeiramente o arroz, a soja que é cultivada
posteriormente na mesma área apresenta um incremento na produtivida-
de de aproximadamente 5 a 10 sacas/ha, quando comparado com a produti-
vidade normal para a região, que é em média de 52 sacas/ha, fato que pode
ser atribuído à matéria orgânica oriunda do cultivo do arroz, a palhada. A
cultivar Sertaneja é a mais cultivada na Bahia.
Como a produtividade do arroz não atende ao consumo interno do es-
tado, torna-se necessário que o suprimento seja obtido através de outros
estados, como o Paraná e Piauí.
Referências bibliográficas
ADÁMOLI, J.; MACÊDO,J.; AZEVEDO, L.G. de; MADEIRA NETTO, J. M. Caracterização da região
dos cerrados. In: GOEDERT, W.J. (Ed.); Solos dos Cerrados: tecnologias e estratégias de ma-
nejo. Planaltina: EMBRAPA-CPAC; São Paulo: Nobel, 1986. p. 33-74.
SANTOS, B. dos.; STONE, L.F.; VIEIRA, N. R. de A, 2006. A cultura do arroz no Brasil. 2. ed.
rev. ampl. Santo Antônio de Goiás: Embrapa Arroz e Feijão, 2006.
COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO. Acompanhamento da Safra Brasileira
de Grãos, Brasília, v. 1, Safra 2013/14, n. 2, décimo segundo levantamento, set. 2014.
SILVA, S. C.; ASSAD. E. D. Zoneamento de riscos climáticos para o arroz de sequeiro nos esta-
dos de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Tocantins e Bahia. Rev. Bras.
Agrometereologia, Sete Lagoas, MG v. 9, n.3, (n. especial: Zoneamento Agrícola), p. 536-543.
2001.
3 Kerley Mesquita de Souza - Engenheiro Agrônomo – 7 anos de Conab; Pedro Antônio Medala-
ne Cravinho – Engenheiro Agrônomo – 37 anos de Conab; Ana Luiza Reis Ramos – Engenheira Agrônoma
– 30 dias de Conab e Ismael Cavalcante Maciel Junior – Engenheiro Agrícola – 30 dias de Conab. Lotação
na Superintendência Regional da Conab no Estado do Espírito Santo.
28
A cultura do Arroz Conab
do Rio Doce localiza-se a produção cacaueira do estado, a única região que
combina terras planas e férteis, temperatura quente e umidade elevada.
No ano de 1995, o estado do Espírito Santo, segundo o IBGE, produzia
60.894 toneladas de arroz, em uma área de 25.054ha, com produtividade de
2.430kg/ha. Atualmente, a produção vem diminuindo a cada ano, em virtu-
de da topografia montanhosa, fertilidade de solo, escassez de mão de obra e
alto custo de produção em relação à região sul do país, conforme observa-se
os dados nos gráficos abaixo.
120
100
80
mil toneladas
60
40
20
0
90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15
Ano
Fonte: Conab / IBGE
40
35
30
25
mil ha
20
15
10
5
0
90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15
Ano
Fonte: Conab / IBGE
29
A cultura do Arroz Conab
3500
3000
2500
2000
Kg/ha
1500
1000
500
0
90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15
Ano
Fonte: Conab / IBGE
30
A cultura do Arroz Conab
tecnológica de nível moderno e estruturado, as entradas de outras culturas
de maior valor comercial e o custo da mão de obra são fatores limitantes
para o desenvolvimento da cultura no estado.
A baixa produtividade, aliada ao êxodo rural, são as principais variá-
veis do decréscimo na área plantada. Prova da situação pode ser observada
com o desmonte das máquinas de benefício há mais de 25 anos, o que retra-
ta a tendência à redução de produto disponível.
Há três décadas, aproximadamente, o estado era abastecido de arroz
pela extinta Rede Somar. Embora haja o conhecimento da inviabilidade
da cultura no estado, acredita-se que o hábito cultural prevaleça por anos
afins, sem expressividade.
Referências bibliográficas
Resgate histórico
4 Espedito Leite Ferreira – Analista Engenheiro Agrônomo – 7 anos de Conab e Sued Wilma
Caldas Melo – Analista Gestão Agronegócio – 2 meses de Conab.Lotação: Superintendência Regional da
Conab em Goiás.
31
A cultura do Arroz Conab
gens e como “lavoura de toco” para cultivo de culturas mais rentáveis como
milho, feijão e soja.
Neste período, a acidez dos solos goianos e o baixo grau de tecnologia
disponível representavam limitações para o estabelecimento e desenvolvi-
mento de outras culturas de maior valor comercial. A rizicultura era usada
para “domesticar” e “amansar” o solo após o desmatamento e queima da
vegetação original. O plantio de arroz servia para atenuar os efeitos nega-
tivos da acidez do solo, tendo como objetivo principal diminuir os efeitos
tóxicos do Al e do Mn, uma vez que o arroz é mais tolerante aos efeitos fito-
tóxicos da acidez do solo. Em seguida ao plantio do arroz, o solo estava nive-
lado e a área limpa, apresentando condições mais favoráveis para o plantio
do milho, soja e outras culturas de maior valor e com melhores perspectivas
de mercado.
Este modo de preparar e cultivar a terra dos cerrados perdurou de tal
modo que, na década de 1970 e início 1980, o volume de arroz produzido
na região Centro-Oeste era bastante elevado, e Goiás figurava como grande
fornecedor de arroz para as demais regiões brasileiras (SANTIAGO, 2012).
Entretanto, a partir da Revolução Verde e do advento de novas tecnologias
que possibilitaram aproveitar melhor as propriedades físicas e a topografia
favorável dos solos do cerrado, a realidade produtiva de Goiás sofreu inten-
sas alterações e a área plantada de arroz diminuiu significativamente.
Desde então, a rizicultura perdeu superfície e se consolidou em áreas
específicas. Apesar dos ganhos de produtividade alcançados ao longo dos
anos 1980, a produção goiana diminuiu consideravelmente, e o estado per-
deu representatividade frente à produção nacional. Dois principais fatores
ajudam a explicar a diminuição da importância do estado de Goiás na pro-
dução nacional de arroz: a competição por área com culturas mais dinâmi-
cas e rentáveis e a mudança na preferência do consumidor por tipo de grão
de arroz.
O primeiro fator, avanço de outras atividades sobre a cultura do ar-
roz, teve início no período de “conquista” das áreas centrais do país. Sob
domínio do cerrado, essas áreas eram até então consideradas improdutivas
e tidas como inaptas para cultivos agrícolas. Porém, a partir dos avanços
agronômicos, tecnificação e intensificação do uso de tecnologias desenca-
deados pela Revolução Verde, o arranjo produtivo de Goiás sofreu profun-
das modificações.
Em paralelo aos avanços agronômicos, advento da agricultura tecnifi-
cada e desenvolvimento de variedades de plantas mais adaptadas às condi-
ções do cerrado, houve também investimentos em infraestrutura de trans-
porte, comunicação, energia elétrica e saneamento. Criou-se dessa forma
um ambiente favorável para expansão da fronteira agrícola e crescimento
populacional da região Centro-Oeste. Assim, as mesorregiões que hoje for-
mam o atual estado de Goiás receberam fluxos migratórios intensos, so-
32
A cultura do Arroz Conab
bretudo da região Sul. Os migrantes instalaram lavouras mais dinâmicas
e versáteis, tanto para consumo humano como animal, articuladas com
agroindústrias processadoras modernas e direcionadas à exportação. O uso
da lavoura de arroz como cultura de abertura não se fez mais necessário,
então o uso da terra foi modificado e grandes lavouras de soja e o cultivo do
milho em escala comercial passaram a fazer parte da produção agrícola do
estado (IGREJA et al, 1995).
O segundo fator diz respeito à mudança na preferência do consumidor
por tipo de grão de arroz consumido. Inicialmente os dois principais tipos
de arroz produzido no país (tipo longo, produzido em terras altas, e longo-fi-
no, proveniente das lavouras irrigadas do Sul) eram destinados a mercados
distintos espalhados pelo país, com pouca concorrência entre si. Entretan-
to, a partir de meados dos anos 1970, o grão longo-fino, proveniente do cul-
tivo irrigado, passou a dominar a preferência nacional.
A mudança na preferência afetou também os consumidores de arroz
de terras altas que passaram a preferir os grãos longo-fino, o que provocou
um aumento da área cultivada do arroz irrigado no Sul do país, que passou
a obter maiores cotações no mercado. Consequentemente, houve redução
do valor do arroz de terras altas (que não atendia à classificação longo-fino)
e a margem de lucro dos orizicultores goianos foi reduzida. Os produtores
optaram então por migrar para outras culturas, como soja, milho, algodão,
ou para a pecuária.
Cabe destacar que no ápice da rizicultura em Goiás se instalaram na
região várias agroindústrias de processamento de arroz. Estas, entretanto,
não se articularam para valorizar e promover o produto obtido na região.
Ao contrário, deram vez à mudança, passando a importar e ofertar o arroz
riograndense. Em consequência, a agroindústria local ficou dependente de
matéria-prima do Sul, e Goiás passou de exportador para importador de
arroz (SANTIAGO, 2012).
Ressalta-se ainda que esta mudança de preferência pelo arroz tipo lon-
go-fino impulsionou o desenvolvimento de pesquisas agronômicas e me-
lhoramento genético do arroz com vistas a viabilizar o plantio deste grão
também em terras altas. Institutos de pesquisa criaram estudos para este
fim. A Embrapa Arroz e Feijão, por exemplo, direcionou suas atividades para
obtenção de cultivares mais produtivas e adaptadas as características dos
cerrados. Desde então, mudou-se o tipo de arroz produzido, de modo que
as cultivares tradicionais são, atualmente, muito pouco cultivadas. Quando
produzidas, as lavouras de arroz tipo longo são para atender mercados bas-
tante específicos.
33
A cultura do Arroz Conab
Wander (2015) destaca que, no período de 1975 a 2010, a produção de arroz
passou por profundas transformações em nível nacional. Deste modo, al-
gumas regiões consideradas importantes produtoras no passado deixaram
de ter expressividade. Outras que apresentavam cultivos incipientes passa-
ram a ter bastante representatividade.
As transformações foram tais que, no cenário atual, tem-se a região
Sul como a principal produtora de arroz no país, representando 77% da pro-
dução nacional na safra 2014/2015. O Rio Grande do Sul tornou-se o princi-
pal estado produtor, respondendo por 68% de toda a produção nacional. A
região Centro-Oeste, onde está localizado o estado de Goiás, é a penúltima
colocada no ranking das regiões, com 6,5% do total produzido, volume infe-
rior apenas ao Sudeste do país. Na região Centro-Oeste, o principal estado
produtor é o Mato Grosso. Goiás responde por apenas 9% do volume de ar-
roz produzido internamente e ocupa a nona posição no ranking nacional.
A produção nacional do arroz está estagnada, com uma redução grada-
tiva de áreas e de produção. Na safra 2014/2015, a área plantada de arroz foi
de 2.333 mil hectares, uma redução de -22,69% no período de 10 anos, quan-
do comparado à 2005/2006. Essa estagnação se deve, sobretudo, ao desem-
penho das regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste, visto que a região Sul,
principal região produtora em nível nacional, apresenta comportamento
diferenciado da tendência nacional.
No contexto regional, o estado de Goiás apresentou redução de -71,49%
da área cultivada de arroz nos últimos 10 anos. A área plantada, que na safra
2005/2006 foi de 111,2 mil hectares, caiu para 31,7 mil hectares em 2014/2015.
Esta redução da área plantada, conforme discutido acima, ocorreu por di-
versos motivos mercadológicos, agronômicos e aspectos conjunturais.
Em Goiás, a diminuição da área cultivada de arroz foi acompanhada
também por uma forte redução da quantidade produzida, situação não ob-
servada no agregado nacional, que nos últimos dez anos sofreu pequeno
aumento de 3,67%, passando de 11.721,7 mil toneladas em 2005/2006 para
12.151,5 mil toneladas em 2014/2015. Esta elevação refere-se ao cultivo irriga-
do que tem aumentado sua relevância em área e principalmente em pro-
dução.
Já a produção goiana caiu -45,56%, variando de 206,8 mil toneladas em
2005/2006 para 112,6 mil toneladas na safra 2014/2015, situação explicada
por Wander (2015) quando afirma que nos últimos anos o cultivo de arroz
em terras altas perdeu importância em área e em produção. Para o autor,
isto deve-se muito ao fato de a cultura apresentar maior risco econômico e
uma relação risco/retorno também desfavorável.
Cabe destacar, entretanto, que a perda de competitividade da cadeia
orizícola goiana não teve a produtividade como fator determinante. A pro-
dutividade de arroz em Goiás, na verdade, apresentou um salto de 91,02%,
entre 2005/2006 e 2014/2015, enquanto em termos nacionais esta variação
34
A cultura do Arroz Conab
foi de 34,11%. A produtividade média atualmente no estado de Goiás é de
3.553kg/ha, segundo dados do 8º Levantamento de Safra de Grãos da Conab.
No cenário atual, a cultura do arroz em Goiás se restringe a peque-
nas áreas de sequeiro bastante pulverizadas pelo estado. Como principais
características destes cultivos destacam-se o baixo uso de tecnologias e o
beneficiamento e consumo nas próprias redondezas de produção. Nos le-
vantamentos de campo realizados pela Conab, observa-se muitas lavouras
plantadas em beiras de rodovias e estradas, faixas não legalizadas perten-
centes ao domínio público. Na maioria das vezes, estas não recebem os
cuidados agronômicos necessários, não contam com assistência técnica e
apresentam declínio de produtividade ao longo dos sucessivos plantios.
Outra característica marcante no estado refere-se ao fato de a esmaga-
dora maioria das áreas cultivadas ser proveniente de pequenos produtores
e de assentamentos e pré-assentamentos rurais. Estes vivem muitas vezes
em situação de insegurança alimentar e restrição orçamentária, enfrentam
dificuldades de obtenção de renda, permanência no campo e outros obstá-
culos estruturais, como escoamento da produção e distância dos centros
consumidores.
O cultivo de arroz nos assentamentos e acampamentos foi alavanca-
do pelo Programa Lavoura Comunitária, instituído em 1998 pelo Governo
de Goiás por meio da Secretaria de Agricultura – SEAGRO. Motivado pela
necessidade econômica e social de manter essas famílias em suas proprie-
dades, o programa objetivou subsidiar os pequenos produtores rurais com
insumos básicos (adubos e sementes) para o plantio de lavouras de arroz e
milho.
A implantação do Programa Lavoura Comunitária incentivou nova-
mente a cultura do arroz em Goiás. Entretanto, este impulso, em virtude
dos objetivos propostos e do escopo do programa, não foi suficiente para
que a produção rizícola retomasse a representatividade inicial. Não há um
estudo que avalie especificamente os resultados do programa e suas con-
tribuições para a retomada da alavancagem do cultivo de arroz em Goiás. O
que se observa é que, com o passar do tempo, muitos agricultores deixaram
de prestar contas e entregar os 4% da produção para a Organização das Vo-
luntárias de Goiás (OVG), o que impossibilitou a permanência no programa
e comprometeu os resultados esperados.
No estado de Goiás foram tomadas algumas iniciativas de ampliar a
produtividade e fixar a cultura em alguns municípios com aptidão para o
cultivo irrigado. Podemos citar os casos de: Flores de Goiás, São João d’Alian-
ça, Formosa e São Miguel do Araguaia, em que, segundo dados levantados
pelo IBGE, o cultivo irrigado respondeu por aproximadamente 15.100 hec-
tares, com uma produtividade média de 6.130kg/ha na safra 2013/2014, no
estado de Goiás.
35
A cultura do Arroz Conab
Referências bibliográficas
Histórico
5 José de Ribamar Gonçalves Fahd – Engenheiro Agrônomo – 34 anos de Conab e Olavo Oliveira
Silva – Engenheiro Agrônomo – 36 anos de Conab. Lotação Superintendência Regional da Conab no Esta-
do do Maranhão.
36
A cultura do Arroz Conab
rendado pelo Grupo de Coordenação de Estatísticas Agropecuárias do Ma-
ranhão – GCEA/MA.
Importância
Distribuição espacial
Sistema e plantio
37
A cultura do Arroz Conab
dições pluviométricas para o perfeito desempenho dos estágios fenológicos
da cultura.
Referindo-se ao rendimento médio, apura-se que quase 10% dos mu-
nicípios do Maranhão apresentam valores iguais ou abaixo de 1.000kg/ha,
o que comprova a baixa tecnologia no manejo do arroz, principalmente na
mesorregião norte-maranhense, tendo como integrantes municípios da
Aglomeração Urbana de São Luís, da Baixada e dos Lençóis Maranhenses.
Segundo a consolidação do mês de abril/2015 do Levantamento Siste-
mático da Produção Agrícola – LSPA, pelo Grupo de Coordenação de Esta-
tísticas Agropecuárias do Maranhão – GCEA/MA, o estado deverá produzir
544.000 toneladas de arroz na presente safra. Desse montante, 529.300 to-
neladas referem-se ao arroz de terras altas, o que equivale a 96,5% da pro-
dução esperada. Os 3,5% restantes são representados pelo arroz de várzea
nos municípios de Arari, Barreirinhas, Viana e Vitória do Mearim.
Abastecimento
6 Eliana Aparecida Silva. Técnica Agrícola. 06 meses de Conab. Lotação: Superintendência Regio-
nal da Conab no Estado de Minas Gerais.
38
A cultura do Arroz Conab
mesma época que os outros estados brasileiros. É sabido que o cultivo do ar-
roz no estado sempre foi marcado por fortes oscilações e declínios. No ano
de 1947, Minas Gerais tinha uma área plantada inferior a 450 mil hectares,
com uma produtividade de aproximadamente 1.200kg/ha. A partir de en-
tão, ocorreu uma expansão da cultura quando, entre os anos de 1965 e 1975,
a área plantada oscilou em torno de 800 mil hectares, chegando algumas
vezes a áreas próximas de 900 mil hectares. A partir desse período, ocorreu
uma redução considerável da área cultivada com arroz no estado (EPAMIG,
1989).
No ano de 1975 foi criado o PROVÁRZEAS (Programa de Aproveitamen-
to Racional de Várzeas Irrigáveis). Nos primeiros anos do programa (safra
1976/77), Minas Gerais produziu 635,9 toneladas de arroz e chegou a ficar
entre os cinco maiores produtores do país. Esta produção ocorreu muito
mais em função da extensa área cultivada do que da produtividade, pois o
rendimento médio na referida safra foi de 897kg/ha, o que colocava o esta-
do em 21º posição na categoria produtividade (CONAB, 2015).
Apesar da implantação do PROVÁRZEA, a área de arroz no estado con-
tinuou a reduzir significativamente, e a produtividade média manteve-se
oscilando no decorrer dos anos. Embora houvesse relatos de produtividades
altas em algumas áreas pontuais, o que se sabe é que a produtividade mé-
dia do arroz em Minas Gerais sempre esteve aquém da desejável, ou seja,
o estado não acompanhou o aumento de produtividade do país (gráfico 6).
Passaram-se quarenta anos do início do programa, e o cenário para
esta cultura ainda é o mesmo: aumento tímido da produtividade e redu-
ções drásticas das áreas cultivadas. Como exemplo, têm-se as duas últimas
safras. No ano agrícola 2013/2014, a área plantada foi de 19,4 mil hectares, e
a produtividade, de 2.020kg/ha. Atualmente, estima-se que são cultivados
apenas 12 mil hectares, com um rendimento esperado de 2.140kg/ha (CO-
NAB, 2015). Dessa forma, o levantamento mais recente de safra (2014/2015)
indica uma redução de área de 38,1% em relação à safra passada e 98,3% em
relação ao levantamento realizado em 1976 (gráfico 5).
A Conab atribui tamanha redução à vulnerabilidade aos riscos climáti-
cos; à baixa competitividade em relação a outras culturas, como milho, soja
e feijão; ao elevado custo de produção, onerado principalmente por causa
da mão de obra; e ainda às restrições ao cultivo em áreas de várzea. Esses
fatores tornam mais viáveis a importação desse produto de outros estados
do que a produção interna.
Segundo o IBGE, existem em Minas Gerais aproximadamente 280
municípios que cultivam arroz, dos quais a grande maioria produz quan-
tidade pouco significativa em termos de mercado. Predomina, portanto, o
cultivo de subsistência, com um excedente que é absorvido pelo Programa
de Aquisição de Alimentos – PAA, pelo Programa Nacional de Alimentação
Escolar – PNAE, pelas Prefeituras e pelo Governo do estado.
39
A cultura do Arroz Conab
Na maior parte das regiões, as lavouras são conduzidas com baixo ní-
vel de tecnologia e são pouco produtivas. Contudo, há áreas tecnificadas
e com produtividade relativamente boa. Dentre os municípios que se des-
tacam na produção de arroz em Minas, pode-se citar: Aimorés, Heliodora,
Careaçu, Arcos e Piranguçu. Nestes municípios predomina o cultivo irriga-
do, o que possibilita uma produtividade média de 5.100kg/ha (IBGE, 2015),
podendo, segundo a EPAMIG (2012) alcançar rendimento de até 8.000kg/
ha na modalidade várzea. Nestas regiões a produção é comercializada no
mercado local e regional.
Apesar do grande esforço da EMATER, da Empresa de Pesquisa Agro-
pecuária de Minas Gerais, da Embrapa Arroz e Feijão, de Universidades, en-
tre outros, o cultivo do arroz em Minas Gerais não tem demonstrado sinais
promissores. E o estado, que na década de 70 era autossustentável e chegou
a contribuir com mais de 7% do total de arroz produzido no país (EPAMIG,
1979), na safra 2013/2014, produziu 0,3% do total nacional, o que correspon-
de a pouco mais de 3% do arroz consumido no estado, o qual é suprido com
arroz proveniente da região Sul do país, principalmente do Rio Grande do
Sul e Santa Catarina.
400
300
200
100
0
7
14/15
0
76/7
84/8
94/9
04/0
89/9
99/2
09/1
79/8
isão
Safras
prev
Fonte: Conab
40
A cultura do Arroz Conab
Gráfico 6 – Evolução da produtividade de arroz
(Brasil x Minas Gerais) Brasil
Minas Gerais
6000
5000
Produtividade – Kg/ha
4000
3000
2000
1000
0
7
14/15
0
Safras
76/7
84/8
94/9
04/0
89/9
99/2
09/1
79/8
isão
prev
Fonte: Conab
Referências bibliográficas
TEIXEIRA, S. M.; SANINT, L. R. Arroz de sequeiro: novas perspectivas para o produto. Informe
Agropecuário, Belo Horizonte, v. 14, n. 161, p. 5-11, 1989.
SOARES, P. C.; MORAIS, O. P. de; SOUZA, A. F. de.; GIUDICE, R. M. del. Preparo do solo, epoca e
densidade de plantio. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v. 5, n. 55, p. 33-39, jul. 1979.
COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO. Acompanhamento de Safra Brasileira
de Grãos, Brasília, v. 2 - Safra 2014/15, n. 7, sétimo levantamento, p. 47, abr. 2015.
MAIS ARROZ PARA MINAS GERAIS: EPAMIG, Ufla e Embrapa lançam duas novas cultivares.
2012. Disponível em: <http://www.epamig.br/index.php?option=com_content&task=-
view&id=1439&Itemid=68>. Acesso em: 29 maio 2015.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Levantamento Sistemático da
Produção Agrícola, Belo Horizonte, p. 10, março 2015.
41
A cultura do Arroz Conab
da região Sul, mais especificamente, Rio Grande do Sul e Santa Catarina,
desde 1977, ano de criação do estado de Mato Grosso do Sul, a produção es-
tadual sofreu progressiva redução de área cultivada e do total produzido, ao
mesmo tempo em que ocorria a migração das áreas de cultivos para outras
culturas, como a soja e o milho, predominantemente.
Na safra 2013/2014, segundo dados da Conab, a área cultivada foi de
15.500ha. Inversamente, a produtividade apresenta números cada vez me-
lhores, progredindo paulatinamente, apresentando na safra 2013/2014 a
produtividade média de 6.150 kg/ha, razoavelmente maior que a média
nacional, de 5.108 kg/ha na mesma safra. Na safra 2013/2014, o Brasil pro-
duziu 12.121.600t de arroz, e deste total, Mato Grosso do Sul respondeu por
95.300t, ou seja, 0,78% do total produzido. Tal quantidade não é suficiente
para atender a demanda regional, havendo a necessidade de importação de
outros estados e mesmo países.
O arroz (Oryza sativa L.) apresenta respostas fenotípicas muito for-
tes a fatores ambientais, principalmente à precipitação pluvial, à radiação
solar e à temperatura do ar. Localizado entre as latitudes de 17°13’40” (S)
e 24°04’02” (S), Mato Grosso do Sul apresenta altos índices de insolação e
radiação solar e, de modo geral, clima tropical, com período chuvoso en-
tre os meses de outubro e abril e baixas precipitações pluviais nos meses
de junho a agosto, sendo os meses de maio e setembro de precipitações
extremamente variáveis, representando transições do regime pluvial. As
temperaturas do ar são elevadas durante todo o ano, com exceção do sul do
estado, onde o inverno é caracterizado por temperaturas amenas e baixas,
com possibilidade de ocorrências de geadas.
O período de semeadura mais favorável a elevadas produtividades está
entre os dias 15 de julho e 15 de novembro para as regiões centro-norte do
estado e periferia do Pantanal. Para o sul do estado, recomenda-se de 15 de
setembro a 15 de dezembro.
Atualmente, os principais municípios produtores de arroz em Mato
Grosso do Sul são Miranda, Rio Brilhante, Dourados, Douradina, Bodoque-
na, Maracaju, Deodápolis, Fátima do Sul, Itaporã e Sidrolândia.
O sistema de plantio adotado é predominantemente o de arroz irriga-
do por inundação. No estado de Mato Grosso do Sul há preferência e pre-
dominância de cultivo em solos argilosos. Usualmente, a semeadura é re-
alizada com semeadoras de plantio direto e emprega-se com antecedência
o preparo mínimo do solo na área a ser cultivada. Após a semeadura em
solo seco, é realizada a rolagem do terreno para melhorar o contato do solo
com a semente de arroz, bem como reduzir a quantidade de sementes não
cobertas. Em seguida, são construídas as taipas que possibilitarão a inun-
dação do terreno. A sistematização do terreno proporciona distribuição
uniforme da lâmina de água nos tabuleiros, reduz a incidência da brusone
e facilita a drenagem superficial.
42
A cultura do Arroz Conab
O ciclo das cultivares no Mato Grosso do Sul varia de acordo com a épo-
ca de semeadura e com a região, sendo mais tardias quando semeadas no
início do período de plantio na região Sul e mais precoces, se semeadas no
final do período correspondente da região oeste ou sudoeste do estado. As
cultivares mais frequentemente utilizadas para o cultivo do arroz irrigado
no Mato Grosso do Sul são: Epagri 108, Epagri 109, Epagri 112, SCS BRS Tio
Taka, SCS BRS Piracema, SCS 114 Andosan, SCS 115 CL, SCS 116 Satoru, IRGA
417, IRGA 424, BRS 7 Taim, BRS Jaçanã, BRS Tropical, BRS Sinuelo CL.
O cultivo do arroz em Mato Grosso do Sul é considerado de alta tecno-
logia, tendo em vista o nível de profissionalismo dos produtores, tradição e
experiência no cultivo das áreas. Os principais nutrientes cuja deficiência
limita a produtividade do arroz irrigado no estado do Mato Grosso do Sul
são o nitrogênio, o fósforo e o potássio. Ressalta-se, contudo, que a deficiên-
cia de zinco tem sido observada em algumas áreas.
Como já abordado, a redução das quantidades produzidas de alimen-
tos básicos, dentre eles o arroz, reduz o estado à condição de importador
do produto faltante. O ônus desta situação cabe à sociedade, que observa
o fechamento de postos de trabalhos, a redução de atividades econômicas
do setor e o desabastecimento de produtos que poderiam ser supridos com
oferta local, o que também se estende aos subprodutos do arroz que pode-
riam ser utilizados diretamente pelos consumidores ou por outras indús-
trias.
A solução para tais dilemas passa pela mobilização dos agentes da ca-
deia produtiva em busca de melhorias de procedimentos e processos que
possibilitem a produção de arroz local de maior quantidade e melhor qua-
lidade, considerando o interesse em se buscar estabelecer ações que moti-
vem a oferta de matéria-prima com qualidade e quantidade suficiente para
satisfazer os planos pré-estabelecidos e que garantam o padrão das marcas
comerciais.
8 Francielle Tonietti Capilé Guedes. Engenheira Agrônoma. Tempo de Conab: 8 anos e Petrônio
de Aquino Sobrinho. Economista, com 26 anos de Conab. Lotação: Superintendência Regional da Conab
no Estado de Mato Grosso.
43
A cultura do Arroz Conab
excluiu-se a visão de que o cerrado não oferecia potencial para exploração
produtiva e gerou-se o seu desenvolvimento.
Duas frentes de abertura de estradas foram implantadas com a ajuda
do exército brasileiro, uma de Cuiabá/MT, sentido norte, e outra a partir de
Santarém/PA, sentido sul, traçando assim a estrada transamazônica mais
importante para o processo de colonização da região centro-norte do es-
tado de Mato Grosso, a BR-163. Dessa forma, sob o slogan nacionalista de
“integrar para não entregar” nasceu o eixo viário Cuiabá-Santarém, que ti-
nha por finalidade, principalmente, a delimitação do território brasileiro, a
ocupação dos espaços vazios e a diminuição do fluxo de nordestinos para
a região Sul através da orientação da migração para o oeste, diminuindo a
densidade demográfica das metrópoles brasileiras, desacelerando o núme-
ro de favelas das regiões sul e sudeste e transformando terras improdutivas
em possíveis zonas de produção.
A cultura do arroz em sistema de cultivo em terras altas foi utilizada
como pioneira no estado de Mato Grosso para a abertura de novas áreas,
por ser pouco exigente em insumos e tolerante a solos ácidos. O processo
produtivo consistia na derrubada da vegetação nativa e, no ano seguinte,
no preparo do solo e no plantio da cultura.
O sistema de exploração caracterizava-se pelo baixo custo de produção
devido à baixa adoção das práticas recomendadas, incluindo plantios tar-
dios, gerando, assim, uma baixa produtividade. A ocorrência de veranicos
também fazia com que a cultura apresentasse uma produtividade média
muito baixa, apesar de a pesquisa nesse período, já oferecer alternativas
para minimizar a adversidade climática, incluindo cultivares tolerantes à
seca, classificação do grau de risco dos municípios produtores, adequação
da época de plantio, cultivar, preparo do solo e manejo de fertilizantes, vi-
sando o aprofundamento radicular e aumento da reserva útil de água do
solo (EMBRAPA, 2003).
De acordo com dados da Conab, este processo de abertura de área no
estado de Mato Grosso teve seu pico em 1976, período em que a cultura
ocupou uma área superior a 1,5 milhão de ha, com produtividade média de
1.355kg/ha.
Com a grande produção de arroz no estado, vieram juntos os proble-
mas de armazenagem e transporte, pois as redes armazenadoras existentes
na década de 80 eram insuficientes para o volume produzido, o que acarre-
tava na armazenagem do grão a “céu aberto”. Era comum ver nos pátios dos
armazéns dezenas de pilhas de arroz ensacado, sobre estrados de picado de
madeira e cobertas com lona. Para isso, no entanto, técnicas alternativas de
monitoramento e conservação dos grãos foram empregadas por um relati-
vo tempo, como a retirada das lonas para respiração do grão ensacado, vi-
sando à preservação da qualidade dos produtos armazenados. As estradas
também ofereciam condições de restrição para o escoamento da produção
44
A cultura do Arroz Conab
do estado.
Segundo a EMBRAPA, com a progressiva redução das áreas de abertura,
em meados da década de 80, a área cultivada com arroz sob o sistema de
cultivo de sequeiro foi sendo gradativamente reduzida, ao mesmo tempo
em que a fronteira agrícola se moveu no sentido sudeste-noroeste. A cul-
tura do arroz de sequeiro passou a fazer parte de sistemas de rotação, inte-
grando sistemas mais complexos com outras culturas ou até mesmo com
as pastagens.
No estado de Mato Grosso, no período de 1980 a 2014, a área cultivada
com arroz em terras altas apresentou uma redução de 80,05%, passando de
884 mil ha para 176,3 mil ha, respectivamente. Por outro lado, nesse mes-
mo período, a produtividade teve um aumento significativo, passando de
1.307kg/ha para 3.285kg/ha, evidenciando um acréscimo de 151,3%. Esses
números refletem a realização de pesquisas e a adoção das recomendações
técnicas na cultura do arroz de sequeiro.
Nesse período, em decorrência da abundante oferta do produto, no
Aglomerado Urbano Cuiabá/Várzea Grande, o maior polo habitacional do
estado, chegou a funcionar um considerável parque de beneficiamento de
arroz, investimento setorial que aos poucos foi perdendo fôlego à medida
que também decrescia a produção orizícola estadual. Atualmente, a con-
centração da indústria de beneficiamento está situada na região de Sinop
(médio-norte), próxima aos maiores redutos de produção do cereal.
Mesmo assim, especula-se que o abastecimento estadual é sobrema-
neira suprido pelo produto beneficiado vindo de outras unidades da Fede-
ração, especialmente do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, tradicionais
produtores de grãos, classe longo fino, com alta qualidade.
Gráfico 7 – Evolução da Cultura do Arroz
2.500
2.000
Produção total (tonelada)
1.500
1.000
500
0 03/04 04/05 05/06 06/07 07/08 08/09 09/10 10/11 11/12 12/13 13/14 14/15
Anos-safra
Fonte: Conab
45
A cultura do Arroz Conab
mente o maior produtor de grãos do país. Na produção da cultura do ar-
roz, sempre esteve entre os quatro maiores produtores brasileiros. Na Safra
2014/2015, ocupou a quarta posição, ficando atrás do Rio Grande do Sul,
Santa Catarina e Tocantins, estados nos quais preponderam os cultivos ir-
rigados. No contexto da produção em “terras altas” ou arroz de sequeiro,
considerando a safra 2014/2015, o estado figura como o principal produtor
nacional do cereal.
O estado de Mato Grosso ocupou, na safra 2014/2015, uma área de 175,1
mil hectares com cultivo de arroz, que apresentou uma produtividade mé-
dia de 3.296 quilogramas por hectare, resultando em uma produção de 577,1
mil toneladas.
Na safra 2014/2015, os cinco municípios mato-grossenses maiores pro-
dutores de arroz foram: Marcelândia, Feliz Natal, Tabaporã, Paranatinga e
União do Sul, representando 35,90% da produção do estado.
Por derradeiro, cabe registrar que uma cultura pioneira, sustentáculo
da ocupação da fronteira agrícola mato-grossense por aproximadamente
três décadas e principal responsável pela geração de renda e emprego nes-
se período, silenciosamente foi perdendo espaço para culturas mais produ-
tivas, rentáveis e voltadas para o mercado externo. Não se pode deixar de
afirmar que a cultura do arroz, junto com a secular pecuária, foi o alicerce
maior para a formação da grandeza e visibilidade ostentadas pelo agrone-
gócio mato-grossense.
Tabela 4 – Comparativo entre os 5 maiores produtores
de arroz sequeiro do MT
Produtividade
Município Área (ha) Produção (t)
(kg/ha)
Marcelândia 15.000 3.600 54.000
Feliz Natal 15.000 3.600 54.000
Tabaporã 10.000 3.600 36.000
Paranatinga 13.000 2.700 35.100
União do Sul 8.000 3.600 28.800
Demais municípios 114.100 3.296 369.200
TOTAL 175.100 3.296 577.100
Fonte: Conab
Referências bibliográficas
46
A cultura do Arroz Conab
ção , Santo Antônio de Goiás - GO, n. 1, jul/2003.
COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO. Acompanhamento de Safra Brasileira
Grãos, Brasília, v. 2, Safra 2014/15, n. 8, oitavo levantamento, maio 2015.
47
A cultura do Arroz Conab
de fronteiras trouxeram para o estado, especialmente no eixo que compre-
ende a rodovia entre Marabá, Altamira, Itaituba, Rurópolis e Santarém.
Nota-se na tabela os efeitos desse impacto nas áreas plantadas, pro-
dução e produtividade, crescendo essa última do patamar de 929kg/ha, em
1960, até os atuais 2.500kg/ha no estado do Pará, quase inferior à metade
da produtividade nacional.
Perdeu-se também espaço na área plantada, hoje equivalente ao que
se tinha há mais de 50 anos. Ressalve-se que a distância não é maior graças
a iniciativas de agroinvestidores, que insistem em plantar arroz no estado.
Tabela 5 – Evolução da lavoura de arroz em 56 anos – Pará / Brasil
Legenda: (*) Dados referentes ao Pará em 2015 foram extraídos do LSPA/GCEA/PA, MAIO 2015.
Fonte: IBGE/SIDRA.Tabela 1612/Produção Agrícola Municipal e Tabela 283/Área
Colhida/Censo Agropecuário.2015
48
A cultura do Arroz Conab
beneficiado em relação à baixa renda dos consumidores.
Apesar disso tudo, é possível reverter esse quadro, tanto do lado de go-
vernos como dos agroinvestidores e produtores rurais familiares, com po-
líticas agrícolas adequadas, como na área técnico-científica, ante o poten-
cial de oportunidades, vantagens comparativas e com base na evolução dos
mercados, dos sistemas de produção que a própria pesquisa deixou como
legado, voltando o Pará a contribuir de forma sustentável e sem impactos
ambientais amplos, como no passado, como razoável produtor desse nobre
alimento.
12
10
8
mil toneladas
6
4
0
05-06 06-07 07-08 08-09 09-10 10 -11 11-12 12-13 13-14 Previsão
Ano-safra 14-15
Fonte: Conab
49
A cultura do Arroz Conab
fra 2005/2006. Desde então até os dias atuais, acumulam-se cada vez mais
gargalos e resultados negativos na cadeia de produção, cabendo destacar,
na atualidade, a predominância do êxodo rural e a quebra da sucessão fa-
miliar dos agricultores, comprometendo a sobrevivência das famílias no
campo.
Gráfico 9 – Produtividade do arroz na Paraíba
1600
1400
1200
1000
Kg/ha
800
600
400
200
0
05-06 06-07 07-08 08-09 09-10 10 -11 11-12 12-13 13-14 Previsão
Ano-safra 14-15
Fonte: Conab
50
A cultura do Arroz Conab
nais. Essa deliberação nas esferas governamentais é de grande relevância
para o desenvolvimento da agricultura familiar, focada na produção sus-
tentável de alimentos.
Que se tome como referência de resultados bem-sucedidos o conjunto
de programas e projetos de pesquisas levados a efeito pela Empresa Bra-
sileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), e o elenco de políticas, pro-
gramas e projetos executados pela Conab. Todos focados no fortalecimento
dos Agricultores e da Agricultura Familiar.
Encravada em um ecossistema importante, com grande potencial es-
tratégico, a produção do arroz vermelho da microrregião do Vale do Piancó
merece atenção das políticas públicas governamentais. Mostra-se relevan-
te pela manutenção da biodiversidade e, sobretudo, pela sua expressiva
participação na geração de emprego e renda (ocupação da mão de obra no
campo). E, enfim, pela sua contribuição na promoção da segurança alimen-
tar e nutricional junto aos consumidores.
Urge reposicionar os níveis de produção do arroz vermelho do Vale do
Piancó no centro das políticas agrícola, ambiental e social da agenda do
Governo do Estado da Paraíba. A propósito, têm se observado nas Audiên-
cias Públicas do Orçamento Democrático Estadual – ODE-2016 e do Plano
Plurianual Democrático – PPA-D-2016-2019, promovido pelo Governo do
Estado da Paraíba, maior disposição das instituições vinculadas ao estado
em atender as demandas orçamentárias formuladas pelos municípios e
organizações de agricultores familiares. Nessa condição, foram aprovadas
propostas na plenária da 3ª Região Administrativa (Campina Grande) de
dois importantes programas e um plano visando promover o fortalecimen-
to da agricultura familiar no semiárido paraibano: (1) Programa Estadual
de Apoio a Efetivação dos Serviços de Inspeção dos Produtos da Agricultu-
ra Familiar; (2) Programa de Fortalecimento, Integração e Organização das
Cadeias Produtivas da Agropecuária e da Agricultura Familiar e o (3) Plano
Estadual de Convivência com o Semiárido para Agricultura Familiar.
Assim, espera-se incorporar as demandas desse cereal aos programas
e ao plano, visando resgatar os padrões de produção do arroz vermelho e
rumar para um desenvolvimento sustentável mais equilibrado. Por outro
lado, é necessário convidar os entes representantes do Governo Federal no
estado objetivando somar esforços, firmando parcerias nos investimentos
em pesquisas, assistência técnica, regularização fundiária, produção de se-
mentes, inspeção fitossanitária e comercialização nos mercados institucio-
nais.
Essas premissas se coadunam também com o posicionamento da Or-
ganização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, 2013)
ao qualificar a importância da Agricultura Familiar, conclamando as na-
ções a “preservar os alimentos tradicionais, além de contribuir para uma
alimentação balanceada e salvaguardar a agrobiodiversidade e o uso sus-
51
A cultura do Arroz Conab
tentável dos recursos naturais”, o que “representa uma oportunidade para
impulsionar as economias locais, especialmente quando combinada com
políticas específicas destinadas a promover a proteção social, o bem-estar
das comunidades e o desenvolvimento rural sustentável”.
Diante dos diversos e adversos fatores de produção, da gama de garga-
los que dificultam o desenvolvimento deste cultivar, de ser considerado um
produto ecológico de arraigado hábito alimentar da população do semiári-
do do nordeste, dos compromissos de governos em fortalecer o agricultor
e a agricultura familiar, e da crescente demanda identificada nos grandes
centros de consumo nacional como São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília por
esse cereal (BOÊNO et al, 2009), urge investir no resgate da produção do
arroz vermelho da Paraíba. É desafio de várias gerações.
Referências bibliográficas
52
A cultura do Arroz Conab
Em Pernambuco encontram-se relatos do cultivo de lavouras de arroz desde
1750. Tradicionalmente pouco utilizado na alimentação indígena, a expan-
são dessa cultura no país começou com incentivo dos portugueses.
O cultivo de arroz no estado de Pernambuco possui a finalidade de
atendimento ao mercado local. O consumo aparente per capita anual para
o estado de Pernambuco estimado é de 13,3 quilogramas de arroz (WAN-
DER; CHAVES, 2011). Considerando a necessidade total de 123,4 mil tonela-
das para a população do estado, é necessário importar 90% do produto de
outros estados.
A produção do arroz está concentrada na mesorregião do São Francis-
co, com destaque para a cidade de Cabrobó, onde está situado aproxima-
damente 90% da produção estadual. Nessa região, o cultivo e produção são
impulsionados pela disponibilidade de irrigação, além da utilização de cul-
tivares mais produtivos e resistentes a pragas e doenças, contrastando com
as demais regiões produtoras do estado, localizadas no sertão pernambuca-
no, onde é cultivado em pequenas propriedades e sem a adoção de irrigação
e outras tecnologias.
A condução do cultivo às margens do rio São Francisco ocorre princi-
palmente em áreas sistematizadas e irrigadas por inundação, envolvendo
preparos primário e secundário do solo. As atividades de preparo conven-
cional do solo têm início na primavera/verão anterior à semeadura da la-
voura, que ocorre entre os meses de janeiro a março. A semeadura do arroz
é feita a lanço ou em linha, e o estabelecimento de lâmina de água sobre o
solo. Ela ocorre por volta de 30 dias após a emergência das plântulas.
Segundo informações do último levantamento da produção agrícola
do (IBGE, 2015), o estado de Pernambuco representa 0,09% da área de pro-
dução de arroz no Brasil, com área cultivada de 2.357 hectares, apresentan-
do rendimento médio de 4.625kg/ha e produção total de 12.261 toneladas.
Comparando-se com a média nacional, o estado possui rendimento supe-
rior em cerca de 19%, devido principalmente a alta produtividade das regi-
ões irrigadas. De maneira geral, a produtividade média no estado teve re-
dução de 33,2% em relação a safra 2013/14, segundo informações da Conab
(2015). A redução da produtividade está relacionada principalmente com
temperaturas elevadas e falta de chuvas em todas as regiões produtoras do
estado, além de estar diretamente relacionada ao grau de investimento e
tecnificação adotados a cada ano.
A figura 2 mostra a disposição das áreas de produção de arroz no esta-
do de Pernambuco, com destaque para as cidades de Cabrobó, Orocó, Santa
Maria de Boa Vista, Serrita e Parnamirim.
53
A cultura do Arroz Conab
Fonte: Conab
Fonte: IBGE/Conab
Referências bibliográficas
54
A cultura do Arroz Conab
55
A cultura do Arroz Conab
compreende as áreas de cerrado, é a maior produtora de arroz com uma
área cultivada de 32.197 hectares no ano de 2014. É composta exclusivamen-
te por arroz de sequeiro, sendo a principal finalidade do cultivo a abertura
de novas áreas, principalmente para as culturas da soja e milho. O cultivo
do arroz é importante e recomendável na rotação de cultura com a soja pelo
fato de ser uma gramínea em sucessão a uma oleaginosa. No entanto, de-
vido a maior rentabilidade e preços praticados mais atraentes da soja em
relação ao arroz, a tendência é que a produção do arroz diminua cada vez
mais nesta microrregião. (CONAB, 2014).
Gráfico 10 – Área plantada por microrregião no Piauí
Alto Parnaíba Piauense
Baixo Parnaíba Piauense
Médio Parnaíba Piauense
Teresina
50.000
45.000
40.000
35.000
30.000
Área (ha)
25.000
20.000
15.000
10.000
5.000
0
56
A cultura do Arroz Conab
Localizada no centro-norte do estado, a microrregião do Médio Parna-
íba é a terceira maior em área plantada de arroz do estado, cultivando uma
área de 14.561 hectares no ano safra de 2013/2014, sendo que os municípios
de Palmeirais, Amarante e Regeneração somam um total de área de 6.488
hectares, com destaque ao município de Regeneração que possui tanto a
agricultura empresarial com 600 hectares, como a agricultura familiar
com 1.300 hectares. Devido à presença da agricultura empresarial, o muni-
cípio possui uma produtividade de 1.837kg/ha, sendo superior aos demais
municípios que compõem esta microrregião. (CONAB, 2014).
No gráfico 11, observa-se a variação da produção em toneladas obtida
nas quatro principais microrregiões do estado durante as últimas seis sa-
fras.
Gráfico 11 – Produção por microrregião no Piauí
Alto Parnaíba Piauense
Baixo Parnaíba Piauense
Médio Parnaíba Piauense
Litoral Piauiense
12.000
10.000
8.000
Produção (t)
6.000
4.000
2.000
57
A cultura do Arroz Conab
Preço (R$)
50
150
40
100 30
20
50
10
0 0
7
14/15
0
76/7
84/8
94/9
04/0
89/9
99/2
09/1
79/8
isão
prev
Legenda: (*) Preço real (saca de 60kg – arroz longo fino em casca),
corrigido na base 01/04/2015 (índice IPCA).
Fonte: Conab
Barata (2005) mostra que o consumo de arroz no Brasil não vem acom-
panhando o crescimento populacional do país, percebendo-se uma gradual
redução do consumo per capita do cereal. O consumo domiciliar per capita
de arroz é menor nos domicílios chefiados por pessoas com pós-graduação
e nos domicílios com rendimento entre cinco e dez salários-mínimos. As
massas são os principais alimentos substitutos.
As perspectivas para a cultura do arroz no Piauí são de declínio nas
áreas plantadas, sendo o arroz de sequeiro o principal responsável por este
cenário, uma vez que este é mais vulnerável às condições climáticas. No
entanto, o arroz irrigado no estado tem mantido seu nível de produção, com
58
A cultura do Arroz Conab
tendência de aumento da área cultivada.
Figura 3 – Sistematização do solo para o cultivo do arroz – Miguel Alves – Piauí.
Foto: do autor
Foto: do autor
Continua
59
A cultura do Arroz Conab
Referências bibliográficas
60
A cultura do Arroz Conab
temasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Arroz/ArrozIrrigadoBrasil/cap18.htm>
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COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO. SIAGRO. Série histórica de Preços (docu-
mento interno, não divulgado)
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cumento interno, não divulgado).
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néticos e melhoramento de plantas para o Nordeste Brasileiro. Petrolina: Embrapa
Semiárido; Brasília: Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, 1999.
61
A cultura do Arroz Conab
cional, como pode-se ver na tabela 6.
Tabela 6 – Distribuição das lavouras de arroz safra
2013/2014 no Paraná
Fonte: Seab/Deral
Fonte: Conab
62
A cultura do Arroz Conab
de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul.
Com relação aos sistemas de cultivo, o sequeiro consiste em um sis-
tema onde o plantio é realizado convencionalmente, predominando as
formas: solteiro, intercalar aos cafeeiros e consorciado com outras cultu-
ras, especialmente milho e mandioca. A redução da área de café no estado
provocou a diminuição da área de arroz intercalar, que tinha uma grande
contribuição para a área total de arroz.
Quanto ao irrigado, os sistemas de plantio utilizados são o convencio-
nal e o pré-germinado, nos quais se realiza a irrigação por inundação e va-
riedades próprias para este tipo de cultivo, que apresentam produtividade
bem superior em relação ao sequeiro.
Referências bibliográficas
WANDER, A. E.; CHAVES, M. O. Consumo aparente per capita de arroz no Brasil, 1991
a 2010. Diponível em: <http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/40738/1/
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COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO. Levantamentos de Safra, 2015 Disponível
em: <http://www.conab.gov.br/conteudos.php?a=1253&t=2>. Acesso em: maio 2015.
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so (Especialização em Agronegócio)–UFPR, Curitiba – Pr., 2011.
SANTOS, J. F. Informações econômicas, sociais e ambientais do município de Que-
rência do Norte, 2015. Entrevista concedida por email.
COLASANTE, L. O.; SHIOGA, P. S.; DORETTO, M. Cadeia produtiva do arroz no Estado do
Paraná. Paraná: IAPAR, 1998. Atualizado por Colasante, L. O. em 2015 (Não publicado).
14 Cláudio Chagas Figueiredo. Mestre em Geografia. 10 anos de Conab. Luciana Diniz de Oliveira.
Engenheira Agronôma. Mestre em Fitotecnia. 7 anos de Conab. Matheus Campbell Ribeiro; Economista.
2 meses na Conab. Lotação: Superintendência Regional da Conab no Estado do Rio de Janeiro.
63
A cultura do Arroz Conab
cativa nesse período.
Em boa parte dos anos 1980, a área cultivada manteve-se estável, em
torno de 32.000 hectares, quando a produção atingia valores próximos a
100 mil toneladas, com leve aumento de produtividade, atingindo o ápice
na safra de 1985/86, com cerca de 125 mil toneladas. Por outro lado, na safra
de 1989/90 houve uma drástica redução da área, que se aproximou aos 24
mil hectares; da produção, que chegou a 44 mil toneladas; e da produtivida-
de, que atingiu cerca de 1.800kg/ha, quase a metade dos valores das safras
de 1987/88 e 1990/91 (CONAB, 2015a).
De forma geral, o fato é explicado por fatores políticos e econômicos
existentes no ano agrícola de 1989/90. Nessa linha, merece destaque as in-
certezas ligadas a possíveis mudanças vinculadas ao cenário da primeira
eleição direta para presidente pós-1960, assim como a condução das me-
didas econômicas que vinham sendo executadas no governo Sarney, que
resultaram em queda de preços agrícolas aliada à redução de crédito rural
oficial. A diminuição de investimento na produção, somada ao fato do esta-
do ter sofrido com a falta de chuva ao longo da safra, agravou ainda mais a
queda da produtividade (INPE, 2015).
Gráfico 13 – Cultivo do arroz no estado do Rio de Janeiro
Produção (t)
Produtividade (kg/ha)
Área (ha)
140.000 4.000
120.000
Produtividade (kg/ha)
100.000 3.000
Produção (kg)
80.000
2.000
60.000
40.000
1.000
20.000
0 0
7
14/15
0
76/7
84/8
94/9
04/0
89/9
99/0
09/1
79/8
isão
prev
Fonte: Conab
64
A cultura do Arroz Conab
1989/90, já que os produtores ficaram praticamente sem recursos para a
colheita dos produtos. Com isso, os produtores ficaram desestimulados com
o cultivo da cultura. Desde então, com exceção da safra 1992-93, a produção
estadual manteve uma tendência de queda, tornando-se praticamente in-
significante tanto no contexto nacional como no estadual. Atualmente a
inviabilidade do plantio também é motivada pelos altos custos de mão de
obra e insumos, aliados à pequena rentabilidade do produto nos últimos
anos.
Os dados preliminares do 7º levantamento de safra de grãos (2014/2015),
divulgados pela Conab em abril de 2015, apontam para 500 hectares de área
e 1.700 toneladas de produção, baseando-se em produtividade de 3.492kg/
ha. A unidade da Federação, que é a 23ª colocada em produção da cultura,
responde por 0,01% da produção nacional (CONAB, 2015b).
O cultivo, na grande maioria das vezes, é destinado à subsistência.
Nesse caso, o excedente é destinado às poucas unidades beneficiadoras do
produto no estado ou a outros produtores. Há ainda produtores que for-
necem o produto para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Ain-
da assim, é uma cultura pouco relevante no programa institucional, tendo
sido comercializada em projetos homologados até o ano de 2013. Há, ainda,
uma produção considerável para os parâmetros estaduais no município de
Macaé, a qual abastece algumas marcas beneficiadoras da região noroeste
fluminense. Por ser praticamente o único fornecedor desse produto, o abas-
tecimento pode oscilar, fazendo com que os beneficiadores comprem do sul
de Minas Gerais e de São Paulo.
Grande parte do arroz comercializado no Rio de Janeiro tem como ori-
gem beneficiadores do estado do Rio Grande do Sul. Atualmente as máqui-
nas beneficiadoras de arroz são peças raras nas áreas produtoras, justamen-
te no estado que, em 1766, abrigou a primeira descascadora de arroz do país.
Referências bibliográficas
65
A cultura do Arroz Conab
66
A cultura do Arroz Conab
nos estados da Paraíba e Rio Grande do Norte (PEREIRA, 2002, 2004, apud
BARRETO, 2012).
No Brasil, apenas o Rio Grande do Norte e a Paraíba desenvolvem tra-
balhos voltados ao cultivo do arroz vermelho. Há décadas o produto vem
sendo cultivado no Vale do Apodi/RN, tornando-se uma das principais cul-
turas porque oferece rentabilidade para o produtor rural e por se tratar de
um importante suporte econômico e social para a região. A cultura do arroz
é, portanto, uma das principais atividades agrícolas da região do Vale do
Apodi. A maior parte do processo de cultivo é feito por meio de irrigação via
inundação. Em menor escala, também é plantado em áreas de várzeas úmi-
das sem irrigação. A atividade é basicamente desenvolvida em pequenas
propriedades rurais, com uso de mão de obra familiar.
O arroz vermelho é um importante componente alimentício para
a população nordestina, sobretudo dos estados do Rio Grande do Norte e
da Paraíba. Não obstante, existem algumas dificuldades que precisam ser
reparadas para que a cadeia produtiva do arroz possa alcançar melhores
rendimentos econômicos. Dentre elas, destacam-se: 1) custo de produção
elevado por conta do alto preço da tarifa da energia elétrica, muito usada
na atividade de irrigação; 2) insuficiente linha de crédito para aquisição de
máquinas e equipamentos modernos para o plantio, colheita e beneficia-
mento do arroz; 3) baixa capacitação dos agentes da cadeia produtiva do ar-
roz; 4) reduzida presença da pesquisa agroecológica e da assistência técnica
rural na região e; 5) atenuada infraestrutura operacional desde o plantio da
safra até a comercialização do produto.
Fonte: Conab
Calendário de plantio
67
A cultura do Arroz Conab
Tabela 9 – Calendário de plantio e colheita de
arroz – Rio Grande do Norte
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
pc p p c pc pc pc c c c
Fonte: Conab
RN 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015*
Área
1.452 1.419 1.493 2.428 2.182 1.093 792 1.050 1.457 1.802
plantada
Variação
- -2,3 5,2 62,6 -10,1 -50,0 -27,5 32,6 38,7 23,7
(%)
Fonte: 2006-2008: IBGE / 2009-2014: Conab / 2015: estimativa Conab
RN 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015*
Área
2.484 3.566 3.586 3.546 3.542 2.869 2.725 2.520 3.069 3.236
plantada
Variação
- 43,5 0,6 -1,1 -0,1 -19,0 -5,0 -7,5 21,8 5,4
(%)
68
A cultura do Arroz Conab
Tabela 12 – Série histórica de produção de arroz - Em toneladas
RN 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015*
Área
3.608 5.060 5.534 8.609 7.729 3.136 2.158 2.646 4.472 5.832
plantada
Variação
- 40,2 9,4 55,6 -10,2 -59,4 -31,2 22,6 69,0 30,4
(%)
69
A cultura do Arroz Conab
Figura 5 – Área de arroz vermelho – Vale do Apodi / RN.
Figura 6 – Batimento do arroz Apodi/RN.
Fotos: do autor.
70
A cultura do Arroz Conab
Referências bibliográficas
16 Diego Aguirregaray Fernandes Viana.Eng. Agrônomo; 04 meses de Conab. Erik Colares de Oli-
veira.Eng. Agrônomo, Especialista em Georreferenciamento de Propriedades Rurais. 7 anos d eConab.
João Adolfo kasper.Economista. 32 anos de Conab. Niécio Campanati Ribeiro. Eng. Civil e Economista; 32
anos deConab. Rosemberg Alves Pereira. Eng. Agrônomo. 8 anos de Conab. Lotação: Superintendência
Regional da Conab no Estado de Rondônia.
71
A cultura do Arroz Conab
dível o uso de adubos e corretivos para a manutenção da fertilidade do solo
e para a obtenção de altas produtividades das lavouras (RODRIGUES, 1988).
A disponibilidade de várias cultivares produtivas, tendo algumas de-
las qualidades de grãos altamente competitivas, equiparam-se ao arroz de
várzea/irrigado, adequando-se ao mercado consumidor mais exigente, sen-
do muitas dessas cultivares precoces e semiprecoces, permitindo tanto a
liberação mais cedo da área para o cultivo da safrinha com outras culturas,
quanto o estabelecimento de semeaduras melhor ajustadas ao regime plu-
vial das diversas regiões. Desta forma, com a adaptação de novas varieda-
des, quase a totalidade da produção é classificada com sendo “longo-fino ou
agulhinha”.
Via de regra, o preparo do solo é realizado nos meses de setembro e
outubro, sendo que o plantio ocorre nos meses de outubro, novembro e de-
zembro, com colheita ocorrendo entre os meses de fevereiro, março e abril.
Segundo dados da Conab (2015), a produção do estado na safra
2014/2015 foi estimada em torno de 125 mil toneladas, figurando Rondônia
como 3º maior produtor da região Norte e na 9a posição em nível Nacional.
Dos 52 municípios rondonienses, 49 são produtores de arroz, destes
destacando-se como maiores produtores do estado, nesta ordem, Machadi-
nho D`Oeste, Rio Crespo, Corumbiara, Chupinguaia, Cabixi, Alto Alegre dos
Parecis, Porto Velho, Cujubim, São Miguel do Guaporé e Ariquemes.
Levantamentos recentes da área plantada demonstram significati-
va redução nos últimos cinco anos, de 71.000ha para aproximadamente
45.000ha, com produtividade média de 2.794kg/ha (CONAB, 2015).
A secagem do produto acontece, na sua maioria, nas estruturas das in-
dústrias e naquelas existentes em nível de propriedades. A maioria da pro-
dução do arroz é comercializada “verde” ou “seco”, pois as indústrias exis-
tentes no estado geralmente disponibilizam aos produtores todo o pacote
tecnológico, ficando assim a sua comercialização vinculada a essas empre-
sas, sendo que o processamento e beneficiamento de toda a produção são
feitos no próprio estado de Rondônia (YOKOYAMA et al, 2000).
O eixo central da comercialização do arroz no estado está localizado ao
longo da BR-364, a qual corta todo o estado de leste a oeste, nos municípios
de Ji-Paraná, Cacoal e Vilhena, onde estão concentradas as grandes indús-
trias (YOKOYAMA et al, 2000).
O sistema de pagamento do produto aos produtores é baseado no pre-
ço do quilograma multiplicado pelo percentual de grãos inteiros. Ainda, to-
mando-se por base o consumo per capita médio de arroz beneficiado no
Brasil, girando em torno de 45kg, verifica-se que a produção interna é sufi-
ciente para atender toda a demanda da população rondoniense, em torno
de 1,7 milhão de habitantes (IBGE, 2014).
O produto tem como destino principal o abastecimento do mercado
interno. Parte da produção é destinada a exportação para a Bolívia e, em
72
A cultura do Arroz Conab
menores proporções, aos mercados dos estados vizinhos do Acre e Amazo-
nas. Rondônia também é abastecida com o produto empacotado vindo de
outros estados, com ênfase para aqueles oriundos do Mato Grosso e do Rio
Grande do Sul (CARVALHO, 2015).
Atualmente, devido às condições mercadológicas e à criação de novos
mecanismos de intervenção, o governo não tem atuado com tanta intensi-
dade junto aos produtores, como o fazia anteriormente através das aquisi-
ções por meio dos instrumentos da Politica de Garantia de Preços Mínimos
(PGPM). Por outro lado, uma pequena parte dos estoques já beneficiados
das indústrias arrozeiras são adquiridos pelos programas sociais de abaste-
cimento executados pelos governos federal, estadual e municipal, através
de licitações públicas ou processos similares.
Referências bibliográficas
73
A cultura do Arroz Conab
Inicialmente, foi cultivado por agricultores maranhenses que se ins-
talaram no estado quando o mesmo ainda era território, por volta de 1944.
Mais tarde, em 1977, migrantes do sul do Brasil começaram sua exploração
comercial em áreas altas de cerrado, em sistema de sequeiro. Porém, de 1977
a 1983, o planeta experimentou 3 vezes o fenômeno “El niño”, responsável
por chuvas irregulares no estado de Roraima. No ano de 1982, estiagens na
fase de floração, moléstias e sementes de péssima qualidade reduziram a
produtividade, que teve uma queda de aproximadamente 70%.
No ano de 1981/82, com o incentivo do governo federal através do pro-
grama PROVÁRZEA, novas áreas foram incorporadas para o cultivo, desta
vez áreas de várzea aptas à irrigação por inundação, técnica já presente em
outros estados. Como Roraima encontra-se próximo à linha do equador,
aproximadamente 3º N nas principais áreas de cultivo, permite a rizicultu-
ra irrigada de forma ininterrupta, em várzeas altas, e na estação seca, que
ocorre entre outubro e março, em várzeas baixas.
Tabela 14 – Evolução, em mil hectares, da área de arroz
semeada no estado de Roraima
Roraima 03/04 04/05 05/06 06/07 07/08 08/09 09/10 10/11 11/12 12/13 13/14 14/15
Área
25,0 25,5 23,5 22,3 22,2 15,5 16,5 20,0 19,8 20,0 12,0 12,0
plantada
Variação
0,00 2,00 7,84 5,11 0,45 30,18 6,45 21,21 1,00 1,01 -40,00 0,00
(%)
Fonte: Conab
74
A cultura do Arroz Conab
Tabela 15 – Produtividade média de arroz no estado
de Roraima
Roraima 03/04 04/05 05/06 06/07 07/08 08/09 09/10 10/11 11/12 12/13 13/14 14/15
Produti-
5.350 5.300 5.200 5.100 5.720 5.505 5.277 5.354 5.354 5.452 6.500 6.100
vidade
Variação
0,00 0,93 1,89 1,92 12,16 -3,78 -4,14 -1,48 0,00 1,83 19,22 -6,15
(%)
Fonte: Conab
As principais lavouras comerciais de arroz irrigado situam-se nas
várzeas próximas aos rios Uraricoera, Tacutu, Branco e Mucajaí, já tendo
ocupado também as várzeas próximas aos rios Surumu e Mau, atualmente
reserva indígena. O cultivo de arroz de sequeiro de forma comercial repre-
senta apenas 543 hectares, praticado por 6 produtores. No entanto, também
é semeado para consumo próprio por alguns agricultores nas áreas de flo-
resta do estado.
Figura 12 – Localização das principais lavouras comerciais de arroz irrigado.
Referências bibliográficas
75
A cultura do Arroz Conab
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CORDEIRO, A. C. C.; MOURÃO JÚNIOR, M. C.; MEDEIROS, R. D. de. Análise do agronegócio do
arroz irrigado em Roraima – período 1981 a 2007. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ARROZ
IRRIGADO, 6.; REUNIÃO DA CULTURA DO ARROZ IRRIGADO, 27., 2007, Porto Alegre. Anais…
Porto Alegre: Orium, 2007. p. 719-721.
Origem e evolução
18 Alexandre Rocha Pinto - Eng Agrônomo – 07 anos de Conab, Camila Bedin Scalco – Eng Agrô-
noma – 06 meses de Conab, Carlos Manoel Farias – Eng Agônomo - 36 anos de Conab, Carlos Roberto
Bestétti – Eng Agrônomo – 07 anos de Conab e Iracema Duval da Silva Sant’Anna Oliveira – Eng Agrícola
- 09 anos de Conab. Lotação: Superintendência Regional da Conab no Estado de Rio Grande do Sul.
76
A cultura do Arroz Conab
Evolução do cultivo do arroz irrigado no Rio Grande do Sul
77
A cultura do Arroz Conab
equipamentos com células fotoelétricas, que padronizam a classificação do
produto para entregar ao consumo.
Desde a construção das máquinas de irrigação a vapor, a lavoura de
arroz demorou para ter uma evolução significativa. A produtividade ficou
estabilizada em torno de 2 toneladas por 47 anos (1922-1969), atingindo 3
toneladas no final da década de 1960. Os avanços começaram a partir da dé-
cada de 1960, com a mecanização da lavoura, a introdução de novas varie-
dades liberadas pela Estação Experimental do Arroz (EEA) do IRGA (Institu-
to Riograndense do Arroz) e novas práticas agronômicas. Como resultado, a
produtividade foi elevada para 4 toneladas na década de 1970. Na década de
1980, com a cultivar Bluebelle e novas técnicas utilizadas, a produtividade
chegou a 5 toneladas por hectare. Em 1981, com a introdução de cultivares
modernas, como BR-IRGA 409 e BR-IRGA 410, foi possível manter o nível
da produtividade por vários anos. Com o surgimento de novos sistemas de
cultivo, resultados positivos foram aparecendo, mas sem um upgrade sig-
nificativo.
O IRGA mantém, de forma contínua, pesquisas de novas cultivares,
buscando produtividade aliada à qualidade do produto. O custeio da pes-
quisa é lastreado em recursos da CDO- Cooperação e Defesa da Orizicultura,
recolhida sobre cada saca de arroz produzida.
Foi no início da década de 90 que mudanças significativas ocorreram.
A invenção da entaipadeira de base larga proporcionou a construção e o
uso das semeadeiras articuladas que permitiram a semeadura do arroz
sobre taipas. Esse foi o primeiro grande acontecimento que deu condições
para que a produtividade do arroz dobrasse rapidamente. A entaipadeira de
base estreita, antes utilizada, causava uma grande perda de área, pois em
cada lado da taipa eram perdidos em torno de 0,25m, o que em um hectare
correspondia a uma perda de 5 a 10%, dependendo da declividade do terre-
no. Além da perda em área, as perdas de sementes e fertilizantes também
eram significativas, pois a técnica antes utilizada realizava o entaipamento
após a semeadura da área e exigia o ressemeio das taipas. Significativa foi
a economia com mão de obra, combustíveis e maquinário para realização
dessas tarefas.
Os eventos citados contribuíram para a mudança relevante no sistema
de cultivo, passando do sistema convencional para o cultivo mínimo. Este
último permite o preparo da lavoura com antecedência, facilitando a seme-
adura dentro do período ideal e o melhor aproveitamento do maquinário
e da mão de obra disponíveis. Juntando essas técnicas, a produtividade da
lavoura cresceu mais de 2.000kg/ha em curto período de tempo.
Projeto 10 do IRGA
78
A cultura do Arroz Conab
de extensão e pesquisa do IRGA, com os produtores de arroz, em área piloto
na região da Campanha do Rio Grande do Sul. Esse projeto consistia em
estratégias de manejo para o aumento da produtividade, competitividade
e sustentabilidade da lavoura de arroz do estado. As práticas agronômicas
do Projeto 10 estão alicerçadas nas Recomendações Técnicas da Pesquisa
(SOSBAI, 2010) e inseridas no contexto de sustentabilidade da atividade
orizícola. A proposta de gestão ambiental que o projeto sugere obedece ao
manual de Boas Práticas Agrícolas (MUDSTOCK et al, 2011). Esse projeto re-
presentou, na época, o conhecimento acumulado pela pesquisa e pela ex-
periência adquirida no processo de transferência de tecnologia, passando a
ser o principal foco do Programa do Arroz do Rio Grande do Sul.
O projeto viabilizou o aumento de produtividade, redução do custo
de produção e do impacto ambiental e melhoras na qualidade do produto.
Além da importância da interação de diferentes práticas agronômicas, o
Projeto 10 priorizou: época de semeadura, estado de nutrição das plantas,
fertilidade do solo, manejo da água de irrigação e controle de ervas dani-
nhas, por serem as práticas que mais limitavam a produtividade do arroz
no estado. Como complemento, atentou-se às práticas de adequação do
solo, escolha de cultivares, uso de sementes de qualidade, manejo de pragas
e doenças e o monitoramento de invasoras. A interação desse conjunto de
práticas oportunizou o atingimento de altas produtividades.
Devido ao sucesso da experiência, foi definida uma estratégia de ex-
pansão para as demais regiões produtoras de arroz do estado. A dissemi-
nação das técnicas propostas pelo projeto foi favorecida pela multiplicação
da ideia entre os produtores e técnicos ao trocarem experiências entre si.
Outra grande vantagem do projeto foi que permitiu a participação de qual-
quer produtor, independente da escala de produção de sua propriedade,
desde que tivesse assistência técnica ou ajuda dos colegas produtores. O
sucesso culminou com o atingimento da produtividade de 10 toneladas por
hectare dois anos antes do planejado.
79
A cultura do Arroz Conab
superior à eficiência em cultivos de sequeiro como milho, soja, trigo, etc.
Os produtores dentro do Programa ABC (Agricultura de Baixo Carbono)
têm comprometimento com a redução dos gases de efeito estufa, priori-
zando o uso de energia limpa e reduzindo o uso de combustíveis fósseis. Na
lavoura de arroz, o sequestro de carbono é significativo. Uma lavoura que
tenha produtividade de 10t/ha de grãos produz pelo menos outro montan-
te de material orgânico (palhada e raízes), totalizando mais de 20t/ha de
material vegetal. Considerando que, desse material orgânico, cerca de 40%
é carbono, tem-se um sequestro de pelo menos 8t/ha de carbono durante
um ciclo de cultivo, o que equivale a 24t/ha de CO (MUNDSTOCK, 2010). Esse
carbono posteriormente é liberado gradativamente pela atividade biológi-
ca de animais superiores e pela microbiota, que tem atividade intensa de-
vido ao fato de o solo permanecer úmido por longo período.
Para os produtores fiéis ao uso dessas técnicas, o IRGA criou o Selo Am-
biental da Lavoura de Arroz do Rio Grande do Sul, que é uma ação do Proje-
to de “Tecnologias Mais Limpas” do Programa Arroz RS do IRGA. Ele conta
com a participação da Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária, Pesca
e Agronegócio, da Secretaria Estadual do Meio Ambiente e da Secretaria
Extraordinária de Irrigação e Usos Múltiplos da Água, com apoio da Farsul,
Federarroz e Fundação IRGA. O Selo visa reconhecer os produtores de arroz
cujos manejos da lavoura e da propriedade rural estejam de acordo com os
preceitos definidos pelas melhores técnicas de cultivo e em conformidade
com a legislação ambiental.
Solos
Sistema de cultivo
80
A cultura do Arroz Conab
da água. Os principais sistemas utilizados são o convencional (utilizado em
áreas novas ou quando o clima não permite o preparo antecipado da lavou-
ra), cultivo mínimo (preparo antecipado do solo e semeadura direta e sobre
as curvas de níveis), plantio direto (pouco utilizado, devido a experiências
fracassadas pelo uso inadequado da ferramenta) e pré-germinado (semea-
dura de sementes pré-germinadas em áreas sistematizadas - terreno com
nível constante), coberta com uma lâmina de água entre 10 e 15cm, que será
drenada tão logo as sementes do arroz fixem sua radícula ao solo.
Independentemente do sistema de cultivo adotado, é importante a re-
alização de adequado manejo pós-colheita da área. Essa operação envolve
a correção dos danos causados à sistematização pelas máquinas durante o
processo de colheita. A incorporação da resteva facilita a sua decomposição,
e a utilização de máquinas para a readequação da área, como o renivela-
mento da superfície do solo. Essa é uma das operações mais importantes
da lavoura de arroz, pois viabiliza a semeadura na época preferencial de
cultivo, que é um fator determinante para a obtenção de elevadas produ-
tividades, pela potencialização do manejo integrado de novas tecnologias.
No Rio Grande do Sul, na safra 2013/14, predominou o sistema de culti-
vo mínimo (74,2% da área), seguido do sistema convencional (15,7% da área)
e pré-germinado (10,1%), segundo levantamento do Instituto Rio Granden-
se do Arroz (IRGA, 2014).
A rotação de sistemas de cultivo e a rotação de culturas dentro de uma
mesma propriedade constitui alternativa técnica para determinados pro-
blemas como, por exemplo, o controle de plantas daninhas, pragas e do-
enças. Na lavoura arrozeira do Rio Grande do Sul, a prática da rotação de
culturas foi intensificada, predominando a soja, devido ao momento de va-
lorização econômica em que a cultura se encontra. Em segundo lugar estão
as pastagens, e em terceiro, o milho. O uso da técnica de microcamaleões
nas áreas de arroz para a semeadura da soja trouxe resultados animadores,
com produtividade igual ou superior às da soja cultivada em sequeiro, pos-
sibilitando ainda a sub-irrigação em períodos de estiagem.
Pragas
Entre as pragas que reduzem a produtividade da cultura do arroz irri-
gado, destacam-se:
- insetos lepidópteros: broca do colo (Elasmopalpus lignosellus) Zeller,
lagarta-da-folha (Spodoptera frugiperda).
- hemípteros: percevejo-do-colmo- (Tibraca limbativentris), percevejo-
do-grão (Oebalus ypsilongriseus),
- coleópteros: pulgão-da-raiz (Rhopalosiphum rufiabdominale) Sasaki,
cascudo preto (Euetheola humilis), gorgulho-aquático (Oryzophagus ory-
zae).
81
A cultura do Arroz Conab
A ampulária (caramujo) e o pássaro-preto são respectivamente as es-
pécies de molusco e de pássaro mais daninhos para o arroz.
O controle das pragas é preferencialmente realizado por meio das
técnicas recomendadas pelo MIP (Manejo Integrado de Pragas), justifican-
do-se a adoção de controle químico somente quando a população atinge o
nível de dano econômico. O primeiro tratamento químico do arroz é o de
sementes, realizado com o uso de inseticidas e fungicidas, visando comba-
ter o primeiro ataque das pragas que ocorre durante a germinação, uma vez
que muitos deles são detectados quando já existe prejuízo. A aplicação de
agroquímicos para o controle das pragas é realizado via terrestre durante o
período em que a lavoura permanece sem água de irrigação. Após a irriga-
ção, o controle passa a ser aéreo.
Doenças
Cultivares
82
A cultura do Arroz Conab
mento de grãos inteiros. As cultivares IRGA 424 e IRGA 426 têm alto poten-
cial de produtividade, mas apresentam alguns defeitos na industrialização
e na cozinha. As cultivares Epagri 106, 107, 108 e 109 (Empresa de Pesquisa
e Extensão Rural de Santa Catarina) são preferenciais na região sul do esta-
do, assim como as cultivares BRS Firmesa, BRS Pelotas e BRS Querência. Os
Híbridos mais cultivados são o Inov CL e o Avaxi CL pela melhor qualidade
do grão. Os híbridos têm alcançado alta produtividade, chegando a 18.000
kg/ha.
Danos ambientais
Referências bibliográficas
MUNDSTOCK, C. M., et al. Manual de boas práticas agrícolas: Guia para Sustentabilida-
de da Lavoura de Arroz Irrigado do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Instituto Riograndense
do Arroz., 2011.
MENEZES, V. G.; ANGHINONI, I.; SILVA, P. R. F.; MACEDO, V. R. M.; TERY, C.; GROHS, D. S.; FREI-
TAS, T. F. S.; VALENTE, L. A. L. Estratégias de manejo para aumento da produtividade
da sustentabilidade da lavoura de arroz do RS: Avanços e Novos Desafios. Porto Ale-
gre: IRGA, 2012.
ARROZ IRRIGADO: Recomendações Técnicas da pesquisa para o Sul do Brasil. In: REUNIÃO
TÉCNICA DA CULTURA DO ARROZ IRRIGADO, 30., 2014, Bento Gonçalves – RS. Anais... Santa
Maria: Sociedade Sul-Brasileira de Arroz irrigado, 2014.
83
A cultura do Arroz Conab
Histórico da cultura
Finalidade do plantio
84
A cultura do Arroz Conab
produção estadual, o que leva a importar arroz em casca de outros estados,
principalmente do Rio Grande do Sul (SOSBAI, 2014).
Contudo, também são exportadas para outros estados, diretamente
pelos produtores, ou pelos industriais, 180 mil toneladas de arroz em casca.
Apesar do exemplar desempenho da lavoura orizícola catarinense, ainda
persistem algumas demandas do sistema produtivo, como a redução dos
riscos de impacto ambiental, o desenvolvimento de cultivares mais eficien-
tes e o desenvolvimento de tecnologias mais limpas, as quais certamente
permitirão melhorar a sustentabilidade da produção de arroz irrigado em
Santa Catarina (EPAGRI, 2015a).
Fonte: Conab
85
A cultura do Arroz Conab
O arroz irrigado em Santa Catarina caracteriza-se como uma cultura tí-
pica de pequena propriedade rural, com utilização de mão de obra familiar
(EPAGRI, 2005).
Na safra 2008/2009, havia 8.499 agricultores produzindo arroz irriga-
do em 11,23 mil propriedades, sendo 47% delas arrendadas. Trata-se de pe-
quenas propriedades, com área média de 13,5ha. Em Santa Catarina, o valor
bruto da produção (VBP) do arroz no ano de 2013 foi de R$627 milhões, repre-
sentando 3,4% do VBP dos principais produtos da agropecuária do estado.
Em torno de 30 mil pessoas dependem economicamente desta atividade,
contribuindo na diversificação da economia catarinense. A área cultivada
tem se mantido ao redor de 150.000ha nos últimos anos (SOSBAI, 2014).
Sistema de plantio
86
A cultura do Arroz Conab
Imidazilinonas, como SCS 115 CL, SCS 117 CL e SCS 121 CL, constitui uma das al-
ternativas para contribuir no manejo desta planta, o que se conhece como o
sistema CLEARFIELD® (SOSBAI, 2014).
Com o intuito de atender ao segmento de mercado culinário de grãos
com pericarpo colorido, a Epagri desenvolveu duas cultivares para este fim:
a SCS119 Rubi e a SCS 120 Ônix, com pericarpo de cor vermelha e preta, res-
pectivamente, ambas com formato de grão longo fino e adaptadas ao siste-
ma de cultivo pré-germinado.
Pacote tecnológico
Adubação em arroz irrigado é uma das práticas mais importantes para
que se obtenha uma alta produtividade.
A recomendação de nitrogênio (N) é baseada no teor de matéria or-
gânica do solo, entretanto, o técnico deverá observar o histórico da área, a
cultivar e o acompanhamento da cultura anterior. Áreas novas comumente
requerem maiores cuidados, pois frequentemente o excesso de nitrogênio
(N) disponibilizado pelo solo provoca desequilíbrio entre os teores de N, P e
K. Normalmente, não é necessária a aplicação de calcário para a correção do
solo na cultura do arroz irrigado (EPAGRI, 2015a).
De acordo com dados levantados em campo, a quantidade de adubação
utilizada na base gira em torno de 250kg/ha, sendo as formulações mais
utilizadas: (05-20-20), (13-17-27) e (00-20-30). Para adubação de cobertura,
utiliza-se ureia em torno de 200kg/ha.
Pragas e doenças
As principais doenças do arroz irrigado são: brusone, escaldadura,
mancha-estreita, mancha-parda, falso-carvão e queima-das-bainhas (EPA-
GRI, 2015a).
Brusone: causada pelo fungo Pyricularia oryzae, a brusone é conside-
rada a doença mais importante para cultura do arroz, por provocar perdas
que podem chegar a 60%. Manifesta-se em toda a parte aérea da planta,
desde os estádios iniciais de desenvolvimento até a fase final de produção
de grãos. Entretanto, os sintomas são observados principalmente nas folhas
no início do perfilhamento e nas panículas a partir do pleno florescimento.
Escaldadura: causada pelo fungo Gerlachia oryzae, a escaldadura do
arroz manifesta-se a partir do pleno perfilhamento até a fase final do ciclo
da cultura. A doença ocorre predominantemente nas folhas, podendo ser
observada também na bainha, partes da panícula e grãos.
Mancha-estreita: causada pelo fungo Cercospora oryzae, a mancha es-
treita é uma doença que causa poucos danos, embora seja de ocorrência
comum.
87
A cultura do Arroz Conab
Mancha-parda: causada pelo fungo Drechslera oryzae, a mancha par-
da manifesta-se principalmente nas folhas e nas glumas, podendo ocorrer
também no coleóptilo, bainhas e espiguetas. As sementes infectadas apre-
sentam redução significativa na germinação e a ocorrência do fungo nos
grãos resulta em queda acentuada no rendimento de engenho.
Falso-carvão: causada pelo fungo Ustilaginoidea virens, que infecta as
plantas de arroz principalmente durante o estádio de emborrachamento. É
uma doença de ocorrência esporádica cujos danos são insignificantes.
Queima-das-bainhas: causada pelo fungo Rhizoctonia solani, é uma
das principais doenças fúngicas que ocorrem no colmo e na bainha de
plantas arroz em cultivos comerciais. Tem-se observado o aumento na inci-
dência da doença em cultivares de alto rendimento. As plantas adultas são
mais suscetíveis que as jovens, principalmente na época de formação da
panícula.
Entre as principais pragas que atacam as lavouras de arroz, podemos
citar: bicheira-da-raiz, lagarta-militar, lagarta-boiadeira, percevejo-do-col-
mo e percevejo-do-grão (EPAGRI, 2005).
Bicheira-da-Raiz (Oryzophagus oryzae): os danos à cultura do arroz são
causados pelas larvas, que se alimentam das raízes das plantas, embora os
adultos também possam causar danos consideráveis às plântulas. Depen-
dendo da população, as larvas podem provocar a destruição parcial ou total
das raízes. As plantas atacadas ficam menores, amarelecidas e com extre-
midades das folhas murchas.
Lagarta-militar (Spodotera frugiperda): a praga ataca as folhas do ar-
roz, destruindo-as parcial ou completamente, e aparece em altas popula-
ções no período seco.
Lagarta-boiadeira (Nymphula indomitalis): as lagartas são adaptadas
à vida aquática e vivem em águas paradas. As larvas (semi-aquáticas) do
inseto cortam as folhas de plantas jovens. Inicialmente, as lagartas se ali-
mentam do tecido das folhas, deixando somente a epiderme, dando um
aspecto esbranquiçado à lavoura. O principal sintoma do ataque é percebi-
do pelas manchas brancas das folhas e pelas pontas das mesmas cortadas,
flutuando na água.
Percevejo-do-colmo (Tibraca limbativentris): o percevejo suga a seiva
nos colmos, preferencialmente na região do colo. Quando a água atinge a
parte inferior das plantas, o percevejo passa a se alimentar nos internódios.
O ataque na fase vegetativa provoca a morte da folha central, observando-
se o sintoma denominado “coração morto”. O ataque na fase reprodutiva
acarreta alta porcentagem de panículas brancas e grãos chochos.
Percevejo-do-grão (Oebalus poecilus): o inseto migra para o arrozal e
suga os grãos na fase leitosa, que ficam manchados e quebram-se facilmen-
te no beneficiamento. As manchas escuras ficam mais evidentes no arroz
parboilizado.
88
A cultura do Arroz Conab
Problemas ambientais
Entre os problemas ambientais causados pela atividade orizícola, ci-
ta-se a compactação, erosão de sedimentos, a poluição por agrotóxicos, a
economia baseada em uma monocultura e os conflitos pelo uso da água
(GAIDIZINSK, 2001).
As operações de preparo do solo para o cultivo do arroz no sistema pré-
germinado são feitas, em grande parte, com o solo encharcado, a fim de for-
mar a lama necessária para receber as sementes. Esta característica torna o
solo mais propenso à erosão, pois o excesso de água nesta fase causa o car-
reamento dos sedimentos para fora da lavoura, sendo os cursos d’água ad-
jacentes um dos destinos, podendo provocar o assoreamento destes cursos.
Da mesma forma, a água utilizada na lavoura pode servir de meio de
transporte dos agrotóxicos para fora da mesma, quando estes são emprega-
dos para controle de pragas e doenças. Segundo Vieira (2013), grande parte
dos agrotóxicos usados na lâmina d’água acaba escoando para os rios, de-
vido a chuvas ou esvaziamento da quadra de arroz.
Pelas características do solo (planos, argilosos e com camada imper-
meável logo abaixo da superfície), há poucas opções para implantar um
sistema de rotação de culturas nas lavouras utilizadas para o plantio do
arroz irrigado. Assim, o produtor torna-se, de certa forma, dependente da
produção anual de apenas uma cultura e, no caso de haver quebra de safra
em consequência de fatores climáticos adversos, sua rentabilidade pode ser
comprometida.
Insumo primordial para o cultivo do arroz irrigado, a água entra em
vários processos, desde o preparo do solo, suprimento da planta, controle de
plantas daninhas e patógenos e melhoria da disponibilidade de nutrientes.
Segundo a Epagri (2005), o consumo de água nas lavouras é de aproximada-
mente 8.000m3 por hectare, considerando todo o ciclo de cultivo, sendo que
a precipitação pluvial corresponde de 20 a 40% do total.
Em épocas de baixa precipitação pluvial em regiões onde os recursos
hídricos são utilizados tanto pela lavoura de arroz quanto pelo consumo
humano, não são descartados conflitos, o que pode ocasionar o redireciona-
mento do recurso para a população em detrimento da atividade agrícola.
Dessa forma, o armazenamento de água pelos produtores, via açudes
ou represas, bem como a utilização da água da chuva para a inundação an-
tecipada dos quadros em época de escassez, seria uma forma de produzir
arroz com baixo impacto ambiental. Além disso, contribuem para reduzir
o impacto: a preservação da vegetação ciliar, o entaipamento correto da la-
voura, o preparo adequado do solo, o manejo da água, dentre outros (EPA-
GRI, 2005).
89
A cultura do Arroz Conab
Referências bibliográficas
90
A cultura do Arroz Conab
LHÃES, 2008). Em contraponto, o historiador Luís da Câmara Cascudo afir-
ma que espécies nativas de arroz não faziam parte dos cardápios indígenas
brasileiros e que somente após a chegada e a instalação dos portugueses, o
consumo do cereal ganhou maior espaço.
Entre o século XVI e meados do século XIX, o arroz na agricultura pau-
lista, em conjunto com o milho e o feijão, chegou a compor 22% do total da
produção no estado – apesar de voltadas à subsistência e à produção de
alimento para o contingente de mão de obra escrava (LUNA, 2005).
Nesse mesmo período, as regiões do Vale do Paraíba – na fronteira com
o Rio de Janeiro – e do Oeste Paulista – que ainda hoje é uma das mais ricas
regiões agrícolas do país – tornaram-se importantes produtores de cana-
de-açúcar. O café só passaria a dominar a economia da província após a dé-
cada de 1850. Nesse período pré-cafeeiro, foram as culturas de subsistência
– como o arroz – que sustentaram as fazendas até que a produção de café
alcançasse os impressionantes volumes atingidos até a segunda metade do
século XIX.
Os excedentes das plantações de arroz eram comercializados nos mer-
cados locais e regionais. A exportação do arroz produzido nesta região era
impossível, principalmente por causa da localização geográfica e difícil
comunicação com o litoral. Em Areias, primeira localidade cafeeira impor-
tante de São Paulo, há registro de um produtor de grande porte – com 176
escravos e produção de 98 toneladas de café – que também produziu 8 to-
neladas de arroz. Somada a outras culturas, como o milho e o feijão, o cereal
correspondeu a 15% do resultado daquele ano (LUNA, 2005).
Entre 1800 e 1880, a região do vale do Ribeira, especialmente as locali-
dades de Iguape e Xiririca, especializaram-se no cultivo do arroz. A produ-
ção era destinada para o Rio de Janeiro, onde se estabeleceram as primeiras
descascadoras do Brasil. Os ritmos distintos da produção de grãos compu-
seram um ciclo econômico completo, estando relacionados diretamente
com a composição da riqueza da região e do estado (VALENTIN, 2015).
Com a abertura dos portos, em 1808, o cereal começou a ser também
importado, modificando os hábitos alimentares da população: o angu e a
batata doce, que eram os alimentos mais consumidos, cederam lugar ao
arroz. Ao longo dos séculos XIX e XX, a produção cresceu e se modernizou.
Novas tecnologias foram empregadas para aumentar a produtividade e
atender a crescente demanda por alimentos, em relação direta com o pró-
prio crescimento populacional.
Nos últimos 10 anos, a produção de arroz em São Paulo sofreu redução
de 50%. Nas safras 2003/2004 e 2004/2005, o volume colhido era superior a
100 mil toneladas. Na estimativa para a safra 2014/2015, o esperado é de cer-
ca de 45 mil toneladas, segundo dados da Conab. Entre os diversos fatores
para esta retração, pode-se citar o alto custo da mão de obra e o baixo preço
de mercado em comparação à soja e ao milho. O Programa Nacional de Ali-
91
A cultura do Arroz Conab
mentação Escolar (PNAE) é um dos principais garantidores para a aquisição
do grão, especialmente junto à agricultura familiar.
A produção atual é composta em 14,5% pelo arroz de sequeiro e 85,5%
pelo irrigado, conforme indicadores do Instituto de Economia Agrícola (IEA)
e da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), órgãos ligados à
Secretaria de Agricultura de São Paulo. A maior parte da produção – cerca
de 85% – concentra-se na região do Vale do Paraíba.
A cultura do arroz paulista sempre esteve caracterizada pela finalida-
de de subsistência. Em contrapartida, São Paulo é o maior consumidor do
produto. O abastecimento é feito, principalmente, pelo Rio Grande do Sul e
por Santa Catarina.
Produção contemporânea
92
A cultura do Arroz Conab
Tabela 16 – Série histórica da área de arroz plantada em
São Paulo (em mil hectares)
São
03/04 04/05 05/06 06/07 07/08 08/09 09/10 10/11 11/12 12/13 13/14 14/15
Paulo
Área
35,2 34,0 28,9 24,6 22,6 21,5 16,4 16,8 18,9 19,4 14,0 13,9
plantada
Variação
0,00 -3,41 -15,00 -14,88 -8,13 -4,87 -23,72 2,44 12,50 2,65 -27,84 -0,71
(%)
Variação 5 anos: -17,26%
Variação 10 anos: -51,90%
Fonte: Conab
Referências bibliográficas
93
A cultura do Arroz Conab
Origem e evolução das plantas cultivadas. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica,
2008.
VALENTIN, A. Uma civilização do arroz: Agricultura, comércio e subsistência no Vale do
Ribeira (1800 – 1808). 2006. 45 f. Tese–Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006.
CRISTAL ALIMENTOS. História do arroz. Disponível em: <http://www.arrozcristal.com.br/
site/Institucional.do?vo.chave=historiaarroz> . Acesso em: 28 abr. 2015.
21 Jalbas Aires Manduca. Mesre em Economia. 38 anos de Conab. Lotação: Superintendência Re-
gional da Conab no Estado de Tocantins.
94
A cultura do Arroz Conab
pela Embrapa, e também a utilização de sementes de maior potencial pro-
dutivo permitiram um salto da produtividade média do arroz irrigado no
estado, de 4.555kg/ha na safra 2008/09 para 6.068kg/ha na safra 2014/15.
Vale destacar também os ganhos de qualidade do produto, que passou a
atingir 70% de grãos inteiros e padrão longo fino tipo 1, possibilitando o
acesso do produto tocantinense aos diversos mercados das regiões Norte,
Nordeste e Centro--Oeste.
Estima-se que o Tocantins detenha 500 mil hectares de várzeas no
Vale do Javaés que podem ser potencialmente exploradas, mas, para tanto,
necessitam de infraestrutura de barragens e reservatórios. O Governo do
Estado do Tocantins, em parceria com o Banco Interamericano de Desen-
volvimento (BID), está realizando investimentos da ordem de 300 milhões
de reais através do Programa de Desenvolvimento da região sudoeste do es-
tado do Tocantins - PRODOESTE, que permitirá ampliar a sistematização de
25,6 mil hectares de novas áreas na região de Lagoa da Confusão, Cristalân-
dia e Pium, na primeira fase. Tais investimentos propiciarão o aumento da
produção de arroz irrigado, de 154 mil toneladas.
Vale destacar também as possibilidades de uso das várzeas tocanti-
nenses no período seco, quando é possível cultivar soja, milho, melancia,
feijão, melão e abóbora pelo sistema de subirrigação, através do manejo
da água com elevação do lençol
Área plantada de arroz no estado de Tocantins
freático.
Nesse sistema, a semente
de soja foi o produto que mais
avançou, visto que é cultivada
no chamado vazio sanitário –
período que vai de maio a se-
tembro – com alta qualidade
sanitária e fisiológica e elevado
vigor e percentual de germina-
ção, o que confere maior agrega-
ção de valor à atividade relativa-
mente à produção de grãos. São
cultivados no Tocantins 55 mil
hectares de semente de soja por
produtores e empresas tradicio-
nais do ramo de sementes, cuja
produção atingiu 152 mil tone-
ladas na última safra, que aten-
de parte da demanda da região
Centro-Oeste, do oeste baiano,
do sul do Maranhão e do Piauí. Fonte: Conab
A melancia é o segundo produto
95
A cultura do Arroz Conab
em importância cultivado no período seco nas áreas de várzeas, em suces-
são ao arroz irrigado, cuja área já atinge cerca de 7.000 hectares com produ-
ção estimada em 21.000 toneladas.
Tais fatores tornam as várzeas de produção de arroz irrigado no Tocan-
tins um espaço econômico único em todo o território nacional, que possi-
bilita o plantio efetivo de duas safras por ano, com a utilização intensiva
de tecnologia e propícia a novos investimentos. O fato de produzir arroz
irrigado no período chuvoso e uma segunda safra de semente de soja, me-
lancia e outros produtos de maior valor agregado no período seco, abre a
perspectiva para essa região agrícola se tornar um dos espaços econômicos
mais promissores do país.
96
A cultura do Arroz Conab
Produção de arroz
5.000
Produtividade (kg/ha)
12.000
10.000 4.000
8.000 3.000
6.000
2.000
4.000
2.000 1.000
0 0
7
0
0
13/14
76/7
84/8
89/9
94/9
04/0
79/8
99/0
09/1
Safras
Fonte: Conab
97
A cultura do Arroz Conab
8.000
Produtividade (kg/ha)
6.000
7.000
6.000 5.000
5.000 4.000
4.000 3.000
3.000
2.000
2.000
1.000 1.000
0 0
7
0
0
13/14
76/7
84/8
89/9
94/9
04/0
79/8
99/0
09/1
Safras
Fonte: Conab
Região Centro-Oeste
98
A cultura do Arroz Conab
Gráfico 16 – Evolução da área, produtividade e
produção de arroz - Centro-Oeste Produção (t)
Área (ha)
Produtividade (kg/ha)
3.500 4.000
3.000 3.500
Mil hectares/tonelada
Produtividade (kg/ha)
2.500 3.000
2.500
2.000
2.000
1.500
1.500
1.000 1.000
500 500
0 0
7
0
0
13/14
76/7
84/8
89/9
94/9
04/0
79/8
99/0
09/1
Safras
Fonte: Conab
Região Norte
2.500 3.000
Mil hectares/tonelada
2.500
2.000
2.000
1.500
1.500
1.000 1.000
500 500
0 0
7
0
0
13/14
76/7
84/8
89/9
94/9
04/0
79/8
99/0
09/1
99
A cultura do Arroz Conab
atualmente é responsável por mais de 55% da produção da região Norte
(gráfico 18).
Gráfico 18 – Evolução da área, produtividade e
Produção (t)
produção de arroz - Tocantins Área (ha)
Produtividade (kg/ha)
700 6.000
600 5.000
Mil hectares/tonelada
Produtividade (kg/ha)
500
4.000
400
3.000
300
2.000
200
100 1.000
0 0
8
7
1
000
11-12
13/14
96/9
90/9
93-9
87-8
02/0
05/0
08/0
99/2
Região Nordeste
100
A cultura do Arroz Conab
média nacional.
O arroz irrigado do Nordeste tem grande importância, uma vez que, na
região, o cultivo é realizado predominantemente por pequenos agriculto-
res, o que torna uma renda segura para o produtor. Neste sistema de culti-
vo, a cultura não depende das variações na precipitação pluviométrica, tão
comuns na região (RANGEL et al, 1999).
2.500 2.000
1.800
2.000 1.600
Mil hectares/tonelada
Produtividade (kg/ha)
1.400
1.500 1.200
1.000
1.000 800
600
500 400
200
0 0
7
0
0
13/14
76/7
84/8
89/9
94/9
04/0
79/8
99/0
Safras 09/1
Fonte: Conab
4.000
3.000
2.000
1.000
0
7
0
0
13/14
76/7
84/8
89/9
94/9
04/0
79/8
99/0
09/1
Safras
Fonte: Conab
101
A cultura do Arroz Conab
Referências bibliográficas
102
A cultura do Arroz Conab
103
A cultura do Arroz Conab
Sul, que representa 68,8% da produção nacional, com 8,6 mil t produzidas
em 1,12 mil ha; seguido de Santa Catarina, com 1,1 mil t produzidas em 147,9
mil ha; e Tocantins, com 0,6 mil t produzidas em 127,5 mil ha (Conab, 9ª
Lev. - Safra 2014/2015). Nos dois estados da região Sul, quase 100% do arroz é
de várzea (irrigado), cujas produções, somadas à de Tocantins, representam
82% do arroz em casca colhido no país. No Tocantins, cerca de 67% do arroz
é irrigado e 33% é de sequeiro.
Para esses três estados, a Conab realizou mapeamentos específicos
do arroz irrigado, que têm servido tanto nas estimativas da área plantada
quanto na obtenção de indicativos sobre a produtividade das lavouras, com
sensores de média e alta resolução espacial e observações em campo. Para
os demais estados produtores de arroz com produção significativa (ex.:
Mato Grosso, Paraná, Goiás e Mato Grosso do Sul), a Conab realiza mapea-
mentos com imagens de baixa resolução espacial que abrangem todas as
culturas de verão, sem diferenciá-las. Nesse caso, o monitoramento agríco-
la feito a partir desses mapeamentos atende todas as principais culturas
cultivadas nessa época, entre elas, o arroz.
104
A cultura do Arroz Conab
nares ficaram bem próximos do levantamento subjetivo. Em Santa Cata-
rina, a verificação de algumas áreas e a confirmação de pontos sorteados
aleatoriamente em campo é feita com o auxílio dos técnicos da Empresa
de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI). No
Tocantins, também há verificação do mapeamento in loco.
Atualmente, os mapeamentos do arroz irrigado têm sido utilizados
para dar embasamento aos números das estimativas subjetivas. Como são
confeccionados com dados obtidos de forma objetiva, através de imagens
de satélite e confirmações em campo, além de serem validados espacial-
mente por métodos específicos com base em conhecimentos de técnicos
das áreas, é possível se obter resultados com uma excelente acurácia.
A seguir, são apresentados os critérios metodológicos e os resultados
detalhados dos últimos mapeamentos em cada um dos três estados. Apenas
no Rio Grande do Sul será apresentado o mapeamento da safra 2013/2014,
ao invés da 2014/2015, pois o mapeamento desse último ano safra ainda
não foi concluído em todas as regiões.
105
A cultura do Arroz Conab
conforme também foi realizado por Weber et al (2007). A interpretação foi
executada cena a cena, adotando-se uma escala de visualização constante
e utilizando-se três datas, uma antes da implantação das lavouras, outra
durante a inundação e outra no pleno desenvolvimento da cultura. Na in-
terpretação visual foram utilizados, além do comportamento espectral, cri-
térios como a forma, a textura, a posição do relevo, a presença de açudes e o
mapeamento da safra anterior.
Foi realizada a coleta dos dados de campo em parceria com o IRGA, que
disponibilizou um técnico para o acompanhamento em cada uma das duas
regiões percorridas. O objetivo da coleta de pontos georreferenciados foi a
obtenção de pontos de controle para subsidiar o mapeamento da cultura do
arroz baseado em imagens de satélite. O registro dos pontos georreferen-
ciados consistiu basicamente na coleta de coordenadas em tempo real das
culturas de interesse ao longo das estradas com o uso de um receptor GPS,
com antena externa fixa no teto do carro, conectado a um microcomputa-
dor e com o auxílio de um programa de navegação – GPS TrackMaker®. Para
a alimentação de energia do computador foi utilizado um transformador
ligado à bateria do veículo. Os pontos de controle coletados no campo for-
neceram importantes subsídios para a identificação das lavouras em cada
região, a confirmação do calendário de plantio e a distinção da resposta es-
pectral com outras culturas, especialmente com a soja.
Fonte: Conab
106
A cultura do Arroz Conab
Durante a interpretação visual, a cultura do arroz apresentou um com-
portamento espectro-temporal típico e que foi possível distinguir de outros
alvos na cena. Essa diferença do comportamento espectral da cultura do
arroz facilitou a sua identificação e a sua discriminação.
O uso de geotecnologias no mapeamento do arroz se torna importan-
te como método complementar e não excludente em estimativas de safra.
Em virtude da confusão espectral da cultura com outras coberturas, como
a soja, espécies forrageiras e áreas nativas de várzeas, o mapeamento do
arroz exige a ida do analista a campo. As visitas a campo são importantes
para a obtenção de pontos de controle como subsídio à interpretação das
imagens de satélite e auxílio na tomada de decisão. Outra vantagem é a ob-
servação in loco e a aproximação com os técnicos locais, permitindo a troca
de informações quanto às condições agronômicas das culturas.
Tabela 19 – Estimativa da área plantada no estado do
Rio Grande do Sul
Fonte: Conab
107
A cultura do Arroz Conab
sat 8, com precisão de 15 metros. Foram computados pontos que destaca-
ram a localização de lavouras de arroz e outras informações pertinentes,
como áreas de milho.
A análise das imagens do satélite Landsat 8 em diferentes períodos do
ciclo de desenvolvimento da cultura do arroz permitiu obter o mapeamento
preliminar da safra 2014/2015 no estado de Santa Catarina. O mapeamento
preliminar foi apresentado aos técnicos da Epagri, de cooperativas da re-
gião (Coopagro, Cooperja e Juriti) e da Fundação 25 de Julho para avaliação.
Foram realizados trabalhos de campo a fim de se verificar pontos jun-
to aos técnicos da região. Durante o percurso também foi possível validar
pontos sorteados e coletar pontos para o aprimoramento do mapeamento.
Para a coleta de pontos foi utilizado um receptor GPS, uma antena externa
fixa no teto do carro e um micro portátil. Para a alimentação de energia do
micro foi utilizado um transformador ligado à bateria do veículo. O softwa-
re GTM (GPS-Track-Maker) foi utilizado para o registro em tempo real das
coordenadas das lavouras de arroz e outras informações pertinentes, como
áreas de milho, pastagem e várzeas.
Figura 16 – Mapeamento do arroz irrigado em Santa Catarina – Safra 2013/2014
Fonte: Conab
108
A cultura do Arroz Conab
A área plantada da tabela 20 é aquela que foi levantada na pesquisa
subjetiva (declaratória) e divulgada no levantamento de safra da Conab.
Observa-se que, comparando os resultados de todo o estado, ela é apenas
3,8% inferior à obtida no mapeamento. Essa pequena diferença é um in-
dicativo de que ambas metodologias produziram resultados consistentes.
Na análise espacial dos mapeamentos em campo, feita em algumas
áreas por técnicos da Epagri, houve a confirmação de quase todos os pontos
sorteados para a verificação do mapeamento em campo. No entanto, ainda
falta a verificação dos pontos em algumas áreas. Por essa razão, o mapea-
mento ainda pode sofrer ajustes, e a acurácia ainda não foi calculada.
Em função da pequena diferença entre o resultado do mapeamento e o
da pesquisa subjetiva, e da confirmação dos pontos nas regiões onde o ma-
peamento já foi verificado, acredita-se que os resultados do mapeamento
poderão substituir em breve os da pesquisa subjetiva nos fechamentos de
safra. Por enquanto, eles se complementam e agregam valor (credibilidade)
aos dados divulgados de área cultivada do arroz irrigado em Santa Catari-
na, pela incorporação de um método objetivo (mapeamento) na pesquisa
de safra.
109
A cultura do Arroz Conab
posição RGB com 15m de resolução Figura 17 – Mapeamento do arroz irrigado em
espacial. Tocantins – Safra 2013/2014
110
A cultura do Arroz Conab
Ainda não há resultados sobre a verificação do mapeamento em cam-
po. Entretanto, em função da pequena diferença entre os resultados do ma-
peamento e da pesquisa subjetiva, e do fato de as áreas serem mais concen-
tradas e facilmente identificadas via imagens de satélite, acredita-se que
os resultados do mapeamento poderão substituir em breve os da pesquisa
subjetiva nos fechamentos de safra. Por enquanto, eles se complementam
e agregam valor (credibilidade) aos dados divulgados de área cultivada do
arroz irrigado no Tocantins, pela incorporação de um método objetivo (ma-
peamento) na pesquisa de safra.
Monitoramento agrometereológico
111
A cultura do Arroz Conab
vimento da cultura;
- baixa restrição: quando houver problemas pontuais por falta ou ex-
cesso de chuvas;
- média restrição: quando houver problemas generalizados por falta
ou excesso de chuvas;
- alta restrição: quando houver problemas crônicos ou extremos por
falta ou excesso de precipitações, que podem causar impactos significati-
vos na produção.
Também são especificadas em tabelas as regiões onde as chuvas estão
sendo favoráveis para o início do plantio (pré-plantio), a germinação, o de-
senvolvimento vegetativo, a floração e/ou a frutificação; onde está havendo
possíveis problemas por excesso de chuvas; onde as chuvas reduzidas estão
favorecendo o plantio e a colheita e onde pode estar havendo possíveis pro-
blemas por falta de chuvas.
A seguir é apresentado o resultado do monitoramento agrometeoro-
lógico do arroz realizado no período mais crítico do desenvolvimento da
safra 2014/2015 em todo o país. Esse monitoramento auxiliou a estimativa
de produtividade do arroz durante o 5º levantamento de safra, realizado em
janeiro de 2015.
Para o monitoramento espectral é necessário que as lavouras já este-
jam em desenvolvimento, pois a análise é feita a partir da resposta da ve-
getação (áreas mapeadas) nas imagens de satélite, por meio do cálculo de
índices que refletem a sua eficiência fotossintética. O valor desses Índices
de Vegetação (IV) e a sua evolução desde o plantio até a colheita, quando
comparados a safras anteriores e a média histórica, fornecem indicativos
de produtividade.
O monitoramento espectral do arroz irrigado é feito a partir das áreas
mapeadas em cada ano safra, em função das mudanças que possam ocor-
rer de uma safra para a outra, pela manutenção de um percentual em pou-
sio, pela rotação com a soja ou pela possível expansão da área plantada.
Para representar a safra atual antes do mapeamento ser concluído, pode-se
fazer o monitoramento por amostragem, por meio do acompanhamento do
IV em pontos de lavouras georreferenciados em campo.
Já o monitoramento espectral do arroz de sequeiro, feito a partir dos
mapeamentos das culturas de verão, pode utilizar apenas um mapeamen-
to como base (o mais recente) para o cálculo do IV das safras anteriores,
desde que não tenha havido grande expansão de área entre os anos safra
considerados. É preciso, ainda, levar em conta a representatividade de cada
cultura (dado do levantamento subjetivo), os calendários agrícolas e o ciclo
fenológico de cada uma.
Além de possibilitar a comparação da evolução do IV entre diferentes
períodos (anos safra), e a partir dessa análise obter indicativos de produ-
tividade, é possível, ainda, comparar o desenvolvimento das lavouras en-
112
A cultura do Arroz Conab
tre as diferentes regiões. Essa comparação pode ser feita tanto para o arroz
irrigado quanto para o de sequeiro, porque pode ser realizada a partir do
mapeamento de um único ano-safra.
Figura 18 – Condição hídrica geral do arroz nos
principais estados produtores do Brasil
Fonte: Conab
Arroz
Chuvas favoráveis
Leste de RO floração
germinação,
Sudeste do PA
desenvolvimento vegetivo
Leste do TO, exceto regiões pontuais frutificação
germinação,
Oeste do MA, esceto regiões pontuais
desenvolvimento vegetativo
Leste de SC – irrigado floração, frutificação
Todo o RS, exceto sudoeste floração, frutificação
Continua
113
A cultura do Arroz Conab
Arroz
Norte e nordeste do MT, exceto regiões
frutificação
pontuais
Sudoeste do MS, exceto regiões pontu-
frutificação
ais
Possíveis problemas por excesso de chuva
Sudoeste do RS – restrições por falta de
floração /
luminosidade na 1a quinzena de janeiro
frutificação
e pontuais por enchentes
Chuvas reduzidas favoráveis
Norte de RR – irrigação maturação
Oeste do TO maturação
Possíveis problemas por falta de chuva
Regiões pontuais do leste do TO* frutificação
germinação /
Regiões pontuais do oeste do MA*
desenvolvimento vegetativo
germinação /
Norte, leste e centro do MA
desenvolvimento vegetativo
germinação /
Centro-norte do PI
desenvolvimento vegetativo
Sudoeste do PI frutificação
Leste de GO frutificação
Regiões pontuais do norte e nordeste do
frutificação
MT*
Regiões pontuais do sudoeste do MS* frutificação
Legenda: (*) Restrição de baixa intensidade
Fonte: Conab
Por meio dos mapeamentos das áreas cultivadas com arroz da safra
2013/2014 no Rio Grande do Sul e da série temporal de dados de EVI (Enhan-
ced Vegetation Index), foram obtidos os valores de EVI médio extraídos
das áreas mapeadas em cada regional do IRGA. Por meio da comparação
da evolução do EVI entre as regionais foi possível identificar onde houve
atrasos no plantio. O desenvolvimento das lavouras, em função da curva do
índice, está normal, e o pico do EVI foi mais elevado.
Os dados foram compilados e gerados por regional e os valores de EVI
114
A cultura do Arroz Conab
médio de cada cena foram organizados em sequência temporal, no período
de setembro de 2012 a maio de 2013. O gráfico da evolução desses dados
possibilitou a visualização do comportamento espectro-temporal ao longo
do ciclo de desenvolvimento do arroz irrigado, e a comparação da condição
das lavouras nas áreas mapeadas nas regionais do IRGA.
Gráfico 21 e figura 19 – Evolução do EVI das áreas ma-
peadas em cada regional do IRGA
Campanha Zona Sul
Depressão Central Planície Costeira Interna
Fronteira Oeste Planície Costeira Externa
0,60
0,55
0,50
Índice de vegetação
0,35
0,30
0,25
0,20
13/09 29/09 15/10 31/10 16/11 02/12 28/12 03/01 16/01 01/02 17/02
2013-2014
Fonte: IRGA
115
A cultura do Arroz Conab
Monitoramento espectral do arroz sequeiro
116
A cultura do Arroz Conab
potencial de rendimento das culturas de verão nesta região.
Gráfico 22 e tabela 23 – Quantificação de áreas
pelo valor do índice de vegetação Safra atual (2014-2015)
Safra anterior (2013-2014)
Média histórica (2000-2015)
0,60
Quantidade pixel (%) - 250m X 250m
0,55
0,50
0,45
0,40
0,35
0,30
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1
Índice de vegetação
117
A cultura do Arroz Conab
Gráfico 23 e tabela 24 – Evolução temporal do desenvolvimento
das lavouras do norte do MT Safra atual (2014-2015)
Safra anterior (2013-2014)
Média histórica (2000-2015)
0,95
0,85
Índice de vegetação
0,75
0,65
0,55
0,45
0,35
0,25
28/08 13/09 29/09 15/10 31/10 16/11 02/12 18/12 03/01 16/01 01/02 17/02 05/03 21/03
Índice de vegetação
118
A cultura do Arroz Conab
HISTÓRICO: A linha da média histórica no gráfico da evolução tempo-
ral traça o perfil das culturas na região. A partir de setembro, quando come-
ça o plantio, tem início o desenvolvimento vegetativo das lavouras de verão
com a formação de parte da cobertura foliar. A floração e enchimento de
grãos ocorrem nos meses de novembro, dezembro, janeiro e eventualmente
até fevereiro, quando então observa-se a queda do IV, indicando o começo
da fase de maturação das lavouras. O enchimento de grãos é mais intenso
em janeiro (pico mais alto da linha). O período de outubro a janeiro, rampa
ascendente do gráfico, corresponde à época de maior vulnerabilidade das
lavouras a eventos climáticos adversos.
SAFRA ATUAL: A linha da safra 2014/2015, cuja ascensão ficou um pou-
co retardada, indica atraso do plantio da atual safra de verão em decorrên-
cia da falta de chuvas no início do período regular de semeadura. Apesar de
os dados de satélites não terem sido suficientes para o traçado do último
trecho da linha (até 17/fev), os dados utilizados no gráfico de quantificação
de áreas dessa região indicam, em média, normalidade da atual safra.
Referências bibliográficas
119
A cultura do Arroz Conab
24 Alessandro Lúcio Marques. Economista. 1 ano de Conab, Antonio Adelço da Conceição, Enge-
nheiro Agrônomo, Pós graduado em Engenharia de Controle da Poluição Ambiental e em Engenharia
de Saneamento Básico. 9 anos de Conab. Aroldo Antônio de Oliveira Neto, MBA em Gestão Estratégica
do Setor Público, Especialista em Comércio Exterior e Orçamento e Finanças Públicas. 38 anos de Conab.
Asdrúbal de Carvalho Jacobina, Msc em Economia. 40 anos de Conab. Candice Mello Romero Santos. En-
genheira Agronôma Dr.em Ciência e Tecnologia de Sementes. 7 anos de Conab , Cleverton Tiago Carneiro
de Santana. Engenheiro Agrônomo. Mestre em Agricultura. 2 anos de Conab, Francisco Olavo Batista de
Sousa, Economista, 38 anos de Conab. Marisson de Melo Marinho. Engenheiro Agrônomo. Mestre em Ex-
tensão Rural. 9 anos de Conab. Patrícia Maurício Campos. Eng. Agrônoma, Mestre em Ciências Agrárias,
Gestão do Solo e Água. 02 anos de Conab. Lotação: Superintendência de Informações do Agronegócio.,.
120
A cultura do Arroz Conab
problemas climáticos que proporcionam perdas de produção ou produti-
vidade, o que ocasiona uma pressão dos preços no mercado, a mudança da
matriz produtiva focada para os biocombustíveis, a alta dos preços dos de-
rivados de petróleo e problemas de infraestrutura que encarecem o frete,
para citar alguns exemplos.
Os analistas jamais colocam como fator da alta da inflação dos ali-
mentos questões referentes ao constante aumento do deslocamento dos
alimentos, que pode ter sido causado pela concentração da produção em
regiões distantes dos consumidores. Não se questiona os efeitos da globa-
lização do sistema agroalimentar, que faz com que a sazonalidade da pro-
dução seja abstraída do imaginário popular, causando a sensação de que
sempre teremos todos os produtos alimentícios à disposição nas gôndolas
dos supermercados, independentemente da época do ano ou da região que
vivemos.
No cenário atual brasileiro, a produção precisa ir para onde está o
mercado consumidor. Como estamos lidando com produtos de baixo valor
agregado, isto só ocorrerá de forma eficiente se houver infraestrutura que
permita fluidez no escoamento, possibilitando uma logística competitiva
que gere rentabilidade para o produtor.
A produção agrícola dos diversos itens relevantes do agronegócio bra-
sileiro se encontra próxima ou está concentrada em regiões onde existe
uma infraestrutura mínima. O maior produtor de grãos do país, o Mato
Grosso, encontra-se distante tanto do mercado interno quanto dos acessos
para o mercado externo e, assim, os produtores são obrigados a investir for-
temente em tecnologia, objetivando reduzir o custo unitário de produção e
manter-se na atividade. No caso do arroz, em que a produção está concen-
trada no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, ou seja, na extremidade do
país, também há a necessidade de grandes deslocamentos para se alcançar
os consumidores.
O segmento agrícola sobrevive diante desse jogo na medida em que o
governo se compromete, diante de qualquer crise, a criar efeitos compensa-
tórios, subsidiando o setor agrícola que hoje é o protagonista da economia
nacional, bem como o setor agroindustrial.
Combinado ao processo de globalização, o “fortalecimento econômico”
dos grandes conglomerados agroindustriais seguiu a tendência em curso
na economia mundial e passou por inúmeros processos de fusão com vis-
tas à expansão global das atividades e a disponibilização de novos pacotes
tecnológicos, com cada vez maior fluxo de capital e menor fluxo de produ-
tos. O exemplo mais comum foram as aquisições de empresas produtoras
de sementes por empresas de agrotóxicos, com objetivo principal de se de-
senvolver sementes transgênicas resistentes aos princípios ativos dos seus
próprios agroquímicos, vendendo para os produtores o “pacote fechado”.
Ploeg (2008, p: 255) denomina tal fenômeno como a constituição de
121
A cultura do Arroz Conab
“impérios alimentares” e considera que a “conquista imperial” se processa
igualmente na economia, por meio da apropriação de pequenas empresas
independentes por grandes grupos empresariais e do seu reordenamento
total – as pequenas devem alimentar as necessidades dos grandes grupos.
Afirma ainda que o império é um aparelho descentralizado e desterrito-
rializado de governança, que incorpora progressivamente o domínio glo-
bal com controle central, além de movimentos globais de pessoas, ideias,
mercadorias e capital, com intensidade e velocidade aumentada dramati-
camente para o cumprimento de suas metas.
Tal fenômeno não ocorre apenas “da porteira pra fora”, até porque
grandes conglomerados agroindustriais investem pesado na produção de
parte de sua matéria-prima e aplicam o modelo de concentração também
no setor primário, seguindo uma receita de eficiência e governança dos
“impérios”.
Portanto, a concentração da produção agrícola tende a ocorrer em toda
a cadeia produtiva, causando diversos questionamentos e debates. Nesse
sentido, o objetivo do presente ensaio é:
122
A cultura do Arroz Conab
essa concentração aparece de forma mais evidente, como no caso da pro-
dução de arroz.
As características das culturas (manejo, adaptação ao tipo de solo), as
suas exigências edafoclimatológicas e as características regionais propor-
cionam a seleção do local de produção, mais do que por outras característi-
cas, como infraestrutura e logística, por exemplo.
No caso do arroz, os dados indicam que apenas o Rio Grande do Sul
responde por 66,9% da produção do cereal, demonstrando um caso típico
de forte concentração de produção. Os problemas e vantagens dessa con-
centração serão debatidos nos próximos tópicos do presente texto.
Figura 21 – Mapa da concentração da produção de arroz
Fonte: Conab
123
A cultura do Arroz Conab
Tabela 26 – Série histórica da produção de arroz no
Brasil - em mil toneladas
Fonte: Conab
124
A cultura do Arroz Conab
Tabela 29 – Série histórica da produção de arroz no
Rio Grande do Sul - em kg/ha
Fonte: Conab
Questão fundiária
125
A cultura do Arroz Conab
ria quando se trata da concentração da produção agrícola, pois automa-
ticamente estará se prevendo a concentração fundiária e, de certa forma,
acentuando o problema da concentração da propriedade. Nesse caso, não
se pode apontar pontos positivos da concentração fundiária. Esse tema, por
si só, enseja um debate mais aprofundado, pautado em questões macroes-
truturais. A gênese do capitalismo no campo reside fundamentalmente na
transformação da renda da terra em capital agrário.
Em uma análise estrutural e produtiva, o principal problema da con-
centração fundiária é a utilização da terra como reserva de valor, formando
uma estrutura agrária fortemente concentrada e não produtiva. Graziano
da Silva (2001) cita que em São Paulo, no final da década de 80, ocorria uma
profunda integração de capitais no meio rural e cita que os maiores pro-
prietários de terra eram os bancos Itaú e Bradesco.
A exploração intensiva e concentrada na agricultura se diferencia da
exploração industrial à medida que o lucro na agricultura depende muito
do tamanho da área disponível e escala de produção, além da fertilidade do
solo, nível de especialização e clima. “Quanto mais o capitalismo se desen-
volve na agricultura, mais aumenta a diferença qualitativa entre a técnica
da grande exploração das demais” (KAUTSKY, 1972, p. 129).
Muller (1989) define os Complexos Agroindustriais (CAI) como con-
junto de atividades vinculadas à produção e transformação de produtos
agropecuários ou florestais, composto por um conjunto de segmentos da
economia nacional, cuja dinâmica está associada de alguma maneira às
atividades agrícolas (beneficiamento, transformação, transporte, armaze-
nagem, comercialização, produção de insumos, financiamento, pesquisa e
assistência técnica). Distingue-se do antigo padrão agrário de produção por
não estar ligado somente à terra como meio direto de produção.
Não se trata de trocar um nome por outro, mas a utilização do termo
que enfatiza a ideia de interdependência entre indústria e agricultura, no
sentido de desfazer o antigo caráter autônomo da agricultura e a capaci-
dade decisória dos grupos sociais rurais. O CAI está intimamente ligado à
posse da terra, que é demandada para abastecimento clássico da agroin-
dústria.
126
A cultura do Arroz Conab
Questões econômicas e sociais
Pontos positivos
Pontos negativos
Pontos positivos
Pontos negativos
128
A cultura do Arroz Conab
pacto seria prejudicial à determinada cultura (excesso de chuva, ataque de
pragas e doenças, granizo, geada, seca).
-- Pode-se afirmar que se o modelo de concentração for parecido com a
“Agricultura de Contratos” usado na Argentina, corre-se o risco de se exau-
rir as condições edáficas no curto prazo. As empresas arrendatárias não fa-
zem as devidas reposições de fertilidade, correção de acidez e muitas vezes
acabam degradando o solo das áreas arrendadas.
Pontos positivos
Pontos negativos
Papel de estado
Pontos positivos
Pontos negativos
Relocalização agroalimentar
130
A cultura do Arroz Conab
lógica diferente e incorporam aos produtos outros valores que não apenas
econômicos, como afirma Wiskerke (2010). Apoiado em diversos pesquisa-
dores do tema, o autor destaca questões referentes à definição diferenciada
de qualidade (multidimensão da qualidade), diferentes sistemas de cultivo
ou processos tradicionais (questões culturais) e cadeias mais curtas, como
forma de se criar confiança nos consumidores.
Entende-se, desta forma, o local como um espaço de resistência ao mo-
derno sistema agroalimentar e à globalização, mas também o lugar onde
há a produção e/ou onde o processo é realizado, geograficamente referen-
ciado. Agrega-se a isso uma identidade social que se aproxima ao conceito
de comunidade, diferenciando ainda mais o produto, a partir de um enrai-
zamento sociológico ou antropológico do produto e do processo.
Pretty et al (2005) apresentam diversos dados que comprovam mui-
tas das afirmações iniciais. Primeiramente, tendo como referência o Reino
Unido, o movimento anual de commodities alimentares é de 19,6 milhões
de toneladas, sendo 12,2 milhões de toneladas para importações e 7,4 mi-
lhões de toneladas para as exportações. Os dados das estatísticas oficiais do
Reino Unido analisados pelos autores mostram que, se utilizando qualquer
uma das medidas de transporte de mercadorias para o modal terrestre, os
índices têm aumentado nos últimos anos, apesar de a logística de varejo
estar mais eficiente nos centros de distribuição mais bem localizados, de
um gerenciamento de estoques just-in-time proporcionado pelo uso da tec-
nologia da informação on-line.
Outro debate apresentado pelos autores diz respeito aos consumido-
res, e afirmam que cada britânico percorre, em média, 1.441km por ano e
utiliza, em 54% das vezes, automóvel próprio para efetuar as compras de
alimentação. No entanto, destacam os autores:
131
A cultura do Arroz Conab
majoritário.
Para Ilbery et al (2005), uma questão-chave para a reconexão ou para
se justificar a relocalização agroalimentar é a diferenciação de produtos da-
queles considerados convencionais. Além disso, o produto precisa ser reco-
nhecido, destacado e comercializado através de processos de acreditação e
rotulagem. São três os ingredientes essenciais para a construção dessa dife-
renciação: o produto, o processo e o lugar (PPP – Product, Process and Place).
Agrupa-se essas categorias em duas lógicas. A primeira é a lógica do
desenvolvimento territorial, como esquemas de intervenção, concentran-
do-se principalmente sobre as relações entre produtos e locais. Este é es-
sencialmente motivado por um desejo de desenvolver mercados para pro-
dutos com origens distintas, a fim de proteger os meios de vida, construir a
identidade territorial e assegurar a coesão da comunidade, como exemplo,
o autor cita as denominações de origem controlada, indicações geográficas
de procedência, denominação de origem protegida ou os selos de produtos
locais ou regionais.
A segunda é a lógica do raciocínio crítico, voltada a esquemas como
uma forma de oposição, sendo os rótulos utilizados para chamar a atenção
para as questões ambientais, sociais e de distribuição de processos asso-
ciados a produtos específicos e para afastá-los das consequências negati-
vas de padronização do produto, marketing de massa, degradação do meio
ambiente e saúde. Como exemplo, o autor cita o movimento por alimen-
tos orgânicos, os grupos contra os organismos geneticamente modificados
(OGMs) e o movimento slow food.
Em ambos os casos, há uma ação de movimentos organizados, seja
por parte dos produtores que defendem seus interesses buscando proteção
para os produtos locais, por meio dos selos de garantia de procedência, ou
dos consumidores que exigem produtos com melhor qualidade ou ao me-
nos que as características principais sejam expostas nos rótulos para que a
livre escolha racional seja possível. Não se pode negar que essa realidade é
muito presente em países centrais da Europa, nos Estados Unidos e no Ca-
nadá, onde a população possui um nível mais elevado de conscientização
acerca dos temas alimentares.
A discussão sobre a soberania alimentar enfatiza a necessidade de
sistemas alimentares eficazes com base local e controlados localmente.
Nesta abordagem, as pessoas dependeriam fundamentalmente de alimen-
tos produzidos na sua região, reduzindo as “milhas alimentares” (gasta-se
quase mais energia para transportar as proteínas do que elas são capazes
de produzir – cadeias longas) e restabelecendo um vínculo mais estreito
entre o produtor e o consumidor. Por esse motivo, os temas da relocalização
alimentar e das food miles são trabalhados, geralmente, juntos. No mesmo
sentido, a certificação e acreditação de valores não tangíveis, como os selos.
O conceito de food miles diz respeito não somente às distâncias percor-
132
A cultura do Arroz Conab
ridas por alimentos, mas também é uma medida da quantidade de energia
utilizada para se transportar os alimentos e da poluição gerada para esse
transporte. O número de pesquisadores e de pesquisas que discutem os te-
mas da relocalização da produção agroalimentar e das food miles aqui no
Brasil ainda é muito pequeno, assim como nos demais países periféricos.
Por outro lado, tais temas são cada vez mais debatidos nos países centrais
(principalmente na Europa, Estados Unidos e Canadá).
A partir dessas discussões e pesquisas sobre food miles e relocalização
agroalimentar, se definem muitas das pautas políticas da Comunidade Eu-
ropeia, por exemplo, as diretrizes da Política Agrícola Comum da União Eu-
ropeia (PAC) no que se refere à certificação de origem territorial, empresas
certificadoras, selos, acordos sobre registros, nomenclaturas que indicam a
procedência e, principalmente, no que tange aos subsídios aos agricultores
europeus.
Considerações finais
133
A cultura do Arroz Conab
que ocorre na Europa, por exemplo, aqui no Brasil há poucas organizações
de consumidores que se atentam para esses temas. As organizações que
buscam a valorização de produtos locais, pelo lado dos produtores, também
não são expressivas, e recentemente tem-se apresentado propostas de se-
los e produtos com denominação de origem, por exemplo.
Como são discussões antagônicas, pode-se afirmar que uma critica a
outra. O papel do Estado e da política pública no processo de relocalização
da produção agroalimentar e seus efeitos na redução das food miles, ou da
concentração da produção e seus efeitos, é fundamental para definição de
um projeto produtivo da agricultura brasileira.
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graphy and sustainable regional development. International Planning Studies, London,
v. 14, n. 4, 2009.
134
A cultura do Arroz Conab
PARTE III
ARMAZENAMENTO DO ARROZ
135
A cultura do Arroz Conab
cerca de 80% do arroz no Brasil. O histórico comparativo da capacidade es-
tática com a produção individual de cada estado mostra que, entre 2001 e
2015, a capacidade estática do Rio Grande do Sul teve um aumento de 52%,
acompanhando o crescimento da produção de grãos, que foi de cerca de
42%.
No estado de Santa Catarina, para o mesmo período, a produção média
ficou maior que a capacidade de armazenagem, em cerca de 1,8 mil tone-
ladas. No estado do Tocantins, a situação tem se tornado crítica, devido ao
avanço da fronteira agrícola na região conhecida por MATOPIBA, composta
principalmente por áreas produtivas localizadas nas fronteiras entre os es-
tados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
No Tocantins, do ano de 2001 para o ano de 2014, ocorreu um aumento
de 440% na produção de grãos, principalmente de soja e milho. Apesar da
microrregião de Rio Formoso, que é a maior produtora de arroz do Tocan-
tins, não estar localizada no MATOPIBA, ela acaba concorrendo por recursos
logísticos e financeiros com essa região, que está em plena expansão agrí-
cola.
30.000
mil toneladas
20.000
10.000
0
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Ano
Fonte: Conab
136
A cultura do Arroz Conab
Gráfico 25 – Santa Catarina - capacidade X produção
de grãos Produção
Capacidade
8.000
6.000
mil toneladas
4.000
2.000
0
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Ano
Fonte: Conab
3.000
mil toneladas
2.000
1.000
0
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Ano
Fonte: Conab
137
A cultura do Arroz Conab
Tabela 31 – Capacidade nas principais microrregiões
produtoras
Tipo de pessoa Capacidade (t) %
Pessoa física 3.821.141 13%
Pessoa jurídica 26.522.985 87%
Total 30.344.126 100%
Fonte: Conab
Fonte: Conab
138
A cultura do Arroz Conab
armazéns convencionais, que mantêm o produto ensacado. O tipo de arma-
zém predominante nesses locais é o granel, com 90% da capacidade estáti-
ca classificada dessa forma.
Tabela 33 – Capacidade nas principais microrregiões
produtoras
Tipo de entidade Total (t) %
Granel 27.672.536 91%
Ensacado 2.184.855 7%
Misto 431.839 1%
Outro 54.896 0%
Total global 30.344.126 100%
Fonte: Conab
139
A cultura do Arroz Conab
PARTE IV
ANÁLISE ECONÔMICA DA
CULTURA DO ARROZ
140
A cultura do Arroz Conab
pacote tecnológico dessa unidade.
Além dos técnicos da Conab, os participantes externos no painel são:
produtores rurais; representantes de classe (sindicatos, federações e confe-
derações); cooperativas e associações; instituições de assistência técnica e
extensão rural; movimentos sociais; órgãos estatais e não estatais ligados à
agricultura; instituições financeiras; instituições de pesquisa agropecuária;
centros acadêmicos; concessionárias ou fabricantes de insumos, máquinas
e implementos agrícolas; e outros convidados pela Companhia.
Após a consolidação e elaboração dos custos de produção, a Compa-
nhia submete formalmente o resultado do custo de produção aos partici-
pantes do painel e solicita a sua ratificação. No caso de omissão de respos-
ta pelo participante no tempo aprazado, a Conab entenderá como aceito o
custo adotado durante o painel.
O levantamento de campo é fundamental para se conhecer as princi-
pais tecnologias de produção, em diferentes modais, e definir todos os ní-
veis de preços, permitindo aos produtores avaliar as suas ineficiências na
alocação de recursos e os pontos de estrangulamento, a fim de buscar maior
eficiência em sua atividade produtiva, além de contribuir para análises es-
tatísticas do conjunto de custos sob diferentes sistemas e regiões de cultivo.
Da mesma forma, a pesquisa realizada oferece importante subsídio à
formulação de políticas governamentais de amparo ao produtor, principal-
mente na elaboração das propostas da Política de Garantia de Preços Míni-
mos (PGPM), da Política de Garantia de Preços Mínimos para Produtos da
Sociobiodiversidade (PGPM-Bio) e do Programa de Garantia de Preços para
a Agricultura Familiar (PGPAF), para o Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA), Ministério do Meio Ambiente (MMA) e Ministério
do Desenvolvimento Agrário (MDA), além de atender a interesses da socie-
dade em geral.
Portanto, o objetivo deste trabalho foi o levantamento do custo de pro-
dução de arroz para a PGPM nas diversas regiões do Rio Grande do Sul, por
meio de deslocamentos dos técnicos da Gerência de Custos de Produção da
Conab, junto às áreas de produção e comercialização de produtos oriundos
da agricultura empresarial.
141
A cultura do Arroz Conab
de arroz, sendo o Rio Grande do Sul responsável por aproximadamente 2/3
desse montante, caracterizando esse estado como o maior produtor nacio-
nal desse cereal. Além das condições edafoclimáticas que propiciam altas
produtividades, o Rio Grande do Sul possui logística estratégica que facilita
a comercialização do produto.
Esses fatores contribuíram para que o estado do Rio Grande do Sul fos-
se designado para o levantamento dos custos de produção realizados pela
Conab no primeiro semestre de 2015.
A escolha das cidades-sede para desenvolver tal atividade baseou-se
em criteriosa análise: consideraram-se as diferenças regionais quanto ao
clima, ao solo, às condições mercadológicas e à logística. Os painéis para os
levantamentos dos custos de produção foram realizados nos municípios de
Uruguaiana, Cachoeira do Sul, Pelotas e Santo Antônio da Patrulha, repre-
sentando, respectivamente, as seguintes áreas de abrangência: Fronteira
Oeste, Depressão Central, Zona Sul e Planície Costeira Externa. A Figura 22
mostra as regiões de abrangência, usando como base as regionais definidas
pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (IRGA).
Figura 22 – Regiões de abrangência do levantamento do Custo de Produção de Arroz.
Fonte: Conab
142
A cultura do Arroz Conab
adequado para a cultura.
O modal de produção é o cultivo mínimo, sistema em que o plantio
é feito em solo previamente preparado com menor revolvimento quando
comparado ao preparo convencional. A semeadura é realizada com as culti-
vares IRGA 424 e PUITÁ INTA CL, sendo igualmente distribuídas. O método
de irrigação por inundação é predominante nessa região.
Atualmente, a Fronteira Oeste possui 330.000 hectares de área cultiva-
da com arroz e 958 produtores rurais cultivando em aproximadamente 344
hectares. Cerca de 70% dessas terras destinadas a produção são arrendadas,
sendo o pagamento pelo arrendamento feito em sacas de arroz. A produti-
vidade média apurada foi de 8.000 quilogramas por hectare.
A Depressão Central corresponde a 13% da produção estadual e detém
aproximadamente 13% da área cultivada. Nessa região predominam lavou-
ras de menor porte, com maior número de irrigação favorecida pela gravi-
dade, quando comparada com as demais regiões, porém o sistema elétrico
predomina em aproximadamente 55% das propriedades.
O sistema de produção Clearfield® é o mais utilizado para a semeadura
na região. A opção por essas cultivares está relacionada à grande infestação
de plantas daninhas que assolam a região, principalmente o arroz verme-
lho/preto, uma das principais ameaças à produção orizícola. Essa tecnolo-
gia auxilia no combate das invasoras pela utilização de agrotóxicos especí-
ficos que não prejudicam o cultivo do arroz irrigado.
O sistema de cultivo pré-germinado é significativo, embora predomine
o cultivo mínimo. As propriedades da região possuem em média 45 hecta-
res destinados ao cultivo de arroz, com produtividade de aproximadamente
7.200 quilogramas por hectare. Assim como se observou na Fronteira Oeste,
70% das terras que produzem o arroz nessa área são arrendadas.
Essa região destaca-se também pela crescente produção de soja. Ca-
choeira do Sul, cidade-sede para realização da reunião para apurar o custo,
possuiu 80 mil hectares de arroz. Devido à introdução do cultivo da soja,
essa área reduziu para aproximadamente 33 mil hectares. Além disso, a
tendência é aumentar a área com essa oleaginosa, porém provavelmente
não se expandirá tanto na região, devido ao custo do arrendamento ser
muito elevado, comparativamente ao valor pago para o arroz.
A Zona Sul corresponde a 16% da produção estadual e detém aproxi-
madamente 18% da área cultivada. A logística proporciona ao produto des-
sa região o melhor preço do mercado, principalmente pela proximidade do
Porto de Rio Grande.
O método de cultivo mínimo abrange a maioria das propriedades. A
irrigação também é por inundação, por sistema elétrico, e está presente
em aproximadamente 95% das lavouras da região. As propriedades pos-
suem área média destinada ao cultivo de 350 hectares, com produtividade
de 7.850 quilogramas por hectare. A maioria dos produtores, cerca de 70%,
143
A cultura do Arroz Conab
também é arrendatária.
A Planície Costeira Externa apresenta região de lavouras médias quan-
to à extensão. O modal apurado foi de 100 hectares, e a produtividade gira
em torno de 6.900 quilogramas por hectare. É a região com maior área de
pré-germinado do estado, provavelmente por influência do estado vizinho
de Santa Catarina. Possui clima diferente das demais regiões, com elevada
umidade relativa, altos índices de precipitação e menor amplitude térmica,
fator que proporciona melhor qualidade do grão.
O método de irrigação predominante é por inundação, sendo que o sis-
tema elétrico para bombeamento da água compreende aproximadamente
83% das lavouras. A utilização da tecnologia Clearfield® abrange a maioria
dos produtores.
Com a exigência do brasileiro pelo consumo de produto de qualida-
de, tipo 1, somente o arroz com rendimento superior a 58% de produção de
grãos inteiros é diretamente beneficiado para consumo in natura. As clas-
sificações inferiores são destinadas ao processo de parboilização. Para essa
região, seguindo o mesmo procedimento de Santa Catarina (onde 90% da
produção é parboilizada), cerca de 60% da produção passa por esse proces-
so industrial.
7.200 30,34
7.000
6.800
6.600
6.400
6.200
Uruguaiana Pelotas Cachoeira do Sul Santo Antônio
da Patrulha
Fonte: Conab
144
A cultura do Arroz Conab
O gráfico 27 mostra a relação entre as produtividades e os custos variá-
veis das respectivas cidades que representam as regiões onde ocorreram os
levantamentos dos custos.
As diferenças inerentes aos custos variáveis e produtividades en-
globam uma série de fatores relacionados ao sistema de produção – por
exemplo, solo, clima e temperatura – que podem influenciar diretamente
na produtividade, bem como outros aspectos que impactam diretamente
nos custos, como a logística. Nesse contexto, observa-se, no gráfico 27, que
quanto maior a produtividade, menor o custo variável. A produtividade de
Uruguaiana, por exemplo, é 14% maior que a de Santo Antônio da Patrulha,
enquanto seu custo variável é inferior a 11%.
Na região da Fronteira Oeste destacam-se lavouras extensas, bem
equipadas e que possuem grande percentual de produtores que integram
lavoura e pecuária. Brasil (2006) aponta a redução de custos a curto, mé-
dio e longo prazo relacionados a sistemas de plantio em que ocorram esse
tipo de integração. Em alguns casos, os autores relacionam a menor neces-
sidade de aplicação de agrotóxicos e consequente redução nos dispêndios
com hora/máquina. Outra particularidade associada é a menor incidência,
quando comparado às demais regiões, de arroz vermelho/preto, que é uma
planta daninha típica na orizicultura brasileira.
A Zona Sul, representada por Pelotas, possui características semelhan-
tes a Uruguaiana. Pelotas contabiliza um custo variável de R$31,77 por saca
de arroz e média produtiva de 7.850 quilogramas por hectare. Essa região
também possui lavouras extensas com alta tecnologia agregada. Muitos
produtores fazem rotação da cultura do arroz com a soja ou plantam essa
oleaginosa em áreas antes destinadas ao pousio. Já existem algumas culti-
vares de soja adaptadas para terras baixas, típicas da região. Esse sistema
de cultivo controla a incidência de plantas daninhas e auxilia na fixação de
nitrogênio no solo, fatores que propiciam maiores rendimentos e economia
nos gastos com fertilizantes nitrogenados.
Cachoeira do Sul e Santo Antônio da Patrulha são os municípios que
representam as regiões com maiores custos de produção e menores pro-
dutividades. Na Depressão Central, conforme citado anteriormente, predo-
minam propriedades com menor área de cultivo. São lavouras que, apesar
da alta tecnologia agregada, possuem característica familiar. Assim, os pró-
prios membros se responsabilizam por todas as fases de cultivo, desde o
preparo do solo até a colheita. Além disso, em geral não utilizam o pousio e
a rotação de cultura, o que propicia maior incidência de arroz praga (verme-
lho/preto) e, em alguns casos, queda da produtividade. Cabe ressaltar que
foi na área da Depressão Central que se iniciou o plantio de arroz no estado
do Rio Grande do Sul. São áreas “antigas” que favorecem o aparecimento de
plantas daninhas resistentes aos agrotóxicos recomendados.
Na Planície Costeira Externa, representada por Santo Antônio da Pa-
145
A cultura do Arroz Conab
trulha, registrou-se a menor média produtiva, com 6.900 quilogramas por
hectare e, consequentemente, o maior custo de produção. Esse fato está as-
sociado às características da região, cujos solos são menos férteis. Histori-
camente, essa região possui produtividades médias inferiores às demais,
principalmente pelas características do solo, que são originários predomi-
nantemente de sedimentos arenosos comuns em planícies aluviais. Car-
mona et al (2012) também detectaram baixa fertilidade dos solos ocasio-
nada por níveis de acidez que prejudicam a atividade orizícola na região
objeto de estudo. Apesar disso, a boa posição geográfica faz com que a lo-
gística para comercialização do arroz seja mais viável quando comparada,
por exemplo, com a Fronteira Oeste, que contabiliza altas produtividades,
porém, devido à distância dos portos, os valores para comercialização são
inferiores às demais regiões.
31
30
29
28
Uruguaiana Cachoeira do Sul Pelotas Santo Antônio
da Patrulha
Fonte: Conab
146
A cultura do Arroz Conab
ser aérea a primeira aplicação de agrotóxico, ao passo que nas demais regi-
ões se utiliza maquinário próprio. Além disso, em algumas propriedades, a
introdução da soja em terras baixas facilita o manejo de rotação de cultura,
reduzindo os custos com o preparo do solo. Isso porque quando se colhe a
soja em boas condições climáticas com solos secos, ocorre a redução dos
custos da preparação do solo para plantio do arroz, pois com a adoção desse
método, é realizada apenas a marcação e consolidação das taipas.
Na Depressão Central, devido aos problemas ocasionados por plantas
daninhas, a operação com trator é intensificada nos tratos culturais para
a aplicação de agrotóxicos. As demais diferenças podem ser atribuídas ao
preço do combustível, que varia de região para região.
Os locais onde ocorreram os levantamentos dos custos se caracterizam
por possuírem alta tecnologia. Até mesmo Cachoeira do Sul, que possui áre-
as médias de cultivo de 45 hectares, dispõe de tratores, carretas e colhedoras
em bom estado de conservação, o que a diferencia em relação às grandes
propriedades é o menor número de equipamentos.
Uma preocupação singular em todos os custos está relacionada aos
gastos com manutenção de máquinas. Em algumas etapas do cultivo, os tra-
tores e colhedoras trabalham sobre taipas, em solos úmidos ou até mesmo
alagados, condição que propicia maior desgaste. O arroz em casca também
possui alta abrasividade, provocando maior deterioração nos equipamen-
tos quando comparado, por exemplo, com a soja. Além disso, na Planície
Costeira Externa, devido à maresia litorânea, ocorre maior depreciação do
maquinário. Na figura 23, abaixo, observa-se as taipas já levantadas pelo
maquinário agrícola.
Foto: do autor
147
A cultura do Arroz Conab
Os dispêndios vinculados à irrigação também são contabilizados nes-
sa variável por se tratar de cálculo em hora/máquina. No sistema de irri-
gação predominante por inundação, a água é bombeada dos reservatórios
ou barragens por meio de conjunto motobomba elétrica. As capacidades
das bombas variam de acordo com a altura dos levantes e tamanho das
lavouras. Em Cachoeira do Sul, local com menores áreas de cultivo, a potên-
cia das bombas elétricas é de aproximadamente 50cv, enquanto que em
Uruguaiana esse valor salta para 250cv. Após o bombeamento, os destinos
das águas são para as “regadeiras” ou canais de irrigação. Esses são os locais
em que ocorrem a distribuição da água nas lavouras e, consequentemente,
o controle da altura da lâmina d’água.
O custo da energia elétrica está diretamente relacionado com a irriga-
ção e em muitas ocasiões é um fator determinante para o maior ou menor
retorno financeiro para os agricultores. Algumas regiões são abastecidas
por cooperativas energéticas que possuem tarifas superiores às demais
concessionárias, encarecendo sobremaneira os custos com irrigação.
As Figuras 24, 25 e 26 mostram registros feitos em propriedades mo-
dais de Uruguaiana e Pelotas. Observa-se, respectivamente, a estrutura
projetada para irrigação, a “regadeira” ou canal de irrigação e a altura da
lâmina d’água.
Fotos: do autor
148
A cultura do Arroz Conab
Fotos: do autor
149
A cultura do Arroz Conab
Mão de obra
33
7,11%
32 6,08%
5,58%
R$/ha
31
4,63%
30
29
28
Uruguaiana Cachoeira do Sul Pelotas Santo Antônio
da Patrulha
Fonte: Conab
150
A cultura do Arroz Conab
Já em Uruguaiana e Pelotas, por se tratarem de lavouras mais exten-
sas, cada aguador é responsável por 70 e 75 hectares. A remuneração do ad-
ministrador rural nessas duas cidades varia entre R$2.800,00 e R$3.000,00,
adicionado a 2% da produção, a título de abono pela produtividade. Isso faz
com que contabilizem participação no custo variável de 5,58% e 4,36%, res-
pectivamente. Nessas duas regiões, devido à carência de mão de obra, além
da participação nos lucros, alguns produtores oferecem premiações para
aqueles que atingirem as metas produtivas. Porém, isso é atribuído apenas
às grandes propriedades, algo que cresce, mas ainda não é modal para to-
das as regiões objetos dos levantamentos dos custos.
Sementes
31
30
29
28
Uruguaiana Cachoeira do Sul Pelotas Santo Antônio
da Patrulha
Fonte: Conab
151
A cultura do Arroz Conab
tas, eretas e pilosas. O ciclo é médio, mas varia de acordo com o local da
safra e época de semeadura. É também resistente ao brusone. A semente
PUITÁ INTA CL é uma cultivar que possui a tecnologia Clearfield®, ciclo mé-
dio, suscetibilidade média a brusone (BRASIL, 2014).
Em Santo Antônio da Patrulha, a semente predominante é PUITÁ INTA
CL, bem como em Cachoeira do Sul. Ambas as regiões possuem histórico de
problemas relacionados ao arroz vermelho/preto. Pelotas também utiliza
a tecnologia Clearfield®, entretanto a semente utilizada é a GURI INTA CL.
Essa cultivar foi produzida com a finalidade de aperfeiçoar a PUITÁ
INTA CL. Possui ciclo médio, alto vigor, estatura baixa e suscetibilidade a
brusone (BRASIL, 2014).
Fertilizantes
33 12,62%
32
11,68%
R$/ha
31
11,28%
30 11,07%
29
28
Uruguaiana Cachoeira do Sul Pelotas Santo Antônio
da Patrulha
Fonte: Conab
152
A cultura do Arroz Conab
70 quilogramas por hectare, respectivamente.
Santo Antônio da Patrulha possui adubação de cobertura com fórmu-
la diferente dos demais locais. Nessa localidade se utiliza também a ureia
cloretada 36-00-12. Conforme mencionado anteriormente, a região da Pla-
nície Costeira Externa possui solos menos férteis, fator que demanda adu-
bação diferenciada. Estudos realizados pelo IRGA (2010) demonstram que
as regiões com solos carentes em matéria orgânica e de composição areno-
sa costumam conter teores mais baixos de potássio. Além disso, os autores
afirmaram que as Planícies Costeiras Interna e Externa são as que possuem
os menores teores desse nutriente quando comparadas às demais regiões.
Agrotóxicos
33 15,88%
13,90%
32
11,48%
R$/ha
31
8,06%
30
29
28
Uruguaiana Cachoeira do Sul Pelotas Santo Antônio
da Patrulha
Fonte: Conab
153
A cultura do Arroz Conab
Apesar de ter a segunda maior participação em agrotóxicos, Uruguaia-
na representa a região com menores problemas ocasionados por plantas
daninhas, pragas e doenças. Essa alta participação, com 13,9%, pode ser jus-
tificada pelo preço atribuído aos agrotóxicos na época do levantamento.
Essa localidade é beneficiada com algumas condições climáticas, como
alta radiação solar e menor precipitação na época de cultivo, fatores que
diminuem, porém não anulam, a incidência de doenças e pragas. Santo An-
tônio da Patrulha, apesar do baixo índice de 8,6%, possui problemas com
a brusone (Pyricularia grisea), doença que acarreta queda significativa na
produtividade e rendimento. Esse município compõe a Planície Costeira Ex-
terna, região com alta umidade relativa do ar e alta precipitação pluvial,
condições que facilitam a propagação de doenças.
Fotos: do autor
154
A cultura do Arroz Conab
Nas figuras 24 e 25 notam-se os sintomas causados pela brusone e pela
mancha parda (Bipolaris oryzae), doenças visualizadas nas regiões objeto
de estudo. As figuras 26 e 27 foram extraídas de uma propriedade em Ca-
choeira do Sul e retratam a infestação de arroz daninho. Na situação em
destaque, observa-se que o arroz daninho possui porte mais alto do que os
demais. Essa planta reduz o potencial produtivo da lavoura e compete por
nutrientes, além de reduzir o rendimento de engenho.
Outros custos
31
30
29
28
Uruguaiana Cachoeira do Sul Pelotas Santo Antônio
da Patrulha
Fonte: Conab
155
A cultura do Arroz Conab
guindo também boa produtividade e qualidade física de grãos.
Tabela 34 – Tipos de entidades prestadoras de serviços
Custos de produção -
Produt. em R$/saca
Estado Local Sistema Unidade
kg/ha Opera-
Custeio Variável
cional
Agricultura empresarial
Conv/ Saca
MA Balsas 2.400 26,62 31,24 39,20
sequeiro 60kg
Conv/ Saca
MT Sorriso 3.600 29,43 35,87 46,47
sequeiro 60kg
Agricultura familiar
Poção de Conv/ Saca
MA 2.200 30,13 34,10 34,10
Pedras sequeiro 60kg
Conv/ Saca
MS Dourados 5.500 23,12 27,47 27,87
irrigado 60kg
Conv/ Saca
PI Luzilândia 2.000 25,21 29,92 48,82
sequeiro 60kg
Querência Conv/ Saca
PR 6.000 28,72 34,32 39,16
Norte irrigado 60kg
Conv/ Saca
Camaguã 6.500 15,79 20,33 21,98
irrigado 50kg
Cultivo
Restinga Saca
Mínimo / 6.800 21,81 27,05 31,54
RS seca 50kg
irrigado
Cultivo
Santa Saca
Mínimo / 6.500 19,26 24,18 25,77
Maria 50kg
irrigado
Massa- Irrig/ Pré- Saca
6.700 21,28 23,86 24,46
randuba germinado 50kg
SC
Irrig/ Pré- Saca
Meleiro 7.250 20,93 26,04 26,95
germinado 50kg
Fonte: Conab
156
A cultura do Arroz Conab
mo na substituição de pastagens, como é o caso do Mato Grosso do Sul.
Considerações finais
Referências bibliográficas
BMARTHA JÚNIOR, G. B.; BARCELLOS, A.; VILELA, L.; SOUSA, D. M. G. Benefícios bioeconô-
157
A cultura do Arroz Conab
micos e ambientais da integração lavoura-pecuária. Planaltina: Embrapa Cerrados,
abr. 2006. (Embrapa Cerrados. Documentos, 154).
REUNIÃO TÉCNICA DA CULTURA DO ARROZ IRRIGADO, 30., 2014, Bento Gonçalves. Arroz
irrigado: recomendações técnicas da pesquisa para o sul do Brasil. Santa Maria, RS: SOSBAI,
2014. 189 p.
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Mercado Interno, 2015. Dis-
ponível em: <http://www.agricultura.gov.br/vegetal/culturas/arroz>. Acesso em: maio 2015.
CARMONA, F. C.; MARTINS, A. P.; CAO, E. G.; ANGHINONI, I.; WEBER, E. J. Mapeamento de
Indicadores de Acidez e Necessidade de Calcário para o Arroz Irrigado nas Planícies Costei-
ras do Rio Grande do Sul. In: REUNIÃO BRASILEIRA DE FERTILIDADE DO SOLO E NUTRIÇÃO
DE PLANTAS, 30.; REUNIÃO BRASILEIRA SOBRE MICORRIZAS, 14.; SIMPÓSIO BRASILEIRO DE
MICROBIOLOGIA DO SOLO, 12.; REUNIÃO BRASILEIRA DE BIOLOGIA DO SOLO, 9.; SIMPÓSIO
SOBRE SELÊNIO NO BRASIL, 1., 2012, Maceió. Anais... Viçosa, MG: Sociedade Brasileira de
Ciência do Solo, 2012. 1 CD-ROM. FERTBIO 2012.
INSTITUTO RIO GRANDENSE DO ARROZ. Evolução da fertilidade dos solos cultivados
com arroz irrigado no Rio Grande do Sul. Cachoeirinha, RS: IRGA, 2010. (Boletim Téc-
nico, n. 10)
158
A cultura do Arroz Conab
32,5 350
30 300
27,5 250
25 200
22,5 150
20 100
17,5 50
15 0
009
009
009
010
010
010
011
011
011
012
012
012
013
013
013
014
014
014
015
015
09
010
011
12
13
014
0
0
0
03/2
06/2
09/2
03/2
06/2
09/2
03/2
05/2
03/2
06/2
09/2
12/2
03/2
06/2
09/2
12/2
12/2
03/2
06/2
09/2
12/2
12/2
03/2
06/2
09/2
12/2
Fonte: Conab
27 Sergio Roberto Gomes dos Santos Júnior. Msc Economia. 2 anos de Conab. Lotação: Superinten-
dência de Gestão da Oferta.
159
A cultura do Arroz Conab
Nas últimas duas safras, o mercado nacional de arroz operou sem
grande volatilidade de preços, com cotações que garantiram uma boa re-
muneração para a cadeia produtiva. De março de 2013 até a presente data,
a Conab efetuou a recolocação no mercado de 700,5 mil toneladas de ar-
roz em casca por meio de leilões públicos. Este produto leiloado faz parte
de aquisições governamentais em momentos críticos, de preços abaixo do
mínimo de garantia, estabelecido nas safras 2008/09 e 2010/11. Apesar da
significativa venda de estoques públicos, os preços continuaram estáveis e
em elevado patamar.
O gráfico 36 apresenta os preços médios semanais ao produtor no
Rio Grande do Sul. Na safra 2010/11, comercializada no período comercial
2011/12, como já destacado, os preços de mercado operaram abaixo do preço
mínimo estabelecido. Esse desaquecimento foi essencialmente resultado
do excesso de oferta na safra em questão. Na safra 2011/12, a cotação do
arroz aqueceu, atingindo, em meados de 2012, o patamar recorde de R$38,19
por saco de 50Kg. Esta alta nos preços foi resultado da baixa produção da
região Sul do Brasil, assim como do Uruguai, Argentina e Paraguai. Os paí-
ses destacados configuram-se como importantes supridores de oferta para
o mercado brasileiro. Outro fator que exerceu pressão de alta nos preços foi
a política de compras governamentais tailandesas, que reduziu a oferta de
arroz no mercado internacional, o que corroborou com a elevação dos pre-
ços no mercado sul-americano.
Gráfico 36 – Preços médios semanais nominais em RS
Safra 2014-2015 / Safra 13-14 / com. 14-15 Safra 11-12 / com. 12-13
comercial 2015-2016 Safra 12-13 / com. 13/14 Safra 10-11 / com. 11/12
Preço mínimo
40
35
30
R$/50kg
25
20
15
1a 3a 5a 7a 9a 11a 13a 15a 17a 19a 21a 23a 25a 27a 29a 31a 33a 35a 37a 39a 41a 43a 45a 47a 49a 51a
Fonte: Conab
Nota: 1a semana de março até última semana de fevereiro
160
A cultura do Arroz Conab
Ao longo da safra 2012/13, observou-se estabilidade nos preços por
volta dos R$33,00. Esse comportamento é resultado da retenção da oferta
de grandes produtores em busca de preços mais atrativos na entressafra
e do estabelecimento de um preço de liberação de estoques, o que igualou
as expectativas do mercado frente às intervenções governamentais. Com
a proximidade do período de colheita e a baixa oferta do produto, e com a
desvalorização do real diante do dólar, e o consequente alto volume de con-
tratos de exportações firmados, os preços do arroz avançaram e atingiram
o patamar dos R$35,00. Diante deste cenário, o Governo Federal interviu
no mercado por meio de leilões de venda de arroz. Em dezembro foram lei-
loadas 106,6 mil toneladas e, em janeiro, 241,8 mil toneladas de arroz em
casca, o que estabilizou e evitou uma disparada nos preços no estado do Rio
Grande do Sul.
Na safra 2013/14, comercializada de março/14 a fevereiro/15, observou-
se estabilidade, com preços elevados em todo decorrer do período para o
saco de 50kg de arroz em casca no Rio Grande do Sul. A cotação média anu-
alizada do grão foi de R$35,43, mais de R$2,00 acima da média anualizada,
de R$33,11 da safra anterior. Atualmente, o saco está cotado em R$34,79 e,
com a finalização da colheita e a expectativa dentro da normalidade da sa-
fra 2014/15, é esperado que as cotações do grão continuem com uma baixa
volatilidade, com um reduzido viés de alta para a próxima safra 2015/16.
A recente desvalorização do real corrobora com a manutenção dos
preços internos ao produtor, pois, em virtude do ganho de competitividade
do arroz brasileiro no mercado internacional, espera-se uma expansão dos
saldos na balança comercial do grão. Outro fator preponderante na susten-
tação dos preços será o reduzido estoque de passagem, que fechou a safra
2013/14, no dia 28/02/2015, com um volume de 868,4 mil toneladas. Deste
montante, 146,8 mil toneladas são referentes a estoques públicos em poder
da Conab e 721,6 mil toneladas são referentes a estoques privados, princi-
palmente localizados na região Sul.
Ademais, é importante destacar a recente elevação dos juros, a maior
restrição do crédito no mercado nacional e a queda das cotações do arroz
nos principais países exportadores. Ou seja, apesar da maior parte das va-
riáveis de influência da cotação do arroz indicarem uma estabilidade com
ameno viés de alta, existem fatores que exercem pressão oposta sobre os
valores comercializados internamente.
No Brasil, atualmente, apesar do aumento de preços ao produtor na
região Sul ao longo das duas últimas safras, observou-se estabilidade no
atacado e varejo em São Paulo. Nota-se que a majoração do preço ao produ-
tor apenas resultou em ampliação da margem do produtor na formação do
preço na cadeia produtiva do arroz. O produtor gaúcho diversificou a pro-
dução e consequentemente a geração de renda ao destinar antigas áreas
de arroz para o plantio da soja. O desenvolvimento tecnológico adaptativo
161
A cultura do Arroz Conab
das sementes de soja para a região Sul foi fundamental nesse processo. Em
suma, o produtor gaúcho, com a diversificação na formação de seu fluxo de
caixa, garantiu um maior poder de negociação com o mercado atacadista
e varejista, o que resultou em ganho de margem. Essa dinâmica pode ser
comprovada no gráfico 37, na qual para a construção do índice detalhado
foi dividido o preço do quilograma do arroz em casca ao produtor no Rio
Grande do Sul pelos preços no atacado e no varejo do quilograma de ar-
roz beneficiado em São Paulo. Ou seja, quanto mais próximo de 1 o índice,
maior a margem do produtor na formação de preços.
Gráfico 37 – Comparação de margem na formação de preços entre
mercados ao produtor, atacado e varejo Índice atacado de São Paulo
Índice varejo de São Paulo
0,6
0,5
Participação em %
0.4
0,3
0,2
0,1
0
04/02 04/03 04/04 04/05 04/06 04/07 04/08 04/09 04/10 04/11 04/12 04/13 04/14
Fonte: Conab / IEA / Dieese - maio de 2015
162
A cultura do Arroz Conab
ções edafoclimáticas excepcionais e do alto nível de organização e profis-
sionalismo da cadeia produtiva –, Santa Catarina destaca-se como segun-
do maior produtor nacional, com produção 2014/15 estimada em 1.057,5 ml
toneladas. Outro estado a ser mencionado é o Tocantins, que apresentou
nos últimos 3 (três) anos um expressivo crescimento na cultura orizícola de
35,70%, sendo hoje o terceiro maior estado produtor, com uma safra 2014/15
estimada em 600,2 mil toneladas.
Gráfico 38 – Arroz em casca - principais estados produtores
Brasil RS SC
MA MT
15
Produção em milhões de toneladas
12
0
1
01
3
7
*
90/9
96/9
92/9
02/0
12/0
94/9
04/0
10/1
14/15
98/9
08/0
06/0
0/20
200
163
A cultura do Arroz Conab
Tabela 35 – Comparativo de Área, Produtividade e
Produção de Arroz
164
A cultura do Arroz Conab
165
A cultura do Arroz Conab
Tabela 36 – Anova – preço Rio Grande do Sul
r% (med
Conta- Preço Preço
Grupo Soma Média Variância / med
gem mín. máx.
grupo)**
Alegrete 12 410,99 34,249167 1,005499 -2,322% 31,80 35,16
Arroio
12 434,00 36,166667 1,019461 3,147% 34,40 38,00
Grande
Bagé 12 422,44 35,203333 0,496061 0,399% 33,76 36,29
Cachoeira
12 410,27 34,189167 0,461208 -2,493% 32,62 35,25
do Sul
Camaquã * 12 445,16 37,096667 0,972970 5,799% 34,81 38,25
Capivari do
12 420,22 35,018333 0,793288 -0,128% 33,05 36,50
Sul
Dom
12 409,11 34,092500 1,304984 -2,769% 31,67 36,22
Pedrito
Itaqui 12 411,24 34,270000 1,190309 -2,262% 31,88 35,70
Jaguarão 12 432,23 36,019167 1,276499 2,726% 33,29 37,10
Mostardas 12 431,56 35,963333 0,587133 2,567% 34,99 37,19
Nova Pal-
12 407,75 33,979167 1,051881 -3,092% 31,88 35,66
ma
Palmares
12 427,12 35,593333 0,986079 1,512% 33,53 37,84
do Sul
Pantano
12 402,56 33,546667 1,360188 -4,325% 32,44 36,25
Grande
Pelotas * 12 446,67 37,222500 1,259439 6,158% 34,88 38,63
Rosário
12 412,45 34,370833 0,687663 -1,975% 33,00 35,88
do Sul
Santa
12 416,43 34,702500 1,374130 -1,029% 32,07 36,28
Maria
Santa
Vitória do 12 432,12 36,010000 1,341418 2,700% 33,90 37,75
Palmar
São Borja 12 422,14 35,178333 1,418179 0,328% 33,03 36,71
São Gabriel 12 414,38 34,531667 1,067070 -1,516% 32,25 35,50
Continua
166
A cultura do Arroz Conab
r% (med
Conta- Preço Preço
Grupo Soma Média Variância / med
gem mín. máx.
grupo)**
São Sepé 12 417,63 34,802500 0,375002 -0,744% 33,80 35,80
Uruguaia-
12 417,49 34,790833 0,768899 -0,777% 32,88 36,08
na
Viamão 12 412,74 34,395000 0,655173 -1,906% 33,02 35,77
ANOVA
Fonte de
SQ gl MQ F VALOR-p F crítico
variação
Entre
250,8641485 21 11,94591183 12,25077126 1,40308E-27 1,599746113
grupos
Dentro dos
235,97785 242 0,975115083
grupos
Total 486,8419985 263
167
A cultura do Arroz Conab
r%
Conta- (med Preço Preço
Grupo Soma Média Variância
gem / med mín. máx.
grupo)**
Forquilhi-
12 433,32 36,110000 0,520600 5,017% 34,55 37,00
nha *
Gaspar 12 400,15 33,345833 0,498972 -3,022% 33,00 35,30
Guarami-
12 402,52 33,543333 0,410533 -2,447% 33,00 34,85
rim
Jacinto
12 423,50 35,291667 0,440833 2,637% 34,06 36,38
Machado
Jaraguá do
12 401,64 33,470000 0,364727 -2,661% 33,00 35,05
Sul
Joinville 12 400,69 33,390833 0,292972 -2,891% 33,00 34,80
Massaran-
12 398,38 33,198333 0,276633 -3,451% 32,90 34,80
duba
Meleiro 12 421,98 35,165000 0,734409 2,269% 33,92 36,00
Nova Ve-
12 424,47 35,372500 0,417057 2,872% 34,21 36,78
neza
Paulo Lopes 12 421,63 35,135833 0,780717 2,184% 33,00 36,90
Pouso Re-
12 400,83 33,402500 0,302330 -2,857% 33,00 34,80
dondo
Rio do Sul 12 399,65 33,304167 0,342154 -3,143% 33,00 34,80
Tubarão 12 421,34 35,111667 0,117652 2,114% 34,54 36,00
Turvo 12 426,55 35,545833 0,571172 3,377% 34,21 36,78
ANOVA
Fonte de
SQ gl MQ F VALOR-p F crítico
variação
Entre
179,7132196 13 13,82409382 31,8802374 3,97853E-37 1,784190573
grupos
Dentro dos
66,778375 154 0,433625812
grupos
Total 246,4915946 167
Legenda: (*)municípios com maiores variações
(** )Méd./Méd.Grupo (variação média do município em relação à média do grupo de municípios)
Fonte: Conab
168
A cultura do Arroz Conab
Quando há variação muito acentuada, é salutar buscar uma equaliza-
ção de preços, seja para mais ou menos, de forma que o mercado não exclua
produtores em termos de negociação.
É importante ressaltar que, nestas duas regiões produtoras do sul, os
estados sulistas apresentam grande potencial produtor e praticam preços
médios muito próximos, mas com variabilidade nos municípios citados.
Esta informação visa aumentar a credibilidade da região produtora
em seu comportamento de precificação de seu produto. Ademais, a equali-
zação de pequenos desvios de preços contribuirá no sentido de aumentar a
comercialização na região.
O próximo estado a ser analisado é o do Tocantins e neste estado há
quatro informações relevantes: a primeira é que a análise obteve melhor
resultado de precificação da média de cada município perante a média
geral do grupo de municípios. A segunda é que o estado apresenta menor
número quantitativo de municípios com produtores, o que facilita a cole-
ta da informação e a padronização. Terceiro, neste estado o produto arroz
coletado tem como unidade de medida a saca de 60 quilogramas ante aos
demais, com 50 quilos. O quarto item é que são coletados dois tipos de arroz
neste estado, o arroz tipo I e o arroz tipo II.
Desta forma, observa-se que os preços estão mais organizados em tor-
no da média geral em ambos os tipos do produto. Logo, o resultado produ-
zido para os dois tipos de arroz mostra duas análises distintas por tipo de
produto, com resultados muito similares. Os dados coletados para o arroz
tipo I são de janeiro de 2014 a dezembro de 2014, como segue:
r% (med
Conta- Variân- Preço Preço
Grupo Soma Média / med
gem cia mín. máx.
grupo)**
Araguaína 12 524,48 43,706667 3,017897 1,35% 42,25 48,50
Campos
12 517,15 43,095833 3,4797538 -0,07% 40,75 48,00
Lindos
Formoso do
12 513,10 42,758333 3,7767424 -0,85% 40,50 48,00
Araguaia
Gurupi 12 519,05 43,254167 2,3497538 0,30% 42,00 47,50
Continua
169
A cultura do Arroz Conab
r% (med
Conta- Variân- Preço Preço
Grupo Soma Média / med
gem cia mín. máx.
grupo)**
Lagoa da
12 516,31 43,025833 1,7562083 -0,23% 41,75 46,50
Confusão
Pedro
12 519,58 43,298333 2,7228515 0,40% 42,00 48,00
Afonso
Porto Na-
12 512,85 42,737500 3,7786932 -0,90% 40,50 48,00
cional
ANOVA
Fonte de
SQ gl MQ F VALOR-p F crítico
variação
Entre
8,1641952 6 1,3606992 0,4561316 0,83850955 2,2188189
grupos
Dentro dos
229,7009 77 2,983128571
grupos
Total 237,8650952 83
r% (med
Conta- Preço Preço
Grupo Soma Média Variância / med
gem mín. máx.
grupo)**
Araguaína 12 509,3 42,441667 2,1958333 1,16% 41,40 46,75
Campos
12 502,15 41,845833 2,7620265 -0,26% 39,50 45,75
Lindos
Formoso do
12 501,45 41,7875 3,2064205 -0,39% 40,25 46,75
Araguaia
Continua
170
A cultura do Arroz Conab
r% (med
Conta- Preço Preço
Grupo Soma Média Variância / med
gem mín. máx.
grupo)**
Gurupi 12 502,05 41,8375 3,4023295 -0,28% 40,00 46,75
Lagoa da
12 497,7 41,475 2,0629545 -1,14% 40,00 44,75
Confusão
Pedro
12 507,8 42,316667 2,0424242 0,87% 41,00 45,75
Afonso
Porto Na-
12 503,6 41,966667 3,0819697 0,03% 40,00 45,75
cional
ANOVA
Fonte de
SQ gl MQ F VALOR-p F crítico
variação
Entre
7,8232143 6 1,303869 0,486675 0,816385307 2,2188189
grupos
Dentro dos
206,29354 77 2,6791369
grupos
Total 214,11676 83
171
A cultura do Arroz Conab
Gráfico 39 – Crédito rural - lavoura de arroz
(custeio em R$)
2014/15 2.087
2013/14 1.772
2012/13 3,243
Safras
2011/12 2,947
2010/11 4.014
2009/10 3.273
2008/9 2.615
500 1.000 1.500 2.000 2.500 3.000 3.500 4.000 4.500 5.000
Milhões de reais
Fonte: Bacen / Conab
R$ milhões
2.500 5.000
2.000 4.000
1.500 3.000
1.000 2.000
500 1.000
0 0
2008-09 2009-10 2010-11 2011-12 2012-13 2013-14
Safras
Fonte: Bacen / Conab
172
A cultura do Arroz Conab
receita bruta e a produção da cultura arroz nas últimas safras demonstram
que, à medida que diminui a produção, a receita bruta se eleva.
Gráfico 41 – receita bruta e produção do arroz (2008-13)
16.000
14.000
13.613
12.000 12.602
11.820 12.122
11.600
10.000 11.260
Mil reais
8.000 8.413
7.878
6.000 7.095 6.818
6.175 6.201
4.000
2.000
0
2008-09 2009-10 2010-11 2011-12 2012-13 2013-14
Safras
Fonte: Bacen / Conab
16.000 41,40 45
40,20
14.000 40
Preço Brasil (saca com 60kg)
33,60 35,40
Produção (em toneladas)
33,00 13.613 35
12.000
27,60 12.122
12.602 11.260 11.600 11.820 30
10.000
25
8.000
20
6.000
15
4.000 10
2.000 5
0 0
2008-09 2009-10 2010-11 2011-12 2012-13 2013-14
Safras
173
A cultura do Arroz Conab
O mercado externo, por sua vez, refletiu como saldo entre as exporta-
ções e importações um período de baixa na safra 2010-2011. Desde então as
negociações externas se mantêm superavitárias.
Gráfico 43 – Saldos de importação e exportação de
arroz (2008-2015)
400.000
300.000 339.704
Saldo (em mil dólares)
200.000
204.456
100.000
85.931 27.934 95.182
0
(4.920)
(100.000)
(200.000) (213.841)
(300.000)
2008-09 2009-10 2010-11 2011-12 2012-13 2013-14 2014-2015
Safras
Fonte: Mare / Agrostat / Conab
174
A cultura do Arroz Conab
Conclusão
Considerando a diversidade de interpretações e de compreensão dos
temas destacados no livro, pode-se inferir que são muitas as possibilidades
de conclusão. Essa variedade de resultados sugere prudência e foco nos ar-
gumentos definitivos a serem destacados nesse espaço.
A primeira conclusão é de que a proposta de pesquisa para publicação
de livros anuais a respeito das culturas de arroz, milho, soja e trigo tem nes-
ta experiência exitosa a redução de riscos para a continuidade do projeto.
Deve-se ressaltar que a Conab, ao reunir no projeto a diversidade aca-
dêmica, o respeito à cultura e à história local, o conhecimento e a experi-
ência acumulada de seu quadro de pessoal, incorpora no seu cotidiano a
publicação não periódica, que pode contribuir com o desenvolvimento de
inteligência para superar os diversos desafios que se colocam para a agri-
cultura, o abastecimento e a segurança alimentar e nutricional.
Outra conclusão que se apresenta é a de que há espaço para o cres-
cimento da produção de arroz no país. Os investimentos podem ser dire-
cionados para as pesquisas no sentido de aumento de produtividade nas
áreas com pacotes tecnológicos de baixa tecnologia, o que não impede a
continuidade dos procedimentos para aumento dessa variável em regiões
com tecnologias avançadas.
Outro fator que merece incentivo para o aumento da produção é a
retomada de investimentos em áreas próprias para o cultivo do arroz, em
diversas regiões das unidades da Federação. Pode-se promover o desenvol-
vimento e a melhoria do uso da irrigação como técnica para elevar a pro-
dução do arroz.
Ainda no tema de produção, é digno de registro a necessidade de aten-
ção na incorporação do arroz vermelho a políticas públicas que venham
resgatar os padrões de produção desse cereal, que é considerado patrimô-
nio genético, cultural e alimentar, principalmente na região Nordeste.
É inevitável comentar a respeito da produção dos vários tipos de arroz
especiais dirigidos à alta gastronomia, como é o caso do arroz preto, que
tem boa aceitação em determinados mercados e preços bem superiores ao
arroz branco. É preciso aprofundar o conhecimento nesses cultivos alter-
nativos como parte do processo de apoio e fomento na sua produção como
indicativo para o aumento da renda do produtor rural.
Os resultados apurados no uso de mapeamentos por imagens de sa-
télite das principais áreas cultivadas com o arroz comprovam que a geo-
tecnologia é essencial como parte do processo de estimativa de área e das
análises relacionadas com a produtividade das lavouras. É certeza, também,
que essa tecnologia pode ser utilizada nos estudos acerca do uso do solo,
das demandas hídricas por irrigação e dos impactos ambientais, além de
contribuir com o acompanhamento de políticas e programas, como é o caso
175
A cultura do Arroz Conab
do crédito e seguro rural.
A respeito do processo de concentração da produção de arroz no Brasil,
o que se pode realçar é a inclusão de temática da relocalização da produ-
ção alimentar e das distâncias percorridas pelo arroz até o consumidor fi-
nal. Tal situação exige discussões mais aprofundadas em face das diversas
variáveis que se interpõem entre o modelo existente e as perspectivas de
aproximação da produção ao consumo. Esse debate pode melhor definir o
projeto produtivo da agricultura brasileira.
No que se refere ao tema armazenagem, deve-se ressaltar que é essen-
cial o incentivo para a implementação do Plano Nacional de Armazenagem
como parte do processo de modernização e do aumento da capacidade es-
tática do parque armazenador, principalmente dada a importância desse
segmento na regularização do abastecimento do mercado consumidor.
Com relação às informações dos coeficientes técnicos que compõem os
custos de produção do arroz irrigado no Rio Grande do Sul, pode-se comen-
tar que o relato nos indica os diversos níveis de desenvolvimento tecnológi-
co na produção do cereal. Essa situação permite a possibilidade de estudos
e pesquisas para melhorar eficiência produtiva.
Além disso, o detalhamento dos componentes dos custos nos permite
observar que o desafio é a melhoria na gestão da produção, em que o foco
é a intervenção do próprio produtor com iniciativas técnicas que venham
refletir no aumento da sua rentabilidade. O Estado pode contribuir com
esse esforço incentivando a prática e oferecendo meios para a capacitação
e assistência técnica.
Ainda sob o aspecto econômico, pode-se registrar que, dada a relevân-
cia do arroz no abastecimento interno e na segurança alimentar e nutricio-
nal da população, o Poder Público sempre esteve presente com ações efeti-
vas em momentos que fatores conjunturais e estruturais assim o exigiam.
Registre-se duas preocupações sob o ângulo de preços. A primeira é a
necessidade do produtor se estruturar para inserção de produto de quali-
dade no mercado com maior valor agregado. A outra é que a expansão da
produção nacional de arroz deve ser coordenada com a abertura de novos
mercados para exportação e aumento de consumo no mercado interno, de
forma a assegurar à cadeia produtiva melhor rentabilidade e que haja refle-
xo positivo e direto ao consumidor.
Por fim, deve-se comentar que o trabalho realizado espelha, de forma
resumida, a realidade de campo vivenciada pela Companhia. Ainda existe
muito espaço para a exploração dos temas destacados nesse periódico. Ou-
tro aspecto é que, pela importância do arroz no hábito alimentar da nossa
população, outros assuntos aqui não tratados merecem a atenção de estu-
diosos. Que o livro ora publicado seja entendido como parte do incentivo
para novas pesquisas.
176
A cultura do Arroz Conab
177
A cultura do Arroz Conab
Índice Remissivo
Agroindústria-complexo, 121, 122, 126
Agronegócio, 47, 120-122, 129-131, 133
Agrotóxico, 89, 120, 128, 144, 145, 147, 149, 153, 154, 157
Área cultivada, 24-27, 30-34, 37, 39, 42, 45, 53, 56, 59, 64, 73, 79, 86, 103, 106,
107, 109, 111, 114, 142, 143, 175
Armazenamento, 11, 15, 19, 27, 38, 44, 50, 89, 126, 129, 135, 138, 144, 176
Arrendamento, 127, 143, 157
Arroz
alimento, 13
amido, 15, 17-20
beneficiado, 14, 15, 19-21, 45, 49, 56, 64, 72, 73, 84, 86, 97, 144, 162
branco, 16, 36, 66, 84, 86, 92, 175
branco polido, 15, 16, 18
classificação, 16, 19, 20
consumo, 11, 14, 16, 17, 28, 33, 35, 52, 53, 55, 58, 62, 66, 72, 84, 90, 91, 120,
129, 131, 135, 144, 159, 162, 176
cultivo, 6, 11, 13, 15, 24-28, 35, 36, 62, 78, 81, 128, 131
descascado, 14, 65, 76, 77, 91, 92
doenças e pragas, 11, 18, 24, 25, 53, 79, 81, 82, 87-89, 128, 129, 153, 154, 162
em casca natural,14, 21, 48, 55, 84, 85, 94, 97, 104, 147, 159-163
especial, 92
integral, 14-18, 21
irrigado, 24, 33-35, 37, 40, 42, 43, 46, 47, 55, 56, 58, 61, 63, 72, 74, 75, 77,
80, 82-87, 89, 92, 94-96, 102-105, 107, 109, 110-115, 143, 154-157, 176
longo, 21, 25, 33, 47, 71
longo fino, 16, 21, 33, 45, 58, 66, 72, 86, 87, 95, 166, 167, 169, 170
nutrientes, 15, 43, 80, 83, 89
parboilizado, 15-18, 21, 84, 88
parboilizado integral, 15, 21
parboilizado polido, 15, 21
pigmentado, 16
polido, 15-18, 21
preto, 86, 92, 143, 145, 152, 153, 175
sequeiro, 24-26, 30, 35-37, 45-50, 55, 56, 58, 61, 63, 71, 74, 75, 80, 92, 94,
96, 99, 104, 112, 123, 116, 155, 156
vermelho, 16, 36, 49, 51, 52, 66, 67, 70, 82, 86
Arroz terras altas Consulte Arroz sequeiro.
Arroz-agulhinha Consulte Arroz longo fino
Arroz-da-terra Consulte Arroz vermelho
Arroz de várzea Consulte Arroz irrigado
Arroz negro Consulte Arroz preto
178
A cultura do Arroz Conab
Beneficiamento, 14, 15, 19, 20, 21, 35, 45, 50 ,67, 72, 84, 86, 88, 126
Calendário de plantio, 26, 67, 68, 106, 112
Competição (Economia), 32, 37, 39, 41, 79, 84, 127, 161, 174
Cooperativa, 50, 69, 108, 131, 141
Crédito rural, 64,171, 172
Cultivar Consulte Variedade
Custo de produção, 29, 39, 44, 67, 71, 79, 140, 141-142, 144, 146, 177, 150, 151, 153,
155-157
Energia elétrica, 32, 67, 148, 157
Farinha de arroz, 20
Fronteira agrícola, 31, 32, 45, 46, 48, 62, 136, 156
Geotecnologia Consulte Sensoriamento Remoto
Intervenção(Governo), 43, 73, 141, 159, 161
Irrigação, 14, 30, 37, 47, 53, 63, 66, 67, 74, 77-82, 95, 103, 114, 143, 144, 148-150, 175
Lavoura
empresarial, 14, 57, 76, 128, 141, 155
subsistência, 13, 24, 25, 28, 37, 39, 56, 61, 65, 66, 90-92, 99
Mão de obra, 29, 31, 39, 51, 65, 67, 78, 86, 91, 127, 144, 150, 151, 157
Máquina agrícola, 65, 67, 77, 78, 81, 129, 140, 141, 145-149, 155, 157
Oligopólios, 127
Plantio direto, 42, 77, 81
Preço, 50, 56, 58, 64, 72, 79, 92, 99, 127, 138, 141, 160-163, 165-171, 173-176
Produção, 14 ,24-27, 29, 30, 32-40, 43-51, 53-69, 72, 76, 82, 84-86, 91-101, 103,
104, 111, 112, 120-127, 130, 133, 136-138, 142, 144, 162-164, 171, 173, 175, 176
Produtividade, 24, 25, 27-32, 34, 35, 39-46, 48, 50, 53, 56, 57, 59, 60, 63-68, 72,
74, 75, 78-80, 82-84, 86, 87, 91, 93-95, 97-101, 116, 121, 124, 125, 127, 129, 142, 144,
145, 151, 154, 156, 157, 162, 164, 175
Rebrota, 86
Receita bruta, 171-173
Rotação de cultura, 25, 45, 57, 71, 81, 88, 89, 103, 112, 145, 147, 153, 156
Semente, 14, 19, 25, 35, 42, 51, 66, 74, 78-82, 86, 88, 89, 94, 120, 121, 128, 144, 151,
152, 162
Sensoriamento remoto, 103-119, 175
Sistema agroalimentar Consulte Agronegócio
Solo, 15, 25, 27, 29, 31, 32, 42, 44, 47, 49, 53, 61, 71, 72, 77, 79-81, 83, 84, 86, 87, 89,
94, 98, 103, 105, 111, 123, 126, 128, 129, 142, 143, 145-147, 153, 157, 175
Variedade, 16, 24-26, 28, 30, 33, 43, 44, 47, 52, 53, 72, 78, 79, 82-88, 96, 128, 143,
151, 152
179
Conab - Companhia Nacional de Abastecimento
SGAS Quadra 901 Bloco A lote 69 - Ed. Conab
70390-010 Brasília-DF
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