ABATE HUMANITARIO de BOdissertação Abate Humanitario de Bovinos
ABATE HUMANITARIO de BOdissertação Abate Humanitario de Bovinos
ABATE HUMANITARIO de BOdissertação Abate Humanitario de Bovinos
GUARAPUAVA
2010
Anamaria Morelatto
Michelli Ternoski
GUARAPUAVA
2010
TERMO DE APROVAÇÃO
Anamaria Morelatto
Michelli Ternoski
Esta Monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do título de Especialista em Produção de Bovino de
Corte da Pós-Graduação Latu Sensu da Universidade Tuiuti do Paraná.
______________________________________________
Prof. Dr.
Instituição e Departamento
Prof. Dr.
Instituição e Departamento
RESUMO
Atualmente, nota-se uma exigência cada vez maior dos consumidores em relação
qualidade e a procedência dos alimentos. Tal fato faz com que a indústria alimentícia
adote práticas garantidoras de elevado padrão de qualidade, assim como os produtores
rurais. Neste sentido, tem-se o abate de bovinos de acordo com preceitos de bem-estar
animal. Definição de Abate Humanitário é o conjunto de procedimentos técnicos e
científicos que garantem o bem-estar dos animais desde o embarque na propriedade
rural até a operação de sangria no abatedouro-frigorífico; ou seja, tem como objetivo
poupar animais de excitação, dor ou sofrimento desnecessários e devem prevalecer em
todos os momentos precedentes ao abate. No tocante às exigências de bem-estar
animal, importa ressaltar que não estão apenas relacionadas ao aspecto moral e ético,
mas também ao forte impacto econômico verificado nos eventos desde a propriedade
até o abate (sangria) dos bovinos, além da influência na qualidade final da carne. O
não emprego de técnicas de abate humanitário faz com que o animal sofra stress ao ser
abatido, comprometendo a qualidade da carne, havendo perda de carcaças e
diminuição de mercado, principalmente externo.
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................. 13
2 PROCESSO DE ABATE DE BOVINOS......................................................... 16
3 HUMANIZAÇÃO DO ABATE ANIMAL....................................................... 18
3.1 FINALIDADES DO BEM-ESTAR ANIMAL................................................. 21
3.2 PROBLEMAS DE BEM-ESTAR NAS PLANTAS DE ABATE..................... 22
4 MANEJO E INSTALAÇÕES NA PROPRIEDADE...................................... 24
4.1 INSTALAÇÕES DO CURRAL........................................................................ 25
4.1.1 Embarcadouro ................................................................................................ 27
4.2 MANEJO........................................................................................................... 31
4.2.1 Condução dos Animais do Pasto ao Curral.................................................... 32
4.2.2 Acomodação dos Animais no Curral.............................................................. 33
4.2.3 Seleção dos Lotes para Abate......................................................................... 34
4.3 EMBARQUE..................................................................................................... 36
4.3.1 Papel do Motorista no Embarque................................................................... 39
4.3.2 Papel do Vaqueiro no Embarque.................................................................... 39
5 TRANSPORTE ................................................................................................. 41
5.1 MEIOS DE TRANSPORTES........................................................................... 41
5.1.1 Transporte Rodoviário.................................................................................... 43
5.1.1.1 Escolha do Veículo...................................................................................... 44
5.1.1.2 Papel do Motorista durante o Transporte.................................................... 45
5.1.1.3 Densidade de Carga..................................................................................... 47
5.1.1.4 Tempo de Viagem........................................................................................ 50
5.1.1.5 Perda de Peso............................................................................................... 50
5.1.1.6 Contusão e Fratura....................................................................................... 52
5.1.1.7 Mortalidade.................................................................................................. 54
6 MANEJO E INSTALAÇÕES NO MATADOURO-FRIGORÍFICO............ 55
6.1 DESEMBARQUE............................................................................................. 58
6.2 CURRAL DE CHEGADA OU SELEÇÃO ..................................................... 59
6.3 CURRAL DE OBSERVAÇÃO......................................................................... 60
6.4 DEPARTAMENTO DE NECRÓPSIA E MATADOURO SANITÁRIO........ 61
6.5 CURRAL DE MATANÇA............................................................................... 63
6.5.1 Período de Descanso, Jejum e Dieta Hídrica.................................................. 63
6.6. RAMPA DE ACESSO AO BOX DE ATORDOAMENTO............................ 65
6.6.1 Banho de Aspersão......................................................................................... 68
6.7 SERINGA.......................................................................................................... 69
6.8 ATORDOAMENTO OU INSENSIBILIZAÇÃO............................................. 71
6.8.1 Métodos de Insensibilização........................................................................... 75
6.8.1.1 Concussão Cerebral..................................................................................... 77
6.8.1.2 Atmosfera Controlada.................................................................................. 83
6.8.1.3 Eletronarcose............................................................................................... 85
6.8.1.4 Outros Métodos........................................................................................... 87
6.9 SANGRIA......................................................................................................... 89
7 MÉTODO PARA AVALIAR O NÍVEL DE ABATE HUMANITÁRIO
EM UMA PLANTA ABATEDOURA................................................................. 97
7.1 SISTEMA DE PONTUAÇÃO......................................................................... 97
7.1.1 Pistola Pneumática......................................................................................... 97
7.1.2 Insensibilidade no Trilho da Sangria.............................................................. 98
7.1.3 Avaliação dos Escorregões e Caídas.............................................................. 99
7.1.4 Avaliação das Vocalizações nos bovinos abrangendo as Áreas da Rampa
de Acesso à Sala de Abate até o Box de Atordoamento.......................................... 99
7.2 PRINCÍPIOS QUE PERMITEM REDUZIR O STRESS E AS
VOCALIZAÇÕES................................................................................................... 100
7.3 RECOMENDAÇÔES PARA REDUZIR O USO DO BASTÃO DE
ELETRICIDADE.................................................................................................... 101
8 COMPRREENDENDO A ZONA DE FUGA DOS ANIMAIS...................... 103
9 IDENTIFICANDO DISTRAÇÕES NO MANEJO DOS ANIMAIS............. 107
10 QUALIDADE DA CARNE.............................................................................. 109
10.1 HEMATOMAS............................................................................................... 110
10.2 PRESENÇA DE CARNES ESCURAS........................................................... 112
10.3 P.S.E. .............................................................................................................. 113
10.4 D.F.D. ............................................................................................................. 114
10.5 REAÇÕES DE VACINAS.............................................................................. 114
10.6 PERDA DE PESO........................................................................................... 115
11 COMO APROVEITAR O INSTINTO DE LÍDER DOS ANIMAIS........... 116
12 LEGISLAÇÃO BRASILEIRA........................................................................ 117
12.1 RECOMENDAÇÕES DE BEM-ESTAR ANIMAL ..................................... 117
12.1.1 Rampa de Desembarque.............................................................................. 117
12.1.1.1 Plataforma.................................................................................................. 118
12.1.1.1.1 Medidas.................................................................................................. 118
12.1.1.1.2 Piso......................................................................................................... 118
12.1.1.2 Rampa........................................................................................................ 118
12.1.1.2.1 Medidas.................................................................................................. 118
12.1.1.2.2 Piso......................................................................................................... 119
12.1.1.2.3 Paredes.................................................................................................... 119
12.1.1.3 Currais de Chegada................................................................................... 120
12.1.1.3.1 Tamanho................................................................................................. 120
12.1.1.3.2 Laterais................................................................................................... 120
12.1.1.3.3 Piso......................................................................................................... 120
12.1.1.4 Tanques de Água....................................................................................... 121
12.1.1.5 Corredores de Abate.................................................................................. 121
12.1.1.6 Observações Gerais................................................................................... 121
13 LEGISLAÇÃO EUROPÉIA........................................................................... 124
14 ABATES RELIGIOSOS.................................................................................. 127
14.1 PRODUTOS KOSHER OU KASHER............................................................. 128
14.2 RITUAL SCHECHITA................................................................................... 130
14.3 PRODUTO HALAL ........................................................................................ 132
14.4 RITUAL ISLÂMICO...................................................................................... 133
15 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................... 135
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................ 138
13
INTRODUÇÃO
Segundo Souza e Ferreira, apud Kito, Pereira e Jorge (2009, p. 56), manejo
racional é o termo utilizado para aplicação de conhecimentos sobre o comportamento
de bovinos na busca de melhorar interação humana com os animais, minimizando
agressões e estresse.
No dia a dia da fazenda, os bovinos freqüentemente enfrentam situações que
causam desconforto, calor ou frio, radiação solar, moscas e predadores; tais condições
podem, em conjunto ou isoladamente, levar os animais a condição de estresse.
O processo de comercialização inicia-se com o deslocamento dos animais dos
seus locais de produção para o matadouro-frigorífico. Já nesta etapa, o abandono dos
locais aos quais já se habituaram cria um ambiente desconfortável para o animal, que
irá responder com diferenças nos níveis de estresse, conforme a sua predisposição
genética.
De acordo com Furquim (2007, p. 60), existem recomendações quanto ao
manejo dos bovinos na propriedade:
a) Apartar os animais em lotes de acordo com o sexo, idade e número de
animais por piquete, para que não haja disputa por espaço físico e alimento;
b) Respeitar os animais. Movimentos bruscos e sons repentinos próximos aos
animais não são recomendáveis;
c) Pastagens devem ser providas de sombra para proporcionar conforto térmico
aos animais nas horas mais quentes do dia. O acesso à sombra traz benefícios à
produção animal, aumenta a produtividade e a eficiência na utilização dos alimentos;
d) Os animais devem ter água disponível a qualquer hora do dia, principalmente
em regiões mais quentes;
e) Movimentar lotes reduzidos de animais. Evitar deixar um animal isolado;
25
FONTE: www.grandin.com
Os pisos, não devem ser escorregadios, nem mesmo possuir excesso de terra,
areia, fezes e água, pois dificulta a locomoção dos animais. Não deve haver presença
de pedras no piso de chão, pois poderá lesionar os cascos dos bovinos.
27
FONTE: www.execucaodecurrais.com.br
4.1.1 Embarcadouro
FONTE: www.execucaodecurrais.com.br
4.2 MANEJO
Qualquer interação com os humanos deve ser calma, sem agitação e sem
estresse. Se houver gritaria, agressões ou uso de choque elétrico, os animais terão
medo dos humanos e isso tornará o manejo mais difícil. O manejo tranqüilo pode
afetar significativamente a atitude e o nível de estresse dos animais.
32
Ideal é que um vaqueiro trabalhe à frente do lote que está sendo conduzido,
tendo controle da velocidade dos animais e outros vaqueiros sigam atrás conduzindo
os animais e impedindo que os mesmos retornem.
O planejamento da venda dos animais para abate deve ser feito com
antecedência, a fim de ser realizado um prévio remanejamento de lotes.
Formação de lotes de embarque deverá ser feita conforme capacidade do
caminhão.
Apartação dos animais deve ser realizada dias anteriormente ao embarque
(mínimo uma semana). Prática importante para evitar excesso de movimentação dos
animais no curral, perda de peso, contusões nas carcaças e aumento do quadro de
estresse. Além disso, propicia bem-estar dos animais, diminuindo o sofrimento dos
mesmos durante o embarque e transporte.
Quando poucos animais de um determinado lote forem embarcados, a separação
pode ser realizada no local em que os animais estiverem (exemplo: piquetes). Já
quando for embarcado a maioria dos animais do lote, a apartação deverá ser realizada
no curral.
Durante apartação no pasto e piquete, evitar movimentos que causem agitação
nos animais (gestos bruscos, gritos e correria). Conversar com os animais e trabalhar
com que os mesmos estejam olhando para o vaqueiro, desta forma facilitará a
compreensão dos comandos.
Apartação no curral de manejo pode ser realizada logo na entrada do curral, nas
porteiras de transição ou apartadouros.
35
4.3 EMBARQUE
5 TRANSPORTE
FONTE: http://www.riosvivos.org.br/arquivos/1330726325.jpg
FONTE: www.newscomex.com.br/mostra_noticia.php?codigo=11253
FONTE: www.carroceriasboiadeiro.com.br/escolha.asp?cod_cat=1
44
estresse causado pelas trepidações durante a viagem; contudo, este sistema deve ser
mantido sempre em bom estado, visto que uma suspensão pneumática danificada
produz maiores vibrações do que um caminhão se este sistema. Outra forma de reduzir
as vibrações é calibrar os pneus em níveis recomendados.
No mesmo sentido os autores dizem que, os veículos transportadores do gado
devem possuir laterais seguras, fortes e suficientemente altas, a fim de prevenir que os
animais saltem, caiam, ou seja; jogados para fora. O piso do caminhão não pode ser
escorregadio, devendo, quando necessário, ser providenciada uma cobertura para o
chão. Toda a estrutura da carroceria precisa ser projetada com segurança, sendo livre
de arestas ou qualquer protuberância com pontas que possam danificar a pele do
animal. O piso dos veículos normalmente e guarnecido de gradil antiderrapante,
articulado nas laterais para facilitar a limpeza e desinfecção e revestido com um fundo
de palha.
O motorista deve receber treinamento sobre direção com carga viva, manejo
adequado durante o transporte e o desembarque. É essencial que o motorista entenda
que os animais são seres sencientes, ou seja, capazes de sentir medo e dor, entre outros
sentimentos, e se responsabilize pelo bem-estar dos mesmos durante o transporte.
Gomide, Ramos e Fontes (2006, p. 111), para o cálculo da área mínima a ser
ocupada por animal nos caminhões durante o transporte, a Farm Animal Welfare
Concil (FAWC), da União Européia, e o Animal Welfare Advisory Committee
(AWAC), da Nova Zelândia, fornecem fórmulas a serem usadas, baseadas no peso
vivo médio dos animais.
FAWC: A = 0,021.P (elevado 0,67)
AWAC: A = 0,01.P (elevado 0,78)
49
Em que:
A = área mínima (m²) que deve ser ocupada pelo animal
P = peso vivo (Kg) do animal
Os mesmos autores, ainda relatam que a FAWC recomenda uma densidade de
carga média de 360 Kg/m², enquanto a AWAC utilizada a equação da FAWC como o
espaço máximo a ser usado no transporte dos animais.
Segundo Roça apud Kito, Pereira e Jorge (2009, p. 58), do ponto de vista
econômico, procura-se transportar os animais empregando alta densidade de carga e,
por isso, há um aumento das contusões e estresse dos animais. Sendo inadmissível
densidade superior a 550 Kg/m². No Brasil, a densidade de carga utilizada é em média
de 390 a 410 Kg/m². A extensão das contusões nas carcaças representa uma forma de
avaliação da qualidade do transporte, afetando diretamente na qualidade da carne,
resultando em perdas para o criador, para o frigorífico (cortes ficarão comprometidos)
e é um indicativo de problemas com bem-estar animal.
FONTE: Pocket Guide for Stock Truck Drivers. Ministry of Agriculture and Forestry, New
Zealand.
NOTA: Quadro extraído do Manual de Práticas de Manejo de Embarque.
50
Os mesmos autores relatam que além da perda de peso vivo que ocorre durante
o transporte e espera no matadouro, também ocorre perda de peso da carcaça e,
conseqüentemente, de rendimento do produto final. Calcula-se que a taxa de perda de
peso da carcaça seja de 0,75% a cada 24 horas de transporte. Entretanto, na literatura
científica os percentuais de perda de peso da carcaça de bovinos são bastante variáveis,
podendo se encontrar desde valores inferiores a 1% a valores de 8% após 48 horas de
privação de alimento e água.
A privação de alimento e água conduz à perda de peso do animal. A razão da
perda de peso relatada na literatura científica é extremamente variável, de 0,75% a
11% do peso vivo nas primeiras 24 horas de privação de água e alimento. A perda de
peso dos animais tem razão direta com o tempo de transporte, variando de 4,6% para 5
horas a 7% para 15 horas, recuperada somente após 5 dias. A perda de peso é motivada
inicialmente pela perda do conteúdo gastrintestinal e o acesso à água durante a
privação de alimento reduz as perdas. A perda de peso da carcaça também é variável,
de valores inferiores a 1% a valores de 8% após 48 horas de privação de alimento e
água. O peso do fígado tende a diminuir rapidamente da mesma forma que o volume
do rúmen, cujo conteúdo torna-se mais fluído (WARRISS apud ROÇA, 2002).
A desidratação do animal é o principal fator envolvido nas perdas de peso
durante o transporte; dessa forma, o seu acesso à água após jornadas muito longas
permite redução no percentual de perda, refletindo em carcaças mais pesadas. O uso de
soluções eletrolíticas na água disponível para os animais no matadouro-frigorífico tem
sido sugerido para reduzir não somente as perdas de peso, mas também a incidência de
cortes DFD, por atenuar as mudanças fisiológicas (balanço eletrolítico e desidratação),
a que o animal é submetido antes do abate (SARCINELLI, VENTURINI e SILVA,
2007).
O aumento do estresse durante o transporte é proporcionado pelas condições
desfavoráveis como privação de alimento e água, alta umidade, alta velocidade do ar e
densidade de carga. (SCHARAMA et al., apud ROÇA, 2002). As respostas
fisiológicas ao estresse, são traduzidas através da hipertermia e aumento da freqüência
respiratória e cardíaca. Com o estímulo da hipófise e adrenal, estão associados os
aumentos dos níveis de cortisol, glicose e ácidos graxos livres no plasma. Pode ocorrer
52
FONTE: www.unesp.br/prope/projtecn/Agropecuaria/Agropec04b.htm
53
FONTE: www.unesp.br/prope/projtecn/Agropecuaria/Agropec04b.htm
5.1.1.7 Mortalidade
6.1 DESEMBARQUE
são dotados de uma série de comportas, tipo guilhotina, cuja finalidade é prevenir a
aglomeração dos animais, evitando-se, assim, acidentes, como pisoteio e asfixia, além
de permitir a separação dos lotes. Todas as áreas por onde os animais caminham
devem, obrigatoriamente, possuir pisos antiderrapantes.
Steiner apud Roça (2002), a limpeza dos bovinos, particularmente suas
extremidades, cascos e região anal, deve ser realizada nos currais, nas rampas ou
seringas, utilizando mangueiras ou aspersão de água sob pressão.
A condução dos animais até a linha de abate deverá ser executada de maneira
menos estressante possível. Isso será atingido levando-se em consideração os aspectos
construtivos das instalações, ou seja, aspectos como a construção de linhas de
condução dos animais na forma circular, facilitando a locomoção dos animais, uma
vez que não conseguirão enxergar o que está a sua frente e, portanto, avançarão com
mais facilidade e a colocação de pisos antiderrapantes que irão impedir a queda dos
animais. Os instrumentos destinados a conduzir os animais devem ser utilizados
apenas para esse fim e unicamente por instantes. Os dispositivos produtores de
descargas elétricas apenas poderão ser utilizados em caráter especial, e a sua redução
implica na melhoria do bem-estar animal.
Outro fator importante é quanto à presença de pontos metálicos que possam
provocar reflexos ou ruídos de alta intensidade. Além disso, pessoas nos arredores,
locais escuros e mudanças bruscas na cor do piso podem representar também barreiras
que afetarão o avanço normal dos animais pela linha de abate (BOURROUL e
KAARNA, 2006, p. 30).
Grandin (2007), propõe avaliação dos deslizamentos e quedas dos animais bem
como das vocalizações ou mugidos dos animais na rampa de acesso ao box de
insensibilização. Com um manejo tranqüilo, que proporcione o bem-estar aos animais,
torna-se quase impossível que eles escorreguem ou sofram quedas.
68
6.7 SERINGA
(a) plataforma para operador; (b) comporta deslizante para entrada do animal; (c)
comporta lateral aberta; (d) piso na posição inclinada para a ejeção do animal
inconsciente.
FONTE: Gomide, Ramos e Fontes (2006)
FONTE: http://www.carneshigienopolis.com.br/tragetoria.html
73
Forres et. al., apud Pardi (2006, p. 495), acreditam que, muito embora o
processo de imobilização ou atordoamento não esteja completamente livre de estresse,
provavelmente reduz as respostas a ele em confronto com a sangria sem atordoamento.
Acham, contudo, que a eficácia desses procedimentos depende do cuidado com que se
haja desenhado e utilizado o equipamento empregado, afirmando que, para uma
sangria adequada, há necessidade de os animais perderem a consciência sem que haja
paralisia cardíaca.
A eficácia da insensibilização depende do equipamento utilizado, de sua
adequada manutenção e dos cuidados durante o seu uso. Os operadores que
insensibilizam os animais devem ser competentes e bem treinados, ao passo que os
equipamentos de insensibilização devem ser mantidos em bom estado, sendo
regularmente inspecionados.
Segundo Gomide, Ramos e Fontes (2006, p. 51), conceito antigo no processo de
abate estabelece que para obtenção de carnes de qualidade superior, a insensibilização
não deve levar à destruição do bulbo raquídeo, para que o coração e o pulmão
continuem funcionando com vistas a uma máxima expulsão de sangue da carcaça na
etapa de sangria. Estudos estabelecem que, desde que a venesecção dos grandes vasos
do pescoço seja realizada em até três minutos, a sangria incompleta e a falência
cardíaca prévia não comprometem a eficiência da sangria ou a aparência
microbiológica da carne.
É, então, içado pela traseira esquerda, lavado por aspersão de água hiperclorada
a 3 atm, para remoção de vômitos e outras sujidades, e imediatamente conduzido à
operação de sangria.
A matança de bovinos no ritual judaico não é precedida de insensibilização.
Faz-se com a faca afiadíssima, uma incisão transversal na altura do pescoço, atingindo
as artérias carótidas e a veia jugular, além dos músculos, esôfago e traquéia. Os
75
defensores do método alegam que o corte da carótida é seguido de uma queda brusca
da pressão sangüínea nas artérias cerebrais e que a anóxia resultante da diminuição do
fornecimento sangüíneo ao cérebro acarreta uma inconsciência quase instantânea. Na
prática, observam-se reações no animal que persistem por algum tempo (PARDI,
2006, p. 496).
FIGURA 32 – CAVILHAS
inconsciência, há prejuízos ao bem-estar animal, que sente dor e tem seu nível de
estresse aumentando, o que pode causar queda na qualidade da carne (CIOCCA apud
KITO, PEREIRA e JORGE, 2009, p. 63).
As pistolas pneumáticas de penetração fabricadas no Brasil, possuem terminal
em bastão de 11mm de diâmetro com extremidade convexa e força de impacto de 8 a
12 Kg/cm². Não possuem injeção direta de ar com o objetivo de laceração do tecido
cerebral. A saída de ar no terminal do bastão tem como objetivo apenas auxiliar o
retorno do dardo. O uso da pistola pneumática produz uma grave laceração encefálica
promovendo inconsciência rápida do animal e pode ser considerado um método
eficiente de abate de bovinos (ROÇA, 1999).
Segundo Dario (2008), o dardo de percussão não-penetrante faz com que ocorra
lesão encefálica ou injúrias cerebrais difusas, provocadas por impacto súbito e
conseqüentes alterações da pressão intracraniana, promovendo a incoordenação
motora e mantendo, no entanto, a atividade cardíaca e respiratória. Uma vez que o
cérebro não é penetrado e o animal não é morto, este método tem sido aceito em vários
países para insensibilizar animais antes do abate Halal (ritual religioso para obtenção
de carnes para pessoas de fé islâmica – produtos Halal). Contudo, este tipo de dardo
não deve ser utilizado em touros de grande porte, pois a rigidez óssea do crânio pode
dissipar a força de impacto, resultando numa insensibilização inadequada.
O uso do dardo de percussão não-penetrante tem sido sugerido em substituição
ao penetrante para insensibilizar bovinos de áreas onde foram constatados casos da
doença BSE (Bovine Spongiform Encephalopathy - Encefalopatia Espongiforme
Bovina), conhecido como Doença da Vaca Louca, visto que, se o cérebro é danificado
durante a insensibilização, partículas podem contaminar o sangue e,
conseqüentemente, os órgãos e os tecidos musculares. Dessa forma, o método do
dardo cativo penetrante não é aconselhável, por provocar lesões no cérebro,
disseminando-o pelo organismo animal, principalmente naqueles animais
insensibilizados por pistolas com injeção direta de ar, objetivando a laceração do
tecido cerebral. Por essa razão, em alguns países, como no Canadá, pistolas
pneumáticas que injetam ar na cavidade cranial foram proibidas no abate de bovinos.
Entretanto, pesquisas têm demonstrado que, mesmo usando pistolas de dardo não-
penetrante, existe a possibilidade de contaminação do sangue por tecido nervoso
(GOMIDE, RAMOS e FONTES, 2006, p. 55).
83
Conforme Prata e Fukuda (2001), embora a concussão possa ser causada por
impacto na fronte do crânio, provocando uma disfunção da atividade elétrica normal
do cérebro, devido a uma dramática mudança da pressão intracraniana, a maior
eficiência de insensibilização está no processo de laceração do cérebro; portanto, o
método de dardo cativo é mais eficiente do que o de percussão não-penetrante.
Em ambos os casos (métodos penetrante e não-penetrante), a velocidade do
dardo é de suma importância para a eficiência da insensibilização, uma vez que está
relacionada com a força do impacto (transferência de energia cinética) do dardo no
crânio do animal (PRATA e FUKUDA, 2001).
Segundo Gomide, Ramos e Fontes (2006, p. 55), recomendações de velocidade
mínimas dos dardos de percussão têm sido baseadas na velocidade com que supre as
respostas cerebrais não atingidas. Para bovinos, a velocidade mínima é de 55 m/s, para
touros jovens são recomendadas velocidades superiores a 72 m/s. As pistolas
pneumáticas causam força de impacto da ordem de 8 a 12 Kg/cm², enquanto naquelas
acionadas por cartuchos de explosão, o dardo pode atingir velocidades de 100 a 300
m/s, provocando impacto de cerca de 50 Kg/cm².
6.8.1.3 Eletronarcose
um sistema automático. Após a sangria ocorre num fluxo extremamente alto (até 2
litros/segundo), o box gira até um ângulo de 120º, permitindo que o animal deslize sob
uma grade e seja; então dependurado na nórea.
risco de incidência de BSE, devido à contaminação dos tecidos animais com material
cerebral.
O mesmo autor diz que, a concussão por uso de arma de fogo, quando bem
aplicada, é tão efetiva quanto a concussão por dado cativo. Método mais comumente
utilizado na eutanásia de animais doentes, sendo o mais efetivo, por não necessitar
sangrar o animal para garantir a morte. Quando propriamente posicionado causa uma
destruição maciça do cérebro e inconsciência imediata. O tiro deve ser dado,
horizontalmente, na região temporal (entre os olhos e a base da orelha do animal) para
promover a insensibilização imediata.
Embora o uso de armas de fogo seja aceitável do ponto de vista de bem-estar
animal, deve ser considerada uma operação de alto risco no matadouro-frigorífico.
Além disso, todos os tecidos da cabeça do animal devem ser condenados. De forma
geral, o uso de calibre 0,22 é suficiente para insensibilizar a maioria dos animais. No
entanto, para bovinos, eqüinos, búfalos, calibres maiores são necessários (0,357 ou
mesmo 9 mm). O uso de projéteis no processo de insensibilização aumenta
consideravelmente os riscos de BSE, principalmente quando a concussão é realizada
na fronte, entre os olhos e a base dos chifres (GOMIDE, RAMOS e FONTES, 2006,
p.81).
Segundo Prata e Fukuda (2001), a enervação ou choupeamento consiste no
corte da medula espinhal, na altura do espaço atlanto-occipital (entre a primeira
vértebra cervical e o osso occipital), de forma a romper sua conexão com o encéfalo.
Esse rompimento causa redução brusca na ação cardíaca e respiratória, mas parece não
produzir inconsciência instantânea. A secção da medula é feita por um instrumento de
cabo longo, com uma lâmina de ferro perfurante em sua extremidade, denominado
choupa.
89
FIGURA 38 - CHOUPA
6.9 SANGRIA
íntegro e somente depois de perder-se muito sangue é que a pressão sangüínea começa
a cair (THORNTON, 1969).
Problema relacionado com a sangria é o aparecimento de hemorragias
musculares caracterizadas por petéquias, listras ou equimoses em várias partes da
musculatura, provocada por aumento da pressão sangüínea e ruptura capilar
(THORNTON, 1969). Vários fatores são responsáveis por estas alterações como o
aumento do intervalo entre o atordoamento e a sangria (THORNTON, 1969), o estado
de tensão dos animais no momento do abate (GIL e DURÃO, 1985), traumatismos,
infecções e ingestão de substâncias tóxicas (SMULDERS apud ROÇA, 2002).
Roça (2001), diz que a eficiência da sangria é muito importante para obtenção
de um produto de qualidade, pois o sangue tem alto poder protéico e uma rápida
putrefação, comprometendo a conservação e o aspecto da carne.
Existem controvérsias a respeito da relação entre sangria, higiene e aparência da
carne. Sabe-se que o sangue de animais sãos é praticamente estéril e possui no plasma
fatores com atividade antimicrobiana. Assim, a interrupção da sangria por hemostasia
foi sugerida como um caminho para melhorar as propriedades sensoriais da carne
como maciez, sabor, suculência e aparência (WARRISS et al., 1995).
Estima-se que o atual déficit mundial de proteína animal seja de cerca de 70%
da produção corrente ou 5 milhões de toneladas por ano, assumindo que a necessidade
diária de ingestão é de 90g per capita, com a inclusão de 50,6g de proteína animal. A
utilização de fontes protéicas alternativas originárias de subprodutos da indústria de
carne, especialmente sangue, poderia, com baixo custo, melhorar o valor nutricional da
dieta da população. No entanto, o sangue animal é muito pouco aproveitado, sendo
muitas vezes lançados nos esgotos, causando poluição decorrente de sua alta taxa de
demanda bioquímica de oxigênio (DBO), de 150.000 a 200.000 mg/L, contribuindo,
assim, para a “morte” de rios. O aproveitamento industrial do sangue, quando feito,
destina-se a usos menos nobres, como espumas para extintores de incêndio,
fertilizantes, adesivos, resinas, formulações para cosméticos, meio de cultura etc.
Poucos estudos têm sido conduzidos para o seu uso na alimentação humana, e seu
aproveitamento em alimentos tem sido negligenciado (GOMIDE, RAMOS e FONTES
2006, p. 125).
92
Ainda os mesmos autores dizem que na prática, observa-se certa tolerância por
parte da Inspeção Federal quanto à coleta de sangue de diversos animais (geralmente
de dois indivíduos) em apenas um recipiente. Entretanto, a liberação do sangue fica
condicionada à inexistência, em qualquer dos animais onde se faz a coleta, de qualquer
contaminação, doença ou qualquer outro problema que possa torná-lo impróprio para o
consumo humano. Caso seja constatada a improbidade do sangue de pelo menos um
animal, todo o recipiente será condenado e o sangue somente poderá ser utilizado para
fins menos nobres.
O sangue deverá ser colhido em canaleta própria, denominada “canaleta de
sangria”, onde os animais devem permanecer por um mínimo 3 minutos, com vistas à
máxima remoção de sangue. O comprimento da canaleta de sangria corresponderá,
então, ao espaço percorrido pela nória em 3 minutos, devendo ser construída em
alvenaria inteiramente impermeabilizada com reboco de cimento alisado, ou com outro
material adequado, de modo a colher o sangue sem que este se misture com o vômito e
com a água de lavagem (qual carreia sujidades, fezes e urina) que pode escorrer dos
animais pendurados. A aplicação do sangue desta forma coletado se restringe à
fabricação de subprodutos industriais, como “farinha de sangue” e “sangue em pó”,
destinados à fabricação de ração para consumo animal (GOMIDE, RAMOS e
FONTES, 2006, p. 124).
94
Para Picchi (1996, p. 43), durante a sangria todo animal sadio e descansado
chega a eliminar metade do volume de seu sangue, enquanto aqueles que apresentam
qualquer tipo de alteração orgânica e estão em estado febril (geralmente provocado
pelo estado de tensão) retém o sangue na musculatura e nos órgãos centrais, afetando a
qualidade do produto final.
A quantidade média de sangue coletado no abate varia de acordo com o
tamanho do animal e do tipo de alimentação; para bovinos, coleta-se em média de 10 a
12 litros de sangue.
O volume de sangue de bovinos é estimado em 6,4 a 8,2 litros/100Kg de peso
vivo (KOLB, 1984). Para Bartels apud Roça (2002), a quantidade de sangue obtida na
sangria com o animal deitado é aproximadamente de 3,96 litros/100 Kg de peso vivo e
com a utilização do trilho aéreo é de 4,42 litros/100 Kg de peso vivo. Numa boa
sangria, necessária para a obtenção de uma carne com adequada capacidade de
conservação, é removido cerca de 60% do volume total de sangue, sendo que o
restante fica retido nos músculos (10%) e vísceras (20 - 25%) (PISKE apud ROÇA,
2002).
A eficiência da sangria pode ser definida como o volume de sangue residual ou
retido a nível muscular após o abate. A literatura sobre métodos de avaliação da
95
A análise para obter a pontuação abaixo poderá ser feita por uma pessoa que
verificará quantos animais caíram no box de atordoamento insensibilizados
instantaneamente após o primeiro tiro da pistola pneumática.
a) Excelente: 99 a 100% caem insensibilizados instantaneamente ao primeiro
tiro;
98
A pessoa deverá com ajuda dos funcionários do abatedouro fazer com que
sejam manejados em média 10 (dez) animais por vez para que o pesquisador possa
verificar dentre 100 (cem) animais quantos escorregam e caem. O pesquisador poderá
verificar também quais os lugares que estão tendo problemas com escorregões e caídas
e providenciar melhorias.
a) Excelente: não há escorregões e caídas;
b) Aceitável: escorregões em menos de 3% dos animais;
c) Não aceitável: 5% de caídas;
d) Problema sério: mais de 5% de caídas ou escorregões.
O manejo pré-abate dos animais visando o bem-estar é impossível de ser
realizado se os animais escorregarem ou caírem no piso. Todas as áreas onde os
animais passam devem ser providas de piso anti-deslizante. De acordo com os
resultados dos estudos da Grandin (2000), os problemas de escorregões e quedas são
mais freqüentes na área do box de atordoamento. Portanto, após identificado os locais
de quedas, deve-se providenciar melhorias.
manejo pré-abate são: uso excessivo do bastão de eletricidade para a condução dos
animais, escorregões seguidos de quedas (que podem ocasionar fratura exposta) e erro
na aplicação dos equipamentos de insensibilização.
Vocalizações que acontecem no curral de descanso não devem ser consideradas
já que o animal se comunica com outros animais por meio de mugidos.
manipuladores devem cuidar para que quando o animal estiver entrando em algum
lugar, ou caminhando naturalmente no percurso do manejo, não sejam usados os
bastões de eletricidade ou outros instrumentos aversivos para forçá-los a fazer o que
estavam fazendo naturalmente.
Recomenda-se não deixar nenhum animal sozinho durante o manejo, pois os
animais possuem o instinto de rebanho e o animal que ficará sozinho entrará num
estado de tensão e dificultará o manejo.
A necessidade da utilização do bastão elétrico para conduzir os animais também
constitui um sinal onde o manejo está inadequado. O bastão elétrico não deve ser
utilizado nas partes sensitivas dos animais como olhos, orelhas e mucosas. Os bastões
não devem ter mais que 50 lux. Ao reduzir o uso do bastão elétrico, melhorará o bem-
estar animal. Os critérios para avaliar a utilização do bastão elétrico em bovinos,
segundo Grandin (2007), encontram-se no Quadro 2 (em % de bovinos conduzidos
com a utilização do bastão):
Todas as espécies que vivem em manada possuem uma área circular imaginária
ao seu redor chamada “zona de fuga”. Esta área nada mais é do que um espaço no qual
o animal se sente seguro diante de um estranho ou predador. Segundo Grandin (2000),
a zona de fuga é como o espaço “pessoal” de cada animal e seu diâmetro é
determinado pelo fato do animal estar excitado ou calmo.
A distância de fuga é o raio da área dentro da qual o animal não permitirá
voluntariamente a intrusão do ser humano ou de animais de outra espécie que possam
representar perigoso. Conceito importante na definição desse posicionamento seria a
distância mínima que o animal permite a aproximação de humanos antes de iniciar o
deslocamento (fuga). A área de fuga terá sempre o animal como ponto central, se
deslocando junto com o mesmo. Ainda, esta área varia de animal para animal e,
através do manejo humanitário, possa ser diminuída ao longo do tempo. Aliás, a área
de fuga pode até desparecer em função do manejo freqüente e humanitário, que é o
caso quando o animal permite ser tocado sem estar contido, como por exemplo: gado
leiteiro.
Quando os animais estão parados olhando para o manejador, significa que este
está fora da zona de fuga. Para facilitar o manejo dos animais fazendo uso desta teoria,
o manejador deve ter em mente que o animal tem tendência a mover-se à direção
oposta quando este penetra na sua zona de fuga. Para manter um grupo de animais
avançado de forma ordenada, primeiramente o grupo deve possuir espaço suficiente
para caminhar, segundo, o manejador deve alternar entre entrar e sair da zona de fuga
do grupo. Sabe-se que manejar grupos pequenos de animais torna-se mais fácil e
oferece menos riscos de injúrias físicas aos animais. Nota-se que compreendendo e
colocando em prática a teoria da zona de fuga, o uso de bastões de eletricidade tornar-
se-á desnecessário.
104
FONTE: http://www.grandin.com/spanish/zona.fuga.html
amplo, o que facilita sua fuga ou defesa. Entretanto, ainda assim existe uma área cega,
completamente fora do campo de visão do animal.
Caso o homem se aproximar de um animal e adentrar sua área de fuga através da
área cega, quando o animal visualizá-lo levará um susto e reagirá de forma
imprevisível. Se estiver tentando fazer o animal andar para frente e posicionar-se no
limiar de sua área cega, o animal começará a andar em círculos, desta forma evitando
que o homem se “esconda” onde ele não poderá vê-lo.
Portanto, se intuito for conduzi-los para frente, homem terá que se posicionar
dentro na zona de fuga e numa posição caudal a partir do ponto de equilíbrio até um
ângulo de 45 graus em relação a este ponto (tendo em conta o corpo do animal, este
ponto estaria localizado logo após a paleta). Posicionamento ainda mais caudal, entre
45 e 60 graus em relação ao ponto de equilíbrio, geralmente resulta na paralisação do
deslocamento, isto porque o homem estaria se aproximando da área cega, o que levará
o animal a virar a cabeça para manter o homem em seu campo visual, parando de
andar ou, no caso de não parar, começa a andar em círculos. Caso o homem tomar uma
posição mais frontal em relação ao ponto de equilíbrio a tendência é o animal se mover
para trás.
Nunca devem ser usados cães para manejar os animais em lugares fechados,
pois os cães penetram profundamente na zona de fuga e provocam uma situação de
grande tensão nos animais os quais não têm para onde fugir (GRANDIN, 2007).
Para Castillo (2006, p.14), o tamanho da zona de fuga varia com o grau de
domesticação do animal, seu contato prévio com pessoas (freqüência) e se foi positivo
ou negativo, fatores genéticos (temperamento calmo x excitável). Se uma pessoa entrar
na zona de fuga de um animal, a tendência é mover-se para longe, parando quando o
perímetro da zona de fuga for restabelecido. A súbita entrada na zona de fuga de um
animal, em um espaço confinado, pode torná-lo muito agitado, causando sérios
acidentes. Este problema é mais acentuado se a zona de fuga do animal for grande,
devido à combinação de fatores citados acima: animal pouco domesticado,
temperamento excitável, poucos e negativos contatos com pessoas.
Existe outro modelo de comportamento que é denominado de “ponto de
equilíbrio” ou “ponto de balanço”. É uma linha imaginária na altura da paleta do
106
animal usado para induzir o movimento do mesmo para frente e para trás. Para fazer o
animal se mover para frente, o operador deve postar-se atrás do ponto de equilíbrio; e
para fazer o animal se mover para trás o operador deve postar-se à frente do ponto de
equilíbrio. Para evitar que um animal se mova para trás toda vez que o operador ande
em sua direção, a passagem pelo ponto de equilíbrio deve ser feita de forma rápida,
seguida de uma parada atrás do ponto de equilíbrio. Posteriormente deve-se andar
devagar para forçar o movimento do animal para frente. O entendimento deste
conceito reduz grandemente o uso de estimulação elétrica (CASTILLO 2006, p. 15).
Até o momento foram definidos movimentos que se possam esperar dos
animais a partir da movimentação do homem. Ressalta-se que, se o animal entender o
que o homem deseja dele, facilitará o manejo, pois haverá colaboração dos animais.
Portanto, é fundamental que durante manejo o homem seja visualizado pelos animais.
Uso de bandeirola facilitará esta visualização.
FONTE: www.grandin.com
10 QUALIDADE DA CARNE
10.1 HEMATOMAS
De acordo com Girard (1991), a carne bovina de boa qualidade tem pH final em
torno de 5,5. Em valores superiores a 5,8, tanto sua maciez como a conservação da
carne fresca ficam comprometidas. A carne com pH alto é inadequada para o comércio
de qualidade elevada com carne fresca embalada a vácuo e, dependendo de seu uso
comercial, as carnes de cortes escuro podem sofrer desvalorização de 10% ou mais no
seu valor.
O pH alto na carne é produzido por concentrações baixas de ácido lático. A
produção de ácido lático post-mortem requer um conteúdo adequado de glicogênio
muscular no momento do abate. A degradação do glicogênio muscular ante-mortem é
resultado de uma elevada descarga de adrenalina em virtude de situações estressantes
ou por uma atividade extenuante (TARRANT apud RENNER, 2006, p. 190).
A coloração da carne é um aspecto considerado muito importante pelo
consumidor no momento da escolha do produto. Além de se recusar a adquirir uma
carne de coloração mais escura, ele imagina que é de procedência de um animal velho
ou mal conservada.
Carne escura consiste em toda carne que apresentar tonalidade mais forte em
comparação à cor vermelha-brilhante da carne fresca. As carnes com coloração
escuras, além de apresentar inadequado grau de acidez (pH), tem efeitos sobre sua
qualidade, como também sobre sua durabilidade (vida útil).
As causas para o aparecimento de carcaças com pH elevado podem ser várias.
O manejo inadequado dos animais antes do abate não permitirá transformação post-
mortem normal devido ao glicogênio muscular (reserva de energia) ser insuficiente
para a transformação em ácido lático, responsável pela acidez. Por isso, não consegue
a normalização do pH, em torno de 5,5 a 5,6. Outros fatores são: troca de
companheiros, jejum excessivamente prolongado, transporte muito longos, animais
cruza Bos indicus, como também a retirada dos animais de seu habitat natural
(RENNER, 2006, p. 192).
113
10.3 P.S.E.
10.4 D.F.D.
mesmo intramusculares. Na grande maioria das vezes, isso ocorre pela pressa em
acabar o serviço, aplicando em regiões impróprias, uso de agulhas impróprias e falta
de higiene durante a aplicação. Uma reação de vacina pode variar de 200 gramas a 7,5
quilos.
12 LEGISLAÇÃO BRASILEIRA
12.1.1.1 Plataforma
12.1.1.1.1 Medidas
12.1.1.1.2 Piso
12.1.1.2 Rampa
12.1.1.2.1 Medidas
12.1.1.2.2 Piso
12.1.1.2.3 Paredes
seguidas de curvas suaves, de forma que o animal perceba que no final possui uma
continuidade para outro setor, caso contrário o animal irá recuar, pois se encontra sem
saída.
12.1.1.3.1 Tamanho
12.1.1.3.2 Laterais
12.1.1.3.3 Piso
entrarem. Para que eles sigam adiante, em corredores retos é necessário que sejam
capazes de observar pelo menos metade do corpo do animal que está a sua frente.
Outro ponto a ser notado é a união do curral de abate com o primeiro corredor deve ser
feito com uma curva, cujas laterais devem ser abertas.
124
13 LEGISLAÇÃO EUROPÉIA
14 ABATES RELIGIOSOS
Legenda: (A) selo kasher; de circulação na França; (B) selo halal, de certificação da
IFANCA (Islamic Food and Nutrition Council of America), em circulação nos EUA,
Bélgica e Canadá; (C) selo halal, certificado pelo Instituto Halal da Espanha.
FONTE: Gomide, Ramos e Fontes (2006)
para a depenagem, pois a água quente coagula o sangue. Qualquer carne que tenha
sido escaldada antes de se tornar kosher é considerada terayfa (ROÇA, 1999).
Ainda o meso autor diz que a carne kasher destinada ao consumo deve ter
poucos vasos sangüíneos e nervos. Os quartos dianteiros, a carne de cabeça e a costela
são as partes mais consumidas entre os judeus. Há também proibição de consumo do
nervo ciático. O processo de remoção deste nervo consome tempo e não é
economicamente viável. Por isso, a maioria dos abatedouros prefere vender o quarto
dianteiro como corte não kasher.
schochet realize a degola. O animal é retirado, após a degola, pelo portão (GRANDIN,
2000).
Devido aos procedimentos e condições necessárias ao ritual, o abate kasher é
um processo mais lento do que o abate “comum”. Utilizando-se o boxe de contenção
ASPCA, por exemplo, a capacidade máxima de abate é de cerca de 75 bovinos/hora
(GRANDIN, 2000).
Após a sangria o ritual continua, sendo os órgãos examinados pelo schochet
para verificação de moléstias. Os pulmões, em especial, são inflados para verificação
de aderências. O trabalho prossegue com os judeus carimbando as carcaças. Outra
característica do ritual é o fato da desossa do dianteiro ter de ser feita separadamente
do traseiro (ROÇA, 1999).
seja reversível, ou seja, cause inconsciência ao animal, mas não o mate, de forma que
ele possa recobrar a consciência se não for sacrificado (sangrado).
Segundo Roça (1999), dentre os métodos de insensibilização aceitos estão a
concussão por dardo não-penetrante e a eletronarcose sem indução da parada cardíaca.
O emprego da insensibilização no abate halal permite maior velocidade de abate e
mantém elevado o padrão humanitário. Infelizmente, nenhum tipo de insensibilização,
mesmo aquelas que não causam morte ao animal, foi ainda aceito pelas autoridades
judaicas no ritual de abate kasher.
135
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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