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Autor
José Luís Feiteira Dias
Orientador
Luís Guilherme de Picado Santos
RESUMO
Na política de construção actual, nas obras rodoviárias, está inerente que a técnica utilizada
tenha em linha de conta, o meio ambiente, a segurança e a satisfação dos utentes, sem nunca
esquecer a optimização dos recursos.
Não podendo o país esbanjar recursos, estes quando aplicados na construção de pavimentos
devem ser empregues naqueles que tenham um comportamento eficiente dentro do prazo para
que são projectados. Esta é uma questão decisiva no correcto encaminhamento do
investimento público e na sua rentabilidade.
Ora, as misturas betuminosas incorporando borracha de pneus usados, muito utilizada noutros
países, respondem eficazmente aos desafios apontados, sendo uma solução que contribui para
um ambiente mais próprio e sustentável. Em Portugal, identificam-se ainda poucas obras,
todas elas utilizando a técnica de fabrico por via húmida. Face a este cenário, a presente
investigação tem como objectivo central contribuir para a validação do fabrico por via seca de
misturas betuminosas rugosas, relativamente fechadas, com incorporação de granulado de
borracha de pneus usados, cujo desempenho seja semelhante às misturas equivalentes e
produzidas por via húmida.
ABSTRACT
In Portugal at present day, several road concessions are awarded, totaling more than 2000km
in freeway, main and complementary roads. These concessions are divided into new
construction, rehabilitation and conservation.
In the current policy of building, particularly in road works, it is inherent that the construction
technique takes into account the environmental sustainability, the safety and the user
satisfaction, never forgetting the resources optimization.
Taking into account that our country can squander resources, the resources applied to the
pavement construction should be preferably used in those who have an efficient behavior
within the time for which they are designed. This is a crucial question in the correct routing of
public investment and its profitability.
So, the incorporation of rubber from used tires into the asphalt, a widely procedure in other
countries, is an effective responce to the challenges mentioned above, being a solution that
contributes to a more proper and sustainable environment. In Portugal, we identify few works
using this technique, particularly applying the wet method on the manufacturing. According
to this scenario, this research aims to contribute to the validation of the manufacturing process
by dry-method of rough and relatively closed asphalt, with incorporation of crumb rubber
from used tires, whose performance is similar to the equivalent asphalt mixtures produced by
the wet-method.
This dissertation describes: (1) the techniques of obtaining the rubber granules from used tires,
(2) the physical and chemical properties of rubber, (3) the conditions of physical interaction
between the conventional bitumen and rubber granules, (4) the manufacturing procedures for
asphalt-rubber mixtures and (5) its performance and mechanical behavior on pavement layers.
In the experimental tests ,mixtures with and without rubber addition were studied. These
mixtures were produced in the laboratory and applied to experimental sections using the dry-
method manufacturing.
The tests results of mechanical characterization of mixtures with rubber were compared with
the mixtures without the addition of rubber. Finally, we propose recommendations to consider
in the manufacture and quality control of asphalt mixtures incorporating rubber. A brief
economic study demonstrating the costs advantages of the use of these mixtures and
procedures is also presented.
DEDICATÓRIA
DEDICATÓRIA
Sem o vosso amor e dedicação nunca teria terminado este meu sonho.
Espero muito em breve compensar-vos com o tempo familiar
utilizado para a elaboração deste trabalho durante o qual estive ausente.
Sem o vosso apoio e incentivo jamais teria ultrapassado as
dificuldades inerentes a realização deste trabalho. Bem hajam.
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Doutor Luís Picado Santos pela sua amizade, incentivo, disponibilidade, transmissão
de saber a nível científico e de vida que me fez enriquecer como técnico e pessoa, sem o seu
apoio este trabalho não teria sido possível.
Ao Prof. Doutor António Baptista pela sua amizade e sabedoria que em muito ajudaram a
ultrapassar os momentos difíceis durante este trabalho.
Ao Prof. Doutor Adelino Ferreira e a Eng. Arminda Almeida pela sua amizade e incentivo.
À Biosafe e em especial ao Eng. Fernando Fernandes, Eng. José Carvalho, Eng. Vera Silva e
Dra. Ângela Rodrigues, pela amizade, incentivo, apoio e contributo que tornaram possível
este trabalho.
Ao Eng. Eugénio da Biosafe pela sua amizade, disponibilidade e sabedoria que ajudaram a
ultrapassar momentos difíceis durante este trabalho.
À Tecnovia, S.A, em especial ao Eng.º Luís Guilherme e Eng. Soares Pires pela amizade,
incentivo e apoio na realização dos trechos experimentais em Messines.
Ao Eng. Eduardo Gomes, vice-presidente das Estradas de Portugal, pela autorização para a
realização da primeira obra em Portugal utilizando a técnica de fabrico desenvolvida neste
trabalho.
Ao Eng. Pedro Inácio, Eng. José Runa, Eng. Artur Mendes, Eng. Isabel Simões, Sr. Carapinha
e Sr. Paulo Grades do centro operacional sul de Santarém, e Eng. Helena Lima e Eng. Sílvia
Dias da sede de Almada do EP, por reunirem as condições necessárias para a realização do
trecho experimental na “EN 370 – Beneficiação entre Avis e o L. D. Portalegre / Évora”.
À Universidade do Minho e em especial ao Prof. Doutor Jorge Pais e ao Eng. Carlos Palha
pela sua disponibilidade e cooperação na realização de alguns ensaios de caracterização de
betume.
Ao Sr. João Correia pela sua amizade, incentivo, sabedoria e disponibilidade para colaborar
de forma entusiástica e dedicada que em muito ajudou a ultrapassar os momentos difíceis ao
longo destes anos.
Aos meus familiares (que Deus me deu) e aos meus amigos (que eu escolhi) por acreditarem.
A todos aqueles que não mencionei e que me ajudaram na concretização deste trabalho o meu
obrigada.
ÍNDICE
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 1
1.1 Enquadramento ............................................................................................................ 1
1.2 Objectivos .................................................................................................................... 5
1.2.1 Objectivo geral ...................................................................................................... 5
1.2.2 Objectivos específicos ........................................................................................... 6
1.3 Estrutura da Dissertação ............................................................................................... 8
1.4 Referências Bibliográficas ............................................................................................ 9
2 MISTURAS BETUMINOSAS COM BETUME - BORRACHA .................................. 11
2.1 Considerações Iniciais ................................................................................................ 11
2.2 Composição dos Pneus ............................................................................................... 11
2.3 Granulado de Borracha ............................................................................................... 14
2.3.1 Criogénica ........................................................................................................... 14
2.3.2 Trituração mecânica à temperatura ambiente ....................................................... 15
2.3.3 Características do granulado de borracha ............................................................. 16
2.4 Betume Convencional ................................................................................................ 18
2.5 Interacção do Betume Convencional com o Granulado de Borracha ........................... 21
2.6 Betume-Borracha ....................................................................................................... 22
2.7 Misturas Betuminosas com Betume-Borracha............................................................. 27
2.7.1 Processo por via húmida ...................................................................................... 28
2.7.2 Processo por via seca ........................................................................................... 47
2.8 Considerações Finais .................................................................................................. 58
2.9 Referências Bibliográficas .......................................................................................... 59
3 DESCRIÇÃO DOS MÉTODOS DE ANÁLISE ........................................................... 65
3.1 Considerações Iniciais ................................................................................................ 65
3.2 Metodologia dos Trabalhos ........................................................................................ 65
3.3 Agregados .................................................................................................................. 66
3.4 Caracterização do Betume Convencional e do Ligante ................................................ 70
3.4.1 Resiliência ........................................................................................................... 70
3.4.2 Viscosidade rotacional ......................................................................................... 71
3.5 Granulado de Borracha de Pneus Usados .................................................................... 72
3.5.1 Granulometria da borracha................................................................................... 73
3.5.2 Temperatura de incineração da borracha .............................................................. 73
3.5.3 Observação em microscópio óptico...................................................................... 74
3.5.4 Caracterização física da borracha ......................................................................... 75
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1.1 - Destino dos pneus usados anualmente gerados e recolhidos em Portugal
(Valorpneu, 2008) .......................................................................................................... 4
Figura 1.2 - Mapa de localização da origem dos agregados e dos trechos experimentais ......... 8
Figura 2.1 - Milhões de pneus depositados anualmente nos EUA (ARPG, 1993) .................. 11
Figura 2.2 - Estrutura geral e composição de um pneu (adaptado de Brasiltires, 2009) ......... 13
Figura 2.3 - Produção do granulado de borracha pelo processo criogénico (Recipneu, 2010) 15
Figura 2.4 - Produção do granulado de borracha por trituração mecânica à temperatura
ambiente (Dantas, 2004) ............................................................................................... 15
Figura 2.5 - Observação ao microscópio óptico do granulado de borracha (Feiteira Dias e
Picado-Santos, 2008) .................................................................................................... 16
Figura 2.6 -Evolução do envelhecimento do betume durante o fabrico, aplicação e serviço
(Shell, 2003)................................................................................................................. 19
Figura 2.7 - Variação do módulo de deformabilidade com o tempo de carga e com a
temperatura para materiais betuminosos (Shell, 2003) .................................................. 20
Figura 2.8 - Modelo de interacção entre o granulado de borracha e o betume convencional
(adaptado de Holleramn e Reed, 2000) ......................................................................... 21
Figura 2.9 - Mapas de pavimentos rodoviários construídos com betume-borracha no estado do
Arizona – EUA (Way, 1998) ........................................................................................ 28
Figura 2.10 - Produção de misturas betuminosas com betume-borracha por via húmida ....... 30
Figura 2.11 - Charles McDonald’s e “Band-Aids” (adaptado de Zareh e Way, 2009) ........... 31
Figura 2.12 - Lama Asfáltica de Betume-Borracha (adaptado de Zareh e Way, 2009) .......... 32
Figura 2.13 - Trecho Experimental de SAM e SAMI em Arizona (Zareh e Way, 2009) ........ 33
Figura 2.14 - SAM de Betume-Borracha (adaptado de Zareh e Way, 2009) .......................... 33
Figura 2.15 - SAMI de Betume-Borracha (adaptado de Zareh e Way, 2009) ........................ 34
Figura 2.16 - Execução de SAMI-BMB (Recipav, 2009) ...................................................... 35
Figura 2.17 - Curvas granulométricas da ARFC e ARAC (adaptado de Zareh e Way, 2009) 36
Figura 2.18 - Comportamento à fadiga (Sousa et al, 1999) ................................................... 37
Figura 2.19 - Comparação do módulo de deformabilidade (Sousa et al, 1999) ...................... 38
Figura 2.20 - Evolução do Ângulo de Fase (Sousa et al, 1999) ............................................. 38
Figura 2.21-Evolução da deformação permanente com o equipamento Wheel Tracking (Sousa
et al, 1999) ................................................................................................................... 39
Figura 2.22 - Comportamento à fadiga das misturas betuminosas com betume-borracha com e
sem envelhecimento (Antunes et al, 2000) .................................................................... 40
Figura 3.17 - Curvas histeréticas de tensão-extensão (ângulos de fase de 0º, 45º e 90º)
(Baptista, 2006) ............................................................................................................ 91
Figura 3.18 - Evolução típica da tensão, da extensão e do módulo de deformabilidade, em
ensaio de fadiga em extensão controlada e em tensão controlada (Baptista, 2006) ........ 93
Figura 3.19 - Aspectos de equipamentos laboratoriais que permitem a simulação laboratorial
de tráfego sobre lajes .................................................................................................... 98
Figura 3.20 - Zonas climáticas de Portugal Continental (Baptista e Picado-Santos, 2002)..... 99
Figura 3.21 - Equipamento do ensaio de simulação de tráfego – Wheel Tracking ............... 100
Figura 3.22 - Principio do ensaio de carga com o Deflectómetro de Impacto (Domingos,
2007).......................................................................................................................... 101
Figura 3.23 - Caracterização da irregularidade longitudinal (adaptado de Delanne, 1997) .. 103
Figura 3.24 - Equipamento Laser utilizado para medição do Índice de Irregularidade
Longitudinal (Consultrada, 2009-a) ............................................................................ 103
Figura 3.25 - Metodologia do ensaio de Mancha de Areia (Branco et al, 2008) .................. 106
Figura 3.26 - Material para o ensaio de mancha de areia (Consulstrada, 2009-a) ................ 107
Figura 3.27 - Equipamento Texturómetro “LaserProf” Greenwood utilizado para medição da
Macro-textura (Consulstrada, 2009a) .......................................................................... 108
Figura 3.28 - Emissor Laser: principio de medição da textura superficial (Branco et al, 2008)
................................................................................................................................... 108
Figura 3.29 - SCRIM: Principio de medição do atrito transversal (Pereira e Miranda, 1999)
................................................................................................................................... 110
Figura 3.30 - Equipamento GripTester utilizado na medição do Coeficiente de Atrito
(Mastrad, 2010) .......................................................................................................... 111
Figura 4.1 - Distribuição granulométricas dos agregados riólito-dacíticos de acordo com
peneiros ASTM .......................................................................................................... 120
Figura 4.2 - Distribuição granulométricas dos agregados riólito-dacitícos de acordo com
peneiros ISO .............................................................................................................. 121
Figura 4.3 - Resultados da Penetração – Fase 1 e 2 – Laboratório....................................... 123
Figura 4.4 - Resultados do Ponto de Amolecimento – Fase 1 e 2 – Laboratório ................. 124
Figura 4.5 - Resultados da Resiliência – Fase 1 e 2 – Laboratório ...................................... 126
Figura 4.6 - Resultados da Viscosidade de Brookfield – Fase 1 e 2 – Laboratório............... 127
Figura 4.7 - Curva granulométrica do granulado de borracha.............................................. 129
Figura 4.8 - Evolução da temperatura de incineração do granulado de borracha de trituração
mecânica e criogénica ................................................................................................ 130
Figura 4.9 - Aspecto da morfologia da borracha ao microscópio óptico .............................. 131
Figura 4.10 - Morfologia do granulado de borracha à temperatura de 170ºC, 180ºC, 190ºC,
200ºC, 210ºC e 220ºC ................................................................................................ 132
Figura 4.11 - Granulado de borracha a 170ºC (B1B, B2B e B3B) ....................................... 134
Figura 4.12 - Desvulcanização e carbonização da borracha a 210ºC (B1, B2 e B3) ............. 135
Figura 4.13 - Granulado de borracha a 185ºC-195ºC (VH) ................................................. 135
Figura 4.41 - Curva granulométrica das misturas betuminosas dos trechos experimentais de
Messines e os limites impostos no CET EP (EP, 2009) ............................................... 177
Figura 4.42 - Separação física do granulado de borracha e dos agregados........................... 178
Figura 4.43 - Módulos de deformabilidade à temperatura de 20ºC ...................................... 180
Figura 4.44 - Ângulos de fase à temperatura de 20ºC ......................................................... 181
Figura 4.45 - Módulos de deformabilidade à temperatura de 30ºC ...................................... 181
Figura 4.46 - Ângulos de fase à temperatura de 30ºC ......................................................... 182
Figura 4.47 - Módulos de deformabilidade à temperatura de 40ºC ...................................... 182
Figura 4.48 - Ângulos de fase à temperatura de 40ºC ......................................................... 183
Figura 4.49 - Representação gráfica dos ensaios de fadiga e respectivas leis à temperatura de
20ºC ........................................................................................................................... 184
Figura 4.50 - Representação gráfica dos ensaios de fadiga e respectivas leis à temperatura de
30ºC ........................................................................................................................... 185
Figura 4.51 - Extensão admissível em função do número de ciclos - ε6............................... 185
Figura 4.52 - Relação entre a deformação vertical média e o tempo de ensaio de 60ºC ....... 187
Figura 4.53 - Relação entre a deformação vertical média e o tempo de ensaio de 50ºC ....... 188
Figura 4.54 - Localização geográfica do troço da EN 370................................................... 190
Figura 4.55 - Distribuição granulométricas dos agregados granodioríticos de acordo com
peneiros ASTM .......................................................................................................... 193
Figura 4.56 - Distribuição granulométricas dos agregados granodioríticos de acordo com
peneiros ISO .............................................................................................................. 194
Figura 4.57 - Curva granulométrica da mistura de agregados utilizada no fabrico da mistura
betuminosa e limites impostos nas CTE de Avis (EP, 2007) ....................................... 196
Figura 4.58 - Curva granulométrica da mistura de agregados utilizada no fabrico da mistura
betuminosa e limites impostos pelo CET EP (EP, 2009) ............................................. 197
Figura 4.59 - Resultados da Penetração – Fase 4 – Trecho de Avis ..................................... 198
Figura 4.60 - Resultados do Ponto de Amolecimento – Fase 4 – Trecho de Avis ................ 198
Figura 4.61 - Resultados da Resiliência – Fase 4 – Trecho de Avis..................................... 199
Figura 4.62 - Resultados da Viscosidade de Brookfield – Fase 4 – Trecho de Avis ............. 200
Figura 4.63 - Aspecto da mistura betuminosa TA na central de betuminoso ....................... 201
Figura 4.64 -Incorporação manual de borracha na central de betuminoso ........................... 202
Figura 4.65 - Espalhamento e compactação da mistura betuminosa TA no trecho de Avis .. 203
Figura 4.66 - Extracção de lajes no pavimento do trecho de Avis ....................................... 203
Figura 4.67 - Curva granulométrica da mistura da betuminosa e os limites impostos pelas
CTE de Avis (EP, 2007) ............................................................................................. 205
Figura 4.68 - Curva granulométrica da mistura da betuminosa e os limites impostos no CET
EP (EP, 2009)............................................................................................................. 205
Figura 4.69 - Módulos de deformabilidade à temperatura de 20ºC ...................................... 207
Figura 4.70 - Ângulos de fase à temperatura de 20ºC ......................................................... 208
Figura 4.71 - Módulos de deformabilidade à temperatura de 30ºC ...................................... 208
Figura 4.93 - Histograma cumulativo dos valores do CAT calculados para troços de 5m,
Sentido Crescente – Via Direita (Consulstrada, 2009-c).............................................. 232
Figura 4.94 - Evolução dos valores do CAT calculados para troços de 5m, Sentido
Decrescente – Via Direita (Consulstrada, 2009-c)....................................................... 233
Figura 4.95 - Histograma cumulativo dos valores do CAT calculados para troços de 5m,
Sentido Decrescente – Via Direita (Consulstrada, 2009-c) .......................................... 233
Figura 5.1 - Análise comparativa do preço por tonelada do ligante de BBA (via húmida e
seca) e do betume convencional.................................................................................. 249
Figura 5.2 - Análise comparativa do preço por tonelada de mistura betuminosa fabricada com
ligante de BBA (via húmida e seca) e do betume convencional................................... 251
Figura 5.3 - Análise comparativa do preço por tonelada do ligante de BBM (via húmida e
seca) e do betume convencional.................................................................................. 252
Figura 5.4 - Análise comparativa do preço por tonelada de mistura betuminosa fabricada com
ligante de BBM (via húmida e seca) e betume convencional ....................................... 254
Figura 5.5 - Pistas dos ensaios de simulação de tráfego à escala real (adaptado de Way, 2010)
................................................................................................................................... 255
Figura 5.6 - Carotes extraídos do pavimento (adaptado de Way, 2010) ............................... 256
Figura 5.7 - Representação esquemática da estrutura-tipo ................................................... 257
Figura 5.8 - Representação esquemática das soluções das estruturas de pavimento alternativas
................................................................................................................................... 258
ÍNDICE DE QUADROS
Quadro 2.1 - Fusos granulométricos do granulado de borracha nos Estados Unidos e Portugal
..................................................................................................................................... 17
Quadro 2.2 - Constituição do betume convencional .............................................................. 18
Quadro 2.3 - Características do Betume-Borracha (ASTM D 6114, 1997) ............................ 23
Quadro 2.4 - Características do Betume-Borracha (Antunes et al, 2001) ............................... 23
Quadro 2.5 - Requisitos / Propriedades dos BBB (EP, 2009) ................................................ 24
Quadro 2.6 - Requisitos / Propriedades dos BBM (EP, 2009) ............................................... 25
Quadro 2.7 - Requisitos / Propriedades dos BBA (EP, 2009) ................................................ 26
Quadro 2.8 - Resultados das baridades e velocidades de deformação (Antunes et al, 2000) .. 41
Quadro 2.9 - Tempo de interacção física, baridades e velocidade de deformação (adaptado de
Antunes et al, 2000) ..................................................................................................... 43
Quadro 2.10 - Resultados dos ensaios de baridade e módulo (adaptado de Batista et al, 2006)
..................................................................................................................................... 45
Quadro 2.11 - Resultados das baridades e velocidades de deformação (adaptado de Batista et
al, 2006) ....................................................................................................................... 46
Quadro 2.12 - Especificações das misturas betuminosas segundo a metodologia PlusRide
(Takallou e Hicks, 1998) .............................................................................................. 48
Quadro 2.13 - Curva granulométrica da TAK genérico (Newcomb et al, 1994) .................... 48
Quadro 2.14 - Trechos experimentais por via seca em Espanha (CEDEX, 2007) .................. 51
Quadro 2.15 - Características mecânicas da mistura betuminosa de alto módulo com borracha
(Aracil et al, 2009) ....................................................................................................... 52
Quadro 2.16 - Características mecânicas da mistura betuminosa descontínua anti-
fendilhamento com borracha (Aracil et al, 2009) .......................................................... 53
Quadro 2.17 - Características da mistura betuminosa de referência e com média percentagem
de borracha (Gallego, 2001) ......................................................................................... 56
Quadro 2.18 - Características da mistura betuminosa com alta percentagem de borracha
(Gallego e Santos, 2003) .............................................................................................. 58
Quadro 3.1 - Nomenclatura das misturas betuminosas em estudo ......................................... 66
Quadro 3.2 - Principais propriedades dos agregados das misturas betuminosas e respectivas
normas de ensaio .......................................................................................................... 67
Quadro 3.3 - Propriedades geométricas dos agregados ......................................................... 69
Quadro 3.4 - Propriedades mecânicas e físicas dos agregados .............................................. 69
Quadro 3.5 - Características da borracha (CTE de Avis (EP, 2007), o DA15 (LNEC, 2008) e
ASTM D 6114 (ASTM D 6114, 1997) ......................................................................... 72
Quadro 3.6 - Faixa granulométrica especificada nas CTE de Avis (EP, 2007) e na DA15
(LNEC, 2008) .............................................................................................................. 73
Quadro 3.7 - Tipos de ensaios de flexão ............................................................................... 87
Quadro 3.8 - Características e metodologias de ensaio de simulação de tráfego em laboratório
..................................................................................................................................... 97
Quadro 3.9 - Temperaturas para avaliação da resistência à deformação permanente em
Portugal Continental (Freire, 2002) .............................................................................. 99
Quadro 3.10 - Configuração dos ensaios com o Deflectómetro de Impacto ......................... 102
Quadro 3.11 - Valores admissíveis de IRI (m/km), calculados por troços de 100 metros em
pavimentos com camada de desgaste betuminosa (EP, 2007) ...................................... 104
Quadro 3.12 - Classificação da irregularidade longitudinal (EP, 2007) ............................... 105
Quadro 3.13 - Textura superficial da camada de desgaste (EP, 2007) ................................. 105
Quadro 3.14 - Textura superficial da camada de MBR-VS (EP, 2007)................................ 106
Quadro 4.1 - Nomenclatura das misturas betuminosas estudadas em laboratório ................ 119
Quadro 4.2 - Distribuição granulométrica dos agregados riólito-dacitos de acordo com as CTE
de Avis (EP, 2007) ..................................................................................................... 119
Quadro 4.3 - Distribuição granulométrica dos agregados riólito-dacíticos de acordo com as
CET EP (EP, 2009) .................................................................................................... 120
Quadro 4.4 - Propriedades geométricas dos agregados de origem riólito-dacito .................. 121
Quadro 4.5 - Propriedades mecânicas e físicas dos agregados de origem riólito-dacito ....... 122
Quadro 4.6 - Distribuição granulométrica da borracha de trituração mecânica e criogénica de
acordo com as CTE de Avis (EP, 2007) ...................................................................... 129
Quadro 4.7 - Percentagem de borracha incinerada .............................................................. 134
Quadro 4.8 - Caracterização física do granulado de borracha.............................................. 136
Quadro 4.9 - Percentagem ponderal de cada fracção granulométrica na mistura de materiais
granulares................................................................................................................... 141
Quadro 4.10 - Valores médios de baridades e porosidades dos provetes de laboratório com a
evolução do tempo de interacção física ....................................................................... 144
Quadro 4.11 - Temperaturas de fabrico e compactação das misturas betuminosas, agregados e
do betume convencional ............................................................................................. 147
Quadro 4.12 - Valores médios das baridades e porosidades dos provetes prismáticos e das
lajes realizadas em laboratório .................................................................................... 151
Quadro 4.13 - Módulo de Deformabilidade e Ângulo de Fase – Temperatura de 20ºC ........ 152
Quadro 4.14 - Módulo de Deformabilidade e Ângulo de Fase – Temperatura de 30ºC ........ 152
Quadro 4.15 - Módulo de Deformabilidade e Ângulo de Fase – Temperatura de 40ºC ........ 153
Quadro 4.16 - Valores médios da velocidade de deformação e deformação vertical– Fase 1 e 2
................................................................................................................................... 161
Quadro 4.17 - Valores médios da velocidade de deformação e deformação vertical– Fase 1 e 2
................................................................................................................................... 163
Quadro 4.18 - Nomenclatura das misturas betuminosas dos trechos de Messines................ 167
Quadro 4.42 - Módulo de Deformabilidade e Ângulo de Fase – Temperatura de 20ºC ........ 206
Quadro 4.43 - Módulo de Deformabilidade e Ângulo de Fase – Temperatura de 30ºC ........ 207
Quadro 4.44 - Módulo de Deformabilidade e Ângulo de Fase – Temperatura de 40ºC ........ 207
Quadro 4.45 - Valores médios da velocidade de deformação e deformação vertical - Fase 4
................................................................................................................................... 213
Quadro 4.46 - Valores médios da velocidade de deformação e deformação vertical - Fase 4
................................................................................................................................... 214
Quadro 4.47 - Identificação das zonas assumidas para o pavimento existente ..................... 218
Quadro 4.48 - Resumo das condições de ensaio ................................................................. 219
Quadro 4.49 - Resumo dos Módulos de Deformabilidade (Consulstrada, 2009-b) .............. 221
Quadro 4.50 - Frequências dos valores de IRI obtidos na EN 370, com base nas médias de
100/100 m (Consulstrada, 2009-a) .............................................................................. 225
Quadro 4.51 - Média dos valores de profundidade de textura superficial a Laser
(Consulstrada, 2009-a) ............................................................................................... 225
Quadro 4.52 - Média dos valores de profundidade de textura superficial obtidos a laser
(Consulstrada, 2009-a) ............................................................................................... 230
Quadro 4.53 - Média dos valores do CAT por via (Consulstrada, 2009-c) .......................... 234
Quadro 5.1 - Preçário dos materiais (por tonelada) e da transformação do betume-borracha
por via húmida ........................................................................................................... 247
Quadro 5.2 - Preço por tonelada do BBA (via húmida e seca) e do betume convencional ... 249
Quadro 5.3 - Custo por tonelada de fabrico de mistura com BBA por via húmida e seca e com
betume convencional .................................................................................................. 250
Quadro 5.4 - Preço por tonelada do ligante BBM (via húmida e seca) e do betume
convencional .............................................................................................................. 252
Quadro 5.5 - Custo por tonelada de fabrico de mistura com BBM por via húmida e seca e com
betume convencional .................................................................................................. 253
Quadro 5.6 - Capacidade de carga da estrutura tipo ............................................................ 258
Quadro 5.7 - Custo por tonelada de fabrico de mistura betuminosa em macadame ............. 259
Quadro 5.8 - Quantidade de misturas betuminosas (toneladas) ........................................... 260
Quadro 5.9 - Custos da execução das soluções de pavimento ............................................. 260
Quadro 5.10 - Redução de custos de execução das soluções alternativas ............................ 260
Quadro 5.11 - Redução de custos finais de execução das soluções alternativas ................... 261
SIMBOLOGIA E ABREVIATURAS
A – amplitude de irregularidade
a – inclinação da recta
a, b – parâmetros que dependem das características das misturas betuminosas
Aa – profundidade média da textura superficial
b – comprimento da área de medição
Bm – baridade da mistura ou massa volúmica da mistura
Bt – baridade máxima teórica ou massa volúmica máxima
Btbr – baridade máxima teórica ou massa volúmica máxima com incorporação de borracha
C – compressão residual
Dm – deflexão medida
Dn – deflexão normalizada
E* – módulo complexo
E1 – parte real do módulo complexo
E2 – parte imaginária do módulo complexo
F1 – força de rotura média da primeira série de provetes
F2 – força de rotura média da segunda série de provetes
Fm – força medida
h – espessura média do provete
h0 – espessura inicial do provete
h1 – espessura do provete após recuperação
hs – altura do espaçador
L – vão entre os apoios externos nos ensaios de flexão
M – valor médio das deflexões
m1 – massa da borracha
m2 – massa da borracha deduzida da massa de igual volume de água, determinada pela
pesagem em água, ambas à temperatura normalizada
mb – massa de betume e/ ou ligante
ma – massa de agregado
mbr – massa de borracha
mt – massa total
n – porosidade ou volume de vazios
N – número de carregamentos aplicados no provete até à rotura
Nb – número admissível de eixos padrão de 130 kN resultante do critério de fadiga das misturas
betuminosas
Nf – número admissível de eixos padrão de 130 kN resultante do critério de deformação
permanente
N130dim – número acumulado de passagens de eixos padrão de 130 kN para dimensionamento
P1 – massa inicial dos provetes
P2 – massa final dos provetes após o desgaste
PC – Perda de massa
pa – percentagem de agregado
pai – percentagem de cada um dos agregados na mistura
pbri – percentagem de borracha na mistura
pb – percentagem de betume
PBBA – Preço de betume-borracha
PBet – Preço do betume convencional
PBor – Percentagem de borracha
R – raio médio do circulo obtido com o espalhamento do material
RC – Resistência conservada
Sb – grau de saturação em betume
TVB – teor volumétrico em betume ou percentagem volumétrica de betume
Tr – Preço da transformação
t – tempo de carga
ti – intervalo de tempo entre um ciclo de carregamento e um ciclo de deslocamento
tp – duração dum ciclo de carregamento
tb – teor em betume
va – percentagem volumétrica de agregado
Vv – volume de vazios
Vb – volume de betume e ou ligante
Va – volume de agregado
Vbr – volume de borracha
vbr – percentagem volúmetrica de borracha
Vt – volume total
V – volume de material espalhado
VMA – volume de vazios do esqueleto de agregado
γ – factor de forma
ΔF – amplitude da carga
Δmconst – valor definido para a perda de massa, em mg, do provete composto de referência
Δmrt – perda de massa, em mg, do provete composto de referência
Δmt – perda de massa, em mg, do provete de borracha de ensaio
ΔVrel – perda relativa de volume por abrasão
Δz – amplitude do deslocamento
εt – amplitude da extensão de tracção ocorrida em cada carregamento
ε6 – extensão que seria necessário aplicar em cada ciclo para conduzir à ruína do provete ao
fim de 1 milhão de ciclos
tmax – extensão máxima de tracção na base das camadas betuminosas
cmax – extensão vertical máxima no topo da fundação
– ângulo de fase
λ – comprimento de onda
ρ – massa específica
ρa – massa volúmica do agregado
ρai – massa volúmica das partículas secas
ρbr – massa volúmica da borracha
ρb – massa volúmica do betume
ρbri – massa volúmica das partículas de borracha secas
ρt – massa volúmica
σ – amplitude da tensão de tracção aplicada em cada carregamento
σ’ – desvio padrão
μ – factor de massa
X – distância horizontal
X0 – fase do deslocamento
Y – Desnivelamento
ω – frequência
GLOSSÁRIO
Betume modificado com borracha (BMB) – ligante resultante da interacção entre o betume
convencional e o granulado de borracha pelo processo de fabrico por via húmida e antes do
fabrico das misturas betuminosas.
1 INTRODUÇÃO
1.1 Enquadramento
O pneu possui um papel fundamental tanto no transporte rodoviário de passageiros como no
transporte de cargas. Sendo um componente com período de vida limitado, tem associada a
questão da sua eliminação. Os elevados volumes de pneus em fim de vida, quer a nível
nacional, quer a nível mundial, constituem um considerável problema ambiental. Nos últimos
anos a comunidade científica e tecnológica ligada à problemática em questão tem
desenvolvido várias metodologias no sentido de reciclar e reaproveitar os pneus usados. Uma
das aplicações dos materiais obtidos tem sido a sua utilização em pavimentos rodoviários.
Charles McDonald patenteou nos Estados Unidos da América, nos anos 60, o fabrico de
betume com incorporação de granulado de borracha de pneus usados. Utilizou o método via
húmida e usou o produto final para a aplicação em tratamentos superficiais. Em 1985, a
utilização de betumes modificados com borracha no fabrico de misturas betuminosas
começou a generalizar-se nos estados do Arizona e da Califórnia.
Nos Estados Unidos, depois de grandes incêndios em depósitos a céu aberto de pneus usados,
que provocaram a contaminação do ar, da água e do solo, surgiu o interesse no
desenvolvimento da tecnologia visando a reutilização da borracha de pneus usados em obras
de engenharia. Em 1991, ainda nos EUA, a Lei sobre a Eficiência do Transporte Intermodal
Segundo Antunes et al, 2001, a primeira aplicação em Portugal de misturas betuminosas com
ligante em betume modificado com borracha por via húmida (BMB) em pavimentos
rodoviários, ocorreu em 1999, nomeadamente em camadas de desgaste de dois troços das
EENN 104 e 105, numa extensão de cerca de 30 km. Estes dois troços compreenderam a
execução de camadas de desgaste em mistura betuminosa rugosa (MBR) com BMB. Estas
possuíam uma espessura nominal de 60 mm e uma percentagem de ligante de 7%. As
percentagens ponderais de betume convencional e de granulado de borracha utilizada no
fabrico do BMB foram de 82% e de 18%, respectivamente.
Desde então, a aplicação de misturas betuminosas com BMB, sempre produzido por via
húmida, aumentou de forma significativa, quer em obras de construção/reabilitação de
pavimentos de Estradas Municipais e Nacionais, quer nos Itinerários Complementares (IC),
Itinerários Principais (IP) e Auto-Estradas (Rodrigues, 2005). Desde 1999 até 2006 foram
produzidas em Portugal cerca 23.000 toneladas de BMB que correspondem a cerca de
267.000 toneladas de misturas betuminosas, as quais foram aplicadas na pavimentação de
estradas e auto-estradas (Fonseca e Barros, 2006). No entanto, estes números ainda estão
longe de serem significativos, uma vez que nos piores anos o consumo anual em Portugal de
misturas betuminosas de todo o tipo se tem situado nos 6 milhões de toneladas.
Após a revisão introduzida pelo Decreto-Lei 43/2004 e até Janeiro de 2007, os objectivos da
Valorpneu são traduzidos quantitativamente nos seguintes termos:
Recolha de, pelo menos, 95% dos pneus usados anualmente gerados;
Recauchutagem de, pelo menos, 30% dos pneus usados anualmente gerados;
Reciclagem de, pelo menos, 65% dos pneus anualmente recolhidos e não
recauchutados;
Valorização energética dos restantes pneus recolhidos e não reciclados.
Na Figura 1.1 apresenta-se os diversos destinos (em toneladas) dos pneus usados anualmente
gerados e recolhidos no âmbito do SGPU (Valorpneu, 2008).
Figura 1.1 - Destino dos pneus usados anualmente gerados e recolhidos em Portugal
(Valorpneu, 2008)
A Figura 1.1 mostra que no ano de 2007 foram atingidos os objectivos impostos pelo Decreto-
Lei 43/2004, no que diz respeito à taxa de recolha no âmbito do SGPU e à taxa de reciclagem
(valores de 98,5% e 65,6%, respectivamente).
Em Fevereiro de 2009, a empresa Estradas de Portugal, S.A (EP), entidade responsável por
assegurar a concepção, a construção, a conservação e a exploração da rede rodoviária nacional
que lhe está concessionada (parte muito importante da rede rodoviária nacional), descreveu no
seu Caderno de Encargos Tipo reformulado – CET EP (EP, 2009), as condições técnicas para
a utilização de misturas betuminosas executadas com um ligante betuminoso incorporando
borracha, nomeadamente proveniente da reciclagem de pneus em fim de vida em pavimentos
rodoviários. A descrição expressa no Volume V: 03 – Pavimentação – Capítulo 14.03 do CET
EP (EP, 2009), define três tipos de BMB:
BBB – Betume de baixa viscosidade modificado com granulado de borracha (inferior
a 8% em relação à massa total do ligante);
BBM – Betume de média viscosidade modificado com granulado de borracha (8 a
15% em relação à massa total do ligante);
BBA – Betume de alta viscosidade modificado com granulado de borracha (superior a
18% em relação à massa total do ligante).
1.2 Objectivos
O granulado de borracha de pneus utilizado neste trabalho é proveniente, quer dos processos
de trituração mecânica à temperatura ambiente, adiante designado por “borracha de trituração
mecânica - TM”, quer da tecnologia criogénica, adiante designada por “borracha criogénica -
CR”, a qual é de uso mais corrente no fabrico de betumes modificados com incorporação de
borracha em Portugal. Em ambos os tipos de borracha, foram determinados os pontos de
incineração antes da sua utilização no fabrico das misturas betuminosas. Foram ainda
realizadas a caracterização física e a análise microscópica da borracha utilizada antes do
fabrico das misturas betuminosas e após o fabrico das misturas estudadas em laboratório por
via seca e da mistura fabricada em in situ por via húmida
A Figura 1.2 ilustra a origem dos agregados e a localização geográfica dos trechos
experimentais.
AVIS
MONTEMOR-O-NOVO
OURIQUE
MESSINES
Figura 1.2 - Mapa de localização da origem dos agregados e dos trechos experimentais
O Capítulo 4 relata os resultados dos ensaios realizados sobre os constituintes das misturas
(agregados, granulado de borracha, betume convencional e betume-borracha) e
posteriormente sobre as misturas produzidas inicialmente em laboratório e seguidamente em
trechos experimentais: (i) trechos de Messines; (ii) trecho de Avis.
O Capítulo 5 sublinha as recomendações que devem ser consideradas aquando do fabrico das
misturas betuminosas com incorporação de borracha, quer utilizando a via húmida, quer
usando a via seca, para aproveitar ao máximo o desempenho mecânico destas misturas em
pavimentos rodoviários. Efectua ainda uma análise económica das misturas betuminosas
estudadas neste trabalho comparando-as com as produzidas pelo processo de fabrico por via
húmida e uma mistura betuminosa tradicional. Para tal usa-se como referência a estrutura dum
pavimento actualmente em construção em Portugal e a redução de custos possível caso se
opte por utilizar misturas betuminosas com incorporação de borracha em camada de desgaste
em substituição duma mistura betuminosa tradicional equivalente.
Antunes, M.L., Batista, F.A. Eusébio, I. e Costa, M. (2001). “Estudos relativos à utilização de
misturas betuminosas descontínuas com betume modificado com borracha na reabilitação
de pavimentos das EENN 104 e 105”. LNEC, Relatório 257/01-DVC-DMC, 92, Lisboa.
EP (2009). “Caderno de Encargos Tipo Obras”. Estradas de Portugal. Almada. Portugal
Epps, J.A. (1994) “Uses of recycled rubber tires in highways". National Cooperative Highway
Research Program”. Synthesis of Highway Practice, Transportation Research Board,
n.198, p. 1-162, Washington, EUA.
Fonseca, P. e Barros, R. (2006). “A utilização do betume modificado com borracha (BMB)
em Portugal: A experiencia adquirida ao longo de 7 anos nas obras em serviço”. Actas do
IV Congresso Rodoviário Português. CD Ed., 18.pdf, p1-9. Estoril, Portugal.
LNEC (2006). “Misturas betuminosas abertas com betume modificado com alta percentagem
de borracha – MBA-BMB. Documento de aplicação DA3. LNEC – Laboratório Nacional
de Engenharia Civil, Lisboa.
LNEC (2008). “Misturas betuminosas rugosas com betume modificado com alta percentagem
de borracha – MBR-BMB. Documento de aplicação DA15. LNEC – Laboratório Nacional
de Engenharia Civil, Lisboa.
Rodrigues, Z. (2005). “Betume modificado com borracha (BMB): Especificação para o
caderno de encargos”. Jornadas de Normalização, Estradas de Portugal, Almada.
Valorpneu (2008). “Relatório Anual e Contas 2007”. Página da internet consultada em
Dezembro de 2008. http://www.valorpneu.pt/.
Figura 2.1 - Milhões de pneus depositados anualmente nos EUA (ARPG, 1993)
José Luís Feiteira Dias 11
MISTURAS BETUMINOSAS INCORPORANDO POR VIA SECA BORRACHA DE PNEUS USADOS
Estima-se que cerca de 285 milhões de pneus, o equivalente a mais de 2 milhões de toneladas
de borracha, são depositados (Figura 2.1) anualmente nos Estados Unidos. Mundialmente,
estima-se que este valor seja superior a 2 bilhões de unidades por ano (Greca e Junior, 2003).
Uma das principais aplicações da borracha vulcanizada sempre foi a do fabrico de pneus de
veículos rodoviários.
A primeira fase de fabricação de pneus é a preparação do composto, formado por vários tipos
de borracha natural e sintética, negro de fumo e pigmentos químicos, tais como,
plastificadores, aceleradores e antioxidantes.
A segunda fase de fabricação é a formação da primeira estrutura do pneu (Figura 2.2) que é
constituída pela carcaça, talão, os aros de talão, os flancos de borracha macia e lonas de
reforço.
Por fim, a estrutura do pneu é colocado numa prensa sob determinada temperatura, pressão e
intervalo de tempo, processo designado por vulcanização.
Uma capa de borracha sintética muito estanque ao ar. Esta capa encontra-se no
interior do pneu e funciona como câmara-de-ar.
A carcaça, que é constituída por finos cabos de fibras têxteis dispostas em ângulos
rectos e colados na borracha. Estes cabos são um elemento chave da estrutura do pneu
e permitem-lhe resistir à pressão. Numa carcaça de pneu de automóvel, existem cerca
de 1400 cabos que podem resistir, cada um, a uma força de 15 kg.
Um talão cuja função é transmitir os binários motor e de travagem da jante à área de
contacto com o solo.
Os aros de talão servem para fixar o pneu na jante. Podem suportar até 1800 kg sem
risco de ruptura.
Os flancos de borracha macia protegem o pneu contra os choques que poderiam
causar danos na carcaça, como pequenos choques contra o passeio, buracos, etc. Uma
borracha dura assegura a ligação entre o pneu e a jante.
Lonas de reforço, as quais são feitas com cabos de aço muito finos, mas muito
resistentes, são cruzadas obliquamente e coladas uma sobre a outra. O cruzamento dos
seus fios com os da carcaça forma triângulos indeformáveis.
A banda de rodagem é disposta sobre as lonas de reforço. Esta parte do pneu, que
receberá as esculturas, ficará em contacto com a estrada. Na área de contacto com o
2.3.1 Criogénica
Os fragmentos de pneus usados são sujeitos a um arrefecimento criogénico, usando nitrogénio
líquido a temperaturas negativas extremamente baixas (87ºC a 198ºC), de forma a ultrapassar
a temperatura de transição vítrea de todos os polímeros constituintes da borracha.
Posteriormente os fragmentos de pneus arrefecidos são transportados para os moinhos de
martelos com alta energia de impacto de acordo com a granulometria desejada (Figura 2.3).
Fase 2: Armazenagem temporária, após trituração inicial de pedaços de borracha (10 a 15 cm) e antes de entrar
no túnel criogénico
Fase 3: Entrada dos pedaços de borracha no túnel criogénico, encontrando-se o Moinho de martelos localizado
no final do túnel criogénico
Fase 4: Secador. Remover a humidade das partículas de borracha que estiveram em contacto com o azoto sob
forma dos pedaços de 10-15 cm
Figura 2.3 - Produção do granulado de borracha pelo processo criogénico (Recipneu, 2010)
De acordo com a norma ASTM D 6114 (ASTM D 6114, 1997) o granulado de borracha
utilizado na modificação de betume convencional deve ter no máximo 0,75% de humidade,
massa específica de 1,15±0,05 g/cm3, um valor máximo em teor de 0,01% de metais e 0,1%
de fibra.
Quadro 2.1 - Fusos granulométricos do granulado de borracha nos Estados Unidos e Portugal
DA3
CTE de
Abertura DoT DoT DoT CET EP e DA15
DoT Avis
dos DoT Arizona Florida Florida Florida (EP, (LNEC,
Califórnia (EP,
peneiros Tipo A Tipo B Tipo C 2009) 2006 e
2007)
(mm) 2008)
Percentagem acumulada de material que passa
2,38 --- 100 --- --- --- --- --- ---
2,00 100 95-100 --- --- 100 --- --- 100
1,18 65-100 40-80 --- --- --- 100 100 65-100
1 --- --- --- --- --- 98-100 --- ---
0,085 --- --- --- 100 85-100 --- 95-100 ---
0,060 20-100 5-30 --- --- --- --- 85-100 20-100
0,5 --- --- --- --- --- 60-94 --- ---
0,43 --- --- 100 85-100 20-60 --- 45-90 ---
0,297 0-45 0-15 --- --- --- --- --- 0-45
0,250 --- --- --- --- --- 5-25 5-25 ---
0,177 --- --- 90-100 10-50 5-20 --- --- ---
0,149 --- --- 70-90 5-30 --- --- --- ---
0,074 0-5 0-3 35-60 --- --- --- 0-5 0-5
0,063 --- --- --- --- --- 0-3 ---
O DoT do Estado da Florida nos EUA especifica cada tipo de fuso granulométrico de acordo
com a percentagem mínima de incorporação de borracha nas misturas betuminosas
(FHWA/USDOT, 1995).
O fuso granulométrico especificado nas CTE de Avis (EP, 2007) e de uso corrente em
Portugal é igual ao fuso indicado pelo DoT do Estado do Arizona nos EUA.
Segundo Dueñas et al, 2009, o betume é constituído fundamentalmente por dois grupos
químicos designados por asfaltenos e maltenos. O último grupo pode ser ainda dividido em
quatro subgrupos conforme descrito no Quadro 2.2.
Os asfaltenos são sólidos amorfos, insolúveis em hepatano normal, de cor preta ou castanha,
contendo para além de carbono e hidrogénio, algum nitrogénio, enxofre e oxigénio. São
geralmente considerados materiais aromáticos, altamente polarizados, de peso molecular
relativamente elevado. A quantidade de asfaltenos tem um efeito significativo nas
características reológicas do betume. Quanto maior for a quantidade de asfaltenos mais duro
será o betume. Os asfaltenos constituem cerca de 5 a 25% do betume asfáltico. Os saturados,
aromáticos e resinas são os principais componentes dos maltenos (Branco et al, 2008).
As P
Ic (2.2)
N A1 A2
que relaciona os componentes sólidos presentes no sistema (Alfaltenos e Parafinas) com os
componentes líquidos dispersantes. Os valores adequados deste parâmetro para os betumes
convencionais devem ser inferiores a 1,0.
Sob temperaturas altas e/ou com longos tempos de aplicação de carga, o betume comporta-se
essencialmente como um líquido Newtoniano, sendo a viscosidade independente da taxa de
aplicação de carga (Figura 2.7).
constantemente no sentido das propriedades GEL, o que leva a que o betume fique com
menor susceptibilidade térmica (Arieira et al, 2006).
Na produção de BMB por via húmida, o betume convencional é previamente aquecido a uma
temperatura aproximada de 190ºC antes da adição do granulado de borracha (LNEC, 2008).
Esta temperatura conduz a um aumento do índice de envelhecimento durante o processo de
armazenamento e fabrico.
No processo de fabrico por via seca, estudada neste trabalho, o betume convencional é
aquecido à temperatura de 155ºC, conduzindo a um menor índice de envelhecimento durante
o seu armazenamento e fabrico, do que o obtido utilizando a via húmida.
Fracções
Leves
Betume Convencional
Fase 1
GEL
Betume
Fase 2
Segundo Specht, 2004, o aumento de volume do granulado de borracha é uma difusão e não
uma reacção química (não há ligações livres no granulado de borracha para ocorrer interacção
química com o betume convencional) e ocorre um movimento do líquido em direcção ao
interior do granulado de borracha.
Takallou e Takallou, 2003, sugerem que não ocorrem reacções entre o granulado de borracha
e o betume convencional e que a borracha actua como aditivo e não como um agente
modificador.
Segundo Feiteira Dias e Picado-Santos, 2008, corroborando por exemplo Specht, que existe
uma interacção física entre o granulado de borracha de pneus usados e o betume
convencional, ocorrendo movimento do betume convencional para o interior da borracha o
que conduz a comportamento final diferente do betume convencional. Esta interacção é
influenciada pela granulometria da borracha e a tecnologia de obtenção do granulado de
borracha (trituração mecânica ou criogénica).
Segundo Hicks e Epps, 2000, as propriedades finais dos ligantes modificados com borracha
depende das propriedades físicas e químicas da borracha, da sua concentração e dimensões,
das propriedades físicas e químicas do betume convencional e da sua concentração, e das
condições de “reacção” borracha/betume, nomeadamente a duração e temperatura de
“reacção”, da energia de agitação, tipo de solventes e aditivos usados, sua concentração, do
tempo de aplicação, e do processo de “reacção” adoptado.
2.6 Betume-Borracha
A norma ASTM D 6114 (ASTM D 6114, 1997) especifica as características físicas para o
betume-borracha conforme apresentado no Quadro 2.3. Relativamente aos tipos de betume-
borracha (I, II ou III), a escolha está relacionada com a temperatura da região em que o
material será aplicado. O tipo I é recomendado para regiões com temperaturas entre -1 ºC e 43
ºC (ou superiores); o tipo II deve ser utilizado em regiões com temperaturas que variam entre
-9 ºC e 43 ºC; o tipo III é indicado para regiões com temperaturas entre -9 ºC e 27 ºC (ou
inferiores).
Betume Betume
Referência
Requisito/Propriedades Unidade Convencional Convencional
Normativa
35/50 50/70
Viscosidade cinemática, a 135ºC, mín. EN 12595 mm2/s 370 295
Betume Betume
Referência
Requisito/Propriedades Unidade Convencional Convencional
Normativa
35/50 50/70
Os betumes BBA não são estáveis ao armazenamento e são produzidos em obra na altura de
fabrico de misturas betuminosas, sendo designado este sistema de fabrico por “Continuous
Blend”.
Betume Betume
Referência
Requisito/Propriedades Unidade Convencional Convencional
Normativa
35/50 50/70
Viscosidade aparente, a 175ºC (viscosímetro
Brookfield com thermosel, haste SC4-27, EN 13302 mPa.s 2500 a 4500
20rpm)
Variação de
% +8
massa, máx.
Neste trabalho, o ligante recuperado após o fabrico de MBR-VS designou-se de igual forma
ao ligante obtido por via húmida, ou seja, por BBM e BBA, o que significa ligantes usados,
respectivamente, para as misturas betuminosas com média e alta percentagem de incorporação
de borracha por via seca. De acordo com CET EP (EP, 2009) estes ligantes enquadram-se no
intervalo de percentagem de borracha, que define os tipos de betumes modificados com
borracha.
A primeira aplicação foi feita numa rua na cidade de Phoenix, onde passados seis anos após a
sua construção, o pavimento não apresentava fendilhamento por reflexão. McDonald
continuou o trabalho experimental na cidade de Phoenix, juntamente com a empresa Atlos
Rubber Inc., onde foram construídos trechos no Phoenix Sky Harbor International Airport,
em 1966. No início da década de 90 já existiam cerca de 16000 quilómetros de pavimentos
rodoviários construídos com betume-borracha e no final de 2000 este valor já ultrapassava os
28000 quilómetros apenas no estado de Arizona, conforme se pode observar na Figura 2.9
(Way, 1998).
A norma ASTM D 6114 (ASTM D 6114, 1997) define da seguinte maneira o betume-
borracha por via húmida: uma mistura de betume convencional, certos aditivos e borracha de
pneus usados onde esta deve estar numa percentagem não inferior a 15% e reagir com o
betume convencional a uma temperatura suficiente para permitir o aumento do volume do
granulado de borracha.
Segundo Antunes et al, 2002, o betume convencional tem de estar a uma temperatura
compreendida entre os 175ºC e os 220ºC, aquando da adição da borracha, permanecendo em
contacto durante 45 minutos, a uma temperatura de 180ºC.
Segundo Minhoto et al, 2002, o contacto do betume convencional e da borracha, ocorre a altas
temperaturas (entre 160ºC a 210ºC), durante um determinado período de tempo de “reacção”
(entre 60 e 240 minutos), sendo em seguida adicionado ao agregado.
Os documentos DA3 (LNEC, 2006) e DA15 (LNEC, 2008) preconizam uma temperatura de
contacto entre o betume convencional e o granulado de borracha de aproximadamente 190ºC,
por um período mínimo de 30 minutos, geralmente entre 45 e 150 minutos, permanecendo a
uma temperatura de 185ºC.
Como se percebe do que foi descrito, várias experiências em todo mundo têm procurado a
melhor receita para misturar granulado de borracha com betume convencional, de forma a
resultar um produto final, vulgarmente designado por betume-borracha, com melhores
características que o betume convencional. Todos são unânimes em afirmar que deve existir
um tempo mínimo de interacção e um intervalo de temperatura para tal, a considerar para a
mistura entre o betume convencional e o granulado de borracha de forma a ter a melhor
qualidade final. Parece que pode inferir-se que no que diz respeito ao intervalo de tempo pode
haver necessidade de o considerar entre 45 minutos e 4 horas, e no que diz respeito à
temperatura de interacção o intervalo bom deve estar entre os 160ºC e os 220ºC.
Figura 2.10 - Produção de misturas betuminosas com betume-borracha por via húmida
O processo por via húmida é o mais aplicado para o fabrico de diversas soluções de misturas
betuminosas com betume-borracha. Descrevem-se de seguida as características dessas
soluções (Tapa Buracos – “Band-Aids”; Lama Asfáltica (Slurry Seal) de Betume -Borracha;
Técnicas “anti-fendas”; Misturas Betuminosas a Quente com Betume-Borracha) de forma a
estabelecer uma referência que se possa usar para comparação.
Charles McDonald
Inventor do
Betume-Borracha
Tapa Buracos
“Band – Aids”
MacDonald
aplicando
Tapa Buracos
“Band – Aids”
em 1966
Segundo Zareh e Way, 2009, na primeira aplicação desta técnica ocorreram dois problemas de
construção distintos:
De forma a alcançar a interacção desejada entre o betume convencional e o granulado
de borracha no tempo limitado disponível no equipamento de espalhamento, foi
necessário aquecer o betume a uma temperatura igual ou superior a 232ºC, já que estes
equipamentos não estavam preparados para bombas de agitação com capacidade para
lidar com material de elevada viscosidade;
A espessura da lama asfáltica variou directamente com as irregularidades do
pavimento, tendo resultado num excesso de material nas áreas com rodeiras e
insuficiência de material entre as duas rodeiras.
Aplicação de
Lama Asfáltica com betume-
borracha em 1970
Técnicas “anti-fendas”
Segundo Branco et al, 2008, nos pavimentos com elevada densidade e severidade de
fendilhamento, a existência de fendas activas (as fendas cujos bordos apresentam
movimentos, em particular verticais, sob a acção de cargas dos veículos pesados) no antigo
pavimento, suporte de reforço, terá como resultado a sua propagação para as camadas de
reforço. A propagação de fendas compromete definitivamente a eficácia, e a duração do
reforço, conduzindo à perda precoce de capacidade estrutural. Para resolver esta situação
podem ser consideradas duas abordagens: (i) métodos destinados a eliminar a origem do
desenvolvimento do fenómeno de propagação das fendas, a qual consiste na fresagem da
camada de pavimento fendilhada e a construção de um pavimento novo ou no reforço
posterior à fresagem; (ii) métodos destinados a potencialmente eliminá-lo ou a reduzir a
velocidade do seu desenvolvimento, que consiste na reabilitação de camadas de reduzida
espessura com o objectivo de reduzir os esforços de corte que tendem a fendilhar as camadas
superiores do novo reforço do pavimento, que atendendo à sua função são conhecidas pelas
Siglas SAM (Stress Absorving Membrane) e SAMI (Stress Absorving Membrane Interlayer).
SAM e uma SAMI, sobre uma camada de mistura betuminosa a quente que se apresentava
bastante fendilhada, conforme se pode observar na Figura. 2.13 (Zareh e Way, 2009).
Figura 2.13 - Trecho Experimental de SAM e SAMI em Arizona (Zareh e Way, 2009)
As aplicações de SAM (Figura 2.14) e SAMI (Figura 2.15) mostram um grande potencial na
redução da propagação de fendas (Way, 1979).
Gravilha
Membrana de betume-borracha
Pavimento Existente
Pavimento Existente
Para Hicks et al, 1995, a SAM consiste num “revestimento superficial” de betume-borracha e
gravilha, normalmente utilizado para prevenir e/ou retardar o aparecimento de fissuras
originadas por reflexão dos pavimentos. Esta técnica baseia-se em espalhar uma camada de
ligante de betume-borracha (com cerca de 20 % de borracha) sobre a superfície do pavimento
existente, seguida do espalhamento uniforme de agregados sobre o betume-borracha.
Ainda para Hicks et al, 1995, a SAMI consiste numa camada de betume-borracha e agregados
entre camadas de pavimento betuminoso flexível (existente e de reforço), colocada aquando
da execução duma reabilitação, para retardar o desenvolvimento de fendilhamento por
reflexão proveniente da estrutura antiga.
A Figura 2.16 ilustra as várias fases do processo construtivo de SAMI-BMB (Recipav, 2009).
A ADoT produziu em 1985 dois tipos de misturas betuminosas a quente: (i) mistura
betuminosa aberta, “open graded” que designou de ARFC; (ii) mistura betuminosa rugosa,
“gap graded” que classificou de ARAC.
Na Figura. 2.17, pode observar-se a curva granulométrica das duas misturas (ARFC e
ARAC).
Figura 2.17 - Curvas granulométricas da ARFC e ARAC (adaptado de Zareh e Way, 2009)
Em 1988, foi aplicada uma mistura ARFC, contendo 10% de betume-borracha em peso da
mistura (20% de borracha por massa total de ligante) em vários quilómetros da via
Interestadual 19, ao sul de Tucson, numa camada com 2,5 cm de espessura, sobre uma
calçada. Desde 1988 até 1996, apenas apareceram algumas fendas transversais nas zonas de
articulação do betão.
O êxito deste projecto e muitos outros que o seguiram, levaram a American Society for
Testing and Materials (ASTM) a publicar em 2004, duas normas de ensaio D 6932-04
(ASTM D6932-04, 2008) e D 7064-04 (ASTM D7064-04, 2008) que descrevem as
orientações para a utilização de misturas betuminosas com betume-borracha em misturas
betuminosas abertas.
Sousa et al, 1999, comparou uma mistura com BMB, do tipo ARAC que designou por MBD-
BMB, com uma percentagem de ligante de 7,0% (20% de borracha sobre a massa total de
ligante) e outra convencional (macadame betuminoso), com uma percentagem de betume de
4,5%. Os betumes convencionais utilizados na confecção das misturas derivam basicamente
do mesmo betume convencional do tipo 35/50. A adição de borracha foi feita em misturador
rotativo, à temperatura de 180ºC, respeitando um tempo de interacção física betume
convencional e o granulado de borracha de 60 minutos.
Na Figura 2.19 verifica-se que a mistura com betume-borracha apresenta valores mais baixos
de módulo de deformabilidade do que a mistura tradicional, sendo que a mistura tradicional
Na Figura 2.20 observa-se que as misturas convencionais apresentam valores mais elevados
de ângulo de fase do que as misturas convencionais, confirmando-se aqui para a convencional
uma maior variabilidade do parâmetro com o envelhecimento, como se tinha verificado para o
módulo de deformabilidade.
Outros trabalhos posteriores, por exemplo Sousa et al, 2000, Visser e Verhaghe, 2000,
Gallego et al, 2000, Shatnawi e Long, 2000, Raad et al, 2001, Kaloush et al, 2003, Dantas,
2004, e Fontes, 2008, também mostram que as misturas betuminosas com betume-borracha
apresentam um valor de módulo de deformabilidade menor do que as misturas convencionais
a temperaturas de serviço relativamente baixas e uma vida à fadiga muito superior, para as
mesmas temperaturas, do que as apresentadas pelas misturas convencionais.
Em todos estes casos estudados a percentagem de ligante das misturas betuminosas com
betume-borracha são significativamente superiores à das misturas betuminosas convencionais,
o que em parte justifica os resultados dos ensaios de módulo de deformabilidade e fadiga.
Antunes et al, 2000, analisaram seis lajes extraídas dos trechos da EN104 e EN 105 referidos,
das quais obtiveram provetes prismáticos e quadrangulares, para a realização de ensaios de
módulo de deformabilidade, fadiga e deformação permanente, tendo designado os provetes
por FB1, FB2, FB3 e FB4, (sem envelhecimento) e FB4 e FB5 (envelhecidas a longo prazo).
Os resultados dos ensaios de fadiga mostra que as misturas com betume-borracha (sem
envelhecimento) apresentam um comportamento ligeiramente superior as misturas com
betume-borracha envelhecidas, como mostra a Figura 2.22.
Figura 2.22 - Comportamento à fadiga das misturas betuminosas com betume-borracha com e
sem envelhecimento (Antunes et al, 2000)
Quadro 2.8 - Resultados das baridades e velocidades de deformação (Antunes et al, 2000)
Figura 2.24 - Resultados da velocidade de deformação das misturas betuminosas com betume-
borracha do pavimento (Antunes et al, 2000)
Velocidade de deformação
Baridade
Tempo de (10-3 mm /min)
Misturas
Interacção Física
(g/cm3) V30-45 min V75-90 min V105-120 min
Figura 2.25 - Resultados da evolução da rodeira com o tempo para as misturas betuminosas
com betume-borracha fabricadas em laboratório (Antunes et al, 2000)
Os resultados dos ensaios expostos no Quadro 2.9 e ilustrados na Figura 2.25 permitem
afirmar que as misturas LS1, LS2, LS4 e LS12S cumprem o valor limite de V105/120
considerado pela PG-3 (Ministério de Fomento, 2004) de 15x10-3 mm/min, e que o
desempenho do betume-borracha não foi afectado por ser armazenado durante 1 dia. As
misturas LS6 e LS7 apresentam valores de velocidade de deformação bastantes superiores ao
valor limite de 15x10 -3 mm/min, o que permitiu que fossem retiradas as seguintes ilações: (i)
o tempo de interacção física entre o betume convencional e a borracha não deve ser superior a
2 horas e 37 minutos; (ii) a temperatura de 240ºC afecta a interacção do betume convencional
e a borracha e consequentemente o comportamento à deformação permanente das misturas
com betume-borracha.
Batista et al, 2006, realizou um trabalho complementar aos estudos efectuados por Sousa et al,
1999 e Antunes et al, 2000, que consistiu em retirar lajes das obras EN 104 e EN 105 após 6
anos em serviço e efectuou os ensaios de módulo de deformabilidade, fadiga e deformação
permanente de acordo com as mesmas condições de ensaio efectuadas anteriormente por
aqueles autores, com excepção da temperatura dos ensaios de módulo de deformabilidade e
fadiga que foi de 20ºC.
A Figura 2.26 mostra a resistência à fadiga de: (i) mistura betuminosa convencional
envelhecida a longo prazo e estudada em laboratório sendo designada por VL B35/50 (Sousa
et al, 1999); (ii) duas misturas com betume-borracha extraídas do pavimento da EN 104, com
e sem envelhecimento a longo prazo e designadas por VC (EN104:2000) BMB e VC (EN
104:2000) BMB Env, respectivamente (Antunes et al, 2000) e (iii) uma mistura betuminosa
com betume-borracha retirado do pavimento da EN 104 após 6 anos em serviço (Batista et al,
2006).
Figura 2.26 - Resistência à fadiga das misturas betuminosas com betume-borracha aplicadas
na EN 104 (Batista et al, 2006)
O Quadro 2.10 mostra a identificação das vigas ensaiadas à flexão em 4 pontos, a baridade e
os módulos de deformabilidade (Batista et al, 2006).
Quadro 2.10 - Resultados dos ensaios de baridade e módulo (adaptado de Batista et al, 2006)
Baridade Módulo,
Local e data de
Identificação média Tratamento prévio 20ºC
recolha/preparação das vigas
(g/cm3) (MPa)
Envelhecimento a
VL B35/50 Env. Laboratório; 1999 2,14 3500
longo prazo
VC (EN 104: 2000)
EN 104; 2000 2,28 --- 3200
BMB
VC (EN 104: 2000) Envelhecimento a
EN 104; 2000 2,28 4300
BMB Env. longo prazo
VC (EN 104: 2000)
EN 104; 2005 2,26 --- 6700
BMB 5 anos
Velocidade de deformação
Baridade
Provete (10-3 mm /min)
(g/cm3) V105-120 min
A Figura 2.27 mostra a evolução da velocidade de deformação das misturas betuminosas com
betume-borracha extraídas do pavimento da EN 104.
Figura 2.27 - Resultados da evolução da rodeira com o tempo para as misturas betuminosas
com betume-borracha extraídas do pavimento com 6 anos (Batista et al, 2006)
De acordo com a FHWA o processo a seco é qualquer método que adiciona granulado de
borracha directamente na misturadora da central de betuminosos, onde o agregado pré-
1
% de borracha em relação à massa total da mistura.
Em geral o processo, como descrito, implica que o granulado de borracha seja inicialmente
adicionado ao agregado mineral pré-aquecido, antes da adição do betume convencional. O
agregado mineral é aquecido a temperaturas entre 200 a 210ºC, durante 15 segundos,
formando uma composição homogénea. Posteriormente, adiciona-se o betume convencional
aquecido a uma temperatura entre 140 a 160ºC, à mistura agregado-borracha (Visser e
Verhaegle, 2000; Oliver, 2000).
Em vários trabalhos visando o processo por via seca, foi sempre considerado que o granulado
de borracha substitui uma parte do agregado mineral na mistura betuminosa, funcionando
como um material inerte. O resultado, em geral, é que se verifica que existe falta de
homogeneidade e consequentemente dificuldades de compactação e mau desempenho em
campo (Mohammad et al, 2000; Airey, 2003).
O termo betume-borracha obtido pelo processo a seco parece pouco apropriado, já que o
granulado de borracha é incorporado inicialmente ao agregado mineral a elevadas
temperaturas, para posteriormente ser adicionado o ligante convencional (Dantas, 2004).
Em Espanha, segundo Aracil et al, 2009, o processo de fabrico por via seca, consiste em
introduzir o granulado de borracha directamente no misturador da central de fabrico de
misturas betuminosas, juntamente com o betume convencional e com os agregados, como se
tratasse dum agregado. O granulado de borracha actua em parte como um agregado, no
entanto, as partículas mais finas interactuam com o betume convencional modificando as suas
propriedades, conseguindo-se assim, melhorar o comportamento das misturas betuminosas.
Com este procedimento obtêm-se uma “mistura betuminosa modificada com granulado de
borracha” (segundo o Manual de empleo de caucho de NFU en mezclas bituminosas citado
em Aracil et al, 2009) ou uma “Mistura Betuminosa a Quente com Adição de Borracha”
(segundo a Orden Circular 21/2007 citado em Aracil et al, 2009).
No início da década de 90, na Catalunha (Espanha) foi iniciada a utilização da técnica por via
seca, tendo os primeiros trechos experimentais sido baseados na tecnologia "TAK genérico"
de Takallou, já descrita, adaptando-a às misturas betuminosas correntes em Espanha, tais
como: (i) densas; (ii) semi-densas; (iii) descontínuas (F-10) (Aracil et al, 2009).
O primeiro trecho realizou-se em 1994 com 2,6 km de extensão tendo-se realizada uma
camada de desgaste em mistura betuminosa densa (D-12) com uma percentagem de betume
de 5,5 e com 2% de granulado de borracha e de tamanho inferior a 2 mm e uma espessura de
4 cm.
Quadro 2.14 - Trechos experimentais por via seca em Espanha (CEDEX, 2007)
Borracha
Betume
Extensão Espessura Tipo de na
Trecho Ano Tráfego Conven.
(Km) (cm) Mistura Mistura
(%)
(%)
C-433: Sevilha à
1996 0,3 T2 3,0 F-10 1,0 5,7
Calzada de la Sierra
B-140 Sabadell-
1997 0,83 T0 5,8 S-12 2 6,2
Mollet
N-344:Travessia de
1999 1,1 --- 3,0 M-10 --- ---
Caudete
Diputación de 1999 a
15 --- 3,0 M-10 --- ---
Alicante 2002
2003 a
Autovia del Noroeste 11 --- 3,0 F-10 0,5 5,2
2005
Nos últimos anos realizaram-se vários trechos experimentais de misturas betuminosas de alto
módulo a utilizar em camadas de base do tipo S-20, com betume convencional de penetração
nominal 40/50, incorporando 1,4% de granulado de borracha e 6% de betume convencional
(aproximadamente 20% de borracha sobre a massa total de ligante) e misturas betuminosas
anti-fendilhamento, a granulometria é descontínua, com betume convencional de penetração
nominal 60/70, incorporando 20% de borracha sobre a massa total de ligante e uma
granulometria da borracha inferior a 0,5 mm, conforme se pode observar na Figura 2.28
(Aracil et al, 2009).
Quadro 2.15 - Características mecânicas da mistura betuminosa de alto módulo com borracha
(Aracil et al, 2009)
Os critérios para obtenção da fórmula de trabalho da mistura betuminosas com borracha por
via seca são os mesmos utilizados para formulação de misturas betuminosas convencionais
(com excepção do granulado de borracha) e misturas betuminosas com borracha por via
húmida, tendo-se vulgarizado a utilização do método Marshall. No entanto, as especificações
técnicas para a formulação de misturas betuminosas com borracha (por via seca ou húmida)
exigem uma percentagem mínima de ligante (betume convencional e borracha) para cada tipo
de mistura.
A principal diferença entre a via seca (se utilizado um granulado de borracha suficientemente
fino) e a via húmida reside no tempo de interacção mínimo e máximo necessário para se obter
a interacção física entre o betume convencional e o granulado de borracha, que na via húmida
é determinado antes do fabrico da mistura betuminosa e na via seca ocorre desde o fabrico da
mistura betuminosa na central de produção até a sua aplicação no pavimento.
Gallego, 2001, salienta a importância do tempo de digestão (tempo necessário para ocorrer a
interacção entre o betume convencional e o granulado de borracha) como um factor
importante para um bom desempenho mecânico das misturas betuminosas com borracha. A
consequência da falta de tempo de digestão provoca a deterioração da mistura betuminosa no
primeiro inverno de serviço, devido a acção da água que conduz à sua desintegração
progressiva. Para evitar esta situação é necessário que durante a formulação da mistura
betuminosa estimar o tempo de digestão mínimo para se obter um grau de digestão suficiente.
Figura 2.29 - Evolução da viscosidade com o tempo de digestão (adaptado de Gallego, 2001)
A utilização de um granulado de borracha mais fino (máxima dimensão 0,32 mm) precisa de
um tempo de digestão inferior a uma hora para atingir o valor mínimo de resistência
conservada (75%) exigido para este tipo de mistura na tecnologia espanhola (Gallego, 2001).
Basicamente isto acontece devido à maior superfície especifica do granulado de borracha
mais fino que favorece o contacto com o betume e desta forma diminui o tempo necessário de
interacção físico entre o mesmo e o granulado de borracha, conforme se pode observar na
Figura 2.30.
Gallego, 2001, diferencia dois tipos de misturas betuminosas por via seca consoante a
percentagem de incorporação de borracha: (i) misturas betuminosas com betume com média
percentagem de borracha de acordo com o CET EP (EP, 2009), aproximadamente com 10%
de borracha por massa total de ligante, sendo que estes betumes apresentam características
similares às dos betumes modificados com polímeros, de uso corrente em obras de
pavimentação em Espanha, particularmente para o tipo BM-3a (em Espanha, Ministério de
Fomento, 2004, designa-se os betumes modificados com polímeros por BM seguidos por um
número que indica diferentes graus de consistência, “1” mais duro e “3” equivalente a um
betume 50/70, e uma letra -a, b, e c- que significa o aumento, a < b < c, da tenacidade e
recuperação elástica, ou seja, o aumento da percentagem de incorporação de polímeros); (ii)
misturas betuminosas com betume com alta percentagem de borracha de acordo com CET EP
(EP, 2009) e as CTE de Avis (EP, 2007), aproximadamente com 20% de borracha por massa
total de ligante.
O Quadro 2.17 mostra os resultados médios das características das misturas betuminosas do
tipo S-20 sem borracha (referência) e outra mistura com média percentagem de borracha. O
betume convencional é do tipo 60/70.
A Figura 2.31 mostra que a resposta à fadiga da mistura com média incorporação de borracha
é muito superior à da mistura betuminosa convencional, ambas contendo o mesmo teor de
ligante.
A melhor resistência à fadiga das misturas com incorporação de borracha está associado a
maior flexibilidade que a borracha proporciona.
Figura 2.31 - Resistência à fadiga das misturas betuminosas convencional de referência e com
média percentagem de borracha (adaptado de Medina e Muñoz, 2004)
Figura 2.32 - Resistência à fadiga das misturas betuminosas com alta percentagem de
borracha, de referência com betume convencional e com betume modificado com polímeros
(adaptado de Gallego, 2001)
O Quadro 2.18 mostra os resultados dos ensaios realizados a uma mistura betuminosa com
alta percentagem de borracha (20% de borracha em relação ao massa total de ligante),
fabricada e aplicada numa auto-estrada em Espanha (Gallego e Santos, 2003).
O valor de V105/120 obtido para a mistura betuminosa cumpre amplamente o valor limite de
15x10-3 mm/min, apresentando um excelente comportamento à deformação permanente. O
módulo de deformabilidade apresenta um comportamento normal, ou seja, verificou-se que as
misturas com borracha, para a mesma temperatura de ensaio, apresentam um módulo mais
baixo. Isto não é um resultado surpreendente a relativamente baixa temperatura (<25ºC)
porque em geral quanto maior o teor em ligante menor é o módulo de deformabilidade.
Provavelmente, tal deve-se ao facto de a via húmida ser considerada mais fiável para a
produção daquele tipo de misturas betuminosas a que seja pedido um desempenho elevado.
Genericamente esta percepção parece estar ligada ao facto de ser muitas vezes admitido que
no processo de fabrico por via húmida existe uma “reacção” química entre o betume
convencional e a borracha, conduzindo a uma modificação do betume convencional, ao passo
que na via seca esta modificação não ocorre (Takallou e Takallou, 2003) chegando mesmo a
afirmar-se que o agregado de borracha funciona, no caso da via seca, somente como um
material inerte (Mohammad et al, 2000; Airey, 2003).
Contudo, também nos trabalhos consultados existe um certo consenso na aceitação do modelo
de interacção entre o betume convencional e o granulado de borracha definido por Holleramn
e Reed, 2000, em que os asfaltenos e as fracções leves dos betumes convencionais interagem
com o granulado de borracha formando uma película de gel sobre a borracha levando ao
aumento de volume.
As propriedades finais dos ligantes modificados com borracha depende das propriedades
físicas e químicas da borracha, da sua concentração e dimensões do granulado, das
propriedades físicas e químicas do betume convencional e da sua concentração, e das
condições de “reacção” borracha/betume, nomeadamente a duração e temperatura de
“reacção”, da energia de agitação, tipo de solventes e aditivos usados, sua concentração, do
tempo de aplicação, e do processo de “reacção” adoptado (Hicks e Epps, 2000).
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B0 MBR
B0V MBR - Envelhecida
B1 MBR - VS – BBM – 10% de borracha
B1V MBR - VS – Envelhecida – BBM – 10% de borracha Lab.
TB0 MBR
TB1 MBR - VS – BBM – 10% de borracha Messines
3.3 Agregados
Os agregados que constituem as misturas betuminosas para pavimentação rodoviária
representam em geral 90 a 95% do seu peso, correspondendo a valores de 75 a 85% do seu
volume (Branco et al, 2008). O seu peso no fabrico das misturas betuminosas influencia o
comportamento funcional e estrutural dos pavimentos em serviço.
Nas CTE de Avis (EP, 2007) são recomendados métodos de ensaio nacionais e estrangeiros.
Além de normas portuguesas (NP) e de especificações do Laboratório Nacional de
Engenharia Civil (LNEC), são indicadas normas americanas da American Society for Testing
and Materials (ASTM), normas francesas da Association Française de Normalisation
(AFNOR) e normas inglesas, as British Standard (BS), entre outras.
Todavia, neste trabalho, realizaram-se também os ensaios de acordo com as normas europeias
(EN), dado que estas normas serão tomadas como referência CET EP (EP, 2009), documento
já usado actualmente como referência para os trabalhos de pavimentação em Portugal.
Desta forma, procurou-se cotejar os valores obtidos neste trabalho, segundo normas e
parâmetros especificados nas CTE de Avis (EP, 2007), provenientes de ensaios realizados
segundo normas muito aplicadas em obras rodoviárias em Portugal, e as normas e parâmetros
especificados nas CTE EP (EP, 2009).
Quadro 3.2 - Principais propriedades dos agregados das misturas betuminosas e respectivas
normas de ensaio
1. Ensaios para a determinação das propriedades gerais dos agregados (EN 932)
O primeiro grupo é constituído por normas que especificam os métodos de apoio à
caracterização dos agregados, nomeadamente os métodos de recolha e preparação de
amostras, bem como de descrição petrográfica da rocha utilizada como agregado. Estão ainda
incluídas neste grupo duas normas que se relacionam com o controlo metrológico dos
equipamentos utilizados e com a fiabilidade dos métodos de ensaio.
Atendendo ao objectivo deste trabalho seguidamente indicam-se os ensaios usados nos grupos
dois e três acima mencionados e os ensaios correlacionáveis com as normas NP,
especificações do LNEC, ASTM, AFNOR e BS.
3.4.1 Resiliência
O ensaio de resiliência baseia-se na norma ASTM D 5329 (ASTM D 5329, 1997) e
compreende em colocar a amostra em banho de água à temperatura de 25ºC durante duas
horas antes de iniciar o ensaio. Posteriormente a superfície da amostra é seca e colocada uma
pequena quantidade de pó de talco para evitar a aderência entre a esfera metálica e o ligante.
Em seguida, utilizando o penetrómetro, uma esfera metálica com 17 mm de diâmetro, a uma
taxa de deslocamento de 1 mm/s, penetra durante 10 segundos na amostra. Após a aplicação
desta penetração, deixa-se a amostra recuperar a penetração durante 20 segundos e faz-se a
medição da recuperação elástica.
O Quadro 3.5 apresenta as características físicas recomendadas pelas CTE de Avis (EP,
2007), o DA15 (LNEC, 2008) e pela norma ASTM D 6114 (ASTM D 6114, 1997) para o
granulado de borracha proveniente da reciclagem de pneus utilizada na modificação de
betume convencional.
Quadro 3.5 - Características da borracha (CTE de Avis (EP, 2007), o DA15 (LNEC, 2008) e
ASTM D 6114 (ASTM D 6114, 1997)
ASTM D
CTE de Avis DA15 6114
Características
(EP, 2007) (LNEC, 2008) (ASTM D
6114, 1997)
Vulcanização % 100 100 100
Quadro 3.6 - Faixa granulométrica especificada nas CTE de Avis (EP, 2007) e na DA15
(LNEC, 2008)
CTE de Avis DA 15
Peneiros
(EP, 2007) (LNEC, 2008)
As curvas granulométricas dos dois tipos de borracha empregues neste estudo foram
determinadas através da norma ASTM DS644-96 “Standart Test Method for Rubber
Compouding Materials – Determination of Particle size Distribution of Recycled Vulcanized
Partcicle Rubber” e seguem o fuso granulométrico especificado pelo Arizona Department of
Transportion (ADoT, 2005).
A Figura 3.3 mostra a secagem do granulado de borracha na estufa antes de iniciar os ensaios
de incineração e amostras a incinerar no equipamento utilizado para este fim, uma mufla.
Neste trabalho, a análise modal consistiu em dividir em seis campos ópticos da lâmina
delgada com o granulado de borracha e determinar a percentagem média de borracha
incinerada, tendo como referência as secções-tipo apresentadas na Figura 3.5.
A Figura 3.6 mostra os tambores de fabrico das amostras de borracha para ensaio.
Para a caracterização física das amostras referidas foram utilizados os seguintes métodos de
ensaio:
Determinação da Dureza (NP ISO 7619, 2001);
Resistência à abrasão (NP ISO 4649, 2004);
Massa específica (NP ISO 2781, 2005);
Resistência ao rasgamento (NP ISO 34-1, 2006);
Tensão-Deformação em tracção (NP ISO 37, 2001);
Deformação residual após compressão (NP ISO 815, 2001).
Determinação da Dureza
O ensaio de dureza é efectuado segundo a norma NP ISO 7619 (NP ISO 7619, 2001) e
compreende a colocação do provete (Figura 3.7, com letra “F” ou “G”) a ensaiar numa
superfície dura e rígida. Seguidamente segurar com o centro do penetrador a pelo menos 12
mm da periferia do provete e aplicar uma força normalizada entre o pé pressor e o provete de
borracha utilizando um durómetro de bolso de tipo Shore A, conforme ilustrado na Figura 3.7.
Resistência à abrasão
O ensaio de resistência à abrasão realizado de acordo com a norma NP ISO 4649 (NP ISO
4649, 2004) compreende em colocar um provete de borracha cilíndrico (Figura 3.8, pontos a
negro que estão sobre a mesa) de diâmetro 16 mm ± 0,2 mm e com uma altura mínima de 6
mm, num tambor cilíndrico rotativo, que se desloca transversalmente sobre uma lixa com um
grau de abrasão e a uma pressão de contacto especificados, com um percurso de abrasão de 40
m ± 0,2 m (correspondente a 84 rotações).
A perda relativa de volume por abrasão, ΔVrel, é medida pela perda relativa de volume da
amostra, em mm3, sendo essa perda obtida pela Equação 3.1:
mt mconst
Vrel (3.1)
t mrt
onde,
Δmt – é a perda de massa, em mg, do provete de borracha de ensaio;
ρt – é a massa volúmica, em mg/mm3, da borracha de ensaio;
Δmrt – é a perda de massa, em mg, do provete composto de referência;
Δmconst – é definido como o valor de 200 mg em que se usa o composto de referência
normalizado.
Massa específica
O ensaio de massa específica especificado na norma NP ISO 2781 (NP ISO 2781, 2005)
compreende no condicionamento dos provetes de borracha a uma temperatura normalizada de
23 ± 2ºC, durante pelo menos 3 horas. A massa dos provetes no ar e na água são determinadas
usando uma balança analítica equipada com tripé, conforme ilustrado na Figura 3.9.
Figura 3.9 - Equipamento para determinação da massa específica da borracha (Gibrite, 2009)
A massa específica, ρ, expressa em megagrama (Mg) por metro cúbico, é calculada pela
Equação 3.2:
m1
(3.2)
m1 m2
em que:
m1 – é a massa da borracha;
m2 – é a massa da borracha deduzida da massa de igual volume de água, determinada pela
pesagem imerso em água, ambas à temperatura normalizada.
Resistência ao rasgamento
O ensaio de resistência ao rasgamento segundo a norma NP ISO 34-1 (NP ISO 34-1, 2006)
depreende em medir a força necessária para rasgar completamente o provete de borracha. A
força de rasgamento é aplicada por meio de uma máquina de tracção (dinamómetro), aplicada
sem interrupção, com velocidade de deslocamento constante, até à ruptura do provete. Neste
trabalho utilizaram-se provetes em forma angular, conforme mostra a Figura 3.10.
Tensão-Deformação em tracção
Deformação Plástica
Figura 3.13 - Ilustração dos termos relativos à tracção (adaptado de NP ISO 37, 2001)
Na deformação elástica não linear, que ocorre no início da deformação e para pequenas
percentagens de alongamento, a mistura de borracha assume comportamento elástico, isto é,
após a força deformadora cessar, o provete recupera as dimensões iniciais. Após passar o
ponto de fluência, a deformação passa a plástica, isto é, o provete fica permanentemente
deformado sem capacidade de recuperar as dimensões iniciais.
A ruptura pode dar-se antes ou depois do ponto de cedência, dizendo-se que a mistura de
borracha tem respectivamente um comportamento frágil ou dúctil. Estes dois modos permitem
definir o tipo de fractura frágil e dúctil para a borracha.
h0 h1
C 100 (3.3)
h0 hs
em que,
h0 – é a espessura inicial do provete, em milímetros;
h1 – é a espessura do provete após recuperação, em milímetros;
hs – é a altura do espaçador, em milímetros.
Nesta secção, para além duma breve descrição dos ensaios necessários à avaliação do
comportamento mecânico também se descrevem as principais opções e métodos usados para a
preparação das misturas betuminosas estudadas.
Para avaliar o efeito do envelhecimento das misturas betuminosas a curto prazo, foram
preparadas misturas segundo a seguinte metodologia:
A mistura solta de agregados e ligante, depois de fabricada e cumprido o tempo de
interacção no caso das misturas com borracha, foi espalhada numa mesa até atingir-se
a temperatura ambiente;
Repartiu-se a amostra em partes iguais que se colocaram em tabuleiros;
Seguidamente as diversas partes foram reaquecidas em estufa com ventilação forçada
à temperatura de 155ºC durante 2 horas e 30 minutos de forma a perfazer 4 horas
(tempo de interacção é de 90 minutos) no caso das misturas com borracha e durante 4
horas à temperatura de 150ºC para o caso da MBR;
Após este condicionamento em estufa as misturas foram compactadas.
Este procedimento de envelhecimento a curto prazo pretende simular o que ocorre durante o
processo de fabrico na central de betuminosos, transporte, espalhamento e compactação, nos
quais as misturas betuminosas soltas ficam expostas a altas temperaturas e ao contacto com o
ar conduzindo a uma oxidação significativa do ligante e à perda de componentes que lhe
conferem elasticidade.
Para avaliação do efeito do envelhecimento das misturas betuminosas a longo prazo (misturas
referenciadas com a letra V no final da simbologia adoptada neste trabalho) as misturas
compactadas segundo a metodologia acima referida, foram condicionadas em estufa com
ventilação forçada por 5 dias a 85ºC, de acordo com o preconizado na norma AASHTO R30
(AASHTO R30, 2006).
F2
RC 100 (3.4)
F1
em que,
RC – Resistência conservada;
F1 – Força de rotura média da primeira série de provetes;
F2 – Força de rotura média da segunda série de provetes.
Para cada série de provetes considerada a perda de massa a seco ou a húmido, é determinada
pela seguinte Equação 3.5:
P1 P 2
PC (3.5)
P1
em que,
PC – perda de massa, arredondado a unidade;
P1 – massa inicial dos provetes;
P2 – massa final dos provetes após o desgaste;
Estes ensaios expeditos permitem avaliar a eficácia da interacção física entre o betume
convencional e o granulado de borracha, utilizando o processo por via seca e húmida.
O CET EP (EP, 2009) preconiza a realização deste ensaio de acordo com a norma NLT 362
(NLT 362, 1992) para as misturas betuminosas abertas (porosidade entre 12 a 18%), com
betume-borracha do tipo BBA e BBM, pelo processo de fabrico por via húmida.
ENSAIOS DE FLEXÃO
12L
3 h h h
2 ) 2 3 1n 2
2 PB-TR
1 2
b h h
3
(2
2h h
1 1
2 h
1
0,135 M + m a
3 M
4L
2 PB-PR m
3 4
bh
3 3 Mm
24L L
3 PB-PR 3
4 3 4bh 2
π bh
L A 3
2 2
A b M m b
R(X)
4 PB–PR
3 4 2
bh L 4 R(A)
a
Provetes com dimensões correntes
b 12L 1 L -1
R(X) x ,A , X Coordenada na qual a deflexão é medida
A (3X/L 3X2 /L2 A2 /L2 2
Aqui optou-se por abordar apenas os ensaios de flexão em quatro pontos (4PB-PR) uma vez
que são os que se encontram no âmbito deste trabalho, pois são equipamentos de laboratório
que actualmente existem em vários laboratórios em Portugal e podem num futuro ser
quotidianamente utilizados para a caracterização de misturas betuminosas à deformabilidade e
resistência à fadiga.
No ensaio de flexão em quatro pontos, a norma recomenda que as dimensões da secção das
provetes prismáticos, em que a base, b e a altura, h, sejam no mínimo iguais ao triplo da
dimensão máxima do agregado da mistura betuminosa e que a distância entre os apoios, L,
seja de pelo menos de seis vezes o maior dos valores de b e h, conforme se pode observar no
Quadro 3.7. Refira-se ainda que esta é a configuração da máquina de cargas repetidas usada
neste trabalho (Figura 3.15) para avaliar as características de deformabilidade e de resistência
à fadiga.
Figura 3.15 - Equipamento para realização de ensaios com aplicação de cargas repetidas
(DEC-FCTUC) usado em ensaios de flexão em quatro pontos (Baptista, 2006)
No ensaio de flexão em quatro pontos, a parte central da viga, entre os pontos de aplicação de
carga, encontra-se sujeita a momento-flector constante, o que constitui uma vantagem visto
que a extensão também é constante. Existe larga experiência na utilização dos ensaios de
flexão, sendo estes os principais procedimentos considerados em documentos normativos
europeus (CEN, 2004-a e CEN, 2004-b). Refira-se ainda que nestes ensaios é possível avaliar
as características de deformabilidade e de comportamento à fadiga numa larga escala de
condições de ensaio que simula o que se passa nos pavimentos rodoviários flexíveis.
Estes equipamentos são normalmente usados em conjunto com uma câmara climática que
permite controlar a temperatura de ensaio com precisão de ± 0,5ºC, conforme o tipo de ensaio
(CEN, 2004-b).
Tomando como referência a EN 12697-26 (CEN, 2004-b), no tratamento dos resultados dos
ensaios, as componentes do módulo complexo calculam-se pelas equações 3.6 e 3.7.
F 2
E cos 3 (3.6)
1 10
F
E sen (3.7)
2
onde:
E1 - componente elástica ou real do módulo complexo, em Mega Pascal (MPa);
E2 - componente imaginária do módulo complexo, em Mega Pascal (MPa);
- ângulo de fase, em graus;
ΔF - amplitude da carga, em Newton (N);
ΔZ - amplitude do deslocamento, em milímetros (mm);
ω - frequência de ensaio, em Hertz (Hz);
γ - factor de forma (em mm-1), dependente da forma e dimensão do provete e do tipo de
ensaio;
μ- factor de massa, em gramas (g), função da massa do provete e da massa das partes do
equipamento ligadas ao provete, as quais podem influenciar os resultados devido a efeitos de
inércia (CEN, 2004-c).
Todavia, nos ensaios clássicos com aplicação de cargas repetidas os efeitos de inércia são
desprezáveis (Di Benedetto, 1998).
Assim o valor absoluto do módulo complexo, E*, desprezando os efeitos de inércia (μ = 0),
obtém-se pela Equação 3.8:
E2
arctg (3.9)
E1
ti
360 (3.10)
tp
em que:
ti – intervalo de tempo entre um ciclo de carregamento e um ciclo de deslocamento (s);
tp – duração dum ciclo de carregamento (s);
Figura 3.16 - Curvas sinusoidais de tensão e extensão (ângulos de fase de 0º, 45º e 90º)
(Baptista, 2006)
Figura 3.17 - Curvas histeréticas de tensão-extensão (ângulos de fase de 0º, 45º e 90º)
(Baptista, 2006)
t 0 sen t (3.11)
A medição da extensão pode traduzir-se pela Equação 3.12:
t 0 t (3.12)
No entanto, como se verá no capítulo seguinte, neste trabalho avaliaram-se as características
de deformabilidade e ângulo de fase foram determinados para uma extensão controlada de
100 microns, a três temperaturas (20ºC, 30ºC e 40ºC) e para três frequências (10 Hz, 5 Hz e
1Hz) de forma a avaliar a influência da frequência do carregamento nos resultados obtidos.
José Luís Feiteira Dias 91
MISTURAS BETUMINOSAS INCORPORANDO POR VIA SECA BORRACHA DE PNEUS USADOS
Nos ensaios de avaliação da resistência à fadiga, a sucessiva aplicação de cargas provoca uma
degradação do material. Assim, estes ensaios são do tipo destrutivo, não podendo utilizar-se
novamente estes provetes para outro ensaio.
A lei de fadiga que traduz a durabilidade dos provetes aplicando uma amplitude do
carregamento (tensão ou extensão), pode ser determinada pela Equação 3.13:
ou t a N b (3.13)
em que,
N – Número de carregamentos aplicados no provete até à rotura;
εt – Amplitude da extensão de tracção ocorrida em cada carregamento;
σ – Amplitude da tensão de tracção aplicada em cada carregamento:
a, b – Parâmetros que dependem das características das misturas betuminosas.
Nos ensaios de fadiga realizados sob extensão controlada, as leis de fadiga resultantes são, por
vezes, escritas pela Equação 3.14:
a
N
6 6 (3.14)
10
onde,
ε6 – extensão que seria necessário aplicar em cada ciclo para conduzir à ruína do provete ao
fim de 1 milhão de ciclos;
a – inclinação da recta estabelecida no sistema de eixo graduados em escala logarítima.
Foram ensaiados três provetes prismáticos por cada extensão (e não 6 como a nova norma
prevê e a razão para não se ter feito isto foi porque era esta a forma habitual de proceder
quando se começou o trabalho) tendo-se obtido um bom coeficiente de correlação linear (R 2)
(Capitão e Picado-Santos, 2005).
O comportamento de uma mistura betuminosa depende das proporções relativas dos seus
componentes e das propriedades destes. Assim, o comportamento das misturas betuminosas
relativamente à deformação permanente depende dos seguintes factores (Pereira e Picado-
Santos, 2002):
propriedades dos seus constituintes (agregado, betume e possíveis aditivos);
composição da mistura betuminosa, isto é, das proporções de cada componente na
mistura, bem como da compacidade e processo de compactação;
condições de serviço, como sejam, a temperatura (que afecta a viscosidade do
betume), e as acções do tráfego (pressão dos pneus, tipo de rodado, distribuição
lateral, etc).
As deformações permanentes, que ocorrem à superfície dos pavimentos flexíveis, podem ter a
sua origem nas camadas betuminosas e/ou no solo de fundação. Os cavados de rodeira que se
desenvolvem na zona de passagem dos veículos, podem surgir em pavimentos flexíveis
A análise dos resultados obtidos baseia-se na experiência adquirida ao longo do tempo para
materiais com características similares.
Ensaios fundamentais
Ensaios de compressão uniaxial estáticos (ensaio de fluência) ou cíclicos;
Ensaios de compressão triaxial, geralmente com cargas cíclicas;
Ensaios de corte, com aplicação de cargas estáticas ou cíclicas;
Ensaios de compressão diametral. Apesar de também serem ensaios com cargas de
compressão a carga é aplicada segundo o diâmetro do provete;
Ensaio em cilindro oco, este ensaio permite aplicar simultaneamente tensões axiais e
de corte no provete.
Uma descrição detalhada dos ensaios acima referidos pode consultar-se em trabalhos
centrados no estudo das deformações permanentes (Freire, 2002; Gardete, 2006).
Aqui optou-se por abordar apenas os ensaios realizados em laboratório com vista ao estudo da
resistência à deformação permanente das misturas estudadas.
Um objectivo secundário deste trabalho é avaliar os ensaios laboratoriais que podem ser
utilizados para estudar e caracterizar o comportamento à deformação permanente de misturas
betuminosas com betume-borracha por via húmida utilizadas em Portugal, e quais os factores
que podem afectar os resultados obtidos com esses ensaios. Isto permitirá avaliar
convenientemente as misturas com borracha fabricadas por via seca que são o objecto deste
trabalho.
Como o próprio nome do ensaio indica estes permitem simular o comportamento das misturas
betuminosas quando sujeitas à acção de passagem sucessivas de um rodado, sob determinadas
condições de ensaio controladas e não possibilitam a obtenção de propriedades fundamentais
dos materiais estudados.
Grande parte das administrações rodoviárias de vários países utiliza os resultados dos ensaios
de simulação de tráfego com critério de aceitação ou rejeição de uma dada mistura
betuminosa. Estas têm desenvolvido normas de procedimento semelhantes embora usem
características distintas para o funcionamento do equipamento (tipo de roda, pressão e área de
contacto, a frequência do movimento de vaivém, provete ao ar ou em imersão em água), para
a temperatura de ensaio e para o modo de interpretar os resultados.
Temperatura
60 ± 1ºC 50 ou 60ºC 50ºC 45 ou 60ºC
de ensaio
Metálica,
envolvida Metálica,
em pneu de Pneumática, Metálica, com envolvida em
borracha com 109 mm 47 mm de pneu de borracha
Roda maciça com de espessura largura e 203,5 maciça com 50
50 mm de e 415 mm de mm de mm de largura e
largura e 20 diâmetro diâmetro 13 mm de
mm de espessura
espessura
900 ± 25
Pressão 600 ± 30 kPa 730 kPa 690 kPa
kPa
Área de
21,5 cm2 8,77 cm2 9 cm2 ---
contacto
320x260x(40,
300x300x50 500x180x(50 305x305x(40 a
Provetes 80 ou 120)
mm3 ou 100) mm3 100) mm3
mm3
Condições Sem imersão Sem imersão Com imersão Sem imersão em
de ensaio em água em água em água água
Frequência
(1 ciclo – 1 51 a 55
21 ciclos/s 1 ciclo/s 21 ciclos/s
movimento passagens/min.
de vaivém)
Freire (2002) tomando como referência as quatro zonas climáticas propostas por Baptista e
Picado-Santos (2002), ilustradas na Figura 3.20 propôs que, para Portugal Continental, a
Neste trabalho, optou-se por avaliar o comportamento à deformação permanente das misturas
estudadas, utilizando o referenciado na norma de ensaio NLT 173 (NLT 173, 1984) para duas
temperaturas e pressões de ensaio: (i) temperatura de 60ºC e pressão de contacto de 900 kPa,
conforme especificado na norma NLT 173 (NLT 173, 1984); (ii) temperatura de 50ºC, dado
Aqui optou-se por abordar apenas o equipamento de deflectómetro de impacto, uma vez que
foi método utilizado na caracterização estrutural do trecho experimental de Avis e é de uso
corrente em Portugal na caracterização estrutural de pavimentos.
Deflectómetro de Impacto
O equipamento utilizado no presente estudo é da marca Carlbro, modelo “PRI 2100 “van-
integrated”. Este equipamento, para além de medir o valor de pico da força, dos
deslocamentos e do tempo de aplicação da carga, permite medir e registar a distância
percorrida e as temperaturas do ar e da superfície do pavimento.
Massa
Geofones
Amortecedores
D8 D9
Placa de carga D7
D6
D5
Deformada do pavimento
D4
D3
D2
D1
Para cada ponto de ensaio, são efectuadas três medições da temperatura (ar, superfície do
pavimento e em profundidade), já que a temperatura a que são realizados os ensaios de carga
pode ter grande influência nos resultados obtidos, nomeadamente na determinação dos
módulos de deformabilidade das misturas betuminosas. No decorrer dos ensaios de carga com
o deflectómetro de impacto, procede-se à medição da temperatura do pavimento a uma
profundidade pré-definida.
Posição dos geofones em relação ao centro 0(D1), 200(D2), 300(D3), 450(D4), 600(D5),
da placa da carga (mm) 900(D6), 1200(D7), 1500(D8), 2100(D9)
A força aplicada em cada ponto de ensaio não corresponde exactamente à força de impacto
padrão de 65 kN (força aplicada em cada ponto de ensaio é ligeiramente diferente de local
para local), sendo necessário proceder a uma normalização dos valores de deflexão para esta
força padrão.
A normalização dos resultados foi realizada tendo em conta a força de impacto padrão de 65
kN, de acordo com a seguinte expressão:
Dm 65
Dn (3.15)
Fm
em que,
Dn – Deflexão normalizada;
Dm – Deflexão medida;
Fm – Força medida.
Este equipamento permite a medição do perfil longitudinal da estrada, mediante dois sensores
laser (que permitem medir a aceleração vertical do veiculo e consequentemente determinar os
movimentos verticais do veiculo) situados numa barra frontal localizada ao nível do pára
choques do veículo, fazendo deste modo o levantamento do perfil longitudinal ao longo de
alinhamentos paralelos ao sentido de deslocação do veiculo.
2
Y Axsen X X 0 (3.16)
em que:
Y – Desnivelamento;
A – amplitude de irregularidade;
X- distância horizontal;
λ – comprimento de onda;
X0 – fase.
Foram utilizadas as especificações das CTE de Avis (EP, 2007), no que se refere ao IRI lido
em camadas de desgaste dos pavimentos flexíveis, efectuando-se a contagem dos valores (e
respectiva transformação em frequências acumuladas) por comparação dos mesmos com os
limites dos intervalos de classe de acordo com o Quadro 3.11.
Quadro 3.11 - Valores admissíveis de IRI (m/km), calculados por troços de 100 metros em
pavimentos com camada de desgaste betuminosa (EP, 2007)
Coincidentes com o rodado direito e esquerdo de ambas as vias, nos dois sentidos de
circulação.
Textura
No presente trabalho para o valor de profundidade de textura superficial foi o referenciado nas
CTE de Avis (EP, 2007), conforme especificado no Quadro 3.14.
Este ensaio (pontual) executado segundo a norma ASTM E 965 (ASTM E 965, 1996),
consiste no espalhamento de um determinado volume de areia calibrada sobre a superfície do
pavimento, que deve estar seca e limpa, de tal modo que a areia seja espalhada numa mancha
circular com um raio de 25 cm. A areia fina preencherá as depressões da superfície, até que
não seja possível aumentar a superfície de espalhamento. Por fim medem-se dois diâmetros
perpendiculares, calcula-se a média do círculo de areia e determina-se a sua área. O valor da
altura (h) da mancha de areia é obtido através do quociente entre o volume de areia (25000
mm3) e a área do círculo acima referido, conforme mostra a Figura 3.25.
V
Aa (3.17)
R2
em que:
Aa – profundidade média da textura superficial, em milímetros (mm);
V – volume de material espalhado, em mm3;
R – raio médio do circulo obtido com o espalhamento do material, milímetros (mm).
Texturómetro Laser
Este equipamento apoia-se num veículo comercial e é composto por um sensor laser de alta
precisão com 64 kHz, capaz de registar a macrotextura, a uma velocidade compreendida entre
40 e 120 km/h, efectuando a medição de forma contínua.
O principio deste ensaio consiste em medir e memorizar a distância entre o emissor laser
constituído por uma fonte emissora de raios laser e por um potenciómetro óptico e o
pavimento no alinhamento das rodas do lado direito do veículo, conforme representado na
Figura 3.28.
Figura 3.28 - Emissor Laser: principio de medição da textura superficial (Branco et al, 2008)
em que:
PT – Profundidade de textura;
MPD – Profundidade média numa extensão de 10 metros.
Para aferição dos valores obtidos na medição da textura superficial com recurso a
equipamento laser e consequente avaliação dos resultados segundo os parâmetros
preconizados nas CTE de Avis (EP, 2007), procedeu-se à realização de ensaios através do
ensaio de mancha de areia.
O atrito de um pavimento pode ser avaliado através da medição de dois parâmetros: (i) o
coeficiente de atrito longitudinal (CAL) que interessa à distância de paragem dos veículos; (ii)
o coeficiente de atrito transversal (CAT) que avalia a segurança de circulação em curva e
apresenta mais influencia a nível de acidentes e a velocidade de circulação.
O coeficiente de atrito transversal é dado pela razão entre a força N horizontal, perpendicular
ao plano de rotação da roda de medida, e a acção vertical F, normal ao pavimento, que a
massa suspensa exerce sobre a roda com o valor de 200 kgf, conforme mostra a Figura 3.29.
Figura 3.29 - SCRIM: Principio de medição do atrito transversal (Pereira e Miranda, 1999)
A medição do CAT foi efectuada, em contínuo, em período diurno e com tempo seco, através
do aparelho GripTester (MK2), conforme mostra a Figura 3.30.
Para simular as condições mais desfavoráveis de circulação, conforme especificado nas CTE
de Avis (EP, 2007), o equipamento tem um dispositivo que permite molhar o pavimento,
criando continuamente, na zona de contacto da roda de medida, uma película de água de 0,50
mm de altura.
De acordo com as CTE de Avis (EP, 2007), quando a medição do coeficiente de atrito é feita
em contínuo, à velocidade de 50 km/h com o aparelho SCRIM, o valor da resistência à
derrapagem não deverá ser inferior a 0,40 ou a 0,20 para medições efectuadas a 120 km/h .,
para qualquer tipo de mistura betuminosa aplicada na camada de desgaste.
são indicadas nas ASTM, AFNOR) e BS, das CTE de Avis (EP, 2007) que reporta ao caderno
de encargos da EP (JAE, 1998).
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4 RESULTADOS DA CARACTERIZAÇÃO
Neste estudo, a incorporação de granulado de borracha nas misturas betuminosas teve como
intenção permitir que pudesse fazer parte da percentagem total de ligante (betume
convencional e borracha) da mistura betuminosa, tal como acontece no processo por via
húmida e não como substituição do agregado.
Desta forma, vai comparar-se os resultados publicados dos ensaios obtidos por via húmida
com os resultados obtidos durante este trabalho, dado que as principais diferenças são: a
forma de incorporação da borracha na central de produção e o processo de interacção física
entre o betume convencional e o granulado de borracha.
Na técnica por via húmida, esta é introduzida num tanque de betume convencional onde
ocorre a interacção física e posteriormente colocada no misturador da central de fabrico.
4.2.1 Agregados
Nesta fase da investigação foram utilizados agregados de natureza riolitítica-dacitíca,
provenientes de uma pedreira localizada no Alentejo (Ourique). Estes apresentam as seguintes
designações granulométricas:
Brita 10/16 – tamanho nominal 10 a 16 mm;
Brita 4/12 – tamanho nominal 4 a 12 mm;
Pó de Pedra ou Areão 0/4 – tamanho nominal inferior a 4 mm.
Os Quadros 4.2 e 4.3 e as Figuras 4.1 e 4.2 apresentam a distribuição granulométricas dos
materiais de origem geológica riólitos-dacitos.
Quadro 4.2 - Distribuição granulométrica dos agregados riólito-dacitos de acordo com as CTE
de Avis (EP, 2007)
100
90
B rita 10/16
80
Material que passa (%)
70
B rita 4/12
60
50
40
P ó o u A reão 0/4
30
20
Filer Co mercial
10
0
0 0 1 10 100
Diâmetro das partículas (mm)
100
90
B rita 10/16
80
Material que passa (%)
70
B rita 4/12
60
50
40
P ó o u A reão 0/4
30
20
Filer Co mercial
10
0
0 0 1 10 100
Diâmetro das partículas (mm)
b
Quando a percentagem de passados no peneiro de 0,063 mm no agregado fino, estiver compreendido entre 3% e 10%, em massa, deve ser
avaliada a nocividade dos finos da fracção 0/0,125 mm e o valor do ensaio de azul de metileno deve estar enquadrado na categoria MBF10.
O Quadro 4.5 exprime as propriedades mecânicas e físicas dos agregados obtidas nos diversos
ensaios laboratoriais realizados para cada uma das fracções granulométricas de acordo com as
CTE de Avis (EP, 2007) e do CET EP (EP, 2009).
Exigências
Normas Brita Brita Pó
Propriedades Unidade CTE de Avis
10/16 4/10 0/4
(EP, 2007)
Ensaio de Desgaste pela
LNEC
máquina de Los Angeles (%) 16 --- --- 20c
E-237
(Granulometria B), máx.
MI 2,65 2,69 2,69 ---
3
Massa volúmica PSt (g/cm ) NP 581 2,63 2,64 2,58 ---
PS e NP 954 2,64 2,66 2,62 ---
Absorção de água, máx. (%) 0,34 0,67 1,65 2
Exigências
Brita Brita Pó
Propriedades Unidade Normas CET EP (EP,
10/16 4/10 0/4
2009)
Resistência ao desgaste,
(%) NP EN 1097-1 8 --- --- 15
máx.
Resistência à fragmentação,
(%) NP EN 1097-2 14 --- --- 20d
máx.
MI 2,65 2,69 2,69 ---
Massa
PSt Mg/m3 2,63 2,64 2,58 ---
volúmica NP EN 1097-6
PS 2,64 2,66 2,62 ---
Absorção de água, máx. (%) 0,34 0,67 1,65 1
Legenda referente ao Quadro 4.5:
MI – Material impermeável; PSt – Partículas saturadas com superfície seca; PS – Partículas secas;
c
26% em granitos.
d
30% em granitoídes.
Os resultados das medições das propriedades físicas e mecânicas dos agregados cumprem os
parâmetros exigidos no CTE de Avis (EP, 2007) e no CET EP (EP, 2009), com excepção da
absorção de água do Pó 0/4 relativamente ao CET EP (EP, 2009). O CET EP (EP, 2009)
reduziu a metade o valor deste parâmetro em relação ao exigido nas CTE de Avis (EP, 2007).
Tal situação limita a utilização de uma parte significativa dos agregados utilizados em
Portugal onde se verificam valores de absorção de água acima do limite máximo imposto no
CET EP (EP, 2009) e cujo comportamento mecânico destas misturas betuminosas verificam
as características mecânicas necessárias para cumprir o serviço para o qual são designadas.
Os resultados apresentados nas Figuras 4.3 a 4.6 mostram que o betume convencional
utilizado neste trabalho se enquadra no CTE de Avis (EP, 2007) e nas CET EP (EP, 2009).
Penetração
Ponto de Amolecimento
Resiliência
A Figura 4.5 mostra os resultados médios de resiliência (ASTM D 5329, 1997) obtidos no
ligante recuperado nas misturas betuminosas estudadas e no betume convencional.
Viscosidade de Brookfield
A Figura 4.6 mostra os resultados médios de viscosidade (CEN, 2003-a) obtidos em amostras
no ligante recuperado nas misturas betuminosas estudadas e no betume convencional.
Pode ainda acrescentar-se que o ligante resultante da interacção entre o betume convencional
e o granulado de borracha após o processo de fabrico por via húmida ou seca é um ligante só
ligeiramente modificado o que é devido essencialmente à transferência para o betume
convencional de componentes voláteis que fazem parte da constituição do granulado de
borracha.
Curvas granulométricas
Da análise da Figura 4.7 permite observar que as curvas granulométricas das borrachas
cumprem o fuso granulométrico.
Mecânica Criogénica
9,0
8,0
7,0
6,0
% de Incineração
5,0
4,0
3,0
2,0
1,0
0,0
160 170 180 190 200 210 220 230
Tem peratura (ºC)
A Figura 4.9 exibe o granulado de borracha obtido pelas duas tecnologias, ambas utilizadas
neste estudo.
Temperatura de 170ºC
Trituração Mecânica Criogénica
Temperatura de 180ºC
Temperatura de 190ºC
Figura 4.10 - Morfologia do granulado de borracha à temperatura de 170ºC, 180ºC, 190ºC,
200ºC, 210ºC e 220ºC
Temperatura de 200ºC
Trituração Mecânica Criogénica
Temperatura de 210ºC
Temperatura de 220ºC
A observação do granulado de borracha das misturas fabricadas por via seca para as duas
temperaturas de fabrico corroboram os resultados dos ensaios de incineração, nos quais a
borracha incinera e desvulcaniza para temperaturas superiores a 200ºC.
No granulado de borracha da mistura betuminosa produzida em central por via húmida não se
observou qualquer alteração na sua morfologia, contrariamente ao que seria expectável pelos
ensaios de incineração. Tal situação pode ser devida ao pouco tempo de interacção entre o
betume convencional e o granulado de borracha.
betuminosas pelo processo a seco em laboratório e pelo processo a húmido numa obra e 70%
de uma mistura de borracha padrão.
A interacção física entre o betume convencional e o granulado de borracha deve ser realizada
a temperaturas inferiores à da queima da borracha (geralmente considerada como ocorrendo
acima dos 175 ºC para as fracções granulométricas em causa), pelo que o valor limite superior
de 170ºC deverá ser considerado, como demonstrado pelos resultados da caracterização para
esta temperatura, de forma a aproveitar todas as características que o betume modificado com
borracha apresenta nas misturas betuminosas comparativamente ao uso de betumes
convencionais (Feiteira Dias e Picado-Santos, 2008).
Pode ainda acrescentar-se que o processo de trituração mecânica produz uma borracha
aparentemente mais adequada para a potenciação da ligação betume-borracha embora nada
nas análises efectuadas permita descartar a possibilidade de uso da borracha obtida pelo
processo criogénico.
Vbr
vbr (4.11)
Vt
A baridade máxima teórica determina-se pelo método de picnómetro de vácuo, de acordo com
a norma ASTM D 2041 (ASTM D 2041, 2003) ou a EN 12697-5 (CEN, 2002).
VMA TVB n
(4.15)
TVB
Sb (4.16)
VMA
No caso das misturas betuminosas com incorporação de borracha as grandezas acima citadas
(4.1 a 4.12) são as mesmas com excepção da baridade máxima teórica que se determina da
seguinte forma:
Btbr – Baridade máxima teórica ou massa volúmica máxima com incorporação de borracha
(g/cm3);
1
Btbr
pb pa pbri
i (4.17)
b ai bri
em que:
pbri – percentagem de borracha na mistura;
ρbri – massa volúmica das partículas de borracha seca;
No fabrico das MBR utilizou-se uma percentagem de betume final de 5% (B0 e B0V). Nas
misturas betuminosas com percentagem média de borracha (B1, B1B, B1V e B1BV) as
percentagens de ligante foram iguais à das MBR (B0 e B0V), de forma a poder avaliar-se os
resultados de desempenho das misturas para as condições de igualdade percentual de betume
e ligante final. Nas misturas betuminosas com alta percentagem de incorporação de borracha
utilizou-se uma percentagem de ligante final de 8,5% (B2; B2B; B2V; B2BV) e 9,0% (B3 e
B3B) de forma a poder avaliar-se os resultados de desempenho das misturas para as condições
de aumento de 0,5% de ligante final.
No caso, das MBR-VS com alta percentagem de borracha optou-se por utilizar duas
percentagens de ligante: 8,5% e 9,0%, respectivamente. Estas percentagens de ligante
enquadram-se na quantidade de ligante de 8,0% a 9,0% especificada no DA15 (LNEC, 2008)
e CET EP (EP, 2009), cujo uso é corrente em Portugal e no fabrico da mistura betuminosas
rugosas com betume-borracha por via húmida.
A curva final das misturas estudadas foi conseguida através de iterações dos materiais
granulares para que o resultado final da mistura destes com o betume convencional e o
betume-borracha se enquadrasse o melhor possível dentro dos limites impostos pelas CTE de
Avis (EP, 2007) e CET EP (EP, 2009)
100
Curva das M isturas
90
Fuso-Limite Inferior
80
Fuso-Limite Superior
Material que passa (%)
70
60
50
40
30
20
10
0
0,01 0,1 1 10 100
Diâm etro das partículas (m m )
Figura 4.15 - Curva granulométrica da mistura de agregados utilizada no fabrico das misturas
betuminosas e dos limites impostos pelas CTE de Avis (EP, 2007)
100
60
50
40
30
20
10
0
0,01 0,1 1 10 100
Diâmetro das partículas (mm)
Figura 4.16 - Curva granulométrica da mistura de agregados utilizada no fabrico das misturas
betuminosas e dos limites impostos pelo CET EP (EP, 2009)
Para este tipo de mistura betuminosa adicionou-se uma quantidade mínima exigida de 2% por
peso de agregado mineral, tendo-se adoptado por utilizar filer comercial, sendo este exigido
nas CTE de Avis (EP, 2007) e no DA 15 (LNEC, 2008), independentemente do agregado.
O granulado de borracha não é um inerte, isto é, reage com o betume convencional que se
utiliza como ligante no fabrico da mistura betuminosa. Este processo de interacção em que a
borracha reage com parte das fracções mais voláteis do betume designa-se correntemente por
interacção física.
O processo de interacção física prolífera desde a superfície da partícula de borracha para o seu
interior, pelo que esta será mais rápida quanto mais fina é a granulometria da borracha e
menor quantidade desta na mistura betuminosa (Medina e Munõz, 2004).
Os valores de porosidade das misturas B0, B1 e B1B não cumprem o limite máximo de 6,0%
exigido no CTE EP (EP, 2009). Contudo, a mistura B2B cumpre o limite máximo de 6,5%
preconizado no CTE de Avis (EP, 2007) e no DA15 (LNEC, 2008). A mistura B2 apenas
cumpre este limite máximo para o tempo de interacção de 0 e 30 minutos. Os valores de
baridades e porosidades médios das misturas betuminosas com borracha variam para os
diferentes tempos de interacção, conforme mostra o Quadro 4.10.
Após o fabrico das misturas betuminosas com média e alta percentagem de borracha, estas
permaneceram em estufa com ventilação forçada, à temperatura de 155ºC, durante o tempo de
interacção física acima referido, previamente à compactação dos provetes.
Quadro 4.10 - Valores médios de baridades e porosidades dos provetes de laboratório com a
evolução do tempo de interacção física
Da análise dos dados do Quadro 4.10 não se podem inferir variações significativas para as
baridades obtidas embora possa ser assinalada uma tendência para a diminuição da porosidade
obtida com o aumento do tempo de interacção nomeadamente na mistura B2B, talvez porque
isto signifique um ligante final mais integrado ou mais homogéneo.
100
Limite M inimo
95
Resistência Conservada (%)
90 M istura - B0
85
M istura - B1
80
M istura - B1B
75
M istura - B2
70
M istura - B2B
65
0 30 60 90 120 150 180
Tem po de Interacção (m inutos)
A mistura B0 não cumpre o limite mínimo exigido nas CTE de Avis (EP, 2007), no DA15
(LNEC, 2008) e no CET EP (EP, 2009).
Nas misturas betuminosas com alta percentagem de borracha observa-se que com o aumento
do tempo de interacção aumenta os valores de resistência conservada, para as duas
temperaturas de fabrico, de 170ºC e 210ºC, não sendo possível observar um valor de pico, tal
como constatado nas misturas betuminosas com média percentagem de borracha. No entanto,
os valores de resistência conservada para tempos de interacção de 90 minutos e os 180
minutos apresentam uma evolução muito baixa: B2 de 3,1% e B2B de 5,1%.
Em consequência dos resultados obtidos e expostos na Figura 4.17, adoptou-se neste trabalho
para o fabrico das misturas betuminosas com média e alta percentagem de borracha um tempo
mínimo de interacção física entre o betume convencional e o granulado de borracha de 90
minutos, que é compatível com o tempo médio entre o fabrico e o espalhamento de misturas
betuminosas para grande parte das obras rodoviárias.
Pode dizer-se, finalmente, que a incorporação de borracha nas misturas betuminosas favorece
a sua coesão e consequentemente pode favorecer significativamente o seu desempenho
mecânico.
O Quadro 4.11 apresenta os valores das temperaturas do betume convencional, dos agregados
e de compactação das misturas betuminosas estudadas.
B1 210
165-175
B1V MBR - VS – 210
BBM - 10% de
B1B borracha 170
150-155
B1BV 170
155
B2 210
165-175 155
B2V 210
B3 210 165-175
Para o fabrico e compactação das misturas MBR (B0 e B0V) foram seguidos os seguintes
procedimentos:
Proporcionalmente pesou-se os agregados e estes permaneceram em estufa à
temperatura de 170ºC, por um período mínimo de 2 horas;
Aquecimento do betume convencional em estufa sem ventilação forçada (evitando
qualquer tipo de envelhecimento do betume) até atingir a temperatura de 155ºC;
Ao agregado mineral foi-se adicionando o betume convencional seguido de filer
comercial, promovendo-se esta mistura por um período inferior a 3 minutos;
Para o fabrico de todas misturas com incorporação de borracha foram seguidos as seguintes
etapas:
Proporcionalmente efectuou-se a pesagem dos agregados; as diversas fracções
permaneceram em estufa à temperatura de 170ºC e a 210ºC, por um período mínimo
de 2 horas;
Aquecimento do betume convencional em estufa sem ventilação forçada (evitando
qualquer tipo de envelhecimento do betume) até atingir a temperatura de 155ºC;
Seguidamente adicionou-se o granulado de borracha proporcionalmente pesada aos
agregados para as temperaturas de 170ºC e 210ºC por um período de 15 segundos, de
forma a se obter uma mistura homogénea;
Á mistura de agregado mineral e borracha foi-se adicionando o betume convencional,
seguido de filer comercial, promovendo-se esta mistura por um período inferior a 3
minutos;
Após se obter uma mistura homogénea, as diversas fracções permaneceram em estufa
com ventilação forçada a temperatura de 155ºC, por um período de 90 minutos. Este
período corresponde ao tempo de interacção física entre o betume convencional e
granulado de borracha determinado anteriormente;
Após os 90 minutos estas misturas foram retiradas da estufa sendo espalhadas,
desagregadas e esquarteladas à temperatura ambiente;
Seguidamente foram reaquecidas em estufa com ventilação forçada durante um
período de 2 horas e 30 minutos, à temperatura de 155ºC;
Por fim, atingida a temperatura de 155ºC, realizou-se a compactação.
O filer comercial foi adicionado à mistura de agregados, borracha e betume convencional tal
como acontece numa central de betuminosos.
A moldagem das lajetas (50x56x8 cm3) e lajes (30x30x5 cm3) foi realizada com recurso a um
molde metálico concebido para o efeito. O processo de compactação foi efectuado com a
sucessiva passagem dum cilindro vibrador de 2 rolos, com 350 kg de massa total (Figura
4.18). A quantidade de mistura colocada no molde foi determinada de forma a que a
porosidade das lajetas e lajes após a compactação fosse próxima do valor dos 5% de forma a
enquadra-se dentro dos limites de porosidade de 3% a 6% de acordo com o especificado no
CET EP (EP, 2009) para média percentagem de incorporação de borracha e 4,5% a 6,5%,
conforme exigido nas CTE de Avis (EP, 2007) e 3,5% a 6,5% no documento DA15 (LNEC,
2008) e CET EP (EP, 2009), para alta incorporação de borracha. O número de passagens
aplicado sobre as lajetas e lajes de teste foi estabelecido por tentativas de forma a se obter
uma superfície nivelada.
Depois da desmoldagem das lajetas procedeu-se à sua serragem e rectificação dando origem a
provetes prismáticos com 40x6x6 cm3 (Figura 4.19). Por sua vez, as lajes para a realização
dos ensaios de simulação de tráfego não foram serradas nem rectificadas, dado que foram
construídas em molde metálico com as dimensões preconizadas na norma de ensaio.
O Quadro 4.12 revela os valores médios das baridade e porosidades dos provetes prismáticos
submetidos aos ensaios de módulo de deformabilidade e fadiga e das lajes usadas para o
ensaio de deformação permanente.
Quadro 4.12 - Valores médios das baridades e porosidades dos provetes prismáticos e das
lajes realizadas em laboratório
Baridade Porosidade
Designação
(g/cm3) (%)
B0 2,29 6,0
B0E 2,30 5,8
B0V 2,25 7,9
B1 2,27 6,4
B1V 2,25 7,2
B1B 2,28 6,1
B1BV 2,24 7,3
B2 2,25 4,3
B2V 2,25 4,3
B2B 2,21 6,0
B2BV 2,20 6,3
B3 2,24 4,7
B3B 2,22 5,4
Para melhor reprodutibilidade e rigor dos resultados, tendo em conta cada caso, os ensaios de
deformabilidade foram realizadas em triplicado para as temperaturas, frequências e extensão
ensaiada.
Face aos resultados expostos nos Quadros 4.13 a 4.15, e de forma a melhor visualizar a
tendência evolutiva dos mesmos, apresenta-se nas Figuras 4.20, 4.21, 4.22, 4.23, 4.24 e 4.25
os resultados dos módulos de deformabilidade e ângulos de fase das misturas betuminosas
estudadas.
10 Hz 5 Hz 1 Hz
4500
4000
Módulo de deformabilidade (MPa)
3500
3000
2500
2000
1500
1000
500
0
B0 B0V B1 B1V B1B B1BV B2 B2V B2B B2BV B3 B3B
10 Hz 5 Hz 1 Hz
30
25
Ângulo de Fase (Graus)
20
15
10
0
B0 B0V B1 B1V B1B B1BV B2 B2V B2B B2BV B3 B3B
10 Hz 5 Hz 1 Hz
4500
4000
Módulo de deformabilidade (MPa)
3500
3000
2500
2000
1500
1000
500
0
B0 B0V B1 B1V B1B B1BV B2 B2V B2B B2BV B3 B3B
10 Hz 5 Hz 1 Hz
30
25
Ângulo de Fase (Graus)
20
15
10
0
B0 B0V B1 B1V B1B B1BV B2 B2V B2B B2BV B3 B3B
misturas. Isto pode ser explicado pela maior elasticidade (menor rigidez) das misturas
betuminosas com borracha.
10 Hz 5 Hz 1 Hz
4500
4000
Módulo de deformabilidade (MPa)
3500
3000
2500
2000
1500
1000
500
0
B0 B0V B1 B1V B1B B1BV B2 B2V B2B B2BV B3 B3B
10 Hz 5 Hz 1 Hz
30
25
Ângulo de Fase (Graus)
20
15
10
0
B0 B0V B1 B1V B1B B1BV B2 B2V B2B B2BV B3 B3B
Em termos gerais as misturas com média e alta incorporação de borracha apresentam valores
de módulo de deformabilidade e ângulo de fase inferiores às misturas sem incorporação de
borracha para temperaturas mais baixas (20ºC e 30ºC). Para 40ºC os módulos e ângulos de
fase são da mesma ordem de grandeza. Estes factos demonstram a maior flexibilidade das
misturas com incorporação de borracha para as mesmas temperaturas (ou seja para as mesmas
condições de funcionamento) porque em condições normais menores módulos de
deformabilidade conduziriam a ângulos de fase maiores demonstrando comportamento menos
elástico.
Resistência à fadiga
Quanto às características de resistência à fadiga foram ensaiadas para cada mistura estudada
nove provetes prismáticos às temperaturas de 20ºC e 30ºC e a uma frequência de 10 Hz, com
extensões alvo (em /m) de 300, 500 e 700. De forma a se obter um coeficiente de correlação
linear semelhante para as misturas estudadas houve necessidade de se excluir alguns provetes
que não são representativos do comportamento típico dos materiais. As leis de fadiga
resultantes podem ser observadas na Figura 4.26 e 4.27.
Figura 4.26 - Representação gráfica dos ensaios de fadiga e respectivas leis à temperatura de
20ºC – Fase 1 e 2
Figura 4.27 - Representação gráfica dos ensaios de fadiga e respectivas leis à temperatura de
30ºC – Fase 1 e 2
20ºC 30ºC
600
500
Extensão de Tracção (microns)
400
300
200
100
0
B0 B0V B1 B1V B1B B1BV B2 B2V B2B B2BV B3 B3B
Para a caracterização da deformação permanente foram ensaiadas três lajes, tendo-se aplicada
uma pressão de contacto de 900 kPa e uma temperatura de ensaio de 60ºC, de acordo com o
prescrito na norma NLT 173 (NLT 173, 1984). As exigências aplicáveis à resistência à
deformação permanente para camadas de desgaste adoptadas em Espanha, por PG-3
(Ministério de Fomento, 2004) são expressas em termo de valor máximo da velocidade de
deformação entre os 105 e os 120 minutos contados a partir do início do ensaio (Vdef.105-120
min.) e o valor é de 15 mm/min, podendo-se cotejar os resultados obtidos neste trabalho com os
obtidos por via húmida (Sousa et al, 1999, Antunes et al, 2000; Batista et al, 2006) e
apresentados no Capítulo 2.
Também se ensaiaram três lajes com um betume convencional específico fornecido pela
Cepsa (mistura designada por B0E), de forma a estudar-se a influência das condições de
ensaios, nomeadamente da temperatura do ponto de amolecimento do betume. Este betume
convencional apresenta como principal característica um ponto de amolecimento semelhante à
obtida no ensaio de anel e bola para a mistura B1, ou seja, uma temperatura de amolecimento
de 64ºC. Pretende-se com estas lajes fabricadas com este betume específico analisar a
influência na caracterização à deformação permanente (segundo o ensaio de simulação de
tráfego – Wheel tracking) da temperatura de amolecimento do betume.
15
14 B0
13
12 B1
11
B1B
10
Deformação (mm)
9
B2
8
7
B2B
6
5 B3
4
3 B3B
2
1 B0E
0
0 15 30 45 60 75 90 105 120
Tem po (m inutos)
Figura 4.29 - Relação entre a deformação vertical média e o tempo de ensaio de 60ºC – Fase 1
e2
15
14 B0
13
12 B1
11
B1B
10
Deformação (mm)
9
B2
8
7
B2B
6
5 B3
4
3 B3B
2
1 B0E
0
0 15 30 45 60 75 90 105 120
Tem po (m inutos)
Figura 4.30 - Relação entre a deformação vertical média e o tempo de ensaio de 50ºC – Fases
1e2
Figura 4.31 - Aspecto geral do pavimento existente antes da execução dos trechos
experimentais de Messines
Os resultados apresentados nas Figuras 4.32 a 4.35 mostram que o betume convencional
utilizado neste trabalho se enquadra no CTE de Avis (EP, 2007) e nas CET EP (EP, 2009).
Penetração
A Figura 4.32 apresenta os resultados médios de penetração (CEN, 2007-a) obtidos no ligante
recuperado nas misturas betuminosas estudadas e no betume convencional.
Ponto de Amolecimento
Resiliência
A Figura 4.34 mostra os resultados médios de resiliência (ASTM D 5329, 1997) obtidos no
ligante recuperado nas misturas betuminosas estudadas e no betume convencional.
Viscosidade de Brookfield
O Quadro 4.19 apresenta os valores das temperaturas, dos agregados, do betume convencional
e das misturas betuminosas estudadas.
granulado de borracha, foi no caso da mistura TB1 superior em 10 minutos e da mistura TB3
superior em 4 minutos em relação ao valor determinado em laboratório (90 minutos). Para
cada trecho foram recolhidas amostras da mistura solta antes de se iniciar o processo de
compactação de forma a avaliar posteriormente em laboratório a percentagem de ligante e
respectiva curva granulométrica. Seguidamente procedeu-se ao espalhamento e compactação
das misturas betuminosas apenas com cilindro de rolos, conforme se pode observar na Figura
4.38.
O Quadro 4.20 apresenta as temperaturas da mistura aquando da chegada ao local dos trechos
experimentais e respectivas temperaturas de compactação.
Quadro 4.20 - Temperaturas de chegada e compactação das misturas dos trechos de Messines
TºC de
Designação Tipo de Mistura TºC das misturas
compactação
Tipo de
Características da mistura Unidades Resultados Previsto
Mistura
Baridade máxima teórica g/cm3 2,436 ---
TB0
Betume % 5,0 5,0
O fabrico das misturas betuminosas com incorporação de borracha apresenta mais uma
variável no controlo de fabrico para além da pesagem do betume, que é a pesagem do
granulado de borracha em relação as misturas tradicionais. Atendendo ao facto das misturas
betuminosas com média e alta percentagem de borracha representarem um valor entre 10 a
20% da massa total de ligante, que se traduz num peso médio de 5 kg e 17 kg,
respectivamente (por 1000 kg de mistura betuminosa), esta situação recomenda, que o
equipamento de pesagem (balança) de borracha tenha um erro máximo de 2%.
O Quadro 4.22 apresenta os valores médios das baridade e porosidades dos provetes
prismáticos submetidos aos ensaios de módulo de deformabilidade e fadiga e das lajes usadas
para o ensaio de deformação permanente.
Quadro 4.22 - Valores médios das baridades e porosidades dos provetes prismáticos e das
lajes do trecho Messines
Baridade Porosidade
Designação
(g/cm3) (%)
TB0 2,29 6,0
TB1 2,27 6,4
TB3 2,25 4,3
As baridades obtidas em laboratório estão muitos próximas das baridades dos trechos
experimentais. Como o processo de compactação é semelhante (cilindro de rolos) verifica-se
ser possível obter em laboratório provetes com características semelhantes aos de obra.
O Quadro 4.23 e Figura 4.40 apresentam uma comparação entre as curvas granulométricas
das misturas betuminosas dos três trechos experimentais e a mistura betuminosa de
laboratório e mostra o seu enquadramento relativo aos limites impostos nas CTE de Avis (EP,
2007).
Quadro 4.23 - Curvas granulométricas de laboratório, das misturas dos trechos experimentais
e dos limites impostos nas CTE de Avis (EP, 2007)
Abertura da
Nº Curva Curva Curva Curva
malha dos Fuso
dos de do trecho do Trecho do Trecho
peneiros granulométrico
Peneiros Laboratório TB0 TB1 TB3
(mm)
¾” 19,1 100 100 100 100 100
100
Curva de Laboratório
90 Fuso-Limite Inferior
Fuso-Limite Superior
80
Curva do trecho - TB0
Material que passa (%)
50
40
30
20
10
0
0,01 0,1 1 10 100
Diâm etro das partículas (m m )
Figura 4.40 - Curva granulométrica das misturas betuminosas dos trechos experimentais de
Messines e os limites impostos no CTE de Avis (EP, 2007)
O Quadro 4.24 e Figura 4.41 mostram uma comparação entre as curvas granulométricas das
misturas betuminosas dos três trechos experimentais e a mistura betuminosa de laboratório.
Mostra ainda os seus enquadramentos relativos aos limites impostos no CET EP (EP, 2009).
Quadro 4.24 - Curvas granulométricas de misturas em laboratório, das misturas dos trechos
experimentais e dos limites impostos no CET EP (EP, 2009)
Abertura da
Curva Curva Curva Curva
malha dos Fuso
de do trecho do trecho do Trecho
peneiros granulometrico
Laboratório TB0 TB1 TB3
(mm)
100
Curva de Laboratório
90 Fuso-Limite Inferior
Fuso-Limite Superior
80
Curva do trecho - TB0
Material que passa (%)
50
40
30
20
10
0
0,01 0,1 1 10 100
Diâm etro das partículas (m m )
Figura 4.41 - Curva granulométrica das misturas betuminosas dos trechos experimentais de
Messines e os limites impostos no CET EP (EP, 2009)
As curvas granulométricas das misturas TB0, TB1 e TB3 apresentam uma distribuição
uniforme e dentro do fuso na fracção fina (inferior a 4,76 mm) e fora do fuso granulométrico
na fracção grossa (superior a 4 mm). No geral, as misturas apresentam um comportamento
mais fino, logo menos descontínuo e consequentemente mais fechada.
Um dos aspectos centrais que pode ser comprovado com esta separação física dos agregados,
do granulado de borracha e do ligante (Figura 4.41) é que o ligante tanto por via húmida como
por via seca, utilizado no fabrico de misturas betuminosas, não são resultado duma ligação
química entre o betume e a borracha, ou seja, não ocorre uma “digestão” dum pelo outro, no
sentido de se tornarem um só componente mas tão somente uma ligação física, de forma
semelhante ao que acontece entre o material agregado mais fino tem com um betume
convencional (Feiteira Dias e Picado-Santos, 2008), embora neste caso não aconteça a fase
GEL (Figura 2.8, página 21).
Seguidamente sobre esta mesma amostra, após a extracção do betume, efectuaram-se ensaios
de incineração do granulado de borracha numa mufla, segundo a norma EN 12697-39 (CEN,
2004-c).
% de borracha em
Tipo de Mistura % de Borracha % de Betume % de Ligante relação a massa total
de ligante
TB1 0,6 4,7 5,3 11,4
Conforme se pode constatar no Quadro 4.25, existe um desvio de mais 1,4% na mistura TB1 e
de menos 3% na mistura TB3, da percentagem de borracha em relação a massa total de
ligante. Este desvio pode ser explicado pela sistema de pesagem da borracha através do anel
reciclagem de fresados apresentar uma precisão insuficiente para pesagem de pequenas
quantidades (erro pode ser na ordem dos 10%).
Face aos resultados acima expostos nos Quadros 4.26, 4.27 e 4.28, e de forma a melhor
visualizar a tendência evolutiva dos mesmos, apresentam-se nas Figuras 4.43 a 4.48, os
resultados dos módulos de deformabilidade e dos ângulos de fase das misturas betuminosas
estudadas.
10 Hz 5 Hz 1 Hz
4500
4000
Módulo de deformabilidade (MPa)
3500
3000
2500
2000
1500
1000
500
0
TB0 TB1 TB3
10 Hz 5 Hz 1 Hz
30
25
Ângulo de Fase (Graus)
20
15
10
0
TB0 TB1 TB3
10 Hz 5 Hz 1 Hz
4500
4000
Módulo de deformabilidade (MPa)
3500
3000
2500
2000
1500
1000
500
0
TB0 TB1 TB3
10 Hz 5 Hz 1 Hz
30
25
Ângulo de Fase (Graus)
20
15
10
0
TB0 TB1 TB3
10 Hz 5 Hz 1 Hz
4500
4000
Módulo de deformabilidade (MPa)
3500
3000
2500
2000
1500
1000
500
0
TB0 TB1 TB3
10 Hz 5 Hz 1 Hz
30
25
Ângulo de Fase (Graus)
20
15
10
0
TB0 TB1 TB3
Em termos gerais as misturas com média e alta incorporação de borracha apresentam valores
de módulo de deformabilidade inferiores em média de 25% e 40% em relação aos valores
obtidos para às mesmas misturas realizadas em laboratório para as temperaturas mais baixas
(20ºC e 30ºC) e da mesma ordem de grandeza para a temperatura de 40ºC. A mistura TB0
apresenta valores de módulo de deformabilidade inferiores em média de 32% em relação à
mistura de laboratório (B0) para as temperaturas de ensaio usadas.
Pode verificar-se que houve uma diferença semelhante para todos os tipos de misturas entre o
acontecido no trecho e o que aconteceu em laboratório. Como as baridades são muito
semelhantes entre o que se passou em laboratório e o que aconteceu nos trechos, presume-se
que a diferença encontrada terá a ver com a maior percentagem de betume convencional
usada nos trechos (0,3% na média e 0,2% na alta percentagem de incorporação de borracha)
associada ao facto de se tratar duma mistura de granulometria descontínua pelo que aquela
maior percentagem de betume convencional pode ter uma importância decisiva no valor do
módulo de deformabilidade para temperaturas de ensaio relativamente baixas (20ºC e 30ºC) já
que esse facto não aconteceu a 40ºC. Como é evidente outros factores podem ter contribuído
já que há diferenças no controlo do processo de fabrico.
Resistência à fadiga
Quanto à avaliação de resistência à fadiga foram ensaiadas para cada mistura nove provetes
prismáticos a uma temperatura de 20ºC e 30ºC e a uma frequência de 10 Hz, com extensões
alvo (em /m) de 300, 500 e 700. De forma a se obter um coeficiente de correlação linear
semelhante para as misturas estudadas houve necessidade de se excluir alguns provetes que
não são representativos do comportamento típico dos materiais. As leis de fadiga resultantes
podem ser observadas nas Figuras 4.49 e 4.50.
Figura 4.49 - Representação gráfica dos ensaios de fadiga e respectivas leis à temperatura de
20ºC
Figura 4.50 - Representação gráfica dos ensaios de fadiga e respectivas leis à temperatura de
30ºC
20ºC 30ºC
600
500
Extensão de Tracção (microns)
400
300
200
100
0
TB0 TB1 TB3
15
14
13
TB0
12
11
10
Deformação (mm)
9
8
TB1
7
6
5
4
3 TB3
2
1
0
0 15 30 45 60 75 90 105 120
Tem po (m inutos)
Figura 4.52 - Relação entre a deformação vertical média e o tempo de ensaio de 60ºC
Na Figura 4.53 ilustra-se a variação obtida para a velocidade de deformação para as misturas
estudadas.
15
14
13
TB0
12
11
10
Deformação (mm)
9
8
TB1
7
6
5
4
3 TB3
2
1
0
0 15 30 45 60 75 90 105 120
Tem po (m inutos)
Figura 4.53 - Relação entre a deformação vertical média e o tempo de ensaio de 50ºC
Por outro lado, o comportamento à fadiga das misturas betuminosas dos trechos
experimentais está de acordo com o previsto, ou seja, a temperatura de fabrico de 210ºC leva
a um maior envelhecimento do ligante e incineração do granulado de borracha tornando às
misturas mais rígidas e consequentemente com pior comportamento à fadiga.
Este pavimento entrou totalmente em serviço (atendendo que é uma obra de reabilitação a
circulação rodoviária ficou apenas parcialmente e temporariamente interdita à circulação
rodoviária) em Maio de 2009.
O número acumulado de passagens de um eixo padrão de 80kN, durante o período de vida do
pavimento é o seguinte:
N80dim= 365 x (TMDAp) p x C x p x α (4.18)
em que:
t – taxa média de crescimento anual do tráfego pesado;
α - factor de agressividade do tráfego;
p - período de dimensionamento;
TMDAp - tráfego médio diário anual de veículos pesados no ano de abertura, por
sentido e na via mais solicitada.
C - factor de crescimento do tráfego, que tem em conta o período de dimensionamento
(p) e a taxa média de crescimento anual (t), sendo dado por:
1 t p 1
C (4.19)
pt
Para os valores de tráfego apresentados estamos na presença de uma classe de tráfego T6,
segundo o MACOPAV (JAE, 1995), com um factor de agressividade de 2 (considera-se o ano
de entrada em serviço 2006).
4.4.2 Agregados
Nesta fase da investigação foram utilizados agregados de natureza granodiorítica,
provenientes da exploração de uma pedreira da Mota-Engil, localizada no Alentejo
(Montemor-o-Novo). Ali são fabricadas MBR-VS que apresentam as seguintes designações
granulométricas:
Brita 6/14 – tamanho nominal 6 a 14 mm;
Brita 4/6 – tamanho nominal 4 a 6 mm;
Pó de Pedra ou Areão 0/6 – tamanho nominal inferior a 6 mm.
100
90
B rita 6/14
80
Material que passa (%)
70
B rita 4/6
60
50
40
P ó o u A reão 0/6
30
20
Filer Co mercial
10
0
0 0 1 10 100
Diâmetro das partículas (mm)
100
90
B rita 6/14
80
Material que passa (%)
70
B rita 4/6
60
50
40
P ó o u A reão 0/6
30
20
Filer Co mercial
10
0
0 0 1 10 100
Diâmetro das partículas (mm)
O Quadro 4.35 mostra as propriedades geométricas dos agregados realizadas de acordo com
as normas preconizadas nas CTE de Avis (EP, 2007) e CET EP (EP, 2009).
Exigências
Normas Brita Brita Pó CTE de
Propriedades Unidade
6/14 4/6 0/6 Avis (EP,
2007)
Equivalente de Areia, mín. (%) LNEC E-199 --- --- 64 60
Azul-de-metileno, máx. (g/100 g) NF P18-592 --- --- 0,38 0,8
Índice de Lamelação, máx. (%) BS 812 16 --- --- 25
Índice de Alongamento, máx. (%) part 105 22 --- --- 25
Exigências
Normas Brita Brita Pó
Propriedades Unidade CET EP
CE-EP 6/14 4/6 0/6
(EP, 2009)
Equivalente de Areia, mín. (%) NP EN 933-8 --- --- 60 ---
Azul-de-metileno, mín. (g/ kg) NP EN 933-9 --- --- 1,7 MBF10e
Índice de Achatamento, máx. (%) NP EN 933-3 9 --- --- 15
Índice de Forma, máx. (%) NP EN 933-4 10 --- --- ---
e
Quando a percentagem de passados no peneiro de 0,063 mm no agregado fino, estiver compreendido entre 3% e 10%, em massa, deve ser
avaliada a nocividade dos finos da fracção 0/0,125 mm e o valor do ensaio de azul de metileno deve estar enquadrado na categoria MBF10.
O Quadro 4.36 exprime as propriedades mecânicas e físicas dos agregados obtidas nos
diversos ensaios laboratoriais realizados para cada uma das fracções granulométricas estão de
acordo com as CTE de Avis (EP, 2007) e do CET EP (EP, 2009). Constituem, excepção a
absorção de água do Pó 0/6 relativamente ao CET EP (EP, 2009), tal como já havia sido
observado e explicado relativamente ao Pó 0/4 de origem geológica e natureza riolitíca-
dacitíca.
Exigências
Normas Brita Brita Pó CTE de
Propriedades Unidade
6/14 4/6 0/6 Avis (EP,
2007)
Ensaio de Desgaste pela
LNEC
máquina de Los Angeles (%) 19 --- --- 20f
E-237
(Granulometria B), máx.
MI 2,69 2,66 2,67 ---
3
Massa volúmica PSt (g/cm ) NP 581 e NP 2,65 2,62 2,62 ---
PS 954 2,63 2,59 2,59 ---
Absorção de água, máx. (%) 0,80 0,95 1,15 2
Exigências
Normas Brita Brita Pó
Propriedades Unidade CET-EP
CE-EP 6/14 4/6 0/6
(EP, 2009)
Resistência ao desgaste,
(%) NP EN 1097-1 10 --- --- 15
máx.
Resistência à fragmentação,
(%) NP EN 1097-2 18 --- --- 20g
máx.
MI 2,69 2,66 2,67 ---
Massa 3
PSt Mg/m 2,65 2,62 2,62 ---
volúmica NP EN 1097-6
PS 2,63 2,59 2,59 ---
Absorção de água, máx. (%) 0,80 0,95 1,15 1
Legenda referente ao Quadro 4.36:
MI – Material impermeável; PSt – Partículas saturadas com superfície seca; PS – Partículas secas;
f
26% em granitos.
g
30% em granitoídes.
100
70
60
50
40
30
20
10
0
0,01 0,1 1 10 100
Diâmetro das partículas (mm)
60
50
40
30
20
10
0
0,01 0,1 1 10 100
Diâmetro das partículas (mm)
Para este tipo de mistura betuminosa adicionou-se uma quantidade mínima exigida nas CTE
de Avis (EP, 2007) de 2% por peso de agregado mineral, tendo-se adoptado por utilizar filer
comercial.
Os resultados apresentados nas Figuras 4.59 a 4.62 mostram que o betume convencional
utilizado neste trabalho se enquadra no CTE de Avis (EP, 2007) e nas CET EP (EP, 2009).
Penetração
Ponto de Amolecimento
Resiliência
A Figura 4.61 mostra os resultados médios de resiliência (ASTM D 5329, 1997) obtidos no
ligante recuperado nas misturas betuminosas estudadas e no betume convencional.
Viscosidade de Brookfield
A Figura 4.62 mostra os resultados médios de viscosidade (CEN, 2003-a) obtidos do ligante
recuperado nas misturas betuminosas estudadas e do betume convencional.
Com este sistema rudimentar procurou-se ter uma melhor precisão relativa a percentagem de
borracha incorporada na mistura betuminosa.
O Quadro 4.38 apresenta os valores das temperaturas dos agregados, do betume convencional,
e de compactação da mistura betuminosa.
Produção em Obra
CTE de Avis
Características da mistura Unidades Resultados
(EP, 2007)
Estabilidade (Força de Rotura) Kgf 9050 ---
Deformação mm 3,06 ---
Baridade g/cm3 2,325 ---
TVB % 19,3 ---
Sb % 79,0
3
Baridade máxima teórica g/cm 2,451 ---
Porosidade % 5,1 4,5 a 6,5
VMA % 24,4 >20
Resistência Conservada % 95 >80
Ligante % 8,6 ≥ 8,5
O Quadro 4.40 mostra os valores médios das baridades e porosidades dos provetes
prismáticos submetidos aos ensaios de módulo de deformabilidade e fadiga e as lajes usadas
para o ensaio de deformação permanente.
Quadro 4.40 - Valores médios das baridades e porosidades dos provetes prismáticos e lajes do
trecho de Avis
A Figura 4.67 e 4.68 representam a curva da mistura da betuminosa que se encontra dentro
dos limites impostos nas CTE de Avis (EP, 2007) e fora dos limites estabelecidos no CET EP
(EP, 2009) entre as fracções de 4 mm a 8 mm.
100
70
60
50
40
30
20
10
0
0,01 0,1 1 10 100
Diâmetro das partículas (mm)
100
60
50
40
30
20
10
0
0,01 0,1 1 10 100
Diâmetro das partículas (mm)
% de Borracha em
Tipo de
% de Borracha % de Betume % de Ligante relação a massa
Mistura
total de ligante
TA 1,9 6,7 8,6 21,8
Face aos resultados expostos nos Quadros 4.42, 4.43 e 4.44, e de forma a melhor visualizar a
tendência evolutiva dos mesmos, apresentam-se nas Figuras 4.69 a 4.74 os resultados dos
módulos de deformabilidade e ângulos de fase das misturas betuminosas estudadas.
10 Hz 5 Hz 1 Hz
4500
4000
Módulo de deformabilidade (MPa)
3500
3000
2500
2000
1500
1000
500
0
TA TAV TAVV
10 Hz 5 Hz 1 Hz
30
25
Ângulo de Fase (Graus)
20
15
10
0
TA TAV TAVV
10 Hz 5 Hz 1 Hz
4500
4000
Módulo de deformabilidade (MPa)
3500
3000
2500
2000
1500
1000
500
0
TA TAV TAVV
10 Hz 5 Hz 1 Hz
30
25
Ângulo de Fase (Graus)
20
15
10
0
TA TAV TAVV
10 Hz 5 Hz 1 Hz
4500
4000
Módulo de deformabilidade (MPa)
3500
3000
2500
2000
1500
1000
500
0
TA TAV TAVV
10 Hz 5 Hz 1 Hz
30
25
Ângulo de Fase (Graus)
20
15
10
0
TA TAV TAVV
decisiva para a dimensão dos módulos. Por outro lado, para determinação do módulo de
deformabilidade às temperaturas de 30 e 40ºC o envelhecimento de provetes em laboratório
durante 9 dias em estufa com ventilação forçada à temperatura de 85ºC parece ser o mais
adequado para simular em laboratório o envelhecimento que ocorre nas misturas betuminosas
durante o seu fabrico, transporte, espalhamento e compactação em obra, já que se obtiveram
módulos de deformabilidade semelhantes.
Resistência à fadiga
Quanto à avaliação das características de resistência à fadiga foram ensaiadas para cada
mistura estudada nove provetes prismáticos a uma temperatura de 20ºC (misturas TA, TAV e
TAVV) e 30ºC (mistura TA) e a uma frequência de 10 Hz, com extensões alvo (em /m) de
300, 500 e 700.
Figura 4.75 - Representação gráfica dos ensaios de fadiga e respectivas leis à temperatura de
20ºC do trecho de Avis
Figura 4.76 - Representação gráfica dos ensaios de fadiga e respectivas leis à temperatura de
20ºC e 30ºC da mistura TA do trecho de Avis
Na Figura 4.77 ilustra-se a variação obtida para a velocidade de deformação para a mistura
TA.
A Figura 4.77 apresenta a curva de deformação média obtida para a mistura estudada.
15
14
13
12
11
10
Deformação (mm)
9
8
TA
7
6
5
4
3
2
1
0
0 15 30 45 60 75 90 105 120
Tem po (m inutos)
Figura 4.77 - Relação entre a deformação vertical média e o tempo de ensaio de 60ºC
Na Figura 4.78 ilustra-se a variação obtida para a velocidade de deformação para a mistura
estudada.
15
14
13
12
11
10
Deformação (mm)
9
8
TA
7
6
5
4
3
2
1
0
0 15 30 45 60 75 90 105 120
Tem po (m inutos)
Figura 4.78 - Relação entre a deformação vertical média e o tempo de ensaio de 50ºC
Estas misturas foram testadas pelo método sem imersão em água e realizado, de acordo com
as normas NLT 352 (NLT 352, 1986) e NLT 362 (NLT 362, 1992).
30
28
26
24
Desgaste por Abrasãoa seco (%)
22
20
18
16
14
12
10
8
6
4
2
0
0 5 9
Idade (dias)
Figura 4.79 - Desgaste por abrasão sem imersão em água das misturas TA; TAV, TAVV e TA
Ref., TA Ref.V, TA Ref.VV do trecho de Avis
30
28
26
Desgaste por Abrasão a húmido (%)
24
22
20
18
16
14
12
10
8
6
4
2
0
0 5 9
Idade (dias)
Figura 4.80 - Desgaste por abrasão com imersão em água das misturas TA, TAV, TAVV e
TA Ref., TA Ref.V, TA Ref.VV do trecho de Avis
Considerações de Projecto
Para ter uma comparação directa da resposta dos diferentes pontos ensaiados em termos de
deflexões medidas estas foram “normalizadas” para a força de 65 kN, uma vez que, de ponto
para ponto, se verificam variações da força de pico aplicada no ensaio.
85
D M 1.036 σ' (4.21)
em que:
M - valor médio das deflexões;
σ' - desvio padrão;
Como os ensaios de carga com o Deflectómetro de Impacto são realizados nas condições de
temperatura existentes no campo, ou seja, para temperaturas variáveis dum local ao outro e
que geralmente no momento da realização dos ensaios são diferentes da temperatura média
anual considerada no estudo do pavimento, torna-se necessário proceder à correcção dos
módulos de deformabilidade estimados através da retro-análise para as camadas betuminosas,
tendo em conta a susceptibilidade das misturas betuminosas em relação à temperatura.
Para avaliar o efeito da temperatura sobre os módulos da mistura betuminosa obtidos por retro
análise das deflexões medidas no decorrer dos ensaios de carga com Deflectómetro de Impacto,
estima-se através da formula de BELLS3 (Stubstad et al, 1998), a propagação da temperatura à
superfície do pavimento para o interior das camadas betuminosas.
A temperatura média do ar no dia anterior à realização dos ensaios de carga com o Deflectómetro
de Impacto foi de 19ºC.
Sentido Avis/Arraiolos
Misturas Restante
Camada de BB de Fundação do
Betuminosas pavimento
desgaste regularização Pavimento
Zona PKi. PKf. Existentes existente
h Ecálculo Ecálculo Ecálculo hBG EBG
h (cm) h (cm) EF (MPa)
(cm) (MPa) (MPa) (MPa) (cm) (MPa)
1 0+000 1+350 4,0 3200 4,0 5050 - - 30 900 90
2 1+350 2+950 4,0 3050 4,0 4900 - - 30 400 80
3 2+950 3+850 4,0 3150 4,0 5000 - - 30 600 80
4 3+850 4+250 4,0 3050 4,0 4950 15,0 3150 20 300 95
5 4+250 4+600 4,0 3150 4,0 5000 - - 30 1150 90
6 4+600 5+800 4,0 3050 4,0 4900 15,0 2650 20 300 95
7 5+800 7+250 4,0 3100 4,0 4950 - - 30 1000 90
8 7+250 7+775 4,0 3050 4,0 4900 15,0 4400 20 500 100
9 7+775 7+950 4,0 3050 4,0 4950 - - 30 550 80
10 7+950 8+150 4,0 2850 4,0 4650 15,0 4000 20 450 80
11 8+150 9+450 4,0 3050 4,0 4900 - - 30 900 90
12 9+450 10+275 4,0 2950 4,0 4800 15,0 4050 20 450 80
13 10+275 10+500 4,0 3050 4,0 4900 - - 30 800 85
14 10+500 10+750 4,0 3050 4,0 4900 15,0 4150 20 450 80
15 10+750 11+400 4,0 3100 4,0 5000 - - 30 1150 100
16 11+400 13+500 4,0 2950 4,0 4700 15,0 4050 20 450 80
17 13+500 13+950 4,0 3050 4,0 4950 - - 30 900 90
18 13+950 14+500 4,0 3100 4,0 4850 15,0 4300 20 500 90
Sentido Arraiolos/Avis
Misturas Restante
Camada de BB de Fundação do
Betuminosas pavimento
desgaste regularização Pavimento
Zona PKi. PKf. Existentes existente
h Ecálculo Ecálculo Ecálculo hBG EBG
h (cm) h (cm) EF (MPa)
(cm) (MPa) (MPa) (MPa) (cm) (MPa)
1 14+500 13+950 4,0 3000 4,0 4750 15,0 4150 20 450 85
2 13+950 13+500 4,0 3050 4,0 4950 - - 30 900 85
3 13+500 12+300 4,0 2850 4,0 4650 15,0 4050 20 450 80
4 12+300 11+400 4,0 2950 4,0 4750 15,0 4100 20 450 80
5 11+400 10+750 4,0 3000 4,0 4900 - - 30 600 85
6 10+750 10+500 4,0 3000 4,0 4900 15,0 20 550 95
7 10+500 10+275 4,0 2900 4,0 4950 - - 30 950 90
8 10+275 9+450 4,0 2800 4,0 4650 15,0 20 450 80
9 9+450 9+150 4,0 3100 4,0 5050 - - 30 1100 90
10 9+150 7+950 4,0 3100 4,0 4950 15,0 20 600 100
11 7+950 7+775 4,0 2950 4,0 4800 - - 30 400 80
José Luís
12 Feiteira Dias
7+775 7+250 4,0 3150 4,0 4950 15,0 20 500 90 221
13 7+250 5+800 4,0 2950 4,0 4700 - - 30 1100 90
14 5+800 4+600 4,0 2900 4,0 4650 15,0 20 300 85
15 4+600 4+250 4,0 3050 4,0 4850 - - 30 900 80
16 4+250 3+850 4,0 3100 4,0 4950 15,0 20 400 110
8 7+250 7+775 4,0 3050 4,0 4900 15,0 4400 20 500 100
9 7+775 7+950 4,0 3050 4,0 4950 - - 30 550 80
10 7+950 8+150 4,0 2850 4,0 4650 15,0 4000 20 450 80
11 8+150 9+450 4,0 3050 4,0 4900 - - 30 900 90
12
MISTURAS 9+450
BETUMINOSAS 10+275 4,0
INCORPORANDO 2950
POR VIA 4,0 4800 15,0DE PNEUS
SECA BORRACHA 4050 USADOS
20 450 80
13 10+275 10+500 4,0 3050 4,0 4900 - - 30 800 85
14 10+500 10+750 4,0 3050 4,0 4900 15,0 4150 20 450 80
15 10+750 11+400 4,0 3100 4,0 5000 - - 30 1150 100
16 11+400 13+500 4,0 2950 4,0 4700 15,0 4050 20 450 80
Quadro
17 4.4913+500
(continuação)
13+950 -Resumo
4,0 dos Módulos
3050 4,0 de Deformabilidade
4950 - - 30 (Consulstrada,
900 2009-b)
90
18 13+950 14+500 4,0 3100 4,0 4850 15,0 4300 20 500 90
Sentido Arraiolos/Avis
Misturas Restante
Camada de BB de Fundação do
Betuminosas pavimento
desgaste regularização Pavimento
Zona PKi. PKf. Existentes existente
h Ecálculo Ecálculo Ecálculo hBG EBG
h (cm) h (cm) EF (MPa)
(cm) (MPa) (MPa) (MPa) (cm) (MPa)
1 14+500 13+950 4,0 3000 4,0 4750 15,0 4150 20 450 85
2 13+950 13+500 4,0 3050 4,0 4950 - - 30 900 85
3 13+500 12+300 4,0 2850 4,0 4650 15,0 4050 20 450 80
4 12+300 11+400 4,0 2950 4,0 4750 15,0 4100 20 450 80
5 11+400 10+750 4,0 3000 4,0 4900 - - 30 600 85
6 10+750 10+500 4,0 3000 4,0 4900 15,0 20 550 95
7 10+500 10+275 4,0 2900 4,0 4950 - - 30 950 90
8 10+275 9+450 4,0 2800 4,0 4650 15,0 20 450 80
9 9+450 9+150 4,0 3100 4,0 5050 - - 30 1100 90
10 9+150 7+950 4,0 3100 4,0 4950 15,0 20 600 100
11 7+950 7+775 4,0 2950 4,0 4800 - - 30 400 80
12 7+775 7+250 4,0 3150 4,0 4950 15,0 20 500 90
13 7+250 5+800 4,0 2950 4,0 4700 - - 30 1100 90
14 5+800 4+600 4,0 2900 4,0 4650 15,0 20 300 85
15 4+600 4+250 4,0 3050 4,0 4850 - - 30 900 80
16 4+250 3+850 4,0 3100 4,0 4950 15,0 20 400 110
17 3+850 2+300 4,0 3150 4,0 4900 - - 30 550 80
18 2+300 1+300 4,0 2900 4,0 4700 - - 30 1100 90
19 1+300 1+000 4,0 3050 4,0 4800 - - 30 450 80
20 1+000 0+000 4,0 3050 4,0 4900 - - 30 1150 90
Os ensaios foram realizados no dia 4 de Junho de 2009, com bom tempo, nos alinhamentos
coincidentes com o rodado direito e esquerdo de ambas as vias, nos dois sentidos de
circulação.Com base nos valores do referido parâmetro, foram definidos os gráficos que
traduzem o andamento da irregularidade longitudinal registada ao longo da distância
percorrida, bem como os respectivos histogramas, conforme mostra as Figuras 4.81 a 4.84.
3,00
2,50
IRI (m/Km)
2,00
1,50
1,00
0,50
0,00
21+186
21+586
21+986
22+386
22+786
23+186
23+586
23+986
24+386
24+786
25+186
25+586
25+986
26+386
26+786
27+186
27+586
27+986
28+386
28+786
29+186
29+586
29+986
30+386
30+786
31+186
31+586
31+986
32+386
32+786
33+186
33+586
33+986
34+386
34+786
35+186
35+586
PK
Figura 4.81 - Evolução dos valores do IRI calculados para troços de 100m, Sentido Crescente
– Via Direita (média dos dois rodados) (Consulstrada, 2009-a)
90,0%
73,8%
80,0%
70,0%
60,0%
50,0%
40,0%
30,0%
20,0%
4,8%
10,0%
0,0%
0,0%
<= 0,5 <= 1 <= 1,5 <= 2 <= 2,5 <= 3 <= 3,5
Figura 4.82 - Histograma Cumulativo dos valores do IRI calculados para troços de 100m,
Sentido Crescente – Via Direita (média dos dois rodados) (Consulstrada, 2009-a)
3,00
2,50
IRI (m/Km)
2,00
1,50
1,00
0,50
0,00
35+410
35+010
34+610
34+210
33+810
33+410
33+010
32+610
32+210
31+810
31+410
31+010
30+610
30+210
29+810
29+410
29+010
28+610
28+210
27+810
27+410
27+010
26+610
26+210
25+810
25+410
25+010
24+610
24+210
23+810
23+410
23+010
22+610
22+210
21+810
21+410
21+010
PK
Figura 4.83 - Evolução dos valores do IRI calculados para troços de 100m, Sentido
Decrescente – Via Direita (média dos dois rodados) (Consulstrada, 2009-a)
90,0%
80,0% 73,1%
70,0%
60,0%
50,0%
40,0%
30,0%
20,0%
4,8%
10,0%
0,0%
0,0%
<= 0,5 <= 1 <= 1,5 <= 2 <= 2,5 <= 3 <= 3,5
Figura 4.84 - Histograma Cumulativo dos valores do IRI calculados para troços de 100m,
Sentido Decrescente – Via Direita (média dos dois rodados) (Consulstrada, 2009-a)
A partir do cálculo da distribuição por classes dos valores de IRI da média dos dois rodados,
discriminaram-se no Quadro 4.50 para cada via, a percentagem de pontos que satisfazem os
limites das CTE de Avis (EP, 2007; e referidos no Capítulo 3).
Quadro 4.50 - Frequências dos valores de IRI obtidos na EN 370, com base nas médias de
100/100 m (Consulstrada, 2009-a)
Podemos constatar pelo Quadro 4.50, que a via de sentido crescente tem como classificação
Bom, enquanto que a via de sentido contrário tem classificação Muito Bom.
Os ensaios foram realizados no dia 4 de Junho de 2009, com bom tempo, no alinhamento
coincidente com o rodado direito de todas as vias construídas.
0,77 0,76
Para aferição dos valores obtidos na medição da textura superficial com recurso a
equipamento laser e consequente avaliação dos resultados segundo os parâmetros
preconizados nas CTE de Avis (EP, 2007), procedeu-se à realização de ensaios através do
Método da Mancha de Areia.
Estes valores são apresentados de seguida nos gráficos das Figuras 4.85 e 4.86 os histogramas
cumulativos que traduzem os valores da Profundidade de Textura Superficial registada ao
longo da distância percorrida.
100,0%
90,0%
81,4%
80,0%
70,0%
60,0%
50,0%
40,0%
30,0%
20,0%
10,0%
0,0% 0,0% 0,0% 0,0%
0,0%
< 0,4 < 0,5 < 0,6 < 0,7 < 0,8 < 0,9 < 1,0 < 1,1 < 1,2
100,0%
90,0%
80,0%
69,7%
70,0%
60,0%
50,0%
40,0%
30,0%
20,0%
10,0%
0,0% 0,0% 0,0% 0,0%
0,0%
< 0,4 < 0,5 < 0,6 < 0,7 < 0,8 < 0,9 < 1,0 < 1,1 < 1,2
A observação à vista desarmada da textura do pavimento (Figura 4.87) indiciava que a zona
entre os dois rodados apresentava-se mais rugosa, o que podia estar relacionada com o
processo construtivo da obra, isto é, logo após a compactação da mistura betuminosa tinha-se
que abrir de imediato ao tráfego em geral (Figura 4.88), com a mistura ainda quente, o que faz
com a textura na zona do rodado fique mais fechada.
Estes valores são apresentados de seguida nos gráficos das Figuras 4.89 e 4.90 os histogramas
cumulativos que traduzem os valores da Profundidade de Textura Superficial registada ao
longo da distância percorrida.
90,0%
80,0%
70,0%
60,0% 55,2%
50,0%
40,0%
30,0%
20,0%
10,0%
2,8%
0,0% 0,0% 0,0%
0,0%
< 0,5 < 0,6 < 0,7 < 0,8 < 0,9 <1 < 1,1 < 1,2 < 1,3 < 1,4 < 1,5 >= 1,5
90,0%
80,0%
70,0%
57,9%
60,0%
50,0%
40,0%
30,0%
20,0%
10,0%
2,8%
0,0% 0,0% 0,0%
0,0%
< 0,5 < 0,6 < 0,7 < 0,8 < 0,9 <1 < 1,1 < 1,2 < 1,3 < 1,4 < 1,5 >= 1,5
Quadro 4.52 - Média dos valores de profundidade de textura superficial obtidos a laser
(Consulstrada, 2009-a)
Os resultados obtidos confirmam que um dos factores que colocou o valor abaixo do exigido
nas CTE de Avis (EP, 2007) foi o processo construtivo, nomeadamente, a circulação do
De acordo com as CTE de Avis (EP, 2007), quando a medição do coeficiente de atrito é feita
em contínuo, à velocidade de 50km/h com o aparelho SCRIM, o valor da resistência à
derrapagem não deverá ser inferior a 0,40 e o CET EP (EP, 2009) exige que o valor da
resistência à derrapagem não deverá ser inferior a 0,50.
Este ensaio não deve ser realizado sem que antes seja removida a película superficial de
betume, sendo este intervalo de tempo variável, pois depende do tipo de mistura, o agregado
utilizado no fabrico da mistura, das condições climáticas da região e da quantidade e
agressividade do tráfego.
Com base nos valores médios por segmentos de 5m obtidos através do GripTester e
transformados pela relação descrita no Capítulo 3, foram definidos os gráficos que traduzem o
andamento do CAT (resistência à derrapagem) ao longo da distância percorrida sobre o
pavimento ensaiado, bem como os respectivos histogramas (Figuras 4.92 a 4.95).
Nos gráficos apresentados indica-se igualmente o valor de referência de 0,40 constante nas
CTE de Avis (EP, 2007), podendo desta forma obter-se uma visão global dos segmentos que
cumprem ou não, os requisitos que permitem uma distância de travagem segura para a
circulação.
1,00
0,90
0,80
Valores do Coeficiente de Atrito
0,70
0,60
0,50
0,40
0,30
0,00
21+000
21+300
21+600
21+900
22+200
22+500
22+800
23+100
23+400
23+700
24+000
24+300
24+600
24+900
25+200
25+500
25+800
26+100
26+400
26+700
27+000
27+300
27+600
27+900
28+200
28+500
28+800
29+100
29+400
29+700
30+000
30+300
30+600
30+900
31+200
31+500
31+800
32+100
32+400
32+700
33+000
33+300
33+600
33+900
34+200
34+500
34+800
35+100
35+400
km
Figura 4.92 - Evolução dos valores do CAT calculados para troços de 5m, Sentido Crescente
– Via Direita (Consulstrada, 2009-c)
100,0% 88,6%
90,0%
80,0%
70,0%
60,0%
50,0%
40,0% 30,7%
30,0%
20,0%
1,8%
10,0% 0,0% 0,0% 0,0%
0,0%
< 0,1 < 0,2 < 0,3 < 0,4 < 0,5 < 0,6 < 0,7 < 0,8 < 0,9 <1
Coeficiente de atrito
Figura 4.93 - Histograma cumulativo dos valores do CAT calculados para troços de 5m,
Sentido Crescente – Via Direita (Consulstrada, 2009-c)
1,00
0,90
0,80
Valores do Coeficiente de Atrito
0,70
0,60
0,50
0,40
0,30
0,20
Valores SCRIM
Limite do CE
0,10
0,00
35+400
35+100
34+800
34+500
34+200
33+900
33+600
33+300
33+000
32+700
32+400
32+100
31+800
31+500
31+200
30+900
30+600
30+300
30+000
29+700
29+400
29+100
28+800
28+500
28+200
27+900
27+600
27+300
27+000
26+700
26+400
26+100
25+800
25+500
25+200
24+900
24+600
24+300
24+000
23+700
23+400
23+100
22+800
22+500
22+200
21+900
21+600
21+300
21+000
PK
Figura 4.94 - Evolução dos valores do CAT calculados para troços de 5m, Sentido
Decrescente – Via Direita (Consulstrada, 2009-c)
100,0%
90,0%
80,0% 70,7%
70,0%
60,0%
50,0%
40,0%
30,0%
11,5%
20,0%
0,0%
< 0,1 < 0,2 < 0,3 < 0,4 < 0,5 < 0,6 < 0,7 < 0,8 < 0,9 <1
Coeficiente de atrito
Figura 4.95 - Histograma cumulativo dos valores do CAT calculados para troços de 5m,
Sentido Decrescente – Via Direita (Consulstrada, 2009-c)
O Quadro 4.65 apresenta as médias dos valores do CAT de cada via ensaiada.
Quadro 4.53 - Média dos valores do CAT por via (Consulstrada, 2009-c)
Este pavimento encontra-se em serviço há cerca de dois anos e não apresenta patologias, quer
a nível estrutural, como a nível funcional.
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Os resultados dos ensaios permitem inferir que é necessário ter cuidados redobrados com o
processo tecnológico de fabrico de misturas betuminosas com incorporação de granulado de
borracha, já que isso pode afectar decisivamente o seu comportamento mecânico e funcional,
não permitindo usufruir em pleno das vantagens do seu uso.
A caracterização do BMB por via húmida (ensaios de penetração, anel e bola, resiliência e
viscosidade) após interacção em central e antes do fabrico da mistura betuminosa, é muito
influenciada pela presença de granulado de borracha misturado no betume convencional, o
que sendo de esperar, na realidade desvirtua o que pode ser obtido depois do fabrico da
mistura betuminosa, já que as propriedades que são efectivamente observadas quando o
ligante é extraído este apresenta-se modificado residualmente e nada têm a ver com as obtidas
antes do fabrico.
Ainda no mesmo processo e para a mesma gama de temperaturas, está a produzir-se betume-
borracha num patamar que pode conduzir à incineração da borracha, resultando na sua
carbonização (maior fragilidade ou seja menores características elásticas) e portanto num
composto final betume-borracha bastante menos efectivo e durável.
Para uma temperatura de fabrico de 185ºC, recomendada pelo DA15 (LNEC, 2008) como
temperatura que deve ser usada no processo de interacção física entre o betume convencional
e o granulado de borracha por via húmida pode conduzir à incineração de 15 a 25% da
borracha obtida por trituração mecânica e de 10 a 20% da borracha obtida pelo processo
criogénico, resultando na sua carbonização (maior fragilidade ou seja menores características
elásticas) e portanto num composto final betume-borracha bastante menos efectivo e durável.
Para a temperatura de 210ºC, a perda da borracha por incineração é total para a borracha
criogénica e praticamente total (90% de perda) para a borracha de trituração mecânica.
O ensaio de desgaste à abrasão mostraram que existe uma interacção física forte e coesa entre
o betume convencional e o granulado de borracha no processo de fabrico usando a técnica por
via seca.
acordo com a norma AASHTO R 30 (AASHTO R 30, 2006) não permite simular o estado
necessário que as misturas devem ter para obter o seu comportamento à fadiga quando
colocadas em pavimentos em serviço;
Os resultados de desgaste à abrasão mostram que existe uma interacção entre o betume
convencional e o granulado de borracha favorável à manutenção da consistência das
misturas e que se pode utilizar este tipo de ensaios para avaliação da sua resistência à
desagregação;
As características estruturais das misturas MBR-VS do trecho experimental de Avis
mostram que os valores de módulo de deformabilidade obtidos por retro-análise estão
em consonância com o valor especificado no projecto e ligeiramente superiores aos
valores obtidos em laboratório e que são boas as características funcionais, textura e
atrito, que permitem dizer que é possível uma circulação cómoda e segura para os
utentes deste pavimento rodoviário. Os dados de atrito e textura efectuados após o
primeiro ano de serviço do pavimento confirmam a situação da entrada em serviço do
pavimento, revelando até valores maiores para CAT e textura, o que pode acontecer
por razões intrínsecas, desnudar do betume superficial em excesso, e extrínsecas como
limpeza pelo passagem do tráfego e ocorrência de pluviosidade.
5.4 Recomendações
Em função dos resultados do estudo podem sugerir-se as seguintes orientações:
No processo de fabrico de misturas betuminosas por via húmida ou seca, a interacção
entre o betume convencional e o granulado de borracha deve ser efectuada a
temperatura não acima dos 170ºC, de forma a aproveitar todas as características que o
betume-borracha apresenta quando presente nas misturas betuminosas
comparativamente ao uso de betumes convencionais;
No fabrico de misturas betuminosas por via seca deve-se utilizar preferencialmente
granulado de borracha com uma dimensão máxima igual ou inferior a 0,8 mm
(granulometria correntemente usada em Portugal) que deve ser pré-misturado ao
agregado aquecido à temperatura não acima dos 170ºC, durante um intervalo de tempo
suficiente (normalmente na ordem dos 15 segundos) para amolecer e libertar o teor em
água presente no granulado de borracha conduzindo a uma melhor interacção entre o
betume convencional e o granulado de borracha. Posteriormente, adiciona-se à pré-
mistura o betume convencional aquecido a uma temperatura na ordem dos 155ºC para
um betume de penetração nominal do tipo 35/50 (a temperatura do betume
convencional varia consoante a consistência do tipo de betume);
O controlo de qualidade de betume-borracha por via seca pode ser avaliado antes do
fabrico da mistura betuminosa, nomeadamente durante a fase de estudo da mistura
betuminosa, tal como acontece na via húmida, misturando o granulado de borracha
com o betume convencional aquecido neste caso de estudo à temperatura de 155ºC e
Nesta secção realiza-se uma breve análise económica entre a utilização da técnica por via
húmida, de uso corrente em Portugal, e a técnica por via seca, utilizada neste trabalho.
Efectuou-se ainda a comparação entre o custo por tonelada de mistura betuminosa fabricada
por estas duas técnicas utilizando as composições das misturas definidas neste trabalho e
descritas no Capítulo 4, em comparação com uma mistura betuminosa tradicional (de
granulometria contínua e com betume convencional), designada por AC14Surf35/50 (BB) de
acordo com a norma EN 13108-1 (CEN, 2006).
Para isso analisou-se duas soluções de estruturas de pavimento alternativos que consistiu na
colocação de MRB-VS com média e alta percentagem de borracha com uma espessura de
0,04 (normalmente utilizada como espessura de camada rugosa tradicional na tecnologia
portuguesa) em substituição da camada de desgaste considerada na solução tradicional e
utilizando os mesmos pressupostos e inferências de cálculo usados pelo projectista para a
estrutura tipo.
Ao cálculo do custo total, que se obtém da soma dos custos relativos aos materiais
constituintes (agregados e ligante), combustíveis e custos fixos (amortização da central e mão-
de-obra), de qualquer das misturas betuminosas estudadas foi acrescido um custo de 20% que
se pretende fazer corresponder ao custo de transporte e aplicação das misturas betuminosas na
obra. Este é um valor corrente em obras de pavimentação.
Preço/ton
Designação
Hipótese 1 Hipótese 2
Betume convencional 35/50 583 € 379 €
Transformação do Betume – borracha - BBA 175 €
Transformação do Betume – borracha - BBM 160 €
O custo de transformação de betume-borracha por via seca foi quantificado em 50% do custo
por via húmida, considerando que a diferença está nos custos fixos do equipamento e na
energia para o seu funcionamento. Este valor resultou duma análise informal realizada sob a
responsabilidade técnica do autor. Isto traduz-se numa diferença de 10% no custo final ao
consumidor, tendo-se obtido um valor para o BBA e BBM utilizando técnica por via seca de
158 € e 144 €, respectivamente, contra os valores por via húmida mostrados no Quadro 5.1.
No que diz respeito à estimativa de custos de fabrico de misturas betuminosas produzidas com
BBM, o CET EP (EP, 2009) admite-se que este produto é estável ao armazenamento e é
produzido em fábrica própria. Considerou-se que o preço de betume já inclui o preço do seu
transporte para a central de betuminosos, um custo fixo por tonelada de fabrico é de 2,20
euros por oito horas de trabalho para uma produção diária de 1500 toneladas e uma central de
fabrico com uma capacidade máxima de produção de 260 ton/hora.
5.5.3 Misturas betuminosas com 20% de borracha (via húmida e seca) e tradicional
No caso em estudo considerou-se o fabrico de uma mistura betuminosa com 8,5% de ligante
(20% de borracha em relação ao peso total de ligante) e de uma mistura betuminosa
tradicional com 5% de betume convencional para uma central com capacidade de produção de
260 ton/hora.
O custo por tonelada de betume-borracha por via húmida ou seca é expresso pela Equação
5.1.
O Quadro 5.2 mostra os valores obtidos pela Equação 5.1 e comparado com o betume
convencional.
Quadro 5.2 - Preço por tonelada do BBA (via húmida e seca) e do betume convencional
Hipótese 1 Hipótese 2
Processo de fabrico
Preço/Ton.
Via Húmida 641 € 478 €
Via Seca 624 € 461 €
Betume convencional 583 € 379 €
Na Figura 5.1 faz-se uma análise comparativa entre os custos por tonelada de BBA (via
húmida e seca) e do betume convencional para as duas hipóteses.
700 €
BBA - Via Húmida
600 €
500 €
300 €
200 €
Betume convencional
100 €
0€
Hipótese 1 Hipótese 2
Figura 5.1 - Análise comparativa do preço por tonelada do ligante de BBA (via húmida e
seca) e do betume convencional
As centrais de fabrico reduzem a sua capacidade de produção total, no caso da via húmida
esta é de 46% (devido à elevada viscosidade do betume-borracha e tempo de espera de
pesagem do ligante) e na via seca é de 17% (tempo de pré-mistura do agregado de borracha e
O Quadro 5.3 ilustra os custos totais de fabrico da central por tonelada de mistura de BBA por
via húmida (VH), via seca (VS) e tradicional com betume convencional 35/50 (Trad.).
Quadro 5.3 - Custo por tonelada de fabrico de mistura com BBA por via húmida e seca e com
betume convencional
Foi considerado um acréscimo do custo dos consumíveis das misturas com BBA em relação
à mistura tradicional de 7,2% para a via húmida. Este valor resultou duma análise informal do
acréscimo de consumo energético verificado em centrais de fabrico sob a responsabilidade
técnica do autor e que é devida à elevada viscosidade do ligante á entrada do misturador e à
maior duração de pesagem do ligante final introduzido. Usando a mesma abordagem de
análise assumiu-se um acréscimo de 0,5% do custo dos consumíveis para as misturas por via
seca, essencialmente devido ao tempo adicional de mistura a seco entre o agregado e o
granulado de borracha.
Na Figura 5.2 desenvolve-se uma análise comparativa entre os custos por tonelada de mistura
betuminosa produzida com BBA (via húmida e seca) e do betume convencional.
80 €
BBA - Via Húmida
70 €
60 €
50 €
BBA - Via Seca
40 €
30 €
20 €
Betume convencional
10 €
0€
Hipótese 1 Hipótese 2
Figura 5.2 - Análise comparativa do preço por tonelada de mistura betuminosa fabricada com
ligante de BBA (via húmida e seca) e do betume convencional
5.5.4 Misturas betuminosas com 10% de borracha (via húmida e seca) e tradicional
No caso em estudo considerou-se o fabrico de uma mistura betuminosa com 5,0% de ligante
(10% de borracha em relação ao peso total de ligante) e de uma mistura tradicional com
betume convencional para uma central com capacidade de produção de 260 ton/hora.
O Quadro 5.4 mostra o preçário obtido pela equação 5.1, no caso do BBM fabricado por via
seca e preçários do BBM por via húmida e betume convencional.
Quadro 5.4 - Preço por tonelada do ligante BBM (via húmida e seca) e do betume
convencional
Na Figura 5.3 faz-se uma análise comparativa entre os custos por tonelada de BBM (via
húmida e seca) e do betume convencional para as várias hipóteses.
700 €
BBM - Via Húmida
600 €
500 €
300 €
200 €
Betume convencional
100 €
0€
Hipótese 1 Hipótese 2
Figura 5.3 - Análise comparativa do preço por tonelada do ligante de BBM (via húmida e
seca) e do betume convencional
As centrais de fabrico reduzem a sua capacidade de produção total, no caso da via húmida
esta em cerca de 23% (devido à elevada viscosidade do betume-borracha) e na via seca é de
O Quadro 5.5 ilustra os custos totais de fabrico da central por tonelada de mistura de BBM
por via húmida (VH), via seca (VS) e tradicional com betume convencional 35/50 (Trad.).
Quadro 5.5 - Custo por tonelada de fabrico de mistura com BBM por via húmida e seca e com
betume convencional
Foi considerado um acréscimo do custo dos consumíveis das misturas com BBA em relação
à mistura tradicional de 4,1% para a via húmida. Este valor resultou duma análise informal do
acréscimo de consumo energético verificado em centrais de fabrico sob a responsabilidade
técnica do autor e que é devida à elevada viscosidade do ligante à entrada do misturador.
Usando a mesma abordagem de análise assumiu-se um acréscimo de 0,5% do custo dos
consumíveis para as misturas por via seca, essencialmente devido ao tempo adicional de
mistura a seco entre o agregado e o granulado de borracha.
Na Figura 5.4 desenvolve-se uma análise comparativa entre os custos por tonelada de mistura
betuminosa produzida com BBM (via húmida e seca) e do betume convencional.
50 €
BBM - Via Húmida
40 €
30 €
BBM - Via Seca
20 €
10 € Betume convencional
0€
Hipótese 1 Hipótese 2
Figura 5.4 - Análise comparativa do preço por tonelada de mistura betuminosa fabricada com
ligante de BBM (via húmida e seca) e betume convencional
de betume de 4,5%) em que a resistência à fadiga das misturas betuminosas com betume-
borracha para extensões inferiores a 300x10 -6 é cerca de 3 a 5 vezes superior quando
comparada com a mistura convencional e para extensões superiores a 300x10 -6 é cerca de 5 a
10 vezes superior (Sousa et al, 1999); (iii) resultados dos ensaios de simulação de tráfego à
escala real que permitiram comparar e quantificar a durabilidade dos pavimentos constituídas
por misturas betuminosas tradicionais, por misturas betuminosas do tipo “Terminal Blend”
(BBM - média percentagem de incorporação de borracha) e misturas do tipo ARAC (com
uma percentagem de ligante de 7,1% e 17% de incorporação borracha sobre a massa total de
ligante), conforme ilustrado na Figura 5.5 (Qi et al, 2005).
Simulador de tráfego
Figura 5.5 - Pistas dos ensaios de simulação de tráfego à escala real (adaptado de Way, 2010)
Contudo, neste trabalho admitiu-se que a colocação de uma MBR-VS com alta percentagem
de borracha (B2B) em camada de desgaste em detrimento de uma mistura betuminosa
tradicional a estrutura do pavimento teria um comportamento à fadiga de 14,6 vezes
superiores e para o caso da MBR-VS com média percentagem de borracha (B1B) teria um
comportamento à fadiga de 15% do valor admitido para a MBR-VS com alta percentagem de
borracha, ou seja, um melhor comportamento em relação à mistura betuminosa tradicional de
2,19 vezes, que corrobora com os ensaios de fadiga obtidos neste trabalho e expostos no
Capítulo 4.
No que diz respeito à deformação permanente e face ao resultados não conclusivos dos
ensaios de simulação de tráfego à escala real, considerou-se neste trabalho, os resultados dos
ensaios de simulação de tráfego realizados em laboratório obtidos neste trabalho e expostos
no Capítulo 4, realizados à temperatura de 50ºC e a pressão de 700 kPa. A opção de utilizar os
resultados dos ensaios à temperatura de 50ºC deve-se ao facto de ser esta a temperatura
máxima atingida no pavimento no território português (Freire, 2002) e nos ensaios realizados
à temperatura de 60ºC a mistura betuminosa de referência (MBR) não terminarem o ensaio,
ou seja, ruína da mistura.
Para o cálculo dos estados de tensão e de deformação das estruturas de pavimento alternativo
foi utilizado o programa de cálculo BISAR, admitindo a mesma inferência realizada pelo
projectista da estrutura-tipo de obter as extensões condicionantes debaixo de uma das rodas do
rodado de cálculo considerado.
Figura 5.8 - Representação esquemática das soluções das estruturas de pavimento alternativas
O Quadro 5.7 mostra o custo por tonelada de fabrico para a camada de base em macadame
betuminoso, que se designa segundo CET EP (JAE, 1998) por Macadame Fuso B (espessura
da camada ≥ 0,10m) e Macadame Fuso A (espessura da camada < 0,10m).
Além da redução de custo, quando se aplica uma mistura MBR-VS de média e alta
percentagem de borracha em camada de desgaste em relação à mistura betuminosa tradicional
deve-se ter em consideração o tempo de redução de fabrico na central de betuminosos devido
a menor quantidade de misturas que no caso da solução com MBR-VS(M) é de 4843 ton. e
para a solução com MBR-VS(A) é de 16068 ton. Em consequência disto haverá também uma
Se no lugar duma percentagem de ligante final de 8,5% se usasse ao produzir a MBR-VS (A)
uma percentagem de ligante de 7% (incorporando 20% de borracha em relação à massa total
de ligante) utilizada por Sousa et al, 1999 e admitindo que esta mistura teria um desempenho
mecânico (módulo de deformabilidade, fadiga e deformação permanente) semelhante ao
considerado neste caso de estudo (inferência defensável atendendo aos valores descritos),
resultaria um custo final desta solução alternativa de 3.373.988 € para a hipótese 1 o que
permitiria uma economia de 12,9% em lugar de 7,5%, ou um custo final de 2.648.064 € para a
hipótese 2 o que, por sua vez, permitiria uma economia de 12% em lugar de 6,8%.
De facto, o tipo de formulação estudado é pioneiro e a técnica por via seca tem sido preterida
em relação à técnica por via húmida em vários países.
No essencial pode dizer-se que os objectivos deste trabalho foram plenamente conseguidos já
que se demonstrou a validade da técnica por via seca para o fabrico de misturas betuminosas
com incorporação de borracha e contribui-se significativamente para o suporte tecnológico
necessário à sua utilização. Pode ainda dizer-se que ficou por realizar a validação em trecho
experimental da mistura betuminosa com média incorporação de borracha fabricada a 170ºC,
o que teria sublinhado uma mais vasta contribuição.
Numa perspectiva económica, verificou-se que recorrendo à técnica de fabrico por via seca
em detrimento da via húmida, podem-se conseguir-se reduções de custos de fabrico e
execução significativos, da ordem dos 10 %. Além disto um menor custo de transformação do
betume-borracha, permite que a central de fabrico tenha uma maior capacidade de produção,
menor consumo de combustíveis e desgaste do equipamento (ex. bomba de injecção do
betume) e consequentemente uma redução do tempo de execução da empreitada o que,
seguramente, permite uma redução de custos ainda maior. Sublinha-se, uma vez mais, que não
se está a incluir nesta avaliação económica o benefício externo para o ambiente e para a
sociedade resultante duma utilização sustentada de pneus usados.
Este trabalho contribui para ultrapassar a falta de experiência do universo técnico nacional na
utilização desta técnica de incorporação de borracha, esperando-se que venha a ser vertido nas
especificações de referência para o meio técnico nacional, usufruindo dessa forma dum tipo
de solução eficaz do ponto de vista económico e ambiental para além do técnico, como
vastamente referido.
Finalmente, talvez se possa sugerir que a aplicação prática deste tipo de materiais possa ser
encetada desde já pelas administrações ainda que, numa primeira aproximação, numa base
mais experimentalista, porque é desta experiência de fabrico, aplicação e verificação do
comportamento que melhor se consolidam os processos e melhor se validam as técnicas.