Plano Diret
Plano Diret
Plano Diret
Recife PE
2008
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO URBANO
Banca Examinadora:
i
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO URBANO
Agradecimentos
É impossível traduzir em palavras o sentimento de gratidão que tenho com todos os amigos e
colaboradores que incondicionalmente me apoiaram neste longo caminho do conhecimento do
conhecimento científico. 1 Apesar da exagerada introspecção, esta tese não pôde ser produzida
sem a colaboração de várias pessoas que muito generosamente compartilharam comigo, ao
longo destes anos, muitos conhecimentos, olhares, impressões, dúvidas, mostrando-me na
prática que dentro de uma universidade cada vez mais organizacional, burocrática e
competitiva, existe outra, que faz ciência com consciências, 2 isto é, solidária e comprometida
com a realidade social. Então, eu não poderia deixar de agradecer:
Ao amigo de todas as horas Jan Bitoun, presença constante com suas indagações e
imprescindíveis contribuições. Jan tem sido um grande interlocutor ao longo de todos os meus
trabalhos acadêmicos, com sua imensa generosidade em compartilhar muitos conhecimentos;
À professora Tânia Bacelar, que traduz os complexos temas da economia regional com a
clareza de quem relata uma instigante história. As suas contribuições muito fortaleceram o
caminho metodológico trilhado;
ii
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO URBANO
À Amiga Luiza de Marillac, sempre disposta a ajudar nos momentos mais difíceis. Obrigada
pelas muitas inspirações e eficientes receitas de “concentração, criatividade e equilíbrio”;
Aos amigos Gleidson Dantas e Socorros Leite, sempre disponíveis, pela inestimável ajuda
com os incontáveis mapas; Gleidson com muito bom humor, ensinando-me pacientemente a
lógica do funcionamento dos programas de georrefenciamento, e Socorro com sua
tranqüilidade e serenidade, sempre à disposição ao primeiro chamado;
3
(HARVEY 2004, 12)
iii
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO URBANO
Aos colegas da FASE, Evanildo, Luiza, Adelmo, Alexandre, Marli, Rejane, Elanei, Flavio e
Socorro, pela compreensão e apoio, liberando-me para as atividades acadêmicas todas as
vezes em que estive na reta final;
Aos granjeiros metropolitanos e a todos aqueles que contribuíram direta ou indiretamente para
a produção deste trabalho;
À minha família que está sempre comigo, em particular à minha tia Edith e à minha mãe
Maria Lúcia pelo incondicional apoio que sempre me deram, e a Demóstenes, querido
companheiro de todas as horas, pela paciência e apoio, acima de tudo nos momentos mais
difíceis da conclusão.
iv
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO URBANO
“(...) some have suggested the term ‘rurban’ to characterize adequately the
cultural pattern, of these two population groupings within the hinterland which
no longer live as separate entities but as an integrated whole. Rurban, then, is
an ever-expanding term, including more and more interrelation ships between
city and country and calling for an ever-expanding set of concepts for the
consideration of the problems of urban and rural planning”. 4
4
"(...) alguns têm sugerido o termo ‘rurbano’ para caracterizar adequadamente o padrão cultural destes dois
agrupamentos populacionais inseridos nas bordas urbano/rurais, que não mais vivem como duas entidades
separadas, mas como um todo integrado. Rurbano, dessa forma, é um conceito em constante expansão, incluindo
mais e mais inter-relações entre cidade e campo, realçando a necessidade de expandir os conceitos de rural e
urbano para considerar os problemas do planejamento urbano e rural integradamente."
v
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO URBANO
Resumo
vi
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO URBANO
Abstract
To investigate spatial processes and city planning possibilities for the rural-urban transition
areas is the objective in this thesis. We predicted that even if these areas have not been,
historically, centered by urban planning focus, they express, currently, a strong convergence
of interests, processes and conflicts on social-economic, territorial and environmental issues.
So, it’s not possible to promote a sustainable and socially just occupation and land use of the
whole municipality area – as it is defined by the Estatuto da Cidade (“City Statute”, a 2001
Brazilian Federal Law) – if we do not have urban policy instruments that could actually
guarantee urban planning possibilities for the rural-urban transition areas. In detail, we chose
the Metropolitan Area of Recife and, within it, we do some considerations about Aldeia’s
neighborhood, in Camaragibe municipality, to observe the social-spatial strategies and
articulations that drive the dynamics and the organization of the intra-metropolitan rural-urban
space; the used indicators; the city planning possibilities adopted by local and state
Government and the available set of legal regulations. Analyzing housing production on the
chosen areas, we evidenced that although the recent legal and institutional advances for the
Urban Reform ideals in Brazil, it stills many difficulties to face the serious problems that
come from an historical process of spread, incomplete and speculative land use and
occupation, and its consequent planning issues.
Key word: Urban Planning, Urban Policy, Zoning, Rurban Planning, Urban Right.
vii
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO URBANO
Lista de figuras
Figura 3.1- Planície do Recife e da Ilha Antônio Vaz– Sec. XVII. Fonte: (REIS E FILHO
1998)....................................................................................................................................... 136
Figura 3.2- Recife e arrabaldes - 1876. Fonte: (FIDEM 1987, 18) ........................................ 139
Figura 3.3– Recife e arrabaldes, 1947. Fonte: (FIDEM 1987, 19)......................................... 140
Figura 3.5 - Ramos da ocupação, segundo o Plano Metrópole 2010. Fonte: (FIDEM 1998) 157
Figura 3.6 - Recife: Leis do Uso e Ocupação do Solo - Lei 7421/61, Lei 14.511/83. ........... 163
Figuras 3.7 – Loteamentos e favelas na RM Recife. Miranda, Março 2005 .......................... 164
Figura 3.9 – Sede do Engenho Camaragibe, hoje residência. Miranda, 2004........................ 205
Figura 3.10 - Loteamentos rurais em 1960 e Figura 3.11- Granjismo nos anos 1990 ........... 205
viii
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO URBANO
Lista de cartogramas
Cartograma 2.2 - Áreas de proteção dos mananciais de interesse da RM Recife - Lei Estadual
no 9.860/86.............................................................................................................................. 134
Cartograma 2.3 - Áreas precárias na RM Recife – Cadastro de Áreas Pobres FIDEM 1978 e
COHAB 1088 ......................................................................................................................... 135
Cartograma 3.3 – Subclassificações do rural e do urbano segundo o IBGE, 1991 ................ 226
Cartograma 3.7 - RM Recife e Zona da Mata Canavieira: tipologia das cidades. (BRASIL,
Ministério das Cidades 2005) ................................................................................................. 230
Cartograma 3.13 – Taxa geométrica de crescimento na RM Recife (ACAT 1991-2000) ..... 236
ix
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO URBANO
Cartograma 3.15 - Perfil Socioocupacioal na RM Recife (IBGE 1991, a partir de IBGE 2000)
................................................................................................................................................ 238
Lista de quadros
Quadro 3.2 - Tipologia de cidades brasileiras. Fonte: (BRASIL, Ministério das Cidades 2005)
................................................................................................................................................ 174
x
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO URBANO
Lista de tabelas
Tabela 3.4 – Situação jurídica dos imóveis rurais – Sistema Nacional de Cadastro Rural
(SNCR) – Apuração especial em outubro/2003 ..................................................................... 168
Tabela 3.5 - Deslocamento para o Estudo ou Trabalho na RM Recife – IBGE 2000............ 182
Tabela 3.7- Distribuição das categorias socioocupacionais. RM Recife. 1991-2000 ............ 184
Tabela 3.8 - Categorias socioocupacionais na RM Recife (IBGE 1991 – 2000) ................... 186
Tabela 3.9 - Áreas dos loteamentos por classificação Fonte: (CONDEPE-FIDEM 2003).... 197
Tabela 3.10 - Domicílios de segunda residência em PE, Censos de 1991 e 2000 ................. 203
xi
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO URBANO
xii
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO URBANO
Lista de siglas
xiii
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO URBANO
xiv
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO URBANO
xv
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO URBANO
Sumário
Resumo......................................................................................................................................vi
Abstract....................................................................................................................................vii
Lista de figuras........................................................................................................................viii
Lista de cartogramas .................................................................................................................ix
Lista de quadros .........................................................................................................................x
Lista de tabelas...........................................................................................................................xi
Lista de siglas..........................................................................................................................xiii
Considerações iniciais...............................................................................................................1
1 Na metrópole: do urbano ao rural-urbano .................................................................. 15
xvi
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO URBANO
2.3 Competências constitucionais dos entes federativos sobre a política urbana e algumas
implicações em relação às áreas rurais e à proteção ambiental ......................................... 106
2.3.1 A competência municipal sobre o rural............................................................ 109
2.3.2 A regulação e o parcelamento do solo nas áreas de transição rural-urbana ..... 111
xvii
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO URBANO
Considerações finais..............................................................................................................244
Anexo 1 – Situação jurídica dos imóveis rurais dos municípios da Região Metropolitana do
Recife......................................................................................................................................268
Bibliografia............................................................................................................................292
xviii
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Considerações iniciais
Nos últimos 20 anos, assistiu-se: a uma crescente ampliação do papel dos municípios nos
campos do Planejamento e da Gestão Urbana; à implantação mecanismos para a garantia
da participação no planejamento, e ao crescimento da questão ambiental. Ao mesmo
tempo, mantiveram-se questões estruturais que comprometem e desafiam as formas
convencionais de tratamento da urbanização metropolitana, em particular suas áreas de
5
Aspectos da gestão, hierarquia e dinâmica metropolitana; da produção do espaço intrametropolitano e
habitacional, da suburbanização, segregação, dualização e desigualdades socioespaciais; da sustentabilidade
ambiental, requalificação dos espaços degradados, dentre outros, foram amplamente discutidos nos últimos
anos. Poder-se-ia, aqui, elencar uma infindável lista de temas e referências, o que se procurou evitar. Um
importante balanço dos temas e desafios para a construção acadêmica dos estudos sobre questões urbanas e
regionais no país foi oferecido por Ana Clara T. Ribeiro no final dos anos 1990 (A. C. RIBEIRO 1997, 237).
Mais recentemente, inúmeros artigos publicados em importantes revistas (Espaço & Debates; ANPUR,
Cadernos do IPPUR, Caderno Metrópoles, entre outras), bem como resultados editados de seminários,
encontros e reuniões dão conta da diversidade de abordagens sobre os temas em tela.
6
Excessivamente tecnocráticos, os Planos Diretores nos anos 1970 e 1980 foram, de modo predominante,
homogeinizadores das profundas diferenças existentes na rede urbana brasileira. Acabaram por apresentar
infindáveis diagnósticos e levantamento de dados que resultaram em diretrizes muito distantes da vida
econômica e social das cidades, além de não conseguirem produzir instrumentos de aplicáveis de controle
direto do capital imobiliário. Alguns autores, tais como Bitoun, J. (2007), Villaça F. (2005); Pontual (2001);
Zanchetti, S. e Lacerda, N. (1999); Rolnik R. (1997); Maricato E. (1996); Grazia G. (1990); Coelho F.
(1990); Campos Filho (1989); Matus (1989), dentre outros, compartilham dessa visão.
1
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
2
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
7
Para Graziano da Silva (2002: ix), o adjetivo rural tem duas acepções: i) como sinônimo de agrário, ou ii)
caracteriza o que é relativo ao campo, em oposição à cidade.
8
Silva J. G. (2002); Veiga J. E. (2005), Abramovay, R. (1996) dentre outros.
3
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Os caminhos metodológicos
O interesse desta tese é oferecer elementos para a discussão sobre os processos espaciais e
as possibilidades de planejamento em áreas de transição rural-urbana situadas nas
aglomerações metropolitanas, considerando: i) a diversidade de processos espaciais; ii) as
4
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Essa região esboça fortes conflitos de urbanização nas zonas rurais 9 que mantêm a
agroindústria canavieira como significativo ativo econômico. Tal situação permitirá a
observação de especificidades, de forma que possam ter aplicabilidade em outras
realidades para garantir uma visão mais estruturadora das áreas de transição rural-urbana.
9
Nos municípios brasileiros a zona rural é toda área localizada entre o limite municipal e o perímetro urbano,
regulamentado por lei municipal.
5
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
A produção acadêmica sobre as apropriações dos espaços rurais pelo urbano pode ser
organizada em três momentos mais significativos:
ii) Da década de 1970 aos anos 1990 - em meio a um intenso êxodo rural e à crescente
metropolização das principais capitais, referenciam-se os trabalhos de Cunha (1975);
Corrêa (1979); Azevedo (1982); Davidovich (1983) (1987); Zanchetti e Pontual (1991);
6
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Silva (1992); Carlo (1994); que se concentraram no estudo das transformações do rural em
urbano a partir da expansão residencial na periferia, conformando áreas populares e de
status. Nesse processo, foram analisados os condomínios fechados, os loteamentos
populares e as favelas. Seabra (1979) e Coelho (1986) analisam, dentre as formas de
urbanização na periferia urbana, a segunda residência, ao registrarem o processo de
dispersão e reprodução espacial.
10
Villaça (2001: 18) ressalva a utilização da terminologia espaço intra-urbano, tendo em vista que a acepção
espaço urbano teria o mesmo significado. No entanto, utiliza a expressão pelo fato de os estudos regionais já
terem capturado simbolicamente as expressões espaço urbano, reestruturação urbana, estrutura urbana.
7
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
11
Esse plano foi encomendado pelo Conselho de Desenvolvimento Metropolitano (CONDERM) e produzido
pela FIDEM em 1998, porém não resultou em um conjunto de normas legais.
8
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Partiu-se da premissa de que o Estado brasileiro teve, ao longo dos últimos 30 anos, uma
atuação descontínua e fragmentada, sem um tratamento adequado para os processos
espaciais nas áreas de transição rural-urbana. Tais reflexões estarão sistematizadas, de
forma mais abrangente, no segundo capítulo desta tese. Para tanto, foi necessário resgatar:
i) os ideários, diagnósticos, estratégias e instrumentos do Planejamento Urbano nas escalas
metropolitana e municipal, assim como estudos, pesquisas e diagnósticos mais
recentemente produzidos para a RM Recife; e ii) o aparato institucional e os marcos
regulatórios atuais - particularmente os que se referem a instrumentos de zoneamento,
12
O Programa Instituto do Milênio, 2005-2008 – Edital MCT/CNPQ 01/2005. Observatório das Metrópoles:
Território, Coesão Social e Governança Democrática. Linha de Pesquisa: Dimensão Socioespacial da
Exclusão/integração nas Metrópoles: Descrição, Análise da Dinâmica e Evolução da Organização Social do
Território das Metrópoles - 1980/2000 – Coordenado nacionalmente pelo Professor Luiz César Queiroz
Ribeiro (IPPUR-UFRJ) e localmente pela Prof. Maria Ângela de A. Souza (MDU-UFPE).
13
Cardoso e Ribeiro definem padrão como “o conjunto dos princípios que orientam o ‘diagnóstico da
realidade urbana’, bem como a definição da forma, objeto e objetivos da intervenção proposta. Cada padrão
é, portanto, apreendido como um conjunto de representações que categorizam a realidade social e de técnicas
de ação” (CARDOSO and RIBEIRO, Cidade, Povo e Nação 1996, 77).
9
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Por um lado, se alguns documentos deixaram claro em seus diagnósticos os desafios para o
planejamento metropolitano, por outro, não conseguiram apontar instrumentos mais
específicos para a gestão dos conflitos que acontecem nas áreas de transição rural-urbana.
Mesmo quando se considera que o arcabouço institucional recentemente regulamentado
oferece novas possibilidades para a gestão dos territórios periféricos, os processos
socioespaciais recentes parecem apontar para opções de gestão do território vinculadas ao
predomínio dos interesses estratégicos do mercado (relações entre a localização dos
empreendimentos imobiliários e a provisão de infra-estruturas).
10
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
organização espacial rural-urbana da RM Recife foi escolhida uma área para detalhar a
investigação: as áreas granjeiras de Camaragibe – compreendem a porção norte do
município de Camaragibe. Sua escolha justifica-se por retratarem elas um importante
processo de transformação de solo rural em urbano. O trabalho de Costa (1960) foi
importante referência para esse estudo, pois trabalhou com a identificação do processo de
loteamentos rurais promovidos após a implementação das rodovias BR-408 e PE-27. Para
a autora, o granjismo 14 representaria uma real possibilidade de diversificação produtiva da
monocultura canavieira a partir da fruticultura (perspectiva que torna o debate bastante
atual). O granjismo estruturou uma urbanização difusa e de baixa densidade. Os atributos
naturais que essas áreas conservam são o seu principal vetor de atração. Concentram
padrões de usos agrícolas, em áreas de grandes mananciais e próximas a sistemas técnicos
de infra-estrutura e ilustram aspectos de um processo mais recentemente caracterizado
como “novo rural brasileiro” (J. G. SILVA, O novo rural brasileiro 2002). Quando se
observa esse cenário nos tempos recentes, pode-se constatar que o granjismo se
transformou em uma importante frente de urbanização, promovida pelo mercado
imobiliário e consumida pelos recifenses que adquiriram chácaras de recreio e
condomínios fechados. Os recentes investimentos na infra-estrutura viária parecem a
induzir mudanças significativas no padrão de uso e ocupação do solo. Um grande
empreendimento imobiliário, o Alphaville Francisco Brennand, está sendo implantado na
Fazenda São Francisco, BR-408, próximo ao Terminal Integrado de Passageiros (TIP).
No caso em pauta, foi possível observar que a produção habitacional foi a promotora de
importantes conflitos na transformação do solo rural para o urbano. No campo da
regulação urbana, principalmente no que diz respeito a parâmetros e instrumentos
urbanísticos, também foram identificadas questões importantes para discussão, como por
14
O neologismo granjismo foi utilizado por Costa (1960) para designar o processo de loteamentos rurais,
propriedades (engenhos, fazendas e sítios), que começaram a ser parceladas nos anos 1950 em lotes de
aproximadamente 10 ha, denominadas pelos seus proprietários de granjas. Essas granjas eram utilizadas
como uma segunda residência e acumulavam funções avícolas, criatórias e de hortifruticulturas em pequena
escala. Concentravam-se, na zona da mata norte, ao longo das recém-construída PE-27 (em Carpina,
Paudalho) e BR-232 (em Gravatá); na RM Recife apareciam mais fortemente em Aldeia, Paulista e Igarassú
e, pontualmente, em Moreno, Cabo e Jaboatão.
11
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
12
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
tentacular da mancha urbana metropolitana, mesmo não tendo sido planejado, resultou dos
impactos dessas políticas. Esse contexto, marcado por forte concentração de terras nas
mãos de grandes proprietários, especuladores e empreendedores imobiliários, é
complementado por uma gestão urbano-metropolitana descontínua, fragmentada e pouco
democrática. Procurou-se caracterizar a diversidade dos processos espaciais e os efeitos do
planejamento metropolitano e municipal sobre a organização espacial das áreas granjeiras
de Camaragibe, onde foi possível observar muito claramente a transformação de solo rural
em urbano a partir da promoção de loteamentos.
13
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
O capitulo que se inicia está organizado em quatro partes: a primeira procura resgatar o
processo histórico de constituição da fase metropolitana do processo de urbanização
brasileiro e suas especificidades na constituição das áreas de transição rural-urbana. Na
segunda, serão exploradas algumas referências técnico-conceituais e metodologias
formuladas em outros campos disciplinares para a caracterização e delimitação das áreas
de transição rural-urbana, tentando-se realçar as dificuldades geradas pelos campos
conceituais e semânticos para nomear e definir mais precisamente essas áreas. É
apresentado um acervo pouco consultado pelos planejadores urbanos, mas que contém
referências obrigatórias dos pesquisadores preocupados com os novos rumos do processo
de ruralização. Por último, nas terceira e quarta partes procurou-se entender o papel dos
diferentes agentes na produção das dinâmicas socioespaciais nessas áreas.
15
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Singer (1990), Lacerda (1978), Andrade (1979), Bitoun (2004) dentre outros, ressaltam a
condição extremamente desigual das metrópoles brasileiras evidenciada na permanente e
contrastante coexistência de realidades que expressam o crescimento e a modernização,
bem como de outras com altos índices de carência, uma vez que grandes contingentes da
população se encontram na economia de subsistência e não conseguem inserir-se nos
ramos mais modernos de produção. Essa condição alimenta o quadro de desigualdades
persistente e reflete-se entre as metrópoles nacionais e entre os espaços
intrametropolitanos. Esse contexto é mais grave no caso das metrópoles nordestinas, que
apresentam um quadro de pobreza relativamente mais extensiva, como o evidenciam as
estatísticas. Na RM Recife, por exemplo, 49% dos residentes eram pobres 15 em 2000,
sendo que, no município de Araçoiaba, esse percentual atingia 72% da população (IBGE
2002).
Milton Santos (1993: 90) ressalta, a partir da caracterização das etapas da metropolização
brasileira, que o movimento de concentração-dispersão na metrópole está diretamente
15
O Atlas de Desenvolvimento Humano do Brasil considerou pobre aquele indivíduo que tinha uma renda
domiciliar per capita inferior a ½ salário mínimo em agosto do ano 2000. Esse valor correspondia a R$75,50
(setenta e cinco reais) no período. IPEA, PNUD, FJP (2004).
16
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
16
Santos (2000) lembra que neste contexto mercado e espaço ou mercado e território são sinônimos.
17
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
espacial urbana e rural: i) o primeiro se estende até os anos 1950, quando o rural e o
urbano eram dois pólos em oposição, claramente delimitados e caracterizados pela
dicotomia e contraposição; ii) no segundo, a intensificação dos processos de
industrialização, migração e urbanização configuraram processos mais complexos de
organização espacial, que avançam em direção às zonas rurais, o que caracteriza o domínio
do urbano e a dependência do rural. As permanências e a fragmentação definiram duas
realidades distintas - o rural moderno e o rural tradicional; e, iii) o terceiro e mais recente
momento, quando se configuram novas inserções da economia para além das atividades
agrárias e da urbanização geográfica. A ocupação do espaço se generaliza sem permitir
claras delimitações.
17
Para Lefèbvre a“sociedade urbana resulta da urbanização completa, hoje virtual, amanhã real”. Nasce da
industrialização que domina e absorve a produção agrícola. A sociedade urbana é um modelo teórico
(LEFEBVRE 2002, 16).
18
Kayser (1990: 13) define a ruralidade como um modo particular de utilização do espaço e da vida social.
Pode ser caracterizado por três componentes principais: a) o ecológico – estrutura do habitat humano
relacionado com a forma de ocupação do solo e as relações que se estabelecem; a baixa densidade
demográfica relacionada ao espaço físico natural é o cenário dessas relações; b) os socioeconômicos - uso
econômico da terra relacionado com as atividades agrárias. Atualmente, esses usos vêm se diversificando; c)
os socioculturais - modo de vida dos habitantes caracterizado pela particular relação com o espaço e pelo
pertencimento a pequenas coletividades, bem como identidade e cultura camponesa.
18
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Para Lefèbvre (2002: 17) a sociedade urbana está na sua fase pós-industrial, fase em que as
relações de domínio e dependência são trocadas por outra de independência, relacionadas
com o maior ou menor grau de integração aos processos globais. Territórios mais ou
menos conectados a esses processos podem incluir tanto área a urbana quanto os espaços
rurais. Assim, a velha oposição cidade-campo deixa de ter sentido do ponto de vista social
e econômico. Bernard Kayser afirma que os termos rural e urbano determinam modos de
utilização do território e se aplicam tanto ao espaço como aos indivíduos. Juntos
constituem o que se considera hoje como um sistema contínuo [rural-urbano], no qual não
há uma ruptura (KAYSER 1990, 19).
O urbano no rural
Graziano da Silva (2002: 1) afirma a idéia de continuum e mostra que, no caso brasileiro,
os usos tradicionalmente rurais estão cada vez mais permeados de urbanidades. Seja a
partir dos modelos econômicos de produção, seja a partir dos usos e ocupação do solo. Tal
condição caracteriza o novo rural brasileiro que pode ser identificado a partir de quatro
processos: i) O agrobusiness brasileiro, evidenciado por uma agropecuária moderna,
baseada em commodities e intimamente ligada às agroindústrias; ii) atividades de
subsistência, particularmente a agricultura familiar e a criação de pequenos animais, que
visam primordialmente manter relativa superpopulação no meio rural e um exército de
trabalhadores necessários a produção do agronegócio; iii) um conjunto de atividades
não-agrícolas, ligadas à moradia, ao lazer e a várias atividades industriais e de prestação
de serviço; e iv) um conjunto de novas 19 atividades agropecuárias, localizadas em nichos
específicos de mercado, o qual fomenta novas cadeias produtivas, partindo do rural mas
chegando a uma intervenção nas cidades.
Asensio (2006: 25) aponta outros elementos estruturais que explicam as novas relações
rural-urbanas: i) a evolução do sistema de transportes e das comunicações com a
19
Graziano (2002: ix) explica que usou o termo novas atividades agropecuárias, porque essas ocorrências não
são novidade no meio rural, existiam antes de forma rudimentar e desestruturada, mas vêm ganhando escala e
estruturando-se em cadeias produtivas.
19
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
introdução de novas tecnologias que têm definido alterações nas relações geográficas com
o tempo e as distâncias; ii) uma crescente autonomia econômica e demográfica da Cidade e
o seu transbordamento para áreas tradicionalmente rurais.
Em relação à globalização, Veiga (2006: 2) identifica dois aspectos que comandam tanto as
transformações das áreas rurais quanto as das urbanas: i) a dimensão econômica — que
envolve as cadeias produtivas, o comércio e os fluxos financeiros — o espaço produzido é
cada vez mais periférico e ou marginal. Ao lado das novas hierarquias regionais, há vastos
territórios que se tornam cada vez mais excluídos das grandes dinâmicas que alimentam o
crescimento da economia global; ii) a dimensão ambiental — que envolve tanto as bases
das amenidades naturais quanto várias fontes de energia e biodiversidade — age
essencialmente para torná-las cada vez mais valiosas para a qualidade da vida, ou o bem-
estar. São esses dois aspectos que, como ressalta Topalov (1997: 23) e reafirmam Cardoso
e Ribeiro (1996: 53), caracterizam “o nascimento de um novo paradigma sobre a cidade e
o habitat”.
O agrícola no urbano
20
Os efeitos do descolamento dos circuitos globalizados da agricultura industrializada podem ser facilmente
percebidos nas regiões Norte e Centro-Oeste do país, Sobre o tema, ver Carvalho (2007) , Aceslrad e Leroy
(1999) e FASE (Cadernos de Debate Brasil Sustentável e Democrático 1999-2007).
20
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Armstrong e Mcgee, in: Santos (1993: 83), propuseram a expressão involução metropolitana
para nomear a invasão de práxis rurais no meio urbano em virtude das numerosas e brutais
correntes migratórias provenientes do campo. Mário Lacerda (1978: 32) nominou tal processo
de ruralização da cidade. Esse é o caso da RM Recife, que incorporou ao seu perímetro
municípios cuja base econômica ainda é a indústria canavieira. Ao observar o perfil dos
ocupados metropolitanos ao longo dos últimos 30 anos, pôde-se constatar a realidade
descrita por esses autores.
Gilberto Freyre (1988: 18), tentando superar a histórica dicotomia entre cidade e campo,
propôs nos anos 1960 o conceito de Rurbanização. A Rurbanização antecipa e amplia a
idéia de continuum rural-urbano. Empregada originalmente por Charles Galpin, 21 a
Rurbanização criaria uma terceira situação, híbrida, a partir do urbano e do rural. Seria o
resultado harmônico da neutralização recíproca das duas formas. O autor ponderava que a
situação Rurbana só seria possível considerando-se os problemas do planejamento urbano
e rural integradamente. O apelo de Freyre parece ganhar mais sentido nos dias atuais. A
necessidade de articular o planejamento urbano com o rural é uma diretriz do Estatuto da
Cidade.
Galpin, in: Jacobs (2000: 455), coloca que a idéia-chave não é a dicotomia entre o urbano
e o rural, mas uma unidade de contrários. Jacobs (2000: 455) lembra que as cidades
precisam de zonas rurais próximas e, por sua vez, os territórios rurais não podem prescindir
das várias oportunidades expressas e provocadas pelas cidades.
Barrère (1988: 61) explica que o conceito de Rurbanização reúne diferentes expectativas
quanto às possibilidades de integração do rural com o urbano. Sob uma ótica rural, tem um
21
GALPIN, Charles J. in (FREYRE 1988, 82, 94, 103)
21
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
caráter negativo, porque avalia que os efeitos da urbanização sobre o rural têm sido
predatório. Nessa perspectiva, compara o conceito de Rurbanização com o de
Periurbanização. Sob uma ótica urbana, a Rurbanização tem um aspecto positivo e pode
ser associada à Contraurbanização ou Exurbanização (deslocamento do lugar de
residência para as áreas rurais).
A dissolução dos limites espaciais entre o rural e o urbano pode ser identificada a partir dos
processos socioeconômicos e espaciais, mas não acontecem enquanto referências legais e
estatísticas. Os critérios técnicos, legais e administrativos não são as referências mais
adequadas para analisar e classificar os espaços de transição rural-urbana que aglutinam
características das ordens urbanas e/ou rurais, ao desenvolverem também outras
particulares (híbridas). Assim, as categorias urbano e rural vêm perdendo o seu peso
analítico.
22
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Entende-se que as reflexões conceituais sobre as áreas de transição rural-urbana não podem
prescindir do resgate de alguns conceitos importantes sobre os recentes processos de
urbanização e sua relação com os territórios rurais. Moura e Ribeiro (2004: 8) e Carter
(1974) ajudam a entender de alguns desses conceitos. Em estudo sobre a Classificação das
Metrópoles Brasileiras, os autores utilizam a expressão espaços urbanos para nomear a
concentração espacial do fenômeno urbano, definida pela continuidade e extensão do
espaço construído. Já o conjunto de municípios que compõem uma mancha contínua, ao
envolver fluxos intermunicipais, complementaridades funcionais e integração
socioeconômica formam uma aglomeração urbana. A Região Metropolitana corresponde
ao recorte territorial definido institucionalmente. 22 Já o termo metrópole refere-se à cidade
principal de uma aglomeração e destaca-se pelo seu tamanho populacional e econômico,
desempenho de funções complexas e diversificadas, relações econômicas com várias
outras aglomerações. Funciona como um centro de comando e coordenação de uma rede
urbana. Já a Metropolização caracteriza a expansão da metrópole que se vem consolidando
com a incorporação de novas aglomerações à sua dinâmica. A principal característica desse
processo é o transbordamento da fronteira entre os municípios pela expansão do espaço
urbano, como já foi discutido anteriormente.
22
A institucionalização das regiões metropolitanas (RM) brasileiras obedeceu a duas fases: i) a primeira, nos
anos 1970 - regulada por legislação federal (Lei Complementar 14/1973), por diretriz da política nacional de
desenvolvimento urbano. Foram criadas nove RM; ii) a segunda, com a Constituição Federal de 1988, que
facultou a competência de institucionalização aos Estados Federados. Em 2003, existiam 26 regiões
metropolitanas no Brasil. Atualmente os Estados também têm criado os Colares Metropolitanos e as Regiões
Integradas de Desenvolvimento (RIDE). Voltar-se-a esse assunto no Capítulo 2.
23
O termo Desconcentração foi utilizado por Gottdiener (1993: 19) para explicar o desenvolvimento urbano
americano. Esse conceito descreve os padrões de crescimento polinucleados e “refere-se ao aumento absoluto
de população e densidade de atividades sociais em áreas fora das tradicionais regiões citadinas e dos centros
populacionais. Apreende a dispersão regional maciça de pessoas, comércio, indústria e administração
pública, juntamente com a restruturação contemporânea de tais regiões em domínios multicentrados”.
23
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Santos (1993: 86) esclarece que, no caso brasileiro, o que se configura é uma
reorganização da hierarquia funcional do sistema de cidades na órbita metropolitana e,
embora a população esteja diminuindo em algumas áreas metropolitanas, conservam-se as
taxas de urbanização. A tabela 1.1 ilustra esse fato ao apresentar as taxas de crescimento
das Regiões Metropolitanas mais antigas. Elas decaíram entre 1980-1991, mas voltaram a
crescer entre 1991-2000, com exceção das metrópoles nordestinas e a de Porto Alegre.
Esse crescimento acontece principalmente nas periferias e áreas mais precárias do centro
metropolitano. Nesse contexto, o termo periferização ganha outros sentidos, pois o
processo não está vinculado somente aos deslocamentos da população rural para as áreas
urbanas. Também “ressalta a precariedade das relações socioeconômicas da metrópole da
atualidade.” Essa dinâmica impacta diretamente nas áreas de transição rural-urbana. O
caso do Recife ilustra tal situação, como se verá no terceiro capítulo deste trabalho. O
Atlas de Desenvolvimento Humano (2005), elaborado na escala intramunicipal, permite
observar que, mesmo que o centro metropolitano apresente uma taxa geométrica de
crescimento baixa no período 2000/1991 (0,93%), em significativa parte dos
assentamentos precários municipais essa taxa é maior que 5% e chega a 13% em algumas
Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS) como mostra a Tabela 1.2.
24
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
25
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Uma abordagem integrada do espaço municipal pressupõe uma aproximação maior dos
processos que caracterizam o rural brasileiro. Ou melhor, pressupõe a integração de
domínios multidisciplinares, ainda distantes dos urbanistas. Santoro e Pinheiro (2003: 25)
alertam que a as múltiplas funções que caracterizam o universo rural, hoje, impõe
procedimentos integrados visando alcançar um desenvolvimento urbano mais equilibrado.
26
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Assim, para uma melhor compreensão das dinâmicas que se manifestam no universo rural-
urbano, é preciso considerar dois conceitos que caracterizam as atuais mudanças: i) a
pluriatividade das famílias rurais – uma vez que a muito se constatou que as famílias no
meio rural não vivem somente do trabalho em atividades agrícolas; ii) a
multifuncionalidade da agricultura – que se materializa na extração de bens privados e na
manutenção de bens públicos. No segundo capítulo, quando se estiver discutindo as
questões relativas ao planejamento urbano-metropolitano, serão abordados os problemas de
ordem legislativa e político-administrativa decorrentes das delimitações do rural e do
urbano no Brasil, bem como serão exploradas alguns instrumentos urbanísticos passíveis
de aplicação nesses espaços.
Em relação às áreas de transição rural-urbana, parece claro à primeira vista que não teria
sentido delimitá-las, uma vez que a metropolização penetra nos tradicionais espaços rurais,
e as relações econômicas que definem a ruralização também condicionam os espaços
periféricos metropolitanos, como mostraram Lefèbvre, Santos e Kayser. No entanto,
quando se trata o território e os processos espaciais que neles se materializam, muda-se a
escala da observação e sente-se a necessidade de caracterizar as distintas manifestações
espaciais para poder nelas intervir ou condicionar os seus efeitos. Há de se considerar,
ainda, que as manifestações na escala local estão mais diretamente condicionadas por
permanências, descontinuidades e contraposições, ao comporem um cenário extremamente
fragmentado, onde espaços habitacionais, exclusivos, naturais, produtivos, industriais, etc.,
se avizinham, mas não necessariamente se conectam ou se relacionam. De fato, a
diversidade de processos complexos e não-orquestrados que caracterizam as áreas de
transição rural-urbana dificulta uma leitura clara dos limites entre o urbano e o rural. Por
essa razão, nesta análise, mais uma vez reafirma-se a necessidade de desenvolver
metodologias mais adequadas à intervenção no território rural-urbano.
27
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
As áreas de transição rural-urbana não foram objeto direto do planejamento municipal, mas
foram fortemente impactadas pelas políticas implementadas na metrópole. Na medida em
que os usos urbanos ultrapassaram os limites institucionais, têm gerado uma nova demanda
de parâmetros e instrumentos de planejamento, a qual solicita a revisão dos marcos
regulatórios existentes, principalmente nas áreas de transição rural-urbana, onde as
sobreposições são mais conflituosas. Tal desafio terá de ser enfrentado pelos planejadores
urbanos brasileiros que, tradicionalmente preocupados com a metrópole, não têm
conseguido planejar de forma integrada os territórios intrametropolitanos e sua interface
rural-urbana. Essas áreas continuam, como será observado no capítulo seguinte, a ser
entendidas enquanto espaço de reserva da expansão urbana e da localização das grandes
infra-estruturas de serviços, ou como áreas de preservação dos mananciais e recursos
naturais.
Uma das primeiras sistematizações das áreas de transição urbanas é atribuída a Smith em
1930, que as definiu como “áreas construídas próximas aos limites administrativos da
cidade” (R. J. PRYOR 1971, 59). Na literatura especializada, encontram-se outros
conceitos e denominações que se referem aos espaços existentes na interface do rural com
o urbano, dentre os quais, podem ser destacado: franja rurbana, franja rural-urbana,
franja periurbana, periferia rurbana ou, para os casos em que a urbanização não constitui
uma faixa homogênea nas dimensões físico-naturais e / ou sociais. Corrêa (1986 70)
ressalta que seria possível, em algumas situações, falar em uma periferia suburbana,
subúrbio ou periferia rural-urbana, quando acontece um dinâmico processo de
urbanização.
28
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
O interesse pela análise das sistematizações mais clássicas sobre a tipificação dos espaços
rurais foi resgatar as tipologias que partem da leitura sobre o grau de impacto que a
urbanização provoca no território rural. Foram observados nesses modelos: i) as
possibilidades de escalas de aplicação - regional ou intra-urbana; ii) o tipo de variáveis
utilizadas na caracterização dos diferentes tipos de espaço – sociais, ocupacionais,
demográficas, etc.; iii) as temporalidades; 24 iv) a incorporação de condicionantes da
produção do espaço (papel dos agentes, densidades construtivas, etc.). A partir desses
aspectos, foi possível organizar as reflexões sobre as áreas de transição rural-urbana em
dois ‘blocos’: i) no primeiro foram resumidas as abordagens que observaram as áreas de
transição rural-urbana como decorrentes da expansão urbana e ofereceram metodologias
para classificar a configuração espacial das áreas rurais; ii) no segundo, reuniram-se as
24
Ver Considerações iniciais na p. 23
29
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Robin Pryor (1971: 61), baseado em mais de 60 estudos de caso, procurou caracterizar e
delimitar a zona contraída entre as áreas urbanas e suburbanas da cidade central a partir de
critérios para identificar tipologias de usos do solo e demográficos. A partir das reflexões
desse autor a franja rural-urbana constitui-se enquanto:
Ou seja: i) uma franja urbana caracteriza-se por uma maior densidade, maior ritmo de
crescimento demográfico e maior ritmo das transformações do solo rural em urbano; ii)
uma franja rural, contígua à franja urbana, caracteriza-se por permanências, quer sejam
30
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
econômicas, quer sejam políticas, que oferecem resistências às transformações mais diretas
da urbanização.
Binimelis (2000: 38) observa que Bryant, Russwurm e McLellan sugerem, a partir do
modelo de Pryor, uma nova classificação para as diferentes coroas periurbanas.
Reinterpretam e ampliam o modelo ao considerarem os efeitos dos processos de
periurbanização e contraurbanização, que expandem os limites da cidade para o entorno
rural ou, ao contrário, criam uma cidade-região. Esse modelo considera as características
da urbanização recente, patrocinada pelos recursos da pós-industrialização (mobilidade,
acessibilidade, melhora das tecnologias de comunicação, ampliação das possibilidades de
lazer, terceirização dos serviços). Faz uma relação inversa entre concentração da população
e área ocupada, ou seja densidade como mostra o Quadro 1.1.
A Figura 1.1 é esquemática desse modelo. Representa uma estrutura ideal, pois os autores
reconhecem que os processos se distribuem dinâmica e descontinuamente no espaço.
31
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Na classificação proposta por Bernad Kaiser o impacto da influencia dos grandes centros
urbanos nos espaços rurais é o principal elemento de observação. Também considera, em
sua classificação que a produção do espaço não ocorre de maneira uniforme e apresenta
rupturas e descontinuidades. O autor adverte sobre a racionalidade e a simplificação das
metodologias classificatórias, pois a sua aplicação não permitem uma delimitação mais
precisa dos espaços periurbanos. O Quadro 1.2 exibe as principais características das três
coroas periurbanas propostas por Kayser.
32
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Para melhor delimitar as fronteiras entre a 2 ª e a 3 ª coroa periurbana, Kayser propõe muna
metodologia baseada em três conjuntos de variáveis: i) Situação e características da
agricultura (tradicional, capitalista ou marginal) e a densidade do povoamento
(concentrada ou dispersa), além do acesso dessa população a equipamentos básicos; ii)
Grau de urbanização, volume das novas construções, nível socioeconomico dos
proprietários e características do mercado do solo; iii) Papel dos agricultores e dos outros
grupos sociais na gestão municipal; ações frente à urbanização e aos diferentes grupos
sociais; planejamento e aplicabilidade de medidas de controle no processo de urbanização.
33
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
34
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
RURAL 15% população ativa 14. Com forte proporção de inativos e migrantes
INTERMEDIÁRIO agrícola 15. Cabeceiras rurais com artesanato e comércio
35
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Assencio (2005: sp) ao analisar as características dos espaços periurbanos para o caso
espanhol considera as dinâmicas das relações socioespaciais entre o rural e o urbano para
conceituar e delimitar as áreas periurbanas. Para o autor os espaços periurbanos são:
“(...) zonas rurais onde a influência urbana é mais forte por sua
proximidade física com a cidade, em sua extensão física e funcional
que as invade e integra através de processos únicos cujo efeitos são
de natureza diversa: econômica, demográfica, social e territorial, de
forma que o aspecto mais importante desses espaços periurbanos é a
mescla de usos do solo, o qual repercute em um incremento da
complexidade dos fluxos de pessoas, bens, serviços e informação
promovido pela presença de uma rede de comunicação bem
desenvolvida.”
36
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
TIPOS CARACTERÍSTICAS
Ao compar a realidade baiana com a européia, Juilliard (1961: 3) observa que, apesar de
em linhas gerais, as franjas européias conservarem correlações com os casos brasileiros, é
preciso considerar que, na Europa, a agricultura intensiva periurbana convive menos
conflituosamente com processo de urbanização. No Brasil, principalmente no litoral, onde
a área rural se implantou no período colonial da cana-de-açúcar, existe a “passagem direta
de uma agricultura especulativa para a especulação da terra”. Tal passagem é mais
sentida em áreas próximas aos limites urbanos ou na vizinhança dos eixos rodoviários.
As relações entre as demandas diferenciadas por usos do solo urbano e os interesses dos
distintos grupos que rentabilizam o capital com investimentos imobiliários têm uma
considerável importância na transformação dos usos agrícolas do solo para usos
habitacionais. Especificamente, na diversificação da tipologia de parcelamento e de uso, o
que favorece a formação de submercados de áreas de uso habitacional e acarreta a
incorporação de novas áreas ao perímetro urbano municipal, com conseqüente formação de
novos focos de valorização.
37
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
dos agentes e suas práticas espaciais é uma importante ferramenta para promover o
desenvolvimento de estratégias para o controle sustentável do solo.
A produção do espaço nas áreas de transição rural-urbana é vista aqui como a manifestação
material de processos e padrões socioespaciais complexos e imbricados, resultados de:
relações e práticas contraditórias que interagem no modo capitalista, pelas quais a tomada
de decisão pública e privada interage em um padrão pouco coordenado (GOTTDIENER
1993); alianças entre os vários interesses de classes, frações e setores envolvidos, em
articulação com as políticas públicas e estratégias de acumulação, que conseguem
viabilizar determinados projetos e conjunto de investimentos. A primeira frente explica a
predominância da atuação do Estado como gestão reativa dos problemas urbanos a partir
de ações fragmentadas A complexidade é tão intensa, o número de variáveis é tão grande,
que fica difícil enquadrar os processos em relação às lógicas e aos interesses mais
diretamente reflexivos das determinações estruturais. A segunda apresenta as
possibilidades de articulação de interesses que desenvolveram planos, projetos e
intervenções. Vale ressaltar que um padrão pouco coordenado, descontínuo e fragmentado
predominou historicamente nas áreas de transição rural-urbana.
25
O espaço é um conceito multifacetado utilizado tanto nas Ciências Humanas como nas Naturais. No
âmbito da Geografia, mesmo quando se privilegia na maioria das concepções a “ação humana modelando a
superfície terrestre”, tem sido trabalhado de formas variadas: espaço como planície isotrópica da Geografia
Teorético-quantitativa; espaço como locus da reprodução das relações sociais de produção, da Geografia
Crítica ou Radical; espaço vivido, da Geografia Humanista, dentre outras formulações.
38
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
26
Como diz Lefèbvre (2001: 82) “(...) não há forma sem conteúdo. Não há conteúdo sem forma. Aquilo que
se oferece à análise é sempre uma unidade entre a forma e o conteúdo”; a estrutura espacial não é, portanto,
apenas reflexo da sociedade, é simultaneamente uma condição para a sua reprodução.
27
Nesse sentido, a estrutura espacial não é, restritivamente, a arena em que os conflitos de classe se
expressam, mas é também o campo no qual as relações de classe se constituem. SOJA (1993) considera que
as relações sociais e espaciais são interativas e, por isso, as relações de produção são formadoras do espaço e
contingentes ao espaço.
39
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
por vezes e de forma instável, mais de um objetivo, a partir de suas próprias preocupações
sociomateriais, interesses, estratégias e suas visões particulares dos problemas e da
realidade. O campo de forças constitui-se em um jogo indeterminado de atores, um
processo aberto, em que o futuro está para ser construído pela interação sociopolítica; iii)
fatores macrolocacionais que condicionam as formas de atuação dos agentes modeladores,
que influenciam mais especificamente na formação dos preços fundiários nos
micromercados: sistema viário, estrutura da propriedade da terra, regulamentação
urbanística, os quais determinam as formas de uso e ocupação do solo da área em seu
conjunto; iv) fatores microlocacionais relacionados com as condições do meio ambiente
(natural ou construído), os quais determinam singularidades em relação à diferença do
preço do terreno, a acessibilidade aos serviços locais, a vizinhança, as variáveis simbólicas
e ideológicas a partir das representações dos habitantes / usuários, como o status do bairro
na cidade, dentre outras.
Pode-se então, caracterizar o espaço urbano como uma arena onde se defrontam diferentes
grupos sociais. Cada tem seus interesses e estratégias de apropriação dos territórios nas
cidades e de controle das localizações socialmente produzidas, condicionados pelas
estruturas sociais e pelos fatores espaciais, que se expressam na desigualdade e na
diversidade das formas de produção e conflitos espaciais, 28 uma pluralidade de processos
de uso e ocupação do solo urbano.
O campo social está repartido entre determinados agentes que, ao ocuparem posições
diferenciadas na produção e na distribuição da riqueza acumulada na cidade, disputam por
acesso diferenciado determinados bens, serviços, equipamentos ou amenidades, o que
permite a apropriação de rendas, riquezas e a reprodução material e simbólica diferenciada.
Dos grupos sociais, apenas alguns deles são efetivamente modeladores dos espaços e
28
A estruturação e ocupação diferenciada do espaço resultam de estruturas e relações socioeconômicas
desiguais. O desenvolvimento urbano no contexto capitalista estrutura-se em um contexto de tensão dialética
entre diferenciação e igualação. Tem também, e contraditoriamente, como resultado inevitável à sua
reprodução, a contínua diferenciação do espaço ocupado decorrente da: distribuição desigual de
investimentos de capital e da infra-estrutura social no espaço; dos modos específicos de articulação e conflito
entre as relações capitalistas e não-capitalistas de produção; da inevitável justaposição e combinação
dinâmica de diferentes formatos de desenvolvimento (espaços hegemônicos) e de subdesenvolvimento
(rugosidades), expressão das relações de poder entre frações de capital, entre grupos sociais, etc.
40
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
De forma geral, os agentes modeladores têm diferentes interesses 29 pelo solo urbano e,
mesmo sem poder controlar os processos relacionados à sua formação, expressam esses
interesses basicamente por meio: da produção e circulação de mercadorias (espaço
enquanto suporte-localização); da valorização dos capitais na produção e circulação de
bens imóveis; ou, simplesmente, do consumo dos espaços. É importante ressalvar, ainda,
que um mesmo agente pode desempenhar simultaneamente mais de um papel (S.
AZEVEDO 1996), o que acarreta uma variedade de práticas e relações. situações
específicas, decorrentes das relações entre fatores condicionantes e interesses, expressar-
se-ão nas áreas de transição rural-urbana em termos de áreas renovadas, em expansão ou
subutilizadas.
É importante considerar que a categoria de classe não é a única base estrutural para os
interesses e para as práticas socioespaciais, já que não têm origem apenas nas relações de
produção. A fronteira entre os interesses relacionados com o valor de uso e o valor de troca
é, às vezes, tênue. Esses interesses ultrapassam, por vezes, as linhas de classe. As
articulações e conflitos a partir da produção do espaço remetem à análise dos diferentes
campos político-sociais onde estão sendo travadas essas relações que situam os agentes
(forças sociais) em posições (sistema de estratificação) a partir do volume e da composição
de seus recursos.
A divisão social do espaço promovida pelos distintos grupos sociais, principalmente, pelos
agentes que governam a produção dos espaços da cidade, denota, no contexto de
desenvolvimento urbano capitalista, o predomínio do valor de troca sobre o valor de uso,
29
A idéia de interesse, que designa não só o aspecto material do bem-estar das pessoas mas também o
conjunto das apropriações humanas (elemento de reflexão e de cálculo na escolha dos meios de satisfazer),
perde o seu sentido mais amplo para significar amor ao dinheiro. A apropriação da palavra interesse por
determinismo econômico passou a ser um entrave à interrogação profunda e à crítica do modelo econômico a
partir do qual se julgam os outros. “Para conferir à palavra interesse sua acepção mais ampla, designando
as aspirações, as representações dos homens, é necessário reintegrá-la no conjunto das circunstâncias que
conformam a unicidade de uma situação histórica” (N. M. LACERDA 1993, 48). Sem ter a intenção de
estender a discussão de Lacerda sobre a questão dos interesses, resguarda a eminência das motivações
econômicas, mas sem descartar as questões político-ideológicas que, na perspectiva da autora estão
imbricadas com a primeira, em um todo indissociável.
41
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
As lacunas existentes nos quadros decorrem não só das diferenças entre as abordagens,
assim como, e especificamente, do fato de algumas dessas contribuições se referirem
restritivamente a alguns campos de atuação. Apesar de todas essas abordagens estarem
referenciadas pelas perspectivas da economia política Marxista, no que se refere à
produção do espaço, as diferenças se evidenciam por conta do privilégio de algumas
questões, tais como: renda fundiária, conflitos entre classes, etc.
42
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Algumas questões amplas podem ser ressaltadas a partir de tais contribuições. Em relação
ao trabalho de Harvey (1989 b: 11), é importante evidenciar que, na análise de padrões
espaciais, ele propõe discutir a maneira como os agentes determinam o valor de uso e de
troca do solo urbano. Esse processo de determinação dos valores do solo é fundamental
para se distinguir o papel que cada agente assume face ao contexto socioeconômico-
espacial em que está inserido. Em áreas de transição, verifica-se, por exemplo, que o
proprietário fundiário pode estar interessado no valor de troca, muitas vezes
transformando-se em empreendedor de loteamentos, ou pode estar apenas interessado no
valor de uso, quando tem a granja como moradia.
Nora Clichevsky (1975), em seu estudo sobre o crescimento periférico de Buenos Aires,
fornece algumas pistas relacionadas com a atuação dos proprietários rurais na especulação
do solo na periferia rural-urbana. Esses proprietários assumem a função de promoção de
empreendimentos imobiliários a partir de loteamentos, o que se assemelha ao processo do
granjismo em áreas de transição.
43
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Proprietários do
Proprietários
PROPRIETÁRIOS Proprietário da Proprietários solo - sejam
fundiários
FUNDIÁRIOS terra urbanos rurais, sejam
urbanos
AGENTES QUE Agentes que
CONSOMEM ESPAÇO demandam o
COMO SUPORTE PARA solo urbano Proprietários
Proprietários
PRODUÇÃO, para a dos meios de
industriais
COMERCIALIZAÇÃO E produção e produção
CIRCULAÇÃO DE circulação de
MERCADORIAS mercadorias
Morador
USUÁRIOS / HABITANTES Grupos sociais Comprador
(proprietário ou
/ CONSUMIDORES excluídos imobiliário
inquilino)
Fonte: (MIRANDA, Urbanização e dispersão: as granjas e a organização espacial em Carpina PE
1997)
44
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Produção do Espaço e Planejamento em Áreas de Transição Rural-urbana: o Caso da Região Metropolitana do Recife PE. Lívia Miranda
classificação geral
Harvey (1980) Clichevsky (1975) Bourne (1971)
AGENTES
Instituições governamentais.
Intervêm direta ou indiretamente no mercado
ESTADO Agencias do estado.
imobiliário por meio de mecanismos instrumentais de
controle.
AGENTES QUE Agentes imobiliários, industriais construtores civis Empresas urbanizadoras e/ou comercializadoras
RENTABILIZAM Regem a especulação fundiária e imobiliária. lideram o mercado do solo urbano.
CAPITAIS POR MEIO
DE INVESTIMENTOS Instituições financeiras. Investidores independentes. Agencias financiadoras,
NO AMBINETE Financiamento para a aquisição ou construção do Podem ou não estar ligados a empresas construtores, agentes de
CONSTRUÍDO imóvel. imobiliárias. desenvolvimento, especuladores.
Proprietários rurais.
PROPRIETÁRIOS
Proprietários da terra e de imóveis. Especulam com o solo rural na periferia rural- Proprietários da terra.
FUNDIÁRIOS
urbana.
USUÁRIOS
Proprietários individuais de residência ou inquilinos.
HABITANTES Consumidores.
Preocupados com o valor de uso do imóvel.
CONSUMIDORES
Fonte: (MIRANDA, Urbanização e dispersão: as granjas e a organização espacial em Carpina PE 1997)
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
- Form (1971) sugere a idéia de um estudo do uso do solo urbano em termos de estrutura
social, quando analisa alianças e os conflitos entre os agentes. Esse autor define como
principais agentes: a indústria imobiliária, que controla os valores e organiza um mercado
do solo urbano; os proprietários industriais, que procuram maximizar uma localização em
termos de custos mínimos de transferência, tanto de matéria-prima quanto de mão-de-obra
e distribuição; os proprietários individuais e os inquilinos - cuja a preocupação básica é
ressaltar a qualidade do ambiente onde vivem; e o setor público - mediador entre os demais
agentes, que decide em função de sua capacidade de formular leis e posturas;
- Harvey (1980) sugere que se deve estudar a produção do espaço urbano, AO considerar
os atores que operam no mercado do solo e que definem a implantação de equipamentos
coletivos. Destaquem-se os agentes: os proprietários individuais de residência ou
inquilinos - preocupados com o valor de uso do imóvel; os agentes imobiliários - regem a
especulação fundiária e imobiliária; os proprietários da terra e de imóveis; a indústria da
construção civil; as instituições financeiras - financiamento para a aquisição ou construção
46
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
- Clichevsky (1975) considera como agentes: os proprietários rurais – que especulam com
o solo rural na periferia rural-urbana; os investidores independentes – que podem, ou não,
estar ligados a empresas imobiliárias, e as empresas urbanizadoras e/ou comercializadoras
que, lideram o mercado do solo urbano;
47
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
do sistema, o Estado tem como condicionantes as atuações dos outros agentes, e isso fica
evidente nas transformações das áreas de transição rural-urbana em áreas de transição, a
partir, por exemplo, das articulações entre o Estado e os proprietários de terras;
48
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
49
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
30
No âmbito do desenvolvimento urbano capitalista, a intervenção do Estado no espaço tem dois efeitos
principais sobre o processo de acumulação de capital: suas atividades transferem os custos de reprodução da
força de trabalho para a sociedade como um todo, via mecanismo de finança pública, e seus gastos detêm a
queda da taxa de lucro, ao investir a fundo perdido no setor público. A atuação do Estado tem se
caracterizado como complexa e contraditória: ao mesmo tempo em que se encarrega de intervenções voltadas
para a reprodução da força de trabalho – a partir da distribuição e gestão dos equipamentos de consumo
coletivo -, realiza obras de infra-estrutura que promovem a expansão da atividade econômica e que acentuam
os processos de valorização diferencial entre as áreas da cidade, que contribui para a segregação urbana.
50
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
A produção do ambiente construído tem uma dinâmica específica que está associada com o
processo de acumulação, cujas descontinuidades e rupturas transcendem a própria ação do
Estado, por mais essencial que ela seja para essa dinâmica; contudo, o Estado é o locus
privilegiado onde as estratégias de acumulação e os projetos hegemônicos se articulam ou
entram em conflito - arena dos conflitos entre frações, classes e setores. O Estado 32 é o
produto e a expressão de um sistema social em que determinadas estruturas e forças
predominam. A política urbana, por meio de planos e programas, e também pela criação de
mecanismos institucionais, reflete os interesses e necessidades conflitivos entre os
diferentes grupos sociais, bem como o diferente acesso das classes, grupos e indivíduos ao
processo decisório, e envolve um conjunto de ações interligadas - de diversos órgãos
governamentais 33 .
Para tornar mais complexo ainda o quadro, o Estado é organizado em diferentes níveis de
governo (federal, estadual e municipal), em divisões administrativas (órgãos setoriais,
empresas públicas, etc.), e os produtos da sua ação estão distantes de se apresentar
organizados. Além disso, os níveis de governo e as instituições competem entre si pelos
recursos disponíveis e pelas decisões quanto ao seu destino, setores e grupos a serem
beneficiados.
31
O investimento nos meios de consumo coletivo (transportes coletivos, assistência hospitalar etc.) tem a
finalidade de rebaixar o custo de reprodução da força de trabalho e aumentar a sua produtividade. Implica,
assim, uma redução de custo de capital constante das empresas individuais, ao participar do processo de
acumulação dos diversos capitais.
32
O Estado não é neutro - uma “condensação de uma relação de forças entre classes e frações de classe”,
(POULANTZAS 1985, 147) tende, por isso, a produzir de ações, intervenções conformes os interesses dos
grupos e classes dominantes, que dispõem de mais recursos e maior capacidade de influência.
33
As decisões podem ser organizadas em níveis: formulação da política; determinação de objetivos e
estabelecimento de estratégias; elaboração de planos, programas e projetos; alocação de recursos e
administração de operações; execução das ações; avaliação dos resultados.
51
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
52
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
É importante ressaltar que as atividades de planejar e gerir a cidade não são exclusividade
do Estado; afinal, os diversos agentes modeladores do espaço elaboram estratégias e
implementam ações a partir delas, em um ambiente de disputas, conflitos e algumas
articulações. Vale registrar ainda que as ações dos agentes governamentais foram,
53
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
historicamente, influenciadas por agentes mais organizados e com maior poder político e /
ou econômico, principalmente os proprietários fundiários os agentes imobiliários e os
prestadores de serviços urbanos, o que contribuiu decisivamente para a estruturação das
desigualdades socioterritoriais das cidades brasileiras. A valorização das propriedades
fundiárias e dos investimentos imobiliários nas cidades se constituiu em uma das principais
referências para orientar a localização das intervenções públicas, principalmente as obras
de infra-estrutura.
Essas questões serão mais detalhadamente discutidas no capítulo que se inicia, e ainda, as
possibilidades e dificuldades para a implementação dos instrumentos urbanísticos previstos
no Estatuto da cidade, bem como as competências e responsabilidades dos entes
federativos na gestão do território rural-urbano.
54
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
O planejamento urbano moderno não foi neutro, por mais que o discurso enfatizasse a
racionalidade, considerando-se que esteve condicionado pelas circunstâncias sociais,
econômicas e políticas, e foi, predominantemente, realizado pelo Estado que tende a
contribuir para a reprodução da ordem social vigente e a atender aos interesses dos grupos
34
Atualmente, as instâncias de gestão participativa também são instáveis em seu funcionamento e
efetividade.
35
A função da lei é estabelecer padrões ideais, ao tratar a cidade como objeto técnico, ignorando as condições
socioeconômicas desiguais da produção do espaço, acarretou a convivência entre a cidade legal, formal, com
irregularidades menores, ocupada por segmentos com rendas e riquezas maiores e a cidade ilegal, ignorada
ou considerada como obstáculo ao desenvolvimento, ocupada pelos segmentos de piores condições
socioeconômicas.
55
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Outra questão fundamental que alicerça esse padrão reativo-imediatista na gestão estatal
das cidades está relacionada com a organização do Estado, a partir de uma estrutura
fragmentada e especializada, que se rebate em níveis diferentes de governo (federal,
estadual, metropolitano e municipal), em divisões administrativas (órgãos setoriais,
empresas públicas etc.), o que acarreta produtos desarticulados, fragmentados e,
normalmente, pouco abrangentes. Além disso, os níveis de governo e as instituições
competem entre si pelos recursos disponíveis e pelas decisões quanto ao seu destino
(setores, grupos e territórios a serem beneficiados). A imprecisão das definição de
competências bem como as dificuldades de coordenação em termos de integração dos
esforços setoriais acarretaram várias políticas setoriais desarticuladas.
Alguns registros históricos serão apresentados a seguir como subsídios para a compreensão
dos processos de estruturação da Região Metropolitana do Recife e das condições de suas
áreas de transição rural-urbana em um contexto de histórica apartação entre planejamento,
gestão, leis e políticas de desenvolvimento urbano-metropolitano.
56
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
O Recife não era diferente. Tinha nesse período uma estrutura urbana definida pelo porto e
pelos pequenos núcleos autônomos representados pelos antigos engenhos. Os núcleos dos
antigos engenhos tiveram importância fundamental para o desenvolvimento posterior da
cidade a partir das povoações decorrentes: Torre, Madalena, Casa Forte, Monteiro,
Apipucos, Dois Irmãos, Beberibe e Jiquiá, nesse período compunham uma interlandia rural
claramente definida por suas relações com a cidade-porto. 36
Alguns fatores foram fundamentais para a ampliação das funções do Estado em relação à
questão urbana: o início das migrações campo-cidade; 38 e também a emergência de um
mercado de terras. Essa ampliação quanto ao desenvolvimento urbano materializou-se, já
no início do século XX, em grandes intervenções de renovação urbana em algumas cidades
36
A estrutura urbana do Recife, que pode ser claramente percebida no início do século XX, era definida: pelo
porto e todas suas atividades complementares concentrados no bairro do Recife; pelo núcleo central,
densamente edificado, nos quais se concentravam o comércio e a administração pública; pelos núcleos
periféricos originados das antigas povoações dos engenhos, aos poucos incorporados pelo crescimento do
centro, como Torre, Madalena, Casa Forte, Monteiro, Apipucos, Dois Irmãs, Beberibe e Jiquiá. S povoações
ligavam-se ao centro urbanizado por meio de uma série de estradas carroçáveis que se tornariam,
posteriormente, as principais vias da cidade.
37
As elites (agrárias) olhavam para as cidades como espaços de desordem social e política.
38
Algumas questões foram fundamentais para a migração campo-cidade: a substituição das relações sociais
escravocratas pela utilização da mão-de-obra imigrante; a acentuação de desequilíbrios intra-regionais e
inter-regionais; a decomposição do complexo rural, com a liberação de mão-de-obra; a concentração da força
de trabalho nos centros urbanos.
57
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
39
No Recife, no início do século XX, foram implantados: i) uma ampla reforma urbana no bairro portuário, o
que significou a demolição do antigo traçado colonial português e a construção de modernos edifícios, em
estilo eclético, para abrigar instituições financeiras e comerciais; e ii) o Plano de Saneamento do Recife,
planejado e coordenado pelo engenheiro Saturnino de Brito, entre 1909 e 1915, o qual promoveu a
construção de sistemas de esgotamento sanitário e de abastecimento d’água.
58
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
O Recife, neste período, foi objeto de uma série de estudos, planos, pareceres e
formulações do urbanismo moderno. Dentre os planos produzidos, sobressaem: o Plano de
Remodelação do Bairro de Santo Antônio (1927), de Domingos Ferreira; o Plano de
Remodelação e Extensão da Cidade do Recife (1932), de Attílio Corrêa Lima, e as
sugestões ao Plano de Reforma do Recife (1943), de Ulhôa Cintra. Alguns planos
estiveram restritos espacialmente à modernização de áreas centrais, enquanto outros, como
o de Ulhôa Cintra, já apontavam para a estruturação metropolitana.
A questão sanitária passou para o segundo plano e a questão urbana, com mais ênfase na
questão da moradia, assumiu papel de fator econômico estratégico para a industrialização
do país e símbolo de amparo e da valorização do trabalhador, tornando-se a principal base
de sustentação política 40 . Todo esse processo se rebateu, também, em âmbito local, a partir
da construção de algumas vilas populares pelo governador Carlos de Lima Cavalcanti
(1930-35).
40
Nas representações das elites do Estado Novo, o desenvolvimento de políticas sociais no campo do
consumo habitacional tinha, portanto, sentido estratégico, pois, ao mesmo tempo, aumentava a capacidade de
trabalho e produzia a paz social pela preservação da família.
59
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Em 1939, foi criada a “Liga Social Contra o Mocambo”, pelo governo estadual -
interventor Agamenon Magalhães, que contava com contribuições de empresas e entidades
classistas. Foram construídas apenas 5.415 casas, o que representava 16,6% dos mocambos
existentes. Aqueles que não conseguiram lugar nas vilas acabaram ocupando áreas mais
distantes, inclusive áreas de transição rural-urbana e os morros da zona norte que, por sua
acentuada declividade, ofereciam poucos atrativos.
A habitação acaba por se consolidar como objeto de uma política pública mais abrangente,
mediante a criação, pelo Decreto-lei n.º 9.218, de 1º de maio de 1946, da Fundação da Casa
Popular (FCP), como o primeiro órgão, em âmbito nacional, voltado exclusivamente para a
provisão de residências para as populações pobres. Nesse mesmo contexto, o governo
interferiu no mercado de locação (1942) ao congelar todos os aluguéis por meio da Lei do
Inquilinato, com o objetivo de atrair investimentos da construção civil para o processo de
industrialização.
41
Entretanto, os segmentos de baixa renda não tinham como adquirir uma casa própria nas condições do
mercado. Suas opções eram: a autoconstrução, na periferia ou na favela, ou o cortiço.
42
A atuação do Estado, ao erradicar favelas das áreas centrais, investir em transporte coletivo e abrir caminho
para o setor imobiliário, foi decisiva para o processo de periferização.
60
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Logo a proposta industrializante mais reformista foi substituída pela promoção de uma
industrialização conservadora conduzida por sucessivos governos militares. No Nordeste,
como nos lembra Bacelar (2002: 18), a industrialização fortaleceu o desenvolvimento do
Sudeste que buscava mercado em outras regiões do país e a estrutura canavieira na Zona da
Mata, contrariando as recomendações do Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do
Nordeste (GTDN): 43
43
O GTDN foi criado no âmbito da SUDENE e coordenado pelo economista Celso Furtado.
61
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
62
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
63
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
A partir dos anos 1960, a dimensão metropolitana começa a se consolidar e atinge as mais
altas taxas de crescimento durante a década de 1970. A forte implementação de políticas
públicas desenvolvimentistas e setoriais determinou a transferência de intenso contingente
populacional para os núcleos periféricos metropolitanos. A questão urbana passa a se
expressar institucionalmente como questão intra-urbana, e a moradia tornou-se uma das
preocupações principais a partir do estímulo da Aliança para o Progresso, programa
incentivado pelo governo norte-americano. 44 Entretanto, no contexto de discussão sobre as
reformas de base, a questão urbano-metropolitana foi debatida no Seminário de Habitação
e Reforma Urbana (1963), no Hotel Quitandinha - RJ, o qual apontou a estruturação de
políticas públicas redistributivistas para o enfrentamento da questão urbana.
Zanchetti e Lacerda (1999) observam, para o caso do Recife, que a urbanização da área
metropolitana se deu a partir de uma forma tentacular, seguindo o direcionamento das
estradas e, paulatinamente, preenchendo as áreas vazias entre os ramos urbanizados e os
núcleos históricos. O sistema de polarização dos centros urbanos agregados ao sistema
metropolitano continuou fortemente centrado no Recife. Os demais núcleos, formados
pelas vilas e povoações antigas, não ultrapassaram em importância a escala local, nem
conformaram um sistema articulado de interdependência com complementaridade
funcional
44
O Banco Interamericano de Desenvolvimento propôs, nesse contexto, o financiamento de um Plano de
Assistência Habitacional e fomentou o esboço do primeiro órgão que centralizaria todo o planejamento da
política habitacional – que seria o Instituto Brasileiro de Habitação, mas que acabou não se efetivando.
64
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
A ruptura política de 1964, desencadeada pelo regime militar, foi acompanhada pela
redefinição da atuação do Estado no campo do desenvolvimento urbano, com a
implementação de um modelo centralizador, burocrático e autoritário, tendo por objetivos:
i) aumentar os investimentos nas indústrias de construção civil e de materiais de
construção para dinamizar a economia; ii) estimular a poupança privada; iii) ampliar a
oferta de emprego, com a absorção de mão-de-obra não-qualificada e de baixa
remuneração para diminuir as tensões sociais. No entanto, essa ruptura não significou que
a questão urbana fosse ampliada.
45
Em 1973, foi lançado o Plano Nacional de Habitação Popular (PLANHAP) visando atender á população
com renda entre 1 e 3 salários mínimos, mediante o financiamento de habitação, de infra-estrutura e
65
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
66
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Nos anos 1970, a área do grande do Recife ampliou-se com o acréscimo de áreas de
municípios vizinhos, a partir do reforço da expansão das áreas do entorno das vias de
penetração a oeste, em função do processo de migração campo-cidade e da
industrialização, e também em decorrência da nova política habitacional federal: conjuntos
habitacionais foram construídos nas periferias e nas áreas de transição rural-urbana. Esses
vetores contribuíram para o espraiamento do espaço urbano-metropolitano, o que deixa
incompletas muitas áreas intersticiais; algumas se tornaram objeto de especulação e
incrementaram, ainda, os índices populacionais municipais, ao ampliarem a abrangência
das responsabilidades em termos de políticas sociais e de infra-estrutura básica. Esse
processo será mais detalhadamente observado no terceiro capítulo.
67
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
68
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
69
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
47
Entre esses programas pôde-se destacar: o Programa de Financiamento de Lotes Urbanizados
(PROFILURB) foi instituído em 1975 e visava ao atendimento de famílias com precária ou instável inserção
no mercado de trabalho (com renda de 1 a 3 salários mínimos); o programa Financiamento de Construção,
Conclusão, Ampliação ou Melhoria de Habitação de Interesse Social (FICAM) foi instituído em 1977 de
forma articulada ao PROFILURB para consolidar a autoconstrução; o Programa de Erradicação de
Subabitação (PROMORAR) foi instituído em 1979, visava a promoção de condições para a permanência das
populações nos assentamentos de baixa renda a partir de uma urbanização in loco, evitando as relocações
para locais distantes; o Programa Nacional de Autoconstrução (PROJETO JOÃO-DE-BARRO) foi instituído
em 1984, como um programa de autoconstrução em larga escala, destinava-se a núcleos urbanos de pequeno
e médio porte; o Plano Nacional de Saneamento Básico (PLANASA) já vinha estendendo o fornecimento de
água à população dos assentamentos de baixa renda, desconsiderando os parâmetros legais de uso e ocupação
do solo.
70
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
defesa das áreas de interesse especial do Estado na RM Recife, como os sítios históricos,
áreas de proteção de mananciais, alagadas ou alagáveis, e de proteção ecológica; iii) a
preservação de áreas verdes; iv) o apoio às administrações municipais quanto aos serviços
de uso do solo; v) a reserva de áreas para a implantação de infra-estruturas metropolitanas,
inclusive sistemas viários básicos, por meio de intervenções junto a proprietários de terra e
empreendedores de loteamentos urbanos; vi) a regularização das ações do uso do solo
urbano em desacordo com a legislação vigente; e vii) o controle do nível técnico dos novos
projetos de parcelamento da região.
71
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
municipais foram elaboradas pela FIDEM em conjunto com os municípios, quando foram
definidos os zoneamento de uso e ocupação do solo e os códigos de obras.
72
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Os anos 1980 marcaram uma dupla mudança estrutural. No plano econômico, com a crise
internacional no final dos anos 1970, o padrão de intervenção do Estado
desenvolvimentista, baseado no investimento direto estatal ou no investimento privado
fortemente subsidiado, entra em colapso em função de uma extensa crise fiscal-financeira
(crise na balança de pagamentos e endividamento público). No plano político, duas
questões ressaltam: o processo de redemocratização apontou novos rumos para a relação
73
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Entre 1980 e 1988, a percentagem dos pobres nas Regiões Metropolitanas eleva-se de 24,3
para 39,3%, o que definiu o processo que foi denominado de metropolização da pobreza.
(M. LACERDA 1978). As áreas periféricas e de transição rural-urbana cada vez mais
abrigavam a população pobre e, ao mesmo tempo, ocorria um processo de elitização do
mercado imobiliário nas áreas centrais, o que exacerbou o dualismo centro versus periferia
urbana. Enquanto as políticas de desenvolvimento urbano e habitacional federais passavam
por momentos de indefinição a partir da extinção do Banco Nacional de Habitação (BNH),
em 1986, e da instabilidade político-administrativa que caracterizaria a Nova República,
uma ampla discussão pública foi travada a partir de um diagnóstico que apontava para um
baixo desempenho social e para o alto nível de inadimplência das políticas de
desenvolvimento urbano e habitacional. A crise do Sistema Financeiro de Habitação, nesse
contexto, se rebateu na desarticulação das políticas de desenvolvimento urbano que foram,
48
A descentralização passa a fazer parte da agenda governamental, ao constituir em um elemento
fundamental para a reestruturação do pacto federativo e desencadear o processo de municipalização das
políticas urbanas.
49
O processo de participação, após o longo período de ditadura militar, representava a possibilidade de
democratização política mediante o estabelecimento de mecanismos e procedimentos que viabilizassem a
incorporação dos atores sociais ao sistema político, ao mesmo tempo em que serviria de instrumento para, a
partir da democratização do planejamento e das decisões governamentais, um direcionamento mais eficaz e
justo dos recursos públicos e para uma nova dimensão da prática política.
74
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
nesse período, administradas por sucessivos órgãos, 50 sem resultados mais significativos.
A política urbana assume, então, um caráter assistencialista, residual e clientelístico.
50
O BNH, que era do Ministério do Interior, em março de 1985 passou a fazer parte do Ministério do
Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente (MDU). Em novembro de 1986, com a extinção do BNH, houve
a transferência de suas funções para a Caixa Econômica Federal, vinculada ao Ministério da Fazenda. Em
1988 é criado o Ministério da Habitação e do Bem-Estar Social (MBES) e em 1989, esse é extinto com a
criação da Secretaria Especial de Habitação e Ação Comunitária (SEHAC), sob competência do Ministério
do Interior. As atividades financeiras do Sistema Financeiro da Habitação (SFH) e a Caixa Econômica
Federal passam para o Ministério da Fazenda. A SEHAC e a Secretaria Nacional de Habitação (SNH)
iniciam programas de tipo alternativo (sobretudo mutirão), em que são pulverizados recursos a fundo
perdido, o que privilegia a iniciativa de estados e municípios.
51
As origens do ideário da Reforma Urbana remontam aos anos 1960, no contexto das discussões sobre as
reformas de base que se deram no governo do presidente João Goulart (1961-1964). O Seminário de
Habitação e Reforma Urbana, realizado no hotel Quitandinha, em Petrópolis (RJ), em 1963, representou um
importante marco para o debate sobre a Reforma Urbana, pois apontam para para a necessidade de reformas
mais estruturais para o enfrentamento do problema habitacional, tendo como foco principal a questão
fundiária.
52
A proposta da Emenda Popular de Reforma Urbana foi apoiada por seis entidades e mais de 150 mil
assinaturas e entregue em agosto de 1987 - constituída de 23 artigos divididos em cinco títulos: Dos direitos
urbanos, da propriedade imobiliária urbana, da política habitacional; dos transportes e serviços públicos e da
gestão democrática da cidade. Essa Emenda foi absorvida parcialmente pela Constituição Federal (artigos
182 e 183), que estabeleceu que a propriedade e a cidade devem cumprir a sua função social, mas remeteu
para o Plano Diretor, obrigatório para as cidades com mais de 20.000 habitantes, a definição das condições
para o cumprimento dessas funções.
75
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Em fins dos anos 1970 o Zoneamento Territorial previsto para a RM Recife considerava
projeções demográficas superdimensionadas. Segundo essa projeção a RM concentraria
cerca de cinco milhões de habitantes em 2000. A reconfiguração das políticas públicas de
urbanização impactou diretamente sobre incremento populacional observado para a RM
Recife, inferior ao da década de 1970, porém ainda significativo nos municípios
periféricos. Como se verá no terceiro capítulo, entre 1980/91, o crescimento populacional
nos municípios vizinhos do Recife (Olinda, Camaragibe, Jaboatão) configuraram uma
extensão da periferia recifense, já que a pouca disponibilidade de terras enxutas e
urbanizáveis na capital promovia a conurbação com eles, o que intensificou os
deslocamentos residenciais para essas áreas.
76
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Para Zanchetti e Lacerda (1999), uma das principais dimensões consideradas no processo
de planejamento metropolitano foi a territorial/infra-estrutural, consubstanciada no modelo
de organização espacial elaborado no âmbito do Plano de Organização Territorial (POT)
que previu: i) a criação de três grandes núcleos (pólos) urbanos de concentração de
atividades que dividiriam com o quarto núcleo (Recife, o central) o incremento previsto da
expansão econômica e populacional regional; ii) a formação de duas macrozonas -
nucleação e interstício ao redor desses núcleos, sendo os três conjuntos envolvidos por
áreas rurais. Nucleação e interstício referiam-se, respectivamente, à maior e à menor
densificação de atividades e de espaço construído. Esse sistema de gradação de intensidade
de utilização do espaço seria interconectado por um sistema de transporte multimodal e
provido de infra-estruturas de saneamento, energia e comunicação.
O modelo refletiu uma organização espacial segundo o nível de intensidade do uso do solo:
i) as Zonas Urbanas compreendiam áreas onde a ocupação era maior que 50%; ii) as
Zonas de Expansão Urbana foram dimensionadas segundo as expectativas de
crescimento da década; iii)e, a Zona Rural para o restante da área dos nove municípios
que integravam a região metropolitana nessa época (Recife, Olinda, Paulista, Igarassú,
Itamaraça, Jaboatão dos Guararapes, Cabo de Santo Agostinho,São Lourenço da mata,
Moreno). Nos anos 1980 esse zoneamento foi ajustado, a partir dos índices de crescimento
populacional mais baixo que na década anterior. Adotou-se uma nova Zona de expansão
urbana definida pelo limite dos loteamentos aprovados nos municípios de Paulista, Abreu
e Lima, Igarassu, Itapissuma, Moreno, Cabo e Itamaracá.
Apesar da referência ao interstício como uma macrozona (onde estão localizadas as áreas
de transição rural-urbana), ele não se constituiu em objeto de planejamento específico,
apenas referência para a regulação de densidades, ou como áreas de proteção ambiental.
Nesse momento, as áreas de transição rural-urbana já apresentavam diversas tipologias de
ocupação, mais ou menos vinculadas as escolhas de implantação das políticas territoriais,
77
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
A expansão horizontal da aglomeração metropolitana foi favorecida por uma rede viária
concebida na escala metropolitana pelo PDTU de 1982. O PDTU concebeu o plano viário
metropolitano a partir das vias radiais preexistentes, antigos caminhos da cana. Embora
parcialmente executado, o plano articulou vias radiais e perimetrais de interligação entre
municípios e bairros, bem como a melhoria qualitativa das vias existentes (1a, 2a, 3a e 4a
perimetrais). Hoje, a rede viária Metropolitana possibilita o Sistema transporte público de
passageiros (metroviário e rodoviário) - o Sistema Estrutural Integrado (SEI), um dos raros
sistemas metropolitanos vigentes no Brasil.
O PDM (1983) propôs estratégias e diretrizes, dentro de uma linha corretiva, destinado à
convergência dos esforços dos agentes públicos e privados atuantes na RM Recife para a
viabilização financeira dos empreendimentos de caráter metropolitano. 53 A estratégia de
ordenamento espacial tinha como diretrizes: i) distribuir racionalmente a população e
localizar funcionalmente as atividades produtivas e os equipamentos de serviços
metropolitanos; ii) organizar internamente o espaço de cada centro urbano; iii) coordenar
os investimentos em infra-estrutura e regulamentar o uso do solo; e, finalmente, iv)
valorizar o espaço metropolitano por meio da correta utilização dos recursos disponíveis.
53
As estratégias definidas deveriam ser implementadas a partir de um mesmo plano de ação com a integração
das seguintes dimensões: fortalecimento de base econômica, integração social, ocupação racional do espaço,
adequação da oferta de serviços urbanos e político-institucional.
78
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Havia ainda uma preocupação evidente, nesse período, com os desequilíbrios ecológicos
gerados pelas atividades urbanas. Foram propostas diversas leis de proteção ambiental,
com ênfase nas questões de proteção de áreas estuarinas, dos mananciais e manutenção de
recursos hídricos, preservação das reservas florestais, ocupação e uso do solo adequados
em áreas de acentuada declividade, em áreas alagadas sujeitas aos efeitos de inundações e
em áreas de sítios históricos. Foram definidas por lei as áreas que deveriam ter o uso e a
ocupação do solo restritos: i) áreas de proteção e manutenção de recursos hídricos,
especialmente as áreas de proteção de mananciais; ii) áreas de preservação do ambiente
natural e paisagístico, consideradas áreas necessárias à segurança do equilíbrio ecológico e
paisagístico, como as áreas estuarinas e as matas remanescentes (reservas ecológicas); iii)
áreas de restrição urbanística, definidas por suas características de declividade, de solo e de
outros condicionantes.
54
Encontra-se em tramitação no Congresso Nacional mais uma revisão da LEI 6766/79, já modificada pela
Lei 9.785/99. O Projeto de Lei 3057/2000 já aprovada pela Câmara dos Deputados e substitui os projetos
de lei PL 5894/01; PL 6220/02; PL 754/03 e PL 2454/03.
79
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
55
Por meio da Lei no 9931/86, de Proteção e Preservação das Zonas Estuarinas do Estado, foram previstos
instrumentos legais básicos para a proteção e preservação dos recursos naturais renováveis dessas reservas
biológicas na faixa costeira do Estado e, paralelamente, para enfatizar a valorização paisagística e turística
dessas áreas. Os estuários situados no Estado, desde o rio Goiana na divisa com a Paraíba, até o rio Una no
município de Barreiros, passam a ser protegidos como reservas biológicas, o que configura as áreas de
proteção especial que estarão isentas de ocupação urbana e sob rígidos parâmetros e condições de utilização.
56
Os objetivos eram promover um aproveitamento mais racional do espaço e um maior respeito aos valores
ambientais da Região; garantir a reserva de áreas para equipamentos comunitários, de áreas verdes de uso
público e de faixas "non aedificandi", para a implantação de equipamentos; garantir a integridade da
preservação de áreas de interesse do Estado; elevar o padrão urbanístico dos novos parcelamentos, e garantir
a compatibilização entre os interesses públicos e os privados envolvidos com a questão do uso e ocupação do
solo na RM Recife.
80
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
81
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Fonte:L
acerda e Zanchetti (1999: 385)
82
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
57
As ilustrações foram montadas a partir do processamento de arquivos digitais da FIDEM e, eventualmente,
da utilização de elementos da cartografia digital da SUDENE e CPRH.
83
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
A partir dos anos 1980 e, principalmente dos anos 1990, no contexto internacional de
acentuação de processos de globalização (aceleração da internacionalização do capital, dos
mercados e dos padrões e expectativas de consumo), de redivisão internacional do
trabalho, de reestruturação produtiva (tecnológica e do trabalho), de financeirização das
riquezas (acumulação descolada da esfera da produção) e de segmentação econômica entre
os países, o Brasil tornou-se vulnerável a uma agenda internacional de reformas de caráter
neoliberal que previa: i) o ajuste fiscal e a estabilização macroeconômica, visando à
58
A limitação de recursos locais acarretou em uma concentração de investimentos em programas
alternativos, que vinham ganhando apoio dos organismos internacionais, e em ações tópicas. Mesmo assim,
algumas experiências municipais importantes foram desenvolvidas sob influência do ideário da Reforma
Urbana, o qual combinava mecanismos de gestão democrática participativa com instrumentos urbanísticos e
de regularização fundiária para o cumprimento da função social da propriedade e da cidade.
84
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
redução do déficit público e colocando limites significativos para as políticas sociais, com
a reversão de padrões universais de proteção social; ii) o desmantelamento do papel
regulador do Estado, e iii) a privatização das empresas estatais, o que respondia aos
interesses de grandes corporações e grupos econômicos estrangeiros e nacionais.
Foi perceptível o declínio da indústria na órbita das metrópoles brasileiras nos anos 1980,
mais especificamente, a predominância do setor terciário (atividades financeiras,
comerciais e de serviços), com a redução dos investimentos, principalmente os públicos,
nos distritos e áreas industriais que se situam na RM Recife. A partir desse processo, há um
relativo e esvaziamento econômico das áreas industriais e o redirecionamento da economia
85
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
59
A paralisia referente às políticas de desenvolvimento urbano e habitacional acentuou-se e os programas
constantes do Plano de Ação Imediata para a Habitação (PAIH), lançado em 1990, acabaram financiando
projetos de iniciativa de COHABs e Prefeituras, com critérios clientelísticos e com desempenho aquém do
esperado.
60
Os programas tinham linhas de financiamentos tradicionais, como o FGTS, os recursos do Fundo de
Desenvolvimento Social e verbas orçamentárias. Foram lançados, nessa gestão, o Programa Habitar Brasil,
voltado para os municípios com mais de 50 mil habitantes, e o Morar Município, destinado aos municípios
de menor porte.
61
Foram retomadas, no governo Fernando Henrique, as perspectivas de inserção da política habitacional no
âmbito de uma política de desenvolvimento urbano, principalmente a partir de programas que integrassem a
questão da moradia, como saneamento ambiental, transportes, recuperação de áreas degradadas e urbanização
de favelas. Essa nova política deveria buscar soluções locais por meio da ação conjunta com os estados e
86
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
municípios, de modo a privilegiar formas associativas e cooperativas que pudessem ser desenvolvidas a partir
de entidades e organizações comunitárias locais.
62
Os recursos do Orçamento Geral da União (OGU) tiveram uma utilização menos controlada a partir de
emendas de parlamentares.
63
Os mecanismos instituídos por esse sistema estavam alicerçados na poupança voluntária (cadernetas de
poupança) e, principalmente, na compulsória – Fundo de Garantia por Tempo de Serviço que entraram em
crise com a diminuição da contribuição e o aumento de saques decorrente do desemprego e da precarização
das condições de trabalho.
64
A emergência da ideologia neoliberal tinha como uma das pedras basilares o questionamento da capacidade
do Estado como instrumento eficiente para promover o bem-estar.
87
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Dois ideários emergiram a partir do final dos anos 1980 e influenciaram os planos e as
políticas de desenvolvimento urbano propostos na década de 1990:
Era uma postura que visava atrair, por meio de movimentos de indução, mais
investimentos privados diante da crise fiscal e da competição entre as cidades pela atração
de recursos. Esses planos estratégicos multiplicaram-se durante a década de 1990, dando
88
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
ênfase à autonomia das cidades e às disputas entre elas, para a atração de investimentos e
prestígio, e alimentaram a campanha de enfraquecimento do Estado-Nação (E.
MARICATO 2001). São apresentados como inovações capazes de romper com o modo
tecnocrático de planejar e com o caráter excessivamente normativo dos Planos Diretores, o
que permitiu a redução da distância entre planejamento e gestão. Ganham importância as
imagens construídas das cidades (marketing territorial) para a criação de sentimentos
positivos sobre as cidades, com o efeito sinérgico de deslanchar as iniciativas dos agentes
econômicos. São difundidas também as parcerias público-privadas (private-public
partnership) como forma de viabilizar as intervenções estrategicamente priorizadas,
desconsiderando uma análise mais profunda da realidade social e espacial que
reconhecesse as desigualdades socioterritoriais.
65
O Governo do Estado de Pernambuco, nessa direção iniciou, em 1996, uma negociação junto ao Banco
Mundial para o financiamento do Programa Estadual de Desenvolvimento Urbano (PEDU) e para a
implementação de um Programa de Ação Integrada em Áreas Pobres. Em 1999, o Governo do Estado lançou
o Projeto de Qualidade das Águas e Controle da Poluição Hidríca (PQA), fruto de um convênio com o
Governo Federal e Banco Mundial (BIRD), com o objetivo do desenvolvimento de ações que visassem à
recuperação da qualidade das águas em quatro bacias hidrográficas: do Beberibe, Capibaribe, Jaboatão e
Ipojuca. Posteriormente, o PQA foi redirecionado para um programa de intervenção em áreas de baixa renda
o qual enfatizava o enfrentamento da questão da pobreza urbana a partir de ações integradas: o Programa de
Infra-estrutura em áreas de Baixa Renda na RM Recife (PROMETRÓPOLE), que vem desenvolvendo
intervenções em assentamentos precários de baixa renda, considerando as sub-bacias de drenagem como
unidades de planejamento e intervenção.
89
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
66
Os recursos materiais territorializados são permanentemente disputados por distintos projetos. Esses
projetos lhes atribuem sentidos propriamente utilitários, mas também sentidos simbólicos relativos às práticas
culturais mais amplas, que ultrapassam o campo da produção material da existência das sociedades.
(ACSELRAD e LEROY 1999)
90
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
67
A metodologia de trabalho adotada no processo de elaboração da Agenda 21 brasileira selecionou seis
áreas temáticas: Agricultura Sustentável, Cidades Sustentáveis, Infra-estrutura e Integração Regional, Gestão
dos Recursos Naturais, Redução das Desigualdades Sociais, e Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento
Sustentável. Como medida inovadora, a Agenda 21 propôs a criação dos Conselhos e Comissões Nacionais
de Desenvolvimento Sustentável e os Fóruns da Agenda 21, que envolveu as comunidades e o poder local, os
trabalhadores e as associações de classe, os empresários, as ONGs, a comunidade científica, a mídia e as
lideranças sociais e políticas regionais e locais.
68
A legislação ambiental brasileira define dois tipos unidades de conservação: i) unidades de proteção
integral (reservas biológicas, estações ecológicas, parques nacionais, monumentos naturais e refúgios da vida
91
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
silvestre), onde se proíbe a existência de populações humanas; ii) unidades de uso sustentável, áreas de
proteção ambiental (APA), áreas de relevante interesse ecológico, floresta nacional, reserva extrativista,
reserva de fauna, reserva de desenvolvimento sustentável e reserva particular do patrimônio natural). Nessas
unidades, sob a forma de contrato ou concessão; nas áreas públicas pode ser permitida a presença de
populações tradicionais e a exploração de recursos, a partir de um Plano de manejo. A mesma lei definiu o
conceito de Zona de Amortecimento em torno das unidades de conservação, onde devem ser estabelecidas
regulamentações específicas para minimizar os impactos de atividades limítrofes na área protegida.
92
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
É importante fazer alguns apontamentos em relação a estes dois últimos planos, já que os
mesmos ainda norteiam a atuação do sistema de gestão metropolitana.
Para o PDRM RECIFE Metrópole 2010, era fundamental resgatar a força dos processos
históricos de longa duração sobre a conformação do espaço regional para pensar o
93
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Algumas tendências também foram observadas pelo PDRM RECIFE Metrópole 2010 no
contexto de mudanças no ambiente mundial: i) o processo de globalização, 69 com a
exacerbação da competição interespacial e interempresas, e com a difusão de novos
padrões gerenciais, tecnológicos, produtivos, de consumo e de valores e comportamentos;
ii) os avanços tecnológicos, com a emergência de um conjunto de novas tecnologias
integradas e de grande propagação no processo produtivo (informática e microeletrônica,
biotecnologia, novos materiais, química fina, etc.), bem como mudanças fundamentais na
organização da produção (novos processos gerenciais, reengenharia, qualidade total, etc.);
iii) a reestruturação da economia mundial, com o crescimento das atividades terciárias
(destaque para os serviços), ênfase nas vantagens competitivas, mudanças nas formas
contratuais do comércio mundial, formação de blocos de mercado de livre comércio; iv) a
reorganização do mercado de trabalho, com os avanços tecnológicos e o aumento da
produtividade, o que provocava a redução de postos de trabalho e cria novas ocupações,
bem como faz crescer a exigência de qualificação profissional; v) a exclusão social,
associada à grande seletividade na apropriação da riqueza e da renda geradas, não é mais
simplesmente desigualdade social, porém, a perspectiva de incapacidade de geração de
oportunidades para um grande contingente de pessoas; vi) a preservação ambiental, quando
se verifica uma crescente preocupação com as questões ecológicas e com a utilização mais
racional dos recursos naturais; vii) a despolarização do poder mundial, expressa pela
derrocada do império soviético e a emergência de novas nações com peso político no
cenário internacional. Em termos institucionais, observava-se a tendência de redefinição do
69
Os efeitos da globalização eram apontados para as mudanças nos territórios, que poderiam passar a
significar, muitas vezes, territórios nacionais ou internacionais. Em uma época de processos históricos de
homogeneização econômica nacional e internacional, a prática urbanizadora modifica-se a partir da ação dos
novos agentes econômicos que impulsionam a integração na macroescala territorial.
94
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
papel do setor público e das suas formas de atuação e relação com o setor privado; viii) a
revalorização do papel das cidades e do poder dos governos locais, tendência mundial
particularmente forte no Brasil, com a perspectiva de maior autonomia para os municípios.
Uma nova proposta para o planejamento metropolitano deveria, segundo o PDRM RECIFE
Metrópole 2010, ser dirigida para um processo de requalificação do espaço. Partir-se-ia
daquilo que existe de específico, de irreprodutível, vinculado à idéia de lugar. Seria uma
proposta que partiria da diversidade das unidades ambientais e das paisagens significantes,
em termos de valores da natureza, cultura e história. Seria necessário, ainda, buscar os
elementos que dão unidade e mantêm a agregação entre essas partes em um tecido único:
as unidades ambientais e as redes. Isso significa reconhecer as grandes estruturas do espaço
urbano, sejam elas materiais, sejam imateriais, dentre as quais: o ambiental natural,
formado pelos sistemas de corpos d’água, isso é, os rios, córregos, canais, lagoas,
estuários, praias e mar; o sistema colinar e o sistema da planície; o ambiente construído,
principalmente os sistemas da mobilidade da matéria - os sistemas de transporte e da
informação - os sistemas de comunicação, especialmente as telecomunicações, e a
produção da cultura local, decorrente das atividades das instituições e das redes de criação
e disseminação de informação.
Como plano estratégico, o PDRM RECIFE Metrópole 2010 partiu da opção estratégica
pelo desenvolvimento sustentável, o que implicaria a priorização do crescimento com
desenvolvimento e com distribuição social, com a manutenção do meio ambiente e da
qualidade de vida, de forma a manter o máximo de opções futuras. Considerava que um
plano, na perspectiva do desenvolvimento sustentável, atuaria sobre um território
95
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Alguns cenários foram considerados pelo PDRM RECIFE Metrópole 2010 para as
propostas de desenvolvimento da Região Metropolitana do Recife: i) cenário de
Estagnação Econômica, com Inércia dos Atores e Agravamento Social, fruto da
combinação de um cenário nacional de crise econômica e instabilidade político-
institucional com um contexto metropolitano marcado pela incapacidade dos atores de
engendrarem um projeto alternativo de enfrentamento da crise; ii) cenário de Crescimento
Econômico com Hegemonia Liberal, resultado da influência direta do modelo de
desenvolvimento predominante no País de cunho neoliberal, marcado pela estabilidade
econômica, retomada do crescimento e redução da presença do Estado na promoção de
políticas sociais, e regulação da economia com um projeto de desenvolvimento
metropolitano que privilegie a lógica de mercado; iii) cenário de Crescimento Moderado
com Políticas Compensatórias, que também se processa em meio a um cenário nacional de
estabilidade com exclusão, mas que é mediado por uma proposta alternativa puxada pelo
Governo do Estado e alguns Governos Municipais, de promoção de um desenvolvimento
com políticas sociais e ambientais mais ativas, não obstante as restrições de verbas
federais; e iv) cenário de Crescimento Econômico com Respeito ao Meio Ambiente e
Justiça Social, resultante da combinação de um cenário nacional de estabilidade política e
econômica, com o Estado a exercer efetivamente as funções de promotor de políticas
sociais e regulador da economia, com um contexto metropolitano balizado por um projeto
pactuado pelos diversos atores metropolitanos em torno de um desenvolvimento em bases
sustentáveis.
96
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
I) Território de oportunidades A -
Turismo e lazer náutico/ecológico -
para atividades de lazer e turismo de
praia. Esse território abrangia parte
do litoral norte da RM Recife,
compreendido pela Ilha de
Itamaracá, Coroa do Avião, parte de
Paulista (praia e pontal de Maria
Farinha), Igarassu (Nova Cruz) e
Itapissuma (sede). O território
contava com um potencial
ambiental e paisagístico e acervo de
sítios históricos, atividades de lazer
e esportes náuticos, festas e as
danças populares;
97
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
proteção de mananciais. Possui ainda cinco matas, sendo a mata de Aldeia de dimensão
expressiva. Além de atividades agroindustriais, existem os conjuntos urbanos da sede do
município de Araçoiaba e a sede do distrito de Três Ladeiras;
98
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
99
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
A escala das análises e proposições do Metrópole 2010 não poderia dar conta das questões
específicas das áreas de transição rural-urbana. De todo modo, alguns apontamentos
merecem registro para essas áreas: a advertência quanto aos diversos problemas típicos de
áreas adversas à ocupação, além dos fatores do cenário econômico local, evidencia, mais
uma vez, a necessidade de que tais questões sejam tratadas em termos metropolitanos - a
formação de grande quantidade de vazios urbanos; a substituição de ecossistemas
(mangues, matas e estuários) por áreas urbanas; a ocupação de áreas alagadas e de
encostas; a ocupação e o adensamento de áreas com infra-estrutura urbana insuficiente; a
recomendação relativa à contenção da mancha urbana, de modo a complementar as áreas
urbanizadas subutilizadas e os vazios existentes e otimizar as diversas redes. O processo de
urbanização não deveria expandir-se para áreas de reserva e de proteção, nem para as áreas
marginais de transição rural-urbanas. Nestas últimas, recomenda-se o aumento da
rentabilidade do uso do solo agrícola a partir de programas de fomento que possibilitem a
racionalização da cultura canavieira, juntamente com a especialização e diversificação da
produção agrícola e de espécies animais (a piscicultura, a apicultura e a criação de
pequenos animais).
100
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
101
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
102
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
103
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
104
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
105
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
A Federação Brasileira tem como característica fundamental a definição das funções e dos
deveres das entidades federadas, direcionados para assegurar os direitos e garantias
fundamentais das pessoas, por meio da implementação de políticas públicas que atendam
os objetivos fundamentais de promover a justiça social, erradicar a pobreza e reduzir as
desigualdades sociais, tornar plena a cidadania e a dignidade da pessoa humana.
A União, de acordo com o artigo 21, inciso XX, tem competência para estabelecer as
diretrizes para a habitação, o saneamento básico e os transportes urbanos. Com base no
artigo 24, inciso I, a União, no âmbito da competência concorrente sobre o direito
urbanístico, tem como atribuição estabelecer as normas gerais de direito urbanístico por
meio da lei federal de desenvolvimento urbano. 70 Essa lei, o Estatuto da Cidade, contém as
diretrizes de desenvolvimento urbano, os objetivos da política urbana nacional, a
regulamentação dos artigos 182 e 183 da Constituição, e institui os instrumentos
70
A Constituição transformou em exigência a formação do sistema de normas de direito urbanístico, o qual
deve ser composto pelas normas constitucionais referentes à política urbana; lei federal de desenvolvimento
urbano; o conjunto de normas sobre a política urbana estabelecidas nas Constituições dos Estados; lei
estadual de política urbana e a legislação estadual urbanística, e o conjunto de normas municipais referentes à
política urbana estabelecidas nas Leis Orgânicas dos Municípios, no Plano Diretor e na legislação municipal
urbanística.
106
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
urbanísticos e o sistema de gestão dessa política, os quais devem ser aplicados pela União,
pelos Estados e, especialmente pelos Municípios.
A União tem ainda competência privativa: i) para elaborar e executar planos nacionais e
regionais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social, de acordo
com o artigo 21, inciso IX da Constituição; ii) para legislar sobre direito civil, o que
abrange os temas que integram a temática urbana e ambiental: moradia, locações, direito
de propriedade, uso, usufruto, compra e venda; o direito agrário; águas, trânsito e
transporte e registros públicos, nos termos do art. 22 da Constituição. Ela tem competência
concorrente sobre o direito urbanístico, sendo de sua competência o estabelecimento das
normas gerais, por meio de lei federal sobre o desenvolvimento urbano (artigo 24, inciso
I).
71
A competência comum confere à União, aos Estados e aos Municípios um patamar de igualdade para a
promoção de políticas e ações. O exercício dessa competência por um dos entes federativos não exclui o
outro, a qual pode ser exercida cumulativamente.
107
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Os Estados, com base na competência concorrente com a União, podem editar uma lei
estadual de política urbana na ausência de lei federal. Podem, ainda, editar normas gerais
de direito urbanístico, na ausência da lei federal que vise capacitar os Municípios para a
execução da política urbana municipal. Essas normas gerais terão sua eficácia suspensa se
ficarem em desacordo com as normas gerais estabelecidas pela União por meio de lei
federal de desenvolvimento urbano, com base no artigo 24, parágrafo 4º, da Constituição.
Os Estados podem editar uma lei estadual de política urbana que vise à sua aplicação
conjunta com os Municípios, com base na competência concorrente. Os Estados têm
competência para instituir políticas urbanas para as regiões metropolitanas, com
organismos e instrumentos próprios. Uma questão importante hoje é a articulação, entre os
municípios que compõem uma região metropolitana, para o desenvolvimento de ações
integradas já que as estruturas de gestão metropolitana, quando existem, estão em situação
precária. Parte significativa das áreas de transição rural-urbana está localizada entre
municípios, ou seja, seus limites não correspondem aos limites municipais. Portanto, para o
planejamento dessas áreas, a dimensão metropolitana é fundamental.
Aos municípios cabe para legislar sobre assuntos de interesse local, suplementar a
legislação federal e estadual no que couber e promover o adequado ordenamento territorial;
criar, organizar e suprimir distritos, observada a legislação estadual; organizar e prestar os
serviços públicos de interesse local, incluído o de transporte coletivo, nos termos do artigo
30 da Constituição Federal.
108
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
urbano (art. 30, VIII); bem como promover a proteção do patrimônio histórico-cultural
local (art. 30, IX).
109
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Vale acrescentar que, de acordo com a diretriz prevista no inciso VII do art. 2º do Estatuto
da Cidade, o Plano Diretor deve promover a integração e a complementaridade entre os
atividades urbanas e os rurais, tendo em vista o desenvolvimento socioeconômico do
município e do território sob sua área de influência.
110
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Em relação à regulação do parcelamento do imóvel rural para fins urbanos, localizado fora
da zona de expansão urbana, a responsabilidade exclusiva do INCRA está alicerçada em
uma instrução (nº 17-b, de 22/12/80), com conteúdos insuficientes para controlar esse tipo
de ocupação. Se a regulação das formas de uso, ocupação e parcelamento do solo no
território municipal é, inegavelmente, de interesse local, como foi reconhecido
constitucionalmente, é necessário que os municípios entrem em articulação com o INCRA
para exercer essa função. Contudo, quando se considera o déficit histórico dos municípios
em relação ao controle do uso e ocupação do solo, não parece haver perspectivas
promissoras nesse sentido. Normalmente, quando há interesse do município em relação a
alguma área rural para a realização de novos parcelamentos urbanos, o perímetro urbano é
expandido, com a conseqüente demarcação de zonas de expansão urbana. Essa, em muitas
ocasiões, não se configura a melhor medida, já que pode implicar, por exemplo, o
comprometimento da produção rural, ou das áreas de preservação de mananciais e da
cobertura vegetal presentes nas zonas rurais.
Há que se considerar, ainda, que os limites definidos das zonas urbanas e rurais têm,
muitas vezes, um certo grau de arbitrariedade. Em diversos municípios na realidade rural,
há atividades não-agrícolas em estreitas relações com as atividades urbanas. Da mesma
forma, nas áreas urbanas há porções do território com atividades agrícolas. Nas áreas de
transição rural-urbana, essas situações se apresentam com maior intensidade.
Para a questão tributária, mais especificamente para o Imposto Territorial Rural (ITR), a
Lei Federal nº 5.868/72 estabeleceu que o imóvel rural é aquele que se destina à
exploração agrícola, pecuária, extrativa vegetal ou agroindustrial, independentemente de
sua localização, com uma área superior a um hectare (art. 6°) – ou seja, o imóvel poderá
estar na área urbana e pagar ITR. A principal crítica a essas classificações da legislação
tributária é ser insuficiente para a qualificação urbanística do solo que designa a situação
jurídica de determinado espaço territorial, de modo a atender as funções sociais da cidade e
da propriedade.
111
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
112
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
113
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Havia o reconhecimento por parte das organizações que integram o Fórum Nacional de
Reforma Urbana, de que a ação direta e a omissão do Estado em relação à regulação do uso
e ocupação do solo, bem como as suas políticas de desenvolvimento urbano e habitacionais
contribuíram decisivamente para as desigualdades socioespaciais das cidades brasileiras.
Considerando-se a dualidade referente aos espaços infra-estruturados / legais e aos espaços
precários / irregulares. Em função de estarem em desacordo com a legislação ou com os
procedimentos de controle urbanístico, denotam diferentes tipos de irregularidade relativos
à posse do terreno e/ou parcelamento, ocupação do solo e edificação não-permitidos. Essa
concepção propõe um novo modelo de pensar a cidade a partir de três premissas: i) da
instituição da gestão democrática, ao reconhecer o direito dos cidadãos à participação
política na condução dos destinos da cidade; ii) do fortalecimento da regulação pública do
solo urbano; da inversão de prioridades, quando apontava para que os investimentos
públicos privilegiassem as demandas da população de baixa renda e seus territórios com
precárias condições de habitabilidade; iii) da garantia da função social da propriedade e da
cidade, com a proposição do uso socialmente justo e equilibrado do espaço urbano, o
reconhecimento do direito de acesso aos bens e serviços urbanos, e a necessidade de uma
justa distribuição dos custos e benefícios da urbanização.
114
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
115
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
incorporando, na maioria das vezes, áreas produtivas. Entende-se que esse procedimento
tem contribuído para a esterilização de áreas produtivas e pelo espraiamento da expansão
urbana, o que acaba por alimentar o desequilíbrio entre infra-estruturas e usos do solo
nessas áreas.
72
O parcelamento, edificação ou utilização compulsórios são instrumentos que exigem a montagem de um
sistema de cadastro dos imóveis urbanos, permanentemente atualizado a cada nova autorização de ocupação,
de modo a possibilitar o monitoramento dos imóveis. Exigem também a existência de uma planta genérica de
valores imobiliários, a partir da qual se possa aplicar o imposto e sua progressividade.
73
A finalidade do poder público municipal na utilização do IPTU progressivo no tempo não é a arrecadação
fiscal, mas sim induzir o proprietário do imóvel urbano a cumprir com a obrigação estabelecida no plano
urbanístico local, de parcelar ou edificar, de utilizar a propriedade urbana de forma a atender sua função
social.
74
A desapropriação prevista no inciso III do parágrafo 4º do artigo 182 é um dos casos de exceção ao artigo
5º, inciso XXIV, da Constituição, pelo qual a desapropriação será efetuada mediante justa e prévia
indenização em dinheiro. Essa desapropriação é um instrumento urbanístico que possibilita o poder público
aplicar uma sanção ao proprietário de imóvel urbano, por não respeitar o princípio da função social da
propriedade.
116
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
O Plano Diretor e a lei municipal específica podem estabelecer as seguintes obrigações aos
proprietários de imóveis urbanos dessa área: a) no caso de a propriedade ser uma gleba
urbana, promover o parcelamento para fins de constituir um loteamento urbano; 76 b) no
caso do imóvel já parcelado, promover a edificação para fins de habitação de interesse
75
O instrumento do Consórcio Imobiliário é um recurso a ser utilizado para viabilizar empreendimentos em
casos nos quais o proprietário não pode fazê-los sozinho. No consórcio imobiliário, o proprietário transfere
ao Poder Público Municipal um imóvel, e esse se responsabiliza pela realização de obras. Após a realização
do empreendimento, o proprietário recebe, como pagamento, unidades (casas ou apartamentos) resultantes do
empreendimento, em valor proporcional ao da terra antes das obras de loteamento e urbanização realizadas
pelo poder público.
76
É importante referenciar que nem todas as glebas que se encontram dentro do perímetro urbano são terra
urbana. Uma propriedade rural (minifúndio, latifúndio ou empresa rural) pode estar contida no perímetro
urbano sem, contudo, estar submetidas às tributações territoriais urbanas.
117
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
social; c) no caso do imóvel já parcelado e edificado, promover sua utilização para fins de
habitação de interesse social.
Nas áreas de transição rural-urbana, é provável que haja dificuldades para a aplicação dos
instrumentos supra citados, quando se considera que a maior parte das áreas não tem uma
adequada cobertura de infra-estrutura e serviços urbanos. 77 Caso existam áreas com infra-
estrutura, seria possível utilizar esses instrumentos associados a outros, como os citados
acima, para induzir o uso e a ocupação, desde que exista equilíbrio entre as possibilidades
de uso e ocupação com os limites das áreas, tanto do ponto de vista da disponibilidade de
infra-estrutura quanto das condições ambientais. Em relação às ZEIS, por exemplo, seria
possível viabilizar áreas para reassentamento de população que ocupasse áreas de proteção
ambiental em condições precárias, o que é comum nas áreas de transição rural-urbana.
É importante ressaltar que para as regiões metropolitanas seria desejável que houvesse
articulação das estratégias para a utilização desses instrumentos, pois se observa que as
distorções relativas à incompatibilidade entre intensidade do uso e da ocupação do solo e
as condições infra-estruturais e ambientais pode acontecer entre municípios vizinhos. Ou
seja, o que está previsto para um é provável que acarrete em implicações para o outro.
77
De acordo com o inciso I do artigo 42 do Estatuto da Cidade, para a delimitação as áreas urbana sujeitas ao
parcelamento, edificação ou utilização compulsórios, deve ser considerada a existência de infra-estrutura e de
demanda para utilização.
118
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
A outorga onerosa pode ser utilizada em áreas onde exista a intenção expressa no Plano
Diretor de produção de habitação de interesse social, equipamentos culturais e saúde. Pode
ser estabelecida a isenção do pagamento da outorga onerosa para os empreendimentos de
habitação de interesse social nas zonas especiais de interesse social.
Nas áreas de transição rural-urbana, esse instrumento poderá ser útil para as áreas mais
adensadas, ao se considerar a relação entre a infra-estrutura existente e a densidade
esperada. Os recursos das contrapartidas poderão contribuir para diminuir os déficits de
infra-estrutura. Quanto à possibilidade de alteração de uso, será necessário cuidado em
relação aos impactos ambientais e de vizinhança, e para tanto deverão ser utilizados os
instrumentos normativos e de gestão específicos.
A utilização desse instrumento dependerá, também, em certa medida, das relações entre os
municípios, considerado o âmbito metropolitano.
De acordo com o art. 32 do Estatuto da Cidade, lei municipal específica, baseada no Plano
Diretor, poderá delimitar uma área para a aplicação de operações consorciadas. Essa
operação consiste no conjunto de intervenções e medidas coordenadas pelo Poder Público
municipal, com a participação dos proprietários, moradores, usuários permanentes e
investidores privados, cujo o objetivo é alcançar em uma área transformações urbanísticas
estruturais, melhorias sociais e valorização ambiental. Pode envolver simultaneamente: o
redesenho da área-objeto; a combinação de investimentos privados e públicos; a transação
dos direitos de uso e ocupação do solo, e a definição de um projeto de estrutura fundiária,
potencial imobiliário, formas de ocupação do solo e distribuição de usos distintas da
situação presente da área e das regras gerais de uso e ocupação do solo vigentes para essa.
O Plano Diretor definiria, então quais são as áreas urbanas na cidade que poderão estar
sujeitas às operações urbanas, as quais posteriormente deverão ser delimitadas por lei
municipal. De forma geral, as grandes operações urbanas realizadas no Brasil se deram em
áreas onde já existia um grande interesse do mercado imobiliário.
119
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
De todo modo, o desafio não é pequeno. Se nas áreas centrais vêm predominando a gestão
pública reativa e as ações fragmentadas dos diversos agentes modeladores, nas áreas de
transição rural-urbana, onde a intensidade de ações é menor e a omissão do Estado é maior,
o contexto é menos favorável à integração das ações.
120
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
A área sobre a qual incide esse instrumento deverá ser definida por lei municipal baseada
no Plano Diretor, para as seguintes finalidades: regularização fundiária; execução de
programas e projetos habitacionais de interesse social; constituição de reserva fundiária;
ordenamento e direcionamento da expansão urbana; implantação de equipamentos urbanos
e comunitários; criação de espaços públicos de lazer e áreas verdes; criação de unidades de
conservação ou proteção de outras áreas de interesse ambiental; proteção de áreas de
interesse histórico, cultural ou paisagístico.
Uma questão importante em relação ao direito de preempção é que o Poder Público será
informado de todos os projetos de venda existentes. Ele pode evitar ou facilitar a
negociação entre as partes envolvidas, o que depende dos objetivos relativos ao uso e à
ocupação após a alienação. Desse modo, o município poderá controlar os preços dos
terrenos, em especial em áreas urbanas em que o preço dos imóveis dos terrenos seja
elevado em decorrência da especulação imobiliária.
121
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
O Estatuto da Cidade estabelece, no seu artigo 4, os instrumentos que devem ser aplicados
para a promoção da regularização fundiária, que são os seguintes: zonas especiais de
122
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
interesse social; concessão de direito real de uso; concessão de uso especial para fins de
moradia; usucapião especial de imóvel urbano; direito de superfície, que tem finalidades
diversas, mas também deve ser utilizado para a regularização fundiária; assistência técnica
e jurídica gratuita para as comunidades e grupos sociais menos favorecidos.
Na maior parte das legislações municipais, a ZEIS vem sendo trabalhada em articulação
com outros instrumentos jurídicos, urbanísticos e de planejamento e gestão participativa
para que, de modo coordenado, possa dar maior efetividade ao objetivo de regularizar os
assentamentos de interesse social. Em função das formas de uso e ocupação existentes ou
planejadas, as ZEIS podem ter classificações distintas, com normas e parâmetros
diferenciados: i) terrenos públicos ou particulares ocupados por assentamentos precários de
baixa renda, onde haja interesse público em promover a urbanização e/ou a regularização
jurídica da posse da terra; ii) loteamentos clandestinos e irregulares; iii) terrenos não
edificados, subutilizados ou não-utilizados, caso sejam destinados à implantação de
programas habitacionais de interesse social; iv) áreas com concentração de habitação
coletiva precária de aluguel (cortiços), onde haja interesse público na promoção de
programas habitacionais destinados à população de baixa renda.
78
Normalmente, a legislação tem uma forte capacidade repressiva quanto a certos padrões de ocupação do
solo, variando conforme a capacidade (e interesse) política ou administrativa do Poder Público em aplicar as
normas.
123
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Nas as áreas de transição rural-urbana, a ZEIS poderá ser trabalhada tanto para a produção
de habitação de interesse social, quanto para a consolidação de população localizada em
terrenos públicos ou particulares, ou loteamentos clandestinos e irregulares. A partir da
delimitação de terrenos não-edificados, subutilizados ou não utilizados, considerando-se
inclusive, a demanda por reassentamento de famílias que estão em áreas de interesse
ambiental.
A Concessão de Uso Especial para fins de moradia integrava o Estatuto da Cidade e teve
os artigos vetados pela Presidência da República. Sua regulamentação foi objeto da
124
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Medida Provisória (MP) n.º 2.220, publicada em 5 de setembro de 2002, em vigor desde
então, para regulamentar a concessão especial de uso mencionada no artigo 183, parágrafo
1º da Constituição Federal. A concessão de direito especial de uso para fins de moradia é o
instrumento hábil para a regularização fundiária das terras públicas informalmente
ocupadas pela população de baixa renda.
A Medida Provisória (MP) n.º 2.220 garantiu o direito à concessão de uso especial, de
forma individual ou coletiva, de áreas públicas federais, estaduais, municipais ou do
Distrito Federal, de até 250m², localizadas em área urbana. O art. 6º estabelece que o título
de concessão de uso especial para fins de moradia será obtido pela via administrativa
perante o órgão competente da Administração Pública ou, em caso de recusa ou omissão
desse, pela via judicial. Pelo artigo 4 da MP, se a ocupação for em uma área pública
considerada como de risco à vida ou à saúde dos ocupantes, o Poder Público deve
assegurar ao possuído o exercício direito em outro local. Isso significa que a regra é de não
conferir a concessão de uso especial em áreas de risco.
Tanto a usucapião para áreas privadas quanto a concessão de uso especial para fins de
moradia para áreas públicas serão, no âmbito das áreas de transição rural-urbana,
importantes instrumentos para o reconhecimento do direito à moradia dos moradores de
diversos assentamentos precários existentes. Inclusive, as famílias constantes de ocupações
em áreas de proteção ambiental terão seus direitos resguardados, mesmo que a solução seja
o reassentamento. Vale registrar que, se as grandes cidades brasileiras já apresentam um
quadro acentuado de irregularidades, 79 é que as áreas de transição rural-urbana constituem
um território onde pouquíssimos parcelamentos e construções estão regulares e parte
significativa da população que os gerou e ainda os ocupa é de baixa renda, sem acesso aos
meios necessários à regularização fundiária.
79
Em função de estarem em desacordo com a legislação ou os procedimentos de controle urbanístico, o que
denota diferentes tipos de irregularidade relativos à posse do terreno e ou parcelamento, ocupação do solo e
edificação não-permitidos.
125
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
O planejamento quando não é compartilhado pelos cidadãos, acaba tendo os seus produtos,
planos e projetos, descolados das possibilidades reais de implementação, por não terem
sido assimilados e nem assumidos pela sociedade. O intuito da Gestão Democrática,
regulado pelo Estatuto da Cidade, é procurar fazer com que os instrumentos de política
urbana, disciplinados no artigo 4 da Lei Federal não sejam meras ferramentas a serviço de
concepções tecnocráticas, mas, ao contrário, instrumentos de promoção do direito à cidade
para todos.
80
A Iniciativa Popular é o meio pelo qual o povo pode apresentar diretamente ao Legislativo projetos de Lei
subscritos por um número mínimo de cidadãos. Poderá ser aplicado nos três níveis federativos, federal,
estadual e municipal. Na esfera federativa a iniciativa popular vem regulada pelo artigo 61, parágrafo 20o, da
Constituição Federal. Na esfera dos municípios, a iniciativa popular poderá ser utilizada para apresentação de
projetos de lei de interesse específico do município, da cidade ou bairros, por meio da manifestação de, pelo
menos, cinco por cento do eleitorado, por força do artigo 29, XIII, da Constituição Federal.
81
O referendo tem o propósito de ratificar ou regular matérias que já foram inicialmente decididas pelo
Poder Público, como a aprovação ou rejeição de projetos de lei. Esse mecanismo poderá ser acionado sempre
após a edição dos atos normativos, para confirmar ou rejeitar normas legais ou constitucionais já aprovadas
pelo Legislativo.
82
O plebiscito é uma consulta de caráter geral, que tem por finalidade decidir previamente sobre determinada
questão política ou institucional.
126
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
O artigo 43 do Estatuto da Cidade prevê que a gestão democrática das cidades se dará por
meio de:
127
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
128
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Para a questão metropolitana, o Estatuto da Cidade prevê, em seu artigo 45, que os
organismos gestores das regiões metropolitanas e aglomerações urbanas incluirão
obrigatória e significativa participação da população e de associações representativas dos
vários segmentos da comunidade, de modo a garantir o controle direto de suas atividades e
o pleno exercício da cidadania. Vale registrar que é rara a constituição de instâncias de
gestão democrática em âmbito metropolitano. No âmbito do sistema de gestão da Região
Metropolitano do Recife, por exemplo, o que está mais próximo como instância de
participação da sociedade civil são as câmaras do CONDERM.
129
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Mesmo quando se reconhece que a melhoria das condições de vida nas cidades depende de
mudanças socioeconômicas estruturais, alguns avanços recentes 84 abrem perspectivas para
83
Projeto de Lei Complementar n° 730/2001, aprovado pela Assembléia Legislativa em 23/08/2001.
84
Outros avanços mais recentes, frutos da luta pela Reforma Urbana, merecem registro: a realização das
Conferências Nacionais das Cidades (2003, 2005 e 2007), que têm viabilizado uma ampla participação de
vários segmentos da sociedade na elaboração e definição dos princípios e diretrizes das políticas para as
cidades; a implantação do Conselho Nacional das Cidades (2003), cujo papel é propor, acompanhar e avaliar
a execução da política urbana e habitacional nacional; a aprovação da primeira lei de iniciativa popular, que
cria o Sistema e o Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social (2005); a aprovação do marco regulatório
do saneamento ambiental; a formulação da macropolítica de transporte, mobilidade e acessibilidade (2006); a
130
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Na Região Metropolitana do Recife, os Planos Diretores têm sido elaborados para cumprir
a determinação institucional do Estatuto da Cidade, com um estreito acompanhamento dos
processos municipais pelo Fórum de Reforma Urbana. No entanto, a questão rural urbana
ainda não foi incorporada na demanda desses atores, e muito pouco na preocupação dos
gestores, que continuam a entender o espaço municipal de forma fragmentada e pouco
articulada com os processos metropolitanos. O quadro 2.2 informa a situação de
elaboração/revisão dos planos diretores municipais na RM Recife.
elaboração dos planos diretores participativos nos municípios brasileiros (2006); a elaboração da Plataforma
Nacional de Prevenção aos Despejos (2006); a ampliação dos recursos para habitação e saneamento, com o
lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em 2007.
131
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
132
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
como uma extensão do urbano. Os enfoques sobre esses territórios requerem considerar a
interação entre o urbano e o rural, condição que pode ser facilitada pelas diretrizes do
Estatuto da Cidade, se for possível promover a municipalização do desenvolvimento rural
(uma vez que o rural tem sido, até agora, um território federal). Embora as metrópoles
sejam os territórios que apresentam menores especificidades regionais, no caso da RM
Recife, o estudo das áreas de transição rural-urbana ganha destacada importância pela
natureza dos condicionantes locais, significativamente diferenciados dos de outras
metrópoles brasileiras, pelo nível de desigualdades que apresenta.
É a partir dos anos 1960 que a histórica estrutura axial, policêntrica e periférica da Região
Metropolitana do Recife se consolida. Nos anos 1970, o seu crescimento transbordou, já
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
que houve a conurbação com os municípios periféricos. Podem ser identificados como
vetores dessa configuração: i) a implantação de Distritos Industriais ao longo das rodovias;
ii) o desenvolvimento dos transportes rodoviários; iii) A construção de grandes conjuntos
habitacionais, por meio do Sistema Financeiro da Habitação. Essas redes espraiaram o
espaço urbano metropolitano e deixaram incompletas muitas áreas intersticiais. Algumas
se tornaram objeto de especulação e incrementaram, ainda, os índices populacionais
municipais, ao ampliarem a abrangência das responsabilidades em termos de políticas
sociais e de infra-estrutura básica.
O Processo de Metropolização do Recife inicia-se nos anos 1950, embora a sua origem
institucional seja posterior, 1973. A seguir, serão observados os impactos de algumas
políticas na consolidação desse processo. A partir dos anos 1960, a dimensão
metropolitana começa a se consolidar e atinge as mais altas taxas de crescimento durante a
década de 1970. A forte implementação de políticas públicas desenvolvimentistas e
setoriais determinou a transferência de intenso contingente populacional para os núcleos
periféricos metropolitanos. Esses movimentos se tornam mais evidente quando se analisa o
incremento populacional na escala intrametropolitana. Na tabela 3.1 e no Gráfico 3.1
observa-se que há uma inversão numérica do crescimento populacional no núcleo recifense
para as cidades periféricas.
Na medida em que a cana se expandiu por matas, pastagens, encostas e sítios foreiros,
ocupou áreas, muitas vezes impróprias ao seu cultivo e acentuou a desruralização, 85 com a
proletarização dos trabalhadores rurais e o conseqüente povoamento das periferias urbanas
das metrópoles. Mesmo nos momentos de crise do complexo sucroalcooleiro, a cidade do
Recife assumiu o ônus do desemprego na agroindústria da cana por não ter capacidade
85
O aumento das plantações canavieiras foi determinante para o processo de desruralização, mas não se pode
deixar de destacar que a busca do urbano representa uma perspectiva de ascensão social para aqueles que
vivem e trabalham no campo, como bem colocou Williams (1989). A cidade representa para o migrante uma
forma de ascensão social, pois ele vislumbra a possibilidade de educação para os filhos e de emprego urbano
para si mesmo.
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
A série de ilustrações sistematizadas por Bryon in: Alheiros (1988) mostram o processo de
evolução da mancha urbana do Recife em direção aos demais núcleos metropolitanos
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
As transformações acima descritas podem ser observadas a partir das Tabelas 3.2 e 3.3 que
exibem o incremento populacional e as taxas de crescimento para o período. 1970-2007
nos municípios da periferia metropolitana. Destacam-se os casos dos municípios de
Paulista e Camaragibe que chegaram a dobrar em números absolutos a sua população
durante a década de 1970. Observa-se na coluna das Taxas geométricas de crescimento o
forte incremento populacional de Paulista que cresceu a uma taxa de mais de 10% ao ano.
Também se destaca o forte crescimento nos municípios de Igarassu, Jaboatão dos
Guararapes, em torno dos 5%. Vale lembrar que Abreu e Lima e Camaragibe, já exibiam
forte incremento populacional, mas nesse período eram distritos de Paulista e São
Lourenço da Mata.
Fonte: Censos demográficos 1940 a 2000 – IBGE in: (BITOUN, MIRANDA e SOUZA, Como
anda a metrópole: Região Metropolitana do Recife 2008)
86
Taxa Geométrica de Crescimento (TGC)
87
R.M Recife: Cabo, Igarassu, Jaboatão dos Guararapes, Moreno, Olinda, Paulista, São Lourenço da Mata,
Itamaracá (emancipado em 1962 de Igarassu), Itapissuma (emancipado em 1982 de Igarassu), Abreu e Lima
(emancipado em 1982 de Paulista), e Camaragibe (emancipado em 1982 de São Lourenço da Mata), Ipojuca
(incorporado em 1991). Ver Cartograma 3.1
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Produção do Espaço e Planejamento em Áreas de Transição Rural-urbana: O Caso da Região Metropolitana do Recife PE. Lívia Miranda
146
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Produção do Espaço e Planejamento em Áreas de Transição Rural-urbana: O Caso da Região Metropolitana do Recife PE. Lívia Miranda
Tabela 3.2 - População Residente e Incremento Populacional da Região Metropolitana do Recife e dos Municípios Componentes. 1970-1980
População Residente
Área
Região e Municípios População Incremento Taxa Geométrica de
(Km2) População 1970
1980 1970-80 Crescimento Anual 1970-80
RM Recife 2.775 1.827.173 2.395.342 568.169 2,74
88
Araçoiaba 96 8.669 8.881 212 0,24
S. L. da Mata 263 52.820 56.431 3.611 0,66
Moreno 193 31.204 34.943 3.739 1,14
Recife 218 1.060.701 1.203.899 143.198 1,27
Itamaracá 67 7.117 8.256 1.139 1,50
Itapissuma 75 8.826 11.896 3.070 3,03
C. S. Agostinho 445 75.829 104.157 28.328 3,23
Olinda 41 196.342 282.203 85.861 3,69
Igarassu 303 37.584 61.349 23.765 5,02
J. Guararapes 259 200.975 330.414 129.439 5,10
87
Abreu e Lima 138 26.065 47.058 20.993 6,09
87
Camaragibe 51 41.196 87.710 46.514 7,85
Paulista 99 43.994 118.689 74.695 10,43
Fonte: FIBGE. Censos Demográficos de 1970, 1980
88
Municípios emancipados em 1982 e 1995. Distritos em 1970-80.
147
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Produção do Espaço e Planejamento em Áreas de Transição Rural-urbana: O Caso da Região Metropolitana do Recife PE. Lívia Miranda
Tabela 3.3 - População Residente e Incremento Populacional da Região Metropolitana do Recife e dos Municípios Componentes. 1980-2007
Taxa Taxa
Taxa
geométrica geométrica
ÁREA População Incremento População Incremento População geométrica de Incremento População
Municípios de de
(Km2) 1980 80-91 1991 1991-2000 2000 crescimento 2000-2007 2007
crescimento crescimento
anual 91-00
anual 80-91 anual 00-07
RM Recife 2.775 2.395.342 524.639 2.919.981 1,82 417.584 3.337.565 1,50 316.969 3.654.534 1,30
Abreu e Lima 138 47.058 29.977 77.035 4,58 12.004 89.039 1,62 3.203 92.242 0,51
Araçoiaba 96 8.881 1.759 10.640 1,66 4.468 15.108 3,97 1.403 16.511 1,28
C. S. Agostinho 445 104.157 22.879 127.036 1,82 25.941 152.977 2,09 9.499 162.476 0,86
Camaragibe 51 87.710 11.697 99.407 1,14 29.295 128.702 2,91 4.852 133.554 0,53
Igarassu 303 61.349 7.848 69.197 1,10 13.080 82.277 1,94 11.307 93.584 1,86
Ipojuca 527 39.456 5.968 45.424 1,29 13.857 59.281 3,00 -41.708 17.573 -15,95
Itamaracá 67 8.256 3.352 11.608 3,15 4.250 15.858 3,53 53.923 69.781 23,57
Itapissuma 75 11.896 4.512 16.408 2,97 3.708 20.116 2,29 2.994 23.110 2,00
J. Guararapes* 259 330.414 156.705 487.119 3,59 94.437 581.556 1,99 83.831 665.387 1,94
Moreno 193 34.943 4.189 39.132 1,03 10.073 49.205 2,58 3.575 52.780 1,01
Olinda* 41 282.203 59.191 341.394 1,75 26.508 367.902 0,83 23.531 391.433 0,89
Paulista* 99 118.689 92.802 211.491 5,39 50.746 262.237 2,42 45.047 307.284 2,29
Recife* 218 1.203.899 94.330 1.298.229 0,69 124.676 1.422.905 1,02 110.675 1.533.580 1,08
S. L. da Mata 263 56.431 29.430 85.861 3,89 4.541 90.402 0,57 4.837 95.239 0,75
Fonte: FIBGE. Censos Demográficos de 1970, 1980, 1991 e 2000. e Contagem 2007 - * População Estimada em 2000
148
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
149
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
89
A população que possuía imóveis na região, destinados ao lazer de fim de semana e veraneio, era contada
pelo CENSO no seu domicílio principal, essa forma de urbanização compõe um dos tipos estudados nesta
pesquisa. Os processos de transformação nestes espaços serão posteriormente detalhados.
150
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
eventualmente, por meio de uma intensa transformação nas áreas periféricas a partir de um
mercado dinâmico informal, que atende às demandas de setores sociais de baixa e média
renda, por vezes com novos loteamentos ilegais.
A partir dos anos 1980, é perceptível o declínio da indústria na órbita das metrópoles
brasileiras. Mais especificamente, a predominância do setor terciário (atividades
financeiras, comerciais e de serviços), com a redução dos investimentos, principalmente
públicos, nos distritos e áreas industriais que se situam na RM Recife. A partir desse
processo, há um relativo esvaziamento econômico das áreas industriais e o
redirecionamento da economia metropolitana para o setor terciário, moderno ou informal,
o que traz significativas conseqüências para a dinâmica urbana/imobiliária.
As ocupações estão espalhadas por toda a RM Recife, mas merecem atenção alguns
loteamentos irregulares recentes que estão sendo implantados em áreas com insuficiência
de infra-estrutura e com possibilidade de repercussões expressivas em termos ambientais:
no núcleo central e na faixa litorânea do Cabo de Santo Agostinho; na periferia do Distrito
de Nossa Senhora do Ó, em Ipojuca; na faixa litorânea do município de Paulista, e na Ilha
de Itamaracá.
A advertência, registrada no Plano Diretor metrópole 2010, quanto aos diversos problemas
típicos de áreas adversas à ocupação, além dos fatores do cenário econômico local,
evidencia, mais uma vez, a necessidade de que essas questões sejam tratadas em termos
metropolitanos. Tais situações poderão imediatamente refletir-se em significativos custos
econômicos, sociais, culturais e ambientais. Dentre estes problemas merecem destaque: a
formação de grande quantidade de vazios urbanos; a substituição de ecossistemas
(mangues, matas e estuários) por áreas urbanas; a ocupação de áreas alagadas e de
encostas; a ocupação e o adensamento de áreas com infra-estrutura urbana insuficiente.
No contexto local, as enchentes dos anos 1975 e 1976 geraram respostas imediatas:
construção, para reassentar os flagelados, de vilas nas colinas ao sul do Recife, limítrofes
de Jaboatão dos Guararapes, logo acompanhada de loteamentos clandestinos;
investimentos públicos do Departamento Nacional de Obras Sociais (DNOS) para retificar
os rios e a construção de barragens no rio Capibaribe, a montante da capital, com a dupla
finalidade de controlar as enchentes e incrementar o sistema de abastecimento d’água.
153
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Figura 3.5:
no município do Cabo. Há uma tendência à agregação gradativa desse eixo com o litoral.
Essa impressão é reforçada com a implantação de infra-estruturas básicas e a atração de
empreendimentos estruturadores para o Complexo Industrial-Portuário de SUAPE, fator de
atração do fluxo migratório para o Cabo e Ipojuca.
VI Litoral Sul – Área que começou a se consolidar a partir dos anos 1940, tanto pela
pressão imobiliária em função do interesse por amenidades da faixa de praia, como pelos
investimentos públicos em infra-estrutura em Boa Viagem, no Recife. É uma área ocupada
predominantemente por estratos de renda média e média-alta, onde se evidenciam, além
dos altos edifícios residenciais, atividades ligadas ao terciário moderno, (centros
empresariais, shoppings centers, etc.), nos bairros de Boa Viagem no Recife, e Piedade em
Jaboatão dos Guararapes. O litoral do Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca apresenta uma
ocupação ainda de veraneio, com grande potencial turístico, que vem sendo explorado de
modo especulativo. As praias destes últimos municípios, praias do Paiva e de
Gaibu/Calhetas no Cabo e Porto de Galinhas, Maracaípe e Ponta de Serrambi em Ipojuca,
vêm sendo exploradas pelo potencial referente ao turismo e ao lazer. O mercado turístico
tem promovido intensa transformação em parcelas da faixa litorânea. Tanto no litoral sul
no entorno de Porto de Galinhas, como na zona estuarina dos rios Timbó e Igarassu, Canal
de Santa Cruz, é possível identificar localidades que apresentam sinais iniciais de saturação
e degradação.
90
Dados calculados por Geraldo Marinho a partir do mapa para a estruturação de um Banco de Dados
Georreferenciado sobre pobreza na RM Recife, de maio do ano 2000, parte do material de desenvolvimento
do programa Prometrópole - Programa de Infra-Estrutura em Áreas de Baixa Renda na Região Metropolitana
do Recife. (CONDEPE-FIDEM 2005)
155
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
parte das administrações municipais, ou mesmo pela FIDEM; 91 ii) os impactos ambientais
- resultantes da ocupação desordenada das áreas de proteção ambiental na vizinhança de
zonas estuarinas e de matas mais próximas das áreas parceladas;92 são resultantes, também,
dos desmatamentos das faixas de proteção dos mananciais, aporte de nutrientes e resíduos
agrotóxicos, assoreamento no ponto de captação e contaminação por efluentes domésticos
e industriais. A destinação final dos resíduos sólidos em lixões a céu aberto configura um
risco potencial de poluição da água, do solo e do ar. iii) a especulação para fins de
urbanização de grandes propriedades rurais 93 principalmente de usinas em processo de
falência. Os proprietários encontram na promoção de loteamentos uma forma mais rentável
de investimento, o que deixa de potencializar uma esperada diversificação produtiva. A
ausência de instrumentos de planejamento; a fragilidade do controle da urbanização nas
áreas rural-urbana, a falta de ações governamentais mais articuladas e coordenadas (rural e
urbana); a exacerbação dos interesses locais em detrimento dos interesses comuns
metropolitanos contribuem para a permanência dessa forma predatória de utilização do
espaço; iv) a saturação das redes de mobilidade figura como um dos pontos mais críticos
em termos de funcionalidade do espaço metropolitano. As obras em andamento, de
expansão do metrô de superfície, duplicação da BR-232, triplicação da rodovia PE-15 –
tendem a minimizar esse problema. Contudo, o planejamento e os investimentos em
transporte de massa, considerando-se as várias modalidades e os sistemas articulados, são
fundamentais para a reversão do quadro de esgotamento dessas redes.
91
O levantamento da FIDEM conta com um mapeamento preliminar de classificação da situação dos
parcelamentos urbanos da região, mas não dispõe de dados de caracterização ou dimensionamento daqueles
que se encontram totalmente clandestinos, registrados apenas com uma localização aproximada. Ver no item
3.2.2 esse mapeamento.
92
No Apêndice 1 há uma rápida sistematização dos condicionantes legais de restrição ambiental, que
posteriormente serão mais bem estudados na área de estudo proposta.
93
Aqui a referência é feita aos espaços contidos entres os ramos de urbanização identificados, ainda livres e
com características rurais. Não aos vazios urbanos intersticiais e fragmentados, resultantes de um processo de
urbanização especulativa e predatória.
156
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Figura 3.5 - Ramos da ocupação, segundo o Plano Metrópole 2010. Fonte: (FIDEM 1998)
II
III
IV
VI
VI
VI
157
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
158
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
94
Essa tipologia é bastante nova na Região Metropolitana do Recife. Somente em 2004 um condomínio
exclusivo começou a ser empreendido na Região Metropolitana, enquanto em outras regiões do Brasil essa
tipologia é característica dos anos 1990 e proliferou-se pelas periferias. A tipologia Alphaville foi a mais
reproduzida pelo Brasil.
159
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
O esforço nos próximos itens será de oferecer ferramentas que possibilitem a formulação
de descritores para caracterizar as áreas de transição rural-urbana e as dinâmicas
socioespaciais que nela acontecem. Para materializar tais observações tomou-se como
estudo a RM do Recife e mais detalhadamente o município de Camaragibe, município
metropolitano localizado a Oeste do Recife. Camaragibe reúne importantes características
se considerarmos a questão rural-urbana, entre elas pode-se destacar: i) localiza-se em uma
área intersticial entre os eixos de crescimento metropolitano; ii) reúne uma grande
diversidade de processos espaciais decorrente de vários tempos históricos; iii) apresenta a
tipologia granjeira, decorrente do processo de loteamentos rurais e da transformação de
uso do solo rural em urbano sem necessariamente promover a transformação da terra rural
em urbana; iv) parte significativa do território está regulada por legislação de proteção de
mananciais; v) não há delimitação de zona rural.
Pôde-se observar, na RM Recife, que a delimitação dos perímetros urbanos municipais foi,
ao longo do tempo, organizada em função das necessidades da expansão urbana, seja no
centro metropolitano, seja nos núcleos urbanos isolados da mancha urbana contínua. Em
relação ao núcleo metropolitano, o perímetro urbano sofreu constantes alterações em
função da expansão da mancha urbana. Na capital, por exemplo, a Lei 7421 de 1961 previa
uma Zona Urbana, uma Zona Suburbana e uma Zona Rural e a Lei 14.511 de 1983 já não
apresenta zona Rural, apenas as zonas urbana e suburbana. Já na Lei 16.276 de 1996 o
perímetro urbano cooresponde ao limite municipal. A Figura 3.6 mostra essa evolução.
Hoje, os municípios do Recife, Paulista e Camaragibe não possuem zona rural. Isso se
deve em parte à Lei Federal nº 6.766/79 no Art. 3º, que dispõe sobre o parcelamento do
solo, quando estabelece que o parcelamento do solo só poderá ocorrer em área urbana, de
expansão urbana ou urbanização específica. Assim, a extensão do perímetro urbano é a
forma mais utilizada para possibilitar conversão das terras rurais em urbanas a partir do
parcelamento. É importante esclarecer que mesmo com a extensão do perímetro urbano, os
imóveis rurais não se tornam imóveis urbanos. Mas vale salientar que as propriedades
rurais continuam a ser reguladas por legislação federal, portanto, alguns instrumentos
161
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
urbanísticos previstos na legislação municipal, não podem ser aplicados aos imóveis
rurais. 95
95
Atualmente encontra-se em tramitação projeto para vincular a tributação territorial rural, o Imposto
Territorial Rural (ITR), a esfera municipal.
162
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Produção do Espaço e Planejamento em Áreas de Transição Rural-urbana: O Caso da Região Metropolitana do Recife PE. Lívia Miranda
Figura 3.6 - Recife: Leis do Uso e Ocupação do Solo - Lei 7421/61, Lei 14.511/83.
Fonte: Observatório Pernambuco – UFPE/FASE
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
96
Na introdução dos Censos Demográficos de 1991e 2000, o IBGE informa que, para subsidiar as atividades
de coleta de dados foram atualizadas as bases cartográficas e criados arquivos que contêm informações de
referência territorial, o que inclui o de descrições dos perímetros dos setores censitários. Estabelecida essa
malha territorial, o domicílio é associado ao setor censitário e a suas agregações hierarquicamente superiores,
como os distritos, municípios, bairros e outras estruturas territoriais de interesse: “Setor é a unidade
territorial de coleta e de controle cadastral, percorrida por um único recenseador, contínua e situada em
área urbana ou rural de um mesmo distrito, em função do perímetro urbano (linha divisória dos espaços
juridicamente distintos de um distrito, estabelecida por lei municipal.”
97
As áreas definidas como urbanas e rurais por ocasião do Censo Demográfico de 1991 assim foram
mantidas para as pesquisas da PNAD realizadas de 1992 a 2000. Esse fato explica as quedas significativas da
população rural entre alguns períodos censitários.
164
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
1991 e 2000, 98 outras unidades territoriais além das tradicionalmente utilizadas (urbana,
rural e rural ou urbana isoladas). Classificação quanto à localização do setor (IBGE
2002): 1 - Área urbanizada de vila ou cidade - setor urbano situado em áreas legalmente
definidas como urbanas, caracterizadas por construções, arruamentos e intensa ocupação
humana; áreas afetadas por transformações decorrentes do desenvolvimento urbano e
aquelas reservadas à expansão urbana; 2 - Área não-urbanizada - área não-urbanizada de
vila ou cidade, setor urbano situado em áreas localizadas dentro do perímetro urbano de
cidades e vilas reservadas à expansão urbana ou em processo de urbanização; áreas
legalmente definidas como urbanas, mas caracterizadas por ocupação predominante de
caráter rural; 3 - Área urbanizada isolada - setor urbano situado em áreas definidas por lei
municipal e separadas da sede municipal ou distrital por área rural ou por um outro limite
legal;
98
Vale ainda informar que o Censo Demográfico utiliza dois questionários diferenciados: um referente ao
Universo dos domicílios brasileiros, que contém dados referentes aos domicílios, pessoas e chefes de
domicílio, e um segundo questionário, mais completo e amostral, aplicado em 10% do universo.
165
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Veiga (2003: 31) e Graziano da Silva (1997: 36) questionam os critérios legais para a
delimitação do rural e do urbano. Os autores evidenciam que a atual legislação vem
gerando percepções distorcidas sobre o dimensionamento do urbano e do rural no Brasil.
Mais uma vez entra em pauta o problema das escalas para as delimitações do rural e do
urbano. Na escala nacional, pequenos municípios que expressam uma dinâmica
efetivamente agrícola estão contidos nas expressivas taxas da urbanização nacional (81,2%
em 2000). Mesmo nas regiões metropolitanas é significativo o número de pequenas
cidades, menores que 20 mil habitantes. Tais cidades, principalmente nas regiões litorâneas
mais antigas, conservam as permanências da estrutura agrária. Em 2000, existiam 4642
municípios que tinham menos de 20 mil habitantes. Desse total, 151 estavam localizados
em RM, RIDE e Colar Metropolitano. Veiga mostra que se considerássem rurais os
municípios onde residem menos de 20 mil habitantes, o grau de urbanização no
Brasil,cairia em 10%.
166
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Vários países utilizam o critério do tamanho da população residente para distinguir se uma
área é rural ou urbana. Nos EUA é considerado rural o residente em aglomerado com mais
de 10 mil habitantes ou nos limites externos de uma cidade com mais de 50 mil habitantes
com uma densidade populacional inferior a 100 habitantes por milha quadrada. Na
Alemanha as áreas rurais são aquelas que têm uma densidade inferior a 100 habitantes por
km2 e pela ausência de cidades de mais de 100 mil habitantes na vizinhança
(WANDERLEY, 1994).
Martins (1986) e Graziano da Silva (1997) propõem a revisão dos critérios de delimitação
rural e urbano, a partir da utilização de algumas variáveis que complementariam os
recortes político-administrativos dos perímetros urbanos, a saber: i) Populacionais,
densidade demográfica (número de habitantes – dependente do contexto de cada país); ii)
Continuidades geográficas e ambientais (ocupação contínua do espaço).
Estas duas variáveis estão contempladas nos critérios utilizados pelo IBGE, e mais: iii)
Atividade econômica dominante da população ativa (ocupacionais); iv) Renda média per
capita; v) Concentração de equipamentos e serviços públicos; iv) Sociais (tamanho,
diferenciação, estratificação e complexidade - conferem status urbano).
Tabela 3.4 – Situação jurídica dos imóveis rurais – Sistema Nacional de Cadastro Rural
(SNCR) – Apuração especial em outubro/2003
Pequena
Total Grande Propriedade Minifúndio
Propriedade
Municípios o o
N. Área N. No. Área No. Área
Área (ha)
Imóveis (ha) Imóveis Imóveis (ha) Imóveis (ha)
Itapissuma 15 158,6 0 0,00 2 28,50 7 26,40
Araçoiaba 23 508 1 386,00 1 17,40 3 24,90
Olinda 485 845,3 0 0,00 2 27,90 4 10,20
Itamaracá 109 1.149,70 1 158,10 16 223,00 38 86,40
Camaragibe 228 2.194,60 2 513,70 49 602,50 92 277,10
Recife 99 2.717,30 6 1516,80 23 193,90 32 80,90
Abreu e Lima 426 2.720,30 1 145,70 6 93,40 26 83,30
Paulista 547 5.829,80 6 1515,90 29 392,50 80 251,00
Moreno 142 8.875,70 19 7344,90 29 418,10 50 166,70
Jaboatão dos
336 13.525,50 24 8963,20 68 932,50 148 495,60
Guararapes
São Lourenço da
182 14.439,20 30 12265,50 23 261,20 77 221,50
Mata
Cabo de Santo
258 16.029,40 22 11482,30 113 1549,20 27 86,50
Agostinho
Ipojuca 131 22.160,20 18 18698,90 18 609,90 53 313,50
Igarassú 821 33.509,80 9 26269,70 62 1727,60 264 1394,00
Total RM Recife 3802 124663,4 139 89260,70 441 7077,60 901 3518,00
Fonte: Sistema Nacional de Cadastro Rural - SNCR Situação Jurídica - Out 2003
168
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
169
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
A escala regional
99
É bom lembrar que, para a utilização dos dados da amostra do Censo Demográfico do IBGE em 2000, é
necessário agregar 400 domicílios ou cerca de 20 mil pessoas para garantir validade estatística da maioria dos
indicadores. Esse número inviabiliza a desagregação intra-urbana para os municípios de Itamaracá,
Itapissuma e Araçoiaba. Municípios metropolitanos onde residiam menos de 20 mil habitantes no ano 2000.
170
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Nas análises das Regiões Metropolitanas do Brasil foi interesse particular dessa tese, a
classificação dos agrupamentos municipais metropolitanos obedeceram a agregações
microrregionais pelo nível de integração na dinâmica da aglomeração. Esse índice foi
obtido a partir da análise fatorial 101 de cinco indicadores (Taxa crescimento da população
total 1991/2000, Densidade, Mobilidade para o trabalho ou estudo total e percentual,
Ocupados não-agrícolas). Os municípios foram distribuídos conforme sua classificação
quanto ao nível de integração na dinâmica da aglomeração em seis classes: 1) Polo; 2)
Muito alta; 3) Alta; 4) Média; 5) Baixa; 6) Muito Baixa. Pôde-se inferir que quanto maior a
proporção de municípios nos níveis mais elevados, mais integrada pode ser considerada a
aglomeração.
100
Os estudos Classificação (tipologia) das cidades brasileiras e Análise das Regiões Metropolitanas do
Brasil foram elaborados em razão do processo de elaboração da política nacional de desenvolvimento
humano. Foi executado a partir do termo de Convênio BRA/O4/022, firmado pelo Ministério das Cidades e
a Federação de Órgãos para a Assistência Social e Educacional (FASE), na qualidade de representante legal
do conjunto de instituições integrantes do Observatório das Metrópoles e do Observatório Pernambuco de
Políticas Públicas e Práticas Sócio-ambientais. Para Classificar as metrópoles brasileiras o trabalho foi
coordenado pelos Professores Luiz Cesar Queiroz Ribeiro, Rosa Moura e Maria Luiza Castelo Branco. Para
classificar os municípios brasileiros, o trabalho foi coordenado pelos Professores Jan Bitoun, Tânia Bacelar e
Ana Cristina Fernandes. Ambos os trabalhos visaram: i) construir uma abordagem que reconhecesse as
diferenças entre metrópoles, cidades, decorrentes de sua inserção em ambientes regionais distintos; ii) dar
subsídios para articular a Política de Desenvolvimento Urbano e a Política Nacional de Desenvolvimento
Regional, e;iii) Destacar a importância das cidades nas estratégias de desenvolvimento regional.
101
Obteve-se a tipologia e o agrupamento dos municípios por dois métodos estatísticos multivariados: análise
fatorial por componentes principais e análise de agrupamento. A análise fatorial mostra as relações internas
de um conjunto de variáveis com o objetivo de identificar um menor número de fatores, independentes e
linearmente relacionados às variáveis, que apresentaram aproximadamente o mesmo total de informações
expresso pelas variáveis originais.
171
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
muito alta, apresentam também uma intensa conurbação da mancha urbana. Os municípios
metropolitanos não exibem os níveis médios, baixos e muito baixos de integração ao pólo
como mostra o Cartograma 3.6. Na escala intrametropolitana tentar-se-á observar mais
detalhadamente essa relação a partir de outras unidades territoriais.
A tipologia das cidades brasileiras foi obtida a partir de análise fatorial multivariada
considerando variáveis estatísticas distribuídas em três faixas populacionais dos
172
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Quadro 3.2 - Tipologia de cidades brasileiras. Fonte: (BRASIL, Ministério das Cidades 2005)
Tipo Tipologia de cidades
Tipo 1 Espaços urbanos aglomerados mais prósperos do centro sul
Tipo 2 Espaços urbanos aglomerados e capitais mais prósperas do norte e nordeste
Tipo 3 Espaços urbanos aglomerados e centros regionais do centro sul
Tipo 4 Espaços urbanos aglomerados e centros regionais do norte e nordeste
Tipo 5 Centros urbanos em espaços rurais prósperos com moderada desigualdade social
Tipo 6 Centros urbanos em espaços rurais prósperos com elevada desigualdade social
Centros urbanos em espaços rurais consolidados, mas de frágil dinamismo recente e
Tipo 7
moderada desigualdade social
Centros urbanos em espaços rurais consolidados, mas de frágil dinamismo recente e
Tipo 8
elevada desigualdade social
Centros urbanos em espaços rurais que vêm enriquecendo, com moderada
Tipo 9
desigualdade social, predominantes no centro-sul
Centros urbanos em espaços rurais que vêm enriquecendo, com elevada
Tipo 10
desigualdade social, predominantes na fronteira agrícola
Centros urbanos em espaços rurais do sertão nordestino e da Amazônia, com algum
Tipo 11
dinamismo recente mas insuficiente para impactar a dinâmica urbana
Centros urbanos em espaços rurais pobres de ocupação antiga e de alta densidade
Tipo 12
populacional, próximos de grandes centros
Centros urbanos em espaços rurais pobres com média e baixa densidade
Tipo 13
populacional e relativamente isolados
Tipo 14 Pequenas cidades com relevantes atividades urbanas em espaços rurais prósperos
Tipo 15 Pequenas cidades com poucas atividades urbanas em espaços rurais prósperos
Pequenas cidades com relevantes atividades urbanas em espaços rurais
Tipo 16
consolidados, mas de frágil dinamismo recente
Pequenas cidades com poucas atividades urbanas em espaços rurais consolidados,
Tipo 17
mas de frágil dinamismo recente.
Pequenas cidades com relevantes atividades urbanas em espaços rurais de pouca
Tipo 18
densidade econômica
Pequenas cidades com poucas atividades urbanas em espaços rurais de pouca
Tipo 19
densidade econômica
A escala intrametropolitana
JR. 2004). A primeira pesquisa vem sendo desenvolvida no Observatório das Metrópoles e
contou com tabulações estatísticas especiais do IBGE associadas a essa estrutura. A
segunda definiu Unidades Metropolitanas de Desenvolvimento Humano (UMDH), projeto
ainda em elaboração vem sendo organizado pela Prefeitura do Recife (PNUD; IPEA; FJP;
RECIFE, SPODUA; FIDEM; FASE. 2007), com a colaboração do PNUD, Fundação João
Pinheiro, Observatório PE, Agência CONDEPE-FIDEM e Prefeituras Municipais
Metropolitanas. Abaixo apresenta-se alguns detalhes metodológicos sobre as unidades
territoriais desenhadas nos dois casos.
176
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
TIPO CARACTERIZAÇÃO
Centro Histórico Metropolitano Recife Olinda: Essa categoria agrupa UMDH que
correspondem: i) ao núcleo histórico colonial inicial formado nas colinas de Olinda e no
istmo onde se implantou o Porto do Recife; ii) a expansão desse núcleo em ilhas, barras
1 fluviais e aterros no ambiente do estuário de comum dos rios Capibaribe e Beberibe. Nessa
área, enquadra-se o complexo Recife-Olinda, que visa atrair novos investimentos para o
coração da aglomeração metropolitana.
Centros de Cidades: Essa categoria agrupa UMDH que correspondem a núcleos de
cidades que reúnem funções administrativas e comerciais que, inicialmente isolados da
mancha urbana, se encontram atualmente fisicamente integrados a ela. Devido ao papel
2 histórico que tiveram na formação da aglomeração, representam centralidades dentro dessa
mancha urbana contínua. No eixo norte: Centros de Paulista, Abreu e Lima e Igarassu; no
eixo sul: prazeres (Centro de Jaboatão dos Guararapes) e Centro do Cabo de Santo
Agostinho; no eixo oeste: Centros de Camaragibe, São Lourenço da Mata e Jaboatão.
Núcleos Urbanos Isolados: Essa categoria agrupa UMDH que correspondem a cidades
que, atualmente isoladas da mancha urbana continua, reúnem funções administrativas e
3 comerciais e representam centralidades significativas para seus habitantes e para as áreas
rurais vizinhas. Ao norte: Itapissuma e Araçoiaba; ao sul: Ipojuca e Camela; a oeste,
Moreno e Bonança.
Núcleos Urbanos ao longo de rodovias: Essa categoria agrupa UMDH que
correspondem a núcleos urbanos inicialmente situados entre a mancha urbana contínua e
os centros de cidades; com o avanço da primeira ao longo das rodovias, constituíram
4 elementos de continuidade fisico-territorial com os segundos; atualmente, representam
dentro da mancha urbana centralidades de caráter secundário, essencialmente comercial.
Ao norte: Cruz de Rebouças; ao sul: Ponte dos Carvalhos; a oeste: Cavaleiro / Sucupira.
Conjuntos Habitacionais: Essa categoria agrupa UMDH que correspondem a áreas onde
foram implantados pelo Banco Nacional da Habitação durante os anos 1960, 70 e 80,
5 conjuntos habitacionais populares. Foram elementos importantes de expansão da mancha
urbana e representam um importante patrimônio edificado de caráter residencial, hoje
envelhecido.
Áreas Consolidadas ao longo de Eixos Viários Principais: Essa categoria agrupa
UMDH que correspondem a processos de urbanização iniciados desde o século XIX ao
6 longo dos principais eixos e diverem do Centro Histórico Metropolitano Recife Olinda;
caracterizam-se pela predominância dos parcelamentos e loteamentos regulares.
Áreas de Expansão Urbana ao longo de Rodovias Principais: Essa categoria agrupa
UMDH que correspondem a dinâmicas contemporâneas de urbanização e apresentam
ainda baixas densidades construtivas, mais altas ao longo de rodovias principais e mais
7 baixas quando se afasta destas; há um número significativo de loteamentos irregulares e
possíveis ameaças a grandes áreas de interesse ambiental (PE 22, 27, BR 101 Sul e BR
408).
Continua
177
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Continuação
TIPO CARACTERIZAÇÃO
Assentamentos Populares no entorno de Centros Urbanos, Conjuntos Habitacionais e
de Áreas Consolidadas ao longo de Eixos Viários Principais: Essa categoria agrupa
8 UMDH que correspondem a áreas pobres oriundas de ocupações, muitas antigas e com
baixa qualidade das infra-estruturas e das habitações. Houve, desde os anos 1980, uma
mobilização social para a regulação fundiária e a urbanização desses assentamentos.
Áreas Litorâneas Urbanizadas: Essa categoria agrupa UMDH que correspondem a áreas
próximas de praias da Região Metropolitana, as quais atraíram grandes investimentos
9 imobiliários, comerciais e de serviços desde os anos 1960 e formam ao sul e ao norte do
Centro Histórico Metropolitano Recife / Olinda um contínuo urbano de alta densidade
construtiva.
Áreas Litorâneas de Veraneio e Lazer: Essa categoria agrupa UMDH que correspondem
a áreas próximas a praias e a atrativos aquáticos do Canal de Santa Cruz, os quais atraíram
investimentos imobiliários sob a forma de loteamentos de segundas residências, e de
10
empreendimentos de lazer e turismo. As áreas edificadas são descontinuas, o que permitiu
ao sul a implantação do Porto Industrial de Suape e de Resorts. Tanto ao sul como ao norte,
ainda há grandes recursos paisagísticos naturais.
Áreas em Morros: Essa categoria agrupa UMDH que correspondem a assentamentos
populares, onde predominam as ocupações iniciadas desde os anos 1940 em áreas de
colinas situadas a norte oeste e sul da planície do Recife. As altas densidades construtivas
11
em declividades e adensamento sem controle provocaram a multiplicação das situações de
riscos geológicos, o que exige um forte investimento da Defesa Civil e a requalificação de
alguns desses assentamentos.
Áreas de Chácaras: Essa categoria agrupa UMDH que correspondem a áreas de tabuleiros
e vales situados a oeste da mancha urbana, onde as propriedades rurais foram divididas, a
12
partir dos anos 1960, em sítios, granjas e chácaras o que constitui uma urbanização difusa
de muito baixa densidade que atrai pelos atributos naturais que essa área conserva.
Castello Branco (2006: 68) sistematiza alguns indicadores para a delimitação da mancha
urbana nas metrópoles brasileiras. A dinâmica metropolitana é responsável pela forma
espacial da metrópole, pela sua extensão territorial e pela continuidade do espaço urbano
construído. Para a autora o processo de expansão metropolitana incorpora espaços
vizinhos.
102
No IBGE 2000 a mobilidade pendular é sistematizada a partir da variável deslocamento para trabalho e
estudo (V4276) do Questionário da Amostra no Censo 2000.
179
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
trabalhar. É freqüente, também, o deslocamento diário da classe média local para empregos
na capital ou em busca de comércio, serviços e lazer.
No que diz respeito aos trabalhadores canavieiros, eles não podem prescindir do acesso ao
mercado de trabalho, quase sempre informal, na capital, sem necessariamente precisar fixar
residência permanente na metrópole. Os complexos rodoviário e ferroviário possibilitam o
deslocamento pendular, tanto da população desruralizada, quanto da população recifense,
que procura a periferia nos fins de semana para livrar-se do rush e da violência na capital,
o que intensifica as relações metropolitanas, apesar das descontinuidades espaciais em
relação a mancha urbana recifense.
Tabela 3.6 mostra que os principais destinos de tais deslocamentos foram para a capital
metropolitana 75% dos deslocamentos.
O Cartograma 3.11 na escala das ACAT permite observar outras dinâmicas, quando se
associa a intensidade dos fluxos as características da ocupação do solo urbano (Conjuntos
habitacionais e distritos industriais). Pode-se perceber que as principais origens dos
deslocamentos, acima de 10.000 pessoas são: Paulista (orla e Fragoso), Olinda (Bairro
Novo) e Abreu e Lima (Caetés), ao longo da Rodovia PE-15 ao norte, áreas populares com
forte incremento populacional na década. Também são significativos os deslocamentos da
população residente nos morros da zona sul (limites entre Recife e Jaboatão) e dos Bairros
Populares a oeste (Camaragibe e São Lourenço). Áreas com características menos densas,
como Aldeia em Camaragibe, a zona rural de Igarassu e Jaboatão, também apresentam
números expressivos.
181
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
182
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
103
O Observatório PE de Políticas Públicas sistematizou as informações da Estrutura Socioocupacional para
a Região Metropolitana do Recife. BITOUN, J; MIRANDA, L. SOUZA, M.A. (2007)
183
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
184
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
185
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
186
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
No Primeiro Capítulo deste trabalho, Kayser nos alertava para a racionalidade das
simplificações metodológicas, pois não permitem uma delimitação mais precisas do espaço
rural-urbano. O autor lembra que é preciso, observar também as práticas espaciais no
território. Ao considerar essa recomendação, procurou-se observar as áreas de transição
rural-urbana da RM Recife a partir da reunião de descritores a fim de caracterizá-las na
escala dos processos intrametropolitanos e, posteriormente observar a dinâmica e a
organização espacial, o papel dos agentes, os instrumentos de planejamento e regulação
disponíveis e os principais conflitos gerados por esses processos. Lembramos que o
objetivo neste momento é entender os processos espaciais de forma integrada, superando
os recortes institucionais municipais. O entendimento desses processos poderá subsidiar
instrumentos e parâmetros de zoneamento urbanístico.
187
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
densidade média nas MR do Brasil (200 hab/km2) (Cartograma 3.12); iii) Taxas
geométricas de crescimento (1991-2000) (Cartograma 3.13); iv) concentração da
população ocupada em trabalho agrícola ou em atividades urbanas (na metodologia
utilizada essa variável foi ponderada por filtros de renda e escolaridade) (Cartograma
3.14). Além dessas, considerou-se os processos espaciais predominantes e as tendências de
transformação de curto, médio e longo prazo. Usando o recorte territorial das ACAT, áreas
de transição rural-urbana da RM Recife puderam ser caracterizadas em três tipos
(Cartograma 3.17). Para nominá-los utilizou-se a nomenclatura apresentada por Assencio
(2005: sp):
1. Urbano – periurbano – são as áreas de transição que sofrem maior pressão pelas
dinâmicas socioespaciais características do processo de urbanização. Eis as principais
características dessa dinâmica: i) a intensidade da produção de loteamentos (tanto rurais
quanto urbanos, regulares e clandestinos) e a dinâmica imobiliária; ii) as relações de
densidade populacionais e construtivas e as taxas geométricas de crescimento, e iii) a
mobilidade intrametropolitana para o trabalho ou estudo; a natureza das ocupações estão
mais ligadas ao mundo urbano (trabalhadores domésticos, empregados da construção civil,
prestadores de serviços, trabalhadores do comércio, dentre outras); iv) a intensidade dos
conflitos socioambientais caracterizados pela invasão da urbanização das áreas de
conservação e pela carência de infra-estruturas básicas (água, lixo, saneamento, etc.)
188
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
c) Urbano-rural – áreas onde não se distingue uma franja periurbana; i) há uma maior
predominância das ocupações agrícolas; ii) infra-estrutura agro-industrial; iii) estrutura
fundiária concentrada; iii) áreas produtivas; iv) significativos ativos ambientais,
mananciais e reservas ecológicas; v) oferece oportunidades características do “novo rural
brasileiro”, a partir do turismo/lazer náutico e ecológico. No Cartograma 3.16 pode-se
observas a delimitação das três franjas identificadas.
No estudo das categorias socioocupacionais o tipo agrícola poderia aqui ser aqui
enquadrado. A zona rural de Ipojuca, Cabo de Santo Agostinho e Moreno estariam
caracterizadas por esse tipo. É a proximidade com a mata úmida que faz dessa área um
prolongamento da mesma. Há uma concentração das grandes propriedades e dos
equipamentos agroindustriais.
Ressalta-se que características de um rural profundo, como foram encontrados nos modelos
franceses, não ocorrem na Região Metropolitana do Recife. A sua Hinterlândia rural será a
zona da mata canavieira. Essa relação é facilmente percebida na escala regional, como se
pôde observar no Cartograma 3.7. Daí a necessidade de relacionar as diferentes escalas de
análise para a percepção dos processos espaciais. Outra questão importante é que a
189
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Alguns agentes produzem parcelamentos para uma demanda menos solvável, enquanto
outros utilizam a imagem referenciada pelas amenidades físico-naturais no local. Atendem
assim a demandas de seguimentos da população de classe média e alta, mediante a
produção de novos valores de uso novas formas de morar que exploram valores simbólicos
campestres. Essa é uma maneira de o incorporador rentabilizar o seu produto em relação
190
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Lacerda (1995: 6) ressalta a importância das demandas por solo urbano como componente
fundamental na produção do espaço urbano, enquanto processo coletivo que associa
produção e consumo:
De forma geral, as demandas variam em função, por um lado, das condições específicas de
valorização dos capitais e, por outro, pela importância que a localização assume para os
agentes envolvidos na produção do espaço. A localização espacialmente diferenciada das
demandas diversas pelo solo explica-se pela não-uniformidade na renovação e expansão da
malha urbana, e também em função dos obstáculos inerentes à propriedade privada.
A instituição da propriedade privada traz dificuldades para que se obtenha terra suficiente
para desencadear uma produção em larga escala de moradias, que garanta a continuidade
do processo de valorização do capital empregado. O investimento em terra (capital
fundiário) acarreta perdas quanto à rentabilidade na produção de ambiente construído, por
imobilizar, improdutivamente, uma parte do capital empregado nessa produção. Esses
aspectos geram uma descontinuidade espaciotemporal na produção dos vários processos
espaciais, o que configura uma tendência à constituição de uma hierarquia de mercados
fundiários e, conseqüentemente, a uma hierarquia de uso do solo urbano.
191
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
104
O sistema da Promoção Imobiliária tem duas características básicas: por um lado, a separação entre a
produção e o consumo, o que significa a transformação da habitação em mercadoria; e, por outro, o
surgimento do incorporador imobiliário como personagem distinta do proprietário do terreno, o que leva
também o solo urbano a se transformar em mercadoria.
105
Externalidades naturais seriam aquelas que não dependem diretamente do processo de trabalho.
192
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
106
Os proprietários procuram produzir parcelamentos com lotes (granjas) cada vez menores e com pouco
investimento em infra-estrutura, tentam aproveitar a previamente implantada ou a requererem. a partir das
necessidades de seus empreendimentos na área, o que lhes permite, em alguns casos, anteciparem-se à ação
do Estado e lhes possibilita a apropriação de sobrelucros de localização. Outra alternativa é estabelecer um
forte lobby junto ao Estado, para que esse financie a produção de conjuntos habitacionais. Resta, ainda, a
opção, de venda de áreas para fins industriais.
193
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Vale salientar que a ação do Estado tem favorecido, acima de tudo, o proprietário
fundiário. As áreas escolhidas para esses empreendimentos não se encontram incorporadas
ao tecido da cidade, o que acarreta a necessidade de implantação de infra-estrutura que
passe por áreas destinadas à especulação. Os proprietários que esperavam nova
conformação na divisão econômica e social do espaço vêem seus terrenos valorizados em
função da atuação do Estado.
O objetivo inicial das construções para fins residenciais é satisfazer uma necessidade de
uso e aspirações simbólicas (valor de uso), o que caracteriza uma produção não-mercantil.
Todavia, não se pode desprezar a subjetividade capitalística 107 de tais agentes, na medida
em que podem vislumbrar a inserção de seus imóveis no contexto do mercado imobiliário,
inclusive quando realizam investimentos com vista a valorizá-los, tais como: reformas na
residência, paisagismo e agenciamento do terreno, equipamentos de lazer (piscina, saunas,
alpendres, quadras esportivas, etc.).
É importante ressaltar, portanto que, a despeito de refletir algumas tendências gerais como
a dispersão espacial metropolitana, a produção do espaço nas áreas de transição rural-
urbana denota também processos circunstanciais 108 de articulação e conflito entre seus
agentes modeladores. Ao assumirem múltiplas funções no contexto da produção do espaço,
esses agentes desenvolvem relações dinâmicas entre si, que se concretizam por meio de
uma recente redefinição da divisão econômica e social do espaço e dos processos espaciais
a ela relacionados, como a especulação imobiliária e a promoção de loteamentos e
condomínios residenciais.
107
Guatarri afirma:“O que caracteriza os modos de produção capitalísticos é que eles não funcionam
unicamente no registro dos valores de troca, valores que são da ordem do capital, das semióticas monetárias
ou dos modos de financiamento. Eles funcionam por meio de um modo de controle da subjetivação, que eu
chamaria de cultura de equivalência ou de sistema de equivalência na esfera da cultura. Desse ponto de
vista o capital funciona de modo complementar à cultura enquanto conceito de equivalência: o capital
ocupa-se da sujeição econômica, e a cultura, da sujeição subjetiva. E quando falo em sujeição subjetiva não
me refiro apenas à publicidade para produção e o consumo de bens. É a própria essência do lucro
capitalista que não se reduz ao campo da mais-valia econômica: ela está também na tomada de poder da
subjetividade.” (GUATARRI e ROLNIK 1993, 15)
108
Processos marcados por determinadas conjunturas políticas e econômicas.
194
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
É dessa forma que a expansão urbana ocorre, dispersa e descontínua no tecido urbano
cristalizado, ao avançar para as áreas de transição rural-urbana.
As demandas diferenciadas por usos do solo urbano, decorrentes dos interesses dos
distintos grupos de extratos de renda, regem a transformação dos usos agrícolas do solo
para usos habitacionais. Há então uma tendência à diversificação em termos de tipo de
109
Como lembra Lacerda (1993: 109) “(...) uma abordagem unicamente econômica não é suficiente para
compreendermos a formação e estruturação do espaço urbano. Aos fatores de ordem econômica, de extrema
relevância, devem ser associados outros, não raro de feições mais simbólicas que materiais.”
195
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
c) 128 loteamentos clandestinos - que correspondem àqueles que, após a Lei Federal n.º
6766/79, foram comercializados sem apresentarem qualquer etapa de aprovação e registro.
110
Os estudos elaborados pela Agencia Condepe/Fidem foram disponibilizados ao Observatório de Políticas
Públicas e Práticas Socioambientais a partir do convênio 01/2007.
196
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
A Figuras 3.7 mostra alguns loteamentos e favelas na RM Recife, e a Tabela 3.9 especifica
essas categorias por município.
Tabela 3.9 - Áreas dos loteamentos por classificação 111 Fonte: (CONDEPE-FIDEM 2003)
Lot. Existentes Lot. Regulares Lot. Irregulares Lot. Clandestinos
Municípios Área Área Área
Quant Área (ha) Quant Quant Quant.
(ha) (ha) (ha)
Itamaracá 76 477,25 50 740,01 9 102,90 -
Itapissuma 04 176,30 02 27,52 - - - -
Igarassu 96 2.598,09 27 630,05 14 165,55 01 11,61
Araçoiaba 03 175,02 - - 02 77,94 01 22,20
Abreu e Lima 16 1.457,16 02 4,13 07 761,93 01 13,90
Paulista 89 1.308,68 32 572,31 27 1.036,12 13 28,45
Olinda 72 1.670,54 09 220,50 19 206,58 19 24,32
Recife Não estudados 09 216,37 46 207,04 16 12,53
Jaboatão dos
82 3.322,50 22 678,60 26 601,28 44 342,00
Guararapes
Cabo de Sto.
30 2.380,17 10 2.492,18 03 10,33 04 73,73
Agostinho
Ipojuca 11 323,30 02 65,46 11 71,24 02 -
São Lourenço da
57 1.552,22 06 308,55 14 431,72 12 72,75
Mata
Camaragibe 79 3.509,41 32 706,46 21 280,15 13 146,87
Moreno 25 1.191,42 03 70,62 01 9,67 02 0,41
TOTAIS 640 18.742,06 206 6.732,76 200 3.962,45 128 746,91
111
Os loteamentos de locação pontual, classificados como clandestinos, não foram considerados no cálculo
das áreas.
197
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
iii) Venda de lotes ou habitações em áreas de uso público - É uma situação que se pode
encontrar nas áreas non aedificandi, tais como margens de cursos d’água, parques e em
zonas de proteção ambiental rigorosa;
iv) Revendas - Uma pesquisa sobre revendas no mercado informal pode revelar vária
nuanças existentes em uma transação dessa natureza. É possível estabelecer uma conexão
entre os elementos do mercado formal e os do informal, como, por exemplo, certas
variáveis que definem os padrões de venda do mercado formal. Aspectos como margem de
lucros – diferença entre custo de produção e valor de mercado - preço de compra e de
revenda, valores locacionais, existência de corretores, formas de divulgação e tipo de
documentação utilizada são fatores determinantes para compor um painel onde se
vislumbram os limites e as possibilidades do mercado informal.
Costa (1960) também coloca o aparecimento das residências secundárias nesse período. A
implantação das rodovias facilitou o acesso a áreas mais distantes dos centros urbanos e, ao
mesmo tempo, valorizou as terras cortadas pelas rodovias. Assim, a ocorrência das
segundas residências se deu tanto em zonas urbanas ou rurais, litorâneas ou periféricas em
uma combinação lucrativa do tripé (tempo-custo-distância) valorizado pelos atributos da
paisagem: a presença de mar, rios ou lagos dentre outros recursos.
O Quadro 3.4 apresenta as variáveis para tipologia das residências secundárias, nos
diferentes censos demográficos.
199
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Tipo III - O granjismo - Ainda em relação à segunda residência, um outro modelo segue a
mesma lógica de produção, mas nesse caso, os empreendimentos são produzidos a partir
dos loteamentos rurais . No caso em estudo, o granjismo. Esse caso será mais
detalhadamente estudado no município de Camaragibe. O Censo Demográfico oferece, nas
sinopses preliminares (1980, 1991 e 2000), estatística sobre a segunda residência nos
municípios, como mostram as Tabelas 3.10, 3.11 e 3.12.
Pôde-se notar que, diferente da realidade de outras capitais nordestinas, como Fortaleza e
Natal, a concentração de segunda residência não é só significativa nos municípios
praieiros, mesmo que estes concentrem os maiores números. Nos casos do Recife, Olinda,
Paulista são significativos os empreendimentos oferecidos no mercado para a segunda
residência do tipo granjeiro ou em condomínios exclusivos, distante do litoral.
200
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
201
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
202
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
203
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Produção do Espaço e Planejamento em Áreas de Transição Rural-urbana: O Caso da Região Metropolitana do Recife PE. Lívia Miranda
Tabela 3.12– Domicílios recenseados, por espécie, segundo os municípios - Pernambuco – IBGE , 2000 e Contagem 2007
Domicílios recenseados, por espécie - 2000 Domicílios recenseados, por espécie - 2007
Particulares Particulares Taxa
geométrica de
Municípios Não-ocupados Não-ocupados
Total Total crescimento
Total Uso Total Uso 07-00
Total Fechado Vago Total Fechado Vago
ocasional ocasional
Jaboatão dos
176 627 151 360 25 267 2 477 2 663 20 127
Guararapes
Olinda 107 900 94 498 13 402 1 510 1 195 10 697
Paulista 82 426 68 291 14 135 1 079 4 243 8 813
Recife 425 698 377 068 48 630 4 057 6 891 37 682
Abreu e Lima 25 372 22 672 2 700 275 339 2 086 28 085 28 079 2 483 411 226 1 846 -5,62
Araçoiaba 3 843 3 405 438 19 51 368 4 581 4 581 349 59 86 204 7,75
Cabo de Santo
45 272 37 214 8 058 109 3 237 4 712 53 974 53 927 9 531 185 4 753 4 593 5,64
Agostinho
Camaragibe 36 727 32 340 4 387 245 902 3 240 41 982 41 963 3 970 272 1 102 2 596 2,90
Igarassu 23 639 20 226 3 413 69 669 2 675 28 228 28 221 2 633 345 494 1 794 -4,2
Ilha de
12 353 3 710 8 643 13 7 385 1 245 14 388 14 375 10 139 24 8 689 1 426 2,35
Itamaracá
Ipojuca 17 987 13 502 4 485 87 2 692 1 706 22 786 22 651 4 932 139 3 444 1 349 3,58
Itapissuma 5 523 4 783 740 3 119 618 6 371 6 370 388 14 58 316 -9,75
Moreno 13 851 12 190 1 661 166 277 1 218 16 198 16 187 1 809 160 515 1 134 9,26
S.Lourenço da
26 061 22 302 3 759 459 658 2 642 29 812 29 806 3 914 462 563 2 889 -2,20
Mata
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
A ocupação do solo é caracterizada por duas tipologias: a primeira é uma área mista, com
população de maior rendimento, que reside em condomínios fechados, granjas, chácaras,
dentre outras tipologias habitacionais de alto padrão construtivo. Nessa Aldeia,
concentram-se, também, os domicílios de segunda residência; a segunda é uma periferia
popular, que decorre do modelo de expansão metropolitana centro periférico já abordado
neste estudo.
Macacos nos anos 1940 (hoje rodovia PE-27) pelo exército brasileiro para implantação do
Centro de Instrução Marechal Newton Cavalcanti (CIMNE), facilitando o acesso ao centro
de instrução que lá se implantava.
Observou-se a produção dos loteamentos em Camaragibe por duas óticas: i) uma mais
antiga, a lógica dos loteamentos rurais; ii) outra mais recente, a urbanização desse processo
e a lógica dos loteamentos populares. A partir dessas duas óticas, as formas de regulação e
planejamento serão abordadas nesse contexto.
206
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
O intenso parcelamento do solo nas periferias urbanas, nas décadas de 1950 e 1960, foi
comum nas principais metrópoles brasileiras, e coincidiu com investimentos estatais em
grandes obras de drenagem e abertura de rodovias. Em Pernambuco, uma dessas formas de
parcelamento foi a produção granjeira que, como registrou COSTA (1960), coincide com
um período de intenso crescimento populacional nas cidades da Mesorregião da Mata. Tal
crescimento foi provocado pela forte desruralização e ocupação de tabuleiros e chãs com a
cana-de-açúcar.
Foi principalmente o migrante recifense, com maior poder aquisitivo, que garantiu e ainda
vem garantindo uma demanda solvável para os empreendimentos mais sofisticados, o que
configura áreas, na franja, de intensa especulação e elevado padrão habitacional. Esses
migrantes geralmente optam pela moradia nas granjas e condomínios, pois os mesmos se
situam muito próximos à cidade, conciliando a casa, o repouso, o lazer e o status social. A
localização espacialmente diferenciada das demandas diversas pelo solo granjeiro se
207
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Figura 3.11 - Loteamentos rurais em 1960 e Figura 3.11- Granjismo nos anos 1990
Fonte: MARINHO, 1960 – Organização: Lívia Miranda
112
O mercado fundiário induzido pela produção de moradias, segundo Ribeiro (1997:120), define-se como: o
processo de interação entre três grupos de agentes: os proprietários fundiários, que detêm o monopólio sobre
o uso do solo; o Estado que,ao realizar investimentos em equipamentos coletivos e em infra-estrutura e
estabelecer regulamentos urbanísticos, define os usos possíveis do solo; e os incorporadores que, co-gestores
de um capital de circulação e como proprietários do solo, atuam na transformação do solo em mercadoria.
208
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Lacerda (1993: 35) ressalta a importância das demandas por solo urbano como um
componente fundamental na produção do espaço urbano, enquanto processo coletivo que
associa produção e consumo:
A produção está relacionada com uma forte promoção imobiliária que, mediante
investimentos, associa a granja a um novo estilo de vida. Uma área de amenidades é
incorporada, selecionam-se os consumidores, usuários de mesma classe social, para se
apropriarem dos novos símbolos de ruralidade, fabricados na perspectiva do
restabelecimento do contato com a natureza, perdido com a urbanização. De forma geral,
as demandas são variadas em função, por um lado, das condições específicas de
valorização dos capitais e por outro da importância que a localização assume para os
agentes envolvidos na produção do espaço.
209
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
210
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
COSTA (1960: 17) ressaltava que o granjismo poderia ser visto como “uma alternativa
aos problemas seculares da monocultura canavieira”, o que possibilitava a diversificação
da base produtiva local e garantia o abastecimento hortifrutigranjeiro das cidades próximas
e do Recife. Porém, para que houvesse uma integração das granjas à vida agrícola da
cidade, deveriam ser criados programas de incentivos à pequena produção, por meio de:
cooperativas dotadas de transportes e postos de venda; programas de crédito bancário para
os granjeiros; apoio técnico especializado.
Face à rápida valorização do solo nas áreas granjeiras e aos interesses pela vida no campo
enquanto expressão de tranqüilidade, ascensão social e melhor qualidade de vida, o uso
habitacional de primeira e segunda residência consolidou-se em detrimento do uso
produtivo. Os investimentos na produção não-mercantil que conservam o uso residencial e
de lazer aumentaram com a construção de casas de alto padrão construtivo e com as
melhorias empreendidas em termos de equipamentos, como piscinas, quadras de esportes,
etc. Uma forma de resposta que define parte do significado de valores de uso no ambiente
construído. Cria-se uma paisagem urbana e um estilo de vida como antídoto às asperezas
do dia-a-dia, pois a sociedade capitalista precisa, em última instância, responder mais às
necessidades de acumulação do capital do que às verdadeiras exigências humanas para o
trabalho, vendendo, como ressalta Harvey (1980: 28), por “um necessário materialismo”,
a “imagem romântica da natureza”, mistificada de “um necessário humanismo”.
Por outro lado, não é raro observar que parte considerável das granjas produtivas se
encontra em péssimo estado de conservação ou abandonada. Falidas, tornaram-se um peso
no orçamento de seus proprietários que, não podendo arcar com a manutenção, optam por
colocá-las à venda ou conservá-las à espera de valorização, uma vez que o solo nessas
211
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
áreas tem incorporado ao seu preço variáveis simbólicas cada vez mais exaltadas,
relacionadas à vida tranqüila, à segurança, aos benefícios da proximidade com a natureza,
etc.
As questões acima levantadas levam a concluir que o granjismo, mesmo em sua primeira
fase, não foi uma produção rural. Apesar de promover permanências de usos agrícolas, sua
estrutura é decorrente, conjuntamente, dos processos de reprodução metropolitana e de
urbanização local. O avanço da urbanização e a conseqüente expansão da cidade para as
áreas na periferia têm contribuído para as transformações de usos e de preços dos lotes
granjeiros.
O uso habitacional nas granjas predomina sobre o uso agrícola, e o número de granjeiros
que fixa residência é crescente. Pôde-se constatar que, em quarenta anos, não houve uma
adaptação dos loteamentos granjeiros da primeira fase ao quadro rural, como esperava
Costa em seu estudo sobre o granjismo. Ao contrário, acentuam-se as características
urbanas já esboçadas na primeira fase, que se desdobraram para outros tipos de ocupação
como a primeira residência de caráter urbano, as mini-granjas e condomínios residenciais.
Tais tipos de ocupação se espacializam na franja rural-urbana, como já visto, segundo uma
determinada hierarquia condicionada por fatores macrolocacionais e microlocacionais. Na
Figura 3.13 observa-se as características desses empreendimentos.
O quadro 3.5 apresenta a situação jurídica dos imóveis rurais em Camaragibe. Eles
representavam em 2003, uma área de 2.194,60 ha e 228 imóveis que correspondem a 43%
da área total do município, predominantemente minifúndios e pequenas propriedades.
Embora muitas dessas propriedades não sejam efetivamente produtivas e se destinem a
usos urbanos de residência e lazer, continuam sendo imóveis rurais.
212
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
213
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Não se pode deixar de registrar que paralelamente ao processo granjeiro, uma periferia
popular também foi sendo produzida. Essa resultou do processo de transbordamento da
metrópole recifense, impulsionado pela implantação de núcleos industriais, dos conjuntos
habitacionais e a sua expansão no entorno do eixo rodoviário das PE-05 e PE-27. Resultam
desse processo as localidades: Pau Ferro, Aldeia de Baixo, Jardim Tabatinga, Carmelo,
214
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Timbi, Bairro Novo, nos anos 1950 e 1960; Santa Mônica, Jardim Primavera, Vila da
Fábrica, nos anos 1970 e mais recentemente São Luiz, Bela Vista, Santa Tereza, entre
outros.
215
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Apenas como um exercício para verificar como as áreas de transição rural-urbana têm sido
contempladas nos novos Planos Diretores, serão feitas breves considerações a respeito do
Projeto de Lei Complementar que institui o Plano Diretor do Município de Camaragibe e
estabelece as diretrizes para a sua implementação. Essa lei está em consonância com as
diretrizes previstas no Plano de ação da Agenda 21 da Região de Aldeia. O Cartograma
3.20 apresenta o Zoneamento Territorial do Plano Diretor Participativo do Município.
217
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Apenas uma parcela menor da dinamização das atividades produtivas rurais, compatíveis
com a conservação ambiental, foi classificada como área de transição rural-urbana. De todo
modo, é possível destacar duas diretrizes para a estruturação e ocupação dessa macrozona
(art. 14): a prevenção e a redução dos riscos de alagamentos em áreas de várzeas de
inundação, bem como os de deslizamentos de encostas em áreas de morros; e a garantia de
reserva de espaços adequados para a ocupação urbana futura.
218
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
III - Zona de Proteção com Urbanização Restrita (ZPUR) que compreende espaços urbanos
de uso predominantemente residencial, inseridos em áreas de proteção ambiental, e que
possuem formas de ocupação consolidadas em desacordo com seu entorno, subdividindo-
se em Zona de Proteção com Urbanização Restrita 1 (ZPUR-1) - que compreende os
espaços urbanos e que, devido à geomorfologia desfavorável à urbanização, comporta um
baixo potencial construtivo e abrange a RPA-4, especificamente os assentamentos de
Tabatinga (art. 22); e Zona de Proteção com Urbanização Restrita 2 (ZPUR-2) – que
compreende forma de ocupação e densidade demográfica incompatíveis com as condições
físico-ambientais do seu entorno, e abrange os assentamentos denominados Oitenta e Vera
Cruz (art. 23);
Para a ZPM, situada predominantemente a leste da PE-27, foram previstas como diretrizes
(art. 18): I - o incentivo à ocupação residencial de baixa densidade construtiva, com a
ampliação e manutenção da cobertura vegetal; II - o estímulo às atividades agropecuárias
compatíveis com a conservação ambiental; III - o estímulo às atividades relacionadas ao
turismo ecológico e rural, com a implantação de equipamentos de apoio a essas atividades;
IV - a garantia da manutenção da cobertura vegetal existente com o incentivo a
conservação e recuperação das matas e demais formas de vegetação significativa, com à
devida fiscalização pelos órgãos competentes; V - a proteção e revitalização dos rios, das
nascentes e da cobertura vegetal marginal; VII - o incentivo ao reflorestamento com
espécies nativas, especialmente, nas áreas de nascentes; VIII - a promoção de ações de
educação ambiental.
Para a ZCA, que compreende grande extensão a oeste da PE-27, foram previstas as
seguintes diretrizes (art. 20): I - o incentivo à ocupação residencial de baixa densidade com
a ampliação e manutenção da cobertura vegetal; II - o estímulo aos usos econômicos
compatíveis com o ecossistema local, a exemplo de atividades de ecoturismo e atividades
agropecuárias de pequeno porte; III - a garantia da manutenção da cobertura vegetal
219
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
As Zonas ZPUR-1 e ZPUR-2 têm como diretrizes principais (Art 24): I - a restrição do
adensamento construtivo e da expansão; II - a qualificação dos assentamentos existentes, a
fim de serem minimizados os impactos decorrentes da ocupação indevida; III - a garantia
da recuperação da cobertura vegetal e controle da erosão; IV - o desenvolvimento de
projetos especiais para a urbanização e relocação da população das áreas de risco; V - a
promoção de ações de educação ambiental.
220
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Outro projeto previsto nesse Projeto de Lei foi o Projeto de Estruturação e Ordenamento
Urbano (Art. 78), que tem dentre suas diretrizes: fortalecer o controle do uso e ocupação
do solo no Município, especificamente na Macrozona de Proteção Ambiental (MPA); e
incentivar parcerias com os órgãos fiscalizadores do Estado, em especial a CPRH e o
CIPOMA, no combate à degradação ambiental, principalmente na ZPM e na ZPP;
221
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Foi previsto também o Plano de Urbanização e Regularização Fundiária das ZEIS e NEIS,
que tem como objetivo promover a regularização fundiária e a urbanização de
assentamentos precários (art.83), como também o Plano de Urbanização e Regularização de
Loteamentos Clandestinos ou Irregulares (art. 84), importantes para a regularização e para a
garantia do direito à moradia, também na área de transição rural-urbana.
Como parte da área de transição rural-urbana está localizada na ZUC-2, foram previstos
alguns instrumentos de indução ao desenvolvimento, como o parcelamento, a edificação ou
a utilização compulsórios de imóveis urbanos não-edificados, subutilizados ou não-
utilizados e a aplicação de alíquotas progressivas na cobrança do Imposto sobre a
Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU); apesar dessa zona não contar com
condições adequadas de infra-estrutura e esses instrumentos terem o propósito de induzir a
ocupação de áreas já dotadas de infra-estrutura e equipamentos, mais aptas para urbanizar
ou povoar, o que evitará a retenção especulativa dos imóveis e a pressão da expansão
horizontal na direção de áreas não-servidas de infra-estrutura ou frágeis, sob o ponto de
vista ambiental. Para essa zona existe a possibilidade de realização de uma operação
urbana consorciada cujo objetivo é alcançar em uma área transformações urbanísticas
estruturais, melhorias sociais e valorização ambiental (art. 105. As operações consorciadas
para as áreas de transição rural-urbana irão requerer esforços para a articulação dos
diversos investimentos públicos e privados. Talvez seja mais viável para essas áreas de
Camaragibe operações de menor porte, que envolvam empreendedores comerciais e de
serviços, agentes imobiliários, moradores, granjeiros e o poder público. Poderiam ser
utilizadas também para a viabilização de condomínios residenciais.
222
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Não há garantias que os agentes que usam e ocupam as áreas de transição rural-urbana terão
seus interesses representados nessas diversas instâncias. Contudo, a ênfase integração
setorial é importante para que seja ampliado o universo de questões a serem debatidas,
possibilitando a superação de visões localistas. De modo geral, o Projeto de Lei do Plano
Diretor de Camaragibe não traz inovações, prevê quase todos os instrumentos de Política
Urbana contidos no Estatuto da Cidade, mesmo que alguns tenham regulamentação prevista
para lei específica. Sua efetividade - na direção do cumprimento das funções sociais da
propriedade e da cidade dependerá do processo de gestão, que poderá ser democrático a
223
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
partir das instâncias de participação previstas. Outras questões específicas, para além do
zoneamento e de alguns parâmetros, relativas à área de transição rural-urbana, só poderão
vir à tona a partir de projetos e do próprio processo de gestão democrática.
224
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Considerações finais
(...) Nos últimos três ou quatro decênios, houve uma imensa ressurreição do
pensamento utópico. A produção intelectual que procura antever a natureza
da próxima etapa histórica tem sido tão abundante que já virou lugar
comum dizer que se vive na ‘aurora de uma nova era’. Ela é rotulada de
‘pós-moderna’, ‘pós-burguesa’, ‘pós-econômica’, ‘pós-escassez’, ‘pós-
civilizada’, ‘pós-industrial’, ‘de conhecimento’, ‘de serviço pessoal’, ou
‘tecnotrônica’, dependendo do autor que escolha. Em meio a tantas linhas
especulativas, o que parece se destacar é uma forte visão convergente de
que as sociedades industriais estão entrando em uma nova fase de sua
evolução. E que essa transição será tão significativa quanto aquela que
tirou as sociedades européias da ordem social-agrária e levou-as a ordem
social industrial. Ao mesmo tempo as diversas versões sobre o
“desenvolvimento sustentável” parecem estar muito longe de delinear, de
fato, o surgimento de uma nova utopia de entrada na terceira utopia de
entrada no terceiro milênio. Este é o enigma que continua à espera de um
Édipo que o desvende. (J. E. VEIGA 2005, 208)
Pôde-se observar que as áreas de transição rural-urbana não foram tradicionalmente objeto
do planejamento urbano e se tornaram mais que antes objeto de disputa e conflitos de
interesses diversos. No entanto, a emergência de algumas questões nas ultimas décadas
ressaltam a necessidade de planejá-las: i) novo marco regulatório redistributivista (questão
social, fundiária, gestão democrática); ii) desenvolvimento sustentável, planejamento
estratégico, redimensionamento do papel do Estado; iii) urbanização espraiada e
244
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
245
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Para efeito de planejamento, não foram até hoje reconhecidas como áreas/territórios de
processos de planejamento e gestão mais abrangentes, integrados e participativos. Nem as
lutas que tiveram como referenciais as reformas de base, as reformas agrária e urbana,
tiveram estreitadas suas estratégias. A luta pela reforma agrária mais diretamente ligada às
mudanças estruturais apontou para a desconcentração de terra necessária à desconcentração
dos meios de produção e perspectivas econômicas mais solidárias. A reforma urbana,
também apontou para a questão fundiária, mas acabou dando ênfase à reprodução social
dos segmentos marginalizados e excluídos das cidades. Esses projetos não construíram
pontes para diálogos. Se houve equívocos em relação a essas estratégias, ou pelo menos
falta de esforços para aproximações desejáveis – como faces de uma mesma moeda isso
fica evidente quando em alguns territórios as questões se misturam mais claramente, como
é o caso das áreas de transição rural-urbana. A obrigatoriedade de elaboração dos planos
diretores para parte dos municípios brasileiros abre oportunidades para que essas relações
sejam recolocadas em uma perspectiva de aproximação, para o planejamento territorial,
dos universos do rural e urbano.
246
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Apesar do novo marco regulatório que vem sendo construído, a partir do Estatuto da
Cidade, ainda existem fortes constrangimentos legais que dificultam o planejamento e a
gestão das áreas de transição rural-urbana. Uma possibilidade de integração entre rural,
urbano e rural-urbano ancora-se na discussão articulada sobre a função social da
propriedade, ao se considerarem suas diversas possibilidades e configurações, no entanto a
ampliação do papel dos municípios nos campos do planejamento e da gestão urbana não
vem, por enquanto, dar ensejo a oportunidades para a rediscussão do planejamento
metropolitano em novas bases, diferentes dos processos tecnocráticos de planejamento dos
anos 1970/80.
Em relação aos novos instrumentos de política urbana previstos no Estatuto da Cidade para
as áreas de transição rural-urbana, é provável que haja dificuldades na aplicação de parte
dos instrumentos, principalmente os de indução ao desenvolvimento (inibição da retenção
especulativa), se se considerar que a maior parte das áreas não tem uma adequada
247
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Duas questões estão colocadas como desafio para o planejamento e a gestão urbanos no
Brasil, ao se considerar o contexto de mudanças conceituais e institucionais decorrentes do
novo marco regulatório para a política urbana, tributário do ideário da Reforma Urbana: i)
como a dimensão metropolitana poderá ser trabalhada em um contexto de municipalização
da política urbana; e, ii) qual será o tratamento possível para as áreas de transição rural-
urbana em Regiões Metropolitanas, levando-se em conta que a maior parte delas é
integrada pelos territórios de vários municípios?
Com a emergência da questão ambiental a partir dos anos 1980, quando se levou em conta
que é na áreas periurbana que se concentram os mais significativos recursos naturais
importantes para o equilíbrio ambiental e para os sistemas de infra-estrutura urbana das
cidades, foram implementados instrumentos e normas de proteção para as áreas de
interesse ambiental, principalmente para os sistemas de mananciais. É preciso revisitar os
marcos legais para evitar as sobreposições de leis ambientais e urbanas e competências de
gestão pública do território.
248
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Há, portanto, um longo caminho a trilhar. Além de um contexto histórico de baixos níveis
de institucionalidade, de transparência e de práticas particularistas (tradições de alta
personalização), com graus variados de (des)consideração dos planos e dos instrumentos
normativos, bem como de instabilidade no funcionamento das instâncias de gestão
democrática, é importante ressaltar que as ações dos agentes governamentais foram,
historicamente, influenciadas por agentes mais organizados e com maior poder político e /
ou econômico, principalmente os proprietários fundiários, os agentes imobiliários e os
prestadores de serviços urbanos.
249
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
habitat em granjas e chácaras) a caracterização não pode deixar de considerar a grande área
do Noroeste Recifense composta pelas matas das bacias do Capibaribe e do Beberibe em
continuidade com Camaragibe e São Lourenço.
primeira, o preço da terra é alto, e a produção agrícola não é a prioridade dos proprietários
locais. Condomínios residenciais fechados tem sido o produto imobiliário mais freqüente.
Ao longo desse trabalho, ficou claro que o enfrentamento dos desafios por parte do
planejamento metropolitano, seja no âmbito interurbano, seja intra-urbano, não será
superado se não forem consideradas, dentre outras, questões mais estruturais: i) a produção
de sistemas de informação mais adequados aos novos recortes espaciais rural-urbanos e
ajustados às tendências, fenômenos e processos atuais de transformação tecnológica da
reestruturação produtiva, do novo rural dentre outros; ii) a formulação, a revisão e o
aperfeiçoamento dos instrumentos de regulação urbana, a adequação das normas
administrativas, urbanísticas e procedimentos legais e administrativos às condições da
produção social do espaço rural-urbano; iii) o aperfeiçoamento dos instrumentos de
política pública existentes visando à integração e à eficácia dos instrumentos de
planejamento e gestão urbano-metropolitana; iv) a inclusão da questão rural-urbana na
pauta dos atores sociais e demais agentes do desenvolvimento urbano, e o fortalecimento
das questões da agenda metropolitana e das esferas públicas que tratam do tema visando
promover um maior controle social das ações públicas, bem como eficiência
administrativa; v) o fortalecimento de iniciativas fomentadoras da geração de renda e da
segurança alimentar das famílias em situação de vulnerabilidade social residentes nessas
áreas.
253
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
A investigação foi conduzida para garantir condições de comparação, com base nos
resultados censitários de 1991 e 2000. Num trabalho conjunto entre a coordenação e o
IBGE, dados referentes à ocupação dos residentes foram agrupados em 25 categorias
socioocupacionais definidas, também, a partir de filtros referentes a renda, a relações
trabalhistas (assalariados e conta própria) e, em alguns casos, ao status educacional. Essa
classificação permite que a análise da composição geral da força de trabalho nas diversas
aglomerações metropolitanas supere a perspectiva dual de pobres e ricos e leve em conta
modalidades de inserção em escalas de prestígio e de precariedade de relações de trabalho,
que são também definidoras das possibilidades de acesso a determinadas políticas públicas.
Cruzamentos com questões de cor, de gênero e de faixa etária podem ser elaborados para
afinar o retrato da força de trabalho ocupada.
113
Texto baseado em: (BITOUN e MIRANDA, Estrutura espacial da diferenciação socioocupacional na
Região Metropolitana do Recife:1980 a 2000 2004)
254
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Com base na análise morfológica do espaço urbano, foram definidas algumas áreas, ao se
juntarem setores censitários em número suficiente para garantir a validade estatística. As
áreas foram agrupadas, por meio de análise fatorial, em tipos caracterizados por
composição relativamente homogênea de categorias socioocupacionais, e obteve-se um
mapa da distribuição desses tipos no território. Esse mapa é uma ferramenta para a análise
da diferenciação socioespacial, quando se resgatam as características estruturais da
formação do território metropolitano e as características conjunturais dos últimos vinte
anos. Destaca-se, então, o papel das políticas urbanas mantenedoras ou modificadoras das
estruturas evidenciadas cartograficamente.
255
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
conduziram com Edmond Preteceille, que havia realizado trabalho semelhante junto ao
INSEE, na França (RIBEIRO e LAGO 2000).
No que se refere ao setor primário, observa-se que: no caso das ocupações Agrícolas,
foram excluídos os ocupados com renda igual ou acima de 20 salários mínimos - os
empregadores, que se encontram nas categorias de grandes empresários, e os empregados
com carteira assinada, que se encontram nas categorias Dirigentes do Setor Privado.
Outros assalariados, com renda menor que 20 salários mínimos, mas com escolaridade
superior, foram contados na categoria Empregados de Nível Superior, conquanto os
assalariados ocupados como dirigentes da agricultura, com salários inferiores a 20 mínimos
e com escolaridade não superior, foram contados na categoria Trabalhadores Não-
Manuais em atividades de supervisão. Essa exclusão deve-se à opção metodológica de
separar detentores do grande capital do universo dos que não o detêm, ou somente são
pequenos ou médios proprietários, bem como de separar dentre os assalariados aqueles que
ocupam posições de altas responsabilidade e remunerações de outros com funções
subordinadas. Na Região Metropolitana do Recife que conta com grandes áreas rurais,
produtoras de cana-de-açúcar em engenhos de médio porte e em terras de usinas, essa
classificação justifica-se pelo fato de que, salvo alguns indivíduos, os grandes proprietários
e os dirigentes assalariados vinculados à agricultura mantêm suas residências principais em
áreas urbanas. Mas, constata-se que o filtro da renda aplicado na delimitação da categoria
ocupacional Ocupações Agrícolas, levará necessariamente a uma subestimação, nas áreas
onde estará dominante, dos indivíduos eventualmente residentes e dotados de grandes
poderes efetivos (grandes proprietários e dirigentes assalariados com e sem educação
superior), que se encontram misturados com outros grandes empresários, dirigentes do
setor privado, empregados de nível superior e trabalhadores não-manuais em atividades de
supervisão nas suas respectivas categorias ocupacionais.
256
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
O mesmo pode ser dito no tocante às demais atividades do setor primário (extrativismo
vegetal e mineral) no âmbito das quais se aplicaram, também, os mesmos filtros de renda e
de educação. Houve, ainda, a assimilação da atividade extrativista ao setor secundário,
quando se distinguiu além dos grandes empresários e dirigentes assalariados (pequenos
proprietários empregadores com renda inferior a 20 salários mínimos contados na categoria
Pequenos Empregadores Urbanos, conquanto os trabalhadores extrativistas constem da
categoria Trabalhadores Manuais da Indústria Tradicional. Se se considerar que o setor
primário está diretamente ligado a uma base natural de recursos e que os trabalhadores da
atividade extrativista tendem a se localizar em função dessa base, constata-se que a opção
metodológica de assimilar essa atividade à indústria terá o efeito de diluir esse fato.
257
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Os ocupados do setor terciário são os mais numerosos, como o são também os ramos de
produção, o que torna mais delicada uma categorização que leve em conta os cortes
sucessivos e vise separar os detentores e os não-detentores de capital, os trabalhadores
manuais e não-manuais, a formalidade e a informalidade das relações de trabalho, a fim de
as ocupações para dar conta da diversidade de atividades característica do setor.
Novamente se lançou mão de filtros de renda, escolaridade e posição em relações de
trabalho para compor as numerosas categorias que tratam das ocupações nos ramos de
produção do setor terciário. Os detentores do capital encontram-se classificados nas
categorias Grandes Empresários, quando são indivíduos empregadores com renda igual ou
superior a 20 salários mínimos; Pequenos Empregadores Urbanos , quando ganham menos
de 20 salários mínimos, Comerciantes por Conta Própria, quando exercem a ocupação de
Serviços por conta própria, ou ainda outras ocupações (feirante, ambulante, etc.), se
ganharem 5 ou mais salários mínimos. No caso dessas últimas ocupações, os indivíduos
com renda inferiores a 5 salários mínimos constam da categoria Ambulantes que, como se
verá, é proporcionalmente mais numerosa na Região Metropolitana do Recife que nas
demais regiões estudadas, conquanto a categoria Comerciantes por Conta Própria seja
ligeiramente inferior, o que revela que essa diferença se deve à renda mais baixa da
ocupação na aglomeração recifense. Os engenheiros, arquitetos, médicos, dentistas e
advogados, se auferirem renda igual ou superior a 20 salários mínimos e sendo
empregadores ou trabalhadores por conta própria, formam a categoria dos Profissionais
Liberais, embora os indivíduos que exercem as mesmas ocupações, mas com renda menor
e na posição de conta própria, constem da categoria Profissionais Autônomos de Nível
Superior e, quando empregados ou funcionários públicos, da categoria Empregados de
258
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
259
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Houve dificuldades para se constituir uma base cartográfica comum que visasse comparar
a estrutura espacial da diferenciação socioocupacional vigente em 2000 e 1991. O recuo
no tempo pôde ser feito quando se conserva a divisão em 98 áreas obtida na base do censo
de 2000 para tratar da diferenciação socioocupacional em 1991, devido aos contingentes
populacionais menores recenseados naquele ano, sobretudo em espaços geográficos que
260
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
apresentaram grande crescimento na década de 1991. Não deixa de ser um paradoxo o fato
de que é exatamente nos espaços mais transformados na década de 1991, que há
constrangimento devido às regras da confiabilidade estatística, com a adoção de escalas
mais grosseiras para a divisão de áreas, necessariamente menos homogêneas
morfologicamente e, infere-se, socialmente. Representações e análises do vivido tornam–se
menos acuradas nos espaços mais estratégicos para se perceberem as dinâmicas de
transformação da sua apropriação por grupos sociais, objetivo maior da análise
comparativa no tempo. A análise fatorial das 98 áreas por composições de categorias
socioocupacionais foi realizada com base nos Censos Populacionais de 1991 e 2000,
separadamente.
261
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Foi de grande serventia o conhecimento prévio das diversas morfologias urbanas e rurais
que configuram o território, aceitou-se a hipótese de que a essas morfologias
corresponderia uma geografia social e uma relativa homogeneidade das ocupações
exercidas pelos residentes. Desse modo, tentou-se evitar que os mapas a serem construídos
se tornassem gráficos muito distantes do espaço real e vivido. Mas, essa meta não foi
262
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
ii) Constrangimento devido a divisão em áreas contíguas de usos distintos como conjuntos
habitacionais - Em certos casos, como os conjuntos habitacionais em áreas de expansão
urbana levou a agregar parte desses espaços a outros com morfologia diferente, resultando
daí uma média, mascarando realidades muito diversas. Na Região Metropolitana do Recife,
esse constrangimento, associado ao primeiro, torna-se especialmente prejudicial face à
configuração dos territórios municipais, projetados em geral de leste para oeste e tendo
seus espaços rurais na porção oeste. Essa é menos povoada, e a combinação do respeito ao
patamar mínimo pode levar a agregar esses espaços a outros que representam morfologias
urbanas.
263
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Em cada uma das áreas previamente delimitadas, foi informada a participação de cada uma
das categorias ocupacionais, o que permitiu realizar uma análise fatorial por
correspondência, o que levou à identificação de tipos de combinação de categorias e ao
agrupamento das áreas que apresentavam o mesmo tipo de combinação. Mas, no decorrer
dos procedimentos descritos acima, há o risco de esquecimento do modo de construção das
categorias, já que passaram a ser unidades básicas para a análise fatorial. Voltar a essa
construção, entender seus limites e identificar as pessoas ocupadas que participam da
composição das categorias é um exercício no mínimo saudável para se precaver contra o
perigo da reificação de um instrumental estatístico que, pela sua complexidade, tende a se
tornar autônomo se não houver por parte dos usuários a volta periódica às suas origens.
264
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
No caso dessa pesquisa, a enorme massa é constituída pelos dados de ocupação dos
residentes em domicílios, nos quais foi aplicado o questionário completo do Censo
Populacional (um em cada dez domicílios), distribuídos em setores censitários delimitados
pelo IBGE em função das suas necessidades operacionais. O experiente geógrafo indica na
mesma obra procedimentos necessários para se evitar um desvio perigoso:
Precaver-se quanto a esse desvio foi a meta da divisão do território metropolitano operada
pelos pesquisadores recifenses, ao buscarem desenhar recortes que delimitassem áreas com
a finalidade de apresentar o maior grau possível de homogeneidade ocupacional.
265
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
A palavra Granja deriva do termo francês grange, que significa construção onde se
recolhem os frutos de uma propriedade, celeiro, paiol. Nos dicionários da língua
portuguesa, o termo aparece geralmente para designar pequena propriedade rural onde se
desenvolvem culturas lucrativas e, nessa acepção, teria como sinônimos: chácara,
herdade, 114 quinta, sítio, fazenda. Ferreira (1986) associa a palavra também a outros
significados: albergaria; casal, e ao seu sentido original, celeiro, paiol.
Nos dicionários técnicos de agricultura, 115 o termo granja também aparece associado às
pequenas propriedades rurais produtivas. Magalhães (1970) classifica as granjas pelo uso
avícola e ressalta que esses imóveis rurais não podem ser desmembrados em módulos
inferiores ao módulo rural. Rossela (1931) usa o termo para denominar o conjunto de
habitações rurais de uma fazenda. O cadastro de imóveis rurais do INCRA não possui o
termo granja como categoria de imóvel, pois considera os latifúndios por dimensão e por
extensão: as Empresas rurais, os minifúndios e os sítios de recreio.
114
Grande propriedade rural
115
Vilá, A.e Rossela, M. (1931); SOROA y PINELA (1968); HOFSTETTER (1982); MAGALHÃES, J. C.
(1970)
266
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Um dos pontos mais sensíveis e que melhor refletem as suas características urbanas, é a
habitação em alto padrão construtivo, nos mais variados estilos arquitetônicos, onde não
faltam as garagens, o que geralmente sugere a influência das casas de campo norte-
americanas, tendo substituido as casas assolaradas dos engenhos, em desacordo marcante
com os pontos comuns em outras áreas rurais do estado.
267
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
268
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
270
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
2601052 - ARAÇOIABA - PE
CLASSES DE ÁREA TOTAL (ha) PROPRIETÁRIO PROPRIETÁRIO E POSSEIRO
CATEGORIA DE IMÓVEL POSSEIRO
E
CLASSES DE Nº DE MF DE IMÓVEIS ÁREA IMÓVEIS ÁREA IMÓVEIS ÁREA DE POSSE
REGISTRADA REGISTRADA +
ÁREA TOTAL POSSE
TOTAL 5 428,3 1 13,0 17 66,7
2 A MENOS DE 5 1 3,0 5 12,3
10 A MENOS DE 25 3 39,3 1 13,0 1 11,5
200 A MENOS DE 500 1 386,0
1 A MENOS DE 2 5 6,2
5 A MENOS DE 10 6 36,7
TOTAL IMÓVEIS: 23
TOTAL ÁREA: 508,0
271
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
272
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
2603454 - CAMARAGIBE - PE
CLASSES DE ÁREA TOTAL (ha) PROPRIETÁRIO PROPRIETÁRIO E POSSEIRO
CATEGORIA DE IMÓVEL POSSEIRO
E
CLASSES DE Nº DE MF DE IMÓVEIS ÁREA IMÓVEIS ÁREA IMÓVEIS ÁREA DE POSSE
REGISTRADA REGISTRADA +
ÁREA TOTAL POSSE
TOTAL 152 1.913,7 3 44,4 73 236,5
1 A MENOS DE 2 23 29,8 25 32,2
2 A MENOS DE 5 57 179,8 30 86,6
5 A MENOS DE 10 32 229,1 1 9,7 8 52,8
10 A MENOS DE 25 29 440,9 2 34,7 5 62,1
25 A MENOS DE 50 4 161,9
50 A MENOS DE 100 5 358,5
200 A MENOS DE 500 2 513,7
MENOS DE 1 5 2,8
273
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
2606804 - IGARASSU - PE
CLASSES DE ÁREA TOTAL (ha) PROPRIETÁRIO PROPRIETÁRIO E POSSEIRO
CATEGORIA DE IMÓVEL POSSEIRO
E
CLASSES DE Nº DE MF DE IMÓVEIS ÁREA IMÓVEIS ÁREA IMÓVEIS ÁREA DE POSSE
REGISTRADA REGISTRADA +
ÁREA TOTAL POSSE
TOTAL 353 31.121,2 14 256,3 454 2.132,3
MENOS DE 1 3 1,9 23 11,8
1 A MENOS DE 2 28 34,2 67 80,5
2 A MENOS DE 5 105 327,0 4 11,9 235 734,4
5 A MENOS DE 10 84 558,0 4 28,0 88 607,4
10 A MENOS DE 25 76 1.065,6 3 38,2 33 429,1
25 A MENOS DE 50 25 874,3 2 75,0 7 213,6
50 A MENOS DE 100 16 1.084,9 1 55,5
100 A MENOS DE 200 7 905,8 1 103,2
200 A MENOS DE 500 1 219,8
500 A MENOS DE 1000 1 956,0
1000 A MENOS DE 2000 2 3.508,7
2000 A MENOS DE 5000 4 12.365,5
5000 A MENOS DE 10000 1 9.219,5
274
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
2607208 - IPOJUCA - PE
CLASSES DE ÁREA TOTAL (ha) PROPRIETÁRIO PROPRIETÁRIO E POSSEIRO
CATEGORIA DE IMÓVEL POSSEIRO
E
CLASSES DE Nº DE MF DE IMÓVEIS ÁREA IMÓVEIS ÁREA IMÓVEIS ÁREA DE POSSE
REGISTRADA REGISTRADA +
ÁREA TOTAL POSSE
TOTAL 101 21.213,6 2 24,9 28 921,7
MENOS DE 1 3 0,6
1 A MENOS DE 2 1 1,9 8 8,1
2 A MENOS DE 5 22 75,9 5 18,1
5 A MENOS DE 10 22 176,1 7 48,4
10 A MENOS DE 25 10 158,9 2 24,9 5 67,2
25 A MENOS DE 50 11 406,8 1 38,7
50 A MENOS DE 100 6 427,5
100 A MENOS DE 200 4 453,7
200 A MENOS DE 500 10 2.689,0 1 241,2
500 A MENOS DE 1000 7 5.004,6 1 500,0
1000 A MENOS DE 2000 3 4.227,9
2000 A MENOS DE 5000 2 7.590,7
275
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
2607604 - ITAMARACÁ - PE
CLASSES DE ÁREA TOTAL (ha) PROPRIETÁRIO PROPRIETÁRIO E POSSEIRO
CATEGORIA DE IMÓVEL POSSEIRO
E
CLASSES DE Nº DE MF DE IMÓVEIS ÁREA IMÓVEIS ÁREA IMÓVEIS ÁREA DE POSSE
REGISTRADA REGISTRADA +
ÁREA TOTAL POSSE
TOTAL 62 830,6 5 28,0 42 291,1
MENOS DE 1 4 2,8 2 0,7
1 A MENOS DE 2 10 11,4 4 4,0 11 13,0
2 A MENOS DE 5 23 66,3 9 26,7
5 A MENOS DE 10 5 38,7 14 91,7
10 A MENOS DE 25 12 190,2 1 24,0 5 90,0
25 A MENOS DE 50 5 198,1
50 A MENOS DE 100 2 165,0 1 69,0
100 A MENOS DE 200 1 158,1
200 A MENOS DE 500
276
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
2607752 - ITAPISSUMA - PE
CLASSES DE ÁREA TOTAL (ha) PROPRIETÁRIO PROPRIETÁRIO E POSSEIRO
CATEGORIA DE IMÓVEL POSSEIRO
E
CLASSES DE Nº DE MF DE IMÓVEIS ÁREA IMÓVEIS ÁREA IMÓVEIS ÁREA DE POSSE
REGISTRADA REGISTRADA +
ÁREA TOTAL POSSE
TOTAL 9 54,9 1 70,0 5 33,7
1 A MENOS DE 2 1 1,6
2 A MENOS DE 5 5 18,8 3 8,2
5 A MENOS DE 10 1 6,0 1 7,5
10 A MENOS DE 25 2 28,5 1 18,0
50 A MENOS DE 100 1 70,0
500 A MENOS DE 1000
277
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
278
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
2609402 - MORENO - PE
CLASSES DE ÁREA TOTAL (ha) PROPRIETÁRIO PROPRIETÁRIO E POSSEIRO
CATEGORIA DE IMÓVEL POSSEIRO
E
CLASSES DE Nº DE MF DE IMÓVEIS ÁREA IMÓVEIS ÁREA IMÓVEIS ÁREA DE POSSE
REGISTRADA REGISTRADA +
ÁREA TOTAL POSSE
TOTAL 112 8.581,3 2 72,0 28 222,4
MENOS DE 1 3 1,5 1 0,5
1 A MENOS DE 2 4 4,3 3 4,4
2 A MENOS DE 5 30 85,8 13 37,5
5 A MENOS DE 10 19 127,2 7 44,1
10 A MENOS DE 25 20 289,2 3 40,0
25 A MENOS DE 50 13 444,8 2 72,0
50 A MENOS DE 100 4 283,6 1 95,9
100 A MENOS DE 200 4 566,2
200 A MENOS DE 500 10 3.382,3
500 A MENOS DE 1000 5 3.396,4
279
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
2609600 - OLINDA - PE
CLASSES DE ÁREA TOTAL (ha) PROPRIETÁRIO PROPRIETÁRIO E POSSEIRO
CATEGORIA DE IMÓVEL POSSEIRO
E
CLASSES DE Nº DE MF DE IMÓVEIS ÁREA IMÓVEIS ÁREA IMÓVEIS ÁREA DE POSSE
REGISTRADA REGISTRADA +
ÁREA TOTAL POSSE
TOTAL 7 80,8 0 0,0 478 764,5
MENOS DE 1 1 0,8 195 74,5
1 A MENOS DE 2 1 1,2 132 160,1
2 A MENOS DE 5 1 3,0 126 328,3
5 A MENOS DE 10 2 12,4 18 110,9
10 A MENOS DE 25 1 20,7 7 90,7
25 A MENOS DE 50 1 42,7
280
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
2610707 - PAULISTA - PE
CLASSES DE ÁREA TOTAL (ha) PROPRIETÁRIO PROPRIETÁRIO E POSSEIRO
CATEGORIA DE IMÓVEL POSSEIRO
E
CLASSES DE Nº DE MF DE IMÓVEIS ÁREA IMÓVEIS ÁREA IMÓVEIS ÁREA DE POSSE
REGISTRADA REGISTRADA +
ÁREA TOTAL POSSE
TOTAL 119 5.087,1 1 72,7 427 670,0
MENOS DE 1 4 1,7 189 73,5
1 A MENOS DE 2 15 20,1 115 145,0
2 A MENOS DE 5 47 148,4 101 280,8
5 A MENOS DE 10 23 152,7 18 111,8
10 A MENOS DE 25 19 293,2 4 58,9
25 A MENOS DE 50 2 61,0
50 A MENOS DE 100 2 133,5 1 72,7
100 A MENOS DE 200 3 425,7
200 A MENOS DE 500 2 535,9
500 A MENOS DE 1000 1 554,3
2000 A MENOS DE 5000 1 2.760,6
281
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
2611606 - RECIFE - PE
CLASSES DE ÁREA TOTAL (ha) PROPRIETÁRIO PROPRIETÁRIO E POSSEIRO
CATEGORIA DE IMÓVEL POSSEIRO
E
CLASSES DE Nº DE MF DE IMÓVEIS ÁREA IMÓVEIS ÁREA IMÓVEIS ÁREA DE POSSE
REGISTRADA REGISTRADA +
ÁREA TOTAL POSSE
TOTAL 72 2.268,2 1 10,1 26 439,0
MENOS DE 1 2 1,2
1 A MENOS DE 2 9 12,6 2 2,0
2 A MENOS DE 5 21 67,1 10 31,4
5 A MENOS DE 10 16 100,5 9 66,4
10 A MENOS DE 25 8 117,3 1 10,1 3 40,2
25 A MENOS DE 50 6 217,1 1 25,0
50 A MENOS DE 100 6 394,4
100 A MENOS DE 200 2 249,7
200 A MENOS DE 500 1 290,2 1 274,0
500 A MENOS DE 1000 1 818,1
282
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
283
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
284
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
285
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
286
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
287
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
288
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
289
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
290
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
291
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Bibliografia
ALONSO, William. Location and land use: toward a general theory of land rent.
Cambridge: Harvard University, 1964.
ALVES, Rubem. Filosofia da ciência: introdução ao jogo e suas regras. São Paulo:
Loiola, 2000.
292
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
ASCHER, François. Métapolis, ou l'avenir des villes. Paris: Éditions Odile jacob, 1995.
ASENSIO, Pedro J. Ponce. Cambios sociales en espacios periurbanos del país valenciano
(Trabalho de fim de curso). 2005. http://mural.uv.es/pepona/principal.html (acesso em 20
de 01 de 2007).
AZEVEDO, S.(Org.). A crise da morndia nas grandes cidades. Rio de Janeiro: UFRJ,
1996.
293
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
BARBERIS, C. “Turismo e nuova ruralitá.” In: Turismo e mondo rurale., por TCI —
Touring Club Italiano., 33-46. Milano: Atti del convegno, 2001.
BARRÈRE, P. “Urbanization del campo nos países industrializados.” In: Espacios rurales
y urbanos en áreas industrializadas, 59-78. Barcelona: Olkos-tau, 1988.
294
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
BORJA, Jordi. “As cidades e o planejamento estratégico, uma reflexão européia e latino-
americana.” In: Cidades estratégicas e organizações locais, por Tânia D., (org.)
FISCHER. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1996.
BOURNE, Larry. Internal structure of the city: readings on space and environment. Nova
York: Oxford University Press, 1971.
295
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
Brasil, Ministério das Cidades; PNUD; UFPE, CMG; FASE. Classificação (tipologia) das
cidades brasileiras. Projeto PNUD BRA 045 (relatório técnico - mimeo.), Recife:
Ministério das Cidades/PNUD/FASE, 2005.
BRASIL. Ministério das Cidades. “Ministério das Cidades.” Governo do Brasil. 2003.
www.cidades.gov.br (acesso em 12 de Dezembro de 2007).
BRUN, J. “La mobilité résidentielle et les sciences sociales.” Les Annales de Ia Recherche
Urboine. Paris, 1993. 59-60.
296
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
CAMPOS FILHO, Cândido M. Cidades brasileiras: seu controle ou seu caos: o que os
cidadãos brasileiros devem fazer para humanização das cidades. São Paulo: Nobel, 1989.
CARDOSO, Adalto L., e Luiz C.Q. RIBEIRO. In: Cidade, Povo e Nação, por Robert
PECHMAN e LUIZ C.Q. RIBEIRO, 53-81. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1996.
CARLO, Ana Fany. A (re)produção do espaço urbano. São Paulo: Princípios, 1994.
297
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
CHAUI, Marilena. Brasil: mito fundador e sociedade autoritária. São Paulo: Perceu
Abramo, 2000.
CLARK, Terry N., Richard LLOYD, Kennety K. WONG, e Pushpan JAIN. “Amenities
Drive Urban Growth.” Journal of Urban Affairs, 2002: 493-515.
CMMAD. Nosso futuro comum. Rio de aneiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1981.
COELHO, Franklin. D. “Plano Diretor como instrumento de luta da reforma urbana.” In:
Plano Diretor: instrumento de reforma urbana, por G. GRAZIA, 33-64. Rio de Janeiro:
FASE, 1990.
CUNHA, M.A. O novo Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1975.
DONNE, Marcella Delle. Teoria sobre a cidade. São Paulo: Martins Fontes, 1979.
299
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
FERRÃO, João. “Relações entre o mundo rural e o mundo urbano: evolução histórica,
situação actual e pistas para o futuro.” Revista Latino Americana de Estudos Urbanos e
Regionais (Pontificia Universidade Católica) 26 (Setembro 2000).
FIDEM. Plano Diretor: Metrópole 2010. Plano Diretor (Mimeo.), Recife: Fundação de
Desenvolvimento da Região Metropolitana do Recife, 1998.
FORM, W. “The place of social structure in the determination of land use: some
implications for a theory of urban ecology.” In: Internal structure of the city: readings on
space and environment, por L. S. BOURNE. Nova York: Oxford University Press, 1971.
300
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
GEORGE, Pierre. “As bases geográficas da sociologia rural.” In: Vida rural e mudança
social: leituras básicas de socilogia rural, por Tamás SZMRECSANYI e Orioswaldo
(org.) QUEDA. São Paulo: Ed. Nacional, 1979.
GONÇALVES, Maria Flora (Org.). O novo Brasil urbano. Porto Alegre: Mercado Aberto,
1995.
GOTTDIENER, Mark. A produção social do espaço urbano. São Paulo: Edusp, 1993.
GRABOIS, José. Que urbano é esse? João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2004.
GRAZIA, Grazia de. Plano ditretor: instrumento de reforma urbana. Rio de Janeiro:
FASE, 1990.
301
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
GUIMARÃES, Alberto P. Quatro seculos de latifundio. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989.
HAUSER, Philip M., e Leo F. SCHNIRE. Estudos de urbanização. São Paulo : Pioneira,
1976.
302
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
IBGE. Censo Demográfico 1980. Digital. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística, 1998.
IBGE. Censo Demográfico 1991. Digital. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística, 1993.
IBGE. Censo Demográfico 2000. Digital. Rio de Janeiro: Fundação Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística, 2002.
IPEA; IBGE; Unicamp. Caracterização e tendências da rede urbana no Brasil. São Paulo:
IPEA; IBGE; Unicamp, 1999.
JACOBI, Pedro. Cidade e meio ambiente: percepções e práticas em São Paulo. São Paulo:
Annablume, 2000.
JACOBS, Jane. Morte e vida de grandes cidades. São Paulo: Martins Fonte, 2000.
JARAMILLO, Samuel. Hacia una teoria de la renta del suelo urbano. Bogotá:
Universidad de los Andes, 1977.
303
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
KOGA, Dirce. Medida de cidades: entre territórios de vida e territórios vividos. São
Paulo: Cortês, 2003.
LACERDA, Norma M. “O papel das variáveis não econômicas na formação dos espaços
urbanos: o caso da área recifense de Casa Forte.” In: Seminário Interdisciplianar -
ANPUR, por Circe (org.) MONTEIRO, 109-125. Recife: MDU/ANPUR, 1995.
304
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
LEME, Ma. Cristina S.(Org.). Urbanismo no Brasil: 1895-1965. São Paulo : Nobel, 1998.
MACIEL, Ângelo Dias, e Vicent ALBANI. “A expansão atual da faixa pioneira urbana a
nordeste do Rio de Janeiro.” II Congresso Brasileiro de Geógrafos. Rio de Janeiro: IBGE,
1965. (Resumo de teses e comunicações).
MARINHO, Geraldo. “Movimentos urbanos de luta pela moradia.” In: Olhar Critico sobre
a participação e cidadania: trajetórias de organização e luta pela redemocratização da
governança no Brasil, por Jorge O. ROMANO, Renato ATHIAS e Marta ANTUNES,
161-186. São Paulo: Expressão Popular/Actionaid, 2007.
—. Subúrbio: vida cotidiana e história no subúrbio de São Paulo: São Caetano, do fim do
Império ao fim da República Velha. São Paulo: Hucitec, 1993.
MARTIS, José de Souza. Introdução crítica à sociologia rural. São Paulo: Hucitec, 1986.
MATHIEU, Nicole. “La notion de rural et les rapports ville/campagne en France: les
années quatre-vingt-dix.” Économie Rurale, 1998: 11-20.
305
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
MATUS, Carlos. Adeus, senhor presidente. Recife: Litteris Editora Ltda, 1989.
MIRANDA, Lívia, Maria A.A. SOUZA, e Jan Bitoun. Cadernos do Observatório PE:
políticas públicas e gestão local na Região Metropolitana do Recife. Recife:
FASE/Observatório das Metrópoles PE, 2007.
MORRIN, Edigar. Ciência com consciência. Rio de janeiro: Bertrand Brasil, 1998.
306
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
MOURA, R., e L.C.Q. (Et. All) RIBEIRO. Análise das Reigões Metropolitanas do Brasil.
(Relatório Técnico), Rio de Janeiro: IPPUR/FASE?IPARDES, 2004.
PEARCE, Douglas. Tourism today: a geographical analysis. New York: Longman, 1991.
PECHMAN, Robert, e Luiz C.Q. RIBEIRO. Cidade, povo e nação. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1996.
PNUD; IPEA; FJP. Atlas de desenvolvimento humano do Brasil, 2000. CDRom. Belo
Horizonte: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada, Fundação João Pinheiro Fundação João Pinheiro, 2004.
PONTUAL, Virgínia. Uma cidade, dois prefeitos: narrativas do Recife nas décadas de
1930 a 1950. Recife: UFPE, 2001.
307
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
PRYOR, Robin J. “Defining the rural-urban frige.” In: Internacional structure of tre city:
readings on espace and enviroment, por L.S. BOURNE. New York: Oxford University
Press, 1971.
QUITÉRIA, Ana. “Quanto custa morar no campo? Comprar um terreno ou uma casa na
Zona Rural é tarefa de muita pesquisa, paciência a afinidade com o lugar.” Diário de
Pernambuco, 05 de Dezembro de 1997: 8.
REIS, Nestor Gulart. Evolução urbana do Brasil 1500-1720. São Paulo: Pini, 2000.
REMY, J., e L. VOYE. La ville: vers une nouvelle définition? Paris: Harmattan, 1992.
RIBEIRO, Luiz C.Q., e Luciana C. LAGO. “O espaço social das grandes metrópoles
brasileiras: Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte.” Workshop de avaliação do
308
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
ROCH, Fernando, e Felipe GUERRA. Especulación del suelo? Madrid: Nuestra Cultura,
1979.
RYBCZYNSKI, Witold. Vida nas cidades: expectativas urbanas no novo mundo. Rio de
Janeiro: Record, 1995.
SANTORO, Paula, e Edie (Orgs) PINHEIRO. O município e as áreas rurais. São Paulo:
Instituto Pólis, 2003.
SCHWARTS, Stuart. Segredos internos. São Paulo: Compnhia das Letras, 1998.
SCOTT, A. “Land and land rent: an Interative review of the french literature.” In: Progress
in Geography, por C. et all (Org.) BOORD, 137-159. London: Edward Arnold, 1976.
SEABRA, Odete. As muralhas que cercam o mar: uma modalidade de uso do solo urbano.
(Dissertação de Mestrado), São Paulo: Universidade de São Paulo, 1979.
SILVA, Ana Cristina Lima Barreiros. A produção do espaço em Porto Velho - Rondônia:
o papel de um agente múltiplo: um estudo de caso. (Dissertação de Mestrado em Ciências
Sociais), Rio de Janeiro: UFPJ, 1992.
309
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
SILVA, José Graziano da. O novo rural brasileiro. Campinas: Unicamp, 2002.
SILVA, Pedro Eurico Barros e. A questão do solo urbano no Recife: alternativas para uma
política. Recife: Câmara Municipal do Recife, 1985.
SÍMMEL, Georg. “A metrópole e a vida mental.” In: O fenômeno urbano, por Otávio
Guilherme VELHO, 11-25. Rio de Janeiro: ZAHAR, 1976.
SINCLAIR, R. “Von Thürner and urban sprawl.” Annals of the Association of American
Geographers, 1967: 57-78.
SOUZA, Marcelo L. de. O desafio metropolitano. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000.
SPINK, Peter, e Ilka AMAROTTI. Redução da pobreza e dinâmicas locais. São Paulo:
FGV, 2001.
310
Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano
Universidade Federal de Pernambuco
Tese de Doutorado
STILGOE, John R. Boerderland: origins of the american suburb, 1820-1939. Yale: Yale
University, 1988.
TULIK, Olga. “O espaço rural aberto a segunda residência.” In: Da cidade ao campo: a
diversidade do saber fazer turístico., por Luiz Cruz LIMA. Fortaleza: UECE, 1998.
VEIGA, José Eli da. Cidades imaginárias: o Brasil é menos urbano do que se calcula.
Campinas: Editora Autores Associados, 2003.
—. “Nascimento de uma nova ruralidade.” Estud. av., São Paulo, v. 20, n. 57,. 2006.
http://www.scielo.br (acesso em 22 de Janeiro de 2007).
VEIGA, José Eli. Desenvolvimento sustentável: o desafio do século XXI. Rio de Janeiro:
Garamond, 2005.
WASSMER, Robert W. “Urban sprawl in a U.S. metropolitan área: ways to measure and a
comparison of the sacramento área to similar metropolitan areas in California and the
U.S.” Lincol Institute of Land Policy. 2000. http://www.csus.edu/indiv/w/wassmerr (acesso
em 15 de Junho de 2005).
WIRTH, Louis. “O urbanismo como modo de vida.” In: O fenômeno urbano, por Otávio
Guilherme (org.) VELHO. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.
312