A Importancia Do Insght Na ACP
A Importancia Do Insght Na ACP
A Importancia Do Insght Na ACP
Curso de Psicologia
Brasília
Dezembro 2015
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Curso de Psicologia
do curso de Psicologia.
Brasília
Dezembro 2015
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Curso de Psicologia
Folha de Avaliação
Banca Examinadora:
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Prof.
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Prof.
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Brasília
Dezembro 2015
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Agradecimentos
era capaz. Gratidão pelas palavras de incentivo, pela paciência, pelo apoio, pelo amor.
Obrigada pela sua paciência, competência e disponibilidade em ensinar. Sorte minha tê-lo
como orientador!
Agradeço aos professores e colegas de curso, que estiveram comigo ao longo desses
cinco anos. Saio desse curso com grandes amigos, muitas histórias e excelentes lembranças.
Gratidão aos meus amigos que estiveram comigo durante essa jornada. Obrigada pelas
Não poderia deixar de agradecer às minhas amigas “Balzacas”, sempre por perto e
torcendo pra que eu seja mais e mais feliz; e a todas as pessoas envolvidas na eqsm, aqui
representada por meus amigos ACRÍSIO DE MEDEIROS E SIMONE ARRUDA. Sou grata
por todo amor, cuidado, carinho e incentivo. Vocês são uns verdadeiros anjos em minha vida.
v
você!
é tempo de recomeçar.
SUMÁRIO
Resumo.................................................................................................................... vii
Introdução ............................................................................................................... 1
Capítulo 1 - Uma breve história do Humanismo e conceitos relacionados à ACP... 5
1.1- Humanismo e desenvolvimento da ACP ........................................... 5
1.2 - Principais conceitos na ACP.............................................................. 11
Capítulo 2 - O caminho rogeriano para auxiliar a obtenção de insights.................. 15
2.1 - A relação terapêutica......................................................................... 15
2.2 - Respostas compreensivas utilizadas na terapia rogeriana................. 17
2.3 - O insight na visão da Abordagem Centrada na Pessoa ..................... 18
2.4 - A congruência e incongruência no processo psicoterápico............... 20
Capítulo 3 - Metodologia de pesquisa ...................................................................... 24
3.1 – Participantes ..................................................................................... 24
3.2 – Instrumentos ..................................................................................... 24
3.3 - Procedimento de coleta de informações ........................................... 25
3.4 - Procedimento de análise de informações........................................... 26
Capítulo 4 - Estudo de caso ..................................................................................... 30
4.1 - Apresentação da cliente .................................................................... 30
4.2 – Evolução terapêutica ........................................................................ 32
4.3 – Discussão do caso ............................................................................ 39
Considerações finais ................................................................................................ 43
5 – Referências ........................................................................................................ 45
Anexos ..................................................................................................................... 48
1-Parecer consubstanciado do CEP ..........................................................................
2- TCLE ...................................................................................................................
vii
RESUMO
existem poucos estudos de caso que ilustrem a forma de pensar e de atuar neste contexto. A
são peças fundamentais para se alcançar o resultado desejado. Este trabalho busca, por meio
CEUB, CENFOR, fazendo um total de 11 sessões. Muitos insights ocorreram durante toda a
sentimentos e a aceitação de si mesma contribuíram para a sua evolução, sob vários aspectos.
de caso.
1
Introdução
executado pelo terapeuta. E existem muitas explicações para isso. Uma delas diz respeito à
origem da psicologia clínica. Começando pela etimologia do termo clínica que nos remete ao
significado de à beira do leito, o que deixa claro a influência do modelo médico, que tem
como foco, a compreensão e o tratamento de doença (Dutra, 2004). Com isso, muitas pessoas
procuram um profissional com o intuito de apresentar seu sofrimento, sua queixa e, ao final,
esperam uma solução que seja rápida, como se fosse possível uma intervenção que trouxesse a
Outro fator que confunde o cliente é a ideia de que este profissional lida
especificamente com “problemas mentais” e essa ideia faz com que pessoas não procurem
sobre olhares diferentes a respeito do ser humano e de sua dor. A psicanálise foi criada por
Freud, um médico, que buscava respostas para a histeria, estudada em um hospital, na França.
Isto é, o foco era no distúrbio, nas suas origens e no seu funcionamento. Muitos estudiosos da
Pavlov, Wundt, e mais tarde, Skinner. A metodologia surgiu para explicar como é possível
modelar comportamentos por meio de regras. O início dessa abordagem, portanto, não teve o
viés clínico, como no caso da psicanálise, e sim teve uma visão mais acadêmica. Skinner
também aprimorou sua metodologia com o passar do tempo e a abordagem foi bem aceita
A Psicologia Humanista, desenvolvida por Carl Rogers e outros, que será discutida
O trabalho de Rogers difere das outras abordagens citadas por possuir o foco, não no
sofrimento, mas na própria pessoa. Segundo Rudio (2003), na terapia rogeriana acredita-se
indivíduo está em busca de sua auto-realização. Quando esses resultados não acontecem é
porque tem algum obstáculo impedindo o processo. O terapeuta, neste processo, apenas ajuda
o cliente a contar com a força natural que ele já possui dentro de si. O trabalho terapêutico
consiste em criar um ambiente favorável para que o cliente consiga libertar esses obstáculos
Dentre os conceitos apresentados por Rogers, alguns serão discutidos neste trabalho:
indivíduo a se conhecer e se tornar mais independente e mais seguro. Vários trabalhos têm
preocupação começou a surgir a partir da década de 1950, quando Eysenck propôs que os
efeitos das psicoterapias eram devidos à passagem do tempo e não aos métodos utilizados, o
que acabou por se tornar um desafio para psicoterapeutas das diversas abordagens. Na mesma
época, Carl Rogers afirmava que os efeitos das terapias eram decorrentes de fatores
Com o tempo, vários trabalhos foram executados para avaliar a eficácia das
psicoterapias e hoje a ideia de Eysenck, de que a psicoterapia não é eficaz, não mais se
Tendo em vista o conteúdo discutido acima e o fato de terem poucos estudos de caso
relatados sobre o tema, esse trabalho foi realizado com o objetivo geral de analisar a
4
Este trabalho também tem como objetivos específicos: caracterizar a ACP enquanto raízes
ACP; caracterizar congruência e incongruência visão rogeriana e, por fim, ilustrar, a partir de
Pessoa, se quando o indivíduo modifica a sua própria percepção, por meio do insight, isso
Nos capítulos que se seguem, discutiremos um pouco sobre a teoria de Rogers e sua
utilizada por um terapeuta rogeriano e como o insight é percebido, à luz desta abordagem. No
terceiro capítulo será apresentada a metodologia utilizada e, por fim, o quarto capítulo será
dedicado ao relato de um estudo de caso, sua discussão e sua relação com a teoria
Humanismo é tudo aquilo que se volta para o humano, que é “relativo ao homem” (Cunha,
humanista que se possa destacar da história do pensamento. Seria mais apropriada uma visão
direções: por um lado como crítica ao pensamento que privilegia valores específicos em
detrimento de valores mais amplos; e por outro lado como um projeto de valorização (ou de
maneira de conduzir o processo psicoterápico. Muitas vezes, algumas palavras são usadas em
várias correntes, porém com algumas diferenças quanto à forma de interpretá-las. Neste
Pessoa.
busca por transcender a si mesmo e se centrar no homem como seu objetivo. Falar de
subjetividade, do significado do ser humano, em sua característica mais particular, sua relação
valorizar sua existência e buscar a sua essência naquilo que o difere das outras pessoas: sua
experiência e sua vivencia, que são os critérios fundamentais para qualquer validação
humana. Em termos metodológicos, ela se distingue das demais correntes psicológicas pela
encontro efetivo entre dois seres. Nessa abordagem, o conhecimento é visto de forma relativa,
visto que é contínuo. O homem é visto como inacabado e inacabável, em constante evolução
(Holanda, 1993).
construção da subjetividade e pensar o lugar do sujeito que pensa e o lugar que esse mesmo
se preocupavam em explicar aspectos da realidade, mas sem alcançar o que realmente mexia
com o íntimo dos homens. Enquanto as teorias buscavam explicar os motivos dos homens
nenhuma delas conseguia explicar a existência da guerra em si. Essa seria uma questão
essencialmente humana.
O behaviorismo foi criado com ênfase objetivista, calcado nas ciências físicas para
explicar o ser humano, o que gerou uma série de críticas como a exclusão da subjetividade da
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sua consideração de ser humano além de não abordar a complexidade da personalidade e seu
que o comportamento seria determinado pelo que ocorre na mente inconsciente (Holanda,
2014).
Maslow é mais conhecido por sua teoria da motivação e sua pirâmide de necessidades básicas.
Maslow, considerado o pai espiritual da psicologia humanista, provavelmente foi quem mais
Maslow estudasse uma pequena amostragem de pessoas notáveis para compreender como se
diferenciavam daquelas com saúde mental mediana ou normal (Schultz & Schultz, 2009).
referentes aos mais diversos temas como, motivação, religião – que descreve como uma das
culminantes”- até o seu grande projeto, de construir uma psicologia humanista (Holanda,
2014). Além de Rogers e Maslow, outras personalidades também são citadas como
precursores da psicologia humanista, como: Alfred Adler, Erich Fromm, Karen Horney, Otto
Carl Rogers foi um psicólogo norte-americano que trouxe, a partir de seus estudos e
terapêutico. Rogers desenvolveu uma nova terapia que surgiu como a terceira força entre os
(Almeida, 2009). Sua teoria enfatiza as relações humanas e entende a existência do sujeito
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como um processo de desenvolvimento contínuo. (Araújo & Vieira, 2013). Para Rogers, o
homem não é considerado um ser perfeito, maculado pela sociedade, e sim um ser com
poderes sobre si mesma. A Abordagem Centrada na Pessoa (ACP) foi uma expressão
utilizada por Rogers para nomear uma forma específica de relação com o Outro, estando
A concepção humanista de homem, da qual a ACP está inserida, traz quatro aspectos
que explicam a imagem da pessoa, que coincidem com a sua forma de pensar e de ser no
mundo, que são: a autonomia e independência social, na qual a pessoa é um ser ativo capaz de
vida; auto-realização, que traduz a ideia de que todos nós temos uma tendência ao
crescimento e a realização; orientação por sentido, que acredita que a forma como vemos o
organismo humano como um todo relacionado com o todo, na sua forma de sentir, imaginar,
O pensamento de Carl Rogers acompanhou sua própria teoria, ou seja, foi atualizado
continuamente, evoluindo e formando fases bem distintas que servem de parâmetro para o
comentadores e colegas de trabalho (Wood, 1983; Puente, 1970) passaram a dividir, de forma
didática, o pensamento de Rogers em fases, ainda que ele mesmo nunca tenha se preocupado
De acordo com Holanda (1994) essas fases ao longo do percurso obedecem ao critério
relativo ao processo terapêutico e não deve ser confundido com a ambientação ou a teoria da
período em que Rogers estava na Universidade de Ohio. Nessa fase, o objetivo principal do
que era em um nível mais intelectual e não preocupado em ser vivencial. As atitudes do
terapeuta eram mais preocupadas com a técnica do reflexo de sentimentos, além da postura de
intelectiva e analítica.
papel do psicólogo, como aquele que “não fala”, quando, na verdade, o esforço de Rogers era
atrapalhar o processo do cliente. Essa fase representa um momento de reflexão que leva
Rogers a conclusões a respeito do papel do cliente e das técnicas até então utilizadas. Ele
entende que o interesse maior é no indivíduo e não nos problemas em si. A ideia era ajudar o
período em que Carl Rogers estava em Chicago. Convém ressaltar que não se trata apenas de
uma mudança de nomenclatura, e sim, trata-se de uma significativa mudança postural global
“centrada no cliente” porque na terapia não diretiva o foco ainda era fora do cliente,
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terapeuta um papel mais ativo transformando o cliente no foco de sua atenção (Holanda,
(Holanda, 1994; Moreira 2010; Gobbi & Missel, 1998). Nessas condições o psicoterapeuta
deve apresentar três condições para que ocorra o crescimento do cliente: empatia, aceitação
Essa fase foi iniciada com o livro On becoming a person, de 1961, publicado no Brasil em
Durante esse período, a ênfase do terapeuta é ajudar o cliente a usar sua experiência
1970; Holanda, 1994; Moreira 2010; Gobbi & Missel, 1998). Essa é a fase que a clínica
termo inter-humano é defendido por Holanda (1994) por ser uma fase de transcendência de
Foi uma fase mais mística, holística em seu sentido mais amplo, Rogers se voltaria
para uma relação mais transcendental. O que prevalece é o sentido do desenvolvimento das
Tendo em vista tudo que foi exposto, relacionado ao humanismo, em seguida serão
defende a ideia de que existe um movimento natural dentro de cada pessoa, que é a ideia
principal (Fontgalland & Moreira, 2012). Por acreditar nessa tendência do cliente ao
crescimento do indivíduo, que acontece quando se estabelece uma relação significativa que
de si, das pessoas, das coisas e acontecimentos. Cada percepção é uma espécie de “tradução”
fatores que levam o indivíduo a se sentir solitário. Na terapia desenvolvida por Rogers,
deseja-se ajudar o cliente para que verifique se suas percepções são realistas e adequadas para
novo tipo de terapia não é uma preparação para a mudança, mas a própria mudança (Almeida,
2009).
ele pode confiar nos outros e os outros podem confiar nele (Rudio, 2003). Para Rogers (2012),
com o outro.
Rogers (2012) argumenta que, para que uma relação terapêutica seja efetiva, é
necessário que se construa uma relação genuína entre o terapeuta e o indivíduo. Para alcançar
tal objetivo, a atuação do terapeuta deve consubstanciar três atitudes que constituem as
empática e a aceitação positiva incondicional (Rudio, 2003; Santos, 2004; Rogers, 2012;
adequada entre a experiência e a consciência. E pode ainda ser ampliada para abranger a
transluz aquilo que verdadeiramente é, mostrando-se transparente, tal como uma criança que
demonstra e expressa tudo aquilo que está sentindo” (Fontgalland & Moreira, 2012). A
incongruência, por sua vez, levando-se em conta as fases da congruência, consiste na recusa
experiência tal como se passa, fazendo com que a representação na consciência fique
tomar consciência dos sentimentos que ainda não estão claros ao indivíduo, mas respeitando o
ritmo de suas descobertas próprias e mantendo uma abertura a tudo que de novo possa vir a
fossemos essa pessoa – sem, contudo, jamais perder de vista que se trata de
que, por exemplo, se sinta a dor ou o prazer do outro como ele os sente, em
dos autores).
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de outra pessoa e não às nossas, por isso deve ficar claro a não-identificação (Fontgalland &
Moreira, 2012).
sujeito como uma pessoa de valia incondicional, independentemente de sua condição, seu
terapeuta é condição básica para mudança na terapia centrada na pessoa. A percepção desta
atitude resulta na dissolução das condições de valor e aumenta o próprio olhar incondicional,
isto é, as experiências que eram ameaçadoras anteriormente podem ser percebidas, exploradas
inevitável que a noção de relação terapeuta-cliente também seja diferente. E é sobre essa
pelo terapeuta, eram pontos chave para que o cliente se sentisse acolhido a ponto de expressar
processo, percebendo, nas suas incongruências, comportamentos e atitudes que poderiam estar
bloqueando o seu desenvolvimento e processo criativo. E, é sobre esses temas que falaremos
neste capítulo.
métodos de dedução e inferência. Ele acredita que sua tarefa consiste em descobrir e em
usa o vocabulário psicológico na sua fala com o cliente (Rogers & Kinget, 1975a).
análise dedução ou de linguagem técnica. E é sobre o cliente que recai a tarefa de explorar o
processo terapêutico e faz com que o cliente, muitas vezes, modifique ou atualize as suas
Uma característica marcante relacionada à ACP diz respeito à forma como o terapeuta
rogeriana não exige terapeutas com uma personalidade especial ou um talento superior. Porém
alguns atributos são importantes para que se consiga realizar uma terapia centrada no cliente.
pessoa sem ter a tentação de moldá-la segundo a sua própria imagem. Em relação à
compreensão de si, se o terapeuta não tem consciência de suas próprias preferências, aversões,
temores e desejos, ele é incapaz de fazer uma leitura realista das coisas que o cliente lhe conta
Por meio da relação é possível notar que alguns pontos sobressaem na terapia
rogeriana. Um deles é o fato de que o sentimento do terapeuta é mais importante do que sua
orientação teórica. Seus procedimentos e técnicas são menos importantes de que suas atitudes.
A maneira como esses sentimentos e atitudes são percebidos pelo cliente é que faz com que a
detrimento da técnica, o termo técnica não será mais utilizado neste trabalho. A forma como o
entrevista, decodificando aquilo que o cliente expressa. Dessa forma, o terapeuta busca trazer
à tona, com suas próprias palavras, aquilo que é dito pelo cliente (Rudio, 2003). A intenção
não é a de vigiar ou interrogar, mas sim de compreender verdadeiramente o que está sendo
exposto. Esta técnica dá-se por meio de respostas compreensivas, que podem ser de três
formas diferentes: reiteração ou reflexo simples, reflexo dos sentimentos e das atitudes e
elucidação.
A reiteração é apenas uma repetição do que o cliente diz, nas palavras do terapeuta.
Não acrescenta nada ao pensamento do cliente, nada possui de original (Rudio, 2003). É
geralmente breve e consiste basicamente num resumo do que é dito pelo cliente. O reflexo
emocional. Essa resposta tem pouco efeito terapêutico, mas prepara o terreno para uma
tomada de consciência cada vez maior, já que ajuda a diminuir barreiras defensivas do “eu” e,
consequentemente, ajuda na ampliação dos campos de percepção (Rogers & Kinget, 1975b).
A segunda resposta rogeriana, ou reflexo dos sentimentos e das atitudes, busca fazer
com que o cliente tome consciência dos elementos presentes no que ele pensa e sente e que
não foram colocados de maneira explícita, dando-lhe a oportunidade de mudar seu campo de
percepção (Rudio, 2003). Em termos da gestalt, seria tornar claro o “fundo” da comunicação
cliente, porém os apresenta de maneira mais clara e de mais fácil compreensão (Rudio, 2003).
A elucidação visa tornar evidentes sentimentos e atitudes que não aparecem diretamente nas
contexto apresentado. Por ser uma dedução, é caracterizada por uma acuidade intelectual que
as outras respostas não têm. Pelo fato de se aproximar, ou ser confundido, de uma
interpretação, esse tipo de resposta é menos “asséptico” que as outras formas de resposta e
pode conter elementos estranhos ao campo de percepção do cliente e, desse modo, afetá-lo de
modo ameaçador (Rogers & Kinget, 1975b). Por esse motivo, esse tipo de resposta é, muitas
vezes, iniciado com expressões do tipo “se bem compreendo...”, “corriga-me se estiver
enganado”, ou, por exemplo, “se entendi corretamente, você disse que...”. A intenção é que o
cliente reflita, pois o conteúdo da fala do terapeuta pode ainda não estar no campo de
percepção do cliente e a forma de abordar pode deixá-lo à vontade para concordar ou não,
trabalhados por Rogers, ao longo dos anos, por isso escolhemos dois tópicos apenas para
expressar livremente os seus sentimentos até então reprimidos, e essa experiência provoca
de insight (compreensão). Ver novas relações de causa e efeito, alcançar uma nova
não acontece repentinamente, ela é alcançada pouco a pouco, à medida que o indivíduo
desenvolve força psíquica suficiente para suportar as novas percepções (Rogers, 2005).
O insight ocorre de forma espontânea e essa clareza alcançada faz com que o
indivíduo se perceba ativo e reconheça a importância de suas próprias atitudes e ações para o
seu desenvolvimento.
cognitivo, ele aparece como um produto da reorganização interna, que se caracteriza por ser
profunda e duradoura.
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Rogers explica três tipos de percepção que compõem o insight, tal qual ele entende:
primeiramente, uma nova percepção a respeito das coisas que já se conhece. Muitas vezes,
chamamos essa percepção como a experiência do “Ah!”. Trata-se de uma descoberta pessoal
que não podemos substituir por nenhuma descoberta de cunho intelectual. Em segundo lugar,
sentimentos, que podem não estar de acordo com o “eu ideal”. A pessoa se encontrará menos
dividida e seu funcionamento será mais integrado. Em terceiro lugar, a escolha de objetivos
que trazem ao indivíduo maior satisfação. Uma satisfação muito mais profunda e estável
(Puente, 1970).
terapeuta/cliente, seja trabalhada essa compreensão, por parte do cliente, para a dissolução de
estabelecer uma relação autêntica em que o sujeito se sinta acolhido e a vontade para entrar
em contato com seus verdadeiros sentimentos, de maneira que, lhe seja possível, mais tarde,
compreender o que é genuíno dele e o que foi introjetado ou se estabeleceu como uma crença.
mundo. Esse processo visa estabelecer um acordo entre essa imagem e a sua experiência. Se
21
esse indivíduo hipotético funcionaria de modo ótimo (Rogers & Kinget, 1975a).
de um modo tal que permite a integração simbólica da totalidade da experiência” (p. 173). Ou
Franz Rudio (2003) argumenta que o comportamento congruente deve passar por
algumas fases, que são: a) o indivíduo sentir o que está acontecendo no seu organismo, ou
seja, deve vivenciá-lo como algo real; b) perceber tal como está sentindo, isto significa
percebendo, isto é, assumir o que se sente como algo natural; d) manifestar a experiência tal
como ela é aceita, com isso, deve expressar-se tal como sente e pensa.
congruência deve permear toda a terapia, no que diz respeito às atitudes do cliente tanto
desconfortável em relação ao cliente, ou por motivos pessoais, mas se for capaz de reconhecer
seu estado, representá-lo afetivamente e comunicar o que está sentindo ao cliente, ele estará
cliente (Bacellar, 2010). Isto é, o terapeuta não pode ser uma fachada ou exercer um papel, ele
ter que ser ele mesmo e refletir exatamente o que se é. Quando o terapeuta está plenamente
perfeição, mas sim, na ideia de que a pessoa tem que ser ela mesma no momento da relação.
Inclui qualquer forma de ser, desde que essa forma seja verdadeira. Implica numa
vivencia.
palavras, gestos, expressões faciais, posturas, movimentos corporais, tom de voz e também na
maneia como se veste, esta comunicação é verbal e não verbal. A incongruência está presente
percebe sua experiência de acordo com as condições à quais ele veio a se submeter – que
podem ser imagens idealizadas ou crenças introjetadas, por exemplo. Ele percebe a
experiência de forma seletiva. Se as experiências concordam com essas condições elas são
condições elas acabam sendo distorcidas de modo a torná-las de acordo com essas condições
e que se relacionam com o eu. Por essa razão, as experiências que não foram simbolizadas na
consciência não são incorporadas à noção do eu. Esse desacordo, então, gera uma distância
entre o que foi experenciado e o eu, levando o indivíduo a um certo grau de vulnerabilidade e
esses elementos não são representados, ou o são de forma incorreta, na estrutura do eu, resulta
confusões.
Num processo terapêutico, para que a congruência tenha impacto na relação, é muito
importante que o terapeuta também seja congruente (Rosso & Lebl, 2006). A hipótese é que
quando o terapeuta se mostra presente na relação, sem querer parecer um sábio ou detentor de
conhecimento e poder sobre o cliente, mas simplesmente é ele mesmo, com sua subjetividade
cliente vai tendo mais contato com suas experiências e, em seu tempo, ele consegue se
perceber e se aceitar, e essa percepção faz com que ele diminua suas defesas e assim aumente
3- Metodologia da pesquisa
Foi realizado estudo de caso por meio de pesquisa qualitativa. Em um estudo de caso,
estuda-se um caso, bem delimitado, devendo ter suas particularidades claramente definidos no
desenrolar do estudo. Um caso pode ser similar a outros, mas é ao mesmo tempo distinto, por
subjetivos de forma mais complexa. Por mais que ela tenha um ponto de partida, os resultados
deve sempre adequar-se à medida que o trabalho se desenvolve. Não se espera uma técnica
pronta, estática. Pelo contrário, o formato do trabalho vai sendo construído e repensado
3.1 – Participantes
3.2 – Instrumento
processo psicoterápico. As falas da cliente que serão relatadas, não são literais, visto que não
25
foram feitas gravações durante as sessões, mas foram escritas de forma a se aproximar, da
Esclarecido –TCLE- (Anexo 2) que é um documento que contém explicações sobre a pesquisa
Neste termo, estavam descritas várias condições, como, por exemplo: que a
participação é voluntária e não haveria prejuízo algum se o cliente não quisesse participar;
que o cliente poderia se retirar desta pesquisa a qualquer momento, bastando para isso entrar
em contato com um dos pesquisadores responsáveis; que, conforme previsto pelas normas
nenhum tipo de compensação financeira pela sua participação neste estudo e que seus dados
seriam manuseados somente pela pesquisadora e seu orientador e não seria permitido o acesso
a outras pessoas.
Foram realizadas 11 sessões de psicoterapia com a cliente, no CENFOR, uma vez por
As informações foram analisadas de acordo com as sete etapas, descritas por Rogers
não se dispõe a tratar de assuntos de cunho mais pessoal. Muitas vezes ele vai ao consultório
por iniciativa de outra pessoa e não como cliente voluntário. Ele comunica apenas sobre
assuntos exteriores. Nessa fase, não existe desejo de mudança. É comum o cliente dizer frases
do tipo “acho que estou perfeitamente bem” (Rogers, 2012). Nessa fase, o indivíduo não
consegue perceber o movimento espontâneo da própria vida e, por isso, guia-se de acordo
com situações vividas no passado. Diante de uma nova situação, é como se olhassem para o
passado para ver como reagiram, e, com base nessa experiência, agem novamente (Tomaselli,
2010).
segunda fase (Tomaselli, 2010). Nessa fase, os problemas são captados como exteriores ao eu.
O indivíduo não sente responsabilidade pelos problemas existentes em sua vida. É como se
ele fosse apenas levado por circunstâncias e fosse passivo a tudo que acontece, ele se vê como
vítima das situações (Rogers, 2012). Há um leve reconhecimento dos sentimentos, mas não
como algo seu, e sim fora, e num momento distante (Tomaselli, 2010). As contradições
podem ser expressas, mas pouco reconhecidas como contradições. Um exemplo dessa
situação seria a frase “eu quero aprender, mas fico olhando para a página durante uma hora”
(Rogers, 2012).
A terceira fase é caracterizada por uma aceitação muito reduzida dos sentimentos. A
expressa mais livremente como objeto. Os constructos pessoais ainda são rígidos, porém já
são reconhecidos como constructos e não como fatos exteriores. A pessoa consegue refletir
sobre o eu na relação com os outros, mas não consigo mesma (Tomaselli, 2010).
exemplo, quando o cliente fala que espera fazer algo grande e, por outro lado, sente que pode
facilmente fracassar. Outra característica dessa fase é que as opções pessoais, muitas vezes,
são vistas como ineficazes, ou seja, o cliente decide que fará alguma coisa, mas percebe que
seu comportamento não está de acordo com a sua decisão (Rogers, 2012).
fase, o indivíduo toma consciência de sua responsabilidade perante seus problemas pessoais,
mas com alguma hesitação. O sentimento de aceitação por parte do cliente é fundamental,
nesse período. Dá-se uma apreensão das contradições e das incongruências entre a experiência
e o eu. Essas contradições podem ser notadas em frases como “eu não estou vivendo de
acordo com o que sou. Poderia realmente fazer mais do que faço” (Rogers, 2012). A
experiência nesse estágio é menos determinada pelo passado, ela é mais recente ou quase
imediata (Tomaselli, 2010). Não há dúvida de que essa fase, bem como a seguinte, constituem
Começam a “vir à tona”, apesar do receio do indivíduo de vivê-los de forma plena e imediata
(Rogers, 2012; Tomaselli, 2010). O diálogo interior torna-se mais livre, melhora a
comunicação interna e reduz o bloqueio. Os modos como se constrói a experiência são muito
mais maleáveis.
28
desejo de vivê-los, de ser o verdadeiro eu. Como na fala que se segue “a verdade é que não
sou a pessoa agradável e tolerante que tento mostrar. Há coisas que me deixam
profundamente irritado. Não sei por que fingir que não me sinto assim” (Rogers, 2012). Nessa
fase o cliente aceita com maior facilidade a sua própria responsabilidade perante seus
2012; Tomaselli, 2010), fluindo assim para um desenvolvimento integral, o que faz com que
tenda a desaparecer o “eu” como objeto. Outra característica desse estágio é a maleabilidade
desses sentimentos em mudança e uma confiança sólida na sua própria evolução. Segundo
Rogers (2012), essa fase tende a ser “irreversível”. Os sentimentos tanto negativos quanto
positivos são experimentados de forma plena e no presente imediatos e são usados como
Devido à tendência para ser irreversível, na sexta fase, o cliente muitas vezes alcança a
sétima fase sem ajuda do terapeuta. Esse estágio ocorre tanto dentro da relação terapêutica
como fora dela. A comunicação interior é bem clara, com sentimentos e símbolos ajustados e
com termos novos para sentimentos novos. Há uma efetiva escolha de novas maneiras de ser
(Rogers, 2012).
Com o intuito de não parecer redundante não repetimos, no início de cada etapa, a
o cliente se sinta aceito, sem julgamento, nas suas expressões, comportamentos e experiências
para que ocorra uma maleabilidade ainda maior e uma liberdade no fluxo organísmico.
É importante ressaltar também que essas fases têm um objetivo didático e um mesmo
indivíduo pode estar em uma fase em determinadas áreas de significação pessoal e em uma
fase abaixo em outra fase, devido às experiências que estão em profundo desacordo com o
conceito do eu. Além disso, Rogers (2012) argumenta que sua forma de delineamento “é um
processo de avanço irregular, por vezes de recuo, por vezes estático quando abrange uma área
Ana (nome fictício) tem 48 anos, é casada há 28 anos, tem uma filha e uma neta, que
atualmente moram com ela e seu marido. Ela e o marido têm, juntos, uma microempresa. Ela
faz terapia no CENFOR desde 2014, sendo sempre atendida pela ACP. Ana procurou
atendimento, pela primeira vez, no início de 2014 e sua queixa era de sentir-se muito ansiosa
e dificuldade de emagrecer. Ela relatava também que sentia necessidade em agradar os outros
e tinha dificuldade de parar para descansar ou cuidar de si. Ao longo das sessões ela trouxe
também dificuldade de se relacionar com o marido, que, segundo a cliente é um homem muito
fase do processo descrito por Rogers, observadas após avaliar alguns aspectos trazidos pela
cliente como vir à psicoterapia voluntariamente, trazer no seu relato predomínio de expressões
em relação ao não-eu, como “eu não consigo emagrecer”, apresentando construtos rígidos. A
cliente terminou o semestre com aspectos da quarta fase quando conseguiu perceber seus
quilos.
emagrecer dezessete quilos e se sentia mais confiante em sua capacidade de fazer algo por si e
mais orgulhosa de seus novos hábitos. Nesse aspecto, foram observados pelo estagiário,
características na fase quatro e traços da fase cinco pois, a experiência estava menos
31
apresentava características condizentes com uma transição entre a fase dois e a fase três. A
dois era percebida por não existir o sentimento de responsabilidade pessoal pela situação
vivenciada pelo casal. Já a três foi observada quando ela reconheceu as contradições da
experiência afirmando que a situação não tinha mais jeito e, ao mesmo tempo, esperando que
que tinha com a família e o trabalho, onde não tinha o menor reconhecimento de seu marido.
Ela ainda relata vontade de se separar, mas não o faz por não ter condições financeiras. No
final do semestre foi discutido que Ana se encontrava na quarta fase do processo terapêutico,
com alguns traços da fase cinco. Embora, em alguns aspectos, apresentasse características da
condizentes com a fase quatro e já com alguns traços da fase cinco. Essa fase pode ser
observada quando Ana passou a aceitar com maior facilidade a sua própria responsabilidade
relação conjugal e a ansiedade generalizada seriam descritas em fases anteriores dos estágios
acompanhamento, apresentamos até aqui, a evolução do paciente de forma mais geral. Porém,
a partir do próximo capitulo, serão relatadas percepções ocorridas durante esse semestre. A
maneira como foi realizada essa pesquisa é fruto da percepção feita, a partir desse momento,
pela pesquisadora.
32
No segundo semestre foram realizadas 11 sessões terapêuticas com Ana, que serão
apresentadas e contextualizadas dentro dos estágios descritos por Rogers (2012), com o
apresentação não era de trazer aspectos de forma cronológica, e sim, de mostrar as diversas
da fase 2 de Rogers em alguns aspectos de sua vida. Um dos exemplos foi quando ela
argumentou que está com compulsão por doces e teme engordar novamente. Porém, alega que
os doces compensam, de certa forma, sua ansiedade. Porém, sente-se culpada depois. Em um
momento ela disse: Eu tenho consciência de que estou comendo muito, aí eu fico triste
comigo porque eu não dou conta de controlar. Tenho consciência do que está errado e
continuo fazendo errado. Nessa fala podemos perceber que Ana expressa contradições
relacionadas à compulsão/culpa, mas é como se ela não conseguisse tomar uma atitude para
reverter a situação.
Em outro exemplo, a cliente relatou que seu casamento é muito ruim e que o marido
sempre a julga e responsabiliza por tudo o que acontece na casa. Ana também apresenta
características da fase dois quando fala de sua infelicidade no casamento e, ao mesmo tempo,
sua incapacidade de tomar qualquer tipo de atitude. Ela entende essa situação como exterior a
ela, e culpa o marido pela situação atual. Ana relatou que sua filha perguntou o motivo dela
não se separar do marido e ela disse que só não separa porque não tem condição financeira,
A cliente disse que conversou com um amigo e perguntou: “será que eu vou ter que
aguentar isso por muito tempo? ” Ele respondeu que “tudo tem sua hora”. Ela argumentou
que ficou pensando nisso e que quer uma pessoa que cuide dela, alguém que ela possa
conversar. Alguém que queira ouvi-la e não apenas questioná-la o tempo inteiro. Alguém
que torne o convívio mais agradável. Ela disse que não sabe quando isso vai acontecer ou se
vai acontecer. Ela já pensou que seria bom se o marido se apaixonasse por outra pessoa.
Segundo a cliente, essa solução seria mais fácil. Porém ela alega que o marido adora que as
pessoas tenham pena dele, então ela acredita que ele não vai pedir para se separarem.
Nessa fala, percebe-se que de certa forma, ela espera que o marido tome a atitude que
ela quer, mas não tem coragem. É possível perceber uma incongruência nesse ponto. Ela
vivencia um sentimento, uma vontade, mas não consegue modificar seu comportamento e
A fase 3 foi percebida quando Ana relatou como se sente sobrecarregada ao se sentir
responsável pela família e pela casa e citou alguns exemplos de situações em que todos
esperam dela alguma atitude e ela acaba fazendo todas as coisas. Como, quando o pai teve um
ataque cardíaco e o médico alertou que, caso ele fizesse uma cirurgia, a chance de sobreviver
a cirurgia era de menos de 5%. Nesse momento, o pai e a mãe pediram que ela decidisse o que
fazer. A cliente argumentou que a cobrança também é culpa dela por acabar realizando tudo.
Nesse trecho é possível observar que Ana fala de sua percepção sobre sua
responsabilidade, trazendo a reflexão de que ela assume os problemas por vontade própria.
Nesse aspecto ela percebe que pode mudar. Essa percepção é compatível com a fase três, em
que os construtos da cliente ainda são rígidos, mas reconhecidos como construtos e não como
fatos exteriores. Ela consegue refletir que seu comportamento é fruto de sua escolha. Ana
34
disse que faz as coisas pelas pessoas com carinho e se ressente quando não é reconhecida e,
muitas vezes, fica chateada quando as pessoas que não fazem nada são tratadas com muito
Ela ainda relatou alguns comportamentos que ela tem conseguido mudar. Segundo a
cliente, todas as terças e quintas ela ia à casa dos pais, mesmo que isso dificultasse manter a
sua rotina de exercícios, pois sabia que eles a esperavam para uma visita. Ela conseguiu
conversar com a mãe e explicar que, muitas vezes, deixa de fazer algo para ver os pais e se
sente culpada por não realizar seus projetos pessoais. A mãe entendeu e elas combinaram que
ela irá sempre que puder, mas que não será cobrada quando não for. Essa nova postura a tem
deixado muito feliz. Esse aspecto ilustra a preocupação de Ana com suas contradições e
incongruências e, o fato de expor o que sentia e ser aceita a deixou com um sentimento de
ainda são pouco aceitos e, muitas vezes, estão atrelados a sentimentos de vergonha, medo ou
culpa.
Em uma das sessões, Ana relatou a sua insatisfação com o casamento, pois o marido
não a apoia, eles não conversam mais e não conseguem permanecer juntos sem discussões.
Quando refleti que ela estava sem esperança em relação ao casamento ela concordou e disse
que o casamento não é regado e o que não é regado morre. E continuou argumentando que
ela também não tomava atitudes para que o quadro fosse revertido. Ela assumiu que a relação
foi se desgastando e ela não sente mais vontade de mudar isso. Ela ainda completou não é
regado porque não tem concessão. Não tem nada diferente. Para mim, segunda a segunda é a
mesma coisa. Ana relatou que eles não têm relações sexuais há bastante tempo e que o marido
já cobrou dela uma mudança de atitude, nesse aspecto, mas ela argumentou que não consegue
emocionada, que uma vez foi beijá-lo e ele a afastou e disse que tinha agonia de beijo. Ela
Nessa fala, é possível observar uma mudança de postura, encontrada na fase três do
processo terapêutico de Rogers (2012). Ela reconhece que ele não toma atitudes, mas que ela
irmã. Ao chegar ela perguntou ao cunhado se ele precisava de ajuda e ele perguntou se ela não
ia fazer o almoço. Ela foi para a festa direto de uma corrida, estava cansada e não havia
combinado nada. Ela ficou calada e o cunhado ficou mal-humorado e falando de forma
grosseira. Ela fingiu que não entendeu e sai de perto dele. Ela não fez o almoço, mas saiu
mais cedo se sentindo triste. E referiu que é como se ela não pudesse se sentir cansada.
Nesse momento ela refletiu que tem de mudar mais suas atitudes. Que deve olhar mais
para sua vida. Ela entende que se sentia na obrigação de fazer coisas que não eram dela. Ela
disse que quer passar a bola para o verdadeiro dono dela, apesar de não ser fácil. Segundo
Ana, quando você traça uma maneira de levar a vida, é difícil sair dela. Ela argumenta que as
pessoas vivem muito cada um por si e ela não é assim. Ela diz que às vezes ela tenta fazer
diferente e acaba se vendo no mesmo lugar. Nessa fase descrita por Rogers (2012), as opções
A cliente relatou que durante toda a vida os pais dela apoiaram o casamento de Ana e
tiveram muita consideração pelo seu marido. Mas, recentemente, ela conversou com o pai e
ele disse que se tivesse dinheiro, alugaria um apartamento para que a filha vivesse e a ajudaria
com sua independência. Ana contou isso ao marido que ficou muito nervoso. Ana argumentou
com o marido: se coloque no lugar do meu pai. Você gostaria de ver sua filha triste? Desse
jeito não dá mais. Refletimos que ela tem falado o que sente, tem se posicionado, mas não vê
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nenhuma aceitação da situação. Ela disse que não há, por parte dele, nenhum tipo de resposta.
Nessa fala, é possível perceber características da fase três, com traços da quatro,
quando ela diz ao marido que não está feliz. Até este momento, ela não havia expressado
verbalmente o fato de estar triste com a situação conjugal. Ela expressa o sentimento no
determinada pela estrutura vista no passado. O problema, agora, é colocado de forma objetiva.
em sua vida. Desde que começou a terapia, Ana iniciou tratamento com nutricionista e, há
seis meses, filiou-se a um grupo de corredores de rua. Ela corre todos os dias e conseguiu
perder 22 quilos. Ela iniciou o semestre com a meta de correr a meia maratona de novembro e
que já conseguia correr 15 quilômetros. Ela relatou que o seu médico a liberou para que ela
A cliente, em sua fala, apresenta características condizentes com a fase quatro, quando
fala de suas conquistas em relação à saúde e ao corpo. Em seu discurso é possível perceber os
não conseguir se manter assim por muito tempo. Nesse aspecto, nota-se que a cliente se
preocupa diante das contradições e incongruências entre a experiência e o eu. Ana relata que
conseguiu conquistar muitas coisas, mas, ao mesmo tempo, tem medo de engordar e retomar
antigos hábitos. Ela expressa seu orgulho de ter encontrado uma maneira de emagrecer e se
sente feliz com ela mesma. Ela relatou se sentir motivada por entender que a mudança
depende só dela e, concomitantemente, alega que a compulsão é um problema que ela ainda
Em uma das últimas sessões Ana referiu que tem pensado em tomar uma atitude bem
drástica e falar com o marido que cada um deve cuidar de sua vida. E, apesar de querer isso,
ela alega que ainda tem um lado família que está muito preso. Ela acha o marido muito
dependente e ela se preocupa com isso. Nesse momento é possível perceber uma mudança na
forma de pensar, Ana procura tomar uma atitude e sair da postura passiva, que tem sido
A fase 5 foi percebida em alguns momentos como quando Ana trouxe sua preocupação
com a meia maratona e seu medo de falhar. Refletimos sobre a importância dessa corrida para
ela. Ela relatou que é muito importante porque é uma meta que ela estabeleceu e que é algo
que só depende de sua disciplina e força de vontade. Para ela, não conseguir correr na meia
maratona seria uma grande decepção, pois ela acreditava que se isso acontecesse é porque ela
falhou em algum aspecto e essa ideia a mobilizava e preocupava. Ela assume, nesse aspecto, a
responsabilidade total pelo seu desempenho e por seus resultados. Com isso é possível
perceber uma evolução ao estágio cinco, quando os sentimentos são expressos livremente e
Na última sessão, Ana referiu estar muito feliz por ter conseguido correr a meia
maratona. Ela disse que chegou muito cansada, mas sentiu que valeu a pena. Ela foi muito
elogiada, no grupo de corredores, pois, está correndo com eles há apenas seis meses e
Ana percebeu que as pessoas da família não valorizam as suas conquistas. Ela refletiu que
essa etapa ela venceu. Ela contou que um amigo disse a ela que ela conquistou algo muito
difícil e que se ela conquistou isso ela pode conquistar qualquer coisa na vida. Ela concordou
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e disse que realmente conquistou algo grande. Apesar de ter muitas limitações, como a
financeira, a familiar, em que ela se sente constantemente cobrada, a conjugal, que é muito
complicada.
Ana já se inscreveu para a corrida de São Silvestre e disse que já vai focar nesta outra
meta. Segundo a cliente, se você não tiver foco, você não consegue conquistar nada. Ela
refletiu que tem que saber que é capaz de realizar algo, já que não consegue melhorar o
trabalho ou o casamento. Ela disse que na verdade sempre soube que daria conta, mas
precisava provar para ela mesma. Ela alegou que venceu por mérito próprio. Refleti que foi
um presente dela para ela e ela disse que sim, que foi um presente muito especial.
gostaríamos de ressaltar, mais uma vez, o que já foi discutido na metodologia. As fases, ou
estágios, que Rogers descreve (2012 tem apenas fins didáticos. Portanto, uma pessoa pode
parece ter mais escolhas e utiliza mais recursos para o seu desenvolvimento, como, por
exemplo, ao falar sobre sua rotina de exercícios. Porém, em outros aspectos, ela tem mais
dificuldade de lidar e apresenta uma atitude mais passiva, o que pode ser observado em seus
discussão.
mesmos por uma mulher e, ao mesmo tempo, como crenças e valores que carregamos durante
Diante do que foi exposto, durante todo o processo terapêutico de Ana, observamos
sentimento, diante disso, a mudança passa a ser consequência. Essa visão mais ampla de si
sobre construtos rígidos, compreendidos como fatos exteriores, o cliente caminha para uma
construídas de forma mais maleável, construções essas que são revistas e atualizadas a cada
nova experiência.
início de 2014, foi possível observar mudanças relacionadas a vários aspectos de sua vida. A
queixa inicial, por exemplo, estava relacionada à ansiedade e ao peso, não aos problemas
relacionados ao casamento. Esse assunto foi discutido após algumas sessões, como uma
situação ruim e irreversível, sendo apresentado como uma construção rígida em que a cliente
À medida que a terapia foi evoluindo, e Ana se sentia acolhida e aceita e podia
expressar seus sentimentos livremente, sem medo de julgamento ou cobrança, o seu discurso
compreendendo que também havia contribuído para que a situação chegasse ao ponto que
chegou. Em relação ao casamento, por exemplo, o interessante é que ela conseguiu perceber o
seu verdadeiro sentimento sem sentir culpa, e sim refletindo que o contexto atual foi se
estruturando sobre falta de iniciativa dos dois lados. Compreender o que se está
verdadeiramente sentindo e aceitar tal sentimento, ajudaram Ana a modificar sua visão
relacionada ao contexto. Ela deixou de ser uma observadora passiva da situação e começou a
modificar o seu comportamento e ter uma postura mais ativa. Ela passou a falar mais sobre
seus sentimentos e a adotar uma postura mais dinâmica e assertiva. No início da terapia, ela
citava o casamento como uma situação que não era agradável, porém não era passível de
mudança. Uma percepção diferente sobre o relacionamento de Ana pode ser observada
quando ela começa a encarar os fatos antigos com um olhar diferente e argumenta sobre a
relacionados à sua vida conjugal. À medida em que ela foi relatando e entendendo os seus
verdadeiros sentimentos, ela passou a expressar mais suas frustações e seus desejos. Em sua
fala, é possível perceber a sua dificuldade em modificar esse contexto, mas, a percepção de
que tem escolhas tem sido importante e a tem ajudado a compreender as suas próprias atitudes
dificuldade de perda de peso, compreendendo que o problema estava relacionado aos seus
metas e cumprir com uma rotina diária de escolhas e nova rotina Ana conseguiu atingir seus
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aprimorando suas qualidades. O insight está relacionado, não apenas à percepção, mas sim a
que permite ao indivíduo uma nova postura frente o mundo e uma nova maneira de ser e de se
ver.
incompreendida frente à expectativa de sua família, que sempre espera que ela resolva todo
à sua família. Ela argumenta que, desde criança, sempre se mostrou prestativa e a família
aprendeu a confiar nela e a contar com sua ajuda e ela, com isso, sempre se empenhou para
satisfazê-los, independentemente de sua vontade. De acordo com Santos (2004), o self que vai
se elaborando sob tais condições estará afastado da realidade global da pessoa. A base
Em alguns pontos, por exemplo, relacionados à sua saúde, em que Ana pode resolver
grande. Porém, nota-se uma certa dificuldade, que vem sendo trabalhada, referente aos
Neste trabalho foi apresentado um estudo de caso de Ana, que iniciou a terapia no
algumas mudanças de comportamento que ocorreram após a cliente observar suas próprias
incongruências.
Muitos insights ocorreram durante toda a terapia, levando sempre em conta o tempo e
o momento da cliente, o que não poderia ser diferente. O terapeuta rogeriano trabalha como
processo. Ana conseguiu perceber muitas incongruências por acatar desejos e vontades de
aspectos.
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Considerações Finais
descoberta de uma nova ferramenta de atuação, ou seja, o indivíduo compreende que existem
reconhecimento de suas contradições e bloqueios, para uma visão mais plena e integral de si,
aceitando-se inteiramente.
fixa, percebida como fatores externos, para um desenvolvimento mais elaborado, por meio de
número reduzido de sessões, que foram realizadas dentro de um período de quatro meses, com
um único sujeito. Levando-se em conta que, por se tratar de uma abordagem em que o cliente
Outra limitação está relacionada ao fato de se ter, na literatura, poucos estudos de caso
Referências
Almeida, L.R. (2009) Consideração positiva incondicional no sistema teórico de Carl Rogers.
Araújo, E. S. C.; Vieira, V.M.O (2013). Práticas docentes na saúde: contribuições para uma
na Pessoa.Ed. Unisul.
Cunha, A.G. (1991). Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa. Rio de
Universitária UNISUL.
46
Holanda, A.F. (1993) Martin Buber e Carl Rogers: abordagem centrada na pessoa e filosofia
Holanda, A.F. (1994) Repensando das fases do pensamento de Rogers. VII Encontro latino
Paulo: EPU
Schultz, D. P. & Schultz, S. E. (1991). História da psicologia Moderna. São Paulo: Ed.
Cultrix.
Wood, J.K (1983). Terapia de grupo centrada na pessoa.In C. Rogers, J.K. Wood, M.M.
Anexos
PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP
DADOS DO PROJETO DE PESQUISA
DADOS DO PARECER
Apresentação do Projeto:
Trata-se de segunda versão de um estudo de caso, a ser realizado como projeto de monografia, no
curso de Psicologia, numa pesquisa qualitativa, que, apresenta as respostas às pendências solicitadas
na primeira análise.
Objetivo da Pesquisa:
Os objetivos, já mencionados na primeira versão, permanecem como:
objetivo primário da pesquisa consiste em "Analisar a importância do insight na evolução do sujeito no
processo de congruência e incongruência em psicoterapia, na Abordagem Centrada na Pessoa - ACP".
Os objetivos secundários, "- Caracterizar a ACP enquanto raízes epistemológicas e processo evolutivo;
Caracterizar insight e sua importância na perspectiva da ACP; -
Caracterizar congruência e incongruência e sua importância na perspectiva da ACP; - Ilustrar, a partir
de um caso clínico, a relação do insight no processo terapêutico".
desconfortáveis ou que gerem conflitos internos. Caso seja necessário,mesmo depois da pesquisa, ele
poderá continuar no processo terapêutico com outro aluno em formação, neste mesmo espaço
psicoterápico".
E quanto aos benefícios, estão clarificados que "são os inerentes ao próprio tratamento terapêutico. Isto
é, o tratamento poderá ajudá-lo a se conhecer melhor e ser capaz de lidar com seus problemas com maior
autonomia e desenvoltura. Além disso, sua participação poderá ajudar no maior conhecimento sobre a
importância do papel insight na evolução do tratamento psicoterápico, de forma que o conhecimento que
será construído a partir desta pesquisa possa auxiliar outros estudantes ou profissionais de psicologia,
onde pesquisador se compromete a divulgar os resultados obtidos".
Entende-se a relevância da pesquisa, uma vez que a mesma pretende contribuir para o estudo de si
mesmo, o que certamente poderá enriquecer o trabalho desenvolvido num processo terapêutico, algo
que envolve a complexidade do indivíduo.
Nessa versão do projeto, todos os documentos relativos à pesquisa estão em conformidade com a
Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde (CNS).
Recomendações:
Recomenda-se aos pesquisadores que sempre estejam atentos às normas éticas relativas à pesquisa
envolvendo seres humanos, ressaltando a necessidade de desenvolvimento da pesquisa, de acordo com o
protocolo avaliado e aprovado, bem como, atenção às diretrizes éticas nacionais quanto aos incisos XI.1 e
XI.2 da Resolução nº 466/12 CNS/MS concernentes às responsabilidades do pesquisador no
desenvolvimento do projeto:
XI.1 - A responsabilidade do pesquisador é indelegável e indeclinável e compreende os aspectos éticos e
legais.
XI.2 - Cabe ao pesquisador:
Página 02 de
Continuação do Parecer: 1.118.498
Aprovado
Necessita Apreciação da CONEP:
Não
Considerações Finais a critério do CEP:
Protocolo previamente avaliado por este CEP, com parecer N° 1.105.043/2015, tendo sido homologado
na 9ª Reunião Ordinária do CEP-UniCEUB, em 12 de junho de 2015.
Assinado por:
Marilia de Queiroz Dias Jacome
(Coordenador)
TCLE
ACP.
Este documento que você está lendo é chamado de Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE). Ele contém explicações sobre o estudo que você está sendo convidado
a participar.
Antes de decidir se deseja participar (de livre e espontânea vontade) você deverá ler e
compreender todo o conteúdo. Ao final, caso decida participar, você será solicitado a
Antes de assinar faça perguntas sobre tudo o que não tiver entendido bem. A estagiária de
Psicologia deste estudo responderá às suas perguntas a qualquer momento (antes, durante e
após o estudo).
Procedimentos do estudo
Riscos e benefícios
Ou seja, por se tratar de um processo terapêutico, você poderá entrar em contato com
assuntos que sejam desconfortáveis ou que gerem conflitos internos. Caso seja necessário,
mesmo depois da pesquisa, você poderá continuar no processo terapêutico com outro aluno
Caso esse procedimento possa gerar algum tipo de constrangimento você não precisa
realizá-lo.
poderá ajudá-lo a se conhecer melhor e ser capaz de lidar com seus problemas com maior
psicoterápico, de forma que o conhecimento que será construído a partir desta pesquisa
Você poderá se retirar desta pesquisa a qualquer momento, bastando para isso entrar em
humanos você não receberá nenhum tipo de compensação financeira pela sua participação
neste estudo.
Confidencialidade
Seus dados serão manuseados somente pela pesquisadora e seu orientador e não será
O material com as sua informações (fitas, entrevistas etc) ficará guardado sob a
entretanto, ele mostrará apenas os resultados obtidos como um todo, sem revelar seu nome,
instituição a qual pertence ou qualquer informação que esteja relacionada com sua
privacidade.
após receber uma explicação completa dos objetivos do estudo e dos procedimentos
______________________________________________________
Participante
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Email: [email protected]
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Email: [email protected]