ARTIGO A Escola e A Exclução Dubet
ARTIGO A Escola e A Exclução Dubet
ARTIGO A Escola e A Exclução Dubet
FRANÇOIS DUBET
École des Hautes Études en Sciences Sociales – Cadis
Université Victor Segalen 2 – Bordeaux
[email protected]
RESUMO
Para abordar com serenidade as relações entre educação e exclusão importa primeiro distin-
guir o que depende da exclusão social e de seus efeitos na escola, da exclusão escolar propri-
amente dita. A situação atual é, sem dúvida, definida pelo reforço dos processos sociais de
exclusão com o aumento das desigualdades e do desemprego. Entretanto, o fenômeno mais
marcante e mais paradoxal é o desenvolvimento da exclusão escolar propriamente dita, como
conseqüência de uma vontade de interrogação inigualada. Quanto mais a escola intensifica o
seu raio de ação, mais ela exclui, apesar das políticas que visam a atenuar esse fenômeno.
Nesse contexto, a exclusão não é apenas uma categoria do sistema e dos processos globais,
é também uma das dimensões da experiência escolar dos alunos.
EDUCAÇÃO – PROCESSO DE INTERAÇÃO SOCIAL – EXCLUSÃO SOCIAL
ABSTRACT
SCHOOLS AND EXCLUSION. In order to treat in an unbiased way the relationship between
education and exclusion we first of all have to distinguish between what specifically concerns
social exclusion and its resulting effects on school life, and exclusion strictly speaking at school.
The present day situation is undoubtedly by the social process of exclusion being reinforced
by the rise in inequalities due to unemployment. However the most striking and paradoxical
phenomenon is the development of exclusion strictly speaking as a consequence of a
determined unprecedented questioning of schools. The more schools develop their
ascendancy the more they exclude, in spite of policies which try to attenuate the phenomenon.
In this context exclusion is not simply a category of the system and global processes, but also
one of the dimensions of pupils’ experience of schooling.
EDUCATION – INTERACTION PROCESS – SOCIAL EXCLUSION
Este artigo foi publicado originalmente em francês na revista Éducation et Sociétés, n.5, p.43-57,
2000/2001.
*
Escolas de nível superior de grande prestígio na França, cujo acesso é feito por exame vesti-
bular (N. da E.).
Produção e reprodução
Os processos escolares
**
Zonas de periferia urbana nas quais se concentram as populações com características de
exclusão (N. da E.).
A escola questionada
Dois grandes temas podem ser extraídos do conjunto dessas pesquisas, sem
que se pretenda evidentemente esgotar sua riqueza.
O primeiro consiste em evidenciar a diversidade das respostas oferecidas
pela escola aos alunos de bairros “difíceis”. Para além da homogeneidade da forma
escolar e do caráter às vezes ritualista dos projetos pedagógicos, percebe-se que os
professores e os estabelecimentos oferecem, na realidade, quadros educativos bas-
tante diversos. Por exemplo, certas escolas se deixam invadir pela violência dos
***
Departamentos na França são grandes regiões administrativas que correspondem grosso
modo aos estados, sem porém ter as prerrogativas que estes possuem nos regimes federa-
tivos (N. da E.).
A EXPERIÊNCIA DA EXCLUSÃO
O sujeito ameaçado
O problema da exclusão escolar não se limita ao núcleo dos alunos com gran-
de dificuldade. Pode-se considerar que ele provoca um efeito de halo sobre o con-
junto da experiência escolar na medida em que aparece como uma ameaça difusa
de exclusão relativa e revela uma contradição essencial da escola quanto ao lugar
que é reservado ao sujeito e a suas responsabilidades (Dubet, 1991; Dubet,
Martuccelli, 1996). De fato, o problema da exclusão não é apenas saber, de manei-
ra mais ou menos incisiva, quem é excluído, mas de conhecer também os proces-
sos e os efeitos dessa exclusão sobre os atores.
A escola democrática de massa é definida por uma tensão normativa funda-
mental, tensão que se transforma em desafio pessoal para os indivíduos, que não
conseguem “ganhar” numa competição que postula a igualdade de todos e procura
estabelecer condições.
Por um lado, dentro de seus próprios princípios e acompanhando a massi-
ficação, a escola afirma a igualdade de todos. Ela não afirma apenas a igualdade de
oportunidades, mas a igualdade de talentos e potencialidades. A ideologia do dom
recuou sensivelmente e todas as crianças têm, a priori, o mesmo valor, mesmo
admitindo que as condições sociais podem afetar o reconhecimento de suas quali-
dades e o seu desenvolvimento. A massificação reforçou essa crença, que é sobre-
tudo um postulado étnico, cada um tendo o direito, “em princípio”, de aspirar a
todas as ambições escolares. Esse princípio de igual valor e de igual dignidade dos
indivíduos, de igual respeito que lhes é devido, está no centro de uma ética demo-
crática reforçada pelas mutações de representações da criança, que fazem dela um
indivíduo, um sujeito, e não apenas um aluno ou ser ainda incompleto. É importan-
te ressaltar que essa representação do sujeito tem algo de “heróico”, de difícil e de
exigente, pois ela supõe que cada um seja “soberano”, dono de si mesmo, respon-
sável por uma vida que não pode mais ser totalmente reduzida a um destino. O
sujeito da modernidade é o autor de si mesmo, tanto de suas virtudes como de
seus vícios.
Por outro lado, não poderia ser diferente, a escola é meritocrática. Ela orde-
na, hierarquiza, classifica os indivíduos em função de seus méritos, postulando em
revanche que esses indivíduos são iguais. Os indivíduos devem portanto perceber-
Retraimento
O conflito
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