Celtismo
Celtismo
Celtismo
IntroduÇão
[É extensão das Atas do III Congresso Internacional Os Celtas da Europa Atlântica. 15, 16, 13 de abril de 2011. Pazo dá Cultura.
Naróm]. Este artigo soma-se à lei aprovada por unanimidade pelo parlamento galego no dia 11 de março de 2014 com o
nome de Valentín Paz-Andrade capacitando à Xunta de Galiza para incorporar progressivamente a língua portuguesa no sis-
tema educativo galego como uma matéria opcional com a finalidade de que nossa comunidade, aproveite como uma vanta-
gem competitiva sua proximidade a um bloco lingüístico conformado por 254 milhões de falantes dos cinco continentes.
* Andrés Pena Graña/André Pena Granha, Dr. em Arqueologia e Historia Antiga, Historiador e Arqueólogo do Concello de
Naróm e Decano do Instituto Galego de Estudos Celtas.
castrosCOLOR_catedra21 08/10/2014 16:24 Página 92
Cruzando o mar
da pela população implicada, pode-o fazer sem problemas a Lingüística (Ballester, Losada
Badía, Moralejo, J.T. Coch). Esta -dinamitando os anteriores modelos- seria a “Grande
Migração dos Celtas da Europa”, encontrando-se o ancestral berço no fisterra atlântico de
Ibéria (Alinei; Ballester; Pena; J. T. Coch; Cunliffe): O modelo de invasão elaborado por
esplendentes linguistas desde o século XIX invalidado e, Europa Central, nó do enredo,
convertida, quixotesco oximoro, em periferia!
Retornaram, depois de dez mil anos de forçada estância, navegando –melhor que
seguindo a banquisa–, sem dúvida, falando já Celta Antigo Comum [Losada (1999, 201-
246) Moralejo (2011, 338); J. T. Koch (2009); Martíns (2008), Ballester (2012)], com o
germen de comuns instituições [Pena 2004 m, 433-507], possivelmente da Galiza a
Irlanda passando depois a Grã-Bretanha e ao continente. As lendas irlandesas fazem-se
eco da chegada dos Gaels por mar desde Brigantia (A Corunha), a Irlanda fundando o pri-
meiro castro Dun na Gall, ‘Dónegal’ o brigantino Amergin –depois de pôr em cena e pac-
tuar (Brasseur) com as três deusas soberanas, Bamba, Flodha e Eriu–, o Celta conceito da
Realeza Sagrada-, a legal tomada de posse [Pena g, 33-80; o, 117- 160] da Ilha.
menos altamente verossímil” (1999, 246), nuns anos dantes de que J. T. Coch (20091) o
pudesse ler como língua celta “Tartessian” –disse– “is more than a little bit Celtic”.
Avindo o elemento principal comum Kel-/Gel-; Kal-/Gal-, o Galaico com o Gaé-
lico e o Céltico, “a título de curiosidade”, revelou Moralejo “que Callaecia teria seus pró-
ximos etimológicos em latín callus ‘calo” e collis ‘colina, no (pré-)grego cólofon… e [que]
também poderia entrar na opção etimológica *kel-, seriam algo bem como os ‘altivos’” .
Ainda que sub vocabulo celt-, recentemente Faileyev (15), obviando o primeiro de
todos, Julio César, assinalou entre outros “attempts to reconcile the linguistic pré-history
of Ketoi and Galatai”, o Galo com o Celta o de Kim McCone, “Greek Κελτός and Γαλάτης
[2006, 94–111], sustém Xaverio Ballester –concordando de forma coerente com o por ele
já exposto no ano 2002–, “sobre o etnônimo dos gálatas (e dos celtas)” (307-314):
“Some of the traditional explanations for the name of the Celtae have no
typological paralell at all. The old name of the Celtae could be well pre-
served in the ethnonym Galatai, wich could be explained as *gala- ‘end,
limit, border’ and *tai ‘those, they’, with the general meaning of ‘the bor-
der people’ a common kind of ethnonym that suits the geographical situa-
tion of old Celts and their historical background” (307)
A real probe da mão do segundo mais longo e legível epígrafe no mais antigo sig-
nário celta da Europa, o tartéssico, é um belo texto cinzelado sobre o carnarion, “pétrea
estela de arenisca”, chamada inda hoje carneiro em galegoportugês, que coroou um desa-
parecido laco, “túmulo”, em Fonte Velha - dando conta, segundo a lectio de J. T. Coch2 e
invocando aos Lugoves da Gente Neria do Fisterra Atlântico!, dum nobre do Bronze Final
chamado Taśiioono, herói Nerio, da Galiza ou Celtia, psvlm., Galtia/ Kaltia3, que em um
dia jazeu baixo ele, acabando seu périplo no sul, na Laccobriga conia.
Esquerda, armas: espadas de bronze de língua de carpa, pontas de lança, etc., encontradas na Ria de
Huelva pela draga Fita, provavelmente segundo as análises de procedência galaica. Direita, estela tar-
tésica do mais antigo arai- [a.i. aire] “nobre” e isiingo [celta excingo “herói”], celta europeu com nome
próprio conhecido: o galaico nerio Tásiono
2. Comentários e lectio de J. T. Coch (ex Jane Aaron): ‘invoking the Lugh-deities of the Neri people, for the nobleman the tomb
is made; he remains unmoving within; invoking all the heroes, the grave of Tasiioonos has received him’. The god corre-
sponding to the Irish Lugh, king of the Tuatha Dé Danann, was sometimes invoked as a group, written Lucubo in Galicia
and Lugouibus in Celtiberia, Tartessian lokooboo. In Roman times the Neri were a group in Galicia its root is the same as
luigh ‘lie down’, Old Irish laigid, with several further examples in the Tartessian inscriptions: lakaatii ‘lies down’, lakeen-
tii and lakiintii ‘they lie down’, and ro.laHaa ‘I have lain down’. For kaaki compare. Welsh ner ‘lord, hero’ shows that the
name is Celtic; too is do ‘to’. For araiui compare aire ‘lord, nobleman’. Kalite occurs in the ancient Celtic inscriptions of
northern Italy, meaning apparently ‘built a funerary monument’. Likewise, Cisalpine Gaulish lokan means ‘grave’; gach
‘every’, cách ‘everyone’; for is´iinkooloboo see Gaulish Exkingolatos ‘Heroic man’. The compound verb te’-e.ro-baare
‘[this grave] has received him/it’ is a recurrent formula; it corresponds to beir ‘carry’ and the compound tabhair ‘give’, Old
Irish d-a.beir, earlier t-e.beir ‘gives it’. The preverb ro is one of the most strikingly Celtic features of Tartessian, function-
ing just like Old Irish ro as part of past perfect verbs, hence ‘has received’. With teasiioonii compare the pre-Roman British
king’s name Tasciovanos, the first element of which corresponds to the common man’s name Tadhg.
3. Comentario do autor deste artigo, à lectio e comentários de J. T. Coch Lokooboo (dat. pl) os Lugoves –encarnando segundo
o penso possivelmente os três passos do epíteto Lugh, “Brilhante, Luminoso” do pancéltico deus solar (continúa nota →).
castrosCOLOR_catedra21 08/10/2014 16:24 Página 96
Tres estelas galaicas com alusão ao berço Celta [...] NIIRABOO TOO ARAIAI [AIRE] KAALTEE [...] //
ISIINCO psv. “excingo, heroe”// APANA AMBOLI F// LATRON/VS . CELT/IATI.F. / H. S. E “Disposto [para
o combate] filho de Celtiato, aquí jáz” psvlm. OIr. [McCone] Látar ‘disposition’ (n. ou-stem < *Lāθ(e)r
< *Lāθ(e)rom […] [+ suf. lat. –us *Lāθ(e)ro-nus]: acc. sg. 3x (Ml. nom. sg. 7x), dat. Sg. Lathur (Ml. dat.
sg. Lathar 1x). p 6 (11)
(→ continúa nota) politécnico (Pena). No primeiro passo brigão, juvenil o vemos guerreiro e pendencieiro; No segundo passo,
o vemos solsticial, decadente e psychopompos condutor, tomando pelo caminho o atributo do cão [o Cú chulainn irlandês,
suplido no presente cristão por São Roque e seu doblete Sebastião], assume, segundo o penso na Gália o epíteto Ogmios,
“Caminho”, em Irlanda o epíteto Setanta, “Anda Caminho, Caminhante”, em Ibéria o epíteto Anderio “Andador (pelo
Caminho escrito em o Céu, pelo Caminho de Santiago, ou o Camino Heracleo (Pena...). Em Galiza (Tovar 1982. 27) soma
ao inerente brilho Lug, em Outeiro de Rei (Lugo), o juvenil epíteto Argo /Arco (c/g) “Campeão” em Lucoubu / Arqiuieni /
Silonius / Silo / ex voto; em Monforte de Lemos (Lugo) em [Lucu]bu Arqienis, e em Sober (Lugo) em Lucubo Arquienobo.
O talante mercurial do terceiro passo, como convém ao funerário epígrafe de teasiioono, converteu aos Lugoues, em ‘tute-
lary gods of shoemakers (Lewis-Pedersen C. G., 12) pagãos, e deu pé, se reservando São Pedro a função psychopompa no
presente cristão, que em Galiza se lhes diga aos nenos: “Vaite levar Pedro Chosco” pelo sapateiro que lhes pendura socos
nas pálpebras para que durmam. // Na cláusula “too aŕaiai kaaltee”, lê J. T. Coch** Kalite com ‘i’ epentética, “occurs in
the ancient Celtic inscriptions of northern Italy, meaning apparently ‘built a funerary monument’”. Mas poderia ser mais
apropriada a lectio Kaaltee, “Kaltia o kalitia” atendendo ao princípio de procedência nos Celtici Nerii.
4. AIRES /MILITES, BENE NATI Os membros da classe social proprietária que goza de todos os direitos civis dentro da sua
Treba ou Terra entre os Celtas da Europa Atlântica chamam-se aires, ao menos desde os tempos da Idade do Bronze do
araiui Nerio Tássionos. Há duas categorias de Aires: a grande Nobreza, milites, bene nati, chamados em Irlanda flaths, (lat.
med. miles); e os bó aire.
castrosCOLOR_catedra21 08/10/2014 16:24 Página 97
“Um ollav, epíteto do episcopus irlandês, a.irl. ollam “doutor [da Igreja],
bispo”, é muitas coisas para um rei ou príncipe, mas eu diria, que é, sobre-
tudo, a sombra dum sacerdote de alto nível pagão ou druida. Quando Irlanda
[a começos do século VI] algo mais tarde que o 500 d. C. decidiu conside-
rar-se a si mesma como um país plenamente cristão, emergiu uma situação
farto estranha. A ordem dos druidas tinha sido à base da sociedade irlande-
sa, e essa sociedade já não podia prescindir dos druidas, do mesmo modo
que hoje não podemos revogar a administração pública duma penada. Fez-
Exacta situação da Diocesis de Britonia, na Divisio Teodomiri [Concilium Lucensis anno 569]. Lugo
,agora metropolitana, Ourense, Astorga, Iria, Tui e Britonia faziam parte das diócesis da Gallaecia
Sueva, reorganizada pelos bispos reunidos por ordem rei Teodomiro em dito concilio lucense [Não
figuram no mapa as outras do momento: Braga, Oporto, Lamego, Coimbra, Viseu, Dumio, Egitania.
5. In The Irish Bardic Poet, Dublin (1967) 7; re-ed. Dolmen Press 1985, Given as the Statutory Public Lecture of the Celtic
School of the Dublin Institute for Advanced Studies, 20 March 1958.
castrosCOLOR_catedra21 08/10/2014 16:24 Página 98
gens, acham que ele tem o máximo poder para atingir o dinheiro e para o comércio. De
Bello Gallico L VI, 17.17
Na Civilização Celta, a Fé e o Sentimento religioso envolvem tudo como densa brê-
tema, condicionando o sistema legal, social e as instituições. Pesquisemos apenas uma fa-
cies ilustrando a modo de exemplo a figura do divino hospedeiro visitando, mais uma vez,
no Fisterra (Finisterre) Atlântico, os curiosos epítetos do liminar deus do destino da alma.
7. Deum maxime Mercurium colunt. Huius sunt plurima simulacra, hunc omnium inventorem artium ferunt, hunc viarum atque
itinerum ducem, hunc ad quaestus pecuniae mercaturasque habere vim maximam arbitrantur. Caesar De Bello Gallico L
VI, 17.1
castrosCOLOR_catedra21 08/10/2014 16:24 Página 100
O epíteto do deus dos mortos ie. *Bhrgh [...] significando provavelmente 'Alto, Elevado, Forte' assina-
lava na área indo-européia a presença dum deus da fronteira entre a vida e a morte do passado
pagão, precedente do São Pedro Cristão” . A. Pena & A. Erias [AB 2006]
Phychopompos agentes
Conduzidas seguindo o Caminho do Sol as benditas almas dos defuntos por psy-
chopompos Lares Viales, chegam às Águas Santas, às Areias do Paraiso das praias atlân-
ticas a embarcar ao Além concebido como Ilha –e concebido também em termos de
Geografia Sagrada como um formoso lugar baixo terra–. Quase qualquer ilha ou arquipé-
lago - aparecendo e desaparecendo perante os santos celtas atores de maravilhosas viagens
por mar [navigationes, imrama, echtrae], São Brandão, São Amaro; São Maló,
Todas as ilhas atlânticas, paraísos naturais, são o Além. Fronte a outra ilha, num
muro do Lugar da Igreja em Santo André de Lourição, noutro tempo, dominante sobre
Tambo [Ilha sita na outra extrema, fronte a Combarro], ria de Ponte Vedra, apareceu junto
a três aras, achadas em construções de dito Lugar da Igrexa, decoradas com suásticas –
uma delas anepígrafe e consagradas as outras ao Deo Vestio Alonieco, o baixo relevo de
Lourição, do Museu de Ponte Vedra. Obviando o comum sentido em sociolinguística da
cláusula “recebeu-o com os braços abertos”, merece algo mais que uma reflexão a quan-
to mais que ligeira análise do epíteto da mencionada divindade que sem sustem fez
Alfayé9:
Vestio alonieco
“Hospedeiro alimentador (briugú biatach)”
Alon-ieco, possivelmente de *al (2), *h ₂el- (V.); RB.: Pokorny 26 (50/50), envol-
vendo no indoeuropeu (ind., iran., phryg, dac., gr., ital., celt., germ., toc.) o conceito de
alimentar, engordar, nutrir. al-an* “nutrem-se, crescem” (Lehmann A113); got. al-jan*
(1) 3, sw. V. (1), “engordar", (Lehmann A125); W.: germ. *alan, st. V., sich nähren
“nutrir”, Pk 26; ae. al-an, st. V. (6), nähren, hervorbringen; “nutrir, abastecer”] as almas
(A. Pena & H. Rodal).
Considerando os precedentes parágrafos a imagem e as aras votadas, não como crê
a levantina Alfayé em diversos lugares e contextos, mas no Atlântico, frente à ilha de
Tambo, no que os galegos batizam lugar, em Lugar da Igreja, Lourição, Deo, “a Deus”,
em dat. de sg., seguido do epíteto temático Vestio Alonieco, por conceber-se Deus nos pri-
meiros tempos do cristianismo, numa Provincia Gallaeciae cristã dende o 314, receben-
do as almas peregrinas no Céu, como Vestio Alonieco, “Hospedeiro do Além”, com os
braços abertos, exigindo claro está, ainda que isto se soslaie, o material, datável nas pri-
meiras décadas do S. IV, uma interpretatio celto-cristiã [omito lembrar que há uns anos
castrosCOLOR_catedra21 08/10/2014 16:24 Página 105
olhei no Museu Catedralício de Mondonhedo com cornos -anos depois já não os voltei
ver –a pomba da Santíssima Trindade]–.
Ante os sólidos argumentos aqui expostos, examinado o conjunto com algo mais
que fortuito concerto, restaurada à função da imagem, sendo o correlato entre a epigrafa-
da ara que [na interpretatio dos primeiros anos do cristianismo] invoca como provedor a
Deus, Nosso Senhor, Hospedeiro do Além e o baixo relevo que o representa recebendo
com cornos, braços abertos, e polegares virados para abaixo, evidente, fique a insustentá-
vel hesitação da Alfayé desvelada e com o gato quem queira gato mas que não pense que
lhe dão lebre. (A. Pena & H. Rodal).
Casa habitação da antiga Gallaecia [a.i. “midchúairt”], utilizada para o banquete celta.
Oppidum de Briteiros. Portugal.
castrosCOLOR_catedra21 08/10/2014 16:24 Página 106
10 .‘A provisão de hospitalidade foi uma das grandes funções reais da Europa arcaica, assim na Odisea, no recibimento de
Telémaco no pazo de Nestor em Pilos vemos como esta função se fazia seguindo um estricto código moral. O nobre Brigú
Bucher gabava-se de que “o lume nunca esmorecera baixo o seu caldeiro desde que estabelecera a sua casa e seu compor-
tamento foi loubado pelo rei Cathaer: ‘De certo foches, o Buchet, hospedeiro por dares almoçar os companheiros (brugaid
bíata dám), eche uma doa o teu valor (gal), a tua xenerosidade (gart) o teu esforço (gaisced), o teu sorriso de bem-vinda
(fáilte) a cada um no teu grande salão de bebida (midchúairt)” g, 42-44; p, 134-148.
11. O Tecosca Cormaic estabelece que “everyone is a hospitaller until refusal (of hospitality) (par. 31, brugaid cách co eitech)”,
and the opening of Esnada Tige Buchet claims of the briugú Buchet that “fire had not been extinguished under his cauldron
since he took up householding (ní-ro: díbdad tene foa choriu ó ro:gab trebad)” before proceeding to king Catháer praise:
“true, o Buchet, you were a hospitaller for feeding companies (brugaid bíata dám), a gif your valour (gal) your generosity
(gart), your prowess (gaisced), your smile of welcome (fáilte) to everyone in your great dinking hall (midchúairt)”. Fergus
Kelly points out in his recently published Guide to early Irish law that under normal circumstances’ “unlike a kin or lord,
the briugu has no military role” (1988, 36; cf. McCone, 1984c, 19, n.54). Cf. Kim McCONE Pagan Past and Christian
Present in Early Irish Literature. Maynooth Monographs 3.Leinster (1990):124.
12. “Se a recepção de terras implica o pagamento duma renda ainda que às vezes (beneficium) só seja simbólico, a entrada em
dependência nos remete à génese num empréstimo vasallático, demanda um canon em espécie, elemento trazador das rela-
ções de clientela, para contribuir à mesa do senhor, e inclusive uma comida completa (colleita, colação, serviço) para este,
seu séquito e bestas, sem empeço que, se confundam, ao menos aparentemente na forma, depois na realidade não tanto
assim, renda e censo, ao estar os elementos institucionais suficientemente discriminados dentro do foro: Um estereotipo for-
mal, solene, ceremonial que faz preceder a renda ao censo. E fá-lo suceder conservando inteiramente uma hierarquização
discriminada, não sempre de modo fácil reconocivel: em primeiro lugar, a renda, geralmente em espécie, consistente, bem
num canon fixo (que muitas vezes assinala um benefício), bem proporcional à colheita; em segundo lugar: O censo, consis-
tente nas consabidas galinhas, etc., ou uma colleita [substancial refeição] anual. (1992, 295). (continúa nota →)
castrosCOLOR_catedra21 08/10/2014 16:24 Página 107
Refere-nos Posidonio como em ocasiões -comportamento comparável ao dos moços galegos nas
festas paroquiais de algumas aldeias, ao menos até os anos 60- , os celtas fazem duelos em suas
festas. Mostra-os indo sempre armados a essas reuniões, nos descreve como os comensais acabam
freqüentemente feridos e como a briga, subindo de tom, se ninguém se interpunha, se podia con-
verter numa luta a morte. Não esquece mencionar Posidonio o ‘antigo costume’ de que ao trinchar a
carne era reclamada pelo mais valente a melhor porção, a parte do campeão, e como, se alguns
outros a reclamavam se levantavam da mesa os pretendentes e lutavam até a morte. Desenho de Eva
Merlán assessorada pelo autor, para a História Ilustrada de Narón (VV. AA.)
(continúa nota →) Depois duma filiação e alcunha aparentemente comum: ‘Afonso Perez, dito Sardinha’, oculta-se o filho de
Pedro Fernández [o primeiro dos Ferrol, [sobranceiro] linhagem trasanco unido a este topônimo] neto de dom Fernám López
e dona Elvira Fernández e pai de sendos priores de Pedroso: Pedro Moongo e Gómez Fernández I. Alfonso ‘Sardinha’ leva
de Xuvia em foro (20 novembro 1322) um verdadeiro patrimônio em diversos lugares de Neda: Alvaróm, Monte de Ancos,
Mourela, Valboa, e os casales de Cal, Xuvia (hoje conhecido em Neda como O Couto), S. Vicenzo, que levava do monas-
terio por outro foro que vos ora tedes gaannado por outra gãança, e o casal de Cerdeiras. Neste foro não existe a renda
anual, isto é muito significativo, se mantendo unicamente o velho fóssil institucional traçador das relações de clientela: O
censo ou serviço, consistente na consavida colleyta ao prior et dous monges de cabalo et a dous escudeyros de pe et a dous
rapaces. Longo séquito. A magnitude das herdades implicadas na locatio, ‘locação, e a inexistência de renda, denunciam
não só o caráter beneficial deste tipo de foro senão também a posição de Alfonso Pérez, de alcunha Sardinha, com respeito
ao locador” (b, 306-307).
castrosCOLOR_catedra21 08/10/2014 16:24 Página 108
Mais não é preciso ir tão longe pois o costume segue ainda vigente hoje, de modo
assinalado o ‘dia do patrão’, nos lugares, paróquias da Galiza, sendo mesmo impensável
para nos que se possa esgotar num almoço ou jantar a comida. Quando um galego come
fora do pais não concebe que o hospedeiro possa deixar que as viandas se acabem, isto é
para nós uma violação da mais alta qualificação do briugú: a gart, “xenerosidade”,
[Mc.Cone, 127] e uma vergonha muito grande, como em Irlanda, em Galiza se nos cairia
a cara de vergonha de esgotar-se a comida. Éis o contraste entre a chamada “vergüenza
del gallego” e a menos indoeuropea “falta de vergonha” doutros pagos forâneos
[p, 134-148].
Explica finalmente a função das dignidades medievais do paço [aula regis, aula
comitis, etc], o ostentoso banquete que se ofrereceu ao monarca novo o 17 de setembro de
castrosCOLOR_catedra21 08/10/2014 16:24 Página 109
1.111, no paço de Gelmirez, paço real em realidade, pois a briugaid obriga ao vassalo a
manter ao senhor e o seu sequito como amosa a Historia Compostelana (152) quando o
Conde de Galiza, D. Pedro Froilaz entronizou en Santiago ao infante Afonso Raimundez.
Como senhor da terra de Santiago, cidade episcopal capital do reino, o bispo [vas-
salo do rei] está obrigado a ceder seu paço e residência e manter [o briugú é biatach “ali-
mentador, mantenedor”] a seu senhor o rei e aula regia ou chancelaria quando nela mora
[como tinha sucedido também com o paço episcopal de Lugo].
Assim convidou o bispo [Gelmirez] os próceres ao banquete real, sendo briugú o
bispo Diego Gelmirez, o Conde Maior de Galiza Dom Pedro fez de repostero maior, seu
filho Dom Rodrigo Perez, primeiro Conde de Trastâmara, serviu como portador das armas
reais, outro filho do conde, Don Bermudo, fez de copeiro, apresentando finalmente ao rei
os manjares o genro do Conde de Galiza, segundo um rígido e velho protocolo celta:
“[...] aginha, uma vez [proclamado Afonso Raimundez, rei da Galiza] cele-
brada a misa solenemente, levando segundo o costume ao novo rei ao seu
paço, convidou o bispo [Gelmirez] a tódos os próceres da Galiza ao ban-
quete real, onde o claríssimo conde Pedro foi dapífero regio e seu filho
Rodrigo sustentou como armeiro a espada do rei, o escudo e a lança (armi-
ger, alférez), Munio Pelaez apresentava ao rei os manjares, e á fartar vinho
e sidra mandava servir todas as mesas Bermudo Perez, e assim, com fartu-
ra de todos nas variadas e bem adubadas viandas, entre ledas cantigas e lou-
banças, passou tão assinalado dia”[p, 142]
castrosCOLOR_catedra21 08/10/2014 16:24 Página 110
Quero advertir ainda que já não o pareça hoje quando científicos de diferentes
campos e países apoiam esta Arqueologia Institucional, que em 1991 [a, 35-214] e 1992
[b,13-601] estes papéis soavam como algo novo.
Antes, durante e depois da dominação romana, ata avançada a Idade Média,
Gallaecia, o Noroeste atlântico de Ibéria, experimentou uma organização territorial, prin-
cipesca, Celta.
No ano 1992, exatamente na página 26 de Narón um Concello com História de
Seu, volume II, de modo factográfico, compendiei pela primeira vez, num sinóptico qua-
dro as bases da função soberana e da função sagrada do território político celta na Terra
de Trasancos, na Celta Galiza então renegada pelos cipaios, mostrando sua evolução
desde a época pré-romana à medieval [b, 13-601]. Validado por nossa Arqueologia
Institucional, o quadro é aplicável vinte anos depois, no contexto da Universal Common
Celtic Law, a todas as tribos, Trebas,Toudos, Territorios da Europa Celta insular e conti-
nental.
Pelo mesmo motivo, como figura na lamina da página 131 da mencionada obra, é
universal a concepção do castro como um espaço ou domínio jurisdicional.
castrosCOLOR_catedra21 08/10/2014 16:24 Página 111
Comuns trebas
ou toudos
a b
1 2 3
1 e 2. Estela calcolítica sobre um túmulo fundacional da Treba dos Tamagani, reajustada pela prosápia
ao gosto heroico do bronce final
3 a, b. Estela calcolítica do túmulo fundacional dum príncipe limico reclamado pela prosápia [real ou
pretendida do Baijo Imperio] como Látrono “Esforçado no Combate”, filho de Celtiato [gentilicio sem
dúbida comum as linhagens galaicas, ‘celticas gentes’, do mítico fundador epónimo da “Kaltia/ Galtia>
Galetia, ou, com geminação intensiva l/ll (J.J. Moralejo) Gallaecia”.
castrosCOLOR_catedra21 08/10/2014 16:24 Página 112
“The term Trebh –anota Sullivan sub vocabulo Tuath - occurs also in Irish,
and means a family, in the sense of a complete legal hosehold establishment
[1873, 79-80 § 89]”.
Designando ora
como em antigo irlandês
p. túatha, sg. túath, a
galaica touda, em crou-
gin-toudadigo, e varian-
tes ie., teuta, touto, etc.,
ao “Povo, Estado, Na-
ção”, ambos os termos Valpaços. Marco terminal da Treba dos Obili(ancos?)
castrosCOLOR_catedra21 08/10/2014 16:24 Página 113
aludem aqui ao território da Casa nobre, Estado ou Nação [b, 24-170] que os romanos ao
longo da dominação de Galiza chamarão ciuitates/populi/plebes
.
Comun berço do sistema feudo-vasallatico medieval,
comuns principes ou imperiantes de terra
Em 1941 Marc Bloch descreveu Territórios sem vida urbana na primitiva Europa
governados por príncipes, e a comum, bem desenvolvida, matéria institucional [p, 14] e
vinte e cinco anos depois Stuart Piggot remontou estas instituições indo-europeias célti-
cas e germanas, chamadas feudais, ao segundo milênio a. C.
“There is sufficient evidence” –diz Piggot– “to suggest that the model of
society demanded by Bloch may in fact be very archaic and characteristic
of barbarian Europe” (Piggot 1965: 259-260) [cf. p, 12-17; 41-56]
Intuiu-o como o assinalei em 1994 para Irlanda Harold Mytum (1992: 141)
Castro.
Desenho de Carlos Alonso
nimos em -briga, -bris, -bris, -bria, -bre, etc., com abundantes derivados (Moralejo, 2008,
173), condescende em supor a Civilização Celta cultura de brigas ou castros, não admite
uma “Cultura Castrexa” cingida em exclusiva ao Noroeste hispano [á, 227-262].
Uma treba galaica, como Trasancos, poderia, dependendo de seu tamanho, ter
entre 80 e 120 castros na Idade do Ferro. O castro [a, 177-185; 187-197] projeta sobre seu
minúsculo território econômico (de 1’5 km de rádio por meio-termo) uma direitura ou
jurisdição cum omnia intus clausis et extrinsecus foris, compreensiva de pastos, bosques,
montes e cursos de água, perfeitamente demarcada per suis terminus et locis antiquis [a,
204-205; a, 226-296; b, 131; 152]. É um bem pertencente, pro indiviso, ao Dominus, à
cabeça (tanaiste) duma Domo, Casa nobiliar [precedente do nobile e do sattelite alto-
medieval ou do fidalgo] gassaliana, “vassala” ou cliente da Casa do princeps da treba ou
toudo [b, 263-283, m, 333-502].
Mostramos como na cada sucessão [igual sucede com a posse da Treba pelo prin-
ceps] o novo senhor representa com uma inauguratio a imemorial posse jurisdicional do
castro por sua linhagem [p, 20-34; 37-56; 60-88] ‘sulcando a fronteira com o arado’, de
succo [o, 117-120], cobrando grande importância propagandística na crica, “fronteira”, a
estela [neolítica, calcolítica,etc.], erigida como no resto da Europa celtoatlântica sobre um
simbólico inmobiliário demarcatório do conceito sagrado e'melusino' da Soberania Celta:
a mámoa fundacional [reacondicionada pela prosápia ao longo de milhares de anos] do
fundador do clã nobiliário; a fontana fria da louçana, belida e casamentera [A]moura ins-
titutora da linagem, a Trebopala ou Crougintoudodadigo [Croio Teutático], e o sacrosan-
to carvalho [de Auga Quente ou Edratil, Hy-Brassil; Iggdrassil, etc.].
14. COMUN HIERARQUIA E JURISDIÇÃO. CATEGORIA NÉMITA. En Galiza como em Irlanda, a ordem hierarquica das
pessoas inmunes, a categoria Nemed “sagrada, inviolável, de altíssimo rango” [comparativamente em princípio nossa Terra
de Nemitos, hoxe Nendos não teria nada que ver com “Terra de Santuários”; de facto significa “Terra de Cavaleiros”, e que
a capital da comarca se chame Betanzos dos Cavaleiros resulta curioso]. Encabeça o sistema de rango e jerarquia na
Civilização Celta, primeira grande cultura Europeia, o Ard rí, “Alto rei”, o Rex, o Rei. Vem depois a alta nobreza e sua
extensa parentela, elite da fortuna e poder, os flaths. Segue em hierarquia ao mencionado Árd rí, “Alto Rei”, o chamado na
Irlanda Rí ruírech, “King of overkings”; a esta figura, encarnada na Galiza de modo ejemplar pela nobre figura de D. Pedro,
“Conde de Galiza”, alude exatamente a expressão em um diploma de Juvia maior inter comites ; ou, já na Baixa Idade
Média, o Adiantado Maior). Vêm depois o comes ou comite, “conde” (Ruiri , “overking”) plural comites, senhores de
varias trebas, terras ou territorios, possivelmente grupos de quatro, em época tardo-antiga como sucedia em Irlanda [e pare-
cem mostrar as pequenas coordenações ou agrupamentos das listagens de territórios da Divissio (do ano 569), e do
Chronicon Iriense (documento composto ao final do s. X com antigas fontes )], mas já estes agrupamentos de terras, con-
centradas pelos condes -como as dos Trava e Trastámara-, eram na Alta idade Média bem mais. Em derradeiro lugar está
em Irlanda o Rí Túaithe, “senhor duma Terra”, equivalente a nosso rex, principe, imperante de Terra [ b, 24-45]
castrosCOLOR_catedra21 08/10/2014 16:24 Página 120
15. PRINCIPES/IMPERANTES/REGES/FLATHS. Os Flaths [em realidade o plural é flaithe] corresponden-se na Galiza do iní-
cio do século XII, onde este sistema celta pervive como fóssil institucional, a alta nobreza, são a chamada “prolix bene nato-
rum”, são na nossa área, os membros do Clã Petriz, principes e imperantes das Terras de Trasancos, Bezoucos e Arrós entre
moitas outras, longas de enumerar, desde o Tambre a Ortigueira [b, 53-161]. GRÁD FLATHA Existia como em Irlanda um
grád flatha na Europa celtoatlántica, uma “ordem de xerarquia e autoridade” discriminando à gente (cénel) proprietária em
categorias sociais, pela sua composição ou valor penal: o alto e baijo clero, durvede/druida, bispo, “ollam, doutor (em
Irlanda)”, fili, “bardos, fístores [‘chega o fistor –diz o galaico adagio- e afai-se o dia’]”, cregos e o oficiais qualificados gente
com sólido conhecimento em técnicas ou artes (o que hoje chamaríamos “profissões liberais”) : juices, comerciantes, mes-
tres músicos; etc. [b, 53-351].
16. AHN cod. 1047 [dantes 1041b], n 61 fol 14 v. reg. 27-28.
17. “[…][It] have been applied” -sustem Sullivan, 79, 80-, “to the people occupying a distric which had a complete political
and legal administration, a chief of Rig, and could bring into the field a battalion of seven hundred men. The word was also
applied however to a larger division, consisting of three or four, or even more Tuatha, called a Mór Tuath, or great Tuath,
which were associated together in war under one commander”. “This great Tuath represented Gothic, Thiuda; Old Norse
Thjoth; Old High German, Diuth” Assinalando a seguir o sábio fundador do estudo das Instituições Celtas no aparato críti-
co (90) sub uocabulo Tuath. Old Celtic tout, from a root tu, to grow, to bring forth young, to multiply, to be strong; stem
tut, people or district. In Old British it was tût, now tud; and represented the Lithuanian tauta, the Umbrian tuta, tota, Oscan
tout. It occurs in several compounds found upon Gaulish, or Gallo-Roman inscriptions, e.g., Toutillus (Muratori, 1281, 6);
Toutela (Gruter, 852, 2), Toutio-rix, a Gaulish name of Apollo (Orelli, 2059). The words ΤΟΟYTIOYΣ NAMAYΣATIΣ in
the inscription on a marble tablet found in 1840 at Vaison have been translated “Citizen of Nemausus”, by Dr. Siegfried, but
Prof. J. Becker suggests, and with good reason, that it should be pubicus, that is, magistrate of Nemausus, or Nimes, - a fact
of some importance, as it would to show that the cantons of ancient Gaul were called by a name corresponding to the Irish
Tuath. The Irish name Tuathal and the Gothic Totilo are perhaps related. 1873, 80.
castrosCOLOR_catedra21 08/10/2014 16:24 Página 121
Não conservamos as, insígnias, os tribunos, os legados, os centuriões e os primipilos, mas temos,
reis, bandeiras, embaixadores, coronéis, brigadas, capitães e cabos.
18. H C. L I, Cap. XXXV 6 “Graças a um documento de concórdia (40) entre o conde dom Pedro e os membros de sua famí-
lia com Diego Gelmírez, pelo que se põe fim a um longo pleito jurisdicional entre Compostela e Mondonhedo, que se dis-
putavam o arciprestazgo de Trasancos, entre outros, em virtude do qual o conde tirava a Mondonhedo a potestade sobre igre-
jas e mosteiros privados do arciprestazgo de Trasancos, e as punha baixo a obediência da Sede Compostelana, conhecemos
a divisão eclesiástica de Trasancos a começos do século XII, e uma lista de cavaleiros instalados nas uillae de Bezoucos
[*Besoncos], Trasancos, Labacengos [Lapatiancos] e Arrós [Arroni siue Arrotrebae]. [...] [b, 93,103]. A ata foi assinada [o
dia sete de março] pelo conde D. Pedro, sua esposa Dona Maior Guntroda Rodríguez e suas irmãs, freiras de Xuvia, Dona
Muninna e Dona Visclávara, [Munio o Abba de Juvia, cabeça da igreja de Trasancos foi o primeiro em assinar, o 17 de feve-
reiro, em documento aparte [b, 101]], [...], [A função política do conde Príncipe e Imperante do Território, corresponde-se
com o poder do arcipreste da igreja do território participando de um quinhão [terças] do produto decimal. A duplicidade de
poderes da função soberana dum territorio é anterior ao mesmo cristianismo. Existia no mundo céltico, como demonstra-
mos no volume anterior. Por isso existe na Idade Média][...] [b, 101,102]
19. Uma lista de cavaleiros, tudos membros do clã Petriz (Pires), instalados nas Terras de Bezoucos, Trasancos, Labacengos e
Arrós [as célticas trebas de Besancos, Trasancos, Lapatiancos e Arroni ou Arrotrebae], figurando os vicarios da Terra,
(vicarius huius terre) Eica Stephaniz e Bermudo Rageliz.
castrosCOLOR_catedra21 08/10/2014 16:24 Página 122
Danzas guerreiras do corio. Detalhe da celebração do 1º de Maio do Castro de Baronha. Por Carlos
Alfonzo dirigido por A. Pena. © M. Harris.
ABAIXO: Corio, banda, ‘companhia’ galaico-romana do Baijo Império do Castro de Quintá em outono
[o 1º de Novembro]. Desenho de Carlos Alfonzo , asesorado pelo autor.
castrosCOLOR_catedra21 08/10/2014 16:24 Página 123
Corio, “ hoste”. Infantería e cabalería altomedieval. Miniatura do Beato de Thompson Morgan. Fol. 241
castrosCOLOR_catedra21 08/10/2014 16:24 Página 124
Desenho ideal de
Carlos Alfonzo baixo
minha direção para
Caminhos Milenários.
Vigiado por seu cão
de caça Ulgario e
pelo Conde Maior de
Galiza Dom Pedro, o
rei dom Afonso corre
a Munia [Froilaz],
que o recebe em
1113 à porta de sua
uilla. Munia, e Dom
Pedro Froilaz doaram
ao Rei Uilla Ferreoli
famosa pela caça
maior da viçosa
fraga, desde então,
Fraga do Rei dom
Alfonso. Cem anos
depois no lugar, em
1213, o neto deste
rei, Dom Alfonso VIII
de Galiza e IX de
Leão fundou ex novo a Vila Medieval de Ferrol, como fundasse em 1208 a Vila da Coruña [Crunha].
Pese a minhas recomendações, mais por confusão dos distintos conceitos UILLA fundiaria/ VILA urba-
na, que por falta de interesse, Ferrol, minha cara cidade natal, não celebrou seu oitavo centenário o
ano pasado. Nem sequer uma missa em memória do fundador o rei Dom Afonso VIII de Galiza, etc.
de Trastámara e sucessivos “cabos do clã” [Tánaistí] [Cal Pardo] até a morte sine semi-
ne em 1261 do derradeiro deles Dom Rodrigo Gómez Princeps Gallaeciae e dos comita-
tos [mór túatha] de Montenegro, Monterroso, Limia e Sarria, derradeiro maior comitum
(Rí Ruirech) Petriz direito, também chamado na Irlanda Rí Cóicid, “Rei de Província”
[sinônimo de reino, Provincia Gallaecia, “Reino de Galiza” [b, 54-234; p, 152-168].
Reis de Galiza
Desenho de Carlos Alfonzo baijo minha direção para Caminhos Milenários. Narón [Narão]
Dentro de cada Treba, Toudo Terra, fecham o sistema as Casas de senhores locais,
de donos e cabaleiros; a proto-fidalguia, os linhajudos dominī terratenentes (flaithe), pos-
sesores de moitos castella, e os menos linhajudos senhores propietarios, livres ou vassa-
los21 [lat. clientes, a.i. ceile], escudeiros, infanções, duma briga, –bre, –be, “castro”, [o
irlandês dun (>tun >town)]
21. ESCUDEIROS E INFANÇÕES, “BÓ AIRE”. Em Irlanda a categoría Nemed, deixava passo aos imediatos grados inferio-
res dos proprietários que tinham gando (bó aire) -fundamento do estatus legal (Crith Gablach, 13a 24) discriminados entre
o Ócaire, o pequeno fidalgo, e o fluidir semi-livre por levar (conductor) sua facenda posta (conducta) pelo seu senhor (É o
caso do Allius Reburri Filius, de Remeseiros, Chaves). Os bó aire, de bó “boi”, “os senhores de Bois (cf. comp. domo
Vacoeco)”, algo bem como nossos infanções são tenedores e levadores de conducta terras e gando posto e outorgado pelos
flaths, ou Senhores de Vassalos “bó aires were retainers of Flath of Lords”: […] adicimus adhuc ad hanc seriem testamen-
ti uel benefacti nostros atonitos et nostras magnificentias que dedimus per nostros infanzones, siue uillas seu argento, uel
quecumque de ganato nostro eis dedimus, ut nobis cum eo seruicium exercuissent […] concesserunt eam mihi fundato-
ribus ipsius loci in diebus diui memorie domni ranimiri principis per scripturam firmitatis siue et meos atonitos et uillas
que meo dato haberente meos infanzones sic omnia uouis concedo […].” Carta de Sobrado. Ano 966 Testamento do Bispo
Sisnado Tumbo I F. 5 r.- 6r. nº 6 p. 36.
castrosCOLOR_catedra21 08/10/2014 16:24 Página 127
Desenho de Carlos Alfonzo baijo minha direção para Caminhos Milenários. Narón [Narão]
Desenho de Carlos Alfonzo baijo minha direção para Caminhos Milenários. Narón [Narão]
Possesores da uilla [(pronuncia-se güíla) pl. uillas, potius quam uillae] tardoantiga.
castrosCOLOR_catedra21 08/10/2014 16:24 Página 128
Desenho de Carlos Alfonzo baijo minha direção para Caminhos Milenários. Narón [Narão]
Termo polisémico, também em Galiza [b, 133-155] se chama uilla a casa labrega
[em Gales, gwelle, o welle, se nomeando a renda gabal, "gabela"], e se chama uilla tam-
bém ao lugar onde se agrupam duas, tres ou
mais casas [b, 134-135] que parece corres-
ponderse institucionalemente com a irlande-
sa baile22 "place, lugar, bailía23" [p, 92-98; b
129-200].
22. Assinala Sullivan/O’Curry como a palavra Baile tinha uma ‘segunda aplicação’ no composto Baile Biatach, ‘or Bally of
the victualler or steward’ (,92), Compreendia na Irlanda alto medieval umas 24 casas, ‘and was a true political subdivisión
of the Tuath, corresponding to the Latin Pagus. A cada Tuath tinha em Irlanda 30 Baile Biatach. Que vêm sendo o conceto
de uilla, uilla platanetum, uilla Quintana galaica, aqui apressentado.
23. Sullivan/O’Curry, assinala também que a expressão mbi Baile “an ever boiling pot”, ‘é só uma forma figurativa de expres-
sar a existência da Casa sempre aberta’ (,85).
castrosCOLOR_catedra21 08/10/2014 16:24 Página 129
24. Parelos semántica e institucionalmente as Trebas Can / Tref = Tre = Trifu = Treba = Teuta = Tuath= Touto =Toudo=
Thaurp= Tribu; Con / Trebia, Con / Tributi e dicir Trebas xunguidas vontariamente [fonte aos atribuidos por conquista,
at/tributi = a/trebates]. Os galeses tomaram da casa, (Trebad no esquema de soberania doméstica) os diversos termos com
os que se desiña a propriedade territorial, dotando a cada pessoa livre da família que chega à idade adulta com a trev de
terra. [í, 115-117]
castrosCOLOR_catedra21 08/10/2014 16:24 Página 130
Comuns cominatórias cláusulas [cf. a penúltima cláusula do Bronze de Botorrita] em patos sinalagmá-
ticos de origem celta redigidos em latim no giro jurisdicional da uilla galaico-romana [Remeseiros e
Noville]
rou as trebas e os senhorios familiares, e dentro das trebas restaurou [p, 37-56] aos nemi-
tos galaicos nos castros seus com condições. Cedeu-lhos por três vozes. Dito de outro
modo, devolveu-lhes as trebas ou toudos da prosapia literalmente “aforadas”[p, 103-116]
e os antigos proprietários passarão de modo técnico durante varios séculos a condutores
do que lhes era propio, a tenedores [em Irlanda fluidir] dum ius in aliena re, levadores da
fazenda perdida, agora conducta, por três vozes ou gerações.
Obrigados a perdê-la e a retomá-la, mos pesimus, como Sísifo uma e outra vez
cumprido o prazo legal das três vozes, a transmitir a situação jurídica à prosapia durante
três gerações segundo a Celtic Law, como se fossem ‘servos de vínculo herdeditário [em
Irlanda senchléite, “de Casa Velha]”. Vae victis! [p, 103-121].
Ninguém discute já que por coisas de política exterior usando parcere subiectis
Roma a consuetam rationem o direito (celta) das autóctones trebas galaicas [á, 185-197]
celtoparlantes26 [o gênio romano foi nisto insupe-
rável], se deixou aquí subsitir o pré-existente.
Roma não integrou nosso mundo mediante parti-
lha do campo, reorganização e re-distribuição da
propriedade, com uma reforma agrária total, as
Confirmando o aqui contido esta tessera (siue potius tabula) de hospitalidade de Castromao, antiga
Coeliobriga, capital dos Coelernos galaicos brácaros responde, sem dúvida a um renovo do 134 d.C.,
dum hospitium anterior
26. <<Dentro da estructura clientelar desta soberania doméstica, vinculam-se verticalmente com um “rei de reis”, com um ard-
rí, ao modo de uma colmea nas mãos de um apicultor, tanto o túath ou território político como a função soberana do pró-
prio rí-tuath. Neste contexto, devemos enquadrar no NW peninsular, na Gallaecia, os hospitia interterritoriais, uns nós
dados provavelmente numa asamblea estacional, ora entre duas trebas, ora entre trebas e particulares, ora entre as trebas e
o Império, tais como os acordos pactuados por Iria com o Regnum Suevorum ou os firmados entre senhores de comissa ou
territoria: os comites seu imperantes, com o chamado Ovetense Regnum. Mas esta instituição não foi uma exclusividade da
Gallaecia, pois as pequenas peças em bronze que tão plasticamente mostram com uma aperta de mãos o aspecto vasaláti-
co, constituintes no N/NE peninsular do repertório composto pelas tesserae hospitalis celtibéricas, acoplam com um mais
amplo encadeamento territorial atlântico de dependências verticais similar ao nosso. Mediante este tipo de vencellos um TP,
ou um particular, supeditabase a outro. Os in fidem acceptos por um princeps, ou pelo seu Território Político, convertiam-
se em dependente da Treba receptora, sendo, segundo o penso, quizáis este o sentido da voz celtibérica com / trebia e à lati-
na com / tributi. Como contrapartida de verdadeiras contraprestazóns, ajuda militar ou o pagamento dum censo recebiam-
se terras (previamente donadas e protecção)>>.
castrosCOLOR_catedra21 08/10/2014 16:24 Página 132
Letra pequena
27. Como o mostra o famoso Edicto do Bierzo, ou Bembibre, que estudei em o ano 2000 num capítulo de minha tese de licen-
ciatura, deixada para pública consulta na Secretaria do departamento de História I da Universidade de Santiago.
28. Obrigados a pagar ao locador em a cada transmição a loitosa (ceilsine, heriot) dos cavaleyros. “Originariamente recebia-a
o senhor pela perda em todos os eidos -não só económicos- que lhe supunha ter que prescindir não só pela morte como é
o caso que ilustro- dum vassalo ou infanção ao que cedesse terras. Esta compensação seria dada pelos familiares do bene-
ficiado depois da morte sem sucessão [ou depois do abandono do bem pelo beneficiado], obrigados a devolver em seu prís-
tino estado os bens cedidos pelo senhor. Este sentido vemo-lo claramente na carta de Balóm de 14 de junho de 1138 de
Guntroda Ferveiz: ‘In Dei nomine, ego Guntrode Ferueiz, una pariter cum filio meo Ferueo et filia mea Guntrode Pelaiz in
domino Deo eternam amen. Placuit nobis adque conuenit nullis quoquegentis imperio nec suadenti articulo, set propia nobis
fuit uoluntas, ut faceremus kartula de ipsa hereditate de Baloni a tibi filio meo Froila Pelagii pro ipso tuo caballo que mihi
dedisti que ego dedi a Uermuu Petriz et pectauit illum ad ille Ueremudus Petriz pro intentione de ipso meo filio prenomi-
nato Ero Pelaiz qui tenuit ille Ero sua terra de Uermuu Petriz et dimisit ille Ero illa terra sine gratude Uermuu Petriz, et
proinde pecit ille Uermuu illa hereditate ad illa Guntrode pro pignora, qui si illa potuisset habere suo filio, quod redisset
ratione de illa terra, et illa non potuit illum habere per nullum ingenium et proinde do ego, Guntrode, ipso kauallo de meo
filio Froila, et sacco ipsa hereditate de Uermuu Petriz. [T. II Sobrado, f. 127r Ex P. de Loscertales]’”.
castrosCOLOR_catedra21 08/10/2014 16:24 Página 133
Chichester em 172329–, fora de toda dúvida como Legatus do imperador, segundo refíreo
Tácito em Agricola, XIV, 14:
À esquerda banda desenhada [para Galaicus] pólo professor de Belas Artes Carlos Afonzo ilustrando
ou assédio dum castro Galaico por Décimo Bruto. À direita o chamado Edito do Berço, possivelmente
[existindo hesitação sobre o lugar] achado no castro de Toldaos.
29. Possivelmente a lectio de Bogaers (1979) é a correta […] (4) [EX]·AVCTORITAT[E·TI]·CLAVD· /(5)
[CO]GIDVBNI·R[EG·MA]GNI·BRIT, [Monumento feito] por ordem de Tiberio Claudio Cogidubno [ou Tongidubno],
grande rei dos Britanos.
30. Quaedam civitates Cogidumno regi donatae (is ad nostram usque memoriam fidissimus mansit), vetere ac iam pridem
recepta populi Romani consuetudine, ut haberet instrumenta servitutis et reges. Tácito. Agricola XIV, 14.
castrosCOLOR_catedra21 08/10/2014 16:24 Página 134
31. Edicto de Bembibre por mim estudado em minha tese de licenciatura, terminada o dia 1º de fevereiro, dia de Santa Brígida,
de 2001, depositada trala súa leitura na biblioteca dá USC; Um ano despois, em 2002, -nun asombroso exercicio de conver-
gencia científica habitual nos presentes tempos de indulgência xeral-, calcando os nosos passos o hoxe catedrático da USC,
Marco Virgilio García Quintela confirmou em tropeçada TAPA a cada um dos meus asertos e contidos da mencionada tese
de licenciatura. Para ele meu agradecimento.
castrosCOLOR_catedra21 08/10/2014 16:24 Página 135
Trad. Sendo cónsules Caio Cessar e Emilio Paulo, a civitas dos Lugeios, gente do
convento dos Astures, de Ara Augusta [há erro na interpunção, por suposto não estamos a
falar de um choqueiro conventus, senão de um topónimo, o lugar de Ara Augusta que
ainda se conserva], fez com Caio Asinio Galo um pato de hospitalidade, para seus filhos
e para os postemeiros deles, e para os filhos destes e postremeiros seus. E tomaram-no
como patrão dos seus filhos e dos seus postremeiros, e este [Asinio Galo] recebeu-os
como fiel clientela sua e dos seus. Actuaram os legados Silvano, filho de Clouto e Noppio,
filho de Andamo.
Beltené [1º de maio] no Castro de Baronha por Carlos Afonzo assessorado por mim[detalhe]. Nas feiras
anuais [Oenachs] se cobravam impostos. No posto do fundo procede-se à parte da cobrança jurisdi-
cional do Cis ou Censum “Censo”: duas galinhas, lacões, uns dedos de toucinho [...] [p, 144-148]
Pechaba o sistema esse mundo presente ainda em nossas aldeias do século XX que
Alonso do Real chamava "o do eterno camponês neolítico galego', magistralmente descri-
33
to, por meu ilustre amigo José María Cardesín Díaz : os am-bue [*am, “sem” *bowyos,
34
“bois”] , com todo en precario, jornaleiros e, em derradeiro lugar os servos [a.i. Bothach]
ou escravos [a.i. Mug]35 .
São pólo oposto dos integrantes do corio ou mesnada: jovens moços solteiros sob
a tutela dos parentes e nobres que os tomaram em adopção (fosterage); filhos de proprie-
tários, não integrados ainda na propriedade que herdarão à morte de seus pais dedicados
a caça e à aventura guerreira.
Três graus ou ordines: bellatores, oratores e laboratores. Mas olho -vox 'laboratores' hic est aequivo-
cum-. Bem como hoje sucede, que não se equipasse a classe dos trabalhadores não qualificados, com
a dos engenheiros, têm rango Némito os carpentarios [a voz latina carpentarius é empréstimo celta],
construtores de carpentas, "carros ligeiros" com função similar entre os jovens aristocratas celtas que
treinavam a seus cavalos, como conta Plinio, para trotar com elegante passo de ambradura à dos
carros de grande cilindrada atuais. Carpenta celta [cf. o topônimo galego Carpente], cavalo e passo,
representado nesta pequena faca achada em Lugo.
33. CARDESÍN DÍAZ, José María . "Ricos, Labradores, Caseiros y Camareiras: transformaciones económicas y jurídico-políti-
cas, estructura social en una aldea de Galicia-NW de España" Ler Histórica, n° 23, 79-99
34. Cf psvlm. os topónimos “Amboade” de Coristanco, de Laracha, de Paderne, de Paderne, de Panton, de Lalín, etc.
35. Cf psv. os top. “Muga”; “Muguinha” de Salvaterra do Miño, etc.
castrosCOLOR_catedra21 08/10/2014 16:24 Página 137
Bellatores
Classe representada de abaixo a acima, pela
legítima linha nunca interrompida [progênie melu-
sínica, ocasionalmente remontável ao Neolítico] de
Reges de Terra, de Principes de Terra, do rí túath,
“rei do estado, treba ou território”, ora regendo a
célula do estado treba, toudo ou túath; ora regendo
confederações similares aos condados medievais
attrebates, “agregação de trebas” por voluntária
atribuição; ou por obrigada contribuição contributi.
E sobrepostos a todo e a todos, por nascimento, por
herança, por casal, ou por conquista- os grandes
reis de agrupamentos de maiores territórios Mór
Túath, de grandes unidades familiares. Classe
representada pelo Árd Rí, o Alto Rei, primus inter
pares se escutando em tempos de feiras na efêmera
capital estacional oenach/forum (Bracarense, Astur
e Lucense) a voz de todos, e acima de todos eles, a
voz de comando, acolhido o resto do ano à briugaid
do súbdito, ao jantar, collação e hospedaje do briu-
gú, “hospedeiro”.
Baixo o rei aflora a ordem de casas e famílias, o mundo de honra, camaradería, sacri-
fício, cumprimento do dever, o rango subordinado, senhorial, feudovasallático de oficiais e
cabaleiros: Cessar aparentando aturdida interpretatio assinala-os: clientes, ambactos, nobi-
les, équites, magistri, etc., em seus comentários à guerra das Gálias, ou à guerra Civil.
Remotas trebas compartilham, distanciadas entre elas centos, ou milhares, de qui-
lômetros, como por capricho, idênticos nomes, participam em nossa Europa Celta -o
vimos faz mais de vinte anos (Pena 1991-1994), de idêntica constituição política36; oferen-
36. Este contexto clientelar enquadra a famosa tabula hospitalis do ano 28 A.C.,de Folgoso do Courel, Lugo, onde Tillego,
filho de Ambato, Susarro do castro Aiobaigiaeco [Aliobrigiaeco?] obtém como fluidir “cliente dependente” dum mór túath,
como gassaliano dos Lugueios dos Castros de Toldaos, iure hereditario pelas três vozes do senche/ite, “foro celta”segura-
mente um renovo -como o do Berço: [...] gentilitas Tridiavorum ex gente idem Zoelarum hospitium vetustom antiquom reno-
vaverun [...]-, do principado familiar e treba contributa. Estudando os fundamentos legais do comum direito celta, para as
Ilhas Britânicas “[...] Pelo que podemos dizer”- ressalta Raimund Karl- “a unidade regional básica era a (continúa nota →)
castrosCOLOR_catedra21 08/10/2014 16:24 Página 138
Laboratores
Plebes, vulgi, servi, “o comum”, tal e como o descreve Cessar não pinta nada [em
realidade pintam-no tudo, pensamos nós, saindo inoportunos à palestra. Graças a eles –
não graças a mestiza ferrateira fidalguia isabelina, agora saldando centenários paços,
talando milenárias fragas, nem ao presente clero leonês - hoje a Galiza é um país celta] se
tem quase na condição servil: “pois a plebe praticamente ocupa o lugar dos servos, nada
ousa decidir por se mesma e não é admitida em nenhuma deliberação” , ao menos nas
questões políticas, pois nas questões civis–na Galiza até o século XX, baixo o sagrado car-
balho [de Edratil ou Agua Quente, em Pedroso [b, 224])- na fronteira da jurisdição o povo
decide os assuntos internos da Terra relativos a usos e costumes a consuetam rationem,
que pela ordinatio os némitos principes juram respeitar.
(continúa nota →) isto também parece ter sido a unidade jurídica de base, segundo a legislação irlandesa distingue entre o deo-
rad (“estrangeiro”) e o aurrad (“Pessoa com direitos legais dentro do ma/ath [o âmbito jurisdiccional da treba ou toudo]).
Basicamente, parece como que o forasteiro carece de direitos legais no ma/ath e pode ser assassinado, mutilado ou retido,
sem que de nenhum modo estes atos se considerem infrações legais de não existir nenhum tratado entre o tua/ath do que
procede o forasteiro e aquele no que ele é assassinado, mutilado, etc. [...] Só se existe um tratado entre as duas tribos em
questão, poderia uma pessoa ter um pleno status legal” From: Raimund KARL () To: Subject: Celtic Law - a short summa-
ry - Part 1 – 12 Date: Sun, 15 Dec 1996 14:32:32 - Tue, 21 Oct 1997 14:03:56
castrosCOLOR_catedra21 08/10/2014 16:24 Página 139
37. Illi rebus divinis intersunt, sacrificia publica ac privata procurant, religiones interpretantur; ad hos magnus adulescentium
numerus disciplinae causa concurrit, magnoque hi sunt apud eos honore. Nam fere de omnibus controversiis publicis pri-
vatisque constituunt, et si quod est facinus admissum, si caedes facta, si de hereditate, de finibus controversia est, idem
decernunt, praemia poenasque constituunt; si qui aut privatis aut populus eorum decreto non stetit, sacrificiis interdicunt.
Haec poena apud eos est gravissima. Quibus ita est interdictum, hi numero impiorum ac sceleratorum habentur, his omnes
decedunt, aditum sermonemque defugiunt, ne quid ex contagione in commodi accipiant, neque iis petentibus ius redditur
neque honos ullus communicatur [ibid. De Bello Gallico, vi, 13]. Eles oficiam os divinos ritos, atendem os sacrifícios,
públicos e privados, interpretam as coisas da religião; a eles vai grande número de jovens para aprender a disciplina, e entre
eles se consideram isto uma altíssima honra [como consideravam uma honra as grandes casas nobres de a Europa o enviar
um filho a um seminário a empreender a carreira eclesiástica]. Instruem praticamente todas as causas, públicas e privadas,
se a instrução de um caso penal, se um homicídio, se um pleito por uma herança, se uma questão de demarcação, eles pro-
cessam, e impõem as multas e castigos [o direito público e privado é comum –como o pode ser hoje (continúa nota →)
castrosCOLOR_catedra21 08/10/2014 16:24 Página 140
(continúa nota →) o direito canônico- entre os celtas, estes jovens, quando regressam ordenados druidas são os juízes e magis-
trados. Aprenderam de cor milhares de leis [escritas e codificadas [como os dinsenchas métricos irlandeses] em verso, que
depois aplicam ao retornar a seus lugares de origem. Em toda Europa igual – Em isto consiste a unidade celta, meu!- Que
parte não entendes?]; Se um particular ou um grupo deles não se dobra a seu julgamento, é retirado dos sacrifícios [não faz
falta dizer que é excomungado]. Este castigo é para eles gravíssimo. Os assim excomungados, são integrados na lista dos
ímpios e criminosos, todo mundo se aparta deles, evitam seu trato e conversação, os tocar como se fossem apestados; ainda
que a peçam não obtêm justiça [perdem todos seus direitos civis] e não se lhes dá nenhuma honra [são privados de seu rango
e seus cargos. Assim, o chamado passeio de Canossa Ilustra a descrição cesariana. O imperador do Sacro Império Romano
Germânico Enrique IV por intermediação do abade de Cluny, Hugo, e da dona da fortaleza, Matilde de Canossa, marchou
ao encontro do papa Gregório VII um frio mês de janeiro de 1077 de Espira ao Castelo de Canossa, buscando que este lhe
levantasse a excomunhão. Permanecendo três dias e três noites ao raso, vestido unicamente com uma túnica penitencial de
lá, descalço sobre a neve na porta do castelo, conseguiu o perdão papal] De Bello Gallico, vi, 13.
38. His autem omnibus druidibus praeest unus, qui summam inter eos habet auctoritatem. Hoc mortuo aut si qui ex reliquis
excellit dignitate succedit, aut, si sunt plures pares, suffragio druidum, nonnumquam etiam armis de principatu contendunt.
Hi certo anni tempore in finibus Carnutum, quae regio totius Galliae media habetur, considunt in loco consecrato. Huc
omnes undique qui controversias habent, conveniunt eorumque decretis iudiciisque parent. Disciplina in Brittania reperta
atque inde in Galliam translata existimatur, et nunc qui diligentius eam rem cognoscere volunt plerumque illo discendi
causa proficiscuntur.
Mas entre todos os Druidas manda um, que tem entre eles a soma autoridade. Morrido este lhe sucede quem excede a todos
em dignidade, ou compartilhando vários igual rango, quem resulte eleito do sufrágio dos druidas [se sobre entende que reu-
nidos num concilio ad hoc], se chegando inclusive a combater com as armas pelo principado [não por acaso isto ocorre quan-
do existindo na igreja duas ou mais facções a cada uma organiza seu conclave pela sua conta e elege seu próprio pontífice.
Nesta situação é comum que ambos os papas lutem para se apoderar de Roma (o Papado). Assim se encontrando a Igreja
dividida entre os partidários do papa Leão V e o anti papa, Cristóvão se elegeram vários papas e anti papas nos anos 896 e
904. Salvou a situação Sergio III, o terceiro em discórdia o ficar, depois de prender e de estrangular aos outros dois, como
único pretendente ao pontificado]. Estes num prefixado período do ano [coincidente com alguma das quatro feiras estacio-
nais celtas] residem num lugar sagrado no território dos Carnutos, região que é considerada o centro de toda a Gália. Aqui
vão de todas as partes os que têm controvérsias, e todos acatam e obedecem seus decretos e julgamentos. Acha-se que a dou-
trina inventou-se em Britânia e trouxe-se dali à Gália, e hoje quem desejam melhor formação na coisa essa em sua maioria
vão là [a Brit.] aprender. De Bello Gallico”, vi, 13.
castrosCOLOR_catedra21 08/10/2014 16:24 Página 141
A “Coisa Celta –também nós temos direito a nos equivocar–, acima da língua, lite-
ratura, artes e artesanias, da percepção New Age do ‘Zapatero’, da próspera paletoitálica
rana, do sedento linguista, da apereirada ‘gaita marroquina’, da manobra política, da
pajarera celtofobobia De la Peña e do que Calo aquí, etc., é produto tanto no passado
pagão como no presente cristão de um teocrático sistema piramidal, regulador de direitos
e obrigações constituído, adequado de acima abaixo o tráfico jurisdicional e as institui-
ções do Toudo ou da Treba, Terra ou Território, ao amparo duma comum religião mono-
teísta trinitária de remota [Neolítica] origem luni-solar, fundada sobre a Lei Universal
“todos os homens temos um alma inmortal emanada Deus” [Dis Pater]”, custodiada,
interpretada, desenvolvida e aplicada à margem da práxis popular por druidas39 ou durve-
des, “doutores”, como, seguramente, lhes chama a epigrafia galega.
39. Como se pode imaginar Jesus não inventou os padres, bispos, arcebispos e cardeais. E talvez São Pedro recebeu neste tra-
balho uma pequena ajuda. Talvez… In omni Gallia eorum hominum qui aliquo sunt numero atque honore genera sunt duo.
Nam plebes paene servorum habetur loco, quae nihil audet per se, nulli adhibetur consilio. Plerique cum aut aere alieno aut
magnitudine tributorum aut iniuria potentiorum premuntur, sese in servitutem dicant. Nobilibus in hos eadem omnia sunt
iura quae dominis in servos. [....] Sed de his duobus generibus alterum est druidum, alterum equitum. Em toda a Gália
daquelas pessoas que contam e têm dignidade há duas classes. –pois a plebe quase ocupa o lugar dos servos, e não ousa
atuar pela sua conta, nem conta para nenhuma decisão […]. A maioria, oprimidos como estão, já por dívidas, já pelo pesa-
do ônus fiscal, já por agravios dos poderosos, se entrega em servidão. Os nobres de fato possuem sobre eles os mesmos
direitos que os senhores com seus escravos-. Mas destas duas classes a primeira é a dos druidas, a segunda dos cavaleiros.
Caius Julius Cæsar, De Bello Gallico, vi, 13.
castrosCOLOR_catedra21 08/10/2014 16:24 Página 142
século V o escritor latino Martialis Capella, possível Procónsul da África englobaria sub
vocabulo Trivium e Quadrivium.
Elocuéncia trivial
40. Assim -e quem possa entender que entenda- o descreve Luciano de Samosata associado à eloquência: Preludio Heracles 5.
1
1 A Heracles os Celtas chamam-no Ogmios usando uma voz do Pais, e a imagem do deus pintam-na muito rara. Para eles
é um velhote nas últimas, calvo por diante, inteiramente canoso nos cabelos que lhe ficam, enche de arrugas sua pele tos-
tada até a completa negrura, como os velhos lobos de mar. Dantes tomá-lo-ias por um Caronte ou um Jápeto do Tártaro
que por Heracles. Mas, apesar de suas traças tem a indumentaria de Heracles: leva cingida a pele do leão, tem a maza na
diestra, porta o carcaj e bandoleira e sua mão esquerda mostra o arco tenso. Em todos estes detalhes é plenamente
Heracles, sem dúvida.
2 Eu cria, portanto que os celtas cometiam arbitraridades na figura de Heracles para irrisão dos deuses gregos, se vingan-
do dele nas representações, porque uma vez percorreu seu território o saqueando, quando em procura dos rebanhos de
Gerião, correu a maior parte dos povos de Occidente.
3 Mas ainda não disse o mais surpreendente de sua imagem. Este Heracles velho arrasta uma enorme massa de homens
atados todos das orelhas. Seus laços são finas correntes de ouro e ámbar, artísticas, semelhantes aos mais belos colares. E,
pese a ir conduzidos por elementos tão débis, não tentam a fugida -que conseguiriam facilmente-, nem sequer resistem ou
fazem força com os pés, se virando do avesso em sentido contrário ao da marcha, senão que prosseguem serenos e conten-
tes, vitoreando a seu guia, se apressando todos com a corrente tensa ao querer se adiantar; ao que parece ofender-se-iam
se se lhes soltasse. Mas o que me resultou mais estranho de tudo não vacilarei no relatar: não tendo o pintor ponto ao que
unir os extremos das cadeas, pois na diestra levava já a maza e na esquerda tinha o arco, furou a ponta da língua do deus
e representou a todos arrastados desde ela, já que se volta sorrindo a seus prisioneiros.
4 Permaneci em pé muito tempo contemplando o quadro, cheio de admiração, extrañeza e ira. E um celta que estava a meu
lado, não ignorante de nossa cultura, como demonstrou em seu magnifico domínio do grego -um filósofo [druida], ao que
parece, dos costumes pátrias-, disse:
5 Em princípio, se esse velho Heracles [-Isto é, a Eloquência-] arrasta aos homens atados das orelhas a sua língua, não te
estranhes disso, pois conheces a afinidad entre os ouvidos e a língua. E não é um agravio contra ele que a tenha perfora-
da, pois lembra -acrescentou- uns versos cómicos em yambos que aprendi entre vocês: quem falam em extremo “a língua
têm todos perforada”.
6. Numa palavra: nós achamos que Heracles o conseguiu tudo graças à palavra por ser sábio, e mediante a persuação
dominou quase sempre. E suas setas são as palavras -creio eu-, agudas, certeiras, rápidas, que ferem as almas. Aladas
dizeis vocês também que são as palavras.
7 Isso disse o celta. [...]” Ex Biblioteca Clássica Gredos, 42. Luciano Obras I. “Preludio Heracles”. Trad. Alfonso Martínez
Díez. (1996)
castrosCOLOR_catedra21 08/10/2014 16:24 Página 144
Promptema galaico dos epítetos Setanta, “anda caminhos”/ Bandua ,“O que se ata”. Esquerda, ara
galaica votada por Caudio ao (Deo Lari?) Setandianieco “Anda Caminhos”. Morte de Setanta “Anda
Caminho, Caminhante”, por Stephen Reid; Peça, seguramente de fichel, representando a Bandua raiz
*bhnd , “vendar, atar”, de Banhos de Bande, Galiza. Morte de Setanta, estatua de Oliver Sheppard, GPO,
Dublin.
druidas aplicavam a bem aprendida Universal Common Law. Quiçá Mike Parker
Pearson41 teve razão ao dizer: "We think we have found the village of the builders of
Stonehenge, comentando em Janeiro de 2007 a excavación do enorme povoado
[Durrington Walls] com mais de mil celas de 5 m2, do Neolítico Final e Calcolítico [e
psvlm. também do Bronze] a 3,2 kilometros de distância de Stonehenge. Mas reclaman-
do meu dereito a me equivocar, ajuízo que Parsons bateu com as celas do Colégio
Britânico dos Druidas -não menos prestigioso, que hoje Cambridge ou Oxford- ao que
aludirão, César em passado e em presente, Diodoro, Hecateo e algum outro:
[ ... ] Cremos não será inadecuado a nosso propósito debater dos que escre-
veram sobre antigos mitos os legendarios relatos dos Hiperbóreos, Hecateo
[ca 350 aC ] e alguns outros dizem que nas regiões além a terra dos Celtas
há uma ilha no mar não menor que Sicília [com segurança Britania]. A ilha
segundo conta-se, situada no norte, está habitada pelos Hirperbóreos, deno-
minados assim por se encontrar seu lar além do ponto onde sopra o vento
do norte (Boreas); e é tão fértil como productiva de todo cultivo, de facto
ao ter um inusual clima temperado [pela Corrente do Golfo] produz duas
colheitas ao ano. Tambien contam sobre ela esta lenda: Leto nasceu na ilha,
pelo que Apollo [seu filho] é entre eles honrado sobre todos os outros deu-
ses; e todos os habitantes são considerados, em verdadeiro modo sacerdo-
tes de Apolo pois que se alaba a este deus sobremaneira todos os dias
entoando continuamente cantos em sua honra. E também se encontra na
ilha um magnífico recinto sagrado de Apolo e ornado de muitos exvotos um
importante templo que tem
forma esférica. Há ali também
uma cidade consagrada a este
deus e a maioria de seus habi-
tantes [seguramente um centro
monástico], são tañedores de
cítara; e tocam continuamente
este instrumento no templo e
glorificando seus factos can-
tam hinos de louvor ao deus
[…]42.
Stonehenge
original galego da Lia Faíl de Tara ou da Stone of Scone da Escócia, ao rei que vai gover-
nar sem tacha mental, moral ou física, nu in conspectu populi; oficia sua mística união
com a Treba ou Toudo.
União encarnada no sacrifício da Comaian, “Crinosa”, branca, luminosa egua
Iccona Loiminna e na entronizatória suovetaurilia –depois reproduzida [Higino Martíns]
pelos romanos–, coze no grande caldeiro a despeçada carne com seu sangue, distribuindo
logo o sagrado sacramentum: a ordinatio ao rei, aos nobres cavaleiros e ao resto dos graus
da sociedade.
Tanto ou mais sagrada que a ordinatio sacerdotal do druida, a ordinatio do rei, é
elemento essencial da ‘Sacral Kingship’. Os reis e senhores com jurisdição adquirem pelo
casal com a Mãe e com o transfundo Melusino do pró-
prio conceito de linhagem, rango Némito, "sagrado,
inviolável", são reges, “reis”, de direito divino. Já inves-
tidos do sacramentum, podem os arantes Reis proceder
precedidos do touro à circumambulatio inaugural de Carro de Guimarães
succo da crica, “fronteira”, da treba.
Ao poder de consagrar ao rei, somam o
privilégio da interdictio, [excomunhão], de pri-
var ao nefando rei [a qualquer que se lhe oponha
em realidade] de autoridade. Podem os
Durvedes proibir ao particular ou à treba (popu-
lus; plebes) que não acate sua resolução a assis-
tência aos sacrifícios. “Esta é” –diz Cessar [BG
6, 13, 6]– “para eles a pena mais grave”.
Passando a integrar o número dos ímpios e dos
criminosos os afetados pela interdição, todos,
recusando sua companhia e conversa, se apar-
tam deles como se fossem apestados.
Evidenciando o descomunal peso polí-
tico do clero indo-europeu em general, e pelo
observado de modo particular do druida celta,
Dión Crisóstomo não exagera:
“Os celtas contam com Druidas versa-
dos também no a arte da profecia e outras for-
mas de conhecimento, sem cuja autorização os
reis não ousam adotar ou conceber nenhuma
empresa pelo que os governantes e os reis
resultam seus subordinados e instrumentos de
seus ditames”.
Druida de
Carlos Alfonzo
castrosCOLOR_catedra21 08/10/2014 16:24 Página 148
Partindo a imagem o mais programático dos bronzes entronizatorios galaicos de Monforte de Lemos
do Instituto de Valencia de Dom Juan (Madri) fundado pelo director do Regional Diário de Lugo e
deputado por Monforte de Lemos (1891-1919], o arqueólogo e diplomático Gillermo Joaquin de Osma
e Scull, conde consorte de Valencia de Don Juan.
“The druids may have been extinguished as a religious and moral establishment by
the Christian church but they and their associates left behind them a system of cultural val-
ues so deep-rooted and so closely intertwined with long established institutions and ide-
ology that it appears to have survived in large measure the transition to Christianity.
Despite the inevitable revision, selection and suppression of elements of the integral pre-
Christian tradition during the process of creating the written test within an ecclesiastical
ethos there still remains a great deal of material bearing native institutions and ideology
–sacral kingship of course, the Otherworld, cosmic division and the partition of the
provinces, origin tales, the function of druids and filid, the body of legal and so on –which
castrosCOLOR_catedra21 08/10/2014 16:24 Página 149
Anel, áureo e com entalhe, paleo cristão (A. Pena Granha), segura-
mente episcopal, procedente das Insulae Deorum “Ilhas Cíes”,
Galiza, do século IV, d. C. com epígrafe (imagem investida) IHE
APRVS, que eu leio [em ligatura] IHE(svs) APR(in)VS “Ihesus
(Jesús) ‘o do javali/ o do porco bravo’“. A importância deste
anel é enorme para a Europa mostrando, em época muito
temporã, o caminho integrador da interpretatio celto-cristã,
ilustrando o nascimento do cristianismo celtoaltântico em
Gallaecia (N. de Portugal, Galiza e Astúrias) que se produziu a
partir do ano 314 quando documentamos os primeiros bispos.
presupposes the former existence of a complex system of social-religious doctrine and rit-
ual, the form doubtless propagated to a large extent in the form of exemplary myth as in
India Georges Dumézil, who conducted a close study of social-religious continuities with-
in the Indo-European linguistic family throughout his long career, remarked from time to
time on this phenomenon of the partial secularization of mythos-religious traditions”
Proinsias Mac Cana
Comum religão
pomptema trinidade
Matres [Gallaeciae]
Virgem, Mãe e Soberana -por nascimento, por casal e por conquista, jovem de
extraordinária beleza encarna o 1º de fevereiro (Imbolg, Candelaria ou Dia de Santa
Brígida) a primavera, a abertura da temporada de pesca e a lactação das ovelhas, o final
do inverno.
Escolhe ao rei para governar a Treba ou
Toudo, casa com ele, envelhece com ele. À morte
do rei, recolhe depois de submetê-la a uma enco-
berta prova sua alma, e montando-a na grupa de
seu cavalo leva-a ao Outro Mundo. Retornando
depois ao prístino estado pois ‘sempre tem um
homem [um rei] esperando à sombra de outro’, se
tenta novo esposo.
Virgem e Mãe do Dying God Esus “O
Bom”, representa em Lugnasad, 1º de agosto, a
abundância dos frutos e a colheita. A festa dos
frutos e a emergência do verão instituída pelo seu
filho Lugh, em memória da sua exausta Mater
Tailtiu, morrida, depois de preparar os campos da
Irlanda para seu cultivo, de agotamento.
A vella construtora da Pena Molexa. O
Val. Narón
castrosCOLOR_catedra21 08/10/2014 16:24 Página 152
Conclusão
O repentino aparecimento de dioceses rurais, sem vida urbana, sobrepostos aos ter-
ritórios políticos celtas pré-romanos da Idade do Ferro, revela a conversão em massa ao
cristianismo do clero galaico-romano ano 314 –quando a diócese de Beteka, desconheci-
do Treba, Toudo, Populus ou Ciuitas de Gallaecia, enviou um presbítero à Galia em repre-
sentação de seu episcopus, ‘bispo’, ao concilio de Arles.
Deste modo, instantaneamente, estabeleceu-se uma igreja Cristã de tipo céltico,
sobreposta aos principados, trebas, toudos, ciuitates, populi. E de similar modo a Igreja
Celta Irlandesa compartilha rasgos comuns com a Igreja Galega, quando 250 anos des-
pois, após a conversão do Ard Rí, seus vassalos celtas e o clero, instalados sobre túatha,
“territórios políticos” se fizeram cristãos. E tudo mudou… para seguir igual.
Bibliografía
BALLESTER, X. “Sobre el etnónimo de los gálatas (y de los celtas). Gerión Vol. 20 Núm
I (2002): 307-3014
Les langues celtiques : origines centre-européennes ou… atlantiques ?” Aires
Linguistiques Aires Culturelles. Etudes de concordances en Europe occidentale :
zones Manche et Atlantique. “Centre de Recherche Bretonne et Celtique. UBO
(2012): 93-107.
BERGUA, J. B. Los Vedas. Clasicos Bergua. Madrid 1988.
BYRNE, Francis John. ‘Tribes and Tribalism in early Ireland’,Eiru22, (1971): 128–166
CUNLIFFE B. Druids. A very short introduction. Oxford University Press, 2010
DODGSHON, R. A. (1995) ‘Modelling chiefdoms in the Scottish Highlands and islands
prior to the ‘45’.Celtic Chiefdom, Celtic State. Bettina Arnold y D. Blair Gibson.
Cambridge University Press, 1995
FALILEYEV, A. et al. Dictionary of Continental Celtic Place-Names. Aberystwyth, 2010
GIBSON, D. B. (1995), ‘Chiefdoms, confederacies, and statehood in early Ireland’, in B
Arnold and D B Gibson (eds), Celtic Chiefdom Celtic State, Cambridge:
University Press, (1995): 116–28
HALSELGROVE, C. (1995) ‘Late Iron Age society in Britain and north-west Europe:
structural transformation or superficial change?’. Celtic Chiefdom, Celtic State.
Bettina Arnold y D. Blair Gibson eds. Cambridge University Press, 1995.
HH. Les depuis l'époque de la Tène et la civilisation La Renaisanse du Livre, 1932.
Reimpr. Esp. Los Celtas y la Civilización Céltica. Edicións Akal 1988.
KOCH, J. T. Tartessian:Celtic in the South-West at the Dawn of History. David Brown
Book Company, 2009.
El Santuario dedicado a Berobreo en el Monte do Facho (Cangas, Galicia). “Acta
Palaeohispánica IX. Actas del IX Coloquio sobre Lenguas y Culturas
Palaeohispánicas”. Universitat de Barcelona, 2005.
castrosCOLOR_catedra21 08/10/2014 16:24 Página 154
(f) Narón, unha Historia Ilustrada na Terra De Trasancos. [vv. aa.] Merlán
Bollaín, Eva, et al. A Coruña: Bahía Edicións, 1995.
(g) Territorio e categorías sociais na Gallaecia antiga. O matrimonio entre a Terra,
Treba, e a Deusa Nai, Mater. “Anuario Brigantino” 1994 nº17.(1995): 33-80
(h) O Berce dunha institución na Idade Media “A Nosa Historia” (1995)
(i) Territorios Políticos Autónomos de la Antigua Gallaecia. “Les Celtes et La
Penínsule Ibérique Actas do Iº Colloque Internacional” 6-7-8 noviembre1997. Eds.
Ivon Cousquer, Helios Jaime et Robert Omnès. Tríade 5: UBO, (1999): 23-75. [=
Notas sobre la Organización Institucional Celta en los Territorios Políticos
Autónomos (Trebas) de la Antigua Gallaecia, “Os Celtas Da Europa Atlántica.
1997. Actas Do Iº Congreso Galego Sobre Cultura Celta”. Ferrol (1999): 111- 160.]
(j) Estatuas de guerreiros galaicos con saios decorados. “Anuario Brigantino”
2000, nº24. (2001): 39-58 [ ].
(k) A orixe dos coutos, das bandeiras e das xurisdiccións de Galicia. Narón,
Vexiloloxía e Heráldica. Concello de Narón, 2003.
(l) [En colaboración con Mª Jesús CARRERA ARÓS, 1ª firma]: “Consideraciones
sobre la casa castrexa con banco corrido”. Anuario Brigantino 2003, nº 26.
(2004):113-132. [ ]
(m) Treba y Territorium. Génesis y desarrollo del mobiliario e inmobiliario
arqueológico institucional de Gallaecia. Universidad de Santiago de Compostela.
2004.[ ]
(n) Santa María Maior de O Val, Narón: unha parroquia con celtas reminiscen-
cias na Terra de Trasancos. Narón: Fundación Terra de Trasancos, 2004.
(o) Cerimonias Celtas de Entronización Real na Galiza. “Anuario Brigantino”
2004 nº 27, (2005): 117-160 [ ]
(p) Narón, un concello con historia de seu III: Señores, Priores e Labregos.
Concello de Narón: Equona Deseño Editorial. 2007 [ ]
(q) (En colaboración con Erias Martínez, Alfredo): O ancestral Camiño de pere-
grinación ó Fin do Mundo: na procura do deus do Alén, Briareo/Berobreo
/Breogán /Hércules/Santiago. “Anuario Brigantino” 2006, nº 29. (2007): 23-38 [ ]
(r) O Misterio do Trisquel na Relixión Celta. Ancestral Monoteismo Trinitario
antecedente do Presente Cristián in “Cátedra. Revista Eumesa de Estudios”, nº 15.
(2007): 167-263 [ ]
(s) Galicia, cuna de los Celtas de la Europa Atlántica. “Anuario Brigantino” 2007,
nº 30. (2008): 57, 88 [ ]
SIMS-WILLIAMS, P.A Corpus of Latin Inscriptions of the Roman Empire Containing
Celtic Personal Names (with Marilynne E. Raybould). Aberystwyth. 2007.
SYKES, B. The blood of the Isles. Exploring the genetic roots of our tribal story. Brantan
2006.
Saxons, Vikings and Celts. The Genetic Roots of Britain And Ireland. W. W.
Norton & Company, 2006.
castrosCOLOR_catedra21 08/10/2014 16:24 Página 156